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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE BIOFÍSICA CARLOS CHAGAS FILHO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS (BIOFÍSICA) Taissa Vieira Machado Vila Avaliação da atividade antifúngica de novos compostos em células planctônicas e na formação, desenvolvimento e maturação de biofilme de Candida albicans em superfícies abióticas. Orientadora: Profa. Dra. Sonia Rozental Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE BIOFÍSICA CARLOS CHAGAS FILHO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS

BIOLÓGICAS (BIOFÍSICA)

Taissa Vieira Machado Vila

Avaliação da atividade antifúngica de novos compostos em

células planctônicas e na formação, desenvolvimento e

maturação de biofilme de Candida albicans em superfícies

abióticas.

Orientadora: Profa. Dra. Sonia Rozental

Rio de Janeiro

2010

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TAISSA VIEIRA MACHADO VILA

Avaliação da atividade antifúngica de novos compostos em células

planctônicas e na formação, desenvolvimento e maturação de biofilme de

Candida albicans em superfícies abióticas.

Orientadora: Profa. Dra. Sonia Rozental

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Ciências

Biológicas (Biofísica), Instituto de Biofísica

Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do grau de Mestre em

Ciências Biológicas (Biofísica).

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

INSTITUTO DE BIOFÍSICA CARLOS CHAGAS FILHO

Rio de Janeiro, 2010

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FICHA CATALOGRÁFICA

Vila, Taissa Vieira Machado

Avaliação da atividade antifúngica de novos compostos na formação, desenvolvimento e maturação de biofilme de candida albicans em superfícies abióticas. Rio de Janeiro, 2010 - 119 folhas.

Dissertação (Mestre em Ciências Biológicas – Biofísica). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.

Orientadora: Profa. Dra. Sonia Rozental.

1. Candida albicans 2. Biofilmes 3. Antifúngicos 4. ∆24(25)-esterol metiltransferase 5. Análogos de fosfolipídios. 6. Resistencia

I. Universidade Federal do Rio de Janeiro

II. Título

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AGRADECIMENTOS

Este espaço é dedicado a todos os que participaram, direta ou indiretamente, da

realização deste trabalho. A todos eles deixo aqui o meu sincero agradecimento.

Agradeço à minha orientadora, Dra. Sonia Rozental pela oportunidade, confiança,

apoio e ensinamentos durante todos estes anos.

À Kelly, pela orientação durante a iniciação científica, pelo modo empenhado e

estimulante com que acompanhou todas as fases de realização deste trabalho, pela constante

disponibilidade e por todos os conselhos e sugestões.

À todos do Laboratório de Biologia Celular de Fungos, Carol, Amanda, Luana, Talita,

Raul e Anderson, pela boa convivência, colaboração e sugestões.

Àos professores, alunos e funcionários do Laboratório de Ultraestrutura Celular

Hertha Meyer pela convivência e apoio técnico durante esses anos.

Agradeço, em especial, aos meus pais e à minha avó, pelo apoio incondicional e

incentivo constante, sem os quais nada disso seria possível.

À Camilla pela amizade, carinho, incentivo e conversas, sem as quais toda minha

caminhada teria sido muito menos prazerosa. Agradeço por ser meu porto seguro, sempre.

Ao Luis, pelo carinho, apoio e paciência nos dias mais difíceis, pelos fins-de-semana

perdidos, pelo seu colo, pela companhia e por toda sua compreensão.

Às amigas da graduação, Alicia, Anne, Letícia e Mariah, pela amizade, conselhos e

trocas de experiências. E às amigas ―de sempre‖, Ana, Taty e Maíra, por toda amizade, apoio

e carinho durante tantos e tantos anos.

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Foi o tempo que perdeste com tua rosa que

fez tua rosa tão importante.

Antoine de Saint-Exupéry

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RESUMO

VILA, Taissa Vieira Machado. Avaliação da atividade antifúngica de novos compostos em

células planctônicas e na formação, desenvolvimento e maturação de biofilme de Candida

albicans em superfícies abióticas. Rio de Janeiro, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências

Biológicas – Biofísica) – Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

Infecções relacionadas à utilização de cateter são a principal causa de mortalidade entre

pacientes hospitalizados e a formação de biofilmes está associada a 90% destas infecções.

Candida albicans é a levedura mais isolada em pacientes com dispositivos médicos

associados. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antifúngica de inibidores

da enzima Δ24-esterol metil transferase (24-SMT) e de análogos de fosfolipídios em células

planctônicas (em suspensão) e de biofilme em C. albicans. Analisamos, também, o efeito

destes compostos sobre a hidrofobicidade de superficie celular (HSC) e as alterações na

morfologia e no perfil lipídico destas leveduras em suspensão. A susceptibilidade das células

planctônicas e de biofilmes a dois inibidores da 24-SMT, azasterol (AZA) e

epiminolanosterol (EIL), e a dois análogos de fosfolipídios, miltefosina (MLT) e Tcan26 foi

comparada à dos antifúngicos padrão anfotericina B (AMB), fluconazol (FLU) e itraconazol

(ITRA). As suspensões das duas cepas testadas (ATCC 10231 e 44A) mostraram-se

susceptíveis aos 7 antifúngicos, porém, apenas AMB, AZA, MLT e Tcan26 determinaram

redução significativa na formação de biofilme, em placa de 96 poços. As concentrações

inibitórias de crescimento para células de biofilme mostraram-se de 4 a 64 vezes maiores do

que as de células planctônicas. Os biofilmes maduros mostraram-se mais resistentes aos

tratamentos do que os biofilmes em formação e os biofilmes da cepa ATCC 10231 foram

mais susceptíveis aos tratamentos do que os de isolado clínico. Em cateter venoso central

(CVC), a capacidade de formação de biofilme parece relacionar-se a HSC, pois, a cepa mais

hidrofóbica, 44A, formou biofilmes mais densos. O desenvolvimento do biofilme da cepa

44A, em CVC, sofreu alterações morfológicas significativas, quando ocorreu na presença de

FLU, EIL, MLT ou Tcan 26, sendo composto, basicamente, por leveduras e pseudohifas e

poucas camadas de células. Os análogos de fosfolipidios inibiram a filamentação do biofilme

sobre cateter de ambas as cepas, enquanto o inibidores da 24-SMT apenas inibiram

filamentação da cepa ATCC. MLT e Tcan26 mostraram um perfil de atividade sobre a

formação e maturação do biofilme melhor do que os inibidores da 24-SMT. Dentre os

agentes testados, o Tcan26 apresentou o melhor perfil de atividade para ambas as cepas e,

para a cepa ATCC, a susceptibilidade das células no biofilme foi semelhante à das células em

suspensão. As leveduras em suspensão, tratadas com MLT, apresentaram alterações

ultraestruturais, principalmente, na parede e membrana celular, e na formação de

brotamentos. Ainda, o conteúdo de ergosterol, fosfolipidios e ácidos graxos mostraram-se

alterados. Portanto, nossos resultados sugerem que os inibidores da 24-SMT e os análogos de

fosfolipídios inibem a filamentação das células de C. albicans durante o desenvolvimento do

biofilme, levando, provavelmente, à redução da virulência associada às eles. Além disso,

MLT e seu análogo, Tcan26, reduziram significativamente a formação de biofilme,

apresentando-se, então, como substâncias antifúngicas com ação tanto sobre células

planctônicas como células em biofilmes.

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ABSTRACT

VILA, Taissa Vieira Machado. Avaliação da atividade antifúngica de novos compostos em

células planctônicas e na formação, desenvolvimento e maturação de biofilme de Candida

albicans em superfícies abióticas. Rio de Janeiro, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências

Biológicas – Biofísica) – Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.

Infections related to the use of catheters are the leading mortality cause among hospitalized

patients and the formation of biofilms is associated with 90% of these infections. Candida

albicans is the yeast most commonly isolated in patients with associated medical devices.

Therefore, the aim of this work was to evaluate the antifungal activity of Δ24-sterol methyl

transferase (24-SMT) inhibitors and analogues of phospholipids in planktonic cells (in

suspension) and in biofilms of C. albicans. We have also analyzed the effect of these

compounds on the cell surface hydrophobicity (CSH) and changes in morphology and lipid

profile of this yeast in suspension. Susceptibility of planktonic cells and biofilms to two

inhibitors of 24-SMT, azasterol (AZA) and epiminolanosterol (EIL) and two analogues of

phospholipids, miltefosine (MLT) and Tcan26 was compared to these of standard antifungal

drugs: amphotericin B (AMB), fluconazole (FLU) and itraconazole (ITRA). The suspensions

of two strains tested (ATCC 10231 and 44A) were susceptible to seven antifungal agents,

however, only AMB, AZA, MLT and Tcan26 determined a significant reduction in biofilm

formation in 96-well plate. Inhibitory concentrations for biofilm cells growth were shown to

be 4-64 times higher than those of planktonic cells. Mature biofilms were more resistant to

treatment than biofilms under development and biofilm formation of strain ATCC 10231 were

more susceptible to treatments than those of clinical isolate. On central venous catheter

(CVC), the ability of biofilm formation appears to be related to the HSC, because the more

hydrophobic strain, 44A, formed thicker biofilms. The biofilm development of strain 44A, in

CVC, suffered significant morphological changes when occurred in the presence of FLU,

EIL, MLT or Tcan26, being composed primarily by yeast and pseudohyphae and few layers

of cells. The analogues of phospholipids inhibited the filamentation of the biofilm, on

catheter, of both strains, while the 24-SMT inhibitors only inhibited filamentation of strain

ATCC. MLT and Tcan26 showed a better profile of activity on the formation and maturation

of biofilm than the 24-SMT inhibitors. Among the agents tested, Tcan26 showed the best

activity profile for both strains and, for the ATCC strain, the susceptibility of the biofilm cells

was similar to cells in suspension. The yeast in suspension, treated with MLT, showed

ultrastructural changes mainly in the cell wall and membrane, and in the budding process.

Still, the content of ergosterol, phospholipids and fatty acids were shown to be altered.

Therefore, our results suggest that inhibitors of 24-SMT and analogues of phospholipids

inhibit filamentation of the cells of C. albicans during biofilm development, probably leading

to the reduction in virulence associated with them. Moreover, MLT and its analog, Tcan26,

significantly reduced biofilm formation, presenting, then, as possible substances with

antifungal action on both planktonic and biofilms cells.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esquema ilustrativo da transição entre as diferentes morfologias em C. albicans.

Adaptado de: Romani L., 2004. .................................................................................................. 2

Figura 2: Esquema ilustrativo dos componentes da parede celular de C. albicans. Os

polímeros de β-1,3 e β-1,6 glucana estão representados em amarelo e azul, respectivamente; proteinas em verde, filamentos de quitina em laranja e mananas em vermelho. ................................................................................................................................... 4

Figura 3: Colônias brancas e opacas de C. albicans. Em (a) colônia branca com um setor

opaco, (b) colônica branca (acima) e opaca (abaixo), (c) e (d) micrografias de microscopia

eletrônica de varredura, em aumento de 1000 x, das células de colônia branca (c) e opaca (d).

Adaptado de: Johnson A., 2003 .................................................................................................. 7

Figura 4: Esquema ilustrativo da seqüência de desenvolvimento do biofilme de C. albicans,

em suas diferentes fases. A: adesão de leveduras em suspensão à superfície, B: formação de

colônias e multiplicação celular, C: secreção de matriz extracelular (MEC) e formação de

hifas, formando uma estrutura tridimensional complexa. Adaptado de: Douglas J.L., 2003... 13

Figura 5: Microscopia eletrônica de varredura de biofilmes de Candida albicans. (a) biofilme

fino mostrando extensa matriz extracelular, indicado pela seta branca. (b) biofilme altamente

filamentado, seta branca indica um canal de água. (c) biofilme maduro com presença de hifas

e leveduras, matriz extracelular não visível. Barras = 10 µm. ................................................. 15

Figura 6: Possíveis mecanismos envolvidos na resistência antifúngica do biofilme de C.

albicans. Adaptado de: Niimi et al., 2010 ................................................................................ 17

Figura 7: Principais alvos de ação na célula fúngica dos agentes empregados, atualmente, no

tratamento das candidemias. Adaptado de: Katzung B.G., 2009. ............................................ 19

Figura 8: Estrutura química dos agentes azóis. Retirado de: www.doctorfungus.com ............ 21

Figura 9: Estrutura química dos agentes poliênicos. Retirado de: www.doctorfungus.com .... 21

Figura 10: Mecanismo de ação da anfotericina B na célula fúngica. (A) bicamada lipídica com

poro, permitindo a saída de material citoplasmático. (B) esquema explicativo da interação da

molécula de anfotericina B com o ergosterol e formação do poro na mambrana celular.

Adaptado de: Ghannoum e Rice, 1999 ..................................................................................... 22

Figura 11: Estrutura química das equinocandinas. Adaptado de: www. doctorfungus.com. ... 24

Figura 12: Via biosintética do ergosterol e colesterol, mostrando as principais etapas e as

enzimas envolvidas. Em vermelho estão demonstradas as etapas inibidas pelos azóis e

azasteróis. Adaptado de: De Souza e Rodrigues, 2009. ........................................................... 27

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Figura 13: Esquema representativo da microdiluição em caldo utilizando diluições seriadas

dos antifúngicos para determinação do IC50 e IC90 de cada um dos compostos. Após a diluição

dos compostos (fileiras 1-10), todos os poços da microplaca, exceto a coluna 12, receberam a

mesma alíquota de suspensão fúngica padronizada. ................................................................ 36

Figura 14: Esquema representativo dos testes in vitro utilizados para a determinação da

atividade de drogas na formação e no biofilme maduro; e da quantificação por reação com

XTT. Cada fileira (A-G) da placa de 96 poços recebeu 100 µL de um composto antifúngico

nas concentrações determinadas entre colchetes (64, 16, 4 vezes maior ou igual a IC de cada

droga). Todos os poços receberam 100 µL de suspensão antifúngica padronizada, exceto os

poços 7-9 da fileira H, que receberam apenas meio de cultura. Os poços 1-6 da fileira H

receberam apenas suspensão fúngica e são isentos de drogas (controle positivo). Após a

incubação com XTT:Menadiona, a intensidade de cor laranja formada pela presença do

composto formazan é proporcional à concentração de células viáveis em cada poço. ............ 41

Figura 15: Comparação entre os índices de hidrofobicidade obtidos para as células controle

das cepas ATCC 10231 e 44A de C. albicans. ......................................................................... 49

Figura 16: Micrografias de microscopia eletrônica de transmissão de C. albicans 44A controle

(A-B) e tratada com 3 μg/mL de miltefosina (C-F). Células controle apresentaram membrana

celular contínua (mp, em B), parede celular homogênea e compacta (pc, em B) e fibrilas

organizadas e compactadas (f, em B). As células tratadas mostram desorganização e

afrouxamento das fibrilas (setas pretas em C e E), invaginações e alterações na membrana

celular (setas amarelas em D-F), aumento da espessura da parede celular (setas vermelhas em

E-F), vacúolos (v, em C) e inchaço mitocondrial (m, em C e F). As leveduras tratadas

apresentaram alteração de forma celular (C-F) e brotamentos alterados (* em C). Barras

correspondem a 0,5 μm em A,B,C e E, e a 1 μm em D e F. ................................................... 51

Figura 17: Cromatografia em camada delgada da fração polar de lipídeos extraídos de C.

albicans (44A) tratada com 0,5 e 1,0 µg/mL de miltefosina, em meio RPMI 1640, por 48 h, a

35 °C. A concentração inibitória que inibiu 100% do crescimento fúngico foi de 4,0 µg/mL.

Concentrações das drogas estão µg/mL. .................................................................................. 55

Figura 18: Redução de formação de biofilme por C. albicans ATCC 10231 na presença de

drogas padrão em concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor

concentração em cada gráfico igual ao valor de IC50 da droga. ................................................ 59

Figura 19: Redução de formação de biofilme por C. albicans ATCC 10231 na presença de

inibidores da 24-SMT e análogos de fosfolipidios em concentrações iguais ao IC50 (AZA e

EIL) ou IC90 (miltefosina e Tcan 26), 4 e 16 vezes maiores, sendo a menor concentração em

cada gráfico igual ao valor de IC50 ou IC90 da droga. .............................................................. 60

Figura 20: Redução de formação de biofilme por C. albicans 44A na presença de drogas

padrão em concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor

concentração em cada gráfico igual ao valor de IC50 da droga. ................................................ 62

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Figura 21: Redução de formação de biofilme por C. albicans 44A na presença de inibidores

da 24-SMT (AZA e EIL) em concentrações iguais ao IC50, 4 e 16 vezes maiores, e na

presença de análogos de fosfolipidios (miltefosina e Tcan26) em concentrações iguais ao IC90,

4 e 8 ou 16 vezes maiores. A menor concentração em cada gráfico é referente ao valor de IC50

ou IC90 da droga. ....................................................................................................................... 63

Figura 22: Redução do biofilme maduro de C. albicans ATCC 10231 após a adição de drogas

padrão em concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor

concentração em cada gráfico igual ao valor de IC50 da droga. ................................................ 65

Figura 23: Redução do biofilme maduro de C. albicans ATCC 10231 após a adição de

inibidores da 24- SMT e análogos de fosfolipidios em concentrações iguais ao IC50 (AZA e

EIL) ou IC90 (miltefosina e Tcan 26), 4 e 16 vezes maiores, sendo a menor concentração em

cada gráfico igual ao valor de IC50 ou IC90 da droga. .............................................................. 66

Figura 24: Redução do biofilme maduro de C. albicans 44A após a adição de drogas padrão,

em concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor concentração em

cada gráfico igual ao valor de IC50 da droga............................................................................. 67

Figura 25: Redução do biofilme maduro de C. albicans 44A após a adição de inibidores da

24-SMT (AZA e EIL) em concentrações iguais ao IC50, 4 e 16 vezes maiores, e após a adição

de análogos de fosfolipidios (miltefosina e Tcan26) em concentrações iguais ao IC90, 4 e 8 ou

16 vezes maiores. A menor concentração em cada gráfico é referente ao valor de IC50 ou IC90

da droga. ................................................................................................................................... 68

Figura 26: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e formado

na presença de 16 μg/mL de FLU(C-D), 256 μg/mL de AZA (E e F) e 16 μg/mL de EIL (G e

H) por 48h, a 35 ºC. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E,G e 10 μm em B,D,F,H. Insets

com barras de 10 μm (D) e 5 μm (H). É Possivel observar alterações na quantidade de células

aderidas ao cateter após o tratamento com FLU, AZA e EIL, em relação ao controle nao

tratado. ...................................................................................................................................... 71

Figura 27: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e formado

na presença de 32 μg/mL de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), por 48h, a 35

°C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E e 10 μm em B,D,F. Insets em D e F com barras

de 5 μm. É possível observar alterações tanto na densidade de células aderidas à superfície do

cateter quanto na divisão celular nos biofilmes formados na presença de MLT e Tcan26, em

relação ao biofilme controle. .................................................................................................... 73

Figura 28: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e formado na

presença de 16 μg/mL de FLU(C-D), 4 μg/mL de AZA (E e F) e 32 μg/mL de EIL (G e H)

por 48h, a 35 °C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E,G e 10 μm em B,D,F,H.

Observamos tanto a redução da densidade de células aderidas à superfície do cateter quanto a

inibição da filamentação, nos biofilmes formados na presença de FLU e EIL, em relação ao

controle. Nenhuma alteração foi observada em biofilmes formados na presença de AZA...... 76

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Figura 29: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e formado na

presença de 32 μg/mL de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), por 48h, a 35 °C.

Barras correspondem a 500 μm em A,C,E e 5 μm em B,D,F. Observamos tanto a redução da

densidade de células aderidas à superfície do cateter quanto a inibição da filamentação nos

biofilmes formados na presença de MLT e Tcan26, em relação ao controle. .......................... 78

Figura 30: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e após a

adição de 16 μ g/mL de FLU(C-D), 256 μ g/mL de AZA (E e F) e 16 μ g/mL de EIL (G e

H), ao bifilme já formado, por 48h, a 35 °C. Barras correspondem a 500 μ m em A,C,E,G; 10

μ m em B,D,F,H e 5 μ m no inset (H). é Possivel observar tanto a redução da densidade de

células aderidas à superfície do cateter quanto a inibição da filamentação, nos biofilmes apos

a adição de FLU, AZA e EIL, em relação ao controle. ............................................................ 82

Figura 31: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e após a

adição de 32 μg/mL de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), ao biofilme já

formado, por 48h, a 35 °C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E e 10 μm em B,D,F.

Observamos tanto a redução da densidade de células aderidas à superfície do cateter nos

biofilmes apos a adição de MLT e Tcan26, quanto a inibição da filamentação, nos biofilmes

adicionados de Tcan26, quando comparados ao controle. ....................................................... 84

Figura 32: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e após a adição de

16 μg/mL de FLU(C-D), 4 μg/mL de AZA (E e F) e 32 μg/mL de EIL (G e H), ao biofilme já

formado, por 48h, a 35 °C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E,G; 10 μm em B,D,F,H e

5 μm no inset (F). Observamos alterações de superfície celular em biofilmes tratados com

AZA. A adição detes antifúngcos não alterou nem densidade de células aderidas ao cateter

nem filamentação. ..................................................................................................................... 86

Figura 33: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e após a adição de

32 μg/mL de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), ao biofilme já formado, por

48h, a 35 °C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E; 10 μm em B,D,F e 5 μm no inset

(D). É Possivel observar grumos de celular com alterações de superfície em biofilmes tratados

com MLT. Biofilmes tratados com Tcan26 exibem tanto redução na densidade de células

aderidas à superfície do cateter quanto inibição da filamentação, quando comparado ao

controle. .................................................................................................................................... 88

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Principais condições de pacientes, em ambiente hospitalar, associadas à candidemia.

