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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA INTERNATO DE PRÁTICAS EM PEDIATRIA HRAS/HMIB Caso Clínico Perfuração intestinal espontânea idiopática em um recém nascido pré- termo extremo Apresentação: Patrícia B.M. Castro, Helena Araújo Lapa; Danielle Gumieiro, Sarah A. Cardoso e Thales da Silva Antunes Coordenação: Paulo R. Margotto www.paulomargotto.com.br Brasília, 14 de março de 2014

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA INTERNATO DE PRÁTICAS EM PEDIATRIA HRAS/HMIB. Apresentação: Patrícia B.M. Castro, Helena Araújo Lapa; Danielle Gumieiro, Sarah A. Cardoso e Thales da Silva Antunes Coordenação: Paulo R. Margotto. www.paulomargotto.com.br Brasília, 14 de março de 2014. - PowerPoint PPT Presentation

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIAINTERNATO DE PRÁTICAS EM PEDIATRIA

HRAS/HMIB

Caso Clínico Perfuração intestinal espontânea idiopática em um recém

nascido pré-termo extremo

Apresentação: Patrícia B.M. Castro, Helena Araújo Lapa; Danielle Gumieiro, Sarah A. Cardoso e Thales da Silva Antunes

Coordenação: Paulo R. Margotto

www.paulomargotto.com.br Brasília, 14 de março de 2014

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Dda Helena, Dda Sarah, Dra. Patrícia, Ddo Thales e Dda Danielle

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Descrição do caso

Data do parto: 29/01/14 (HRSM) IG: 27s+5d Peso 1000g Parto transvaginal, sexo feminino, gestação única 36cm de estatura e 24cm de PC Líquido amniótico claro Amniorrexe de 11 horas Ao nascer: Apgar 7/9, hipotônica Foi reanimada

Mãe: 22 anos G1P0C0A0 Sem relatos ou evidências de

infecção materna durante a gestação.

Sorologias maternas para HIV e sífilis na admissão: NR

Realizou 3 consultas pré-natais. Tipo sanguíneo: O negativo.

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Evolução do caso

Dieta zero, com sonda orogástrica fechada, recebeu vitamina K, além da vacina anti-hepatite B e nitrato de prata. Recebeu uma dose de surfactante. Foi submetida a catateterismo de veia umbilical. Foi assumida sepse precoce e iniciado esquema de ampicilina 100mg 2xdia e gentamicina 5mg de 48/48h.

Com 8h de vida foi transferida para Sobradinho. Há relato de leucocitose materna com desvio à esquerda (valores

não encontrados no prontuário eletrônico) no mesmo dia do parto. A RN permaneceu em ventilação mecânica e dieta zero. Os exames laboratoriais estavam normais. Foi submetida à radiografia de tórax, que não evidenciou

alteração.

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Evolução do caso Iniciada dieta enteral mínima (2ml), com 19 horas de vida, além de aminofilina. Apresentou episódios de hipotermia. Diurese positiva, porém sem eliminação de mecônio. A dieta enteral mínima foi suspensa 24h após a introdução, devido à distensão abdominal. Foi retirado o cateter umbilical e introduzido cateter central de inserção periférico (PICC), pois apresentava halo avermelhado ao redor do coto umbilical. Com 47 horas de vida, foi extubada e deixada sob ventilação não invasiva. Não apresentou evacuação nas primeiras 48 horas.

A radiografia com 50 horas de vida apresentou pneumoperitônio e infiltrado pulmonar bilateral (vide RX de abdomen total a seguir).

O RN foi colocado novamente em ventilação mecânica, sendo introduzido o metronidazol, dopamina 5mcg/kg/min e tracionado PICC.

Apresentou sangramento vermelho vivo na sonda orotraqueal. Foi diagnosticado quadro de anemia, sendo indicada a reposição de

concentrado de hemácias. Com 3 dias de vida, apresentou icterícia (++/4+ zona IV de Kramer). A sonda orogástrica apresentava, ainda, rajas de sangue vermelho vivo.

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Evolução do caso

Com 75 horas de vida foi transferida para o HRAS/HMIB. O abdome permanecia globoso, distendido, e o peristaltismo estava ausente. Foi avaliada de imediato pela cirurgia pediátrica, que optou por abordagem clínica. Foi submetida a fototerapia contínua. Foi diagnosticada com persistência do canal arterial (PCA), com repercussão hemodinâmica, porém, após avaliação, a equipe decidiu que não havia condições clínicas para o início da terapia.

Após reavaliação pela Cirurgia Pediátrica foi decidida abordagem cirúrgica da perfuração intestinal.

Com 97 horas de vida foi submetida à laparotomia exploradora, que evidenciou perfuração intestinal em íleo distal a 10 cm da válvula ileocecal, sendo considerado como provável causa o íleo meconial.

A cirurgia transcorreu sem complicações. Foi então realizada a enterectomia de cerca de 2cm, incluindo o local da perfuração,

com enteroanastomose término-terminal íleo-ileal.Laudo: segmento de intestino delgado exibindo edema, vasocongestão acentuada e

processo inflamatório agudo; presença de células ganglionares em plexos nervosos Não foram evidenciadas outras alterações intra-abdominais.

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Evolução do caso

Com 103 horas de vida, apresentou episódio de sangramento vermelho vivo de grande monta no aspirado do tubo orotraqueal, sendo então prescrito plasma e hemácias. 5º dia: os antibióticos foram trocados por vancomicina e TazocinR. 6º dia: realizado novo ecocardiograma que evidenciou PCA de 3,8mm com shunt E/D e forame oval patente (FOP). 8º dia: apresentou melhora da hemorragia pulmonar. Foi introduzida nutrição parenteral total (NPT) e mudança de fototerapia dupla para única.

9º dia: ecografia cerebral evidenciou dilatação ventricular esquerda de 7mm e Infarto Hemorrágico parieto-occipital a direita (hemorragia grau IV)(vide imagem a seguir)

10º dia: apresentou evacuação e SOG sem débito. - Repetido ecocardiograma, que evidenciou PCA de 3,8mm com shunt E/D e fluxo reverso na Ao descendente, além de dilatação de AE, relação Canal Arterial/ramo esquerdo AP = 1,1. - Foi realizada ainda radiografia de tórax mostrando imagem com aspecto de displasia broncopulmonar (vide RX de tórax a seguir).

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13,5mm

VE VD

Hemorragia intraventricular Grau III

Escape diastólico-PCA

Infarto hemorrágico periventricular a direita

Ecografia cerebral

Margotto, PR

Margotto, PR

Margotto, PR

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Evolução do caso

o 11º dia: suspensa a dieta, devido saída de secreção marrom, evoluindo para esverdeada, na SOG, além de aspirado orotraqueal com saída de secreção amarelada e sanguinolenta. - Foi suspensa a fototerapia.o 12º dia: sonda orogástrica sem débito, com eliminações fisiológicas presentes.o 13º dia: reintroduzida a nutrição enteral.o 14º dia: radiografia de tórax mostrou presença de infiltrado inalterado, porém com melhora da hiperinsuflação pulmonar.

o 15º dia: apresentou melhora do estado geral e do padrão respiratório, sendo então realizada progressão lenta da dieta.

- Estava previsto a prescrição de Ibuprofeno no dia seguinte se seguisse com boa digestibilidade.o 16º dia: apresentou um episódio de vômito esverdeado, em moderada quantidade,

sem outras intercorrências, sendo então suspensa a dieta. o 17º dia: apresentou pequena quantidade de secreção esverdeada em SOG. Aguardado

melhor momento para iniciar ibuprofeno.o 18º dia: SOG com débito de 5ml de secreção verde clara em 24 horas. Dieta reiniciada.

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Resultados de exames

Hemocultura do dia 05/02/2014: Pseudomonas aeruginosa multissensível, sensível a piperacilina-tazobactam.

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•DISCUSSÃO

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Perfuração Intestinal Espontânea (PIE) É uma rara entidade, de etiologia ainda desconhecida.

Sendo uma patologia que se apresenta com necrose e perfuração focal de um pequeno segmento de intestino delgado (mais comum), geralmente distal, em intestino de aspecto normal, sem características macro ou microscópicas de enterocolite necrosante.

Epidemiologia: A incidência global em recém-nascidos de extremo baixo peso (≤1000g) é estimada em 5% a 6%.

Os recém-nascidos são de extremo baixo peso (~700 g) e prematuros (~25 semanas).

O local de acometimento mais frequente é o íleo terminal (devido à vascularização específica) e, secundariamente, o cólon transverso e o cólon descendente.

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Perfuração Intestinal Espontânea - Etiologia Ventilação mecânica por máscara; Doença da membrana hialina; Uso de cateter de artéria umbilical (formação de trombos e liberação sob a forma de pequenos êmbolos); Defeitos congênitos da musculatura intestinal; Episódios de hipoxia e isquemia (hipoperfuração intestinal transitória, ulceração de mucosa e submucosa, necrose transmural e perfuração); Indometacina; ibuprofeno oralUso de dexametasona precoce no tratamento da displasia broncopulmonar (aumenta o risco em 12,3 vezes mais(Gordon et al, 1999)Pré-eclâmpsia:risco de 13,5 (1,82-65,1) (Yilmaz et al, 2013) Corioamnionite subclínica/Candida; Staphylococcus coagulase-negativo.

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Perfuração Intestinal Espontânea - Clínica O início dos sintomas usualmente ocorre no começo da segunda semana de vida

Os recém-nascidos têm melhores condições clínicas que aqueles com enterocolite necrosante.

A distensão abdominal é o sinal mais comum e precoce.

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Perfuração Intestinal Espontânea - Indometacina A indometacina age inibindo a síntese das prostaglandinas, sendo utilizado no fechamento do ducto arterial;

Em um estudo realizado por Rajan Wadhawan et al, verificou-se que, a indometacina usada para tratar a persistência do canal arterial (PCA), aumentou o risco de PIE (OR ajustada:1,61;IC a 95%:1,25-2,08)

Em contrapartida, a indometacina de uso profilático para a prevenção da hemorragia intraventricular e o corticosteróide pré-natal não se associaram a PIE;A razão para esta diferença não está clara; no entanto, a administração de indometacina na PCA hemodinamicamente significativa pode piorar o já comprometido fluxo sanguíneo intestinal.

Attridge et al relataram que a associação de PIE com PCA e o uso de drogas vasoativas durante os primeiros dias de vida, dá mais apoio à possibilidade de hipoperfusão intestinal;

Outro fator é que a dose de indometacina utilizada para tratar PCA é maior que a dose usada na profilaxia da hemorragia intraventricular, o que possibilita esses resultados.

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Regressão logística: Odds ratio ajustada para PIE versus não PIE:(sepse precoce (early onset sepsis), esteróide pós-natal e Centro

foram também incluídos no modelo de regressão logística)

Observem que o sexo masculino, uso de antibióticos no pré-natal e indometacina para o

tratamento da PCA associaram-se significativamente com PIE

Wadhawan et al,2013

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Regressão logística: Odds ratio ajustada para deficiente neurodesenvolvimento/morte (esteróide pós-natal e o Centro

foram incluídos também no modelo de regressão logística)

Observem que a PIE, sexo masculino, Apgar de 5min<3, severa hemorragia intraventricular, cirurgia para aPCA, Educação materna com menos horasd, Displasia broncopulmonar e

Leucomalácia periventricular (PVL) associaram-se ao deficiente neurodesenvolvimento

Wadhawan et al,2013

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• A PIE associou-se independentemente com o aumento do risco de morte e deficiente neurodesenvolvimento (OR ajustada: 1,85; IC a 95%:1,32-2,60) e deficiente neurodesenvolvimento nos sobreviventes (OR ajustada:1,75;IC a 95%:1,20-2,55) (Wadhawan et al,2013)

Perfuração Intestinal Espontânea - Neurodesenvolvimento

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• Tatli et al (2004), descreveram dois casos de PIE em RN sob o uso de ibuprofeno oral (um RN de 29 semanas fez uso de ibuprofeno oral profilático e o outro, de 30 semanas, usou a medicação aos 2 dias, devido a uma PCA de 2mm).

• Mecanismo provável: -por via oral, a administração de

de indometacina causou perfuração intestinal via inibição local da síntese de prostaglandinas (segundo Alpan, 1985) e da mesma forma, o ibuprofeno de uso oral pode enfraquecer os mecanismos de proteção do intestino via mecanismos similares ao da indometacina

Embora o ibuprofeno é um tratamento alternativo razoável à indometacina, ensaios clínicos randomizados, são necessários ensaios

clínicos que abordem os potenciais efeitos adversos incluindo a perfuração intestinal espontânea.

Perfuração Intestinal Espontânea – Ibuprofeno oral

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Perfuração Intestinal Espontânea - CorioamnioniteDefinição da corioamnionite:

Considerando o parto prematuro e sua relação com a infecção materna, a corioamnionite se revelou um fator de risco importante na evolução dos recém-nascidos com menos de 30 semanas de gestação, tanto em relação à infecção neonatal quanto ao desenvolvimento posterior de sequelas;

Na impossibilidade de se evitar a infecção materna, a corioamnionite é um marcador importante para diversos riscos na evolução neonatal, como o parto prematuro, a rotura prematura de membranas, a asfixia perinatal, a sepse precoce, a pneumonia, a broncodisplasia pulmonar, a hemorragia intraventricular e leucomálacia;

Sabe-se que quanto mais tempo o feto permanece no útero infectado, maior é a chance de desenvolver infecção e outras complicações a curto e longo prazo. Em um estudo multicêntrico da Rede de Medicina Materna-Fetal (Maternal-Fetal Medicine Network), publicado em 2004, um dos principais achados foi o risco aumentado de morbidade materna e fetal com a presença de coriomnionite (sepse neonatal, convulsões neonatais, escore de Apgar baixo no 5º. minuto).

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Perfuração Intestinal Espontânea - CorioamnioniteDiagnóstico da corioamnionite:

Corioamnionite é a inflamação das membranas amnióticas representando uma infecção intraútero. Na maioria das vezes, a corioamnionite é primeiramente identificada segundo critérios clínicos como diagnóstico materno pré-natal.

Considera-se corioamnionite clínica quando a gestante apresenta temperatura axilar maior que 38oC com 2 ou mais dos seguintes achados:- leucocitose maior que 15000 células/mm3;- taquicardia materna maior que 100 batimentos por minuto;- taquicardia fetal maior que 160 batimentos por minuto;- útero doloroso;- secreção vaginal fétida.

As contrações uterinas e o trabalho de parto prematuro parecem ser a apresentação mais comum do quadro de infecção intrauterina. A partir deste dado, têm-se valorizado o diagnóstico de corioamnionite assintomática e, portanto, é necessário identificar a corioamnionite através de outros métodos.

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Perfuração Intestinal Espontânea - CorioamnioniteDiagnóstico da corioamnionite:

De uma maneira mais criteriosa, pode-se citar três outras definições para a corioamnionite:

-microbiológica – detecção de bactéria, seja por cultura positiva ou com reação de polimerase em cadeia do líquido amniótico ou das membranas corioamniônica-histológica – invasão de leucócitos polimorfonucleares nas membranas, no cordão umbilical e/ou na placa coriônica; Microorganismos são identificados em cerca de 70% das placentas com corioamnionite histológica. -bioquímica – elevação das citocinas pro-inflamatórias no líquido amniótico como medida indireta de infecção. A elevação de interleucina-6 (IL-6), interleucina-8 (IL-8) e fator de necrose tumoral-alfa (FNT-alfa) relacionada à infecção intra-útero e trabalho de parto prematuro. Da mesma forma, a proteína C-reativa (PCR) e a metaloproteinase (MMP) é também um marcador de processo inflamatório.

O grande número de critérios para o diagnóstico da corioamnionite reflete a dificuldade técnica, tendo em vista não haver um critério isolado com boa sensibilidade e especificidade facilmente aplicável para a identificação bacteriana. De qualquer forma, tanto a corioamnionite histológica quanto à bioquímica cumprem o papel de identificar o processo inflamatório fetal .

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Perfuração Intestinal Espontânea - CorioamnioniteImportância:

A importância da corioamnionite não se resume apenas à conduta obstétrica de início da antibioticoterapia ou decisão de interromper a gestação. Identificar as crianças expostas à infecção intrauterina deve ser uma conduta específica no recém-nascido, seja voltado para o tratamento da infecção precoce ou para minimizar os efeitos deletérios da síndrome inflamatória sistêmica fetal.

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Perfuração Intestinal Espontânea - CorioamnioniteRagouilliaux et al (2007) constataram que existem diferenças nos achados histopatológicos de placentas de recém-nascidos que desenvolveram perfuração intestinal espontânea (PIE) em comparação com as crianças que não desenvolveram.

Há evidências de que a inflamação pré-natal também tem como alvo o intestino fetal, porque há um aumento da incidência de Enterocolite Necrosante em crianças cujas placentas exibiram uma resposta inflamatória fetal e em prematuros com elevados níveis de mediadores pró-inflamatórios umbilicais.

Os resultados mostraram uma tendência maior para corioamnionite grave com resposta inflamatória fetal no grupo de perfuração intestinal espontânea (53% vs 27%).

Além disso, a produção placentária de interleucina-1β é aumentada na corioamnionite e tem sido associada a danos da mucosa intestinal.

Postula-se que a lesão tecidual está envolvida na patogênese da PIE.

Além dos resultados da placenta, relatou-se uma alta incidência global de Candida nos bebês com PIE, particularmente nas primeiras 2 semanas de vida.

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• Ragouilliaux C (2007): 15 casos de PIE (média de 9,5±3,5 dias-4-14 dias)) X 33 controles

Corioamnionite e perfuração intestinal espontânea (PIE) em RN de extremo baixo peso

(<1000g)

Achados placentários

PIE:15(%) Controles:33(%)

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Corioamnionite e perfuração intestinal espontânea (PIE) em RN de extremo baixo peso

(<1000g)Dados de doença infecciosa

PIE:16(%) Controles:33 (%)

Patogênese:lesão da mucosa intestinal pela aumento da produção de linterleucina 1-ß pela corioamnionite translocação de Candida e

Staphylococcus para circulação sistêmica Whyte (1982): 18 casos de Corioamnionite candidal (alta proporção de mães tratadas com antibiótico)

Uso de antibiótico materno(%) 93 57 0,018

Page 30: UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA INTERNATO DE PRÁTICAS EM PEDIATRIA HRAS/HMIB

CONSULTEM O ARTIGO INTEGRAL

Maternal factors in extremely low birth weight infants who develop spontaneous intestinal perforation.

Ragouilliaux CJ, Keeney SE, Hawkins HK, Rowen JL.Pediatrics. 2007 Dec;120(6):e1458-64

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Perfuração Intestinal Espontânea - DiagnósticoA clínica é apresentada em prematuros de muito baixo peso (< 1.000 g) e frequente em bebes que necessitam de ventilação mecânica. Compatível com o quadro clínico da paciente do caso;

O início dos sintomas usualmente ocorre no começo da segunda semana de vida e os RN têm melhores condições clínicas que aqueles com enterocolite necrosante (ECN);

A distensão abdominal é o sinal mais comum e precoce. A paciente iniciou a distensão abdominal com menos de 48 horas de vida;

As crianças com PIE são afetadas mais cedo (7 a 10 dias de vida);

Podem apresentar, ainda, vômitos biliosos ou drenagem biliosa pela sonda nasogástrica. A paciente em questão apresentou este quadro no 11º e 16º dia de internação resultando na suspensão da dieta;

Leucocitose com desvio à esquerda, na ausência de trombocitopenia.

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Perfuração Intestinal Espontânea - DiagnósticoAo exame radiográfico podemos ter achados como pneumoperitônio; é possível a ausência de pneumatose intestinal e de gás na veia porta. Como a perfuração pode sofrer bloqueio (processo de penetração gradual e de disseminação limitada), pode aparecer ascite e/ou abdome com poucos níveis aéreos intestinais. A ultrassonografia é indicada nos casos com presença de ascite. A radiografia da paciente com 50 horas de vida apresentou pneumoperitônio e infiltrado pulmonar bilateral;

De acordo com Lima et al. “Nos achados cirúrgicos, apresenta-se como uma doença limitada, com extensão de no máximo 3 cm, com perfuração solitária no íleo médio ou distal, medindo mais ou menos 5 a 10 mm de diâmetro, com o restante do intestino de apresentação normal”; “não indicamos a drenagem peritoneal, porém alguns autores preconizam seu uso”. Com 97 horas de vida a paciente foi submetida à laparotomia exploradora, que evidenciou perfuração intestinal em íleo distal a 10 cm da válvula ileocecal;

Os achados histopatológicos encontrados são necrose hemorrágica, confinada ao sítio de perfuração e intestino adjacente normal, com ausência de pneumatose intestinal intramural e necrose de coagulação.

Laudo da biópsia do nosso paciente: segmento de íleo terminal mostrando edema, vasocongestão acentuada e processo inflamatório agudo; presença de

células ganglionares em plexos nervosos

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LAUDO DA BIÓPSIA

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Perfuração Intestinal Espontânea Idiopática

Causas:

Tratamento:

Ventilação mecânica por máscara; Doença da membrana hialina; Uso de cateter de artéria umbilical; Defeitos congênitos da musculatura intestinal; Episódios de hipóxia e isquemia.

Drenagem peritoneal;

Laparotomia transversa supraumbilical direita com enterotomia em alça;

Ressecção limitada e anastomose primária.

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Perfuração Intestinal Espontânea Idiopática- Tratamento

Um estudo controlado randomizado onde uma amostra de RN foi dividida em: grupo com drenagem peritoneal e grupo com laparotomia teve o seguinte resultado: 64% dos recém-nascidos tratados com drenagem peritoneal necessitaram de laparotomia posterior; Drenagem peritoneal é ineficaz e uma laparotomia de "resgate" deve sempre ser considerada.

O procedimento a ser realizado encontra-se na dependência do estado clínico do RN, bem como o grau de prematuridade e presença ou não de peritonite difusa.

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Principais Causas de Perfuração Intestinal

• Enterocolite necrosante• Íleo meconial• Malformações• Obstrução intestinal

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Enterocolite Necrosante

o As perfurações intestinais espontâneas, muitas vezes, tem sido classificadas como ECN.o A fisiopatogenia é diferente.o A perfuração intestinal espontânea geralmente ocorre nos primeiros dias após o nascimento e não está associada com alimentação enteral.o É uma doença grave que provoca necrose da mucosa do intestino delgado ou do colo.o Doença de RN de baixo peso e prematuroo É consequência direta da isquemia intestinal, a qual decorre de uma redução no fluxo sanguíneo mesentérico;o A doença raramente ocorre em RN que não tenha sido previamente alimentado (leite de vaca e dietas hiperosmolares).

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Enterocolite Necrosante – Tratamento

Alimentação oral deve ser imediatamente interrompida e realiza-se descompressão gástrica por meio de sonda nasogástrica; As crianças desidratadas, em choque ou em acidose metabólica devem ser adequadamente compensadas e instalar nutrição parenteral; Antibioticoterapia visando combater bactérias Gram - positivas, Gram - negativas e anaeróbias.

O tratamento cirúrgico deve ser realizado sempre que houver evidência de perfuração em peritônio livre ou necrose de toda a parede intestinal.

Enterocolite necrosanteAutor(es): Martha G. Vieira, Paulo R. Margotto       

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Peritonite Meconial

Peritonite meconial é o termo utilizado para designar toda perfuração que ocorre em consequência de íleo meconial;

A perfuração leva a extravasamento de mecônio para a cavidade peritoneal, determinando peritonite química, irritativa e asséptica;

Raio - X simples de abdome: distribuição de gases, presença de líquido e calcificações intraperitoneais.

Tratamento: consiste em laparotomia exploradora transversa.

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HOJE, 13 de março de 2014• RN evoluiu com sepse tardia (Pseudomona aeruginosa;

Enterococcus faecalis); hoje, com 42 dias de vida (Idade gestacional pós-concepção de 32sem2dias) em O2 livre, canal arterial fechado, com grave hidrocefalia pós-hemorrágica, tendo sido submetido à drenagem ventrículoperitoneal (dreno não funcionante, sendo programado a sua troca)

Cisto porencefálico(devido ao infarto

hemorrágico periventricular)se comunicando com o

ventrículo direito

Realizado por Margotto, PR

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Portanto...

Trata-se de um recém-nascido pré-termo extremo que apresentou perfuração intestinal

espontânea com 2 dias e a provável causa, corioamnionite (Patogênese:lesão da

mucosa intestinal pela aumento da produção de interleucina 1-ß pela corioamnionite translocação de Candida e Staphylococcus

para circulação sistêmica)

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Referências1)Ragouilliaux CJ, Keeney SE, Hawkins HL et al.

Maternal factors in extremely low birth weight infants who develop spontaneous intestinal perforation Pediatrics 2007;120;e1458-64. ARTIGO INTEGRALl

2)Wadhawan R, Oh W, Vohr BR et al. Spontaneous intestinal perforation in extremely low birth weight infants: association with indometacin therapy and effects on neurodevelopmental outcomes at 18-22 months correct age. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2013; 98(2):F127-F132

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3)León Del Pedregal, Jorge; Bancalari M., Aldo; Pavez M., Paula A Perforación intestinal espontánea durante el período neonatal. Rev Chil Pediatr 2006;77 (5); 506-511

4)Lima, Fernanda Cardilo; et al. Pediatria Moderna Fev 13 V 49 N 2.. Relato de Caso. Perfuração intestinal espontânea idiopática do recém-nascido: relato de dois casos. Disponível em:Perfuração intestinal espontânea idiopática do recém-nascido

5)Doenças cirúrgicas da criança e do adolescente/coordenador Uenis Tannuri.-Barueri, SP: Manole, 2010. - (Coleção pediatria. Instituto da Criança HC-FMUSP;13/editores Benita G. Soares Schvartsman, Paulo Taufi Maluf Jr)

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6) MM Tatli, A Kumral, N Duman et al.Spontaneous intestinal perforation after oral ibuprofen treatment of patent ductus arteriosus in two very-low-birthweight infants. Acta Paediatr. 2004 Jul;93(7):999-1001

7) Attridge JT, Clark R, Gordon PV. New insights into spontaneous intestinal perforation using a national data set (3): antenatal steroids have no adverse association with spontaneous intestinal perforation.J Perinatol. 2006 Nov;26(11):667-70. ARTIGO INTEGRAL!

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8)Yılmaz Y, Kutman HG, Ulu HO, Canpolat FE et al. Preeclampsia is an independent risk for spontaneos intestinal perforation in very preterm infants. J Matern Fetal Neonatal Med. 2013 Nov 7.

9) Gordon PV, Young ML, Marshall DD. Focal small bowel perforation: an adverse effect of early postnatal dexamethasone therapy in extremely low birth weight infants.J Perinatol. 2001 21(3):156-60. ARTIGO INTEGRAL

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OBRIGADO!

Dda Danielle, Dda Helena, Dr. Paulo R. Margotto, Ddo Thales, Dda Patrícia e Dra. Sarah