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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Barão de Mauá: Um estudo sobre o empreendedorismo no Brasil oitocentista Por: Vanessa da Cunha Seigarro Orientador: Prof. Carlos Cereja Rio de Janeiro 2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · O interesse em discutir o empreendedorismo a partir da trajetória do Barão de Mauá ... um estudo de caso.....30 CONCLUSÃO

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Barão de Mauá:

Um estudo sobre o empreendedorismo no Brasil oitocentista

Por: Vanessa da Cunha Seigarro

Orientador:

Prof. Carlos Cereja

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Barão de Mauá:

Um estudo sobre o empreendedorismo no Brasil oitocentista

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão de Recursos

Humanos.

Por: Vanessa da Cunha Seigarro

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu marido Daniel pelo

incentivo e apoio as minhas idéias.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha iniciativa de

retomar alguns planos, aos colegas do

curso e professores por suas valiosas

contribuições em minha formação.

5

RESUMO

Esta pesquisa parte do conceito de Empreendedorismo, nas concepções

de Schumpeter (apud Dornelas, 1998) e Filion (apud Dolabela, 1999), e propõe

um estudo de caso acerca da história empresarial de Irineu Evangelista de

Sousa. Sua trajetória é marcante porque, em meados do século XIX, ele abriu

mão de uma posição confortável de comerciante para se tornar o primeiro

industrial e banqueiro brasileiro, numa época em que não havia prognósticos

claros para o sucesso dessas atividades no país. As inovações gerenciais,

técnicas e tecnológicas que trouxe para o Brasil, a partir de seu contato com a

burguesia inglesa, lhe valeram os títulos de Barão e de Visconde de Mauá, a

despeito de suas divergências políticas com o Imperador D. Pedro II e outras

figuras de destaque do Império. Entre suas realizações marcantes estão o

primeiro estaleiro, a primeira ferrovia e o primeiro banco privado do Brasil; a

inauguração da iluminação a gás do Centro do Rio de Janeiro; a estrada de

ferro Santos-Jundiaí; e a ligação entre o Brasil e a Europa por cabos

telegráficos submarinos, entre outros investimentos.

6

METODOLOGIA

“Nada pode ser intelectualmente um problema

se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da

vida prática.” (Minayo, 2011)

O interesse em discutir o empreendedorismo a partir da trajetória do

Barão de Mauá surgiu com a aproximação do tema em uma das disciplinas do

curso de Gestão de Recursos Humanos, na qual se abordaram as estratégias

de gestão e se apresentaram os conceitos de inovação e empreendedorismo.

Logo, a história de Mauá pareceu cenário interessante para desenvolver o

tema. O legado deste que foi considerado o maior empresário do Brasil

Imperial e o primeiro grande administrador da história de nosso país

certamente seria terreno fértil para esta investigação.

Desta forma, este problema tornou-se uma indagação, que partiu da

hipótese de que o Barão de Mauá apresentou no seu tempo características que

hoje reconhecemos como as de um empreendedor. Um homem visionário que

influenciou e realizou profundas mudanças no Brasil, mudanças das quais até

hoje nos beneficiamos.

Ressalta-se que este trabalho não tem o intuito de esgotar o tema,

haja vista sua diversidade e complexidade teórica, que ultrapassam as

perspectivas desta monografia. No entanto, busca-se trazer contribuições

importantes para os estudos e pesquisas nesta área.

Assim, para atender ao projeto que originou este trabalho, foram

escolhidos, como abordagem metodológica, o estudo de caso e a pesquisa

bibliográfica, que possibilitou o levantamento de informações que permitiram

conhecer o objeto da pesquisa e delimitar os aspectos que foram relevantes

para a análise nesta monografia.

No primeiro momento desta pesquisa foi delimitado o objeto de

estudo, no intuito de seguir com a pesquisa bibliográfica que buscou fontes

7

teóricas que pudessem confirmar ou negar a hipótese sobre a qual este

trabalho se sustenta. Foram estabelecidas as categorias de análise para a

interpretação das informações, fugindo de intuições e opiniões do senso

comum.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................9

CAPÍTULO I – A trajetória de Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de

Mauá.......................................................................................................12

CAPÍTULO II - Algumas notas sobre Empreendedorismo......................24

CAPÍTULO III – Mauá e o Empreendedorismo: um estudo de caso.......30

CONCLUSÃO..........................................................................................36

BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 39

WEBGRAFIA............................................................................................40

ÍNDICE.....................................................................................................41

9

INTRODUÇÃO

“Não era o maior banqueiro nem o maior industrial do mundo.

(...) não havia no mundo alguém que fosse, ao mesmo tempo,

dono de bancos, ferrovias, fábricas e indústrias pesadas, e

que tivesse tido a idéia de juntar todos os seus negócios em

torno de uma empresa financeira de alcance mundial.”

(CALDEIRA, 1995, P.32)

O presente trabalho monográfico ora apresentado a esta reconhecida

instituição de ensino representa um dos requisitos necessários para a obtenção

do título de especialista em Gestão de Recursos Humanos e tem como tema o

Empreendedorismo.

Nossa intenção é analisar o desenvolvimento profissional de um

brasileiro ilustre, Irineu Evangelista de Sousa – Barão (e posteriormente

Visconde) de Mauá, à luz do conceito de empreendedorismo. Portanto, o

projeto pode ser apresentado como uma confrontação entre um exemplo

prático com uma formulação teórica – donde se tem sua configuração como

estudo de caso.

O problema que se colocou desde o início de nossa pesquisa foi:

sendo o empreendedorismo um conceito relativamente recente na área de

Administração – as primeiras formulações teóricas datam de meados do século

XX, seria possível analisar um personagem histórico anterior a essa descrição

teórica à luz de uma lógica ainda não existente em sua época?

Foi este questionamento que nos levou a formular a hipótese que

norteia toda a nossa reflexão nas páginas que seguem, hipótese esta que pode

ser assim resumida: Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, foi um

empreendedor, na medida em que em sua trajetória empresarial podem ser

encontrados exemplos de todas – ou quase todas – as características

atribuídas pelos teóricos a esse conceito.

Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é analisar o conceito

de empreendedorismo à luz da trajetória do Barão de Mauá, assim como

discutir o conceito de empreendedorismo aliado a estratégias de gestão,

identificar ações empreendedoras – dentro das limitações político-econômicas

10

e da própria prática administrativa vigente no século XIX – e verificar os limites

e possibilidades deste tema. Como objetivos secundários, podem-se identificar

a revisão bibliográfica acerca da história empresarial de nosso personagem e a

síntese da literatura disponível sobre o conceito de empreendedorismo, o qual

inevitavelmente nos leva a outro conceito, o de inovação.

Este estudo é relevante, primeiramente, por se tratar do estudo de

caso de um personagem histórico – o Barão (e depois Visconde) de Mauá –

que abriu uma vertente significativa para o modelo econômico brasileiro de sua

época, com sua contribuição para a industrialização do país, e realizou

significativas obras tanto no Rio de Janeiro quanto em Niterói. Ademais, ele

apresenta em sua trajetória características de um empreendedor que adotou

práticas inovadoras para o seu tempo e deve servir de modelo para todos

aqueles que buscam apresentar um diferencial em sua atividade profissional,

qualquer que seja ela.