Publicado por: Hinrichsen et al., 2008. ..................................................................................... 9

Tabela 2: Incidência de C. albicans em 712 casos de candidemia, entre 2003 e 2004, no

Brasil. Publicado por: Colombo et al., 2006 ............................................................................ 10

Tabela 3: Estruturas químicas e mecanismos de ação de algumas substâncias antifúngicas

utilizadas . ................................................................................................................................. 34

Tabela 4: Interpretação dos resultados da determinação da IC das drogas padrão (CLSI, 2008)

.................................................................................................................................................. 36

Tabela 5: Susceptibilidade das cepas de C. albicans aos inibidores da 24-SMT, aos análogos

de fosfolipídios e aos antifúngicos padrão, analisados pelo método da microdiluição em caldo.

Resultados de CI50 e CI90 estão expressos em µg/mL. ............................................................. 45

Tabela 6: Determinação da concentração fungicida mínima (CFM) dos inibidores da 24-SMT

(AZA e EIL) e dos análogos de fosfolipidios (MLT e Tcan 26) contra cepas de C. albicans. 45

Tabela 7: Índice de hidrofobicidade celular de leveduras em suspensão após tratamento com

AZA, EIL, fluconazol (FLU), itraconazol (ITRA), ou anfotericina B (AMB), nas

concentrações de IC50 de cada substância. ............................................................................... 48

Tabela 8: Índice de hidrofobicidade celular de leveduras em suspensão após tratamento com

miltefosina (MLT) ou Tcan26, nas concentrações de IC90 de cada substância. ....................... 48

Tabela 9: Porcentagem relativa de esteróis extraídos de leveduras de C. albicans 44A não

tratadas (controle) e tratadas com miltefosina (concentrações em µg/mL), obtido por meio de

um cromatógrafo gasoso acoplado a um espectro de massas. .................................................. 53

Tabela 10: Porcentagem relativa de ésteres de ácidos graxos extraídos de leveduras de C.

albicans (44A) controle e tratadas com 0,5 e 1 µg/ml de miltefosina, obtidos por meio de um

cromatógrafo à gás acoplado a um espectrômetro de massas. ................................................. 57

Tabela 11: Resumo do perfil de atividade dos agentes antifúngicos, nas duas fases de

desenvolvimento do biofilme, formado sobre dois substratos diferentes. Análise quantitativa

do biofilme em poliestireno (placa de 96 poços) por redução de XTT e avaliação visual do

cateter tratado quanto a redução de densidade e filamentação das células fúngicas, em relação

ao cateter controle não tratado. ................................................................................................. 91

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

24-SMT: Δ24(25)-esterol metiltransferase

AMB: Anfotericina B

ASD: Ágar Saburaud dextrose

ATCC: American Type Culture Colection

AZA: 22,26 azasterol

CFM: Concentração fungicida mínima

DNA: Ácido desoxiribonucléico

EIL: Epiminolanosterol

FLC: Fluconazol

HIV: Vírus da imunodeficiência adquirida

IC: Concentração inibitória Minima

IC50: Concentração inibitória mínima capaz de inibir 50% do crescimento

IC90: Concentração inibitória mínima capaz de inibir 90% do crescimento

ITC: Itraconazol

MEC: Matriz Extracelular

MLT: Miltefosina

MOPS: Ácido 3-(N-morfolino)propanosulfônico

PBS: Salina tamponada com fosfato

SAP: Aspartil proteinases secretadas

SFB: Soro fetal bovino

UFC: Unidade formadora de colônia

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xii

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

1.1 O gênero Candida spp. ............................................................................................. 1

1.2 C. albicans e seus fatores de virulência .................................................................... 2

1.2.1 Morfogênese ...................................................................................................................... 2 1.2.2 Aderência .......................................................................................................................... 3 1.2.3 Enzimas hidrolíticas .......................................................................................................... 5 1.2.4 Alteração fenotípica .......................................................................................................... 6 1.3 Candidíases ............................................................................................................. 8

1.4 Epidemiologia .......................................................................................................... 9

1.5 Biofilmes ................................................................................................................ 11

1.6 Formação de biofilmes por C. albicans .................................................................. 12

1.6.1 Matriz extracelular do biofilme de C. albicans ............................................................... 16 1.6.2 Resistência a antifúngicos em biofilmes de C. albicans ................................................. 16 1.7 Terapia antifúngica para candidemia .................................................................... 19

1.7.1 Derivados azólicos .......................................................................................................... 20 1.7.2 Poliênicos ........................................................................................................................ 21 1.7.3 Equinocandinas ............................................................................................................... 23 1.8 Novas substâncias com atividade antifúngica ........................................................ 25

2 OBJETIVOS ...................................................................................... 32

2.1 Objetivo geral: ....................................................................................................... 32

2.2 Objetivos específicos .............................................................................................. 32

3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................ 33

3.1 Micro-organismos.................................................................................................. 33

3.2 Drogas antifúngicas ............................................................................................... 33

3.3 Teste de susceptibilidade in vitro aos agentes antifúngicos .................................... 35

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3.3.1 Determinação da concentração inibitória mínima (IC) ................................................... 35 3.3.2 Determinação da concentração fungicida mínima (CFM) .............................................. 36 3.4 Efeito das drogas sobre a hidrofobicidade de superfície celular (HSC) ................. 36

3.5 Análise de lipídeos ................................................................................................. 37

3.5.1 Extração e separação de lipídeos neutros (LN) e polares (LP) ....................................... 37 3.5.2 Análise de lipídeos neutros ............................................................................................. 38 3.5.3 Análise de fosfolipídios................................................................................................... 38 3.5.4 Análise de ácidos graxos ................................................................................................. 39 3.6 Formação de biofilme por C. albicans ................................................................... 39

3.6.1 Condições de cultivo ....................................................................................................... 39 3.6.2 Formação do biofilme ..................................................................................................... 40 3.6.3 Quantificação do biofilme ............................................................................................... 40 3.7 Efeito do tratamento com compostos antifúngicos no biofilme .............................. 40

3.7.1 Efeito da adição dos compostos durante a formação do biofilme ................................... 40 3.7.2 Efeito dos compostos no biofilme maduro...................................................................... 41 3.8 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) ......................................................... 42

3.9 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) .................................................... 42

3.10 Análise estatística .................................................................................................. 43

4 RESULTADOS ................................................................................. 44

4.1 Perfil de susceptibilidade aos agentes antifúngicos ................................................ 44

4.1.1 Determinação da concentração inibitória minima........................................................... 44 4.1.2 Determinação da concentração fungicida minima .......................................................... 44 4.2 Efeito das drogas sobre a Hidrofobicidade de Superfície Celular (HSC) .............. 47

4.3 Alterações ultraestruturais após tratamento com miltefosina ............................... 49

4.3.1 Análise de esteróis........................................................................................................... 53 4.3.2 Análise de fosfolipídios................................................................................................... 54 4.3.3 Análise de ácidos graxos ................................................................................................. 57 4.4 Avaliação quantitativa dos efeitos da adição de drogas em diferentes fases de

desenvolvimento do biofilme de C. albicans .................................................................... 58

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4.4.1 Avaliação do feito da adição de drogas durante a formação do biofilme ....................... 58 4.4.2 Avaliação do efeito da adição de drogas ao biofilme maduro ........................................ 64 4.5 Alterações morfológicas após a adição de drogas em diferentes fases de

desenvolvimento do biofilme de C. albicans em catéter venoso central .......................... 69 4.5.1 Alterações por adição de drogas durante a formação do biofilme .................................. 69 4.5.2 Alterações morfológicas por adição de drogas ao biofilme maduro ............................... 80

5 DISCUSSÃO ...................................................................................... 92

6 CONCLUSÕES .............................................................................. 108

REFERÊNCIAS .................................................................................. 109

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1 INTRODUÇÃO

1.1 O gênero Candida spp.

Os fungos do gênero Candida ssp. são micro-organismos eucariotos, não fotossintéticos, com

organelas citoplasmáticas, membrana celular rica em esteróis (comumente o ergosterol) e

parede celular. (AKPAN e MORGAN, 2002). Esse gênero compreende mais de 150 espécies

que crescem em amplas faixas de temperatura, entre 20 e 38 °C, e de pH, entre 2,5 e 7,5

(ODDS, 1998). Este comportamento permite que estes micro-organismos colonizem o

hospedeiro tanto em sua superficie, onde as temperaturas são mais baixas, quanto

internamente, em temperaturas de 36 °C. Da mesma maneira, é possível que ocorra

colonização por Candida spp. tanto em mucosas ácidas como o trato gênito-urinário, onde o

pH pode chegar a 2,5, quanto na corrente sanguínea, onde o pH está em torno de 7.

Cerca de 15 espécies de Candida spp. são reconhecidas como patógenos do hospedeiro

humano: C. albicans, C. glabrata, C. tropicalis, C. parapsilosis, C. krusei, C. guilliermondii,

C. lusitaniae, C. dubliniensis, C. pelliculosa, C. kefyr, C. lipolytica, C. famata, C.

inconspicua, C. rugosa e C. norvegenis (PAPAS P., 2006). Dentro deste gênero, a C. albicans

é a espécie mais patogênica ao homem e também é a mais frequentemente isolada em

pacientes com infecção por Candida spp.(COLOMBO et al., 2006).

O comportamento patogênico e a invasividade tecidual de C. albicans parecem estar

relacionados à expressão de alguns fatores de virulência, como: morfogênese, aderência,

produção de enzimas hidrolíticas e mudança de fenótipo.

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1.2 C. albicans e seus fatores de virulência

1.2.1 Morfogênese

Morfogênese (ou dimorfismo celular), em C. albicans e em C. dubliniensis, refere-se à

transição entre a forma leveduriforme, unicelular, e o crescimento filamentoso, formando

hifas e/ou pseudohifas (CALDERONE e FONZI, 2001) (Figura 01). A relação entre a

formação de hifas e a virulência permanece incerta mas sabe-se que esta é atenuada em

mutantes incapazes de mudar de forma. Assim, mutantes exclusivamente formadores de hifas

ou de leveduras são menos virulentos do que aqueles que desenvolvem as duas morfologias

(CALDERONE e FONZI, 2001). Dessa forma, ambas as morfologias parecem estar

envolvidas no desenvolvimento da doença, considerando que a maioria das lesões apresenta

tanto leveduras quanto hifas em seu interior e, portanto, ambas devem ser necessárias para a

virulência do fungo.

Figura 1: Esquema ilustrativo da transição entre as diferentes morfologias em C. albicans. Adaptado

de: Romani L., 2004.

Três observações levam a hipótese de que a formação de hifas está relacionada com a

virulência, em C. albicans: primeiro, a formação de filamentos é estimulada por soro fetal

bovino ou humano, a 37 °C (BROWN e GOW, 1999), e estas circunstâncias mimetizam o

ambiente do hospedeiro. Segundo, os filamentos recém-formados (tubos germinativos)

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aderem-se com maior facilidade às células de mamíferos do que as leveduras unicelulares

(CUTLER et al., 1991), e a aderência é essencial para que ocorra penetração tecidual. E

terceiro, leveduras fagocitadas por macrófagos produzem filamentos e lisam a célula

fagocítica, portanto, a produção de filamentos é, também, um mecanismos de evasão das

defesas imunológicas do hospedeiro que permite a sobrevivência do patógeno e o

desenvolvimento da infecção (CUTLER et al.,1991; LO et al., 1997; MITCHELL, P. et

al.,1998).

1.2.2 Aderência

A aderência de C. albicans às células teciduais é um passo crucial para a

sobrevivência do fungo no hospedeiro e é essencial para a invasão e disseminação do fungo

pelo organismo. A levedura apresenta, na superfície da parede celular, receptores

responsáveis pela aderência às células epiteliais e endoteliais, às proteínas do soro e às

proteínas de matriz extracelular (CHAFFIN et al., 1998). Além disso, as células fúngicas

também aderem à superfícies abióticas, como dispositivos médicos, levando à formação de

biofilmes.

A parede celular de C. albicans é construída de β-glucanas (polímeros ramificados de

glicose contendo resíduos com ligações do tipo β-1,3 e β-1,6), quitina (polímeros de N-acetil-

glucosamina contendo ligações β-1,4), manoproteínas, pequenas quantidades de outras

proteínas e lipídios (CHAFFIN et al., 1998) (Figura 2).

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Figura 2: Esquema ilustrativo dos componentes da parede celular de C. albicans. Os polímeros de β-1,3 e β-1,6 glucana estão representados em amarelo e azul, respectivamente; proteinas em verde, filamentos de quitina em laranja e mananas em vermelho.

A adesão às células e às superfícies é conferida por proteínas de superficie celular

especializadas, chamadas adesinas, que ligam aminoácidos específicos ou resíduos de açúcar

na superfície de outras células, ou promovem a ligação à superfícies abióticas

(VERSTREPEN et al., 2006). Estas adesinas incluem proteínas da família Als, Hwp1p,

Eap1p, Csh1p e outros receptores de superfície celular menos conhecidos.

A família de proteínas Als (seqüência ―aglutinina-like") inclui diversas proteínas

ligadas à superfície da célula fúngica, com estrutura semelhante mas com ligantes diferentes,

que são responsáveis pela adesão ao colágeno, fibronectina, laminina, células endoteliais e

epiteliais, e agregação de célula a célula (FILLER et al., 2006).

O receptor Hwp1p está presente somente na superfície de hifas e facilita a adesão ao

epitélio (STAAB et al., 1999). Um outro receptor, o Eap1p ("maior aderência ao

poliestireno") mostra homologia e similaridade estrutural ao Hwp1p, mas seus ligantes ainda

são desconhecidos (FILLER et al., 2006).

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Além disso, o receptor Csh1p, de 38 kDa, que foi descrito por Singleton et al. (2001),

aumenta a hidrofobicidade de superfície das células de C. albicans e, com isso, facilita

interações específicas entre receptor e ligante no processo de aderência às células epiteliais,

endoteliais e às proteínas da matriz extracelular.

Embora muitas adesinas fúngicas tenham sido identificadas (STAAB et al., 1999;

Singleton et al., 2001; FILLER et al., 2006), pouco se sabe sobre receptores do hospedeiro

envolvidos na adesão. Atualmente, sabemos que os receptores ―Toll-like‖ e outros receptores

presentes na superfície das células imunológicas humanas estão envolvidos nestas interações.

Proteínas presentes na superfície das células epiteliais ou endoteliais, como N-caderina, são

importantes para o reconhecimento de diferentes formas de C. albicans e para sua endocitose

(PHAN et al.2005; FILLER, 2006).

1.2.3 Enzimas hidrolíticas

A produção e secreção de enzimas hidrolíticas, como: proteases, lipases e fosfolipases

são importantes fatores de virulência de C. albicans. Essas enzimas desempenham papel não

só na nutrição, mas, também, nos danos teciduais, na disseminação no interior do hospedeiro,

na aquisição de ferro e na evasão do sistema imunológico do hospedeiro. Desta maneira,

contribuem para a patogenicidade do fungo.

Diferentes tipos de enzimas hidrolíticas secretadas por C. albicans são conhecidas

atualmente. A atividade de fosfolipases é muito alta durante a invasão do tecido, pois estas

enzimas são responsáveis pela hidrólise das ligações de um ou mais ésteres de

glicerofosfolípidos, componentes da membrana celular do hospedeiro. Ibrahim et al. (1995)

mostrou que células de C. albicans isoladas de sangue têm atividades de fosfolipase

extracelular maiores do que as estirpes comensais. Quatro diferentes fosfolipases secretadas

são conhecidas: A, B, C e D (CALDERONE e FONZI, 2001; YANG, 2003). Dentre estas, a

atividade de fosfolipase B1 (PLB1), que é tanto hidrolase quanto lisofosfolipase-transacilase

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(GHANNOUM, 2000; YANG, 2003), é de extrema importância para a virulência de C.

albicans, pois, mutantes deficientes na produção desta enzima mostraram virulência atenuada

em modelos murinos de infecção (CALDERONE e FONZI, 2001), caracterizando-a como

importante fator de virulência para este fungo.

C. albicans pode, ainda, produzir proteinases, como as SAPs (―Secreted Aspartyl

Proteinases‖), já descritas como fator de virulência destas leveduras (NAGLIK et al., 2003).

Diversas proteínas do hospedeiro sofrem hidrolise por SAPs, incluindo: colágeno, laminina,

fibronectina, mucina, imunoglobulinas, citocinas pró-inflamatórias, complemento e

precursores de fatores de coagulação do sangue (NAGLIK et al., 2004; SCHALLER et al.,

2005).

Além de aspartil proteinases, uma serina peptidase que hidrolisa diversos substratos,

incluindo proteínas da matriz extracelular e proteínas do soro, também é secretada por C.

albicans (DOS SANTOS et al., 2006).

1.2.4 Alteração fenotípica

A alteração de fenótipo, ou switching fenotípico, em C. albicans, pode ocorrer com

alta frequência e de maneira reversível. Esta troca de fenótipos tem sido relacionada à

virulência desta levedura uma vez que os isolados clínicos, que tendem a ser mais virulentos,

fazem estas alterações com frequência mais alta do que as cepas laboratoriais, de menor

virulência (JONES et al., 1994).

A alteração classificada como sistema branco-opaco, em cepas WO-1, no qual

colônias lisas e brancas transformam-se em colônias opacas e cinzentas, é a mais estudada

dentre todas as alterações fenotípicas, em C. albicans. Algumas diferenças entre estes dois

tipos de colônias são: a forma das células (células brancas são ovóides e células opacas são

alongadas ou em forma de feijão) (Figura 3) e a germinação, a 37 °C e em pH 6,7, só ocorre

em células brancas e não em opacas (CALDERONE e FONZI, 2001).

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Figura 3: Colônias brancas e opacas de C. albicans. Em (a) colônia branca com um setor opaco, (b)

colônica branca (acima) e opaca (abaixo), (c) e (d) micrografias de microscopia eletrônica de

varredura, em aumento de 1000 x, das células de colônia branca (c) e opaca (d). Adaptado de: Johnson

A., 2003

Em experimentos de expressão diferencial de genes de proteínas da família SAP, foi

demonstrado que SAP1 e SAP3 foram específicas de células opacas e SAP2 específica de

células brancas. O gene EFG1, relacionado à morfogênese celular, foi expresso em células

brancas, mas não em células opacas e a expressão ectópica deste gene em células opacas

resultou na conversão imediata para a fase branca (CALDERONE e FONZI, 2001). Além

disso, as células opacas mostraram-se melhores colonizadoras, em um modelo cutâneo de

infecção, do que células em fase branca, mas, no entanto, as células opacas foram menos

virulentas em um modelo animal de infecção sistêmica (KVAAL,C. et al., 1999).

A expressão de fatores de virulência em C. albicans relaciona-se diretamente com a

patogenicidade da cepa e sua capacidade de adaptação, sobrevivência e disseminação no

organismo hospedeiro, determinando, assim, o desenvolvimento de doença.

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1.3 Candidíases

Fungos do gênero Candida spp. são componentes normais da microbiota da pele, do

trato gastrintestinal e do trato urinário em indivíduos saudáveis. A partir de um desequilíbrio

imunológico ou competitivo do hospedeiro, o crescimento destes fungos perde a sua

regulação e pode ocorrer proliferação excessiva, levando ao desenvolvimento da doença,

denominada candidíase. Esse comportamento caracteriza a candidíase como uma infecção

fúngica oportunista. Na maioria dos casos, a infecção se instala na superfície cutânea ou nas

mucosas mas pode, também, se disseminar para órgãos adjacentes ou distantes. Em casos de

infecção da via hematogênica, chamados de candidemia, pode haver disseminação do fungo

por todo o organismo do hospedeiro, permitindo a colonização de diversos orgãos e mucosas.

Ao longo dos últimos trinta anos, o desenvolvimento da medicina, dos procedimentos

cirúrgicos e dos transplantes, levou a um aumento drástico no número de indivíduos

imunocomprometidos, que são mais susceptíveis às infecções fúngicas oportunistas. Pacientes

com o sistema imunológico comprometido, como aqueles com infecção por HIV, portadores

de doenças hematológicas, pós-cirúrgicos, pós-transplantados ou em terapia contra o câncer,

encontram-se sob maior risco de desenvolver micoses invasivas. Além disso, o uso

indiscriminado de agentes antimicrobianos de largo espectro de ação, de agentes

imunossupressores e terapia prolongada com corticosteróides também determinam fatores de

risco para o desenvolvimento destas infecções (KARKOWSKA-KULETA et al., 2009).

Nessas circunstâncias, espécies de Candida spp. são capazes de causar infecções fúngicas

invasivas (IFIs), que são complicações cada vez mais comuns em pacientes muito debilitados

e são freqüentemente fatais. Um estudo, em um hospital terciário de recife - PE, realizado por

Hinrichsen et al. (2008) mostrou que, em ambiente hospitalar, as principais condições de

pacientes associadas à candidemia foram: antibióticoterapia, internação em unidade de

tratamento intensivo (UTI), presença de cateter venoso central, terapia com corticosteróides,

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nutrição parenteral total, adminstração de bloqueador de receptor H2 (bloqueadores do

receptor de histamina do tipo 2, são inibidores da secreção ácida estomacal) e terapia com

imunossupressores (Tabela 1).

Tabela 1: Principais condições de pacientes, em ambiente hospitalar, associadas à candidemia.

Publicado por: Hinrichsen et al., 2008.

Condições associadas Número* Porcentagem

Antibióticos 19 90,0

Internação na unidade de terapia itensiva 13 62,0

Cateter venoso central 12 57,0

Corticoesteróide 11 52,0

Nutrição parenteral total 5 24,0

Bloqueador H2 3 14,0

Imunossupressor 1 4,8

* Número de vezes em que as condições aparecem.

(No período do estudo foram observados 21 episódios de candidemia em 18 pacientes)

A disseminação de Candida spp. por via hematogênica ocorre, com frequência, em

consequência ao uso de catéteres intravasculares, sondas gástricas ou prótese valvular

cardíaca, estando frequentemente associada à formação de biofilmes (SENEVIRATNE,

2008).

