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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO ENSINO SUPERIOR Por: Isabela Vidal Magalhães da Silva Orientador: Professor Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · das Relações Internacionais nas instituições de ensino superior. 6 METODOLOGIA A escolha do tema ocorreu devido aos estudos

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO ENSINO

SUPERIOR

Por: Isabela Vidal Magalhães da Silva

Orientador: Professor Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO ENSINO

SUPERIOR

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Docência do Ensino Superior

Por: Isabela Vidal Magalhães da Silva

3

AGRADECIMENTOS

O ato do agradecimento mostra o

quanto reconhecemos aquilo que foi

feito em nosso favor. Sendo assim,

tenho muito para agradecer.

Primeiramente a Deus, aos meus

amados pais, ao meu irmão, as minhas

avós e aos meus grandes amigos e

eternos companheiros. Obrigada por

tudo.

4

DEDICATÓRIA

Para minha vovó Elza.

5

RESUMO

O estudo científico das Relações Internacionais, embora bastante

relevante, é relativamente recente e ainda muito pouco conhecido,

principalmente no Brasil. Poucas pessoas conhecem a existência de

graduações em Relações Internacionais. Este trabalho apresenta a

importância de existirem profissionais graduados nesta área e o que o estudo

da relação entre Estados pode alterar a vida de um cidadão comum. Neste

trabalho de conclusão de curso pretende-se abordar o motivo e o período

histórico que fez com que as relações internacionais passassem a ser um

estudo sistematizado nas academias. Depois que o mundo vivenciou as

catástrofes da Primeira Guerra Mundial, a humanidade percebe que a paz só

seria alcançada quando as relações entre Nações fossem estudadas e

compreendidas. Assim surge no ensino superior o estudo sistematizado do

sistema internacional. Neste trabalho busca-se também apresentar a história

das Relações Internacionais nas instituições de ensino superior.

6

METODOLOGIA

A escolha do tema ocorreu devido aos estudos prévios da autora deste

trabalho que é graduada em Relações Internacionais. Foi observado a

ingenuidade dos estudos desta área no Brasil e como a existência da disciplina

das Relações Internacionais nas academias é tão pouco conhecida pelo

cidadão comum. O trabalho foi todo elaborado a partir da leitura de livros

técnicos e clássicos da área de pesquisa. Dentre os autores estudados

merecem destaque: Robert Jackson, Georg Sorensen, João Pontes Nogueira e

Nizar Messari.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A História das Relações Internacionais. 10

CAPÍTULO II - Por que estudar Relações Internacionais? 17

CAPÍTULO III – As Relações Internacionais na Academia. 26

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 37

FOLHA DE AVALIAÇÃO 39

8

INTRODUÇÃO

Segundo Jackson & Sorensen (2003), as relações entre Estados

independentes do sistema internacional são chamadas de “relações

internacionais”. Mas Relações Internacionais (com letra maiúscula) ou

simplesmente RI é o campo acadêmico de estudos das relações

internacionais. (p.20)

Muito pouca atenção é dada pelos cidadãos à política externa de seus

países. Como afirma Lessa (2007), “a dimensão cultural das relações

internacionais sempre foi vista de forma secundária”. (p.223) Esse pouco

interesse pela área é observado basicamente em países ainda em

desenvolvimento.

O objetivo deste trabalho de conclusão de curso é apresentar a

evolução e a relevância dos estudos das RI para a população global que vive

inserida em um sistema de Estados. O que se pretende é descrever o contexto

histórico das RI no ensino superior, assim como o amadurecimento científico

da disciplina.

O trabalho está dividido em três partes, ou melhor, em três capítulos.

No primeiro capítulo intitulado - a história das Relações Internacionais -

busca-se abordar o início da disciplina que se deu no período entre - Guerras.

Para isso se fez necessário uma breve pesquisa do motivo que levou as

universidades na época a começarem a se interessar pelo estudo das relações

entre Estados. O primeiro capítulo ainda apresenta os efeitos da Primeira

Grande Guerra e um breve histórico da evolução das teorias acadêmicas das

Relações Internacionais.

No segundo capítulo – por que estudar Relações Internacionais? – o

interesse é aproximar a relação entre as nações às vidas do cidadão comum

que na maioria das vezes pouco se interessa pelas diretrizes tomadas por seu

país no sistema internacional. Ainda nesta parte pretende-se apresentar alguns

conceitos chaves, ou melhor, apresentar algumas das nomenclaturas técnicas

básicas para que o leitor possa melhor compreender as RI.

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O último e terceiro capítulo – As Relações Internacionais na academia -

tem como foco apresentar a produção e as contribuições teóricas dos estudos

das Relações Internacionais nas instituições de ensino superior em todo o

mundo. Essa parte final do trabalho ainda oferece um histórico detalhado dos

quatro debates acadêmicos das RI.

10

CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

1.1 – O início do interesse pela relação entre Estados.

De acordo com E.H. Carr,(1981) desde os séculos quinto e quarto que

os pensadores começam seriamente, a estudar a natureza da ciência política.

Na ingênua e inicial análise, Confúcio e Platão sugeriram uma nova ordem

mundial, fruto da aspiração e não da real análise. Ao longo dos séculos a

ciência política internacional surgiu e foi sendo desenvolvida devido a uma

demanda social, pois na medida em que o mundo ia se interligando através do

comércio e, sobretudo das guerras, mais os cientistas políticos precisavam

compreender as relações entre Estados. (p.9)

O termo relações internacionais surge no início da era moderna, ou seja,

séculos XVI e XVII, na Europa. Os Estados soberanos foram fundados e as

relações entre estes Estados são as “relações internacionais”. (JACKSON &

SORENSEN, 2007)

Antes da Primeira Grande Guerra Mundial, os assuntos diplomáticos

eram somente vistos em poucos noticiários, mas em nenhum círculo intelectual

havia qualquer estudo das relações internacionais.

“A guerra ainda era vista principalmente como negócio de soldados e o corolário disto era que a política internacional era um negócio de diplomatas. Não havia desejo geral de retirar a condução dos assuntos internacionais das mãos dos profissionais, nem mesmo de prestar atenção séria e sistemática ao que eles estavam fazendo”. (CARR, 1981, p.4)

11

Segundo Williams da Silva Gonçalves,(2007) a história diplomática se

desenvolve no início do século XIX tendo como a instituição em causa, o

Estado e a sua dimensão externa. Neste período os historiadores se

esforçavam por conhecer o processo de formação das alianças políticas, de

assinaturas de tratados e de acordos internacionais. O século XIX foi

avançando e a complexidade da “teia política” era grande e por isso, a história

diplomática foi sendo cada vez mais relevante para que as relações

internacionais fossem compreendidas. (p.16)

1.2 – Os efeitos da Guerra.

A racionalidade é uma característica da humanidade que abre portas

para o potencial de transformar as relações sociais e realizar o progresso.

Depois da guerra 1914-18 e seus prejuízos humanos e financeiros o

mundo sofreu grandes transformações. Mas a racionalidade humana precisava

modificar as relações entre os Estados para que o progresso - que neste caso

é a não existência da guerra - fosse obtido.

A política internacional sofreu uma campanha de popularização que se

iniciou nos países de língua inglesa. A assinatura de tratados secretos entre as

nações foi apontada como a causa para e eclosão da guerra. Antes da

Primeira Guerra Mundial a população não tinha curiosidade acerca dos

tratados e acordos entre países, o que não ocorria mais, pois o povo passou a

querer participar das decisões políticas internacionais. “Foi o primeiro sintoma

da demanda pela popularização da política internacional”. (CARR, 1981, p.4)

A Primeira Guerra Mundial fez com que o interesse pela compreensão

entre as relações entre Estados aumentasse. A história diplomática atingiu o

seu ápice. A tamanha destruição da Primeira Guerra abalou o mundo e diante

de tantas vidas perdidas e de todo prejuízo material, precisava-se saber os

motivos geradores desta catástrofe para que uma nova fosse evitada a todo

custo.

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Acabou a idéia de que a Guerra era assunto de soldados e diplomatas,

como afirmou Carr. A política internacional se popularizou e o mundo tinha que

saber o que ocasionou a guerra, para que um novo conflito deste porte não

ocorresse. A Primeira Guerra Mundial foi um conflito armado mecanizado

moderno e por isso as conseqüências aterrorizaram o mundo. (JACKSON &

SORENSEN, 2007)

A partir desta guerra surge uma generalização da política internacional e

se deu o início de um novo estudo científico. Depois da Primeira Guerra

Mundial, portanto, inicia-se o estudo sistemático das Relações Internacionais.

O objetivo era interpretar uma ordem internacional conturbada. Os estudos

existentes até então, não explicavam por inteiro a instabilidade e a insegurança

do sistema internacional.

Eiiti Sato afirmou que “o surgimento das relações internacionais como

campo de estudo distinto, dentro dos atuais padrões está visceralmente

associado ao esgotamento das possibilidades oferecidas pela ordem liberal do

século XIX”. (CARR, 1981, prefácio xxxii)

Os primeiros passos da disciplina das Relações Internacionais foram

dados na Escócia. Em 1917 foi criado o primeiro departamento de Relações

Internacionais na Universidade de Aberystwyth com o objetivo de:

“organizar uma disciplina em torno do estudo da questão da guerra e mais precisamente, com a finalidade de livrar a humanidade de suas conseqüências nefastas. Era preciso, então, estudar o fenômeno da guerra e suas causas para poder evitar a repetição de tragédias similares às acontecidas na então chamada Grande Guerra”. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005, p.3)

Surgem, portanto, na Inglaterra e nos Estados Unidos, cadeiras nas

universidades que estudavam especificamente as relações internacionais.

As Relações Internacionais como estudo acadêmico surge com o

objetivo de estudar a relação entre as nações e evitar conflitos entre os povos.

Porém é do conhecimento de todos que as guerras não foram eliminadas do

planeta e as relações internacionais se tornam cada vez mais complexas.

13

Esse estudo científico ainda é relativamente novato nas cadeiras das

universidades mundiais, sobretudo no Brasil.

Segundo Gonçalves, (2007) o objeto da história das Relações

Internacionais “requer interpretação das influências geográficas, econômicas,

culturais e ideológicas que condicionam a ação dos Estados em suas relações

Externas”. (p.22) Compreende-se que vários elementos são fundamentais para

que as relações entre os Estados possam ser entendidas, mas a história é

essencial, pois somente analisando o processo de criação do estudo das

Relações Internacionais é que se pode pensar e teorizar o futuro.

Terminada a guerra em 1918, os esforços foram muitos para evitar que

novas guerras ocorressem, mas como toda nova ciência, o estudo das

Relações Internacionais começou muito ingênuo e utópico. O mundo buscava

um fim que era a paz, a segurança e a estabilidade internacional, mas se

negava a estudar a realidade crítica do planeta pós Primeira Guerra Mundial.

1.3 – Relações internacionais e segurança coletiva.

Tentou-se implementar uma ferramenta de administração do sistema

internacional que foi a “segurança coletiva”. O sistema de segurança coletiva

se baseia na idéia de que a paz é um interesse universal e desta forma, os

Estados podem assumir compromissos de evitar e até suprir a agressão de um

Estado contra outro. O sistema foi posto em prática pela primeira vez na Liga

das Nações – primeira organização internacional universal criada em 1919. Na

Liga das Nações o sistema de segurança coletiva previa que a paz era

indivisível, portanto, qualquer ameaça localizada deveria ser tratada como uma

ameaça à paz internacional. Uma agressão a qualquer nação passaria a ser

não um problema somente dela, mas de toda a comunidade internacional.

O sistema de segurança coletiva criado em 1919 foi um grande fracasso

por muitos motivos, mas isso se deu devido a infância que os estudos das

Relações Internacionais viviam. A visão otimista das relações entre Estados

sofreu um impacto, problemas existiam e desencadearam, em 1939 a Segunda

Guerra Mundial, que só acabou em 1945. (HERZ & HOFFMANN, 2004)

14

1.4 – Breve histórico da evolução das teorias

acadêmicas das Relações Internacionais.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, mais uma vez o mundo tinha

mudado e as Relações Internacionais como estudo, ganhavam cada vez mais

força e as teorias passaram a ser relevantes para explicar os acontecimentos

internacionais. Alguns estudiosos como E.H. Carr e Georg Schwarzenberger

retomam a teoria realista. De acordo com o primeiro, o realista aceita os fatos

e depois tenta analisar causas e conseqüências, o realismo se compromete

em estudar a realidade.

