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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ- REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO BRUNA NABUCO FREIRE SIQUEIRA DIFICULDADES ALIMENTARES ENTRE PRÉ-ESCOLARES E FATORES ASSOCIADOS SÃO CRISTÓVÃO 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ- REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA

NUTRIÇÃO

BRUNA NABUCO FREIRE SIQUEIRA

DIFICULDADES ALIMENTARES ENTRE PRÉ-ESCOLARES

E FATORES ASSOCIADOS

SÃO CRISTÓVÃO

2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ- REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA NUTRIÇÃO

BRUNA NABUCO FREIRE SIQUEIRA

DIFICULDADES ALIMENTARES ENTRE PRÉ-ESCOLARES

E FATORES ASSOCIADOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências da Nutrição como registro

parcial à obtenção do título de mestre em Ciências

da Nutrição.

Orientadora: Profª Dra. Danielle Góes da Silva

São Cristóvão/SE

2018

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por tudo que tem me proporcionado, por estar sempre ao meu lado nos momentos que

mais precisei me dando força, sabedoria e discernimento; e por sempre colocar pessoas boas no

meu caminho.

Aos meus pais, Saulo e Silva, que sempre se doaram para que eu pudesse realizar os meus

sonhos. Tudo que consegui só foi possível graças ao amor, apoio e dedicação que vocês sempre

tiveram por mim. Agradeço por mais uma vez me proporcionarem essa conquista.

À Gustavo por todo o carinho, apoio e dedicação a mim, a nós. Por sempre estar presente me

aconselhando e incentivando, além de todo o auxílio nos momentos em que mais precisei.

Obrigada por toda a paciência, amor e compreensão durante essa jornada.

Aos meus irmãos, cunhado e sobrinhos, pela amizade, carinho e companheirismo de sempre;

por estarem sempre torcendo pelas minhas conquistas.

Em especial, a professora Danielle, pela oportunidade de te-la como orientadora. Tenho muito

orgulho de cita-la como uma das responsáveis pela minha formação profissional. Agradeço pela

confiança a mim depositada e pela oportunidade de desenvolver este trabalho. Obrigada por

ampliar os meus conhecimentos e por ter tido seu exemplo como profissional e ser humano.

Serei eternamente grata a tudo que tenho conseguido na minha trajetória acadêmica.

A todas do grupo de pesquisa em Nutrição Materno Infantil da UFS, em especial a Laís,

Mariana e Tamiris, por terem abraçado comigo esse projeto e com muita dedicação foram

fundamentais para execução e sucesso do mesmo.

Às instituições, pais e crianças que colaboraram e aceitaram a participar da nossa pesquisa de

forma tão generosa.

Ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição por todo o apoio técnico, em

especial aos professores e colegas pelos ensinamentos e estímulo à pesquisa.

Aos professores Rodrigo Silva e Diva Aliete pela ajuda com as análises estatísticas.

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Às fontes de fomento, CAPES e CNPQ, pelo consentimento de bolsas de estudo para alguns

participantes da pesquisa que possibilitou a execução deste trabalho.

Por fim, a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução dessa

dissertação de mestrado.

Muito obrigada!

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SIQUEIRA, B.N.F. Título da Dissertação: Dificuldades alimentares entre pré-

escolares e fatores associados. São Cristóvão. Programa de Pós Graduação em

Ciências da Nutrição. Universidade Federal de Sergipe, 2018.

RESUMO

Introdução: A dificuldade alimentar é um comportamento comumente encontrado em pré-

escolares e uma importante causa da monotonia alimentar. Trata-se de um conjunto de

comportamentos relacionados à recusa alimentar. Casos de maior gravidade podem persistir

além da idade pré-escolar e acarretar prejuízos ao crescimento e saúde infantil.

Objetivo: Investigar as dificuldades alimentares entre pré-escolares e seus fatores associados.

Métodos: Trata-se de um estudo observacional de caráter transversal realizado com pais e

crianças de 4 a 6 anos matriculadas em escolas de educação infantil privadas e filantrópicas do

munícipio de Aracaju, Sergipe. Avaliou-se a dificuldade alimentar por meio de uma pergunta

específica (“Seu filho tem dificuldade para comer certos tipos de alimentos?”) e os aspectos da

recusa alimentar por meio das sub escalas de Desinteresse pela Comida do Child Eating

Behaviour Questionnaire (CEBQ): Seletividade Alimentar, Resposta à Saciedade, Ingestão

Lenta e Subingestão Emocional. Aplicou-se um questionário semiestruturado contendo dados

sobre as condições sociodemográficas, condições de nascimento, história alimentar e aspectos

relacionados ao comportamento alimentar infantil. A avaliação das práticas alimentares

parentais foi feita por meio de questões de 5 sub escalas do Comprehensive Feeding Practices

Questionnaire. O estado nutricional das crianças foi avaliado pelo IMC para idade. Modelos de

regressão logística e linear foram realizados para avaliar os fatores associados com a dificuldade

alimentar e aos aspectos da recusa alimentar.

Resultados: Avaliaram-se 730 pré-escolares, 50,3% pertencentes ao sexo feminino e com

média de idade de 62,3 (DP= 8,1) meses. A prevalência da dificuldade alimentar foi de 34,1%.

Crianças com dificuldades alimentares apresentaram aversão à maioria dos alimentos/grupos

alimentares avaliados, menores valores do IMC para idade, pais com histórico de dificuldade

alimentar, maior frequência de exposição repetida a alimentos novos, maior uso de

recompensas alimentares pelos pais, maior controle das crianças sobre a própria alimentação e

menor orientação dos pais sobre alimentação saudável. Quanto à avaliação dos aspectos da

recusa alimentar infantil, constataram-se significativas associações positivas com a maior

pressão dos pais para comer e negativas com o estado nutricional. O maior controle da

alimentação pela criança apresentou relação com a Seletividade Alimentar, Resposta à

Saciedade e Subingestão Emocional. Enquanto que a amamentação teve efeito protetor para a

Resposta à Saciedade e Subingestão Emocional, o maior nível de escolaridade materna foi um

fator de risco. Fatores como uso de recompensas alimentares e antecedentes parentais de

dificuldades alimentares também estiveram associados a aspectos da recusa alimentar.

Conclusão: A dificuldade alimentar é um comportamento frequente entre os pré-escolares

avaliados, sendo os aspectos da recusa alimentar especialmente associados às práticas parentais

e estado nutricional infantil. Desta forma, a promoção de um ambiente familiar estruturado com

práticas parentais menos coercitivas pode ser uma estratégia útil de prevenção e controle destes

comportamentos na infância.

Palavras-chave: comportamento alimentar infantil, dificuldade alimentar, pré-escolares.

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SIQUEIRA, B.N.F. Title of Dissertation: Feeding difficulty among Brazilians

preschool and associated factors. São Cristóvão. Programa de Pós Graduação em

Ciências da Nutrição. Universidade Federal de Sergipe, 2018.

Abstract

Introduction: Feeding difficulty is a commonly behavior present in preschoolers and an

important cause of intake monotony. It is a set of behaviors related to food refusal. More serious

cases may persist beyond the pre-school age and may result in damage of child growth and

health.

Objective: To investigate the feeding difficulty among preschoolers and the associated factors.

Methods: Cross-sectional observational study carried out with parents and children aged 4 to

6 enrolled in private and philanthropic pre-schools of Aracaju, Sergipe. Feeding difficulty was

assessed through a specific question ("Does your child have difficulty eating certain types of

food?") and food refusal aspects through the Food Avoidance sub scales of Child Eating

Behavior Questionnaire (CEBQ): Food Fussiness, Satiety Responsiveness, Slowness in Eating,

and Emotional Undereating. A semi-structured questionnaire containing data on

sociodemographic conditions, birth conditions, food history and aspects related to child feeding

behavior was applied. The evaluation of parental feeding practices was done through questions

of the 5 sub-scales of the Comprehensive Feeding Practices Questionnaire. The children

nutritional status was evaluated by the BMI index for age. Logistic and linear regression models

were used to evaluate the factors associated with feeding difficulty and aspects of food refusal.

Results: A total of 730 preschoolers, 50.3% female and mean age 62.3 (SD = 8.1) months were

evaluated. The prevalence of feeding difficulty was 34.1%. Children with eating difficulties

presented aversion to most of the food / food groups evaluated, lower BMI for age, parents with

a history of feeding difficulty, higher frequency of repeated exposure to new foods, use of food

rewards by parents, children’s control about the food and less guidance relation on healthy

habits. Regarding the evaluation of the aspects of infant food refusal, there were significant

positive associations with higher parental pressure to eat, and negative with nutritional status.

The greater control of the feeding by the child presented a relation with the Food Fussiness,

Satiety Responsiveness and Emotional Undereating. While breastfeeding had a protective

effect for Satiety Responsiveness and Emotional Undereating, a higher level of maternal

schooling was a risk factor. Factors such as the use of food rewards and parental antecedents of

feeding difficulties were also associated with aspects of food refusal.

Conclusion: Feeding difficulty is a frequent behavior among preschool children evaluated,

with food refusal aspects especially associated with parental feeding practices and nutritional

status. In this way, the promotion of a structured family environment with less coercive parental

practices can be a useful strategy for prevention and control of these behaviors in childhood.

Key - Words: child eating behavior, preschool child, feeding difficulties.

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LISTA DE TABELAS

Artigo 1 - Dificuldades alimentares em pré-escolares brasileiros: papel das práticas alimentares

parentais

Tabela 1 – Prevalência das características clínicas e socioeconômicos dos pré-escolares de

acordo a dificuldade alimentar. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018. ...............................................38

Tabela 2 – Comportamento alimentar infantil e práticas alimentares parentais de acordo com a

dificuldade alimentar. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018. ..............................................................40

Tabela 3 – Modelo de regressão logística múltipla da dificuldade alimentar entre pré-escolares

brasileiros. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018. ...............................................................................41

Artigo 2- Comportamento alimentar e fatores associados à recusa alimentar entre os pré-

escolares brasileiros

Tabela 1. Descrição das características clínicas e socioeconômicos das crianças participantes.

Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018. .................................................................................................69

Tabela 2. Modelo de regressão linear da seletividade alimentar entre pré-escolares brasileiros.

Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018. .................................................................................................70

Tabela 3. Modelo de regressão linear da resposta a saciedade entre pré-escolares brasileiros.

Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018. .................................................................................................71

Tabela 4. Modelo de regressão linear da ingestão lenta entre pré-escolares brasileiros. Aracaju,

Sergipe, Brasil, 2018. ................................................................................................................71

Tabela 5. Modelo de regressão linear da subingestão emocional entre pré-escolares brasileiros.

Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018. .................................................................................................72

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Representação da evolução da recusa alimentar a frutas, verduras e legumes em

crianças neofóbicas e seletivas. .................................................................................................16

Figura 2. Tipologia de fatores que modulam a neofobia e a seletividade alimentar....................22

Artigo 1 - Dificuldades alimentares em pré-escolares brasileiros: papel das práticas alimentares

parentais

Gráfico 1- Recusa dos alimentos entre pré-escolares com e sem dificuldade alimentar. Aracaju,

Sergipe, Brasil, 2018.................................................................................................................38

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LISTA DE SIGLAS

CEBQ - Child Eating Behaviour Questionnaire

CFPQ - Comprehensive Feeding Practices Questionnaire

CFQ - Child Feeding Questionnaire

DP – Desvio padrão

DSM-V - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Fifth Edition

FTO - Fat Mass and Obesity Associated

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IL - Ingestão Lenta

IMC/I – Índice de massa corporal para a idade

OR- Odds Ratio

RS - Resposta à Saciedade

SA - Seletividade Alimentar

SE - Subingestão Emocional

TDS- Teoria da Determinação Social

TEA – Transtorno do Espectro Autista

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13

2 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 15

2.1 Dificuldades alimentares na infância ...................................................................................... 15

2.2 Fatores associados às dificuldades alimentares...................................................................... 19

2.3 Impacto das dificuldades alimentares na saúde infantil ....................................................... 25

2.4 Estratégias para prevenção e controle das dificuldades alimentares na infância............... 27

3 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 31

3.1 Artigo I ....................................................................................................................................... 31

3.2 Artigo II ..................................................................................................................................... 31

4 RESULTADOS ................................................................................................................... 32

4.1 Artigo I ....................................................................................................................................... 32

Introdução ..................................................................................................................................... 33

Materiais e métodos ..................................................................................................................... 35

Resultados ..................................................................................................................................... 38

Discussão ....................................................................................................................................... 43

Conclusão ...................................................................................................................................... 49

Referências .................................................................................................................................... 50

4.2 Artigo II ..................................................................................................................................... 54

Introdução ..................................................................................................................................... 55

Métodos ......................................................................................................................................... 56

Resultados ..................................................................................................................................... 60

Discussão ....................................................................................................................................... 61

Conclusão ...................................................................................................................................... 66

Referências .................................................................................................................................... 67

5 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 75

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 76

APÊNDICES ....................................................................................................................... 80

Apêndice A - Carta de informação e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os

pais ................................................................................................................................................. 80

Apêndice B - Questionário sobre comportamento alimentar infantil ..................................... 82

Apêndice C- Ficha de antropometria ......................................................................................... 86

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Apêndice D- Folder sobre comportamento alimentar infantil entregue aos pais participantes

da pesquisa .................................................................................................................................... 87

ANEXOS ............................................................................................................................. 89

Anexo A - Parecer do Comitê de Ética ....................................................................................... 89

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13

1 INTRODUÇÃO

O comportamento alimentar tem sido frequente objeto de estudo nos últimos anos,

sendo que na infância, as dificuldades alimentares representam uma importante preocupação

enfrentada pelos pais (1–3). Crianças, em especial na idade pré-escolar - 2 a 6 anos-, comumente

apresentam dificuldades alimentares, em especial a recusa alimentar, a qual constitui uma

importante barreira para a promoção de hábitos alimentares saudáveis (4,5). Podem ainda estar

associadas a deficiências nutricionais com repercussões negativas no crescimento e

desenvolvimento (4,5).

Estudos de revisões encontraram alta amplitude na prevalência das dificuldades

alimentares, entre 5,6 a 59% (6,7). Há na literatura uma inconsistência na definição das

terminologias e nos instrumentos de mensuração, o que dificulta uma adequada interpretação

teórica e o desenvolvimento de pesquisas na área (8). Em geral, crianças com dificuldades

alimentares apresentam comportamentos como pouco apetite, recusa alimentar, desinteresse

pelos alimentos, birras para comer, exigência de rituais à mesa, refeições com longo tempo de

duração e insatisfação materna com a alimentação dos filhos (1,4,5). A neofobia alimentar e o

comportamento alimentar seletivo são os principais tipos de dificuldade citadas na

literatura(9,10). Essas crianças tendem a consumir uma dieta desequilibrada, com baixo

consumo principalmente de frutas, verduras e legumes e consumo excessivo de doces e

produtos ultraprocessados (5,7,11). Consequentemente, tem-se um risco potencial de

apresentarem baixo peso e/ou comprometimento do crescimento (6,12,13).

Trata-se de um problema de natureza multifatorial, ao qual estão envolvidos fatores

individuais, sociais e ambientais (14). As dificuldades alimentares podem estar relacionadas

com emoções e sentimentos negativos da criança em relação à comida, ou até mesmo devido a

uma sensibilidade tátil que a impede de aceitar certas características físicas dos alimentos

(4,15). Já a oferta do leite materno e a introdução alimentar aos 6 meses são fatores que

protegem contra o desenvolvimento da recusa alimentar (16). Fatores socioeconômicos, como

a baixa idade materna mostrou ser um preditor significativo para as dificuldades alimentares,

enquanto que o fato de ter irmãos foi encontrado como um fator protetor (17). Além disso, a

maior prevalência de dificuldade alimentar tem sido encontrada em famílias de baixa renda e

com pais jovens (18).

Os ambientes familiar e escolar desempenham papéis centrais na formação dos padrões

alimentares das crianças, uma vez que influenciam no desenvolvimento das suas atitudes e

comportamentos alimentares (19,20). O uso de estratégias coercivas, como pressionar a criança

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14

a comer ou oferecer recompensas são comumente adotadas por cuidadores (2), e podem

contribuir para o desenvolvimento, reforço e/ou exacerbação de dificuldades alimentares na

infância(10). O alto controle gera um ambiente emocional negativo que acarreta em uma

relação ruim das crianças com o alimento (21).

A necessidade de um melhor entendimento sobre as dificuldades alimentares e seus

fatores associados decorre da importância em considerar tais aspectos na elaboração de

estratégias de educação alimentar e nutricional na infância, e também, da escassez de pesquisas

nacionais com abordagem semelhante. O presente estudo baseia-se na hipótese de que crianças

com dificuldade alimentar possuem características do comportamento alimentar diferenciadas

em relação àquelas sem dificuldades alimentares, bem como, apresentam maior risco de

comprometimento do estado nutricional e de práticas alimentares inadequadas. Desta forma, o

propósito deste estudo é investigar a dificuldade alimentar entre pré-escolares e seus fatores

associados.

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15

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Dificuldades alimentares na infância

O comportamento alimentar é entendido como um conjunto de cognições e afetos que

regem as ações e condutas alimentares. A infância, por sua vez, é caracterizada por inúmeras

transformações cognitivas, sociais e emocionais que influenciam o desenvolvimento da

alimentação ao longo dessa fase (22). Atualmente, estudos sobre o comportamento alimentar

vêm ocupando papel central na prevenção e no tratamento das doenças crônicas relacionadas

com hábitos alimentares inadequados (22). E quando se trata de crianças, a importância é ainda

maior uma vez que é durante a infância que o comportamento alimentar começa a ser formado

e os hábitos alimentares da idade adulta refletem o que foi aprendido nessa fase (22,23). Logo,

ao mesmo tempo em que a promoção da alimentação saudável durante a infância é importante

para o crescimento e desenvolvimento, ela também representa uma forma de prevenir doenças

na vida adulta (23).

Um entrave para tanto é o surgimento das dificuldades alimentares ainda na infância, já

que são consideradas importantes causas da monotonia alimentar, a qual é um empecilho para

o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis (4,10,24). São caracterizadas como a

recusa a um número substancial de alimentos que são familiares ou não para as crianças, ou

quando há um consumo insuficiente de alimentos, ou ainda recusa a certas texturas alimentares

(3,4). Na literatura, diversos termos são encontrados como “picky eating”, “fussy eating”,

distúrbio alimentar, dificuldade alimentar, problema alimentar ou desordem alimentar (1,24).

Algumas vezes costumavam ser empregadas como sinônimos, porém em alguns estudos se

referem a situações clínicas diferentes (4,25).

O termo em inglês, picky eating, por exemplo, possui definições e significados

inconsistentes em diferentes países. Vários critérios são utilizados por diferentes autores para

classificar essas crianças, mas a maioria se refere às crianças que apresentam "baixo apetite e

são comedores exigentes" (4,8,9). Outros concluem que se trata de um distúrbio sensorial mais

evidente que conota geralmente um problema leve ou transitório (1). Após revisão sobre o tema,

autores concluíram que até o momento não existe uma única definição aceita sobre o termo

“picky eating” e, portanto, não há consenso sobre o instrumento adequado de avaliação (7).

De uma forma geral, os “picky eating” são entendidos como indivíduos que apresentam

um consumo inadequado de uma variedade de alimentos devido à recusa aos alimentos que são

familiares ou novos, especialmente verduras e legumes (4,26). Além disso, esses indivíduos

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16

possuem preferências alimentares mais fortes, fazendo com que os pais forneçam refeições

diferentes da que é servida para os demais membros da família (26). A falta de vontade de

comer costuma ser grave o suficiente para interferir na rotina familiar, de uma forma que se

torna problemática a relação pai-filho (27). Em resumo, a dificuldade alimentar está associada

ao maior tempo na realização das refeições, ao número mais limitado de alimentos consumidos

e a fortes preferências relacionadas à apresentação e preparação dos alimentos (26).

Como forma de padronizar e abranger as diversas queixas alimentares comuns na

infância, autores sugeriram o uso da expressão “dificuldade alimentar” (24). Posteriormente,

elaboraram um protocolo clínico de classificação que incorpora as considerações mais recentes

descritas por especialistas na área (1). Neste protocolo, as crianças são categorizadas de acordo

com as três características da dificuldade alimentar infantil: apetite limitado, ingestão seletiva

e medo da alimentação. Cada categoria inclui subcategorias que possuem graus de gravidade

que vão de comportamentos normais (erros de percepção) a graves consequentes de alterações

comportamentais ou orgânicas (1). Esta classificação requer avaliação de um profissional capaz

de identificar qual o perfil da dificuldade alimentar apresentada. Além disso, apesar de

distinguir as categorias de comportamentos alimentares por gravidade e consequências à saúde,

ainda permanece sem oferecer definições mais concretas especialmente sobre a seletividade

alimentar.

Vale ressaltar que de acordo com os sistemas de classificação Diagnostic and Statistical

Manual of Mental Disorders – Fifth Edition (DSM-V), a dificuldade alimentar não está descrita

como um diagnóstico específico de transtorno alimentar na infância (1). Nesta classificação,

está inserido apenas o termo “desordem alimentar” se referindo a um problema grave resultante

de consequências orgânicas, nutricionais ou emocionais (1). Autores ressalvam que a

dificuldade alimentar não está relacionada com condições fisiopatológicas ou desordens

mentais, nem com a falta de acesso aos alimentos (5).

São queixas frequentes apresentadas pelos pais. Estudos que avaliaram a presença de

dificuldades alimentares a partir da percepção dos pais, encontraram que mais de 50% das mães

afirmam que pelo menos um de seus filhos comem pouco, o que correspondem a 20 a 30% das

crianças avaliadas (1,3,5,28). Dados de uma revisão sistemática demonstraram prevalências de

dificuldade alimentar muito amplas de 5,6 a 59%, e os autores associaram isto à falta de

padronização na definição do “picky eating” e aos diferentes métodos de mensuração utilizados

(6,7). Outra revisão encontrou variação percentual de 14 a 50% durante a infância e com pico

de prevalência aos 2 anos de idade (29).

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17

Estudo realizado com crianças menores de cinco anos, atendidas em um centro de saúde

especializado no tratamento de dificuldades alimentares na cidade de São Paulo, identificou

que 30% das crianças tinham dificuldade para comer, segundo diagnóstico realizado por equipe

multidisciplinar (30). Esse resultado foi semelhante ao encontrado em outro estudo nacional

realizado com 302 crianças de dois a seis anos de escolas públicas e privadas de Natal, no qual

a dificuldade alimentar foi encontrada em 37,2% dos casos analisados, sendo que 25,4% delas

apresentaram “ingestão altamente seletiva”, segundo relato dos pais (31).

A dificuldade alimentar parece aumentar durante a infância e declinar a níveis mais

baixos a partir 6 anos de vida. Estudo realizado com uma coorte de crianças inglesas de 2 a 5,5

anos, encontrou prevalência de dificuldade alimentar de 9,7%, aos 24 meses, 14,7% aos 38

meses, 14,2% aos 54 meses e 11,8% aos 65 meses (7). Realidade também observada com

crianças americanas acompanhadas dos 2 anos até os 11 anos de vida, 39% apresentaram

comportamento seletivo durante o estudo, apresentando declínio da prevalência de 13% a 2%

dos 2 aos 11 anos de vida (26).

Em uma coorte de crianças holandesas acompanhadas do primeiro ano até os 6 anos de

idade, a prevalência da dificuldade alimentar foi de 46%, sendo maior (27,6%) na primeira

infância com decréscimo (13,2%) aos 6 anos de idade (29). Entretanto, uma alta prevalência de

dificuldade alimentar foi encontrada por um estudo populacional realizado na China com

escolares de 7 a 12 anos, o qual identificou que 59% deles (n=470) tinham dificuldade alimentar

(12).

Assim, percebe-se que a dificuldade alimentar é um comportamento agudo, transitório

e intrínseco ao desenvolvimento dos pré-escolares, em função da diminuição da velocidade de

crescimento, com consequente redução das necessidades nutricionais e do apetite (1,4). No

entanto, para um grupo substancial de crianças seletivas esses problemas podem se tornar

crônicos e persistirem além da fase pré-escolar (considerados seletivos persistentes), com

consequências potencialmente graves para o crescimento e a saúde das crianças (12,26). Estudo

realizado com 230 famílias suecas identificou que as crianças que apresentam algum tipo de

dificuldade alimentar nos primeiros anos de vida, persistiram com esses problemas após seis

anos de acompanhamento (32). As crianças passam por transições notáveis no comportamento

alimentar durante a infância, e as evidências sugerem que o estabelecimento desses

comportamentos ocorre até o final do período pré-escolar e permanecem estáveis a partir de

então (4). Isto torna as crianças em idade pré-escolar um grupo alvo particularmente importante

para propor intervenções destinadas a promover comportamentos alimentares mais saudáveis.

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Dentre as dificuldades alimentares, a neofobia alimentar e o comportamento alimentar

seletivo são os mais comuns e estudados. Em muitos estudos esses comportamentos não são

considerados distintos, porém outros autores consideram comportamentos com características

diferentes. A neofobia alimentar é definida como uma recusa da criança a consumir alimentos

novos ou desconhecidos, enquanto que a seletividade alimentar é a recusa a uma grande

variedade de alimentos familiar ou não à criança (4). As crianças seletivas são comumente

conhecidas como picky eating e alguns autores incluem a recusa a novos alimentos no conceito.

É notório que esses comportamentos estão relacionados, entretanto a neofobia alimentar é

considerada uma progressão comum e natural do desenvolvimento infantil, enquanto que as

crianças extremamente exigentes acarretam em problemas nutricionais mais sérios e são menos

responsivos às estratégias dietéticas, podendo apresentar esse comportamento além da idade

pré-escolar (4,10)

Outros autores afirmam que são comportamentos distintos, com diferentes fatores que

predizem a gravidade e expressão (33). Outros autores defendem que a principal diferença entre

os dois comportamentos é o ponto em que ocorre a recusa ao alimento (4). Ao contrário de

neofobia alimentar, na seletividade a recusa não ocorre unicamente antes da degustação,

podendo ocorrer também depois que o alimento é experimentado e se manter por longo tempo.

Autores sugerem que, uma vez removido o fato de o alimento ser novidade, a aceitação ou

recusa não está mais relacionada à neofobia alimentar. Entretanto, quando a recusa ocorre em

consequência ao próprio gosto do alimento, trata-se da seletividade alimentar, na qual a

relutância em aceitar o gosto envolve outros processos mais complexos e com consequências

mais graves (Figura 1) (4).

Figura 1. Representação da evolução da recusa alimentar a frutas, verduras e legumes em crianças

neofóbicas e seletivas. Fonte: Adaptado de Dovey et al. (2008).

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Apesar das dificuldades alimentares na infância serem um problema comum para os

profissionais de saúde, ainda é uma temática pouco conhecida na literatura científica. Isto

provavelmente se deve à natureza multifatorial do problema e à falta de consenso sobre a

terminologia e padronização dos critérios diagnósticos (8). A identificação depende

basicamente dos relatos dos pais. Após revisão sistemática sobre o tema, autores concluíram

que todos os estudos avaliados (n= 41) utilizaram a percepção dos pais para classificar as

crianças com dificuldade para comer, por meio de dois métodos: aplicação de questionários

específicos ou da reposta obtida a partir de uma pergunta direta e específica (6).

Devido ausência de um instrumento específico, os estudos utilizaram diferentes

questionários referentes ao comportamento alimentar, os quais geralmente possuem sub escalas

que medem os problemas alimentares, como seletividade, baixo apetite, entre outros (6,7). Os

questionários mais utilizados foram o Child Eating Behaviour Questionnaire (CEBQ) e o Child

Feeding Questionnaire (CFQ) (6,7). Já a pergunta direta realizada aos pais “Seu filho é um

picky eating?” constitui outra estratégia simples, rápida e que permite avaliar diferentes grau

de intensidade do comportamento alimentar infantil (3). Autores validaram o uso da pergunta

específica ao compararem as crianças classificadas como seletivas pelos responsáveis com o

comportamento observado durante as refeições em laboratório (3). Entretanto, a pergunta

específica não oferece informações mais detalhadas sobre os aspectos relacionados às

dificuldades alimentares.

Ao comparar o uso de uma pergunta específica para identificar a dificuldade alimentar

com a aplicação de um questionário, autores sugerem que a primeira opção pode fornecer maior

flexibilidade do que os itens de um questionário pré-existente, entretanto são mais difíceis de

serem analisadas. Sendo assim, sugere-se que os questionários constituem a melhor ferramenta

para identificação das dificuldades alimentares na infância e devem ser preferencialmente

aplicados com as mães, já que comumente são as principais cuidadoras (7).

2.2 Fatores associados às dificuldades alimentares

Os mecanismos subjacentes à recusa alimentar em crianças ainda não são claros, bem

como os principais fatores que influenciam cada tipo de dificuldade alimentar, como a neofobia

e a seletividade (14). Sabe-se apenas que há uma variedade de fatores envolvidos, o que impede

a completa compreensão (4).

Uma séria de fatores relacionados a criança e ao ambiente foram associados na literatura

com a recusa alimentar. Entre aqueles intrínseco a criança, destaca-se o temperamento, as

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emoções e os sentimentos negativos delas em relação à comida (4). Por exemplo, o

temperamento infantil mais emocional esteve associado a níveis mais altos de dificuldade

alimentar (2). Enquanto que o aumento da ansiedade sobre os alimentos está diretamente

associado à maior neofobia alimentar (33). Procurando entender porque as crianças

desenvolvem a neofobia alimentar, autores concluíram que elas necessitam reconhecer as

características dos alimentos antes para que possa reduzir a ansiedade e o medo em

experimentar (10). Portanto, quanto mais a criança é pressionada a consumir o alimento, a

ansiedade aumenta juntamente com a repugnância, e pode resultar em uma aversão à longo

prazo (10). A falta de familiaridade com as características dos alimentos pode, portanto, ser

uma das causas importante para que a criança o recuse.

Outras características intrínsecas à criança também foram associadas com a recusa

alimentar. Crianças identificadas com sensibilidade tátil são mais resistentes em comer novos

alimentos e apresentam aversões em relação as características físicas do alimento, como a

textura, consistência, odor e temperatura, o que faz com que elas apresentem maior recusa

principalmente as verduras e legumes quando comparadas as crianças com menor sensibilidade

tátil (34). Estudo identificou que crianças de 4 a 7 anos com sensibilidade ao toque foram

associadas com maior recusa alimentar por não gostarem da sensação de determinados

alimentos na boca (15). Em relação ao sexo, após revisão sobre o tema, concluiu-se que a recusa

alimentar mostrou parecer não sofrer influência do sexo da criança (35). Entretanto, um estudo

anterior apontou que os meninos holandeses de 1,5 a 6 anos apresentaram maior prevalência

em serem seletivos persistentes do que as meninas (29).

Os antecedentes da criança, como aleitamento materno e introdução alimentar,

desempenham um papel importante na determinação das preferências e recusas alimentares

(14). O aleitamento materno exclusivo contribui com a maior familiarização ao gosto e maior

aceitação futura dos alimentos (36). Estudo realizado com uma corte de crianças americanas de

2 a 3 anos de idade identificou que daquelas amamentadas exclusivamente durante 6 meses,

78% tinham probabilidades mais baixas de desenvolver preferências por métodos específicos

de preparo dos alimentos, 81% de apresentarem recusa alimentar, e 81% de serem neofóbicas

(16). Esse mesmo estudo observou que crianças que receberam alimentos complementares

antes dos 6 meses tiveram 2,5 vezes maiores chances de desenvolver neofobia alimentar e

apresentar preferência por uma variedade limitada de alimentos (16). Conclui-se que o

aleitamento materno exclusivo e a introdução de alimentos complementares aos 6 meses de

idade reduziram as chances de dificuldades alimentares durante a infância.

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Alguns fatores maternos parecem estar associados a recusa alimentar. Estudo realizado

em uma coorte de crianças norueguesas de 2,5 a 4,5 anos analisou características sócio

demográficas maternas como idade, escolaridade, número de filhos e estado civil. Destes

apenas a baixa idade materna mostrou ser um preditor significativo para a seletividade alimentar

(17). Já o fato de ter irmãos foi encontrado como um fator protetor, uma vez em que eles podem

servir como modelos de comportamentos alimentares. Além disso, ocorre uma diminuição da

atenção individual dos pais durante as refeições quando o número de crianças aumenta, o que

foi considerado pelos autores como fator positivo, uma vez que muita atenção ou o sentimento

de ser pressionados para comer pode aumentar a seletividade (17). O mesmo estudo observou

também que o baixo peso ao nascer foi associado ao aumento da seletividade ao longo do estudo

(17), o que pode ser explicado devido a mães de crianças com baixo peso avaliarem mais

facilmente seus filhos como seletivos em decorrência das expectativas irreais sobre a

alimentação deles (29), e além disso alguns autores afirma que o baixo peso ao nascer pode ser

uma indicação de uma predisposição ou alteração biológica que promova a seletividade

alimentar (37).

De acordo com resultados de um estudo longitudinal realizado com uma coorte de

crianças portuguesa de 1,5 a 6 anos, a prevalência da seletividade foi maior em crianças de

família com baixa renda e pais jovens quando comparado a crianças não seletivas (38).

Resultados semelhantes foram encontrados no estudo realizado em uma coorte de crianças

holandesas da mesma idade, o qual encontrou como fatores preditores da seletividade alimentar

persistente, baixo peso ao nascer e baixa renda familiar (29). Sugere-se que os pais com baixa

renda apresentam maior dificuldade em fornecer uma dieta nutricionalmente equilibrada para

seus filhos, já que para isto são necessárias exposições repetidas a um novo alimento (29).

Porém, ao se tratar de pais jovens e de baixa renda, eles tendem a ser menos experientes na

oferta de uma maior diversidade de alimentos, logo, diante das primeiras recusas eles estão

mais propensos em evitar repetir a exposição (29).

O desenvolvimento da dificuldade alimentar também pode ser afetado por fatores como,

personalidade, práticas/estilos parentais de alimentação, incluindo o controle dos pais e

influências sociais (7). Os pais e/ou cuidadores desempenham um papel central na formação de

padrões alimentares das crianças no início da vida, já que são responsáveis pelos alimentos que

estarão disponíveis na casa, além de agirem como modelos, moldando as atitudes e os

comportamentos alimentares das crianças (19).

Seguindo este raciocínio, um grupo de expertises na área fez uma proposta de

classificação dos tipos de práticas alimentares paternas – podendo ser estrutural, controle

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coercivo ou promoção da autonomia-, como forma de padronizar essas práticas nos estudos

futuros (39). O controle coercitivo inclui práticas como: restrição, pressão para comer, ameaças,

subornos e a utilização de recompensas alimentares. As práticas alimentares estruturadas se

referem a quando o cuidador organiza o ambiente para facilitar ao desenvolvimento das

competências da criança e incluem o estabelecimento de regras e limites, monitoramento,

rotinas de refeição e lanches, agir como modelos para uma alimentação saudável, além de

promover maior disponibilidade e acessibilidade aos alimentos saudáveis. Já pais que apoiam

o desenvolvimento da autonomia de seus filhos fornecem estrutura suficiente para que as

crianças façam escolhas alimentares adequadas, e isso inclui escolhas guiadas, incentivo, apoio,

elogios, raciocínio e negociação (39).

A utilização de práticas coercitivas deve-se muitas vezes pelo fato dos pais não

perceberem que, a partir do segundo até o quinto ano de vida, as crianças reduzem a velocidade

de crescimento e, consequentemente, há uma diminuição fisiológica do apetite (5,9). O alto

controle dos pais através das restrições e pressão para que seus filhos comam gera um ambiente

emocional negativo que acarreta em uma relação ruim das crianças com o alimento (21). Estudo

realizado com crianças de 3 a 5 anos concluiu que a pressão exercida pelos pais interfere de

modo negativo, aumentando a aversão e a ansiedade das crianças pelos alimentos (40).

Esta mesma associação foi confirmada mais recentemente por uma revisão sobre as

estratégias utilizadas para promover mudanças no comportamento alimentar infantil. Na qual,

verificou que a pressão para comer exercida pelos pais influência negativamente o

comportamento da criança (19). Além disso, autores concluíram também que o uso de

recompensas alimentares não deve ser praticado, já que pode diminuir a preferência pelo

alimento em questão e melhorar a preferência por outros alimentos, geralmente os doces e

sobremesas, comumente utilizados como recompensa (19,41). Entretanto, o uso de pequenas

recompensas não baseadas em alimentos, tais como adesivos, pode ser útil principalmente para

superar a resposta neofóbica inicialmente (19,41). Outro achado importante mostrou que a

modelagem dos pais influencia as preferências alimentares da criança, sendo evidente em

diferentes graus e dependente se o modelo é familiar ou não. Sendo que, os pais e os adultos

podem exercer uma influência mais forte em crianças menores, já que estas são mais inclinadas

a imitar o comportamento alimentar do modelo (19).

É importante ressaltar que embora o envolvimento dos pais no desenvolvimento do

comportamento alimentar das crianças seja fundamental, eles não são os únicos envolvidos

nesse processo. Atualmente, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, as

crianças passam maior parte do seu tempo e realizam a maioria das refeições em instituições de

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ensino. Dados americanos mostram que, 61% das crianças americanas de 3 a 6 anos de idade

estão matriculadas em creches, onde elas consomem até dois-terços da ingestão energética

diária (42). No Brasil, segundo a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(2015), a taxa de escolarização para crianças de 4 a 5 anos de idade vem apresentando os

maiores aumentos nas últimas pesquisas, e em 2015, essa proporção foi de 84,3% (43).

Os professores e cuidadores estão diretamente inseridos no ambiente social das crianças

e, portanto, estão susceptíveis a exercerem influências no comportamento alimentar delas.

Constituem como modelos sociais que podem influenciar positiva ou negativamente as

preferências alimentares das crianças, a ingestão e o grau de recusa alimentar (19). Diante

disso, é comum que os professores costumem adotar práticas para controlar o que e quanto às

crianças comem através de estímulos verbais e não verbais realizados durante as refeições

(41,43). Sugere–se que os educadores devam proporcionar oportunidades para que as crianças

aprendam informalmente sobre alimentação, ajam como modelos de comportamentos

alimentares saudáveis e tenham conversas informais frequentes que incentivem o consumo de

alimentos saudáveis (41,43). Uma revisão sistemática, sobre a eficácia das práticas alimentares

dos educadores de creche pré-escolares, observou que todos os artigos analisados relataram

ocorrer mudanças positivas no comportamento alimentar da criança quando os educadores

adotavam algumas dessas práticas recomendadas durante as refeições (43).

Assim como os pais e a escola exercem influências sobre o comportamento alimentar

infantil através das suas práticas alimentares, eles são também responsáveis pela acessibilidade

e disponibilidade dos alimentos para as crianças. Sabe-se que a recusa alimentar está fortemente

associada a uma menor ingestão de frutas, verduras e legumes (9,45). E estudos tem revelado

uma forte associação entre a maior disponibilidade e acesso a esses alimentos e seu maior

consumo (46–48). Estudo transversal realizado com crianças de 3 a 5 anos observou que o

consumo de verduras e legumes estava positivamente associado com o consumo desses

alimentos pelos pais; a frequência com que os pais fornecem estes alimentos ao seu filho; a

disponibilidade e acessibilidade no lar; e a realização de refeições estruturadas (48). Para as

famílias de baixo nível socioeconômico, a menor disponibilidade e acessibilidade as verduras

e legumes estão associadas ao alto custo por caloria desses alimentos, a falta de tempo de

preparo, o difícil acesso a locais de venda e o baixo conhecimento das famílias sobre a

importância nutricional (47). Sabe-se que quanto maior o acesso e disponibilidade a esses

alimentos, maior vai ser a exposição da criança às características desses alimentos e à

modelagem familiar ao consumi-los, fatores que a incentivam a experimentar.

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A exposição repetida de um alimento promove o aumento da familiaridade da criança,

considerada por alguns autores como componente chave para redução da neofobia e melhora

na probabilidade da criança em experimentar os alimentos (49). Resultados após uma revisão

sobre o tema identificou que o efeito positivo da exposição repetida e o número de exposições

necessárias dependem de uma série de fatores relacionada às características individuais da

criança - como idade, comportamento alimentar (neofobia ou seletividade) e a presença de

sensibilidade sensorial (50). Em pré-escolares e escolares, tem-se identificado a exposição

repetida como uma importante estratégia de desenvolver a preferência e o consumo de verduras

e legumes (46,48). Sugere-se que ao introduzir novos alimentos, os cuidadores devem

proporcionar oportunidades frequentes de experimentação, variando de 8 a 15 exposições

repetidas para melhorar a aceitação de uma criança a um novo alimento (51). Entretanto, apenas

um número reduzido de cuidadores oferecem novos alimentos 6 a 10 vezes ainda no primeiro

ano (51).

Recente revisão propôs estudar os principais fatores apresentados na literatura

relacionados com a recusa alimentar durante a infância e como representação dos achados,

autores propuseram um diagrama contendo os fatores divididos em dois diferentes aspectos:

fatores cognitivos e os fatores sociais/ ambientais (Figura 2) (14).

Figura 2. Tipologia de fatores que modulam a neofobia e a seletividade alimentar. Fonte: Adaptado de Lafraire et al. (2016).

O termo “cognitivo” foi usado para qualquer tipo de operações de como o indivíduo

entende as informações externas, e envolve: 1) como a comida é percebida; 2) como os

alimentos são internamente representados e categorizados; e 3) como as emoções e sentimentos

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acompanham e afetam o processamento da informação alimentar. Assim, os mecanismos de

percepção dos alimentos, como as características sensoriais, principalmente as olfativas e

visuais, interferem na recusa alimentar, assim como a categorização dos alimentos em

aceitáveis ou não de acordo com o modelo criado pelas crianças. Já os “fatores sociais e

ambientais” se baseiam no comer como ato social e cultural, e envolvem as experiências

anteriores com alimentação que a criança já teve e também o ambiente imediato em que ela está

inserida, principalmente as práticas parentais adotadas, status socioeconômico e características

do cuidador. Envolve também fatores como hereditariedade e experiências alimentares pré-

natais (por meio da alimentação da gestante), bem como práticas de amamentação, introdução

alimentar e o ambiente imediato da criança após o nascimento (14).

Portanto, diante das consequências negativas que a dificuldade alimentar acarreta para

a saúde das crianças, a melhor compreensão dos fatores subjacentes às recusas alimentares e a

identificação daqueles possíveis de serem modificáveis ajudará a superar e controlar essa

complexa problemática.

2.3 Impacto das dificuldades alimentares na saúde infantil

As dificuldades alimentares podem acarretar em um consumo limitado ou a menor

variedade de alimentos, e consequentemente uma oferta prejudicada de nutrientes para algumas

crianças (5). Quando não há um acompanhamento profissional especializado, casos mais graves

podem persistir, impactando assim no desenvolvimento cognitivo, nutricional e emocional da

criança. Pode acarretar nos anos subsequente, tanto no baixo peso e déficit de crescimento,

como até mesmo na obesidade encontrada em alguns estudos (4,12,13). Além disso, provocam

alterações na dinâmica familiar, uma vez que os pais se sentem insatisfeitos e inseguros com a

qualidade e/ou quantidade de alimentos consumidos pelo filho (26).

Em relação ao estado nutricional, uma recente revisão sistemática objetivou determinar

a associação da dificuldade alimentar com o peso corporal na infância ou com o tornar-se baixo

peso, sobrepeso ou obeso mais tarde (6). Os resultados dos 41 estudos analisados foram

inconclusivos, mostrando que não se pode realizar nenhuma associação clara entre peso

corporal na infância e dificuldade alimentar (6).

Alguns fatores justificam esta variação nos resultados. Um deles é a influência da

percepção dos pais sobre o comportamento alimentar e a condição do peso delas. Por exemplo,

os pais podem ser mais propensos a descrever uma criança com baixo peso como seletiva do

que uma criança com peso normal, independente do comportamento alimentar, como meio de

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justificar o seu baixo peso. Por outro lado, os pais de uma criança com excesso de peso podem

justificar a oferta de alimentos calóricos, por acreditarem tratar-se de uma criança seletiva (6).

Além disso, muitos estudos utilizaram o peso e a altura referidos pelos pais, o que pode resultar

em classificações do estado nutricional errôneas. O desenho transversal da maioria dos estudos

não permite fazer relação de causalidade, além disso, muitos artigos não analisaram os possíveis

fatores confundidores dessa relação (6).

No Brasil, apenas um estudo realizado já citado anteriormente identificou que crianças

com dificuldade alimentar em sua maioria eram eutróficas, porém os valores em quartis

apontaram tendência para padrões de desenvolvimento nos percentis inferiores (30). A

preocupação dos pais em torno do estado nutricional prejudicado da criança constitui a principal

causa para a procura de ajuda profissional especializada em dificuldades alimentares (32).

O fato de muitos estudos não ter encontrado associação entre a recusa alimentar e o pior

estado nutricional pode ser justificado também pelas alterações no consumo alimentar, que

geralmente essas crianças apresentam. Em geral, são crianças que apresentam uma baixa

variedade da dieta com um baixo consumo, principalmente de frutas, verduras e legumes,

entretanto alto consumo de alimentos ultraprocessados, principalmente aqueles com elevado

teor de açúcar (11,26).

Estudo realizado com pré-escolares americanos revelou que quanto maior o grau de

neofobia das crianças, menor era o consumo de uma variedade de alimentos e também um

menor consumo de verduras e legumes (50). Resultados semelhantes foram encontrados em

estudos mais antigos (33,52). A neofobia alimentar e a baixa renda familiar são apontadas como

importantes causas da monotonia alimentar nas crianças, já que as famílias de baixa renda

compram mais produtos processados por terem menor custo, maior densidade energética e vida

útil, além de serem mais aceitos pelas crianças pequenas (53).

Após revisão sobre a relação entre a dificuldade de comer e os hábitos alimentares das

crianças, identificou-se como um achado comum o baixo consumo de frutas, verduras e

legumes por crianças com este comportamento (7). Estudo longitudinal, realizado com 4914

crianças dos 14 meses aos 4 anos de idade, aplicou um questionário de frequência alimentar

validado para identificar os grupos de alimentos mais associados com a recusa. Observou-se

que as crianças identificadas com dificuldade alimentar aos 4 anos de vida tinham menor

consumo de grãos inteiros, legumes, peixe/frutos do mar e carnes comparadas quando tinham

14 meses de vida. Houve ainda um alto consumo de lanches e produto de confeitaria por essas

crianças, apesar de não ter sido encontrado diferença no consumo total de energia (11).

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Já outro estudo realizado a partir da mesma coorte, porém com a utilização de um

instrumento diferente para identificar as crianças com dificuldade alimentar, encontrou

consumo de energia mais baixo por essas crianças aos 14 meses de idade comparadas aquelas

sem alteração no comportamento (35). Outra característica importante foi identificada por um

estudo realizado com crianças inglesas, o qual identificou que as crianças com dificuldade

alimentar preferiram consumir líquidos (bebidas) a alimentos sólidos, porém, por se tratar de

um estudo transversal, não foi possível avaliar o impacto da substituição de alimentos por

bebidas no crescimento dessas crianças (28).

Ao analisar o consumo alimentar de crianças chinesas maiores - de 7 a 12 anos-, através

da aplicação de três recordatórios 24h, aquelas que tinham dificuldade alimentar apresentaram

uma menor ingestão e uma variedade limitada de alimentos, especialmente frutas, verduras e

legumes (12). No entanto, autores ressalvam que são ainda desconhecidos quais grupos

alimentares possuem papéis críticos no crescimento das crianças com dificuldade alimentar.

Os resultados deste estudo indicaram, ainda, que não gostar de verduras legumes, carne e ovos

têm associações negativas significativas com o crescimento (12). Não foram encontrados dados

nacionais que avaliem a associação do estado nutricional com os hábitos alimentares dessas

crianças. Como limitação dos estudos existentes, alguns autores pontuam que dos estudos

disponíveis, são poucos que investigaram o efeito da dificuldade alimentar sobre a ingestão de

nutrientes específicos, e ainda, nem todos têm incluído um grupo de comparação de crianças

não seletivas (7).

2.4 Estratégias para prevenção e controle das dificuldades alimentares na infância

Diante das mudanças no perfil nutricional, aumento da prevalência das doenças crônicas

ainda na infância e na frequente presença de dificuldades alimentares nessa fase, muitos estudos

se dedicam a entender o comportamento alimentar infantil e propor estratégias que contribuam

para construção de um hábito alimentar saudável (19). Para as crianças, as preferências

alimentaras são os principais fatores que influenciam na decisão em consumir os alimentos

(19,45,51). Entender como essas preferências são moldadas é fundamental para que os pais,

profissionais e ambiente possam moldar o comportamento alimentar a longo prazo.

Entre essas estratégias, a mais conhecida na literatura é a exposição repetida,

considerada por alguns autores como componente chave para melhorar a probabilidade da

criança em experimentar os alimentos, já que promove o aumento da familiaridade dela com os

mesmos (49,54). Desde o período pré-natal, da amamentação e da alimentação complementar

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a criança é exposta aos alimentos e esse processo exerce influência sobre o gosto e preferencias

alimentares (49). Em pré-escolares e escolares, tem-se identificado a exposição repetida

também como estratégia de desenvolver a preferência e o consumo de verduras e legumes.

Crianças de 3 a 7 anos de idade expostas 14 vezes a uma pequena porção de uma verdura

inicialmente rejeitada, apresentaram aumento em 30% na disposição em experimentar,

comparado a 10% no grupo que não houve exposição (52).

No entanto, autores relatam que os efeitos da exposição repetida sobre o gosto e a

aceitação dos alimentos são limitados. A exposição a um tipo de verdura, por exemplo, não

promove maior aceitação de outros tipos, já que esses alimentos diferem em cor, textura e sabor;

porém, ainda não se sabe se alimentos com características semelhantes teriam melhor aceitação

(55). Além disso, sabe-se que o efeito positivo da exposição repetida e o número de exposições

necessárias dependem de uma série de fatores intrínsecos a criança - como idade,

comportamento alimentar (neofobia ou seletividade) e a presença de sensibilidade sensorial

(54). Em relação as verduras e legumes, a exposição repetida parece ser estratégia suficiente

apenas para aumentar aceitação desses alimentos com sabor não amargo (49). Sabe-se que as

exposições devem ser emparelhadas com experiências positivas para que haja um

desenvolvimento na preferência ao sabor (56). Associar a exposição com pressão para a criança

comer, por exemplo, contribui para uma maior aversão.

Sugere-se que a depender da idade da criança e do sabor do alimento, é preciso que a

exposição esteja associada a outras estratégias, como a mistura de sabores com outros alimentos

mais facilmente aceitos pelas crianças (49). A vantagem em acrescentar outro sabor contribui

para reduzir a recusa em experimentar, já que os alimentos inicialmente rejeitados são

misturados a um sabor agradável para a criança capaz de mascarar, por exemplo, o gosto

amargo (54). Estudo realizado com crianças de 3 a 5 anos identificou que a exposição sozinha

foi eficiente para aumentar o gosto por uma verdura ligeiramente amarga, a couve-flor,

enquanto que para uma verdura amarga, couve de Bruxelas, houve melhor aceitação e aumento

em 500% no consumo associando-se a outro sabor, no caso, creme de queijo (57) . Para crianças

maiores de dois anos, a associação de sabores parece ser mais eficiente e necessária, já que

nessa faixa etária as crianças tendem a ser mais seletivas (58,59). A utilização de estratégias

complementares a exposição repetida é efetiva para incentivar o gosto e consumo de certos

alimentos, principalmente para pré-escolares com dificuldades alimentares.

Outra estratégia encontrada na literatura é a utilização de recompensas não-alimentar ou

recompensa social para controle da recusa alimentar. Crianças de 2 a 4 anos alocadas em quatro

grupos diferentes de intervenção -exposição repetida (controle); exposição repetida e

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recompensa; exposição repetida e uso de modelo; exposição repetida, recompensa e modelo -

e expostas 14 vezes a uma verdura antes rejeitada, ganhavam adesivos quando experimentavam

(60). Observou-se que o consumo de verduras e legumes pelas crianças dos grupos exposição

e recompensa; e exposição, recompensa e modelos foram 5 e 7 vezes maior que no grupo

controle, respectivamente (60). Outro estudo de coorte utilizou a exposição repetida, a

recompensa (canetas, lápis, borracha, adesivos e certificados) e a modelagem (personagens de

desenhos) com crianças de 6 a 9 anos por 16 dias (61). Notou-se que as intervenções foram

eficazes em aumentar o gosto pelas frutas e verduras, embora o efeito tenha sido mais

pronunciado para a fruta após os 6 meses (61). A utilização de recompensas sociais é uma

estratégia válida, desde que não seja utilizada recompensas alimentares palatáveis e de alto

valor calórico (19).

A participação das crianças no ato de cozinhar também pode aumentar o prazer de

comer, o que, por sua vez, pode influenciar diretamente na superação da recusa alimentar.

Através do envolvimento em atividades culinárias, as crianças ficam expostas a uma variedade

de alimentos, o que proporciona uma experiência sensorial por meio do contato com texturas,

cores, formas e tamanhos diferentes, despertando nelas a curiosidade e o interesse em

experimentar (21). Além disso, por meio das atividades manuais e da produção de preparações,

gera-se um sentimento de propriedade e orgulho nas crianças, incentivando maior aproximação

com os alimentos (21). Não se sabe ainda o benefício a longo prazo das atividades de culinárias,

porém sabe-se que contribui para o aumento da preferência e ingestão de certos alimentos, como

as verduras e legumes (19). A modificação do ambiente alimentar domiciliar através de

atividades que envolvam pais e filhos, como o ato de cozinhar ou cultivar uma horta domiciliar,

pode ser fator-chave na melhoria da recusa alimentar.

O comportamento alimentar das crianças é influenciado por quais alimentos estão

disponíveis e acessíveis a elas. Desta forma, simplesmente oferecer às crianças frutas, verduras

e legumes demonstrou melhorar as preferências e consumo por esses alimentos a longo prazo

(59,62). Reavaliar conscientemente o cenário em que as escolhas alimentares são feitas é uma

estratégia simples e de fácil implementação que contribui para evitar o desenvolvimento das

dificuldades alimentares na infância. Diante de um ambiente que favoreça escolhas saudáveis,

a criança pode ser estimulada a ter autonomia sobre as suas próprias escolhas alimentares, sem

que os pais se sintam inseguros ou insatisfeitos. Essa autonomia sobre as escolhas alimentares

a crianças pequenas é considerada uma experiência positiva e contribui para uma maior ingestão

de verduras e legumes (19).

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30

Além disso, pais, cuidadores, professores e colegas são fundamentais para a formação

do ambiente social das crianças, e estes tendem a exercer uma influência sobre o seu

comportamento alimentar. Essa modelagem social pode influenciar positivamente ou

negativamente as preferências alimentares, o gosto, a ingestão e o grau de dificuldade alimentar

das crianças (39). A adoção de práticas alimentares estruturadas, como o estabelecimento de

regras, limites, rotinas de refeição e lanches, modelagem dos pais para uma alimentação

saudável, além da disponibilidade e acessibilidade aos alimentos saudáveis contribuem para

que o desenvolvimento do adequado comportamento alimentar (39,63).

Ainda não se sabem as melhores maneiras de convencer as crianças a experimentar os

alimentos e reduzir a recusa alimentar. É um desafio para pais e profissionais identificar as

circunstâncias em que elas podem ser incentivadas a experimentar alimentos e que resultem em

experiências positivas de aprendizagem. Identificando essas circunstâncias e intervindo nelas,

as crianças podem modificar suas preferências alimentares, consumirem quantidades

suficientes de alimentos desejáveis e, por fim, adquirir hábitos alimentares saudáveis.

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31

3 OBJETIVOS

3.1 Artigo I

- Investigar as dificuldades alimentares entre pré-escolares brasileiros e seus fatores associados;

3.2 Artigo II

- Investigar os fatores associados aos diferentes aspectos da recusa alimentar avaliados por meio

das sub escalas do Child Eating Behaviour Questionnaire.

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32

4 RESULTADOS

4.1 Artigo I

Dificuldades alimentares em pré-escolares brasileiros: papel das práticas alimentares

parentais

Papel das práticas parentais nas dificuldades alimentares dos pré-escolares brasileiros

RESUMO

Introdução: A dificuldade de alimentação durante a infância é caracterizada por um forte

desinteresse a determinados alimentos, o que geralmente interfere na rotina da família e

contribui para a formação de hábitos alimentares pouco saudáveis. A compreensão das

dificuldades alimentares pode ser útil para o planejamento de estratégias para prevenir práticas

alimentares inadequadas na fases futuras.

Objetivo: Investigar os fatores associados à dificuldade alimentar entre pré-escolares

brasileiros.

Métodos: Estudo transversal que contou com a participação de 730 pais de crianças de 4 a 6

anos de escolas privadas e filantrópicas. A dificuldade alimentar infantil foi avaliada a partir do

relato dos pais. Coletaram-se informações sócio demográficas, condições de nascimento,

história alimentar, características do comportamento alimentar infantil, dados antropométricos

da criança, e as práticas parentais relacionadas à alimentação. Modelos de regressão logística

foram utilizados para verificar associações da dificuldade alimentar com demais variáveis.

Resultados: A prevalência de dificuldade alimentar relatada pelos pais foi de 34,1%. Crianças

com dificuldades alimentares apresentaram grande recusa à maioria dos alimentos/ grupos

alimentares. Identificaram-se como fatores associados a dificuldade alimentar: menores escores

z de IMC para idade, pais com história de dificuldade alimentar, maior frequência de exposição

repetida a alimentos novos, uso de recompensas pelos pais, maior controle das crianças sobre a

alimentação e pouca orientação dos pais sobre alimentação saudável.

Conclusão: A dificuldade alimentar é uma queixa muito frequente entre pais de pré-escolares

brasileiros, havendo forte associação desse comportamento com as práticas parentais

relacionadas à alimentação.

Palavras-chaves: comportamento alimentar, desordem alimentar, pré-escolares, parentalidade.

ABSTRACT

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Objective: To examine the variables associated with feeding difficulties in a sample of

Brazilian preschoolers.

Methods: This cross-sectional study was attended by 730 parents of children, aged 4 to 6 years,

enrolled at private and public schools in Aracaju, State of Sergipe, Brazil. Feeding difficulty

was evaluated based on the parents' reports, which included responses to questionnaire items

about their parental feeding practices and their children's eating behavior. Socio-demographic

information, birth conditions, food history and anthropometric data also were collected.

Logistic regression was performed to analyze the data.

Results: The prevalence of feeding difficulty reported by parents was 34.1%. Children with

feeding difficulties refused to eat most of the foods and food groups that were examined in the

study. The variables associated with feeding difficulty included lower BMI-for-age z-scores,

parental history of feeding difficulty, a higher frequency of repeated exposure to new foods,

parental use of rewards, allowing children control over feeding, and parents who discouraged

balance and variety in food intake.

Conclusion: Feeding difficulty is a frequent complaint among parents of Brazilian preschoolers

and this behavior is strongly associated with parental feeding practices.

Key- words: eating behavior, eating disorder, preschoolers, parenting.

INTRODUÇÃO

A dificuldade alimentar é um problema comportamental que afeta significativamente

crianças em todo mundo, com grande amplitude de prevalências (5,6 a 59%) (1,2). Apesar de

ser uma queixa bastante comum entre pais, a dimensão do problema não é completamente

elucidada devido a falta de padronização do conceito e da diversidade dos métodos de

mensuração empregados (1–3). O termo “picky eating” é comumente utilizado para se referir a

crianças que apresentam dificuldades em aceitar determinados tipos de alimentos ou grupos

alimentares, possuem pouca variedade alimentar e fortes preferências em relação à

apresentação e modo de preparo dos alimentos (4).

A dificuldade alimentar é um comportamento frequente e transitório entre crianças na

idade pré-escolar, em função da diminuição da velocidade de crescimento, com consequente

redução das necessidades nutricionais e do apetite (3,5). Constatam-se prevalências maiores de

3 a 5 anos e declínio a partir dos 6 anos de vida. Entretanto, nos casos de maior gravidade esse

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problema pode se tornar crônico e persistir além da idade pré-escolar, com prejuízos ao

crescimento e saúde infantil (2,4,6,7).

Nessas crianças, o desinteresse pela comida costuma ser grave o suficiente para

interferir na rotina familiar, sendo causa comum de conflitos entre pais e filhos e queixa

frequente em consultas pediátricas (8,9). Além disso, contribui negativamente na formação de

hábitos alimentares saudáveis, uma vez que há menor consumo de alimentos saudáveis,

especialmente de verduras, legumes e frutas, acarretando em uma variedade limitada de

alimentos consumidos em fases futuras (5,6,10,11). E ainda, foi apontado como fator preditor

para sintomas de anorexia nervosa na adolescência (12).

Ainda são conflituosos os resultados de pesquisas sobre os fatores que podem estar

associados ao desenvolvimento da dificuldade alimentar infantil. É possível que os diferentes

fatores estejam relacionados às características culturais de cada população estudada. Diversos

fatores, intrínsecos à criança, são apontados como possíveis causas: condições de nascimento

(sexo masculino, prematuridade, baixo peso ao nascer) (13), práticas alimentares na primeira

infância (ausência do aleitamento materno e introdução alimentar antes ou após os 6 meses de

idade) (14) e condições socioeconômicas (baixa renda, baixa escolaridade materna e primeiro

filho) (7,11,15).

O ambiente familiar e as práticas alimentares parentais, como pressionar para comer ou

oferecer recompensas, também são decisivos para o desenvolvimento, reforço e/ou exacerbação

das dificuldades alimentares (10,16,17). Por outro lado, a adoção de práticas alimentares

estruturadas, como o estabelecimento de regras, limites, rotinas de refeição e lanches,

modelagem dos pais para uma alimentação saudável (18,19), além da disponibilidade e

acessibilidade aos alimentos saudáveis (9,17,20) contribuem para que as crianças desenvolvam

adequado comportamento alimentar.

Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, populações têm sido afetadas pela

obesidade e suas co-morbidades decorrentes de uma progressiva mudança no padrão alimentar

tradicional, caracterizado pelo aumento no consumo de alimentos ultraprocessados e

diminuição no consumo de alimentos in natura e minimamente processados (21). Investigações

sobre comportamentos alimentares de risco na infância podem ser úteis para o planejamento de

estratégias que previnam práticas alimentares inadequadas em idades futuras.

Considerando os poucos estudos sobre dificuldades alimentares entre pré-escolares

brasileiros, verifica-se a necessidade de avaliar sua magnitude e quais fatores estão associados

à maior intensidade desse comportamento de risco. Desta forma, o propósito do presente estudo

é investigar as dificuldades alimentares entre pré-escolares brasileiros e seus fatores associados.

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35

MATERIAIS E MÉTODOS

Desenho do estudo e participantes

Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido em instituições filantrópicas e

particulares de educação infantil do município de Aracaju, capital do estado de Sergipe, região

nordeste do Brasil. É uma cidade de porte médio, apresenta Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH) alto (0,77) e taxa de urbanização de 100% (22).

Os dados foram coletados de agosto a dezembro de 2017 em instituições de ensino

infantil. As escolas foram identificadas de acordo com o cadastro do Conselho Municipal de

Educação. Foram selecionadas escolas que ofereciam ensino em tempo integral, totalizando 56

escolas com ensino particular e 5 escolas públicas. Foram incluídas no estudo 17 escolas

particulares, por meio de um sorteio aleatório, e as 5 instituições públicas de perfil filantrópico

com ensino em tempo integral.

Para o cálculo amostral, adotou-se a prevalência de dificuldades alimentares de 32,3%

(média entre o intervalo de 5,6 a 59%), nível de significância de 5% e uma margem de erro de

5, atingindo um tamanho da amostra mínimo de 501 participantes (n= 318 nas escolas

particulares e n=183 nas escolas filantrópicas).

Um total de 730 pais de crianças de 4 a 6 anos matriculadas nas turmas de educação

infantil destas escolas participaram do estudo. Foram excluídas aquelas com diagnóstico clínico

referido pelos pais de doenças neurológicas, Transtorno do Espectro Autista (TEA), alergias

e/ou intolerâncias alimentares ou doenças que demandassem modificações na oferta e no

consumo alimentar e que interferiam no comportamento (como diabetes, erros inatos do

metabolismo, entre outras).

Foi enviada nas agendas escolares para todos os pais uma carta de informação

descrevendo os procedimentos da pesquisa e convidando-os a participarem do estudo.

Assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aqueles que concordaram em

participar do estudo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres

Humanos da Universidade Federal de Sergipe.

Características gerais dos participantes

Aplicou-se um questionário semiestruturado com os pais com o objetivo de reunir dados

sobre: identificação da criança (nome, idade, sexo), condições de nascimento (tempo de

gestação, peso ao nascer e ordem de nascimento), dados socioeconômicos (escolaridade

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materna), história clínica (problemas de saúde e/ou alergia ou intolerância alimentares), história

alimentar (aleitamento materno e introdução de frutas e comidas salgadas).

Devido às diferenças no nível de escolaridade dos pais entre as escolas filantrópicas e

privadas, utilizaram-se técnicas distintas na aplicação do questionário. Nas escolas particulares,

os questionários foram auto preenchidos pelos pais, ao passo que, nas instituições filantrópicas,

devido ao baixo nível de escolaridade dos pais e a fim de evitar vieses de interpretação das

questões, os questionários foram aplicados por entrevistadores treinados.

Dificuldade alimentar

Baseado em pesquisas anteriores (4,6,7,23–25), identificou-se a dificuldade alimentar a

partir do relato dos pais, obtido pela pergunta “Seu filho possui dificuldade para comer certos

tipos de alimentos?”. O uso da pergunta é validado e possui boa correlação com observações

diretas do comportamento alimentar infantil (23). As respostas foram apresentadas numa escala

de frequência de 5 pontos (nunca, raramente, às vezes, frequentemente, sempre). Considerou-

se com dificuldade alimentar aquelas crianças cujos pais relataram que este comportamento

ocorria “frequentemente” ou “sempre”. Esse critério de classificação foi adotado visando

identificar casos de dificuldade alimentar de maior intensidade.

Comportamento alimentar infantil e ambiente familiar

A fim de conhecer outros aspectos comportamentais relacionados às dificuldades

alimentares infantil, buscou-se saber quais os alimentos/grupos eram mais recusados pela

criança (Qual(is) alimento(s) a criança apresenta maior dificuldade para comer?), a exigência

quanto ao mesmo modo de preparo e apresentação dos alimentos (“Seu filho só come alguns

alimentos se estes forem preparados sempre do mesmo jeito?” e “Seu filho só come

determinados alimentos quando misturados com outros alimentos?”), substituição das refeições

por alimentos líquidos (“Seu filho prefere ingerir líquidos em substituição aos alimentos

sólidos?)”, o desinteresse pelas refeições (“É preciso chamar repetidamente para que seu filho

faça as refeições?”) e a recusa a novos alimentos (“Seu filho gosta de experimentar novos

alimentos?”).

O ambiente familiar no momento das refeições foi avaliado, a partir de duas questões

(“Quando seu filho está em casa, voce (pais) costuma realizar as refeições junto com ele?” e

“A hora das refeições com seu filho costuma ser estressante?”). Também foi investigada a

existência de antecedentes familiares de dificuldade alimentar (“Algum dos pais apresentava

dificuldades alimentares quando criança?”). Todas as respostas foram obtidas de acordo com a

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escala de frequencia de 5 pontos, variando de “nunca” a “sempre”. As duas categorias

superiores foram utilizadas para identificar a presença dos comportamentos avaliados.

A exposição repetida aos alimentos foi avaliada por meio da investigação de quantas

vezes os pais insistiam na oferta de um alimento novo (“Quantas vezes voce oferece um

alimento novo antes de aceitar que a criança não gosta daquele alimento?”). As categorias de

resposta foram de acordo com o número de vezes de exposição (1 vez, 2 vezes, 3 a 5 vezes, 6

a 10 vezes ou mais de 10 vezes).

Estado nutricional

Foram aferidos o peso e estatura das crianças, segundo técnicas antropométricas

padronizadas. O índice antropométrico IMC/Idade (escore z) foi calculado no software Anthro

Plus versão 3.2 da Organização Mundial de Saúde (26). Classificaram-se com excesso de peso

as crianças com IMC/idade acima de +1 escore z , e sem excesso de peso as com valores

inferiores.

Comprehensive Feeding Practices Questionnaire (CFPQ)

O CFPQ foi utilizado a fim de investigar quais atitudes parentais relacionadas à

alimentação estariam associadas às dificuldades alimentares infantil (27). Foram utilizados

itens das sub escalas: 1- Pressão para comer; 2- Comida como recompensa; 3- Ambiente; 4-

Orientação sobre Alimentação Saudável; 5- Controle da criança, da versão do CFPQ validada

no Brasil (28) e da versão original. Obteve-se com estes itens consistencia interna moderada (α

de Cronbach = 0,53).

As questões relacionados a sub escala “Pressão para comer” foram: “Meu filho deve

comer sempre toda a comida de seu prato.”; “Se meu filho diz: "Eu não estou com fome", eu

tento fazê-lo comer mesmo assim.”; “Se meu filho comer apenas uma pequena porção de

comida, eu tento fazer com que ele coma mais”; “Quando meu filho diz que terminou de comer,

eu tento fazer com que ele coma mais”.

Para avaliar a utilização de recompensas como estímulo para criança comer,

selecionaram-se duas questões da sub escala “Comida como recompensa”: “Como recompensa

por um bom comportamento, eu ofereço doces (bala, sorvete, bolo, doce de padaria) ao meu

filho”; e “Eu ofereço ao meu filho seu alimento favorito em troca de um bom comportamento”.

O acesso e a disponibilidade aos alimentos não saudáveis foram avaliados por meio de

duas questões reversas da sub escala “Ambiente”: Eu mantenho muitos salgadinhos (batata

chips, cheetos...) na minha casa”; “Eu mantenho muitos doces (balas, sorvetes, bolos...) na

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minha casa”. Avaliou-se o modelo dos pais de uma alimentação saudável por quatro questões

da sub escala “Orientação sobre Alimentação Saudável”: “A maioria dos alimentos que

mantenho em casa é saudável”; “Em cada refeição servida em casa, tem alimentos saudáveis

disponíveis para meu filho”; “Eu estimulo meu filho a experimentar novos alimentos’; “Eu

estimulo meu filho a comer alimentos variados”. As respostas aos itens descritos acima foram

obtidas pela escala de Likert, conforme grau de concordância (concordo totalmente, concordo,

nem concordo nem discordo, discordo e discordo totalmente). A duas categorias superiores

foram utilizadas para identificar a presença das práticas avaliadas.

A fim de avaliar a permissividade dos pais em relação ao controle das crianças sobre a

alimentação, utilizaram-se duas questões da sub escala “Controle da criança”: “Se seu filho não

gosta do que está sendo servido, você prepara outra coisa?”; “Durante as refeições, dentre os

alimentos que estão servidos voce deixa seu filho escolher aqueles que ele quiser?”. As

respostas foram dadas por meio da escala de frequencia de 5 pontos, variando de “nunca” a

“sempre”, aqueles que responderam “sempre” ou “frequentemente” foram considerados

permissivos.

Análise dos dados

Foram calculadas medidas de tendência central (médias) e dispersão (desvio-padrão).

Realizaram-se testes Qui-quadrado e t de Student para avaliar a associação de características da

criança e aspectos do comportamento alimentar com a dificuldade alimentar. Calculou-se a

média das questões correspondentes a cada sub escala do CFPQ, a fim de associar as práticas

alimentares parentais com a dificuldade alimentar. A regressão logística múltipla foi usada para

examinar associações da dificuldade alimentar (variável dependente) com as seguintes

variáveis: sexo, idade, IMC/Idade, tempo de gestação, peso ao nascer, ordem de nascimento,

aleitamento materno, idade de introdução alimentar de frutas e de papas salgadas (dias),

antecedente de dificuldade alimentar dos pais, escolaridade materna, número de vezes que

novos alimentos são oferecidos e as práticas alimentares parentais (pressão para comer, comida

como recompensa, orientação sobre alimentação saudável, ambiente, controle da criança). O

teste de qualidade de ajuste Hosmer-Lemeshow foi utilizado para avaliar a qualidade do modelo.

Utilizou-se o programa Stata, versão 13.0, para análises estatísticas. Foi adotado valor de

p<0,05 para significância estatística dos testes.

RESULTADOS

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Foram elegíveis 1.822 pré-escolares matriculados nas escolas de educação infantil,

porém houve perda de 56,6% devido à ausência do retorno do termo de consentimento livre e

esclarecido. Do total de 791, 61 crianças foram excluídas (52 com alergia e/ou intolerância

alimentar, 8 com TEA, 1 com paralisia cerebral), sendo a amostra final de 730 participantes.

Destes 69,6% (n=508) estavam matriculados em escolas particulares e 30,4% (n=222) em

escolas filantrópicas, 50,3% eram do sexo feminino e 57,4% pertenciam à faixa etária de 5 a 6

anos (Tabela 1).

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Total (n=730)

Média (DP) % (n)

Dificuldade Alimentar

p-valor Não (n= 481) Sim (n= 249)

Média (DP) % (n) Média (DP) % (n)

Faixa etária 0,627e

4 Ⱶ 5 anos 42,6 (311) 43,2 (208) 41,4 (103)

5 Ⱶ 6 anos 57,4 (419) 56,8 (273) 58,6 (146)

Sexo 0,514e

Masculino 49,7 (363) 48,9 (235) 51,4 (128)

Feminino 50,3 (367) 51,1 (246) 48,6 (121)

Tempo de gestaçãoa 0,485 e

Pré-termo 10,3 (73) 10,9 (51) 9,2 (22)

A termo 89,7 (637) 89,1 (419) 90,8 (218)

Peso ao nascer (g) 3229,6 (603,4) 3211,1 (588,9) 3265,4 (630,2) 0,273e

Ordem de nascimentob 0,052e

Primeiro filho 61,4 (447) 58,9 (282) 66,3 (165)

Segundo filho ou mais 38,6 (281) 41,1 (197) 33,7 (84)

Amamentação 0,607 e

Sim 91,9 (672) 91,7 (441) 92,8 (231)

Não 8,1 (58) 8,3 (40) 7,2 (18)

Idade de introdução alimentar (meses)

Frutas 5,7 (2,2) 5,7 (2,3) 5,6 (2,1) 0,621 d

Papas salgadas 6,7 (2,4) 6,8 (2,3) 6,7 (2,7) 0,556 d

Escolaridade materna 0,596 e

˂ 11 anos (ensino médio) 32,6 (238) 33,3 (160) 31,3 (78)

≥ 11 anos (ensino superior) 67,4 (492) 66,7 (321) 68,7 (171)

Tipo de escola 0,828 e

Filantrópica 30,4 (222) 30,1 (145) 30,9 (77)

Privada 69,6 (508) 69,9 (336) 69,1 (172)

Estado nutricional atualc 0,021e

Sem excesso de peso 72,3 (477) 69,4 (304) 77,9 (173)

Com excesso de peso 27,7 (183) 30,6 (134) 22,1 (49)

Tabela 1- Prevalência das características clínicas e socioeconômicos dos pré-escolares de acordo com a presença de dificuldade alimentar.

Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018.

a(n= 710); b(n= 728); c(n= 660); dp-valor a partir do teste t de Student ep-valor a partir do teste Qui-Quadrado

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A prevalência de dificuldade alimentar foi de 34,1%, sendo menos frequente em

crianças com excesso de peso. As crianças com dificuldades alimentares apresentaram maior

recusa à maioria dos alimentos/grupos investigados, exceto para o pão cujo percentual da recusa

foi baixo (Gráfico 1).

Gráfico 1- Recusa dos alimentos entre pré-escolares com e sem dificuldade alimentar. Aracaju,

Sergipe, Brasil, 2018. * Teste Qui-Quadrado com p- valor <000,1

11.2%

36.2%

5.8%

4.4%

9.8%

4.6%

6.9%

10.4%

10.6%

4.8%

7.7%

1.7%

2.9%

1.5%

29.1%

25.2%

9.6%

5.8%

45.0%

82.3%

18.5%

11.2%

18.1%

10.4%

24.1%

24.9%

27.7%

16.5%

21.3%

4.8%

9.6%

3.2%

49.4%

47.0%

34.9%

11.6%

Frutas*

Verduras e Legumes*

Suco Natural*

Leite*

Queijo*

Iogurte*

Feijão*

Carne*

Peixe*

Frango*

Ovo*

Arroz*

Macarrão*

Pão

Inhame*

Mandioca*

Batata*

Doces*

Com dificuldade alimentar Sem dificuldade alimentar

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Observou-se também neste grupo menor interesse pelas refeições, maior preferência em

relação ao preparo e apresentação dos alimentos, hábito de substituir as refeições por alimento

líquidos, maior recusa a alimentos novos, além do ambiente estressante das refeições. As

crianças com dificuldades alimentares apresentaram pais com histórico de dificuldade

alimentar, além de práticas parentais de pressão para comer, de uso de recompensas, maior

permissividade com o controle da alimentação pelos filhos, menor modelo de alimentação

saudável e insistiam mais na oferta de alimentos novos (Tabela 2).

Tabela 2- Comportamento alimentar infantil e práticas alimentares parentais de acordo com a

dificuldade alimentar. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018.

ap-valor determinado pelo Teste Qui-Quadrado bComprehensive Feeding Pratices Questionnaire

No modelo de regressão logística múltipla se mantiveram como principais fatores

associados à dificuldade alimentar, menores escore z de IMC/idade (OR= 0,83, 95% IC 0,70-

0,99) e pais com histórico de dificuldade alimentar (OR= 1,25, 95% IC 1,09-1,44). Em relação

às práticas parentais relacionadas à alimentação, deixar o controle da alimentação com a criança

(OR= 1,48, 95% IC 1,18-1,84), expor repetidamente a criança aos alimentos (OR= 1,42, 95%

IC 1,16-1,75), usar recompensas (OR= 1,25, 95% IC 1,00-1,56) aumentaram a chance de

dificuldade alimentar entre as crianças. Enquanto que agir como modelo para uma alimentação

saudável (OR= 0,40, 95% IC 0,27-0,59) diminui a chance de dificuldade alimentar (Tabela 3).

Dificuldade Alimentar

Não (n= 481)

% (n)

Sim (n=249) p-valora

% (n)

Comportamento alimentar infantil

Realizar refeições em família 82,0 (393) 79,4 (197) 0,394

Estresse na hora das refeições 4,6 (22) 24,9 (61) <0,001

Chamar repetidamente para comer 11,3 (54) 39,0 (97) <0,001

Comer alimentos misturados 13,4 (64) 47,0 (116) <0,001

Comer preparação sempre do mesmo jeito 9,8 (47) 48,4 (120) <0,001

Substituir refeições por líquidos 5,4 (26) 24,9 (62) <0,001

Recusa a novos alimentos 24,7 (119) 69,5 (173) <0,001

CFPQb

Pressão para comer 26,4 (89) 31,7 (52) 0,216

Comida como recompensa 8,4 (39) 15 (34) 0,008

Ambiente 77,9 (321) 76,5 (163) 0,694

Orientação sobre alimentação saudável 95,1 (350) 89,6 (155) 0,016

Controle da criança 10,1 (43) 24,6 (50) <0,001

Exposição repetida aos alimentos 64,9 (310) 75,8 (188) 0,003

Pais com histórico de dificuldade alimentar 19,2 (91) 35,1 (87) <0,001

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43

Tabela 3- Modelo de regressão logística múltipla da dificuldade alimentar entre pré-escolares

brasileiros. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018.

a Todos os fatores listados nessa tabela foram incluídos no modelo.

DISCUSSÃO

Segundo relato dos pais, um percentual significativo (34,1%) de pré-escolares

participantes apresentou dificuldade em comer certos tipos de alimentos. A dificuldade

alimentar esteve associada a comportamentos alimentares típicos de seletividade e neofobia

alimentar e de aversão a vários grupos alimentares, especialmente a verduras e legumes, raízes

(inhame e mandioca) e frutas. As práticas parentais relacionadas à alimentação estiveram

associadas à dificuldade alimentar entre os pré-escolares.

A magnitude da dificuldade alimentar encontrada no presente estudo se assemelha a

outras publicações que também avaliaram este comportamento alimentar a partir de uma

pergunta específica respondida pelos pais (4,6,7,25,29). Pesquisa também realizada com

crianças brasileiras de 2 a 6 anos identificou 37,2% de dificuldades alimentares (apetite

limitado, ingestão seletiva ou medo de se alimentar) (30). A percepção dos pais pode

superestimar a presença da dificuldade alimentar infantil, contudo neste estudo apenas os

casos de maior frequência foram identificados visando controlar este viés.

Preditoresa

Odds Ratio

ajustada

Intervalo de

Confiança

95%

p-valor

Sexo (Feminino) 0,95 (0,65- 1,42) 0,836

Idade (meses) 1,00 (0,98- 1,03) 0,472

Tempo de gestação (a termo) 1,59 (0,76- 3,33) 0,221

Peso ao nascer (g) 1,00 (0,99- 1,00) 0,797

IMC/Idade (z-escore) 0,83 (0,70- 0,99) 0,045

Amamentação 1,10 (0,51- 2,33) 0,813

Idade de introdução das frutas (dias) 0,99 (0,99- 1,00) 0,972

Idade de introdução das papas salgadas

(dias)

1,00 (0,99- 1,00) 0,774

Ordem de nascimento (Segundo filho ou

mais)

0,68 (0,44- 1,03) 0,067

Escolaridade materna (>11 anos de estudo) 0,68 (0,42- 1,11) 0,124

Pais com história de dificuldade alimentar 1,25 (1,09- 1,44) 0,002

Exposição repetida aos alimentos 1,42 (1,16- 1,75) 0,001

Pressão para comer 1,08 (0,83- 1,41) 0,544

Comida como recompensa 1,25 (1,00- 1,56) 0,049

Ambiente 1,10 (0,85- 1,42) 0,480

Orientação sobre alimentação saudável 0,40 (0,27- 0,59) <0,001

Controle da criança 1,48 (1,18- 1,84) 0,001

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44

No presente estudo 17,7% dos pais relataram que a dificuldade alimentar do filho era

constante (resposta “sempre”), o que indica que estes provavelmente apresentam maior

intensidade deste comportamento e possuem maior risco de tornar o problema crônico. Estudo

longitudinal constatou que um número substancial (47%) de crianças seletivas em idade pré-

escolar continua a ter dificuldade alimentar por 2 anos ou mais como consequência do ambiente

social desfavorável em que estão (4). Essas crianças são consideradas seletivos persistentes e

representam os casos de maior gravidade de recusa alimentar, de menor prazer em se alimentar

e desinteresse pelo alimento (4,7,29).

A frequente dificuldade alimentar na infância deve ser motivo de preocupação pois pode

trazer consequências negativas no desenvolvimento cognitivo e emocional, no aporte

nutricional, além de provocar alteração na dinâmica familiar (5,31,32). Trata-se de um

problema alimentar muitas vezes negligenciado por pais e profissionais de saúde, sendo na

maioria das vezes “tratados” com suplementos poli vitamínicos e minerais a fim de sanar

possíveis causas orgânicas (3,33). Aspectos preventivos relacionados a educação alimentar no

ambiente familiar e escolar tem sido pouco explorado.

No presente estudo a dificuldade alimentar relatada pelos pais esteve associada a

características, como: recusa a alimentos novos, presença de conflitos no momento das

refeições, preferência forte em relação ao preparo e apresentação dos alimentos, desinteresse

pelas refeições e hábito de substituí-las por alimentos líquidos. Características também

observadas em estudos prévios, nos quais os pais relataram maior propensão às discussões com

o cônjuge sobre a alimentação dos filhos e comumente terem que elaborar preparações

diferentes daquelas servidas para a família (23–25,34) .

Sabe-se que na idade pré-escolar as crianças desenvolvem maior senso de autonomia,

passando a preferir a auto alimentação; tornam-se seletivas nas escolhas alimentares e

expressam fortemente suas preferências (6,31). Além disso, à medida que elas começam a

realizar as refeições em família, tendem a imitar os comportamentos alimentares dos pais,

podendo surgir conflitos (31). Entre algumas crianças esses comportamentos são mais intensos

e frequentes e, consequentemente, há maior rigidez nas escolhas alimentares, em aceitar

mudanças no modo de apresentação e preparação dos alimentos, forçando os pais a preparar

refeições diferentes ao que é servido para a família, misturar os alimentos para serem mais

facilmente aceitos, ou ainda, ofertar líquidos, como leite, sucos ou bebidas açucaradas, em

substituição às refeições (4,15,31). O consumo excessivo de leite por crianças pode ser um

importante supressor do apetite (25) e o preparo de refeições específicas pode contribuir para

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perpetuar a recusa alimentar, pois há menor exposição a novas experiências com os alimentos

(35).

A recusa a novos alimentos foi também uma característica observada nas crianças com

dificuldade alimentar do presente estudo. Definida como neofobia alimentar, é um tipo de

distúrbio decorrente da recusa às características sensoriais dos alimentos (cheiro, sabor,

textura, aparência), medo das consequências negativas após a ingestão e pela aversão ou medo

da origem do alimento (5,36). Crianças neofóbicas constroem um modelo de alimento

aceitável e aqueles que não estão próximos a esse modelo são rejeitados (36). São fatores de

risco associados à neofobia alimentar: faixa etária entre 2 a 6 anos, ausência do aleitamento

materno, introdução precoce ou tardia da alimentação complementar, além de fatores

genéticos (5,13,36).

Sabe-se que a dificuldade alimentar envolve a recusa a grupos alimentares ou

alimentos específicos (3,5,31). No presente estudo, crianças com dificuldade alimentar

apresentaram maior recusa a todos os alimentos/grupos avaliados, especialmente a alimentos

in natura e regionais, como frutas, verduras e legumes, e raízes (inhame e mandioca). Única

exceção foi pão, alimento com pouca aversão, que não apresentou diferenças entre crianças

com e sem dificuldade alimentar. Crianças com esse comportamento tendem a apresentar

resistência mais forte a certas texturas e maior sensibilidade tátil, o que torna desconfortável

a sensação de determinados alimentos na boca (37). Outros fatores, como a maior

sensibilidade ao sabor amargo e a preferência por certas cores (laranja e amarelo) também

podem influenciar negativamente no processo de tomada de decisão sensorial (24,38).

Verduras e legumes, seguidos das frutas, são citados na literatura como grupos de

maior aversão entre crianças com e sem dificuldade alimentar (15,20,24). A recusa a esses

alimentos está associada principalmente às características sensoriais presentes, como o sabor

amargo e a coloração verde escura (39). Algumas estratégias para incentivar o gosto e

consumo a esses alimentos são citadas, e uma delas é a associação com sabores agradáveis

para a criança na tentativa de mascarar, por exemplo, o gosto amargo (36). Essa associação

parece ser mais eficiente e necessária para crianças maiores de dois anos, já que nessa faixa

etária elas tendem a ter mais dificuldade alimentar (40).

Por outro lado, crianças com dificuldade alimentar podem ser altamente afetadas pelas

tendências ocidentais, como a maior oferta de alimentos ultraprocessados, de maior

palatabilidade, e menor oferta dos alimentos in natura e minimamente processados, transição

alimentar constatada em toda a população brasileira (21). Estudos apontam que o maior

consumo de ultraprocessados, como lanches, produtos de confeitaria e fast-food, por crianças

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46

com dificuldade alimentar está associado à maior permissividade dos pais aos alimentos não

saudáveis, como forma de compensar o baixo consumo de alimentos saudáveis (11).

A dificuldade alimentar entre os pré-escolares esteve associada principalmente às

condutas alimentares parentais. Os pais desempenham um papel central na formação dos

hábitos alimentares das crianças, já que agem moldando suas atitudes e comportamentos

alimentares (35). Estudos mostram que agir como modelo de alimentação saudável pode ser

eficaz para convencer as crianças a ingerir alimentos sem recusas, influenciar nas preferências

alimentares, nos gostos e promover dietas mais variadas em frutas, verduras e legumes

(17,19,41). Os resultados desse estudo corroboram com essa associação, uma vez que o fato

das crianças receberem incentivos à alimentação saudável pelos pais reduziu em 60% a chance

de dificuldade alimentar.

Alguns autores sugerem que crianças menores de 2 anos são mais facilmente

influenciadas pelo modelo e essa influencia é mais forte quando este modelo é familiar à

criança, como pais, professores e cuidadores. Já as maiores são mais susceptíveis a imitarem

o hábito alimentar do modelo devido ao grande senso de imitação característico da faixa etária

(19,41). Para uma modelagem ser eficiente, ou seja, para que crianças incorporem os hábitos

alimentares do modelo é preciso que seja intencional, logo o modelo deve demonstrar

ativamente práticas alimentares saudáveis para a criança, e isto inclui: comer alimentos

saudáveis ou menos apreciados na frente delas e demonstrar entusiasmo com a ingestão e

proporcionar oportunidades para que as crianças aprendam sobre alimentação por meio de

conversas informais que incentivem o consumo de alimentos saudáveis (17,19). Desta forma,

os modelos (pais, cuidadores e professores) precisam ser conscientes da importância que eles

exercem sobre o comportamento alimentar infantil, sendo esta uma estratégia eficaz para

prevenir e controlar as dificuldades alimentares.

A maior permissividade dos pais ao controle da criança sobre a alimentação esteve

associada à dificuldade alimentar. É comum que os pais dessas crianças sirvam apenas

alimentos de maior aceitação ou permitam que as mesmas escolham o que vão comer, como

forma de reduzir a recusa. Porém, dessa forma não há estímulo à experimentação de novos

alimentos, havendo ingestão frequente apenas daqueles alimentos preferidos e conhecidos.

Como forma de orientar pais a não adotarem práticas altamente permissivas, nem

controladoras, sugere-se que haja divisão de responsabilidades durante as refeições. Este tipo

de estratégia tem demostrado associação negativa com o desenvolvimento de dificuldades

alimentares (20,42). Nesse contexto, os pais são responsáveis por decidir o que, quando e onde

a criança come, enquanto o filho é responsável por decidir quanto, como e se vai ou não comer

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(43). Dessa forma, os pais são receptivos às necessidades da criança e, por sua vez, esta pode

mostrar autonomia sobre seus hábitos alimentares (18,43). Agindo assim, espera-se que os

pais adotem o estilo responsivo, ou seja, implantem altos níveis de interação e comunicação

com as crianças, respeitando suas particularidades, autonomia e os sinais de fome e saciedade,

além de estimularem processos de alimentação eficazes e mais independentes (20,42). Assim,

pais e filhos agem de forma integrada, onde cada um sabe seus limites, direitos e deveres

relacionados à alimentação.

Outro aspecto que se associou à dificuldade alimentar neste estudo foi a oferta de

recompensas como estímulo para comer, corroborando com outros estudos (10,18,34). A

adoção desse tipo de prática pelos pais deve-se, muitas vezes, aos atos de recusa alimentar das

crianças serem interpretados como uma não conformidade ou desobediência e, com isso, os

pais priorizam as estratégias coercitivas, na tentativa de controlar o comportamento

indesejável dos filhos e fazê-los comer (18). Porém, o alto controle gera um ambiente

emocional negativo que acarreta em uma relação ruim das crianças com o alimento (10). Além

disso, o uso de recompensas alimentares pode diminuir a preferência pelo alimento em questão

e exacerbar a preferência pelo alimento recompensa, geralmente sobremesas e doces (10,17).

Essa prática apesar de contribuir com a ingestão dos alimentos rejeitados, não garante um

estímulo positivo ao consumo dos mesmos e nem em relação ao gosto por esses alimentos

(44). Entretanto, o uso de recompensas não alimentares ou sociais, tais como motivações

verbais, elogios, adesivos, pode ser útil principalmente para superar a recusa inicial (41,45).

Logo, essas recompensas podem ser utilizadas como reforços positivos para que as crianças

se familiarizem com o alimento, porém não deve ser uma estratégia adotada a longo prazo,

com objetivo de promover mudanças nas preferências alimentares.

Vale ressaltar, ainda, que a relação entre pai e filhos com a alimentação é bidirecional,

ou seja, as práticas parentais influenciam e são influenciadas pelo comportamento alimentar

das crianças, de maneiras não lineares (18). Assim, os pais tendem a adotar práticas

alimentares coercitivas a partir das recusas alimentares dos filhos, e essa recusa, por sua vez,

se torna cada vez maior diante das atitudes dos pais, criando assim um ciclo.

Já é bem estabelecido na literatura que a exposição repetida aos alimentos promove o

aumento da sua familiaridade pela criança (39). Este é um componente chave para melhorar a

aceitação aos alimentos (39,40). A exposição repetida aos alimentos associou-se à dificuldade

alimentar, e os pais das crianças com dificuldade alimentar ofereceram mais vezes novos

alimentos, resultado semelhante ao encontrado numa pesquisa que identificou maior

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exposição repetida como resposta dos pais a diversas recusas da criança e o esforço deles em

fazer com que seus filhos experimentem alimentos novos ou recusados (15).

Entretanto, após uma revisão sobre o tema identificou-se que o efeito positivo da

exposição repetida e o número de exposições necessárias dependem de uma série de fatores

relacionada às características individuais da criança. Aquelas em idade pré-escolar e/ou com

dificuldades alimentares e/ou com a presença de hipersensibilidade sensorial são mais

exigentes em relação ao maior número de exposições e a forma como esses alimentos são

expostos (36). Sabe-se que as exposições devem ser emparelhadas com experiências positivas

para que haja um desenvolvimento na preferência ao sabor e aceitação ao alimento. Associar

a exposição com pressão para a criança comer, por exemplo, contribui para maior aversão. Já

a exposição em ambientes em que as crianças se sintam confortáveis e confiantes promovem

melhores resultados (36,40,46). A maneira e a frequência com que essas exposições são

realizadas são pontos importantes que devem ser avaliados para que realmente resultem na

diminuição da recusa alimentar.

O histórico de dificuldade alimentar dos pais também esteve associado positivamente

com a dificuldade alimentar do filho. Este comportamento pode ser influenciado por

características hereditárias ou comportamentais dos pais. Estudo encontrou variação de 78%

nos escores de neofobia nas crianças por causa das diferenças genéticas/hereditárias (36).

Além disso, as características sensoriais, como sensibilidade ao sabor amargo, determinadas

geneticamente, podem resultar em experiências afetivas negativas relacionadas à

experimentação de novos alimentos e, assim, aumentar a dificuldade em consumir alimentos

novos pelas crianças (36).

Assim como a presença de dificuldade alimentar nos pais também tende a afetar o

comportamento das crianças. Mães que relataram altos níveis de neofobia alimentar tenderam

a ter filhos com níveis altos desse comportamento na idade pré-escolar. Este fato foi

justificado devido a menor variedade de alimentos ofertados à criança, o que limitou a

exposição a novos alimentos, e pela modelagem do comportamento neofóbico, por meio dos

comportamentos e crenças parentais sobre a alimentação (47).

Neste estudo, as únicas características da criança que apresentaram relação com a

dificuldade alimentar foi o estado nutricional avaliado pelo índice IMC/idade. O aumento do

z-escore do IMC/I reduz em 17% a chance deste comportamento, ou seja, a dificuldade

alimentar não esteve associada a valores superiores de peso corporal. Contudo, na literatura

não se observa uma associação clara entre peso corporal e dificuldade alimentar (1,2).

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49

Vale ressaltar que entre os pré-escolares avaliados não foi constatado baixo peso, o que

indica que a dificuldade alimentar se encontra presente entre crianças eutróficas. Possivelmente,

a preferência e o maior acesso e disponibilidade a alimentos com alta densidade calórica, como

os ultraprocessados, conforme já discutido, contribuiu para preservação do estado nutricional

entre os participantes com dificuldade alimentar. Assim, estudos longitudinais são necessários

para avaliar o impacto dos casos graves de dificuldades alimentares no estado nutricional a

longo prazo.

Fatores intrínsecos à criança, como sexo, idade, condições de nascimento, ordem de

nascimento, amamentação e idade da introdução alimentar não se relacionaram à dificuldade

alimentar. O ambiente parece ter influência maior para o desenvolvimento desse distúrbio

alimentar. As famílias devem ser o foco das estratégias de intervenção que objetivem promover

melhores hábitos alimentares na infância, porém as escolas também devem ser inseridas nesse

contexto, uma vez que boa parte dos participantes, 36,6% (n=265), estudam em tempo integral

e passam maior parte do tempo sob influência do ambiente escolar.

Como limitações do presente estudo, pode-se destacar a impossibilidade de inferir sobre

relação de causalidade entre os fatores associados à dificuldade alimentar devido ao

delineamento transversal. Nesse estudo, o diagnóstico da dificuldade alimentar foi baseado na

percepção dos pais, o que pode ser passível de subjetividade, e numa única pergunta, que pode

não abranger todos os aspectos relacionados ao problema. Contudo, este é um método bastante

utilizado na literatura e buscou-se caracterizar a dificuldade alimentar a partir de outras

perguntas relacionadas a este comportamento . Ao investigar na literatura o termo dificuldades

alimentares na infância é notória a falta de uma padronização acerca da definição, bem como

dos instrumentos de diagnósticos. Outra limitação é o provável viés de não resposta, pois os

pais que não participaram do estudo podem ter filhos menos afetados pela dificuldade alimentar.

Apesar de todo o esforço em divulgar a pesquisa e envio de carta de informação nas agendas

escolares, muitos não devolveram o termo de consentimento livre e esclarecido. A baixa adesão

dos pais nas atividades/ investigações escolares é problema muito comum justificado pela falta

de tempo, mas também pelo desinteresse dos mesmos.

CONCLUSÃO

A dificuldade alimentar entre pré-escolares brasileiros é uma queixa bastante comum

entre os pais (34,1%). A maior orientação para alimentação saudável e o maior IMC/I foram

fatores protetores, enquanto que o controle da alimentação pela criança, a exposição repetida,

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pais com histórico de dificuldade alimentar e a oferta de recompensas foram os fatores

associados à dificuldade alimentar. Os fatores ambientais, representados pelas práticas

parentais relacionadas à alimentação, possuem forte relação com a dificuldade alimentar. O

controle da dificuldade alimentar é fundamental para a formação de hábito alimentar saudável

a curto e longo prazo. Estratégias relacionadas à promoção de comportamentos alimentares

saudáveis necessariamente precisam envolver pais e o ambiente escolar para aumentar sua

efetividade.

AGRADECIMENTOS

Os autores desejam agradecer a assistência de todas as instituições, bem como os pré-

escolares e seus pais que participaram do estudo. Os autores também agradecem a todos os

pesquisadores do grupo de pesquisa.

FONTES DE FINANCIAMENTO

Este trabalho foi apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPQ) através o fornecimento de bolsas de estudos aos integrantes da pesquisa.

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54

4.2 Artigo II

Aspectos da recusa alimentar entre pré-escolares brasileiros: a influência das práticas

alimentares parentais e condições socioeconômicas

Resumo

As dificuldades alimentares são comportamentos frequentes entre pré-escolares e estão

relacionados a recusa alimentar. É considerada importante causa de monotonia alimentar e uma

barreira para formação de hábitos alimentares saudáveis. O objetivo deste estudo é investigar

os fatores associados aos diferentes aspectos da recusa alimentar. Participaram 730 pais de

crianças de 4 a 6 anos de escolas privada e filantrópica. A recusa alimentar foi avaliada pelas

sub escalas do Child Eating Behaviour Questionnaire (Seletividade Alimentar, Resposta à

Saciedade, Ingestão Lenta e Subingestão Emocional). Os pais responderam questionário sobre

dados socioeconômicos, condições de nascimento, história alimentar, características do

comportamento alimentar infantil e práticas alimentares parentais. Avaliou-se o estado

nutricional das crianças pela antropometria. Modelos de regressão linear múltipla foram

empregados para avaliar os fatores associados aos diferentes aspectos da recusa alimentar.

Todos os aspectos da recusa alimentar estiveram associados positivamente a pressão para comer

dos pais, e negativamente com o IMC/Idade. Pais permissivos apresentaram filhos com maior

Seletividade Alimentar, Resposta à Saciedade e Subingestão Emocional. Enquanto que a

amamentação teve efeito protetor para a Resposta à Saciedade e Subingestão Emocional, o

maior nível de escolaridade materna foi um fator de risco. Fatores como uso de recompensas

alimentares e antecedentes parentais de dificuldades alimentares também estiveram associados

a aspectos da recusa alimentar. A promoção de ambientes familiares saudáveis e a adoção de

práticas parentais menos coercitivas podem ser úteis no enfrentamento da recusa alimentar entre

pré-escolares.

Palavras- chave: comportamento alimentar, pré-escolares, desordem alimentar, parentalidade.

Abstract

Feeding difficulties are frequent behaviors among preschoolers and it is related to food refusal.

It is considered an important cause of food monotony and a barrier to the formation of healthy

eating habits. The aim of this study is to investigate factors associated with different aspects of

food avoidance. Participated 730 parents and children from 4 to 6 years from private and public

schools. The food avoidance was evaluated by the subscales of the Child Eating Behavior

Questionnaire (Food Fussiness, Satiety Responsiveness, Slowness in Eating and Emotional

Undereating). Parents answered questionnaires about socioeconomic aspects, birth conditions,

food history, child eating behavior’s characteristics and parental feeding practices. The

children’s nutritional status assessment was made by anthropometry. Linear regression models

were used to evaluate factors associated with different food avoidance aspects. All food

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avoidance aspects are positive associated with pressure to eat and negatively associated with

BMI/age. Parents permissive showed child with higher Food Fussiness, Satiety Responsiveness

and Emotional Undereating. While breastfeeding had protector factor in Satiety Responsiveness

and Emotional Undereating, the higher level of maternal educational was a risk factor. Factors

such as the use of food as a rewards and parental antecedents of feeding difficulties also are

associated with one aspect of food avoidance. The promote of health food environment and

adoption of parental feeding practices less coercive may be helpful to control the food

avoidance among preschoolers.

Keywords: eating behavior, feeding disorders, preschool children, parenting.

Introdução

O comportamento alimentar infantil requer especial atenção entre pais, educadores,

profissionais de saúde e até organizações e instituições das diversas populações, já que na

infância os hábitos alimentares são formados e a alimentação nas idades posteriores reflete o

que foi aprendido (Mikkilä, Räsänen, Raitakari, Pietinen, & Viikari, 2004; Powell, Farrow, &

Meyer, 2011). Desta forma, o entendimento acerca do desenvolvimento das dificuldades

alimentares entre crianças é necessário por ser uma importante barreira para práticas

alimentares saudáveis (Carruth et al., 1998; Dovey, Staples, Gibson, & Halford, 2008; Jacobi,

Agras, Bryson, & Hammer, 2003).

Na infância, em especial na idade pré-escolar, é comum o surgimento das dificuldades

alimentares, em especial a recusa alimentar, a qual envolve aspectos como o desinteresse pelos

alimentos (Carruth & Skinner, 2000; Dovey et al., 2008), a recusa a um número substancial de

alimentos que são familiares ou não para as crianças (Kerzner et al., 2015), ou ainda recusa a

certas texturas alimentares (Jacobi et al., 2003), ou quando há um consumo insuficiente de

alimentos, além da insatisfação dos pais com a alimentação dos filhos (Dovey et al., 2008;

Jacobi et al., 2003). Comumente denominadas como “picky eating” ou “fussy eating”, tais

crianças apresentam baixo apetite e fortes exigências alimentares (Green et al., 2015).

Estudos tem identificado que mais da metade das mães afirmam que pelo menos um de

seus filhos come insuficiente (Carruth et al., 1998; Jacobi et al., 2003; Kerzner et al., 2015;

Wright & Parkinson, 2007). Revisões sistemáticas sobre dificuldade alimentar na infância

encontraram prevalências amplas de 5,6 até 59% (C. L. Brown, Vander Schaaf, Cohen, Irby, &

Skelton, 2016; Taylor, Wernimont, Northstone, & Emmett, 2015). Apesar de ser uma queixa

frequente entre pais, este é um problema ainda pouco elucidado, provavelmente devido a sua

natureza multifatorial e ausência de consenso em relação aos instrumentos de diagnóstico.

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É importante compreender que o fenômeno da recusa alimentar infantil é complexo e

possui uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos que podem influenciar no desenvolvimento

deste comportamento (Lafraire, Rioux, Giboreau, & Picard, 2016). Características como idade,

ordem de nascimento e temperamento emocional são apontados como possíveis preditores

(Dovey et al., 2008; Galloway, Lee, & Birch, 2003; Powell et al., 2011), além de aspectos

ambientais como fatores socioeconômicos (Tharner et al., 2014; van der Horst, Deming,

Lesniauskas, Carr, & Reidy, 2016) e as práticas alimentares adotadas pelos pais (DeCosta,

Møller, Frøst, & Olsen, 2017; Tovar et al., 2015). O uso de estratégias coercivas ou de

recompensas alimentares também podem contribuir para o desenvolvimento, reforço e/ou

exacerbação da recusa alimentar (S. D. Brown & Harris, 2012; Powell et al., 2011).

Poucos estudos em países em desenvolvimento como o Brasil se propuseram a

investigar os fatores associados aos diferentes aspectos da recusa alimentar. Observa-se que

esta é uma frequente queixa entre os pais, porém não são elucidados o contexto e as situações

envolvidas. O entendimento sobre a recusa alimentar e seus fatores associados em grupos

específicos pode subsidiar estratégias de educação alimentar e nutricional mais efetivas na

promoção hábitos alimentares saudáveis. O objetivo do presente estudo é investigar os fatores

associados aos diferentes aspectos da recusa alimentar avaliados por meio das sub escalas do

Child Eating Behaviour Questionnaire.

Métodos

Desenho do estudo

Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido entre agosto a dezembro de 2017 em

escolas filantrópicas e particulares com ensino em tempo integral, da cidade de Aracaju, estado

de Sergipe, região nordeste do Brasil. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em

Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe. Todos os responsáveis

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando em participar do estudo.

Participantes

As escolas foram identificadas de acordo com o cadastro do Conselho Municipal de

Educação. Foram selecionadas escolas que ofereciam ensino em tempo integral, totalizando 56

escolas com ensino particular e 5 escolas públicas. Foram incluídas no estudo 17 escolas

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particulares, por meio de um sorteio aleatório, e as 5 instituições públicas de perfil filantrópico

com ensino em tempo integral.

Para o cálculo amostral, adotou-se a prevalência de dificuldades alimentares de 32,3%

(média entre o intervalo de 5,6 a 59%), nível de significância de 5% e uma margem de erro de

5, atingindo um tamanho da amostra mínimo de 501 participantes (n= 318 nas escolas

particulares e n=183 nas escolas filantrópicas).

Foram excluídas aquelas com diagnóstico clínico referido pelos pais de doenças

neurológicas, transtorno do espectro autista (TEA), alergias e/ou intolerâncias alimentares ou

doenças que demandassem modificações na oferta e no consumo alimentar e que alterassem o

comportamento alimentar (diabetes, erros inatos do metabolismo, entre outras).

Avaliação das características dos participantes

Aplicou-se questionário semiestruturado com os pais das crianças participantes com o

objetivo de identificar as características como idade, sexo, condições de nascimento (tempo de

gestação, peso ao nascer, ordem de nascimento), dados socioeconômicos (escolaridade

materna) e história alimentar (aleitamento materno e idade da introdução dos alimentos

complementares). Nas escolas particulares, os questionários foram auto preenchidos pelos pais,

ao passo que, nas escolas públicas, a fim de evitar erros de leitura e de interpretação das questões

causados pela baixa escolaridade dos pais, os entrevistadores devidamente treinados que

aplicaram os questionários.

Child Eating Behaviour Questionnaire (CEBQ)

O CEBQ é considerado uma ferramenta psicométrica amplamente utilizada para avaliar

as múltiplas dimensões do comportamento alimentar infantil. Foi desenvolvido no Reino Unido

com crianças de 2 a 7 anos e validado para crianças portuguesas de 3 a 13 anos (Viana, Sinde,

& Saxton, 2008; J. Wardle, Guthrie, Sanderson, & Rapoport, 2001). É constituído por 35 itens

divididos em dois blocos - “Interesse pela Comida” e ‘‘Desinteresse pela Comida’’. Neste

estudo, os pais responderam quatro das sub escalas deste último bloco: Seletividade Alimentar

(SA): aptidão em experimentar novos alimentos e a existência de fortes preferências

alimentares; Resposta à Saciedade (RS): capacidade de “contra-regulação” da ingestão, ou seja,

a regulação do apetite de modo a compensar a refeição anterior; Subingestão Emocional (SE):

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efeito que as emoções provocam no apetite, perante algumas emoções, a criança pode perder o

apetite e comer menos do que o habitual; e Ingestão Lenta (IL) que investiga a falta de interesse

da criança pela comida e consequentemente refeições de longa duração (J. Wardle et al., 2001).

As categorias de respostas eram nunca (1), raramente (2), às vezes (3), frequentemente

(4) e sempre (5), com algumas questões reversas. As maiores pontuações nas sub escalas

indicavam uma maior intensidade do comportamento avaliado. O CEBQ tem sido amplamente

utilizado nas pesquisas e demonstrou ter boa confiabilidade teste-reteste (r= 0,52-0,87),

estabilidade ao longo do tempo e confiabilidade interna com -Cronbach variando de 0,72 a

0,91 (Carnell & Wardle, 2007; J. Wardle et al., 2001). A análise da confiabilidade interna na

amostra do presente estudo foi adequada com -Cronbach de 0,83, sendo para a subamostra

das escolas filantrópicas de 0,80 e para as escolas privadas de 0,85.

Estado nutricional

Foram aferidos o peso e a altura das crianças, por nutricionistas ou acadêmicos de

nutrição treinados. O escore z do índice antropométrico IMC/Idade (IMC/I) foi adotado para

avaliar o estado nutricional, calculado no software Anthro Plus versão 3.2. Classificou-se com

excesso de peso, IMC/I maior que +1 escore z, e sem excesso de peso os valores menores.

Comprehensive Feeding Practices Questionnaire (CFPQ)

O CFPQ tem sido utilizado para avaliar a relação do modo como os pais alimentam seus

filhos, os fatores que contribuem e como afetam o comportamento alimentar da criança

(Musher-Eizenman & Holub, 2007). Possui versão traduzida e validada para pré-escolares

brasileiros (Warkentin, Mais, Latorre, Carnell, & Taddei, 2016). No presente estudo, utilizou-

se itens de cinco sub escalas, sendo 2 sub escalas do questionário original: ‘’Ambiente’’ e

‘’Controle da criança’’; e 3 sub escalas do questionário brasileiro validado: ‘’Pressão para

comer’’, ‘’Comida como recompensa’’, “Orientação para uma alimentação saudável”. A

confiabilidade interna do CFPQ para a amostra total foi moderada com α-Cronbach de 0,53,

para subamostra das escolas privadas α-Cronbach de 0,52 e para as escolas filantrópicas 0,58.

As questões relacionados a sub escala “Pressão para comer” foram: “Meu filho deve

comer sempre toda a comida de seu prato”; “Se meu filho diz: "Eu não estou com fome", eu

tento fazê-lo comer mesmo assim”; “Se meu filho comer apenas uma pequena porção de

comida, eu tento fazer com que ele coma mais”; “Quando meu filho diz que terminou de comer,

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59

eu tento fazer com que ele coma mais”. Para avaliar a utilização de recompensas como estímulo

para criança comer, selecionou-se duas questões da sub escala “Comida como recompensa”:

“Como recompensa por um bom comportamento, eu ofereço doces (bala, sorvete, bolo, doce

de padaria) ao meu filho”; e “Eu ofereço ao meu filho seu alimento favorito em troca de um

bom comportamento”.

O acesso e a disponibilidade de alimentos não-saudáveis foram avaliados por meio de

duas questões da sub escala “Ambiente”: “Eu mantenho muitos salgadinhos (batata chips,

cheetos...) na minha casa”; “Eu mantenho muitos doces (balas, sorvetes, bolos...) na minha

casa”. Avaliou-se o papel dos pais como modelo de uma alimentação saudável por quatro

questões da sub escala “Orientação para uma Alimentação Saudável”: “A maioria dos alimentos

que mantenho em casa é saudável”; “Em cada refeição servida em casa, têm alimentos

saudáveis disponíveis para meu filho”; “Eu estimulo meu filho a experimentar novos

alimentos’; “Eu estimulo meu filho a comer alimentos variados”. As categorias de respostas

das questões foram obtidas pela escala de concordância de Likert de 5 pontos (concordo

totalmente a discordo totalmente).

Afim de avaliar a permissividade dos pais em relação ao controle dos filhos sobre as

escolhas alimentares, utilizou-se duas questões da sub escala “Controle da criança”: “Se seu

filho não gosta do que está sendo servido, você prepara outra coisa?”; “Durante as refeições,

dentre os alimentos que estão servidos você deixa seu filho escolher aqueles que ele quiser?”.

As categorias de respostas foram: nunca (1), raramente (2), às vezes (3), frequentemente (4) e

sempre (5).

Análise dos dados

Para a estatística descritiva, foram calculadas medidas de tendência central (médias),

proporção (frequências) e dispersão (desvio-padrão). Calculou-se os escores médios de

pontuação para cada sub escala do CEBQ e CFPQ. Utilizou-se modelos de regressão linear

múltipla para examinar os fatores associados aos quatro aspectos da recusa alimentar infantil

(SA, RS, SE e IL). No modelo ajustado, utilizou-se como variáveis independentes: sexo da

criança, idade (meses), IMC/I (escore z), tempo de gestação, peso ao nascer (g), ordem de

nascimento, aleitamento materno, antecedente de dificuldade alimentar dos pais, escolaridade

materna, tipo de escola e as práticas alimentares parentais (sub escalas do CFPQ). O modelo

final foi aceito após análise de resíduo. O programa Stata, versão 13.0, foi utilizado para análise

dos dados. Adotou-se o valor de p<0,05 para significância estatística dos testes.

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60

Resultados

Foram elegíveis 1.822 pais/crianças, destes 56,6% não retornaram o termo de

consentimento livre e esclarecido, resultando em 791 (43,4%) participantes. Foram excluídas

61 crianças (52 com alergia e/ou intolerância alimentar, 8 com TEA e 1 com paralisia cerebral).

Assim, 730 participaram do estudo, 69,6% (n=508) das crianças pertenciam a escolas

particulares e 30,4% (n=222) a escolas filantrópicas, 50,3% do sexo feminino e a média de

idade foi de 62,3 (±8,1) meses. Demais características estão descritas na Tabela 1.

Fatores associados à Seletividade Alimentar

A SA esteve associada negativamente ao IMC/I (= -0,07, 95% IC -0,12; 0,01) e a

orientação dos pais para uma alimentação saudável (= -0,27, 95% IC -0,39; -0,15), e associado

positivamente com escola privada (= 0,25, 95% IC 0,03; 0,47), controle da criança sobre a

alimentação (= 0,12, 95% IC 0,04; 0,19), oferta da comida como recompensa (= 0,09, 95%

IC 0,02; 0,16) e pressão para a criança comer (= 0,09, 95% IC 0,01; 0,18) (Tabela 2).

Fatores associados à Resposta à Saciedade

Encontrou-se associação negativa da RS com o IMC/I (= -0,16, 95% IC -0,22; -0,11),

amamentação (= -0,24, 95% IC -0,46; -0,02) e escolaridade materna (= -0,24, 95% IC -0,43;

-0,04), e associação positiva com escola privada (=0,22, 95% IC 0,02; 0,42), antecedentes

parentais de dificuldade alimentar (= 0,06, 95% IC 0,06; 0,1), pressão para comer (= 0,14,

95% IC 0,06; 0,22) e controle da criança sobre a alimentação (= 0,14, 95% IC 0,07; 0,20)

(Tabela 3).

Fatores associados à Subingestão Emocional

A SE associou-se negativamente com a amamentação (= -0,48, 95% IC -0,77; -0,20) e

o IMC/I (= -0,13, 95% IC -0,20; -0,06), e positivamente com a ordem de nascimento (segundo

filho) (= 0,17, 95% IC 0,01; 0,34), a escolaridade materna (= 0,30, 95% IC 0,04; 0,56),

controle da criança (=0,17, 95% IC 0,09; 0,26), pressão para comer (=0,10, 95% IC 0,01;

0,02) e oferta de comida como recompensa (= 0,16, 95% IC 0,08; 0,25) (Tabela 4).

Fatores associados à Ingestão Lenta

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Quanto ao aspecto IL observou-se associação negativa com o IMC/I (= -0,12; 95% IC

-0,19; -0,05), e associação positiva com antecedentes parentais de dificuldade alimentar (=

0,08, 95% IC 0,03; 0,14) e pressão para comer (= 0,15, 95% IC 0,05; 0,25) (Tabela 5).

Discussão

As práticas parentais relacionadas à alimentação – pressão, oferta de recompensa e

controle – foram os fatores que mais se associaram com os diferentes aspectos da recusa

alimentar infantil. Enquanto que em relação aos fatores individuais da criança, apenas o IMC/I

esteve relacionado a todos os aspectos da recusa alimentar avaliados.

A pressão dos pais para que a criança coma apresentou associação positiva com a SA,

RS, SE e IL. Resultado semelhante foi encontrado em um estudo com crianças australianas de

1 a 5 anos de idade que também constatou, por meio do CFPQ, associação da pressão para

comer com a SA, RS e IL (Jani, Mallan, & Daniels, 2015). Já o estudo inglês realizado com

crianças de 3 a 6 anos, a pressão para comer estava relacionada a maior RS, IL e SE (Powell et

al., 2011). Autores defendem que pais adotam essa prática em decorrência da percepção de que

seus filhos estão subalimentados ou como estratégia para enfrentar a recusa alimentar (Dovey

et al., 2008; Galloway, Fiorito, Lee, & Birch, 2005). Entretanto, a pressão afeta negativamente

o estado emocional da criança e cria maior ansiedade, levando à atribuição de sentimentos ruins

em relação ao alimento e ao menor prazer em comer (S. D. Brown & Harris, 2012; Ek et al.,

2016). Ao perceberem que estão sendo coagidas, as crianças reagem de forma negativa,

recusando-os (Gregory, Paxton, & Brozovic, 2010). Além disso, a pressão para comer afeta o

controle interno da saciedade, fazendo com que elas aumentem a capacidade de resposta a

estímulos externos para controle do apetite (Anzman, Rollins, & Birch, 2010). A atitude

adequada deve ser tranquilizar verbalmente a criança e proporcionar uma situação calma, para

que ela se sinta confortável em aceitar o alimento, mesmo que seja em pequena quantidade (S.

D. Brown & Harris, 2012).

Além do mais, sabe-se que as relações entre as práticas alimentares parentais e a

alimentação infantil apresentam associações bidirecionais. Ou seja, a adoção de práticas

coercitivas, como a pressão, pode levar a maior alimentação seletiva ou a maior RS. Mas, por

outro lado, as atitudes das crianças em recusar os alimentos ou a preocupação com a qualidade

da alimentação delas podem direcionar as práticas alimentares parentais para coagir seus filhos

a comerem mais (Birch, Savage, & Ventura, 2007; Galloway, Fiorito, Francis, & Birch, 2006).

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Estudo longitudinal realizado com pré-escolares holandeses forneceu evidências dessa relação

bidirecional, porém, a direção dos efeitos indicou que os pais usam mais da pressão para comer

como resposta a recusa do filho, enquanto o caminho inverso também foi observado, embora

com menor intensidade (Jansen et al., 2017).

Ainda não se sabe o efeito da adoção de práticas coercitivas no comportamento

alimentar futuro da criança. Estudo longitudinal realizado com crianças inglesas encontrou

associações entre pressão para comer e a seletividade alimentar aos 21 e 33 meses, entretanto

não houve evidencias de que pressionar a criança a comer poderia aumentar ainda mais a

seletividade no futuro (Lumeng, Miller, Appugliese, Rosenblum, & Kaciroti, 2018). Resultado

semelhante encontrado em uma coorte 156 crianças australianas de 2 a 4 (Gregory et al., 2010).

Entretanto, estudo realizado com meninas em idade escolar encontrou uma associação

prospectiva entre pressionar para comer e seletividade 2 anos mais tarde (Galloway et al., 2005).

Talvez, a pressão para comer exercida pelos pais contribua para tornar as crianças seletivos

persistentes no futuro. São necessários mais estudos em outras faixas etárias e com períodos

mais longos de acompanhamento para que se possa esclarecer a associação entre pressionar

para comer e a alimentação seletiva futura. Esses achados reforçam a necessidade de os pais

repensarem as suas práticas diante da necessidade de controlar a recusa alimentar dos filhos.

Na tentativa de encorajar as crianças a comerem, a oferta de recompensas também pode

aparecer como uma estratégia comumente adotada pelos pais. No presente estudo, a utilização

de recompensas alimentares esteve associada a maior SA e a SE. Conforme a Teoria da

Determinação Social (SDT), uma recompensa serve como um motivador extrínseco e pode

interferir negativamente a motivação intrínseca (Deci, Koestner, & Ryan, 1999). Dessa forma,

a oferta de recompensa pode ser eficaz para encorajar as crianças a experimentar um alimento

recusado, porém não é suficiente para promover modificações no gosto e nas preferências

alimentares (Benton, 2004).

Faz necessário diferenciar o tipo de recompensa utilizado. Oferecer outros alimentos

como recompensa, doces por exemplo, pode aumentar a preferência pelos alimentos

recompensados e contribuir para aumentar a recusa ao alimento inicialmente rejeitado (Benton,

2004; Corsini, Slater, Harrison, Cooke, & Cox, 2013; Vaughn et al., 2016; Walton, Kuczynski,

Haycraft, Breen, & Haines, 2017). Enquanto que, recompensas não alimentares podem ser

ferramentas úteis para convencer crianças a se engajarem no comportamento recompensado. A

utilização de recompensas tangíveis (adesivos, brinquedos) ou não-tangíveis (elogios) são

reforços positivos que estimulam as crianças a experimentar novos alimentos, a ser menos

seletivas e a controlar melhor as emoções (Cooke, Chambers, Añez, & Wardle, 2011; Holley,

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Haycraft, & Farrow, 2015). A depender das características da criança, as recompensas tangíveis

parecem ser mais poderosas na facilitação da degustação (Cooke et al., 2011). Estudo com pré-

escolares da Bélgica identificou que as crianças com alta sensibilidade à recompensa eram mais

propensas a experimentar imediatamente as verduras e legumes quando recompensadas com

elogios comparada aquelas com baixa sensibilidade (Vandeweghe, Verbeken, Moens,

Vervoort, & Braet, 2016). A oferta de recompensa impulsiona a criança a ter vontade de provar,

favorecendo a exposição ao alimento, porém, é uma estratégia que não deve ser adotada visando

uma menor recusa alimentar, já que não há promoção da alteração do gosto e das preferências

alimentares.

Outro aspecto observado nesse estudo foi a associação do controle da criança sobre a

alimentação, entendido como a maior permissividade dos pais, com a SA, RS e SE. Resultado

semelhante a um estudo australiano que observou que o maior monitoramento dos pais sobre a

alimentação dos filhos, logo o menor controle da criança, foi relacionado a menor SA, como

também a menor IL (Jani et al., 2015). Resultado semelhante encontrado também em um estudo

realizado com crianças suecas de 12 a 36 meses verificou que o fato dos pais fazerem outra

comida, caso o filho não gostasse do que era servido, foi associado a maior recusa alimentar

(Fries, Martin, & van der Horst, 2017). O fato de preparar refeições específicas, na tentativa de

diminuir a recusa, não expõe a criança a novas experiências alimentares e enfatiza a rotina

alimentar que ela estabelece. Por outro lado, a adoção de práticas parentais controladoras ou

autoritárias está também associada a recusa alimentar mais forte pelas crianças (Fries et al.,

2017; Machado et al., 2018). Portanto, o que se defende é a adoção de práticas responsivas, ou

seja, que os pais desenvolvam maior interação e comunicação com as crianças e respeite as suas

particularidades e autonomia, através da oferta de refeições estruturadas, do respeito aos sinais

de saciedade da criança e da oferta de um ambiente adequado durante as refeições (Cole, An,

Lee, & Donovan, 2017; Machado et al., 2018; Walton et al., 2017). Essas práticas são exemplos

do estilo responsivo, o qual estabelece limites ao mesmo tempo em que respeita a autonomia

da criança (Kerzner et al., 2015).

As crianças podem ser beneficiadas com a prática da divisão de responsabilidades

relacionadas a alimentação entre os pais e filhos, na qual os pais são responsáveis por o que,

quando e onde a criança come, enquanto que ela é responsável por quanto, como e se deseja ou

não comer (Satter, 1986). Assim, os pais são receptivos às necessidades da criança e esta, por

sua vez, pode mostrar autonomia sobre seus hábitos alimentares, sem que haja a necessidade de

adoção de práticas coercitivas, como pressionar para comer ou ofertar recompensas, ou ainda

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agir de forma permissiva que não proporcione uma adequada educação para formação de

hábitos alimentares saudáveis.

Em relação aos fatores individuais que poderiam estar associados com a recusa

alimentar, observou-se que crianças com menores escores z do IMC/I apresentaram maiores

valores para SA, RS, SE e IL. Vale destacar que na amostra avaliada a não foi identificado

crianças com baixo peso, logo as alterações do comportamento alimentar identificadas estavam

associadas a crianças eutróficas. Estudo transversal realizado com crianças holandesas de 4

anos também identificou associação entre a SE, RS e a SA com pesos progressivamente

menores (Jansen et al., 2012). Estudo longitudinal com pré-escolares ingleses de 5 a 6 anos de

idade confirmaram a associação entre a maior RS e menor IMC/I (Parkinson, Drewett, Le

Couteur, Adamson, & Gateshead Milennium Study Core Team, 2010). Outro estudo identificou

que crianças seletivas tinham duas vezes mais chances de apresentar baixo peso (Dubois,

Farmer, Girard, Peterson, & Tatone-Tokuda, 2007). Essas crianças comumente apresentam

ingestão insuficiente de alimentos o que pode estar contribuindo para o menor IMC/I. Além

disso, também é possível que a baixa variedade alimentar, característica desse comportamento,

acarrete na deficiência de nutrientes essenciais como vitaminas, minerais, proteínas e fibras.

Estudo realizado com pré-escolares chineses identificou baixa ingestão de proteína e fibra no

grupo de crianças seletivas quando comparada a crianças não seletivas (Xue et al., 2015). E

ainda, estudo com crianças holandesas de 4 anos identificou menor consumo de grãos integrais,

verduras, legumes, peixe e carne por crianças seletivas (Tharner et al., 2014). Essas crianças

necessitam de um monitoramento do crescimento e desenvolvimento a fim de identificar

precocemente agravos.

Entretanto, o efeito da seletividade sobre o estado nutricional ainda não é bem definido

na literatura. Recente revisão sistemática, por exemplo, não identificou associação clara entre

peso corporal e a presença de dificuldade alimentar (C. L. Brown et al., 2016). É importante

ressaltar que o maior risco de distúrbios nutricionais está diretamente relacionado com a

intensidade da recusa alimentar. Nos pré-escolares, este comportamento é transitório e

característico, ocorrendo na maioria das vezes em grau leve a moderado, o que não acarreta em

prejuízos nutricionais graves (Kerzner et al., 2015). Entretanto, um percentual considerável

dessas crianças apresenta dificuldades alimentares mais intensas e mantém as alterações em

idade mais avançadas, considerados seletivos persistentes (Mascola, Bryson, & Agras, 2010).

Estes podem apresentar menor potencial do crescimento e déficits nutricionais em idade

posteriores, comprometendo assim o estado nutricional. Para tanto, estudos longitudinais

devem esclarecer melhor essa relação.

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A maior RS observada em crianças com menor IMC/I pode ser explicada pela alta

regulação do apetite, o que dificulta o consumo de alimentos em quantidade suficiente pela

criança, resultando no menor peso corporal. As práticas parentais também podem influenciar

nessa associação, pois ao pressionar a criança para comer os pais podem contribuir para uma

RS exacerbada resultando na diminuição do consumo alimentar (Anzman et al., 2010). E ainda,

o estresse emocional pode levar à inibição do apetite (Viana et al., 2008). Por outro lado, diante

do baixo apetite e da monotonia alimentar, muitos pais oferecem refeições de maior aceitação

e palatabilidade, com alimentos de alta densidade calórica (Tharner et al., 2014; Xue et al.,

2015), o que contribui para preservar a adequação do peso corporal as custas de uma ingestão

alimentar nutricionalmente inadequada.

Neste estudo, a amamentação protegeu as crianças em relação a RS e a SE. A

experiência da amamentação permite que crianças aprendam a regular o apetite, ajustando suas

necessidades com as mudanças na composição do leite materno ao longo do dia (A. Brown &

Lee, 2012). Além disso, a amamentação quando em livre demanda, ou seja, conduzida pela

criança, incentiva as mães a adotarem no futuro um estilo de alimentação de baixo controle e a

respeitarem as demandas e sinais de saciedade infantis (A. Brown & Lee, 2012; A. Brown,

Raynor, & Lee, 2011). Essa combinação de fatores pode promover maior regulação do apetite

nas crianças amamentadas. Alguns estudos demonstraram que crianças amamentadas e a

amamentação por mais tempo associou-se com menor recusa alimentar avaliada também pelo

CEBQ (Albuquerque, Severo, & Oliveira, 2017; A. Brown & Lee, 2012). No presente estudo

não foi avaliado a duração do aleitamento materno. A criança tem melhor RS quando é

amamentada por no mínimo 6 semanas (A. Brown & Lee, 2012). Os achados reforçam a

importância do aleitamento materno exclusivo por 6 meses como fator protetor para o melhor

controle do apetite em pré-escolares.

O histórico de dificuldade alimentar dos pais associou-se positivamente com a RS e a

IL. Revisão sobre o tema concluiu, a partir dos estudos com gêmeos, que a variação da resposta

aos sinais de saciedade interna é altamente hereditária relacionada ao gene FTO - Fat Mass and

Obesity Associated (Jane Wardle & Carnell, 2009). As crianças que eram homozigotas para o

genótipo de maior risco (AA) do gene FTO, tiveram menor RS e maior adiposidade. Resultado

semelhante no estudo com escolares chilenos, o qual demonstrou que meninas eutróficas

portadoras do alelo A do gene FTO apresentavam maior capacidade de RS e IL (Obregón Rivas,

Santos, Valladares, Cameron, & Goldfield, 2018). O comportamento alimentar sofre

influências hereditárias, mas o ambiente pode ou não facilitar a expressão de determinadas

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características genéticas. Nesse sentido, destaca-se a importância do ambiente social (pais,

escola e amigos) na formação e desenvolvimento do comportamento alimentar infantil.

Variáveis relacionadas às condições socioeconômicas, como escolaridade materna e o

tipo de escola (privada ou filantrópica), estiveram associadas a três dos aspectos da recusa

alimentar. De modo que, filhos de mães com maior escolaridade apresentaram maior SE,

porém, menor RS; já as crianças de escolas privadas, de maior poder aquisitivo, apresentaram

maior SA e RS. É provável que mães de maior escolaridade percebam mais facilmente e tenham

maior preocupação com a SE e SA dos seus filhos. Por outro lado, a menor disponibilidade e a

oferta variada de alimentos no domicílio das famílias de baixo nível socioeconômico podem

dificultar a identificação de situações de recusa alimentar.

No entanto, a maior escolaridade materna apresentou associação negativa com a RS. Na

literatura, a associação entre condições socioeconômicas e a recusa alimentar é controversa.

Estudo com pré-escolares brasileiros identificou que o menor nível socioeconômico - avaliado

por meio da renda e do tipo de escola - estava associado a maior dificuldade alimentar,

entretanto essa associação não se manteve na análise multivariada (Maranhão, Aguiar, Lira,

Sales, & Nóbrega, 2017). Recente revisão também não encontrou associação entre a

escolaridade materna com a dificuldade alimentar infantil (Cole et al., 2017). Ao passo que

outros estudos internacionais encontraram associações opostas, ou seja, famílias com menor

renda e escolaridade apresentavam crianças com mais dificuldades alimentares (Albuquerque

et al., 2017; Tharner et al., 2014; van der Horst et al., 2016; Xue et al., 2015). Mais estudos são

necessários para esclarecer essa associação, principalmente em países em desenvolvimento.

Este estudo avaliou lacunas existentes na literatura ao investigar uma diversidade de

fatores relacionados a criança, ao ambiente e aos pais com a recusa alimentar numa amostra

diversificada de pré-escolares brasileiros. O uso do CEBQ contribuiu para avaliar diferentes

aspectos da recusa alimentar infantil. Entretanto, cabe mencionar que o desenho transversal

deste estudo não permite inferir relações de causalidade entre os fatores e os desfechos

analisados. Outra limitação refere-se à obtenção das informações a partir da percepção dos pais,

pois estas informações estão sujeitas a viés de resposta, quando os mais interessados a

responderem os questionários são aqueles com filhos com alterações do comportamento

alimentar.

Conclusão

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A recusa alimentar entre os pré-escolares avaliados está especialmente associada a

práticas parentais alimentares de pressão para comer, controle da criança sobre as escolhas

alimentares e uso de recompensas alimentares. Crianças com menores índice de massa corporal,

com mães de maior escolaridade, pertencentes a escolas privadas e com pais com história de

dificuldade alimentar, apresentaram ao menos dois aspectos relacionados a recusa alimentar.

Além disso, a amamentação apresentou associação negativa com aspectos da recusa alimentar.

Profissionais de saúde devem orientar e incentivar os pais a adotarem práticas que estimulem

seus filhos a terem uma alimentação mais variada e saudável, respeitando e lidando com

tranquilidade com características específicas do desenvolvimento infantil, como a recusa

alimentar entre os pré-escolares, a fim de evitar o agravamento do quadro e sua persistência em

outras fases do ciclo da vida.

Agradecimentos

Os autores desejam agradecer a assistência de todas as instituições, bem como os pré-

escolares e seus pais que participaram do estudo. Os autores também agradecem a todos os

pesquisadores do nosso grupo de pesquisa.

Fontes de financiamento

Este trabalho foi apoiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPQ) através o fornecimento de bolsas de estudos aos integrantes da pesquisa.

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Anexo - Tabelas dos resultados

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72

Tabela 1. Descrição das características clínicas e socioeconômicos das crianças

participantes. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018.

a(n= 728)

Tabela 2. Modelo de regressão linear da Seletividade Alimentar entre pré-escolares

brasileiros. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018a.

aTodos os fatores listados nessa tabela foram incluídos no modelo.

Preditores Intervalo de

confiança 95% P-valor

Sexo (Feminino) -0,26 (-0,16; -0,10) 0,694

Idade (meses) 0,01 (-0,01; 0,01) 0,967

Tempo de gestação (A termo) 0,14 (-0,09; 0,37) 0,243

Peso ao nascer -0,01 (-0,01; 0,01) 0,492

Amamentação -0,15 (-0,39; 0,09) 0,210

IMC/I (z-escore) -0,07 (-0,12; 0,01) 0,022

Ordem de nascimento (Segundo filho) -0,02 (-0,15; 0,12) 0,803

Escolaridade materna (> 11 anos) 0,04 (-0,17; 0,25) 0,713

Tipo de escola (Privada) 0,25 (0,03; 0,47) 0,024

Antecedente de dificuldade alimentar dos pais 0,04 (-0,01; 0,09) 0,080

Comida como recompensa 0,09 (0,02; 0,16) 0,016

Pressão para comer 0,09 (0,01; 0,18) 0,032

Controle da criança 0,12 (0,04; 0,19) 0,002

Orientação sobre alimentação saudável -0,27 (-0,39; -0,15) <0,001

Ambiente 0,01 (-0,08; 0,09) 0,943

Total (n=730)

% (n)

Dificuldade Alimentar

p-

valor Não (n= 481) Sim (n= 249)

% (n) % (n)

Faixa etária 0,627

4 Ⱶ 5 anos 42,6 (311) 43,2 (208) 41,4 (103)

5 Ⱶ 6 anos 57,4 (419) 56,8 (273) 58,6 (146)

Sexo 0,514

Masculino 49,7 (363) 48,9 (235) 51,4 (128)

Feminino 50,3 (367) 51,1 (246) 48,6 (121)

Escolaridade materna 0,596

˂ 11 anos (ensino médio) 32,6 (238) 33,3 (160) 31,3 (78)

≥ 11 anos (ensino

superior)

67,4 (492) 66,7 (321) 68,7 (171)

Tipo de escola 0,828

Filantrópica 30,4 (222) 30,1 (145) 30,9 (77)

Privada 69,6 (508) 69,9 (336) 69,1 (172)

Estado nutricional atuala 0,021

Sem excesso de peso 72,3 (477) 69,4 (304) 77,9 (173)

Com excesso de peso 27,7 (183) 30,6 (134) 22,1 (49)

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73

Tabela 3. Modelo de regressão linear da Resposta a Saciedade entre pré-escolares

brasileiros. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018a.

a Todos os fatores listados nessa tabela foram incluídos no modelo.

Tabela 4. Modelo de regressão linear da Ingestão Lenta entre pré-escolares brasileiros.

Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018a.

a Todos os fatores listados nessa tabela foram incluídos no modelo.

Preditores Intervalo de

confiança 95%

P-

valor

Sexo (Feminino) 0,09 (-0,03; 0,21) 0,142

Idade (meses) 0,01 (-0,01; 0,01) 0,777

Tempo de gestação (A termo) 0,10 (-0,11; 0,32) 0,335

Peso ao nascer -0,01 (-0,01; 0,01) 0,252

Amamentação -0,24 (-0,46; -0,02) 0,034

IMC/I (z-escore) -0,16 (-0,22; -0,11) <0,001

Ordem de nascimento (Segundo filho) 0,01 (-0,11; 0,14) 0,839

Escolaridade materna (> 11 anos) -0,24 (-0,43; -0,04) 0,018

Tipo de escola (Privada) 0,22 (0,02; 0,42) 0,030

Antecedente de dificuldade alimentar dos

pais

0,06 (0,02; 0,11) 0,004

Comida como recompensa 0,32 (-0,03; 0,10) 0,344

Pressão para comer 0,14 (0,06; 0,22) <0,001

Controle da criança 0,14 (0,07; 0,20) <0,001

Orientação sobre alimentação saudável -0,09 (-0,20; 0,02) 0,116

Ambiente 0,02 (-0,05; 0,10) 0,546

Preditores

Intervalo de

confiança

95%

P-valor

Sexo (Feminino) 0,10 (-0,06; 0,25) 0,216

Idade (meses) 0,01 (-0,01; 0,02) 0,488

Tempo de gestação (A termo) 0,12 (-0,16; 0,40) 0,413

Peso ao nascer -0,01 (-0,01; 0,01) 0,501

Amamentação -0,48 (-0,77; -0,20) 0,001

IMC/I (z-escore) -0,13 (-0,20; -0,06) <0,001

Ordem de nascimento (Segundo filho) 0,17 (0,01; 0,34) 0,037

Escolaridade materna (> 11 anos) 0,30 (0,04; 0,56) 0,025

Tipo de escola (Privada) 0,01 (-0,26; 0,27) 0,974

Antecedente de dificuldade alimentar dos

pais

0,04 (-0,01; 0,10) 0,141

Comida como recompensa 0,16 (0,08; 0,25) <0,001

Pressão para comer 0,10 (0,01; 0,02) 0,046

Controle da criança 0,17 (0,09; 0,26) <0,001

Orientação sobre alimentação saudável 0,05 (-0,10; 0,19) 0,520

Ambiente 0,02 (-0,08; 0,12) 0,687

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74

Tabela 5. Modelo de regressão linear da Subingestão Emocional entre pré-escolares

brasileiros. Aracaju, Sergipe, Brasil, 2018a.

a Todos os fatores listados nessa tabela foram incluídos no modelo

Preditores Intervalo de

confiança 95%

P-

valor

Sexo (Feminino) 0,03 (-0,12; 0,18) 0,722

Idade (meses) 0,01 (-0,01; 0,01) 0,858

Tempo de gestação (A termo) 0,04 (-0,23; 0,31) 0,765

Peso ao nascer -0,01 (-0,01; 0,01) 0,485

Amamentação -0,10 (-0,39; 0,18) 0,476

IMC/I (z-escore) -0,12 (-0,19; -0,05) <0,001

Ordem de nascimento (Segundo filho) -0,03 (-0,19; 0,13) 0,722

Escolaridade materna (> 11 anos) -0,03 (-0,27; 0,22) 0,841

Tipo de escola (Privada) 0,09 (-0,17; 0,34) 0,498

Antecedente de dificuldade alimentar dos

pais

0,08 (0,03; 0,14) 0,005

Comida como recompensa 0,01 (-0,07; 0,10) 0,782

Pressão para comer 0,15 (0,05; 0,25) 0,003

Controle da criança -0,01 (-0,08; 0,08) 0,992

Orientação sobre alimentação saudável -0,11 (-0,25; 0,03) 0,115

Ambiente 0,02 (-0,08; 0,11) 0,747

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75

5 CONCLUSÃO

De acordo com a percepção dos pais avaliados, as dificuldades alimentares são uma

frequente queixa (34,1%). Na caracterização das dificuldades alimentares identificou-se

comportamentos típicos de neofobia e seletividade alimentar, com aversão a vários grupos

alimentares, especialmente verduras e legumes, raízes e frutas. A dificuldade alimentar esteve

associada as práticas alimentares parentais como o uso de recompensas, maior controle das

crianças sobre a alimentação e pouca orientação sobre alimentação saudável, bem como ao

estado nutricional.

Os aspectos da recusa alimentar (Resposta a Saciedade, Seletividade alimentar, Ingestão

lenta, e Subingestão Emocional) estiveram associados aos menores valores de IMC/I. Crianças

com mães de maior escolaridade e pertencentes a escolas privadas apresentaram maior

Subingestão Emocional e Seletividade Alimentar. A amamentação teve efeito protetor para a

Resposta à Saciedade e Subingestão Emocional e antecedentes parentais de dificuldades

alimentares também estiveram associados a Resposta à Saciedade e Ingestão Lenta. A pressão

para comer esteve associada a todos os quatros aspectos da recusa alimentar. O maior controle

da alimentação pela criança apresentou relação com a Seletividade Alimentar, Resposta à

Saciedade e Subingestão Emocional, enquanto que o uso de recompensas esteve associado a

maior Seletividade Alimentar e Subingestão Emocional.

Baseado em tais achados, acredita-se que as estratégias de prevenção e controle das

dificuldades alimentares devam envolver tantos as crianças quanto seus responsáveis, uma vez

que estes possuem forte influência no comportamento alimentar infantil. Sabe-se que as

dificuldades alimentares são comportamentos transitórios e característicos de pré-escolares, no

entanto a intensidade e duração podem ser determinados por fatores ambientais. Os pais

precisam ser orientados quanto a forma de lidar com o problema, agindo com naturalidade afim

de que o comportamento se resolva com a medida em que a criança se desenvolva. Para os

casos de maior gravidade, há necessidade de um acompanhamento multidisciplinar

(nutricionista, terapeuta ocupacional, pediatra, psicólogo) que envolvam pais e familiares a fim

desaconselhar as práticas coercitivas, e a utilização de atividades de educação alimentar e

nutricional de acordo com as necessidades individuais. Compreender os aspectos das

dificuldades alimentares e traçar as estratégias efetivas de enfrentamento do problema são

desafios para os profissionais de saúde que trabalham com esse público.

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APÊNDICES

Apêndice A - Carta de informação e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para

os pais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA

NUTRIÇÃO

Senhores pais,

Gostaríamos de convidar o(a) Sr(a) e seu(sua) filho(a) a participarem do estudo intitulado

“Comportamento Alimentar de Pré-escolares”, de responsabilidade da mestranda e nutricionista Laís

Andrade dos Anjos e da pesquisadora e professora do Programa de Pós- Graduação em Ciências da

Nutrição, Universidade Federal de Sergipe, Drª Danielle Góes da Silva.

Para tanto, o(a) Sr (Sra) deverá preencher um questionário sobre o comportamento alimentar do

seu(sua) filho(a), e enviar por meio da agenda escolar no prazo máximo de 5 dias. Além disso, será

medido o peso e a altura do seu(sua) filho(a), para avaliação do estado nutricional, por membros da

equipe do estudo na escola.

Não haverá despesas pessoais para o participante em qualquer etapa deste estudo. Todos

participantes serão voluntários, não havendo contrato de trabalho, nem remuneração. As informações

solicitadas são confidenciais e não serão identificadas pelo nome durante a análise dos resultados. Este

estudo oferece riscos mínimos, devido ao fornecimento de informações pessoais, porém é garantido

sigilo absoluto dos dados coletados. Não haverá qualquer tipo de prejuízo a saúde e integridade do(a)

seu(sua) filho(a). Possível desconforto poderá ocorrer somente devido ao tempo necessário para

responder ao questionário. Informações sobre os aspectos éticos deste estudo poderão ser verificadas no

Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe.

A sua participação contribuirá para o conhecimento científico sobre o tema e para a prevenção

e controle de dificuldades alimentares na infância. Caso concorde participar, terá o direito de retirar-se

em qualquer momento, sem qualquer prejuízo. Poderá também ter esclarecimentos de eventuais dúvidas,

em qualquer etapa do estudo, por meio do acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa. Como

convidado, o Sr(Sra) tem o direito de recusa-se a participar deste estudo. Para maiores esclarecimentos

entrar em contato com Laís Andrade (nutricionista) ou Profa. Dra. Danielle Góes no endereço

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Departamento de Nutrição/ Universidade Federal de Sergipe, Av. Marechal Rondon, s/n, Jardim Rosa

Elze, CEP 49100000, São Cristóvão, SE – Brasil. Telefone (79)3194-7493 ou (79) 99985-0352. Este

documento deve ser assinado.

Desta forma, eu, responsável por

………………………………………………...…………….........................….............. (nome da

criança) declaro que concordo em autorizar a participação nesse estudo.

_____________________________________________ _____/______/_________

Assinatura do responsável Data

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e esclarecido deste paciente

ou representante legal para a participação neste estudo.

_____________________________________________________

Responsáveis pelo Estudo

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Apêndice B - Questionário sobre comportamento alimentar infantil

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO

Questionário sobre o Comportamento Alimentar Infantil

Nome do respondente:________________________________________ Data: _____/______/______

Contato telefone:________________ Parentesco com a criança: ( ) Mãe ( ) Pai ( ) Avós

Nome da criança:____________________________________________________________________

Data de nascimento:________/_________/________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Tempo de gestação: ( ) <37 semanas ( ) 37 a 40 semanas ( ) > 40 semanas

Peso ao nascer da criança (g):__________

Considerando a criança acima, responda as questões abaixo:

1. A criança possui algum problema de saúde?

( ) Não ( ) Sim Qual? ____________________

2. A criança possui algum tipo de alergia/intolerância alimentar?

( ) Não ( ) Sim Qual? ___________________

3. Qual a ordem de nascimento da criança?

( ) Filho único ( ) Primeiro filho ( ) Segundo filho ( ) Terceiro filho ( ) Quarto filho ou mais

4. A criança recebeu leite do peito? ( ) Não ( ) Sim

5. Até que idade a criança recebeu somente leite do peito (sem chás, água, leite, outras bebidas

ou alimentos)?

( ) Nunca ( ) Menos de 1 mês ( ) 1 meses ( ) 2 meses ( ) 3 meses

( ) 4 mese ( ) 5 meses ( ) 6 meses ( ) mais de 6 meses

6. Com que idade a criança começou a comer frutas ou beber sucos? _____ dias ou ______ meses

7. Com que idade a criança começou a comer comidas de panela/ papa salgada? _____dias ou

_____meses

8. Qual a escolaridade da mãe da criança?

( ) Ensino fundamental (1ª a 4ª série) ( ) Ensino fundamental (5ª a 8ª série)

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo

( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Não estudou

Sobre o comportamento alimentar de seu filho, assinale com um “X” a opção correta:

1. Seu filho apresenta dificuldade para comer certos tipos de alimentos?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

2. Marque qual(is) alimento(s) a criança apresenta maior dificuldade para comer.

( ) Arroz ( ) Macarrão ( ) Pão ( ) Inhame ( ) Macaxeira

( ) Batata ( ) Peixe ( ) Carnes ( ) Frango ( ) Ovo ( ) Leite ( ) Queijos ( ) Iogurtes ( ) Feijão ( ) Frutas

( ) Sucos naturais ( ) Verduras e legumes ( ) Doces

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3. Quando seu filho está em casa, você (pais) costuma realizar as refeições junto com ele?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

4. A hora das refeições com seu filho costuma ser estressante?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

5. É preciso chamar repetidamente para que seu filho faça as refeições?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

6. Seu filho só come determinados alimentos quando misturados com outros alimentos?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

7. Seu filho só come alguns alimentos se estes forem preparados sempre do mesmo jeito?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

8. Seu filho prefere ingerir líquidos, como leite, vitaminas ou sucos, em substituição aos

alimentos sólidos (arroz, feijão, frutas...)?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

9. Algum dos pais apresentava dificuldades alimentares quando criança?

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

Sobre suas atitudes em relação à alimentação do seu filho , assinale com um “X” a opção que voce

mais acredita:

1. Eu ofereço ao meu filho seu alimento favorito em troca de um bom comportamento. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

2. Como recompensa por um bom comportamento, eu ofereço doces (balas, chocolate...) ao meu

filho. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

3. Meu filho deve comer sempre toda a comida de seu prato. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

4. Se meu filho diz: "Eu não estou com fome", eu tento fazê-lo comer mesmo assim. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

5. Se meu filho comer apenas uma pequena porção de comida, eu tento fazer com que ele coma

mais. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

6. Quando meu filho diz que terminou de comer, eu tento fazer com que ele coma mais (1, 2, 3...

colheradas) ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

7. Eu estimulo meu filho a experimentar novos alimentos. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

8. Eu estimulo meu filho a comer alimentos variados. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

9. A maioria dos alimentos que mantenho em casa é saudável. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

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10. Em cada refeição servida em casa, uma variedade de alimentos saudáveis está disponível

para meu filho. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

11. Eu mantenho muitos salgadinhos (batata chips, cheetos...) na minha casa. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

12. Eu mantenho muitos doces (balas, sorvetes, bolos...) na minha casa. ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

13. Quantas vezes você oferece um alimento novo antes de aceitar que seu filho não gosta desse

alimento?

( ) 1 vez ( )2 vezes ( )3 a 5 vezes ( )6 a 10 vezes ( ) mais de 10 vezes

14. Durante as refeições, dentre os alimentos que estão servidos você deixa seu filho escolher

aqueles que ele quiser? ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

15. Se seu filho não gosta do que está sendo servido, você prepara outra coisa? ( ) Concordo totalmente ( ) Concordo ( ) Nem concordo nem discordo ( ) Discordo ( ) Discordo totalmente

Sobre o comportamento alimentar do seu filho nos momentos das refeições, marque com um “X”

a opção que lhe parece mais verdadeira:

1. Meu filho tem um grande apetite.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

2. Meu filho termina suas refeições rapidamente.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

3. Meu filho recusa novos alimentos em primeiro momento.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

4. Meu filho come devagar.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

5. Meu filho come menos quando está com raiva.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

6. Meu filho gosta de experimentar novos alimentos.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

7. Meu filho come menos quando está cansado.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

8. Meu filho gosta de vários alimentos.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

9. Meu filho deixa algum alimento no prato ao finalizar as refeições.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

10. Meu filho leva mais de 30 minutos para terminar uma refeição.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

11. Meu filho fica satisfeito antes de terminar suas refeições.

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( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

12. Meu filho come mais quando está feliz.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

13. Dificilmente, meu filho contenta-se com as refeições.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

14. Meu filho come menos quanto está chateado.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

15. Meu filho fica saciado facilmente.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

16. Meu filho é incapaz de comer a refeição se antes tiver comido alguma coisa.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

17. Meu filho se interessa em experimentar alimentos que nunca provou antes.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

18. Meu filho decide que não gosta de alimentos mesmo que nunca o tenha provado.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

19. Meu filho come cada vez mais devagar ao longo da refeição.

( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Às vezes ( ) Frequentemente ( ) Sempre

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Apêndice C- Ficha de antropometria

Projeto Comportamento Alimentar- Ficha de Avaliação Antropométrica

Nome da escola:___________________________ Data: _______/_________/________ Hora: _______________________

Turma: _________________________ Nome da professora:____________________________________________

Avaliadores:_____________________________________________________________________________________________________________________

ID Nome da criança Sexo Data de Nasc.

Peso 1 (Kg)

Peso 2 (kg)

Peso Médio

Alt. 1 (cm)

Alt.2 (cm)

Alt. média IMC/I A/I

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Apêndice D- Folder sobre comportamento alimentar infantil entregue aos pais

participantes da pesquisa

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ANEXOS

Anexo A - Parecer do Comitê de Ética

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