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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO LIBERTAS COMUNIDADE PÓS-GRADUAÇÃO EM DINÂMICA DE GRUPO GESTÃO DE EQUIPES OS ASPECTOS COMPORTAMENTAIS DA NEGOCIAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO MARIA DE FÁTIMA FIGUEIREDO DE LEMOS RECIFE 2002.2

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO LIBERTAS … · Administração e resolução de conflitos ..... 3. ANÁLISE DE CORRELAÇÃO ENTRE DEFINIÇÕES DE NEGOCIAÇÃO E ESTILOS DE

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO LIBERTAS COMUNIDADE

PÓS-GRADUAÇÃO EM DINÂMICA DE GRUPO GESTÃO DE EQUIPES

OS ASPECTOS COMPORTAMENTAIS DA NEGOCIAÇÃO

NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

MARIA DE FÁTIMA FIGUEIREDO DE LEMOS

RECIFE 2002.2

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO LIBERTAS COMUNIDADE

PÓS-GRADUAÇÃO EM DINÂMICA DE GRUPO GESTÃO DE EQUIPES

OS ASPECTOS COMPORTAMENTAIS DA NEGOCIAÇÃO

NAS RELAÇÕES DE TRABALHO

MARIA DE FÁTIMA FIGUEIREDO DE LEMOS

Monografia apresentada ao curso de graduação em

Dinâmica de Grupo –Gestão de Equipes da

Universidade Católica de Pernambuco em parceria

com o Libertas Comunidade, sob a orientação do

Mestre Alex Peña Alfaro.

RECIFE 2002.2

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RESPONSABILIDADE

O Departamento de Cursos em Pós-Graduação da

Universidade Católica de Pernambuco em parceria

com o Libertas Comunidade não aprova nem

reprova as opiniões emitidas neste trabalho, que

são da responsabilidade exclusiva da autora desta

monografia.

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DEDICATÓRIA

À minha amada mãe Leosina e ao meu inesquecível pai Antônio (in memoriam) e aos meus queridos irmãos, Lula, Geraldo, Graça e Carlos.

À minha tia-mãe Iracema pela sua dedicação.

A Zeca Lemos, meu companheiro de vida, por tudo...

Aos meus filhos Amílcar e Aníbal, razão de confirmação de minha existência.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu filho Amílcar pela sua disponibilidade de ler cada capítulo e pelos significativos retornos relativos à forma como me comunicar e expressar minhas idéias. A Márcia Gama, amiga a quem recorri pelos seus conhecimentos na nossa língua. Ao meu estimado orientador, professor e Mestre Alex Peña Alfaro, pelo seu apoio, incentivo e compreensão.

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RESUMO

O objetivo do presente estudo foi demonstrar a importância dos aspectos

comportamentais presentes no processo da negociação e da sua influência direta na dinâmica, nas estratégias de ação, na qualidade dos relacionamentos, nos resultados obtidos no gerenciamento e na composição dos conflitos das pessoas no campo profissional. O interesse em contribuir para elevar o nível de compreensão sobre a relevância desses aspectos comportamentais encontrou respaldo na minha experiência como Auditora Fiscal do Trabalho e monitora do Ministério do Trabalho e Emprego. Nestas funções foi possível constatar que as partes envolvidas em negociações de conflitos trabalhistas não demonstraram ter consciência da importância desses aspectos para o processo e o resultado da negociação. Aliada à pesquisa bibliográfica realizada, essa experiência profissional permitiu confirmar a crença de que se houver a compreensão, com integração na prática profissional das pessoas envolvidas nas relações de trabalho, da relevância da atenção que deve ser dispensada aos aspectos comportamentais no processo da negociação de conflitos trabalhistas, então serão ampliadas as possibilidades do exercício competente e eficaz do papel de cada um dos atores sociais envolvidos neste processo relacional. Palavras-chave: Relações interpessoais no trabalho, Comportamento, Negociação.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................

1. ASPECTOS COMPORTAMENTAIS DO PROCESSO DA NEGOCIAÇÃO ..............................

1.1. Fatores internos e externos que influenciam o comportamento nos contextos de

ação....................................................................................................................................

1.2. A teoria proclamada e a teoria praticada no contexto da negociação ..............................

2. O CONFLITO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS ..................................................................

2.1. O conflito como componente básico do comportamento humano .....................................

2.2. Pensando e diagnosticando o conflito ...............................................................................

2.3. Tensão estrutural e seus desdobramentos .......................................................................

2.4. Administração e resolução de conflitos .............................................................................

3. ANÁLISE DE CORRELAÇÃO ENTRE DEFINIÇÕES DE NEGOCIAÇÃO E ESTILOS DE

AGIR NOS CONTEXTOS INTERACIONAIS ..............................................................................

4. O QUE SE PENSA GERALMENTE SOBRE NEGOCIAÇÃO .....................................................

4.1. Imagens associadas à palavra negociação .......................................................................

4.2. Pressuposto básico ............................................................................................................

4.3. Razões que impedem as pessoas de se verem como negociadoras ................................

5. A NEGOCIAÇÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO ....................................................................

5.1. Observações introdutórias .................................................................................................

5.2. Competência técnica e competência interpessoal .............................................................

5.3. Negociação por posição versus negociação por interesses ..............................................

6. FATORES ESTRATÉGICOS DA NEGOCIAÇÃO ......................................................................

6.1. Plano de ação ....................................................................................................................

6.2. Estratégias de negociação .................................................................................................

6.3. Estilos de negociação ........................................................................................................

6.3.1. Classificação de estilos de negociação ...................................................................

6.4. Técnicas de negociação ....................................................................................................

6.4.1. Exemplificando técnicas positivas que podem ser utilizadas na negociação..........

6.4.2. Exemplificando técnicas negativas que podem ser utilizadas na negociação.........

7. A COMUNICAÇÃO NO PROCESSO DA NEGOCIAÇÃO .........................................................

7.1. Processo de comunicação ................................................................................................

7.2. Fatores que dificultam o processo de comunicação em qualquer contexto interacional...

7.2.1.Outros fatores que prejudicam o processo de comunicação no contexto da negociação..

7.3. Fatores que facilitam o processo da negociação no contexto da negociação ...................

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................................................

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo contribuir para elevar o nível de

compreensão sobre os aspectos comportamentais presentes no processo da

negociação de conflitos interpessoais e da influência direta destes aspectos na

dinâmica, nas estratégias de ação, na qualidade dos relacionamentos, nos

resultados obtidos, no gerenciamento e na composição dos conflitos no campo

profissional.

O interesse em correlacionar os fatores que servem de suporte para a

compreensão desta dinâmica encontra respaldo em experiência pessoal como

Auditora Fiscal do Trabalho e monitora do Ministério do Trabalho e Emprego.

No exercício dessas funções foi possível constatar que tanto as categorias

dos representantes patronais como as dos representantes profissionais não

demonstram ter consciência da relevância dos aspectos comportamentais no

processo da negociação. Na prática, as partes demonstram só considerar

relevante para o processo da negociação de conflitos os seus aspectos técnicos,

ou seja, o preparo técnico sobre o assunto que é objeto da negociação.

Esta constatação também está reforçada com a experiência obtida durante

os anos de 2001 e 2002, período em que ministrei cursos nas áreas de

negociação e mediação de conflitos para cerca de 650 colegas Auditores Fiscais

do Trabalho lotados em Delegacias Regionais do Trabalho de todo o Brasil. O

objetivo central desses cursos era provocar uma reflexão sobre a importância e a

influência dos aspectos comportamentais no processo e resultado da negociação

e da mediação de conflitos.

Durante as experiências acima mencionadas foi possível perceber que o

desconhecimento, por parte das pessoas envolvidas nas relações de trabalho,

sobre a importância dos aspectos comportamentais presentes em todo processo

de negociação de conflitos compromete a dinâmica, o desempenho, a

produtividade e os resultados obtidos. Aquelas experiências foram determinantes

na crença de que se as pessoas envolvidas nas relações de trabalho investirem

no aperfeiçoamento de habilidades pessoais e interpessoais e na compreensão

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das origens dos conflitos de cunho relacional, elas se tornarão mais competentes

e eficazes no processo de negociação no âmbito das relações de trabalho.

Assim, dentro desse contexto, é também objetivo deste trabalho

demonstrar que tanto os aspectos técnicos como os aspectos comportamentais

são fatores integrantes e interdependentes do processo da negociação de

conflitos interpessoais.

Neste estudo, quando forem reportados os aspectos comportamentais

inseridos no processo da negociação, se estará fazendo referência aos elementos

subjetivos que compõem o mundo interno da pessoa, ou seja, percepção;

expectativas; sentimentos; desejos; valores; pressupostos que cada pessoa tem

sobre si mesma, sobre o outro, sobre o contexto; modelos mentais e

necessidades que determinam a forma de cada um perceber, pensar, sentir e agir

nos contextos onde estão inseridas.

É oportuno nesta parte do trabalho explicitar que aqui a negociação é

compreendida, no seu sentido amplo, como um processo interacional que envolve

a comunicação e o bom senso na busca de soluções nas situações em que

existem divergências de idéias, posições, interesses e necessidades.

O presente trabalho está estruturado da seguinte forma: no Capítulo 1, são

tratados os aspectos comportamentais no processo da negociação; no Capítulo 2,

é enfocado o conflito nas relações interpessoais; no Capítulo 3, é apresentada

uma análise da correlação entre definições de negociação e estilos de agir nos

contextos interacionais; no Capítulo 4, é analisado o que se pensa geralmente

sobre a negociação; no Capítulo 5 são esboçadas considerações sobre a

negociação no ambiente de trabalho; no Capítulo 6, são apresentados os fatores

estratégicos da negociação; no Capítulo7, é abordada a comunicação no

processo da negociação; no Capítulo 8, são tecidas as considerações finais.

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1. ASPECTOS COMPORTAMENTAIS NO PROCESSO DA NEGOCIAÇÃO 1.1. Fatores internos e externos que influenciam o comportamento nos

contextos de ação

Quando estão interagindo umas com as outras, as pessoas estão

expressando, simultaneamente, a dinâmica dos diversos arranjos dos fatores

subjetivos que integram o seu mundo interno e as influências que estão

recebendo do mundo externo naquele contexto de ação.

Ressaltando a importância da compreensão desses fatores quando se

pretende que a negociação transcorra sob o sistema de cooperação na busca da

solução, Wanderley (1998:48), assim opina:

O comportamento de uma pessoa é função de dois fatores: a realidade externa e a sua realidade interna. Por realidade externa entendemos o ambiente onde a pessoa se encontra. Isto quer dizer que nossos comportamentos não são independentes do ambiente onde nos encontramos, ao contrário, são bastante influenciados por ele, embora nós, freqüentemente, não percebamos esta influência, chegando mesmo a ponto de nega-la. O ambiente nos fornece uma série de estímulos e gatilhos. Existem aqueles que nos fazem bem, enquanto outros nos causam profunda apreensão e desestímulo, como as palavras assassinas.

Em negociação, uma das falhas que podem contribuir para dificultar a sua

condução e os resultados pretendidos é relevar a importância e influência do

ambiente no comportamento das pessoas envolvidas nesse processo. Sabedores

dessa influência, os negociadores habilidosos e experientes, quando envolvidos

num processo de negociação, buscam cercar-se de todos os cuidados

necessários a fim de neutralizar ou minimizar os impactos negativos sobre a sua

atuação, e ao mesmo tempo procuram potencializar a seu favor aqueles

considerados como positivos. Esses cuidados vão desde a escolha do local onde

ocorrerá a negociação, a arrumação do espaço físico, até a ordem de lugar onde

cada negociador se sentará. Nesse sentido também são levados em

consideração os impactos do ambiente sobre o comportamento em decorrência

dos estímulos visuais, auditivos e cinestésicos – que correspondem às posturas

corporais expressas pelos negociadores.

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Fazendo uso da visualização da imagem de um iceberg para explicar que o

comportamento é a sua parte visível, o autor acima referido assim se expressa:

Comportamento é toda manifestação de uma pessoa que podemos captar por um dos cinco sentidos – gestos, expressões, respiração e voz, por exemplo. Realidade interna é tudo o que não podemos perceber pelos sentidos e só sabemos quando se transforma em comportamento. Consideremos tudo isso como um iceberg. O comportamento é a parte visível do iceberg. A realidade interna é a parte invisível, mas que influencia diretamente o comportamento. Assim, se queremos entender o comportamento de uma pessoa, precisamos conhecer os elementos ocultos no iceberg e que são componentes importantes do estado mental de cada pessoa (p.49).

Esses fatores constitutivos do mundo interno de cada pessoa dizem

respeito à percepção, expectativas, sentimentos, emoções, desejos, valores,

conhecimentos, experiências, pressupostos que cada um tem sobre si mesmo,

sobre o outro e sobre o contexto, modelos mentais e necessidades que, em

conjunto, determinam a forma de cada pessoa perceber, pensar, sentir e agir nos

contextos onde estão inseridas. É oportuno traçar alguns comentários sobre cada

um desses fatores.

Iniciando pela percepção, Davidoff (2001:141), a define da seguinte forma:

A percepção é um processo cognitivo, uma forma de conhecer o mundo. A percepção é um processo complexo que depende tanto do meio ambiente como da pessoa que o percebe.

Nesse sentido, a pessoa se comporta de acordo com a interpretação que

faz da realidade situacional, conforme seus parâmetros internos. Esses

parâmetros são constituídos pelos demais fatores internos já relacionados, os

quais influenciam diretamente a percepção e, conseqüentemente, a forma de agir

de cada pessoa nas diversas situações de interação. Numa negociação, segundo

Wanderley (op.cit.): “a percepção é um dos pontos mais relevantes porque,

mesmo que duas pessoas concordem a respeito de uma mesma realidade

objetiva, ou seja, dos fatos, elas poderão dar pesos e valores diferentes a eles.

Assim, poderão concordar com os fatos a respeito de um acidente

automobilístico, mas discordar sobre quem deve pagar os prejuízos ou a quantia

a ser paga (p.50)”.

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Continuando a apreciação dos demais fatores, as expectativas dizem

respeito ao que cada uma das partes espera em termos de resultados de uma

negociação. Aqui o que se pode observar como força restritiva se caracteriza

através de uma postura “fechada” que dificulta a exploração de outras alternativas

de soluções.

Os sentimentos, as emoções e os desejos permeiam todas as relações

interpessoais. Discorrendo sobre a importância desses fatores para o contexto da

negociação, o autor acima citado afirma que:

Os sentimentos que temos pelas pessoas determinam a nossa compreensão dos seus atos. Um mesmo ato pode ser considerado de várias formas. Se gostamos de alguém, nossa propensão é só ver seus pontos positivos e negar ou justificar seus pontos negativos. Ao contrário, se não gostamos de alguém, tendemos a ser intolerantes e a ver apenas os seus defeitos. Assim, um mesmo fato pode ter interpretações extremamente diferentes. Tudo depende do tipo de relacionamento que as pessoas têm, dos sentimentos e emoções que fluem entre elas (p.51,52).

Os valores internalizados por cada pessoa também influenciam os seus

comportamentos em cada contexto interacional. Definindo o que são valores,

Senge (1997:196) assim se posiciona:

Valores são pontos de vista consolidados, do que achamos válido. Eles vêm de muitas fontes: pais, religião, escolas, colegas, pessoas que admiramos e cultura. Muitos remontam à infância; adotamos outros como adultos.

O somatório dos conhecimentos e experiências internalizados ao longo do

processo de aprendizagem de cada pessoa também influencia o comportamento

durante a realização de negociações. Esse somatório, repetidamente testado e

no qual se adquire confiança, revela a maneira como cada um percebe a

funcionalidade do mundo.

Os pressupostos que cada pessoa tem sobre si mesma, sobre o outro e

sobre o contexto direcionam a sua forma de agir e interagir nas diversas situações

interacionais. Pressupostos estão aqui entendidos como as premissas ou

suposições que a pessoa acredita como verdadeiras, resultantes de seus

conhecimentos, crenças, valores e experiências de vida.

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Os modelos mentais são as imagens internas, profundamente arraigadas

que cada pessoa tem a respeito da funcionalidade do mundo. Senge

(op.cit.p.221,222), sobre esse assunto afirma que:

Modelos mentais são imagens, pressupostos e histórias que trazemos em nossas mentes, acerca de nós mesmos, outras pessoas, instituições e todo aspecto do mundo. Como uma vidraça que emoldura ou distorce sutilmente nossa visão, os modelos mentais determinam o que vemos. Os seres humanos não podem navegar através dos ambientes complexos do nosso mundo sem “mapas mentais” cognitivos; e todos esses mapas mentais, por definição, são de alguma forma defeituosos. Diferenças entre modelos mentais explicam por que duas pessoas podem observar o mesmo acontecimento e descreve-lo de modo diferente; elas estão prestando atenção a detalhes diferentes.Os modelos mentais também determinam nossa forma de agir. Por exemplo, se cremos que as pessoas são basicamente confiáveis, podemos conversar com novos conhecidos de modo mais livre do que se acreditamos que não se pode confiar na maioria das pessoas.

Finalizando esses comentários a respeito dos fatores internos, e para

atender aos propósitos desse estudo, vale transcrever Hall, Lindzey e Campbell

(2000:198,199), quando se reportam à definição de necessidade apresentada por

Murray:

Uma necessidade é um constructo (uma ficção conveniente ou um conceito hipotético) que representa uma força ... na região do cérebro, uma força que organiza a percepção, a apercepção, a intelecção, a conação e a ação de maneira a transformar em certa direção uma situação insatisfatória existente. Uma necessidade às vezes é provocada diretamente por um certo tipo de processo interno ... mas, com maior freqüência (quando em estado de prontidão) pela ocorrência de uma de algumas pressões comumente efetivas (forças ambientais)... Cada necessidade é caracteristicamente acompanhada por um determinado sentimento ou emoção e tende a usar certos modos ... para incrementar sua tendência... modifica a circunstância iniciadora de maneira a provocar uma situação final que acalma (aplaca ou satisfaz) o organismo (Murray,1938,p.123-124).

Compreendido o conceito de necessidade como força motriz que ajuda a

impulsionar a ação, e ainda recorrendo à imagem do iceberg, segundo Wanderley

(op.cit), as necessidades estão localizadas na sua parte mais profunda, conforme

seu comentário: “Na parte mais profunda do iceberg comportamental está a

origem de nossos comportamentos. O ser humano age para satisfazer suas

necessidades, grandes impulsionadoras e motivadoras. Tudo o que fazemos ou

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dizemos é para satisfazer ou evitar a privação de alguma de nossas

necessidades” (p.55).

No contexto da negociação, a importância dada à compreensão sistêmica

da conexão existente entre os fatores internos e externos como agentes que

mobilizam o comportamento contribui diretamente para a postura adotada por

cada negociador quando busca atender às suas necessidades.

1.2. A teoria proclamada e a teoria praticada no contexto da negociação

Chris Argyris, estudioso do comportamento humano, especialmente no

ambiente organizacional, defende a idéia que toda pessoa tem uma teoria de

ação, representada pelo conjunto interdependente de fatores constituídos por

pressupostos, modelos mentais, intenções e estratégias de ação que demonstram

a maneira de cada um perceber-pensar-sentir-agir no mundo.

Segundo a concepção esboçada por esse autor, nas mais diversas

situações interacionais onde estão empenhadas, as pessoas envolvidas nesse

processo apresentam uma teoria de ação, a qual compreende uma teoria

proclamada – o seu discurso, e uma teoria praticada – a sua prática.

Abordando esse tema Argyris (1992:15) afirma que: “Podemos considerar

que os seres humanos são ensinados desde cedo como agir de modo a se

manterem no controle da situação, especialmente quando estão lidando com

assuntos que podem ser embaraçosos ou ameaçadores. As pessoas transformam

essas lições em teorias de ação. As teorias de ação, por sua vez, contêm regras

que são usadas para planejar e implementar as ações no dia-a-dia”.

Contribuindo para a compreensão de como está constituída a teoria de

ação, Valença (1997:67) assim se posiciona:

A teoria de ação se compõe de uma teoria proclamada e de uma teoria-em-uso. Teoria proclamada é aquela que um agente alega, defende, esposa, promete fidelidade dizendo que se comportará de tal e tal maneira sob certas circunstâncias. Sua resposta é o seu discurso, a sua tese proclamada e esposada de ação para aquela situação específica. É a teoria a qual, de um certo modo, o sujeito promete fidelidade, à medida que a comunica abertamente ao público. A teoria posta em uso ou em ação por um agente é a sua teoria-em-uso, teoria praticada ou teoria acionada. É a teoria que informa ou comanda o comportamento efetivo e concreto do agente.

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Entender porque o comportamento de cada pessoa pode apresentar uma

incongruência entre o seu discurso e a prática, o que pode ser ilustrado pela

máxima do “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, representa um

diferencial qualitativo nas tomadas de decisões estratégicas durante o processo

de negociação.

A tomada de decisões eficazes no curso de qualquer tipo de negociação

passa pela necessidade de se compreender como a mente humana raciocina

quando está buscando entender, conceber e executar uma ação.

Explicando passo a passo como ocorre esse complexo processo de

entender, conceber e executar uma ação sob a influência dos fatores internos e

externos: no primeiro passo a pessoa observa os dados; no segundo passo a

pessoa seleciona os dados que considera importante; no terceiro passo a pessoa

interpreta os dados selecionados de acordo com a sua visão de mundo e cultura;

no quarto passo a pessoa elabora pressupostos com base na sua interpretação

dos dados observados; no quinto passo a pessoa tira conclusões; no sexto passo

a pessoa age de acordo com as suas conclusões. Essas são em linhas gerais as

idéias do autor Senge (op.cit.p.228) quando trata desse tema fazendo uso do

instrumento que ele denomina de escada da inferência.

Esse entendimento sobre como a mente humana raciocina facilita a

condução da negociação no sentido de serem ampliadas as possibilidades de

serem neutralizados ou melhor compreendidos os comportamentos que não

ajudam na tomada de decisões eficazes.

Neste capítulo foi enfatizada a relevância, em qualquer contexto de

negociação, de se compreender que o comportamento resulta da dinâmica dos

arranjos dos fatores internos e externos. Isso permite entender melhor a

singularidade de cada um na sua forma de agir sob a ótica de suas visões de

modelos de mundo. Essa visão particularizada de perceber a realidade serve de

alavanca para provocar os conflitos interpessoais no campo pessoal e

profissional.

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2. O CONFLITO NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS 2.1. O conflito como componente básico do comportamento humano

Abordando a temática do conflito interpessoal, Moscovici (2000:146) assim

se posiciona: A partir de divergências de percepção e idéias, as pessoas se colocam em posições antagônicas, caracterizando uma situação conflitiva. Desde as mais leves até as mais profundas, as situações de conflito são componentes inevitáveis e necessárias da vida grupal.

Dentro dessa concepção esboçada pela autora depreende-se que o conflito

é um componente básico do comportamento humano, resultante do desacordo

entre as pessoas pela maneira diferenciada de cada um perceber, pensar, sentir e

agir nos contextos interacionais.

O comportamento expresso pelas pessoas recebe influência do contexto

onde está ocorrendo o processo interacional. Elas agem em cada contexto

conforme as influências que recebem e as trocas que estabelecem nestes

ambientes. O que se observa na prática é que a maioria das pessoas não

percebe ou nega a relevância dessa influência no comportamento.

Além dessas influências externas, o comportamento humano é diretamente

influenciado pelos fatores que compõem o mundo interno de cada pessoa. Essa

influência direta sobre o comportamento se dá através da percepção seletiva da

realidade; das expectativas criadas por cada pessoa; das emoções, sentimentos,

desejos; das necessidades, desde as de ordem primária até aquelas de auto-

realização do pleno potencial de cada pessoa; dos pressupostos que cada pessoa

tem sobre si mesma, sobre os outros, sobre o contexto; dos modelos mentais que

são as imagens internalizadas que cada pessoa tem sobre o modelo de

funcionalidade do mundo. Estas imagens são, na maioria das vezes,

inconscientes e são construídas a partir de conhecimentos, experiências,

informações, valores e crenças pessoais.

A compreensão sistêmica da interdependência destes fatores como

determinantes do comportamento propicia um melhor entendimento do conflito, de

suas causas e amplia as possibilidades de tanto preveni-lo quanto de solucioná-

lo.

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Entender que o comportamento recebe influência dos fatores do ambiente

e que é determinado pelos fatores internos do mundo subjetivo de cada pessoa

facilita perceber que, além da importância que deve ser dada ao comportamento

expresso, deve-se compreender os motivos que o impulsiona, o que minimiza a

emissão de julgamentos, atribuições e juízos de valor a respeito do

comportamento do outro.

Alertando para a relevância desta compreensão sistêmica e do cuidado a

ser dispensado à importância sobre as diferenças individuais e se evitar a

emissão de juízo de valor, Moscovici (2000:145) afirma que:

As diferenças entre as pessoas não podem ser consideradas inerentemente boas ou más. Algumas vezes, trazem benefícios ao grupo e ao indivíduo, outras vezes, trazem prejuízos, reduzindo-lhes a eficiência. Vistas por um prisma mais abrangente, as diferenças individuais podem ser consideradas intrinsecamente desejáveis e valiosas, pois propiciam riqueza de possibilidades, de opções para melhores – e piores – maneiras de reagir a qualquer situação ou problema.

Nas relações de trabalho, ocorridas no contexto organizacional, essas

diferenças individuais vão influenciar diretamente o comportamento de cada

pessoa acarretando opiniões diferenciadas acerca de objetivos, metas, tarefas,

meios ou procedimentos. Essas discordâncias podem gerar discussões, tensões,

insatisfações que podem ativar sentimentos e emoções que afetam a percepção

da realidade objetiva, instalando-se as situações de conflitos. A organização está

aqui compreendida como um sistema vivo formado pela subjetividade das

pessoas que a compõem e integram.

Entendemos o conflito como um processo que se inicia quando uma das

pessoas envolvidas no processo interacional percebe que a outra pessoa afetou

ou está próxima de afetar, negativamente, algo pelo qual aquela demonstra

interesse. Esse interesse está mobilizado pelas variáveis que integram e

constituem o seu mundo interno e que se expressam pelas divergências na

maneira de cada um perceber, pensar, sentir e agir, revelando a sua visão de

mundo. Começar a compreender a própria visão de mundo e a dos outros

envolvidos nesse processo, e a conexão entre esses fatores, marca o início da

busca de formas de pensar sobre o conflito, entender sua origem, sua dinâmica e

como ele pode ser gerenciado.

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2.2. Pensando e diagnosticando o conflito

Pensar em opções e selecionar a que se considera mais adequada para

solucionar um conflito implica em se buscar apoio no conjunto de dados que

compõe a história de vida de cada pessoa. Este conjunto de dados é formado

pelos fatos, experiências, conhecimentos, valores, especulações, opiniões,

pressupostos, modelos mentais e visões de mundo que se tem e que se compara

com a realidade que se está vivenciando. O fio lógico do raciocínio de cada

pessoa está estruturado e influenciado por esses fatores.

Sobre essa questão do pensar, Fritz (1997: 144/145) observa que:

Pensar é mais do que simplesmente perceber a realidade e a seguir

comparar nossas observações com nosso banco de dados. É mais do

que meramente classificar. Pensar é observar, separar, fundir e

agrupar.

Ainda analisando esse assunto, o autor afirma que além de observar,

separar, fundir e agrupar, pensar implica em: “Generalizar – criar formas

genéricas a partir de eventos singulares ou modelos; Individualizar – estabelecer

uma classificação distinta para cada novo fenômeno; Sistematizar – criar uma

seqüência de níveis, graus ou etapas; Conceber – imaginar, supor, visualizar;

Extrapolar – estender a direção das tendências de forma que possamos visualizar

vários resultados baseados em seqüências ou modelos anteriores; Contraste –

formar diferenças” (p.144/145).

Pensar sobre o conflito abre possibilidades para a compreensão de suas

causas, sua dinâmica e os fatores a ele inerentes, o que possibilita a realização de

um diagnóstico situacional que contemple os fatores que sejam relevantes para a

escolha e a tomada de decisões pertinentes a cada situação.

Diagnosticar é interpretar e levar em consideração os fatores objetivos que

espelham aquele momento daquela realidade, o que favorece identificar e

selecionar dentre as opções disponíveis a mais apropriada para cada caso. Um

diagnóstico estruturado nestas bases amplia as possibilidades de se sair do

pensamento simplificador, incapaz de expressar a dialética entre a unidade e a

diversidade do todo na sua complexidade. Perceber a realidade, contemplando a

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sua complexidade, influencia diretamente a forma de agir e interagir sobre esta

mesma realidade.

Identificar e selecionar a melhor forma de agir na busca da solução para o

conflito passa necessariamente pela compreensão de suas causas. Compreender

a natureza do conflito é identificar a importância que cada pessoa atribui a cada

fato, as diferenças nos objetivos individuais, as competições reais e imaginárias

entre as partes envolvidas, os ruídos na comunicação, pontos de vista diferentes,

problemas em lidar com a figura de autoridade, incompatibilidade de

personalidades, dificuldades em assumir e/ou delegar responsabilidades,

frustrações pessoais, dentre vários outros aspectos que aqui poderiam ser

elencados. Qualquer uma destas situações, ocorrendo isoladamente ou não,

acarreta um nível de tensão vivenciado pelas partes envolvidas direta ou

indiretamente neste processo.

2.3. Tensão estrutural e seus desdobramentos Cada pessoa envolvida direta ou indiretamente numa situação de conflito

está mobilizada por um estado desejado que se encontra em divergência com o

estado real (atual), gerando uma tensão interna. Esta tensão provoca um

movimento no sentido da busca de uma solução para acabar com a situação de

desconforto.

Discorrendo sobre este assunto, sob o título denominado “O sistema

tensão-resolução”, Fritz (1997: 25) salienta que:

(...) Uma tensão é formada pela discrepância entre uma coisa e

outra. Um sistema de tensão-resolução resulta do fato de que sempre

que houver uma tensão ele irá empenhar-se na solução.

A menos que tenhamos uma discrepância não teremos uma tensão. E

se não tivermos uma tensão não teremos uma estrutura, da mesma

maneira que se não tivéssemos números não teríamos matemática,

ou se não tivéssemos palavras não teríamos linguagem.

Ainda tratando do tema acima, especialmente sobre o que entende por

estrutura, Fritz (1997: 22,23) afirma que:

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A estrutura descreve como as peças de qualquer coisa relacionam-se

entre si e com o todo. Por exemplo, tome uma cadeira de diretor (de

cinema). Ela tem dois conjuntos de apoios (pernas), dois braços, um

encosto e um assento. Separadamente, eles são simplesmente

elementos independentes. Não formam uma estrutura. Se as peças

não forem interligadas cairão no chão. Mas dentro da estrutura da

cadeira estão unidas. (...) Cada peça influencia o comportamento da

outra. A estabilidade é formada pelo relacionamento de cada peça

com a outra. (...) Para que um relacionamento seja estruturado os

elementos têm de ser conectados, e a conexão tem de afetar cada um

dos elementos a que estão conectados.

Depreende-se do acima exposto o quanto é relevante para o discernimento

mais profundo das questões pensarmos o porquê e o como as partes integrantes

do todo se relacionam e impulsionam os comportamentos expressos em cada

situação. Esta visão holística fornece subsídios que ajudam a entender melhor as

pessoas quando estas, mobilizadas pela tensão vivenciada pela situação de

conflito, apresentam soluções paliativas ou proativas.

Vivenciando uma situação de desconforto provocada pela diferença entre o

seu estado real (o que tem) e o estado ideal (o que deseja), a pessoa pode

apresentar soluções consideradas paliativas, que são aquelas que não entram no

cerne da questão. Apresentando características defensivas ou desviantes do foco

da questão, a solução proposta não vai resolver de forma satisfatória o problema.

Nesse contexto, o que se observa é que a pessoa mascara a realidade, minimiza

os seus efeitos, desloca os seus desejos e se utiliza – na maioria das vezes sem

consciência disso – de mecanismos de defesa, tais como: agressão, resignação,

fixação, regressão e racionalização.

Tecendo sucintos comentários a respeito de cada um desses mecanismos,

pode-se afirmar que a pessoa utiliza-se do mecanismo de defesa da agressão

quando, mobilizada pelo sentimento da raiva, busca intimidar e agredir o outro

pelo uso da palavra. É uma forma momentânea de aliviar a tensão.

Na resignação, o que se observa é que a pessoa deixa de enfrentar a

situação e abdica de seus desejos buscando resolver a tensão que está

vivenciando.

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O mecanismo de defesa da fixação é observado quando a pessoa não

consegue vislumbrar outras alternativas para a situação de desconforto. Assim,

quanto mais fica presa pela tensão, mais ela se apega e defende a alternativa que

propõe.

Na regressão a pessoa assume comportamentos considerados não

condizentes com a sua idade cronológica. Como se voltasse ao passado, ela

passa a se comportar de forma infantil, a exemplo de ficar em obstinado silêncio.

Por fim, abordando o mecanismo de defesa da racionalização, no qual se

observa que a pessoa procura, de forma auto-oclusiva, se apoiar em explicações

que buscam defender suas idéias, opiniões e ações, o que a impede de entrar no

foco da questão.

Em razão de ser o mecanismo que mais ocorre na prática das

negociações, é oportuno esboçar mais alguns comentários a respeito do mesmo.

Para isto, é pertinente recorrer-se às comparações traçadas entre o que seja a

racionalidade e a racionalização na visão de Morin (2002:23), que assim se

posiciona:

A racionalidade é a melhor proteção contra o erro e a ilusão. Por um lado, existe a racionalidade construtiva que elabora teorias coerentes, verificando o caráter lógico da organização teórica, a compatibilidade entre as idéias que compõe a teoria, a concordância entre suas asserções e os dados empíricos aos quais se aplica: tal racionalidade deve permanecer aberta ao que a contesta para evitar que se feche em doutrina e se converta em racionalização; por outro lado, há a racionalidade crítica exercida particularmente sobre erros e ilusões das crenças, doutrinas e teorias. Mas a racionalidade traz também em seu seio uma possibilidade de erro e de ilusão quando se perverte, como acabamos de indicar, em racionalização. A racionalização se crê racional porque constitui um sistema lógico perfeito, fundamentado na dedução ou na indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se à contestação de argumentos e à verificação empírica. A racionalização é fechada, a racionalidade é aberta.

Em suma, os mecanismos de defesa se traduzem em comportamentos que

apresentam soluções paliativas que impedem focar as raízes da questão,

impossibilitando o seu enfrentamento e acarretando o agravamento da situação.

Diferentemente das paliativas, as soluções consideradas proativas são

aquelas que procuram investigar e trabalhar as questões contemplando os seus

fatores subjetivos e o nexo de causalidade. Mobilizada pela tensão estrutural,

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enfrentando a realidade como ela se apresenta, a pessoa busca gerar alternativas

que resolvam de forma satisfatória a situação de desconforto, viabilizando

encontrar a zona de equilíbrio entre o estado real, ou o que ela tem, e o estado

ideal, ou o que ela deseja.

Na elaboração das soluções proativas, fazendo uso da racionalidade, a

pessoa faz uma observação ampla da questão e abre espaço para a reflexão

crítica. Neste contexto, novos aspectos da questão podem ser revelados; o canal

de comunicação entre as pessoas envolvidas pode ser melhorado; pode ser

aberto espaço para a expressão de emoções antes reprimidas; podem ser

reveladas habilidades dos envolvidos neste processo.

2.4. Administração e resolução de conflito

Administrar e resolver conflitos com eficácia implica, necessariamente, em

considerar fatores externos e internos que contribuem para a sua constituição no

processo relacional. Levando-se em consideração estes fatores, ampliam-se as

possibilidades de identificação da natureza de suas causas, permitindo uma

atuação específica conforme as peculiaridades identificadas em cada contexto.

Assim, agir com eficácia nos conflitos é saber que “não há uma fórmula

mágica para lidar com os conflitos e resolve-los de forma correta”, conforme

afirma Moscovici (2000:146). São os conhecimentos oriundos do cotidiano, os

conhecimentos advindos de uma especialização nesta área, as experiências e a

sensibilidade de cada um que vão propiciar o saber atuar conforme as

necessidades manifestadas em cada contexto de ação.

As formas que cada pessoa busca para resolver os conflitos nos contextos

de ação revelam fatores constitutivos do seu mundo interno. Na prática são

observadas duas posturas diante do conflito: os envolvidos delegam a

responsabilidade da sua condução e/ou resolução para um terceiro, estranho ao

processo relacional, ou os envolvidos assumem diretamente a responsabilidade

pela sua condução e resolução.

A mediação, a decisão administrativa, a arbitragem e a decisão judicial

representam na prática o que ocorre na primeira hipótese. Na mediação, um

terceiro neutro, imparcial e preparado para ajudar a superar impasses, presta

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assistência às partes em conflito na busca de uma solução mútua adequada para

a controvérsia; na decisão administrativa, que ocorre no âmbito da organização, o

terceiro – geralmente um superior hierárquico – toma uma decisão pelas partes

envolvidas no conflito; na arbitragem, o terceiro neutro e imparcial, contratado

pelas partes, emite uma sentença em relação a questões contestadas pelas

partes; na decisão judicial o terceiro é a autoridade no exercício de suas

atribuições legais que emite uma sentença para dirimir a controvérsia.

Representando a segunda postura na qual as partes assumem diretamente

a responsabilidade pela condução e resolução do conflito, estão as seguintes

hipóteses: evitar o confronto com a outra parte, discutir a questão com a outra

pessoa, usar da violência e utilizar a negociação.

As diversas relações interacionais que ocorrem no cotidiano das

pessoas, no campo pessoal ou no profissional, possibilitam situações de impasse

ou de conflito. No início dessas situações, quem se sente lesado nos seus

interesses pode optar por evitar o confronto com a outra parte. Várias razões

servem de base para essa atitude: a situação de desconforto ainda não alcançou

o limiar de tensão; o desgaste com o confronto com a outra parte provocará maior

desconforto do que a própria situação; sensação de impotência diante da

realidade, dentre outras. Neste contexto, se espera que a situação se resolva por

si mesma.

As partes procuram debater os impasses ou conflitos quando o nível de

tensão já provoca um desconforto difícil de ser suportado. A parte mais afetada

por esse nível de tensão busca a outra para um entendimento. Nesse contexto

informal é resolvida a grande parte dos conflitos que ocorrem no dia-a-dia.

Vivenciando o nível máximo de tensão que pode suportar, a parte

desequilibrada emocionalmente procura resolver a situação conflitiva por meio da

violência. Esta pode se expressar através das forças física ou psicológica, da

posição social ou do poder aquisitivo.

A utilização da abordagem da negociação como forma de resolução da

situação de conflito pressupõe um nível equivalente de tensão vivenciado pelas

partes, o reconhecimento da situação desconfortável, colaboração e abertura para

o diálogo. Sobre o uso do diálogo, considerado instrumento que facilita o

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entendimento com a exploração do fato na busca de novos significados, é

relevante transcrever a opinião sobre este tema emitida por Senge (1997:336): Diálogo não é meramente um conjunto de técnicas para melhorar organizações, comunicações, construir consenso, ou equacionar problemas. Baseia-se no princípio de que concepção e implementação estão intimamente ligadas, com um núcleo de sentido comum. Durante o processo de diálogo, as pessoas aprendem a pensar juntas – não apenas no sentido de analisar um problema compartilhado ou de criar novas peças de conhecimento compartilhado, mas no sentido de ocupar uma sensibilidade coletiva, na qual os pensamentos, emoções e ações resultantes pertencem não a um único indivíduo, mas a todos eles juntos.

Dentro dessa concepção, acreditamos que a administração e a resolução

eficaz de conflitos estão respaldadas no diálogo. A utilização deste facilita a

geração de informações válidas e úteis para a situação, favorece a identificação

das hipóteses sobre as causas do conflito, ajuda a selecionar as explicações e as

ações mais pertinentes para cada contexto e cria as condições básicas para a

ação que resolva satisfatoriamente a situação de desconforto.

Aqui se busca, com respaldo no pensamento dos autores nomeados neste

capítulo e em experiência pessoal da autora, fornecer uma visão geral sobre a

temática do conflito interpessoal, naquilo que reputamos ser relevante para o

entendimento da sua complexidade e da sua importância dentro do processo da

negociação no âmbito pessoal ou profissional.

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3. ANÁLISE DE CORRELAÇÃO ENTRE DEFINIÇÕES DE NEGOCIAÇÃO E ESTILOS DE AGIR NOS CONTEXTOS INTERACIONAIS

Os autores que se dedicam ao estudo da temática da negociação, via de

regra, dedicam um espaço em suas obras para responder à seguinte pergunta: o

que é negociação? As respostas variam de acordo com a concepção de cada um.

Algumas dessas respostas serão aqui transcritas, selecionadas aleatoriamente

dentre tantas apresentadas, na tentativa de analisá-las e estabelecer um nexo de

causalidade entre elas e os estilos de agir de cada pessoa nos contextos de ação.

Antes da reprodução dessas respostas, consideramos pertinente serem

tecidas algumas considerações iniciais, as quais, servirão para o aprofundamento

desse tópico.

A base que serve de suporte ao encadeamento lógico desse trabalho está

em se demonstrar a necessidade de se ampliar a compreensão sobre os fatores

que influenciam e determinam o processo relacional na negociação. Não obstante

todas as limitações impostas por uma interpretação que contemple a real

dimensão da complexidade desse processo, na prática, o que se observa é que a

mínima compreensão que se tem desse processo resulta num diferencial

qualitativo na condução e resultados obtidos no processo da negociação.

Nessa linha de entendimento, quando se emite um conceito, opinião ou

hipótese sobre um determinado assunto, se está revelando como ocorreu e está

ocorrendo a dinâmica interna da associação entre os fatores internos e externos

que está influenciando o comportamento naquele momento. Assim, guardadas as

limitações já referidas, e focalizando o objeto desse estudo, identificar a idéia

central contida em cada conceito, opinião ou hipótese que o outro tenha a

respeito do seu entendimento sobre o termo negociação possibilita um melhor

entendimento de suas repercussões nas formas de agir e interagir de cada

pessoa nesse processo interacional.

A partir dessas considerações, a título de demonstrar como pode ocorrer a

compreensão da dinâmica da associação estabelecida entre o conceito e os

estilos de agir de cada um nos contextos de ação, passaremos a analisar

algumas das respostas dadas à pergunta formulada sobre o que é negociação.

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A primeira definição que selecionamos para identificar a idéia central é a

apresentada na obra de Cohen (1980:13):

Negociação é um campo de conhecimento e empenho que visa à conquista de pessoas de quem se deseja alguma coisa.

Depreende-se da idéia central esboçada nesta definição que existe um

esforço deliberado para a ampliação de conhecimentos e determinação

intencionalmente direcionados para conquistar o outro envolvido no processo

relacional. A idéia central é a conquista, a sedução. Continuando ainda nesse

exercício de dedução, a pessoa que internaliza essa forma de negociar dará

prioridade à capacidade de influenciar o outro visando a alcançar os seus

desejos, objetivos e metas. Não aparece a demonstração de preocupação com o

outro e com a continuidade do relacionamento; está guiado por defesa de posição

e visão imediata. O padrão comportamental e as máximas embutidas nesse

conceito, respectivamente, são: tire vantagens e o importante é levar vantagem

em tudo ou os fins justificam os meios.

Continuando o nosso propósito de análise, reproduzimos a seguir mais

uma definição apresentada por Cohen (1980:14):

Negociação é o uso da informação e do poder, com o fim de influenciar o comportamento dentro de uma rede de tensão.

Nessa definição são evidenciados a informação e o poder como elementos

relevantes na influência do comportamento, sob tensão, no contexto interacional.

A idéia central é a comunicação e o poder e o pano de fundo é a tensão. Para

influenciar o outro e manter a situação sob controle, é necessário saber quando,

como e onde utilizar a informação. Internalizando essa forma de negociar, a

pessoa controla e centraliza a informação como um trunfo que fará o diferencial

para os objetivos e resultados que tenciona alcançar. O outro elemento em

destaque é o poder, aqui entendido como a capacidade de exercer influência

sobre as pessoas e as situações. Esse poder pode ser decorrente de um cargo,

de situação social, de recursos financeiros, de conhecimentos, de experiências ou

de habilidades especiais para esse contexto. Internalizando essa forma de

negociar a pessoa contribuirá para gerar ou aumentar o clima de tensão,

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ressalvando-se que este clima de tensão emocional já existe em qualquer

processo de negociação. O padrão de comportamento aqui identificado é: ganha

aquele que sabe fazer uso da informação e do poder ou utilize seus atributos e

recursos para influenciar o outro; e a máxima é: informação é poder ou o segredo

é a alma do negócio.

Nessa seqüência, a terceira definição que analisaremos é apresentada por

Fisher, Ury & Patton (1994:50):

Negociação é um processo de comunicação bilateral, com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta.

Nessa definição está bem evidenciada a compreensão de que a

negociação é processual e faz uso da comunicação bilateral visando uma decisão

conjunta. A idéia central esta embasada na comunicação e na decisão

compartilhada. Nesse referencial, a ênfase está em considerar a negociação

como um processo de comunicação de responsabilidade das partes envolvidas,

com exposição de seus objetivos e declaração de seus interesses. Subtende-se

ainda que as partes envolvidas têm responsabilidade pela condução do processo

e pelos resultados alcançados. A atuação da pessoa está norteada por um

processo dialógico que busca gerar informações e facilitar as escolhas para a

tomada de decisão consciente e conjunta. O padrão comportamental está

pautado no entendimento de que a comunicação favorece o entendimento e a

máxima é a de que dois não brigam quando um não quer.

O exercício dessa interpretação nas definições sobre o que é negociação

nas diversas obras que se dedicam a esse tema poderia ainda muito se estender.

Mas, o importante aqui é demonstrar que o comportamento na negociação é

resultante da interação que se estabelece entre as partes e que esta interação

está subordinada à interpretação que cada uma delas faz do conjunto de fatores

internos e externos presentes em cada comportamento expresso no momento

daquele contexto.

Quando as partes têm consciência de que em todo contexto de ação elas

são influenciadas recíproca e continuamente pela atitude da outra e pela

concepção de cada uma acerca do que seja negociação, então haverá maiores

probabilidades de serem identificadas intenções declaradas ou ocultas e as

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estratégias de ação adotadas ou presumíveis. Nesse sentido, essa percepção

aguçada de si, do outro e do contexto facilitará o entendimento e o

direcionamento ou o redirecionamento do curso da ação, da forma de agir.

Assim, neste capítulo buscou-se demonstrar de forma sistematizada o que

ocorre na complexidade das relações interpessoais no contexto das negociações

quando se busca compreender e interpretar o fenômeno, suas causas e os seus

porquês, conforme o referencial de modelo de mundo que cada um tem.

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4. O QUE SE PENSA GERALMENTE SOBRE NEGOCIAÇÃO 4.1. Imagens associadas à palavra negociação

Várias imagens associadas à palavra negociação podem ser identificadas

no cotidiano das pessoas como relacionadas à idéia de contenda, esperteza,

levar vantagem, intimidação, dentre outras. Examinemos algumas dessas

imagens porque elas são reveladoras de como as pessoas percebem, assimilam

e lidam com essa questão da negociação nas suas vidas.

O termo negociação é associado, muitas vezes, à idéia de uma ferrenha

contenda, na qual as partes envolvidas batalham fazendo uso da palavra até que

uma delas, vencida, sucumba, sob o poder da argumentação da outra que fica

com o melhor quinhão.

A imagem também é associada a pessoas extremamente habilidosas em

qualquer situação, que têm todo o conhecimento e experiência sobre o assunto, o

que as torna infalíveis. Essas pessoas fariam parte de um seleto e sofisticado

ambiente onde ocorrem negociações de grande porte e importância.

Outra imagem que faz parte do imaginário coletivo é aquela que está

associada ao estereótipo do negociador como uma pessoa habilidosa no uso das

táticas agressivas, tais como a intimidação, as pressões psicológicas, os

ultimatos, socos na mesa e ameaças de saída do local, dentre outras atitudes

desse porte. Essa imagem é alimentada pela mídia através de filmes de

entretenimento e noticiários.

As imagens aqui relacionadas fazem parte de um conjunto de idéias que

representam as associações que são feitas pela maioria das pessoas quando é

abordada a temática da negociação.

O que se observa na prática é que a maioria das pessoas, por falta de mais

conhecimento sobre o que seja a negociação, ainda está limitada por uma

maneira de pensar tipicamente arcaica, que não é condizente com a

compreensão atual que se tem sobre o campo de possibilidades de atuação da

negociação, sejam estas informais ou formais, simples ou complexas, pessoais ou

profissionais.

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4.2. Pressuposto básico

Todas as pessoas são negociadoras e estão continuamente negociando.

Da mesma forma que se comunicam desde a mais tenra idade, das mais variadas

formas, também se negociam desde os primórdios da vida. Porém, isso não que

dizer que, necessariamente, qualquer pessoa seja um comunicador ou um

negociador competente e eficaz.

Sobre o fato de serem as pessoas negociadoras independentemente da

sua vontade, Wanderley (1998:17) assim se posiciona:

Você é um negociador, quer queira, quer não. Negociar é uma forma de viver. Pode-se viver impondo e exigindo ou concedendo e fugindo. Negociação pode ser uma contraposição a tudo isso. Negociar é enfrentar para encontrar soluções. Negociação é uma das formas de exercer a arte das escolhas e suas implementações. Estamos sempre escolhendo e realizando as nossas escolhas. Para viver bem é preciso negociar bem. Vivemos num mundo de negociações, e negociar faz parte do nosso dia-a-dia, seja na vida profissional, seja na vida particular. Onde quer que haja interesses opostos, conflitos ou divergências, há espaço para a negociação.

Nessa mesma linha de entendimento, Shell (2001:06,07) expõe que:

Todos nós negociamos várias vezes ao dia. Negociamos como crianças pelo que desejamos: atenção, tratamento especial e aumento de mesada. Negociamos como adultos por alguns desejos muito mais complexos que, ao serem examinados atentamente, com freqüência são as mesmas coisas que negociamos como crianças. A negociação é uma forma básica, especial da comunicação humana, mas não é sempre que percebemos que a estamos praticando.

Comungando com essa linha de pensamento, Ré (2001:03) discorre sobre

esse assunto, ilustrando as suas idéias com exemplos do cotidiano onde ocorrem

os diversos tipos de negociações nas relações interacionais:

Sim, é verdade. Desde o momento em que você se levanta pela manhã, durante todo o seu dia de trabalho, até a hora de dormir, seu dia está repleto de negociações. Nem sempre você percebe, mas o fato é que, continuamente, está se comprometendo em um processo de negociação de uma natureza ou de outra. Pense nisso por um momento. Considere tudo o quê você faz no decorrer de um dia típico, e verá que você enfrenta várias negociações. Por exemplo: Tem que concordar com seu cônjuge em relação ao filme que irão assistir. Seu filho adolescente lhe implora para que deixe usar o carro da família. Deve pedir ao seu patrão alguns dias de férias. Tem um encontro e

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está tentando chegar a um acordo sobre onde ir jantar. Está jantando e quer trocar a batata por uma salada. Tem um importante prazo de entrega e pede a cooperação de pessoas fundamentais quando esse prazo está prestes a terminar. Está dirigindo na estrada e precisa negociar com outros motoristas para sair da pista esquerda e entrar na direita. E assim por diante. A cada dia, você se depara com situações que envolvem uma troca indispensável para satisfazer as necessidades de ambas as partes. Isso é negociação.

Mobilizada pelo interesse sobre tudo o que está relacionado à temática da

negociação, ao longo da minha experiência profissional, em diversas ocasiões,

pude observar que a maioria das pessoas não se percebe no exercício do papel

de negociador quando, nas mais diversas situações, estão interagindo umas com

as outras, visando a atender suas necessidades. Essa constatação encontra

respaldo na resposta dada pela grande maioria das pessoas quando

questionadas se elas viam como negociadoras. A resposta de maior freqüência

obtida durante essas ocasiões, era que não. Geralmente essa resposta negativa

estava, de uma forma ou de outra, associada às imagens que anteriormente nos

reportamos.

4.3. Razões que impedem as pessoas de se verem como negociadoras

As razões que impedem as pessoas de se perceberem como negociadoras

nos diversos contextos de ação estão basicamente relacionadas ao fato de

geralmente associarem a palavra negociação a comportamentos antiéticos e a

negociatas que, por inúmeras vezes, ocorrem no mundo dos negócios e no

mundo da política partidária. Outro aspecto importante é a visão limitada de

associar exclusivamente a negociação à compra, venda ou negociação sindical

entre representantes patronal e profissional. Na prática, o que se observa é que a

maioria das pessoas só considera como negociações típicas aquelas que se

revestem da exigência de formalidades legais em decorrência de sua constituição.

São exemplos dessa negociação formal os já citados acima, ou seja, a compra, a

venda, a negociação sindical.

Presas desses estereótipos, as pessoas deixam de perceber que, na

realidade, todos negociam e se comprometem num processo de negociação

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quando, nas mais diversas situações de interação no campo pessoal ou

profissional, formulam ou se deparam com ofertas, exigências ou solicitações.

Nesse sentido, todos negociam diante de cada decisão a tomar, desde o nível

mais simples ao mais complexo, quando se torna necessário priorizar a escolha

de objetivo, meta, estratégia de ação, procedimento, necessidade, alternativa que

viabilize a tomada da decisão.

Nessa linha de entendimento, é imprescindível abrir um espaço para a

reflexão sobre a necessidade de se desmistificar as imagens que usualmente

estão associadas à palavra negociação, vez que esta acontece no cotidiano das

relações pessoais e profissionais, e a qualidade destas estão intimamente

vinculadas à forma como é compreendida e utilizada a negociação nessas

relações.

Neste capítulo buscou-se provocar uma reflexão crítica acerca do que

costumeiramente se pensa e associa a respeito do tema da negociação nos

contextos pessoais e profissionais, e enfatizar o impacto e as repercussões dessa

forma de pensar reducionista sobre a qualidade das relações pessoais e de

trabalho.

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5. A NEGOCIAÇÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO 5.1. Observações introdutórias

Abordando no capítulo anterior as razões que impedem as pessoas de se

verem como negociadoras nos mais variados contextos de ação, invocamos a

necessidade de se desmistificar as imagens que estão associadas à palavra

negociação. Essa necessidade também se encontra presente no ambiente

organizacional.

O que se constata na prática das relações nesses ambientes é que a

grande maioria das pessoas que deles fazem parte não percebem que estão

constantemente negociando quando estão interagindo na busca da realização de

seus interesses, nos níveis operacional, tático ou estratégico.

Esse desconhecimento ou a pouca importância dada a esse assunto

acarreta várias conseqüências. Dentre essas, merecem destaque a

impessoalidade como as pessoas se tratam, o baixo desempenho, a baixa

eficácia e o acirramento das dificuldades nas relações interpessoais. Nesse

contexto as situações de impasse e conflito proliferam, na maioria das vezes, pelo

fato das pessoas desconhecerem o impacto e a repercussão de seu

comportamento sobre os outros. E quando os reconhecem, minimizam os seus

efeitos e a sua causalidade na geração de situações de desconforto ou de

conflito.

O paradoxo observado é que nesses ambientes de trabalho são exigidos

participação, cooperação, desempenho e produtividade, ou seja, existe uma

relativa clareza do que é esperado de cada um; em contrapartida pouca ou quase

nenhuma atenção é dispensada ao “como” fazer para se chegar aos resultados

esperados. O “como” fazer está diretamente relacionado ao exercício de

habilidades de se saber lidar com as diferenças individuais quando as pessoas

estão reunidas para concretizar um objetivo num processo relacional no contexto

organizacional, ou seja, estão negociando para alcançar objetivos e metas

estabelecidos.

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Conforme já nos reportamos anteriormente, entendemos a organização

como um sistema vivo formado pela subjetividade das pessoas que a compõem e

integram.

5.2. Competência técnica e competência interpessoal Torna-se oportuno declarar que, neste estudo, a competência é entendida

como a capacidade de realizar uma tarefa física ou mental com eficácia.

Acreditamos que para uma tarefa ser realizada com eficácia, torna-se necessário

o desenvolvimento de habilidades relacionadas às áreas técnicas e interpessoais.

Tratando de competência interpessoal, Moscovici (op.cit.p.36) assim a

define: Competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com relações interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma e às (sic) exigência da situação.

Assim, a competência interpessoal se expressa por meio da habilidade de

saber lidar com as pessoas de forma adequada às exigências de cada contexto

de ação. Facilidade de se comunicar, saber lidar com conflitos, propor soluções,

inovar, escutar ativamente, equilibrar argumentação com inquirição, dentre outras,

são exemplos de habilidades da competência interpessoal. A competência técnica

se expressa através do preparo e domínio técnico sobre determinado assunto.

Traçando um comparativo entre essas duas modalidades de competências,

o que merece um destaque especial é que na competência técnica não existe a

condição básica de se estar em relação com o outro, ela pode ser desenvolvida,

por exemplo, através da leitura; na competência interpessoal está presente a

condição básica de, para serem internalizadas, se estar em relação com o outro.

É na qualidade da relação onde são observados os efeitos de sua ausência. Os

efeitos da falta dessas habilidades podem ser ilustrados nas reuniões realizadas

nos ambientes de trabalho, nas quais as pessoas passam horas discutindo sobre

determinado assunto para depois perceberem que estavam falando sobre a

mesma coisa e com os mesmos objetivos.

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Predomina nos ambientes de trabalho a cultura do investimento maciço no

desenvolvimento de habilidades relacionadas à competência técnica, sob a

premissa de serem elas suficientes para atender a complexa dinâmica de

interesses e necessidades expressas em cada relação interacional. Os efeitos

oriundos dessa premissa demonstram na prática exatamente o contrário. A

compreensão sistêmica de contexto exige o desenvolvimento integrado dessas

duas competências para se lidar com os desafios advindos da previsibilidade e da

imprevisibilidade das variáveis que integram cada contexto de ação. Infelizmente

ainda predomina na maioria das organizações a crença de que é suficiente juntar

pessoas altamente qualificadas tecnicamente para que elas, com base nessa

competência, saibam lidar e interagir com os outros de forma competente e eficaz

no trato das relações interpessoais. O cotidiano observado na maioria das

organizações desconfirma essa crença.

Moscovici (2000:36,37) acrescenta mais sobre competência interpessoal

citando C. Argyris (1968), que a define como:

(...) é a habilidade de lidar eficazmente com relações interpessoais de acordo com três critérios: a) Percepção acurada da situação interpessoal, de suas variáveis relevantes e respectiva inter-relação. b) Habilidade de resolver realmente os problemas interpessoais, de tal modo que não haja regressões. c) Solução alcançada de tal forma que as pessoas envolvidas continuem trabalhando juntas tão eficientemente, pelo menos, como quando começaram a resolver seus problemas.

Ainda citando a autora acima referida, ela reforça a necessidade do

desenvolvimento de componentes considerados fundamentais para a

competência interpessoal , a saber:

Dois componentes da competência interpessoal assumem importância capital: a percepção e a habilidade propriamente dita. O processo da percepção precisa ser treinado para uma visão acurada da situação interpessoal. Isto significa um longo processo de crescimento pessoal, abrangendo autopercepção, autoconscientização e auto-aceitação como pré-requisitos de possibilidades de percepção mais realística dos outros e da situação interpessoal. Esse treinamento perceptivo não se realiza espontânea nem facilmente, mas requer treinamento especial, demorado, e muitas vezes sofrido, exigindo coragem e disponibilidade psicológica do treinamento no exercício de receber feedback. O autoconhecimento só pode ser obtido com a ajuda dos outros, por meio de feedback, o

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qual precisa ser elaborado para a auto-aceitação de componentes do eu cego. Se o indivíduo tem percepção mais acurada de si, então pode, também, ter percepção acurada da situação interpessoal, primeiro passo para poder agir de forma adequada e realística (37).

Assim, com fundamento nas idéias acima, resulta evidenciada a

importância e necessidade do investimento no desenvolvimento da competência

interpessoal através de laboratórios de sensibilização. Nesses laboratórios, sob a

condução de facilitador habilitado e preparado, são criadas situações

semelhantes às vivenciadas no dia-a-dia nas quais as pessoas, sem desgastes

psicológicos desnecessários – como os que podem ocorrer em tempo real –

podem: melhorar o autoconhecimento, a percepção de si, do outro e do contexto

onde estão inseridas; aprender a dar e receber feedback (como o seu

comportamento ou o do outro está gerando situações de desconforto ou

problema); examinar a causalidade pessoal na geração de situações de conflito;

assumir a responsabilidade pelos atos praticados ao invés de transferir toda a

responsabilidade para o outro.

A depender do nível de abertura e investimento pessoal, esse tipo de

encontro vivencial facilita a tomada de consciência de como cada um tem

internalizado o seu modelo de negociação e de como esse modelo acontece nas

relações pessoais e nas relações de trabalho. Geralmente os padrões

comportamentais identificados no campo pessoal se repetem no campo

profissional, respeitado-se as variáveis de cada contexto onde estão ocorrendo as

negociações e as pessoas envolvidas nesse contexto.

5.3. Negociação por posição versus negociação por interesses

O pouco ou quase nenhum investimento no desenvolvimento das

habilidades interpessoais influencia diretamente a condução de negociações em

todos os contextos de ação, seja no âmbito pessoal ou profissional.

A observação de campo demonstra que as partes envolvidas nesse

processo expressam padrões de comportamentos que revelam negociação por

posição. Essa ainda é a forma predominante de negociação porque está

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arraigada no sistema de aprendizagem estruturado na maioria das organizações

formais ou informais.

Geralmente, nessa forma de condução da negociação, a parte procura

defender, intransigentemente, a própria posição, procura coagir a outra parte a

aceitar a sua posição, busca conseguir o máximo possível da outra parte, indica

como gostaria de resolver a questão; conseqüentemente, os resultados são

satisfatórios para a parte mais “forte” e insatisfatórios para a mais “fraca”. É

considerada a forma de condução de negociação por barganha de posição. A

título de exemplificar, podem ser citadas algumas reuniões de negociações

realizadas entre representantes de categorias profissionais e patronais nas quais

se observa a focalização para ganhos imediatos em detrimento da qualidade e

continuidade do relacionamento nas relações profissionais. Vale acrescentar que

em razão da atual conjuntura do mercado de trabalho já se observa uma

tendência significativa para a quebra desse modelo único de atuação. As

organizações que têm clareza de sua visão de futuro sabem que representa um

diferencial competitivo no mercado de trabalho o investimento no

desenvolvimento integrado das competências técnicas e interpessoais de seus

empregados. Esse investimento repercute na qualidade das negociações

informais ou formais realizadas nesses contextos de trabalho.

A negociação por interesses está respaldada nas necessidades dos

envolvidos. Nesse tipo de condução as partes utilizam o diálogo para identificar a

área de interesses e opções, avaliam as opções para satisfazer interesses

mútuos, expressam o que pretendem, conseqüentemente, os resultados são

satisfatórios para as partes envolvidas.

A negociação por interesse exige que as partes saibam identificar o foco do

problema, discutir os interesses relacionados com o problema, gerar

soluções/opções para resolução do problema, selecionar critérios objetivos para

avaliar essas opções.

A negociação por interesses é considerada a forma que busca a solução

de problemas porque procura identificar a essência do problema e segue as

etapas do processo para sua solução: faz o diagnóstico da situação, procura

compreender a situação sob vários ângulos, apresenta alternativas de solução,

identifica critérios objetivos e escolhe a solução adequada. Esse tipo de

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negociação pressupõe que as pessoas tenham desenvolvidas competências

técnicas e interpessoais para agirem conforme as exigências e necessidades de

cada situação.

O desenvolvimento interligado das competências técnicas e interpessoais

ampliam as possibilidades de negociações eficazes nas quais são observadas as

seguintes atitudes básicas: preparar-se, estabelecer limites, definir objetivos e

metas, demonstrar segurança e credibilidade e manter equilíbrio emocional.

Essas atitudes básicas estão respaldadas nas habilidades de saber escutar, falar

com clareza, equilibrar argumentação com inquirição e saber quando e onde

fechar o acordo.

É importante enfatizar que o ideal era que a forma como cada negociação

fosse conduzida fosse norteada pelas necessidades de cada contexto de ação. O

que ocorre na prática é o uso quase exclusivo da negociação por barganha de

posição, seja nas negociações formais ou informais, o que provoca sérios e

desnecessários desgastes para os relacionamentos que terão continuidade, a

exemplo dos decorrentes das relações de trabalho. Conforme já mencionado, as

pessoas parecem desconhecer o impacto e a repercussão dos desgastes

desnecessários que impõem a si e aos outros quando pautam as suas

negociações nos ambientes de trabalho sob a concepção das premissas que

embasam a condução da negociação por posição.

Neste capítulo procurou-se demonstrar a importância e necessidade do

desenvolvimento integrado de competências técnicas e interpessoais para a

qualidade do processo, dos relacionamentos e resultados das negociações

realizadas nos ambientes de trabalho.

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6. FATORES ESTRATÉGICOS DA NEGOCIAÇÃO 6.1. Plano de ação

Conforme aumenta o nível de complexidade das negociações, o ideal seria

que as partes envolvidas dedicassem uma atenção especial à elaboração prévia

de um plano de ação no qual devem estar contempladas diretrizes básicas que

nortearão a linha de condução do processo, sendo este formado por etapas que

têm começo, meio e fim. Saliente-se que cada etapa também tem um começo,

meio e fim, que permite a manutenção ou correção da linha de atuação, conforme

as necessidades identificadas.

Podem servir de referencial para a elaboração do plano de ação as

respostas dadas às seguintes perguntas: quais são os objetivos, metas, posições

e necessidades dos envolvidos; quem é a outra parte e qual é o seu estilo de agir

predominante; quais as informações, os conhecimentos e experiências

necessárias; quais as habilidades técnicas e interpessoais necessárias para o

contexto; quais as soluções e alternativas possíveis; quais os limites; qual é a

zona de possibilidade de acontecer o acordo; quais as conseqüências em caso de

insucesso; quais são os fatores que podem ser decisivos; qual é o tempo

disponível; qual é o grau de confiança existente; se haverá ou não a continuidade

do relacionamento. Em função das respostas obtidas serão traçadas as

estratégias de ação, selecionadas as técnicas de negociação e pensadas formas

de serem neutralizadas possíveis artimanhas usadas pela outra parte.

6.2. Estratégias de negociação

As estratégias de negociação expressam a concepção geral das linhas

mestras que irão influenciar a maneira como as pessoas se comportam no

contexto da negociação quando buscam atingir seus objetivos. Discorrendo sobre

o planejamento da negociação, Martinelli e Almeida (1998:21,22) ressaltam que

uma negociação, para ser eficaz, deve contemplar as seguintes estratégias:

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a) Separar as pessoas do problema É importante separar as pessoas do problema, concentrando-se efetivamente no objetivo da negociação. Freqüentemente, confundem-se as pessoas com o problema, envolvendo questões pessoais que não deveriam ser objeto da negociação. Quando se misturam as pessoas com o problema, além das questões pessoais, introduzem-se emoções e aí tem-se (sic) dificuldade para avaliar os reais méritos da questão. b) Concentrar-se nos interesses O segundo ponto fundamental é o de concentrar-se nos interesses básicos, examinando-se os interesses de ambas as partes (verificando-se aqueles que são comuns e aqueles que são conflitantes), e não nas posições de cada um dos envolvidos. É muito comum nas negociações que as pessoas tendam a assumir posições iniciais rígidas ao se introduzirem em uma negociação. Esse fato dificulta totalmente a negociação, à medida que não proporciona flexibilidade aos negociadores e à (sic) toda a negociação, além de, em muitos casos, poder inclusive encobrir efetivamente o que se pretende atingir, ou seja, os interesses básicos que estão por trás da negociação. c) Buscar alternativas de ganhos mútuos

Freqüentemente, pensa-se existir uma única alternativa para a solução do problema e segue-se nesse sentido, embora conscientes de que a solução não nos agrada plenamente. Isso se deve a vários fatores; certa acomodação; ausência de criatividade para buscar outras alternativas; falta de hábito de se trabalhar sempre buscando diferentes soluções; além de, muitas vezes, certo receio de experimentar, ou mesmo procurar, diferentes alternativas. Nesse sentido, torna-se de fundamental importância, para solucionar o problema, encontrar o maior número possível de alternativas para a questão. d) Encontrar critérios objetivos O quarto ponto básico refere-se a encontrar critérios objetivos para a solução do problema. A busca do melhor acordo possível deve passar pela mais vasta gama de soluções possíveis, sempre com a preocupação de procurar interesses comuns que conciliem, de maneira criativa, os interesses divergentes das partes. Portanto, devem- se buscar opções que proporcionem benefícios a ambos os lados. Surge, porém, aí uma questão importante: como escolher a melhor opção dentro do amplo leque que freqüentemente se consegue montar? Nesse sentido, é importante que o acordo possa refletir algum padrão justo, independentemente da vontade pura e simples de qualquer das partes. Portanto, é importante que se estabeleça um padrão razoável que seja um consenso entre as partes envolvidas. Assim, pode-se tomar um valor de mercado como referência; uma opinião especializada e acima de qualquer suspeita; um costume, que já se tenha tornado tradicional no ambiente; ou uma lei, que refletirá um padrão formal e oficial da sociedade. Assim, ao discutir as soluções, nenhum dos lados precisa ceder ao outro. Ambos devem, isto sim, acatar uma solução justa, baseada em critérios previamente discutidos e aceitos.

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6.3. Estilos de negociação

Tecendo comentários acerca do assunto estilos de negociação, Martinelli e

Almeida (1998:78), alertam que:

Várias são as possibilidades de análise e classificação dos estilos de negociação. Existem vários esforços e estudos para identificar e descrever esses estilos, cada um com um enfoque e uma visão próprias.

Tratando da importância da utilização do conceito dos estilos no processo

da negociação, os mesmos autores assim se posicionam:

Na verdade, o uso dos estilos de negociação é conveniente para se buscar a resposta para certas questões fundamentais: O que é um comportamento efetivo de negociação? Seria um tipo de comportamento de negociação mais bem-sucedido ou mais efetivo do que outro? Um entendimento do conceito dos estilos de negociação e de seus limites pode ser útil, tanto em termos conceituais quanto em termos práticos, no que se refere ao desenvolvimento de suas habilidades para enfrentar uma situação corrente de negociação. Muitas pessoas negociam com base em um estilo e não em uma orientação da questão. Reconhecendo o estilo da outra parte, os negociadores podem prever as ações que são parte dele (op.cit..p.78).

Mesmo sendo as pessoas singulares em função da estrutura e dinâmica da

sua personalidade, existem semelhanças entre elas em estilos de atuação. Os

estilos de atuação representam a maneira como cada pessoa age para atingir

seus objetivos, superar impasses e resolver problemas. Convém aqui salientar

que não existe um estilo bom ou ruim. O que pode acirrar ou dificultar a resolução

de um problema é se a pessoa se apega a uma só forma de agir, desconhecendo

completamente as peculiaridades de cada contexto de ação. Essa forma

padronizada de agir pode ser um fator de dificuldades para essa pessoa, à

medida que amplia significativamente o nível de previsibilidade de sua atuação e

o outro pode usar disso de forma indevida.

O importante é que cada pessoa tenha abertura, sensibilidade,

adaptabilidade e criatividade para atuar conforme cada exigência do momento.

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6.3.1. Classificação de estilos de negociação

Ratificando a informação de que existem várias análises e classificações

de estilos de atuação, em razão do foco de interesse desse estudo, abordaremos

a classificação do programa Lifo (Life Orientation), apresentada pelos psicólogos

norte-americanos Atkins e Katcher (1973), especialistas em Desenvolvimento

Organizacional. Essa classificação, realizada no contexto organizacional, visa

demonstrar como os estilos de comportamento se apresentam em cada pessoa.

A teoria Lifo está estruturada no paradoxo de que as forças de uma

pessoa, quando utilizadas em demasia, transformam-se em suas fraquezas,

podendo adotar comportamentos improdutivos ou disfuncionais. A concepção

filosófica desse programa recebe inspiração da obra de Erich Fromm (Man for

himself), com tradução para a língua portuguesa como A análise do homem.

Discorrendo sobre o assunto, Martinelli e Almeida (1998:96,97) enfatizam

a necessidade da realização um diagnóstico situacional e da atenção a ser

dispensada a uma classificação fidedigna , a fim de serem minimizados os riscos

de classificações equivocadas ou imprecisas, conforme o abaixo exposto:

Para não se correr o risco de classificações equivocadas ou imprecisas, um bom diagnóstico e uma classificação fidedigna tornam-se indispensáveis ao autoconhecimento, constituindo-se em importantíssimos norteadores da compreensão mais exata do comportamento das outras pessoas. Assim, quanto mais próximo se está do conhecimento do verdadeiro estilo comportamental do outro, mais fácil será a formação do vínculo social com ele. É muito importante, porém, que se trate o assunto com a seriedade que ele merece, com uma atitude científica diante dele, deixando de lado experiências puramente amadorísticas. Brincar de rotular pessoas é tão ou mais perigoso do que trocar o nome dos objetos com os quais se lida no dia-a-dia. Assim como o universo das coisas com as quais se lida está ordenado, também é possível ordenar o universo o universo das pessoas com as quais se convive. Essa, na verdade, pode ser uma tarefa mais difícil que exige maior conhecimento sistemático de ciências humanas, porém nem por isso deve ser relegada a um segundo plano.

Tecidas essas considerações iniciais, tratemos da classificação Lifo, a qual,

segundo seus autores, apresenta quatro estilos básicos de atuação que podem

ser observados nas pessoas:

1. Apoio/Concessão (AP/CS).

2. Liderança/Dominação (LD/DM).

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3. Conservação/Apego (CV/AG).

4. Adaptação/Negociação (AD/NG).

Transcreveremos abaixo as características de cada estilo LIFO, iniciando

pelos aspectos positivos, ou seja, quando ocorre o uso da força de modo

produtivo, conforme descrição apresentada por Moscovici (2000:69,70):

+ AP/CS – Apoio/Concessão Você gosta de dar conselhos, ajudar os outros e admirar seus trabalhos e realizações. Você tem profundo sentimento de lealdade e dedicação para os colegas de seu grupo de trabalho. Você também comunica uma grande dose de confiança aos outros. Você age e pensa assim: “Se eu trabalhar muito e der ajuda, os outros, em troca, me darão as recompensas que mereço”. +LD/DM – Liderança/Dominação Você se sente mais produtivo quando assume o comando e toma as iniciativas, principalmente no plano das idéias. Você reage bem a situações em que pode traçar seus planos e fazer com que os outros os cumpram. Desafios e idéias novas o intrigam e você gosta de reagir prontamente. Você se interessa mais por tudo aquilo que é novo. Sua crença é que: “Se as coisas irão acontecer comigo e no trabalho, eu tenho que fazê-las acontecer”. + CV/AG – Conservação/Apego Você tem um estilo muito analítico e prático. Sua abordagem é baseada em fatos e lógica. Você se aproxima das pessoas com especial cuidado e precaução e olha todos os ângulos de um problema. Para você aceitar uma idéia nova, ela tem que fazer sentido e você tem que ver o resultado prático que lhe trará. Você gosta de extrair o máximo de idéias e procedimentos existentes antes de passar para algo novo. Você tenta tomar as decisões mais práticas sendo engenhoso e analítico. + AD/NG – Adaptação/Negociação Você usa seu charme pessoal e habilidades sociais para influenciar os outros e conseguir aquilo que você quer. Você, freqüentemente, se adapta, prontamente, aos pontos de vista dos outros. Seu estilo é de negociador. Ser apreciado pelos outros é altamente importante para você. Você se adapta sendo charmoso, ativo, espirituoso e obtém reconhecimento dos outros por seus feitos, popularidade e habilidade de se dar bem com todos.

Conforme acima mencionado, passaremos agora a descrever os aspectos

negativos de cada um dos estilos LIFO, evidenciados diante de conflitos ou

impasses, na opinião de Moscovici (op.cit.:71,72):

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- AP/CS – Apoio/Concessão Você tende a ser excessivamente útil, acreditando nos outros e confiando e concedendo demais. Você aceita o ponto de vista dos outros muito facilmente a fim de ser considerado um bom sujeito. Você tende a perguntar demais as opiniões dos outros, não colocando as suas com firmeza, e perguntando o que fazer. Você tende a assumir rapidamente a culpa pelo conflito, acreditando que você seja a causa dele e procurando uma maneira de conciliar. Você pode parecer um fraco aos olhos dos outros. - LD/DM – Liderança/Dominação Você tende a usar muito o estilo “ou vai ou racha”. Você se torna vigoroso demais lutando por seus direitos e usando rolo compressor, decidido a não deixar ninguém passá-lo para trás. Você pode tentar medir forças intelectuais com seu adversário e entrar numa polêmica radical (ganha-perde), mesmo que seja para vencer a batalha e perder a guerra. Os outros podem achar você superagressivo. - CV/AG – Conservação/Apego Você tende a se prender muito a fatos e inundar os outros com dados para vencer uma discussão, depois se retira, mantém sua posição e espera para ver uma reação, ou até que a competição chegue a você. Você tende a superanalisar um problema e, portanto, a colecionar dados desnecessários. Você se atém, possivelmente, àquilo que tem, protege-se e fica atento a seus próprios interesses, mesmo que possa fazer os outros pensarem que você é teimoso, frio ou indiferente. Você tende a se apegar demais ao velho em vez de aceitar o novo. -AD/NG – Adaptação/Negociação Você tende a transigir demais, adaptando-se e seguindo muito facilmente as opiniões dos outros. Você tenta evitar o conflito, manter a paz e a harmonia a todo custo. Você, freqüentemente, tende a apaziguar os criadores de casos procurando pilheriar sobre o problema, levando na brincadeira, e negando a preocupação real. Você tende a suavizar as coisas com seu charme, a esconder seus sentimentos reais e a transigir para manter todos contentes, mesmo que você pareça ansioso demais por obter a aprovação dos outros.

Traçando um comparativo de um mesmo estilo nas duas situações

apresentadas, conclui-se que a utilização em excesso das forças acaba

acarretando fraquezas que se transformam em tensão e dificuldades nas relações

interacionais. O excesso, a rigidez, acabam por transformar um estilo produtivo

em improdutivo pelas razões elencadas. Assim, o conhecimento dos quatro

estilos LIFO torna-se relevante porque possibilita elevar a percepção de si, do

outro e do contexto, propiciando direcionar ou redirecionar curso de ação. Quando

a pessoa conhece o seu próprio estilo predominante e aquele que mais evita,

pode ampliar as possibilidades de saber como e onde participar mais ou menos,

onde é mais eficiente e o que precisa ser melhorado. Poderá interagir com os

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outros respeitando as diferenças e identificar onde podem surgir conflitos, sem

necessidade de recorrer a mecanismos de defesa.

Conforme salientado pelos próprios autores do sistema LIFO, as pessoas

não são nunca portadoras de um único estilo. Na prática, observa-se que a

maioria delas apresenta os quatro estilos ao mesmo tempo, com graus variados

de utilização. A diferenciação que existe entre as pessoas ocorre em função da

ordem com a qual essas quatro orientações comportamentais aparecem em razão

da percepção de cada uma da necessidade de cada contexto de ação.

Assim, em cada situação de interação, além da importância da

identificação do estilo comportamental que a pessoa está apresentando, também

é relevante saber focalizar o cerne do problema; sondar necessidades,

expectativas, desejos; apresentar soluções; identificar benefícios para os

envolvidos e fechar o acordo.

6.4. Técnicas de negociação

Técnicas de negociação são um conjunto de ações planejadas e

executadas visando a alcançar determinado objetivo. As técnicas expressam o

modo como as atividades são realizadas no processo da negociação. Cabe aqui

ressaltar a relação direta que existe entre a necessidade da imediata definição do

objetivo de cada etapa e a concepção, planejamento e execução de ações

pertinentes à sua concretização.

Quanto mais se eleva o nível de complexidade das negociações mais

deveria haver o cuidado de serem formuladas perguntas-chave direcionadas para

facilitar a identificação de cada ação específica a ser implementada conforme

cada contexto situacional. Exemplificando: o que pretendo com essa negociação?

Por que é importante? O que sei sobre a outra pessoa? O quanto estou

preparado em termos de conhecimento? Como estou gerenciando as emoções?

Tenho clareza do que quero e como quero? Quais são os meus limites? Quais

são os fatores que facilitam? Quais os fatores que prejudicam? Como conduzirei o

processo? Todos esses questionamentos devem ser formulados em via de mão

dupla, contemplando a relação entre eu e eles. As respostas consistentes às

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perguntas acima formuladas fornecem um norte que favorece uma atuação

competente e eficaz.

Nessa linha de entendimento convém reforçar que, devido à singularidade

de cada pessoa na sua maneira de pensar, sentir e agir em cada contexto, torna-

se improvável que um conjunto de técnicas contemple todas as necessidades

expressas em cada momento interacional, como se fosse o caso de uma “receita

de bolo”. Na verdade é o somatório dos conhecimentos, informações,

experiências, habilidades, recursos disponíveis, criatividade e a sensibilidade de

cada pessoa que facilitará identificar as opções disponíveis e selecionar a

intervenção mais apropriada para cada situação conforme a personalidade do

outro, seu estilo de agir naquele momento e o contexto da ação.

Assim, no processo interacional da negociação, a situação ideal seria

aquela na qual as partes têm clareza de objetivos, dos fatores que ajudam e/ou

prejudicam, das habilidades e inabilidades de cada um e sabem o que fazer para

alcançar os objetivos estabelecidos. Nesta situação idealizada, aumenta a

probabilidade da utilização de técnicas que facilitam a condução do processo e a

5resolução do problema.

6.4.1. Exemplificando técnicas positivas que podem ser utilizadas na negociação

Dentre as inúmeras técnicas citadas pelos diversos autores que tratam do

tema, em razão da área de interesse deste estudo, merecem destaque especial

as técnicas da escuta ativa e da livre expressão de idéias.

Resultante de contribuição pessoal na elaboração do Manual do Mediador,

editado e distribuído pela Secretaria de Relações do Trabalho do Ministério do

Trabalho e Emprego e destinado aos Auditores Fiscais do Trabalho, foram

analisadas as duas técnicas acima mencionadas, conforme o a seguir exposto:

Técnica da escuta ativa O que é: é uma técnica de comunicação por meio da qual quem ouve (receptor) interpreta uma mensagem verbal, identifica a emoção expressa e, em seguida, restabelece o conteúdo da mensagem para que falou (emissor).

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Para que serve: permite a quem está falando e a quem está ouvindo averiguar se o significado da mensagem foi compreendido. Como fazer: a) reafirmando – repetir, palavra por palavra, o que a outra pessoa acabou de falar; b) parafraseando – recontar, com suas próprias palavras, as declarações feitas pela pessoa que acabou de falar (p.38).

Técnica da livre expressão de idéias O que é: é a livre expressão de idéias usadas na elaboração das opções para a solução do conflito. Para que serve: ajuda a identificar outras opções para a solução do conflito. Como fazer: a) definir o problema;

b) não criticar nem ridicularizar qualquer idéia apresentada; c) deixar fluir a imaginação; d) estimular a quantidade de idéias expostas; e) registrar todas as idéias; f) selecionar a(s) idéia(s) que solucione(m) o conflito (p.39).

6.4.2. Exemplificando técnicas negativas que podem ser utilizadas na

negociação

Discorrendo sobre as técnicas “macabras“ ou artimanhas que

freqüentemente ou ocasionalmente podem ser utilizadas no processo da

negociação, Pinto (1993:102 a 105), assim se posiciona:

As artimanhas orientadas para o ganha-perde, ou seja, as técnicas “macabras“ são engodos utilizados por “negociadores” que, ou são desonestos ou não conhecem as recomendações contidas nesta obra. Infelizmente, freqüentemente ou ocasionalmente, diversos negociadores utilizam algumas ou todas as artimanhas a seguir abordadas. Ao negociar com eles, não entre em confronto. Identifique o tipo de engodo, questione sua validade e proponha critérios objetivos de negociação. Se o negociador-trapaceiro insistir no jogo sujo, não confronte. Dê-lhe quantas oportunidades forem necessárias para a negociação legítima e objetiva e, se ele não mudar de postura utilize o poder de que você dispõe.

O autor acima mencionado elenca e exemplifica as quinze principais

artimanhas orientadas para um resultado ganha-perde, as quais são utilizadas por

pseudonegociadores. Visando aos objetivos deste estudo, vale a pena transcrevê-

las na íntegra:

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1. Informações imprecisas Envolver a outra parte através de informações distorcidas. Essas informações não são totalmente falsas, mas alguns de seus dados – os que interessam ao trapaceiro – são imprecisos. Exemplo: Um representante da empresa informa que, devido à entressafra,

deverá haver uma queda significativa do faturamento nos próximos meses. Realidade: Na verdade, a entressafra produz a redução do faturamento, mas a empresa oculta que está participando de uma significativa licitação de concorrência, com grande chance de vitória. 2. Autoridade dúbia Auto-subestimar ou auto-superestimar a própria autoridade, visando à obtenção unilateral de vantagens. Exemplo: O negociador diz que aquela proposta está no limite máximo que a

diretoria aprovou, quando, na realidade, possui autoridade para aprová-la.

3. Omissões de informações importantes Deixar de informar alguns dados que modificariam o andamento da negociação, visando proteger os próprios interesses. Exemplo: A empresa, visando não despertar o sindicato para reivindicações

de aumentos salariais, realiza subfaturamentos.

4. Local impróprio Realizar a negociação em local não conveniente à outra parte. Exemplo: A empresa agenda reunião com o sindicato para ser realizada em

suas dependências, com o intuito de usar a supremacia territorial.

5. Platéia tendenciosa Permitir a participação de um público supostamente neutro. Durante a reunião a platéia realiza manifestações para pressionar alguns interlocutores. Exemplo: Uma equipe policial é convocada para manter a ordem. Na

realidade são convocados para dissimular os piquetes de uma greve. 6. Agressões propositadas e pressões psicológicas Intimidar o interlocutor através de palavras ou gestos, com o intuito de pressiona-lo a conceder algo além do que faria em situações de normalidade. Exemplo: Um agente imobiliário diz a um virtual comprador que ele deve

pensar mais na família, comprando um imóvel na praia, em vez de ficar aplicando o seu dinheiro no mercado financeiro. “Aplicações financeiras”, diz o vendedor, “são investimentos de alto risco, pois estão sujeitos às freqüentes oscilações de mercado, aos confiscos governamentais etc., e, adicionalmente, não propiciam lazer”.

7. Jogos de posturas Representar papéis contraditórios visando enfraquecer a posição do interlocutor. Exemplo:

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Um negociador atua com base em critérios legítimos enquanto o outro tenta desestruturar emocionalmente os interlocutores postos.

8. Ameaças de abandono da negociação Pressionar o interlocutor a ceder através de uma pseudotentativa de rompimento nas relações. Exemplo: A empresa intimida o sindicato, alegando que não negociará até

que os trabalhadores voltem ao trabalho.

9. Drible Dar a impressão de que está objetivando uma coisa quando na realidade pretende outra. Exemplo: O comprador que astutamente solicita uma redução de preço

“para decidir”. Quando obtém a redução, solicita “uma última proposta”. Após isso “a proposta para fechar o negócio” e daí por diante.

10. Divagações deliberadas Empurrar o assunto com a “barriga”, com o intuito de negar uma informação ou proposta. Exemplo: O negociador que aceita um agendamento de reunião e

comparece sem nenhuma proposta definida, visando protelar a decisão.

11. Mudanças de interlocutores Alterar um ou mais membros da equipe, não por questões de incompatibilidades pessoais, mas para não honrar um compromisso. Exemplo: Uma comissão de alunos assume um compromisso com a direção

da universidade durante o processo de negociação. Na rodada seguinte, outros alunos compõem a comissão, não aceitam o que a comissão anterior assumiu e retornam a negociação na “estaca zero”.

12. Alterações das regras Mudar as regras da negociação quando aquelas preestabelecidas não mais atentarem aos seus objetivos. Exemplo: O presidente do sindicato dos trabalhadores que volta atrás em

relação à tentativa de convencer o pessoal à volta ao trabalho, quando desaprovada tal decisão por seus colegas.

13. Amnésia Esquecer deliberadamente um compromisso assumido ou uma informação que comprometa. Exemplo: O representante de uma empresa que “esquece” de inserir uma

cláusula no contrato, apesar de enfaticamente discutida durante a negociação, visando levar vantagem.

14. Indiferença irreal Manter uma postura de suposta neutralidade, objetivando desestimular as ações do interlocutor. Exemplo:

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A empresa que se diz neutra em relação à filiação do pessoal ao sindicato, mas que sutilmente denigre a imagem do sindicato e/ou discrimina os sindicalizados.

15. O amigo-da-onça Cooptar com o interlocutor, com o intuito de promover sangrias. Exemplo: O responsável pela área de relações trabalhistas de uma empresa

que faz “profunda amizade” com o empregado-sindicalista, visando extrair informações confidenciais sobre as estratégias sindicais e preparar as contra-estratégias.

Ao longo deste capítulo foi enfatizada a importância de se direcionar o foco

da atenção à identificação e compreensão da origem dos motivos expressos ou

implícitos, que estão contribuindo para gerar a situação de impasse no processo

interacional na negociação, a fim de se elevar às probabilidades de escolhas de

estratégias de ação adequadas às necessidades de cada contexto de ação, muito

mais do que ampliar conhecimentos sobre fórmulas prontas que, guardadas as

devidas limitações, inegavelmente ajudam nesse processo.

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7. A COMUNICAÇÃO NO PROCESSO DA NEGOCIAÇÃO

7.1. Processo de comunicação

É nos contextos de ação que o nível da qualidade das relações

interpessoais revela o quanto as partes envolvidas nesse processo investem no

desenvolvimento da habilidade da comunicação.

O estudo de campo demonstra que, na maioria das vezes, as pessoas se

comunicam sem dispensar a devida importância aos efeitos que a sua fala

provoca no outro. É como se falar não oferecesse o menor risco do outro deixar

de entender o que ela quer dizer. Essa parece ser a regra predominante nos

relacionamentos interpessoais.

Presas dessa regra, as pessoas deixam passar despercebidos sinais

considerados significativos para uma boa comunicação. Esses sinais são

representados pelas mensagens sutis que a todo instante estão sendo expressos

pelas pessoas envolvidas nos mais diversos níveis de comunicação.

Nos contextos das negociações esses sinais adquirem importância

fundamental porque servem de indicadores que ajudam as partes a mudar ou

corrigir o curso da comunicação. A mudança ou correção desse curso da

comunicação está diretamente relacionada à capacidade de perceber e refletir

criticamente durante esse processo sobre o que se está pensando, sentindo e

como isso está sendo expresso para a outra pessoa, o que aumenta a eficácia na

comunicação, e conseqüentemente, nas mais diversas formas de negociação.

Vale aqui transcrever o entendimento de Shell (op.cit.p.21) a respeito da

importância da comunicação para o processo da negociação:

A negociação é uma forma especializada de comunicação humana que requer um certo grau de prudência e atenção se você quiser executa-la bem.

Tecidas essas considerações iniciais a respeito da relevância da

comunicação como ferramenta básica que facilita o entendimento interacional

para negociações eficazes, é oportuno que se apresente a análise feita por

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Martinelli e Almeida (1997:39,40) sobre os quatro aspectos básicos do processo

da comunicação, a saber: 1. Alvo – toda comunicação deve ter um alvo claramente definido; deve-se ter sempre em mente esse alvo, ao se comunicar. É importante que se tenha claro qual é o propósito da comunicação, ou seja, o que se deseja especificamente que o receptor compreenda ou faça como resultado da comunicação.

2. Método – alguns métodos ou canais de comunicação são melhores do que outros para o atingimento de determinado alvo. Deve-se, então, pesar as vantagens e desvantagens dos diversos métodos alternativos, antes de selecionar um método específico.

3. Estrutura – a maneira como se estrutura a comunicação é muito importante para que ela tenha sucesso.

4. Feedback – a fim de assegurar que a mensagem foi compreendida, bem como para poder avaliar as emoções do receptor em relação à ela, é preciso receber sinais de feedback do receptor. Nesse sentido, então, é fundamental verificar se a mensagem transmitida permite e encoraja o feedback do receptor.

Discorrendo sobre a variedade e diversidade dos métodos de comunicação

que podem ser identificados nos ambientes de trabalho, os autores acima citados

destacam, dentre outros, os seguintes:

Conversa pessoal, conversa telefônica, carta, memorando, relatório, entrevista, formulário, circular, bilhete, recado oral transmitido por terceiros, mensagem em quadro de avisos, reunião, conversa informal em corredor, boletim, publicação interna, exposição oral, conferência, palestra, gráfico, desenho, tabela (p.40).

Uma leitura interpretativa dos exemplos acima citados revela que nesse

processo estão presentes – além do canal de expressão selecionado e utilizado –

a figura do emissor, quem envia a mensagem; a figura do receptor, quem recebe

a mensagem; a mensagem, expressando a idéia que se deseja transmitir; e o

feedback, o retorno ou a resposta obtida. Assim, nos processos de comunicação

estão sempre presentes: um emissor, um receptor, uma mensagem, um canal

usado para expressar a mensagem e um retorno para essa mensagem.

Nessa linha, a comunicação pode ser entendida como um processo através

do qual a informação é trocada e compreendida por duas ou mais pessoas

envolvidas nesse contexto. Estamos aqui diante de uma situação ideal, a qual,

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infelizmente, não acontece com a freqüência que seria desejável em função de

diversos fatores que dificultam esse processo. Esses fatores podem ser

caracterizados dentre outros, desde a falta de atenção, expectativas,

pressupostos equivocados até o padrão de cultura predominante em cada

ambiente de interação.

7.2. Fatores que dificultam o processo de comunicação em qualquer contexto interacional

Arco de Distorção – O que se constata na prática é que quando o emissor

transmite uma determinada informação, o mais provável é que o receptor não

capte todo o teor e significado contido nessa informação. A diferença existente

entre o que o emissor queria transmitir e o que foi efetivamente compreendido

pelo receptor é nomeada por Wanderley (1998: 91) como Arco de Distorção.

Segundo esse autor, esse fenômeno ocorre em razão das pessoas deixarem de

levar em consideração que as palavras podem ter vários significados e que são

as pessoas quem lhes dá significado e não que o significado é inerente às

palavras. Observa-se aqui uma incongruência entre teoria e prática. Teoricamente

as pessoas compreendem que são elas que dão significado às palavras,

entretanto, o que se observa na prática é que elas agem como se o significado

fosse inerente às palavras, ou seja, pau é pau, pedra é pedra.

Distorções – Ocorrem, conforme é analisado pelo autor acima referido

(op.cit.p.92), quando as pessoas envolvidas distorcem as mensagens em razão

de seus estados emocionais, das suas expectativas e das óticas de suas áreas de

especialização. Destacando a influência da área de especialização no processo

da comunicação, o citado autor destaca que: “Como ouvintes, algumas vezes

projetamos nossas próprias idéias na mensagem de outra pessoa, ouvindo

apenas aquilo que desejamos ouvir, o que também pode ser condicionado pela

nossa formação. Assim, numa empresa, as pessoas de cada departamento, como

vendas, produção e finanças, tendem a perceber a realidade pela ótica de suas

funções (p.92)”.

Generalizações – Estão respaldadas na prática, de acordo com o autor

acima mencionado, (...) “a partir de uma ou duas informações, tiramos uma

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conclusão geral válida para todas as situações. Assim, se uma pessoa cometeu

um erro, ela passa a ser errada. Se alguém de determinada crença ou raça fez

qualquer coisa que nos desagradou, passamos a considerar que todas as

pessoas daquela raça ou crença têm o mesmo comportamento (p.93)”.

Portanto, os fatores acima elencados dificultam o processo de

comunicação em qualquer instância das relações interpessoais, seja no campo

pessoal ou profissional.

7.2.1. Outros fatores que prejudicam o processo de comunicação no contexto da negociação

Visando a atender aos objetivos deste estudo, foi considerado pertinente

relacionar, além dos já referidos anteriormente, outros fatores que também

dificultam a eficácia do processo de comunicação, especificamente nos contextos

das negociações, a saber:

Falar muito e escutar pouco – esse é um dos fatores que mais contribuem

para o fracasso de qualquer tipo de negociação. A pessoa nessa situação

contribui para aumentar o grau de dificuldade para o entendimento e a busca da

solução mútua adequada em decorrência do fechamento na exclusiva defesa de

seus interesses.

Presumir a comunicação quando não a entendeu – essa dificuldade ocorre

na prática com uma freqüência maior do que, talvez, se tenha consciência. Faz

parte dos nossos hábitos presumirmos o que a outra pessoa quis dizer sem testar

com ela essa nossa presunção. E com base no que se presume, se age, e depois

há o espanto ou o aborrecimento quando a outra pessoa, através do

comportamento, desconfirma essa presunção.

Deixar de perguntar se foi compreendido – nesse caso a pessoa parte do

pressuposto de que a mensagem que acabou de emitir foi, na íntegra,

compreendida pelo seu interlocutor.

Aumentar o tom da voz – falar alto em qualquer contexto de negociação

ajuda a aumentar o nível de tensão, o que, conseqüentemente, acirra a

dificuldade para o entendimento.

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Escutar seletivamente – nesse caso a pessoa seleciona da mensagem os

pontos que parecem estar fortalecendo a sua opinião, ou seja, só escuta o que

lhe convém, o que atende aos seus interesses e expectativas.

Utilizar termos negativos com freqüência – o uso freqüente e

desnecessário de termos negativos num contexto de negociação passa para a

outra pessoa a impressão de que não há grandes possibilidades de se chegar a

um entendimento que beneficie as partes envolvidas. Esse fator pode ainda

passar a impressão de que a parte que está se utilizando desse expediente não

está com vontade de negociar. Podem servir de exemplos, dentre outros, os

seguintes termos: jamais, impossível, nunca, inegociável.

Utilizar termos que a outra parte não entenda – a utilização de termos

desconhecidos para a outra parte contraria frontalmente as regras básicas da

comunicação, ou seja, para que a comunicação se estabeleça é necessário que o

significado dos termos seja compreendido pelas partes envolvidas no processo. A

boa comunicação exige que as partes entrem num acordo intersubjetivo a

respeito do significado e compreensão dos termos utilizados.

Enviar mensagem ambígua – um dos fatores que mais contribuem para

gerar falta de entendimento, desconforto e desconfiança é a expressão de

mensagem com duplo sentido. Todo o processo de comunicação é permeado

pelos sinais que são, a todo instante, emitidos em via de mão dupla. No contexto

da negociação a falha na interpretação de qualquer um dos sinais emitidos pode

provocar conseqüências não intencionadas.

7.3. Fatores que facilitam o processo de comunicação no contexto da negociação

Quatro fatores contribuem de forma decisiva para uma comunicação eficaz

no processo da negociação. São eles: o feedbak, a escuta ativa, a formulação de

perguntas adequadas para cada situação e a comunicação não verbal. Pela

relevância para este estudo, analisaremos cada um deles individualmente.

Feedback – Em decorrência da própria complexidade observada no

processo de comunicação, são enormes as probabilidades de serem enviadas ou

recebidas mensagem com ruídos, ou seja, mensagens distorcidas ou alteradas,

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que não correspondem ao que se queria efetivamente transmitir. Nessa situação

o feedbak assume relevante importância porque é o retorno que confirma ou

desconfirma se a intenção do que se queria transmitir foi captado na íntegra,

conforme bem enfatiza Martinelli e Almeida (1997:41):

Nesse sentido, o feedback assume fundamental importância, de maneira a se poder avaliar e rever aquilo que foi transmitido e captado. Isto ajuda no prosseguimento correto do processo de negociação e atingimento do melhor acordo dentro dos interesses reais dos envolvidos.

Ainda discorrendo sobre a importância do feedback para a comunicação

competente e eficaz no contexto da negociação, os autores acima referidos

afirmam que “o feedback pode ser definido como qualquer reação a um

determinado estímulo recebido. Afirma ainda que o objetivo do feedback é

proporcionar informações a outra pessoa sobre como percebe o estímulo

recebido e como este afeta o seu comportamento” (p.41). Assim percebe-se a

importância que deve ser dada à obtenção desse retorno para uma comunicação

eficiente, eficaz e efetiva.

Escuta ativa – O desenvolvimento da habilidade de saber ouvir torna-se um

diferencial qualitativo em qualquer contexto de negociação. Saber ouvir significa

saber interpretar a mensagem enviada e ampliar as possibilidades de serem

minimizados os desgastes resultantes de qualquer negociação, seja esta simples

ou complexa, à medida que viabiliza ser mais rapidamente identificada a zona de

acordo. Ouvir com eficácia implica em se dar importância ao tom e ritmo da voz e

à escolha de palavras, além da linguagem corporal expressa naquele contexto.

Tratando desse tema e pela relevância dessa contribuição para o

aprofundamento dessa questão, transcreveremos a seguir os comentários feitos

por Martinelli e Almeida (op.cit.p.43):

Não se pode negociar sem ouvir. Pode-se pedir, conceder, tentar coagir a outra parte, porém, enquanto não se estiver preparado para ouvir o que a outra parte deseja, não se estará preparado para negociar. Este ouvir envolve escutar (estar atento para ouvir), entender (interpretar, perceber, alcançar o sentido da idéia) e absorver (aplicar, concentrar); isto que dizer que se ouvem não só as palavras, mas também a mensagem implícita por trás delas. As habilidades do negociador se fazem presentes, mais uma vez, auxiliando no

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exercício da capacidade de reflexão, questionamento e síntese, permitindo a compreensão correta dos problemas e das possíveis alternativas. Pode-se definir, então, “ouvir” como a habilidade de receber mensagens para alcançar os fatos e os sentimentos de maneira precisa, a fim de interpretar genuinamente a mensagem recebida.

Formulação de perguntas – A habilidade de saber formular perguntas

pertinentes para cada contexto, ou seja, como, quando e onde, combinada com a

habilidade de saber escutar, propicia uma comunicação de mão dupla. Através de

perguntas bem estruturadas e consistentes se obtém informações que

possibilitam o entendimento com a outra pessoa. São consideradas perguntas

bem estruturadas aquelas que estão direcionadas para o que se pretende saber,

que leva em consideração como vai ser obtida a informação e como será utilizada

a informação obtida.

Geralmente as perguntas podem ser classificadas em abertas e fechadas.

As perguntas abertas são formuladas com o objetivo de obter uma resposta

detalhada. Usualmente elas iniciam com “Por que, Como, Fale a respeito, O que

você pensa sobre,... Qual é a sua opinião”. Em contrapartida, as perguntas

fechadas podem ser respondidas resumidamente, ou com um “sim” ou um “não”.

Abertas ou fechadas, as perguntas ocupam lugar de destaque e

importância no contexto da negociação à medida que favorecem a obtenção de

respostas e informações, instigam a reflexão, podem persuadir, dirimir o conflito,

esclarecer mal-entendidos e revelar posições e necessidades.

Comunicação não verbal – Esse tipo de comunicação faz uso da linguagem

expressa pelo corpo. A linguagem corporal utiliza-se de gestos, expressões

faciais e posturas que revelam o estado emocional da pessoa naquele momento.

Tratando do impacto da linguagem corporal, Mills (1993:68), assim se

posiciona: Sempre que falamos, usamos nossas faces, olhos, vozes e corpos para reforçar nossas palavras. As mensagens não-faladas que captamos contribuem para a maior parte do impacto de qualquer mensagem que recebemos. Ao formar uma impressão, primeiro focalizamos aquilo que podemos ver. Albert Mehrabian, uma das maiores autoridades em comunicação não-verbal, alega que 55% do significado de uma mensagem é transmitido somente por expressões faciais e pela linguagem corporal. Em segundo lugar, captamos a voz do locutor – sua forma de discurso, volume, entonação e tom. A voz (excluindo as verdadeiras palavras) pode transmitir até 38% do significado em um encontro frente a frente.

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Finalmente, ouvimos as palavras reais – as quais acrescentam apenas 7% ao significado.

Quando existe uma incongruência entre a comunicação verbal e a não-

verbal, é esta quem predomina como expressão da verdade para aquele

momento. Portanto, a comunicação não-verbal influencia diretamente a forma de

condução da negociação. Cabe às partes estarem atentas a essa influência, que

pode se transformar numa força propulsora ou restritiva do processo de

comunicação.

Ratificando essa importância da comunicação não-verbal enquanto se

negocia, invocando o provérbio que afirma que “Não é o que você diz, mas como

você diz que faz a diferença”, Barnes (1999:47), informa que esse tipo de

comunicação inclui:

1. Modulação de voz (a altura da voz);

2. Entonação (a ênfase colocada em determinadas palavras);

3. Gestos (a maneira como suas mãos, braços e pernas se movimentam);

4. Contato dos olhos (o olhar, direto ou indireto, dirigido ao interlocutor);

5. Proximidade (a distância entre você e o interlocutor);

6. Expressão facial (um sorriso ou uma cara feia).

Analisando esse tema e ressaltando sua importância no contexto da

negociação, Martinelli e Almeida (op.cit.p.50,51) enumeram algumas vantagens

resultantes dessa interpretação, a saber:

Perceber os sentimentos das pessoas. Um sorriso ou algumas palavras de reafirmação podem esconder algum aborrecimento, agressão ou impaciência; assim, a análise dos sinais pode levar a perceber exatamente o que se passa e encaminhar para a melhor reação possível; O sucesso de uma negociação pode ser ajudado pelo calor dos

sentimentos entre as duas partes (se uma das partes sente que a outra não está sendo amigável ou está sendo agressiva, a outra parte pode reagir da mesma forma e aí a reunião degenera; então, deve-se evitar transmitir mensagens infelizes, que possam precipitar reações negativas da outra parte); O negociador consciente é capaz de perceber se está sendo

recebido de maneira positiva ou negativa, se está causando interesse ou não, além de possíveis sinais de frustração da outra parte.

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Os citados autores, ainda analisando esse tema, informam que a

comunicação não verbal pode apresentar alguns grupos de gestos típicos que

podem ser identificados e interpretados com facilidade, a saber:

a. gestos calorosos – normalmente são acompanhados por um relaxamento no tom de voz:

- gestos simpáticos; - proximidade – posturas corporais similares; - sorrisos; - gestos expansivos.

b. submissão – com tom de voz baixo: - interrupções permitidas; - cabeça baixa; - olhos voltados para baixo; - lavar as mãos e tocar a face.

c. dominação – acompanhado de tom de voz alto, porém controla do; - ignorar as respostas; - interrupções; - muita proximidade; - apontar o dedo ou outros gestos fortes.

d. hostilidade – com tom de voz áspero: - postura agressiva; - arregalar os olhos; - não dar nenhum feedback ao que a pessoa está dizendo (sorrindo,

p.ex.); - punhos cerrados (p.51).

Vale ressaltar que não deve ser o ato isolado considerado como base para

uma leitura confiável de contexto. Somente o conjunto de fatores, compreendidos

na sua interdependência, é que pode revelar o que realmente pode estar

ocorrendo numa determinada situação.

Entendendo a negociação como uma forma refinada de comunicação,

procurou-se ao longo deste capítulo, com base em experiência pessoal e na

literatura especializada citada, realçar a importância de uma boa comunicação em

qualquer contexto de interação. Nesse sentido buscou-se demonstrar que da

comunicação fazem parte a expressão verbal e a expressão não verbal, e as suas

influências e conseqüências diretas no processo e no resultado da negociação.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente estudo foi demonstrar a importância dos aspectos

comportamentais presentes no processo da negociação e evidenciar a influência

direta desses aspectos na dinâmica, nas estratégias de ação, na qualidade dos

relacionamentos, nos resultados obtidos no gerenciamento e na composição dos

conflitos das pessoas no campo profissional.

A pesquisa bibliográfica, aliada às observações e dados levantados no

exercício pessoal de atividades profissionais focadas na mediação de conflitos e

facilitação de processos de aprendizagem de estratégias de negociação no

campo das relações de trabalho, demonstram que os conflitos interpessoais têm

um grande impacto negativo nas organizações, diminuindo sua eficácia. Para

resolver, ou minimizar estas conseqüências negativas ficou demonstrado que é

preciso enfatizar o papel da negociação nas relações pessoais e profissionais

para desmistificar a arraigada percepção de que negociação só ocorre em

determinados contextos de ação e que ela é sempre um processo somente

necessário para o estabelecimento de quem perde e quem ganha numa situação

de conflito.

Ao longo deste trabalho buscou-se fundamentar o pressuposto de que os

aspectos comportamentais em todos os níveis de relacionamento interpessoal e

institucional são origem e solução para os problemas surgidos nas relações de

trabalho e que se deve dar maior relevância a estes aspectos, ao invés de se

continuar focando prioritariamente os aspectos relativos à proficiência técnica e os

de caráter formal e legal das relações profissionais.

Um competente diagnóstico das questões interpessoais que interferem nos

ambientes organizacionais possibilita a adoção das estratégias mais adequadas,

muitas delas, cientificamente desenvolvidas a partir de pesquisas

comportamentais relevantes e acreditadas, são citadas neste trabalho.

Ficou também demonstrado o fundamental papel da comunicação e a

conseqüente necessidade de se buscar um cada vez mais acurado modelo de

intercomunicação, seja interpessoal seja institucional. Dentro dessa concepção foi

afirmado ser a negociação em si um refinado processo de comunicação.

Considerando-se que em toda e qualquer situação de resolução ou mesmo de

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apenas compatibilização de diferenças o fundamental é que se saiba com clareza

e profundidade quais são essas diferenças e que se desenvolvam estratégias de

comunicação que possibilitem o estabelecimento de uma via desimpedida e de

mão dupla clara e bem sinalizada. Esse é o aspecto primordial de todo processo

de negociação bem sucedido que foi enfatizado nesse estudo.

Face às exigências atuais do mercado profissional, com o surgimento de

novos modelos de relação de trabalho, é desejável que os elementos teóricos

aqui abordados ganhem vida no dia-a-dia das organizações e sobretudo na

consciência das pessoas, visto ser esse o meio pelo qual se poderá alcançar

expressiva melhoria de qualidade de vida pessoal e profissional. Este é um desejo

que extrapola o objetivo enunciado, mas é o verdadeiro motivo desse trabalho ter

sido produzido.

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