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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA MESTRADO EM CLÍNICA MÉDICA SETOR: NEUROLOGIA MANUEL ALVIM LEITE LOPES EXPLORAÇÃO VISUAL COMO ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO EM PACIENTES HEMINEGLIGENTES APÓS O ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL Rio de Janeiro Junho de 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA MESTRADO EM CLÍNICA MÉDICA SETOR: NEUROLOGIA

MANUEL ALVIM LEITE LOPES

EXPLORAÇÃO VISUAL COMO ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO EM PACIENTES HEMINEGLIGENTES APÓS O

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

Rio de Janeiro Junho de 2008

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MANUEL ALVIM LEITE LOPES

EXPLORAÇÃO VISUAL COMO ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO EM PACIENTES HEMINEGLIGENTES APÓS O ACIDENTE

VASCULAR CEREBRAL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDO AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: NEUROLOGIA

ORIENTADORES: PROFº DRº CHARLES ANDRÉ PROFª DRª LIDIA CARDOSO

Rio de Janeiro Junho de 2008

Lopes, Manuel Alvim Leite

Exploração visual como estratégia de reabilitação em pacientes hemenigligentes após o acidente vascular cerebral / Manuel Alvim Leite Lopes. – Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2008.

ix, 50 f. : il. ; 31 cm. Orientadores: Charles André e Lidia Cardoso

Dissertação (mestrado) – UFRJ/Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica, Neurologia, 2008.

Referências bibliográficas: f. 50-57 1. Transtornos da percepção - reabilitação. 2. Acidente cerebrovascular

– complicações. 3. Reabilitação – métodos. 4. Humano. 5. Neurologia – Tese. I. André, Charles. II. Cardoso, Lidia. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação Clínica Médica, Neurologia. IV. Título.

MANUEL ALVIM LEITE LOPES

EXPLORAÇÃO VISUAL COMO ESTRATÉGIA DE REABILITAÇÃO EM PACIENTES HEMINEGLIGENTES APÓS O ACIDENTE

VASCULAR CEREBRAL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDO AO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: NEUROLOGIA

Aprovada em

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_____________________________________________________________ ( )

Aos pacientes imprescindíveis na concepção deste trabalho e na minha formação.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, José Sergio Leite Lopes e Maria Rosilene Barbosa Alvim, pelo suporte e

incentivo ao longo dessa caminhada. Obrigado.

A todos os meus familiares. Obrigado.

A minha noiva, amiga e companheira, Alessandra. Obrigado.

Aos meus orientadores, Prof°. Dr. Charles André e Profª Lídia Cardoso, por todos os ensinamentos, pela orientação prestada no decorrer de todo esse trabalho, e especialmente pela amizade e confiança depositada. Obrigado.

Ao meu companheiro de mestrado, Hebert Pereira Ferreira, pela amizade e convívio, que foram

imprescindíveis para a conclusão dessa dissertação. Obrigado.

Aos Serviços de Fisioterapia e de Medicina Física e Reabilitação pela disposição de sempre colaborarem com o desenvolvimento da pesquisa. Obrigado.

RESUMO

A heminegligência está relacionada com pior prognóstico na recuperação funcional de pacientes após o

acidente vascular cerebral (AVC) e os métodos tradicionais de reabilitação não são suficientes para

reverter esse prognóstico. O objetivo desse estudo foi estudar a eficácia de um protocolo de Exploração

Visual como estratégia de reabilitação em pacientes heminegligentes após o AVC. Dez pacientes

heminegligentes diagnosticados através da Behavioral Inattention Test (BIT) foram incluídos na

pesquisa, cinco no grupo tratado e cinco no grupo controle. Os pacientes tratados foram submetidos a um

protocolo de exploração visual realizado em dez sessões de atendimento, com duração de 60 minutos

cada, ao longo de cinco semanas. O protocolo de exploração visual consistiu em quatro tarefas, sendo

duas para remediar a negligência extrapessoal e duas para negligência peripessoal. Esses pacientes

passaram por três avaliações: uma inicial, uma após o término da intervenção e outra após três meses do

fim da intervenção. Os pacientes do grupo controle foram submetidos a uma avaliação inicial e, dois

meses após, por uma avaliação final. Todas as avaliações eram feitas através da BIT e da Medida de

Independência Funcional (MIF). O grupo tratado apresentou diminuição dos sintomas negligentes, como

demonstrado pela variação da pontuação da BIT em relação ao grupo controle (p valor = 0,08), com

repercussão funcional positiva demonstrada pela variação da pontuação do item de cuidados pessoais da

MIF (p valor = 0,016). O efeito positivo da intervenção foi parcialmente mantido após o período de

acompanhamento. Em conclusão, um protocolo simples de exploração visual, aplicado durante cinco

semanas em pacientes crônicos após acidente vascular cerebral, foi capaz de promover uma melhora

estatisticamente significativa nos sintomas negligentes avaliados na BIT, e nas atividades funcionais

avaliadas pelo sub- item de cuidados pessoais da MIF.

PALARAS-CHAVE: DESORDEM PERCEPTUAL, HEMINEGLIGÊNCIA, ACIDENTE CÉREBRO

VASCULAR, EXPLORAÇÃO VISUAL, REABILITAÇÃO.

ABSTRACT

Unilateral spatial neglect is associated with worse prognosis after stroke and tradicional rehabilitive

techniques are not enough to revert this bad funcional outcome.The objective of this study was to

verify the effectiveness of a Visual Scanning protocol as a rehabilitation strategy in hemineglect

patients after stroke. Ten chronic stroke patients with hemineglect diagnosed through the Behavioral

Inattention Test (BIT) were studied, five in the control group and five in the treatment group. Patients

in the treatment group attended ten 60-minutes sessions along five weeks and were submitted to a

protocol based on techniques of Visual Scanning. Three formal evaluations for hemineglect (BIT

conventional) and the Functional Independence Measure (FIM) were done: pretreatment, at the end of

the intervention period, and three months after that. Control patients were evaluated twice with a two-

month interval. Visual Scanning was effective to remediate hemineglect on specific tests when BIT

variation between groups was evaluated (p value = 0.008). This was associated with generalization to

activities of daily life as evidenced by a significant difference between groups in the variation of FIM

self care item score (p = 0.016). In conclusion a simple visual scanning treatment protocol held along a

five-week period may significantly improve hemineglect symptoms in chronic stroke patients.

KEY WORDS: PERCEPTUAL DISORDERS, HEMI-SPATIAL NEGLECT, STROKE, VISUAL SCANNING, REHABILITATION.

LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Quadro com figuras-alvo e distratores 38

Figura 2 Mesa com figuras-alvo e distratores 38

Figura 3 Figuras da BIT comportamental 39

Figura 4 Evolução do Grupo Tratado na BIT 41

Figura 5 Evolução do Grupo Controle na BIT 42

Figura 6 Evolução do Grupo Tratado no Período de Acompanhamento 43

Figura 7 Evolução do Grupo Tratado na MIF 44

Figura 8 Evolução do Grupo Controle na MIF 44

LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 Característica Demográfica e Clinica dos Pacientes 35

Tabela 2 Diferença entre os Grupos na BIT 42

Tabela 3 Diferença entre os Grupos no Item de Cuidados Pessoais da MIF 45

LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVC - Acidente Vascular Cerebral

AVD - Atividade de Vida Diária

BIT - Behavioral Inattention Test

FIM - Functional Independence Measure

MIF - Medida de Independência Funcional

TRIM - Terapia de Restrição e Indução do movimento

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14 2.1 ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL 14 2.2 CLASSIFICAÇÃO DA HEMINEGLIGÊNCIA 15 2.3 NEUROANATOMIA DA HEMINEGLIGÊNCIA 16 2.4 AVALIAÇÃO DA HEMINEGLIGÊNCIA 18 2.5 REABILITAÇÃO DA HEMINEGLIGÊNCIA 24

3 OBJETIVOS 33 3.1 OBJETIVO GERAL 33 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 33

4 METODOLOGIA 34 4.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO 34 4.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO 34 4.3 ETAPAS E PROCEDIMENTOS 35 4.3.1 Sujeitos 35 4.3.2 Avaliação 35 4.3.3 Intervenção terapêutica 36 4.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA 39 5 RESULTADOS 40 6 DISCUSSÃO 46 7 CONCLUSÃO 49 REFERÊNCIAS 50 ANEXOS 58

INTRODUÇÃO

Pacientes que sofrem um acidente vascular cerebral (AVC) podem apresentar déficits de

inúmeros tipos e combinações, incluindo alterações sensoriais, sensitivas, motoras, de comunicação ou

cognitivas (atencionais, desordens executivas e déficits de reconhecimento)1. A heminegligência é um

déficit cognitivo caracterizado por síndrome comportamental comum em pacientes que sofreram AVC2.

