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INDURSKY, Freda. Unicidade, desdobramento, fragmentação: a trajetória da noção de sujeito em Análise do Discurso. In: MITTMANN, Solange; GRIGOLETTO, Evandra; CAZARIN, Ercília (Orgs.). Práticas Discursivas e identitárias; Sujeito & Língua. Porto Alegre, Nova Prova, PPG-Letras/UFRGS, 2008. (Col. Ensaios, 22). UNICIDADE, DESDOBRAMENTO, FRAGMENTAÇÃO: A TRAJETÓRIA DA NOÇÃO DE SUJEITO EM ANÁLISE DO DISCURSO Freda INDURSKY Universidade Federal do Rio Grande do Sul De volta à noção de sujeito 1 A noção de sujeito no âmbito da Teoria da Análise do Discurso tem sido visitada e revisitada ao longo destes últimos 40 anos. Tanto nos textos fundadores da Análise do Discurso (AD) como nos textos do campo brasileiro da Análise do Discurso, ela tem sido objeto de muita atenção e discussão e isto é indicativo de que esta teoria não é um corpo doutrinário cristalizado e estanque. Ao contrário. Trata-se de um quadro teórico que gera reflexão, que se interroga constantemente e para o qual a análise não implica a aplicação mecânica de conceitos, noções e modelos já formulados anteriormente. Esta é uma das características mais marcantes deste quadro teórico: questionar as diferentes teorias e questionar-se a si própria, sem acomodação. Esta é uma teoria bastante dinâmica para a qual as análises servem para realimentar a teoria. Dizendo de outra forma: a teoria está na base das análises que, por sua vez, retroalimentam a teoria. 1 Este trabalho foi desenvolvido a partir de versão anterior, Do desdobramento à fragmentação do sujeito em Análise do Discurso, apresentada em uma reunião do GT de AD da ANPOLL, e publicado no CD-ROM Síntese 2, ANPOLL, Porto Alegre, 2002.

Unicidade, desdobramento, fragmentação

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INDURSKY, Freda. Unicidade, desdobramento, fragmentação: a trajetória da noção de sujeito em Análise do Discurso. In: MITTMANN, Solange; GRIGOLETTO, Evandra; CAZARIN, Ercília (Orgs.). Práticas Discursivas e identitárias; Sujeito & Língua. Porto Alegre, Nova Prova, PPG-Letras/UFRGS, 2008. (Col. Ensaios, 22).

UNICIDADE, DESDOBRAMENTO, FRAGMENTAÇÃO: A TRAJETÓRIA DA NOÇÃO DE SUJEITO EM ANÁLISE DO DISCURSO

Freda INDURSKY

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

De volta à noção de sujeito1

A noção de sujeito no âmbito da Teoria da Análise do Discurso tem sido visitada e revisitada ao longo destes últimos 40 anos. Tanto nos textos fundadores da Análise do Discurso (AD) como nos textos do campo brasileiro da Análise do Discurso, ela tem sido objeto de muita atenção e discussão e isto é indicativo de que esta teoria não é um corpo doutrinário cristalizado e estanque. Ao contrário. Trata-se de um quadro teórico que gera reflexão, que se interroga constantemente e para o qual a análise não implica a aplicação mecânica de conceitos, noções e modelos já formulados anteriormente. Esta é uma das características mais marcantes deste quadro teórico: questionar as diferentes teorias e questionar-se a si própria, sem acomodação. Esta é uma teoria bastante dinâmica para a qual as análises servem para realimentar a teoria. Dizendo de outra forma: a teoria está na base das análises que, por sua vez, retroalimentam a teoria.

Como é possível perceber, em Análise do Discurso ocorre uma inquieta relação que vai, em um constante movimento pendular, da teoria para análise e, desta, de volta para a teoria. É o que se verá ao longo deste capítulo, pois este trabalho não foge à marca específica da AD: ele revisita uma vez mais a noção de sujeito, buscando dar continuidade a uma reflexão por mim iniciada em trabalhos anteriores sobre esta noção, essencial para quem analisa discursos. Portanto, é a trajetória desta noção, em diferentes momentos da construção desta teoria, que será traçada com o propósito de acompanhar sua evolução.

Gostaria de salientar ainda que, embora tenha tomado como objeto deste trabalho o sujeito, focar a evolução desta noção implica observar a evolução da própria teoria, pois esta noção não pode ser examinada de forma estanque e isolada. Observá-la consiste em analisar outras noções que lhe são correlatas, tais como formação discursiva, ideologia e posição-sujeito, como veremos, a seguir, ao longo deste trabalho.

O primeiro esboço de uma teoria não-subjetiva da subjetividade

1 Este trabalho foi desenvolvido a partir de versão anterior, Do desdobramento à fragmentação do sujeito em Análise do Discurso, apresentada em uma reunião do GT de AD da ANPOLL, e publicado no CD-ROM Síntese 2, ANPOLL, Porto Alegre, 2002.

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Desde os escritos iniciais, datados de 19692, Pêcheux formulou sua primeira noção de sujeito. Ao contrário de entendê-lo como um “organismo humano individual” (GADET & HAK, 1990, p. 82), ele prefere concebê-lo como um “lugar determinado na estrutura social”. Em trabalho posterior, formulado em co-autoria com Cathérine Fuchs, em 19753, o sujeito ganhou mais um traço essencial para sua configuração, pois os autores passaram a falar em “uma teoria da subjetividade, de natureza psicanalítica” (GADET & HAK, 1990, p.164). Mas é somente em sua obra seguinte, também de 19754, que Pêcheux vai acrescentar algo muito importante às suas formulações sobre o sujeito, propondo o que chamou de “uma teoria não-subjetiva da subjetividade” (PÊCHEUX, 1988, p. 133). Com esta formulação, que pode parecer inicialmente contraditória, o autor dá início à articulação de duas noções - inconsciente e ideologia - essenciais para entender sua concepção de subjetividade. Ou seja: ele pretende, naquele passo da teoria, refletir sobre a subjetividade, porém busca uma subjetividade que não se centre no indivíduo plenamente consciente de suas motivações e propósitos. Vale dizer: o sujeito que o fundador da Teoria da Análise do Discurso convoca é um sujeito que não está na origem do dizer, pois é duplamente afetado. Pessoalmente e socialmente. Na constitutição de sua psiquê, este sujeito é dotado de inconsciente. E, em sua constituição social, ele é interpelado pela ideologia. É a partir deste laço entre inconsciente e ideologia que o sujeito da análise do discurso se constitui. É sob o efeito desta articulação que o sujeito da AD produz seu discurso. E esta é a natureza da subjetividade convocada por Pêcheux: uma subjetividade não-subjetiva.

