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UNIPAMPA Dra. Katia Vieira Morais 18 março 2011

UNIPAMPA Dra. Katia Vieira Morais 18 março 2011cursos.unipampa.edu.br/cursos/letrasbage/files/2011/03/Retórica-e... · credibilidade conhecida antes e durante o discurso-leitura

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UNIPAMPA

Dra. Katia Vieira Morais

18 março 2011

Retórica e feminismo são áreas do conhecimento que investigam as ideologias que governam o nosso cotidiano em que a premissa maior é de que a linguagem edifica a realidade.

Assim o grande mérito desta intersecção entre retórica e feminismo na academia norte-americana é direcionar o questionamento retórico às questões de gênero, isto é, pesquisar mulheres retors, questionar a ausência de mulheres na história da retórica , questionar comportamentos e também privilegiar formas mais fluidas de expressão.

Sumário

Noções básicas de crítica retórica neo-aristotélica

Noções básicas de crítica retórica feminista

Alguns exemplos de publicações de crítica retórica feminista

Alguns textos para análise

Como estas filosofias politizam o cotidiano?

Aristóteles e a arte retórica “ Retórica pode ser definida como a

faculdade de observar em qualquer circunstância os meios persuasivos disponíveis ” (Aristotle 24).

“Rhetoric may be defined as the faculty (hability, power) of observing (discovering) in any given case the available means of persuasion ” (Aristotle 24).

Fig. 1. Aristóteles.< http://dialogocomosfilosofos.com.br>

Alianças: pensando retoricamente Quem usa? Que imagem projetam de si mesmos?

O que pensam as outras pessoas de quem usa alianças? Que sentimentos geram em outros?

Que lógica está por trás das alianças? Que valores estão associados a este símbolo?

Ethos

Pathos

Logos

Utilidade da retórica segundo Aristóteles

A verdade e a justiça tendem a prevalecer.

Dependendo da audiência, retórica torna a persuasão mais fácil.

Antever a argumentação oposta para poder refutá-la

Ser civil. Usar logos (oratória e razão) ao invés da força física.

Modos persuasivos: Provas não-artísticas ou externas como documentos e

testemunhos.

Provas artísticas ou internas: criadas pela oradora-escritora

Ethos: efeito do caráter da oradora-escritora na ouvinte-leitora, credibilidade conhecida antes e durante o discurso-leitura. Integridade ou virtude. Inteligência ou senso comum e familiariedade com o tópico. Identificação com a ouvinte-leitora (elogiar).

Pathos: gerar emoções na ouvinte-leitora e como elas geram reações favoráveis.

Logos: os elementos lógicos ou racionais que determinam o argumento e como substanciá-lo. Citação, estatística, experiência pessoal, resumos, gráficos. Indução ou dedução.

Modelo Aristotélico

Pathos EthosEpideitico Ético Leitor Contextos Escritor

LogosJudicial Texto

Influência da Retórica Clássica As categorias fundamentais permanecem: propósito,

público, composição, argumentação, organização e estilo.

As discussões sobre tópicos comuns, figuras de estilo modificam-se com o tempo.

A discussão sobre o conhecimento retórico como verdade ou como contigente continua.

Crítica retórica neo-aristotélica Até 1960 esta era a única forma baseada nos ensinamentos

de Aristóteles, Cicero e Quintiliano de se fazer crítica retórica de discursos públicos na área de comunicação (Speech and Communication).

Reconstruir o contexto para saber como ele afeta a criação de um artefato (influências, motivação)

Aplicar os 5 princípios retóricos: invenção, organização, estilo, enunciação e memória.

Avaliar o impacto no ouvinte-leitor, qual o efeito que o artefato gera em termos de mudar de opinião ou ações.

Pergunta-chave: A autora-oradora usou os meiospersuasivos disponíveis para gerar a resposta desejada?

(Foss 11-25)

Exemplos de textos que cruzam retórica e feminismo Glenn, Cheryl. Rhetoric

Retold: Regendering the Tradition from Antiquity Through the Renaissance. Carbondale: Southern Illinois UP, 1997. Print.

Glenn afirma que mulheres como Diotima e Aspasia foram grandes retors do seu tempo.

Fig. 2. Glenn´s book cover. <http://www.amazon.com>

Diotima de Manitea

Conceito platônico do amor.

