Upload
vonhan
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES
Lepidoptera (Borboletas) da Coleção
Entomológica do Museu Nacional de História
Natural e da Ciência. Ilustração Científica de
diferentes grupos taxonómicos:
Famílias Noctuidae, Geometridae e outras.
Tetyana Chkyrya
Trabalho de Projeto
Mestrado em Desenho
2015
2
3
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES
Lepidoptera (Borboletas) da Coleção
Entomológica do Museu Nacional de História
Natural e da Ciência. Ilustração Científica de
diferentes grupos taxonómicos:
Famílias Noctuidae, Geometridae e outras.
Tetyana Chkyrya
Trabalho de Projeto orientado pelo Prof. Pedro Salgado
E co-orientado pelo Doutor Luís Filipe Lopes
Mestrado em Desenho
2015
4
5
Resumo
Trabalho de projeto de ilustração científica de borboletas noturnas. Foi
desenvolvido com a coleção entomológica do Museu Nacional de História
Natural e da Ciência (MUHNAC), com borboletas noturnas presentes nos
territórios de Portugal Continental e Ilha da Madeira e de países Africanos de
Língua Oficial Portuguesa como Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
O objetivo geral do projeto foi o serviço da Ilustração Científica perante a
Ciência, nomeadamente, a divulgação de conhecimentos sobre várias espécies
de borboletas noturnas e a demonstração daquilo que a coleção do Museu
dispõe, em termos de interesse científico e público a nível nacional e
internacional. Foi usado um método de ilustração analógico com recurso a
pintura digital. A partir das ilustrações realizadas, foi editado e publicado um
livro – “Cem Traças” – que as cataloga e apresenta algumas informações
relevantes a nível da história natural.
PALAVRAS-CHAVE
Ilustração Científica, Borboletas Noturnas, MUHNAC, Desenho, Entomologia.
6
7
Abstract
This project aimed to create scientific illustration of moths. It was
developed based on the entomological collection of the National Museum of
Natural History and Science (MUHNAC), more specifically moths present in the
territories of Mainland Portugal and Madeira and African countries like Angola,
Mozambique and Sao Tome and Principe. The general objective of the project
was to work with scientific illustration in the service of science, communicating
knowledge about various species of moths and showcasing the importance of
what a museum collection has in terms of scientific and public interest at a
national and international level. A method of both traditional drawing and digital
painting was used for the illustration process. From the illustrations made, a
book - "Cem Traças" (100 Moths) - was edited and published, along with
merchandise materials which were used in several science communication
activities and in two exhibits.
KEYWORDS
Scientific Illustration, Moths, MUHNAC, Drawing, Entomology.
8
9
“Principalmente chamo DESENHO aquela ideia criada no entendimento criado,
que imita ou quer imitar as eternas e divinas ciências incriadas”.
Francisco de Holanda
10
11
Agradecimentos
O seguinte projeto resulta do trabalho realizado entre 2013 e 2015.
A contribuição de algumas pessoas e instituições foi valiosa para o bom
desenvolvimento do trabalho e seus objetivos, pelo que aqui se manifestam os
sinceros agradecimentos.
Agradeço a Luís Filipe Lopes, do MUHNAC, por ter abraçado este
projeto, dedicando-lhe todo o seu conhecimento e atenção.
Ao Professor Pedro Salgado pela inspiração e paixão contagiante ao
desenho.
Ao Professor Doutor Pedro Saraiva, coordenador do Mestrado de
Desenho, ao Professor Doutor António Pedro Ferreira Marques e aos restantes
professores do Mestrado, pela sua orientação e partilha de conhecimento.
Agradece-se ainda à Faculdade de Belas-Artes pela aceitação do tema e
por toda a formação facultada ao longo dos últimos anos.
Ao investigador António Bívar de Sousa pelas revisões das ilustrações e
à Joana Vieira da Silva pelas revisões aos textos em inglês do Cem Traças.
À Judite Alves, Roberto Keller, Eva Monteiro, Cristiane Bastos-Silveira,
Vítor Gens do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, de
Universidade de Lisboa, pela recetividade.
Agradeço aos meus amigos, especialmente à Joana Vieira, à Inês
Gomes, à Cristina Pinto, à Liliana Almeida, à Lívia Heinerich, à Rita Cardoso à
Carolina Silva e aos colegas de Mestrado pelo apoio, pelos momentos e
memórias. Também ao meu colega e amigo Pedro Araújo, por estar presente
ao meu lado e pela sua paciência durante todo este percurso.
E por ultimo, as minhas palavras de gratidão aos meus pais Olga e
Sérgio, que sempre acreditaram em mim.
12
13
Índice
1. Introdução 21
2. O Desenho e Ilustração Científica como forma de transmitir conhecimento científico
22
2.1. O Desenho e o Desenho Científico 22
2.2. Registo fotográfico e Desenho Científico 27
2.3. Museu Nacional de História Natural e da Ciência da
Universidade de Lisboa – Coleção Entomológica
28
2.4. Taxonomia biológica
29
2.5. Família Noctuidae
31
2.6. Família Geometridae
33
3. Trabalho Prático
35
3.1. Processo
39
3.1.1. Desenho Tipo I
40
3.1.1.1. Escolha de espécimes
42
3.1.1.2. Nomenclatura de Espécie
43
3.1.1.3. Fotografia de Estúdio
44
3.1.1.4. Processo de Desenho Analógico
47
3.1.1.5. Processo de Desenho Digital
52
3.1.2. Desenho Tipo II
56
3.1.2.1. Antenas
56
3.1.2.2. Escamas
59
3.1.2.3. Comportamento
61
3.1.2.4. Silhuetas
62
3.1.2.5. Técnica de Aguarela
63
14
4. Resultados
65
4.1. O Livro “Cem Traças”
65
4.1.1. Paginação do livro
67
4.3. Aplicações
71
5. Discussão
75
6. Considerações finais
77
7. Bibliografia
78
7.1. Webgrafia
81
7.2. Referências Vídeo
82
8. Apêndice de Ilustrações 83
15
Índice de figuras
Fig. 1 – Gravura de Albrecht Dürer, 1515. 23
Fig. 2 – Xestia c-nigrum (Linnaeus, 1758) Fotografia Tetyana Chkyrya,
2015.
31
Fig. 3 – Foto tirada ao microscópio a um exemplar de Biston betularia.
2015.
33
Fig. 4 – Lagarta de geometrídeo a imitar um galho. Fotografia de
Ramón Gimeno.
34
Fig. 5 – Posição caraterística da lagarta de um Geometrídeo. Fotografia
de Ramón Gimeno.
34
Fig. 6 – Tabela de ilustrações realizadas. 36
Fig. 7– Caixa entomológica da coleção do MUHNAC (Coleção
Mendoça), Fotografia Tetyana Chkyrya, 2015.
40
Fig. 8 – Espécime holótipo da espécie Epiphora macedoi (Darge,
Mendes & Bívar de Sousa, 2006), Fotografia Tetyana Chkyrya, 2015.
42
Fig. 9 – André Leão, um dos colaboradores deste projeto, que
participou nas primeiras sessões de fotografia das borboletas da
coleção. Fotografia Tetyana Chkyrya, 2014.
45
Fig. 10 – Exemplar da espécie Balacra guillemei (Oberthür, 1911).
Tetyana Chkyrya, 2014.
45
Fig. 11 – Fotografia de um exemplar de Eurranthis plumistaria, com
escala de cores e etiqueta da coleção Entomológica (MUHNAC). 2015.
46
Fig. 12 e 13 – Processo inicial da arte final – linha de contorno e início
da mancha. Tetyana Chkyrya, 2015.
48
Fig. 14 – PanPastel e as esponjas utilizadas na sua aplicação. 49
Fig. 15 e 16 – Processo de aplicação de grafite e esfuminho. Tetyana
Chkyrya, 2015.
49
Fig. 17 – Lâmina de x-ato. Utilizada no processo de desenho analógico. 50
Fig. 18 – Fase final do processo analógico. Tetyana Chkyrya, 2015. 51
Fig. 19 – Mesa digital e programa utilizados na técnica digital. 52
16
Fig. 20 e 21 – Fase inicial do processo de aplicação da Layer mask.
Tetyana Chkyrya, 2015.
53
Fig. 22 e 23 – Fase final da aplicação do processo de aplicação da
layermask. Tetyana Chkyrya, 2015.
53
Fig. 24 – Esquema de layers que determinam a cor. 54
Fig. 25 – Ilustração final da espécie Eurranthis plummistaria (Villers,
1789). Tetyana Chkyrya, 2015.
55
Fig. 26 e 27 – Microscópio usado ao longo do trabalho, na observação
das espécies – Leica Mz 9.5 e demonstração da colocação do exemplar
para respetiva observação.
57
Fig. 28 – Ilustrações de antenas em ampliação. a- Antena de um
noctuídeo (Trichoplusia orichalcea); b- Antena de um geometrídeo
(Biston betularia) Grafite sobre papel vegetal e técnica digital,
14,8x21cm, Tetyana Chkyrya, 2015.
58
Fig. 29 – Ilustrações de detalhes de antenas em ampliação. a1- Detalhe
da antena de um noctuídeo (Trichoplusia orichalcea); b1- Detalhe da
antena de um geometrídeo (Biston betularia), Grafite sobre papel
vegetal e técnica digital, 14,8x21cm, Tetyana Chkyrya, 2015.
59
Fig. 30 – Espécime de Trichoplusia orichalcea (Fabricius, 1775).
Fotografia: Tetyana Chkyrya, 2015.
60
Fig. 31 – Imagem microscópica das escamas da asa de uma
Trichoplusia orichalcea. Tetyana Chkyrya, 2015.
60
Fig. 32 – Ilustração a partir da imagem microscópica da asa de uma
Trichoplusia orichalcea. Grafite sobre papel, 18,4x21cm. Tetyana
Chkyrya, 2015.
60
Fig. 33 – Ilustração de uma Biston betularia, em pose de repouso.
Grafite sobre poliéster, 21x29,7cm. Tetyana Chkyrya, 2015.
61
Fig. 34 – Ilustração de uma Trichoplusia orichalcea, em pose de
repouso. Grafite sobre poliéster, 21x29,7cm. Tetyana Chkyrya, 2015.
61
Fig. 35 – Ilustração da silhueta de uma Trichoplusia orichalcea. Tinta-
da-china sobre papel vegetal e técnica digital, 14,8x21cm. Tetyana
Chkyrya, 2015.
62
17
Fig. 36 – Ilustração da silhueta de uma Biston betularia. Tinta-da-china
sobre papel vegetal e técnica digital, 14,8x21cm. Tetyana Chkyrya,
2015.
62
Fig. 37 – Ilustração da espécie Geodena sp. Aguarela sobre papel.
Tetyana Chkyrya, 2015.
63
Fig. 38 – Materiais usados na técnica de aguarela sobre papel. 64
Fig. 39 – Logótipos dos apoios da publicação do livro “Cem Traças”. 66
Fig. 40 – Logótipo da plataforma online de crowdfunding. 66
Fig. 41 – Mockup do livro “Cem Traças”. 68
Fig. 42 – Página de rosto do livro “Cem Traças”. 69
Fig. 43 – Índice do livro “Cem Traças”. 69
Fig. 44 – Páginas 28 e 29 do livro “Cem Traças”. 70
Fig. 45 – Páginas 74 e 75 do livro “Cem Traças”. 70
Fig. 46 e 47 – Fotografias da exposição do projeto “Cem Traças”. 72
Fig. 48 – Convite para a exposição “Cem Traças” no MUHNAC, lançado
em 2016.
72
Fig. 49 – Fotografias da exposição “Cem Traças” no MUHNAC. 2016. 73
Fig. 50 e 51 – Fotografias da exposição “Cem Traças” no MUHNAC.
2016.
73
Fig. 52 – Autocolantes criados para acompanhar o projecto “Cem
Traças”.
74
Fig. 53 – Ilustração da espécie Nephele aequivalens
Tetyana Chkyrya, 2015.
83
Fig. 54 – Ilustração da espécie Coelonia fulvinotata
Tetyana Chkyrya, 2015.
83
Fig. 55 – Ilustração da espécie Hippotion roseipennis
Tetyana Chkyrya, 2015.
84
Fig. 56 – Ilustração da espécie Hippotion celerio
Tetyana Chkyrya, 2015.
84
Fig. 57 – Ilustração da espécie Temnora fumosa
Tetyana Chkyrya, 2015.
85
Fig. 58 – Ilustração da espécie Euchloron megaera 85
18
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 59 – Ilustração da espécie Pseudoclanis tomensis
Tetyana Chkyrya, 2015.
86
Fig. 60 – Ilustração da espécie Pseudobunae tyrrhena
Tetyana Chkyrya, 2015.
86
Fig. 61 – Ilustração da espécie Pseudobunae tyrrhena
Tetyana Chkyrya, 2015.
87
Fig. 62 – Ilustração da espécie Cyligramma latona
Tetyana Chkyrya, 2015.
87
Fig. 63 – Ilustração da espécie Cyligramma latona
Tetyana Chkyrya, 2015.
88
Fig. 64 – Ilustração da espécie Antheua ornata
Tetyana Chkyrya, 2015.
88
Fig. 65 – Ilustração da espécie Balacra guillemei
Tetyana Chkyrya, 2015.
89
Fig. 66 – Ilustração da espécie Phiala sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
89
Fig. 67 – Ilustração da espécie Phiala sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
90
Fig. 68 – Ilustração da espécie Bunaeopsis angolana
Tetyana Chkyrya, 2015.
90
Fig. 69 – Ilustração da espécie Cinabra hyperbius
Tetyana Chkyrya, 2015.
91
Fig. 70 – Ilustração da espécie Menophra maderae
Tetyana Chkyrya, 2015.
91
Fig. 71 – Ilustração da espécie Ascotis fortunata
Tetyana Chkyrya, 2015.
92
Fig. 72 – Ilustração da espécie Xenochlorodes nubigena
Tetyana Chkyrya, 2015.
92
Fig. 73 – Ilustração da espécie Acontia lucida.
Tetyana Chkyrya, 2015.
93
Fig. 74 – Ilustração da espécie Scopula irrorata
Tetyana Chkyrya, 2015.
93
Fig. 75 – Ilustração da espécie Agrotis trux
Tetyana Chkyrya, 2015.
94
19
Fig. 76 – Ilustração da espécie Chrysodeixis chalcites
Tetyana Chkyrya, 2015.
94
Fig. 77 – Ilustração da espécie Eumichtis albostigmata
Tetyana Chkyrya, 2015.
95
Fig. 78 – Ilustração da espécie Euplexia dubiosa
Tetyana Chkyrya, 2015.
95
Fig. 79 – Ilustração da espécie Noctua pronuba
Tetyana Chkyrya, 2015.
96
Fig. 80 – Ilustração da espécie Peridroma saucia
Tetyana Chkyrya, 2015.
96
Fig. 81 – Ilustração da espécie Phologophora wollastoni.
Tetyana Chkyrya, 2015.
97
Fig. 82 – Ilustração da espécie Rhodometra sacraria
Tetyana Chkyrya, 2015.
97
Fig. 83 – Ilustração da espécie Spodoptera littoralis
Tetyana Chkyrya, 2015.
98
Fig. 84 – Ilustração da espécie Xestia c-nigrum
Tetyana Chkyrya, 2015.
98
Fig. 85 – Ilustração da espécie Epiphora macedoi
Tetyana Chkyrya, 2015.
99
Fig. 86 – Ilustração da espécie Achaea lienardi
Tetyana Chkyrya, 2015.
99
Fig. 87 – Ilustração da espécie Chiromachla sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
100
Fig. 88 – Ilustração da espécie Cadarena pudoraria
Tetyana Chkyrya, 2015.
100
Fig. 89 – Ilustração da espécie Chrysamma purpuripulcra
Tetyana Chkyrya, 2015.
101
Fig. 90 – Ilustração da espécie Trichoplusia orichalcea
Tetyana Chkyrya, 2015.
101
Fig. 91 – Ilustração da espécie Epiphora albida
Tetyana Chkyrya, 2015.
102
Fig. 92 – Ilustração da espécie Proserpinus proserpina
Tetyana Chkyrya, 2015.
102
20
Fig. 93 – Ilustração da espécie Pachymetana fontainei
Tetyana Chkyrya, 2015.
103
Fig. 94 – Ilustração da espécie Azygophleps inclusa
Tetyana Chkyrya, 2015.
103
Fig. 95 – Ilustração da espécie Geodena sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
104
Fig. 96 – Ilustração da espécie Arctia villica
Tetyana Chkyrya, 2015.
104
Fig. 97 – Ilustração da espécie Biston betularia
Tetyana Chkyrya, 2015.
105
Fig. 98 – Ilustração da espécie Adscita jordani
Tetyana Chkyrya, 2015.
105
Fig. 99 – Ilustração da espécie Antheua rodeosemena
Tetyana Chkyrya, 2015.
106
Fig. 100 – Ilustração da espécie Scoliopteryx libatrix
Tetyana Chkyrya, 2015.
106
Fig. 101 – Ilustração da espécie Merrifieldia sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
107
Fig. 102 – Ilustração da espécie Zeuzera pyrina
Tetyana Chkyrya, 2015.
107
Fig. 103 – Ilustração da espécie Euchromia folleti
Tetyana Chkyrya, 2015.
108
Fig. 104 – Ilustração da espécie Cerura iberica
Tetyana Chkyrya, 2015.
108
Fig. 105 – Ilustração da espécie Miniodes discolor
Tetyana Chkyrya, 2015.
109
Fig. 106 – Ilustração da espécie Eurranthis plummistaria
Tetyana Chkyrya, 2015.
109
Fig. 107 – Ilustração da espécie Biston betularia
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 108 – Ilustração da espécie Trichoplusia orichalcea
110
110
21
1. Introdução
Este relatório descreve o projeto realizado dentro do tema da ilustração
científica. Fez-se uma reflexão sobre e empregaram-se as potencialidades da
ilustração científica enquanto meio de divulgação de conhecimento.
O trabalho de projeto teve como principal objetivo a comunicação e
divulgação de conhecimento científico, através da ilustração científica. Como
objetivo paralelo, surge a intenção de divulgar a coleção entomológica do
Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa
(MUHNAC). Outros objetivos, ligados às borboletas noturnas, passam pela
divulgação da sua diversidade, taxonómica e de formas e padrões, e mesmo
para a sua beleza, e do papel de coleções científicas no estudo e registo da
biodiversidade.
Dentro do tema das borboletas noturnas, deu-se principal enfoque às
Famílias Noctuidae e Geometridae. Além destas duas famílias, estudadas
como tema principal, este projeto incorpora outras famílias da Ordem
Lepidoptera, a que pertencem todas as borboletas noturnas.
As ilustrações científicas formam o principal corpo de trabalho prático
deste projeto, realizada ao longo de um ano. O desenvolvimento deste trabalho
resultou na criação de um livro, intitulado “Cem Traças”, publicado com o apoio
do MUHNAC, da Associação Tentáculo e o Centre for ecology evolution and
environmental changes. Além da publicação do livro, realizaram-se variados
suportes e atividades de divulgação.
Para a produção de um livro deste género, a metodologia, materiais e
técnicas, usadas na criação das ilustrações, foram planeadas por forma a
apresentarem coerência entre si.
Assim, este relatório de projeto divide-se em vários momentos. Em
primeiro lugar, uma breve introdução ao conceito e história da ilustração
científica, para justificar o uso da mesma enquanto meio de divulgação de
conhecimento científico. Seguidamente, apresenta-se uma introdução à
coleção entomológica e à taxonomia, campo de estudo científico que lhe é
22
inerente. Apresenta-se então a descrição das metodologias e técnicas e, no
final, os resultados de todo o processo.
2. O Desenho e Ilustração Científica como forma de transmitir
conhecimento científico
2.1. O Desenho e o Desenho Científico
“Desenho”, do latim “designo”. O verbo transitivo “desenhar” significa
“fazer o desenho de”. Figurativamente, significa “descrever”.1
Um desenho pode representar desde um pensamento até aquilo que se
vê na nossa realidade. É uma ferramenta com a capacidade de comunicar,
desde o projetar de uma ideia ou conceito até à sua concretização.
Enquanto técnica, o desenho é um meio para se encontrarem resultados
e soluções visuais em termos de registo, de acordo com a informação ou
conteúdo que seja necessário transmitir ao observador. É, na sua dimensão
maior, tido como um veio de expressão artística individual.
Ao longo do séc. XIV até ao início do séc. XVI, com o desenvolver do
Renascimento, o desenho transitou de uma realidade mais didática e simbólica
para uma com funções científicas. Alguns dos primeiros autores a quem se
poderá atribui o uso do desenho com o objetivo de difundir ou registar
conhecimento científico (ilustração científica) foram Leonardo Da Vinci (1452-
1519) e Albrecht Dürer (1461-1528).
O desenho enquanto meio de transmissão de conhecimento
científico/natural, pode-se apreciar numa das mais famosas obras de Dürer -
“Rinoceronte”2
(fig. 1) – que foi baseada em indicações de outros autores, e
não em observação direta, visto que o autor nunca viu o animal ao vivo.
1
Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/desenho.
2
Disponível em: http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e71.html
23
O desenho começava a dar os primeiros passos numa ligação entre a
arte e a ciência. Na passagem do séc. XV para o séc. XVI surge uma panóplia
de novos conhecimentos, trazidos pelas viagens realizadas na época dos
Descobrimentos3
. Pela atividade de descoberta e descrição de novas espécies,
usando a ilustração como ferramenta de divulgação desses conhecimentos,
desenvolve-se mais a ideia daquilo que se poderia chamar de desenho
científico.4
O descobrimento de novas terras, através das viagens realizadas neste
período, traz a necessidade de relatar as novas descobertas e de descrever a
natureza, sobretudo os novos animais e plantas. Os pioneiros deste tipo de
desenho surgem no acompanhamento das expedições de exploração científica
e natural5
.
No desenrolar do séc. XVIII o desenho já incorpora um caráter
descritivo. Este período é marcado por uma maior atividade de identificação e
classificação de espécies e desenvolvimento do sistema taxonómico através do
sistema proposto por Linnaeus (1707-1778) e subsequentes
desenvolvimentos6
.
3
FARIA, Miguel. A imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2001. Pág. 73.
4
CRATO, Nuno in Cinco séculos de lustração Científica. Instituto Camões, 2003. Disponível em:
http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e4.html. Consultado em: 12-12-2015.
5
FARIA, Miguel. A imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2001. Pág. 93.
6
ASSIS, Carlos A. In Professor Carlos Almaça (1934-2010) Estado da Arte em Áreas Científicas do seu
interesse, Lisboa, 2014. Pág. 161.
Fig. 1 – Gravura de Albrecht Dürer, 1515.
24
Nesta época foi desenvolvida uma aproximação metódica e sistemática,
mudando o paradigma de um desenho mais fantasiado7
para um desenho mais
naturalista e descritivo, criando os fundamentos daquilo a que hoje se
denomina de desenho científico.
Em Portugal, um nome pertinente para o desenvolvimento do desenho
científico neste século foi Vandelli, naturalista nascido em Pádua em 1716,
tendo vindo para o país durante a Reforma Pombalina, a convite do Marquês
de Pombal. Em 1780, Vandelli foi o criador da Casa do Risco do Jardim
Botânico da Ajuda, onde se formaram os ilustradores que realizaram desenhos
das espécies descobertas um pouco por todo o império colonial. Através das
expedições de reconhecimento no fim do séc. XVIII, das quais se distinguem as
viagens filosóficas do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, se produziram
ilustrações bastante rigorosas realizadas por José Joaquim Freire e Joaquim
José Codina8
.
Os desenhos tinham o propósito de registar, representando aquilo que
não fosse possível transportar, fossem espécimes da flora ou fauna, ou mesmo
paisagens. Vandelli, enquanto “mentor” da filosofia aplicada ao desenho nesta
época, dizia:
“Ora os objectos (…) que não podem ser transportados, como as habitações, montes,
rios, fontes, árvores grandes, animais ferozes, e ainda algumas plantas com as suas
flores, de que haja receio que não se possam conservar perfeitas, e então estes todos
devem ser debuxados, e se possível, iluminados com toda a exactidão.”
Nesse sentido, o desenho chamado científico, manteve-se numa relação
estreita com a ciência9
. Esta ligação torna o desenho dependente do
desenvolvimento das necessidades científicas, assumindo como pelouro a
parte da comunicação visual, sobrepondo os conteúdos científicos às
preocupações estéticas.
7
HODGES, E.R.S (Ed.)The Guild handbook of scientific illustration. 2nd
edition. New Jersey, John Wiley &
Sons. 2003. Pág. XI
8
FARIA, Miguel. A imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2001. Pág. 93.
9
FARIA, Miguel. A imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2001. Pág. XI.
25
O caso das viagens filosóficas é um exemplo daquilo que se tem como
um dos fundamentos do desenho científico10
– o trabalho em equipa entre
artistas e cientistas em que se ocorre numa multidisciplinaridade que tem como
objetivo final a descrição de temas através de imagética rigorosa.
Visto que o pensamento, surgido no séc. XVIII, inerente à prática do
desenho científico, não sofreu grandes alterações, as mudanças visíveis nesta
área deram-se, por outro lado, a nível dos materiais e técnicas. Nas tecnologias
de representação, na impressão, na reprodução, na observação e nos
instrumentos ópticos notou-se uma evolução contínua até hoje.
Mesmo com as mudanças nos materiais e métodos, um elemento
comum ao longo da história do desenho científico é o rigor. Para o trabalho
prático deste projecto em específico, o que interessa num desenho é a
representação fiel de uma determinada espécie, de acordo com certas
convenções, no caso das borboletas, para a ilustração de insetos. Isto é, há
que produzir uma ilustração que apresente as caraterísticas-chave para a exata
identificação da espécie11
. Em par com o saber científico, o desenho averigua a
informação necessária para esse resultado, criando assim uma imagem que
represente a espécie na sua multiplicidade, e não de um só exemplar,
casualmente anómalo. Ao longo de cerca de cinco séculos, foi moldada a área
à qual se dá o nome de desenho científico e, sobre a forma que esta assume
na atualidade, se trabalhou este tema. Hoje em dia é ainda defendida uma
visão de uma ligação entre o artista e o cientista, pela comunidade de
ilustradores científicos a nível internacional, através da Guild of Natural Science
Illustrators¸ fundada e com sede em Washington, D.C., E.U.A. em 196812
.
Desde os seus primórdios que o desenho científico se preocupa em
descrever um objeto, ou seja, explicá-lo através de diferentes perspetivas,
descrições e cortes. Entre várias capacidades o desenho científico pode servir
a ciência como um tipo de comunicação visual, capaz de transmitir a
10
FARIA, Miguel. A Imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2001. Pág. 82.
11
Ibidem, Pág. 362.
12
HODGES, E.R.S (Ed.)The Guild handbook of scientific illustration. 2nd
edition. John Wiley & Sons, New
Jersey, 2003. Pág. XI.
26
complexidade da vida biológica, geológica ou antropológica, através da
imagem desenhada.
As técnicas e métodos que se podem empregar num desenho deste
género são variadíssimas, mas todas trabalham para um propósito comum –
explicar um fato científico e a divulgação dessa informação.
Neste sentido pode-se dizer que a arte está ao serviço da ciência, e para
que o desenho seja desenvolvido corretamente é necessária uma ligação forte
entre estas áreas e nomeadamente entre investigador e artista, devendo o
primeiro comunicar ao segundo quais aspetos do elemento a ilustrar devem ser
apresentados.
Ao avançar para a criação de uma ilustração científica há vários
elementos a serem tidos em conta13
. Primeiramente há que conhecer o objeto a
representar, sendo importante uma pesquisa prévia antes de iniciar o desenho.
De seguida, e de acordo com os requisitos do projeto, há que definir as
técnicas a usar para melhor demonstrar as propriedades do objeto. Os
materiais a usar também são alvo de criteriosa escolha, pois disso depende a
rapidez e qualidade de execução, a definir para cada caso específico.
Finalmente há que considerar questões como o público-alvo e a
finalidade dos desenhos produzidos – que tipo de reutilização vão ter e de que
tipo de reprodução e exposição serão alvo.
Definidas as metodologias, a finalidade de um desenho científico é,
invariavelmente, a transmissão de conhecimento.
13
Ibidem. Pág. 3.
27
2.2. Registo fotográfico e desenho científico
A fotografia surgiu após o desenho científico e em muitos casos veio
substituí-lo. No entanto, em variadas instâncias, o desenho é ainda a melhor
opção para mostrar de maneira consistente, detalhada e clara as estruturas e
morfologia daquilo que se quer representar.
O desenho é capaz de recriar aquilo que normalmente não se vê. As
eventuais falhas e imperfeições de um exemplar a ser ilustrado podem ser
corrigidas e as partes que estejam em falta, reconstruídas. Posto isto, não se
pode esquecer a fotografia. Ela é aliada dos ilustradores científicos, enquanto
recurso base, vital para a realização de diversas fases do trabalho.
(…) A fotografia capta o momento e a informação que lhe está associada.
A ilustração, e o desenho científico na sua essência, é uma explicação. O
desenho seleciona a informação relevante, omite o desnecessário, simplifica,
sintetiza. O desenho permite a composição de vários elementos não
disponíveis em simultâneo, faz uma gestão da profundidade de campo e da
iluminação do modelo, elimina sujidade e fatores de ruído, e tem a
extraordinária capacidade de reconstruir partes escondidas ou danificadas.
O desenho científico é concebido e desenvolvido para transmitir níveis de
informação selecionados e muito específicos, de acordo com os objetivos e
públicos predeterminados.
A fotografia não tem estas capacidades, mas terá também o seu papel, seja na
comunicação científica ou numa perspetiva estética. Além disso, não se pode
deixar de referir a sua importância crucial como material de referência para o
desenvolvimento de uma ilustração.14
Em vários casos o desenho científico apresenta uma grande vantagem -
a capacidade de explicar numa só imagem aquilo que a fotografia, em termos
de informação, carece de várias imagens para fazer.
Tendo em conta que o processo para realizar um desenho científico
engloba uma observação atenta por parte do ilustrador, este tipo de desenho
14
SALGADO, Pedro in “Ilustrando os peixes” , 2014.
28
permite ao artista contribuir com informação natural e morfológica que pode
passar despercebida ao cientista.
2.3. Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de
Lisboa – Coleção Entomológica
Por forma a compreender a origem da coleção entomológica e o seu
valor, procurando a sua divulgação, aqui se apresenta um breve olhar à sua
nobre história.
A história do MUHNAC remonta ao séc. XVIII, em 1768, quando é criado
o Real Gabinete de História Natural da Ajuda, uma das mais antigas iniciativas
na área da História Natural em Portugal, seguindo o movimento de outros
países da Europa.
O responsável científico é Domingos Vandelli (1735-1816)15
,
considerado como o responsável por enraizar os estudos da História Natural
em Portugal e aí criar, no Real Gabinete de História Natural da Ajuda, a
primeira escola de ilustração científica portuguesa16
.
As viagens filosóficas, realizadas por alunos de Vandelli, das quais uma
das mais conhecidas é a de Alexandre Rodrigues Ferreira ao Brasil,
enriqueceram e tornaram conhecido o Real Gabinete da Ajuda.
O Gabinete viria a dar origem ao atual Museu Nacional de História
Natural e da Ciência. Ao longo de mais de 240 anos, as suas coleções
aumentaram e, em 1836 foram transferidas para as instalações da Real
Academia das Ciências de Lisboa, dando origem ao Museu de Lisboa, que por
sua vez seria também transferido, em 1858 para a Escola Politécnica de
Lisboa, onde se manteria até à atualidade.17
Em 1978, houve um incêndio que praticamente destruiu por completo as
coleções zoológicas. A coleção entomológica existente na altura praticamente
15
Médico e naturalista paduano (de Pádua, Itália), principal responsável pela introdução do sistema
lineano em Portugal. CERÍACO, L. in Professor Carlos Almaça (1934-2010) Estado da Arte em Áreas
Científicas do seu interesse, Lisboa, 2014. Pág.332.
16
SALGADO, Pedro in Provas de Professor Especialista. Instituto Superior de Educação e Ciências,
2012. Pág. 111.
17
CERÍACO, L. in Professor Carlos Almaça (1934-2010) Estado da Arte em Áreas Científicas do seu
interesse, Lisboa, 2014. Pág.329.
29
desapareceu e a coleção atual é formada por colheitas posteriores e por
doações de outras instituições e colecionadores privados.
De entre as coleções do Museu, a coleção entomológica, cuja disciplina
aí exercida é a Entomologia18
, insere-se na área da Zoologia e encontra-se
organizada de forma taxonómica. Incluí alguns espécimes que são holótipos e
parátipos19
.
2.4. Taxonomia biológica
Na coleção entomológica a taxonomia é um dos principais campos de
estudo e, sobre ela, se versou uma parte da pesquisa para este trabalho,
nomeadamente na nomenclatura das espécies ilustradas.
A taxonomia biológica agrupa os seres vivos em categorias organizadas
de forma hierárquica. Esta disciplina das ciências biológicas tem como o
objetivo de nomear, descrever e classificar os organismos. Cada grupo a que
um organismo é classificado é denominado de taxon, sendo a espécie
considerada a unidade básica da classificação biológica. A classificação
biológica é organizada pela seguinte ordem hierárquica (são apresentados
apenas alguns dos principais taxa):
- Reino
- Filo
- Classe
- Ordem
- Família
- Tribo
- Género
- Espécie
18
A Entomologia é a área científica que estuda os insetos. DAHLEM, Gregory e RIVERS, David. The
Science of Forensic Entomology, John Wyley & Sons, Ltd, 2014. Pág. 47.
19
Holótipo é o espécime ou ilustração usado pelo autor no momento da descrição de uma nova espécie.
Um parátipo é um espécime citado na descrição de uma espécie, sem que este seja o holótipo.
30
Ao nível taxonómico as borboletas, pertencem ao Reino Animal, ao Filo
Arthropoda20, à Classe Insecta e por fim à Ordem Lepidoptera.
Da Ordem Lepidoptera existem diversas Famílias representadas na
coleção entomológica do MUHNAC, com espécies um pouco de todo o mundo,
mas com forte representação da Península Ibérica e África, sobretudo dos
países com forte ligação histórica a Portugal.
Destas famílias foram selecionadas duas como tema principal para este
trabalho: Noctuidae e Geometridae, dentro das quais se ilustraram
principalmente espécies de Portugal Continental e Ilhas e de África.
20
MASÓ, A; PIJOAN, M. Observar mariposas. Editorial Planeta, S.A., Barcelona, 1997. Pág. 16.
31
2.5. Família Noctuidae
Esta família é a que contém mais espécies de borboletas21
(mais de
35.000). Apesar da comum associação às traças que danificam os têxteis,
nenhuma espécie desta família o faz. No entanto, existem espécies que são
causadoras de outro tipo de danos, como por exemplo a espécie Mythimna
unipuncta (Haworth, 1809)22
(que é uma praga no território dos Açores).
A maioria das espécies nesta família é de cor acastanhada (fig.2), com
tórax e abdómen robustos e rotinas de voo noturno. Quando estão em repouso
dispõem as suas asas anteriores numa posição que se assemelha a uma
tenda, sobre o corpo.
Sendo que um dos objetivos deste trabalho é o de sensibilizar o público
para insetos que, regra-geral, não têm grande atenção ou são vistos de forma
negativa e de forma simplista, apesar do seu importante papel nos
ecossistemas, tais como a polinização e formação dos solos, entre outras. Esta
família é um bom exemplo destes casos.
Fig. 2 – Xestia c-nigrum (Linnaeus, 1758)
Fotografia Tetyana Chkyrya, 2015.
21
CALLE, José A. Noctuidos Españoles, Dirección General de la Producción Agraria, Servicio de Defensa
contra Plagas e Inspección Fitopatológica, 1982. Pág. 13.
22
VIEIRA, Virgílio. Métodos de luta contra Mythimna unipuncta (haworth) (lepidoptera: noctuidae), uma
praga secular nos açores in IV Encontro Nacional de Protecção Integrada. Ed. Universidade dos Açores,
1999. Pág. 327.
32
As borboletas desta família são as que, à partida, parecem menos
variadas. No entanto, no trabalho de ilustração os detalhes apresentados
salientam diferenças de forma e padrão que à primeira vista não são facilmente
reconhecidas. O padrão de cores das asas é definido por pequenas escamas23
,
que as recobrem, e apenas são observáveis ao microscópio.
Desta família foram ilustradas 16 espécies, das quais 15 integram o livro
“Cem Traças”.
23
Escamas, que são podem, metaforicamente falando, ser comparadas aos pixeis, por conseguirem criar
um padrão constituído por milhares de pontos. HODGES, E.R.S (Ed.) The Guild handbook of scientific
illustration. 2nd
edition. New Jersey, John Wiley & Sons. 2003. Pág.220.
33
2.6. Família Geometridae
Cerca de 20.00024
espécies, pertencentes à família Geometridae, foram
já descritas.
A maioria tem o corpo pequeno e as asas grandes. Várias borboletas
desta família são muito semelhantes em aparência, com as borboletas diurnas.
Podem apresentar um padrão mais colorido, e as asas podem surpreender
pela sua variedade, mas há um aspeto da sua morfologia que é um fator
diferenciador das outras famílias – as antenas.
As suas antenas25
(fig.3) – uma particularidade desta família, revelam
uma invulgar estrutura plumosa. Estas são um importante elemento geralmente
usado para diferenciar borboletas noturnas das diurnas, mas nesta Família são
uma caraterística taxonómica usada mesmo para a diferenciação de espécies.
No trabalho de ilustração, as antenas foram alvo de grande atenção e
pretende-se demonstrar em detalhe este aspeto em cada espécie.
24
BLOOMSBURY (Ed.) Concise Butterfly & Moth guide, Ed. Bloomsbury, London, 2014. Pág. 15.
25
as antenas plumosas pertencem geralmente aos machos.
Fig.3 – Foto tirada ao microscópio a um exemplar de Biston
betularia. 2015.
34
Esta família ganhou o nome de Geometridae por causa das lagartas das
suas borboletas que, ao se deslocarem, parecem medir os passos assim como
um geómetra mede a terra (fig.4 e 5).26
Quanto ao seu cromatismo, sendo uma família tão grande e diversa,
existem espécies com tons vivos e outras com padrões mais neutros. Podem
ser avistadas de dia mas a sua atividade concentra-se de noite.
26
REDONDO, V.M., GASTÓN, F.J. & GIMENO, R. Geometridae Ibericae. Ed. Apollo Books, Stenstrup,
2009. Pág.9.
Fig. 4 – Lagarta de geometrídeo a imitar um galho.
Fotografia de Ramón Gimeno.
Fig. 5 – Posição caraterística da lagarta de um
Geometrídeo. Fotografia de Ramón Gimeno.
35
3. Trabalho Prático
O projeto teve o objetivo de divulgar a coleção de insetos do MUHNAC,
em específico as borboletas noturnas desta coleção, das famílias Noctuidae e
Geometridae através da ilustração científica.
Para atingir este objetivo, pretendeu-se criar um catálogo, que foi
publicado em forma de livro, com o título de “Cem Traças”. Além da publicação
deste catálogo, foram criados diversos produtos associados, tendo em vista a
divulgação deste grupo e da coleção entomológica, tais como: i) merchandise,
como postais, autocolantes, posters e um pequeno jogo, em forma de um
puzzle simples; ii) um blog e um perfil na rede social facebook para o projeto
Cem Traças; iii) atividades de divulgação científica, como a participação na
Noite Europeia dos Investigadores e outras atividades; iv) exposição do
trabalho no centro de Ciência Viva da Floresta em Proença-a-Nova.
As ilustrações para o livro “Cem Traças”, foram desenvolvidas em
conjunto com o colega de mestrado Pedro Araújo. Visto que o tema do projeto
seria semelhante, juntaram-se esforços de forma a produzir um catálogo
ilustrado de 100 traças da coleção entomológica do MUHNAC. De forma a
obter 100 ilustrações, cada ilustrador propôs-se a realizar 50.
As técnicas de ilustração foram apuradas e alinhadas, de forma a
garantir a coerência entre o trabalho dos dois ilustradores.
Houve sempre um acompanhamento do investigador e curador da
coleção entomológica, que proporcionou informação sobre como abordar a
questão da identificação de espécies e sua correta representação.
Neste trabalho foram ilustradas traças de diversas Famílias, sendo
apresentadas duas Famílias de borboletas como tema principal:
- Geometridae;
- Noctuidae.
Além destas duas Famílias, e para que este projeto e o catálogo
pudessem representar de forma mais abrangente a variedade das borboletas
noturnas, foram ilustradas outras famílias de lepidópteros: Arctiidae,
36
Bombycidae, Cossidae, Crambidae, Erebidae, Eupterotidae, Lasiocampidae,
Limacodidae, Nolidae, Notodontidae, Pterophoridae, Saturniidae, Sphingidae e
Zygaenidae.
Na tabela (fig.6) organizada de forma cronológica, enunciam-se as
ilustrações feitas para o projeto, incluindo para cada espécime de referência os
dados taxonómicos relativos à família e à espécie, o número de coleção, a
técnica utilizada e o tempo de execução.
Em alguns casos foi feita mais do que uma ilustração da mesma
espécie, de forma a estudar a pose da borboleta em repouso. As ilustrações
finais, na sua totalidade, podem ser observadas no apêndice de ilustrações.
Família Espécie Nº de
Coleção Técnica
Tempo de exec.
Nº de Anexo
Sphingidae Nephele aequivalens MB07-000134 Grafite s/ papel + digital - 48
Sphingidae Coelonia fulvinotata MB07-000020 Grafite s/ papel + digital 6H15 49
Sphingidae Hippotion roseipennis MB07-000422 Grafite s/ papel + digital - 50
Sphingidae Hippotion celerio MB07-000320
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h20 51
Sphingidae Temnora fumosa MB07-000186
Técnica mista s/ poliéster +
digital
- 52
Sphingidae Euchloron megaera MB07-000250
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h10 53
Sphingidae Pseudoclanis tomensis MB07-000076
Técnica mista s/ poliéster +
digital
7h 54
Saturniidae Pseudobunae tyrrhena MB07-017104
Técnica mista s/ poliéster +
digital (usada para
stopmotion)
- 55
Saturniidae Pseudobunae tyrrhena Coleção
didática
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h20 56
Noctuidae Cyligramma latona MB07-005228
Técnica mista s/ poliéster +
digital
9h55 57
Noctuidae Cyligramma latona Coleção
didática
Técnica mista s/ poliéster +
digital
7h55 58
Notodontidae Antheua ornata MB07-005223
Técnica mista s/ poliéster +
digital
6h05 59
Arctiidae Balacra guillemei Coleção
didática
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h 60
Eupterotidae Phiala sp. MB07-005247 Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h 61
Eupterotidae Phiala sp. MB07-005249
Técnica mista s/ poliéster +
digital
- 62
Saturniidae Bunaeopsis angolana MB07-005192
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h45 63
Saturniidae Cinabra hyperbius MB07-005212
Técnica mista s/ poliéster +
digital
6h40 64
37
Geometridae Menophra maderae MB07-004338
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h20 65
Geometridae Menophra maderae MB07-004397
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h40 -
Geometridae Ascotis fortunata MB07-004403
Técnica mista s/ poliéster +
digital
6h40 66
Geometridae Xenochlorodes nubigena MB07-004394
Técnica mista s/ poliéster +
digital
2h40 67
Noctuidae Acontia lucida MB07-004319
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h15 68
Geometridae Scopula irrorata MB07-004340 Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h20 69
Noctuidae Agrotis trux MB07-004230
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h30 70
Noctuidae Chrysodeixis chalcites MB07-004315
Técnica mista s/ poliéster +
digital
7h 71
Noctuidae Eumichtis albostigmata MB07-004266
Técnica mista s/ poliéster +
digital
6h 72
Noctuidae Euplexia dubiosa MB07-004259
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h40 73
Noctuidae Noctua pronuba MB07-004233
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h40 74
Noctuidae Peridroma saucia MB07-004235
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h25 75
Noctuidae Phologophora wollastoni MB07-004279
Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h50 76
Geometridae Rhodometra sacraria MB07-004341
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h 77
Noctuidae Spodoptera littoralis MB07-004313
Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h25 78
Noctuidae Xestia c-nigrum MB07-004239
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h05 79
Saturniidae Epiphora macedoi ♂ MB07-017055
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h10 80
Saturniidae Epiphora macedoi ♀ MB07-017057
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h55 -
Noctuidae Achaea lienardi MB07-033579
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h15 81
Arctiidae Chiromacla sp. MB07-033671 Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h15 82
Crambidae Cadarena pudoraria MB07-033635
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h40 83
Limacodidae Chrysamma purpuripulcra MB07-005272
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h40 84
Noctuidae Trichoplusia orichalcea MB07-033626
Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h45 85
Saturniidae Epiphora albida MB07-017504
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h55 86
Noctuidae Miniodes discolor MB07-033644
Técnica mista s/ poliéster +
digital
6h 87
Sphingidae Proserpinus proserpina MB07-000010
Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h30 88
Lasiocampidae Pachymetana fontainei MB07-033662
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h35 89
Cossidae Azygophleps inclusa MB07-033668
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h15 90
Geometridae Geodena sp. MB07-033624
Técnica mista s/ poliéster +
digital (usada para
stopmotion)
- 91
Geometridae Geodena sp. MB07-033624 Aguarela s/ papel + digital - -
38
Geometridae Ourapteryx sambucaria MB07-033675
Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h05 -
Arctiidae Arctia villica MB07-032886
Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h40 92
Geometridae Biston betularia MB07-033679
Técnica mista s/ poliéster +
digital
3h55 93
Zygaenidae Adscita jordani MB07-008927
Técnica mista s/ poliéster +
digital
2h40 94
Notodontidae Antheua rodeosemena MB07-005854
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h45 95
Noctuidae Scoliopteryx libatrix MB07-033834
Técnica mista s/ poliéster +
digital
5h15 96
Pterophoridae Merrifieldia sp. MB07-002920
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h35 97
Cossidae Zeuzera pyrina MB07-009704
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h10 98
Arctiidae Euchromia folleti Coleção
Didática
Técnica mista s/ poliéster +
digital
4h35 99
Notodontidae Cerura iberica MB07-006138 Técnica mista s/ poliéster +
digital
7h 100
Geometridae Trichoplusia orichalcea Coleção
Didática
Técnica mista s/ poliéster 1h45 101
Geometridae Biston betularia Coleção
Didática
Técnica mista s/ poliéster 2h15 102
Geometridae Eurranthis plumistaria MB07-033683
Técnica mista s/ poliéster +
digital (usada para
stopmotion)
- 103
Fig. 6 – Tabela de ilustrações realizadas.
39
3.1. Processo
As Famílias Geometridae e Noctuidae foram selecionadas como tema
principal. Foi feito um estudo sobre estas famílias e foram identificados aspetos
da sua morfologia e cor, para os quais a ilustração científica poderia contribuir
de forma rigorosa para a sua descrição. A seleção de espécies a ilustrar foi
feita em conjunto pelos ilustradores e o investigador, de forma a mostrar a
diversidade destas famílias.
Assim, foram criados dois desenhos tipo: o desenho tipo I, em que as
metodologias e materiais utilizados, foram pensados tendo em vista a produção
de ilustrações a figurar no livro “Cem Traças” e nos outros suportes de
divulgação ao público. O desenho tipo II consiste em vários temas e técnicas
que respondem à necessidade do ilustrador de estudar mais profundamente
algumas partes das borboletas, para servir de apoio à criação de ilustrações do
tipo I. Para este propósito foram utilizados dois exemplares de borboletas
noturnas – um espécime de Biston betularia (Linnaeus, 1758) da Família
Geometridae, e um espécime de Trichoplusia orichalcea (Fabricius, 1775) da
Família Noctuidae. Estes desenhos incidiram sobre pormenores de antenas,
pormenores de escamas das asas, poses de repouso e por fim, realizaram-se
silhuetas, de maneira a estudar a forma-chave dos espécimes. Estes estudos
não foram utilizados para nenhuma forma de publicação.
Seguidamente, descrevem-se as metodologias e materiais utilizadas ao
longo do processo do projeto de ilustração em ambos os desenhos tipo. As
técnicas usadas foram ajustadas e afinadas, de forma a cumprir com as
objetivos definidos.
40
3.1.1. Desenho Tipo I
Este desenho tipo foi desenvolvido com o objetivo de criar ilustrações de
rigor científico, pensadas para integrar a publicação de um livro, denominado
“Cem Traças”. Por aconselhamento do curador decidiu-se ilustrar as borboletas
numa só vista, a dorsal, tendo em conta o objetivo de apresentar o maior
número de caraterísticas morfologicamente importantes. Por outro lado, a
demanda de criar ilustrações apelativas para o público, também influenciou
esta escolha.
A vista dorsal permitiu ilustrar as borboletas de asas abertas, de modo a
demonstrar o padrão na sua totalidade e dar uma noção de dimensão relativa
das borboletas.
Esta vista é também coerente com a forma como o material
entomológico, presente na coleção do MUHNAC, está organizado.
Na coleção, os espécimes preparados estão dispostos em caixas
entomológicas, alfinetados e em poses de asas abertas, de forma a apresentar
as caraterísticas morfológicas relevantes para cada espécie. (fig. 7). As
ilustrações desta etapa pretendem seguir esta convenção.
Fig. 7– Caixa entomológica da coleção do MUHNAC (Coleção
Mendoça), Fotografia Tetyana Chkyrya, 2015.
41
Este grupo abrange 57 ilustrações ao todo, das quais 50 formam parte
integrante do livro, denominado “Cem Traças”, realizado em parceria com o
MUHNAC.
Para a realização destas ilustrações completas teve de ser feita uma
pesquisa preliminar, específica de cada caso. Esta pesquisa teve como objetivo
a verificação e procura de referências, para a apresentação de todos os
elementos necessários à correta descrição das espécies. O processo para a
criação de cada ilustração, a nível global, foi planeado na seguinte sequência:
1 – Escolha de espécimes para ilustrar, a partir da coleção entomológica do
MUHNAC;
2 – Pesquisa relativa à nomenclatura de espécies27
, através de chaves de
identificação, fotografias e ilustrações;
3 – Fotografia em estúdio;
4 – Processo de Desenho Analógico;
5 – Processo de Desenho Digital.
As ilustrações seguiram os passos acima enunciados. A partir da
escolha dos exemplares a ilustrar, fez-se a pesquisa relativa à identificação da
espécie. A fotografia e recolha de referências fotográficas alheias à coleção do
MUHNAC, são a base para realizar o desenho.
27
A pesquisa de nomes científicos verificou-se necessária no caso de alguns exemplares preservados na
coleção do MUHNAC. Existem exemplares que estão presentes na coleção apenas com os dados
científicos suficientes para dar entrada na base de dados (local de captura, etc.) Além destes, com o
nome científico errado, existem outros com o nome em falta. Ao escolher exemplares a ilustrar, é
necessário verificar a identificação da sua espécie, sendo esta confirmada pelo investigador.
Posteriormente, o ilustrador deve recolher referências para estudos preliminares e ilustrações.
42
3.1.1.1. Escolha de espécimes
Através de um processo criterioso escolheram-se os exemplares, tendo
em conta vários critérios. O critério principal foi a escolha de exemplares de
espécies dentro das Famílias do tema principal desta dissertação – Noctuidae
e Geometridae. Por outro lado, a relevância científica dos espécimes para a
coleção entomológica do MUHNAC, foi tida em conta. A relevância científica
para a coleção traduz-se nos dados que estão associados aos espécimes,
como a determinação da espécie ou o local e data de captura. Além disso os
exemplares de destaque, como holótipos (espécimes que são a base para a
identificação de uma espécie), são de importância científica. Um exemplo - no
conjunto de ilustrações, apresenta-se um exemplar (fig.8) que é holótipo, da
espécie Epiphora macedoi (Darge, Mendes & Bívar de Sousa, 2006) da Família
Saturniidae.
Tendo em conta a aplicação das ilustrações no produto final, “Cem
Traças”, procurou-se escolher borboletas que através da sua morfologia e
cromatismo, resultassem em imagens apelativas. Por outro lado, selecionaram-
se borboletas cuja ilustração as valoriza pela informação apresentada, que não
é vista a olho nu.
Fig. 8 – Espécime holótipo da espécie Epiphora macedoi (Darge,
Mendes & Bívar de Sousa, 2006)
Fotografia Tetyana Chkyrya, 2015.
43
Por vezes escolheram-se exemplares que não tinham a espécie
identificada. Os ilustradores, recorrendo ao aconselhamento do curador,
fizeram essa identificação que depois foi verificada pelo mesmo e pelo
investigador especialista de Lepidoptera António Bívar de Sousa. Estes
momentos contribuíram para enriquecer a coleção entomológica do MUHNAC
dando entrada a identificações e correções de nomes de espécies na base de
dados. Numa outra instância, foram escolhidos espécimes da coleção didática
– uma coleção onde os exemplares não têm informação sobre o local e data de
colheita, logo não sendo suficientes para fazer parte da coleção principal do
MUHNAC. No entanto, por possibilitar a variedade de borboletas apresentada,
decidiu-se incorporá-las no projeto. Para todos os efeitos é descrito na tabela
de ilustrações (fig. 6) acima de qual das coleções é proveniente cada exemplar.
Visto que existem exemplares na coleção que apresentam alguma
degradação, procurou-se escolher, sempre que possível, exemplares em bom
estado de conservação. Este fator auxilia à realização da ilustração, enquanto
referência, pela quantidade de informação e pelo posicionamento das asas.
Nos casos em que não foi possível esta escolha, procedeu-se à reconstrução
dos elementos danificados (no campo da morfologia e da cor) usando outros
espécimes ou referência fotográfica.
3.1.1.2. Nomenclatura de espécie
Aqui se descreve o procedimento que foi seguido para a pesquisa
relacionada com a identificação das espécies. Após a escolha dos exemplares
a partir da coleção entomológica, que melhor se adeqúem a ser ilustrados,
realiza-se uma pesquisa que incide sobre os nomes científicos dos mesmos, ou
seja, qual a sua espécie. A determinação da espécie é importante para manter
o rigor científico da ilustração. Numa primeira instância esta pesquisa é feita na
base de dados da coleção do MUHNAC. Caso o nome do espécime já esteja
determinado, verifica-se se está atual, se não foi alterado por investigadores e
especialistas. Por vezes, os nomes científicos apresentam desatualizações e é
necessário corrigir esse dado. Noutros casos o nome científico está
44
incorretamente determinado ou não está presente de todo. Para esses
momentos, é necessário realizar uma pesquisa através de bases de dados
científicas alheias ao MUHNAC. Através de livros / catálogos, guias, e através
da internet. Usaram-se os sites como: Africanmoths.com e Afromoths.net, que
apresentam bases de dados com fotografia, permitindo a comparação entre o
espécime do MUHNAC e os espécimes nessas bases de dados. De acordo
com a determinação da espécie, recorreu-se à plataforma online GBIF.org para
a verificação das Famílias. Todas as ilustrações passaram pela revisão de um
especialista na área – investigador António Bívar de Sousa – de forma a
garantir a correta identificação de todas as espécies ilustradas.
Durante esta pesquisa vão-se recolhendo referências fotográficas para
além do material disponível na coleção do MUHNAC, por forma a poder
observar mais exemplares de cada espécie, evitando usar um só exemplar
como referência absoluta. A pesquisa de outros exemplares permite realizar
uma ilustração rigorosa da espécie, realçando as caraterísticas gerais da
mesma e ocultar as eventuais falhas ou especificidades de um exemplar
específico que tenha servido como referência. Foi selecionado um exemplar
específico para servir de referência principal à ilustração de cada espécie,
procurando verificar que este seja um bom representante da espécie.
À medida que se desenvolveu esta pesquisa foram-se realizando
sketches, que são aprovados pelo investigador para que a ilustração final seja
correta. O trabalho de ilustração foi sendo acompanhado e discutido com o
curador, de modo que em vários casos não se chegou a algo tão formal como
aprovação de sketches.
3.1.1.3. Fotografia em estúdio
A fotografia dos espécimes foi feita no estúdio disponível no
departamento de Zoologia do MUHNAC. A fotografia é a referência principal
para a realização da ilustração das espécies servindo de base para o estudo do
padrão, cores e morfologia. É desta forma uma fase essencial neste projeto.
45
O estúdio foi preparado com um fundo cinzento28
, onde se coloca o
exemplar a fotografar (fig.9). De ambos os lados do exemplar, estão instalados
dois flashes, com tripé, que permite o seu ajuste. O flash do lado esquerdo é
ajustado de maneira a que ilumine de forma ligeiramente mais intensa do que o
flash direito29
.
28
O fundo é de cor cinzenta, e não branca, para que a luz dos flashes não ilumine em demasia o objeto a
ser fotografado. Isto pode causar reflexos indesejados, que adulteram o cromatismo do exemplar.
29
HODGES, E.R.S (Ed.)The Guild handbook of scientific illustration. 2nd
edition. New Jersey, John Wiley &
Sons. 2003. Pág.97.
Fig. 9 – André Leão, um dos colaboradores deste projeto, que participou
nas primeiras sessões de fotografia das borboletas da coleção. Fotografia
de Tetyana Chkyrya, 2014.
Fig. 10 –Exemplar da espécie Balacra guillemei (Oberthür,
1911).
Tetyana Chkyrya, 2014.
46
A borboleta a fotografar é então posicionada num suporte, que permite o
posicionamento do exemplar no processo de fotografia (fig.10).
É importante incluir na fotografia, junto com o espécime as etiquetas que
providenciam a sua identificação única. Além disso são colocadas escalas,
milimétrica e cromática, que permitem a edição e ajustes de cor da fotografia
assim como a produção das escalas usadas no livro “Cem Traças”.
A câmara usada para a fotografia dos exemplares foi uma DSLR Canon
EOS 7D30. Devido à pequena dimensão dos exemplares, a lente usada foi uma
Canon EF 100mm f/2.8L IS USM.
A edição digital das fotografias executa-se no Photoshop. Através do
equilíbrio de níveis e outras ferramentas31
, tem como objetivo preparar a
fotografia para o processo de desenho analógico. Primeiramente converte-se a
30
Esta máquina foi usada ao longo de todo o trabalho realizado para esta dissertação.
31
O equilíbrio de níveis permite controlar os vários canais de brilho e contraste. Outras ferramentas
utilizadas são, por exemplo, a eliminação do fundo através de Layer mask – ferramenta que permite
apagar e/ou restaurar o que foi apagado, sem perder nada da imagem original, uma espécie de borracha
com “back up”.
Fig. 11 – Fotografia de um exemplar de Eurranthis
plumistaria, com escala de cores e etiqueta da coleção
Entomológica (MUHNAC).
2015
47
imagem para o modo monocromático (greyscale32) e ajustam-se os níveis e
eleva-se o valor de contraste. O contraste é ligeiramente aumentado, para que
o contorno fique mais evidenciado na impressão. A imagem em preto e branco
é particularmente útil, pois a cor, na primeira fase de desenho, é um elemento
que causa ruído desnecessário.
Em determinados casos, foi necessário um alinhamento das asas. Para
este efeito, foram empregados dois métodos. No primeiro, a fotografia foi
impressa e ajustada por meio de recortes e montagens, procedendo-se depois
ao desenho de contorno inicial. No segundo método, a mesma montagem foi
feita no Photoshop e posteriormente impressa para realizar o desenho de
contorno.
A fotografia é impressa, em formato A4 em papel normal de impressão
(90gr/m2). A partir desta fase, inicia-se o processo de desenho analógico.
3.1.1.4. Processo de Desenho Analógico
Tendo como base a fotografia, nesta fase cria-se um desenho
monocromático, sobre papel ou poliéster que é posteriormente colorido no
Photoshop. Este desenho incidirá sobre o corpo (tórax e abdómen), cabeça e
um par de asas. Não se desenha o segundo par de asas pois a criação deste é
feita em digital, duplicando o primeiro. Isto assegura a simetria das asas, sem
dar espaço a eventuais erros na representação do padrão e tornando o
trabalho mais rápido. Procurou-se esta simetria após discussões com o curador
da coleção sobre qual o nível de simetria que se deveria dar às ilustrações no
que diz respeito às asas. Este procedimento não foi aplicado às antenas,
porque resolveu-se criar algum movimento na composição da ilustração
nalguns casos, também após uma decisão discutida com o curador.
A fotografia selecionada para referência é impressa em dimensão A4. As
ilustrações são feitas também neste formato, opção tomada para que depois as
mesmas possam ser reduzidas para o formato do livro (120x185mm) ou
usadas num tamanho maior para apresentação como em exposições, por
32
Greyscale é um modo que o Photoshop contém, que faz com que a imagem a ser trabalhada fique em
tons de preto e branco.
48
exemplo. Coloca-se a folha de poliéster, também em formato A4, por cima da
impressão da fotografia. O poliéster foi escolhido depois de se terem realizado
experiências em papel de 90gr/m2 para o desenho monocromático. O póliester
tem diversas vantagens sobre o uso do papel permitindo uma transferência
mais rápida da fotografia para o mesmo e por permitir a raspagem, usada para
eventuais correções e recuperar brilhos no desenho. O poliéster é fixado por
cima da fotografia para se realizar a transferência. (fig. 12).
Ao criar o contorno, é possível corrigir as eventuais falhas do exemplar
real. Ao realizar as correções e, para assegurar uma representação fiel,
recorre-se à observação de outros exemplares da mesma espécie, tanto da
coleção do MUHNAC como de bases de dados científicas contendo imagens
de outros espécimes.
Concluído o desenho de contorno, o passo seguinte é a utilização de
PanPastel33 (fig.14). Através deste material, pretende-se cobrir com mancha
toda a área branca, delimitada pelo contorno. Deste modo, cria-se uma base do
padrão das asas (fig. 13).
33
PanPastel é um pastel seco que, aplicado com uma esponja adequada para o efeito, permite cobrir a
área do desenho com uma mancha suave e uniforme.
Fig. 12 e 13 – Processo inicial da arte final – linha de contorno e início da mancha.
Tetyana Chkyrya, 2015.
49
Ao ter o padrão definido com Pan-Pastel, dá-se foco às zonas que
necessitam de ficar mais escuras (fig. 15). Nesta altura entra o uso da grafite.
Os materiais usados na fase da grafite são: lapiseira 0,5mm (dureza 2HB);
lápis de grafite Staedtler Mars Lumograph (durezas 2H e 5B); borracha Rotring
rapid eraser B30; caneta-borracha Tombo-Mono Zero 2,3mm e esfuminho
(tamanho #1).
A grafite é aplicada em pequenas manchas e de forma mais localizada
do que com o PanPastel. A definição do traço aumenta nesta fase, procurando
realçar os contrastes no desenho. Tendo estas manchas estabelecidas,
emprega-se o uso de esfuminho com o objetivo de as esbater, para que a
imagem se torne mais uniforme.
Fig. 15 e 16 – Processo de aplicação de grafite e esfuminho.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig.14 – PanPastel e as esponjas
utilizadas na sua aplicação.
50
A partir deste passo (fig. 16), inicia-se a transformação do desenho para
um nível de maior realismo. Esta etapa é dotada de grande detalhe e
elaboração. Para este efeito recorre-se à aplicação de diferentes borrachas
que, pelos seus atributos, permitem criar volumes tridimensionais no desenho,
através de vários tons.
Aplicados os traços de borracha, utiliza-se lâmina de x-ato (fig.17),
adequada para raspagem em suportes como poliéster.
De maneira subtrativa, esta fase cria texturas e pormenores adicionais,
através da abertura de brancos nas manchas já existentes. É um passo de
dificuldade acrescida, visto que requer um traço muito afinado. Aqui, o foco é
dado às seguintes partes – os pelos, escamas, antenas e também os raios das
asas.
A última etapa do processo de desenho analógico procura determinar os
pormenores que precisam novamente de um reforço de preto. Através de
lapiseira, de espessura 0,3mm (dureza HB), criam-se pequenas manchas e
linhas muito finas, que proporcionam uma textura adicional. O desenho no
poliéster é dado como concluído quando os elementos representados
Fig. 17 – Lâmina de x-ato.
Tetyana Chkyrya, 2015.
51
estiverem de acordo com o que foi estabelecido no início em termos de
coerência entre os dois ilustradores (fig. 18).
Fig. 18 – Fase final do processo analógico.
Tetyana Chkyrya, 2015.
52
3.1.1.5. Processo de Desenho Digital
Este processo incide, sobretudo, na aplicação de cor ao desenho
monocromático previamente criado. A metodologia deste método divide-se em
várias etapas, principiando com a limpeza do desenho analógico.
A primeira etapa é a digitalização do desenho realizado em poliéster. A
digitalização foi feita em a 1200 ppi34
. Feita a digitalização procede-se à
colocação da imagem no programa Adobe Photoshop CS6 (fig.19), com
recurso a uma mesa digitalizadora Wacom Bamboo (fig. 19).
Devido à passagem da mão sobre o poliéster durante o desenho,
surgem uma quantidade de linhas e manchas não intencionais. A limpeza e
correções revelam-se essenciais nesta fase. (fig. 20).
34
Ppi – pixels per inch ou, em português, “pixéis por polegada”. Esta nomenclatura é usada para
referência ao número de pixéis individuais existentes numa polegada linear, na superfície da imagem
digital.
Fig. 19 – Mesa digital e programa utilizados na técnica
digital.
53
O primeiro passo no Photoshop é colocar o ficheiro em modo CMYK35
, e
formato A4. Este modo serve para que a imagem vista no ecrã do computador
seja fiel, em termos de cor, ao que será impresso posteriormente. O desenho
monocromático é então colocado numa layer individual (fig. 24 letra d).
Para executar a limpeza utilizam-se várias ferramentas do programa. A
principal ferramenta utilizada, nesta instância, é a Layer mask. Esta ferramenta
permite apagar, como no caso da ferramenta da borracha normal. No entanto,
ao contrário da borracha, permite também recuperar essas partes, caso se
tenha incorrido no erro de as apagar sem intenção. Com isso em mente, limpa-
35
CMYK – abreviatura para o sistema de cores subtrativas formado por: Ciano (C), Magenta (M), Amarelo
(Y) e Preto (K).
Fig. 20 e 21 – Fase inicial do processo de aplicação da Layer mask.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 22 e 23 – Fase final da aplicação do processo de aplicação da layer mask.
Tetyana Chkyrya, 2015.
54
se todo o conteúdo exterior ao desenho, pelo contorno, passando por entre
todos os pêlos do corpo e asas e entre os segmentos das antenas (fig. 20 -23).
Dada por concluída a limpeza do desenho, passa-se ao início da
aplicação de cor. Nesta fase, há que recorrer às referências recolhidas na
pesquisa preliminar. Estas fotografias servem como paleta de cores, ao permitir
selecionar os tons nelas presentes, transportando-os para a ilustração.
Primeiramente coloca-se a layer do desenho monocromático em modo
de sobreposição multiply36. Neste modo, a layer (fig, 24 letra d) deixa
transparecer, nos tons que não sejam preto puro, a informação colocada numa
layer que lhe seja inferior.
Assim, criando uma layer inferior (fig. 24 letra e), aplica-se uma camada
de cor, que é a base do trabalho de coloração do exemplar. A ferramenta
usada para aplicar cor é o brush, ou pincel, em português. Com um diâmetro
alargado, preenche-se a área interior delimitada pelo desenho monocromático.
Esta camada não é dotada de grande detalhe, procura antes conviver com a
layer do desenho monocromático, na medida em que se limita a acrescentar
cor às texturas e volumetrias já criadas. Acertada essa camada de cor,
procede-se à criação de uma layer superior às anteriores (fig. 24 letra c). Nesta
layer o objetivo é desenhar os pormenores finais que conferem realismo à
ilustração.
36
Técnica digital que salvaguarda o desenho a preto e branco original, permitindo que a cor, aplicada em
camadas inferiores, transpareça nas zonas em que existe branco puro ou outros tons que não sejam
opacos.
Fig. 24 – Esquema de layers que determinam a cor.
55
Além de traços mais afinados, trabalham-se também as texturas, criadas
pelas escamas das asas e os pêlos. Em simultâneo, procura-se dotar o
desenho de brilhos, pela aplicação de tons mais claros que o geral, fazendo
sobressair elementos como o pêlo no abdómen e no tórax e os pêlos na base
das asas.
Finalizado o processo acima descrito, é necessário proceder à
duplicação da asa ilustrada. Como primeiro exercício, selecionam-se as asas
que foram ilustradas, na layer do desenho monocromático. Estas são
duplicadas para outra layer, superior à do desenho original. São invertidas
horizontalmente (flip) para o lado oposto de forma a encaixar corretamente no
corpo da borboleta. Faz-se um ajuste, através da eliminação e adição de pêlos
e texturas, para que a junção entre estas partes não tenha um aspeto
recortado. O processo repete-se para as layers restantes, tendo o mesmo
cuidado em manter a uniformidade na junção.
Ao realizar a junção, procura-se uma representação que pareça o mais
realista possível. Tendo a duplicação bem definida, procede-se a uma
aplicação de sombras nas asas do lado direito, por forma a cumprir com a
Fig. 25 – Ilustração final da espécie Eurranthis plummistaria (Villers, 1789).
Tetyana Chkyrya, 2015.
56
convenção de iluminação proveniente da esquerda do exemplar. Esta mesma
aplicação é feita na layer superior à do desenho monocromático (fig. 24 letra c).
Concluída a coloração da ilustração (fig. 25), o ficheiro é gravado em
três formatos: PSD (formato do Photoshop), que permite a edição posterior,
caso se prove necessário; TIFF para a impressão e finalmente em JPEG para
visualização.
3.1.2. Desenho tipo II
Este desenho tipo consiste num conjunto de temas de estudo que
diferem do teor das ilustrações realizadas no desenho tipo I. Estes não têm a
finalidade de fazer parte da publicação do livro “Cem Traças”, mas antes
auxiliar à realização das ilustrações para o livro. Esse auxílio consiste na
realização de estudos de observação e de técnica, dos quais constam:
1 - Antenas;
2 - Escamas;
3 - Comportamento;
4 - Silhuetas;
5 - Aguarela.
Seguidamente descreve-se, concretamente, o processo, técnicas e
materiais utilizados em cada um destes temas e em que consistiu a sua
contribuição para o projeto.
3.1.2.1. Antenas
Dentro deste tema foram realizados desenhos incidindo na observação
de antenas de borboleta ao microscópio estereoscópico (fig. 26 e 27). As
antenas, além de serem uma caraterística usada na distinção taxonómica, são
muitas vezes também importantes para a identificação do sexo entre
espécimes de determinada espécie. Com essa premissa, realizaram-se
57
desenhos síntese, que permitiram adquirir conhecimento sobre a morfologia
desses elementos e, dessa forma, ter a capacidade de os representar
corretamente nas ilustrações do desenho tipo I.
Para a realização destes desenhos, recorreu-se à observação das
antenas de dois espécimes, ao microscópio. Para tal, escolheu-se um
espécime da espécie Biston betularia (Linnaeus, 1758) da Família
Geometridae, e um espécime da espécie Trichoplusia orichalcea (Fabricius,
1775), da Família Noctuidae. A necessidade de entender em detalhe as
antenas, nomeadamente os segmentos que compõem o efeito de “pluma” que
é tão particular dos Geometrídeos, incentivou este estudo, englobando também
a representação das antenas dos Noctuídeos.
Falando concretamente do processo de ilustração para este tema, o
primeiro passo foi a observação do espécime ao microscópio. Utilizando um
suporte que permite a fixação da borboleta na posição desejada, por baixo da
lente. Realizou-se então captura de imagens, através de uma aplicação37
que,
37
O software utilizado foi o AmScope, que permite ver as imagens em tempo real no computador e gravar
ao mesmo tempo. Permite ainda o controlo de vários fatores, como o brilho e contraste, equilíbrio de
cores, entre outros.
Fig. 26 e 27 – Microscópio usado ao longo do trabalho, na observação das espécies – Leica Mz 9.5 e
demonstração da colocação do exemplar para respetiva observação.
58
ligando o microscópio ao computador, permite gravar o que está a ser
observado pela objetiva. Essas imagens são então impressas em tons de
cinza, com um contraste elevado. Posteriormente, são desenhadas em papel
vegetal (90 gr/m2), com recurso a uma mesa de luz. De seguida, à semelhança
das ilustrações do desenho tipo I, os desenhos são digitalizados e tratados no
Photoshop.
Os desenhos apresentados constituem dois níveis de observação, em
diferentes ampliações. Em primeiro lugar, observa-se as antenas no seu todo
(fig. 28). Estes desenhos servem de base para o desenho das antenas nas
ilustrações do tipo I.
Fig. 28 – Ilustrações de antenas em ampliação.
a- Antena de um noctuídeo (Trichoplusia orichalcea)
b- Antena de um geometrídeo (Biston betularia)
Grafite sobre papel vegetal e técnica digital, 14,8x21cm, Tetyana Chkyrya, 2015.
59
Em segundo lugar, num registo de maior ampliação, foram realizados
desenhos que demonstram os segmentos ao longo do veio principal das
antenas em maior pormenor (fig. 29).
3.1.2.2. Escamas
Este tema de estudo almeja, de modo mais específico, mostrar como as
escamas se intercalam e a sua forma. Procura-se deste modo, compreender
realmente como são construídas determinadas zonas das asas, nesta espécie
em específico. Numa observação ao microscópio estereoscópico, observa-se
que a asa é recoberta por inúmeras escamas, e são estas que, cada uma com
uma cor, formam o padrão cromático das asas (fig.31). O desenho permite
fazer um registo isento de informação desnecessária, usando apenas a linha
de contorno e alguma textura (fig.32). O que interessa captar nesta imagem é a
forma das escamas e como se sobrepõem. Surgiu esta curiosidade de estudar
mais de perto este elemento, pela inclusão de um espécime de Trichoplusia
orichalcea (Fabricius, 1775) que apresenta a parte central das asas anteriores,
com um brilho dourado. Como meio de compreender a composição desse
Fig. 29 – Ilustrações de detalhes de antenas em ampliação.
a1- Detalhe da antena de um noctuídeo (Trichoplusia orichalcea)
b1- Detalhe da antena de um geometrídeo (Biston betularia)
Grafite sobre papel vegetal e técnica digital, 14,8x21cm, Tetyana Chkyrya, 2015.
60
padrão, observou-se as escamas de perto. Entendeu-se que as escamas
apresentam, entre si, várias tonalidades e, em conjunto, ao reflectir a luz,
através da sua textura, causam esse brilho dourado (fig. 30).
Fig. 31 – Imagem microscópica das escamas da
asa de uma Trichoplusia orichalcea.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 32 – Ilustração a partir da imagem microscópica da asa
de uma Trichoplusia orichalcea.
Grafite sobre papel, 18,4x21cm. Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 30 – Espécime de Trichoplusia orichalcea (Fabricius,
1775).
Fotografia: Tetyana Chkyrya, 2015.
61
3.1.2.3. Comportamento
Neste tema de estudo introduzem-se duas ilustrações relacionadas com
comportamento ou mais especificamente – posturas de repouso. Para dar a
entender, de uma maneira geral, como a maior parte destas borboletas
repousa. Estão realizadas ilustrações para este tema a partir das famílias
Noctuidae (fig.34) e Geometridae (fig. 33) – espécies Trichoplusia orichalcea
(Fabricius, 1775) e Biston betularia (Linnaeus, 1758), respectivamente.
A técnica e metodologia usadas para estes estudos foram as mesmas
utilizadas no desenho tipo I, no entanto, não recorrendo à coloração no
desenho digital.
Fig. 33 – Ilustração de uma Biston betularia, em pose de repouso.
Grafite sobre poliéster, 21x29,7cm. Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 34 – Ilustração de uma Trichoplusia orichalcea, em pose de repouso.
Grafite sobre poliéster, 21x29,7cm. Tetyana Chkyrya, 2015.
62
3.1.2.4. Silhuetas
Os desenhos realizados dentro deste tema têm o intuito de representar a
morfologia das borboletas, com o mínimo de informação, de forma a
proporcionar uma identificação mais imediata da espécie. Permite também uma
distinção entre as duas espécies.
Neste caso, o trabalho realizado é constituído por 2 ilustrações (figs.35 e
36), a partir dos mesmos espécimes do estudo de comportamento.
A realização deste estudo envolveu o desenho de linha de contorno a
tinta-da-china, sobre papel vegetal (90 gr/m2), com posterior preenchimento,
realizado digitalmente, usando a ferramenta de paint bucket38 no Adobe
Photoshop CS6. Os materiais usados nestes desenhos foram: Tinta-da-china
preta Gamma; aparos das marcas M.Myers and Sons, Hunt 104 e Gillot 170,
sobre papel vegetal.
38
Ferramenta paint bucket (lata de tinta) – ferramenta de Photoshop, que serve para preenchimento de
cor em áreas delimitadas. HODGES, E.R.S (Ed.) The Guild handbook of scientific illustration. 2nd
edition.
New Jersey, John Wiley & Sons. 2003., p.229.
Fig. 35 – Ilustração da silhueta de uma Trichoplusia
orichalcea.
Tinta-da-china sobre papel vegetal e técnica digital,
14,8x21cm. Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 36 – Ilustração da silhueta de uma Biston
betularia.
Tinta-da-china sobre papel vegetal e técnica digital,
14,8x21cm. Tetyana Chkyrya, 2015.
63
3.1.2.5. Técnica de aguarela
Esta técnica foi testada na fase inicial do trabalho prático. Conjuga a
técnica de grafite e PanPastel sobre poliéster, do desenho tipo I, com a técnica
de aguarela, enquanto meio de coloração da ilustração. Este método de pintura
surge como uma experiência para realizar as ilustrações principais, do desenho
tipo I. Tendo em vista tornar o trabalho realista e pormenorizado, permitindo
obter gradações suaves. Verificou-se que a pintura usando este método obteve
resultados quase iguais à técnica digital de coloração. No entanto, em
comparação, provou-se menos eficaz para realizar as ilustrações pois o tempo
gasto numa ilustração em aguarela é maior relativamente ao digital. Por outro
lado, não permite a correção de eventuais erros durante a sua execução, o que
atrasa mais o processo e, tendo em conta que o total de ilustrações realizadas
para o livro “Cem Traças” são 50, resolveu-se optar pela digital.
Fig. 37 – Ilustração da espécie Geodena sp.
Aguarela sobre papel.
Tetyana Chkyrya, 2015.
64
Este método foi usado unicamente na realização de uma ilustração de
teste (fig.37) funcionando como uma experiência.
Materiais usados: papel de aguarela de 250gr/m2, aguarela White Nights
e pincéis Escoda (Nº8) e Serie 7 Miniature (Nº1) da Winsor & Newton (fig. 38).
Fig. 38 – Materiais usados na técnica de aguarela
sobre papel.
65
4. Resultados
Como resultado de todo o processo produziu-se um livro – “Cem Traças”
– e outros suportes, como: postais, autocolantes e t-shirts. Fizeram-se
exposições e apresentações do livro. Criaram-se páginas em redes sociais e
blog para divulgação.
4.1. O Livro “Cem Traças”
Como planeado desde o início, realizou-se a produção e publicação de
um livro, denominado “Cem Traças”. Este é o principal produto desta
dissertação, desenvolvida ao longo de dois anos.
Esta publicação contém 100 ilustrações e informação científica breve.
Contém informações essenciais sobre cada espécie em questão, como o
mapa, escala, etiqueta de coleção, o nome da espécie e da família. Optou-se
por não incluir informações adicionais, como a descrição das espécies, pelo
fato do livro não se assumir como um guia de identificação, mas antes como
um objeto que, apesar de apresentar informações científicas relevantes, está
mais ligado ao campo artístico.
O livro incorporou a necessidade de compilar ilustrações que
representem a coleção entomológica do MUHNAC.
Apresentou-se o livro à Direção do MUHNAC e o projeto foi aprovado,
tendo recebido orçamento para a edição. A Associação Tentáculo (fig.39 letra f)
é a principal editora, junto com os apoios do MUHNAC (fig. 39 letra g), da
Universidade de Lisboa (fig. 39 letra h) e do CE3C (Centre for ecology,
evolution and environmental changes) (fig. 39 letra i). Criou-se uma campanha
de crowdfunding39, na plataforma online PPL (fig. 40) a partir da qual foi
possível divulgar o projeto e financiar uma tiragem maior de exemplares do
livro “Cem Traças”.
39
A campanha de crowdfunding pode ser consultada em: http://ppl.com.pt/pt/prj/cem-tracas
66
O nome do livro cria uma analogia entre a quantidade de ilustrações que
nele figuram e a premissa de transmitir a variabilidade das traças em
morfologia, cor e biodiversidade.
Fig. 40 – Logótipo da plataforma online, de
de crowdfunding.
F
G
H
I
Fig. 39 – Logótipos dos apoios da publicação do livro “Cem Traças”.
67
4.1.1. Paginação do livro
A paginação e organização do livro “Cem Traças” foram planeadas
desde o início do projeto40
.
A metodologia adoptada para a criação e paginação do livro foi feita, na
íntegra, recorrendo aos programas Photoshop e Indesign. O Photoshop foi
usado, sobretudo, no tratamento e composição das imagens e o Indesign
usado para a paginação final, criando os ficheiros que são necessários à
produção na gráfica.
Inicialmente o formato estava pensado para um livro de bolso, no
entanto, com o prosseguir do projeto, surgiram novas informações para incluir.
Então, tendo em conta o espaço necessário para a aplicação das ilustrações,
junto com os vários elementos, optou-se por um aumento no formato para
120x185mm. Isto permitiu dar um destaque às ilustrações.
O modo como o conteúdo está organizado, foi projetado de modo a
proporcionar uma leitura fácil e simples.
Tendo em vista essa premissa e, ao mesmo tempo, a divulgação de
conhecimento científico, o livro está dividido em duas secções. Numa primeira
parte, expõe-se uma breve introdução à biologia e sistemática das borboletas
noturnas e ao conteúdo e organização do livro. É também englobada, nesse
texto, informação sobre o processo de ilustração de forma sucinta. Por fim é
feita uma última referência, que incide sobre a atividade e trabalho que são
realizados na coleção entomológica e como os espécimes são mantidos e
preservados na entomoteca.
Num segundo momento está presente uma breve introdução a todas as
famílias representadas. Em continuação desta mesma introdução, estão
presentes todas as 100 ilustrações realizadas.
Para todo o corpo de texto do livro foi utilizada a fonte Helvética que,
pela sua universalidade e simplicidade não-causadora de ruído, se enquadra
bem na leitura simples que se pretendeu obter.
40
HODGES, E.R.S (Ed.)The Guild handbook of scientific illustration. 2nd
edition. New Jersey, John Wiley &
Sons. 2003. Pág. 10
68
Na capa (fig.41) resolveu-se colocar uma ilustração da espécie
Acherontia atropos (Linnaeus, 1758). Esta decisão foi tomada com base no
reconhecimento que esta espécie tem entre o público geral. O fundo preto tem
o propósito de realçar os tons e contrastes da ilustração da borboleta, dando
mais impacto à capa. A encadernação inclui lombada, com título da publicação
e o ano. A página de rosto (fig.42) é apresentada com uma ilustração distinta
da capa. A ilustração presente na capa é da autoria do colega Pedro Araújo,
enquanto esta é da autoria de Tetyana Chkyrya, autora deste relatório. Esta
escolha prendeu-se com a intenção de mostrar a variedade das borboletas
noturnas, mostrando que se podem confundir com a beleza das borboletas
diurnas e, ao mesmo tempo, representar um nível mais elevado de técnica na
ilustração. Na página de rosto inclui-se o título da publicação e um subtítulo
“Catálogo de Ilustrações de Lepidoptera da Coleção Entomológica do Museu
Nacional de História Natural e da Ciência”. Na contra capa, estão dispostos os
logótipos dos editores do livro e dos apoiantes. Justificado à esquerda,
encontra-se inserido o código de barras, com o ISBN da publicação. Outros
Fig. 41 – Mockup do livro “Cem Traças”.
69
dados legais, como o depósito-legal do livro, apresentam-se no interior do livro,
nomeadamente na ficha técnica.
Seguidamente surge o índice (fig. 43). No índice está incluído um
sistema de cores que auxilia o leitor a identificar a família de cada espécie, ao
passar a paginação do livro.
Fig. 42 – Página de rosto do livro “Cem Traças”.
Fig. 43 – Índice do livro “Cem Traças”.
70
A paginação das ilustrações (figs. 44 e 45) inclui vários elementos:
- Nome científico correspondente à espécie, acompanhado da cor indicativa da
família;
- Ilustração científica, centrada;
- Mapa com o local de colheita do exemplar da coleção, usado como referência
principal na criação da ilustração;
- Escala indicando a dimensão do exemplar. A escala equivale a um
centímetro;
- Etiqueta com o número de coleção do exemplar.
Fig. 44 – Páginas 28 e 29 do livro “Cem Traças”.
Fig. 45 – Páginas 74 e 75 do livro “Cem Traças”.
71
Também se encontram presentes, no miolo do livro, prefácios da autoria
do investigador e curador na coleção entomológica do MUHNAC Luís Filipe
Lopes e do biólogo e ilustrador científico Pedro Salgado.
Na parte inicial do livro foi também importante a inserção dos currículos
dos dois ilustradores, de forma a divulgar os seus percursos artísticos e
promover os seus trabalhos e atividades, em conjunto e a solo.
4.2. Ações de divulgação
No campo da divulgação, ingressou-se em participações em
determinadas atividades que permitiram promover o projeto a partir do contato
com o público. Destas atividades, destacam-se: uma sessão de apresentação
do projeto no Museu Bordalo Pinheiro “Arte, Ciência e Ambiente”, no dia 14 de
Julho de 201541
. Nesta sessão foi apresentada a ideia ainda em fase de
desenvolvimento, mostrando ao público o valor da ilustração científica e o
conceito do livro.
Com maior aderência por parte do público, surge a participação na Noite
Europeia dos Investigadores, no dia 25 de Setembro de 201542
. Aqui se expôs
ao público o processo de ilustração, através de uma projeção de vídeo.
Disponibilizou-se um jogo didático, em forma de puzzle, para crianças, que
permitiu a interação com o público. A 29 de Outubro de 2015, participou-se na
sessão de apresentação do Programa de Educação Ambiental (PEA)
2015/201643
. Ao longo do desenvolvimento do projeto, surgiram convites para
entrevistas aos ilustradores, que também contribuíram para a promoção e
divulgação do livro. Primeiramente, foi feito um convite pela revista Wilder44
.
Mais tarde, surgiu a proposta de uma entrevista para o Canal Superior45
.
41
O cartaz do programa do evento pode ser consultado em: http://www.cm-
lisboa.pt/noticias/detalhe/article/conversa-a-volta-de-portugal-2055-no-museu-bordalo-pinheiro
42 O programa da Noite Europeia dos Investigadores pode ser consultado em:
http://noitedosinvestigadores.org/programa/
43
Pode ser consultado em: http://100tracas.blogspot.pt/2015/11/participacao-no-programa-de-
educacao.html
44
Pode ser consultada em: http://www.wilder.pt/historias/tetyana-e-pedro-foram-para-o-museu-e-
desenharam-100-borboletas-nocturnas/
45
Pode ser consultada em: http://informacao.canalsuperior.pt/noticia/20259#anchor
72
4.2.1. Exposições
A 15 de Dezembro de 2015, inaugurou a exposição46
(figs. 46 e 47) no
Centro de Ciência Viva (CCV) da Floresta em Proença-a-Nova. Com 30
ilustrações expostas, acompanhadas de etiquetas de identificação, a exposição
surgiu por intermédio de uma proposta feita aos ilustradores, tendo sido
discutido o seu formato final entre os ilustradores e a organização do CCV.
Entre 16 de Dezembro de 2016 e 28 de Fevereiro de 2017, esteve
patente no MUHNAC a exposição “Cem Traças – Exposição de Ilustração
Científica”.
46
A informação pode ser consultada em: http://www.ccvfloresta.com/actividades/exposicoes-
temporarias/209-cem-tracas
Figs. 46 e 47 – Fotografias da exposição do projeto “Cem Traças”.
Figs. 48 – Convite para a exposição “Cem Traças” no MUHNAC, lançado em 2016.
73
Figs. 49 – Fotografias da exposição “Cem Traças” no MUHNAC. 2016
Figs. 50 e 51 – Fotografias da exposição “Cem Traças” no MUHNAC. 2016.
74
4.3. Aplicações
Foram criados meios de divulgação, digitais e físicos. Estes incluem um
blog47, onde está descrito todo o percurso do projeto. O blog, à semelhança do
livro, encontra-se bilingue, com textos em português e inglês. Para
complementar o blog, foi criada uma página de facebook48, procurando
abranger um público mais vasto. O facebook é uma via mais eficaz de manter o
contato e a partilha de conteúdos com o público.
Numa vertente ligada ao merchandising, foram criadas coleções de
postais e autocolantes (fig. 48), que têm vindo a acompanhar as apresentações
públicas do projeto. Foram planeadas t-shirts para entrar em produção em
2016.
47
Link para o blog: http://100tracas.blogspot.pt/
48
Link para a página de facebook: https://www.facebook.com/100tracas/
Figs. 52 – Autocolantes criados para acompanhar o projeto “Cem Traças”.
75
5. Discussão
O trabalho realizado visou responder aos objetivos propostos de criação
de trabalho com vista à divulgação da diversidade de traças e da coleção de
insetos. Foram feitas diversas atividades de comunicação de ciência
Ao longo do desenvolvimento do trabalho encontraram-se algumas
condicionantes que levaram à tomada de opções específicas como meio de
resposta.
A primeira dessas questões foi a procura de coerência entre os dois
ilustradores por forma a criar ilustrações que tenham o mesmo rigor e nível de
informação entre si.
Em resposta a essa questão os dois ilustradores procuraram trabalhar
em contexto de atelier, partilhando ideias e experiências. Assim, puderam
identificar um estilo a seguir e orientar o seu traço próprio para esse fim
comum.
A segunda condicionante que se identificou diz respeito à iliteracia
científica dos ilustradores, na vertente da biologia e sistemática das borboletas
noturnas. Pontos como os procedimentos para a pesquisa de nomenclatura
científica das espécies invocaram mais horas e dedicação para obter
resultados.
Com o acompanhamento do curador, desde a pesquisa até à última
revisão dos desenhos foram sendo revelados métodos e ferramentas de
pesquisa, que ajudaram no avanço do processo, tanto teórico como prático.
Por fim, a nível de desenho o sucesso implicou inovação, na medida em
que foi necessário optar por uma técnica que pudesse ser rápida e funcional,
sendo capaz de ilustrar as espécies a figurar no livro “Cem Traças”.
Em resposta a essa condicionante foi trabalhada uma técnica, seguindo
a orientação do Professor Pedro Salgado, descrita no capítulo de “Desenho
tipo I”, que permitiu a abordagem mais rápida e fiel aos elementos visuais, para
se conseguir realizar o trabalho num prazo determinado, tendo em vista a
criação de um catálogo de ilustrações científicas, em parceria com o MUHNAC.
76
Obtiveram-se conhecimentos na biologia e sistemática sobre as
borboletas noturnas que podem vir a ser usados futuramente, em novas
publicações e trabalhos ligados ao tema. Também o trabalho na coleção
entomológica se tornou uma mais-valia, tendo proporcionado uma
aprendizagem que vai para além da observação.
A junção dos meios analógicos com os meios digitais permitiu executar o
trabalho de forma mais veloz e eficiente. Este tema foi um dos pontos mais
produtivos e gratificantes. Graças às metodologias e técnicas criadas, pôde-se
dar corpo à publicação do livro “Cem Traças”, com 100 ilustrações, e receber o
apoio de várias instituições de cariz científico. Todo o trabalho de ilustração
resultou num afinar e superar da capacidade de desenho com rigor e
qualidade. Observando no apêndice de ilustrações a primeira ilustração (fig.
48) realizada e a última (fig.103), pode-se constatar essa evolução.
77
6. Considerações finais
O objetivo principal deste trabalho foi cumprido com sucesso, tendo sido
produzidos uma grande quantidade de conteúdos e produtos que suportam a
comunicação de conhecimento científico e divugalção da coleção de insetos.
Os produtos e atividades realizadas foram mesmo mais além daquilo que foi
inicialmente previsto realizar neste projeto. Do ponto de vista do MUHNAC e da
coleção entomológica, este revelou-se também uma mais valia, ajudando à
divulgação do património natural aí depositado. Este projeto abriu ainda novas
portas para que no futuro sejam realizados mais iniciativas deste género no
âmbito da história natural.
78
7. Bibliografia
ANTUNES, Lúcia. Guia dos Morcegos de Portugal (Continental e Insular).
Morfologia e Etologia dos Quirópteros em Território Nacional. ISEC, 2013.
BECHYNE, Jean. Guide to Beetles, Ed. Thames and Hudson, London, New
York, 1956.
BERGER, John. Modos de ver, edições 70, Lisboa. 1972.
BLOOMSBURY (Ed.) Concise Butterfly & Moth guide, Ed. Bloomsbury, London,
2014.
CALLE, José A. Noctuidos Españoles, Dirección General de la Producción
Agraria, Servicio de Defensa contra Plagas e Inspección Fitopatológica, 1982.
CLARKE, T. H. The Rhinoceros from Dürer to Stubbs: 1515–1799. Sotheby's
Publications, London, 1986.
DAHLEM, Gregory & RIVERS, David. The Science of Forensic Entomology,
John Wyley & Sons, Ltd, 2014.
DITMARS, Raymond. The fight to live. LOWE AND BRYDONE PRINTERS
LTD, London, 1940.
FARIA, Miguel. A imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa,
2001.
GOURHAN, André Leroi. Os caçadores da pré-história, perspectivas do
homem, edições 70, Lisboa 1983.
79
HODGES, Elaine. Handbook of scientific illustration, GNSI, Washington, USA.
2003.
HODGES, Elaine. The guild handbook of scientific illustration – segunda
edição. John Wiley & Sons, Inc., New Jersey, Canada, 2003.
HOLANDA, Francisco de. Da Ciência do Desenho. Livros Horizonte, 1985.
MARAVALHAS, Ernestino. As borboletas de Portugal. Apollo Books, Stenstrup,
2003.
MASÓ, A. & PIJOAN, M. Observar mariposas. Editorial Planeta, S.A.,
Barcelona, 1997.
MORGAN, Sally. The Illustrated World Encyclopedia of Butterflies and Moths: A
Natural History and Identification Guide to Rare and Familiar Species. Ed.
Lorenz Book, 2011.
REDONDO, V.M. & GASTÓN, F.J. & GIMENO, R. Geometridae Ibericae. Ed.
Apollo Books, Stenstrup, 2009.
REICHHOLF-RIEHM, Helgard. Borboletas, colecção – O Mundo da Natureza.
Titulo original: Schmetterlinge. Ed. Círculo de Leitores, Lisboa, 1984.
SALGADO, Pedro. in Ilustrando os peixes, 2014.
SALGADO, Pedro. Provas de Professor Especialista, ISEC, 2012.
SALGADO, Pedro. Sobre-Natural 10 olhares sobre a natureza. Ed. Casa da
Cerca/Centro de Arte Contemporânea Municipal de Almada, Almada, 2011.
SEBA, Albertus. Cabinet of Natural Curiosities. Ed. Taschen, 2011.
80
VANDELLI, D. Diccionario dos Termos Technicos de Historia Natural
extrahidos das Obras de Linnéo, com a sua explicação, e estampas abertas em
cobre, para facilitar a intelligencia dos mesmos. E a Memoria sobre a Utilidade
dos Jardins Botanicos que offerece a Raynha D. Maria I. Nossa Senhora
Domingos Vandelli, 1788.
VANDELLI, D. Memórias de história natural. Introd. e coord. ed. José Luís
Cardoso. Porto Editora, Porto, 2003.
Vários Autores. Professor Carlos Almaça (1934-2010) Estado da Arte em Áreas
Científicas do Seu Interesse. Ed. Museu Nacional de História Natural e da
Ciência, Lisboa, 2014.
VELOZZOSI, Alessandro. Leonardo Da Vinci, Renaissance Man. Thames &
Hudson LTD., New York, 1997.
VIEIRA, Virgílio. Métodos de luta contra Mythimna unipuncta (haworth)
(lepidoptera: noctuidae), uma praga secular nos açores in IV Encontro Nacional
de Protecção Integrada. Ed. Universidade dos Açores, Açores, 1999.
Disponível em: http://docplayer.com.br/749826-Metodos-de-luta-contra-
mythimna-unipuncta-haworth-lepidoptera-noctuidae-uma-praga-secular-nos-
acores.html - consultado no dia 28.09.15
ZURARA, Gomes Eanes de. Crónica dos feitos da Guiné in Os Grandes
Exploradores do Todos os Tempos. Selecções do Reader’s Digest, Lisboa,
1980.
Metodologia
ECO, Umberto. Como se faz uma tese em Ciências Humanas. Ed. Presença,
Lisboa, 1982.
81
SOUSA, Maria & BAPTISTA, Cristina. Como Fazer Investigação, Dissertações,
Tese e Relatórios - Segundo Bolonha. Ed. Pactor, Lisboa, 2011.
7.1. Webgrafia
http://www.africanmoths.com - consultado no dia 4.06.2014.
http://www.arquive.org - consultado no dia 1.12.2014.
http://www.bibdigital.bot.uc.pt/index.php?language=pt - consultado em
8.12.2015.
http://www.biodiversitylibrary.org - consultado no dia 11.10.2014.
http://www.cate-sphingidae.org - consultado no dia 11.06.2014.
http://www.cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e4.html. - consultado em 12.12.2015.
http://www.cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/e71.html - consultado no dia
28.11.2015.
http://www.holdsystems.org - consultado no dia 1.12.2014.
http://www.lepbarcoding.com.org - consultado no dia 20.02.2015.
http://www.lepidoptera.eu - consultado no dia 20.02.2015.
http://www.lepiforum.de - consultado no dia 20.02.2015.
http://www.lepiforum.de/lepiwiki_vgl.pl?Menophra_Maderae - consultado no dia
17.02.2015.
http://www.mareksmoths.co.uk/moth-1689 - consultado no dia 24.06.2015.
http://www.naturdata.com - consultado no dia 27.06.2014.
http://www.natuurlijkmooi.net/nachtvlinders/noctuidae/noctuidae.htm -
consultado no dia 07.03.2015.
http://www.ngkenya.com - consultado no dia 3.12.2014.
http://www.nhm.ac.uk - consultado no dia 3.12.2014.
http://www.papua-insects.nl - consultado no dia 26.07.2014.
http://www.saturniidae-web.de/Pseudobunaea%20tyrrhena%20negleca.htm -
consultado no dia 7.12.2014.
http://www.sphingidae.myspecies.info - consultado no dia 3.12.2014.
http://www.sphingidae-museum.com - consultado no dia 27.06.2014.
82
http://www.suapesquisa.com/grandesnavegacoes/ consultado no dia
14.10.2015.
http://www.westafricanlepidoptera.com - consultado no dia 12.12.2014.
https://www.ceb.nlm.nih.gov/proj/ttp/flash/vesalius/vesalius.htm - consultado em
7.12.2015.
https://www.priberam.pt/dlpo/desenho - consultado no dia 15.09.2015.
7.2. Referências vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=Qd0ehcbqS0I - consultado no dia
02.12.1015.
83
8. Apêndice de Ilustrações
Fig. 53 – Ilustração da espécie Nephele aequivalens
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 54 – Ilustração da espécie Coelonia fulvinotata
Tetyana Chkyrya, 2015.
84
Fig.55 – Ilustração da espécie Hippotion roseipennis
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 56 – Ilustração da espécie Hippotion celerio
Tetyana Chkyrya, 2015.
85
Fig. 57 – Ilustração da espécie Temnora fumosa
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 58 – Ilustração da espécie Euchloron megaera
Tetyana Chkyrya, 2015.
86
Fig. 59 – Ilustração da espécie Pseudoclanis tomensis
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 60 – Ilustração da espécie Pseudobunae tyrrhena
Tetyana Chkyrya, 2015.
87
Fig. 61 – Ilustração da espécie Pseudobunae tyrrhena
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 62 – Ilustração da espécie Cyligramma latona
Tetyana Chkyrya, 2015.
88
Fig. 63 – Ilustração da espécie Cyligramma latona
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 64 – Ilustração da espécie Antheua ornata
Tetyana Chkyrya, 2015.
89
Fig. 65 – Ilustração da espécie Balacra guillemei.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 66 – Ilustração da espécie Phiala sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
90
Fig. 67 – Ilustração da espécie Phiala sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 68 – Ilustração da espécie Bunaeopsis angolana.
Tetyana Chkyrya, 2015.
91
Fig. 69 – Ilustração da espécie Cinabra hyperbius.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 70 – Ilustração da espécie Menophra maderae.
Tetyana Chkyrya, 2015.
92
Fig. 72 – Ilustração da espécie Xenochlorodes nubigena
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 71 – Ilustração da espécie Ascotis fortunata.
Tetyana Chkyrya, 2015.
93
Fig. 74 – Ilustração da espécie Scopula irrorata
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 73 – Ilustração da espécie Acontia lucida.
Tetyana Chkyrya, 2015.
94
Fig. 76 – Ilustração da espécie Chrysodeixis chalcites.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 75 - Ilustração da espécie Agrotis trux.
Tetyana Chkyrya, 2015.
95
Fig. 78 – Ilustração da espécie Euplexia dubiosa.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 77 – Ilustração da espécie Eumichtis albostigmata
Tetyana Chkyrya, 2015.
96
Fig. 80 – Ilustração da espécie Peridroma saucia.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 79 – Ilustração da espécie Noctua pronuba.
Tetyana Chkyrya, 2015.
97
Fig. 82 – Ilustração da espécie Rhodometra sacraria.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 81 – Ilustração da espécie Phologophora wollastoni.
Tetyana Chkyrya, 2015.
98
Fig. 84 – Ilustração da espécie Xestia c-nigrum.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 83 – Ilustração da espécie Spodoptera littoralis.
Tetyana Chkyrya, 2015.
99
Fig. 86 – Ilustração da espécie Achaea lienardi
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 85 – Ilustração da espécie Epiphora macedoi.
Tetyana Chkyrya, 2015.
100
Fig. 88 – Ilustração da espécie Cadarena pudoraria.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 87 – Ilustração da espécie Chiromachla sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
101
Fig. 89 – Ilustração da espécie Chrysamma purpuripulcra.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 90 – Ilustração da espécie Trichoplusia orichalcea..
Tetyana Chkyrya, 2015.
102
Fig. 92 – Ilustração da espécie Proserpinus proserpina.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 91 – Ilustração da espécie Epiphora albida.
Tetyana Chkyrya, 2015.
103
Fig. 93 – Ilustração da espécie Pachymetana fontainei.
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 94 – Ilustração da espécie Azygophleps inclusa
Tetyana Chkyrya, 2015.
104
Fig. 96 – Ilustração da espécie Arctia villica
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 95 – Ilustração da espécie Geodena sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
105
Fig. 98 – Ilustração da espécie Adscita jordani
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 97 – Ilustração da espécie Biston betularia
Tetyana Chkyrya, 2015.
106
Fig. 100 – Ilustração da espécie Scoliopteryx libatrix
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 99 – Ilustração da espécie Antheua rodeosemena
Tetyana Chkyrya, 2015.
107
Fig. 102 – Ilustração da espécie Zeuzera pyrina
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 101 – Ilustração da espécie Merrifieldia sp.
Tetyana Chkyrya, 2015.
108
Fig. 104 – Ilustração da espécie Cerura iberica
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 103 – Ilustração da espécie Euchromia folleti
Tetyana Chkyrya, 2015.
109
Fig. 106 – Ilustração da espécie Eurranthis plummistaria
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 105 – Ilustração da espécie Miniodes discolor
Tetyana Chkyrya, 2015.
110
Fig. 108 – Ilustração da espécie Trichoplusia orichalcea
Tetyana Chkyrya, 2015.
Fig. 107 – Ilustração da espécie Biston betularia
Tetyana Chkyrya, 2015.