Nesta síndrome, o comprometimento cognitivo é basicamente atencional 3.

A heminegligência tem sido definida como a falência em referir, orientar-se em direção ou

responder a estímulos gerados do lado oposto à lesão cortical; neste caso, as alterações não são

primariamente atribuíveis aos déficits sensoriais e motores eventualmente presentes 4. Sendo assim,

pacientes heminegligentes têm dificuldade para direcionar a atenção para o lado contralateral à lesão

encefálica o que leva a uma série de repercussões nas atividades de vida diária. É comum observar

esses pacientes colidindo com objetos e pessoas localizadas no lado negligenciado, comendo apenas a

comida localizada em um dos lados do prato, não sendo capazes de ler jornais e revistas por não

observarem palavras que estão no hemicampo negligente, além de se maquiarem ou fazerem a barba

apenas da metade do rosto 5.

A síndrome não se apresenta de modo uniforme, sendo, contudo, constituída por uma série de

sintomas e manifestações em diferentes combinações6, 7.

É comum encontrar vários termos para referir-se a heminegligência. Os mais freqüentes são

negligência unilateral, desatenção espacial unilateral ou hemidesatenção espacial. Hemi é prefixo grego

que significa metade, negligência é palavra proveniente do latim que pode ser traduzida como falta de

cuidado. Assim, heminegligência significaria falta de cuidado com a metade. Acreditamos, porém, que

esse termo não seria o mais adequado para denominar a síndrome, visto que a palavra negligência

transmite idéia de voluntariedade, e as seqüelas apresentadas pelos pacientes com esta síndrome não

dependem de sua vontade. Apesar disso, o termo heminegligência é o mais difundido, e por isso será

aqui utilizado.

A literatura especializada sugere fortemente que os pacientes heminegligentes apresentam pior

prognóstico, quando comparado com aqueles sem o problema8, 9, 10. Assim, a gravidade do AVC,

juntamente com a presença de heminegligência, está relacionada com pior prognóstico nas atividades

de vida diária (AVD), maiores índices de morbidade e letalidade, e maior tempo de internação

hospitalar11. Pacientes heminegligentes apresentam, em média, maior acometimento sensorial e motor,

maior comprometimento cognitivo, e possuem menor pontuação em escalas de independência

funcional quando comparados àqueles sem o quadro12. Além disso, ao contrário do que se imagina, a

heminegligência não é uma síndrome rara13 . Apesar disso alguns estudos 14,15 mostram que poucos

são os profissionais envolvidos na reabilitação do AVC que utilizam critérios diagnósticos e técnicas de

reabilitação baseadas nas evidências científicas recentes. Estaríamos negligenciando a

heminegligência?

A natureza diversificada da heminegligência faz com que a identificação, a avaliação e a

seleção de uma estratégia de tratamento apropriada tornem-se uma tarefa complexa. Além disso, a

gravidade dos problemas e suas conseqüências na vida cotidiana permitem compreender a que ponto os

estudos sobre a heminegligência são importantes.

Nos últimos anos vários protocolos de reabilitação têm sido propostos para a reabilitação dos

sintomas negligentes. Nos anos 70, quando a heminegligência era considerada apenas um déficit de

exploração visual para hemicampo esquerdo, foram desenvolvidos os primeiros tratamentos com o uso

do scanning visual para que o paciente se tornasse capaz de explorar de maneira adequada o

hemicampo negligenciado16. Visual scanning, segundo o dicionário Michaelis, poderia ser traduzido

como esquadrinhamento visual, exploração visual, olhar de perto e examinar cuidadosamente. Como

não encontramos estudos publicados em português que fizessem uso dessa técnica não tínhamos um

padrão de tradução do termo para seguirmos. Decidimos então, utilizar a terminologia de exploração

visual por acreditarmos ser a melhor forma de tradução e síntese da técnica..

2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1- ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

O acidente vascular cerebral (AVC) pode ser definido como déficit neurológico agudo devido a

uma lesão vascular. O termo AVC serve para incluir lesões causadas por distúrbios hemodinâmicos e da

coagulação. As conseqüências da lesão vascular cerebral variam desde hemiplegia ou tetraplegia maciças

com alteração da consciência, até quadros leves e transitórios que sequer chamam a atenção do paciente

ou do médico17. A maioria dos sobreviventes exibirá incapacidades residuais significativas, o que faz do

AVC a primeira causa de incapacidade funcional no mundo ocidental 17. A National Stroke Association

estima que 730.000 casos, novos ou repetidos, ocorram a cada ano nos Estados Unidos18. Isto faz com

que o AVC seja a terceira causa de morte mais comum nos Estados Unidos, com 160.000 mortes a cada

ano19.

No Brasil, nas ultimas 3 décadas, ocorreu uma redução progressiva do risco de se morrer por

AVC; com o aumento da expectativa de vida da nossa população, no entanto, a média anual de mortes

relacionadas ao AVC aumentou de 79.862 óbitos no período de 1980 a 1982 para 101.625 no período de

2000 a 200220. Os principais fatores de risco para o AVC são: hipertensão arterial, diabetes, tabagismo,

uso abusivo de álcool, uso de contraceptivos orais e doença cardíaca21.

Estudos têm demonstrado que a reabilitação é efetiva, podendo melhorar a capacidade funcional

mesmo para aqueles pacientes que ficaram com graves incapacidades neurológicas e funcionais 22, 23 .

2.2- CLASSIFICAÇÃO DA HEMINEGLIGÊNCIA

A síndrome pode ser classificada de acordo com os sistemas acometidos em: negligência sensorial,

negligência motora (desordem de ação e intenção de movimento), e negligência representacional

(desordens de representação mental) 4 , 24.

A negligência sensorial é definida pela diminuição nas respostas a um estímulo sensorial

contralateral à lesão cortical 13, e pode ser classificada de acordo com a modalidade sensorial acometida

(visual, auditiva e tátil) 4.

A negligência motora é definida como a falência em gerar movimento em resposta a um estímulo;

nesse caso, esta falência não é decorrente de um déficit primariamente sensitivo ou por diminuição da

força 4.

