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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO INFANTIL: INICIAÇÃO PARA O LIMITE
POR: THERESINHA MARIA JOSÉ DA SILVA
ORIENTADORA
PROFESSORA MARY SUE
RIO DE JANEIRO
2005
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EDUCAÇÃO INFANTIL: INICIAÇÃO PARA O LIMITE
APRESENTAÇÃO DE MONOGRAFIA À
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES COMO
CONDIÇÃO PRÉVIA PARA A CONCLUSÃO DO
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” EM
EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO.
POR: THERESINHA MARIA JOSÉ DA SILVA
3
DEDICATÓRIA
A meu amado, herói, amigo pai,
Paulo da Silva, in memoriam
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por estar viva
e pelo muito que tenho
recebido.
A minha mãe, pelo
incentivo e apoio
demonstrados ao longo
do curso.
Meu irmão e meu
namorado pela paciência
e compreensão.
Minhas colegas do grupo
pelas trocas.
Enfim, a todos que de
alguma forma
contribuíram para que
este trabalho fosse
realizado.
Que Deus nos abençoe.
5
RESUMO
A finalidade deste trabalho é mostrar que o limite
pode e deve ser imposto, ainda, na educação infantil.
Os limites aqui observados demonstram que regras
estabelecidas à crianças de 01 a 05 anos podem ser seguidas
com questionamento, sem castigos dolorosos e punições
absurdas como em séculos passados quando era um direito do
educador (pais e professores).
Proponho que se descubra em situações críticas a
falta de limite dominando, sugerindo e descortinando outros
fatores.
Sugiro propostas para se lidar com a criança sem
limites, afinal a culpa não é dela e sim dos adultos que a
cercam.
Introduzo a afetividade como fator preponderante, mas
não único para este problema tão comum em nossa sociedade
em que alguns acham que “podem tudo”. Digo não único, pois
amor só não educa.
O resultado é a consciência de que as coisas podem ser
modificadas se desde muito cedo houver critérios de regras
com bom senso e amor.
6
METODOLOGIA
Nesta monografia é usado o método dedutivo em uma
abordagem descritiva.
É elaborada por leitura de revistas e pesquisa
bibliográfica a partir de autores como: Paula Inez Cunha
Gomide; Pedrinho A. Guarechi&Karina Preisig Paggi; Patrícia
Brum Machado; Maria Augusta Sanches Rossini; Içami Tiba;
Tânia Zagury e outros.
7
SUMÁRIO
Introdução...............................................06
Capítulo I – A Educação como prática social..............08
Capítulo II –Situações críticas..........................18
Capítulo III –Afetividade: solução para a educação.......30
Conclusão ...............................................38
Bibliografia.............................................40
Índice ..................................................45
Folha de avaliação ......................................47
8
INTRODUÇÃO
“A natureza melhor da criança deve ser
encorajada o mais cedo possível a
combater a força prepotente do instinto
animal.” J.H. Pestalozzi – Revista Nova
Escola - abril/2004
A Educação Infantil é a fase ideal para iniciação do
limite, pois é o momento em que a criança pede orientação,
pede cuidado, é hora de incutir critérios de valor. O
limite, entre estes valores, é mais facilmente assimilado
até os seis anos de idade, quando não estabelecido nesta
faixa etária, na adolescência a tarefa será mais complexa,
pois o adolescente já tem a base da vida adulta formada.
Por isso, o ideal é que os limites estejam incorporados às
atitudes das crianças na idade entre quatro e cinco anos.
Na Educação Infantil é ensinado que muitas coisas
podem ser feitas e outras não podem; os direitos são iguais
para todos; que existem outras pessoas no mundo; que é
preciso esperar sua vez; que se tem direitos e deveres,
etc., na verdade estes ensinamentos não passam de limites
que estão sendo incorporados naturalmente.
E como estabelecer estes limites? Castigando? Batendo?
Ou somente conversando? Até poucos anos criança podia
apanhar. Significava educar. Batia-se em qualquer lugar do
corpo em nome do “educar”. Na escola havia a palmatória, a
vara, o ajoelhar sobre o milho e pescoções de vigilantes
professores. Se houvesse queixa o pai dizia que merecera
apanhar. E será que os pais amavam menos os filhos do que
hoje?
9
Com as mudanças ocorridas durante o século XX, tanto
no campo das relações humanas como na educação, as pessoas
foram aprendendo a respeitar as crianças.
O poder absoluto dos pais sobre os filhos foi
substituído por uma relação mais democrática. E o
entendimento cresceu. Contudo as coisas não ocorreram tão
harmoniosas assim. Esta forma de educar é muito delicada e
alguns pais encontram dificuldades pois saber a hora do sim
e do não, às vezes, causa conflitos.
Na escola não é diferente, acabou a agressão física e
psicológica, já não é aceitável a corrigenda por meio de
“tortura”. Há profissionais capacitados para atender aluno
(criança/adolescente) com problemas de indisciplina assim
como o professor é orientado para um melhor caminho de
entendimento.
Enfim, este tema é bastante pertinente e interessante
para pais, responsáveis, professores, educadores, ou seja
todos os que lidam com crianças na faixa etária entre um e
cinco anos e acreditam que os problemas de comportamento
podem ser entendidos e controlados a partir de uma atitude
firme e enérgica, mas compreensiva, sempre resguardando e
encorajando o que há de melhor na criança.
10
I – A educação como prática social
”Somos nós que fazemos as escolhas, mas
elas estão relacionadas ao que
acreditamos ser verdadeiro, bom, belo.
Isso, por sua vez, é construído sócio-
historicamente.” Guareschi&Paggi –
2004:24
O que estaria levando as crianças a tornarem-se cada
vez mais exigentes, intransigentes e desobedientes, como
reclamam os pais. Ou ainda, que revolução está ocorrendo
nas salas de aula das escolas, que traz tanta dificuldade
para as professoras. O que fazer frente a isso? Somos nós,
homens e mulheres, os responsáveis pela organização das
nossas formas de viver, de se relacionar, responsáveis
pelas escolhas que fazemos e por nossas decisões. Assim,
também somos responsáveis pela forma como organizamos nossa
vida familiar, a educação dos filhos, embora as coisas nem
sempre tomem os rumos que gostaríamos.
No processo de educar os filhos enfrentamos toda ordem
de influências, desde a TV até a vizinha, passando pela
professora e pelo pediatra (as que têm esse acesso). Assim,
o que fazemos de nossas vidas não está determinado
unicamente por nossa vontade interior, nem mesmos somente
pelo que está fora, pelo que é exterior, mas encontra-se
num espaço intermediário.
Percebe-se que a idéia de criança, de educação e mesmo
de mundo encontra-se profundamente relacionada ao momento
11
sócio-histórico. A educação das crianças acontece no
contexto de uma cultura com características específicas,
que propõe determinados valores sendo, portanto, uma
prática social.