A busca, nos, meios acadêmicos, por uma teoria que explicasse o

cenário internacional passou a ser essencial.

“Se a teoria não existisse, tanto para a análise como para a execução das políticas, teria que ser inventada. (...) Que outra forma haveria de encontrar o sentido dos fenômenos que constituem a base das decisões políticas? O termo teoria (...) consiste na especulação acerca do relacionamento entre fenômenos, incluindo a reflexão sistemática destinada a explicar e a demonstrar que esses fenômenos, se encontram relacionados segundo um padrão inteligente e dotado de significado e não são meros elementos dispostos ao acaso num universo desprovido de coerência”. (DOUGHERTY & PFALTZGRAFF, 2003, p.820)

Carr chama os primeiros acadêmicos de utópicos ou idealistas, estes

estudavam o “dever ser do mundo”. Ao contrário destes, Carr define o segundo

grupo que estudava o “como o mundo realmente era”, os realistas. Na área

acadêmica de Relações Internacionais o confronto entre idealistas e realistas

ficou conhecido como o primeiro grande debate da teoria das Relações

Internacionais. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a teoria realista

sai como “a grande vencedora” e vive seu auge.

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O segundo grande debate não foi mais “sobre o que estudar, mas como

estudá-lo”. As ciências sociais vivenciaram uma revolução chamada

Behaviorista e a crítica feita às Relações Internacionais era metodológica. O

segundo debate, portanto, foi entre as teorias tradicionais e o behaviorismo.

A Guerra Fria fez com que a disciplina de Relações Internacionais

tivesse um maior rigor cientifico. O desenho político do mundo na Guerra Fria

exigia maior previsibilidade no cenário internacional. (NOGUEIRA & MESSARI,

2005)

Jackson e Sorensen (2003) afirmam que o terceiro grande debate foi

entre o neo-realismo/neo-liberalismo e o neo-marxismo. Os mesmos autores

afirmam que agora estamos no quarto debate que é entre tradições

consagradas (Realismo, liberalismo e Marxismo) contra alternativas pós-

positivistas (Teoria crítica, construtivismo e pós modernismo).

Os acontecimentos históricos, as guerras, as relações entre Estados, a

interdependência e principalmente o surgimento de novos atores internacionais

foram influenciando e transformando a área acadêmica das Relações

Internacionais.

Necessário se faz pesquisar os raciocínios teóricos das Relações

Internacionais para que seja possível entender o mundo e suas

complexidades. O ser humano por sua natureza já vive em transformações, o

planeta também, e por conseqüência a teoria internacional está em constante

mudança. Um acadêmico sensato não irá se apegar em princípio, a uma só

teoria, um só paradigma ou a uma só verdade.

“(...) exprimimos a convicção de que nenhuma perspectiva por si só é capaz de explicar de forma adequada, exaustiva e penetrante toda a variedade de fenômenos que compõe o complexe internationale sempre em evolução”. (DOUGHERTY & PFALTZGRAFF, 2003, p.9)

16

Hoje, Relações Internacionais é o estudo do sistema Estatal ou

internacional a partir de várias perspectivas acadêmicas.

Pesquisar sobre o contexto internacional do período entre guerras, o

nascimento e o desenvolvimento das Relações Internacionais é a meta para

que o sistema internacional complexo e cheio de elementos (culturais,

ideológicos, econômicos, dentre outros) possa ser mais bem entendido.

17

CAPÍTULO II

POR QUE ESTUDAR RELAÇÕES INTERNACIONAIS?

“A principal razão para se estudar Relações Internacionais é o fato de que toda a população mundial vive em Estados independentes. Em conjunto, esses Estados formam o sistema estatal global”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.56)

2.1 – O estudo as relações internacionais e sua

influência na vida cotidiana.

Primeiramente é importante que todos os indivíduos tomem consciência

que estão inseridos em um sistema mundo. Toda a humanidade forma uma

família universal, mas essa população mundial não vive junta, não possui os

mesmos hábitos, costumes, história e cultura. A humanidade está divida em

comunidades políticas territoriais distintas, ou seja, Estados que são

independentes.

Esses quase 200 países distintos que interagem entre si, que abrigam

os indivíduos, formam um sistema internacional. Praticamente todos os

homens são cidadãos e participam da construção política de uma nação e

vivem submetidos à influência de um Estado. Portanto os seres humanos

estão inseridos no sistema internacional e a relação entre os Estados afeta a

vida cotidiana de cada um, de varias maneiras, mesmo que o indivíduo não

tenha essa percepção.

Legalmente os Estados são independentes uns dos outros, são

soberanos e, portanto, nenhuma organização ou qualquer instituição

internacional tem capacidade de mandar em um Estado. Mas isso não quer

dizer que eles não estejam interligados ou que não exerçam influências entre

si. Cada vez mais os Estados interagem e dificilmente uma nação terá êxito e

futuro próspero se optar pelo isolamento.

O caminho é a cooperação e o entendimento entre os povos para que

seja possível uma boa fluência das relações internacionais.

18

“Ademais, estão geralmente incorporados aos mercados internacionais, que geram efeitos sobre as políticas dos governos e sobre a riqueza e o bem-estar de seus cidadãos. Sendo assim, o relacionamento entre Estados é necessário – ou seja, o isolamento total não é uma boa opção. Quando um país é isolado, (...) o resultado geralmente é o sofrimento da população local”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.20)

As pessoas vivem em Estados que se influenciam, o sistema estatal é

um sistema de relações sociais. As Relações Internacionais estudam os meios

de fazer com que a interação entre as nações seja pacífica, amistosa e

benéfica para os países e sendo assim, buscam uma melhor qualidade de vida

para nós, moradores do planeta Terra.

As relações internacionais parecem estar distante da vida de um

cidadão comum. No Brasil, por exemplo, a política externa parece ser segredo

de Estado e poucos cidadãos se interessam pelo rumo que seu país está

tomando no sistema internacional, a mídia pouco fala do posicionamento do

Brasil nas decisões internacionais.

