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ASPECTOS CULTURAIS E POTENCIAL DE USO DO CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) NO ESTADO DO AMAZONAS MARICLEIDE MAIA SAID Manaus - Amazonas 2011 PPG/CASA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS- GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG/CASA Mestrado Acadêmico

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE …ppgcasa.ufam.edu.br/pdf/dissertacoes/2011/Maricleide Maia.pdf · MARICLEIDE MAIA SAID Manaus - Amazonas 2011 PPG/CASA ... O cultivo

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ASPECTOS CULTURAIS E POTENCIAL DE USO DO

CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.)

NO ESTADO DO AMAZONAS

MARICLEIDE MAIA SAID

Manaus - Amazonas 2011

PPG/CASA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-

GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM

CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA –

PPG/CASA

Mestrado Acadêmico

MARICLEIDE MAIA SAID

ASPECTOS CULTURAIS E POTENCIAL DE USO DO

CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.)

NO ESTADO DO AMAZONAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia – PPG/CASA – na linha de pesquisa em conservação, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia.

Orientador: Prof. Ph.D. Alexandre Almir Ferreira Rivas Co-orientador: Prof. Ph.D. Luiz Antonio de Oliveira

MANAUS – AMAZONAS

2011

Ficha Catalográfica (Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

Said, Maricleide Maia S132a

Aspectos culturais e potencial de uso do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) no estado do Amazonas / Maricleide Maia Said. - Manaus: UFAM, 2011. 136 f.; il. color.

Dissertação (mestrado em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia) – Universidade Federal do Amazonas/UFAM, 2011.

Orientador : Prof. Ph. D. Alexandre Almir Ferreira Rivas Co-orientador : Prof. Ph. D.Luiz Antônio de Oliveira

1. Cupuaçu – Amazonas - Desenvolvimento regional. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Cupuaçu – Processamento. I..Rivas, Alexandre Almir Ferreira (Orient.) II Universidade Federal do Amazonas III. Título.

CDU 633.74 (811) (043.3) CDU

ASPECTOS CULTURAIS E POTENCIAL DE USO DO CUPUAÇU

(Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) NO ESTADO DO

AMAZONAS

AUTORA: MARICLEIDE MAIA SAID ORIENTADOR: Prof. Ph.D. Alexandre Almir Ferreira Rivas CO-ORIENTADOR: Prof. Ph.D. Luiz Antonio de Oliveira Aprovada em: 14 de abril de 2011.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. José Alberto da Costa Machado (presidente) Universidade Federal do Amazonas/UFAM

Prof. Ph.D. Nélinton Marques da Silva Universidade Federal do Amazonas/UFAM

Prof. Ph.D. Alexandre Almir Ferreira Rivas Universidade Federal do Amazonas/UFAM

Manaus, AM, 14 de abril de 2011.

PPG/CASA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS

DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA – PPG/CASA

Mestrado Acadêmico

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela serenidade mental e fortalecimento físico até aqui proporcionado permitindo-me esta concretização;

Aos meus familiares e amigos que contribuíram na construção dos valores que embasaram a percepção necessária para a elaboração do trabalho aqui concluso;

Aos docentes, discentes e a equipe administrativa da Universidade Federal do Amazonas, em especial aqueles que integram o Programa de Pós Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia – PPG/CASA, pela oportunidade de ingresso no curso e concessão do conhecimento e aprendizado necessários à formação científica e qualificação profissional;

Ao Dr. Alexandre Almir Ferreira Rivas pela orientação no transcorrer deste trabalho;

Ao Dr. Luiz Antonio de Oliveira pela co-orientação e valiosa colaboração e acompanhamento em todas as etapas desta pesquisa;

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, pelo apoio financeiro ao desenvolvimento da pesquisa via projeto do Edital CTAmazônia/2008, processo n. 575798/2008-4;

Às empresas Cupuama, Amazongreen, Gotas da Amazônia, Harmonia Nativa, e Pharmacus, pela colaboração com os dados desta pesquisa, aos produtores rurais dos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, bem como aos presidentes de cooperativas agrícolas, associações e líderes comunitários destes Municípios pela valiosa colaboração na coleta de dados e informações sobre a cultura do cupuaçu;

À Secretaria de Produção Rural do Amazonas – SEPROR e ao Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM pela cooperação e fornecimento dos dados que subsidiaram a pesquisa;

A todos que de forma direta ou indireta colaboraram para a realização deste trabalho.

A todos, Muito obrigada!

RESUMO

O cultivo de frutas nativas da Amazônia é apontado como uma alternativa importante para o desenvolvimento da região através da exploração econômica de sua diversidade vegetal, em especial daquelas espécies cuja cadeia produtiva é mais diversificada e pode favorecer vários elos dentro da cadeia. Nesse contexto, o cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) se apresenta como a principal frutífera do Estado do Amazonas e uma das mais significantes atividades agrícolas da Região Amazônica, justificada pela larga comercialização da polpa in natura ou processada. Contudo, este segmento industrial geralmente utiliza apenas a polpa do fruto, sendo as sementes e casca, pouco aproveitadas pelos produtores de cupuaçu. Essa prática resulta no enfraquecimento da cadeia de produção da espécie pelo desperdício dos subprodutos do fruto por parte dos produtores rurais. Esse estudo propôs diagnosticar, através de questionários aplicados em propriedades rurais dos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, empresas de processamento das sementes e de produto final de cosméticos, o potencial produtivo do cupuaçu no Estado do Amazonas e o aproveitamento das sementes para a produção de manteiga visando suas utilizações, principalmente como matéria-prima para as indústrias de cosméticos do Pólo Industrial de Manaus – PIM. Para tanto, procedeu-se análise na cadeia de transformação do cupuaçu em insumo para a indústria de cosméticos com o fim de identificar o aproveitamento das sementes e o potencial do Estado do Amazonas para a produção da manteiga. Devido ao baixo preço da polpa e dificuldades em separá-la das sementes pelo processo manual, os produtores não investem no manejo da fertilidade do solo e controle das pragas e doenças, tendo como resultado, baixas produtividades da cultura no Estado induzindo os produtores a abandonar ou substituir o cupuaçu por outra cultura mais vantajosa, como o abacaxi em Itacoatiara. Apenas 23 do total de 60 produtores analisados vendem as sementes junto com a polpa, sem contudo usufruírem financeiramente do aproveitamento das mesmas para a retirada e venda da manteiga para as indústrias de alimentos e cosméticos. A venda das sementes junto com a polpa foi com o intuito de não precisarem separá-las com tesoura. Se investirem no manejo do solo e controle de pragas e doenças, bem como no aproveitamento das sementes para a produção de manteiga e torta, seus cultivos poderão proporcionar-lhes rendimentos superiores a 500% do que os obtidos no ano agrícola de 2009/2010, tornando a cultura altamente rentável, gerando mais divisas e empregos para o Amazonas, fortalecendo o cultivo do cupuaçu e a permanência dessa parte da sociedade no interior do Estado.

Palavras chave: Polpa de cupuaçu, manteiga de cupuaçu, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento regional, Amazonas.

ABSTRACT The cultivation of native fruit species in the Amazon is considered an important alternative for the regional development trough economic exploitation of its plant diversity, especially those whose productive chain is more diversified and can benefit various links inside the chain. In this context, the cupuassu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) presents as the main fruit specie of the Amazonas State and one of the most significant agricultural activity of Amazon Region, justified by the commercialization of the natural or processed pulp fruit. However, this industrial segment usually uses only the fruit pulp, while the seeds and shell fruit are of little use by cupuassu producers. This practice results in the weakness of the productive chain of this specie due to the fruit sub products loss by farmers. This study proposed to diagnosis, trough questionnaires applied on farmers properties of the County of Itacoatiara, Presidente Figueiredo and Manacapuru, as well as seeds processing and final cosmetics products enterprises, the productive potential of cupuassu in the Amazonas State, and the seeds use for butter production mainly as raw material to the cosmetic industries of Manaus Industrial Pole – PIM. For that, it was proceeded a transformation chain analyses of cupuassu as raw material for the cosmetic industry in order to identify the use of seeds and their potential in the Amazonas State to produce cupuassu butter. Due to the low cupuassu pulp price and difficulties to separate it manually from seeds, the farmers do not invest on soil fertility management and pests and diseases control, being as a result, low productivities of cupuassu in the State. Thus, various farmers abandoned or substituted the cupuassu cultivation for another more advantageous culture specie, as the pineapple in Itacoatiara. Only 23 from a total of 60 farmers analyzed, sell the seeds with the pulp, but without have economic benefits from its transformation to cupuassu butter to food and cosmetic industries. They sell the seeds with the pulp to avoid separate both by scissors. If they spending on soil management and pests and diseases control, as well as on the seeds use to produce butter and tart, their cupuassu cultivation profit may be superior to 500% from that obtained on the agricultural year of 2009/2010, becoming the cupuassu culture highly profitable, increasing Amazonas revenue and jobs, strengthening the cupuassu cultivation and keeping these human population in the State interior. Key words: cupuassu pulp, cupuassu butter, sustainable development, regional development, Amazonas State.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Porcentagens médias dos componentes do cupuaçu (Souza et al., 1999) . .............. 32

Figura 2: Distribuição das plantas de cupuaçu nos arranjos triângulo eqüilátero e

quadrangular. Fonte: Souza et al. (1999). ............................................................................. 33

Figura 3: Etapas dos cuidados necessários com o cupuaçu desde a coleta até a distribuição .. 39

Figura 4: Secador solar de sementes. Fonte: Cupuama (2011): (www.cupuama.com.br) ....... 43

Figura 5: Modelo geral de cadeia produtiva. Fonte: (Castro et al., 1995, adaptado de

Zylbersztajn, 1994). ............................................................................................................. 46

Figura 6: Processo produtivo do cupuaçu. ............................................................................ 47

Figura 7: Crescimento das indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no Brasil

entre 2004 e 2008 (ABIHPEC, 2009). .................................................................................. 55

Figura 8: Área geográfica de realização da pesquisa. ............................................................ 58

Figura 9: Propriedades rurais de Itacoatiara contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e

erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................................ 74

Figura 10: Controle de pragas e doenças. ............................................................................. 75

Figura 11: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios ......... 75

Figura 12: Processo de formação dos cultivos. ..................................................................... 75

Figura 13: Aquisição das sementes. ...................................................................................... 75

Figura 14: Controle de qualidade das sementes. ................................................................... 76

Figura 15: Conhecimento para formação de cultivos de qualidade. ....................................... 76

Figura 16: Propriedades rurais de Presidente Figueiredo contendo vassoura-de-bruxa, broca-

do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................ 84

Figura 17: Controle de pragas e doenças. ............................................................................. 85

Figura 18: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios........... 85

Figura 19: Formação dos cultivos. ........................................................................................ 86

Figura 20: Aquisição de sementes. ....................................................................................... 86

Figura 21: Controle de qualidade das sementes. ................................................................... 86

Figura 22: Conhecimento para formação de cultivos de qualidade. ....................................... 86

Figura 23: Propriedades rurais de Manacapuru contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e

erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................................ 93

Figura 24: Controle de pragas e doenças. ............................................................................. 95

Figura 25: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios........... 95

Figura 26: Formação dos cultivos ......................................................................................... 95

Figura 27: Produção de sementes. ........................................................................................ 95

Figura 28: Produção de sementes. ........................................................................................ 96

Figura 29: Conhecimento para formação de cultivos. ........................................................... 96

Figura 30: Etapas do beneficiamento das sementes do cupuaçu. ......................................... 106

Figura 31: Casca das sementes do cupuaçu com resíduo de amêndoa. ................................ 108

Figura 32: Manteiga de cupuaçu - bruta. ............................................................................ 108

Figura 33: Manteiga purificada (filtrada). ........................................................................... 108

Figura 34: Torta das sementes de cupuaçu. ......................................................................... 108

Figura 35: Produtos fabricados com a utilização de insumos do cupuaçu (manteiga ou extrato)

nas Empresas de cosméticos de Manaus. ............................................................................ 114

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Variedades de cupuaçu e características de formato, espessura da casca e peso do

fruto. .................................................................................................................................... 31

Tabela 2: Fases do ciclo evolutivo e tempo médio de desenvolvimento da broca-do-fruto do

cupuaçu................................................................................................................................ 37

Tabela 3: Composição mineral da semente (cotilédone) fermentado e tostado. ..................... 44

Tabela 4: Composição química do cotilédone fermentado e tostado. .................................... 45

Tabela 5: Variação anual do PIB brasileiro, das indústrias em geral e do setor de Higiene

Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. ....................................................................................... 53

Tabela 6: Balança comercial do mercado brasileiro para o segmento de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos. ..................................................................................................... 54

Tabela 7: Empresas do Estado do Amazonas com autorização da ANVISA para

funcionamento. .................................................................................................................... 56

Tabela 8: Empresas do Estado do Amazonas, setor químico/cosméticos, com projetos

apresentados à SUFRAMA. ................................................................................................. 56

Tabela 9: Estimativa de produtores e área cultivada nos Municípios de coleta de dados. ...... 67

Tabela 10: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Itacoatiara que produziram

cupuaçu na safra de 2009-2010. ........................................................................................... 70

Tabela 11: Dados da comercialização de cupuaçu em Itacoatiara, safra 2009-2010. ............. 77

Tabela 12: Dados do beneficiamento do cupuaçu nas propriedades de Itacoatiara, safra 2009-

2010. .................................................................................................................................... 79

Tabela 13: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Itacoatiara, safra 2009-

2010. .................................................................................................................................... 80

Tabela 14: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Presidente Figueiredo que

produziram cupuaçu na safra de 2009-2010. ......................................................................... 81

Tabela 15: Dados da comercialização de cupuaçu em Presidente Figueiredo, safra 2009-2010.

............................................................................................................................................ 87

Tabela 16: Beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Presidente Figueiredo,

safra 2009-2010. .................................................................................................................. 88

Tabela 17: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Presidente Figueiredo,

safra 2009-2010. .................................................................................................................. 89

Tabela 18: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do município de Manacapuru que

produziram cupuaçu na safra de 2009-2010. ......................................................................... 90

Tabela 19: Dados da comercialização de cupuaçu em Manacapuru safra 2009-2010. ........... 96

Tabela 20: Dados do beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Manacapuru,

safra 2009-2010. .................................................................................................................. 97

Tabela 22: Aproveitamento da semente de cupuaçu no Município de Manacapuru, safra 2009-

2010. .................................................................................................................................... 98

Tabela 23: Rendimento médio e receita média por hectare cultivado com cupuaçu na área

amostrada. Safra 2009/2010. .............................................................................................. 100

Tabela 24: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas 60 propriedades avaliadas

nos três municípios do Amazonas. Safra 2009/2010. .......................................................... 103

Tabela 25: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas áreas cultivadas nos três

municípios do Amazonas. Safra 2009/2010. ....................................................................... 104

Tabela 26: Rendimento do processo de beneficiamento das sementes do cupuaçu. ............. 109

Tabela 27: Processamento das sementes de cupuaçu e produção final de manteiga bruta,

manteiga purificada e torta, nos anos de 2009 e 2010 e, estimativa para 2001..................... 110

Tabela 28: Estimativa de aproveitamento do total das sementes do cupuaçu produzidas na

safra 2009/2010. ................................................................................................................ 111

Tabela 29: Diagnóstico da produção de cosméticos em Manaus. ........................................ 113

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 13

1. 0BJETIVOS ...............................................................................................................................................16 1.1. OBJETIVO GERAL.............................................................................................................................16 1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................................................16

2. JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................................17

3. REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................................21 3.1. A AMAZÔNIA ....................................................................................................................................21

3.1.1. A BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA 22

3.1.2. O AMBIENTE E OS RECURSOS NATURAIS AMAZÔNICOS 24

3.1.3. CONSERVAÇÃO E USO DOS RECURSOS NATURAIS 27

3.2. A FRUTICULTURA NA AMAZÔNIA ................................................................................................28 3.3. A CULTURA DO CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.). ........................29

3.3.1. TRATOS CULTURAIS NO CUPUAÇUZEIRO 32

3.3.2. DESPOLPAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO 39

3.4. AS SEMENTES DO CUPUAÇU .........................................................................................................41 3.4.1. O PROCESSAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU 42

3.5. CADEIA PRODUTIVA .......................................................................................................................45 3.6. AS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS .................................48

4. MATERIAL E MÉTODO .........................................................................................................................57 4.1. ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................................57

4.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 57

4.1.1.1. ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS DOS MUNICÍPIOS .............................................58 4.2. MÉTODOS ..........................................................................................................................................60 4.3. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................65 4.4. PESQUISA DE CAMPO ......................................................................................................................66

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................70 5.1. DIAGNÓSTICO DOS CULTIVOS DE CUPUAÇU .............................................................................70

5.1.1. MUNICÍPIO DE ITACOATIARA 70

5.1.2. MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO 80

5.1.3. MUNICÍPIO DE MANACAPURU 90

5.2. PRODUTIVIDADE E APROVEITAMENTO ECONÔMICO DO CUPUAÇU .....................................99 5.3. INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DA SEMENTE DE CUPUAÇU ............................................ 105

5.3.1. ETAPAS E RENDIMENTOS DO BENEFICIAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU 106

5.4. UTILIZAÇÃO DA MANTEIGA DE CUPUAÇU NAS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DE MANAUS ................................................................................................................................................ 113

6. CONCLUSÕES ....................................................................................................................................... 116

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ........................................................................... 118

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 120

9. ANEXOS .................................................................................................................................................. 128

13

INTRODUÇÃO

A Amazônia possui o maior ecossistema de florestas tropicais do planeta e é

reconhecida como um dos componentes centrais para o desenvolvimento das próximas

gerações e o equilíbrio do ambiente global. Contudo, ainda não é possível precisar seus

benefícios futuros e estimar sua aplicabilidade no âmbito socioeconômico, visto que ainda é

pequena a parcela de componentes da biodiversidade que são conhecidos e identificados pela

ciência.

O desenvolvimento da Amazônia depende da forma como serão administradas suas

potencialidades, conciliando equilíbrio ecológico e uso sustentável dos recursos de modo que

isto reflita em melhoria substancial da qualidade de vida de sua população, crescimento

econômico, modernização, avanço tecnológico e sua integração à economia nacional e

mundial (CAVALCANTI, 1997).

A globalização provocou mudanças na ordem social, econômica e política e

estimulou avanços significativos nos mais variados setores da sociedade, tanto no âmbito

urbano quanto no rural. Os negócios agrícolas e industriais, em especial, foram fortemente

pressionados a aperfeiçoarem a competitividade em suas cadeias produtivas, sobretudo nos

fatores relacionados à tecnologia e gestão de processos como forma de estabilidade num

mercado cada vez mais competitivo.

As recentes mudanças na economia e sociedade global, sobretudo aquelas

relacionadas à temática ambiental, no esforço de garantir a sustentabilidade dos recursos

naturais e a manutenção dos ecossistemas amazônicos, resultaram em perda de

competitividade do extrativismo madeireiro e da agricultura tradicional regional, em especial

nos locais mais distantes dos grandes centros urbanos, bem como da indústria e do comércio

da Zona Franca de Manaus.

Diante desse cenário, são imprescindíveis alternativas que se contraponham aos

efeitos negativos dessa dinâmica. Nessa perspectiva se insere a estratégia de uso dos recursos

da diversidade amazônica como alternativa de desenvolvimento regional e local, pelo

14

fortalecimento da cadeia produtiva das espécies amazônicas, desde o agronegócio até o

consumidor final de produtos industrializados.

O potencial de riquezas e as políticas de desenvolvimento regional não foram

suficientes para fomentar o desenvolvimento econômico do Estado do Amazonas pelo uso

sustentável dos recursos da biodiversidade existente na região, visto que a cadeia produtiva

das espécies regionais exploradas comercialmente ainda é restrita, com baixo valor agregado,

e atribuindo pouco benefício aos agentes que compõem seus elos.

Entre as diversas atividades que permeiam o desenvolvimento da região Norte estão

as atividades agrícola e industrial, que neste estudo se apresentam como elos de uma mesma

cadeia produtiva: o da fruticultura na Amazônia.

O cultivo de frutas nativas da Amazônia é apontado como uma alternativa importante

para o desenvolvimento da região através da exploração econômica de sua diversidade

vegetal, em especial daquelas espécies cuja cadeia produtiva é mais diversificada e pode

favorecer vários elos dentro dessa cadeia.

Nesse contexto, cultivo do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng.

Schum.), fruta nativa da Amazônia (SOUZA et al., 1999), se apresenta como uma das mais

significantes atividades agrícolas da região, justificada pela larga comercialização da polpa in

natura ou processada. A polpa, principal subproduto na escala comercial da espécie, possui

excelente aceitação no mercado e larga escala de uso pela indústria alimentícia, com

ramificações no mercado nacional e internacional. Contudo, este segmento industrial

geralmente utiliza apenas a polpa do fruto, bastante apreciada para o preparo de sucos, doces,

compotas, biscoitos, bolos, pudins, tortas, geléias, sorvetes, picolés, bombons, entre outros

usos, sendo os demais subprodutos, como a semente e casca, pouco aproveitados pelos

produtores de cupuaçu.

Essa prática resulta no enfraquecimento da cadeia de produção da espécie pelo

desperdício dos subprodutos do fruto, por parte dos produtores rurais, que na sua maioria não

comercializam as sementes descartando-as na propriedade rural (NAZARÉ et al., 1990),

(ARAGÃO, 1992).

15

Nesse sentido, esse estudo propôs avaliar o potencial produtivo do cupuaçu no

Estado do Amazonas e o aproveitamento das sementes para a produção de manteiga visando

suas utilizações principalmente como matéria-prima para as indústrias de cosméticos do Pólo

Industrial de Manaus – PIM. Para tanto, procedeu-se análise na cadeia de transformação do

cupuaçu em insumo para a indústria de cosméticos com o fim de identificar o aproveitamento

das sementes e o potencial do Estado do Amazonas para a produção da manteiga.

Procura também contribuir para o preenchimento de lacunas no processo de

construção de uma política para o cultivo da cultura no Estado do Amazonas, bem como para

o desenvolvimento de indústrias do PIM pelo uso de insumos locais no processo fabril de

cosméticos.

16

1. 0BJETIVOS

1.1. OBJETIVO GERAL

Analisar o potencial produtivo do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex

Spreng. Schum.) no Estado do Amazonas e o aproveitamento das sementes visando a

produção de manteiga para uso nas indústrias de cosméticos.

1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Diagnosticar a produtividade do cupuaçu nos municípios de Itacoatiara,

Presidente Figueiredo e Manacapuru.

2. Avaliar o aproveitamento das sementes para a produção de manteiga.

3. Estimar a capacidade de produção da manteiga de cupuaçu no Estado do

Amazonas.

17

2. JUSTIFICATIVA

Os impactos globais resultantes do desenvolvimento econômico e social são

percebidos em todas as esferas da sociedade e do mercado, em especial aquelas relacionadas à

agropecuária, que nas últimas décadas registrou consideráveis progressos, sobretudo pela

disseminação dos insumos químicos e a melhoria genética vegetal e animal.

A participação do agronegócio, definido por Pinazza e Alimandro (1999), como a

interdependência da agricultura com as funções de insumos, equipamentos e máquinas

agropecuárias, processamento, transformação, distribuição e consumo, cresceu

consideravelmente em virtude das transformações pelas quais passa a sociedade.

Entre os vários segmentos produtivos que compõem o agronegócio brasileiro está a

fruticultura, que registrou ascensão na última década, tanto no mercado interno como no

externo, impulsionada principalmente pelos novos hábitos alimentares na busca de uma vida

mais saudável.

A contribuição da fruticultura para o desenvolvimento econômico e social da região

já é uma realidade, contudo, este benefício pode ser ainda maior, pois além do consumo de

frutas in natura, estas são também utilizadas em grande escala na fabricação de diversas

iguarias. Muitas espécies frutíferas da Amazônia permitem uma elasticidade maior em sua

cadeia produtiva, visto que, resultam em maior aproveitamento dos subprodutos, considerados

resíduos do processo alimentício, como as cascas, sementes, etc., agregando mais valor à

cadeia de produção e diversificando as possibilidades de comercialização desses derivados,

tornando mais lucrativo seu cultivo.

O cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.), fruta nativa da

Amazônia, se destaca como a mais comercialmente explorada na região com grande

participação na lista de frutas tropicais de excelente valor comercial. A polpa pelas

características de acidez, teor de pectina, aroma ativo e sabor muito agradável, se constitui em

importante matéria-prima para a indústria de processamento de alimentos, com uso destinado

18

à fabricação de sucos, néctares, sorvetes, doces, geléias, iogurtes, biscoitos, bombons, licores

e outras iguarias (SOUZA et al., 1999).

As sementes, quando processadas para a extração da manteiga se constituem em

importante matéria-prima para a indústria de cosméticos, com aplicação na fabricação de

diversos produtos dos segmentos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. A torta,

também resultante do processamento das sementes é utilizada na indústria alimentícia para a

produção de chocolates em barra e achocolatados em pó. Outra possibilidade de uso das

sementes de cupuaçu é na fabricação de ração para animais e peixes.

Observações prévias no âmbito da agricultura no Amazonas apontavam para

considerável desperdício das sementes do cupuaçu, em contrapartida, o uso da manteiga se

dissemina no setor de cosméticos e a indústria de processamento das sementes demanda

quantidades cada vez maiores destas.

A escolha dessa cultura no presente estudo se justifica pelo fato de ser bastante

cultivada para a comercialização de sua polpa, resultando em grandes quantidades de

sementes que, processadas para extração da manteiga, poderão abastecer o segmento

industrial de Cosméticos, onde a manteiga já é utilizada em larga escala como matéria-prima

no processo fabril. Além disso, a agregação de valor a uma cultura de importância econômica

e social trará benefícios diretos aos produtores rurais que já a cultivam.

Outro fator que favorece o cultivo do cupuaçu é o fato de ser uma espécie bastante

recomendada para a composição de Sistemas Agro-Florestais – SAFs, prática indicada por

diversos autores como alternativa mais apropriada para o uso da terra na região e bastante

disseminada entre as propriedades rurais na Amazônia (HOMMA, 2006), (CALZAVARA et

al., 1984), (SOUZA et al., 1999), MULLER, et al., 1995) e (NOGUEIRA et al., 1991).

Quando os SAFs são associados a outros sistemas de produção, desencadeia-se um grande

potencial de contribuição na qualidade de vida do pequeno agricultor e realça a sua

sustentabilidade, visto que otimiza a utilização dos solos e diminui os danos ecológicos.

Do processo de extração da polpa resulta a semente, que possui uma amêndoa, da

qual pode ser extraída a manteiga, muito utilizada pela indústria cosmética, a torta, que em

19

muito se assemelha ao chocolate, empregada na fabricação do cupulate. Outra utilização dessa

manteiga é na adição à manteiga do cacau na fabricação do chocolate, para atingir o mínimo

exigido pela legislação brasileira. Essa alternativa se fortaleceu com a entrada em vigor da

Resolução RDC 264, de 22 de setembro de 2005, da ANVISA (Agência Nacional de

Vigilância Sanitária) (ANVISA, 2010), que permite a substituição parcial da manteiga de

cacau por gorduras alternativas no chocolate. Pela legislação brasileira, o chocolate deve

conter, no mínimo, 25% (m/m) de derivados de cacau (líquor, manteiga e/ou pó). Atendendo a

essa exigência, outros ingredientes podem ser adicionados ao produto, como gorduras

vegetais alternativas à manteiga de cacau, substitutos de leite, substitutos de açúcar,

substitutos de cacau, entre outros. Em alguns países da Europa, como a Inglaterra, Dinamarca

e Suécia, a legislação vigente (Diretiva 73/24/EEC) é mais exigente, pois permite apenas a

substituição da manteiga de cacau até o nível de 5% do peso total do produto. Além disso, a

gordura adicionada deve ser classificada como uma gordura equivalente à manteiga de cacau,

ou CBE – Cocoa Butter Equivalente. A manteiga de cupuaçu se enquadra nesse requisito,

abrindo mais perspectivas de uso nacional e internacional caso as sementes sejam usadas para

tal finalidade. A semente pode também ser utilizada para a fabricação de ração para animais e

peixes, enquanto que a casca pode servir de adubo em cultivos agrícolas.

Na maioria dos casos observados nas propriedades que cultivam o cupuaçu no

Estado do Amazonas, quando do processamento do fruto para a retirada da polpa, a semente

não é aproveitada para a extração da manteiga, que já possui um mercado consumidor

consolidado pela indústria cosmética. Nos casos em que o fruto é processado pelas

cooperativas ou associações existentes, a situação se repete com o desperdício das sementes.

