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Universidade de Brasília
GIANE REZENDE MENDONÇA
ESPORTE E ENSINO NOTURNO:
Semente a Fertilizar
BELO HORIZONTE
2007
2
GIANE REZENDE MENDONÇA
ESPORTE E ENSINO NOTURNO:
SEMENTE A FERTILIZAR
Trabalho apresentado no Curso de
Especialização em Esporte Escolar do
Centro de Educação à Distância da
Universidade de Brasília em parceria com
o Programa de Capacitação Continuada
em Esporte Escolar do Ministério do
Esporte para obtenção do título de
Especialista em Esporte Escolar
Orientador:
Prof. Ms. Newton Santos Vianna Junior
BELO HORIZONTE
2007
3
Mendonça, Giane Rezende
ESPORTE E ENSINO NOTURNO: Semente a fertilizar
BELO HORIZONTE 2007
25 P.
TCC – Especialização – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância,
2007
1- Inclusão 2- Ensino Noturno 3- PST 4- Jogos e Esporte -
4
GIANE REZENDE MENDONÇA
ESPORTE E ENSINO NOTURNO:
Semente a fertilizar
Trabalho apresentado no curso de Especialização em
Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da
Universidade de Brasília em parceria com o Programa de
Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério
do Esporte para obtenção do título de Especialista em
Esporte Escolar pela comissão formada pelos professores
Presidente: Professor Mestre Newton SantosVianna Junior
Universidade Federal de Minas Gerais
Membro: Professor Mestre Ronaldo Celso de Abreu
Universidade de Brasília
Belo Horizonte – MG, 30 de setembro de 2007
6
Agradecimentos:
Aos colegas do Departamento de Educação Física
que dividem comigo tantos desafios.
Às estagiárias Ludmila e Nelma que deram vida
ao Programa.
Ao Professor Newton Vianna pelo incentivo e
orientação.
7
O que se encontra no início? O jardim ou o
jardineiro? É o jardineiro. Havendo um
jardineiro mais cedo ou mais tarde um jardim
aparecerá. Mas, havendo um jardim sem
jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele
desaparecerá O que é um jardineiro? Uma
pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O
que faz um jardim são os pensamentos do
jardineiro. O que faz um povo são os
pensamentos daqueles que o compõem.
Rubem Alves
8
RESUMO
O presente estudo relata a experiência realizada em um dos núcleos do Programa Segundo
Tempo com alunos do ensino noturno da Escola Municipal Padre Edeimar Massote, em Belo
Horizonte. Questões como a legislação que rege a Educação Física no ensino noturno e a
inclusão, são abordadas evidenciando a identidade da escola, levando a reflexões e ações no
sentido de ampliar oportunidades de participação através dos jogos e do esporte em
Programas de Governo.
PALAVRAS CHAVES: inclusão, ensino noturno, PST, jogos e esporte.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 10
2 CONHECENDO A TERRA...................................................................................... 11
3 ESCOLHENDO AS SEMENTES............................................................................. 15
4 LANÇANDO AS SEMENTES................................................................................. 19
5 AS SEMENTES COMEÇAM A BROTAR............................................................... 21
6 É HORA DA COLHEITA......................................................................................... 22
REFERÊNCIAS............................................................................................................. 24
ANEXOS........................................................................................................................ 25
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1 INTRODUÇÃO
O Programa Segundo Tempo (PST) foi implantado na Escola Municipal Padre
Edeimar Massote (EMPEM), de Belo Horizonte, no ano de 2004. Por ter a Escola ótima
estrutura física e material, aliada ao desejo de participação de seus profissionais no PST,
foram implantados três núcleos em seu interior, sendo a autora deste trabalho, a coordenadora
de um deles. No presente estudo, relatamos reflexões e ações que nos levaram a buscar a
inserção de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) num programa que, em princípio,
seria destinado à faixa etária de 05 a 17 anos.
Através de tais ações sentimos necessidade de ampliar discussões sobre inclusão e
contextualizar a Educação Física no ensino noturno até chegarmos à sua implantação no PST.
Procuramos, nesse trabalho, intervir e buscar espaços de participação enquanto direito social.
Hoje, sementes que começam a brotar!
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2 CONHECENDO A TERRA
Nos últimos anos, programas de governo têm dado grande ênfase à inclusão social de
alunos portadores de necessidades especiais. Tal atenção também se aplica à Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte, que vem investindo na reestruturação de escolas, formação de
seus profissionais, no oferecimento de salas de recursos e outras ações para se atingir tais
objetivos.
O esporte e os jogos vêm sendo colocados como elementos que podem oportunizar tal
inclusão. Na cidade de Belo Horizonte, onde se situa o núcleo em que atuamos, são
organizadas competições esportivas para alunos portadores de necessidades especiais.
A palavra inclusão, muito em evidência, vem sendo abordada em nossa sociedade
atrelada, habitualmente, aos portadores de necessidades especiais. Este segmento da sociedade
vem ganhando, felizmente, mais espaço e respeito nos dias atuais. Entretanto, o entendimento
dos jogos e esportes diante da diversidade humana precisa ser resignificado. Conforme
Apolônio (2005, p.72):
“... a política de inclusão, apesar de todas as contradições, avanços e
retrocessos presentes em seu discurso, aponta para a necessidade de uma nova
perspectiva para os jogos e os esportes, isto é, a possibilidade de serem
praticados por todos em espaços e tempos iguais.
A concepção que advoga a prática esportiva segregada ou
hierarquizada por idade, habilidades e performance tem pouco espaço na
perspectiva da inclusão.”
Levando-se em consideração a realidade, existe outra parcela da sociedade como os
jovens, adultos, trabalhadores ou não, que merece também um olhar atento no que diz respeito
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à sua inclusão através da prática esportiva. Tal parcela, em geral, estuda no ensino noturno e
já começa a ser excluída a partir da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que no seu artigo 26
estabelece:
3 º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.
Ao se estabelecer a Educação Física (EF) como facultativa, com certeza grande parte
desses alunos não a terá efetivamente. Como muito bem diz Sousa (1997, p.127):
É a lei de Pilatos: a União lava as mãos e transfere para as escolas e para os sistemas de ensino a responsabilidade de decidir sobre sua presença. É lamentável, porque os cursos noturnos são freqüentados majoritariamente por alunos que trabalham durante o dia. Para eles, há mesmo uma dupla penalização: a primeira por terem de cumprir uma jornada de trabalho durante o dia, que se estenderá até a noite, para que possam estudar. Com isso seu tempo de lazer diário desaparece... Fica evidente que ela permanece equivocadamente entendida na nova lei como um componente curricular que atua sobre um corpo apenas biológico, aumentando o cansaço físico desses trabalhadores-alunos e comprometendo o seu rendimento no trabalho.
Após a LDB, em 01/12/03 foi promulgada a lei 10.793/03, pelo presidente Lula,
colocando a EF como conteúdo obrigatório nas escolas de ensino noturno. O que sem dúvida
alguma, representa avanços em relação à LDB. Porém, no artigo que diz respeito às dispensas,
ela torna facultativa sua prática aos mesmos alunos que eram dispensados no decreto
69.450/71 de 01/11/71. A lei 10.793/03 no seu artigo 1º estabelece:
A educação física, integrada a proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:
I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II - maior de trinta anos de idade; III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação
similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV - amparado pelo decreto lei nº 1044, de 21 de outubro de 1969; V - (vetado) VI - que tenha prole.
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Tais dispensas nos levam a uma série de reflexões. Será que passados 36 anos da
criação do Decreto as aulas de EF não evoluíram? O que impede que alunos trabalhadores ou
alunas que tenham prole participem das aulas de EF? Será que pessoas com 30 anos ou mais
não mudaram seu estilo de vida até os dias atuais? Será que para os alunos amparados pelo
Decreto-lei 1044/69 o conceito de incapacidade física não mudou? Quando se coloca dispensa
para uma pessoa com “incapacidade física” não se está limitando sua atuação nos espaços e
atividades escolares?
Sabemos muito bem que os alunos do ensino noturno em sua maioria são
trabalhadores, têm 30 anos ou mais e, de maneira crescente, as mulheres estão se tornando
mães na adolescência. Além disso, alguns alunos estão prestando serviço militar e ainda com
a política de inclusão, cada vez mais pessoas portadoras de necessidades especiais estão
inseridas na escola. Fica então uma questão: quem participará das aulas de EF? Através do
nosso conhecimento, observamos que a lei restringe a participação. Percebemos que existem
contradições no que diz respeito a essa situação, que explicitam múltiplos interesses:
econômicos, sociais, políticos e culturais.
Não temos intenção de criar uma camisa de força à prática da EF. Porém, sabemos que
até por desconhecimento dos trabalhos a serem realizados ou mesmo por interesses diversos
muitos optarão por não fazê-la. Então qual o caminho a seguir? Morais (1986, p.39) aponta
uma direção:
Insignare, marca com um sinal da paixão de viver e de conhecer, conviver e participar. Esta é a razão pela qual o ensinar e o educar jamais poderão ser apolíticos.
Nessa linha de raciocínio Scaglia e Souza (2004, p. 11) reforçam:
Essa marca deixada pelo ensinar não deve ser ruim nem marca de propriedade e, sim uma forma de intervir em vidas humanas, mas pelo convite não pela invasão.
14
É preciso estabelecer uma relação de convencimento, de sedução, para a prática da EF
e dos esportes. Portanto, é preciso muito mais que uma lei para efetivá-los na escola. Porém, é
necessário estar atento, pois esta não pode ser uma responsabilidade só dos professores de EF,
deve haver um envolvimento coletivo.
Finalmente, após uma breve reflexão sobre a inclusão e um passeio pela legislação que
rege as aulas de EF, retornamos ao PST. Entendendo que o esporte é um dos conteúdos e
campo de vivência da EF é fundamental que a EJA também tenha acesso a ele. Pois, é no
interior da escola que normalmente se abrem possibilidades para o esporte se efetivar.
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3 ESCOLHENDO AS SEMENTES
Para participar do PST, algumas sementes já estão escolhidas: crianças e adolescentes
que vivem em condições sociais de risco, nas faixas etárias, que variam entre 05 e 17 anos.
Estas são as sementes escolhidas pelo Programa. Porém, existem outras pessoas que também
se apresentam em condições de risco, ou não, com idades diferentes, que também poderiam
participar por motivos diversos.
Para a escolha das sementes tomamos como referência várias histórias e situações que
presenciamos junto ao trabalho no ensino noturno. Elas foram decisivas para tais escolhas.
Aluno nº 1, M, de 49 anos, era um aluno, encostado (como dizia) pelo INSS, que
gostava e jogava futebol, ele era muito tímido. Às vezes deixava o futebol, se sentava à beira
da quadra de voleibol, assistia ao jogo dos colegas e ficava ali entretido por um bom tempo,
encantado com o jogo. Percebendo seu interesse convidei-o a jogar. Porém, ele, me mostrando
uma das mãos, disse que não seria possível, pois havia perdido as falanges de três dedos
quando trabalhava em uma indústria de transformadores. Insisti e aos poucos consegui
convencê-lo a tentar. O tempo foi passando e ele começou a jogar. Aprendeu a sacar. Seu
saque ia tão alto que desconcertava os adversários. Era seu “jornada nas estrelas”. Ao ver a
bola subir seu rosto expressava satisfação. E subiam com a bola seus sonhos, desejos e sua
auto-estima...
Aluno nº 2, F, de 44 anos, uma senhora evangélica, que caminhava durante todo o dia
entregando nas casas o jornalzinho de sua igreja. No início do ano 2005, durante uma
sondagem sobre suas expectativas em relação às aulas de EF escreveu: - “Espero que minha
saia e minha idade não sejam motivos para eu ficar de fora”! E, no dia a dia, ela “estava
dentro” jogava com rapazes e moças, de igual para igual. Conquistou seu espaço de
participação...
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Aluno nº 3, M, de 46 anos, vivia dizendo frases do tipo: “Vim para a escola querendo
melhorar minha leitura, minha escrita, fazer contas. Estou surpreso! A escola está me
oferecendo muito mais do que imaginava. Não esperava encontrar jogos. Depois que comecei
a jogar me sinto de bem com a vida, sorrio mais. Até com meus filhos meu relacionamento é
mais alegre. Além disso, percebi que é possível jogar e aprender. Voltei a brincar”!
Aluno nº. 4, M., de 27 anos, hemofílico, com dificuldades de locomoção ficava
sentado nas primeiras aulas de EF, sempre atento a tudo que se passava a seu redor. Indagado
do que gostava de fazer. Ele respondeu que gostava de jogar xadrez. Logo começou a jogar
com os colegas de turma que também conheciam o jogo. Para que pudéssemos ampliar suas
possibilidades de participação e também de tantos outros alunos, elaboramos um projeto para
a área de EF no qual estava inserido o tênis de mesa. Quando o material chegou foi um dos
primeiros alunos que se interessou pelo jogo. Em quase todas as aulas jogava. Saía suado, mas
com um brilho indescritível no olhar! Nas olimpíadas da escola participou do xadrez e do
tênis de mesa, sendo campeão na segunda modalidade. Sempre dizia: “espero com ansiedade
a chegada desta aula!”
E vale a pena também, lembrar da turma da ginástica. Composta por alunas acima de
22 anos, que ao mesmo tempo em que se apresentava de forma alegre, levava muito a sério
tudo o que fosse relativo aos cuidados com o corpo e a atividade física. Além disso, durante as
aulas as alunas tinham possibilidades inusitadas de poder brincar com o corpo, poder interagir
entre si, movimentar-se ao som da música, expressar seus sentimentos e se auto-conhecer.
Entre comentários bem humorados permeados de risinhos maliciosos, a aluna nº 5, F, de 39
anos dizia: - “Meu marido pediu para lhe agradecer por eu estar em forma e com tanta
disposição”! E mais risos vinham.
Aluna nº 6, F, 56 anos, mulher negra, já chegava com o rosto suado por ter que subir a
enorme ladeira que dá acesso à escola, e ao entrar, se desculpava pelo atraso, com um enorme
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sorriso mostrando seus dentes muito brancos. Trabalhava em casa de família e, de acordo com
ela, muitas vezes sua patroa se atrasava e conseqüentemente ela também. Começava logo a se
enturmar realizando as atividades propostas para a aula. Dizia sempre: “Professora, peça ao
Diretor para trocar essa aula para mais tarde, ela é muito no início do turno. Não quero
perder um minuto dela”!
No início do ano ao conversar com os alunos sobre as propostas de atividades a serem
desenvolvidas e no intuito de fazer um planejamento coletivo o aluno nº 7, M, 29 anos, novato
na escola, disse: “Eu não dou conta de fazer nada. Já faço atividade física demais. Levanto às
quatro da manhã, vou de bicicleta para o trabalho, na Ceasa, carrego saco de batata o dia
inteiro. À noite só quero ficar sentado”. Ainda assim, coma ajuda da turma elaboramos um
planejamento. Aos poucos fomos insistindo e mostrando a ele que durante o dia usava o seu
corpo em função do trabalho e que era justo ter um tempo para utilizá-lo em benefício
próprio. Argumentamos que deveria reservar um tempo para a convivência e o lazer. Com o
passar do tempo ao ouvir nossas ponderações, e também ao ver colegas trabalhadores como
ele, participando das aulas, se convenceu e em pouco tempo de participação, já estava bem
entrosado com a turma. Em junho de 2005, nos surpreendeu com a frase: “Descobri que
estava vivendo só em função do trabalho, existem muitas outras coisas importantes na vida.
Quando estamos motivados nem sentimos o cansaço. Tenho conseguido conciliar trabalho e
vida pessoal. Além disso, me divirto muito”!
Aluna nº. 8, F., 68 anos, comprometida com todos os conteúdos escolares, não perdia
uma só aula de EF, realizava sempre suas atividades com empenho. Habitualmente trajava
vestimenta esportiva e tênis. Um dia, ao final da aula, ao elogiarmos seu desempenho, ela
relatou parte sua história de vida. Tinha uma filha de 42 anos, que fazia uso de drogas, que
segundo ela: dava-lhe muito trabalho e, além disso, tinha um netinho para criar. A
oportunidade de participar de atividades coletivas, a descontração, o cuidado pessoal que as
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aulas lhe proporcionavam, a tornavam mais equilibrada para lidar com as questões familiares
e tornavam o seu dia a dia mais leve.
Após esses pequenos relatos fica mais clara a necessidade de se democratizar e
ampliar espaços de participação para os alunos do noturno. Vê-se que o esporte está atrelado
com auto-estima, com relacionamentos familiares, religião, sonhos, sexualidade e
principalmente conquistas. Percebemos nesses casos que os alunos encontraram sentido e
significado em participarem das aulas. Observamos também, que: foram abertos espaços para
que eles rompessem barreiras e se redescobrissem através dos jogos e do esporte, e que é
possível aprender e brincar, resignificar relações, exercer direitos, Portanto, tendo este olhar,
ficou muito difícil escolher apenas algumas sementes. Seria restringir as possibilidades do
nascimento de outros frutos. A opção foi por não escolhê-las e sim acolhê-las. Como viessem!
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4 LANÇANDO AS SEMENTES
A EMPEM foi escolhida como local para lançar as sementes. A escola possui 16 mil
metros quadrados, com bosque, auditório, biblioteca, laboratório de ciências, laboratório de
informática, 18 salas de aula e uma ótima estrutura para EF e esportes. Possui duas quadras
poliesportivas, um campo para futebol society, setor para atletismo, um ginásio poliesportivo
equipado com aparelhagem de som, palco, camarim e vestiários.
Esta escola tem tradição no trabalho de EF. Atualmente, existem cinco professores de
EF, dos quais três são coordenadores do PST, tendo três núcleos na escola. O coordenador do
núcleo um conta com um estagiário de EF. E cada um dos coordenadores dos núcleos dois e
três conta com um estagiário de EF e um de pedagogia. Totalizando cinco estagiários atuando
no programa.
O sucesso do funcionamento desses núcleos se deu pela ótima estrutura da escola
aliada ao desejo dos profissionais em participarem do programa e ainda pela carência de
espaços e atividades de lazer no entorno escolar.
Os trabalhos dos núcleos começam às 7 horas da manhã e se encerram às 20 horas. As
modalidades oferecidas para o núcleo um são: futebol society e futsal. As do núcleo dois são:
handebol, ginástica olímpica e acrobática, futebol society e atletismo. Finalmente, as do
núcleo três, que está sob a nossa coordenação são: voleibol, basquete, futsal, ginástica geral.
O planejamento é feito em reuniões semanais entre estagiários e coordenadores.
Periodicamente avalia-se o trabalho.
Quatro dos cinco estagiários são moradores da comunidade, sendo dois ex-alunos da
EMPEM. Tal fato se apresenta de maneira positiva, pois, eles participam ativamente da vida
da comunidade escolar. Percebe-se neles uma postura de comprometimento com os trabalhos
e buscam sempre novas informações e conhecimentos para o desenvolvimento do programa.
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O acesso dos alunos ao PST se dá através da ordem de inscrição. No final março de
2007 a escola tinha 335 alunos cadastrados.
Atuando na EJA, percebemos que havia um grande interesse por parte de alguns
alunos em participarem do programa. Buscamos, num primeiro momento, autorização junto à
Secretaria Municipal de Esportes para inseri-los. A resposta foi que a faixa etária proposta
pelo programa deveria ser mantida. A demanda continuou. Muitos alunos que conheciam o
PST na escola insistiam. Tal situação só veio reforçar a idéia de que cada núcleo e cada escola
têm uma personalidade e realidade social com características próprias. E que experimentar
seria exatamente o que deveria ser feito. Com um pouco de ousadia, deveríamos continuar
buscando essa mudança. Voltamos a insistir. Telefonávamos constantemente para a Secretaria
de Esportes, conversávamos com os coordenadores do programa argumentando que a escola
apresentava estrutura física, material e humana necessárias à inserção dos alunos do ensino
noturno no programa e que, além disso, a demanda era real. Insistimos durante vários meses.
Como o programa em nossa escola estava sendo referência na cidade de Belo Horizonte
houve permissão que inseríssemos alunos acima de 17 anos, desde que fossem priorizados
alunos que se encontrassem na faixa etária proposta inicialmente.
A partir de agosto de 2006, tais alunos foram inseridos nas modalidades de voleibol,
basquete e ginástica de 2ª a 5ª feira no contra-turno escolar. Em março de 2007, foi inserido o
futebol. Os alunos participantes freqüentam a escola regularmente de 2ª a 5ª feira e na 6ª feira
dia de reunião dos professores, vêem à escola para participarem do PST. No núcleo que
atuamos, neste ano, existem alunos de 13 a 68 anos de idade.
21
5 AS SEMENTES COMEÇAM A BROTAR
As inscrições para os alunos até 17 anos ocorreram como de costume na escola e
montamos as equipes dentro de cada modalidade. Ao percebermos a demanda resolvemos
fazer uma sondagem geral, com o intuito de ampliar e democratizar a participação.
Descobrimos que havia alunos que desejavam participar, porém, eram impedidos pelo tempo,
pois, tinham o trabalho e outros compromissos já estabelecidos. Entretanto, alunos que
trabalhavam no mercado informal, alunos que estavam desempregados e ainda donas de casa
se interessaram e se inscreveram.
Ao iniciar o trabalho surgiu uma questão: como lidar com a diversidade geracional no
esporte? Que caminhos seguir, uma vez que a idade era tão diversa? Logo que iniciamos o
programa algumas alunas optaram pela ginástica e a questão geracional foi minimizada,
provavelmente, por não haver o caráter agonístico. Já nos esportes coletivos (basquete, futebol
e voleibol) estão sendo trabalhados com o grupo, valores como solidariedade e respeito aos
espaços, direitos e ritmos de cada um. Temos discutido junto aos alunos quais os objetivos do
esporte nas aulas, principalmente questionando à respeito de como os alunos mais velhos
podem contribuir para os mais novos e vice-versa. Enfatizando a necessidade de se jogar com
e não contra.
Somos levados a construir uma prática pedagógica, cujo planejamento não dependa
somente dos objetivos dos professores, mas principalmente dos anseios, necessidades e das
histórias de vida dos alunos. Um grande desafio!
22
6. É HORA DA COLHEITA
Passados nove meses da inclusão dos alunos do ensino noturno no programa já
estamos colhendo alguns frutos. A diversidade geracional que, inicialmente, foi motivo de
intervenção tem tornado, curiosamente, motivo de crescimento do grupo, pois o respeito às
diferenças tem sido constantemente trabalhado. A inclusão desses alunos veio reforçar a idéia
de que é necessário intervirmos, de forma que possamos transformar a realidade em que
vivemos.
Assim, percebemos que é possível um projeto de intervenção daquilo que nos parece
óbvio para buscar o que é transformador. Que muitas ações, da nossa sociedade, só se fazem
se houver ousadia e vontade política. Para tanto, a escola deve buscar sua autonomia
atendendo suas demandas. Para fazer o esporte da escola e não o esporte na escola como nos
lembra Vago (1999, p.20).
... a escola e seus agentes não são consumidores passivos de saberes impostos de fora para dentro. São produtores de um saber encarnado, vivo, instituinte, aberto, em movimento: a escola e seus agentes não são objetos manipuláveis do conhecimento científico, racionalizado, pronto, mas lugar de sujeitos praticantes e produtores de conhecimento. Sujeitos que carregam para o tempo-espaço concreto da escola as suas histórias de vida, as marcas de sua cultura originária, seus interesses, seus sonhos, suas paixões, suas carências: ora, esses são elementos constitutivos de uma cultura escolar, tanto quanto (se não mais que) o conhecimento racional e científico, representado como superior.
Estamos em movimento e isso é importante ressaltar. Na expectativa de construir e
implementar a cada dia um programa que atenda aos anseios da escola. Na esperança de
ampliar e avançar nas discussões que envolvam a inclusão de jovens e adultos nas aulas de
EF, esportes e Programas de Governo. Aguçando a percepção no sentido de perceber os
23
avanços e mudanças que ocorrem na sociedade e seus desdobramentos. Ainda bem que cada
dia aumenta o número de pessoas que compartilha conosco estas idéias.
Começamos a colher os primeiros frutos.
Entretanto, há muito que transformar...
Há muito que amadurecer...
24
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 5.692/71, 11 ago. 1971. Fixa diretrizes e bases do ensino de 1º e 2º graus e dá providências. Currículos plenos de estabelecimentos de Ensino Regular de 1º e 2º graus. Belo Horizonte: Lâncer. 1988c, p. 27-41.
_______. Ministério de Educação e Cultura, Departamento de Educação Física e Desportos.
Normas orientadoras – Implantação do Decreto n. 69.450/71. Brasília, 2 de junho 1973b, p. 39-41.
_______. Lei n. 9.394/94 de 20 de dezembro de 1996. LDB. Estabelece as Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, Brasília. 1996. _______. Lei 10.793/03, 01 dezembro de 2003. Assegura a obrigatoriedade da educação
Física e Desportos. Brasília. 2003. CARMO, Apolônio Abadio. Manifestações dos jogos: Jogo, esporte e inclusão social. Brasília. Universidade de Brasília/CEAD. 2005. 72 p. MORAIS, Regis. O que é ensinar. São Paulo: EPU, 1986. apud Souza, A., Scaglia A. J.
Dimensões pedagógicas do Esporte: Pedagogia do esporte. Brasília: Universidade de Brasília/ CEAD, 2004. p. 7-53.
SCAGLIA, Alcides José, SOUZA, Adriano. Dimensões pedagógicas do Esporte: Pedagogia
do esporte. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004. p. 7-53. SOUSA, Eustáquia Salvadora, VAGO, Tarcísio Mauro. O ensino da Educação Física face à
nova LDB. In: Colégio Brasileiro de Esportes (org). Educação Física Escolar frente à LDB e aos PCNS: profissionais analisam renovações e modismos e interesses. Ijuí: Sedigraf. 1997.
VAGO, Tarcísio Mauro. Intervenções e Conhecimento na Escola: por uma cultura escolar de
Educação Física. In: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (org.) Educação Física/ Ciências do Esporte: intervenção e conhecimento. Florianópolis. Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. 1999;