Cabe, de imediato, uma pergunta: o que significa esta dupla marca na constituição do sujeito? Para iniciar a responder a esta indagação, é preciso dizer, de imediato, que o sujeito, assim constituído, é um sujeito histórico, ideológico, mas ignora que o é, pois é igualmente afetado, em sua constituição, pelo inconsciente. Ou seja: o sujeito é interpelado ideologicamente, mas não sabe disso e suas práticas discursivas se instauram sob a ilusão de que ele é a origem de seu dizer e domina perfeitamente o que tem a dizer.

Mas, como um sujeito dotado de tais características funciona no discurso? Para bem entender essa questão, é preciso trabalhar com uma outra noção, essencial para a Análise do Discurso. Refiro-me aqui à noção de formação discursiva (FD) que corresponde a um domínio de saber, constituído de enunciados discursivos, que representam um modo de relacionar-se com a ideologia vigente, regulando o que pode e deve ser dito (PÊCHEUX, 1988, p. 160). É através da relação do sujeito com a formação discursiva que se chega ao funcionamento do sujeito do discurso. Mais especificamente, pode-se afirmar, juntamente com Pêcheux, que “os indivíduos são ‘interpelados’ em sujeitos de seu discurso, pelas formações discursivas que representam ‘na linguagem’ as formações ideológicas que lhes

2 Refiro-me a seu primeiro texto intitulado Analyse automatique du discours que, em sua tradução brasileira, foi publicado numa coletânea de textos de Pêcheux e colaboradores, organizada por Gadet e Hak, no livro Por uma análise automática do discurso, aparecido em 1990. É a partir de suya tradução que está sendo citado neste trabalho.3 Este texto foi publicado originalmente no número 37 da Revista Langages. Ganhou sua publicação brasileira na mesma coletânea referida na nota anterior. Está sendo citado com base na tradução.4 Este texto foi publicado originalmente em francês, em 1975, com o título Les Vérités de la Palice. Em 1988, ganhou tradução brasileira intitulada “Semântica e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio” e é a partir desta tradução que este texto será citado no presente trabalho

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são correspondentes” (PÊCHEUX, 1988, p. 161). E Pêcheux é mais específico ainda ao afirmar que “a interpelação do indivíduo em sujeito de seu discurso se efetua pela identificação (do sujeito) com a formação discursiva que o domina (isto é, na qual ele é constituído como sujeito)” (idibid, p.163). Pêcheux, mais adiante, acrescenta que tal identificação ocorre pelo viés da forma-sujeito (idibid.,p.167).

Deste modo, a forma-sujeito, tal como formulada nessa etapa da teoria da AD, apresenta-se dotada de bastante unicidade, sobretudo quando Pêcheux introduz, por vez primeira, o que chamou de “tomada de posição” (idibid, p.171), cujo funcionamento explica nos seguintes termos:

a tomada de posição resulta de um retorno do ‘Sujeito’ no sujeito, de modo que a não-coincidência subjetiva que caracteriza a dualidade sujeito/objeto, pela qual o sujeito se separa daquilo de que ele ‘toma consciência’ e a propósito do que ele toma posição, é fundamentalmente homogênea à coincidência-reconhecimento pela qual o sujeito se identifica consigo mesmo, com seus ‘semelhantes’ e com o ‘Sujeito’. O ‘desdobramento’ do sujeito - como ‘tomada de consciência” de seus ‘objetos’ - é uma reduplicação da identificação.. (idibid. p. 172).

Como é possível perceber a partir da citação precedente, a forma-sujeito, tal como foi formulada nesse passo da teoria, se apresenta dotada de bastante unicidade. E isto se reflete fortemente no modo como a formação discursiva é concebida. Ou seja: pensar a forma-sujeito dotada de unicidade implica, de imediato, entender a formação discursiva fechada e homogênea. E está formado o círculo: a concepção de uma determina a concepção da outra e esta determinação é recíproca.

O desdobramento da forma-sujeito

Entretanto, em outro capítulo dessa mesma obra, Pêcheux introduz, “após longa – porém indispensável – reconstrução, a questão do discurso na forma-sujeito” (idib. p. 213), o que chamou de modalidades da tomada de posição, as quais relativizam a “reduplicação da identificação” , tal como acabamos de examinar. Vejamos, pois, em que consiste esta relativização.

A primeira modalidade remete ao que Pêcheux designou de superposição entre o sujeito do discurso e o sujeito universal da formação discursiva. Tal superposição revela uma identificação plena do sujeito do discurso com a forma-sujeito da FD que afeta o sujeito do discurso, caracterizando o “discurso do ‘bom sujeito’ que reflete espontaneamente o Sujeito” (idibid. p. 215). Esta superposição entre o sujeito do discurso e a forma-sujeito revela a “unicidade imaginária do sujeito” (PÊCHEUX, 1988, p.163).

Neste passo, percebe-se que Pêcheux retoma a questão da tomada de posição, para relativizá-la. Antes de mais nada: não se trata de uma pura tomada de posição, mas de uma modalidade de tomada de posição. E a isto o autor acrescenta que esta tomada de posição aponta para a unicidade imaginária do sujeito. Ou seja: Pêcheux entende que esta tomada de posição, que parece reduplicar a identificação, é apenas uma primeira modalidade de tomada de posição e que, quando ela ocorre, produz não um sujeito dotado de unidade, mas

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um efeito-sujeito (id. ibid. p. 167) que se crê na origem do dizer e que, portanto, produz seu discurso sob a ilusão da unicidade imaginária do sujeito. Logo, a unicidade do sujeito é da ordem do imaginário.

Frente a este imaginário, Pêcheux vai formular outras duas modalidades de tomada de posição. Vejamos inicialmente a segunda modalidade que caracteriza o discurso do que Pêcheux caracterizou como sendo o “mau sujeito”. Explicando melhor esta modalidade: ela ocorre quando o sujeito do discurso, através de uma “tomada de posição”, se contrapõe à forma-sujeito que organiza os saberes da FD com a qual o sujeito do discurso se identifica. Essa segunda modalidade consiste, então, em “uma separação (distanciamento, dúvida, questionamento, contestação, revolta...)” (idibid., p.215) em relação aos saberes da forma-sujeito, conduzindo o sujeito do discurso a contra-identificar-se com a forma-sujeito da formação discursiva que o afeta. E é esta modalidade de tomada de posição que coloca o sujeito do discurso na posição de “mau sujeito”, vale dizer, aquele que se permite duvidar, questionar os saberes e não simplesmente reduplicá-los, como ocorre na primeira modalidade.

Como se vê, a contra-identificação produz tensão, antes de mais nada, na e sobre a forma-sujeito. E é a partir dessa tensão, que ocorre no interior da própria forma-sujeito, que se pode perceber que a pretendida unicidade da forma-sujeito é imaginária. Ou seja: a contra-identificação evidencia que a forma-sujeito não é dotada de unicidade e isto permite que diferentes modos de com ela identificar-se e subjetivar-se ocorram. Quando o sujeito do discurso, ao subjetivar-se, não se superpõe totalmente à forma-sujeito, ocorre uma identificação parcial que não permite a reduplicação plena do saber da forma-sujeito. Neste caso, o efeito-sujeito, que produz o efeito de bom sujeito na primeira modalidade de tomada de posição, cede lugar ao mau sujeito, aquele que se identifica, mas com reservas, com distanciamento, com questionamento, com dúvidas. Está instaurado o desdobramento da forma-sujeito em suas duas e diferentes modalidades de tomada de posição: a do bom sujeito e a do mau sujeito (Id.ib., p. 214-5). Retomarei a questão do desdobramento na próxima seção.

No momento, entretanto, interessa-me ver de que forma o desdobramento da forma-sujeito afeta a FD. Da mesma forma que a unicidade da forma-sujeito determina a FD, que se apresenta, naquele passo, fechada e homogênea; no presente momento da teoria, percebe-se que, do desdobramento da forma-sujeito, deriva a instauração da diferença e da divergência no âmbito da Formação Discursiva. E a conseqüência disso é que a formação discursiva não mais se apresenta fortemente fechada e, conseqüentemente, homogênea. Ao contrário: a mudança na forma de conceber a forma-sujeito determina uma nova concepção de FD: ela passa a ser dotada de fronteiras suficientemente porosas, que permitem que saberes provenientes de outro lugar, de outra FD nela penetrem, aí introduzindo o diferente e/ou o divergente, que fazem com que este domínio de saber se torne heterogêneo em relação a ele mesmo. Ou seja: mais uma vez percebemos que a natureza da forma-sujeito determina a da Formação Discursiva e vice-versa.

A estas duas modalidades, Pêcheux acrescenta uma terceira que funciona sob o modo da “desidentificação, isto é, de uma tomada de posição não-subjetiva, que conduz ao trabalho de transformação-deslocamento da forma-sujeito” (idibid., p. 217). Ou seja, o

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sujeito do discurso desidentifica-se de uma formação discursiva e sua respectiva forma-sujeito para identificar-se com outra formação discursiva e sua forma-sujeito. Entretanto, esta desidentificação não representa a “liberdade” do sujeito do discurso, pois, como salienta Pêcheux,

a ideologia ...não desaparece; ao contário, ela funciona de certo modo às avessas, isto é, sobre e contra si mesma, através do ´desaranjo-rearranjo´ do complexo das formações ideológicas (e das formações discursivas que se encontram intrincadas nesse complexo) (PÊCHEUX, 1988, p.217-218).

E, mais adiante, nesta mesma obra, Pêcheux retoma a questão da desidentificação, explicando que ela não implica um processo de

Com base no que nos diz Pêcheux, podemos afirmar que a desidentificação do sujeito do discurso em relação à FD em que estava inscrito não representa a conquista da tão “sonhada liberdade” por parte deste sujeito. Diria mesmo que o analista de discurso que entendesse assim o movimento de desidentificação estaria sendo vítima do que Pêcheux chamou de “efeito Münchhausen” (id.ibidem. p. 30-37). Desidentificar-se implica não mais estar identificado com uma determinada formação discursiva porque, de fato, este mesmo sujeito já identificou-se com uma outra formação discursiva.

Esta modalidade de desidentificação permite-me tecer as três observações que seguem:

(1) a modalidade de desidentificação sinaliza que existe um certo espaço de liberdade, de manobra para o sujeito do discurso. O que se faz necessário, é entender a natureza e a dimensão desta liberdade. Não se trata de submeter-se à ilusão de liberdade, tal como acabo de sinalizar no parágrafo precedente. Ou seja: o homem é um “animal ideológico” (idbid. p. 152) e, como tal, sempre está identificado a alguma ideologia, seja ela qual for. No entanto, há aí uma pequena “brecha” que indica com clareza que o homem tem uma certa margem de movimentação e que não está condenado a manter-se para sempre identificado com o mesmo domínio de saber. E isto ocorre porque, como Pêcheux mesmo sinalizou, “não há ritual sem falhas” (id.ibid. p. 301) Em um determinado momento, sob o efeito de determinadas condições de produção, o sujeito do discurso pode romper com o domínio de saber em que estava inscrito e, em conseqüência, identificar-se com outra FD. Esta capacidade de migrar de um domínio de saber para outro indica o espaço e a dimensão de sua “liberdade”;

(2) o que acabo de afirmar, permite-me formular a segunda observação: quando o sujeito do discurso desidentifica-se de uma determinada FD é porque, de forma inconsciente, ele já está identificado com outro domínio de saber;

(3) as duas observações anteriores, por sua vez, sustentam esta última, pois entendo que o movimento de desidentificação é de mesma natureza que o movimento de identificação e se dá sob o efeito do laço constitutivo entre inconsciente e ideologia ao qual me referi anteriormente.

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Através das duas últimas modalidades de tomada de posição examinadas mais acima - a contra-identificação e a desidentificação - percebe-se que a unidade imaginária e a homogeneidade da forma-sujeito, tal como foi esboçada inicialmente e reafirmada pela primeira modalidade de identificação, ficam bastante relativizadas. Ou seja: em decorrência do desdobramento da forma-sujeito, pode-se entender que o sujeito da AD é um sujeito dividido e, em decorrência disso, a FD que o abriga passa a ser um domínio onde há espaço para a diferença e a divergência, tornando-se igualmente heterogênea, não idêntica a si mesma.

Nunca é demasiado salientar, com base no que precede, que estas duas noções – forma-sujeito e formação discursiva – encontram-se fortemente entrelaçadas, tanto em sua formulação teórica inicial como em sua evolução. Vale dizer que a heterogeneidade da formação discursiva é decorrência do desdobramento da forma-sujeito. Ou seja: uma formação discursiva homogênea só pode produzir uma forma-sujeito atravessada pelo imaginário de unicidade deste sujeito; enquanto uma formação discursiva heterogênea produz, como conseqüência natural, a heterogeneidade da forma-sujeito que a organiza.

Do desdobramento à fragmentação da forma-sujeito

Para examinar essa questão vale igualmente mobilizar um outro trabalho de Pêcheux, datado de 19805, intitulado “Remontémonos de Foucault a Spinoza”. Nele, Pêcheux rediscute a noção de ideologia e, a partir dela, a noção de formação discursiva. Ele afirma que “uma ideologia é não idêntica a si mesma, só existe sob a modalidade da divisão, e não se realiza a não ser na contradição que com ela organiza a unidade e a luta dos contrários” (PÊCHEUX, 1980, p.192). E, mais adiante, acrescenta que “a propósito da ideologia, trata-se de pensar a contradição de dois mundos em um só” (idibid. p. 195). Como se vê, Pêcheux introduz a diferença e a divisão como propriedades da ideologia: ela é heterogênea e vive sob o signo da contradição.

Ora, se a ideologia não é idêntica a si mesma, o que dizer da formação discursiva que representa no discurso suas estreitas relações com a ideologia? Cabe ao próprio Pêcheux responder a esta questão. Segundo o autor,

parece que é na modalidade pela qual se designam (em palavras e em escritos) estas ‘coisas’, ao mesmo tempo idênticas e divididas, que se especifica o que se pode, sem inconveniente, continuar chamando ‘formação discursiva’ (idibid.p.196).

Vale dizer, pois, que, se a ideologia não é idêntica a si mesma, a formação discursiva, por razões similares, também é, ao mesmo tempo, idêntica e dividida. Ou seja: as fronteiras de uma formação discursiva são suficientemente porosas para permitirem que saberes oriundos de outras formações discursivas aí se façam presentes. Em conseqüência disso, seu domínio de saber é freqüentemente atravessado/invadido por saberes

5 Originalmente, este trabalho foi apresentado em 1977, em um Congresso sobre o Discurso Político, organizado no México. Posteriormente, foi publicado, em 1980, em livro de mesmo título, organizado por Mário Toledo. Somente em 1990, foi publicado em francês, em livro organizado por Denise Maldidier, L´inquiétude du Discours. Neste trabalho, esse texto será citado a partir de sua publicação mexicana.

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provenientes de outras formações discursivas, de outra forma-sujeito, de outras posições-sujeito, comportando, por conseguinte, igualdade, mas também diferença e divergência, sendo, pois, a contradição o que se instaura aí em lugar de igualdade de sentidos e unicidade do sujeito. Como é possível constatar, a fragmentação da forma-sujeito determina a heterogeneidade da formação discursiva que é por ela organizada.

Por outro lado, se a formação discursiva apresenta-se assim constituída, então a forma-sujeito que a organiza também é heterogênea em relação a si mesma, o que significa afirmar que a forma-sujeito abriga a diferença e a ambigüidade em seu interior. Só assim é possível pensar em uma formação discursiva heterogênea que continua comportando um sujeito histórico para ordená-la/organizá-la. De tal modo que é possível pensar esse sujeito histórico como um sujeito dividido entre as diferentes posições-sujeito que a interpelação ideológica lhe faculta, pois, como afirma Courtine

chamar-se-á domínio da forma-sujeito ... o conjunto das diferentes posições de sujeito em uma formação discursiva como modalidades particulares de identificação do sujeito da enunciação ao sujeito do saber ... (COURTINE, 1981, p. 51).

Pêcheux já havia sinalizado, como vimos na seção anterior, que a forma-sujeito podia desdobrar-se entre o bom e o mau sujeito. Mas, à medida que as análises continuaram a ser feitas, percebeu-se que este desdobramento é ainda muito ideal. De fato, a forma-sujeito tem capacidade de dividir-se em um número maior de posições de sujeito. É a esta possibilidade que designo de fragmentação da forma-sujeito.

Claro está que não se trata mais de uma forma-sujeito dotada de unicidade; estamos diante de um conjunto de diferentes posições de sujeito, e não apenas duas, e é esse elenco de posições-sujeito que vai dar conta da forma-sujeito. Por outro lado, uma forma-sujeito fragmentada abre espaço não só para o semelhante, mas também para o diferente, o divergente, o estranho, daí decorrendo uma formação discursiva heterogênea, cujo traço marcante é a contradição, que lhe é constitutiva. E cada uma destas características assinala diferentes posições-sujeito no interior da FD. Dito diferentemente: cada uma destas posições-sujeito indicam diferentes modos de se relacionar com a forma-sujeito e, através dela, com a ideologia.

Conseqüências da fragmentação da forma-sujeito

A fragmentação da forma-sujeito, tal como vimos na seção anterior, traz algumas conseqüências das quais passo a me ocupar, a seguir.

A primeira nos conduz a pensar especificamente sobre o conjunto de posições-sujeito que se desenham no interior da FD. Posto que não há apenas duas posições-sujeito, como pensar as tomadas de posição que abrem espaço ao que Pêcheux chamou de bom sujeito e mau sujeito? A questão que precede pretende questionar se ainda é possível pensar nestes termos. No meu entender, há alguns deslocamentos que se fazem necessários, mas,

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em essência, estas posições ainda se sustentam. Ou seja: se há um conjunto de posições-sujeito, e não apenas duas, apenas uma delas remete ao que Pêcheux designou de bom sujeito: aquele que, ao identificar-se plenamente com a forma-sujeito, superpondo-se-lhe plenamente, reduplica seu saber. Entendo que esta posição-sujeito se constitui em uma posição-sujeito dominante em relação às demais posições em que a forma-sujeito se fragmenta.

A partir disso, se estabelece a segunda conseqüência: o sujeito do discurso, ao identificar-se com uma FD, não mais o faz a partir de sua identificação com a forma-sujeito, pois esta é heterogênea e fragmentada. Em conseqüência disso, o sujeito se identifica com a FD através de uma de suas posições-sujeito e, por seu viés, com a forma-sujeito.

Assim entendida a forma-sujeito e sua fragmentação, pode-se inferir que, se o sujeito do discurso se identifica com a posição-sujeito dominante, ele instaura o que Pêcheux chamou de efeito-sujeito. Ou seja: o sujeito do discurso se superpõe aos saberes que emanam desta posição-sujeito e, em decorrência desta plena identificação, ele se constitui como um bom sujeito.

As outras posições-sujeito vão se distanciando gradativamente dos saberes organizados pela posição-sujeito dominante e se constituem no que Pêcheux chamou de mau sujeito. Vale dizer: quando os saberes que emanam das demais posições-sujeito sinalizam diferenças, questionamentos, divergências em relação aos saberes que emanam da posição-sujeito dominante, elas travam entre si uma relação de “intersubjetividade falante” (Pêcheux, 1988, p. 172-3). E a intersubjetividade que se estabelece entre a posição-sujeito dominante e as demais é, quase sempre, muito tensa.

Por outro lado, quando um sujeito do discurso se identifica com uma determinada FD através dos saberes produzidos a partir de uma posição-sujeito diferente da posição-sujeito dominante, ele se constitui como um mau sujeito. O que equivale a dizer que, neste caso, a superposição não é plena. Os questionamentos do sujeito não o permitem e, em função deles, vão surgindo as diferenças no interior da FD, trazendo heterogeneidade para o âmbito da forma-sujeito e da FD que ela organiza.

Como se vê, pelo que precede, as noções de bom e mau sujeito não desaparecem, mas mudam de natureza no interior da problemática desenhada pela noção de sujeito no âmbito desta teoria.

A terceira conseqüência é decorrente da natureza fragmentada da forma-sujeito. Dizendo de outra forma: se a forma-sujeito fragmentou-se, não é mais possível a um sujeito de discurso identificar-se diretamente com a forma-sujeito. Para com ela identificar-se, impõe-se que o sujeito do discurso se identifique inicialmente com o saber emanado de uma determinada posição-sujeito para, a partir deste lugar discursivo, identificar-se com a forma-sujeito e, através dela, com a formação discursiva que o afeta. Como é possível perceber, a identificação simbólica do sujeito com a FD se faz de forma fragmentada também, ou seja, o sujeito do discurso não pode mais identificar-se com a totalidade dos

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saberes da FD que o afeta. Esta identificação continua ocorrendo, mas apenas com uma parcela dos saberes desta FD.

Por fim, faz-se necessário um breve comentário sobre as modalidades do bom e do mau sujeito. Quando Pêcheux introduziu estas modalidades, elas satisfizeram plenamente a necessidade de rever/desfazer o imaginário de unicidade existente em torno da forma-sujeito. Por conseguinte, desdobrar a forma-sujeito nestas duas modalidades de tomada de posição foi suficiente para mostrar que esta unicidade era absolutamente ilusória. Entretanto, as análises discursivas que têm sido realizadas desde então apontam que, de fato, este desdobramento binário freqüentemente não dá conta das diferenças que se instauram no interior de uma forma-sujeito. Por conseguinte, a designação de posição-sujeito, tal como formulada por Courtine, parece-me melhor dar conta desta questão. O mau sujeito, de fato, pode ser representado por várias posições-sujeito - e não apenas por uma - que venham a estabelecer uma relação de contraponto com a posição-sujeito dominante.

A fragmentação da forma-sujeito e a movimentação dos sentidos: análises

Para maior clareza do que precede, vou trazer algumas análises6. Para tanto, inicialmente, vou retomar brevemente duas modalidades de tomada de posição, examinadas mais acima. Interessa-me considerar primeiramente a modalidade de desidentificação.

A desidentificação, no meu entender, pode ocorrer de dois modos diferentes. O primeiro consiste na desidentificação, por parte do sujeito do discurso, de uma forma-sujeito e sua identificação com uma outra forma-sujeito já existente. Essa operação de desidentificação aponta para o movimento que se estabelece no âmbito do complexo de formações discursivas com dominante a que Pêcheux se refere quando trata desta questão (Pêcheux, 1988, p. 217). E nisso não há nada de novo. Por por essa razão, não vou deter-me nessa questão, nem apresentar análises para ilustrá-la.

O segundo modo de desidentificação apóia-se no que Pêcheux (1990)7 chamou, em um outro texto seu, de acontecimento discursivo que se institui no exato momento em que o sujeito do discurso rompe com um domínio de saber já instituído e com o qual estava identificado até então para identificar-se com um novo domínio de saber, que está em processo de constituição. Ou seja, não se trata da simples migração de uma FD instituída para outra, igualmente já instituída, tal como foi referido no parágrafo anterior. O que está em pauta, aqui, é o momento exato do surgimento de uma nova FD e de sua forma-sujeito, no momento mesmo em que o acontecimento que lhe dá origem ocorre. A captação deste momento de constituição de um novo domínio de saber pode ser observada pela agitação nas filiações de sentido. Dito de outra forma: trata-se de uma movimentação, uma deriva

6 Estas análises foram retiradas de trabalhos anteriores. No presente trabalho, elas servem apenas para ilustrar a questão teórica que está em tela. Para melhor acompanhar tais questões, ver O entrelaçamento entre o político, o jurídico e a ética no discurso do/sobre o MST: uma questão de lugar-fronteira , artigo publicado no número 12 da Revista da ANPOLL. 7 Os textos aqui referenciados remetem a um conjunto de conferências proferidas nos Estados Unidos, em 1983. Em 1990, foram publicadas em francês, com o título de Discours: Structure ou événement?, no livro L´inquiétude du discours, organizado por Denise Maldidier, e, concomitantemente, no Brasil, no livro Discurso: estrutura ou acontecimento.

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muito intensa dos sentidos em decorrência da qual dá-se o surgimento de um novo domínio de saber.

Esse movimento em direção ao novo, ao inusitado, esse movimento de ruptura marca um momento pontual, único, fugaz, irrepetível, o qual registra não só o surgimento de um novo domínio de saber, mas também de uma nova forma-sujeito. Ou, se preferirmos, de um novo sujeito histórico, ideológico. Como é possível perceber, o acontecimento discursivo não se dá a partir do nada. Ele ocorre a partir de um domínio de saber já existente em relação ao qual ocorre ruptura.

Para exemplificar um processo de desidentificação dessa natureza, podemos considerar o surgimento da Formação Discursiva dos Sem Terra, na qual se inscrevem todos aqueles que lutam pela redistribuição da terra no Brasil.

Trata-se de um domínio de saber que surge para se contrapor à Formação Discursiva dos Latifundiários. Estes são dois domínios de saber antagônicos, que contrapõem fortemente duas formas-sujeito igualmente antagônicas, as quais determinam sentidos opostos sobre a questão da terra, sentidos estes que se constroem por exclusão, cada um deles remetendo a apenas um desses dois domínios de saber. Ou seja: tais sentidos se rejeitam mutuamente.

Estas formações discursivas polarizam-se, mobilizando-se em torno de dois enunciados discursivos que se excluem, remetendo, cada um deles, a um desses dois domínios de saber. Por um lado, os sem-terra bradam pelo direito à terra8. Por outro lado, os latifundiários defendem o direito de propriedade9. Esse embate em torno do direito à terra representa o acontecimento histórico que dá origem ao acontecimento discursivo que sinaliza o surgimento de um novo sujeito histórico e político, o sujeito sem-terra.

Mas vejamos de onde vem este sujeito. Num momento anterior ao acontecimento discursivo que deu origem a este novo domínio de saber, o trabalhador rural - que não possuía terra, mas que trabalhava na terra de seus patrões - inscrevia-se em uma posição-sujeito no interior da formação discursiva que afetava os latifundiários e a ela se submetia, reconhecendo o direito de propriedade conferido aos proprietários rurais. Nessa fase, os saberes sobre a terra, embora fortemente heterogêneos, se inscreviam em uma única formação discursiva.

Entretanto, num determinado momento da conjuntura histórica do Brasil, o trabalhador rural desidentificou-se da formação discursiva em que estava inscrito anteriormente e na qual são produzidos os saberes sobre o direito de propriedade. A partir deste momento, começam a surgir novos sentidos sobre a propriedade da terra e estes novos sentidos marcam uma agitação muito forte nas fileiras dos sentidos já instituídos em torno desta questão. Estes novos sentidos vão entrar em linha de colisão com os sentidos da 8 Esse sentido pode ser construído com base no Art.5o da Constituição. Nele podemos ler: “Todos são iguais perante à lei, sem distinções de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros... a inviolabilidade do direito à propriedade” . Acrescente-se a isso o teor do inciso XIII que determina que a “propriedade atenderá a sua função social”. 9 Esse sentido também se fundamenta no Art. 5o, inciso XII: “é garantido o direito de propriedade”. Vale dizer que o direito é consolidado, garantido pela lei.

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FD em que se inscrevem os proprietários rurais. Nesse embate, o trabalhador rural já não reconhece mais o sentido instituído, proveniente do discurso jurídico – direito de propriedade – o qual coloca o proprietário rural como sujeito de direito, dele excluindo os trabalhadores rurais. Este questionamento torna-se tão contundente e radical que conduz, de fato, o trabalhador rural a desidentificar-se por completo dos sentidos que circulam nesta FD historicamente instituída, rompendo com seus saberes sobre a terra.

E, neste movimento de desidentificação, os sentidos sobre a questão da terra, com os quais este sujeito não mais se identifica, entram em deriva, da qual vai surgir um novo domínio de saber. O enunciado direito de propriedade se ressignifica, dando surgimento a um novo sentido - o direito à terra - até então impensável. Este novo sentido vai inaugurar um novo espaço de dizer, vai abrigar novos sentidos sobre a questão da terra, os quais se inscrevem no novo domínio de saber, o dos Sem-Terra, organizado por uma nova forma-sujeito.

Esse é o acontecimento discursivo: ruptura com uma formação discursiva historicamente instituída, desidentificação da forma-sujeito que organiza os saberes do referido domínio de saber e o surgimento de uma nova FD e de uma nova forma-sujeito, o que provoca necessariamente movimentação e reordenamento dos sentidos no espaço de memória sobre os saberes que se organizam em torno da questão da terra. E, nesta deriva, no trabalho do sentidos sobre os sentidos, o sentido direito de propriedade dá lugar ao direito à terra.

Acontecimento discursivo ou acontecimento enunciativo?

A forma de acontecimento que acabamos de descrever remete para a descrição clássica de acontecimento discursivo proposta por Pêcheux (1990). Mas nem todo deslizamento de sentidos determina uma ruptura dessa ordem, uma desidentificação tão plena. Ou seja, nem todos os sentidos que deslizam provocam ruptura com os sentidos já instituídos, provocando desidentificação do sujeito do discurso com a forma-sujeito e, conseqüentemente com a FD, e a instauração de uma nova FD.

A pergunta que se coloca, então, é: quando ocorre movimentação dos sentidos no interior de uma FD, mas sem desidentificação com a forma-sujeito que a organiza, que tipo de movimentação se instaura? Qual é a sua natureza? Que conseqüências tal movimentação acarreta? Para responder a estes questionamentos, volto às análises. Para tanto, vou tomar, mais uma vez, o discurso dos trabalhadores Sem-Terra para mostrar como a dispersão das posições-sujeito opera nesse discurso, aí instaurando a diferença e a divergência de sentidos. E, para tanto, vou examinar a questão das dissidências em relação ao discurso do MST.

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Das ações lideradas por dissidentes do MST10, uma das mais marcantes foi a ocupação da Fazenda Santa Elina, em Corumbiara, Rondônia. Essa ocupação foi decidida em abril de 1995 pelos dissidentes do MST, que pretendem ser “os que fazem o movimento” (F.S.P., 03.09.95, p.1-16), tal como julga Cícero Ferreira Neto, lider de Corumbiara, que ajudou a fundar o MST e hoje dele se afastou. A ocupação foi decidida à revelia do MST, que não concordava com essa ação, por considerar a fazenda produtiva. A dissidência, não concordando com essa avaliação, ocupou a Santa Elina, o que provocou um grande confronto. Posteriormente, em entrevista concedida à Folha de São Paulo, em 24 de setembro de 1995, Cícero Ferreira Neto afirmou que “o confronto de Corumbiara virou uma nova referência do Movimento sem-terra. A luta pela terra não é só do MST... O MST não abarca todos os sem-terra...”

Como é possível perceber, a partir da breve síntese daqueles episódios, há aí uma voz fortemente discordante que entra em colisão com as decisões emanadas do MST, num evidente movimento de contra-identificação com alguns de seus saberes. Ou seja: neste movimento de contra-identificação do sujeito do discurso, não há mais espaço para uma plena e perfeita superposição entre ele e os saberes que emanam da forma-sujeito, como ocorreria se tivesse havido uma superposição entre este sujeito do discurso e a forma-sujeito. Em decorência disso, o sujeito do discurso não mais reduplica totalmente estes saberes. E, no movimento de constituição de sua subjetividade, ele surge como o mau sujeito: aquele que se permite questionar tais saberes. E, assim procedendo, instaura uma relação tensa no interior da FD e de sua forma-sujeito.

Entretanto cabe frisar que a contra-identificação não se dá em relação à forma-sujeito, tomada como um todo, pois, se assim fosse, isto daria origem a uma nova FD, tal como ocorreu com a deriva de sentidos que conduziu do direito de propriedade à direito à terra, como vimos na análise realizada na seção anterior. No presente caso, dá-se um deslocamento, mais especificamente, um distanciamento em relação a alguns saberes que emanam da forma-sujeito, o que vai dar origem à fragmentação da mesma. Em função disso, pode-se afirmar que a contra-identificação ocorre em relação à posição-sujeito dominante, onde se inscreve o MST, nesse domínio de saber. A convivência dessas duas posições-sujeito – a dominante e a dissidente - mostra que esta FD é heterogênea e que nela não há lugar apenas para a reprodução dos mesmos sentidos. O sentido diferente, discordante tem aí garantido seu lugar de inscrição. Ambas as posições se inscrevem na formação discursiva dos Sem-Terra e, através destas duas posições-sujeito divergentes, dá-se a inscrição de diferentes formas de realização da subjetividade no âmbito da mesma formação discursiva, as quais passam a travar entre si o que Pêcheux chamou de intersubjetividade falante, como vimos mais acima, ao tratarmos da fragmentação da forma-sujeito. Dito de outra forma: estas duas posições-sujeito mostram diferentes modos de se relacionar com a ideologia, sem, entretanto, romper com o domínio de saber em que se inscrevem.

10 As análises apresentadas nesta seção foram desenvolvidas em dois outros trabalhos. O primeiro, intitulado Trabalhadores rurais e heterogeneidade discursiva, apresentado em reunião do GT de AD da ANPOLL, durante o XIII Encontro Nacional da ANPOLL e publicado no CD-ROM Síntese, Niterói, 2000. E o outro, intitulado Identificaão e contra-identificação: diferentes modalidades de subjetivição no discurso do/sobre o MST, e publicado no livro organizado por Mariani, A escrita e os escritos: reflexões em análise do discurso e psicanálise. Aqui, elas entram apenas a título de exemplificação.

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Por trás do efeito do dissenso, produzido pela fragmentação da forma-sujeito nessas duas diferentes posições-sujeito, a luta pela terra reúne essas posições de sujeito aparentemente dispersas e as coloca em relação de identificação com o saber desse domínio: a luta pelo direito à terra as une. É isso que lhes permite inscreverem-se na mesma formação discursiva e relacionarem-se, mesmo que de modo conflitante, com a mesma forma-sujeito: o sujeito Sem Terra.

Como pode-se perceber, pelos exemplos examinados acima, a diferença que marca as duas modalidades de tomada de posição mobilizadas pelo discurso dos Sem-Terra – a contra-identificação e a desidentificação - funcionam de forma totalmente diferente. Vejamos em que consiste esta diferença.

A desidentificação está na origem dos novos sentidos que até então não eram possíveis de ser pensados, sentidos esses que derivam do direito de propriedade a direito à terra. E esta deriva dos sentidos vai muito além de uma diferença/divergência no interior do mesmo domínio de saber, como vimos no exemplo que analisamos da contra-identificação. A diferença que a desidentificação instaura é da ordem do antagonismo e os sentidos que dela derivam não podem mais ter por sede o mesmo domínio em que os saberes dos latifundiários se inscrevem. Os novos sentidos que resultam desta deriva determinam o surgimento de um novo domínio de saber, organizados por uma nova forma-sujeito. Trata-se do surgimento de um novo sujeito histórico.

Já a contra-identificação dos dissidentes do MST não os retira da FD dos Sem Terra; apenas introduz no interior deste domínio de saber, diferentes modos de lidar com os saberes desta FD e com a ideologia que perpessa a luta pela terra. Os dissidentes constituem uma posição-sujeito diferente, mas sempre identificada com a mesma forma-sujeito com que se identifica a posição-sujeito dominante, em que se inscreve o discurso do MST.

Dito diferentemente: enquanto a desidentificação dos Sem Terra em relação à FD dos Latifundiários determina uma ruptura que conduz ao surgimento de uma nova FD e de uma nova forma-sujeito, no caso do surgimento da posição-sujeito dissidente da FD dos Sem-Terra, não se dá uma ruptura. O que ocorre é um relacionamento tenso do sujeito do discurso com a forma-sujeito deste domínio de saber e, conseqüentemente, com o modo de se relacionar com a ideologia. Essa tensão vai estar na origem da fragmentação da forma-sujeito.

Resta ainda uma questão para debater: então só há acontecimento quando ocorre ruptura com uma FD já instituída? Penso que aqui há espaço para reflexão e teorização. Inicialmente, devo dizer que não acredito que os acontecimentos discursivos se multipliquem indefinidamente, nem que instituam uma prática corriqueira. Mas penso que certas movimentações de sentido se produzem sem determinar rupturas com a FD. Nesse caso, a tensão que se estabelece é em relação com a posição-sujeito dominante daquela FD e não com a forma-sujeito. Foi isto o que ocorreu no caso examinado mais acima, sobre o surgimento de uma posição-sujeito dissidente em relação à posição-sujeito dominante no interior da FD dos Sem Terra.

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Assim, quando certos dizeres, até então interditados em uma determinada FD, são apropriados e incorporados ao seu saber, ocorre um reordenamento/modificação/estranhamento muito intensos nos seus dizeres e seus sentidos. E, quando isto se dá, podemos estar presenciando a instauração de uma nova posição-sujeito que vai se relacionar de modo tenso com as diferentes-posições sujeito em que se desdobra a forma-sujeito daquela FD, sobretudo com a posição-sujeito dominante, sem, entretanto, com ela romper.

Tal fato me permite avançar uma outra questão: a simples instauração de uma nova posição-sujeito no interior de uma FD (tal como vimos na análise anterior) não é suficiente para produzir um acontecimento. Para que haja acontecimento, faz-se necessário que essa nova posição-sujeito, ao se constituir, se instaure produzindo sentidos antes interditados no seu domínio de saber. E mais: esta nova posição-sujeito convive com as demais, instituindo muito mais que a diferença. Ela conduz ao estranhamento, à tensão interna às fronteiras da FD em que está inscrita. Creio que o surgimento de uma nova posição-sujeito com tais características seja capaz de instaurar um acontecimento, mas este acontecimento não é da mesma natureza de um acontecimento discursivo, tal como o caracterizou Pêcheux. Neste caso, entendo que se trata de um acontecimento enunciativo no interior de uma formação discursiva.

O acontecimento discursivo é de natureza diversa do acontecimento enunciativo: enquanto, no acontecimento discursivo, ocorre uma desidentificação com a forma-sujeito, a qual está na origem da ruptura com a referida forma-sujeito, no acontecimento enunciativo, estamos diante de uma contra-identificação com a posição-sujeito dominante, a qual está na origem do afrontamento com os saberes que emanam desta posição-sujeito dominante no interior de uma formação discursiva. No primeiro caso, ocorre antagonismo e ruptura. No segundo caso, afrontamento com fragmentação da forma-sujeito. No primeiro caso, tais saberes são excludentes. No segundo caso, estes saberes convivem, embora de forma conflitante e tensa. No primeiro caso, estamos face a diferenças que decorrem do trabalho da/na forma-sujeito como um todo. No segundo caso, estamos face a divergências decorrentes do trabalho da/na posição-sujeito dominante e instauração do estranhamento no interior da FD.

Quando a ruptura se dá em relação à forma-sujeito e seus saberes, o resultado desta ruptura será o surgimento de uma nova forma-sujeito e a constituição de um novo domínio de saber. Isto autoriza a dizer que, junto com ela, vai se instituir uma nova formação discursiva e novos modos de significar que estarão em confronto com a FD em relação à qual se deu a ruptura.

Já quando o afrontamento ocorre em relação à posição-sujeito dominante de uma formação discursiva heterogênea, o resultado desta tensão será o surgimento de uma nova posição-sujeito, a qual entra em relação de confronto com a posição-sujeito dominante em relação à qual se deu a instauração do estranhamento, dando lugar ao surgimento de uma nova subjetividade contraditória, no interior da mesma formação discursiva.

Qual é então a diferença entre estes dois acontecimentos? O acontecimento discursivo determina o surgimento de uma nova forma-sujeito e, por conseguinte, de uma

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nova formação discursiva. Vale dizer: a ruptura é radical e definitiva; o sujeito não suporta mais os saberes da FD em que se inscrevia e com ela se desidentifica, dela se retirando. Este movimento o conduz necessariamente para a instauração de uma nova FD e à produção de novos saberes. Este é o acontecimento discursivo.

Já o acontecimento enunciativo implica apenas a instauração de uma nova posição-sujeito no interior de uma mesma FD. Dito de outra forma: surge aí uma nova fragmentação em relação à forma-sujeito, ou seja, surge aí um novo modo de enunciar os sentidos no interior de uma formação discursiva, mas este novo modo não opera pelo viés da ruptura com a formação discursiva e com a forma-sujeito. Seu funcionamento se dá pelo viés da tensão e do estranhamento com esta forma-sujeito. Ou seja: este conflito é interno à FD e se dá em relação aos modos enunciativos de uma determinada posição-sujeito, geralmente dominante. Surgem novos saberes, provenientes de outro lugar, no interior de uma mesma FD e estes aí acarretam um forte estranhamento. Este é o acontecimento enunciativo.