Pode-se afirmar que o empreendedorismo vem ganhando espaço em

pesquisas e estudos acadêmicos e de cunho empresarial; acredita-se que

fatores como as mudanças na economia, no mercado de trabalho e a

globalização tenham influenciado neste processo. No entanto, aqui vamos falar

de um homem que saiu do lugar comum, acreditou nas ideias, nos sonhos,

vislumbrou possibilidades, investiu em conhecimento e trabalhou no sentido de

transformar uma realidade.

Estas características são encontradas em pessoas diferentes, com

comportamentos distantes do senso comum, que ultrapassaram limites,

superaram dificuldades por possuírem motivação singular. Não é difícil

lembrarmos pessoas com essas características na história, assim neste

trabalho trazemos para o debate um importante personagem da história do

Brasil, que para muitos foi o primeiro grande empresário do Império, cujo título

foi atribuído às suas obras inovadoras que contribuíram para o processo de

desenvolvimento do país.

O primeiro capítulo procede a uma biografia resumida de Irineu

Evangelista de Sousa, reconhecido pelos títulos de Barão e Visconde de Mauá.

Neste, buscou-se realizar um resgate histórico da trajetória empresarial deste

personagem da História de nosso país, desde que começou a trabalhar, com

11

apenas nove anos de idade (em 1823), até sua falência e recuperação

financeira, quase seis décadas depois. Nesse percurso, apontaremos suas

principais iniciativas e realizações, além de algumas características de sua

personalidade.

No segundo capítulo apresentam-se uma revisão teórica do

empreendedorismo e algumas características de um empreendedor,

características de personalidade e ações consideradas empreendedoras. As

características e ações apresentadas foram utilizadas como categorias de

análise, assim como as teorias que estão nele apresentadas, para chegarmos

ao terceiro capítulo, que marca o ponto culminante desta pesquisa.

O terceiro capítulo é o entrelaçamento entre as categorias e fontes

teóricas sobre o empreendedorismo e a trajetória de Mauá, em busca de

respostas às indagações que originaram esta monografia, especialmente ao

nosso questionamento central: Mauá pode ser visto como um empreendedor

de sua época?

12

CAPÍTULO I

A TRAJETÓRIA DE IRINEU EVANGELISTA DE SOUSA,

O BARÃO DE MAUÁ

Neste capítulo será apresentada a trajetória empresarial do Barão de

Mauá, personagem importante da História do Brasil, que abriu uma vertente

significativa para o modelo econômico brasileiro de sua época, com

contribuições importantes para a industrialização e para o desenvolvimento do

país. Para tanto, serão utilizados registros bibliográficos dos autores Jorge

Caldeira, da biografia “Mauá: o Empresário do Império” (1995) e Jacques

Marcovitch, com o capítulo sobre Mauá de seu livro “Pioneiros e

empreendedores”, dentre outros que forem pertinentes.

1.1 – O início de tudo

Irineu Evangelista de Sousa1 nasceu na cidade de Arroio Grande,

no Rio Grande do Sul, em 28 de dezembro de 1813. Órfão de pai, aos

nove anos de idade foi levado ao Rio de Janeiro por um tio materno que

era capitão de navio. Esse tio, chamado José Batista de Carvalho,

trabalhava para um próspero comerciante português, José Rodrigues

Pereira de Almeida, que foi o primeiro patrão de Irineu. É importante

ressaltar que, na época (1823), começar a trabalhar tão jovem era visto

como algo natural, conforme registra Caldeira (1995, p.60):

1 “Natural da vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, na época distrito de Jaguarão, na então Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, atual Rio Grande do Sul, era filho de João Evangelista de Ávila e Sousa e de Mariana de Jesus Batista de Carvalho, sendo neto paterno do fundador da freguesia, Manuel Jerônimo de Sousa. Aos cinco anos de idade, em 1818, Irineu ficou órfão de pai (1818), assassinado por ladrões de gado. Em 1821, sua mãe, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, vem a se casar com João Jesus. Todavia, como o novo esposo não desejava conviver com os filhos do primeiro casamento da viúva, a filha mais velha, Guilhermina, foi obrigada a casar com apenas doze anos de idade. E Irineu, aos oito anos, foi entregue para a guarda de um tio José Batista de Carvalho, comandante de embarcação da marinha mercante, que transportava em seu navio couros e charque do porto do Rio Grande para o Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil.” (Fonte: Wikipédia, 26/01/2012)

13

A chegada de um menino de nove anos não despertava

curiosidade nos funcionários antigos. (...) Numa época em

que os meninos de mais de sete anos eram classificados

como ‘rapazes’ nos censos, nove anos era geralmente

considerada uma boa idade para começar no

trabalho de caixeiro.

Registros históricos apontam que desde muito jovem ele já vocação

para os negócios. Demonstrando facilidade e empenho para aprender, logo

evoluiu para caixeiro de balcão e, em seguida, caixeiro de fora, “cujas funções

assemelhavam-se às dos atuais office-boys” (ibid., p.65).

A empresa de Pereira de Almeida era uma das maiores da cidade,

com negócios variados e bom trânsito político junto ao imperador, de modo que

havia possibilidade de crescimento. De acordo com Caldeira (id., p.70),

poucos empresários na cidade tinham capacidade para

fazer negócios em várias frentes ao mesmo tempo. E

Pereira de Almeida era, ao mesmo tempo, comerciante,

banqueiro, industrial, armador – além de cortesão e

manipulador político. Para um caixeiro ambicioso,

trabalhar numa empresa como essa representava uma

rara oportunidade para aprender um pouco de cada uma

dessas especialidades.

Jorge Caldeira (id., p.94) conta que Irineu Evangelista contava 13 ou

14 anos de idade quando foi promovido a caixeiro de escritório, o que

significava ter de aprender contabilidade mais a fundo. Nas palavras do autor,

um funcionário menos curioso se contentaria com a tarefa

[de preencher os livros-caixa], sem pensar muito nos

porquês de cada registro. Mas Irineu estava interessado e

era esperto, e logo começou a perceber o sentido de

14

muitos movimentos cujo significado não era evidente para

qualquer um. (ibid., p.94)

Diante de uma trajetória tão meteórica, não surpreende tanto que o

rapaz tenha chegado ao cobiçado cargo de guarda-livros da loja: “ele teria a

chave do cofre e poder sobre gente mais velha e muito dinheiro. (...) Com

menos de cinco anos de experiência Irineu chegava ao comando da complexa

rede de negócios que lutara para conhecer” (ibid., p.96).

Quando D. João VI chegou ao Brasil, em 1808, Pereira de Almeida já

era um dos maiores traficantes de escravos da colônia. A presença do rei em

terras brasileiras fez com que sua atuação política e enriquecimento se

acentuassem, e foi nesse contexto que Irineu Evangelista começou a trabalhar

para ele. Porém, ao longo da década de 1820, o Brasil estava literalmente

pagando o preço pelo reconhecimento de sua independência, sobretudo diante

da Inglaterra, com acordos comerciais profundamente favoráveis aos

britânicos, em detrimento dos portugueses; além disso, uma das moedas de

troca exigidas pelos ingleses era a redução gradual do comércio de escravos.

Com isso, toda a estrutura empresarial de Pereira de Almeida entrou

em decadência e ele se tornou devedor no mercado. Ainda segundo Caldeira

(id., p.106), o “jovem guarda-livros de quinze anos foi precioso nesse momento

[de negociar as dívidas e redimensionar o patrimônio do patrão], dando lições

maturidade ao praticar a difícil arte de cortar na própria carne para se salvar”.

O maior credor de Pereira de Almeida era o comerciante escocês

Richard Carruthers. Irineu “negociou com Carruthers de tal forma que acabou

fazendo parte dos ativos entregues em pagamento de suas dívidas” (ibid.,

p.108) – ou seja, não apenas garantiu a seu ex-patrão (agora Barão de Ubá)

uma modesta mas confortável aposentadoria numa fazenda de café, como

também se empregou com um representante da classe que comandaria a

economia brasileira nas décadas seguintes: a burguesia britânica.

A convivência com Carruthers foi vantajosa para ambos: Irineu

recebeu mais oportunidade de prosseguir em seu aprendizado, como ajudou o

escocês a multiplicar sua fortuna. Na Carruthers & CO., aprendeu inglês e teve

acesso à bibliografia que impulsionava o avanço do capitalismo pós-industrial

15

inglês, sobretudo as obras de Adam Smith e David Ricardo (ibid., pp.118-120).

Irineu aprendeu a operar e lucrar com as operações de câmbio realizadas

pelos ingleses nas trocas por mil-réis e ouro no Brasil, e assim dar um passo à

frente dos concorrentes brasileiros. Nas palavras de Caldeira (id., p.123), “ele

foi um dos poucos brasileiros a ver por dentro o capitalismo que nascia, na

hora de seu triunfo”, negociando o capital invisível das aplicações financeiras,

ou mais adiante, “era talvez o único brasileiro que tinha se adestrado na arte de

dominar capitais em multiplicação, mercadorias em giro rápido e créditos

intensificando o ímpeto de todo o processo” (id., p.133).

De acordo com as fontes históricas, Irineu não se limitou a aprender

e compreender com muita rapidez essa nova lógica de mercado; em pouco

tempo, passou também a resolver problemas e tomar decisões de maneira

inovadora, o que resultou em altos lucros para a Carruthers & CO e fez com

que o escocês percebesse que os anos de formação de seu funcionário haviam

terminado e que estava diante de um profissional maduro (id., p.134).

Promoveu sua iniciação na loja maçônica inglesa, que fez com que o jovem

tivesse acesso a setores do poder vedados aos não iniciados (id., p.144) e, no

final de 1835, quando resolveu se aposentar e voltar para o Reino Unido, deu a

Irineu “uma participação no capital da empresa e uma procuração que lhe dava

todos os poderes para tocar os negócios como se a firma fosse apenas dele”

(id., p.145). Irineu assumiu esse posto em 1º de janeiro de 1936, três dias após

completar 22 anos de idade.

Quatro anos depois, no meio da tempestade política de antecipação

da maioridade e coroação de D. Pedro II, Irineu viajou à Inglaterra pela primeira

vez, para visitar seu mestre e conhecer de perto as grandes inovações que se

processavam em Liverpool e Manchester, berços da Revolução Industrial.

Nessa viagem, pôde observar o rápido desenvolvimento das indústrias naquele

país e as teorias liberais em que eram baseadas. Ele

começou a visitar fábricas de tecidos, estaleiros,

fundições, estradas de ferro e bancos. Perguntava sobre

tudo, queria saber os detalhes, não demorava muito para

descobrir o que fava dinheiro e como funcionava cada

16

empreendimento. (...) Não demorou para que discutisse

com propriedade sobre ferrovias com engenheiros

ferroviários, novidades em teares com fabricantes de

equipamentos, novos tipos de algodão com fabricantes

de tecido. (id., p.160)

No texto de Marcovitch (2005) encontra-se um trecho bastante

interessante de um discurso de Mauá, em que ele fala da experiência em terras

britânicas para explicar seu maior interesse pela siderurgia, por considerá-la a

mãe de todas as indústrias:

Visitando pela primeira vez a Inglaterra em 1840 (...), tive

de afastar-me da estrada mais curta (...) para visitar um

grande estabelecimento de fundição de ferro e

maquinismos, em Bristol (...). Causou-me forte impressão

o que vi e observei, e logo aí gerou-se em meu espírito a

ideia de fundar em meu país um estabelecimento

idêntico; a construção naval fazia também parte do

estabelecimento a que me refiro. (SOUSA apud

MARCOVITCH (2005), p.31)

Como se vê, o rapaz se interessava por todo tipo de atividade e por

qualquer informação a respeito de todo o processo produtivo em cada uma

delas. Todo aquele cenário fez com que o jovem voltasse ao Brasil

determinado a buscar oportunidades de negócio fora da ordem

agroexportadora, concluindo que o Brasil precisava de capital para investir na

industrialização. Segundo Marcovitch (2005, p.29), na trajetória de Mauá

estavam claros os seus valores: trabalho e progresso.

Segundo Caldeira (1995, p. 166), nesse momento estava clara na

mente de Irineu a “’esfera de ação’ que lhe parecia indicada pelo destino:

articular negócios e demonstrar, na prática, a eficácia de suas ideias”. Mais

tarde, em 1844, manifestou com clareza essa missão pessoal em artigo

publicado no Jornal do Commercio: “Não sou homem de partido. (...) Fiz um

17

voto de dedicar minha vida aos melhoramentos materiais do país.” (SOUSA

apud CALDEIRA, 1995, p.174).

1.2 – Mudança de rumo: apogeu de Mauá

Em 1846, Irineu surpreendeu todo o mercado. Após dez anos de

bem-sucedida administração, que o haviam tornado um dos homens mais ricos

do país, anunciou a liquidação de seu comércio. Com habilidade, obteve bom

preço pela venda e condições melhores ainda para comprar um

estabelecimento de fundição e estaleiros na Ponta de Areia, em Niterói (RJ).

Sua intenção era transformá-lo em um estabelecimento aos moldes ingleses;

contrário ao uso de mão de obra escrava, foi obrigado a aceitá-la como parte

da cultura brasileira, mas foi aos poucos trazendo trabalhadores livres da

Europa.

A tarefa parecia – e era – ousada, e não faltaram prognósticos

pessimistas. No entanto, é preciso observar que, se algum brasileiro era capaz

de um salto tão avançado na direção do desenvolvimento, era ele, conforma

lista Caldeira (id., p.181):

Em primeiro lugar, tinha dinheiro, um fator significativo

numa terra de capitais escassos; experiência como

administrador; e uma visão ampla do cenário econômico.

Os sócios na Inglaterra [Richard Carruthers e o amigo

Reynell de Castro] lhe abriam possibilidades inacessíveis

aos empreendedores comuns. Por fim, apesar das

eventuais dificuldades políticas, seu acesso à elite

dirigente do país também contava pontos a seu favor.

O ponto de partida para essa atividade industrial foi um contrato,

conseguido junto ao gabinete do governo, para canalizar as águas do rio

Maracanã e a cessão de navios a vapor fabricados em seu estaleiro para um

conflito militar contra a Argentina pelo controle da navegação no Rio da Prata.

18

Mas, ainda assim, em seus primeiros anos foram muitas as dificuldades para

retorno do investimento.

Em 1850, aproveitando-se da extinção gradual mas definitiva do

tráfico de escravos – realizada de maneira que os traficantes tivessem sido

avisados previamente, sem sofrer grandes prejuízos –, convocou estes

mesmos ex-traficantes, que estavam capitalizados, para fundar o Banco do

Commercio e da Indústria do Brasil, cujo objetivo principal seria financiar novos

empreendimentos. Obtendo rapidamente investidores, Irineu foi aclamado

primeiro presidente do banco, cujo nome foi reduzido para Banco do Brasil; no

discurso de inauguração da entidade, deixou claro seu ponto de vista quanto

ao desenvolvimento econômico brasileiro: “O que infelizmente nos falta,

senhores, é perseverança, a força de vontade, tão necessária para se alcançar

tão grandes fins” (SOUSA apud CALDEIRA, 1995, p.224), e exaltou o “espírito

de associação” que marcava o avanço industrial inglês e o veloz

desenvolvimento dos Estados Unidos da América. O próprio Irineu explicou,

anos depois, o que pretendia: “Reunir os capitais que se viam repentinamente

deslocados do ilícito comércio [de africanos] e fazê-los convergir a um centro

donde pudessem ir alimentar as forças produtivas do país foi o pensamento

que me surgiu na mente” (id., p.243, grifos nossos).

Foi assim que ele se tornou o principal financiador dos grandes

produtores de café brasileiros, pois conseguia condições de crédito melhores

para os fazendeiros, e se capitalizar para os seus próprios objetivos: a

construção da primeira ferrovia do Brasil e o fornecimento de iluminação a gás

nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Ainda em 1852, fundou duas empresas:

a) a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de

Petrópolis e b) a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas,

atendendo a uma solicitação do governo Imperial para proteger a região norte

de uma eventual ocupação norte-americana. Os três serviços – a iluminação do

Centro do Rio por lampiões a gás, a estrada de ferro ligando a Baía de

Guanabara ao pé da serra de Petrópolis e rotas de navegação no rio

Amazonas – já estavam em funcionamento no primeiro semestre de 1854. Por

sinal, foi na viagem inaugural da ferrovia, em 30 de abril de 1854, que Irineu

Evangelista foi agraciado com seu primeiro título de nobreza, Barão de Mauá.

19

É impossível, entretanto, pensar a trajetória de Mauá dissociada das

questões políticas, menos ainda, pensar a política do Império sem Mauá. É

necessário acrescentar que ele possuía aliados e desafetos poderosos e

grande habilidade política. Caldeira (1995) enumera algumas – não poucas –

iniciativas governamentais, que pareciam ser criadas exclusivamente para

prejudicá-lo, sobretudo no período de 1851 a 1853. Um exemplo claro foi a

estatização do Banco do Brasil; tão logo a direção das ações da empresa saiu

de suas mãos, houve uma mudança brusca nas linhas de crédito oferecidas.

A tudo isso o empresário reagia sem “bater de frente” com o

imperador D. Pedro II e seus ministros. Procurava soluções criativas dentro da

legislação vigente. Dessa forma, em 1854, Mauá inaugurou o Banco

Internacional Mauá, Mac Gregor & CIA, com a proposta de financiar operações

na Europa e também fornecer crédito para operações locais, criando assim a

primeira agência de câmbio a funcionar em âmbito nacional.

No mesmo ano, Mauá comprou uma fábrica de velas e sabão, a

Companhia Fluminense de Transportes, entrou com um aporte técnico em uma

concessão para explorar ouro no Maranhão, montou uma fábrica de diques

flutuantes, sugerida por um de seus funcionários de Ponta de Areia.

Com visão de negócios, estabeleceu para seus engenheiros a tarefa

de estudarem os caminhos da nova estrada de ferro, ligando o interior paulista

ao porto de Santos, possibilitando assim o escoamento da produção. Em 1856,

recebeu a concessão da construção da estrada de ferro, inaugurada onze anos

depois como Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.

Em 1857, algumas de suas aquisições não se mostravam lucrativas,

entre elas a Companhia Fluminense de Transporte, a Mineradora do

Maranhão, e a Companhia de Diques Flutuantes. Além disso, um grande

incêndio devastou a fábrica de Ponta de Areia, destruindo moldes da

construção de navios.

Na mesma época, fugindo das restrições cada vez maiores da

legislação brasileira, inaugurou uma filial de seu banco em Montevidéu,

expandindo seus negócios além das fronteiras brasileiras. Em 1858, durante

uma crise comercial iniciada nos Estados Unidos e com reflexos na cotação da

libra esterlina em relação à moeda brasileira, realizou uma enorme e arriscada

20

manobra de especulação financeira, com a qual obteve lucros altíssimos. O

episódio serviu para consolidar seu talento como estrategista financeiro,

enxergando uma oportunidade de enriquecer onde o senso comum via apenas

crise.

O mais interessante desse episódio é que, ao mesmo tempo em que

serviu para recrudescer o cerco do governo brasileiro às atividades de Mauá,

foi decisivo para que o empresário se tornasse mais conhecido e respeitado no

mercado londrino:

Até a operação de 1858, o grande volume de negócios,

as associações com Carruthers, Reynell de Castro e Mac

Gregor, as empresas brasileiras e o banco uruguaio –

tudo isso não significava grande coisa no mercado inglês.

(...) Agora, investidores de primeira aplicavam com Mauá.

(CALDEIRA, 1995, p. 361-362)

Esse reconhecimento no principal centro do capitalismo mundial

trouxe duas consequências imediatas para Mauá, a primeira boa, a segunda

nem tanto: o sucesso do lançamento das ações da ferrovia Santos-Jundiaí

(San Paulo Railway) no mercado londrino; e a criação do London and Brazilian

Bank, pelas mãos de ingleses que até então investiam com o barão. Esta

última novidade significava que, após décadas pregando sozinho a livre

concorrência no cenário brasileiro, finalmente ele teria um competidor à sua

altura.

1.3 – Os problemas começam

Enquanto isso, a década de 1860 se anunciava como turbulenta.

Primeiro, estourou a Guerra Civil americana (1861-1865), que alterou os

padrões do comércio internacional da época – os EUA eram os maiores

fornecedores de farinha de trigo e de algodão para a Inglaterra. Depois, a

Guerra do Paraguai, que reuniu Brasil, Argentina e Uruguai contra o governo

de Solano López.

21

Esta última, por sinal, Mauá fez o possível para evitar. Ao perceber o

início das tensões na região do Rio da Prata, chegou a mudar-se com a esposa

e os filhos mais velhos para uma propriedade rural sua no Uruguai e cercou-a

com arame farpado – o que não era hábito na região. Em seguida, tendo se

convencido das intenções bélicas do presidente argentino Bartolomé Mitre,

agiu como diplomata a fim de impedir o conflito. D. Pedro II não gostou de sua

atitude, a guerra não foi evitada – nem tampouco os prejuízos, comuns em

todas as guerras. Uma curiosidade sobre a atuação do Barão na crise platina é

a analogia proposta por Caldeira (id., p.401): “A filosofia do projeto (...) lembra

bastante a que vem regendo a organização do Mercosul...”. Em outras

palavras, o biógrafo compara a estratégia de Mauá para a região a uma forma

de organização econômica que só começou a ser posta em prática 130 anos

depois.

Todo esse contexto desfavorável fez com que Mauá tivesse uma

série de perdas na primeira metade da década – na ferrovia Santos-Jundiaí,

em seus bancos e, principalmente, na fábrica da Ponta de Areia, o primeiro

empreendimento criado por ele mesmo. Em 1865, vendeu a lucrativa

Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro para empresários ingleses,

e com isso obteve dois objetivos: reconquistou a confiança do mercado

londrino e reforçou seu caixa, então abalado pelos reveses dos anos anteriores

e com prognósticos negativos devido à guerra do Paraguai. Ou seja, reverteu a

tendência negativa do momento com apenas uma operação.

Caldeira observa que, nessa época, apesar de todas as dificuldades,

Mauá não deixava de pensar em alternativas inovadoras. O projeto que tinha

em mente “seria um grande banco de investimentos multinacional – se os

termos já tivessem sido inventados” (ibid., p.417), e distribuía a seus gerentes

instruções que soariam estranhas até aos mais bem informados investidores.

Todas as operações de seu banco – lucrativas ou não – deveriam ser

convertidas para o valor em ouro na cotação do dia, numa estratégia que

Caldeira (id., p.420) descreve da seguinte maneira:

muito antes de a palavra ser inventada, Mauá introduziu

um indexador, que servia para atualizar todos os valores

22

monetários. Em outras palavras, equipou suas empresas

com um instrumento para conviver com uma possível

onda de inflação – outra palavra que não tinha sido

inventada.

Isso quer dizer que, justamente no momento em que seus negócios

atravessavam a mais grave crise desde que ele começara a trabalhar (e já

contava mais de 40 anos de atividade), Mauá foi capaz de vislumbrar recursos

e mecanismos que estavam muito além do alcance de qualquer

contemporâneo seu.

Em 1867, reuniu todo o seu império em uma única empresa, a Mauá

& CIA, uma empresa comercial como nas origens de sua formação, tendo

como base a desativação de seu império para saldar dívidas e problemas

sofridos. Até então, somente ele próprio conhecia o somatório de sua fortuna.

Quando juntou seu numerário, mesmo com a derrocada, possuía no conjunto

da obra a quantia de 115 mil contos de réis, equivalente a 12 milhões de libras

esterlinas ou 60 milhões de dólares. No auge dessa trajetória, ele

tinha enfrentado muitas crises, e nelas venceu muito

mais que perdeu. Sentia-se jovem o suficiente para ousar

na hora das dificuldades, aproveitar os momentos

complicados para triturar adversários mais fracos.

Sempre sonhara grande, grande demais para que o

conselho tornasse mais prudente seu estilo arrojado.

(CALDEIRA, 1995, p.35)

Em 1874, recebeu uma carta tornando-o Visconde de Mauá, graças

a seu empenho na instalação dos cabos submarinos de telégrafo que ligaram o

Brasil à Europa.

Afastou-se da vida pública quando foi decretada sua falência e

morreu em 21 de outubro de 1889.

Segundo Marcovitch (2005, p.27), “onze anos antes, quando reunia a

maior parte de suas empresas, em um único conglomerado, o valor total de

23

seus ativos chegavam a 115 mil contos de réis, quantia superior ao orçamento

do Império”. O autor acrescenta que, graças aos investimentos que Mauá

possuía no Uruguai – propriedades agrícolas –, saldou todas as dívidas e

novamente em 1884 foi reabilitado no Brasil como comerciante e era

novamente um dos homens mais ricos do Brasil.

Neste capítulo foram identificadas as principais ações desenvolvidas

por Mauá, durante sua trajetória como o mais rico empresário do Império.

Nesse sentido, podemos verificar que ele durante aquele período foi

considerado um dos homens mais poderosos do país, com relações

importantes dentro e fora do Brasil.

Mauá trouxe para o Brasil inovações com a industrialização e o

desenvolvimento numa época adversa, quando se acreditava que o país tinha

apenas vocação agrícola e a produção e exportação de café ocupava

praticamente toda a pauta de política econômica do Império. Desta forma, não

podemos deixar de ressaltar que ele reunia características pró-ativas e baseou

todo o seu trabalho na busca de conhecimentos para a implementação de

ações, assumindo seus riscos.

24

CAPÍTULO II

ALGUMAS NOTAS SOBRE EMPREENDEDORISMO

2.1 – Origens do empreendedorismo

Apesar de o termo empreendedorismo estar cada vez mais em

evidência nos estudos e pesquisa acadêmicas e empresariais, é um conceito

antigo que assumiu diversas vertentes ao longo do tempo.

A palavra empreendedor (entrepreneur) surgiu na França por volta

dos séculos XVII e XVIII, com o objetivo de designar aquelas pessoas ousadas

que estimulavam o progresso econômico, mediante novas e melhores formas

de agir. No século XVII, surge a relação entre assumir riscos e o

empreendedorismo, bem como o próprio termo empreendedorismo, que

diferencia o fornecedor do capital, o capitalista, daquele que assume riscos, o

empreendedor.

No século XVIII, o capitalista e o empreendedor foram complemente

diferenciados, certamente em função do início da industrialização.

Com as mudanças históricas, o empreendedor ganhou novos

conceitos; na verdade, são definições sob outros ângulos de visão sobre o

mesmo tema.

Uma das primeiras definições da palavra “empreendedor” foi

elaborada no início do século XIX pelo economista francês J.B. Say, como

aquele que “transfere recursos econômicos de um setor de produtividade mais

baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento”.

O termo “entrepreneur” foi incorporado à língua inglesa no início do

século XIX. Entre os economistas modernos, quem mais se debruçou sobre o

tema foi Joseph Schumpeter, que teve grande influência sobre o

desenvolvimento da teoria e prática do empreendedorismo. Em seus estudos,

ele o descreve como a máquina propulsora do desenvolvimento da economia.

25

No século XX, o economista Joseph Schumpeter definiu

empreendedor como uma pessoa com criatividade e capaz de fazer sucesso

com inovações.

Em 1967, K. Knight e em 1970 Peter Drucker introduziram o conceito

de risco, definindo o empreendedor com alguém que precisa arriscar em algum

negócio.

O conceito de empreendedorismo é muito subjetivo, e acredita-se

que essa subjetividade se dá devido às diferentes concepções ainda não

consolidadas sobre o assunto ou por ainda se tratar de uma novidade,

principalmente no Brasil, onde o tema se popularizou a partir da década de 90,

paralelamente ao processo de privatização das grandes estatais e abertura do

mercado interno para concorrência externa.

2.2 – Perspectivas teóricas

Neste subcapítulo procuramos fazer uma breve revisão teórica

acerca do Empreendedorismo, em especial as contribuições de Schumpeter

(1949), segundo a descrição de Dornelas (2008) e de Filion (1991), de acordo

com a obra de Dolabela (1999).

Nosso objetivo principal é, no Capítulo III, aplicar estes conceitos à

trajetória do Barão de Mauá, a fim de verificar nela os atributos de

empreendedor.

Cabe ressaltar que, à época de Mauá – o século XIX – não existia

no Brasil a diferença entre o “empreendedor” e o “administrador” ou “gerente”

(DORNELAS, 2008), de modo que seria impossível que o Barão fosse assim

descrito por seus contemporâneos. No entanto, a partir da literatura teórica

disponível atualmente, poderemos reconstituir em sua trajetória as mesmas

características, atitudes e virtudes que compõem a imagem do empreendedor

atual.

Segundo Dornelas (ibid., p.10), a discussão sobre

empreendedorismo no Brasil só se estabelece a partir da década de 1990,

quando o país se recuperava de um período prolongado de recessão

econômica. Essa nova abordagem se expressa na criação e progressivo

26

fortalecimento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE2), assim como a Sociedade Brasileira para Exportação de Software

(SOFTEX3), entidades reconhecidas como promovedoras do

empreendedorismo – o que comprova quão recentes são os debates acerca

deste tema em nosso país.

Até então, o termo empreendedor era praticamente desconhecido e a

criação de pequenas empresas era limitada, em função do ambiente político e

econômico nada propício do país. Porém, não significa que elas não

existissem; deve-se salientar que muitos visionários atuaram em um cenário

obscuro, correram riscos e levaram suas ideias às últimas consequências. Um

deles, num passado mais remoto, foi o Barão de Mauá.

Dornelas (id., p.14) lembra que “a palavra empreendedor

(entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer aquele que assume riscos e

começa algo novo”. Destaca, portanto, o caráter inovador desse perfil. Ao

propor uma distinção entre empreendedor e administrador, o autor é taxativo:

“Todo empreendedor necessariamente deve ser um bom administrador para

obter sucesso, mas nem todo bom administrador é um empreendedor.” (ibid.,

p.15). Isto quer dizer que o empreendedor é o administrador que faz um “algo

mais” pelo seu próprio negócio, sobressaindo-se sobre os demais, mas

também por seu ramo de atuação – pois até mesmo seus concorrentes podem

aprender com seus exemplos e sucessos – e pelo seu país, na medida em que

contribui para o desenvolvimento econômico e para a inovação de técnicas de

produção e gestão, com novos produtos e serviços.

2 O SEBRAE criado no início da década de 70, mas apenas em 1990 ganhou a configuração que

possui atualmente, quando foi desvinculado da administração pública. Tem como objetivo promover o empreendedorismo e a auto-sustentabilidade de pessoas e comunidades. Hoje, é amplamente difundido entre os pequenos empresários brasileiros, com finalidade de informar e dar suporte necessário para a abertura de uma empresa, bem como acompanhar através de consultorias seu andamento, solucionando pequenos problemas do negócio, além de implantar uma cultura empreendedora nas universidades brasileiras, ao promover em parceria com outros países. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebrae. Acesso em 31-jan-2012)

3 A SOFTEX foi criada em 1996 para gerir o Programa para Promoção da Exportação do Software Brasileiro, considerado prioritário pelo governo federal. Seu objetivo principal é ampliar o mercado das empresas de software através da exportação e incentivar a produção nacional. Para tal, sua linha de ação inclui capacitação de recursos humanos para esse setor e apoio ao empreendedorismo e à inovação. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Softex e http://www.softex.br. Acessos em 31-jan-2012)

27

Dornelas afirma que empreendedorismo pode ser considerado como

o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à

transformação de ideias e oportunidades:

O empreendedor é aquele que destrói a ordem

econômica existente pela introdução de novos produtos e

serviços, pela criação de novas formas de organização

ou pela exploração de novos recursos e materiais.

(SCHUMPETER (1949) apud DORNELAS (2008), p.22)

Essa é a teoria do empreendedorismo considerada mais importante

por associar o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao

aproveitamento de oportunidades. Os estudos sobre o comportamento do

empreendedor versam sobre a hipótese de que o sucesso do novo

empreendimento depende destes fatores.

Neste contexto, o empreendedor pode não somente inovar com

outras frentes de atuação, como também dentro do mesmo negócio.

Utilizando-se de outro teórico, Fernando Dolabela, podemos citar o

conceito de empreendedor como “uma pessoa que imagina, desenvolve e

realiza visões” (FILION (1991) apud DOLABELA, p.28).

O autor (ibid., p.28) acrescenta que o empreendedor é também um

ser social (produto do meio em que vive) e que o empreendedorismo pode ser

entendido com um fenômeno regional (alguns lugares têm perfil mais

empreendedor que outros). Com relação a este conceito ressaltamos a noção

de que o empreendedorismo não é um fenômeno inato; ele pode ser aprendido

e ensinado, construído. Foi derrubada a tese de que o empreendedorismo

pudesse ser herdado geneticamente. Então, os indivíduos não nascem

empreendedores, eles podem desenvolver ou não esta habilidade, de acordo

com seus interesses e com o meio social. Entretanto, ainda encontramos

estudos que reforçam essa tese. Desta forma, vale ressaltar que para fins

deste trabalho não existe o entendimento de que o empreendedorismo seja um

fenômeno nato.

28

2.3 – Características de um empreendedor

Neste subcapítulo, faremos uma breve descrição das características

principais do empreendedor, de acordo com as visões dos autores já citados

anteriormente, a fim de identificar as que podem ser encontradas na trajetória

empresarial do Barão de Mauá.

Segundo Dornelas (id., pp.17-18), são as seguintes características

que diferenciam o empreendedor:

1- são visionários, possuem visão de futuro a longo prazo;

2- sabem tomar decisões (não se sentem inseguros);

3- são indivíduos que fazem a diferença (sabem agregar valor aos

serviços e produtos que colocam no mercado);

4- sabem explorar ao máximo as oportunidades;

5- são determinados e dinâmicos;

6- são dedicados;

7- são otimistas e apaixonados pelo que fazem;

8- são independentes e constroem o próprio destino;

9- são líderes e formadores de equipe;

10- possuem conhecimento;

11- criam valor para a sociedade, são indivíduos que contribuem não

somente para o sucesso de seu negócio, mas também para o

desenvolvimento do país.

Em complemento às características já apontadas, acrescentamos

algumas ações consideradas empreendedoras de acordo com Dolabela (1999,

p.29). O autor aponta as seguintes:

a) a criação de uma empresa;

b) a compra uma empresa e a introdução de inovações em qualquer

aspecto da estratégia da empresa, (como na administração, venda, fabricação,

distribuição, marketing, etc.); e

29

c) a própria iniciativa de um empregado em promover inovações em

seu meio de trabalho constitui exemplos de empreendedorismo.

Essa descrição é importante na medida em que subsidiará a análise

da trajetória de Mauá e responderá à hipótese que originou este estudo.

30

CAPÍTULO III

MAUÁ E O EMPREENDEDORISMO:

UM ESTUDO DE CASO

Neste capítulo faremos um contraponto entre as características e

ações descritas na trajetória do Barão de Mauá com as fontes disponíveis

sobre o conceito de empreendedorismo.

Partindo para a análise do caso Mauá, podemos observar que, além

de ter se tornado um homem rico, com a competência para identificar

oportunidades, utilizava-se do conhecimento como base para o sucesso de

seus negócios e alavancou a economia brasileira ao colocá-lo em pratica.

A condição agroexportadora e escravista da economia brasileira no

século XIX, contexto no qual qualquer mudança significativa traria inovação e

desenvolvimento para o país – um país em que praticamente tudo ainda estava

por ser feito –, em nada desmerece a trajetória de Mauá; pelo contrário, mostra

o quanto ele é um personagem importante. De sua infância, quando aprendeu

as primeiras letras pela sua mãe, até a vinda para o Rio de Janeiro, quando

desde bem cedo começou a trabalhar, sua dedicação ao trabalho, aos estudos

e seu desenvolvimento profissional demonstram não apenas sua vocação para

os negócios como também seu interesse em investir na modernização do Brasil

através da aplicação das experiências vistas no exterior. Esta característica

pode ser considerada de um homem com visão à frente do seu tempo e dos

seus contemporâneos.

O segredo estava na maneira de administrar seus negócios, na

autonomia que permitia a seus subordinados, na descentralização da gestão,

nos bons salários pagos, nos incentivos a seus subordinados para abrirem

seus próprios negócios, além de financiamentos e indicação de clientes. Essa

era sua forma de administrar, ou seja, sua estratégia de gestão. Estudos sobre

a época demonstram que Mauá não acreditava no trabalho escravo como

recurso humano para a industrialização do país, e esta postura foi

provavelmente influenciada pela política do Império Britânico do século XIX de

31

pressionar os países americanos recém-independentes a abolir a escravidão. A

intenção era, com a expansão do trabalho assalariado, criar um mercado

consumidor cada vez maior para a crescente demanda de produtos

manufaturados, que agregavam mais valor às mercadorias em circulação.

A respeito do caráter ousado e inovador dessa iniciativa, Caldeira

(id., p.180-181) anota: “Trocar o comércio pela indústria, no Brasil, era quase

uma loucura naquela época. Todos os esforços de investimento na economia

se voltavam para derrubar mato, comprar escravos, construir sedes de

fazenda, esperar colheitas.” E complementa:

Ele tinha tido a ideia, abandonado uma posição

privilegiada num negócio seguro, corrido os riscos, e

agora colhia os frutos de seus bons cálculos. Fazia o que

queria, e haveria de ganhar respeito por sua ousada

aposta no futuro. Onde ninguém enxergava nada, ele via

tudo. (id., p.192)

Neste breves trechos da trajetória de Mauá já podemos observar as

características de um empreendedor. Aqui fica claro que Mauá se dedicava ao

conhecimento, precisava ter certeza de que suas impressões eram

suficientemente seguras para arriscar nos negócios. É notório o foco no

progresso e na inovação. Sua biografia demonstra que em pelo menos três

momentos de sua vida ele poderia ter se acomodado e administrado sua

fortuna, mas sempre preferiu os riscos bem calculados, cujos resultados

trariam desenvolvimento econômico e tecnológico. Ele tinha competência para

identificar oportunidades e pô-las em prática alavancando a economia do país.

Outro fator importante a ser destacado aqui é o fato de que, em um

determinado período de sua trajetória, Mauá teve suas relações com o Império

abaladas. Sua relação com Dom Pedro II ficou bastante turbulenta, mesmo

depois de ter prestado inúmeros favores à Coroa. Houve bastante oposição

política às inovações técnicas de Mauá, e a maior parte de seus biógrafos a

atribuem ao ciúme de seu sucesso, ou a um excessivo conservadorismo que

então dominava as principais esferas de poder (incluindo o próprio Imperador).

32

Além disso, Mauá sempre buscou uma boa relação – ainda que não muito

próxima – com as elites agrárias da época.

Segundo Caldeira (1995), Mauá administrava sozinho um grande

volume de negócios e de dinheiro, que eram tanto uma obrigação imposta por

sua foram de trabalhar quanto um prazer. Aqui ficam registradas outras

atitudes do homem que “do nada” construiu um complexo de indústrias e

comércio.

Quando encontramos, dentre as características do empreendedor,

que são indivíduos otimistas e apaixonados pelo que fazem, também

encontramos Mauá.

Aqui continuaremos a análise comparativa entre as ações de Mauá e

as características do perfil empreendedor apontadas por Dornelas (2008) no

capítulo anterior. A proposta é indicar as características e em seguida os

registros históricos que confirmam a tese.

Perfil empreendedor

Mauá

Visionários, possuem visão de futuro

a longo prazo

“Para um homem com seus

conhecimentos econômicos, ganhar

dinheiro com a especulação era uma

tarefa banal – mas ele preferia sair

pela trilha que ninguém via. O

invisível era seu caminho e seu

destino.” (CALDEIRA, 1995, p.304)

Sabem tomar decisões

“(...) um estilo de negócios estranho

aos costumes locais: corajoso,

inovador, ágil, eficiente,

meritocrático.” (ibid., p.258)

Sabem agregar valor a produtos e

serviços

“Trocar o comércio pela indústria, no

Brasil, era quase uma loucura

naquela época. (...) O estaleiro que

Irineu comprou era uma das maiores

33

empresas urbanas do Brasil – e mal

se distinguia de uma oficina artesanal.

(...) ele tinha tido a ideia, abandonado

uma posição privilegiada num negócio

seguro, corrido os riscos, e agora

colhia os frutos de seus bons

cálculos.” (ibid., p. 180-181 e 192)

Sabem explorar ao máximo as

oportunidades

“Para começar no trabalho Irineu

recebeu uma gramática inglesa, livros

sobre contabilidade e uns tantos

conselhos práticos. Tudo que viesse

para além disso dependeria de seus

resultados.” (ibid., p.116)

São otimistas

“Senhores acionistas do novo banco,

(...) o estabelecimento de que fazeis

parte abre uma picada, que com o

andar do tempo se transformará em

larga estrada a prosperidade pública.”

(SOUSA apud CALDEIRA, 1995, p.

226)

São independentes e constroem o

próprio destino

“Para quem começara rigorosamente

do nada e lutara sempre sozinho, não

era estranho o hábito de contar

apenas consigo mesmo. (...) Desde o

começo, a maioria ao redor duvidava,

desaconselhava, caçoava. Se fosse

ouvir os outros, não teria feito o que

fez. Teve de reagir sozinho contra

muitos, confiar apenas em seu

talento, duvidar do senso comum.”

(CALDEIRA, 1995, p.18)

34

São líderes e formadores de equipe

“Essa política pouco ortodoxa de

transformar cada empregado de

confiança em empresário ampliava

muito o raio de ação de Irineu. Sem

ela, seria inimaginável a montagem

de empresas separadas fisicamente

por milhares de quilômetros num

tempo de comunicações precárias.”

(ibid., p. 256)

Possuem conhecimento

“(...) passar os olhos numa pilha de

jornais das principais capitais do

mundo, e ler meio ao acaso o que

chamasse atenção num maço de

publicações de engenharia, finanças,

manuais técnicos dos produtos de alta

tecnologia da época – locomotivas,

motores a vapor, teares, fornos

siderúrgicos, produtos químicos,

aparelhos de precisão. “(ibid., p.16)

São dedicados

“(...) aproveitou o tempo extra, tanto

das folgas quanto das preocupações

menores, para se dedicar aos

estudos. Em três tempos tinha

dominado os segredos da língua

inglesa, e aprendido a calcular juros

compostos em libras.” (ibid., p.117)

Criam valor para a sociedade, são

indivíduos que contribuem não

somente para o sucesso de seu

negócio, mas também para o

desenvolvimento do país

“(...) fundou a indústria naval

brasileira, (...) implementou serviços

pioneiros, como a companhia de gás

para a iluminação pública do Rio de

Janeiro, a primeira estrada de ferro

(Raiz da Serra – Petrópolis),

implementou redes de cabos

35

telegráficos submarinos entre o Brasil

e a Europa.” (FREITAS, 2011, p. 41)

“Muito antes do surgimento da palavra

ele montara uma das primeiras

multinacionais conhecidas.”

(CALDEIRA, 1995, p.32-33)

São determinados e dinâmicos

“(...) a característica mais marcante

de Irineu: atacando em várias frentes

ao mesmo tempo, ele não perdia de

vista um único detalhe de cada

negócio.” (ibid., p.257)

Frente ao exposto, podemos verificar que embora Mauá, em seu

tempo, não tivesse nenhum conhecimento acerca das teorias sobre o

empreendedorismo, pode ser considerado um grande empreendedor. Os

registros históricos de suas atividades profissionais, comportamentos e

características confirmam essa tese.

36

CONCLUSÃO

Apesar de este trabalho falar por si só e confirmar a hipótese que o

originou – de que Mauá pode ser considerado exemplo de empreendedorismo

em sua época –, julgamos importante expor algumas questões. Em primeiro

lugar, falamos de um homem que reconhecidamente foi pioneiro, inovador e

contribuiu enormemente para o desenvolvimento do nosso país. Um homem de

origem simples, que poderia ter apostado suas fichas no comércio ou na

economia agroexportadora da época. No entanto, não se conformou com a

condição do país e vislumbrou novas possibilidades, num cenário pouco aberto

para as mudanças. Irineu sobe reconhecer as oportunidades de aprendizado e

crescimento a que teve acesso e fez delas trampolim, base para o seu

sucesso. Não podemos desconsiderar aqui suas relações dentro e fora do

Brasil que lhe possibilitaram voos mais altos.

Como primeiro grande empresário do Brasil, tinha habilidade para

lidar com as questões políticas que permeavam suas ações. Fez amigos e

inimigos, segundo ele gratuitos. Sonhava em ser visto “como inovador

apaixonado, patriota correto, homem de bem e apóstolo de um mundo novo”

(CALDEIRA, 1995, p. 33).

Em suas palavras estava claro que não via no cenário do país

terreno fértil para mudanças: “(...) o que infelizmente nos falta, senhores, é a

perseverança, a força de vontade, tão necessária para se alcançar tão grandes

fins” (ibid., p. 224); porém, como administrador reconhecido internacionalmente

pela utilização de técnicas muitos sofisticadas, foi admirado, “era o ilustre

homem que trouxe a civilização até as selvas do Amazonas” (ibid., p.33).

Mauá, no comando e administração de seus negócios, não

acreditava no trabalho escravo. Foi obrigado a lidar com a escravidão, mas só

a utilizava quando estritamente necessário. Em sua gestão estavam as

estratégias de descentralização, valorização do trabalhador, e incentivos ao

empreendedorismo entre seus empregados. Ele exigia que os escravos

tivessem o mesmo tratamento dos demais trabalhadores, o que

homogeneizava o comportamento dentro de suas empresas. Não é necessário

reafirmar o caráter polêmico dessa iniciativa: “Irineu considerava um ótimo

37

gasto investir em salários mais altos, para ter o melhor pessoal disponível a

seu lado” (ibid., p.256).

Essa postura demonstra claramente sua estratégia de gestão. É

difícil imaginar esse tipo de comportamento naquele período; por outro lado,

observa-se o quanto foi produtivo a Mauá ter se investido de conhecimento

sobre as teorias liberais que estavam em voga na Inglaterra.

Apesar da forte oposição que setores do governo lhe impuseram

desde o início de sua atividade industrial, por volta de 1850, e que ocasionaram

a falência de seus negócios e muitas dívidas na década seguinte, não se

abateu e retornou às atividades, pagando a todos os seus credores.

Mauá apostou nos seus ideais, correu riscos, ganhou, perdeu,

sempre fiel a seus princípios e projetos, que em alguns momentos se

confundiam com as necessidades da nação. Em outros momentos, sua

atividade tornou-o odiado, ferindo interesses e a vaidade de políticos e do

próprio Imperador, os quais o fizeram ser visto como o grande traidor da pátria.

Nesse sentido, é definitivo o resumo de Caldeira (id., p.414): ele “deixara de ser

um rico particular, ainda em 1846, para assumir a tarefa de mudar a face dos

negócios em seu país”.

Sua trajetória é digna de muitos estudos, até hoje se mostra

atualizada. Anos após sua morte, seu legado ainda é objeto de interesse e

estudos nas mais diversas áreas do conhecimento. Não se pode negar, foi o

homem de um brilhantismo que até hoje nos apaixona.

Estudar o tema empreendedorismo a partir da trajetória de Mauá nos

leva a refletir sobre muitas questões, dentre elas o porquê de este termo está

tão em voga.

Atualmente não é difícil ouvir em diferentes discursos que o

empreendedorismo é uma característica fundamental para o mercado

profissional, e que está cada vez maior a preocupação das instituições em

formar novos empreendedores, mentes que somem ao negócio e à sociedade

como um todo.

É notório que as organizações possuem uma grande necessidade de

buscar e desenvolver profissionais com perfil empreendedor, devido ao fato de

estes serem os responsáveis pelas modificações, criações e visões inovadoras

38

para se obter um destaque maior e uma diferenciação positiva frente à

concorrência. Neste aspecto destaca-se o lado do funcionário-empreendedor,

diverso daquele que se torna dono da própria empresa.

É visível que existe uma “febre”, um alto nível de incentivo a práticas

consideradas “empreendedoras”, aquelas do tipo “abra seu próprio negócio,

seja seu próprio patrão”. Não se pode generalizar sobre isto, mas

consideramos importante ressaltar que é preciso deixar a esfera do senso

comum e partir para ações que de fato sejam empreendedoras.

O referencial teórico utilizado serve como arcabouço para se pensar

as estratégias empreendedoras, as práticas e os processos que estão

espalhados por aí de forma crítica e construtiva. Pois embora o

empreendedorismo ainda seja um conceito subjetivo, em estudo e com

algumas interpretações, não pode ser utilizado para agregar valor a ações

inférteis e improdutivas.

39

BIBLIOGRAFIA

CALDEIRA, Jorge. Mauá: o empresário do Império. São Paulo: Companhia das

Letras, 1995.

DOLABELA, Fernando. O segredo de Luísa. São Paulo: Cultura Editores

Associados, 1999.

DORNELAS, J.C.A. O processo empreendedor. In: Empreendedorismo:

transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

DRUCKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor. Práticas e princípios.

São Paulo: Pioneira, 1987.

FREITAS, Eber. Mauá: o empreendedor que industrializou o Brasil. In:

Administradores, Ano 1, nº7, jul/2011.

MARCOVITCH, Jacques. Mauá. In: Pioneiros e empreendedores: A saga do

desenvolvimento do Brasil. Vol.2. São Paulo: Editora da Universidade de São

Paulo, 2005.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e

criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

40

WEBGRAFIA

WIKIPÉDIA. Empreendedorismo.http://pt.wikipedia.org/wiki/Empreendedorismo.

Acesso em 26/jan/2012.

41

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO........................................................................................2

AGRADECIMENTOS.....................................................................................3

DEDICATÓRIA...............................................................................................4

RESUMO........................................................................................................5

METODOLOGIA.............................................................................................6

SUMÁRIO.......................................................................................................8

INTRODUÇÃO...............................................................................................9

CAPÍTULO I

A TRAJETÓRIA DE IRINEU EVANGELISTA DE SOUSA, O BARÃO DE

MAUÁ..........................................................................................................12

1.1 O início de tudo.....................................................................................12

1.2 Mudança de rumo: apogeu de Mauá....................................................17

1.3 Os problemas começam.......................................................................20

CAPÍTULO II

ALGUMAS NOTAS SOBRE EMPREENDEDORISMO .............................24

2.1 Origens do Empreendedorismo...........................................................24

2.2 Perspectivas teóricas...........................................................................25

2.3 Características de um empreendedor..................................................28

CAPITULO III

MAUÁ E O EMPREENDEDORISMO: UM ESTUDO DE CASO..............30

CONCLUSÃO..........................................................................................36

BIBLIOGRAFIA........................................................................................39

WEBGRAFIA............................................................................................40

ÍNDICE.....................................................................................................41