62
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) ASSENTAMENTOS RURAIS NO PIAUÍ: CARACTERIZAÇÃO ECONÔMICA E AMBIENTAL DO ASSENTAMENTO ANGICO BRANCO - CASTELO DO PIAUÍ DANIEL DA SILVA GOMES TERESINA-PI 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

ASSENTAMENTOS RURAIS NO PIAUÍ: CARACTERIZAÇÃO ECONÔMICA E

AMBIENTAL DO ASSENTAMENTO ANGICO BRANCO - CASTELO DO PIAUÍ

DANIEL DA SILVA GOMES

TERESINA-PI

2011

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

DANIEL DA SILVA GOMES

ASSENTAMENTOS RURAIS NO PIAUÍ: CARACTERIZAÇÃO ECONÔMICA E

AMBIENTAL DO ASSENTAMENTO ANGICO BRANCO - CASTELO DO PIAUÍ

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-

Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da

Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à

obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e

Meio Ambiente. Área de Concentração:

Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.

Linha de Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e

Meio Ambiente.

Orientador: Profa. Dra. Jaíra Maria Alcobaça Gomes

TERESINA-PI

2011

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

DANIEL DA SILVA GOMES

ASSENTAMENTOS RURAIS NO PIAUÍ: CARACTERIZAÇÃO ECONÔMICA E

AMBIENTAL DO ASSENTAMENTO ANGICO BRANCO - CASTELO DO PIAUÍ

Dissertação apresentada ao Programa Regional de

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente da Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à

obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e

Meio Ambiente. Área de Concentração:

Desenvolvimento do Trópico Ecotonal do Nordeste.

Linha de Pesquisa: Políticas de Desenvolvimento e

Meio Ambiente.

Teresina, 22 de setembro de 2011.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Profa. Dra. Jaíra Maria Alcobaça Gomes (Orientadora)

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

___________________________________________

Prof. Dr. Denis Barros de Carvalho (Membro Interno)

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

___________________________________________

Profa. Dra. Marta Celina Linhares Sales (Membro Externo)

Universidade Federal do Ceará (PRODEMA/UFC)

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Dedico...

A minha mãe, Noêmia da Silva Gomes; a minha noiva,Aliny de

Castro Maciel; e à memória de meu pai, João Damasceno Gomes

e do professor José Ferreira Mota Júnior.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

AGRADECIMENTOS

À Deus, alicerce de minha vida em todos os momentos.

A minha mãe, pela força, carinho e dedicação a mim dedicados.

A minha noiva Aliny, por tudo que representa em minha vida e pelo apoio

fundamental nesse momento.

À professora Dra.Jaíra Maria Alcobaça Gomes, pela orientação competente e

exigente, paciência e confiança, mesmo nas minhas faltas.

À UFPI e aos professores e funcionários do Mestrado em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, pela oportunidade de crescimento profissional e pessoal.

À SEDUC-PI, pela liberação de minhas atividades docentes.

A todos que fazem a Unidade Escolar Governador Pedro Freitas, em especial aos

professores Pedro Paulo, Vera Regina, Regina e Ronaldo Chaves.

Ao INCRA-PI, pelas informações disponibilizadas.

Ao Sindicato de Trabalhadores Rurais de Castelo do Piauí e a Associação de

Pequenos Produtores do Assentamento Angico Branco, em especial, a José Garcia e Mônica.

Aos colegas mestrandos da turma 2009-2011 pelo excelente convívio e ajuda mútua.

Ao grupo de pesquisa do Laboratório de Socioeconomia (Lase) do Mestrado em

Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPI/TROPEN.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

RESUMO

O problema da concentração de terras no Brasil tem origem ainda no período

colonial. Por décadas, o acesso a terra no país foi privilégio apenas de uma minoria, que

muitas vezes utiliza as propriedades para fins pouco produtivos, do ponto de vista agrícola.

Somente na metade do século XX o tema reforma agrária ganha força no país e a partir dos

anos 60 surgem os primeiros assentamento rurais. Entretanto, a simples posse da terra por

parte dos assentados não é suficiente para que esses trabalhadores possam produzir e

desenvolver a propriedade. O desenvolvimento de assentamentos passa, entre outros aspectos,

pela assessoria técnica e apoio financeiro aos trabalhadores O assentamento Angico Branco,

localizado no município de Castelo do Piauí, foi um dos primeiros projetos criados no centro-

norte piauiense. Esse imóvel possui uma área de 2.014 ha e 57 famílias abrigadas em duas

agrovilas. O objetivo geral dessa pesquisa foi caracterizar as condições econômicas e

ambientais do assentamento Angico Branco. Os objetivos específicos foram a) descrever o

histórico de criação do assentamento; b) comparar a situação econômica existente quando da

criação do projeto com a encontrada atualmente; e c) identificar os problemas ambientais que

ocorrem na propriedade. A metodologia utilizada na pesquisa foi o estudo de caso. Foram

realizadas visitas ao assentamento pesquisado num período de dois anos, e consultados

registros documentais da associação de pequenos produtores do assentamento e do Incra-PI.

Os resultados obtidos apontam que o potencial produtivo do assentamento encontra-se

subutilizado; que existe uma diminuição da população assentada e a ocorrência de problemas

ambientais na região.

Palavras-chave: Reforma Agrária. Assentamentos Rurais. Atividades Econômicas.

Problemas Ambientais

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

ABSTRACT

The problem of land concentration in Brazil started in the colonial period. For

decades, the access to land in the country was a privilege of a minority that often use the

properties for less productive purposes in terms of agriculture. Just in the half of the twentieth

century the land reform theme started to be discussed with greater strength in Brazil and in the

sixties the first rural settlements appear. However, the mere possession of land by the settlers

is not enough so that these workers can produce and develop the property. The development

of settlements passes, among other aspects, through technical assistance and financial support

to workers of the Angico Branco settlement, located in the municipality of Castelo do Piaui,

one of the first projects created in north-central Piauí. This property has an area of 2014 ha

and 57 families housed in two rural villages. The aim of this research was to characterize the

economic and environmental conditions of the Angico Branco settlement. The specific

objectives were to describe the historic of creation of the settlement, to compare the economic

situation that existed when the project was created with the economic situation found today

and identify environmental problems that occur on the property. The methodology used in the

research was case study. The settlement researched was visited over a period of two years and

the documentary registers of the association of small farmers in the settlement and the

INCRA-PI were consulted. These results indicate that the productive potential of the

settlement is underused; there is a decrease of the settler population and the occurrence of

environmental problems in the region.

Keywords: Land Reform. Rural Settlements. Economic Activities. Environmental Problems

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 – Assentamentos de reforma agrária no Estado do Piauí.............................................29

Mapa 2 – Território dos carnaubais na bacia hidrográfica do Paranaíba .................................31

Quadro 1 – Características fisiográficas e ambientais do território dos carnaubais.................32

Mapa 3 – Assentamentos rurais criados pelo INCRA em Castelo do Piauí e região.............. 34

Mapa 4 – Localização do assentamento Angico Branco PI......................................................38

Quadro 2 – Fauna e flora do assentamento Angico Branco......................................................39

Fotografia 1 – Açude do Inês: assentamento Angico Branco...................................................40

Quadro 3 – Assentamento Angico Branco: infra-estrutura física plurianual............................41

Fotografia 2 – Escola infantil e casas no assentamento Angico Branco.................................. 42

Fotografia 3 – Carnaubal no assentamento Angico Branco......................................................47

Quadro 4 – Listagem dos problemas ambientais no assentamento Angico Branco ................51

Mapa 5 – Assentamento Angico Branco...................................................................................52

Imagem 1 – Área de reserva do assentamento Angico Branco.................................................53

Imagem 2 – Assentamento Angico Branco: áreas de cultivo e de vegetação alterada.............54

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Situação dos trabalhadores anterior ao assentamento no Brasil..............................21

Tabela 2 – Avaliação das condições de produção nos assentamentos brasileiros....................21

Tabela 3 – Estados brasileiros com maior número de assentamentos criados até 2009...........25

Tabela 4 – Estrutura fundiária piauiense 2007..........................................................................26

Tabela 5 – Número de famílias assentadas no Estado do Piauí................................................27

Tabela 6 – Conflitos no campo no Piauí (1997-2003)..............................................................28

Tabela 7 – Avaliação das condições de produção dos assentados piauienses..........................30

Tabela 8 – População assentada no Projeto de Assentamento Angico Branco........................43

Tabela 9 – Diagnóstico da produção agropecuária esperada no assentamento Angico

Branco.....................................................................................................................45

Tabela 10 – Censo agropecuário do Assentamento Angico Branco (1998-2001)....................46

Tabela 11 – Principais problemas ambientais nos assentamentos do Piauí, nordeste e

Brasil......................................................................................................................50

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APL – Arranjo Produtivo Local

CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

COMDEPI – Companhia de Desenvolvimento do Piauí

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura

CPT – Comissão Pastoral da Terra

FETAG – Federação dos Trabalhadores da Agricultura

FHC – Fernando Henrique Cardoso

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INPA – Intervenção Participativa de Atores

INTERPI – Instituto de Terras do Piauí

MASTER – Movimento dos Agricultores Sem Terra

OEA – Organização dos Estados Americanos

PA – Projeto de Assentamento

PDA – Plano de Desenvolvimento do Assentamento

PEVS – Pesquisa da Extração Vegetal e Silvicultura

PLANAP – Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado da Bacia doParnaíba

PNRA – Plano Nacional de Reforma Agrária

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRRA – Plano Regional de Reforma Agrária

PT – Partido dos Trabalhadores

SR – Superintendência Regional

STR – Sindicato de Trabalhadores Rurais

UDR – União Democrática Ruralista

ULTABS – União dos Lavradores Agrícolas do Brasil

UnB – Universidade de Brasília

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 12

2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................................. 14

2.1 Assentamentos rurais no Brasil: origens e desdobramentos...............................................14

2.1.1 Política fundiária brasileira pós-redemocratização......................................................... 22

2.2 Distribuição geográfica dos assentamentos no Brasil........................................................ 24

2.3 Reforma Agrária no Piauí...................................................................................................26

2.3.1 Perfil dos assentados piauienses..................................................................................... 29

3 METODOLOGIA DA PESQUISA................................................................................... 31

3.1 Caracterização da área de estudo ...................................................................................... 31

3.2 Procedimentos metodológicos ...........................................................................................34

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................ 37

4.1 O assentamento Angico Branco: origem, localização e características físicas...................37

4.2 Infraestrutura.......................................................................................................................40

4.3Perfil dos assentados........................................................................................................... 43

4.4 Atividades econômicas.......................................................................................................45

4.4.1 A extração do pó de carnaúba..........................................................................................46

4.4.1.2 O manejo dos carnaubais..............................................................................................48

4.5 Problemas ambientais.........................................................................................................50

5 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS......................................................................................................................58

ANEXOS...... ...........................................................................................................................61

Anexo A –Matéria do jornal Meio Norte relatando a disputa entre os assentados no PA

Angico Branco e o empresário Edmilson Carvalho................................................................. 62

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

1INTRODUÇÃO

A colonização ocorrida no Brasil deixou como herança, entre outras coisas, uma

estrutura fundiária marcada pela forte concentração de terras. As atividades econômicas

desenvolvidas ao longo dos anos demandavam grandes extensões de terra e, além disso, os

mecanismos legais instituídos dificultavam o acesso à propriedade por parte das camadas

menos favorecidas da sociedade.

A exclusão de muitos do direito à propriedade, e posteriormente, o processo de

modernização agrícola ocasionou a expulsão de milhares de trabalhadores do campo para o

meio urbano. Esse processo de urbanização ocorreu de forma desordenada e esse fenômeno,

aliado àineficácia das políticas de governo ao longo dos anos, condiciona as grandes cidades

brasileiras, problemas como as submoradias, desemprego, violência e infraestrutura

deficiente.

Somente na década de 1960 foi instituída uma lei que regulamentava os dispositivos

de reforma agrária e a definia como um conjunto de medidas que visa promover a melhor

distribuição de terra, mediante modificação no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos

princípios da justiça social e ao aumento de produtividade.

O Piauí está entre os dez Estados brasileiros com maior quantidade de assentamentos

rurais existentes. A criação dessas unidades é a principal ação de reforma agrária no país. O

desenvolvimento desses projetos passa não somente pela concessão de terra e crédito aos

trabalhadores mas, sobretudo, pela assessoria técnica, capacitação, infraestrutura disponível e

das características da região.

A maior parte dos assentamentos rurais existente no Estado localiza-se na porção

norte. O território dos carnaubais, localizado no centro-norte piauiense, foi classificado pelo

INCRA como uma área que demanda maior atenção para regularização fundiária. Castelo do

Piauí, município localizado nesse território, abriga um dos primeiros assentamentos criados

na região, o Projeto de Assentamento (PA) Angico Branco.

Localizado a 25 km de distância do município de Castelo do Piauí, o assentamento

Angico Branco possui uma área de 2.014 ha. O assentamento foi criado em maio de 1997 e

abriga 57 famílias em duas agrovilas. O PA Angico Branco dispõe de uma melhor

infraestrutura em relação aos demais assentamentos existentes na região, como energia

elétrica, escola infantil, açudes, casas em tijolo e telha e etc. Assim, considerando a

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

infraestrutura existente e as características físicas da região, a questão de estudo que norteou

este trabalho foi: quais as condições de produção, os aspectos socioeconômicos e os

problemas ambientais existentes no assentamento Angico Branco?

Assim, o objetivo geral dessa pesquisa foi caracterizar as condições socioeconômicas

e ambientais do assentamento Angico Branco. Os objetivos específicos foram: descrever o

histórico de criação do assentamento; comparar a situação socioeconômica existente quando

da criação do assentamento com a encontrada atualmente e identificar os problemas

ambientais existentes.

Utilizou-se como metodologia de pesquisa o estudo de caso. Essa técnica, como

outras estratégias de pesquisa, representa uma maneira de se investigar um tópico empírico

seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-especificados, como observação direta e

entrevistas (YIN, 2001). Assim, foram realizadas visitas técnicas ao assentamento pesquisado,

no período compreendido entre junho de 2009 e junho de 2011, onde se utilizou de registros

fotográficos, entrevistas e análise de documentos disponibilizados pelo sindicato rural do

município e pela associação de pequenos produtores do assentamento.

Outras fontes de informações utilizadas foram os documentos que compõem o

processo de criação do assentamento Angico Branco, disponibilizado pelo INCRA, e

publicações desse instituto e de outros órgãos federais, como o IBGE e a Codevasf.

A primeira parte do trabalho contém o referencial teórico sobre os assentamentos

rurais no Brasil e no Piauí. Em seguida, é apresentada a metodologia da pesquisa e por fim

são apresentados e discutidos os resultados da pesquisa.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Assentamentos rurais no Brasil: origens e desdobramentos

O processo de colonização ocorrido no Brasil, marcado pelas sesmarias, pela

monocultura e pelo trabalho escravo, resultou numa grande concentração de terra e de

riqueza. A ausência de uma política eficaz de redistribuição das propriedades, ao longo dos

anos, condiciona ao país a manutenção de sua estrutura fundiária desigual.

O acesso a terra às camadas mais pobres da população foi negado mediante

instrumentos legais, que foram instituídos ao longo dos anos. Bombardi (2004) afirma que a

história do campesinato brasileiro é marcada pela constante tentativa de bloqueio do livre

acesso a terra a ex-escravos e aos imigrantes que chegavam ao país. Assim, durante todo o

Brasil colônia e nas décadas seguintes à independência, a doação de terras era feita somente a

poucos favorecidos, que tinham condição de produzir.

A exclusão de imigrantes e ex-escravos pode ser visualizada também com a

promulgação da 1ª lei que regulamentou o acesso a terra no país, instituída somente na metade

do século XIX. Trata-se da Lei de Terras que, em linhas gerais, tinha o objetivo de extinguir o

princípio da doação, estabelecendo a compra como único meio de aquisição de terras

devolutas. Desse modo, essa lei favoreceu a monopolização da propriedade por fazendeiros e

latifundiários, e obrigava os trabalhadores rurais a venderam sua força de trabalho às

atividades existentes (IANNI, 1984).

Não bastasse a alta concentração de terras, o que se observa no Brasil é a

subutilização das propriedades. Segundo Furtado (2009), no ano de 1997, dos 400 milhões de

hectares de terras privadas existentes no país, 100 milhões de hectares eram consideradas

terras ociosas. Teixeira (2011), analisando dados do INCRA, afirma que o crescimento de

terras com baixa produtividade no Brasil aumentou 75% entre 2003 e 2010. O autor afirma

ainda que em 2010 existiam no país 228 milhões de hectares de terras ociosas.

Somente no início do século XX é que ganham forças os movimentos populares

organizados de luta pelo acesso a terra. Na primeira metade desse século surgiram

organizações como as Ligas Camponesas, a União dos Lavradores Agrícolas do Brasil

(ULTABS) e o Movimento dos Agricultores Sem Terra (MASTER). Nos anos 1960 foi criada

e reconhecida a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG)

(SANTOS, 2007).

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Também nos anos 1960 foi instituída a lei nº 4.504, o Estatuto da Terra, que define

reforma agrária como um conjunto de medidas que visa promover a melhor distribuição da

terra, mediante modificação no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios da

justiça social e ao aumento de produtividade. Segundo Castro (2005), o objetivo era definir

políticas agrícolas e de reforma agrária assegurando a propriedade da terra a todos que

desejassem cultivá-la, de modo a cumprir a função social estabelecida pelo próprio Estatuto.

Ainda segundo Castro (2005), o Estatuto da Terra define que uma propriedade

cumpre integralmente sua função social quando, simultaneamente:

a) Favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim

como de suas famílias;

b) Mantém níveis satisfatórios de produtividade;

c) Assegura a conservação dos recursos naturais;

d) Observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que

a possuem e a cultivam.

De acordo com Del Grossi et al. (2000), existem três grupos que constituem o

público-alvo para a reforma agrária. Os parceiros, posseiros e arrendatários, que são

trabalhadores com acesso precário a terra; os agricultores proprietários de imóveis cuja área

não alcance a dimensão mínima da propriedade familiar, definida pelo módulo rural

(minifundistas) e, por fim, os trabalhadores rurais sem-terra, inclusive os desempregados.

Estes últimos constituem o maior público potencial para políticas agrárias

O assentamento de famílias é a principal ação de reforma agrária promovida pelo

Estado. Segundo Bergamasco e Noder (1996), assentamentos rurais podem ser entendidos

como a criação de novas unidades de produção agrícola, por meio de políticas

governamentais, visando o reordenamento do uso da terra, em benefício de trabalhadores

rurais sem-terra ou com pouca terra. No II PNRA, o INCRA (2004) afirma que os

assentamentos são núcleos populacionais que receberão assistência técnica e acesso ao

conhecimento e às novas tecnologias apropriadas para a realidade das famílias assentadas.

Os primeiros assentamentos rurais surgiram no Brasil, na década de 1960, com a

criação do Estatuto da Terra. A expressão assentamento rural apareceu pela primeira vez no

contexto da reforma agrária na Venezuela, em 1960 (BERGAMASCO; NODER, 1996).

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Quanto à origem, os assentamentos rurais brasileiros são classificados por

Bergamasco e Noder (1996) em cinco tipos.

1 – Projetos de colonização: ocorre com a transferência forçada de trabalhadores das

suas regiões de origem para outras regiões, com o objetivo de promover a integração

econômica das áreas consideradas mais atrasadas do país. Esses foram os primeiros projetos

de colonização de caráter estatal realizados na conjuntura do governo militar.

2 – Reassentamento de populações atingidas por barragens de usinas hidrelétricas:

também ocorrida no governo militar, em decorrência do desenvolvimento do setor energético

com a construção das usinas hidrelétricas.

3 – Planos Estaduais de valorização de terras públicas e de regularizaçãopossessória:

ocorreram a partir de 1982, com a criação de assentamentos em esfera estadual e municipal, a

partir do cadastramento de terras públicas ociosas e da regularização de propriedades

envolvidas com posseiros.

4 – Programa de reforma agrária via desapropriação por interesse social: esses projetos

firmaram-se a partir de 1986, sob a égide do I Plano Nacional de Reforma Agrária no final

dos governos militares e na transição para o regime democrático-parlamentar.

5 – O processo de ocupação das reservas extrativistas para seringueiros da região

amazônica e outras atividades relacionadas ao aproveitamento de recursos naturais

renováveis: essas unidades decorrem das relações de trabalho (muitas vezes escravistas), que

ocorrem na exploração desses recursos naturais e/ou dos conflitos constantes entre indígenas e

os grupos que exploram as regiões extrativistas como grileiros, seringueiros e empresas

agropecuárias. Desse modo, a reserva extrativista é uma alternativa real para o

desenvolvimento econômico e ambiental da região amazônica e tem sido de referência para

diversos setores extrativistas, como babaçuais, açaizais, cupuaçuzais, e outros.

No Brasil, grande parte dos PAs (Projetos de Assentamentos) criados é fruto da luta

de associações, sindicatos e movimentos sociais. É também a partir da ação desse segmento

da sociedade que essas unidades produtivas vêm conseguindo avanços.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Na efetivação das áreas de assentamentos onde as famílias estavam assentadas,

originaram-se as condições políticas e sociais ao nível de organização das famílias,

para que estas pudessem reivindicar e garantir outros benefícios essenciais para os

assentamentos: créditos (para incentivar e diversificar a produção), assistência

técnica (para melhorar os conhecimentos das famílias no processo produtivo),

eletrificação (utilização de outras fontes de energia para aumentar a produção e

melhorar a qualidade de vida), construção de estradas (visando melhorar as

condições de comunicação e transporte de pessoas e mercadorias entre as áreas

assentadas e núcleos urbanos e rurais), hospitais (pretendendo dar assistência à

saúde preventiva às famílias), educação (garantir os níveis de ensino à comunidade

assentada) e condições de saneamento básico (água potável, fossas sépticas)

(SANTOS, 2007, p, 46).

Leite et al. (2004) afirmam que nos assentamentos criados por processo de

desapropriação motivados por movimentos sociais, devido ao maior nível de organização dos

trabalhadores, à atenção dada pela esfera pública é maior e os resultados obtidos são mais

satisfatórios. Isso demonstra a importância da organização dos trabalhadores assentados para

o desenvolvimento local. Além da organização dos trabalhadores, a formação/capacitação

destes é outro requisito importante.

Furtado (2009) diz que a capacitação dos moradores é uma ação imprescindível para

o desenvolvimento dos projetos de assentamento. Essa autora defende uma estratégia

pedagógica denominada de Intervenção Participativa dos Atores (INPA). A ideia da autora é

que os assentados necessitam de um novo modelo de educação, que supere os métodos da

educação tradicional. Assim, tal estratégia educativa prima pela construção do conhecimento,

incentivo ao coletivismo, a participação, a iniciativa e o envolvimento de técnicos, lideranças

e dos assentados.

A autora cita o exemplo do assentamento Oiticica I, no município cearense de

Baturité. Esse PA era tido como um exemplo de fracasso de esforços e de desperdício de

recursos públicos. Dois anos após o processo de capacitação de atores (INPA), esse

assentamento ainda passa por dificuldades, mas alguns importantes avanços foram sentidos,

como o aumento da confiança entre os moradores; incremento da participação em decisões

importantes; aumento da produção agropecuária e da coletividade na produção; diminuição da

mortalidade dos rebanhos e outros.

Oliveira (2003) afirma que a etapa inicial do desenvolvimento local é o mapeamento

das capacidades e dos recursos existentes nas comunidades. Assim, é preciso diagnosticar as

potencialidades do local e as capacidades das pessoas, visando seu engajamento no projeto de

desenvolvimento, através do fortalecimento de suas capacidades.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Buarque (2002) afirma que o desenvolvimento local busca explorar as

potencialidades locais, elevar as oportunidades sociais e a competitividade da economia local,

assegurando ainda a conservação dos recursos naturais existentes. Para Silveira (2004), o

desenvolvimento local é o processo de desabrochamento das capacidades, competências e

habilidades de uma comunidade, tornando-a apta a autogestão e ao aproveitamento de suas

próprias potencialidades locais, visando a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Eid e Pimentel (2005) afirmam que existem diferentes abordagens de políticas

públicas relacionadas ao desenvolvimento local: a centralizadora, na qual o governo define

políticas através de seus técnicos; a fundamentada no mercado, onde quem desempenha as

ações são empresas privadas e, por último, aquela centrada na participação da comunidade,

adotada de baixo para cima, com mobilização local.

O incremento nas relações de confiança e na participação entre os atores envolvidos

nos projetos de assentamento culminaria, certamente, com a expansão de seu capital social.

Abramovay (2009) define capital social como as características da organização social, como

confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade,

facilitando as ações coordenadas. A formação das lideranças e o cooperativismo são requisitos

básicos para o desenvolvimento dos assentamentos, na medida em que aumentam a

capacidade de articulação dessa unidade produtiva com o território onde ele está inserido.

Experiências problemáticas de assentamentos estão na sua precária capacidade de

articulação com outros atores da região e sua estrita dependência dos poderes

públicos federais. Ao contrário, as experiências bem sucedidas caracterizam-se

sistematicamente pela ampliação do círculo de relações sociais dos assentados no

plano político, econômico e social. Por mais que as condições naturais (solo, relevo,

clima) sejam importantes na determinação do desempenho dos assentamentos, não

são poucos os casos em que os limites físicos foram vencidos pela capacidade

organizativa (ABRAMOVAY, 2009, p. 301).

O desenvolvimento de assentamentos passa ainda pelo incentivo à exploração de

outras potencialidades, além da produção agrícola. Graziano (2001) afirma que é necessário

que a reforma agrária explore outras opções de inserção produtiva, não necessariamente

agrícolas, como a agroindústria doméstica, a exploração de nichos de mercado ou a prestação

de serviços. Para o autor, pequenos assentamentos baseados apenas na produção de grãos não

são mais viáveis. Assim, a reforma agrária desse século não precisa ser essencialmente

agrícola. Ela deve sim combinar atividades agrícolas e não agrícolas.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

O impacto da criação de projetos de assentamento pode ser sentido também no meio

urbano. A criação de assentamentos rurais pode alavancar o desenvolvimento de uma região

através da dinamização do mercado. Sobre isso, Leite (2000) afirma que:

Os assentamentos tendem a promover um rearranjo do processo produtivo nas

regiões onde se instalam, muitas vezes caracterizada por uma agricultura com baixo

dinamismo. A diversificação da produção agrícola, a introdução de atividades mais

lucrativas, mudanças tecnológicas refletem-se na composição da receita dos

assentados, afetando o comércio local, a geração de impostos, a movimentação

bancária etc. (LEITE, 2000, p. 48).

Leite (2009) discute o impacto da criação de projeto de assentamentos. O autor faz

essa análise a partir de três dimensões: política, social e ambiental. Na dimensão política o

autor chama atenção para as alterações demográficas e nas relações sociais. Se as famílias

assentadas forem de outra região, isso implicará em alterações demográficas que se refletem

no colégio eleitoral e no nascimento de novas forças políticas. Se os assentados são da própria

cidade, pode haver mudanças nas relações e no status de determinados grupos, mediada pelo

acesso a terra, e que se traduz em alterações nos padrões de relação com as forças políticas e

economicamente significativas em nível local.

Na dimensão social, Leite (2009) destaca que a organização dos assentados em

associações e cooperativas acaba por trazer à cena pública, processos e demandas que são

capazes de mexer com a dinâmica do município. O mercado é dinamizado pela venda de

produtos oriundos dos assentamentos, como é o caso das feiras, da venda direta a

supermercados e outros, ocasionando um novo tipo de concorrência e oferta de produtos. O

assentamento promove, ainda, uma dinamização da movimentação bancária, com a chegada

dos projetos de financiamento e o aumento da arrecadação de impostos.

Na dimensão ambiental, Leite (2009) afirma que é bastante recorrente a seleção de

áreas inapropriadas para o desenvolvimento da agricultura (má qualidade de solos, erosão

acentuada) destinadas para criação e assentamentos. Isso tem intensificado o desgaste dos

solos, limitando a capacidade de produção e desenvolvimento. Essa questão demonstra a

necessidade de se discutir os critérios de seleção das áreas, a forma como ela é dividida entre

os assentados e a natureza da assistência técnica recebida pelo assentamento.

Ainda no que se refere ao impacto que a criação de assentamentos pode trazer ao

meio ambiente, Coimbra (2008) afirma que as instituições responsáveis pela reforma agrária

foram obrigadas a criar mecanismos condutores ao desenvolvimento sustentável dos projetos

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

de assentamento. Entretanto, o autor afirma que tais mecanismos são precários no aspecto

qualitativo.

A agricultura familiar pode ser o caminho para o desenvolvimento do meio rural

brasileiro. Veiga (2000) discute o impacto da opção feita pelo Brasil pela agroindústria das

grandes propriedades, em vez da agricultura familiar. Utilizando o exemplo dos Estados

Unidos, o autor afirma que nas regiões onde predominou a agricultura patronal existem

poucas escolas, Igrejas, clubes, associações, jornais, empresas e bancos. Nessas localidades,

as condições de moradia são precárias, quase não existem equipamentos de lazer e a

delinquência infanto-juvenil é alta, ao contrário do que ocorre onde predominou a agricultura

familiar, caracterizada por dinamismo econômico e melhores condições de vida.

Castro (2005) analisa as dificuldades encontradas pelos assentados no

desenvolvimento das propriedades. Segundo a autora, nos assentamentos de responsabilidade

do INCRA ocorre uma relação de dependência total dos assentados, e a gestão termina sendo

implementada por técnicos desse instituto. Além disso, com a emancipação da propriedade,

essa posse torna-se um problema, na medida em que os trabalhadores agora precisam

administrar, planejar e controlar negócios, o que vai de encontro a sua tradição cultural,

acostumados a executar ordens e tarefas.

Outra dificuldade apontada por Castro (2005) refere-se à gestão financeira. Segundo

a autora, ao chegarem ao assentamento poucos trabalhadores possuem experiência de relação

de troca com mercados locais e regionais; não possuem conhecimento suficiente para

gerenciar o dinheiro, para investir ou assumir compromissos contratuais com o banco, e

muitos são analfabetos.

No ano de 1996, o INCRA realizou o I Censo da Reforma Agrária, em parceria com

a UnB. Bergamasco (1997), analisando o resultado do estudo, afirma que naquele ano, 39,4%

dos assentados no Brasil possuíam alfabetização incompleta e 97,6% dos titulares dos lotes de

assentamentos no Brasil estavam fora de qualquer programa de estudos. A limitação na

formação reflete-se nas condições de trabalho. O estudo revelou que 80% dos assentados não

possuíam outra habilidade não agropecuária, e o restante são pedreiros, garimpeiros ou

motoristas.

No que se refere à ocupação dos trabalhadores anterior ao assentamento, o I Censo

da Reforma Agrária demonstrou que a grande maioria trabalhava na agricultura. A tabela 1

apresenta a situação dos trabalhadores antes do assentamento.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Tabela 1 – Situação dos trabalhadores anterior ao assentamento no Brasil

SITUAÇÃO PERCENTUAL

Arrendatário ou parceiro 19,7

Posseiro 16,6

Ocupante 9,1

Assalariado na agropecuária 12,4

Proprietários de terra 16,3

Fonte: Adaptado INCRA (1997)

Em 2010, o INCRA realizou, em parceria com a UFRGS, um estudo intitulado

Pesquisa Nacional da Qualidade de Assentamentos. Comparando os dados desse estudo com

o I Censo da Reforma Agrária (1997) pode-se observar alguns avanços.

No que se refere à educação, o número de analfabetos caiu de 39,4% para 19,5%. Em

1997 apenas 20% dos assentamentos possuíam energia elétrica e em 2010 esse índice subiu

para 88%. No que se refere às condições de moradia, o I Censo da Reforma Agrária apontou

que 28,8% dos assentados consideravam como boa sua situação; 38,1% como regular e 24,6%

como precária. A pesquisa mais recente afirma que 53,75% dos assentados consideravam

boas suas condições de moradia; 15,81% classificam como regular e 10,8% como ruim.

Sobre as condições para produção, a Pesquisa da Qualidade de Assentamentos,

INCRA (2010), avaliou a opinião dos moradores sobre a fertilidade do solo, o tamanho do

lote e conhecimentos sobre técnicas de produção. A tabela 2 apresenta os resultados.

Tabela 2 – Avaliação das condições de produção nos assentamentos brasileiros

VARIÁVEL ÓTIMO BOM RAZOÁVEL RUIM PÉSSIMO SEM RESPOSTA

Fertilidade da terra 6,17 46,57 29,13 11,28 3,31 3,54

Avaliação do tamanho do

lote, considerando a área útil 9,74 48,79 23,7 9,06 4,23 4,48

Conhecimento de técnicas de

produção 4,82 31,84 31,39 15,95 9,03 6,96

Fonte: INCRA (2010)

Os dados apresentados demonstram satisfação dos beneficiários nos aspectos

analisados. A pesquisa demonstrou também um bom nível de organização, na medida em que

77,87% dos assentados afirmam participar de alguma associação ou cooperativa. Entretanto, o

acesso a crédito ainda deixa a desejar. O estudo mostra que apenas 52,22% dos entrevistados

já obtiveram credito do PRONAF; 25,6% ao crédito fomento e 4,3% ao PROCERA. Os

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

recursos mais utilizados foram o apoio inicial e aquisição de material de construção (INCRA,

2010).

2.1.1 Política fundiária brasileira pós-redemocratização

Foi no início dos anos de ditadura que foi instituído o Estatuto da Terra, instrumento

que regulamentou as desapropriações e a reforma agrária no país. Foi também a partir desse

período que o campo brasileiro passou, com mais ênfase, pelo processo de modernização

agrícola, aumentando significativamente a produção, e ao mesmo tempo excluindo grande

parte dos trabalhadores do processo produtivo.

O desemprego no campo e as oportunidades geradas pela indústria nas cidades

acentuaram o êxodo de trabalhadores, principalmente para o sudeste. Ao mesmo tempo, a

política de reforma agrária do governo militar, que reprimiu fortemente os movimentos

sociais, não passou de projetos de colonização, especialmente nas regiões norte e centro-oeste,

não alternado em nada a estrutura fundiária do país (SANTOS, 2007).

No final da década de 1980, os movimentos sociais voltam a ganhar força e a

problemática da reforma agrária volta a ser tema de discussão no país. Ainda em 1979 ocorre

em Brasília o III Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais, quando a CONTAG reacende

a luta pela reforma agrária. Em 1985, foi estabelecido o I Plano Nacional de Reforma Agrária

(PNRA), cuja implementação ficou muito abaixo das metas propostas, em decorrência, em

grande parte, da atuação de organizações conservadoras de latifundiários como a UDR

(SANTOS, 2007).

Em 1989 ocorre a primeira eleição direta para presidente, após o fim da ditadura

militar. Fernando Collor de Melo foi eleito, mas foi afastado em outubro de 1992. Itamar

Franco assume a presidência, e em 1993 é realizada a segunda eleição direta para presidência.

Os dois principais candidatos naquele pleito foram Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz

Inácio Lula da Silva.

Carvalho (1997) faz uma análise dos programas de governo propostos pelos

candidatos à presidência da república, no pleito de 1994. Segundo o autor, em seu plano de

governo, FHC reconhecia a necessidade de profundas mudanças no campo e considerava a

reforma agrária como medida importante para a resolução do problema da segurança

alimentar.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

As metas do programa de FHC para o assentamento de famílias eram crescentes a

cada ano, totalizando 280 mil famílias assentadas no final do mandato. Estas metas eram

consideradas tímidas, embora realistas, dada a legislação vigente. Entretanto, o conceito de

reforma agrária implícito no programa resumia-se a ações fundiárias mais agressivas, quando

comparadas com os governos passados, sem a menor pretensão de uma alteração estrutural

(CARVALHO, 1997).

Sobre o plano de governo do candidato Lula, Carvalho (1997) afirma que este

apresentou o programa mais comprometido com a reforma agrária. Neste, a RA era

considerada como uma política de caráter estrutural, propondo a implantação de um processo

de reforma, em substituição às ações fundiárias esparsas.

A meta estipulada pelo candidato era de 800 mil famílias assentadas nos primeiros

quatro anos de governo, comprometendo-se ainda com a demarcação das terras indígenas. Era

assim, segundo o autor, a proposta de governo que mais esclarecia sobre os instrumentos que

seriam utilizados, considerando a desapropriação como o principal instrumento de

distribuição de terras (CARVALHO, 1997).

Fernando Henrique Cardoso venceu aquela eleição e assumiu a presidência em 1994.

Durante os 8 anos de seu governo (reeleito em 1998), a questão da reforma agrária esteve

presente constantemente nos meios de comunicação, por conta da forte atuação dos

movimentos sociais, especialmente o MST, com quem a relação do governo foi sempre

instável.

Grande parte da tensão que o tema reforma agrária carregava durante o governo FHC

deveu-se aos massacres de trabalhadores ocorridos em Corumbiara-RO, em 1995, e em

Eldorado de Carajás-PA, em 1996. Após esses conflitos, o presidente nomeou Raul Jugmann

para o Ministério Extraordinário da Reforma Agrária (depois Ministério do Desenvolvimento

Agrário), nome mais próximo dos movimentos sociais, como MST e a CPT, e da oposição

(PT).

Segundo Martins (2003), o governo de Fernando Henrique Cardoso herdou o

desassossego social derivado de uma reforma agrária ditatorial e uma demanda muito além de

suas possibilidades, por conta da desordem dos parâmetros da institucionalidade de um

Estado, com orientações desencontradas e confusas em relação à reforma agrária.

Ainda segundo Martins (2003), a política fundiária do presidente Fernando Henrique

Cardoso teve por objetivo fazer a reforma agrária, e ao mesmo tempo instituir a normalidade

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

do conflito. Ou seja, definir as bases institucionais do conflito agrário, fazendo do Estado o

mediador e gestor das soluções.

Luiz Inácio Lula da Silva, que perdera a eleição para FHC nos pleitos de 1994 e

1998, assumiu a presidência da república em 2003 (sucedendo o próprio FHC). A relação do

planalto com o MST e outros movimentos sociais aparentou mais estabilidade durante seu

governo, na medida em que diminuíram, aparentemente, as ocupações e as ações radicais do

movimento.

O apaziguamento dos conflitos no campo, durante o governo Lula, pode ser

atribuído, assim, a proximidade do presidente com os movimentos sociais. Além disso, é

possível que durante seu governo a reforma agrária tenha obtido avanços que satisfaçam a

militância.

Entretanto, a análise do balanço da reforma agrária, publicado pelo INCRA em

março de 2010, aponta que o governo Lula criou entre 2003 e 2009 um total de 3.348

assentamentos em todo o país. Esse número é inferior a quantidade de unidades criadas pelo

governo anterior no mesmo período (7 anos).

2.2 Distribuição geográfica dos assentamentos no Brasil

Noder (1997) afirma que os assentamentos rurais criados no Brasil a partir dos anos

1980 são projetos criados muito mais para resolver conflitos localizados do que situações de

pobreza e exclusão social, ou mesmo para resgatar o potencial produtivo da agricultura

familiar.

Assim, a maior concentração de assentamentos rurais ocorre nos Estados que

apresentaram a maior incidência de conflitos no campo. Segundo o INCRA (2004), os

conflitos por terra ocorrem no Brasil em todos os Estados, mas os que apresentaram maior

incidência em 2003 foram o Pará, Pernambuco, Mato Grosso e Maranhão. A análise do

número de assentamentos criados no Brasil nos últimos anos demonstra que estes Estados

estão entre os que apresentam maior quantidade de unidades criadas.

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Tabela 3 – Estados brasileiros com maior número de assentamentos criados até 2009

ESTADO ASSENTAMENTOS CRIADOS

PA 1021

MA 926

BA 629

PE 557

MT 539

PI 480

CE 416

TO 366

RS 329

PR 311

Fonte: INCRA (2010)

A tabela 3 demonstra que cinco dos dez Estados brasileiros com maior quantidade

em assentamentos criados são nordestinos. O primeiro colocado, entretanto, é da região norte.

O Pará possui três superintendências regionais do Incra; uma localizada no sul do Estado, com

sede em Marabá (SR 27); uma na porção oeste, em Santarém (SR 30); e a SR 01, com sede

em Belém.

O nordeste é a região brasileira que possui a maior quantidade de assentamentos

criados. Segundo o INCRA (2010), até o final de 2009 existiam na região 3.924 PAs e o

Estado do Maranhão é o que abriga a maior quantidade desses imóveis, com 926 unidades. O

Piauí é o quarto nesse ranking. Naquele ano o número de assentamentos existentes no Estado

era de 480.

A região norte, que possui a maior área do país, é a 2ª região que mais possui

projetos de assentamento. Segundo o INCRA, até 2009 existiam 1.953 PAs sob

responsabilidade do instituto na região. O Estado do Pará, como dito, é o Estado brasileiro

que mais possui assentamentos rurais.

A terceira região brasileira em quantidade de assentamentos é o Centro-Oeste, com

1.181 PAs existentes até 2009. Mato Grosso é o Estado que possui a quantidade de

assentamentos na região.

Nas regiões sul e sudeste o número de assentamentos rurais é bem inferior à porção

norte do país. O sul é a quarta região com maior número de assentamentos criados pelo Incra,

e o sudeste é a região que abriga a menor quantidade de assentamentos no país. Até 2009

eram apenas 708 unidades existentes no sudeste, um número 5,5 vezes menor que no

nordeste, região com maior quantidade.

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

2.3 Reforma Agrária no Piauí

O Piauí é o terceiro maior Estado da região nordeste em área, representando 16,2%

da região e 2,95% do território nacional. A exemplo do que ocorreu no país, a população

urbana do Estado ultrapassou a população rural, evoluindo esse percentual de 23% em 1960,

para 65,7% em 2010. Segundo o IBGE (2010), a população do Estado é de 3,1 milhões de

habitantes, concentrados principalmente na parte norte do Estado. A capital, Teresina,

concentra 26,1% dessa população.

Assim como em nível nacional, o Estado do Piauí apresenta uma estrutura fundiária

marcada pela forte concentração das propriedades. Segundo Andrade (2009), no que diz

respeito às questões fundiárias, as primeiras ações do poder público no Estado foram

realizadas pelo governo federal, por meio de ações de colonização, como a criação, em 1932,

do Núcleo Colonial de David Caldas, com 350 famílias, e em 1959, o Núcleo Colonial do

Gurgueia (260 famílias). Entretanto, essas ações tiveram impacto diminuto na estrutura

fundiária piauiense. A tabela 4 demonstra a estrutura fundiária piauiense.

Tabela 4 – Estrutura fundiária piauiense 2007

Grupo de área (ha) Nº de Imóveis % Área Total (ha) %

Minifúndio 82.220 67,11 1.902.754,39 9,77

Pequena propriedade 29.281 23,89 3.277.455,00 16,83

Média Propriedade 8.142 6.6 3.694.316,30 19,00

Grande propriedade 2.872 2,4 10.603.094,00 54,40

Total 122.515 100,00 19.477,620, 70 100,00

Fonte: Andrade (2009)

Os dados da tabela 06 demonstram que as grandes propriedades ocupam mais da

metade dos hectares cadastrados. Segundo Andrade (2009), apenas 237 dos 2.872 imóveis são

classificados como produtivos. Esses dados demonstram a necessidade de uma ampla reforma

agrária no Estado.

Através da lei estadual nº 3.271/73 o Piauí incorporou as terras devolutas existentes,

ao Patrimônio da Companhia de Desenvolvimento do Piauí (COMDEPI). Através da mesma

lei autorizou a alienação de terras públicas a empresários interessados em investir no Piauí,

mediante a apresentação de projetos de desenvolvimento (ANDRADE, 2009).

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Em 1980, o governo estadual criou o Instituto de Terras do Piauí (INTERPI), órgão

gestor do patrimônio público imobiliário do Estado. Esse órgão foi responsável, a partir de

então, pelo assentamento de um número significativo de famílias no Piauí. Essas ações se

deram através da aquisição de terras por compra direta e pelo uso de terras pertencentes ao

Estado. Segundo o PRRA (INCRA, 2005), de sua criação até 2004, o INTERPI já assentou

7.106 famílias no Piauí, principalmente na região sul do Estado.

Os projetos de assentamentos existentes no Piauí são, em sua maioria, de

responsabilidade do INCRA. Além destes e dos projetos criados pelo INTERPI existem

outras unidades criadas por programas complementares de Reforma Agrária, como o

Programa Fundo de Terra para a Reforma Agrária/Banco da Terra (1998) e o Programa

Nacional de Crédito Fundiário (2002). Esses programas foram criados para atender demandas

diferentes de acesso a terra, como aquelas áreas com dimensões inferiores às consideradas

aptas para desapropriações por interesse social.

Segundo o INCRA (2005) o programa Banco da Terra teve duração pequena no

Piauí, atuando entre 1998 e 2002. Foram criados por esse projeto 53 PAs no Estado,

beneficiando 1.439 famílias. O programa Crédito Fundiário, criado em 2002, beneficiou até

2004 um total de 2.696 famílias, distribuídas em 67 projetos de assentamentos. O INCRA foi

o responsável por 66,4% das famílias assentadas no Estado até 2004. A tabela 5 apresenta o

número de famílias assentadas no Piauí entre 1994 e 2004.

Tabela 5 – Número de famílias assentadas no Estado do Piauí

PERÍODO/ANO INCRA INTERPI

PROGRAMA

DE CRÉDITO

FUNDIÁRIO

PROGRAMA

BANCO DA

TERRA

1981-1994 4.084 1.551 - -

1995 986 1.220 - -

1996 1.791 2.043 - -

1997 1.880 970 - -

1998 2.599 322 - -

1999 1.301

- -

2000 2.589

- -

2001 2.491 200 - 1.439

2002 1.672 98 241 -

2003 580 351 929 -

2004 2.238 351 1.526 -

TOTAL 22.211 7.106 2.696 1.439

Fonte: INCRA (2005)

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

De acordo com o balanço da reforma agrária (INCRA, 2010), até o ano de 2009 foram

criados, no Piauí, 480 projetos de assentamentos pelo INCRA. O Estado é o quarto colocado

em quantidade de assentamentos existentes no nordeste e o sexto do país. Como dito, a

criação de PAs no Brasil tem sido uma resposta aos conflitos gerados e a atuação de

movimentos sociais. A tabela 05 demonstra os conflitos no campo, no Estado entre 1997 e

2003.

Tabela 6 – Conflitos no campo no Piauí (1997-2003)

Discriminação Anos

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

Nº de conflitos 16 48 16 43 10 23 46

Pessoas envolvidas 11.345 20.668 14.960 7.120 2.520 3.802 16.670

Assassinatos - - - - - 3 -

Tentativas de assassinato - - 19 1 - 3 -

Ameaças de morte - 7 7 8 1 100 -

Agressão física - 2 2 - - - -

Torturas - - 15 - - - -

Presos - 5 1 - - - -

Lesões corporais 2 - 17 - - - -

Fonte: INCRA (2005)

De acordo com a tabela 6, mesmo não estando entre os Estados mais violentos do

país no que se refere à questão do campo, o Piauí apresenta, anualmente, um grande número

de pessoas envolvidas em conflitos. Santos (2007), analisando a evolução desses conflitos,

afirma que a maior ocorrência de conflitos entre os anos de 1998 e 2000 foram consequência

da falta de uma política de reforma agrária no Estado e, sobretudo, pelo fortalecimento da

organização dos trabalhadores rurais em suas entidades representativas, tais como a FETAG e

os STRs.

No que se refere à distribuição geográfica dos PAs no Piauí, o que se observa é a

maior concentração de unidades na porção norte do Estado. A predominância de PAs nesses

territórios deve-se a uma maior atuação dos movimentos sociais nessa região e pela existência

de grandes áreas sem utilização, culminando com a intervenção do INCRA. O mapa 1

apresenta a distribuição geográfica dos assentamentos no Piauí.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Mapa 1 – Assentamentos de reforma agrária no Estado do Piauí

Fonte: INCRA (2011)

2.3.1 Perfil dos assentados piauienses

A pesquisa da qualidade de assentamentos desenvolvida pelo INCRA em parceria

com a UFRGS no ano de 2010, traçou um perfil dos assentados da reforma agrária no Brasil.

Foram entrevistadas 16.153 famílias em 1.164 assentamentos rurais das cinco regiões do país.

No geral, os dados obtidos apontaram a predominância de pessoas do sexo masculino (53,4%)

e famílias que possuem, em média, 4 pessoas. A estrutura etária é a seguinte: 44, 82% são

jovens (entre 0 e 20 anos); 47,63% são adultos (21 a 60 anos) e apenas 7,55% possuem mais

de 60 anos.

No que se refere à realidade dos assentados piauienses, a diferença entre homens e

mulheres é muito pequena. O percentual de homens é de 49,91% e o de mulheres é de

49,33%. O percentual de jovens é bem superior a realidade nacional. No Piauí, 66,7% dos

assentados possuem entre 0 e 20 anos. O percentual de adultos é de 29,06% e o de idosos é de

apenas 4,24%, abaixo do percentual nacional.

O nível educacional dessa população é bastante baixo. 19,5% dos assentados

piauienses não são alfabetizados; 44,06% estudaram apenas até a 4ª série e 5,06% terminaram

o ensino médio. O percentual de assentados que chegaram ao ensino superior é inferior a 1%

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

no Piauí. A pesquisa apontou, também, que 89,6% das crianças que moram em

assentamentos rurais no Piauí estão matriculadas na escola.

As condições de vida e moradia dos assentados piauienses também podem ser

vislumbradas a partir da pesquisa do INCRA (2010). No que se refere à disponibilidade de

água, 61,42% dos entrevistados afirmaram que a água disponível é suficiente para suas

necessidades. A energia elétrica já está disponível a 88% dos assentados piauienses, mas

destes, 56,3% reclamam da qualidade do serviço. O saneamento básico deixa a desejar.

Apenas 1,71% possui rede de esgoto e apenas 15,04% das casas possui fossa séptica. A

situação das vias de acesso também foi avaliada. 38,5% consideram péssimas as condições

das estradas; 23,95% consideram ruim e apenas 8,7% classificaram como boa.

A pesquisa do INCRA (2010) também avaliou as condições de produção dos

assentados no Brasil. Os dados referentes ao Piauí estão na tabela 7.

Tabela 7 – Avaliação das condições de produção dos assentados piauienses

VARIÁVEL AVALIAÇÃO

Ótimo Bom Razoável Ruim Péssimo

Fertilidade do solo 4,78 52,71 24,29 8,99 1,67

Conhecimento de técnicas de produção 7,78 31,46 26,01 19,79 6,58

Avaliação do tamanho do lote, considerando a área

útil 6,49 56,44 17,64 8,15 1,04

Nível de satisfação com a comercialização dos

produtos 5,74 28,08 18,99 31,66 6,5

Fonte: INCRA (2010)

Os dados da tabela demonstram que mais da metade dos assentados piauienses está

satisfeita com a fertilidade da terra e com o tamanho dos lotes. No que se refere ao

conhecimento sobre técnicas de produção, 26,37% afirmaram que seus conhecimentos são

ruins ou péssimos e, além disso, 38,16% não estão satisfeitos com a comercialização dos

produtos (ruim ou péssima).

Por fim, a pesquisa avaliou a satisfação dessa população com suas condições de vida,

comparando com sua situação antes de ser assentado. Em todas as variáveis pesquisadas

(moradia, renda, alimentação, saúde e educação) mais de 50% dos entrevistados piauienses

afirmaram que as condições atuais são melhores do que as anteriores.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1 Caracterização da área de estudo

O assentamento Angico Branco, objeto dessa pesquisa, está localizado no município

de Castelo do Piauí. Esta cidade e grande parte do território piauiense está inserido na bacia

hidrográfica do rio Paranaíba. Esta bacia hidrográfica ocupa uma área de 331.441 km² sendo a

mais extensa bacia integralmente nordestina. Além do Piauí, que abriga 69,29% da área, a

bacia do Parnaíba abrange municípios do Maranhão e do Ceará. (PLANAP, 2006)

No contexto da bacia hidrográfica do rio Parnaíba o município de Castelo do Piauí está

localizado no território dos carnaubais. Esse território abriga 26 municípios subdivididos em 3

aglomerados. Dentro desta subdivisão, Castelo do Piauí faz parte do aglomerado 6 juntamente

com as cidades piauienses de Assunção do Piauí , Buriti dos Montes, Juazeiro do Piauí, Novo

Santo Antonio, São João da Serra e São Miguel do tapuio. O mapa 02 apresenta o mapa da

bacia hidrográfica do rio Parnaíba destacando o território dos carnaubais.

Mapa 2 – Território dos carnaubais na bacia hidrográfica do Paranaíba

Fonte: PLANAP (2006)

O Poti é o principal rio existente na região. A vegetação é caracterizada como área de

transição entre o cerrado e a caatinga (ecótono) com predomínio da caatinga arbustiva e

arbórea. O clima da região apresenta altas temperaturas que variam entre 21°C e 40°C e é

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

classificado como semi-árido. O quadro 01 apresenta as características fisiográficas e

ambientais do território dos carnaubais.

Características Descrição

Cobertura vegetal Área de transição entre cerrado e caatinga, com predominância das áreas de

caatinga arbustiva e arbórea nos Ags* 29 e 6. No AG 5 predominam áreas de

parque/cerrado e parque/cerradão

Unidades de

conservação

RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) serra das Almas, em Crateús,

criada em agosto de 2000, com área de 5.646 ha, e RPPN – Marvão, em Castelo

do Piauí. Fazenda Boqueirão com 5.096 ha. Criado pela Portaria (IBAMA) no 42

de 10/08/2000.

Relevo Planalto da Ibiapaba, predominando os relevos de topos planos, com amplos

interflúvios modelados nos arenitos da formação Serra Grande

Geossistemas Cuesta da Serra Grande, depressão de Crateús e baixada de Campo Maior

Precipitação A precipitação média anual está entre 800 mm e 1.000 mm, com maior

concentração nos meses de janeiro a Março

Evaporação A evaporação média anual varia de 1.425 mm a 1.710 mm, acentuando-se nos

meses de setembro a novembro

Umidade relativa Subúmido, com moderado excesso de água

Insolação A insolação média anual é de cerca de 3.000 horas/ano, sendo mais acentuada de

julho a outubro

Principais rios e

lagoas

Rio Poti, que abre uma garganta com desnível de cerca de 300 m. Longá,

Correntes, Macambira, Jenipapo, Surubim, Maratoan, Acaraú

Temperatura Temperatura mínima anual variando de 21 °C e máxima anual de 40 °C.

Clima Semi-árido quente, com seis meses secos

Água subterrânea A formação Serra Grande é o principal sistema aqüífero da região, com maior

potencial para o artesianismo. Sistema intergranular. O potencial hídrico varia de

muito fraco a fraco

Geologia Cuesta da Serra Grande – apresenta uma morfologia dissimétrica, condicionada

por estruturas monoclinais que lhe imprimem um caráter cuestiforme.

Coberturas areno-argilosas, com solos profundos, textura média, permeáveis,

ditos latossolos amarelos álicos e areias quartsozas álicas

Depressão de Crateús – caracterizada por feições planas irregulares, modeladas

sobre embasamento cristalino tipo migmatito, granitóide, gnaisses e xistos. Solos

rasos, pouco permeáveis, pedregosos. Brunos não cálcicos e podzólicos

vermelho-amarelos, ambos eutróficos

Data do período devoniano, constituída por formações Cabeça e Pimenteiras.

Formação Cabeça – formada de arenito creme-avermelhado, médio a grosseiro.

Leitos espessos com estratificação cruzada

Formação Pimenteira – formada de folhelhos e siltitos marrons, cinza-escuros e

pretos micáceos em níveis de cólitos piritosos com intercalações de arenitos,

principalmente no topo

Formação Longá – caracterizada por áreas deprimidas da região de Campo

Maior, constituídas por uma extensa depressão, contendo áreas alagadiças

resultantes da impermeabilidade das seqüências eminentemente pelíticas Em

toda a área nota-se a vegetação de parque, com mistura de savana/estepe

Quadro 1 – Características fisiográficas e ambientais do território dos carnaubais

Fonte: PLANAP (2006)

*aglomerados de municípios. Castelo do Piauí está no AG 6.

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Segundo o IBGE (2010), a população de Castelo do Piauí é de 18.336 habitantes, dos

quais 62,6% residem na área urbana. Em termos absolutos, a cidade apresenta a 3ª maior

população entre os municípios do território dos carnaubais (atrás de Campo Maior e São

Miguel do Tapuio).

No que se refere à estrutura etária, o IBGE (2010) apontou predominância da

população jovem, com 46,4% desse contingente na faixa etária entre 0 e 19 anos; seguida da

população adulta, com 43,7 % (entre 20 e 59 anos) e 9,9% acima dos 60 anos. Predomina no

município a população do sexo feminino (50,6%).

As atividades econômicas que estão em expansão no território dos carnaubais são a

apicultura, a cajucultura,o extrativismo da carnaúba, a ovino-caprinocultura, o turismo e a

extração de pedra. Apresentam tendência de crescimento a avicultura caipira, a piscicultura e

a mamona. As atividades que estão em decadência são a suinocultura e o cultivo de algodão e

de mandioca. PLANAP (2006).

No que se refere ao extrativismo, destacam-se nesse território o pó de carnaúba, o

tucum, o buriti, a madeira e a extração mineral (calcário, argila e rochas ornamentais).

Castelo do Piauí é um dos cinco maiores produtores de pó de carnaúba do Estado.

Entre 2007 e 2010 a produção anual tem variado entre 420 e 490 toneladas de pó segundo

dados da PEVS/IBGE. As principais limitações dessa atividade existentes no território

segundo o PLANAP (2006) são: a baixa qualificação da mão-de-obra; o desmatamento de

áreas de carnaubais; o baixo padrão tecnológico utilizado pelas pequenas agroindústrias, que

acabam por não produzir a cera de carnaúba; o baixo nível de organização dos produtores; a

fragilidade do APL da carnaúba em relação à inclusão dos trabalhadores que lidam com a

extração da palha da carnaúba e inexistência de uma política de incentivo ao aproveitamento

dos produtos da carnaúba, com agregação de valor.

O território dos carnaubais abriga 6,5% dos assentamentos piauienses. Segundo o

Plano Regional de Reforma Agrária do Piauí (INCRA, 2005) existem no Estado três grandes

regiões diferentes, no que se refere à demanda por Reforma Agrária. Grande parte do

território dos Carnaubais é enquadrada como área de maior atenção para a regularização

fundiária e arrecadação de terras públicas.

São dois os assentamentos rurais criados pelo INCRA em Castelo do Piauí. O PA

Angico Branco, que foi criado em 1997, e o PA Caraíbas, criado em 2005. Além destes

existem ainda os projetos criados pelos programas complementares de reforma agrária:

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Cumbe de baixo, Ingazeira, Espinhos, Palmeirinha, Picos, Buriti do Sobrado. O mapa 3

apresenta os assentamentos rurais criados na região de Castelo do Piauí pelo INCRA

Mapa 3 – Assentamentos rurais criados pelo INCRA em Castelo do Piauí e região

Fonte: INCRA (2011)

As principais limitações referentes ao uso da terra no território dos carnaubais

apontadas pelo PLANAP (2006) são: a maioria dos agricultores trabalharem como

arrendatários, meeiros e parceiros; a produção agrícola voltada apenas para o autoconsumo; o

número de famílias vivendo em assentamentos, superior às assentadas oficialmente; o padrão

tecnológico rudimentar nas práticas agropecuárias; as organizações pouco atuantes e em sua

maioria existentes apenas para obtenção de crédito e a baixa capacitação dos trabalhadores.

3.2 Procedimentos metodológicos

A escolha da região de Castelo do Piauí para realização da pesquisa se deve ao fato

desse território ser enquadrado como área de maior atenção para regularização fundiária e

arrecadação de terras públicas (INCRA, 2005). Por sua vez, o assentamento Angico Branco

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

foi escolhido por ser o mais antigo assentamento rural criado no município e pela maior

disponibilidade de informações junto ao INCRA-PI.

A metodologia empregada na pesquisa foi o estudo de caso. Segundo Yin (2001), o

estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro

de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é

claramente evidente, e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas. Assim como outras

estratégias de pesquisa, o estudo de caso representa uma maneira de se investigar um tópico

empírico, seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-especificados, como observação

direta e entrevistas.

As informações primárias foram adquiridas mediante visitas técnicas ao

Assentamento Angico Branco, que ocorreram no período entre junho de 2009 e junho de

2011. Durante as sucessivas visitas técnicas foi possível realizar observações, obter registros

fotográficos e realizar entrevistas junto ao presidente da associação de produtores do

assentamento e a alguns trabalhadores. A partir disso, foi possível conhecer a realidade

vivenciada pelos moradores e caracterizar as atividades econômicas desenvolvidas.

Também foram examinados os cadastros dos associados no sindicato de

trabalhadores rurais de Castelo do Piauí e da associação de produtores do assentamento

Angico Branco. Esses dados serviram para conhecer aspectos sociais dos moradores da

comunidade, tais como origem, escolaridade, estado civil etc. O censo agropecuário do

assentamento Angico Branco foi outro documento utilizado. Esse estudo foi realizado pela

associação, entre os anos de 1998 e 2001. Foram ainda realizadas entrevistas junto ao

presidente do STR de Castelo do Piauí e da associação de produtores do assentamento.

Foram utilizadas algumas publicações do INCRA como fontes de informação

secundária. O processo de criação do assentamento Angico Branco foi um desses

documentos. Este caracteriza o imóvel rural, apresentando suas características naturais, as

possibilidades produtivas e descreve seu surgimento. Outra publicação utilizada foi o

“balanço da reforma agrária no Brasil”, disponível no site do INCRA. Esse material

demonstra os números da reforma agrária no país nos últimos 15 anos, apresentando dados

como o número de assentamentos criados e a área incorporada à reforma agrária em cada

Estado e região.

Ainda como publicação do INCRA, utilizou-se a pesquisa da qualidade de

assentamentos (INCRA, 2010). Essa pesquisa foi realizada no ano de 2010 e foi conduzida

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

em parceria com a UFRGS. O trabalho teve como objetivo organizar indicadores sobre o

desenvolvimento dos assentamentos rurais brasileiros. O universo da pesquisa é composto

por 805.107 famílias assentadas entre 1985 e 2008, sendo entrevistadas 16.109 famílias em

1.161 assentamentos rurais de 26 Estados brasileiros. Os dados obtidos para o Piauí foram

confrontados com a realidade observada no assentamento Angico Branco, na pesquisa de

campo.

O mapeamento do assentamento, a demarcação da área de reserva legal e a

identificação e medição das áreas de cultivo e das áreas com vegetação alterada, se deram

com o uso de aparelho GPS, do aplicativo do INCRA i3geo e do software Google Earth.

Através destes, foi possível determinar a área aproximada da reserva legal, bem como das

áreas de cultivo e com vegetação alterada.

O diagnóstico dos problemas ambientais existentes no assentamento pesquisado deu-

se através da metodologia de listagem (check list). Esse procedimento consiste em apresentar

a relação dos impactos mais relevantes de um empreendimento, podendo associá-los às

características ambientais afetadas e às ações que os provocam. Essa listagem pode constar de

uma simples relação de impactos, como também atribuir pontos aos mesmos, de forma a

indicar sua magnitude, ou, ainda, fazer uma comparação entre diversas alternativas para um

empreendimento (OLIVEIRA, 2005).

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Origem, localização e caracterização física

O terreno em que foi criado o assentamento Angico Branco pertenceu ao ex-

governador Jacob Manoel de Gayoso e Almendra. O coronel Gayoso, como era chamado,

governou o Piauí entre 1955 e 1959, e foi ainda deputado estadual e federal. O ex-governador,

que faleceu em 1976, era dono de muitas propriedades rurais na região da bacia do rio Poti. A

fazenda Angico Branco foi adquirida pelo INCRA em novembro de 1984, com recursos do

programa PROTERRA/FUNTERRA1 (INCRA, 1997).

Mesmo adquirido por meio de compra e venda, a criação do PA Angico Branco foi

marcada por uma disputa entre os assentados e o dono de uma propriedade vizinha, o

empresário do setor de transportes, Edmilson Carvalho. Segundo José Garcia, morador do

assentamento desde sua fundação, o empresário invadiu parte do assentamento em 1982, e

isso gerou uma disputa judicial entre este e o INCRA, que só se encerrou em 1999. O

momento mais crítico da crise ocorreu em 1998, quando o empresário colocou 4 pistoleiros na

região, para evitar que os assentados trabalhassem na área. O fato foi noticiado no jornal meio

norte de novembro de 1998 (anexo A).

O assentamento Angico Branco foi criado em maio de 1997, e possui uma área de

2.014 ha. Esse assentamento abriga 57 famílias, que estão divididas em duas agrovilas. A

agrovila fornos, localizada na porção sul do imóvel, abriga 20 famílias. A outra agrovila

chama-se Angico Branco. Nesse núcleo, que se localiza na porção norte do imóvel, estão

assentadas 37 famílias. O mapa 4 apresenta os assentamentos rurais criados pelo Incra, no

Piauí, destacando a localização do PA Angico Branco.

1 Programa criado pelo governo federal em 1971 que cedia terra para trabalhadores sem terra, mas não

contemplava incentivos de crédito e infra-estrutura básica.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Mapa 4 – Localização do assentamento Angico Branco-PI

Fonte: INCRA (2011)

O assentamento Angico Branco está localizado a nordeste do município de Castelo

do Piauí, e a distância entre o imóvel e a sede municipal é de 25 km. A estrada que faz essa

interligação é do tipo carroçal, e esta se encontra em bom estado de conservação. No período

chuvoso a estrada é cortada, em dois pontos, por riachos intermitentes. Entretanto, esses

cursos d’água não possuem grande vazão, e por isso não comprometem a passagem de

veículos.

Por meio de aparelho GPS e através do aplicativo i3geo (INCRA, 2011) constatou-se

que a altitude na região que compreende o assentamento Angico Branco varia de 37 a 444

metros, e que estas cotas decrescem de nordeste para sudoeste.

Segundo o INCRA (1997), o relevo da região é 40% plano, 40% forte ondulado e

30% suave ondulado e a vegetação da região é caracterizada como área de tensão ecológica

(fragmentos de cerrado e caatinga). As principais espécies da fauna e da flora estão listadas no

quadro 01.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

FLORA FAUNA*

Nome comum Nome científico Nome comum Nome científico

Angico branco Albizianiopoides Calango Tropidurushispidus

Mororó Bauhiniaforficata Camaleão Iguana iguana

Pau D’arco Tabebuia SP Caninana Spilotespullatus

Sabiá Mimosa caesalpinifolia Cascavel Crotalusdurissus

Jatobá Hyminaeacourbaril Cobra de duas cabeças Ambphisbaenasp

Argamoso Tipuana fusca Cobra cipó Chironiusflavolineatus

Imburana de Cheiro Amburunacearensis Jiboia Boa constrictor

Jurema preta Mimosa acutistipula Jararaca Thamnodynastessp

Angico de Bezerro Piptadeniamoniliformis Falsa coral Apostolepiscearensis

Aroeira Astroniumurundeuva Cobra verde Phylodriassp

Piquiá Aspidosperma SP Coral verdadeiro Micrurusibiboboca

Mofumbo Combretumleprosum Guaxinim Procyonscancriovouros

Angico Anadenantheracolumbrina Macaco prego Cebusapella

Espinheiro preto Mimosa malacocentra Preá Galea SP

Marmeleiro Mormon SP Soim Callithrixjacchus

Mandacarú Cereus jamacaru Tatu Dasypusnovencincuts

Carnaúba Coperniciaprounifera Mucura Didelphisalbiventris

Juazeiro Ziziplusjoazeiro Raposa Cerdocyonthous

Macambira Bromelialaciniosa Cotia Dasyproctaaguti

Violeta Peltogynecatingae Morcegos Artibeuslituratus

Imburana de espinho Magoniaglabrata Ciriema Criamacristat

Araçá Psidium araçá Anum preto Crotophagaani

Pajeú Triplarisbaturitensis Urubu Coragyspsatratus

Angelim Andira SP Sabiá Turdusleucomelas

Chichá Sterculia chicha Bem-Te-Vi Pitangussulphuratus

Oiti Qualeagrandiflora Corrupião Icterusjamacaii

Quadro 2: Fauna e flora do assentamento Angico Branco

Fonte: INCRA (1997)

* listadas apenas as classes repitilia, mammalia e ave.

O quadro 2 apresenta o levantamento de espécies vegetais e animais (classes reptilia,

mammalia e aves) realizado pelo INCRA, quando da criação do assentamento. Segundo os

moradores entrevistados, algumas das espécies animais listadas não são mais vistas no

imóvel, tais como guaxinim (Procyonscancriovouros), macaco prego (Cebusapella) e raposa

(Cerdocyonthous).

Segundo o PLANAP (2006) o clima da região que compreende o assentamento

Angico Branco é semiarido a subúmido. As temperaturas variam entre 25°C e 35°C, e

precipitação anual entre 700 e 1000 mm.. O período chuvoso é compreendido entre os meses

de dezembro e maio (verão e parte do outono) e, segundo o INCRA (1997), a precipitação

média anual no assentamento Angico Branco é de 800 mm.

A região em questão compreende a microbacia hidrográfica do rio Poti. O

assentamento Angico Branco possui alguns riachos intermitentes, que foram aproveitados

para construção de dois açudes. O açude do Inês (figura 05) está localizado nas imediações

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

da agrovila fornos. Esse reservatório d’água é utilizado principalmente na irrigação de

culturas. No período seco os animais utilizam essa água para consumo. O outro açude está

localizado na agrovila Angico Branco, e este teve sua construção concluída em janeiro de

2011. A fotografia 1 demonstra o açude do Inês durante o período seco e no período chuvoso.

Fotografia 1 – Açude do Inês: assentamento Angico Branco (outubro 2010 e maio de 2011)

Fonte: O autor

A associação de pequenos produtores do assentamento Angico Branco afirma que

existe a intenção de que seja feito um projeto para levantar recursos para a prática da

piscicultura nos açudes. Entretanto, não existe consenso dentro da associação, sobre a

viabilidade do projeto, haja vista o fato de os açudes praticamente secarem no período de

estiagem.

4.2 Infraestrutura

Em 1996 foi criada a Associação dos Pequenos Produtores do Assentamento Angico

Branco. Como dito anteriormente, a organização de trabalhadores em associações e/ou

cooperativas pode favorecer aos moradores a conquista de melhorias nos respectivos

assentamentos. No processo de criação do assentamento Angico Branco (INCRA, 1997), o

INCRA realizou um diagnóstico da infraestrutura existente no imóvel e fez uma previsão do

que deveria ser implantado nos quatro anos seguintes à criação do assentamento.

A infraestrutura existente ali, anterior à implantação do projeto de assentamento,

resumia-se a 13 casas de estrutura simples e uma estrada interligando a propriedade à sede do

município. Segundo José Garcia, líder comunitário e um dos primeiros moradores, as casas

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

eram de antigos trabalhadores da fazenda, e de pessoas que aguardavam a criação do

assentamento.

O quadro 3 demonstra a previsão dos investimentos e da infraestrutura a ser

implantada no assentamento nos quatro anos seguintes a sua criação.

DISCRIMINAÇÃO UNIDADE ANOS/QUANT ANOS/QUANT ANOS/QUANT ANOS/QUANT

Assentamento Fam 57

Cred. Alimentação Fam 57

Cred. Fomento Fam 57

Habitação Fam 57

Estrada penetração Km 25

Escola m² 01

Posto de saúde m² 01

Centro comercial m² 01

Armazém m² 01

Custeio Fam 57 57

Quadro 3 – Assentamento Angico Branco: infraestrutura física plurianual

Fonte: INCRA (1997)

Algumas das metas estabelecidas pelo instituto foram cumpridas. Em 1998,

exatamente como previa o plano plurianual, foi entregue aos moradores uma escola de ensino

infantil. A escola conta com apenas uma sala de aula, pátio e banheiro. Foram assentadas as

57 famílias previstas ainda no primeiro ano de existência e os créditos iniciais (alimentação e

fomento) também foram disponibilizados.

As ações que não foram realizadas foram a construção de um posto de saúde, de um

centro comercial e de um armazém. A associação de pequenos produtores do assentamento

afirma desconhecer a previsão de construção dessas melhorias no assentamento.

A construção das casas, que tinha previsão de entrega em 1998, só teve início em

maio de 2001 e conclusão em novembro do mesmo ano, segundo registros da associação de

pequenos produtores do assentamento. Todas as 57 casas do assentamento Angico Branco

foram construídas no mesmo padrão, com sala, cozinha, dois quartos e banheiro interno. As

residências são em tijolo e telha, e piso em cimento.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Fotografia 2 – Escola infantil e casa no assentamento Angico Branco

Fonte: O autor

A associação de pequenos produtores do PA Angico Branco possui registros das

demais melhorias implantadas no assentamento. Segundo esses registros, no ano 2000 foi

entregue um poço equipado, e em 2001 foram concluídos quatro quilômetros de estrada

interligando as duas agrovilas do assentamento. A energia elétrica começou a ser implantada

em março de 2002 (início da colocação dos postes de energia entre o município e o

assentamento), mas só foi interligada em julho de 2005.

No que se refere aos investimentos previstos, os créditos alimentação e fomento

foram disponibilizados aos assentados em 1997, como previa o plano de execução (quadro

02). Segundo a associação de pequenos produtores, esses recursos foram destinados à

aquisição de instrumentos de trabalho, insumos agropecuários, produtos alimentícios e outros.

Segundo o Incra(1997), o crédito alimentação, disponibilizado aos assentados no Angico

Branco, foi de R$ 340,00 por família, totalizando R$ 19.380,00, e o fomento foi de R$

740,00, totalizando R$ 42.180,00. No ano de 2003, trinta assentados filiados à associação

receberam recurso dos PRONAF.

Segundo a associação de pequenos produtores, essa foi a única vez que os moradores

do assentamentos foram contemplados com recursos do PRONAF. Segundo a Pesquisa

Nacional da Qualidade de Assentamentos, apenas 49,4% dos assentados piauienses já

receberam recursos desse programa.

O assentamento Angico Branco não possui rede de esgotos, uma realidade comum

em 98% dos assentamentos do Piauí, segundo o INCRA (2010). Entretanto, a disponibilidade

de água não aparenta ser um problema nesse assentamento. Todas as casas possuem cisternas,

que captam a água no período chuvoso. A comunidade conta ainda com dois açudes, um em

cada agrovila. O açude do Inês, como é chamado pelos moradores, foi concluído em

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

dezembro de 2004, e fica situado na agrovila fornos. Um novo açude foi concluído em 2011 e

abastece a agrovila Angico Branco. No Piauí, 61,42% dos assentados afirmam que a água

disponível é suficiente para suas necessidades e atividades (INCRA, 2010).

4.3 Perfil dos assentados

Através da análise dos cadastros da associação de pequenos produtores do

assentamento e de entrevista ao presidente da mesma entidade, pode-se traçar um perfil dos

moradores do assentamento Angico Branco. Alguns dados obtidos podem ser comparados

com a Pesquisa Nacional da Qualidade de Assentados (INCRA, 2010).

Todos os chefes de família assentados no Angico Branco nasceram na cidade de

Castelo do Piauí ou na vizinha cidade de Juazeiro do Piauí, desmembrada do primeiro

município em 1995. No que se refere à educação, os dados apontaram que 68% dos chefes de

família do assentamento Angico Branco são analfabetos ou não terminaram o ensino

fundamental. Segundo a Pesquisa Nacional da Qualidade de Assentamentos (INCRA, 2010),

no Piauí, o percentual de assentados analfabetos ou com pouca escolaridade é de 63,5%.

A Associação de Pequenos Produtores do Angico Branco realizou, entre 1998 e

2001, o censo agropecuário e de população do assentamento. O trabalho, que era realizado no

segundo semestre de cada ano, teve sua realização suspensa a partir de 2001. Segundo a

associação de pequenos produtores, a suspensão dessa prática se deu, nas palavras do

presidente, por atropelos no decorrer dos anos e pelas mudanças sucessivas na direção. De

acordo com dados, em 1998 a população residente no assentamento era de 281 pessoas. Nos

anos seguintes houve uma gradativa redução da população. A tabela 8 apresenta a população

do assentamento Angico Branco ao longo dos anos.

Tabela 8 – População assentada no PA Angico Branco

ANO POPULAÇÃO

1998 281

1999 246

2000 177

2001 167

2010* 176

Fonte: Associação de pequenos produtores do assentamento Angico Branco

* Analise dos cadastros da associação 2010

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

A justificativa dada pela associação, para redução do número de habitantes no

assentamento Angico Branco deve-se a saída de jovens para estudar, e a migração de

trabalhadores. Muitos assentados possuem parentes residindo na sede do município. Assim,

devido à distância e ao horário das aulas do ensino médio, muitos jovens moram na cidade e

passam apenas os finais de semana na comunidade.

Existe também a migração de pessoas. Ainda que temporariamente, muitos

trabalhadores viajam para trabalhar em outras regiões do país, e as famílias vão para casa de

parentes nesse período. Segundo a associação, existem casos de famílias que chegam a ficar

seis meses fora do assentamento.

De acordo com a associação, 100% dos chefes de família do assentamento estudado

são filiados à entidade. O alto percentual de participação em sindicatos e associações é

demonstrado na pesquisa do INCRA (2010). Segundo o estudo, no Piauí, 91,65% dos

assentados participa de alguma dessas entidades. Entretanto, segundo o presidente da

associação de pequenos produtores do assentamento Angico Branco, a frequência às reuniões

e o pagamento de contribuições e/ou parcelas de financiamento deixa a desejar.

No que se refere às condições de produção foi observado que a maioria dos

assentados está satisfeita com a fertilidade da terra e com o tamanho dos lotes. Entretanto,

quando questionados sobre o conhecimento de técnicas de produção, a grande maioria afirma

que seus conhecimentos são apenas razoáveis.

A satisfação com a comercialização dos produtos é também apenas razoável. A

associação acredita que um incentivo importante seria copiar o que existe em outros locais do

país, onde o poder público compra parte da produção dos assentamentos e utiliza nas escolas

públicas e entidades assistidas.

Todos os assentados nesse projeto nasceram na região. Isso é importante porque há

entre eles uma ligação com esse lugar, que é seguramente maior do que se estes sujeitos

fossem de outras cidades. Mesmo com as dificuldades encontradas na produção, no acesso à

educação, à saúde e tantas outras, os moradores demonstram satisfação em morar no

assentamento, orgulho por aquele chão e esperança em melhorias nas condições de vida.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

4.4 Atividades econômicas no assentamento Angico Branco

As principais atividades econômicas desenvolvidas no assentamento Angico Branco

são o plantio de milho e feijão e a criação de ovinos e caprinos. Essas atividades são

predominantemente para comercialização. Além destas, o plantio de mandioca, a criação de

aves, suínos e bovinos e a extração de pó de carnaúba são outras atividades realizadas.

O projeto de criação do assentamento Angico Branco (INCRA, 1997) apresenta uma

previsão da produção agropecuária esperada. As culturas listadas no documento são: arroz,

feijão, milho e mandioca, e a criação de bovinos, caprinos e ovinos. A tabela 9 demonstra a

previsão feita pelo INCRA (1997).

Tabela 9 – Diagnóstico da produção agropecuária esperada no assentamento Angico Branco

ATIVIDADES ÁREA (HA) PRODUÇÃO

Unidade Quantidade Valor em reais

AGRICULTURA

Arroz 39 Ton 94 14.500,00

Milho 39 Ton 63 18.900,00

Feijão 39 Ton 23 9.200,00

Mandioca 39 Ton 177 44.000,00

PECUÁRIA

Bovinos 30.000 cab. 30 6.000,00

Caprinos cab. 150 2.250,00

Suínos cab. 15 300,00

Aves cab. 300 750,00

Fonte: INCRA (1997)

Como dito anteriormente, a Associação de Produtores do PA Angico Branco

realizou, nos primeiros anos após sua criação, o censo agropecuário do assentamento. O

levantamento feito pela entidade demonstrou que as culturas mais desenvolvidas no

assentamento são o milho e o feijão. De acordo com a Pesquisa da Qualidade de

Assentamentos (INCRA, 2010), em nível nacional, entre os mais de 200 produtos da reforma

agrária, o leite, o milho e o feijão são os que mais se destacam na formação da renda das

famílias. A tabela 10 apresenta o censo agropecuário do PA Angico Branco.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Tabela 10 – Censo agropecuário do Assentamento Angico Branco (1998-2001)

Agricultura (sacos colhidos) Pecuária (cabeças)

ANO Milho Feijão Arroz Farinha Bovinos Caprinos Ovinos Suínos Aves Animal

1998 595 195 195

102 317 130 189 725 65

1999 927 411 73

81 321 155 141 827 54

2000 688 175 77 64 70 277 124 186 740 37

2001 682 249 159 88 64 177 136 142 251 41

Fonte: Associação de Pequenos Produtores do Assentamento Angico Branco

Da comparação entre a produção esperada pelo INCRA (1997) e a diagnosticada

pelo censo realizado pela associação, algumas afirmações podem ser feitas. No que se refere à

produção agrícola, chama atenção, inicialmente, a baixa produção de arroz. O documento do

INCRA apontava esse produto como o que teria a segunda maior produção no assentamento.

Entretanto, os dados demonstram que essa cultura esteve sempre abaixo do milho e do feijão

e, além disso, a pesquisa de campo demonstrou que essa cultura foi abandonada pelos

moradores.

O milho é a cultura mais desenvolvida na comunidade, sendo sua produção duas

vezes maior que a de feijão e três vezes superior a de arroz, no período analisado. Esse

produto é utilizado na subsistência, como alimento para os animais, e parte do excedente é

vendido na cidade de Castelo do Piauí.

No que se refere à pecuária foi verificado que em todos os rebanhos presentes no

assentamento, a quantidade existente supera o número de cabeças estimado pelo INCRA

(1997) no período analisado. O rebanho bovino, mais oneroso e com maior exigência de

cuidados, é o que se apresenta em menor número. Segundo o presidente da associação de

produtores, o número de cabeças de gado, hoje, não deve chegar a 30.

4.4.1 O extrativismo do pó de carnaúba

O extrativismo de pó de carnaúba é outra fonte de renda no assentamento Angico

Branco. A carnaúba (Copernicia prunifera) é uma planta nativa do nordeste brasileiro,

presente especialmente no Piauí e no Ceará. Geralmente ocorre em pontos mais próximos dos

rios, preferindo solos argilosos, aluviais e com capacidade de suportar alagamento prolongado

durante o período chuvoso, possuindo ainda grande resistência ao calor (ALVES, 2008).

Segundo Gomes et al. (2006), as regiões de ocorrência natural da carnaúba estão

sujeitas ao clima tropical e tropical semiárido. São plantas que, em função da adaptação à

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

aridez, são enquadradas como xerófilas. Assim mesmo, a disponibilidade de umidade no solo

é fundamental para seu processo de germinação.

O principal aproveitamento econômico da carnaúba dá-se pela retirada do pó que

recobre suas palhas. Do pó se produz a cera de carnaúba, um material empregado em diversos

setores da indústria, tais como de cosméticos, produtos de limpeza, papelaria, informática e

produtos da área médica/saúde.

Além do pó, a carnaúba tem ainda outras utilizações. A raiz é usada na produção de

xaropes; o fruto (amêndoa) é utilizado para produção de farinha, leite e óleo; a palha pode ser

utilizada na fabricação de peças artesanais, e o tronco, que por ser bastante resistente e não

suscetível ao cupim, é utilizado na confecção de artefatos torneados (bengalas, utensílios

domésticos, caixas) e de moveis rústicos (ALVES, 2008).

A atividade extrativa de pó de carnaúba tem sua importância ampliada, na medida

em que ocorre no período de estiagem, quando a produção agrícola é reduzida. O PA Angico

Branco possui aproximadamente 10 ha ocupados por carnaúbas, localizados na porção norte

do assentamento. Segundo a associação de pequenos produtores do assentamento, a atividade

gera, anualmente, em torno de 100 milheiros de palha, que rendem de 7 a 8 kg de pó por

milheiro, resultando em aproximadamente 800 kg de pó de carnaúba. A fotografia 3 apresenta

a área de carnaubal do assentamento Angico Branco.

Fotografia 3 – Carnaubal no assentamento Angico Branco

Fonte: O autor

A exploração do carnaubal é feita através de um leilão. Apenas trabalhadores ativos

na associação de pequenos produtores podem participar da concorrência pelo direito de

explorar o carnaubal. Segundo a entidade, o lance médio do vencedor gira em torno de R$

850,00 a R$ 900,00 reais. O valor é pago à associação antes do início do processo de retirada

das palhas.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

O vencedor do leilão emprega os apenas trabalhadores residentes no próprio

assentamento. Segundo a associação de trabalhadores isso não é regra, mas sempre ocorre.

Entretanto, a atividade só emprega entre 5 e 10 trabalhadores por ciclo. São pessoas

responsáveis pelo processo de corte, recolhimento e transporte das palhas.

Segundo o vencedor do leilão no ano de 2010, a renda dos trabalhadores contratados

para o processo de extração de pó de carnaúba é paga após a venda da matéria-prima. As

diárias dos trabalhadores variam de R$ 10,00 a R$ 12,00, de acordo com a função

desempenhada. Ainda segundo o informante, o processo de retirada, transporte e secagem

levou pouco mais de um mês em 2010.

O processo de batição das palhas é feito por meio de máquina. Segundo o vencedor

do leilão no ano de 2010, o comprador do pó produzido, que não teve o nome informado pelo

mesmo, foi o responsável pela contratação do caminhão para o processo de retirada do pó. O

valor do serviço é descontado na venda final do produto.

Ainda segundo o mesmo informante, a negociação do produto final não ocorreu antes

da realização do leilão. O assentado afirma que desconhece qualquer interferência de futuros

compradores na realização do leilão, e que o vencedor da concorrência tem se alternado

durante os sucessivos anos. Assim mesmo, o informante afirma que já ganhou a concorrência

em 3 oportunidades.

As condições de trabalho são bastante precárias. Não existem inovações no processo

produtivo e os trabalhadores não se utilizam de equipamentos especiais de proteção, apenas

de camisa com mangas longas e chapéu. As ferramentas são rústicas, tais como vara de

bambu, foice, facão, carroça etc. Segundo o presidente da associação de pequenos produtores,

nunca houve qualquer incidente grave decorrente dessa atividade.

4.4.1.2 O manejo do carnaubal

Os 10 ha de carnaúbas existentes no assentamento Angico Branco estão localizados

numa área plana localizada na porção norte da propriedade. Em alguns pontos as palmeiras

encontram-se bastante próximas entre si, e a presença de arbustos e outras plantas de médio

porte dificultam o acesso a estas. A grande densidade de palmeiras e a presença de arbustos ao

redor destas pode acarretar em perca de produtividade, pela dificuldade de acesso e transporte

das palhas até o local de secagem.

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

A associação de pequenos produtores afirma que antes do processo de retirada das

palhas é feita uma limpeza da área (roço) para facilitar o processo de extração. Entretanto,

segundo o próprio informante, mesmo com a limpeza os trabalhadores encontram dificuldades

em acessar parte da área de carnaubal.

A limpeza da área é complementada com a queima do material retirado. Segundo o

vencedor do leilão em 2010, a queima é feita numa área afastada das palmeiras, para evitar

prejuízos a estas e a atividade extrativista. Entretanto, a prática de queimadas nessa região

pode comprometer a fertilidade do solo e acelerar seu processo erosivo, na medida em que

ocorre uma acentuação do escoamento superficial, em função da diminuição da capacidade de

retenção de água do solo.

A presença de outras atividades econômicas no interior da área de carnaubal é outro

fator limitante da atividade extrativa. Identificou-se, em campo, a ocorrência da pecuária

bovina, caprina e suína na região, além do cultivo de hortaliças e frutíferas. A prática da

pecuária pode se tornar prejudicial ao carnaubal, na medida em que os animais comprometem

a renovação das palmeiras, por consumirem as plantas em crescimento e os frutos maduros

que caem no solo, evitando assim o nascimento de novas plantas.

Segundo um dos trabalhadores que atuaram no ano de 2010, a retirada das palhas é

feita com cuidado para evitar que haja a remoção do “olho” da palmeira, e assim a morte

prematura da planta. Entretanto, para aumentar a produtividade, grande parte das folhas das

plantas são retiradas na atividade, o que gera um prejuízo natural à palmeira, e pode reduzir

sua produtividade ao longo dos anos.

A atividade extrativa de pó de carnaúba no assentamento Angico Branco demonstra a

fragilidade dessa atividade e da organização da comunidade assentada. Da atividade, por não

ter sido verificada qualquer assistência técnica por parte de algum órgão/entidade ligado ao

setor, e pela maneira como é realizada a atividade extrativa e o manejo da área. Da

comunidade assentada, porque a atividade acaba beneficiando uma minoria da população e

mesmo as outras potencialidades inerentes à carnaúba (fruto, produção de xaropes, peças

artesanais e outros) não são aproveitados.

A própria continuidade da atividade pode estar ameaçada a médio/longo prazo, ao se

levar em conta a reduzida área de concentração e seu manejo inadequado, com a prática da

pecuária extensiva, queimadas e a retirada indiscriminada das folhas, ações que comprometem

a renovação das palmeiras e a produtividade do pó cerífero.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

4.5 Problemas Ambientais

Segundo o INCRA (2010) os principais problemas ambientais existentes nos

assentamentos piauienses são: queimadas, deposição inadequado do lixo, desmatamento e

contaminação por agrotóxico. A tabela 11 demonstra os dados do Piauí, nordeste e Brasil.

Tabela 11 – Principais problemas ambientais nos assentamentos do Piauí, nordeste e Brasil

Contaminação

por

agrotóxico

Contaminação

de

nascentes/rios

Assoreamento

dos rios

Deposição

inadequada do

lixo Desmatamento Queimadas

Piauí 24,15 4,9 3,72 36,03 24,71 40,29

Nordeste 14,19 7,69 11,11 30,77 30,48 42,14

Brasil 11,38 7,28 11,52 23,49 24,35 32,39

Fonte: INCRA (2010)

Comparando os dados do Piauí com o nordeste e o restante do país, verifica-se que a

maior diferença existente encontra-se na contaminação por agrotóxicos, que no Estado ocorre

em 24,15% dos assentamentos, enquanto que nas demais esferas analisadas esse índice não

chega a 15%. Por outro lado, o assoreamento dos rios, que em nível regional e nacional ocorre

em 11% dos assentamentos, aparece apenas em pouco mais de 3% dos assentamentos no

Estado.

A partir das sucessivas visitas técnicas realizadas no assentamento Angico Branco,

da observação de aspectos ligados a produção e ao modo de vida da população e ainda por

meio de imagens aéreas pode-se fazer a listagem dos principais problemas ambientais

existentes no assentamento O quadro 4 apresenta a listagem (check list) dos impactos

observados.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

IMPACTO AMBIENTAL EFEITOS SOBRE O MEIO E A POPULAÇÃO

Destinação inadequada do lixo - Emissão de elementos nocivos a saúde humana pela

queima do material;

- Mau cheiro que atrai insetos e pode causar doenças

Uso inadequado de pesticidas e agrotóxicos - Contaminação dos alimentos produzidos

- Contaminação dos cursos d’água existentes

- Descuido com as embalagens possibilitando a

contaminação de pessoas

Caça predatória - Redução da população de algumas espécies na

região

- Impacto no equilíbrio ecológico da região

Queimadas - Perda de nutrientes do solo

- Possibilidade de mortalidade de alguns animais

Desmatamento - Erosão do solo

- Perda de biodiversidade

- Ameaça aos cursos d’água existentes

Quadro 4 – Listagem dos problemas ambientais no assentamento Angico Branco

Fonte: elaboração do autor

O lixo produzido no assentamento Angico Branco é composto basicamente de

plásticos diversos (sacolas, embalagens de produtos alimentícios e de limpeza), vidros, metais

e papel. Por não haver coleta desse material, e tampouco um local específico dentro do

assentamento para seu depósito, o lixo produzido nesse PA tem como principal destino a

queima. Essa prática provoca a emissão de elementos nocivos à saúde humana e ao meio

ambiente. O restante é simplesmente depositado no quintal das casas, o que além de provocar

mau cheiro, atrai insetos e pode causar doenças.

Apesar de em pequena escala, o uso de pesticidas também foi verificado na pesquisa

de campo. Segundo a associação de pequenos produtores esse material é utilizado apenas

para eliminação de pequenas pragas nos cultivos de milho e feijão. A região que compreende

o PA Angico Branco possui alguns cursos d’água intermitentes que, em função do uso desse

material, podem estar sujeitos à contaminação. Além disso, foi verificado também o descuido

com as embalagens, que não são devolvidas após a utilização do material.

A caça predatória é outro problema verificado na região. Segundo os moradores, os

animais mais visados são tatu (Dasypusnovencinctus), preá (Galeasp.), ciriema

(Cariamacristata), cotia (Dasyproctaaguti) e pássaros diversos. A caça é realizada

principalmente na área da reserva legal, onde a mata mais preservada, tanto no assentamento

quanto nas propriedades vizinhas, concentra maior quantidade de animais. De acordo com

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

relatos de moradores, essa prática já se encontra em decadência, devido à crescente

dificuldade em encontrar animais na região.

Através de aparelho GPS foi possível marcar pontos específicos no assentamento

pesquisado, como as duas agrovilas, a área de carnaubal, regiões com vegetação alterada, os

limites da reserva legal, além de riachos e açudes. Os pontos marcados foram identificados no

software Google Earth, onde se obteve uma imagem aérea da região, datada de julho de 2008.

A delimitação do perímetro do assentamento se deu com o auxilio do aplicativo i3geo

(realidade fundiária brasileira) disponibilizado pelo INCRA. O mapa 5 apresenta o

georeferenciamento dos pontos marcados. O mapa foi produzido a partir do i3geo (INCRA,

2010).

Mapa 5 – Assentamento Angico Branco

Fonte: Elaboração do autor (SOFTWARE I3GEO, INCRA, 2010).

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

A partir da imagem aérea do Google Earth foi possível fazer o cálculo aproximado

das áreas de reserva legal2, áreas destinadas a cultivo e da área que apresenta vegetação

alterada. Esse procedimento foi possível através de recursos desse programa, que permitem a

medição de áreas selecionadas. Essas áreas foram transformadas, por aproximação, em figuras

geométricas (quadriláteros, triângulos, quadrados) e em seguida tiveram suas áreas calculadas.

A imagem 1 apresenta esse procedimento na área de reserva legal do assentamento

pesquisado.

Imagem 1 – Área de reserva do assentamento Angico Branco

Fonte: elaboração do autor (Google Earth)

A área acima corresponde à reserva legal da agrovila Angico Branco, localizada a

noroeste do PA (ver figura 08). Os pontos marcados no aparelho GPS estão destacados na cor

amarela e correspondem aos limites dessa reserva. A área total calculada corresponde a

aproximadamente 219,3 ha o que equivale a 10,8% do PA. Existe uma outra área de reserva

legal, que corresponde a agrovila fornos. Essa área não pode ser demarcada devido a

dificuldade de acesso. Entretanto, a porção sudeste do assentamento, mais próxima a agrovila

fornos apresenta-se aparentemente preservada, o que pode corresponder a essa segunda área

de reserva (ver imagem 2).

O mesmo procedimento foi realizado para mensurar o total aproximado,

correspondente às áreas de cultivo e às áreas com vegetação alterada. As áreas de cultivo

identificadas estão localizadas nas proximidades das duas agrovilas e principalmente ao longo

2 Área de cada propriedade rural destinada à preservação da cobertura vegetal natural, em faixas percentuais

variáveis de acordo com a fisionomia ou a região do País, onde não e permitido o corte raso e nem a alteração do

uso do solo ou a exploração com fins comerciais. Art 60, Código Florestal Brasileiro

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

da estrada que faz sua interligação. São regiões planas e também próximas aos reservatórios

d’água existentes.

Da análise realizada conclui-se que existiam aproximadamente 221,2 ha de áreas

cultivadas no assentamento Angico Branco no ano de 2008. Esse valor corresponde a 10,9%

da área total do assentamento. No que se refere a áreas com vegetação alterada, a área

mensurada foi de 253,4 ha, um valor que equivale a 12,5% da área total do PA. A imagem 2

apresenta as áreas de cultivo e degradadas identificadas.

Imagem 2 – Assentamento Angico Branco: áreas de cultivo e de vegetação alterada

Fonte: elaboração do autor (Google Earth)

Os valores encontrados demonstram que dos 2.014,1 ha do assentamento pesquisado,

474,6 ha encontram algum tipo de alteração na vegetação natural (cultivo e áreas degradadas).

Essa área equivale a 23,5% de todo assentamento. De fato, grande parte da vegetação no

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

imóvel encontra-se preservada. Entretanto, analisando o perfil topográfico da região e fazendo

uma análise do material cartográfico do i3geo (INCRA) pode fazer algumas afirmações.

Inicialmente, é preciso notar que as áreas mais preservadas no assentamento

encontram-se na porção leste e sudeste. Essas áreas possuem as maiores altitudes da região e a

declividade do relevo é acentuada. Porém, ao longo dos anos essa região pode ser utilizada

pelos moradores, principalmente se as atuais áreas de cultivo apresentarem redução na

produtividade.

Outro problema refere-se aos riachos. Os cursos d’água existentes estão localizados

justamente nas regiões mais alteradas. Isso se torna um problema, na medida em que essas

áreas estão mais sujeitas a erosão, e isso pode impactar na existência desses riachos.

Os problemas ambientais verificados no assentamento Angico Branco também foram

encontrados em outros PAs localizados em municípios vizinhos. Coimbra (2008),

pesquisando o assentamento Saco do Juazeiro, localizado em São Miguel do Tapuio, apontou

como problemas ambientais existentes nesse projeto o desmatamento e as queimadas. Essas

ações, segundo a autora, estão comprometendo a drenagem da região caracterizada pela

existência de diversos riachos, a exemplo do que ocorre no PA Angico Branco. A Falta de

saneamento e de uma destinação adequada para o lixo foram também mencionadas pela

autora.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

5 CONCLUSÃO

O assentamento Angico Branco apresenta uma estrutura produtiva frágil e os

recursos naturais existentes encontram-se ameaçados. Mesmo possuindo condições naturais

favoráveis, tais como abundância de terras, água para irrigação, linhas de crédito e mercado

consumidor relativamente próximo, o assentamento pesquisado carece de organização e

orientação técnica para dinamizar sua produtividade.

Parte da fragilidade produtiva do assentamento deve-se a individualização da

produção. O cooperativismo, que poderia alavancar a produção agrícola, resume-se a filiação

e participação das reuniões da associação de pequenos produtores. Assim, a ausência da troca

de informações e do compartilhamento de tarefas condiciona uma fragilidade de articulação

dos trabalhadores com eventuais fornecedores e consumidores, conduz ao comodismo e

consequentemente, ao desperdício de recursos e de oportunidades.

A pesquisa apontou que houve uma redução e o abandono da produção de algumas

culturas. A população assentada também diminuiu, e isso se deve pela saída dos mais jovens

para estudar e pela migração de trabalhadores. A infraestrutura, entretanto, apresentou

melhorias significativas como a construção de açudes, poços e a reforma de estradas.

A extração de pó de carnaúba, uma importante atividade econômica na região,

exemplifica bem a fragilidade da organização e produção no assentamento. Essa atividade

extrativa beneficia apenas uma minoria de trabalhadores do assentamento. Além disso, foi

verificado que pouco se utiliza os demais aproveitamentos da carnaúba (produção da farinha,

chá, doces, artesanato).

A fragilidade da atividade se mostra também em nível municipal, na medida em que,

segundo levantamento feito, não existe indústria de produção de cera de carnaúba em Castelo

do Piauí. A cera é produzida a partir do pó de carnaúba e tem grande utilização em diversos

setores da indústria.

O nível educacional e o acesso aos serviços de saúde deixam a desejar. A distância

entre o assentamento e a sede do município é um dos fatores que contribui para isso. O ensino

médio é ofertado apenas no turno da noite e os mais jovens reclamam do horário que chegam

em casa após as aulas.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

O assentamento apresenta alguns problemas ambientais. A região em questão possui

riachos que podem estar ameaçados pelo desmatamento, na medida em que estes cursos

d’água percorrem justamente as proximidades das áreas de cultivo e de vegetação alterada.

A ocorrência de desmatamento foi detectada, mas os resultados encontrados não o

colocam como um grande problema ambiental na região. Isso porque grande parte do

assentamento ainda se encontra com vegetação preservada. Entretanto, a área degradada,

como dito, ameaça os cursos d’água, e a região mais preservada pode vir a ser explorada ao

longo dos anos.

Os demais problemas ambientais existentes referem-se à caça predatória, queimadas

e uso de agrotóxicos/pesticidas. A prática da caça ameaça alguns animais e,

consequentemente, o equilíbrio da região. As queimadas, que ocorrem no “preparo” de novas

áreas de cultivo e também com o lixo produzido provocam perca da qualidade do solo e

emissão de gases nocivos ao meio ambiente. Por fim, o uso de defensivos químicos, ainda que

em pequena escala, não deixa de representar um risco de contaminação dos cursos d’água

existentes.

Todas as famílias residentes no assentamento têm origem naquela cidade ou na

região. Isso se reflete no sentimento de identidade que aqueles sujeitos têm com o lugar que

vivem. Durante as visitas foi possível perceber que, mesmo com as dificuldades encontradas,

aqueles trabalhadores e trabalhadoras sentem orgulho do chão que possuem e se mostram

satisfeitos com a vida que levam. Não se trata do quanto rendeu a cultura do feijão ou do

milho, mas da possibilidade de morar com dignidade e viver diretamente dos frutos do

próprio trabalho.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, R. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento

rural.2000.Disponível em: <http://www.econ.fea.usp.br/abramovay/artigos_científicos>.

Acesso em: 25/04/10.

ALVES, Maria Odete. Extrativismo da carnaúba: relações de produção, tecnologia e

mercados. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2008.

ANDRADE, Patrícia Soares de. Os (des)caminhos da intervenção pública na questão

agrária e fundiária no Piauí. Artigo científico. Disponível na internet em:

www.sbpcnet.org.br/natal/arquivos/Programa%20final%20Pôster.pdf. Acesso em:

22/10/2010.

BERGAMASCO, Sônia Maria; NODER, Luiz Antônio Cabello. O que são assentamentos

rurais. São Paulo: Brasiliense, 1996.

_________. A realidade dos assentamentos rurais por detrás dos números. Revista estudos

avançados, vol 11, n° 31, São Paulo, set 1997.

BOMBARDI, Larissa Mies. O bairro reforma agrária e o processo de territorialização

camponesa. São Paulo: Annablume, 2004.

BRASIL. Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS. Território

dos Carnaubais. MDA, 2006.

BRASIL. Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado da Bacia do Parnaíba,

PLANAP: síntese executiva: Território dos Carnaubais. Brasília, DF: TDA Desenhos & Arte

Ltda., CODEVASF, 2006.

BRASIL. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. II Plano Nacional de

Reforma Agrária:Paz, Produção e Qualidade de Vida no Meio Rural. Brasília: INCRA,

2004.

BUARQUE, S. C. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de

planejamento. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

CARVALHO, José Juliano de. Reforma Agrária: de eleições a eleições. Revista Estudos

Avançados, vol 11, n 31, set. São Paulo, 1997.

CASTRO, Lúcia de Fátima. Atividades agrícolas no assentamento Iracema e suas

repercussões sobre o meio ambiente. UFPI/TROPEN. Dissertação de mestrado. Teresina,

2005.

COIMBRA, Teresinha de Jesus. Turismo e desenvolvimento sustentável: possibilidades

para o Projeto de Assentamento Saco do Juazeiro, em São Miguel do Tapuio – Piauí/Brasil.

Dissertação de Mestrado.Teresina, 2008.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

DEL GROSSI et al. Estimativa das famílias potenciais beneficiárias de programas de

assentamentos rurais no Brasil. 2000. Disponível

em:<http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/rurbanw.html>. Acesso em: 31/05/2011.

EID, F.; PIMENTEL, A. E. B. Planejamento do desenvolvimento local e economia solidária.

In: LIANZA, S.; ADDOR, F. (Orgs.). Tecnologia e desenvolvimento social e solidário.

Porto Alegre: UFRGS, 2005. p. 121-137.

FURTADO, Elaine. Repercussão da reforma agrária no desenvolvimento local do nordeste: a

capacitação como estratégia imprescindível. In: Reforma Agrária e desenvolvimento

sustentável. BRASIL, MDA, 2009.

GOMES, Jaíra Maria Alcobaça Gomes; Santos, Karla Brito dos; SILVA, Marcos Soares da.

(org). Cadeia produtiva da cera de carnaúba: diagnóstico e cenários. Teresina, EDUFPI,

2006.

GRAZIANO,da Silva. Ainda precisamos de reforma agrária no Brasil?2001. Disponível

em: <http://www.eco.unicamp.br/nea/rurbano/rurbanw.html>. Acesso em: 25/04/2010.

IANNI, Otávio. Origens agrárias do Estado brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1984.

IBGE. PesquisaProdução da Extração Vegetal e da Silvicultura. Disponível na

internetem:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pevs/2007/pevs2007.pdf.

Acesso em: 22/07/09. INCRA, MDA. Plano de reforma agrária do Estado do Piauí. 2003/2010.2005.

INCRA. Instituto Nacional de colonização e reforma agrária. O Incra e o assentamento.

Publicação disponível em http://www.incra.gov.br/arquivos/0128500427.pdf.

INCRA, MDA. Pesquisa nacional da qualidade de assentamentos. UFGRS, 2010.

Disponível na internet em: www.pqra.incra.gov.br. acesso em 25/02/2011.

INCRA, MDA. Realidade fundiária brasileira. Software i3geo. Disponível na internet

em:http://acervofundiario.incra.gov.br/i3geo/aplicmap/geral.htm?7fd8c960765ed2850a2ffd3b

35c1a716.

LEITE, Sergio. Impactos regionais da reforma agrária no Brasil: aspectos políticos,

econômicos e sociais. In: LEITE, Pedro Sisnando (org). Reforma agrária e

desenvolvimento sustentável. Brasília, MDA, 2000.

LEITE, Sergio et al. Impactos dos Assentamentos:um estudo sobre o meio rural brasileiro.

Brasília: UNESP, 2004.

MARTINS, José de Sousa. A Reforma Agrária no segundo mandato de Fernando Henrique

Cardoso. Revista Tempo Social, vol 15, n 2, São Paulo, nov 2003.

NODER, Luiz Antônio Cabello. Assentamentos rurais: casa, comida e trabalho. Campinas,

IFHC, Unicamp, 1997 (dissertação de mestrado).

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

OLIVEIRA, Francisco Correia de. Uso das técnicas de avaliação de impacto ambiental em

estudos realizados no Ceará. Rio de janeiro, UERJ, 2005. Artigo científico disponível na

internet em: http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/17899/1/R0005-1.pdf. acesso em 03/10/2011.

OLIVEIRA, M. D. O desenvolvimento a partir da comunidade. [S.I.: s.n.], 2003.

SANTOS, Josafá Ribeiro dos. A questão agrária no Piauí e as políticas de

sustentabilidade para os assentamentos rurais: a experiência do Assentamento Quilombo

em Altos / José de Freitas – PI. (Dissertação de Mestrado). Teresina, UFPI/TROPEN, 2007.

SILVEIRA, Edilson Soares. Condições socioeconômicas e relação com o meio ambiente

dos moradores do assentamento Nova Querência: potencialidades de desenvolvimento

local. Dissertação de Mestrado. Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, 2004.

TEIXEIRA, Gerson. Agravamento da concentração de terras no Brasil. Artigo científico.

Disponível na internet em: http://www.mst.org.br/Gerson-Teixeira-agravamento-da-

concentracao-das-terras. acesso 30/06/2011.

VEIGA, Jose Eli da. Diretrizes para uma nova política agrária. In: Reforma Agrária e

desenvolvimento sustentável. BRASIL, MDA, 2009.

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2.ed, Porto Alegre: Bookman.

2001.

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

ANEXOS

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) (TROPEN) … · UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN)

Anexo A –Matéria do jornal Meio Norte relatando a disputa entre os assentados no PA Angico Branco e o empresário Edmilson Carvalho