Fig. 3. Diotima.

http://filosofiacotidiana.wordpress.com

Texto de retórica neo-aristotélica Logan, Shirley Wilson. ´We Are

Coming`: The Persuasive Discourse of Black Women. Carbondale: Souther Illinois UP, 1999. Print.

Logan analisa textos de intelectuais afro-americanas antes da I Guerra Mundial, na época da migração de afro-americanos.

Ela analisa discursos, cartas, ensaios, editoriais de Maria Stewart, Frances Harper, Ida B. Wells, Fannie Barrier Williams e Anna Cooper.

Fig. 5. Logan´s book cover. <http://www.amazon.com>

Ida B. Wells

Fig. 6. Ida B. Wells.

<http://anitacrawfordclark.com>

Lei de linchamento

Migração

Julia Anne Cooper

Fig. 7. Julia A. Cooper.

<http://blackoncampus.com>

Doutorado em Paris

Diretora do Oberlin College

Outro exemplo da intersecção de retórica e feminismo

Britt, Elizabeth. Conceiving Normalcy: Rhetoric, Law, and the Double Binds of Infertility. Alabama: U of Alabama Press, 2001.Print.

Britt questiona se retardar a maternidade é um benefício para mulheres que trabalham. Ela investiga mulheres com sucesso profissional que fazem tratamento para engravidar e as leis que normatizam o funcionamento de clínicas de medicina de fertilidade.

Fig 8. Britt´s book cover. <http://www.amazon.com>

Mountford, Roxanne. The Gendered Pulpit: Preaching in American Protestant Spaces. Carbondale: Southern Illinois UP, 2003. Print.

Mountford cria o termo espaço retórico—em uma situação retórica como o espaço físico das mulheres é negociado.

Estudo etnográfico de mulheres que assumem a direção de igrejas protestantes e como elas negociam seus espaços físicos, autoridade e oratória.

Fig 9. Mountford´s book cover. <http://www.amazon.com>

Analise ethos, pathos e logos neste poemaMy Lady Ain´t No Ladymy lady ain´t no ladyshe doesn´t flow into a roomshe enters & her presence is feltshe doesn´t sit small—she takes all her space.she doesn´t partake of meals—she eats—replenishes herself.my lady ain´t no lady.

Minha Dama Não é Uma Dama

minha dama não é uma damaela não flutua ao entrar numa

salaela invade & sua presença é

notadaela não senta pequeno—ela se apropria do seu espaço.ela não come como um

passarinho—ela se farta comendo.minha dama não é uma dama.

she has been knownto speak in a loud voice,to pick her nose,swear at her cats,scream obscenities at men,paint rooms,repair houses,tote garbages,play basketball,& numerous otherun lady like things.

my lady is definitely no ladywhich is fine with me,

cause i ain´t no gentleman.

ela é conhecidapor falar em voz alta,botar o dedo no nariz,gritar com seus gatos,gritar obscenidades aos homens,pintar paredes,consertar casas,jogar o lixo fora,jogar basquete,& numerosas outras coisasque uma dama não faria.

minha dama definitivamente não é uma dama

o que está bom para mim.pois eu não sou nenhum

cavalheiro.

Autora: Audre Lorde Fig. 10. Audre Lorde.

<http://bandofthebes.typepad.com>

Crítica retórica feminista Feminismo: “Movimento para criar uma sociedade

onde mulheres podem viver uma vida plena e se auto-determinarem” (Foss 151).

“Uma luta para eradicar a ideologia dominante que permea a cultura ocidental em vários níveis” (Foss 151).

Primeira Onda

Segunda Onda

Terceira Onda

Ondas feministas nos EU: Primeira Onda nos EU: século 19 até meados de 1920 para

segurar o direito de voto.

Segunda Onda nos EU: Betty Friedman em 1963 escreve ´A Mística Feminina`. Liberal—ter os mesmos direitos que os homens. Radical—alteração dos padrões socias. Lésbicas—supremacia masculina se dá pela heterogenia.

Terceira Onda nos EU: “Inclui mulheres e homens de diferentes raças, religiões, classes, sexualidades e abilidades (física e mental). Foco nas experiências pessoais, circunstâncias e contextos como mecanismo para reconstruir uma agenda feminista” (Foss 152-153).

Power feminism.

Crítica feminista surge como um método em que feministas de várias áreas fazem pesquisa para intervir na ideologia de dominação de gênero, classe, raça, habilidade, sexualidade, idade.

bell hooks

A dominação de gênero é “a prática de dominação que a maioria das pessoas vivenciam, tanto no papel de discriminador (a) como discriminado(a). É a forma de discriminação que a maioria das pessoas é socializada para aceitar antes mesmo de descobrir que outras formas de opressão existem” (hooks 26).