A negligência representacional pode vir ou não acompanhada de algum outro tipo de

negligencia25. O quadro ocorre quando o paciente ignora a metade das imagens contralaterais à lesão

cortical geradas internamente. Essas imagens geradas internamente são representações mentais ou

visualizações de uma tarefa, ação ou do meio ambiente 2. Um famoso experimento26, realizado na Itália,

fundamentou essa idéia. Dois pacientes com heminegligência foram orientados a imaginar e descrever,

em duas condições diferentes, um lugar bem conhecido, a Piazza del Duomo em Milão. A primeira

condição foi de costas para a catedral, sobre seus degraus; a segunda foi de frente para a catedral, do

outro lado da praça. Quando os pacientes se imaginavam de costas para a catedral, mencionavam apenas

um dos lados da praça, não mencionando nenhum dos edifícios presentes no lado oposto,

negligenciando-os do espaço representado. Quando se imaginavam em frente à catedral, por outro lado,

descreviam apenas a outra metade, negligenciada na condição anterior. Assim, embora sempre

negligenciassem um lado do espaço, nessas condições experimentais, os pacientes foram capazes de

descrever a praça completa. Esse resultado deixa claro que não há um problema de memória visual em

pacientes com heminegligência; sua dificuldade parece estar ligada com o direcionamento da atenção.

A heminegligência também pode ser classificada de outra maneira. Ao invés de dividir a

heminegligência baseando-se nos sistemas acometidos (sensorial, motor, representacional), pode-se

dividi-la de acordo com o domínio espacial acometido. Deste modo, a síndrome pode ser classificada

em negligencia pessoal e extra-pessoal27, 28, 29, 30. A negligência pessoal é definida como uma

diminuição na exploração e na percepção do lado do corpo oposto à lesão cerebral; a negligencia extra-

pessoal, por sua vez, ocorre quando os pacientes perdem a capacidade de perceber os estímulos

localizados no hemicampo contralateral à lesão cortical 28. A negligência extra-pessoal pode ainda ser

subclassificada em peripessoal e extrapessoal 31. A primeira é caracterizada pela negligência do espaço

próximo contralateral à lesão cortical, ou seja, o espaço que o paciente alcança com as próprias mãos;

um exemplo é o do paciente que come apenas metade da refeição que está no prato. Na segunda

situação, o paciente negligencia o espaço não tão próximo contralateral à lesão cortical, aquele espaço

que o paciente não pode alcançar com as próprias mãos; um exemplo é o do paciente que colide com

obstáculos localizados no hemicampo negligente 2. A negligencia pessoal e a extrapessoal podem

aparecer dissociadas ou combinadas 27. Um estudo recente demonstrou que essa categorização espacial

da heminegligência também se aplica na heminegligência representacional 32.

2.3- NEUROANATOMIA DA HEMINEGLIGÊNCIA

A heminegligência inicialmente foi associada com lesões no lobo parietal 33,34,35 36. Embora

alguns estudos relatem a maior importância do lobo parietal na heminegligência, alguns autores

apontam para importância semelhante dos lobos parietal e temporal 37. Nas três ultimas décadas, com o

surgimento da tomografia computadorizada e da ressonância magnética, a síndrome também tem sido

correlacionada com lesões acumuladas em regiões subcorticais (tálamo, núcleos da base, substancia

branca subcortical)37. Atualmente, sabe-se que lesões localizadas nos núcleos da base, na substancia

branca adjacente e no lobo frontal inferior, podem produzir heminegligência no estágio agudo da lesão;

entretanto, a ausência da heminegligência é comumente observada após lesões dessas estruturas, o que

indica uma fraca associação37.

Existe alguma correlação entre o tipo de heminegligência e o local da lesão. Lesões no lobo parietal

promovem negligência sensitiva, também chamada de negligencia perceptual; e lesões no lobo frontal,

negligência motora, também chamada de negligencia pré-motora38, 39. Este distúrbio de comportamento

pode estar associado com lesões tanto no hemisfério direito quanto no hemisfério esquerdo, porém é

mais freqüente após uma lesão cortical ou subcortical do hemisfério direito do cérebro 40. A idéia de que

a heminegligência é mais comum após lesão no hemisfério direito foi confirmada em revisão sistemática

de dados publicados. O resultado de meta-análise 13 com 17 estudos avaliando AVC nos hemisférios

direito e esquerdo, revelou freqüências de negligência após lesão em hemisfério esquerdo variando de 0 a

76% (média de 21%) e, após lesão em hemisfério direito, de 13 a 82% (média de 43%). As diferenças

encontradas nos resultados de diversos estudos com relação à incidência da heminegligência são

decorrentes principalmente de dois fatores: a heterogeneidade dos grupos de pacientes estudados e a

diferença nos critérios usados para avaliar esta síndrome tão complexa.

Algumas teorias têm sido apresentadas para justificar esta prevalência, uma delas é que os

pacientes com lesão no hemisfério esquerdo muitas vezes não são incluídos nos estudos por

apresentarem, em certos casos, dificuldade nas testagens devido a problemas de comunicação (afasia).

Esses grupos podem ser subestimados em estudos comparativos 6,13. Outros autores admitem que a

heminegligência possa ocorrer após lesão em ambos os hemisférios; entretanto a decorrente de lesão do

hemisfério esquerdo é menos severa 41 e é resolvida mais rapidamente 42, 43. Embora os dois fatores

contribuam para a maior prevalência da negligência após lesões no hemisfério direito, a teoria mais

aceita e que melhor explica essa diferença é a dominância do hemisfério direito na atenção espacial 4, 44.

Essa idéia é suportada por estudos com Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) 45 e 46. Um modelo

proposto para explicar esta predominância apóia-se no fato de que o hemisfério cerebral direto pode

direcionar a atenção para os dois hemiespaços, enquanto que o hemisfério esquerdo direciona a atenção

apenas para o hemiespaço direito 24. Assim, após uma lesão cortical esquerda o hemisfério direito teria

como compensar, direcionando a atenção para os dois hemiespaços. A mesma compensação não pode ser

feita pelo hemisfério esquerdo após uma lesão no hemisfério direito.

A heminegligência é geralmente um fenômeno transitório, pode estar presente apenas no estágio

agudo da lesão, recuperando-se de 4 a 6 semanas após o AVC 6. A recuperação espontânea, como foi

dito anteriormente, ocorre principalmente nas lesões do hemisfério esquerdo, o que ficou comprovado

em um estudo onde 76% dos pacientes, após lesão cerebral à esquerda, e 82%, após lesão cortical à

direita, eram heminegligentes quando avaliados logo após o AVC (fase aguda).Três meses mais tarde,

82% dos pacientes com lesão cortical à direita ainda apresentavam severa heminegligência, enquanto que

somente 33% dos pacientes com lesão cortical à esquerda ainda apresentavam heminegligência 47. Essa

recuperação instantânea pode ser decorrente do fato da isquemia ter sido somente temporária, sem causar

morte tecidual 48, ou pela reorganização do córtex adjacente 49. Porém nem sempre esta desordem tem

um prognóstico favorável, já que vários relatos indicam que, em grande parte dos casos, ela pode ser

observada alguns meses após a lesão 50, 51, 52.

2.4- AVALIAÇÃO DA HEMINEGLIGÊNCIA

A negligência pode ser avaliada por vários testes como o de cancelamento (cancellation test),

bi-secção de linha (line bisection), desenhos livres (drawing test), cópia de desenhos (copying test),

imaginação (imagery test), leitura de textos, descrição de objetos e cenários, e por testes funcionais,

como avaliar a maneira do paciente vestir-se, alimentar-se e andar ou ‘navegar’ em cadeira de rodas.

Os testes de bi-secção de linha, de cancelamento, de desenhos livres e o de cópia de desenhos são os

chamados testes de “lápis e papel” e por sua administração simples e rápida, são os mais utilizados.

Bisecção de linhas (line bisection – anexo C pág 62)

O paciente é orientado a estimar e indicar o ponto médio de uma linha horizontal presente em um

papel à sua frente. O teste deve ser feito preferencialmente com o membro não afetado. Quando o

paciente for heminegligente, não conseguirá localizar o ponto médio da linha horizontal e marcará um

ponto com certo desvio, geralmente para o lado da lesão cortical. O valor do desvio pode variar

conforme a gravidade da negligência 39. A validade do Line Bisection para determinar a presença de

heminegligência foi demonstrada por Marsh e Kersel53.

Teste de cancelamento (cancellation test)

Esse teste requer que os pacientes procurem e identifiquem, marcando com um lápis, os símbolos

alvos presentes em um papel. Pacientes heminegligentes falham em identificar os estímulos presentes no

lado oposto à lesão cerebral 2. Um fato importante, na estratégia utilizada para a exploração dos símbolos

alvos, é que pacientes com lesão no hemisfério direito começam a exploração pela margem direita e

pessoas normais pela margem esquerda da folha54. Esses pacientes, eventualmente, apresentam um

déficit na memorização da localização dos alvos já identificados e comumente marcam o mesmo alvo

mais de uma vez55. Alguns autores atribuem essa dificuldade a um comprometimento da memória de

trabalho, sendo esse déficit não restrito apenas para o lado negligenciado56.Os símbolos alvos podem

variar de acordo com o tipo de teste utilizado, o que gerou várias versões. As versões do “Cancellation

test” são: “Shape Cancellation” (cancelar formas)54, o “Star Cancellation” (cancelar estrelas – anexo C

pág 62)57, “Circle Cancellation” (cancelar círculos)27, 58, o “Line Cancellation” (cancelar linhas – anexo

C pág 62)59, “Bell Cancellation” (cancelar sinos)60, o “Letter Cancellation” (cancelar letras – anexo C

pág 62)61, e “Number Cancellation” (cancelar números)62. A dificuldade do “Cancellation test” varia de

acordo com a presença ou não de símbolos para desviar a atenção e com o uso de estímulos alvos

simples ou duplos. Por exemplo, o “Bell Cancellationt” e o “Star Cancellationt” possuem símbolos para

desviar a atenção, enquanto que no “Line Cancellation” (Albert test) estes distratores não são incluídos.

O “Cancellation test” com símbolos para desviar a atenção (distratores) são mais sensíveis para detectar

a heminegligência do que aqueles sem os símbolos para desviar a atenção63. A validade do “Cancellation

test” para determinar a heminegligência foi demonstrada por Marsh e Kersel 53 .

Bisecção de linhas x cancelamento

Os autores divergem em relação à sensibilidade destes testes; alguns entendem que o

“Cancellation test” apresenta maior sensibilidade que o “Line Bisection” 53, 64, e outros afirmam

exatamente o oposto65. Existem ainda autores que não observaram diferença quanto à sensibilidade dos

dois testes66. É importante realçar que os dois testes não podem ser usados para diferenciar negligência

motora e sensitiva, pois ambos requerem exploração visual e manual67.

Cópia de desenhos (anexo C pág 62)

O paciente é orientado a copiar uma figura apresentada. Figuras padronizadas são usadas no teste,

como flor, estrela, cubo e outras formas geométricas. Cópias incompletas, com omissões ou distorções

no lado contralateral à lesão cortical, indicam heminegligência 61.

Desenho livre (drawing test – anexo C pág 62)

O paciente é orientado a desenhar livremente, ou seja, não é apresentada qualquer figura para

cópia. Assim, é necessária uma representação interna prévia para que o paciente consiga desenhar

corretamente a figura desejada. As figuras consideradas mais sensíveis para detectar a heminegligência

são: um relógio, formas humanas ou uma borboleta 61. Assim como na cópia de desenhos (copying test),

desenhos incompletos, com omissões ou distorções no lado contralateral a lesão cortical, indicam

heminegligência.

Cópia de desenhos x Desenhos livres

Embora ambos os testes utilizem tarefas similares, eles avaliam componentes distintos da

heminegligência. O teste da cópia de desenhos avalia a negligência sensorial e motora, mas não é capaz

de distinguir tipos de negligencia, pois requer simultaneamente exploração visual e manual. O teste de

desenhos livres avalia a negligência representacional e motora, mas não é capaz de distinguir qual o tipo

de negligencia, pois requer simultaneamente exploração manual e representação interna intacta. Existem

problemas relatados por alguns autores com relação a esses tipos de testagens. O primeiro problema

consiste na subjetividade de interpretação dos resultados68; além disso, impedimentos cognitivos também

alterariam os resultados destes testes69; os dois testes exibem ainda baixa sensibilidade (57,5%) quando

comparados com o cancelamento de estrelas (star cancellation) e o b-secção de linhas (line bisection)

(76,4%) 66.

Imaginação (imagery test)

É usado para avaliar como se da à representação interna do espaço para o paciente, que é

orientado a descrever lugares familiares. Indivíduos heminegligentes podem apresentar dificuldades

representacionais, omitindo objetos localizados no hemicampo negligente 26.

Teste para negligencia pessoal

A negligência pessoal é avaliada orientando o paciente a colocar o membro superior contralateral

à lesão cortical ao lado do tronco. O examinador aponta para a mão ipsilateral à lesão, e pede para o

paciente tocar sua outra mão. Pacientes com esta forma de negligencia não conseguem localizar o

membro localizado no hemicampo negligente 27. Esse teste apresenta problemas, pois o paciente pode

não conseguir localizar o membro afetado por outros motivos como: disfunção executiva, apraxia,

alteração de sensibilidade profunda, entre outros.

Avaliação da negligência em crianças

A avaliação da heminegligência em crianças é tarefa complicada, já que a maioria dos

testes é elaborada para aplicação em adultos. Esse fato pode ser explicado pelo pequeno número de

trabalhos publicados com a população pediátrica e pela necessidade da voluntariedade dos pacientes na

realização das testagens. É difícil avaliar crianças que ainda não desenvolveram uma plena capacidade

de comunicação e, além disso, motivar aquelas que possuem tal capacidade a realizar as testagens.

Mesmo com essas dificuldades, através da distribuição espacial de desenhos feitos por esses pacientes

em uma folha de papel, é possível suspeitar da presença dessa síndrome. A observação clínica é outra

maneira de avaliar crianças heminegligentes, que tendem a explorar e perceber menos o lado oposto à

lesão cortical, porém a subjetividade e a difícil quantificação são alguns dos problemas encontrados

nessas avaliações. Em função destas dificuldades, alguns autores criaram o “Teddy Bear Cancellation

test”, em que é apresentada para a criança uma folha de papel (21 x 29,7cm), com15 ursos distribuídos e

meio a 60 distratores. Os pacientes são orientados a encontrar e riscar os ursos. A omissão dos alvos,

localizados em algum dos lados da folha, indica a heminegligência70.

Testes Funcionais para avaliar a heminegligência

A heminegligência, como já foi dito, é um fator limitante para a funcionalidade do

paciente. Até mesmo testes funcionais inespecíficos são capazes de detectar a interferência da

heminegligência na reabilitação funcional. Para melhor avaliar o impacto da síndrome nas atividades

funcionais, foram elaborados testes específicos 30, 63, que não necessitam de grande aparato, apenas

exploração visual e manual preservada. Servir chá, distribuir cartas, descrever um cenário, pentear o

cabelo, maquiar o rosto e fazer a barba são algumas das tarefas exigidas para avaliar a interferência da

heminegligência nas atividades funcionais. Além disso, esse tipo de testagem é capaz de diferenciar

negligência pessoal e extrapessoal: servir chá, distribuir cartas, descrever um cenário são tarefas que

podem estar comprometidas em decorrência da negligência extrapessoal; pentear o cabelo e fazer a

barba, por outro lado, são tarefas que podem estar comprometidas em decorrência da negligência

pessoal.

“Behavioural Inattention Test” (BIT) (Anexo C pág.62)

Como visto, os pacientes podem apresentar apenas um tipo de negligência ou a combinação de

vários comportamentos negligentes. A heminegligência não pode ser avaliada por um único teste. Em

virtude dessa variabilidade clínica, é recomendável a utilização de uma bateria de testes, que seja capaz

de avaliar todos os tipos de heminegligência 6, 64, 66. A bateria de testes mais utilizada para avaliar a

heminegligência é denominada “Behavioural Inattention Test” (BIT), composta por quinze itens, dos

quais seis são representados por subtestes convencionais, ou seja, por testes comumente usados para

avaliar este tipo de paciente. Entre os subtestes convencionais estão: “Line crossing”, “Letter

cancellation”, “Star cancellation”, “Line bisection”, “Figure and shape copying” e “Representational

drawing”. A pontuação máxima possível nos subtestes convencionais é de 146; pacientes que apresentam

pontuação abaixo de 129 são considerados heminegligentes. Os nove itens restantes são os subtestes

comportamentais, nos quais os pacientes são orientados a fazer nove tarefas típicas do dia a dia:

descrever uma figura, discar um numero de telefone, ler um cardápio, ler um texto, dizer qual a hora

marcada em um relógio, separar moedas, copiar sentenças, navegar em um mapa e separar cartas 61.

Existe forte correlação entre esses nove testes comportamentais e alguns testes de “lápis e papel”

habitualmente utilizados para avaliar a heminegligência 61.

Deve ser ressaltado que a execução da bateria completa exige mais de 60 minutos de avaliação;

por esse motivo, muitos avaliadores subdividem a bateria, para não submeter o paciente a desgaste

excessivo. Outro fato relevante é que essa bateria ainda não foi validada em português: como alguns

testes da parte comportamental estão em inglês, deve-se considerar esta limitação ao aplicar esses testes

em um país de língua portuguesa. A parte comportamental da BIT é de vital importância, por verificar a

influência dos sintomas heminegligentes em atividades funcionais que exigem muito da exploração e

percepção espacial, características comumente afetadas nesse tipo de paciente. Assim, seria interessante

a validação dessa bateria em língua portuguesa.

A heminegligência pode se manifestar e ser classificada de diversas maneiras. Não constitui

síndrome unitária, mas sim uma complexa constelação de sinais e sintomas. Está relacionada com pior

prognóstico evolutivo, e geralmente decorre de lesões no hemisfério cerebral direito. Sua detecção e

avaliação podem ser complexas e, por isso, acreditamos que um único teste não é suficiente para

diagnosticá-la. O uso de uma bateria especifica para avaliação da heminegligência é necessário,

permitindo avaliar e identificar os vários tipos de heminegligência. Em estudo preliminar à presente

tese observamos que, de 22 pacientes considerados heminegligentes pela bateria convencional da BIT,

até 10 não seriam considerados heminegligentes se utilizássemos apenas um teste como critério

diagnóstico 71.

2.5- REABILITAÇÃO DA HEMINEGLIGÊNCIA

Em virtude de a síndrome apresentar prognóstico desfavorável, possuir uma diversificada

apresentação clinica e não responder de maneira satisfatória aos tratamentos convencionais de

reabilitação física, diferentes estratégias de tratamento têm sido desenvolvidas. Nos próximos parágrafos

serão apresentadas as principais estratégias publicadas e utilizadas para a reabilitação da

heminegligência.

Ativação do membro negligente

Essa abordagem terapêutica parece apresentar resultados satisfatórios no tratamento da

heminegligência72. Através de movimentos ativos do lado oposto à lesão cortical, alguns pacientes

apresentaram melhoras significativas em sua trajetória durante a marcha73, nas tarefas de leitura74, e o

desempenho em testagens específicas como o “Cancellation Test”75. Alguns autores relatam ainda que,

para tratar a heminegligência, a ativação do membro negligente seria melhor que a ativação bilateral76;

isso poderia ser explicado por uma possível competição entre o hemisfério sadio e aquele lesado. Um

recente artigo de revisão confirma as evidências de benefício desta modalidade de tratamento em

pacientes heminegligentes 77.

A heminegligência pode vir associada, geralmente na fase aguda, com o fenômeno da extinção,

ou seja, os pacientes são capazes de perceber estímulos unilaterais; quando o estimulo é bilateral, porém,

o mesmo só percebe o estimulo do mesmo lado da lesão cortical (ipsilesional), negligenciando o estimulo

do lado oposto à lesão (contralesional)78. Acredita-se assim que, na fase aguda, devem ser evitadas

atividades bilaterais e estimuladas as tarefas com o membro negligente. Porém, uma limitação

encontrada para essa abordagem terapêutica é a necessidade do paciente movimentar ativamente o

membro contralateral a lesão cerebral o que significa ter grau de força maior do que 3.

Terapia de restrição e indução do movimento

A Terapia de restrição e indução do movimento (TRIM) foi originalmente empregada em

pacientes de AVC na fase crônica; consiste em imobilizar o membro superior sadio, deixando somente o

membro parético livre para realizar as AVD. Segundo o protocolo original, o paciente deve realizar

terapia supervisionada 6 horas por dia durante duas semanas e uma órtese imobilizadora deve

permanecer no braço sadio por aproximadamente 90% das horas em que o paciente está acordado79. A

TRIM se fundamenta no princípio do não uso aprendido, que sugere que após experiências frustrantes

com o membro superior afetado, os pacientes poderiam ter ‘aprendido’ a não usá-lo mesmo nas funções

em que ele teria potencial para realizá-las 79. Investigação sobre o uso da TRIM em pacientes negligentes

foi realizada em apenas um estudo 80 que incluía pacientes sem e com heminegligência. Os pacientes

com heminegligência foram os mais beneficiados pelo treinamento que comparou a técnica com

reabilitação tradicional, sugerindo melhora funcional no braço afetado; a melhora não foi, entretanto,

duradoura.

Uma limitação em relação a esta técnica é a necessidade do paciente ter extensão ativa de pelo

menos 10 a 20 graus de punho e dedos, o que elimina boa parte dos pacientes negligentes, que

usualmente apresentam densa hemiparesia 7. Entretanto, o não uso do lado oposto à lesão cortical na

heminegligência não é apenas causado pela hemiparesia, mas pode ser decorrente da negligência pessoal,

o que faz desta técnica um recurso potencialmente importante também para este grupo de pacientes.

Estimulação somatosensorial

A estimulação somatosensorial inclui, por exemplo, a utilização de estímulos vibratórios no

pescoço. Essa técnica parte do princípio de que o estímulo vibratório promove uma informação aferente

para o sistema nervoso central. Tais estímulos são interpretados como uma variação do comprimento do

músculo; assim, na ausência de input visual, seria percebida uma distorção do corpo, o que resultaria em

uma possível reorientação espacial. O tratamento convencional associado com estímulos vibratórios nos

músculos do pescoço, quando comparado com a reabilitação convencional isoladamente, proporcionou

melhores resultados no tratamento da heminegligência81. Observou-se também que a estimulação elétrica

no lado esquerdo do pescoço possibilita uma melhor pontuação nos testes de “lápis e papel” que avaliam

heminegligência sensorial e representacional82.

Uma limitação dessa técnica é que os aparentes efeitos benéficos não parecem perdurar após o

fim do estimulo, não promovendo ganhos reais sustentáveis para o paciente.

Imaginação

Na ultima década, com o surgimento de novas tecnologias de neuroimagem, como a PET e a

ressonância magnética funcional (RMf), o conceito de imaginação passou a ser utilizado como estratégia

de reabilitação. A Imaginação ocorre quando informações perceptuais são acessadas através da memória,

fazendo acontecer uma experiência de “ver com os olhos da mente, ouvir com os ouvidos da mente” e

assim sucessivamente83.