Compreender o problema dos limites implica,
necessariamente, compreender em que medida nós, pais, mães,
educadores, psicólogos, médicos etc., contribuímos na
produção de idéias e práticas que constroem a cultura de
nossa época. Isso porque, não somos meras vítimas das
transformações culturais, mas somos co-responsáveis por
elas, através de nosso modo de pensar e agir na família e
na comunidade. As representações sociais que construímos
sobre a criança, sobre a maternidade, sobre o processo
educativo são fundamentais na compreensão das práticas
educativas.
Quais as representações sociais elaboradas pelos pais
e mães sobre a educação dos filhos hoje? Qual a relação
entre esses representações e as transformações culturais do
momento sócio-histórico em que vivemos?
No contexto da Educação infantil é fundamental
identificar se as representações de criança, de
maternidade, de paternidade, de educação e de família
também obedecem a processos ideológicos ou não, isto é,
também são distorcidas de forma a manter ou reproduzir
relações de dominação e impedir a transformação social.
O problema dos limites é o problema das regras morais
e de convivência social. É o problema do reconhecimento do
outro e dos direitos deste outro, seja ele criança, seja
adulto.
12
1.1 – Dar limites é...
No dicionário limite é: termo; fim; fronteira; divisa;
extremo; raia. E o que pode ser: dar limites a crianças de
01 a 05 anos usando estes termos? Limite remete a idéia de
fronteira, de divisa que separa territórios, entendido
assim, o limite se referiria apenas a um horizonte
intransponível. Porém, a idéia de fronteira remete-nos
também à ação de transpor, de ir além. Aquilo que hoje me
limita pode ser ultrapassado amanhã. Portanto, limite não
deve ser pensado apenas como ponto extremo, como fim, como
limitação. Limite significa também aquilo que pode ou deve
ser transposto. Ora, na vida, e na moralidade, as duas
possibilidades existem: o dever saber transpor e o dever
não transpor. Dar limites é o equilíbrio entre essas
possibilidades, quando sim e quando não. Vejam o episódio,
a seguir, que pode fazer parte, perfeitamente, do
cotidiano.
Hora de dormir “- Por que não posso ficar vendo televisão? - Por que você tem que dormir.
- Por quê?
- Por que está na hora, ora essa.
- Hora essa?
- Além do mais, isso não é programa para menino.
- Por quê?
- Por que ´assunto de gente grande, que você não entende.
- Estou entendendo tudo.
- Mas não serve para você. É impróprio.
- Vai ter mulher pelada?
- Que bobagem é essa? Ande, vá dormir que você tem colégio
amanhã cedo.
- Todo dia tenho.
- Está bem, todo dia você tem. Agora desligue isto e vá dormir.
- Espera um pouquinho.
13
- Não espero não.
- Você vai ficar aí vendo e eu não vou.
- Fico vendo não, pode desligar. Tenho horror de televisão.
Vamos, obedeça ao seu pai.
- Os outros meninos todos dormem tarde, só eu que durmo cedo.
- Não tenho nada a ver com os outros meninos: tenho que ver com
meu filho. Já para cama.
- Também eu vou para cama e não durmo, pronto. Fico acordado a
noite toda.
- Não comece com coisa não, que eu perco a paciência.
- Pode perder.
- Deixa de ser malcriado.
- Você mesmo me criou.
- O quê? Isso é maneira de falar com seu pai?
- Falo como quiser e pronto.
- Não fique respondendo não. E cale essa boca.
- Não calo. A boca é minha.
- Olha que eu ponho de castigo.
- Pode pôr.
- Venha cá! Se der mais um pio, vai levar umas palmadas.
- Quem é que anda lhe ensinando esses modos? Você está ficando
é muito insolente.
- Ficando o quê?
- Atrevido, malcriado. Eu com sua idade já sabia obedecer.
Quando é que eu teria coragem de responder a meu pai como
você faz. Ele me descia o braço, não tinha conversa. Eu
porque sou muito mole, você fica abusando... Quando ele
falava está na hora de dormir, estava na hora de dormir.
- Naquele tempo não tinha televisão.
- Mas tinha outras coisas.
- Que outras coisas?
- Ora, deixe de conversa. Vamos desligar esse negócio. Pronto,
acabou-se. Agora é tratar de dormir.
- Chato.
- Como? Repete, para você ver o que acontece.
- Chato.
- Tome, para você aprender. E amanhã fica de castigo, está
ouvindo? Para aprender a ter respeito a seu pai.
14
- E não adianta ficar aí chorando feito bobo. Venha cá.
- Amanhã eu não vou ao colégio.
- Vai sim, senhor. E não adianta ficar fazendo essa carinha,
não pense que me comove. Anda, venha cá.
- Você me bateu...
- Bati porque mereceu. Já acabou, pare de chorar. Foi de leve,
não doeu nada. Peça perdão a seu pai e vá dormir.
- Por que você é assim, meu filho? Só para me aborrecer. Sou
tão bom para você, você não reconhece. Faço tudo que você me
pede, os maiores sacrifícios. Todo dia trago para você uma
coisa da rua. Trabalho o dia todo por sua causa mesmo, e
quando chego em casa pra descansar um pouco, você vem com
essas coisas. Então é assim que se faz?
- Então você não tem pena de seu pai? Vamos, tome a benção e vá
dormir.
- Papai.
- Que é?
- Desculpa.
- Está desculpado. Deus o abençoe. Agora vai.
- Pai, por que não posso ficar vendo televisão?”.
(Fernando Sabino)
1.2 – A importância das regras para crianças de 01
a 05 anos.
As regras devem ser criadas para permitir um
relacionamento adequado entre, primeiro, os membros da
família, respeitoso em relação aos valores e hábitos
daqueles que convivem em um determinado lugar.
Educar não é deixar a criança fazer só o que quer.
Isso dá mais trabalho do que simplesmente cuidar por que
equivale a incutir na criança critérios de valor. Observe o
exemplo do pai do texto acima. O tempo que ele levou para
15
“convencer” o filho de que era hora de desligar a TV para
dormir, quanta conversa, quantas insistências a partir do
“não” paterno, o quanto o filho o testou, ele queria saber
se era mesmo para valer a ordem dada.
É preciso estabelecer uma diferença ao incentivar o
comportamento certo. A simples aprovação é uma recompensa
para a criança, como o silêncio é uma permissão.
Outro ponto analisado diz respeito ao castigo
estabelecido, o pai disse “Se der mais um pio, vai levar
umas palmadas”. O filho não calou e o pai cumpriu o que
havia dito, “tome para você aprender...” A ameaça não
controla o comportamento indesejado. Ela apenas torna a
relação entre pai e filho aversiva, desagradável, irritante
e desgastante. Caso os pais não tenham meios de controlar o
cumprimento do castigo, ele não deve ser estabelecido.
