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ASPECTOS CULTURAIS E POTENCIAL DE USO DO
CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.)
NO ESTADO DO AMAZONAS
MARICLEIDE MAIA SAID
Manaus - Amazonas 2011
PPG/CASA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-
GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA –
PPG/CASA
Mestrado Acadêmico
MARICLEIDE MAIA SAID
ASPECTOS CULTURAIS E POTENCIAL DE USO DO
CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.)
NO ESTADO DO AMAZONAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia – PPG/CASA – na linha de pesquisa em conservação, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia.
Orientador: Prof. Ph.D. Alexandre Almir Ferreira Rivas Co-orientador: Prof. Ph.D. Luiz Antonio de Oliveira
MANAUS – AMAZONAS
2011
Ficha Catalográfica (Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)
Said, Maricleide Maia S132a
Aspectos culturais e potencial de uso do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) no estado do Amazonas / Maricleide Maia Said. - Manaus: UFAM, 2011. 136 f.; il. color.
Dissertação (mestrado em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia) – Universidade Federal do Amazonas/UFAM, 2011.
Orientador : Prof. Ph. D. Alexandre Almir Ferreira Rivas Co-orientador : Prof. Ph. D.Luiz Antônio de Oliveira
1. Cupuaçu – Amazonas - Desenvolvimento regional. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Cupuaçu – Processamento. I..Rivas, Alexandre Almir Ferreira (Orient.) II Universidade Federal do Amazonas III. Título.
CDU 633.74 (811) (043.3) CDU
ASPECTOS CULTURAIS E POTENCIAL DE USO DO CUPUAÇU
(Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) NO ESTADO DO
AMAZONAS
AUTORA: MARICLEIDE MAIA SAID ORIENTADOR: Prof. Ph.D. Alexandre Almir Ferreira Rivas CO-ORIENTADOR: Prof. Ph.D. Luiz Antonio de Oliveira Aprovada em: 14 de abril de 2011.
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. José Alberto da Costa Machado (presidente) Universidade Federal do Amazonas/UFAM
Prof. Ph.D. Nélinton Marques da Silva Universidade Federal do Amazonas/UFAM
Prof. Ph.D. Alexandre Almir Ferreira Rivas Universidade Federal do Amazonas/UFAM
Manaus, AM, 14 de abril de 2011.
PPG/CASA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG/CASA
Mestrado Acadêmico
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela serenidade mental e fortalecimento físico até aqui proporcionado permitindo-me esta concretização;
Aos meus familiares e amigos que contribuíram na construção dos valores que embasaram a percepção necessária para a elaboração do trabalho aqui concluso;
Aos docentes, discentes e a equipe administrativa da Universidade Federal do Amazonas, em especial aqueles que integram o Programa de Pós Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia – PPG/CASA, pela oportunidade de ingresso no curso e concessão do conhecimento e aprendizado necessários à formação científica e qualificação profissional;
Ao Dr. Alexandre Almir Ferreira Rivas pela orientação no transcorrer deste trabalho;
Ao Dr. Luiz Antonio de Oliveira pela co-orientação e valiosa colaboração e acompanhamento em todas as etapas desta pesquisa;
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, pelo apoio financeiro ao desenvolvimento da pesquisa via projeto do Edital CTAmazônia/2008, processo n. 575798/2008-4;
Às empresas Cupuama, Amazongreen, Gotas da Amazônia, Harmonia Nativa, e Pharmacus, pela colaboração com os dados desta pesquisa, aos produtores rurais dos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, bem como aos presidentes de cooperativas agrícolas, associações e líderes comunitários destes Municípios pela valiosa colaboração na coleta de dados e informações sobre a cultura do cupuaçu;
À Secretaria de Produção Rural do Amazonas – SEPROR e ao Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM pela cooperação e fornecimento dos dados que subsidiaram a pesquisa;
A todos que de forma direta ou indireta colaboraram para a realização deste trabalho.
A todos, Muito obrigada!
RESUMO
O cultivo de frutas nativas da Amazônia é apontado como uma alternativa importante para o desenvolvimento da região através da exploração econômica de sua diversidade vegetal, em especial daquelas espécies cuja cadeia produtiva é mais diversificada e pode favorecer vários elos dentro da cadeia. Nesse contexto, o cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) se apresenta como a principal frutífera do Estado do Amazonas e uma das mais significantes atividades agrícolas da Região Amazônica, justificada pela larga comercialização da polpa in natura ou processada. Contudo, este segmento industrial geralmente utiliza apenas a polpa do fruto, sendo as sementes e casca, pouco aproveitadas pelos produtores de cupuaçu. Essa prática resulta no enfraquecimento da cadeia de produção da espécie pelo desperdício dos subprodutos do fruto por parte dos produtores rurais. Esse estudo propôs diagnosticar, através de questionários aplicados em propriedades rurais dos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, empresas de processamento das sementes e de produto final de cosméticos, o potencial produtivo do cupuaçu no Estado do Amazonas e o aproveitamento das sementes para a produção de manteiga visando suas utilizações, principalmente como matéria-prima para as indústrias de cosméticos do Pólo Industrial de Manaus – PIM. Para tanto, procedeu-se análise na cadeia de transformação do cupuaçu em insumo para a indústria de cosméticos com o fim de identificar o aproveitamento das sementes e o potencial do Estado do Amazonas para a produção da manteiga. Devido ao baixo preço da polpa e dificuldades em separá-la das sementes pelo processo manual, os produtores não investem no manejo da fertilidade do solo e controle das pragas e doenças, tendo como resultado, baixas produtividades da cultura no Estado induzindo os produtores a abandonar ou substituir o cupuaçu por outra cultura mais vantajosa, como o abacaxi em Itacoatiara. Apenas 23 do total de 60 produtores analisados vendem as sementes junto com a polpa, sem contudo usufruírem financeiramente do aproveitamento das mesmas para a retirada e venda da manteiga para as indústrias de alimentos e cosméticos. A venda das sementes junto com a polpa foi com o intuito de não precisarem separá-las com tesoura. Se investirem no manejo do solo e controle de pragas e doenças, bem como no aproveitamento das sementes para a produção de manteiga e torta, seus cultivos poderão proporcionar-lhes rendimentos superiores a 500% do que os obtidos no ano agrícola de 2009/2010, tornando a cultura altamente rentável, gerando mais divisas e empregos para o Amazonas, fortalecendo o cultivo do cupuaçu e a permanência dessa parte da sociedade no interior do Estado.
Palavras chave: Polpa de cupuaçu, manteiga de cupuaçu, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento regional, Amazonas.
ABSTRACT The cultivation of native fruit species in the Amazon is considered an important alternative for the regional development trough economic exploitation of its plant diversity, especially those whose productive chain is more diversified and can benefit various links inside the chain. In this context, the cupuassu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) presents as the main fruit specie of the Amazonas State and one of the most significant agricultural activity of Amazon Region, justified by the commercialization of the natural or processed pulp fruit. However, this industrial segment usually uses only the fruit pulp, while the seeds and shell fruit are of little use by cupuassu producers. This practice results in the weakness of the productive chain of this specie due to the fruit sub products loss by farmers. This study proposed to diagnosis, trough questionnaires applied on farmers properties of the County of Itacoatiara, Presidente Figueiredo and Manacapuru, as well as seeds processing and final cosmetics products enterprises, the productive potential of cupuassu in the Amazonas State, and the seeds use for butter production mainly as raw material to the cosmetic industries of Manaus Industrial Pole – PIM. For that, it was proceeded a transformation chain analyses of cupuassu as raw material for the cosmetic industry in order to identify the use of seeds and their potential in the Amazonas State to produce cupuassu butter. Due to the low cupuassu pulp price and difficulties to separate it manually from seeds, the farmers do not invest on soil fertility management and pests and diseases control, being as a result, low productivities of cupuassu in the State. Thus, various farmers abandoned or substituted the cupuassu cultivation for another more advantageous culture specie, as the pineapple in Itacoatiara. Only 23 from a total of 60 farmers analyzed, sell the seeds with the pulp, but without have economic benefits from its transformation to cupuassu butter to food and cosmetic industries. They sell the seeds with the pulp to avoid separate both by scissors. If they spending on soil management and pests and diseases control, as well as on the seeds use to produce butter and tart, their cupuassu cultivation profit may be superior to 500% from that obtained on the agricultural year of 2009/2010, becoming the cupuassu culture highly profitable, increasing Amazonas revenue and jobs, strengthening the cupuassu cultivation and keeping these human population in the State interior. Key words: cupuassu pulp, cupuassu butter, sustainable development, regional development, Amazonas State.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Porcentagens médias dos componentes do cupuaçu (Souza et al., 1999) . .............. 32
Figura 2: Distribuição das plantas de cupuaçu nos arranjos triângulo eqüilátero e
quadrangular. Fonte: Souza et al. (1999). ............................................................................. 33
Figura 3: Etapas dos cuidados necessários com o cupuaçu desde a coleta até a distribuição .. 39
Figura 4: Secador solar de sementes. Fonte: Cupuama (2011): (www.cupuama.com.br) ....... 43
Figura 5: Modelo geral de cadeia produtiva. Fonte: (Castro et al., 1995, adaptado de
Zylbersztajn, 1994). ............................................................................................................. 46
Figura 6: Processo produtivo do cupuaçu. ............................................................................ 47
Figura 7: Crescimento das indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no Brasil
entre 2004 e 2008 (ABIHPEC, 2009). .................................................................................. 55
Figura 8: Área geográfica de realização da pesquisa. ............................................................ 58
Figura 9: Propriedades rurais de Itacoatiara contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e
erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................................ 74
Figura 10: Controle de pragas e doenças. ............................................................................. 75
Figura 11: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios ......... 75
Figura 12: Processo de formação dos cultivos. ..................................................................... 75
Figura 13: Aquisição das sementes. ...................................................................................... 75
Figura 14: Controle de qualidade das sementes. ................................................................... 76
Figura 15: Conhecimento para formação de cultivos de qualidade. ....................................... 76
Figura 16: Propriedades rurais de Presidente Figueiredo contendo vassoura-de-bruxa, broca-
do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................ 84
Figura 17: Controle de pragas e doenças. ............................................................................. 85
Figura 18: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios........... 85
Figura 19: Formação dos cultivos. ........................................................................................ 86
Figura 20: Aquisição de sementes. ....................................................................................... 86
Figura 21: Controle de qualidade das sementes. ................................................................... 86
Figura 22: Conhecimento para formação de cultivos de qualidade. ....................................... 86
Figura 23: Propriedades rurais de Manacapuru contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e
erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................................ 93
Figura 24: Controle de pragas e doenças. ............................................................................. 95
Figura 25: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios........... 95
Figura 26: Formação dos cultivos ......................................................................................... 95
Figura 27: Produção de sementes. ........................................................................................ 95
Figura 28: Produção de sementes. ........................................................................................ 96
Figura 29: Conhecimento para formação de cultivos. ........................................................... 96
Figura 30: Etapas do beneficiamento das sementes do cupuaçu. ......................................... 106
Figura 31: Casca das sementes do cupuaçu com resíduo de amêndoa. ................................ 108
Figura 32: Manteiga de cupuaçu - bruta. ............................................................................ 108
Figura 33: Manteiga purificada (filtrada). ........................................................................... 108
Figura 34: Torta das sementes de cupuaçu. ......................................................................... 108
Figura 35: Produtos fabricados com a utilização de insumos do cupuaçu (manteiga ou extrato)
nas Empresas de cosméticos de Manaus. ............................................................................ 114
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Variedades de cupuaçu e características de formato, espessura da casca e peso do
fruto. .................................................................................................................................... 31
Tabela 2: Fases do ciclo evolutivo e tempo médio de desenvolvimento da broca-do-fruto do
cupuaçu................................................................................................................................ 37
Tabela 3: Composição mineral da semente (cotilédone) fermentado e tostado. ..................... 44
Tabela 4: Composição química do cotilédone fermentado e tostado. .................................... 45
Tabela 5: Variação anual do PIB brasileiro, das indústrias em geral e do setor de Higiene
Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. ....................................................................................... 53
Tabela 6: Balança comercial do mercado brasileiro para o segmento de Higiene Pessoal,
Perfumaria e Cosméticos. ..................................................................................................... 54
Tabela 7: Empresas do Estado do Amazonas com autorização da ANVISA para
funcionamento. .................................................................................................................... 56
Tabela 8: Empresas do Estado do Amazonas, setor químico/cosméticos, com projetos
apresentados à SUFRAMA. ................................................................................................. 56
Tabela 9: Estimativa de produtores e área cultivada nos Municípios de coleta de dados. ...... 67
Tabela 10: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Itacoatiara que produziram
cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................................................................................... 70
Tabela 11: Dados da comercialização de cupuaçu em Itacoatiara, safra 2009-2010. ............. 77
Tabela 12: Dados do beneficiamento do cupuaçu nas propriedades de Itacoatiara, safra 2009-
2010. .................................................................................................................................... 79
Tabela 13: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Itacoatiara, safra 2009-
2010. .................................................................................................................................... 80
Tabela 14: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Presidente Figueiredo que
produziram cupuaçu na safra de 2009-2010. ......................................................................... 81
Tabela 15: Dados da comercialização de cupuaçu em Presidente Figueiredo, safra 2009-2010.
............................................................................................................................................ 87
Tabela 16: Beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Presidente Figueiredo,
safra 2009-2010. .................................................................................................................. 88
Tabela 17: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Presidente Figueiredo,
safra 2009-2010. .................................................................................................................. 89
Tabela 18: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do município de Manacapuru que
produziram cupuaçu na safra de 2009-2010. ......................................................................... 90
Tabela 19: Dados da comercialização de cupuaçu em Manacapuru safra 2009-2010. ........... 96
Tabela 20: Dados do beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Manacapuru,
safra 2009-2010. .................................................................................................................. 97
Tabela 22: Aproveitamento da semente de cupuaçu no Município de Manacapuru, safra 2009-
2010. .................................................................................................................................... 98
Tabela 23: Rendimento médio e receita média por hectare cultivado com cupuaçu na área
amostrada. Safra 2009/2010. .............................................................................................. 100
Tabela 24: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas 60 propriedades avaliadas
nos três municípios do Amazonas. Safra 2009/2010. .......................................................... 103
Tabela 25: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas áreas cultivadas nos três
municípios do Amazonas. Safra 2009/2010. ....................................................................... 104
Tabela 26: Rendimento do processo de beneficiamento das sementes do cupuaçu. ............. 109
Tabela 27: Processamento das sementes de cupuaçu e produção final de manteiga bruta,
manteiga purificada e torta, nos anos de 2009 e 2010 e, estimativa para 2001..................... 110
Tabela 28: Estimativa de aproveitamento do total das sementes do cupuaçu produzidas na
safra 2009/2010. ................................................................................................................ 111
Tabela 29: Diagnóstico da produção de cosméticos em Manaus. ........................................ 113
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 13
1. 0BJETIVOS ...............................................................................................................................................16 1.1. OBJETIVO GERAL.............................................................................................................................16 1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................................16
2. JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................................17
3. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................................21 3.1. A AMAZÔNIA ....................................................................................................................................21
3.1.1. A BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA 22
3.1.2. O AMBIENTE E OS RECURSOS NATURAIS AMAZÔNICOS 24
3.1.3. CONSERVAÇÃO E USO DOS RECURSOS NATURAIS 27
3.2. A FRUTICULTURA NA AMAZÔNIA ................................................................................................28 3.3. A CULTURA DO CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.). ........................29
3.3.1. TRATOS CULTURAIS NO CUPUAÇUZEIRO 32
3.3.2. DESPOLPAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO 39
3.4. AS SEMENTES DO CUPUAÇU .........................................................................................................41 3.4.1. O PROCESSAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU 42
3.5. CADEIA PRODUTIVA .......................................................................................................................45 3.6. AS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS .................................48
4. MATERIAL E MÉTODO .........................................................................................................................57 4.1. ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................................57
4.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 57
4.1.1.1. ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS DOS MUNICÍPIOS .............................................58 4.2. MÉTODOS ..........................................................................................................................................60 4.3. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................65 4.4. PESQUISA DE CAMPO ......................................................................................................................66
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................70 5.1. DIAGNÓSTICO DOS CULTIVOS DE CUPUAÇU .............................................................................70
5.1.1. MUNICÍPIO DE ITACOATIARA 70
5.1.2. MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO 80
5.1.3. MUNICÍPIO DE MANACAPURU 90
5.2. PRODUTIVIDADE E APROVEITAMENTO ECONÔMICO DO CUPUAÇU .....................................99 5.3. INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DA SEMENTE DE CUPUAÇU ............................................ 105
5.3.1. ETAPAS E RENDIMENTOS DO BENEFICIAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU 106
5.4. UTILIZAÇÃO DA MANTEIGA DE CUPUAÇU NAS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DE MANAUS ................................................................................................................................................ 113
6. CONCLUSÕES ....................................................................................................................................... 116
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ........................................................................... 118
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 120
9. ANEXOS .................................................................................................................................................. 128
13
INTRODUÇÃO
A Amazônia possui o maior ecossistema de florestas tropicais do planeta e é
reconhecida como um dos componentes centrais para o desenvolvimento das próximas
gerações e o equilíbrio do ambiente global. Contudo, ainda não é possível precisar seus
benefícios futuros e estimar sua aplicabilidade no âmbito socioeconômico, visto que ainda é
pequena a parcela de componentes da biodiversidade que são conhecidos e identificados pela
ciência.
O desenvolvimento da Amazônia depende da forma como serão administradas suas
potencialidades, conciliando equilíbrio ecológico e uso sustentável dos recursos de modo que
isto reflita em melhoria substancial da qualidade de vida de sua população, crescimento
econômico, modernização, avanço tecnológico e sua integração à economia nacional e
mundial (CAVALCANTI, 1997).
A globalização provocou mudanças na ordem social, econômica e política e
estimulou avanços significativos nos mais variados setores da sociedade, tanto no âmbito
urbano quanto no rural. Os negócios agrícolas e industriais, em especial, foram fortemente
pressionados a aperfeiçoarem a competitividade em suas cadeias produtivas, sobretudo nos
fatores relacionados à tecnologia e gestão de processos como forma de estabilidade num
mercado cada vez mais competitivo.
As recentes mudanças na economia e sociedade global, sobretudo aquelas
relacionadas à temática ambiental, no esforço de garantir a sustentabilidade dos recursos
naturais e a manutenção dos ecossistemas amazônicos, resultaram em perda de
competitividade do extrativismo madeireiro e da agricultura tradicional regional, em especial
nos locais mais distantes dos grandes centros urbanos, bem como da indústria e do comércio
da Zona Franca de Manaus.
Diante desse cenário, são imprescindíveis alternativas que se contraponham aos
efeitos negativos dessa dinâmica. Nessa perspectiva se insere a estratégia de uso dos recursos
da diversidade amazônica como alternativa de desenvolvimento regional e local, pelo
14
fortalecimento da cadeia produtiva das espécies amazônicas, desde o agronegócio até o
consumidor final de produtos industrializados.
O potencial de riquezas e as políticas de desenvolvimento regional não foram
suficientes para fomentar o desenvolvimento econômico do Estado do Amazonas pelo uso
sustentável dos recursos da biodiversidade existente na região, visto que a cadeia produtiva
das espécies regionais exploradas comercialmente ainda é restrita, com baixo valor agregado,
e atribuindo pouco benefício aos agentes que compõem seus elos.
Entre as diversas atividades que permeiam o desenvolvimento da região Norte estão
as atividades agrícola e industrial, que neste estudo se apresentam como elos de uma mesma
cadeia produtiva: o da fruticultura na Amazônia.
O cultivo de frutas nativas da Amazônia é apontado como uma alternativa importante
para o desenvolvimento da região através da exploração econômica de sua diversidade
vegetal, em especial daquelas espécies cuja cadeia produtiva é mais diversificada e pode
favorecer vários elos dentro dessa cadeia.
Nesse contexto, cultivo do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng.
Schum.), fruta nativa da Amazônia (SOUZA et al., 1999), se apresenta como uma das mais
significantes atividades agrícolas da região, justificada pela larga comercialização da polpa in
natura ou processada. A polpa, principal subproduto na escala comercial da espécie, possui
excelente aceitação no mercado e larga escala de uso pela indústria alimentícia, com
ramificações no mercado nacional e internacional. Contudo, este segmento industrial
geralmente utiliza apenas a polpa do fruto, bastante apreciada para o preparo de sucos, doces,
compotas, biscoitos, bolos, pudins, tortas, geléias, sorvetes, picolés, bombons, entre outros
usos, sendo os demais subprodutos, como a semente e casca, pouco aproveitados pelos
produtores de cupuaçu.
Essa prática resulta no enfraquecimento da cadeia de produção da espécie pelo
desperdício dos subprodutos do fruto, por parte dos produtores rurais, que na sua maioria não
comercializam as sementes descartando-as na propriedade rural (NAZARÉ et al., 1990),
(ARAGÃO, 1992).
15
Nesse sentido, esse estudo propôs avaliar o potencial produtivo do cupuaçu no
Estado do Amazonas e o aproveitamento das sementes para a produção de manteiga visando
suas utilizações principalmente como matéria-prima para as indústrias de cosméticos do Pólo
Industrial de Manaus – PIM. Para tanto, procedeu-se análise na cadeia de transformação do
cupuaçu em insumo para a indústria de cosméticos com o fim de identificar o aproveitamento
das sementes e o potencial do Estado do Amazonas para a produção da manteiga.
Procura também contribuir para o preenchimento de lacunas no processo de
construção de uma política para o cultivo da cultura no Estado do Amazonas, bem como para
o desenvolvimento de indústrias do PIM pelo uso de insumos locais no processo fabril de
cosméticos.
16
1. 0BJETIVOS
1.1. OBJETIVO GERAL
Analisar o potencial produtivo do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex
Spreng. Schum.) no Estado do Amazonas e o aproveitamento das sementes visando a
produção de manteiga para uso nas indústrias de cosméticos.
1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Diagnosticar a produtividade do cupuaçu nos municípios de Itacoatiara,
Presidente Figueiredo e Manacapuru.
2. Avaliar o aproveitamento das sementes para a produção de manteiga.
3. Estimar a capacidade de produção da manteiga de cupuaçu no Estado do
Amazonas.
17
2. JUSTIFICATIVA
Os impactos globais resultantes do desenvolvimento econômico e social são
percebidos em todas as esferas da sociedade e do mercado, em especial aquelas relacionadas à
agropecuária, que nas últimas décadas registrou consideráveis progressos, sobretudo pela
disseminação dos insumos químicos e a melhoria genética vegetal e animal.
A participação do agronegócio, definido por Pinazza e Alimandro (1999), como a
interdependência da agricultura com as funções de insumos, equipamentos e máquinas
agropecuárias, processamento, transformação, distribuição e consumo, cresceu
consideravelmente em virtude das transformações pelas quais passa a sociedade.
Entre os vários segmentos produtivos que compõem o agronegócio brasileiro está a
fruticultura, que registrou ascensão na última década, tanto no mercado interno como no
externo, impulsionada principalmente pelos novos hábitos alimentares na busca de uma vida
mais saudável.
A contribuição da fruticultura para o desenvolvimento econômico e social da região
já é uma realidade, contudo, este benefício pode ser ainda maior, pois além do consumo de
frutas in natura, estas são também utilizadas em grande escala na fabricação de diversas
iguarias. Muitas espécies frutíferas da Amazônia permitem uma elasticidade maior em sua
cadeia produtiva, visto que, resultam em maior aproveitamento dos subprodutos, considerados
resíduos do processo alimentício, como as cascas, sementes, etc., agregando mais valor à
cadeia de produção e diversificando as possibilidades de comercialização desses derivados,
tornando mais lucrativo seu cultivo.
O cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.), fruta nativa da
Amazônia, se destaca como a mais comercialmente explorada na região com grande
participação na lista de frutas tropicais de excelente valor comercial. A polpa pelas
características de acidez, teor de pectina, aroma ativo e sabor muito agradável, se constitui em
importante matéria-prima para a indústria de processamento de alimentos, com uso destinado
18
à fabricação de sucos, néctares, sorvetes, doces, geléias, iogurtes, biscoitos, bombons, licores
e outras iguarias (SOUZA et al., 1999).
As sementes, quando processadas para a extração da manteiga se constituem em
importante matéria-prima para a indústria de cosméticos, com aplicação na fabricação de
diversos produtos dos segmentos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. A torta,
também resultante do processamento das sementes é utilizada na indústria alimentícia para a
produção de chocolates em barra e achocolatados em pó. Outra possibilidade de uso das
sementes de cupuaçu é na fabricação de ração para animais e peixes.
Observações prévias no âmbito da agricultura no Amazonas apontavam para
considerável desperdício das sementes do cupuaçu, em contrapartida, o uso da manteiga se
dissemina no setor de cosméticos e a indústria de processamento das sementes demanda
quantidades cada vez maiores destas.
A escolha dessa cultura no presente estudo se justifica pelo fato de ser bastante
cultivada para a comercialização de sua polpa, resultando em grandes quantidades de
sementes que, processadas para extração da manteiga, poderão abastecer o segmento
industrial de Cosméticos, onde a manteiga já é utilizada em larga escala como matéria-prima
no processo fabril. Além disso, a agregação de valor a uma cultura de importância econômica
e social trará benefícios diretos aos produtores rurais que já a cultivam.
Outro fator que favorece o cultivo do cupuaçu é o fato de ser uma espécie bastante
recomendada para a composição de Sistemas Agro-Florestais – SAFs, prática indicada por
diversos autores como alternativa mais apropriada para o uso da terra na região e bastante
disseminada entre as propriedades rurais na Amazônia (HOMMA, 2006), (CALZAVARA et
al., 1984), (SOUZA et al., 1999), MULLER, et al., 1995) e (NOGUEIRA et al., 1991).
Quando os SAFs são associados a outros sistemas de produção, desencadeia-se um grande
potencial de contribuição na qualidade de vida do pequeno agricultor e realça a sua
sustentabilidade, visto que otimiza a utilização dos solos e diminui os danos ecológicos.
Do processo de extração da polpa resulta a semente, que possui uma amêndoa, da
qual pode ser extraída a manteiga, muito utilizada pela indústria cosmética, a torta, que em
19
muito se assemelha ao chocolate, empregada na fabricação do cupulate. Outra utilização dessa
manteiga é na adição à manteiga do cacau na fabricação do chocolate, para atingir o mínimo
exigido pela legislação brasileira. Essa alternativa se fortaleceu com a entrada em vigor da
Resolução RDC 264, de 22 de setembro de 2005, da ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) (ANVISA, 2010), que permite a substituição parcial da manteiga de
cacau por gorduras alternativas no chocolate. Pela legislação brasileira, o chocolate deve
conter, no mínimo, 25% (m/m) de derivados de cacau (líquor, manteiga e/ou pó). Atendendo a
essa exigência, outros ingredientes podem ser adicionados ao produto, como gorduras
vegetais alternativas à manteiga de cacau, substitutos de leite, substitutos de açúcar,
substitutos de cacau, entre outros. Em alguns países da Europa, como a Inglaterra, Dinamarca
e Suécia, a legislação vigente (Diretiva 73/24/EEC) é mais exigente, pois permite apenas a
substituição da manteiga de cacau até o nível de 5% do peso total do produto. Além disso, a
gordura adicionada deve ser classificada como uma gordura equivalente à manteiga de cacau,
ou CBE – Cocoa Butter Equivalente. A manteiga de cupuaçu se enquadra nesse requisito,
abrindo mais perspectivas de uso nacional e internacional caso as sementes sejam usadas para
tal finalidade. A semente pode também ser utilizada para a fabricação de ração para animais e
peixes, enquanto que a casca pode servir de adubo em cultivos agrícolas.
Na maioria dos casos observados nas propriedades que cultivam o cupuaçu no
Estado do Amazonas, quando do processamento do fruto para a retirada da polpa, a semente
não é aproveitada para a extração da manteiga, que já possui um mercado consumidor
consolidado pela indústria cosmética. Nos casos em que o fruto é processado pelas
cooperativas ou associações existentes, a situação se repete com o desperdício das sementes.
Não obstante a importância do cupuaçu para a economia do Estado, ainda há uma
grande lacuna na cadeia produtiva, relacionada ao melhor aproveitamento dos subprodutos
como forma de agregar valor ao negócio do cupuaçu e fortalecer o processo produtivo da
espécie. A investigação aqui proposta objetivou identificar lacunas existentes na cadeia de
processamento do cupuaçu e no processo de beneficiamento das sementes e estimar o
potencial do Estado para produção da manteiga de cupuaçu com vistas a atender as demandas
das indústrias de cosméticos.
O estudo viabilizou a identificação dos fatores favoráveis e desfavoráveis de cada
etapa da cadeia de transformação do cupuaçu em insumos para o processo fabril de
20
cosméticos e permitiu a identificação das medidas capazes de tornar efetiva a produção de
matérias-primas derivados do cupuaçu para estas indústrias, observando os fatores que
interferem no processo produtivo do fruto do cupuaçu e da manteiga, bem como sua
aplicabilidade na indústria de produto final.
21
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1. A AMAZÔNIA
A Amazônia ocupa uma área aproximada de 7.600.000 km². É cortada pela linha
equatorial e, portanto, compreendida em área de baixas latitudes. Ocupa cerca de 2/5 da
América do Sul e mais da metade do Brasil. Inclui nove países sul-americanos: Brasil, Peru,
Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana Francesa, Suriname, Guiana e Venezuela (CONTI e
FURLAN, 1998).
A Amazônia brasileira, região geográfica de 5,4 milhões de km², representa mais de
60% do território nacional, abrangendo nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso,
Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.
Através de políticas ambientais e ações governamentais, o Brasil aloca consideráveis
esforços para a preservação deste complexo e diversificado bioma amazônico, onde
predominam ecossistemas florestais. A região passa atualmente por um processo de intenso
dinamismo em direção a uma consolidação regional de fundamental impacto e importância
estratégica para o desenvolvimento regional e para as matrizes nacionais de produção
agrícola, energética e industrial.
As iniciativas públicas e privadas (esta última em menor escala) para a capacitação
de recursos humanos e produção de conhecimento científico e tecnológico para a região vêm
aumentando gradativamente, mas não são ainda satisfatórias, visto que a Amazônia conta com
aproximadamente 5% da competência científica brasileira.
Integrar ciência e tecnologia para promover o uso sustentável da biodiversidade
Amazônica é esforço central nas instituições de ensino, pesquisa e extensão da região.
Agregar valor aos produtos da floresta e melhorar as relações sociais e culturais de
populações que se relacionam com os recursos naturais oriundos da floresta é a principal
estratégia eficaz para impedir a sua destruição e subsidiar a manutenção da biodiversidade e
dos ecossistemas. Caso contrário, o baixo valor agregado aos produtos da floresta, a
22
interferência em culturas locais e degradação social constitui um incentivo à destruição
acelerada da biodiversidade.
O impacto continuado da destruição da floresta terá efeitos incalculáveis, afetando o
delicado equilíbrio que preserva os ecossistemas, sem que se faça uso do extraordinário
potencial de recursos naturais existentes na Amazônia, principalmente visando a sua
utilização como produtos bioativos de interesse farmacológicos e nutricionais.
Paralelamente a necessidade de constantes renovações e diversificação na produção
de cosméticas, a busca de fármacos inovadores da biodiversidade brasileira e o mercado de
fitoterápicos vem se desenvolvendo mundialmente, o que ratifica o fato de que a
bioprospecção é a chave de conexão entre as atividades de P, D & I para a geração de valor à
biodiversidade Amazônica.
O desenvolvimento sustentável da Amazônia inclui a necessidade de utilização de
todas as suas potencialidades biotecnológicas, assim como a melhoria na qualidade de vida e
participação dos atores envolvidos e a integração de suas necessidades nos processos a ele
relacionados.
3.1.1. A BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA
A biodiversidade se conceitua pelo número de espécies existentes em dado local
(caracterizado como riqueza específica) ou categoria sistemática (gênero, família, etc.); é a
diversidade biológica ou das diferentes formas de vida.
A Amazônia brasileira contém a maior biodiversidade do planeta, no que se refere a
plantas, peixes de água doce e mamíferos, segunda em anfíbios, terceira em aves, quinta em
répteis. Abriga ainda uma reserva mineral estratégica para o país, além de resguardar uma
grande extensão ainda preservada de floresta tropicais do planeta (CONTI e FURLAN, 1998).
É certo que a biodiversidade é um dos mais importantes recursos disponíveis no Brasil e
principalmente na Amazônia.
23
O grande desafio enfrentado em todos os âmbitos da sociedade é como promover o
desenvolvimento da região fazendo uso econômico e manutenção dos recursos naturais da
biodiversidade, garantindo seu uso e aproveitamento pelas gerações futuras.
Há um grande número de espécies de plantas reconhecidas como de potencial para a
produção de cosméticos na Amazônia, como andiroba (Carapa guianensis), pau-rosa (Aniba
rosaeodora), camu-camu (Myrciaria dubia), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), guaraná
(Paullinia cupana var. sorbillis (Martius) Duke, açaí (Euterpe oleracea), buriti (Mauritia
flexuosa), etc., que agregadas às tecnologias modernas e comprometimento social, podem
proporcionar o desenvolvimento econômico, garantir a sustentabilidade dos recursos e a
conservação das espécies da Amazônia.
O esforço global das Nações para elevar o nível da consciência ambiental tem
remetido as sociedades à reflexões mais apuradas sobre a preservação do ambiente e
utilização dos insumos naturais pelo setor produtivo. A manutenção da imensurável
diversidade biológica, sobretudo da Amazônia, é reconhecida como uma necessidade para o
equilíbrio dos ecossistemas globais, ao mesmo tempo em que se revela um grande potencial
de desenvolvimento.
O aproveitamento da biodiversidade brasileira, em especial da região amazônica,
como propulsora do desenvolvimento regional, na qual está inserida a parte econômica, é
muito mais uma ação de divulgação, extensamente preconizada pelos governantes,
instituições de pesquisa e desenvolvimento e pelo setor produtivo industrial, do que de fato
uma alternativa real de exploração sustentável.
Viana (1978) conceitua desenvolvimento econômico como um processo complexo de
mudanças e transformações sociais, através do qual a sociedade consegue produzir maior
quantidade de bens e serviços destinados a satisfazer as sempre crescentes e diversificadas
necessidades humanas. Segundo esse autor, o que alavanca esse processo são as inovações
tecnológicas e a maior capacitação cultural da humanidade.
A rica e vasta biodiversidade amazônica é reconhecida e cobiçada no cenário global.
O estado do Amazonas, localizado em posição geográfica privilegiada na Amazônia, possui o
24
dispositivo legal da Zona Franca de Manaus, entre outros, como instrumento de
desenvolvimento da região. Contudo, o potencial de riqueza da região e as políticas de
desenvolvimento não foram suficientes para fomentar o desenvolvimento econômico do
Estado pelo uso sustentável dos recursos de sua biodiversidade.
Da exuberante diversidade amazônica, os recursos florestais são, em sua maioria,
extraídos apenas para fins comerciais de matéria-prima primária, de forma extrativista sem
reposição e, sem nenhum beneficiamento, indo fomentar as produções em larga escala em
outras regiões do país e no exterior. Enquanto isso, o Estado continua sem uma política que
oriente para o desenvolvimento de cadeias produtivas com o aproveitamento sustentável dos
recursos da biodiversidade e a participação das sociedades distribuídas ao longo da cadeia.
3.1.2. O AMBIENTE E OS RECURSOS NATURAIS AMAZÔNICOS
Para Begon et al. (2006), o ambiente consiste em organismos e todos os fenômenos
e fatores externos ao organismo que o influencia. Estes fenômenos e fatores podem ser
físicos, químicos ou orgânicos. Para Trigueiro (2003) o ‘meio ambiente’ é uma expressão
bastante conhecida, mas poucos têm a clareza em relação ao conceito. Isto porque ainda é
muito comum confundir com fauna e flora. Essa redução, de acordo com o autor, é um erro de
grandes proporções. E também pelo fato de que as pessoas ainda não se percebem como
integrantes do ambiente. Para o autor, é preciso expandir a compreensão do meio ambiente,
reconhecendo o homem e todos os seres vivos inseridos numa rede de processos e fenômenos
interligados e interdependentes. Para Lima e Silva et al. (1999), o meio ambiente “é um
conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele
interage, influenciando e sendo influenciado por eles”. Para Trigueiro (2003), a expressão
“meio ambiente, que reúne dois substantivos redundantes: meio (do latim mediu) significa
tudo aquilo que nos cerca, um espaço onde nós estamos inseridos e, ambiente, palavra
composta por dois vocábulos latinos: a preposição amb(o) (ao redor, à volta)e o verbo ire
(ir)”. O autor, portanto, destaca que ambiente seria tudo o que está ao redor. Diante dessas
considerações, o ambiente pode ser compreendido não apenas como todos os organismos
vivos que influenciam e/ou são influenciados por fenômenos e fatores físicos, químicos e
orgânicos, mas também pela observação de que nesse processo interagem também com
fatores sociais e culturais.
25
O desenvolvimento do conceito de ambiente rebusca uma observação microscópica
dos componentes das sociedades humanas em suas interações físicas e biológicas. A sua
constituição parte das formas mais primitivas à complexidade de seres e populações que se
relacionam com sujeitos da natureza. Nesse contexto, devemos lembrar que o ambiente reúne
fatores naturais, sociais e culturais, envolvendo indivíduos e com os quais interage,
influenciando e sendo influenciado por eles, hora ordenando, hora desordenando as relações
que se estabelecem, proporcionando estruturações diferenciadas que se ajustam e alteram a
complexidade das relações. As interações são continuadas e simultâneas.
Entende-se por ambiente, tudo aquilo que nos rodeia, desde as cidades, como os
desertos e florestas. Existe o meio alterado pelo homem, como as cidades, vulgarmente
chamado de ambiente urbano, como também, os locais onde o ser humano ainda não
influenciou e que se denomina de ambiente natural. Entre esses dois extremos, temos os
ambientes com interferências relativas do ser humano.
Na Amazônia, os centros urbanos representam os ambientes totalmente modificados
pelo homem, enquanto que as florestas intactas mantêm toda a sua biodiversidade como se
desenvolveram naturalmente.
No entanto, há segmentos de florestas em que o homem faz uma extração seletiva,
escolhendo e coletando as espécies que apresentam algum valor econômico. A exploração
dessas espécies de forma racional não chega a causar um impacto negativo sobre as mesmas,
mas geralmente o ser humano moderno explora esses recursos de forma errada e destrutiva.
As espécies madeireiras são um exemplo de que a extração seletiva é negativa, pois os
melhores espécimes, com fustes retilíneos e grossos, são os preferidos pelos madeireiros,
enquanto que as árvores com o tronco torto e fora do padrão de qualidade podem ser deixadas
na floresta e se multiplicam através da produção de sementes. São elas que acabam servindo
de banco de sementes para as gerações futuras. Outras espécies, como a aquariquara,
apresentam crescimento muito lento e não são plantadas. Como são bastante procuradas, suas
populações simplesmente desapareceram (ou tendem a desaparecer) próximas aos grandes
centros urbanos da Amazônia.
26
A globalização desta sociedade que se apresenta em todas as suas formas já
ultrapassou a fronteira das relações comerciais, mercadológicas e produtivas. A consciência
da exaustão dos recursos disponíveis na natureza e que sustenta a satisfação das necessidades
humanas nas suas diversas formas de consumo, tem motivado as reflexões sobre o conceito de
ambiente, suas relações e inter-relações.
O processo acelerado de degradação do ambiente avança rumo às relações sociais,
culturais e econômicas que remetem à incompreensão dos destinos do planeta e seus
componentes. Neste cenário não se questiona sobre a necessidade de formular conceitos, mas
sim, quais os conceitos precisam ser reformulados para que se socialize um entendimento
preciso, homogêneo, que possa nortear a humanidade para certezas futuras.
A problemática ambiental ganhou força em todas as discussões atuais sobre o futuro
do planeta. Assim, a questão ambiental surge como um problema social de desenvolvimento,
requerendo a necessidade de normatizar um conjunto de processos de produção e consumo. O
processo de crescimento exigiu novos valores e assim foi se construindo a cultura ecológica
atual associada aos objetivos do desenvolvimento sustentável.
Conforme as indicações de Leff (2002), os objetivos do desenvolvimento sustentável
estão fundamentados nos seguintes propósitos: os direitos humanos a um ambiente sadio e
produtivo; o valor da diversidade biológica; a conservação da base de recursos naturais e dos
equilíbrios ecológicos do planeta; a abertura para uma diversidade de estilos de
desenvolvimento sustentável; a satisfação das necessidades básicas e a elevação da qualidade
de vida da população; a distribuição da riqueza e do poder por meio da descentralização
econômica; o fortalecimento da capacidade de autogestão; a percepção da realidade a partir de
uma perspectiva global, complexa e interdependente.
A pesquisa proposta por este trabalho, em seus aspectos empíricos e teóricos, reporta
à interdisciplinaridade e situa-se no contexto das relações contemporâneas, no aspecto
regional, econômico e conservacionista das espécies envolvendo o amplo e diversificado
campo das ciências ambientais e envolve as teorias que fundamentam os conceitos dos
processos aqui estudados, inserindo-se estes ao ambiente como um sistema voltado a
27
conservação e gestão dos recursos naturais para a manutenção das espécies e a gestão de
insumos regionais para os processos produtivos industriais.
Trata-se de examinar a capacidade de uso em escala industrial, de componentes da
biodiversidade amazônica, sugerindo formas dinâmicas do aproveitamento dos subprodutos
de uma espécie frutífera, característica da Amazônia, o cupuaçu (Theobroma grandiflorum
(Willd. Ex Spreng. Schum.) em especial pelo aproveitamento de suas sementes para produção
de matéria-prima que subsidiará a fabricação de cosméticos.
3.1.3. CONSERVAÇÃO E USO DOS RECURSOS NATURAIS
O uso sustentável da biodiversidade amazônica é um requisito para que não haja
perda de espécies ou mesmo da diversidade genética dentro de cada espécie. Algumas
espécies são muito mais expostas à extinção ou diminuição de sua diversidade genética
quando super-exploradas como matéria prima de alguma atividade econômica sem que haja
plantios e/ou que o extrativismo seja insuficiente para atender a essa demanda.
Alternativamente, desenvolver políticas de gestão ambiental para os recursos naturais
envolvidos nos processos produtivos de bens e serviços é um pré-requisito para que as
espécies vegetais de uso econômico sejam exploradas de forma sustentável.
Manejar de forma racional os recursos naturais é o primeiro passo para que se tenha
um desenvolvimento equilibrado e sustentável. Todas as outras ações que não visam o uso
racional têm como conseqüências, a diminuição e/ou destruição da qualidade e da quantidade
dos recursos naturais do planeta, e a degradação ambiental é uma das primeiras indicações da
presença de sistemas sociais e econômicos insustentáveis. O extrativismo ainda é um dos
meios usados pelas comunidades amazônidas para explorar os recursos da floresta, mas as
taxas de desmatamentos na região indicam que ainda está presente o modelo de
desenvolvimento regional pautado na substituição da floresta por sistemas de baixa
produtividade, conforme documentado por Goodland (1980).
Indicadores atuais mostram que ainda predominam na região, práticas de pressão
contra os recursos naturais (água, flora, fauna, solos) e por isso, suas produtividades em
28
diversas partes da Amazônia estão declinando. Esses recursos naturais são a base de
sustentação regional e sua exploração constitui a fonte primária de manutenção da população.
Atividades de larga escala como a pecuária e os cultivos praticados por grandes
latifundiários (oleaginosas para a produção de biocombustível, por exemplo), bem como a
exploração comercial de madeira não são apropriadas para as pequenas propriedades rurais,
pois o retorno financeiro é muito baixo. Cultivos tradicionais, por si só, também não trazem a
eles, retornos financeiros satisfatórios, uma vez que os preços de mercados de produtos como
a farinha de mandioca, feijão, etc., são muito baixos e exigem deles muito esforço físico de
uma mão de obra predominantemente familiar (Saragoussi, 1993; Noda et al., 1997), embora
tenham um valor social muito grande. Devido a isso, diversificar a produção com espécies
com princípios ativos de alto valor agregado pode ser uma alternativa capaz de gerar mais
renda a esses pequenos produtores.
A exploração de espécies supridoras de matéria-prima para cosméticos pode ser
extremamente importante para esses produtores, quer por diversificar sua produção na
propriedade rural, como também, por apresentar valores de mercado mais elevados do que os
produtos alimentícios tradicionais. Além disso, a produção de matéria-prima para cosméticos
nas comunidades rurais garante a sustentabilidade desses recursos naturais se convertendo em
mais uma alternativa de desenvolvimento regional, uma vez que grandes quantidades desses
produtos diminuem os custos de produção.
3.2. A FRUTICULTURA NA AMAZÔNIA
Durante décadas a dinâmica econômica do Brasil foi referenciada, essencialmente,
pela sucessão de ciclos de exploração e comercialização de produtos primários com baixo ou
nenhum nível de processamento. Este cenário se modificou lentamente e especialmente na
década de 80, a agroindústria se destaca como um dos segmentos de grande importância na
economia brasileira estimulando mudanças significativas nos vários elos das cadeias
produtivas agrícolas como forma de valorizar a produção do setor primário e tornar
expressivo o agronegócio brasileiro.
29
A fruticultura, um dos segmentos do agronegócio brasileiro, vem ganhando projeção
nos mercados regionais, nacional e internacional em virtude de novas demandas de mercado
decorrentes dos novos hábitos de consumo da população. Entretanto, conforme enfatizado por
Barreto Filho (2000), a fruticultura brasileira precisa vencer algumas barreiras que
comprometem sua competitividade e retardam sua consolidação como atividade capaz de
atender às expectativas de tornar-se um instrumento de projeção do desenvolvimento regional.
Tal observação, feita por Homma (2001), e Homma e Frazão (2002), reflete também
a situação vivida pela fruticultura na Amazônia, que embora tenha passado por importantes
transformações na última década, com a ascensão das frutas nativas, até então de consumo
essencialmente regional, ainda carece de melhores processos de produção, principalmente no
que se refere à qualidade dos seus produtos e subprodutos, da consolidação da agroindústria,
de melhor organização de seus produtores e do fortalecimento de uma infra-estrutura que
possibilite melhores condições de competitividade.
São muitas as oportunidades para a produção de frutas na Amazônia, cujo consumo
crescente tem sido motivado principalmente pelo aumento da demanda mundial por
alimentos, a partir do crescimento populacional, do crescimento da renda per capta nos países
mais populosos do mundo, como a China e Índia, da crescente limitação de terras
agricultáveis no plano mundial e do aumento do consumo de frutas.
A região amazônica dispõe de terras desmatadas e degradadas, recursos hídricos para
irrigação, climas e solos adequados e, apesar disso, importa grande quantidade de frutas
tropicais de outras regiões do país. Todos esses fatores propiciam o desenvolvimento da
fruticultura sustentável na Amazônia com perspectivas de desenvolvimento da cadeia
produtiva da fruticultura e fortalecimento dos respectivos elos como forma de
desenvolvimento da região e melhoria na qualidade de vida da população, em especial as que
são originárias da zona rural, cuja economia possui relação direta com o agronegócio.
3.3. A CULTURA DO CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.).
A região amazônica mantém um alto cultivo de cupuaçu, hoje considerado o fruto
mais popular da Amazônia, quando relacionada às outras culturas de frutas tropicais. Isso
30
ocorre dada a boa aceitação comercial do fruto, cuja polpa já é comercializada em larga escala
no mercado local com ramificações no mercado nacional e internacional.
A contínua expansão do comércio de polpa de cupuaçu tem gerado uma demanda
crescente pelo produto garantindo ao produtor a segurança de venda da produção agrícola
dessa espécie.
As condições de clima e solo das áreas escolhidas para a formação dos plantios de
cupuaçu são fundamentais para o sucesso do cultivo da fruta. A região de floresta tropical
úmida é propícia para o bom desenvolvimento da espécie que ocorre espontaneamente nas
matas de várzea alta e terra firme. O clima tropical chuvoso do Amazonas favorece as
plantações de cupuaçu. Segundo Cavalcante (1988), o cupuaçu é encontrado em todas as
regiões da bacia amazônica, inclusive em jardins ou em áreas de cultivos abandonados.
As informações de Diniz et al. (1984) indicam que o cupuaçuzeiro se desenvolve em
temperaturas relativamente elevadas, com média anual de 21,6°C a 27,5°C, umidade relativa
média anual de 77% a 88% e precipitações médias anuais na faixa de 1.900mm a 3.100mm.
Quando o cupuaçuzeiro é submetido a déficit hídrico apresenta paralisação do
crescimento, perda de folhas, secagem do broto terminal, maior susceptibilidade ao ataque de
pragas e doenças, podendo chegar à morte da planta conforme a intensidade do déficit (Müller
et al., 1995).
Informações condensadas dos trabalhos de Souza et al. (1999) revelam que períodos
secos prolongados são prejudiciais às plantas, causando queda de flores e frutos novos. É
comum o aparecimento de frutos com rachaduras quando ocorrem chuvas após um período de
estiagem prolongado. A floração ocorre no período mais seco do ano e a safra no período
chuvoso, que no Amazonas vai de outubro a junho com o pico da safra no mês de março.
Clay et al. (2000) mostra que o cupuaçu é abundante em sua distribuição natural e há
grande semelhança entre o cupuaçu Silvestre e o cultivado, diferindo somente em hábitos de
crescimento, característica esta que provavelmente seja em detrimento da resposta
31
ecofisiológica do ecossistema. As variedades conhecidas e exploradas comercialmente estão
agrupadas conforme o formato dos frutos indicados na tabela 1.
Tabela 1: Variedades de cupuaçu e características de formato, espessura da casca e peso do fruto.
Variedade Característica/
Formato
Espessura da casca
(mm)
Peso médio do fruto
(Kg)
Cupuaçu redondo Extremidades
arredondadas
6 a 7 1,5
Cupuaçu mamorana Extremidades
alongadas
6 a 7 2,0
Cupuaçu mamau
(sem semente)
Extremidades
arredondadas
6 a 7 3,0
Fonte: Calzavara et al. (1984), adaptada pela autora.
O cupuaçu redondo é a variedade mais cultivada na Amazônia. Quanto ao formato, o fruto
apresenta extremidades arredondadas, casca com 6 a 7 mm de espessura e peso médio de 1,5
Kg. A variedade mamorana possui extremidades alongadas, casca com espessura também
entre 6 e 7 mm e o fruto pesa em média 2,0 Kg. O cupuaçu mamau se distingue dos demais
por ser uma variedade que não apresenta semente, também conhecido como “cupuaçu sem
caroço” ou “cupuaçu-de-massa”; possui um formato e espessura da casca semelhante ao do
cupuaçu redondo e se destaca das demais variedades pela maior produção de polpa, cerca de
70%, enquanto que os com sementes tem rendimento médio de polpa em torno de 30% do
peso total do fruto. O peso do fruto do tipo mamau varia entre 2,5 Kg e 4,0 Kg ( Calzavara,
1987, Calzavara et al., 1984, Venturieri et al., 1993).
O cupuaçu tipo mamau, de uso pouco disseminado no estado do Amazonas,
apresenta dois aspectos desfavoráveis para o agricultor: compromete a reprodução da espécie
por propagação da semente e diminui a agregação de valor na cadeia produtiva, visto que a
manteiga de cupuaçu é um produto de larga aceitação comercial e bastante utilizado pela
indústria de cosméticos em todo o Brasil e no exterior.
Calzavara et al. (1984) analisaram a produtividade de frutos por plantas e
constataram uma produção média, sem fertilização, de 12 a 20 frutos por planta, após cinco
anos de crescimento, cada fruto pesando cerca de 1 kg. Com 234 plantas/ha (7 m x 7 m
32
espaçamento triangular), isso significa 2,8 a 4,7 t/ha/ano (1 - 1,8t de polpa, 0,45 – 0,8t de
semente). Venturieri et al. (1985) sugeriram que o manejo e fertilização adequados podem
aumentar a produtividade para um nível de 20 a 30 frutos/planta (4,7 – 7t/ha/ano de fruto, 1,8
– 2,6t de polpa, 0,8 a 1,2t de semente) após cinco anos, aumentando para 60 a 70 frutos 14 a
15,4t/ha/ano de fruto, 5,3 a 5,6 t de polpa, 2,4 a 2,6 t de semente) após sete anos.
Figura 1: Porcentagens médias dos componentes do cupuaçu (Souza et al., 1999) .
Souza et al. (1999), analisou o rendimento na cultura de cupuaçu para seis safras
consecutivas e verificou que a produção média nas três safras consideradas variou de 26 a 37
frutos por planta. O rendimento em polpa variou de 10,3 a 15,6 Kg/planta e a amêndoa fresca
variou de 3,7 a 7,0 Kg/planta.
3.3.1. TRATOS CULTURAIS NO CUPUAÇUZEIRO
Quando se pensa na formação de cultivos de cupuaçu o objeto de maior importância
deve ser a qualidade das mudas que irão compor o pomar. O processo germinativo da semente
de cupuaçu se inicia tão logo seja retirada a mucilagem que reveste a semente, sem que haja
Sementes 15%
Placenta 2,50%
Casca 45,20%
Polpa 37,30%
33
período de dormência. São sementes recalcitrantes1, não tolerando teor de umidade abaixo de
40% nem temperaturas abaixo de 15°C (SOUZA et al., 1999).
Os plantios de cupuaçu podem ser estabelecidos pela propagação por sementes ou
pela propagação vegetativa. Souza et al. (2007) recomendam que as sementes devem ser
retiradas de plantas selecionadas, vigorosas, sadias, produtivas, com frutos grandes, maduros,
sem manchas escuras na casca e bem formados, com escolhas pelas sementes médias e
grandes, rejeitando as pequenas, danificadas ou chochas.
O arranjo de distribuição de plantas na forma de triângulo eqüilátero de 7m x 7m
permite um ganho de 15% no número total de plantas, em relação à forma quadrangular de
7m x 7m, com um total de 235 e 204 plantas por hectare, respectivamente, conforme figura 2.
Figura 2: Distribuição das plantas de cupuaçu nos arranjos triângulo eqüilátero e quadrangular. Fonte: Souza et al. (1999).
A literatura indica que o espaçamento e a densidade de plantas por unidade de área,
depende da fertilidade do solo, da adubação e da forma de condução das plantas. Nazaré et al.
(1999) recomendam o espaçamento de 7m x 7m, com distribuição das mudas em desenho de
triângulo eqüilátero para facilitar a movimentação, a vistoria das plantas, os tratos culturais, a
poda da vassoura-de-bruxa, a colheita e transporte dos frutos. Este tipo de arranjo também
favorece o plantio de culturas intercalares temporárias com melhor aproveitamento da área.
1 Sementes recalcitrantes são aquelas que possuem alto teor de umidade, o qual, durante o armazenamento não pode ser reduzido abaixo de um nível crítico, geralmente alto. Mesmo quando a umidade é mantida a longevidade dessas sementes é relativamente curta, oscilando entre algumas semanas e alguns meses dependendo da espécie (NEVES, 1994).
34
Nos casos de plantios em consórcio com outras espécies perenes, o número de
plantas por hectare é alterado e necessita de modificações no espaçamento em conformidade
com as recomendações para a planta introduzida. Outro fator importante de se observar no
momento da formação dos cultivos é o período da safra de cada cultura, optando por culturas
com períodos de safra diferenciados para manter o equilíbrio econômico da propriedade e o
aproveitamento mais adequado da mão-de-obra disponível, geralmente, familiar.
Também é possível formar cultivos de cupuaçu nos sub-bosques, com
aproveitamento das capoeiras abandonadas, observadas as recomendações específicas para
este tipo de plantio, os tratos culturais, incidência de pragas e doenças, competição por luz,
água e nutrientes.
Na formação de SAFs na Amazônia várias espécies de importância socioeconômica
para a região, a exemplo do mamão, ingá, mandioca, coco, pupunha, açaí e outras espécies
nativas estão sendo consorciadas com o cupuaçuzeiro Nazaré et al. (1999) recomendam o
plantio de culturas intercalares nas entrelinhas do cupuaçuzeiro, respeitando a distância
mínima de 1,5 m entre a cultura introduzida e a muda de cupuaçu.
O plantio deve ser efetuado no período chuvoso. Nos casos em que o plantio é
realizado a sol aberto o uso de leguminosas é recomendado como meio de garantir a cobertura
do solo, proteger contra a erosão, diminuir a temperatura do solo, melhorar a fixação de
nitrogênio, aumentar o teor de matéria orgânica e reduzir a incidência de plantas invasoras no
cultivo.
Os tratos culturais são uma prática indispensável para a manutenção dos cultivos.