A imaginação motora é uma das modalidades da imaginação. Estudos de neuroimagem e

investigações fisiológicas apontam para uma forte correlação entre a imaginação motora e a ação motora,

ambos dependentes de processos corticais similares84, 85. A imaginação motora difere da execução

motora primariamente através de processos que envolvem a inibição ou supressão motora. Acredita-se

que a parte posterior do cerebelo promove a inibição do movimento durante a imaginação motora 85;

outros autores sugerem que o lobo parietal está envolvido nesse processo inibitório 86.

Em trabalho recente avaliando 46 pacientes após um AVC, foi demonstrado que a imaginação

motora propicia melhora atencional, associada a melhora no planejamento motor e na execução do

movimento. Estes efeitos proporcionaram uma maior habilidade funcional dos pacientes estudados87.

Outros autores também apontam para as vantagens da imaginação motora na reabilitação de pacientes

com AVC88. Em estudo 89, utilizando apenas a imaginação motora (imaginação do movimento com o

membro contralateral à lesão cortical) diminuíram significativamente os sintomas negligentes em um

paciente; entretanto, em outro paciente, essa diminuição não foi significativa. Esse estudo apontou ainda

um fato relevante: a imaginação motora com o membro sadio intensificou os sintomas negligentes. A

existência de uma relação interhemisférica nas funções motoras poderia justificar esta exacerbação dos

sintomas de heminegligência.

Outra modalidade da imaginação utilizada na reabilitação de pacientes negligentes é a imaginação

visual. Estudos indicam o envolvimento de processos atencionais nesta modalidade de imaginação

mental. Concomitante à sustentação da atenção, durante a imaginação visual o indivíduo é capaz de

promover a troca e a seletividade da atenção para partes restritas da imagem. Assim é possível concluir

que existe uma relação entre a imaginação visual e a exploração visual propriamente dita90. Como a

exploração visual e a sustentação da atenção constituem a base da reabilitação da heminegligência em

muitos estudos, a imaginação visual surge como mais uma ferramenta importante.

No trabalho de Smania e colaboradores91, pacientes heminegligentes receberam tarefas de

imaginação visual associada à imaginação motora, e ao final do tratamento significativa melhora foi

demonstrada, através de testagens próprias para heminegligência e testagens funcionais. Além disso, o

acompanhamento dos pacientes demonstrou que os ganhos se mantiveram após seis meses do final do

tratamento. Outro autor 92 também utilizou a imaginação visual para tratar pacientes heminegligentes.

Nesse estudo, os sintomas negligentes eram inicialmente avaliados por testes específicos, e depois dessa

avaliação inicial, o desenho de um farol era apresentado aos pacientes. Estes tinham que imaginar que

seus olhos eram as luzes do farol e tinham que iluminar o mar, da esquerda para a direita, para que os

navios tivessem a capacidade de navegar com segurança. Após o exercício de imaginação visual, os

pacientes eram novamente submetidos à avaliação inicial. Depois de três sessões, foi observada melhora

dos sintomas negligentes.

Artigos de revisão sobre os possíveis tratamentos para a heminegligência relatam que a

imaginação mental pode ser uma boa abordagem para esse tipo de paciente. São necessários, contudo,

mais experimentos para verificar a eficácia da imaginação mental. Além disso, esse tipo de programa de

reabilitação exige que os pacientes tenham habilidade cognitiva suficiente para cooperar 93.

Lentes de prisma

Outra modalidade terapêutica estudada, com resultados positivos, utiliza lentes de prisma94. Além

dos efeitos imediatos, alguns autores suportam a idéia de que os efeitos dessa abordagem são

duradouros95. Corroborando com esses estudos, alguns artigos de revisão96, 97 também apontam para os

efeitos positivos dessa modalidade terapêutica na reabilitação da heminegligência. Os propositores dessa

técnica acreditam que sua principal vantagem é não depender de uma orientação voluntária da atenção.

Os prismas provocam um desvio óptico do campo visual para a direita, fazendo com que os objetos

apareçam mais à direita do que realmente estão e, assim, os pacientes conseguem percebê-los. Após uma

exposição repetida, os pacientes começam a corrigir suas trajetórias, a fim de alcançar os objetos.

Outras abordagens

Outros tratamentos também têm sido utilizados, como por exemplo a estimulação calórica, feita

através da irrigação com água em temperaturas diferentes no canal auditivo externo98, ou o uso de tapa

olho ou de óculos hemiespaciais99. Os estudos envolvendo estes recursos falham na demonstração de

eficácia e de sua aplicabilidade nas AVD. Estudo recente verificou que a associação do tratamento

convencional com a estimulação do movimento ocular, não proporcionou uma maior redução dos

sintomas negligentes que um tratamento convencional de reabilitação de hemiplegia100.

Exploração Visual

O treinamento com exploração visual é baseado na constatação de que pacientes heminegligentes

falham em explorar o hemicampo contralateral à lesão cortical, e geralmente estão mais voltados e

orientados para o hemiespaço não negligente. Esse treinamento visa aumentar a atenção para o

hemiespaço negligente; as pistas geradas pelo terapeuta, para correção da exploração, e posteriormente

pelo próprio paciente, ajudam a aumentar o direcionamento da atenção para o hemicampo negligente.

Tipicamente, o treino de exploração visual envolve a percepção, pelo paciente, de luzes que são

refletidas em um quadro: os pacientes têm que fazer uma busca sistemática das luzes, indo da esquerda

para direita com o auxílio de pistas verbais e visuais para direcionar a atenção para a margem esquerda

do quadro7. Um estudo com o uso desta técnica101, demonstrou que o treinamento com exploração visual

reduz a negligência e melhora o desempenho dos pacientes em tarefas de leitura e escrita. Neste estudo, o

treinamento foi desenvolvido durante um mês e teve a duração total de vinte horas. A tarefa era iniciada

quando o paciente achava uma linha amarela (pista visual) que era colocada na extremidade esquerda do

quadro. Quando o paciente achava a pista, a tarefa prosseguia com o aparecimento de luzes no quadro

que apareciam da esquerda para direita. Quando a tarefa era executada de maneira satisfatória, ela era

transferida para atividades de leitura e escrita. Não houve generalização dessa melhora para outras

atividades. Em um estudo randomizado e controlado102 feito pelos mesmos autores, foram incorporadas à

tarefa anteriormente descrita outras em que o paciente tinha que identificar em que lado das costas era

tocado, e estimar o comprimento de determinados bastões que eram apresentados ao paciente em um

quadro. Pacientes submetidos ao treinamento obtiveram melhora significativa, comparados com

pacientes do grupo controle, em testagens específicas para heminegligência realizadas antes e depois do

tratamento. Além disso, essa melhora foi generalizada para tarefas de estimação de ponto médio

(diferentes daquelas que foram treinadas). Neste mesmo estudo, os pacientes que apresentavam

problemas mais graves também apresentaram melhora mais importante. Infelizmente não foi realizado

um seguimento evolutivo para se verificar por quanto tempo esses benefícios foram mantidos. Calvanio e

colaboradores 103 fizeram cuidadosa revisão e concluíram que o sucesso obtido no estudo citado era

explicado por alguns fatores: treinamento especifico, que focalizava um único impedimento cognitivo

(negligência); participação ativa do paciente; e treinamento intensivo (4-5 horas por semana). Também

concluíram que a generalização ocorreu de maneira eficaz em tarefas que eram similares àquelas

treinadas.

Outro trabalho comparou o treinamento visuoespacial com um tratamento cognitivo geral, sendo

observada melhora bem maior, em bateria de testes para negligência, no grupo submetido ao treinamento

visual 104. A partir daí, o grupo que recebeu a intervenção cognitiva convencional foi também submetido

ao tratamento com exploração visual, novamente com bons resultados. Em estudo interessante e

possivelmente o que obteve resultado mais relevante para as atividades funcionais, Wiart e

colaboradores105 combinaram técnicas de exploração visual com rotação de tronco (os pacientes tinham

que rodar o tronco para a esquerda, quando faziam a exploração, para aproximar-se dos objetos-alvo com

uma haste que ficava presa em um cinto que o paciente vestia e que se projetava por cima da cabeça do

paciente). Sempre que os pacientes realizavam as tarefas com sucesso, recebiam feedback visual e

auditivo, o que fazia com que se beneficiassem de estímulos multimodais de atenção durante a

exploração do hemiespaço negligente. Este estudo foi feito de maneira controlada e randomizada,

demonstrando melhora significativa nas testagens específicas e nas AVD, mensuradas pela medida de

Independência Funcional (MIF) Porém, o equipamento necessário para este tipo de treinamento é

complexo (já que inclui um computador adaptado para as tarefas específicas, um quadro em que luzes

são acesas de acordo com a ordem do computador e que faz com que a haste presa ao paciente vibre

quando o alvo é acertado) o que poderia limitar a sua aplicabilidade clínica; além disso, o período de

acompanhamento dos pacientes foi de apenas um mês e apenas dois pacientes estavam no estágio

crônico da heminegligência.

Em contraste com os estudos citados anteriormente, Robertson e colaboradores106 não

encontraram diferenças entre pacientes que receberam treinamento com um programa de exploração

visual e um grupo controle. Neste estudo, vinte pacientes receberam treinamento de exploração visual,

feito com recurso a computador; e dezesseis pacientes que fizeram parte de um grupo controle foram

tratados com reabilitação cognitiva convencional (montagem de quebra – cabeças etc). Wagenaar e

colaboradores107, em estudo realizado com cinco pacientes, concluíram que o treino de exploração visual

melhorava o próprio comportamento de exploração visual do paciente heminegligente, porém sem que

houvesse transferência dessa melhora para a atividade de navegação com cadeira de rodas. Além disso,

tem sido observado que os efeitos do treino visual estão limitados a testagens parecidas entre si ou que

têm as mesmas características da tarefa de treinamento108.

Embora alguns artigos de revisão103, 109 considerem a exploração visual um tratamento com forte

embasamento científico, até esse momento, ainda há controvérsia sobre se os resultados obtidos com o

uso da técnica são específicos para as tarefas treinadas ou se há uma generalização dessa melhora para as

AVD. Além disso, não se sabe se os efeitos do treinamento permanecem a longo prazo110; e a maioria

das técnicas de exploração visual é feita com o uso de metodologia difícil de ser aplicada em muitos

centros. Assim, no presente estudo, elaboramos um protocolo de exploração visual que pudesse ser

aplicado sem a necessidade de aparatos tecnológicos, além de avaliar seus efeitos, inclusive ao longo de

três meses após o fim da intervenção, em testes específicos para heminegligência e nas AVD.

3- OBJETIVOS

3.1- OBJETIVO GERAL

Estudar técnicas de exploração visual como forma de minimizar os efeitos gerados pela

heminegligência nas testagens específicas e nas atividades de vida diária (AVD) de pacientes

com AVC crônico.

3.2- OBJETIVOS ESPECIFICOS

Elaborar um treinamento de exploração visual que possa ser aplicado na prática clínica.

Observar se a exploração visual promove uma melhora nas AVD do paciente heminegligente;

Observar se a exploração visual promove uma melhora nos resultados obtidos nos testes de

lápis e papel;

Avaliar se os resultados obtidos nos testes de lápis e papel são coerentes com os resultados

obtidos na medida de independência funcional e no item de cuidados pessoais dessa medida;

Avaliar se os resultados obtidos logo após a intervenção serão mantidos após um período de 3

meses sem intervenção.

4- METODOLOGIA

Esse estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da instituição (protocolo de pesquisa

006/05 – CEP), e todos os indivíduos incluídos na pesquisa concordaram e assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido.

4.1- CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Foram incluídos pacientes com:

a. diagnostico de AVC com mais de três meses de evolução;

b. diagnóstico de AVC com lesão em hemisfério cerebral direito;

c. exame de neuroimagem (tomografia computadorizada) disponível para avaliação;

d. diagnóstico de heminegligência confirmado no BIT convencional (pacientes que obtiverem

uma pontuação inferior a 129).

4.2- CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos pacientes com:

a. distúrbios do aparelho locomotor que impossibilitassem a realização de tarefas.

b. déficit de comunicação importante, interferindo com a compreensão e colaboração com os

propósitos e metodologia do estudo.

c. escolaridade insuficiente para compreender os testes (analfabetismo);

d. comorbidades específicas: parkinsonismo, processos demenciais e outras doenças

degenerativas do SNC.

e. participação em algum protocolo de reabilitação cognitiva específico para o tratamento da

heminegligência.

4.3- ETAPAS E PROCEDIMENTOS

4.3.1- Sujeitos:

Dez pacientes, todos destros, e com diagnóstico de AVC isquêmico, foram incluídos no estudo,

sendo cinco no grupo controle e cinco no grupo tratado. A idade dos pacientes variou de 54 a 80 anos,

seis eram do sexo feminino e quatro do masculino. O tempo de lesão foi de 4 meses até 131 meses e a

escolaridade variou de um até 17 anos. As características demográficas e clínicas dos pacientes dos

dois grupos são apresentadas na tabela 1.

Tabela 1: Características clínicas e demográficas dos pacientes

Grupo

Idade

(anos)

Sexo

Tempo

de lesão

(meses)

Local da

lesão

Escolaridade

(anos)

Etiologia

BIT

Inicial

FIM

Inicial

73 F 39 F / T / P 4 I 81 100

54 M 37 F / P 12 I 90 82

65 F 9 F / T / P / SC 6 I 70 56

56 F 5 F / SC 4 I 110 56

Grupo

Controle

(n = 5)

73 M 4 F / T / P 1 I 37 63

74 M 4 F / T / P 17 I 38 41

71 F 132 F / T / SC 12 I 102 94

80 F 17 F / T / P 4 I 89 74

62 M 5 P / SC 5 I 122 117

Grupo

tratado

(n = 5)

73 F 4 SC 5 I 108 81

F = frontal; T = temporal; P = parietal; O = occipital; SC = subcortical; I = isquemia

4.3.2- Avaliações:

Os pacientes do grupo tratado foram submetidos a três avaliações feitas por um avaliador

independente não cego, formado em fisioterapia e especificamente treinado para realização dos testes

aqui utilizados, sendo uma inicial, uma após o término da intervenção e outra após três meses do fim da

intervenção. Os pacientes do grupo controle passaram por uma avaliação inicial e, dois meses após, por

uma avaliação final. Todas as avaliações eram feitas através da BIT e da MIF. Apesar de a MIF

eventualmente ser utilizada na avaliação de pacientes heminegligentes, alguns autores104 , assim como

nós, acreditam que essa escala não é especifica para avaliar os comprometimentos funcionais dessa

síndrome. Talvez por esse motivo essa escala não fosse capaz de avaliar uma possível melhora

funcional dos pacientes tratados. Uma avaliação que melhor poderia quantificar os comprometimentos

funcionais desse tipo de paciente, seria a BIT comportamental 57 mas, infelizmente, como dito

anteriormente, essa escala ainda não foi validada para o idioma português, o que inviabiliza o seu uso

na população aqui estudada. Para solucionar esse problema, e por acreditarmos que o item de cuidados

pessoais da MIF poderia ser mais sensível a mudanças no comportamento negligente ele também foi

analisado separadamente durante as avaliações como um terceiro teste.

A pontuação máxima possível nos sub-testes convencionais da BIT é de 146, sendo que aqueles

pacientes que apresentaram uma pontuação até 128 foram considerados heminegligentes.

A MIF é uma escala feita para avaliar o grau de independência de um paciente em relação aos

itens de cuidados pessoais (alimentação, auto-cuidado, banho, vestuário e higiene), controle de

esfíncteres (bexiga e intestino), Mobilidade (transferência, locomoção), Comunicação e cognição social.

