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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA
TAIANA GOMES SCHWITZKY
TERRITÓRIO E GEOGRAFIA AGRÁRIA: a dinâmica Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (T-D-R) nas
Revistas Nera, Agrária e Campo-Território
UBERLÂNDIA 2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA
TAIANA GOMES SCHWITZKY
TERRITÓRIO E GEOGRAFIA AGRÁRIA: a dinâmica Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (T-D-R) nas
Revistas Nera, Agrária e Campo-Território
Trabalho Final de Graduação apresentado ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia como requisito à obtenção do título de Bacharel em Geografia.
Orientação: Prof. Dr. Marcelo Cervo Chelotti.
UBERLÂNDIA 2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE GEOGRAFIA
TERRITÓRIO E GEOGRAFIA AGRÁRIA: a dinâmica Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (T-D-R) nas
Revistas Nera, Agrária e Campo-Território
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Marcelo Cervo Chelotti (Orientador)
Prof. Dr. João Cleps Jr. (Examinador)
Prof. Dr. Vicente de Paulo da Silva (Examinador)
Resultado:______________________
Data: ____/____/______
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por iluminar meu caminho, me dando forças
quando me senti fraca e me mostrando o caminho quando não soube para onde seguir.
Agradeço também a minha mãe, Taís Rosânea Gomes, que me deixou um
exemplo de vida e mostrou que nunca se deve desistir, que a vida é lutar pelos sonhos e
que tudo que é valioso é difícil de conquistar. Mas que a vitória vale cada noite mal
dormida, cada festa deixada de curtir, e todas as pedras encontradas no meio do caminho.
A gente cresce, aprende, cai, e aprende de novo, mas sempre voltando maior e melhor
que o ultimo tropeço, e quanto maior o desafio, maior o valor da vitória conquistado com
muito suor.
Agradeço a minha família: minha Vó Iva, minha Irmã Gabriela, minha Madrinha
Tânia, meu Padrinho Wagner e meus primos Leo e Leandro, por acreditarem em mim,
desde a escolha do curso até o meu esforço para concluir este trabalho, por demonstrarem
seus cuidados dedicados a mim, com muita paciência, e pelas orações dedicadas a mim.
Mas quero agradecer principalmente pelo amor e pela união que nos permanecem juntos
seguindo os caminhos tortuosos da vida. AMO VOCÊS!
Um agradecimento especial ao meu amor, namorado, marido, amigo, amante e
meu anjo, por ter muita, mas muita paciência comigo, quando (na maior parte do tempo)
estive estressada, chata e desesperada fazendo esta monografia, pela falta de presença e
dedicação aos seus problemas. Dedico esta vitória ao seu esforço em me ajudar, por não
me deixar desistir e me pondo na linha reta quando precisei ser disciplinada. Peço
desculpas por não ter sido paciente com você, e pelas “explosões” causadas por esse
estresse, mas sempre superamos esses momentos e mostramos que nosso amor é forte o
bastante para seguirmos nossas vidas juntas. E sempre dizer que... TE AMO!
Agradeço imensamente aos meus amigos do peito, que me deram forças e me
levantaram quando precisei, em especial, minhas amigas Dani e Lucimeire, por estarem
presente nos momentos de sufoco e com muita paciência me auxiliando nessa caminhada.
Estamos nessa juntas e permaneceremos unidas pela amizade fortalecida nesse desafio!
Gostaria de agradecer ao meu orientador Prof. Dr. Marcelo Chelotti,
primeiramente pela oportunidade dada a mim no início do projeto, pela dedicação e
esforço dedicados ao meu trabalho, pelas orientações, e mesmo nos maus momentos
acreditar que eu seria capaz.
5
Agradeço também a equipe do Laboratório de Geografia Agrária, o LAGEA, que
me acompanhou por tanto tempo me auxiliaram quando precisei. Agradeço também aos
demais professores componentes do laboratório, que me proporcionou uma infraestrutura
adequada e um ótimo espaço para realizar minhas pesquisas.
Agradeço ao PIBIC/CNPq pelo apoio a minha pesquisa realizada durante dois
anos (2009-2011), dentro do LAGEA, e assim poder desenvolver este trabalho que foi
tema no primeiro projeto financiado pelo CNPq.
Agradeço a todos que me apoiaram, oraram por mim e de alguma maneira me
ajudou para que eu realizasse esse trabalho. A vida da gente não é nada sem amigos e
companheiros!
MEU MUITO OBRIGADA!
6
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a importância da incorporação dos processos geográficos denominados de Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (T-D-R), para a renovação do corpo teórico da Geografia Agrária brasileira no decorrer dos últimos anos. Nossa metodologia pautou-se em um levantamento bibliográfico nas revistas de Geografia Agrária: Revista NERA (UNESP), Revista Agrária (USP), e a Revista Campo-Território (UFU). A partir daí, buscamos informações sobre a conceituação da categoria território e seus desdobramentos, bem como as palavras chaves utilizadas nos artigos, além dos autores mais referenciados. Essas informações foram sistematizadas em quadros e planilhas para subsidiar a confecção dos gráficos. Assim verificamos que os autores mais referenciados nos artigos analisados foram: Claude Raffestin, Rogério Haesbaert, Milton Santos e Bernardo Mançano Fernandes. Com isso foi possível realizarmos uma reflexão teórico-metodológica sobre a utilização desses conceitos na tentativa de explicar a dinâmica territorial, bem como sua crescente utilização no âmbito da Geografia Agrária.
Palavras-chaves: Geografia Agrária. Território. Territorialização. Desterritorialização. Reterritorialização.
7
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1 - Capa da revista Nera ----------------------------------------------------- 42
Imagem 2 - Capa da revista Agrária ------------------------------------------------- 43
Imagem 3 - Capa da revista Campo-Território ------------------------------------- 43
8
LISTA DE QUADROS E ESQUEMAS
Quadro 1 - Modelo de coleta de dados utilizado para as revistas de geografia Agrária----------------------------------------------------------------------------- 13
Esquema 1 - A divisão da Geografia Agrária para Faucher (1955)---------------------- 21
Quadro 2 - Fases do pensamento geográfico na temática agrária de acordo com Ferreira (2002) ------------------------------------------------------------------- 22
Esquema 2 - Divisão teórico-metodológica de Diniz (1984) em 5 escolas o estudo da geografia rural (até 1984)------------------------------------------------------- 24
Esquema 3 - Características gerais da geografia agrária brasileira, 1939-1960--------- 25
Quadro 3 - Quadro de informações sobre os autores mais referenciados nas revistas de Geografia Agrária-------------------------------------------------- 58
9
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Autores identificados nos artigos coletados na revista Nera--------------- 44
Gráfico 2 - Conceitos identificados nos artigos coletados na revista Nera------------ 45
Gráfico 3 - Palavras chaves utilizadas nos artigos coletados na revista Nera--------- 46
Gráfico 4 - Autores identificados nos artigos coletados na revista Agrária------------ 47
Gráfico 5 - Conceitos identificados nos artigos coletados na revista Agrária--------- 48
Gráfico 6 - Palavras chaves utilizadas nos artigos coletados na revista Agrária------ 49
Gráfico 7 - Autores identificados nos artigos coletados na revista Campo-Território-------------------------------------------------------------------------- 50
Gráfico 8 - Conceitos identificados nos artigos coletados na revista Campo-Território-------------------------------------------------------------------------- 51
Gráfico 9 - Palavras chaves utilizadas nos artigos coletados na revista Campo-Território-------------------------------------------------------------------------- 51
Gráfico 10 - Conceitos identificados nos artigos publicados nas revistas de Geografia Agrária---------------------------------------------------------------- 53
Gráfico 11 - Palavras chaves mais utilizadas nos artigos publicados nas revistas de Geografia Agrária---------------------------------------------------------------- 54
Gráfico 12 - Autores identificados nos artigos publicados nas revistas de Geografia Agrária---------------------------------------------------------------------------- 55
10
SUMÁRIO
Introdução-------------------------------------------------------------------------------------- 11
1. A sistematização da ciência Geográfica no Brasil -------------------------------- 15
1.1 O surgimento e o desenvolvimento da Geografia Agrária no Brasil--------------- 15
1.2 As fases da Geografia Agrária---------------------------------------------------------- 20
2. A categoria Território nos estudos rurais-------------------------------------------- 27
2.1 O surgimento da questão do território-------------------------------------------------- 27
2.2 As diferentes abordagens acerca do conceito de território-------------------------- 31
2.3 O processo de T-D-R--------------------------------------------------------------------- 36
3. A dinâmica T-D-R nas revistas de Geografia Agrária---------------------------- 42
3.1 Caracterizações das revistas------------------------------------------------------------- 42
3.1.1 Revista Campo-Território------------------------------------------------------------- 43
3.1.2 Revista Agrária-------------------------------------------------------------------------- 46
3.1.3 Revista Nera----------------------------------------------------------------------------- 49
3.2 Síntese das análises das três revistas--------------------------------------------------- 52
3.3 Sistematização da contribuição dos principais autores citados nos artigos analisados------------------------------------------------------------------------------------- 56
4. Considerações finais---------------------------------------------------------------------- 60
5. Referências--------------------------------------------------------------------------------- 62
11
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a incorporação do processo
Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (T-D-R) nas recentes pesquisas
da na Geografia Agrária, partindo da premissa que esse conceito pode ser utilizado para
se explicar a dinâmica da espacialidade no campo brasileiro.
A Geografia Agrária no Brasil começou a obter destaque na década de 1930; de lá
para cá, muito de sua temática sofreu profundas modificações. Os estudos iniciais
referiam-se ao habitat rural, ao modo de vida e as paisagens, com o decorrer do tempo
nas décadas de 1960 e 1970 predominaram os estudos sobre a regionalização e a tipologia
das áreas agrícolas. Nos anos de 1980, os estudos do avanço da modernização do campo,
projetos de colonização e estudos referentes às novas fronteiras agrícolas foram os que
passaram a ter um maior destaque, sendo que os pesquisadores dedicavam maiores
esforços de pesquisa. Já na década de 1990, predominou os estudos cujo enfoque era a
análise dos aspectos agrários a partir do estudo dos movimentos sociais e da luta pela
terra.
Assim, evidenciamos na década de 1990, uma predominância de pesquisas numa
perspectiva crítica, principalmente a partir da constatação das desigualdades e
contradições existentes no campo brasileiro. Portanto, os estudos de Geografia Agrária
passaram a investigar a territorialização do agronegócio, a emergência dos movimentos
sociais no campo, as estratégias de sobrevivência do campesinato, as novas relações
cidade-campo, as atividades não-agrícolas, dentre outros.
Sendo assim, aos poucos incorpora-se o que se denominou processo geográfico de
T-D-R, pois a criação de territórios seria representada pela territorialização, a sua
destruição (por mais que seja temporária) pela desterritorialização, e pela sua recriação a
partir de processos de reterritorialização.
Desta maneira, fica evidente que nas últimas três décadas, ocorreram grandes
transformações teórico-metodológicas que atribuíram à Geografia um olhar mais crítico
nos estudos sobre a produção do espaço geográfico; referenciamos então Santos (1985,
2002), Moraes (1987), Moreira (2007), Gomes (1991), Marcelo Lopes Souza (1995), que
12
ajudaram a enriquecer várias sub-áreas da Geografia, como a Geografia Urbana,
Geografia Agrária, entre outras. Esses estudos renderam à Geografia teorias mais
interpretativas e dispostas a compreender melhor a dinâmica da sociedade nos dias atuais.
Além destes autores, podemos citar as contribuições de Raffestin (1993) e
Oliveira (1997) Haesbaert (2004) como autores que tem discutido a importância do uso
da categoria território na ciência Geográfica, e demonstrado que pesquisar a dinâmica
territorial, é o caminho para se explicar os processos modificadores da paisagem rural e
entendendo suas especificidades.
A Geografia, nos últimos anos, conseguiu formular um importante corpo teórico,
produzindo significativa contribuição para o entendimento das relações sociais que
produzem o espaço geográfico. No entanto, o espaço geográfico é uma das dimensões da
realidade. Assim, cada vez mais, buscam-se também as contribuições de outros ramos do
conhecimento, com a intenção de qualificar a análise. Mas, o importante, no caso da
Geografia, é de entender como ocorre a produção do espaço geográfico.
Nesse contexto, a interpretação sobre a produção do espaço geográfico sofreu
muitas transformações nas últimas décadas, principalmente pela incorporação de novos
conceitos e teorias. Assim, identificamos que no decorrer da década de 1990, a Geografia
passou a incorporar em seu corpo teórico os processos geográficos de T-D-R. Assim,
pretendemos verticalizar nossas análises, verificando como os processos geográficos de
T-D-R foram incorporados no âmbito da Geografia Agrária.
Para realização desta pesquisa foi utilizada uma metodologia baseada em um
levantamento bibliográfico no âmbito da Geografia Agrária, com o intuito de se
particularizar com os conceitos de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização que compõem o processo geográfico denominado de T-D-R.
Na etapa seguinte foram realizadas pesquisas nas três revistas de Geografia
Agrária, a Revista Nera (Unesp), a revista Agrária (USP) e a revista Campo-Território
(UFU), de como a dinâmica T-D-R foi abordada pelos autores e de que maneira essa
temática vem ganhando espaço nos estudos referentes a dinâmica territorial.
A partir destas pesquisas foi realizada uma coleta de dados, com o intuito de
quantificar e qualificar os conceitos de T-D-R, criando tabelas e gráficos para
13
sistematização dessas informações. Logo após foi realizado um agrupamento dos dados
das três revistas de Geografia Agrária em três gráficos sínteses, contendo os principais
autores (referencial teórico), os conceitos mais utilizados e as palavras chaves que mais
predominaram nos artigos publicados, e que contribuíram para a conceituação e
abordagem da dinâmica territorial no campo brasileiro.
A partir do quadro analítico fica explícito a fonte onde foi encontrado o artigo, o
título, ano de publicação, os autores que escreveram o artigo, resumo (feito pelo autor do
artigo), palavras chaves do texto, e quais os conceitos que foram utilizados, bem como o
referencial teórico utilizado pelo autor no corpo do trabalho, exemplo:
Quadro 1: Modelo de coleta de dados utilizado para as revistas de geografia Agrária Fonte: Revista Campo-Território (2006) Org.: Schwitzky (2010)
Assim, fica evidenciada a necessidade de se identificar as recentes contribuições
teóricas que sejam relevantes e passíveis de serem incorporadas pela Geografia Agrária,
Análise dos conceitos de T-D-R na Geografia Agrária Fonte Revista Campo-Território Título do artigo A RECONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO A PARTIR DE
ASSENTAMENTOS RURAIS: o caso do assentamento Ramada – RS Volume, número e ano v. 1, n. 2, 2006 Autores do artigo Fernanda Buth e Walquíria Krüger Corrêa Resumo do artigo
A atual configuração territorial do campo brasileiro resulta da luta entre classes e tende a ser alterada em função das desigualdades sociais geradas pelo modo de produção capitalista. Neste contexto, objetiva-se analisar o papel dos assentamentos na reconstrução do território através da introdução de elementos novos no campo, responsáveis por uma reconfiguração do espaço rural. Para tanto, elegeu-se como objeto de estudo o Assentamento Ramada, localizado no Município de Júlio de Castilhos - RS. Constatou-se que o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST – reterritorializa os sem-terra, desterritorializados pelo sistema capitalista e, estes, através dos assentamentos, criam novos territórios inserindo elementos novos no espaço rural. Embora não encerrem a problemática agrária, os assentamentos lançam as bases para a mudança da sociedade, alertando para a necessidade de se elaborar políticas públicas que contemplem prioritariamente a produção familiar.
Palavras-chave Território, assentamentos, MST, espaço rural, modo de produção capitalista, políticas públicas.
Conceitos utilizados Território, territorialização, desterritorialização, reterritorialização Referencial teórico utilizado no artigo
Souza (1995), Santos (2002, 1996), Andrade (1984), Haesbaert (2004)
14
no sentido de contribuir para o desenvolvimento teórico-metodológico na tentativa de
explicar as diferentes espacialidades encontradas no campo brasileiro.
O presente trabalho dividiu-se em três capítulos. O primeiro trata do início do
pensamento geográfico no Brasil bem como a sistematização da Geografia sob diferentes
perspectivas, e de que maneira ocorreu a evolução com o passar dos anos, e como suas
características interferiram na classificação da Geografia dando assim um novo olhar a
esse ramo da ciência.
O segundo capítulo aborda a questão do espaço e da dinâmica territorial,
demonstrando que essa temática ganhou bastante importância nos estudos agrários ao
longo do século XX. Para explicar as modificações da paisagem rural e entender como os
processos territoriais agem na atual dinâmica da paisagem agrária resultando no que se
caracteriza pelo processo de T-D-R.
O terceiro capítulo demonstra como os conceitos relacionados a dinâmica
territorial vem ganhando espaço nas pesquisas no âmbito da Geografia Agrária,
quantificando e qualificando os trabalhos publicados nas três revistas analisadas, e de que
maneira os pesquisadores abordam as questões propostas nos presentes estudos agrários.
Por fim tecemos nossas considerações finais pautadas na importância de se
estudar o corpo teórico-metodológico referentes a dinâmica territorial e ao processo
chamado de Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização no âmbito da
Geografia Agrária.
15
1. A SISTEMATIZAÇÃO DA GEOGRAFIA AGRÁRIA NO CONTEXT O DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA BRASILEIRA
1.1 A sistematização da Geografia Agrária no Brasil
Após Geografia se consolidar como ciência, seu objeto de estudo amplia cada vez
mais, e essa preocupação em entender a dinâmica que modifica o espaço e a relação
homem/meio faz surgir diversas áreas de estudo no âmbito da ciência Geográfica. Nesse
contexto surgiu a Geografia Urbana, Geografia da População, Climatologia,
Geomorfologia, a Geografia Agrária, entre outras, sistematizando assim a Geografia em
dois conjuntos: a Geografia Humana e a Geografia Física.
Nesse sentido, ao mergulhar na historiografia da Geografia Agrária no Brasil,
percebemos que geógrafos como Leo Waibel, Pierre Mombeig, Pasquele Petrone,
Raymond Pébayle, Orlando Valverde, Nilo Bernardes, Manoel Correia de Andrade,
dentre tantos outros, dedicaram-se a estudar e “mapear” as características, especificidades
e as transformações de nossas paisagens agrárias.
Ao analisarmos os estudos que foram realizados por esses geógrafos,
perceberemos características muito ligadas à descrição das diferentes paisagens rurais,
dos diversos modos de vida, particularidades quanto o habitat, relação com o meio e
apropriação dos recursos naturais.
Sendo assim, a produção da Geografia Agrária no Brasil é dividida por Ferreira
(2002) em quatro momentos. O primeiro é denominado Estudos Não-Geográficos no qual
estariam inseridos os relatos de viajantes e descrições da paisagem. Neste momento não
há nenhuma preocupação em se seguir uma metodologia científica. A partir da década de
1930, surge a Geografia Agrária Clássica, caracterizada pela forte influência das escolas
francesa e alemã, que se preocupa principalmente em caracterizar os diferentes habitat
rurais e a distribuição agrícola, ou seja, o que e onde está sendo produzido.
Assim a autora afirma que, no decorrer do desenvolvimento da Geografia e seus
campos de estudo - levando a discussão novos valores éticos, sociais, econômicos e
relacionados a natureza - a Geografia Agrária foca seus estudos nos processos da
16
dinâmica territorial, nas atividades da agricultura e das suas relações com a sociedade,
uma vez que essa atividade é uma das mais antigas da história da sociedade e embasou
toda a estrutura das organizações das primeiras cidades existentes.
O estudo geográfico da agricultura foi realizado ao longo do tempo por diferentes enfoques que produziram uma diversidade de definições as quais refletiam o modo de pensar do momento. Assim, em princípio, a Geografia Agrária era desenvolvida como “parte” da Geografia Econômica e os estudos econômicos em Geografia tinham, na agricultura, seu foco principal. (FERREIRA, 2002, p.28)
Sendo assim, em meados da década de 1930 a Geografia Agrária surge como uma
fusão de áreas de conhecimento da Geografia, como a Geografia Econômica e os estudos
sobre a agricultura, e teve como objetivo inicial conhecer e aprimorar técnicas de cultivo
na agricultura para a produção de alimentos e matérias-primas. Nesse primeiro período,
as questões sociais não eram levadas em consideração, apenas as atividades relacionadas
a produção agrícola e a gestão econômica a ela relacionada.
No Brasil, os estudos referentes à Geografia Agrária sofreram grandes influências
das escolas alemã e francesa devido ao fato de que, na década de 1930/40 havia muitos
geógrafos franceses e alemães no país. Mas isso não descarta a presença de outras
vertentes teórico-metodológicas e a influência destas nas pesquisas da época, porém os
métodos indutivo, comparativo e histórico foram os que sustentaram os estudos no
âmbito na Geografia Agrária.
Na década de 1950, a Geografia Agrária subdividia-se em três categorias de
análises. A primeira era referente aos estudos econômicos, tendo como objeto de estudos
dados estatísticos e gestão da comercialização de produtos agropecuários; a segunda era
referente aos estudos relacionados com o clima, tipos de solo, topografia, importantes no
momento para se desenvolver técnicas de cultivo; e a terceira parte estava relacionada
com a paisagem, como sendo resultado da ação humana. (FERREIRA, 2002).
Desta forma, as preocupações referentes aos estudos da Geografia Agrária nesta
década não diferenciaram muito da década de 1930, devido ao paradigma que dominava a
17
política na época ser basicamente voltados à economia da agricultura, e às técnicas de
cultivo, com um acréscimo dos estudos relacionados a paisagem como resultado da ação
do homem.
Sendo assim, a Geografia Agrária estava estagnada em um paradigma que era
ditado pelo sistema econômico da época, que baseado na agricultura. Os estudos eram
baseados na descrição das observações no campo e avaliavam como era a distribuição
territorial no âmbito da agricultura.
Na década de 1960, Oliveira (1997) destaca que a Geografia Agrária deste período
privilegiava as relações técnicas de produção, muitas vezes explicadas exaustivamente.
Assim, não se privilegiava as classes sociais assentadas na base desse modo de produzir.
O importante, segundo o autor, eram os sistemas agrícolas, se extensivos, intensivos,
primitivos, modernos, com rotação entre terras ou com cereais.
Orlando Valverde (1961) destacou-se nos estudos relacionados a Geografia
Agrária, discutindo como essa ciência deveria ser vista. O autor defende a idéia de que a
Geografia Agrária deveria ser considerada como parte da Geografia Econômica e com
influência da Economia Política, e não vista isolada, demonstrando assim, que a
Geografia não é uma disciplina isolada, ela se aproxima de diversas ciências.
Assim, Valverde (1961) incorpora os estudos relacionados à Geografia Agrária
dizendo que o geógrafo não basta descrever os aspectos físicos da paisagem agrícola,
cabe a ele também entender como ocorre o processo de formação e entender cada função
que a atividade agrícola desempenha.
Outro ponto levado em consideração pelo autor e que deveria ter destaque nos
estudos referente à Geografia Agrária, é a cultura: explicar como a realidade do campo, e
as atividades agrícolas afetam nas relações sociais, considerando que a economia faz
parte da cultura do homem e o mesmo se diferente de acordo com as particularidades no
mundo interferindo no sistema agrícola e consequentemente se diferem nas relações de
produção.
Nesse sentido, Valverde (196, p. 431) diz como o homem e sua cultura interfere
no meio de produção:
18
[O homem] (...) é portador de uma cultura, que se manifesta de várias maneiras na paisagem. Os fatos puramente culturais são, porém, de superestrutura e se revelam em pormenores da paisagem, não podendo se contrapor às leis econômicas. Aspectos como habitat, os tipos de habitação, a alimentação e os gêneros de vida agrícola só foram estudados com devida profundidade quando relacionados com a atividade econômica: a estrutura e as relações de produção.
Ainda na década de 1960, pode-se perceber como o geógrafo agrário ainda tinha
dificuldades de definir seu campo de estudo; até mesmo a definição desse ramo da
Geografia que estuda o agrário e/ou o agrícola, incorpora-se ou não às relações sociais
existentes no campo e até que ponto a Geografia Agrária se mantém como uma subárea
da Geografia Econômica, sendo que sofre influência da economia política e da cultura em
que o ser está inserido.
Além de Orlando Valverde, outros autores tiveram destaques nos estudos
referentes à Geografia Agrária, como Waibel e Daniel Faucher. Em relação a Waibel,
Valverde (1961) concorda com suas idéias, dizendo que “à Geografia não interessa a
distribuição de uma única cultura, mas o conjunto todo de atividades agrícolas”, pois não
há como separar a Geografia Humana da Econômica, sendo que cada uma interfere na
outra, como produto do meio social. Já em relação a Faucher, Valverde discorda, pois
Faucher defende a ideia de se a Geografia Agrária for um ramo da Geografia Econômica,
ela deveria se chamar Geografia econômica agrícola, levando em consideração apenas as
análises quantitativas relacionadas a produção, e uma análise qualitativa estaria vinculada
apenas a Geografia Humana, discordado por Valverde. (FERREIRA, 2002).
A década de 1970 foi de grandes transformações nos estudos referentes à
Geografia Agrária, com as contestações das idéias tradicionais da Geografia Clássica, a
primeira fase da Geografia Agrária que vai até a década de 1960 (FERREIRA, 2002),
levando em consideração as características sociais e econômicas, procurando entender
seus aspectos, e não apenas mencionar, ainda com dificuldades de definir os objetos e as
metodologias de estudo.
Neste contexto, na concepção de Diniz (1973), a Geografia Agrária pode ser
entendida como um momento em que o geógrafo agrário tenta dar mais importância na
observação da paisagem para tentar explicar como funciona o sistema agrário brasileiro,
19
através da inserção da utilização de fotografias aéreas para tentar ser mais objetivos e
obter respostas mais significativas.
A esta altura, a Geografia Agrária já havia se consolidado, com uma maior nitidez
e com seu campo de estudo mais amplo. A década de 1970 foi marcada pelas novas
perspectivas teórico-metodológicas, ampliando as técnicas de cultivo e entendendo mais a
dinâmica da estrutura espacial da agricultura brasileira. A modernização da agricultura e
a crescente relação campo-cidade, fez com que as indústrias virassem grandes produtoras
de insumos agrícolas e consumidoras de bens agrícolas, levando o setor agrário a
aprimorar suas técnicas de cultivo e aumentar a produção para atender a lógica do sistema
capitalista em que o país vinha se desenvolvendo.
A década de 1980 foi marcada pelo repensar do agro, questionando os aspectos
sociais e regionais envolvidos no sistema agrário, renovando assim o paradigma da
Geografia Agrária. Darlene Ferreira (2002) constata, a Geografia Agrária nessa década
deixa de se preocupar com a definição do agrário e tem como objeto de estudo a
organização da atividade agrícola, e não mais apenas a paisagem, e a sua distribuição,
mas sim a sua forma de produzir no modo do sistema capitalista.
As décadas de 1970/80 caracterizaram-se pelos estudos referentes à modernização
da agricultura, com o surgimento dos Complexos Agro-industriais (CAI), o capitalismo
estava cada vez mais presente no campo, intensificando o agronegócio, entrando em
contramão com os movimentos dos camponeses que lutavam e ainda lutam pela reforma
agrária. Temas muitos importante para os estudos da Geografia Agrária e que passaram a
ser discutidos por grandes pesquisadores, como Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Rosa
Ester Rossini, Bertha Becker, Lia Osório Machado dentre outros.
Destacamos que ao se referir as questões teórico-metodológicas da Geografia
Agrária nesse início de século XXI, estaremos debruçados na realidade brasileira,
reconhecendo que esse ramo da geografia, por muitas décadas, despertou atenção de boa
parte dos geógrafos, principalmente até o momento em que a sociedade brasileira passou
a se urbanizar e tornar-se mais complexa.
Conforme Ferreira (2002) a maneira de se pensar o agrário sob o ponto de vista
geográfico variou durante o século XX, fruto do amadurecimento teórico-metodológico
da Geografia brasileira. Nesse sentido, a própria definição de Geografia Agrária ganhou
20
diversas conotações, espelhando os aspectos que marcavam a sociedade em determinadas
circunstâncias, podendo-se destacar o valor dado a paisagem como reflexo da ocupação
do território e a valorização dos aspectos econômicos da produção agrícola na Geografia
Agrária Tradicional; as medidas da agricultura e sua classificação na Geografia Agrária
Quantitativa, e a significância do social na Geografia Agrária Crítica.
1.2 As fases da Geografia Agrária
Alves e Ferreira (2008) faz uma concepção teórica-metodológica interessante
acerca do surgimento e desenvolvimento da Geografia Agrária, eles citam Megale (1976),
fazendo um debate acerca das teorias e do objeto de estudo da Geografia Agrária,
abordando questões expostas por Faucher (1949), Otremba (1955), e Valverde (1964).
Sob a visão da Geografia Econômica, Megale (1976) lembra Faucher (1974) afirmando
que a Geogafia Agrária deve ser considerada como um ramo de Geografia Econômica,
pois “a Geografia Econômica se preocupa com o volume, circulação e destino dos
produtos” classificando-a então como quantitativa (Megale, 1976, p. 2), assim
relacionam-se as duas ciências geográficas, Ecoômica e Agrária, com o intuito de se
quantificar e destinar suas produções.
Os autores também abordam outro ramo da Geografia, A Geografia Humana,
desta vez de uma forma mais qualitativa, pois Megale (1976) afirma que esse ramo da
Geografia deve superar a barreira do qualitativo e do quantitativo, que a Geografia
Humana tem que analisar sob os dois pontos de vista, utilizando de técnicas tanto
qualitativas quanto quantitativa, pois trata de uma ciência baseada na observação e na
experimentação.
Sendo assim, Alves (2008) esquematizou essa metodologia relacionando a
Geografia Humana, classificada como qualitativa, e a Geografia Agrária, como
quantitativa, e ligando com a ciência Geográfica Agrária, pois esta se utiliza desses dois
métodos expostos pelos autores para explicar os processos teórico-metodológicos na
Geografia Agrária, como demonstra o esquema 1
21
Esquema 1 – A divisão da Geografia Agrária para Faucher (1955). Fonte: Megale (1976). Organização e adaptação: Flamarion Dutra Alves (2010)
Assim, para Megale (1976), não existe um modelo para as pesquisas em geografia
agrária, o que há é um possível esquema geral metodológico, na qual se baseia no prévio
conhecimento da história do local estudado, para em seguida explorar a paisagem
geográfica. (ALVES, FERREIRA, 2008, p. 890)
Para Ferreira (2002), a história do pensamento geográfico agrário foi dividido em
quatro principais temáticas relacionadas com a produção, modernização no campo e
transformações do espaço rural. Através de uma síntese organizada em um quadro pela
autora, ficam as considerações sobre os três principais marcos na geografia agrária,
coincidindo com as escolas do pensamento (Clássica, Quantitativa e Social) e suas
vertentes filosóficas norteadoras. (Quadro 2)
Para a periodização da Geografia Agrária brasileira a primeira referência que a
autora utiliza para classificar um primeiro momento do pensamento geográfico é Orlando
Valverde (1964), que considerou que os estudos dos séculos XVIII e XIX não tinham
ainda uma preocupação com uma metodologia científica, eram considerados então como
estudos “não-geográficos”, que apenas registravam e descreviam informações de viagens
realizadas sobre as diferentes culturas e suas peculiaridades.
22
(*) Último ano de referência dos trabalhos levantados.
Quadro 2 – Fases do pensamento geográfico na temática agrária de acordo com Ferreira (2002).
Org.: Ferreira (2002, p.6)
SÍNTESE DA GEOGRAFIA AGRÁRIA BRASILEIRA
Designação Período Paradigma Características teórico-
metodológicas Características socioeconômicas Temáticas
Estudos não-geográficos
Séc. XVIII até 1934
---------------- Inexistência de método científico
Hegemonia agrícola Informações sobre diferentes áreas e culturas
Geografia Agrária Clássica
1934 a meados dos anos 60
Diferenciação de áreas
Introdução do método científico sob influência francesa, descrição, interpretação, síntese, valorização do trabalho de campo
Domínio da agricultura, início da industrialização/ urbanização
Caracterização classificação e distribuição de produtos agrícolas por áreas, colonização, hábitat rural, paisagem rural
Geografia Agrária Quantitativa
Meados do anos 60 a meados dos anos 70
Classificatório Enfoque classificatório, utilização de modelos estatísticos e matemáticos
Desenvolvimento urbanoindustrial, introdução do Processo de Modernização da Agricultura
Estudos classificatórios, tipologia agrícola, caracterização social, funcional e econômica da agricultura, uso da terra, organização agrária
Geografia Agrária Social
1975 a 1995 *
Interação e ação sobre o espaço
Enfoque pragmático, análise da agricultura no contexto do desenvolvimento rural
Êxodo rural, constituição do CAI, capitalização e industrialização da agricultura
Transformação do espaço rural, modernização da agricultura, relações de trabalho, desenvolvimento rural, desequilíbrios regionais, pequena produção, produção familiar, agroindústria
23
A segunda fase desse pensamento foi a Geografia Clássica, que varia de 1900 a
1960, e foi marcada pela estruturação da Geografia no Brasil, o nascimento e a definição
dos caminhos a serem desenvolvidos na Geografia Agrária. Nessa fase ocorre uma
pequena diferenciação de áreas e uma introdução de métodos científicos influenciados
pelas escolas alemã e francesa.
A terceira fase foi chamada de Geografia Agrária Quantitativa, que vai de meados
dos anos 1960 a meados da década de 1970, que possuía um enfoque classificatório com
a utilização de modelos estatísticos e matemáticos e afirmou estudos referentes a
tipologia agrícola, características socioeconômicas, uso da terra e da organização agrária.
Encerrando essa classificação feita por Ferreira (2002) que resume um histórico
de estudos e referentes ao nascimento e desenvolvimento da Geografia Agrária no Brasil,
tem-se a última fase chamada de Geografia Agrária Social que vai de 1975 a 1995
classificado pelo paradigma da interação e ação sobre o espaço possuía um enfoque nos
estudos relacionados a transformação do meio rural, modernização da agricultura,
relações de trabalho, desenvolvimento rural, características regionais, pequena produção,
produção familiar e agroindústrias, época em que os Complexos Agroindustriais (CAI’s)
se constituíram no país industrializando a agricultura nacional.
Nessa perspectiva, as contribuições de Alexandre Felizola Diniz (1984) foram
bastante significativas. Ela faz algumas considerações acerca da história do pensamento
geográfico no que tange a geografia agrária. Em sua obra a autora faz uma divisão da
evolução dos conceitos geográficos e sobre os estudos da agricultura. A autora criou um
esquema teórico-metodológico dividido em três fases, e destas subdivididas em seis
vertentes, sendo que as duas primeiras são: o “estudo da paisagem rural” e “distribuição e
comercialização dos produtos”, referindo-se a Geografia Clássica, fundamentada na
abordagem regional das pesquisas, como demonstra o esquema 2
24
Esquema 2 – Divisão teórico-metodológica de Diniz (1984) em 5 escolas o estudo da geografia rural (até 1984). Fonte: Diniz (1984). Organização e adaptação: Flamarion Dutra Alves (2010)
A terceira vertente é a “Teoria da Combinação agrícola-estruturalista”,
caracterizada pela transição entre a primeira e segunda fase mencionada pela autora,
iniciando a Geografia Nova que é baseada nos estudos de André Cholley, que defendia a
tese da auto-regulação das estruturas no movimento de combinação dos elementos,
classificando em três tipos: elementos de ordem física e biológica; elementos de ordem
humana e elementos políticos e econômicos.
O quarto e quinto momentos destacados por Diniz são: “União Geográfica
Internacional (UGI)” e “Geografia Nomotética-Sistêmica”, que traduz especificamente as
características da fase da Geografia Nova, na qual as investigações acerca da produção
agrícola deveriam seguir o esquema metodológico da União Geográfica Internacional
(UGI), a qual criou algumas comissões, entre elas a Comissão de Tipologia da
Agricultura, que basicamente objetivou tipificar as diferentes áreas agrícolas,
quantificando e mapeando elas.
Na última fase, chamada de Geografia Crítica, e denominada “Desenvolvimento
Rural”, Diniz (1984) destaca uma importância aos estudos sobre o desenvolvimento rural
e as questões ligadas ao social, diminuindo os estudos relacionados com a produção da
agricultura. Outra característica desse momento é o uso de teorias e autores de outras
áreas do conhecimento, como sociologia, economia, antropologia entre outros.
Para Alves e Ferreira (2010) a questão teórico-metodológica é de suma
importância para a compreensão de diversas concepções acerca dos estudos referentes a
uma ciência. Isso não seria diferente com a Geografia Agrária, os autores desenvolveram
25
um esquema que remete exatamente como a Geografia Agrária evoluiu com diversas
concepções epistemológicas dessa ciência, como pode-se ver no esquema 3.
Esquema 3 – Características gerais da geografia agrária brasileira, 1939-1960. Fonte: ALVES e FERREIRA (2010, p.4).
Sendo assim, uma abordagem feita pelos autores Alves e Ferreira (2010) na
concepção do esquema que caracteriza a Geografia Agrária brasileira, diz respeito a três
grandes vertentes, sendo elas a Geografia Descritiva, a Geografia Teorética e a Geografia
Crítica.
A Geografia Descritiva, pautada como a “Geografia Clássica, teve seu auge entre
as décadas de 1930 e 1960, foi caracterizada pelo empirismo e pelo padrão conceitual e
metodológico. Com um enfoque nos estudos regionais e referentes a paisagem natural,
26
procuravam detalhar e descrever as caracterizações físicas e biológicas das regiões e
depois caracterizar os elementos culturais e humanos. (ALVES e FERREIRA, 2010, p.3).
O período que vai da década de 1960 a metade da década de 1980 é marcado pela
Nova Geografia, ou Geografia Teorética ou Quantitativa, pautada em uma abordagem
nomotética ou sistêmica, preocupando em compreender a organização do espaço
geográfico baseado na Teoria Geral dos Sistemas. Houve então uma revolução nos
estudos geográficos, criando uma característica mais matemática e estatística. Nessa
perspectiva, Alves e Ferreira (2010) relaciona a Geografia Quantitativa aos estudos de
Christofoletti (1976, p.3) afirmando que a “aplicação intensiva das técnicas estatísticas e
matemáticas nas análises geográficas, e o procedimento quantitativo pode ser considerado
entre as características básicas da Nova Geografia”.
Já no final de década de 1980 entra em campo a Geografia Crítica, baseado no
materialismo historio-dialético e nas teorias marxistas, dá-se uma maior importância para
as questões sociais do campo referentes às problemáticas agrárias, como a estrutura
fundiária e o campesinato, mas pricipalmente estudos referentes aos movimentos sociais
no campo. Essa fase crítica marxista teve seu auge na década de 1980 e meados da
década de 1990, época em que a política e a economia ganharam espaço nos estudos da
Geografia Agrária. (ALVES e FERREIRA, 2010, p. 6)
É nessa perspectiva que podemos refletir como a Geografia Agrária e seus
conceitos tiveram novos e importantes significados que permitiram diversas definições de
objetos de estudo e principalmente do papel da Geografia Agrária em relação a evolução
do mundo e pelas problemáticas que surgiam de acordo com o desenvolvimento de uma
sociedade que cada vez mais se tornava capitalista.
Nas últimas décadas destaca-se que a categoria território, e suas derivações, vêm
ganhando um destaque cada vez maior nas análises geográficas e se tornando um objeto
de estudo primordial nos estudos agrários, não somente referindo-se aos estudos voltados
ao campo, mas em todos os aspectos relativos a paisagem, incluindo a urbana.
Nesse sentido destacamos a importância da incorporação de uma discussão
teórico-metodológica dos processos da dinâmica territorial e T-D-R nos estudos agrários,
demonstrando uma maior preocupação com a questão social do campo.
27
2. A CATEGORIA TERRITÓRIO E SEUS DESDOBRAMENTOS
2.1 Considerações sobre espaço e território
A Geografia no Brasil teve seu momento de renovar seu corpo teórico-
metodológico na década de 1970, quando foi introduzido um novo olhar aos estudos,
proporcionando uma visão mais crítica ao analisar a espacialidade dos fenômenos sociais.
Desta maneira, alguns conceitos abordados pela Geografia se expressaram com uma
maior ênfase, como a questão do território, discutindo primeiramente o território já
utilizado.
Assim, o que passou a interessar aos geógrafos foi o espaço geográfico, entendido
como aquele espaço que é apropriado e utilizado pelo homem. O resultado dessa relação
seria a “produção do espaço geográfico”. Portanto, no espaço, as relações sociais se
materializam e se reproduzem gerando territórios a partir das relações de poder.
A Geografia como ciência social tem como principal objeto de estudo a sociedade
e o meio em que ela vive, alicerçada em cinco categorias capazes de interpretar o espaço
geográfico, sendo elas: paisagem, região, espaço, lugar e território. São conceitos muito
importantes no surgimento e desenvolvimento da ciência geográfica, pois nortearam os
estudos que por muito tempo permaneceu confuso para somente depois a geografia se
estabelecer como uma ciência.
Para Moraes (1990) foi Ratzel o pioneiro na definição do conceito, o espaço é
visto como uma base indispensável para a sobrevivência do homem e é o lugar onde as
condições de vida, de trabalho e social se materializam, mas é a questão da modificação
do espaço que determina a história do Homem.
Deste modo dois grandes conceitos surgem nos estudos da Geografia, o espaço
vital e o território. Segundo Corrêa (1995), o primeiro é visto como uma porção do
espaço em que o homem se apropria, o segundo caracteriza-se pelo modo como ele se
desenvolve no espaço e expressa as suas necessidades territoriais. Nessa perspectiva, o
espaço transforma-se através da política caracterizando-se como território de
28
transformação do homem como um ser que desenvolve e materializa as suas relações
sociais.
Harvey (1973) afirma que o conceito de espaço pode ser visto de diversas formas,
pois as diferentes práticas humanas resultam em diferentes formas de visão e de
transformação do espaço pelo homem.
Assim, o conceito de espaço vai tomando diversas formas e criando diversas
definições para esses conceitos. Mas é a partir da década de 1970 que o conceito de
espaço é adotado no materialismo histórico e dialético como um paradigma na ciência
geográfica. Nesse momento o conceito de espaço deixa de ser apenas como o local onde
acontecem as relações sociais de produção, para levar em consideração de que maneira
essas relações são concebidas e produzidas pela sociedade.
Do espaço não se pode dizer que seja um produto como qualquer outro, um objeto ou uma soma de objetos, uma coisa ou uma coleção de mercadorias. Não se pode dizer que seja simplesmente um instrumento, o mais importante de todos os instrumentos, o pressuposto de toda a produção e de todo o intercâmbio. Estaria essencialmente vinculado com a reprodução das relações (sociais) de produção. (LEFÉBVRE, 1976, p.34).
É na obra de Henri Lefébvre, “Espacio y Política” em 1976, que o espaço é visto
sob um ponto de vista marxista, pois é entendido como um espaço social, vivido, onde
acontece a as práticas sociais transformadoras do espaço social, e não somente como um
espaço vazio e estático, ele é muito mais que funcional, “não é nem o ponto de partida
(espaço absoluto), nem o ponto de chegada (espaço como produto social).” (CORRÊA,
1995, p. 25).
João Rua faz referência a Lefébrve (1986) afirmando que o espaço possui as suas
representações, mas que todas se baseiam na produção do espaço, pois, “correspondem a
um sistema de signos, símbolos e códigos de representação dominantes em uma
sociedade e que estão relacionados ao exercício do poder e à conformação do espaço
abstrato, domínio do Estado e do poder hegemônico.” (RUA, 2010).
29
Em suas pesquisas, Rua ainda menciona que Haesbaert (2005) afirma que
Lefébrve, em sua maior parte, refere-se ao espaço, porém quase nunca ao termo território,
mas que ele não entende que o espaço é apenas um espaço, este se refere ao espaço em
construção, um “espaço-processo”, socialmente construído consequentemente
territorializado, na visão de Haesbaert. “Ou seja, qualquer projeto no espaço que é
expresso por uma representação revela a imagem desejada de um território, de um lugar
de relações, de apropriações e dominações.” (RUA, 2010).
O autor em suas concepções relaciona o espaço às questões da dinâmica das ações
que nele ocorre, já que consiste em um espaço totalmente dinâmico e em constante
transformação assim como as relações de poder que também atua, modifica e influencia
essas transformações no espaço/território.
Na década de 1970, Milton Santos também fez grandes contribuições na definição
do espaço. Seguindo a mesma vertente de pensamento de Lefébvre, em sua concepção de
espaço social, o espaço é imprescindível a sociedade e não há como separar estes já que
são indispensáveis para a formação do conceito sócio-espacial tão estudo pelo Milton
Santos.
Porém Santos (1985) vai além, o autor discute o significado de espaço e a
natureza, relacionando com a organização espacial, pois é nela que as relações sociais
acontecem. Para ele, o espaço deve ser analisado baseado nas seguintes categorias: forma,
função, estrutura e processo, pois são nesses aspectos que as relações (sociais) de
produção se materializam.
Para Santos, a categoria forma é o que é visto de um objeto, seu aspecto visível, as
formas espaciais, e deve ser analisada em relação as outras categorias, pois ela isolada é
considerada apenas uma figura, desconsiderando então a essência da representação desse
objeto. Já a noção de função para o autor representa o papel desempenhado por esse
objeto.
A outra categoria de análise do conceito de espaço definido por Santos é a
estrutura, que associando com a forma e a função significa o local onde a forma e a
estrutura são criadas e justificadas. Completando as categorias de análise tem-se o
processo que é definido como a transformação das ações das categorias de análise do
30
espaço social implicando tempo e mudança, e acontecem no âmbito social e econômico
de uma sociedade, significa a estrutura em seu movimento de transformação.
Essas categorias analisadas separadamente não constituem o significado completo
de espaço, mas relacionando-as formam uma base teórica completa, como pode ser
percebido nesse trecho em que Santos afirma:
Forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntos associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir do qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade, (SANTOS, 1985, p.52)
Para o autor, o espaço não é uma coisa nem outra, nem um sistema de coisas,
segundo ele: se não uma realidade relacional, uma relação entre a natureza e a sociedade,
materializada pelo trabalho e pelas relações sociais que nele existem.
O espaço deve ser considerado com um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, seja a sociedade em movimento. O conteúdo (da sociedade) não é independente, da forma (os objetos geográficos), e cada forma encerra uma fração do conteúdo. O espaço, por conseguinte, é isto: um conjunto de formas contendo cada qual frações da sociedade em movimento As forma, pois têm um papel na realização social. (SANTOS, 1988, P.26-27).
E assim, o conceito de espaço foi se aprimorando e ganhando diversas definições,
iniciando os estudos relacionados ao território, que da sequência a definição de espaço.
Nessa perspectiva, citamos Claude Raffestin (1993), um dos precursores dos estudos
relacionados a dinâmica territorial. Para o autor o território se forma a partir do espaço,
ele não é o espaço, é uma produção do espaço, resultado de uma ação produzida pelo
homem que modifica o espaço, se apropriando dele, ou seja, territorializando o espaço.
31
Atualmente, o espaço tem ganhado muita importância nos estudos geográficos
referente ao território e a natureza, já que esta vive em constantes transformações,
produzindo e reproduzindo o território, remetendo a importância de se estudar a dinâmica
espacial para posteriormente explicar as diversas espacialidades que o homem atua nas
diferentes frações do território, influenciando nos processos da dinâmica territorial,
territorializando, desterritorializando e reterritorializando o espaço vivido.
De uso comum o termo território remete-se à terra, terreno. Admitindo o território
enquanto conceito delimitado e definido por, e a partir de relações de poder (SOUZA,
2003) sob a ótica produtiva, as relações de poder assumem-se como processos geradores
de territórios tornando-se então um forte competidor em busca de novos territórios.
Nesse sentido, o poder exerceria sua ação, por meio dos trunfos: a população o
território ou os recursos. A relação entre estes, o controle, domínio, apropriação ou
influência do poder sobre um dos mesmos, é materializado na transformação territorial.
Saquet (2004) aponta como uma das contribuições de Raffestin para a discussão do
conceito de território, a sinalização que o mesmo dá às questões dos recursos naturais
como instrumentos de poder.
2.2 As diferentes abordagens acerca do conceito de território
Com o passar do tempo o significado do conceito de território vai se aprimorando
e ganhando novas formas, porém sempre ligado com as relações de poder que nele
ocorre, que se impõem cada vez mais no território dominando quem as possui,
envolvendo questões políticas, econômicas e culturais. Assim para Jean Gottman (1973),
esse conceito de território, desde o século XV está diretamente relacionada com a
dominação pelo poder, ligados a política, dominando determinadas áreas e as
transformando-as em cidade e ampliando sua área de dominação e consequentemente
elevando à soberania de quem as dominavam.
Já no século XIX na Alemanha, idéias de Frederich Ratzel surgem como um
discurso ideológico, e inicia a sua definição do conceito de território baseado nas ciências
32
naturais, depois, sob influência da expansão do território alemão, ele inclui uma
abordagem uma visão mais política.
Saquet (2010) aborda as concepções de Ratzel em sua obra, afirmando que a
sociedade assume um papel do Estado com o intuito de proteger seu território, garantindo
a segurança e os recursos que a natureza oferece suprindo às necessidades do homem,
como o solo, a água e a alimentação, caracterizando a dominação da sociedade no
território, garantindo seu poder sobre o espaço, criando uma organização social
compreendida como Estado-Nação.
Porém, as concepções de Ratzel ainda se caracterizam muito pelo lado naturalista,
da biologia, apenas como um espaço delimitado com ou sem a atuação do homem e as
relações de poder que nele podem ou não ocorrer.
Aprofundando nessa perspectiva da relação território e poder, Raffestin (1993)
aborda uma visão mais política da dominação do território e das relações sociais que nele
ocorrem, com a presença do poder, e modifica a sua dinâmica. O autor inicia sua
abordagem comparando o espaço e o território, dizendo que o território é uma produção
do espaço, uma caracterização e modificação do espaço pela ação do homem,
territorializando o espaço. Ele compreende também que todo território necessita ser
delimitado, e exprimindo as relações sociais de um certo grupo modificando, o que para o
autor antes era considerado apenas como um espaço sem uma ação conduzida pelo
homem.
Como afirma Raffestin (1993) sobre o espaço e o território:
É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstramente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço. [...]. O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a “prisão original”, o território é a prisão que os homens constroem para si. (RAFFESTIN, 1993, p. 143-144)
33
Nessa perspectiva, as relações de poder exposta pelo autor, se efetivam na vida do
homem e é necessária para a sua organização, para poder ter o controle a dominação e a
organização das relações sociais, chamado por ele de “trunfos do poder”, caracterizado
pela forma como as relações de poder são necessárias e como são indispensáveis para a
organização do território para a apropriação e produção do espaço geográfico.
Raffestin (1993) demonstra uma outra visão sobre a questão da territorialização,
como sendo uma característica individualista do território, afirmando que cada sistema
possui sua própria territorialidade onde os indivíduos e as sociedades vivem. Sendo
assim, ela se manifesta em todas as escalas espaciais e sociais, e tem a mesma natureza de
todas as relações, sendo considerada a “face vivida” da “face agida” do poder.
O território também é abordado por Souza (1995) dentro da Geografia Política
tradicional, considerando o espaço concreto em si, um território ocupado por um
determinado grupo social que gera raízes e uma identidade sócio-cultural formando e
caracterizando uma paisagem, criando um campo de forças juntamente com as relações
de poder espacialmente delimitadas e operando sobre um substrato referencial.
O autor faz referência em sua obra de Raffestin concordando com ele no sentido
de afirmar que o território é posterior ao espaço, porém discorda no sentido de que ele
“coisifica” muito o sentido do território quando ele relaciona o espaço ao substrato
material, afirmando que não é bem assim, apenas um espaço social em si, mas sim um
campo de forças, em que as relações de poder são espacialmente delimitadas e guiadas
sobre um substrato referencial (SOUZA, 1995).
As idéias de Haesbaert (2006) contribuíram muito para a evolução do pensamento
do conceito de território, para o autor o território é primeiramente uma fonte de recursos
naturais onde o ser humano se instala e utiliza fazendo então uma apropriação da
natureza. Porém essa “natureza” não é um espaço estático de apropriação, há uma
complexa dinâmica atuando e influenciando até a desterritorialização provocada por essas
dinâmicas naturais, como o vulcanismo e terremoto, fazendo com que a população tenha
que se deslocar de seus territórios.
Rogério Haesbaert analisa o território sob diferentes perspectivas, criando uma
classificação baseada em três vertentes: a primeira com uma visão jurídico-política,
segundo a qual “o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual
34
se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal”; A segunda sob uma
ótica culturalista, que “prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto
fundamentalmente como produto da apropriação feita através do imaginário e/ou
identidade social sobre o espaço”: E a terceira vertente, econômica, “que destaca a
desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre
classes sociais e da relação capital-trabalho”. (HAESBAERT apud SPOSITO, 2004,
p.18).
Importante ressaltar que o território não é apenas um enraizamento, estabilidade
ou limite de fronteira, mas é também um território de movimento, fluidez e conexões. O
conceito de desterritorialização começa a entrar em questão. Segundo Haesbaert (2006) a
modernização do território e a evolução das redes começa a colocar em discussão o
processo de desterritorialização, devido a grande mobilidade e flexibilidade do território,
ao fluxo que as redes trazem consigo, proporcionando uma perda de poder do espaço com
a avanço das relações sociais em um mundo cada vez mais globalizado, que vai causando
a perda de identidade e da cultura ocasionada pela homogeneização que a diversidade
cultural.
Para o autor, afirmar que vivemos em uma era dominada pela desterritorialização,
se tornou o principal ponto de justificativa para esse fenômeno confundindo-se, muitas
vezes o desaparecimento dos territórios com o simples debilitamento da mediação
espacial nas relações sociais. Para o autor, os grupos sociais podem muito bem forjar
territórios em que a dimensão simbólica se sobrepõe à dimensão mais concreta.
Diante da massa de despossuídos do planeta, em índices de desigualdade social e de exclusão cada vez mais violentos, o “apegar-se à terra”, a reterritorialização é um processo que vem ganhando força. Ele se torna imprescindível não somente como fonte de recursos para a sobrevivência física cotidiana mas também para a recriação de seus mitos, de suas divindades ou mesmo para manter viva a memória de seus mortos. (HAESBAERT, 1999, p. 185).
Nessa perspectiva também aliou-se o conceito de desterritorialização, ao se
transformar em des-re-territorialização, pelo fato de o próprio território evoluir, entrar na
dinâmica das relações sociais, ao se tornar flexível, e acompanhar a modernização
35
tecnológica, no mundo do “ciberespaço”, mas que também pode se tornar posteriormente
em flexível e fechado, por isso o território pode se re-territorializar e se des-re-
territorializar.
Nas obras do autor, esses termos se tornaram bastante comuns para se explicar a
espacialidade atual e a dinâmica territorial caracterizada e dominada pelo processo de
globalização e de fragmentação territorial vigente no mundo contemporâneo. No atual
sistema capitalista, a desterritorialização se agrava ainda mais, projetando uma exclusão
social, causada por uma economia altamente concentradora, e faz-se necessário combater
essa desterritorialização para poder oferecer uma maior igualdade de recursos àqueles que
não desfrutam das vantagens desse atual sistema, oferecendo um amplo e livre acesso ao
território que por natureza deveria ser usufruído por todos sem uma pré-determinação
O autor também faz uma comparação do processo de desterritorialização sob duas
perspectivas, do modo de vista do “sem-terra”, que vem como uma exclusão de acesso a
terra, no sentido econômico, e da perspectiva dos indígenas, no sentido cultural, em que
essa desterritorialização consiste na perda da cultura que está totalmente relacionado a
perda das terras onde eles viveram, é evidente que eles dependem do território para sua
sobrevivência, porém há um valor simbólico-cultural muito mais forte do que o de
subsistência.
Importante ressaltar que o território não é apenas um enraizamento, estabilidade
ou limite de fronteira, mas é também um território de movimento, fluidez e conexões. O
conceito de desterritorialização começa a entrar em questão, devido a grande mobilidade
e flexibilidade que é proporcionado ao território.
Sendo assim, inicia-se o que se denominou processos geográficos de T-D-R, pois
a criação de territórios seria representada pela territorialização, a sua destruição (por mais
que seja temporária) pela desterritorialização, e pela sua recriação a partir de processos de
reterritorialização.
36
2.3 A dinâmica T-D-R
Com o avanço do processo denominado de globalização, a dinâmica territorial
ficou ainda mais intensa, os processos de desterritorialização e reterritorialização se
tornaram cada vez mais comuns na sociedade, pois se trata de um processo que tange o
capitalismo e consequentemente cria uma constante movimentação nos modos de
produção. Segundo Ianni (1992) a globalização desvincula as condições sociais, culturais
e econômicas de uma maneira muito rápida de suas origens, em uma constante expansão
mundial desterritorializando e reterritorializando sob diversas perspectivas.
Sendo assim, estamos diante do que se denominou processos geográficos de
Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização, formando pela criação de
territórios, representada pela territorialização, a sua destruição e dezenraizamento
(mesmo temporariamente) pela desterritorialização, e pela sua recriação a partir de
processos de reterritorialização.
Desse modo, cria-se um discurso de um mundo cada vez mais dezenraizado,
móvel, em constantes transformações. Rogério Hasbaert (2002) aborda uma concepção
parecida com a de Ianni (1992), afirmando que o conceito de território é o mais difundido
no âmbito dos estudos geográficos e assim, a maioria dos trabalhos focaliza sua
destruição, devido ao fluxo que a globalização cria e destrói com muita rapidez os
processos de desterritorialização e posteriormente uma reterritorialização.
Temos, então, dependendo da ênfase a um ou outro de seus aspectos, uma desterritorialização baseada numa leitura econômica (deslocalização), cartográfica (superação das distâncias), “técnico-informacional” (desmaterialização das conexões), política (superação das fronteiras políticas) e cultural (desenraizamento simbólico-cultural). Na verdade, parece claro, são processos concomitantes: a economia se multilocaliza, tentando superar o entrave distância, na medida em que se difundem conexões instantâneas que relativizam o controle físico das fronteiras políticas, promovendo, assim, um certo desenraizamento das pessoas em relação aos seus espaços imediatos de vida. Mas o que se vê, na realidade, são relações muito complexas. [...] A desterritorialização que ocorre numa escala geográfica geralmente implica uma reterritorialização em outra [...] (HAESBAERT, 2002, p. 132-3).
37
O território evolve ao mesmo tempo a dimensão espacial concreta das relações
sociais e o conjunto das representações sobre o espaço, que influencia nas relações
sociais. Assim é importante ressaltar que antes do território ser provido de valor político e
econômico, ele possui um valor cultural, de identidades e de relações, não concretizando
o território como algo estático, ele é dinâmico, possui sua movimentação e suas
conexões.
E é através desse modo que Hasbaert (2002) relaciona o processo de T-D-R com a
atual situação da sociedade global. Essa modernização do território coloca em questão as
redes e põe em discussão a idéia de desterritorialização causado pela grande mobilidade,
que a globalização proporciona, e ao fluxo que as redes trazem consigo, causando a perda
da identidade e da cultura ocasionado pela homogeneização que a diversidade cultural
traz e cativa cada vez mais a sociedade contemporânea.
Para Ianni (1992), ao se tratar da desterritorilização o capitalismo é compreendido
como um modo de produção processual, contraditório e acontece de maneira desigual e
que se expande cada vez mais a nível internacional. Esse processo tende a desenraizar as
coisas, as pessoas e as idéias. Tudo tende a desenraizar-se: mercadoria, mercado, moeda,
capital, empresa, publicidade e tecnologia. Para o autor, assim se desenvolve o novo e
surpreendente processo de desterritorialização, uma característica essencial da sociedade
global em formação.
O conceito de desterritorialização aplica-se não apenas a óbvios exemplos como corporações transnacionais e mercados monetários, mas também a grupos étnicos, lealdade ideológicas e movimentos políticos que atuam crescentemente em moldes que transcendem fronteiras e identidades territoriais específicas. A desterritorialização tem afetado as lealdades de grupos envolvidos em diásporas complexas, suas manipulações monetárias e outras formas de riqueza e investimento, bem como as estratégias de Estado. O debilitamento dos vínculos entre povo, riqueza e territórios, por sua vez, tem alterado a base de muitas interações globais significativas e, simultaneamente, põe em causa a definição tradicional de Estado. (IANNI, 1995, p. 93).
38
Ao abordar os conceitos de desterritorialização e reterritorialização a partir do
discurso geográfico, denota-se que a ciência geográfica se enriquece cada vez mais de um
corpo teórico-conceitual renovado e necessário para se entender a dinâmica espacial do
mundo contemporâneo, criando-se riquíssimas discussões acerca dos processos que
envolvem a dinâmica territorial. Assim, para Haesbaert (2004) não devemos dissociar os
processos de desterritorialização e reterritorialização, pois são concomitantes e
fundamentais para a compreensão do território e das relações sociais que nele ocorrem.
Uma das mais importantes contribuições no âmbito da Geografia para entendermos
como ocorrem os processos de desterritorialização e reterritorialização, que devem ser
analisados juntos pois um justifica o outro, são as de Haesbaert (1997), dizendo que:
Apesar de distinguirmos analiticamente território e rede, como já ressaltamos no capítulo anterior, estes encontram tão articulados quanto o processo contraditório de territorialização-desterritorialização que os produz. Desse modo, as redes não podem ser vistas apenas como “destruidoras de territórios”: uma combinação articulada de redes, “malha”, por exemplo, pode ser a base de um processo de (re)territorialização, ou seja, de formação de novos territórios. (HAESBAERT, 1997, p. 94).
Assim, na tentativa de sistematizar o discurso vigente de que a sociedade vive um
período de desterritorialização, Haesbaert (2002) aponta cinco possíveis interpretações: a
primeira, uma perspectiva mais economicista, defendendo a idéia de superação dos
entraves locais ou de localização; a segunda, uma abordagem mais cartográfica em que
ocorreria a superação do espaço pelo tempo, ou seja, um encurtamento de distâncias; uma
terceira, em que as relações seriam mais imateriais que materiais; uma quarta, em que
ocorreria um esvaziamento das fronteiras, permitindo o livre acesso; e a quinta, em que a
perspectiva cultural, referência simbólica, perderia sentido e se transformaria em não-
lugar.
No entanto, a realidade exprime uma sociedade contemporânea muito mais
complexa, dinâmica e desigual, observando em sua realidade sócio-espacial.
A mundialização, paradoxalmente, tem alimentado também a retomada de localismos, regionalismos e/ou
39
nacionalismos, muitas vezes retrógrados e espacialmente segregadores [...] a velocidade dos fluxos e a simultaneidade proporcionada pelo progresso técnico não implicam obrigatoriamente, a superação de uma reterritorialização diferenciadora e ressingularizante. [...] A desterritorialização que ocorre em uma escala geográfica geralmente implica uma reterritorialização em outra escala [...] (HAESBAERT, 2002, p. 132-133).
As abordagens já trabalhadas relatam apenas algumas das dimensões que
confirmam que todo processo de desterritorialização é procedido de uma
reterritorialização, seja no âmbito econômico, político, ou cultural.
Desterritorialização, portanto, antes de significar desmaterialização, dissolução das distâncias, deslocalização de firmas ou debilitação dos controles fronteiriços, é um processo de exclusão social, ou melhor, de exclusão socioespacial. [...] Na sociedade contemporânea, com toda sua diversidade, não resta dúvida de que o processo de “exclusão”, ou melhor, de precarização socioespacial, promovido por um sistema econômico altamente concentrador é o principal responsável pela desterritorialização. (HAESBAERT, 2006, p. 67).
Nessa perspectiva Saquet (2003) faz uma análise da migração de italianos para o
Rio Grande do Sul no século XX, em que as relações de poder estão presentes no processo
do estar fixo e da mobilidade, a desterritorialização e a reterritorialização. Assim, “as
relações sociais, de influência, interesse, símbolos, dominação etc. caracterizam e
condicionam nossa vida cotidiana, tanto no estar fixo como no estar em mobilidade” (p.
129).
Para o autor, a desterritorialização é constituída por um conjunto de relações
sociais relacionadas em rede e se materializando na apropriação do espaço,
reterritorializando assim o território de maneira econômica, política e cultural no
território de destino do migrante. Deste modo afirma o autor:
40
A des-territorialização e a re-territorialização são contraditórias mas complementam-se; coexistem no tempo e podem coexistir no espaço; são inseparáveis e movidas pela relação EPC [economia-política-cultura], sendo que as redes estão e atuam em ambos os processos. A des-territorialização num lugar significa re-territorialização noutro, promovendo a mobilidade da força de trabalho e suas características culturais. É um processo inerente à natureza contraditória do espaço e do território. (SAQUET, 2003, p. 218).
Nesse sentido, a “desterritorialização” tem o sentido de perda de território
apropriado e vivido decorrente de diferentes processos originados de contradições,
capazes de desfazerem territórios; ao passo que reterritorialização refere-se à criação de
novos territórios, seja por meio de reconstrução parcial de territórios antigos ou pela
reconstrução desses antigos territórios em novos lugares, criando assim um novo
território, geralmente com características do antigo.
Assim os processos de desterritorialização e reterritorialização ocorrem de
maneiras indissociáveis, e em diversas escalas, contudo, a desterritorialização é sempre
precedida da reterritorialização, pois, para a construção de um novo território, faz-se
necessário a perda do mesmo e a sua posterior reorganização em um novo lugar.
Na visão de Oliven (2006), o processo de desterritorialização é denominado como
um fenômeno que origina é um termo utilizado para designar fenômenos que se originam
em um espaço e que acabam migrando para outros. Para o autor, esse conceito só faz
sentido se for associado ao de reterritorialização, pois as idéias e os costumes saem de um
lugar, mas entram em outro no qual se adaptam e se integram.
Nessa linha de pensamento, o território é uma reordenação do espaço, onde, de
diversas maneiras ocorrem os processos de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização da sociedade. O processo de desterritorialização ocorre conjuntamente
com a reterritorialização, no qual esses dois procedimentos são partes dos processos
sucessivos de territorialização e constituem as suas territorialidades.
Sendo assim, estamos então diante de um processo ainda mais complexo que a
des-re-territorialização. O que evidenciamos nos dias atuais são proliferações de
múltiplos territórios, ou melhor dizendo, multiterritorialidades. O território além de
41
sinônimo de poder, também, é sinônimo de diversidade. E é na diversidade dos territórios
que se constroem novas geografias, muitas vezes, fazendo o percurso contrário dos
interesses dos grupos historicamente hegemônicos.
E é com as pesquisas nas revistas especializadas em Geografia Agrária que
demonstramos a importância do processo de T-D-R e como este vem ganhando espaço
nos estudos no âmbito desta ciência, verificando como esse processo vem sendo abordado
pelos autores e norteando as discussões dos processos transformadores do território.
42
3. A DINÂMICA T-D-R NAS REVISTAS DE GEOGRAFIA AGRÁR IA
3.1 Caracterização das revistas
A primeira pesquisa foi realizada na Revista NERA, que é uma publicação do
Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária, vinculado ao Departamento
de Geografia da FCT (Faculdade de Ciências e Tecnologia) da Unesp (Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"). Desde 1998, quando saiu o primeiro
número da revista, foram publicados um total de cento e quinze artigos, foram coletados
para esta pesquisa um total de doze trabalhos publicados com a temática T-D-R.
Imagem 1: Capa da revista Nera Fonte: http://www2.fct.unesp.br/nera/index.php
Logo após analisamos a Revista Agrária, que está vinculada ao Laboratório de
Geografia Agrária da USP desde 2004, por ocasião do I Simpósio de Geografia Agrária.
A concepção que norteou sua criação foi a de socializar a grande quantidade de reflexões
e informações acumuladas ao longo dos anos de existência do referido laboratório. Desde
seu lançamento, em 2004, já foram publicados um total de quarenta artigos, sendo que,
apenas sete foram selecionados contendo o conteúdo do processo de T-D-R.
43
Imagem 2: Capa da revista Agrária Fonte: http://www.geografia.fflch.usp.br/revistaagraria/revista.htm.
Por último, foi realizada uma coleta na Revista Campo-Território. Criada em
2006, e sediada na Universidade Federal de Uberlândia, é uma publicação do grupo de
pesquisadores de Geografia Agrária, cujos nomes foram discutidos e aprovados, em
plenária, no XVII Encontro Nacional de Geografia Agrária em Gramado (RS), novembro
de 2004. Em um total de oitenta e seis artigos publicados na revista, foram coletados nove
artigos que tratam do processo de T-D-R.
Imagem 1: Capa da Revista Campo-Território Fonte: http://www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio
3.1.1 Revista Nera
Na Revista NERA, foram coletados um total de doze trabalhos publicados com a
temática T-D-R, para isto utlizamos as seguintes edições publicadas: Ano 1 nº 1, Ano 1 nº
2, Ano 3 nº 3, Ano 7 nº 4, Ano 7 nº 5, Ano 8 nº 6, Ano 8 nº 7, Ano 9 nº 8, Ano 9 nº 9,
44
Ano 10 nº 10, Ano 10 nº 11, Ano 11 nº 12, Ano 11 nº 13, Ano 12 nº 14, Ano 12 nº 15,
Ano 13 nº 16 e Ano 13 nº 17.
O gráfico 1, sistematiza o referencial teórico abordado pelos autores dos artigos
publicados na revista NERA. O autor Claude Raffestin foi o que mais se destacou sendo
utilizado em sete de um total de doze artigos coletados que abordam a temática do
território, em seguida destaca-se Bernardo Fernandes referenciado em cinco artigos da
revista, igualmente com Rogério Haesbaert, depois seguido por Milton Santos que foi
referenciado em quatro dos doze artigos publicados na referida revista.
Gráfico 1: Autores identificados nos artigos coletados na revista Nera. Fonte: Revista NERA Org.: Schwitzky (2010)
Já o gráfico 2, demonstra quais foram os conceitos utilizados nos artigos
coletados da revista NERA. Sendo assim, o conceito de território é o mais utilizado,
aparecendo em onze dos doze artigos coletados na revista, em seguida vêm os conceitos
de territorialização e desterritorialização que comparecem em seis dos artigos coletados
da revista. O conceito de territorialiadade foi utilizado em três dos artigos coletados, e o
de reterritorialização em apenas dois.
45
Gráfico 2: Conceitos identificados nos artigos coletados na revista Nera. Fonte: Revista NERA Org.: Schwitzky (2010)
O gráfico 3, sistematiza as palavras chaves mais utilizadas nos artigos coletados
na revista NERA. A palavra chave mais utilizada na revista foi o território, que aparece
em seis artigos, os termos movimento social e a questão agrária foram abordados em dois
artigos coletados. As outras palavras chaves presentes nos artigos coletados da revista
aparecem apenas uma vez, por isso, não constam no gráfico¹.
1-Palavras-chaves encontradas em apenas um artigo: migração, redes sociais, vínculos, cotidiano, ruralidade, territorialidade, desenvolvimento, conhecimento, mobilização, movimento socioespacial, movimento socioterritorial, espaço, desenvolvimento territorial, Nova Alta Paulista, protagonismo, sociedade, Estado, rural, identidade, redes, fabriquetas, inovações tecnológicas, modernização agrícola, cerrado brasileiro, novas territorialidades, proposta teórica, campo, semi-árido, política fundiária, assentamentos, camponeses, movimentos sociais, resistência, produção de auto consumo, agroartesanato, reforma agrária, frente popular, luta política, ação pastoral, campesinato e conflitualidade
46
Gráfico 3: Palavras chaves utilizadas nos artigos coletados na revista Nera. Fonte: Revista NERA Org.: Schwitzky (2010)
Desta maneira, percebe-se o grande número de artigos que utilizaram o conceito
território sob a abordagem de Raffestin para explicar ou iniciar as abordagens de suas
pesquisas que foram publicadas na Revista Nera. Mais especificamente nesta revista as
palavras “movimento social” e “questão agrária” foram as mais citadas depois de
“território”, podendo demonstrar através de gráficos que a conceituação do termo
território é de grande importância para se explicar as espacialidades e os problemas
sociais no campo a fim de promover um melhor embasamento teórico, que permita
compreender todos os processos detalhados neste artigo e assim encontrar uma solução
para alguns dos problemas que afligem o homem do campo.
3.1.2 Revista Agrária
Na revista Agrária, coletamos sete artigos contendo o conteúdo do processo de
T-D-R. Para essa coleta utilizamos os números de 1 a 10/11.
O gráfico 4, demonstra o referencial teórico utilizados pelos autores dos artigos
publicados na Revista Agrária. O autor Claude Raffestin foi o mais referenciado,
aparecendo em cinco artigos, e Rogério Haesbaert, Milton Santos, Marcelo Lopes de
47
Souza, Maria Aparecida Moraes Silva, Marta Inez Medeiros Marques e Ariovaldo
Umbelino de Oliveira apareceram em um dos sete artigos coletados na revista.
Gráfico 4: Autores identificados nos artigos coletados na revista Agrária. Fonte: Revista Agrária Org.: Schwitzky (2010)
O gráfico 5, sistematiza a utilização dos conceitos abordados pelos autores nos
artigos coletados na Revista Agrária. O conceito de território foi o mais abordado pelos
autores, aparecendo em todos os artigos coletados, sete ao total. O conceito de
territorialização foi utilizado em três artigos, e o de territorialidade em um. Os conceitos
de desterritorialização e reterritorialização não foram encontrados nos artigos coletados
no período analisado.
48
Gráfico 5: Conceitos identificados nos artigos coletados na revista Agrária. Fonte: Revista Agrária Org.: Schwitzky (2010)
De acordo com o gráfico 6, as palavras chaves mais utilizadas foram território,
que consta em três artigos coletados, depois vem espaço e migrações que apareceram em
dois dos sete artigos coletados da revista Agrária. As outras palavras chaves não
compareceram no gráfico devido a sua utilização em apenas um artigo coletado².
2-Palavras-chaves encontradas em apenas um artigo: campesinato, reforma agrária, assentamento, turismo, espaço rural, mudança social, cultura local, ibitipoca, sertão mineiro, campo geral, Norte de Minas Gerais, memória, lugar, caboclos, modernização agrícola, industrialização, complexificação, agricultura, tecnificação, impactos sociais, impactos ambientais, desenvolvimento, populações tradicionais, grupo indígena, grupo Jamandi, territorialidade, bairro rural, campesinato e identidade.
49
Gráfico 6: Palavras chaves utilizadas nos artigos coletados na revista Agrária. Fonte: Revista Agrária Org.: Schwitzky (2010)
Por fim, percebe-se novamente o alto índice de utilização do conceito de território
nas abordagens para tratarem das temáticas utilizadas pelos autores nos artigos
publicados na Revista Agrária. E isto está consequentemente relacionando com a
abordagem utilizada por Raffestin quando se trata da conceituação e da perspectiva de
abordar a dinâmica espacial. Da mesma forma, os conceitos de “espaço” e “migrações”
também foram bastante significativos na explicação do espaço social abordado pelos
autores, na tentativa de se explicar a dinâmica e a mobilidade populacional baseando-se
na conceituação do espaço social.
3.1.3 Revista Campo-Território
Na Revista Campo-Território, foram coletados nove artigos que tratam do processo
de T-D-R, das doze edições publicadas, sendo elas: Vol.1 nº1, Vol.1 nº2 Vol.2 nº3, Vol.2
nº4, Vol.3 nº5, Vol.3 nº6, Vol.4 nº7, Vol.4 nº8 e Vol.5 nº9.
Sendo assim, o gráfico 7, sistematiza o referencial teórico abordado pelos autores dos
artigos coletados da Revista Campo-Território. Nessa revista, Rogério Haesbaert foi o
referencial teórico mais abordado pelos autores dos artigos coletados, aparecendo em oito
dos nove artigos selecionados. Logo após, Raffestin referenciado em sete. Milton Santos,
50
Marcos Aurélio Saquet e Friedrich Ratzel em três dos nove artigos coletados na Revista
Campo-Território.
Gráfico 7: Autores identificados nos artigos coletados na revista Campo-Território. Fonte: Revista Campo-Território Org.: Schwitzky (2010)
De acordo com o gráfico 8, verificamos a abordagem dos conceitos utilizados pelos
autores nos artigos coletados da revista Campo-Território. Os conceitos de território e de
territorialização apareceram em todos os artigos coletados da revista, o conceito de
reterritorialização foi abordado em cinco dos nove artigos coletados, o de
desterritorialização em quatro, e o de territorialidade não foi identificado na revista.
51
Gráfico 8: Conceitos identificados nos artigos coletados na revista Campo-Território. Fonte: Revista Campo-Território Org.: Schwitzky (2010)
O gráfico 9, demonstra as principais palavras chaves utilizadas nos artigos coletados
da revista Campo-Território. O termo território apareceu em oito dos nove artigos
coletados, a territorialização em três, e os termos cultura, políticas públicas e espaço rural
constaram em dois dos nove artigos coletados da revista.
Gráfico 9: Palavras chaves utilizadas nos artigos coletados na revista Campo-Território. Fonte: Revista Campo-Território Org.: Schwitzky (2010)
52
Analisando os gráficos da revista Campo-Território percebe-se também a grande
utilização do conceito de território, bem como o de territorialização, no entanto, nesta
revista o autor mais utilizado para se explicar a dinâmica territorial foi Rogério
Haesbaert, seguido de Raffestin, resultado um pouco diferente dos encontrados
anteriormente, nos quais Raffestin era o mais utilizado. Resultado um pouco diferente
dos encontrados anteriormente, em que Raffestin era o mais utilizado. Deste modo,
podemos relacionar as ideias de Haesbaert à uma maior utilização do conceito de
territorialização para se explicar a espacialidade não somente do campo, mas também do
urbano e da grande fluidez em que os processos de T-D-R ocorrem com frequência e
cada vez maior devido ao processo globalização ser bastante dinâmico, e segundo o
autor, ser esta questão a grande causadora da desterritorialização e posteriormente a
reterritorialização do individuo.
3.2 Análise das revistas
Após a coleta de dados, bem com a sua sistematização e tabulação, realizou-se o
agrupamento dos dados das três revistas em um gráfico síntese, contendo a utilização da
conceituação dinâmica da T-D-R nos artigos encontrados nas três revistas. Sendo assim,
o conceito mais utilizado pelos autores foi o de território que apareceu em vinte e sete,
logo após o conceito de territorialização que apareceu em dezoito, o de
desterritorialização em dez, de reterritorialização em sete e o de territorialidade em um do
total de vinte e oito artigos coletados das revistas de Geografia Agrária, como demonstra
o gráfico 10.
53
Gráfico 10: Conceitos identificados nos artigos publicados nas revistas de Geografia Agrária. Fonte: Revista Campo-Território, Revista NERA e Revista Agrária Org.: Schwitzky (2010)
Depois foi confeccionado outro gráfico síntese com um agrupamento das
palavras-chaves das três revistas pesquisadas, com os termos mais utilizados, como
demonstra o gráfico 11. A palavra que se destacou foi o território, que apareceu em
dezessete dos vinte e oito artigos coletados, seguido pelos termos identidade e espaço
rural, abordados em quatro artigos coletados, já as palavras chaves territorialização,
assentamentos, reforma agrária, espaço rural, campesinato, migrações e movimentos
sociais apareceram em três artigos coletados, os termos cultura, políticas públicas,
Estado, ruralidade, modernização agrícola, desenvolvimento, territorialidade e a questão
agrária foram identificados em dois dos artigos selecionados³.
3- Palavras-chaves que foram encontradas em apenas um artigo: metade Sul, identidade camponesa,
patrimônio, paisagens, teoria social, MST, modo de produção capitalista, relação social, trabalho, poder,
alienação, turismo, mudança social, cultura local, Ibitipoca, sertão mineiro, campo geral, Norte de Minas
Gerais, memória, lugar, caboclos, industrialização, complexificação, agricultura, tecnificação, impactos
sociais, impactos ambientais, populações tradicionais, grupo indígena, grupo Jamandi, bairro rural,
identidade, conflitualidade, redes sociais, vínculos, cotidiano, conhecimento, mobilização, movimento
socioespacial, movimento socioterritorial, desenvolvimento territorial, Nova Alta Paulista, protagonismo,
sociedade, rural, redes, fabriquetas, inovações tecnológicas, cerrado brasileiro, novas territorialidades,
proposta teórica, campo, semi-árido, política fundiária, camponeses, resistência, produção de auto consumo,
agroartesanato, frente popular, luta política e ação pastoral.
54
Gráfico 11: Palavras chaves mais utilizadas nos artigos publicados nas revistas de Geografia Agrária. Fonte: Revista Campo-Território, Revista NERA e Revista Agrária Org.: Schwitzky (2010)
E por último, foi feito um gráfico síntese contendo os principais autores (referencial
teórico) que predominaram nos artigos publicados e coletados das revistas de Geografia
Agrária, ou seja, que contribuíram para a conceituação e abordagem da dinâmica
territorial no campo brasileiro. Em um total de vinte e oito artigos analisados, em
dezenove encontramos a contribuição teórica de Claude Raffestin, quatorze que
utilizaram Rogério Haesbaert, oito que utilizaram Milton Santos, seis Bernardo
Fernandes, cinco Friedrich Ratzel, Marcelo Lopes de Souza e Marcos Aurelio Saquet,
como demonstra o gráfico 12.
55
Gráfico 12: Autores identificados nos artigos publicados nas revistas de Geografia Agrária. Fonte: Revista Campo-Território, Revista NERA e Revista Agrária Org.: Schwitzky (2010)
Por fim, através da análise das três revistas de Geografia Agrária evidencia-se a
ocorrência de uma padronização na conceituação do espaço social e de território,
utilizando um referencial teórico baseado nas ideias de Raffestin, Haesbaert e Santos,
porém não desconsiderando a contribuição que os diversos outros autores
proporcionaram para um melhor entendimento do processo de T-D-R como um todo, na
medida em que favorecem cada vez mais estudos que busquem encampar várias ideias,
sob diferentes perspectivas, objetivando proporcionar a Geografia Agrária um
conhecimento mais estruturado que possibilite a essa ciência explicar e compreender a
dinâmica territorial, objetivando a resolução de conflitos não só no campo, mas em todas
as problematizações nas quais o processo de T-D-R estiver relacionado.
56
3.3 Sistematização da contribuição teórica dos principais autores citados nos artigos analisados
Este procedimento consistiu em uma sistematização dos autores mais
referenciados nos artigos coletados das revistas de Geografia Agrária, sendo eles: Claude
Raffestin, Rogério Haesbaert, Milton Santos, Bernardo Fernandes, Marcelo Lopes de
Souza, Friederich Ratzel e Marcos Aurélio Saquet. Essas informações, tais como:
biografia, as principais bibliografias e suas contribuições teóricas, foram organizadas em
um quadro para uma melhor compreensão das contribuições teórico-metodológicas dos
conceitos que abordam a questão do território e do processo de T-D-R, bem como a sua
contextualização e objetividade na compreensão dessa temática (Quadro 2).
Quadro de informações sobre os autores mais referenciados nas revistas de Geografia Agrária
Principais autores Biografia Bibliografia Contribuições Teóricas
C. Raffestin
Professor de Geografia Humana na Universidade de Genebra.
• Por uma geografia do poder
Território Territorialização O espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço. O território é a apropriação, concreta ou abstrata, do espaço por um ator social. Na ação da apropriação o ator territorializa o espaço. O território se apóia no espaço, mais não é espaço, é uma produção a partir do espaço e como toda produção se inscreve em um campo de poder. A territorialidade é uma manifestação entre humanidade e espaço. É também o resultado do uso, da apropriação de um determinado lugar, com o qual o indivíduo é capaz de se identificar com o mesmo.
R. Haesbaert
Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Maria, Mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo,, Pós-Doutorado em Geografia na Open University (Milton
• O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. • Des-territorialização e identidade a rede “gaúcha” no Nordeste. • Territórios alternativos • RS: Latifúndio e Identidade Regional
Território Territorialização Desterritorialização Reterritorialização O território é ao mesmo tempo espaço de apropriação/reprodução concreta e simbólica. O território é também movimento, fluidez e interconexão. O território é construído através da interação entre natureza e sociedade, mediada por relações de dominação e apropriação. A desterritorialização é a perda do
57
Keynes, Inglaterra, 2003). Professor (Associado) da Universidade Federal Fluminense.
acesso a terra, vista não só como em seu papel de reprodução material, num sentido físico, mais também como lócus de apropriação simbólica, afetiva. Aqueles que estão excluídos do território como morada, local de reprodução e de sobrevivência, deve-se dirigir o termo de desterritorializantes. O termo reterritorialização significa a formação de novos territórios através de uma reapropriação política e/ou simbólica do espaço. A multiterritorialidade acontece de acordo com sua classe social, com a siponibilidade de dinheiro.
M. Santos
Graduado em Direito pela UFBA. Doutor em Geografia pela Universidade de Estrasburgo, na França. Recebeu o "prêmio Nobel" Vautrin Lud, que é como um Nobel de Geografia.
• Território, globalização e fragmentação. • A natureza do espaço • Por uma outra globalização • Território e sociedade • Técnica, espaço e tempo: globalização e meio técnico-científico informacional • Metamorfoses do Espaço Habitado • O Brasil – território e sociedade no início do século XXI. • Por uma geografia nova
Território Desterritorialização Reterritorialização O território se processa a partir da projeção do trabalho sobre o espaço. O território é um objeto de análise social. A desterritorialização representa o estranhamento do indivíduo ao lugar, ou seja, uma desculturização. A reterritorialização muda não apenas as formas do território, muda-se as funções e, conseqüentemente o homem, que também se modifica.
B. Fernandes
Possui graduação em Geografia, mestrado em Geografia Humana e doutorado em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Pós-doutorado pelo Institute for the Study of Latin American and Caribbean - University of South Florida . Professor dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Presidente Prudente.
• Questão agrária, pesquisa e MST. • Movimento socioterrirorial e globalização • A Formação do MST no Brasil • Geografia agrária: teoria e poder • MST-Formação e Territorialização • Questão agrária: conflitualidade e desenvolvimento territorial • Reforma agrária e modernização no campo
Territorialidades o conceito de território pode significar o espaço físico em diversas escalas e também espaços sociais em diversas dimensões. A luta pela terra leva à territorialização porque ao conquistar um assentamento, abre-se as perspectivas para conquistar um novo assentamento. Se cada assentamento é uma fração do território conquistado, a esse conjunto de conquistas chamamos de territorialização. A territorialização acontece por meio da ocupação da terra
M. Souza Possui graduação em Geografia pela
Território Desterritorialização
58
Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialização em Sociologia Urbana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestrado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutorado em Geografia (área complementar: Ciência Política) pela Universität Tübingen (Alemanha).
Os territórios são antes relações sociais projetadas no espaço. O território não é o substrato, o espaço social em si, mas sim um campo de forças, as relações de poder espacialmente delimitadas e operando sobre um substrato referencial. O território é um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder, onde se torna um instrumento de exercício do poder.
M. Saquet
Possui graduação em Geografia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutorado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Fez doutorado sanduíche na Università Ca Foscari di Venezia e pós-doutorado no Politecnico e Università di Torino - Itália.
• Abordagens e concepções de território • Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. • Território e desenvolvimento: diferentes abordagens. • Os tempos e os territórios da colonização italiana.
Território Territorialização
O território e o espaço são ligados e indissociáveis. A formação do território dá-se no processo de apropriação, dominação e produção do espaço por meio das relações de poder, das redes de circulação e comunicação e dos processos identitários. O processo de territorialização é um movimento historicamente determinado; é um dos produtos socioespaciais do movimento e das contradições sociais, sob as forças econômicas, políticas e culturais, que determinam as diferentes territorialidades, no tempo e no espaço, as próprias desterritorialidades e as reterritorialidades. O homem vivendo em sociedade se territorializa através de suas atividades cotidianas, seja no campo seja na cidade.
F. Ratzel
Geógrafo e etnólogo alemão
• Antropogeografia • Geografia Política
Território
O território é a expressão legal e moral do Estado, conjunção do solo e do povo em que a sociedade se organiza.
Quadro 3: Quadro de informações sobre os autores mais referenciados nas revistas de Geografia Agrária. Org.: Schwitzky 2010.
Através deste quadro percebe-se que cada um possui sua linha de pensamento,
influenciada pela sua formação e pelo segmento de suas pesquisas através do tempo e do
espaço social em que esta inserido. Alguns dão uma maior ênfase nos processos de
59
desterritorialização, como Haesbaert, Santos e Souza, levando em consideração o sistema
capitalista em que vivemos e como modifica o território contemporâneo. Outros abordam
mais a questão da territorialização, como Raffestin, Bernardes e Saquet, se aprofundando
mais nas raízes do processo de territorialização para explicarem a questão a dinâmica
territorial.
Desta forma, percebe-se que a importância de se estudar o território é
indispensável para entender as espacialidades do campo brasileiro, assim, os principais
autores primeiramente se preocupam em conceituar o território e/ou suas derivações para
depois colocar em pauta suas justificativas acerca dos processos modificadores e/ou dos
resultados da dinâmica espacial presente no território, sendo ele no campo ou na cidade.
Eles também defendem suas ideias, identificando com alguns referenciais e discordando
de outros, deixando claro que existem algumas diferenças nas abordagens sobre a
categoria território, mas que no presente trabalho não aprofundamos tal questão, mas
reconhece-se a necessidade de diferenciá-las.
60
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão do território, desde a década de 1980, vem ganhando muita importância
nos estudos dentro da Geografia Agrária para se entender a dinâmica da produção do
espaço geográfico. Esse processo atua ativamente nas transformações dos territórios
rurais, principalmente a partir da importância que adquirem os processos geográficos de
Territorialização-Desterritorialização-Reterritorialização (T-D-R) nessa conjuntura.
Após coletar os dados e analisá-los, notamos a grande importância de se
identificar o referencial teórico abordado pelos autores, bem como, os conceitos
utilizados e as palavras chaves dos artigos publicados. Após gerar os gráficos e analisá-
los, identificamos que a dinâmica territorial, e o processo de T-D-R, é utilizado pelos
autores na tentativa de explicar as mudanças e as recentes transformações ocorridas no
campo brasileiro.
Além de se identificar os autores mais referenciados, houve também uma melhor
compreensão da contribuição teórica da temática em questão, através da criação do
quadro de informações sobre os autores, revelando e contextualizando as ideias
abordadas pelos mesmos, relacionando a formação teórica com a formação acadêmica de
cada um bem como sua produção bibliográfica com os itens mais importantes.
O presente trabalho pode colaborar com estudos futuros da Geografia Agrária, na
medida em que pode proporcionar uma análise comparativa de várias publicações de
renome na área com um forte embasamento, de maneira qualitativa e quantitativa,
demonstrando como a abordagem acerca dos conceitos relacionados ao processo de
T-D-R vem ocorrendo nas publicações científicas, servindo de orientação para futuros
estudos que tenham por objetivo utilizar-se das várias teorias apresentadas para
compreender melhor a dinâmica espacial.
Após o término do trabalho identificamos uma tendência de padronização da
abordagem do referencial teórico da questão territorial, a partir da grande utilização de
autores como Raffestin, Haesbaert, Santos, Fernandes, Souza, Saquet e Ratzel. Dentro
dessas referências, o alto índice de utilização dos conceitos de território e territorialização
com intuito de se explicar a dinâmica espacial e o processo de T-D-R presente nos
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estudos agrários, e que de uma forma positiva, esses conceitos vem ganhando mais
espaços nas pesquisas referentes ao meio rural dando uma maior ênfase aos problemas
sócio espaciais. Assim a problemática referente a reforma agrária, e aos processos
migratório e a territorialização do capital, processos que se acentuam cada vez mais com
o avanço da globalização, são muito utilizados pela dinâmica T-D-R, e que faz-se
necessário um estudo cada vez mais aprofundado afim de encontrar soluções para
problemas referentes a temática agrária.
Nos dias atuais as práticas sociais se encontram em constante mobilidade por
incorporar diversas técnicas, hábitos, valores simbólicos e culturais, fazendo com que
seja necessário aprimorar e encontrar os métodos de análises dessas problemáticas.
Assim, o esforço de compreender e analisar um conceito passa necessariamente por
interpretações e releituras em diversas perspectivas. Neste sentido é que se buscou
destacar a partir da dinâmica territorial, e do processo de Territorialização-
Desterritorialização-Reterritoiralização (T-D-R) como sugestão de análise para orientar a
discussão para as novas linhas de pesquisas no âmbito dos estudos sobre o campo/rural na
perspectiva geográfica.
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