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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO ENSINO
SUPERIOR
Por: Isabela Vidal Magalhães da Silva
Orientador: Professor Vilson Sérgio de Carvalho
Rio de Janeiro
2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO ENSINO
SUPERIOR
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Docência do Ensino Superior
Por: Isabela Vidal Magalhães da Silva
3
AGRADECIMENTOS
O ato do agradecimento mostra o
quanto reconhecemos aquilo que foi
feito em nosso favor. Sendo assim,
tenho muito para agradecer.
Primeiramente a Deus, aos meus
amados pais, ao meu irmão, as minhas
avós e aos meus grandes amigos e
eternos companheiros. Obrigada por
tudo.
5
RESUMO
O estudo científico das Relações Internacionais, embora bastante
relevante, é relativamente recente e ainda muito pouco conhecido,
principalmente no Brasil. Poucas pessoas conhecem a existência de
graduações em Relações Internacionais. Este trabalho apresenta a
importância de existirem profissionais graduados nesta área e o que o estudo
da relação entre Estados pode alterar a vida de um cidadão comum. Neste
trabalho de conclusão de curso pretende-se abordar o motivo e o período
histórico que fez com que as relações internacionais passassem a ser um
estudo sistematizado nas academias. Depois que o mundo vivenciou as
catástrofes da Primeira Guerra Mundial, a humanidade percebe que a paz só
seria alcançada quando as relações entre Nações fossem estudadas e
compreendidas. Assim surge no ensino superior o estudo sistematizado do
sistema internacional. Neste trabalho busca-se também apresentar a história
das Relações Internacionais nas instituições de ensino superior.
6
METODOLOGIA
A escolha do tema ocorreu devido aos estudos prévios da autora deste
trabalho que é graduada em Relações Internacionais. Foi observado a
ingenuidade dos estudos desta área no Brasil e como a existência da disciplina
das Relações Internacionais nas academias é tão pouco conhecida pelo
cidadão comum. O trabalho foi todo elaborado a partir da leitura de livros
técnicos e clássicos da área de pesquisa. Dentre os autores estudados
merecem destaque: Robert Jackson, Georg Sorensen, João Pontes Nogueira e
Nizar Messari.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A História das Relações Internacionais. 10
CAPÍTULO II - Por que estudar Relações Internacionais? 17
CAPÍTULO III – As Relações Internacionais na Academia. 26
CONCLUSÃO 35
BIBLIOGRAFIA 36
ÍNDICE 37
FOLHA DE AVALIAÇÃO 39
8
INTRODUÇÃO
Segundo Jackson & Sorensen (2003), as relações entre Estados
independentes do sistema internacional são chamadas de “relações
internacionais”. Mas Relações Internacionais (com letra maiúscula) ou
simplesmente RI é o campo acadêmico de estudos das relações
internacionais. (p.20)
Muito pouca atenção é dada pelos cidadãos à política externa de seus
países. Como afirma Lessa (2007), “a dimensão cultural das relações
internacionais sempre foi vista de forma secundária”. (p.223) Esse pouco
interesse pela área é observado basicamente em países ainda em
desenvolvimento.
O objetivo deste trabalho de conclusão de curso é apresentar a
evolução e a relevância dos estudos das RI para a população global que vive
inserida em um sistema de Estados. O que se pretende é descrever o contexto
histórico das RI no ensino superior, assim como o amadurecimento científico
da disciplina.
O trabalho está dividido em três partes, ou melhor, em três capítulos.
No primeiro capítulo intitulado - a história das Relações Internacionais -
busca-se abordar o início da disciplina que se deu no período entre - Guerras.
Para isso se fez necessário uma breve pesquisa do motivo que levou as
universidades na época a começarem a se interessar pelo estudo das relações
entre Estados. O primeiro capítulo ainda apresenta os efeitos da Primeira
Grande Guerra e um breve histórico da evolução das teorias acadêmicas das
Relações Internacionais.
No segundo capítulo – por que estudar Relações Internacionais? – o
interesse é aproximar a relação entre as nações às vidas do cidadão comum
que na maioria das vezes pouco se interessa pelas diretrizes tomadas por seu
país no sistema internacional. Ainda nesta parte pretende-se apresentar alguns
conceitos chaves, ou melhor, apresentar algumas das nomenclaturas técnicas
básicas para que o leitor possa melhor compreender as RI.
9
O último e terceiro capítulo – As Relações Internacionais na academia -
tem como foco apresentar a produção e as contribuições teóricas dos estudos
das Relações Internacionais nas instituições de ensino superior em todo o
mundo. Essa parte final do trabalho ainda oferece um histórico detalhado dos
quatro debates acadêmicos das RI.
10
CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
1.1 – O início do interesse pela relação entre Estados.
De acordo com E.H. Carr,(1981) desde os séculos quinto e quarto que
os pensadores começam seriamente, a estudar a natureza da ciência política.
Na ingênua e inicial análise, Confúcio e Platão sugeriram uma nova ordem
mundial, fruto da aspiração e não da real análise. Ao longo dos séculos a
ciência política internacional surgiu e foi sendo desenvolvida devido a uma
demanda social, pois na medida em que o mundo ia se interligando através do
comércio e, sobretudo das guerras, mais os cientistas políticos precisavam
compreender as relações entre Estados. (p.9)
O termo relações internacionais surge no início da era moderna, ou seja,
séculos XVI e XVII, na Europa. Os Estados soberanos foram fundados e as
relações entre estes Estados são as “relações internacionais”. (JACKSON &
SORENSEN, 2007)
Antes da Primeira Grande Guerra Mundial, os assuntos diplomáticos
eram somente vistos em poucos noticiários, mas em nenhum círculo intelectual
havia qualquer estudo das relações internacionais.
“A guerra ainda era vista principalmente como negócio de soldados e o corolário disto era que a política internacional era um negócio de diplomatas. Não havia desejo geral de retirar a condução dos assuntos internacionais das mãos dos profissionais, nem mesmo de prestar atenção séria e sistemática ao que eles estavam fazendo”. (CARR, 1981, p.4)
11
Segundo Williams da Silva Gonçalves,(2007) a história diplomática se
desenvolve no início do século XIX tendo como a instituição em causa, o
Estado e a sua dimensão externa. Neste período os historiadores se
esforçavam por conhecer o processo de formação das alianças políticas, de
assinaturas de tratados e de acordos internacionais. O século XIX foi
avançando e a complexidade da “teia política” era grande e por isso, a história
diplomática foi sendo cada vez mais relevante para que as relações
internacionais fossem compreendidas. (p.16)
1.2 – Os efeitos da Guerra.
A racionalidade é uma característica da humanidade que abre portas
para o potencial de transformar as relações sociais e realizar o progresso.
Depois da guerra 1914-18 e seus prejuízos humanos e financeiros o
mundo sofreu grandes transformações. Mas a racionalidade humana precisava
modificar as relações entre os Estados para que o progresso - que neste caso
é a não existência da guerra - fosse obtido.
A política internacional sofreu uma campanha de popularização que se
iniciou nos países de língua inglesa. A assinatura de tratados secretos entre as
nações foi apontada como a causa para e eclosão da guerra. Antes da
Primeira Guerra Mundial a população não tinha curiosidade acerca dos
tratados e acordos entre países, o que não ocorria mais, pois o povo passou a
querer participar das decisões políticas internacionais. “Foi o primeiro sintoma
da demanda pela popularização da política internacional”. (CARR, 1981, p.4)
A Primeira Guerra Mundial fez com que o interesse pela compreensão
entre as relações entre Estados aumentasse. A história diplomática atingiu o
seu ápice. A tamanha destruição da Primeira Guerra abalou o mundo e diante
de tantas vidas perdidas e de todo prejuízo material, precisava-se saber os
motivos geradores desta catástrofe para que uma nova fosse evitada a todo
custo.
12
Acabou a idéia de que a Guerra era assunto de soldados e diplomatas,
como afirmou Carr. A política internacional se popularizou e o mundo tinha que
saber o que ocasionou a guerra, para que um novo conflito deste porte não
ocorresse. A Primeira Guerra Mundial foi um conflito armado mecanizado
moderno e por isso as conseqüências aterrorizaram o mundo. (JACKSON &
SORENSEN, 2007)
A partir desta guerra surge uma generalização da política internacional e
se deu o início de um novo estudo científico. Depois da Primeira Guerra
Mundial, portanto, inicia-se o estudo sistemático das Relações Internacionais.
O objetivo era interpretar uma ordem internacional conturbada. Os estudos
existentes até então, não explicavam por inteiro a instabilidade e a insegurança
do sistema internacional.
Eiiti Sato afirmou que “o surgimento das relações internacionais como
campo de estudo distinto, dentro dos atuais padrões está visceralmente
associado ao esgotamento das possibilidades oferecidas pela ordem liberal do
século XIX”. (CARR, 1981, prefácio xxxii)
Os primeiros passos da disciplina das Relações Internacionais foram
dados na Escócia. Em 1917 foi criado o primeiro departamento de Relações
Internacionais na Universidade de Aberystwyth com o objetivo de:
“organizar uma disciplina em torno do estudo da questão da guerra e mais precisamente, com a finalidade de livrar a humanidade de suas conseqüências nefastas. Era preciso, então, estudar o fenômeno da guerra e suas causas para poder evitar a repetição de tragédias similares às acontecidas na então chamada Grande Guerra”. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005, p.3)
Surgem, portanto, na Inglaterra e nos Estados Unidos, cadeiras nas
universidades que estudavam especificamente as relações internacionais.
As Relações Internacionais como estudo acadêmico surge com o
objetivo de estudar a relação entre as nações e evitar conflitos entre os povos.
Porém é do conhecimento de todos que as guerras não foram eliminadas do
planeta e as relações internacionais se tornam cada vez mais complexas.
13
Esse estudo científico ainda é relativamente novato nas cadeiras das
universidades mundiais, sobretudo no Brasil.
Segundo Gonçalves, (2007) o objeto da história das Relações
Internacionais “requer interpretação das influências geográficas, econômicas,
culturais e ideológicas que condicionam a ação dos Estados em suas relações
Externas”. (p.22) Compreende-se que vários elementos são fundamentais para
que as relações entre os Estados possam ser entendidas, mas a história é
essencial, pois somente analisando o processo de criação do estudo das
Relações Internacionais é que se pode pensar e teorizar o futuro.
Terminada a guerra em 1918, os esforços foram muitos para evitar que
novas guerras ocorressem, mas como toda nova ciência, o estudo das
Relações Internacionais começou muito ingênuo e utópico. O mundo buscava
um fim que era a paz, a segurança e a estabilidade internacional, mas se
negava a estudar a realidade crítica do planeta pós Primeira Guerra Mundial.
1.3 – Relações internacionais e segurança coletiva.
Tentou-se implementar uma ferramenta de administração do sistema
internacional que foi a “segurança coletiva”. O sistema de segurança coletiva
se baseia na idéia de que a paz é um interesse universal e desta forma, os
Estados podem assumir compromissos de evitar e até suprir a agressão de um
Estado contra outro. O sistema foi posto em prática pela primeira vez na Liga
das Nações – primeira organização internacional universal criada em 1919. Na
Liga das Nações o sistema de segurança coletiva previa que a paz era
indivisível, portanto, qualquer ameaça localizada deveria ser tratada como uma
ameaça à paz internacional. Uma agressão a qualquer nação passaria a ser
não um problema somente dela, mas de toda a comunidade internacional.
O sistema de segurança coletiva criado em 1919 foi um grande fracasso
por muitos motivos, mas isso se deu devido a infância que os estudos das
Relações Internacionais viviam. A visão otimista das relações entre Estados
sofreu um impacto, problemas existiam e desencadearam, em 1939 a Segunda
Guerra Mundial, que só acabou em 1945. (HERZ & HOFFMANN, 2004)
14
1.4 – Breve histórico da evolução das teorias
acadêmicas das Relações Internacionais.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, mais uma vez o mundo tinha
mudado e as Relações Internacionais como estudo, ganhavam cada vez mais
força e as teorias passaram a ser relevantes para explicar os acontecimentos
internacionais. Alguns estudiosos como E.H. Carr e Georg Schwarzenberger
retomam a teoria realista. De acordo com o primeiro, o realista aceita os fatos
e depois tenta analisar causas e conseqüências, o realismo se compromete
em estudar a realidade.
A busca, nos, meios acadêmicos, por uma teoria que explicasse o
cenário internacional passou a ser essencial.
“Se a teoria não existisse, tanto para a análise como para a execução das políticas, teria que ser inventada. (...) Que outra forma haveria de encontrar o sentido dos fenômenos que constituem a base das decisões políticas? O termo teoria (...) consiste na especulação acerca do relacionamento entre fenômenos, incluindo a reflexão sistemática destinada a explicar e a demonstrar que esses fenômenos, se encontram relacionados segundo um padrão inteligente e dotado de significado e não são meros elementos dispostos ao acaso num universo desprovido de coerência”. (DOUGHERTY & PFALTZGRAFF, 2003, p.820)
Carr chama os primeiros acadêmicos de utópicos ou idealistas, estes
estudavam o “dever ser do mundo”. Ao contrário destes, Carr define o segundo
grupo que estudava o “como o mundo realmente era”, os realistas. Na área
acadêmica de Relações Internacionais o confronto entre idealistas e realistas
ficou conhecido como o primeiro grande debate da teoria das Relações
Internacionais. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a teoria realista
sai como “a grande vencedora” e vive seu auge.
15
O segundo grande debate não foi mais “sobre o que estudar, mas como
estudá-lo”. As ciências sociais vivenciaram uma revolução chamada
Behaviorista e a crítica feita às Relações Internacionais era metodológica. O
segundo debate, portanto, foi entre as teorias tradicionais e o behaviorismo.
A Guerra Fria fez com que a disciplina de Relações Internacionais
tivesse um maior rigor cientifico. O desenho político do mundo na Guerra Fria
exigia maior previsibilidade no cenário internacional. (NOGUEIRA & MESSARI,
2005)
Jackson e Sorensen (2003) afirmam que o terceiro grande debate foi
entre o neo-realismo/neo-liberalismo e o neo-marxismo. Os mesmos autores
afirmam que agora estamos no quarto debate que é entre tradições
consagradas (Realismo, liberalismo e Marxismo) contra alternativas pós-
positivistas (Teoria crítica, construtivismo e pós modernismo).
Os acontecimentos históricos, as guerras, as relações entre Estados, a
interdependência e principalmente o surgimento de novos atores internacionais
foram influenciando e transformando a área acadêmica das Relações
Internacionais.
Necessário se faz pesquisar os raciocínios teóricos das Relações
Internacionais para que seja possível entender o mundo e suas
complexidades. O ser humano por sua natureza já vive em transformações, o
planeta também, e por conseqüência a teoria internacional está em constante
mudança. Um acadêmico sensato não irá se apegar em princípio, a uma só
teoria, um só paradigma ou a uma só verdade.
“(...) exprimimos a convicção de que nenhuma perspectiva por si só é capaz de explicar de forma adequada, exaustiva e penetrante toda a variedade de fenômenos que compõe o complexe internationale sempre em evolução”. (DOUGHERTY & PFALTZGRAFF, 2003, p.9)
16
Hoje, Relações Internacionais é o estudo do sistema Estatal ou
internacional a partir de várias perspectivas acadêmicas.
Pesquisar sobre o contexto internacional do período entre guerras, o
nascimento e o desenvolvimento das Relações Internacionais é a meta para
que o sistema internacional complexo e cheio de elementos (culturais,
ideológicos, econômicos, dentre outros) possa ser mais bem entendido.
17
CAPÍTULO II
POR QUE ESTUDAR RELAÇÕES INTERNACIONAIS?
“A principal razão para se estudar Relações Internacionais é o fato de que toda a população mundial vive em Estados independentes. Em conjunto, esses Estados formam o sistema estatal global”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.56)
2.1 – O estudo as relações internacionais e sua
influência na vida cotidiana.
Primeiramente é importante que todos os indivíduos tomem consciência
que estão inseridos em um sistema mundo. Toda a humanidade forma uma
família universal, mas essa população mundial não vive junta, não possui os
mesmos hábitos, costumes, história e cultura. A humanidade está divida em
comunidades políticas territoriais distintas, ou seja, Estados que são
independentes.
Esses quase 200 países distintos que interagem entre si, que abrigam
os indivíduos, formam um sistema internacional. Praticamente todos os
homens são cidadãos e participam da construção política de uma nação e
vivem submetidos à influência de um Estado. Portanto os seres humanos
estão inseridos no sistema internacional e a relação entre os Estados afeta a
vida cotidiana de cada um, de varias maneiras, mesmo que o indivíduo não
tenha essa percepção.
Legalmente os Estados são independentes uns dos outros, são
soberanos e, portanto, nenhuma organização ou qualquer instituição
internacional tem capacidade de mandar em um Estado. Mas isso não quer
dizer que eles não estejam interligados ou que não exerçam influências entre
si. Cada vez mais os Estados interagem e dificilmente uma nação terá êxito e
futuro próspero se optar pelo isolamento.
O caminho é a cooperação e o entendimento entre os povos para que
seja possível uma boa fluência das relações internacionais.
18
“Ademais, estão geralmente incorporados aos mercados internacionais, que geram efeitos sobre as políticas dos governos e sobre a riqueza e o bem-estar de seus cidadãos. Sendo assim, o relacionamento entre Estados é necessário – ou seja, o isolamento total não é uma boa opção. Quando um país é isolado, (...) o resultado geralmente é o sofrimento da população local”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.20)
As pessoas vivem em Estados que se influenciam, o sistema estatal é
um sistema de relações sociais. As Relações Internacionais estudam os meios
de fazer com que a interação entre as nações seja pacífica, amistosa e
benéfica para os países e sendo assim, buscam uma melhor qualidade de vida
para nós, moradores do planeta Terra.
As relações internacionais parecem estar distante da vida de um
cidadão comum. No Brasil, por exemplo, a política externa parece ser segredo
de Estado e poucos cidadãos se interessam pelo rumo que seu país está
tomando no sistema internacional, a mídia pouco fala do posicionamento do
Brasil nas decisões internacionais.
A grande verdade é que as relações internacionais só afetam
aparentemente a vida de um indivíduo comum, quando as coisas não vão bem.
O homem só se atenta à segurança-nacional quando seu país recebe um
ataque de um poder externo. A independência nacional e individual só é
relevante quando a paz não é mais garantida. Só se percebe a importância da
justiça e da ordem internacional quando se sofre abusos ou explorações de
outros Estados. Como afirmam JACKSON e SORENSEN (2003):
“Nos conscientizamos do bem-estar nacional e do
nosso próprio bem-estar socioeconômico quando países estrangeiros ou investidores internacionais, com base em sua influência econômica, prejudicam nosso padrão de vida”. (p.26)
Isso explica o porquê das Relações Internacionais como um estudo
acadêmico terem surgido depois da Primeira Guerra Mundial, quando o mundo
se conscientizou que seria fundamental entender o funcionamento do planeta,
ou seja, o sistema internacional antes que ele se destruísse.
19
2.2 – Conceitos-chave das relações internacionais.
- SOBERANIA ESTATAL: Qualidade do Estado de ser politicamente
independente de todos os outros Estados.
- SISTEMA ESTATAL: Relações entre agrupamentos humanos organizados
politicamente, que ocupam territórios distintos, não estão subordinados a
nenhum poder ou autoridade superior e desfrutam e exercem um certo grau de
independência com relação aos outros.
- CINCO REGRAS BÁSICAS DE UM SISTEMA ESTATAL: Segurança,
liberdade, ordem, justiça e bem-estar.
- PRINCIPAIS ABORDAGENS TRADICIONAIS DE R.I.: realismo, liberalismo,
sociedade internacional e EPI.
- O DILEMA DE SEGURANÇA: Os Estados são tanto uma fonte de segurança
quanto uma ameaça à segurança dos seres humanos.
- AUTORIDADE MEDIEVAL: Um arranjo de autoridade política dispersa.
- AUTORIDADE DO ESTADO MODERNO: Um arranjo de autoridade política
centralizada.
- HEGEMONIA: poder e controle exercidos por um Estado proeminente sobre
os outros Estados.
- BALANÇA DE PODER: uma doutrina e um arranjo pelo qual o poder de um
Estado (ou grupo de Estados) é controlado pelo poder compensatório de
outros Estados.
(JACKSON & SORENSEN, 2003, p. 21)
20
2.3 – O cidadão, o Estado e o sistema estatal.
O que significa para um indivíduo viver em um país? Qual é a influência
disso em sua vida? Para que se torna necessário entender o andamento do
mundo? Por que acontece a guerra e a paz entre os diferentes Estados?
Esses questionamentos são fundamentais quando um universitário se propõe
a estudar as Relações Internacionais. É preciso que se enxergue uma relação
direta entre indivíduo, nação e mundo.
Segundo Jackson e Sorensen (2003), são no mínimo cinco os valores
básicos que um Estado supostamente deve defender: segurança, liberdade,
ordem, justiça e bem-estar. Estes são valores essenciais para que o homem
em qualquer parte do mundo tenha seu bem-estar garantido e cabe ao Estado
garantir e fiscalizar o cumprimento desses.
Mas será que um país sempre garante uma boa qualidade de vida aos
seus cidadãos? Ao que se observa nem sempre um governo cumpre o seu
papel.
O primeiro valor básico que um Estado deve defender é a segurança,
mas a própria existência do sistema de Estados pode colocar em risco a
segurança dos seus cidadãos. Isso se explica, pois no mundo existem hoje
quase 200 países e esses em sua grande maioria são armados. Quase todos
os países do mundo possuem forças armadas e como não existe um governo
mundial capaz de coagi-los, alguns podem se mostrar agressivos e hostis e
colocar em risco a segurança humana.
A segurança nacional é uma grande preocupação das Relações
Internacionais. Intelectuais de toda parte do mundo se esforçam por buscar
meios de fazer com que a relação entre as nações possa ser pacífica, estável
e segura para a humanidade.
O segundo valor básico é a garantia de liberdade tanto individual quanto
nacional. O cidadão não pode ser livre se o seu país não for, mas mesmo
quando um país é livre sua população pode não ser. Mas a condição essencial
para que a haja liberdade é a paz e a busca dessa convivência pacífica na
21
relação entre Estados é a principal meta da disciplina das Relações
Internacionais.
“A guerra ameaça e, algumas vezes, destrói a liberdade. A paz, pelo contrário, promove a liberdade, tornando possível a mudança internacional progressiva e a criação de um mundo melhor. A paz e a mudança progressiva estão certamente entre os valores mais fundamentais das relações internacionais”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.23)
O terceiro e quarto valor que é da responsabilidade dos Estados é a
garantia da ordem e da justiça. E para que isso aconteça se faz necessário
que o país queira ser cumpridor da ordem e da justiça internacional, ou seja,
respeitar o direito internacional e os direitos humanos, manter seus
compromissos selados com os tratados internacionais, respeitar as práticas
diplomáticas e as organizações internacionais.
Ao respeitar e colaborar com o bom andamento do sistema
internacional, o Estado assim, garante que seus cidadãos vivam em um
ambiente pacífico e estável. As Relações Internacionais colocam a ordem e a
justiça como seus valores mais fundamentais e buscam fazer com que os
países tenham boa vontade em colaborar com a paz. (JACKSON &
SORENSEN, 2003)
O último valor básico que um Estado deve defender é o bem-estar
socioeconômico da sua população. Os indivíduos acreditam que o governo é
responsável por garantir um bom andamento da economia, ou seja, das
práticas comerciais, emprego para todos, baixa inflação, investimentos na
economia nacional e etc. Mas as economias não funcionam isoladamente. Os
mercados interagem entre si e os países são essencialmente dependentes uns
dos outros, dificilmente hoje, no século XXI encontramos um país que produza
tudo que seus cidadãos precisem e não exerçam nenhuma troca comercial.
As práticas de mercado são outro campo de estudo das Relações
Internacionais que percebe que o comércio exterior é extremamente relevante
ao mundo que vivemos hoje. Mesmo que essas práticas ainda sejam desiguais
22
e muitas vezes os países ricos e poderosos explorem os mais pobres cabe as
Relações Internacionais entenderem essa relação comercial entre os povos.
Será melhor ou pior para o ser humano viver dentro do sistema de
Estados? Essa é uma das grandes discussões das Relações Internacionais.
“Durante muito tempo, acreditou-se que a vida dentro de Estados
adequadamente organizados e bem administrados é melhor do que a vida fora
deles ou na sua ausência”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.27)
A grande questão é que quando um Estado consegue assegurar os
cinco valores centrais discutidos acima, o sistema tem grandes chances de se
manter em paz. Mas quando o Estado não cumpre seu papel, ele pode ser
visto como um ameaça ao bem-estar dos indivíduos.
Como afirmam Jackson e Sorensen (2003):
“(...) se os Estados não forem bem-sucedidos nesse aspecto, o sistema estatal pode ser facilmente entendido na ótica oposta: enfraquecendo em vez de sustentar os valores e as condições sociais básicas. (...) Muitos deles falham mais ou menos ao tentar proporcionar ou proteger um padrão mínimo dos cinco valores básicos discutidos anteriormente e uma quantidade menor de Estados não consegue assegurar nenhum deles. A situação de vida degradada de inúmeros homens, mulheres e crianças nesses países coloca em questão a credibilidade e, as vezes, até mesmo a legitimidade do sistema estatal”. (p.27-28)
Enfim, Estados tem a responsabilidade de garantir para suas
populações boas condições de vida e bem-estar, geralmente países mais
desenvolvidos conseguem exercer sua função e estabelecem um padrão a ser
seguido pelo sistema estatal.
Mas e quando uma nação não garante aos seus cidadãos direitos mais
básicos como, por exemplo, a liberdade e a segurança? Vale a pena para
esses indivíduos viverem sob a égide de um governo nacional? (JACKSON &
SORENSEN, 2003)
23
A disciplina das Relações Internacionais (R.I), portanto, busca através
de estudos e observações fazer com que o mundo seja um espaço político e
socialmente pacífico para a humanidade. Essa busca provocou um grande
debate entre teorias das RI que se dedicam a provar se será melhor para o
indivíduo viver ou não em um sistema estatal.
PONTOS DE VISTA DO ESTADO
VISÃO TRADICIONAL VISÃO ALTERNATIVA
Estados são instituições valiosas:
proporcionam segurança, liberdade,
ordem, justiça e bem-estar.
Estados e o sistema criam mais
problemas do que resolvem.
As pessoas se beneficiam do sistema
estatal.
A maior parte da população mundial
sofre mais que se beneficia do
sistema de Estados.
Fonte: (JACKSON & SORENSEN,2003,p.28)
2.4 – Relações Internacionais, um campo de estudo em
constantes mudanças.
O foco acadêmico das Relações Internacionais, sobretudo dos estudos
mais tradicionais é o Estado e a relação entre eles, mas hoje as “RI abrangem
quase tudo associado às relações humanas em todo o mundo. E, para ter um
conhecimento ponderado e equilibrado de RI, é essencial estudar essas
diferentes perspectivas”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.45)
O profissional de Relações Internacionais, ou o acadêmico precisa
compreender a interação entre os diferentes países do globo e para isso
necessário se faz conhecer como essas nações interagem, ou seja, na
economia, no comércio, no direito, na cultura, nas organizações internacionais
e etc.
24
Mas o que torna a disciplina das Relações Internacionais ainda mais
complexa é que o mundo é dinâmico. O Globo está em constante
transformação como todas as esferas das relações humanas. Nada
permanece o mesmo durante muito tempo. E por mais que se estude, o mundo
é sem dúvida um ambiente imprevisível onde tudo pode ser esperado. As
relações internacionais mudam em relação à economia, educação, tecnologia,
política, ciência, muitos elementos fazem parte da dinâmica mundial.
São muitas e constantes as transformações do sistema internacional
como afirmam Jackson e Sorensen (2003):
“Os exemplos do impacto da mudança social sobre as relações internacionais são praticamente intermináveis, tanto em quantidade quanto em variedade. Contudo, isso deve ser suficiente para afirmar que a transformação social influência os Estados e o sistema estatal. A relação é sem dúvida reversível: o sistema estatal também afeta a política, a economia, a ciência, a tecnologia, a educação, a cultura e todo o resto”. (p.52)
O sistema estatal não somente reage às mudanças sociais, mas
também é causa delas. O que podemos esperar para o futuro de relação dos
homens?
Pode-se pensar em vários fatores causadores de transformações
mundiais como: comércio e investimentos cada vez maiores, aumento da
atividade empresarial multinacional, ampliação das Organizações não-
governamentais, elevação da comunicação regional e global, crescimento da
internet, expansão e ampliação constante das redes de transporte,
intensificação das viagens e do turismo, migração humana maciça, poluição
ambiental acumulada, integração regional ampliada, o crescimento das
comunidades mercantis, expansão global da ciência e da tecnologia, contínua
redução do governo, privatização elevada e outras atividades que
25
propulsionam a interdependência através das fronteiras. (JACKSON &
SORENSEN, 2003)
São muitas as questões relevantes que precisam ser abordadas pela
disciplina das RI. Os homens precisam buscar compreender suas relações,
pois somos nós que decidimos como queremos a Terra no futuro.
26
CAPÍTULO III
AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA ACADEMIA
3.1 – O estudo sistematizado das relações
internacionais.
O estudo sistematizado das Relações Internacionais surge no período
entre – Guerras, na Inglaterra e nos Estados Unidos, quando o mundo percebe
que as relações entre os Estados precisavam receber uma atenção específica
de uma nova ciência, pois se tornara imprescindível entender os motivos que
levaram ao acontecimento da Primeira Guerra Mundial para que novas guerras
fossem evitadas.
Estudiosos da política que estavam impressionados com as catástrofes
da Primeira Guerra começaram a se esforçar para identificar que país havia
sido o responsável pela eclosão da guerra. Assim, entendendo a dinâmica do
mundo seria mais fácil intervir na realidade internacional e evitar um novo
conflito armado. (GONÇALVES, 2003)
Os governos passaram a investir nesses estudos e diversos
departamentos e centros de pesquisas foram sendo formados, primeiramente
nos países de língua inglesa. Nos Estados Unidos, os acadêmicos pioneiros
começaram a buscar a formalização de uma teoria das Relações
Internacionais “que atendessem aos padrões científicos estabelecidos pela
comunidade acadêmica”. Alguns estudiosos defendiam que para que as
Relações Internacionais tivessem validade científica era necessário “a
introdução de modelos matemáticos e a utilização de conceitos de comprovada
eficácia em ciências já sedimentadas”. (GONÇALVES, 2003, p.29)
As universidades foram buscar superar os obstáculos e produzir
pesquisas que atendessem às exigências científicas que o mundo acadêmico
estabelecia.
27
Mas de acordo com Gonçalves (2007), é com o fim da Guerra Fria, ou
seja, no início da década de 1990 que um maior interesse é dado às relações
internacionais. Isso ocorre, pois os acadêmicos de todas as partes passam a
discutir intensamente o processo de globalização e o interesse pelo tema
aumenta ainda mais depois dos atentados terroristas do 11 de setembro.
Os Estados estão em um grau irreversível de interdependência, o que
acontece a uma nação afeta inevitavelmente a comunidade internacional.
Surge nesta época a percepção de que relações externas estão diretamente
ligadas às internas e era preciso que os meios acadêmicos se dedicassem a
entender essa ligação.
“Passou a predominar a idéia de que já não havia mais como distinguir os processos internos dos externos. Isto é, inevitavelmente, todas as decisões relativas a questões internas passavam a apresentar efeitos externos, enquanto as decisões relativas a questões externas acabavam produzindo efeitos internos. Desse modo, o conhecimento da realidade, em todas as suas dimensões, devia passar a incluir, necessariamente, o conhecimento das relações internacionais”. (GONÇALVES, 2007, p.13)
O movimento intelectual que buscava entender as relações
internacionais mobilizou os economistas, juristas, mas principalmente os
historiadores. A história passa a ser fundamental para que as relações
internacionais fossem compreendidas, pois como afirma Gonçalves (2003),
“somente quando examinamos à luz de sua dimensão temporal, os fenômenos
sociais, políticos, econômicos e culturais tornam-se cognoscíveis”. (p.13)
28
3.2 – As teorias no estudo das relações internacionais.
Segundo Dougherty e Pfaltzgraff, (2003) os acadêmicos, sobretudo Pós-
Guerra Fria, buscam responder nas teorias existentes das Relações
Internacionais as seguintes questões: (p.7)
- Qual a melhor explicação para a longa paz na era da dissuasão
nuclear?
- Qual a razão por que a Guerra Fria chegou ao fim de forma tão
abrupta e inesperada?
- É realmente verdade que a guerra entre os Estados democráticos e
avançados industrialmente se tenha tornado impensável? Quão firme e robusta
é a paz democrática?
- O sistema internacional tornou-se mais ou menos estável desde o fim
da Guerra Fria?
- Será que a transição dos regimes totalitários/autoritários para as
democracias representativas, das economias centralizadas para as economias
de mercado e dos particularismos econômicos nacionais para a globalização
implica a completa substituição das teorias, realista/neorealista, da luta de
poder entre Estados pelas teorias liberais, ou outras de cooperação
internacional pacífica e conducente a formas mais elevadas de
desenvolvimento humano universal?
- Até que ponto os Estados podem ser ultrapassados por outras forças e
instituições políticas, econômicas, sociais, culturais, religiosas no papel de
condicionantes do sistema internacional em evolução?
O estudo sistematizado das Relações Internacionais tenta através de
diversas perspectivas teóricas explicar as relações entre os países no sistema
internacional e assim, ter uma maior previsibilidade e estabilidade no sistema.
A necessidade da disciplina das Relações Internacionais é buscar teorias que
tratem especificamente das relações entre os Estados.
29
“As teorias das Relações Internacionais têm a finalidade de formular métodos e conceitos que permitam compreender a natureza e o funcionamento do sistema internacional, bem como explicar os fenômenos mais importantes que moldam a política mundial. Precisamos de um corpo particular de teorias para entender um universo específico da atividade humana cuja característica é desenvolver-se para além das fronteiras nacionais, no espaço pouco conhecido em que as ações, interações, conflitos e negociações têm lugar nas margens da jurisdição dos Estados: o espaço internacional”. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005, p.2)
As teorias desse campo de estudo são muito recentes que de acordo
com Dougherty e Pfaltzgraff, (2003) encontram-se num estágio experimental.
Para alguns acadêmicos isso é um fator que faz com que o estudo do espaço
internacional seja mais peculiar e interessante. As idéias dos homens não são
permanentes e estáveis, mas são mutantes. O que pensamos hoje pode
contribuir muito para o futuro e as teorias que surgem nos meios acadêmicos
podem definir como será o mundo amanhã. Ainda os mesmos autores
afirmam: “A teoria internacional está em mudança constante, acompanhando a
mudança do ambiente total e a inerente resposta do ser humano”. (p.9)
As explicações teóricas que se tem hoje podem evoluir e se
aperfeiçoarem em um futuro próximo e assim, pode-se ter análises mais
profundas do cenário mundial.
3.3 – Os debates acadêmicos.
De acordo com Jackson e Sorensen, (2003) houve três grandes debates
teóricos das Relações Internacionais desde que se tornou uma disciplina
acadêmica. Agora estamos entrando em um novo quarto debate. O primeiro foi
entre o liberalismo utópico e o realismo; o segundo entre as abordagens
tradicionais e o behaviorismo; o terceiro entre o neo-realismo/neoliberalismo e
o neomarxismo. O quarto e atual se da entre tradições consagradas e
alternativas pós-positivistas. “É fundamental nos familiarizarmos com essa
30
evolução a fim de entender as RI como uma disciplina acadêmica dinâmica e
de identificar as suas direções”. (p.61-62)
O liberalismo utópico foi o início dos estudos das Relações
Internacionais. Os pensadores liberais acreditavam que guerras e conflitos
futuros poderiam ser evitados através da reforma do sistema. O representante
liberal, Woodrow Wilson, defendia duas idéias principais. A primeira seria de
que o regime democrático e a autodeterminação deveriam ser estimulados no
mundo inteiro, de acordo com Wilson, uma democracia não entraria em guerra
com outra democracia. O segundo princípio que ele defendia era que as
nações deveriam criar uma organização internacional que iria regular, através
do direito internacional, a relação entre os Estados.
Em resumo, é possível compreender as idéias liberais da seguinte
forma: o meio de acabar com a guerra, ou seja, ter paz é através da existência
de uma organização internacional racional. Os liberais acreditam que sendo o
homem um ser racional, ele pode também aplicar sua racionalidade nas
relações internacionais e estabelecer organizações capazes de beneficiar a
todos, afinal paz é um interesse comum. (JACKSON & SORENSEN, 2003)
Ao contrário dos idealistas surge o grupo dos realistas. Os últimos ao
contrário dos primeiros estudavam o mundo como ele realmente era sem
enxergá-lo com utopias ou fantasias. (NOGUEIRA & MESSARI, 2004)
Para os realistas, “a natureza humana é a base das relações
internacionais. E, como os seres humanos buscam seus próprios interesses e
poder, agressões ocorrem com facilidade”. Para eles, a política internacional é
marcada pela luta do pelo poder e pelo interesse de cada Estado, ou seja,
visto que os Estados são soberanos e o mundo não possui um governo ou
nenhuma entidade supranacional, os Estados vivem em uma anarquia ou
arena. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.70-71)
O debate entre esses dois grupos, os idealistas e os realistas, foi
classificado como o primeiro grande debate da teoria das Relações
Internacionais e passou a ser reconhecido na área acadêmica da disciplina.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, os realistas vivem seu auge, pois
a teoria realista era mais bem utilizada para se compreender o estado de
guerra que o mundo mais uma vez se encontrara. Os realistas foram os
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grandes vencedores do primeiro debate da disciplina das Relações
Internacionais. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005)
O PRIMEIRO GRANDE DEBATE DAS RI
LIBERALISMO UTÓPICO RESPOSTA REALISTA
ANOS 1920 ANOS 1930 - 50
- Direito internacional
- Organização internacional
- Interdependência
- Cooperação
-Paz
- Política de poder
- Segurança
- Agressão
- Conflito
- Guerra
Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.73)
Após a Segunda Guerra Mundial a disciplina acadêmica de RI cresceu e
fundações privadas estavam dispostas a investir nessas pesquisas que eram
de interesse nacional. Com tamanho apoio surgiram novos acadêmicos que
adotaram um maior rigor metodológico à disciplina das RI. O segundo grande
debate envolve principalmente questões metodológicas. Os novos estudiosos
trouxeram idéias variadas de como deveria se estudar Relações Internacionais.
“Essas novas reflexões foram chamadas de behaviorismo, que não significa
exatamente uma nova teoria, mas uma metodologia original que se esforçou
em ser científica”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.75)
Como afirmam Nogueira e Messari, (2005) “O segundo grande debate
na área não foi mais um debate sobre o que estudar, mas como estudá-lo.”
(p.4) Os behavioristas defendiam a idéia de que da mesma forma que os
pesquisadores das ciências podem criar leis objetivas capazes de demonstrar
o mundo físico, o mesmo deveria ocorrer com as relações internacionais. Os
antibehavioristas vão defender ser isso impossível para qualquer teórico de
questões humanas.
O segundo debate das teorias de Relações Internacionais foi bastante
proveitoso, pois as metodologias behavioristas enriqueceram os estudos da
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área, mas o segundo debate não teve nenhum vencedor. “Após alguns anos
de muitas controvérsias, o segundo grande debate se extinguiu”. (JACKSON &
SORENSEN, 2003, p.77-78)
O SEGUNDO GRANDE DEBATE DAS RI
ABORDAGENS TRADICIONAIS RESPOSTA BAHAVIORISTA
Foco
ENTENDIMENTO
Foco
EXPLICAÇÃO
- Normas e valores
- Julgamento
- Conhecimento histórico
- Teórico dentro do assunto
-Hipótese
- Acervo de dados
- Conhecimento científico
- Teórico fora do assunto
Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.78)
Por volta das décadas de 1960 e 1970, o realismo volta como a teoria
dominante das Relações Internacionais. Neste período de Guerra Fria,
Estados Unidos e União Soviética competiam no cenário internacional e a
disciplina de Relações Internacionais apresentava um amadurecimento maior.
Mas na área acadêmica surgem os atores não-estatais - as empresas
multinacionais, as organizações não-governamentais, as organizações
internacionais, dentre outros – que precisavam ser analisados pelas teorias e o
realismo tinha como foco os Estados e as guerras. Essas críticas afetaram a
tradicional teoria realista. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005)
Assim, como afirmam Jackson e Sorensen ( 2003) os liberais buscaram
formular um pensamento alternativo. Esses foram conhecidos no meio
acadêmico por neoliberais que insistiam nas antigas idéias liberais, mas
rejeitavam o idealismo. Os neo-realistas, representados principalmente por
Kenneth Waltz, apresentam uma teoria realista diferente, também modificada
pelo behaviorismo. O neo-realismo “tenta formular argumentos em forma de
leis sobre as relações internacionais, para que alcancem uma validade
científica. (p.82) “Sendo assim, o debate entre liberalismo e realismo
33
continuou, mas passou a se basear na configuração internacional pós-1945 e
na persuasão metodológica behaviorista”. (p.79)
As décadas vindas depois da Segunda Guerra Mundial foram marcadas
pelo período de descolonização, com isso, muitos “novos” Estados surgiram e
a maioria deles é fraca economicamente. Nos anos 70, esses países em
desenvolvimento começaram a buscar uma melhor posição econômica em
relação aos países desenvolvidos. O neomarxismo surge como uma reflexão a
respeito da situação de subordinação do terceiro mundo. “O neomarxismo é
uma tentativa de analisar a situação do terceiro mundo por meio da aplicação
de instrumentos de análise desenvolvidos por Karl Marx”. (JACKSON &
SORENSEN, 2003, p.89)
“O terceiro grande debate, portanto, complica ainda mais a disciplina de RI, uma vez que transfere o foco das questões militares e políticas para os aspectos econômicos e sociais e introduz problemas socioeconômicos distintos presentes nos países do Terceiro Mundo. Não é um debate como os dois discutidos anteriormente, mas uma expansão notável da agenda de pesquisa acadêmica de RI, com o objetivo de incluir questões socioeconômicas de bem-estar, assim como político-militares e de segurança”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.92)
O TERCEIRO GRANDE DEBATE DAS RI
REALISMO/NEO-REALISMO
LIBERALISMO/NEOLIBERALISMO
NEOMARXISMO
Foco:
-Sistema mundial capitalista
-Dependência
-Subdesenvolvimento
Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.91)
Por fim a disciplina de RI se encontra hoje no quarto debate. Até então,
os três debates teóricos apresentados neste capítulo são entre teorias
tradicionais e consagradas das Relações Internacionais, mas o atual debate se
trata de uma crítica às tradições renomadas por abordagens alternativas.
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Essas chamadas “novas vozes” são de acadêmicos que buscam substituir as
visões tradicionais por alternativas mais atualizadas.
Cada vez mais as “novas vozes” vem ganhando espaço, pois com o fim
da Guerra Fria o mundo definitivamente mudou. O que se vive hoje não é um
conflito definido entre duas potências, mas uma série de questões diversas
que a disciplina de RI tem obrigação de analisar. As RI, a partir dos anos 90,
passam a ter uma agenda muito maior e diferenciada, pois passa a ter que
compreender os novos temas como guerra civil, Estados fracassados, questão
ambiental, intervenção humanitária, problemas de limpeza étnica, refugiados,
dentre muitos outros.
Nesse sentido, as “novas vozes” afirmam que as teorias tradicionais não
conseguem abranger todas as novas questões que o mundo de hoje
apresenta, ou seja, as visões tradicionais não compreendem as “relações
internacionais do início do novo milênio”. (JACKSON & SORENSEN, 2003,
p.92-94)
O QUARTO GRANDE DEBATE DAS RI
TRADIÇÕES CONSAGRADAS
- Realismo/neo-realismo
- Liberalismo/neoliberalismo
-Sociedade internacional
- Economia política internacional
NOVAS VOZES
- Metodologias pós-positivistas
-Questões positivistas
Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.94)
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CONCLUSÃO
Por que as Relações Internacionais se tornaram um estudo
sistematizado nas academias?
O mundo percebeu, infelizmente depois de vivenciar grandes
catástrofes, que quem faz o futuro do planeta são os homens hoje. Se no
presente a humanidade optar pela guerra, pelo desentendimento e pela
destruição em um futuro próximo não teremos lar. Isso se confirma, pois com
todos os avanços tecnológicos existentes no planeta, um conflito armado pode
representar o fim. A experiência da Guerra Fria mostrou ao sistema
internacional que o mundo tinha duas opções: diálogo ou conflito nuclear.
A disciplina das Relações Internacionais ainda tão pouco conhecida
toma conta de uma agenda internacional extremamente complexa. Com o grau
de interligação que os Estados hoje se encontram, o que acontece a uma
nação afeta as demais. Os Estados se relacionam de formas tão diferentes e
as RI se tornam responsáveis por estudar e entender todas essas questões
para fazer da Terra um ambiente pacífico, estável e previsível, pois dentro de
cada nação vivem pessoas, e o rumo que os países tomam afetam o bem-
estar de suas populações.
Hoje os estudos das Relações Internacionais procuram se aprofundar
em áreas distintas e complexas como a questão ambiental, a questão dos
refugiados, a troca comercial entre nações, atores não estatais, sociedade civil
global, questão de segurança alimentar e territorial, organizações e leis
internacionais, diplomacia, questões bélicas, diversidade cultural, conflitos
étnicos, questões econômicas e muitos outros temas. Tudo isso e muito mais
que foi citado acima, afeta o sistema internacional e por conseqüência afeta
toda a humanidade que vive inserida neste sistema.
As RI como estudo acadêmico é fundamental para que haja um
ambiente de paz e negociação. Os governos de países desenvolvidos já
perceberam que preciso se faz investir nesses estudos para que haja
prosperidade não só nacional, mas também mundial.
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BIBLIOGRAFIA
CARR. E. H. Vinte anos de crise 1919-1939. Brasília: Ed. UNB, 1981
DOUGHERTY, James E; PFALTZGRAFF, Robert L. Jr. Relações
Internacionais: As teorias em confronto. Lisboa: Gradiva, 2003.
HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Organizações Internacionais:
História e práticas. Rio de Janeiro: CAMPUS/Elsevier, 2004.
JACKSON, Robert; SORENSEN, Georg. Introdução às Relações
Internacionais. Rio de Janeiro: ZAHAR,2007.
LESSA, Mônica Leite; GONÇALVES, Williams da Silva. História das
Relações Internacionais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007.
NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações
Internacionais: Correntes e debates. Rio de Janeiro: CAMPUS/Elsevier,
2005.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A história das Relações Internacionais. 10
1.1 – O início do interesse pela relação entre Estados 10
1.2 – Os efeitos da Guerra 11
1.3 – Relações Internacionais e segurança coletiva 13
1.4 – Breve histórico da evolução das teorias
acadêmicas das Relações Internacionais. 14
CAPÍTULO II
Por que estudar Relações Internacionais? 17
2.1 – O estudo das relações internacionais
e sua influência na vida cotidiana. 17
2.2 – Conceitos-chave das relações internacionais 19
2.3 – O cidadão, o Estado e o sistema estatal. 20
2.4 – Relações Internacionais, um campo de
estudo em constantes mudanças. 23
CAPÍTULO III
As Relações Internacionais na Academia. 26
3.1 – O estudo sistematizado das relações internacionais. 26
3.2 – As teorias no estudo das relações internacionais 28
3.3 – Os debates acadêmicos 29