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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA JOSÉ PEREIRA DA SILVA JÚNIOR GONÇALVES DIAS EM SALA DE AULA: APONTAMENTOS SOBRE A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO DE LITERATURA NO NÍVEL MÉDIO João Pessoa PB 2018

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CENTRO DE CIEcircNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLAacuteSSICAS E VERNAacuteCULAS

LICENCIATURA EM LIacuteNGUA PORTUGUESA

JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO

DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO

Joatildeo Pessoa ndash PB 2018

JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO

DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO

Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo

Orientador Profordf Drordf Alyere Silva Farias

Joatildeo Pessoa ndash PB

2018

Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo

Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo

J95g Junior Jose Pereira da Silva

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E

O ENSINO DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO Jose Pereira da

Silva Junior - Joatildeo Pessoa 2018

47 f

Orientaccedilatildeo Profordf Drordf Alyere Silva Farias Farias

TCC (Especializaccedilatildeo) - UFPBCCHLA

1 EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias I Farias

Profordf Drordf Alyere Silva Farias II Tiacutetulo

UFPBCCHLA

JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO

DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO

Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo

Aprovado em ______de____________ de _______

Banca Examinadora

____________________________________________

Profordf Drordf Orientadora

___________________________________________ Prof

Examinador UFPB

__________________________________________ Prof

Examinador UFPB

Joatildeo Pessoa 2018

DEDICATOacuteRIA

Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me

incentivou e ajudou a superar as dificuldades

aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram

a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de

estudos e trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em

especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres

Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo

em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o

conhecimento

A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da

coordenaccedilatildeo

Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e

dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram

com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana

Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho

RESUMO

Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

16

casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

17

livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO

DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO

Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo

Orientador Profordf Drordf Alyere Silva Farias

Joatildeo Pessoa ndash PB

2018

Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo

Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo

J95g Junior Jose Pereira da Silva

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E

O ENSINO DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO Jose Pereira da

Silva Junior - Joatildeo Pessoa 2018

47 f

Orientaccedilatildeo Profordf Drordf Alyere Silva Farias Farias

TCC (Especializaccedilatildeo) - UFPBCCHLA

1 EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias I Farias

Profordf Drordf Alyere Silva Farias II Tiacutetulo

UFPBCCHLA

JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO

DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO

Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo

Aprovado em ______de____________ de _______

Banca Examinadora

____________________________________________

Profordf Drordf Orientadora

___________________________________________ Prof

Examinador UFPB

__________________________________________ Prof

Examinador UFPB

Joatildeo Pessoa 2018

DEDICATOacuteRIA

Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me

incentivou e ajudou a superar as dificuldades

aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram

a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de

estudos e trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em

especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres

Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo

em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o

conhecimento

A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da

coordenaccedilatildeo

Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e

dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram

com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana

Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho

RESUMO

Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo

Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo

J95g Junior Jose Pereira da Silva

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E

O ENSINO DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO Jose Pereira da

Silva Junior - Joatildeo Pessoa 2018

47 f

Orientaccedilatildeo Profordf Drordf Alyere Silva Farias Farias

TCC (Especializaccedilatildeo) - UFPBCCHLA

1 EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias I Farias

Profordf Drordf Alyere Silva Farias II Tiacutetulo

UFPBCCHLA

JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO

DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO

Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo

Aprovado em ______de____________ de _______

Banca Examinadora

____________________________________________

Profordf Drordf Orientadora

___________________________________________ Prof

Examinador UFPB

__________________________________________ Prof

Examinador UFPB

Joatildeo Pessoa 2018

DEDICATOacuteRIA

Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me

incentivou e ajudou a superar as dificuldades

aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram

a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de

estudos e trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em

especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres

Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo

em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o

conhecimento

A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da

coordenaccedilatildeo

Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e

dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram

com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana

Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho

RESUMO

Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

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BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

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GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

JOSEacute PEREIRA DA SILVA JUacuteNIOR

GONCcedilALVES DIAS EM SALA DE AULA APONTAMENTOS SOBRE A

TRAJETOacuteRIA HISTOacuteRICA DOS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA E O ENSINO

DE LITERATURA NO NIacuteVEL MEacuteDIO

Monografia de conclusatildeo de curso apresentada ao Curso de Licenciatura Plena em Letras Portuguecircs da Universidade Federal da Paraiacuteba como requisito para sua conclusatildeo

Aprovado em ______de____________ de _______

Banca Examinadora

____________________________________________

Profordf Drordf Orientadora

___________________________________________ Prof

Examinador UFPB

__________________________________________ Prof

Examinador UFPB

Joatildeo Pessoa 2018

DEDICATOacuteRIA

Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me

incentivou e ajudou a superar as dificuldades

aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram

a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de

estudos e trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em

especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres

Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo

em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o

conhecimento

A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da

coordenaccedilatildeo

Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e

dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram

com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana

Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho

RESUMO

Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

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pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

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pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

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2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

DEDICATOacuteRIA

Agrave minha esposa Maria Betacircnia que sempre me

incentivou e ajudou a superar as dificuldades

aos meus filhos Heitor e Davi que suportaram

a minha ausecircncia em uma jornada diaacuteria de

estudos e trabalho

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em

especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres

Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo

em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o

conhecimento

A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da

coordenaccedilatildeo

Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e

dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram

com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana

Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho

RESUMO

Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

16

casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

17

livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares que seguiram de perto todo o meu empenho e dedicaccedilatildeo em

especial as minhas tias Avani Prazeres e Lourdes Prazeres

Agrave professora orientadora Alyere Silva Farias pela bondade paciecircncia e dedicaccedilatildeo

em participar desse projeto me orientando nesse infinito caminho que eacute o

conhecimento

A todos os professores do curso de Letras Portuguecircs da UFPB e aos funcionaacuterios da

coordenaccedilatildeo

Aos meus colegas de curso que enfrentaram todas as dificuldades com altivez e

dignidade em especial Felipe Soacutestenes e Deniacutelson Arauacutejo que sempre me apoiaram

com materiais informaccedilotildees das disciplinas e estudos nos finais de semana

Ao dono da vida Deus que me permitiu realizar este grande sonho

RESUMO

Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

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modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

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Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

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realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

RESUMO

Neste trabalho partimos do pressuposto que o ensino de literatura atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA do terceiro ano ciclo seis niacutevel meacutedio tem como principal proposta a formaccedilatildeo de alunos leitores que buscam uma nova oportunidade de estudar Os objetivos da nossa proposta consistem na leitura literaacuteria de poema aliado ao gecircnero muacutesica utilizando sua experiecircncia de mundo seus conhecimentos preacutevios sobre as obras literaacuterias abordadas capacitando os alunos para um novo referencial de vida social inclusiva com leituras compreensivas e reflexivas e uma produccedilatildeo de textos capaz de transpor novos horizontes de expectativas Inicialmente expusemos o nascimento e desenvolvimento da modalidade de ensino da EJA em um contexto histoacuterico de crescimento da educaccedilatildeo brasileira com problemas que excluiacuteam o acesso agrave educaccedilatildeo pela populaccedilatildeo mais carente As dificuldades enfrentadas pelos jovens e adultos o preconceito social exclusatildeo de direitos vistos como necessaacuterios para formaccedilatildeo da cidadania Em seguida abordamos os direitos destes educandos a partir das leis que reforccedilam e datildeo garantias da efetivaccedilatildeo de um direito liacutequido e certo expresso na Constituiccedilatildeo Federal de (1988) no artigo 208 e na lei 939496 LDB Refletimos sobre os Documentos Oficiais como forma de organizaccedilatildeo estrutural da educaccedilatildeo baacutesica a saber PCNs OCEM e BNCC (1997 20062016) que viabilizam a leitura do texto literaacuterio na aula de liacutengua portuguesa impulsionando estrateacutegias didaacuteticas capaz de conciliar as nuances da modalidade EJA Este percurso teoacuterico criacutetico serve de base tanto para reflexatildeo sobre a experiecircncia adquirida na praacutetica do ensino de literatura para uma turma do terceiro ano do niacutevel meacutedio da EJA quanto para a nossa proposta de leitura do gecircnero poesia que desponta para uma ascensatildeo da leitura literaacuteria contribuindo para uma formaccedilatildeo humanizadora (FREIRE 1997) do educando atraveacutes de uma proposta didaacutetica que se baseia em um conceito de leitura prazerosa e nas lembranccedilas afetivas do leitor fazendo um elo entre o passado e o presente Destacamos um processo de aprendizado por meio da literatura capaz de formar um cidadatildeo consciente de seu papel no contexto social (CANDIDO 2011) assumindo uma responsabilidade criacutetica e poliacutetica dos acontecimentos Assim apresentamos uma proposta didaacutetica para as aulas dos educandos da modalidade EJA com a seleccedilatildeo dos textos CANCcedilAtildeO DO EXIacuteLIO I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) e as muacutesicas MEU SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) UM IacuteNDIO (VELOSO 1977) para compor os temas que focalizam a expansatildeo da leitura literaacuteria possibilitando um campo feacutertil de novas ideias e aproveitamentos para debates aproximar as experiecircncias de vida dos educandos suas realidades e anseios sobre o horizonte de expectativa A utilizaccedilatildeo dos meacutetodos Recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) e Sequecircncia Expandida (COSSON 2016) fomentam esta possibilidade de leitura destes textos literaacuterios Palavras chave EJA Meacutetodo Recepcional Gonccedilalves Dias

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

ABSTRACT In this work we assume that literature teaching through the genre poetry in the EJA class third year cycle six average level has as main proposal the formation of studentsrsquo readers who seek a new opportunity to study The objectives of our proposal consist in the literary reading of a poem allied to the music genre using its world experience its previous knowledge about the literary works addressed enabling the students to a new referential of inclusive social life with comprehensive and reflective readings and a production of texts capable of transposing new horizons of expectations Initially we exposed the birth and development of the EJA teaching modality in a historical context of growth of Brazilian education with problems that excluded access to education by the most needy population Difficulties faced by youth and adults social prejudice exclusion of rights seen as necessary for the formation of citizenship Next we address the rights of these learners from the laws that reinforce and guarantee the realization of a certain net right expressed in the Federal Constitution of (1988) in article 208 and in law 9394 96 LDB We considered the official documents as a form of structural organization of basic education namely PCNs OCEM and BNCC (1997 20062016) which make it possible to read the literary text in the Portuguese language classroom promoting didactic strategies capable of reconciling nuances of the EJA modality This theoretical critical path serves as a basis both for reflection on the experience acquired in the practice of teaching literature for a third year class at the middle level of the EJA and for our proposal to read the genre poetry that emerges for a rise in literary reading contributing to a humanizing formation (Freire 1997) of the pupil through a didactic proposal that is based on a concept of pleasant reading and on the affective memories of the reader making a link between the past and the present We highlight a process of learning through literature capable of forming a citizen aware of its role in the social context (CANDIDO 2011) assuming a critical and political responsibility for events Thus we present a didactic proposal for the classes of the students of the EJA modality with the selection of texts SONG OF THE EXILE I-JUCA PIRAMA (GUIDIN 2007) and the songs MY SUBLIME TORRAtildeO (MACEDO 1937) AN INDI (VELOSO 1977) to compose the themes that focus on the expansion of literary reading allowing a fertile field of new ideas and uses for debates bringing the learners life experiences closer together their realities and their hopes for the horizon of expectation The use of the Recepcional (BORDINI and AGUIAR 1993) and Expanded Sequence (COSSON 2016) methods encourages this possibility of reading these literary texts Keywords EJA Receptive Method Gonccedilalves Dias

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 10

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS 13

21 OS DIREITOS DO EDUCANDO DA EJA 20

22 DESAFIOS DA EJA 22

23 O QUE PRESCREVEM OS DOCUMENTOS OFICIAIS 24

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA 28

31 LEITURA LITERAacuteRIA NA FORMACcedilAtildeO DO HOMEM 29

32 EXPERIEcircNCIA DO ENSINO DE LITERATURA NO COTIDIANO DOS ALUNOS DA EJA NA

ESCOLA PEDRO ANIacuteSIO 32

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA 37

MOacuteDULO 1 5 AULAS 39

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 39

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 40

MOacuteDULO 2 5 AULAS 41

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 41

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA 42

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 44

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS 45

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

16

casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

17

livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

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GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

10

1 INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho tem como principal interesse o ensino de literatura

atraveacutes do gecircnero poesia na turma da EJA niacutevel meacutedio Esta modalidade de ensino

que tem como puacuteblico jovens e adultos de diferentes ofiacutecios que ao longo do tempo

natildeo tiveram oportunidades de estudar por diversos motivos encontram uma

segunda chance no retorno agrave escola de experimentar na leitura literaacuteria uma nova

oportunidade motivadora de concluir os seus estudos A literatura no processo de

ensino atraveacutes dos vaacuterios gecircneros literaacuterios vem viabilizar uma formaccedilatildeo de um leitor

ativo e reflexivo atuante na sociedade igualmente aos alunos da EJA que satildeo

dessa forma preparados para superar as dificuldades profissionais do cotidiano

utilizando o diaacutelogo e sua experiecircncia de mundo Agrave vista disso a literatura vem

contribuir na formaccedilatildeo do aluno leitor uma leitura literaacuteria que ultrapassa barreiras

incidindo com um propoacutesito de formar novos leitores no trabalho na famiacutelia e em

outros ambientes de interaccedilatildeo social

O argumento para esse trabalho tem como objetivo motivar os educandos

com novas propostas de leitura literaacuteria principalmente com o gecircnero poesia aliado

ao gecircnero muacutesica os objetivos a serem alcanccedilados compreendem como efetuar

uma leitura compreensiva e reflexiva abandonar a zona de conforto com leitura de

novos textos observar e questionar as leituras jaacute efetuadas ampliar os

questionamentos em leitura comparada materializar o aprendizado adquirido em

produccedilotildees de textos A metodologia utilizada fica por conta do meacutetodo recepcional

(BORDINI e AGUIAR 1993)1 e em outros momentos a utilizaccedilatildeo da sequecircncia

expandida (COSSON 2016) que busca formalizar o horizonte de expectativa do

leitor no sentido de ampliar seu conhecimento inserindo nesse quadro uma

participaccedilatildeo maior do educando no que diz respeito agrave experiecircncia de mundo e a

interpretaccedilatildeo do texto fazendo uso de um novo aprendizado no seu cotidiano

A utilizaccedilatildeo da sequecircncia expandida corresponde a uma parte das anaacutelises

dos textos literaacuterios no tocante a descriccedilatildeo ao saber literaacuterio tradicional ldquoTendo isso

em mente a contextualizaccedilatildeo estiliacutestica deveraacute buscar analisar o diaacutelogo entre obra

e periacuteodo mostrando como um alimenta o outrordquo (COSSON 2016 p87) A opccedilatildeo

1 O meacutetodo recepcional de ensino funda-se na atitude participativa do aluno em contato com os

diferentes textos

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

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GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

11

pelo projeto didaacutetico coincidiu com o programa curricular para ensino meacutedio haja

vista seguir o cronograma estabelecido pela escola de primeiro e segundo graus

Pedro Aniacutesio que no periacuteodo noturno oferece o ensino da modalidade de jovens e

adultos na ocasiatildeo a experiecircncia nasce das aulas preparadas como requisito da

disciplina de Estaacutegio Supervisionado para os alunos da EJA niacutevel meacutedio que tem

como principal interesse o ENEM Os textos escolhidos para proposta didaacutetica satildeo

Canccedilatildeo do Exiacutelio e I-Juca Pirama do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) Os

poemas trazem a possibilidade de se aproximarem de discussotildees bastante atuais

pois os temas impliacutecitos trazem a noccedilatildeo de poliacuteticas sociais como os direitos dos

povos indiacutegenas defesa de suas terras encontrado em I-Juca Pirama A questatildeo do

patriotismo o amor agrave paacutetria encontrado em Canccedilatildeo do Exiacutelio

Assim no presente trabalho faz-se por obrigaccedilatildeo apontar alguns aspectos

que datildeo sustento agrave modalidade de Ensino Jovens e Adultos Primeiro os direitos do

educando da EJA Em segundo os desafios da EJA e em terceiro o que

prescrevem os documentos de ordem curricular para em um quarto momento

adentrarmos na reflexatildeo e proposta do ensino leitura literaacuteria com foco na poesia no

ensino meacutedio da EJA Referido a este uacuteltimo item eacute importante considerar que

pretendemos identificar nossas escolhas teoacuterico-metodoloacutegicas que norteiam nossas

respostas para as questotildees qual a funccedilatildeo da literatura no ensino meacutedio da EJA A

leitura literaacuteria de poesias tem espaccedilo nesta modalidade de ensino Como eacute feita

aplicaccedilatildeo destas aulas de literatura

Propusemos esta organizaccedilatildeo consciente que o trabalho exposto natildeo inclui

nenhuma proposta inovadora para as aulas de literatura ainda que possiacutevel ou

procurar indicar soluccedilotildees milagrosas ou apenas problematizar os meacutetodos de

ensino de leitura literaacuteria ateacute entatildeo vigentes mas abrir um canal de discussatildeo para

promover a leitura literaacuteria poeacutetica na sala de aula Guardadas as proporccedilotildees a que

se refere este trabalho nossa escolha pelo texto poeacutetico justifica-se porque

identificamos que principalmente a leitura e anaacutelise de poemas estaacute ausente das

aulas fato observado na turma da EJA do terceiro ano do ensino meacutedio ciclo seis

da escola Pedro Aniacutesio localizado na Rua Melvin Jones sn bairro dos Ipecircs na

ocasiatildeo em que realizamos o nosso estaacutegio supervisionado obrigatoacuterio O nosso

projeto pedagoacutegico tratava da obra do poeta Gonccedilalves Dias e da formaccedilatildeo da

primeira geraccedilatildeo romacircntica e verificou-se uma resistecircncia na leitura de poemas

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

12

pelos alunos por vezes uma predileccedilatildeo pela leitura histoacuterica do movimento poeacutetico

e sobretudo da vida pessoal do poeta

Assim sendo acreditamos em uma aula preparada para os alunos da EJA na

confianccedila de estimular a leitura literaacuteria por toda uma vida formar leitores de

literatura eacute o iniacutecio uma vez que o conhecimento eacute infinito em uma construccedilatildeo

diaacuteria que permite a interaccedilatildeo leitor-texto e mundo

Poreacutem faz-se necessaacuterio pontuar periacuteodos da histoacuteria sobre essa modalidade

de ensino que ao passar dos anos sofreu muitas mudanccedilas ateacute ser reconhecida

como uma necessidade urgente para reduzir um problema social grave o acesso agrave

educaccedilatildeo de jovens e adultos como tambeacutem citar leis que correspondam agraves

poliacuteticas de educaccedilatildeo com foco na EJA e podem assegurar a presenccedila do texto

literaacuterio nestas salas de aula

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

16

casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

17

livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

13

2 UM OLHAR SOBRE A EDUCACcedilAtildeO DE JOVENS E ADULTOS

Desde os periacuteodos Colonial e Imperial a nossa sociedade eacute marcada por uma

grande desigualdade social fruto de uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo do colonizador que

negava o direito de acesso agrave educaccedilatildeo para a populaccedilatildeo mais desprovida de

recursos financeiros e culturais A educaccedilatildeo imposta no periacuteodo colonial atraveacutes de

instituiccedilotildees religiosas que abrangia os adultos tinha como principal finalidade o bom

funcionamento das atividades econocircmicas e das relaccedilotildees de convivecircncia na colocircnia

primeiramente os iacutendios em seguida os negros passaram por esse processo

Historicamente a poliacutetica educacional do nosso paiacutes experimenta momentos de

avanccedilos momentos de retrocessos como tambeacutem de pura ineacutercia o primeiro fato

importante a ser considerado na histoacuteria da nossa educaccedilatildeo ainda no periacuteodo

imperial foi agrave constituiccedilatildeo de 1824 que em seu texto trazia o direito a educaccedilatildeo

ldquofirmou sob forte influecircncia europeia a garantia de uma ldquoinstruccedilatildeo primaacuteria e

gratuita para todos os cidadatildeosrdquo portanto tambeacutem para os adultosrdquo (DI PIERRO e

HADDAD 2000 grifo dos autores) Na praacutetica tal fato natildeo foi consumado pois o

entendimento popular da eacutepoca consagrava como direito soacute as crianccedilas e uma

pequena elite que se aproveitava do momento para ter acesso agrave educaccedilatildeo Um paiacutes

que tentava se libertar de um regime escravocrata ainda detinha no seu quadro

social comerciantes donos de engenhos pessoas negras escravizadas e mulheres

sem acesso a educaccedilatildeo ou seja 82 da populaccedilatildeo ainda natildeo sabia ler e escrever

Segundo Di Pierro e Haddad (2000 p 109) essa realidade durou bastante tempo

Neste uacuteltimo caso chegariacuteamos em 1890 com o sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianccedilas em uma populaccedilatildeo total estimada em 14 milhotildees Ao final do Impeacuterio 82 da populaccedilatildeo com idade superior a cinco anos era analfabeta

Uma situaccedilatildeo criacutetica para educaccedilatildeo que mesmo depois da proclamaccedilatildeo da

repuacuteblica dava poucos sinais de mudanccedilas no cenaacuterio nacional Com passar do

tempo e do desenvolvimento poliacutetico social da ex-colocircnia que passava por um

processo de transformaccedilotildees de regime poliacutetico no final do seacuteculo XIX e comeccedilo do

seacuteculo XX a educaccedilatildeo passa a ter uma nova configuraccedilatildeo no contexto nacional com

a urbanizaccedilatildeo e o crescimento das cidades o aparecimento das induacutestrias e o

fortalecimento do comeacutercio O desejo das autoridades poliacuteticas de colocar o paiacutes na

14

rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

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Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

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rota do crescimento em ritmo de igualdade das grandes naccedilotildees o clamor da

sociedade por mais educaccedilatildeo fez com que novas poliacuteticas educacionais fossem

elaboradas Poreacutem o que se viu de mudanccedilas natildeo correspondia agrave realidade das

necessidades da populaccedilatildeo

Diante de um quadro extremamente complexo a educaccedilatildeo de jovens e

adultos natildeo teve a referida atenccedilatildeo a qual precisavam para uma reparaccedilatildeo por anos

de exclusatildeo vivendo a margem da sociedade pois em muitos momentos vista como

educaccedilatildeo de segundo plano aleacutem de receber estigmas negativos e pejorativos por

parte da sociedade que relacionava a modalidade de ensino ao indiviacuteduo incapaz

de dominar a tecnologia da escrita e da leitura viacutetimas de preconceitos taxados

como analfabetos2

Resultado dessa heranccedila de poliacuteticas educacionais excludentes ao longo da

histoacuteria temos como fato concreto dois grupos o primeiro grupo de cidadatildeos com

letrismo a-funcional3 aqueles que natildeo tecircm domiacutenio sobre os coacutedigos de leitura e

escrita mas consegue desenvolver suas atividades no cotidiano este grupo vem ao

longo dos seacuteculos amargando uma total exclusatildeo como exemplo podemos citar o

principal direito subtraiacutedo ainda no periacuteodo imperial foi o voto com a lei Saraiva4

pois o cidadatildeo com letrismo a-funcional podia constituir famiacutelia trabalhar ser dono

de terras mas no entender juriacutedico da eacutepoca natildeo tinha capacidade intelectual para

escolher um representante poliacutetico Desse modo surge o primeiro fator de

preconceito contra os cidadatildeos com letrismo a-funcional ser privado do direito de

exercer a cidadania O segundo grupo consiste nos cidadatildeos com letrismo

funcional5 aqueles que dominam os coacutedigos de leitura e escritas mas natildeo aplica no

seu cotidiano de modo que o resultado se realiza em escrever o proacuteprio nome

ldquodesenhar o nomerdquo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66) Segundo as autoras tal

classificaccedilatildeo natildeo corresponde agrave realidade e por demais injustas pois configura um

modo de preconceito de acordo com elas

2 Sobre o uso do vocabulaacuterio analfabeto termo muito usado na eacutepoca para designar um cidadatildeo que

natildeo saber ler e escrever relacionado a jovens e adultos expotildee a vida social do indiviacuteduo gerando uma condiccedilatildeo de preconceito Por essa razatildeo optamos pelos termos letrismos a-funcional e letrismo funcional 3 Termo utilizado para designa um cidadatildeo com pouca ou nenhuma escolaridade

4 O Decreto n 3029 de 9 de janeiro de 1881 estabeleceu no Brasil pela primeira vez a exclusatildeo do

analfabeto entre os eleitores 5 Termo utilizado para designa um cidadatildeo escolarizado mas usa com pouca eficiecircncia no dia a dia

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Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

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casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

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livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

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Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

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Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

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Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

15

Haacute quem considere a expressatildeo analfabetismo funcional inadequada porque em uma sociedade grafocecircntrica como esta em que vivemos mesmo um conhecimento bastante rudimentar do sistema de escrita pode ser muito valioso e portanto funcional para quem o possui A habilidade de escrever o proacuteprio nome que permite substituir a impressatildeo digital pela assinatura em situaccedilotildees formais de identificaccedilatildeo tem enorme significaccedilatildeo para jovens e adultos que se encontram em processo de alfabetizaccedilatildeo (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p66)

Por essa razatildeo considerar em muitos casos situaccedilotildees que homens e

mulheres no exerciacutecio do trabalho por mais rudimentar que seja como sujeitos

desprovidos de conhecimento eacute natildeo considerar sua praacutetica diaacuteria de atividades e

relacionamento social Desta forma permanece a questatildeo Como definir o niacutevel de

conhecimento miacutenimo para que possa considerar um sujeito capaz de viver em

sociedade e garantir o acesso a esse conhecimento As autoras citam dados

referenciais da UNESCO que explana a nossa realidade

Seguido o criteacuterio internacional adotado pela Unesco que considera analfabetos funcionais os jovens e adultos que tecircm menos de quatro anos de estudos constatamos que praticamente a quarta parte da populaccedilatildeo adulta brasileira (cerca de 30 milhotildees de pessoas) encontra-se nessa categoria (GALVAtildeO DI PIERRO 2013 p 67)

Um problema invisiacutevel perante a sociedade e os governantes que persistem

de modo assustador nesse modelo de gestatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica No quadro da

histoacuteria e diante de tantos obstaacuteculos a EJA natildeo eacute vista como prioridade mesmo

assim ela vem trilhando alguns caminhos que fatalmente pode apagar esse tiacutetulo de

milhotildees brasileiros com letrismo a-funcional Vaacuterios projetos foram implantados

tendo como base leis que em muitos momentos da histoacuteria da educaccedilatildeo foram

utilizadas para suprir uma necessidade urgente mas hoje avalia-se que natildeo tiveram

eficaacutecia suficiente para sanar este problema Vale citar dois exemplos recentes

datados do final da deacutecada de 60 ateacute o final da deacutecada de 70 que marcaram a

identidade dos educando jovens e adultos no Brasil Projetos jaacute extintos como

MOBRAL6 e SUPLETIVO7 que priorizava a volta de adultos trabalhadores dona de

6 Lei 537967 Movimento Brasileiro de Alfabetizaccedilatildeo criado no regime militar sob o a estrutura de

uma fundaccedilatildeo com autonomia gerencial desvinculada do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Principal atuaccedilatildeo alfabetizar jovens e adultos 7 Lei 569271 Ensino Supletivo Art24 a) Suprir a escolarizaccedilatildeo regular para os adolescentes e

adultos que natildeo tenha seguido ou concluiacutedo na idade proacutepria

16

casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

17

livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

16

casa matildees de famiacutelias jovens que natildeo completaram o ensino fundamental e meacutedio

na idade regular agraves salas de aula

Considerando a larga experiecircncia que o Brasil tem com projetos de educaccedilatildeo

de jovens e adultos a EJA no ensino baacutesico vem suprir as carecircncias no acircmbito da

educaccedilatildeo de uma parcela significativa de homens e mulheres fora do mercado de

trabalho que cada vez mais exige uma formaccedilatildeo qualificada conhecimentos

muacuteltiplos do domiacutenio das novas tecnologias formas de comunicaccedilatildeo e linguagens

aleacutem de cidadatildeos preparados para situaccedilotildees que envolvam habilidades de

discursos conhecedor de conceitos eacuteticos e morais promovendo uma educaccedilatildeo

continuada que pode durar toda uma vida incluiacutedo uma formaccedilatildeo de niacutevel superior

Neste panorama a literatura eacute uma peccedila chave para estabelecer um novo

aprendizado para jovens e adultos principalmente no ensino meacutedio pois de acordo

com o procedimento didaacutetico utilizado pode-se sistematizar uma relaccedilatildeo

interdisciplinar promover uma democratizaccedilatildeo entre os saberes ampliar o

desenvolvimento cognitivo do educando Nesse sentido os Paracircmetros Curriculares

Nacionais (PCNs) de liacutengua portuguesa postula no ensino fundamental por meio de

praacuteticas como accedilatildeo criadora o ato da leitura independente criacutetica e comprometida

com o cotidiano do educando um ensino de literatura capaz de absorver e

reverberar novos aprendizados adquiridos e levados como base de aprendizado

para o ensino de niacutevel meacutedio ainda esclarece que

Toda educaccedilatildeo verdadeiramente comprometida com o exerciacutecio da cidadania precisa criar condiccedilotildees para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaccedila necessidades pessoais ndash que podem estar relacionadas agraves accedilotildees efetivas do cotidiano agrave transmissatildeo e busca de informaccedilatildeo ao exerciacutecio da reflexatildeo De modo geral os textos satildeo produzidos lidos e ouvidos em razatildeo de finalidades desse tipo Sem negar a importacircncia dos que respondem a exigecircncias praacuteticas da vida diaacuteria satildeos os textos que favorecem a reflexatildeo criacutetica e imaginativa o exerciacutecio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas os mais vitais para a plena participaccedilatildeo numa sociedade letrada (BRASIL 1997 p26)

Acreditamos que a leitura de poemas na sala de aula do ensino meacutedio na

modalidade de jovens e adultos requer uma atenccedilatildeo maior na composiccedilatildeo das

aulas jaacute que o gecircnero poesia tem uma infinita variedade de possibilidades didaacuteticas

a serem trabalhados De modo geral a poesia pode se fazer mais presente nas

leituras indicadas nos programas curriculares para aleacutem dos pequenos trechos dos

17

livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

17

livros didaacuteticos sendo lida na sua integralidade Assim consideramos que a leitura

de poemas claacutessicos de seacuteculos passados deve ter espaccedilo em sala de aula nas

turmas da EJA tendo como aliados textos contemporacircneos muacutesicas pinturas artes

poesia popular literatura de cordel e o proacuteprio saber de mundo do educando Nessa

perspectiva Cosson (2016) nos alerta que o importante da leitura eacute criar situaccedilotildees

de diaacutelogo compartilhamento para favorecer os educandos com propostas

diferenciadas de leituras de acordo com ele

Os que se prendem aos programas curriculares escritos a partir da histoacuteria da literatura precisam vencer uma noccedilatildeo conteudiacutestica do ensino para compreender que mais que um conhecimento literaacuterio o que se pode trazer ao aluno eacute uma experiecircncia de leitura a ser compartilhada (COSSON 2016 p 23)

Dessa forma a leitura de poemas na sala de aula tem como principal

finalidade viabilizar o entendimento do leitor com novas propostas de aprendizado

que correspondam a uma accedilatildeo reflexiva diante de temas transversais uma

construccedilatildeo de saberem muacuteltiplos valorizando o conhecimento de mundo do

educando Condiccedilatildeo importante eacute ter em mente o valor da poesia como didaacutetica

capaz de abrir espaccedilo para outros textos literaacuterios ou natildeo literaacuterios outras

linguagens de interaccedilatildeo Diante desse cenaacuterio de possibilidades educativas no

acircmbito da leitura literaacuteria propomos para os alunos da modalidade EJA uma

sistemaacutetica de leitura de poemas conciliada com muacutesicas de mesmo perfil temaacutetico

facilitando o aprendizado e a integraccedilatildeo do aluno com seu meio de vivecircncia

movimentando para uma didaacutetica capaz de viabilizar uma oportunidade ampla e

variada de diaacutelogo com os problemas da comunidade a inclusatildeo social relativo a

direitos baacutesico Desse modo o documento que parametriza o uso da liacutengua

portuguesa no ensino meacutedio complementa a questatildeo da seguinte forma

A loacutegica de uma proposta de ensino e de aprendizagem que busque promover letramentos muacuteltiplos pressupotildee conceber a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento e inclusatildeo social Some-se a isso que as praacuteticas de linguagem a serem tomadas no espaccedilo da escola natildeo se restringem agrave palavra escrita nem se filiam apenas aos padrotildees socioculturais hegemocircnicos Isso significa que o professor deve procurar tambeacutem resgatar do contexto das comunidades em que a escola estaacute inserida as praacuteticas de linguagem e os respectivos textos que melhor representam sua realidade (BRASIL 2015 p28)

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

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MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

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Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

18

Os caminhos que levam ao aprendizado satildeo muitos poreacutem no caso da EJA

a metodologia faz a diferenccedila natildeo cabe mais no ensino de jovens e adultos uma

aula de literatura soacute com a perspectiva historiograacutefica com foco na histoacuteria da

literatura da vida do poeta uma leitura de poemas desconectado da realidade do

aluno uma aula com conceitos de ensino bancaacuterio o educando recebe muita

informaccedilatildeo sem utilidade (FREIRE 1997) O que sustenta e motiva o aluno em uma

accedilatildeo reflexiva eacute fazer parte do processo de educaccedilatildeo ser um sujeito que participa

da aula que pesquisa discute a obra literaacuteria que lecirc e tem paixatildeo pelo ato da

decodificaccedilatildeo e interpretaccedilatildeo dos textos ao mesmo tempo impressiona-se com a

descoberta da leitura Neste sentido o meacutetodo recepcional (BORDINI E AGUIAR

1993) na formaccedilatildeo do aluno leitor abre uma gama de possibilidade e variadas

formas de trabalhar o texto literaacuterio com condiccedilotildees necessaacuterias que partam de um

horizonte de expectativa do aluno para ampliaacute-lo ou seja um desenvolvimento

contiacutenuo que passa por fases ateacute o esperado desfecho depois de uma anaacutelise

completa da obra e suas possiacuteveis ligaccedilotildees com outros gecircneros literaacuterios uma

leitura que o surpreenda o arrebate de forma que o aluno aumente o seu desejo

sobre leitura literaacuteria e se projete para o futuro em contato com outros gecircneros

literaacuterios independente de fatos ou acontecimentos que quebram suas expectativas

Perante esta conclusatildeo as autoras Bordini e Aguiar (1993 p 84) expotildeem que

A atitude receptiva se inicia com uma aproximaccedilatildeo entre texto e leitor em que toda historicidade de ambos vem agrave tona As possibilidades de diaacutelogo com a obra dependem entatildeo do grau de identificaccedilatildeo ou de distanciamento do leitor em relaccedilatildeo a ela no que tange as convenccedilotildees sociais e culturais a que estaacute vinculado e agrave consciecircncia que dela possui

A bem da verdade a modalidade de ensino EJA sozinha natildeo seria capaz de

suprir as necessidades do educando situaccedilatildeo essa que eacute uma realidade partindo

do pressuposto ativo que o direito a educaccedilatildeo eacute uma condiccedilatildeo necessaacuteria para

qualquer sociedade pautada pela igualdade de condiccedilotildees respeito ao cidadatildeo

desenvolvimento socioeconocircmico e social que priorize uma poliacuteticas de inclusatildeo

oferecendo oportunidades aos jovens e adultos atraveacutes da educaccedilatildeo a possibilidade

de ter um futuro melhor sobre esta questatildeo a Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo

para Todos do qual o Brasil eacute signataacuterio expressa esse direito da seguinte forma

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

25

circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

29

poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

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voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

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GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

19

Cada pessoa ndash crianccedila jovem ou adulto ndash deve estar em condiccedilotildees de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades baacutesicas de aprendizagem Essas necessidades compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a escrita a expressatildeo oral o caacutelculo a soluccedilatildeo de problemas) quanto os conteuacutedos baacutesicos da aprendizagem (como conhecimentos habilidades valores e atitudes) necessaacuterios para que os seres humanos possam sobreviver desenvolver plenamente suas potencialidades viver e trabalhar com dignidade participar plenamente do desenvolvimento melhorar a qualidade de vida tomar decisotildees fundamentadas e continuar aprendendo A amplitude das necessidades baacutesicas de aprendizagem e a maneira de satisfazecirc-las variam segundo cada paiacutes e cada cultura e inevitavelmente mudam com o decorrer do tempo (UNESCO1990 p2 grifo do documento)

Nessa condiccedilatildeo o direito agrave educaccedilatildeo eacute inalienaacutevel um direito subjetivo do

qual a modalidade de ensino de jovens e adultos deteacutem todas as prerrogativas

possiacuteveis da poliacutetica educacional esse fato em especial elabora um parecer positivo

na teoria poreacutem na praacutetica a sistemaacutetica eacute diferente Para pontuar dois problemas

que os alunos com letrismo a-funcional e letrismo funcional na atual situaccedilatildeo da EJA

enfrentam O primeiro grupo corresponde a quem natildeo teve oportunidade devido a

fatores de ordem socioeconocircmica ou falta de escola O segundo eacute fruto dos modelos

de ensino que daacute atenccedilatildeo agrave quantidade em vez da qualidade no momento que o

aluno natildeo consegue ecircxito eacute descartado pelas redes de ensino um modelo

excludente que remete o aluno a um processo de evasatildeo escolar Discorrem sobre

esse assunto os autores Di Pierro e Haddad (2000 p 125) como principal problema

da EJA a produccedilatildeo do que denominam como letrismo funcional por parte do ensino

regular

Essa nova modalidade de exclusatildeo educacional que acompanhou a ampliaccedilatildeo do ensino puacuteblico acabou produzindo um elevado contingente de jovens e adultos que apesar de terem passado pelo sistema de ensino nele realizaram aprendizagens insuficientes para utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia O resultado desse processo eacute que no conjunto da populaccedilatildeo assiste-se agrave gradativa substituiccedilatildeo dos analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e adultos cujo domiacutenio precaacuterio da leitura da escrita e do caacutelculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional

Essas duas categorias de alunos vatildeo se encontrar nas salas da EJA O

nuacutemero de alunos com letrismo a-funcional vem caindo enquanto os alunos com

letrismo funcionais vecircm gradativamente aumentando Nesse panorama a

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

27

O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

30

uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

BRASIL Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura LDB - Lei nordm 939496 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da Educaccedilatildeo Nacional Brasiacutelia MEC 1996 Disponiacutevel em lthttpwww2senadolegbrhtmgt Acesso em 20 set 2017 BRASIL Orientaccedilotildees Curriculares Para o Ensino Meacutedio Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgobrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Paracircmetros Curriculares Nacionais Liacutengua Portuguesa Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 24 set 2017 BRASIL Parecer CNECEB 112000 de 10 de maio 2000 Dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos Publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo de 962000 Seccedilatildeo 1e p 15 Disponiacutevel em lthttpwwwportalmecgovbrhtmgt Acesso em 21 set 2017 CANDIDO Antocircnio A literatura e a formaccedilatildeo do homem In DANTAS Viniacutecius Textos de Intervenccedilatildeo Satildeo Paulo Duas Cidades Ed34 2002 _________ Direito agrave Literatura Vaacuterios Escritos Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2011 _________ Formaccedilatildeo da literatura brasileira momentos decisivos 15 ed Rio de Janeiro Ouro sobre Azul 2014 CAVALCANTE Marianne C B ALMEIDA Maria de Faacutetima (org) Vivecircncias do ensino de liacutengua portuguesa perspectiva e desafios 2 ed Joatildeo Pessoa Editora UFPB 2014 COSSON Rildo Ciacuterculos de leitura e letramento literaacuterio 1 ed Satildeo Paulo Contexto 2018 ___________ Letramento Literaacuterio teoria e praacutetica 2 ed Satildeo Paulo Contexto 2016 DECLARACcedilAtildeO Mundial Sobre Educaccedilatildeo Para Todos 1990 Disponiacutevel em lthttpwwwabresorgbrhtmgt Acesso em 08 nov 2017 DI PIERRO Maria Clara A Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos no Plano Nacional de Educaccedilatildeo Avaliaccedilatildeo Desafios e perspectivas Educaccedilatildeo e Sociedade Campinas v 31 m 112 p 939 ndash 959 jul ndash set 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielopdfbrhtmgt Acesso em 20 fev 2018 GALVAtildeO Ana Maria de Oliveira DI PIERRO Maria Clara Preconceito Contra o Analfabeto 2 ed Satildeo Paulo Cordez 2013 GONZAGUINHA O que eacute o que e Disponiacutevel emlthttpwwwvagalumecombrgonzaguinhao-que-e-o-que-ehtmgt Acesso em 15 de marccedilo 2018 0400

47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

20

modalidade de ensino de jovens e adultos necessita de mais investimentos e a

elaboraccedilatildeo de um programa de educaccedilatildeo que satisfaccedila as necessidades do

educador e do educando

21 Os direitos do educando da EJA

Com o passar do tempo a educaccedilatildeo de jovens e adultos seguiu um rumo

mais consistente a pedido da sociedade das Ongs Fundaccedilotildees Sindicatos em

combater o letrismo a-funcional e a exclusatildeo dos trabalhadores e de todos que

estivessem fora do universo escolar agrave necessidade urgente de reagir contra esse

problema social que se agravava muito rapidamente elevando ainda mais a

desigualdade em nosso paiacutes Com a promulgaccedilatildeo da constituiccedilatildeo de 1988 na qual

educaccedilatildeo foi reconhecida como direito baacutesico do cidadatildeo deu-se entatildeo um capiacutetulo

agrave educaccedilatildeo principalmente ao que se refere aos direitos do educando de acordo

com o que dizem os artigos 205 e 208 (CF2009 p75)

Art205 A educaccedilatildeo eacute direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho Art208 O dever do Estado com a educaccedilatildeo seraacute efetivado mediante a garantia de I ndash ensino fundamental obrigatoacuterio e gratuito assegurado inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele natildeo tiveram acesso na idade proacutepria II ndash progressiva universalizaccedilatildeo do ensino meacutedio gratuito (BRASIL 2009)

Seguindo o desejo imperioso da lei maacutexima natildeo resta duacutevida dos direitos do

educando que vem depois de deacutecadas reparar um erro social grave jovens e

adultos viacutetimas de preconceitos e da falta de oportunidades Entretanto cabe

salientar que esse capiacutetulo eacute insuficiente diante da dimensatildeo problemaacutetica da

educaccedilatildeo desta forma em 1996 eacute sancionada a lei 9394 conhecida como LDB

Esta lei estabelece as novas diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional amplia

os direitos do educando conceituando o que vem a ser educaccedilatildeo baacutesica as

prioridades estruturais do sistema de educaccedilatildeo do Brasil como tambeacutem define os

direitos dos alunos jovens e adultos vejamos o que expressa o artigo 4deg nos Incisos

IV e VII da LDB (LDB 2017 p 9-10)

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

21

Art 4deg O dever do Estado com a educaccedilatildeo escolar puacuteblica seraacute efetivado mediante a garantia de IV ndash acesso puacuteblico e gratuito aos ensinos fundamental e meacutedio para todos os que natildeo concluiacuteram na idade proacutepria VII ndash oferta de educaccedilatildeo escolar regular para jovens e adultos com caracteriacutestica e modalidades adequadas agraves suas necessidades e disponibilidades garantindo-se aos que forem trabalhadores as condiccedilotildees de acesso e permanecircncia na escola

Diante do exposto no referido artigo o Estado eacute responsaacutevel por todas as

etapas da educaccedilatildeo baacutesica garantindo ao educando em idade natildeo escolar

oportunidade de ingressar na sala de aula Nesse sentido o inciso VII determina agraves

escolas que atendam os alunos na modalidade jovens e adultos em condiccedilotildees

especiacuteficas da modalidade cabe ressaltar as dificuldades encontradas por estes

alunos principalmente os trabalhadores que tem finalmente os seus direitos

reconhecidos e ampliados deixando de lado a velha maacutexima de que o ensino

ofertado seja uma compensaccedilatildeo uma reparaccedilatildeo das desigualdades sociais e natildeo

um direito Por forccedila de lei abre-se um ponto de partida para tratar de modo igual

aqueles que natildeo tiveram acesso agrave educaccedilatildeo na idade escolar por infinitos motivos

dos quais podemos elencar a necessidade do trabalho para subsistecircncia da famiacutelia

dos jovens que muito cedo constituiacuteram uma famiacutelia das mulheres por questotildees de

domiacutenio machista que as impediam de estudar Sobre esta questatildeo a LDB

preconiza na seccedilatildeo V ndash A educaccedilatildeo de jovens e adultos ndash no seu artigo 37 um

direito consagrado na qual viabiliza aos alunos da EJA procurar o poder puacuteblico para

garantir o direito de estudar Vejamos como expressa o artigo 37ordm Paraacutegrafos sectsect 1

e 2 da LDB(2017 p 31)

Art37 A educaccedilatildeo de jovens e adultos seraacute destinada agravequeles que natildeo tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e meacutedio da idade proacutepria sect 1ordm Os sistemas de ensinos asseguraratildeo gratuitamente aos jovens e aos adultos que natildeo puderam efetuar os estudos na idade regular oportunidades educacionais apropriadas consideradas as caracteriacutesticas do alunado e seus interesses condiccedilotildees de vida e de trabalho mediante cursos e exames sect 2ordm O Poder Puacuteblico viabilizaraacute e estimularaacute o acesso e a permanecircncia do trabalhador na escola mediante accedilotildees integradas e complementares entre si

A incoerecircncia com este artigo consiste no sect 1deg que natildeo atinge todos os

jovens e adultos pois aqueles que tecircm suas atividades de trabalho no periacuteodo

noturno estatildeo automaticamente excluiacutedos No sect 2ordm reside uma divergecircncia da

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

28

3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

32

o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

38

rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

39

MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

40

separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

41

Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

42

Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

43

reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

44

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

46

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47

GUIDIN Maacutercia Liacutegia Gonccedilalves Dias poesia liacuterica e indianista Satildeo Paulo Aacutetica 2007 HADDAD Sergio DI PIERRO Maria Clara Escolarizaccedilatildeo de Jovens e Adultos Revista Brasileira de Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Nordm 14 p 108 ndash 128 maio - ago 2000 MACEDO Genival Meu Sublime Torratildeo Disponiacutevel em lthttpwwwomundocomoeleeblogspotcombr200807meusublimetorraohtmgt Acesso em 17 mar 2018 MATOS Clauacutedia Neiva de Poesia e Muacutesica laccedilos de parentesco e parceria In MATOS Clauacutedia Neiva de TRAVASSOS Elizabeth MEDEIROS Fernanda Teixeira (org) Palavra Cantada ndash ensaios sobre poesia muacutesica e voz ndash Rio de Janeiro 7 letras 2008 p 83 ndash 97 Disponiacutevel em lthttpwwwbooksgooglecombrhtmgt Acesso em 25 mar 2018 MENDES Murilo Canccedilatildeo do Exiacutelio Disponiacutevel em lthttpswwwblogsoestadocompauta20100618canccedilatildeo-do-exiliohtm gt Acesso em 17 abr 2018 MUNDURUKU Daniel Histoacuterias de Iacutendio 1 ed Satildeo Paulo Companhia das Letrinhas 1996 QUINTANA Maacuterio Uma Canccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwmario-quintana-rhblogspotcombr201310uma-cancaohtml gt Acesso em 17 abr 2018 SANTOS Manoel Camilo dos Viagem ao Paiacutes de Satildeo Saruecirc Disponiacutevel em lthttpwwwletrasupptupiutopiaportuguesasrevistaindexhtmgt Acesso em 08 mar 2018 SEGABINAZI Daniela O imaginaacuterio coletivo sobre minorias e gecircnero nas obras de ficccedilatildeo e nas leituras dos leitores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 59 ndash 91 VELOSO Caetano Um Iacutendio Disponiacutevel em lthttpwwwvagalumecombrcaetano-velosoum-indiohtmgt Acesso em 22 abr 2018

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS … · dos textos CANÇÃO DO EXÍLIO, I-JUCA PIRAMA (GUIDIN, 2007) e as músicas MEU SUBLIME TORRÃO (MACEDO, 1937). UM ÍNDIO

22

realidade quando muitos trabalhadores tem uma carga horaacuteria extensa e jaacute definida

em atividades classificadas como subemprego que natildeo abre espaccedilo para um tempo

razoaacutevel de estudo aleacutem do deslocamento agrave instituiccedilatildeo de ensino Uma razatildeo que

nos obriga a refletir sobre esta Lei nordm 93941996 eacute a cultura do direito pois os

jovens e adultos buscam o direito agrave escola para os seus filhos mas o seu direito de

estudar por vezes natildeo eacute efetivado muitos jaacute se consideram velhos e cansados

outros desmotivados com a escola quando muitas dessas instituiccedilotildees juntamente

com seu corpo docente ainda efetua as mesmas praacuteticas de ensinos tradicionais que

natildeo correspondem agraves exigecircncias atuais dos novos educandos

22 Desafios da EJA

No atual contexto social a modalidade de ensino jovens e adultos vem

ampliando seus espaccedilos poreacutem sofre ainda com a carecircncia de investimentos e

uma poliacutetica de educaccedilatildeo pouco transparente no que diz respeito agrave modalidade EJA

nas uacuteltimas deacutecadas recebeu um tratamento de uma poliacutetica de educaccedilatildeo

secundaacuteria em comparaccedilatildeo ao ensino regular como exemplo dessa situaccedilatildeo no

ano de 1990 eacute marcado como o iniacutecio da deacutecada educaccedilatildeo para todos no entanto

o que observou-se uma poliacutetica educacional castradora onde a modalidade de

ensino EJA foi a mais penalizada No governo de Fernando Collor de Melo (1990 ndash

1992) uma das primeiras accedilotildees foi agrave extinccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Educar (DI PIERRO

HADDAD 2000) instituiccedilatildeo essa que mantinham vaacuterios projetos e financiamentos

com outras entidades no acircmbito da educaccedilatildeo de jovens e adultos A poliacutetica

educacional implantada no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002)

teve mudanccedilas mais profundas com a lei 9 42496 (FUNDEF) que deixou sem

financiamento a modalidade de ensino EJA como relata Di Pierro (2010 p 941)

Num contexto de redefiniccedilatildeo dos papeacuteis do Estado e de contenccedilatildeo do gasto federal a poliacutetica educacional do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 ndash 2002) induziu agrave municipalizaccedilatildeo e focalizou o investimento puacuteblico no ensino fundamental de crianccedilas e adolescentes mediante a criaccedilatildeo em 1996 de fundos de financiamento em cada uma das unidades da federaccedilatildeo Por forccedila de veto presidencial agrave lei que regulamentou o Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizaccedilatildeo do Magisteacuterio (FUNDEF) as matriacuteculas na EJA natildeo puderam ser consideradas o que restringiu as fontes de financiamento e desestimulou os gestores a ampliarem as matriacuteculas na modalidade

23

As accedilotildees de investimentos dos governos federais anteriores natildeo priorizam a

EJA poreacutem no governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da Silva (2002 ndash 2010) a

poliacutetica educacional com relaccedilatildeo ao EJA foi mais efetiva a comeccedilar pelos

programas sociais como O Programa Brasil Alfabetizado O Programa Nacional de

Inclusatildeo de Jovens (PROJOVEM) a inclusatildeo da modalidade de ensino EJA na lei

11 49407 Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de

Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da Educaccedilatildeo (FUNDEB) Outra situaccedilatildeo que

seguramente compromete o desempenho dos educandos eacute a falta de investimento

em capacitaccedilatildeo dos professores a grande maioria natildeo tem experiecircncia na aacuterea de

atuaccedilatildeo do ensino de jovens e adultos para trabalhar com questotildees tais como

heterogeneidade conciliar vaacuterios sujeitos dentro de uma sala de aula com

pensamentos experiecircncia de vida comportamentos e idades diferentes O desafio eacute

muita vez a permanecircncia do aluno na escola tempo de aula insuficiente a falta de

recursos didaacuteticos mais atualizados com as novas tecnologias da educaccedilatildeo

Trabalhar as expectativas e os anseios dos mais jovens preparaacute-los para o saber

continuado envolvendo a leitura literaacuteria e todas as transformaccedilotildees possiacuteveis

relacionadas ao ato de ler Segundo Di Pierro (2010 p 954) o processo baacutesico para

supera os desafios do EJA constitui-se na organizaccedilatildeo e investimento

Para que as poliacuteticas puacuteblicas possam conferir materialidade a concepccedilotildees mais apropriadas de alfabetizaccedilatildeo e educaccedilatildeo baacutesica de qualidade (o que implica tambeacutem articular definidamente oportunidades de qualificaccedilatildeo profissional e acesso agraves tecnologias da comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo) eacute preciso ampliar o financiamento destinado agrave EJA e reverter a situaccedilatildeo de despreparo e desvalorizaccedilatildeo profissional dos educadores que a ela se dedicam

O certo eacute que depois da efetivaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de 1988 e da LDB

aconteceram profundas mudanccedilas no interior das escolas a EJA hoje eacute sinocircnimo

de um direito concreto ao mesmo tempo a consciecircncia de direito agrave educaccedilatildeo cresce

entre o puacuteblico de jovens e adultos e com ela aumenta tambeacutem a necessidade de

construccedilatildeo de novos saberes

24

23 O que prescrevem os documentos oficiais

A estrutura da educaccedilatildeo no Brasil tem como regra e definiccedilatildeo a educaccedilatildeo

baacutesica que abrange trecircs etapas do ensino escolar educaccedilatildeo infantil (EI) ensino

fundamental (EF) ensino meacutedio (EM) todas satildeo organizadas por documentos que

servem de paracircmetro curricular nominadamente os PCNs as OCEM BNCC para

ensino fundamental e meacutedio

O que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) preconiza eacute que o papel

da liacutengua portuguesa eacute garantir o acesso ao conhecimento linguiacutestico capaz de

promover a inclusatildeo social e o pleno exerciacutecio da cidadania outro aspecto

interessante eacute ressaltar a importacircncia de atender a multiplicidade de gecircnero e os

usos da liacutengua escrita e oral a partir de um texto base A proposta eacute dividida em

cinco etapas conhecidas como eixos organizadores Eixo Oralidade Eixo Leitura

Eixo Escrita Eixo Conhecimento Linguiacutesticos e Gramaticais Eixo Educaccedilatildeo

Literaacuteria Cada eixo estaacute distribuiacutedo em unidades temaacuteticas durante os nove anos do

ensino fundamental O documento reveste-se de uma posiccedilatildeo pedagoacutegica

elementar a integraccedilatildeo dos Eixos que capacita os educandos para uma leitura

reflexiva criacuteticas da realidade

Os eixos leitura e educaccedilatildeo literaacuteria estatildeo interligados e possibilitam uma

base para educaccedilatildeo continuada na formaccedilatildeo de um aluno leitor Desta forma accedilatildeo

atuante no eixo leitura serve como um exerciacutecio de decodificaccedilatildeo e aprendizado das

palavras e do texto contribuindo para o domiacutenio da escrita como tambeacutem o

desenvolvimento de habilidade de compreensatildeo e interpretaccedilatildeo de textos Jaacute o eixo

educaccedilatildeo literaacuteria tecircm como finalidade para o educando o reconhecimento de textos

literaacuterios orais e escritos natildeo uma forma de aprender literatura e sim de propiciar um

contanto com a literatura De acordo com o documento

Natildeo se trata pois no Eixo Educaccedilatildeo literaacuteria de ensinar literatura mas de promover o contato com a literatura para formaccedilatildeo do leitor literaacuterio capaz de apreender e apreciar o que haacute de singular em um texto cuja intencionalidade natildeo eacute imediatamente praacutetica mas artiacutestica O leitor descobre assim a literatura como possibilidade de fruiccedilatildeo esteacutetica alternativa de leitura prazerosa (BRASIL 2016 p65)

Nesta perspectiva o uso dos textos eacute importante para formaccedilatildeo do aluno

leitor poreacutem o que contribui para uma leitura reflexiva eacute promover contato com as

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circunstacircncias e vivecircncia de seu proacuteprio mundo ou seja sem uma orientaccedilatildeo

apropriada agrave leitura seraacute enfatizada como uma obrigaccedilatildeo passando longe do

processo de descoberta de envolvimento de paixatildeo pela leitura literaacuteria Um ato

que se ocupa da verdadeira intenccedilatildeo humanizar o educando de sua realidade

Sobre essa perspectiva Freire (1997 1997 p 13) expotildee

Ora uma educaccedilatildeo soacute eacute verdadeiramente humanista se ao inveacutes de reforccedilar os mitos com os quais se pretende manter o homem desumanizado esforccedila-se no sentido da desocultaccedilatildeo da realidade Desocultaccedilatildeo na qual o homem existencialize sua real vocaccedilatildeo a de transformar a realidade Se a ao contraacuterio a educaccedilatildeo enfatiza os mitos e desemboca no caminho da adaptaccedilatildeo do homem agrave realidade natildeo pode esconder seu caraacuteter desumanizador

Vale ainda destacar dentro do ensino fundamental a perspectiva orientada

pelo PCNs (Paracircmetros Curriculares Nacionais) que caracteriza o ensino da leitura

e da escrita no ensino fundamental como as vaacuterias possibilidades de uso eficaz da

linguagem que satisfaccedila as necessidades pessoais do aluno O aluno eacute o sujeito da

accedilatildeo de aprender eacute o que absorve o objeto de conhecimento A liacutengua portuguesa

por sua vez eacute o objeto de conhecimento independente do que se fala ou escreve

fora do ambiente escolar O ensino eacute a praacutetica educacional em movimento

experiecircncia de mundo do aluno o sujeito e o conhecimento estatildeo interligados em

um processo contiacutenuo de desenvolvimento Desse modo considera-se a praacutetica

reflexiva da liacutengua o uso da liacutengua no cotidiano do aluno De acordo com o

documento

26

O estabelecimento de eixos organizadores dos conteuacutedos de Liacutengua Portuguesa no ensino fundamental parte do pressuposto que a liacutengua se realiza no uso nas praacuteticas sociais que os indiviacuteduos se apropriam dos conteuacutedos transformando-os em conhecimento proacuteprio por meio da accedilatildeo sobre eles que eacute importante que o indiviacuteduo possa expandir sua capacidade de uso da liacutengua e adquirir outras que natildeo possui em situaccedilotildees linguisticamente significativas situaccedilotildees de uso de fato (BRASIL 1997 p 35)

Diferente do engessamento que a leitura literaacuteria sofre com a orientaccedilatildeo

curricular definida no BNCC Os Paracircmetros Curriculares Nacionais citam como foco

direcional o uso da leitura praacuteticas de leituras que objetiva a formaccedilatildeo de leitores

competentes visando sempre do outro lado do processo uma produccedilatildeo eficiente da

escrita renovando o espaccedilo de leitura no sentido de literatura comparada com

textos do cotidiano e vivecircncia de mundo do educando Na busca natural do

conhecimento o aluno da sequecircncia a um desenvolvimento rumo ao ldquoser mais isto

eacute ser mais humano comum a todos os homens e mulheres se realiza pela

Educaccedilatildeordquo (BARRETO 1998 p 56)

Traccedilando uma trajetoacuteria com foco no ensino liacutengua portuguesa mais

especificamente para o ensino meacutedio as OCEM (Orientaccedilatildeo Curriculares para o

Ensino Meacutedio) preconizam a consolidaccedilatildeo e aprofundamento de muitos dos

conhecimentos construiacutedos ao longo do ensino fundamental Por consequecircncia a

disciplina de liacutengua portuguesa abre um espaccedilo maior para leitura literaacuteria e a

escrita um aprofundamento das habilidades adquiridas no ensino fundamental

exigindo assim uma posiccedilatildeo mais reflexiva do aluno no que diz respeito agrave produccedilatildeo

de textos como tambeacutem na defesa de seus argumentos extraiacutedos dos textos

literaacuterios no exerciacutecio da cidadania e a preparaccedilatildeo para o mercado de trabalho

Nesse contexto espera-se um leitor maduro experiente sob influecircncia de aspectos

do meio onde vive do que lecirc e escuta da atividade cultural que participa uma

relaccedilatildeo de contribuiccedilatildeo plena de formaccedilatildeo do leitor de literatura como romance

poesia contos De acordo com o documento

Fatores linguiacutesticos culturais ideoloacutegicos por exemplo contribuem para modular a relaccedilatildeo do leitor com o texto num arco extenso que pode ir desde a rejeiccedilatildeo ou incompreensatildeo mais absoluta ateacute a adesatildeo incondicional Tambeacutem conta a familiaridade que o leitor tem com o gecircnero literaacuterio que igualmente pode regular o grau de exigecircncia e de ingenuidade de afastamento ou aproximaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 68)

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O ato de ler coloca o indiviacuteduo inserido na sociedade um ser capaz e atuante

propenso a realizar suas proacuteprias inferecircncias absorve o conhecimento e partilha na

mesma proporccedilatildeo e velocidade de forma a criar um ciacuterculo beneacutefico de informaccedilotildees

humanizadoras que faz surgir uma nova realidade na educaccedilatildeo e ligaccedilatildeo com o

mundo Nesse direcionamento Barreto (1998 p 60) expotildee a ligaccedilatildeo do

conhecimento e as relaccedilotildees dos seres humanos

Na visatildeo de Paulo Freire o Conhecimento eacute produto das relaccedilotildees dos seres humanos entre si e com o mundo Nestas relaccedilotildees homens e mulheres satildeo desafiados a encontrar soluccedilotildees para situaccedilotildees para as quais eacute preciso dar respostas adequadas Para isto precisam reconhecer a situaccedilatildeo compreendecirc-la imaginar formas alternativas de responder e selecionar a resposta mais adequada

Assim sendo os referidos documentos condicionam as habilidades de leituras

inerentes a cada educando a uma proposta coletiva criacutetica e reflexiva da sociedade

formar cidadatildeos atuantes preparados para enfrentar agraves diversidades do cotidiano

Nessa condiccedilatildeo o papel da leitura literaacuteria eacute fundamental principalmente a poesia

que pode ser utilizada em um processo humanizador capaz de transformar o

educando em um agente multiplicador da arte da cultura do conhecimento

Referente aos documentos e sua proposta curricular para o ensino da modalidade

EJA em uma formaccedilatildeo continuada abre-se um leque de oportunidade de fomentar

vaacuterios projetos didaacuteticos atendendo as necessidades dos alunos de modo especial agrave

parceria da muacutesica e poesia

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3 A LITERATURA NA EJA LEITURA DE POEMAS EM SALA DE AULA

A leitura literaacuteria eacute uma praacutetica que tem se mostrado distante das aulas de

literatura e ao longo do tempo vem perdendo seu espaccedilo de atuaccedilatildeo algumas

consideraccedilotildees gerais feitas a esse respeito satildeo apontadas por professores e pela

sociedade como que o avanccedilo tecnoloacutegico ou o fato de as redes sociais ainda natildeo

dialogarem com a literatura em sala de aula ou ainda a simples afirmaccedilatildeo de natildeo

gostar de ler que se faz muito presente em sala de aula Esse panorama

provavelmente se repete no Ensino Meacutedio na modalidade de jovens e adultos as

aulas de literatura na escola que acompanhamos pareceram naquele momento

receber uma atenccedilatildeo menor tanto por parte dos alunos como tambeacutem dos

educadores Nesse contexto partimos da concepccedilatildeo de que um fator muito

importante na mudanccedila de uma proposta de leitura eacute conceber a literatura como

algo indissociaacutevel do homem natildeo soacute como condiccedilatildeo humanizadora (CANDIDO

2011) mas potencializadora do exerciacutecio de leitura De acordo com as OCEM

Configurada como bem simboacutelico de que se deve apropriar a Literatura como conteuacutedo curricular ganha contornos distintos conforme o niacutevel de escolaridade dos leitores em formaccedilatildeo As diferenccedilas decorrem de vaacuterios fatores ligados natildeo somente agrave produccedilatildeo literaacuteria e agrave circulaccedilatildeo de livros que orientam os modos de apropriaccedilatildeo dos leitores mas tambeacutem agrave identidade do segmento da escolaridade construiacuteda historicamente e seus objetivos de formaccedilatildeo (BRASIL 2006 p 61)

Assim a modalidade de ensino jovens e adultos passa por um processo de

mudanccedila de identidade na formaccedilatildeo de leitores a possibilidade de criar um trabalho

didaacutetico construiacutedo especificamente para uma turma de alunos com uma accedilatildeo

voltada para dar conta da heterogeneidade da turma elaborar uma relaccedilatildeo de leitura

literaacuteria que abranja todos os alunos escolher um gecircnero literaacuteria que possa

contribuir para dirimir a resistecircncia dos educandos agrave leitura Neste cenaacuterio

consideramos que a poesia eacute o gecircnero que melhor se adequa agrave nossa proposta

independente de ser parte de um cacircnone poesia matuta cordel poesia

contemporacircnea A leitura de poemas na sala de aula talvez corresponda a uma boa

parte da vida dos alunos em nossa sociedade escolarizada com acesso a livros

didaacuteticos talvez seja impossiacutevel um ser humano passar pela vida e natildeo ter se

deparado com um poema No caso dos educandos da EJA o efeito literaacuterio da

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poesia talvez possa ser maior pois nesse momento pode tomar contornos

significativos que impulsionam a leitura muitos guardam na lembranccedila afetiva um

verso uma estrofe um poema completo a presenccedila da poesia estaacute no dia a dia das

pessoas atraveacutes da muacutesica da arte danccedila Sobre esse tema as OCEM

asseguram que o uso da poesia na formaccedilatildeo do leitor proporciona um desempenho

que

Ao se tratar das orientaccedilotildees curriculares para o ensino de literatura consideram-se portanto em primeiro plano as criaccedilotildees poeacuteticas dramaacuteticas e ficcionais da cultura letrada Tal primazia visa a garantir a democratizaccedilatildeo de uma esfera de produccedilatildeo cultural pouco ou menos acessiacutevel aos leitores sobretudo da escola puacuteblica fora do ambiente escolar (BRASIL 2006 p 60)

Nessa perspectiva o caminho a ser seguido traz um leque de oportunidades

dentro e fora da escola a utilizaccedilatildeo da danccedila de rua e do rap provavelmente

atenderia os anseios dos alunos mais jovens organizar um festival de poesia matuta

e literatura de cordel poderia atender os alunos adultos dessa forma conciliar esses

dois eventos promoveria uma maior troca de informaccedilatildeo literaacuteria abrangendo um

maior campo de conhecimento no aprendizado

31 Leitura literaacuteria na formaccedilatildeo do homem

Na atual sociedade em que vivemos o ato de ler estaacute ligado a uma condiccedilatildeo

de desenvolvimento social no exerciacutecio da cidadania ou seja quando um indiviacuteduo

tem acesso agrave informaccedilatildeo usufrui dos seus direitos consegue decodificar nas

praacuteticas de sociabilidade as realidades vividas no seu dia a dia estas accedilotildees que se

concretizam na fila de um banco na procura de um emprego bens de serviccedilos e

demais situaccedilotildees que envolvam um conhecimento miacutenimo de leitura reformula o

homem para o qual suas atitudes passam a ser reflexivas Como base para esse

comportamento a leitura literaacuteria como propoacutesito baacutesico de formaccedilatildeo do homem traz

uma ampliaccedilatildeo do ato de ler uma visatildeo detalhista e conceitual do mundo o homem

em uma accedilatildeo reflexiva capaz de livrar-se das amarras de um sistema dominante e

castrador considerar a literatura como um direito humano eacute ter como meta um

acesso permanente agrave educaccedilatildeo ldquoQuem acredita nos direitos humanos procura

transformar a possibilidade teoacuterica em realidade empenhando-se em fazer coincidir

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uma com a outrardquo (CANDIDO 2011 p172) Eacute oportuna agraves palavras de Candido

acrescentar a reflexatildeo do proacuteprio autor de que eacute necessaacuterio classificar a literatura

como um direito humano como um bem indispensaacutevel na sua humanizaccedilatildeo

Humanizar eacute capacitar o homem para resoluccedilotildees de problemas inerentes a

sua condiccedilatildeo de cidadatildeo ter um olhar sensiacutevel agraves dificuldades dos outros sujeitos

do meio em que convive eacute estar atento agraves transformaccedilotildees culturais e poliacuteticas que

afetam de modo particular ou coletivo a sua vida Candido (2011 p 182) conceitua

humanizaccedilatildeo da seguinte maneira

Entendo aqui por humanizaccedilatildeo (jaacute que tenho falado tanto nela) o processo que confirma no homem aqueles traccedilos que reputamos essenciais como o exerciacutecio da reflexatildeo a aquisiccedilatildeo do saber a boa disposiccedilatildeo para com o proacuteximo o afinamento das emoccedilotildees a capacidade de penetrar nos problemas da vida o senso da beleza a percepccedilatildeo da complexidade do mundo e dos seres o cultivo do humor A literatura desenvolve em noacutes a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza a sociedade o semelhante (grifo do autor)

Conscientes de sua participaccedilatildeo no contexto social os educandos da EJA

respondem a um saber continuado a literatura na sua formaccedilatildeo os faz navegar aleacutem

dos seus horizontes de expectativas razatildeo pela qual as obras literaacuterias ganham

novas caracteriacutesticas um novo olhar criacutetico que parte do leitor iniciante a um leitor

mais experiente acomoda e extrapola sua visatildeo de mundo com o tema literaacuterio

exposto uma produccedilatildeo de sentido que antes era vaga imprecisa agora pode

passar a encontrar vez na oralizaccedilatildeo dos problemas no diaacutelogo no debate de

ideias uma satisfaccedilatildeo na fruiccedilatildeo comunicativa uma necessidade espontacircnea de

apresentar a nova descoberta da leitura literaacuteria Candido (2002 p83) esclarece a

sistemaacutetica da leitura literaacuteria da seguinte forma

Um certo tipo de funccedilatildeo psicoloacutegica eacute talvez a primeira coisa que nos ocorre quando pensamos no papel da literatura A produccedilatildeo e fruiccedilatildeo desta se baseiam numa espeacutecie de necessidade universal de ficccedilatildeo e de fantasia que de certo eacute coextensiva ao homem pois aparece invariavelmente em sua vida como indiviacuteduo e como grupo ao lado da satisfaccedilatildeo das necessidades mais elementares E isto ocorre no primitivo e no civilizado na crianccedila e no adulto no instruiacutedo e no analfabeto A literatura propriamente dita eacute uma das modalidades que funcionam como resposta a essa necessidade universal cujas formas mais humildes que funcionam e espontacircneas de satisfaccedilatildeo talvez sejam coisas como anedota a advinha o trocadilho o rifatildeo

31

Assim consideramos que os educandos da EJA no campo da leitura literaacuteria

jaacute podem terem uma posiccedilatildeo mais reflexiva diante dos fatos e fazem desta forma

uma filtragem das informaccedilotildees apresentadas assim conseguiratildeo com convicccedilatildeo

elaborar um texto dissertativo com questionamentos e reivindicaccedilotildees Temos como

exemplo a leitura em sala de aula da poesia de cordel Viagem ao Paiacutes de Satildeo

Saruecirc (SANTOS 2018) uma obra que traz como tema central um paiacutes com fartura

de alimento dinheiro seguranccedila educaccedilatildeo sauacutede tudo eacute motivo para comemorar

um povo feliz Depois da leitura eacute possiacutevel realizar um debate com os alunos sobre a

poesia de ordem ficcional e a realidade do Brasil Como resultado teriacuteamos

indagaccedilotildees de cunho poliacutetico e social advindas de um novo campo de visatildeo de

leitura literaacuteria

Nota-se que neste ponto a obra atingiu a sua funccedilatildeo social deixando de

lado a condiccedilatildeo de um mero escrito A proposiccedilatildeo pode ser mediada pelo educador

mas a poesia em questatildeo e a experiecircncia do aluno leitor tambeacutem desempenham um

papel importante no desenvolvimento dessa experiecircncia de leitura Desta forma a

poesia encontra lugar na sociedade e opera como uma fonte de saber que traspassa

o tempo Considera tambeacutem as possibilidades de interpretaccedilatildeo tanto do professor

como tambeacutem do aluno mas as produccedilotildees poeacuteticas natildeo podem ser soacute vistas como

formas de discutir temas sociais espera-se que a sua leitura tambeacutem provoque uma

experiecircncia desde a percepccedilatildeo de sua estrutura poeacutetica na esteacutetica na inovaccedilatildeo

vocabular ou outro aspecto que seja possiacutevel vivenciar na leitura de um texto

poeacutetico especiacutefico Adorno (2003 p66) faz referecircncia a essa questatildeo expondo que

Obviamente essa suspeita soacute pode ser enfrentada quando composiccedilotildees liacutericas natildeo satildeo abusivamente tomadas como objetos de demonstraccedilatildeo de teses socioloacutegicas mas sim quando sua referecircncia ao social revela nelas proacuteprias algo de essencial algo do fundamento de sua qualidade A referecircncia ao social natildeo deve levar para fora da obra de arte mas sim levar mais fundo para dentro dela Eacute isso o que se deve esperar e ateacute a mais simples reflexatildeo caminha nesse sentido

Certo que o ganho no aprendizado eacute coletivo via de matildeo dupla tanto para o

educador quanto para o educando que ganha como experiecircncia educacional

sinaliza como um ser mais (FREIRE 1997) significa dizer que os alunos tecircm como

elemento principal um olhar mais criterioso das obras apresentadas fazendo suas

inferecircncias propondo soluccedilotildees discutindo temas antes ocultos na primeira leitura e

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o aluno leitor natildeo seraacute um ser que soacute recebe informaccedilotildees sem nenhum tipo de

questionamento agora sua accedilatildeo humanizadora aponta para perspectiva de um

cidadatildeo atuante no contexto social consciente dos desafios da sociedade Desta

forma Freire (1997 17) avalia que

A concepccedilatildeo problematizadora da educaccedilatildeo ao contraacuterio ao colocar o homem-mundo como problema exige uma posiccedilatildeo permanentemente reflexiva do educando Esse natildeo eacute mais a caixa passiva vai sendo preenchida mas eacute um corpo consciente desafiado e respondendo ao desafio Diante de cada situaccedilatildeo problemaacutetica com que se depara sua consciecircncia intencionada vai captando as particularidades da problemaacutetica total que vatildeo sendo percebidas como unidades em interaccedilatildeo pelo ato reflexivo de sua consciecircncia que se vai tomando criacutetica

Nesse sentido quando a educaccedilatildeo colabora para um aprendizado que coloca

o educando consciente e responsaacutevel sobre problemaacuteticas do seu cotidiano e da

comunidade em que vive tendo como envolvimento circunstacircncias de ordem poliacutetica

social ou situaccedilatildeo de retirada de direitos jaacute conquistados faz com que ele passe

atuar como um agente social capaz de propagar uma accedilatildeo reflexiva dos

acontecimentos perante os membros que fazem parte desta comunidade

32 Experiecircncia do ensino de literatura no cotidiano dos alunos da EJA na

Escola Pedro Aniacutesio

O ensino de literatura na EJA pode se apresentar como uma situaccedilatildeo

delicada pois os alunos tecircm uma trajetoacuteria de trabalho prolongada restando-lhes

pouco tempo para se dedicar agrave leitura das obras indicadas o que influencia

diretamente no rendimento das aulas Na experiecircncia vivenciada como professor

estagiaacuterio da escola Pedro Aniacutesio do terceiro ano do Ensino Meacutedio da modalidade

de Ensino de Jovens e Adultos no periacuteodo da noite esta situaccedilatildeo foi um fato

constatado na apresentaccedilatildeo aos alunos que demonstraram pouco entusiasmo

comportamento natural pois qualquer mudanccedila no mecanismo de ensino jaacute pode

gerar uma desconfianccedila ou desconforto poreacutem a anaacutelise feita do ambiente escolar

antes de entrar na sala de aula jaacute me permitia um diaacutelogo com a classe e por meio

deste verifiquei algumas dificuldades daquela turma principalmente no acircmbito da

leitura literaacuteria

33

Primeiro ato foi estabelecer um niacutevel de interaccedilatildeo com respeito e atenccedilatildeo ao

que eles diziam para compor a funccedilatildeo de professor e a dos alunos isto eacute significa

dizer que o professor natildeo eacute a maior autoridade ou um ser autoritaacuterio detentor de

todos os conhecimentos mas um mediador um facilitador da accedilatildeo de aprendizado

O intuito desse contato foi demonstrar que nas aulas haveria uma troca de

informaccedilotildees e a leitura de poemas e outros gecircneros da literatura utilizaccedilatildeo de

muacutesicas leitura em voz alta das poesias debate criacutetico das obras e a relaccedilatildeo delas

com o nosso cotidiano expliquei que o nosso caminho rumo ao conhecimento

coletivo seria esse Essas escolhas se fundam na perspectiva de que a postura de

um professor sempre seraacute pautada pela humildade assim nos explica Alves (2000

p 210)

Capacidade de ouvir o outro de perceber que uma pergunta simples pode esconder o desejo de superaccedilatildeo de busca de novos horizontes e que uma resposta rude ndash agraves vezes grosseira ndash pode levar a um distanciamento daquele leitor em formaccedilatildeo Trata-se de algo difiacutecil que pede do professor uma atitude de escuta de reflexatildeo

Em seguida entregar a letra da canccedilatildeo O QUE Eacute O QUE Eacute

(GONZAGUINHA 2018) com o objetivo de motivar os alunos depois de um dia de

trabalho e tambeacutem de colher informaccedilotildees elementos concretos sobre a realidade

de mundo de cada um dos alunos para traccedilar um planejamento das proacuteximas aulas

Fiz a leitura em voz alta da letra da muacutesica depois pedi para que eles fizessem uma

leitura silenciosa O resultado foi inesperado muitos jaacute conheciam a muacutesica e

ficaram surpresos com a leitura mais criteriosa da letra outros se identificavam com

a proposta a maior parte da turma viam a canccedilatildeo como uma forccedila estimulante

Atraveacutes da muacutesica realizamos a determinaccedilatildeo do horizonte de expectativas e

consegui visualizar com os depoimentos dos alunos os possiacuteveis temas a serem

abordados Nesse sentido a muacutesica respondeu muito bem agrave didaacutetica por ter um

parentesco com a poesia faz em muito lembrar um poema ao ser lida ou cantada

Segundo Matos (2008) essa relaccedilatildeo de poesia e muacutesica jaacute faz parte da histoacuteria da

humanidade e nos explica que

34

Palavra liacuterica e muacutesica aparecem articuladas em sua funccedilatildeo essencial de manifestar os aspectos mais inefaacuteveis profundos e atemporais da experiecircncia aniacutemica Ambas seriam capazes de falar muito intimamente da e para alma humana sendo que a muacutesica considerada uma espeacutecie de linguagem universal dos afetos faria isso com mais capacidade de atravessar as fronteiras linguiacutesticas e histoacutericas (MATOS 2008 p 86)

Evidenciamos o fato que a muacutesica rompe a barreira dos pensamentos e pode

trazer agrave tona uma subjetividade esquecida nos remetendo a circunstacircncias que

exploram a emoccedilatildeo contida no sujeito Dessa forma fiz algumas perguntas para

identificar o niacutevel de motivaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo da aula 1) E a vida o que eacute 2) O que eacute

ser um eterno aprendiz As respostas foram vaacuterias mas duas chamaram minha

atenccedilatildeo A primeira resposta do Senhor A8 A vida eacute luta eacute acordar agraves quatro horas

e sair para trabalhar eacute ter esperanccedila de um dia melhor A segunda resposta do

senhor B eacute estar disposto aprender estudar ser exemplo para famiacutelia Eacute importante

observar que antes de um fato gerador no caso a muacutesica para implementar a leitura

literaacuteria os alunos estavam apaacuteticos desmotivados O ato da leitura da letra da

muacutesica fez com que os pontos de indeterminaccedilatildeo antes obscuros aos alunos

encontrassem novos horizontes de expectativas Como nos explica Segabinazi

(2014 p61)

[] O leitor durante a leitura interfere dialoga e preenche os espaccedilos lacunares de acordo com suas vivecircncias acumuladas na memoacuteria trazendo para o texto literaacuterio sua percepccedilatildeo sobre o que lecirc revelando nesta atitude um verdadeiro ato de comunicaccedilatildeo Assim nessa comunicaccedilatildeo o que ocorre eacute o encontro entre os horizontes delineados pelo texto (os estratos) e os pertencentes ao leitor

Diante destes depoimentos e outros podemos considerar que o texto gerador

preencheu as expectativas para leitura de novos textos e planejar a proacutexima aula

que teria como foco leitura e anaacutelise dos poemas de Gonccedilalves Dias O

procedimento especiacutefico para o caso seria incentivar o aluno leitor com a escolha de

um poema que aproximasse de sua realidade e experiecircncia com a leitura de

poemas o objetivo principal natildeo eacute mais o texto em si decorar figuras de linguagens

conceito histoacuterico do movimento literaacuterio vida pessoal do poeta ou dar ecircnfase ao

contexto mas criar possibilidade de ter um leitor proficiente sem medo de ler em

35

voz alta um leitor criacutetico reflexivo Ademais a leitura teacutecnica dos poemas viria com

as praacuteticas diaacuterias de leituras De acordo com Alves (2000 p 212)

Penso no saber didaacutetico-pedagoacutegico natildeo como a memorizaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de teacutecnicas que visem a facilitaccedilatildeo do conteuacutedo Antes ndash no caso do ensino de literatura ndash como a busca de estrateacutegias que favoreccedilam um encontro efetivo ndash e tambeacutem afetivo quando for o caso ndash do leitor com o texto

Nesta linha de pensamento o texto escolhido para a segunda aula foi uma

poesia liacuterica Olhos Verdes do poeta Gonccedilalves Dias (GUIDIN 2007) O trabalho

consistia em uma leitura mais detalhada proacutexima de uma declamaccedilatildeo que

provocasse os alunos a sentir a forccedila dos versos explorar a oralidade ter uma

atenccedilatildeo na repeticcedilatildeo das palavras Desse modo foi feita a primeira leitura em voz

alta realizada pelo professor a segunda em silecircncio pediu-se apenas atenccedilatildeo para

a estrutura dos versos Logo depois da leitura os comentaacuterios

O primeiro aluno a se manifestar foi A faz lembrar os olhos da minha esposa

O segundo aluno a fazer um comentaacuterio foi o C analisou as repeticcedilotildees dos versos

ldquoMais ai de mirdquo ldquoNem jaacute sei qual fiquei sendordquo ldquoDepois que os virdquo A terceira a fazer

um comentaacuterio foi a senhora D tempo bom quando os homens respeitavam mais as

mulheres

Observando a distinccedilatildeo dos comentaacuterios percebemos o quatildeo eacute heterogecircnea

esta sala de aula da EJA as formas de comentar que abrangem uma situaccedilatildeo

pessoal relatos de vida As opiniotildees variadas nos remetem a um universo dialoacutegico

todavia o curso do debate firmou-se primeiro na leitura silenciosa depois nas

inferecircncias feitas por cada aluno ou seja a exposiccedilatildeo das ideias foi o primeiro

passo para vencer a barreira da timidez o confronto das percepccedilotildees aconteceu de

forma sistemaacutetica os alunos colocando seu ponto de vista sobre o poema Outro

fato importante ocorrido na aula foi realizar a dinacircmica do desafio convidar os

alunos para ler o poema Olhos Verdes em voz alta na frente da turma

O aluno que se dispocircs a ler o poema foi o senhor E leu o poema sem mais

demora Com esse episoacutedio lembrei aos alunos da muacutesica de Gonzaguinha em um

refratildeo que diz ldquoViver e natildeo ter a vergonha de ser felizrdquo a mensagem que fica para

os educandos da EJA eacute natildeo ter medo de superar as dificuldades de enfrentar os

8 Os nomes aqui expostos satildeo organizados por ordem alfabeacutetica para preservar a identidade dos

alunos

36

problemas com dignidade persistir na praacutetica da leitura literaacuteria para promover

mudanccedilas na vida pessoal e coletiva das pessoas direciona para conquistar os seus

direitos de cidadatildeos

Nesta perspectiva os alunos perceberam que os poemas independentes do

periacuteodo da histoacuteria da literatura da escola literaacuteria do uso de expressotildees

vocabulares dos poetas consagrados podem ser objeto de leitura a tocircnica do

estudo literaacuterio residiu em trazer os textos para atualidade dos educandos tirando a

imagem de texto tido como sagrados como impossiacutevel de ser interpretado ou

considerar o poema como um texto melancoacutelico sem expressatildeo Sobre essa

questatildeo Barbosa (2014 p 11) ressalta a importacircncia de tirar do texto toda carga de

superioridade algo longe de ser compreendido pelos educandos

Esta perspectiva ao mesmo tempo em que ajuda a ldquodessacralizarrdquo o texto literaacuterio tirando-o da condiccedilatildeo de objeto sagrado e inacessiacutevel em que se encontra consegue integraacute-lo agraves praacuteticas culturais como produto social e cultural que ele eacute mais proacuteximo das representaccedilotildees de um dado tempo

No momento em que o professor consegue mostrar atraveacutes de uma didaacutetica

direcionada com tema motivadores como a muacutesica para facilitar a leitura literaacuteria de

textos tido como difiacuteceis de serem interpretados os educandos conseguem ter uma

maior intimidade com a obra os poemas podem e devem ser trabalhados com essa

visatildeo de aproximaccedilatildeo do cotidiano do alunos independente do tempo de sua

composiccedilatildeo a poesia pode ser renovada e sistematizada com atualidade e a

necessidade dos educandos da EJA

37

4 UMA PROPOSTA DE LEITURA DE POEMAS COM EDUCANDOS DA EJA

As aulas preparadas para a modalidade de Ensino de Jovens e Adultos segue

o mesmo padratildeo do ensino regular satildeo regidos pelos livros didaacuteticos manuais que

trazem como conteuacutedo fragmentos de poesias histoacuteria da literatura questionaacuterios

prontos geralmente uma aula fora da realidade dos educandos Sobre essa questatildeo

a EJA implica necessariamente em um formato de aula diferenciado e preparado

para mudanccedilas diaacuterias outrossim o processo de leitura literaacuteria eacute dinacircmico e

relativo nos resultados os alunos podem responder ao procedimento didaacutetico

rapidamente ou natildeo Com base nessa concepccedilatildeo preferimos nos afastar dos livros

didaacuteticos e optamos pelo o meacutetodo recepcional (BORDINI e AGUIAR 1993) para

propor o desenvolvimento de algumas aulas para turma do terceiro ano do Ensino

Meacutedio EJA da escola Pedro Aniacutesio

O meacutetodo recepcional organiza-se na praacutetica de leitura literaacuteria na sala de

aula tendo como principal elemento um aluno leitor atuante que em contato com

diferentes textos passa assimilar e comparar com outras leituras jaacute adquiridas em

sua vivecircncia de mundo Diante de um conhecimento preacutevio sobre determinado texto

ou tema o professor comeccedila a fazer alguns questionamentos na perspectiva de

levantar o horizonte de expectativas do grupo quando o conhecimento preacutevio do

aluno eacute exposto ao confronto de novas ideias outra visatildeo da realidade dos fatos

causando assim uma ruptura no seu entendimento o professor oferece outras

leituras comparativas que amplia as discursotildees fortalecendo o seu conhecimento jaacute

adquirido evoluiacutedo para resoluccedilotildees problemaacuteticas com argumentos mais soacutelidos

neste momento o aluno passa a fazer parte de um processo contiacutenuo como membro

inserido na sociedade que comeccedila a refletir sobre questotildees que fazem parte da

escola e da comunidade

A proposta do meacutetodo recepcional consiste em cinco etapas que pode ser

relacionada como fase de desenvolvimento das aulas a primeira eacute a Determinaccedilatildeo

do Horizonte de Expectativas quando o professor por meio do diaacutelogo com os

alunos monta um planejamento das aulas coletando informaccedilotildees sobre experiecircncia

de vida valores eacuteticos e morais sua preferecircncia por leitura praacuteticas de leituras

quais obras jaacute tiveram acesso A utilizaccedilatildeo destas primeiras informaccedilotildees pode ser

usada nas etapas subsequentes de modo que o principal eacute formar momentos de

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rupturas e mudanccedilas das estrateacutegias idealizadas A segunda etapa Atendimentos

do Horizonte de Expectativas vem ratificar as propostas de leituras que atendam

os anseios dos alunos e a proposta de trabalhos com os textos e os objetivos a

serem alcanccedilados mediados por outros textos baacutesicos de leitura comparativas do

mesmo tema mas que atraiam atenccedilatildeo dos alunos A terceira etapa Ruptura do

Horizonte de Expectativas seria a introduccedilatildeo de outros textos que criasse uma

oposiccedilatildeo uma duacutevida sobre os conhecimentos jaacute adquiridos com as propostas de

leituras anteriores de modo que avaliasse a visatildeo de mundo dos educandos em um

momento de mudanccedila de gecircnero ou de tema um caminho ainda natildeo percorrido

mas sim desafiador para o educando transformando o seu censo criacutetico A quarta

etapa Questionamento do Horizonte de Expectativas representa uma anaacutelise

sobre leitura entre as etapas anteriores e as obras literaacuterias que exigiram um maior

grau de reflexatildeo e a leitura literaacuteria que trouxe mais satisfaccedilatildeo Diante do exposto a

turma faz uma autoanaacutelise das accedilotildees e propostas realizadas tanto no

desenvolvimento do aprendizado na sua forma mais receptiva como tambeacutem na

leitura e na escrita seus relatos com questotildees e experiecircncia de leituras Quinta

etapa Ampliaccedilatildeo do Horizonte de Expectativas eacute quando o aluno toma

consciecircncia das suas accedilotildees e aprendizado e o fechamento do seu saber de mundo

com o saber adquirido atraveacutes do processo de leitura literaacuteria expandindo para

novos horizontes sem propriamente a interferecircncia direta do professor sobre as

decisotildees do educando em buscar obras literaacuterias mais complexas Dentro da mesma

proposta utilizamos a Sequecircncia Expandida que consiste em um aproveitamento

didaacutetico conciliador da apresentaccedilatildeo da obra literaacuteria com o cotidiano do educando

em uma sistemaacutetica organizada por etapas dentro do proacuteprio texto com referenciais

de contextualizaccedilotildees e o emprego da anaacutelise dos textos literaacuterios atraveacutes da

estiliacutestica da poeacutetica e da criacutetica

A seguir apresentaremos os moacutedulos organizados a partir do Meacutetodo

Recepcional com uma contribuiccedilatildeo da Sequecircncia Expandida (COSSON 2016)

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MOacuteDULO 1 5 AULAS

DETERMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor reuniraacute a turma para expor um periacuteodo da literatura brasileira o

Romantismo no Brasil Por meio de uma conversa explicativa sobre o tema

comeccedilaraacute a levantar alguns dados de informaccedilotildees sobre o que os alunos conhecem

do romantismo se conhecem os poetas as obras o contexto em que se iniciou o

romantismo as relaccedilotildees entre romantismo e a sociedade da eacutepoca as propostas

temaacuteticas dos poemas suas formas de retratar os lugares a naccedilatildeo a populaccedilatildeo

indiacutegena O que vem ao pensamento quando falam tal filme eacute romacircntico ou tal

poesia faz parte do romantismo ou que fulano vive um romance Atraveacutes das

informaccedilotildees coletadas das experiecircncias e conhecimentos de mundo dos alunos

sobre a temaacutetica que seraacute trabalhada poderemos traccedilar um planejamento para as

proacuteximas aulas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Para atender e esclarecer os pontos de duacutevidas sobre o periacuteodo do

romantismo para os alunos seraacute feita uma breve leitura do contexto histoacuterico que

inicia o periacuteodo do Romantismo no Brasil e da Primeira Geraccedilatildeo Romacircntica

Aproveitando a introduccedilatildeo o professor apresentaraacute a canccedilatildeo Meu Sublime Torratildeo

(MACEDO 2018) pediraacute aos alunos que contextualizem o poema cantado com sua

vivecircncia na Paraiacuteba Depois da apresentaccedilatildeo da muacutesica o professor pediraacute aos

alunos que listem as belezas que a muacutesica cita Em seguida os alunos faccedilam uma

declaraccedilatildeo sobre sua cidade de origem com tema aberto para explorar os

sentimentos de pertencimento

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O Professor nesta aula provoca os alunos sobre o pensamento enraizado de

que o romance estaacute ligado ao sentimento amoroso para isso utilizaraacute o poema

Canccedilatildeo do Exiacutelio do poeta Gonccedilalves Dias Depois da leitura do poema os alunos

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separaratildeo os versos para uma anaacutelise observando os traccedilos comuns as duas obras

o poema e a muacutesica comentando a visatildeo de exiacutelio do poeta e a relaccedilatildeo do aluno

com sua cidade de origem Diante da semelhanccedila dos temas o professor sugere um

olhar sobre a discussatildeo do patriotismo em nosso paiacutes elencando os aspectos de

amor agrave paacutetria orgulho de ser brasileiro valorizaccedilatildeo de sua cultura das riquezas

naturais O debate seraacute organizado com a condiccedilatildeo de extrair dos alunos uma

reflexatildeo dos contrastes das temaacuteticas sociais que envolvem o bem-estar dos

cidadatildeos no seu paiacutes na sua cidade no seu bairro na sua comunidade

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Referente agrave uacuteltima aula o professor comeccedila indagar os alunos sobre

questotildees sociais que enfatizam as dificuldades de permanecircncia e relacionamento

com meio ambiente onde vivem os homens as situaccedilotildees problemaacuteticas de cada

regiatildeo do Brasil Para isso sugere uma atividade de textos comparativos anaacutelise de

paraacutefrase do poema Canccedilatildeo do Exiacutelio Os Poemas Uma Canccedilatildeo (QUINTANA

2018) Canccedilatildeo do Exiacutelio (MENDES 2018) Depois da leitura uma atividade

discursiva sobre a criacutetica e a decepccedilatildeo com a paacutetria a visatildeo de exiacutelio contida no

poema de Quintana e no poema de Mendes em relaccedilatildeo agrave Canccedilatildeo do Exiacutelio Depois

com os alunos o professor discutiraacute a referecircncia principal do patriotismo de orgulho

e amor a nossa terra com a produccedilatildeo de um texto com o tema os nossos tipos de

patriotismo no esporte na muacutesica nas artes na literatura

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Considerando que na uacuteltima aula o processo de atividade de leitura com os

alunos guiou-se por questotildees sociais perto de suas realidades como membros da

sociedade pediremos aos educandos a montagem de um quadro que seraacute exposto

na escola com as dificuldades estruturais os benefiacutecios e vantagens do bairro onde

vivem Nesta ocasiatildeo relembraremos as aulas anteriores e as leituras que serviratildeo

como paracircmetros de uma accedilatildeo humanizadora e conciliadora das problemaacuteticas

sociais existentes em cada localidade Para encerrar a aula seraacute feita uma

indicaccedilatildeo de leitura o livro ldquoTriste Fim de Policarpo Quaresmardquo Lima Barreto (2018)

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Que narra agrave histoacuteria de um homem extremamente apaixonado pelo seu paiacutes

orgulhoso de suas riquezas naturais seu povo em oposiccedilatildeo aos valores importados

de outros paiacuteses em um contexto social do iniacutecio do seacuteculo XX marcado pelas

reformas e disputas poliacuteticas

MOacuteDULO 2 5 AULAS

DERTEMINACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor comeccedilaraacute a discutir com os alunos situaccedilotildees das minorias

sociais e abre espaccedilo para questatildeo do Iacutendio na nossa sociedade atual Qual a

imagem do Iacutendio perante a sociedade O Iacutendio eacute reconhecido como verdadeiro dono

das terras que ocupa Sua cultura seus valores satildeo respeitados O que representa

os povos indiacutegenas para vocecircs Vocecircs sabem alguma lenda ou um costume uma

expressatildeo vocabular um tipo de comida que tenha como fonte a cultura dos povos

indiacutegenas Vocecircs jaacute tiveram oportunidade de ler o poema eacutepico I-Juca-Pirama de

Gonccedilalves Dias que relata as bravuras dos povos indiacutegenas

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

O professor traz para classe recorte de jornais e revistas sobre a questatildeo dos

povos indiacutegenas e a demarcaccedilatildeo de suas reservas viacutedeos de reportagens da

violecircncia sofrida pelos Iacutendios na disputa das terras os povos indiacutegenas e sua

relaccedilatildeo com a sociedade e o poder puacuteblico Extinccedilatildeo de seu idioma sua cultura

Segundo momento oferecer como leitura a letra da muacutesica Um Iacutendio (VELOSO

2018)

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Diante do material exposto na uacuteltima aula o professor proporaacute a turma um

debate sobre as condiccedilotildees dos povos indiacutegenas na atualidade contrapondo-se agrave

temaacutetica da muacutesica que cria a imagem de um ser superior

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Em seguida o professor aproveitaraacute o debate e as inferecircncias da aula

apresentando o poema Canto IV de ldquoI-Juca-Piramardquo em uma leitura orientada pelo

professor para os alunos fazerem uma anaacutelise dos trecircs gecircneros a notiacutecia a muacutesica

o poema em relaccedilatildeo ao tema para cada obra com a figura do Iacutendio ou seja explicar

qual identidade as obras trazem para o Iacutendio Em que circunstacircncias este tema foi

desenvolvido durante a eacutepoca do Romantismo

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma intervenccedilatildeo chamando atenccedilatildeo dos alunos

para o tempo do ensino infantil e fundamental como eram feitas as comemoraccedilotildees

do dia do iacutendio como eacute feita no presente como eacute difundida sua imagem no carnaval

em novelas e programas de humor Os alunos a partir dos textos apresentados faratildeo

uma reflexatildeo sobre a histoacuteria de vida dos povos indiacutegenas desde o periacuteodo colonial

ateacute os dias atuais Como proposta de trabalho o professor pediraacute aos alunos para

produzirem um texto sobre as influecircncias das miacutedias nas atuais condiccedilotildees de vida

dos povos indiacutegenas e os obstaacuteculos encontrados na divulgaccedilatildeo dos seus

problemas fazendo um contraponto com as obras literaacuterias do iacutendio do poema e da

muacutesica vistos como heroacutei

AMPLIACcedilAtildeO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVA

Nesta aula o professor faraacute uma avaliaccedilatildeo dos conhecimentos adquiridos

pelos alunos sobre os materiais literaacuterios apresentados e sua postura de accedilatildeo

perante fatos que envolvem o tema dos povos indiacutegenas como minoria na

sociedade Como proposta de trabalho a formaccedilatildeo de uma atividade interdisciplinar

com o auxiacutelio dos professores das aacutereas de histoacuteria e geografia para construccedilatildeo de

um evento na escola com pesquisas e debates sobre a problemaacutetica dos povos

indiacutegenas da regiatildeo do litoral paraibano Os Potiguaras ao norte e os Tabajaras ao

Sul Desta forma os alunos passaratildeo a rever seus conceitos sobre os povos

indiacutegenas como brasileiros natos que natildeo tecircm seus direitos reconhecidos um ser

que representa a identidade do Brasil Avaliar a importacircncia dos povos indiacutegenas na

formaccedilatildeo do povo brasileiro ser sensiacutevel aos problemas das desmarcaccedilotildees das

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reservas indiacutegenas e a favor das demarcaccedilotildees que contribui para preservaccedilatildeo do

modo de vida dos povos indiacutegenas e sua cultura

Para aproximar os alunos das obras de cunho indianista seraacute indicada a

leitura do livro Histoacuterias de Iacutendio (DANIEL MUNDURUKU 1996)

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5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O trabalho exposto direcionado para os alunos da EJA traz como um dos

pontos principais os seus direitos direito a uma educaccedilatildeo comprometida com accedilatildeo

de educar em uma tentativa de conscientizar tanto os educadores quanto os

educandos que o direito eacute a possibilidade de promover o acesso agrave educaccedilatildeo

exigindo das autoridades competentes uma atenccedilatildeo sobre toda uma problemaacutetica

por traz das leis que rege a modalidade de ensino EJA com a efetivaccedilatildeo dos

direitos na praacutetica o processo de formaccedilatildeo da modalidade EJA ganha mais

reconhecimento e visibilidade perante a sociedade Essa proposta pode ser

relacionado a um nuacutemero maior de alunos na sala de aula que atraveacutes do incentivo

da leitura literaacuteria de poesias e outros gecircneros pode ser uma razatildeo motivadora para

expandir o conhecimento aliado a essa proposta temos a muacutesica como fio conduto

de uma didaacutetica mais proacutexima do educando envolvendo na busca permanente nos

pontos de pensamentos que complementam a ligaccedilatildeo com os textos literaacuterios

Corresponde como destaque agrave formaccedilatildeo de um aluno leitor atuante no seu

cotidiano capaz de refletir sobre varias situaccedilotildees de interaccedilatildeo social formado por

uma accedilatildeo humanizadora diretamente ligado aos problemas da comunidade em que

vive Atraveacutes do gecircnero poesia os ganhos satildeo significativos pois humanizar por

intermeacutedio da leitura literaacuteria eacute construir uma relaccedilatildeo de pertencimento as vaacuterias

situaccedilotildees problemaacuteticas da nossa sociedade em uma relaccedilatildeo de heranccedila cultural e

de aprendizado dos proacuteprios alunos da EJA que satildeo referenciais dentro de suas

famiacutelias nos locais de trabalho demonstrando claramente superaccedilatildeo nos

obstaacuteculos encontrados e que o investimento pessoal em educaccedilatildeo vai aleacutem do ato

de ler e escrever mas sim de transpor todas as barreiras impostas pela falta de

acesso agrave educaccedilatildeo

45

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ADORNO Theodor W Notas De Literatura I 1ed Satildeo Paulo Editora34 2003 ALVES Joseacute Heacutelder Pinheiro Discutindo alternativas na formaccedilatildeo de leitores In _______ Memoacuterias da Borborema 4 Discutindo a literatura e seu ensino Campina Grande Abralic 2014 p 7 ndash 19 _______ Estrateacutegias para o ensino de poesia In FERNANDES Maria Luacutecia Outeiro ANDRADE Paulo PERRONE Charles A (Org) Poesia na era da internacionalizaccedilatildeo dos saberes Circulaccedilatildeo traduccedilatildeo ensino e criacutetica no contexto contemporacircneo 1 ed Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica 2016 v1 p 207 ndash 228 _______ Pesquisa em literatura e ensino a contribuiccedilatildeo da esteacutetica da recepccedilatildeo In ALMEIDA Maria de Lourdes Leandro PEREIRA Tacircnia Maria Augusto (Org) Gecircnero e Linguagens diaacutelogos abertos Joatildeo Pessoa Editora Universitaacuteria UFPB 2009 p 129 ndash 138 _______ A abordagem do poema na praacutetica de ensino reflexotildees e propostas In MENDES Soeacutelis Teixeira do Prado ROMANO Patriacutecia Aparecida Beraldo (Org) Praacutetica de liacutengua e literatura no ensino meacutedio olhares diversos muacuteltiplas propostas Campina Grande Bagagem 2012 p 85 ndash 115 BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores In BARBOSA Socorro de Faacutetima Paciacutefico (org) Ensinar literatura atraveacutes de projetos didaacuteticos e de temas caracterizadores 2 ed Joatildeo Pessoa Editora da UFPB 2014 p 09 ndash 23 BARRETO Lima Triste Fim de Policarpo Quaresma Disponiacutevel em lthttpwwwdominiopublicogovbrhtmlgt Acesso em 19 abr 2018 BARRETO Vera Paulo Freire para educadores Satildeo Paulo Arte amp Ciecircncia 1998 BORDINI Maria da Gloacuteria AGUIAR Vera Teixeira de A formaccedilatildeo do leitor alternativas metodoloacutegicas 2 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1993 BOSI Alfredo Histoacuteria concisa da literatura brasileira 49 ed Satildeo Paulo Cultrix 2011 BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Capiacutetulo III Seccedilatildeo I da Educaccedilatildeo da Cultura e do Desporto In ANGHER Anne Joyce(org) Vade Mecum Acadecircmico de Direito 9ordf Ed Satildeo Paulo Rideel 2009 p 75 BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Base Nacional Comum Curricular ndash BNCC Disponiacutevel em lthttpwwwbasenacionalcumummecgovbrhtmTgt Acesso em 20 set 2017

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