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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Autismo e Inclusão: mudanças necessárias para melhor
incluir
Por: Mônica da Silva Moraes.
Orientadora
Professora Fernanda Canavez
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Autismo e Inclusão: mudanças necessárias para melhor
incluir
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção
do grau de especialista em Psicopedagogia.
Por: . Mônica da Silva Moraes.
3
AGRADECIMENTOS
À Deus, autor e consumador da
minha vida, pela graça que me
concedeu em conquistar mais
uma vitória;
Aos meus pais: José Messias (in
memorian) e Tereza de Jesus (in
memorian), pois seus
ensinamentos, educação e
incentivo à perseverança foram a
razão da minha busca pelo
melhor,
Ao meu esposo André Ricardo,
motivo da minha alegria, amor da
minha vida, pelo carinho,
companheirismo e apoio em todos
os momentos.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a minha
querida aluna Letícia, motivo do meu
interesse por esse estudo, que, de
uma maneira extraordinária, ajudou-
me a ampliar meus horizontes e
mudar minha atitude em relação ao
tratamento de alunos inclusos no
ambiente escolar.
5
RESUMO
Este estudo tem por objetivo a descrição e análise do sujeito com
autismo no processo de inclusão na rede regular de ensino.
O presente trabalho apresenta os desafios que os professores da
rede pública de ensino apresentam ao receber alunos com espectro
autismo sem possuir os suportes necessários para integrá-los de maneira
eficaz.
Faz-se, neste trabalho, um estudo de caso analisando sobre a
inclusão de uma aluna autista na rede pública de ensino de Magé, dando
oportunidade de expressão para educadores a partir de questionários
sobre o assunto.
Observa-se muitos aspectos qualitativos já conquistados na escola
regular desta criança, mas isto não elimina alguns aspectos que precisam
ser repensados. A busca de caminhos para uma inclusão de qualidade às
pessoas com autismo é uma constante.
Verifica-se que há a necessidade de se realizar adaptações para
melhor atender aos autistas na rede regular de ensino no municípiode
Magé, como por exemplo, cursos de capacitação profissional docente,
contratação de um profissional psicopedagogo na escola, sala de
recursos.
Como resultado, espera-se poder auxiliar profissionais na
avaliação do trabalho realizado com alunos portadores do espectro
autismo ou ainda fornecer subsídios para o conhecimento mais
aprofundado da dinâmica de aprendizagem do autista.
Nosso esforço, contudo, está concentrado no sentido de contribuir
de alguma forma, para a melhoria do atendimento sócio-educativo e a
integração das crianças portadoras de espectro autismo numa escola
inclusiva, pontuando a necessidade de qualificação necessária aos
profissionais para atuarem com alunos autistas, bem como, a discussão
sobre os suportes necessários para um ensino qualitativo direcionado à
estes educandos para melhorar o serviço prestado à estes no ambiente
escolar.
6
METODOLOGIA
Esta pesquisa fundamenta-se em uma metodologia descritiva do
tipo estudo de casoonde pretende-se aplicar o método hipotético-
dedutivo. A amostra foi coletada através de dados e observações de uma
aluna da rede pública de ensino, que é portadora do espectro autismo.
Para a realização deste estudo de caso, foi elaborado um termo de
consentimento, onde a responsável, mãe da aluna, assinou autorizando
esta à participar como objeto de estudo, bem como, os professores e
demais funcionários envolvidos, que assinaram comprometendo-se com a
pesquisa realizada.
Foi utilizado como instrumento de dados uma entrevista semi-
estruturada realizada diretamente com a mãe da aluna e com os
professores regentes com intuito de analisar a visão destes em relação ao
tema em estudo.
De acordo com a disponibilidade dos entrevistados, o local visitado
para o estudo foi a Escola Municipal Tiradentes, situada no Município de
Magé/ RJ, onde a mesma estuda.
As informações foram coletadas a partir de um parecer descritivo,
onde uma pauta com diversos itens direcionaram a observação direta
sobre as diferentes manifestações emocionais da aluna perante seus
colegas, professores e individualmente. A observação foi direta, mediante
a observação e intervenção da pesquisadora, ou seja, a participação da
mesma durante as atividades registrando aspectos vivenciados entre o
objeto de estudo (a aluna autista) com os demais participantes.
A análise dos dados obtidos teve como base a análise de
conteúdo, com intuito de verificar as diversas manifestações emocionais
da aluna autista quanto dos professores envolvidos. A pauta de
observação utilizada para descrevê-las, foram criadas de acordo com o
tema estudado para que se tivesse uma linha a ser seguida.A análise do
7
conteúdo se deteve a partir da descrição de cada observação e feito uma
releitura destas para organizar os dados ocorridos de acordo com a pauta
com a finalidade de tentar responder os objetivos propostos pela
pesquisa, se alicerçando em referências teóricas. E, para um maior
embasamento teórico, foram utilizados textos e publicações científicas
atuais que serviram para nortear o debate e discussão dos aspectos já
apresentados neste trabalho. Foram utilizados textos acadêmicos que
abordam o autismo para entender as singularidades dessas crianças e as
dificuldades que os profissionais da educação enfrentam para incluí-las
no cotidiano escolar.
SUMÁRIO
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - Descrições e aspectos indispensáveis sobre o autismo 12
CAPÍTULO II - O autismo requer preparo, estudo e dedicação 18
2.1 – Professores: conhecimentos e práticas na inclusão 22
CAPÍTULO III – A interação entre família e escola 26
CAPÍTULO IV – O Autismo e a Inclusão 29
4.1 – Estudo de Caso 33
4.2 – Mudanças necessárias para melhor incluir 38
CONCLUSÃO 43
ANEXOS 46
Anexo I: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 47
Anexo II: Roteiro para Entrevista semi-estruturada 49
Anexo III: Laudo Psicológico da aluna em estudo 50
Anexo IV: Questionários respondidos pelos professores 52
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 61
ÍNDICE 63
9
INTRODUÇÃO
Vive-se atualmente a inclusão, onde crianças com suas
especificidades educativas especiais são matriculadas na rede pública de
ensino regular, sendo assim,o professor deve aprofundar os estudos
sobre o assunto, pesquisando formas de desenvolver qualitativamente as
capacidades de seu aluno, atuando de forma individualizada para atender
às necessidades educativas desse aluno.
O aluno com autismo é um desafio para educadores, por não terem
formação acadêmica necessária para tratar desses indivíduos que
apresentam um desempenho cognitivo muito diferente do padrão.
O ensino na Escola Pública não promove a inclusão de alunos
autistas de maneira qualitativa no que se refere ao atendimento das
necessidades educativas desses alunos, portanto, mudanças são
necessárias para ajudar estes alunos a superar suas dificuldades e
alcançar novos patamares de desenvolvimento de suas potencialidades.
Acredita-se que o professor capacitado para trabalhar com alunos
autistas, com uma visão holística e criativa, promoverá uma
aprendizagem significativa de acordo com aespecificidade deste
aluno.Para ocorrer a Inclusão desses alunos portadores do Espectro
Autismo na Rede Pública de Ensino deve haver uma constante
conscientização sobre a necessidade de especialização aos professores
que recebem autistas em sala de aula.
A escolha do tema do estudo deve-se ao fato da presença de uma
aluna autista em sala de aula regular que promove a inclusão na rede
pública de ensino em Magé. A possibilidade de se conseguir progressos
significativos desta aluna na educação por meio de adequações das
práticas pedagógicas à diversidade da aprendiz é o foco deste estudo. O
tema inclusão tem sido amplamente discutido na atualidade, mas,
infelizmente esta inclusão está acontecendo de maneira errônea,
incluindo alunos portadores de autismo em sala regular, sem antes haver
uma preparação adequada da escola e dos professores que, deveriam
10
estar devidamente habilitados, e sentem-se incapazes de saber como
proceder com estes alunos. Somando-se a isto a ausência de
profissionais especializados na escola e falta de cursos de capacitação
para dar apoio aos professores. As consequências do tratamento do
aluno autista pelo corpo docente não qualificado para atendê-lo são
objeto desse estudo. Diante destas circunstâncias, para que se possa
atingir os propósitos de uma inclusão satisfatória, comprova-se a
importância de haver uma capacitação ao profissional da educação para
formar escolas inclusivas de qualidade principalmente as que se referem
aos educandos portadores de autismo.
Desse modo, o capítulo I: Descrições e aspectos indispensáveis
sobre o autismo, demonstraa necessidade de se conhecer e identificar o
autismo, mostrando o que o professor precisa saber, revelando algumas
características para melhor compreendermos o universo de pessoas
autistas. Como revela Eugênio Cunha (2001) “ A educação nas escolas
inclusivas, independentemente do grau de severidade, deve ser
vivenciada individualmente na sala de aula de recursos e na sala de
ensino comum, favorecendo a sociabilidade, porque incluir é aprender
junto.” (p. 32).
O capítulo II: O autismo requer preparo, estudo e dedicação;
pontua o que o professor precisa aprender para se relacionar com a
realidade do mundo autístico. A dedicação do educador é mencionada
como primordial para promover condições educativas em um ambiente
preparado para a realidade autística. De acordo com Alves (2009), “O
educador inclusivo precisa ter uma clara preocupação do caminho que
terá que percorrer para conseguir alcançar os objetivos”. (p.59)
É discutido no capítulo III: A interação que deve existir entre a
família e a escola para que ocorra uma melhoria no que diz respeito à
conquista gradativa da autonomia dos alunos autistas, que, segundo
Cunha (2011) “A autonomia é uma das metas fundamentais da educação
no autismo – faz-se imprescindível em qualquer espaço educativo, em
qualquer estudante. (p. 118). A colaboração entre os profissionais e a
11
família é fundamental para atingir o objetivo principal – que é o bem-estar
da criança enquanto criança e, mais tarde, de cidadão socialmente
integrado. O ambiente familiar e escolar devem, segundo Cunha, “ser
similares em objetivos e práticas educativas, embora esses ambientes
sejam diferentes fisicamente”. De acordo com Alves (2009), “A presença
dela ajudará e muito na progressão, pois muitas das vezes a família é o
gancho que o profissional precisa para começar e poder terminar”. (p.28)
No último capítulo desse trabalho: O Autismo e a Inclusão, será
discutido sobre como tem sido realizada, na prática, a lei de inclusão na
escola pública em estudo e a visão dos profissionais dessa escola em
relação ao tema da análise, sua formação profissional e sua atuação
frente à aluna autista, bem como, o estudo de caso da aluna autista
atendida na rede municipal de ensino de Magé.
12
CAPÍTULO I
DESCRIÇÕES E ASPECTOS INDISPENSÁVEIS SOBRE O AUTISMO
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais DSM-IV (APA,1995) – o autismo tem início antes dos três anos
de idade, caracterizando-se principalmente por alterações da linguagem,
na interação social e nos jogos simbólicos ou imaginativos, com
permanência dessas características por toda a vida, em graus variados de
funcionalidade. É uma patologia encontrada em todo mundo e em famílias
de toda configuração racial, étnica e social, sendo mais comum em
meninos do que em meninas.
Segundo Cunha (2011), o termo autismo origina-se do grego autos,
que significa “de si mesmo”. Foi empregado pela primeira vez pelo
psiquiatra suíço E. Beuler, em 1911, que buscava descrever a fuga da
realidade e o retraimento interior dos pacientes acometidos de
esquizofrenia. (p. 20).
Em sua obra Autismo e Inclusão – psicopedagogia e práticas
educativas na escola e na família Cunha (2011) afirma que:
“o autismo pode surgir nos primeiros meses de vida, mas,
em geral, os sintomas tornam-se aparentes por volta da idade de
três anos.Percebe-se na criança o uso insatisfatório de sinais
sociais, emocionais e de comunicação, além da falta de
reciprocidade afetiva. A comunicação não-verbal é bastante
limitada, as expressões gestuais são inexistentes, porque a
criança não atribui valor simbólico a eles. Quando quer algum
objeto, utiliza a mão de algum adulto para apanhá-lo. Não
aponta ou faz gestos que expressem pedidos. Uma das
maneiras mais comuns para identificar casos de autismo é
verificar se a criança aponta para algum objeto ou lugar. A
criança autista tem dificuldade para responder a sinais e,
13
normalmente, não se expressa mimicamente, mesmo quando é
estimulada.(p. 24)
Os indivíduos com autismo apresentam problemas de interação
social que são as características mais evidentes do autismo. Cunha
(2011) diz que “além de haver um acentuado comprometimento do uso de
múltiplos comportamentos não-verbais (contato visual, direto, expressão
facial, posturas e linguagem corporal) que regulam a interação social e a
comunicação, pode ocorrer atraso ou ausência total do desenvolvimento
da linguagem falada.” (p.27). Ainda segundo Cunha, as crianças autistas
não respondem quando as chamam pelo nome e evitam muitas vezes o
contato ocular. Têm dificuldade em compreender as pessoas, os gestos, o
tom de voz ou a expressão facial e emoções. Parecem não ter
consciência dos sentimentos dos outros nem do resultado dos seus
comportamentos nos outros. (p.34)
Pessoas com autismo têm, por vezes, tendência à auto agressão,
especialmente, quando estão num ambiente que lhe cause estranheza ou
que possa o atordoar, ou quando estão zangadas, frustradas ou quando
está extremamente sensível aos estímulos. Segundo Cunha (2011)
“apesar de estudos relatarem que determinantes externos não formam um
fator de origem do autismo, eles podem reforçar os sintomas. O ambiente
modela a vida do indivíduo e é uma fonte de estímulos para o
desenvolvimento de aprendizagens” (p.71). Cabe ao professor minimizar
tais comportamentos por meio ações que recompensem o comportamento
positivo, um dos métodos que o autor enfatiza em sua obra seria a técnica
de educação comportamental, que segundo ele “tem um papel primordial
na busca da inibição dos comportamentos inadequados, como as
estereotipias, a hiperatividade e a autoagressão.” Nessa técnica utiliza-se
estímulos, reforços, extinção e expressões faciais para a redução de
atitudes que interferem negativamente no desenvolvimento do
aprendente. (p. 71)
14
Outro problema muito comum enfrentado por autistas é a
comunicação, de acordo com Cunha (2011) “a linguagem para a
comunicação social demanda, em sua essência, a abstração e a
codificação e, por isso, ela se torna extremamente literal e desprovida de
símbolo no universo autístico. Ocorre uma profunda dificuldade para dar
sentido a ela e utilizá-la para fins de comunicação”.(p.41). Ainda segundo
o autor “é comum haver a ecolalia, quando ocorre a repetição de diálogos
de programas de televisão , por exemplo, por diversas vezes”.Outros
autores como Baptista e Bosa (2002) afirmam que a ecolalia no autista
poderia cumprir a função comunicativa, servindo como atos da fala, mas
também poderia representar dificuldade de compreensão. Autistas
utilizam a linguagem de maneira pouco comum. Algumas usam apenas
uma palavra, outras repetem a mesma frase em qualquer situação.
Podem falar de uma forma cantada e repetitiva a propósito de um número
restrito dos seus temas favoritos, sem se preocuparem com o interesse da
pessoa com quem falam. Independentemente da sua capacidade de falar,
todas as pessoas com autismo têm problemas em compreender o sentido
da comunicação. (Cunha, 2011. P.41)
De acordo com Alves (2007), podemos dizer que a
psicomotricidade é o resultado da ação do sistema nervoso sobre a
musculatura, como resposta à estimulação”. Indivíduos com autismo
apresentam, segundo Alves, prejuízos na coordenação motora fina, na
coordenação visório-motora, na fala, na manutenção do equilíbrio do
corpo, na lateralidade.” (p.46).
Pessoas portadoras da síndrome do autismo apresentam como
características movimentos bizarros e repetitivos tais como balançar-se,
mexer nos cabelos, ou comportamentos auto-agressivos tais como
morder-se ou bater com a cabeça. Esses comportamentos dos indivíduos
portadores da síndrome do autismo surgem muitas vezes das dificuldades
que eles tem na comunicação ou se relacionam as dificuldades que eles
possuem de compreender o significado social dos comportamentos.
15
Existe, segundo Cunha, em indivíduos autistas“uma
hipersensibilidade aos estímulos do ambiente exterior e uma pungente
busca por sensações.” (p.36). A sensibilidade fora de comum ao tato pode
contribuir para a resistência às carícias. Certas pessoas com autismo
tendem a repetir as mesmas atividades sem parar. Uma pequena
mudança na rotina pode ser particularmente perturbadora. Ainda de
acordo com Cunha, “a carência de brincadeiras de teor imaginário e de
“faz de conta” denota distúrbio da simbolização”. (p.38)
O autismo, segundo Cunha (2011), compreende, “um conjunto de
comportamentos agrupados em uma tríade principal: comprometimentos
na comunicação, dificuldades na interação social e atividades restrito-
repetitivas”. (p.20). Assim, os portadores de autismo apresentam sintomas
como perda do contato emocional e interpessoal, problemas de
sociabilidade, isolamento intenso e agressividade. Segundo Cunha
(2011), “há uma concordância para designar o déficit na tríade
comportamental”. (p. 24)
Em 1944, Kanner sugeriu que os sintomas do autismo poderiam
constituir um distúrbio diferente da esquizofrenia infantil,caracterizando o
autismo infantil como um distúrbio independente. As crianças autistas
possuem, geralmente, aspectos saudáveis e são bonitas. Em seus
estudos, foi observado que as crianças autistas não respondem as
carícias, palavras e nem às atenções dos adultos. Contrapondo a apatia
frente às pessoas, a criança parece fascinada por objetos giratórios.
Preocupa-se com que o ambiente fique conservado de forma inalterada.
Permanece muito tempo jogando com objetos repetitivamente. Mostra-se
indiferente às palavras e a qualquer som emitido por outras pessoas. No
entanto, pode dar atenção ao ruído de uma porta ou ao barulho de um
avião. Têm hipersensibilidade ao toque e aos sons.Algumas crianças
autistas, entre 4 e 5 anos, são capazes de repetir propagandas de TV,
trechos de músicas populares, o que não significa um ato de
comunicação, apenas foram absorvidas estruturas codificadas.
16
O DSM-IV-TR - Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, publicado pela American PsychiatricAssociation
(2003) e o CID 10 - Classificação Internacional de Doenças,(1993), da
Organização Mundial de Saúde, são consoantes ao descreverem o
autismo. Cunha (2011, p. 21 - 22), em sua obra: Autismo e Inclusão,
psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família cita, segundo
a classificação do CID 10, outros distúrbios com quadros autísticos:
* Síndrome de Asperger: difere do autismo clássico,
principalmente por não ocorrer retardo mental, atraso cognitivo e
considerável prejuízo na linguagem. Apesar de não haver o
retraimento peculiar autístico, a criança, entretanto, torna-se também
muito solitária. Desenvolve interesses particulares em campos
específicos, modos de pensamentos complexos, rígidos e
impermeáveis a novas idéias.
* Autismo Atípico: esta categoria deve ser usada
quandoexiste um comprometimento grave e global do
desenvolvimento da interação social, da comunicação verbal e não-
verbal e a presença de estereotipias de comportamentos,
interesses e atividades, não satisfazendo os critérios para a
classificação de Transtorno Autista, em vista da idade tardia de seu
início.
* Transtorno de Rett: proveniente de causas desconhecidas
e com severo retardo mental. O Transtorno de Rett é relatado até o
momento em apenas crianças do sexo feminino. Ocorre pelo
desenvolvimento progressivo de múltiplos déficits específicos após
um período de funcionamento normal durante os primeiros meses
de vida. Possui severo prejuízo no desenvolvimento da linguagem
expressiva e receptiva, aliado a um grave retardo mental e
psicomotor, além da probabilidade de convulsões.
17
* Transtorno Desintegrativo da Infância: é muito mais raro
que o autismo, com sintomas semelhantes ao de Rett, mas incide
predominantemente em meninos e, geralmente, é acompanhado
de retardo mental. Ocorre o empobrecimento e a perda da fala e da
linguagem, e é acompanhado por desintegração do
comportamento.1
A respeito das causas do autismo, ainda que não sejam
satisfatoriamente conhecidas, alguns estudiosos acreditam que fatores
metabólicos que decorrem de alterações bioquímicas, como afirma Shaw
(2002) “qualquer doença que tenha um efeito devastador no indivíduo
está ligada a uma alteração bioquímica individual. são, de alguma
maneira, submetidos ao efeito do ambiente e modificados por ele. Por
isso, há a preocupação com a toxicidade dos metais pesados e a sua
influência nos processos biológicos que levam aos sintomas”. (p. 31)
Apesar dos avanços da Neurociência e da Bioquímica
possibilitarem novas leituras, ainda faltam teorias abrangentes para
explicitar uma abordagem que esgote o assunto no que se refere as
causas, ainda não há total clareza a respeito do autismo. Para
Schwartzman (2003),“O grupo de transtornos Invasivos do
Desenvolvimento pode ser caracterizado como um conjunto de
anormalidades qualitativas onde cabem outros distúrbios, o que leva o
profissional a ter dificuldades para estabelecer um diagnóstico preciso”.
(p. 36)
Para trabalhar com crianças autistas torna-se necessário conhecer
sobre a síndrome do autismo a fim de transformar a prática educativa
para melhorar a qualidade de vida em qualquer nível do autismo.
Seguindo essa linha de raciocínio, o capítulo a seguir trará discussões
que evidenciam a necessidade do educador estudar, preparar-se e se
dedicar na tarefa de incluir alunos autistas.
1 CUNHA (2011, p.21 e 22)
18
CAPÍTULO II
O AUTISMO REQUER PREPARO, ESTUDO E DEDICAÇÃO
Para trabalhar com crianças autistas, é necessário que o
profissional da educação conheça o comportamento autístico e suas
manifestações que, de acordo com Cunha (2011),“variam intensamente,
dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do
indivíduo. Em algumas crianças, apesar do retardo mental global,
demonstram desempenho excepcional em alguns campos muito
específicos” (p.27).
Segundo Rivière (2004), o currículo na educação do autista deverá
ser estruturado e baseado nos conhecimentos desenvolvidos pelas
modificações de conduta; ser evolutivo e adaptado às características
pessoais dos alunos; ser funcionais e com uma definição explícita de
sistemas para a generalização; envolver a família e a comunidade; ser
intensivos e precoces.
Ainda segundo Rivière o autismo requer como critério de
escolarização duas coisas importantes: a diversidade e a personalização,
pois os modelos homogêneos e pouco individualizados do processo de
ensino-aprendizagem são incapazes de atender as necessidades das
crianças autistas. “Devido à grande heterogeneidade do autismo, deve a
escola estar preparada para indicar soluções educativas adequadas a
cada caso. Ressalta o autor que a educação escolar, seja na escola
regular, seja na especial, não precisa ser permanente, mas deve procurar
atender a necessidade em cada fase de seu desenvolvimento, onde o
objetivo da escolarização não deve ser a de relacionar-se com crianças
normais, mas para o seu desenvolvimento.” (RIVIÈRE, 2004, pp.236).
De acordo com Cunha (2011), o professor precisa aprender a se
relacionar com a realidade do mundo autístico. Nessa relação, quem
aprende primeiro é o professor e quem vai ensinar-lhe é o aluno.O
educador precisa estar atento e canalizar as emoções do aprendente para
as suas experiências de aprendizagem. Desse modo, sempre que for
19
observado o interesse do aluno autista a uma determinada atividade, o
professor deve utilizar este, em sua prática pedagógica.
Com a devida educação, a criança autista poderá adquirir mais
independência e melhora a qualidade de vida em qualquer nível do
autismo. Segundo Cunha (2011), “o educando com autismo manifesta
inabilidades sociais que podem trazer a sensação inicial aos familiares e
aos professores que são ineficazes os métodos de educação. Todavia, o
trabalho não deve ser interrompido, mas continuado com paciência, amor
e perseverança, porque os resultados virão”. (p.92)
O trabalho com educação de autistasrequer, sem dúvida, estudo,
preparo e dedicação. Dessa maneira a relação afetiva do aluno autista
com o professor é o início do processo de construção de sua autonomia
na escola, porque mesmo não compreendendo os sentimentos e
subjetividade das pessoas a sua volta, o autista não está isento de
emoções.É de suma importância que o professor saiba utilizar as aptidões
de seu aluno autista, os seus interesses, seus gostos para preparar
atividades condizentes e oportunas.De acordo com Alves (2009) “É
importante se interessar e conhecer os procedimentos pedagógicos atuais
para avaliar as mudanças necessárias de métodos e dos recursos
específicos”. (p. 59)
O professor que trabalha com autismo deve saber usar a fala para
conquistar a atenção e interesse do educando. De acordo com Cunha
(2011), “a fala do professor precisa ser serena, explícita e sem pressa. O
comando de voz é o convite do professor ao aluno, é a identificação do
objeto, é o exercício de comunicação oral que ele estará propondo,
nomeando objetos e atividades. É determinante que o aprendente sinta a
necessidade de expressar-se e comunicar-se pela fala ou por gestos,
para sempre estar motivado a dar vida ao seu desejo. Para isso, os
comandos devem ser objetivos e possuírem função para serem
compreendidos”. (p. 60)
Cunha afirma que o professor precisa chamar o aluno autista pelo
nome, convidá-lo a participar das atividades e comunicar sobreo que
20
serárealizado em cada atividade, procurando sempre cativar sua atenção.
Ainda segundo Cunha (2011), “é normal a criança com autismo tentar
esquivar-se para fugir ou até irritar-se e usar birras para não fazer o que é
pedido. É importante que o adulto não valorize essas reações, mas
redirecione, de forma lúdica, atenção da criança para a atividade”. (p.60).
O professor deve utilizar trabalhos artísticos em sala de aula e imagens
visuais, música etc., que estimulam a atenção e memória, servindo como
intervenção psicopedagógica. No momento da pintura, do desenho ou das
atividades com massa, os canais da sensibilidade se afloram e facilitam a
aprendizagem.
Segundo Cunha (2011), “o que o professor que lida com aluno
autista precisa saber é que o aluno com autismo não é incapaz de
aprender, mas possui uma maneira peculiar de responder aos estímulos,
daí a necessidade de conhecer, estudar para compreender e dedicar-se
para propiciar as possibilidades de acesso a todos os saberes possíveis”
(p.68).
Eugênio Cunha, em sua obra Autismo e Inclusão - psicopedagogia
e práticas na escola e na família, expõe algumas dicas para professores
que trabalham com autismo:
“penetrar no mundo do autista;concentrar-se no contato visual;
trazer sempre o olhar do autista para as atividades que ele está
fazendo; entreter-se com as brincadeiras do autista; procurar
sempre enriquecer a comunicação; mostrar a cada palavra uma
ação e a cada ação uma palavra; tornar hábitos cotidianos
agradáveis; fazer tudo com serenidade, mas com voz clara e
firme”. (Cunha, 2011.p.85)
Para ajudar os alunos autistas a superar suas limitações,
conquistandoum desenvolvimento acadêmico adequado e agradável,
torna-se necessário que o corpo docente, em sua formação acadêmica,
aprenda a trabalhar adequadamente com estes indivíduos. O capítulo a
seguir, trará relatos das práticas vivenciadas por professores que
22
2.1 – Professores: conhecimentos e práticas na inclusão
O objetivo desta pesquisa é discutir sobre as habilidades e
competências do professor para atender as expectativas de alunos
autistas no processo de Inclusão destes alunos na Rede Pública Regular
de Ensino em Magé, a fim de detectar as dificuldades dos profissionais
que recebem esses alunos em sala de aula sem a devidacompreensão
das peculiaridades envolvidas na maneira de agir e aprender desses
educandos.
Os depoimentos apresentados neste trabalho foram objeto de uma
análise obtida através de entrevista aos professores que lecionam na
Escola Municipal Tiradentes, situada no Município de Magé/RJ e
acompanham a aluna autista, objeto de estudo.
Comecei questionando os professores da referida escola se
possuem algum conhecimento sobre educação inclusiva. Todos
responderam que tinham algum conhecimento sobre o assunto em
questão, porém, deixaram claro que esse conhecimento era insuficiente.
Apenas uma das professoras relatou não ter nenhum conhecimento.
Os professores entrevistados reconhecem que a aluna em estudo
“é diferente”, sem que consigam apontar com clareza a natureza dessa
diferença. Reconhecem que precisam trabalhar de forma diferenciada
com a aluna autista, mas não sabem como proceder.
Ao pedir que falassem o que conheciam sobre o assunto e como
adquiriram esse conhecimento, as respostas foram as mais variadas, uma
professora chegou a dizer: “Somente conheço alguns direitos do aluno
incluído e alguns deveres da escola”. Outro professorrelatou que: “Não há
receitas, as soluções vão sendo pesquisadas e construídas a partir de
sua experiência, de observações, de conversa com familiares,
especialistas e principalmente, com o próprio aluno com deficiência”. E, a
forma como adquiriram tal conhecimento na prática e por meios próprios,
na internet, lendo livros e, principalmente, buscando informações com
profissionais que se especializaram na área.
23
Ao serem questionados sobre o fato de estarem preparados para
desenvolver seu trabalho numa turma que tenha aluno incluído, os
professores foram unânimes em dizer que NÃO se sentem preparados.
Segundo um dos professores entrevistados ao ser perguntado sobre estar
preparado ele prontamente responde: “Não, mas no caso do professor
isso não é perguntado e simimposto. Então faço o meu melhor”.
A professora de artes relata que apesar de não estarpreparada,
tenta “adaptar-se a realidade de acordo com a sua disciplina” e , como a
aluna em questão gosta de desenhos, ela utiliza o gosto pela arte vista
por parte da aluna autista, quando diz: “tenho uma que adora pintura,
desenho e faz modelagem de imagem com argila, (...). Porém, a mesma
professora reclama da falta de recursos materiais para se trabalhar: “falta
material e equipamento que pode ajudar eles a se desenvolver”.
O professor de Inglês é categórico em dizer que não se considera
preparado para desenvolver seu trabalho numa turma que tenha aluno
incluído quando diz: “não fui instruído para tal”.
Quando questiono sobre de quem seria a responsabilidade deestar
preparando o professor para atuar com alunos portadores de
necessidades educacionais especiais, cada professor manifestou uma
opinião diferenciada, uns acreditam ser responsabilidade de todos ou
seja, do professor, da escola e do sistema de ensino. Outros acreditam
ser responsabilidade apenas do sistema de ensino e outro chega a
acrescentar que deveria haver a ajuda especializada e gratuita com
cursos e atendimentos individualizados com os alunos em questão.
Para finalizar, quis saber de todos os entrevistados sua opinião
sobre qual seria o melhor atendimento para o aluno portador de
necessidades especiais. Os profissionais expressaram da seguinte forma:
“Adaptar a escola, treinar os profissionais para recebê-lo e
conscientizar os outros alunos para que não haja discriminação”
“Para mim o melhor seria que esse aluno fosse incluso de
verdade com seus direitos e deveres”;
24
“A escola não recebe apoio pedagógico. A direção tem que
continuar exigindo aos dirigentes o apoio previsto em lei”.
“Seria uma escola com mais estrutura física para atender esses
alunos e cursos de capacitação nesta área”.
“Além da inclusão em turmas regulares, uma sala de recursos
eficiente e acompanhamento especializado (como fono, psicólogo,
etc)”.
“1º espaço adequado, 2º profissionais habilitados, 3º material para
esse trabalho, participação da família”.
Após as entrevistas ficou evidente que os professores não têm a
devida compreensão da dimensão do modelo inclusivo. Contudo no que
se refere à ação pedagógica ao receber alunos incluídos, todos relataram
a importância de se trabalhar de forma diferenciada e que tentam realizar
o trabalho com tal aluna da “melhor forma possível”.
Atualmente, o contexto da alunaautista recebida na escola não
favorece seu bom desempenho no processo de ensino-aprendizagem.
As salas de aula são lotadas (em 2011, eram cinquenta e seis
alunos na turma)com apenas um professor sem a devida capacitação
para lidar com qualquer tipo de deficiência.Como resultado: a maioria dos
professores que atuam com a aluna em estudo, deixa de atendê-la da
maneira como deveria por falta de conhecimento sobre o assunto e por
precisarem “dar conta” da ementa do ano letivo e controlar, da melhor
forma possível, a turma de alunos, considerados “normais”.
Podemos concluir que, no caso da aluna em estudo, o processo
ensino-aprendizagem encontra-se defasado. É necessário que ocorram
intervenções para dar suporte aos professores a fim de que os mesmos
apliquem novas dinâmicas em sala de aula de acordo com as
especificidades da aluna autista, contribuindo assim para a sua
aprendizagem,adaptaçãoe inclusão satisfatória.Para tanto é necessário
que os professores, comunidade escolar e família estejam engajados na
tarefa de educar crianças portadoras do espectro autismo. Esta tarefa
25
conjunta e indispensável para o sucesso da criança será discutido no
próximo capítulo sobre a interação entre a família e a escola.
26
CAPÍTULO III
A INTERAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA
Para que ocorra um desempenho satisfatório do indivíduo autista
na escola regular é preciso que ocorra uma interação entre a família e a
escola. Segundo Fátima Alves (2005), “é de fundamental importância o
trabalho conjunto entre a família e profissionais e também haverá sempre
necessidade que essa família esteja presente em todos os momentos. A
presença dela ajudará e muito na progressão, pois muitas das vezes a
família é o gancho que o profissional precisa para começar e poder
terminar”. (p.28)
É relevante que a escola conheça a dinâmica familiar da criança
autista e os impactos que o espectro autístico produz na família, que
requer cuidados, atenção e atendimento especializado e muitos gastos
financeiros. Segundo Cunha (2011), “o entendimento das dificuldades de
aprendizagem do aluno implica um olhar extensivo à família, para uma
melhor aplicação de todas as etapas do processo da sua educação”.
(p.88). Para conhecer as origens do autismo durante as avaliações
psicopedagógicas, o profissional deverá fazer uma pesquisa sobre a vida
do indivíduo, com base em sua história biológica, familiar.
Uma grande contribuição da família para todas as crianças
autistas, independente do grau de severidade, vem das relações
familiares, que no âmbito da comunicação, na interação social ou no
afeto. Contudo, a família e a escola precisam ser parceiras nas ações e
nas intervenções na aprendizagem. De acordo com Cunha (2011), “Esses
ambientes, apesar de diferentes fisicamente, devem ser similares em
objetivos e práticas educativas”. (p. 89). Alves (2009), afirma que “tem
que haver uma compatibilidade entre a família e as pessoas que irão lidar
com este ser, estabelecendo uma relação de confiança, de limites e
acolhedora, com intuito de envolver esta família em trabalhos satisfatórios
mostrando que através destes trabalhos eles poderão ajudar outras
famílias que estejam passando pelo mesmo problema”. (p.28)
27
A escola de possibilitar ao discente a sua autonomia. A autonomia
deve ser uma das metas principais da educação do indivíduo com
autismo. Cunha (2011), afirma que para o aluno com autismo, o que mais
importa é a aquisição de habilidades sociais e a autonomia.(p.118). Para
que a criança não se torne um adulto incapaz de realizar tarefas simples
do dia-a-dia, ela precisa aprender atividades que a tornará mais
independente durante seu crescimento. Essas atividades são escolhidas
em razão da sua utilidade. Escovar os dentes ou vestir-se é necessário
aprender. Entretanto, podem existir atividades ou habilidades específicas
que poderiam ser treinadas, fazendo parte de um currículo funcional e
prático (p.34).
Cunha afirma que uma grande ajuda para todos os indivíduos com
autismo vem da família e da escola que devem estar concordes nas
ações e nas intervenções na aprendizagem. Isto, segundo Cunha,
“significa dizer que a maneira como o autista come, veste-se, banha-se,
escova os dentes, manuseia objetos e os diversos estímulos que recebe
para o seu contato social precisam ser consoantes nos dois ambientes”
(p.89). O autor ainda exemplifica que “se na escola, durante as refeições,
ele utiliza os utensílios sem ajuda de outrem, deverá fazer o mesmo em
casa. Se, em casa, os pais o deixam se vestir sozinho, naescola, far-se-á
o mesmo”. Cunha complementa expressando que “esses ambientes,
apesar de diferentes fisicamente, devem ser similares em objetivos e
práticas educativas”. (p.89)
Ainda segundo Cunha (2011), um currículo funcional para a vida
prática compreende tarefas que podem ser administradas, em perfeita
sintonia, em casa e na escola, mediante as etapas que devem ser
alcançadas. Cada etapa superada demanda um novo desafio. Lista-se
uma série de afazeres cotidianos que precisam ser realizados. O que é
mais importante aprender naquele momento deverá ser priorizado.
Inicialmente, alguns de maior facilidade até o pleno domínio.
Posteriormente, acrescenta-se uma nova tarefa. Ainda que a criança não
aprenda perfeitamente o que se busca ensinar, ela estará trabalhando
28
sempre a interação, a comunicação, a cognição e os movimentos. Poderá
haver mais erros do que conquistas, mas o trabalho jamais será em vão
(p.59).
De acordo com Cunha (2011), “uma vez que o trabalho com o
aprendente autista visa à conquista da sua independência, as atividades
diárias necessitam ser gerenciadas para alcançar este objetivo. Os
afazeres e a rotina podem ser ferramentas eficazes para gerar autonomia.
Normalmente, há uma tendência no autista de se fixar em rotinas. Esta
tendência pode ser usada ao seu favor quando os pais ou os professores
da escola a usam como reforço comportamental na organização do dia”.
(p.91)
Cunha alerta que “tornar-se-á extremamente difícil o aprendizado,
quando a escola e a família não forem concordantes no trabalho,
ocasionando uma postura diferenciada de uma das partes – mesmo que
bem intencionada – quanto às práticas educativas. O ideal, emqualquer
contexto educacional, é a liberdade mediada pela responsabilidade e os
limites estabelecidos pela tolerância”. (p. 93). Em suma, é indispensável
haver essa participação e interação entre os sujeitos família e escola para
o sucesso educacional do aluno portador da síndrome do autismo.
Cunha afirma que, para que a escola realize uma educação
satisfatória, “deverá ao incluir o educando no meio escolar, incluir também
a sua família nos espaços de atenção e a atuação psicopedagógica”
(p.90). Nesse sentido a família deverá propiciar aos docentes e a escola,
algumas contribuições importantes no que se referem a atividades,
projetos vivenciados pela aluna em seu atendimento médico e familiarque
poderão ser desenvolvidos também no ambiente escolar
Esse será o ponto fundamental que iremos discutir no próximo
capítulo do presente trabalho: Autismo e Inclusão escolar.
29
CAPÍTULO IV
O AUTISMO E A INCLUSÃO
No que concerne à educação inclusiva, o Brasil tem hoje uma das
Leis mais modernas do mundo, porém, o que se vê na maioria das
escolas brasileiras é uma grande dificuldade de se pôr esta lei em prática.
A lei Nº 9.394/96, de forma muito apropriada nos diz em seu Art. 2º que “A
educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
O art. 3º é ainda mais incisivo, nas condições de permanência do
aluno na escola: “O ensino será ministrado com base nos seguintes
princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;”
Professores capacitados fornecem aos educando subsídios
necessários ao seu bom desempenho, dessa forma, a boa formação dos
professores é uma pré-condição para o desenvolvimento das práticas
inclusivas, porém, as poucas ações que vemos na escola neste aspecto
são muito mais uma forma empírica, com pouca ou nenhuma base
cientifica, e cabe ressaltar que em geral, a experiência demonstra que os
docentes são maus executores das “ideias” dos outros. Nenhuma reforma
ou inovação acontece, sem professores motivados em bem embasados
dentro de um método científico.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Especial, de 1998:“inclusão, portanto, não significa, simplesmente
matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum,
30
ignorando suas necessidades especificas, mais significa dar ao professor
e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica.” (MEC/ SEESP,
1998). A discussão da inclusão tem alcançado toda a sociedade, embora,
sua inserção no ensino regular ainda causa muita controvérsia, pois,
mesmo com todas as descobertas, há um desconhecimento pelos
educadores sobre qual a melhor metodologia para a pessoa autista e
como os procedimentos metodológicos aplicados ao autista em escolas
especiais poderiam fazer parte do currículo formal da escola regular, além
da preparação adequada dos educadores para sua inclusão efetiva.
Segundo Santos (1997), “a década de 90 foi marcada pela
Conferência Mundial de Educação para todos em Jomtien, Tailândia,
onde o tema inclusão ganhou força e se confirmou com a Declaração de
Salamanca em 1994, durante a Conferência Mundial na Espanha. O
tratado firmado abriu as portas da escola que, através da LDB de 1996,
se legitimou como escola para todos, num espaço onde seja real uma
educação libertária e emancipadora, promovendo a aceitação das
diversidades e singularidades de cada indivíduo. LDB/96 (Lei de diretrizes
e bases da educação) trata, em seu capítulo V, da Educação Especial,
lançando para toda a sociedade, incluindo a escola, o desafio da inclusão.
Onde estabelece no Art. 58: "Entende-se por educação especial, para
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores
de necessidades especiais".
Observa-se, quanto ao aluno autista, que a lei existe, mas não
garante o cumprimento dos direitos na prática do dia a dia. Mesmo com a
legislação apoiando o autista, existe muita desinformação no meio
escolar. Uma das grandes barreiras que dificulta a inclusão desses alunos
é a própria formação dos professores.
Através da pesquisa realizada, foi observado que os cursos de
formação de professores não preparam estes profissionais para atuarem
adequadamente com alunos portadores de necessidades especiais. Na
prática, percebe-se que aluna não recebe atendimento específico para
31
sua necessidade porque os professores não sabem como lidar com ela. É
necessário haver mudanças para que a inclusão ocorra de modo
satisfatório. Essas mudanças devem acontecer não apenas no sistema de
ensino, mas principalmente na mentalidade dos professores para que, as
situações que foram constatadas na presente pesquisa, não ocorram. Os
professores chegaram a relatar: "não tenho formação", "a escola não tem
uma metodologia específica ou material adequado para atender a aluna"
e, em sua maioria não tomam uma postura que modifique essa realidade.
Segundo Alves (2009) “a educação inclusiva só será alcançada
quando todos tiverem preparados para receber estes seres e também
quando aqueles que se propuserem a trabalhá-los souberem realmente
como fazer”. (p.100). Não basta para o autista apenas estar na sala de
aula, é preciso que haja compromisso da escola e que não
existaisolamentos no cotidiano escolar. Um profissional psicopedagogo
passa a ser importante no ambiente escolar, tanto para a inclusão como
também para elaborar a adaptação do currículo escolar e assim, melhor
atender o aluno autista.
Segundo Rivière (2004), é indispensável para o professor a
orientação de especialistas com nível de informação. Professores não
apoiados geralmente sofrem com a frustração, ansiedade e impotência.
Sem a família em estreita colaboração com o professor, nenhum êxito
poderá ser alcançado quanto às tarefas educacionais e terapêuticas das
crianças autistas. A importância do psicopedagogo passa a assumir papel
de destaque no auxílio ao corpo escolar e as famílias.
Bosa afirma que “ao receber alunos inclusos no ambiente escolar é
importante que todo o corpo docente juntamente com os profissionais
especialistas, pedagogos organizem a estrutura do ensino de acordo com
a especificidade do educando. De acordo com Bosa (2006), o
planejamento do atendimento à criança com autismo deve ser estruturado
de acordo com o desenvolvimento dela. Por exemplo, em crianças
pequenas, as prioridades devem ser a fala, a interação social/linguagem e
a educação, entre outros, que podem ser considerados ferramentas
32
importantes para a promoção da inclusão da criança com autismo.
Kupfer (2004) afirma que se deve promover uma mudança na
representação social sobre a criança autista, sendo importante que a
escola e o professor baseiem sua prática a partir da compreensão dos
diferentes aspectos relacionados a este tipo de transtorno, além de suas
características e as consequências para o desenvolvimento infantil.
Apenas através da inclusão escolar será possível adaptaro
indivíduo ao convívio social e este será o objetivo que deverá ser
alcançado pela escola e pela família do portador da síndrome do autismo.
Abordaremos no capítulo posterior,um estudo de caso de uma aluna
autista da rede pública regular de ensino que promove a inclusão de
alunos portadores de necessidades especiais.
33
4.1 – Estudo de caso
A aluna que serviu de base a este estudo foi integrada na Escola
Municipal Tiradentes, situada no município de Magé/RJ, com 6 anos de
idadee foi devidamente matriculada no 1º ano de escolaridade.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome – Letícia Tavares dos Santos
Data de Nascimento –12/11/1993 – 18 anos.
Ano de escolaridade/2012– 9º ano
IDENTIFICAÇÃO FAMILIAR
Nome do pai –Sérgio Alves dos Santos
Nome da mãe – Maria D’Ajuda Tavares dos Santos
Número de irmãos – uma (mais velha) – Christiane Tavares dos Santos
PERCURSO ESCOLAR
Entrou para o 1º Ciclo do ensino básico com 6 anos e, após 2 anos do
início da aquisição da fala aprendeu a ler e a escrever.
CARACTERIZAÇÃO DO ALUNO
Na entrevista com a mãe da aluna foram relatadas algumas
considerações importantes no que referem à descoberta da síndrome do
autismo ainda na infância. Segundo a mãe da aluna, Letícia quando bebê,
ao dar a primeira “rolada” na cama, veio a cair no chão. Situação que a
princípio não trouxe nenhuma alteração perceptiva, mas segundo a mãe
relata, após alguns dias, percebeu que a filha não virava o pescoço
quando era chamada e parou de olhar nos olhos da mãe. Apesar de
estranhar a situação e reclamar sobre o ocorrido ao pai e familiares da
criança, foi incentivada a achar a situação normal. Após a separação do
pai da criança e a mudança do local de residência, voltou a perceber que
alguma coisa estava “estranha” com a filha, fato que só foi comprovado
quando matriculou Letícia na Creche Escolar. A assistente social da
creche aconselhou a procurar um médico porque a criançase isolava na
sala, mantinha algumas estereotipias típicas do autismo.
34
Em casa, a falta de interação com os outros, os gritos frequentes,
até os 3 anos de idade(a criança não falava), o que levou a mãe a
procurar um médico. Aos 4 anos foi diagnosticada com uma perturbação
do Espectro do Autismo. Aos 6 anos de idade,dois anos após de ter
adquirido a fala, a menina se alfabetizou.
Hoje aos 18 anos de idade, sua mãe declara que a mesma não
interage normalmente com as pessoas, inclusive com os pais. Quando
perguntei se ela conversa em casa, a mãe respondeu: “muito pouco”. Em
conversa, a mãe falou também que a filha mantém uma rotina diária no lar
como por exemplo: lavar as louças da pia, sem que o adulto precise pedir,
banhos diários, cuidado pessoal, com uma certa pontualidade. Cunha
(2011) diz que “o padrão de comportamento autístico toma a forma de
uma tendência que impõe rigidez e rotina a uma série de aspectos do
funcionamento diário, tanto em atividades novas como em hábitos
familiares e brincadeiras.” (p. 28)
Cursando o último ano do Ensino Fundamental (9º ano),Letícia
apresenta boa habilidade gráfica, desenha com perfeição figuras
humanas com traços precisos, mas com rostos inexpressivos.A fala
direcionada a outras pessoas que não sejam parentes diretos é
inexistente.
CARACTERIZAÇÃO EDUCATIVA
As informações discutidas a seguir, referem-se a uma pauta de
observação realizada no dia-a-dia da aluna autista e dos professores que
atuam com a mesma. A partir das informações coletadas observa-se que
a aluna objeto de estudo é extremamente tímida. Não apresenta iniciativa,
sendo preciso instigá-la constantemente.Nas áreas social,
comportamental, emocional a aluna responde àtentativas dos outros
interagirem com ela, mas não inicia a interação. Quando não expressa
vontade em fazer algo ou responder ao estímulo, não se manifesta, sendo
preciso trazê-la ao grupo, perguntando ou provocando situações, onde
em alguns responde com algum gesto.
35
Por ser uma síndrome comportamental com etiologias diferentes,
Bosa (2000) afirma que a teoria afetiva sugere que o autismo se origina
de uma disfunção primária no sistema afetivo, qual seja uma inabilidade
básica para interagir emocionalmente com os outros, o que levaria a uma
falha no reconhecimento de estados mentais e a um prejuízo na
habilidade para abstrair e simbolizar.
Observando o comportamento da aluna no ambiente escolar, pude
perceber que, logo após o início das aulas, geralmente demonstrava uma
expressão de alegria, como se estivesse se libertando de algo, até
começar a realizar as tarefas escritas no quadro de giz, neste momento a
aluna permanece sozinha e não mantém nenhum tipo de contato com os
outros colegas da classe, nem com os professores. Dentro e fora da sala
de aula a aluna autista em estudo não faz contato com os outros alunos,
não faz contato visual com ninguém na escola e não desenvolve relações
afetivas. Indica necessidades através de gestos, ri sem razão aparente,
tem tendência ao isolamento.
Szabo (1995, p.40) afirma que “o autista é inteligente, portanto
deve ser explorado dentro de seus limites, de forma gradativa, mas nunca
forçá-lo a realizar tarefas as quais não queira no momento”. Durante as
aulas de determinados professores, a aluna não parece querer ouvir e
realiza aquilo que aparentemente mais gosta de fazer: desenhar.
A escola que lida com autistas deve adotar uma prática
educacional de trabalho que leve a diferença na maneira de abordar,
interagir e orientar esses alunos de modo satisfatório. Na obra “Autismo e
Inclusão: psicopedagogia e práticas educativas na escola e na família.
CUNHA (2011) expressa a ideia de que “para a instituição atender a
esses propósitos, deverá possuir adequação e organização concernentes
à diversidade discente. Não somente isso, mas, ao quadro docente,
deverá ela conceder condições essenciais de trabalho e possibilitar a
36
constante atualização dos seus profissionais; caso contrário, os
resultados não serão positivos”. (p.99)
Durante as aulas de Artes, foi percebido que a aluna participa, por
gostar de desenhar. Ela desenha figuras humanas e paisagens, animais
com precisão de traços, embora que, em seus desenhos a face dos
elementos são inexpressivos. Segundo Paulo Freire, “o exercício da
curiosidade, convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade
de conjecturar, de comparar, na busca da perfilização do objeto ou do
achado de sua razão de ser”. (FREIRE, 1996, p. 98). Contudo, essa
habilidade da aluna apesar de ser reconhecida por todos os
professores,não é explorada.
Observa-se também que entre os professores há um clima de
insatisfação no que concerne ao recebimento de alunos inclusos em sala
de aula, devido ao seu despreparo profissional, todavia, o trabalho é
realizado “da melhor forma possível”, como alguns descrevem. No
entanto, de acordo com Cunha (2011), “será infrutífero para o educador
aprender sobre a dificuldade de aprendizagem e modos de intervenção
psicopedagógica se não conseguir incluir o aluno. E como se faz a
inclusão? Primeiro, sem rótulos e, depois, com ações de qualidade”.
(p.101)
A aluna em estudo possui boa habilidade motora, no entanto as
capacidades sociais são fracas. Há momentos em que olha fixamente
para os objetos, outros em que parece não ver, fixa a sua atenção em
reflexão,mas não mantém contato visual direto. Quando ocorre algum
barulho ou som extremamente alto a sua volta, ela reage elevando as
mãos aos ouvidos, porémraramente reage ao chamamento pelo seu
nome, agindo como se fosse surda.Tem tendência ao isolamento.Não é
autônoma na hora da realização de suastarefas em sala de aula.
37
CARACTERÍSTICAS ASSOCIADAS
• Movimentos estereotipados e repetitivos (esfregar as mãos,
batimentos com e sem objetos)
• Problemas de imitação
• Risos sem razão aparente
• Ausência da noção de perigo
Devido à falta de orientação pedagógica, muitos professores
nãomudam os conteúdos curriculares e nem asinstrumentações
pedagógicas no processo educativo durante sua atuação com a referida
aluna, o que remete ao próximo passo do meu estudo que traz a
necessidade de haver mudanças para melhor incluir.
38
4.2 - Mudanças necessárias para melhor incluir
Neste capítulo pretende-se discutir a necessidade de qualificação
do corpo docente para trabalhar com alunos autistas, bem como pontuar
alguns suportes necessários ao educador para que a inclusão destes
alunos ocorra de maneira satisfatória.
Tendo em vista o convívio com uma aluna autista, na escola onde
leciono,constata-se a necessidade dos professores que recebem alunos
autistas em sala de aula realizarem cursos de capacitação para melhor
atendê-los, e,fica nítida também a necessidade de se adaptar o currículo
para atender à estes alunos. Cunha (2011) afirma que “a prática escolar é
uma grande oportunidade para profissionais e familiares construírem um
repertório de ações inclusivas para o aprendente com autismo”. (p.57).
Ele afirma ainda que “ainda que o aluno não aprenda o que se busca
ensinar, ele estará trabalhando sempre a interação, a comunicação, a
cognição e os movimento”.(p.59)
Durante o presente trabalho, pude perceber que os profissionais
envolvidos no processo ensino-aprendizagem da mesma, demonstravam
despreparo para atendê-la satisfatoriamente. Percebe-se que os
professores não são especializados no assunto e a escola, não dispõe de
recursos físicos e humanos necessários ao atendimento da aluna. Dessa
maneira, dependerá do professor, atender o autista da melhor maneira
possível. Alves (2009) ressalta que “alguém tem por obrigação treinar
estes profissionais. Não adianta cobrar sem dar subsídios suficientes para
uma boa adaptação deste indivíduo na escola”. (p.46)
Baseando-se no artigo 59 da LDB nº 9.394/96, observa-se existe a
necessidade de haver mudanças no que diz respeito ao cumprimento da
lei no que se refere aos currículos, métodos e técnicas adequadas,
recursos e organização, professores especializados e capacitados para a
integração do aluno incluso na vida em sociedade. Cunha (2011) ressalta
que “para a instituição de ensino atender a esses propósitos, deverá
possuir adequação e organização concernentes à adversidade discente.
39
Não somente isso,mas, ao quadro docente, deverá ela conceder as
condições essenciais de trabalho e possibilitar a constante atualização
dos seus profissionais; caso contrário, os resultados podem não ser
positivos”. (p.99).
O ideal seria se todos os envolvidos no processo educativo
tivessem formação acadêmica necessária para que os alunos inclusos
pudessem se beneficiar de uma equipe capacitada e comprometida com o
processo ensino-aprendizagem, e que essas criançasfossem atendidos
por professores, educadores, psicólogos, terapeutas, psicopedagogo,
entre outros. O Governo do nosso país deveria investir na sensibilização
de toda a comunidade educativa através de cursos, palestras, mídia e no
aperfeiçoamento da escola, em recursos materiais, espaciais e humanos
para melhor atender esses alunos no ambiente escolar.
O sucesso das escolas que possuem alunos inclusos envolve uma
série de medidas de adequação da realidade escolar, por exemplo, o
número de alunos por turma deveria ser reduzido, lembrando que a
classe da aluna inclusa em estudo já possuiu o número de cinquenta e
seis alunos frequentando. Hoje a turma é composta por quarenta e seis
alunos, daí percebe-se também a problemática enfrentada pelos
professores para integrá-la adequadamente. De acordo com Cunha
(2011) “é demasiadamente difícil para um único educador atender uma
classe inteira com diferentes níveis educacionais e, ainda, propiciar uma
educação inclusiva adequada”. (p.55)
Deveriam existir professores de apoio nas respectivas áreas ou
disciplinas para dar suporte aos professores no momento da elaboração
da programação do currículo, segundo Cunha (2011) “as condições da
inclusão alicerçam-se, também, na forma de construir o currículo escolar,
na forma de olhar a escola, o aluno e o professor” (p.102). Mudanças são
necessárias para uma inclusão qualitativa, especialmente no que diz
respeito à elaboração de um currículo adaptado as necessidades do
autista, principalmente porque cada autista apresenta várias dificuldades
que não podem ser adaptadas a outro aluno autista. Ainda segundo
40
Cunha, “com efeito não podemos educar sem nos atentarmos para o
aluno na sua individualidade, no seu papel social na conquista da sua
autonomia”. (p.102)
“É preciso que se desenvolva um currículo que atenda a
necessidade individual do autista, essa é a alternativa correta
para o trabalho do profissional psicopedagógico. A resposta à
adversidade de incluir o aluno com autismo encontra-se no
próprio currículo da escola, que não é flexível e aberto para
atender às diversidades que se apresenta no contexto escolar,
isto é condição fundamental para melhor qualidade de ensino e
igualdade de oportunidades. As decisões tomadas no projeto da
escola para responder às diversidades materializam-se na sala
de aula, já que é principalmente nela que ocorrem os processos
de ensino e de aprendizagem, e é o contexto que tem uma
influência mais intensa e direta no desenvolvimento dos alunos”.
(BLANCO, 2004)
Observa-se a necessidade de haver mudanças na organização das
avaliações da aluna, que deveriam ser individuais de acordo com suas
especificidades, no sentido de definir quais os comportamentosmodificar,
quais as áreas a trabalhar, assim como, para melhor identificar as
aquisições e as dificuldades.Deveria ser concebido um planejamento de
intervenção adequado à aluna autista de forma a possibilitar um
tratamento personalizado e específico, satisfazendo suas capacidades e
ritmo.Cunha (2011) afirma que “com efeito, não podemos educar sem
atentarmos para o aluno em sua individualidade, no seu papel social na
conquista da sua autonomia”. (p.102)
Constata-se que os professores necessitarão de bastante
paciência para trabalhar com a aluna autista, devendo aceitar e
reconhecer as suas “limitações” e respeitar a “lentidão” dos seus
progressos. Cunha (2011) afirma que “o grande foco na educação deve
41
estar no processo de aprendizagem e não nos resultados, pois, nem
sempre, eles virão de maneira rápida e como esperamos”. (p.32)
O contato frequente dos profissionais da educação com a família é
de extrema importância para o desenvolvimento da criança autista, pois
sua participação ativa no contato e trabalho com a equipe escolar ajudará
a obter informações acerca das evoluções e dificuldades doeducando,
conhecendo e colaborando em casa com o trabalho realizado na
escola.Cunha (2011) relata que “para a escola realizar uma educação
adequada, deverá, ao incluir o educando no meio escolar, incluir também
sua família nos espaços de atenção e atuação psicopedagógica”(p.90).
É de suma importância conhecer as aptidões e os interesses da
criança autista, para aproveitá-los posteriormente, como instrumentos
acadêmicos, de modo a fazê-los superar ao máximo as suas dificuldades.
Cunha (2011) afirma que “uma vez que o trabalho com o aprendente
autista visa à conquista da sua independência, as atividades diárias
necessitam ser gerenciadas para alcançar este objetivo”. (p.91)
A falta de informação sobre as particularidades a respeito do
Autismo causam uma série de dificuldades que envolvem crianças
portadoras desta síndrome. Um exemplo disto é a dificuldade de
reconhecer as características do Autismo por parte da família. Na maioria
dos casos, a síndrome só é descoberta na escola, por profissionais da
educação. Outra dificuldade é a falta de locais especializados que
ofereçam o tratamento e o apoio necessários gratuitos. No caso da aluna
em estudo, a família relata a dificuldade de conseguir tratamento
especializado, devido à falta de profissionais especializados na área em
que a aluna reside.
Observa-se a importância de se ter em toda escola um profissional
psicopedagogo para a elaboração de estratégias de ensino que possam
ser adaptadas na sala de aula das escolas regulares. Cunha (2011)
afirma que “enquanto o aluno com autismo não adquire a autonomia
necessária, é importante que ele permaneça sob o auxílio de um
42
profissional capacitado ou um psicopedagogo para que dê suporte ao
professor em sala de aula”. (p.55)
43
CONCLUSÃO
O tema Inclusão está sendo muito discutido na atualidade, porém
está ocorrendo de maneira incorreta, incluindo alunos autistas em sala de
aula regular, sem haver umpreparo adequado da escola e dos
professores que não são habilitados para atuarem na escola inclusiva. De
acordo com Alves (2009), “não há uma preocupação na preparação do
profissional que irá receber e lidar com o portador de necessidade
especial”. (p. 45). Os dados obtidos vêm confirmar outros estudos que
mostram o quanto estes profissionais da educação estão despreparados
e desorientados para trabalhar com essas crianças autistas.
O tema discutido neste estudo torna-se relevante na medida em
que entendemos a importância de conscientizar os profissionais da
educação que atendem autistas, sensibilizando-os e tornando-os eficazes
na sua prática pedagógica, visto que, lamentavelmente pela falta de
esclarecimento e de capacitação na área educativa sobre o assunto,
muitos autistas são desprovidos da convivência social, ficando isolados
na sala de aula e, consequentemente ficam privados do bom
desempenho na escola.
Devemos nos conscientizar da importância da inclusão escolar na
vida de indivíduos portadores da síndrome do autismo e como ela deve
ser realizada nas escolas de acordo com o que consta na Constituição
Brasileira. Dessa maneira, torna-se necessário que os professores
frequentem cursos de capacitação ou Pós- graduação, para atuarem na
escola inclusiva. Alves (2009) diz que “a preparação deveria acontecer
em todos os momentos e instâncias. A partir da qualificação do
profissional ainda na universidade. E o MEC, por sua vez, deveria
oferecer aos professores capacitação através de cursos específicos”.
Dos professores da escola analisada que trabalham com a aluna,
objeto de estudo, todos foram unânimes ao dizer que não se sentem
preparados para dar aulas a alunos inclusos. E, relatam não conseguir
trabalhar com a aluna de modo a ajudá-la participar e se integrar nas
44
aulas ministradas por eles, apenas a professora de Artes, que, devido ao
interesse da aluna por desenhos e pinturas,consegue participação da
mesma em algum momento escolar.
Ao longo da pesquisa, observou-se que a aluna observada não
demonstra, no momento, alguma iniciativa em se relacionar com seus
colegas de classe e o mesmo aconteceu com relação aos professores.
Mas, com estes, diferencial era que os professores iam ao seu encontro e
tentavam conversar com ela, então, a mesma demonstrava um pouco de
interesse e até interagia de acordo com as propostas oferecidas, mas não
era sempre.Cunha (2011) afirma que “a educação a comunicação propicia
a socialização, que, é fundamental para o aprendizado” (p.80). No
entanto, observa-se também que alguns professores, por falta de
entendimento sobre como tratar um aluno autista, não se envolvem com a
mesma durante a realização de suas aulas.
Em suma, é importantíssimoque os professores recebam cursosde
capacitação profissional que os ajudarão a lidar comalunos autistas em
todas as etapas da aprendizagem e assegurar a estes, o que é previsto
na lei. Eisso requer mudanças nos currículos escolares que promovem a
inclusão, professores especializados e capacitados para integrá-los
satisfatoriamente na vida em sociedade, porque caso contrário os
resultados podem não ser positivos”.(p.99). De acordo com Alves, “os
professores devem ser estimulados a um crescimento profissional
contínuo e nunca esquecer que pode ser um facilitador, embora seja
sempre um docente (2009, p. 46)”.
Conclui-se, então, que é preciso que os professores e demais
funcionários envolvidos na educação da aluna, objeto de estudo,
mantenham-se engajados na tarefa de manter o contato, uma
comunicação simples e objetiva com a aluna, pois a aprendizagem é uma
caminhada possível de construir relações afetivas. De acordo com Alves
(2009), “A Educação Inclusiva só será alcançada quando todos tiverem
preparados para receber estes seres e também quando aqueles que se
propuseram a trabalhá-los, saberem realmente como fazer” (p.100).
45
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;
Anexo 2 >> Roteiro para Entrevistas semi-estruturadas;
Anexo 3 >> Laudo Psicológico da aluna em estudo;
Anexo 4 >> Questionários preenchidos pelos professores.
48
ANEXO 2
Roteiro para entrevista semi-estruturada
ROTEIRO PARA ENTREVISTA IDENTIFICAÇÃO 1. Qual o seu nome? __________________________________________________________________ 2. Qual a sua formação profissional? __________________________________________________________________ 3. Há quanto tempo você atua como professor(a)? ________________________________________________________________ CONHECIMENTOS 1. Você tem algum conhecimento sobre educação inclusiva? __________________________________________________________________ 2. Você poderia falar um pouco sobre o que você conhece? __________________________________________________________________ 3. Como você adquiriu esse conhecimento? __________________________________________________________________ PRÁTICA 1. Você têm ou já teve algum aluno incluído? Qual a necessidade educativa especial dele? __________________________________________________________________ 2. Você se considera preparado(a) para desenvolver seu trabalho numa turma que tenha um aluno incluído? __________________________________________________________________ 3. O que você faria se na sua sala tivesse um aluno incluído? __________________________________________________________________ 4. De quem seria a responsabilidade de estar se preparando para receber esse aluno? Seria só do professor, da escola e/ou do Sistema de ensino? __________________________________________________________________ OPINIÃO O que você considera que seria o melhor atendimento para esse aluno portador de necessidades educacionais especiais? _________________________________________________________________
Assinatura do(a) Professor(a)
60
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
APA – Associação Americana de Psiquiatria(1995)- Manual Diagnóstico e
Estatístico de TranstornosMentais DSM –IV. Tradução: Dayse Batista. 4
ed. Porto Alegre: Artes Médicas.
ALVES, Fátima. Inclusão: muitosolhares, varios caminos e um grande
desafio. 4ª ed., Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
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Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-IV-TR, 4ª Edição. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
BLANCO, R.A atenção à diversidade na sala de aula e as adaptações do
currículo. In: COLL, C.; MARCHESI, Á.; PALÁCIOS, J. Desenvolvimento
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BOSA, Cleonice. Autismo: breve revisão de diferentes abordagens.
Psicologia: Reflexão e crítica.vol.13 n.1 Porto Alegre, 2000.
BOSA, C. A. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Revista Brasileira
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BRASIL. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, 23 dez., 1996.
BRASIL. Ministério da Justiça/ CORDE. Declaração de Salamanca e
linhas de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília:
CORDE, 1994.
CUNHA, Eugênio. Autismo e Inclusão: psicopedagogia e práticas
educativas na escola e na família. 3ª ed., Rio de Janeiro: Wak Ed., 2011.
61
FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática
Educativa, Rio de Janeiro, Editora Paz da Terra, (1996).
KUPFER, M. C. Tratamento e escolarização de crianças com distúrbios
globais de desenvolvimento. Salvador: Ágalma, 2004.
LEI Nº 9.394/96 – Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Constituição Federal – 1988 Art. 205
MEC/SEESP. Programa de capacitação de recursos humanos do ensino
fundamental – necessidades especiais em sala de aula. Série atualidades
pedagógicas 2, 1998.
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mentais e de Comportamento da CID-10. Porto Alegre: Artmed, 1993.
RIVIÈRE, Á. O autismo e os transtornos globais do desenvolvimento. In:
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SANTOS, Mônica Pereira dos. A Inclusão da Criança com Necessidades
Especiais, 1997.
STAINBACK, Susan e Wiliiam. Inclusão: Um Guia Prático para
Educadores. Porto Alegre (RS): Artmed Ed., 1999.
SZABO, Cleusa Barbosa. Autismo em questão. São Paulo: Mageart,
1995.
62
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
Descrições e aspectos indispensáveis sobre o autismo 12
CAPÍTULO II
O autismo requer preparo, estudo e dedicação 18
2.1 – Professores: conhecimentos e práticas na inclusão 22
CAPÍTULO III
A interação entre família e escola 26
CAPÍTULO IV
O Autismo e a Inclusão 29
4.1 – Estudo de Caso 33
4.2 –Mudanças necessárias para melhor incluir 38
CONCLUSÃO 43
ANEXOS 46
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 61
ÍNDICE 63