A construção de regras se dá, também, através de jogos
infantis, especialmente nas brincadeiras de faz-de-conta.
Ao brincar as crianças de dois a cinco anos, buscam
reproduzir padrões e comportamento que prevalecem em seu
grupo social
Enfim, deve-se sim estabelecer regras para crianças de
01 a 05 anos. O ideal é que o limite esteja incorporado às
atitudes das crianças até 04 anos e meio. Elas devem ser
poucas, progressivas e possíveis de serem cumpridas.
Precisam ser aplicadas logo após o comportamento inadequado
ter ocorrido. As crianças que são educadas com regras
“frouxas” tornam-se adolescentes que não respeitam as
regras na escola e demais instituições, não respeitam
professores e demais autoridades. Finalmente quando se
16
sentem rejeitadas, estas crianças – ou adolescentes –
afastam-se, gradualmente, da escola, família sendo atraídos
por grupos marginais, onde encontram reforço para seus
comportamentos desviantes e valorização de sua
agressividade.
1.3 – O limite na creche/pré-escola.
“Vosso filho nada deve obter porque
pede, mas porque precisa, nem fazer
nada por obediência, mas por
necessidade.” Jean Jacques Rousseau –
revista Nova escola – agosto/2004
Uma das maiores dificuldades na educação de uma
criança consiste na tarefa de saber dosar amor e
permissividade com limite e autoridade. Esta dificuldade
pode ser sentida tanto no lar como na creche/pré-escola.
Pais e professores devem reconhecer que, desde muito
cedo, as crianças já seguem regras. Elas vão explorando
algumas e inventando outras e, assim, construindo a noção
do certo e errado. Portanto, a conduta infantil nem sempre
coincide com a conduta dos adultos ou corresponde aos
mesmos valores.
É fundamental que os educadores procurem conhecer,
compreender e ajudar as crianças a construírem seus
valores, relacionando-se com os das outras pessoas que
convivem e, principalmente, com os que já se encontram
17
estabelecidos socialmente. É sempre importante estabelecer
limites e regras de comportamento, com elas aceitando
sugestões e argumentando com seriedade sobre conseqüências
dos atos violentos, bem como definindo sanções caso elas
não sejam seguidas. Nesse caso, o professor deve
estabelecer regras para si próprio: ser firme, honesto e
imparcial, pois as crianças o respeitarão por levar em
conta as regras estabelecidas e ter seriedade para levá-las
a cumpri-las. É Papel do professor desperta-lhes a
confiança e a segurança, para que, em caso de briga,
procurem-no como mediador. Ele nunca deve ignorar uma
briga, ou demonstrar indiferença perante essas situações.
É importante analisar e entender como a noção do
proibido vai se constituindo ao longo do desenvolvimento
infantil para compreender melhor o comportamento da
criança.
Até o fim do 1º ano obedece ao princípio do prazer,
ela procura, apenas, fazer o que lhe causa satisfação e
tenta fugir do que lhe é desconfortável. A criança, neste
estágio, age por impulso instintivo. É o mais primitivo
sistema de funcionamento mental denominado pela Psicologia
de ID que é imperioso, intolerante, impulsivo, egoísta,
agressivo, destrutivo, ciumento, enfim, é tudo que existe
de selvagem em nossa natureza. Assim, a criança quer fazer
tudo o que lhe vem à mente: deseja o que vê, imita o que
fazem ao seu redor e tem permanentemente insaciável e ativa
a curiosidade. Curiosidade, esta, que constrange, aborrece
e preocupa as pessoas. No entanto, não deve ser reprimida,
pois gera como resultado, crianças sem brilho, apática,
desinteressada e rigidamente bem comportada. A necessidade
de tocar, apalpar, mexer, demonstrar, destruir, desfazer e
18
tentar reconstruir objetos, todas essas atividades são
importantíssimas para a criança e fazem parte de sua forma
de entrar em contato com o mundo externo.
A partir dos dezoito meses, a criança se opõe para
afirmar-se e existir por si mesma e termina, na melhor das
hipóteses, aos três, quatro anos. Basta substituir o “não”,
por “eu” que teremos a chave do problema. Para uma criança,
dizer “não” significa apenas: “Eu acho que não! E você?”
Ela quer uma resposta. Favorável ou não, essa resposta
terá, pelo menos, o mérito de indicar limites. É necessário
diferenciar um “não” verdadeiro do não de uma oposição
sistemática.
A partir dos três ou quatro anos, a criança passa
pouco a pouco do “não” sistemático – modo de comunicação
arcaico mas necessário ao seu desenvolvimento – para o
“não” refletido, que afirma seus gostos e escolhas. Assim,
a criança aprende a dominar suas atividades instintivas,
pois percebe cedo que seu comportamento impulsivo, em vez
de satisfação, freqüentemente acarreta um castigo ou uma
censura da parte do mundo externo. Como acima de tudo a
criança necessita imensamente do apoio e da aprovação dos
adultos, começa a compreender que necessita controlar
melhor seus desejos e impulsos, passando a conformar-se
gradualmente com as imposições do meio ambiente e
controlando ou repelindo os desejos que não podem ou não
devem ser satisfeitos, criando um filtrador.
E desse modo que a partir de três ou quatro anos que a
criança cada vez melhor as ordens, assim como a noção do
bem e do mal. Nesta fase a criança procurará obedecer para
satisfazer quem gosta, mais tarde, por volta de seis anos,
19
ela compreenderá realmente o sentido de certas
“proibições”, a ponto de aplicá-las sem as recomendações.
Todas estas explicações se fazem necessárias conhecer,
também, se a criança freqüenta a creche/pré-escola.
“A escola percebe facilidades,
dificuldades e outras facetas na
criança que em casa não eram
observadas, muito menos avaliadas.”
Içami Tiba – 182:2002
A creche/pré-escola sozinha, não é responsável pela
formação da personalidade, mas tem papel complementar ao da
família. Oferece condições de educação diferentes das
existentes na família. A criança passa a pertencer a uma
coletividade, que é sua turma, sua escola. É um crescimento
em relação ao “eu” de casa, pois ali ela praticamente é o
centro. A creche/pré-escola não é mais um depósito há
atividades específicas conforme a idade, o que não acontece
em casa. Aprende-se a esperar sua vez; que há outras
pessoas no mundo; que há direitos e deveres; muitas coisas
podem ser feitas e outras não; os direitos são iguais para
todos, etc.
Os pais e professores precisam entender que é preciso
muito tempo, muita paciência e muita sabedoria para
resolver todos os problemas de comportamento infantil. As
soluções não são imediatas. Alguns fatores, como muitas
crianças numa mesma turma, o modo do professor relacionar-
se com elas e a educação que a criança recebe em casa podem
dificultar este processo.