1.4 Epidemiologia

A candidemia tem demonstrado importância cada vez maior em casos de infecções

hospitalares e Candida spp. é o quarto patógeno mais freqüentemente isolado de culturas

sanguíneas hospitalares, sendo os mais isolados, em ordem decrescente: Staphylococcus

coagulase-negativo, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae (COLOMBO et al.,

2006).

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Nos últimos anos, alguns estudos têm reportado uma mudança na etiologia da

candidemia em todo o mundo. Enquanto C. albicans ainda é considerada a espécie causadora

mais comum (COLOMBO et al., 2006), o aumento de candidemias causadas por C. tropicalis,

C. parapsilosis, C. glabrata e C. krusei tem sido demonstrado por diversas pesquisas

(COLOMBO et al., 1999; SANDVEN et al., 1998; TRICK et al., 2002). Ainda assim, um

estudo epidemiológico de Colombo et al. (2006) mostrou que, no Brasil, C. albicans foi

responsável por 40% dos casos de candidemia, em um estudo com 712 pacientes (Tabela 2),

onde a taxa de mortalidade foi de 54% (COLOMBO et al., 2006). Este mesmo estudo

confirmou que C. tropicalis e C. parapsilosis foram responsáveis pela maior parte das

infecções fúngicas por Candida não-albicans no Brasil e, também, que a taxa de candidemia

em hospitais brasileiros foi de 2 a 15 vezes mais elevada do que em centros de controle nos

Estados Unidos (WISPLINGHOFF et al., 2004), Canadá (MACPHAIL et al., 2002), e Europa

(TORTORANO et al., 2002).

Tabela 2: Incidência de C. albicans em 712 casos de candidemia, entre 2003 e 2004, no Brasil.

Publicado por: Colombo et al., 2006

Espécies Número de casos (%) Incidência em 1,000

admissões

Incidência em 1,000

pacientes/dia

C. albicans 291 (40,9) 1,01 0,15

C. tropicalis 149 (20,9) 0,52 0,07

C. parapsilosis 146 (20,5) 0,51 0,07

C. pelliculosa 44 (6,2) 0,15 0,02

C. glabrata 35 (4,9) 0,12 0,02

C. guilliermondii 17 (2,4) 0,06 0,009

P. ohmeri 9 (1,3) 0,03 0,005

C. krusei 8 (1,1) 0,03 0,004

Outrasa 13 (1,3)

a: Outras espécies de Candida: C. lusitaniae, quatro casos; C. lipolytica, três casos; C. zeylanoides, um

caso; Candida spp., cinco casos.

Mais da metade das infecções da corrente sanguínea, incluindo infecções por Candida

spp. em UTI estão relacionados com cateteres. A utilização de cateter venoso central (CVC)

parece ser o fator de risco mais comum para o desenvolvimento de candidemia em pacientes

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sem neutropenia ou imunodeficiências graves (TUMBARELLO et al., 2007). Em um estudo

multicêntrico de 427 pacientes com candidemia, a taxa de mortalidade para pacientes com

candidemia relacionada à utilização de cateter foi de 41%. Cerca de 40% dos pacientes com

colonização microbiana em cateter venoso desenvolveram fungemia, com consequências que

foram desde doenças focais até sepsemia e morte (CHANDRA et al., 2001). A alta

mortalidade em pacientes com candidemia associada à utilização de CVC parece estar

relacionada com a capacidade de formação de biofilme destes isolados clínicos. Em um

estudo recente, Tumbarello et al. (2007), mostraram que a taxa de mortalidade em pacientes

com candidemia, causada por isolados formadores de biofilme, apresentou-se

significativamente maior do que em pacientes com infecções causadas por isolados não

formadores de biofilme, demonstrando que a formação de biofilmes afetou a saúde de

pacientes hospitalizados com candidemia e também mostrou-se um indicador significativo de

mortalidade.

1.5 Biofilmes

Desde o século XVII, biofilmes têm sido descritos em vários sistemas. A maioria das

bactérias crescem, preferencialmente, em biofilmes, em todos os ecossistemas aquáticos auto-

suficientes em nutrientes, e estas células sésseis bacterianas diferem profundamente das suas

homólogas planctônicas (células em suspensão) ( COSTERTON et al., 1995).

As definições de biofilme evoluíram ao longo dos anos, paralelamente aos avanços da

biologia e de pesquisas acerca do tema. Inicialmente, Costerton et al. (1987) postularam que

biofilmes eram compostos por células individuais e microcolônias, embutidas em uma matriz

altamente hidratada predominantemente composta por hexopolímeros aniônicos. Em seguida,

Costerton e Lappin-Scott (1995) demonstraram que este processo é regulado por genes

específicos, transcritos a partir da fixação inicial da célula. Em uma definição atual, um

biofilme é uma comunidade microbiana de derivados sésseis caracterizado por células que

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estão ligadas a um substrato, ou umas às outras, incorporadas em uma matriz de substâncias

poliméricas extracelulares, produzida por elas mesmas, e exibem um fenótipo alterado no que

diz respeito a taxa de crescimento e transcrição de genes (DONLAN e COSTERTON, 2002).

Frequentemente, isolados de Candida spp. são identificados como agentes de

candidemias, pneumonias hospitalares e infecções do trato urinário e, quase invariavelmente,

estas infecções estão associadas à utilização de algum dispositivo médico e à formação de

biofilme na superfície deste dispositivo.

O dispositivo médico mais comumente colonizado é o CVC, utilizado para

administração de líquidos, nutrientes e medicamentos. O fluido de infusão ou o cateter podem

estar contaminados, mas, com maior frequência, os micro-organismos são introduzidos a

partir da pele do paciente ou das mãos dos profissionais de saúde. Alternativamente, estes

micro-organismos podem migrar para o cateter a partir de uma lesão pré-existente. No

entanto, se Candida spp. colonizar o trato gastrointestinal como comensal, é capaz de

penetrar a mucosa intestinal, disseminar-se através da corrente sangüínea e, então, leveduras

circulantes podem colonizar de maneira endógena o cateter. Este poderia ser um mecanismo

de disseminação do patógeno comum em pacientes com câncer que recebem quimioterapias

causadoras de danos à mucosa intestinal (DOUGLAS, J.L., 2003).

Após a formação do biofilme na superfície do cateter, o desprendimento de leveduras

deste biofilme pode resultar em uma infecção disseminada aguda. Esta infecção pode,

eventualmente, responder à terapia antimicrobiana mas as células que permanecerem no

biofilme serão resistentes e poderão persistir como um reservatório da infecção até o cateter

ser removido (BAILLIE e DOUGLAS, 1999).

1.6 Formação de biofilmes por C. albicans

O desenvolvimento do biofilme de C. albicans, in vitro, em superfícies abióticas,

ocorre em quatro etapas seqüenciais: (i) fase inicial, na qual as leveduras em suspensão e

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circulantes aderem à superfície; (ii) fase intermediária, referente ao desenvolvimento do

biofilme; (iii) fase de maturação, na qual a matriz polimérica embebe completamente todas as

camadas de células aderidas à superfície, em uma estrutura tridimensional; (iv) dispersão,

onde as células mais superficiais se desprendem do biofilme e colonizam áreas adjacentes da

superfície (Figura 04) (CHANDRA et al., 2001; RAMAGE et al., 2005, SENEVIRATNE et

al., 2008).

Figura 4: Esquema ilustrativo da seqüência de desenvolvimento do biofilme de C. albicans, em suas

diferentes fases. A: adesão de leveduras em suspensão à superfície, B: formação de colônias e

multiplicação celular, C: secreção de matriz extracelular (MEC) e formação de hifas, formando uma

estrutura tridimensional complexa. Adaptado de: Douglas J.L., 2003.

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A fase inicial de desenvolvimento ocorre a partir da aderência da primeira levedura à

superfície e estende-se por cerca de 11 horas. Inicialmente (0-2 h), a maior parte das células

de C. albicans é de leveduras, que aderem à superfície e desenvolvem colônias, ao longo das

4 horas seguintes. Ao fim de 11 h, com a expansão lateral das colônias, as mesmas acabam

por formar um filme de poucas camadas de células sobre a superfície. A fixação das leveduras

ao substrato abiótico é mediada, primeiramente, por fatores inespecíficos, como

hidrofobicidade de superfície celular e forças eletrostáticas (DONLAN et al., 2002) e,

posteriormente, por adesinas específicas, como proteínas da família Als, presentes na

superfície celular do fungo, que reconhecem ligantes na superfície ou nos componentes do

meio fluido, tais como proteínas do soro (fibronectina e fibrinogênio) e fatores salivares

(ZHAO et al., 2005).

Durante a fase de desenvolvimento do biofilme (entre 12 e 30 h), as leveduras

multiplicam-se e iniciam a formação de pseudo-hifas e hifas. As células, começam a produzir

polissacarídeos e proteínas, formando uma matriz polimérica que embebe as células do

biofilme, mantendo-as juntas e aderidas (Figura 5 a). Ao logo da fase de maturação (de 38 a

72 horas), a quantidade de material extracelular aumenta, de forma que todas as células

encontram-se encorporadas à matriz polimérica. Ao final do processo, o biofilme consiste em

uma rede densa de células sob a forma de leveduras, hifas e pseudo-hifas, embebidas por

matriz extracelular polimérica e com canais de água entre as células, que facilitam a difusão

de nutrientes do meio ambiente através da biomassa para as camadas inferiores e, também,

permitem a eliminação de resíduos (Figura 5 b-c) (CHANDRA et al., 2001; RAMAGE et al.,

2005; RAMAGE et al., 2001a). O biofilme maduro, ao atingir uma massa crítica, encontra um

equilíbrio dinâmico no qual o aumento da densidade de células é compensado pela liberação

de células de camadas mais superficiais para a colonização de outras superfícies, em um

fenômeno chamado dispersão.

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Figura 5: Microscopia eletrônica de varredura de biofilmes de Candida albicans. (a) biofilme fino

mostrando extensa matriz extracelular, indicado pela seta branca. (b) biofilme altamente filamentado,

seta branca indica um canal de água. (c) biofilme maduro com presença de hifas e leveduras, matriz

extracelular não visível. Barras = 10 µm.

Biofilmes de Candida spp., formados em modelos in vivo, parecem seguir a mesma

seqüência de formação (ANDES et al., 2004), no entanto, a maturação ocorre mais

rapidamente e a espessura final é maior nestes biofilmes do que naqueles cultivados em

sistemas in vitro. O biofilme cultivado in vitro pode ter espessura variável entre 25 e 450 µm

(CHANDRA et al., 2001; RAMAGE et al., 2001a; KUHN et al., 2002a), e, em modelos in

vivo, a espessura é geralmente superior a 100 µm (ANDES et al., 2004).

A arquitetura final do biofilme é variável e depende, em parte, do substrato sobre o

qual ele é formado. O biofilme de Candida formado em superfícies de polimetilmetacrilato é

descrito como uma camada espessa de matriz extracelular em que uma densa rede de

leveduras, pseudo-hifas, e hifas estão inseridas. Já em um biofilme formado em superfícies

planas e hidrofóbicas, tais como silicone e PVC, existe uma distribuição bifásica de

componentes, ou seja, uma camada aderente de leveduras coberta por várias camadas de hifas

e pseudo-hifas incorporadas em matriz extracelular (SENEVIRATNE et al., 2008).

Além da composição da superfície do substrato, as condições de crescimento nas quais

o biofilme é formado, tais como: meio de cultura utilizado (in vitro), concentração e tipos de

açúcares, presença de proteínas do soro, pH e temperatura (KUMAMOTO, 2002;

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SENEVIRATNE et al., 2008), influenciarão na composição final. E, ainda, diferentes cepas

de C. albicans divergirão em sua capacidade de formação de biofilme. (KUHN, 2002a).

1.6.1 Matriz extracelular do biofilme de C. albicans

A matriz extracelular (MEC) é uma das características mais peculiares de um biofilme

microbiano e é a responsável por formar a estrutura tridimensional do biofilme. A MEC

mostra-se similar a um gel, altamente hidratado, no qual os micro-organismos apresentam-se

imobilizados. A composição da matriz varia de acordo com a natureza dos organismos

presentes no biofilme (AL FATTANI et al., 2006). Os polímeros que compõem a MEC de

biofilmes bacterianos são principalmente exopolissacarídeos, dentre os quais, muitos são

carregados negativamente, devido à presença da carboxila, grupamentos sulfato ou fosfato.

Quantidades menores de proteínas, ácidos nucléicos e lipídios também podem estar presentes.

Dois polissacarídeos de MEC bacteriana já caracterizados são: alginato, produzido por

Pseudomonas aeruginosa, e poli β-1,6-N-acetilglicosaminas, secretados por bactérias

Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus aureus (STARKEY et al. 2004; GOTZ, 2002).

A síntese de ambos os polissacarídeos tem sido relacionada à virulência dessas bactérias.

A composição geral da MEC de biofilmes de C. albicans foi determinada por Al-

fattani et al. (2006) e esta apresentou, majoritariamente, carboidratos (39,6%), onde a maior

proporção foi de glicose (32,2%), seguido de pequenas quantidades de manose e galactose. A

matriz mostrou, ainda, pequenas quantidades de proteínas (5,0%), hexosamina (3,3% ),

fósforo (0,5%) e ácido urônico (0,1%).

1.6.2 Resistência a antifúngicos em biofilmes de C. albicans

Segundo a definição de biofilme, as células que compõem esta estrutura apresentam

fenótipo alterado e diferem das células planctônicas na expressão de genes, taxa de

crescimento e, principalmente, na susceptibilidade aos agentes antifúngicos. O aumento

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drástico da resistência antifúngica em células de C. albicans cultivadas como biofilmes, em

relação às suas formas planctônicas, é a alteração comportamental de maior relevância

médica.

Múltiplos mecanismos têm sido sugeridos para explicar o aumento da resistência a

antifúngicos do biofilme de C. albicans, incluindo a dificuldade de penetração da droga

através da MEC e a morfológia das células fúngicas, que podem apresentar bombas de efluxo

de drogas (Figura 6).

Figura 6: Possíveis mecanismos envolvidos na resistência antifúngica do biofilme de C. albicans.

Adaptado de: Niimi et al., 2010

A MEC pode se apresentar como uma barreira física, impedindo o acesso de agentes

antimicrobianos às células incorporadas na comunidade do biofilme e, então, colaborar para o

aumento da resistência à droga. Este obstáculo parece depender da quantidade e da natureza

da matriz, assim como das propriedades físico-químicas da droga. Em biofilmes de bactérias,

enzimas da MEC, também, podem digerir drogas, reduzindo seu efeito final

(SENEVIRATNE, 2008). Em biofilmes de C. albicans, a produção de matriz aumenta

drasticamente quando biofilmes são cultivados sob agitação, em comparação ao

desenvolvimento em condições estáticas e, no entanto, ambos os tipos de biofilmes mostram-

se igualmente resistentes às drogas antifúngicas. Da mesma maneira, células em suspensão,

recuperadas de biofilmes maduros, ressuspensas em meio líquido mostraram-se resistentes ao

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fluconazol e à anfotericina B, mas não no mesmo nível que as células que permanecem no

biofilme maduro (RAMAGE et al., 2005). Estes resultados parecem indicar que a MEC

desempenha um papel parcial na resistência de células sésseis mas outros fatores,

provavelmente, estão envolvidos.

A resistência aos azóis em células planctônicas de C. albicans pode ser mediada por

bombas de efluxo localizadas na membrana, pelos transportadores ligados a ATP

(transportadores tipo ABC) e pelos facilitadores (MUKHERJEE, 2005). O papel dos genes

que codificam bombas de efluxo na resistência antifúngica de biofilmes de C. albicans foi

investigado por Ramage et al. (2002). Neste trabalho, demonstrou-se que a expressão dos

genes CDR1, CDR2 e MDR1, responsáveis pela formação das bombas de efluxo de drogas

em C. albicans, é regulada durante o curso de formação do biofilme. Mutantes de C. albicans

com depleções simples e duplas (Δcdr1, Δcdr2, Δmdr1, Δcdr1/Δcdr2 e Δmdr1/Δcdr1) foram

hiper-sensíveis ao fluconazol quando cultivados como células planctônicas, mas, ainda assim,

mantiveram o fenótipo de resistência durante o crescimento do biofilme. Posteriormente,

Mukherjee et al. (2003) demonstraram que os biofilmes formados pelas estirpes ―knockout‖

para Cdr1, Cdr2 e/ou Mdr1, mostraram-se mais suscetíveis ao fluconazol no início do

desenvolvimento do biofilme mas, ao longo do desenvolvimento e maturação, todas as cepas

se tornaram resistentes ao antifúngico, indicando que o envolvimento de bombas de efluxo na

resistência, em fases posteriores da formação do biofilme, é reduzido e que outros fatores

parecem estar contribuindo para o comportamento resistente das células do biofilme maduro

aos azóis.

Análises de esteróis de membrana celular mostraram que os níveis de ergosterol

apresentam-se significativamente menores nas fases intermediária e matura de

desenvolvimento do biofilme de C. albicans em comparação à fase inicial. Uma vez que o

metabolismo dos esteróis é o processo afetado pelas drogas mais amplamente empregadas na

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terapia antifúngica, os níveis diminuídos de ergosterol presente nas células sésseis de

biofilmes maduros de C. albicans podem refletir um estado fisiológico destas células mais

propício para o comportamento resistente (RAMAGE, 2005).

1.7 Terapia antifúngica para candidemia

As principais classes de antifúngicos comercializadas compreendem os poliênicos, os

azóis, os tiocarbamatos, as alilaminas, os derivados morfolínicos, a 5-fluorocitosina, a

griseofulvina e as equinocandinas (ODDS, 2003). A escolha da classe de antifúngico, assim

como sua formulação, é feita a partir do quadro clínico desenvolvido pelo paciente. Para o

tratamento da candidíase disseminada, desde 2004, a Sociedade Americana de Doenças

Infecciosas recomenda equinocandinas (caspofungina), derivados azólicos (fluconazol e

itraconazol) e polienos (anfotericina B). Entretanto, novos antifúngicos estão sendo incluídos

ao tratamento, como voriconazol, posaconazol e micafungina (PAPPAS, 2004). A figura 7

mostra os principais alvos de ação dos agentes antifúngicos empregados no tratamento das

candidemias.

Figura 7: Principais alvos de ação na célula fúngica dos agentes empregados, atualmente, no

tratamento das candidemias. Adaptado de: Katzung B.G., 2009.

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1.7.1 Derivados azólicos

Os azóis podem ser classificados, de acordo com sua estrutura química, em imidazóis

e triazóis. Os imidazóis são caracterizados pela presença do anel imidazol (contendo 2 átomos

de nitrogênio) enquanto os triazóis, pelo anel triazol (contendo 3 átomos de nitrogênio).

Dentre os imidazóis, somente o cetoconazol possui atividade sistêmica, mas não é utilizado

no tratamento de candidemias. Todos os triazóis têm atividade sistêmica e esta subclasse

inclui: fluconazol, itraconazol, posaconazol, voriconazol e ravuconazol (Figura 8). O

mecanismo de ação destes fármacos baseia-se na inibição da enzima C-14-α-lanosterol

demetilase, componente de um sistema microssomal dependente do citocromo P450,

prejudicando a biossíntese de ergosterol da membrana citoplasmática e levando ao acúmulo

de 14-α-metilesteróis (do tipo 14α-metil-3,6-diol) no citoplasma da célula fúngica. Esses

metilesteróis não possuem a mesma conformação nem as mesmas propriedades físicas que o

ergosterol e, por isso, determinam alterações na permeabilidade e na fluidez da membrana

celular do fungo. A inibição da síntese do ergosterol pode resultar em inibição do crescimento

da célula fúngica (efeito fungistático) ou em morte celular (efeito fungicida), dependendo da

sensibilidade da cepa causadora da infecção e do azol empregado no tratamento (SHEEHAN

et al., 1999).

Os novos triazóis (voriconazol, posaconazol e ravuconazol) apresentam maior

potência e espectro de ação mais amplo quando comparados aos antigos azóis (fluconazol e

itraconazol). Em estudo comparativo utilizando isolados clínicos de Candida spp., os três

novos antifúngicos mostraram atividade semelhante entre si, substancialmente maior que a

do fluconazol e pouco maior que a do itraconazol (PFALLER et al.,1998).

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Figura 8: Estrutura química dos agentes azóis. Retirado de: www.doctorfungus.com

1.7.2 Poliênicos

Os representantes desta classe são anfotericina B e nistatina (Figura 9). A nistatina não

pode ser administrada sistemicamente por conta de sua alta toxicidade e, portanto, apenas a

anfotericina B é utilizada para o tratamento de candidemias. Anfotericina B é um dos

fármacos de escolha na maioria das doenças fúngicas em humanos. Sua ação é fungicida,

sendo indicada, em infecções sistêmicas, com administração por infusão endovenosa.

Figura 9: Estrutura química dos agentes poliênicos. Retirado de: www.doctorfungus.com

A estrutura básica dos poliênicos consiste em um anel lactâmico, com uma cadeia

lipofílica rígida e uma porção hidrofílica flexível. Como mecanismo de ação, a anfotericina B

liga-se diretamente à molécula de ergosterol formando poros na membrana celular,

permitindo a saída de componentes intracelulares de baixo peso molecular (como íons) e

culminando na morte celular por desestabilização da célula (Figura 10). A associação da

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molécula de anfotericina B ao ergosterol ocorre por interação da cadeia hidrofóbica da

substância antifúngica ao esterol de membrana (GHANNOUM e RICE, 1999).

Figura 10: Mecanismo de ação da anfotericina B na célula fúngica. (A) bicamada lipídica com poro,

permitindo a saída de material citoplasmático. (B) esquema explicativo da interação da molécula de

anfotericina B com o ergosterol e formação do poro na mambrana celular. Adaptado de: Ghannoum e

Rice, 1999

Os esteróis são essenciais para a estrutura normal e função das membranas celulares.

Em mamíferos, o colesterol é o principal esterol de membrana na célçula, entretanto, em

outros organismos eucariotos, como fungos e tripanosomatídeos, há a predominância de

outros esteróis, incluindo o ergosterol e 24-metil esteróis. Esses esteróis são vitais para a

viabilidade e crescimento das células fúngicas e tripanosomatídeos, mas estão ausente nas

células de mamífero (SONG, 2007).

Ergosterol e colesterol são moléculas estruturalmente muito parecidas, diferindo em

poucos pontos. É sabido que algumas partes das moléculas de colesterol e ergosterol são

importantes para a atividade da membrana celular, como o núcleo tetracíclico esteroidal e 3β-

OH. Diferentemente do colesterol, o ergosterol (ergosta-5,7,22-trien-3β-ol) é um esterol

anfipático caracterizado por conter uma hidroxila no C3 do anel A da molécula, o que

caracteriza a porção polar, e o restante da cadeia alifática é a porção apolar da molécula.

Também, possui duas duplas ligações no anel B, e uma dupla ligação na cadeia lateral

alifática em C22(23), além de um grupo metil em C24. Essas três últimas características e

ausência de metila em C4 e C14 parecem ser essenciais para o crescimento dos fungos

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(SONG, 2007). A molécula de ergosterol dos fungos possui conformação tridimencional

cilíndrica enquanto que o colesterol, esterol majoritário nas membranas celulares de

mamíferos, possui conformação sigmóide. Esta diferença conformacional, provavelmente, é

suficiente para explicar a maior afinidade de ligação da anfotericina B ao ergosterol em

comparação ao colesterol. Entretanto, esta seletividade é baixa e a droga tem seu uso limitado

devido ao alto grau de toxicidade (nefrotoxicidade, hepatotoxicidade e anemia hemolítica)

(ODDS et al., 2003).

Diversas formulações lipídicas foram desenvolvidas na tentativa de diminuir a

natureza tóxica da formulação convencional. A tecnologia lipossomal foi empregada na

produção da anfotericina B lipossomal (L-AMB), diminuindo drasticamente os efeitos

adversos da anfotericina deoxicolato, entretanto estudos mostram que a eficácia terapêutica é

similar a anfotericina deoxicolato. L-AMB é composto de anfotericina B complexado com

fosfatidilcolina de soja hidrogenada, distearoilfosfatidilglicerol e colesterol, caracterizando

um verdadeiro composto de lipossomas unilamelares (Ambisome, Astellas). Além da L-

AMB, outras formulações lipídicas também foram desenvolvidas, como o complexo lipídico

de anfotericina B (Abelcet, Enzon) e anfotericina B dispersão coloidal (Amphotec, Three

Rivers). Também, está sendo desenvolvida a nistatina lipossomal para uso sistêmico

(Nyotran, Aronex Pharmaceuticals) (ODDS et al., 2003). No entanto, a forma lipossomal é

muito mais cara que as formas paternas, anfotericina B deoxicolato, o que pode restringir a

sua utilização em centros médicos públicos, custanto cerca de 20 vezes mais que a

anfotericina B deoxicolato (The Medical Letter, 2009).

1.7.3 Equinocandinas

As equinocandinas são uma nova classe de antifúngicos altamente seletivos. São

lipopetídeos que se ligam à β-(1,3) glucano sintase, inibindo a síntese das β-(1,3) glucanas,

constituintes da parede celular fúngica e levando a perda de função da mesma.

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A parede celular é absolutamente essencial para a sobrevivência; mutações ou drogas

que afetam a síntese dos componentes de parede celular podem resultar em células fúngicas

inviáveis ao crescimento e ao estabelecimento de infecção.

Tendo em vista que a parede celular não está presente como componente de células de

mamíferos, estes não possuem β-(1,3) glucanas e esta classe de antifúngicos torna-se

altamente seletiva em sua ação em fungos, apresentando reduzida toxicidade em células de

mamíferos (KURTZ e DOUGLAS, 1997).

Atualmente, existem três equinocandinas liberadas para uso pelo FDA: micafungina,

caspofungina e anidulafungina (Figura 11). Dentre estas, somente a caspofungina está

aprovada para o tratamento de candidíase (PERLIN, 2007).

Figura 11: Estrutura química das equinocandinas. Adaptado de: www. doctorfungus.com.

Em um estudo anterior, Pfaller et al. (2003) identificaram 351 isolados de Candida

spp. resistentes ao fluconazol in vitro (IC > 64 µg/mL) e todos estes isolados mostraram-se

sensíveis a caspofungina (99% dos ICs foram < 2 µg/mL). Em seguida, Cocuaud et al. (2005)

demonstraram os efeitos do tratamento com doses terapêuticas de caspofungina em diferentes

fases do desenvolvimento do biofilme de C. albicans e C. parapsilosis. A utilização deste

antifúngico em concentrações de 2 µg/mL inibiu a formação de biofilme de ambas as espécies

testadas, em todos os estágios de maturação (2, 24 ou 48 h) e este efeito mostrou-se

independente da sensibilidade das cepas ao fluconazol (no caso de C. albicans). A eficácia da

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caspofungina nestes experimentos confirma o potencial deste antifúngico como inibidor da

formação de biofilmes de C. albicans e C. parapsilosis em dispositivos médicos.

1.8 Novas substâncias com atividade antifúngica

Nas últimas décadas, o avanço da medicina vem propicíando um aumento na

sobrevida de pacientes e no tempo de internação destes. Com isso, um aumento do número de

indivíduos sob risco de aquisição de infecções fúngicas invasivas, bem como outras infecções

oportunistas, também pode ser observado atualmente. O limitado arsernal terapêutico

disponível para o tratamento de infeções fúngicas, associado às altas taxas de resistência aos

antifúngicos, apontam para a necessidade de busca de novos alvos de ação na célula fúngica e

novas moléculas com ação antifúngica para o tratamento destas infeções.

Desde a década de 70, além dos agentes azólicos, novas moléculas inibidoras da

síntese de ergosterol têm sido sintetizadas. Dentre estas, a atividade antifúngica dos

azasteróis, inibidores da Δ24-esterol metiltransferase (24-SMT), foi demonstrada por diversos

estudos ao longo dos últimos anos (BURBIEL et al., 2003). A inibição da 24-SMT é um alvo

de estudo bastante interessante porque esta enzima é exclusiva da via biossintética de

ergosterol, estando ausente na biossintese de outros esteróis, como o colesterol. Sendo assim,

a 24-SMT está presente apenas em células de fungos, tripanossomatídeos e plantas e

encontra-se ausente em células de mamíferos. Esta característica confere aos inibidores da 24-

SMT seletividade e específicidade, que provavelmente determinarão uma redução dos efeitos

adversos comuns durante a utilização de agentes inibidores de enzimas presentes tanto na

biosintese de ergosterol quanto de colesterol.

Estudos anteriores mostraram que o 15-azasterol, em concentrações entre 0,01 e 4,08

μg/mL, inibe o crescimento de Saccharomyces cerevisae e C. albicans, com um acúmulo

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concomitante de moléculas intermediárias da via biosintética de esgosterol

(OEHLSCHLAGER, 1984; GEORGOPAPADAKOU et al., 1987; HAYS et al., 1977).

Dois azasteróis específicos, o 22-24 azasterol (AZA) e o Epiminolanosterol (EIL) têm sido

largamente estudados nos últimos anos e suas atividades tanto antifúngica quanto

antiprotozoário já foram demonstradas por diferentes grupos de pesquisa. Recentemente,

Ishida et al. (2009) mostraram que AZA e EIL induzem alterações ultraestruturais, acúmulo

de corpos lipídicos e alterações no ciclo celular, em C. albicans. Além disso, a atividade

antifúngica de AZA contra Paracoccidioides brasiliensis (VISBAL et al., 2003) foi

demonstrada, assim como contra Pneumocystis carinii, no qual observa-se interrupção do

crescimento e acúmulo de esteróis intermediários, indicando inibição de 24-SMT (URBINA

et al., 1997).

Estudos em protozoários, também, confirmaram a atividade inibitória de AZA e EIL

em Trypanossoma cruzi (URBINA et al., 1995), L. amazonensis (RODRIGUES et al., 2007;

RODRIGUES et al., 2002), Toxoplasma gondii (DANTAS-LEITE et al., 2004), e Giardia

lamblia (MAIA, C. et al., 2007).

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Figura 12: Via biosintética do ergosterol e colesterol, mostrando as principais etapas e as enzimas

envolvidas. Em vermelho estão demonstradas as etapas inibidas pelos azóis e azasteróis. Adaptado de:

De Souza e Rodrigues, 2009.

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Alternativamente, um novo alvo de ação antifúngica parece estar surgindo a partir de

estudos com análogos de fosfolipídios, como a miltefosina. Análogos de lisofosfolipidios

constituem uma ampla classe de compostos metabolicamente estáveis que incluem as

alquilfosfocolinas, tais como a hexadecilfosfocolina (miltefosina). A miltefosina foi

inicialmente desenvolvida como agente antiproliferativo celular para o tratamento do câncer,

porém sua atividade anticancerígena mostrou-se limitada devido a inaceitável toxicidade

gastrointestinal e atividade limitada quando administrada por via oral. No entanto, este

composto tem demonstrado ser eficaz como uma formulação tópica no tratamento de linfomas

cutâneos e foi licenciado na Europa para o tratamento de metástases da pele devido ao câncer

de mama.

Em paralelo, os análogos de fosfolipídios mostraram ter potente atividade

antiparasitária e seletividade, em especial contra parasitas tripanossomatídeos, como

Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi. Esses resultados levaram a estudos clínicos de

administração oral de miltefosina em pacientes com leishmaniose visceral, incluindo aqueles

infectados com cepas de L. donovani resistentes aos antimôniais. A elevada taxa de resposta e

os efeitos colaterais relativamente suaves têm levado muitos pesquisadores a considerar essa

substância como o tratamento oral aguardado para esta condição de risco de vida. A

miltefosina é licenciada, para esta indicação, na India e na Alemanha, bem como na Colômbia

para o tratamento de leishmaniose cutânea.

Dada a sua natureza química e propriedades físico-químicas, esperamos que os

análogos de fosfolipídios sejam capazes de interagir com uma variedade de estruturas

subcelulares e enzimas, particularmente aquelas associadas às membranas celulares. Apesar

deste fato, os resultados de muitos estudos independentes concluíram que a interferência com

um número relativamente pequeno de alvos parece justificar os efeitos biológicos conhecidos

destas substâncias.

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Por conta da sua estrutura molecular, os análogos de fosfolipidios têm sido

intensamente investigados como potenciais inibidores de enzimas envolvidas na síntese,

degradação ou modificação da membrana lipídica. Os mais investigados são os efeitos destes

análogos na via de síntese de fosfatidilcolina. Estudos têm demonstrado que estes compostos

inibem a síntese deste fosfolipídio essencial em vários tipos celulares e, ainda, outros

pesquisadores relataram uma correlação entre a inibição da síntese de fosfatidilcolina e o

bloqueio da proliferação celular (Revisado em URBINA JA, 2006).

Além disso, um possível mecanismo de ação para estes análogos seria a indução de

apoptose. A diminuição da síntese de fosfocolina irá deprimir a produção de esfingomielina,

já que estas vias biossintéticas são fortemente acoplados, e, por sua vez, levará à elevação dos

níveis intracelulares de ceramida, que é um conhecido indutor de apoptose. Outra

possibilidade, deduzida a partir de estudos em leveduras, é que os níveis intracelulares de

ácido fosfatídico, produzido a partir da hidrólise fosfatidilcolina pela fosfolipase D, são os

principais reguladores do crescimento das células nestes organismos (URBINA JA, 2006).

O metabolismo da miltefosina e edelfosina foi investigado em L. mexicana

por Lux et al. (2000), que verificou que esses compostos inibem uma enzima chave na

remodelação de lipídios. Lira et al. (2001) realizou um estudo detalhado dos efeitos da

miltefosina, edelfosina e ilmofosine na composição de fosfolipídios e esteróis de

epimastigotas de T. cruzi e verificou que a biossíntese de fosfatidilcolina nestas células

procede principalmente através da via Brenmer-Greenberg (transmetilação), que também é a

principal via de fungos, mas só é usado em mamíferos sob condições de privação de colina.

Além disso, os estudos em T. cruzi sugerem que a inibição da síntese de fosfatidilcolina

através da via de Brenmer-Greenberg, especificamente ao nível de fosfatidiletanolamina-

metil-transferase-N, é um efeito primário da atividade antiparasitária destes compostos. Lira

et al. (2001) observaram, ainda, que os IC50 para edelfosina e miltefosina, necessários para

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inibir a biossíntese de fosfatidilcolina em T. cruzi, foram 10-20 vezes menores do que os

necessários para atingir os mesmos efeitos em células de mamíferos. Estes resultados

explicam a maior seletividade dos análogos de fosfolipidios em protozoários, comparado às

células de mamíferos. Neste mesmo trabalho, ficou demonstrado que os análogos de

fosfolipidios também induzem modificação na composição de esteróis livres em

epimastigotas de T. cruzi, através da inibição da Δ-22-esterol desaturase, provavelmente um

efeito secundário, resultante da alteração na composição fosfolipídica. Esta constatação levou

a uma investigação sobre o possível sinergismo entre a antividade antiproliferativa dos

análogos de fosfolipidios e os inibidores da biossíntese de ergosterol.

Ainda que muitos estudos em protozoários já tenham sido realizados, pouco se sabe

sobre os efeitos dos análogos de fosfolipídios em fungos. Recentemente, Widmer et al. (2006)

demonstraram a atividade inibitória da miltefosina em diversas espécies fúngicas de

importância médica, como: C. albicans, Cryptococcus neoformans e C. gattii, Aspergillus

fumigatus, Fusarium solani, Scedosporium apiospermum, S. prolificans, e alguns

zigomicetos. Entretanto, os mecanismos de ação relacionados a esta atividade antifúngica

permanecem pouco conhecidos.

O estudo de novas moléculas com potencial antifúngico contra os principais agentes

causadores de micoses invasivas é importante para direcionar a busca por substâncias com

maior espectro de ação e seletividade e menor toxicidade, visando o desenvolvimento de

novos agentes antifúngicos.

Diversos tipos de infecções por Candida spp. podem estar relacionadas com a

formação de biofilme. Estas infecções são um sério problema de saúde humana, uma vez que

a sensibilidade das células sésseis aos antifúngicos é reduzida quando comparada às células

plactônicas (HAWSER e DOUGLAS,1995; RAMAGE et al., 2001b). Conseqüentemente, o

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tratamento destas infecções torna-se complicado e o biofilme pode estabelecer-se como uma

fonte permanente de infecção (DONLAN, 2001).

Dentre os poucos antifúngicos disponíveis para o tratamento de candidemias, apenas

as formulações lipídicas de anfotericina B e as equinocandinas (BACHMANN et al., 2002;

KUHN et al., 2002b) mostraram atividade inibitória sobre o biofilme de Candida spp.. Em

concentração terapêutica (2 µg/mL), a caspofungina foi capaz de reduzir significativamente a

atividade metabólica do biofilme de C. albicans e C. tropicalis (COCUAUD et al., 2005).

Tendo em vista que diversos procedimentos médicos exigem a utilização de

dispositivos internos por longos períodos de tempo, como marca-passos, nutrição parenteral, e

administração de medicamentos por via endovenosa, a disponibilidade de antifúngicos

eficazes na prevenção da formação de biofilmes por C. albicans em dispositivos médicos

torna-se extremamente importante. O reduzido número de classes de drogas disponíveis para

o tratamento de candidemias associadas à formação de biofilmes e a alta incidência de

resistência às drogas disponíveis, demonstra a necessidade de busca de novos compostos com

atividade antifúngica e que também sejam ativos sobre células de biofilmes de C. albicans.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral:

Avaliar a atividade antifúngica de compostos com diferentes mecanismos de ação sobre

células planctônicas e de biofilme de C. albicans.

2.2 Objetivos específicos

Determinar a Concentração Inibitória Mínima e a Concentração Fungicida Mínima de cada

um dos agentes antifúngicos para as células planctônicas de C. albicans;

Avaliar o efeito dos compostos antifúngicos sobre a hidrofobicidade de superfície celular

de cada uma das cepas de C. albicans;

Avaliar as alterações ultraestruturais em cepas de C. albicans tratadas, através de

microscopia eletrônica de transmissão;

Avaliar as alterações no perfil lipídico de C. albicans após tratamento antifúngico;

Avaliar quantitativamente o efeito dos compostos antifúngicos sobre a capacidade de

formação de biofilme de duas cepas de C. albicans;

Avaliar quantitativamente o efeito dos compostos antifúngicos sobre o biofilme maduro de

duas cepas de C. albicans;

Avaliar as alterações morfológicas causadas por compostos antifúngicos adicionados

durante a formação de biofilme por cepas de C. albicans, em cateter venoso central,

utilizando microscopia eletrônica de varredura;

Avaliar as alterações morfológicas causadas por compostos antifúngicos adicionados sobre

o biofilme maduro formado em cateter venoso central por cepas de C. albicans, utilizando

microscopia eletrônica de varredura.

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Micro-organismos

Foram utilizadas neste trabalho: uma cepa de C. albicans da American Type Culture

Colection (ATCC 10231) e um isolado clínico de C. albicans (44A), obtido a partir de lavado

gástrico de paciente atendido no Laboratório de Microbiologia e Micologia do Instituto

Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (HemoRio), Rio de Janeiro, Brazil

(BRAGA-SILVA et al., 2009) e gentilmente cedido por Marcos Dornellas Ribeiro.

3.2 Drogas antifúngicas

Os antifúngicos utilizados como padrão nos experimentos foram: fluconazol (Pfizer),

itraconazol (SIGMA) e anfotericina B (SIGMA). Estas drogas foram diluídas em

dimetilsulfóxido (DSMO) obtendo-se soluções estoque de 2000, 1600 e 1600 μg/mL,

respectivamente. Os compostos 22,26 Azasterol (AZA) e 25-Epiminolanosterol (EIL)

(cedidos pelo pesquisador Dr. Julio Urbina – Caracas, Venezuela) foram diluídos em DMSO

para obtenção das concentrações estoque de 12,5 e 1 mM, respectivamente. Miltefosina

(MLT)(Caymen) e Tcan26 (composto cedido pela Dra. Theodora Calogeropoulou, Institute of

Organic and Pharmaceutical Chemistry, National Hellenic Research Foundation, Grécia),

foram diluídos em DMSO:Etanol (1:1) para a obtenção de concentração estoque de 1,56 e 50

mM, respectivamente. As soluções estoque foram diluídas em RPMI 1640, tamponado com

MOPS, para a obtenção da concentração ideal em cada teste. A concentração final de DMSO

não excedeu 1% para evitar a influência no crescimento das leveduras.

O AZA e o EIL são inibidores sintéticos da enzima ∆24(25) esterol metil transferase

(24-SMT) da via biosintética do ergosterol. Já a MLT e seu análogo sintético Tcan26, são

alquilfosfocolinas (análogos de fosfolipídios) que atuam interferindo no metabolismo lipídico

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da célula fúngica. A tabela 3 mostras as estruturas químicas de alguns compostos utilizados.

A estrutura química do Tcan26 não está demonstrada porque ainda não foi publicada.

Tabela 3: Estruturas químicas e mecanismos de ação de algumas substâncias antifúngicas utilizadas .

Estrutura química Substância Mecanismo de ação

Anfotericina B

Ligação à molécula de

ergosterol na membrana

fúngica e formação de poros

Fluconazol

Inbição da 14-α-lanosterol

demetilase na biossíntese de

ergosterol

Itraconazol

22-26 Azasterol

Inibição da 24-SMT na

biossíntese de ergosterol

Epiminolanosterol

Miltefosina Alteração do metabolismo

lipídico na célula fúngica

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3.3 Teste de susceptibilidade in vitro aos agentes antifúngicos

3.3.1 Determinação da concentração inibitória mínima (IC)

A concentração inibitória mínima foi determinada pela técnica de microdiluição em

caldo (Figura 13) descrito no documento M27-A3 (CLSI, 2008). Leveduras cultivadas em

meio Sabouraud dextrose, por 48 h, foram padronizadas para 1-5 x 106

UFC/mL e diluídas

para a obtenção de uma suspensão a 1-5 x 103

UFC/mL, em microplacas de 96 poços. 100 µL

de meio RPMI 1640, com tampão MOPS 0,165 M, foram distribuídos em cada poço da

microplaca, posteriormente, diluições seriadas das drogas foram realizadas para obter

concentrações finais de 0,03 a 16 μg/mL para AZA, EIL, miltefosina e Tcan26; 0,25 a 128

μg/mL para fluconazol (FLU) e itraconazol (ITRA); e 0,015 a 8 µg/mL μg/mL para

anfotericina B (AMB). Um volume de 100 µL da suspensão de leveduras (1-5 x 103

UFC/mL)

foi dispensado nos poços para obter uma concentração fúngica final de 0,5-2,5 x 103

UFC/mL.

As microplacas foram incubadas em uma câmara umidecida, a 35°C. A IC é definida como

menor concentração da droga capaz de inibir o crescimento microbiano in vitro. As

concentrações que inibem o crescimento de leveduras em 50% (IC50) e em 90% (IC90) foram

determinadas no tempo de 48 h, por meio da densidade ótica em comprimento de onda de 492

nm, e a susceptibilidade aos antifúngicos padrão foi avaliada de acordo com os pontos de

corte propostos pelo CLSI (2008), especificados na tabela 4 .

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Figura 13: Esquema representativo da microdiluição em caldo utilizando diluições seriadas dos

antifúngicos para determinação do IC50 e IC90 de cada um dos compostos. Após a diluição dos

compostos (fileiras 1-10), todos os poços da microplaca, exceto a coluna 12, receberam a mesma

alíquota de suspensão fúngica padronizada.

Tabela 4: Interpretação dos resultados da determinação da IC das drogas padrão (CLSI, 2008)

Antifúngicos Concentração (µg/mL)

Susceptível (S) Susceptível dose-dependente (SDD) Resistente (R)

Fluconazol ≤ 8 16-32 ≥ 64

Itraconazol ≤ 0,125 0,25-0,5 ≥ 1

Anfotericina B < 2 - ≥ 2

3.3.2 Determinação da concentração fungicida mínima (CFM)

Após a determinação da IC da droga, uma alíquota de 2 µL das concentrações

inibitórias de cada droga foi semeada na superfície de agar Sabouraud dextrose isento de

droga, incubadas a 35 °C por 48 h. A CFM foi obtida pela observação da menor concentração

da droga onde não houve crescimento de colônias. O efeito fungicida foi considerado

quando a CFM for igual ou até 4 vezes maior que o valor de IC (PFALLER et al., 2004).

3.4 Efeito das drogas sobre a hidrofobicidade de superfície celular (HSC)

A determinação da hidrofobicidade de superfície celular foi feita utilizando a uma

metodologia baseada na afinidade das leveduras por um hidrocarboneto.

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Leveduras tratadas ou não com as drogas, em RPMI 1640 tamponado com MOPS por

24h a 35 °C, foram centrifugadas a 3300 rpm por 10 min, lavadas em PBS 0,05M pH 7,4

estéril, e resuspendidas no mesmo tampão. A absorbância da suspensão de leveduras foi

determinada em espectrofotômetro, em comprimento de onda de 660 nm. Posteriormente, a

suspensão de leveduras em PBS foi coloca em contato com xileno, em proporção 2,5:1; v/v.

Os tubos falcon contendo a mistura foram agitados por 2 min e deixados em repouso por 20

min. A absorbância da fase aquosa foi determinada, e o índice de hidrofobicidade (IH) foi

calculado utilizando a fórmula: IH = (Asuspensão – Axileno) x 100 / Asuspensão ; na qual: Asuspensão é

absorbância da suspensão de levedura em PBS e Axileno é a absorbância da fase aquosa obtida

após a adição de xileno (TEIXEIRA et al., 1993).

3.5 Análise de lipídeos

Acomposição lipídica da membrana células planctônicas do isolado clínico 44A foi

avaliada em duas condições distintas de crescimento: na ausência e na presença de duas

concentrações sub-inibitórias de miltefosina. O estudo do perfil lipídico foi realizado com

objetivo de investigar se o mecanismo de ação antifúngica desta substância, um análogo de

fosfolipídio, estaria relacionado ao metabolismo lipídico da célula. Para a determinação deste

perfil foram avaliados dois grupos de lipídios presentes em grande quantidade na mebrana

celular fúngica: lipídeos neutros e lipídeos polares. O grupo de lipídeos polares foi ainda

dividido em fosfolipídios e ácidos graxos.

3.5.1 Extração e separação de lipídeos neutros (LN) e polares (LP)

Leveduras de C. albicans (isolado 44A) foram tratadas com miltefosina, em diferentes

concentrações previamente diluídas em meio RPMI 1640, tamponado com MOPS, por 48h, a

35 ⁰C. Os lipídeos totais de membrana de leveduras foram extraídos com uma mescla de

clorofórmio:metanol (2:1, v/v), filtrados e concentrados à pressão reduzida. As amostras de

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lipídeos foram ressuspendidas em clorofórmio e aplicadas em uma coluna de sílica gel (100

mesh, Sigma Aldrich), previamente ativado a 100 °C, por 24 h. Os lipídeos neutros (LN) e

polares (LP) foram separados utilizando clorofórmio e uma mescla de clorofórmio:metanol

(1:1, v/v), respectivamente (BLIGH; DYER, 1959). Depois da separação, os LN e LP foram

secos por pressão reduzida e armazenados a -70 °C, até as próximas análises, como descrito a

seguir.

3.5.2 Análise de lipídeos neutros

As frações de LN foram analisadas por cromatografia em fase gasosa, acoplada à um

espectrômetro de massas (CG-EM) para a análise quantitativa e estrutural dos lipídeos

(VISBAL & SAN-BLAS, 2007). Os lipídeos neutros foram separados em uma coluna capilar

de alta resolução HP-5 ultra 2 (25 m de comprimento, 0,20 mm de diâmetro interno, 5%

difenil e 95 % dimetil polisiloxano com 0,33 mm de espessura) em um cromatógrafo a gás,

modelo CG 5890 series II (Hewlett Packard), equipado com um detector de massas HP5972

(Hewlett Packard). Brevemente, os lipídeos foram diluídos em clorofórmio e injetados em

uma coluna, que foi mantida a 50 °C, por 1 min, em seguida, foi realizado um aumento

crescente da temperatura até alcançar 280 °C em uma taxa de aumento de 25 °C /min, e

finalmente, um aumento a 300 °C na taxa de 1 °C /min. O fluxo da fase móvel gasosa (hélio)

foi mantido constante a 0,6 mL/min e as temperaturas do injetor e do detector foram mantidas

a 250 °C e 280 °C, respectivamente.

3.5.3 Análise de fosfolipídios

A fração de LP, que contém, principalmente, fosfolipídios, foi ressuspendida em 50

µL de uma mescla de clorofórmio:metanol (2:1, v/v) e um volume de 10 µL da amostra foi

aplicado em uma placa sílica gel de dimensões de 10 x 20 cm (fase estacionária). As amostras

foram eluídas da sílica gel usando uma mescla de clorofórmio:metanol: 32% amoníaco p/v

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(17:7:1, por volume) (fase móvel) (CUZNER et al., 1967). Paralelamente às amostras, foram

aplicados padrões de fosfolipídios (todos da Sigma Aldrich): L-α-fosfatidil-DL-glicerol, L-α-

ácido fosfatídico dipalmitoil, L-α-fosfatidil-N1N-dimetil etanolamina dipalmitoil, L-α-

fosfatidil-L-serina, L-α-fosfatidilcolina, L-α-fosfatidilinositol, 3-sn- L-α-ácido fosfatídico e

L-α-fosfatidiletanolamina. Os fosfolipídios separados por CCD foram revelados com iodo, e o

fator de retenção (Rf) de cada substância foi calculado, sendo a razão da distância do percurso

da substância (cm) e a distância do percurso da fase móvel (cm).

3.5.4 Análise de ácidos graxos

Para a análise de ácidos graxos esterificados, a fração de LP foi dissolvida em 200 µL

de clorofórmio, e uma alíquota 50 µL de cada fração foi transmetilada pela adição de 200 µL

de H2SO4 5% em metanol, em banho-maria a 60 °C, por 1h. Posteriormente, a reação foi

parada adicionando 200 µL de água destilada (GUCKERT et al., 1985). Os ácidos graxos

esterificados foram extraídos com éter de petróleo, secos e quantitativamente analisados pelo

CG-MS, como descrito anteriormente para análise de LN.

3.6 Formação de biofilme por C. albicans

3.6.1 Condições de cultivo

As cepas de C. albicans foram cultivadas em agar Sabouraud dextrose a 35 °C por 24 h,

e, em seguida, em caldo Sabouraud a 35 °C, por 24h. As leveduras foram lavadas em PBS

0,01 M, pH 7,2 e padronizadas a 1 x 107 UFC/mL em meio RPMI 1640 tamponado com

MOPS e suplementado com 2% de glicose e 20% de Soro Fetal Bovino (SFB) (adaptado de

JIN, Y. et al., 2003, 2004; NIKAWA et al., 2000).

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3.6.2 Formação do biofilme

O biofilme foi formado na superfície de poliestireno da microplaca de 96 poços.

Primeiramente, 100 μL da suspensão fúngica (1 x 107 UFC/mL) foi dispensada nos poços, e

incubadas a 37 °C por 1,5 h, sob agitação. Após esse período as placas foram lavadas com

PBS 0,01 M estéril e 100 μL de meio RPMI 1640 suplementado com 2% de glicose e 20%

SFB foi adicionado em cada um dos poços. As placas foram incubadas por até 48 h a 35 °C,

sob agitação constante (adaptado de KUHN et al., 2002a).

3.6.3 Quantificação do biofilme

A quantificação do biofilme formado em microplaca de 96 poços foi realizada através

do ensaio de redução do sal 2,3-bis (2-metoxi-4-nitro-5-sulfofenil)-5-[(fenilamino) carbonil]-

2H-hidróxido de tetrazolium (XTT)(Sigma). O biofilme foi lavado com PBS e 150 μL de

solução XTT-menadiona em PBS, onde a concentração final é de 0,5mg/mL de XTT e 1mM

de menadiona (Sigma), foram adicionados a cada poço e as placas foram incubadas por 2 h, a

35 °C e ao abrigo da luz. Foram transferidos para uma placa de 96 poços, 100 μL da solução

para a leitura da absorbância em 490 nm (adaptado de BIZERRA et al., 2008).

3.7 Efeito do tratamento com compostos antifúngicos no biofilme

3.7.1 Efeito da adição dos compostos durante a formação do biofilme

Inicialmente, 100 μL de suspensão fúngica padronizada (1 x 107 UFC/mL) foi

dispensada nos poços de uma microplanca de 96 poços, e esta incubada a 35 °C, por 1,5 h,

sob agitação. Após este período de aderência, as placas foram lavadas com PBS 0,01 M

estéril e 100 μL de diferentes concentrações das drogas, diluídas em meio RPMI 1640,

tamponado com MOPS, suplementado com 2% de glicose e 20% de SFB, foram adicionados

nos poços. As placas foram incubadas por até 48 h, a 35 °C, sob agitação. O sobrenadante foi

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descartado e o biofilme foi lavado em tampão PBS. A quantificação do biofilme foi realizada

pela redução do XTT (Figura 14) (BRAGA et al., 2008).

3.7.2 Efeito dos compostos no biofilme maduro

O biofilme foi formado por 48 h na superfície da placa de poliestireno, como descrito

anteriormente. Após esse período, o sobrenadante foi retirado e o biofilme foi lavado com

PBS 0,01 M, pH 7,2. Em seguida foram adicionados à placa 100 μL das diferentes

concentrações das drogas, previamente diluídas em meio RPMI 1640, tamponado com

MOPS, suplementado com 2% de glicose e 20% de SFB e a placa foi incubada a 35 °C, sob

agitação, por mais 48 h. O sobrenadante foi descartado, o biofilme foi lavado em tampão PBS

e a quantificação foi realizada pela redução do XTT (Figura 14) (CHANDRA et al., 2008).

Figura 14: Esquema representativo dos testes in vitro utilizados para a determinação da atividade de

drogas na formação e no biofilme maduro; e da quantificação por reação com XTT. Cada fileira (A-G)

da placa de 96 poços recebeu 100 µL de um composto antifúngico nas concentrações determinadas

entre colchetes (64, 16, 4 vezes maior ou igual a IC de cada droga). Todos os poços receberam 100 µL

de suspensão antifúngica padronizada, exceto os poços 7-9 da fileira H, que receberam apenas meio de

cultura. Os poços 1-6 da fileira H receberam apenas suspensão fúngica e são isentos de drogas

(controle positivo). Após a incubação com XTT:Menadiona, a intensidade de cor laranja formada pela

presença do composto formazan é proporcional à concentração de células viáveis em cada poço.

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42

3.8 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

O cateter intravenoso central do tipo BD Intracath™ em biomaterial Vialon™, de 1.7

mm de diâmetro e 61 cm de comprimento, foi cortado para a obtenção de secções de

aproximadamente 5 mm. Estas secções de cateter, com biofilmes controle e tratados com

drogas em concentração 16 ou 8 vezes maior que a respectiva IC50 ou IC90 obtida para as

células planctônicas, foram processados para MEV. Os cateteres foram lavados em PBS 0,01

M, pH 7,2, fixados em glutaraldeído 2,5% e paraformaldeído 4%, em tampão cacodilato 0,1

M, por 1 h, a temperatura ambiente. Posteriormente, os cateteres foram lavados no mesmo

tampão e pós fixados em tetróxido de ósmio 1 % e ferrocianeto de potássio 1,25 % por 2h.

Em seguida, foram desidratados em concentrações crescentes de etanol (30, 50, 70, 90, 100%)

e etanol ultra-seco, durante 30 min em cada concentração. As amostras foram secas, em ponto

crítico de CO2, metalizadas com ouro e observadas em microscópio eletrônico de varredura

Jeol JSM-5310.

3.9 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET)

As suspensões de células tratadas ou não, por 48h, a 35 °C, com concentração sub-IC90

de miltefosina foram processadas para MET. As suspensões foram lavadas em PBS 0,01 M,

pH 7,2, fixadas em glutaraldeído 2,5% e paraformaldeído 4%, em tampão cacodilato 0,1 M,

por 1 h, a temperatura ambiente. Posteriormente, as células foram lavadas no mesmo tampão

e pós fixadas em tetróxido de ósmio 1 % e ferrocianeto de potássio 1,25 % por 2h. Em

seguida, foram desidratados em concentrações crescentes de etanol (30, 50, 70, 90, 100%) e

etanol ultra-seco durante 30 min em cada concentração. Após a desidratação, as amostras

foram infiltradas, gradativamente, em mistura de resina spurr:etanol (1:3, 1:2, 1:1, 2:1, 3:1) e,

em seguida, em spurr puro, overnight, a temperatura ambiente. Os materiais foram incluídos

em spurr com DMAE, por 48 h, a 60 °C. Os blocos foram cortados e os cortes ultrafinos

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43

coletados em grades de cobre para contrastação com acetato de uranila 5%, por 45 minutos, e

citrato de chumbo, por 5 minutos. A observação do material foi feita em microscópio Zeiss

900.

3.10 Análise estatística

Os resultados obtidos nos itens 3.4 e 3.7 foram analisados utilizando o programa

PRISM 5.0, e o intervalo de confiança de 95% foi considerado estatisticamente significativo.

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44

4 RESULTADOS

4.1 Perfil de susceptibilidade aos agentes antifúngicos

4.1.1 Determinação da concentração inibitória minima

Os resultados do teste de susceptibilidade aos antifúngicos padrão (fluconazol,

itraconazol e anfotericina B), aos inibidores da 24-SMT (AZA e EIL) e aos análogos de

fosfolipídios (miltefosina e Tcan 26), podem ser vistos na tabela 5. Nela podemos observar as

concentrações, em microgramas por mililitro (μg/mL), capazes de inibir 50% e 90% do

crescimento fúngico, em relação ao controle, das duas cepas de C. albicans utilizadas neste

estudo, frente a cada um dos inibidores. Esta determinação foi realizada no tempo de 48 h, por

meio da densidade ótica, em espectrofotômetro, no comprimento de onda de 492 nm.

Dentre os antifúngicos padrão, a anfotericina B mostrou menores valores de IC50 e

IC90 para ambas as cepas. A cepa ATCC 10231 não foi sensível ao tratamento com AZA,

enquanto que o isolado clínico (44A) apresentou valores de IC50 e IC90 significativamente

baixos, semelhantes aos antifúngicos padrão, para este mesmo composto. Ambas as cepas

mostraram-se sensíveis ao EIL, com valores de IC50 semelhantes ao fluconazol. Os análogos

de fosfolipídios mostraram IC90 de 4 μg/mL para ambas as cepas e, tanto a MLT quanto o

Tcan26, demonstraram atividade fungicida para a cepa 44A, com valor de CFM igual e duas

vezes maior que o IC90, respectivamente.

4.1.2 Determinação da concentração fungicida minima

Os resultados do ensaio de determinação do efeito fungicida podem ser vistos na

tabela 6, onde observamos a concentração fungicida mínima (CFM), em μg/mL, de cada um

dos inibidores, para cada cepa de C. albicans. Esta determinação foi realizada no tempo de 48

horas, por meio de leitura visual da ausência de crescimento fúngico.

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Tabela 5: Susceptibilidade das cepas de C. albicans aos inibidores da 24-SMT, aos análogos de fosfolipídios e aos antifúngicos padrão, analisados pelo

método da microdiluição em caldo. Resultados de CI50 e CI90 estão expressos em µg/mL.

Fluconazol Itraconazol Anfotericina B Azasterol EIL MLT Tcan 26

IC50 IC90 IC50 IC90 IC50 IC90 IC50 IC90 IC50 IC90 IC50 IC90 IC50 IC90

C. albicans

ATCC 10231 1 >128

T 0,5 >16

T 0,12 0,06 >16 >16 1 >16 2 2 4 4

C. albicans

44A 1 4 0,12 0,5

SDD 0,12 0,25 0,25 1 2 4 * 4 * 4

*Não foi possível determinar o IC50

t: Efeito ―trailling‖

SDD: Susceptível dose-dependente

Tabela 6: Determinação da concentração fungicida mínima (CFM) dos inibidores da 24-SMT (AZA e EIL) e dos análogos de fosfolipidios (MLT e Tcan 26)

contra cepas de C. albicans.

22,26 Azasterol EIL MLT Tcan 26

C. albicans ATCC 10231 >16 >16 * *

C. albicans 44A * >16 4 8

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* Não foram determinados.

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4.2 Efeito das drogas sobre a Hidrofobicidade de Superfície Celular (HSC)

De acordo com Hazen et al. (2000), leveduras com índice de hidrofobicidade celular

menor que 10% são classificadas como células hidrofílicas, enquanto leveduras com índice

maior que 90%, são consideradas hidrofóbicas.

As suspensões de células de C. albicans tratadas com os inibidores da 24-SMT (AZA

e EIL), com os análogos de fosfolipidios (miltefosina e Tcan 26) e com as drogas padrão

(fluconazol, itraconazol e anfotericina B) tiveram sua hidrofobicidade de superfície

determinada através de metodologia baseada na afinidade celular por hidrocarboneto

insolúvel (TEIXEIRA et al., 1993). A HSC das células após o tratamento com os agentes

antifúngicos foi comparada à HSC da célula controle não tratada.

Os índices de hidrofobicidade (IH) calculados para cada uma das cepas de C. albicans

anteriormernte e posteriormente ao tratamento com os agentes antifúngicos, assim como para

os controles não tratados, estão descritos nas tabelas 7 e 8.

O tratamento da cepa ATCC com fluconazol, em concentrações iguais ao IC50

para esta droga, resultou em diminuição significativa na HSC, enquanto o tratamento com

azasterol, também em concentrações iguais ao IC50, determinou aumento significativo da

hidrofobicidade superficial da célula. Os tratamentos com itraconazol, anfotericina B e EIL

(tabela 7), bem como com miltefosina e Tcan26 (tabela 8) na cepa ATCC não determinaram

alterações significativas de hidrofobicidade de superfície. Da mesma maneira, no isolado

clínico, enquanto fluconazol, itraconazol, anfotericina B, AZA, EIL e miltefosina não

alteraram a HSC, o tratamento com Tcan26 determinou redução significativa (tabelas 7 e 8)

da mesma.

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Tabela 7: Índice de hidrofobicidade celular de leveduras em suspensão após tratamento com AZA, EIL, fluconazol (FLU), itraconazol (ITRA), ou

anfotericina B (AMB), nas concentrações de IC50 de cada substância.

Controle

X ± DPM

FLU

X ± DPM

ITRA

X ± DPM

AMB

X ± DPM

AZA

X ± DPM

EIL

X ± DPM

C. albicans ATCC 10231 21.93 ± 0.7850 13.03 ± 0.2618 ** 17.75 ± 2.697 39.87 ± 9.750 46.69 ± 2.874 * 21.83 ± 4.959

C. albicans 44A 42.96 ± 3.803 22.20 ± 7.186 38.02 ± 2.549 41.79 ± 5.001 43.93 ± 6.025 33.48 ± 2.877

X: Média; DPM: Desvio Padrão da Média.

* Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste t-Student).

** Estatisticamente diferente, onde p<0,01 (teste t-Student).

Tabela 8: Índice de hidrofobicidade celular de leveduras em suspensão após tratamento com miltefosina (MLT) ou Tcan26, nas concentrações de IC90 de cada

substância.

Controle

X ± DPM

MLT

X ± DPM

Tcan 26

X ± DPM

C. albicans ATCC 10231 18.90 ± 4.512 19.52 ± 2.018 28.28 ± 3.327

C. albicans 44A 45.25 ± 3.808 42.40 ± 3.633 24.49 ± 0.4768 *

X: Média; DPM: Desvio Padrão da Média.

* Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste t-Student).

** Estatisticamente diferente, onde p<0,01 (teste t-Student).

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Em relação aos controles positivos, crescidos na ausência de antifúngicos, a cepa de C.

albicans ATCC 10231 mostrou-se menos hidrofóbica do que o isolado clínico, C. albicans

44A, com índices de hidrofobicidade em torno de 21 e 45, respectivamente (figura 15).

Hidrofobicidade de Superfície Celular

ATCC 10231 44A0

10

20

30

40

50 ***

Índ

ice

de

Hid

rofo

bic

ida

de

Figura 15: Comparação entre os índices de hidrofobicidade obtidos para as células controle das cepas

ATCC 10231 e 44A de C. albicans.

*** Estatisticamente diferentes, onde p<0,0005.

4.3 Alterações ultraestruturais após tratamento com miltefosina

Células de C. albicans 44A em suspensão, controle e tratadas com 3µg/mL de

miltefosina, foram avaliadas por microscopia eletrônica de transmissão. A concentracão de

3µg/mL (inferior a IC90) foi escolhida para que houvesse crescimento celular significativo na

presença da droga, ainda que com alterações morfológicas.

A figura 16 apresenta as alterações morfológicas na célula após o tratamento com

miltefosina (Figura 16 C-F), em relação à célula controle de C. albicans 44A (Figura 16 A-B).

Na figura 16 A-B observamos a ultraestrutura da levedura controle, não tratada, que

possui forma definida, fibrilas bem compactadas, parede celular homogênea e delimitada,

com a membrana celular justaposta e citoplasma homogêneo. Em contrapartida, células

tratadas com miltefosina (Figura 16 C-F) apresentaram espessamento e afrouxamento das

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fibrilas (setas pretas na figura 16 C e E, respectivamente), parede celular espessada em

determinados pontos (setas vermelhas nas figuras 16 E-F), alterações na integridade da

membrana celular (setas amarelas na figura 16 D-F), e presença de invaginações de

membrana celular (setas amarelas na figura 16 D-E). A divisão celular por brotamentos

parece ser afetada pelo tratamento com a miltefosina, pois, muitas células filhas

apresentaram-se extremamente alteradas (* na figura 16 E). Em algumas células tratadas com

miltefosina foi possível observar inchaço mitocondrial (m, figuras 16 C e F), presença de

vacúolos eletrondensos (v, figura 16 C) e citoplasma granuloso (Figura 16 F).

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Figura 16: Micrografias de microscopia eletrônica de transmissão de C. albicans 44A controle (A-B) e

tratada com 3 μg/mL de miltefosina (C-F). Células controle apresentaram membrana celular contínua

(mp, em B), parede celular homogênea e compacta (pc, em B) e fibrilas organizadas e compactadas (f,

em B). As células tratadas mostram desorganização e afrouxamento das fibrilas (setas pretas em C e

E), invaginações e alterações na membrana celular (setas amarelas em D-F), aumento da espessura da

parede celular (setas vermelhas em E-F), vacúolos (v, em C) e inchaço mitocondrial (m, em C e F).

As leveduras tratadas apresentaram alteração de forma celular (C-F) e brotamentos alterados (* em C).

Barras correspondem a 0,5 μm em A,B,C e E, e a 1 μm em D e F.

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4.3.1 Análise de esteróis

As células controle de C. albicans (44) apresentaram o esqualeno como esterol

majoritário (88,87%), seguido de colesterol e ergosterol (Tabela 9). Quando as leveduras

foram tratadas com concentrações sub-inibitórias de miltefosina, foi verificada presença de

ergosterol em 39,5%, sobretudo quando o tratamento foi feito com 0,5 µg/mL do composto.

Entretanto, o aumento da síntese de ergosterol na maior concentração utilizada, de 1 µg/mL,

não foi proporcional à concentração de droga utilizada, como o esperado (Tabela 9). É

importante relatar que na concentração de 1 µg/mL de miltefosina observou-se, por meio de

um microscópio de luz, a presença de ―debris‖ celulares , o que poderia ter influenciado na

perda de lipídeos durante o processo de extração. O número de células na amostras controle e

tratadas foi padronizado antes da realização da análise, assim, as porcentagens de esteróis

encontradas se relacionam a uma mesma concentração de células, em cada uma das situações

analisadas.

Tabela 9: Porcentagem relativa de esteróis extraídos de leveduras de C. albicans 44A não tratadas

(controle) e tratadas com miltefosina (concentrações em µg/mL), obtido por meio de um cromatógrafo

gasoso acoplado a um espectro de massas.

Esteróis (Peso molecular) Tempo de retenção (min) Controle 0,5 µg/mL 1 µg/mL

Esqualeno (410) 16,20 88,87 56,04 83,04

Colesterol (386) 21,61 6,15 4,44 6,80

Ergosterol (396) 23,37 4,97 39,50 10,15

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4.3.2 Análise de fosfolipídios

Uma análise qualitativa do perfil de fosfolipídios extraídos de leveduras tratadas com

diferentes drogas pode ser avaliada por meio de uma cromatografia em camada delgada.

Os padrões de fosfolipídios utilizados neste trabalho foram testados previamente em

por meio de uma cromatografia em camada delgada de sílica gel, onde os Rfs foram

determinados: (1) L-α-fosfatidil-DL-glicerol (Rf=não detectado), (2) L-α- ácido fosfatidico

dipalmitoil (Rf=0), (3) L- α -fosfatidil-N1N-dimetil etanolamino dipalmitoil (Rf=0,62), (4) L-

α-fosfa-L-serina (Rf=não detectado), (6) L-α-fosfatidilcolina (Rf=0,38), (7) L-α-

fosfatidilinositol (Rf=0,21), (8) 3-sn-L-α- ácido fosfatidico de sódio (Rf=0,16) e (9) L-α-

fosfatidiletanolamina (Rf=0,52). Colunas (5) e (10) são mesclas dos padrões de fosfolipídios.

Esses valores de Rf serão utilizados para identificar as manchas encontradas em

cromatograma de amostras de lipídeos polares analisadas posteriormente.

Na amostra de leveduras de C. albicans 44A controle foi possível identificar todos os

fosfolipídios com Rf determinado em experimento anterior (Figura 17). No entanto, o

crescimento em meio RPMI 1640, tamponado com MOPS, contendo 0,5 ou 1,0 µg/mL de

miltefosina parece afetar a síntese de fosfolipídios, diminuindo qualitativamente a síntese de

(2), (6) e (8). Considerando que estes são, respectivamente, ácido fosfatídico dipalmitoil,

fosfatidilcolina e ácido fosfatídico de sódio, o tratamento de C. albicans com concentrações

subinibitórias de MLT parece determinar alterações nos níveis de fosfolipídios, em especial

os derivados de fosfatidilcolina. Devemos considerar o efeito inibitório drástico que a

miltefosina exerce sobre o crescimento de C. albicans (44A) em concentração igual ou

superior a 4,0 µg/mL (concentração inibitória mínima – IC), apresentando 100 % de inibição

do crescimento fúngico. Adicionalmente, em concentrações ≤ 1,0 µg/mL, miltefosina não

apresenta nenhum efeito inibitório. Interessantemente, esta droga apresenta efeito fungicida

em leveduras tratadas com a IC90 (4 µg/mL) e concentrações acima da IC90.

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Figura 17: Cromatografia em camada delgada da fração polar de lipídeos extraídos de C. albicans

(44A) tratada com 0,5 e 1,0 µg/mL de miltefosina, em meio RPMI 1640, por 48 h, a 35 °C. A

concentração inibitória que inibiu 100% do crescimento fúngico foi de 4,0 µg/mL. Concentrações das

drogas estão µg/mL.

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4.3.3 Análise de ácidos graxos

Após a reação de esterificação dos ácidos graxos com 5% H2SO4 em metanol, as

amostras foram analisadas em um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de

massas. Podemos observar a presença de ésteres de ácidos graxos em C. albicans 44A, tais

como: ácido palmitoleico (C16:1), ácido palmítico (C16:0), ácido linolenico (C18:3), ácido

linoleico (C18:2), ácido oleico (C18:1) e ácido esteárico (C18:0).

O ácido graxo majoritário, em C. albicans 44A controle, foi o ácido palmítico (C16:0)

(Tabela 10). Foi possível identificar pequenas alterações no perfil de ácidos graxos em células

de C. albicans (44A) tratadas com miltefosina, em concentrações de 0,5 e 1 µg/mL, como o

aumento de ácido oleico (C18:1) e ácido linolenico (C18:3), quando comparado com as

células controle (Tabela 10).

Tabela 10: Porcentagem relativa de ésteres de ácidos graxos extraídos de leveduras de C. albicans

(44A) controle e tratadas com 0,5 e 1 µg/ml de miltefosina, obtidos por meio de um cromatógrafo à

gás acoplado a um espectrômetro de massas.

Miltefosina

Ácidos graxos Tempo de

retenção (min) Controle 0,5 µg/mL 1,0 µg/mL

C16:1 17,92 6,7 6,2 5,4

C16:0 18,35 26,4 32,7 19,9

C18:3 18,97 23,9 21,6 29,7

C18:2 22,54 15,0 11,9 13,0

C18:1 22,70 22,3 22,4 27,3

C18:0 23,30 5,5 5,1 4,6

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4.4 Avaliação quantitativa dos efeitos da adição de drogas em diferentes

fases de desenvolvimento do biofilme de C. albicans

4.4.1 Avaliação do feito da adição de drogas durante a formação do biofilme

A formação de biofilme por C. albicans ATCC 10231 na presença dos azóis

(fluconazol e itraconazol), em concentrações iguais ao IC50 das células planctônicas, e em 4,

16 e 64 vezes maiores que o IC50, não foi reduzida significativamente, quando comparada ao

biofilme controle, formado na ausência de drogas (Figura 18). Contudo, o número de células

viáveis no biofilme de C. albicans ATCC 10231 formado na presença de fluconazol mostrou

uma pequena redução que, apesar de não ser estatisticamente significativa para as

concentrações testadas, apresenta um padrão dose-dependente (Figura 18).

A formação de biofilme por C. albicans ATCC 10231 foi significativamente reduzida

(p<0,05) quando na presença de concentracões de 8 μ g/mL de anfotericina B (concentração

64 vezes maior do que o IC50), mas o mesmo não ocorreu com concentracões menores desta

droga (Figura 18). A cepa ATCC 10231 mostrou formação de biofilme significativamente

reduzida (p<0,01) quando na presença de 256 μg/mL de AZA, mas concentracões menores

desta droga não resultaram em redução do biofilme formado (Figura 19). A atividade

metabólica do biofilme formado na presença de EIL, em todas as concentracões testadas

(igual ao IC50, 4 e 16 vezes maior que o IC50), foi semelhante à do controle (Figura 19).

Dentre os análogos de fosfolipidios, a miltefosina, em concentracões de 32 μg/mL (16

vezes maiores que IC90), reduziu significativamente (p<0,05) a formação do biofilme,

enquanto que concentracões menores desta droga não mostraram os mesmos resultados

(Figura 19). A adição de Tcan26, em todas as concentracões testadas, durante o

desenvolvimento do biofilme de C. albicans ATCC 10231, levou a formação de um biofilme

significativamente (p<0,05) reduzido, quando comparado ao controle (Figura 19).

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Fluconazol

Controle 1 4 16 64 0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

Itraconazol

Controle 0,5 2 8 320.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Concentração(g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Anfotericina B

Controle 0,12 0,5 2 80.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

*

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

Figura 18: Redução de formação de biofilme por C. albicans ATCC 10231 na presença de drogas

padrão em concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor concentração em

cada gráfico igual ao valor de IC50 da droga.

*Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste de t-Student)

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60

AZA

Controle 16 64 2560.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

**

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

EIL

Controle 1 4 160.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

Miltefosina

Controle 2 8 320.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

*

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbâ

nc

ia (

49

0 n

m)

Tcan 26

Controle 4 16 640.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

**

*

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbâ

nc

ia (

49

0n

m)

Figura 19: Redução de formação de biofilme por C. albicans ATCC 10231 na presença de inibidores

da 24-SMT e análogos de fosfolipidios em concentrações iguais ao IC50 (AZA e EIL) ou IC90

(miltefosina e Tcan 26), 4 e 16 vezes maiores, sendo a menor concentração em cada gráfico igual ao

valor de IC50 ou IC90 da droga.

*Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste de t-Student)

**Estatisticamente diferente, onde p<0,01 (teste de t-Student)

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61

A susceptibilidade do isolado cínico (44A) aos antifúngicos padrão não foi semelhante

à cepa ATCC 10231 (Figuras 18 e 20). O biofilme de C. albicans 44A, quando formado na

presença de 16 e 64 μg/mL de fluconazol (16 e 64 vezes maiores que o IC50,

respectivamente), mostrou atividade metabólica significativamente reduzida (p<0,05 e

p<0,01, respectivamente) em relação ao controle (Figura 20). A adição de itraconazol ou

anfotericina B, em concentracões até 64 vezes maiores que o IC50 destas substâncias, não

alterou a capacidade de formação de biofilme do isolado clínico (Figura 20). A atividade

metabólica das células no biofilme formado na presença de anfotericna B mostrou redução

com padrão dose-dependente, mas não siginicativa em relação ao controle (Figura 20).

Os biofilmes de C. albicans 44A, formados na presença de diferentes concentrações

dos inibidores da 24-SMT, mostraram atividade metabólica semelhante ao controle, formado

na ausência das drogas (Figura 21). Entretanto, os análogos de fosfolipidios mostram-se

capazes de reduzir a formação de biofilme por esta cepa. A adição de concentrações de 16 e

32 μg/ml de miltefosina (4 e 8 vezes maiores que o IC50) culminaram em redução

significativa (p<0,05) do biofilme formado ao final de 48h (Figura 21). Da mesma maneira,

redução significativa foi obtida quando concentracões de 64 μg/mL de Tcan26 (16 vezes

maiores que o IC50) foram adicionadas durante a formação do biofilme do isolado clínico

(Figura 21).

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62

Fluconazol

Controle 1 4 16 64 0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

* **

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Itraconazol

Controle 0,12 0,5 2 80.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Anfotericina B

Controle 0,06 0,25 1 40.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Figura 20: Redução de formação de biofilme por C. albicans 44A na presença de drogas padrão em

concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor concentração em cada gráfico

igual ao valor de IC50 da droga.

*Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste de t-Student)

**Estatisticamente diferente, onde p<0,01 (teste de t-Student)

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63

AZA

Controle 0,25 1 40.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

EIL

Controle 2 8 320.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

Miltefosina

Controle 4 16 320.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

**

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Tcan 26

Controle 4 16 640.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

*

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

Figura 21: Redução de formação de biofilme por C. albicans 44A na presença de inibidores da 24-

SMT (AZA e EIL) em concentrações iguais ao IC50, 4 e 16 vezes maiores, e na presença de análogos

de fosfolipidios (miltefosina e Tcan26) em concentrações iguais ao IC90, 4 e 8 ou 16 vezes maiores. A

menor concentração em cada gráfico é referente ao valor de IC50 ou IC90 da droga.

*Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste de t-Student)

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64

4.4.2 Avaliação do efeito da adição de drogas ao biofilme maduro

Em biofilmes maduros de C. albicans ATCC 10231, formados em placas de 96 poços,

por 48h, o tratamento com diferentes concentrações de azois, por 48h adicionais, não reduziu

a massa final de biofilme, em relação ao controle (Figura 22). Entretanto, o tratamento do

biofilme maduro com anfotericina B, nas concentrações de 2 e 8 μg/ml (16 e 64 vezes

maiores que o IC50, respectivamente) determinaram reduções significativas (p<0,05 e p<0,01,

respectivamente) na atividade metabólica da massa final de células que compõe o biofilme

(Figura 22).

O tratamento de biofilmes maduros, formados pela cepa ATCC 10231, com inibidores

da 24-SMT, em concentrações iguais e maiores que o IC50 de cada uma das drogas, não

reduziu a atividade metabólica final do biofilme. Da mesma maneira, após o tratamento de

biofilmes maduros desta cepa com análogos de fosfolipídios, nenhuma redução significativa

de viabilidade celular foi observada, em relação ao biofilme controle (Figura 23).

O biofilme maduro formado por C. albicans 44A, após ser tratado, por 48h adicionais,

com fluconazol, itraconazol, anfotericina B, inibidores da 24-SMT ou análogos de

fosfolipidios, mostrou atividade metabólica final semelhante ao biofilme controle, em todas as

concentrações utilizadas (Figuras 24-25). Entretanto, o tratamento de biofilmes maduros do

isolado clínico (44A) com 4 μg/mL de Tcan26 (concentração igual ao IC90) determinou

aumento significativo (p<0,05) na massa final de biofilme (Figura 25).

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65

Fluconazol

Controle 1 4 16 640.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Itraconazol

Controle 0,5 2 8 320.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Anfotericina B

Controle 0,12 0,5 2 80.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

***

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

Figura 22: Redução do biofilme maduro de C. albicans ATCC 10231 após a adição de drogas padrão

em concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor concentração em cada

gráfico igual ao valor de IC50 da droga.

*Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste de t-Student)

**Estatisticamente diferente, onde p<0,01 (teste de t-Student)

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66

AZA

Controle 16 64 2560.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490 n

m)

EIL

Controle 1 4 160.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Miltefosina

Controle 2 8 320.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Tcan 26

Controle 4 16 640.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Figura 23: Redução do biofilme maduro de C. albicans ATCC 10231 após a adição de inibidores da

24- SMT e análogos de fosfolipidios em concentrações iguais ao IC50 (AZA e EIL) ou IC90

(miltefosina e Tcan 26), 4 e 16 vezes maiores, sendo a menor concentração em cada gráfico igual ao

valor de IC50 ou IC90 da droga.

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67

Fluconazol

Controle 1 4 16 640.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Itraconazol

Controle 0,12 0,5 2 80.0

0.1

0.2

0.3

0.4

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Anfotericina B

Controle 0,06 0,25 1 40.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Figura 24: Redução do biofilme maduro de C. albicans 44A após a adição de drogas padrão, em

concentrações iguais ao IC50 e 4, 16 e 64 vezes maiores, sendo a menor concentração em cada gráfico

igual ao valor de IC50 da droga.

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68

AZA

Controle 0,25 1 40.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

EIL

Controle 2 8 320.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Miltefosina

Controle 4 16 320.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Tcan 26

Controle 4 16 640.0

0.1

0.2

0.3

0.4

*

Concentração (g/mL)

Ab

so

rbân

cia

(490n

m)

Figura 25: Redução do biofilme maduro de C. albicans 44A após a adição de inibidores da 24-SMT

(AZA e EIL) em concentrações iguais ao IC50, 4 e 16 vezes maiores, e após a adição de análogos de

fosfolipidios (miltefosina e Tcan26) em concentrações iguais ao IC90, 4 e 8 ou 16 vezes maiores. A

menor concentração em cada gráfico é referente ao valor de IC50 ou IC90 da droga.

*Estatisticamente diferente, onde p<0,05 (teste de t-Student)

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69

4.5 Alterações morfológicas após a adição de drogas em diferentes fases de

desenvolvimento do biofilme de C. albicans em catéter venoso central

4.5.1 Alterações por adição de drogas durante a formação do biofilme

A formação de biofilmes de C. albicans ATCC 10231 e C. albicans 44A, em cateter

venoso central (CVC), na presença de concentrações 16 vezes maiores que o IC50 de

fluconazol, AZA e EIL, 8 e 16 vezes maiores que o IC90 de miltefosina e Tcan26,

respectivamente, foi analizada em relação ao biofilme controle crescido na ausência de

drogas. Para esta análise de alterações morfológicas foi utilizada a microscopia eletrônica de

varredura (MEV).

O biofilme formado, por 48 h, por C. albicans ATCC 10231 (figuras 26 A-B, 27 A-B)

mostrou menor densidade de células do que o formado pela cepa de C. albicans 44A (figuras

28 A-B, 29 A-B).

As células de C. albicans ATCC 10231 aderidas ao cateter, na ausência de drogas,

apresentaram formato de levedura, com abundantes brotamentos e poucos filamentos (Figuras

26-B, 27-B). A adição de 16 μg/mL de fluconazol ao cateter durante o desenvolvimento do

biofilme da cepa ATCC levou à redução do número de células aderidas ao dispositivo (figura

26-C), além de determinar alterações na morfologia de algumas células (figura 26-D e inset).

Em contrapartida, a adição de 256 μg/mL de AZA ao cateter levou ao aumento no número de

células aderidas (figura 26-E) e não pareceu determinar alterações morfológicas às células,

que apresentaram-se íntegras, leveduriformes e com abundância de brotamentos (figura 26-F).

O tratamento com EIL (16 μg/mL), no entanto, levou a redução pronunciada da aderência de

leveduras ao cateter e, além disso, as células crescidas na presença desta droga parecem estar

maiores do que as células do biofilme controle (Figura 26 G-H).

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70

Os análogos de fosfolipídios, ao serem adicionados ao CVC, durante a formação do

biofilme de C. albicans ATCC 10231, determinaram alterações significativas na morfologia

celular (Figura 27 D e F). Os cateteres, após adição de miltefosina ou Tcan26, em

concentracões de 32 e 64 μg/ml, respectivamente, (16 vezes maiores que o IC90 de cada

droga) apresentaram células aderidas em quantidade semelhante ao controle (Figuras 27 C e

E), porém, as células tratadas parecem estar aumentadas (análise visual), quando comparadas

ao controle, e a formação de brotamentos parece estar bastante alterada (Figuras 27 D e F,

insets).

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71

Figura 26: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e formado na

presença de 16 μg/mL de FLU(C-D), 256 μg/mL de AZA (E e F) e 16 μg/mL de EIL (G e H) por 48h,

a 35 ºC. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E,G e 10 μm em B,D,F,H. Insets com barras de 10

μm (D) e 5 μm (H). É Possivel observar alterações na quantidade de células aderidas ao cateter após o

tratamento com FLU, AZA e EIL, em relação ao controle nao tratado.

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73

Figura 27: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e formado na

presença de 32 μg/mL de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), por 48h, a 35 °C. Barras

correspondem a 500 μm em A,C,E e 10 μm em B,D,F. Insets em D e F com barras de 5 μm. É

possível observar alterações tanto na densidade de células aderidas à superfície do cateter quanto na

divisão celular nos biofilmes formados na presença de MLT e Tcan26, em relação ao biofilme

controle.

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74

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75

O biofilme formado por C. albicans 44A na ausência de drogas mostrou-se altamente

filamentado, com ampla aderência de células e praticamente todo o cateter apresentava-se

revestido por filamentos (Figuras 28 A e 29 A). As hifas formadas mostraram-se longas e com

brotamentos em abundância (Figuras 28 B e 29 B).

A adição de 16 μg/mL de fluconazol ao cateter durante a formação do biofilme, do

isolado clínico 44A, determinou significativa redução no número de células aderidas ao

dispositivo (Figura 28 C) e na filmentação das células, que apresentavam-se majoritariamente

como leveduras e pseudo-hifas (Figura 28 D), não apresentando hifas longas e multibrotantes,

como o controle. A adição de AZA, em concentracão de 4 μg/mL, ao biofilme em formação

não determinou redução da massa final de células no cateter e estas apresentaram-se pouco

alteradas (hifas onduladas) em relação às células controle (Figura 28 E-F). A formação de

estruturas largas e com superfície rugosa e irregular, lembrando uma hifa alterada, foi

observada tanto em biofilmes tratados com AZA (Figura 28 E-F) quanto em biofilmes

controle (dado não mostrado). Esta estrutura, provavelmente, é formada por fios do cateter

que se desprendem durante a secção com a navalha. Entretanto, o tratamento do biofilme em

formação com 32 μg/mL de EIL culminou em redução drástica do número de células aderidas

ao cateter e inibiu completamente a filamentação das células, que apresentaram-se

exclusivamente sob a forma de leveduras (Figura 28 G-H).

Da mesma maneira, a adição de análogos de fosfolipidios ao biofilme em formação

reduziu a massa final de células aderidas e inibiu a formação de hifas, em C. albicans 44A

(Figura 29). Concentrações de 32 μg/mL de miltefosina e 64 μg/mL de Tcan26 determinaram

menor formação de biofilme (Figura 29 C e E) e alterações na morfologia das leveduras que,

visualmente, parecem, também, estar maiores do que as células controle (Figura 29 D e F).

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76

Figura 28: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e formado na presença de 16

μg/mL de FLU(C-D), 4 μg/mL de AZA (E e F) e 32 μg/mL de EIL (G e H) por 48h, a 35 °C. Barras

correspondem a 500 μm em A,C,E,G e 10 μm em B,D,F,H. Observamos tanto a redução da densidade

de células aderidas à superfície do cateter quanto a inibição da filamentação, nos biofilmes formados

na presença de FLU e EIL, em relação ao controle. Nenhuma alteração foi observada em biofilmes

formados na presença de AZA.

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78

Figura 29: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e formado na presença de 32

μg/mL de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), por 48h, a 35 °C. Barras correspondem a

500 μm em A,C,E e 5 μm em B,D,F. Observamos tanto a redução da densidade de células aderidas à

superfície do cateter quanto a inibição da filamentação nos biofilmes formados na presença de MLT e

Tcan26, em relação ao controle.

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80

4.5.2 Alterações morfológicas por adição de drogas ao biofilme maduro

Após 96 horas totais de incubação, em meio rico em glicose (2%) e SFB (20%),

leveduras de ambas as cepas, ATCC e 44A, de C. albicans formaram biofilmes densos e

altamente filamentados, por toda a extensão do CVC, com o qual estiveram em contato. Os

biofilmes controle de ambas as cepas (Figuras 30 A-B, 31 A-B, 32 A-B e 33 A-B) formaram

hifas longas e abundantes em ramificações e brotamentos.

O tratamento do biofilme maduro de C. albicans ATCC 10231, formado por 48h, em

meio de cultura rico em glicose (2%) e SFB (20%), com 16 μg/mL de fluconazol, por 48h

adicionais, reduziu discretamente a extensão de cateter colonizado por leveduras, mas não

interfiriu na densidade final da rede de filamentos que compõe o biofilme (Figura 30 C-D).

Por outro lado, o tratamento com 256 μg/mL de AZA ou com 16 μg/mL de EIL, reduziu

significativamente a colonização do cateter por leveduras (Figuras 30 E e G), e , ainda, inibiu

a formação da rede de hifas, característica do biofilme controle. O tratamento com AZA

inibiu completamente a formação de hifas e o biofilme, ao final da incubação, apresentava-se

composto, exclusivamete, por células leveduriformes e com a presença de muitas células

alongadas (Figura 30-F). O biofilme tratado com EIL, ao final da incubação com a droga,

apresentava cadeias de pseudo-hifas e brotamentos leveduriformes abundantes (Figura 30-H),

alem de algumas células bastante alteradas quanto à forma (inset na figura 30-H).

A adição de 32 μg/mL de miltefosina e 64 μg/mL de Tcan26 ao biofilme maduro da

cepa ATCC 10231 levou a redução drástica da área do cateter colonizada (Figura 31 C e E).

Após o tratamento com miltefosina, as células apresentavam alguns filamentos curtos e

muitas células leveduriformes (Figura 31-D). O tratamento com Tcan26, entretanto, levou a

inibição total da filamentação das células, onde todas apresentavam–se leveduriformes, além

da presença de células alongadas, semelhantes a bastonetes (Figura 31-F).

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Já o biofilme de C. albicans 44A, não teve sua densidade ou extensão reduzidas após

o tratamento com 16 μg/mL de fluconazol, por 48h (Figura 32-C). As células, ao final da

incubação, não apresentavam-se alteradas com relação ao controle (Figura 32-D). Da mesma

maneira, o tratamento do biofilme maduro com 4 μg/mL de AZA ou 32 μg/mL de EIL, não

determinou redução da colonização do cateter ou da densidade do biofilme formado sobre ele

(Figura 32 E e G). Entretanto, células com alterações de forma mostraram-se presentes nos

biofilmes tratados com AZA ( inset na figura 32-F).

Os análogos de fosfolipidios apresentaram comportamento diferente frente ao biofilme

maduro de C. albicans 44A. Enquanto o tratamento com 32 μg/mL de miltefosina (8 vezes o

IC90 desta droga) não foi capaz de reduzir a extensão do cateter colonizada por leveduras

(Figura 33 C), 64 μg/mL de Tcan26 (16 vezes o IC90 desta droga) determinou redução

significativa tanto da extensão quanto da espessura do biofilme sobre o cateter (Figura 33 E).

A adição de miltefosina ao biofilme, apesar de não reverter a densidade de biofilme já

formado, determinou alterações significativas na forma celular. O biofilme final, após o

tratamento com miltefosina, apresentava células em grumos (Figura 33-D) e com alterações

de forma (inset na figura 33-D). Ainda, ao final do tratamento com Tcan26, as células ainda

aderidas ao cateter apresentavam-se exclusivamente leveduriformes, com presença de

algumas pseudo-hifas e muitos brotamentos (Figura 33 F), demonstrando a inibição da

filamentação destas células pelo Tcan26. Além disso, visualmente, algumas células parecem

estar aumentadas em relação ao controle (Figura 33 F).

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Figura 30: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e após a adição de

16 μg/mL de FLU(C-D), 256 μg/mL de AZA (E e F) e 16 μg/mL de EIL (G e H), ao bifilme já

formado, por 48h, a 35 °C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E,G; 10 μm em B,D,F,H e 5 μm no

inset (H). é Possivel observar tanto a redução da densidade de células aderidas à superfície do cateter

quanto a inibição da filamentação, nos biofilmes apos a adição de FLU, AZA e EIL, em relação ao

controle.

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Figura 31: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans ATCC 10231 (A e B) e após a adição de

32 μg/mL de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), ao biofilme já formado, por 48h, a 35

°C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E e 10 μm em B,D,F. Observamos tanto a redução da

densidade de células aderidas à superfície do cateter nos biofilmes apos a adição de MLT e Tcan26,

quanto a inibição da filamentação, nos biofilmes adicionados de Tcan26, quando comparados ao

controle.

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Figura 32: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e após a adição de 16 μg/mL

de FLU(C-D), 4 μg/mL de AZA (E e F) e 32 μg/mL de EIL (G e H), ao biofilme já formado, por 48h,

a 35 °C. Barras correspondem a 500 μm em A,C,E,G; 10 μm em B,D,F,H e 5 μm no inset (F).

Observamos alterações de superfície celular em biofilmes tratados com AZA. A adição detes

antifúngcos não alterou nem densidade de células aderidas ao cateter nem filamentação.

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Figura 33: Micrografias de MEV de biofilme de C. albicans 44A (A e B) e após a adição de 32 μg/mL

de miltefosina (C-D) e 64 μg/mL de Tcan26 (E e F), ao biofilme já formado, por 48h, a 35 °C. Barras

correspondem a 500 μm em A,C,E; 10 μm em B,D,F e 5 μm no inset (D). É Possivel observar grumos

de celular com alterações de superfície em biofilmes tratados com MLT. Biofilmes tratados com

Tcan26 exibem tanto redução na densidade de células aderidas à superfície do cateter quanto inibição

da filamentação, quando comparado ao controle.

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A comparação entre os resultados descritos nos tópicos 4.5 e 4.6 pode ser vista na

tabela 11.

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Tabela 11: Resumo do perfil de atividade dos agentes antifúngicos, nas duas fases de desenvolvimento do biofilme, formado sobre dois substratos diferentes.

Análise quantitativa do biofilme em poliestireno (placa de 96 poços) por redução de XTT e avaliação visual do cateter tratado quanto a redução de densidade e

filamentação das células fúngicas, em relação ao cateter controle não tratado.

C. albicans ATCC 10231 C. albicans 44A

Poliestireno

(Avaliação quantitativa)

Cateter

(Avaliação visual)

Poliestireno

(Avaliação quantitativa)

Cateter

(Avaliação visual)

Formação Maturação Formação Maturação Formação Maturação Formação Maturação

Fluconazol N N S S S (16 μg/mL) N S N

Itraconazol N N * * N N * *

Anfotericina B S (8 μg/mL) S (2-4 μg/mL) * * N N * *

Azasterol S (256 μg/mL) N N S N N N N

EIL N N S S N N S N

Miltefosina S (32 μg/mL) N N S S (16 μg/mL) N S N

Tcan26 S (64 μg/mL) N N S S (64 μg/mL) N S S

* Drogas não utilizadas no ensaio

N – Não reduziu significativamente o biofilme

S – Redução significativa de biofilme

(Menor concentração que determinou redução significativa do biofilme, ao final do experimento)

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5 DISCUSSÃO

A candidemia tem demonstrado importância cada vez maior em casos de infecções

hospitalares e, em culturas sanguíneas, Candida spp. já é o quarto patógeno mais

freqüentemente isolado em hospitais (COLOMBO et al., 2006). A disseminação desta

levedura, por via hematogênica, ocorre, muitas vezes, em consequência ao uso de catéteres

intravasculares, sondas gástricas ou prótese valvular cardíaca, estando, constantemente,

associada à formação de biofilmes na superfície destes dispositivos (SENEVIRATNE, 2008).

No biofilme, as leveduras encontram-se aderidas à superfície do dispositivo médico e

embebidas em uma matriz extracelular polimérica. Em relação às células planctônicas, as

leveduras do biofilme apresentam fenótipo alterado no que diz respeito à expressão gênica,

taxa de crescimento e, principalmente, mostram-se menos susceptíveis aos tratamentos

antifúngicos disponíveis do que as células em suspensão (DONLAN e COSTERTON, 2002).

Para o tratamento das candidemias, no Brasil, utiliza-se anfotericina B e fluconazol.

Kuhn et al. (2002b) já demonstraram que apenas as formulações lipossomais de anfotericina

B e as equinocandinas possuem atividade contra biofilmes de Candida spp.. Esse cenário

atual ilustra a necessidade de novas alternativas para o tratamento das candidíases

disseminadas, principalmente, aquelas relacionadas à formação de biofilmes.

Assim, neste trabalho, quatro compostos, que mostraram-se ativos contra células

planctônicas, foram estudados a fim de determinar se os mesmos também possuiam atividade

inibitória no desenvolvimento do biofilme de C. albicans.

Nosso estudo mostrou que a susceptibilidade das células planctônicas de C. albicans

ATCC 10231 ao fluconazol, itraconazol e anfotericina B foi similar a do isolado clínico de C.

albicans (44A) e ambas mostraram-se susceptíveis aos três antifúngicos. Tobudic et al.

(2010), demonstraram que 0,25 μg/mL de anfotericina B inibe completamente o crescimento

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de C. albicans ATCC 10231. Em outro estudo, Ramage et al. (2001c) mostraram que, outras

cepas ATCC de C. albicans, têm seu crescimento inibido por 0,25-0,5 μg/mL de anfotericina

B ou 0,25-16 μg/mL de fluconazol. Estes resultados são similares aos encontrados em nosso

trabalho, onde 0,06 μg/mL de anfotericina B ou 1 μg/mL de fluconazol inibiram em 90% e

50%, respectivamente, o crescimento de C. albicans ATCC 10231. Da mesma maneira,

Nguyen et al. (1998) mostraram que 0,125 μg/mL de itraconazol são necessários para inibir o

crescimento de cepas ATCC de C. albicans. Posteriormente, concentrações de 0,03 μg/mL

deste mesmo antifúngico foram demonstradas como suficientes para inibir 80% do

crescimento da cepa ATCC 10231 de C. albicans (MAEBASHI et al., 2001). No nosso

estudo, o IC50 encontrado para itraconazol, com a cepa ATCC 10231, foi de 0,5 μg/mL.

Com relação ao isolado clínico 44A, os valores de IC50 e IC90 encontrados neste

trabalho, são semelhantes aos reportados em estudos epidemiológicos de diferentes grupos de

pesquisa. Ostrosky-Zeichner et al. (2003), em um estudo com 2000 isolados clínicos,

encontraram IC50 e IC90 de 0,06 e 0,25 μg/mL, respectivamente, para anfotericina B. Esse

resultado se assemelha ao encontrado para o isolado 44A no nosso trabalho e, também, ao

encontrado por outros grupos (COLOMBO et al., 2006; JAIN et al.,2007; ISHIDA et al.,

2009). Com relação aos azois, Tortorano et al. (2005) mostraram, em um estudo com 375

isolados clínicos, um IC90 de 4 μg/mL para o fluconazol, que foi o mesmo valor encontrado

para C. albicans 44A em nosso trabalho. Em estudos com grandes amostragens, os isolados

clínicos tendem a apresentar valores médios de IC50 e IC90, para itraconazol, bastante baixos,

em torno de 0,03 e 0,06 μg/mL, respectivamente (DA MATTA et al., 2007). Esse valores são

relativamente mais baixos do que o encontrado para o isolado clínico 44A em nosso estudo

(0,12 e 0,5 μg/mL para IC50 e IC90, respectivamente). Ostrosky-Zeichner et al. (2003),

também utilizando ampla amostragem, encontraram média de 0,5 μg/mL para IC90 do

itraconazol. Em um outro trabalho, utilizando 561 isolados clínicos de Candida spp., o IC

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para itraconazol variou entre 0,03 e 16 μg/mL, tendo 19,1% (n=107) destes isolados

demonstrado perfil de susceptibilidade dose-dependente (IC50 entre 0,25-0,5 μg/mL) para este

antifúngico (BORG-VON ZEPELIN et al., 2007), como ocorreu, também, para o isolado

clínico 44A, em nosso estudo. Além disso, Braga-Silva et al. (2009) já haviam reportado que

o isolado clínico 44A apresenta efeito ―trailing‖ para o itraconazol. O termo "trailling" é

usado para descrever o crescimento reduzido, mas persistente, que alguns isolados de C.

albicans e C. tropicalis apresentam em concentrações acima da IC da droga, em testes de

diluição em caldo, com antifúngicos azólicos, como fluconazol e itraconazol.

Nossos resultados mostraram, ainda, que este isolado clínico 44A, apesar de

apresentar susceptibilidade menor do que a esperada para itraconazol, é bastante sensível ao

tratamento com azasteróis, com IC50 de 0,25 μg/mL para o AZA e 2 μg/mL para o EIL. Estes

valores são semelhantes aos encontrados para um outro azasterol, o 15-azasterol, tanto em

Saccharomyces cerevisae quanto C. albicans (GEORGOPAPADAKOU et al., 1987; HAYS

et al., 1977). Recentemente, em um screening com 65 isolados clínicos de Candida spp.,

Ishida et al. (2009), mostraram valores de IC50 e IC90 para AZA e EIL, em C. albicans,

semelhantes ao encontrado aqui para o isolado 44A. Ainda, assim como para 44A, os isolados

analisados no estudo de Ishida et al. (2009) apresentaram IC50 menor para AZA (media de 0,5

μg/mL) do que para EIL (media de 2 μg/mL), mostrando uma maior sensibilidade dos

isolados clínicos a este azasterol. Entretanto, em estudos com protozoários, o EIL mostrou

maior atividade inibitória do que o AZA (URBINA et al., 1995; RODRIGUES et al., 2002,

2007) e, da mesma maneira, em nossos estudos, as células planctônicas da cepa ATCC 10231

de C. albicans, também, apresentaram-se mais susceptíveis ao EIL, com IC50 de 1 μg/mL,

comparados ao AZA que obteve IC50 maior que 16 μg/mL para esta cepa. Nosso grupo de

pesquisa, recentemente, mostrou que EIL possuiu ação antifúngica contra C. neoformans e C.

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gatti similar ao encontrado para Candida albicans, com medianas de IC50 de 1 e 2 µg/mL,

respectivamente (GUERRA, 2009; COSTA, 2009).

As células planctônicas de C. albicans ATCC 10231 e do isolado clínico 44A foram,

ainda, susceptíveis ao tratamento com os dois análogos de fosfolipídios, miltefosina e Tcan26.

A miltefosina é uma alquilfosfocolina e sua atividade antifúngica já foi demonstrada por

outros estudos (WIDMER et al., 2006). C. albicans ATCC 10231 e 44A mostraram-se

susceptíveis à miltefosina, com valores de IC90 de 2 e 4 μg/mL, respectivamente, e estes

valores foram similares aos encontrados por OBANDO et al. (2007), em um trabalho com a

mesma cepa, ATCC 10231, e por WIDMER et al. (2006), em um trabalho com isolados

clínicos. Em ambos os estudos (OBANDO et al., 2007; WIDMER et al., 2006), a IC

encontrada foi de 2 μg/mL. Em uma amostragem de 14 isolados clínicos de C. albicans,

WIDMER et al. (2006) encontrou, para miltefosina, CFM de 4 μg/mL. Da mesma maneira,

em nosso trabalho, a miltefosina mostrou-se fungicida na mesma concentração, frente ao

isolado clinico de C. albicans 44A.

As alquilfosfocolinas, como a miltefosina, possuem similaridade estrutural com os

substratos naturais de fosfolipase B1 (PLB1) de fungos, fosfatidilcolina e lisofosfatidilcolina

(WIDMER et al., 2006). Além disso, alquil-bis-fosfocolinas estão presentes em plantas

medicinais com atividade antifúngica conhecida (LU Q et al., 1999).

Com base nas alterações de metabolismo lipídico descritas para outros organismos,

como Leishmania spp. (CROFT et al., 2003; LUX et al., 1996; ZUFFREY et al., 2002), onde

o tratamento com miltefosina inibe a síntese de fosfatidilcolina, a biossíntese de ancoras de

glicosilfosfatidilinositol e a absorção de colina, é possível que as alterações da forma celular,

membrana plasmática e parede celular, observadas em isolado clínico de C. albicans (44A)

tratado com concentrações subinibitórias de miltefosina estejam, portanto, relacionadas ao

desequilíbrio das vias biossintéticas de fosfolipídios de membrana e alteração do metabolismo

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lipídico celular. Entretanto, outros mecanismos parecem estar envolvidos na ação desta droga

em C. albicans, pois, a análise qualitativa do perfil de fosfolipídios de leveduras tratadas com

miltefosina não apresentou alterações pronunciadas e, principalmente, os níveis de

fosfatidilcolina e fosfatidilinositol não apresentaram alterações em relação ao controle. Assim,

outros alvos de ação ainda não conhecidos, independentes do metabolismo lipídico,

provavelmente, existem para miltefosina, em C. albicans. Em Cryptococcus spp., o

tratamento com miltefosina leva a inibição dose-dependente da atividade da lisofosfolipase

transacilase (LPTA) e da PLB1 (WIDMER et al. 2006). A associação da inibição da atividade

de PLB1 e de LPTA com a atividade antifúngica in vitro e in vivo é interessante, pois, a

atividade da PLB parece ser necessária para a adesão às células epiteliais do pulmão, onde o

Cryptococcus inicia sua infecção no hospedeiro, enquanto LPTA parece estar associada à

síntese de membranas, remodelação e reparação. Portanto, miltefosina pode exercer um efeito

antifúngico interferindo tanto nas paredes celulares criptocócica quanto na bioquímica da

membrana celular. Como PLB1 é essencial para a adesão do Cryptococcus às células de

mamíferos e para a disseminação hematogênica da infecção, a inibição desta enzima por

miltefosina pode impedir a progressão da infecção (WIDMER et al., 2006).

Além disso, a miltefosina é ativa contra Leishmania donovani, outras espécies de

Leishmania spp. e Trypanosoma cruzi em cultura de células e, ainda, existem evidências de

que fosfolipases estão ativas em ambos esses parasitas e que podem ser inibidas por

alquilfosfonados (WIDMER et al., 2006). Portanto, o tratamento com análogos de

fosfolipídios nas cepas de C. albicans no nosso trabalho pode estar, também, levando a

inibição da atividade das fosfolipases e, provavelmente, reduzindo a virulência destas

leveduras.

Além da secreção de enzimas hidrolíticas, outros fatores de virulência de C. albicans

podem ser afetados pelos agentes antifúngicos testados, como a aderência e, associado à ela, a

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hidrofobicidade de superfície celular. O processo de adesão de Candida às superficies

abióticas é complexo e envolve fatores biológicos, como adesinas, e fatores não-biológicos,

como atração de Van der Waals e forças hidrofóbicas. A HSC é considerada uma força física

envolvida em processos não especializados de aderência de Candida spp. tanto às células

hospedeiras quanto às superficies abióticas e às proteínas de matriz extracelular (ANIL S et

al., 2001).

A capacidade de aderência de C. albicans às células teciduais do hospedeiro está

diretamente relacionada à patogenicidade desta levedura, que é, também, influenciada pela

HSC. Esta relação pode ser confirmada por estudos onde leveduras que apresentam alta

hidrofobicidade de superfície mostram-se mais virulentas do que leveduras hidrofílicas

(HAZEN et al., 1988). A correlação entre HSC e aderência é, entretanto, controversa em

relação às células hospedeiras e está, também, relacionada à interações específicas, mediadas

por adesinas e fatores de transcrição especializados (VERSTREPEN et al., 2006). Porém, em

relação às superfícies abióticas, a hidrofobicidade de superfície, tanto da célula fúngica

quanto do substrato, apresenta correlação significativa com a capacidade de aderência das

leveduras (YOSHIJIMA et al., 2010). Assim, tanto as características de hidrofobicidade

inerentes à superfície da própria célula, quanto aquelas inerentes à superfície sobre a qual a

levedura irá aderir, mostram-se importantes para que a fixação ao substrato seja eficiente.

Desta maneira, a formação de biofilmes em CVC, bem como em outras superfícies, também

estará relacionada à HSC da cepa causadora da infecção e à composição do cateter utilizado

no paciente.

A análise de HSC demonstrou que as células planctônicas do isolado clínico 44A

possuem superfície celular mais hidrofóbica do que a da cepa ATCC 10231. A maior

hidrofobicidade do isolado clínico pode ser responsável por determinar a formação de

biofilmes mais densos por esta cepa, em relacão ao biofilme formado pela cepa ATCC 10231,

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em cateter venoso central. Li, X et al. (2003) já demonstraram, em isolados clínicos de C.

albicans, a correlação positiva entre HSC e formação de biofilme em poliestireno, onde as

cepas de maior HSC também foram as maiores formadoras de biofilme. Entretanto, ambas as

cepas utilizadas no nosso estudo formaram biofilmes com atividade metabólica semelhante

em poliestireno (placas de 96 poços), apesar de diferirem significativamente em relação à

HSC. Chandra et al. (2005) mostraram que a composição química da superfície influencia na

capacidade de formação de biofilmes por Candida spp. e que estas alterações químicas no

substrato podem alterar tanto densidade quanto morfologia do biofilme formado. Em um

estudo recente, Yoshijima et al. (2010), demonstraram que a redução da hidrofobicidade de

superfície do acrílico, por tratamento químico, reduziu a aderência das leveduras. Desta

forma, as diferenças de composição química entre a superficie de poliestireno e o CVC podem

estar influenciando na capacidade de aderência das cepas de C. albicans utilizadas em nosso

estudo. Além disso, Yoshijima et al. (2010), também, demonstraram que a conversão de

leveduras em hifas aumentou a HSC dos isolados de Candida spp. e, também, a aderência ao

acrílico. Assim, a maior densidade do biofilme formado pela cepa 44A, em nosso trabalho,

pode estar, também, relacionada à maior conversão de leveduras em hifas observada para esta

cepa, durante o desenvolvimento do biofilme, em comparação ao biofilme formado por C.

albicans ATCC 10231. Portanto, concluimos que, tanto a composição química da superfície

quanto a HSC das células estão envolvidas na aderência ao dispositivo de uso médico e,

modificações destes dois parâmetros são responsáveis pelas diferenças de comportamento de

cada cepa frente aos substratos.

Atualmente, muitos estudos tentam demonstrar os efeitos dos agentes antifúngicos na

HSC e a relação destas alterações com a capacidade de aderência destas células aos tecidos e

às supefícies abióticas. A maior parte destes estudos utiliza concentrações subterapeuticas de

azóis e anfotericina B e os resultados obtidos parecem controversos (ELLEPOLA et al.,1998;

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HAZEN et al., 2000; ANIL, S., 2001). Anil, S. et al.(2001) demonstraram que o tratamento de

suspensões de leveduras de C. albicans com anfotericina B e fluconazol reduzem a HSC.

Estes resultados são similares ao encontrado, no nosso trabalho, em C. albicans ATCC 10231,

onde o tratamento de suspensões com fluconazol reduziu significativamente a HSC . Esta

redução, no entanto, não parece influenciar na formação de biofilme em poliestireno, pois, a

adição de fluconazol, durante as diferentes fases de desenvolvimento do biofilme, não

determinou redução no número final de células, em relação ao controle. No entanto, em CVC,

a adição de fluconazol durante a formação do biofilme reduziu significativamente o número

de células aderidas, em relação ao controle e esta redução pode estar relacionada à menor

HSC das células tratadas. Este comportamento corrobora com a afirmação de que a formação

de biofilmes, em C. albicans, relaciona-se diretamente com a HSC (LI X et al., 2003).

De forma geral, o biofilme formado em CVCs, pela cepa mais hidrofóbica, o isolado

clínico 44A, apresentou maior extensão e densidade do que aquele formado pela cepa ATCC.

Estes dados reproduzem o encontrado por Li, X. et al (2003), com relação à maior formação

de biofilmes pelos isolados de maior HSC. Da mesma maneira, o biofilme formado a partir do

isolado clínico, tanto em poliestireno quanto em CVC, mostrou-se menos susceptível ao

tratamento com agentes antifúngicos do que o biofilme formado pela cepa ATCC 10231.

O perfil de susceptibilidade de biofilmes de Candida spp. a agentes antifúngicos vem

sendo relatado em diversos estudos, onde cepas de C. albicans foram testadas quanto a

susceptibilidade a anfotericina B e aos azóis, sob forma planctônica e em biofilmes.

A anfotericina B inibe o crescimento células planctônicas, em 50%, com

concentrações de 0,06-0,5 μg/mL, enquanto concentrações de 1-8 μg/mL foram necessárias

para alcançar a mesma inibição quando as células encontravam-se em biofilme. (CHANDRA

et al., 2001; RAMAGE et al., 2001b; KUHN et al., 2002b; MUKHERJEE et al., 2004; JAIN,

et al., 2007; SHUFFORD et al., 2007; TOBUDIC et al., 2010). Da mesma maneira,

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concentrações de 0,25-16 μg/mL de fluconazol são necessárias para inibir o crescimento, em

50%, de células planctônicas de C. albicans enquanto 128-256 μg/mL de fluconazol fizeram-

se necessárias para inibir 50% do crescimento destas células em biofilme (RAMAGE et al.,

2001c; KUHN et al., 2002a, 2002b; MUKHERJEE et al., 2004). Estes resultados são

similares aos encontrados em nossos estudos com cepas de C. albicans ATCC e 44A.

Em nosso estudo, o biofilme da cepa ATCC 10231, assim como relatado por Tobudic

et al. (2009), mostrou-se significativamente reduzido quando sua formação ocorreu na

presença de 8 μg/mL de anfotericina B, ou quando foi tratado, após sua maturação, com 2-8

μg/mL do mesmo antifúngico. Entretanto, concentrações maiores que 8 μg/mL parecem ser

necessárias para interferir na formação de biofilme pelo isolado clínico 44A.

Assim, como reportado por outros estudos com C. albicans (RAMAGE et al., 2001c;

KUHN et al., 2002a, 2002b; MUKHERJEE et al., 2004), concentrações maiores que 64

μg/mL de fluconazol são necessárias para reduzir a formação de biofilme por ambas as cepas,

ATCC 10231 e 44A.

No presente trabalho, concentrações de itraconazol superiores a 32 e 8 μg/mL parecem

ser necessárias para reduzir a formação de biofilme por C. albicans ATCC 10231 e 44A,

respectivamente. Valores semelhantes foram encontrados por Hawser e Douglas (1995) em

um estudo onde concentrações entre 9,9 e 40 μg/mL de itraconazol foram necessárias para

inibir 50% da atividade metabólica do biofilme formado por isolados de C. albicans.

Recentemente, a baixa atividade antibiofilme dos azóis, também, foi demonstrada para

C. parapsilosis, por Ruzicka et al. (2007) em um trabalho onde o IC50 de células sésseis (em

biofilme), para fluconazol e itraconazol, foi maior que 256 μg/mL.

Nenhum estudo demonstrando a susceptibilidade de biofilmes de C. albicans aos

inibidores de 24-SMT ou a análogos de fosfolipídios foi ainda publicado. Neste trabalho, os

perfis de susceptibilidade de biofilmes de C. albicans, frente a dois inibidores da 24-SMT e a

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dois análogos de fosfolipídios foram avaliados e os análogos de fosfolipidios mostraram

melhor perfil inibitório no processo de formação e maturação do biofilme de C. albicans do

que os inibidores da 24-SMT.

Os inibidores da 24-SMT (AZA e EIL) utilizados mostraram perfil inibitório

semelhante ao fluconazol, tanto em poliestireno quanto em CVC, provavelmente, por conta do

mecanismo de ação similar destes agentes. Tanto AZA e EIL quanto fluconazol, possuem

como alvo de ação a via biossintética do ergosterol, no interior da célula fúngica. Estas droga

precisam, portanto, penetrar através da matriz extracelular (MEC) do biofilme pra chegar à

levedura e, ainda, entrar na célula para inibir seu crescimento.

Os análogos de fosfolipídios, parecem exercer seus efeitos sobre as células fúngicas

alterando o metabolismo lipídico das mesmas. Por serem estruturalmente semelhantes aos

fosfolipídios de membrana celular, esta ação sobre o metabolismo pode ocorrer diretamente

na membrana plasmática, bem como por inibição de vias biossintéticas dos lipídios de

membrana, no interior celular. Em ambos os casos, os análogos de fosfolipídios precisam,

também, penetrar através da MEC do biofilme para chegar à célula fúngica. É possível que a

melhor atividade destes análogos em reduzir o desenvolvimento do biofilme de C. albicans,

em relação aos inibidores de 24-SMT, tenha relação com a melhor penetração destas drogas

através da matriz extracelular, já que ambos os grupos de agentes antifúngicos mostraram-se

ativos em células planctônicas. A MEC de biofilmes de C. albicans, também chamada de

matriz polimérica, é constituída, majoritariamente, por carboidratos, proteínas e hexosamina.

Assim, a natureza fosfolipídica da miltefosina e do Tcan26 pode estar favorecendo a

penetração destas moléculas através da matriz e, assim, estas substâncias tornam-se mais

disponíveis pra exercer suas ações sobre as células fúngicas. Esta comparação entre a

capacidade de penetração através da MEC e a atividade antibiofilme, em C. albicans, é uma

das explicações existentes para a maior eficácia de formulações lipídicas de anfotericina B em

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biofilmes, quando comparada à formulação tradicional de anfotericina B (desoxicolato), ao

fluconazol e aos outros antifúngicos disponíveis na clinica médica (KUHN et al., 2002b).

A quantidade de matriz extracelular polimérica produzida pelas células durante a

formação do biofilme é influenciada pelas condições de cultivo a que ele é submetido. Por

exemplo, in vitro, biofilmes formados em condições estáticas produzem quantidades menores

de matriz do que aqueles formados sob agitação constante (HAWSER et al., 1998). Em nosso

estudo, os biofilmes foram formados sob agitação constante e, portanto, possuem grande

quantidade de MEC, podendo esta ser, parcialmente, responsável pela baixa atividade

antibiofilme das substâncias testadas.

Em geral, a matriz polimérica pode agir como uma barreira física que impede o acesso

de agentes antimicrobianos às células incorporadas ao biofilme e, por sua vez, contribuir para

a resistência destas comunidades aos tratamentos. Este obstáculo, no entanto, parece depender

da quantidade e natureza da MEC, bem como das propriedades físico-químicas da droga

(SENEVIRATNE et al., 2008).

O papel da matriz extracelular na resistência do biofilme de Candida ainda permanece

controversa. Em um estudo recente, Al Fattani e Douglas (2006) demonstraram que biofilmes

de C. albicans formados sob um fluxo constante de líquido e, portanto, com síntese de matriz

pronunciada, possuem resistência à anfotericina B significativamente aumentada. Em outro

estudo, a taxa de sobrevivência de células de Candida em biofilmes tratados com anfotericina

B diminuiu em 20% quando a MEC foi removida (BAILLIE e DOUGLAS, 1999). Entretanto,

alguns pesquisadores, também, já haviam demonstrado que células de biofilme de Candida

cultivadas estaticamente (com formação mínima de matriz) apresentam o mesmo nível de

resistência a antifúngicos do que células que crescem em um agitador, formando grande

quantidade de matriz (BAILLIE e DOUGLAS, 2000). Além disso, Baillie e Douglas (1998),

mostram que células de biofilmes de C. albicans, após serem ressuspensas em meio de cultura

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(perdendo grande parte da MEC), permaneciam altamente resistentes aos antifúngicos.

Portanto, a baixa penetração de drogas através da matriz polimérica parece não ser a única

responsável por determinar o aumento da resistência a drogas antifúngicas em biofilmes.

Ainda assim, esta área de estudo é certamente de grande importância para investigações

futuras por possuir implicações clínicas, já que, tanto a MEC quanto seus principais

componentes, podem ser alvos potenciais para novas drogas antifúngicas.

Além da barreira física, representada pela matriz extracelular, a regulação gênica,

também, parece exercer um importante papel na resistência aumentada de biofilmes de C.

albicans aos agentes azólicos. Esta regulação baseia-se na superexpressão dos genes

relacionados a produção de bombas de efluxo de drogas CDR e MDR, como discutido na

introdução deste trabalho. Esta regulação positiva da síntese de bombas de efluxo, em

biofilmes de C. albicans, parece ser fase-específica e participa apenas da resistência aos azóis

durante as fases iniciais de desenvolvimento do biofilme. Em biofilmes maduros, mesmo

aqueles formados por mutantes depletados de MDR e CDR, ainda é possível verificar

resistência aos agentes azólicos, como o fluconazol, demonstrando que outros mecanismos,

que não a regulação gênica, devem estar envolvidos na resistência a antifúngicos em fases

avançadas de desenvolvimento do biofilme (RAMAGE et al., 2002a; MUKHERJEE et al.,

2003). Sendo o AZA e o EIL, drogas inibidoras da via biossintética do ergosterol, assim como

o fluconazol, é possível que o aumento na síntese de bombas de efluxo inespecíficas (MDR)

esteja reduzindo a quantidade de droga disponível no interior da célula durante a formação do

biofilme, determinando maior resistência das cepas estudadas ao tratamento com os azasteróis

testados.

Em fases tardias de desenvolvimento do biofilme de C. albicans, a menor

susceptibilidade ao tratamento com antifúngicos deixa de estar relacionada às bombas de

efluxo de drogas e parece ter como principais causas a alteração na composição da membrana

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celular (redução da quantidade de moléculas de ergosterol) e a alteração dos níveis de

intermediários da biossíntese do ergosterol (MUKHERJEE et al., 2003). Esta alteração pode

influenciar tanto na susceptibilidade dos biofilmes à anfotericina B, por reduzir a

disponibilidade da molécula alvo desta droga, quanto às drogas que atuam na via biossintética

do ergosterol. Além disso, a alteração da composição da membrana pode reduzir sua

permeabilidade às drogas antifúngicas, levando à redução da susceptibilidade aos tratamentos

(KUMAMOTO e VINCES, 2005).

Posto que os mecanismos envolvidos na resistência antifúngica em fases iniciais de

desenvolvimento do biofilme são diferentes dos presentes em fases tardias, as estratégias para

redução da formação de biofilmes devem ser diferentes daquelas que visam eliminar

biofilmes maduros.

Estudos anteriores de Ghannoum et al. (1986), com a cepa de C. albicans ATCC

10231, demonstraram que a composição lipídica da membrana celular é diferente entre

leveduras e células filamentosas, principalmente, quanto ao conteúdo de esteróis. A análise do

perfil lipídico mostrou que a filamentação leva a redução na composição de esteróis livres e

aumento do conteúdo de ácidos graxos polinsaturados e lipidios complexos contendo esteróis

(GHANNOUM et al. 1986). Assim, provavelmente, células extraídas de biofilmes maduros de

C. albicans, compostos em maior parte de filamentos e com camada basal de leveduras,

apresentarão menor conteúdo de esteróis do que a mesma massa de células quando encontra-

se em suspensão (não filamentadas). Portanto, as células recuperadas de biofilme maduro, por

apresentarem menor conteúdo de esteróis, serão, possivelmente, menos susceptíveis aos

tratamentos antifúngicos que tenham como alvo de ação a síntese ou a própria molécula de

ergosterol. Esta seria uma possível explicação para a resistência aumentada das células do

biofilme maduro, formado em poliestireno, tanto pela cepa ATCC 10231 quanto pelo isolado

clínico 44A, aos tratamentos com anfotericina B, fluconazol, itraconazol, AZA e EIL,

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mostrada em nosso trabalho. Da mesma maneira, a alteração da composição lipídica da

membrana, durante o dimorfismo, pode estar relacionada com as diferenças na

susceptibilidade aos análogos de fosfolipídios. Estes análogos apresentaram ação inibitória

quando adicionados durante a formação do biofilme, em poliestireno, do isolado clínico, mas

não mostraram atividade sobre as células do biofilme maduro desta cepa. Este comportamento

pode estar relacionado com a predominância de células leveduriformes no inicío da formação

do biofilme, quando estes análogos mostraram-se ativos, e, posteriormente, a prevalência de

filamentos no biofilme maduro, onde os compostos deixaram de mostrar atividade.

Apesar do fraco perfil de inibição da atividade metabólica das células do biofilme

apresentado pelos compostos, quando estes foram testados em biofilmes formados em placas

de poliestireno, a maioria dos agentes antifúngicos utilizados neste trabalho inibiu a

filamentação das células em biofilmes formados em cateter venoso central, por ambas as

cepas. Esse comportamento pode ser explicado com base nas diferenças de composição

química entre a superficie de poliestireno e o CVC, que podem estar influenciando na

capacidade de aderência de C. albicans, levando a formação de biofilmes com perfis de

susceptibilidade diferentes frente ao mesmo composto antifúngico.

O isolado clínico 44A, que desenvolveu biofilmes mais densos e filamentados, teve

transição morfológica entre levedura e hifa inibida por todas as drogas, quando estas foram

adicionadas em fase inicial de formação do biofilme, mas apenas o Tcan26 foi capaz de inibir

a filamentação das células do biofilme maduro desta cepa. O biofilme controle da cepa ATCC

10231, quando formado em CVC, mostrou-se filamentado apenas após 96 horas de incubação,

entretanto, esta formação de hifas foi inibida pelo tratamento com todos os agentes

antifúngicos, quando a adição destes ocorreu após 48h de formação do biofilme.

Em um estudo sobre a relação entre o dimorfismo e o desenvolvimento de biofilmes,

Baillie e Douglas (1999) utilizaram cepas mutantes de C. albicans, uma incapaz de formar

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leveduras e a outra incapaz de formar hifas, e ambas foram capazes de gerar biofilmes

maduros, indicando que o dimorfismo não é uma condição indispensável para que tal

desenvolvimento ocorra. Entretanto, o biofilme formado pela cepa incapaz de filamentação

mostrou apenas uma fina camada basal de leveduras, enquanto a cepa não formadora de

leveduras gerou biofilmes com densa rede de filamentos e ausência de camada basal de

células leveduriformes. Curiosamente, os biofilmes da cepa capaz de filamentação foram mais

facilmente despreendidos da superfície, sugerindo que a camada basal de leveduras

desempenha um papel importante na fixação do biofilme à superfície abiótica. Desta maneira,

ambas a morfologias de C. albicans parecem ser necessárias para o desenvolvimento da

estrutura complexa de um biofilme maduro. Assim, a inibição da transição morfológica, pelo

tratamento com os agentes antifúngicos testados em nosso trabalho, determina a formação de

um biofilme menos complexo, em CVC, composto, principalmente, por leveduras e

pseudohifas.

A inibição da morfogênese torna-se importante uma vez que a menor complexidade do

biofilme formado pode estar relacionada com uma menor virulência das células envolvidas.

Segundo Calderone e Fonzi (2001), leveduras possuem menor virulência do que as formas

filamentosas e, com isso, em um modelo vivo, a disseminação de células leveduriformes a

partir de um cateter, provavelmente, irá determinar uma infecção menos resistente aos

tratamentos antifúngicos do que a infecção adquirida por disseminação de formas

filamentadas de C. albicans.

Com base nos resultados apresentados neste trabalho, os compostos sintéticos

inibidores da 24-SMT mostraram perfil de atividade sobre o biofilme de C. albicans

semelhante ao apresentado por antifúngicos padrão, enquanto análogos de fosfolipídios

mostraram-se ainda mais eficazes como inibidores do desenvolvimento de biofilmes de C.

albicans do que os agentes utilizados, atualmente, na clinica médica. De uma maneira geral,

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todos os compostos testados interferiram no processo de filamentação das células de C.

albicans, durante a formação do biofilme em cateter venoso central, reduzindo a densidade de

hifas aderidas a este dispositivo, ao final de 48 ou 96h de incubação. Uma vez que o

dimorfismo celular é um dos principais fatores de virulência associados a este fungo, o

comportamento dos agentes testados os caracteriza como interessantes alvos de estudo

visando o aperfeiçoamento de suas ações, através do desenvolvimento de análogos estruturais,

e o aprofundamento de pesquisas acerca do entendimento dos mecanismos de ação principais

na célula fúngica, principalmente para análogos de fosfolipídios. Além disso, a descoberta de

novas moléculas cujos alvos de ação são diferentes daqueles já conhecidos possibilita estudos

sobre a viabilidade de uma terapia combinada destes compostos. A combinação de compostos

com alvos de ação diferentes é de grande importância para a clínica já que o objetivo

principal, neste caso, é a redução da dose efetiva e, consequentemente, a redução dos efeitos

adversos associados à terapia. Portanto, tendo em vista a alta toxicidade da terapia antifúngica

atual, a possibilidade de combinar diferentes substâncias visando a redução da dose necessária

no tratamento é um grande passo na busca de melhorias no tratamento das candidemias.

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6 CONCLUSÕES

Os inibidores da 24-SMT, AZA e EIL, mostraram perfis de atividade diferentes nas

cepas de C. albicans testadas, sendo estas mais susceptíveis ao EIL;

Ambas as cepas testadas foram susceptíveis a miltefosina e ao Tcan26, sendo o perfil

de atividade do Tcan26 fungicida para o isolado clinico 44A;

A redução de HSC em leveduras tratadas com antifúngicos mostrou relação com a

menor formação de biofilme por estas cepas, na presença destes antifúngicos;

As leveduras tratadas com miltefosina apresentaram alterações ultraestruturais,

principalmente, na parede celular, membrana plasmática, e na formação de brotamentos;

Suspensões de células tratadas com miltefosina apresentaram aumento no conteúdo de

ergosterol e alterações nos perfis de fosfolipídios e de ácidos graxos;

Dentre os antifúngicos testados, os análogos de fosfolipidios mostraram melhor perfil

de atividade nas diferentes fases de desenvolvimento do bioflime;

O Tcan26 reduziu a formação de biofilme da cepa ATCC 10231 com concentração

semelhante à necessária para inibir 90% do crescimento da suspensão de células;

A formação de biofilme pela cepa ATCC 10231 foi mais susceptível aos tratamentos

antifúngicos do que a formação pelo isolado clínico;

Em cateter venoso central, os agentes antifúngicos adicionados durante ou após a

formação do biofilme levaram a redução da extensão de superficie colonizada e a inibição do

dimorfismo celular;

Apenas o Tcan26 determinou inibição do dimorfismo celular no biofilme maduro de

C. albicans 44A.

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