Análise retórica feminista Construção de gênero ou qualquer outro foco de identidade:

descobrir o que é normalizado, desejado como comportamento. Como a mulher é tratada no artefato? Para quem ela está sendo retratada (quem é o público ideal, alvo)?

Implicações da construção de gênero. Exploração do que o artefato sugere em termos de como uma ideologia de dominação está sendo construída ou desconstruída. Como a hegemonia da dominação de um grupo é construída para manter o status quo? Hegemonia é a imposição de um grupo sobre outros—é o poder de descrever a realidade e ter esta descrição aceita.

Pergunta: Que estratégias retóricas são usadas para manter ou confrontar a marginalização de certos grupos?

(Foss 158-161)

O que esta imagem revela da autora? Fig. 11. Autora do texto

no handout. <http: //utsa.edu>

Analise o texto no handout (introdução) conforme modelo clássico de Cícero. Procure inovações.

Como a autora politiza o cotidiano ?

Contribuição de Cícero:

A oradora-escritora deve seguir esta organização ao apresentar

um texto

Exordium: Chama a atenção e atrai a boa vontade da ouvinte-leitora para o assunto.

Narratio: Apresenta os fatos, explicando o que aconteceu, quando, quem. Contextualiza.

Partitio: Divide o assunto explicando qual é o argumento, quais são os pontos cruciais,e qual a ordem de tratamento do assunto.

Confirmatio: Oferece suporte detalhado para o argumento observando a lógica e a evidência factível.

Refutatio: Reconhecer e refutar argumentos e evidências contrárias.

Peroratio: Resumir o assunto e incentivar a ouvinte-leitora a agir.

(Lunsford & Ruszkiewicz 172-175)

Versão atualizada da Oratória de Cícero Introdução: fazer com que a leitora se interesse pelo texto e se

motive a ler, estabelecer as qualificações da escritora paraescrever o texto, estabelecer tópicos comuns com a leitora, demonstrar que tem bom senso, apresentar um argumento

Suporte: apresentar informações necessárias, incluindo narrativa pessoal, que sejam importantes para o argumento

Linha de argumentação: apresentar boas razões, lógica e emocionais, para corroborar o argumento

Argumentos alternativos: examiná-los, apontar vantagens e disvantagens, explicar por que seus argumentos são melhores

Conclusão: resumir, elaborar as implicações do argumento, deixar claro como você quer que a leitora pense ou aja, reinforçar sua credibilidade ou ofecer um apelo emotivo

(Lunsford & Ruszkiewicz 172-175)

Susana Chavez: Vítima do feminicídio no México

Fig. 12. Susana Chavez.

<http://www.adital.com.br>

Analise o texto no handout.

Que apelo retórico é mais presente (ethos, pathos ou logos) ?

Como o cotidiano é politizado neste artigo de jornal ?

Analise as fotografias e aponte como o cotidiano é politizado ?

Como retórica e feminismo politizam o cotidiano?

Fig. 13. Lauren Greenfield “Girl Culture”<http://www.kochgallery.com/artists/contemporary/Greenfield/index.html>

Fig. 14. Lauren Greenfield “Fast Forward”<http://www.kochgallery.com/artists/contemporary/Greenfield/index.html>

Works CitedAristotle. The Rhetoric and the Poetics of Aristotle. New York: Random House,

1984. Print.Anzaldúa, Gloria. Borderlands/ La Frontera: The New Mestiza. 2nd ed.

San Francisco: Aunt Lute Books, 1999. Print.Bizzell, Patricia and Bruce Herzberg. The Rhetorical Tradition:

Readings from Classical Times to the Present. 2nd ed. Boston: Bedford/St. Martin´s, 2001. Print.

Foss, Sonja K. Rhetorical Criticism: Exploration & Practice. 3rd ed. LongGrove: Waveland Press, 2004. Print.

hooks, bell. Feminist Theory: From Margin to Center. Boston: South End, 1984. Print.

Lorde, Audre. The Collected Poems of Audre Lorde. New York: W. W.Norton & Co, 2000. Print.

Lusnford, Andrea and John J. Ruszkiewicz. Everything´s an Argument. 5th ed. Boston: Bedford/St. Martin´s, 2010. Print.