20
O importante é que a criança tenha em seus pais e
educadores bons modelos, os quais possa imitar, para formar
a sua auto-imagem positiva.
“A família precisa estar informada
sobre a linha de conduta que a escola
tem com para seus filhos e, o que é
fundamental, concordar com esta linha:
é preciso falar a mesma língua”.
Rossini - 2001:44
1.4 - Conseqüências do não estabelecimento de
limites.
A criança que não aprende a ter limites para o seu
querer, para os seus desejos e vontades, que tudo quer e
tudo pode, tende a desenvolver um quadro de dificuldades
que se vai instalando passo a passo.
O descontrole emocional, a histeria e os ataques de
raiva são comuns na criança até cinco ou seis anos, no
máximo, depois disso considera-se que o limite não foi dado
na hora certa. Vivemos num mundo regulamentado e quem não
segue as leis pode sofrer sansões. Quem não percebe esta
realidade simples pode acabar muito mal na vida.
Dificuldade crescente de aceitar limites é outro
problema para a criança que sem orientação é atendida
sempre que bate, grita, quebra coisas, esperneia ou xinga,
ela adota esta mecânica como forma de comunicação e
controle do mundo e das pessoas. Na escola, não aceita
restrições às suas ações, quando suas vontades são vedadas
21
e ela apronta um escândalo, chora, grita, agride, chuta até
ser atendida.
Distúrbio de conduta, desrespeito aos pais, colegas e
autoridades, incapacidade de concentração, dificuldade para
concluir tarefas, excitabilidade, baixo rendimento. Estas
conseqüências na criança são freqüentemente confundidas com
as que têm síndrome de hiperatividade, de fato, iniciam um
processo que pode assemelhar-se a esse distúrbio
neurológico. No caso em questão pode-se tratar de
hiperatividade situacional, quer dizer de tanto poder fazer
tudo, de tanto ampliar seu espaço e sem aprender a
reconhecer o outro como ser humano essa criança tende a
desenvolver características de irritabilidade,
instabilidade emocional, redução da capacidade de
concentração e atenção, derivadas, da falta de limites, da
incapacidade crescente de tolerar frustrações e
contrariedade. A criança que não aprende a ter limite
cresce com alguma deformação na percepção do outro. Só ela
importa, o seu querer, o seu bem-estar, o seu prazer.
Se além de não ter limites, acrescentarmos uma
personalidade agressiva, com baixa auto-estima, insegurança
pessoal ou com potencial genético para desenvolver certos
quadros de doença psiquiátrica, então a situação pode,
realmente, ficar dramática.
O importante é equiparmos as crianças com instrumental
de relacionamento social que lhes permita interagir
positivamente com o mundo. A grande responsabilidade dos
envolvidos na educação é a de que sejamos como jardineiros
podando sempre para que as árvores não cresçam tortas.
22
II – Situações críticas
Algumas pequenas situações vão se transformando em
dificuldades se houver acomodação por parte da família que
absorvem as situações pelo convívio cotidiano.
Tudo se acumula e um dia transborda. Ocorre com os
primeiros “nãos” que o filho não ouve, depois não atende o
que lhe é pedido, o choro fora de hora... Essas
dificuldades podem ser resolvidas mais facilmente se
contornadas no início, enquanto pequenas, nas primeiras
vezes que ocorridas.
É bom lembrar que esses comportamentos tendem a
desaparecer, porém não num passe de mágica, como muitos
pais e educadores sonham. Tudo em educação leva anos para
ser interiorizado. Portanto, tenham paciência e dedicação,
aos pouquinhos, seus cuidados terão resultados
compensadores. Mas demora! Demora muito! Tenham
perseverança, porque os objetivos são excelentes e não
podem ser abandonados.
2.1 – Desobediência e teimosia
Mais do que normas incoerentes, frouxas e tirânicas, o
que a criança precisa é de limites, visto que, na maioria
das vezes, o que seu comportamento atesta é que está
sequiosa deles. É como se dissesse: até onde posso ir? Do
ponto de vista educativo, não é suficiente suprimir o
comportamento indesejável, mas, difundir a adesão ao
23
comportamento desejável, o que passa por compreensão e
participação.
Pode-se, por exemplo, administrar a desobediência e a
teimosia evitando induzir à obediência pelo medo o
resultado é uma criança medrosa e não uma criança
obediente; dar exemplo vivo do adulto, agir da mesma
maneira que pedimos ou exigimos que a criança faça;
privação daquilo que foi mal utilizado; reparação dos erros
– deixe que ela se entristece no tempo dela, de
introspecção, para o exame até chegar a reparar tipo –“não
faço mais.”
2.2 – A birra e o choro
Assim como os adultos, as crianças também podem ser
mal humoradas em determinadas circunstâncias. O mau humor
das crianças pode se expressar através das chamadas crises
de birra, são reações explosivas à frustração, ocorre a
partir do segundo ano de vida e onde a criança apresenta um
comportamento tempestuoso caracterizado por gritos,
agitação dos braços, mordidas, golpes e socos, pontapés,
atirar-se ao chão, jogar objetos, bater a cabeça na parede
e outras atitudes do gênero.
Tais crises servem de recursos por exigência ou
negativa feita para intimidar pais e/ou professores. A
atitude-resposta do adulto é que vai determinar a
intensidade dessas crises. Todas as vezes que não estão
satisfeitas com o modo com que o adulto as está tratando ou
quando querem obter algo deles, desencadeia a crise.
24
A melhor maneira de manejar essas crises é estar
convencido de que não causarão nenhum dano físico à
criança. Os adultos devem estar convencidos de que toda
permissão indiscriminada servirá de estímulo não só para a
manutenção da crise, como para sua eventual repetição.
No momento da crise, é aconselhável que permaneça
apenas uma pessoa e que não seja a de maior ascendência
afetiva, para que não se deixe perturbar e contagiar.
Conversar com a criança, mesmo que ela não aparente
escutar, evidenciando o fato de que, agindo dessa forma,
nada conseguirá. E caso seja necessário, para descartar o
risco de que a criança venha a se machucar, contê-la
fisicamente, cuidando que essa contenção não se torne
agressão.
É preciso entender que birra e/ou manha não são sinais
de sofrimento, são sinais apelativos de quem quer limites.
É fundamental conscientizá-la de que há meios mais
sadios de mobilizar a atenção dos pais e professores.
2.3 – A criança agressiva
A agressividade é um processo comportamental no qual
alguém sai prejudicado, a partir de um ato praticado por
outro indivíduo. Não é um processo unitário, pois há várias
formas de ser agressivo. Emoções que afloram na
agressividade podem ser consideradas normais, positivas,
saudáveis se levam a criança à independência pessoal. Caso
esta agressividade não seja bem elaborada, a criança começa
25
a apresentar atitudes negativas, que chocam e até mesmo
magoam. Tais atitudes podem ser resultantes de problemas
emocionais não resolvidos e de orientações inadequadas.
Várias teorias foram elaboradas em torno deste
assunto: uma é que a agressividade é uma espécie de
instinto herdado encontrado no homem e em outros animais,
tendo de ser, de alguma forma descarregado; ainda pode ser
visto como uma luta tornada necessária para propiciar ao
indivíduo um ambiente apto a sua sobrevivência; psicólogos
enfatizaram em demasia os fatores sociais e aprendidos,
deixando uma mínima parte para as variáveis genéticas e
fisiológicas.
Apesar da agressividade da criança ser inata, foram
descobertos correlatos familiares propiciadores do
comportamento agressivo nos filhos, em conclusões apenas
parciais tais como: uso de castigo físico pode gerar filhos
violentos, a criança pode aprender que é aceitável o uso da
força física; a permissividade dos pais na expressão da
agressividade pode estimular sua manutenção nos filhos;
desentendimentos freqüentes entre pais deixam seqüelas nos
filhos, podendo eles se tornar agressivos; a baixa estima
da esposa pelo marido e a insatisfação geral da mãe com seu
papel na vida se refletem nos filhos. Além destes há a TV
com seus programas, filmes violentos que os pais ignoram
quando os filhos assistem e que tendem, assim, a ficarem
mais agressivos.
Na escola o professor deve estar emocional e
cognitivamente preparado para enfrentar tal situação. Os
alunos transferem para o professor toda carga de
agressividade oriunda de conflitos familiares. O professor
26
deve estabelecer limites aos alunos sem ser, no entanto,
agressivo. A aplicação de uma conseqüência – que nunca deve
ser físico - como reprimenda, constitui-se um recurso e,
para a criança, deve ter uma conotação construtiva. É
preciso evitar que a criança se sinta rejeitada. Pais e
professores precisam entender que é compreendendo a
criança, quando ela apresenta condutas negativas, fazendo-a
sentir-se amada e aceita, que será possível levá-la a
superar seus conflitos e alcançar um desenvolvimento
saudável de sua personalidade. Ela deve entender que tem
deveres e normas a seguir, mas que também tem grandes
potenciais guardados de forma latente dentro de si, que
podem ser aproveitados de mais positivamente. Há casos
especiais, onde a persistência da agressividade requer
psicoterapia.
“Se a briga provocou ferimentos, o
agressor ajuda a fazer curativos no
ferido.” Tiba – 2002:164
A criança que rasga e quebra busca eliminar algo ou
alguém que a perturba e que a faz sentir-se insegura,
revoltada e violenta, desajustada e carente. Esta é uma
criança que precisa de orientação firme repleta de afeto,
aceitação e paciência.
O filho reclama que o amiguinho da escola bateu nele.
A mãe já corre até lá para falar com a professora. Quer que
a outra criança sofra. Mas quem garante que não foi seu
filho que começou? Esse gesto deseduca. A verdadeira
educação consiste em saber o que houve para conferir se o
filho está certo ou errado em vez de acreditar piamente nas
27
suas palavras e se sujeitar a ser usada como arma dos
desejos do filho, nem sempre lícitos.
À criança com atitudes agressivas deve ser imposto o
limite conquistando-a pelo respeito e nunca pela força,
imposição. A serenidade, o equilíbrio e a firmeza são as
maiores armas para trabalhar com ela. Em último caso, se
quisermos demonstrar nosso descontentamento por suas ações,
atitudes, basta isolá-la, ignorá-la. Esta é a melhor
conseqüência para seus atos.
As respostas, atitudes agressivas da criança não devem
ser interpretadas como expressão de maldade, e sim como uma
conseqüência da herança instintiva que recebeu dos adultos
com quem convive, somada às influências do meio ambiente.
2.4 – A mentira
“Na Educação Infantil, pode-se
interpretar muitas das invenções
mirabolantes dos pequenos como traços
naturais do desenvolvimento humano.
Cabe ao professor incentivar a fantasia
nas brincadeiras e fazer valer a
realidade nas tarefas diárias.” Revista
Nova Escola – outubro/2004.
Dificilmente uma criança mentirá por desejo de
vingança ou com intenção declarada de enganar. A mentira
faz parte do conteúdo das fantasias próprias a sua
atividade lúdica. A verdadeira mentira aparece depois dos
seis ou sete anos.
28
O hábito de mentir na infância se forma em
conseqüência da atitude dramática e repressiva com que os
adultos reagem a algumas de suas inocentes e corriqueiras
mentiras.
A criança que enfrenta dificuldade, é infeliz acaba
desenvolvendo uma grande imaginação para fugir de sua
triste realidade, esta criança, provavelmente, mentirá na
escola e em casa, inventará histórias a respeito dos
colegas e dos professores, bem como poderá fantasiar e
mentir-lhes a respeito de sua vida familiar e de si mesma.
Para modificarmos o hábito que a criança tem de
mentir, é preciso procurar as causas dessa mentiras ao
invés de a castigarmos. Criar um clima de confiança, de
segurança e oportunizar o uso de sua imaginação, o seu
poder de criar, em atividades de inventar brincadeiras,
contar histórias, escrever, desenhar, pintar, modelar...
Sua imaginação não deve ser travada. O que não podemos
permitir é que as crianças entrem num mundo de sonhos
perigosos e se tornem incapazes de enfrentar a realidade.
Os pais e professores não devem aceitar uma mentira
como verdade só para poupar a criança, pois intimamente ele
sabe que mentiu. Esse tipo de proteção pode ter o intuito
de privá-lo de sofrimentos, mas se o que se busca e a
felicidade, devem educá-lo para enfrentar adversidades.
Mesmo que ele não as supere, de qualquer forma nunca seria
uma pessoa feliz se continuasse mentindo.
Se houver um bom relacionamento entre adulto e
criança, se ensinarmos à criança a serem responsáveis,
confiarmos nela e tivermos compreensão com suas falhas,
certamente não haverá motivo para que ela minta.
29
O significado moral do mentir não é inato, e, às
vezes, o modo como se ensina este significado acaba
acarretando a manutenção destas condutas, ao invés de
dirimi-las. Vendo em uma atitude ocasional da criança um
comportamento criminoso, o adulto pode estar criando uma
situação difícil para a criança o ideal é conversar sobre o
assunto; evitar sermões; explicar a impropriedade da
conduta; permitir à criança a reparação.
2.5 – A criança hiperativa
O Transtorno do Défict de Atenção e hiperatividade
(TDAH) se caracteriza por manifestações que podem confundir
com as características da criança com falta de limites.
Tanto o portador de TDAH quanto a criança sem limites
não sabem esperar, esperar é um exercício; são impulsivos,
pois não se controlam, não se envolvem silenciosamente nos
projetos; são, também, agressivos, ao invés de agir
adequadamente, é mais fácil liberar a agressão, um dos
primeiros mecanismos de defesa do ser humano; ambos são
instáveis, ora estão bem, ora estão mal; não ouvem a
pergunta inteira e já respondem, não esperam a vez de ser
chamado; se envolvem na tarefa dos outros e interrompem a
fala; desatentos, permanecem muito tempo ligado no que
interessa e desligados do que não interessa; há dificuldade
em seguir instruções (regras) ou concluir tarefas... Quanto
maior o número de sintomas e o tempo de permanência deles,
tanto mais se configura a presença do TDAH.
Concentrar-se dá trabalho, exige esforço mental. Como
a criança não suporta isso, começa a se agitar, a prestar
atenção em outra coisa e são taxados de hiperativos e sob
30
este diagnóstico (às vezes equivocado) seu comportamento
impróprio é considerado aceitável pois ele é “doentinho”,
claro, é mais fácil agir assim, sem limites, sem a
necessária adequação.
Há, porém, algumas diferenças notáveis entre um
portador de TDAH e a criança sem limites, uma delas é que o
portador de TDAH continua agitado diante de situações
novas, isto é, não consegue controlar seus sintomas. Já a
criança sem limites primeiro avalia bem o terreno e
manipula situações buscando obter vantagens sobre os
outros.
Diagnosticado, por especialista, o transtorno, o
portador de TDAH não precisa ser tratado como especial, a
criança toma medicamento (ritalina) é acompanhada por
psicólogo e é integrada ao grupo com algumas estratégias
fáceis como sentá-la na primeira fileira e manter estreito
contato com a família.
Então, um comportamento agitado pode não ser de uma
criança hiperativa e sim uma criança a quem não foi
imposto limite.
31
III – Afetividade: solução para Educação.
Para o educador suíço J.H. Pestalozzi os sentimentos
tinham o poder de despertar o processo de aprendizagem
autônoma da criança, só o amor tinha força salvadora, capaz
de levar o homem à plena realização moral – isto é,
encontrar conscientemente, dentro de si, a essência divina
que lhe dá liberdade.
Em vista disso, as crianças devem ter oportunidade de
desenvolver sua afetividade. É preciso dar-lhes condições
para que seu emocional floresça, se expanda, ganhe espaço.
A falta de afetividade leva à rejeição aos livros, à
carência de motivação para a aprendizagem, à ausência de
vontade de crescer. Portanto, aprender deve estar ligado ao
ato afetivo, deve ser gostoso prazeroso. Se a criança está
feliz, ela aprende, ela faz.
A afetividade é a base da vida. Quando o ser humano
não está bem afetivamente, sua ação, como ser social,
estará comprometida, sem expressão, sem força, sem
vitalidade. Isto vale para qualquer área da atividade
humana, independente de idade, sexo, cultura.
A criança é um ser social e, por isso, sujeita a
interferências do meio em que vive. Quando ela chega à
escola, à sala de aula, ela traz todas as impressões que
vivenciou, assimiladas ou não, bem elaboradas ou não.
“Ter afeto pelos alunos não pode ser
álibi para deixar de cobrar que eles
32
desempenhem seu papel de aprender, para
baratear o conteúdo do ensino e omitir-
se de estabelecer limites.” Revista
Nova Escola - outubro 2004:18
É preciso saber balancear o carinho com o limite, com
a bronca, com a reprimenda, com a censura, pois amor só,
não educa. Demonstrar afeto incondicional, beijar e abraçar
seu filho, independente da idade é muito saudável. Os pais
devem escolher o seu modo próprio de agir, aquele que mais
se adapta ao seu estilo: perguntar como foi o dia da
criança; elogiar os trabalhos da creche/pré-escola. Mas por
mais que os pais declarem seu amor aos filhos, seu cuidado,
que se importa com eles; é preciso, ainda, que demonstrem,
simultaneamente, esses afetos, demonstrar o interesse
significa acompanhar a criança em atividades significativas
para elas. Do contrário, as palavras serão uma mentira.
Para as crianças, o que os pais fazem é o que conta, e não
o que eles dizem.
O acompanhamento e interesse positivo informam à
criança que ela é amada. Este é o passo inicial para a
construção de uma pessoa feliz e segura. Em segundo lugar,
a atenção dos pais voltada para aspectos positivos do
comportamento da criança inibe o desenvolvimento dos
aspectos negativos, pois a criança sabe o que fazer para
atender às expectativas dos pais; não precisa fazer “coisas
erradas” para receber “atenção suficiente”, para se sentir
feliz. Em terceiro lugar, a relação estabelecida entre pai
e filhos é de confiança. Os filhos podem errar sem provocar
um desapontamento nos pais. Descobrem que quando acertam
são elogiados. Em quarto lugar, aprendem a elogiar e
33
reconhecer o esforço dos outros, pois seus esforços foram
reconhecidos. Em quinto lugar, com este estilo parental,
podemos permitir o amadurecimento apropriado das emoções.
Enfim, acompanhar de forma positiva o crescimento e
desenvolvimento de uma criança é lhe mostrar real
interesse, tanto por suas atividades, como por seus
sentimento, assim fica mais fácil o aprendizado, a
educação, pois ela se sente segura.
3.1 – A negligência
A negligência é caracterizada pela desatenção, pela
ausência, pelo descaso, pela omissão ou, simplesmente, pela
falta de amor. A negligência dos pais, responsáveis,
cuidadores, professores, é extremamente prejudicial à
criança. A negligência é considerada um dos principais
fatores, senão o principal, a desencadear comportamentos
anti-sociais nas crianças, e está muito associada à
história de vida de usuários de álcool e outras drogas e de
adolescentes com comportamento infrator, pois o descaso, a
omissão é sinônimo de falta de imposição de limites.
Na maioria das vezes a negligência ocorre de maneira
sutil, os envolvidos não percebem que estão negligenciando
seus filhos. São pais ocupados; executivos que viajam,
deixando para babás, empregadas, motoristas, cozinheiras os
cuidados com a criança; mães depressivas com problemas
conjugais que não prestam atenção às necessidades dos
filhos, não punem nem apóiam; mães de baixa renda que
precisam trabalhar o dia todo só voltam à noite cansadas,
irritadas... Os filhos crescem sem que os pais saibam o que
34
sentem, saibam ou gostem, que deixam a educação para
creche/pré-escola, para os professores (alguns não
comprometidos com a Educação). Um exemplo de negligência em
creche/pré-escola se dá quando há muitas crianças na turma
e professores/cuidadores se limitam ao banho, alimentação,
sem um sorriso, um afago, sem olhar nos olhos, sem
conversar com a criança, ausência total de estimulação e de
afeto. Parecendo algo inanimado.
Os efeitos causados pela negligência são tão severos
quanto aqueles gerados pelo espancamento. Crianças
negligenciadas não têm desenvolvida a auto-estima, é
insegura, seu olhar não tem brilho. Por não ter recebido
afeto ela é frágil, se comporta de forma agressiva ou
apática mas nunca equilibrada.
A criança negligenciada cresce acreditando que é má,
por isso ninguém gosta dela. Seu comportamento agressivo é
desenvolvido a partir desta crença. “Sou má, então faço
mal”.
Então, Cuidar da criança, alimentá-lo, brincar com
ela, acarinhá-la são atos naturais na espécie humana. Somos
feitos para isso e elas precisam disto para progredir
emocionalmente, com regras e limites.
3.2 – Por que não bater?
Bater é um comportamento agressivo dos pais para com
os filhos ou é um procedimento educativo, disciplinar? Na
maioria das vezes os pais batem com raiva e, naquele
momento, o que menos importa é o caráter educativo do meio
disciplinar utilizado. Se, ao bater, os pais demonstram
35
raiva, dizendo palavrões, agride verbalmente o filho,
humilhando-o, dizer que ele é burro, peste, capeta etc.,
gera introjeção, assimilação, incorporação destes valores.
Isto diminui sua auto-estima e a criança irá aprender que
ela é errada e não o seu comportamento. Esta prática atinge
o ser da criança e não o comportamento que se quer
modificar. Jamais se bate no rosto de uma criança. Bater no
rosto é humilhante, não é educativo. Nunca dizer ao filho
que “não o ama mais” ou que “ele preferia que ele não
tivesse nascido”. São freses capazes de gerar sérios
problemas para a criança, problemas que vão desde a
depressão ou apatia até o uso de drogas e delinqüência.
Crianças espancadas serão adultos problemáticos. As
pesquisas mostram que 95% dos adolescentes infratores foram
espancados na infância. Tornam-se apáticas, medrosas,
desinteressadas, não discrimina o certo do errado em seu
comportamento, porque a surra atinge o seu ser e não o seu
mau comportamento. Aprendem que a força bruta é mais
importante que a razão e o diálogo.
Os pais pensam que ensinaram à criança, por meio de
surra, pois, naquele momento, apenas naquele momento, o
comportamento cessa. No entanto, os estudiosos da punição
já demonstraram, a partir de pesquisas, que o comportamento
reprimido reaparece assim que a criança estiver fora do
alcance dos pais ou daquele que puniu, pois ela aprende que
não é para fazer tal coisa perto dos pais, longe ela
continuará fazendo. E quando não tiver mais medo dos pais,
irá enfrentá-los ou fugir de casa.
Não se observa na natureza mães espancando seus
filhotes para ensinar-lhes o que quer que seja. Esse
36
poderia ser o grande segredo da educação. O equilíbrio
entre aplicar as regras e ser afetivo.
E as palmadas? Uma palmada na mão ou no bumbum não
gera conseqüência negativa se for apenas uma e não for
acompanhada de raiva, nem de palavrões. Deve ser
acompanhada da palavra “não” mais a informação clara do que
está sendo proibido. Ex.: - “não ponha a mão na tomada.”
O cuidado na seleção dos procedimentos punitivos na
educação das crianças faz a grande diferença entre crianças
saudáveis, seguras, criativas e crianças amedrontadas,
inseguras, indisciplinadas.
3.2.1 – Como disciplinar sem bater?
“Para censurar educando, é necessário
usar os princípios superiores do bom
senso, da lógica e do discernimento,
substanciados na luz do amor, da calma,
da paciência, da profunda compreensão
das necessidades morais e espirituais
de nossas crianças.” Barcelos – 2000:57
Sempre que a criança tiver atitude correta, ressaltar
este fato. Os pais, envolvidos nos afazeres, esquecem de
elogiar, só lembrando de ralhar, quando os filhos fazem
algo negativo. As crianças ficam com a sensação de que não
vale a pena fazer tudo certinho: afinal, se agem de maneira
adequada, não recebem nem um olhar aprovador, porém, quando
erram vêm logo as pancadas, castigos. Então para que se
esforçar? Por isso um elogio, um prêmio é um incentivo ao
bom comportamento, ao trabalho bem realizado.
37
Premiar não é obrigatoriamente “dar coisas materiais”
para a criança tem mais valor um carinho, um elogio
sincero, o reconhecimento do esforço do que presentes,
doces etc. Claro todos gostam de presentes, porém se ao
longo dos anos eles se acostumarem a ser comprados,
subornados ou chantageados, eles aprenderão a agir dessa
forma calculista; se ao contrário, lhes dermos nosso
carinho e aprovação, eles terão seu ego fortalecido, sua
auto-estima elevada e, a cada dia, sentirão mais prazer em
agir de forma adequada.
Outra forma de disciplinar sem bater é fazer com que a
criança assuma as conseqüências de seus atos e conversando
quando eles erram, explicando, apontando e fazendo com que
reflitam sobre atitudes incorretas.
Se toda conversa, explicação e diálogo não funcionarem
e as atitudes continuarem, então será preciso que a criança
compreenda que ela é responsável pelos seus atos e também,
evidentemente, pelas suas conseqüências. Como fazer? Assim
como premiamos as atitudes que queremos ver repetidas,
devemos dar a nossos filhos sinais de que determinadas
atitudes não terão aprovação dos pais e, mais importante
ainda, devemos deixar claro que serão eles os responsáveis
pelas conseqüências dessas atitudes. A conseqüência não
precisa e - não deve - ser extremada nem terrível, ela
deve ser adequada. Ex.: A mãe já disse à criança para não
espalhar os grãos de feijão pelo chão, já lhe deu opções de
brinquedos e ela continua a espalhar. Encerre a questão
estipulando a conseqüência: “Mamãe já explicou e você não
agiu direito, então vamos já, juntar o feijão na bacia e
depois você vai direto para o quarto ficar lá brincando até
que a mamãe possa acabar de preparar a comida. Ficará no
38
quarto até aprender a se comportar na cozinha e a não mexer
no que não pode”. Nada de falar sem parar, nem de ficar
explicando mil vezes a mesma coisa. Apenas aja. Com
firmeza, justiça e equilíbrio. Mas sem remorsos ou
gritaria. Ás vezes, apenas a privação da companhia da mãe é
suficiente, como no exemplo citado.
“O pai que descarrega um palavrão ou um
tapa na orelha da criança deixa de usar
o melhor de si mesmo, os infindáveis
recursos do cérebro humano, para lidar
com quem mais ama, o próprio filho.”
Tiba – 2002:170
3.3 – dar limites sem autoritarismo
Ao ouvir falar em limites, muita gente interpreta logo
como licença para exercer uma postura autoritária, de
controle total ou até violência... Realmente é difícil
saber quando acaba a autoridade e quando começa o
autoritarismo.
Autoritário é aquele que exerce o poder utilizando
como referencial apenas o seu ponto de vista – que é sempre
visto como o único correto – a força física ou o poder que
lhe confere sua posição ou o cargo que ocupa, nunca levando
em conta o que o outro deseja ou pensa. Age em prol de seu
próprio bem e não do outro.
Assim, um pai autoritário é aquele que não deixa seu
filho entrar na sala porque, naquele dia, está de mau
humor, mas num outro, de bem com a vida, não só permite
como até exige a presença do menino.
39
O pai que tem autoridade ouve e respeita o filho, mas
pode, por vezes, ter de agir de forma mais dura do que
gostaria, às vezes, até impondo atitudes, mas sempre com o
objetivo do bem-estar da criança, de proteger de algum
perigo ou orientá-lo em direção à cidadania.
Porém, cuidado para não perder a autoridade ao
disciplinar já que é mais fácil perder a autoridade do que
conquistá-la para isso: cumpra sempre o que prometer –
prêmio ou conseqüências -; seja coerente, o que não pode,
não pode nunca (com exceções); não mude de atitude como
quem muda de roupa, de acordo com seu humor; deixe que eles
participem das decisões sobre prêmios e conseqüências, isso
ajuda a amadurecer e compromete a criança que aderem mais
ao que ajudam a construir; trate apenas do assunto que se
está analisando naquele momento, sem desenterrar atitudes
do passado a não ser que tenham relação com o caso; não
fique “com pena” se a criança ficar triste, chorar ou se
negar a falar com você, por ter sido chamada sua atenção, é
melhor que ela fique triste hoje, mas aprenda a respeitar o
outro, a si própria e a palavra empenhada, do que sofrer
amanhã por não ter compreendido como funciona o mundo e a
sociedade. São algumas dicas, porém há outras que deverão
ser usadas a partir do aparecimento dos problemas, sempre
com bom-senso e lucidez.
Então, Agindo com segurança, firmeza de propósitos,
mas com muito afeto e carinho, poderemos atingir os
objetivos educacionais sem autoritarismo. Em outras
palavras, dar limites, absolutamente, não se choca, nem é
oposto, como muitos pensam, a dar carinho, amor, atenção e
segurança.
40
CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho é mostrar a importância
do limite na educação Infantil para formar adolescentes e
adultos criteriosos e responsáveis.
Se a criança não for ensinada como deve se comportar
ainda nesta fase, será muito mais difícil que ela aprenda
como agir de forma correta mais tarde.
A criança que não aprende a ter limites desenvolve
dificuldades tais como: descontrole emocional, não aceita
restrições às suas ações; apresenta distúrbios de conduta;
desrespeito aos pais, colegas, autoridades; agride
fisicamente se contrariada; cresce com uma deformação na
percepção do outro; desinteresse pelos estudos; falta de
concentração; falta de persistência...
As crianças, ao contrário do que se pensa, são muito
preocupadas com regras. Agir dentro de limites,
cuidadosamente estabelecidos, oferece-lhes uma estrutura
segura para lidar situações novas e/ou desconhecidas.
Todas as formas de relacionamento com as crianças
mostradas aqui podem ajudar a pais, responsáveis,
educadores, profissionais da área de educação e todos que
se preocupam com crianças e jovens e a conseguirem
melhores resultados diante do desafio de educar. Não há
pretensão de apontar soluções ou apresentar receitas e
fórmulas milagrosas para os problemas resultantes do
convívio diário com as crianças, porém há alertas sobre a
necessidade de regras na faixa etária de 01 a 05 anos.
41
Foi escrito um sub-capítulo sobre a criança
hiperativa (TDAH), pois é freqüente a confusão feita entre
crianças sem limites e as que têm este transtorno
verdadeiramente, porque, de fato, iniciam um processo que
podem assemelhar-se, quando, na verdade, muito
provavelmente trata-se da hiperatividade situacional. É
importante fazer um diagnóstico diferencial.
No último capítulo é descrita a importância da
afetividade no trabalho com limites, o resgate do carinho,
amor e compreensão para lidar com nossas crianças. Se elas
receberem demonstrações de amor, recorrerão ao seu reduto
quando se sentirem ameaçadas do contrário procurarão
outros e sabe Deus como serão acolhidas.
“Só quem ama verdadeiramente vai
dedicar-se a educá-lo dentro dos
limites necessários para que ele se
torne um adulto equilibrado, feliz,
com chances de se realizar como ser
humano.” Rossini – 2001:114.
Enfim, é um trabalho gratificante que ratifica o
quanto é importante e nada prematuro a imposição de
limites na educação infantil, tendo a clareza nas
convicções e sendo fiéis a elas, pois para os pequenos
somos modelos vivos a sermos seguidos. É a partir destas
referências que as crianças vão estruturando a sua própria
personalidade.
42
BIBLIOGRAFIA
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Horizonte – MG: Editora União Espírita Mineira, 2000.
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educar, sobre a Pedagogia Espírita. 2ª Ed. Rio de Janeiro –
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afeto à Pedagogia – Revista Nova Escola, abril 2004. Ano
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liberdade como valor supremo – Revista Nova Escola, agosto
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ZAGURY, Tânia. Limites sem Traumas Construindo cidadãos.
23ª. Ed. RJ: Record, 2001.
44
Atividades Culturais
45
46
ÍNDICE
Folha de rosto .................................02
Dedicatória ....................................03
Agradecimento ..................................04
Resumo .........................................05
Metodologia ....................................06
Sumário ........................................07
Introdução .....................................08
Capítulo I – A educação como prática social.....10
1.1 - Dar limites é........................12
1.2 - Importância das regras para crianças
entre 01 e 05 anos..............................14
1.3 – O limite na creche/pré-escola........16
1.4 - Conseqüências do não estabelecimento de
limites ........................................20
Capítulo II – Situações críticas................22
2.1 – Desobediência e teimosia ............22
2.2 – A birra e o choro ...................23
2.3 – A criança agressiva .................24
2.4 – A mentira............................27
2.5 – A criança hiperativa.................29
Capítulo III – Afetividade: solução para a
educação .......................................31
3.1 – A negligência........................33
47
3.2 – Por que não bater....................34
3.2.1 – Como disciplinar sem bater...36
3.3 – Dar limites sem autoritarismo .......38
Conclusão ......................................40
Bibliografia ...................................42
Atividades Culturais............................44
Índice .........................................46
Folha de Avaliação .............................48
48
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
EDUCAÇÃO INFANTIL: INICIAÇÃO PARA O LIMITE
THERESINHA MARIA JOSÉ DA SILVA
DATA: 18 DE JANEIRO DE 2005
AVALIADO POR: ________________________ CONCEITO _________
AVALIADO POR: ________________________ CONCEITO _________
AVALIADO POR: ________________________ CONCEITO _________
CONCEITO FINAL: _________________________________________