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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - UFPI
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS - CCHL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL
JOSÉ DE ARIMATÉA ISAIAS FERREIRA
TRILHANDO NOVOS CAMINHOS:
A CIDADE DE PIRIPIRI E AS MUDANÇAS PROPORCIONADAS PELA
CHEGADA DA FERROVIA – 1930-1950
Teresina – PI 2010
1
JOSÉ DE ARIMATÉA ISAIAS FERREIRA
TRILHANDO NOVOS CAMINHOS:
A CIDADE DE PIRIPIRI E AS MUDANÇAS PROPORCIONADAS
PELA CHEGADA DA FERROVIA 1930-1950
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História do Brasil do Centro de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Piauí – UFPI, como requisito para a obtenção do título de Mestre em História, sob orientação do Prof. Dr. Solimar Oliveira Lima.
TERESINA – PI 2010
2
F383t Ferreira, José de Arimatéa Isaias Trilhando novos caminhos: a cidade de Piripiri e as mudanças proporcionadas pela
chegada da ferrovia – 1930-1950/ José de Arimatéa Isaias Ferreira:2010.
145 fls
Dissertação (mestrado em História) UFPI.
Orientador: prof. Dr. Solimar Oliveira Lima
1. Ferrovias – História – Piripiri (PI)
2. Ferrovia – Modernização. a . título.
c.D.D. 385.098 1
3
JOSÉ DE ARIMATÉA ISAIAS FERREIRA
TRILHANDO NOVOS CAMINHOS: A CIDADE PIRIPIRI NAS DÉCADAS DE 30, 40
E 50 DO SÉCULO XX E A AS MUDANÇAS PROPORCIONADAS PELA
CHEGADA DA FERROVIA
Dissertação apresentada à Coordenação de Pós-Graduação em História do Brasil do Centro de Ciências Humanas e Letras, da Universidade Federal do Piauí – UFPI, como requisito para a obtenção do título de Mestre em História, sob a orientação do Prof. Dr. Solimar Oliveira Lima.
Este exemplar corresponde à redação Final da Dissertação avaliada pela Banca Examinadora em 27 agosto de 2010.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________ Prof. Dr. Solimar Oliveira Lima (Orientador)
Universidade Federal do Piauí
___________________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo de Sousa Neto (Examinador Externo) Universidade Estadual do Piauí
___________________________________________________________ Profa. Dra. Áurea da Paz Pinheiro (Examinadora Interna)
Universidade Federal do Piauí
___________________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento (Suplente)
Universidade Federal do Piauí
4
À todas as pessoas, que de uma forma ou
de outra, lutam pela preservação da história
de sua cidade e consequentemente, um
pedacinho de sua própria história.
5
AGRADECIMENTOS
Ao contrário da cidade antiga, a metrópole contemporânea se
estende ao infinito, não circunscreve nada senão sua potência
devoradora de expansão e circulação. Ao contrário da cidade antiga,
fechada e vigiada para defender-se de inimigos internos e externos,
a cidade contemporânea se caracteriza pela velocidade da
circulação. São fluxos de mercadoria, pessoas e capital em ritmo
cada vez mais acelerado, rompendo barreiras, subjugando territórios.
(ROLNIK, 2004)
Cursar um Mestrado parecia algo muito distante de meus planos. Pelo
menos não até o ano de 2007. Sempre me pareceu algo tão longe, tão inalcançável,
tão fora de minha realidade que não havia planos nesse intuito. Mas os
pensamentos acima desapareceram e eu me vi inserido no programa de Mestrado,
nesse turbilhão (Parafraseando Marshall Berman) de novas informações, novas
leituras, novas perspectivas, mas especificamente no curso de Mestrado em História
do Brasil, da Universidade Federal do Piauí. Agora este trabalho é o último passo
neste desafio, desafio marcado por leituras, pesquisas, construção do texto. Agora
este se apresenta concluído. Porém, ao contrário do que muitos pensam, não foi um
trabalho solitário, mas o resultado da colaboração de várias pessoas, que de um
uma forma mais efetiva ou não, ajudaram na sua realização.
Em razão disso, gostaria de agradecer ao Destino (muitos poderiam
chamar de Deus), que me deu a oportunidade de nessa minha vida ter podido
conhecer pessoas tão boas, gentis e generosas que muito me ajudaram, não só em
aspectos materiais, mas principalmente em incentivos, carinho, ensinamentos, lições
que com certeza ajudaram muito na formação do que eu sou hoje como pessoa.
6
Ao Professor Dr. Solimar Oliveira Lima, principalmente por sua grande
paciência nos meus momentos de “sumiços” e sua eterna confiança na conclusão
deste trabalho, mesmo quando eu mesmo não a tinha. Amizade, incentivo,
compromisso são algumas características que ficaram nessa relação de orientador e
orientando e que sempre vou lhe ser muito grato por toda sua ajuda e como disse
antes, por sua enorme paciência e competência.
Ao Professor Dr. Marcelo de Sousa Neto, que, gentil e prontamente,
aceitou o convite para a apreciação deste trabalho. Mas muito mais do que isso,
meu agradecimento vai por todos esses anos de amizade e companheirismo.
À Professora Dra. Áurea da Paz Pinheiro, que, com seu jeito direto
conseguiu de certa forma me direcionar na construção de meu objeto de estudo e
consequentemente a encontrar o caminho dessa construção.
Ao Professor Dr. Francisco Alcides do Nascimento, que, em minha
trajetória de pesquisa, sempre foi exemplo de Integridade e compromisso com o
trabalho e fonte de conhecimentos e esclarecimentos. Exemplo de professor e
incentivador, sempre tendo uma palavra amiga de apoio e sempre acreditando na
realização deste trabalho.
À Professora Dra.Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz, por ser exemplo
de profissionalismo, dedicação, cultura, amizade, desprendimento e por sempre ter
uma palavra de apoio e incentivo.
Ao Professor Dr. Edwar Castelo Branco, pelo compromisso com o saber
histórico e por lutar pela formação contínua do profissional da história.
À Professora Dra. Claudete Miranda Dias, que com toda sua doçura,
simplicidade e objetividade foi de grande importância para a realização deste
trabalho, na compreensão da nossa realidade como brasileiro e principalmente como
piauiense.
Agradeço aos meus pais, Maria de Lourdes e Herondino, que me deram a
vida e me ensinaram os princípios e valores mais sinceros da educação e cidadania
e que, mesmo com suas simplicidades, puderam me transmitir valores pautados no
respeito, amizade e no trabalho. Me ensinaram a ser humano e digno com todas as
pessoas e que caráter se constrói em casa, na harmonia de um lar feliz.
7
Gostaria de agradecer aos meus irmãos Sílvio e Nildo. O primeiro
mostrando o valor do trabalho e que os sonhos sempre devemos tentar realizá-los,
mesmo indo contra o mais racional dos pensamentos. O segundo, apesar da
distância material, sempre foi um incentivador e exemplo de que talvez nas piores
situações é que se encontra o início da realização de uma vida feliz, digna e plena.
Não posso deixar de agradecer às minhas irmãs Silvana e Neuma.
Silvana exemplo máximo de mãe, de carinho, de abnegação. Sempre com seu
sorriso pronto a nos incentivar mesmo nas horas de desanimo. Agradeço aqui seu
carinho para comigo desde sempre, desde o tempo em que ficava esperando ela
chegar do colégio trazendo balas do “João Brito”. Minha irmã Neuma é uma das
culpadas por eu está aqui escrevendo estas palavras, pois naquele final de 2007 foi
uma das pessoas que praticamente me obrigaram a fazer a prova da seleção do
mestrado, mesmo com todo meu receio. Uma irmã sempre disposta a ajudar. Para
ela não existem obstáculos intransponíveis nem tempo ruim, sempre é momento de
sorrir, de alegria e de ir em frente.
A Everardo de Sousa Melo, este que já me ajudou de diversas formas, foi
um hábil motorista em uma tempestade horrível na estrada entre Piripiri e Teresina,
em um domingo à tarde, véspera da prova escrita da seleção do mestrado.
Conselheiro, digitador, financiador de livros, guia turístico, etc, etc, e etc. Uma
pessoa brilhante, amiga, sincera e sempre um ombro mais do que amigo. Com
certeza a pessoa que mais esteve próxima durante a confecção deste trabalho.
Ao meu amigo Prof. Msc. Pedro Pio Fontineles Filho, exemplo de
conhecimento historiográfico e confidente nas horas vagas, culpado por horas e
horas de risos e momentos felizes.
À Professora Dra. Cláudia Cristina da Silva Fontineles, além de exemplo
de profissional e de conhecimento, uma excelente amiga e que sempre esteve
disposta a ajudar, sendo talvez, este, seu principal “defeito”. Com Marcelo e eu
formamos um misterioso e inquebrável trio nos tempos da graduação. Velhos
tempos, belos dias.
À Professora Msc. Clarice Helena Santiago Lira, mais uma que
compartilhou comigo todo este caminho, desde o início. Espontaneidade, alegria,
8
sorrisos, broncas quando necessário, uma pessoa simples que sempre teve que
lutar muito nessa vida e que conseguiu vencer com seus próprios méritos.
Aos amigos de Piripiri, Margarida, Carlos, Elenice, Raimundo, Glorinha e
Telma, sempre presentes nos bons momentos da vida, sempre dispostos a ajudar e
incentivar.
Aos sobrinhos Adhemar, Thaís, Andressa, Thales e Vitória, razão de
felicidade, alegria e esperança para toda família.
Devo agradecer, também, aos colegas de minha turma de Mestrado, que
juntos combatemos o bom combate e agora estamos colhendo os frutos deste.
Um sincero agradecimento a Miridam Rejane e Thiago Silveira, estes
foram desde sempre meus fieis escudeiros, conhecem desde o início esse trabalho e
participaram ao longo de toda sua confecção. Obrigado pelos bons momentos que
passamos nas tardes de Arquivo Público e em outras esferas espaciais, sempre com
muitas risadas.
Aos meus alunos do Curso de Graduação em História, da Universidade
Estadual do Piauí, por me mostrarem que a relação entre professor e aluno
perpassa pelo compromisso, respeito e amizade.
A todos os profissionais da Universidade Estadual do Piauí, que, de
alguma maneira, têm contribuído para a solidificação dos meus valores como
profissional.
Às instituições Universidade Estadual do Piauí, Secretaria Estadual de
Educação, 3ª Gerência Regional de Educação de Piripiri, Universidade Federal do
Piauí e Secretaria da Câmara Municipal de Piripiri.
Á Cidade de Piripiri, por ser muito mais que um recorte espacial do
presente estudo. Cidade que me fez entender, mesmo inconscientemente, que as
cidades só existes pela fricção entre as dimensões material e imaterial, entre
vivências e experiências.
9
Na verdade o que se destaca é que a modernidade representa o novo que chega e passa a fazer parte da vida cotidiana dessa gente. Esse aparecimento do novo produz imagens que passam a povoar a mente das pessoas de novas idéias e novas ações, de novos costumes e novos valores, revelando, assim, novas relações, símbolos e evidências. Porém é tudo isso que passa a dar ao homem a própria razão de viver; é o fantasmagórico através dos sonhos, do medo, da crença, do lúdico.[...] As crianças tinham muito medo do trem por causa de seu tamanho e de sua velocidade. Para alguns, era “um animal gigante que saindo da mata corria velozmente sobre os trilhos”, para outras era “um monstro que engolia, devorava as pessoas e animais”. Pensavam assim por causa do forte barulho que o movimento das rodas sobre os trilhos. O próprio chão tremia parecendo movimentar as pessoas que “se sentiam atraídas por um imã existente na locomotiva”. Nessa sensação de medo, “o coração só faltava sair pela boca”. Maria Cecília de Almeida Nunes
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FERREIRA, José de Arimatéa Isaias. Trilhando novos caminhos: A cidade de Piripiri e as mudanças proporcionadas pela chegada da ferrovia – 1930-1950. Teresina, 2010. (Dissertação). 131 p. Mestrado em História – Universidade Federal do Piauí.
RESUMO O presente estudo analisou o processo de desenvolvimento da cidade de Piripiri nas décadas de 30, 40 e 50 do século XX assim como a relação desta modernização com a Estrada de Ferro Central do Piauí, que chegou na cidade no anos de 1937 e foi desativada durante os anos de 1980. A cidade de Piripiri experimenta, a partir da década de 1930, um período próspero de desenvolvimento urbano patrocinado principalmente por ações governamentais, que influencia diretamente em seu espaço. A cidade pequena e pacata, como quase todas as demais cidades interioranas do estado piauiense, se percebe em pouco espaço temporal inserido em um processo de crescimento urbano e populacional, dinamizando suas estruturas internas e suas relações com as demais cidades vizinhas, com a capital Teresina e principalmente, devido a chegada da ferrovia, com Parnaíba. No sentido de apresentar esse período e esta relação entre a cidade e a ferrovia, o trabalho se centraliza especificamente em duas temáticas: A ferrovia e a Cidade de Piripiri. A Ferrovia, desde sua instalação, serviu como fronteira do espaço urbano da cidade de Piripiri e ao mesmo tempo como modificador deste, a partir do momento que novas ruas e bairros foram criados em suas imediações. Neste mesmo contexto surgiram,através de ações governamentais, diversas melhorias e instituições que objetivaram no desenvolvimento de sua infra-estrutura, como serviço de água, energia elétrica, serviços bancários, cinemas além do próprio crescimento e organização do espaço urbano, que deram à população da cidade a oportunidade de desfrutar de serviços até então existente somente nas cidades maiores. Palavras-chave: Cidade. Ferrovia. Modernização.
11
ABSTRACT
This present study investigated the development process of the city of Piripiri during the decades of 1930, 1940, 1950 of the twentieth century as well as the relation of this modernization with the “Estrada de Ferro Central do Piaui” which arrived in this city in the year of 1937 and it was deactivated during the 1980s. During the 1930s, the city of Piripiri gained a long period of prosperity within its own space and it was mainly attributable to government support. Piripiri; which is a small and serene city just like any other urban city in the state of Piaui, received attention in a short period of time embedded in a process of development of urban growth and population optimizing its own internal structures and relationship with neighbouring cities, especially with its capital Teresina due to the arrival of the railway to Parnaiba. To the extent of presenting this period of time and this relation between the city and the railway, this research concentrates on two relevant themes: The railway and the city of Piripiri. The railway, since the very beginning, served as a border for the urban space of the city of Piripiri and at the same modifying Piripiri from the moment that new streets and neighbourhoods were developed surrounding it. Within this same context, there were new governmental initiatives and institutions that supported the development of infrastructure services such as hydro, electricity, bank services and cinemas besides their own growth and organization of urban space, gave the population of Piripiri the opportunity to benefit from services that until then were only available in bigger cities. Keywords: City. Railway. Modernization.
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
Foto 1 – Embarque nos vagões da Estrada de Ferro Central do Piauí em Parnaíba ..............................................................................................
Foto 2 – Trabalhadores na construção da E.F.C.P............................................. Foto 3 – Construção de ponte sobre o Rio Santo Antônio em Piripiri................. Foto 4 – Inauguração da Estação Ferroviária da cidade de Piripiri.................... Foto 5 – Vista aérea da Estação Ferroviária ...................................................... Foto 6 – Quadro de horários da Estação Ferroviária.......................................... Foto 7 – Publicação dos horários dos trens no Piauí.......................................... Foto 8 – Último motor utilizado pela Usina Elétrica............................................ Foto 9 – Prédio da antiga Usina Elétrica.............. ............................................. Foto 10 – Grupo Escolar Padre Freitas na década de 1940 .............................. Foto 11 – Avenida Tomaz Rebelo na década de 1940....................................... Foto 12 – Avenida Tomaz Rebelo no final da década de 1950.......................... Foto 13 – Inauguração do Primeiro Sistema de Abastecimento de água........... Foto 14 – Mapa da primeira divisão geográfica da cidade................................. Foto 15 – Mapa da segunda divisão geográfica da cidade................................ Foto 16 – Mapa da Região central da cidade.................................................... Foto 17 – Mercado público de Piripiri na década de 1950................................. Foto 18 – Antiga Igreja Matriz de Piripiri............................................................ Foto 19 – Demolição da Antiga matriz da cidade na década de 1950................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Extensão ferroviária brasileira e de outros países............................. Tabela 2 – Rede de Viação Cearense - Receitas e Despesas.......................... Tabela 3 – Estrada de Ferro Central do Piauí – Receitas e Despesas............. Tabela 4 – Situação econômica das Ferrovias Nordestinas............................. Tabela 5 – Tráfego Ferroviário Nordestino........................................................ Tabela 6 – Estações da Estrada de Ferro Central do Piauí................................. Tabela 7 – Exportações piauienses.................................................................... Tabela 8 – Receita anual do Estado do Piauí na década de 1930 e 1940.......... Tabela 9 – Demografia Piauiense....................................................................... Tabela 10- Demografia Piripiriense................................................................... .
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SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................... IX
ABSTRACT ........................................................................................................ X
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 16
CAPÍTULO I – A PRIMEIRA ESTAÇÃO: O CAVALO DE AÇO ABRINDO
CAMINHOS ...................................................................................................... 20
1.1 A ferrovia como símbolo da modernidade ......................................... 29
CAPÍTULO II – SEGUNDA ESTAÇÃO: A FERROVIA E A CIDADE SE
ENCONTRAM .................................................................................................. 58
2.1 A chegada da ferrovia à Piripiri ........................................................... 60
2.2 Reorganização Urbana da cidade de Piripiri ...................................... 75
2.3 Política, demografia e o espaço urbano ............................................. 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 103
REFERÊNCIAS E FONTES ........................................................................... 107
15
INTRODUÇÃO
A cidade de Piripiri se localiza na região norte do estado do Piauí,
possuindo hoje mais de 62 mil habitantes (segundo estimativas Censo IBGE para
2010). Em termos demográficos, ocupa atualmente a quarta maior cidade do estado.
Sua economia tem como base a agricultura, pecuária e um desenvolvido comércio,
além de um pequeno pólo industrial, principalmente na área de confecções. Possui
também uma grande diversidade no setor de prestação de serviços, sejam públicos
ou privados. É uma cidade relativamente nova, se comparada à algumas cidades
vizinhas como Barras, Pedro II e Piracurura. Completou neste ano de 2010, cem
anos de emancipação política, ocorrida em 04 de julho de 1910 e com um pouco
mais de um século e meio de história desde a construção de suas primeiras
moradias no ano de 1844.
A cidade de Piripiri hoje possui um dos mais desenvolvidos centros
urbanos da região norte do Estado. Sua importância em termos regionais continua
em ritmo de crescimento. Sua infra-estrutura, sempre se modificando, é uma das
melhores do estado do Piauí. Seu desenvolvimento contínuo ao longo de todo o
século XX, com destaque a partir da década de 1930, se fez notar e deu à cidade
uma nova estrutura física, um aspecto moderno e dinâmico e uma sociedade em
constante mudanças.
Estudar cidades, e principalmente, estudar o desenvolvimento de suas
estruturas econômicas, arquitetônicas e todas as suas formas de urbanização é
eleger fatos ao longo de sua história que por ventura poderiam ser responsáveis
16
pelo desencadeamento desse desenvolvimento e conseqüentemente o resultado
deste na vida e no cotidiano da população e na infra-estrutura econômica, social e
política da própria cidade. É entender as diferentes formas com que o meio urbano
se expande, cresce e juntamente a esse crescimento, as conseqüências em relação
aos setores mais próximos ou envolvidos nesta expansão.
Neste sentido, este trabalho faz uma análise de cidade e transporte a
partir do momento que elege a chegada da ferrovia à cidade de Piripiri, como um
dos pontos fundamentais na aceleração de seu desenvolvimento urbano. Portanto, o
presente estudo tem o objetivo principal de compreender a relação construída a
partir da chegada do trem a Piripiri com o seu desenvolvimento urbano, econômico e
social. Tendo como pressuposto que a ferrovia facilitou e/ou acelerou a chegada de
fatores que influenciaram diretamente na infra-estrutura espacial da cidade, como
escolas, bancos, instituições governamentais, serviços públicos, surgimento de
bairros, abertura e melhoramento de ruas e praças.
Assim, também é objetivo deste trabalhar e analisar a organização urbana
da cidade, apontando as primeiras ações no sentido de planejar a cidade, tornando-
a mais funcional em relação aos setores econômicos e sociais e também, um lugar
agradável à sua população. Como também analisar o desenrolar destas
transformações urbanas que a cidade vai experimentar ao longo do tempo e
perceber que no decorrer das três décadas seguintes após a inauguração da
ferrovia, Piripiri vai usufruir de melhorias que, muito provavelmente, demorariam
muito mais tempo a chegar caso a cidade não fosse cortada pelos trilhos da Estrada
de Ferro Central do Piauí (E.F.C.P.).
Além da ferrovia, tentamos mapear outros aspectos que podem ser
considerados geradores do crescimento urbano de Piripiri, pois podemos verificar
que apesar da grande importância da ferrovia para a cidade de Piripiri, ela,
isoladamente não teria esse poder. Assim, neste trabalho, também se privilegiou
outras ações governamentais que foram de fundamental importância na junção de
elementos que modificariam a cidade nas décadas de 30, 40 e 50 do século XX.
Estas três décadas foram escolhidas principalmente com base na
situação econômica da cidade de Piripiri e também do próprio Estado do Piauí.
Assim, ao longo desses 30 anos se verificou com mais nitidez os resultados do
17
processo de desenvolvimento da cidade e os efeitos que podemos relacionar à
ferrovia. Portanto, determinando este período podemos assim identificar de que
forma a cidade se transformaria após aquela festa de inauguração da estação, na
tarde de onze de fevereiro de 1937.
É importante ressaltar que o recorte temporal está estabelecido nestas
três décadas, mas não exclui, em dados momentos, recuos ou avanços, onde
identificam-se as primeiras e tímidas ações desse crescimento ou seus resultados
em anos posteriores a ele, afinal, como verificamos, as transformações ocorridas na
cidade não ocorreram isoladamente nem de forma imediata, mas são um conjunto
de ações que se sobrepõe, se intercalam e que ao longo dos anos vão se mostrando
como resultados de um processo lento mas perceptível.
A idéia para discutir o presente tema foi engendrada durante os anos de
trabalho como professor do Ensino Fundamental e Médio na cidade de Piripiri, nos
anos de 2000 a 2006, como uma forma de contribuir para a preservação da história
da cidade e mostrar que é possível, se fazer história no interior do Piauí. Assim
como outras cidades do interior do estado, notamos a pequena quantidade de
material escrito sobre Piripiri e o pouco conhecimento a respeito de sua história por
parte de sua população. Dessa forma pretendemos mostrar, através deste trabalho,
as transformações que a cidade passou décadas atrás e que resultaram na Piripiri
atual, como também mostrar que a ferrovia, atualmente abandona, já foi responsável
por grande parte das inovações que chegavam à cidade e, por fim, colaborar na
organização de uma bibliografia a respeito da cidade, atualmente tão escassa até os
dias atuais e que nos últimos anos pouco ou quase nada de novo foi posto à
disposição da população piripiriense.
Como fundamento teórico, este trabalho subsidia-se por propostas a partir
das análises na relação entre modernidade e modernização e também sendo
subsidiadas por leituras relacionadas às reflexões sobre Cidade, utilizando como
referenciais teóricos as discussões feitas por Marshall Berman (2007) que embora
não fale propriamente de cidade, tem grande importância a partir do momento que
se verifica que as cidades do século XX estão todas, de uma certa forma, mais ou
menos envolvidas no turbilhão modernizante em que se busca, através dessa
modernização, se adequar à uma nova realidade sempre a se alcançar e finalmente,
18
num determinado período de tempo se sentir moderno, se sentir inserido no que há
de mais novo, mesmo que isso seja apenas uma ilusão temporária, afinal, o
moderno está sempre a frente, sempre por vir.
Para uma melhor compreensão quanto aos aspectos urbanos, deste
trabalho utiliza-se de um conjunto de obras e estudiosos que trabalham o tema
cidade, como também urbe, urbanização e modernização, entre eles: Ítalo Calvino
(1989), Dilma Andrade Paula (2000), Raquel Rolnik (1994), Maria Stella Bresciani
(2009), Francisco Alcides Nascimento (2002), Ana Lúcia Duarte Lana (1996).
Sobre a temática transporte, ferrovia e trabalho ferroviário destacamos os
pesquisadores Benedito Genésio Ferreira (1989), Francisco Foot Hardman (2005),
Josemir Camilo Melo (2008), Márcio Rogério Silveira (2007), Liliana Petrillo Segnini
(1982), Douglas Apprato Tenório (1996) e Manoel Rodrigues Ferreira (1981).
As obras acima foram de grande importância para dar uma base concreta
ao campo bibliográfico deste trabalho, pois nos mostram diversas formas de análise
da relação entre ferrovia, cidade e desenvolvimento urbano em diversas partes do
Mundo e do Brasil e em tempos cronológicos diversos.
Este estudo concretizou-se também a partir de análises de documentos
localizados na própria cidade de Piripiri, como Decretos Municipais; Leis propostas
pelo legislativo local, como também ofícios do governo municipal; as atas das
sessões da Câmara Municipal de Piripiri que muito colaboraram na elaboração deste
trabalho.
Vale ressaltar o trabalho da Câmara Municipal de Piripiri na preservação
destes documentos , mas também verificamos que seu modo de arquivamento não é
o ideal, o que pode por em risco a existência dos mesmo em um rápido espaço de
tempo. Dessa forma, seria interessante que o poder público municipal agisse de
forma imediata para adequar um espaço específico para a preservação deste tipo de
material, uma espécie de arquivo público municipal, preservando, dessa forma,
grande parte da memória piripiriense.
E por fim, junta-se documentos coletados no Arquivo Público do Piauí,
principalmente as matérias jornalísticas publicadas na época em jornais como O
Piauí, O Dia, Jornal do Comércio, A luta. Adicionam-se documentos também
19
produzidos na época, principalmente referentes às ações do governo estadual e de
suas secretarias, principalmente as Mensagens governamentais e Decretos de lei.
Este estudo encontra-se estruturado em dois capítulos interdependentes.
O primeiro capítulo, intitulado Primeira Estação: O cavalo de aço abrindo caminhos
enfatiza o desenvolvimento do sistema de transporte ferroviário assim como sua
influência sobre as cidades e regiões por onde passava. Apresenta ainda alguns
conceitos como o de urbanização e (re)organização espacial da cidade que entram
na pauta dos assuntos discutidos pelos dirigentes das cidades na época. O
significado da chegada do trem e da construção da estação ferroviária como ponto
de centralização do comércio local e as sociabilidades em torno das estações
ferroviárias.
A formação do sistema viário brasileiro, nordestino e piauiense, com suas
características específicas e determinações em seus momentos de construção, seus
projetos, finalidades, dificuldades na construção, conclusão, funcionamento e
eventualmente desativação. Neste capítulo também veremos como a idéia de
ferrovia está inserida nos discursos sobre modernização e como essa relação entre
os conceitos de ferrovia e de modernidade também podem ser invertidos, pois no
caso especificamente do Piauí, a ferrovia se estruturou em uma época em que o
próprio desenvolvimento do país estava se modificando e o transporte ferroviário já
não supria todas as necessidades, havendo um incremento principalmente do
transporte rodoviário.
Quando falamos em ferrovia não estamos falando apenas em um sistema
de transporte que por ventura passou a interligar algumas cidades brasileiras (ou
muitas), mas em todo um complexo sistema de ligações que faz referência aos
aspectos políticos nacionais e locais, relação de trabalho, de urbanização,
economia, financiamentos governamentais, empresas privadas nacionais ou
estrangeiras e até mudanças no cotidiano das pessoas. Portanto, o universo
ferroviário nas cidades sempre foi muito amplo. Universo este que não engloba
somente o aspecto de transportes, mas um conjunto de ligações que terão influencia
em diversos aspectos no modo de vida da população.
O segundo capítulo, intitulado Segunda Estação: A ferrovia chega a
Piripiri nos dá um retrato da cidade de Piripiri a partir dos anos 1930 e de sua nova
20
realidade após a chegada da ferrovia. A delimitação de sua zona urbana, suburbana
e zona rural começa a ser efetivada no fim da década de 1940. Há o surgimento de
novas ruas e o crescimento de outras se faz notar com mais rapidez. A preocupação
com o aspecto paisagístico da cidade passa a ser evidenciado pelo surgimento das
primeiras praças e passeios. Serviços diversos vão se instalando: Eletricidade,
Água, Correios, Cinema, Banco, Coletoria, Escolas etc. A cidade cresce, as
preocupações e ações a respeito de sua urbanização se tornam mais efetivas.
Nesse momento, os ares da modernidade chegam ao Estado, influenciando no
modo como os dirigentes municipais regiam suas ações. Nesse sentido, a cidade
aos poucos vai se transformando em busca de alcançar o status de cidade moderna.
Buscamos mostrar neste capítulo as ações, governamentais que efetivamente
comprovam o crescimento da cidade de Piripiri.
Este capítulo também procura apontar como a Ferrovia interfere
diretamente em dois aspectos da cidade de Piripiri: infra-estrutura e urbanização. A
Ferrovia possibilitou à população de Piripiri o contato mais rápido com mercadorias
até então inexistentes no mercado local e a possibilidade da chegada, em grande
número, de artigos já conhecidos vindos de Parnaíba. Possibilitou também uma
maior rapidez no escoamento da produção agrícola e extrativista de todas as
cidades da região. A Ferrovia também foi responsável diretamente pela modificação
espacial da região comercial da cidade, tendo como principal fator neste aspecto a
escolha do local para a construção do mercado municipal e consequentemente a
mudança do centro comercial da cidade, saindo das proximidades da Igreja Matriz e
se instalando na direção da estação ferroviária.
A ferrovia se torna uma realização para a cidade de Piripiri, no sentido em
que a sua passagem pela cidade vai deixar uma esperança de melhorias para a
cidade e principalmente a certeza do seu rápido desenvolvimento. Esse tipo de
pensamento é o que mais está presente nos primeiros anos de funcionamento da
ferrovia. A ferrovia como símbolo máximo de inserção da cidade de Piripiri no mundo
moderno, em uma nova realidade. Provavelmente poucos daqueles que estavam
presentes em sua inauguração poderiam imaginar que a vida da Ferrovia em Piripiri
não seria tão cheia de glórias e que em um curto espaço de tempo ela iria entrar em
declínio até sua desativação total nos anos 1980.
21
Por fim, nas considerações finais apresentamos como resultado a cidade
após a chegada da ferrovia. Os resultados práticos para a cidade e para sua
população da instalação da ferrovia em Piripiri e como essa ferrovia ajudou a
transformar a realidade piripiriense. Mudanças estas que nem estão diretamente
ligadas á ferrovia, mas que com sua presença e com a dinamização do crescimento
da cidade acabam por chegar, se apresentar e ficar como mais um dos legados
desse empreendimento tão rico para o estado e que de certa forma não soube ser
aproveitado em todo seu esplendor.
A partir disso, esperamos apresentar ao leitor as trajetórias dessa relação
entre Cidade e Ferrovia. Por isso, resta-nos reforçar o convite para cada leitor desse
trabalho que embarque nessa viagem, rumo às estações dessa narrativa. Todos a
bordo!
22
CAPÍTULO I
PRIMEIRA ESTAÇÃO:
O CAVALO DE AÇO ABRINDO CAMINHOS
Não há palavras que possam dar uma idéia adequada da
grandiosidade do nosso progresso. A princípio era relativamente
lento;mas logo sentimos que verdadeiramente estávamos em
marcha, e então, todos aqueles para quem o veículo era novo
devem haver-se dado conta de que a aplicação da força locomotora
estava estabelecendo uma nova era no estado da sociedade, cujos
resultados definitivos é impossível colocar-se
(HARDMAN, 2005, p. 34).
As palavras acima proferidas pelo reverendo Edwar Stanley, em 15 de
novembro de 1830, durante a viagem inaugural da linha ferroviária Liverpool-
Manchester, uma das primeiras do mundo, nos mostram a intensa admiração que a
ferrovia provocou entre os ingleses. Assim como várias inovações surgidas ao longo
do século XIX como conseqüências da Revolução Industrial, o “grande cavalo de
ferro” era um dos símbolos da modernidade que se fazia sentir na época.
A partir do momento em que a máquina a vapor foi adaptada ao
transporte, substituindo a locomoção de tração animal, houve uma aceleração na
circulação de mercadorias e de pessoas, constituindo-se como um dos grandes
motivadores do mercado capitalista de meados do século XIX. O surgimento da
ferrovia faz com que o transporte passe a movimentar muito mais mercadorias do
que nunca antes. Atende, a partir de então, aos interesses do capital comercial e
23
financeiro das nações industrializadas ou em estado de industrialização,
principalmente na Europa.
Uma das características dessa época é o aumento grandioso da
circulação de pessoas e mercadorias pelos países, sendo assim, foi preciso
desenvolver um transporte que tornasse essa circulação mais rápida, fácil e
eficiente. A ferrovia foi então a grande solução, porém, para que ela se tornasse
uma realidade, foi preciso, antes de mais nada, superar todas as condições naturais
(terrenos, morros, montanhas por onde ela passaria), técnicas (tecnologia para
construir grandes trechos) e financeiras (encontrar financiadores de algo que até
então não se tinha certeza do sucesso), que tanto dificultaram e até então tornavam
impossível o uso comercial da nova invenção. Para que este empreendimento se
tornasse viável foi preciso, acima de tudo, de muita técnica de engenharia e acúmulo
de conhecimentos, que foram essenciais para transformar a ferrovia em algo
concreto e realizável.
Nesta mesma época as cidades passaram por uma transformação
profunda nos seus hábitos e costumes. A velocidade de 20km/h que hoje é
considerada tão pequena era, para os moradores daquelas cidades, algo
inimaginável a ser alcançada por um meio de transporte. Sem dúvida, a chagada
das ferrovias vai alterar a vida das pessoas não apenas do ponto de vista da
transformação material, mas também trará diversas mudanças que ajudaram na
formação de uma nova forma de viver. O desenvolvimento urbano, assim, continuará
em franca expansão seguindo o caminho das estradas de ferro que adentrariam os
territórios dos países ligando seus pontos a seus locais produtores de manufaturas e
de extração de matérias-primas.
Atualmente são comuns os estudos e debates acadêmicos acerca do
desenvolvimento das cidades e, consequentemente, sobre os problemas que esse
desenvolvimento gera. Governos, Instituições governamentais, agências da
sociedade civil, universidades, entre outros, estão muito preocupados com o que
está acontecendo com nossas cidades, nosso espaço de vivência. A cidade em si se
transformou em um grande laboratório de estudo, assim como também as
transformações que vão acontecendo em seu interior. Se fizermos um pequeno
exercício de memória e nesse exercício relacionarmos uma pequena coletânea dos
24
noticiários falando de cidades, normalmente o que mais vamos encontrar são
denúncias do mau funcionamento de suas engrenagens, problemas ligados à sua
infra-estrutura, à ocupação de seus espaços pela população e a gerência desses
espaços pelos poderes públicos. O Trânsito cada vez mais cheio e cada vez
andando menos, causando grandes engarrafamentos; as distâncias que as pessoas
percorrem de suas casas para seus trabalhos cada vez mais longas e
consequentemente muito mais tempo que elas perdem diariamente nesta tarefa de
locomoção; a conservação (ou não) de suas vias públicas, praças, prédios históricos
por parte do poder público ou de seus proprietários particulares; as questões ligadas
ao tombamento ou não de construções históricas, enchentes, ocupações
desordenadas, invasões, assentamentos, expulsões. Esses e outros problemas
estão cada vez mais próximos e percebidos pela população.
Estes são normalmente problemas que facilmente notamos nas grandes
cidades de nosso país e que também já começam a ser notados nas médias e
pequenas cidades, com maiores ou menores conseqüências. Nesta análise não
estamos falando somente de problemas recentes. O crescimento desordenado das
cidades há muito que é analisado como o principal causador desses males urbanos.
No século XIX, por exemplo, Londres é assim descrita:
Nessa Londres da metade do século, com dois e meio milhão de
habitantes, projetam-se com total nitidez a promiscuidade, a
diversidade, a agressão, em suma, os vários perigos presentes na
vida urbana[...] As péssimas condições de moradia e a
superpopulação são duas anotações constantes sobre os bairros
operários londrinos (BRESCIANI, 2009, p. 22-25).
Podemos visualizar, na forma de desenvolvimento destas cidades, um
dos principais pontos de origem da maioria desses problemas. A maneira como
seus processos de urbanização foram postos em prática e claro a ocupação de
seus espaços, feitos normalmente sem nenhuma preocupação de organização ou de
projetos urbanísticos que se antecipassem a essas ocupações. Normalmente o que
temos são projetos que tentam remediar os males causados pela acelerada
ocupação do meio urbano, que normalmente são feitas sem nenhuma organização
25
ou conhecimento técnico. É justamente esta ocupação irregular que vai contribuir,
entre outros fatores, para surgir nas cidades os grandes focos de miséria, pobreza,
doenças, mendicâncias e superpopulação. Estes problemas, comumente, são mais
facilmente reconhecidos nas regiões das periferias das cidade, embora nas regiões
centrais também sejam perfeitamente observados.
O século XX, em especial, foi um período em que se pode vislumbrar de
forma bem detalhada os variados processos de urbanização pelos quais passaram
algumas das maiores cidades brasileiras . Alguns desses processos foram feitos sob
a justificativa da “modernização”, sendo efetivados de forma autoritária,
principalmente na primeira parte do século, onde populações eram transportadas de
uma região para outra, prédios ou bairros inteiros demolidos para dar espaço a
passeios públicos, grandes e largas avenidas ou a prédios mais modernos. Esse tipo
de modernização foi característico nas duas maiores metrópoles de nosso país, Rio
de Janeiro (então capital do país até 1960) e São Paulo. Em outras cidades,
principalmente capitais de outros estados, esse fenômeno se dará de forma mais
tímida, como Salvador, Recife, Manaus, Fortaleza ou então em cidades com
localização estratégica, como a cidade de Santos, no Litoral Paulista.
Neste caso é bom fazer uma pequena observação em relação aos termos
Modernização e Desenvolvimento. Embora tenha ocorrido de forma conjunta em
algumas cidades, não são necessariamente sinônimos, podemos dizer que um seria
conseqüência do outro, pois normalmente a modernização ocorreu em cidades
desenvolvidas ou em desenvolvimento, já que o crescimento da cidade leva a um
conjunto de mudanças em sua infra-estrutura como solução para suprir algumas
necessidades da população que ali se instala e que ali passa a consumir e a
produzir. Assim, entendemos Desenvolvimento como o crescimento que
determinados setores da cidade podem ter, mas que não necessariamente se
constituem como elementos modernizadores; e Modernização como “qualquer
tentativa feita por mulheres e homens modernos no sentido de se tornarem não
apenas objetos mas também sujeitos da modernização, de aprenderem o mundo
moderno e de sentirem em casa nele” (BERMAN, 2007, p. 11). A cidade
representaria então o oposto ao campo, seria o novo, o organizado, o moderno ao
contrário do campo que continuaria tendo como características o atraso, o antigo.
26
Comércio, poder, política, transporte, população estão entre os fatores
que são tomados como pontos de análises no estudo de uma cidade. Esses e outros
fatores representam pontos iniciais no entendimento do funcionamento das
estruturas de uma cidade. Elas podem de certa forma serem estudadas
profundamente ou então de forma superficial, apresentando uma análise que não vai
de encontro à realidade da cidade. A observação de uma cidade pode nos dar
diversas interpretações, às vezes até contraditórias, a respeito de sua realidade ou
funcionalidade. A cidade pode ser vista de diversas formas, do alto, a partir de seu
centro, através de suas periferias, através de suas atividades econômicas, etc.
Todas essas formas e outras mais nos mostrará uma cidade diferente, que no seu
conjunto nos mostrará não uma cidade, mas diversas cidades em uma só. Marshall
Berman, por exemplo, utiliza-se da arquitetura e urbanismo de Brasília para fazer a
seguinte análise, que a priore parece ser de forma superficial, mas que não nega um
caráter tão particular da capital brasileira:
Vista do ar, Brasília parecia dinâmica e fascinante: de fato a cidade
foi feita de modo a assemelhar-se a um avião a jato tal como aquele
do qual eu (e quase todas as pessoas que lá vão) a vemos pela
primeira vez. Vista do nível do chão, porém, do lugar que as pessoas
trabalham e moram, é uma das cidades mais inóspitas do mundo
(BERMAN, 2007, p. 13).
São Petersburgo, Paris, Londres, São Paulo, Rio de Janeiro já foram
inúmeras vezes foco de olhares sobre suas estruturas e suas populações. Estudos
econômicos, sociais, demográficos, por exemplo, estão entre os mais difundidos no
campo historiográfico que, por sinal, já é vastíssimo. Observando atentamente esses
estudos, podemos perceber o quão importante se faz para o desenvolvimento de
uma cidade a sua estrutura de transporte. Rodovias, ferrovias, portos e aeroportos
estão entre os meios de locomoção que mais contribuem para o desenvolvimento de
uma região.
Parece-nos que para a instalação de toda uma infra-estrutura de
transportes é preciso, em primeiro lugar, a necessidade de sua existência. Fatores
que possam justificar os altos investimentos em suas instalações e
27
consequentemente capacidade de manutenção, escoamento de produtos minerais
e/ou vegetais ou a existência de um grande parque fabril são em geral uma boa
justificativa para a organização de um sistema de transportes eficiente em
determinada região. Porém, isso não é uma regra rígida. Assim como em nossa
língua portuguesa, quando se trata de cidade e meios de transportes as exceções
acabam acontecendo.
Em alguns locais do Brasil, principalmente as regiões mais afastadas dos
grandes centros, a construção de sistemas de transportes, seja ferroviário ou
rodoviário, teve além do comércio, produção, escoamento e matérias-primas, outras
justificativas ou objetivos. Nossa história é repleta de exemplos desse tipo, um dos
mais famosos e trágicos casos ferroviários brasileiros aconteceu no coração da
Amazônia. Sempre que se fala em ferrovia lembra-se da “aventura” que foi a criação
(ou tentativa) da Ferrovia Madeira-Mamoré, que era um sonho desde meados do
século XIX e que se transformou em um grande pesadelo para as pessoas
envolvidas em sua construção no século XX.
Foi o general boliviano Quentin Quevedo que, em 1861, após realizar
a descida do rio Madeira, aventou a idéia de o canalizar no trecho
encachoeirado ou de substituir a navegação por uma estrada de ferro
que lhe corresse paralelamente. Ficaria, dessa maneira, ligada a
navegação do Madeira à do Mamoré. Os progressos na técnica dos
transportes, que se faziam sentir principalmente na utilização das
estradas de ferro, iriam fatalmente influir na solução que se
procurava para vencer as cachoeiras do Madeira. No Brasil, naquele
ano de 1861, já se construíam estradas de ferro. Seria, pois, natural
que surgissem a idéia de se construir uma ferrovia ao lado do
Madeira, evitando-se, dessa maneira, as suas cachoeiras.
(FERREIRA, 1981, p. 62-63).
Em alguns casos se juntava ao setor comercial, a necessidade de manter
ocupada em enormes obras, uma grande quantidade de mão de obra que por
ventura estivesse passando por alguma calamidade. Neste exemplo se encaixam a
construção de algumas linhas ferroviárias no Norte-Nordeste brasileiro, em
determinadas épocas. Nesse sentido, a construção de ferrovia Madeira-Mamoré
servirá para ocupar grande massa de mão-de-obra que se encontrava
28
desempregada nos grandes centros e também como solução de um impasse
diplomático entre o Brasil e a Bolívia. Atraída pela necessidade de ganhar dinheiro,
parte da população se deslocará para a Amazônia afim de trabalhar na ferrovia. No
entanto, logo o sonho se desvanecia. Os surtos de malária resultaram na morte de
significativo número de trabalhadores. Muitos nunca retornariam para casa. Ao
mesmo tempo, as necessidades de novas contratações eram constantes, sejam
motivadas por essas mortes ou pelo abandono do trabalho pelos sadios,
decepcionados com a realidade encontrada no norte do Brasil. Dessa maneira,
percebe-se como a construção de ferrovias atravessa o território brasileiro
alimentando os sonhos de modernização e a tentativa de sintonizar o Brasil na
vanguarda mundial dos transportes. Os inúmeros problemas da ferrovia Madeira-
Mamoré lhe conferiram para a posterioridade a não tão honrada alcunha de Ferrovia
do Diabo.
Deslocando o olhar agora para a região sudeste, deparamo-nos com
realidades totalmente opostas, onde as ferrovias se apresentariam como grandes
sucessos no desenvolvimento de uma região, transformando significativamente as
regiões por onde passavam.
Ana Lúcia Duarte Lanna (1995), ao analisar o desenvolvimento da cidade
de Santos no século XIX, por exemplo, dá ênfase à estrada de ferro e ao porto como
catalisadores do desenvolvimento da cidade e da nova função da cidade de Santos
no contexto da produção cafeeira do estado de São Paulo, pois
Com a instalação da ligação da ferrovia entre o porto e o planalto,
Santos - São Paulo, abre-se para o província de São Paulo uma
nova era e para o porto de Santos uma etapa que vinte e cinco anos
depois se concretizaria na sua construção definitiva. Não é preciso
dizer da importância que este fato teve para um novo período de
expansão da lavoura cafeeira paulista, então já a mais importante
riqueza planaltina (LANNA, 1995, p. 55).
Os benefícios da obra citada para a cidade de Santos foram enormes,
considerada uma
29
Obra fantástica de engenharia trouxe um velocidade nova que
permitiu uma agilização no comércio do café e incrementou as
relações com o planalto. Criou novas possibilidades de emprego para
a população da cidade funcionando como elemento de atração de
mão-de-obra. Ao seu redor apareciam novos lugares de
convivência...Alterou o tecido urbano ao associar-se com o porto
definiu esta área da cidade como essencialmente comercial (LANNA,
1995, p. 55).
Todas estas e outras mudanças foram provocadas com a instalação da
ferrovia entre as cidades de São Paulo e Santos. Lembrando que esta instalação se
justificava pelo grande volume de pessoas e mercadorias, dentre estas destaca-se o
café, em trânsito entre as duas cidades.
Para Berman, essas mudanças proporcionadas pelo desenvolvimento de
estruturas comerciais e de transporte não são típicas apenas do século XX. Já no
século XIX elas se faziam notar, mesmo nos primeiros anos de instalação das
primeiras ferrovias, pois
Se nos adiantarmos cerca de um século, para tentar identificar os
timbres e ritmos peculiares da modernidade do século XIX, a primeira
coisa que observaremos será a nova paisagem, altamente
desenvolvida, diferenciada e dinâmica, na qual tem lugar a
experiência moderna. Trata-se de uma paisagem de engenhos a
vapor, fábricas automatizadas, ferrovias, amplas novas zonas
industriais; prolíficas cidades que cresceram do dia para a noite,
quase sempre com aterradoras consequências para o ser humano
(BERMAN, 2007, p. 28).
Destacam-se, dessa maneira, a ferrovia, as fábricas, o comércio
internacional, como fatores catalisadores das mudanças urbanas nas grandes
cidades do mundo. Eles são elementos que marcaram a onda modernizante que
atingiu o mundo naquele momento. No Brasil, como mostrado no caso da Amazônia
(não a ferrovia, mas o ciclo da borracha) e de Santos ou mesmo do Piauí, como
trataremos mais adiante, a modernidade trará consigo toda esta vastidão de efeitos
sobre a cidade.
Raquel Rolnik (1994) faz um interessante estudo sobre a cidade, ou
melhor, sobre as diversas faces que a cidade engloba ou possa englobar. Faces
30
estas que só podem ser notadas a partir do momento da estruturação da cidade
como um oposto ao campo. Oposição e colaboração, para ser mais preciso, pois a
partir da organização da cidade como centro consumidor e distribuidor, o campo
continuaria sempre como produtor de suma importância na manutenção das
cidades. Assim, para ela, a cidade pode ser vista como um ímã, como uma escrita,
como local político e como mercado. A cidade teria então uma diversidade de
funções e objetivos que formam uma complicada relação desta com seus
moradores, entre elas mesmas e com o campo. Nas palavras de Rolink, “fruto da
imaginação e do trabalho articulado de muitos homens, a cidade é uma obra coletiva
que desafia a natureza” (1994, p. 8).
Acerca da relação entre cidade e campo, que passa por um processo de
modificação de suas funções no contexto da cidade, Rolnik nos diz que “O espaço
urbano deixou assim de se restringir a um conjunto denso e definido de edificações
para significar, de maneira mais ampla a predominância da cidade sobre o campo”
(1994, p. 12). Assim, a cidade constantemente é vista como um espaço
desenvolvido, enquanto ao campo ficará a marca do atraso.
No Nordeste brasileiro as ferrovias vão começar a chegar poucos anos
antes da passagem para o século XX. Bahia e Pernambuco serão os primeiros
estados agraciados com a novidade, que desde o início de sua implantação estava
atrelada às negociações entre o governo brasileiro e as companhias construtoras
inglesas. Dessa forma foram construídas as ferrovias Recife-São Francisco e São
Francisco-Bahia. Um pouco depois começam os estudos para a construção de uma
ferrovia cortando o território cearense.
Neste momento é comum aos historiadores das ferrovias notar os
privilégios concedidos por parte do governo do Brasil às empresas inglesas, que
tinham isenção de imposto na importação de todo material necessário para a
implantação das ferrovias, assim como a concessão de juros e outros auxílios
financeiros. Mas estes privilégios não eram específicos do Brasil, outros países
tiverem que lançar mão dos mesmos recursos como forma de atrair e fixar capital
em seus países.
31
Tão generosa legislação, desnecessária por um lado, produziu os efeitos desejados no tocante à expansão vertiginosa da nossa rede ferroviária, tanto assim que cerca de 90% dela surgiu após 1873, quando foram concedidos gigantescos favores aos concessionários, por outro lado, permitiu que a ganância do lucro fácil e o aventureiro predominassem no traçado dessas estradas muito extensas do que era tecnicamente recomendável e economicamente viável (TENÓRIO, 1996, p.50).
Talvez já fazendo uma análise antecipada, esse foi um dos maiores erros
cometidos ao longo das construções de ferrovias no Brasil, a falta de estudos
prévios a respeito de sua viabilidade econômica. Muitas das ferrovias,
principalmente no Nordeste, nunca conseguiram se manter sozinhas.
Vejamos então como essa relação entre cidade, campo, transporte e
comércio se aplica no caso piauiense, mais especificamente na cidade de Piripiri,
cidade do norte piauiense que no final da década de 1930 passou a integrar o
percurso da Estrada de Ferro Central do Piauí, tendo então, a partir daí, uma ligação
direta com o litoral piauiense e principalmente com a cidade de Parnaíba, importante
centro comercial da região norte do Estado.
1.1 A Ferrovia como símbolo de modernidade
Símbolo da modernidade e do desenvolvimento o trem levava às regiões
e cidades por onde passava muito mais do que mercadorias e pessoas, pois levava
a idéia da inovação, da mudança, fazia com que a cidade se dinamizasse, sendo
inserida no turbilhão de inovações materiais, culturais e econômicas. “Perder o trem”
não significa mais tão somente deixar de viajar, significava não se atualizar, não está
atualizado em relação aos acontecimentos de seu cotidiano. Festas, feiras, eventos
eram definidos de acordo com o passar do trem. A cidade estava refém da grande
novidade de ferro. O trem modernizava, desenvolvia e “transportava” ao futuro, ao
mesmo tempo em que despertava a estranheza e aprisionava as pessoas nas trilhas
do encantamento das máquinas.
32
A inauguração de uma estação ferroviária em determinada cidade
significava que esta passaria a ser o centro comercial da região, dinamizando as
relações comerciais desta localidade com as regiões maiores ou mesmo de
escoamento da produção, aliás, este último sempre foi o principal objetivo do
surgimento das ferrovias. Estas tinham um caráter dúbio neste aspecto, já que
traziam muitos benefícios para a cidade, mas também eram responsáveis por
malefícios, como afirma Márcio Rogério da Silveira:
O meio de transporte ferroviário pode ser entendido pelos benefícios (facilidade na circulação de produtos, passageiros, geração e riquezas, entre outros) ou malefícios (formação de monopólios e oligopólios, contribuindo para o imperialismo econômico) que trouxeram para a humanidade ( SILVEIRA, 2007, p.12).
No Brasil, a ferrovia vai chegar em meados do século XIX, como uma
solução para as grandes distâncias entre as regiões produtoras e os portos de
escoamento. As primeiras ações em relação à construção de ferrovias aconteceram
ainda no período regencial, quando já se reconhecia a importância econômica e
estratégica das ferrovias, que já estavam em pleno funcionamento na Europa,
notadamente na Inglaterra, e na América do Norte, com destaque para os Estados
Unidos.
No intuito de dotar o Brasil de uma vasta rede de ferrovias, o governo
imperial brasileiro concedia inúmeras regalias, entre elas, isenção de impostos para
empresas estrangeiras que quisessem investir na construção de ferrovias no Brasil.
Aparentemente esses benefícios não foram muito atrativos para o capital
internacional, haja vista que “na década da proclamação da república, o Brasil
possuía por volta de 9 mil quilômetros de ferrovias, o que ainda era muito pouco, só
para efeito comparativo, a Austrália possuía 18,8 mil quilômetros e os Estados
Unidos mais de 208 mil quilômetros”(SILVEIRA, 2007, p.35). O Brasil, neste
momento ainda estava engatinhando em relação a uma infra-estrutura ferroviária,
principalmente se analisarmos a extensão de seus limites.
33
A primeira viagem ferroviária acontecida no Brasil ocorreu na inauguração
da Estrada de Ferro Mauá, que possuía pouco mais de 15 quilômetros, ligando a
baía da Guanabara à Estação Fragoso, no pé da Serra da Estrela, em Petrópolis.
Ela fazia parte de um sistema multimodal (sistema que utilizava diversas formas de
meios de transporte para completar um percurso e fazer o transporte de uma certa
mercadoria) de transporte de mercadorias, que saíam do topo da serra em
transporte terrestre de tração animal, passavam para a ferrovia, indo até o porto
onde eram embarcadas em navios. Essa ferrovia foi construída em 1854, ano em
que os estudiosos afirmam começar também a fase do auge do setor ferroviário
brasileiro, que vai até o ano de 1930, quando começa a dar sinais de estagnação,
redução e pouco tempo depois, desativações.
Até então o principal interesse e objetivo em relação às ferrovias estava
diretamente ligado ao escoamento da produção agrícola, das áreas produtoras até
os portos mais próximos, ou seja, o intuito era atender as demandas comerciais
internas. Assim, no Brasil, sistema ferroviário vai começar a ser realmente
explorado e com rápida expansão nas regiões que tinham alguma ligação com o
comércio de mercadorias voltadas para o comércio internacional, que necessitavam
que um escoamento rápido, barato e em grande quantidade para as cidades
portuárias. Dessa forma tem grande destaque neste momento as regiões
cafeicultora, visto que
Tanto os cafeicultores como os comerciantes tinham interesse no
desenvolvimento da rede ferroviária na região cafeeira. O Capital
financeiro tinha interesse em financiar as ferrovias em troca de sua
lucratibilidade e das garantias de juros oferecidos pelo governo
brasileiro. Surgiam assim as “ferrovias coloniais” ou de “penetração”
ligando as zonas produtoras ao porto de escoamento, sem a
preocupação de criar uma rede (SILVEIRA, 2007, p.11).
Dessa forma, surgiram no Brasil o que tanto Márcio Rogério Silveira,
como Dilma Andrade de Paula(2000) chamam de “ferrovias coloniais” ou “ferrovias
de penetração”, ou seja, ferrovias destinadas exclusivamente à ligação de zonas
produtoras e portos de escoamento e exportação. Sendo principal exemplo disso a
ferrovia Santos- Jundiaí. Nesse caso, notamos que a ferrovia não só organizou a
34
produção cafeeira do interior como dinamizou e determinou de vez a cidade de
Santos como porto principal de todo o Estado de São Paulo, em detrimento de
outras cidades ou povoados.
Essa realidade também pode ser sentida, em menor intensidade, no
Nordeste Brasileiro, onde as primeiras ferrovias implantadas estão relacionadas
diretamente com o escoamento da produção. Fortaleza, Recife e Salvador são as
cidades responsáveis pela organização, embarque e exportação das mercadorias
mais valiosas de seus estados, respectivamente, algodão, açúcar e cacau. Nesse
sentido, nota-se que
A capital do Ceará consolida-se como pólo econômico-social
hegemônico da região na segunda metade do século XIX, a partir da
grande exportação de algodão para o mercado externo (década de
1860-1870). As melhorias que se seguiram em seu porto, a
implantação da estrada de ferro Fortaleza-Baturité (1873) e a
multiplicação das firmas estrangeiras concorreram para esse inédito
crescimento comercial e para a constituição da cidade enquanto
mercado de trabalho urbano (PONTE, 1993, p.16).
Outros ramais1 menores, construídos já no século XX e mais
precisamente a partir dos anos 20 vão, além do objetivo comercial, também se
transformar em uma ligação direta e mais rápida entre regiões distantes e menos
desenvolvidas com os grandes centros. No momento da construção desses ramais,
dependendo da época e do local, também procurava-se amenizar os efeitos das
secas, principalmente no Nordeste brasileiro, com a ocupação de grande quantidade
de mão de obra em suas construções e incentivando a circulação de dinheiro na
região.
Entre o final do século XIX e início do século XX a história ferroviária
brasileira registrou a construção de muitas ferrovias, ramais e troncos. Mas até a
primeira década do século XX, a ferrovia ainda não era uma realidade piauiense. O
Piauí tinha seu comércio exportador concentrado em produtos agropastoris, o que
não era muito diferente dos estados vizinhos, e essa sua realidade ainda não lhe
1 Parte constituinte de uma ferrovia. Ligação menor entre dois pontos ou duas cidades, fazendo parte
um de um trajeto maior.
35
tinha dado condições financeiras necessárias para patrocinar, sozinho, a aventura
ferroviária em solo piauiense. O Governo também não tinha nem recursos e nem
condições técnicas para atrair capital externo nessa empreitada, assim, durante
longos anos, as notícias sobre ferrovias chegaria ao Piauí somente através dos
relatos de transeuntes vindos de estados que já as possuíam, em pleno
funcionamento. Até então, o principal escoadouro das mercadorias piauienses era o
rio Parnaíba.
O processo de expansão das ferrovias no Brasil se dá durante meados do
Século XIX e século XX, porém em ritmo bem menor do que em outros países, que
com extensões territoriais parecidas (exceto Inglaterra) terão uma malha ferroviária
bem maior. A seguir um quadro comparativo da extensão ferroviária do Brasil com a
de outros países:
TABELA 1: EXTENSÃO FERROVIÁRIA DO BRASIL E DE OUTROS PAÍSES
Região
Ano Inglaterra E.U.A. Austrália Brasil
1840 1.348 1.535 - -
1850 10.653 14.515 - -
1860 16.787 49.292 367 110
1870 24.990 85.139 1.765 713
1880 28.854 150.717 7.847 2.896
1890 32.297 208.409 18.889 9.076
1900 35.198 311.094 24.014 13.981
1910 - - 31.014 21.467
FONTE: SILVEIRA, 2007, p. 7.
No Piauí, a ferrovia só iria se concretizar a partir da década de 10 do
século XX, onde depois de vários pedidos ao governo federal, finalmente se iniciou a
construção do primeiro trecho totalmente piauiense.
36
É ainda no império que o Piauí consegue aprovação do projeto de
uma ferrovia ligando Petrolina-Pe ao rio Parnaíba em Amarante-Pi.
Entretanto, essa ferrovia ficou só no papel. As verbas destinadas a
esse fim foram desviadas para outra província. Contudo, no início do
século XX, a luta continuou de maneira mais organizada. Os agro-
exportadores do Piauí, num trabalho conjunto com os políticos do
Estado, com a Associação Comercial e a União Caixeral de
Parnaíba, lutaram a favor de uma infra-estrutura para o Estado. Esta
luta objetivou o incremento da navegação a vapor no rio Parnaíba, a
construção de estradas e, também, construção do porto de
Amarração, hoje Luiz Correia.Naquele momento, Antonino Freire e
Abdias Neves, representando os interesses da sociedade piauiense,
apresentaram na Câmara e no Senado, respectivamente, projetos
defendendo a construção de estradas de ferro e do porto de
Amarração (NUNES, 1996, p. 96).
Ferrovia e modernização são dois substantivos que andavam juntos no
início do século XX, e para compreender o que a ferrovia significou para as cidades
piauienses por onde ela passou, retomam-se as idéias defendidas por Marshall
Berman (2007). Para ele, modernização é compreendida como um turbilhão de
transformações a partir da urbanização dos espaços, desdobrando-se em vários
outros aspectos da vida social, visto que a cidade influencia os comportamentos de
sujeitos ao passo que estes também contribuem para a reorganização do próprio
espaço urbano. Nessa perspectiva, a modernidade caracteriza-se, em linhas gerais,
como as diversas maneiras de subjetivação e apreensão dos ritmos e efeitos do
turbilhão modernizador.
A ferrovia provocou, nesta perspectiva de modernidade e modernização,
principalmente nas capitais e centros portuários (São Paulo, como exemplo) o
surgimento das primeiras fábricas, dos primeiros serviços públicos, das primeiras
escolas técnicas, de museus, prédios de apartamentos, etc. Nas cidades piauienses
também se verifica fenômeno igual, guardadas as devidas proporções, cidades
como Parnaíba, Cocal, Piracuruca e Piripiri, que tinham seus territórios cortados pela
Estrada de Ferro Central do Piauí, em muito tiveram suas rotinas modificadas a
partir da instalação da Estrada de Ferro. Desenvolvimento comercial, crescimento
urbano, modificações no cotidiano, inovações tecnológicas, mudanças culturais, em
cada um desses aspectos enumera-se uma quantidade expressiva de modificações
patrocinadas direta ou indiretamente pela ferrovia.
37
Ao contrário de diversas ferrovias mais antigas do Brasil, em que suas
construções estavam atreladas a companhias e ao capital inglês e com uma grande
quantidade de renuncias feitas pelo governo brasileiro e governos estaduais, a
construção da ferrovia piauiense já se encontra em um novo modelo de construção.
Ela foi feita ao longo dos anos e em diversas paralisações, toda com capital do
governo federal. O governo estadual, nessa época, fazia sua parte em relação aos
transportes, através do investimento em diversas estradas carroçais, principalmente
ligando a capital Teresina às cidades mais próximas. O grande sonho era ligar por
rodovia Teresina a Parnaíba. Mas para isso, além da falta de recursos, havia o
problema das diversas pontes que deveriam ser construídas ao longo do caminho.
FOTO 1: Embarque de passageiros nos vagões da Estrada de Ferro Central do Piauí, na
Estação Ferroviária de Parnaíba- Pi , nos anos 1950.
FONTE: Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 5, nº 53, p. 19.
Com o passar do tempo e em algumas ocasiões, o funcionamento na
prática da Estrada de Ferro Central do Piauí não correspondia às perspectivas em
38
relação ao seu bom funcionamento. Tanto no Piauí como nos estados vizinhos os
problemas foram se acumulando, a receita não cobria as despesas e os déficits
foram se avolumando, o serviço de transporte era de qualidade duvidosa e não raros
os problemas durante a viagem surgiam transformando as viagens em verdadeiros
martírios.
Um longo, mas curioso relato de Eurípedes Aguiar, intitulado “A Estrada
de Ferro Central do Piauí” publicado no jornal “O Piauí” nos dá uma idéia de como
era viajar pela Ferrovia Piauiense:
Como se não bastasse para desconto de meus pecados, os
percalços da árdua luta política em que estou envolvido, tive de
sofrer, há poucos dias, a grave injúria de viajar na Estrada de Ferro...
Em Parnaíba, quando fui tomar o trem para Piripiri, recebi a
enganosa impressão de que nessa estrada tudo marchava
regularmente, em boa ordem, o tempo e a hora... O trem apitou e
partiu no minuto exato, mas notei logo que a marcha do comboio era
excessivamente vagarosa, de uma lentidão irritante... Pouco diante
da estação de Bom Principio a máquina apitou repetidas vezes, era o
tender que descarrilhara e o maquinista pedia freios... A locomotiva
parou, logo se soube que a maquina estava avariada e que íamos
permanecer longas horas naquele lugar. Eram nove horas na manhã.
A situação era francamente desagradável. No comboio não havia
água potável nem comestíveis para os cento e tantos passageiros
que enchem os vagões... às cinco horas da madrugada o
desmantelado comboio se refez e recomeçou a rodar,
cautelosamente, rumo a Piripiri. Por fim, com o espírito e o corpo
bem machucados cheguei a Piripiri, término da desastrada e
enfadonha viagem de trem, às onze horas da manhã do dia seguinte
ao da partida de Parnaíba, com atraso de vinte horas (O PIAUÍ. A
Estrada de Ferro..., 08 mai. 1948. p. 01).
A atribulada viagem de trem é narrada por Eurípedes de Aguiar como
“desastrosa’ e “enfadonha”. No entanto, o que mais nos chama atenção é o fato de
não somente o corpo, mas o espírito do viajante estar machucado. Isso denota a
idéia representativa da viação férrea naquele momento. O fato de a viagem ter
ocorrido com uma série de problemas fez com que Eurípedes, e possivelmente os
demais passageiros, sentirem-se frustrados em relação às promessas de agilidade e
de bem-estar que eram divulgados acerca da viação férrea.
39
Claro que acontecimentos como estes, narrados acima, não eram diários
e normalmente a ferrovia terminava suas viagens sem problemas mais graves, mas
já havia sinais da falta de manutenção e de que o funcionamento da mesma já
necessitava de reparos, que normalmente eram feitos somente após um problema
mais grave. A prevenção não era, na época, uma prática muito utilizável na
empresa.
Mesmo assim não temos relatos de acidentes graves envolvendo a
Estrada de Ferro Piauiense. Nos estados vizinhos, onde o funcionamento das
ferrovias carecia dos mesmo cuidados, acontecimentos mais graves e com diversas
mortes chegaram a ocorrer. Sobre o Estado do Ceará temos a seguinte notícia
envolvendo o sistema ferroviário e o acontecimento de um trágico acidente que
resultou em um elevado número de morte:
Violento desastre ferroviário registrou-se na estação Piquet Carneiro,
tombando no leito da estrada cinco carros repletos de passageiros.
São desconhecidos ainda detalhes e o número exato de mortos e
feridos. Noticias particulares dizem existir 34 mortos retirados dos
escombros até agora... Foram revelados novos detalhes do pavoroso
desastre ocorrido com o trem que partia de Crato com destino a
Fortaleza. O nosso enviado especial informa que a situação é
desoladora... Torna-se impossível a identificação dos mortos que em
sua maioria ficaram mutilados e irreconhecíveis... Em face da
dificuldade para maiores recursos médicos cirúrgicos na pequena vila
perdida no sertão cearense, o repórter presenciou cenas dantescas
de amputações de pernas e braços efetuados com serrotes comuns
de carpinteiros...(JORNAL DO PIAUÍ. Violento desastre no Ceará. 20
dez. 1951, p. 01).
Acontecimentos como estes dois teriam como causas a provável falta de
manutenção destas ferrovias, pois tanto a Estrada de Ferro Central do Piauí quanto
a Rede de Viação Cearense e tantas outras do país eram ferrovias deficitárias e
portanto não recebiam tanta atenção de seus controladores e consequentemente
seus serviços iriam piorando cada vez mais, em uma espécie de bola de neve
ferroviária.
A violência do desastre cearense parece ainda maior quando observamos
que os problemas de atendimento médico e as formas rústicas como algumas
40
vítimas foram socorridas parecem morbidamente emoldurar esse quadro desolador.
A estrada de ferro, com seus benefícios e malefícios, impôs um ritmo que as cidades
ainda demoraram a acompanhar, sendo de certa forma, “abaurroadas” pelo
progresso que se insistia em alcançar. Para termos uma idéia da pouca ou
nenhuma capacidade de sobrevivência econômica destas duas ferrovias, vejamos o
quadro abaixo elaborado a partir das informações coletadas de J. Rey Alvarez na
obra “O Transporte Ferroviário no Nordeste” que nos dá uma idéia rápida a respeito
da situação econômica destas ferrovias no fim dos anos 1950, poucos anos antes
delas serem agregadas em um único sistema ferroviário federal, a RFFSA (Rede
Ferroviária Federal S/A):
TABELA 2: REDE DE VIAÇÃO CEARENSE – RECEITAS E DESPESAS (EM MILHÕES DE CRUZEIROS)
Ano Receita bruta Despesas Déficit
1957 68 309 241
1958 87 439 352
1959 106 487 381
1960 199 590 391
1961 346 1.248 902
FONTE: ALVAREZ, J.Rey. O Transporte Ferroviário no Nordeste. SUDENE, S.D,p. 05.
Analisando os número da tabela e desconsiderando a inflação da época,
verificamos que a Rede de Viação Cearense estava, ano a ano, acumulando
prejuízo, e o mais grave, esses prejuízo, na forma de déficit estava em escala de
crescimento. Em poucos anos esse déficit quadruplicou. Suas despesas tem um
crescimento muito mais elevado do que sua receita bruta. Neste contexto verifica-se
a inviabilidade economicamente da ferrovia a médio e longo prazo o que atingia de
forma direta na realização de serviços de manutenção da Ferrovia e
consequentemente seu bom funcionamento. Alguns anos depois, alguns trechos da
ferrovia cearense foram desativados definitivamente, só ficando ativos até hoje os
trechos mais importantes e nas mãos da iniciativa privada.
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TABELA 3: ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO PIAUÍ – RECEITAS E DESPESAS
(EM MILHÕES DE CRUZEIROS)
Ano Receita bruta Despesas Déficit
1957 4,4 41,4 37
1958 2,9 55,1 52,2
1959 3,8 70,6 66,8
1960 4,1 88,3 84,2
1961 7,0 195 188
FONTE: ALVAREZ, J. Rey, O Transporte Ferroviário no Nordeste. SUDENE, S.D,p.08
A situação de deficiência econômica demonstrada nas duas tabelas tanto
da Estrada de Ferro Central do Piauí quanto da Rede de Viação Cearense não eram
realidades isolados, aliás, pelo contrário, pelo menos em boa parte da região
Nordeste a relação entre receitas e despesas eram muito parecidas. Em outras
regiões brasileiras, salvo algumas exceções, as ferrovias passavam pela mesma
situação econômica. Os resultados negativos se seguiam ano a ano colaborando
cada vez mais para que os serviços de manutenção fossem ficando cada vez mais
raros e ineficientes, num processo rápido de sucateamento da maioria das ferrovias
brasileiras.
As demais Ferrovias do Nordeste brasileiro também apresentavam
quadros semelhantes, nas quais suas despesas eram muito maiores do que
conseguiam arrecadar, assim ano a ano foram se acumulando déficits que muito
provavelmente tiveram forte influência nas decisões que levaram à desativação de
vários ramais anos mais tarde.
Assim, o sistema ferroviário da região Nordeste estava entrando em
colapso. Em fins dos anos de 1950 a manutenção das ferrovias separadamente já
não surtia nenhum efeito, mostrando claramente que algo deveria ser feito de
imediato na tentativa de modificar tal. Assim, em 1960 temos a seguinte realidade
econômica de algumas ferrovias da região Nordeste:
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TABELA 4: SITUAÇÃO ECONÔMICA DAS FERROVIAS NORDESTINAS
Ferrovia Receita
Bruta Despesas Déficit
Rede Ferroviária do Nordeste 632 1.989 1.357
Viação F. Federal Leste Brasileiro 256 1.188 932
Rede de Viação Cearense 199 590 391
São Luiz – Teresina 24,7 246,1 221,4
Estrada de Ferro Central do Piauí 4,1 88,3 84,2
FONTE: ALVAREZ, J, Rey, O Transporte Ferroviário no Nordeste. SUDENE, p. 05/08.
Além destes valores que mostram de forma clara a ineficiência do então
sistema ferroviário na região Nordeste, um outro dado muito importante acerca das
ferrovias nordestinas ratifica o quadro de declínio pelo qual passavam e a relação
agora de oposição que se fazia entre o transporte ferroviário e o rodoviário. Final da
década de 1950 e inicio da década de 1960 nos apresenta um claro declínio no uso
do transporte ferroviário. Muitos são os motivos para este abandono do transporte
ferroviário de passageiros e de mercadorias, talvez o principal foi a forma do
governo brasileiro agir em relação às ferrovias e principalmente na forma como foi
incentivada o uso do transporte ferroviário, como se um fosse necessariamente o
substituto do outro. Vejamos:
TABELA 5: TRÁFEGO FERROVIÁRIO NO NORDESTE
Ano Passageiros transportados
(milhões)
Mercadorias
(milhares toneladas)
1957 27,4 3.615
1958 27,1 3.112
1959 26,0 3.330
1960 26,4 3.284
1961 22,2 2.993
FONTE: Alvarez, J. Rey, O Transporte Ferroviário no Nordeste. SUDENE, p. 02.
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Os números acima, tanto em passageiros transportados quanto em
mercadorias, nos mostram um decréscimo na utilização das ferrovias em toda região
Nordeste, tanto no transporte de passageiros quanto de mercadorias. Nesta mesma
época o crescimento demográfico do Nordeste brasileiro girava na casa dos 2,5% ao
ano e o aumento da produção regional na casa dos 4% ao ano. Associando estes
números ao período do fim da década de 1950, concluí-se que o que estava
acontecendo no Nordeste era que o transporte ferroviário já estava sendo preterido
em favor do transporte rodoviário, em franca expansão em todo o país nessa época,
que contava com total apoio do governo de Juscelino Kubitschek, e que se
acentuaria por toda década de 1960, período no qual o governo brasileiro passa a
desativar ramais deficitários e incentivar a abertura de rodovias por todo o país,
beneficiando a indústria automobilística, recém chegada ao país. Era uma nova face
da modernidade. Neste momento já se supunha, erradamente, que o sistema
rodoviário por si só, já supria as necessidades da nova realidade do
desenvolvimento brasileiro. Assim, como nos diz Berman, uma onda modernizadora
chega pra substituir, ocupar o espaço de outra que já não mais consegue se mostrar
moderna o suficiente na nova realidade.
O pensamento comum na época era que esta ação seria uma “escolha”
do governo, ao incentivar o rodoviarismo e nada fazer para evitar o sucateamento
das ferrovias. Talvez esta seja uma visão mais simplista da época em não querer
reconhecer que o rodoviarismo muito mais do que uma escolha, foi uma imposição
da época, um imposição feita pelo próprio progresso que um dia espalhou ferrovias
por todo país e que neste momento já tinha um novo substituto para as velhas e
ineficientes ferrovias.
Um ponto de vista conciliador que é defendido por alguns estudiosos dos
sistemas de transportes brasileiros ver o rodoviarismo como uma novidade que era
imposta pelo progresso e pelas grandes empresas automobilísticas que já se
formavam no mundo e já mostravam o seu poderio econômico. Apontam também
que o grande e único erro neste processo todo foi a simples substituição das
ferrovias pelas rodovias, onde, ainda segundo eles, o mais correto teria sido
procurar uma forma de utiliza-los em conjunto, ou seja, que um sistema de
44
transporte colaborasse com o outro, tornando mais eficaz o transporte de
passageiros e principalmente de mercadorias.
Em relação ao Estado do Piauí, ferrovia só chegaria ao seu território
muito tardiamente. Somente nas primeiras décadas do século XX e em um momento
em que novos objetivos eram delegados a este tipo de transporte é que o Piauí viu
se realizar concretamente a construção de sua primeira ferrovia. Se antes, o sistema
ferroviário, era exclusivamente uma forma de transporte de mercadorias das zonas
produtoras até os portos, no início do século XX o governo brasileiro passou a se
preocupar com a interligação das regiões mais distantes do país com os centros
mais desenvolvidos. As ferrovias e também grande parte das grandes construções
do governo federal na região Nordeste são utilizadas como meios de minimizar os
efeitos das secas, através da grande quantidade de mão de obra que era necessário
pra suas construções. É nesse contexto que o sonho das elites políticas de ter uma
ferrovia genuinamente piauiense correndo em nosso território vai finalmente de
tornar realidade.
Antes dessa época foram várias as tentativas de tirar do papel o sonho
ferroviário piauiense. Muitas tentativas aconteceram em vão, principalmente nas
épocas de bons resultados econômico alcançados pelo estado, destacando-se a
época da produção da borracha da maniçoba foi usada como carro chefe dessa
empreitada:
Houve concessões irrealizadas e irrealizáveis, pela grande extensão
da obra, pelos custos elevadíssimos e pela inexistência de capitais
oriundos da iniciativa privada que suportassem empreendimentos
desse porte... Os pequenos trechos de estradas de ferro que vieram
a ser construídos no Piauí, o foram sob a égide do governo federal
(QUEIROZ, 1998, p.24-25).
A Estrada de Ferro Central do Piauí tem seu primeiro trecho concluído no
ano de 1922, ligando as cidades de Amarração, Parnaíba e Cocal, com um total de
86 km. Esse trecho foi construído quase com uma totalidade de mão de obra
cearense, que migrou para o Piauí, principalmente fugindo da seca de 1915. A
primeira locomotiva que a estrada recebeu chegou ao Piauí em 1916 vindo do
sudeste do país onde já estava encostada por ser velha demais e sem uso prático.
45
Mesmo assim foi de grande utilidade na construção, pois era a única que puxava os
trens e levava os materiais para a construção. Em 1923 inaugura-se o segundo
trecho, ligando a cidade de Piracuruca ao trecho já construído, com um total de 148
quilômetros. Até este momento a Estrada de Ferro central do Piauí contava com as
seguintes estações ou pontos de embarque:
TABELA 6: ESTAÇÕES DA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO PIAUI
ESTAÇÃO QUILOMETRAGEM
Amarração (Luís Correia) 0,0
Floriópolis 7,6
Parnaíba 13,6
Bom Princípio 50,4
Frecheiras 74,2
Cocal 86,7
Deserto 108,6
Piracuruca 147,5
FONTE: Rede Ferroviária Federal S/A
Após a inauguração da Estação na cidade de Piracuruca a Estrada de
Ferro Central do Piauí é assim oficialmente denominada e passaria aí por quase
uma década sem assentar mais nenhum metro de trilho, tendo como justificativa
dessa inércia a falta de recursos, deixando para o futuro a conclusão do projeto
original que era passar nas cidades de Piripiri e Campo Maior, chegando finalmente
à capital, Teresina.
Os trabalhos de assentamentos de novos trilhos só seriam retomados
quase uma década depois, quando em 1932 se iniciou a construção do trecho que
levaria os trilhos até a cidade de Piripiri. A Estação Ferroviária da cidade ficou pronta
em 1935, porém os trilhos e consequentemente o trem só entraram na cidade em
1937.
Nesta época, a capital piauiense já era ligada, através de ferrovia à
cidade São Luís, no Maranhão, porém uma peculiaridade aí existia, na verdade os
trilhos não chegavam a Teresina, as pessoas precisavam atravessar o Rio Parnaíba
até a cidade de Timon (na época Flores) para embarcar. Somente no final da
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década de 1930, com a construção da Ponte Metálica sobre o rio é que efetivamente
se podia embarcar em Teresina para seguir viagem pelo Maranhão.
Cinco anos depois, a ponte é inaugurada. “A cerimônia do ato de
inauguração da ponte João Luis Ferreira ficará por muito tempo na
memória da cidade, no colorido de encantos do dia 2 deste mês,
como concorrendo para tal deslumbramento a própria natureza, que
nos deu no sábado festivo uma manhã magnífica” O jornal oficial do
Estado transforma a solenidade em ato de louvação a Getúlio Vargas
e de execração da República Velha, na medida que os governos de
então não tinham sido capazes de realizar uma obra tão reclamada
pela população (NASCIMENTO, 2002, p. 186).
Outros sonhos ferroviários alimentaram nessa época a elite estadual.
Diversos novos trechos ferroviários deveriam ligar Teresina a outras cidades
piauienses e também a outros estados nordestinos. Conforme afirma Francisco
Alcides Nascimento, a idéia era transformar a cidade de Teresina em um grande
centro ferroviário, ligando a capital piauiense a diversas capitais e cidades
brasileiras:
A elite estadual desejou, também, ligar Teresina a Pernambuco.
Foram realizadas várias tentativas, resultando na execução de parte
do projeto. Dizia-se que esta ferrovia deveria ligar a cidade de
Amarração(Pi) a de Petrolina(Pe). A construção foi iniciada em 1910
e terminada em 1923. alcançou a cidade piauiense de Paulista (hoje
Paulistana)... Esta ferrovia deveria interligar-se à Viação Férrea Leste
Brasileiro. Posteriormente, o que deveria ser uma ferrovia,
transformou-se em ramal da leste Brasileiro, através de decreto-lei
nº. 2.964 de 20 de janeiro de 1941. Este ramal tinha um percurso de
240km, dos quais apenas 49 no Estado (NASCIMENTO, 2002, p.
187).
Durante a direção do Engenheiro José Gayoso Neves à frente da Estrada
de Ferro Central do Piauí, iniciada em 1931, Os trabalhos de construção de trilhos
reiniciam. E pela segunda vez contou com grande quantidade de mão de obra
cearense, que fugia da seca em 1932. Os trabalhos iniciaram em 1932 e foram
concluídos no início de 1937, sendo inauguradas, em fevereiro, as estação
47
ferroviárias do então povoado Brasileira e da cidade de Piripiri. Finalizando mais
essa etapa do crescimento da Ferrovia Piauiense.
A construção e consequentemente inauguração e funcionamento de
novos trechos da estrada de ferro no Piauí eram motivos de grande exaltação por
parte dos governantes, afinal era uma obra cara e bastante esperada por parte da
população piauiense, principalmente das populações das cidades por onde a
ferrovia iria passar. Assim, foram muitas as referencias em relação à cidade de
Piripiri e sua estação ferroviária naquele ano de 1937. Um exemplo disso
encontramos na mensagem governamental de 1938 que nos diz:
Em suspenso estiveram os trabalhos ferroviários no Estado, até fins
de 1932, quando aos apelos instantes do interventor Landri Sales
Gonçalves, o governo provisório, sob as sugestões do Ministro José
Américo, assentou em reinicia-los. Com maior imcremento. Pôde
dessa forma a CENTRAL DO PIAUI, estender a linha por mais
43,400 kms, entre Piracuruca e Piripiri, entregues ao tráfego
permanente, no ano passado. Mais do que isso, foi favorecida com
recursos que lhe permitiram efetuar os estudos do ramal Perypery a
Barras e a prosseguir a construção do prolongamento Perypery a
Campo Maior...No momento os serviços de terraplanagem já se
encontram alguns quilômetros adiante de Perypery (PIAUÍ,1938, p.
150-151).
Na época dessa mensagem o trem piauiense fazia apenas o percurso
entre Luís Correia e Piripiri. Estavam começando os trabalhos para levar a Estrada
de Ferro Central do Piauí até Campo Maior, mas pouco tempo após seu inicio o
assentamento de trilhos foram paralisados e um outro ramal, que tinha como
objetivo ligar a cidade de Piripiri à cidade vizinha de Barras nunca deixou de ser
somente projeto, jamais saindo do papel.
Um dos recursos muito utilizados na observação de momentos históricos,
principalmente a partir de meados do século XIX são as fotografias. Através dela nós
temos uma imagem congelada a respeito do passado recente, assim, através do
sentido da visão, podemos visualizar fragmentos do passado. Fragmentos estes que
mesmo estando “congelados” na forma de uma fotografia, estão pulsando no sentido
de que são muito ricos em detalhes e formas acerca do acontecido.
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Os trabalhadores da Estrada de Ferro Central do Piauí passavam dias e
dias isolados, longe das cidades, no duro trabalho de assentamento dos trilhos.
Viviam no meio rural, criando, transformando a natureza com a linha do trem, pois,
segundo Rolnik (1994), a cidade, e os seus aspectos de modernização, são uma
segunda natureza, que o homem cria como forma de expandir seu domínio sobre o
meio. De longe era um dos trabalhos mais pesados na época, sendo necessário
muita disposição ou mesmo muita necessidade. Estavam à mercê dos fenômenos
da natureza como sol, chuvas e corriam o risco de adoecerem. Não era dos
melhores trabalhos, mas para muitas pessoas, o único disponível.
FOTO 2: TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO DA ESTRADA DE FERRO C. DO PIAUÍ EM MOMENTO DE DESCANSO, POSANDO PARA UMA FOTOGRAFIA, PROVAVELMENTE COM SUAS MELHORES ROUPAS, JÁ QUE, NA ÉPOCA, ERA ALGO RARO SER FOTOGRAFADO.
FONTE: NTE – 3ª GRE – Piripiri.
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No momento da inauguração da Estação Ferroviária de Piripiri, a Estrada
de Ferro Central do Piauí já totalizava 191 quilômetros de extensão, abrangendo um
total de 12 estações. A abertura da ferrovia também viabilizava o surgimento de
diversas estradas carroçais. Estas estradas tinham como objetivo fazer a ligação
entre as cidades ou povoados onde havia uma estação ferroviária e outras cidades
que não foram contempladas pela ferrovia mas que devido a proximidade também
se utilizariam da nova ferrovia para realizar o transporte de mercadorias e
passageiros. Assim, a ferrovia beneficiava não somente as cidades por onde
passava, mas também cidades próximas a ela.
Estas estradas secundárias foram iniciativas, em sua maioria, dos
governos municipais ou do governo estadual. Aliás, o governo estadual, na época,
sempre fez questão de divulgar que fazia grandes investimentos na melhoria da
infra-estrutura das estradas piauienses, tendo elas como suas principais obras,
principalmente as que ligavam as maiores cidades do Estado na época. É o que
verificamos na mensagem governamental do ano de 1938, tendo como exemplo os
trabalhos em termos de estradas somente na cidade de Piripiri.
Construiu a ponte sobre o riacho Santo Antônio, medindo 18 metros
de extensão; 3 pontilhões de madeira na estrada carroçável para
Campo Maior; reconstruiu as estradas que se dirigem para Campo
Maior, Piracuruca, Pedro II e Batalha e, também, fez a ligação para
São Benedito (Ceará). (PIAUI, 1938, p. 109).
Neste período o Estado do Piauí se apresentava como um estado
essencialmente agrícola e extrativista, em especial nas regiões contempladas pelas
ferrovias. As estradas (sejam de ferro ou de terra) visavam dinamizar a circulação
comercial de mercadorias produzidas, principalmente o escoamento desta produção
em direção ao pontos exportadores ou consumidores.
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FOTO 3: CONSTRUÇÃO DE PONTE SOBRE NO RIO SANTO ANTONIO NA ENTRADA DA CIDADE DE PIRIPIRI, EM 1936, NA ESTRADA QUE SERIA A FUTURA BR 343.
FONTE: Mensagem Governamental do Piauí, 1937, anexos.
As principais produções piauienses durante os anos trinta do século XX
eram a cera, algodão, babaçu, couro bovino e peles de cabra ou ovelhas. Sendo
que a cera de carnaúba representava quase 50% das exportações piauienses,
principalmente para o exterior, como mostra o quadro a seguir, construído a partir
das informações colhidas no anuário de 1937, referente às exportações do ano de
1936 apresentadas pelo interventor Leônidas de Castro Melo.
51
TABELA 7: EXPORTAÇÕES PIAUIENSES PARA OUTROS ESTADOS BRASILEIROS E PARA O EXTERIOR
Produto Estados (kg) Estados
(valor)
Exterior
(kg)
Exterior
(valor)
Cera 255.689 3.386:446$ 4.196.328 55.581:594$
Algodão 871.252 3.433:310$ 3.022953 11.915:902$
Babaçu 1.834.060 4.087:018$ 9.757.880 21.751:504$
Couro bovino 245.960 1.741:692$ 1.724.321 12.211.736$
Peles
cabra/ovelhas 352.318 6.426:280$ 9.213 168:052$
Outros 1.937.821 2.471:885$ 6.469.260 8.253.589$
Total 5.513.649 21.849:735$ 25.182.273 109.924.833$
FONTE: Mensagem Governamental do Piauí, 1937.
O quadro acima nos dá uma boa idéia a respeito da economia piauiense,
que continuava essencialmente rural. Suas atividades se concentravam no
extrativismo vegetal, agricultura e pecuária, sendo que o extrativismo vegetal
representava na economia piauiense mais da metade de todos os recursos
conseguidos com a exportação de produtos piauienses. Cera e o Babaçu eram o
carro chefe da economia piauiense, o que nos mostra que muito ainda teria que se
fazer para que o Estado saísse da situação de produtor unicamente de produção
primária.
Neste mesmo anuário, entre outras benfeitorias, nota-se uma boa
quantidade de serviços relacionados ao melhoramento das comunicações entre as
cidades através de estradas, mesmo que ainda carroçáveis, principalmente nas que
mais se destacavam na época, como Parnaíba, Campo Maior, Piripiri, Pedro II,
Floriano:
Parnaíba- Construção de estrada carroçável até Luis
Correia...Floriano-Reconstrução de 60km de estrada carroçável entre
Floriano e Oeiras...Barras: Construção de ponte sobre o rio Maratoã
(ESTADO DO PIAUÍ, 1937, p. 109).
52
Percebemos o esforço na tentativa de dotar o estado do Piauí com uma
infra-estrutura de transporte que facilitasse tanto a circulação de mercadorias como
de pessoas e de capital, na tentativa de dinamizar o comércio interno e a ligação
deste com os demais estados e também com o exterior. Era de extrema
necessidade para qualquer estado brasileiro possuir uma boa infra-estrutura de
transporte pra facilitar cada vez mais o desenvolvimento do transporte de suas
mercadorias, pois o transporte em rápido espaço de tempo e em maior quantidade
representaria ganhos mais elevados para o Estado, assim, o Piauí tentava essa
melhoria, claro que dentro das possibilidades de um estado que sempre foi um dos
mais pobres da federação.
O mesmo documento apresenta trechos acerca da atuação federal no
Estado, principalmente em relação aos planos realizados ou a se realizar no tocante
às ferrovias que deveriam cortar o Piauí e fazer de Teresina um entroncamento
ferroviário, inclusive de chegar até a capital os trilhos da Estrada de Ferro Central do
Piauí que já tinham chegado à Piripiri. A idéia era dotar Teresina de saídas para
diversas partes do território nordestino e até nacional, inclusive de fazer a ferrovia
São Luis-Teresina chegar até a capital Federal, na época, ainda o Rio de Janeiro.
Mais uma vez aqui se relaciona o duplo objetivo das grandes construções
estaduais e federais. Já era uma características dos governos (principalmente o
federal) de juntar grandes construções de estradas, ferrovias, pontes e açudes com
ações que atenuassem as conseqüências das secas, dando emprego à uma
quantidade enorme de pessoas e facilitando a circulação de capital nas regiões mais
atingidas. Assim o embrião do DNOC chega ao Piauí e é um exemplo dessa ação
governamental federal.
Além de dotar o Estado de infra-estrutura de rodagens e ferrovias, as
ações do governo federal também foram uma forma de amenizar as conseqüências
das secas no Estado e consequentemente uma tentativa de melhorar a situação de
milhares de famílias que sofriam com os constantes períodos de estiagem que
sempre atingiram o Piauí e a região Nordeste. Verificamos essa idéia através das
informações na mensagem governamental publicada em 1938, mas referente a
1937:
53
OBRAS CONTRA AS SECAS- Constam, presentemente, da Estrada
Fortaleza – Teresina e do açude Caldeirão no município de Periperi.
A primeira alcançou em 1937, incremento animador, tendo sido
aberta ao tráfego. Com todas as obras darte prontas, com exclusão
da ponte de concreto armado sobre o poti, até Campo Maior. O
embaraço na travessia desse rio foi contudo superado com uma
grande ponte de madeira construída pelo Estado... As obras de
defesa das populações contra o flagelo das secas não se devem
limitar contudo, a estas que acabam de ser mencionadas. Outras
precisam ser atacadas e o mais breve possível. Entre tantas vale
não deslembrar a estrada Campos Sales- Floriano, parte integrante
do plano da Inspetoria e a Rodovia Teresina- Valença –Picos-
Jaicós- Paulistana, com estudos aprovados até Picos(GOVERNO
DO ESTADO D PIAUI, 1938, p.154).
Mas a ferrovia não era na época o único grande projeto relacionado ao
transporte e comercio no Piauí. Nesta época já se tinha projetos relacionados à
construção de um porto marítimo na cidade de Luís Correia, afinal as exportações
piauienses eram quase todas feitas a partir da cidade de Parnaíba e a idéia de um
porto maior e mais moderno já era vigente. Tão vigente que já fazia parte das
discussões na Assembléia Estadual. Uma das idéias que se propôs na época foi
que o próprio governo do estado deveria reservar dez por cento de seus recursos
para uma espécie de poupança até atingir o valor necessário para a construção do
Porto. Afinal, a Ferrovia que estava cortando o Estado de norte até o centro do
Estado e que sua chegada a Teresina, mais cedo ou mais tarde, já era dada como
certo. Então um porto moderno em Luís Correia iria complementar-se à ferrovia
como instrumentos essenciais para entrada e saída de mercadorias no Estado do
Piauí:
A construção do porto de Amarração é o nosso problema
fundamental de escoamento de riquezas e de desenvolvimento
econômico. Se não tomarmos uma medida enérgica e corajosa, se
não nos depusermos a uma verdadeira concentração de esforços,
como o que se propõe nesta emenda, nunca o resolveremos. Sirva
de exemplo a energia da Parahyba que, com recursos próprios,
construiu o porto do Estado e deu à economia estadual a grande
oportunidade para uma phase immediata de reerguimento
econômico. Talvez seja excessivamente pesado o encargo
orçamentário que a emenda propõe, mas os meios de solucionar o
problema podem ser orientados em outro sentido – no de operações
de crédito, por exemplo, contando que haja a convicção de que os
54
grandes problemas nunca são resolvidos sem grandes sacrifícios,
sem muita energia e capacidade de decisão. Serve a emenda,
portanto, de simples ponto de partida (DIARIO OFICIAL, 1935, p.
19).
Dentro da realidade financeira do Estado do Piauí, verifica-se um
constante incremento ano a ano em sua arrecadação anual, oriundo do incentivo a
atividades econômicas e de um melhor aparelhamento estatal na função de
recolhimento de imposto. Assim, tomando o espaço entre os anos de 1932 até 1942
e descontando a inflação anual, temos os seguintes números a respeito do estado e
note-se que somente no ano de 1942 a arrecadação ficou abaixo do ano anterior:
TABELA 8: RECEITA ANUAL DO GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ NA DÉCADA DE 1930 E 1940
ANO RECEITA* (em CR$)
1932 5.208.134,00
1933 5.519.919,00
1934 7.719.184,00
1935 10.431.371,00
1936 13.916.800,00
1937 15.294.631,00
1938 18.081.000,00
1939 20.327.603,00
1940 22.804.948,00
1941 33.126.68,00
1942 29.167.968,00
FONTE: Mensagem Governamental 1943, apresentada pelo interventor Leônidas de Castro
Melo.
*Valores em Cruzeiros.
Esta quebra no crescimento anual das arrecadações do Estado é
explicada como conseqüência da II Guerra Mundial e consequente queda nas
exportações, notadamente para o exterior, de seu principal produto que era na
época a cera de carnaúba. Esse quadro forçou o governo do Estado a paralisar
55
algumas obras, porém sem grande prejuízo para o funcionamento da máquina
estatal.
Ainda a respeito dos números apresentados nas Mensagens
Governamentais ao longo das décadas estudadas neste trabalho, podemos verificar
informações interessantes e importantes que mostram a realidade do Estado do
Piauí em relação ao Brasil, à região Nordeste e a outros Estados.. No fim dos anos
1950, por exemplo, a renda per capita do pais era de CR$ 16.756,00. O estado da
Guanabara possuía o maior índice, que era de CR$ 52.059,00, enquanto o estado
de São Paulo possuía um índice de CR$ 30.500,00. Partindo para a Região
Nordeste, o índice per capta já cai substancialmente, ficando em CR$ 7.018,00 e o
Estado do Piauí, metade disso, ficando com um índice de apenas 3.990,60. Esses
números já mostravam, 80 anos atrás, o quanto o Piauí teria que crescer para ficar
equiparado aos números nacionais.
Demograficamente, nesta mesma época, o Piauí possuía 2% da
população brasileira e somente 0,5% da renda nacional. Em termos de Nordeste a
situação não é muito diferente, pois os piauienses eram 7,8% dos nordestinos e com
direito a 5,1% da renda regional.
Quando se analisa as arrecadações a partir dos municípios,
separadamente, feito pelos que se denominavam na época de extratorias,
verificamos que a cidade de Piripiri estava sempre entre as dez que mais
arrecadavam, melhorando esse posicionamento com o passar do tempo e, lógico,
com o incremento de suas atividades econômicas. Em 1930, por exemplo, a cidade
foi a oitava em termos de arrecadação, em 1932 foi a décima, em 1934 permaneceu
na décima. Pulando alguns anos, em 1942, chega à sexta posição. Interessante
notar que durante todo esse tempo temos um revezamento entre Parnaíba e
Teresina na primeira posição, ou seja, Teresina como capital chegava a um patamar
econômico próximo de Parnaíba, que sempre teve, até então, posição Hegemônica
no estado. Então era questão de mais alguns anos para a economia Teresinense se
tornar hegemônica no Estado, delegando à Parnaíba a segunda posição.
Assim como os números da renda per capta já mostravam a situação
piauiense em relação ao restando do Brasil, notamos também que as negociações e
discussões a respeito do porto de Luís Correia já eram presentes, e especificamente
56
neste caso, percebemos agora em 2010 que não houve grandes avanços, o porto
piauiense ainda continua no campo das promessas.
Voltando nossos olhares novamente para as ferrovias, percebemos que a
relação que tanto se fez entre as estradas de ferro e o progresso foi particularmente
intensa nos anos 1930 e 1940 no nosso estado, mas que em épocas posteriores
essa relação não será mais a mesma.
Essa máquina incrível que já significou o fio condutor das mudanças
revolucionárias é passada para trás. É expulsa do terreno da história.
Dinossauro resfolegante e inclassificável, está condenado a vagar
incontinente pelos campos e redutos aflitos da solidão (HARDMAN,
2005, p. 51).
Uma outra relação que se faz a respeito das ferrovias é sua estreita
ligação com o tempo. A tríplice Cidade – Ferrovia – Tempo vai cada vez mais
ganhando importância. O tempo passaria a ser medido diretamente em função da
ferrovia. Essa relação entre as cidades e o tempo é por demais importante, pois as
cidades passam a se organizar de acordo com os horários da Estação, a ideologia
do progresso incorporada ao transporte ferroviário moldou hábitos sociais, provocou
sonhos e também
Foi o trem que ajudou a criar nossa percepção do passar do tempo.
A Estrada de Ferro implantou um tempo universal, abstrato,
suprimindo as marcações locais. O trem inaugura o processo de
aceleração das cidades, a rápida sucessão de estilos arquitetônicos,
que caracteriza a metrópole contemporânea (PEIXOTO, 1995, p.15).
A viação férrea, conforme Maria Cecília Nunes (1996), tem figurado no
imaginário populacional piauiense como uma das maiores expressões dos ideais
progressistas das elites políticas e intelectuais. A chegada do trem, além do impacto
imediato na vida política e econômica é também sentida no cotidiano das pessoas,
que vêem a novidade com um misto de empolgação e medo, pois têm suas rotinas
afetadas direta ou indiretamente.
57
Pelos depoimentos prestados percebe-se que, inicialmente, toda
aquela gente do interior tinha medo do trem, da locomotiva. Era a
“Maria-Fumaça, era a “Pinga-Fogo” que ao passar soltava brasas
sobre o caminho de ferro, fumo e faíscas no ar, queimando as casas
de palha e as matas secas assoladas pela ausência de chuva.
Houve, na verdade, muitos incêndios, muitos prejuízos no interior
por onde passava o trem de ferro... Existiam também, pessoas que
admiravam o “novo”. Essas pessoas viam o trem como algo
fantástico, maravilhoso, de grande utilidade, pois transportava
pessoas, animais, pedras, madeira, carga de cereais e frutas para
outros locais do Piauí e também algo do extrativismo vegetal para
fora do Estado através do Parnaíba. Segundo essas
pessoas,deveria “está no céu quem criou a locomotiva”(NUNES,
1996, p. 97-98).
Em contrapartida, estes mesmos símbolos de modernidade se
encontram de forma antagônica anos depois, onde o transporte ferroviário
representaria exatamente idéias contrárias. O moderno ganha outros ares e as
ferrovias são agora demonstrações de paralisia temporal, de algo que teve seu
espaço no tempo, mas que no momento já não se fazia útil, devendo, portanto, ser
esquecido no mais rápido espaço de tempo. A Modernidade é rápida e a sociedade
que se quer fazer moderna tem que seguir essa rapidez, de preferência esquecendo
símbolos que outrora foram idealizados, mas que agora se apresentam como
ultrapassados. Percebemos, pelos relatos da época, que havia um clamor pelo
abandono especificamente das ferrovias. No relato abaixo fica bem clara uma
espécie de não compreensão, por parte da matéria, dos motivos que levariam uma
pessoa a trocar o confortável, moderno e confiável ônibus, pelo atraso e desconforto
do trem.
Construída em 1926,a velha estação ferroviária de Teresina ainda
mantém hoje um intenso movimento, apesar da concorrência
poderosa dos confortáveis ônibus de passageiros e de gigantescos
caminhões de carga. Ligando Teresina a São Luís e Parnaíba os
trens chegam a estação e dela partem servindo cerca de 50 cidades
do Piauí e Maranhão. Em muitas delas o apito do trem ainda é sinal
para a população correrem rumo a estação em busca de amigos,
noticias ou simplesmente por curiosidade. A velha maria-fumaça,
aquela locomotiva barulhenta, negra como a noite e expelindo
fumaça e vapor por todos os lados já foi substituída. Hoje, uma
maquina a óleo faz todo o trabalho, com mais eficiência e economia
como manda as regras do progresso.Mas nem mesmo a abolição da
58
maria-fumaça tirou aquele romantismo que sempre envolveu o trem
e que amanhã será mostrado numa reportagem que a equipe de O
DIA está fazendo (ESTRADA DE FERRO, UMA COISA ANTIGA
QUE NUNCA MORRE, O Dia, 10 de julho de 1970).
“Velha estação ferroviária”, “concorrência poderosa dos confortáveis
ônibus”, “gigantescos caminhões”, “velha maria-fumaça” são algumas palavras que
de certa forma já dão o tom da reportagem e suas subjetividades em relação á
oposição ferrovia-rodovia.
O mundo capitalista é muito dinâmico. O que é considerado moderno
hoje, amanhã pode não o ser mais, ou pior, pode representar o velho, o passado.
Hoje as coisas parecem ser muito efêmeras, lembrando assim Berman e Marx na
discussão do que “tudo que é sólido desmancha no ar”. Ou seria “nem tudo que é
sólido desmancha no ar”? O ponto a que chegamos é que as incertezas da
modernidade são cruéis, a mais moderna das cidades hoje pode não ser mais no
amanhã, o que hoje está velho, gasto, abandonado, já foi o novo, o jovial em algum
tempo. Nossas cidades estão cheias de exemplos desse tipo. Teresina, Fortaleza,
São Luís, São Paulo. Bairros que antes eram tidos como modernos, na vanguarda
de suas épocas hoje são caóticos, problemáticos e “velhos”.
A empresa ferroviária, que já trouxe e levou o progresso aos mais
distantes rincões deste país, que deixou populações extasiadas com a chegada de
sua “Maria fumaça” ao som de seu inconfundível apito, que já transitou duas vezes
por semana cortando o estado do Piauí, transportando mercadorias, pessoas,
sonhos, hoje silencia.
A ferrovia perdeu seu espaço comercial. Desde a década de 1940 que o
país e boa parte do mundo fez a opção por um outro sistema de transporte, o
rodoviário. Quando o presidente do Brasil Washington Luís falou a célebre frase, em
1926, “governar é abrir estradas” ele estava decretando a falência das ferrovias no
país. As décadas seguintes, 30 e 40 só efetivaram a suposta preferência do país
pelo rodoviarismo, preservando apenas aquelas ferrovias que fossem de importância
estratégica ou muito lucrativas. Dessa forma, podemos dizer que o próprio modelo
de desenvolvimento estabelecido no Brasil, fadou as ferrovias senão ao
esquecimento, mas a um descompasso com o que se esperava para o país.
59
Na década de 1950 um projeto sancionado por Juscelino Kubstichek
centralizou toda a malha ferroviária brasileira sob um só comando, a RFFSA (Rede
Ferroviária Federal S/A). Ao passo que as rodovias iam cortando cidades, fazendas
e até a Amazônia, as ferrovias em sua maior parte iam sendo desativadas, em um
processo de sucateamento do sistema ferroviário nacional, criando-se assim no
imaginário do povo brasileiro a idéia de que tudo relacionado à ferrovia remete ao
passado, ao antigo.
Para Silveira (2007), cinco são os motivos que vão marcar essa fase de
estagnação e decadência das ferrovias brasileiras:
1-.Concentração dos investimentos no modo rodoviário; 2- A falta de
sentido econômico nos traçados primitivos, ou seja, trechos no qual
as atividades econômicas entraram em decadência; 3-
desarticulação entre os sistemas regionais; 4- desaparelhamento do
parque ferroviário; 5- baixo rendimento dos trechos de tráfego
intenso. (SILVEIRA, 2007, P.29).
Na década de 90 do século XX, a antiga Estrada de Ferro Central do
Piauí já se encontrava desativada. No Piauí, somente os ramais que ligavam a
Capital Teresina à Fortaleza e à São Luís continuam apenas como transporte de
carga, agora sob a bandeira privada da Cia. Ferroviária do Nordeste. A Antiga
Estrada de Ferro Central continua silenciosa, em seus trilhos não correm mais trens,
não chegam nem partem mercadorias, suas estações estão caindo desgastadas
pelo tempo ou na melhor das hipóteses restauradas para dar lugar a outros tipos de
instituições (como foi no caso da Estação de Piripiri, onde hoje funciona um auditório
e uma área de exposição).
Um outro exemplo desse modo de pensar a ferrovia como algo
ultrapassado encontramos na música “De Teresina a São Luis” dos autores João do
Vale e Helena Gonzaga, imortalizada na voz do cantor Luiz Gonzaga. A música nos
mostra bem a situação de precariedade por que passava o sistema ferroviário
brasileiro, e em especial Nordestino, ajudando mais ainda a difundir a idéia de que
ferrovia era algo ultrapassado, velho e que precisava ser substituída por algo novo,
confortável e mais rápido. Notemos, com principal atenção, que o refrão da música
procura (e consegue) dar ênfase especial à idéia de que o trem não era mais o
60
transporte para quem tem pressa de chegar ou para pessoas que prezam pelo seu
tempo. Segundo a música, os termos “trem” e “atraso” são quase sinônimos.
De Teresina a São Luís
Composição: João do Vale / Helena Gonzaga
Peguei o trem em Teresina Pra São Luiz do Maranhão
Atravessei o Parnaíba Ai, ai que dor no coração
O trem danou-se naquelas brenhas Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa Tanto queima como atrasa Tanto queima como atrasa
Bom dia Caxias Terra morena de Gonçalves Dias
Dona Sinhá avisa pra seu Dá Que eu tô muito avexado Dessa vez não vou ficar
O trem danou-se naquelas brenhas Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa Tanto queima como atrasa Tanto queima como atrasa
Boa tarde Codó, do folclore e do catimbó Gostei de ver cabroxas de bom trato
Vendendo aos passageiros "De comer" mostrando o prato
O trem danou-se naquelas brenhas Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa Tanto queima como atrasa Tanto queima como atrasa
Alô Coroatá, Os cearenses acabaram de chegar Meus irmãos, uma safra bem feliz
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Vocês vão para a pedreira Que eu vou pra São Luiz
O trem danou-se naquelas brenhas Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa Tanto queima como atrasa Tanto queima como atrasa
Peguei o trem em Teresina Pra São Luiz do Maranhão
Atravessei o Parnaíba Ai, ai que dor no coração
O trem danou-se naquelas brenhas Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa Tanto queima como atrasa Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa Tanto queima como atrasa Tanto queima como atrasa
Aqui no refrão da letra fica bem nítida a idéia negativa que o sistema
ferroviário possuía no imaginário da população. A partir dos anos 1960 a idéia de
complemento entre as ondas modernizadoras já não acontece no que se refere ao
transporte. Neste caso, ao contrário do que Berman (2007) nos diz, uma onda
moderna veio para eliminar a segunda. Ninguém que pudesse viajar nos novos
ônibus trocaria e faria essa viagem nos velhos e lentos trens.
Letras de músicas e reportagens em jornais são só alguns exemplos que
demonstram a visão que se tinha da ferrovia piauiense. Um ar de admiração por sua
ainda existência, pois para muitos era algo que já deveria ter desaparecido por
completo.
Assim, chegamos no início do século XXI e o transporte ferroviário a uma
encruzilhada decisiva. Ele ainda é apontado como o mais barato e prático meio de
transporte terrestre, além de possuir uma manutenção relativamente barata se
comparado à rodovia. Porém sua construção tem alto valor inicial, principalmente
nos trechos urbanos das grandes cidades, onde novas linhas férreas subterrâneas
são cada vez mais necessárias e o trânsito de automóveis esta próximo de paralisar
nossas metrópoles, enquanto nossas rodovias além de mal cuidadas possuem alto
62
custo de manutenção, isto quando não são delegadas à iniciativa privada e
sustentadas através de cobrança de pedágios.
É necessário neste momento que algo seja feito e que se pense a médio
e longo prazo para que nossas cidades não corram o risco de parar e nossa
economia não estagne por causa de um sistema de transporte deficitário e
inoperante. Afinal, nossas ferrovias, bem equipadas e mantidas, ainda poderão ser
bastante úteis à nossa população.
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CAPITULO II
SEGUNDA ESTAÇÃO:
A FERROVIA E A CIDADE SE ENCONTRAM
Piripiri foi fundada pelo padre Francisco Domingos de Freitas2 , que na
década de 40 do século XIX se instalou na região. Por volta de 1844, mandou
edificar, ao lado de sua casa de fazenda, uma capela dedicada a Nossa Senhora
dos Remédios. Até 1855 estas eram as únicas construções da região. Entre os anos
de 1855 e 1860, o padre fundador mandou lotear as terras da fazenda, doando lotes
a quem quisesse edificar.
Em 1857 a localidade já apresentava aspecto de um pequeno e sofrível
povoado. No dia 16 de agosto de 1870 a lei provincial de número 698 elevou o lugar
à categoria de freguesia, continuando, entretanto, política e administrativamente
dependente de Piracuruca. Quatro anos depois a Freguesia de Nossa Senhora dos
Remédios de Perypery era elevada à categoria de Vila através da lei provincial nº
849 de 16 de junho de 1874. De acordo com esta lei provincial, no seu artigo quarto,
assinada pelo então presidente da província do Piauí, Adolfo Lamenha Lins, a
criação da vila só aconteceria na condição de alguém oferecer grátis um imóvel, por
um prazo de oito anos, para funcionamento da câmara Municipal, do Jury e do
2 Padre Freitas, como era conhecido, nasceu no ano de 1798 na atual cidade de Parnaíba (embora
existam informações contraditórias a respeito de sua origem em Pernambuco e no Maranhão), morreu no dia 26 de dezembro de 1868. mesmo padre teve durante sua vida duas esposas e ao todo doze filhos. Exercia também a função de professor, principalmente português e latim. Famoso por sua inteligência e notável cultura humanística.
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juizado; o que foi feito pelos moradores Antônio Albino de Araújo e Silva e Estevão
Rabelo de Araújo e Silva. A câmara municipal foi instalada no dia 14 de janeiro de
1875, com a realização da primeira sessão ordinária. Nos anos de 1880, a vila
ganharia seu primeiro sistema de comunicação telegráfica, ligando-a à cidade de
Parnaíba, passando pela vila de Piracuruca.
É de 1887 o primeiro registro a respeito da organização espacial da então
vila e futura cidade de Piripiri. Naquele ano foram registradas setenta e quatro casas
cobertas com telhas, uma igreja matriz, uma capela, um cemitério, uma casa que
servia para a câmara, jury e quartel de cadeia e setenta e oito casas cobertas com
palha.
Em 1910 a vila de Peryperi é elevada à categoria de cidade pela lei
estadual nº 570 de 04 de julho, assinada por Antonio de Freire da Silva , que na
época exerciam as funções de governador do estado. O artigo primeiro elevava à
cidade, o artigo dois fazia referências aos limites da nova cidade que, aliás,
permaneceria com a antiga denominação de Perypery que só deixaria de ser usada
em 1944, quando a denominação Piripiri seria oficialmente adotada.
Com relação à denominação da cidade, é comum encontrar, ao longo desse
período (1910-1944), diversas versões, tanto nos jornais quando nos documentos
oficiais, sendo Perypery grafada de diversas formas: Pery Pery, Periperi, Peri Peri,
Piry Piry, por isso ao longo do texto usaremos as denominações em que foram
grafadas originalmente.
Os primeiros vinte anos da nova cidade seriam tranqüilos e praticamente com
poucas modificações. A cidade crescia lentamente, como a maioria das pequenas
cidades brasileiras, praticamente sem grandes mudanças em seu espaço urbano e
com uma população predominantemente rural.
65
2.1 A chegada da ferrovia a Piripiri
FOTO Nº 04: INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DA CIDADE DE PIRIPIRI, NA TARDE DO DIA DIA 11 DE FEVEREIRO DE 1937.
Fonte: Núcleo Tecnológico Educacional– 3ª. Gerência Regional de Educação - Piripiri
Na tarde do dia 11 (onze) de fevereiro de 1937, boa parte da
população tinha um destino certo, rumar até os limites da cidade em direção oeste,
onde foi construída, dois anos antes, a bonita e majestosa Estação ferroviária.
Vestidos em seus melhores trajes, ninguém queria perder tal acontecimento, afinal,
nada parecido acontecia na pacata cidade a anos. Depois da espera de alguns
anos, finalmente o trem entraria na cidade de Piripiri e muitos estariam na estação
para aguardar sua chegada triunfante e barulhenta.
A Inauguração da Estação de Piripiri foi um marco para região, afinal, a
maioria das pessoas que ali estavam presentes nunca tinha visto um trem, muito
menos viajado em um e a partir daquele dia isso tudo seria possível, pelo menos
para parte delas. A Estação representava para muito o inicio de uma nova etapa na
história da cidades e estavam ali para presenciar o inicio desta.
66
Uma grande quantidade de pessoas para a estação se dirigiu, em um
misto de curiosidade e diversão, pois algo como aquela cerimônia raramente
acontecia na cidade. Com toda certeza os preparativos de tal inauguração devem ter
mexido com a cidade, aguçando a curiosidade de sua população para tal evento,
que interessava desde o mais simples morador até os representantes da política
local e estadual, claro que, cada um com interesses muito diferente.
Com a presença de várias autoridades e grande parte da população da
cidade a inauguração da estação acontece logo após a máquina a vapor adentrar a
cidade vindo de Luis correia, onde saiu pela manhã, passando também pelo
povoado Brasileira e chegando á nova Estação para espanto e aplauso de todos.
Aquela tarde, que marcou definitivamente a história da cidade de Piripiri, é assim
retrata pela escritora Judith Santana:
No ano de 1937, fevereiro, o trem entrou festivo em Piripiri. José
Gayoso, diretor da E.F.C.P. e esposa prestigiaram solenidade de
inauguração. Nelson Coelho de Resende3, então deputado corta a
fita simbólica. A esposa de Gayoso quebra uma garra de
champanha na frente da máquina, para espanto de toda aquela
gente simples (SANTANA, 1972, p.31).
Assim foi inaugurada a Estação Ferroviária de Piripiri, que a principio se
localizava em uma área isolada e até certo ponto longe da praça central da cidade.
Com o tempo, como veremos, essa localização da Estação e a própria linha férrea
terão grande importância no aspecto urbano da cidade, pois ela passou a definir os
novos limites da área urbana da cidade.
3 Nelson Coelho de Resende, nasceu em Piripiri em 21 de março de 1881.Em sua vida política
exerceu os cargos de Intendente municipal, membro do Conselho Municipal de Piripiri em vários períodos, Prefeito Municipal e Deputado Estadual. Faleceu em Piripiri em 28 de outubro de 1952.
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FOTO Nº 05: VISTA AÉREA DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE PIRIPIRI. JUNTAMENTO COM O DEPÓSITO DE MERCADORIAS E A CASA DOS ENGENHEIROS, A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA ERA PRATICAMENTE UMA DAS POUCAS CONSTRUÇÕES NO LOCAL. COM O PASSA DO
TEMPO OUTRAS CONSTRUÇÕES VÃO SE AGREGANDO AO “LARGO DA ESTAÇÃO”
Fonte: Núcleo Tecnológico Educacional– 3ª. Gerência Regional de Educação – Piripiri
A Solenidade de inauguração da Estação Ferroviária foi um momento
único para a cidade, especialmente para os governantes estaduais e municipais.
Portanto, era essencial para eles que tudo acontecesse como o programado e para
tanto houve uma intensa troca de telegramas entre os responsáveis pela Estrada de
Ferro, os governantes municipais e o governo estadual durante todo o período de
preparação da festa de inauguração. Queriam ter certeza que tudo correria da
melhor forma possível e sem nenhuma falha. Além disso, seria muito interessante
para os mandatários municipais a presença do maior número de autoridades
possível na cerimônia, principalmente da capital. Afinal, a cidade de Piripiri nesta
tarde seria o centro das atenções do Estado do Piauí, portanto seria interessante
que tudo saísse como o programado e nenhuma falha deixasse a desejar tão
esperada inauguração.
Nesta época, o principal representante político da cidade era Nelson
Resende, que apesar de não ser o prefeito da cidade, foi quem manteve contato
68
direto com o governo estadual, tratando dos detalhes da solenidade, como nos
mostra o telegrama abaixo:
PERIPERY, 25- Informado pelo Dr. Gayoso Neves que a
inauguração da estrada foi antecipada para o dia 11 de fevereiro,
venho oferecer nossa casa para hospedagem do prezado amigo e
sua comitiva, fazendo-o com muito prazer. Queira avisar a partida e
quantas pessoas compõem a comitiva. Confirmando o pedido do
meu telegrama último solicito ainda seu concurso, autorizando a
vinda do jazz da policia com transporte por conta do Estado, visto
como se trata de acntecimento4 de interesse geral. Muito Grato.
Abraços. Nelson Resende (TELEGRAMAS RECEBIDOS, Diário
Oficial, 28 de janeiro de 1937).
Ainda com relação aos preparativos da solenidade de inauguração da
Estação Ferroviária de Piripiri, um novo telegrama, este emitido pelo então diretor da
Estrada de Ferro Central do Piauí, Gayoso Neves e que tinha como destinatário o
então Intendente Leônidas de Castro Melo, telegrama este com origem em
Parnaiba, e dizia o seguinte:
PARNAHYBA,23- Afim de combinar pessoalmente com o ilustre
amigo assunptos referentes a inauguração do trecho de Peripery,
seguirei agora a tarde. Dada a urgência do meu regresso, ficaria
muito grato se pudesse ser recebido amanha, em cujo sentido pelo
o obsequio de responder para Peripery, onde estarei hoje a noite.
Saudações. Gayoso neves, director da Central do
Piauhy.(TELEGRAMAS RECEBIDOS, Diário Oficial, 28 de janeiro
de 1937).
Sete dias depois, mais um telegrama é enviado ao Governo do Estado
pelo Então Diretor da Estrada de Ferro Central do Piauhy, Gayoso Neves. Desta
vez além da própria inauguração, havia outro assunto a tratar com a autoridade
estadual, o futuro da Estação. O telegrama trata do funcionamento efetivo da
Estação após a solenidade, mais especificamente a respeito da mão de obra a ser
utilizada no funcionamento e manutenção do novo trecho, afinal após a inauguração
o trem passaria a funcionar constantemente, vindo até a cidade de Piripiri e era
preciso uma quantidade expressiva de mão de obra para a nova Estação afinal, o
4 Nos telegramas, mensagens e reportagens da época foram mantidas as grafias da época.
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trem pernoitaria na cidade duas vezes por semana e retornaria nas manhãs
seguintes para o litoral, isto fazia com que fosse necessário manter na cidade uma
boa quantidade de mão de obra para cuidar do próprio trem como também de todos
os trabalhos que envolvessem o funcionamento da estação.
PERYPERI, 4- Tenho a honra de comunicar a V. Excia. que,
conforme fora proposta e de acordo com a autorização recebida por
esta directoria, deverá realizar-se no dia 11 do corrente a
inauguração do trecho Piracuruca-Peripery, com a abertura do
trafego provisório, caracter este justificado necessidade de manter
no trecho o pessoal da construção, por não haver ainda verba para
o respectivo pessoal efetivo e ser o pessoal da parte de trafego
absolutamente exíguo para manutenção da seversa especial,
exigida até consolidação de novo trecho, tudo conforme tive
oportunidade para reiterar o convite feito pessoalmente a V. Excia e
seu dignos auxiliares de Governo para a referida inauguração.
Saudações. Gayoso Neves. Director da Central do Piauhy
(TELEGRAMAS RECEBIDOS, Diário Oficial, 05 de fevereiro de
1937).
E por fim, o telegrama oficial do prefeito municipal da cidade Piripiri,
convidando, oficialmente, diversas autoridades para a inauguração da ferrovia. Este
telegrama foi enviado aos prefeitos das cidades de Parnaíba, Piracuruca, Campo
Maior, Teresina, Pedro II, Barras, Batalha, José de Freitas e Altos. Foi “assinado”
pelo então prefeito de Piripiri Licínio de Brito Melo e tinha o seguinte conteúdo:
Tenho o prazer convidar V. Excia. assistir inauguração estação ferroviária desta cidade dia onze deste mês. Grato, saudações: Licínio de Brito Melo- prefeito municipal de Piripiri (SANTANA, 1972, p. 30).
Mas em relação à tão aguardada cerimônia do dia 11 de fevereiro de
1937, nem tudo que estava programado pôde ser efetuado em sua íntegra. No que
diz respeito à solenidade, tudo transcorreu como o preparado, noticias da época que
informam sobre a inauguração nos informam que tudo seguiu como o programado e
destacam como maior contratempo a ausência do governador da época Leônidas de
Castro Melo e de toda sua comitiva. Tal ausência foi justificada na época pela
impossibilidade de deslocamento devido às cheias dos rios (principalmente o rio
Longá) e a falta de pontes na região. O que não deixa de ser cômico, que a
70
ausência da comitiva governamental estadual a um evento de inauguração de uma
estrada de ferro tenha acontecido justamente pela falta de infra-estrutura de
transporte.
PERYPERY,12 – Lamentando não ter tido o prazer de abraçar o
prezado amigo e sua ilustre comitiva no momento dos festejos do
memorável acontecimento que foi a inauguração da ferrovia desta
cidade, agradeço a honrosa confiança delegação de representar o
digno chefe do Estado na mesma solenidade. Aproveito o ensejo
para patentear o reconhecimento do seu valioso concurso para
realização desse grande melhoramento. Abraços. Nelson Rezende
(p. 01).
Neste telegrama, o líder político da cidade Nelson Rezende lamenta a
ausência da comitiva do governo estadual e ao mesmo tempo agradece a
possibilidade de ter sido ele o representante do governo na solenidade, o que
politicamente lhe foi de grande utilidade, pois pode mostrar mais uma vez sua
influência diante de seus conterrâneos, ajudando na manutenção de seu cargo de
“coronel” da cidade e consequentemente na sua influência sobre a política local e
regional, onde já gozava de grande prestígio entre a população.
PERYPERY,12 – Acusando, muito grato, o atencioso telegrama em
que me comunicastes a impossibilidade de chegar a esta cidade,
por motivo da cheia do rio Longa, facto que muito lamentei por me
haver privado da vossa mui honrosa presença, agradeço a atenção
que vos dignastes dispensar ao meu convite para assistir a
inauguração do trecho ferroviário Piracuruca-Perypery. Aproveito a
ocasião para comunicar-vos que o trem inaugural chegou hontem à
estação de Perypery às 17 horas, sendo, a convite desta Diretoria,
declarado inaugurado o trecho, pelo Deputado Nelson Resende, em
nome do governador do Estado. Gayoso Neves-diretor da Central do
Piauhy (p.01).
No telegrama acima, o diretor da Estrada de Ferro Central do Piauí
também lamenta a ausência do interventor e de toda sua comitiva como também
descreve toda a solenidade que inaugurou a nova estação ferroviária do Piauí.
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PERYERY, 12 – Lamentando o imprevisto que obrigou V. Excia. e
sua ilustre comitiva regressarem a Teresina, privando-nos de honra
e prazer de sua presença à inauguração do trecho Piracuruca-
Perypery, reconheço entretanto a grande e valiosa prova de
consideração que por todos me foi dada, o que mui sinceramente
agradeço. O tem inaugural chegou a Perypery às 17 horas, tendo, a
convite desta diretoria e em nome de V. Excia. o Deputado Nelson
Rezende cortado a fita symbólica, declarando inaugurado o trecho.
Atenciosas saudações, Gayoso Neves, diretor da Central do Piauhy
(p.01).
Neste segundo, continua a descrever as informações acerca da ferrovia,
da chegada do trem à cidade e especificamente o ponto alto da cerimônia que foi o
corte da fita simbólica da estação.
Além destes diversos telegramas que nos ajudaram a perceber a
importância da solenidade para a cidade de Piripiri e de como tudo transcorreu,
dando ênfase principalmente ao aspecto político, a imprensa da capital se fazia
presente na cidade, representada pelo jornal Diário Oficial. A reportagem abaixo
publicada quatro dias depois, nos diz em detalhes, como foi relatado à população de
Teresina os acontecimentos ocorridos na cidade de Piripiri naquela tarde de
fevereiro de 1937:
É mais uma etapa vencida pela Estrada de Ferro Central do Piauhy,
rumo a capital, a inauguração do trecho Piracuruca-Perypery. O
facto, singelo na sua expressão, representa, no entanto, para o
Piauhy, um objectivo de suma importância, beneficiando, de perto, o
desenvolvimento econômico de uma rica zona do norte do estado,
desde que os meios de transporte e as vias de communicação
representam, entre nós, o factor maximo do progresso em todas as
suas modalidades. A capacidade de trabalho, -justo é confessar,- do
ilustre director de nossa única estrada de ferro, sr. Dr. Gayoso
Neves, em grande parte, devemos nós então auspiciosos
acontecimentos que constituiu sempre um dos anceios do eminente
chefe do executivo Piauhyense, que só por motivo de força maior
deixou de, pessoalmente, inaugurar aquelle avanço promissor dos
trilhos da Central do Piauhy. Lamentável como foi o não
comparecimento do Exmo. Sr. Leônidas de Castro Mello e dos
demais ilustres convidados desta capital, dentre os quais
destacamos o integro Presidente da Corte de Appellação, Sr. Dês.
Christino Castello Branco e major Gayoso e Almendra, Presidente
da Assembléa Legislativa do Estado, à ceremonia de onze deste,
em Perypery, compareceu, todavia, crescido número de pessoas de
destaque de vários municípios, que se fizeram representar no acto,
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presidido pelo deputado Nelson Rezende, que representou, por
delegação especial, o sr. Dr. Governador do Estado (ESTRADA DE
FERRO CENTRAL DO PIAUHY: inauguração do trecho Piracuruca-
Perypery. Diário oficial, 15 de fevereiro de 1937).
A primeira parte da reportagem se concentra mais em vangloriar a
própria construção da ferrovia, as pessoas responsáveis e fazer diversos elogios a
todos envolvidos em na ferrovia. Não podemos esquecer que o Diário Oficial, como
o próprio nome diz, era a voz oficial do governo estadual e único dos jornais da
capital a publicar algo referente ao acontecimento e consequentemente só tinha
elogios para tal evento
Às 17 horas do dia onze deste mês attingia a estação da cidade de
Perypery o trem inaugural, sendo, logo, a convite da directoria da
estrada, declarado inaugurado o trecho, pelo deputado Nelson
Resende que, em nome do chefe do Estado, cortou a fita symbolica
por entre as justas manifestações da selecta e grande assistência.
Ao governo do Estado, que tudo tem feito pelo avanço da Central do
Piauhy e à comunhão piauhyense em geral que recebe tão
importante melhoramento, enviamos as nossas melhores
felicitações por mais este marco que vem de ser vencido na estrada
que conduz o Piauhy ao lugar que lhe compete ao lado de seus
irmãos da Federação Brasileira (ESTRADA DE FERRO CENTRAL
DO PIAUHY: inauguração do trecho Piracuruca – perypery. Diário
Oficial, 15 fevereiro de 1937).
Podemos notar na reportagem que há uma preocupação em retratar a
estrada de ferro como algo de grande importância econômica para o Estado,
exaltando as ilustres figuras que participaram de sua instalação, pois como diz na
reportagem, o transporte e as comunicações representam o fator máximo de
progresso. Assim mais uma vez se faz a relação direta entre ferrovia e progresso,
tentando repassar a idéia de que a ferrovia iria finalmente desenvolver o Piauí em
“todas as suas modalidades”. Assim, deixa transparecer que a ferrovia seria a
solução definitiva para o atraso do Estado e que a partir dela o Piauí entraria em
uma era de prosperidade automática. Nota-se a idéia de que a ferrovia, por si só, já
representava a prosperidade econômica do Estado.
Também exalta-se a figura do diretor da Estrada de Ferro Central do
Piauí Gayoso Neves e do deputado Nelson Coelho de Rezende, que em breve seria
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nomeado interventor da cidade por todo Estado Novo. A reportagem não faz
qualquer referencia ao prefeito da cidade, Licínio de Brito Melo e nem a quais
prefeitos atenderam ao convite da prefeitura de Piripiri e participaram do evento. O
que se sabe é que naquela mesma noite houve um baile na cidade, já que a câmara
municipal tinha concedido dois contos de réis para as despesas com as festividades
e então se celebrou esse “grande passo na estrada do progresso”, como disse
Judith Santana, ao rememorar toda a aventura da ferrovia em Piripiri:
O trem da Estrada de Ferro Central do Piauí partia de Piracuruca no quilômetro 147. Os comerciantes de Piripiri sentiam falta de um meio de transporte mais acessível para remessa de gêneros destinados às grandes firmas da Paraíba. Por outro lado tornava-se difícil a aquisição de mercadorias daquela praça. Quatorze longos anos seriam necessários para conclusão do trecho Piracuruca/Piripiri, numa extensão de 43 km. Um belo dia os serviços de construção foram iniciados.[...] Mas o serviço de construção seguia a passos lentos (SANTANA, 1972, p.30-31)
Mais uma vez se verifica que a relação entre a ferrovia e o progresso era
constante. A ferrovia significava para muitos o fim dos problemas da cidade, o
desenvolvimento, o progresso chegando, a partir dos esforços dos heróis
trabalhadores que em um esforço sobre-humano concluem a ferrovia. O trabalho
pesado dos empregados na construção da ferrovia se transformaria numa luta
contra o tempo e a favor da cidade. Piripiri precisava, nesta forma de pensar, de
todo o esforço destes para que em breve pudesse desfrutar de todas as benfeitorias
que a modernização pudesse trazer e que sua população finalmente pudesse se
sentir inserida na modernidade. Essa visão romantizada dos trabalhadores
envolvidos na ferrovia é bastante presente. Ela é assim descrita pela autora:
De repente surge um obstáculo atrapalhando tudo. O Estado do Piauí está sob a orientação do Interventor Landri Sales Gonçalves. O Diretor da E.F.C.P – Dr. José Gayoso Neves – em dificuldades para substituir Argemiro Nascimento, em um período de férias que lhe era devido, entrou em ocntato com o interventor e seu secretário martins de Almeida. Foi lembrado o nome de um piripiriense: José Coelho de Rezende. O convite é feito. O ilustre cidadão, com prejuízos para seus estudos, aceita o convite, disposto a trabalhar com afinco. O serviço era realmente penoso, mas Rezende não desanima. Admitiu mais operários. Gente disposta a trabalhar. E o
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serviço ia sendo feito apesar das dificuldades. Ligeiro, seguro (SANTANA, 1972, p.31).
E para completar a narração dessa “epopéia” que foi a construção do
trecho da ferrovia até piripiri, mais elogios aos trabalhadores e principalmente ao
engenheiro da época, que ganham mais ênfase por este carregar o adjetivo pátrio
da cidade, afinal, só mesmo um piripiriense poderia supor o quanto era importante
para a cidade que a ferrovia adentrasse logo seu território. Era um esforço grande,
mas que iria, em breve, valer a pena. Continuando nesse pensamento ufanista, é
descrito:
O esforço conjugado em que administradores e subordinados, juntos, empregavam toda a sua força e capacidade, conseguiu o êxito almejado em seis meses. À operosidade de um piripirienses deve-se, portando, a conclusão do trecho em curto espaço de tempo (SANTANA, 1972,p.31).
Daí em diante a cidade de Piripiri passa a ser o ponto final na Estrada de
Ferro do Piauí, chegando o trem duas vezes por semana, vindo de Parnaíba (terças
e sextas), pernoitando ali e voltando para Luís Correia nos dias seguintes. Conforme
o quadro de avisos que descreve todos horários, estação por estação entre Luís
correia e Piripiri:
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FOTO Nº 06: QUADRO DE AVISOS DOS HORÁRIOS DA E.F.C.P., MARCANDO OS DIAS DE TERÇA E SEXTA PARA A VIAGEM DO TREM ATÉ PIRIPIRI, CHEGANDO NO FIM DA TARDE E O
RETORNO NAS PRIMEIRAS HORAS DOS DIAS DE QUARTA E SÁBADO.
Fonte: NTE- 3ª. GRE
Esse pernoite do trem em Piripiri duas vezes por semana foi essencial
para o desenvolvimento da região circunvizinha à estação, pois além do próprio trem
em si, pernoitavam os funcionários da estação, comerciantes, passageiros e todo
um conjunto de pessoas que passaram a fazer parte daquela região nas noites de
terça e sexta. Bares, lojas comerciais, prostíbulos, pensões, casas, etc foram
surgindo na região, que nos anos seguintes foram crescendo, dando origem a
alguns bairros nas redondezas da Estação, como os bairros Estação, Santa Maria,
Floresta, Vista Alegre.
Além das pessoas que ali transitavam sempre devido ao movimento do
comércio, muitos passageiros que vinham de Teresina também pernoitavam em
Piripiri e pegavam o trem em direção ao litoral como se vê em anúncios da época,
como este, publicado em 1949 no Jornal do Comércio, no dia 10 de março de 1949,
p. 3.
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FOTO Nº 07: . HORÁRIOS DOS TRENS NO ESTADO DO PIAUÍ
Fonte: Arquivo Público do Piauí - Casa Anísio de Brito
Por este anúncio verifica-se que os passageiros teresinenses que
quisessem pegar o trem até Parnaíba ou Luís Correia, tinham a sua disposição
ônibus que os levariam até Piripiri e lá, depois de passar a noite, embarcavam no
trem pela manhã em direção ao litoral. Assim todos esses movimentos ao redor da
estação fizeram com que essa região, até então deserta, passasse por um
acelerado processo de desenvolvimento ligado diretamente ao comércio e que
influenciaria diretamente na urbanização da cidade.
Dessa forma, a região em torno da estação tinha como característica o
burburinho noturno nos dois dias em que o trem pernoitava em Piripiri. As
madrugadas eram bem agitadas proximidades da estação. O movimento nos bares
era intenso e como não poderia ser, nessa região foram se instalando diversos
prostíbulos atraídos pelo grande movimentos de passageiros e trabalhadores da
estrada de ferro, alguns destes eram investimentos de senhoras e senhores que
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vinham de outras cidades e ali instalavam sua “casa comercial”, dentre estes ficaram
famosos o prostíbulo da “Bringela” como ficou conhecida a senhora proprietária do
prostíbulo mais elegante da cidade na década de 60. Políticos, comerciantes e
pessoas influentes eram assíduos freqüentadores de seu estabelecimento, que se
caracterizava pela primorosa decoração e luxo.
Outros prostíbulos mais populares também se instalaram na região,
alguns sobreviveram até pouco tempo atrás e um único ainda insiste em se manter
funcionamento da região de forma completamente desestruturados. Não há ninguém
na cidade que não saiba indicar onde funciona os prostíbulos que são conhecidos
até hoje como “espinhaço da cabra”
Com relação ao ônibus que partia de Teresina e levava passageiros que iriam
embarcar para o litoral em Piripiri, podemos dizer que aqui temos um exemplo do
encontro de dois símbolos da modernidade e que em breve se tornariam
antagônicos dentro do processo de desenvolvimento brasileiro, o trem e o ônibus, o
que nos remete a Marshall Berman (2007) e seu turbilhão de modificações que é a
modernidade, onde esses símbolos modernizantes vão interagindo entre si,
coexistindo lado a lado e até colaborando mutuamente para o bem-estar do homem
moderno.
A chegada do trem, ou a expectativa de tal chegada, já fazia com que a
percepção de que algo novo estava por vir, e não só a materialização do transporte
ferroviário, mas todo o conjunto de benfeitorias que a cidade por ventura viesse a
experimentar. Nessa época, 1937, a cidade de Piripiri ainda não tinha energia
elétrica, abastecimento regular de água, mercado público, agência bancária, cinema,
etc. mesmo assim, dentro da relativa simplicidade dos moradores, havia o
sentimento de crescimento e da idéia do que já era moderno na cidade de Piripiri. A
poesia de Raimundo Freitas e Silva:5 de 1937, publicada na obra “Memórias de
Piripiri” da escritora piripiriense Cléa Rezende Neves de Melo, é reveladora nesse
aspecto.
5 Raimundo de Freitas e Silva, (1875-1938), neto do fundador da cidade, Pe. Freitas. Poeta
autodidata, escreveu poesias líricas, satíricas e de exaltação. Que não foram publicadas na época.
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Inauguração da Estação
Vai ser inaugurada a Estação!
O hino do triunfo decantai.
E unidos na maior satisfação
Ao grande progresso admirai!
Jubilai neste dia de alegria,
Á gloria, ao povir, hoje exaltai,
Homenagem para o chefe da nação
E esta grande obra consagrai!
Dia Festivo, sublime, grandioso !
Que todos nós desejamos festejar.
Consagrai: este dia é glorioso
Entusiasmo! O trem vai trafegar, Parabéns ao senhor doutor Gayoso,
Que veio a Estação inaugurar.
O poema acima traduz o modo como o piripiriense encarava aqueles dias
de fevereiro de 1937, palavras como progresso, triunfo, grandioso, glorioso,
entusiasmo, que estão presentes no poema e certamente estavam no pensamento
dos piripiriense que viam ali, naquele dia um marco para a cidade, a virada para um
novo período, período de fartura, de riqueza, glórias, tudo isso trazido pela ferrovia.
Por influência da ferrovia, direta ou indiretamente, a cidade vai
experimentar um surto de melhorias e instalação de instituições e serviços até então
só vistos na capital ou Parnaíba e que já era esperado pela população ou parte dela.
A ferrovia seria um dos grandes catalisadores de benfeitorias que a cidade passaria
a experimentar a partir da década de 1930 e que transformaria a malhar urbana da
cidade.
O caso da chegada do primeiro rádio à cidade é bem pitoresco. O
agrimensor Argemiro Nascimento, foi o primeiro encarregado pela construção do
trecho Piracuruca-Pery pery, foi ele que trouxe o primeiro aparelho de rádio à
cidade, aparelho este totalmente desconhecido da maioria da população local, e que
logo depois foi se popularizando. Acreditamos que o novo aparelho deva ter surtido
79
grande impacto na cidade. O rádio era o primeiro meio de comunicação de massa
que chegou diretamente à população da cidade e consequentemente se abriu um
leque de inovações na vida dos piripirienses. A cidade ainda esperaria mais de 50
anos para ter sua própria estação de rádio, mas nessa época eram sintonizadas
rádios das grandes capitais nacionais. Notícias, Músicas, rádios-novela passaram a
fazer parte do cotidiano dos piripirienses que assim entraram, de certa forma, em
contado com o modo de vida das cidades mais importantes do Brasil. O rádio foi
então o primeiro grande catalisador de mudanças culturais da cidade. E isto não era
privilégio apenas dos piripiriense, já que ele, o rádio, fazia o mesmo papel em todo o
território nacional.
A ferrovia também mexeu com a organização do espaço urbano, até
então o comércio se concentrava em torno da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos
Remédios, no centro da cidade, a construção da estação ferroviária foi feita em uma
região até então desabitada, que com o passar dos anos atraiu muitos comerciantes
e moradores para as proximidades da estação. A concentração comercial na região
se concretizou por vez com a construção do mercado público próximo da Estação,
deslocando de vez a região comercial da cidade.
Juntamente com o trem, muitas novidades passariam a transitar por
Piripiri, desde produtos inovadores, a pessoas de outras regiões, costumes novos
eram adotados pela população, modos de falar, gêneros musicais, o carnaval
chegou na região através dos trilhos. Ou seja, a partir de 1937, a Estação passaria a
ser o centro irradiador das novidades que chegavam. Era também da Estação que
se marcava o tempo da cidade, agora não mais marcado pelo relógio da igreja ou da
natureza, agora o andamento da cidade, as festas, as cerimônias, os casamentos,
eram marcados pelo relógio racional do trem. O apito inconfundível do trem e o sino
da estação ferroviária mostravam para a cidade que ela agora estava inserida em
um novo contexto, simbolizavam a chegada de novidades, de mercadorias, de
pessoas. E simbolizava também, para os boêmios, que a cidade entraria em
efervescência ao longo da noite, o sol já não era mais sinal de recolhimento. Até
que o trem partisse na manhã seguinte, as noitadas em torno da Estação eram
garantidas por diversos bares e cabarés.
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Além do rádio, no encalço da ferrovia, a década de 1940 vai ser bastante
promissora para a cidade, funda-se o primeiro cinema na cidade, O Cine Éden, de
propriedade de Aderson Alves Ferreira6 (que seria prefeito da cidade em quatro
futuros mandatos); Instalação de uma sub-agência do Banco do Brasil. Contanto
inicialmente com 3 funcionários e que em 1943 se transformaria em agência; Em
1945 chega a eletricidade através da instalação da primeira usina elétrica,
abastecida a óleo diesel e conclusão do açude caldeirão, com objetivo de armazenar
água e minimizar os problemas causados por períodos de estiagem; 1949 é
inaugurada a fonte pública para abastecimento de água, mesmo que ainda não
contando com encanação residencial; e em 1952 é a inauguração do mercado
público municipal. Somente em 1955 é iniciada a construção do trecho da ferrovia
que ligaria Piripiri à capital Teresina.
O cinema aproxima os piripirienses de um mundo totalmente diferente do
deles. Vão conhecer os dramas, comédias, romances e aventuras produzidas pela
sétima arte e encenadas nas telas. Nesta época o culto aos mocinhos e mocinhas,
principalmente norte americanos, vai se espalhar pela mocidade. De certa forma,
podemos dizer que o cinema fez com as imagens o que o rádio fez apenas com o
som.
O Cine Éden ganha prédio próprio, construído ao lado da Igreja Matriz e
ao longo dos anos se mantém, mesmo mudando de nome algumas vezes. O Último
cine a funcionar no local foi o “Cine Teatro Marajá”, que fechou suas portas
definitivamente no início da década de 1980. Ao prédio restou o abandono por
alguns anos até ser comprado pela Paróquia e transformado em Auditório no ano de
1990.
Depois de mais de uma década de espera, a cidade finalmente pôde
comprar e montar sua usina de energia elétrica. O motor movido a óleo diesel
distribuía energia elétricas aos poucos postes de aço espalhados pelas principais
cidades do centro da cidade. Com a eletricidade podemos dizer que a vida social
ganhou mais algumas horas, mais precisamente até às 21 horas, hora em que
6 Piripiriense, nascido em 24 de dezembro de 1897 e falecido em 26 de fevereiro de 1975. exerceu
atividades comerciais de 1917 a 1951. Exerceu também várias funções políticas, como Conselheiro Municipal, Vice-Intendente, Prefeito Nomeado (1945-1946) e Prefeito eleito para três mandatos (1951-1955, 1959-1963 e 1967-1970).
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zoava na cidade o sinal da usina, avisando que a eletricidade seria desligada.
Assim, podemos dizer que o por do sol já não significava mais o recolhimento para o
privado.
FOTO Nº 08: ÚLTIMO MOTOR UTILIZADO PELA USINA ELÉTRICA DE PIRIPIRI
Fonte: Arquivo Pessoal
Para montagem da usina, além da compra e montagem do próprio
equipamento em si, foi preciso construir, próximo ao prédio da prefeitura, o prédio
que serviria de sede da usina elétrica de Piripiri. Após a chegada da energia elétrica
através da CHESF na década de 1970 a usina foi desativada e o prédio passou
décadas abandonado até ser reformado no início da década de 90 e sendo instalado
no prédio uma biblioteca municipal, que tem como peculiaridade principal a
exposição, até os dias de hoje do equipamento que gerava eletricidade para a
cidade.
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FOTO N° 09: PRÉDIO ONDE FUNCIONOU A USINA ELÉTRICA DA CIDADE DE PIRIPIRI, ATUALMENTE FUNCIONA UMA BLIBLIOTECA MUNICIPAL COM A DENOMINAÇÃO “CASA
DAS LETRAS”
Fonte: arquivo pessoal
Outra necessidade básica da cidade vai ser suprida de forma mediana no
fim da década de 1940. O abastecimento de água na cidade vai ser normalizado a
partir da construção de escadarias em torno do olho d’água que abastecia o centro
da cidade. Denominada de Olho d’água de Nossa Senhora dos Remédios, a
construção nada mais era do que uma grande caixa que armazenava água e daí era
distribuída em diversas torneiras próximas, assim a população não precisaria mais
puxar com cordas a água, mas mesmo assim ainda teria que ser feito o transporte
em baldes ou tonéis até suas casas, o que era feito pelas próprias pessoas ou em
animais.
Assim, era comum membros de famílias inteiras se direcionarem até o
olho d’água para fazer o abastecimento diários de suas casas, principalmente no
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início da manhã ou próximo ao por do sol. Água encanada chegando diretamente
em casa seria um “privilégio” pelo qual foi preciso espera mais duas décadas para
chegar à cidade.
2.2 Reorganização Urbana da cidade de Piripiri
No início da década de 1930 a cidade já dá sinais de crescimento e por
isso começa também a demanda por novos serviços. Um caso específico vai ocorrer
no ano de 1931, quando o comerciante José Freire Filho, entra com um pedido junto
ao Conselho Consultivo da cidade de Piripiri, para abertura de uma nova farmácia na
cidade, alegando exatamente o crescimento de sua população. Essa reunião,
datada em ata no dia 14 de agosto de 1931, teria como objetivo avaliar o pedido do
citado comerciante concedendo-lhe ou não a autorização para abertura dessa
segunda farmácia na cidade.
Na ata final da mesma reunião é divulgado o resultado da consulta
como resposta positiva ao comerciante, assim a cidade de Piripiri ganharia sua
segunda farmácia:
...o conselho consultivo tomando reconhecimento do requerimento, resolveu por unanimidade de votos julgar necessário a abertura de uma nova farmácia, pretendida pelo sr. José Freire Filho, de mais uma farmácia nesta cidade dado o aumento de sua população. Como nada mais há a tratar,o senhor presidente suspendeu a sessão (PIRIPIRI, Conselho Consultivo Municipal de Piripiri, 1931).
A ata é assinada pelos senhores conselheiros Nelson Coelho de
Rezende, Oscar Alves Ferreira, Severiano Gonçalves de Medeiros, Vicente Amâncio
de Assunção, Martinho José de Sousa e Francisco Vieira de Melo. Todos estes vão
84
ter nos anos que se seguem a esta ata, participação direta na política da cidade,
seja como vereadores, prefeitos e até deputado estadual.
Neste período a cidade vai experimentar a chegada efetiva de ações
governamentais tanto federais quando estaduais e municipais que culminariam com
o início do processo de maior desenvolvimento da cidade a partir dos anos 1940,
entre elas destaca-se a educação e o combate à seca.
O IOCS (Inspetoria das Obras Contra as Secas), futuro DNOCS
(Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) chega à cidade tendo como
principais objetivos: Construir obras que amenizassem os efeitos das estiagens que
atingiam a região. Sua ação se inicia com o anúncio da construção do açude
Caldeirão (1937-1945) que no futuro seria primordial para a instalação do serviço de
abastecimento de água encanada de Piripiri na década de 1960.
No início da década temos a efetivação das ações educacionais do
governo estadual com a estadualização da Escola Padre Freitas, através do
decreto 1069, publicado no Jornal “O Piauhy” ,em 29 de janeiro de 1930, deixando
de ser Escolas Reunidas Padre Freitas e Passando a denominar-se Grupo Escolar
Padre Freitas, se tornando a primeira escola pública estadual no município.
Complementando essa ação, ocorreu em 1934 a inauguração do novo edifício onde
passaria a funcionar a escola. Esta inauguração contou inclusive com a presença do
interventor estadual Landri Sales Gonçalves.
Seguindo o modelo estadual e principalmente as diretrizes do governo
federal, que tinha como objetivo aumentar a oferta de salas de aula, dando
prioridade à construção de escolas, o governo municipal também lança algumas
ações no sentido de aumentar e melhorar a oferta de escolas na cidade. A
prefeitura cria, ao longo das décadas de 1940 e 1950 diversas escolas municipais
tanto na zona urbana quanto na rural.
Sobre esse assunto Nascimento nos fala:
O movimento de 1930 marca também a concretização de um projeto, em nível regional, que visava aumentar a oferta de salas de aula e educação formal a um maior número de piauienses. Nas propostas de modernização da sociedade brasileira, os “tenentes” privilegiam a educação como ponto fundamental. Defendia o estabelecimento , em todo o país, do ensino primário e da instrução
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profissional e técnica gratuitos. O modelo de administração centralizado permitiu que o Governo do Estado desse início à construção de, pelo menos, um prédio destinado ao fundamento de um grupo escolar em cada município (NASCIMENTO, 2002, p.61).
Na zona urbana foram criadas as Escolas São Vicente de Paulo ( através
do Decreto Municipal nº 02 de 01 de junho de 1953), Escola Municipal Getúlio
Vargas que funcionou na rua Augusto Severo, Escola Doméstica Iaiá Morais
(através do Decreto Municipal nº 13 de 17 de agosto de 1953) que funcionou na rua
24 de janeiro.
Ainda na zona urbana em virtude já da grande concentração de famílias e
principalmente de crianças, a prefeitura Municipal, através do decreto municipal nº
12 de 03 de setembro de 1953 cria uma escola municipal nas imediações da
Estação Ferroviária, na época essas ruas próximas eram chamadas pela população
de Bairro Estrada de Ferro, atualmente essa região concentra parte dos bairros
Floresta, Estação, Vista Alegre e Santa Maria. Notava-se assim efetivamente a
contribuição da Estação Ferroviária para o crescimento urbano da cidade e sua
reordenação espacial.
Nessa mesma época, início dos anos 1950, as ações do governo
municipal se espalham efetivamente para a zona rural, onde foram criadas diversas
Escolas. Entre os povoados beneficiados com escolas,estão: Em 1951, Caraúbas,
Canto da Várzea e Lagoa do Barro; Em 1952 foi a vez do povoado Corrente; Em
1953 a educação pública chegou ao Saco Dantas, Matão, Lagoa da Cruz, Tamboril,
Quebradas e Cipó. É válido lembrar que em muitas destas escolas rurais, as
condições físicas eram ainda precárias, algumas chegando a funcionar em casas
simples dos próprios moradores. Na função de professor também havia problemas,
normalmente eram pessoas da própria comunidade sem nenhum preparo, em
alguns casos bastando ser alfabetizado.
No final da década de 1930 Perypery já começa a verificar as primeiras
modificações efetivas na cidade. Algumas escolas públicas já funcionavam, com
especial destaque para o Grupo Escolar Padre Freitas, que chamava a atenção da
população por seu tamanho e sua elogiada arquitetura. Também já eram visíveis os
86
primeiros serviços de organização das ruas da cidade e de ornamentação de suas
praças que passariam a ser notadas pela população simples da cidade.
FOTO Nº 10: FACHADA GRUPO ESCOLAR PADRE FREITAS. AO FUNDO PRÉDIO ONDE FUNCIONOU A PRIMEIRA AGENCIA BANCÁRIA DA CIDADE
Fonte: NTE -3ª GRE – Piripiri
Juntamente com o aspecto educacional e as ações contra as secas,
podemos dizer que a ferrovia foi o terceiro grande fator de desenvolvimento da
cidade.
A chegada da Estrada de Ferro Central do Piauí fez com que a cidade
passasse a usufruir de um novo meio de transporte e incrementasse seu comércio
com a chegada de novas mercadorias e dinamizasse o escoamento de sua
produção e de municípios vizinhos. Além, claro, de reorganizar o espaço comercial
na cidade, que se localizava ao redor da matriz e da praça da bandeira e se
transfere para regiões mais próximas da nova estação se reorganizar nas
proximidades da Estação, principalmente depois da implantação do novo Mercado
Municipal, que depois de vários anos em construção foi finalmente inaugurado em
1952 e consequentemente a ampliação das ruas que lhe margeiam e se direcionam
87
à Estação Ferroviária, principalmente as atuais ruas Freitas Junior7 e rua 18 de
setembro8.
Voltando um pouco aos anos de 1930, e principalmente às principais
carências da população, nem tudo acontecia na velocidade que a população
desejava. A energia elétrica era um desses desejos da modernidade que a cidade
não contava ainda na década de 1930, apesar dos muitos pedidos através de ofício
feitos pelo prefeito Nelson Coelho de Resende, solicitando ajuda do interventor
estadual Landry Sales Gonçalves para a compra dos equipamentos necessários
para geração de eletricidade para a cidade. Um destes ofícios é o de nº 40, datado
de 01 de abril de 1932 e faz parte hoje do acervo do Arquivo Público do Piauí Casa
Anísio de Brito.
Diz o seguinte seu texto:
Referindo-me ao meu ofício nº 31 de 7 de março findante, volto a
presença de V. Excia. Reiterando a solicitação feita no mesmo ofício
da autorização para abertura de crédito para pagamento de 65 tubos
de ferro para a caldeira da Usina Elétrica desta cidade.
O ofício acima, de pedido de crédito está diretamente ligado à carta
recebida no dia 21 de março de 1932, cujo emissor era a empresa Francisco Aguiar
e Cia, sediada em Teresina, informando que a encomenda dos equipamentos (65
tubos de ferro) se encontrava no Rio de Janeiro sob custódia da empresa Bromberg
e Cia e pediam, com brevidade, à prefeitura a remessa da quantia de 2.369$100
para que os equipamentos fossem embarcados para o Piauí. Sem resposta imediata
do governo estadual, o sonho da eletricidade teve que ser adiado para a década
seguinte.
Apesar da cidade ainda está no início de seu desenvolvimento,
algumas pessoas já conseguiam ver nessas primeiras mudanças sinais de uma
modernização, isso nos é mostrado em uma segunda poesia de Raimundo de
Freitas e Silva, escrita em 1934 e publicada somente décadas depois por Cléa
7 Em homenagem a Domingos de Freitas e Silva Júnior, primeiro filho de Pe. Freitas, falecido em 26
de dezembro de 1868. teve como principal atividade a de agropecuarista. 8 Em homenagem à data em que a povoação de Perypery passou á categoria de Vila, no ano de
1874.
88
Rezende de Melo9, na qual ele faz uma grande homenagem à cidade, descrevendo
sua área urbana com suas principais construções e completa com uma louvação à
toda natureza que cerca a cidade:
Pery Pery
Em local acidentado
Desse sertão desbravado,
Ao norte do Piauí
Descansa a bela cidade,
Banhada em prosperidade,
Que chamam Pery Pery
É cidade futurosa,
Mais ou menos populosa
Com alguns prédios vistosos,
Uma igreja regular,
Onde sempre vão orar
Os crentes mais fervorosos
Nota-se a idéia de desenvolvimento sendo observada pelos moradores da
época, já que a cidade estava “banhada em prosperidade”. A idéia de modernidade
se traduz em tudo o que é novo, passa a ser notado, observado e analisado, sendo
que os primeiros sinais dessa modernização se encontram na relação numérica de
sua população e em sua arquitetura, com destaque à sua Igreja Matriz, edifício
central da cidade que foi construído ainda no século XIX e será demolido na década
de 1950, dando lugar a outra Matriz, maior, mais bonita e mais confortável. Além
disso, notamos que a modernização não é somente ligada ao presente da cidade,
mas ao futuro, como forma de garantir esse desenvolvimento às outras gerações à
frente.
9 Historiadora, Escritora e uma das fundadoras da Academia de Ciências Artes e Literatura de Piripiri.
Publicou vários livros de memórias e sobre a cidade de Piripiri nas últimas duas décadas.
89
Servida pelo telégrafo
Como disse Filadelfo,
Via férrea em construção,
Invenção da grande América,
E campo de aviação
Tem o grupo Padre Freitas,
Com lindas portas estreitas,
Ornamento da cidade,
Dedicado à instrução
Fonte de educação
Da querida mocidade
Neste trecho, o autor passa a ser mais específico naquilo que ele
percebe ser a idéia de modernidade, fazendo alusão à estrada férrea que estava em
construção e que gerava uma grande expectativa na população pela sua chegada e
que seria concluída e inaugurada três anos depois. O campo de aviação, que não
passava de uma grande e larga estrada com piçarra, raramente utilizado, mas já
existente. E completa com o orgulho do piripiriense na época, o prédio do Grupo
Escolar Padre Freitas, tanto no seu aspecto arquitetônico, que se destacava entre
todas as outras construções da cidade, quanto a sua finalidade de instruir a
população da cidade, e que a partir de agora seria pública.
Feito com arte e esmero
Por operários sinceros
Com sólida arquitetura
Ergue-se lindo! Elegante!
Com fachada interessante,
O prédio da prefeitura
Mais um trecho que envolve arquitetura e governo, o novo prédio da
prefeitura, construído na praça central da cidade, que serviria como sede do
executivo municipal por mais de seis décadas, além de abrigar em uma de suas
salas a sede da câmara municipal até a década de 1970. Mais uma vez nota-se a
relação direta entre modernidade e novas construções surgidas no entorno da futura
praça da Bandeira, ainda somente uma grande área descampada, principalmente na
90
preocupação dos detalhes da construção, no esmero com que eram construídos,
nunca vistos na cidade até então.
Agora passo a falar
De sua circunferência
Dos olhos d’água possantes
De soberba permanência
Para o lado oriental
Ao pé da verde colina
De uma rocha de granito
Jorra água cristalina
De uma parte elevada
Ao norte ou setentrião
Vê-se um lindo panorama
Em pitoresco sertão.
Finalmente para o sul
Sobre as margens sinuosas
De fresco manancial
Se estende matas formosas
Por fim, uma exaltação à natureza, às áreas verdes que cercam a
cidade de Perypery, com suas montanhas, seus rios, suas florestas e todo aspecto
natural que complementa a cidade. Na visão do autor, uma relação harmoniosa
entre a urbanidade piripiriense em desenvolvimento e a natureza intocável e de
beleza privilegiada. Assim a junção desses dois aspectos dão vida à cidade.
Aproveitamos essa passagem para relembrar que para Paul Singer
(1973) essa relação não é tão poética, nem muito harmoniosa, para ele campo e
cidade são opostos, porém opostos que se complementam. E essa relação é
complementar dentro da função que cada uma exerce. Segundo ele,
Para que se possa fazer um idéia adequada do papel que campo e
cidade desempenharam...é preciso, de início, abandonar a distinção
ecológico-demográfica formal entre as duas categorias. Admitir um
limite qualquer, de tamanho da população ou de densidade
demográfica, para distinguir campo e cidade só tem sentido numa
situação histórica dada. Se o problema, no entanto, consiste em
91
analisar campo e cidade ao longo de um período histórico, o critério
formal tem que ser substituído por uma noção mais ampla e
multiforme, Esta noção tem que ser simultaneamente política e
econômica, partindo de uma divisão de poderes e de atividades
entre campo e cidade (SINGER, 1973, p.93).
Na cidade da época, analisando essa dicotomia de forma mais
especificamente econômica, a ferrovia passou a ser um grande suporte para a
cidade, embora, em termos econômicos estivesse atrelada e muito à produção do
campo. Portanto, embora vista como um fator de geração de grandes modificações
urbanas, o campo também se apropria de sua funcionalidade, embora a questão do
poder nessa relação ainda esteja centralizado na cidade.
“Não pretendemos que a cidade conte o seu passado como um
oráculo, mas sim, visualizar o passado da cidade, visto que a cidade não conta o
seu passado, ela o contém” (CALVINO, 2001,p.14). Nesse sentido, estudar o
fenômeno da modernização na cidade de Piripiri, a partir da implantação da ferrovia,
é perceber que a cidade é espaço permeado por práticas e memórias, que
demonstram sua dinâmica.
2.3 Política, demografia e o espaço urbano
Politicamente, podemos dizer que o período compreendido entre os anos
1930 e os anos 1950, serão dos mais interessantes para a história da cidade.
A cidade só terá um prefeito eleito em 1948, com a eleição de Isidoro
Machado Brito. Entre 1930 e 1948 todos os demais foram prefeitos nomeados. São
Eles: Nelson Coelho de Resende governou por todo o período do Estado Novo
(1937 a 1945). Aderson Alves Ferreira (1945-1946), Joaquim Canuto de Melo 10
(1946-1947), João Coelho de Resende (1947-1948).
10
Nascido em Piripiri a 3 de junho de 1901. Comerciante, exerceu também as funções de Adjunto do Promotor Público, Delegado de Polícia e Prefeito Municipal por dois mandatos. Faleceu no em 13 de junho de 1957, vítima de acidente rodoviário entre a cidade de Altos e Teresina. Meses depois, através do projeto de lei número 18 de 29 de dezembro de 1957, a Câmara Municipal de Piripiri
92
As disputas políticas eram intensas, principalmente entre as lideranças do
PSD e da UDN. Como em praticamente todas as cidades brasileiras, se formaram
grupos antagônicos que disputavam o poder político na cidade, principalmente o
poder executivo, além claro, de fazer todo o jogo político de associações e apoios
aos políticos nos pleitos estaduais. Não raramente essas disputas por vezes
acabavam chegando à imprensa da capital onde se publicavam artigos normalmente
com graves críticas administrativas e não raramente acrescentadas de críticas à
própria pessoa, seus modos, sua família e sua honra.
Abaixo um trecho de um artigo publicado no Jornal “O Piauí” de origem
udenista contra Aristeu Tupinambá 11, um dos representantes do PSD piripiriense,
em 08 de março de 1946:
Periperi era uma terra calma e boa. Não se podia julgar feliz, sob
aspecto da vida pública, porque lhe presentearam com um prefeito
inoperante. Desde porém que aqui aportou o já celebre coletor
Tupinambá, tivemos reinante a anarquia, o desassossego, as
perseguições, a jogatina, a desgraça social dos cabarés e do antro
de torpeza de todos os vícios imagináveis. Esse mau elemento fez
de Periperi, outrora modelo de harmonia, paz e justiça, uma cidade
onde imperam as baixas intrigas e os mais perniciosos
desregramentos...Na hora atual, Periperi, sob o governo de Aderson
Ferreira, frui perfeita tranquilidade e progresso. Foram pagas as
contas imorais da administração anterior, regularizadas as finanças
do município e um saldo vultoso está depositado na agência do
Banco do Brasil. E os Tupinambás já sonham com este dinheiro
para as suas farras e pagodeiras de costume (O PIAUÍ, 08 mar
1946, p.03).
Embora a nota esteja assinada apenas como “correspondente” não é
difícil imaginar que tenha sido escrita por alguma pessoa muito próxima do então
prefeito Aderson Ferreira, pois além dos ataques a Aristeu Tupinambá, também
atacou outro tradicional político da cidade,classificando como prefeito inoperante o
utiliza-se de Cr$ 40.000,00 (quarenta mil cruzeiros) para pagamento das despesas funerárias e construção de um túmulo em homenagem ao ex-prefeito falecido. 11
Nascido na Localidade Vassouras, no município de Barras-Pi em 16 de outubro de 1908 e falecido em Teresina no dia 10 de agosto de 1967. Mudou-se para Piripiri em 1940 para exercer a função de Coletor Estadual. Exerceu também vários cargos políticos, entre eles vereador municipal (três vezes) e Deputado Estadual por uma legislatura.
93
até então líder do PSD na cidade, Nelson Coelho de Resende, que ocupou o cargo
de prefeito durante todo o Estado Novo (1937-1945).
Um outro tipo comum de notícias que chegavam à imprensa da capital
eram artigos elogiando determinado prefeito ou todo o seu mandado, enumerando
suas realizações tanto em termos de construções e/ou melhorias na cidade, quanto
evidenciando sua honestidade e organização das contas públicas da prefeitura.
O órgão pessedista ultimamente vem derramando as suas calúnias
sobre a personalidade do coronel João Coelho de Resende, que de
07 de maio do ano passado até 17 de janeiro do corrente ano
ocupou o cargo de prefeito deste município. Pode-se dizer que fez
muito mais do que os pessedistas nos quinze anos de nefasta e
calamitosa ditadura, pois Periperi, nesses três lustres, só teve
roubalheira e perseguição... Seria fastioso enumerar os pequenos
melhoramentos feitos pelo ex-prefeito, que também limpou a
prefeitura de um enorme exercito de funcionários inúteis que se
limitavam a comer e a nada produzir (Pelos Municípios Periperi,
Jornal o Piauí, 17 de fev de 1947, p.4).
A nota acima na sua totalidade vai além, faz um conjunto de citações a
respeito de realização do prefeito nos pouco mais de oito meses além, claro, de
compará-lo aos seus antecessores, caracterizando os governos de Nelson Coelho
de Resende, Aderson Alves Ferreira e Joaquim Canuto de Melo como uma
calamitosa ditadura, além de citar suas realizações, como os melhoramentos feitos
no trajeto da avenida Tomaz Rebelo que foi totalmente “piçarrado” e nivelado, com
geral contentamento dos habitantes e proprietários de veículos” (Jornal o Piauí,
1947, p.04). Ainda em relação ao aspecto urbanístico da cidade “Os subúrbios que
apresentavam matagais imensos foram limpos, dando belíssimo aspecto à cidade.
Fez-se uma limpeza geral na usina e a luz que era péssima passou a ser ótima e de
agrado geral” (1947, p. 04).
Em relação à política Nacional, Piripiri não estava desarticulada com o
que acontecia no Piauí e no Brasil, apesar da precariedade dos meios de
comunicação da época, os grandes eventos ou acontecimentos tinham impacto
direto na cidade, tanto nos meios políticos quanto nas pessoas comuns que não
estavam diretamente ligadas a algum partido.
94
A morte de Vargas é relembrada nas memórias da escritora Cléa
Rezende:
Lembro-me do rosto solene dos adultos, em Piripiri, quando falavam
da crise política. Eu ficara fascinada com uma frase que ouvi por
ocasião da leitura do documento de Vargas, em que à sanha dos
inimigos deixava o legado de sua morte. Naturalmente, pela pouca
idade, eu não conseguiria atingir a gravidade do momento, porém
Getúlio fora profético: desde que anunciado o suicídio, houve uma
completa inversão nos fatos. Vargas convertia-se em mártir
nacional. As pessoas que antes o acusavam e lhe queriam a cabeça
foram achincalhadas e desprezadas. O famoso sentimentalismo do
brasileiro não resistiria ante o sacrifício de Getúlio. (MELO, 1989,
p.14).
Quanto ao aspecto urbanístico da cidade já havia uma preocupação no
sentido de tornar mais agradável e belo o aspecto da cidade, porém no fim da
década de 40 verifica-se que a cidade de Piripiri ainda não contava com nenhum
serviço de calçamento nas ruas da cidade.
Neste aspecto, o melhor serviço que a prefeitura podia oferecia na época
era o nivelamento destas. Assim nas décadas seguintes as ruas do centro da cidade
estavam aptas a receberem outros tipos de melhorias. Somente nos anos 50 as
ruas piripirienses vão passar por um trabalho mais específico de limpeza,
organização, nomeação e de calçamento. Esses serviços deram um aspecto muito
melhor à cidade, sua modernização urbana agora era facilmente visível por toda sua
população que puderam verificar esse progresso, pelo menos no centro da cidade.
Os bairros ainda não contariam com estes serviços.
Um exemplo é a avenida Tomaz Rebelo que contava na época apenas com
as suas delimitações laterais e consequentemente as casas construídas nela já
apresentam um alinhamento que no futuro lhe daria facilidade nas demais melhorias,
como a delimitação das vias, calçadas, passeio central e do asfalto, que só viria
mais de 30 anos depois.
95
FOTO Nº 11: AVENIDA TOMAZ REBELO - DÉCADA DE 1940
Fonte: Núcleo de Tecnologia educacional – 3ª. Gerência Regional de Educação
Piripiri-Pi
A ausência de qualquer tipo de pavimentação na rua e a existência de
várias árvores no seu centro indicam que a preocupação com a urbanização da
cidade ainda estava dando os primeiros passos, devendo a população ter que
esperar mais um pouco para fugir dos grandes lamaçais que se formavam nas ruas
quando da ocasião do período chuvoso, ou então da intensa quantidade de poeira e
sujeira que se acumulavam em suas vias nas demais épocas do ano.
Nos anos 50 a organização das ruas piripirienses já se mostra com um
pouco de avanço. Já havia ações que buscassem a melhoria no sentido urbanístico.
Já havia um nivelamento das principais ruas do centro da cidade e com serviço de
calçamento efetuado, canteiros centrais já eram delimitados nas ruas e avenidas
mais largas, para posteriormente serem construídos. A iluminação pública já era
uma realidade que chegava nas ruas centrais da cidade, mesmo que por horas
determinadas, já que a usina geradora de eletricidade da cidade só funcionava até
as 21 horas, sendo desligada e religada somente no dia seguinte.
96
foto nº 06 Avenida Tomaz Rebelo – final dos anos1950
Fonte: Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE-Piripiri
Com a chegada da ferrovia e de todos os fatores que lhe cercam, a cidade
vai apresentar um crescimento notável em sua demografia, iniciando um processo
que a tornará uma das mais populosas do Estado nas décadas seguintes.
A tabela a seguir vai nos mostrar a evolução da população piripiriense ao
longos das décadas de 1930, 1940 e 1950.
TABELA Nº 09: DEMOGRAFIA PIAUIENSE
CIDADES
ANO
1940 1950 1960
Teresina 63.684 93.352 118.691
Barras 33.923 29.689 31.735
Batalha 6.123 12.977 16.442
Esperantina 8.714 17.471 17.207
97
Campo Maior 27.999 40.131 56.627
Castelo 20.297 18.067 23.711
Floriano 30.560 34.677 24.065
Oeiras 38.353 45.451 40.306
Parnaíba 36.870 50.426 63.496
Piripiri 18.640 24.199 29.525
Picos 42.468 55.120 50.102
Piracuruca 16.376 18.621 19.621
Pedro II 32.492 24.064 25.922
União 33.302 28.647 29.124
Valença 54.201 52.331 32.852
Piauí 901.335 1.064.438 1.343.000
.Fonte: Anuário Estatístico do Brasil, IBGE, 1940,p. 91. 1950, p 32 e 1960 p 31.
O Estado do Piauí teve um crescimento populacional na década de 1940
de 18% em sua população, na década seguinte esse índice subiu para 26,2%,
totalizando no ano de 1960 1.343.000 habitantes, com um crescimento acumulado
das décadas de 1940 e 1950 de 49%.
Os índices da capital Teresina, respectivamente durante as décadas de
1940 e 1950, são de 46% e 27%, totalizando nos vinte anos um crescimento de
86,3%, praticamente duplicando sua população.
Não podemos esquecer que nessa análise dos números, muitos fatores
influenciam direta ou indiretamente nos índices apresentados. A grande quantidade
de migrações existentes, tanto dentro do estado ou de pessoas oriundas de outros
que se estabeleciam no Piauí e normalmente procurando as maiores cidades, com
destaque para a capital, daí o alto índice de crescimento populacional de Teresina.
Além disso, nesse período, o Piauí passava por um processo de surgimento de
novos municípios, implicando em uma nova divisão das fronteiras entre os
municípios e consequentemente de reorganização de populações, assim uma
população inteira que pertencia a um município em um levantamento do IBGE
98
pertenceria a outro, no levantamento seguinte. Como exemplo bem nítido desse
fator de reorganização populacional podemos citar os municípios de Batalha e
Esperantina, que praticamente dobraram sua população apenas em uma década e
Pedro II e Valença que viram sua população diminuir drasticamente.
Piripiri, no levantamento de 1940, possuía uma população de 18.640
habitantes, sendo nessa época a 19ª cidade mais populosa do estado, em um total
de 47 municípios catalogados.
Passada a década de 1940, no levantamento do IBGE em 1950, Piripiri
apresentou um crescimento populacional de 29%, totalizando 24.199. Entre as
cidades vizinhas, Barras, que mesmo perdendo 13% de sua população, totalizava
29.689. Já Pedro II, que com a criação do município de Domingos Mourão, teve sua
população reduzida em mais de 25%, vendo sua população ser reduzida de 32.492
em 1940 para 24.064 habitantes na década seguinte.
O levantamento seguinte, efetuado pelo IBGE em 1960, mostrou que o
crescimento populacional de Piripiri durante a década de 1950 permanece com
índices elevados. Contava agora com um população de 29.525 habitantes, ou seja
crescimento de 22%. Nesse novo panorama, Piripiri era agora a nona cidade mais
populosa do Estado, em um total, agora, de 71 municípios.
Nas duas décadas, Piripiri teve um aumento populacional de 58,4%.
Comparando com os demais municípios, os que tiveram crescimento superior foram
Batalha, com um crescimento de 168%, depois vem Teresina com 127%, Campo
Maior 102%, Esperantina 97,4% e Parnaíba 72,2%. Sendo que Esperantina e
Batalha estiveram claramente envolvidas em modificações de fronteiras com a
criação de novos municípios. O quadro a seguir resume o crescimento populacional
da cidade de Piripiri e seu posicionamento em relação às demais cidades do estado.
99
TABELA Nº 10: DEMOGRAFIA PIRIPIRIENSE
ANO POPULAÇÃO NUMERO DE
CIDADES NO
ESTADO
POSIÇÃO EM
RELAÇÃO ÀS
CIDADES
1940 18.640 47 19ª
1950 24.199 49 19ª
1960 29.525 71 9ª
FONTE: Anuário Estatisitco do Brasil, IBGE, 1940, p. 91. 1950, p.32 e 1960, p.31
Nesta época, 1960, Piripiri ainda era, em termos de divisão demográfica,
um município essencialmente rural. Assim como acontecia com a maioria dos
municípios piauienses, Piripiri apresentava um grande número de pessoas vivendo
no campo, e mesmo com a ferrovia e com o desenvolvimento comercial e urbano,
ainda era lento o processo de inversão entre população urbana e rural. Assim dos
29.525 habitantes de Piripiri, apenas 9.635 moravam no centro urbano do município,
ou seja 2/3 da população ainda vivia no campo. O município seguiria a marcha
nacional e somente entre as décadas de 1970 e 1980 é que a população urbana
passaria a ser maioria.
Mais uma vez vale lembrar, os diversos serviços chegados à cidade a
partir de ações, através principalmente dos poderes executivo e legislativo local,
tornam-se freqüentes as ações acerca de urbanização e organização espacial do
município. Será uma constante a tentativa de elaboração de novo modelo
organizacional do município e também a adoção de novos serviços prestados à
população, seja por repartições públicas ou empresas privadas.
A cidade começa a ganhar diversos serviços até então inexistentes. É na
década de 1940 que Piripiri vai ganhar seu primeiro cinema, o Cine Éden, trazido
pelo futuro prefeito da cidade Aderson Alves Ferreira; Chegada da primeira
instituição bancária, ainda em forma de sub-agência, o Banco do Brasil se instalar
em 1940 e três anos depois se transforma em agência. No campo educacional, mais
um grande colégio é fundado na zona urbana, A Escola Cassiana Rocha, que anos
depois seria estadualizado, a cidade ganha a reforma do Olho d’água Nossa
Senhora dos Remédios, o primeiro sistema de abastecimento de água composto por
100
bombas e uma grande caixa para armazenar a água e desta descia para as
torneiras, para proveito da população. Nesta época ainda não havia água
canalizada, a população teria ainda que fazer o transporte da água até suas casas.
FOTOGRAFIA 07: INAUGURAÇÃO DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA FONTE PÚBLICA OLHO D’ÁGUA DE N.S. DOS REMÉDIOS-1949
Fonte: NTE – 3a GRE – Piripiri-Pi
É na década de 1940, mais precisamente em 1948 que se faz pela
primeira vez um estudo a respeito da divisão espacial e urbana da cidade de Piripiri.
Esse estudo que resultou na divisão da cidade em três áreas, não partiu da própria
cidade, mas de um pedido feito à câmara municipal pela instituição então
encarregada dos serviços nacionais de recenseamento no Piauí. Na ata da sessão
de nº 07, da câmara municipal de Piripiri, de 05 de maio de 1948 é determinada
pela primeira vez a divisão da cidade em três regiões, zona urbana, suburbana e
zona rural, ficando assim determinado os limites de cada um: toda a zona urbana
inteira da época corresponderia a uma área menor do que somente o centro atual da
101
cidade, se limitando no sentido Norte-sul pelas ruas Antonio Lopes 12 (norte) e 21 de
abril, atual Olavo Bilac (sul), e no sentido leste-oeste da atual rua Pe. Domingos
(leste) até a Estação Ferroviária (Oeste). Somando-se assim um número inferior a
25 ruas. A zona suburbana corresponderia em sentido Norte, da rua Antonio Lopes
até a Estrada de ferro; sentido sul, da rua 21 de abril até o riacho paciência: No
sentido leste, da rua Pe. Domingos até a Augusto Severo (hoje Dr. Antenor Freitas
13) e no Sentido Oeste, da Estação Ferroviária seguindo o leito do riacho Cabresto.
Além desses limites, começaria a zona rural.
FOTO Nº 14 MAPA ATUAL DE PIRIPIRI, DESTACANDO A PRIMEIRA DIVISÃO URBANA DA CIDADE: EM PRETO A ÁREA URBANA ; EM VERDE A ÁREA SUBURBANA. ALÉM DA LINHA
VERDE SE ENCONTRA A ZONA RURAL. OS PONTOS VERMELHOS DEMARCAM A LINHA FERREA E OS AZUIS A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA.
FONTE: GOOGLEMAPS.COM (ACESSO EM 30 DE MARÇO DE 2010)
12
Rua em Homenagem a Antônio Lopes Castelo Branco, nascido em 1813.Foi Aluno do fundador da cidade de Piripiri. Criou uma escola de alfabetização na cidade. Exerceu ainda a função de Procurador da Câmara Municipal de Piripiri. 13
Rua em Homenagem a Antenor de Araújo Freitas, nascido em Piripiri em 06 de dezembro de 1926.Médico, foi chefe da Fundação Serviço Especial de Saúde Pública (FSESP), diretor do Hospital Regional Chagas Rodrigues, além de lecionar francês e biologia. Faleceu em 08 de setembro de 1988.
102
Essa divisão permaneceria assim até o ano de 1953, quando pelo
Decreto nº 20 de 16 de setembro de 1953, assinado pelo prefeito Aderson Alves
Ferreira, a cidade ganharia uma nova divisão. Essa nova divisão urbana também
seria um novo pedido feito à câmara municipal pelo então encarregado dos serviços
nacionais de recenseamento no Piauí, Orlando Alencar Lustosa, pois com a divisão
anterior o “compito geral do recenseamento da cidade ficaria grandemente
prejudicado em virtude do mapa existente da referida cidade não dar uma
alimentação precisa das zonas urbanas, suburbanas e rural” (Ata Câmara Municipal
de Piripiri, 12 de julho de 1950).
Essa segunda divisão da cidade seria simplificada. Não haveria mais três
áreas (urbana, sub-urbana e rural), a partir de 1953, a cidade seria dividida apenas
em duas áreas, urbana e rural. Dessa forma a divisão ficou mais simplificada: ao
norte e oeste, os limites da zona urbana era a Estrada de Ferro, ao sul o riacho
Paciência e a leste a rua que atualmente é denominada Dr. Antenor Freitas. Além
desses limites era a zona rural.
Ainda na década de 1940, mais precisamente em 1949, dois Projetos
municipais vão viabilizar novos serviços à cidade. O Primeiro, Projeto de lei S/N,de
05 de outubro de 1949, assinado pelo então prefeito Izidoro Machado Brito, doa ao
Departamento dos Correios e Telégrafos um terreno ao lado da igreja matriz onde se
localizava a praça Estevão Rabelo que daria lugar ao novo prédio próprio dos
Correios na cidade. Havia tanta pressa para a construção do prédio que o artigo 2
do projeto diz: “O Departamento dos Correios e Telégrafos, para todos os efeitos,
tomará imediata posse do terreno, mesmo antes da passagem da referida escritura”
(Prol.Lei S/N 05/10/1949).
103
FOTO Nº 15: DIVISÃO URBANA DE PIRIPIRI A PARTIR DO ANOS DE 1953, DESTACANDO SOMENTE A DIVISÃO EM ZONA URBANA (LIMITADA EM PRETO) E ALÉM
DESTA, ZONA RURAL
FONTE: GOOGLE MAPS.COM (ACESSO EM 30 DE MARÇO DE 2010)
O Segundo projeto autorizaria a instalação de uma bomba para a venda
de gasolina pela empresa James Frederick Clarck S.A., para abastecimentos dos
primeiros carros que começar a circular pelas ruas piripirienses.
104
FOTO Nº. 16: PIRIPIRI ATUALMENTE, DESTACANDO AS PRINCIPAIS RUAS DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE. NOTA-SE CLARAMENTE NESTE MAPA ANTIGA LINHA FÉRREA (EM
VERMELHO) E A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA (EM AZUL).
FONTE: GOOGLEMAPS.COM (ACESSO EM 30 DE MARÇO DE 2010)
A Década de 1950 é marcada principalmente pelos serviços de
calçamento das ruas do centro da cidade,. Além disso, a inauguração do mercado
Central em 1952, depois de mais de cinco anos de construção, as tentativas de
melhoria nos serviços de eletricidade, água e diversas mudanças na nomenclatura
de ruas e avenidas da cidade. Marcou também esta década a demolição da antiga
Igreja matriz e a construção no mesmo lugar da nova matriz; como também a
construção do “Armazém Jaibara”, primeiro prédio comercial construído ao redor do
mercado municipal.
105
FOTO Nº 17 VISTA AÉREA MERCADO PÚBLICO DE PIRIPIRI NA DÉCADA DE 50
Fonte: NTE- 3ª GRE – Piripiri – Pi
Em 1952 a prefeitura dá início aos serviços de calçamento da cidade.
Pela Ata da Câmara Municipal de 05 de setembro de 1952, é detalhado o plano do
executivo no melhoramento das ruas do centro da cidade. As primeiras ruas
beneficiadas são: N.S. dos Remédios, Severiano Medeiros, Tomaz Rebelo e
trechos das ruas Dr. Resende (hoje, rua Freitas Júnior), Santos Dumont, Antônio
Albino 14, Leônidas Melo e Padre Domingos.
Neste mesmo ano, através do projeto de lei nº 26 de 20 de setembro,
sancionado pelo prefeito municipal, é criada o que ficou conhecido como “taxa do
calçamento”, ou seja, a prefeitura passaria a cobrar uma taxa sobre as pessoas que
possuíssem casas nas ruas que receberiam melhorias de calçamento e meio fio.
Esse projeto é melhor explicado através dos seus 10 artigos:
Artigo 1º: Fica instituída a taxa de calçamento, que incidirá sobre
todas as propriedades marginais às vias e logradouros públicos...
14
Major Antonio Albino de Araújo e Silva, nasceu em Piripiri no ano de 1844. Das poucas informações
que se tem sobre ele é a de que exerceu a função de vereador.
106
Artigo 2º O pagamento do serviço de calçamento será dividido entre
a prefeitura e os proprietários de imóveis marginais às vias e
logradouros públicos.
Artigo 3º Os serviços de calçamento quanto a sua natureza e
oportunidade de execução podem ser: a) ordinários-quando se
referem a obras compreendidas no plano organizado pela
municipalidade. b) extraordinários- quando se referirem a obras não
compreendidas no plano e cuja execução for slicitada pelo próprios
interessados.
Artigo 4º Resolvido pela prefeitura o plano para execução dos
serviços de calçamento, será feita a elaboração do projeto, com as
devidas especificações e orçamentos.
Artigo 5º: Calculada a quota correspondente a cada proprietário,
será dividida em 12 prestações iguais..
Artigo 6º A relação dos proprietários com as perspectivas quotas
porque forem responsáveis, será afixada na tesouraria desta
prefeitura, logo após a execução do serviço.
Artigo 7º O contribuinte em atraso no pagamento das taxas, além
do previsto nos artigos anteriores, ficará sujeito a multa de 10% e,
decorrido um ano a cobrança será quite judicialmente.
Artigo 8º Os proprietários serão responsáveis pelos danos causados
por si na conservação das sargetas, meios-fios e calçamento.
Artigo 9º Os casos omissos serão resolvidos pelo poder executivo, o
qual baixará instrução para cada caso.
Artigo 10º A presente lei entrará em vigor na data de sua publicação,
revogadas as disposições gerais em contrário(Projeto de lei nº 26,
20 setembro de 1952)
O projeto acima se assemelha um pouco ao que seria o atual IPTU
(Imposto Predial Territorial Urbano), mas não se tem nenhuma comprovação a
respeito de seu uso pela Prefeitura de Piripiri ou de reações por parte das pessoas
que seriam penalizadas com seus pagamentos.
Um serviço que se mostrou problemático por toda década de 1950 foi a
Usina de Eletricidade. Não raras vezes aparecem críticas nas Atas do poder
legislativo, como também pedidos dos prefeitos para liberação de recursos para
compras de novos materiais elétricos e até de um gerador novo. Entre as soluções
mais comuns indicadas nas Atas era a compra de novos equipamentos que dessem
à Usina uma maior capacidade de geração de energia. Em determinada época surge
uma arrojada idéia para a época que transformaria o açude Caldeirão em um
gerador de energia acabando de vez com os problemas elétricos da cidade. Essa
idéia, do então Prefeito Aderson Ferreira, que em comunicação com a Câmara
107
Municipal, contando seu encontro com o então presidente do Brasil Juscelino
Kubstischek, descreve:
O senhor presidente da república assegurou o seu pleno apoio às
nossas reivindicações ficando assentado que a comissão seria
recebida no Rio de janeiro, onde o assunto seria debatido com mais
detalhes e acertado o andamento das obras...nessa oportunidade
será também tratado com o sr. Presidente da república, a instalação
de uma turbina no açude Caldeirão para fornecimento de luz e força
à nossa cidade.Para isso esclarece ainda que a viagem deve ser
feita de avião... (Ata Câmara Municipal de Piripiri sessão 45, de
11.março 1953.).
A idéia acima não foi concretizada, muito provavelmente por questões
técnicas e mesmo nos dias atuais não teria como ser posta em prática, assim, restou
buscar a reforma do sistema elétrico e a compra de um novo gerador que só se
concretizaria em 1955.
Enquanto isso, seguiam os serviços de nivelamento e calçamento de ruas
piripirienses. Em 1953 ganharam esses serviços as ruas Padre Domingos, Pires
Rebelo 15, Professor Bem16, João de Freitas17, Leônidas Melo, Antônio Alves 18, 4 de
julho e a praça do mercado. Ainda em 1953, através do Decreto Municipal nº 19 de
14 de setembro, as ruas 4 de julho, Presidente Getúlio Vargas (hoje Aderson
Ferreira), Santos Dumont e São Vicente de Paulo (hoje Dirceu Arcoverde) passaram
a ser denominadas de Avenida.
Além das ruas calçadas e do início de construção e urbanização das
praças Da Bandeira, Marechal Deodoro (Hoje Nelson Resende) e Praça João
15
Em homenagem a José Pires Rebelo. Nasceu em 1877. filho do Coronel Thomaz Rebello. Engenheiro civil, exerceu as funções de Intendente de Teresina, Deputado Federal (duas vezes) e Senador da República. Pertenceu a Academia Piauiense de letras. Faleceu em 1947 na cidade do Rio de Janeiro. 16
Em homenagem a Manoel Pedro de Souza Bem. Nascido no ano de 1837. Professor da Escola Primária da Paróquia a partir de 1870. Também tinha dons musicais. Faleceu em 1915. 17
Em homenagem a João de Freitas e Silva, neto do fundador Pe. Freitas. Nascido em 1847. Comerciante e representante do Ministério Público. Exerceu o cargo de Intendente nos anos 1897-1900, 1917-1920 e 1925-1928. faleceu em 1932. 18
Em homenagem a Antonio Alves Ferreira, nascido em 1866 e falecido em 1916. Exerceu as funções de Vereador, Procurador da Câmara Municipal e Juiz Distrital. Pai do futuro prefeito Aderson Alves Ferreira.
108
Pessoa (atual Álvaro Ferreira 19), nota-se que os serviços estavam restritos ao
centro da cidade ou então onde o fluxo de pessoas se fazia mais presente, como no
caso da estação ferroviária, que apesar de não necessariamente ficar próxima do
centro da cidade, logo se tornou marco na delimitação da zona urbana da cidade.
FOTO Nº 18 ANTIGA MATRIZ DE N.S. DOS REMÉDIOS, DEMOLIDA NOS ANOS19 50.
FONTE: NTE – 3ª. GRE – PIRIPIRI
Podemos identificar também como um momento bastante interessante na
historia da modernização da cidade de Piripiri a demolição de sua antiga Matriz. Até
hoje na cidade se questiona se foi o ato correto a destruição por completo do tempo
religioso construído no século XIX e portando uma das mais antigas construções da
cidade. Porém chegou um momento em que se questionou sua existência. Por
motivos práticos e motivos simbólicos.
Em termos práticos o antigo tempo já estava pequeno, não comportava
em seu interior toda a população que para ali se dirigia, principalmente aos
19
Em homenagem a Álvaro Alves Ferreira, nascido a 22 de janeiro de 1893, na cidade de Piripiri. Professor, escritor e jornalista. Formou-se em odontologia. Pertenceu a Academia Piauiense de Letras. Faleceu em Teresina, no dia 8 de abril de 1963.
109
domingos. Também já não era mais tão imponente. Outras construções já lhe faziam
frente em termos de beleza e importância. E por fim seu problemas estruturais já
davam sinais de desgastes.
Simbolicamente, já merecia uma matriz muito maior, mais bonita, mais alta
e consequentemente mais imponente. Um prédio que deveria ser visto de longe, que
o visitante visualizasse suas torres bem antes de adentrar a cidade. E que
permanecesse como símbolo da cidade, agora sendo ameaçada pela Estação
Ferroviária e pelo Grupo Escolar Padre Freitas.
Em Meados da década de 1950 é finalmente decidido pela demolição da
Antiga matriz e com ajuda da população (em dinheiro e mão-de obra) e da própria
Igreja Católica, o novo tempo é erguido e concluído.
A modernidade tinha chegado ao principal símbolo da cidade. Suas torres indicavam
a nova realidade da cidade. Piripiri agora era uma cidade moderna, e essa
modernidade era atestada pelo seu mais tradicional edifício, a nova Matriz de Nossa
Senhora dos Remédios.
FOTO Nº 19 DEMOLIÇÃO DA ANTIGA MATRIZ DE PIRIPIRI NA DÉCADA DE 50
Fonte: NTE – 3ª. GRE - Piripiri
110
Assim, a cidade de Piripiri nas décadas de 30, 40 e 50 passa por grande
desenvolvimento urbano que faz com que ganhe destaque entre as principais
cidade piauienses. Suas estruturas sofrem uma expansão até então não vista pelo
piripirienses e que nas décadas posteriores continuam crescendo em largos
passos. Se a cidade é hoje uma mas das mais desenvolvidas do Estado e com
melhor infra-estrutura, com certeza podemos dizer que aquela tarde de 11 de
fevereiro de 1937 contribuiu muito para que a cidade hoje seja a Piripiri que se
apresenta como um das mais notáveis entre as cidades do Estado.
111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir esta pesquisa, a primeira observação a ser feita é que a
cidade e a ferrovia contam suas histórias de forma clara e simples, só precisando
atenção para poder ouvi-las em suas narrativas. A cidade, de uma hora para outra é
invadida pelo cavalo de ferro e ver uma grande mudança em sua história, a cidade
entra no mundo da velocidade, da rapidez, da pressa, da correria e dos horários
rígidos, embora nem sempre o trem chegasse com tanta pontualidade e nem a
própria modernidade
Dessa maneira, ao analisar o corpus documental que subsidiou esta
pesquisa, pode-se considerar que a aventura moderna da cidade de Piripiri, foi
marcada por transformações comuns a qualquer cidade como também com alguns
aspectos específicos às cidades ferroviárias ou mais específicas ainda, próprios da
pequena “terra dos vagalumes”, como é conhecida por sua população.
Piripiri é hoje fruto desse encontro, acontecido nos anos 1930, mais
precisamente em uma tarde ensolarada de fevereiro de 1937. Esse encontro deu à
cidade uma nova roupagem, uma nova função dentro de sua realidade no norte
piauiense. Ela passou a ser ponto final da Estrada de Ferro e por esse motivo se
beneficiou dessa “dormida” do trem na cidade e consequentemente de tudo aquilo
que ela representa.
Ao mesmo tempo a cidade também segue seu ritmo normal de
crescimento, novas ruas, praças, passeios, novas construções que são facilmente
identificadas como novidades. O comércio se especializando, novas mercadorias
112
chegam para o consumo da sociedade, consequentemente vai se criando novos
modelos sociais, ou melhor dizendo, novas práticas sociais.
O burburinho criado ao redor da estação ferroviária que se torna nesta
época um dos pontos principais de socialização na cidade deixa de ser novidade e
passa a ser o cotidiano da cidade nas noites de terças e sextas. Bebidas, conversas,
namoros, brigas, luxúria tudo isto e muito mais passa a fazer parte das noites no
largo da estação. Acrescente-se a isso, a presença de muita gente de outras
cidades que pernoitavam em Piripiri à espera do embarque para o litoral.
A chegada da ferrovia à cidade, já se mostrava presente até mesmo antes
de sua efetiva inauguração. Já era presente na mente das pessoas as expectativas
de sua chegada, os desejos e anseios que a ferrovia iria realizar para aquela
população da Piripiri nos anos 1930. A chegada do trem, de certa forma, estava
“igualando” a cidade de Piripiri à cidades maiores, como Parnaíba e Teresina. Era
nítida essa expectativa pelo grande momento. Essa expectativa foi comprovada pelo
número de pessoas que deixaram suas casas e foram receber o trem que adentrava
pela primeira vez a cidade, chegando à Estação.
A presença da ferrovia vai ter papel importante no seu espaço urbano. A
existência da ferrovia e da própria estação vão servir de balizas para a estrutura
urbana. Por muito tempo a linha férrea servirá de limite da cidade, separando o
espaço urbano do espaço rural. A estação, em seus primeiros momentos isolada da
cidade, aos poucos vai se cercando de companhias, ruas, casas, comércios,
pessoas. A Estação vai ser de suma importância para o crescimento da cidade em
direção ao oeste, inclusive com a formação de vários bairros em suas imediações e
consequentemente com a crescente urbanização, também a demanda por melhorias
e serviços públicos.
Neste período, a cidade dá um grande salto em seu aspecto urbano. O
processo de melhorias e conservação de suas ruas se acelera. Ruas antes sem
nenhuma estrutura passam a ser cuidadas pelo poder público. Ruas vão ganhar
limitações laterais, nivelamentos, cobertura de pedra e no futuro, asfalto. Terrenos
vazios vão ganhar praças, estas serão ornamentadas e cuidadas para
embelezamento da cidade, ou pelo menos da parte central da cidade.
Serviços, estes são um caso à parte. A população que antes tinha de
puxar água de poços ganha seu centro de abastecimento de água. Ainda era preciso
transportar a água em baldes ou tonéis para casa, mas agora ela vinha de torneiras
113
instaladas no olho d’água, para a população da época uma grande melhoria já que
não tinha mais que esperar tanto pelo precioso líquido.
Energia elétrica, finalmente a cidade poderia dominar melhor seu tempo,
saindo da ditadura do sol. A noite passou a ser também um espaço social, mesmo
que somente até as 21 horas. Nas principais ruas da cidade foram instalados postes
e o motor na nova usina iria abastecer de luz a cidade e estender um pouco mais a
vivência da população fora de suas casas.
O cinema chegou na década de 1940. a partir desta época os piripirienses
poderiam acompanhar as produções cinematográficas do mundo, principalmente as
norte americanas, sonhar com aquelas vidas, romances, aventuras dramas que se
passavam nas telas, praticamente ficar íntimos das grandes “estrelas” mundiais.
Claro que isso não se aplica à toda a população.
Assim a cidade cresceu, e continua crescendo até hoje. E neste período
viu sua ferrovia ir perdendo o fôlego. A partir dos anos 1970 a antiga Estrada de
Ferro Central do Piauí vai dando espaço ao rodoviarismo. Para alguns amantes da
ferrovia foi uma “escolha” arbitrária e errada por parte dos governos o sucateamento
das ferrovias e o avanço das rodovias. Para outros, não se tratou de escolha, mas
de uma alternativa que o próprio desenvolvimento pediu. E para terceiros, mais uma
onda modernizadora que engolia a anterior. Fugindo dessa discussão podemos
afirmar que a ferrovia serviu de canalizador do crescimento e desenvolvimento da
cidade por um certo tempo e que com o passar desse tempo a cidade se beneficiou
de outras ações parecidas. Neste ponto, podemos citar a passagem da BR 343 e
das BRs 222 passando pela cidade. Assim, mesmo com o enfraquecimento da
“Central”, agora o novo modelo de transporte continuaria o seu legado.
Assim a cidade cresce, se desenvolve, se moderniza e ao longo do tempo
também vai transformando em testemunha das mudanças em seu interior. Talvez o
que será mais traumático é exatamente o fim da linha, literalmente. O momento em
que a ferrovia silencia. Em uma visão mais romantizada podemos dizer que o
progresso não perdoa, ele chega atropelando tudo o que não condiz com suas
características atuais, e nesse sentido, a ferrovia que outrora foi trazida em nome
deste mesmo progresso, dessa vez de algoz, se transforma em vítima, satisfazendo
as palavras dos que não queriam mais aquele símbolo de atraso em seu cotidiano.
Nos anos 1980 se testemunham os últimos momentos da ferrovia, que já
não transportava mais passageiros, apenas cargas entre Teresina e Parnaíba. As
114
viagens foram ficando mais esporádicas. De duas vezes por semana passaram para
duas. Depois somente uma, até parar definitivamente. A ferrovia pode até não ser
mais útil ou economicamente viável, mas não se pode negar hoje a importância
desta para o desenvolvimento das cidades da região norte do estado.
Chegamos à “Estação Final” de nossa narrativa. No entanto, a viagem
pela história da cidade de Piripiri e a estrada de ferro ainda não acabou. Está
apenas a espera de novos sinais para que essa história possa ser revisitada. Mais
uma vez, aos que se sentem atraídos por tal aventura, faço novo convite, todos a
bordo!
115
REFERÊNCIAS E FONTES
1.1 Referências Bibliográficas
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1.2 Projetos de lei
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 30 de 21 de março de 1949. Aumento da tarifa da energia
elétrica.
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 15 de 08 de março de 1957. Autorização para compra de
um novo gerador elétrico para a Usina.
PIRIPIRI, Projeto de lei S/N de 05 de outubro de 1949. Doação de terreno para a
construção da sede dos Correios.
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 39 de 20 de julho de 1949. Autorização para abertura de
uma bomba de venda de gasolina.
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 26 de 18 de setembro de 1952. Criação da taxa do
calçamento.
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 05 de 11 de maio de 1948, Criação de escolas na zona
rural.
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 02 de 12 de fevereiro de 1951, Criação de escolas na
zona rural.
119
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 04 de 11 de maio de 1951, Denominação da rua Freitas
Júnior.
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 07 de 16 de maio de 1951. Denominação de várias ruas
no centro da cidade.
PIRIPIRI, Projeto de lei nº 03 de 13 de fevereiro de 1951, Denominação da rua
Tenente Antonio de Freitas.
1.3 Decretos municipais e estaduais
PIAUI, Decreto Estadual 1069, 29 de jan 1930 – Estadualização do Grupo Escolar
Pe. Freitas.
PIPIRIRI, Decreto Municipal nº 02, 01 de jun 1953 – Criação de Escolas Municipais.
PIRIPIRI, Decreto Municipal nº 13, 17 de ago de 1953 – Criação de Escolar
Municipais.
PIRIPIRI, Decreto Municipal nº 12, 13 de set de 1953 – Criação de Escolas
Municipais.
PIRIPIRI, Decreto Municipal nº 19, 14 de setembro de 1953 – Calçamento de ruas
no centro da cidade.
1.4 Atas Câmara Municipal de Piripiri
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 12 de julho de 1950. pedido de
confecção de um novo mapa para a cidade de Piripiri.
120
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de16 de maio de 1951. Verbas para
continuação da construção do mercado central e denominação de ruas no centro da
cidade.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata 12 de julho de 1951, Criação de escolas
no povoado Canto da Várzea e na rua São Vicente de Paula.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata 10 de setembro de 1951. Construção de
escola na comunidade Caraúbas.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de10 de maio de 1951. Criação de escola
municipal Getúlio Vargas.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 05 de maio de 1952. Inícios dos
serviços de calçamento em várias ruas da cidade.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 04 de setembro de 1952. Criação de
escola na comunidade Corrente e da escola doméstica Iaiá Morais na sede do
município.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 23 de julho de 1952. Prestação de
contas de verbas federais.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 24 set de 1952. Aplicação de
recursos federais.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 12 de julho de 1950. Pedido de nova
divisão geográfica da cidade.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 16 de maio de 1951. Mudança no
nome de algumas ruas do centro.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 13 de fevereiro de 1951.
Denominação da rua Tenente Antonio Alves.
121
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 05 de setembro de 1952. Verbas para
a conclusão do mercado municipal.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 04 de setembro de 1953.
Abastecimento de água do Caldeirão.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 04 de maio de 1953. Melhorias na
iluminação pública.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 07 de outubro de 1953. Compra de
novo motor para a usina elétrica da cidade.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 01 de junho de 1952. Denominação
da praça Nelson Resende.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 07 de outubro de 1953. Mudança de
nomes de ruas no centro da cidade.
PIRIPIRI, Câmara Municipal de Piripiri, ata de 23 de agosto de 1955. Ampliação da
rua Santos Dumont.
1.5 Ofícios Municipais
PIRIPIRI, Ofício Municipal nº 40 de 01 de abril 1932. Pedido de recursos na compra
de material para a usina elétrica.
PIRIPIRI, Ofício Municipal nº 38 de 23 de julho 1953. Descrição das despesas com
recursos federais.
122
1.6 Jornais
JORNAL DO PIAUÍ. Violento desastre no ceará. Teresina. 20 dez. 1951. p. 01.
MUNICIPIO DE PERIPERI. O Piauhy. Teresina. 12.04.1930. p. 03.
ATAQUES INJUSTOS AO JUÍZ ELEITORA DE PIRIPIRI. O Piauí. 12.01.1948. p.03.
A CARAVANA DA VITÓRIA. Jornal do Piauí. 01.07.1950. p. 02.
PELOS MUNICIPIOS. O Piauí. 08.03.1946 p.03.
PELOS MUNICIPIOS. O Piauí. 17.02.1947. p.04.
PELOS MUNICIPIOS. O Piauí. 12.06.1946. p.03.
PELOS MUNICIPIOS. O Piauí. 26.05.1946. p. 04.
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AINDA A ESTRADA DE FERRO. O Piauí. 27.06.1951. p.01.
CEL. NELSON REZENDE. Jornal o Piauí. 30.10.1952. p.01.
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A ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO PIAUÍ. O Piauí. 08.05.1947. p.01
124
125
Anexo 1- Dois momentos da rua Nossa Senhora dos Remédio: década de 40 (foto 1) e
2010 (foto 2) destacando principalmente a fachada da Unidade Escolar Padre Freitas,
primeira escola pública estadual da cidade e primeira grande edificação do centro da
cidade.
Fonte: NTE Núcleo de Tecnologia Educacional de Piripiri – 3ª. GRE
Fonte: arquivo pessoal
126
ANEXO 2: Avenida Tomaz Rebelo. Em 1940 (foto 1) e em 2010 (foto 2)
Fonte: NTE Núcleo de Tecnologia Educacional de Piripiri – a. GRE
Fonte: Arquivo Pessoal
127
ANEXO 3: Prédio Onde Funcionou a sub-agência e depois agência do Banco do Brasil
(foto 1). Na década de 70 funcionou a Escola de Comércio Álvaro Ferreira. A partir de
1987, após reforma patrocinada pela prefeitura, é sede do museu de Pery pery (foto 2).
Fonte: NTE : Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE
Fonte: arquivo pessoal
128
Anexo 4: Casarão da família dos Resendes. Uma das mais antigas edificações da
cidade. Onde viveu entre outro Espedito Resende, que seguiu carreira diplomática,
chegando ser embaixador. Atualmente se encontra em reforma.
Fonte: NTE Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE
Fonte: Arquivo Pessoal
129
Anexo 5: Estação Ferroviária de Piripiri. Sua construção data do ano de 1935, sendo
inaugurado juntamente com a ferrovia em 1937 (foto 1). Depois de anos abandonada,
foi reformada. Hoje faz parte do complexo cultural “Praça de Eventos” e sede da
Gerencia de Cultura do Município.
Fonte: NTE – Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE
Fonte: Arquivo Pessoal
130
Anexo 6: Olho d’agua de N. S. dos Remédios. Onde funcionou o primeiro sistema de
abastecimento de água da cidade. Inaugurado no final da década de 40 (foto 1).
Desativado, passou décadas abandonado. Hoje o local está sendo reformado (foto 2)
Fonte: NTE Nucleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE
Fonte: Arquivo pessoal
131
Anexo 7: Primeira Foto: Imagem da antiga matriz da cidade sendo demolida na década
de 50.
Segunda Foto: Imagem atual da nova matriz.
132
Anexo 8: Prédio da antiga Cooperativa dos Agricultores de Piripiri, e da Praça Álvaro
Ferreira. Atualmente o prédio é ocupado por uma Igreja Evangélica e um Cartório.
Fonte: NTE Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE
Fonte: arquivo pessoal
133
ANEXO 9: Duas imagens da rua Felinto Rezende (uma das ruas mais centrais da
cidade), que liga as praças “da Bandeira” e a “Álvaro Ferreira, no centro da cidade.
Fonte: NTE Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE
Fonte: Arquivo pessoal
134
Anexo 10: Mercado Central, concluído na década de 1950 (foto 1). Atualmente o
mercado se encontra abandonado pelo poder público e nos últimos anos em suas
quatro faces foram feitas construções tiraram a visão completa de suas fachadas
(foto 2).
Fonte: NTE Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª. GRE
Fonte: Arquivo Pessoal
135
Anexo 11: Sede da União dos Agricultores de Piripiri. Inaugurada na década de 30
(foto 1). Atualmente se encontra desativada e o prédio fechado (foto 2).
Fonte: NTE Núcleo de Tecnologia Educacional – 3ª GRE
Fonte: Arquivo Pessoal
136
Arquivo 12: Prédio onde funcionou a Prefeitura Municipal de Piripiri até os anos 90.
Era também em uma das salas deste prédio que funcionava a Câmara Municipal. É a
essa construção que o poeta Raimundo de Freitas e Silva faz referencia quando diz:
“Feito com arte e esmero/ Por operários sinceros/ Com sólida arquitetura/ Ergue-se
lindo! Elegante!/ Com fachada interessante/ o prédio da prefeitura.
Fonte: Arquivo Pessoal
137
Anexo 13: Prédio da Empresa de Correios e Telégrafos. Terreno cedido pela prefeitura
em 1949, onde antes existia a praça Estevão Rabelo. Construído nos anos 50.
Fonte: Arquivo Pessoal
138
Anexo 14: Prédio onde funcionou o primeiro cinema da cidade, o Cine Éden, e depois o Cine Marajá, desativado nos anos 80. atualmente pertence à paróquia de N.S. dos Remédios. Transformado em auditório e conhecido pela população como “Salão Santa Clara”.
Fonte: Arquivo Pessoal
139
Anexo 15; Sede da Escola Normal Rural (esse nome se explica pela localização, na época, ser fora do perímetro urbano). Até inicio dos anos 90 funcionava a Escola Normal São José, conhecida comumente como Escola das Irmãs. Desativado, atualmente ocupado pela Rede Municipal de Educação
Fonte: Arquivo Pessoal
140
Anexo 16: Mais uma instituição federal que se instalou em Piripiri. Sede do D.N.E.R.
(Departamento Nacional de Estradas e Rodagens). Com a desativação deste na cidade
e após anos de abandono, o prédio foi reformado em 2008 e hoje funciona a sede do
Tribunal Regional do Trabalho.
Fonte: Arquivo Pessoal
141
Anexo 17: Final da avenida Tomaz Rebelo, já no bairro Anajás. Ao fundo se vê o
açude que dá nome ao bairro. Hoje inserido no meio urbano, na década de 40 se
localizava na zona rural, a 3 quilômetros da cidade.
Fonte: Arquivo Pessoal
142
Anexo 18: Área de Embarque da Estacação Ferroviária e de manobra dos trens. Ao
fundo Construção que serviu de Depósito para a Ferrovia. Atualmente funciona um
auditório municipal.
Fonte: Arquivo Pessoal
143
Anexo 19: Detalhes de sua construção de 1935 e que, felizmente, foram preservados
na recente reforma.
Fonte: Arquivo Pessoal
144
Anexo 20: Prédio da Estação, hoje transformado em sede da Secretaria de Cultura Municipal
Fonte: Arquivo Pessoal
145
Anexo 21: Casa construída ao lado da Estação Ferroviária, conhecida como “Casa
dos engenheiros” serviu também como pousada dos trabalhadores da ferrovia nos
pernoites do trem em Piripiri. Atualmente de propriedade paricular, é ocupada por um
bar e um oficina de marcenaria.
Fonte: Arquivo Pessoal
146
Anexo 22: Rua 18 de setembro. Juntamente com a rua 4 de julho eram as duas ruas
que faziam a ligação direta entre o mercado municipal e a Estação Ferroviária.
Fonte: Arquivo pessoal