Não obstante a importância do cupuaçu para a economia do Estado, ainda há uma

grande lacuna na cadeia produtiva, relacionada ao melhor aproveitamento dos subprodutos

como forma de agregar valor ao negócio do cupuaçu e fortalecer o processo produtivo da

espécie. A investigação aqui proposta objetivou identificar lacunas existentes na cadeia de

processamento do cupuaçu e no processo de beneficiamento das sementes e estimar o

potencial do Estado para produção da manteiga de cupuaçu com vistas a atender as demandas

das indústrias de cosméticos.

O estudo viabilizou a identificação dos fatores favoráveis e desfavoráveis de cada

etapa da cadeia de transformação do cupuaçu em insumos para o processo fabril de

20

cosméticos e permitiu a identificação das medidas capazes de tornar efetiva a produção de

matérias-primas derivados do cupuaçu para estas indústrias, observando os fatores que

interferem no processo produtivo do fruto do cupuaçu e da manteiga, bem como sua

aplicabilidade na indústria de produto final.

21

3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1. A AMAZÔNIA

A Amazônia ocupa uma área aproximada de 7.600.000 km². É cortada pela linha

equatorial e, portanto, compreendida em área de baixas latitudes. Ocupa cerca de 2/5 da

América do Sul e mais da metade do Brasil. Inclui nove países sul-americanos: Brasil, Peru,

Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana Francesa, Suriname, Guiana e Venezuela (CONTI e

FURLAN, 1998).

A Amazônia brasileira, região geográfica de 5,4 milhões de km², representa mais de

60% do território nacional, abrangendo nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso,

Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão.

Através de políticas ambientais e ações governamentais, o Brasil aloca consideráveis

esforços para a preservação deste complexo e diversificado bioma amazônico, onde

predominam ecossistemas florestais. A região passa atualmente por um processo de intenso

dinamismo em direção a uma consolidação regional de fundamental impacto e importância

estratégica para o desenvolvimento regional e para as matrizes nacionais de produção

agrícola, energética e industrial.

As iniciativas públicas e privadas (esta última em menor escala) para a capacitação

de recursos humanos e produção de conhecimento científico e tecnológico para a região vêm

aumentando gradativamente, mas não são ainda satisfatórias, visto que a Amazônia conta com

aproximadamente 5% da competência científica brasileira.

Integrar ciência e tecnologia para promover o uso sustentável da biodiversidade

Amazônica é esforço central nas instituições de ensino, pesquisa e extensão da região.

Agregar valor aos produtos da floresta e melhorar as relações sociais e culturais de

populações que se relacionam com os recursos naturais oriundos da floresta é a principal

estratégia eficaz para impedir a sua destruição e subsidiar a manutenção da biodiversidade e

dos ecossistemas. Caso contrário, o baixo valor agregado aos produtos da floresta, a

22

interferência em culturas locais e degradação social constitui um incentivo à destruição

acelerada da biodiversidade.

O impacto continuado da destruição da floresta terá efeitos incalculáveis, afetando o

delicado equilíbrio que preserva os ecossistemas, sem que se faça uso do extraordinário

potencial de recursos naturais existentes na Amazônia, principalmente visando a sua

utilização como produtos bioativos de interesse farmacológicos e nutricionais.

Paralelamente a necessidade de constantes renovações e diversificação na produção

de cosméticas, a busca de fármacos inovadores da biodiversidade brasileira e o mercado de

fitoterápicos vem se desenvolvendo mundialmente, o que ratifica o fato de que a

bioprospecção é a chave de conexão entre as atividades de P, D & I para a geração de valor à

biodiversidade Amazônica.

O desenvolvimento sustentável da Amazônia inclui a necessidade de utilização de

todas as suas potencialidades biotecnológicas, assim como a melhoria na qualidade de vida e

participação dos atores envolvidos e a integração de suas necessidades nos processos a ele

relacionados.

3.1.1. A BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA

A biodiversidade se conceitua pelo número de espécies existentes em dado local

(caracterizado como riqueza específica) ou categoria sistemática (gênero, família, etc.); é a

diversidade biológica ou das diferentes formas de vida.

A Amazônia brasileira contém a maior biodiversidade do planeta, no que se refere a

plantas, peixes de água doce e mamíferos, segunda em anfíbios, terceira em aves, quinta em

répteis. Abriga ainda uma reserva mineral estratégica para o país, além de resguardar uma

grande extensão ainda preservada de floresta tropicais do planeta (CONTI e FURLAN, 1998).

É certo que a biodiversidade é um dos mais importantes recursos disponíveis no Brasil e

principalmente na Amazônia.

23

O grande desafio enfrentado em todos os âmbitos da sociedade é como promover o

desenvolvimento da região fazendo uso econômico e manutenção dos recursos naturais da

biodiversidade, garantindo seu uso e aproveitamento pelas gerações futuras.

Há um grande número de espécies de plantas reconhecidas como de potencial para a

produção de cosméticos na Amazônia, como andiroba (Carapa guianensis), pau-rosa (Aniba

rosaeodora), camu-camu (Myrciaria dubia), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), guaraná

(Paullinia cupana var. sorbillis (Martius) Duke, açaí (Euterpe oleracea), buriti (Mauritia

flexuosa), etc., que agregadas às tecnologias modernas e comprometimento social, podem

proporcionar o desenvolvimento econômico, garantir a sustentabilidade dos recursos e a

conservação das espécies da Amazônia.

O esforço global das Nações para elevar o nível da consciência ambiental tem

remetido as sociedades à reflexões mais apuradas sobre a preservação do ambiente e

utilização dos insumos naturais pelo setor produtivo. A manutenção da imensurável

diversidade biológica, sobretudo da Amazônia, é reconhecida como uma necessidade para o

equilíbrio dos ecossistemas globais, ao mesmo tempo em que se revela um grande potencial

de desenvolvimento.

O aproveitamento da biodiversidade brasileira, em especial da região amazônica,

como propulsora do desenvolvimento regional, na qual está inserida a parte econômica, é

muito mais uma ação de divulgação, extensamente preconizada pelos governantes,

instituições de pesquisa e desenvolvimento e pelo setor produtivo industrial, do que de fato

uma alternativa real de exploração sustentável.

Viana (1978) conceitua desenvolvimento econômico como um processo complexo de

mudanças e transformações sociais, através do qual a sociedade consegue produzir maior

quantidade de bens e serviços destinados a satisfazer as sempre crescentes e diversificadas

necessidades humanas. Segundo esse autor, o que alavanca esse processo são as inovações

tecnológicas e a maior capacitação cultural da humanidade.

A rica e vasta biodiversidade amazônica é reconhecida e cobiçada no cenário global.

O estado do Amazonas, localizado em posição geográfica privilegiada na Amazônia, possui o

24

dispositivo legal da Zona Franca de Manaus, entre outros, como instrumento de

desenvolvimento da região. Contudo, o potencial de riqueza da região e as políticas de

desenvolvimento não foram suficientes para fomentar o desenvolvimento econômico do

Estado pelo uso sustentável dos recursos de sua biodiversidade.

Da exuberante diversidade amazônica, os recursos florestais são, em sua maioria,

extraídos apenas para fins comerciais de matéria-prima primária, de forma extrativista sem

reposição e, sem nenhum beneficiamento, indo fomentar as produções em larga escala em

outras regiões do país e no exterior. Enquanto isso, o Estado continua sem uma política que

oriente para o desenvolvimento de cadeias produtivas com o aproveitamento sustentável dos

recursos da biodiversidade e a participação das sociedades distribuídas ao longo da cadeia.

3.1.2. O AMBIENTE E OS RECURSOS NATURAIS AMAZÔNICOS

Para Begon et al. (2006), o ambiente consiste em organismos e todos os fenômenos

e fatores externos ao organismo que o influencia. Estes fenômenos e fatores podem ser

físicos, químicos ou orgânicos. Para Trigueiro (2003) o ‘meio ambiente’ é uma expressão

bastante conhecida, mas poucos têm a clareza em relação ao conceito. Isto porque ainda é

muito comum confundir com fauna e flora. Essa redução, de acordo com o autor, é um erro de

grandes proporções. E também pelo fato de que as pessoas ainda não se percebem como

integrantes do ambiente. Para o autor, é preciso expandir a compreensão do meio ambiente,

reconhecendo o homem e todos os seres vivos inseridos numa rede de processos e fenômenos

interligados e interdependentes. Para Lima e Silva et al. (1999), o meio ambiente “é um

conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e com os quais ele

interage, influenciando e sendo influenciado por eles”. Para Trigueiro (2003), a expressão

“meio ambiente, que reúne dois substantivos redundantes: meio (do latim mediu) significa

tudo aquilo que nos cerca, um espaço onde nós estamos inseridos e, ambiente, palavra

composta por dois vocábulos latinos: a preposição amb(o) (ao redor, à volta)e o verbo ire

(ir)”. O autor, portanto, destaca que ambiente seria tudo o que está ao redor. Diante dessas

considerações, o ambiente pode ser compreendido não apenas como todos os organismos

vivos que influenciam e/ou são influenciados por fenômenos e fatores físicos, químicos e

orgânicos, mas também pela observação de que nesse processo interagem também com

fatores sociais e culturais.

25

O desenvolvimento do conceito de ambiente rebusca uma observação microscópica

dos componentes das sociedades humanas em suas interações físicas e biológicas. A sua

constituição parte das formas mais primitivas à complexidade de seres e populações que se

relacionam com sujeitos da natureza. Nesse contexto, devemos lembrar que o ambiente reúne

fatores naturais, sociais e culturais, envolvendo indivíduos e com os quais interage,

influenciando e sendo influenciado por eles, hora ordenando, hora desordenando as relações

que se estabelecem, proporcionando estruturações diferenciadas que se ajustam e alteram a

complexidade das relações. As interações são continuadas e simultâneas.

Entende-se por ambiente, tudo aquilo que nos rodeia, desde as cidades, como os

desertos e florestas. Existe o meio alterado pelo homem, como as cidades, vulgarmente

chamado de ambiente urbano, como também, os locais onde o ser humano ainda não

influenciou e que se denomina de ambiente natural. Entre esses dois extremos, temos os

ambientes com interferências relativas do ser humano.

Na Amazônia, os centros urbanos representam os ambientes totalmente modificados

pelo homem, enquanto que as florestas intactas mantêm toda a sua biodiversidade como se

desenvolveram naturalmente.

No entanto, há segmentos de florestas em que o homem faz uma extração seletiva,

escolhendo e coletando as espécies que apresentam algum valor econômico. A exploração

dessas espécies de forma racional não chega a causar um impacto negativo sobre as mesmas,

mas geralmente o ser humano moderno explora esses recursos de forma errada e destrutiva.

As espécies madeireiras são um exemplo de que a extração seletiva é negativa, pois os

melhores espécimes, com fustes retilíneos e grossos, são os preferidos pelos madeireiros,

enquanto que as árvores com o tronco torto e fora do padrão de qualidade podem ser deixadas

na floresta e se multiplicam através da produção de sementes. São elas que acabam servindo

de banco de sementes para as gerações futuras. Outras espécies, como a aquariquara,

apresentam crescimento muito lento e não são plantadas. Como são bastante procuradas, suas

populações simplesmente desapareceram (ou tendem a desaparecer) próximas aos grandes

centros urbanos da Amazônia.

26

A globalização desta sociedade que se apresenta em todas as suas formas já

ultrapassou a fronteira das relações comerciais, mercadológicas e produtivas. A consciência

da exaustão dos recursos disponíveis na natureza e que sustenta a satisfação das necessidades

humanas nas suas diversas formas de consumo, tem motivado as reflexões sobre o conceito de

ambiente, suas relações e inter-relações.

O processo acelerado de degradação do ambiente avança rumo às relações sociais,

culturais e econômicas que remetem à incompreensão dos destinos do planeta e seus

componentes. Neste cenário não se questiona sobre a necessidade de formular conceitos, mas

sim, quais os conceitos precisam ser reformulados para que se socialize um entendimento

preciso, homogêneo, que possa nortear a humanidade para certezas futuras.

A problemática ambiental ganhou força em todas as discussões atuais sobre o futuro

do planeta. Assim, a questão ambiental surge como um problema social de desenvolvimento,

requerendo a necessidade de normatizar um conjunto de processos de produção e consumo. O

processo de crescimento exigiu novos valores e assim foi se construindo a cultura ecológica

atual associada aos objetivos do desenvolvimento sustentável.

Conforme as indicações de Leff (2002), os objetivos do desenvolvimento sustentável

estão fundamentados nos seguintes propósitos: os direitos humanos a um ambiente sadio e

produtivo; o valor da diversidade biológica; a conservação da base de recursos naturais e dos

equilíbrios ecológicos do planeta; a abertura para uma diversidade de estilos de

desenvolvimento sustentável; a satisfação das necessidades básicas e a elevação da qualidade

de vida da população; a distribuição da riqueza e do poder por meio da descentralização

econômica; o fortalecimento da capacidade de autogestão; a percepção da realidade a partir de

uma perspectiva global, complexa e interdependente.

A pesquisa proposta por este trabalho, em seus aspectos empíricos e teóricos, reporta

à interdisciplinaridade e situa-se no contexto das relações contemporâneas, no aspecto

regional, econômico e conservacionista das espécies envolvendo o amplo e diversificado

campo das ciências ambientais e envolve as teorias que fundamentam os conceitos dos

processos aqui estudados, inserindo-se estes ao ambiente como um sistema voltado a

27

conservação e gestão dos recursos naturais para a manutenção das espécies e a gestão de

insumos regionais para os processos produtivos industriais.

Trata-se de examinar a capacidade de uso em escala industrial, de componentes da

biodiversidade amazônica, sugerindo formas dinâmicas do aproveitamento dos subprodutos

de uma espécie frutífera, característica da Amazônia, o cupuaçu (Theobroma grandiflorum

(Willd. Ex Spreng. Schum.) em especial pelo aproveitamento de suas sementes para produção

de matéria-prima que subsidiará a fabricação de cosméticos.

3.1.3. CONSERVAÇÃO E USO DOS RECURSOS NATURAIS

O uso sustentável da biodiversidade amazônica é um requisito para que não haja

perda de espécies ou mesmo da diversidade genética dentro de cada espécie. Algumas

espécies são muito mais expostas à extinção ou diminuição de sua diversidade genética

quando super-exploradas como matéria prima de alguma atividade econômica sem que haja

plantios e/ou que o extrativismo seja insuficiente para atender a essa demanda.

Alternativamente, desenvolver políticas de gestão ambiental para os recursos naturais

envolvidos nos processos produtivos de bens e serviços é um pré-requisito para que as

espécies vegetais de uso econômico sejam exploradas de forma sustentável.

Manejar de forma racional os recursos naturais é o primeiro passo para que se tenha

um desenvolvimento equilibrado e sustentável. Todas as outras ações que não visam o uso

racional têm como conseqüências, a diminuição e/ou destruição da qualidade e da quantidade

dos recursos naturais do planeta, e a degradação ambiental é uma das primeiras indicações da

presença de sistemas sociais e econômicos insustentáveis. O extrativismo ainda é um dos

meios usados pelas comunidades amazônidas para explorar os recursos da floresta, mas as

taxas de desmatamentos na região indicam que ainda está presente o modelo de

desenvolvimento regional pautado na substituição da floresta por sistemas de baixa

produtividade, conforme documentado por Goodland (1980).

Indicadores atuais mostram que ainda predominam na região, práticas de pressão

contra os recursos naturais (água, flora, fauna, solos) e por isso, suas produtividades em

28

diversas partes da Amazônia estão declinando. Esses recursos naturais são a base de

sustentação regional e sua exploração constitui a fonte primária de manutenção da população.

Atividades de larga escala como a pecuária e os cultivos praticados por grandes

latifundiários (oleaginosas para a produção de biocombustível, por exemplo), bem como a

exploração comercial de madeira não são apropriadas para as pequenas propriedades rurais,

pois o retorno financeiro é muito baixo. Cultivos tradicionais, por si só, também não trazem a

eles, retornos financeiros satisfatórios, uma vez que os preços de mercados de produtos como

a farinha de mandioca, feijão, etc., são muito baixos e exigem deles muito esforço físico de

uma mão de obra predominantemente familiar (Saragoussi, 1993; Noda et al., 1997), embora

tenham um valor social muito grande. Devido a isso, diversificar a produção com espécies

com princípios ativos de alto valor agregado pode ser uma alternativa capaz de gerar mais

renda a esses pequenos produtores.

A exploração de espécies supridoras de matéria-prima para cosméticos pode ser

extremamente importante para esses produtores, quer por diversificar sua produção na

propriedade rural, como também, por apresentar valores de mercado mais elevados do que os

produtos alimentícios tradicionais. Além disso, a produção de matéria-prima para cosméticos

nas comunidades rurais garante a sustentabilidade desses recursos naturais se convertendo em

mais uma alternativa de desenvolvimento regional, uma vez que grandes quantidades desses

produtos diminuem os custos de produção.

3.2. A FRUTICULTURA NA AMAZÔNIA

Durante décadas a dinâmica econômica do Brasil foi referenciada, essencialmente,

pela sucessão de ciclos de exploração e comercialização de produtos primários com baixo ou

nenhum nível de processamento. Este cenário se modificou lentamente e especialmente na

década de 80, a agroindústria se destaca como um dos segmentos de grande importância na

economia brasileira estimulando mudanças significativas nos vários elos das cadeias

produtivas agrícolas como forma de valorizar a produção do setor primário e tornar

expressivo o agronegócio brasileiro.

29

A fruticultura, um dos segmentos do agronegócio brasileiro, vem ganhando projeção

nos mercados regionais, nacional e internacional em virtude de novas demandas de mercado

decorrentes dos novos hábitos de consumo da população. Entretanto, conforme enfatizado por

Barreto Filho (2000), a fruticultura brasileira precisa vencer algumas barreiras que

comprometem sua competitividade e retardam sua consolidação como atividade capaz de

atender às expectativas de tornar-se um instrumento de projeção do desenvolvimento regional.

Tal observação, feita por Homma (2001), e Homma e Frazão (2002), reflete também

a situação vivida pela fruticultura na Amazônia, que embora tenha passado por importantes

transformações na última década, com a ascensão das frutas nativas, até então de consumo

essencialmente regional, ainda carece de melhores processos de produção, principalmente no

que se refere à qualidade dos seus produtos e subprodutos, da consolidação da agroindústria,

de melhor organização de seus produtores e do fortalecimento de uma infra-estrutura que

possibilite melhores condições de competitividade.

São muitas as oportunidades para a produção de frutas na Amazônia, cujo consumo

crescente tem sido motivado principalmente pelo aumento da demanda mundial por

alimentos, a partir do crescimento populacional, do crescimento da renda per capta nos países

mais populosos do mundo, como a China e Índia, da crescente limitação de terras

agricultáveis no plano mundial e do aumento do consumo de frutas.

A região amazônica dispõe de terras desmatadas e degradadas, recursos hídricos para

irrigação, climas e solos adequados e, apesar disso, importa grande quantidade de frutas

tropicais de outras regiões do país. Todos esses fatores propiciam o desenvolvimento da

fruticultura sustentável na Amazônia com perspectivas de desenvolvimento da cadeia

produtiva da fruticultura e fortalecimento dos respectivos elos como forma de

desenvolvimento da região e melhoria na qualidade de vida da população, em especial as que

são originárias da zona rural, cuja economia possui relação direta com o agronegócio.

3.3. A CULTURA DO CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.).

A região amazônica mantém um alto cultivo de cupuaçu, hoje considerado o fruto

mais popular da Amazônia, quando relacionada às outras culturas de frutas tropicais. Isso

30

ocorre dada a boa aceitação comercial do fruto, cuja polpa já é comercializada em larga escala

no mercado local com ramificações no mercado nacional e internacional.

A contínua expansão do comércio de polpa de cupuaçu tem gerado uma demanda

crescente pelo produto garantindo ao produtor a segurança de venda da produção agrícola

dessa espécie.

As condições de clima e solo das áreas escolhidas para a formação dos plantios de

cupuaçu são fundamentais para o sucesso do cultivo da fruta. A região de floresta tropical

úmida é propícia para o bom desenvolvimento da espécie que ocorre espontaneamente nas

matas de várzea alta e terra firme. O clima tropical chuvoso do Amazonas favorece as

plantações de cupuaçu. Segundo Cavalcante (1988), o cupuaçu é encontrado em todas as

regiões da bacia amazônica, inclusive em jardins ou em áreas de cultivos abandonados.

As informações de Diniz et al. (1984) indicam que o cupuaçuzeiro se desenvolve em

temperaturas relativamente elevadas, com média anual de 21,6°C a 27,5°C, umidade relativa

média anual de 77% a 88% e precipitações médias anuais na faixa de 1.900mm a 3.100mm.

Quando o cupuaçuzeiro é submetido a déficit hídrico apresenta paralisação do

crescimento, perda de folhas, secagem do broto terminal, maior susceptibilidade ao ataque de

pragas e doenças, podendo chegar à morte da planta conforme a intensidade do déficit (Müller

et al., 1995).

Informações condensadas dos trabalhos de Souza et al. (1999) revelam que períodos

secos prolongados são prejudiciais às plantas, causando queda de flores e frutos novos. É

comum o aparecimento de frutos com rachaduras quando ocorrem chuvas após um período de

estiagem prolongado. A floração ocorre no período mais seco do ano e a safra no período

chuvoso, que no Amazonas vai de outubro a junho com o pico da safra no mês de março.

Clay et al. (2000) mostra que o cupuaçu é abundante em sua distribuição natural e há

grande semelhança entre o cupuaçu Silvestre e o cultivado, diferindo somente em hábitos de

crescimento, característica esta que provavelmente seja em detrimento da resposta

31

ecofisiológica do ecossistema. As variedades conhecidas e exploradas comercialmente estão

agrupadas conforme o formato dos frutos indicados na tabela 1.

Tabela 1: Variedades de cupuaçu e características de formato, espessura da casca e peso do fruto.

Variedade Característica/

Formato

Espessura da casca

(mm)

Peso médio do fruto

(Kg)

Cupuaçu redondo Extremidades

arredondadas

6 a 7 1,5

Cupuaçu mamorana Extremidades

alongadas

6 a 7 2,0

Cupuaçu mamau

(sem semente)

Extremidades

arredondadas

6 a 7 3,0

Fonte: Calzavara et al. (1984), adaptada pela autora.

O cupuaçu redondo é a variedade mais cultivada na Amazônia. Quanto ao formato, o fruto

apresenta extremidades arredondadas, casca com 6 a 7 mm de espessura e peso médio de 1,5

Kg. A variedade mamorana possui extremidades alongadas, casca com espessura também

entre 6 e 7 mm e o fruto pesa em média 2,0 Kg. O cupuaçu mamau se distingue dos demais

por ser uma variedade que não apresenta semente, também conhecido como “cupuaçu sem

caroço” ou “cupuaçu-de-massa”; possui um formato e espessura da casca semelhante ao do

cupuaçu redondo e se destaca das demais variedades pela maior produção de polpa, cerca de

70%, enquanto que os com sementes tem rendimento médio de polpa em torno de 30% do

peso total do fruto. O peso do fruto do tipo mamau varia entre 2,5 Kg e 4,0 Kg ( Calzavara,

1987, Calzavara et al., 1984, Venturieri et al., 1993).

O cupuaçu tipo mamau, de uso pouco disseminado no estado do Amazonas,

apresenta dois aspectos desfavoráveis para o agricultor: compromete a reprodução da espécie

por propagação da semente e diminui a agregação de valor na cadeia produtiva, visto que a

manteiga de cupuaçu é um produto de larga aceitação comercial e bastante utilizado pela

indústria de cosméticos em todo o Brasil e no exterior.

Calzavara et al. (1984) analisaram a produtividade de frutos por plantas e

constataram uma produção média, sem fertilização, de 12 a 20 frutos por planta, após cinco

anos de crescimento, cada fruto pesando cerca de 1 kg. Com 234 plantas/ha (7 m x 7 m

32

espaçamento triangular), isso significa 2,8 a 4,7 t/ha/ano (1 - 1,8t de polpa, 0,45 – 0,8t de

semente). Venturieri et al. (1985) sugeriram que o manejo e fertilização adequados podem

aumentar a produtividade para um nível de 20 a 30 frutos/planta (4,7 – 7t/ha/ano de fruto, 1,8

– 2,6t de polpa, 0,8 a 1,2t de semente) após cinco anos, aumentando para 60 a 70 frutos 14 a

15,4t/ha/ano de fruto, 5,3 a 5,6 t de polpa, 2,4 a 2,6 t de semente) após sete anos.

Figura 1: Porcentagens médias dos componentes do cupuaçu (Souza et al., 1999) .

Souza et al. (1999), analisou o rendimento na cultura de cupuaçu para seis safras

consecutivas e verificou que a produção média nas três safras consideradas variou de 26 a 37

frutos por planta. O rendimento em polpa variou de 10,3 a 15,6 Kg/planta e a amêndoa fresca

variou de 3,7 a 7,0 Kg/planta.

3.3.1. TRATOS CULTURAIS NO CUPUAÇUZEIRO

Quando se pensa na formação de cultivos de cupuaçu o objeto de maior importância

deve ser a qualidade das mudas que irão compor o pomar. O processo germinativo da semente

de cupuaçu se inicia tão logo seja retirada a mucilagem que reveste a semente, sem que haja

Sementes 15%

Placenta 2,50%

Casca 45,20%

Polpa 37,30%

33

período de dormência. São sementes recalcitrantes1, não tolerando teor de umidade abaixo de

40% nem temperaturas abaixo de 15°C (SOUZA et al., 1999).

Os plantios de cupuaçu podem ser estabelecidos pela propagação por sementes ou

pela propagação vegetativa. Souza et al. (2007) recomendam que as sementes devem ser

retiradas de plantas selecionadas, vigorosas, sadias, produtivas, com frutos grandes, maduros,

sem manchas escuras na casca e bem formados, com escolhas pelas sementes médias e

grandes, rejeitando as pequenas, danificadas ou chochas.

O arranjo de distribuição de plantas na forma de triângulo eqüilátero de 7m x 7m

permite um ganho de 15% no número total de plantas, em relação à forma quadrangular de

7m x 7m, com um total de 235 e 204 plantas por hectare, respectivamente, conforme figura 2.

Figura 2: Distribuição das plantas de cupuaçu nos arranjos triângulo eqüilátero e quadrangular. Fonte: Souza et al. (1999).

A literatura indica que o espaçamento e a densidade de plantas por unidade de área,

depende da fertilidade do solo, da adubação e da forma de condução das plantas. Nazaré et al.

(1999) recomendam o espaçamento de 7m x 7m, com distribuição das mudas em desenho de

triângulo eqüilátero para facilitar a movimentação, a vistoria das plantas, os tratos culturais, a

poda da vassoura-de-bruxa, a colheita e transporte dos frutos. Este tipo de arranjo também

favorece o plantio de culturas intercalares temporárias com melhor aproveitamento da área.

1 Sementes recalcitrantes são aquelas que possuem alto teor de umidade, o qual, durante o armazenamento não pode ser reduzido abaixo de um nível crítico, geralmente alto. Mesmo quando a umidade é mantida a longevidade dessas sementes é relativamente curta, oscilando entre algumas semanas e alguns meses dependendo da espécie (NEVES, 1994).

34

Nos casos de plantios em consórcio com outras espécies perenes, o número de

plantas por hectare é alterado e necessita de modificações no espaçamento em conformidade

com as recomendações para a planta introduzida. Outro fator importante de se observar no

momento da formação dos cultivos é o período da safra de cada cultura, optando por culturas

com períodos de safra diferenciados para manter o equilíbrio econômico da propriedade e o

aproveitamento mais adequado da mão-de-obra disponível, geralmente, familiar.

Também é possível formar cultivos de cupuaçu nos sub-bosques, com

aproveitamento das capoeiras abandonadas, observadas as recomendações específicas para

este tipo de plantio, os tratos culturais, incidência de pragas e doenças, competição por luz,

água e nutrientes.

Na formação de SAFs na Amazônia várias espécies de importância socioeconômica

para a região, a exemplo do mamão, ingá, mandioca, coco, pupunha, açaí e outras espécies

nativas estão sendo consorciadas com o cupuaçuzeiro Nazaré et al. (1999) recomendam o

plantio de culturas intercalares nas entrelinhas do cupuaçuzeiro, respeitando a distância

mínima de 1,5 m entre a cultura introduzida e a muda de cupuaçu.

O plantio deve ser efetuado no período chuvoso. Nos casos em que o plantio é

realizado a sol aberto o uso de leguminosas é recomendado como meio de garantir a cobertura

do solo, proteger contra a erosão, diminuir a temperatura do solo, melhorar a fixação de

nitrogênio, aumentar o teor de matéria orgânica e reduzir a incidência de plantas invasoras no

cultivo.

Os tratos culturais são uma prática indispensável para a manutenção dos cultivos.

Neste sentido a poda é a prática que exige maiores cuidados visto que cada fruteira possui

hábitos específicos de frutificação, fazendo com que a resposta da poda varie entre cultivares

de uma mesma espécie. O êxito da poda exige conhecimentos que permeiam pela fisiologia e

a biologia da planta e que estes sejam relacionados com os objetivos e a finalidade da poda.

Souza et al. (1999) recomendam quatro tipos de podas a saber: poda de formação, poda de

manutenção, poda de limpeza e poda fitossanitária. A poda de formação está relacionada com

o processo de propagação da planta.

35

Em toda a região Norte do país, área de maior concentração de plantios do

cupuaçuzeiro, há registros da incidência de doenças e pragas nas plantações com interferência

direta na produtividade de frutos e consequentemente, de polpa e sementes. Embora existam

outros fatores que limitam a produtividade de frutos, tais como, genéticos, sazonais,

nutricionais, os agricultores que cultivam cupuaçu reconhecem a necessidade de manter um

controle rigoroso das doenças e pragas nas plantações como forma de evitar perdas

significativas dos plantios.

A falta de adoção de medidas de controle das doenças e pragas e a expansão dos

cultivos comerciais na Amazônia são fatores que contribuíram para o aumento da incidência

da doença que provoca uma redução significativa na produção de frutos podendo chegar a

90% (FERREIRA, 1989).

As doenças mais frequentes que atingem a cultura do cupuaçuzeiro são a Vassoura-

de-bruxa (Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), Morte progressiva

(Lasiodiplodia theobromae (Pa) Griff & Maubl.), Podridão vermelha (Ganoderma Philipii

(Bres. & P. Henn) Bras.), Mancha de Phomopsis (Phomopsis Sp), (Souza et al., 1999).

A vassoura-de-bruxa é a principal doença do cupuaçuzeiro e causa grandes danos

econômicos à produção. Ocorre tanto em mudas como em plantas adultas atacando os tecidos

meristemáticos em crescimento, as flores e os frutos do cupuaçuzeiro (VENTURIERI et al.,

1993). Afeta os pontos de crescimento da planta, ataca as folhas, ramos, flores e frutos,

provoca hipertrofia nos ramos, ou seja, crescimento anormal e irregular do diâmetro,

acompanhado de brotação intensa das gemas laterais apresentando formação irregular das

folhas nesta região.

As informações condensadas dos trabalhos de Souza et al. (1999; 2007) indicam que

as condições climáticas da Amazônia, que alternam dias chuvosos com dias ensolarados

favorecem a reprodução dos basidiocarpos, sendo este o momento crítico de disseminação da

doença entre as plantas de cupuaçu quando os fungos são transportados pelo vento.

A indicação mais eficaz para o controle da vassoura-de-bruxa é a poda fitossanitária,

que exige inspeções periódicas nos plantios para a retirada das vassouras verdes e secas e dos

36

frutos afetados pela doença. Estes resíduos devem ser queimados ou enterrados fora da área

do plantio.

A morte progressiva ocorre principalmente em frutos que sofreram ferimentos no

caule, sendo os sintomas pouco perceptíveis nos estágios iniciais da doença. (GONDIM et al.,

2001). Como controle recomenda-se a eliminação das partes afetadas e a pulverização com

fungicidas à base de cobre a 4% (VENTURIERI at al., 1993).

A podridão vermelha é uma doença de difícil constatação que ataca as raízes do

cupuaçuzeiro pela contaminação de fungos que vivem no solo e nos troncos em

decomposição. Lima e Souza (1998) recomendam o controle preventivo pela retirada dos

troncos de árvores das proximidades do local das covas e pela remoção das árvores mortas

pela doença que devem ser queimadas.

A população de insetos encontrados na cultura do cupuaçuzeiro é bastante numerosa,

mas poucas destas espécies são consideradas pragas. Entre a gama de insetos presente nas

plantações estão as espécies consideradas benéficas, como os predadores e os polinizadores.

As pragas que mais atacam a cultura do cupuaçu são a Broca-do-fruto do

cupuaçuzeiro, pertence ao gênero Conotrachelus sp (Coleóptera: Curculionidae), Lagarta

rendilhadeira de folhas, Macrosoma tipulata (Lepidoptera: Hedylidae), Broca do broto

(Coleóptera: Curculuionidae) e Formigas (Hymenoptera: Formicidae), (SOUZA et al.,

1999).

A Broca-do-fruto é a praga de maior ocorrência no cupuaçuzeiro das áreas de cultivo

da Amazônia e acarreta graves prejuízos econômicos aos plantios nos casos de ataque intenso.

Duarte Aguilar et al. (1999) registram que no ano de 1998, a infestação da praga nos plantios

de Manaus foi de 85% a 93,33% nas áreas onde a broca já esta estava presente, causando

perdas crescentes e comprometendo quase toda a produção de cupuaçu no Município.

A broca-do-fruto é um besouro com tamanho aproximado de 10 mm de

comprimento, coloração em castanho escuro. O ciclo de vida da broca-do-fruto inicia com a

ovoposição da fêmea no interior do fruto. As larvas eclodem e se deslocam até as sementes,

37

das quais se alimentam. Ao atingirem o crescimento máximo migram em direção à casca do

fruto, abrindo um orifício de saída e caem no solo penetrando até uma profundidade média de

5 cm a 10 cm para empupar. O adulto emerge, acasala e efetua a ovoposição no fruto

repetindo o ciclo.

Mendes et al. (1997) estudaram em laboratório, a biologia da praga criada em gaiola

e alimentada com folhas e frutos novos de cacau para observar o tempo médio de duração,

dada em dias, de cada fase do ciclo evolutivo do inseto, obtendo os valores médios dados na

tabela 2 abaixo:

Tabela 2: Fases do ciclo evolutivo e tempo médio de desenvolvimento da broca-do-fruto do cupuaçu.

Fases do ciclo evolutivo Tempo médio de duração

(em dia)

Local de ocorrência

Ovo 4,7 Interior do fruto

Larva 26,6 Interior do fruto

Pré-pupa 6,0 No solo

Pupa 9,6 No solo

Pré-adulto 4,6 No solo

Total do ciclo (dias/média) 51,5

Fonte: Mendes et al. (1997), adaptada pela autora.

As fases de ovo e larva somam, em média, 31,3 dias e ocorrem no interior do fruto.

As fases de pré-pupa, pupa, e pré-adulto somam 20,2 dias e ocorrem no solo. O trabalho

constatou ainda que as cópulas ocorrem no mesmo dia da emergência. As fêmeas possuem

longevidade de, aproximadamente, 105 dias e possuem um período de pré-ovoposição de 16

dias e depositam 108 ovos, em média, durante a vida reprodutiva. Os machos vivem 63,6 dias,

em média, e podem acasalar com mais de uma fêmea.

Garcia et al. (1985) orientam que para o controle da praga não é recomendável o uso

de agrotóxicos, uma vez que este processo já foi testado para o curculionídeo em plantações

de cacau e não apresentou efeito positivo. Também deve ser observado o elevado custo

38

tornando o processo economicamente inviável e com elevado impacto ambiental. O uso

indiscriminado de agrotóxicos pode acarretar problemas com os polinizadores, alertando para

o fato de que nenhuma técnica isolada de controle para esta praga encontra-se disponível.

A lagarta rendilhadeira de folhas, as formigas saúvas e quenquéns, e a broca do broto

também são pragas comuns nos cupuaçuzeiro (Souza et al., 1999). Outras doenças e pragas de

menor importância também ocorrem nos cultivos de cupuaçu, porém, sem causar grandes

danos econômicos.

A floração e frutificação do cupuaçuzeiro podem ocorrer simultaneamente entre os

meses de novembro e março. O período de floração, que coincide com o menor período de

chuvas, inicia-se em junho e pode se estender até março com pico entre novembro e janeiro.

A frutificação ocorre entre novembro e junho atingindo o máximo em fevereiro e março.

O amadurecimento dos frutos, que ocorre entre 120 e 135 dias após o início da

floração, coincide com o maior período de pluviosidade, porém a presença de fruto temporão

pode ocorrer em julho (VENTURIERI et al., 1993, MULLER et al., 1995; RIBEIRO, 1997;

ALVES et al., 1997, citados por GONDIM, et al. 2001).

Os frutos do cupuaçu atingem o ponto ótimo de colheita entre quatro e cinco meses

após o início da floração. Quando fisiologicamente maduros exalam um forte e agradável

cheiro que os identificam na plantação (GONDIM et al., 2001).

Quando maduro, o cupuaçu se desprende da planta e cai no solo devendo ser

coletado diariamente ou, se possível, mais de uma vez por dia. Um fator de grande

importância na qualidade dos frutos é o tempo transcorrido entre a queda, a coleta e o

beneficiamento. Quanto menos for esse tempo, menor também será a possibilidade de

contaminação, de exposição ao sol, à chuva, ao ataque de animais silvestres, de insetos e de

ocorrências de reações de degradação da polpa (SOUZA et al., 2007).

Estudos de Souza et al. (2007) revelam que após a queda, os frutos perdem peso

rapidamente, chegando a diminuir mais de 20% do seu peso após dez dias de queda em seu

39

ambiente natural. Se mantidas em condições não recomendadas as perdas podem ser muito

maiores.

3.3.2. DESPOLPAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO

O cupuaçu necessita de alguns cuidados que devem ser rigorosamente observados

como forma de garantir a melhor produtividade de polpa e o bom aproveitamento das

sementes, devendo aplicá-los desde a coleta dos frutos, até a distribuição para

comercialização, conforme figura 3.

Figura 3: Etapas dos cuidados necessários com o cupuaçu desde a coleta até a distribuição

Para a coleta dos frutos é recomendado utilizar recipientes que facilitem o transporte

e manejo dos frutos dentro dos plantios, podendo ser utilizados sacos ou caixas. Os sacos

facilitam a movimentação dos volumes coletados, porém, oferecem pouca proteção contra

impactos, podendo facilmente ocorrer quebra dos frutos expondo a polpa e as sementes ao

risco de contaminação e desperdícios por questões sanitárias. O manejo dos frutos dentro dos

plantios também pode ser feito em caixas, preferivelmente de plástico, pois são mais leves

que as de madeira e facilitam a higienização podendo ser laváveis. O acondicionamento dos

frutos nestes recipientes é mais recomendado e oferece maior segurança diminuindo os riscos

de quebra dos frutos.

O transporte dos frutos do local de coleta até o ponto de armazenagem deve ser feito

imediatamente após a coleta dos plantios para garantir a integridade e a qualidade dos frutos.

40

Durante o transporte e a armazenagem os frutos não devem ser amontoados em grandes

volumes para evitar o excesso de peso e garantir a ventilação entre os frutos. Se o transporte

for feito em caminhões os frutos não devem ser transportados soltos para evitar o choque

mecânico entre eles e a quebra dos mesmos expondo a polpa e a semente a contatos com

moscas e a contaminação por microorganismos.

Ao se preparar os frutos para beneficiamento, seja na agroindústria ou na propriedade

rural, com despolpamento em máquina ou artesanal, é necessário observar todas as

recomendações inerentes aos procedimentos, tais como: instalações, equipamentos e

utensílios adequados, agilidade no processo e higiene em todas as etapas do processo.

Mesmo na agroindústria a quebra dos frutos e a retirada da casca é uma operação

manual que permite a visualização da polpa e uma melhor detecção de problemas internos que

com o fruto inteiro não é possível percebê-los. Devem ser descartados os frutos com manchas

escuras na casca e polpa estragada, sementes apodrecidas e polpa fermentada.

Para a garantia da qualidade do produto final, todas as etapas do beneficiamento

devem ser realizadas na agroindústria, à temperatura e as condições adequadas exigidas pela

legislação. As cascas e sementes devem ser destinadas para os fins específicos, devendo ser

imediatamente removidas do ambiente onde é processada a polpa. A casca pode ser triturada e

levada para compostagem e adubação dos plantios e as sementes devem ser encaminhadas

para o processo de fermentação, secagem e armazenamento em local adequado.

É aconselhável que o acondicionamento seja feito em embalagens de primeiro uso,

não sendo recomendada a reutilização. Estas medidas são necessárias para evitar as trocas

entre o alimento e o ambiente, impedindo a perda de água e substâncias voláteis da polpa, a

contaminação por quaisquer substâncias ou microrganismos e a ação do oxigênio e facilitar o

manuseio sem comprometer a qualidade do produto. Todas as embalagens devem ser

rotuladas e atender a todas as exigências legais.

Após o acondicionamento, as polpas devem ser imediatamente congeladas como

forma de garantir a sua qualidade. A demora no congelamento e a contaminação da polpa

permitem a fermentação dos açúcares e a produção de gases (CO2) dentro da embalagem. O

41

congelamento mais apropriado é por meio de túnel de congelamento. Na ausência destes

pode-se utilizar câmaras ou freezers. Nos casos da utilização de freezers, as embalagens

devem ser para quantidades pequenas adequadas para o potencial de congelamento. Depois de

congeladas, as polpas devem ser mantidas à temperatura variando entre -18°C a -22°C,

observando a quantidade e o sistema de empilhamento para não comprometer a qualidade do

produto e a circulação de ar (SOUZA et al., 2007).

A polpa do cupuaçu deve ser mantida congelada até o momento do consumo. O

transporte deve ser realizado em veículo frigorífico. Uma vez congelada, a polpa não deve ser

descongelada e congelada novamente. Grande parte da produção de polpa é comercializada no

próprio Estado do Amazonas e nos demais estados da região Norte; contudo, a

comercialização de polpa de cupuaçu alcança o mercado nacional e internacional com boa

aceitação de consumo. A venda da semente, in natura ou processada, também é feita no

próprio Estado, onde é beneficiada para a extração da manteiga.

3.4. AS SEMENTES DO CUPUAÇU

As sementes do cupuaçu representam uma fração significativa do fruto e apresentam

alto valor nutritivo (VENTURIERI e AGUIAR, 1988). Apesar disso, grande quantidade de

sementes de cupuaçu consiste de resíduos, sendo descartadas durante o beneficiamento do

fruto, em especial quando este é realizado no âmbito da propriedade rural.

O mercado de processamento das sementes oferece muitas perspectivas para o seu

aproveitamento que, quando beneficiadas, resulta na manteiga e na torta, sendo a primeira

bastante utilizada pela indústria de cosméticos e a segunda, com escala de uso menor, pela

indústria alimentícia na fabricação de chocolates em barra e em pó e para a fabricação de

ração para peixes e animais. Estudos mais recentes indicam o uso de componentes da semente

do cupuaçu para restringir o avanço da cárie dental, o que pode aumentar o interesse pela

cultura. Esse resultado foi obtido em pesquisa no departamento de odontologia da

Universidade de Illinois, nos EUA, com a pesquisadora brasileira Mirela Sanae Shinohara,

que conclui após seis meses de estudo, que o extrato das sementes do cupuaçu possui

componentes antioxidantes com propriedades capaz de restringir o avanço da cárie

42

(http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/5116/ciencia-e-tecnologia/semente-de-cupuacu-possui-

componente-capaz-de-restringir-o-avanco-da-carie, acesso em 19/02/2011).

As sementes do cupuaçu apresentam-se em número de 35 a 50 por fruto e

correspondem a 15 a 21,1% do peso deste, estando distribuída em torno de um eixo central, a

placenta, disposta de forma longitudinal em relação ao comprimento do fruto. As sementes

encontram-se firmemente protegidas pela polpa, que é abundante, de fibras longas, coloração

amarelada ou esbranquiçada, sabor ácido e odor forte. Possuem forma circular achatada com

dimensões médias de 2,5 a 2,6 cm de diâmetro por 2,0 a 2,3 cm de largura e 0,9 a 1,1 cm de

espessura (BARBOSA et al., 1979; CHAAR, 1980; OLIVEIRA, 1981; SILVA e SILVA,

1986).

3.4.1. O PROCESSAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU

O processamento das sementes do cupuaçu pode ser compreendido em duas etapas:

1) Despolpamento das sementes, fermentação e secagem, 2) Torrefação, extração da manteiga

e da torta.

A primeira etapa, do processamento das sementes, pode ser realizada na propriedade

rural pelo próprio produtor. O processo exige o conhecimento da técnica de fermentação e

secagem das sementes, para tanto, é necessária a construção de recipientes onde será realizada

a fermentação e de secadores para a secagem das sementes. Dada as condições de clima do

Estado do Amazonas, esse secador pode ser solar, o que reduz os custos de produção

proporcionando maiores ganhos econômicos para o produtor (Figura 4).

43

Figura 4: Secador solar de sementes. Fonte: Cupuama (2011): (www.cupuama.com.br)

O comportamento da temperatura durante o processo fermentativo caracteriza-se por

uma rápida elevação, decréscimo e estabilização. As sementes descongeladas ou frescas

iniciam a fermentação com 18° C e 29° C, respectivamente, e já no segundo dia, ambas

apresentam temperatura média de 40° C. Em seguida decrescem, atingindo 31° C no quarto

dia, estabilizando em seguida, à uma temperatura de 28° C a 29° C (ARAGÃO, 1992).

Segundo Aragão (1992), o processo de fermentação das sementes decorre de seis

(sementes descongeladas) ou sete dias (semente frescas) e provoca variações nas

características físicas e químicas das mesmas, alterando o peso, o tamanho, a cor, a umidade,

o pH e a acidez, gordura e compostos fenólicos. A concentração de fibras e os teores de

açúcar e proteína se mantêm quase constantes durante a fermentação. Ao término do processo

44

as sementes possuem teor médio de umidade 58,83% (sementes descongeladas) e 52,49%

(sementes frescas).

O processo de secagem consiste na exposição das sementes à temperaturas elevadas

para a diminuição dos teores de umidade mantidos após a fermentação. No caso da secagem

solar as sementes são colocadas ao sol por aproximadamente dez dias, quando alcançam a

umidade de 9,86% (sementes descongeladas) e 10,88% (sementes frescas) (ARAGÃO, 1992).

Ao término da secagem a semente está pronta para a torrefação que deve ser feita a

150° C, por 30 minutos. Neste processo acentua-se o “flavor” e a coloração marrom,

semelhando-se a do chocolate. Estas características mostram que as sementes do cupuaçu

constituem-se em matéria-prima para a obtenção do chocolate.

Segundo Aragão (1992), o valor nutricional das sementes fermentadas e tostadas foi

avaliada através de análises químicas e os resultados estão dispostos nas tabela 3 e 4.

Tabela 3: Composição mineral da semente (cotilédone) fermentado e tostado. Mineral Concentração (base seca) Nitrogênio (%) 1,69 Fósforo (%) 0,25 Potássio (%) 0,65 Cálcio (%) 0,54 Magnésio (%) 0,22 Enxofre (%) 0,16 Boro (ppm) 10,16 Cobre (ppm) 35,0 Manganês (ppm) 13,0 Zinco (ppm) 40 Ferro (ppm) 97,0 Fonte: Aragão (1992).

Os dados da tabela 3 mostram que a semente de cupuaçu pode ser considerada uma

boa fonte de minerais, e a tabela 4 com a composição química, confirma o alto valor

nutricional indicando que as sementes de cupuaçu beneficiadas se constituem em alternativa

viável para a alimentação humana, animal e de peixes, contudo, a maior aplicabilidade da

semente é a sua utilização pela indústria de cosméticos.

45

Tabela 4: Composição química do cotilédone fermentado e tostado. Constituintes Concentração (%)* Umidade 2,43 Gordura 56,42 Fibra 4,22 Cinza 2,18 Proteína (N x 6,25) 10,56 Carboidratos (por diferença) 24,19 Energia (kcal) 640,73 Fonte: Aragão (1992). *Concentração no produto com 2,43 % de umidade.

A manteiga de cupuaçu apresenta alto teor de lipídios (63,93 a 66,51%) e alto valor

calórico (677,35 a 691,17kcal/100g), com o teor de proteínas variando de 8,95 a 10,31%

(LUCCAS; KIECKBUSCH, 2006). Segundo esses autores, as formas cristalinas dessa

manteiga são muito semelhantes às encontradas na do cacau, permitindo a adição da manteiga

de cupuaçu nos produtos achocolatados de cacau para atender às exigências da ANVISA. A

forma V ou β foi a forma cristalina mais estável das duas gorduras. Essa semelhança nas

características polimórficas sugere que o uso do processo tradicional de temperagem para

chocolates com manteiga de cacau pura pode também ser usado em chocolates e compounds,

produzidos com substituição parcial ou total da manteiga de cacau pela gordura de cupuaçu,

respectivamente. Uma das poucas diferenças entre as duas manteigas se referem à temperatura

de fusão das formas de manteigas originárias das duas culturas. Devido a essas pequenas

diferenças, esses autores sugerem que na mistura das manteigas de cacau e cupuaçu, ajustes

na temperatura e no tempo de cristalização podem ser necessários durante a temperagem do

chocolate.

3.5. CADEIA PRODUTIVA

De acordo com Castro et al. (1998), a cadeia produtiva é o conjunto de componentes

interativos , incluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, indústrias

de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, além de

consumidores finais. Os sistemas produtivos se caracterizam como um subsistema da cadeia

produtiva reunindo um conjunto de fatores interativos que objetivam a produção. Dessa

forma, pode-se ampliar a definição de sistema produtivo como sendo um conjunto de

conhecimentos e tecnologias, aplicado a uma determinada população, em determinado

ambiente, de utilidade para o mercado consumidor, buscando atingir os objetivos desejados.

46

A figura 5 ilustra uma típica cadeia produtiva agrícola com seus principais

componentes e fluxos (CASTRO et al., 1995). Entre os componentes mais comuns estão os

indivíduos fornecedores de insumos, as propriedades agrícolas, com seus diversos sistemas

produtivos, agropecuários ou agroflorestais, as indústrias de processamento e/ou

transformação do produto, o comércio atacadista, o comércio varejista e os consumidores

finais que influenciam os demais componentes da cadeia. Estes componentes se relacionam

com o ambiente institucional, refletido nas leis e normas que regulam o setor e as instituições

e o ambiente organizacional, representado pelas instituições governamentais, financeiras.

Figura 5: Modelo geral de cadeia produtiva. Fonte: (Castro et al., 1995, adaptado de Zylbersztajn, 1994).

Neste contexto será analisado o sistema produtivo do cupuaçu, como forma de

compreender os fatores que influenciam e interferem na produção de frutos, polpa e sementes

de cupuaçu. As sementes do cupuaçu são beneficiadas na indústria de processamento, outro

componente da cadeia produtiva, resultando na manteiga de cupuaçu e na torta. O primeiro

subsidia a produção de cosméticos e o segundo atende o setor alimentício.

A figura 6 ilustra o processo produtivo do cupuaçu e apresenta as tecnologias que se

relacionam no sistema. Neste sentido vale destacar as tecnologias de pré-colheita, que se

constituem nas práticas culturais, quase sempre assistidas pelas técnicas de pesquisas em

melhoramento genético, como forma de melhorar a nutrição das plantas, controle de pragas e

doenças, a densidade para evitar a competição negativa e a disseminação de pragas e doenças.

47

Figura 6: Processo produtivo do cupuaçu.

48

Em outra instancia estão as tecnologias de pós colheita, compreendidas como

aquelas diretamente relacionadas à produção de frutos e seus subprodutos, quais sejam:

a polpa, a casca e as sementes. Por está análise busca-se compreender o gerenciamento

do processo produtivo do cupuaçu como forma de dinamizar as operações de produção,

processamento, armazenamento, distribuição e comercialização dos produtos e

subprodutos obtidos na cultura, objetivando maximizar a produção biológica e/ou

econômica, minimizar os custos, maximizar a eficiência das operações em consórcio

para a efetivação da comercialização, distribuição e beneficiamento, proporcionando a

sustentabilidade da cultura na região.

3.6. AS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS

De acordo com informações de Garcia et al. (2003), a indústria de cosméticos

surgiu a partir do desenvolvimento dos conhecimentos na área da bioquímica que

comporta a indústria química.

Apesar das controvérsias no tocante à classificação da indústria química e na

definição de seus segmentos, a Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM

acredita que o setor químico está melhor estruturado, fato decorrente do resultado de

esforços de organismos nacionais e internacionais conforme indicação da própria

ABIQUIM (2010), que descreve a trajetória desses organismos no objeto de diminuir ou

eliminar as divergências do setor como descrito a seguir:

Com o objetivo de eliminar essas divergências, a ONU, há alguns anos, aprovou nova classificação internacional para a indústria química, incluindo-a na revisão n° 3 da ISIC (International Standard Industry Classification) e recentemente na Revisão n° 4. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com o apoio da ABIQUIM, definiu, com base nos critérios aprovados pela ONU, uma nova Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e promoveu o enquadramento de todos os produtos químicos nessa classificação.

Durante o ano de 2006, o IBGE redefiniu toda a estrutura da CNAE,

adaptando-a à revisão n° 4 da ISIC. Após a conclusão dessa revisão, os segmentos que

compõem as atividades da indústria química passaram a ser contemplados nas divisões

20 e 21 da CNAE 2.0, válida a partir de janeiro de 2007”. Nesse contexto, a indústria

49

química foi dividida em dois grandes blocos: fabricação de produtos químicos orgânicos

e fabricação de produtos químicos inorgânicos.

Consta na seção de Indústrias de Transformação da CNAE 2.0 na divisão

20.63-1, o reconhecimento da atividade de fabricação de cosméticos, produtos de

perfumaria e de higiene pessoal.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, criada em

1.999 através da lei n° 9.782, é o órgão responsável pela regulamentação do setor. A

Resolução n° 79, de 28 de agosto de 2000, regula a produção e a comercialização de

cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumaria.

A Resolução da Diretora Colegiada – RDC 211, de 14 de julho de 2005, em

seu anexo I, trás a definição de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes

como sendo:

1. Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo, nas diversas partes do corpo humano, como pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado.

A RDC 211/05 classificou os produtos em dois grupos, denominados de grau 1

e grau 2. Os parâmetros utilizados para esta classificação foram embasados na

probabilidade de ocorrências de efeitos pelo uso, no constituinte da fórmula, finalidade

de uso, áreas do corpo a que se destinam e recomendações de uso, conforme o anexo II

da referida resolução, descritos a seguir:

1. Definição de produtos de Grau 1: são produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, cuja formulação cumpre com a definição adotada no item 1 do Anexo I desta resolução e que se caracterizam por possuírem propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições de uso, devido às características intrínsecas do produto, conforme mencionado na lista indicativa “LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 1” estabelecida no item “I” do anexo.

50

2. Definição de Produtos de Grau 2: são produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes, cuja formulação cumpre com a definição adotada no item 1 do Anexo I desta Resolução e que possuem indicações específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso, conforme mencionados na lista indicativa “LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 2” estabelecidas no item II do anexo.

A lista de produtos de grau 1 da RDC 211/05, citada no parágrafo anterior,

agrega 52 produtos e a Lista de Produtos de Grau 2 é ainda maior com 63 produtos.

A Resolução trás ainda, em seu Anexo III, os requisitos técnicos específicos

para produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes.

No Brasil, a indústria de cosméticos é classificada como um segmento da

indústria química e representa 1/8 da produção da indústria química mundial

(IBGE/CNAE, 2009). A Sociedade Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos – ABIHPEC revela que, nos últimos doze anos a indústria de

HPPC teve um crescimento médio deflacionado muito superior ao da indústria em geral

e ao crescimento do Produto Interno Bruto – PIB, analisados no mesmo período.

O governo brasileiro e o governo do Estado do Amazonas, através dos

mecanismos de desenvolvimento regional, institutos de pesquisa e instituições de

ensino, e em esforço conjunto com as entidades que acompanham o setor de HPPC no

Brasil, tem incorporado nas políticas macro de desenvolvimento do país, das regiões e

do Estado, propostas de modelos que utilizem de forma sustentável os recursos da

biodiversidade. Nesta linha, o governo federal estruturou o Programa Brasileiro de

Biologia Molecular- PROBEM, para uso sustentável da biodiversidade da Amazônia. O

PROBEM tinha como meta principal a construção de um Centro de Biotecnologia. O

Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA foi implantado no Distrito Industrial da

Zona Franca de Manaus. Outra iniciativa foi a criação do curso de pós-graduação em

Biotecnologia e Recursos Naturais, da Universidade do Estado do Amazonas – UEA

(mestrado) e o de Biotecnologia multi-institucional (mestrado e doutorado) sediado na

Universidade Federal do Amazonas – UFAM, para a formação de recursos humanos na

área de biotecnologia e conservação de recursos naturais. Na esfera Estadual, a

Secretaria de Planejamento do Estado do Amazonas – SEPLAN, juntamente com a

51

SUFRAMA criaram o Distrito Industrial de Médias e Pequenas Empresas – DIMPE,

com espaço reservado para o desenvolvimento da indústria de HPPC.

Estas ações permitiram conhecer melhor a biodiversidade brasileira para

proteger com segurança esse patrimônio e gerar riquezas pela agregação de valor aos

produtos comercializados ou industrializados a partir de recursos naturais, promovendo

o desenvolvimento local, regional e nacional e possibilitando uma estimativa de valor

econômico da biodiversidade brasileira.

O Fórum de Competitividade do Ministério de Desenvolvimento da Indústria e

do Comércio Exterior – MIDIC, criou um Grupo de Trabalho – GT, para apoiar o

desenvolvimento do setor de HPPC. Entre as diretrizes do GT está a de consolidar o

produto brasileiro como solução ambiental sustentável e o desenvolvimento do setor (de

HPPC) na Zona Franca de Manaus.

A Superintendência da Zona Franca de Manaus – SUFRAMA, órgão

responsável pela administração da Zona Franca de Manaus – ZFM, no empenho de

construir um modelo de desenvolvimento regional que utilize de forma sustentável os

recursos naturais da região criou o Pólo de Cosméticos de Manaus, através do Decreto

783, de 25 de março de 1993. A portaria Interministerial - PI n° 842 de 31 de dezembro

de 2007 estabeleceu as participações em valor agregado local e quantidades mínimas de

utilização de insumos regionais a serem utilizados em produtos de HPPC.

Tomadas estas iniciativas, a expectativa era de que novos projetos industriais

para o segmento de HPPC dessem entrada para aprovação na SUFRAMA, visto que,

ajuntado à regulamentação legal do PPB, estava a disponibilidade de recursos naturais

em abundância na biodiversidade amazônica para desenvolvimento do setor.

Passados dezesseis anos de vigência do Decreto 783/93, o Pólo de Cosméticos

de Manaus ainda não atingiu a magnitude de produção que pudesse satisfazer as

expectativas iniciais de sua implantação, que era de desenvolver a indústria de HPPC na

região. Com isso, essa indústria poderia aproveitar, de forma sustentável, o potencial da

biodiversidade amazônica, tornando o Pólo competitivo em relação às demais regiões

do país, com uma participação expressiva na instalação de novas indústrias e fabricação

52

de produtos que conquistassem a preferência do consumidor no cenário nacional e

internacional.

Segundo Nogueira (2006), o PIM é composto de 27 sub-setores industriais,

quais sejam: bebidas alcoólicas; bebidas não alcoólicas; borracha; brinquedos;

comunicação; copiadoras e similares; couro; peles e assemelhados; descartáveis; duas

rodas; editorial e gráfico; elétrico; eletrônico; madeireiro; mecânico; metalúrgico;

materiais não metálicos; mobiliário; ótico; papel; papelão e celulose; plásticos; produtos

alimentícios; produtos têxteis; químico; relógios; transportes, exceto duas rodas;

vestuário, calçados, artigos de tecido e de viagem e diversos.

A utilização de recursos tecnológicos permite a rápida modernização de toda a

cadeia produtiva de um determinado segmento, favorecendo a otimização dos processos

produtivos e com isso, permitido que produtos personalizados cheguem cada vez mais

rápido ao consumidor final estimulando o consumo.

A indústria de cosméticos caracteriza-se, entre outros aspectos, pela constante

necessidade de inovações e gasta anualmente grandes somas de recursos em

lançamentos e promoções de novos produtos. Dentre os fatores relevantes para a

competitividade dessas empresas, destaca-se a importância dos ativos comerciais, como

marca, embalagens e canais de comercialização e distribuição. Outro fator relevante é a

capacidade de desenvolvimento de novos insumos, principalmente essências, princípios

ativos e novas substâncias que são incorporadas aos produtos (Garcia et al., 2003).

Desse modo, a inovação tecnológica se revela um importante fator competitivo

para a indústria de cosméticos, justificando a aplicabilidade elevada de recursos em

pesquisa e desenvolvimento. A ABIHPEC, entidade brasileira que acompanha o setor

de cosméticos no Brasil, revela que apesar dos baixos índices de crescimento do país, a

Indústria Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), teve um

crescimento médio deflacionado de 10,6%, no período de 1996 a 2008, o que demonstra

um crescimento bem significativo se considerarmos que a indústria em geral cresceu, no

mesmo período, 2,9% e o Produto Interno Bruto (PIB), teve crescimento total de 3,0%,

conforme tabela 5.

53

Tabela 5: Variação anual do PIB brasileiro, das indústrias em geral e do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.

VARIAÇÃO ANUAL – PORCENTAGEM

ANO PIB INDÚSTRIA GERAL SETOR DEFLACIONADO

1996 2,7 3,3 17,2

1997 3,3 4,7 13,9

1998 0,2 -1,5 10,2

1999 0,8 -2,2 2,8

2000 4,3 6,6 8,8

2001 1,3 1,6 10,0

2002 2,7 2,7 10,4

2003 1,1 0,1 5,0

2004 5,7 8,3 15,0

2005 2,9 3,1 13,5

2006 3,7 2,8 15,0

2007 5,7 4,9 9,7

2008 5,1 4,3 7,1

Acumulado (últimos 13 anos) 47,3 45,7 270,0

Média (últimos 13 anos) 3,0 2,9 10,6

Fonte: ABIHPEC/IBGE (2009).

Os dados da ABIHPEC também revelam que o país manteve, a partir de 2002,

um superávit crescente na Balança Comercial para o segmento de HPPC, mesmo

quando o contexto globalizado da economia provocou sucessivas desvalorizações do

Real, principalmente em razão da crise econômica da Argentina em 2001, com um

superávit de US$ 2,7 bilhões. Em 2006 atingiu US$ 46,5 bilhões. Em 2008 o superávit

foi de US$ 24,8 bilhões de dólares, ainda bastante favorável se comparado aos outros

segmentos de produção e, considerada a crise econômica que se abateu sobre o mercado

global em 2008 e 2009.

54

A tabela 6 trás informações da Balança Comercial de 1998 a 2008.

Tabela 6: Balança comercial do mercado brasileiro para o segmento de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.

BALANÇA COMERCIAL MERCADO TOTAL (US$ bilhões)

ANO IMPORTAÇÃO EXPORTAÇÃO SALDO

1998 57,8 51,1 -6,6

1999 49,3 48,0 -1,3

2000 55,9 55,1 -0,7

2001 55,6 58,3 2,7

2002 47,2 60,4 13,2

2003 48,3 73,2 24,9

2004 62,8 96,7 33,8

2005 73,6 118,5 44,9

2006 91,4 137,8 46,5

2007 120,6 160,6 40,0

2008 173,2 197,9 24,8

Fonte: ABIHPEC/SECEX (2009).

De acordo com informações do Departamento de Pesquisas e Estudos

Econômicos – DEPEC (2009) do Bradesco, o aquecimento do setor de higiene pessoal,

perfumaria e cosméticos justifica-se principalmente pela “crescente participação da

mulher no mercado de trabalho; pelo lançamento constante de produtos; aumento da

expectativa de vida; pela maior segmentação – com a criação de produtos voltados para

o público masculino, afro-descendentes, adolescentes, infantil e maior consumo nas

regiões Norte e Nordeste do país”.

Segundo a ABIHPEC (2009), a indústria brasileira de HPPC apresentou um

crescimento significativo no período de 2004 a 2008, tendo passado de um faturamento

de R$ 13.490.600,00 em 2004 para R$ 21.654.800,00 em 2008, apresentando um

crescimento médio para o período de 13,5%, conforme a figura 7.

55

Figura 7: Crescimento das indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos no Brasil entre 2004 e 2008 (ABIHPEC, 2009).

O panorama do perfil empresarial 2009 do setor de higiene pessoal, perfumaria

e cosméticos, contabilizou a existência de 1.755 empresas atuando no mercado de

produtos de HPPC. Desse total, 14 empresas são de grande porte, com faturamento

líquido de impostos acima dos R$ 100 milhões, representando 73,4% do faturamento

total do segmento. As 1.755 empresas brasileiras de HPPC estão distribuídas no

território brasileiro da seguinte forma: região Norte, 26 empresas, região Centro-Oeste,

124, região Nordeste 151, região Sudeste 1.117, região Sul, 337 (ABIHPEC, 2009).

Os dados do perfil empresarial da ABIHPEC são de acordo com as

informações da ANVISA para as empresas que possuem registro e têm autorização para

funcionar. Supõe-se que boa parte da matéria prima de rotulação “produto amazônico”

usada pelas empresas brasileiras sediadas em outras regiões venha da Região Norte,

gerando mais desenvolvimento e empregos fora da Amazônia. Assim, consolidar a

Indústria de Cosméticos em Manaus pode contribuir, mesmo que parcialmente, para

reverter esse processo de exportação da matéria prima ainda no estado bruto e por isso,

com baixo retorno à população do Norte brasileiro.

56

Ainda com base em dados da ABIHPEC (2009), das 26 empresas distribuídas

na região Norte, nove estão instaladas no Estado do Amazonas e possuem autorização

da ANVISA para operar, conforme tabela 7.

Tabela 7: Empresas do Estado do Amazonas com autorização da ANVISA para funcionamento. Autorização Nome CNPJ Cidade UF

2035767 Amazon Cosméticos Ltda 03.657.734/0001-36 MANAUS AM

2035386 S/A Pharmacos e Cosméticos Ltda 04.302.688/0001-15 MANAUS AM

2020013 Amazon Ervas Laboratório Botânico Ltda 05.501.937/0001-64 MANAUS AM

2025038 Pronatus do Amazonas Ind. e Com. de Prod. Farm.Cosm. Ltda

14.186.324/0001-70 MANAUS AM

2013521 Essencial Arte em Perfumaria Ltda 15.768.500/0001-45 MANAUS AM

2011819 Amazon Biocosméticos Ltda 23.002.512/0001-92 MANAUS AM

127200 Segredos Vegetais Laboratórios Botânicos Ltda

34.564.021/0001-51 MANAUS AM

2017691 Amazon Fórmula Ind. Com. Ltda 34.581.785/0001-55 MANAUS AM

2017154 Procter & Gamble do Brasil S/A 59.476.770/0001-58 MANAUS AM

Fonte: ABIHPEC (2009).

Além dessas, outras dez empresas submeteram propostas na Superintendência

da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA para licença de atuação no Pólo Industrial de

Manaus (tabela 8).

Tabela 8: Empresas do Estado do Amazonas, setor químico/cosméticos, com projetos apresentados à SUFRAMA.

Empresa Insc. SUFRAMA Situação

Amazon Ervas - Laboratório Botânico 20.0778.01-1 Produzindo

S/A.Pharmacos e Cosméticos Ltda -- --

Amazombio Indústria e Comércio Ltda -- --

Amazongreen Indústria e Comércio de Cosméticos e Perfumaria da Amazônia Ltda

-- Produzindo

Amazon Cosméticos Ltda 20.1003.01-5 Produzindo

Essencial Arte em Perfumaria Ltda -- --

Pronatus do Amazonas Indústria e Comércio de Produtos Farmaco-Cosméticos Ltda

20.1099.01-2 Produzindo

Amazon Biotechnology Indústria Farmac. Ltda -- --

Magma Industrial Ltda 20.0892.01-0 Produzindo

Anavilhanas Indústria e Comércio de Cosméticos Ltda -- --

Fonte: SUFRAMA (2009).

57

4. MATERIAL E MÉTODO

4.1. ÁREA DE ESTUDO

A área de abrangência desta pesquisa se restringe ao Estado do Amazonas,

maior Estado brasileiro, com área geográfica correspondente a 1.570.745,680 km2,

distribuídos em 62 municípios, com população de 3.393.369 habitantes (IBGE, 2010).

O Estado do Amazonas situa-se ao centro da região Norte do Brasil, na sub-

região amazônica, caracterizada por grande diversidade do meio natural: clima,

geomorfologia, solos, hidrografia e vegetação. Limita-se ao Norte com o estado de

Roraima, e duas fronteiras internacionais, Venezuela e Colômbia; a Leste com o estado

do Pará; a Sudeste com o Mato Grosso; ao Sul com o Estado de Rondônia e a Sudoeste

com o estado do Acre agregando mais uma fronteira internacional com o Peru. Abriga a

maior floresta equatorial do planeta. Geograficamente, apresenta Latitude ao extremo

Norte de 2°08’30’’ e ao extremo Sul, de 9°49’00’’; Longitude, ao extremo Leste de

56°04’50’’ e ao extremo Oeste de 73°48’46 (INPA, 2010).

4.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A pesquisa que fundamentou este trabalho foi desenvolvida em cinco

Municípios do estado do Amazonas, quais sejam: Manaus, Careiro, Itacoatiara,

Presidente Figueiredo e Manacapuru.

O Município de Manaus é capital do Estado, onde estão instaladas as principais

indústrias da Zona Franca de Manaus, entre elas as indústrias de higiene pessoal,

perfumaria e cosméticos, que serão também objeto de estudo desta pesquisa.

No Município do Careiro está instalada a principal indústria de beneficiamento

da semente de cupuaçu para extração da manteiga e do óleo, matéria-prima do cupuaçu

com uso em larga escala pelas indústrias de cosméticos.

58

Nos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru estão

alocadas as propriedades rurais produtoras de cupuaçu que subsidiaram esta pesquisa na

coleta de dados no âmbito da produção agrícola dessa cultura (Figura 8).

Figura 8: Área geográfica de realização da pesquisa.

4.1.1.1. ASPECTOS FÍSICOS E GEOGRÁFICOS DOS MUNICÍPIOS

O Município de Manaus é a capital do Estado do Amazonas, possui área

territorial de 11.408 Km², está situado na 7ª Sub-Região do Estado, na Região do Rio

Negro - Solimões, fazendo limites com os Municípios de Rio Preto da Eva, Iranduba,

Novo Airão, e Presidente Figueiredo. O Município dispõe de transporte aéreo,

rodoviário e fluvial, com acesso via terrestre para os Estados de Rondônia – BR 319 e

Roraima – BR 174, podendo, por este Estado, se deslocar para os países latinos por via

terrestre. Pelo transporte aéreo pode se deslocar para qualquer parte do país ou do

exterior. Pelo Transporte Terrestre pode se deslocar para o Estado do Pará e Rondônia e

para todo o interior do Amazonas. O clima predominante é quente e úmido, com

temperatura média de 26,7° C (IDAM, 2010). O Município possui uma população de

1.802.525 habitantes, sendo 1.793.416 na zona urbana e 9.109 na zona rural (IBGE,

2010).

59

O Município do Careiro possui área territorial de 6.097 Km², está situado na 7ª

Sub-Região do Estado, na Região do Rio Negro - Solimões, fazendo limites com os

municípios de Autazes, Borba, Careiro da Várzea, Manaquiri, Iranduba, Manaus e

Itacoatiara. O acesso ao Município é por transporte rodoviário e fluvial, com acesso

para Manaus pela BR 319, sendo necessária a travessia dos Rios Negro - Solimões, na

altura do encontro das águas. Distante de Manaus 102 Km (em linha reta), pela via

terrestre. O clima predominante é tropical chuvoso e úmido, com temperatura média de

26° C (IDAM, 2010). O Município possui uma população de 32.631 habitantes, sendo

9.440 na zona urbana e 23.191 na zona rural (IBGE, 2010).

O Município de Itacoatiara possui área territorial de 8.910 Km², está situado na

8ª Sub-Região do Estado, na Região do Médio Amazonas, fazendo limites com os

municípios de Itapiranga, Silves, Urucurituba, Boa Vista do Ramos, Maués, Nova

Olinda do Norte, Autazes, Careiro, Manaus e Rio Preto da Eva. O acesso ao Município

é por transporte rodoviário e fluvial, com acesso para Manaus pela AM 010. Distante de

Manaus 175 Km (em linha reta) via terrestre e 201 Km via fluvial. O clima

predominante é tropical chuvoso e úmido, com temperatura média de 27° C (IDAM,

2010). O Município possui uma população de 86.840 habitantes, sendo 58.175 na zona

urbana e 28.665 na zona rural (IBGE, 2010).

O Município de Presidente Figueiredo possui área territorial de 25.421 Km²,

está situado na 8ª Sub-Região do Estado, na Região do Médio Amazonas, limitando-se

com os municípios de Urucará, São Sebastião do Uatumã, Itapiranga, Rio Preto da Eva,

Manaus, Novo Airão e o Estado de Roraima. O principal meio de transporte do

município é rodoviário, ligado à Manaus pela BR 174, distante 107 Km (em linha reta)

da capital. O clima predominante é tropical quente e úmido, com temperatura média de

32° C (IDAM, 2010). O Município possui uma população de 27.121 habitantes, sendo

12.999 na zona urbana e 14.122 na zona rural (IBGE, -2010).

O Município de Manacapuru possui área territorial de 7.335 Km², está situado

na 7ª Sub-Região do Estado, na Região do Rio Negro, limitando-se com os municípios

de Iranduba, Manaquiri, Beruri, Anamã, Caapiranga e Novo Airão. O transporte do

município é rodoviário e fluvial, ligado à Manaus pela AM 070, distante de Manaus 68

Km (em linha reta) pela via terrestre e 88 Km pela via fluvial. O clima predominante é

60

tropical chuvoso e úmido, com temperatura média de 26° C (IDAM, 2010). O

Município possui uma população de 85.144 habitantes, sendo 60.178 na zona urbana e

24.966 na zona rural (IBGE, 2010).

4.2. MÉTODOS

Esta pesquisa utilizou-se do método de estudo exploratório, buscando

identificar o potencial de uso do cupuaçu em escala industrial. Para tanto buscou

identificar os aspectos que interferem e influenciam no processo de aproveitamento dos

subprodutos do cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. Ex Spreng. Schum.) pela

indústria de cosméticos de Manaus.

O trabalho analisou três segmentos da cadeia de transformação do cupuaçu em

insumo para a indústria de cosméticos: as propriedades rurais produtoras de cupuaçu, as

indústrias de processamento dos subprodutos dessa cultura e as empresas de produto

final de cosméticos que utilizam matéria-prima do cupuaçu em seu processo fabril.

No âmbito agrícola, realizou-se um levantamento nas propriedades rurais para

verificar qual o nível de organização das propriedades para a cultura do cupuaçu, e o seu

potencial produtivo a fim de entender como os produtores de cupuaçu enxergam o

potencial de mercado para as sementes do cupuaçu.

O estudo também buscou verificar a presença ou não de contaminação dos

plantios de cupuaçu por pragas e/ou doenças nos três municípios estudados, e ainda a

existência ou inexistência do controle destas, bem como o nível de conhecimento por

parte dos produtores para evitar a sua proliferação.

As formas de comercialização dos produtos da cultura do cupuaçu foram

também observadas para identificar as categorias de compradores envolvidos na

comercialização desses produtos, se cooperativas, empresas ou intermediários; a forma

de comercialização, se no atacado ou varejo; o local de entrega dos produtos, se na

propriedade rural ou no empreendimento comercial e o preço médio de venda dos

subprodutos comercializados. Neste momento se buscava conhecer os fatores favoráveis

61

ou desfavoráveis dentro do processo de comercialização e quais os subprodutos

comercializados.

Este trabalho também diagnosticou o beneficiamento do cupuaçu nas

propriedades estudadas em cada município para identificar os casos em que o mesmo

está sendo realizado e qual o tipo de beneficiamento feito, se retirada da casca, da polpa,

da semente ou da placenta; bem como verificar a forma como esse processamento é

realizado, se artesanal ou mecanizado e ainda qual a forma de acondicionamento e

conservação do produto, se em freezers ou em camas frigoríficas.

Outro aspecto analisado foi a forma de comercialização da produção agrícola:

se em frutos in natura ou polpa de cupuaçu, a fim de compreender quais os

subprodutos comercializados e qual o destino dado às sementes, insumo básico para a

produção de manteiga. Nesta etapa, foi verificada qual a forma de extração da polpa, se

mecanizada ou manual. Pela observação deste processo foi possível perceber a

qualidade de obtenção das sementes que posteriormente passam por um processo de

fermentação e secagem antes da retirada da manteiga.

Foi ainda verificado como se dá o processo de comercialização dos

subprodutos para, a partir de então, compreender o caminho percorrido pelas sementes

até chegar às indústrias de processamento.

No levantamento prévio feito nas propriedades rurais dos Municípios

estudados, percebeu-se que os produtores não costumam manter dados gerais sobre as

culturas mantidas em sua propriedade. No caso do cupuaçu não sabiam informar a

quantidade de frutos, sementes e casca produzidos por safra, conhecendo somente a

quantidade de polpa (kg), que foi comercializada, bem como a área cultivada com a

cultura, espaçamento e às vezes, o número de cupuaçuzeiros em suas propriedades.

Para se obter dados sobre o percentual médio do fruto e dos subprodutos foi

elaborado questionários, (em anexo) com perguntas sobre a quantidade de polpa

comercializada por safra. Durante a aplicação dos questionários verificou-se que a polpa

era comercializada de duas formas: 1) havia produtores que despolpavam o cupuaçu, de

forma artesanal, e vendiam somente a polpa; 2) em outras propriedades o cupuaçu era

62

apenas descascado e a polpa vendida junto com a semente e a placenta para os

atravessadores, geralmente, indústrias de processamento de polpas, que faziam o

despolpamento.

Na primeira alternativa o peso da polpa era real em kilogramas. Nestes casos,

para encontrar a quantidade de semente, casca e placenta, respectivamente, foram

utilizadas as seguintes fórmulas de cálculo considerando-se os percentuais indicados por

Souza et al. (1999) mostrados na figura 1. Com base nos valores médios desses autores,

consideraram-se nos cálculos abaixo, os seguintes valores: SF (percentual de sementes

nos frutos) = 15; PF (percentual de polpa nos frutos) = 37,3; PlF (percentual de placenta

nos frutos) = 2,5; CF (percentual de casca nos frutos) = 45,2.

Cálculos para os casos em que é vendida somente a polpa:

1.a) Cálculo do peso de sementes (PS):

PS = PP x SF = PP x 15 ou PS = PP x 0,402 (PF+SF) 37,3

Onde PS é o peso das sementes, PP é o peso das polpas.

1.b) Cálculo do peso da casca (PC):

PC = PP x CF = PC x 45,2 ou PC = PP x 1,212 (PF+CF) 37,3

Onde PC é o peso das cascas, PP é o peso das polpas.

1.c) Cálculo do peso da placenta (PPl):

PPl = PP x PlF = PPx 2,5 ou PPl = PP x 0,067 (PF+PlF) 37,3

63

O peso da placenta é igual ao peso da polpa vendida, multiplicada pelo

percentual de placenta contido no fruto, dividido pelo percentual de polpa do fruto

podendo também ser multiplicado o peso da polpa por 0,067.

Onde PPl é o peso das placentas, PP é o peso das polpas.

2.) Cálculos representativos para os casos em que é vendida a polpa, sementes

e placenta juntos:

2.a) Cálculo do peso da polpa (PP):

PP = (P+S+Pl) x PF = (P+S+Pl) x 37,3 ou PP = (P+S+Pl) x 0,681 (PF+SF+PlF) 54,8

Onde PP é o peso das polpas, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes + placentas.

2b) Cálculo do peso da placenta (PPl):

PPl = (P+S+Pl) x PlF = (P+S+Pl) x 2,5 ou PPl = (P+S+Pl) x 0,0456 (PF+SF+PlF) 54,8

Onde PPl é o peso das placentas, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes + placentas.

2.c) Cálculo do peso das sementes (PS):

PS = (P+S+Pl) x SF = (P+S+Pl) x 15,0 ou PS = (P+S+Pl) x 0,274 (PF+SF+PlF) 54,8

Onde PS é o peso das sementes, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes +

placentas.

64

2.d) Cálculo do peso das cascas (PC):

PC = (P+S+Pl) x CF = (P+S+Pl) x 45,2 ou PC = (P+S+Pl) x 0,825 (PF+SF+PlF) 54,8

Onde PS é o peso das sementes, P+S+Pl é o peso da polpa + sementes + placentas.

Desta forma foi possível obter os dados representados nas tabelas 8, 12 e 16,

sobre a produção de polpa de cupuaçu, produção de sementes e a quantidade de cascas e

placenta obtidas na safra de 2009-2010. Esses dados permitiram ainda conhecer a

quantidade de polpa e de sementes e casca produzida por árvore de cupuaçu, utilizando,

respectivamente, os seguintes cálculos.

PPA = PP; PSA = PS ; PCA = PC APF APF APF

Onde PPA, PSA, PCA e APF, são, respectivamente, produções de polpa por

árvore, produção de semente por árvore, produção de casca por árvore e árvores em fase

de produção de frutos, descritos nas tabelas 8, 12 e 16.

Na indústria de processamento foi verificada a demanda de sementes e o

processo de extração da manteiga de cupuaçu. No que se refere a aquisição de

amêndoas foi verificada a relação entre a quantidade demandada pela indústria de

processamento e aquela ofertada pelo fornecedor, bem como a condições de qualidade

das sementes que chegam na indústria para identificar possíveis beneficiamentos

realizados nestas antes de sua entrada como matéria-prima para o processamento. Outro

fator observado foi a assistência prestada aos fornecedores no sentido de qualificá-los

para o preparo das sementes, no aspecto da fermentação e secagem (etapa que pode ser

feita propriedade rural).

Os níveis de comercialização foram verificados para mensurar o potencial de

consumo da manteiga e do óleo de cupuaçu.

65

Nas indústrias de produto final foram verificados quais os produtos utilizam

matérias-primas oriundas do cupuaçu e qual a forma de aquisição destes insumos,

observando a satisfação na quantidade demandada e na oferta de mercado para atender a

necessidade da empresa. Os dados foram coletados pela aplicação de questionários,

entrevistas e visitas in loco à indústria para verificação das etapas envolvidas na cadeia

de transformação das sementes.

Nos que se refere aos insumos do cupuaçu na indústria de produto final de

cosméticos verificou-se três fatores, que são imprescindíveis para a produção industrial

em escala: a qualidade da matéria-prima, a quantidade ofertada e a regularidade no

fornecimento, como forma de identificar os fatores favoráveis e desfavoráveis no

processo produtivo de cosméticos a partir de insumos do cupuaçu. O procedimento

utilizado foi a aplicação de questionários e visita às fábricas de cosméticos do Pólo

Industrial de Manaus, especialmente aquelas alocadas no Distrito Industrial de Médias e

Pequenas Empresas – DIMPE e no Centro de Incubação e Desenvolvimento de

Empresas. – CIDE.

4.3. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Por meio do levantamento bibliográfico e de informações verbais na coleta de

dados primários nos três setores envolvidos na pesquisa: indústrias de produto final de

higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, indústrias de processamento das sementes

para extração de manteiga e produção de torta e as propriedades agrícolas produtoras de

cupuaçu, busca-se construir a cadeia de processamento do cupuaçu, analisando seu

potencial para atender as indústrias de cosméticos do Pólo Industrial de Manaus, com

foco nos subsídios básicos para a produção pautados na qualidade, quantidade e escala

no fornecimento de insumos conforme demanda do mercado.

Considerando as diversas classificações dos tipos de pesquisas específicas

citadas pelos especialistas da área, este trabalho pode ser classificado como sendo do

tipo exploratório, que de acordo com Mattar (1994) se caracteriza por proporcionar um

maior conhecimento sobre o tema em estudo, sendo indicada para os estádios iniciais da

investigação, quando não se tem conhecimento mais profundo do problema de pesquisa.

66

4.4. PESQUISA DE CAMPO

As pesquisas de campo foram realizadas nas propriedades rurais dos

municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, nas cooperativas

agrícolas destes municípios, nos casos em que havia, nas empresas de processamento de

polpa e indústrias de processamento das sementes de cupuaçu e em indústrias de

produtos final de cosméticos.

No Município de Itacoatiara a coleta de dados foi feita na Comunidade Sagrado

Coração de Jesus, Localizada na região do Novo Engenho, e na região do Novo

Remanso. No Município de Presidente Figueiredo a coleta abrangeu as Comunidades de

São Jorge e São Miguel, localizadas ao longo da rodovia AM 240. No Município de

Manacapuru os dados foram coletados na comunidade de Santa Luzia, repartimento do

Tuiuê/Aquidabam. No Careiro a coleta foi feita na indústria de processamento da

semente para extração de óleo e manteiga, a CUPUAMA. Em Manaus foram coletados

dados nas empresas fabricantes de cosméticos do Pólo Industrial de Manaus.

O instrumento utilizado para a obtenção desses dados foi a aplicação de

questionários (em anexo), destinados aos gestores e proprietários das empresas, às

cooperativas agrícolas e/ou associações dos municípios alvo da pesquisa e aos

responsáveis pelas propriedades agrícolas envolvidas no estudo.

Para a execução dos objetivos desta pesquisa foram adotadas três linhas

metodológicas. Inicialmente foram realizadas visitas técnicas em empresas fabricantes

de produtos acabados do segmento de cosméticos em Manaus para levantamentos de

dados primários com o propósito de identificar quais empresas fabricavam algum tipo

de produto utilizando o cupuaçu como matéria-prima. Neste momento ficou evidente

que algumas destas empresas compravam os insumos das indústrias de processamento,

que adquiriam os frutos de cupuaçu in natura, ou as sementes, quando então

processavam para obtenção dos subprodutos que se convertiam em matéria-prima para a

indústria de cosméticos.

Em seguida foram feitas visitas às empresas de beneficiamento da espécie para

a coleta de dados primários sobre o processamento da amêndoa para extração da

67

manteiga e as formas de comercialização, com o fim de identificar as potencialidades do

negócio e os pontos de estrangulamento neste momento da cadeia de processamento do

cupuaçu.

Numa terceira etapa, com base nas informações obtidas nas indústrias de

produto final e nas empresas de processamento das sementes do cupuaçu, em especial

pelo fato de que as informações obtidas nas indústrias de processamento apontavam

para uma produção de manteiga de cupuaçu inferior à demanda de mercado, sob a

alegação de que o fornecimento de sementes de cupuaçu de qualidade era insuficiente

para atender um mercado em ascensão, foi feito levantamento nas propriedades rurais

produtoras de cupuaçu, nos municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e

Manacapuru, todos pertencentes ao Estado do Amazonas.

Neste momento, o objetivo foi identificar junto ao agronegócio do cupuaçu,

qual o potencial de produção da espécie e quanto de semente está sendo produzido e

aproveitado dentro da cadeia de transformação do cupuaçu.

A escolha dos locais da coleta de dados primários sobre a produção de cupuaçu

e seus subprodutos se deu com base no fato de que os municípios de Itacoatiara,

Presidente Figueiredo e Manacapuru já são referenciados como grandes produtores de

cupuaçu, conforme indicação do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal

Sustentável do Estado do Amazonas – IDAM (2010) (Tabela 9).

Tabela 9: Estimativa de produtores e área cultivada nos Municípios de coleta de dados. Local/Município N°

produtores % de

produtores Área

plantada (ha)

% da área

plantada

Produção de frutos

(mil)

% da produção de frutos

Itacoatiara 1.230 23,27 1.910 31,91 3.820 32,39 Presidente Figueiredo

300 5,68 1.000 16,71 2.000 16,96

Manacapuru 435 8,23 482 8,05 963 8,17 Total 1.965 37,18 3.392 56,67 6.783 57.51 Estado do Amazonas

5.285 100 5.986 100 11.794 100

Abrangência da pesquisa

60 1,14 320 5,35 417 3,54

Fonte: IDAM (2010), safra 2008. Adaptada pela autora.

68

Juntos os três municípios possuem 37,18% do total de produtores de cupuaçu

do Estado, com 56,67% da área plantada no Estado e 57,51% da produção de frutos.

Estes municípios estão entre aqueles com maiores áreas plantada com cupuaçu no

Estado e um estudo mais apurado pode indicar as razões que os levam Presidente

Figueiredo e Manacapuru terem produção de frutos muito abaixo da verificada no

município de Itacoatiara. A escolha das áreas também foi motivada pela razão dos três

Municípios estarem localizados em áreas próximas à capital do Estado, que é o maior

centro consumidor dos produtos agrícolas do Amazonas, além de todos possuírem

acesso rodoviário para Manaus, o que teoricamente, facilitaria o escoamento da

produção dando condições de melhor aproveitamento e comercialização dos

subprodutos da cultura.

A pesquisa envolveu 60 propriedades rurais, sendo 20 em cada município o

que corresponde a 3,05% dos produtores de cupuaçu e, 9,46% da área cultivada com

essa cultura nos três municípios (Tabela 9).

Para a consolidação das informações foram analisados os dados primários com

dados secundários obtidos nos órgãos de apoio técnico agrícola, como o Instituto de

Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas –

IDAM e Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas - SDS

para que se pudesse compreender a trajetória e evolução do processo em estudo.

A indústria de processamento de sementes para extração de manteiga foi

selecionada especialmente pela experiência no manejo de espécies da Amazônia e o

respeito às praticas sustentáveis em busca dos padrões de qualidade exigidos pelo

mercado de cosméticos e alimentos, seus principais clientes. A Cupuama Óleos

(www.cupuama.com.br), empresa de processamento das sementes, oferece treinamentos

aos produtores de cupuaçu para transferência da tecnologia de fermentação e secagem

das sementes. Para tanto, preparou um manual (desenvolvido pelos proprietários da

empresa em parceria com pesquisadores da EMBRAPA,UFAM, INPA, entre outros),

onde descreve as etapas do processo de fermentação e secagem das sementes e os

procedimentos necessários para a obtenção de sementes secas com a qualidade que

satisfaz a indústria de beneficiamento, para a obtenção da manteiga e torta.

69

As indústrias de produto final de cosméticos são os principais consumidores da

manteiga de cupuaçu, matéria-prima usada na formulação de hidratantes faciais e

corporais, cremes de massagem, formulação anti-envelhecimento, óleos de banho,

condicionadores e mascaras capilares, emulsões e bálsamos pós-barba, formulações pré

e pós sol, protetores solares, batons, sticks desodorantes, etc.

70

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. DIAGNÓSTICO DOS CULTIVOS DE CUPUAÇU

O diagnóstico dos cultivos do cupuaçu apresentará o resultado dos dados obtidos nos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, sobre a área cultivada com a espécie e a produção de frutos em cada Município. Será apresentada a estimativa de subprodutos obtidos na safra de 2009/2010, aspectos sobre a formação dos cultivos, a comercialização dos subprodutos e o aproveitamento das sementes do cupuaçu nas áreas de estudo.

5.1.1. MUNICÍPIO DE ITACOATIARA

Os dados descritos abaixo (tabela 10), se referem às vinte propriedades analisadas no Município de Itacoatiara. Todos os plantios analisados nesse município eram plantios contendo plantas adultas, com mais de três anos de formação, estando todas as árvores em fase de produção de frutos. Tabela 10: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Itacoatiara que produziram cupuaçu na safra de 2009-2010.

P AT (ha)

ACC (ha)

QAC /ha

APF/ prop.

PP (kg)

PS (kg)

PC (kg)

PPA (kg)

PSA (kg)

PCA (kg)

1* 160 25 625 15.625 6.810 2.740 8.250 0,44 0,18 0,53 2* 32 4 625 2.500 3.405 1.370 2.809 1,36 0,54 1,12 3* 80 14 625 6.250 6.810 2.740 8.250 1,09 0,44 1,32 4* 50 10 400 4.000 10.215 4.111 12.375 3,20 1,03 3,09 5* 100 1 625 625 477 192 578 0,76 0,31 0,92 6* 100 25 400 10.000 13.620 5.480 16.500 1,36 0,55 1,65 7* 80 13 400 5.200 5.448 2.192 6.600 1,05 0,42 1,27 8* 50 6 400 2.400 341 137 413 0,14 0,06 0,17 9* 56 3 400 1.200 681 274 825 0,57 0,23 0,69 10* 35 19 625 11.875 545 219 660 0,05 0,02 0,06 11* 15 1 625 625 681 274 825 1,09 0,44 1,33 12* 13 5 500 2.500 1.225 493 1.485 0,49 0,20 0,59 13* 4 4 625 2.187 1.022 411 1.238 0,47 0,19 0,57 14* 20 1 625 625 2.043 822 2.475 3,27 1,32 3,96 15* 28 2 625 937 1.226 493 1.485 1,31 0,53 1,58 16* 11 2 625 1.250 1.703 685 2.063 1,36 0,55 1,65 17* 17 2 400 800 1.022 411 1.238 1,28 0,51 1,55 18* 11 11 625 3.125 7.491 3.014 9.075 2,40 0,96 2,90 19* 32 5 400 2.000 5.108 2.055 6.188 2,55 1,03 3,09 20* 10 2 625 1.250 2.860 1.151 3.465 2,29 0,92 2,77

Totais 904 156 (10.800) (74.980) 72.740 29.260 86.800 (24) (10) (27,51) Médias 45,2 7,8 540 3.749 3.637 1.463 4.340 1,2 0,50 1,38 P= propriedade em estudo; AT = área total da propriedade; ACC = área cultivada com cupuaçu; QAC = quantidade de árvores de cupuaçu por ha, APF = árvores em fase de produção de frutos por propriedade, PP = produção de polpa; PS = produção de sementes; PC = produção de casca; PPA = produção de polpa por árvore; PSA = produção de sementes por árvore; PCA = produção de casca por árvore. *Propriedades que comercializam a polpa + sementes + placenta.

71

Elas somam uma área total de 904 ha, dos quais 156 são cultivados com

cupuaçu, com um total de 74.980 árvores produzindo frutos nas 20 propriedades. A

média de área total das propriedades, área cultivada com cupuaçu, distribuição de

árvores por hectare e árvores em fase de produção de frutos são, respectivamente, de

45,2 ha, 7,8 ha, 540 plantas e 3.749 árvores por propriedade.

A produção total dessas propriedades foi de 72.740 kg de polpa (média de

3.637 kg/propriedade), 29.260 kg de sementes (média de 1.463 kg/propriedade), 86.800

kg de cascas (média de 4.340 kg/propriedade) e, médias de produções de polpas,

sementes e cascas por árvore de 1,2 kg, 0,50 kg e 1,38 kg respectivamente.

Pelos dados da tabela 10, verifica-se uma grande variação entre as propriedades

dentro de todos os parâmetros analisados. As áreas totais de cada propriedade variaram

de 4 a 160 ha, das quais se observou um mínimo de 1 ha e máximo de 25 ha cultivados

com cupuaçu, indicando também, que os percentuais das propriedades contendo essa

cultura variaram de 1% (propriedade 5) a 100% (propriedades 13 e 18).

Quando da formação dos plantios não foram observadas as recomendações de

espaçamento e distribuição das plantas por hectare, visto que, em todas as propriedades

visitadas no Município foram detectados plantios com distribuição na forma de arranjo

quadrangular com espaçamento variando entre 4 m x 4 m e 5 m x 5 m e densidade de

625 e 400 plantas/ha, respectivamente, com a propriedade 20 sendo a única exceção,

contendo uma densidade de 500 plantas/ha. Com base nos espaçamentos entre plantas e

as áreas cultivadas, observou-se que o número total de plantas de cupuaçu variou de um

mínimo de 625 nas propriedades 5, 11 e 14, até um máximo de 15.625 plantas na

propriedade 1 (Tabela 10).

Souza et al. (1999) recomendam o espaçamento de 7m x 7m, com distribuição

das mudas em desenho de triângulo eqüilátero e densidade de 235 plantas por hectare. A

inobservância destas recomendações resultaram em plantios adensados, que

favoreceram a proliferação de pragas e doenças detectadas na maioria dos plantios

verificados, conforme será mostrado ainda nesse trabalho e dificultaram a aplicação dos

tratos culturais necessários á manutenção dos cultivos.

72

As produções totais de polpas, sementes e cascas nas 20 propriedades foram

respectivamente de 72.740 kg, 29.260 kg e 86.800 kg, com médias gerais de 3.637 kg

de polpa, 1.463 kg de sementes e 4.340 kg de cascas por propriedade. As produções de

polpa, sementes e cascas de cupuaçu variaram muito entre as propriedades,

principalmente em virtude das diferenças de áreas cultivadas e números de plantas.

De acordo com os estudos de Souza et al. (1999) sobre o percentual médio do

conteúdo do fruto do cupuaçu, mostrados na figura 1, e considerando os pesos das

placentas, esses valores são ligeiramente diferentes aos colocados no parágrafo anterior.

As propriedades estudadas nesta pesquisa produziram 72.226 kg de polpa de cupuaçu,

29.045 kg de sementes, 87.523 kg de cascas e 4.841 kg de placenta na safra de 2009.

Cada propriedade agrícola produziu em média 9.682 frutos, 3.611 kg de polpa, 1.452 kg

de sementes, 4.376 kg de cascas e 242 kg de placenta, conforme a tabela 10.

Quando analisados os dados obtidos, para as quantidades de polpas, sementes e

cascas produzidas por árvore de cupuaçu, os resultados foram os seguintes:

Cada árvore produziu, em média, 1,2 kg de polpa, 0,50 kg de sementes e 1,38

kg de cascas, valores esses, extremamente baixos. No entanto, esses dados levam em

conta apenas a produção comercializada pelos produtores, excluindo-se portanto, os

frutos sem valor comercial.

Ao se comparar as produções entre as propriedades, percebe-se que a

propriedade 8 foi a que menos produziu polpa, sementes e cascas, tendo 6 ha plantados

com cupuaçu, seguida pelas propriedades 5, com apenas 1 ha com essa cultura e, pelas

propriedades 10 com 19 ha cultivados e propriedade 11, também com 1 ha cultivado

com cupuaçu. As que mais produziram e comercializaram polpa, sementes e cascas

foram as propriedades 6 e 1 com 25 ha cultivados cada uma.

Percebem-se por esses dados, que as produções não estão apenas relacionadas

com as áreas cultivadas, havendo ainda o fator produtividade interferindo na quantidade

do produto final que sai das propriedades. Isso pode ser comprovado pela produtividade

por planta, que variou muito entre as propriedades, o que está exposto nos dados das

últimas três colunas da tabela 10.

73

Os pesos de polpas variaram de 0,05 kg/planta na propriedade 10, até 3,27

kg/planta na propriedade 14, enquanto que os de sementes variaram de 0,02 kg/planta

(prop. 10) até 1,32 kg/planta (prop. 14) e os de cascas, de 0,06 kg/planta (prop. 10), até

3,96 kg/planta (prop. 14). Percebe-se, portanto, que a propriedade 10 foi a que teve

menor produtividade e a 14, a maior, talvez um reflexo das diferenças de genética e

idade da cultura, fertilidade do solo e ocorrência de pragas e doenças, fatores que afetam

drasticamente a produtividade dessa cultura (MULLER e CARVALHO, 1997; LIMA e

SOUZA, 1998; SOUZA et al., 1999).

Essa suposição se baseia em dados de trabalhos, como o de Souza et al. (1999),

que ao analisarem o rendimento dessa cultura em seis safras consecutivas verificaram

que a produção média variou de 26 a 37 frutos por planta. O rendimento de polpa variou

de 10,3 a 15,6 kg/planta e o de amêndoas frescas, de 3,7 a 7,0 kg/planta.

Esses rendimentos estão bem acima dos observados no presente estudo (tabela

10), indicando cultivos sem as práticas culturais adequadas para uma produtividade

maior.

Pelas entrevistas do presente estudo, constatou-se que esses produtores nunca

adubaram suas culturas de cupuaçu e nem controlaram pragas, como a broca do fruto do

cupuaçuzeiro Conotrachelus sp (Coleoptera:Curculionidae) e a erva-de-passarinho

(Struthantus flexicaulis), como também, da vassoura-de-bruxa (Moniliophthora

perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), a doença mais disseminada nessa cultura.

A figura 9 mostra que as plantações de cupuaçuzeiros de todas as propriedades

rurais avaliadas no Município de Itacoatiara estavam contaminadas com vassoura-de-

bruxa. Além disso, as das propriedades 02, 10, 12, 13, 14, 15, 16 e 18 também

continham a broca dos frutos como praga e, as das propriedades 01, 03, 06, 17 e 19

também estavam atacadas pela erva-de-passarinho.

74

Erva-de-passarinho

Broca- fruto

Vassoura- de-bruxa

Figura 9: Propriedades rurais de Itacoatiara contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010.

A ocorrência de vassoura de bruxa em todas as propriedades estudadas, aliada

à presença da broca e da erva-de-passarinho e, o fato de nunca terem adubado suas

culturas, são as principais causas da baixa produtividade obtida pelos produtores rurais

analisados no presente estudo.

Os dados indicam o Município de Itacoatiara como o maior produtor de

cupuaçu do Estado do Amazonas, com 23,27% dos produtores do estado, 31,91% de

toda a área plantada e responsável por 32,39% da produção de frutos no ano de 2008

(Tabela 9).

As figuras 10 e 11 apresentam os resultados da investigação sobre o controle

de pragas e/ou doenças nos plantios em estudo, e o conhecimento por parte dos

produtores para evitar a proliferação destas.

04 05 07 08 09 11 20

02 10 12 13 14 15 16 18

01 03 06 17 19

75

Figura 10: Controle de pragas e doenças.

Figura 11: Conhecimento para evitar a proliferação de pragas e doenças nos plantios

A (Figura 10) indica que apenas 35% dos produtores realizam ou realizaram o controle de pragas e doenças nos plantios, sem contudo erradicá-las, uma vez que os dados apresentados anteriormente (Figura 9) mostraram a presença destas em todos os plantios analisados. Os demais 65% dos produtores não fazem nenhum tipo de controle, o que acelera o processo de contaminação. Nas vinte propriedades estudadas neste município, 45% disseram conhecer os procedimentos necessários para evitar a proliferação da vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e/ou erva-de-passarinho, enquanto que 55%, apesar de cultivar a cultura, desconhecem os procedimentos necessários para evitar a proliferação de pragas e/ou doenças do cupuaçuzeiro (figura 11).

Dos produtores entrevistados, 85% formaram seus cultivos através do plantio

de sementes direto no campo e 15% por meio de mudas (figura 12). As sementes foram produzidas pelo próprio produtor em 90% das propriedades e em 10% com aquisição de terceiros (figura 13).

Figura 12: Processo de formação dos cultivos.

Figura 13: Aquisição das sementes.

Realiza 35%

Não realiza 65%

Possui 45%

Não possui 55%

Produção de mudas

15%

Produção de

sementes 85%

Produção própria

90%

Aquisição de

terceiros 10%

Propriedades: 1, 8, 11, 12, 16, 18 e 19.

Propriedades: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 14, 15, 17 e 20

Propriedades: 1, 2, 8, 11, 12, 15, 18, 19 e 20.

Propriedades: 3, 4, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 14, 16 e 17.

Propriedades: 1, 8 e 15.

Propriedades: 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9,10, 11, 12, 13, 14, 16, 17, 18 19 e 20.

Propriedades: 1,2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 20.

Propriedades: 10 e 19.

76

Deste universo, 40% deles não realizaram nenhum tipo de controle de

qualidade na escolha das sementes enquanto que 60% realizam algum tipo de controle

de qualidade (figura 14). Dos entrevistados, 65% se declararam conhecedores dos

procedimentos necessários para a formação de cultivos de qualidade, enquanto que 35%

afirmaram desconhecer os procedimentos necessários para a formação desses cultivos

(Figura 15).

Figura 14: Controle de qualidade das sementes. Figura 15: Conhecimento para formação de

cultivos de qualidade.

Os 60% que informaram ter realizado controle de qualidade nas sementes,

escolheram sementes dos melhores frutos colhidos das árvores mais saudáveis e

produtivas, o que está de acordo com as orientações de Souza et al. (2007).

A tabela 11 a seguir reúne os dados sobre a comercialização dos produtos no

município de Itacoatiara, nas 20 propriedades envolvidas na pesquisa. Todos os

produtores amostrados em Itacoatiara comercializaram sua produção da safra 2009/2010

na forma de polpa + sementes + placenta. Na realidade, eles entregaram os frutos

inteiros para a cooperativa ASCOPE na Vila do Engenho ou então, para algum

atravessador, retirando a casca do fruto nas propriedades e entregando a polpa com as

sementes para o comprador.

Realiza 60%

Não realiza 40%

Possui 65%

Não possui 35%

Propriedades: 1, 2, 4, 5, 9, 10,11, 12, 13, 14, 15 e 18.

Propriedades: 3, 6, 7, 8, 16, 17, 19 e 20.

Propriedades: 1, 2, 3, 4, 8, 7,10, 11, 12, 13, 14, 15, 18 e 20.

Propriedades: 5, 6, 7, 9, 16, 17, e 19.

77

Tabela 11: Dados da comercialização de cupuaçu em Itacoatiara, safra 2009-2010.

Pro

prie

dade

Categoria

compradores Comercia-

lização Local de entrega

Preço médio de venda (R$/kg)

Coo

pera

tiva

Em

pres

a

Inte

rmed

iári

o A

taca

do

Var

ejo

Pro

prie

dade

R

ural

Pro

prie

dade

do

com

prad

or

Fru

to in

na

tura

Pol

pa

Pol

pa e

se

men

tes

01 x x -- x -- -- -- 2,00 02 x x -- x -- -- -- 1,00 03 x x -- x -- -- -- 1,00 04 x x -- x -- -- -- 1,20 05 x x -- x -- -- -- 1,20 06 x x -- x -- -- -- 1,20 07 x x -- x -- -- -- 1,00 08 x x -- x -- -- -- 1,00 09 x x -- x -- -- -- 1,00 10 x x -- x -- -- -- 1,30 11 x x -- x -- -- -- 1,20 12 x x -- x -- -- -- 1,20 13 x x -- x -- -- -- 1,20 14 x x -- x -- -- -- 1,20 15 x x -- x -- -- -- 1,30 16 x x -- x -- -- -- 1,40 17 x x -- x -- -- -- 1,30 18 x x -- x -- -- -- 1,50 19 x x -- x -- -- -- 1,00 20 x x -- x -- -- -- 1,20

A análise dos dados da comercialização dos produtos e subprodutos do

cupuaçu comprovou que 40% dos produtores rurais neste município comercializaram a

produção direto com os intermediários, ao preço médio que variou de R$ 1,00/kg

(propriedade 2, 3, 7, 8, 9 e 19) a R$ 2,00/kg (propriedade 1). Dos entrevistados, 10%

negociaram com empresas, geralmente do ramo alimentício, ao preço de

comercialização de R$ 1,20/kg (propriedades 4 e 6).

Do universo da pesquisa neste município, 50% comercializaram seus produtos

com a cooperativa agrícola existente no município. Nestes casos, foi repassada para a

cooperativa a produção de frutos in natura e a cooperativa fez o processamento para a

separação da casca, polpa, semente e placenta, pagando aos produtores um preço único

pelos subprodutos com preço médio variando entre R$ 1,20/kg (propriedade

5,11,12,13,14 e 15) e R$ 1,50/kg (propriedade 18), (Tabela 11). A variação de preço

78

pago pela cooperativa é devida ao período de início, meio e fim da safra. No início da

safra sempre é possível alcançar preços melhores que no pico.

Em todas as negociações de vendas feita neste município, o interesse do

comprador foi apenas pela polpa do fruto, porém, a despolpa não era feita pelo produtor

rural, que apenas retirava a casca do fruto e repassava o conteúdo interno, polpa,

sementes e placenta, para o comprador.

A forma de comercialização nas propriedades entrevistadas foi toda no

atacado, com 100% das retiradas do produto sendo efetuadas pelo comprador na

propriedade rural, ficando este com total responsabilidade pelo transporte da produção

(Tabela 11).

Os dados sobre o beneficiamento e acondicionamento dos produtos

comercializados nas propriedades analisadas em Itacoatiara (Tabela 12) mostraram que

50% das propriedades verificadas realizaram algum tipo de beneficiamento no produto.

Nestes casos, o único beneficiamento realizado foi a lavagem e quebra dos frutos para a

retirada da casca.

A polpa, sementes e placenta foram colocadas em sacos plásticos de 10 kg e

acondicionadas para conservação em freezers até o comprador aparecer. Este

procedimento pode comprometer a manutenção da qualidade do produto, em especial

pela perda das propriedades organolépticas do fruto, pois a polpa congelada em freezers

domésticos pode liberar uma grande quantidade de suco quando descongelada, pela

ruptura das células causadas por cristais de gelos formados a 0 °C. Os demais 50% não

realizaram nenhum tipo de beneficiamento, sendo estes realizados pela cooperativa para

a qual o produtor repassava a produção de frutos. Neste Município, dentre os

entrevistados, nenhum produtor possuía máquina despolpadeira, sendo todo o processo

realizado de forma artesanal com corte da polpa em tesouras.

79

Tabela 12: Dados do beneficiamento do cupuaçu nas propriedades de Itacoatiara, safra 2009-2010. P Tipo de

beneficiamento Processo de

retirada da polpa Processo de armazenamento

Retirada da casca

Retirada da polpa

Retirada das sementes

Artesanal Mecânico (*)

Fruto in natura

Polpa Polpa e sementes

01 X x Freezer 02 X -- Freezer 03 X -- Freezer 04 X -- Freezer 05 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 06 X x Freezer 07 X x Freezer 08 X x Freezer 09 X x Freezer 10 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 11 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 12 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 13 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 14 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 15 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 16 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 17 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 18 -- -- -- x Sacas C. Frigor. 19 X x Freezer 20 X x Freezer (*) Processado e armazenado na cooperativa.

Quando os frutos eram repassados para a cooperativa, a despolpa era feita de

forma mecanizada. A forma de acondicionamento da produção para aqueles que

comercializavam com as cooperativas era somente colocar os frutos inteiro em sacas

contendo aproximadamente 15 a 20 frutos e pesando em média de 35 kg a 40 kg cada

saca. Estas eram armazenadas no local da colheita e a cooperativa se encarregava da

coleta e transporte para a agroindústria (Tabela 12).

Os dados sobre o aproveitamento da semente de cupuaçu mostraram que

somente 15% dos produtores conhecem a técnica de fermentação e secagem da semente

enquanto que 85% destes desconhecem este processo (Tabela 13). Dos 20 produtores

entrevistados em Itacoatiara, somente 14 conheciam os subprodutos obtidos a partir do

processamento das sementes. Destes, quatro sabiam que poderia se extrair a manteiga,

oito conheciam o cupulate e 2 sabiam da torta. Do total dos entrevistados, somente um

sabia quem eram os consumidores finais destes subprodutos, sendo os 19 restantes,

desconhecedores absolutos da destinação de uso da manteiga e da torta.

80

Tabela 13: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Itacoatiara, safra 2009-2010. P Técnica de secagem das

sementes Conhece os subprodutos das sementes do cupuaçu

Consumidores dos subprodutos

Conhece Desconhece Manteiga/óleo Cupulate Torta Conhece Desconhece 01 x x x 02 x x x 03 x x x 04 x -- -- -- x 05 x -- -- -- x 06 x -- -- -- x 07 x x x 08 x -- -- -- x 09 x x x 10 x x x 11 x x x 12 x x x 13 x x x 14 x -- -- -- x 15 x x x 16 x -- -- -- x 17 x x x 18 x x x 19 x x x 20 x x x

5.1.2. MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO

Os dados obtidos no município de Presidente Figueiredo indicam que 75% dos

plantios são compostos por plantas adultas, com mais de três anos de formação, com

todas as árvores em fase de produção de frutos. As únicas exceções foram encontradas

nas propriedades 3, 5, 6, 12 e 19, com 50%, 30%, 90%, 71% e 33% das plantas dos

produzindo frutos, respectivamente, onde parte das plantações apresentavam plantas

jovens, ainda sem produção. Elas somam uma área total de 2.012 ha, dos quais 111,5

são cultivados com cupuaçu, com um total de 27.850 árvores plantadas, das quais

25.500 estão produzindo frutos. A média de área total das propriedades, área cultivada

com cupuaçu, distribuição de árvores por hectare e árvores em fase de produção de

frutos são, respectivamente, de 100,6 ha, 5,5 ha, 234,4 plantas e 1.275 árvores por

propriedade. (Tabela 14),

81

Tabela 14: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do Município de Presidente Figueiredo que produziram cupuaçu na safra de 2009-2010.

P AT (ha)

ACC (ha)

QAC/ ha

APF/ Prop.

PP (kg)

PS (kg)

PC (kg)

PPA (kg)

PSA (kg)

PCA (kg)

1 78 20,0 175 3.500 3.000 1.206 3.636 0,86 0,40 1,04 2* 100 20,0 100 2.000 8.036 3.230 9.740 2,68 1,08 4,87 3 300 3,5 286 500 900 362 1.091 1,80 0,72 2,18 4 74 2,0 400 800 900 362 1.091 1,13 0,45 1,36 5 50 4,0 125 150 120 48 145 0,80 0,32 0,97

6* 55 6,0 500 2.700 5.652 2.272 6.850 2,09 0,84 2,54 7* 43 8,0 250 2.000 2.384 958 2.889 1,19 0,47 1,44 8 30 2,0 400 800 600 241 727 2,00 0,30 0,91 9 100 17,0 235 4.000 8.000 3.216 9.696 1,20 0,80 2,42

10 300 4,0 100 400 2.000 804 2.424 5,00 2,01 6,06 11 72 2,0 400 800 1.500 603 1.818 1,87 0,75 2,27 12 60 7,0 400 2.000 8.000 3.216 9.696 4,00 1,60 4,85 13 60 4,0 400 1.600 2.600 1.045 3.151 1,62 0,65 1,97 14 30 1,0 400 400 1.200 482 1.454 3,00 1,20 3,64 15 225 1,5 467 700 1.200 482 1.454 1,71 0,68 2,08 16 75 0,5 400 200 600 241 727 3,00 1,20 3,64 17 90 5,0 400 2.000 1.000 402 1.212 0,50 0,20 0,61 18 60 2,0 300 600 900 362 1.091 1,50 0,60 1,82 19 120 1,0 600 200 250 100 303 1,25 0,50 1,52 20 90 1,0 150 150 400 160 485 2,67 1,07 3,23

Totais 2.012 111,5 (6.488) (25.500) 49.242 19.792 59.680 (40) (16) (49,42) Médias 100,6 5,5 324,4 1.275 2.462 989 2.984 2,0 0,80 2,47 P= propriedade em estudo; AT = área total da propriedade; ACC = área cultivada com cupuaçu; QAC = quantidade de árvores de cupuaçu por ha, APF = árvores em fase de produção de frutos por propriedade, PP = produção de polpa; PS = produção de sementes; PC = produção de casca; PPA = produção de polpa por árvore; PSA = produção de sementes por árvore; PCA = produção de casca por árvore. *Propriedades que comercializam a polpa + sementes + placenta.

A produção total dessas propriedades foi de 49.242 kg de polpa (média de

2.462 kg/propriedade), 19.792 kg de sementes (média de 989 kg/propriedade), 59.680

kg de cascas (média de 2.984 kg/propriedade) e, médias de produções de polpas,

sementes e cascas por árvore de 2,00 kg, 0,80 kg e 2,47 kg respectivamente. A produção

total de frutos nas propriedades amostradas e a produção média por propriedade para a

safra de 2009-2010 foi de 132.014 e 6.601, respectivamente.

Os dados da tabela 14 mostram grandes variações entre as propriedades para

todos os parâmetros analisados. As áreas totais de cada propriedade variaram de 30 a

300 ha, nas quais observou-se um mínimo de 0,5 ha e máximo de 20 ha cultivados com

cupuaçu, indicando que os percentuais das propriedades contendo essa cultura variaram

de 0,67% (propriedades 15 e 16) a 26% (propriedade 1).

82

Os dados amostrados em Presidente Figueiredo comprovaram que quando da

formação dos plantios também não houve a observância correta das recomendações de

espaçamento e distribuição de plantas por hectare, visto que, nas propriedades visitadas

foram detectados plantios com distribuição na forma de arranjo quadrangular com

espaçamento variando entre 4 m x 4 m e 10 m x 10 m e densidade de 150 e 100

plantas/ha, respectivamente. Das propriedades analisadas neste município, apenas a

propriedade 9 apresentou densidade de plantas por hectare e distribuição das mudas em

acordo com as recomendações de Souza et al. (1999). Das propriedades restante as que

mais se aproximaram dessa recomendação foram as identificadas pelos números 3, 7 e

18, com densidades de plantas por ha um pouco acima, entre 250 e 300 plantas. Com

base nos espaçamentos entre plantas e as áreas cultivadas, observou-se que o número

total de plantas de cupuaçu variou de um mínimo de 150 nas propriedades 5 e 20, até

um máximo de 4.000 plantas na propriedade 9 (Tabela 14).

Dos 20 produtores amostrados em Presidente Figueiredo, apenas três

(propriedades 2, 6 e 7) comercializaram sua produção da safra 2009-2010 na forma de

polpa + sementes + placenta, visto que entregaram a produção de frutos inteiros para a

cooperativa CPU Uatumã, no Município de Presidente Figueiredo. Os demais

produtores comercializaram apenas a polpa, que era processada de forma artesanal na

propriedade rural e vendida no atacado, para intermediários.

As produções de polpa, sementes e cascas variaram muito entre as

propriedades, principalmente em virtude das diferenças de áreas cultivadas e números

de plantas. As produções totais de polpas, sementes e cascas nas 20 propriedades

analisadas neste município foram respectivamente de 49.242 kg, 19.792 kg e 59.680 kg,

com médias gerais de 2.462 kg de polpa, 989 kg de sementes e 2.984 kg de cascas por

propriedade.

Ao se comparar as produções entre as propriedades, percebe-se que a

propriedade 5 foi a que menos produziu polpa, sementes e cascas, tendo 4 ha plantados

com cupuaçu, seguida pelas propriedades 19 e 20, ambas com 1 ha cultivado com essa

cultura. As que mais produziram foram as propriedades 2, com 20 ha cultivados, a

propriedade 9, com 17 ha e a 12 com 7 ha plantados.

83

Na análise preliminar dos dados deste município, a exemplo do que se

percebeu na análise do município de Itacoatiara, ficou evidente que a produção dos

cultivos não está apenas relacionada com as áreas cultivadas, havendo ainda o fator

produtividade interferindo na quantidade do produto final que sai das propriedades. Isso

pode ser comprovado pela produtividade por planta, que variou muito entre as

propriedades e, é mostrada nas três últimas colunas da tabela 14.

Os pesos de polpas variaram de 0,50 kg/planta na propriedade 17, até 5,00

kg/planta na propriedade 10, enquanto que os de sementes variaram de 0,20 kg/planta

(propriedade 17) até 2,01 kg/planta (propriedade 10) e os de cascas, de 0,61 kg/planta

(propriedade 17), até 6,06 kg/planta (propriedade 10). Percebe-se, portanto, que a

propriedade 10 foi a com maior produtividade de polpa por planta e a 17, a com menor,

chegando a representar uma diferença percentual de 90% entre as propriedades de maior

e menor produção. Essas diferenças podem refletir a idade e genética da cultura, a

fertilidade do solo e/ou a ocorrência de pragas e doenças, fatores que afetam

drasticamente a produtividade dessa cultura (MULLER & CARVALHO, 1997; LIMA

& SOUZA, 1998; SOUZA et al., 1999).

Com base nos dados de outros autores, como os de Souza et al. (1999), o

rendimento dessa cultura em seis safras consecutivas variou de 26 a 37 frutos por

planta. O rendimento em polpa variou de 10,3 Kg/planta a 15,6 Kg/planta e a amêndoa

fresca, de 3,7 Kg/planta a 7,0 Kg/planta.

Esses rendimentos estão bem acima dos observados no presente estudo (tabela

14), indicando cultivos sem os tratos culturais adequados para uma produtividade média

satisfatória nas 20 propriedades estudadas.

Na verificação in loco no decorrer deste trabalho, constatou-se que os

produtores rurais nunca adubaram suas propriedades e nem controlaram pragas e/ou

doenças, como a broca-do-fruto (Conotrachelus sp (Coleoptera:Curculionidae), e erva-

de-passarinho (Struthantus flexicaulis), ou a vassoura-de-bruxa (Moniliophthora

perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), todas de incidência muito comum nesta

cultura.

84

A ocorrência de vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime

& Phillips-Mora) em todas as propriedades estudadas, aliada à presença de broca-do-

fruto do cupuaçuzeiro, Conotrachelus sp (Coleoptera: Curculionidae), e erva-de-

passarinho (Struthantus flexicaulis) e o fato das culturas não serem adubadas para

reposição de nutrientes no solo, são as principais causas da baixa produtividade

comprovada.

A figura 16 mostra que as plantações de cupuaçuzeiros de todas as

propriedades rurais analisadas em Presidente Figueiredo, do mesmo modo que as

pesquisadas em Itacoatiara, estavam contaminadas com vassoura-de-bruxa. Além disso,

as plantações 14 e 16 também foram atingidas pela praga da broca-do-fruto e a 03 e 12

também estavam atacadas pela erva-de-passarinho.

Figura 16: Propriedades rurais de Presidente Figueiredo contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010.

O maior problema enfrentado pelos produtores de cupuaçu no Município de

Presidente Figueiredo é a contaminação dos plantios pela doença da vassoura de bruxa

(Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora) com ocorrência em 100%

dos plantios visitados. A doença chega a comprometer grande parte da produção de

01 02 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 15 17 18 19 20

14 16

03 12

Erva-de-passarinho

Broca- do-fruto

Vassoura- de-bruxa

85

frutos causando sérios danos econômicos ao produtor. A broca-do-fruto do

cupuaçuzeiro, Conotrachelus sp (Coleoptera: Curculionidae), foi detectada em 20% dos

cultivos. A erva-de-passarinho (Struthantus flexicaulis) é outra praga que começa a se

disseminar nos plantios de cupuaçu, com incidência em 10% das propriedades

verificadas (Figura 16).

Os dados (figura 17) sobre o controle de pragas e doenças indicam que 60%

dos produtores realizam ou realizaram algum tipo de controle da praga e/ou doença nos

plantios, porém, esta prática se revela insuficiente para a erradicação das mesmas, uma

vez que os dados apresentados anteriormente (Figura16), mostram a presença destas em

todos os plantios analisados. Os demais produtores não fazem nenhum tipo de controle,

o que acelera o processo de contaminação. Nas vinte propriedades amostradas, 65%

disseram conhecer os procedimentos necessários para evitar a proliferação da vassoura-

de-bruxa, broca-do-fruto e/ou erva-de-passarinho e 35%, apesar de cultivar a cultura,

desconhecem os procedimentos necessários para evitar a proliferação de pragas e/ou

doenças do cupuaçuzeiro (Figura 18).

Figura 17: Controle de pragas e doenças. Figura 18: Conhecimento para evitar a

proliferação de pragas e doenças nos plantios.

Dos produtores entrevistados no Município de Presidente Figueiredo, 80%

fizeram plantio das sementes direto no campo e o restante fez mudas em viveiro e

depois as transplantaram para a área cultivada (Figura 19). Em 95% das propriedades as

mudas foram de produção própria e 5% adquiriu com terceiros (Figura 20).

Realiza 60%

Não realiza 40%

Possui 65%

Não possui 35%

Propriedades: 1, 2, 3, 4, 7, 8,10, 13, 14, 15, 16, e 18.

Propriedades: 5, 6, 9, 11, 12, 17, 19 e 20.

Propriedades: 1, 3, 5, 9, 11, 12 e 20.

Propriedades: 2, 4, 6, 7, 8, 10, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.

86

Deste universo, 45% não realizaram nenhum tipo de controle de qualidade das

mudas selecionadas.

Figura 19: Formação dos cultivos. Figura 20: Aquisição de sementes.

Os 55% que informaram ter realizado controle de qualidade nas sementes

(Figura 21), quando indagados sobre os tipos de controle aplicados, relataram apenas ter

selecionado as sementes dos melhores frutos, retirados de árvores mais saudáveis e

produtivas, o que está de acordo com as orientações de Souza et al. (2007). Do total de

entrevistados, 70% afirmaram conhecer os procedimentos necessários para a formação

de cultivos de qualidade e somente 30% desconheciam estes procedimentos (Figura 22).

Figura 21: Controle de qualidade das sementes. Figura 22: Conhecimento para formação de

cultivos de qualidade.

Produção de mudas

20%

Produção de

sementes 80%

Produção própria

95%

Aquisiçãode

terceiros5%

Realiza 55%

Não realiza 45%

Possui 70%

Não possui 30%

Propriedades: 1, 5, 8 e 17.

Propriedades: 2, 3, 4, 6, 7, 9, 10,11, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 19 e 20.

Propriedade: 8.

Propriedades: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9,10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20.

Propriedades: 1, 2, 3, 7, 8, 9, 11, 12, 14, 15 e 19.

Propriedades: 4, 5, 6, 10, 13, 16, 17, 18 e 20.

Propriedades: 1, 2, 3, 7, 8, 9,10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 18.

Propriedades: 4, 5, 6, 17, 19 e 20.

87

A tabela 15 reúne os dados sobre a comercialização dos produtos no município

de Presidente Figueiredo, nas 20 propriedades envolvidas na pesquisa.

Tabela 15: Dados da comercialização de cupuaçu em Presidente Figueiredo, safra 2009-2010.

Prop

ried

ade

Categoria de compradores

Forma de comercialização

Local de entrega

Preço médio de venda (R$/kg)

Coo

pera

tiva

E

mpr

esa

Inte

rmed

iári

o A

taca

do

Var

ejo

Pro

prie

dade

R

ural

Pro

prie

dade

do c

ompr

ador

Fru

to in

na

tura

Pol

pa

Pol

pa e

se

men

tes

01 x x x 5,00 02 x x x 3,00 03 x x x 4,50 04 x x x 4,00 05 x x x 5,00 06 x x x 3,00 07 x x x 3,00 08 x x x 5,00 09 x x x 2,50 10 x x x 3,00 11 x x x 5,00 12 x x x 4,50 13 x x x 3,00 14 x x x 4,00 15 x x x 4,00 16 x x x 2,50 17 x x x 3,50 18 x x x 3,00 19 x x x 4,00 20 x x x 3,00

A análise desses dados para os produtos e subprodutos do cupuaçu no

Município de Presidente Figueiredo comprovou que 65% dos produtores rurais

comercializaram a produção direto com os intermediários, sendo vendida apenas a

polpa, ao preço médio que variou de R$ 2,50/kg (propriedades 9 e 16) a R$ 5,00/kg

(propriedade 5). Cerca de 20% dos produtores negociaram com empresas, geralmente

do ramo alimentício, com interesse também somente pela polpa, chegando a atingir

preço médio de R$ 5,00/kg na comercialização (propriedades 8, 11, 12 e 19). Apenas

15% dos produtores comercializaram seus produtos com a cooperativa agrícola

existente no município. Nestes casos, a produção de frutos in natura foi repassada para

88

a cooperativa, que separou a casca, polpa, sementes e placenta, pagando aos produtores

um preço único pelos subprodutos ao preço médio de R$ 3,00/kg (propriedades 2, 6 e 7)

(Tabela 15).

A forma de comercialização, em 80% das vendas, foi feita no atacado e 20%

no varejo. Quando observados os locais de entrega dos produtos comercializados,

constatou-se que em 50% das negociações o comprador retirava o produto na

propriedade rural se responsabilizando pelo transporte da produção (Tabela 15).

Os dados sobre a o beneficiamento e acondicionamento dos produtos

comercializados nas propriedades mostraram que todas as propriedades verificadas

realizam algum tipo de beneficiamento no produto. Na maioria dos casos houve a

separação da polpa na propriedade rural para sua comercialização. As únicas exceções

foram das propriedades que comercializaram os frutos in natura para as cooperativas

(propriedades 2, 6 e 7), (Tabela 16).

Tabela 16: Beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Presidente Figueiredo, safra 2009-2010. P Tipo de

beneficiamento Processo de

retirada da polpa Processo de

acondicionamento Retirada

da casca Retirada da polpa

Retirada das sementes

Artesanal Máquina Fruto in natura

Polpa Polpa e sementes

1 x x x x Freezer 2 -- -- -- x* Sacas C.Frigor. 3 x x x x Freezer 4 x x x x Freezer 5 x x x x Freezer 6 -- -- -- -- x* Sacas C.Frigor. 7 -- -- -- -- x* Sacas C.Frigor. 8 x x x x Freezer 9 x x x x Freezer 10 x x x x Freezer 11 x x x x Freezer 12 x x x x C.Frigor. 13 x x x x Freezer 14 x x x x Freezer 15 x x x x Freezer 16 x x x x Freezer 17 x x x x Freezer 18 x x x x Freezer 19 x x x x Freezer 20 x x x x Freezer (*) Processado e armazenado na cooperativa.

89

Em 60% das propriedades, o processo de retirada da polpa foi feito de forma

artesanal, cortados em tesouras. Somente 25% dos produtores entrevistados possuíam

em suas propriedades máquina para despolpamento do fruto e 15% são despolpados na

cooperativa.

A forma de acondicionamento da produção para aqueles que comercializavam

com as cooperativas foi somente o de arrumar os frutos inteiros em sacas contendo

aproximadamente 15 a 20 frutos e pesando em média de 35 kg a 40 kg cada saca. Dos

17 produtores que processaram a retirada da polpa, somente um fez o acondicionamento

e congelamento em câmara frigorífica; os demais congelaram a polpa em freezers. Este

procedimento pode comprometer a manutenção da qualidade do produto, em especial

pela perda das propriedades organolépticas do fruto.

Os dados sobre o aproveitamento das sementes de cupuaçu mostraram que

somente 20% dos produtores conhecem a técnica de fermentação e secagem das

mesmas (Tabela 17).

Tabela 17: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Presidente Figueiredo, safra 2009-2010. P Técnica de secagem das

sementes Conhece os subprodutos das

sementes do cupuaçu Consumidores dos

subprodutos Conhece Desconhece Manteiga/óleo Cupulate Torta Conhece Desconhece

01 x -- -- -- x 02 x -- -- -- x 03 x -- -- -- x 04 x x x 05 x -- -- -- x 06 x -- -- -- x 07 x -- -- -- x 08 x -- -- -- x 09 x x x x 10 x x x x 11 x -- -- -- x 12 x -- -- -- x 13 x x x 14 x -- -- -- x 15 x -- -- -- x 16 x -- -- -- x 17 x -- -- -- x 18 x x x 19 x x x 20 x -- -- -- x

90

Dos 20 produtores entrevistados em Presidente Figueiredo, somente oito conheciam os

subprodutos obtidos a partir do processamento das sementes; destes, dois sabiam que

poderia se extrair a manteiga, cinco conheciam o cupulate e um sabia da torta. Do total

dos entrevistados, somente dois sabiam quem eram os compradores finais destes

subprodutos, sendo os 18 restantes desconhecedores absolutos da destinação de uso da

manteiga ou torta.

5.1.3. MUNICÍPIO DE MANACAPURU

Os dados descritos abaixo representados na tabela 18 se referem às vinte

propriedades analisadas no Município de Manacapuru. Elas somam uma área total de

173 ha, dos quais 53,5 são cultivados com cupuaçu com distribuição de 16.670 árvores

plantadas.

Tabela 18: Diagnóstico de 20 propriedades rurais do município de Manacapuru que produziram cupuaçu na safra de 2009-2010.

P AT (ha)

ACC (ha)

QAC/ ha

APF/ Prop.

PP (kg)

PS (kg)

PC (kg)

PPA (kg)

PSA (kg)

PCA (kg)

1 11 02 225 150 1.000 402 1.212 6,67 2,68 8,08 2 08 02 225 200 2.119 852 2.568 11,00 4,00 12,84 3 05 02 225 450 1.000 402 1.212 2,22 0,89 2,69 4 15 04 300 1.200 4.000 1.608 4.848 3,33 1,34 4,04 5 12 02 400 800 2.000 804 2.424 2,50 1,01 3,03 6 05 01 200 200 2.000 804 2.424 4,02 4,02 12,12 7 10 03 400 1.200 2.000 804 2.424 1,67 0,67 2,02 8 10 03 400 1.200 1.600 643 1.939 1,33 0,54 1,62 9 06 02 230 460 800 322 970 1,74 0,70 2,11

10 05 04 375 1.500 1.200 482 1.454 0,80 0,32 0,97 11 12 3,5 240 840 2.000 804 1.650 2,38 0,40 1,96 12 10 05 480 2.400 2.800 1.126 3.394 1,17 0,47 1,41 13 10 04 325 1.300 3.500 1.407 4.242 2,92 1,08 3,26 14 08 02 240 480 800 322 582 1,67 0,67 1,21 15 10 01 280 280 200 80 242 0,71 0,29 0,86 16 12 04 240 960 2.200 884 2.666 2,29 0,92 2,78 17 10 04 340 1.360 3.000 1.206 3.636 2,21 0,89 2,67 18 06 01 240 240 1.060 426 1.285 4,42 1,78 5,35 19 3,5 02 225 450 220 88 267 0,49 0,20 0,59 20 4,5 02 225 450 1.200 482 1.454 2,67 1,07 3,23

Totais 173 53,5 (5.815) (16.120) 34.699 13.948 40.893 (56,21) (24) (72,84) Médias 8,65 2,68 291 806 1.735 697 2.045 2,81 1,20 3,64 P= propriedade em estudo; AT = área total da propriedade; ACC = área cultivada com cupuaçu; QAC = quantidade de árvores de cupuaçu por ha, APF = árvores em fase de produção de frutos por propriedade, PP = produção de polpa; PS = produção de sementes; PC = produção de casca; PPA = produção de polpa por árvore; PSA = produção de sementes por árvore; PCA = produção de casca por árvore.

91

Do total de plantios analisados nesse Município, 97% eram plantios com

plantas adultas, com mais de três anos de formação estando todas as árvores em fase de

produção de frutos. As únicas exceções foram detectadas nas propriedades 1 e 2, onde

33% e 11% dos plantios não estão em fase de produção de frutos, respectivamente.

Somente 3% dos plantios não produziam frutos, consistindo de plantas jovens.

A média de área total das propriedades, área cultivada com cupuaçu,

distribuição de árvores por hectare e árvores em fase de produção de frutos são,

respectivamente, de 8,65 ha, 2,68 ha, 291 plantas e 806 árvores por propriedade (Tabela

18).

A produção total dessas propriedades foi de 34.699 kg de polpa (média de

1.735 kg/propriedade), 13.948 kg de sementes (média de 697 kg/propriedade), 40.893

kg de cascas (média de 2.045 kg/propriedade) e, médias de produções de polpas,

sementes e cascas por árvore de 2,81 kg, 1,20 kg e 3,64 kg respectivamente. A produção

total de frutos nas propriedades amostradas e a produção média por propriedade para a

safra de 2009-2010 foram de 91.836 e 4.592, respectivamente.

Os dados da tabela 18 mostram grandes variações entre as propriedades para

todos os parâmetros analisados. As áreas totais de cada propriedade variaram de 3,5 ha a

12 ha, nas quais observou-se um mínimo de 1 ha e máximo de 5 ha cultivados com

cupuaçu, indicando que os percentuais das propriedades contendo essa cultura variaram

de 10% (propriedades 15) a 80% (propriedade10).

Os dados amostrados em Manacapuru comprovaram que quando da formação

dos plantios também não houve a observância correta das recomendações de

espaçamento e distribuição de plantas por hectare, visto que, nas propriedades visitadas

no Município foram detectados plantios com distribuição na forma de arranjo

quadrangular com espaçamento variando entre 4,4 m x 4,4 m e 11,5 m x 11,5 m e

densidade de 480 e 75 plantas/ha, respectivamente. Das propriedades analisadas, 45%

possuem espaçamento, e densidade por ha em acordo com as recomendações de Souza

et al. (1999). Com base nos espaçamentos entre plantas e as áreas cultivadas, observou-

se que o número total de plantas de cupuaçu variou de um mínimo de 150 na

propriedade 1, até um máximo de 2.400 plantas na propriedade 12.

92

A tabela 18 mostra que as produções de polpa, sementes e cascas de cupuaçu

variaram muito entre as propriedades, principalmente em virtude das diferenças de áreas

cultivadas e números de plantas. As produções totais de polpas, sementes e cascas nas

20 propriedades analisadas neste município foram respectivamente de 34.699 kg,

13.948 kg e 40.893 kg, com médias gerais de 1.735 kg de polpa 697 kg de sementes e

2.045 kg de cascas por propriedade.

Ao se comparar as produções entre as propriedades, percebe-se que a

propriedade 19 foi a que menos produziu polpa, sementes e cascas, tendo 2 ha plantados

com cupuaçu, seguida pelas propriedades 9 e 14, ambas com 2 ha cultivado com essa

cultura. As que mais produziram polpa, sementes e cascas foram as propriedades 4, com

4 ha cultivados, e a propriedade 12, com 5 ha.

Na análise preliminar dos dados deste município, a exemplo do que se

percebeu nos municípios de Itacoatiara e Presidente Figueiredo, ficou evidente que a

produção dos cultivos não está apenas relacionada com as áreas cultivadas, havendo

ainda o fator produtividade, interferindo na quantidade do produto final que sai das

propriedades. Isso pode ser comprovado pela produtividade por planta, que variou

muito entre as propriedades e, é mostrada nas três últimas colunas da tabela 18.

Os pesos de polpa variaram de 0,49 kg/planta na propriedade 19, até 11,00

kg/planta na propriedade 2, enquanto que os de sementes variaram de 0,20 kg/planta

(propriedade 19) até 4 kg/planta (propriedade 2) e os de cascas, de 0,59 kg/planta

(propriedade 19), até 12,84 kg/planta (propriedade 2). Percebe-se, portanto, que a

propriedade 2 foi a que obteve maior produtividade de polpa comercializada por planta

e a 19, a menor, chegando a representar uma diferença percentual de 95,5% entre as

propriedades de maior e menor produção. Essas diferenças podem refletir a variação da

idade e genética da cultura, a fertilidade do solo e/ou a ocorrência de pragas e doenças,

fatores que afetam drasticamente a produtividade dessa cultura (MULLER &

CARVALHO, 1997; LIMA & SOUZA, 1998; SOUZA et al., 1999).

Esses rendimentos estão bem abaixo dos observados por Souza et al. (1999),

indicando cultivos sem os tratos culturais adequados para uma produtividade média

satisfatória nas 20 propriedades estudadas.

93

Na verificação in loco no decorrer deste trabalho, constatou-se que os

produtores rurais nunca adubaram os cultivos de cupuaçu e nem controlaram pragas

e/ou doenças, como a broca-do-fruto (Conotrachelus sp (Coleoptera:Curculionidae), e

erva-de-passarinho (Struthantus flexicaulis), ou a vassoura-de-bruxa (Moniliophthora

perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora), todas de incidência muito comum nesta

cultura.

A figura 23 mostra que as plantações de cupuaçuzeiros de todas as

propriedades rurais analisadas estavam contaminadas com vassoura-de-bruxa. Além

disso, as plantações das propriedades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17,

18, 19 e 20 também foram atingidas pela praga da broca-do-fruto e as propriedades 08 e

09, ale, da broca do fruto e vassoura de bruxa, também estavam atacadas pela erva-de-

passarinho.

passarinho

Figura 23: Propriedades rurais de Manacapuru contendo vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e erva-de-passarinho na cultura do cupuaçu na safra de 2009-2010.

O maior problema enfrentado pelos produtores de cupuaçu no Município de

Manacapuru é a contaminação dos plantios pela doença da vassoura-de-bruxa

Propriedades: 10

Propriedades: 01 02 03 04 05 06 07 11 12 13 14 15 16

17 18 19 20

Propriedades: 08 09

Erva-de-passarinho

Broca- do-fruto

Vassoura- de-bruxa

94

(Moniliophthora perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora) com ocorrência em 100%

dos plantios visitados.

A doença compromete grande parte da produção de frutos causando sérios

danos econômicos ao produtor. A broca-do-fruto do cupuaçuzeiro, Conotrachelus sp

(Coleoptera:Curculionidae), foi detectada em 95% dos cultivos. A erva-de-passarinho

(Struthantus flexicaulis) é outra praga que começa a se disseminar nos plantios de

cupuaçu, com incidência em 10% das propriedades verificadas.

A ocorrência de vassoura-de-bruxa em todas as propriedades estudadas, aliada

à presença de broca-do-fruto e erva-de-passarinho e o fato das culturas não serem

adubadas para reposição de nutrientes no solo, são as principais causas da baixa

produtividade comprovada.

Os dados da Figura 24 sobre o controle de pragas e doenças indicam que

somente 35% dos produtores realizam ou realizaram algum tipo de controle da praga

e/ou doença nos plantios, porém, esta prática se revela insuficiente para a erradicação

das mesmas, uma vez que os dados apresentados anteriormente (Figura 23) mostram a

presença destas em todos os plantios analisados. Os demais produtores não fazem

nenhum tipo de controle, o que acelera o processo de contaminação. Nas vinte

propriedades estudadas neste município, 40% diz conhecer os procedimentos

necessários para evitar a proliferação da vassoura-de-bruxa, broca-do-fruto e/ou erva-

de-passarinho e 60%, apesar de cultivar a cultura, desconhecem os procedimentos

necessários para evitar a proliferação de pragas e/ou doenças do cupuaçuzeiro (Figura

25).

95

Figura 24: Controle de pragas e doenças. Figura 25: Conhecimento para evitar a

proliferação de pragas e doenças nos plantios.

Dos produtores entrevistados, 75% fizeram mudas em viveiro e depois as

transplantaram para a área cultivada e 25% fizeram plantio das sementes direto no

campo (Figura 26). Do total de entrevistados 60% disseram ter produzido as sementes e

40% adquiriram de terceiros (Figura 27).

Figura 26: Formação dos cultivos Figura 27: Produção de sementes.

Deste universo, 35% realizaram controle de qualidade nas sementes

selecionadas (Figura 28), que consistiu da seleção das sementes dos melhores frutos,

retirados de árvores mais saudáveis e produtivas, o que está de acordo com as

orientações de Souza et al. (2007). Dos produtores entrevistados neste município 55%

sabem quais são os procedimentos que devem ser adotados para a formação de cultivos

de qualidade (Figura 29).

Realiza 35%

Não realiza 65%

Possui 40%

Não possui 60%

Produção de mudas

75%

Produção de

sementes 25%

Produção própria

60%

Aquisição de

terceiros 40%

Propriedades: 1, 2, 6, 7, 9, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.

Propriedades: 3, 4, 5, 8, 10, 12, e 20.

Propriedades:, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 11 e 20.

Propriedades: 1, 2, 4, 10, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.

Propriedades: 6, 8, 10, 11 e 12.

Propriedades: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20.

Propriedades: 1, 2, 3, 9, 13, 14, 16 e 18.

Propriedades: 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 15, 17, 19 e 20.

96

Figura 28: Produção de sementes. Figura 29: Conhecimento para formação de

cultivos.

A tabela 19 a seguir reúne os dados sobre a comercialização dos produtos no

município de Manacapuru, nas 20 propriedades envolvidas na pesquisa.

Tabela 19: Dados da comercialização de cupuaçu em Manacapuru safra 2009-2010.

Pro

prie

dade

Categoria de compradores

Comercialização Local de entrega

Preço médio de venda (R$)

Coo

pera

tiva

Em

pres

a

Inte

rmed

iári

o A

taca

do

Var

ejo

Pro

prie

dade

R

ural

Pro

prie

dade

do c

ompr

ador

Fru

to in

na

tura

Pol

pa

Pol

pa e

se

men

tes

01 x x x 3,50 02 x x 3,50 03 x x x 3,50 04 x x x 2,50 05 x x x 4,00 06 x x x 3,50 07 x x x 3,00 08 x x x 5,00 09 x x x 3,50 10 x x x 2,00 11 x x x 4,00 12 x x x 3,00 13 x x x 3,00 14 x x x 3,50 15 x x x 3,00 16 x x x 3,00 17 x x x 3,00 18 x x x 3,00 19 x x x 3,50 20 x x x 2,00

A análise dos dados da comercialização dos produtos e subprodutos do

cupuaçu no município de Manacapuru comprovou que todos os produtores rurais

Realiza 35%

Não realiza 65%

Possui 55%

Não possui 45%

Propriedades: 1, 2, 3, 5, 7, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 17 e 18,.

Propriedades: 4, 6, 8, 9, 15, 19 e 20.

Propriedades: 2, 5, 12, 14, 15, 16, 17, 18 e 19.

Propriedades: 1, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10,11, 13 e 20.

97

comercializaram a produção direto com os intermediários, sendo vendida apenas a

polpa, ao preço médio que variou de R$ 2,00/kg (propriedades 10 e 20) a R$ 5,00/kg

(propriedade 8).

A forma de comercialização, em 70% das vendas, foi feita no atacado e 30%

no varejo. Quando observados os locais de entrega dos produtos comercializados,

constatou-se que em 25% das negociações o comprador retirava o produto na

propriedade rural se responsabilizando pelo transporte da produção. Em 75% dos casos

os produtores entregaram os produtos na propriedade do comprador, tendo que se

responsabilizar pelo transporte da mercadoria, o que reduz a margem de lucro do

produtor.

Os dados sobre a o beneficiamento e acondicionamento dos produtos

comercializados nas propriedades analisadas em Manacapuru mostraram que todas as

propriedades verificadas realizam beneficiamento no produto (Tabela 20).

Tabela 20: Dados do beneficiamento do cupuaçu em 20 propriedades rurais de Manacapuru, safra 2009-2010. P Tipo de

beneficiamento Processo de

retirada da polpa Processo de armazenamento

Retirada da casca

Retirada da polpa

Retirada das sementes

Artesanal Máquina Fruto in natura

Polpa Polpa e sementes

01 x x x x Freezer 02 x x x x Freezer 03 x x x x Freezer 04 x x x x Freezer 05 x x x x Freezer 06 x x x x Freezer 07 x x x x Freezer 08 x x x x Freezer 09 x x x x Freezer 10 x x x x Freezer 11 x x x x Freezer 12 x x x x Freezer 13 x x x x Freezer 14 x x x x Freezer 15 x x x x Freezer 16 x x x x Freezer 17 x x x x Freezer 18 x x x x Freezer 19 x x x x Freezer 20 x x x x Freezer

98

Em todos os casos foi feita a retirada da polpa e consequentemente, da casca e sementes na propriedade rural. Nestas propriedades não foi registrada a existência de nenhuma máquina despolpadeira, com o processo de retirada da polpa sendo feito de forma artesanal, cortados em tesouras. Este procedimento pode comprometer a qualidade do produto, em especial pela perda das propriedades organolépticas da polpa. A forma de acondicionamento da produção para todos os casos foi feita em sacos plásticos de 1,00 kg, 2,00 kg, 5,00 kg ou 10,00 kg e congelados em freezers.

Os dados sobre o aproveitamento da semente de cupuaçu mostraram que

somente 40% dos produtores conhecem a técnica de fermentação e secagem das sementes, enquanto que 60% destes desconhecem o processo de fermentação e secagem das sementes (Tabela 21).

Tabela 21: Aproveitamento das sementes de cupuaçu no Município de Manacapuru, safra 2009-2010. P Técnica de secagem das

sementes Conhece os subprodutos das sementes

do cupuaçu Consumidores dos

subprodutos

Conhece Desconhece Manteiga/óleo Cupulate Torta Conhece Desconhece

1 x x x x

2 x x x x

3 x -- -- -- x

4 x -- -- -- x

5 x x -- -- x

6 x -- -- -- x

7 x -- -- -- x

8 x -- -- -- x

9 x -- -- -- x

10 x -- -- -- x

11 x -- -- -- x

12 x -- -- -- x

13 x -- -- -- x

14 x -- -- -- x

15 x x x

16 x -- -- -- x

17 x -- -- -- x

18 x -- -- -- x

19 x -- -- -- x

20 x x x

99

Dos 20 produtores entrevistados em Manacapuru, somente sete conheciam os

subprodutos obtidos a partir do processamento das sementes; destes, quatro sabiam que

poderia se extrair a manteiga e três conheciam o cupulate. Do total dos entrevistados,

nenhum sabia quem eram os compradores destes produtos.

5.2. PRODUTIVIDADE E APROVEITAMENTO ECONÔMICO DO CUPUAÇU

A expressão econômica do cupuaçu pode ser avaliada pelas formas de

aproveitamento dos subprodutos obtidos, pelo volume produzido e comercializado, pela área plantada, pelos tratos culturais e ainda, pela disponibilidade e demanda de tecnologias disponíveis para fortalecer a cultura.

Analisando o rendimento dos cultivos de cupuaçu nas áreas amostradas

verificou-se que a produtividade de frutos, da polpa e das sementes frescas, medidos em

kilogramas por hectare/ano ficou muito abaixo dos valores encontrados por Venturieri

et al. (1985) e Souza et al. (1999).

Os produtores avaliados nos Municípios de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e

Manacapuru produziram em média, 1.250 kg/ha/a, 1.200 kg/ha/a, 1.700 kg/ha/a de

frutos, respectivamente, e a produção de polpa foi equivalente a 466 kg/ha/a, 448

kg/ha/a e 634 kg/ha/a, e para as sementes frescas, a produção foi de 188 kg/ha/a, 180

kg/ha/a e 255 kg/ha/a, na mesma ordem. Se estas sementes fossem fermentadas e secas,

os respectivos produtores teriam o rendimento de 56 kg/ha/a, 54 kg/ha/a e 77 kg/ha/a.

No total da área amostrada não foi encontrado nenhum produtor rural que realizasse o

processo de fermentação e secagem das sementes, nem nos casos em que a área

amostrada possuía agroindústria, mesmo assim esta não realizava o beneficiamento.

Nesta situação, as sementes foram comercializadas in natura, ao preço médio de venda

de R$ 0,20. Nas propriedades em que foi feita a despolpa, as sementes foram

descartadas, deixando de agregar a da receita do proprietário rural (Tabela 22).

100

Tabela 22: Rendimento médio e receita média por hectare cultivado com cupuaçu na área amostrada. Safra 2009/2010.

Propriedades rurais nos municípios Itacoatiara Presidente

Figueiredo Manacapuru

Situação Real nas propriedades Densidade/ha 512 125 277 Frutos (kg/ha/a) 1.250 1.200 1.700 Polpa (kg/ha/a) 466 448 634 Semente fresca (kg/ha/a) 188 180 255 Semente seca (kg/ha/a) 56 54 77 Polpa (R$/ha/a) 568,52 1.671,04 2.060,50 Semente fresca (R$/ha/a) 38,00 36,00 51,00 Semente seca (R$/ha/a) 72,80 70,20 100,10 Situação desejável A (1) Densidade/ha 234 234 234 Frutos (kg/ha/a) 5.850 5.850 5.850 Polpa (kg/ha/a) 2.182 2.182 2.182 Semente fresca (kg/ha/a) 878 878 878 Semente seca (kg/ha/a) 263 263 263 Polpa (R$/ha/a) 2.662,04 8.138,86 7.091,50 Semente fresca (R$/ha/a) 175,60 175,60 175,60 Semente seca (R$/ha/a) 341,90 341,90 341,90 Situação desejável B (2) Densidade/ha 235 235 235 Frutos (kg/ha/a) 7.300 7.300 7.300 Polpa (kg/ha/a) 2.723 2.723 2.723 Semente fresca (kg/ha/a) 1.095 1.095 1.095 Semente seca (kg/ha/a) 329 329 329 Polpa (R$/ha/a) 3.322,06 10.156,79 8.849,75 Semente fresca (R$/ha/a) 219,00 219,00 219,00 Semente seca (R$/ha/a) 427,70 427,70 427,70 Diferenças de Receita Desejável A(2)– Real Polpa (R$/ha/a) 2.093,52 6.467,82 5.031,00 Semente fresca (R$/ha/a) 137,60 139,60 124,60 Semente seca (R$/ha/a) 269,10 271,70 241,80 Desejável B(3) - Real Polpa (R$/ha/a) 2.753,54 8.485,75 6.789,25 Semente fresca (R$/ha/a) 181,00 183,00 168,00 Semente seca (R$/ha/a) 354,90 357,50 327,60

Obs.: Preço de sementes frescas = R$ 0,20/kg. Preço de sementes secas = R$ 1,30/kg (1) Venturieri et al.(1985); (2) Souza et al. (1999).

101

Venturieri et al. (1985), analisando plantios adubados e com mais de cinco

anos de crescimento, registraram rendimentos de frutos na ordem de 5.850 kg/ha/a. A

produção de polpa foi de 2.182 kg/ha/a, sementes frescas 878 kg/ha/a e secas 263

kg/ha/a.

Souza et al. (1999) obtiveram quantidades ainda maiores, de 7.300 kg/ha/a de

frutos, 2.723 kg/ha/a de polpa fresca, 1.095 kg/ha/a de sementes frescas e 329 kg/ha/a

de sementes secas (Tabela 22). Com base no preço médio de venda da polpa em cada

município (R$ 1,22/kg, R$ 3,73/kg, R$ 3,25/kg (Tabelas 11, 15 e 19) respectivamente,

os dados revelaram uma receita pela venda da polpa de aproximadamente R$

568,52/ha/a, R$ 1.671,04/ha/a e R$ 2.060,50/ha/a e, pela venda das sementes frescas R$

38,00/ha/a, R$ 36,00/ha/a R$ 51,00/ha/a. Na hipótese da semente seca ser

comercializada, esta obteria receita de R$ 72,80/ha/a, R$ 70,20/ha/a, R$ 100,10/ha/a

nos respectivos municípios.

Com base na produtividade média dos dois autores, foi calculada uma receita

hipotética, na qual se obteria, caso os municípios amostrados alcançassem o rendimento

de frutos obtidos nas duas referências. Para tal, foram considerados, em ambos os casos,

os preços de venda da polpa, sementes frescas e sementes secas obtidos nos municípios.

A receita de venda obtida com base nos dados de Venturiei et al. (1985), e o

preço médio de venda de polpa, sementes frescas e sementes secas nos municípios de

Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru, seriam respectivamente, de R$

2.662,04/ha/a, R$ 8.138,86/ha/a e de R$ 7.091,50/ha/a para a venda da polpa. Quanto à

que seria obtida pelas sementes frescas e secas, a receita seria de R$ 175,60/ha/a, para

as sementes frescas e R$ 341,90/ha/a para as sementes secas dos produtores amostrados

nos três municípios.

Baseado nos dados de Souza et al. (1999), as receitas pela venda da polpa

seriam, respectivamente, de R$ 3.322,06/ha/a, R$ 10.156,70/ha/a e R$ 8.849,75/ha/a.

Pela venda das sementes frescas e secas seriam respectivamente de R$ 219,00/ha/a e R$

427,70/ha/a em cada um dos municípios.

102

Considerando esses dados, foi possível calcular quanto os produtores

amostrados deixaram de ganhar por não seguirem as recomendações técnicas de

densidade de plantio (só os de Manacapuru tem uma densidade de plantas semelhantes

às recomendadas por esses autores – Tabela 22), de manejo do solo (adubação) e

controle de pragas e doenças. Quando o referencial de comparação é o de Venturieri et

al. (1985), verifica-se que os produtores amostrados em Itacoatiara poderiam incorporar

em suas receitas, um total de R$ 2.231,12 para cada hectare cultivado com cupuaçu

considerando-se a comercialização da polpa com as sementes frescas. Esse valor sobe

para R$ 2.362,62 se comercializassem as sementes já secas. Essa é a receita total que os

proprietários 5, 11 e 14 de Itacoatiara deixaram de ganhar porque tem apenas um ha

plantado com essa cultura (Tabela 10), mas se for considerado o proprietário 1, que tem

25 ha cultivados com cupuaçu, a diferença do que ganhou com a venda de sua produção

e o que poderia receber sobe para os totais respectivos de R$ 55.778,00 (polpa +

sementes frescas) ou R$ 59.065,50 (polpa + sementes secas).

Se o referencial de produtividade for o alcançado por Souza et al. (1999), as

diferenças de rendas do que os produtores conseguiram obter para as que poderiam

alcançar são ainda maiores, conforme pode ser observado pelos dados no final da tabela

22 para os três municípios. Desses, os que mais poderiam ganhar com o investimento na

cultura do cupuaçu são os produtores amostrados em Presidente Figueiredo, onde essas

diferenças entre as produtividades alcançadas e as desejadas são maiores, com um

mínimo de R$ 6.607,42/ha (polpa + sementes frescas comparadas com Venturieri et al.,

1985) e um máximo de R$ 8.843,25/ha (polpa + sementes secas – Souza et al., 1999).

Com essa diferença de renda para cada hectare bem manejado é possível investir em

insumos agrícolas e mão-de-obra capazes de recuperar totalmente os cupuaçuzeiros e

ainda sobra uma renda suplementar bem elevada para o proprietário rural, estimulando-

o ainda mais a investir nessa cultura de valor social e econômico no Estado do

Amazonas. Se esses valores forem multiplicados pelos hectares plantados em cada

propriedade com o cupuaçu, percebe-se que vale a pena investir na recuperação e

manutenção dos cultivos com essa cultura no Amazonas, visto que já existe mercado

consumidor consolidado para a polpa (varejo e indústria alimentícia) e de manteiga

(indústria cosmética) da espécie.

103

Com base nesses dados, procedeu-se aos cálculos de quanto os produtores de

cada município obteriam se todas as áreas cultivadas com cupuaçu fossem recuperadas e

alcançassem as produtividades médias atingidas por Venturieri et al. (1985) ou Souza et

al. (1999). Os dados da Tabela 23 mostram a realidade alcançada pelos produtores que

participaram do presente estudo, considerando suas áreas cultivadas totais e os seus

potenciais, caso investissem no manejo adequado do cupuaçu em suas propriedades.

Tabela 23: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas 60 propriedades avaliadas nos três municípios do Amazonas. Safra 2009/2010. Propriedades rurais avaliadas nos municípios Itacoatiara Presidente

Figueiredo Manacapuru

Situação real nas propriedades: Área amostrada (ha) 155 111,5 53,5 Produtividade (1) (kg/ha) 654 628 889 Produção(1) na área amostrada (kg) 101.370 70.336 47.117 Preço de venda (R$1,00/kg) 1,22 3,73 3,25 Receita na área amostrada (R$1,00) 123.671,40 262.353,28 153.130,25 Situação desejável A (2): Produtividade (1) (kg/ha) 3.060 3.060 3.060 Produção(1) na área amostrada (kg) 474.300 341.190 163.710 Receita na área amostrada (R$1,00) 578.646,00 1.272.639,00 532.058,00 Situação desejável B (3): Produtividade (1) (kg/ha) 3.818 3.818 3.818 Produção(1) na área amostrada (kg) 591.790 425.707 204.263 Receita na área amostrada (R$1,00) 721.984,00 1.587.887,00 663.855,00 Diferenças de Renda: Desejável A – Real 454.974,60 1.010.285,80 378.927,75 Desejável B – Real 598.312,60 1.325.533,80 510.724,75 (1): Peso de polpa + sementes frescas; (2) Venturieri et al.(1985); (3) Souza et al. (1999).

As áreas totais amostradas nos três municípios foram respectivamente de 155,

111,5 e 53,5 ha em Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru. A receita total

obtida com a venda da polpa e sementes frescas produzidas nessas áreas foi de R$

123.671,40, R$ 262.353,28 e R$ 153.130,25, mas se tivessem investido conforme

recomendações técnicas preconizadas por Venturieri et al. (1985) ou Souza et al.

(1999), suas receitas saltariam para valores bem mais elevados, conforme pode ser visto

nos dados da Tabela 23. Juntos, eles teriam uma receita suplementar de R$ 454.954,60

ou R$ 598.312,60 nos casos de Itacoatiara, R$ 1.010.285,80 ou R$ 1.325.533,80 nos de

104

Presidente Figueiredo e, R$ 378.927,75 ou R$ 510.724,75 nos de Manacapuru quando

comparados com os referenciais desses dois trabalhos bibliográficos.

Quando se projeta essa análise para uma escala maior, de toda a área cultivada

com cupuaçu em cada um dos três municípios (de acordo com dados do IDAM, 2010),

tem-se os valores apresentados na Tabela 24.

Tabela 24: Produtividades e rendimento econômico do cupuaçu nas áreas cultivadas nos três municípios do Amazonas. Safra 2009/2010.

Propriedades rurais nos municípios Itacoatiara Presidente

Figueiredo Manacapuru

Situação Real nas propriedades: Área cultivada (ha) 1.910 1.000 482 Produtividade (1) (kg/ha) 654 628 889 Produção(1) no município (kg) 1.249.140 628.000 428.498 Preço de venda (R$1,00/kg) 1,22 3,73 3,25 Renda na área cultivada (R$1,00) 1.523.950,00 2.342.440,00 1.392.618,00 Situação desejável A (2): Produtividade (1) (kg/ha) 3.060 3.060 3.060 Produção(1) no município (kg) 5.844.600 3.060.000 1.474.920 Renda na área cultivada (R$1,00) 7.130.412,00 11.413.800,00 4.793.490,00 Situação desejável B (3): Produtividade (1) (kg/ha) 3.818 3.818 3.818 Produção(1) no município (kg) 7.292.380 3.818.000 1.840.276 Renda na área cultivada (R$1,00) 8.896.704,00 14.241.140,00 5.980.897,00 Diferenças de Renda: Desejável A – Real 5.606.462,00 9.071.360,00 3.400.872,00 Desejável B - Real 7.372.754,00 11.898.700,00 4.588.279,00

(1) Peso de polpa + sementes frescas (kg/ha); (2) Venturieri et al.(1985); (3) Souza et al. (1999).

Observa-se que cada município poderia incorporar, anualmente, em suas

receitas, pela comercialização de polpa e semente de cupuaçu, mais R$ 5.606.462,00 ou

R$ 7.372.754,00 considerando-se a área total de Itacoatiara cultivada com essa cultura,

R$9.071.360,00 ou R$11.898.700,00 em Presidente Figueiredo e, R$3.400.872,00 ou

R$4.588.279,00 em Manacapuru sempre levando em conta a situação desejável que as

coloque no mesmo nível de produtividade de Venturieri et al. (1985) ou Souza et al.

(1999).

105

5.3. INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU

Na região amazônica os frutos do cupuaçu são comercializados durante a época

da colheita, geralmente in natura. Após o período da safra, a polpa congelada é a

principal forma de comercialização.

As sementes do cupuaçu podem ser comercializadas para extração da manteiga

e da torta. A manteiga se constitui em matéria-prima para a fabricação de hidratantes

faciais e corporais, cremes de massagem, formulação anti-envelhecimento, óleos de

banho, condicionadores e mascaras capilares, emulsões e bálsamos pós-barba,

formulações pré e pós sol, protetores solares, batons, sticks desodorantes, etc. A torta é

utilizada pela indústria alimentícia, com aplicação na alimentação humana para a

fabricação de achocolatado em pó e para composição de chocolates em barra. Outra

alternativa de uso é na composição de ração para animais e peixes.

A partir de setembro de 2005, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância

Sanitária) (ANVISA, 2010), através da Resolução RDC 264, permitiu a substituição

parcial da manteiga de cacau por gorduras alternativas no chocolate. Desta forma a

manteiga de cupuaçu vem sendo utilizada na composição da fórmula em conformidade

com a legislação brasileira.

Na indústria de beneficiamento de sementes ocorre o processamento das

sementes para a obtenção dos subprodutos por elas produzidos. Os dados que se seguem

foram compilados da observação do processo produtivo de uma microempresa de

processamento de sementes, a Cupuama (www.cupuama.com.br), instalada no

município do Careiro/Castanho.

O beneficiamento das sementes do cupuaçu consiste em duas etapas: a) processo de fermentação e secagem e b) Processo de beneficiamento das sementes secas para extração da manteiga e da torta. A primeira etapa pode ser realizada pelo produtor rural ou na indústria de processamento. A segunda etapa do processo exige equipamentos mais sofisticados para extração da manteiga e ocorre na indústria de processamento e transformação. A Figura 30 apresenta um fluxograma das etapas e produtos obtidos no processo.

106

5.3.1. ETAPAS E RENDIMENTOS DO BENEFICIAMENTO DAS SEMENTES DE CUPUAÇU

Figura 30: Etapas do beneficiamento das sementes do cupuaçu.

107

O processo da fermentação e secagem inicia com a chegada das sementes

frescas na indústria de processamento. Estas devem ter sido despolpadas a menos de

24hrs e não conter adição de água. Se não for possível iniciar o processo da fermentação

até vinte e quatro horas após a despolpa, as sementes devem ser congeladas até que seja

possível iniciar o processo.

As sementes são colocadas em caixas de plástico, com capacidade aproximada

de 30 kg e devem ser mantidas protegidas do sol e da chuva onde devem permanecer

pelo período de sete dias, sendo removidas diariamente (o ideal é que seja feita a

remoção de uma caixa para outra) e deve-se manter o cuidado para evitar o contato com

insetos ou outro tipo de bichos a fim de garantir as recomendações de higiene. Para

tanto, recomenda-se que as caixas fiquem cobertas sem comprometer a ventilação. No

início do processo de fermentação as sementes tem uma temperatura de 18 °C a 19 °C.

A partir do segundo dia estas começam a sofrer elevação da temperatura chegando a 40

°C, podendo alcançar até 50 °C, o que indica que o processo de fermentação está

ocorrendo e as sementes vão alcançando a acidez ideal. Para isso, às vezes é necessário

adicionar bicarbonato de sódio, para que o pH se eleve e evite a proliferação de

Aspergillus, com conseqüente apodrecimento das sementes (Aragão, 1992). A partir do

quarto dia a temperatura decresce até estabilizar entre 28 °C e 29 °C.

Ao término desta etapa as sementes ainda conservam umidade em torno de

50%. Após a fermentação, as sementes são conduzidas para secagem, feita em

secadores solares (Figura 4), onde permanecem até atingir umidade de 7-8%. O

processo de secagem dura aproximadamente dez dias. Durante este processo de

fermentação e secagem ocorre uma perda de peso das sementes de aproximadamente

55%. Esta etapa ocorre em um galpão externo, anexo à planta industrial, respeitando as

recomendações de higiene do processo de fermentação, secagem e extração da

manteiga.

Depois de secas, as sementes são conduzidas para o interior da fábrica onde são

torradas à temperatura aproximada de 130 °C por aproximadamente 40 minutos. Ao

final deste processo ocorre uma perda de peso de 6%. Em seguida as sementes são

descascadas. Neste processo, as cascas retiradas conservam um pouco de resíduo da

108

amêndoa (Figura 31) e estas são aproveitadas para compostagem e/ou para compor

ração para peixes e animais.

Figura 31: Casca das sementes do cupuaçu com resíduo de amêndoa.

Figura 32: Manteiga de cupuaçu - bruta.

Na etapa do descasque, o peso é reduzido em 27%. As amêndoas passam pelo

processo de trituração e prensagem tendo como resultado a manteiga bruta que é

colocada para decantar. A parte mais densa da decantação é a manteiga bruta (Figura

32) e corresponde a 60% do peso total; os demais 40%, que corresponde à parte mais

leve, passa pelo processo de filtragem e resultam em 40% de manteiga filtrada (figura

33) e o resíduo, que corresponde a 60%, é a torta (Figura 34). A manteiga bruta e a

manteiga filtrada são destinadas à fabricação de cosméticos. A torta é utilizada pela

indústria alimentícia.

Figura 33: Manteiga purificada (filtrada).

Figura 34: Torta das sementes de cupuaçu.

109

A tabela 25 apresenta o rendimento, em kilogramas, de cada etapa do processo

de beneficiamento das sementes do cupuaçu, considerando um peso inicial de 1.000 kg

de sementes frescas.

Tabela 25: Rendimento do processo de beneficiamento das sementes do cupuaçu.

Etapas Rendimento (kg)

1. Sementes frescas 1.000

2. Fermentação e secagem 455

3. Torrefação 428

4. Descasque 428

4.1. Cascas 116

4.2. Amêndoas ± 300

4.2.1. Manteiga bruta 180

4.2.2. Filtragem e purificação 120

4.2.2.1. Manteiga filtrada 48

4.2.2. 2. Torta 72

4.2.2.2.1. Achocolatado em pó --

Cada etapa do processo de beneficiamento das sementes de cupuaçu sofre

perdas de peso ou separação em subprodutos. Considerando 1.000 kg de sementes

frescas, após serem fermentadas e secas, resultam em 455 kg de sementes secas (perda

de 54,5% do peso inicial). Estas passam pelo processo de torrefação, onde perdem

aproximadamente 6% do peso em relação às sementes secas e resultam em 428 kg de

amêndoas torradas e com casca. Desta etapa em diante não há mais perda de peso nos

produtos, havendo apenas as separações em subprodutos, todos aproveitados em

segmentos diversos, conforme já especificado. No processo de descasque são retirados,

aproximadamente, 27% em cascas, tendo como referência o peso das sementes torradas,

resultando em 116 kg de cascas com resíduo de amêndoas e aproximadamente 300 kg

de amêndoas torradas e descascadas.

As amêndoas torradas e descascadas são trituradas e prensadas com rendimento

de 180 kg de manteiga bruta. A manteiga bruta é colocada para decantar e resulta em

120 kg de manteiga mais leve e torta. Estes 120 kg são submetidos à filtragem onde a

110

manteiga é purificada, sendo separada da parte mais densa, resultando em 48 kg de

manteiga filtrada e purificada e 72 kg de torta.

No ano de 2009, a Cupuama - indústria de processamento de sementes -

comercializou 12 toneladas de manteiga bruta. Em 2010 foram comercializadas 17t,

estimando-se que em 2011 sejam produzidas e comercializadas 20 toneladas de

manteiga bruta, (informações verbais fornecidas por uma das proprietárias da empresa,

Fátima B. Sales, em jan/2011).

Analisando os resultados de produtividade de manteiga bruta, manteiga filtrada

e torta (Tabela 25) e estimando a quantidade de sementes frescas que foram processadas

para obtenção destes resultados nos anos de 2009 e 2010 e a produção estimada para

2011, obteve-se os resultados apresentados na tabela 26.

Tabela 26: Processamento das sementes de cupuaçu e produção final de manteiga bruta, manteiga purificada e torta, nos anos de 2009 e 2010 e, estimativa para 2001.

Ano Sementes frescas (ton)

Produção (ton) Manteiga bruta Manteiga

purificada Torta

2009 66,7 12 3,2 4,8 2010 94,4 17 4,5 6,8 2011* 111,1* 20* 5,3* 8,0* Total 272,2 49,0 13,1 19,6

*Estimativa de produção para o ano de 2011.

No ano de 2009 a empresa processou 66,7 toneladas de sementes frescas e

obteve 12,0t de manteiga bruta, 3,2t de manteiga purificada e 4,8t de torta. Em 2010 a

empresa aumentou sua produção em 42% em relação a 2009 e comercializou 17,0t de

manteiga bruta, 4,5t de manteiga filtrada e 6,8t de torta. Para 2011 a empresa projetou

um crescimento nas vendas na ordem de 18% e estima comercializar 20t de manteiga

bruta, 5,3t de manteiga purificada e 8,0t de torta já transformada em achocolatado; para

tanto, serão necessários processar, aproximadamente, 111,1t de sementes frescas.

Se considerarmos a área cultivada com cupuaçu nos três municípios estudados

nesta pesquisa, Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru (Tabela 9) e a produção

de sementes frescas obtidas nestes municípios (Tabela 22) para estimarmos o potencial

111

produtivo de manteiga bruta, manteiga purificada e torta que seriam produzidas a partir

destas sementes obteríamos os resultados apresentados na Tabela 27. Também foi

estimado o potencial produtivo dos Municípios e do Estado do Amazonas com base na

produtividade alcançada por venturieri et al. (1985) e Souza et al. (1999).

Tabela 27: Estimativa de aproveitamento do total das sementes do cupuaçu produzidas na safra 2009/2010.

Local Produção de

sementes

frescas (ton)

Produção (ton)

Manteiga

bruta

Manteiga

purificada

Torta

Itacoatiara 359 65 17 26

P. Figueiredo 180 32 9 13

Manacapuru 123 22 6 9

Estado do Amazonas (1) 1.168 210 56 84

Venturieri et al. (1985) (2) 2.978 536 143 214

Souza et al. (1999) (3) 3.714 669 178 267

Estado do Amazonas (4) 5.256 946 252 378

Estado do Amazonas (5) 6.555 1.180 315 472

(¹) Produtividade do Estado do Amazonas: situação de produção atual. (²) Produtividade alcançada por Venturieri et al. (1985): total de ha cultivados nos três municípios. (³) Produtividade alcançada por Souza et al. (1999): total de ha cultivados nos três municípios. (4) Produtividade alcançada por Venturieri et al. (1985): total de ha cultivados no Est. do Amazonas. (5) Produtividade alcançada por Souza et al. (1999): total de ha cultivados no Est. do Amazonas.

De acordo com dados do IDAM (2010), na safra de 2009/2010 o Município de

Itacoatiara cultivou 1.910 ha (Tabela 9) e produziu 359 t de sementes frescas (Tabela

22). Estimando que a produção total de sementes do Município fosse processada para

extração de manteiga e torta, esta resultaria em 65t de manteiga bruta, 17t de manteiga

purificada e 26t de torta. Os Municípios de Presidente Figueiredo e Manacapuru

produziriam, respectivamente, 32t, 22t de manteiga bruta, 9t, 6t de manteiga purificada

e 13t e 9t de torta (Tabela 27) . Se estes Municípios alcançassem a produtividade obtida

por Venturieri et al. (1985), a produção de manteiga bruta, manteiga purificada e torta

nos três municípios seria, de 536t, 143t e 214t, nesta ordem. Se atingem a

produtividade de Souza et al. (1999), a produção seria ainda maior alcançando 669t

toneladas de manteiga bruta, 178t de manteiga purificada e 267 toneladas de torta.

112

A produção total de sementes frescas no Estado do Amazonas, considerando a

produtividade atual de frutos, foi de 1.168t, se estas fossem processadas resultariam em

210t de manteiga bruta, 56t de manteiga purificada e 84t de torta.

Considerando o total de ha cultivados no Estado na safra de 2009/2010 (Tabela

9), e estimando a produção de sementes frescas obtidas por Venturieri et al. (1985) e

Souza et al. (1999), (Tabela 22), o Estado produziria, respectivamente, 946t, 1.180t de

manteiga bruta, 252t, 315t de manteiga purificada e 378t 472t de torta. Estes números

representam o valor que o Amazonas deixa de agregar na cadeia produtiva do fruto do

cupuaçu, visto que o consumo de manteiga de cupuaçu se diversifica cada vez mais e a

demanda pela manteiga é maior que a oferta dada a dificuldade de obtenção de sementes

para o processamento.

113

5.4. UTILIZAÇÃO DA MANTEIGA DE CUPUAÇU NAS INDÚSTRIAS DE COSMÉTICOS DE MANAUS

Os produtos cosméticos fabricados pelas empresas do Pólo Industrial de

Manaus envolvidas nesta pesquisa, de acordo com a RDC 211/05 da ANVISA, se

enquadram tanto na categoria de produtos de grau 1 como de grau 2 e atuam no

segmento de higiene pessoal, perfumaria e/ou cosméticos (Tabela 28).

Tabela 28: Diagnóstico da produção de cosméticos em Manaus. Amazongreen Gotas da

Amazônia Pharmacos da

Amazônia Harmonia

Nativa Categoria do produto RDC 211/05 - ANVISA

Grau 1 e

Grau 2

Grau 1 Grau 1 Grau 1

Segmento Industrial

Cosméticos e

Perfumes

Higiene pessoal,

perfumaria e cosméticos

Higiene pessoal e

cosméticos

Higiene pessoal e

cosméticos

Matéria-prima do cupuaçu utilizada na formulação

Manteiga e extrato

glicólico

Manteiga Extrato glicólico

Manteiga

Local de aquisição da matéria-prima

Estado de São Paulo

Estado de São Paulo

Estado de São Paulo

Estado de São Paulo

Satisfação com a qualidade da matéria-prima adquirida

Total Total Total Total

Oferta da matéria-prima no mercado

Satisfaz Satisfaz Satisfaz Satisfaz

Alcance da comercialização do produto final

Mercados local, nacional e internacional

Mercados local, nacional e internacional

Mercados local e nacional

Mercado local

A empresa Amazongreen (http://www.amazongreen.com.br) atua no segmento

de cosméticos e perfumes, a Gotas da Amazônia (http://www.gotasdaamazonia.com.br)

é a mais diversa, com produção nos segmentos de higiene pessoal, perfumaria e

cosméticos e as demais, Pharmacos da Amazônia

114

(http://www.pharmacosdaamazonia.com.br) e Harmonia Nativa

(http://harmonianativa.com.br) fabricam produtos de higiene pessoal e cosméticos.

No segmento de higiene pessoal são produzidos, sabonetes sólidos e líquidos,

xampus, condicionadores e produtos de higiene íntima. A linha de cosméticos é bem

diversificada sendo fabricados hidratantes para o corpo, rosto, mãos e pés, hidratantes

facial, máscara capilar, máscara facial, óleos de banho e cremes esfoliantes facial e

corporal. Na linha de perfumaria são produzidos perfumes, colônias, desodorantes e

desodorizador de ambientes (Figura 34).

Figura 35: Produtos fabricados com a utilização de insumos do cupuaçu (manteiga ou extrato) nas Empresas de cosméticos de Manaus.

Todos estes produtos utilizam a manteiga de cupuaçu ou extrato glicólico de

cupuaçu nas suas formulações, porém, toda a matéria-prima adquirida pelas empresas

para a fabricação desses produtos é processada fora do Estado do Amazonas sendo

necessário comprá-los no Estado de São Paulo, onde estão instaladas as empresas

fornecedoras desses produtos que são obtidos a partir do refino da manteiga bruta de

cupuaçu. É neste processo de refino que a manteiga é processada, sendo fragmentada

115

resultando em vários componentes que vão integrar as fórmulas cosméticas do produto

final.

Todas as empresas de cosméticos analisadas nesta pesquisa todas declararam

satisfação com a qualidade dos insumos do cupuaçu visto que os fornecedores dos

insumos possuem autorização da ANVISA para funcionamento e o registro dos

produtos fabricados, estes fatores são fiscalizados na indústria de produto final quando

da concessão de autorizações para funcionamento. Outro fator que favorece a qualidade

do produto são as certificações que as empresas de refino possuem como: atendimentos

às normas ISO 9001, ISO 14001, OHSAS 18001 e FSC, que atestam que a gestão de

processos, desde o plantio até o refino, atende aos requisitos de qualidade, meio

ambiente, segurança, saúde ocupacional e gestão para a conservação dos produtos da

floresta.

Desta forma todas as empresas declaram que a oferta de matéria-prima do

cupuaçu satisfaz as necessidades da empresa não sendo a fator sazonalidade uma

dificuldade para produção de cosméticos.

O fato das indústrias de cosméticos de Manaus utilizar insumos da

biodiversidade Amazônica em suas formulações representa um diferencial favorável na

comercialização desses produtos. Das empresas entrevistadas duas comercializam seus

produtos no mercado local, nacional e internacional. Uma comercializa no mercado

local e nacional e uma comercializa somente no mercado local, sendo esta a de maior

expressão no comércio local, visto que possui lojas de vendas nos maiores shoppings da

cidade.

116

6. CONCLUSÕES As produtividades do cupuaçuzeiro nas propriedades rurais amostradas dos municípios

de Itacoatiara, Presidente Figueiredo e Manacapuru mostraram-se muito baixas, em

decorrência da falta de adubação do solo e controle de pragas e doenças. A vassoura-de-

bruxa estava presente nos cultivos de cupuaçu em todas as 60 propriedades rurais

visitadas. A broca-do-fruto estava presente em 65% das propriedades de Itacoatiara, em

90% das de Manacapuru e, em 20% das propriedades de Presidente Figueiredo. A erva-

de-passarinho estava presente em 20% das propriedades de Itacoatiara e, em 10% das de

Manacapuru e de Presidente Figueiredo.

Os proprietários rurais que participaram da pesquisa não processam as sementes de

cupuaçu visando sua comercialização, deixando-as na propriedade rural ou entregando-

as junto com a polpa para evitar o trabalho manual de separação da polpa. Todos os 20

produtores rurais de Itacoatiara entrevistados comercializam as sementes juntamente

com a polpa para a cooperativa ou intermediário, sem contudo usufruir da utilização das

mesmas para a produção de manteiga ou torta.

Nenhum dos produtores de Manacapuru e somente três dos 20 produtores de Presidente

Figueiredo repassaram as sementes junto com a polpa para os intermediários.

A maioria dos produtores de cupuaçu desconhece o uso das sementes para a produção

de manteiga ou torta e também não sabem onde esses produtos podem ser utilizados.

O rendimento econômico médio encontrado por hectare nas propriedades rurais, pela

comercialização das sementes junto com as sementes frescas foi, respectivamente de R$

606,52, R$ 1.707,04 e R$ 2.111,50 para Itacoatiara, Presidente Figueiredo e

Manacapuru;

Se investissem na adubação do solo e controle de pragas e doenças, esses rendimentos

subiriam, respectivamente, para R$ 3.541,06, R$ 10.375,79 e R$ 9.068,75;

Se todas as sementes fossem convertidas em manteiga bruta, purificada e torta, as

produções estaduais no Amazonas saltariam da realidade de 210t, 56t e 84t

117

respectivamente, para 1.180t, 315t e 472t caso os produtores adotassem as práticas

culturais recomendadas;

Toda a manteiga produzida no Amazonas é purificada fora do Estado e depois retorna

por um preço mais elevado.

Os produtores de cupuaçu se sentem desestimulados em continuar a cultivar essa

espécie, considerada a principal frutífera do Estado do Amazonas.

118

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

O diagnóstico aqui apresentado aponta para uma possível falência da cultura do

cupuaçu na região, visto que há uma descrença por parte dos produtores com o cultivo

da espécie. Apesar de todos os produtores das áreas amostradas afirmarem que a fruta

tem boa aceitação comercial e que a polpa é um produto de fácil comercialização, eles

se sentem desestimulados a manterem seus cultivos por não conseguirem combater a

proliferação das pragas e doenças que afetam a espécie e nem melhorar as condições de

beneficiamento da polpa, que ainda é feita de forma artesanal em quase todas as

propriedades estudadas, e nem fazer o escoamento da produção para os grandes centros

consumidores. Somando-se a isto está o fato de que no período da safra os preços de

venda da polpa são significativamente reduzidos em virtude da quantidade ofertada do

produto. No âmbito da propriedade rural, este fator configura um problema, visto que a

maioria dos produtores não dispõe de estrutura física que permita a armazenagem e

conservação da polpa para comercialização em um momento mais favorável do ponto

de vista econômico, alcançando assim melhores preços de venda.

Desse modo, uma cultura de excelente aceitação comercial e de grande

expressão econômica e social para a região pode ser abandonada e marginalizada,

considerando que boa parte dos produtores que cultiva a espécie já declarou

insatisfações com o cultivo do cupuaçu, pelas razões acima expressadas, e em alguns

casos até extinguem a cultura para substituí-la por outra (situação verificada em

algumas propriedades na região do Novo Engenho e Novo Remanso, em Itacoatiara,

onde alguns produtores abandonaram os cultivos de cupuaçu e canalizaram toda a mão-

de-obra e investimento para o cultivo do abacaxi, hoje a cultura de maior expressão no

local). A descrença e abandono da espécie também foi verificada em propriedades

próximas à AM 240, em Presidente Figueiredo e na comunidade Santa Luzia, em

Manacapuru.

Deve ser enfatizado que nesses cálculos não foi considerado o rendimento e

valor econômico do cupuaçu, pelo processamento das sementes que resultam na

manteiga, utilizada pela indústria de cosméticos e na torta destinada à indústria

alimentícia, com aplicação na alimentação humana, de animais e peixes. Esse

119

aproveitamento valoriza ainda mais a cultura do cupuaçu e ao mesmo tempo,

incrementa esses setores econômicos pelo aumento de disponibilidade regional de

matéria-prima agregando valor à biodiversidade amazônica e desenvolvimento

econômico e social à região.

Em vista disso, é altamente recomendável que o governo do Estado do

Amazonas invista na organização dos produtores em Associações e Cooperativas,

capazes de estabelecer nas propriedades rurais, práticas culturais como manejo da

fertilidade do solo e controle de pragas e doenças para que a cultura volte a ter índices

elevados de produtividade.

Além disso, uma política governamental que estimule a aquisição de

despolpadoras mecânicas por essas Associações ou Cooperativas rurais e que crie

condições de qualidade e higiene para a transformação das sementes em manteiga e

torta nas próprias comunidades rurais pode reverter esse estado de desânimo encontrado

na maioria dos produtores de cupuaçu do Amazonas.

120

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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128

9. ANEXOS QUESTIONÁRIO – 1. PRODUTORES DE CUPUAÇU NO ESTADO DO

AMAZONAS.

Este questionário destina-se ao levantamento de dados primários junto aos produtores

de cupuaçu no Estado do Amazonas.

1. Propriedade: ........................................................................................................................ Endereço: ................................................................................................................................ Responsável pelas informações: .............................................................................................

Função: ................................................................................................................................... CPF/CI: .................................................................................................................................. Telefone (fixo e celular):.................................................... Fax: ........................................... E-mail: .................................................................................................................................... 2. Porte da propriedade: ( ) Pequena (0-5 ha) ( ) Média (6-50ha) ( ) Grande (>50 ha) Especificar: 3. A propriedade cultiva o cupuaçu? ( ) sim ( ) Não 4. Qual a área cultivada (em hectares) com cupuaçu na propriedade? Especificar: 5. Quantas árvores de cupuaçu há na propriedade? Especificar: 6. Qual o processo de formação do cultivo de cupuaçu? ( ) Plantio de mudas ( ) Plantio de sementes 7. Qual a forma de aquisição das mudas e/ou das sementes? ( ) Compra de terceiros ( ) Produção própria Especificar: 8. O senhor(a) tem conhecimento e pratica algum tipo de controle de qualidade de sementes? ( ) sim ( ) Não ( ) Não tenho conhecimento Especificar: 9. O senhor (a) tem conhecimento de quais procedimentos devem ser tomados para a formação de cultivos de qualidade? ( ) sim ( ) Não Especificar: 10. Sua área cultivada com cupuaçu já foi ou é atingida por algum tipo de praga (broca, erva de passarinho) ou doença (vassoura de bruxa)? ( ) sim ( ) Não Especificar: 11. Seu cultivo de cupuaçu já recebeu algum tipo de controle de praga ou doenças? ( ) sim ( ) Não

12. O senhor tem conhecimento de como proceder para evitar que o cultivo seja atingido por praga ou doença? ( ) sim ( ) Não Especificar:

129

13. Quantas árvores estão na fase de produção de frutos? R: 14. Qual a produção média mensal (ou por safra) de cupuaçu?

Produto Quantidade

Fruto in natura cupuaçu

Polpa de cupuaçu

15. A produção de cupuaçu é comercializada? ( ) sim ( ) Não 16. O senhor realiza algum tipo de beneficiamento no produto? ( ) sim ( ) Não

17. Qual o tipo de beneficiamento realizado? Subprodutos Quantidade

Retirada da polpa

Secagem da semente

Trituração da casca

Extração de manteiga

18. Qual o processo de retirada da polpa? ( ) Artesanal (tesoura) ( ) Máquina 19. Quais os subprodutos do cupuaçu o senhor (a) comercializa? ( ) Fruto in natura cupuaçu ( ) Polpa de cupuaçu ( ) Semente de cupuaçu ( ) Casca de cupuaçu ( ) Manteiga de cupuaçu

20. Qual a quantidade vendida por mês (Kg)? Subprodutos Quantidade

Fruto in natura cupuaçu

Polpa de cupuaçu

Semente de cupuaçu

Casca de cupuaçu

Manteiga de cupuaçu

21. Qual a forma de comercialização? ( ) Atacado ( ) Varejo

22. Quem são os compradores de cupuaçu? ( ) Empresas ( ) Cooperativas ( ) Atravessador ( ) Varejo 23. Qual o local de entrega do produto? ( ) Na propriedade Rural ( ) Na propriedade do comprador

24. Qual o preço médio de venda do produto? Produto Preço venda R$ (kg)

Fruto in natura cupuaçu

Polpa de cupuaçu

Semente de cupuaçu

130

Casca de cupuaçu

Manteiga de cupuaçu

25. O senhor conhece a técnica de secagem da semente de cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não 26. O senhor tem conhecimento de quais os subprodutos podem ser obtidos a partir da semente de cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 27. O senhor tem conhecimento de quem são os consumidores desses subprodutos? ( ) Sim ( ) Não Especificar:

28. O senhor(a) recebe ou recebeu algum tipo de orientação de melhoria da qualidade do produto por parte do comprador? ( ) sim ( ) Não 29. O senhor(a) recebe ou recebeu algum tipo de ajuda do governo? ( ) sim ( ) Não

30. Que tipo de ajuda o senhor(a) recebeu? ( ) Financeira ( ) Técnica ( ) Incentivos fiscais ( ) Outros Especificar: 31. A sua propriedade está inserida em alguma associação ou cooperativa? ( ) Associação ( ) Cooperativa Especificar: 32. O senhor (a) apontaria alguma vantagem para o cultivo do cupuaçu em sua propriedade? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 33. O senhor apontaria alguma dificuldade para a comercialização do cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 34. Quais os principais cultivos da propriedade?

01

02

03

04

05

06

07

131

QUESTIONÁRIO – 2. INDÚSTRIAS DE PROCESSAMENTO DE MATÉRIA-

PRIMA.

Este questionário destina-se ao levantamento de dados primários para subsidiar

Dissertação de Mestrado e será aplicado às indústrias de processamento de matéria-

prima a partir de insumos da biodiversidade amazônica, tendo como base o cupuaçu

(Theobroma grandiflorum).

1. Empresa: .................................................................. CNPJ: ......................................

Endereço: ............................................................................................................................

Data de atuação: .................................................................................................................

Responsável pelas informações: .........................................................................................

Função: ...............................................................................................................................

CPF/CI: ...............................................................................................................................

Telefone (fixo e celular): .................................................... Fax: .......................................

E-mail: ................................................................................................................................

2. Porte da empresa: ( ) Micro ( ) Pequena ( ) Média ( ) Grande

3. Qual o segmento industrial ao qual pertence a empresa? ( ) Processamento de mat.-prima ( ) produto final ( ) Outros

4. Dos produtos processados pela empresa, há algum(ns) que agregue(m) matéria-prima da biodiversidade amazônica? ( ) sim ( ) Não.

5. Qual(is) o(s) principal(is) produto(s) processados pela empresa? N° Matéria-prima Produto

01

02

03

04

6. A empresa utiliza o cupuaçu como matéria-prima? ( ) sim ( ) Não 7. Qual o subproduto do cupuaçu são processados pela empresa? ( ) Polpa ( ) Semente ( ) Casca ( ) Outros

132

8. Qual(is) o(s) principal(is) subproduto(s) e produto(s) resultante do processamento do cupuaçu?

N° Subproduto Produto

01

02

03

04

9. Qual a produção média mensal de cada produto resultante do processamento do cupuaçu?

N° Produto in natura Produto processado

01

02

03

04

10. Onde é obtida a matéria-prima do cupuaçu? ( ) Propriedade rural ( ) Intermediários ( ) Outros tipos de empresa 11. Qual o estado da matéria-prima quando da aquisição? ( ) In natura ( ) Processada Especificar: 12. A matéria-prima adquirida recebe algum tipo de beneficiamento por parte do fornecedor (especificar)? ( ) Acondicionamento ( ) Beneficiamento primário (especificar) Matéria-prima Acondicionamento* Beneficiamento *

Descrever o tipo de beneficiamento efetuado pelo fornecedor na matéria-prima. 13. O beneficiamento realizado pelo fornecedor satisfaz as necessidades da empresa? ( ) sim ( ) Não Especificar: 14. Qual o local de origem da matéria-prima? R: 15. Quem são os fornecedores da matéria-prima? R: 16. Como a matéria-prima é comprada? ( ) Fruto in natura ( ) Semente in natura ( ) semente processada ( ) Polpa ( ) Outros Especificar: 17. A empresa realiza o processo de extração da manteiga da semente do cupuaçu? ( ) sim ( ) Não 18. No caso da semente do cupuaçu qual a quantidade adquirida anualmente pela

133

empresa? R: 19. Há diferenças sazonais no suprimento da matéria-prima? R: 20. Quais os meses do ano de maior e menor oferta? R: 21. A quantidade de matéria-prima ofertada satisfaz a demanda da empresa? R: 22. A qualidade da matéria-prima satisfaz as necessidades da empresa? ( ) sim ( ) Não 23. Os fornecedores de matéria-prima regional possuem regularidade satisfatória no fornecimento dos insumos para a indústria? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 24. A empresa produz (extrai ou coleta) a matéria-prima regional que utiliza no processo produtivo? ( ) Sim ( ) Não 25. Se positivo, qual a forma de produção da matéria-prima regional? ( ) Extração ( ) Coleta ( ) outros (especificar) 26. O uso de matéria-prima da biodiversidade amazônica representa um diferencial de mercado no lançamento e comercialização dos produtos? ( ) sim ( ) Não 27. A empresa apontaria vantagens de uso de matéria-prima regional, no caso o cupuaçu, na fabricação de seus produtos? ( ) Sim ( ) Não 28. Qual o alcance da comercialização do produto final? ( ) Merc. Local ( ) Regional ( ) Nacional ( ) Internacional 29. A empresa fornece insumos para a indústria de cosméticos? ( ) Sim ( ) Não 30. Quem são os principais clientes do segmento de cosméticos?

N° Local Regional Nacional Internacional

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( ) Outros (especificar) 33. A empresa oferece algum tipo de informação e/ou treinamento aos fornecedores de matéria-prima que favoreça a qualidade do produto ofertado? ( ) Sim ( ) Não Especificar: 34. A matéria-prima regional adquirida pela empresa possui algum tipo de certificação? ( ) Sim ( ) Não Especificar:

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35. A empresa apontaria algum tipo de gargalo no processamento do cupuaçu? Especificar:

36. A empresa apontaria vantagens em trabalhar com o cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar:

37. A empresa apontaria desvantagens em processar o cupuaçu? ( ) Sim ( ) Não Especificar:

38. Quais os principais gargalos no processamento com os sub-produtos do cupuaçu? Especificar:

39. A empresa recebe algum tipo de incentivo do governo? N° Municipal Estadual Federal

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QUESTIONÁRIO – 3. INDÚSTRIAS DE PRODUTO FINAL DE COSMÉTICOS

Este questionário destina-se ao levantamento de dados primários para avaliação do potencial de

uso cupuaçu pelas indústrias de cosméticos do PIM e análise da cadeia de processamento do

cupuaçu em insumo para a indústria de cosméticos de Manaus.

Empresas do segmento de HPPC do Pólo Industrial de Manaus.

1. Empresa:.................................................................. CNPJ: .........................................

Endereço:...........................................................................................................................

Data de atuação: ..............................................................................................................

Responsável pelas informações: ......................................................................................

Função:................................................................................................................................

CPF/CI: ............................................................................................................................

Telefone (fixo e celular): ............................................ Fax: ...........................................

E-mail: ..............................................................................................................................

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2. Porte da empresa*: ( ) Micro* ( ) Pequena* ( ) Média*** ( ) Grande*** *De acordo com a Resolução 202/2006, da SUFRAMA *Micro empresas: importação de insumos até o limite de US$ 200.000,00 (Norte Americanos) e receita bruta igual ou inferior a R$ 433.755,14, pessoa jurídica e firma individual. **Pequena empresa: importação de insumos até o limite de US$ 200.000,00 (Norte Americanos) e receita bruta de R$ 433.755,14 até R$ 2.133.222,00, e firma mercantil individual não enquadrada como microempresa. ***Necessidade de importação superior a US$ 200.000,00 (Norte Americanos), receita bruta anual superior a R$ 2.133.222,00, pessoa jurídica não enquadradas na categoria de Micro e Pequena empresa. 3. Qual o segmento industrial ao qual pertence a empresa? ( ) Higiene pessoal ( ) Perfumaria ( ) Cosméticos. 4. Qual a classificação dos produtos industrializados pela empresa? ( ) Produtos de grau 1 ( ) Produtos de grau 2 5. Qual(is) o(s) principal(is) produto(s) da empresa?

N° Categoria Produto

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6. Dos produtos industrializados pela empresa, há algum(ns) que agregue(m) matéria-prima da biodiversidade amazônica? ( ) sim ( ) Não. 7. O cupuaçu é utilizado como matéria-prima no processo fabril de cosméticos? ( ) sim ( ) Não. 8. Qual o produto final que utiliza o cupuaçu como matéria-prima? R: 9. Qual o subproduto do cupuaçu é utilizado no processo fabril? ( ) Manteiga ( ) Polpa ( ) Casca ( ) Outros 10. Onde a matéria-prima é obtida? ( ) Na empresa ( ) Indústria de processamento ( ) Produtor ( ) Atravessador 11. Qual o estado da matéria-prima quando da aquisição? ( ) In natura ( ) Processada 12. A empresa realiza algum tipo de processamento na matéria-prima adquirida? R:

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13. A matéria-prima adquirida recebe algum tipo de beneficiamento por parte do fornecedor (especificar)? ( ) Acondicionamento ( ) Beneficiamento primário (especificar)

Matéria-prima Acondicionamento* Beneficiamento primário*

Descrever o tipo de beneficiamento efetuado pelo fornecedor na matéria-prima adquirida. 14. Qual o local de origem da matéria-prima? R: 15. Quem são os fornecedores da matéria-prima? R: 16. Qual a quantidade mensal de matéria-prima adquirida pela empresa? R: 17. Há diferenças sazonais no suprimento da matéria-prima? R: 18. Quais os meses do ano de maior e menor oferta? ( ) Maior oferta ( ) Menor oferta 19. A quantidade de matéria-prima ofertada satisfaz a necessidade da empresa? R: 20. Os fornecedores de matéria-prima regional possuem regularidade satisfatória no fornecimento dos insumos para indústria? ( ) Sim ( ) Não 21. A matéria-prima adquirida satisfaz a empresa no fator qualidade? ( ) Sim ( ) Não 22. A empresa produz (extrai ou coleta) a matéria-prima regional que utiliza no processo produtivo? ( ) Sim ( ) Não 23. Se positivo, qual a forma de produção da matéria-prima regional? ( ) Plantio ( ) Coleta ( ) outros (especificar) 24. O uso de matéria-prima da biodiversidade amazônica representa um diferencial de mercado no lançamento e comercialização de produtos? ( ) sim ( ) Não 25. A empresa apontaria vantagens de uso de matéria-prima regional na fabricação de seus produtos? ( ) Sim ( ) Não 26. Qual o alcance da comercialização do produto final? ( ) Merc. Local ( ) Regional ( ) Nacional ( ) Internacional 27. A empresa oferece algum tipo de informação e/ou treinamento aos fornecedores de matéria-prima que favoreça a qualidade do produto ofertado? ( ) Sim (Especificar) ( ) Não 28. A matéria-prima regional adquirida pela empresa possui algum tipo de certificação? ( ) Sim (Especificar) ( ) Não

29. A empresa aponta algum tipo de gargalo no processo produtivo de cosméticos a partir de insumos da biodiversidade amazônica? R: