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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Barão de Mauá:
Um estudo sobre o empreendedorismo no Brasil oitocentista
Por: Vanessa da Cunha Seigarro
Orientador:
Prof. Carlos Cereja
Rio de Janeiro
2012
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
Barão de Mauá:
Um estudo sobre o empreendedorismo no Brasil oitocentista
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Gestão de Recursos
Humanos.
Por: Vanessa da Cunha Seigarro
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha iniciativa de
retomar alguns planos, aos colegas do
curso e professores por suas valiosas
contribuições em minha formação.
5
RESUMO
Esta pesquisa parte do conceito de Empreendedorismo, nas concepções
de Schumpeter (apud Dornelas, 1998) e Filion (apud Dolabela, 1999), e propõe
um estudo de caso acerca da história empresarial de Irineu Evangelista de
Sousa. Sua trajetória é marcante porque, em meados do século XIX, ele abriu
mão de uma posição confortável de comerciante para se tornar o primeiro
industrial e banqueiro brasileiro, numa época em que não havia prognósticos
claros para o sucesso dessas atividades no país. As inovações gerenciais,
técnicas e tecnológicas que trouxe para o Brasil, a partir de seu contato com a
burguesia inglesa, lhe valeram os títulos de Barão e de Visconde de Mauá, a
despeito de suas divergências políticas com o Imperador D. Pedro II e outras
figuras de destaque do Império. Entre suas realizações marcantes estão o
primeiro estaleiro, a primeira ferrovia e o primeiro banco privado do Brasil; a
inauguração da iluminação a gás do Centro do Rio de Janeiro; a estrada de
ferro Santos-Jundiaí; e a ligação entre o Brasil e a Europa por cabos
telegráficos submarinos, entre outros investimentos.
6
METODOLOGIA
“Nada pode ser intelectualmente um problema
se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da
vida prática.” (Minayo, 2011)
O interesse em discutir o empreendedorismo a partir da trajetória do
Barão de Mauá surgiu com a aproximação do tema em uma das disciplinas do
curso de Gestão de Recursos Humanos, na qual se abordaram as estratégias
de gestão e se apresentaram os conceitos de inovação e empreendedorismo.
Logo, a história de Mauá pareceu cenário interessante para desenvolver o
tema. O legado deste que foi considerado o maior empresário do Brasil
Imperial e o primeiro grande administrador da história de nosso país
certamente seria terreno fértil para esta investigação.
Desta forma, este problema tornou-se uma indagação, que partiu da
hipótese de que o Barão de Mauá apresentou no seu tempo características que
hoje reconhecemos como as de um empreendedor. Um homem visionário que
influenciou e realizou profundas mudanças no Brasil, mudanças das quais até
hoje nos beneficiamos.
Ressalta-se que este trabalho não tem o intuito de esgotar o tema,
haja vista sua diversidade e complexidade teórica, que ultrapassam as
perspectivas desta monografia. No entanto, busca-se trazer contribuições
importantes para os estudos e pesquisas nesta área.
Assim, para atender ao projeto que originou este trabalho, foram
escolhidos, como abordagem metodológica, o estudo de caso e a pesquisa
bibliográfica, que possibilitou o levantamento de informações que permitiram
conhecer o objeto da pesquisa e delimitar os aspectos que foram relevantes
para a análise nesta monografia.
No primeiro momento desta pesquisa foi delimitado o objeto de
estudo, no intuito de seguir com a pesquisa bibliográfica que buscou fontes
7
teóricas que pudessem confirmar ou negar a hipótese sobre a qual este
trabalho se sustenta. Foram estabelecidas as categorias de análise para a
interpretação das informações, fugindo de intuições e opiniões do senso
comum.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................9
CAPÍTULO I – A trajetória de Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de
Mauá.......................................................................................................12
CAPÍTULO II - Algumas notas sobre Empreendedorismo......................24
CAPÍTULO III – Mauá e o Empreendedorismo: um estudo de caso.......30
CONCLUSÃO..........................................................................................36
BIBLIOGRAFIA....................................................................................... 39
WEBGRAFIA............................................................................................40
ÍNDICE.....................................................................................................41
9
INTRODUÇÃO
“Não era o maior banqueiro nem o maior industrial do mundo.
(...) não havia no mundo alguém que fosse, ao mesmo tempo,
dono de bancos, ferrovias, fábricas e indústrias pesadas, e
que tivesse tido a idéia de juntar todos os seus negócios em
torno de uma empresa financeira de alcance mundial.”
(CALDEIRA, 1995, P.32)
O presente trabalho monográfico ora apresentado a esta reconhecida
instituição de ensino representa um dos requisitos necessários para a obtenção
do título de especialista em Gestão de Recursos Humanos e tem como tema o
Empreendedorismo.
Nossa intenção é analisar o desenvolvimento profissional de um
brasileiro ilustre, Irineu Evangelista de Sousa – Barão (e posteriormente
Visconde) de Mauá, à luz do conceito de empreendedorismo. Portanto, o
projeto pode ser apresentado como uma confrontação entre um exemplo
prático com uma formulação teórica – donde se tem sua configuração como
estudo de caso.
O problema que se colocou desde o início de nossa pesquisa foi:
sendo o empreendedorismo um conceito relativamente recente na área de
Administração – as primeiras formulações teóricas datam de meados do século
XX, seria possível analisar um personagem histórico anterior a essa descrição
teórica à luz de uma lógica ainda não existente em sua época?
Foi este questionamento que nos levou a formular a hipótese que
norteia toda a nossa reflexão nas páginas que seguem, hipótese esta que pode
ser assim resumida: Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, foi um
empreendedor, na medida em que em sua trajetória empresarial podem ser
encontrados exemplos de todas – ou quase todas – as características
atribuídas pelos teóricos a esse conceito.
Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é analisar o conceito
de empreendedorismo à luz da trajetória do Barão de Mauá, assim como
discutir o conceito de empreendedorismo aliado a estratégias de gestão,
identificar ações empreendedoras – dentro das limitações político-econômicas
10
e da própria prática administrativa vigente no século XIX – e verificar os limites
e possibilidades deste tema. Como objetivos secundários, podem-se identificar
a revisão bibliográfica acerca da história empresarial de nosso personagem e a
síntese da literatura disponível sobre o conceito de empreendedorismo, o qual
inevitavelmente nos leva a outro conceito, o de inovação.
Este estudo é relevante, primeiramente, por se tratar do estudo de
caso de um personagem histórico – o Barão (e depois Visconde) de Mauá –
que abriu uma vertente significativa para o modelo econômico brasileiro de sua
época, com sua contribuição para a industrialização do país, e realizou
significativas obras tanto no Rio de Janeiro quanto em Niterói. Ademais, ele
apresenta em sua trajetória características de um empreendedor que adotou
práticas inovadoras para o seu tempo e deve servir de modelo para todos
aqueles que buscam apresentar um diferencial em sua atividade profissional,
qualquer que seja ela.
Pode-se afirmar que o empreendedorismo vem ganhando espaço em
pesquisas e estudos acadêmicos e de cunho empresarial; acredita-se que
fatores como as mudanças na economia, no mercado de trabalho e a
globalização tenham influenciado neste processo. No entanto, aqui vamos falar
de um homem que saiu do lugar comum, acreditou nas ideias, nos sonhos,
vislumbrou possibilidades, investiu em conhecimento e trabalhou no sentido de
transformar uma realidade.
Estas características são encontradas em pessoas diferentes, com
comportamentos distantes do senso comum, que ultrapassaram limites,
superaram dificuldades por possuírem motivação singular. Não é difícil
lembrarmos pessoas com essas características na história, assim neste
trabalho trazemos para o debate um importante personagem da história do
Brasil, que para muitos foi o primeiro grande empresário do Império, cujo título
foi atribuído às suas obras inovadoras que contribuíram para o processo de
desenvolvimento do país.
O primeiro capítulo procede a uma biografia resumida de Irineu
Evangelista de Sousa, reconhecido pelos títulos de Barão e Visconde de Mauá.
Neste, buscou-se realizar um resgate histórico da trajetória empresarial deste
personagem da História de nosso país, desde que começou a trabalhar, com
11
apenas nove anos de idade (em 1823), até sua falência e recuperação
financeira, quase seis décadas depois. Nesse percurso, apontaremos suas
principais iniciativas e realizações, além de algumas características de sua
personalidade.
No segundo capítulo apresentam-se uma revisão teórica do
empreendedorismo e algumas características de um empreendedor,
características de personalidade e ações consideradas empreendedoras. As
características e ações apresentadas foram utilizadas como categorias de
análise, assim como as teorias que estão nele apresentadas, para chegarmos
ao terceiro capítulo, que marca o ponto culminante desta pesquisa.
O terceiro capítulo é o entrelaçamento entre as categorias e fontes
teóricas sobre o empreendedorismo e a trajetória de Mauá, em busca de
respostas às indagações que originaram esta monografia, especialmente ao
nosso questionamento central: Mauá pode ser visto como um empreendedor
de sua época?
12
CAPÍTULO I
A TRAJETÓRIA DE IRINEU EVANGELISTA DE SOUSA,
O BARÃO DE MAUÁ
Neste capítulo será apresentada a trajetória empresarial do Barão de
Mauá, personagem importante da História do Brasil, que abriu uma vertente
significativa para o modelo econômico brasileiro de sua época, com
contribuições importantes para a industrialização e para o desenvolvimento do
país. Para tanto, serão utilizados registros bibliográficos dos autores Jorge
Caldeira, da biografia “Mauá: o Empresário do Império” (1995) e Jacques
Marcovitch, com o capítulo sobre Mauá de seu livro “Pioneiros e
empreendedores”, dentre outros que forem pertinentes.
1.1 – O início de tudo
Irineu Evangelista de Sousa1 nasceu na cidade de Arroio Grande,
no Rio Grande do Sul, em 28 de dezembro de 1813. Órfão de pai, aos
nove anos de idade foi levado ao Rio de Janeiro por um tio materno que
era capitão de navio. Esse tio, chamado José Batista de Carvalho,
trabalhava para um próspero comerciante português, José Rodrigues
Pereira de Almeida, que foi o primeiro patrão de Irineu. É importante
ressaltar que, na época (1823), começar a trabalhar tão jovem era visto
como algo natural, conforme registra Caldeira (1995, p.60):
1 “Natural da vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, na época distrito de Jaguarão, na então Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, atual Rio Grande do Sul, era filho de João Evangelista de Ávila e Sousa e de Mariana de Jesus Batista de Carvalho, sendo neto paterno do fundador da freguesia, Manuel Jerônimo de Sousa. Aos cinco anos de idade, em 1818, Irineu ficou órfão de pai (1818), assassinado por ladrões de gado. Em 1821, sua mãe, Mariana de Jesus Batista de Carvalho, vem a se casar com João Jesus. Todavia, como o novo esposo não desejava conviver com os filhos do primeiro casamento da viúva, a filha mais velha, Guilhermina, foi obrigada a casar com apenas doze anos de idade. E Irineu, aos oito anos, foi entregue para a guarda de um tio José Batista de Carvalho, comandante de embarcação da marinha mercante, que transportava em seu navio couros e charque do porto do Rio Grande para o Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil.” (Fonte: Wikipédia, 26/01/2012)
13
A chegada de um menino de nove anos não despertava
curiosidade nos funcionários antigos. (...) Numa época em
que os meninos de mais de sete anos eram classificados
como ‘rapazes’ nos censos, nove anos era geralmente
considerada uma boa idade para começar no
trabalho de caixeiro.
Registros históricos apontam que desde muito jovem ele já vocação
para os negócios. Demonstrando facilidade e empenho para aprender, logo
evoluiu para caixeiro de balcão e, em seguida, caixeiro de fora, “cujas funções
assemelhavam-se às dos atuais office-boys” (ibid., p.65).
A empresa de Pereira de Almeida era uma das maiores da cidade,
com negócios variados e bom trânsito político junto ao imperador, de modo que
havia possibilidade de crescimento. De acordo com Caldeira (id., p.70),
poucos empresários na cidade tinham capacidade para
fazer negócios em várias frentes ao mesmo tempo. E
Pereira de Almeida era, ao mesmo tempo, comerciante,
banqueiro, industrial, armador – além de cortesão e
manipulador político. Para um caixeiro ambicioso,
trabalhar numa empresa como essa representava uma
rara oportunidade para aprender um pouco de cada uma
dessas especialidades.
Jorge Caldeira (id., p.94) conta que Irineu Evangelista contava 13 ou
14 anos de idade quando foi promovido a caixeiro de escritório, o que
significava ter de aprender contabilidade mais a fundo. Nas palavras do autor,
um funcionário menos curioso se contentaria com a tarefa
[de preencher os livros-caixa], sem pensar muito nos
porquês de cada registro. Mas Irineu estava interessado e
era esperto, e logo começou a perceber o sentido de
14
muitos movimentos cujo significado não era evidente para
qualquer um. (ibid., p.94)
Diante de uma trajetória tão meteórica, não surpreende tanto que o
rapaz tenha chegado ao cobiçado cargo de guarda-livros da loja: “ele teria a
chave do cofre e poder sobre gente mais velha e muito dinheiro. (...) Com
menos de cinco anos de experiência Irineu chegava ao comando da complexa
rede de negócios que lutara para conhecer” (ibid., p.96).
Quando D. João VI chegou ao Brasil, em 1808, Pereira de Almeida já
era um dos maiores traficantes de escravos da colônia. A presença do rei em
terras brasileiras fez com que sua atuação política e enriquecimento se
acentuassem, e foi nesse contexto que Irineu Evangelista começou a trabalhar
para ele. Porém, ao longo da década de 1820, o Brasil estava literalmente
pagando o preço pelo reconhecimento de sua independência, sobretudo diante
da Inglaterra, com acordos comerciais profundamente favoráveis aos
britânicos, em detrimento dos portugueses; além disso, uma das moedas de
troca exigidas pelos ingleses era a redução gradual do comércio de escravos.
Com isso, toda a estrutura empresarial de Pereira de Almeida entrou
em decadência e ele se tornou devedor no mercado. Ainda segundo Caldeira
(id., p.106), o “jovem guarda-livros de quinze anos foi precioso nesse momento
[de negociar as dívidas e redimensionar o patrimônio do patrão], dando lições
maturidade ao praticar a difícil arte de cortar na própria carne para se salvar”.
O maior credor de Pereira de Almeida era o comerciante escocês
Richard Carruthers. Irineu “negociou com Carruthers de tal forma que acabou
fazendo parte dos ativos entregues em pagamento de suas dívidas” (ibid.,
p.108) – ou seja, não apenas garantiu a seu ex-patrão (agora Barão de Ubá)
uma modesta mas confortável aposentadoria numa fazenda de café, como
também se empregou com um representante da classe que comandaria a
economia brasileira nas décadas seguintes: a burguesia britânica.
A convivência com Carruthers foi vantajosa para ambos: Irineu
recebeu mais oportunidade de prosseguir em seu aprendizado, como ajudou o
escocês a multiplicar sua fortuna. Na Carruthers & CO., aprendeu inglês e teve
acesso à bibliografia que impulsionava o avanço do capitalismo pós-industrial
15
inglês, sobretudo as obras de Adam Smith e David Ricardo (ibid., pp.118-120).
Irineu aprendeu a operar e lucrar com as operações de câmbio realizadas
pelos ingleses nas trocas por mil-réis e ouro no Brasil, e assim dar um passo à
frente dos concorrentes brasileiros. Nas palavras de Caldeira (id., p.123), “ele
foi um dos poucos brasileiros a ver por dentro o capitalismo que nascia, na
hora de seu triunfo”, negociando o capital invisível das aplicações financeiras,
ou mais adiante, “era talvez o único brasileiro que tinha se adestrado na arte de
dominar capitais em multiplicação, mercadorias em giro rápido e créditos
intensificando o ímpeto de todo o processo” (id., p.133).
De acordo com as fontes históricas, Irineu não se limitou a aprender
e compreender com muita rapidez essa nova lógica de mercado; em pouco
tempo, passou também a resolver problemas e tomar decisões de maneira
inovadora, o que resultou em altos lucros para a Carruthers & CO e fez com
que o escocês percebesse que os anos de formação de seu funcionário haviam
terminado e que estava diante de um profissional maduro (id., p.134).
Promoveu sua iniciação na loja maçônica inglesa, que fez com que o jovem
tivesse acesso a setores do poder vedados aos não iniciados (id., p.144) e, no
final de 1835, quando resolveu se aposentar e voltar para o Reino Unido, deu a
Irineu “uma participação no capital da empresa e uma procuração que lhe dava
todos os poderes para tocar os negócios como se a firma fosse apenas dele”
(id., p.145). Irineu assumiu esse posto em 1º de janeiro de 1936, três dias após
completar 22 anos de idade.
Quatro anos depois, no meio da tempestade política de antecipação
da maioridade e coroação de D. Pedro II, Irineu viajou à Inglaterra pela primeira
vez, para visitar seu mestre e conhecer de perto as grandes inovações que se
processavam em Liverpool e Manchester, berços da Revolução Industrial.
Nessa viagem, pôde observar o rápido desenvolvimento das indústrias naquele
país e as teorias liberais em que eram baseadas. Ele
começou a visitar fábricas de tecidos, estaleiros,
fundições, estradas de ferro e bancos. Perguntava sobre
tudo, queria saber os detalhes, não demorava muito para
descobrir o que fava dinheiro e como funcionava cada
16
empreendimento. (...) Não demorou para que discutisse
com propriedade sobre ferrovias com engenheiros
ferroviários, novidades em teares com fabricantes de
equipamentos, novos tipos de algodão com fabricantes
de tecido. (id., p.160)
No texto de Marcovitch (2005) encontra-se um trecho bastante
interessante de um discurso de Mauá, em que ele fala da experiência em terras
britânicas para explicar seu maior interesse pela siderurgia, por considerá-la a
mãe de todas as indústrias:
Visitando pela primeira vez a Inglaterra em 1840 (...), tive
de afastar-me da estrada mais curta (...) para visitar um
grande estabelecimento de fundição de ferro e
maquinismos, em Bristol (...). Causou-me forte impressão
o que vi e observei, e logo aí gerou-se em meu espírito a
ideia de fundar em meu país um estabelecimento
idêntico; a construção naval fazia também parte do
estabelecimento a que me refiro. (SOUSA apud
MARCOVITCH (2005), p.31)
Como se vê, o rapaz se interessava por todo tipo de atividade e por
qualquer informação a respeito de todo o processo produtivo em cada uma
delas. Todo aquele cenário fez com que o jovem voltasse ao Brasil
determinado a buscar oportunidades de negócio fora da ordem
agroexportadora, concluindo que o Brasil precisava de capital para investir na
industrialização. Segundo Marcovitch (2005, p.29), na trajetória de Mauá
estavam claros os seus valores: trabalho e progresso.
Segundo Caldeira (1995, p. 166), nesse momento estava clara na
mente de Irineu a “’esfera de ação’ que lhe parecia indicada pelo destino:
articular negócios e demonstrar, na prática, a eficácia de suas ideias”. Mais
tarde, em 1844, manifestou com clareza essa missão pessoal em artigo
publicado no Jornal do Commercio: “Não sou homem de partido. (...) Fiz um
17
voto de dedicar minha vida aos melhoramentos materiais do país.” (SOUSA
apud CALDEIRA, 1995, p.174).
1.2 – Mudança de rumo: apogeu de Mauá
Em 1846, Irineu surpreendeu todo o mercado. Após dez anos de
bem-sucedida administração, que o haviam tornado um dos homens mais ricos
do país, anunciou a liquidação de seu comércio. Com habilidade, obteve bom
preço pela venda e condições melhores ainda para comprar um
estabelecimento de fundição e estaleiros na Ponta de Areia, em Niterói (RJ).
Sua intenção era transformá-lo em um estabelecimento aos moldes ingleses;
contrário ao uso de mão de obra escrava, foi obrigado a aceitá-la como parte
da cultura brasileira, mas foi aos poucos trazendo trabalhadores livres da
Europa.
A tarefa parecia – e era – ousada, e não faltaram prognósticos
pessimistas. No entanto, é preciso observar que, se algum brasileiro era capaz
de um salto tão avançado na direção do desenvolvimento, era ele, conforma
lista Caldeira (id., p.181):
Em primeiro lugar, tinha dinheiro, um fator significativo
numa terra de capitais escassos; experiência como
administrador; e uma visão ampla do cenário econômico.
Os sócios na Inglaterra [Richard Carruthers e o amigo
Reynell de Castro] lhe abriam possibilidades inacessíveis
aos empreendedores comuns. Por fim, apesar das
eventuais dificuldades políticas, seu acesso à elite
dirigente do país também contava pontos a seu favor.
O ponto de partida para essa atividade industrial foi um contrato,
conseguido junto ao gabinete do governo, para canalizar as águas do rio
Maracanã e a cessão de navios a vapor fabricados em seu estaleiro para um
conflito militar contra a Argentina pelo controle da navegação no Rio da Prata.
18
Mas, ainda assim, em seus primeiros anos foram muitas as dificuldades para
retorno do investimento.
Em 1850, aproveitando-se da extinção gradual mas definitiva do
tráfico de escravos – realizada de maneira que os traficantes tivessem sido
avisados previamente, sem sofrer grandes prejuízos –, convocou estes
mesmos ex-traficantes, que estavam capitalizados, para fundar o Banco do
Commercio e da Indústria do Brasil, cujo objetivo principal seria financiar novos
empreendimentos. Obtendo rapidamente investidores, Irineu foi aclamado
primeiro presidente do banco, cujo nome foi reduzido para Banco do Brasil; no
discurso de inauguração da entidade, deixou claro seu ponto de vista quanto
ao desenvolvimento econômico brasileiro: “O que infelizmente nos falta,
senhores, é perseverança, a força de vontade, tão necessária para se alcançar
tão grandes fins” (SOUSA apud CALDEIRA, 1995, p.224), e exaltou o “espírito
de associação” que marcava o avanço industrial inglês e o veloz
desenvolvimento dos Estados Unidos da América. O próprio Irineu explicou,
anos depois, o que pretendia: “Reunir os capitais que se viam repentinamente
deslocados do ilícito comércio [de africanos] e fazê-los convergir a um centro
donde pudessem ir alimentar as forças produtivas do país foi o pensamento
que me surgiu na mente” (id., p.243, grifos nossos).
Foi assim que ele se tornou o principal financiador dos grandes
produtores de café brasileiros, pois conseguia condições de crédito melhores
para os fazendeiros, e se capitalizar para os seus próprios objetivos: a
construção da primeira ferrovia do Brasil e o fornecimento de iluminação a gás
nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Ainda em 1852, fundou duas empresas:
a) a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de
Petrópolis e b) a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas,
atendendo a uma solicitação do governo Imperial para proteger a região norte
de uma eventual ocupação norte-americana. Os três serviços – a iluminação do
Centro do Rio por lampiões a gás, a estrada de ferro ligando a Baía de
Guanabara ao pé da serra de Petrópolis e rotas de navegação no rio
Amazonas – já estavam em funcionamento no primeiro semestre de 1854. Por
sinal, foi na viagem inaugural da ferrovia, em 30 de abril de 1854, que Irineu
Evangelista foi agraciado com seu primeiro título de nobreza, Barão de Mauá.
19
É impossível, entretanto, pensar a trajetória de Mauá dissociada das
questões políticas, menos ainda, pensar a política do Império sem Mauá. É
necessário acrescentar que ele possuía aliados e desafetos poderosos e
grande habilidade política. Caldeira (1995) enumera algumas – não poucas –
iniciativas governamentais, que pareciam ser criadas exclusivamente para
prejudicá-lo, sobretudo no período de 1851 a 1853. Um exemplo claro foi a
estatização do Banco do Brasil; tão logo a direção das ações da empresa saiu
de suas mãos, houve uma mudança brusca nas linhas de crédito oferecidas.
A tudo isso o empresário reagia sem “bater de frente” com o
imperador D. Pedro II e seus ministros. Procurava soluções criativas dentro da
legislação vigente. Dessa forma, em 1854, Mauá inaugurou o Banco
Internacional Mauá, Mac Gregor & CIA, com a proposta de financiar operações
na Europa e também fornecer crédito para operações locais, criando assim a
primeira agência de câmbio a funcionar em âmbito nacional.
No mesmo ano, Mauá comprou uma fábrica de velas e sabão, a
Companhia Fluminense de Transportes, entrou com um aporte técnico em uma
concessão para explorar ouro no Maranhão, montou uma fábrica de diques
flutuantes, sugerida por um de seus funcionários de Ponta de Areia.
Com visão de negócios, estabeleceu para seus engenheiros a tarefa
de estudarem os caminhos da nova estrada de ferro, ligando o interior paulista
ao porto de Santos, possibilitando assim o escoamento da produção. Em 1856,
recebeu a concessão da construção da estrada de ferro, inaugurada onze anos
depois como Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.
Em 1857, algumas de suas aquisições não se mostravam lucrativas,
entre elas a Companhia Fluminense de Transporte, a Mineradora do
Maranhão, e a Companhia de Diques Flutuantes. Além disso, um grande
incêndio devastou a fábrica de Ponta de Areia, destruindo moldes da
construção de navios.
Na mesma época, fugindo das restrições cada vez maiores da
legislação brasileira, inaugurou uma filial de seu banco em Montevidéu,
expandindo seus negócios além das fronteiras brasileiras. Em 1858, durante
uma crise comercial iniciada nos Estados Unidos e com reflexos na cotação da
libra esterlina em relação à moeda brasileira, realizou uma enorme e arriscada
20
manobra de especulação financeira, com a qual obteve lucros altíssimos. O
episódio serviu para consolidar seu talento como estrategista financeiro,
enxergando uma oportunidade de enriquecer onde o senso comum via apenas
crise.
O mais interessante desse episódio é que, ao mesmo tempo em que
serviu para recrudescer o cerco do governo brasileiro às atividades de Mauá,
foi decisivo para que o empresário se tornasse mais conhecido e respeitado no
mercado londrino:
Até a operação de 1858, o grande volume de negócios,
as associações com Carruthers, Reynell de Castro e Mac
Gregor, as empresas brasileiras e o banco uruguaio –
tudo isso não significava grande coisa no mercado inglês.
(...) Agora, investidores de primeira aplicavam com Mauá.
(CALDEIRA, 1995, p. 361-362)
Esse reconhecimento no principal centro do capitalismo mundial
trouxe duas consequências imediatas para Mauá, a primeira boa, a segunda
nem tanto: o sucesso do lançamento das ações da ferrovia Santos-Jundiaí
(San Paulo Railway) no mercado londrino; e a criação do London and Brazilian
Bank, pelas mãos de ingleses que até então investiam com o barão. Esta
última novidade significava que, após décadas pregando sozinho a livre
concorrência no cenário brasileiro, finalmente ele teria um competidor à sua
altura.
1.3 – Os problemas começam
Enquanto isso, a década de 1860 se anunciava como turbulenta.
Primeiro, estourou a Guerra Civil americana (1861-1865), que alterou os
padrões do comércio internacional da época – os EUA eram os maiores
fornecedores de farinha de trigo e de algodão para a Inglaterra. Depois, a
Guerra do Paraguai, que reuniu Brasil, Argentina e Uruguai contra o governo
de Solano López.
21
Esta última, por sinal, Mauá fez o possível para evitar. Ao perceber o
início das tensões na região do Rio da Prata, chegou a mudar-se com a esposa
e os filhos mais velhos para uma propriedade rural sua no Uruguai e cercou-a
com arame farpado – o que não era hábito na região. Em seguida, tendo se
convencido das intenções bélicas do presidente argentino Bartolomé Mitre,
agiu como diplomata a fim de impedir o conflito. D. Pedro II não gostou de sua
atitude, a guerra não foi evitada – nem tampouco os prejuízos, comuns em
todas as guerras. Uma curiosidade sobre a atuação do Barão na crise platina é
a analogia proposta por Caldeira (id., p.401): “A filosofia do projeto (...) lembra
bastante a que vem regendo a organização do Mercosul...”. Em outras
palavras, o biógrafo compara a estratégia de Mauá para a região a uma forma
de organização econômica que só começou a ser posta em prática 130 anos
depois.
Todo esse contexto desfavorável fez com que Mauá tivesse uma
série de perdas na primeira metade da década – na ferrovia Santos-Jundiaí,
em seus bancos e, principalmente, na fábrica da Ponta de Areia, o primeiro
empreendimento criado por ele mesmo. Em 1865, vendeu a lucrativa
Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro para empresários ingleses,
e com isso obteve dois objetivos: reconquistou a confiança do mercado
londrino e reforçou seu caixa, então abalado pelos reveses dos anos anteriores
e com prognósticos negativos devido à guerra do Paraguai. Ou seja, reverteu a
tendência negativa do momento com apenas uma operação.
Caldeira observa que, nessa época, apesar de todas as dificuldades,
Mauá não deixava de pensar em alternativas inovadoras. O projeto que tinha
em mente “seria um grande banco de investimentos multinacional – se os
termos já tivessem sido inventados” (ibid., p.417), e distribuía a seus gerentes
instruções que soariam estranhas até aos mais bem informados investidores.
Todas as operações de seu banco – lucrativas ou não – deveriam ser
convertidas para o valor em ouro na cotação do dia, numa estratégia que
Caldeira (id., p.420) descreve da seguinte maneira:
muito antes de a palavra ser inventada, Mauá introduziu
um indexador, que servia para atualizar todos os valores
22
monetários. Em outras palavras, equipou suas empresas
com um instrumento para conviver com uma possível
onda de inflação – outra palavra que não tinha sido
inventada.
Isso quer dizer que, justamente no momento em que seus negócios
atravessavam a mais grave crise desde que ele começara a trabalhar (e já
contava mais de 40 anos de atividade), Mauá foi capaz de vislumbrar recursos
e mecanismos que estavam muito além do alcance de qualquer
contemporâneo seu.
Em 1867, reuniu todo o seu império em uma única empresa, a Mauá
& CIA, uma empresa comercial como nas origens de sua formação, tendo
como base a desativação de seu império para saldar dívidas e problemas
sofridos. Até então, somente ele próprio conhecia o somatório de sua fortuna.
Quando juntou seu numerário, mesmo com a derrocada, possuía no conjunto
da obra a quantia de 115 mil contos de réis, equivalente a 12 milhões de libras
esterlinas ou 60 milhões de dólares. No auge dessa trajetória, ele
tinha enfrentado muitas crises, e nelas venceu muito
mais que perdeu. Sentia-se jovem o suficiente para ousar
na hora das dificuldades, aproveitar os momentos
complicados para triturar adversários mais fracos.
Sempre sonhara grande, grande demais para que o
conselho tornasse mais prudente seu estilo arrojado.
(CALDEIRA, 1995, p.35)
Em 1874, recebeu uma carta tornando-o Visconde de Mauá, graças
a seu empenho na instalação dos cabos submarinos de telégrafo que ligaram o
Brasil à Europa.
Afastou-se da vida pública quando foi decretada sua falência e
morreu em 21 de outubro de 1889.
Segundo Marcovitch (2005, p.27), “onze anos antes, quando reunia a
maior parte de suas empresas, em um único conglomerado, o valor total de
23
seus ativos chegavam a 115 mil contos de réis, quantia superior ao orçamento
do Império”. O autor acrescenta que, graças aos investimentos que Mauá
possuía no Uruguai – propriedades agrícolas –, saldou todas as dívidas e
novamente em 1884 foi reabilitado no Brasil como comerciante e era
novamente um dos homens mais ricos do Brasil.
Neste capítulo foram identificadas as principais ações desenvolvidas
por Mauá, durante sua trajetória como o mais rico empresário do Império.
Nesse sentido, podemos verificar que ele durante aquele período foi
considerado um dos homens mais poderosos do país, com relações
importantes dentro e fora do Brasil.
Mauá trouxe para o Brasil inovações com a industrialização e o
desenvolvimento numa época adversa, quando se acreditava que o país tinha
apenas vocação agrícola e a produção e exportação de café ocupava
praticamente toda a pauta de política econômica do Império. Desta forma, não
podemos deixar de ressaltar que ele reunia características pró-ativas e baseou
todo o seu trabalho na busca de conhecimentos para a implementação de
ações, assumindo seus riscos.
24
CAPÍTULO II
ALGUMAS NOTAS SOBRE EMPREENDEDORISMO
2.1 – Origens do empreendedorismo
Apesar de o termo empreendedorismo estar cada vez mais em
evidência nos estudos e pesquisa acadêmicas e empresariais, é um conceito
antigo que assumiu diversas vertentes ao longo do tempo.
A palavra empreendedor (entrepreneur) surgiu na França por volta
dos séculos XVII e XVIII, com o objetivo de designar aquelas pessoas ousadas
que estimulavam o progresso econômico, mediante novas e melhores formas
de agir. No século XVII, surge a relação entre assumir riscos e o
empreendedorismo, bem como o próprio termo empreendedorismo, que
diferencia o fornecedor do capital, o capitalista, daquele que assume riscos, o
empreendedor.
No século XVIII, o capitalista e o empreendedor foram complemente
diferenciados, certamente em função do início da industrialização.
Com as mudanças históricas, o empreendedor ganhou novos
conceitos; na verdade, são definições sob outros ângulos de visão sobre o
mesmo tema.
Uma das primeiras definições da palavra “empreendedor” foi
elaborada no início do século XIX pelo economista francês J.B. Say, como
aquele que “transfere recursos econômicos de um setor de produtividade mais
baixa para um setor de produtividade mais elevada e de maior rendimento”.
O termo “entrepreneur” foi incorporado à língua inglesa no início do
século XIX. Entre os economistas modernos, quem mais se debruçou sobre o
tema foi Joseph Schumpeter, que teve grande influência sobre o
desenvolvimento da teoria e prática do empreendedorismo. Em seus estudos,
ele o descreve como a máquina propulsora do desenvolvimento da economia.
25
No século XX, o economista Joseph Schumpeter definiu
empreendedor como uma pessoa com criatividade e capaz de fazer sucesso
com inovações.
Em 1967, K. Knight e em 1970 Peter Drucker introduziram o conceito
de risco, definindo o empreendedor com alguém que precisa arriscar em algum
negócio.
O conceito de empreendedorismo é muito subjetivo, e acredita-se
que essa subjetividade se dá devido às diferentes concepções ainda não
consolidadas sobre o assunto ou por ainda se tratar de uma novidade,
principalmente no Brasil, onde o tema se popularizou a partir da década de 90,
paralelamente ao processo de privatização das grandes estatais e abertura do
mercado interno para concorrência externa.
2.2 – Perspectivas teóricas
Neste subcapítulo procuramos fazer uma breve revisão teórica
acerca do Empreendedorismo, em especial as contribuições de Schumpeter
(1949), segundo a descrição de Dornelas (2008) e de Filion (1991), de acordo
com a obra de Dolabela (1999).
Nosso objetivo principal é, no Capítulo III, aplicar estes conceitos à
trajetória do Barão de Mauá, a fim de verificar nela os atributos de
empreendedor.
Cabe ressaltar que, à época de Mauá – o século XIX – não existia
no Brasil a diferença entre o “empreendedor” e o “administrador” ou “gerente”
(DORNELAS, 2008), de modo que seria impossível que o Barão fosse assim
descrito por seus contemporâneos. No entanto, a partir da literatura teórica
disponível atualmente, poderemos reconstituir em sua trajetória as mesmas
características, atitudes e virtudes que compõem a imagem do empreendedor
atual.
Segundo Dornelas (ibid., p.10), a discussão sobre
empreendedorismo no Brasil só se estabelece a partir da década de 1990,
quando o país se recuperava de um período prolongado de recessão
econômica. Essa nova abordagem se expressa na criação e progressivo
26
fortalecimento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE2), assim como a Sociedade Brasileira para Exportação de Software
(SOFTEX3), entidades reconhecidas como promovedoras do
empreendedorismo – o que comprova quão recentes são os debates acerca
deste tema em nosso país.
Até então, o termo empreendedor era praticamente desconhecido e a
criação de pequenas empresas era limitada, em função do ambiente político e
econômico nada propício do país. Porém, não significa que elas não
existissem; deve-se salientar que muitos visionários atuaram em um cenário
obscuro, correram riscos e levaram suas ideias às últimas consequências. Um
deles, num passado mais remoto, foi o Barão de Mauá.
Dornelas (id., p.14) lembra que “a palavra empreendedor
(entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer aquele que assume riscos e
começa algo novo”. Destaca, portanto, o caráter inovador desse perfil. Ao
propor uma distinção entre empreendedor e administrador, o autor é taxativo:
“Todo empreendedor necessariamente deve ser um bom administrador para
obter sucesso, mas nem todo bom administrador é um empreendedor.” (ibid.,
p.15). Isto quer dizer que o empreendedor é o administrador que faz um “algo
mais” pelo seu próprio negócio, sobressaindo-se sobre os demais, mas
também por seu ramo de atuação – pois até mesmo seus concorrentes podem
aprender com seus exemplos e sucessos – e pelo seu país, na medida em que
contribui para o desenvolvimento econômico e para a inovação de técnicas de
produção e gestão, com novos produtos e serviços.
2 O SEBRAE criado no início da década de 70, mas apenas em 1990 ganhou a configuração que
possui atualmente, quando foi desvinculado da administração pública. Tem como objetivo promover o empreendedorismo e a auto-sustentabilidade de pessoas e comunidades. Hoje, é amplamente difundido entre os pequenos empresários brasileiros, com finalidade de informar e dar suporte necessário para a abertura de uma empresa, bem como acompanhar através de consultorias seu andamento, solucionando pequenos problemas do negócio, além de implantar uma cultura empreendedora nas universidades brasileiras, ao promover em parceria com outros países. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebrae. Acesso em 31-jan-2012)
3 A SOFTEX foi criada em 1996 para gerir o Programa para Promoção da Exportação do Software Brasileiro, considerado prioritário pelo governo federal. Seu objetivo principal é ampliar o mercado das empresas de software através da exportação e incentivar a produção nacional. Para tal, sua linha de ação inclui capacitação de recursos humanos para esse setor e apoio ao empreendedorismo e à inovação. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Softex e http://www.softex.br. Acessos em 31-jan-2012)
27
Dornelas afirma que empreendedorismo pode ser considerado como
o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam à
transformação de ideias e oportunidades:
O empreendedor é aquele que destrói a ordem
econômica existente pela introdução de novos produtos e
serviços, pela criação de novas formas de organização
ou pela exploração de novos recursos e materiais.
(SCHUMPETER (1949) apud DORNELAS (2008), p.22)
Essa é a teoria do empreendedorismo considerada mais importante
por associar o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao
aproveitamento de oportunidades. Os estudos sobre o comportamento do
empreendedor versam sobre a hipótese de que o sucesso do novo
empreendimento depende destes fatores.
Neste contexto, o empreendedor pode não somente inovar com
outras frentes de atuação, como também dentro do mesmo negócio.
Utilizando-se de outro teórico, Fernando Dolabela, podemos citar o
conceito de empreendedor como “uma pessoa que imagina, desenvolve e
realiza visões” (FILION (1991) apud DOLABELA, p.28).
O autor (ibid., p.28) acrescenta que o empreendedor é também um
ser social (produto do meio em que vive) e que o empreendedorismo pode ser
entendido com um fenômeno regional (alguns lugares têm perfil mais
empreendedor que outros). Com relação a este conceito ressaltamos a noção
de que o empreendedorismo não é um fenômeno inato; ele pode ser aprendido
e ensinado, construído. Foi derrubada a tese de que o empreendedorismo
pudesse ser herdado geneticamente. Então, os indivíduos não nascem
empreendedores, eles podem desenvolver ou não esta habilidade, de acordo
com seus interesses e com o meio social. Entretanto, ainda encontramos
estudos que reforçam essa tese. Desta forma, vale ressaltar que para fins
deste trabalho não existe o entendimento de que o empreendedorismo seja um
fenômeno nato.
28
2.3 – Características de um empreendedor
Neste subcapítulo, faremos uma breve descrição das características
principais do empreendedor, de acordo com as visões dos autores já citados
anteriormente, a fim de identificar as que podem ser encontradas na trajetória
empresarial do Barão de Mauá.
Segundo Dornelas (id., pp.17-18), são as seguintes características
que diferenciam o empreendedor:
1- são visionários, possuem visão de futuro a longo prazo;
2- sabem tomar decisões (não se sentem inseguros);
3- são indivíduos que fazem a diferença (sabem agregar valor aos
serviços e produtos que colocam no mercado);
4- sabem explorar ao máximo as oportunidades;
5- são determinados e dinâmicos;
6- são dedicados;
7- são otimistas e apaixonados pelo que fazem;
8- são independentes e constroem o próprio destino;
9- são líderes e formadores de equipe;
10- possuem conhecimento;
11- criam valor para a sociedade, são indivíduos que contribuem não
somente para o sucesso de seu negócio, mas também para o
desenvolvimento do país.
Em complemento às características já apontadas, acrescentamos
algumas ações consideradas empreendedoras de acordo com Dolabela (1999,
p.29). O autor aponta as seguintes:
a) a criação de uma empresa;
b) a compra uma empresa e a introdução de inovações em qualquer
aspecto da estratégia da empresa, (como na administração, venda, fabricação,
distribuição, marketing, etc.); e
29
c) a própria iniciativa de um empregado em promover inovações em
seu meio de trabalho constitui exemplos de empreendedorismo.
Essa descrição é importante na medida em que subsidiará a análise
da trajetória de Mauá e responderá à hipótese que originou este estudo.
30
CAPÍTULO III
MAUÁ E O EMPREENDEDORISMO:
UM ESTUDO DE CASO
Neste capítulo faremos um contraponto entre as características e
ações descritas na trajetória do Barão de Mauá com as fontes disponíveis
sobre o conceito de empreendedorismo.
Partindo para a análise do caso Mauá, podemos observar que, além
de ter se tornado um homem rico, com a competência para identificar
oportunidades, utilizava-se do conhecimento como base para o sucesso de
seus negócios e alavancou a economia brasileira ao colocá-lo em pratica.
A condição agroexportadora e escravista da economia brasileira no
século XIX, contexto no qual qualquer mudança significativa traria inovação e
desenvolvimento para o país – um país em que praticamente tudo ainda estava
por ser feito –, em nada desmerece a trajetória de Mauá; pelo contrário, mostra
o quanto ele é um personagem importante. De sua infância, quando aprendeu
as primeiras letras pela sua mãe, até a vinda para o Rio de Janeiro, quando
desde bem cedo começou a trabalhar, sua dedicação ao trabalho, aos estudos
e seu desenvolvimento profissional demonstram não apenas sua vocação para
os negócios como também seu interesse em investir na modernização do Brasil
através da aplicação das experiências vistas no exterior. Esta característica
pode ser considerada de um homem com visão à frente do seu tempo e dos
seus contemporâneos.
O segredo estava na maneira de administrar seus negócios, na
autonomia que permitia a seus subordinados, na descentralização da gestão,
nos bons salários pagos, nos incentivos a seus subordinados para abrirem
seus próprios negócios, além de financiamentos e indicação de clientes. Essa
era sua forma de administrar, ou seja, sua estratégia de gestão. Estudos sobre
a época demonstram que Mauá não acreditava no trabalho escravo como
recurso humano para a industrialização do país, e esta postura foi
provavelmente influenciada pela política do Império Britânico do século XIX de
31
pressionar os países americanos recém-independentes a abolir a escravidão. A
intenção era, com a expansão do trabalho assalariado, criar um mercado
consumidor cada vez maior para a crescente demanda de produtos
manufaturados, que agregavam mais valor às mercadorias em circulação.
A respeito do caráter ousado e inovador dessa iniciativa, Caldeira
(id., p.180-181) anota: “Trocar o comércio pela indústria, no Brasil, era quase
uma loucura naquela época. Todos os esforços de investimento na economia
se voltavam para derrubar mato, comprar escravos, construir sedes de
fazenda, esperar colheitas.” E complementa:
Ele tinha tido a ideia, abandonado uma posição
privilegiada num negócio seguro, corrido os riscos, e
agora colhia os frutos de seus bons cálculos. Fazia o que
queria, e haveria de ganhar respeito por sua ousada
aposta no futuro. Onde ninguém enxergava nada, ele via
tudo. (id., p.192)
Neste breves trechos da trajetória de Mauá já podemos observar as
características de um empreendedor. Aqui fica claro que Mauá se dedicava ao
conhecimento, precisava ter certeza de que suas impressões eram
suficientemente seguras para arriscar nos negócios. É notório o foco no
progresso e na inovação. Sua biografia demonstra que em pelo menos três
momentos de sua vida ele poderia ter se acomodado e administrado sua
fortuna, mas sempre preferiu os riscos bem calculados, cujos resultados
trariam desenvolvimento econômico e tecnológico. Ele tinha competência para
identificar oportunidades e pô-las em prática alavancando a economia do país.
Outro fator importante a ser destacado aqui é o fato de que, em um
determinado período de sua trajetória, Mauá teve suas relações com o Império
abaladas. Sua relação com Dom Pedro II ficou bastante turbulenta, mesmo
depois de ter prestado inúmeros favores à Coroa. Houve bastante oposição
política às inovações técnicas de Mauá, e a maior parte de seus biógrafos a
atribuem ao ciúme de seu sucesso, ou a um excessivo conservadorismo que
então dominava as principais esferas de poder (incluindo o próprio Imperador).
32
Além disso, Mauá sempre buscou uma boa relação – ainda que não muito
próxima – com as elites agrárias da época.
Segundo Caldeira (1995), Mauá administrava sozinho um grande
volume de negócios e de dinheiro, que eram tanto uma obrigação imposta por
sua foram de trabalhar quanto um prazer. Aqui ficam registradas outras
atitudes do homem que “do nada” construiu um complexo de indústrias e
comércio.
Quando encontramos, dentre as características do empreendedor,
que são indivíduos otimistas e apaixonados pelo que fazem, também
encontramos Mauá.
Aqui continuaremos a análise comparativa entre as ações de Mauá e
as características do perfil empreendedor apontadas por Dornelas (2008) no
capítulo anterior. A proposta é indicar as características e em seguida os
registros históricos que confirmam a tese.
Perfil empreendedor
Mauá
Visionários, possuem visão de futuro
a longo prazo
“Para um homem com seus
conhecimentos econômicos, ganhar
dinheiro com a especulação era uma
tarefa banal – mas ele preferia sair
pela trilha que ninguém via. O
invisível era seu caminho e seu
destino.” (CALDEIRA, 1995, p.304)
Sabem tomar decisões
“(...) um estilo de negócios estranho
aos costumes locais: corajoso,
inovador, ágil, eficiente,
meritocrático.” (ibid., p.258)
Sabem agregar valor a produtos e
serviços
“Trocar o comércio pela indústria, no
Brasil, era quase uma loucura
naquela época. (...) O estaleiro que
Irineu comprou era uma das maiores
33
empresas urbanas do Brasil – e mal
se distinguia de uma oficina artesanal.
(...) ele tinha tido a ideia, abandonado
uma posição privilegiada num negócio
seguro, corrido os riscos, e agora
colhia os frutos de seus bons
cálculos.” (ibid., p. 180-181 e 192)
Sabem explorar ao máximo as
oportunidades
“Para começar no trabalho Irineu
recebeu uma gramática inglesa, livros
sobre contabilidade e uns tantos
conselhos práticos. Tudo que viesse
para além disso dependeria de seus
resultados.” (ibid., p.116)
São otimistas
“Senhores acionistas do novo banco,
(...) o estabelecimento de que fazeis
parte abre uma picada, que com o
andar do tempo se transformará em
larga estrada a prosperidade pública.”
(SOUSA apud CALDEIRA, 1995, p.
226)
São independentes e constroem o
próprio destino
“Para quem começara rigorosamente
do nada e lutara sempre sozinho, não
era estranho o hábito de contar
apenas consigo mesmo. (...) Desde o
começo, a maioria ao redor duvidava,
desaconselhava, caçoava. Se fosse
ouvir os outros, não teria feito o que
fez. Teve de reagir sozinho contra
muitos, confiar apenas em seu
talento, duvidar do senso comum.”
(CALDEIRA, 1995, p.18)
34
São líderes e formadores de equipe
“Essa política pouco ortodoxa de
transformar cada empregado de
confiança em empresário ampliava
muito o raio de ação de Irineu. Sem
ela, seria inimaginável a montagem
de empresas separadas fisicamente
por milhares de quilômetros num
tempo de comunicações precárias.”
(ibid., p. 256)
Possuem conhecimento
“(...) passar os olhos numa pilha de
jornais das principais capitais do
mundo, e ler meio ao acaso o que
chamasse atenção num maço de
publicações de engenharia, finanças,
manuais técnicos dos produtos de alta
tecnologia da época – locomotivas,
motores a vapor, teares, fornos
siderúrgicos, produtos químicos,
aparelhos de precisão. “(ibid., p.16)
São dedicados
“(...) aproveitou o tempo extra, tanto
das folgas quanto das preocupações
menores, para se dedicar aos
estudos. Em três tempos tinha
dominado os segredos da língua
inglesa, e aprendido a calcular juros
compostos em libras.” (ibid., p.117)
Criam valor para a sociedade, são
indivíduos que contribuem não
somente para o sucesso de seu
negócio, mas também para o
desenvolvimento do país
“(...) fundou a indústria naval
brasileira, (...) implementou serviços
pioneiros, como a companhia de gás
para a iluminação pública do Rio de
Janeiro, a primeira estrada de ferro
(Raiz da Serra – Petrópolis),
implementou redes de cabos
35
telegráficos submarinos entre o Brasil
e a Europa.” (FREITAS, 2011, p. 41)
“Muito antes do surgimento da palavra
ele montara uma das primeiras
multinacionais conhecidas.”
(CALDEIRA, 1995, p.32-33)
São determinados e dinâmicos
“(...) a característica mais marcante
de Irineu: atacando em várias frentes
ao mesmo tempo, ele não perdia de
vista um único detalhe de cada
negócio.” (ibid., p.257)
Frente ao exposto, podemos verificar que embora Mauá, em seu
tempo, não tivesse nenhum conhecimento acerca das teorias sobre o
empreendedorismo, pode ser considerado um grande empreendedor. Os
registros históricos de suas atividades profissionais, comportamentos e
características confirmam essa tese.
36
CONCLUSÃO
Apesar de este trabalho falar por si só e confirmar a hipótese que o
originou – de que Mauá pode ser considerado exemplo de empreendedorismo
em sua época –, julgamos importante expor algumas questões. Em primeiro
lugar, falamos de um homem que reconhecidamente foi pioneiro, inovador e
contribuiu enormemente para o desenvolvimento do nosso país. Um homem de
origem simples, que poderia ter apostado suas fichas no comércio ou na
economia agroexportadora da época. No entanto, não se conformou com a
condição do país e vislumbrou novas possibilidades, num cenário pouco aberto
para as mudanças. Irineu sobe reconhecer as oportunidades de aprendizado e
crescimento a que teve acesso e fez delas trampolim, base para o seu
sucesso. Não podemos desconsiderar aqui suas relações dentro e fora do
Brasil que lhe possibilitaram voos mais altos.
Como primeiro grande empresário do Brasil, tinha habilidade para
lidar com as questões políticas que permeavam suas ações. Fez amigos e
inimigos, segundo ele gratuitos. Sonhava em ser visto “como inovador
apaixonado, patriota correto, homem de bem e apóstolo de um mundo novo”
(CALDEIRA, 1995, p. 33).
Em suas palavras estava claro que não via no cenário do país
terreno fértil para mudanças: “(...) o que infelizmente nos falta, senhores, é a
perseverança, a força de vontade, tão necessária para se alcançar tão grandes
fins” (ibid., p. 224); porém, como administrador reconhecido internacionalmente
pela utilização de técnicas muitos sofisticadas, foi admirado, “era o ilustre
homem que trouxe a civilização até as selvas do Amazonas” (ibid., p.33).
Mauá, no comando e administração de seus negócios, não
acreditava no trabalho escravo. Foi obrigado a lidar com a escravidão, mas só
a utilizava quando estritamente necessário. Em sua gestão estavam as
estratégias de descentralização, valorização do trabalhador, e incentivos ao
empreendedorismo entre seus empregados. Ele exigia que os escravos
tivessem o mesmo tratamento dos demais trabalhadores, o que
homogeneizava o comportamento dentro de suas empresas. Não é necessário
reafirmar o caráter polêmico dessa iniciativa: “Irineu considerava um ótimo
37
gasto investir em salários mais altos, para ter o melhor pessoal disponível a
seu lado” (ibid., p.256).
Essa postura demonstra claramente sua estratégia de gestão. É
difícil imaginar esse tipo de comportamento naquele período; por outro lado,
observa-se o quanto foi produtivo a Mauá ter se investido de conhecimento
sobre as teorias liberais que estavam em voga na Inglaterra.
Apesar da forte oposição que setores do governo lhe impuseram
desde o início de sua atividade industrial, por volta de 1850, e que ocasionaram
a falência de seus negócios e muitas dívidas na década seguinte, não se
abateu e retornou às atividades, pagando a todos os seus credores.
Mauá apostou nos seus ideais, correu riscos, ganhou, perdeu,
sempre fiel a seus princípios e projetos, que em alguns momentos se
confundiam com as necessidades da nação. Em outros momentos, sua
atividade tornou-o odiado, ferindo interesses e a vaidade de políticos e do
próprio Imperador, os quais o fizeram ser visto como o grande traidor da pátria.
Nesse sentido, é definitivo o resumo de Caldeira (id., p.414): ele “deixara de ser
um rico particular, ainda em 1846, para assumir a tarefa de mudar a face dos
negócios em seu país”.
Sua trajetória é digna de muitos estudos, até hoje se mostra
atualizada. Anos após sua morte, seu legado ainda é objeto de interesse e
estudos nas mais diversas áreas do conhecimento. Não se pode negar, foi o
homem de um brilhantismo que até hoje nos apaixona.
Estudar o tema empreendedorismo a partir da trajetória de Mauá nos
leva a refletir sobre muitas questões, dentre elas o porquê de este termo está
tão em voga.
Atualmente não é difícil ouvir em diferentes discursos que o
empreendedorismo é uma característica fundamental para o mercado
profissional, e que está cada vez maior a preocupação das instituições em
formar novos empreendedores, mentes que somem ao negócio e à sociedade
como um todo.
É notório que as organizações possuem uma grande necessidade de
buscar e desenvolver profissionais com perfil empreendedor, devido ao fato de
estes serem os responsáveis pelas modificações, criações e visões inovadoras
38
para se obter um destaque maior e uma diferenciação positiva frente à
concorrência. Neste aspecto destaca-se o lado do funcionário-empreendedor,
diverso daquele que se torna dono da própria empresa.
É visível que existe uma “febre”, um alto nível de incentivo a práticas
consideradas “empreendedoras”, aquelas do tipo “abra seu próprio negócio,
seja seu próprio patrão”. Não se pode generalizar sobre isto, mas
consideramos importante ressaltar que é preciso deixar a esfera do senso
comum e partir para ações que de fato sejam empreendedoras.
O referencial teórico utilizado serve como arcabouço para se pensar
as estratégias empreendedoras, as práticas e os processos que estão
espalhados por aí de forma crítica e construtiva. Pois embora o
empreendedorismo ainda seja um conceito subjetivo, em estudo e com
algumas interpretações, não pode ser utilizado para agregar valor a ações
inférteis e improdutivas.
39
BIBLIOGRAFIA
CALDEIRA, Jorge. Mauá: o empresário do Império. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
DOLABELA, Fernando. O segredo de Luísa. São Paulo: Cultura Editores
Associados, 1999.
DORNELAS, J.C.A. O processo empreendedor. In: Empreendedorismo:
transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
DRUCKER, Peter F. Inovação e espírito empreendedor. Práticas e princípios.
São Paulo: Pioneira, 1987.
FREITAS, Eber. Mauá: o empreendedor que industrializou o Brasil. In:
Administradores, Ano 1, nº7, jul/2011.
MARCOVITCH, Jacques. Mauá. In: Pioneiros e empreendedores: A saga do
desenvolvimento do Brasil. Vol.2. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo, 2005.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
40
WEBGRAFIA
WIKIPÉDIA. Empreendedorismo.http://pt.wikipedia.org/wiki/Empreendedorismo.
Acesso em 26/jan/2012.
41
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO........................................................................................2
AGRADECIMENTOS.....................................................................................3
DEDICATÓRIA...............................................................................................4
RESUMO........................................................................................................5
METODOLOGIA.............................................................................................6
SUMÁRIO.......................................................................................................8
INTRODUÇÃO...............................................................................................9
CAPÍTULO I
A TRAJETÓRIA DE IRINEU EVANGELISTA DE SOUSA, O BARÃO DE
MAUÁ..........................................................................................................12
1.1 O início de tudo.....................................................................................12
1.2 Mudança de rumo: apogeu de Mauá....................................................17
1.3 Os problemas começam.......................................................................20
CAPÍTULO II
ALGUMAS NOTAS SOBRE EMPREENDEDORISMO .............................24
2.1 Origens do Empreendedorismo...........................................................24
2.2 Perspectivas teóricas...........................................................................25
2.3 Características de um empreendedor..................................................28
CAPITULO III
MAUÁ E O EMPREENDEDORISMO: UM ESTUDO DE CASO..............30
CONCLUSÃO..........................................................................................36
BIBLIOGRAFIA........................................................................................39
WEBGRAFIA............................................................................................40
ÍNDICE.....................................................................................................41