Neste sentido a poda é a prática que exige maiores cuidados visto que cada fruteira possui
hábitos específicos de frutificação, fazendo com que a resposta da poda varie entre cultivares
de uma mesma espécie. O êxito da poda exige conhecimentos que permeiam pela fisiologia e
a biologia da planta e que estes sejam relacionados com os objetivos e a finalidade da poda.
Souza et al. (1999) recomendam quatro tipos de podas a saber: poda de formação, poda de
manutenção, poda de limpeza e poda fitossanitária. A poda de formação está relacionada com
o processo de propagação da planta.
35
Em toda a região Norte do país, área de maior concentração de plantios do
cupuaçuzeiro, há registros da incidência de doenças e pragas nas plantações com interferência
direta na produtividade de frutos e consequentemente, de polpa e sementes. Embora existam
outros fatores que limitam a produtividade de frutos, tais como, genéticos, sazonais,
nutricionais, os agricultores que cultivam cupuaçu reconhecem a necessidade de manter um
controle rigoroso das doenças e pragas nas plantações como forma de evitar perdas
significativas dos plantios.
A falta de adoção de medidas de controle das doenças e pragas e a expansão dos
cultivos comerciais na Amazônia são fatores que contribuíram para o aumento da incidência
da doença que provoca uma redução significativa na produção de frutos podendo chegar a
90% (FERREIRA, 1989).
As doenças mais frequentes que atingem a cultura do cupuaçuzeiro são a Vassoura-
de-bruxa (Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), Morte progressiva
(Lasiodiplodia theobromae (Pa) Griff & Maubl.), Podridão vermelha (Ganoderma Philipii
(Bres. & P. Henn) Bras.), Mancha de Phomopsis (Phomopsis Sp), (Souza et al., 1999).
A vassoura-de-bruxa é a principal doença do cupuaçuzeiro e causa grandes danos
econômicos à produção. Ocorre tanto em mudas como em plantas adultas atacando os tecidos
meristemáticos em crescimento, as flores e os frutos do cupuaçuzeiro (VENTURIERI et al.,
1993). Afeta os pontos de crescimento da planta, ataca as folhas, ramos, flores e frutos,
provoca hipertrofia nos ramos, ou seja, crescimento anormal e irregular do diâmetro,
acompanhado de brotação intensa das gemas laterais apresentando formação irregular das
folhas nesta região.
As informações condensadas dos trabalhos de Souza et al. (1999; 2007) indicam que
as condições climáticas da Amazônia, que alternam dias chuvosos com dias ensolarados
favorecem a reprodução dos basidiocarpos, sendo este o momento crítico de disseminação da
doença entre as plantas de cupuaçu quando os fungos são transportados pelo vento.
A indicação mais eficaz para o controle da vassoura-de-bruxa é a poda fitossanitária,
que exige inspeções periódicas nos plantios para a retirada das vassouras verdes e secas e dos
36
frutos afetados pela doença. Estes resíduos devem ser queimados ou enterrados fora da área
do plantio.
A morte progressiva ocorre principalmente em frutos que sofreram ferimentos no
caule, sendo os sintomas pouco perceptíveis nos estágios iniciais da doença. (GONDIM et al.,
2001). Como controle recomenda-se a eliminação das partes afetadas e a pulverização com
fungicidas à base de cobre a 4% (VENTURIERI at al., 1993).
A podridão vermelha é uma doença de difícil constatação que ataca as raízes do
cupuaçuzeiro pela contaminação de fungos que vivem no solo e nos troncos em
decomposição. Lima e Souza (1998) recomendam o controle preventivo pela retirada dos
troncos de árvores das proximidades do local das covas e pela remoção das árvores mortas
pela doença que devem ser queimadas.
A população de insetos encontrados na cultura do cupuaçuzeiro é bastante numerosa,
mas poucas destas espécies são consideradas pragas. Entre a gama de insetos presente nas
plantações estão as espécies consideradas benéficas, como os predadores e os polinizadores.
As pragas que mais atacam a cultura do cupuaçu são a Broca-do-fruto do
cupuaçuzeiro, pertence ao gênero Conotrachelus sp (Coleóptera: Curculionidae), Lagarta
rendilhadeira de folhas, Macrosoma tipulata (Lepidoptera: Hedylidae), Broca do broto
(Coleóptera: Curculuionidae) e Formigas (Hymenoptera: Formicidae), (SOUZA et al.,
1999).
A Broca-do-fruto é a praga de maior ocorrência no cupuaçuzeiro das áreas de cultivo
da Amazônia e acarreta graves prejuízos econômicos aos plantios nos casos de ataque intenso.
Duarte Aguilar et al. (1999) registram que no ano de 1998, a infestação da praga nos plantios
de Manaus foi de 85% a 93,33% nas áreas onde a broca já esta estava presente, causando
perdas crescentes e comprometendo quase toda a produção de cupuaçu no Município.
A broca-do-fruto é um besouro com tamanho aproximado de 10 mm de
comprimento, coloração em castanho escuro. O ciclo de vida da broca-do-fruto inicia com a
ovoposição da fêmea no interior do fruto. As larvas eclodem e se deslocam até as sementes,
37
das quais se alimentam. Ao atingirem o crescimento máximo migram em direção à casca do
fruto, abrindo um orifício de saída e caem no solo penetrando até uma profundidade média de
5 cm a 10 cm para empupar. O adulto emerge, acasala e efetua a ovoposição no fruto
repetindo o ciclo.
Mendes et al. (1997) estudaram em laboratório, a biologia da praga criada em gaiola
e alimentada com folhas e frutos novos de cacau para observar o tempo médio de duração,
dada em dias, de cada fase do ciclo evolutivo do inseto, obtendo os valores médios dados na
tabela 2 abaixo:
Tabela 2: Fases do ciclo evolutivo e tempo médio de desenvolvimento da broca-do-fruto do cupuaçu.
Fases do ciclo evolutivo Tempo médio de duração
(em dia)
Local de ocorrência
Ovo 4,7 Interior do fruto
Larva 26,6 Interior do fruto
Pré-pupa 6,0 No solo
Pupa 9,6 No solo
Pré-adulto 4,6 No solo
Total do ciclo (dias/média) 51,5
Fonte: Mendes et al. (1997), adaptada pela autora.
As fases de ovo e larva somam, em média, 31,3 dias e ocorrem no interior do fruto.
As fases de pré-pupa, pupa, e pré-adulto somam 20,2 dias e ocorrem no solo. O trabalho
constatou ainda que as cópulas ocorrem no mesmo dia da emergência. As fêmeas possuem
longevidade de, aproximadamente, 105 dias e possuem um período de pré-ovoposição de 16
dias e depositam 108 ovos, em média, durante a vida reprodutiva. Os machos vivem 63,6 dias,
em média, e podem acasalar com mais de uma fêmea.
Garcia et al. (1985) orientam que para o controle da praga não é recomendável o uso
de agrotóxicos, uma vez que este processo já foi testado para o curculionídeo em plantações
de cacau e não apresentou efeito positivo. Também deve ser observado o elevado custo
38
tornando o processo economicamente inviável e com elevado impacto ambiental. O uso
indiscriminado de agrotóxicos pode acarretar problemas com os polinizadores, alertando para
o fato de que nenhuma técnica isolada de controle para esta praga encontra-se disponível.
A lagarta rendilhadeira de folhas, as formigas saúvas e quenquéns, e a broca do broto
também são pragas comuns nos cupuaçuzeiro (Souza et al., 1999). Outras doenças e pragas de
menor importância também ocorrem nos cultivos de cupuaçu, porém, sem causar grandes
danos econômicos.
A floração e frutificação do cupuaçuzeiro podem ocorrer simultaneamente entre os
meses de novembro e março. O período de floração, que coincide com o menor período de
chuvas, inicia-se em junho e pode se estender até março com pico entre novembro e janeiro.
A frutificação ocorre entre novembro e junho atingindo o máximo em fevereiro e março.
O amadurecimento dos frutos, que ocorre entre 120 e 135 dias após o início da
floração, coincide com o maior período de pluviosidade, porém a presença de fruto temporão
pode ocorrer em julho (VENTURIERI et al., 1993, MULLER et al., 1995; RIBEIRO, 1997;
ALVES et al., 1997, citados por GONDIM, et al. 2001).
Os frutos do cupuaçu atingem o ponto ótimo de colheita entre quatro e cinco meses
após o início da floração. Quando fisiologicamente maduros exalam um forte e agradável
cheiro que os identificam na plantação (GONDIM et al., 2001).
Quando maduro, o cupuaçu se desprende da planta e cai no solo devendo ser
coletado diariamente ou, se possível, mais de uma vez por dia. Um fator de grande
importância na qualidade dos frutos é o tempo transcorrido entre a queda, a coleta e o
beneficiamento. Quanto menos for esse tempo, menor também será a possibilidade de
contaminação, de exposição ao sol, à chuva, ao ataque de animais silvestres, de insetos e de
ocorrências de reações de degradação da polpa (SOUZA et al., 2007).
Estudos de Souza et al. (2007) revelam que após a queda, os frutos perdem peso
rapidamente, chegando a diminuir mais de 20% do seu peso após dez dias de queda em seu
39
ambiente natural. Se mantidas em condições não recomendadas as perdas podem ser muito
maiores.
3.3.2. DESPOLPAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO
O cupuaçu necessita de alguns cuidados que devem ser rigorosamente observados
como forma de garantir a melhor produtividade de polpa e o bom aproveitamento das
sementes, devendo aplicá-los desde a coleta dos frutos, até a distribuição para
comercialização, conforme figura 3.
Figura 3: Etapas dos cuidados necessários com o cupuaçu desde a coleta até a distribuição
Para a coleta dos frutos é recomendado utilizar recipientes que facilitem o transporte
e manejo dos frutos dentro dos plantios, podendo ser utilizados sacos ou caixas. Os sacos
facilitam a movimentação dos volumes coletados, porém, oferecem pouca proteção contra
impactos, podendo facilmente ocorrer quebra dos frutos expondo a polpa e as sementes ao
risco de contaminação e desperdícios por questões sanitárias. O manejo dos frutos dentro dos
plantios também pode ser feito em caixas, preferivelmente de plástico, pois são mais leves
que as de madeira e facilitam a higienização podendo ser laváveis. O acondicionamento dos
frutos nestes recipientes é mais recomendado e oferece maior segurança diminuindo os riscos
de quebra dos frutos.
O transporte dos frutos do local de coleta até o ponto de armazenagem deve ser feito
imediatamente após a coleta dos plantios para garantir a integridade e a qualidade dos frutos.
40
Durante o transporte e a armazenagem os frutos não devem ser amontoados em grandes
volumes para evitar o excesso de peso e garantir a ventilação entre os frutos. Se o transporte
for feito em caminhões os frutos não devem ser transportados soltos para evitar o choque
mecânico entre eles e a quebra dos mesmos expondo a polpa e a semente a contatos com
moscas e a contaminação por microorganismos.
Ao se preparar os frutos para beneficiamento, seja na agroindústria ou na propriedade
rural, com despolpamento em máquina ou artesanal, é necessário observar todas as
recomendações inerentes aos procedimentos, tais como: instalações, equipamentos e
utensílios adequados, agilidade no processo e higiene em todas as etapas do processo.
Mesmo na agroindústria a quebra dos frutos e a retirada da casca é uma operação
manual que permite a visualização da polpa e uma melhor detecção de problemas internos que
com o fruto inteiro não é possível percebê-los. Devem ser descartados os frutos com manchas
escuras na casca e polpa estragada, sementes apodrecidas e polpa fermentada.
Para a garantia da qualidade do produto final, todas as etapas do beneficiamento
devem ser realizadas na agroindústria, à temperatura e as condições adequadas exigidas pela
legislação. As cascas e sementes devem ser destinadas para os fins específicos, devendo ser
imediatamente removidas do ambiente onde é processada a polpa. A casca pode ser triturada e
levada para compostagem e adubação dos plantios e as sementes devem ser encaminhadas
para o processo de fermentação, secagem e armazenamento em local adequado.
É aconselhável que o acondicionamento seja feito em embalagens de primeiro uso,
não sendo recomendada a reutilização. Estas medidas são necessárias para evitar as trocas
entre o alimento e o ambiente, impedindo a perda de água e substâncias voláteis da polpa, a
contaminação por quaisquer substâncias ou microrganismos e a ação do oxigênio e facilitar o
manuseio sem comprometer a qualidade do produto. Todas as embalagens devem ser
rotuladas e atender a todas as exigências legais.
Após o acondicionamento, as polpas devem ser imediatamente congeladas como
forma de garantir a sua qualidade. A demora no congelamento e a contaminação da polpa
permitem a fermentação dos açúcares e a produção de gases (CO2) dentro da embalagem. O
41
congelamento mais apropriado é por meio de túnel de congelamento. Na ausência destes
pode-se utilizar câmaras ou freezers. Nos casos da utilização de freezers, as embalagens
devem ser para quantidades pequenas adequadas para o potencial de congelamento. Depois de
congeladas, as polpas devem ser mantidas à temperatura variando entre -18°C a -22°C,
observando a quantidade e o sistema de empilhamento para não comprometer a qualidade do
produto e a circulação de ar (SOUZA et al., 2007).
A polpa do cupuaçu deve ser mantida congelada até o momento do consumo. O
transporte deve ser realizado em veículo frigorífico. Uma vez congelada, a polpa não deve ser
descongelada e congelada novamente. Grande parte da produção de polpa é comercializada no
próprio Estado do Amazonas e nos demais estados da região Norte; contudo, a
comercialização de polpa de cupuaçu alcança o mercado nacional e internacional com boa
aceitação de consumo. A venda da semente, in natura ou processada, também é feita no
próprio Estado, onde é beneficiada para a extração da manteiga.
3.4. AS SEMENTES DO CUPUAÇU
As sementes do cupuaçu representam uma fração significativa do fruto e apresentam
alto valor nutritivo (VENTURIERI e AGUIAR, 1988). Apesar disso, grande quantidade de
sementes de cupuaçu consiste de resíduos, sendo descartadas durante o beneficiamento do
fruto, em especial quando este é realizado no âmbito da propriedade rural.
O mercado de processamento das sementes oferece muitas perspectivas para o seu
aproveitamento que, quando beneficiadas, resulta na manteiga e na torta, sendo a primeira
bastante utilizada pela indústria de cosméticos e a segunda, com escala de uso menor, pela
indústria alimentícia na fabricação de chocolates em barra e em pó e para a fabricação de
ração para peixes e animais. Estudos mais recentes indicam o uso de componentes da semente
do cupuaçu para restringir o avanço da cárie dental, o que pode aumentar o interesse pela
cultura. Esse resultado foi obtido em pesquisa no departamento de odontologia da
Universidade de Illinois, nos EUA, com a pesquisadora brasileira Mirela Sanae Shinohara,
que conclui após seis meses de estudo, que o extrato das sementes do cupuaçu possui
componentes antioxidantes com propriedades capaz de restringir o avanço da cárie
42
(http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/5116/ciencia-e-tecnologia/semente-de-cupuacu-possui-
componente-capaz-de-restringir-o-avanco-da-carie, acesso em 19/02/2011).
As sementes do cupuaçu apresentam-se em número de 35 a 50 por fruto e
correspondem a 15 a 21,1% do peso deste, estando distribuída em torno de um eixo central, a
placenta, disposta de forma longitudinal em relação ao comprimento do fruto. As sementes
encontram-se firmemente protegidas pela polpa, que é abundante, de fibras longas, coloração
amarelada ou esbranquiçada, sabor ácido e odor forte. Possuem forma circular achatada com
dimensões médias de 2,5 a 2,6 cm de diâmetro por 2,0 a 2,3 cm de largura e 0,9 a 1,1 cm de
espessura (BARBOSA et al., 1979; CHAAR, 1980; OLIVEIRA, 1981; SILVA e SILVA,
1986).
3.4.1. O PROCESSAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU
O processamento das sementes do cupuaçu pode ser compreendido em duas etapas:
1) Despolpamento das sementes, fermentação e secagem, 2) Torrefação, extração da manteiga
e da torta.
A primeira etapa, do processamento das sementes, pode ser realizada na propriedade
rural pelo próprio produtor. O processo exige o conhecimento da técnica de fermentação e
secagem das sementes, para tanto, é necessária a construção de recipientes onde será realizada
a fermentação e de secadores para a secagem das sementes. Dada as condições de clima do
Estado do Amazonas, esse secador pode ser solar, o que reduz os custos de produção
proporcionando maiores ganhos econômicos para o produtor (Figura 4).
43
Figura 4: Secador solar de sementes. Fonte: Cupuama (2011): (www.cupuama.com.br)
O comportamento da temperatura durante o processo fermentativo caracteriza-se por
uma rápida elevação, decréscimo e estabilização. As sementes descongeladas ou frescas
iniciam a fermentação com 18° C e 29° C, respectivamente, e já no segundo dia, ambas
apresentam temperatura média de 40° C. Em seguida decrescem, atingindo 31° C no quarto
dia, estabilizando em seguida, à uma temperatura de 28° C a 29° C (ARAGÃO, 1992).
Segundo Aragão (1992), o processo de fermentação das sementes decorre de seis
(sementes descongeladas) ou sete dias (semente frescas) e provoca variações nas
características físicas e químicas das mesmas, alterando o peso, o tamanho, a cor, a umidade,
o pH e a acidez, gordura e compostos fenólicos. A concentração de fibras e os teores de
açúcar e proteína se mantêm quase constantes durante a fermentação. Ao término do processo
44
as sementes possuem teor médio de umidade 58,83% (sementes descongeladas) e 52,49%
(sementes frescas).
O processo de secagem consiste na exposição das sementes à temperaturas elevadas
para a diminuição dos teores de umidade mantidos após a fermentação. No caso da secagem
solar as sementes são colocadas ao sol por aproximadamente dez dias, quando alcançam a
umidade de 9,86% (sementes descongeladas) e 10,88% (sementes frescas) (ARAGÃO, 1992).
Ao término da secagem a semente está pronta para a torrefação que deve ser feita a
150° C, por 30 minutos. Neste processo acentua-se o “flavor” e a coloração marrom,
semelhando-se a do chocolate. Estas características mostram que as sementes do cupuaçu
constituem-se em matéria-prima para a obtenção do chocolate.
Segundo Aragão (1992), o valor nutricional das sementes fermentadas e tostadas foi
avaliada através de análises químicas e os resultados estão dispostos nas tabela 3 e 4.
Tabela 3: Composição mineral da semente (cotilédone) fermentado e tostado. Mineral Concentração (base seca) Nitrogênio (%) 1,69 Fósforo (%) 0,25 Potássio (%) 0,65 Cálcio (%) 0,54 Magnésio (%) 0,22 Enxofre (%) 0,16 Boro (ppm) 10,16 Cobre (ppm) 35,0 Manganês (ppm) 13,0 Zinco (ppm) 40 Ferro (ppm) 97,0 Fonte: Aragão (1992).
Os dados da tabela 3 mostram que a semente de cupuaçu pode ser considerada uma
boa fonte de minerais, e a tabela 4 com a composição química, confirma o alto valor
nutricional indicando que as sementes de cupuaçu beneficiadas se constituem em alternativa
viável para a alimentação humana, animal e de peixes, contudo, a maior aplicabilidade da
semente é a sua utilização pela indústria de cosméticos.
45
Tabela 4: Composição química do cotilédone fermentado e tostado. Constituintes Concentração (%)* Umidade 2,43 Gordura 56,42 Fibra 4,22 Cinza 2,18 Proteína (N x 6,25) 10,56 Carboidratos (por diferença) 24,19 Energia (kcal) 640,73 Fonte: Aragão (1992). *Concentração no produto com 2,43 % de umidade.
A manteiga de cupuaçu apresenta alto teor de lipídios (63,93 a 66,51%) e alto valor
calórico (677,35 a 691,17kcal/100g), com o teor de proteínas variando de 8,95 a 10,31%
(LUCCAS; KIECKBUSCH, 2006). Segundo esses autores, as formas cristalinas dessa
manteiga são muito semelhantes às encontradas na do cacau, permitindo a adição da manteiga
de cupuaçu nos produtos achocolatados de cacau para atender às exigências da ANVISA. A
forma V ou β foi a forma cristalina mais estável das duas gorduras. Essa semelhança nas
características polimórficas sugere que o uso do processo tradicional de temperagem para
chocolates com manteiga de cacau pura pode também ser usado em chocolates e compounds,
produzidos com substituição parcial ou total da manteiga de cacau pela gordura de cupuaçu,
respectivamente. Uma das poucas diferenças entre as duas manteigas se referem à temperatura
de fusão das formas de manteigas originárias das duas culturas. Devido a essas pequenas
diferenças, esses autores sugerem que na mistura das manteigas de cacau e cupuaçu, ajustes
na temperatura e no tempo de cristalização podem ser necessários durante a temperagem do
chocolate.
3.5. CADEIA PRODUTIVA
De acordo com Castro et al. (1998), a cadeia produtiva é o conjunto de componentes
interativos , incluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, indústrias
de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, além de
consumidores finais. Os sistemas produtivos se caracterizam como um subsistema da cadeia
produtiva reunindo um conjunto de fatores interativos que objetivam a produção. Dessa
forma, pode-se ampliar a definição de sistema produtivo como sendo um conjunto de
conhecimentos e tecnologias, aplicado a uma determinada população, em determinado
ambiente, de utilidade para o mercado consumidor, buscando atingir os objetivos desejados.
46
A figura 5 ilustra uma típica cadeia produtiva agrícola com seus principais
componentes e fluxos (CASTRO et al., 1995). Entre os componentes mais comuns estão os
indivíduos fornecedores de insumos, as propriedades agrícolas, com seus diversos sistemas
produtivos, agropecuários ou agroflorestais, as indústrias de processamento e/ou
transformação do produto, o comércio atacadista, o comércio varejista e os consumidores
finais que influenciam os demais componentes da cadeia. Estes componentes se relacionam
com o ambiente institucional, refletido nas leis e normas que regulam o setor e as instituições
e o ambiente organizacional, representado pelas instituições governamentais, financeiras.
Figura 5: Modelo geral de cadeia produtiva. Fonte: (Castro et al., 1995, adaptado de Zylbersztajn, 1994).
Neste contexto será analisado o sistema produtivo do cupuaçu, como forma de
compreender os fatores que influenciam e interferem na produção de frutos, polpa e sementes
de cupuaçu. As sementes do cupuaçu são beneficiadas na indústria de processamento, outro
componente da cadeia produtiva, resultando na manteiga de cupuaçu e na torta. O primeiro
subsidia a produção de cosméticos e o segundo atende o setor alimentício.
A figura 6 ilustra o processo produtivo do cupuaçu e apresenta as tecnologias que se
relacionam no sistema. Neste sentido vale destacar as tecnologias de pré-colheita, que se
constituem nas práticas culturais, quase sempre assistidas pelas técnicas de pesquisas em
melhoramento genético, como forma de melhorar a nutrição das plantas, controle de pragas e
doenças, a densidade para evitar a competição negativa e a disseminação de pragas e doenças.
48
Em outra instancia estão as tecnologias de pós colheita, compreendidas como
aquelas diretamente relacionadas à produção de frutos e seus subprodutos, quais sejam:
a polpa, a casca e as sementes. Por está análise busca-se compreender o gerenciamento
do processo produtivo do cupuaçu como forma de dinamizar as operações de produção,
processamento, armazenamento, distribuição e comercialização dos produtos e
subprodutos obtidos na cultura, objetivando maximizar a produção biológica e/ou
econômica, minimizar os custos, maximizar a eficiência das operações em consórcio
para a efetivação da comercialização, distribuição e beneficiamento, proporcionando a
sustentabilidade da cultura na região.
3.6. AS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS
De acordo com informações de Garcia et al. (2003), a indústria de cosméticos
surgiu a partir do desenvolvimento dos conhecimentos na área da bioquímica que
comporta a indústria química.
Apesar das controvérsias no tocante à classificação da indústria química e na
definição de seus segmentos, a Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM
acredita que o setor químico está melhor estruturado, fato decorrente do resultado de
esforços de organismos nacionais e internacionais conforme indicação da própria
ABIQUIM (2010), que descreve a trajetória desses organismos no objeto de diminuir ou
eliminar as divergências do setor como descrito a seguir:
Com o objetivo de eliminar essas divergências, a ONU, há alguns anos, aprovou nova classificação internacional para a indústria química, incluindo-a na revisão n° 3 da ISIC (International Standard Industry Classification) e recentemente na Revisão n° 4. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com o apoio da ABIQUIM, definiu, com base nos critérios aprovados pela ONU, uma nova Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e promoveu o enquadramento de todos os produtos químicos nessa classificação.
Durante o ano de 2006, o IBGE redefiniu toda a estrutura da CNAE,
adaptando-a à revisão n° 4 da ISIC. Após a conclusão dessa revisão, os segmentos que
compõem as atividades da indústria química passaram a ser contemplados nas divisões
20 e 21 da CNAE 2.0, válida a partir de janeiro de 2007”. Nesse contexto, a indústria
49
química foi dividida em dois grandes blocos: fabricação de produtos químicos orgânicos
e fabricação de produtos químicos inorgânicos.
Consta na seção de Indústrias de Transformação da CNAE 2.0 na divisão
20.63-1, o reconhecimento da atividade de fabricação de cosméticos, produtos de
perfumaria e de higiene pessoal.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, criada em
1.999 através da lei n° 9.782, é o órgão responsável pela regulamentação do setor. A
Resolução n° 79, de 28 de agosto de 2000, regula a produção e a comercialização de
cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumaria.
A Resolução da Diretora Colegiada – RDC 211, de 14 de julho de 2005, em
seu anexo I, trás a definição de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes
como sendo:
1. Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo, nas diversas partes do corpo humano, como pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado.
A RDC 211/05 classificou os produtos em dois grupos, denominados de grau 1
e grau 2. Os parâmetros utilizados para esta classificação foram embasados na
probabilidade de ocorrências de efeitos pelo uso, no constituinte da fórmula, finalidade
de uso, áreas do corpo a que se destinam e recomendações de uso, conforme o anexo II
da referida resolução, descritos a seguir:
1. Definição de produtos de Grau 1: são produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, cuja formulação cumpre com a definição adotada no item 1 do Anexo I desta resolução e que se caracterizam por possuírem propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições de uso, devido às características intrínsecas do produto, conforme mencionado na lista indicativa “LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 1” estabelecida no item “I” do anexo.
50
2. Definição de Produtos de Grau 2: são produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, cuja formulação cumpre com a definição adotada no item 1 do Anexo I desta Resolução e que possuem indicações específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso, conforme mencionados na lista indicativa “LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 2” estabelecidas no item II do anexo.
A lista de produtos de grau 1 da RDC 211/05, citada no parágrafo anterior,
agrega 52 produtos e a Lista de Produtos de Grau 2 é ainda maior com 63 produtos.
A Resolução trás ainda, em seu Anexo III, os requisitos técnicos específicos
para produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes.
No Brasil, a indústria de cosméticos é classificada como um segmento da
indústria química e representa 1/8 da produção da indústria química mundial
(IBGE/CNAE, 2009). A Sociedade Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,
Perfumaria e Cosméticos – ABIHPEC revela que, nos últimos doze anos a indústria de
HPPC teve um crescimento médio deflacionado muito superior ao da indústria em geral
e ao crescimento do Produto Interno Bruto – PIB, analisados no mesmo período.
O governo brasileiro e o governo do Estado do Amazonas, através dos
mecanismos de desenvolvimento regional, institutos de pesquisa e instituições de
ensino, e em esforço conjunto com as entidades que acompanham o setor de HPPC no
Brasil, tem incorporado nas políticas macro de desenvolvimento do país, das regiões e
do Estado, propostas de modelos que utilizem de forma sustentável os recursos da
biodiversidade. Nesta linha, o governo federal estruturou o Programa Brasileiro de
Biologia Molecular- PROBEM, para uso sustentável da biodiversidade da Amazônia. O
PROBEM tinha como meta principal a construção de um Centro de Biotecnologia. O
Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA foi implantado no Distrito Industrial da
Zona Franca de Manaus. Outra iniciativa foi a criação do curso de pós-graduação em
Biotecnologia e Recursos Naturais, da Universidade do Estado do Amazonas – UEA
(mestrado) e o de Biotecnologia multi-institucional (mestrado e doutorado) sediado na
Universidade Federal do Amazonas – UFAM, para a formação de recursos humanos na
área de biotecnologia e conservação de recursos naturais. Na esfera Estadual, a
Secretaria de Planejamento do Estado do Amazonas – SEPLAN, juntamente com a
51
SUFRAMA criaram o Distrito Industrial de Médias e Pequenas Empresas – DIMPE,
com espaço reservado para o desenvolvimento da indústria de HPPC.