A grande verdade é que as relações internacionais só afetam

aparentemente a vida de um indivíduo comum, quando as coisas não vão bem.

O homem só se atenta à segurança-nacional quando seu país recebe um

ataque de um poder externo. A independência nacional e individual só é

relevante quando a paz não é mais garantida. Só se percebe a importância da

justiça e da ordem internacional quando se sofre abusos ou explorações de

outros Estados. Como afirmam JACKSON e SORENSEN (2003):

“Nos conscientizamos do bem-estar nacional e do

nosso próprio bem-estar socioeconômico quando países estrangeiros ou investidores internacionais, com base em sua influência econômica, prejudicam nosso padrão de vida”. (p.26)

Isso explica o porquê das Relações Internacionais como um estudo

acadêmico terem surgido depois da Primeira Guerra Mundial, quando o mundo

se conscientizou que seria fundamental entender o funcionamento do planeta,

ou seja, o sistema internacional antes que ele se destruísse.

19

2.2 – Conceitos-chave das relações internacionais.

- SOBERANIA ESTATAL: Qualidade do Estado de ser politicamente

independente de todos os outros Estados.

- SISTEMA ESTATAL: Relações entre agrupamentos humanos organizados

politicamente, que ocupam territórios distintos, não estão subordinados a

nenhum poder ou autoridade superior e desfrutam e exercem um certo grau de

independência com relação aos outros.

- CINCO REGRAS BÁSICAS DE UM SISTEMA ESTATAL: Segurança,

liberdade, ordem, justiça e bem-estar.

- PRINCIPAIS ABORDAGENS TRADICIONAIS DE R.I.: realismo, liberalismo,

sociedade internacional e EPI.

- O DILEMA DE SEGURANÇA: Os Estados são tanto uma fonte de segurança

quanto uma ameaça à segurança dos seres humanos.

- AUTORIDADE MEDIEVAL: Um arranjo de autoridade política dispersa.

- AUTORIDADE DO ESTADO MODERNO: Um arranjo de autoridade política

centralizada.

- HEGEMONIA: poder e controle exercidos por um Estado proeminente sobre

os outros Estados.

- BALANÇA DE PODER: uma doutrina e um arranjo pelo qual o poder de um

Estado (ou grupo de Estados) é controlado pelo poder compensatório de

outros Estados.

(JACKSON & SORENSEN, 2003, p. 21)

20

2.3 – O cidadão, o Estado e o sistema estatal.

O que significa para um indivíduo viver em um país? Qual é a influência

disso em sua vida? Para que se torna necessário entender o andamento do

mundo? Por que acontece a guerra e a paz entre os diferentes Estados?

Esses questionamentos são fundamentais quando um universitário se propõe

a estudar as Relações Internacionais. É preciso que se enxergue uma relação

direta entre indivíduo, nação e mundo.

Segundo Jackson e Sorensen (2003), são no mínimo cinco os valores

básicos que um Estado supostamente deve defender: segurança, liberdade,

ordem, justiça e bem-estar. Estes são valores essenciais para que o homem

em qualquer parte do mundo tenha seu bem-estar garantido e cabe ao Estado

garantir e fiscalizar o cumprimento desses.

Mas será que um país sempre garante uma boa qualidade de vida aos

seus cidadãos? Ao que se observa nem sempre um governo cumpre o seu

papel.

O primeiro valor básico que um Estado deve defender é a segurança,

mas a própria existência do sistema de Estados pode colocar em risco a

segurança dos seus cidadãos. Isso se explica, pois no mundo existem hoje

quase 200 países e esses em sua grande maioria são armados. Quase todos

os países do mundo possuem forças armadas e como não existe um governo

mundial capaz de coagi-los, alguns podem se mostrar agressivos e hostis e

colocar em risco a segurança humana.

A segurança nacional é uma grande preocupação das Relações

Internacionais. Intelectuais de toda parte do mundo se esforçam por buscar

meios de fazer com que a relação entre as nações possa ser pacífica, estável

e segura para a humanidade.

O segundo valor básico é a garantia de liberdade tanto individual quanto

nacional. O cidadão não pode ser livre se o seu país não for, mas mesmo

quando um país é livre sua população pode não ser. Mas a condição essencial

para que a haja liberdade é a paz e a busca dessa convivência pacífica na

21

relação entre Estados é a principal meta da disciplina das Relações

Internacionais.

“A guerra ameaça e, algumas vezes, destrói a liberdade. A paz, pelo contrário, promove a liberdade, tornando possível a mudança internacional progressiva e a criação de um mundo melhor. A paz e a mudança progressiva estão certamente entre os valores mais fundamentais das relações internacionais”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.23)

O terceiro e quarto valor que é da responsabilidade dos Estados é a

garantia da ordem e da justiça. E para que isso aconteça se faz necessário

que o país queira ser cumpridor da ordem e da justiça internacional, ou seja,

respeitar o direito internacional e os direitos humanos, manter seus

compromissos selados com os tratados internacionais, respeitar as práticas

diplomáticas e as organizações internacionais.

Ao respeitar e colaborar com o bom andamento do sistema

internacional, o Estado assim, garante que seus cidadãos vivam em um

ambiente pacífico e estável. As Relações Internacionais colocam a ordem e a

justiça como seus valores mais fundamentais e buscam fazer com que os

países tenham boa vontade em colaborar com a paz. (JACKSON &

SORENSEN, 2003)

O último valor básico que um Estado deve defender é o bem-estar

socioeconômico da sua população. Os indivíduos acreditam que o governo é

responsável por garantir um bom andamento da economia, ou seja, das

práticas comerciais, emprego para todos, baixa inflação, investimentos na

economia nacional e etc. Mas as economias não funcionam isoladamente. Os

mercados interagem entre si e os países são essencialmente dependentes uns

dos outros, dificilmente hoje, no século XXI encontramos um país que produza

tudo que seus cidadãos precisem e não exerçam nenhuma troca comercial.

