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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM PSICOPEDAGOGIA E LUDICIDADE: DE MÃOS DADAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Por: Nedimar Carvalho dos Santos de Mello Orientador Prof. Caroline Kwee Niterói 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

PSICOPEDAGOGIA E LUDICIDADE: DE MÃOS DADAS NO

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Por: Nedimar Carvalho dos Santos de Mello

Orientador

Prof. Caroline Kwee

Niterói

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

PSICOPEDAGOGIA E LUDICIDADE: DE MÃOS DADAS NO

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

psicopedagogia.

Por: Nedimar Carvalho dos Santos de Mello

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por iluminar o meu

caminho.

À minha família que sempre me incentivou, e com muita paciência, me

acompanhou nesta trajetória, dando forças nos momentos mais difíceis e

compreendendo a minha ausência.

Aos mestres, que com paciência, me ajudaram a construir novos

conhecimentos.

Às minhas amigas e companheiras do curso, que durante toda a

caminhada estiveram sempre presentes.

À minha orientadora Carol pelas críticas construtivas.

Obrigada pelo carinho, amizade e o imenso apoio de vocês.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais e irmãos, pelo apoio

irrestrito em todos os momentos de minha

vida.

Ao meu marido Nilson Eduardo e à

minha filha Maria Eduarda, que souberam tão

bem compreender os meus momentos de

ausência em função deste trabalho.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo compreender como o uso do

lúdico nas turmas de alfabetização pode contribuir no processo de construção

da leitura e da escrita de forma mais dinâmica e prazerosa.

Partindo dos estudos de pesquisadores como Piaget, Vygotsky,

Kishimoto, Winnicott, Bossa, Weiss, entre outros, o trabalho procura analisar

como os jogos, os brinquedos e as brincadeiras sempre estiveram presentes

na história da humanidade, além de serem tão importantes para o

desenvolvimento sócio-histórico-cultural.

Diante desta perspectiva, que afirma a importância do lúdico na

constituição dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem, identifica-

se, hoje, um discurso que surge em torno da importância do uso do lúdico na

educação, com a sua função humanizadora, pois através da brincadeira, a

criança aprende e apreende melhor o mundo que a rodeia, pois brincar é

sinônimo de aprender, gerando espaço para pensar, desenvolvendo o

raciocínio, a criatividade e diversas habilidades.

A integração entre o lúdico, o cognitivo e o psicológico é indispensável

para fazer aflorar as potencialidades da criança. Utilizar os jogos com

coerência e sabedoria, como instrumentos na construção da linguagem escrita,

é fazer da educação algo prazeroso.

Nesta perspectiva, as atividades lúdicas tem ocupado um lugar de vital

importância no atendimento psicopedagógico de crianças em fase de

alfabetização, uma vez que há uma estreita relação entre a situação de jogo e

a situação de aprendizagem, ou seja, o uso do lúdico no trabalho

psicopedagógico é um importante aliado, uma vez que possibilita observar o

sujeito aprendente e se compreender, basicamente, o funcionamento dos seus

processos cognitivos e afetivo-sociais.

Portanto, afirma-se que a psicopedagogia, através do trabalho do

psicopedagogo dentro da instituição escolar, e a ludicidade andam de mãos

dadas no processo de alfabetização.

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METODOLOGIA

A presente pesquisa apresenta uma revisão bibliográfica sobre o uso do

lúdico desde a Antiguidade até os dias atuais.

Através de leituras e análises dos registros de diversas pesquisas sobre

o tema, percebe-se que com o passar dos tempos, a ludicidade foi ganhando

um campo maior de estudo, e assim, o presente trabalho, procura uma

fundamentação teórica embasada em autores que se aprofundaram no tema, a

fim de levar o educador e o psicopedagogo a refletirem sobre suas práticas e

sobre o processo de construção da aprendizagem infantil.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A importância das brincadeiras no desenvolvimento

Sócio- histórico-cultural

1.1 – Um pouco de história 10

1.2 - O lúdico na perspectiva de alguns teóricos 13

1.3 - O papel do lúdico no desenvolvimento infantil 18

CAPÍTULO II - O uso do lúdico no processo educativo

2.1 – O papel do lúdico na educação 20

2.2 - O processo de construção da leitura e da escrita 22

2.3 – O lúdico nas turmas de alfabetização: aprender brincando 25

CAPÍTULO III – A psicopedagogia e a ludicidade no processo de

alfabetização

3.1 – O uso do lúdico no diagnóstico psicopedagógico 29

3.2 – Prevenção e intervenção psicopedagógica no processo de 33

Alfabetização

3.3 – Refletindo sobre o papel do Psicopedagogo 36

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 45

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INTRODUÇÃO

Este estudo trata da importância do uso do lúdico como parte do

processo educativo para o trabalho de prevenção e de intervenção

psicopedagógica mediante os problemas de aprendizagem de crianças que

estão em processo de construção da leitura e da escrita.

No processo de alfabetização a Psicopedagogia pode contribuir levando

o educador à reflexão sobre suas práticas docentes e sobre o processo de

construção da aprendizagem infantil, podendo prevenir/minimizar e/ou excluir

os problemas na aprendizagem.

Partindo deste pressuposto, a pesquisa trata-se de um estudo

bibliográfico, buscando em autores como Piaget, Vygotsky, Kishimoto,

Winnicott, Bossa, Weiss, entre outros, respostas para indagações sobre o

papel do lúdico neste processo.

VYGOTSKY (1989) estabelece uma relação estreita entre o jogo e a

aprendizagem, atribuindo-lhe uma grande importância, evidenciando que o

desenvolvimento cognitivo resulta da interação entre a criança e as pessoas

com quem mantém contato regulares.

É na brincadeira que a criança se comporta além do seu comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento diário. A criança vivencia uma experiência no brinquedo como se ela fosse mais do que é na realidade (VYGOTSKY, 1989, p. 177).

Em sua obra "O brincar e a realidade", WINNICOTT (1975) afirma que

as atividades lúdicas são indispensáveis para o desenvolvimento da

percepção, da imaginação, da fantasia e dos sentimentos da criança,

demonstrando que trabalhar ludicamente não significa abandonar a seriedade

e a importância dos conteúdos escolares, mas, ao contrário, pois os jogos

podem ser poderosos aliados para que os alunos possam refletir sobre o

sistema de escrita, sem, necessariamente serem obrigados a realizar treinos

enfadonhos e sem sentido.

É o que relata Kishimoto:

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Crianças que brincam aprendem a decodificar o pensamento dos parceiros por meio da metacognição, o processo de substituição de significados, típico de processos simbólicos. É essa perspectiva que permite o desenvolvimento cognitivo (KISHIMOTO, 2002, p.150).

Dessa forma, o objetivo principal deste estudo é compreender como as

atividades lúdicas são utilizadas no trabalho psicopedagógico auxiliando o

processo de alfabetização, levando a criança a sentir-se estimulada a construir

aprendizagens significativas e tornar-se uma leitora/autora competente.

Por ser o jogo inerente ao homem, e por revelar sua personalidade integral de forma espontânea, é que se pode obter dados específicos e diferenciados em relação ao Modelo de Aprendizagem do paciente. Assim, aspectos do conhecimento que já possui, do funcionamento cognitivo e das relações vinculares e significações existentes no aprender, o caminho usado para aprender ou não aprender, o que pode revelar, o que precisa esconder e como o faz podem ser claramente observados através do jogo (WEISS, 2010, p.79).

O papel da Psicopedagogia é juntamente com as pessoas envolvidas

neste processo, investigar, diagnosticar e intervir mediante a aprendizagem,

sendo capaz de ajudar aqueles que apresentam dificuldades na construção da

leitura e da escrita, visando a diminuição/exclusão dos problemas de

aprendizagem através de atividades lúdicas e prazerosas, além de sensibilizar

o professor/psicopedagogo para a utilização de atividades de ludicidade com o

objetivo de tornar o processo de alfabetização mais eficaz, dinâmico e

prazeroso.

Por isso, o uso do lúdico pelo psicopedagogo tem como objetivo garantir

a aplicação do raciocínio na execução dos conteúdos escolares de maneira

que o aluno transponha as dificuldades surgidas e se aproprie da utilização da

linguagem escrita em qualquer situação.

É nesse contexto que afirma-se que jogar e aprender caminham

paralelamente na psicopedagogia, posssibilitando através da hora lúdica,

observar prazeres, frustrações, desejos, além de trabalhar com o erro e

articular a construção do conhecimento.

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CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS NO

DESENVOLVIMENTO SÓCIO-HISTÓRICO-CULTURAL

1.1 - Um pouco de história

Desde a Antiguidade, jogos, brinquedos e brincadeiras sempre

ocuparam um lugar importante na vida de toda criança, exercendo um papel

fundamental no desenvolvimento, pois brincando e jogando, a criança

estabelece vínculos sociais, ajusta-se ao grupo e aceita a participação de

outras crianças com os mesmos direitos.

TEIXEIRA (2010) cita que em qualquer país, rico ou pobre, próximo ou

distante, no campo ou na cidade, existe a atividade lúdica, pois desde os

povos mais primitivos aos mais civilizados, todos tiveram e ainda tem seus

instrumentos de brincar e suas brincadeiras favoritas.

KISHIMOTO (2003, p.17) exemplifica tal dimensão histórica, mostrando

que, “se o arco e a flecha hoje aparecem como brinquedos, em certas culturas

indígenas representavam instrumentos para a arte da caça e da pesca”, ou

seja, o brinquedo pode representar uma das maneiras de resguardar a história

da humanidade.

O brincar atravessa diferentes tempos e lugares, esteve no passado, está

no presente e certamente fará parte da sociedade do futuro, sendo marcado,

ao mesmo tempo, pela continuidade e pelas mudanças, uma vez que a

assistência oferecida à infância sempre esteve relacionada ao momento

sócio/histórico/político vivido por cada sociedade.

A arte das brincadeiras vem desde os tempos primitivos e até os animais brincam entre si, os seres humanos, que tem toda uma linguagem verbal e corporal a seu favor, podem superar os maiores desafios quando bem conduzidos (CONDÉ, 2011, p. 67)

A criança, pelo fato de situar-se em um contexto histórico, cultural e

social, ou seja, em um ambiente estruturado a partir de valores, atividades e

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significados construídos pelos sujeitos que ali vivem, desenvolve a experiência

social e cultural do brincar por meio das relações de interação que estabelece

com as pessoas que convive.

Viajando à Antiguidade, percebe-se que já nesta época, a atividade

lúdica era ligada às pessoas em geral, e não somente à infância. O interesse

pelo estudo do brinquedo também é muito antigo. E isso talvez decorra do fato

de que o brinquedo e o jogo façam parte tão intrínseca da vida infantil e juvenil.

Entender seu significado é um caminho necessário para conhecer a própria

criança e seu processo de desenvolvimento.

A ludicidade é objeto de pesquisa de filósofos, psicólogos, psicanalistas,

teólogos, antropólogos, médicos, terapeutas, educadores e pais, portanto, nos

mais diversos campos das ciências e das práticas sociais, iniciaram-se

diversos estudos para melhor se compreender a importância do brincar para o

desenvolvimento da criança.

TEIXEIRA (2010), afirma que Platão e Aristóteles já pensavam o

brinquedo na educação, associando a idéia de estudo ao prazer, pois para

Aristóteles (344 a.C.) o jogo é uma atividade que toma a si mesma, como fim,

sendo a recreação um descanso do espírito, ressaltando a importância do

brincar acontecer de forma espontânea, sem associação à ideia de prêmio ou

castigo.

Na antiguidade, para o ensino das crianças, utilizavam-se dados, bem como doces e guloseimas em forma de letras e números. A importância da educação sensorial nesse período determinou, portanto, o uso do “jogo didático” por professores das mais diferentes áreas, como Filosofia, Matemática, Linguagem e outras (TEIXEIRA, 2010, p. 26).

A Idade Média representa o ponto de partida para a compreensão e

consequente preocupação com a formação e aprendizagem infantil, graças ao

desenvolvimento do Iluminismo que retomou importante concepção advinda da

Antiguidade, especialmente na Grécia, onde privilegiou- se a educação de

crianças e adolescentes.

Na Idade Média, além de raras, as escolas destinavam-se apenas a

alguns e a transmissão do conhecimento, era passado de uma geração para

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outra, através da participação das crianças na vida dos adultos por meio dos

jogos, das brincadeiras, das festas e do cotidiano da comunidade.

Para ALMEIDA (2003), a partir do século XVI os Iluministas começaram

a perceber o valor educativo dos jogos, sendo os colégios Jesuítas os

primeiros a colocá-los em prática. Foram os Jesuítas que editaram em Latim,

tratados de ginástica, que forneciam regras dos jogos recomendados,

passando a aplicar nos colégios a dança, a comédia, os jogos de azar,

transformados em práticas educativas para a aprendizagem da ortografia e da

gramática.

Os jogos e as brincadeiras representavam, e continuam representando,

a possibilidade de manutenção e transformação de conteúdos históricos da

humanidade. Além disso, também representavam um elo entre o indivíduo e a

sua comunidade.

A partir da Idade Média, atividades lúdicas, através do uso de jogos,

brinquedos e brincadeiras tornaram-se comuns a toda a sociedade, sem

distinção de classe ou de idade. Não havia separação entre brincadeiras para

meninos ou meninas,

[...] a boneca não se destinava apenas às meninas. Os meninos também brincavam com elas. Dentro dos limites da primeira infância, a discriminação moderna entre meninas e meninos era menos nítida: ambos os sexos usavam o mesmo traje, o mesmo vestido (Ariès, 1981, p. 49).

Os brinquedos mais comuns eram: bola, cavalo de pau, peteca, boneca,

pião, cata-vento, etc. e tais brincadeiras eram muito comuns aos adultos e às

crianças, aos meninos e às meninas.

As brincadeiras eram comuns aos adultos e crianças, que muitas vezes misturavam-se para realizá-las no dia-a-dia ou em comemorações e festividades. Encontraremos entre os jogos mais realizados as mímicas, rimas, cabra-cega, esconde-esconde, os chamados jogos de salão e cartas, dados, gamão, cara ou coroa, jogos de azar. Também o teatro, a música, a dança e a literatura eram comuns ao universo do adulto e da criança (TEIXEIRA, 2010, p.27 apud SILVIA, GARCIA e FERRARI, 1989, p.18).

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Resgatar a história de jogos tradicionais infantis como a expressão da

história e da cultura, pode mostrar estilos de vida, maneiras de pensar, sentir e

falar, e sobretudo, maneiras de brincar e interagir, configurando-se em

presença viva de um passado no presente.

Segundo KISHIMOTO (2002), o jogo era visto como recreação desde os

tempos passados, aparecendo como relaxamento necessário às atividades

que exigiam esforço físico e intelectual. Já o Renascimento entende a

brincadeira como conduta que favorece o desenvolvimento da inteligência e

facilita o estudo.

Por essa razão, no Renascimento, a concepção de jogo relaciona-se a

uma nova concepção de infância que vê a criança dotada de valores positivos,

expressando-se espontaneamente através do jogo.

Dessa forma, com o passar do tempo, a brincadeira foi ganhando

espaço na educação, pois assim como a indústria do brinquedo se expande

cada vez mais, produzindo uma variedade imensa de produtos, na esfera

acadêmica, percebe-se que o lúdico torna-se objeto de estudo de muitas

áreas, sendo visto como uma ação que permite às crianças se divertirem, ao

mesmo tempo, que desenvolvem diferentes habilidades cognitivas e motoras.

1.2 - O Lúdico na perspectiva de alguns teóricos

Os estudos da psicologia baseados em uma visão histórica e social dos

processos de desenvolvimento infantil apontam que o brincar é um importante

processo de desenvolvimento e de aprendizagem para a criança. Por isso,

vários teóricos dedicam e/ou dedicaram seus estudos sobre a importância do

uso do lúdico no desenvolvimento infantil.

Alguns desses teóricos são:

FRIEDRICH FROEBEL (1782-1852) – foi um dos primeiros educadores

a considerar o início da infância como a fase mais importante para a formação

da pessoa/sujeito. Ele ficou conhecido como o educador das crianças,

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contribuindo muito na Educação Infantil e na utilização do lúdico como recurso

facilitador da aprendizagem para as crianças.

Para ele, as brincadeiras são os primeiros recursos no caminho da

construção de aprendizagens, como afirma Kishimoto:

Embora não tenha sido o primeiro a analisar o valor educativo do jogo, Froebel foi o primeiro a colocá-lo como parte essencial do trabalho pedagógico, ao criar o jardim de infância com uso dos jogos e brinquedos (KISHIMOTO, 2002, p. 61).

Ainda segundo Kishimoto (2002), Froebel percebe que por meio de

brincadeiras, relacionando sons e idéias, poderia se ensinar a linguagem,

assinalando a estreita relação entre a linguagem, nas brincadeiras de esconde-

esconde entre o bebê e a mãe; a descoberta de regras, quando a criança inicia

a brincadeira; e o contexto, associando palavras aos objetos e aos atos.

Assim, por meio de brinquedos, cria-se espaço para a criança ter

iniciativa, expressar sua fala e representar o seu imaginário. As brincadeiras

são os primeiros recursos no caminho rumo à aprendizagem e o jogo simbólico

deve servir de suporte para o desenvolvimento do imaginário infantil. A

manipulação e exploração de jogos de montar e de construção tem uma

estreita relação com o faz-de-conta, levando a criança a criar seus próprios

jogos.

Froebel defende a idéia de que o professor deve explorar a capacidade criadora da criança, permitindo que ela tenha ações espontâneas e prazerosas. A partir de objetos de seu cotidiano, a criança tem capacidade para criar significações e representar seu imaginário por si mesmo. Por isso, o brincar é representar, é prazer, autodeterminação, seriedade, expressão de necessidades e tendências internas (TEIXEIRA, 2010, p. 40).

Nessa perspectiva, o lúdico passa a ser visto como parte do processo

de construção, interação, desenvolvimento e socialização da criança. O brincar

envolve múltiplas aprendizagens e complexos processos de articulação entre a

experiência, o novo, a memória, a imaginação, a realidade e a fantasia.

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VYGOTSKY (1896-1934)

Vygotsky (1989) atribui relevante papel ao ato de brincar na constituição

do pensamento infantil. A criança, por meio da brincadeira, reproduz o discurso

externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento. É brincando e/ou

jogando, que a criança revela seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor,

seu modo de aprender e entrar em uma relação cognitiva com o mundo de

eventos, pessoas, coisas e símbolos.

Dessa forma, Vygotsky defendeu que o próprio desenvolvimento da

inteligência é produto da interação entre o homem e o meio ambiente. Isso

porque a brincadeira cria uma zona de desenvolvimento proximal, permitindo

que as ações da criança ultrapassem o desenvolvimento já alcançado

(desenvolvimento real), impulsionando-a a conquistar novas possibilidades de

compreensão e de ação sobre o mundo (desenvolvimento potencial).

Vygotsky entende a brincadeira como uma atividade social da criança e através desta a criança adquire elementos imprescindíveis para a construção de sua personalidade e para compreender a realidade da qual faz parte. Ele apresenta a concepção da brincadeira como sendo um processo e uma atividade social infantil (MARANHÃO, 2007, p. 30).

Do ponto de vista psicológico, Vygotsky (apud Teixeira, 2010) atribui três

características à brincadeira infantil: a imitação, a imaginação e a regra, tão

presentes nos faz-de-conta, nas brincadeiras tradicionais e nas que exigem

regras, atribuindo também ao brinquedo, o papel de preencher uma atividade

básica da criança, trazendo vantagens sociais, cognitivas e afetivas para o seu

desenvolvimento.

Quando a criança é pequena, o jogo é o objeto que determina sua ação

e na medida em que cresce, a criança impõe ao objeto um significado. O jogo

traz oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis e

também a possibilidade para exercitar-se no domínio do simbolismo que ocorre

justamente quando o significado fica em primeiro plano.

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PIAGET (1896-1980)

Analisar a importância do lúdico leva a análise dos pensamentos de

Jean Piaget, que durante seus estudos, reuniu um modelo para descrever e

explicar como o homem atribui sentido ao seu mundo e como se dá o

desenvolvimento do pensamento nas crianças.

De acordo com Piaget, o desenvolvimento da inteligência está voltado para o equilíbrio; a inteligência é adaptada. O homem estaria sempre buscando uma melhor adaptação ao ambiente. Dessa forma podemos entender a importância do brincar para o desenvolvimento da criança (MARANHÃO, 2007, p. 18).

O desenvolvimento cognitivo, na teoria de Piaget (1999), passa de um

estágio de menor conhecimento (período sensório-motor), menos estruturado,

a um estágio de maior conhecimento (período lógico-formal), mais estruturado,

seguindo uma lógica de gradação evolutiva, que vão sendo adquiridos ao

longo da vida por meio da experimentação e da ação do sujeito sobre o objeto.

É na medida em que o sujeito assimila o mundo e se acomoda ao mundo que

as estruturas cognitivas se transformam.

Dessa forma, no período entre dois e sete anos, denominado por Piaget

de Intuitivo ou Simbólico, a criança descobre que a realidade pode ser

representada pela palavra, começando a dialogar então, com seus brinquedos,

conforme destaca Olívia Porto:

Piaget afirma que o jogo simbólico, que surge ao redor dos dois anos, permite à criança assimilar o mundo na medida do seu eu deformando-o para atender aos seus desejos e às fantasias. Afirma também que o jogo tem uma evolução, começando com exercícios funcionais (correr, saltar, jogar bolinha etc.) e seguidos pelos jogos simbólicos (imitar, dramatizar) (PORTO, 2009, p.82).

Por meio das brincadeiras e dos jogos simbólicos, a criança começa a

trabalhar com suas imagens mentais e a linguagem vai se estruturando,

ocorrendo os primeiros elementos de articulação entre a ação e o pensamento.

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A brincadeira, então, assume um caráter importante para a aquisição do

código de linguagem e para a organização do pensamento, pois quando a

criança brinca, assimila o mundo à sua maneira.

WINNICOTT (1896-1971)

Outro grande teórico que aborda o tema brincar é Winnicott, que em sua

obra “O Brincar e a Realidade” (1975) enfatiza que a brincadeira é universal e

é própria da saúde, pois o brincar facilita o crescimento e conduz aos

relacionamentos grupais. É no brincar que a criança ou o adulto fruem sua

liberdade de criação.

Para ele, o brincar pode ser uma forma de comunicação e a psicanálise

foi desenvolvida como maneira especializada do brincar, a serviço da

comunicação consigo mesmo e com as outras pessoas.

O brincar é essencial porque nele o paciente manifesta sua criatividade...É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (WINNICOT, 1975, p. 80).

Winnicott acredita na interação do adulto como exemplo para o bom

desenvolvimento da criança, inclusive ressaltando a importância da boa mãe

(aquela que percebe modificações em seu filho e que lhe serve de exemplo).

Conforme destaca Winnicott, a criança projeta-se nas atividades adultas

de sua cultura através do brinquedo, antecipando o desenvolvimento e

adquirindo motivação e habilidades. Através da brincadeira, a criança ensaia

papéis e valores (pai, mãe, irmãos, professores...), tornando-se assim,

indispensável ao processo de desenvolvimento da criança.

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1.3 - O papel do lúdico no desenvolvimento infantil

Em relação ao papel do lúdico no desenvolvimento infantil, VYGOTSKY

(1995) emprega o termo “brinquedo” num sentido mais amplo, se referindo

principalmente à atividade, ao ato de brincar. Ele afirma que os jogos de

papéis ou a brincadeira de “faz-de-conta” exercem uma enorme influência no

desenvolvimento infantil porque são característicos nas crianças que aprendem

a falar e que já são capazes de representar simbolicamente e de se envolver

numa situação imaginária.

A criança através do lúdico aprende a atuar numa esfera cognitiva, onde

o pensamento que antes era determinado pelos objetivos do exterior passa a

ser regido pelas idéias, passando também, a criar uma situação ilusória e

imaginária, como forma de satisfazer seus desejos não realizáveis. Através do

brinquedo, a criança estabelece suas relações com a vida real e experimenta

sensações que já conhece e vai desenvolvendo regras de comportamento.

Pelo uso do brinquedo, a criança aprende a agir de forma cognitiva; os objetos tem um aspecto motivador para as ações da criança, desde a mais tenra idade. A percepção é um motivo para a criança agir. Mais tarde, a ação começa a se desvincular da percepção: o pensamento começa a se separar do que a criança imagina ser o objeto e do que o objeto é, realmente; a criança vai fantasiando o que ela gostaria de que determinado objeto fosse. Essa transição é gradual no desenvolvimento de cada uma (MARANHÃO, 2007, p.35).

Por meio da brincadeira a criança vai se desenvolver socialmente,

conhecendo as atitudes e habilidades necessárias para viver em seu grupo

social. Para Vygotsky (apud Maranhão, 2007) a criança se inicia no mundo

adulto por meio da brincadeira e pode antever os seus papéis e os valores

futuros, pois em sua função imitativa, ela pode aprender a conviver com as

atividades culturais e aprender as regras dos mais velhos.

A brincadeira é entendida como referência para o desenvolvimento da

criança por KISHIMOTO (2002), que citando o teórico Bruner em sua obra,

afirma que a relação entre o brincar, a aquisição de regras e o

desenvolvimento da linguagem é analisada em várias obras desse autor.

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Conforme destaca Bruner (apud KISHIMOTO, 2002) ao propor o lúdico

para ensinar crianças de idades diferentes, com a mediação de adultos e em

situações diversas e estruturadas, este torna-se uma forma enriquecedora de

exploração e uma estratégia que leva ao estímulo da criatividade, auxiliando a

criança a solucionar problemas e, consequentemente, a desenvolver as suas

potencialidades.

O lúdico também é uma forma de socialização que prepara a criança

para pertencer à sociedade adulta. Pela brincadeira a criança aprende a se

movimentar, falar, pensar e ser ela mesma. Aprende a desenvolver estratégias

para solucionar problemas, buscando alternativas e integrando o pensamento

intuitivo.

Assim, depois da análise do pensamento de diversos teóricos sobre a

importância das brincadeiras no desenvolvimento sócio-histórico-cultural,

apresenta-se no próximo capítulo, uma pesquisa sobre o uso do lúdico no

processo educativo e, principalmente, no processo de alfabetização das

crianças.

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20

CAPÍTULO Il

O USO DO LÚDICO NO PROCESSO EDUCATIVO

2.1 – O papel do lúdico na educação

A escola não se constitui apenas de alunos e professores, mas de

sujeitos plenos, que são as crianças e os adultos, autores de seus processos

de construção de conhecimentos, subjetividades e culturas. Pensar em

educação é pensar no ser humano, em sua totalidade, em seu corpo, em seu

meio ambiente, nas suas preferências, nos seus gostos, nos seus prazeres,

enfim, em suas relações vivenciadas.

Dessa forma, a educação traz muitos desafios, aos que nela trabalham

e aos que se dedicam a sua causa. Muito já se pesquisou, escreveu e discutiu

sobre a educação, mas o tema é sempre atual e indispensável, pois seu foco

principal é o ser humano.

Na antropologia moderna, o homem é visto como um ser de múltiplas facetas, porque se encontra submetido às exigências ou às normas da realidade também multifacetada. Contudo, o que lhe confere um ar diferenciado dos vegetais e dos animais é o fato de poder viver e experimentar suas vivências (PORTO, 2009, p. 48).

Diante desta perspectiva e através da significativa produção teórica que

afirma a importância do lúdico na constituição dos processos de

desenvolvimento e de aprendizagem, identifica-se, hoje, um discurso que

surge em torno da importância do uso do lúdico na educação, com a sua

função humanizadora.

Através da brincadeira a criança aprende e apreende melhor o mundo

que a rodeia, pois brincar é sinônimo de aprender, gerando espaço para

pensar, desenvolvendo o raciocínio, a criatividade e diversas habilidades.

Para VYGOTSKY (1995) a brincadeira tem uma função significativa no

processo de desenvolvimento infantil e no contexto escolar, porque cria uma

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21

zona de desenvolvimento proximal, onde, através da imitação realizada na

brincadeira, a criança passa a internalizar regras de conduta, valores e modos

de agir e de pensar que orientam o seu desenvolvimento cognitivo.

O educador, portanto, deve auxiliar cada aluno, intervindo de forma

dialógica nas zonas de desenvolvimento proximal que vão se criando quando

as atividades lúdicas vão sendo trabalhadas, tornando-se, então um elemento

mediador. Assim, Vygotsky acrescenta:

Para que as brincadeiras infantis tenham lugar garantido no cotidiano das instituições educativas é fundamental a atuação do educador. É importante que as crianças tenham espaço para brincar, assim como opções de mexer no mobiliário, que possam, por exemplo, montar casinhas, cabanas, tendas de circo etc. o tempo que as crianças tem para brincar também deve ser considerado: é importante dar tempo suficiente para que as brincadeiras surjam, se desenvolvam e se encerrem (VYGOTSKY, 1995, p. 114).

Há inúmeras possibilidades de incorporar a ludicidade na aprendizagem

escolar, mas para que uma atividade pedagógica se torne lúdica é muito

importante que permita as escolhas, as descobertas, as perguntas e as

soluções, ou “supostas soluções” por parte da criança.

Na alfabetização, inúmeras atividades como, por exemplo, jogos da

memória, caça-palavras, adivinhas, palavras cruzadas, jogo da forca, bingos,

dado sonoro, quebra-cabeça, batalha de palavras, trava-línguas, jogos de rima,

entre outras tantas, se constituem em formas prazerosas de aprender

brincando.

Brincadeiras com o auxílio do adulto, em situações estruturadas, mas que permitam a ação motivada e iniciada pelo aprendiz de qualquer idade parecem estratégias adequadas para os que acreditam no potencial do ser humano para descobrir, relacionar e buscar soluções (KISHIMOTO, 2002, p. 151).

Por isso, na escola, o brincar torna-se para a criança uma forma de

socialização e de interação com a experiência sócio-histórica, dos adultos e do

mundo por eles criado.

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Segundo TEIXEIRA (2010) o lúdico pode e deve fazer parte das

atividades curriculares, especialmente na Educação Infantil e no Ensino

Fundamental, precisando ter também, um tempo preestabelecido durante o

planejamento em sala de aula. Deve haver planejamento, e as atividades

devem ser mediadas pelo professor, desafiando os alunos na resolução de

problemas, estimulando sua criatividade e contribuindo, principalmente, para a

sua formação.

A proposta de utilizar o lúdico na escola como recurso pedagógico,

objetiva estimular o desenvolvimento dos alunos por meio de um elemento

comum. Através da observação das brincadeiras infantis, revela-se o

progresso de cada criança, seus interesses, necessidades e o prazer de ser

sujeito ativo desta construção.

2.2 - O processo de construção da leitura e da escrita

Considerando a alfabetização como processo, a psicogênese da

língua escrita preocupou-se em transferir a questão central da alfabetização do

ensino para a aprendizagem, partindo do pressuposto de como de fato se

aprende e não como se deve ensinar, isto é:

A concepção da aprendizagem (entendida como um processo de obtenção de conhecimento) inerente à psicologia genética supõe, necessariamente, que existam processos de aprendizagem do sujeito que não dependem dos métodos (processos que, poderíamos dizer, passam “através” dos métodos). O método (enquanto ação específica do meio) pode ajudar ou frear, facilitar ou dificultar; porém, não pode criar aprendizagem (FERREIRO & TEBEROSKY,1999, p.31).

Ferreiro & Teberosky (1999) demonstraram que a criança pensa sobre a

escrita que existe em seu meio social, tendo contato com práticas sociais

mediadas pela escrita e participando em atos que envolvem o ler e o escrever.

Por essa razão, apontam o sujeito cognoscente, que busca construir

conhecimento, que procura compreender o mundo que o rodeia, que aprende

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através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo e que ao mesmo

tempo organiza seu mundo e constrói seus pensamentos.

Como argumenta Freire (2003), não é possível reduzir a alfabetização

ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Pelo contrário, a

alfabetização transforma o aluno em sujeito do processo, e como ocorre em

qualquer relação pedagógica, enquanto um ato de conhecimento e um ato

criador o simples fato de uma criança necessitar da ajuda do educador, não

significa ser anulada a sua criatividade na construção da linguagem escrita.

A esse respeito, Ferreiro (2000) cita que:

A criança se vê continuamente envolvida, como agente e observador, no mundo “letrado”. Os adultos lhe dão a possibilidade de agir como se fosse leitor – ou escritor -, oferecendo múltiplas oportunidades para sua realização (livros de histórias, periódicos, papel e lápis, tintas, etc.). O fato de poder comportar-se como leitor antes de sê-lo, faz com que se aprenda precocemente o essencial das práticas sociais ligadas à escrita (FERREIRO, 2000, p. 59-60).

Colocando a criança em contato com diversos materiais escritos, ela irá

familiarizar-se com diferentes estilos discursivos. Há que se priorizar, na sala

de aula, um trabalho intenso com textos diversificados, dando oportunidades

ricas de interação com a linguagem oral e escrita, pois dessa forma, a criança

é instigada a pensar e elaborar a própria escrita.

Percebe-se então, a importância que um ambiente escolar pensado para

propiciar interações com a língua escrita, principalmente através do que os

jogos e as brincadeiras podem proporcionar, pois quando é permitido a criança

expor o que sabe, sem a intenção de corrigi-la, mas procurando conhecê-la,

compreende-se criticamente o processo de ensino, além de iniciar uma

caminhada em direção a superação do fracasso escolar.

A escola e os professores têm sua parte a cumprir na luta contra o fracasso escolar. E, sem dúvida, o ponto vulnerável a ser atacado nesse combate é a alfabetização. O domínio da leitura e da escrita, tarefa que percorre todas as séries escolares, é a base necessária para que os alunos progridam nos estudos,

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aprendam a expressar suas ideias e sentimentos, aperfeiçoem continuamente suas possibilidades cognoscitivas, ganhem maior compreensão da realidade social. A alfabetização bem conduzida instrumentaliza os alunos a agirem socialmente, a lidarem com as situações e desafios concretos da vida prática: é o meio indispensável para a expressão do pensamento, da assimilação consciente e ativa de conhecimentos e habilidades, meio de conquista da liberdade intelectual e política (LIBÂNEO,1994, p.43).

Conforme destaca Libâneo (1994) no trecho citado, a alfabetização é

extremamente importante para a continuidade da escolarização. Sendo assim,

o seu significado ultrapassa os limites da simples decodificação das letras para

um amplo processo de busca e construção de conhecimentos inerentes a todo

ser humano que vive numa sociedade letrada.

Na concepção psicogenética da aquisição do sistema de escrita, para o

aluno aprender a escrever, ele precisa experimentar e vivenciar a escrita,

fazendo uso de seus conhecimentos prévios e levantando hipóteses sobre as

correspondências entre o escrito e o oral. Por isso, afirma-se que os “erros”

que a criança comete ao elaborar a sua escrita na verdade, são apenas trocas

ortográficas que ocorrem no processo de construção.

O “erro”, numa proposta dialógica e construtivista, é um elemento

importante na busca pela compreensão sobre o conhecimento. Ele é

construtivo e ajuda a identificar os conhecimentos que já foram construídos e

os conhecimentos que estão em construção.

Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu (FERREIRO, 2000, p. 40-41).

É importante perceber que aprender a ler e escrever é um processo

longo e complexo. Portanto, partindo do pressuposto que a alfabetização é um

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processo contínuo, que se dá mediante a possibilidade de interagir com a

escrita em todas as suas possibilidades, é importante que as crianças

vivenciem atividades que possibilitem a elas espaços para a reflexão sobre o

que a escrita representa e como ela pode ser representada, ou seja, que

possibilite a elaboração e o confronto das hipóteses infantis acerca da

linguagem escrita, pois é assim que estas aprenderão.

2.3 – O lúdico nas turmas de alfabetização: aprender brincando

Continuando o estudo sobre o processo de alfabetização para, então,

melhor se compreender como a Psicopedagogia pode contribuir levando o

educador à reflexão sobre sua prática docente e sobre o processo de

construção da aprendizagem infantil, podendo prevenir/minimizar e/ou excluir

os problemas na aprendizagem, aborda-se agora, o uso do lúdico como forma

de ensinar/aprender brincando.

A integração entre o lúdico, o cognitivo e o psicológico é indispensável

para fazer aflorar as potencialidades da criança. Utilizar os jogos com

coerência e sabedoria, como instrumentos na construção da linguagem escrita,

é fazer da educação algo prazeroso.

O brinquedo educativo data dos tempos do Renascimento, mas ganha força com a expansão da Educação Infantil [...]. Entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, o brinquedo educativo materializa-se no quebra-cabeça, destinado a ensinar formas ou cores, nos brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão do número e das operações matemáticas, nos brinquedos de encaixe, que trabalham noções de seqüência, de tamanho e de forma, nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e materialização da função psicopedagógica: móbiles destinados à percepção visual, sonora ou motora; carrinhos munidos de pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora, parlendas para a expressão da linguagem, brincadeiras envolvendo músicas, danças, expressão motora, gráfica e simbólica (KISHIMOTO, 2003, p. 36).

Com o jogo, busca-se que a criança possa desenvolver a noção do ser a

partir da idéia do fazer. É necessário também desenvolver a percepção do

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outro, da perda e da partilha, trabalhando na criança a percepção sobre a

ansiedade, a fim de tornar a criança um indivíduo capaz de perceber seus atos

e as consequências deles.

É durante o jogo que a criança é muito cobrada sobre o equilíbrio emocional. É durante o jogo, onde a atividade é quase sempre muito intensa, que a criança se vê sem recursos emocionais para lidar com a pressão incondicional imposta pela ação de jogar. Sendo assim, é ali que podem-se desenvolver ótimas percepções sobre a ansiedade e como lidar com ela (ALMEIDA, 2010, p. 113).

O jogo tomado como referência no campo da aprendizagem permite que

se compreenda o significado do aprender. Ele é essencial como recurso

pedagógico e psicopedagógico, pois no brincar a criança articula teoria e

prática, formula hipóteses e experiências, tornando a aprendizagem atrativa e

interessante.

TEIXEIRA (2010) afirma que a utilização de jogos, brinquedos e

brincadeiras nas turmas de alfabetização favorecem diversas áreas: cognitiva,

linguagem, social, afetiva, emocional, perceptivo, motora, entre outras.

Quando uma criança manipula um brinquedo ou jogo, ou quando está

brincando, ela mobiliza diversas áreas importantes para que a ação do brincar

aconteça. Essas áreas favorecidas variam de acordo com a idade cronológica

e com o objetivo da atividade.

Para WINNICOTT (1975) o brincar é uma terapia, e afirma que:

É com base no brincar, que se constrói a totalidade da existência experiencial do homem. Não somos mais introvertidos ou extrovertidos. Experimentamos a vida na área dos fenômenos transicionais, no excitante entrelaçamento da subjetividade e da observação objetiva, e numa área intermediária entre a realidade interna do indivíduo e a realidade compartilhada do mundo externo aos indivíduos (WINNICOTT, 1975, p.93).

A brincadeira implica para a criança muito mais do que um simples ato de

brincar, pois através da brincadeira ela está se comunicando com o mundo e

também está se expressando. Com jogos e brincadeiras, a criança desenvolve

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o seu raciocínio e conduz o seu conhecimento de forma descontraída e

espontânea: no brincar, ela constrói um espaço de experimentação, de

transição entre o mundo interno e externo.

O ato de brincar não é apenas para o desenvolvimento escolar da criança

pedagogicamente, mas sim para que possa adquirir experiência de elaboração

das vivências da realidade na construção do ser.

Ao brincar, afeto, motricidade, linguagem, percepção, representação, memória e outras funções cognitivas estão profundamente interligadas. A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para o processo de apropriação de signos sociais. Cria condições para uma transformação significativa da consciência infantil, por exigir das crianças formas mais complexas de relacionamento com o mundo. (TEIXEIRA, 2010, p. 53, apud OLIVEIRA, 2002, p. 160).

Brincando, as crianças podem compreender os princípios de

funcionamento do sistema alfabético e podem socializar seus saberes com os

colegas, pois nesse momento, mobilizam saberes acerca da lógica de

funcionamento da escrita, consolidando aprendizagens já realizadas ou se

apropriando de novos conhecimentos nessa área.

Brincadeiras como batata quente, bandeirinha, agacha-agacha, estátua,

dentro e fora, a-do-le-tá, elefantinho colorido, e tantas outras, favorecem a

atenção, a percepção auditiva e visual, a linguagem corporal, a compreensão

das regras da brincadeira, a agilidade, a destreza motora, a linguagem verbal,

e tantas outras habilidades que ajudarão certamente no processo de

construção da leitura e da escrita.

Outros jogos pedagógicos que são indicados para uso em salas de aula

em que os alunos estejam aprendendo sobre o sistema alfabético de escrita

são os jogos que contemplam objetivos tais como: refletir sobre as

propriedades sonoras das palavras, desenvolvendo consciência fonológica;

compreender que para aprender escrever, é preciso refletir sobre os sons e

não apenas sobre os significados das palavras; conhecer as letras do alfabeto

e seus nomes; compreender que as palavras são compostas por sílabas e que

é preciso registrar cada uma delas, etc.

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Através do jogo o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses,

explorar toda a sua espontaneidade criativa. Os jogos não são apenas uma

forma de divertimento: são meios que contribuem e enriquecem o

desenvolvimento intelectual. Para manter seu equilíbrio com o mundo a criança

precisa brincar, criar e inventar.

Por isso, afirma-se que é brincando que se descobre a riqueza da

linguagem, pois o jogo potencializa a exploração e a construção do

conhecimento por contar com a motivação interna, típica do lúdico.

Explorar a linguagem oral em situações diversas na sala de aula é dar a

criança, condições para que possa se desenvolver plenamente.

A linguagem oral deve ser fartamente explorada pelos educadores, já que é por meio dela que se estabelecem as formas de se apresentar as discussões sobre qualquer assunto, a elaboração de argumentos para defender um ponto de vista e, para tal, o educador pode lançar, mais uma vez, mão do lúdico para ampliá-la, através da utilização de fantoches, teatros, simulação de debates, reconto de histórias, roda de conversa e diversos meios criativos para o desenvolvimento pleno do educando (CONDÉ, 2011, p.67).

Assim, após uma reflexão sobre o uso do lúdico nas turmas de

alfabetização, chega o momento de analisar como ele pode ser trabalhado na

psicopedagogia, a fim de auxiliar a construção do conhecimento e levar a

criança a sentir-se estimulada a construir aprendizagens significativas.

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CAPÍTULO III

A PSICOPEDAGOGIA E A LUDICIDADE NO PROCESSO

DE ALFABETIZAÇÃO

3.1 – O uso do lúdico no diagnóstico psicopedagógico

A psicopedagogia é uma área de estudo voltada para o atendimento de

sujeitos que apresentam problemas de aprendizagem. Ela tem como objeto de

estudo a aprendizagem humana, independente desses sujeitos, serem

crianças, adolescentes ou adultos, e o seu maior objetivo é que o

conhecimento seja construído para a produção de competências e para a

construção da autonomia intelectual.

O psicopedagogo utiliza o diagnóstico psicopedagógico para detectar

problemas de aprendizagem. Por esta razão, a relação do psicopedagogo com

o paciente/aluno é mediada por atividades bem definidas, com o intuito de

solucionar rapidamente os efeitos dos sintomas apresentados.

Realizar um diagnóstico é como montar um grande quebra-cabeça, pois, à medida que se encaixam as peças, vai se descobrindo o que está por trás destes sintomas. As peças serão oferecidas pela família, pela escola e pelo próprio sujeito, entretanto, a maneira de montá-las, só depende do psicopedagogo e, para que este tenha um bom resultado, precisa levar em conta todos os aspectos objetivos e subjetivos observados nos diversos âmbitos: cognitivo, familiar, pedagógico e social (SAMPAIO, 2010, p. 17).

O uso do lúdico no diagnóstico psicopedagógico é um importante aliado

também no processo de alfabetização, pois conforme exemplifica Weiss

(2008), o uso de situações lúdicas é mais uma possibilidade de se

compreender, basicamente, o funcionamento dos processos cognitivos e

afetivo-sociais em suas interferências mútuas.

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Com crianças de até aproximadamente 7 anos, costumo conduzir todo o diagnóstico de forma lúdica. Às vezes, quando considero importante, faço intervenções para facilitar a comunicação, ressaltar um ponto básico ou aproveitar um momento que pode ser esclarecedor (WEISS, 2008, p. 74).

Para a autora, no trabalho psicopedagógico, quer seja no diagnóstico,

quer no tratamento, emprega-se a palavra lúdico, no sentido de jogar, brincar,

representar e dramatizar como condutas semelhantes na vida infantil.

Ao abrir um espaço de brincar durante o diagnóstico, já se está

possibilitando um movimento em direção à cura, porque brincar é universal,

saudável, além disso, durante as sessões lúdicas, podem ser feitas

intervenções e se observar as reações da criança diante das possíveis

frustrações, de como elabora desafios e nas mudanças propostas por

diferentes situações.

O processo de aprendizagem, bem como suas dificuldades, deixa de

focalizar somente o aluno e o professor isoladamente e passa a ser visto como

um processo de interações entre ambas as partes com inúmeras variáveis que

precisam ser apreendidas com bastante cuidado pelo professor e/ou

psicopedagogo.

As ações da criança ao jogar darão indícios importantes de como ela

age diante dos objetivos de conhecimento e de como compreende com base

em suas ações a realidade em que vive.

O jogo é uma atividade criativa e curativa, pois permite à criança (re)viver ativamente as situações dolorosas que viveu passivamente, modificando os enlances dolorosos e ensaiando na brincadeira as suas expectativas da realidade (FREUD, vol. XX). Constitui-se em uma importante ferramenta terapêutica. Do ponto de vista cognitivo, significa a via de acesso ao saber. No jogo, faz-se próprio o conhecimento que é do outro, construindo o saber (PORTO, 2009, p. 81-82).

Além disso, o uso de jogos, com um propósito psicopedagógico, como

os jogos de regras, por exemplo, que apresentam situações-problemas,

permite à criança considerar suas ações e operações e rever seus

procedimentos, sobretudo aqueles que levaram a “erros”.

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Assim, a análise dos erros e das estratégias das crianças é possibilitada

pelos jogos e com base nela poderá acontecer a intervenção psicopedagógica,

fazendo com que o erro se torne observável em dois planos: o das ações e o

dos objetos aos quais ele incide.

Como argumenta SAMPAIO (2010), o diagnóstico psicopedagógico tem

como objetivo identificar as causas dos bloqueios que se apresentam nos

sujeitos com dificuldades de aprendizagem, através de sintomas como o baixo

rendimento escolar, a agressividade, a falta de concentração e a agitação,

entre outros.

Nesta perspectiva, as atividades lúdicas tem ocupado um lugar de vital

importância no atendimento psicopedagógico de crianças em fase de

alfabetização, uma vez que há uma estreita relação entre a situação de jogo e

a situação de aprendizagem.

Os jogos podem ser utilizados na escola como instrumentos que

propiciam o estudo do pensamento da criança, de sua afetividade e de suas

possibilidades de estabelecer relações sociais. Além disso, a característica

lúdica dos jogos permite que a criança tenha uma atitude mais livre de

explorações e entendimento das situações-problema, o que nem sempre

acorre nas situações mais formais da sala de aula.

Embora os professores precisem possuir informação, sua função principal não é transmiti-la, mas propiciar ferramentas e espaço adequado (lúdico) onde seja possível a construção do conhecimento (FERNÁNDEZ, 2001, p.31).

Partindo desse pressuposto, é possível constatar que uma das formas

de trabalho psicopedagógico é fazendo uso do lúdico, quer seja no

diagnóstico, quer seja no tratamento. No diagnóstico, a atividade lúdica é um

rico instrumento de investigação, pois permite ao sujeito expressar-se livre e

prazerosamente.

É nesse contexto de múltiplas interações que as atividades lúdicas são

utilizadas no diagnóstico psicopedagógico, pois fazem com que as crianças

revelem aspectos que não aparecem em situações mais formais do

diagnóstico. O material a ser utilizado em tais atividades deve ser muito bem

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selecionado de acordo com os objetivos específicos do trabalho, da idade das

crianças, do tempo disponível e, é importante estar atento para que esse

material funcione como um atrativo pelo seu possível uso (colorir, escrever,

modelar, construir, pregar, colar, prender, juntar), tendo em vista a construção

do conhecimento e do saber por parte da criança.

Em sua obra “Bases da Psicopedagogia: Diagnóstico e Intervenção nos

problemas de aprendizagem”, Olívia Porto (2009) procura especificar o

referencial profissional do psicopedagogo mostrando a importância do

atendimento psicopedagógico acontecer em uma sala de recursos com

mobiliário adequado.

A autora descreve uma sala de recursos localizada num posto de saúde

no município do Rio de Janeiro e destaca a necessidade de desenvolver

condições para uma organização e orientação, a fim de observar a criança,

principalmente através de atividades lúdicas e prazerosas.

O mobiliário é assim composto: um armário; uma estante na qual são colocados os brinquedos; quatro almofadões no chão; uma mesa para atendimento (gavetas com folhas de registro e anamnese, lápis, caneta, borracha, apontador, lápis de cor, canetas do tipo hidrocor); uma mesa para atendimento às crianças (onde elas escrevem, desenham, fazem trabalhos com massa e argila); uma estante com vários brinquedos (inclusive o kit completo da família em pano) e, em uma das prateleiras, estão colocados livros de história, revistas e jornais; (...) (PORTO, 2009, p. 107-108).

Em relação aos tipos de jogos que devem ser usados pelo

psicopedagogo em uma sessão diagnóstica, Weiss (2008) apresenta alguns

tipos tais como:

• Jogos de vitória ao acaso, com o uso de dados e roleta – exemplo: jogos

com pistas a percorrer com obstáculos, entre outros, pois são úteis no

diagnóstico, ensinam a criança a ganhar e a perder;

• Jogos espaciais com estratégia para se chegar à vitória – exemplos:

damas, trilhas, gamão, xadrez, etc. São importantes no diagnóstico, pois

mostram que é preciso planejar jogadas;

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• Jogos cujo principal objetivo são os conteúdos escolares (formação de

palavras, leitura, cálculos matemáticos, etc.) – exemplos: palavras

cruzadas, caça-letras, cruzadinha, loto de aritmética, etc.;

• Jogos que exigem basicamente o uso da percepção – exemplos:

memória, lince, vísporas de diferentes tipos, etc.;

• Jogos de cartas (os baralhos comuns se prestam a inúmeros jogos com

maior ou menor complexidade) – exemplos: baralhos com figuras, mico-

preto, etc.;

• Jogos de computador, que podem ter as características dos jogos

citados anteriormente, podem ser novos jogos criados com a

especificidade da informática, ou ainda para rede de computadores ou

mesmo para Internet.

Por estas razões é que se afirma que jogar e aprender caminham

paralelamente na psicopedagogia, possibilitando, através da hora lúdica,

observar prazeres, frustrações, desejos, enfim, pode-se trabalhar com o erro e

articular a construção do conhecimento.

3.2 – Prevenção e intervenção psicopedagógica no processo de

alfabetização

Durante o processo de alfabetização, quando a criança começa a

demonstrar problemas na construção da aprendizagem da leitura e da escrita,

torna-se necessário investigar, uma vez que, levando-se em conta que a

psicopedagogia se ocupa do sujeito na situação de aprendizagem, considera-

se de fundamental importância, tanto no diagnóstico como no tratamento,

conhecer os diferentes momentos do processo de desenvolvimento da criança.

WEISS (2008) destaca que quando a queixa sobre a dificuldade de

aprendizagem diz respeito a crianças em processo de alfabetização, a questão

começa a exigir uma maior reflexão sobre os aspectos teóricos do assunto.

A alfabetização não é mais vista como a transmissão de um conhecimento pronto que, para recebê-lo, a criança teria que ter desenvolvidas habilidades, possuir pré-requisitos, enfim,

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apresentar uma “prontidão”. A alfabetização é resultante da interação entre a criança, sujeito construtor do conhecimento, e a língua escrita (WEISS, 2008, p.95).

Abordada por Almeida (2010), a questão da alfabetização foge de

métodos e técnicas. Para ele, alfabetizar é uma multiplicidade de formas para

se fazer a mesma coisa, é possibilitar o contato da criança com um código e o

seu domínio sobre ele. Neste sentido, a importância do brincar se dá na

mesma elevação do ato de ler, porque, o brincar potencializa as situações de

aprendizagem.

É preciso que o professor e/ou psicopedagogo também altere a sua

forma de conceber o processo de ensino-aprendizagem. Ele não é um

processo linear e contínuo que se encaminha numa única direção, mas, sim,

multifacetado, apresentando paradas, saltos e transformações bruscas.

Como argumenta Beatriz Scoz (2005), os psicopedagogos, mais

recentemente, à luz de contribuições de diversas áreas do conhecimento como

a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, a Linguística e a Psicolinguística,

vem reformulando sua linha de análise com as contribuições de FERREIRO

(1985, 1986) que, partindo da teoria piagetiana,

...busca novos caminhos para o entendimento da construção da aprendizagem da leitura e da escrita e redimensiona a concepção de problema de aprendizagem ao considerar muitos dos erros frequentemente cometidos na produção oral e escrita, como hipóteses que a criança elabora na construção do próprio conhecimento (SCOZ, 2005, p. 25).

As ideias de Ferreiro, dessa forma, contribuem para que os profissionais

da educação possam rever suas atuações frente aos alunos, respeitando a

etapa de desenvolvimento aos quais se encontram, transformando esses erros

em algo construtivo, onde a criança tenha a oportunidade de “errar” e refletir

sobre o seu “erro”. Numa proposta dialógica, o erro é um elemento importante

na busca pela compreensão sobre o conhecimento. Ele é constitutivo e ajuda a

identificar os conhecimentos que estão em construção.

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Quanto às dificuldades enfrentadas pela criança nesse processo, se, anteriormente, eram consideradas erros que era preciso corrigir, e para isso os recursos eram, de novo, os exercícios ou “treinos” de imitação, repetição, associação, cópia; hoje, no quadro de uma nova concepção do processo de aquisição do sistema de escrita, os “erros” são considerados “construtivos”, isto é, preciosos indicadores do processo de construção do sistema de escrita que a criança vivencia, reveladores das hipóteses com que está atuando, portanto, elementos fundamentais para que se identifiquem esse processo e essas hipóteses (SOARES, 2007, p. 53).

O processo de ensino-aprendizagem inclui também a não-

aprendizagem, onde o aluno (aprendente, em termos de psicopedagogia) pode

se recusar a aprender em um determinado momento. Essa não-aprendizagem

na escola é uma das causas do fracasso escolar, que não é um processo

excepcional que ocorre no sentido contrário ao processo de ensino-

aprendizagem, mas se encontra estreitamente vinculada a ele.

O não-aprender pode, por exemplo, expressar uma dificuldade na relação da criança com a sua família; será o sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica. Na prática, pode exprimir-se por uma rejeição ao conhecimento escolar, em trocas, omissões e distorções na leitura ou na escrita, não conseguir calcular em geral, não conseguir fazer uma divisão etc. (WEISS, 2008, p.25).

Neste momento, é importante que o psicopedagogo realce os aspectos

mais positivos do paciente (aluno), para que o mesmo se sinta valorizado.

Algumas crianças já se encontram com a autoestima tão baixa que focar nas

suas dificuldades acaba por dificultar ainda mais na possibilidade de realizar

novas conquistas, e no caso de crianças em fase de alfabetização, dificultar

ainda mais o despertar pela construção desse processo.

Por isso, diversos autores demonstram a importância do uso dos jogos,

brinquedos e brincadeiras como ferramentas que auxiliam a construção de

aprendizagens em diferentes áreas do conhecimento, tanto na aprendizagem

formal quanto na informal, podendo também se tornar um valioso instrumento

de prevenção e intervenção psicopedagógica no processo de alfabetização.

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De fato, o brincar leva a criança a tornar-se mais flexível e a buscar alternativas de ação, porque, enquanto brinca, ela concentra a sua atenção na atividade em si e não em seus resultados e efeitos; a ênfase é dada na atividade e não nos fins. Sendo assim, a incorporação desses objetos e/ou das ações lúdicas na prática pedagógica pode desenvolver diferentes habilidades que contribuem para as inúmeras aprendizagens e para a ampliação da rede de significados da criança (TEIXEIRA, 2010, p. 21-22).

Assim, a intervenção psicopedagógica no processo de alfabetização,

levará em conta situações em que o ler e o escrever tenham um significado

para a criança, como acontece em atividades que contemplam a ludicidade:

jogos, desenhos, pinturas, palavras cruzadas, construções diversas,

dramatizações, periódicos e livros de histórias.

Falar na aprendizagem significativa equivale, antes de tudo, a por em relevo o processo de construção de significados como elemento central do processo ensino-aprendizagem. O aluno aprende um conteúdo qualquer...quando é capaz de atribuir-lhe um significado (COLL, 1993, p. 79).

Portanto, a criança só será capaz de assimilar e transformar ações e

informações em aprendizagens significativas quando o objeto do conhecimento

também fizer algum significado para ela.

3.3 – Refletindo sobre o papel do Psicopedagogo

Nas últimas décadas, rótulos utilizados pelas famílias, e principalmente,

pela escola, retratam o olhar que se tem sobre os alunos que não aprendem.

São considerados como disléxicos, dislálicos, disortográficos, discalcúlicos,

hiperativos, com déficit de atenção, etc.

No entanto, pesquisas desenvolvidas nos campos da Psicopedagogia,

demonstram que o número desses problemas ou distúrbios são bem menores,

e que quando bem trabalhados na escola, são resolvidos, não permitindo que

o aluno perca o ano letivo, tornando-se repetente, e na maioria das vezes,

“renitente”.

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Muitas vezes, a escola não propicia um espaço agradável, onde a

criança sinta-se segura para construir a aprendizagem. Ao contrário, alguns

casos de problemas na alfabetização dar-se-ão devido ao desrespeito ao ritmo

de construção da criança no ler e escrever, criando uma dificuldade na

aprendizagem decorrente do problema de “ensinagem”, como explica Weiss:

A exigência de que a criança formalize a escrita dentro de certas regras em certo prazo pode ser uma questão ligada à cobrança escolar de avaliar o produto. Dependendo da maneira como for colocada, ela pode ser geradora de grandes dificuldades na escrita e leitura nessa etapa e no seu desenvolvimento posterior, não sendo uma questão de problema pessoal, mas de metodologia escolar (WEISS, 2008, p.95).

A Psicopedagogia, no entanto, inserida neste âmbito escolar elabora

uma forma preventiva de ação, analisa a queixa sobre cada caso específico,

faz o diagnóstico da situação e propõe projetos de atuação que apontem para

uma mudança global, indicando formas de atuação passíveis de solução dos

sintomas que incomodam a escola.

Por isso, a ação do psicopedagogo está centrada na prevenção do

fracasso e das dificuldades escolares, não só do aluno como também dos

educadores e demais envolvidos neste processo. Para tanto, é necessário que

a intervenção pedagógica aconteça de forma lúdica e envolvente, para

melhorar as relações de aprendizagem e na construção da autonomia tanto

dos alunos como dos educadores.

Desta forma, o psicopedagogo na instituição escolar, precisa adotar

uma postura crítica diante das dificuldades de aprendizagem, visando propor

ações voltadas para a melhoria da prática pedagógica, como a organização de

planejamento e de avaliação, a capacitação dos professores e a participação

ativa da comunidade escolar numa gestão democrática.

O psicopedagogo sendo um profissional multiespecialista em aprendizagem humana que congrega conhecimentos de diversas áreas a fim de intervir nesse processo, com sua intervenção pedagógica, pode assumir uma feição preventiva ou terapêutica, relacionando-se com equipes ligadas aos campos

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de saúde e educação, terapêutica e institucional, respectivamente (PORTO, 2009, p.8).

Segundo SCOZ (2005) o psicopedagogo deve atuar como um mediador

capaz de integrar e sintetizar junto à equipe escolar, as várias áreas do

conhecimento, tornando acessível ao professor os conhecimentos necessários

para o trabalho com as dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita

que possam surgir durante a caminhada escolar.

Além disso, BOSSA (2000) diz que um psicopedagogo tem muito o quê

fazer na escola, e que a sua intervenção tem um caráter, acima de tudo,

preventivo, contemplando a instituição como um todo, através da orientação

aos pais; do auxílio ao professor e demais profissionais nas questões

pedagógicas e psicopedagógicas; na colaboração com a direção para que haja

um bom entrosamento entre a comunidade escolar, e principalmente, no

socorro ao aluno que esteja sofrendo por qualquer motivo.

Para a autora o psicopedagogo pode ajudar:

Conversando com a criança para auxiliá-la na compreensão e elaboração das suas dificuldades. Brincando, pois brincando se aprende muita coisa sobre as leis da vida, se desenvolve a criatividade e a capacidade simbólica. Jogando, pois assim a criança aprende a lidar com as regras, desenvolve o raciocínio, a atenção e a concentração, aprende a ganhar e a perder (BOSSA, 2000, p. 77-78).

Refletindo sobre o papel do psicopedagogo, compreende-se que:

(...) o psicopedagogo deve preocupar-se em aperfeiçoar as técnicas de diagnóstico, procedendo a investigação sistemática do meio socioeconômico, do ambiente familiar, do nível de adaptação e de aproveitamento escolar do aluno, além das suas características pessoais, como aptidões e capacidades específicas (SAMPAIO, 2010, p. 13-14).

Por esta razão, entende-se a importância do profissional psicopedagogo

na instituição escolar, visando sempre favorecer a apropriação do

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conhecimento pelo ser humano, tendo como objetivo a promoção da

aprendizagem.

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CONCLUSÃO

Diante dos fatos, conclui-se que a escola é responsável pela preparação

de cidadãos políticos e que os profissionais que ali trabalham, precisam se

preocupar com a formação de pessoas capazes de utilizar a leitura e a escrita

eficazmente, tornando-se plenamente alfabetizadas.

Conforme argumenta SCOZ (2005), precisa-se compreender a

aprendizagem como um processo profundamente social, que deve focalizar

formas emergentes de aprender. Assim, não se trata mais de propor uma

instrução mecanizada e restrita apenas às dificuldades, e sim, de apostar nas

capacidades da criança, propondo um tipo de trabalho que considere mais

suas qualidades do que seus defeitos.

Por isso, a presente pesquisa focou na importância de se trabalhar com

atividades lúdicas no processo de alfabetização, como uma prática que auxilia

muito no alcance desse objetivo, pois como defende KISHIMOTO (2002), ao

brincar, a criança aprende a decodificar o pensamento dos parceiros por meio

da metacognição, ou seja, o processo de substituição de significados, típico de

processos simbólicos, permitindo o seu desenvolvimento cognitivo.

A esse respeito, FERNÁNDEZ (2001) afirma que o brincar auxilia na

descoberta da riqueza da linguagem e citando Morales (1995) diz que:

Brincar é descobrir as bondades da linguagem; é inventar novas histórias, é assistir à possibilidade humana de criar novos pulsares, e isso é maravilhosamente prazeroso. Brincar é pôr a galopar as palavras, as mãos e os sonhos. Brincar é sonhar acordado; ainda mais: é arriscar-se a fazer do sonho um texto visível. Um grande obstáculo para instrumentalizar um programa educativo em que a criança e seus jogos estejam no centro é a dificuldade que têm os professores para jogar. (FERNÁNDEZ, 2001, p. 36, apud MORALES ASCENCIO, n. 3. 1995).

A partir desse aporte, alguns autores como FERNÁNDEZ (2001), SCOZ

(2005), BOSSA (2000), WEISS (2008, 2010) e SAMPAIO (2010), citados ao

longo do trabalho, tomam a Psicopedagogia como campo principal de seus

estudos, contribuindo na tentativa de elaborar uma teoria da prática

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psicopedagógica que dimensione o processo de aprendizagem e o papel do

psicopedagogo em sua prática diária, tanto com os professores como com os

aprendentes, pautando sempre o seu trabalho no respeito à etapa de

desenvolvimento na qual o aluno se encontra, a fim de introduzir propostas de

trabalho ricas e desafiadoras, onde a escola poderá transformar os “erros” e as

situações de não-aprendizagem em algo construtivo.

Além disso, pode-se compreender, através das análises feitas, o papel

do profissional psicopedagogo, que utilizando o lúdico em sua prática, ajuda na

prevenção, diagnóstico e intervenção psicopedagógica mediante os problemas

surgidos na aprendizagem das crianças que estão em processo de construção

da leitura e da escrita.

Portanto, como afirmado neste trabalho, a criança só será capaz de

assimilar e transformar ações e informações em aprendizagens significativas

quando o objeto do conhecimento também fizer algum significado para ela.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A importância das brincadeiras no desenvolvimento

Sócio- histórico-cultural

1.1 – Um pouco de história 10

1.2 – O lúdico na perspectiva de alguns teóricos 13

1.3 - O papel do lúdico no desenvolvimento infantil 18

CAPÍTULO II

O uso do lúdico no processo educativo

2.1 – O papel do lúdico na educação 20

2.2 - O processo de construção da leitura e da escrita 22

2.3 – O lúdico nas turmas de alfabetização: aprender brincando 25

CAPÍTULO III

A psicopedagogia e a ludicidade no processo de alfabetização

3.1 – O uso do lúdico no diagnóstico psicopedagógico 29

3.2 – Prevenção e intervenção psicopedagógica no processo de 33

Alfabetização

3.3 – Refletindo sobre o papel do Psicopedagogo 36

CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 42

ÍNDICE 45