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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ AMANDA BESEN DE ABREU MILENE DAIANA MARTINS O Acolhimento na Saúde da Família: percepções dos enfermeiros à luz da Política Nacional de Humanização Biguaçu 2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ AMANDA BESEN DE ABREU ...siaibib01.univali.br/pdf/Amanda Besen de Abreu e... · Sendo estas, a reforma higienista no período pré 30, a era Vargas

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

AMANDA BESEN DE ABREU

MILENE DAIANA MARTINS

O Acolhimento na Saúde da Família:

percepções dos enfermeiros à luz da Política Naciona l de Humanização

Biguaçu

2008

AMANDA BESEN DE ABREU

MILENE DAIANA MARTINS

O Acolhimento na Saúde da Família:

percepções dos enfermeiros à luz da Política Naciona l de Humanização

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Enfermagem pela Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação Superior Ciências da Saúde de Biguaçu – Curso de Graduação em Enfermagem.

Orientadora: Msc. Felipa Rafaela Amadigi

Biguaçu

2008

AMANDA BESEN DE ABREU

MILENE DAIANA MARTINS

O Acolhimento na Saúde da Família:

percepções dos enfermeiros à luz da Política Naciona l de Humanização

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para a obtenção do

título de Enfermeiro e aprovada pelo Curso de Enfermagem – Biguaçu, da

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde.

Área de Concentração – Ciências da Saúde

Biguaçu, 08 de dezembro de 2008

Profa. Msc Felipa Rafaela Amadigi UNIVALI – Biguaçu

Orientadora

Profa. Dra. Selma Regina de Andrade UNIVALI – Biguaçu

Membro

Profa. Msc. Ana Cristina Silva Hoffmann UNIVALI – Biguaçu

Membro

SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE SIGLAS

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1

2 OBJETIVOS........................................ .....................................................................4

2.1 Objetivo Geral ....................................................................................................4

2.2 Objetivos Específicos.........................................................................................4

3 REVISÃO DE LITERATURA ............................ .......................................................5

3.1 O Sistema Único de Saúde e a Estratégia Saúde da Família............................5

4 A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO COMO MARCO CO NCEITUAL E

CONTEXTUAL......................................... .................................................................11

5 METODOLOGIA ...................................... ..............................................................15

5.1 Caracterização da pesquisa ............................................................................15

5.2 Espaço e sujeitos de pesquisa ........................................................................16

5.3 Coleta de dados...............................................................................................16

5.4 Análise e interpretação dos dados...................................................................18

5.5 Considerações éticas.......................................................................................19

6 O ACOLHIMENTO NA ÓTICA DAS ENFERMEIRAS – RESULTAD OS E

DISCUSSÃO .............................................................................................................21

6.1 O perfil dos sujeitos de pesquisa .....................................................................21

6.2.1 O acolhimento na voz dos enfermeiros.........................................................27

6.2.2 As práticas do acolhimento no cotidiano das ESF........................................29

6.2.3 O acolhimento como agente de mudanças...................................................31

6.2.4 Elementos necessários e dificuldades encontradas para a prática do

acolhimento ...........................................................................................................34

6.2.6 Benefícios do acolhimento............................................................................37

6.2.7 Acolhimento e a humanização da assistência ..............................................39

7 Considerações Finais ............................. .............................................................42

8 REFERÊNCIAS......................................................................................................46

APÊNDICE 1.............................................................................................................50

APÊNDICE 2.............................................................................................................51

ANEXO 1...................................................................................................................52

RESUMO

ABREU, Amanda Besen de; MARTINS, Milene Daiana. O Acolhimento na Saúde da Família: percepções dos enfermeiros à luz da Política Nacional de Humanização. 2008. 61f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu, Biguaçu / SC, 2008. Este trabalho aborda o tema Acolhimento na Saúde da Família a partir das

percepções dos enfermeiros sobre as práticas do acolhimento à luz da Política

Nacional de Humanização (PNH). A metodologia adotada caracterizou-se por uma

pesquisa qualitativa descritiva exploratória na qual as informações foram coletadas

através de entrevistas semi-estruturadas. Como sujeitos de pesquisa participaram

17 enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família, das Unidades Básicas de Saúde

de um município da Grande Florianópolis. Os dados foram tratados segundo a

técnica do Discurso do Sujeito Coletivo e posteriormente analisados. Foram

construídos 6 categorias de análise: 1- O acolhimento na voz dos enfermeiros; 2- As

práticas do acolhimento no cotidianos da ESF; 3- O acolhimento como agente de

mudanças; 4- Elementos necessários e dificuldades encontradas para a prática do

acolhimento; 5- Benefícios do acolhimento; 6- Acolhimento e a humanização da

assistência. A partir das reflexões sobre as questões, foi possível identificar que a

definição de acolhimento dos sujeitos de pesquisa, não condiz com a prática

realizada, uma vez que na prática o mesmo é dito como a “triagem” dos usuários

que procuram atendimento de urgência para o posterior atendimento médico,

divergindo dos propostos da PNH. Para que o acolhimento seja institucionalizado é

necessário que os trabalhadores adotem uma nova postura referente às práticas

assistenciais, onde a humanização deve ser vista e aplicada em todas as relações

existentes dentro do processo de trabalho, para assim garantir a saúde como um

direito do cidadão.

Palavras-chave: Acolhimento, Política Nacional de H umanização,

Humanização, Saúde da Família.

ABSTRACT

ABREU, Amanda Besen de; MARTINS, Milene Daiana. Family Health Sheltering: nurses’ perceptions in light of National Policy of Humanization. 2008. 61f. Course Completion Thesis (Undergraduation) – Nursing Undergraduate Course, University of Vale do Itajaí, Education Center of Biguaçu, Biguaçu / SC, 2008.

This paper approaches Family Health Sheltering from nurses’ perceptions about the

practice of sheltering in light of the National Policy of Humanization (NPH). The

adopted methodology was characterized by a qualitative descriptive exploratory

research in which information was collected through semi-structured interviews. As

interview subject, participated 17 nurses from Strategy for Family Health (SFH), from

Basic Health Units of a city from Florianópolis Region. The data was treated

according to the Collective Subject Speech technique and analyzed later. 6

categories of analysis were built: 1- Sheltering from nurses’ point of view; 2-

Sheltering practices on SFH’s everyday; 3- Sheltering as an agent of change; 4-

Necessary elements and encountered difficulties for sheltering practice; 5- Benefits

of sheltering; 6- Sheltering and humanization of care. From the reflections about the

issues, it was possible to identify that the definition of sheltering of the research

subjects does not match with the held practice, since in practice it is considered as

the “sorting” of users that look for emergency for later medical care, departing from

the proposed by NPH. For the sheltering to be institutionalized, it is necessary that

workers adopt a new posture concerning the care practices, in which humanization

must be seen and applied in all existent relations inside the working process, thus

guaranteeing health as a citizen’s right.

Keywords: Sheltering, National Policy of Humanizatio n, Humanization, Family

Health.

LISTA DE SIGLAS

ACD – Auxiliar de Consultório Dentário

ACS – Agente Comunitário de Saúde

DSC – Discurso do Sujeito Coletivo

ESF – Estratégia de Saúde da Família

eSF – Equipe de Saúde da Família

PNH – Política Nacional de Humanização

PSF – Programa de Saúde da Família

SF – Saúde da Família

SUS – Sistema Único de Saúde

THD – Técnico em Higiene Dentária

UBS – Unidade Básica de Saúde

USF – Unidade de Saúde da Família

1

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o Brasil vem percorrendo inúmeros caminhos, para a

melhoria da saúde pública no país. Antes da Constituição de 1988, tinha direito à

saúde quem possuía carteira de trabalho assinada (emprego formal) e pagava a

Previdência Social. Os demais só tinham acesso à saúde se pagassem pelo

atendimento ou se fossem buscar atendimento em instituições filantrópicas ou de

caridade, pois, a saúde não era considerada um direito do cidadão.

O modelo oficial da saúde do século passado centrava-se na assistência

médica o que proporcionou um crescimento dos serviços médicos privados,

concentrados em hospitais de grandes centros, desfavorecendo as periferias e

interiores. (FINKELMAN, 2002).

Em 1979, surge o movimento sanitário que discute pela primeira vez uma

proposta de reorientação do Sistema de Saúde, que já se chamava, Sistema Único

de Saúde – SUS. Com a crise econômica que o país enfrentou no início dos anos

80, a população exigiu que o governo reconhecesse a necessidade urgente de

mudanças no Sistema de Saúde vigente. Assim, começaram a se desenvolver

várias experiências de reorganização dos serviços de saúde com a implantação de

programas que nem sempre foram bem sucedidos. (FINKELMAN, 2002).

Em 1986, realizou-se a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que discutiu a

situação da saúde no país e aprovou em seu relatório, recomendações que

passaram a constituir o projeto da Reforma Sanitária Brasileira, consagrado pela

Constituição de 1988. Nela a saúde passa a ser um produto social, com bases legais

estabelecidas que tem os municípios como responsáveis pela elaboração da Política

de Saúde. Para organizar o funcionamento do SUS, foram elaboradas e aprovadas

as Leis Orgânicas da Saúde: Lei 8.080/90 e Lei 8.142/90.

Segundo a legislação do SUS (BRASIL, 2002), as Leis Orgânicas da Saúde

são formadas pelas Lei 8.080/90 e Lei 8.142/90, editadas para cumprir ao

mandamento constitucional de disciplinar legalmente a proteção e a defesa da

saúde. Essas leis contêm limites e diretrizes que devem ser respeitados pelas três

esferas do governo (União, estados e municípios).

2

O SUS é um sistema que engloba as três esferas do governo, e o setor

privado contratado e conveniado para suprir as necessidades/dificuldades do serviço

público.

O modelo de atenção proposto pelo Sistema Único de Saúde configura-se

nos princípios constitucionais da universalidade, eqüidade e integralidade da

assistência. Esses elementos de natureza doutrinária propõem a reversão do

sistema de ações e serviços orientado pela assistência médico-hospitalar, para um

modelo de atenção para a vigilância à saúde.

Aprimorando ainda mais este novo modelo de atenção cria-se em 1994, o

PSF – Programa de Saúde da Família, coloca-se como uma estratégia importante

para organização da atenção básica do SUS, tendo o aspecto marcante de agilizar,

de forma efetiva, a descentralização de serviços baseados nas reais necessidades

da população, que se manifestam como prioridades e refletem problemas concretos,

fundamentando-se no vínculo e na co-responsabilidade entre os profissionais de

saúde e a população, visando à família e seu meio. (FINKELMAN, 2002).

Para aperfeiçoar este vínculo entre o profissional da Saúde da Família e os

usuários do serviço, foi criado em 2004 a Política Nacional de Humanização – PNH,

que traz como elemento em sua proposta de humanização o acolhimento do usuário

da saúde.

Com a crescente valorização das relações interpessoais, a proposta do

Ministério da Saúde, vem enfatizando a importância do vínculo estabelecido no

processo de acolhimento o qual deixa de ser realizado de forma mecanizada e

desvalorizada e transforma-se em uma ação cada vez mais humanizada.

Apesar das várias tentativas do Ministério da Saúde de humanizar as práticas

de saúde, como o Programa de Humanização do Parto, o Programa Nacional de

Humanização de Assistência Hospitalar, percebemos que, muitas vezes, há um

desinteresse na forma como esse usuário é recebido/ouvido/compreendido.

Notamos ainda, que há uma preocupação maior, por parte dos trabalhadores, na

realização de procedimentos técnicos, deixando muitas vezes de lado o

acolhimento, que proporciona o vínculo e a interação usuário/trabalhador, premissa

da política de saúde vigente.

A partir das vivências nos estágios curriculares durante o curso de graduação

observamos inúmeras questões nos serviços de saúde com relação ao acolhimento,

sendo este um elemento essencial no atendimento, é fundamental reconhecer a

3

possibilidade de mudanças a fim de repensar a prática profissional pautada nos

princípios da humanização e do SUS.

A partir deste contexto destacamos como fundamental reconhecer como as

enfermeiras da atenção básica percebem o atendimento/acolhimento aos usuários.

Pois, a coordenação da Equipe de Saúde da Família e a organização do serviço na

maioria das vezes é realizada por esta profissional.

Desta forma, a partir da nossa visão sobre acolhimento e relacionando-a com

a PNH, pretendemos responder a seguinte pergunta de pesquisa: Como as

enfermeiras da ESF percebem as práticas do acolhime nto no cotidiano da

ESF?

4

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar as percepções das enfermeiras da Estratégia Saúde da Família

sobre as práticas do acolhimento à luz da Política Nacional de Humanização.

2.2 Objetivos Específicos

� Identificar as percepções das enfermeiras sobre as práticas do acolhimento no

cotidiano;

� Descrever as relações existentes entre a percepção de acolhimento das

enfermeiras e a PNH;

� Analisar o discurso das enfermeiras sobre o acolhimento à luz da PNH.

5

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 O Sistema Único de Saúde e a Estratégia Saúde d a Família

No último século, a evolução das políticas de saúde no país, tiveram

diferentes períodos, que constituíam a história da vida social e política do mesmo.

Sendo estas, a reforma higienista no período pré 30, a era Vargas de 30 a 50, o

desenvolvimentismo dos anos 50 e 60, os vinte anos de Ditadura Militar e por fim a

Reforma Sanitária. (FINKELMAN, 2002).

O início do período da reforma higienista pré 30, teve como marco a precária

situação de saúde no país, cujas endemias e epidemias eram comuns, além de

doenças como a cólera, febre amarela, varíola, e doenças infecto-parasitárias como

a tuberculose, hanseníase e a febre tifóide.

Para mudar este cenário, o governo lançou mão de um plano, cuja estratégia

pautava-se na reforma do Porto do Rio de Janeiro, considerado de frágil estrutura

mercantil. A reforma urbana, tinha como proposta revitalizar e embelezar a “vitrine”

do país, e a reforma sanitária, combater e eliminar os problemas de saúde. (BRASIL,

2002).

Um dos atuantes nesse processo de reforma foi Oswaldo Cruz, que atuou

para a erradicação das principais doenças da época (febre amarela, varíola, e peste

bubônica). As medidas usadas foram a intervenção domiciliar, o combate aos

vetores, e vacinação da população. (BRASIL, 2002).

É neste período que foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões,

garantindo assistência médica curativa, fornecimento de medicamentos,

aposentadoria por tempo de serviço/velhice/invalidez, pensões para dependentes e

auxílio funeral, apenas para as classes assalariadas mais organizadas.

O começo da era Vargas, foi marcada pela revolução de 30, com a

manifestação das classes oprimidas em movimentos reivindicatórios de protestos. A

industrialização também passou por um período de transição surgindo então,

problemas com as precárias condições de saúde da população. (FINKELMAN,

2002).

No início dos anos 40, com o aumento da industrialização e urbanização,

ocorreu um crescimento da rede previdenciária, acarretando aumento nos gastos

6

com a assistência médica neste setor. Com a Segunda Guerra Mundial, foi criado o

serviço especial de saúde pública, sendo este um convênio entre Brasil e Estados

Unidos para desenvolver na região Amazônica ações médico-sanitárias para garantir

a produção de borracha para fins econômicos. (BRASIL, 2002).

O Período Desenvolvimentista (de 50 a 60), foi marcado pela aceleração do

desenvolvimento urbano, no entanto, a saúde pública não fazia parte dessa

estratégia, que visava apenas à expansão econômica. Em 1953, ocorreu a criação

do Ministério da Saúde, que teve uma importância à saúde pública, mas, com a

partilha do setor Educação e Saúde, acabou ficando com a menor parte dos

impostos. (BRASIL, 2002).

Em 1963, aconteceu a III Conferência Nacional de Saúde, e a criação do

Instituto Nacional de Previdência Social, que passou por uma intensa crise

econômica levando ao Golpe Militar de 1964.

Durante o Golpe Militar, a situação financeira precária do país levou à

unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões ao Instituto Nacional de

Previdência Social, que atribuiu ao Ministério da Saúde a Função de formular a

Política Nacional de Saúde, que acabou privilegiando à prática médica curativa,

individual, assistencialista e especializada, de caráter preventivo e de interesse

coletivo. (BRASIL, 2002).

Durante o ano de 1975, foi criado o Sistema Nacional de Saúde (Lei nº 6.229),

na tentativa de organizar as atividades no setor da saúde, abrangendo os serviços

públicos e privados. Foi neste período, do autoritarismo da ditadura que constitui-se

a base teórica e ideológica de um pensamento médico-social que abordava os

problemas de saúde vividos.

A luta pela Reforma Sanitária foi fortemente influenciada pelo setor

acadêmico e nasceu como uma proposta de reestruturação do setor saúde vigente,

enfatizando a temática do direito à saúde. É neste contexto que foi realizada entre

17 a 20 de março de 1986, a VIII Conferência Nacional de Saúde, tendo como sede

a cidade de Brasília. Essa conferência ficou conhecida como parte da “Reforma

Sanitária”, pois buscou tornar o setor da saúde um órgão democrático, acessível,

universal e socialmente eqüitativo, ressaltando questões como moradia,

saneamento, alimentação, condições de trabalho, educação, e lazer. (BRASIL,

2002).

7

Já em 1988, a Constituição Federal estabeleceu os direitos e deveres dos

cidadãos, os quais passaram pelo processo de regulamentação através das Leis

Orgânicas da Saúde nº 8.080 de 19 de setembro de 1990 e nº 8.142 de 28 de

dezembro de 1990. Consagrando-se então os princípios fundamentais da

Constituição: a saúde como direito do cidadão e dever do Estado; o conceito de

saúde; a construção do Sistema Único de Saúde (SUS), assegurando os princípios

de universalidade, igualdade, integralidade, o direito a informação sobre sua saúde,

a participação popular, a descentralização político-administrativo, com direção única

em cada esfera do governo e com ênfase na descentralização dos serviços para os

municípios. (FINKELMAN, 2002).

O Sistema Único de Saúde vem evoluindo ao longo dos anos, tendo passado

por etapas importantes, desde então o sistema vem se solidificando e buscando

meios para atender as necessidades específicas de cada região. Para isso vem

criando novas políticas e programas. A criação do Pacto pela Saúde em 2006, veio

para redefinir as obrigações de cada uma das três esferas de gestão (União,

Estados e Municípios). O Pacto representou um conjunto de reformas institucionais

do SUS pactuado entre as três esferas do governo, com o objetivo de promover

inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando alcançar maior

eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Ao mesmo tempo,

o Pacto pela Saúde redefine as responsabilidades de cada gestor em função das

necessidades de saúde da população e na busca da equidade social. (BRASIL,

2006).

A Estratégia Saúde da Família

A estruturação do PSF começou a tomar forma em dezembro de 1993 com a

criação de um grupo de trabalho integrado por secretários estaduais e municipais de

saúde, universidades, Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar

Conceição, Coordenação do Programa Médico de Família, da Secretaria de Saúde

de São Paulo, UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e OPAS

(Organização Pan-Americana da Saúde), além de colaboradores do próprio

ministério. Com o objetivo de discutir uma proposta de um modelo de saúde mais

adequado às necessidades do país. (BRASIL, 1994).

O Programa de Saúde da Família foi lançado oficialmente pelo Ministério da

Saúde em março de 1994 tendo como objetivo, redirecionar as práticas, fortalecendo

8

atividades como a atenção domiciliar, trabalhos com grupos, palestras, orientações

educativas e não somente consultas de urgência ou programadas. (BRASIL, 1994).

De acordo com a proposta do Ministério da Saúde, o PSF “é um modelo de

assistência à saúde que vai desenvolver ações de promoção e proteção à saúde do

indivíduo, da família e da comunidade, no nível de atenção primária”. (BRASIL, 1994

p. 71).

O programa proposto estimulava a municipalização e descentralização dos

serviços, propiciando que o gerenciamento municipal dos recursos fosse realizado de

forma mais adequada e resolutiva. (BRASIL, 1994).

Para Santos et al., (2000 p. 52),

O Programa de Saúde da Família veio da necessidade de agilizar a reforma do sistema de saúde, o Ministério da Saúde concebeu, no final de 1993, o PSF, elegendo o núcleo familiar como foco de suas ações. O Programa de Saúde da Família, colocado como uma estratégia importante para reorganização da atenção básica do SUS, tem o aspecto marcante de agilizar, de forma efetiva, a descentralização de serviços baseados nas reais necessidades da população, que se manifestam como prioridades e refletem problemas concretos.

“O PSF fundamentou-se no vínculo e na co-responsabilidade entre os

profissionais de saúde e a população, tendo como ponto de partida à família e seu

entorno visando a transformação gradativa da atual realidade sanitária”. (IWAMOTO

et al., 2000 p. 81).

Para Nunes e Barbosa (2000, p. 103),

A Saúde da Família propõe uma prática assistencial com novas bases estruturais, as quais substituem o modelo tradicional de assistência, direcionado à cura de doenças. Deste modo, torna-se uma estratégia que prioriza ações de promoção, proteção e recuperação da saúde familiar de forma integral. O princípio da integralidade, a que se propõe a Saúde da Família, exige a superação da atenção primária por meio de programas verticais impostos às Unidades de Saúde. Saúde da Família é a capacidade de buscar e normalizar seu bem viver fundamentada na prática do cuidado, a partir dos recursos de cada membro da família como unidade, com suas crenças, valores e modos de cuidar, envolvendo a utilização de cuidados do sistema profissional de saúde, incluindo o de enfermagem.

A saúde da Família é a capacidade de buscar e normalizar seu bem viver

fundamentada na prática do cuidado, a partir dos recursos de cada membro da

família como unidade, com suas crenças, valores e modos de cuidar, envolvendo a

utilização de cuidados do sistema profissional de saúde, incluindo o de enfermagem.

(NUNES; BARBOSA, 2000).

9

Um dos pressupostos da ESF é considerar a família em seu espaço social

como foco da atenção à saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996). Assim, o domicílio

é considerado o cenário onde ocorrem as relações sociais geradoras de conflitos e

de outros fatores de risco de adoecer, sendo também, o local privilegiado para o

desenvolvimento de ações de promoção e manutenção da saúde.

O Ministério da Saúde incluiu dentre as atividades inerentes à atuação das

equipes de saúde da família, a visita domiciliar. Ao se referir a mesma, agregou o

componente internação domiciliar não como um substituto da internação hospitalar

tradicional, e sim, como recurso empregado com o “intuito de humanizar e garantir

maior qualidade e conforto ao paciente”. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996, p.14).

Para Araújo et al. (2000), o cuidado dispensado à saúde no domicílio propicia

à equipe de saúde da família, a inserção no cotidiano do cliente; identificando

demandas e potencialidades da família, em um clima de parceria terapêutica. Para

isso concorrem fatores como a humanização do cuidado, a ausência de riscos

iatrogênicos de origem hospitalar, o resgate das formas de cuidar calcadas nas

práticas tradicionalmente usadas pela população, embasadas na sua bagagem

cultural.

Assim, nesta estratégia, a família é entendida como uma unidade dinâmica

construída por pessoas que se percebem convivem como família em um espaço de

tempo, unidos por laços consangüíneos, e de afetividade, interesse e ou doação,

estruturada e organizada, com direitos e responsabilidades, vivem em um

determinado ambiente, influenciada sócio-econômico-cultural-mente. Constrói uma

historia de vida, tem identidade própria, possuindo, criando e transmitindo crenças,

valores e conhecimento. (ARAÚJO et al. Apud GAPEFAM, 2000).

Para Brasil (2007a), a Política Nacional de Atenção Básica tem como

principais atribuições dos profissionais das ESF: participar do processo de

territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, realizando o cuidado

em saúde da população adscrita; realizar ações de atenção integral conforme a

necessidade de saúde da população local; garantir a integralidade da atenção;

realizar busca ativa e notificação de doenças e agravos de notificação compulsória;

realizar a escuta qualificada das necessidades dos usuários em todas as ações,

proporcionando atendimento humanizado e viabilizando o estabelecimento do

vínculo; responsabilizar-se pela população adscrita, mantendo a coordenação do

cuidado mesmo quando esta necessita de atenção em outros serviços do sistema de

10

saúde; participar das atividades de planejamento e avaliação das ações da equipe;

promover a mobilização e a participação da comunidade, buscando efetivar o

controle social; garantir a qualidade do registro das atividades nos sistemas

nacionais de informação na Atenção Básica; e participar das atividades de educação

permanente.

Sendo a enfermeira peça indispensável para a implementação e coordenação

das eSF, e sujeito dessa pesquisa, descrevemos as atribuições definidas pela

Política Nacional de Atenção Básica, em Brasil (2007a):

� Realizar assistência integral às pessoas e famílias na USF e, quando indicado

ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários.

� Realizar consultas de enfermagem, solicitar exames complementares e

prescrever medicações, observadas as disposições legais da profissão e

conforme os protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo

Ministério da Saúde, os gestores estaduais, os municipais ou os do Distrito

Federal.” (NR);

� Planejar, gerenciar, coordenar e avaliar as ações desenvolvidas pelos ACS;

� Supervisionar, coordenar e realizar atividades de educação permanente dos

ACS e da equipe de enfermagem;

� Contribuir e participar das atividades de Educação Permanente do Auxiliar de

Enfermagem, ACD e THD;

� Participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado

funcionamento da USF.

11

4 A POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO COMO

MARCO CONCEITUAL E CONTEXTUAL

O marco teórico consiste em um conjunto de conceitos definidos e inter-

relacionados, formando uma estrutura abstrata que tem como característica principal

a coerência intra e entre suas partes, caracterizando uma totalidade. (DIAS;

TRENTINI, 1994).

Neste caso optamos por adotar a PNH como marco conceitual e contextual,

pois a política nacional de humanização/PNH parte de conceitos e dispositivos que

visam à reorganização dos processos de trabalho em saúde, propondo

transformações em duas vertentes interligadas: nas formas de produzir e prestar

serviços à população (eixo da atenção) e nas relações sociais, que envolvem

trabalhadores e gestores em sua experiência cotidiana de organização e condução

de serviços (eixo da gestão). (SANTOS-FILHO, 2007).

A atenção à saúde e a gestão dos serviços são vistos de maneira

indissociável, o que aponta à valorização e crescimento dos trabalhadores no

momento mesmo em que interagem com seus pares e sua clientela (população)

resultando em um aprendizado mútuo e contínuo. (SANTOS-FILHO, 2007).

Pelo lado da gestão busca-se a implementação de instâncias participativas de

decisão (colegiados) e de horizontalização das "linhas de mando", valorizando o

trabalho em equipe, a "comunicação lateral" e democratizando os processos

decisórios, com co-responsabilização de gestores, trabalhadores e usuários. No

campo da atenção a PNH reforça princípios centrais do SUS, de acessibilidade e

integralidade, avançando para o que se tem definido como "clínica ampliada," capaz

de melhor acolher e lidar com as necessidades dos sujeitos. (SANTOS-FILHO,

2007).

Dentre os princípios e conceitos centrais com os quais o humaniza SUS

trabalha, ressaltam-se as noções de “transversalidade”, “rede” e “grupalidade”.

Como política transversal entende-se as “ações construídas intersticial e

coletivamente nas diversas práticas e instâncias”, aumentando o coeficiente de

comunicação entre as instâncias/pessoas. A concepção de rede na qual se baseia é

caracterizada pela “participação ativa e criativa de uma série de atores, saberes e

12

instituições voltados para o enfretamento de problemas que nascem as se

expressam numa dimensão humana de fronteira, articulando a representação

subjetiva com a prática objetiva dos indivíduos”. Grupalidade é dita como “uma

experiência que não se reduz a um conjunto de indivíduos nem tampouco pode ser

tomada como uma unidade ou identidade imutável. É um conjunto ou uma

multiplicidade de termos (usuários, trabalhadores, gestores, familiares etc.) em

agenciamento e transformação, compondo uma rede de conexão para a realização

do processo de produção de saúde”. (SANTOS-FILHO, 2007, p. 79).

Os valores que norteiam a PNH são a autonomia e o protagonismo dos

sujeitos, a co-responsabilidade em ter eles o estabelecimento de vínculos solidários,

a construção de redes de cooperação e participação coletiva no processo de gestão.

(BRASIL, 2004).

Assim, para conduzirmos nossa pesquisa, destacamos os seguintes conceitos

concebidos pela Política Nacional de Humanização, em Brasil (2004, p. 43-57):

� Acolhimento : recepção do usuário, desde sua chegada,

responsabilizando-se integralmente por ele, ouvindo sua queixa, deixando-

o expor suas preocupações, angústias, e medos, garantindo uma atenção

resolutiva e quando necessário uma articulação com os outros serviços de

saúde para a continuidade da assistência.

� Humanização : humanização diz respeito a uma aposta ético-estético-

política, ética porque implica atitude de usuários, gestores e trabalhadores

de saúde comprometidos e co-responsáveis; estética porque relativa ao

processo de produção da saúde e de subjetividades autônomas e

protagonistas; política porque se refere à organização sócio e institucional

das práticas da atenção e gestão na rede do SUS. O compromisso ético-

estético-político da Humanização do SUS se assenta nos valores de

autonomia e protagonismo dos sujeitos, de co-responsabilidade entre eles,

de solidariedade dos vínculos estabelecidos, dos direitos dos usuários e

da participação coletiva no processo de gestão.

� Igualdade : o acesso às ações e serviços, para promoção, proteção e

recuperação da saúde, além de universal, deve basear-se na igualdade de

resultados finais, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que

visem à redução do risco de doença e de outros agravos.

13

� Integralidade : um dos princípios constitucionais do SUS garante ao

cidadão o direito de ser atendido desde a prevenção de doenças até o

mais difícil tratamento de uma patologia, não excluindo nenhuma doença.

� Intersetorialidade : integração dos serviços de saúde e outros órgãos

públicos com a finalidade de articular políticas e programas de interesse

para a saúde, cuja execução envolva áreas não compreendidas no âmbito

do SUS, potencializando, assim, os recursos financeiros, tecnológicos,

materiais e humanos disponíveis e evitando duplicidade de meios para fins

idênticos. Se os determinantes do processo saúde/doença, nos planos

individual e coletivo, encontram-se localizados na maneira como as

condições de vida são produzidas, então é impossível conceber o

planejamento e a gestão da saúde sem a integração das políticas sociais

(educação, transporte, ação social), num primeiro momento, e das

políticas econômicas (trabalho, emprego e renda), num segundo. A

escolha do prefixo inter e não do trans é efetuada em respeito à autonomia

administrativa e política dos setores públicos em articulação.

� Protagonismo: pessoa que desempenha ou ocupa o primeiro lugar ou

lugar central, num acontecimento, numa ação. No processo de produção

da saúde, diz respeito ao papel de sujeitos autônomos, protagonistas e

implicados no processo de produção de sua própria saúde.

� Sistema de Referência e Contra-referência: encaminhamento resolutivo

de um equipamento de saúde para outro que procura atender às

necessidades dos usuários, na sua atenção integral. Este procedimento

visa contemplar o princípio da hierarquização por nível de complexidade,

sendo a contra-referência estabelecida para o núcleo de vínculo do

usuário.

� Sujeito/subjetividade: identidade pessoal resultante de um processo de

produção de subjetividade sempre coletivo, histórico e determinado por

múltiplos vetores: familiares, políticos, econômicos, ambientais, midiáticos,

etc.

� Transversalidade: em um serviço de saúde, pode se dar pelo aumento de

comunicação entre os diferentes membros de cada grupo e entre os

diferentes grupos. A idéia de comunicação transversal em um grupo deve

ser entendida não a partir do esquema bilateral emissor-receptor, mas

14

como uma dinâmica multi-vetorializada, em rede e na qual se expressam

os processos de produção de saúde e de subjetividade.

� Universalidade: a universalidade constitucional compreende, portanto, a

cobertura, o atendimento e o acesso ao sistema único de saúde,

expressando que o Estado tem o dever de prestar atendimento nos

grandes e pequenos centros urbanos e também às populações isoladas

geopoliticamente. Os programas, as ações e os serviços de saúde devem

ser concebidos para propiciar cobertura e atendimento universais, de

modo eqüitativo e integral.

� Usuário, Cliente, Paciente: cliente é palavra usada para designar

qualquer comprador de um bem ou serviço, incluindo quem confia sua

saúde a um trabalhador da saúde. O termo incorpora a idéia de poder

contratual e de contrato terapêutico efetuado. Se, nos serviços de saúde,

paciente é aquele que sofre conceito reformulado historicamente para

aquele que se submete, passivamente, sem criticar o tratamento

recomendado, prefere-se usar o termo cliente, pois implica em capacidade

contratual, poder de decisão e equilíbrio de direitos. Usuário, isto é, aquele

que usa, indica significado mais abrangente, capaz de envolver tanto o

cliente como o acompanhante do cliente, o familiar do cliente, o

trabalhador da instituição, o gerente da instituição e o gestor do sistema.

� Vínculo: na instituição de saúde, a aproximação entre usuário e

trabalhador de saúde promove um encontro, de seres que possuem

intenções, interpretações, necessidades, razões e sentimentos, mas em

situação de desequilíbrio, de habilidades e expectativas diferentes, onde o

usuário busca assistência, em estado físico e emocional fragilizado, junto

ao profissional supostamente capacitado para atender e cuidar da causa

de sua fragilidade. Deste modo cria-se um vínculo, isto é, processo que

ata ou liga, gerando uma ligação afetiva e moral entre ambos, numa

convivência de ajuda e respeito mútuos.

15

5 METODOLOGIA

Esta pesquisa foi aplicada após ser submetida à apreciação do Comitê de

Ética da Universidade do Vale do Itajaí e sua respectiva aprovação (Anexo 1). O

referencial teórico utilizado para a orientação desta pesquisa é o da Política Nacional

de Humanização.

Para Leopardi (2002, p. 163), “metodologia é a arte de dirigir o espírito na

investigação da verdade, por meio do estudo dos métodos, técnicas e

procedimentos capazes de possibilitar o alcance dos objetivos”.

5.1 Caracterização da pesquisa

A presente pesquisa é de caráter qualitativo descritivo exploratório. Conforme

Leopardi (2002), na pesquisa qualitativa o conhecimento é originário de informações

diretamente vinculadas com a experiência estudada, por tanto não podem ser

controladas e generalizadas, nem ao menos suspeitas e tidas como não verdades

por serem experiências verdadeiras de pessoas.

Segundo Gil (1996), a pesquisa qualitativa há uma relação dinâmica entre o

mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e

subjetividade do sujeito que não pode ser traduzida em números.

Para Tobar (2001, p. 69), pesquisa descritiva,

É aquela em que se expõe características de determinada população ou determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis. Não tem o compromisso de explicar os fenômenos que descreve.

Conforme Leopardi (2002) as pesquisas descritivas caracterizam-se pela

necessidade de se explorar uma situação desconhecida, da qual necessita-se de

maiores informações. Explorar uma realidade consiste em identificar suas

características, sua regularidade ou sua mudança.

Quando se quer conhecer o pensamento de um determinado grupo, é preciso

realizar uma pesquisa qualitativa, pois, os pensamentos precisam passar pela

consciência humana. Por esta razão, foi criado o conceito de Discurso do Sujeito

Coletivo, que é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de

natureza verbal, obtidos de depoimentos de várias naturezas.

16

5.2 Espaço e sujeitos de pesquisa

O espaço desta pesquisa foram as Unidades Básicas de Saúde (USB), da

rede municipal, vinculadas a um município da Grande Florianópolis/SC, que

possuem a Equipe de Saúde da Família (ESF).

Atualmente estão cadastradas 19 Unidades Básicas, todas com a Equipe de

Saúde da Família implantada.

Os participantes deste estudo foram um enfermeiro de um equipe da

Estratégia de Saúde da Família de cada unidade de saúde, que aceitaram participar

voluntariamente da pesquisa e concordaram com o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE), Apêndice II.

Foram selecionados os enfermeiros por serem os coordenadores da ESF, e

desempenharem um papel fundamental no processo de trabalho, estando

diretamente vinculados com a prática do acolhimento.

Entrevistamos no total dezessete enfermeiros, de suas respectivas UBS.

Tivemos um sujeito de pesquisa que exerceu seu direito de não participação na

pesquisa. Uma impossibilidade de coleta, pela falta do profissional enfermeiro

durante o período de coleta de dados.

5.3 Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada no período de 10 de junho a 18 de julho de

2008, por meio da técnica de entrevistas semi-estruturadas com os 17 enfermeiros

da rede municipal de saúde.

Segundo Leopardi (2002, p. 175): “A entrevista é a técnica em que o

investigador está presente junto ao informante e formula questões relativas ao seu

problema”.

Para Tobar (2001, p. 101), entrevistas semi-estruturadas:

São baseadas no uso de guia de entrevistas, que consta de uma lista de perguntas ou temas que necessitam ser abordados durante as mesmas. A ordem exata e a redação das perguntas podem variar para cada entrevistado.O pesquisador pode encontrar e seguir pistas e novos temas, que surgem no curso da entrevista, mas o guia é um conjunto de instruções clara relativas às principais perguntas a serem feitas ou aos temas a serem explorados. [...] o propósito de uma entrevista foi focalizada ou em profundidade é adquirir um entendimento mais completo e detalhado possível do tema abordado. [...] o guia de entrevistas ajuda a mostrar que o pesquisador tem clareza sobre seus objetivos, mas é também

17

suficientemente flexível para permitir liberdade ao pesquisador e ao informante para encontrar e/ou seguir novas pistas.

Conforme Leopardi (2002, p. 178):

A entrevista requer cuidados adicionais, tais como autorização para uso de gravador, por exemplo. Também deve ser assegurado ao informante, em qualquer técnica, que suas informações não serão usadas indevidamente, sendo, por tanto, sigilosas. É aconselhável solicitar autorização por escrito, para se evitar futuros problemas legais.

Antes da realização efetiva da entrevista com as enfermeiras, o instrumento

foi testado como forma de aperfeiçoamento e validação do mesmo.

A entrevista com as enfermeiras foi realizada a partir de um roteiro semi-

estruturado (apêndice I1), transcrita e enviada à validação para posterior tratamento,

a devolutiva para os sujeitos de pesquisa foi feita através de correio eletrônico, onde

foi estipulado um período limite de 07 dias para a resposta, com a aprovação/recusa

da transcrição, ou com suas alterações, caso esta resposta não ocorresse dentro do

tempo estipulado, consideramos como válida a transcrição para iniciarmos a análise

e interpretação dos dados. As fitas contendo a entrevista ficaram sob a guarda das

pesquisadoras em arquivo pessoal, sem acesso público.

Efetuamos o encontro para as entrevistas, com agendamento prévio por

telefone. As entrevistas foram realizadas nas unidades básica de saúde, durante o

período de trabalho dos sujeitos de pesquisa.

Em geral, fomos bem recebidas pelos profissionais, que se dispuseram a nos

atender mesmo em horário de serviço. Percebemos a rejeição de alguns

profissionais, porém apenas um recusou fazer parte da nossa pesquisa.

Durante o tempo das entrevistas, ocorreram várias interrupções, por parte da

equipe, que geralmente queria esclarecer algum assunto relativo ao trabalho. Sob

nosso ponto de vista, estas interrupções foram negativas, pois levaram a dispersão

do assunto tratado.

Apesar deste tema ser discutido em toda a rede nacional de saúde, e nas

secretarias municipais de saúde, sentimos dificuldade de abordar o tema, pois os

trabalhadores apresentaram pouca credibilidade em relação à temática e alguns não

aderiram à proposta de acolhimento em suas UBS.

1 O roteiro de pesquisa foi previamente testado, por 02 enfermeiras da Saúde Coletiva, que não possuem contato com os sujeitos de pesquisa.

18

5.4 Análise e interpretação dos dados

O tratamento para posterior análise de dados foi feito através do Discurso do

Sujeito Coletivo – DSC. O DSC parte de um pressuposto socioantropológico, que

entende que o pensamento de uma coletividade sobre um dado tema pode ser visto

como o conjunto dos discursos, ou formações discursivas. (LEFÈVRE; LEFÈVRE,

2005).

Segundo Lefèvre e Lefèvre (2005), para confeccionar o Discurso do Sujeito

Coletivo, é necessário usar algumas figuras metodológicas:

� Expressão-chave: são pedaços, trechos ou transcrições literais do

discurso, contendo a essência do depoimento;

� Idéia central: é uma expressão lingüística que revela e descreve o sentido

de cada um dos discursos analisados;

� Ancoragem: é a manifestação lingüística explícita de uma teoria, idéia ou

crença do autor do discurso.

Os depoimentos enquadrados na mesma categoria são considerados

equivalentes, podendo, consequentemente, as respostas serem somadas. Os

discursos dos depoimentos não se anulam ou se reduzem a uma categoria comum

unificadora já que o que se busca fazer é reconstruir, com pedaços dos discursos

individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discurso-síntese quantos se julgue

necessário para expressar uma dada “figura”.

O Discurso do Sujeito Coletivo, através de procedimentos transparentes e

padronizados, constrói a fala do social a partir do material coletado de falas

individuais, buscando nas idéias centrais e nas expressões-chave, a elaboração de

um discurso compartilhado.

Assim, após a aprovação da transcrição dos dados pelos sujeitos de

pesquisa, iniciamos a construção do DSC.

Iniciamos pela tabulação dos dados, onde cada tabela era uma pergunta

(obtivemos 10 tabelas), e cada linha da tabela representava uma resposta na integra

de cada sujeito (17 linhas).

Após a separação das respostas dos sujeitos em cada tabela com a

respectiva pergunta, realizamos a leitura de cada resposta, destacando as

expressões chaves da mesma.

19

A partir da leitura das expressões chaves, começamos a formar a idéia central

de cada discurso.

Ao realizarmos a leitura detalhada das idéias centrais, percebemos que estas

eram muito diferentes umas das outras, o que dificultou o desenvolvimento da

próxima etapa da concepção do DSC, que exige a identificação das ancoragens

dentro das idéias centrais. As ancoragens são idéias concretas que estão

explicitamente presentes em todos os discursos, mas nem sempre acontecem.

O nosso próximo passo foi agrupar as idéias centrais e formar um discurso,

que em sua produção final é como se uma única pessoa falasse, sintetizando o

pensamento de todo o grupo. De modo que o resultado final passou a representar o

Discurso do Sujeito Coletivo das percepções das enfermeiras sobre as questões

perguntadas.

Após a construção do DSC, os dados foram analisados à luz do marco

conceitual.

5.5 Considerações éticas

A ética é o ramo do conhecimento que estuda a conduta humana,

estabelecendo os conceitos do bem e do mal, numa determinada sociedade, em

determinada época. (FONTINELE JUNIOR, 2002).

Assim, para manter-se a ética da sociedade acredita-se que homens e

mulheres necessitam ter um comportamento que esteja ligado à ética, pois para

viver em uma sociedade existe necessidade de ser ético. (FONTINELE JUNIOR,

2002).

Esta pesquisa seguiu os aspectos que norteiam à ética, obedecendo aos

quatro referenciais básicos da bioética (autonomia, não maleficência, beneficência e

justiça), sob a ótica do indivíduo e das coletividades, e adotou como guia de ação a

Resolução CNS 196/96 contendo as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de

Pesquisas envolvendo Seres Humanos (Conselho Nacional de Saúde, 2004). Esta

resolução fundamenta-se nos principais documentos internacionais que emanaram

declarações e diretrizes sobre pesquisas que envolvem seres humanos e incorpora

os princípios da bioética, tendo como objetivo proteger os sujeitos da pesquisa, o

pesquisador e o estado.

20

Conforme a Resolução CNS 196/96:

O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.

Com base nesta resolução, essa pesquisa teve por princípio os seguintes

cuidados:

� Esclarecer os sujeitos sobre a temática do estudo, metodologia adotada e

demais dúvidas presentes;

� Cabe ao sujeito de pesquisa decidir sobre sua participação na pesquisa,

de modo que possa desistir em qualquer uma das etapas, sem ônus para

a sua pessoa;

� Obtenção do consentimento voluntário, informado, livre e esclarecido;

� Não expor os participantes a situações que possam causar qualquer tipo

de dano;

� Garantir confidencialidade e privacidade aos participantes;

� Manter o anonimato, garantir a fidedignidade das informações;

A pesquisa foi inscrita no SISNEP sob a folha de rosto nº 180952 e submetida

à aprovação da Comissão de Ética e Pesquisa da UNIVALI com cadastro nº 90/08.

21

6 O ACOLHIMENTO NA ÓTICA DAS ENFERMEIRAS – RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento do perfil dos sujeitos de pesquisa foi o primeiro passo para

compreender a realidade do tema pesquisado. Para isso, partimos inicialmente de

uma análise dos dados coletados através dos questionamentos que nos levaram a

definição geral do perfil dos sujeitos participantes.

6.1 O perfil dos sujeitos de pesquisa

O levantamento do perfil dos enfermeiros entrevistados foi feito no início da

entrevista, onde buscamos saber, o sexo, faixa etária em anos, tempo de formação

profissional, instituição formadora, formação complementar em capacitação e

especialização.

94%

6%

feminino masculino

Figura 1. Distribuição dos enfermeiros segundo o se xo

A partir do gráfico acima, podemos perceber que de dezessete (17),

enfermeiros participantes da pesquisa, um (1) participante era do sexo masculino,

correspondendo a 6%, do total de participantes, enquanto que dezesseis (16)

participantes, correspondente a 94% eram do sexo feminino. Esse dado pode refletir

22

o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, seguindo a

feminilização da mão de obra da saúde. (ALVES, 2004; MACHADO, 2000).

20 a 29 anos30 a 39 anos

40 a 49 anos

79

10

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Figura 2. Distribuição dos enfermeiros segundo faix a etária (anos)

Ao analisarmos a amostra, identificamos que o maior número de participantes

são adultos jovens que se encontram na faixa etária de 30 a 39 anos de idade,

correspondendo a um total de nove (09) participantes, 52,94% do total, seguido

pelos indivíduos entre 20 e 29 anos, correspondendo a 41,18% e indivíduos acima

de 40 anos de idade representando 5,88% do total.

23

1

10 a 13 anos

07 a 09 anos

04 a 06 anos

01 a 03 anos3

8

2

4

0

1

2

3

4

5

6

7

8

10 a 13 anos

07 a 09 anos

04 a 06 anos

01 a 03 anos

Figura 3. Distribuição dos enfermeiros segundo o te mpo de formação (anos)

Na figura acima, podemos perceber que a maioria dos profissionais

enfermeiros, tem sua formação no período de 04 a 06 anos, o que nos remete, a

uma formação recente, todos formados ou participantes do processo de

institucionalização da SF, mais humanizadas e centralizadas no usuário.

Assim, as propostas de humanização em saúde também envolvem repensar o

processo de formação dos profissionais, que apesar de 20 anos de regulamentação

do SUS ainda estão centrados, predominantemente, no aprendizado técnico,

racional e individualizado, com tentativas muitas vezes isoladas de exercício da

crítica, criatividade e sensibilidade. (CASATE; CORRÊA, 2005).

24

1058%

16%

424%

16%

16%

UFSC

UNIVALI

UNISUL

UNISINOS/RS

IELUSC

Figura 4. Distribuição dos enfermeiros segundo a in stituição formadora

Analisando os dados acima, podemos perceber que 58% da amostra, teve

como instituição formadora, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),

correspondendo a dez (10) indivíduos, seguido por quatro (4) participantes, que se

formaram pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), correspondendo a

24% do total, e que os três (3) outros participantes, cada um corresponde a 6% do

total, formaram-se um em cada instituição, sendo estas, Universidade do Vale do

Itajaí (UNIVALI), Instituto Superior e Centro Educacional Luterano (IELUSC), e

Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS).

25

0 1 2 3

Acupuntura Oncologia

Enf. do Trabalho Saúde da Família

Licenciatura plena Gestão em Saúde Pública

Emergência pré-hosp. Saúde da Mulher

Gestão dos Serviços de Enf. Não possui

Figura 5. Distribuição dos enfermeiros de acordo co m o curso de especialização

De acordo com a amostra, percebemos que a maior parte dos sujeitos de

pesquisa, possuem curso de especialização, sendo estes quatorze (14) dos

participantes, e apenas três (3) não possuem. Dos nove (9) diferentes cursos,

ressalta-se a formação em Emergência pré-hospitalar, com três (3) sujeitos, e os

cursos Saúde da Família e Enfermagem do Trabalho, que cada um dos cursos

citados anteriormente possuem dois (2) sujeitos.

A PNH propõe que para a humanização do SUS, é necessário a troca e a

construção dos saberes. Analisamos que é de ordem geral a preocupação dos

sujeitos com a educação permanente, visto que há uma exigência do atual mercado

de trabalho em relação à formação profissional, levando em consideração a grande

demanda de profissionais disputando o mesmo cargo. (BRASIL, 2004).

26

82%

18%

Sim Não

Figura 6. Distribuição dos enfermeiros segundo curs os de capacitação

Avaliamos que 82% dos sujeitos possuem algum curso de capacitação,

somando quatorze (14) participantes. Apenas três (3) sujeitos, que representam 18%

do total, não têm curso de capacitação.

A importância da capacitação profissional para a vida das pessoas, encontra-

se na possibilidade de acesso às oportunidades de trabalho, que por sua vez, têm

suas características modificadas a cada dia.

A educação continuada, através de capacitação é de grande valia para o

serviço, visto que o sistema está em constante modificação, atualizando e

qualificando os profissionais para o aprimoramento da assistência prestada ao

usuário.

Compete aos gestores apontar e definir demandas que sejam coerentes com

as reais necessidades dos serviços de saúde e que expressem os interesses da

sociedade, rompendo com práticas onde o mercado e os interesses coorporativos

dirigem o processo de formação e de especialização dos profissionais de saúde.

(BRASIL, 2007b).

27

A gestão municipal tem o papel de estimular e viabilizar a capacitação e a

educação permanente dos profissionais. (BRASIL, 2007b).

6.2 O acolhimento na perspectiva das enfermeiras

6.2.1 O acolhimento na voz dos enfermeiros

Esta categoria descreverá o conceito de acolhimento para as enfermeiras

participantes da Estratégia Saúde da Família, rompe com conceitos ultrapassados e

incorpora novo pensar e agir na perspectiva de mudanças no modelo assistencial.

Um novo modo de pensar nos remete à PNH, que propõem a adoção da

prática do acolhimento, onde acolher em saúde exige mudança de postura de todo o

sistema de saúde, que visa receber o usuário e responsabilizar-se integralmente por

ele.

Assim, quando questionamos os sujeitos de pesquisa, sobre qual seria a sua

definição de acolhimento, obtivemos como discurso coletivo:

O acolhimento é definido como a escuta/atenção ao paciente,

orientando-o, esclarecendo dúvidas, valorizando a queixa do

paciente, e encaminhando. É a porta de entrada, o primeiro

atendimento do usuário, é através do acolhimento que se

estabelece uma rede de confiança e solidariedade entre as

pessoas, principalmente, pela resolução da sua necessidade

de saúde. (DSC).

Analisamos que o acolhimento é definido como o atendimento de primeiro

contato, ele se restringe à recepção e não acontece a todo o momento, como define

o Ministério da Saúde.

Segundo Franco, et al. (1999), o acolhimento propõe a inversão da lógica de

organização e funcionamento do serviço de saúde, partindo dos seguintes

princípios:

� Atendimento a todas as pessoas que procuram os serviços de saúde,

garantindo a acessibilidade universal. Sendo assim, o serviço de saúde

28

assume sua função precípua, a de acolher, escutar e dar uma resposta

positiva, capaz de resolver os problemas de saúde da população.

� Qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve ocorrer por parâmetros

humanitários, de solidariedade e cidadania.

Para Brasil (2007c, p. 1), o acolhimento é:

Recepção do usuário, desde sua chegada, responsabilizando-se integralmente por ele, ouvindo sua queixa, permitindo que ele expresse suas preocupações, angústias, e ao mesmo tempo, colocando os limites necessários, garantindo atenção resolutiva e a articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência quando necessário.

Segundo Brasil (2008a, p. 6) apud PNH, o acolhimento é uma das diretrizes

de maior relevância ética/estética/política, onde:

� Ética no que se refere ao compromisso com o reconhecimento do outro, na atitude de acolhê-lo em suas diferenças, suas dores, suas alegrias, seus modos de viver, sentir e estar na vida; � Estética porque traz para as relações e os encontros do dia-a-dia a invenção de estratégias que contribuem para a dignificação da vida e do viver e, assim, para a construção de nossa própria humanidade; � Política porque implica o compromisso coletivo de envolver-se neste “estar com”, potencializando protagonismos e vida nos diferentes encontros.

Diante do que os sujeitos entendem por acolhimento, e da discussão

estabelecida pelos autores acima, consideramos que o acolhimento é traduzido na

recepção dos usuários, e no encaminhamento para a resolução da sua necessidade

de saúde. Entendemos que as duas noções são de grande importância, mas,

quando tomadas isoladamente no processo de trabalho, tornam-se

descomprometidas com o processo de responsabilização e criação de vinculo com o

usuário.

Ao adotar o acolhimento descrito pelos sujeitos de pesquisa, o serviço de

saúde se depara com uma série de problemas, tais como filas por “fichas” para

atendimento médico, exaustão dos trabalhadores, falta de vínculo com o usuário que

procura o serviço, entre outros. Tais práticas reforçam o que a ESF veio modificar,

pois pauta-se na atenção médica voltada para a doença sem um efetivo

envolvimento da equipe com a saúde do usuário.

Justificando nossa percepção, Brasil (2008a, p. 16), dispõem que:

É preciso não restringir o conceito de acolhimento ao problema da recepção da “demanda espontânea”, tratando-o como próprio a um regime de afetabilidade (aberto a alterações), como algo que qualifica uma relação e é, portanto, passível de ser apreendido e trabalhado em todo e qualquer encontro e não apenas numa condição particular de encontro, que é aquele

29

que se dá na recepção. O acolhimento na porta de entrada só ganha sentido se o entendemos como uma passagem para o acolhimento nos processos de produção de saúde.

Outra questão que merece destaque refere-se à nomenclatura paciente,

apesar do forte peso cultural da expressão paciente deve-se destacar que ao referir-

se ao sujeito como paciente, anula-se o protagonismo, o empoderamento e a

atuação do usuário como co-participante do seu processo de saúde/doença.

Para a PNH, paciente é dito como aquele que sofre conceito reformulado

historicamente para aquele que se submete, passivamente, sem criticar o tratamento

recomendado. Prefere-se usar o termo usuário, pois é aquele que usa, indica

significado mais abrangente, capaz de envolver tanto o cliente como o

acompanhante do cliente, o familiar do cliente, o trabalhador da instituição, o gerente

da instituição e o gestor do sistema. Ao usarmos o termo usuário, estamos

garantindo os seus direitos como figura participante dentro do processo de produção

de saúde. (BRASIL, 2004).

6.2.2 As práticas do acolhimento no cotidiano das E SF

Dentro do contexto do que é acolhimento para os sujeitos, questionamos a

existência da prática do acolhimento, como ocorre e quem o faz.

Neste sentido foi possível identificar duas linhas de pensamento, uma

apontando para a inexistência de tal prática no cotidiano da ESF e outra que

descreve as práticas de acolhimento da seguinte forma:

O acolhimento é feito geralmente pela enfermeira e pela

equipe de enfermagem, mas todos deveriam fazê-lo. O

paciente é recebido pela recepção, é ouvido e encaminhado

para a equipe. De acordo com sua necessidade é

encaminhado para o atendimento médico ou de enfermagem.

(DSC).

Na prática, o acolhimento, como espaço do usuário, tem-se desenvolvido com

caráter predominantemente clínico (centrado nas queixas) e a intervenção/resultado

que essa tecnologia tem gerado se caracteriza por ser pontual, pouco resolutiva e

30

não constituidora de vínculo, contribuindo pouco para a automização do usuário e

para a construção de práticas de saúde que extrapolem a abordagem clínico-

individual. (FRACOLLI; ZOBOLI, 2007).

No acolhimento, o acesso deve ser facilitado, e todo o usuário tem direito a no

mínimo uma escuta qualificada e uma resposta positiva ao seu problema de saúde,

seja através do atendimento na própria unidade, ou de um encaminhamento seguro

para outro serviço, e a decisão sobre a entrada do usuário na assistência, cabe a

equipe de acolhimento (recepção e equipe de enfermagem, e às vezes, o próprio

médico). (PANIZZI; FRANCO, 2004).

Percebemos que a definição de acolhimento não condiz com a prática

realizada pelos profissionais, entendemos que apesar do acolhimento ser realizado

sob o ponto de vista dos enfermeiros, este não ocorre efetivamente, pois há uma

dificuldade em relacionar a teoria com a prática, onde esta ocorre de forma errônea.

O acolhimento ocorre como mais um serviço disponibilizado pela Unidade de Saúde,

em uma sala, com instrumentos próprios e saberes próprios, desta forma o

enfermeiro diz estar realizando o acolhimento, mas na realidade é uma triagem da

demanda espontânea, assim as enfermeiras consideram-se ‘para-choque’ da

demanda espontânea. (LEITE et al., 1999).

O acolhimento deve ser realizado por todos os trabalhadores de saúde e em

todos os setores do atendimento, não se limitando ao ato de receber. Ao contrário,

incorpora uma seqüência de atos e atitudes que constituem o processo de trabalho.

Ele propõe uma inversão na lógica da organização e no funcionamento do serviço

de saúde, guiada por algumas diretrizes, sendo estas: atender a todas as pessoas

que procuram os serviços de saúde, garantindo o acesso universal, ou seja, o

serviço de saúde assume sua função precípua de acolher, escutar e dar uma

resposta positiva para resolver os problemas de saúde da população. Reorganizar o

processo de trabalho, a fim de deslocar seu eixo central do médico para a equipe

multiprofissional (equipe de acolhimento), que se encarrega da escuta do usuário,

comprometendo-se a resolver seu problema de saúde. A consulta médica é

requisitada apenas para os casos em que se justifica. (FRANCO et al., 1999).

Assim, todos os profissionais de saúde de nível superior e ainda, os auxiliares

e técnicos de enfermagem participam da assistência direta ao usuário,

potencializando a capacidade de resposta e intervenção dos serviços de saúde.

Qualificar a relação trabalhador-usuário a fim de pautá-la em parâmetros

31

humanitários, de solidariedade e cidadania. Essa é a argamassa capaz de unir

solidamente os trabalhadores e usuários em torno do interesse comum de constituir

um serviço de saúde de qualidade, com atenção integral, que atenda a todos e

esteja sob o controle da comunidade. (FRACOLLI; ZOBOLI, 2007).

Conforme Teixeira apud Pinheiro (2003), o acolhimento não é

necessariamente uma atividade em si, mas conteúdo de toda atividade assistencial,

que consiste na busca constante de um reconhecimento cada vez maior das

necessidades de saúde dos usuários e das formas possíveis de satisfazê-las,

resultando em encaminhamentos, deslocamentos e trânsitos pela rede assistencial.

A prática do acolhimento propõe que o serviço de saúde seja organizado de

forma usuário-centrada, atendendo a todas as pessoas que procuram a Unidade de

Saúde, garantindo a acessibilidade universal, integral e equânime.

Brasil (2008b, p. 41), dispõe que a PNH tem como diretriz o acolhimento, que

é um dos parâmetros para a implementação de ações humanizadoras na atenção

básica. Este deve organiza-se da seguinte maneira:

Organização do acolhimento de modo a promover a ampliação efetiva do acesso à atenção básica e aos demais níveis do sistema, eliminando as filas, organizando o atendimento com base em riscos/vulnerabilidade priorizados e buscando adequação da capacidade resolutiva.

6.2.3 O acolhimento como agente de mudanças

Quando questionados sobre as mudanças que ocorrem com a adoção do

acolhimento na UBS, foi possível identificar duas linhas de pensamento, uma

apontando para a inexistência de mudanças, por não terem o acolhimento

propriamente dito e outra que descreve as mudanças que ocorrerem com a adoção

do acolhimento da seguinte forma:

Acolhimento mudou para a unidade, para a organização do

serviço que consegue fazer a “seleção” e diminuir o tempo de

espera. O paciente sai mais satisfeito, dando mais valor para

os profissionais enfermeiros. As pessoas aprendem como

funciona o sistema de saúde, e conhecem qual é a função de

cada profissional e a rotina da unidade. A equipe de saúde

passa a ter um vínculo maior com a população que fica

32

satisfeita com a equipe de enfermagem, principalmente, e esta

passa a ser uma referência dentro da unidade, e não apenas o

médico e o dentista. As pessoas passam a conhecer a rotina

da unidade e valorizar a unidade de saúde. Com o

comprometimento maior das pessoas, melhora o atendimento.

(DSC).

Analisando estes discursos, percebemos que a falta de mudanças, se dá por

não haver no âmbito municipal um “protocolo de acolhimento”, onde os profissionais

se sintam respaldados dentro do seu exercício profissional, pois estes não se

sentem seguros para a realização de mudanças. Apesar de ter havido várias

tentativas de implantação de um “protocolo de acolhimento”, mas estas não se

efetivaram, pois não teve uma motivação dos profissionais, e a disponibilidade dos

mesmos para mudanças no seu processo de trabalho.

Segundo Brasil (2004), a humanização no atendimento básico é hoje uma

política pública e deve estar presente nos diversos níveis de atenção à saúde. É

necessário que todas as especialidades do contexto da atenção à saúde envolvam-

se de maneira ampla nesse processo de humanização.

Sendo assim, segundo o disposto pela Política Nacional de saúde, a

humanização não é um conceito, e sim um entendimento. Consiste na valorização

dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários,

trabalhadores e gestores; promoção da autonomia e do protagonismo desses

sujeitos; aumento do grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de

sujeitos; estabelecimento de vínculos solidários e da participação coletiva no

processo de gestão; identificação das necessidades sociais de saúde; mudança nos

modelos de atenção e gestão dos processos de trabalho tendo como foco as

necessidades dos cidadãos e a produção de saúde; compromisso com ambiência,

melhoria das condições de trabalho e entendimento. (BRASIL, 2004).

O acolhimento visa à responsabilização pelos usuários dos serviços de saúde

por meio do estabelecimento de vínculos entre os profissionais e a população,

mediante a reorganização do processo de trabalho em saúde, tendo em vista

possibilitar a intervenção de toda a equipe, que se empenha na escuta e resolução

do problema do usuário. (FRACOLLI; ZOBOLI, 2007).

33

Consideramos que o vínculo é capaz de garantir o processo de trabalho e a

responsabilização da equipe multiprofissional.

Não existe vínculo se o usuário não for reconhecido como sujeito, que fala,

julga e deseja. Campos relata que o vínculo entre serviços de saúde e usuários

amplia a eficácia das ações de saúde e favorece a participação do usuário na

prestação de serviço, promovendo sua autonomia e cidadania. (CAMPOS, 1997).

O acolhimento modifica radicalmente o processo de trabalho, onde o impacto

da reorganização do trabalho na UBS se dá principalmente sobre os profissionais

que fazem a assistência. (FRANCO et al., 1999).

Podemos perceber que através do acolhimento a equipe de enfermagem

torna-se referência dentro da unidade, nos remetendo aos valores que norteiam a

PNH que são a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade em

ter eles o estabelecimento de vínculos solidários, a construção de redes de

cooperação e participação coletiva no processo de gestão. (BRASIL, 2004).

Segundo a PNH, autonomia é o pensar nos indivíduos como sujeitos

autônomos é considerá-los como protagonistas nos coletivos de que participam, co-

responsáveis pela produção de si e do mundo em que vivem. A equipe

multidisciplinar assume o papel de protagonismo, definido como a pessoa que

desempenha ou ocupa o primeiro lugar ou lugar central, num acontecimento, numa

ação. No processo de produção da saúde, diz respeito ao papel de sujeitos

autônomos, protagonistas e implicados no processo de produção de sua própria

saúde. (BRASIL, 2004).

Na PNH, vínculo é definido, como a aproximação entre usuário e trabalhador

de saúde promove um encontro, de seres que possuem intenções, interpretações,

necessidades, razões e sentimentos, mas em situação de desequilíbrio, de

habilidades e expectativas diferentes, onde o usuário busca assistência, em estado

físico e emocional fragilizado, junto ao profissional supostamente capacitado para

atender e cuidar da causa de sua fragilidade. (BRASIL, 2004).

Para haver uma modificação expressiva do modelo assistencial e a garantia

da humanização das relações entre os componentes da Equipe de Saúde da

Família, é preciso que esta esteja imbuída quanto ao respeito à autonomia dos

usuários, que devem ser estimulados a compartilhar das decisões que digam

respeito à sua pessoa, à sua família, à sua comunidade. (FORTES; MARTINS,

2000).

34

6.2.4 Elementos necessários e dificuldades encontra das para a prática

do acolhimento

A prática do acolhimento pressupõe que haja alguns elementos colaborativos

para a implementação, assim, indagamos quais elementos são necessários para a

prática ideal do acolhimento, e tivemos como resposta:

É preciso que haja antes de tudo um espaço físico adequado,

recursos humanos disponíveis, capacitação e interesse de

profissionais que ainda têm resistência para a mudança, que

seja capaz de ouvir o usuário, ter paciência, saber orientar, ser

empático, ter um comprometimento para com o outro e ética

em tudo que faz. Além de mais investimento na atenção

primária, que é a porta de entrada para o sistema. E é

importante ter como ferramenta, o carinho e o afeto, pois o

acolhimento é cuidar, é dar um encaminhamento. Não têm

como ensinar o acolhimento, essa sensibilidade está em cada

pessoa. (DSC).

Antes de mais nada é imprescindível que haja o interesse pessoal de cada

indivíduo pertencente ao sistema, e o desenvolvimento da sua habilidade

interpessoal, mas é necessário também considerarmos que a instituição passa por

problemas operacionais, tendo uma gestão complicada, com mudanças constantes,

levando a falta de motivação do profissional, que deve sentir acolhido pelo sistema.

Além do interesse de gestores do poder público, buscando a formação dos

profissionais com a educação continuada para incentivar a busca da sensibilização

individual e a efetiva adoção da prática do acolhimento, é necessário que haja o

compromisso do trabalhador com suas responsabilidades profissionais e para com o

próximo.

Neste sentido concordamos com a Rizzotto (2002), quando afirma que a

humanização é pouco abordada no processo de formação. Além disso, admite-se a

dificuldade em ensinar “humanização” nas relações interpessoais, considerando as

35

questões subjetivas que se fazem presentes como, por exemplo, a sensibilidade.

Apesar dessas dificuldades, a academia tem avançado neste sentido, em especial

depois da reformulação curricular movida pela lei de diretrizes e bases para a

formação dos profissionais da saúde - Lei nº 48/90. (CRESPO, 1990).

Para Ferreira (2005), humanizar pode ser entendido como uma escuta

atentiva, uma boa relação médico-paciente, a reorganização dos processos de

trabalho (que facilite o acesso aos serviços), a criação de ouvidorias e “balcões de

acolhimento”, até a melhoria das estruturas do espaço físico. A viabilização dessas

práticas pelos gestores também difere, indo de uma ênfase na formação e

sensibilização dos profissionais com o auxílio de assessorias especializadas

(educação continuada) fazendo com que ocorra uma melhor satisfação dos

usuários.

Como forma de minimizar as lacunas da formação e consolidar o trabalho, a

PNH adota a educação permanente dos profissionais, e a implementação de um

sistema de comunicação e informação que promova o auto desenvolvimento e

amplie o compromisso social dos trabalhadores de saúde. (BRASIL, 2004).

Para Brasil (2008a, p. 19-21), os elementos necessários para a

operacionalização do acolhimento são:

� Protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde; � A valorização e a abertura para o encontro entre o profissional de saúde, o usuário e sua rede social, como liga fundamental no processo de produção de saúde; � Uma reorganização do serviço de saúde a partir da problematização dos processos de trabalho, de modo a possibilitar a intervenção de toda a equipe multiprofissional encarregada da escuta e da resolução do problema do usuário; � Elaboração de projetos terapêuticos individuais e coletivos com equipes de referência em atenção diária que sejam responsáveis e gestoras desses projetos (horizontalização por linhas de cuidado); � Mudanças estruturais na forma de gestão do serviço de saúde, ampliando os espaços democráticos de discussão e decisão, de escuta, trocas e decisões coletivas. A equipe neste processo pode também garantir acolhimento para seus profissionais e às dificuldades de seus componentes na acolhida à demanda da população; � Uma postura de escuta e compromisso em dar respostas às necessidades de saúde trazidas pelo usuário, de maneira que inclua sua cultura, seus saberes e sua capacidade de avaliar riscos; � Uma construção coletiva de propostas com a equipe local e com a rede de serviços e gerências centrais e distritais.

Ao analisarmos o discurso dos sujeitos, identificamos que eles descrevem

parcialmente o que é necessário para a prática do acolhimento, onde o discurso é

focado em resoluções para o espaço físico e na prática profissional, esquecendo de

36

destacar elementos importantes como o protagonismo dos sujeitos, valorização dos

usuários, discussão entre a equipe multiprofissional, e de acolher um ao outro dentro

da equipe.

Apesar das dificuldades geradas pela falta de espaço físico, o acolhimento e a

humanização são possíveis quando adota-se tais práticas como reorganizadoras e

norteadoras das ações em saúde.

As principais dificuldades encontradas no dia-a-dia no

acolhimento são a falta de recursos humanos, falta de um

espaço físico adequado, a grande demanda, o rodízio de

pessoas, o tempo disponível e a falta de empatia dos

profissionais, sendo que muitos deles estão no balcão, que é a

porta de entrada da unidade. A população não vê a

enfermagem como referência para o acolhimento, porque a

cultura em que está inserida é da responsabilidade médica,

por isso, o usuário quer sempre ser atendido pelo médico.

(DSC).

Considerando a organização e estrutura física das instituições de saúde da

rede pública, a formação biomédica, as relações de trabalho e sua lógica de

produção, deveria haver mais espaço para mudanças estruturais e para a

implementação de novos conceitos e práticas, voltados para a humanização da

assistência. (DESLANDES, 2004).

Percebemos que as Unidades de Saúde visitadas não estão preparadas

estruturalmente, pois foram construídas sob a ótica médico centrada, com

consultórios separados e sem um ambiente que possibilite um acolhimento

adequado ao usuário.

Ao falarmos em humanização, não podemos deixar de destacar a ambiência,

que Brasil (2008c, p. 5), descreve como:

Ambiência na Saúde refere-se ao tratamento dado ao espaço físico entendido como espaço social, profissional e de relações interpessoais que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e humana.

As Unidades Básicas devem ser pensadas de maneira a promover os

encontros entre trabalhadores e entre estes e a comunidade usuária.

37

A ambiência discutida isoladamente não muda o processo de trabalho, mas

pode ser usada como uma das ferramentas facilitadoras que propiciam esse

processo de mudança.

A falta de recursos humanos é um fator que dificulta o processo de adoção da

humanização do acolhimento, sobrecarregando os profissionais que atuam no

serviço. Além do freqüente rodízio de profissionais, que se dá devido às condições

de trabalho, tornando pouco possível a criação de um vínculo.

A PNH traz como eixo de gestão do trabalho a promoção de ações que

assegurem a participação dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão,

fortalecendo e valorizando os trabalhadores, sua motivação, seu desenvolvimento e

seu crescimento profissional. (BRASIL, 2004).

Assim, concluímos que a valorização dos profissionais atuantes nos serviços

saúde, é peça chave para a consolidação das práticas humanizadoras do

acolhimento.

6.2.6 Benefícios do acolhimento

Quando questionamos aos enfermeiros participantes da pesquisa, sobre

quais os benefícios do acolhimento, tivemos como resposta o seguinte discurso:

Os benefícios do acolhimento podem voltar-se para a

população, para os profissionais da enfermagem

(principalmente os enfermeiros), e para a organização do

serviço. A população consegue ser ouvida, melhor atendida,

ter resolutividade para a sua necessidade de saúde, tem os

seus direitos atendidos e ficam mais satisfeitos com o serviço

prestado. Os profissionais da enfermagem são valorizados,

facilitando o trabalho em equipe, e tendo o enfermeiro como

referência dentro da unidade. A organização do serviço é

beneficiada, pois o acolhimento leva a diminuição das filas,

agilidade do atendimento da demanda livre, e ao aumento da

produtividade. E, o principal benefício que é comum a todos é

38

o estabelecimento de um vínculo entre os profissionais e a

população. (DSC).

O discurso dos sujeitos contempla aos principais objetivos da PNH, exceto em

relação aos benefícios para a organização do serviço, descritos como a

produtividade e a agilidade no atendimento da demanda livre. A PNH estabelece

como principais valores, a valorização da autonomia e o protagonismo dos sujeitos,

de co-responsabilidade entre eles, de solidariedade dos vínculos estabelecidos, dos

direitos dos usuários e da participação coletiva no processo de gestão.

Destacamos ainda que o principal benefício do acolhimento, descrito no

discurso é o estabelecimento de vínculos, nos remetendo aos conceitos de autores

que defendem o vínculo como principal ferramenta para a prática humanizadora do

acolhimento.

Para Franco et al (1999), o vínculo como a diretriz que, acoplada ao

acolhimento, é capaz de garantir o real reordenamento do processo de trabalho na

Unidade de Saúde, resolvendo definitivamente a divisão de trabalho

compartimentada e saindo da lógica agenda/consulta, para uma outra lógica da

responsabilização de uma equipe multiprofissional.

O acolhimento enquanto diretriz operacional propõe mudar a lógica da

organização e do funcionamento do serviço de saúde, e que este seja organizado de

forma usuário centrado, partindo dos seguintes princípios: atender a todas as

pessoas que procuram os serviços de saúde garantindo a acessibilidade universal.

Assim, o serviço de saúde assume sua função precípua, a de acolher, escutar e dar

uma resposta positiva, capaz de resolver os problemas de saúde da população;

reorganizar o processo de trabalho, a fim de que este desloque seu eixo central, do

médico para uma equipe multiprofissional – equipe de acolhimento -, que se

encarrega da escuta do usuário, comprometendo-se a resolver seu problema de

saúde; e qualificar a relação trabalhador-usuário, que deve dar-se por parâmetros

humanitários, de solidariedade e cidadania. (PINHEIRO, 2001).

O acolhimento surge como uma possibilidade viável para a promoção de

mudanças nos serviços de saúde, com o objetivo de promover um novo modelo de

organização da assistência. Assim, é dito como uma diretriz operacional do modelo,

que apresenta uma nova definição da relação com o usuário, entendendo-o como

sujeito, que apresenta um problema de saúde, e, além disso, tem uma história de

39

vida, um modo cultural, e relações, tornando-o um ser único. Do mesmo modo é

portador de direitos de cidadania, e direito à assistência que atenda a sua

necessidade de saúde. Sendo assim, o acolhimento é uma diretriz que só opera em

um modelo que está centrado no usuário e no seu problema de saúde. (PANNIZI;

FRANCO, 2004).

Assim como o acolhimento valoriza a relação com o usuário, ele dá também

novo significado às relações da própria equipe que tem a necessidade de interagir

durante seu processo de trabalho construindo uma verdadeira “rede de conversas”,

no momento em que realiza a assistência. Isto potencializa muito sua capacidade

resolutiva, uma vez que, durante o trabalho assistencial, devem ocorrer troca de

saberes e práticas entre os profissionais. Esse trabalho em rede que constitui de

compromissos mútuos, aumentando o potencial para a resolução dos problemas de

saúde. (PANNIZI; FRANCO, 2004).

Dentro desta proposta de acolhimento, como diretriz operacional, não

podemos deixar de observar que com a adoção do mesmo, ocorre a valorização da

equipe de enfermagem, uma vez que esta adota uma posição de destaque dentro da

UBS. Assim, relembramos um dos dispositivos disposto na PNH, que ao

entendimento de humanização do SUS, sendo este: “Mudança nos modelos de

atenção e gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos

cidadãos, a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde,

valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho”. (BRASIL, 2004).

Entendemos que os benefícios do acolhimento são muitos, o que nos faz

defendê-lo como um novo modelo assistencial que deve ser adotado por toda a rede

assistencial de saúde.

6.2.7 Acolhimento e a humanização da assistência

Não temos como discutir acolhimento sem nos remeter à humanização, por

tanto ao questionarmos qual a relação do acolhimento com a humanização da

assistência, o discurso apresentado foi:

O acolhimento e a humanização da assistência estão

interligados, um depende do outro. A adoção do acolhimento

40

torna o serviço mais humanizado, ocorre essa relação na

escuta do paciente, dando-lhe atenção, tratando-lhe bem, com

respeito e educação, dando uma resolutividade ao seu

problema, dando um atendimento digno e criando um vínculo.

(DSC).

A partir do discurso do sujeito coletivo, conseguimos identificar os valores que

norteiam a PNH, porém na realidade do serviço prestado sabemos que o

acolhimento se restringe a prática de triagem2 aos usuários que procuram o

atendimento de “urgência” e encaminhá-los para o atendimento médico.

Ao falarmos em cuidado de enfermagem ao ser humano (seja voltado para a

assistência ou para as relações de trabalho) implica, essencialmente, em cuidado

humanizado. Contudo, é importante ressaltar que, muitas vezes, devido à

sobrecarga imposta pelo cotidiano do trabalho, a enfermagem presta uma

assistência mecanizada e tecnicista, não-reflexiva, esquece de humanizar o cuidado

justamente por entender que em si o cuidado deve ser humanizado. (COLLET;

ROZENDO, 2003).

A humanização da assistência de enfermagem e a humanização das relações

de trabalho de enfermagem surgem de uma necessidade social e historicamente

construída, não como mais um modismo da profissão que tenta colocar essa

temática em voga de si mesma, mas como um dos aspectos do trabalho da

enfermagem que contribui, significativamente, para a construção de uma assistência

de qualidade. (COLLET; ROZENDO, 2003).

Humanizar é ofertar atendimento de qualidade, é articular os avanços

tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das

condições de trabalho dos profissionais de saúde. Para o Sistema Único de Saúde

(SUS), a humanização deve ser vista como uma das dimensões fundamentais,

devendo ser enfocada como uma política que opere transversalmente em todas as

redes deste sistema de saúde. (BRASIL, 2008c).

Percebemos no discurso que os trabalhadores da saúde, ainda não refletem

sobre a PNH, sobre humanização, apenas cumprem suas atribuições, seguindo um

modelo tecnicista.

2 Triagem é dita como a seleção/escolha dos usuários que receberão atendimento, no caso atendimento médico (FERREIRA, 1998).

41

Segundo o Ministério da Saúde humanizar é adotar uma prática em que

profissionais e usuários considerem o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e

sociais que compõem o atendimento à saúde. Humanizar refere-se, portanto, à

possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do

desconhecido e de reconhecimento dos limites. Trata-se de um agir inspirado em

uma disposição de acolher e de respeitar o outro como um ser autônomo e digno.

Para tanto, é necessário repensar as práticas das instituições de saúde, buscando

opções de diferentes formas de atendimento e de trabalho que preservem este

posicionamento ético no contato pessoal e no desenvolvimento de competências

relacionais. (BRASIL, 2001).

Assim, ao pensarmos na humanização como uma política de mudanças,

devemos despertar o interesse dos trabalhadores, para a reflexão e conscientização

sobre os propósitos da PNH, com o intuito de ocorrer a adoção de mudanças de

comportamento, que levem a reorganização das práticas assistenciais de saúde.

42

7 Considerações Finais

No momento de finalizar a discussão dessa temática tão complexa como as

percepções das enfermeiras sobre a prática do acolhimento, é importante considerar

que não se trata de um momento conclusivo. Ao contrário, o sentido deste trabalho é

trazer questões para serem refletidas, debatidas e questionadas, no campo da

humanização da assistência. As reflexões aqui apresentadas não se configuram

como conclusões, constituem-se sim em considerações transitórias para impulsionar

o debate acerca da prática do acolhimento á luz da Política Nacional de

Humanização nas Unidades Básicas de Saúde.

A utilização do conceito de humanização como proposto pela PNH no campo

da saúde, pode ser considerado recente, o que nos incentivou a utilizar a PNH como

marco conceitual de nossa pesquisa.

Devido o seu caráter humanístico, esperamos que esta pesquisa contribua

para a reflexão e organização das práticas do acolhimento das Unidades de Saúde

de modo geral, conforme os valores que norteiam a PNH.

Nosso cenário de pesquisa foi a Saúde da Família, destacando a Estratégia

de Saúde da Família, que propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos

serviços de saúde, que assume o compromisso de prestar assistência universal,

integral, equânime, contínua e, acima de tudo, resolutiva à população, na unidade de

saúde e no domicílio, sempre de acordo com as suas reais necessidades.

(RIBEIRO, 2004).

Ao destacarmos os objetivos do PSF temos: a definição de responsabilidades

entre serviços e população, a Humanização das práticas da saúde, o

estabelecimento de um vínculo entre profissionais de saúde e a população, o

estímulo à organização da comunidade para o exercício do controle social e o

reconhecimento da saúde como direito de cidadania. (BRASIL, 1997).

Percebemos que não temos como exercer a Estratégia de Saúde da Família,

sem pensarmos em humanização e estabelecimento de vínculo. Entendendo que o

vínculo é um processo que liga o trabalhador e o usuário do serviço de saúde,

gerando uma ligação afetiva e moral entre ambos, numa convivência de ajuda e

respeito mútuos. (BRASIL, 2008b).

43

Segundo o Ministério da Saúde humanizar é adotar uma prática em que

profissionais e usuários considerem o conjunto dos aspectos físicos, subjetivos e

sociais que compõem o atendimento à saúde. Humanizar refere-se, portanto, à

possibilidade de assumir uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do

desconhecido e de reconhecimento dos limites. Trata-se de um agir inspirado em

uma disposição de acolher e de respeitar o outro como um ser autônomo e digno.

Para tanto, é necessário repensar as práticas das instituições de saúde, buscando

opções de diferentes formas de atendimento e de trabalho que preservem este

posicionamento ético no contato pessoal e no desenvolvimento de competências

relacionais. (BRASIL, 2001).

A partir das reflexões sobre as questões identificadas ao longo da análise,

podemos ressaltar que a definição de acolhimento dos sujeitos de pesquisa, não

condiz com a prática realizada, uma vez que na prática é dito ainda como a “triagem”

dos usuários que procuram atendimento de urgência para o posterior atendimento

médico.

Assim, o 'acolhimento' é mais do que uma triagem qualificada ou uma 'escuta

interessada', pressupõe um conjunto formado por atividades de escuta, identificação

de problemas e intervenções resolutivas para seu enfrentamento, ampliando a

capacidade da equipe de saúde em responder as demandas dos usuários,

reduzindo a centralidade das consultas médicas e melhor utilizando o potencial dos

demais profissionais. (TEIXEIRA, 2003).

Avaliamos que o maior desafio dos profissionais da estratégia da saúde da

família é concretizar, na prática cotidiana, a integração com o que o outro diz, que é

mais que a construção de um vínculo/responsabilização. Traduzindo-se em realizar

uma efetiva mudança na relação com o usuário, evidenciando o que ele é um ser

social, com vida plena e digna como expressão de seu direito. A integralidade da

atenção à saúde, em suas ações de promoção, prevenção e assistência poderá,

assim, representar um novo modo de “fazer saúde”, numa perspectiva que coloca o

usuário como sujeito de sua própria história.

A Humanização implica também investir no trabalhador para que ele tenha

condições de prestar atendimento humanizado. É priorizada a importância do

trabalhador como elemento fundamental para a humanização do atendimento,

devendo ser implementadas ações de investimento em termos de número suficiente

de pessoal, salários e condições de trabalho adequados, bem como atividades

44

educativas que permitam o desenvolvimento de competência para o cuidar.

(RIZZOTTO, 2002).

Ao ser dada ênfase no trabalhador, como elemento fundamental para a

humanização, são também apontados alguns “meios” mais subjetivos relacionados à

atitude profissional, para humanizar o atendimento em saúde. Nesse contexto, é

apontado como necessário o desenvolvimento da afetividade, sensibilidade e

abertura para a escuta e o diálogo, com vistas a acolher o usuário dos serviços de

saúde: “Outro aspecto que envolve reflexão e mudança por parte da equipe de

saúde para a humanização da assistência diz respeito ao vínculo (...). Criar vínculos

implica em estabelecer relações tão próximas e tão claras que todo o sofrimento do

outro nos sensibiliza”. A humanização é pouco abordada no processo de formação.

Além disso, admite-se a dificuldade em ensinar “humanização” nas relações

interpessoais, considerando as questões subjetivas que se fazem presentes como,

por exemplo, a sensibilidade. (RIZZOTTO, 2002).

Trabalhar com humanização, não é uma tarefa fácil, por ser um tema pouco

discutido entre os profissionais de saúde, tivemos algumas dificuldades em abordá-

lo. Ao iniciarmos a coleta de dados, percebemos que os profissionais tinham um

pouco de receio em responder nossa pesquisa. Tanto que um participante, negou-se

em responder aos nossos questionamentos. Ao iniciarmos a transcrição dos dados,

percebemos que este receio por parte dos profissionais, ocorreu por falta de domínio

sobre o que seria realmente o acolhimento, suas implicações dentro da equipe, e

principalmente a falta de domínio sobre a humanização como uma proposta da

Política Nacional de Humanização.

Os princípios do acolhimento não são claros para os sujeitos de pesquisa, e

requer deles uma nova postura referente às práticas assistenciais, onde a

humanização deve ser vista e aplicada em todas as relações existentes dentro do

processo de trabalho.

Entendemos que o tema acolhimento e humanização, começou a ser

discutido recentemente, mas, ao analisarmos o tempo de formação dos profissionais

participantes da pesquisa, constatamos que a maioria deles formou-se após o

“aparecimento” do acolhimento e da humanização.

Apesar dos DSC serem formados a partir do discurso de cada sujeito não são

muito condizentes com o que é proposto pela PNH, destacamos que há

possibilidade de mudanças, tanto no processo de trabalho e gestão dos serviços

45

(co-gestão, ambiência, clínica ampliada, programa de formação em saúde do

trabalhador, capacitação dos profissionais, direitos dos usuários e ações coletivas)

que levem a concretização de práticas humanizadas.

O desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso nos proporcionou

momentos valiosos de aprendizagem enriquecendo e aprimorando nossos

conhecimentos acerca da temática proposta.

Como acadêmicas de enfermagem em vésperas de iniciarmos nossa carreira

profissional como enfermeiras, e terminando nosso Trabalho de Conclusão de

Curso, acreditamos que o acolhimento e a humanização propostos pela PNH,

vieram para auxiliar, inovar e reformular a assistência prestada nos serviços de

saúde do SUS. Sendo o SUS uma rede de serviços de saúde, complexa, com

diversos focos de atenção, que tem por objetivo a garantia do direito à saúde de

todos. Sabemos que ele possui muitos problemas, mas quando lidamos com a

defesa da vida, aceitamos a superação desses desafios, para aprimorar e consolidar

esse sistema e produzir saúde a toda a população.

Assim, devemos lutar para tornar a humanização um movimento capaz de

fortalecer o SUS como política pública de saúde, e de garantia dos direitos de

cidadania.

46

8 REFERÊNCIAS

ALVES, M. et.al. Perfil dos gerentes de unidades de unidades básicas de saúde. Rev. Brasileira de Enfermagem , Brasília, v. 57, n. 4, jul/ago, 2004.

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47

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APÊNDICE 1

ROTEIRO ENTREVISTA

Caracterização do Sujeito

� Sexo

� Idade

� Tempo de formação

� Instituição formadora

� Cursos de especialização

� Cursos de capacitação

Questões

1. Descreva como é o caminho percorrido pelo usuário até a resolução da sua

necessidade de saúde.

2. Na unidade existe acolhimento? Quem faz e como é feito?

3. Como você definiria acolhimento?

4. No seu ponto de vista o que muda com a adoção do acolhimento na UBS?

5. Em que sentido o acolhimento mudou a organização do serviço?

6. Que elementos são necessários à prática do acolhimento?

7. Se existe, quais são as dificuldades/obstáculos encontrados no dia-a-dia no

acolhimento?

8. No seu ponto de vista quais os benefícios do acolhimento?

9. O que seria necessário em sua opinião para transformar o acolhimento

realizado em um acolhimento ideal?

10. Para você qual a relação do acolhimento com a humanização da

assistência?

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APÊNDICE 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado Enfermeiro (a), você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você não será penalizado(a) de forma alguma.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do Projeto: O Acolhimento na Saúde da Família: percepções dos e nfermeiros à luz da Política Nacional de Humanização. Pesquisador Responsável: Msc. Felipa Rafaela Amadigi (orientador) Telefone para contato: 9128-9002. Pesquisador Participante: Amanda Besen de Abreu e Milene Daiana Martins (acadêmicas de enfermagem) Telefones para contato: 9942-4220 e 9953-0979. - Será realizada uma pesquisa qualitativa, descritiva. Onde serão analisadas as percepções das enfermeiras da Equipe de Saúde da Família sobre as práticas do acolhimento à luz da Política Nacional de Humanização. - Para a coleta e análise de dados será utilizada a técnica de entrevista a qual será gravada, transcrita e devolvida a você para que valide as informações prestadas. Você terá liberdade para acrescentar ou retirar informações que julgar pertinente. - Essa pesquisa não trará prejuízos para nenhuma das partes interessadas. - Esta pesquisa objetiva promover a humanização em saúde tomando como foco o processo de trabalho da enfermeira da equipe de saúde da família. - É de grande importância a realização desta pesquisa, pelo seu valor como mecanismo de aquisição de novos conhecimentos para a sociedade. - Será garantido sigilo das informações, anonimato dos sujeitos participantes, bem como o direito de liberdade de retirar o consentimento a q ualquer momento , sem qualquer prejuízo aos mesmos. - A participação efetiva dos sujeitos de pesquisa ocorrerá no momento da coleta de dados através da entrevista. Felipa Rafaela Amadigi

Profª Orientadora Amanda Besen de Abreu

Acadêmica de Enfermagem Milene Daiana Martins

Acadêmica de Enfermagem

CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO

Eu, ______________________________________________, RG_____________, CPF _____________ abaixo assinado, concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu acompanhamento/assistência/tratamento. Local e data: _____________________________________________________________ Nome: __________________________________________________________________ Assinatura do Sujeito: ______________________________________________________ Telefone para contato: _____________________________________________________

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ANEXO 1

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