As práticas de mercado são outro campo de estudo das Relações

Internacionais que percebe que o comércio exterior é extremamente relevante

ao mundo que vivemos hoje. Mesmo que essas práticas ainda sejam desiguais

22

e muitas vezes os países ricos e poderosos explorem os mais pobres cabe as

Relações Internacionais entenderem essa relação comercial entre os povos.

Será melhor ou pior para o ser humano viver dentro do sistema de

Estados? Essa é uma das grandes discussões das Relações Internacionais.

“Durante muito tempo, acreditou-se que a vida dentro de Estados

adequadamente organizados e bem administrados é melhor do que a vida fora

deles ou na sua ausência”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.27)

A grande questão é que quando um Estado consegue assegurar os

cinco valores centrais discutidos acima, o sistema tem grandes chances de se

manter em paz. Mas quando o Estado não cumpre seu papel, ele pode ser

visto como um ameaça ao bem-estar dos indivíduos.

Como afirmam Jackson e Sorensen (2003):

“(...) se os Estados não forem bem-sucedidos nesse aspecto, o sistema estatal pode ser facilmente entendido na ótica oposta: enfraquecendo em vez de sustentar os valores e as condições sociais básicas. (...) Muitos deles falham mais ou menos ao tentar proporcionar ou proteger um padrão mínimo dos cinco valores básicos discutidos anteriormente e uma quantidade menor de Estados não consegue assegurar nenhum deles. A situação de vida degradada de inúmeros homens, mulheres e crianças nesses países coloca em questão a credibilidade e, as vezes, até mesmo a legitimidade do sistema estatal”. (p.27-28)

Enfim, Estados tem a responsabilidade de garantir para suas

populações boas condições de vida e bem-estar, geralmente países mais

desenvolvidos conseguem exercer sua função e estabelecem um padrão a ser

seguido pelo sistema estatal.

Mas e quando uma nação não garante aos seus cidadãos direitos mais

básicos como, por exemplo, a liberdade e a segurança? Vale a pena para

esses indivíduos viverem sob a égide de um governo nacional? (JACKSON &

SORENSEN, 2003)

23

A disciplina das Relações Internacionais (R.I), portanto, busca através

de estudos e observações fazer com que o mundo seja um espaço político e

socialmente pacífico para a humanidade. Essa busca provocou um grande

debate entre teorias das RI que se dedicam a provar se será melhor para o

indivíduo viver ou não em um sistema estatal.

PONTOS DE VISTA DO ESTADO

VISÃO TRADICIONAL VISÃO ALTERNATIVA

Estados são instituições valiosas:

proporcionam segurança, liberdade,

ordem, justiça e bem-estar.

Estados e o sistema criam mais

problemas do que resolvem.

As pessoas se beneficiam do sistema

estatal.

A maior parte da população mundial

sofre mais que se beneficia do

sistema de Estados.

Fonte: (JACKSON & SORENSEN,2003,p.28)

2.4 – Relações Internacionais, um campo de estudo em

constantes mudanças.

O foco acadêmico das Relações Internacionais, sobretudo dos estudos

mais tradicionais é o Estado e a relação entre eles, mas hoje as “RI abrangem

quase tudo associado às relações humanas em todo o mundo. E, para ter um

conhecimento ponderado e equilibrado de RI, é essencial estudar essas

diferentes perspectivas”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.45)

O profissional de Relações Internacionais, ou o acadêmico precisa

compreender a interação entre os diferentes países do globo e para isso

necessário se faz conhecer como essas nações interagem, ou seja, na

economia, no comércio, no direito, na cultura, nas organizações internacionais

e etc.

24

Mas o que torna a disciplina das Relações Internacionais ainda mais

complexa é que o mundo é dinâmico. O Globo está em constante

transformação como todas as esferas das relações humanas. Nada

permanece o mesmo durante muito tempo. E por mais que se estude, o mundo

é sem dúvida um ambiente imprevisível onde tudo pode ser esperado. As

relações internacionais mudam em relação à economia, educação, tecnologia,

política, ciência, muitos elementos fazem parte da dinâmica mundial.

São muitas e constantes as transformações do sistema internacional

como afirmam Jackson e Sorensen (2003):

“Os exemplos do impacto da mudança social sobre as relações internacionais são praticamente intermináveis, tanto em quantidade quanto em variedade. Contudo, isso deve ser suficiente para afirmar que a transformação social influência os Estados e o sistema estatal. A relação é sem dúvida reversível: o sistema estatal também afeta a política, a economia, a ciência, a tecnologia, a educação, a cultura e todo o resto”. (p.52)

O sistema estatal não somente reage às mudanças sociais, mas

também é causa delas. O que podemos esperar para o futuro de relação dos

homens?

Pode-se pensar em vários fatores causadores de transformações

mundiais como: comércio e investimentos cada vez maiores, aumento da

atividade empresarial multinacional, ampliação das Organizações não-

governamentais, elevação da comunicação regional e global, crescimento da

internet, expansão e ampliação constante das redes de transporte,

intensificação das viagens e do turismo, migração humana maciça, poluição

ambiental acumulada, integração regional ampliada, o crescimento das

comunidades mercantis, expansão global da ciência e da tecnologia, contínua

redução do governo, privatização elevada e outras atividades que

25

propulsionam a interdependência através das fronteiras. (JACKSON &

SORENSEN, 2003)

São muitas as questões relevantes que precisam ser abordadas pela

disciplina das RI. Os homens precisam buscar compreender suas relações,

pois somos nós que decidimos como queremos a Terra no futuro.

26

CAPÍTULO III

AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA ACADEMIA

3.1 – O estudo sistematizado das relações

internacionais.

O estudo sistematizado das Relações Internacionais surge no período

entre – Guerras, na Inglaterra e nos Estados Unidos, quando o mundo percebe

que as relações entre os Estados precisavam receber uma atenção específica

de uma nova ciência, pois se tornara imprescindível entender os motivos que

levaram ao acontecimento da Primeira Guerra Mundial para que novas guerras

fossem evitadas.

Estudiosos da política que estavam impressionados com as catástrofes

da Primeira Guerra começaram a se esforçar para identificar que país havia

sido o responsável pela eclosão da guerra. Assim, entendendo a dinâmica do

mundo seria mais fácil intervir na realidade internacional e evitar um novo

conflito armado. (GONÇALVES, 2003)

Os governos passaram a investir nesses estudos e diversos

departamentos e centros de pesquisas foram sendo formados, primeiramente

nos países de língua inglesa. Nos Estados Unidos, os acadêmicos pioneiros

começaram a buscar a formalização de uma teoria das Relações

Internacionais “que atendessem aos padrões científicos estabelecidos pela

comunidade acadêmica”. Alguns estudiosos defendiam que para que as

Relações Internacionais tivessem validade científica era necessário “a

introdução de modelos matemáticos e a utilização de conceitos de comprovada

eficácia em ciências já sedimentadas”. (GONÇALVES, 2003, p.29)

As universidades foram buscar superar os obstáculos e produzir

pesquisas que atendessem às exigências científicas que o mundo acadêmico

estabelecia.

27

Mas de acordo com Gonçalves (2007), é com o fim da Guerra Fria, ou

seja, no início da década de 1990 que um maior interesse é dado às relações

internacionais. Isso ocorre, pois os acadêmicos de todas as partes passam a

discutir intensamente o processo de globalização e o interesse pelo tema

aumenta ainda mais depois dos atentados terroristas do 11 de setembro.

Os Estados estão em um grau irreversível de interdependência, o que

acontece a uma nação afeta inevitavelmente a comunidade internacional.

Surge nesta época a percepção de que relações externas estão diretamente

ligadas às internas e era preciso que os meios acadêmicos se dedicassem a

entender essa ligação.

“Passou a predominar a idéia de que já não havia mais como distinguir os processos internos dos externos. Isto é, inevitavelmente, todas as decisões relativas a questões internas passavam a apresentar efeitos externos, enquanto as decisões relativas a questões externas acabavam produzindo efeitos internos. Desse modo, o conhecimento da realidade, em todas as suas dimensões, devia passar a incluir, necessariamente, o conhecimento das relações internacionais”. (GONÇALVES, 2007, p.13)

O movimento intelectual que buscava entender as relações

internacionais mobilizou os economistas, juristas, mas principalmente os

historiadores. A história passa a ser fundamental para que as relações

internacionais fossem compreendidas, pois como afirma Gonçalves (2003),

“somente quando examinamos à luz de sua dimensão temporal, os fenômenos

sociais, políticos, econômicos e culturais tornam-se cognoscíveis”. (p.13)

28

3.2 – As teorias no estudo das relações internacionais.

Segundo Dougherty e Pfaltzgraff, (2003) os acadêmicos, sobretudo Pós-

Guerra Fria, buscam responder nas teorias existentes das Relações

Internacionais as seguintes questões: (p.7)

- Qual a melhor explicação para a longa paz na era da dissuasão

nuclear?

- Qual a razão por que a Guerra Fria chegou ao fim de forma tão

abrupta e inesperada?

- É realmente verdade que a guerra entre os Estados democráticos e

avançados industrialmente se tenha tornado impensável? Quão firme e robusta

é a paz democrática?

- O sistema internacional tornou-se mais ou menos estável desde o fim

da Guerra Fria?

- Será que a transição dos regimes totalitários/autoritários para as

democracias representativas, das economias centralizadas para as economias

de mercado e dos particularismos econômicos nacionais para a globalização

implica a completa substituição das teorias, realista/neorealista, da luta de

poder entre Estados pelas teorias liberais, ou outras de cooperação

internacional pacífica e conducente a formas mais elevadas de

desenvolvimento humano universal?

- Até que ponto os Estados podem ser ultrapassados por outras forças e

instituições políticas, econômicas, sociais, culturais, religiosas no papel de

condicionantes do sistema internacional em evolução?

O estudo sistematizado das Relações Internacionais tenta através de

diversas perspectivas teóricas explicar as relações entre os países no sistema

internacional e assim, ter uma maior previsibilidade e estabilidade no sistema.

A necessidade da disciplina das Relações Internacionais é buscar teorias que

tratem especificamente das relações entre os Estados.

29

“As teorias das Relações Internacionais têm a finalidade de formular métodos e conceitos que permitam compreender a natureza e o funcionamento do sistema internacional, bem como explicar os fenômenos mais importantes que moldam a política mundial. Precisamos de um corpo particular de teorias para entender um universo específico da atividade humana cuja característica é desenvolver-se para além das fronteiras nacionais, no espaço pouco conhecido em que as ações, interações, conflitos e negociações têm lugar nas margens da jurisdição dos Estados: o espaço internacional”. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005, p.2)

As teorias desse campo de estudo são muito recentes que de acordo

com Dougherty e Pfaltzgraff, (2003) encontram-se num estágio experimental.

Para alguns acadêmicos isso é um fator que faz com que o estudo do espaço

internacional seja mais peculiar e interessante. As idéias dos homens não são

permanentes e estáveis, mas são mutantes. O que pensamos hoje pode

contribuir muito para o futuro e as teorias que surgem nos meios acadêmicos

podem definir como será o mundo amanhã. Ainda os mesmos autores

afirmam: “A teoria internacional está em mudança constante, acompanhando a

mudança do ambiente total e a inerente resposta do ser humano”. (p.9)

As explicações teóricas que se tem hoje podem evoluir e se

aperfeiçoarem em um futuro próximo e assim, pode-se ter análises mais

profundas do cenário mundial.

3.3 – Os debates acadêmicos.

De acordo com Jackson e Sorensen, (2003) houve três grandes debates

teóricos das Relações Internacionais desde que se tornou uma disciplina

acadêmica. Agora estamos entrando em um novo quarto debate. O primeiro foi

entre o liberalismo utópico e o realismo; o segundo entre as abordagens

tradicionais e o behaviorismo; o terceiro entre o neo-realismo/neoliberalismo e

o neomarxismo. O quarto e atual se da entre tradições consagradas e

alternativas pós-positivistas. “É fundamental nos familiarizarmos com essa

30

evolução a fim de entender as RI como uma disciplina acadêmica dinâmica e

de identificar as suas direções”. (p.61-62)

O liberalismo utópico foi o início dos estudos das Relações

Internacionais. Os pensadores liberais acreditavam que guerras e conflitos

futuros poderiam ser evitados através da reforma do sistema. O representante

liberal, Woodrow Wilson, defendia duas idéias principais. A primeira seria de

que o regime democrático e a autodeterminação deveriam ser estimulados no

mundo inteiro, de acordo com Wilson, uma democracia não entraria em guerra

com outra democracia. O segundo princípio que ele defendia era que as

nações deveriam criar uma organização internacional que iria regular, através

do direito internacional, a relação entre os Estados.

Em resumo, é possível compreender as idéias liberais da seguinte

forma: o meio de acabar com a guerra, ou seja, ter paz é através da existência

de uma organização internacional racional. Os liberais acreditam que sendo o

homem um ser racional, ele pode também aplicar sua racionalidade nas

relações internacionais e estabelecer organizações capazes de beneficiar a

todos, afinal paz é um interesse comum. (JACKSON & SORENSEN, 2003)

Ao contrário dos idealistas surge o grupo dos realistas. Os últimos ao

contrário dos primeiros estudavam o mundo como ele realmente era sem

enxergá-lo com utopias ou fantasias. (NOGUEIRA & MESSARI, 2004)

Para os realistas, “a natureza humana é a base das relações

internacionais. E, como os seres humanos buscam seus próprios interesses e

poder, agressões ocorrem com facilidade”. Para eles, a política internacional é

marcada pela luta do pelo poder e pelo interesse de cada Estado, ou seja,

visto que os Estados são soberanos e o mundo não possui um governo ou

nenhuma entidade supranacional, os Estados vivem em uma anarquia ou

arena. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.70-71)

O debate entre esses dois grupos, os idealistas e os realistas, foi

classificado como o primeiro grande debate da teoria das Relações

Internacionais e passou a ser reconhecido na área acadêmica da disciplina.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, os realistas vivem seu auge, pois

a teoria realista era mais bem utilizada para se compreender o estado de

guerra que o mundo mais uma vez se encontrara. Os realistas foram os

31

grandes vencedores do primeiro debate da disciplina das Relações

Internacionais. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005)

O PRIMEIRO GRANDE DEBATE DAS RI

LIBERALISMO UTÓPICO RESPOSTA REALISTA

ANOS 1920 ANOS 1930 - 50

- Direito internacional

- Organização internacional

- Interdependência

- Cooperação

-Paz

- Política de poder

- Segurança

- Agressão

- Conflito

- Guerra

Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.73)

Após a Segunda Guerra Mundial a disciplina acadêmica de RI cresceu e

fundações privadas estavam dispostas a investir nessas pesquisas que eram

de interesse nacional. Com tamanho apoio surgiram novos acadêmicos que

adotaram um maior rigor metodológico à disciplina das RI. O segundo grande

debate envolve principalmente questões metodológicas. Os novos estudiosos

trouxeram idéias variadas de como deveria se estudar Relações Internacionais.

“Essas novas reflexões foram chamadas de behaviorismo, que não significa

exatamente uma nova teoria, mas uma metodologia original que se esforçou

em ser científica”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.75)

Como afirmam Nogueira e Messari, (2005) “O segundo grande debate

na área não foi mais um debate sobre o que estudar, mas como estudá-lo.”

(p.4) Os behavioristas defendiam a idéia de que da mesma forma que os

pesquisadores das ciências podem criar leis objetivas capazes de demonstrar

o mundo físico, o mesmo deveria ocorrer com as relações internacionais. Os

antibehavioristas vão defender ser isso impossível para qualquer teórico de

questões humanas.

O segundo debate das teorias de Relações Internacionais foi bastante

proveitoso, pois as metodologias behavioristas enriqueceram os estudos da

32

área, mas o segundo debate não teve nenhum vencedor. “Após alguns anos

de muitas controvérsias, o segundo grande debate se extinguiu”. (JACKSON &

SORENSEN, 2003, p.77-78)

O SEGUNDO GRANDE DEBATE DAS RI

ABORDAGENS TRADICIONAIS RESPOSTA BAHAVIORISTA

Foco

ENTENDIMENTO

Foco

EXPLICAÇÃO

- Normas e valores

- Julgamento

- Conhecimento histórico

- Teórico dentro do assunto

-Hipótese

- Acervo de dados

- Conhecimento científico

- Teórico fora do assunto

Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.78)

Por volta das décadas de 1960 e 1970, o realismo volta como a teoria

dominante das Relações Internacionais. Neste período de Guerra Fria,

Estados Unidos e União Soviética competiam no cenário internacional e a

disciplina de Relações Internacionais apresentava um amadurecimento maior.

Mas na área acadêmica surgem os atores não-estatais - as empresas

multinacionais, as organizações não-governamentais, as organizações

internacionais, dentre outros – que precisavam ser analisados pelas teorias e o

realismo tinha como foco os Estados e as guerras. Essas críticas afetaram a

tradicional teoria realista. (NOGUEIRA & MESSARI, 2005)

Assim, como afirmam Jackson e Sorensen ( 2003) os liberais buscaram

formular um pensamento alternativo. Esses foram conhecidos no meio

acadêmico por neoliberais que insistiam nas antigas idéias liberais, mas

rejeitavam o idealismo. Os neo-realistas, representados principalmente por

Kenneth Waltz, apresentam uma teoria realista diferente, também modificada

pelo behaviorismo. O neo-realismo “tenta formular argumentos em forma de

leis sobre as relações internacionais, para que alcancem uma validade

científica. (p.82) “Sendo assim, o debate entre liberalismo e realismo

33

continuou, mas passou a se basear na configuração internacional pós-1945 e

na persuasão metodológica behaviorista”. (p.79)

As décadas vindas depois da Segunda Guerra Mundial foram marcadas

pelo período de descolonização, com isso, muitos “novos” Estados surgiram e

a maioria deles é fraca economicamente. Nos anos 70, esses países em

desenvolvimento começaram a buscar uma melhor posição econômica em

relação aos países desenvolvidos. O neomarxismo surge como uma reflexão a

respeito da situação de subordinação do terceiro mundo. “O neomarxismo é

uma tentativa de analisar a situação do terceiro mundo por meio da aplicação

de instrumentos de análise desenvolvidos por Karl Marx”. (JACKSON &

SORENSEN, 2003, p.89)

“O terceiro grande debate, portanto, complica ainda mais a disciplina de RI, uma vez que transfere o foco das questões militares e políticas para os aspectos econômicos e sociais e introduz problemas socioeconômicos distintos presentes nos países do Terceiro Mundo. Não é um debate como os dois discutidos anteriormente, mas uma expansão notável da agenda de pesquisa acadêmica de RI, com o objetivo de incluir questões socioeconômicas de bem-estar, assim como político-militares e de segurança”. (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.92)

O TERCEIRO GRANDE DEBATE DAS RI

REALISMO/NEO-REALISMO

LIBERALISMO/NEOLIBERALISMO

NEOMARXISMO

Foco:

-Sistema mundial capitalista

-Dependência

-Subdesenvolvimento

Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.91)

Por fim a disciplina de RI se encontra hoje no quarto debate. Até então,

os três debates teóricos apresentados neste capítulo são entre teorias

tradicionais e consagradas das Relações Internacionais, mas o atual debate se

trata de uma crítica às tradições renomadas por abordagens alternativas.

34

Essas chamadas “novas vozes” são de acadêmicos que buscam substituir as

visões tradicionais por alternativas mais atualizadas.

Cada vez mais as “novas vozes” vem ganhando espaço, pois com o fim

da Guerra Fria o mundo definitivamente mudou. O que se vive hoje não é um

conflito definido entre duas potências, mas uma série de questões diversas

que a disciplina de RI tem obrigação de analisar. As RI, a partir dos anos 90,

passam a ter uma agenda muito maior e diferenciada, pois passa a ter que

compreender os novos temas como guerra civil, Estados fracassados, questão

ambiental, intervenção humanitária, problemas de limpeza étnica, refugiados,

dentre muitos outros.

Nesse sentido, as “novas vozes” afirmam que as teorias tradicionais não

conseguem abranger todas as novas questões que o mundo de hoje

apresenta, ou seja, as visões tradicionais não compreendem as “relações

internacionais do início do novo milênio”. (JACKSON & SORENSEN, 2003,

p.92-94)

O QUARTO GRANDE DEBATE DAS RI

TRADIÇÕES CONSAGRADAS

- Realismo/neo-realismo

- Liberalismo/neoliberalismo

-Sociedade internacional

- Economia política internacional

NOVAS VOZES

- Metodologias pós-positivistas

-Questões positivistas

Fonte: (JACKSON & SORENSEN, 2003, p.94)

35

CONCLUSÃO

Por que as Relações Internacionais se tornaram um estudo

sistematizado nas academias?

O mundo percebeu, infelizmente depois de vivenciar grandes

catástrofes, que quem faz o futuro do planeta são os homens hoje. Se no

presente a humanidade optar pela guerra, pelo desentendimento e pela

destruição em um futuro próximo não teremos lar. Isso se confirma, pois com

todos os avanços tecnológicos existentes no planeta, um conflito armado pode

representar o fim. A experiência da Guerra Fria mostrou ao sistema

internacional que o mundo tinha duas opções: diálogo ou conflito nuclear.

A disciplina das Relações Internacionais ainda tão pouco conhecida

toma conta de uma agenda internacional extremamente complexa. Com o grau

de interligação que os Estados hoje se encontram, o que acontece a uma

nação afeta as demais. Os Estados se relacionam de formas tão diferentes e

as RI se tornam responsáveis por estudar e entender todas essas questões

para fazer da Terra um ambiente pacífico, estável e previsível, pois dentro de

cada nação vivem pessoas, e o rumo que os países tomam afetam o bem-

estar de suas populações.

Hoje os estudos das Relações Internacionais procuram se aprofundar

em áreas distintas e complexas como a questão ambiental, a questão dos

refugiados, a troca comercial entre nações, atores não estatais, sociedade civil

global, questão de segurança alimentar e territorial, organizações e leis

internacionais, diplomacia, questões bélicas, diversidade cultural, conflitos

étnicos, questões econômicas e muitos outros temas. Tudo isso e muito mais

que foi citado acima, afeta o sistema internacional e por conseqüência afeta

toda a humanidade que vive inserida neste sistema.

As RI como estudo acadêmico é fundamental para que haja um

ambiente de paz e negociação. Os governos de países desenvolvidos já

perceberam que preciso se faz investir nesses estudos para que haja

prosperidade não só nacional, mas também mundial.

36

BIBLIOGRAFIA

CARR. E. H. Vinte anos de crise 1919-1939. Brasília: Ed. UNB, 1981

DOUGHERTY, James E; PFALTZGRAFF, Robert L. Jr. Relações

Internacionais: As teorias em confronto. Lisboa: Gradiva, 2003.

HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andrea Ribeiro. Organizações Internacionais:

História e práticas. Rio de Janeiro: CAMPUS/Elsevier, 2004.

JACKSON, Robert; SORENSEN, Georg. Introdução às Relações

Internacionais. Rio de Janeiro: ZAHAR,2007.

LESSA, Mônica Leite; GONÇALVES, Williams da Silva. História das

Relações Internacionais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2007.

NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações

Internacionais: Correntes e debates. Rio de Janeiro: CAMPUS/Elsevier,

2005.

37

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A história das Relações Internacionais. 10

1.1 – O início do interesse pela relação entre Estados 10

1.2 – Os efeitos da Guerra 11

1.3 – Relações Internacionais e segurança coletiva 13

1.4 – Breve histórico da evolução das teorias

acadêmicas das Relações Internacionais. 14

CAPÍTULO II

Por que estudar Relações Internacionais? 17

2.1 – O estudo das relações internacionais

e sua influência na vida cotidiana. 17

2.2 – Conceitos-chave das relações internacionais 19

2.3 – O cidadão, o Estado e o sistema estatal. 20

2.4 – Relações Internacionais, um campo de

estudo em constantes mudanças. 23

CAPÍTULO III

As Relações Internacionais na Academia. 26

3.1 – O estudo sistematizado das relações internacionais. 26

3.2 – As teorias no estudo das relações internacionais 28

3.3 – Os debates acadêmicos 29

38

CONCLUSÃO 35

BIBLIOGRAFIA 36

ÍNDICE 37

39

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: