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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO MESTRADO EM FISIOTERAPIA NÁDIA NAYEF GEHA ANÁLISE DA QUALIDADE METODOLÓGICA E DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DE ESTUDOS CONTROLADOS ALEATORIZADOS DE INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS PARA CONDIÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS SÃO PAULO 2012

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO MESTRADO EM …arquivos.cruzeirodosuleducacional.edu.br/principal/... · clínica. Em 2005, Rob Herbert publicou a primeira edição do livro Practical

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

MESTRADO EM FISIOTERAPIA

NÁDIA NAYEF GEHA

ANÁLISE DA QUALIDADE METODOLÓGICA E DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DE

ESTUDOS CONTROLADOS ALEATORIZADOS DE INTERVENÇÕES

FISIOTERAPÊUTICAS PARA CONDIÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS

SÃO PAULO

2012

NÁDIA NAYEF GEHA

ANÁLISE DA QUALIDADE METODOLÓGICA E DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DE

ESTUDOS CONTROLADOS ALEATORIZADOS DE INTERVENÇÕES

FISIOTERAPÊUTICAS PARA CONDIÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito para obtenção do título de Mestre, sob orientação do Prof. Dr. Leonardo Oliveira Pena Costa.

SÃO PAULO

2012

NÁDIA NAYEF GEHA

ANÁLISE DA QUALIDADE METODOLÓGICA E DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DE

ESTUDOS CONTROLADOS ALEATORIZADOS DE INTERVENÇÕES

FISIOTERAPÊUTICAS PARA CONDIÇÕES CARDIORRESPIRATÓRIAS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Avaliação, Intervenção e Prevenção em Fisioterapia

Data da defesa: 07/02/2012

Resultado: Aprovada

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Leonardo de Oliveira Pena Costa ___________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Profª Dra Cristina Maria Nunes Cabral ___________________________

Universidade Cidade de São Paulo

Profª Dra Simone Dal Corso ___________________________

Universidade Nove de Julho

DEDICATÓRIA

Aos meus pais pela dedicação, sacrifício e exemplos de vida. Obrigada por

terem me fornecido o suporte necessário para que eu tivesse a oportunidade de atingir

meus objetivos.

Dedico ao meu querido Fernando, pela compreensão, companheirismo e apoio

em todos os momentos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Leonardo Costa pela compreensão, respeito, confiança e

exemplo de segurança e determinação. A Lucíola Costa pelas importantes dicas e por

estar sempre pronta a ajudar. Aos professores do programa de mestrado, que

colaboraram de forma determinante na minha formação como mestre. A minha amiga

Vanessa, pela amizade e apoio nos momentos de maior dificuldade. A Silvia pela

atenção, amizade e colaboração de forma excepcional nesta dissertação. A minha irmã

Sorraila, por ter me mostrado novas perspectivas. Ao Fernando, por fazer parte da

minha vida e de todos os meus planos.

SUMÁRIO

Páginas Resumo.........................................................................................................................6

Abstract........................................................................................................................8

Capítulo 1 –Contextualização..................................................................................10

1.1 A prática baseada em evidências...................................................................11

1.2 A base de dados PEDro .................................................................................13

1.3 As recomendações CONSORT Statement.....................................................17

1.4 O desenvolvimento científico da fisioterapia cardiorrespiratória .................19

1.5 Objetivos da dissertação ................................................................................22

Capítulo 2 – Métodos................................................................................................23

2.1 Seleção dos estudos .......................................................................................24

2.2 Extração dos dados ........................................................................................24

2.3 Análise dos dados ..........................................................................................29

Capítulo 3 – Resultados............................................................................................31

Capítulo 4 – Considerações finais ...........................................................................39

4.1 Principais achados..........................................................................................40

4.2 Implicações para pesquisa e clínica...............................................................42

4.3 Sugestões para estudos futuros......................................................................42

Referências................................................................................................................44

Anexo1.......................................................................................................................48

Anexo 2......................................................................................................................50

6

Resumo

Contextualização: A fisioterapia cardiorrespiratória é a segunda subdisciplina da

fisioterapia em número de estudos relacionados a eficácia de suas intervenções e

constitui uma importante área de atuação do fisioterapeuta. Apesar de haver um grande

número de estudos controlados aleatorizados (ECAs) relacionados a eficácia de

intervenções relevantes para as condições cardiorrespiratórias, não há estudos que

sumarizem a qualidade metodológica e descrição estatística desses ECAs. Objetivos:

Descrever a qualidade metodológica e descrição estatística dos ECAs em fisioterapia

cardiorrespiratória indexados na Base de Dados PEDro (Physiotherapy Evidence

Database) pelos 11 critérios da Escala de Qualidade PEDro e de alguns itens da lista de

recomendações CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials). O objetivo

secundário dessa dissertação foi averiguar se, estudos publicados na língua inglesa, com

adesão às recomendações CONSORT, mais recentes e que utilizaram a eletroterapia

como intervenção, possuem melhor qualidade em relação aos estudos que não

apresentam essas características. Métodos: Foram selecionados todos os ECAs em

fisioterapia cardiorrespiratória com pontuação de consenso na base de dados PEDro.

Dados sobre a qualidade metodológica e descrição estatística foram extraídos. A análise

dos dados foi descritiva e através da construção de modelos de regressão linear

multivariada. Resultados: Foram analisados 2970 estudos publicados em 598

periódicos diferentes. Os estudos, em média, tiveram um escore na Escala PEDro (0-10)

de 4,72 pontos (DP= 1,41). Houve um aumento da qualidade metodológica e descrição

estatística dos estudos com o passar do tempo com uma média de 2,86 pontos

(DP=1,68) no escore PEDro nos anos 50 para 5,01 pontos (DP=1,42) nos dias atuais.

Porém, vários critérios importantes continuam não sendo atendidos como alocação

7

secreta (18,8%), análise por intenção de tratamento (15,8%) e cegamento dos

participantes (7,3%), terapeutas (1,0%) e avaliadores (24,6%). Além disso, foi

observada uma baixa adesão dos autores a itens relevantes sugeridos pela lista de

recomendações CONSORT, como registro do estudo em órgão de domínio público

(3,5%) e ajuste estatístico para desfechos múltiplos (5,4%). Também foi observado que

a língua de publicação, a adesão às recomendações CONSORT e o tempo de publicação

do estudo influenciam o escore total PEDro. Conclusões: Houve uma grande melhora

na qualidade de ECAs em fisioterapia cardiorrespiratória com o passar do tempo, porém

ainda há grandes possibilidades de melhoria dessa qualidade. Recomenda-se a utilização

da CONSORT para as revistas que usualmente publicam ECAs em fisioterapia

cardiorrespiratória.

Palavras chaves: PEDro (Base de dados de evidências em fisioterapia), CONSORT

Statement e qualidade metodológica.

8

Abstract

Background: Cardiothoracic physiotherapy is the second largest physiotherapy

subdiscipline with regards to the number of studies related to the effect of interventions.

Although there is a large number of randomised controlled trials (RCTs) related to the

efficacy of physiotherapy interventions for cardiothoracic conditions, there are no

studies that aimed to summarize the methodological quality and statistical reporting of

reports of these RCTs. Objectives: To describe the methodological quality and

statistical reporting of reports of RCTs in cardiothoracic physiotherapy indexed on

PEDro (Physiotherapy Evidence Database) through the 11-item PEDro scale as well as

by some items from the CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials

Statement). A secondary aim was to determine possible trial characteristics that could be

associated with better quality. Methods: All cardiothoracic physiotherapy trials with

complete consensus ratings on PEDro were retrieved. Data regarding the

methodological quality and statistical reporting were extracted. Data analysis was

performed by using descriptive and multivariate logistic regression analyses. Results: A

total of 2970 trials published in 598 journals were analysed. These studies have a mean

PEDro score of 4.72 points (SD=1.41). The methodological quality and statistical

reporting of these trials improved over time. However, important criteria such as

concealed allocation, intention to treat analysis and blinding of participants, therapists

and assessors were poorly attended by authors. We have also observed a low proportion

of items suggested by the CONSORT statement satisfied such as trial registration

(3.5%) and statistical adjustment for multiple primary outcomes (5.4%). Finally we

observed that language of publication, endorsement of the CONSORT statement by the

journals and time since publication influences the PEDro score.

9

Conclusions: Methodological quality and statistical reporting of reports of

cardiothoracic trials in physiotherapy have improved over time; however there is a large

possibility for improvement. We strongly recommend the endorsement of the

CONSORT Statement for physiotherapy journals that are relevant to cardiothoracic

conditions.

Key words: PEDro (Physiotherapy Evidence Database), CONSORT Statement

(Consolitaded Standards of Reporting Trials) e methodological quality.

10

CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO

11

1.1 A prática baseada em evidências

A prática baseada em evidências pode ser definida como o uso consciente,

explícito e adequado da melhor evidência atual na tomada de decisão no cuidado de

pacientes1. Há uma integração de três elementos fundamentais: a pesquisa clínica de alta

qualidade, o conhecimento e a experiência do profissional e as preferências do

paciente2. A pesquisa clínica de alta qualidade é a pesquisa realizada com pacientes em

ambientes clínicos, que permita responder perguntas clínicas relevantes para os

profissionais e pacientes com baixo risco de viés. O conhecimento do profissional é o

conhecimento adquirido através da prática profissional e do aprendizado com as

experiências anteriores. Finalmente, as preferências do paciente, assim como suas

experiências anteriores e seus valores pessoais, também devem ser consideradas no

processo de tomada de decisão. A intersecção desses três elementos permite que

fisioterapeutas sejam capazes de comunicar aos pacientes sobre riscos e benefícios de

uma ou mais intervenções. Além disso, outros fatores também podem interferir na

tomada de decisão clínica como a disponibilidade de equipamentos, as condições de

trabalho, as habilidades do fisioterapeuta, assim como aspectos culturais e políticos2.

Cinco passos devem ser dados na utilização da prática baseada em evidências: 1)

formular uma pergunta científica adequada; 2) buscar as melhores evidências

disponíveis; 3) avaliar criticamente as evidências; 4) aplicar a evidência na prática

clínica, integrando os resultados com a experiência clínica e os valores dos pacientes e

5) avaliar a eficácia das intervenções. A aplicação desses passos pode possibilitar uma

melhor atuação profissional1.

O primeiro termo criado em referência à prática baseada em evidências foi o

termo “medicina baseada em evidências”, que foi introduzido por um professor

canadense chamado David Sackett e seus colegas da McMaster University de Ontário,

12

no Canadá, por volta dos anos 90. Esse grupo produziu uma série de guias para ajudar a

introduzir no ensino da medicina o uso de evidência clínica de alta qualidade e melhorar

a eficácia dos cuidados prestados aos pacientes1,2. Com o avanço da aplicação da

medicina baseada em evidências, outras áreas da saúde passaram a utilizar esse termo.

Um dos grupos precursores da fisioterapia baseada em evidências foi o grupo do

Departamento de Epidemiologia da University of Maastricht, na Holanda. Desde o

início dos anos 90, este departamento tem treinado diversas gerações de excelentes

pesquisadores, que têm produzido pesquisas clínicas de alta qualidade relevantes à

fisioterapia2. Em 1998, o livro Evidence-based Healthcare: a practical guide for

therapists3 foi publicado, fornecendo um texto básico para ajudar fisioterapeutas a

entender o que era fisioterapia baseada em evidências e suas relações com a prática

clínica. Em 2005, Rob Herbert publicou a primeira edição do livro Practical Evidence-

based Physiotherapy4, considerado um best-seller mundial sobre fisioterapia baseada

em evidências. A fisioterapia baseada em evidência e as implicações práticas da mesma

na profissão continuam se desenvolvendo até os dias atuais, devido à importância e

melhor conhecimento por acadêmicos e clínicos.

A fisioterapia baseada em evidências é importante tanto para pacientes, quanto

para fisioterapeutas, seguradoras de saúde e governo. A importância para os pacientes é

devido a uma maior possibilidade de recebimento de intervenções mais seguras e

eficazes. Os fisioterapeutas, por sua vez, adquirem uma maior autonomia para assegurar

diagnósticos e prognósticos mais precisos e informar com maior confiança aos pacientes

sobre benefícios, e possíveis danos ou riscos das intervenções. Já os convênios, as

seguradoras e o governo têm interesse em assegurar que o dinheiro será investido em

tratamentos com maior probabilidade de serem eficazes2.

13

Infelizmente, ainda há uma grande lacuna entre a pesquisa e a prática clínica do

fisioterapeuta5. Um número expressivo de estudos é publicado todos os dias e os

fisioterapeutas são incapazes de acompanhar esse grande volume de publicações6. Além

disso, os fisioterapeutas não envolvidos com a prática acadêmica nem sempre

conseguem distinguir estudos de boa qualidade daqueles de qualidade duvidosa e

acabam lendo artigos recomendados por colegas, que são de livre acesso ou de uma

língua mais acessível, como artigos publicados em português, por exemplo7. Com o

objetivo de permitir um acesso mais fácil de fisioterapeutas às evidências de alta

qualidade sobre efeitos de intervenções e facilitar a identificação dos estudos com maior

probabilidade de serem válidos daqueles que não são, auxiliando a tomada de decisão de

fisioterapeutas mundialmente, foi criada uma base de dados chamada PEDro

(Physiotherapy Evidence Database)8.

1.2 A base de dados PEDro

A PEDro é uma base de dados que indexa estudos controlados aleatorizados

(ECAs), revisões sistemáticas e diretrizes para a prática clínica em fisioterapia. Foi

criada em 1999 por cinco fisioterapeutas australianos da Universidade de Sydney. É

mantida por uma organização sem fins lucrativos que tem a missão de maximizar a

eficácia de serviços de fisioterapia ao facilitar a aplicação clínica da melhor evidência

científica existente. Está disponível gratuitamente no site http://www.pedro.org.au8.

Dois estudos apontam a PEDro como a base de dados mais abrangente de

estudos que testam a eficácia das intervenções fisioterapêuticas9,10. Esses estudos

compararam a abrangência de diversas bases de dados, entre elas, AMED, CENTRAL,

CINAHL, PubMed, Hooked on Evidence, EMBASE, PsycINFO e a PEDro. No estudo

mais antigo10, os autores concluíram que a PEDro e a CENTRAL (a base de dados de

14

ECAs da colaboração Cochrane) foram as bases de dados mais completas quanto à

indexação de ECAs de fisioterapia. E no estudo mais recente9, os autores concluíram

que as bases CENTRAL, PEDro, PubMed e EMBASE foram as mais abrangentes para

realizar as buscas de ECAs de intervenções fisioterapêuticas, destacando que dessas

quatro bases, a PEDro é a única específica de estudos relacionados à fisioterapia.

A PEDro é utilizada por fisioterapeutas em mais de 80 países, com mais de

2.300 buscas realizadas por dia através do web site, sendo que no último ano a PEDro

forneceu respostas para mais de 800.000 perguntas clínicas11. Dentre estes países,

destacam-se a Austrália, Estados Unidos e o Brasil como os três países que mais

acessam a base respectivamente, sendo que aproximadamente 10% de todos os acessos

da base de dados PEDro são realizados por fisioterapeutas brasileiros8.

Para ser indexado na base de dados PEDro, um ECA deve preencher cinco

critérios8:

1) O estudo deve comparar, no mínimo, duas intervenções, isto é, uma intervenção

comparada a um grupo sem intervenção ou placebo ou ainda contra outra

intervenção (não necessariamente relacionada à fisioterapia).

2) Pelo menos uma das intervenções deve fazer parte da prática fisioterapêutica.

3) As intervenções devem ter sido aplicadas em humanos que representem a

população atendida na prática fisioterapêutica, ou seja, em humanos com ou em

risco de desenvolver algum problema de saúde ou uma incapacidade.

4) A distribuição dos sujeitos para os grupos de tratamento deve ser aleatória ou

com intenção de ser aleatória.

5) O estudo deve estar publicado num periódico em texto completo e ter sido

revisado por pares.

15

Todos os estudos controlados aleatorizados indexados na base de dados PEDro

têm sua qualidade metodológica e estatística avaliada através da Escala de Qualidade

PEDro, que possui 11 critérios8. Nove desses critérios foram baseados na escala Delphi

desenvolvida por Verhagen et al.12 e são os seguintes: (1) elegibilidade e origem dos

participantes; (2) distribuição aleatória; (3) alocação secreta; (4) similaridade ao ponto

de partida do estudo; (5) cegamento de sujeitos, (6) cegamento de terapeutas; (7)

cegamento de avaliadores; (8) análise por intenção de tratamento e (9) medidas de

precisão e variabilidade. Dois itens adicionais não encontrados na escala Delphi foram

incluídos na escala PEDro: medidas de desfecho obtidas em mais de 85% dos sujeitos e

comparações estatísticas inter-grupos13. O escore total é gerado através da somatória dos

critérios 2 a 11, variando de 0 a 10 pontos. O critério 1, relativo à elegibilidade e origem

dos participantes, foi mantido para que todos os critérios da escala Delphi estivessem

representados na Escala de Qualidade PEDro, mas não é considerado na pontuação

final, pois o mesmo está relacionado com a validade externa do estudo13. Somente é

avaliado o que está reportado no manuscrito e quando há incerteza por parte do

avaliador na hora de pontuar o critério, o avaliador classifica o critério como “não”8.

A avaliação dos estudos é sempre realizada por dois avaliadores que possuem

treinamento adequado para ser um avaliador PEDro de forma independente e em caso

de discordância em algum dos critérios, um terceiro avaliador arbitra a pontuação final.

Esses avaliadores são submetidos a um programa de treinamento online

(http://training.pedro.org.au/portuguese/index.html- website protegido por senha),

seguido de um teste de acurácia8.

A Escala de Qualidade PEDro original em inglês possui níveis aceitáveis de

confiabilidade inter-examinadores14 e a validade também já foi testada e confirmada em

outros dois estudos15,16, confirmando ser um instrumento capaz de distinguir ECAs de

16

boa dos de má qualidade. As propriedades de medida da Escala de Qualidade PEDro em

português foram testadas por um grupo de pesquisadores brasileiros17. Os autores

observaram que os escores obtidos utilizando a versão em português da escala PEDro

foram similares aos encontrados na versão original em inglês. Concluiu-se que a escala

PEDro em português pode ser utilizada para avaliar criticamente a qualidade

metodológica e descrição estatística de ECAs por brasileiros que não são proficientes

em inglês.

Os fisioterapeutas e outros usuários podem acessar o site da PEDro para fazer

buscas para identificar ECAs relevantes a sua especialidade. As buscas podem ser

efetuadas utilizando termos que aparecem no título, resumo, nome do autor ou revista.

Mas a busca também pode ser realizada através da subdisciplina de fisioterapia, pois

todos os artigos são codificados em uma ou até em três das dez subdisciplinas seguintes:

musculoesquelética, “cardiotorácica” (no Brasil conhecida como fisioterapia

cardiorrespiratória), gerontologia, neurologia, ortopedia, saúde da mulher, pediatria,

esporte, ergonomia ou outros (para os estudos que não podem ser enquadrados nas

subdisciplinas descritas anteriormente)8.

O objetivo da Escala de Qualidade PEDro é auxiliar os usuários da base de

dados quanto à qualidade metodológica dos ECAs (validade interna – critérios 2 a 9),

bem como avaliar a descrição estatística, ou seja, se o estudo contém informações

estatísticas suficientes para que os resultados possam ser interpretáveis (critérios 10 e

11)8. Porém, há outros itens de validade interna, validade externa e descrição estatística

que não são abordados pela Escala de Qualidade PEDro, como a descrição prévia dos

desfechos primários e secundários e do cálculo amostral, por exemplo. Estes e outros

itens fazem parte da CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials

17

Statement)18, um guia de recomendações, baseado em pontos metodológicos que devem

ser seguidos na descrição textual dos ECAs.

1.3 As recomendações CONSORT Statement

As recomendações CONSORT Statement constituem uma lista de verificação de

itens essenciais que deveriam ser incluídos na descrição textual dos ECAs19. É

composta por 25 itens (Anexo 1) e um diagrama de fluxo (Anexo 2). O objetivo das

recomendações CONSORT é fornecer aos autores um guia sobre como melhorar a

descrição de seus estudos. Leitores, revisores e editores de periódicos também podem

usar as recomendações CONSORT para ajudá-los a avaliar criticamente e interpretar os

artigos. A adesão dos autores de ECAs às recomendações CONSORT facilita a clareza e

a transparência da descrição dos estudos. Descrições explícitas, sem ambiguidades ou

omissões atendem melhor aos interesses dos leitores. As recomendações CONSORT

não incluem orientações para o desenho, condução e análise dos estudos. Elas apenas

recomendam como relatar o que foi feito e o que foi encontrado no estudo. Porém, as

recomendações CONSORT indiretamente afetam o desenho e a condução dos estudos,

uma vez que relatos transparentes revelam limitações no estudo, caso estas existam.

Preferivelmente, o seu conteúdo é focado em itens relacionados à validade interna e

externa dos estudos19.

O primeiro artigo com as recomendações CONSORT foi publicado em 199620

por um grupo internacional de cientistas, estatísticos, epidemiologistas e editores

médicos e o mesmo foi atualizado em 200121. Na revisão em 2001 ficou claro que a

explicação e a elaboração dos princípios subjacentes à declaração iriam ajudar os

investigadores a escrever ou avaliar artigos. O artigo de explicação e elaboração foi

publicado em 2001, junto com a declaração CONSORT Statement21. Após uma reunião

18

de especialistas em 2007 esse guia foi revisto, originando a última versão, que foi

publicada em 201018. Essa versão formulou com maior clareza a lista anterior, com

termos mais simples e desmembrando alguns itens em sub-itens, garantindo maior

especificidade na avaliação do estudo. Além disso, incorporou novas recomendações

como, por exemplo, o número de registro e nome do ensaio clínico registrado, onde o

projeto do estudo clínico pode ser acessado, se disponível e fontes de financiamento e

outros apoios18. O documento explicativo para aumentar o uso, compreensão e

divulgação das recomendações CONSORT Statement também foi amplamente revisto19.

Esse documento apresenta o significado e as razões para cada item, fornecendo

exemplos de bons artigos e, sempre que possível, as referências de estudos relevantes.

Muitas das principais revistas médicas e grandes grupos editoriais internacionais

têm seguido as recomendações CONSORT. Recentemente, a Revista Brasileira de

Fisioterapia aderiu às recomendações da CONSORT e também ao registro de ensaios

clínicos, que é uma das recomendações deste guia22. Registrar prospectivamente um

estudo é uma política implementada para os autores de estudos clínicos e constitui numa

obrigação ética23. O fundamento principal do registro público é evitar viés de

publicação em que os estudos com grandes e positivos efeitos em favor da intervenção

teriam uma maior probabilidade de serem publicados24. Além disso, o registro auxilia a

evitar a duplicação de estudos idênticos assim como no recrutamento dos

participantes24.

Outra importante orientação encontrada nas recomendações CONSORT é que os

pesquisadores façam prospectivamente o cálculo amostral. Latif et al.25 realizaram um

estudo cujo objetivo foi avaliar sistematicamente a descrição do cálculo amostral em

ECAs das cinco principais revistas da área de medicina física e reabilitação. Um total de

111 artigos publicados entre 1998 e 2008 foram analisados. Em 2008, 57,3% dos artigos

19

relataram o cálculo amostral, enquanto somente 3,4% dos estudos publicados em 1998

apresentavam cálculo amostral. Os estudos que descreveram cálculo amostral foram

mais propensos a relatar o desfecho primário e ter uma amostra superior a 50

participantes. Os autores concluíram que, apesar da descrição do cálculo amostral ter

melhorado em 10 anos e ser comparável a outras áreas da medicina, essa descrição

ainda não é totalmente adequada. O cálculo amostral, segundo os autores, deveria ser

feito a priori, ou seja, no início do estudo e recalculado, se necessário. Além disso,

deveria fazer parte das etapas metodológicas básicas em qualquer pesquisa clínica e ser

replicável25.

A utilização de ferramentas de análise metodológica, como a Escala de

Qualidade PEDro e as recomendações CONSORT Statement pode auxiliar na

implementação de melhores métodos de estudo, além de possibilitar dinamismo na

análise crítica dos artigos por parte dos leitores, revisores e editores das revistas.

1.4 O desenvolvimento científico da fisioterapia cardiorrespiratória

Nos anos 80, a Fisioterapia Cardiorrespiratória em decorrência de seu

crescimento técnico-científico ganhou maior reconhecimento e valorização. Este campo

de atuação profissional se diferenciava cada dia mais dos atendimentos ambulatoriais

realizados em clínicas e centros de reabilitação, tornando-se imprescindível no meio

hospitalar e progressivamente implementado em enfermarias e unidades de tratamento

intensivo. A implantação de especialidades dentro de qualquer atividade é o

reconhecimento da existência de conhecimento e prática diferenciada26.

A Figura 2 apresenta o número de ECAs, revisões sistemáticas e diretrizes para a

prática clínica em cada uma das áreas da fisioterapia, salientando que a quantidade total

de estudos e o crescimento em cada uma das subdisciplinas de fisioterapia varia

20

substancialmente. A subdisciplina de fisioterapia cardiorrespiratória tem se destacado

como a segunda subdisciplina mais estudada depois da fisioterapia

musculoesquelética27. O número de estudos em fisioterapia cardiorrespiratória foi

aumentando ao longo das últimas décadas, porém a qualidade metodológica não foi

ainda investigada, como ocorreu com outras subdisciplinas. O interesse por um melhor

entendimento sobre a qualidade metodológica e descrição estatística de subdisciplinas

específicas da fisioterapia fez surgir um estudo que descreveu as evidências relevantes,

indexadas na base de dados PEDro e contidas na subdisciplina fisioterapia neurológica

(adulta e pediátrica)13. A quantidade e a qualidade de ECAs e a quantidade e o alcance

de revisões sistemáticas foram investigadas. Esse estudo revelou um total de 265

estudos (sendo 238 ECAs e 27 revisões sistemáticas). Cerca de 54% dos ECAs foram

categorizados como sendo de moderada a alta qualidade, ou seja, foram classificados

com um escore na Escala PEDro igual ou maior que cinco pontos. Os resultados

também mostraram que há um considerável número de evidências relevantes em

fisioterapia neurológica, no entanto, há necessidade de melhora na qualidade da

condução e descrição dos ECAs.

21

Figura 2. Número de estudos controlados aleatorizados, revisões sistemáticas e

diretrizes para a prática clínica em cada área da fisioterapia. Nota:ECAs: estudos controlados

aleatorizados; RSs: revisões sistemáticas; DPC: diretrizes para a prática clínica.

Similarmente, foi realizado outro estudo para avaliar a qualidade metodológica e

descrição estatística dos artigos indexados na subdisciplina de fisioterapia esportiva11.

Os autores encontraram 717 estudos (sendo 615 ECAs e 102 revisões sistemáticas) e

avaliaram o crescimento do número de artigos em fisioterapia esportiva desde a década

de 60; o escore PEDro para ECAs codificados na subdisciplina de esporte e a proporção

de estudos que preencheram o critério para cada item individual da Escala PEDro. A

média do escore PEDro foi de 4 pontos, valor ligeiramente inferior à média de todos os

estudos da base PEDro, em que a média era igual a 5 pontos. Portanto, esse estudo

também mostrou a necessidade de novos estudos com melhor qualidade metodológica.

Há um corpo substancial de evidências relevantes em fisioterapia

cardiorrespiratória. É improvável que um fisioterapeuta consiga lidar com o expressivo

número de estudos publicados a cada dia no meio científico. Os recursos de avaliação

ou recomendação de qualidade metodológica podem auxiliar os fisioterapeutas que

querem se manter atualizados na escolha das melhores evidências disponíveis. Até o

22

momento, não foi realizado nenhum estudo descrevendo a qualidade metodológica dos

ECAs sobre intervenções de fisioterapia cardiorrespiratória utilizando a Escala de

Qualidade PEDro e itens das recomendações CONSORT Statement. A descrição da

qualidade metodológica e a descrição estatística desses estudos podem auxiliar os

fisioterapeutas na conscientização de quais seriam os parâmetros mais importantes a

serem observados na condução, descrição, análise e interpretação de um estudo

controlado aleatorizado.

1.5 Objetivos da dissertação

O objetivo primário desse estudo foi descrever a qualidade metodológica e

descrição estatística dos estudos controlados aleatorizados indexados na Base de Dados

de Evidências em Fisioterapia (PEDro) e classificados na subdisciplina fisioterapia

cardiorrespiratória, através dos critérios da Escala de Qualidade PEDro e de alguns itens

das recomendações CONSORT. O objetivo secundário desse estudo foi analisar quais

as características dos estudos que poderiam predizer uma melhor qualidade

metodológica e descrição estatística.

23

CAPÍTULO 2

MÉTODOS

24

2. Métodos

2.1 Seleção dos estudos

Foram selecionados todos os ECAs classificados na subdisciplina

cardiorrespiratória na base de dados PEDro no dia 07/03/2011, sendo que todos os

estudos controlados aleatorizados sem pontuação de consenso foram excluídos. Artigos

em línguas diferentes do inglês, português e espanhol foram encaminhados para

avaliadores bilíngues da base de dados PEDro para extração de dados sempre que

necessário.

2.2 Extração dos dados

A análise dos ECAs foi realizada através dos onze critérios da Escala de

Qualidade PEDro e de itens das recomendações CONSORT Statement, considerados

relevantes e de extração objetiva e reprodutível. Extraímos também a informação se o

periódico, em que foi publicado o estudo, aderia às recomendações CONSORT. Por fim

qual a doença e/ou condição de saúde estudada em cada um dos artigos.

A escala PEDro é composta por onze critérios, sendo que o escore total é gerado

através da somatória dos critérios 2 a 11, variando de 0 a 10 pontos. O critério 1, não é

considerado na pontuação final, pois o mesmo está relacionado com a validade externa

do estudo. Os critérios da Escala de Qualidade PEDro foram classificados como “sim”

ou “não” e estão descritos abaixo:

1. Critério de elegibilidade e origem dos participantes: considera-se satisfeito esse

critério quando o artigo descreve a origem dos participantes e a lista de requisitos

utilizados para determinar quais participantes foram elegíveis para participar do estudo8.

25

2. Distribuição aleatória: considera-se que num determinado estudo houve distribuição

aleatória se o artigo referir que a distribuição dos sujeitos foi aleatória. O método de

aleatoriedade não precisa ser, necessariamente, explícito8.

3. Alocação secreta (ou escondida/oculta): significa que a pessoa que determinou a

elegibilidade dos participantes do estudo desconhecia, no momento em que a decisão foi

tomada, o grupo a que o sujeito iria pertencer8.

4. Comparações ao ponto de partida (baseline): os estudos de intervenções terapêuticas

devem, no mínimo, descrever pelo menos uma medida de severidade da condição a ser

tratada e pelo menos uma (diferente) medida de resultado-chave que caracterize o ponto

de partida. O avaliador deve assegurar-se de que não houve diferenças clinicamente

significativas dos resultados, para os diversos grupos. Este critério é atingido somente

quando os dados do ponto de partida do estudo foram apresentados8.

5. Cegamento dos participantes: todos os sujeitos participaram de forma cega no estudo,

ou seja, não sabiam a qual grupo pertenciam8.

6. Cegamento dos terapeutas: todos os terapeutas que administraram a terapia fizeram-

na de forma cega, isto é, eram incapazes de distinguir os tratamentos aplicados aos

diferentes grupos8.

7. Cegamento dos avaliadores: todos os avaliadores que mediram pelo menos um

resultado-chave, fizeram-no de forma cega8.

8. Acompanhamento adequado: as medidas de pelo menos um resultado-chave foram

mensuradas em mais de 85% dos sujeitos alocados nos grupos. Este critério só pode ser

considerado satisfeito se o artigo referir explicitamente tanto o número de sujeitos

26

inicialmente distribuídos para os grupos como o número de sujeitos a partir dos quais se

obtiveram medidas de resultados-chave8.

9. Análise por intenção de tratamento: significa que, quando os sujeitos não receberam

tratamento (ou a condição de controle) conforme o grupo atribuído, e quando se

encontram disponíveis medidas de resultados, a análise foi efetuada como se os sujeitos

tivessem recebido o tratamento (ou a condição de controle) que lhes foram atribuídos

inicialmente. Este critério é satisfeito, mesmo que não seja referida a análise por

intenção de tratamento. Se o artigo referir explicitamente que todos os sujeitos

receberam o tratamento ou condição de controle, conforme a distribuição por grupos, o

critério torna-se satisfeito8.

10. Comparações estatísticas intergrupos: os resultados das comparações estatísticas

intergrupos foram descritos para pelo menos um resultado-chave8.

11. Medidas de precisão e variabilidade: O estudo apresenta tanto medidas de precisão

como medidas de variabilidade para pelo menos um resultado-chave8.

As recomendações CONSORT Statement contém 25 itens19, porém nesse estudo

analisamos somente nove itens que não fazem parte da Escala de Qualidade PEDro.

Estes itens são:

1. Identificação no título do artigo se o estudo foi um estudo controlado aleatorizado: o

cumprimento deste item ocorre quando os autores usam a palavra “randomizado ou

aleatorizado” no título. Isso ajuda a garantir que o estudo será apropriadamente

indexado e facilmente identificável pelos leitores19. Esse critério foi classificado como

“sim” ou “não”.

27

2. Número de participantes aleatorizados: refere-se ao número de participantes

inicialmente alocados nos grupos19. O número amostral é importante, uma vez que

quanto maior a amostra, aumenta a possibilidade do estudo apresentar maior validade

externa. Esse dado foi extraído da seção “métodos”.

3. Descrição do cálculo amostral: os autores deveriam indicar como o tamanho da

amostra foi determinado, a fim de que o estudo tenha uma alta probabilidade de detectar

uma diferença clinicamente importante19. O preenchimento desse item ocorria com o

simples relato do autor sobre cálculo amostral realizado de forma prospectiva. Cálculos

retrospectivos não foram considerados. Foi extraído também o número de participantes

que originaram desse cálculo amostral.

4. Descrição do(s) país(es) onde ocorreu o estudo e se o mesmo foi unicêntrico ou

multicêntrico: essas informações são importantes para julgar a aplicabilidade e a

generalização dos resultados do estudo. Aspectos sociais, econômicos, culturais e o

clima podem afetar a validade externa do estudo19. O país foi um dado extraído da seção

“métodos” e na ausência de informação assumimos que o estudo ocorreu no país do

primeiro autor da pesquisa. No caso do estudo ser multicêntrico era preenchido o

número de centros envolvidos. Na falta da informação consideramos o estudo como

unicêntrico.

5. Número de desfechos primários: é o número de desfechos ou resultados pré-

especificados, ou seja, no início do estudo, escolhidos por serem de maior relevância às

partes interessadas (pacientes, clínicos e patrocinadores do estudo). Os estudos podem

ter um ou mais desfechos primários. Os outros resultados de interesse são os desfechos

secundários19. Utilizamos as seguintes palavras chaves para busca da informação:

“primary outcomes”, “main outcomes”, “major outcomes” ou “end point”.

28

6. Ajuste estatístico para desfechos primários múltiplos: tal ajuste é necessário para

evitar um resultado “falso positivo” (erro do tipo 1). Esse dado foi extraído da seção

“Análise estatística” e as seguintes palavras chaves foram utilizadas: “adjustment for

primary outcomes”, “Bonferroni”, “Tukey” ou “Duncan”19. Esse critério foi classificado

como “sim” ou “não”.

7. Diagrama de fluxo dos participantes: descreve esquematicamente em cada grupo de

estudo o número de participantes aleatorizados, os que receberam efetivamente o

tratamento, os que foram excluídos e os que foram analisados quanto ao desfecho

primário19. Desconsideramos diagrama de fluxo do delineamento do estudo. Esse

critério foi classificado como “sim” ou “não”.

8. Registro: o estudo deve ter sido registrado em órgão de domínio público a fim de

evitar viés de seleção19. Esse critério foi classificado como “sim” (se o estudo foi

registrado) ou “não” (se não houve evidência explícita de registro).

9. Fontes de financiamento: a pesquisa pode receber vários tipos de recursos19. Estudos

que recebem financiamento de agências de fomento tendem a ser melhores, pois são

previamente revisados por pares. Em contrapartida, estudos financiados pela iniciativa

privada podem incorrer em conflito de interesse e, com isso, podem conter viés. Esse

critério foi classificado como “sim” ou “não”.

Além disso, analisamos se o periódico em que foram publicados os estudos

adotou ou não as recomendações CONSORT Statement. Acessamos o site de cada

periódico e verificamos na seção “instruções para autores” se a CONSORT era

recomendada. Utilizamos o código “sim” para os artigos publicados em revistas que

seguiam as recomendações CONSORT, “não” para os que não seguiam e “não se

29

aplica” para os artigos publicados antes da criação da CONSORT, portanto, artigos

publicados antes de agosto de 1996.

A extração de dados referentes à Escala de Qualidade PEDro foi obtida

diretamente do site da base de dados PEDro. Portanto, a pontuação do escore PEDro

dos artigos já havia sido feita por dois avaliadores independentes com uma arbitragem

de consenso final realizada por um terceiro avaliador sempre que necessário. Por

questões logísticas, os demais itens foram extraídos por um único avaliador.

2.3 Análise dos dados

A análise dos dados para a análise primária foi descritiva. A normalidade dos

dados foi realizada através da inspeção visual de histogramas e todas as variáveis

contínuas possuem distribuição normal. Foi verificado o número de estudos controlados

aleatorizados classificados em fisioterapia cardiorrespiratória e com consenso na

pontuação da Escala PEDro. Em seguida, foi examinado o número de artigos em

diferentes línguas de publicação, assim como as pontuações totais do escore PEDro para

cada língua de publicação para analisar se a qualidade do estudo tem relação com a

língua de publicação e se os estudos em inglês, cuja quantidade é predominate, possuem

melhor qualidade metodológica. A análise prosseguiu com a investigação do número de

estudos publicados em cada década, assim como a média do escore PEDro para cada

década para verificar se o crescimento no número de estudos está sendo acompanhado

por uma melhora na qualidade, representada pela média do escore PEDro.

Posteriormente, verificou-se a proporção de estudos que preencheram o critério para

cada item individual na Escala de Qualidade PEDro e nas recomendações CONSORT

Statement. Por fim, foi consultada a proporção de estudos que seguiram as

recomendações CONSORT.

30

Para responder ao objetivo secundário do estudo (analisar quais as características

dos estudos que poderiam predizer uma melhor qualidade metodológica e descrição

estatística dos mesmos) foram calculados modelos de regressão linear multivariada.

Esse tipo de análise possibilita controlar outros fatores que podiam estar associados com

a qualidade do relato do estudo (isto é, potenciais confundidores). Uma análise de

regressão linear multivariada foi realizada para predizer o escore total PEDro (variável

dependente) incluindo os seguintes termos na equação de regressão (variáveis

independentes): estudos publicados em inglês (codificado como 1) versus publicados

em outras línguas (codificado como 0); número de anos desde a publicação (nós

calculamos esta variável subtraindo o ano de publicação de 2011); se o estudo utilizou

eletroterapia (codificado como 1) versus o estudo que não utilizou eletroterapia

(codificado como 0) e se o estudo aderiu às recomendações CONSORT (codificado

como 1) versus o estudo que não aderiu ou que foi publicado antes da criação da

CONSORT (codificado como 0). Para a construção do modelo de regressão

multivariada, foram realizadas análises de regressão univariadas entre a variável

dependente com cada uma das variáveis independentes e todas as variáveis que

obtivessem um valor p igual ou menor que 0,20 foram selecionadas para a construção

do modelo multivariado. Esse modelo foi considerado completo quando todas as

variáveis atingiram um valor p igual ou menor a 0,05. Todos os pré-requisitos de

linearidade e colinearidade foram prospectivamente testados.

31

CAPÍTULO 3

RESULTADOS

32

3. Resultados

Em 07 de março de 2011, a base de dados PEDro tinha 2995 ECAs indexados na

subdisciplina fisioterapia cardiorrespiratória. Destes, 2970 estudos tinham avaliação

com consenso na Escala PEDro e foram considerados elegíveis para o estudo. Os outros

25 estudos, por não terem avaliação com consenso, foram excluídos. Os artigos foram

publicados em 598 periódicos diferentes. Em relação à língua de publicação, os estudos

foram publicados em nove diferentes línguas, conforme mostra a Tabela 1. Pode-se

também notar na Tabela 1 que a maioria dos estudos foi publicada em inglês e que a

qualidade metodológica e descrição estatística dos estudos variou entre 4 e 5,27 pontos.

Tabela 1. Número de artigos, percentual e escores de qualidade da escala PEDro de

acordo com a língua de publicação

Língua de Publicação n (%) Escore total PEDro (DP) Inglês 2837 (95,5) 4,73 (1,41) Alemão 40 (1,3) 4,29 (1,12) Chinês 36 (1,2) 4,73 (0,96) Espanhol 20 (0,7) 4,20 (1,67) Português 18 (0,6) 4,06 (1,73) Francês 7 (0,2) 5,27 (1,68) Holandês 7 (0,2) 4,70 (1,95) Italiano 3 (0,1) 4,00 (1,55) Norueguês 2 (0,1) 4,50 (0,71) Total 2970 (100,0) 4,72 (1,41)

O primeiro ECA relevante em fisioterapia cardiorrespiratória foi publicado em

195228. Desde esse tempo o número de ECAs têm expandido rapidamente e

exponencialmente. Na década de 50 existiam apenas sete estudos na área. O número de

estudos aumentou para 15 na década de 60, 97 na década de 70, 366 na década de 80,

849 na década de 90 e 1636 nos últimos 11 anos. A média e o desvio padrão do escore

total PEDro por década estão apresentados na Figura 3. Houve um aumento da

qualidade metodológica e descrição estatística dos estudos com o passar do tempo com

33

uma média de 2,86 pontos (DP = 1,68) nos anos 50 para 5,01 (DP = 1,42) pontos nos

dias atuais.

Figura 3. Média e desvio padrão do escore total PEDro por década

A análise dos 2970 estudos mostrou que o escore total da Escala PEDro variou

de 0 a 9 pontos. A proporção de ECAs em fisioterapia cardiorrespiratória que satisfez

cada critério da Escala PEDro está ilustrada na Figura 4. Os critérios mais atendidos

foram: distribuição aleatória (96,3% dos estudos), comparações estatísticas inter-grupos

(93,9%) e medidas de precisão e variabilidade (89,1%). Por outro lado, somente 18,8%

dos estudos utilizaram alocação secreta, 15,8% fizeram a análise por intenção de

tratamento e a proporção de cegamento nos estudos foi baixa.

34

% de "sim" para cada item da escala PEDro

0 20 40 60 80 100

Items PEDro

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Figura 4. Proporção de critérios atendidos da Escala PEDro

Nota: 1- Critérios de elegibilidade e origem dos participantes; 2- Distribuição aleatória; 3- Alocação secreta; 4- Similaridade ao ponto de partida do estudo; 5- Cegamento dos sujeitos; 6- Cegamento dos terapeutas; 7- Cegamento dos avaliadores; 8- Medidas de desfecho obtidas em mais de 85% dos sujeitos; 9- Análise por intenção de tratamento; 10 – Comparações estatísticas inter-grupos; 11 - Medidas de precisão e variabilidade.

Um total de 953 artigos (33,4% dos estudos) foram publicados em revistas que

seguem as recomendações CONSORT Statement enquanto 966 artigos (33,9% dos

estudos) foram publicados em revistas que não seguem estas recomendações. Os 932

artigos restantes (32,7%) foram publicados antes da criação da CONSORT.

A proporção de ECAs que seguiram as recomendações de cada um dos itens da

CONSORT Statement, além das variáveis do número de desfechos primários, número

de sujeitos aleatorizados, número de sujeitos obtidos através do cálculo amostral,

número de centros de estudo e continentes em que os estudos foram realizados estão

ilustradas na Tabela 2.

n= 2646

n= 2788

n= 468

n= 1683

n= 730

n= 31

n= 218

n= 2029 n= 559

n= 2861

n= 1995

Itens

35

Tabela 2. Proporção de ECAs que seguiram as recomendações de cada um dos itens da CONSORT Statement, variáveis do número de desfechos primários, número de sujeitos aleatorizados, número de sujeitos obtidos através do cálculo amostral, número de centros de estudo e continentes em que os estudos foram realizados

Variável n (%) Variável n (%) Contém a palavra “randomizado” no título? Número de desfechos primários Não 2334 (78,8) Média (DP) 0,45 (1,27) Sim 628 (21,2) Mínimo/Máximo 0/23 Realizou cálculo amostral? Número de sujeitos aleatorizados Não 2299 (77,6) Média (DP) 131,85 (466,77) Sim 663 (22,4) Mínimo/Máximo 2/12866 Registrou o estudo? Número de sujeitos obtidos através do cálculo amostral Não 2857 (96,5) Média (DP) 185,01 (440,06) Sim 105 (3,5) Mínimo/Máximo 8/8388 O estudo foi multicêntrico? Número de centros de estudo Não 2613 (88,2) Média (DP) 1,82 (4,55) Sim 349 (11,8) Mínimo/Máximo 1/102 Houve financiamento? Continentes em que os estudos foram realizados n (%) Não 1374 (46,4) Europa 1254 (43,4) Sim 1588 (53,6) América do Norte 1024 (35,4) Foi declarado algum desfecho primário? Ásia 248 (8,6) Não 2338 (78,9) Oceania 206 (7,1) Sim 624 (21,1) América do Sul 109 (3,8) Houve ajuste estatístico para desfechos múltiplos? África 25 (0,9) Não 2801 (94,6) Estudos realizados em vários países 23 (0,8) Sim 161 (5,4) Apresentou diagrama de fluxo? Não 2502 (84,5) Sim 460 (15,5)

36

A análise de regressão linear multivariada (Tabela 3) revelou que a língua de

publicação, a adesão às recomendações CONSORT e o tempo de publicação do estudo

influenciam o escore total PEDro. Por outro lado, a utilização no estudo de recursos de

eletroterapia como intervenção não influenciou o escore. A equação para predizer o

escore total PEDro é:

Escore total PEDro = 4,86 + (0,46 x adesão às recomendações CONSORT )(1= sim, 0

= não) – (0,04 x número de anos antes de 2011) + (0,24 x estudo publicado em inglês)

(1 = sim e 0 = não).

Isto significa que se um estudo segue as recomendações CONSORT pode ser

adicionado, em média, 0,46 ponto ao escore total PEDro, quando comparado ao estudo

que não segue as recomendações CONSORT. Esta equação também demonstra que

estudos publicados em inglês têm, em média, um adicional de 0,24 ponto no escore total

PEDro comparado aos estudos em língua diferente da inglesa. Por fim, para cada ano

antes de 2011 um estudo tem, em média, 0,04 ponto a menos no escore total PEDro,

comparado aos estudos publicados em 2011.

Tabela 3. Descrição do modelo multivariado

Variáveis Coeficiente

Beta IC 95% p

Constante 4,86 4,62 a 5,10 0,000

Se a revista segue as recomendações CONSORT 0,46 0,33 a 0,58 0,000

Tempo de publicação (2011 – ano de publicação do estudo)

-0,04 -0,04 a -0,03 0,000

Língua de publicação (inglês ou outras línguas) 0,24 0,01 a 0,47 0,043

37

A descrição das doenças/condições citadas nos estudos está apresentada na

Tabela 4. Pode-se observar que as principais doenças/condições que foram investigadas

foram as doenças pulmonares crônicas (32,35%) e entre estas a doença pulmonar

obstrutiva crônica (DPOC) (n=503, 16,90%). As doenças cardíacas foram a segunda

condição mais prevalente em número de estudos (20,13%). Pós operatórios diversos,

além de pacientes em UTI e/ou em ventilação mecânica pulmonar, classificados em

diversos artigos como pacientes críticos foram menos investigados.

38

Tabela 4. Número e frequência das doenças/condições citadas nos estudos

Classe de doenças Doença/condição nº de artigos (%) Doenças pulmonares crônicas DPOC 503 Asma 338 Fibrose Cística 108 Bronquiectasia 14 Total 963 (32,35) Doenças Cardíacas Insuficiência cardíaca 222 IAM 151 Doença arterial coronariana 133 Hipertensão 80 Angina instável 13 Total 599 (20,13) Cirurgias cardíacas Revascularização do miocárdio 98 Cirurgia cardíaca não especificada 36 Transplante cardíaco 14 Troca de valva cardíaca 8 Cateterismo 1 Esternotomia mediana 1 Implantação de marcapasso 1 Total 159 (5,34) Distúrbios do sono Síndrome da apnéia obstrutiva do sono 146 Outros 6 Total 152 (5,11) Doenças vasculares periféricas

TVP 35

Doença arterial periférica 22 Úlcera Venosa 22 Claudicação intermitente 18 Insuficiência venosa crônica 4 Úlcera de pressão 3 Outros 4 Total 108 (3,63) Doenças pulmonares agudas SDRA 44 Pneumonia/PAVM 27 Edema agudo de pulmão 21 Lesão pulmonar aguda 10 Bronquiolite aguda 5 Total 107 (3,59) Pós operatórios diversos Laparotomia 46 Toracotomia 17 Colecistectomia 9 Ressecção pulmonar 3 Transplante pulmonar 2 Outros 22 Total 99 (3,33) Pacientes críticos Total 94 (3,16) Outros Total 695 (23,35)

Nota: DPOC= Doença pulmonar obstrutiva crônica; IAM= Infarto agudo do miocárdio; TVP= Trombose

venosa profunda; SDRA= Síndrome do desconforto respiratório do adulto; PAVM= Pneumonia associada

à ventilação mecânica

39

CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

40

4. Considerações finais

4.1 Principais achados

O objetivo primário desse estudo foi apresentar a qualidade metodológica e

descrição estatística dos ECAs indexados na base PEDro e classificados na

subdisciplina de fisioterapia cardiorrespiratória, através dos critérios da Escala de

Qualidade PEDro e de alguns itens das recomendações CONSORT. A qualidade

metodológica e descrição estatística dos estudos apresentou escore PEDro igual a 4,72

(DP= 1,41). Nossos resultados demonstram que, se por um lado houve uma grande

melhoria na qualidade de ECAs em fisioterapia cardiorrespiratória com o passar do

tempo,por outro lado ainda há necessidade de continuidade nesse processo. Além disso,

foi observada uma baixa adesão a itens importantes de descrição textual sugeridas pelas

recomendações CONSORT Statement, como registro do estudo em órgão de domínio

público e ajuste estatístico para desfechos múltiplos. A análise de regressão linear

multivariada revelou que a língua de publicação, a adesão às recomendações

CONSORT e o tempo de publicação do estudo influenciam o escore total PEDro. Por

outro lado, a utilização no estudo de recursos de eletroterapia como intervenção não

influenciou o escore.

As principais doenças/condições que foram investigadas foram as doenças

pulmonares crônicas e entre estas a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Esta

condição vem sendo investigada há vários anos e apresenta um grande número de

estudos, enquanto outras condições com alta incidência, como o paciente crítico e suas

complicações relacionadas à imobilidade no leito, foram menos investigadas.

O ponto forte desse estudo foi a análise do universo de artigos de fisioterapia

cardiorrespiratória, publicados em nove línguas diferentes e contidos na base de dados

41

PEDro, considerada a mais completa e a única específica em estudos de fisioterapia9,10.

Por outro lado, uma possível limitação desse estudo foi que, uma vez publicado o artigo,

a única maneira de avaliar e julgar a qualidade do delineamento experimental, assim

como a maneira como ele foi conduzido, é por meio da apreciação da apresentação

textual das informações do manuscrito. Infelizmente, nem todos os manuscritos

fornecem as informações necessárias que permitem aos fisioterapeutas e pesquisadores

avaliarem, com segurança, a qualidade metodológica de um estudo. Em muitos casos,

alguns estudos apresentam uma baixa pontuação nas escalas metodológicas, porque

muitos critérios metodológicos não puderam ser avaliados devido à forma inadequada

em que o estudo foi redigido29. Sendo assim, não se pode descartar a possibilidade de

superestimação (ou subestimação) da qualidade desses estudos avaliados. Em

contrapartida, não é conhecido um método mais preciso para determinar a qualidade de

um determinado estudo além da inspeção textual do manuscrito.

Em comparação com outros estudos, a média de escore PEDro dos estudos de

fisioterapia cardiorrespiratória, igual a 4,72, foi discretamente superior à média dos

estudos em fisioterapia esportiva11, igual a 4 e discretamente inferior à média dos

estudos em fisioterapia neurológica13, igual a 5. Em relação à proporção de estudos que

preencheram o critério para cada item individual na Escala de Qualidade PEDro,

observamos que os critérios alocação secreta, cegamento de participantes e terapeutas e

análise por intenção de tratamento foram os menos pontuados também nos estudos de

fisioterapia neurológica13 e esportiva11. O nosso estudo, pelo que sabemos até o

momento, foi o único em fisioterapia que utilizou as recomendações CONSORT

Statement como uma ferramenta para avaliar a descrição textual de ECAs em

fisioterapia.

42

4.2 Implicações para a pesquisa científica

Temos a convicção de que, se todas as revistas científicas em Fisioterapia

apoiarem o uso dessas recomendações, a qualidade da apresentação textual irá melhorar

substancialmente num curto período de tempo. A utilização das recomendações

CONSORT pode beneficiar os autores, revisores de periódicos científicos e leitores das

revistas científicas em Fisioterapia. Os autores terão maior facilidade em escrever os

artigos, pois ao seguir as recomendações há garantia da inclusão de todos os aspectos

relevantes do delineamento da pesquisa. Revisores de periódicos poderão, baseados na

CONSORT, verificar se todas as informações necessárias nos artigos submetidos foram

apresentadas ou não. Essas informações irão guiar as decisões e sugestões de revisores

de periódicos. Da perspectiva do leitor, haverá uma facilitação na interpretação e

avaliação dos resultados, facilitando a tomada de decisões em sua prática clínica.

Finalmente, os convênios, as seguradoras e o governo, dentro deste contexto, terão

maior interesse em investir em tratamentos com maior probabilidade de eficácia, uma

vez que essas serão sustentadas por artigos com alta qualidade metodológica e de

apresentação textual.

4.3 Sugestões para novos estudos

Neste estudo não foram incluídas as revisões sistemáticas e as diretrizes para a

prática clínica em fisioterapia. Muitos leitores, diante da dificuldade de lidar com o

expressivo número de estudos publicados a cada dia no meio científico, acabam lendo

somente as revisões sistemáticas e as diretrizes. Sendo assim, sugerimos que outros

estudos sejam realizados, a fim de verificar a qualidade metodológica e a descrição

estatística dos artigos utilizados nestas outras duas modalidades de produção científica.

43

Outra sugestão seria a realização de estudos que verificassem além das

condições/patologias investigadas, quais as técnicas ou condutas fisioterapêuticas

utilizadas com maior frequência. Finalmente, sugere-se que sejam realizados mais

estudos verificando a influência das recomendações CONSORT na melhoria da

qualidade metodológica e descrição estatística de estudos de outras áreas relevantes para

a fisioterapia, como a fisioterapia musculo-esquelética ou geriatria, por exemplo.

44

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the CONSORT statement by the Revista Brasileira de Fisioterapia. Rev Bras Fisioter

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47

26. Associação Brasileira de Fisioterapia Respiratória (ASSOBRAFIR). Available

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29. Costa LO, Maher CG, Lopes AD, et al. Transparent reporting of studies relevant

to physical therapy practice. Rev Bras Fisioter 2011;15:267-71.

48

Anexo 1 CONSORT 2010 checklist of information to include when reporting a randomised trial*

Section/Topic Item No Checklist item

Reported on page No

Title and abstract 1a Identification as a randomised trial in the title 1b Structured summary of trial design, methods, results, and conclusions (for specific guidance see CONSORT for abstracts)

Introduction 2a Scientific background and explanation of rationale Background and

objectives 2b Specific objectives or hypotheses

Methods 3a Description of trial design (such as parallel, factorial) including allocation ratio Trial design 3b Important changes to methods after trial commencement (such as eligibility criteria), with reasons

4a Eligibility criteria for participants Participants 4b Settings and locations where the data were collected

Interventions 5 The interventions for each group with sufficient details to allow replication, including how and when they were actually administered 6a Completely defined pre-specified primary and secondary outcome measures, including how and when they were assessed Outcomes 6b Any changes to trial outcomes after the trial commenced, with reasons 7a How sample size was determined Sample size 7b When applicable, explanation of any interim analyses and stopping guidelines

Randomisation: 8a Method used to generate the random allocation sequence Sequence generation 8b Type of randomisation; details of any restriction (such as blocking and block size)

Allocation concealment mechanism

9 Mechanism used to implement the random allocation sequence (such as sequentially numbered containers), describing any steps taken to conceal the sequence until interventions were assigned

Implementation 10 Who generated the random allocation sequence, who enrolled participants, and who assigned participants to interventions 11a If done, who was blinded after assignment to interventions (for example, participants, care providers, those assessing outcomes) and

how Blinding

11b If relevant, description of the similarity of interventions 12a Statistical methods used to compare groups for primary and secondary outcomes Statistical methods 12b Methods for additional analyses, such as subgroup analyses and adjusted analyses

49

Results 13a For each group, the numbers of participants who were randomly assigned, received intended treatment, and were analysed for the

primary outcome Participant flow (a

diagram is strongly recommended) 13b For each group, losses and exclusions after randomisation,together with reasons

14a Dates defining the periods of recruitment and follow-up Recruitment 14b Why the trial ended or was stopped

Baseline data 15 A table showing baseline demographic and clinical characteristics for each group Numbers analysed 16 For each group, number of participants (denominator) included in each analysis and whether the analysis was by original assigned

groups

17a For each primary and secondary outcome, results for each group, and the estimated effect size and its precision (such as 95% confidence interval)

Outcomes and estimation

17b For binary outcomes, presentation of both absolute and relative effect sizes is recommended Ancillary analyses 18 Results of any other analyses performed, including subgroup analyses and adjusted analyses, distinguishing pre-specified from

exploratory

Harms 19 All important harms or unintended effects in each group (for specific guidance see CONSORT for harms) Discussion Limitations 20 Trial limitations, addressing sources of potential bias, imprecision, and, if relevant, multiplicity of analyses Generalisability 21 Generalisability (external validity, applicability) of the trial findings Interpretation 22 Interpretation consistent with results, balancing benefits and harms, and considering other relevant evidence Other information Registration 23 Registration number and name of trial registry Protocol 24 Where the full trial protocol can be accessed, if available Funding 25 Sources of funding and other support (such as supply of drugs), role of funders

*We strongly recommend reading this statement in conjunction with the CONSORT 2010 Explanation and Elaboration for important clarifications on all the items. If

relevant, we also recommend reading CONSORT extensions for cluster randomised trials, non-inferiority and equivalence trials, non-pharmacological treatments, herbal

interventions, and pragmatic trials. Additional extensions are forthcoming: for those and for up to date references relevant to this checklist, see www.consort-statement.org.

50

Avaliados para elegibilidade (n=)

Anexo 2 - Fluxograma CONSORT 2010

Excluídos (n=) � Não atendem aos critérios de inclusão (n=)

� Desistiram de participar (n=) � Outras razões (n=)

Analisados (n=) � Excluídos da análise (dar razões) (n=)

Perda de seguimento

(dar razões) (n=)

Intervenção descontinuada

(dar razões) (n=)

Alocação para a intervenção (n=) � Receberam alocação para intervenção(n=)

� Não receberam alocação para intervenção (dar razões) (n=)

Perda de seguimento

(dar razões) (n=)

Intervenção descontinuada

(dar razões) (n=)

Alocação para a intervenção (n=) � Receberam alocação para intervenção(n=)

� Não receberam alocação para intervenção (dar razões) (n=)

Analisados (n=) � Excluídos da análise (dar razões) (n=)

Alocação

Análise

Seguimento

Randomizados (n=)

Inclusão