Estas ações permitiram conhecer melhor a biodiversidade brasileira para
proteger com segurança esse patrimônio e gerar riquezas pela agregação de valor aos
produtos comercializados ou industrializados a partir de recursos naturais, promovendo
o desenvolvimento local, regional e nacional e possibilitando uma estimativa de valor
econômico da biodiversidade brasileira.
O Fórum de Competitividade do Ministério de Desenvolvimento da Indústria e
do Comércio Exterior – MIDIC, criou um Grupo de Trabalho – GT, para apoiar o
desenvolvimento do setor de HPPC. Entre as diretrizes do GT está a de consolidar o
produto brasileiro como solução ambiental sustentável e o desenvolvimento do setor (de
HPPC) na Zona Franca de Manaus.
A Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, órgão
responsável pela administração da Zona Franca de Manaus – ZFM, no empenho de
construir um modelo de desenvolvimento regional que utilize de forma sustentável os
recursos naturais da região criou o Pólo de Cosméticos de Manaus, através do Decreto
783, de 25 de março de 1993. A portaria Interministerial - PI n° 842 de 31 de dezembro
de 2007 estabeleceu as participações em valor agregado local e quantidades mínimas de
utilização de insumos regionais a serem utilizados em produtos de HPPC.
Tomadas estas iniciativas, a expectativa era de que novos projetos industriais
para o segmento de HPPC dessem entrada para aprovação na SUFRAMA, visto que,
ajuntado à regulamentação legal do PPB, estava a disponibilidade de recursos naturais
em abundância na biodiversidade amazônica para desenvolvimento do setor.
Passados dezesseis anos de vigência do Decreto 783/93, o Pólo de Cosméticos
de Manaus ainda não atingiu a magnitude de produção que pudesse satisfazer as
expectativas iniciais de sua implantação, que era de desenvolver a indústria de HPPC na
região. Com isso, essa indústria poderia aproveitar, de forma sustentável, o potencial da
biodiversidade amazônica, tornando o Pólo competitivo em relação às demais regiões
do país, com uma participação expressiva na instalação de novas indústrias e fabricação
52
de produtos que conquistassem a preferência do consumidor no cenário nacional e
internacional.
Segundo Nogueira (2006), o PIM é composto de 27 sub-setores industriais,
quais sejam: bebidas alcoólicas; bebidas não alcoólicas; borracha; brinquedos;
comunicação; copiadoras e similares; couro; peles e assemelhados; descartáveis; duas
rodas; editorial e gráfico; elétrico; eletrônico; madeireiro; mecânico; metalúrgico;
materiais não metálicos; mobiliário; ótico; papel; papelão e celulose; plásticos; produtos
alimentícios; produtos têxteis; químico; relógios; transportes, exceto duas rodas;
vestuário, calçados, artigos de tecido e de viagem e diversos.
A utilização de recursos tecnológicos permite a rápida modernização de toda a
cadeia produtiva de um determinado segmento, favorecendo a otimização dos processos
produtivos e com isso, permitido que produtos personalizados cheguem cada vez mais
rápido ao consumidor final estimulando o consumo.
A indústria de cosméticos caracteriza-se, entre outros aspectos, pela constante
necessidade de inovações e gasta anualmente grandes somas de recursos em
lançamentos e promoções de novos produtos. Dentre os fatores relevantes para a
competitividade dessas empresas, destaca-se a importância dos ativos comerciais, como
marca, embalagens e canais de comercialização e distribuição. Outro fator relevante é a
capacidade de desenvolvimento de novos insumos, principalmente essências, princípios
ativos e novas substâncias que são incorporadas aos produtos (Garcia et al., 2003).
Desse modo, a inovação tecnológica se revela um importante fator competitivo
para a indústria de cosméticos, justificando a aplicabilidade elevada de recursos em
pesquisa e desenvolvimento. A ABIHPEC, entidade brasileira que acompanha o setor
de cosméticos no Brasil, revela que apesar dos baixos índices de crescimento do país, a
Indústria Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), teve um
crescimento médio deflacionado de 10,6%, no período de 1996 a 2008, o que demonstra
um crescimento bem significativo se considerarmos que a indústria em geral cresceu, no
mesmo período, 2,9% e o Produto Interno Bruto (PIB), teve crescimento total de 3,0%,
conforme tabela 5.
53
Tabela 5: Variação anual do PIB brasileiro, das indústrias em geral e do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.
VARIAÇÃO ANUAL – PORCENTAGEM
ANO PIB INDÚSTRIA GERAL SETOR DEFLACIONADO
1996 2,7 3,3 17,2
1997 3,3 4,7 13,9
1998 0,2 -1,5 10,2
1999 0,8 -2,2 2,8
2000 4,3 6,6 8,8
2001 1,3 1,6 10,0
2002 2,7 2,7 10,4
2003 1,1 0,1 5,0
2004 5,7 8,3 15,0
2005 2,9 3,1 13,5
2006 3,7 2,8 15,0
2007 5,7 4,9 9,7
2008 5,1 4,3 7,1
Acumulado (últimos 13 anos) 47,3 45,7 270,0
Média (últimos 13 anos) 3,0 2,9 10,6
Fonte: ABIHPEC/IBGE (2009).
Os dados da ABIHPEC também revelam que o país manteve, a partir de 2002,
um superávit crescente na Balança Comercial para o segmento de HPPC, mesmo
quando o contexto globalizado da economia provocou sucessivas desvalorizações do
Real, principalmente em razão da crise econômica da Argentina em 2001, com um
superávit de US$ 2,7 bilhões. Em 2006 atingiu US$ 46,5 bilhões. Em 2008 o superávit
foi de US$ 24,8 bilhões de dólares, ainda bastante favorável se comparado aos outros
segmentos de produção e, considerada a crise econômica que se abateu sobre o mercado
global em 2008 e 2009.
54
A tabela 6 trás informações da Balança Comercial de 1998 a 2008.
Tabela 6: Balança comercial do mercado brasileiro para o segmento de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.
BALANÇA COMERCIAL MERCADO TOTAL (US$ bilhões)
ANO IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO SALDO
1998 57,8 51,1 -6,6
1999 49,3 48,0 -1,3
2000 55,9 55,1 -0,7
2001 55,6 58,3 2,7
2002 47,2 60,4 13,2
2003 48,3 73,2 24,9
2004 62,8 96,7 33,8
2005 73,6 118,5 44,9
2006 91,4 137,8 46,5
2007 120,6 160,6 40,0
2008 173,2 197,9 24,8
Fonte: ABIHPEC/SECEX (2009).
De acordo com informações do Departamento de Pesquisas e Estudos
Econômicos – DEPEC (2009) do Bradesco, o aquecimento do setor de higiene pessoal,
perfumaria e cosméticos justifica-se principalmente pela “crescente participação da
mulher no mercado de trabalho; pelo lançamento constante de produtos; aumento da
expectativa de vida; pela maior segmentação – com a criação de produtos voltados para
o público masculino, afro-descendentes, adolescentes, infantil e maior consumo nas
regiões Norte e Nordeste do país”.
Segundo a ABIHPEC (2009), a indústria brasileira de HPPC apresentou um
crescimento significativo no período de 2004 a 2008, tendo passado de um faturamento
de R$ 13.490.600,00 em 2004 para R$ 21.654.800,00 em 2008, apresentando um
crescimento médio para o período de 13,5%, conforme a figura 7.
55
Figura 7: Crescimento das indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no Brasil entre 2004 e 2008 (ABIHPEC, 2009).
O panorama do perfil empresarial 2009 do setor de higiene pessoal, perfumaria
e cosméticos, contabilizou a existência de 1.755 empresas atuando no mercado de
produtos de HPPC. Desse total, 14 empresas são de grande porte, com faturamento
líquido de impostos acima dos R$ 100 milhões, representando 73,4% do faturamento
total do segmento. As 1.755 empresas brasileiras de HPPC estão distribuídas no
território brasileiro da seguinte forma: região Norte, 26 empresas, região Centro-Oeste,
124, região Nordeste 151, região Sudeste 1.117, região Sul, 337 (ABIHPEC, 2009).
Os dados do perfil empresarial da ABIHPEC são de acordo com as
informações da ANVISA para as empresas que possuem registro e têm autorização para
funcionar. Supõe-se que boa parte da matéria prima de rotulação “produto amazônico”
usada pelas empresas brasileiras sediadas em outras regiões venha da Região Norte,
gerando mais desenvolvimento e empregos fora da Amazônia. Assim, consolidar a
Indústria de Cosméticos em Manaus pode contribuir, mesmo que parcialmente, para
reverter esse processo de exportação da matéria prima ainda no estado bruto e por isso,
com baixo retorno à população do Norte brasileiro.
56
Ainda com base em dados da ABIHPEC (2009), das 26 empresas distribuídas
na região Norte, nove estão instaladas no Estado do Amazonas e possuem autorização
da ANVISA para operar, conforme tabela 7.
Tabela 7: Empresas do Estado do Amazonas com autorização da ANVISA para funcionamento. Autorização Nome CNPJ Cidade UF
2035767 Amazon Cosméticos Ltda 03.657.734/0001-36 MANAUS AM
2035386 S/A Pharmacos e Cosméticos Ltda 04.302.688/0001-15 MANAUS AM
2020013 Amazon Ervas Laboratório Botânico Ltda 05.501.937/0001-64 MANAUS AM
2025038 Pronatus do Amazonas Ind. e Com. de Prod. Farm.Cosm. Ltda
14.186.324/0001-70 MANAUS AM
2013521 Essencial Arte em Perfumaria Ltda 15.768.500/0001-45 MANAUS AM
2011819 Amazon Biocosméticos Ltda 23.002.512/0001-92 MANAUS AM
127200 Segredos Vegetais Laboratórios Botânicos Ltda
34.564.021/0001-51 MANAUS AM
2017691 Amazon Fórmula Ind. Com. Ltda 34.581.785/0001-55 MANAUS AM
2017154 Procter & Gamble do Brasil S/A 59.476.770/0001-58 MANAUS AM
Fonte: ABIHPEC (2009).
Além dessas, outras dez empresas submeteram propostas na Superintendência
da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA para licença de atuação no Pólo Industrial de
Manaus (tabela 8).
Tabela 8: Empresas do Estado do Amazonas, setor químico/cosméticos, com projetos apresentados à SUFRAMA.
Empresa Insc. SUFRAMA Situação
Amazon Ervas - Laboratório Botânico 20.0778.01-1 Produzindo
S/A.Pharmacos e Cosméticos Ltda -- --
Amazombio Indústria e Comércio Ltda -- --
Amazongreen Indústria e Comércio de Cosméticos e Perfumaria da Amazônia Ltda
-- Produzindo
Amazon Cosméticos Ltda 20.1003.01-5 Produzindo
Essencial Arte em Perfumaria Ltda -- --
Pronatus do Amazonas Indústria e Comércio de Produtos Farmaco-Cosméticos Ltda
20.1099.01-2 Produzindo
Amazon Biotechnology Indústria Farmac. Ltda -- --
Magma Industrial Ltda 20.0892.01-0 Produzindo
Anavilhanas Indústria e Comércio de Cosméticos Ltda -- --
Fonte: SUFRAMA (2009).
57
4. MATERIAL E MÉTODO
4.1. ÁREA DE ESTUDO
A área de abrangência desta pesquisa se restringe ao Estado do Amazonas,
maior Estado brasileiro, com área geográfica correspondente a 1.570.745,680 km2,
distribuídos em 62 municípios, com população de 3.393.369 habitantes (IBGE, 2010).
O Estado do Amazonas situa-se ao centro da região Norte do Brasil, na sub-
região amazônica, caracterizada por grande diversidade do meio natural: clima,
geomorfologia, solos, hidrografia e vegetação. Limita-se ao Norte com o estado de
Roraima, e duas fronteiras internacionais, Venezuela e Colômbia; a Leste com o estado
do Pará; a Sudeste com o Mato Grosso; ao Sul com o Estado de Rondônia e a Sudoeste
com o estado do Acre agregando mais uma fronteira internacional com o Peru. Abriga a
maior floresta equatorial do planeta. Geograficamente, apresenta Latitude ao extremo
Norte de 2°08’30’’ e ao extremo Sul, de 9°49’00’’; Longitude, ao extremo Leste de
56°04’50’’ e ao extremo Oeste de 73°48’46 (INPA, 2010).
4.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A pesquisa que fundamentou este trabalho foi desenvolvida em cinco
Municípios do estado do Amazonas, quais sejam: Manaus, Careiro, Itacoatiara,
Presidente Figueiredo e Manacapuru.
O Município de Manaus é capital do Estado, onde estão instaladas as principais
indústrias da Zona Franca de Manaus, entre elas as indústrias de higiene pessoal,
perfumaria e cosméticos, que serão também objeto de estudo desta pesquisa.
No Município do Careiro está instalada a principal indústria de beneficiamento
da semente de cupuaçu para extração da manteiga e do óleo, matéria-prima do cupuaçu
com uso em larga escala pelas indústrias de cosméticos.
58
Nos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru estão
alocadas as propriedades rurais produtoras de cupuaçu que subsidiaram esta pesquisa na
coleta de dados no âmbito da produção agrícola dessa cultura (Figura 8).
Figura 8: Área geográfica de realização da pesquisa.
4.1.1.1. ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS DOS MUNICÍPIOS
O Município de Manaus é a capital do Estado do Amazonas, possui área
territorial de 11.408 Km², está situado na 7ª Sub-Região do Estado, na Região do Rio
Negro - Solimões, fazendo limites com os Municípios de Rio Preto da Eva, Iranduba,
Novo Airão, e Presidente Figueiredo. O Município dispõe de transporte aéreo,
rodoviário e fluvial, com acesso via terrestre para os Estados de Rondônia – BR 319 e
Roraima – BR 174, podendo, por este Estado, se deslocar para os países latinos por via
terrestre. Pelo transporte aéreo pode se deslocar para qualquer parte do país ou do
exterior. Pelo Transporte Terrestre pode se deslocar para o Estado do Pará e Rondônia e
para todo o interior do Amazonas. O clima predominante é quente e úmido, com
temperatura média de 26,7° C (IDAM, 2010). O Município possui uma população de
1.802.525 habitantes, sendo 1.793.416 na zona urbana e 9.109 na zona rural (IBGE,
2010).
59
O Município do Careiro possui área territorial de 6.097 Km², está situado na 7ª
Sub-Região do Estado, na Região do Rio Negro - Solimões, fazendo limites com os
municípios de Autazes, Borba, Careiro da Várzea, Manaquiri, Iranduba, Manaus e
Itacoatiara. O acesso ao Município é por transporte rodoviário e fluvial, com acesso
para Manaus pela BR 319, sendo necessária a travessia dos Rios Negro - Solimões, na
altura do encontro das águas. Distante de Manaus 102 Km (em linha reta), pela via
terrestre. O clima predominante é tropical chuvoso e úmido, com temperatura média de
26° C (IDAM, 2010). O Município possui uma população de 32.631 habitantes, sendo
9.440 na zona urbana e 23.191 na zona rural (IBGE, 2010).
O Município de Itacoatiara possui área territorial de 8.910 Km², está situado na
8ª Sub-Região do Estado, na Região do Médio Amazonas, fazendo limites com os
municípios de Itapiranga, Silves, Urucurituba, Boa Vista do Ramos, Maués, Nova
Olinda do Norte, Autazes, Careiro, Manaus e Rio Preto da Eva. O acesso ao Município
é por transporte rodoviário e fluvial, com acesso para Manaus pela AM 010. Distante de
Manaus 175 Km (em linha reta) via terrestre e 201 Km via fluvial. O clima
predominante é tropical chuvoso e úmido, com temperatura média de 27° C (IDAM,
2010). O Município possui uma população de 86.840 habitantes, sendo 58.175 na zona
urbana e 28.665 na zona rural (IBGE, 2010).
O Município de Presidente Figueiredo possui área territorial de 25.421 Km²,
está situado na 8ª Sub-Região do Estado, na Região do Médio Amazonas, limitando-se
com os municípios de Urucará, São Sebastião do Uatumã, Itapiranga, Rio Preto da Eva,
Manaus, Novo Airão e o Estado de Roraima. O principal meio de transporte do
município é rodoviário, ligado à Manaus pela BR 174, distante 107 Km (em linha reta)
da capital. O clima predominante é tropical quente e úmido, com temperatura média de
32° C (IDAM, 2010). O Município possui uma população de 27.121 habitantes, sendo
12.999 na zona urbana e 14.122 na zona rural (IBGE, -2010).
O Município de Manacapuru possui área territorial de 7.335 Km², está situado
na 7ª Sub-Região do Estado, na Região do Rio Negro, limitando-se com os municípios
de Iranduba, Manaquiri, Beruri, Anamã, Caapiranga e Novo Airão. O transporte do
município é rodoviário e fluvial, ligado à Manaus pela AM 070, distante de Manaus 68
Km (em linha reta) pela via terrestre e 88 Km pela via fluvial. O clima predominante é
60
tropical chuvoso e úmido, com temperatura média de 26° C (IDAM, 2010). O
Município possui uma população de 85.144 habitantes, sendo 60.178 na zona urbana e
24.966 na zona rural (IBGE, 2010).
4.2. MÉTODOS
Esta pesquisa utilizou-se do método de estudo exploratório, buscando
identificar o potencial de uso do cupuaçu em escala industrial. Para tanto buscou
identificar os aspectos que interferem e influenciam no processo de aproveitamento dos
subprodutos do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) pela
indústria de cosméticos de Manaus.
O trabalho analisou três segmentos da cadeia de transformação do cupuaçu em
insumo para a indústria de cosméticos: as propriedades rurais produtoras de cupuaçu, as
indústrias de processamento dos subprodutos dessa cultura e as empresas de produto
final de cosméticos que utilizam matéria-prima do cupuaçu em seu processo fabril.
No âmbito agrícola, realizou-se um levantamento nas propriedades rurais para
verificar qual o nível de organização das propriedades para a cultura do cupuaçu, e o seu
potencial produtivo a fim de entender como os produtores de cupuaçu enxergam o
potencial de mercado para as sementes do cupuaçu.
O estudo também buscou verificar a presença ou não de contaminação dos
plantios de cupuaçu por pragas e/ou doenças nos três municípios estudados, e ainda a
existência ou inexistência do controle destas, bem como o nível de conhecimento por
parte dos produtores para evitar a sua proliferação.
As formas de comercialização dos produtos da cultura do cupuaçu foram
também observadas para identificar as categorias de compradores envolvidos na
comercialização desses produtos, se cooperativas, empresas ou intermediários; a forma
de comercialização, se no atacado ou varejo; o local de entrega dos produtos, se na
propriedade rural ou no empreendimento comercial e o preço médio de venda dos
subprodutos comercializados. Neste momento se buscava conhecer os fatores favoráveis
61
ou desfavoráveis dentro do processo de comercialização e quais os subprodutos
comercializados.
Este trabalho também diagnosticou o beneficiamento do cupuaçu nas
propriedades estudadas em cada município para identificar os casos em que o mesmo
está sendo realizado e qual o tipo de beneficiamento feito, se retirada da casca, da polpa,
da semente ou da placenta; bem como verificar a forma como esse processamento é
realizado, se artesanal ou mecanizado e ainda qual a forma de acondicionamento e
conservação do produto, se em freezers ou em camas frigoríficas.
Outro aspecto analisado foi a forma de comercialização da produção agrícola:
se em frutos in natura ou polpa de cupuaçu, a fim de compreender quais os
subprodutos comercializados e qual o destino dado às sementes, insumo básico para a
produção de manteiga. Nesta etapa, foi verificada qual a forma de extração da polpa, se
mecanizada ou manual. Pela observação deste processo foi possível perceber a
qualidade de obtenção das sementes que posteriormente passam por um processo de
fermentação e secagem antes da retirada da manteiga.
Foi ainda verificado como se dá o processo de comercialização dos
subprodutos para, a partir de então, compreender o caminho percorrido pelas sementes
até chegar às indústrias de processamento.
No levantamento prévio feito nas propriedades rurais dos Municípios
estudados, percebeu-se que os produtores não costumam manter dados gerais sobre as
culturas mantidas em sua propriedade. No caso do cupuaçu não sabiam informar a
quantidade de frutos, sementes e casca produzidos por safra, conhecendo somente a
quantidade de polpa (kg), que foi comercializada, bem como a área cultivada com a
cultura, espaçamento e às vezes, o número de cupuaçuzeiros em suas propriedades.
Para se obter dados sobre o percentual médio do fruto e dos subprodutos foi
elaborado questionários, (em anexo) com perguntas sobre a quantidade de polpa
comercializada por safra. Durante a aplicação dos questionários verificou-se que a polpa
era comercializada de duas formas: 1) havia produtores que despolpavam o cupuaçu, de
forma artesanal, e vendiam somente a polpa; 2) em outras propriedades o cupuaçu era
62
apenas descascado e a polpa vendida junto com a semente e a placenta para os
atravessadores, geralmente, indústrias de processamento de polpas, que faziam o
despolpamento.
Na primeira alternativa o peso da polpa era real em kilogramas. Nestes casos,
para encontrar a quantidade de semente, casca e placenta, respectivamente, foram
utilizadas as seguintes fórmulas de cálculo considerando-se os percentuais indicados por
Souza et al. (1999) mostrados na figura 1. Com base nos valores médios desses autores,
consideraram-se nos cálculos abaixo, os seguintes valores: SF (percentual de sementes
nos frutos) = 15; PF (percentual de polpa nos frutos) = 37,3; PlF (percentual de placenta
nos frutos) = 2,5; CF (percentual de casca nos frutos) = 45,2.
Cálculos para os casos em que é vendida somente a polpa:
1.a) Cálculo do peso de sementes (PS):
PS = PP x SF = PP x 15 ou PS = PP x 0,402 (PF+SF) 37,3
Onde PS é o peso das sementes, PP é o peso das polpas.
1.b) Cálculo do peso da casca (PC):
PC = PP x CF = PC x 45,2 ou PC = PP x 1,212 (PF+CF) 37,3
Onde PC é o peso das cascas, PP é o peso das polpas.
1.c) Cálculo do peso da placenta (PPl):
PPl = PP x PlF = PPx 2,5 ou PPl = PP x 0,067 (PF+PlF) 37,3
63
O peso da placenta é igual ao peso da polpa vendida, multiplicada pelo
percentual de placenta contido no fruto, dividido pelo percentual de polpa do fruto
podendo também ser multiplicado o peso da polpa por 0,067.
Onde PPl é o peso das placentas, PP é o peso das polpas.
2.) Cálculos representativos para os casos em que é vendida a polpa, sementes
e placenta juntos:
2.a) Cálculo do peso da polpa (PP):
PP = (P+S+Pl) x PF = (P+S+Pl) x 37,3 ou PP = (P+S+Pl) x 0,681 (PF+SF+PlF) 54,8
Onde PP é o peso das polpas, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes + placentas.
2b) Cálculo do peso da placenta (PPl):
PPl = (P+S+Pl) x PlF = (P+S+Pl) x 2,5 ou PPl = (P+S+Pl) x 0,0456 (PF+SF+PlF) 54,8
Onde PPl é o peso das placentas, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes + placentas.
2.c) Cálculo do peso das sementes (PS):
PS = (P+S+Pl) x SF = (P+S+Pl) x 15,0 ou PS = (P+S+Pl) x 0,274 (PF+SF+PlF) 54,8
Onde PS é o peso das sementes, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes +
placentas.
64
2.d) Cálculo do peso das cascas (PC):
PC = (P+S+Pl) x CF = (P+S+Pl) x 45,2 ou PC = (P+S+Pl) x 0,825 (PF+SF+PlF) 54,8
Onde PS é o peso das sementes, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes + placentas.
Desta forma foi possível obter os dados representados nas tabelas 8, 12 e 16,
sobre a produção de polpa de cupuaçu, produção de sementes e a quantidade de cascas e
placenta obtidas na safra de 2009-2010. Esses dados permitiram ainda conhecer a
quantidade de polpa e de sementes e casca produzida por árvore de cupuaçu, utilizando,
respectivamente, os seguintes cálculos.
PPA = PP; PSA = PS ; PCA = PC APF APF APF
Onde PPA, PSA, PCA e APF, são, respectivamente, produções de polpa por
árvore, produção de semente por árvore, produção de casca por árvore e árvores em fase
de produção de frutos, descritos nas tabelas 8, 12 e 16.
Na indústria de processamento foi verificada a demanda de sementes e o
processo de extração da manteiga de cupuaçu. No que se refere a aquisição de
amêndoas foi verificada a relação entre a quantidade demandada pela indústria de
processamento e aquela ofertada pelo fornecedor, bem como a condições de qualidade
das sementes que chegam na indústria para identificar possíveis beneficiamentos
realizados nestas antes de sua entrada como matéria-prima para o processamento. Outro
fator observado foi a assistência prestada aos fornecedores no sentido de qualificá-los
para o preparo das sementes, no aspecto da fermentação e secagem (etapa que pode ser
feita propriedade rural).
Os níveis de comercialização foram verificados para mensurar o potencial de
consumo da manteiga e do óleo de cupuaçu.
65
Nas indústrias de produto final foram verificados quais os produtos utilizam
matérias-primas oriundas do cupuaçu e qual a forma de aquisição destes insumos,
observando a satisfação na quantidade demandada e na oferta de mercado para atender a
necessidade da empresa. Os dados foram coletados pela aplicação de questionários,
entrevistas e visitas in loco à indústria para verificação das etapas envolvidas na cadeia
de transformação das sementes.
Nos que se refere aos insumos do cupuaçu na indústria de produto final de
cosméticos verificou-se três fatores, que são imprescindíveis para a produção industrial
em escala: a qualidade da matéria-prima, a quantidade ofertada e a regularidade no
fornecimento, como forma de identificar os fatores favoráveis e desfavoráveis no
processo produtivo de cosméticos a partir de insumos do cupuaçu. O procedimento
utilizado foi a aplicação de questionários e visita às fábricas de cosméticos do Pólo
Industrial de Manaus, especialmente aquelas alocadas no Distrito Industrial de Médias e
Pequenas Empresas – DIMPE e no Centro de Incubação e Desenvolvimento de
Empresas. – CIDE.
4.3. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Por meio do levantamento bibliográfico e de informações verbais na coleta de
dados primários nos três setores envolvidos na pesquisa: indústrias de produto final de
higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, indústrias de processamento das sementes
para extração de manteiga e produção de torta e as propriedades agrícolas produtoras de
cupuaçu, busca-se construir a cadeia de processamento do cupuaçu, analisando seu
potencial para atender as indústrias de cosméticos do Pólo Industrial de Manaus, com
foco nos subsídios básicos para a produção pautados na qualidade, quantidade e escala
no fornecimento de insumos conforme demanda do mercado.
Considerando as diversas classificações dos tipos de pesquisas específicas
citadas pelos especialistas da área, este trabalho pode ser classificado como sendo do
tipo exploratório, que de acordo com Mattar (1994) se caracteriza por proporcionar um
maior conhecimento sobre o tema em estudo, sendo indicada para os estádios iniciais da
investigação, quando não se tem conhecimento mais profundo do problema de pesquisa.
66
4.4. PESQUISA DE CAMPO
As pesquisas de campo foram realizadas nas propriedades rurais dos
municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, nas cooperativas
agrícolas destes municípios, nos casos em que havia, nas empresas de processamento de
polpa e indústrias de processamento das sementes de cupuaçu e em indústrias de
produtos final de cosméticos.
No Município de Itacoatiara a coleta de dados foi feita na Comunidade Sagrado
Coração de Jesus, Localizada na região do Novo Engenho, e na região do Novo
Remanso. No Município de Presidente Figueiredo a coleta abrangeu as Comunidades de
São Jorge e São Miguel, localizadas ao longo da rodovia AM 240. No Município de
Manacapuru os dados foram coletados na comunidade de Santa Luzia, repartimento do
Tuiuê/Aquidabam. No Careiro a coleta foi feita na indústria de processamento da
semente para extração de óleo e manteiga, a CUPUAMA. Em Manaus foram coletados
dados nas empresas fabricantes de cosméticos do Pólo Industrial de Manaus.
O instrumento utilizado para a obtenção desses dados foi a aplicação de
questionários (em anexo), destinados aos gestores e proprietários das empresas, às
cooperativas agrícolas e/ou associações dos municípios alvo da pesquisa e aos
responsáveis pelas propriedades agrícolas envolvidas no estudo.
Para a execução dos objetivos desta pesquisa foram adotadas três linhas
metodológicas. Inicialmente foram realizadas visitas técnicas em empresas fabricantes
de produtos acabados do segmento de cosméticos em Manaus para levantamentos de
dados primários com o propósito de identificar quais empresas fabricavam algum tipo
de produto utilizando o cupuaçu como matéria-prima. Neste momento ficou evidente
que algumas destas empresas compravam os insumos das indústrias de processamento,
que adquiriam os frutos de cupuaçu in natura, ou as sementes, quando então
processavam para obtenção dos subprodutos que se convertiam em matéria-prima para a
indústria de cosméticos.
Em seguida foram feitas visitas às empresas de beneficiamento da espécie para
a coleta de dados primários sobre o processamento da amêndoa para extração da
67
manteiga e as formas de comercialização, com o fim de identificar as potencialidades do
negócio e os pontos de estrangulamento neste momento da cadeia de processamento do
cupuaçu.
Numa terceira etapa, com base nas informações obtidas nas indústrias de
produto final e nas empresas de processamento das sementes do cupuaçu, em especial
pelo fato de que as informações obtidas nas indústrias de processamento apontavam
para uma produção de manteiga de cupuaçu inferior à demanda de mercado, sob a
alegação de que o fornecimento de sementes de cupuaçu de qualidade era insuficiente
para atender um mercado em ascensão, foi feito levantamento nas propriedades rurais
produtoras de cupuaçu, nos municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e
Manacapuru, todos pertencentes ao Estado do Amazonas.
Neste momento, o objetivo foi identificar junto ao agronegócio do cupuaçu,
qual o potencial de produção da espécie e quanto de semente está sendo produzido e
aproveitado dentro da cadeia de transformação do cupuaçu.
A escolha dos locais da coleta de dados primários sobre a produção de cupuaçu
e seus subprodutos se deu com base no fato de que os municípios de Itacoatiara,
Presidente Figueiredo e Manacapuru já são referenciados como grandes produtores de
cupuaçu, conforme indicação do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal
Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM (2010) (Tabela 9).
Tabela 9: Estimativa de produtores e área cultivada nos Municípios de coleta de dados. Local/Município N°
produtores % de
produtores Área
plantada (ha)
% da área
plantada
Produção de frutos
(mil)
% da produção de frutos
Itacoatiara 1.230 23,27 1.910 31,91 3.820 32,39 Presidente Figueiredo
300 5,68 1.000 16,71 2.000 16,96
Manacapuru 435 8,23 482 8,05 963 8,17 Total 1.965 37,18 3.392 56,67 6.783 57.51 Estado do Amazonas
5.285 100 5.986 100 11.794 100
Abrangência da pesquisa
60 1,14 320 5,35 417 3,54
Fonte: IDAM (2010), safra 2008. Adaptada pela autora.
68
Juntos os três municípios possuem 37,18% do total de produtores de cupuaçu
do Estado, com 56,67% da área plantada no Estado e 57,51% da produção de frutos.
Estes municípios estão entre aqueles com maiores áreas plantada com cupuaçu no
Estado e um estudo mais apurado pode indicar as razões que os levam Presidente
Figueiredo e Manacapuru terem produção de frutos muito abaixo da verificada no
município de Itacoatiara. A escolha das áreas também foi motivada pela razão dos três
Municípios estarem localizados em áreas próximas à capital do Estado, que é o maior
centro consumidor dos produtos agrícolas do Amazonas, além de todos possuírem
acesso rodoviário para Manaus, o que teoricamente, facilitaria o escoamento da
produção dando condições de melhor aproveitamento e comercialização dos
subprodutos da cultura.
A pesquisa envolveu 60 propriedades rurais, sendo 20 em cada município o
que corresponde a 3,05% dos produtores de cupuaçu e, 9,46% da área cultivada com
essa cultura nos três municípios (Tabela 9).
Para a consolidação das informações foram analisados os dados primários com
dados secundários obtidos nos órgãos de apoio técnico agrícola, como o Instituto de
Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas –
IDAM e Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas - SDS
para que se pudesse compreender a trajetória e evolução do processo em estudo.
A indústria de processamento de sementes para extração de manteiga foi
selecionada especialmente pela experiência no manejo de espécies da Amazônia e o
respeito às praticas sustentáveis em busca dos padrões de qualidade exigidos pelo
mercado de cosméticos e alimentos, seus principais clientes. A Cupuama Óleos
(www.cupuama.com.br), empresa de processamento das sementes, oferece treinamentos
aos produtores de cupuaçu para transferência da tecnologia de fermentação e secagem
das sementes. Para tanto, preparou um manual (desenvolvido pelos proprietários da
empresa em parceria com pesquisadores da EMBRAPA,UFAM, INPA, entre outros),
onde descreve as etapas do processo de fermentação e secagem das sementes e os
procedimentos necessários para a obtenção de sementes secas com a qualidade que
satisfaz a indústria de beneficiamento, para a obtenção da manteiga e torta.
69
As indústrias de produto final de cosméticos são os principais consumidores da
manteiga de cupuaçu, matéria-prima usada na formulação de hidratantes faciais e
corporais, cremes de massagem, formulação anti-envelhecimento, óleos de banho,
condicionadores e mascaras capilares, emulsões e bálsamos pós-barba, formulações pré
e pós sol, protetores solares, batons, sticks desodorantes, etc.
70
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. DIAGNÓSTICO DOS CULTIVOS DE CUPUAÇU
O diagnóstico dos cultivos do cupuaçu apresentará o resultado dos dados obtidos nos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, sobre a área cultivada com a espécie e a produção de frutos em cada Município. Será apresentada a estimativa de subprodutos obtidos na safra de 2009/2010, aspectos sobre a formação dos cultivos, a comercialização dos subprodutos e o aproveitamento das sementes do cupuaçu nas áreas de estudo.
5.1.1. MUNICÍPIO DE ITACOATIARA
Os dados descritos abaixo (tabela 10), se referem às vinte propriedades analisadas no Município de Itacoatiara. Todos os plantios analisados nesse município eram plantios contendo plantas adultas, com mais de três anos de formação, estando todas as árvores em fase de produção de frutos. Tabela 10: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Itacoatiara que produziram cupuaçu na safra de 2009-2010.
P AT (ha)
ACC (ha)
QAC /ha
APF/ prop.
PP (kg)
PS (kg)
PC (kg)
PPA (kg)
PSA (kg)
PCA (kg)
1* 160 25 625 15.625 6.810 2.740 8.250 0,44 0,18 0,53 2* 32 4 625 2.500 3.405 1.370 2.809 1,36 0,54 1,12 3* 80 14 625 6.250 6.810 2.740 8.250 1,09 0,44 1,32 4* 50 10 400 4.000 10.215 4.111 12.375 3,20 1,03 3,09 5* 100 1 625 625 477 192 578 0,76 0,31 0,92 6* 100 25 400 10.000 13.620 5.480 16.500 1,36 0,55 1,65 7* 80 13 400 5.200 5.448 2.192 6.600 1,05 0,42 1,27 8* 50 6 400 2.400 341 137 413 0,14 0,06 0,17 9* 56 3 400 1.200 681 274 825 0,57 0,23 0,69 10* 35 19 625 11.875 545 219 660 0,05 0,02 0,06 11* 15 1 625 625 681 274 825 1,09 0,44 1,33 12* 13 5 500 2.500 1.225 493 1.485 0,49 0,20 0,59 13* 4 4 625 2.187 1.022 411 1.238 0,47 0,19 0,57 14* 20 1 625 625 2.043 822 2.475 3,27 1,32 3,96 15* 28 2 625 937 1.226 493 1.485 1,31 0,53 1,58 16* 11 2 625 1.250 1.703 685 2.063 1,36 0,55 1,65 17* 17 2 400 800 1.022 411 1.238 1,28 0,51 1,55 18* 11 11 625 3.125 7.491 3.014 9.075 2,40 0,96 2,90 19* 32 5 400 2.000 5.108 2.055 6.188 2,55 1,03 3,09 20* 10 2 625 1.250 2.860 1.151 3.465 2,29 0,92 2,77
Totais 904 156 (10.800) (74.980) 72.740 29.260 86.800 (24) (10) (27,51) Médias 45,2 7,8 540 3.749 3.637 1.463 4.340 1,2 0,50 1,38 P= propriedade em estudo; AT = área total da propriedade; ACC = área cultivada com cupuaçu; QAC = quantidade de árvores de cupuaçu por ha, APF = árvores em fase de produção de frutos por propriedade, PP = produção de polpa; PS = produção de sementes; PC = produção de casca; PPA = produção de polpa por árvore; PSA = produção de sementes por árvore; PCA = produção de casca por árvore. *Propriedades que comercializam a polpa + sementes + placenta.
71
Elas somam uma área total de 904 ha, dos quais 156 são cultivados com
cupuaçu, com um total de 74.980 árvores produzindo frutos nas 20 propriedades. A
média de área total das propriedades, área cultivada com cupuaçu, distribuição de
árvores por hectare e árvores em fase de produção de frutos são, respectivamente, de
45,2 ha, 7,8 ha, 540 plantas e 3.749 árvores por propriedade.
A produção total dessas propriedades foi de 72.740 kg de polpa (média de
3.637 kg/propriedade), 29.260 kg de sementes (média de 1.463 kg/propriedade), 86.800
kg de cascas (média de 4.340 kg/propriedade) e, médias de produções de polpas,
sementes e cascas por árvore de 1,2 kg, 0,50 kg e 1,38 kg respectivamente.
Pelos dados da tabela 10, verifica-se uma grande variação entre as propriedades
dentro de todos os parâmetros analisados. As áreas totais de cada propriedade variaram
de 4 a 160 ha, das quais se observou um mínimo de 1 ha e máximo de 25 ha cultivados
com cupuaçu, indicando também, que os percentuais das propriedades contendo essa
cultura variaram de 1% (propriedade 5) a 100% (propriedades 13 e 18).
Quando da formação dos plantios não foram observadas as recomendações de
espaçamento e distribuição das plantas por hectare, visto que, em todas as propriedades
visitadas no Município foram detectados plantios com distribuição na forma de arranjo
quadrangular com espaçamento variando entre 4 m x 4 m e 5 m x 5 m e densidade de
625 e 400 plantas/ha, respectivamente, com a propriedade 20 sendo a única exceção,
contendo uma densidade de 500 plantas/ha. Com base nos espaçamentos entre plantas e
as áreas cultivadas, observou-se que o número total de plantas de cupuaçu variou de um
mínimo de 625 nas propriedades 5, 11 e 14, até um máximo de 15.625 plantas na
propriedade 1 (Tabela 10).
Souza et al. (1999) recomendam o espaçamento de 7m x 7m, com distribuição
das mudas em desenho de triângulo eqüilátero e densidade de 235 plantas por hectare. A
inobservância destas recomendações resultaram em plantios adensados, que
favoreceram a proliferação de pragas e doenças detectadas na maioria dos plantios
verificados, conforme será mostrado ainda nesse trabalho e dificultaram a aplicação dos
tratos culturais necessários á manutenção dos cultivos.
72
As produções totais de polpas, sementes e cascas nas 20 propriedades foram
respectivamente de 72.740 kg, 29.260 kg e 86.800 kg, com médias gerais de 3.637 kg
de polpa, 1.463 kg de sementes e 4.340 kg de cascas por propriedade. As produções de
polpa, sementes e cascas de cupuaçu variaram muito entre as propriedades,
principalmente em virtude das diferenças de áreas cultivadas e números de plantas.
De acordo com os estudos de Souza et al. (1999) sobre o percentual médio do
conteúdo do fruto do cupuaçu, mostrados na figura 1, e considerando os pesos das
placentas, esses valores são ligeiramente diferentes aos colocados no parágrafo anterior.
As propriedades estudadas nesta pesquisa produziram 72.226 kg de polpa de cupuaçu,
29.045 kg de sementes, 87.523 kg de cascas e 4.841 kg de placenta na safra de 2009.
Cada propriedade agrícola produziu em média 9.682 frutos, 3.611 kg de polpa, 1.452 kg
de sementes, 4.376 kg de cascas e 242 kg de placenta, conforme a tabela 10.
Quando analisados os dados obtidos, para as quantidades de polpas, sementes e
cascas produzidas por árvore de cupuaçu, os resultados foram os seguintes:
Cada árvore produziu, em média, 1,2 kg de polpa, 0,50 kg de sementes e 1,38
kg de cascas, valores esses, extremamente baixos. No entanto, esses dados levam em
conta apenas a produção comercializada pelos produtores, excluindo-se portanto, os
frutos sem valor comercial.
Ao se comparar as produções entre as propriedades, percebe-se que a
propriedade 8 foi a que menos produziu polpa, sementes e cascas, tendo 6 ha plantados
com cupuaçu, seguida pelas propriedades 5, com apenas 1 ha com essa cultura e, pelas
propriedades 10 com 19 ha cultivados e propriedade 11, também com 1 ha cultivado
com cupuaçu. As que mais produziram e comercializaram polpa, sementes e cascas
foram as propriedades 6 e 1 com 25 ha cultivados cada uma.
Percebem-se por esses dados, que as produções não estão apenas relacionadas
com as áreas cultivadas, havendo ainda o fator produtividade interferindo na quantidade
do produto final que sai das propriedades. Isso pode ser comprovado pela produtividade
por planta, que variou muito entre as propriedades, o que está exposto nos dados das
últimas três colunas da tabela 10.
73
Os pesos de polpas variaram de 0,05 kg/planta na propriedade 10, até 3,27
kg/planta na propriedade 14, enquanto que os de sementes variaram de 0,02 kg/planta
(prop. 10) até 1,32 kg/planta (prop. 14) e os de cascas, de 0,06 kg/planta (prop. 10), até
3,96 kg/planta (prop. 14). Percebe-se, portanto, que a propriedade 10 foi a que teve
menor produtividade e a 14, a maior, talvez um reflexo das diferenças de genética e
idade da cultura, fertilidade do solo e ocorrência de pragas e doenças, fatores que afetam
drasticamente a produtividade dessa cultura (MULLER e CARVALHO, 1997; LIMA e
SOUZA, 1998; SOUZA et al., 1999).
Essa suposição se baseia em dados de trabalhos, como o de Souza et al. (1999),
que ao analisarem o rendimento dessa cultura em seis safras consecutivas verificaram
que a produção média variou de 26 a 37 frutos por planta. O rendimento de polpa variou
de 10,3 a 15,6 kg/planta e o de amêndoas frescas, de 3,7 a 7,0 kg/planta.
Esses rendimentos estão bem acima dos observados no presente estudo (tabela
10), indicando cultivos sem as práticas culturais adequadas para uma produtividade
maior.
Pelas entrevistas do presente estudo, constatou-se que esses produtores nunca
adubaram suas culturas de cupuaçu e nem controlaram pragas, como a broca do fruto do
cupuaçuzeiro Conotrachelus sp (Coleoptera:Curculionidae) e a erva-de-passarinho
(Struthantus flexicaulis), como também, da vassoura-de-bruxa (Moniliophthora
perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), a doença mais disseminada nessa cultura.
A figura 9 mostra que as plantações de cupuaçuzeiros de todas as propriedades
rurais avaliadas no Município de Itacoatiara estavam contaminadas com vassoura-de-
bruxa. Além disso, as das propriedades 02, 10, 12, 13, 14, 15, 16 e 18 também
continham a broca dos frutos como praga e, as das propriedades 01, 03, 06, 17 e 19
também estavam atacadas pela erva-de-passarinho.
74
Erva-de-passarinho
Broca- fruto
Vassoura- de-bruxa
Figura 9: Propriedades rurais de Itacoatiara contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010.
A ocorrência de vassoura de bruxa em todas as propriedades estudadas, aliada
à presença da broca e da erva-de-passarinho e, o fato de nunca terem adubado suas
culturas, são as principais causas da baixa produtividade obtida pelos produtores rurais
analisados no presente estudo.
Os dados indicam o Município de Itacoatiara como o maior produtor de
cupuaçu do Estado do Amazonas, com 23,27% dos produtores do estado, 31,91% de
toda a área plantada e responsável por 32,39% da produção de frutos no ano de 2008
(Tabela 9).
As figuras 10 e 11 apresentam os resultados da investigação sobre o controle
de pragas e/ou doenças nos plantios em estudo, e o conhecimento por parte dos
produtores para evitar a proliferação destas.
04 05 07 08 09 11 20
02 10 12 13 14 15 16 18
01 03 06 17 19
75
Figura 10: Controle de pragas e doenças.
Figura 11: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios
A (Figura 10) indica que apenas 35% dos produtores realizam ou realizaram o controle de pragas e doenças nos plantios, sem contudo erradicá-las, uma vez que os dados apresentados anteriormente (Figura 9) mostraram a presença destas em todos os plantios analisados. Os demais 65% dos produtores não fazem nenhum tipo de controle, o que acelera o processo de contaminação. Nas vinte propriedades estudadas neste município, 45% disseram conhecer os procedimentos necessários para evitar a proliferação da vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e/ou erva-de-passarinho, enquanto que 55%, apesar de cultivar a cultura, desconhecem os procedimentos necessários para evitar a proliferação de pragas e/ou doenças do cupuaçuzeiro (figura 11).
Dos produtores entrevistados, 85% formaram seus cultivos através do plantio
de sementes direto no campo e 15% por meio de mudas (figura 12). As sementes foram produzidas pelo próprio produtor em 90% das propriedades e em 10% com aquisição de terceiros (figura 13).
Figura 12: Processo de formação dos cultivos.
Figura 13: Aquisição das sementes.
Realiza 35%
Não realiza 65%
Possui 45%
Não possui 55%
Produção de mudas
15%
Produção de
sementes 85%
Produção própria
90%
Aquisição de
terceiros 10%
Propriedades: 1, 8, 11, 12, 16, 18 e 19.
Propriedades: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 14, 15, 17 e 20
Propriedades: 1, 2, 8, 11, 12, 15, 18, 19 e 20.
Propriedades: 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 14, 16 e 17.
Propriedades: 1, 8 e 15.
Propriedades: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9,10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18 19 e 20.
Propriedades: 1,2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 20.
Propriedades: 10 e 19.
76
Deste universo, 40% deles não realizaram nenhum tipo de controle de
qualidade na escolha das sementes enquanto que 60% realizam algum tipo de controle
de qualidade (figura 14). Dos entrevistados, 65% se declararam conhecedores dos
procedimentos necessários para a formação de cultivos de qualidade, enquanto que 35%
afirmaram desconhecer os procedimentos necessários para a formação desses cultivos
(Figura 15).
Figura 14: Controle de qualidade das sementes. Figura 15: Conhecimento para formação de
cultivos de qualidade.
Os 60% que informaram ter realizado controle de qualidade nas sementes,
escolheram sementes dos melhores frutos colhidos das árvores mais saudáveis e
produtivas, o que está de acordo com as orientações de Souza et al. (2007).
A tabela 11 a seguir reúne os dados sobre a comercialização dos produtos no
município de Itacoatiara, nas 20 propriedades envolvidas na pesquisa. Todos os
produtores amostrados em Itacoatiara comercializaram sua produção da safra 2009/2010
na forma de polpa + sementes + placenta. Na realidade, eles entregaram os frutos
inteiros para a cooperativa ASCOPE na Vila do Engenho ou então, para algum
atravessador, retirando a casca do fruto nas propriedades e entregando a polpa com as
sementes para o comprador.
Realiza 60%
Não realiza 40%
Possui 65%
Não possui 35%
Propriedades: 1, 2, 4, 5, 9, 10,11, 12, 13, 14, 15 e 18.
Propriedades: 3, 6, 7, 8, 16, 17, 19 e 20.
Propriedades: 1, 2, 3, 4, 8, 7,10, 11, 12, 13, 14, 15, 18 e 20.
Propriedades: 5, 6, 7, 9, 16, 17, e 19.
77
Tabela 11: Dados da comercialização de cupuaçu em Itacoatiara, safra 2009-2010.
Pro
prie
dade
Categoria
compradores Comercia-
lização Local de entrega
Preço médio de venda (R$/kg)
Coo
pera
tiva
Em
pres
a
Inte
rmed
iári
o A
taca
do
Var
ejo
Pro
prie
dade
R
ural
Pro
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do
com
prad
or
Fru
to in
na
tura
Pol
pa
Pol
pa e
se
men
tes
01 x x -- x -- -- -- 2,00 02 x x -- x -- -- -- 1,00 03 x x -- x -- -- -- 1,00 04 x x -- x -- -- -- 1,20 05 x x -- x -- -- -- 1,20 06 x x -- x -- -- -- 1,20 07 x x -- x -- -- -- 1,00 08 x x -- x -- -- -- 1,00 09 x x -- x -- -- -- 1,00 10 x x -- x -- -- -- 1,30 11 x x -- x -- -- -- 1,20 12 x x -- x -- -- -- 1,20 13 x x -- x -- -- -- 1,20 14 x x -- x -- -- -- 1,20 15 x x -- x -- -- -- 1,30 16 x x -- x -- -- -- 1,40 17 x x -- x -- -- -- 1,30 18 x x -- x -- -- -- 1,50 19 x x -- x -- -- -- 1,00 20 x x -- x -- -- -- 1,20
A análise dos dados da comercialização dos produtos e subprodutos do
cupuaçu comprovou que 40% dos produtores rurais neste município comercializaram a
produção direto com os intermediários, ao preço médio que variou de R$ 1,00/kg
(propriedade 2, 3, 7, 8, 9 e 19) a R$ 2,00/kg (propriedade 1). Dos entrevistados, 10%
negociaram com empresas, geralmente do ramo alimentício, ao preço de
comercialização de R$ 1,20/kg (propriedades 4 e 6).
Do universo da pesquisa neste município, 50% comercializaram seus produtos
com a cooperativa agrícola existente no município. Nestes casos, foi repassada para a
cooperativa a produção de frutos in natura e a cooperativa fez o processamento para a
separação da casca, polpa, semente e placenta, pagando aos produtores um preço único
pelos subprodutos com preço médio variando entre R$ 1,20/kg (propriedade
5,11,12,13,14 e 15) e R$ 1,50/kg (propriedade 18), (Tabela 11). A variação de preço
78
pago pela cooperativa é devida ao período de início, meio e fim da safra. No início da
safra sempre é possível alcançar preços melhores que no pico.
Em todas as negociações de vendas feita neste município, o interesse do
comprador foi apenas pela polpa do fruto, porém, a despolpa não era feita pelo produtor
rural, que apenas retirava a casca do fruto e repassava o conteúdo interno, polpa,
sementes e placenta, para o comprador.
A forma de comercialização nas propriedades entrevistadas foi toda no
atacado, com 100% das retiradas do produto sendo efetuadas pelo comprador na
propriedade rural, ficando este com total responsabilidade pelo transporte da produção
(Tabela 11).
Os dados sobre o beneficiamento e acondicionamento dos produtos
comercializados nas propriedades analisadas em Itacoatiara (Tabela 12) mostraram que
50% das propriedades verificadas realizaram algum tipo de beneficiamento no produto.
Nestes casos, o único beneficiamento realizado foi a lavagem e quebra dos frutos para a
retirada da casca.
A polpa, sementes e placenta foram colocadas em sacos plásticos de 10 kg e
acondicionadas para conservação em freezers até o comprador aparecer. Este
procedimento pode comprometer a manutenção da qualidade do produto, em especial
pela perda das propriedades organolépticas do fruto, pois a polpa congelada em freezers
domésticos pode liberar uma grande quantidade de suco quando descongelada, pela
ruptura das células causadas por cristais de gelos formados a 0 °C. Os demais 50% não
realizaram nenhum tipo de beneficiamento, sendo estes realizados pela cooperativa para
a qual o produtor repassava a produção de frutos. Neste Município, dentre os
entrevistados, nenhum produtor possuía máquina despolpadeira, sendo todo o processo
realizado de forma artesanal com corte da polpa em tesouras.
79
Tabela 12: Dados do beneficiamento do cupuaçu nas propriedades de Itacoatiara, safra 2009-2010. P Tipo de
beneficiamento Processo de
retirada da polpa Processo de armazenamento
Retirada da casca
Retirada da polpa
Retirada das sementes
Artesanal Mecânico (*)
Fruto in natura
Polpa Polpa e sementes
01 X x Freezer 02 X -- Freezer 03 X -- Freezer 04 X -- Freezer 05 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 06 X x Freezer 07 X x Freezer 08 X x Freezer 09 X x Freezer 10 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 11 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 12 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 13 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 14 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 15 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 16 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 17 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 18 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 19 X x Freezer 20 X x Freezer (*) Processado e armazenado na cooperativa.
Quando os frutos eram repassados para a cooperativa, a despolpa era feita de
forma mecanizada. A forma de acondicionamento da produção para aqueles que
comercializavam com as cooperativas era somente colocar os frutos inteiro em sacas
contendo aproximadamente 15 a 20 frutos e pesando em média de 35 kg a 40 kg cada
saca. Estas eram armazenadas no local da colheita e a cooperativa se encarregava da
coleta e transporte para a agroindústria (Tabela 12).
Os dados sobre o aproveitamento da semente de cupuaçu mostraram que
somente 15% dos produtores conhecem a técnica de fermentação e secagem da semente
enquanto que 85% destes desconhecem este processo (Tabela 13). Dos 20 produtores
entrevistados em Itacoatiara, somente 14 conheciam os subprodutos obtidos a partir do
processamento das sementes. Destes, quatro sabiam que poderia se extrair a manteiga,
oito conheciam o cupulate e 2 sabiam da torta. Do total dos entrevistados, somente um
sabia quem eram os consumidores finais destes subprodutos, sendo os 19 restantes,
desconhecedores absolutos da destinação de uso da manteiga e da torta.
80
Tabela 13: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Itacoatiara, safra 2009-2010. P Técnica de secagem das
sementes Conhece os subprodutos das sementes do cupuaçu
Consumidores dos subprodutos
Conhece Desconhece Manteiga/óleo Cupulate Torta Conhece Desconhece 01 x x x 02 x x x 03 x x x 04 x -- -- -- x 05 x -- -- -- x 06 x -- -- -- x 07 x x x 08 x -- -- -- x 09 x x x 10 x x x 11 x x x 12 x x x 13 x x x 14 x -- -- -- x 15 x x x 16 x -- -- -- x 17 x x x 18 x x x 19 x x x 20 x x x
5.1.2. MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO
Os dados obtidos no município de Presidente Figueiredo indicam que 75% dos
plantios são compostos por plantas adultas, com mais de três anos de formação, com
todas as árvores em fase de produção de frutos. As únicas exceções foram encontradas
nas propriedades 3, 5, 6, 12 e 19, com 50%, 30%, 90%, 71% e 33% das plantas dos
produzindo frutos, respectivamente, onde parte das plantações apresentavam plantas
jovens, ainda sem produção. Elas somam uma área total de 2.012 ha, dos quais 111,5
são cultivados com cupuaçu, com um total de 27.850 árvores plantadas, das quais
25.500 estão produzindo frutos. A média de área total das propriedades, área cultivada
com cupuaçu, distribuição de árvores por hectare e árvores em fase de produção de
frutos são, respectivamente, de 100,6 ha, 5,5 ha, 234,4 plantas e 1.275 árvores por
propriedade. (Tabela 14),
81
Tabela 14: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Presidente Figueiredo que produziram cupuaçu na safra de 2009-2010.
P AT (ha)
ACC (ha)
QAC/ ha
APF/ Prop.
PP (kg)
PS (kg)
PC (kg)
PPA (kg)
PSA (kg)
PCA (kg)
1 78 20,0 175 3.500 3.000 1.206 3.636 0,86 0,40 1,04 2* 100 20,0 100 2.000 8.036 3.230 9.740 2,68 1,08 4,87 3 300 3,5 286 500 900 362 1.091 1,80 0,72 2,18 4 74 2,0 400 800 900 362 1.091 1,13 0,45 1,36 5 50 4,0 125 150 120 48 145 0,80 0,32 0,97
6* 55 6,0 500 2.700 5.652 2.272 6.850 2,09 0,84 2,54 7* 43 8,0 250 2.000 2.384 958 2.889 1,19 0,47 1,44 8 30 2,0 400 800 600 241 727 2,00 0,30 0,91 9 100 17,0 235 4.000 8.000 3.216 9.696 1,20 0,80 2,42
10 300 4,0 100 400 2.000 804 2.424 5,00 2,01 6,06 11 72 2,0 400 800 1.500 603 1.818 1,87 0,75 2,27 12 60 7,0 400 2.000 8.000 3.216 9.696 4,00 1,60 4,85 13 60 4,0 400 1.600 2.600 1.045 3.151 1,62 0,65 1,97 14 30 1,0 400 400 1.200 482 1.454 3,00 1,20 3,64 15 225 1,5 467 700 1.200 482 1.454 1,71 0,68 2,08 16 75 0,5 400 200 600 241 727 3,00 1,20 3,64 17 90 5,0 400 2.000 1.000 402 1.212 0,50 0,20 0,61 18 60 2,0 300 600 900 362 1.091 1,50 0,60 1,82 19 120 1,0 600 200 250 100 303 1,25 0,50 1,52 20 90 1,0 150 150 400 160 485 2,67 1,07 3,23
Totais 2.012 111,5 (6.488) (25.500) 49.242 19.792 59.680 (40) (16) (49,42) Médias 100,6 5,5 324,4 1.275 2.462 989 2.984 2,0 0,80 2,47 P= propriedade em estudo; AT = área total da propriedade; ACC = área cultivada com cupuaçu; QAC = quantidade de árvores de cupuaçu por ha, APF = árvores em fase de produção de frutos por propriedade, PP = produção de polpa; PS = produção de sementes; PC = produção de casca; PPA = produção de polpa por árvore; PSA = produção de sementes por árvore; PCA = produção de casca por árvore. *Propriedades que comercializam a polpa + sementes + placenta.
A produção total dessas propriedades foi de 49.242 kg de polpa (média de
2.462 kg/propriedade), 19.792 kg de sementes (média de 989 kg/propriedade), 59.680
kg de cascas (média de 2.984 kg/propriedade) e, médias de produções de polpas,
sementes e cascas por árvore de 2,00 kg, 0,80 kg e 2,47 kg respectivamente. A produção
total de frutos nas propriedades amostradas e a produção média por propriedade para a
safra de 2009-2010 foi de 132.014 e 6.601, respectivamente.
Os dados da tabela 14 mostram grandes variações entre as propriedades para
todos os parâmetros analisados. As áreas totais de cada propriedade variaram de 30 a
300 ha, nas quais observou-se um mínimo de 0,5 ha e máximo de 20 ha cultivados com
cupuaçu, indicando que os percentuais das propriedades contendo essa cultura variaram
de 0,67% (propriedades 15 e 16) a 26% (propriedade 1).
82
Os dados amostrados em Presidente Figueiredo comprovaram que quando da
formação dos plantios também não houve a observância correta das recomendações de
espaçamento e distribuição de plantas por hectare, visto que, nas propriedades visitadas
foram detectados plantios com distribuição na forma de arranjo quadrangular com
espaçamento variando entre 4 m x 4 m e 10 m x 10 m e densidade de 150 e 100
plantas/ha, respectivamente. Das propriedades analisadas neste município, apenas a
propriedade 9 apresentou densidade de plantas por hectare e distribuição das mudas em
acordo com as recomendações de Souza et al. (1999). Das propriedades restante as que
mais se aproximaram dessa recomendação foram as identificadas pelos números 3, 7 e
18, com densidades de plantas por ha um pouco acima, entre 250 e 300 plantas. Com
base nos espaçamentos entre plantas e as áreas cultivadas, observou-se que o número
total de plantas de cupuaçu variou de um mínimo de 150 nas propriedades 5 e 20, até
um máximo de 4.000 plantas na propriedade 9 (Tabela 14).
Dos 20 produtores amostrados em Presidente Figueiredo, apenas três
(propriedades 2, 6 e 7) comercializaram sua produção da safra 2009-2010 na forma de
polpa + sementes + placenta, visto que entregaram a produção de frutos inteiros para a
cooperativa CPU Uatumã, no Município de Presidente Figueiredo. Os demais
produtores comercializaram apenas a polpa, que era processada de forma artesanal na
propriedade rural e vendida no atacado, para intermediários.
As produções de polpa, sementes e cascas variaram muito entre as
propriedades, principalmente em virtude das diferenças de áreas cultivadas e números
de plantas. As produções totais de polpas, sementes e cascas nas 20 propriedades
analisadas neste município foram respectivamente de 49.242 kg, 19.792 kg e 59.680 kg,
com médias gerais de 2.462 kg de polpa, 989 kg de sementes e 2.984 kg de cascas por
propriedade.
Ao se comparar as produções entre as propriedades, percebe-se que a
propriedade 5 foi a que menos produziu polpa, sementes e cascas, tendo 4 ha plantados
com cupuaçu, seguida pelas propriedades 19 e 20, ambas com 1 ha cultivado com essa
cultura. As que mais produziram foram as propriedades 2, com 20 ha cultivados, a
propriedade 9, com 17 ha e a 12 com 7 ha plantados.
83
Na análise preliminar dos dados deste município, a exemplo do que se
percebeu na análise do município de Itacoatiara, ficou evidente que a produção dos
cultivos não está apenas relacionada com as áreas cultivadas, havendo ainda o fator
produtividade interferindo na quantidade do produto final que sai das propriedades. Isso
pode ser comprovado pela produtividade por planta, que variou muito entre as
propriedades e, é mostrada nas três últimas colunas da tabela 14.
Os pesos de polpas variaram de 0,50 kg/planta na propriedade 17, até 5,00
kg/planta na propriedade 10, enquanto que os de sementes variaram de 0,20 kg/planta
(propriedade 17) até 2,01 kg/planta (propriedade 10) e os de cascas, de 0,61 kg/planta
(propriedade 17), até 6,06 kg/planta (propriedade 10). Percebe-se, portanto, que a
propriedade 10 foi a com maior produtividade de polpa por planta e a 17, a com menor,
chegando a representar uma diferença percentual de 90% entre as propriedades de maior
e menor produção. Essas diferenças podem refletir a idade e genética da cultura, a
fertilidade do solo e/ou a ocorrência de pragas e doenças, fatores que afetam
drasticamente a produtividade dessa cultura (MULLER & CARVALHO, 1997; LIMA
& SOUZA, 1998; SOUZA et al., 1999).
Com base nos dados de outros autores, como os de Souza et al. (1999), o
rendimento dessa cultura em seis safras consecutivas variou de 26 a 37 frutos por
planta. O rendimento em polpa variou de 10,3 Kg/planta a 15,6 Kg/planta e a amêndoa
fresca, de 3,7 Kg/planta a 7,0 Kg/planta.
Esses rendimentos estão bem acima dos observados no presente estudo (tabela
14), indicando cultivos sem os tratos culturais adequados para uma produtividade média
satisfatória nas 20 propriedades estudadas.
Na verificação in loco no decorrer deste trabalho, constatou-se que os
produtores rurais nunca adubaram suas propriedades e nem controlaram pragas e/ou
doenças, como a broca-do-fruto (Conotrachelus sp (Coleoptera:Curculionidae), e erva-
de-passarinho (Struthantus flexicaulis), ou a vassoura-de-bruxa (Moniliophthora
perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), todas de incidência muito comum nesta
cultura.
84
A ocorrência de vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime
& Phillips-Mora) em todas as propriedades estudadas, aliada à presença de broca-do-
fruto do cupuaçuzeiro, Conotrachelus sp (Coleoptera: Curculionidae), e erva-de-
passarinho (Struthantus flexicaulis) e o fato das culturas não serem adubadas para
reposição de nutrientes no solo, são as principais causas da baixa produtividade
comprovada.
A figura 16 mostra que as plantações de cupuaçuzeiros de todas as
propriedades rurais analisadas em Presidente Figueiredo, do mesmo modo que as
pesquisadas em Itacoatiara, estavam contaminadas com vassoura-de-bruxa. Além disso,
as plantações 14 e 16 também foram atingidas pela praga da broca-do-fruto e a 03 e 12
também estavam atacadas pela erva-de-passarinho.
Figura 16: Propriedades rurais de Presidente Figueiredo contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010.
O maior problema enfrentado pelos produtores de cupuaçu no Município de
Presidente Figueiredo é a contaminação dos plantios pela doença da vassoura de bruxa
(Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora) com ocorrência em 100%
dos plantios visitados. A doença chega a comprometer grande parte da produção de
01 02 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 15 17 18 19 20
14 16
03 12
Erva-de-passarinho
Broca- do-fruto
Vassoura- de-bruxa
85
frutos causando sérios danos econômicos ao produtor. A broca-do-fruto do
cupuaçuzeiro, Conotrachelus sp (Coleoptera: Curculionidae), foi detectada em 20% dos
cultivos. A erva-de-passarinho (Struthantus flexicaulis) é outra praga que começa a se
disseminar nos plantios de cupuaçu, com incidência em 10% das propriedades
verificadas (Figura 16).
Os dados (figura 17) sobre o controle de pragas e doenças indicam que 60%
dos produtores realizam ou realizaram algum tipo de controle da praga e/ou doença nos
plantios, porém, esta prática se revela insuficiente para a erradicação das mesmas, uma
vez que os dados apresentados anteriormente (Figura16), mostram a presença destas em
todos os plantios analisados. Os demais produtores não fazem nenhum tipo de controle,
o que acelera o processo de contaminação. Nas vinte propriedades amostradas, 65%
disseram conhecer os procedimentos necessários para evitar a proliferação da vassoura-
de-bruxa, broca-do-fruto e/ou erva-de-passarinho e 35%, apesar de cultivar a cultura,
desconhecem os procedimentos necessários para evitar a proliferação de pragas e/ou
doenças do cupuaçuzeiro (Figura 18).
Figura 17: Controle de pragas e doenças. Figura 18: Conhecimento para evitar a
proliferação de pragas e doenças nos plantios.
Dos produtores entrevistados no Município de Presidente Figueiredo, 80%
fizeram plantio das sementes direto no campo e o restante fez mudas em viveiro e
depois as transplantaram para a área cultivada (Figura 19). Em 95% das propriedades as
mudas foram de produção própria e 5% adquiriu com terceiros (Figura 20).
Realiza 60%
Não realiza 40%
Possui 65%
Não possui 35%
Propriedades: 1, 2, 3, 4, 7, 8,10, 13, 14, 15, 16, e 18.
Propriedades: 5, 6, 9, 11, 12, 17, 19 e 20.
Propriedades: 1, 3, 5, 9, 11, 12 e 20.
Propriedades: 2, 4, 6, 7, 8, 10, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.
86
Deste universo, 45% não realizaram nenhum tipo de controle de qualidade das
mudas selecionadas.
Figura 19: Formação dos cultivos. Figura 20: Aquisição de sementes.
Os 55% que informaram ter realizado controle de qualidade nas sementes
(Figura 21), quando indagados sobre os tipos de controle aplicados, relataram apenas ter
selecionado as sementes dos melhores frutos, retirados de árvores mais saudáveis e
produtivas, o que está de acordo com as orientações de Souza et al. (2007). Do total de
entrevistados, 70% afirmaram conhecer os procedimentos necessários para a formação
de cultivos de qualidade e somente 30% desconheciam estes procedimentos (Figura 22).
Figura 21: Controle de qualidade das sementes. Figura 22: Conhecimento para formação de
cultivos de qualidade.
Produção de mudas
20%
Produção de
sementes 80%
Produção própria
95%
Aquisiçãode
terceiros5%
Realiza 55%
Não realiza 45%
Possui 70%
Não possui 30%
Propriedades: 1, 5, 8 e 17.
Propriedades: 2, 3, 4, 6, 7, 9, 10,11, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 19 e 20.
Propriedade: 8.
Propriedades: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9,10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20.
Propriedades: 1, 2, 3, 7, 8, 9, 11, 12, 14, 15 e 19.
Propriedades: 4, 5, 6, 10, 13, 16, 17, 18 e 20.
Propriedades: 1, 2, 3, 7, 8, 9,10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 18.
Propriedades: 4, 5, 6, 17, 19 e 20.
87
A tabela 15 reúne os dados sobre a comercialização dos produtos no município
de Presidente Figueiredo, nas 20 propriedades envolvidas na pesquisa.
Tabela 15: Dados da comercialização de cupuaçu em Presidente Figueiredo, safra 2009-2010.
Prop
ried
ade
Categoria de compradores
Forma de comercialização
Local de entrega
Preço médio de venda (R$/kg)
Coo
pera
tiva
E
mpr
esa
Inte
rmed
iári
o A
taca
do
Var
ejo
Pro
prie
dade
R
ural
Pro
prie
dade
do c
ompr
ador
Fru
to in
na
tura
Pol
pa
Pol
pa e
se
men
tes
01 x x x 5,00 02 x x x 3,00 03 x x x 4,50 04 x x x 4,00 05 x x x 5,00 06 x x x 3,00 07 x x x 3,00 08 x x x 5,00 09 x x x 2,50 10 x x x 3,00 11 x x x 5,00 12 x x x 4,50 13 x x x 3,00 14 x x x 4,00 15 x x x 4,00 16 x x x 2,50 17 x x x 3,50 18 x x x 3,00 19 x x x 4,00 20 x x x 3,00
A análise desses dados para os produtos e subprodutos do cupuaçu no
Município de Presidente Figueiredo comprovou que 65% dos produtores rurais
comercializaram a produção direto com os intermediários, sendo vendida apenas a
polpa, ao preço médio que variou de R$ 2,50/kg (propriedades 9 e 16) a R$ 5,00/kg
(propriedade 5). Cerca de 20% dos produtores negociaram com empresas, geralmente
do ramo alimentício, com interesse também somente pela polpa, chegando a atingir
preço médio de R$ 5,00/kg na comercialização (propriedades 8, 11, 12 e 19). Apenas
15% dos produtores comercializaram seus produtos com a cooperativa agrícola
existente no município. Nestes casos, a produção de frutos in natura foi repassada para
88
a cooperativa, que separou a casca, polpa, sementes e placenta, pagando aos produtores
um preço único pelos subprodutos ao preço médio de R$ 3,00/kg (propriedades 2, 6 e 7)
(Tabela 15).
A forma de comercialização, em 80% das vendas, foi feita no atacado e 20%
no varejo. Quando observados os locais de entrega dos produtos comercializados,
constatou-se que em 50% das negociações o comprador retirava o produto na
propriedade rural se responsabilizando pelo transporte da produção (Tabela 15).
Os dados sobre a o beneficiamento e acondicionamento dos produtos
comercializados nas propriedades mostraram que todas as propriedades verificadas
realizam algum tipo de beneficiamento no produto. Na maioria dos casos houve a
separação da polpa na propriedade rural para sua comercialização. As únicas exceções
foram das propriedades que comercializaram os frutos in natura para as cooperativas
(propriedades 2, 6 e 7), (Tabela 16).
Tabela 16: Beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Presidente Figueiredo, safra 2009-2010. P Tipo de
beneficiamento Processo de
retirada da polpa Processo de
acondicionamento Retirada
da casca Retirada da polpa
Retirada das sementes
Artesanal Máquina Fruto in natura
Polpa Polpa e sementes
1 x x x x Freezer 2 -- -- -- x* Sacas C.Frigor. 3 x x x x Freezer 4 x x x x Freezer 5 x x x x Freezer 6 -- -- -- -- x* Sacas C.Frigor. 7 -- -- -- -- x* Sacas C.Frigor. 8 x x x x Freezer 9 x x x x Freezer 10 x x x x Freezer 11 x x x x Freezer 12 x x x x C.Frigor. 13 x x x x Freezer 14 x x x x Freezer 15 x x x x Freezer 16 x x x x Freezer 17 x x x x Freezer 18 x x x x Freezer 19 x x x x Freezer 20 x x x x Freezer (*) Processado e armazenado na cooperativa.
89
Em 60% das propriedades, o processo de retirada da polpa foi feito de forma
artesanal, cortados em tesouras. Somente 25% dos produtores entrevistados possuíam
em suas propriedades máquina para despolpamento do fruto e 15% são despolpados na
cooperativa.
A forma de acondicionamento da produção para aqueles que comercializavam
com as cooperativas foi somente o de arrumar os frutos inteiros em sacas contendo
aproximadamente 15 a 20 frutos e pesando em média de 35 kg a 40 kg cada saca. Dos
17 produtores que processaram a retirada da polpa, somente um fez o acondicionamento
e congelamento em câmara frigorífica; os demais congelaram a polpa em freezers. Este
procedimento pode comprometer a manutenção da qualidade do produto, em especial
pela perda das propriedades organolépticas do fruto.
Os dados sobre o aproveitamento das sementes de cupuaçu mostraram que
somente 20% dos produtores conhecem a técnica de fermentação e secagem das
mesmas (Tabela 17).
Tabela 17: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Presidente Figueiredo, safra 2009-2010. P Técnica de secagem das
sementes Conhece os subprodutos das
sementes do cupuaçu Consumidores dos
subprodutos Conhece Desconhece Manteiga/óleo Cupulate Torta Conhece Desconhece
01 x -- -- -- x 02 x -- -- -- x 03 x -- -- -- x 04 x x x 05 x -- -- -- x 06 x -- -- -- x 07 x -- -- -- x 08 x -- -- -- x 09 x x x x 10 x x x x 11 x -- -- -- x 12 x -- -- -- x 13 x x x 14 x -- -- -- x 15 x -- -- -- x 16 x -- -- -- x 17 x -- -- -- x 18 x x x 19 x x x 20 x -- -- -- x
90
Dos 20 produtores entrevistados em Presidente Figueiredo, somente oito conheciam os
subprodutos obtidos a partir do processamento das sementes; destes, dois sabiam que
poderia se extrair a manteiga, cinco conheciam o cupulate e um sabia da torta. Do total
dos entrevistados, somente dois sabiam quem eram os compradores finais destes
subprodutos, sendo os 18 restantes desconhecedores absolutos da destinação de uso da
manteiga ou torta.
5.1.3. MUNICÍPIO DE MANACAPURU
Os dados descritos abaixo representados na tabela 18 se referem às vinte
propriedades analisadas no Município de Manacapuru. Elas somam uma área total de
173 ha, dos quais 53,5 são cultivados com cupuaçu com distribuição de 16.670 árvores
plantadas.
Tabela 18: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do município de Manacapuru que produziram cupuaçu na safra de 2009-2010.
P AT (ha)
ACC (ha)
QAC/ ha
APF/ Prop.
PP (kg)
PS (kg)
PC (kg)
PPA (kg)
PSA (kg)
PCA (kg)
1 11 02 225 150 1.000 402 1.212 6,67 2,68 8,08 2 08 02 225 200 2.119 852 2.568 11,00 4,00 12,84 3 05 02 225 450 1.000 402 1.212 2,22 0,89 2,69 4 15 04 300 1.200 4.000 1.608 4.848 3,33 1,34 4,04 5 12 02 400 800 2.000 804 2.424 2,50 1,01 3,03 6 05 01 200 200 2.000 804 2.424 4,02 4,02 12,12 7 10 03 400 1.200 2.000 804 2.424 1,67 0,67 2,02 8 10 03 400 1.200 1.600 643 1.939 1,33 0,54 1,62 9 06 02 230 460 800 322 970 1,74 0,70 2,11
10 05 04 375 1.500 1.200 482 1.454 0,80 0,32 0,97 11 12 3,5 240 840 2.000 804 1.650 2,38 0,40 1,96 12 10 05 480 2.400 2.800 1.126 3.394 1,17 0,47 1,41 13 10 04 325 1.300 3.500 1.407 4.242 2,92 1,08 3,26 14 08 02 240 480 800 322 582 1,67 0,67 1,21 15 10 01 280 280 200 80 242 0,71 0,29 0,86 16 12 04 240 960 2.200 884 2.666 2,29 0,92 2,78 17 10 04 340 1.360 3.000 1.206 3.636 2,21 0,89 2,67 18 06 01 240 240 1.060 426 1.285 4,42 1,78 5,35 19 3,5 02 225 450 220 88 267 0,49 0,20 0,59 20 4,5 02 225 450 1.200 482 1.454 2,67 1,07 3,23
Totais 173 53,5 (5.815) (16.120) 34.699 13.948 40.893 (56,21) (24) (72,84) Médias 8,65 2,68 291 806 1.735 697 2.045 2,81 1,20 3,64 P= propriedade em estudo; AT = área total da propriedade; ACC = área cultivada com cupuaçu; QAC = quantidade de árvores de cupuaçu por ha, APF = árvores em fase de produção de frutos por propriedade, PP = produção de polpa; PS = produção de sementes; PC = produção de casca; PPA = produção de polpa por árvore; PSA = produção de sementes por árvore; PCA = produção de casca por árvore.
91
Do total de plantios analisados nesse Município, 97% eram plantios com
plantas adultas, com mais de três anos de formação estando todas as árvores em fase de
produção de frutos. As únicas exceções foram detectadas nas propriedades 1 e 2, onde
33% e 11% dos plantios não estão em fase de produção de frutos, respectivamente.
Somente 3% dos plantios não produziam frutos, consistindo de plantas jovens.
A média de área total das propriedades, área cultivada com cupuaçu,
distribuição de árvores por hectare e árvores em fase de produção de frutos são,
respectivamente, de 8,65 ha, 2,68 ha, 291 plantas e 806 árvores por propriedade (Tabela
18).
A produção total dessas propriedades foi de 34.699 kg de polpa (média de
1.735 kg/propriedade), 13.948 kg de sementes (média de 697 kg/propriedade), 40.893
kg de cascas (média de 2.045 kg/propriedade) e, médias de produções de polpas,
sementes e cascas por árvore de 2,81 kg, 1,20 kg e 3,64 kg respectivamente. A produção
total de frutos nas propriedades amostradas e a produção média por propriedade para a
safra de 2009-2010 foram de 91.836 e 4.592, respectivamente.
Os dados da tabela 18 mostram grandes variações entre as propriedades para
todos os parâmetros analisados. As áreas totais de cada propriedade variaram de 3,5 ha a
12 ha, nas quais observou-se um mínimo de 1 ha e máximo de 5 ha cultivados com
cupuaçu, indicando que os percentuais das propriedades contendo essa cultura variaram
de 10% (propriedades 15) a 80% (propriedade10).
Os dados amostrados em Manacapuru comprovaram que quando da formação
dos plantios também não houve a observância correta das recomendações de
espaçamento e distribuição de plantas por hectare, visto que, nas propriedades visitadas
no Município foram detectados plantios com distribuição na forma de arranjo
quadrangular com espaçamento variando entre 4,4 m x 4,4 m e 11,5 m x 11,5 m e
densidade de 480 e 75 plantas/ha, respectivamente. Das propriedades analisadas, 45%
possuem espaçamento, e densidade por ha em acordo com as recomendações de Souza
et al. (1999). Com base nos espaçamentos entre plantas e as áreas cultivadas, observou-
se que o número total de plantas de cupuaçu variou de um mínimo de 150 na
propriedade 1, até um máximo de 2.400 plantas na propriedade 12.
92
A tabela 18 mostra que as produções de polpa, sementes e cascas de cupuaçu
variaram muito entre as propriedades, principalmente em virtude das diferenças de áreas
cultivadas e números de plantas. As produções totais de polpas, sementes e cascas nas
20 propriedades analisadas neste município foram respectivamente de 34.699 kg,
13.948 kg e 40.893 kg, com médias gerais de 1.735 kg de polpa 697 kg de sementes e
2.045 kg de cascas por propriedade.
Ao se comparar as produções entre as propriedades, percebe-se que a
propriedade 19 foi a que menos produziu polpa, sementes e cascas, tendo 2 ha plantados
com cupuaçu, seguida pelas propriedades 9 e 14, ambas com 2 ha cultivado com essa
cultura. As que mais produziram polpa, sementes e cascas foram as propriedades 4, com
4 ha cultivados, e a propriedade 12, com 5 ha.
Na análise preliminar dos dados deste município, a exemplo do que se
percebeu nos municípios de Itacoatiara e Presidente Figueiredo, ficou evidente que a
produção dos cultivos não está apenas relacionada com as áreas cultivadas, havendo
ainda o fator produtividade, interferindo na quantidade do produto final que sai das
propriedades. Isso pode ser comprovado pela produtividade por planta, que variou
muito entre as propriedades e, é mostrada nas três últimas colunas da tabela 18.
Os pesos de polpa variaram de 0,49 kg/planta na propriedade 19, até 11,00
kg/planta na propriedade 2, enquanto que os de sementes variaram de 0,20 kg/planta
(propriedade 19) até 4 kg/planta (propriedade 2) e os de cascas, de 0,59 kg/planta
(propriedade 19), até 12,84 kg/planta (propriedade 2). Percebe-se, portanto, que a
propriedade 2 foi a que obteve maior produtividade de polpa comercializada por planta
e a 19, a menor, chegando a representar uma diferença percentual de 95,5% entre as
propriedades de maior e menor produção. Essas diferenças podem refletir a variação da
idade e genética da cultura, a fertilidade do solo e/ou a ocorrência de pragas e doenças,
fatores que afetam drasticamente a produtividade dessa cultura (MULLER &
CARVALHO, 1997; LIMA & SOUZA, 1998; SOUZA et al., 1999).
Esses rendimentos estão bem abaixo dos observados por Souza et al. (1999),
indicando cultivos sem os tratos culturais adequados para uma produtividade média
satisfatória nas 20 propriedades estudadas.
93
Na verificação in loco no decorrer deste trabalho, constatou-se que os
produtores rurais nunca adubaram os cultivos de cupuaçu e nem controlaram pragas
e/ou doenças, como a broca-do-fruto (Conotrachelus sp (Coleoptera:Curculionidae), e
erva-de-passarinho (Struthantus flexicaulis), ou a vassoura-de-bruxa (Moniliophthora
perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), todas de incidência muito comum nesta
cultura.
A figura 23 mostra que as plantações de cupuaçuzeiros de todas as
propriedades rurais analisadas estavam contaminadas com vassoura-de-bruxa. Além
disso, as plantações das propriedades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17,
18, 19 e 20 também foram atingidas pela praga da broca-do-fruto e as propriedades 08 e
09, ale, da broca do fruto e vassoura de bruxa, também estavam atacadas pela erva-de-
passarinho.
passarinho
Figura 23: Propriedades rurais de Manacapuru contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010.
O maior problema enfrentado pelos produtores de cupuaçu no Município de
Manacapuru é a contaminação dos plantios pela doença da vassoura-de-bruxa
Propriedades: 10
Propriedades: 01 02 03 04 05 06 07 11 12 13 14 15 16
17 18 19 20
Propriedades: 08 09
Erva-de-passarinho
Broca- do-fruto
Vassoura- de-bruxa
94
(Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora) com ocorrência em 100%
dos plantios visitados.
A doença compromete grande parte da produção de frutos causando sérios
danos econômicos ao produtor. A broca-do-fruto do cupuaçuzeiro, Conotrachelus sp
(Coleoptera:Curculionidae), foi detectada em 95% dos cultivos. A erva-de-passarinho
(Struthantus flexicaulis) é outra praga que começa a se disseminar nos plantios de
cupuaçu, com incidência em 10% das propriedades verificadas.
A ocorrência de vassoura-de-bruxa em todas as propriedades estudadas, aliada
à presença de broca-do-fruto e erva-de-passarinho e o fato das culturas não serem
adubadas para reposição de nutrientes no solo, são as principais causas da baixa
produtividade comprovada.
Os dados da Figura 24 sobre o controle de pragas e doenças indicam que
somente 35% dos produtores realizam ou realizaram algum tipo de controle da praga
e/ou doença nos plantios, porém, esta prática se revela insuficiente para a erradicação
das mesmas, uma vez que os dados apresentados anteriormente (Figura 23) mostram a
presença destas em todos os plantios analisados. Os demais produtores não fazem
nenhum tipo de controle, o que acelera o processo de contaminação. Nas vinte
propriedades estudadas neste município, 40% diz conhecer os procedimentos
necessários para evitar a proliferação da vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e/ou erva-
de-passarinho e 60%, apesar de cultivar a cultura, desconhecem os procedimentos
necessários para evitar a proliferação de pragas e/ou doenças do cupuaçuzeiro (Figura
25).
95
Figura 24: Controle de pragas e doenças. Figura 25: Conhecimento para evitar a
proliferação de pragas e doenças nos plantios.
Dos produtores entrevistados, 75% fizeram mudas em viveiro e depois as
transplantaram para a área cultivada e 25% fizeram plantio das sementes direto no
campo (Figura 26). Do total de entrevistados 60% disseram ter produzido as sementes e
40% adquiriram de terceiros (Figura 27).
Figura 26: Formação dos cultivos Figura 27: Produção de sementes.
Deste universo, 35% realizaram controle de qualidade nas sementes
selecionadas (Figura 28), que consistiu da seleção das sementes dos melhores frutos,
retirados de árvores mais saudáveis e produtivas, o que está de acordo com as
orientações de Souza et al. (2007). Dos produtores entrevistados neste município 55%
sabem quais são os procedimentos que devem ser adotados para a formação de cultivos
de qualidade (Figura 29).
Realiza 35%
Não realiza 65%
Possui 40%
Não possui 60%
Produção de mudas
75%
Produção de
sementes 25%
Produção própria
60%
Aquisição de
terceiros 40%
Propriedades: 1, 2, 6, 7, 9, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.
Propriedades: 3, 4, 5, 8, 10, 12, e 20.
Propriedades:, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 11 e 20.
Propriedades: 1, 2, 4, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.
Propriedades: 6, 8, 10, 11 e 12.
Propriedades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20.
Propriedades: 1, 2, 3, 9, 13, 14, 16 e 18.
Propriedades: 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 15, 17, 19 e 20.
96
Figura 28: Produção de sementes. Figura 29: Conhecimento para formação de
cultivos.
A tabela 19 a seguir reúne os dados sobre a comercialização dos produtos no
município de Manacapuru, nas 20 propriedades envolvidas na pesquisa.
Tabela 19: Dados da comercialização de cupuaçu em Manacapuru safra 2009-2010.
Pro
prie
dade
Categoria de compradores
Comercialização Local de entrega
Preço médio de venda (R$)
Coo
pera
tiva
Em
pres
a
Inte
rmed
iári
o A
taca
do
Var
ejo
Pro
prie
dade
R
ural
Pro
prie
dade
do c
ompr
ador
Fru
to in
na
tura
Pol
pa
Pol
pa e
se
men
tes
01 x x x 3,50 02 x x 3,50 03 x x x 3,50 04 x x x 2,50 05 x x x 4,00 06 x x x 3,50 07 x x x 3,00 08 x x x 5,00 09 x x x 3,50 10 x x x 2,00 11 x x x 4,00 12 x x x 3,00 13 x x x 3,00 14 x x x 3,50 15 x x x 3,00 16 x x x 3,00 17 x x x 3,00 18 x x x 3,00 19 x x x 3,50 20 x x x 2,00
A análise dos dados da comercialização dos produtos e subprodutos do
cupuaçu no município de Manacapuru comprovou que todos os produtores rurais
Realiza 35%
Não realiza 65%
Possui 55%
Não possui 45%
Propriedades: 1, 2, 3, 5, 7, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17 e 18,.
Propriedades: 4, 6, 8, 9, 15, 19 e 20.
Propriedades: 2, 5, 12, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.
Propriedades: 1, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10,11, 13 e 20.
97
comercializaram a produção direto com os intermediários, sendo vendida apenas a
polpa, ao preço médio que variou de R$ 2,00/kg (propriedades 10 e 20) a R$ 5,00/kg
(propriedade 8).
A forma de comercialização, em 70% das vendas, foi feita no atacado e 30%
no varejo. Quando observados os locais de entrega dos produtos comercializados,
constatou-se que em 25% das negociações o comprador retirava o produto na
propriedade rural se responsabilizando pelo transporte da produção. Em 75% dos casos
os produtores entregaram os produtos na propriedade do comprador, tendo que se
responsabilizar pelo transporte da mercadoria, o que reduz a margem de lucro do
produtor.
Os dados sobre a o beneficiamento e acondicionamento dos produtos
comercializados nas propriedades analisadas em Manacapuru mostraram que todas as
propriedades verificadas realizam beneficiamento no produto (Tabela 20).
Tabela 20: Dados do beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Manacapuru, safra 2009-2010. P Tipo de
beneficiamento Processo de
retirada da polpa Processo de armazenamento
Retirada da casca
Retirada da polpa
Retirada das sementes
Artesanal Máquina Fruto in natura
Polpa Polpa e sementes
01 x x x x Freezer 02 x x x x Freezer 03 x x x x Freezer 04 x x x x Freezer 05 x x x x Freezer 06 x x x x Freezer 07 x x x x Freezer 08 x x x x Freezer 09 x x x x Freezer 10 x x x x Freezer 11 x x x x Freezer 12 x x x x Freezer 13 x x x x Freezer 14 x x x x Freezer 15 x x x x Freezer 16 x x x x Freezer 17 x x x x Freezer 18 x x x x Freezer 19 x x x x Freezer 20 x x x x Freezer
98
Em todos os casos foi feita a retirada da polpa e consequentemente, da casca e sementes na propriedade rural. Nestas propriedades não foi registrada a existência de nenhuma máquina despolpadeira, com o processo de retirada da polpa sendo feito de forma artesanal, cortados em tesouras. Este procedimento pode comprometer a qualidade do produto, em especial pela perda das propriedades organolépticas da polpa. A forma de acondicionamento da produção para todos os casos foi feita em sacos plásticos de 1,00 kg, 2,00 kg, 5,00 kg ou 10,00 kg e congelados em freezers.
Os dados sobre o aproveitamento da semente de cupuaçu mostraram que
somente 40% dos produtores conhecem a técnica de fermentação e secagem das sementes, enquanto que 60% destes desconhecem o processo de fermentação e secagem das sementes (Tabela 21).
Tabela 21: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Manacapuru, safra 2009-2010. P Técnica de secagem das
sementes Conhece os subprodutos das sementes
do cupuaçu Consumidores dos
subprodutos
Conhece Desconhece Manteiga/óleo Cupulate Torta Conhece Desconhece
1 x x x x
2 x x x x
3 x -- -- -- x
4 x -- -- -- x
5 x x -- -- x
6 x -- -- -- x
7 x -- -- -- x
8 x -- -- -- x
9 x -- -- -- x
10 x -- -- -- x
11 x -- -- -- x
12 x -- -- -- x
13 x -- -- -- x
14 x -- -- -- x
15 x x x
16 x -- -- -- x
17 x -- -- -- x
18 x -- -- -- x
19 x -- -- -- x
20 x x x
99
Dos 20 produtores entrevistados em Manacapuru, somente sete conheciam os
subprodutos obtidos a partir do processamento das sementes; destes, quatro sabiam que
poderia se extrair a manteiga e três conheciam o cupulate. Do total dos entrevistados,
nenhum sabia quem eram os compradores destes produtos.
5.2. PRODUTIVIDADE E APROVEITAMENTO ECONÔMICO DO CUPUAÇU
A expressão econômica do cupuaçu pode ser avaliada pelas formas de
aproveitamento dos subprodutos obtidos, pelo volume produzido e comercializado, pela área plantada, pelos tratos culturais e ainda, pela disponibilidade e demanda de tecnologias disponíveis para fortalecer a cultura.
Analisando o rendimento dos cultivos de cupuaçu nas áreas amostradas
verificou-se que a produtividade de frutos, da polpa e das sementes frescas, medidos em
kilogramas por hectare/ano ficou muito abaixo dos valores encontrados por Venturieri
et al. (1985) e Souza et al. (1999).
Os produtores avaliados nos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e
Manacapuru produziram em média, 1.250 kg/ha/a, 1.200 kg/ha/a, 1.700 kg/ha/a de
frutos, respectivamente, e a produção de polpa foi equivalente a 466 kg/ha/a, 448
kg/ha/a e 634 kg/ha/a, e para as sementes frescas, a produção foi de 188 kg/ha/a, 180
kg/ha/a e 255 kg/ha/a, na mesma ordem. Se estas sementes fossem fermentadas e secas,
os respectivos produtores teriam o rendimento de 56 kg/ha/a, 54 kg/ha/a e 77 kg/ha/a.
No total da área amostrada não foi encontrado nenhum produtor rural que realizasse o
processo de fermentação e secagem das sementes, nem nos casos em que a área
amostrada possuía agroindústria, mesmo assim esta não realizava o beneficiamento.
Nesta situação, as sementes foram comercializadas in natura, ao preço médio de venda
de R$ 0,20. Nas propriedades em que foi feita a despolpa, as sementes foram
descartadas, deixando de agregar a da receita do proprietário rural (Tabela 22).
100
Tabela 22: Rendimento médio e receita média por hectare cultivado com cupuaçu na área amostrada. Safra 2009/2010.
Propriedades rurais nos municípios Itacoatiara Presidente
Figueiredo Manacapuru
Situação Real nas propriedades Densidade/ha 512 125 277 Frutos (kg/ha/a) 1.250 1.200 1.700 Polpa (kg/ha/a) 466 448 634 Semente fresca (kg/ha/a) 188 180 255 Semente seca (kg/ha/a) 56 54 77 Polpa (R$/ha/a) 568,52 1.671,04 2.060,50 Semente fresca (R$/ha/a) 38,00 36,00 51,00 Semente seca (R$/ha/a) 72,80 70,20 100,10 Situação desejável A (1) Densidade/ha 234 234 234 Frutos (kg/ha/a) 5.850 5.850 5.850 Polpa (kg/ha/a) 2.182 2.182 2.182 Semente fresca (kg/ha/a) 878 878 878 Semente seca (kg/ha/a) 263 263 263 Polpa (R$/ha/a) 2.662,04 8.138,86 7.091,50 Semente fresca (R$/ha/a) 175,60 175,60 175,60 Semente seca (R$/ha/a) 341,90 341,90 341,90 Situação desejável B (2) Densidade/ha 235 235 235 Frutos (kg/ha/a) 7.300 7.300 7.300 Polpa (kg/ha/a) 2.723 2.723 2.723 Semente fresca (kg/ha/a) 1.095 1.095 1.095 Semente seca (kg/ha/a) 329 329 329 Polpa (R$/ha/a) 3.322,06 10.156,79 8.849,75 Semente fresca (R$/ha/a) 219,00 219,00 219,00 Semente seca (R$/ha/a) 427,70 427,70 427,70 Diferenças de Receita Desejável A(2)– Real Polpa (R$/ha/a) 2.093,52 6.467,82 5.031,00 Semente fresca (R$/ha/a) 137,60 139,60 124,60 Semente seca (R$/ha/a) 269,10 271,70 241,80 Desejável B(3) - Real Polpa (R$/ha/a) 2.753,54 8.485,75 6.789,25 Semente fresca (R$/ha/a) 181,00 183,00 168,00 Semente seca (R$/ha/a) 354,90 357,50 327,60
Obs.: Preço de sementes frescas = R$ 0,20/kg. Preço de sementes secas = R$ 1,30/kg (1) Venturieri et al.(1985); (2) Souza et al. (1999).
101
Venturieri et al. (1985), analisando plantios adubados e com mais de cinco
anos de crescimento, registraram rendimentos de frutos na ordem de 5.850 kg/ha/a. A
produção de polpa foi de 2.182 kg/ha/a, sementes frescas 878 kg/ha/a e secas 263
kg/ha/a.
Souza et al. (1999) obtiveram quantidades ainda maiores, de 7.300 kg/ha/a de
frutos, 2.723 kg/ha/a de polpa fresca, 1.095 kg/ha/a de sementes frescas e 329 kg/ha/a
de sementes secas (Tabela 22). Com base no preço médio de venda da polpa em cada
município (R$ 1,22/kg, R$ 3,73/kg, R$ 3,25/kg (Tabelas 11, 15 e 19) respectivamente,
os dados revelaram uma receita pela venda da polpa de aproximadamente R$
568,52/ha/a, R$ 1.671,04/ha/a e R$ 2.060,50/ha/a e, pela venda das sementes frescas R$
38,00/ha/a, R$ 36,00/ha/a R$ 51,00/ha/a. Na hipótese da semente seca ser
comercializada, esta obteria receita de R$ 72,80/ha/a, R$ 70,20/ha/a, R$ 100,10/ha/a
nos respectivos municípios.
Com base na produtividade média dos dois autores, foi calculada uma receita
hipotética, na qual se obteria, caso os municípios amostrados alcançassem o rendimento
de frutos obtidos nas duas referências. Para tal, foram considerados, em ambos os casos,
os preços de venda da polpa, sementes frescas e sementes secas obtidos nos municípios.
A receita de venda obtida com base nos dados de Venturiei et al. (1985), e o
preço médio de venda de polpa, sementes frescas e sementes secas nos municípios de
Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, seriam respectivamente, de R$
2.662,04/ha/a, R$ 8.138,86/ha/a e de R$ 7.091,50/ha/a para a venda da polpa. Quanto à
que seria obtida pelas sementes frescas e secas, a receita seria de R$ 175,60/ha/a, para
as sementes frescas e R$ 341,90/ha/a para as sementes secas dos produtores amostrados
nos três municípios.
Baseado nos dados de Souza et al. (1999), as receitas pela venda da polpa
seriam, respectivamente, de R$ 3.322,06/ha/a, R$ 10.156,70/ha/a e R$ 8.849,75/ha/a.
Pela venda das sementes frescas e secas seriam respectivamente de R$ 219,00/ha/a e R$
427,70/ha/a em cada um dos municípios.
102
Considerando esses dados, foi possível calcular quanto os produtores
amostrados deixaram de ganhar por não seguirem as recomendações técnicas de
densidade de plantio (só os de Manacapuru tem uma densidade de plantas semelhantes
às recomendadas por esses autores – Tabela 22), de manejo do solo (adubação) e
controle de pragas e doenças. Quando o referencial de comparação é o de Venturieri et
al. (1985), verifica-se que os produtores amostrados em Itacoatiara poderiam incorporar
em suas receitas, um total de R$ 2.231,12 para cada hectare cultivado com cupuaçu
considerando-se a comercialização da polpa com as sementes frescas. Esse valor sobe
para R$ 2.362,62 se comercializassem as sementes já secas. Essa é a receita total que os
proprietários 5, 11 e 14 de Itacoatiara deixaram de ganhar porque tem apenas um ha
plantado com essa cultura (Tabela 10), mas se for considerado o proprietário 1, que tem
25 ha cultivados com cupuaçu, a diferença do que ganhou com a venda de sua produção
e o que poderia receber sobe para os totais respectivos de R$ 55.778,00 (polpa +
sementes frescas) ou R$ 59.065,50 (polpa + sementes secas).
Se o referencial de produtividade for o alcançado por Souza et al. (1999), as
diferenças de rendas do que os produtores conseguiram obter para as que poderiam
alcançar são ainda maiores, conforme pode ser observado pelos dados no final da tabela
22 para os três municípios. Desses, os que mais poderiam ganhar com o investimento na
cultura do cupuaçu são os produtores amostrados em Presidente Figueiredo, onde essas
diferenças entre as produtividades alcançadas e as desejadas são maiores, com um
mínimo de R$ 6.607,42/ha (polpa + sementes frescas comparadas com Venturieri et al.,
1985) e um máximo de R$ 8.843,25/ha (polpa + sementes secas – Souza et al., 1999).
Com essa diferença de renda para cada hectare bem manejado é possível investir em
insumos agrícolas e mão-de-obra capazes de recuperar totalmente os cupuaçuzeiros e
ainda sobra uma renda suplementar bem elevada para o proprietário rural, estimulando-
o ainda mais a investir nessa cultura de valor social e econômico no Estado do
Amazonas. Se esses valores forem multiplicados pelos hectares plantados em cada
propriedade com o cupuaçu, percebe-se que vale a pena investir na recuperação e
manutenção dos cultivos com essa cultura no Amazonas, visto que já existe mercado
consumidor consolidado para a polpa (varejo e indústria alimentícia) e de manteiga
(indústria cosmética) da espécie.
103
Com base nesses dados, procedeu-se aos cálculos de quanto os produtores de
cada município obteriam se todas as áreas cultivadas com cupuaçu fossem recuperadas e
alcançassem as produtividades médias atingidas por Venturieri et al. (1985) ou Souza et
al. (1999). Os dados da Tabela 23 mostram a realidade alcançada pelos produtores que
participaram do presente estudo, considerando suas áreas cultivadas totais e os seus
potenciais, caso investissem no manejo adequado do cupuaçu em suas propriedades.
Tabela 23: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas 60 propriedades avaliadas nos três municípios do Amazonas. Safra 2009/2010. Propriedades rurais avaliadas nos municípios Itacoatiara Presidente
Figueiredo Manacapuru
Situação real nas propriedades: Área amostrada (ha) 155 111,5 53,5 Produtividade (1) (kg/ha) 654 628 889 Produção(1) na área amostrada (kg) 101.370 70.336 47.117 Preço de venda (R$1,00/kg) 1,22 3,73 3,25 Receita na área amostrada (R$1,00) 123.671,40 262.353,28 153.130,25 Situação desejável A (2): Produtividade (1) (kg/ha) 3.060 3.060 3.060 Produção(1) na área amostrada (kg) 474.300 341.190 163.710 Receita na área amostrada (R$1,00) 578.646,00 1.272.639,00 532.058,00 Situação desejável B (3): Produtividade (1) (kg/ha) 3.818 3.818 3.818 Produção(1) na área amostrada (kg) 591.790 425.707 204.263 Receita na área amostrada (R$1,00) 721.984,00 1.587.887,00 663.855,00 Diferenças de Renda: Desejável A – Real 454.974,60 1.010.285,80 378.927,75 Desejável B – Real 598.312,60 1.325.533,80 510.724,75 (1): Peso de polpa + sementes frescas; (2) Venturieri et al.(1985); (3) Souza et al. (1999).
As áreas totais amostradas nos três municípios foram respectivamente de 155,
111,5 e 53,5 ha em Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru. A receita total
obtida com a venda da polpa e sementes frescas produzidas nessas áreas foi de R$
123.671,40, R$ 262.353,28 e R$ 153.130,25, mas se tivessem investido conforme
recomendações técnicas preconizadas por Venturieri et al. (1985) ou Souza et al.
(1999), suas receitas saltariam para valores bem mais elevados, conforme pode ser visto
nos dados da Tabela 23. Juntos, eles teriam uma receita suplementar de R$ 454.954,60
ou R$ 598.312,60 nos casos de Itacoatiara, R$ 1.010.285,80 ou R$ 1.325.533,80 nos de
104
Presidente Figueiredo e, R$ 378.927,75 ou R$ 510.724,75 nos de Manacapuru quando
comparados com os referenciais desses dois trabalhos bibliográficos.
Quando se projeta essa análise para uma escala maior, de toda a área cultivada
com cupuaçu em cada um dos três municípios (de acordo com dados do IDAM, 2010),
tem-se os valores apresentados na Tabela 24.
Tabela 24: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas áreas cultivadas nos três municípios do Amazonas. Safra 2009/2010.
Propriedades rurais nos municípios Itacoatiara Presidente
Figueiredo Manacapuru
Situação Real nas propriedades: Área cultivada (ha) 1.910 1.000 482 Produtividade (1) (kg/ha) 654 628 889 Produção(1) no município (kg) 1.249.140 628.000 428.498 Preço de venda (R$1,00/kg) 1,22 3,73 3,25 Renda na área cultivada (R$1,00) 1.523.950,00 2.342.440,00 1.392.618,00 Situação desejável A (2): Produtividade (1) (kg/ha) 3.060 3.060 3.060 Produção(1) no município (kg) 5.844.600 3.060.000 1.474.920 Renda na área cultivada (R$1,00) 7.130.412,00 11.413.800,00 4.793.490,00 Situação desejável B (3): Produtividade (1) (kg/ha) 3.818 3.818 3.818 Produção(1) no município (kg) 7.292.380 3.818.000 1.840.276 Renda na área cultivada (R$1,00) 8.896.704,00 14.241.140,00 5.980.897,00 Diferenças de Renda: Desejável A – Real 5.606.462,00 9.071.360,00 3.400.872,00 Desejável B - Real 7.372.754,00 11.898.700,00 4.588.279,00
(1) Peso de polpa + sementes frescas (kg/ha); (2) Venturieri et al.(1985); (3) Souza et al. (1999).
Observa-se que cada município poderia incorporar, anualmente, em suas
receitas, pela comercialização de polpa e semente de cupuaçu, mais R$ 5.606.462,00 ou
R$ 7.372.754,00 considerando-se a área total de Itacoatiara cultivada com essa cultura,
R$9.071.360,00 ou R$11.898.700,00 em Presidente Figueiredo e, R$3.400.872,00 ou
R$4.588.279,00 em Manacapuru sempre levando em conta a situação desejável que as
coloque no mesmo nível de produtividade de Venturieri et al. (1985) ou Souza et al.
(1999).
105
5.3. INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU
Na região amazônica os frutos do cupuaçu são comercializados durante a época
da colheita, geralmente in natura. Após o período da safra, a polpa congelada é a
principal forma de comercialização.
As sementes do cupuaçu podem ser comercializadas para extração da manteiga
e da torta. A manteiga se constitui em matéria-prima para a fabricação de hidratantes
faciais e corporais, cremes de massagem, formulação anti-envelhecimento, óleos de
banho, condicionadores e mascaras capilares, emulsões e bálsamos pós-barba,
formulações pré e pós sol, protetores solares, batons, sticks desodorantes, etc. A torta é
utilizada pela indústria alimentícia, com aplicação na alimentação humana para a
fabricação de achocolatado em pó e para composição de chocolates em barra. Outra
alternativa de uso é na composição de ração para animais e peixes.
A partir de setembro de 2005, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) (ANVISA, 2010), através da Resolução RDC 264, permitiu a substituição
parcial da manteiga de cacau por gorduras alternativas no chocolate. Desta forma a
manteiga de cupuaçu vem sendo utilizada na composição da fórmula em conformidade
com a legislação brasileira.
Na indústria de beneficiamento de sementes ocorre o processamento das
sementes para a obtenção dos subprodutos por elas produzidos. Os dados que se seguem
foram compilados da observação do processo produtivo de uma microempresa de
processamento de sementes, a Cupuama (www.cupuama.com.br), instalada no
município do Careiro/Castanho.
O beneficiamento das sementes do cupuaçu consiste em duas etapas: a) processo de fermentação e secagem e b) Processo de beneficiamento das sementes secas para extração da manteiga e da torta. A primeira etapa pode ser realizada pelo produtor rural ou na indústria de processamento. A segunda etapa do processo exige equipamentos mais sofisticados para extração da manteiga e ocorre na indústria de processamento e transformação. A Figura 30 apresenta um fluxograma das etapas e produtos obtidos no processo.
106
5.3.1. ETAPAS E RENDIMENTOS DO BENEFICIAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU
Figura 30: Etapas do beneficiamento das sementes do cupuaçu.
107
O processo da fermentação e secagem inicia com a chegada das sementes
frescas na indústria de processamento. Estas devem ter sido despolpadas a menos de
24hrs e não conter adição de água. Se não for possível iniciar o processo da fermentação
até vinte e quatro horas após a despolpa, as sementes devem ser congeladas até que seja
possível iniciar o processo.
As sementes são colocadas em caixas de plástico, com capacidade aproximada
de 30 kg e devem ser mantidas protegidas do sol e da chuva onde devem permanecer
pelo período de sete dias, sendo removidas diariamente (o ideal é que seja feita a
remoção de uma caixa para outra) e deve-se manter o cuidado para evitar o contato com
insetos ou outro tipo de bichos a fim de garantir as recomendações de higiene. Para
tanto, recomenda-se que as caixas fiquem cobertas sem comprometer a ventilação. No
início do processo de fermentação as sementes tem uma temperatura de 18 °C a 19 °C.
A partir do segundo dia estas começam a sofrer elevação da temperatura chegando a 40
°C, podendo alcançar até 50 °C, o que indica que o processo de fermentação está
ocorrendo e as sementes vão alcançando a acidez ideal. Para isso, às vezes é necessário
adicionar bicarbonato de sódio, para que o pH se eleve e evite a proliferação de
Aspergillus, com conseqüente apodrecimento das sementes (Aragão, 1992). A partir do
quarto dia a temperatura decresce até estabilizar entre 28 °C e 29 °C.
Ao término desta etapa as sementes ainda conservam umidade em torno de
50%. Após a fermentação, as sementes são conduzidas para secagem, feita em
secadores solares (Figura 4), onde permanecem até atingir umidade de 7-8%. O
processo de secagem dura aproximadamente dez dias. Durante este processo de
fermentação e secagem ocorre uma perda de peso das sementes de aproximadamente
55%. Esta etapa ocorre em um galpão externo, anexo à planta industrial, respeitando as
recomendações de higiene do processo de fermentação, secagem e extração da
manteiga.
Depois de secas, as sementes são conduzidas para o interior da fábrica onde são
torradas à temperatura aproximada de 130 °C por aproximadamente 40 minutos. Ao
final deste processo ocorre uma perda de peso de 6%. Em seguida as sementes são
descascadas. Neste processo, as cascas retiradas conservam um pouco de resíduo da
108
amêndoa (Figura 31) e estas são aproveitadas para compostagem e/ou para compor
ração para peixes e animais.
Figura 31: Casca das sementes do cupuaçu com resíduo de amêndoa.
Figura 32: Manteiga de cupuaçu - bruta.
Na etapa do descasque, o peso é reduzido em 27%. As amêndoas passam pelo
processo de trituração e prensagem tendo como resultado a manteiga bruta que é
colocada para decantar. A parte mais densa da decantação é a manteiga bruta (Figura
32) e corresponde a 60% do peso total; os demais 40%, que corresponde à parte mais
leve, passa pelo processo de filtragem e resultam em 40% de manteiga filtrada (figura
33) e o resíduo, que corresponde a 60%, é a torta (Figura 34). A manteiga bruta e a
manteiga filtrada são destinadas à fabricação de cosméticos. A torta é utilizada pela
indústria alimentícia.
Figura 33: Manteiga purificada (filtrada).
Figura 34: Torta das sementes de cupuaçu.
109
A tabela 25 apresenta o rendimento, em kilogramas, de cada etapa do processo
de beneficiamento das sementes do cupuaçu, considerando um peso inicial de 1.000 kg
de sementes frescas.
Tabela 25: Rendimento do processo de beneficiamento das sementes do cupuaçu.
Etapas Rendimento (kg)
1. Sementes frescas 1.000
2. Fermentação e secagem 455
3. Torrefação 428
4. Descasque 428
4.1. Cascas 116
4.2. Amêndoas ± 300
4.2.1. Manteiga bruta 180
4.2.2. Filtragem e purificação 120
4.2.2.1. Manteiga filtrada 48
4.2.2. 2. Torta 72
4.2.2.2.1. Achocolatado em pó --
Cada etapa do processo de beneficiamento das sementes de cupuaçu sofre
perdas de peso ou separação em subprodutos. Considerando 1.000 kg de sementes
frescas, após serem fermentadas e secas, resultam em 455 kg de sementes secas (perda
de 54,5% do peso inicial). Estas passam pelo processo de torrefação, onde perdem
aproximadamente 6% do peso em relação às sementes secas e resultam em 428 kg de
amêndoas torradas e com casca. Desta etapa em diante não há mais perda de peso nos
produtos, havendo apenas as separações em subprodutos, todos aproveitados em
segmentos diversos, conforme já especificado. No processo de descasque são retirados,
aproximadamente, 27% em cascas, tendo como referência o peso das sementes torradas,
resultando em 116 kg de cascas com resíduo de amêndoas e aproximadamente 300 kg
de amêndoas torradas e descascadas.
As amêndoas torradas e descascadas são trituradas e prensadas com rendimento
de 180 kg de manteiga bruta. A manteiga bruta é colocada para decantar e resulta em
120 kg de manteiga mais leve e torta. Estes 120 kg são submetidos à filtragem onde a
110
manteiga é purificada, sendo separada da parte mais densa, resultando em 48 kg de
manteiga filtrada e purificada e 72 kg de torta.
No ano de 2009, a Cupuama - indústria de processamento de sementes -
comercializou 12 toneladas de manteiga bruta. Em 2010 foram comercializadas 17t,
estimando-se que em 2011 sejam produzidas e comercializadas 20 toneladas de
manteiga bruta, (informações verbais fornecidas por uma das proprietárias da empresa,
Fátima B. Sales, em jan/2011).
Analisando os resultados de produtividade de manteiga bruta, manteiga filtrada
e torta (Tabela 25) e estimando a quantidade de sementes frescas que foram processadas
para obtenção destes resultados nos anos de 2009 e 2010 e a produção estimada para
2011, obteve-se os resultados apresentados na tabela 26.
Tabela 26: Processamento das sementes de cupuaçu e produção final de manteiga bruta, manteiga purificada e torta, nos anos de 2009 e 2010 e, estimativa para 2001.
Ano Sementes frescas (ton)
Produção (ton) Manteiga bruta Manteiga
purificada Torta
2009 66,7 12 3,2 4,8 2010 94,4 17 4,5 6,8 2011* 111,1* 20* 5,3* 8,0* Total 272,2 49,0 13,1 19,6
*Estimativa de produção para o ano de 2011.
No ano de 2009 a empresa processou 66,7 toneladas de sementes frescas e
obteve 12,0t de manteiga bruta, 3,2t de manteiga purificada e 4,8t de torta. Em 2010 a
empresa aumentou sua produção em 42% em relação a 2009 e comercializou 17,0t de
manteiga bruta, 4,5t de manteiga filtrada e 6,8t de torta. Para 2011 a empresa projetou
um crescimento nas vendas na ordem de 18% e estima comercializar 20t de manteiga
bruta, 5,3t de manteiga purificada e 8,0t de torta já transformada em achocolatado; para
tanto, serão necessários processar, aproximadamente, 111,1t de sementes frescas.
Se considerarmos a área cultivada com cupuaçu nos três municípios estudados
nesta pesquisa, Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru (Tabela 9) e a produção
de sementes frescas obtidas nestes municípios (Tabela 22) para estimarmos o potencial
111
produtivo de manteiga bruta, manteiga purificada e torta que seriam produzidas a partir
destas sementes obteríamos os resultados apresentados na Tabela 27. Também foi
estimado o potencial produtivo dos Municípios e do Estado do Amazonas com base na
produtividade alcançada por venturieri et al. (1985) e Souza et al. (1999).
Tabela 27: Estimativa de aproveitamento do total das sementes do cupuaçu produzidas na safra 2009/2010.
Local Produção de
sementes
frescas (ton)
Produção (ton)
Manteiga
bruta
Manteiga
purificada
Torta
Itacoatiara 359 65 17 26
P. Figueiredo 180 32 9 13
Manacapuru 123 22 6 9
Estado do Amazonas (1) 1.168 210 56 84
Venturieri et al. (1985) (2) 2.978 536 143 214
Souza et al. (1999) (3) 3.714 669 178 267
Estado do Amazonas (4) 5.256 946 252 378
Estado do Amazonas (5) 6.555 1.180 315 472
(¹) Produtividade do Estado do Amazonas: situação de produção atual. (²) Produtividade alcançada por Venturieri et al. (1985): total de ha cultivados nos três municípios. (³) Produtividade alcançada por Souza et al. (1999): total de ha cultivados nos três municípios. (4) Produtividade alcançada por Venturieri et al. (1985): total de ha cultivados no Est. do Amazonas. (5) Produtividade alcançada por Souza et al. (1999): total de ha cultivados no Est. do Amazonas.
De acordo com dados do IDAM (2010), na safra de 2009/2010 o Município de
Itacoatiara cultivou 1.910 ha (Tabela 9) e produziu 359 t de sementes frescas (Tabela
22). Estimando que a produção total de sementes do Município fosse processada para
extração de manteiga e torta, esta resultaria em 65t de manteiga bruta, 17t de manteiga
purificada e 26t de torta. Os Municípios de Presidente Figueiredo e Manacapuru
produziriam, respectivamente, 32t, 22t de manteiga bruta, 9t, 6t de manteiga purificada
e 13t e 9t de torta (Tabela 27) . Se estes Municípios alcançassem a produtividade obtida
por Venturieri et al. (1985), a produção de manteiga bruta, manteiga purificada e torta
nos três municípios seria, de 536t, 143t e 214t, nesta ordem. Se atingem a
produtividade de Souza et al. (1999), a produção seria ainda maior alcançando 669t
toneladas de manteiga bruta, 178t de manteiga purificada e 267 toneladas de torta.
112
A produção total de sementes frescas no Estado do Amazonas, considerando a
produtividade atual de frutos, foi de 1.168t, se estas fossem processadas resultariam em
210t de manteiga bruta, 56t de manteiga purificada e 84t de torta.
Considerando o total de ha cultivados no Estado na safra de 2009/2010 (Tabela
9), e estimando a produção de sementes frescas obtidas por Venturieri et al. (1985) e
Souza et al. (1999), (Tabela 22), o Estado produziria, respectivamente, 946t, 1.180t de
manteiga bruta, 252t, 315t de manteiga purificada e 378t 472t de torta. Estes números
representam o valor que o Amazonas deixa de agregar na cadeia produtiva do fruto do
cupuaçu, visto que o consumo de manteiga de cupuaçu se diversifica cada vez mais e a
demanda pela manteiga é maior que a oferta dada a dificuldade de obtenção de sementes
para o processamento.
113
5.4. UTILIZAÇÃO DA MANTEIGA DE CUPUAÇU NAS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DE MANAUS
Os produtos cosméticos fabricados pelas empresas do Pólo Industrial de
Manaus envolvidas nesta pesquisa, de acordo com a RDC 211/05 da ANVISA, se
enquadram tanto na categoria de produtos de grau 1 como de grau 2 e atuam no
segmento de higiene pessoal, perfumaria e/ou cosméticos (Tabela 28).
Tabela 28: Diagnóstico da produção de cosméticos em Manaus. Amazongreen Gotas da
Amazônia Pharmacos da
Amazônia Harmonia
Nativa Categoria do produto RDC 211/05 - ANVISA
Grau 1 e
Grau 2
Grau 1 Grau 1 Grau 1
Segmento Industrial
Cosméticos e
Perfumes
Higiene pessoal,
perfumaria e cosméticos
Higiene pessoal e
cosméticos
Higiene pessoal e
cosméticos
Matéria-prima do cupuaçu utilizada na formulação
Manteiga e extrato
glicólico
Manteiga Extrato glicólico
Manteiga
Local de aquisição da matéria-prima
Estado de São Paulo
Estado de São Paulo
Estado de São Paulo
Estado de São Paulo
Satisfação com a qualidade da matéria-prima adquirida
Total Total Total Total
Oferta da matéria-prima no mercado
Satisfaz Satisfaz Satisfaz Satisfaz
Alcance da comercialização do produto final
Mercados local, nacional e internacional
Mercados local, nacional e internacional
Mercados local e nacional
Mercado local
A empresa Amazongreen (http://www.amazongreen.com.br) atua no segmento
de cosméticos e perfumes, a Gotas da Amazônia (http://www.gotasdaamazonia.com.br)
é a mais diversa, com produção nos segmentos de higiene pessoal, perfumaria e
cosméticos e as demais, Pharmacos da Amazônia
114
(http://www.pharmacosdaamazonia.com.br) e Harmonia Nativa
(http://harmonianativa.com.br) fabricam produtos de higiene pessoal e cosméticos.
No segmento de higiene pessoal são produzidos, sabonetes sólidos e líquidos,
xampus, condicionadores e produtos de higiene íntima. A linha de cosméticos é bem
diversificada sendo fabricados hidratantes para o corpo, rosto, mãos e pés, hidratantes
facial, máscara capilar, máscara facial, óleos de banho e cremes esfoliantes facial e
corporal. Na linha de perfumaria são produzidos perfumes, colônias, desodorantes e
desodorizador de ambientes (Figura 34).
Figura 35: Produtos fabricados com a utilização de insumos do cupuaçu (manteiga ou extrato) nas Empresas de cosméticos de Manaus.
Todos estes produtos utilizam a manteiga de cupuaçu ou extrato glicólico de
cupuaçu nas suas formulações, porém, toda a matéria-prima adquirida pelas empresas
para a fabricação desses produtos é processada fora do Estado do Amazonas sendo
necessário comprá-los no Estado de São Paulo, onde estão instaladas as empresas
fornecedoras desses produtos que são obtidos a partir do refino da manteiga bruta de
cupuaçu. É neste processo de refino que a manteiga é processada, sendo fragmentada
115
resultando em vários componentes que vão integrar as fórmulas cosméticas do produto
final.
Todas as empresas de cosméticos analisadas nesta pesquisa todas declararam
satisfação com a qualidade dos insumos do cupuaçu visto que os fornecedores dos
insumos possuem autorização da ANVISA para funcionamento e o registro dos
produtos fabricados, estes fatores são fiscalizados na indústria de produto final quando
da concessão de autorizações para funcionamento. Outro fator que favorece a qualidade
do produto são as certificações que as empresas de refino possuem como: atendimentos
às normas ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001 e FSC, que atestam que a gestão de
processos, desde o plantio até o refino, atende aos requisitos de qualidade, meio
ambiente, segurança, saúde ocupacional e gestão para a conservação dos produtos da
floresta.
Desta forma todas as empresas declaram que a oferta de matéria-prima do
cupuaçu satisfaz as necessidades da empresa não sendo a fator sazonalidade uma
dificuldade para produção de cosméticos.
O fato das indústrias de cosméticos de Manaus utilizar insumos da
biodiversidade Amazônica em suas formulações representa um diferencial favorável na
comercialização desses produtos. Das empresas entrevistadas duas comercializam seus
produtos no mercado local, nacional e internacional. Uma comercializa no mercado
local e nacional e uma comercializa somente no mercado local, sendo esta a de maior
expressão no comércio local, visto que possui lojas de vendas nos maiores shoppings da
cidade.
116
6. CONCLUSÕES As produtividades do cupuaçuzeiro nas propriedades rurais amostradas dos municípios
de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru mostraram-se muito baixas, em
decorrência da falta de adubação do solo e controle de pragas e doenças. A vassoura-de-
bruxa estava presente nos cultivos de cupuaçu em todas as 60 propriedades rurais
visitadas. A broca-do-fruto estava presente em 65% das propriedades de Itacoatiara, em
90% das de Manacapuru e, em 20% das propriedades de Presidente Figueiredo. A erva-
de-passarinho estava presente em 20% das propriedades de Itacoatiara e, em 10% das de
Manacapuru e de Presidente Figueiredo.
Os proprietários rurais que participaram da pesquisa não processam as sementes de
cupuaçu visando sua comercialização, deixando-as na propriedade rural ou entregando-
as junto com a polpa para evitar o trabalho manual de separação da polpa. Todos os 20
produtores rurais de Itacoatiara entrevistados comercializam as sementes juntamente
com a polpa para a cooperativa ou intermediário, sem contudo usufruir da utilização das
mesmas para a produção de manteiga ou torta.
Nenhum dos produtores de Manacapuru e somente três dos 20 produtores de Presidente
Figueiredo repassaram as sementes junto com a polpa para os intermediários.
A maioria dos produtores de cupuaçu desconhece o uso das sementes para a produção
de manteiga ou torta e também não sabem onde esses produtos podem ser utilizados.
O rendimento econômico médio encontrado por hectare nas propriedades rurais, pela
comercialização das sementes junto com as sementes frescas foi, respectivamente de R$
606,52, R$ 1.707,04 e R$ 2.111,50 para Itacoatiara, Presidente Figueiredo e
Manacapuru;
Se investissem na adubação do solo e controle de pragas e doenças, esses rendimentos
subiriam, respectivamente, para R$ 3.541,06, R$ 10.375,79 e R$ 9.068,75;
Se todas as sementes fossem convertidas em manteiga bruta, purificada e torta, as
produções estaduais no Amazonas saltariam da realidade de 210t, 56t e 84t
117
respectivamente, para 1.180t, 315t e 472t caso os produtores adotassem as práticas
culturais recomendadas;
Toda a manteiga produzida no Amazonas é purificada fora do Estado e depois retorna
por um preço mais elevado.
Os produtores de cupuaçu se sentem desestimulados em continuar a cultivar essa
espécie, considerada a principal frutífera do Estado do Amazonas.
118
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
O diagnóstico aqui apresentado aponta para uma possível falência da cultura do
cupuaçu na região, visto que há uma descrença por parte dos produtores com o cultivo
da espécie. Apesar de todos os produtores das áreas amostradas afirmarem que a fruta
tem boa aceitação comercial e que a polpa é um produto de fácil comercialização, eles
se sentem desestimulados a manterem seus cultivos por não conseguirem combater a
proliferação das pragas e doenças que afetam a espécie e nem melhorar as condições de
beneficiamento da polpa, que ainda é feita de forma artesanal em quase todas as
propriedades estudadas, e nem fazer o escoamento da produção para os grandes centros
consumidores. Somando-se a isto está o fato de que no período da safra os preços de
venda da polpa são significativamente reduzidos em virtude da quantidade ofertada do
produto. No âmbito da propriedade rural, este fator configura um problema, visto que a
maioria dos produtores não dispõe de estrutura física que permita a armazenagem e
conservação da polpa para comercialização em um momento mais favorável do ponto
de vista econômico, alcançando assim melhores preços de venda.
Desse modo, uma cultura de excelente aceitação comercial e de grande
expressão econômica e social para a região pode ser abandonada e marginalizada,
considerando que boa parte dos produtores que cultiva a espécie já declarou
insatisfações com o cultivo do cupuaçu, pelas razões acima expressadas, e em alguns
casos até extinguem a cultura para substituí-la por outra (situação verificada em
algumas propriedades na região do Novo Engenho e Novo Remanso, em Itacoatiara,
onde alguns produtores abandonaram os cultivos de cupuaçu e canalizaram toda a mão-
de-obra e investimento para o cultivo do abacaxi, hoje a cultura de maior expressão no
local). A descrença e abandono da espécie também foi verificada em propriedades
próximas à AM 240, em Presidente Figueiredo e na comunidade Santa Luzia, em
Manacapuru.
Deve ser enfatizado que nesses cálculos não foi considerado o rendimento e
valor econômico do cupuaçu, pelo processamento das sementes que resultam na
manteiga, utilizada pela indústria de cosméticos e na torta destinada à indústria
alimentícia, com aplicação na alimentação humana, de animais e peixes. Esse
119
aproveitamento valoriza ainda mais a cultura do cupuaçu e ao mesmo tempo,
incrementa esses setores econômicos pelo aumento de disponibilidade regional de
matéria-prima agregando valor à biodiversidade amazônica e desenvolvimento
econômico e social à região.
Em vista disso, é altamente recomendável que o governo do Estado do
Amazonas invista na organização dos produtores em Associações e Cooperativas,
capazes de estabelecer nas propriedades rurais, práticas culturais como manejo da
fertilidade do solo e controle de pragas e doenças para que a cultura volte a ter índices
elevados de produtividade.
Além disso, uma política governamental que estimule a aquisição de
despolpadoras mecânicas por essas Associações ou Cooperativas rurais e que crie
condições de qualidade e higiene para a transformação das sementes em manteiga e
torta nas próprias comunidades rurais pode reverter esse estado de desânimo encontrado
na maioria dos produtores de cupuaçu do Amazonas.
120
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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128
9. ANEXOS QUESTIONÁRIO – 1. PRODUTORES DE CUPUAÇU NO ESTADO DO
AMAZONAS.
Este questionário destina-se ao levantamento de dados primários junto aos produtores
de cupuaçu no Estado do Amazonas.
1. Propriedade: ........................................................................................................................ Endereço: ................................................................................................................................ Responsável pelas informações: .............................................................................................
Função: ................................................................................................................................... CPF/CI: .................................................................................................................................. Telefone (fixo e celular):.................................................... Fax: ........................................... E-mail: .................................................................................................................................... 2. Porte da propriedade: ( ) Pequena (0-5 ha) ( ) Média (6-50ha) ( ) Grande (>50 ha) Especificar: 3. A propriedade cultiva o cupuaçu? ( ) sim ( ) Não 4. Qual a área cultivada (em hectares) com cupuaçu na propriedade? Especificar: 5. Quantas árvores de cupuaçu há na propriedade? Especificar: 6. Qual o processo de formação do cultivo de cupuaçu? ( ) Plantio de mudas ( ) Plantio de sementes 7. Qual a forma de aquisição das mudas e/ou das sementes? ( ) Compra de terceiros ( ) Produção própria Especificar: 8. O senhor(a) tem conhecimento e pratica algum tipo de controle de qualidade de sementes? ( ) sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento Especificar: 9. O senhor (a) tem conhecimento de quais procedimentos devem ser tomados para a formação de cultivos de qualidade? ( ) sim ( ) Não Especificar: 10. Sua área cultivada com cupuaçu já foi ou é atingida por algum tipo de praga (broca, erva de passarinho) ou doença (vassoura de bruxa)? ( ) sim ( ) Não Especificar: 11. Seu cultivo de cupuaçu já recebeu algum tipo de controle de praga ou doenças? ( ) sim ( ) Não
12. O senhor tem conhecimento de como proceder para evitar que o cultivo seja atingido por praga ou doença? ( ) sim ( ) Não Especificar:
129
13. Quantas árvores estão na fase de produção de frutos? R: 14. Qual a produção média mensal (ou por safra) de cupuaçu?
Produto Quantidade
Fruto in natura cupuaçu
Polpa de cupuaçu
15. A produção de cupuaçu é comercializada? ( ) sim ( ) Não 16. O senhor realiza algum tipo de beneficiamento no produto? ( ) sim ( ) Não
17. Qual o tipo de beneficiamento realizado? Subprodutos Quantidade
Retirada da polpa
Secagem da semente
Trituração da casca
Extração de manteiga
18. Qual o processo de retirada da polpa? ( ) Artesanal (tesoura) ( ) Máquina 19. Quais os subprodutos do cupuaçu o senhor (a) comercializa? ( ) Fruto in natura cupuaçu ( ) Polpa de cupuaçu ( ) Semente de cupuaçu ( ) Casca de cupuaçu ( ) Manteiga de cupuaçu
20. Qual a quantidade vendida por mês (Kg)? Subprodutos Quantidade
Fruto in natura cupuaçu
Polpa de cupuaçu
Semente de cupuaçu
Casca de cupuaçu
Manteiga de cupuaçu
21. Qual a forma de comercialização? ( ) Atacado ( ) Varejo
22. Quem são os compradores de cupuaçu? ( ) Empresas ( ) Cooperativas ( ) Atravessador ( ) Varejo 23. Qual o local de entrega do produto? ( ) Na propriedade Rural ( ) Na propriedade do comprador
24. Qual o preço médio de venda do produto? Produto Preço venda R$ (kg)
Fruto in natura cupuaçu
Polpa de cupuaçu
Semente de cupuaçu
130
Casca de cupuaçu
Manteiga de cupuaçu
25. O senhor conhece a técnica de secagem da semente de cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não 26. O senhor tem conhecimento de quais os subprodutos podem ser obtidos a partir da semente de cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 27. O senhor tem conhecimento de quem são os consumidores desses subprodutos? ( ) Sim ( ) Não Especificar:
28. O senhor(a) recebe ou recebeu algum tipo de orientação de melhoria da qualidade do produto por parte do comprador? ( ) sim ( ) Não 29. O senhor(a) recebe ou recebeu algum tipo de ajuda do governo? ( ) sim ( ) Não
30. Que tipo de ajuda o senhor(a) recebeu? ( ) Financeira ( ) Técnica ( ) Incentivos fiscais ( ) Outros Especificar: 31. A sua propriedade está inserida em alguma associação ou cooperativa? ( ) Associação ( ) Cooperativa Especificar: 32. O senhor (a) apontaria alguma vantagem para o cultivo do cupuaçu em sua propriedade? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 33. O senhor apontaria alguma dificuldade para a comercialização do cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 34. Quais os principais cultivos da propriedade?
N°
01
02
03
04
05
06
07
131
QUESTIONÁRIO – 2. INDÚSTRIAS DE PROCESSAMENTO DE MATÉRIA-
PRIMA.
Este questionário destina-se ao levantamento de dados primários para subsidiar
Dissertação de Mestrado e será aplicado às indústrias de processamento de matéria-
prima a partir de insumos da biodiversidade amazônica, tendo como base o cupuaçu
(Theobroma grandiflorum).
1. Empresa: .................................................................. CNPJ: ......................................
Endereço: ............................................................................................................................
Data de atuação: .................................................................................................................
Responsável pelas informações: .........................................................................................
Função: ...............................................................................................................................
CPF/CI: ...............................................................................................................................
Telefone (fixo e celular): .................................................... Fax: .......................................
E-mail: ................................................................................................................................
2. Porte da empresa: ( ) Micro ( ) Pequena ( ) Média ( ) Grande
3. Qual o segmento industrial ao qual pertence a empresa? ( ) Processamento de mat.-prima ( ) produto final ( ) Outros
4. Dos produtos processados pela empresa, há algum(ns) que agregue(m) matéria-prima da biodiversidade amazônica? ( ) sim ( ) Não.
5. Qual(is) o(s) principal(is) produto(s) processados pela empresa? N° Matéria-prima Produto
01
02
03
04
6. A empresa utiliza o cupuaçu como matéria-prima? ( ) sim ( ) Não 7. Qual o subproduto do cupuaçu são processados pela empresa? ( ) Polpa ( ) Semente ( ) Casca ( ) Outros
132
8. Qual(is) o(s) principal(is) subproduto(s) e produto(s) resultante do processamento do cupuaçu?
N° Subproduto Produto
01
02
03
04
9. Qual a produção média mensal de cada produto resultante do processamento do cupuaçu?
N° Produto in natura Produto processado
01
02
03
04
10. Onde é obtida a matéria-prima do cupuaçu? ( ) Propriedade rural ( ) Intermediários ( ) Outros tipos de empresa 11. Qual o estado da matéria-prima quando da aquisição? ( ) In natura ( ) Processada Especificar: 12. A matéria-prima adquirida recebe algum tipo de beneficiamento por parte do fornecedor (especificar)? ( ) Acondicionamento ( ) Beneficiamento primário (especificar) Matéria-prima Acondicionamento* Beneficiamento *
Descrever o tipo de beneficiamento efetuado pelo fornecedor na matéria-prima. 13. O beneficiamento realizado pelo fornecedor satisfaz as necessidades da empresa? ( ) sim ( ) Não Especificar: 14. Qual o local de origem da matéria-prima? R: 15. Quem são os fornecedores da matéria-prima? R: 16. Como a matéria-prima é comprada? ( ) Fruto in natura ( ) Semente in natura ( ) semente processada ( ) Polpa ( ) Outros Especificar: 17. A empresa realiza o processo de extração da manteiga da semente do cupuaçu? ( ) sim ( ) Não 18. No caso da semente do cupuaçu qual a quantidade adquirida anualmente pela
133
empresa? R: 19. Há diferenças sazonais no suprimento da matéria-prima? R: 20. Quais os meses do ano de maior e menor oferta? R: 21. A quantidade de matéria-prima ofertada satisfaz a demanda da empresa? R: 22. A qualidade da matéria-prima satisfaz as necessidades da empresa? ( ) sim ( ) Não 23. Os fornecedores de matéria-prima regional possuem regularidade satisfatória no fornecimento dos insumos para a indústria? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 24. A empresa produz (extrai ou coleta) a matéria-prima regional que utiliza no processo produtivo? ( ) Sim ( ) Não 25. Se positivo, qual a forma de produção da matéria-prima regional? ( ) Extração ( ) Coleta ( ) outros (especificar) 26. O uso de matéria-prima da biodiversidade amazônica representa um diferencial de mercado no lançamento e comercialização dos produtos? ( ) sim ( ) Não 27. A empresa apontaria vantagens de uso de matéria-prima regional, no caso o cupuaçu, na fabricação de seus produtos? ( ) Sim ( ) Não 28. Qual o alcance da comercialização do produto final? ( ) Merc. Local ( ) Regional ( ) Nacional ( ) Internacional 29. A empresa fornece insumos para a indústria de cosméticos? ( ) Sim ( ) Não 30. Quem são os principais clientes do segmento de cosméticos?
N° Local Regional Nacional Internacional
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( ) Outros (especificar) 33. A empresa oferece algum tipo de informação e/ou treinamento aos fornecedores de matéria-prima que favoreça a qualidade do produto ofertado? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 34. A matéria-prima regional adquirida pela empresa possui algum tipo de certificação? ( ) Sim ( ) Não Especificar:
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35. A empresa apontaria algum tipo de gargalo no processamento do cupuaçu? Especificar:
36. A empresa apontaria vantagens em trabalhar com o cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar:
37. A empresa apontaria desvantagens em processar o cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar:
38. Quais os principais gargalos no processamento com os sub-produtos do cupuaçu? Especificar:
39. A empresa recebe algum tipo de incentivo do governo? N° Municipal Estadual Federal
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QUESTIONÁRIO – 3. INDÚSTRIAS DE PRODUTO FINAL DE COSMÉTICOS
Este questionário destina-se ao levantamento de dados primários para avaliação do potencial de
uso cupuaçu pelas indústrias de cosméticos do PIM e análise da cadeia de processamento do
cupuaçu em insumo para a indústria de cosméticos de Manaus.
Empresas do segmento de HPPC do Pólo Industrial de Manaus.
1. Empresa:.................................................................. CNPJ: .........................................
Endereço:...........................................................................................................................
Data de atuação: ..............................................................................................................
Responsável pelas informações: ......................................................................................
Função:................................................................................................................................
CPF/CI: ............................................................................................................................
Telefone (fixo e celular): ............................................ Fax: ...........................................
E-mail: ..............................................................................................................................
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2. Porte da empresa*: ( ) Micro* ( ) Pequena* ( ) Média*** ( ) Grande*** *De acordo com a Resolução 202/2006, da SUFRAMA *Micro empresas: importação de insumos até o limite de US$ 200.000,00 (Norte Americanos) e receita bruta igual ou inferior a R$ 433.755,14, pessoa jurídica e firma individual. **Pequena empresa: importação de insumos até o limite de US$ 200.000,00 (Norte Americanos) e receita bruta de R$ 433.755,14 até R$ 2.133.222,00, e firma mercantil individual não enquadrada como microempresa. ***Necessidade de importação superior a US$ 200.000,00 (Norte Americanos), receita bruta anual superior a R$ 2.133.222,00, pessoa jurídica não enquadradas na categoria de Micro e Pequena empresa. 3. Qual o segmento industrial ao qual pertence a empresa? ( ) Higiene pessoal ( ) Perfumaria ( ) Cosméticos. 4. Qual a classificação dos produtos industrializados pela empresa? ( ) Produtos de grau 1 ( ) Produtos de grau 2 5. Qual(is) o(s) principal(is) produto(s) da empresa?
N° Categoria Produto
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6. Dos produtos industrializados pela empresa, há algum(ns) que agregue(m) matéria-prima da biodiversidade amazônica? ( ) sim ( ) Não. 7. O cupuaçu é utilizado como matéria-prima no processo fabril de cosméticos? ( ) sim ( ) Não. 8. Qual o produto final que utiliza o cupuaçu como matéria-prima? R: 9. Qual o subproduto do cupuaçu é utilizado no processo fabril? ( ) Manteiga ( ) Polpa ( ) Casca ( ) Outros 10. Onde a matéria-prima é obtida? ( ) Na empresa ( ) Indústria de processamento ( ) Produtor ( ) Atravessador 11. Qual o estado da matéria-prima quando da aquisição? ( ) In natura ( ) Processada 12. A empresa realiza algum tipo de processamento na matéria-prima adquirida? R:
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13. A matéria-prima adquirida recebe algum tipo de beneficiamento por parte do fornecedor (especificar)? ( ) Acondicionamento ( ) Beneficiamento primário (especificar)
Matéria-prima Acondicionamento* Beneficiamento primário*
Descrever o tipo de beneficiamento efetuado pelo fornecedor na matéria-prima adquirida. 14. Qual o local de origem da matéria-prima? R: 15. Quem são os fornecedores da matéria-prima? R: 16. Qual a quantidade mensal de matéria-prima adquirida pela empresa? R: 17. Há diferenças sazonais no suprimento da matéria-prima? R: 18. Quais os meses do ano de maior e menor oferta? ( ) Maior oferta ( ) Menor oferta 19. A quantidade de matéria-prima ofertada satisfaz a necessidade da empresa? R: 20. Os fornecedores de matéria-prima regional possuem regularidade satisfatória no fornecimento dos insumos para indústria? ( ) Sim ( ) Não 21. A matéria-prima adquirida satisfaz a empresa no fator qualidade? ( ) Sim ( ) Não 22. A empresa produz (extrai ou coleta) a matéria-prima regional que utiliza no processo produtivo? ( ) Sim ( ) Não 23. Se positivo, qual a forma de produção da matéria-prima regional? ( ) Plantio ( ) Coleta ( ) outros (especificar) 24. O uso de matéria-prima da biodiversidade amazônica representa um diferencial de mercado no lançamento e comercialização de produtos? ( ) sim ( ) Não 25. A empresa apontaria vantagens de uso de matéria-prima regional na fabricação de seus produtos? ( ) Sim ( ) Não 26. Qual o alcance da comercialização do produto final? ( ) Merc. Local ( ) Regional ( ) Nacional ( ) Internacional 27. A empresa oferece algum tipo de informação e/ou treinamento aos fornecedores de matéria-prima que favoreça a qualidade do produto ofertado? ( ) Sim (Especificar) ( ) Não 28. A matéria-prima regional adquirida pela empresa possui algum tipo de certificação? ( ) Sim (Especificar) ( ) Não
29. A empresa aponta algum tipo de gargalo no processo produtivo de cosméticos a partir de insumos da biodiversidade amazônica? R: