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Unidade II – Ética e Moral
Síntese da Unidade Nesta unidade identificaremos uma distinção básica entre ética e moral e
a relação entre elas; perceberemos que esta relação tem variações históricas e
culturais e nos deteremos em dois aspectos muito importantes para a compreensão
da relação entre ética e moral: os valores da liberdade e do exercício de se colocar
no lugar do outro.
Objetivo da Unidade Compreender as particularidades inerentes à Ética e à Moral
Como estudar a Unidade Você deverá estudar a unidade, lendo o texto, “Ética na História”, deve
buscar leituras complementares indicadas nos links, ao longo do texto, fazer os
exercícios propostas nas Atividades da Unidade, participar do Fórum de Discussões
e se interagir com o professor e com os colegas.
Nesta unidade veremos que ética e moral caminham juntas e muitas vezes são
confundidas por nós. Assim aprenderemos sobre ética e moral e as relações entre
ambas. A ética atua no campo do esclarecimento, da investigação, da teoria sobre o
comportamento humano, sobre a ação humana, que é o campo da moral. Portanto, a
prática moral dos homens é o objeto de reflexão da ética. Isto nos permite dizer que a
ética é a filosofia ou ciência da moral, como preferem alguns estudiosos.
Se quisermos entender melhor o que é ética, torna-se indispensável
compreendermos o que é moral. Esta é expressão do comportamento normativo do
homem, como ser histórico e social e inseparável das nossas atividades práticas. Mas o
que é isto, ser histórico e social? Quer dizer que nossos valores morais não são os
mesmos em toda época e lugar. São determinados historicamente e de acordo com o
tipo de sociedade em que vivemos. Por isto falamos de moral religiosa e de moral
burguesa, por exemplo. Para uma melhor compreensão da moral, partiremos das suas
origens, o que permitirá compreender melhor o que é o ser moral, histórico e social.
A moral e suas origens
Já podemos falar de moral a partir do momento em que o homem primitivo
começa a sair de uma condição de total submissão à natureza e passa a viver em uma
condição de natureza social. Ou seja, o homem sai de uma condição puramente
instintiva para viver em coletividade, nos seus respectivos clãs ou tribos. A partir deste
momento começam a surgir normas e regras de convívio social e coletivo. Estas
passaram a ser fundamentais para o convívio em sociedade, especialmente porque
através delas os homens primitivos puderam se defender das adversidades da natureza e
garantir a sobrevivência do grupo. Constituíram-se em valores vitais a solidariedade, a
mútua cooperação de modo a regrar, em função de uma cultura de subsistência, as
relações dos indivíduos consigo mesmos e com os outros.
Era um tempo em que os valores morais tinham o mesmo sentido para todos,
pois não havia distinções de classes e o produto da caça, da pesca e da coleta era
distribuído equitativamente para todos. Porém, à medida que determinados grupos
humanos começam a domesticar os animais ao invés de somente caçá-los, a plantar e a
colher ao invés de somente coletar alimentos, a se tornarem sedentários ao invés de se
deslocarem constantemente de acordo com as estações do ano; dá-se início a um
processo de constituição da propriedade privada e da divisão de classes. Isto passará a
representar uma mudança significativa no entendimento sobre a moral, pois se constitui
a moral socialmente estabelecida, a moral das respectivas classes sociais. Assim a moral
passa a ser algo relativo, de acordo com o ponto de vista desta ou daquela classe social.
Peguemos como exemplo a escravidão na antiguidade, a servidão no período do
feudalismo e a relação capital x trabalho, no contexto do capitalismo.
Fonte: doisdedosdeprosa.wordpress.com
Na antiguidade se constituíram duas morais: a dos homens livres e a dos
escravos. A moral dos homens livres fundamentava-se nas idéias dos grandes filósofos,
que não viam imoralidade na escravidão. Pelo contrário, viam no escravo um objeto ou
coisa, cuja condição passava bem distante do conceito de cidadania daquele, associado
somente aos homens livres. Por outro lado, havia a moral dos escravos, fundamentada
na idéia de liberdade, porém, sem muita elaboração. Os próprios escravos acabavam
assimilando os valores dominantes e se aceitando como coisa. Não foram raros os
momentos em que escravos lutaram por sua liberdade e para isto dependiam de valores
como espírito de sacrifício, solidariedade, disciplina, lealdade, etc.
Gladiador. Valentia, princípio e ética de general entre os gladiadores
Fonte: www.planetaeducacao.com.br/.../gladiador_03.jpg
Na Idade Média, o regime de servidão era regido também por valores morais,
como a moral católica, a moral cavalheiresca, o culto da honra e das virtudes da
nobreza. Exemplo de uma moral desprezível aos olhos de hoje, é citado por Adolfo
Vasquez, em Ética. Referindo-se ao “direito de pernada”, que dava ao senhor feudal, o
direito do desfrute da noiva de um servo, antes do marido, no dia das núpcias
(VÁSQUEZ, 2002). Assim como na moral antiga, a moral feudal se baseava na idéia de
que o domínio de uns sobre os outros era próprio da natureza humana, ou seja, era da
natureza do homem ser escravo ou ser patrício, ser senhor de “sangue azul” ou ser
servo. Este por sua vez se baseava em princípios morais, para construir sua própria idéia
de liberdade pessoal. Buscava no trabalho uma distante condição de liberdade, pois uma
parte do que produzia era para si. Mas o valor moral maior estava calcado na religião,
na crença da recompensa no reino dos céus, pela vida terrena de humildade, sofrimento,
oração e devoção a Deus e aos santos, já que no mundo real, qualquer reconhecimento
lhe era negado.
http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.ciadaescola.com.br
A imagem ilustra um casamento, ou seja, a entrega da noiva ao seu marido prometido. Por muito tempo, estas cerimônias foram realizadas na porta da igreja. Foi somente no século XII que a Igreja criou uma
liturgia para o casamento e passou a fazer os casamentos no interior das igrejas
Na transição do feudalismo para o capitalismo, se desenvolve outro tipo de ética
que se contrapunha à ética católica. Era a ética protestante. A Igreja católica revelava
profundas contradições internas: pregava a humildade e ao mesmo tempo cobrava as
indulgências (o perdão dos pecadores). Condenava a usura (juros) e o lucro, mas era a
que mais acumulava riqueza. Boa parte dos seus integrantes, ao invés de seguir
realmente o caminho da fé, apenas se utilizava dele para atingir privilégios próprios. A
Igreja católica, portanto, caía cada vez mais em descrédito, abrindo caminho para um
importante movimento religioso liderado por Martinho Lutero (1483-1546)
(http://www.luteranos.com.br/lutero.html), denominado reforma protestatante.
Martinho Lutero
Fonte: http://www.luteranos.com.br/lutero.html
Max Weber (1864-1920) (http://pt.wikipedia.org/wiki/A_
%C3%A9tica_protestante_e_o_esp%C3%ADrito_do_capitalismo) em A ética
protestante e o espírito do capitalismo fez um estudo deste movimento religioso e
identificou uma estreita relação entre os princípios éticos do protestantismo e o novo
modelo de sociedade capitalista que se delineava no período. Segundo ele, as sentenças
de Benjamin Franklin (1706-1790)
(http://www.vidaslusofonas.pt/benjamin_franklin.htm), “Tempo é dinheiro”,
“Crédito é dinheiro”, “O bom pagador é dono da bolsa alheia”, dentre outras, eram
expressão do espírito do capitalismo. Baseando-se nos valores morais do trabalho,
acreditava-se que era através dele que se conseguiria um pedaço no céu. A
demonstração da fé não se daria através de adorações a santos, mas através da ação do
trabalho, visto como uma vocação (WEBER, 1994).
Max Weber
www.mohr.de/mw/
No processo de consolidação do capitalismo, se processa uma outra moral
dominante, a moral burguesa. Fundamentada teoricamente nos ideais do Iluminismo
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo) e do Liberalismo
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberalismo_cl%C3%A1ssico), rompe de certo modo
com a idéia de que a escravidão e a servidão são próprias da natureza humana e que a
liberdade é uma condição fundamental para a vida em sociedade. O homem é livre
porque não é propriedade de ninguém, senão de si mesmo. A propriedade se apresenta
como a condição da liberdade inclusive para trabalhar. O trabalho deixa de ser uma
atividade indigna e é elevado a uma das mais nobres atividades do homem, se
constituindo em um dos mais importantes valores da moral burguesa. O trabalho
dignifica, enobrece e é fonte de propriedade - John Locke (1632-1704) –
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo) e de riqueza - Adam Smith (1723-1790) –
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo). Além da liberdade, a propriedade nos
confere também a condição de igualdade. Se todos somos proprietários, somos todos
livres, se somos todos livres, somos todos iguais.
John Locke
http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://cache.eb.com
Questionemos estes valores da moral burguesa: se somos todos iguais, por que
uns são tão infinitamente ricos e outros tão desgraçadamente pobres? Aí entra outro
importante valor da moral burguesa: a moral meritocrática. Aqueles que se
enriqueceram, obtiveram sucesso e constituíram fortuna por méritos próprios, devido ao
trabalho, à perseverança e à força de vontade. Aqueles que não se enriqueceram é
porque não teriam assimilado esses valores do trabalho, da perseverança, da força de
vontade e, acima de tudo, da honestidade. Está explicada assim, a sociedade do rico e a
sociedade do pobre. O rico é rico porque assimilou importantes valores morais e trilhou
o caminho desses valores. O pobre é pobre porque não assimilou esses valores e trilhou
o caminho da preguiça, do desânimo e da desonestidade. Especialmente no século XIX
e nas primeiras décadas do século XX, era muito comum no discurso burguês a
associação entre pobreza e imoralidade.
Trabalho e desigualdade social
http://brasil.indymedia.org/images/2006/10/361763.jpg
Hoje o discurso passa pela questão da distribuição de renda, mas se fizermos
uma pesquisa de opinião entre os participantes deste curso sobre a porcentagem de
criminosos, de gente sem escrúpulos em uma favela do Rio de Janeiro, qual seria o
resultado? Provavelmente, seria bem mais alto do que realmente é. Isto porque a
sociedade de um modo geral assimilou o discurso que associa a pobreza com ausência
de valores morais. O mais provável, é que em uma favela do Rio de Janeiro, apenas
10% da população sejam compostos por criminosos.
Adam Smith
http://www.philkaplan.com/images/georgewashingtontype.jpg
Você concorda com as afirmações do parágrafo anterior? Se você disser que sim,
eu concordo com você. Mas se você disser que não eu também concordo com você,
porque precisamos dar uma atualizada nesta questão da associação entre pobreza e
moralidade. Quando falamos em imoralidade hoje, o que nos vem primeiro à mente a
favela ou o Congresso Nacional?
Ser ético – Ser moral – Ser livre
Falamos anteriormente que na sociedade capitalista, o indivíduo é livre porque é
proprietário, no caso, proprietário de si mesmo. Esta liberdade, porém, é relativa,
quando se trata da questão da moral. Relativa porque o ser moral não é livre para fazer o
que quiser, mas para seguir o que determina a sua consciência.
Chauí observa com bastante propriedade que
O sujeito ético ou moral não se submete aos acasos, à vontade e aos desejos de outro, à tirania das paixões, mas obedece apenas à sua consciência – que conhece o bem e as virtudes – e à sua vontade racional – que conhece os meios adequados para chegar aos fins morais. A busca do bem e da felicidade são a essência da vida ética (CHAUÍ, 1995: 342).
O ser ético é, portanto, sujeito das suas ações, em conformidade com os
costumes e as normas sociais, com seus valores religiosos e suas noções de virtudes e
senso de respeito próprio e do reconhecimento da alteridade, ou seja, o ser ético é
aquele que age de acordo com sua consciência moral e respeita não só a si, mas também
o outro nas suas diferenças. Sobre estes dois aspectos referidos acima, o fato de sermos
sujeitos das nossas próprias ações, que dependem do nosso senso de respeito próprio e o
reconhecimento da alteridade, pode-se explorar dois outros fundamentos para nossas
reflexões sobre a ética e nossos atos morais: a liberdade e o se colocar no lugar do
outro.
A liberdade é o que nos distingue de outros animais que estão “programados”
para serem o que são. De certo modo também estamos “programados” para sermos o
que somos, ou seja, somos educados de acordo com nossas tradições e costumes,
seguimos o que dita a nossa cultura e nossos valores, porém com uma propriedade
especial: podemos dizer sim ou não.
No filme “Tróia”, Heitor toma a decisão de sair da fortaleza onde estavam seu
povo, seu pai, sua mulher e todos seus entes queridos, para lutar contra o temido e
invencível Aquiles. Heitor toma esta decisão livremente, porque quer, seguindo os
valores de honra e coragem ensinados pelo seu pai, que por sua vez aprendeu com os
antepassados. Mas Heitor poderia ter feito diferente: poderia ter se acovardado,
inventado que estava doente; fugido no meio da noite ou compactuado com seu inimigo,
entregando Tróia e seu povo em troca de sua vida e de alguns outros favores. Porém ele
preferiu lutar e morreu em nome da liberdade de sua gente.
Corpo de Heitor sendo levado de volta à Tróia – Alto relevo romano em mármore
http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.templodoconhecimento.com/portal/img/troia6.
Já as formigas, por exemplo, não têm a liberdade de escolha que o ser humano
tem. No verão elas têm que trabalhar muito para se precaverem do inverno rigoroso.
Elas estão programadas para armazenar alimentos e o fazem com uma fidelidade
inquestionável. Algumas formigas não têm opção de fazer diferente, de questionar e
nem imaginam o que seja isto. Fernando Savater em Ética para meu filho dá um ótimo
exemplo, referindo-se às térmitas, as formigas brancas africanas, que constroem
enormes formigueiros de muitos metros de altura, para se protegerem de outras
formigas predadoras. Quando um de seus formigueiros desaba, entram em ação as
térmitas-soldados, que se colocam à frente de suas predadoras e dependuram-se nelas,
são despedaçadas, mas cumprem uma função que é a de retardar o avanço das inimigas,
enquanto as térmitas-operárias reconstituem rapidamente o formigueiro. As diferenças
entre os exemplos de Heitor e das formigas está no fato de que Heitor era livre para
tomar uma ou outra decisão, enquanto que as térmitas-soldados lutam e morrem porque
têm que fazê-lo, seguindo a lei da natureza, como o leão que come sua caça
(SAVATER, 2004).
Savater ressalta, entretanto que liberdade não é fazermos qualquer coisa que
queiramos e nos ilumina com dois esclarecimentos sobre a liberdade: o primeiro é de
que “não somos livres para escolher o que nos acontece...mas livres para responder ao
que nos acontece de um ou de outro modo” (SAVATER, 2004: 28). Isto quer dizer que
não escolhemos quando nascemos ou se queremos ser feios ou bonitos, de acordo com
padrões estéticos existentes. Um segundo esclarecimento é que “sermos livres para
tentar algo não significa consegui-lo” (SAVATER, 2004:29). Isto significa que a
liberdade tem limites e que ela não deve ser confundida com onipotência. Somos livres,
portanto, para agir com ou sem ética, mas ao mesmo tempo devemos ter clareza dos
nossos atos.
Como muito bem define Octávio Paz,
A liberdade não é uma filosofia e nem sequer uma idéia: é um movimento da consciência que nos leva, em certos momentos, a pronunciar dois monossílabos: Sim ou Não. Em sua brevidade instantânea, como à luz do relâmpago, desenha-se o signo contraditório da natureza humana (PAZ, apud SAVATER, 2004: 32)
Havíamos nos referido a duas coisas a respeito de nossas ações morais: a
liberdade, explorada acima e o se colocar no lugar do outro Exploremos este segundo
ponto agora. Dizemos que não devemos fazer ao outro, aquilo que não gostaríamos que
fosse feito a nós mesmos. Temos ou pelo menos deveríamos ter consciência, portanto,
que aquilo que fazemos aos outros, fazemos a nós mesmos. Se colocar no lugar do outro
significa agir humanamente. Se uma pessoa vivesse completamente isolada em uma
ilha, sua ação não seria completamente humana. Ela agiria para a sua sobrevivência,
para atender às suas necessidades individuais, com suas preocupações individuais. Com
a chegada de alguém nesta ilha imaginária, o comportamento daquela pessoa passa a ser
essencialmente humano e é aí que começam os nossos problemas éticos e morais: na
relação com o outro, que é o que dá sentido à nossa vida humana. Sendo assim, “o que
interessa à ética, o que constitui a sua especialidade, é como viver bem a vida humana”
(SAVATER, 2004: 119).
Uma frase de um antropólogo francês chamado François Laplantine, esclarece
bem esta questão de se colocar no lugar do outro, que é a própria questão da alteridade.
Laplantine dizia que se somos “...presos a uma única cultura, somos não apenas cegos à
dos outros, mas míopes quando se trata da nossa” (LAPLANTINE, 1988: 21).
Laplantine quer dizer que na verdade nos reconhecemos é na relação com o outro. Se
colocar no lugar do outro é compreendê-lo nas suas diferenças e particularidades.
Compreender o outro tal como ele é não significa necessariamente aceitá-lo, nem
concordar com seu jeito de ser ou pensar, mas reconhecê-lo na sua condição humana,
que é nossa também, que é de cada um de nós.
Uma outra frase muito boa, agora de um sociólogo francês, Roger Bastide, que
foi professor no Brasil, nas décadas de 1930 e 1940, onde estudou a cultura afro-
brasileira, nos revela um pouco mais sobre nossa condição humana. Bastide diz o
seguinte: “Eu sou mil possíveis em mim; mas não posso me resignar a querer apenas um
deles” (BASTIDE apud LAPLANTINE: 1988: 23). O que ele quer dizer com isto? Que,
como seres humanos, temos muitas possibilidades de existir e se negamos o outro nas
suas possibilidades e particularidades, estamos negando a nós mesmos, ou seja, a nossa
própria condição humana. Por exemplo: se nego uma pessoa idosa na sua velhice, se
manifesto preconceito em relação a ela, mal estou me dando conta de que estou negando
a mim mesmo, diante do fato de que a cada segundinho que passa envelheço um pouco
mais.
Se colocar no lugar do outro é ter, portanto, uma atitude ética e, claro, humana.
Se nos fechamos para o outro na sua condição de cadeirante ou de portador do vírus
HIV, só para citarmos mais dois exemplos, estamos nos fechando para nós mesmos. Se
não somos éticos na relação com o outro, não estamos sendo éticos em relação a nós
mesmos.
Desse modo, é ético tratar o outro como seu igual e, ao mesmo tempo, respeitá-
lo como diferente. Talvez fosse desnecessário estudarmos sobre ética, se a falta dela não
fosse um problema. Quando falamos no respeito às diferenças, nos situamos em um
contexto bastante delicado no mundo contemporâneo, marcado, dentre outras coisas,
pela intolerância étnica, religiosa e de orientação sexual. As manifestações de racismo
no futebol, os conflitos entre israelenses e palestinos, as perseguições a homossexuais,
prostitutas e mendigos no Brasil; tudo isto revela um quadro de intolerância em relação
à condição do outro, o que em nada contribui para um mundo melhor e ético.
Por isto se colocar no lugar do outro é uma atitude ética. “Trocar
provisoriamente seu lugar com o outro, ‘colocar-se na sua pele’, sentir-se como ele está
se sentindo”, como sugere Julia Favilene Alves, em Ética cidadania e trabalho
(ALVES, 2002: 48).
A título de conclusão desta unidade, podemos dizer que ética e moral têm caráter
normativo e factual. Os atos normas são as regras que definem nossa ação e o factual
são os nossos próprios atos. Não existe ato moral sem que haja um fato social, ou seja, a
moral não existe isoladamente, mas é construída socialmente, a partir da formação de
uma coletividade, na qual o indivíduo deve introjetar valores morais, aderir às normas
estabelecidas pela comunidade da qual faz parte.
Diante do exposto, busquemos em Vasquez, uma definição mais esclarecedora
da moral:
A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal (VÁSQUEZ, 2002: 84).
Vimos, portanto, que ética e moral caminham juntas e que ambas se exercem no
convívio social. Neste convívio, um conceito importante que devemos aprender é o
conceito de alteridade, que pegamos de empréstimo da Antropologia e da Filosofia.
Refletir sobre a alteridade, ou seja, sobre as diferenças humanas, permite que nos
coloquemos no lugar do outro, respeitando-o. Esta é uma condição indispensável para
pensarmos a ética e sermos seres morais.
Glossário
Alteridade – é a questão do outro. Alter (outro) é o contraponto do Ego (eu). A
questão da alteridade, é a questão das diferenças, do respeito às diferenças. Refletir
sobre a alteridade é procurar se colocar no lugar do outro e reconhece-lo a partir do seu
próprio ponto de vista.
Liberalismo – Teoria econômica e política desenvolvida no processo de
consolidação do capitalismo. Exerce influência sobre a economia e a política atuais.
Consiste no fundamento teórico do capitalismo, baseado nos princípios do livre
mercado e da liberdade política.
Iluminismo – deve ser definido como um movimento de intelectuais europeus,
especialmente ingleses e franceses, “os iluministas”, que davam ênfase à Razão e à
Ciência, contrariando os valores, principalmente religiosos, que vigoravam na Europa
do século XVIII. Assim como o liberalismo, o iluminismo também favoreceu o
desenvolvimento do capitalismo.
Referências
ALVES, Júlia Favilene. Ética, cidadania e trabalho. São Paulo: Copidart, 2002.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 2ª ed., São Paulo: Atica, 1995.
LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988.
SAVATER, Fernando. Ética para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 8ª ed., São Paulo:
1994.