Enquanto o acontecimento discursivo remete para fora, é externo à formação discursiva que lhe dá origem, instaurando um novo sujeito histórico, o acontecimento enunciativo provoca a fragmentação da forma-sujeito e se dá, por conseguinte, no interior da própria formação discursiva, dando origem a uma nova posição-sujeito. A ruptura com a formação discursiva e com sua forma-sujeito foi designada por Pêcheux de acontecimento discursivo. Proponho, pois, que a fragmentação da forma-sujeito e o conseqüente surgimento de uma nova posição-sujeito que instaure o estranhamento nos processos discursivos de uma formação discursiva seja designada de acontecimento enunciativo.

O melhor exemplo que tenho de um acontecimento enunciativo de tal natureza é o surgimento da posição-sujeito da Teologia da Libertação (TL) no âmbito da Formação Discursiva Católica11. Essa posição-sujeito estabelece uma movimentação muito intensa nos sentidos nessa FD, ao apropriar-se de saberes provenientes da Formação Discursiva Marxista e incorporá-los aos sabere da Formação Discursiva Católica. No caso em questão, a aproximação dos saberes marxistas aos saberes católicos provoca uma movimentação muito intensa neste domínio de saber e determina a reorganização dos saberes dessa FD. Essa nova posição-sujeito, a da Teologia da Libertação, traz para dentro da FD Católica a preocupação com o social. O ponto de encontro desses dois domínios de saber provoca um reordenamento da memória dessas duas FD e, em que pese o efeito de sentido de estranhamento que tais novos sentidos podem aí provocar, esses saberes passam a coabitar com os outros que lhe são próprios. Ou seja, a posição-sujeito da TL não rompe com a FD Católica, não institui uma nova FD, não rompe com a forma-sujeito da FD Católica. Entretanto, ela provoca a fragmentação da forma-sujeito da FD Católica e a instauração de uma nova posição-sujeito, a da Teologia da Libertação, responsável pela inscrição de novos sentidos, provenientes da FD Marxista, no âmbito do dizível da FD Católica. Essa nova posição-sujeito representa a inscrição de uma nova posição subjetiva no interior da FD

11 Esta reflexão foi desenvolvida a partir das análises realizadas por Jeane Maria Hanauer em sua dissertação de mestrado intitulada “A Teologia da Libertação e o conflito com o Vaticano: análise de uma formação discursiva em processo de reconfiguração” elaborada sob minha orientação e defendida no âmbito do programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em outubro de 2000.

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Católica, responsável pela enunciação do novo, do impensável, proveniente de um lugar proibido, indizível. Sentidos até então interditados neste domínio de saber passam a aí serem enunciados, provocando estranhamento e desconforto. Assim, o surgimento dessa nova posição subjetiva provoca o que penso poder designar por acontecimento enunciativo no interior da FD Católica.

A partir dos dois exemplos de contra-identificação aqui examinados, creio que é possível mostrar que nem toda a contra-identificação está na origem de um acontecimento enunciativo. No caso da posição-sujeito dos dissidentes em relação à posição-sujeito dominante do MST, ocorre a fragmentação da forma-sujeito, mas não percebo nesta fragmentação um foco de estranhamento e desconforto. Há aí uma nova posição-sujeito, seguramente, mas, ela não constitui, em meu entender, um acontecimento enunciativo no interior da FD dos Sem Terra..

Já a posição-sujeito da TL, originária da fragmentação da forma-sujeito da FD Católica, traz para dentro desta FD sentidos que lhe são totalmente estranhos, impensáveis e que geram, neste domínio de saber, estranhamento e desconforto. E é esta característica que faz dessa nova posição-sujeito um acontecimento enunciativo. Vale dizer: no meu entender, o acontecimento enunciativo é da ordem da raridade, da mesma forma que o é o acontecimento discursivo.

Produzindo um efeito de conclusão

Como é possível perceber, para acompanhar esta trajetória da noção de sujeito em AD, fez-se necessário revisitar a noção de formação discursiva. Não há como examinar uma sem mobilizar a outra.

O sujeito, tal como examinado ao longo deste trabalho, mostra-se mais que desdobrado. Ele é um sujeito dividido em relação a si mesmo, por conseguinte, heterogêneo e disperso em relação aos saberes da FD em que se inscreve e em relação aos sentidos que mobiliza, de que se apropria e que produz, constituindo esta forma de subjetividade que estou chamando de fragmentação do sujeito em AD.

Vale salientar ainda, antes de encerrar esta discussão, que a noção de sujeito assim concebida mostra com muita clareza que aquilo que alguns chamam de “ponto de vista” é obrigatoriamente, nesta teoria, o ponto de vista de um sujeito, tal como delineado ao longo deste trabalho, e não o ponto de vista de um indivíduo, livre pensador e dono absoluto de seus posicionamentos.

Dito de outra maneira: o ponto de vista do sujeito significa, para a Teoria da AD, a tomada de posição que o sujeito do discurso faz, identificando-se com os saberes provenientes de uma posição-sujeito inscrita em uma determinada FD. Dessa forma, o ponto de vista de um sujeito histórico se caracteriza por tomadas de posição a favor de certos saberes que pré-existem ao seu dizer e contra outros saberes que igualmente o precedem e estes movimentos de identificação, de contra-identificação ou desidentificação mostram que “a constituição do sentido junta-se à constituição do sujeito” (PÊCHEUX, 1988, p. 154). Ou seja: o sujeito identifica-se com um determinado sentido e se contrapõe a

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outros em função de sua interpelação ideológica, que está na origem de seu estatuto de sujeito, de sua identificação com determinada FD e com uma posição-sujeito.

É em função do que precede que é possível perceber porque os sentidos que se constituem a partir da FD que afeta o dizer do sujeito se lhe afiguram absolutamente evidentes. Tal fato mostra igualmente que a constituição do sentido é contemporânea da constituição do sujeito. E esse efeito de evidência decorre do que Pêcheux chamou de teatro da consciência (idibid., p.154). Vale dizer: o indivíduo, ao ser interpelado pela ideologia, constitui-se em sujeito e, com isso, cria as condições necessárias para a produção de sentido e seus efeitos de evidência. Estamos, pois, frente a um entrelaçamento inextricável: a interpelação do indivíduo em sujeito, sua identificação com uma FD, sua inscrição em determinada posição-sujeito e a constituição do efeito de evidência dos sentidos.

Como se vê, a noção de sujeito nesta teoria convoca outras noções para poder ser pensada. E estas noções tecem entre si uma rede teórica muito solidária: trabalhar com uma delas implica examinar todo um conjunto de noções que se entretecem, se cruzam, se mesclam. Para os efeitos deste trabalho, foi estabelecido um recorte teórico. Outras noções poderiam ter sido mobilizadas para examinar esta teia teórica, mas isto já seria uma outra viagem. Encerro, pois, esta discussão, mesmo que o faça, provavelmente, de forma bastante provisória, só para não dizer(em) que não concluí...

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