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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES - CECA
MÔNICA DLUHOSCH
DA EVASÃO AO FRACASSO ESCOLAR: UM OLHAR PARA A
EDUCAÇÃO ESPECIAL
FOZ DO IGUAÇU – PR
2012
MÔNICA DLUHOSCH
DA EVASÃO AO FRACASSO ESCOLAR: UM OLHAR PARA A
EDUCAÇÃO ESPECIAL
Artigo apresentado como conclusão
do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE ofertado pela
Secretaria de Estado da Educação do
Paraná, em parceria com a Secretaria
de Tecnologia e Desenvolvimento.
Orientadora: Profª Drª Elisabeth
Rossetto
FOZ DO IGUAÇU – PR
2012
DA EVASÃO AO FRACASSO ESCOLAR: UM OLHAR PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL.
Resumo O presente trabalho traz como proposta um estudo baseado na abordagem histórico-cultural de Lev S. Vigotski (1933) e suas contribuições para o campo da Educação Especial, visando à melhoria dos índices de frequência e aprovação escolar dos alunos com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH, do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco em Foz do Iguaçu – PR. Apresenta em seguida, os resultados obtidos através de uma pesquisa qualitativa e quantitativa, a qual tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como principal instrumento. Para tal estudo parte-se da perspectiva que a pessoa com deficiência consegue avançar na sua escolarização, conforme lhe sejam proporcionadas oportunidades e os recursos adequados ao seu processo de desenvolvimento e aprendizagem. Esses alunos, geralmente sem comprometimento ou atraso intelectual, vivenciam grandes dificuldades em se adaptar ao contexto familiar, escolar e social, resultando em reprovações, sentimento de incapacidade, baixa autoestima e a perda do interesse pela escola aumentando os índices de fracasso e evasão escolar. Realizou-se com esses sujeitos um questionário como instrumento para a coleta de dados e analisou-se a anamnese e a ficha de avaliação pedagógica. Os resultados encontram-se representados através de gráficos e de uma análise descritiva. Palavras-chave: Educação Especial; TDAH; evasão; fracasso escolar. Abstract EVASION OF THE SCHOOL FAILURE: A LOOK FOR SPECIAL EDUCATION. The present work has as proposal for a study based on historical-cultural approach of Lev S. Vygotsky (1933) and their contributions to the field of Special Education, aimed at improving attendance rates and approval of school students with Attention Deficit Disorder with Hyperactivity - ADHD - State College President Castelo Branco in Foz do Iguaçu - PR, and presents the results obtained through a qualitative and quantitative research, which has the natural environment as a direct source of data and research as its main instrument. Vygotsky presents his work in education with people with disabilities and leads us to further their studies. For this study starts from the perspective that the disabled person can advance in their schooling, as you are offered development opportunities and resources to their learning process. These students, often without commitment or intellectual retardation, experience great difficulties in adapting to the family context, school, society, resulting in failures, feelings of inadequacy, low self-esteem and loss of interest in school and further increasing rates of failure and dropout school. We conducted a questionnaire with these individuals and also as an instrument to collect data analyzed the history and teaching evaluation form, which are sources of information relevant to our study. The data of the questionnaires used in research will be presented through graphs and also a descriptive analysis of the results.
Keywords: Special Education, ADHD, results, dropping out, school failure.
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados do projeto de
intervenção pedagógica elaborado para atender aos requisitos do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) realizado durante a elaboração do Plano de
Carreira do Magistério pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná para efeito
de progressões na carreira dos professores e melhoria na qualidade da educação no
Paraná. Baseia-se na abordagem histórico-cultural com ênfase no pensamento de
Vigotski, o qual nos possibilita uma visão inovadora no tocante à educação especial.
Esta proposta de trabalho teve início em 2010, no retorno dos professores
PDE à sala de aula, quando retomaram as atividades acadêmicas de sua área de
formação inicial de forma presencial, nas Instituições de Ensino Superior (IES) para
formação continuada, trabalho de pesquisa, fundamentação teórica, seminários,
grupos de estudo e encontros de orientação como subsídios para o desenvolvimento
do Projeto de Intervenção.
Em agosto de 2011 iniciou-se a implementação do referido Projeto de
Intervenção Pedagógica na escola e também a produção do Material Didático-
Pedagógico pelo professor PDE e validado pelo orientador da Instituição de Ensino
Superior, neste caso a Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.
Para finalizar o programa desenvolvido, este artigo relata o trabalho de
intervenção realizado pela professora PDE em termos de informações, orientação e
suporte técnico junto aos colegas professores e pais de alunos com indícios e com
diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade das séries finais do
Ensino Fundamental do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco em Foz do
Iguaçu – PR, durante o segundo semestre de 2011 e o primeiro semestre de 2012.
Para tanto, foram organizadas reuniões com pais, alunos e professores do colégio,
com conhecimentos sistematicamente organizados e articulados para subsidiá-los
na identificação dos alunos que apresentam características de Déficit de
Atenção/Hiperatividade, bem como reconhecimento pelos pais desses alunos quanto
a questões em relação a regras e limites, interação, cumprimento de
responsabilidades, organização de tarefas, autocontrole, administração do tempo,
tratamento e prevenção de comportamentos de risco.
2 DESENVOLVIMENTO
A prática da evasão escolar não é uma invenção nem modismo da escola
brasileira, acontece em todo o mundo, principalmente no ensino básico.
No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio
Teixeira - INEP, em 2007, 4,8% dos alunos matriculados no Ensino Fundamental (1ª
a 8ª séries/1º ao 9º ano) abandonaram a escola. Embora o índice pareça pequeno,
corresponde a quase um milhão e meio de alunos.
Ainda, segundo o mesmo senso, 13% dos alunos que cursavam o Ensino
Médio abandonaram a escola, o que corresponde a pouco mais de um milhão de
alunos. Muitos desses alunos retornarão à escola, mas em uma incômoda condição
de defasagem idade/série, o que pode causar conflitos e possivelmente nova
evasão. Diante desta estatística, na prática pedagógica, comumente presenciamos
situações que, pelos mais diferentes motivos, alguns alunos não acompanham o
ritmo dos colegas e ficam sem entender onde e porque fracassaram. Para o
professor, isso provoca um sentimento de impotência e incapacidade.
Benczik (2002) afirma que “Infelizmente, poucos professores têm
conhecimento sobre o TDAH. Em muitos casos, eles têm uma percepção errada
sobre a natureza, as causas, as manifestações dos sintomas e o que devem fazer.”
(p.49)
É fundamental que todos os professores tenham pelo menos uma noção
básica sobre o TDAH, para saber diferenciar incapacidade de desobediência.
Juntamente com a equipe pedagógica, o professor terá oportunidade de discutir e
refletir os mecanismos do sistema educacional e as razões pelas quais esses alunos
apresentam dificuldades para corresponder às necessidades de sala de aula. Sabe-
se que devido a sucessivos e frequentes fracassos, os alunos com TDAH podem
apresentar problemas de ajustamento social e baixa autoestima. Sendo assim, o
trabalho conjunto será importante no sentido da criação de adaptações curriculares
para a reconstrução de habilidades e conteúdos.
Baseada na obra “A árvore do conhecimento” de Maturana e Varela (2001),
Rossetto afirma:
O ser humano, no decorrer de seu processo de evolução, constrói seu conhecimento acerca do mundo, que por sua vez, constrói o ser
humano. Assim, o indivíduo deve ser estudado através de sua história e de suas interações com o meio, uma vez que é sempre influenciado e modificado por aquilo que vê e sente (2009, p.17).
Em 1933 Vigotski (apud Rossetto, 2009) explica o processo de
desenvolvimento fazendo uso dos termos: Nível de Desenvolvimento Atual (tudo o
que a criança já conhece e domina) e Zona de Desenvolvimento Proximal (o que a
criança ainda não domina e necessita de um mediador). Para que esse
desenvolvimento se efetive é preciso valorizar o nível de desenvolvimento atual,
considerando as capacidades que se encontram em formação situadas na zona de
desenvolvimento proximal, as quais necessitarão fundamentalmente da mediação do
professor.
O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM-IV(1994)
define o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade como um problema de
saúde mental, considerando-o como um distúrbio bidimensional, que envolve a
atenção e a hiperatividade/impulsividade.
De acordo com Rohde (1999), as crianças e adolescentes com TDAH
apresentam com maior freqüência outros problemas de saúde mental, como de
comportamento, ansiedade e depressão. Os médicos e psicólogos chamam isso de
comorbidade, que é a ocorrência em conjunto de dois ou mais problemas de saúde.
Ainda segundo Rohde (1999), 50% das crianças e adolescentes com TDAH
também apresentam problemas de comportamento, como agressividade, mentiras,
roubo, comportamento de oposição ou de desafio às regras e aos pedidos dos
adultos.
Segundo Dupaul e Stoner (2007) as pesquisas a respeito do Transtorno do
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), têm avançado bastante nas últimas
décadas, porém os alunos com este transtorno ainda encontram dificuldades
relevantes para o êxito escolar.
Pode-se resumir o TDAH como alterações genéticas que irão determinar
modificações na produção de neurotransmissores (substâncias químicas
responsáveis pela transmissão do impulso elétrico de uma célula nervosa para
outra) em importantes áreas cerebrais responsáveis pela nossa capacidade de
prestar atenção e inibir comportamentos indesejáveis. O mau funcionamento dessas
áreas provocará, consequentemente, os sintomas principais do TDAH: dificuldade
de atenção, hiperatividade e impulsividade.
Pesquisas publicadas pela Associação Brasileira de Déficit de Atenção -
ABDA (2007) relatam que crianças com Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade apresentam alterações na região frontal orbital e suas
conexões com o resto do cérebro. O que parece estar alterado nesta região cerebral
é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas
neurotransmissoras, principalmente dopamina e noradrenalina, que passam
informações entre as células nervosas (neurônios).
Segundo Barkley (2002), a criança desatenta e hiperativa apresenta sérios
problemas de comportamento opositivo e também entre 15 a 25% delas são
suspensas ou até expulsas da escola devido a problemas de conduta.
Na maioria das vezes o fracasso escolar, que pode se refletir na repetência
ou na evasão escolar, deixa marcas para sempre na vida desse aluno e o
desestimula a continuar estudando.
Este é um problema sério, mas torna-se mais dramático num país como o
Brasil, onde as condições geradas pelo subdesenvolvimento impõem a necessidade
de se buscar soluções para o problema. É nesse contexto que se deve pensar a
questão do fracasso escolar, desmistificando o problema. Empregando diferentes
variáveis em suas análises e fazendo as devidas relações entre elas, como por
exemplo, relacionar os maus desempenhos escolares com o nível de renda das
famílias dos estudantes é uma leitura da realidade que abre novas possibilidades na
busca de soluções.
Na verdade, a escola tem funcionado como uma instituição que tem
confirmado a distribuição de renda e de classe social no Brasil. De acordo com
Kruppa
[...] a escola tem sido concluída por uma minoria. A maioria, de baixa renda, não consegue terminá-la. Na verdade a escola tem funcionado como uma instituição confirmadora da distribuição de renda e de classe social: aos de maior renda, maior número de anos de estudo e de cursos concluídos; aos de baixa renda, a evasão e a repetência somam-se ao trabalho precoce, delineando um quadro já antigo: uns
para pensar, outros para trabalhar (1994, p. 85).
Essa situação perversa não permite que o país avance em termos de
desenvolvimento social e faz com que o processo de exclusão seja realimentado
diariamente. No entanto, é preciso ter cuidado para não responsabilizar o aluno pelo
seu fracasso escolar, pois nem sempre o problema está localizado apenas no
próprio sujeito.
Para ter bom rendimento nas provas, um aluno precisa não apenas exibir
aptidões que estão sendo avaliadas, mas também possuir capacidades para ouvir e
seguir instruções, prestar atenção e persistir até que a prova esteja completa. O
aluno deve ser capaz de parar para pensar qual seria entre as várias opções a
melhor resposta possível. Sendo assim, alunos com quadro de déficit de atenção
(DDA) com ou sem hiperatividade (TDAH), apresentam dificuldades extremas nestas
áreas, refletindo muito mais suas dificuldades do que seu potencial intelectual.
No que diz respeito à área médica, medicações, sintomas, prevalência, entre
outros, a evolução tem sido significativa, mas quando se fala nos progressos
acadêmicos, muito estudo ainda deverá ser realizado sobre o assunto. Devido a
fracassos constantes, rotulações inadequadas e outras dificuldades emocionais, as
crianças com este transtorno normalmente desenvolvem problemas referentes à
autoestima e autoimagem.
Para o desenvolvimento do trabalho foi utilizada a pesquisa teórica e de
campo, do tipo levantamento de dados, com metodologia descritiva explicativa e
abordagem qualitativa para aquisição de um maior conhecimento sobre o assunto.
O tratamento dos dados dos questionários foi realizado através da análise e
interpretação das respostas fornecidas pelos alunos, pais e professores, assim
como dos dados da anamnese e da avaliação pedagógica, apresentados através de
gráficos e também de uma análise descritiva dos resultados.
Durante o segundo semestre de 2011, foi realizada a implementação do
Projeto de Intervenção Pedagógica.
A princípio, participariam da pesquisa oito sujeitos, matriculados nas Salas de
Recursos do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, em Foz do Iguaçu, sendo
cinco deles apresentando diagnóstico de Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade e outros três indivíduos com indícios do TDAH e que haviam
evadido do colégio e retornado nos anos subsequentes. Ao procurar por estes
alunos, que haviam sido previamente selecionados, a primeira dificuldade foi
encontrada: alguns deles já não se encontravam mais matriculados no referido
colégio.
H. S. – 14 anos, 7ª série, duas reprovações. Apresenta laudo de TDAH. Aluno
assíduo na Classe Regular, faz uso de medicamentos e tem alcançado bons
resultados desde que iniciou suas atividades na Sala de Recursos.
Diz: “Não gosto de estudar. Acho que não me encaixo com livros”.
C. A. T. – 14 anos, 6ª série, duas reprovações. Apresenta indícios de TDAH.
Diz: “Não gosto de estudar. É muito chato, todo mundo tinha que nascer sabendo.
Todos incomodam.” A mãe do aluno procurou apoio médico especializado, por
insistência da escola, e segundo ela, recebeu a seguinte resposta: “Seu filho já tem
14 anos. É ele que precisa saber se quer ou não estudar. Não adianta a escola ou a
senhora (mãe) forçar.” Após três semanas da aplicação do questionário e inúmeras
tentativas de mediação entre professora da Sala de Recursos e Equipe Pedagógica
X Professores da Classe Regular, o aluno foi expulso da escola. Os professores
alegaram excesso de desrespeito, xingamentos e falta de responsabilidade e
compromisso. A mãe disse que em 2011 ele não estudaria mais, completando assim
sua terceira reprovação. Em 2012 ela resolveria que decisão tomar.
J. L. S – 18 anos, 1º E.M., três reprovações. Apresenta laudo de TDAH. Diz:
“Gosto da escola, das companhias, mas não de estudar.” Até o ano de 2009
estudava pela manhã, onde reprovou pela terceira vez. Passou então a estudar a
noite e trabalhar durante o dia. A partir daí houve uma maior dedicação em relação
aos estudos.
D. M. A. – 16 anos, 5ª série, quatro reprovações. Apresenta laudo de TDAH.
Mudou de colégio no final de 2010, por insistência dos professores, após a quarta
reprovação. Segundo eles, D. era faltoso, desinteressado e desestimulado.
H. M. P. – 17 anos, 6ª série, quatro reprovações. Apresenta laudo de TDAH.
O aluno só frequentava a escola para que sua mãe não fosse chamada pelo
Conselho Tutelar. Precisava usar medicamento para atenção e ansiedade, porém
recusava-se a utilizá-lo. Sua mãe deixava certas decisões por conta do filho, não
tendo mais controle sobre ele. Em 2010, H. desistiu de estudar.
J. A. R – 16 anos, 6ª série, três reprovações. Apresenta laudo de TDAH. O
aluno desistiu de estudar e, segundo a mãe, o filho está se dedicando a carreira
militar que, segundo ela, é mais importante.
L. F. S. – 16 anos, 7ª série, três reprovações. Apresenta indícios de TDAH.
Aluno assíduo e caprichoso, porém desrespeitoso com todos, descompromissado e
sem tolerância a normas e regras. Foi transferido para outra escola em meados de
2011.
L. K. S. – 15 anos, 6ª série, três reprovações. Apresenta indícios de TDAH.
Aluno bastante faltoso, porém caprichoso e com um excelente traçado de letra.
Desestimulado, agressivo e dissimulado. Precisa de auxílio constante na realização
de suas tarefas.
ANÁLISE DESCRITIVA DOS RESULTADOS
TDAH – Pesquisa Quantitativa.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entendemos que para o diagnóstico de TDAH, faz-se necessário uma
avaliação especializada e cuidadosa de cada sintoma e não somente a listagem
destes sintomas como costumeiramente acontece. O processo de avaliação
diagnóstica envolve necessariamente a coleta de dados com os pais, com o aluno e
com a escola. Tanto na entrevista com os pais quanto com o aluno é essencial a
pesquisa de sintomas relacionados com as comorbidades psiquiátricas mais
comuns. É importante a avaliação da escola, pois só assim pode-se ter idéia do
funcionamento global deste aluno.
O papel do professor é de extrema importância para que o aluno com TDAH
obtenha êxito na escola. A experiência do profissional, sua capacidade e dedicação,
no sentido de compreender a criança, auxiliará no seu processo de desenvolvimento
e aprendizagem.
Recomenda-se que o professor também reflita sobre sua prática pedagógica,
especialmente sobre as atividades repetitivas e sobre as experiências de
aprendizagem que são oferecidas, que nem sempre respeitam a individualidade dos
alunos. Todos nós, crianças, jovens e adultos, temos os nossos modelos de
aprendizagem e, dessa maneira, ela torna-se um processo muito singular.
Acreditamos que não se trata de buscar culpados para o fracasso escolar,
nem de responsabilizar os professores, mas buscar alternativas que estão ao nosso
alcance para solucionar o problema. Afinal, podemos trabalhar em conjunto com as
famílias de nossos alunos, mas não podemos promover grandes alterações dentro
desse contexto, podemos oferecer oportunidades de enriquecimento cultural na
escola, mas não solucionar os problemas sociais e de privação cultural de nossos
alunos. “É preciso desejar ensinar, é preciso querer ensinar. De certa forma é
preciso ter paixão nessa atividade” (Luckesi, 1994, p. 117). É nosso dever buscar
alternativas, e muitas delas são possíveis de serem realizadas dentro da escola.
Cada um dos nossos alunos aprende de forma diferente e o professor, na
maioria das vezes trabalha com um número grande de alunos. Assim, é impossível
trabalhar com atividades individualizadas o tempo inteiro. Então, uma das soluções
seria oferecer o maior número possível de atividades diferenciadas para um mesmo
conteúdo, identificando os canais de comunicação receptivos para a aprendizagem
do aluno com TDAH, abrangendo a valorização de todas as áreas do
desenvolvimento humano (afetiva, motora, social e cognitiva) dando oportunidade
para as diferenças dos modelos de aprendizagem operar (visual, auditivo e
cinestésico). Também não podemos nos satisfazer se parte da turma aprende e
parte não. Se alguns alunos não acompanham a turma, é necessário pensar de que
maneira podemos utilizar a epistemologia convergente, ou seja, a integração de
áreas do conhecimento para oferecer oportunidades diferenciadas de aprendizagem
para os alunos com dificuldades. O trabalho diversificado ainda é uma boa
alternativa para que o professor tenha condições de dar maior atenção aos grupos
de alunos que apresentam dificuldades. Assim, o trabalho em equipe na escola,
auxilia na revisão de conceitos e percepções, muitas vezes negativas que o
professor tem em relação aos alunos que possuem diagnóstico de TDAH. Para
tanto, necessitam desenvolver a capacidade de observação, percebendo com
clareza os indicadores de comportamentos inadequados com a finalidade de criar
estratégias para que o aluno com o transtorno aprenda a lidar com o próprio
transtorno e com os demais colegas.
Para obter as melhores condições educacionais para os filhos é prudente,
sensato e aconselhável que os pais estabeleçam um contato estreito com a escola
pois, esta poderá contribuir de forma relevante nessa tarefa. Ficará a cargo da
escola, valorizar o desenvolvimento global do aluno, reconhecendo e respeitando as
diferenças individuais, bem como estimular sua criatividade e espontaneidade.
Grande parte das dificuldades que enfrenta a pessoa com TDAH para ser
reconhecida e atendida em nossa sociedade, é devido à falta de informação,
discriminação e preconceito. Acreditamos que a aceitação de todas as diferenças é
o primeiro passo a ser tomado rumo ao sucesso dos alunos com esse transtorno.
Diante do resultado encontrado na realização dessa pesquisa, pode-se
perceber a complexidade de desenvolver um trabalho sério, com a intenção de
auxiliar alunos e familiares de alunos com esse tipo de transtorno. Daí a
necessidade da parceria e do auxílio de uma equipe multidisciplinar para a obtenção
de um melhor desenvolvimento do caso.
É importante mencionar que, durante o desenvolvimento da implementação
do projeto, a maioria dos pais e responsáveis pelos alunos pesquisados e de outros
matriculados nas Salas de Recursos fizeram-se presentes em reuniões e quando
convocados pela escola, participaram de forma ativa nas questões relativas a seus
filhos.
.
4 REFERÊNCIAS
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