A pontuação varia de um até sete pontos para cada item, sendo um a necessidade de assistência total e

sete para independência completa. A pontuação máxima é de 126 pontos.

4.3.3- A intervenção terapêutica:

A aplicação da estratégia de reabilitação com uso da “exploração visual” foi realizada no

laboratório de Neuropsicologia, Cognição e Reabilitação Cognitiva do HUCFF/ UFRJ. Os pacientes

foram submetidos a duas sessões semanais com duração de 60 minutos cada, até completarem 10 sessões

de intervenção. Os Pacientes passaram por um treinamento especifico de “exploração” visual que foi

constituído de quatro tarefas, sendo duas tarefas voltadas para corrigir a negligência extrapessoal (que é

caracterizada quando o paciente apresenta uma negligência do espaço onde ele não consegue alcançar

com as mãos) e duas tarefas para corrigir a negligência peripessoal (caracterizada quando o paciente

negligencia o espaço que ele consegue alcançar com as mãos). Na primeira tarefa, o paciente foi

orientado a ficar sentado em uma cadeira, com um metro de distância de um quadro de cortiça (118 cm

por 88cm) no qual existiam figuras-alvo que o paciente era orientado a localizar e encostar nas figuras

com o uso de um bastão. As figuras são formas geométricas (círculos, estrelas, quadrados e triângulos)

de dois tamanhos diferentes, constituídas de material de papelaria intitulado de “emborrachados”, e com

cores diferentes (amarelo, roxo, azul, verde e laranja) (Figura 1). No principio, o quadro tinha somente as

figuras-alvo a serem localizadas, mas posteriormente, elas foram dispostas entre outras figuras que

serviram como estímulo distrator dificultando a localização das figuras-alvo. Na segunda tarefa, sentado

em uma cadeira, o paciente foi orientado a descrever todos os objetos que se encontravam na sala, por

exemplo; quantas cadeiras, o que se encontrava em cima das mesas, quantos quadros, etc. Na terceira

tarefa, o paciente foi colocado sentado em uma cadeira em frente a uma mesa, onde ele foi orientado a

localizar figuras-alvo, sobre a mesa (Figura 2). As figuras-alvo eram as mesmas da primeira tarefa. No

inicio só existiam sobre a mesa as figuras-alvo e posteriormente foram incluídos estímulos distratores

(outras figuras) que assim dificultaram a localização dos objetos alvo. Na quarta tarefa, foi entregue ao

paciente, figuras as quais ele foi orientado a descrever. As figuras fazem parte do BIT Comportamental

(não confundir com BIT convencional) e foram apresentadas ao paciente em ordem crescente de

complexidade, sendo assim, a primeira figura tinha um numero menor de detalhes do que as figuras

posteriores (Figura 3). Em todas as quatro tarefas, sempre que o paciente omitia objetos alvo ou falhava

na descrição das figuras ou da sala, ele era orientado a recomeçar a tarefa a partir do ponto mais a

esquerda do quadro, da mesa, da sala ou da figura.

Figura 1 - Quadro com figuras-alvo e distratores

Figura 2 - Mesa com figuras-alvo e distratores

Figura 3 – Figuras da BIT comportamental

4.4- ANÁLISE ESTATISTICA

Para verificar, no inicio do estudo, se os grupos eram comparáveis foi utilizado o teste de

Mann-Whitney. Esse mesmo teste foi utilizado para analisar os efeitos da intervenção em testagens

específicas para a heminegligência e em atividades de vida diária, incluindo a variação entre os grupos

na pontuação da BIT, da MIF e do item de cuidados pessoais da MIF, no inicio e no fim do estudo.

Para avaliar cada grupo, separadamente, foi utilizado o teste de Wilcoxon na comparação da BIT e MIF

iniciais, com a BIT e MIF finais. O nível de significância adotado foi de 0,05. Na execução da análise

estatística foi utilizado o software SPSS (versão 13.0 for Windows).

5- RESULTADOS

No período de Janeiro de 2006 a abril de 2007 foram avaliados, prospectivamente, 112

pacientes com AVC isquêmico ou hemorrágico no hemisfério direito, dos quais 29 eram

heminegligentes. Dentre estes, dez pacientes, todos destros, e com diagnóstico de AVC isquêmico,

foram incluídos no estudo, sendo cinco no grupo controle e cinco no grupo tratado. Os 19 pacientes

restantes foram excluídos desse estudo: cinco estavam sendo submetidos a um protocolo especifico

para reabilitação da heminegligência, três apresentavam processos demenciais, um não tinha

escolaridade suficiente para compreender os testes (analfabeto), dois tiveram óbito antes do inicio do

estudo e oito não concordaram em participar por falta de tempo ou problemas no deslocamento até o

hospital.

No início do estudo os grupos eram comparáveis, não havendo diferença estatística em relação à

idade, escolaridade, BIT, MIF e no item de cuidado pessoal da MIF.

O protocolo de exploração visual foi capaz de diminuir os sintomas negligentes nos testes específicos.

Todos os pacientes submetidos ao protocolo de exploração visual diminuíram os sintomas da

heminegligência o que ficou caracterizado pela melhora na BIT. Além disso, dois pacientes ao final da

intervenção deixaram de ser considerados heminegligentes pelo critério de corte da BIT (pontuação

maior que 129 pontos). A melhora do grupo tratado ao final da intervenção na pontuação da BIT foi

estatisticamente significativa (p valor = 0,043) embora o mesmo tenha acontecido com o grupo

controle apesar da pequena variação e de sua irrelevância clinica (P valor = 0,04) (Figura 4 e 5). Porém

ao analisarmos o impacto da intervenção pela comparação da variação da pontuação na BIT entre os

grupos, encontramos diferença estatisticamente significativa (p valor = 0,008), indicando que o

protocolo de exploração visual teve impacto positivo (Tabela 2). O efeito benéfico do grupo tratado na

BIT não persistiu integralmente ao final do período de acompanhamento, já que houve diferença

estatística entre a pontuação da BIT imediatamente após o final da intervenção e a pontuação da BIT

após o período de acompanhamento (p = 0,043). Apesar disso, a pontuação da BIT após o período de

acompanhamento permaneceu maior do que a pontuação da BIT inicial(p = 0,043) o que demonstra

uma preservação parcial dos efeitos benéficos do protocolo.(figura 6).

Evolução do Grupo Tratado

0

20

40

60

80

100

120

140

BIT-pré BIT-pós BIT-follow up

BIT

DN

RA

MD

NS

MM

Figura 4 – Evolução do grupo tratado na BIT

Evolução do Grupo Controle

0

20

40

60

80

100

120

140

BIT-pré BIT-pós

BIT

TM

VM

EP

BS

JM

Figura 5 - Evolução do grupo Controle na BIT

Tabela 2 – Diferença entre os grupos na BIT

Grupo controle (n=5)

Exploração visual (n=5)

P-valor (Mann-Whitney Test)

Mediana Min/Max Mediana Min/Max BIT-pre 81 37 / 110 102 38 / 122 0,421 BIT-pos 82 40 / 112 126 100 /136 0,016** Diferença (Δ) 2 1 / 3 25 14 / 62 0,008** P-valor (Wilcoxon Test)

0,041*

0,043*

* Diferença significativa entre BIT pré e BIT pós (Wilcoxon Test) ** Diferença significativa entre os grupos (Mann-Whitney Test)

Evolucão do grupo tratado - periodo de acompanamento

0

20

40

60

80

100

120

140

BIT-pré BIT-pós BIT-follow up

BIT

DN

RA

MD

NS

MM

Figura 6 – Evolução do grupo tratado no período de acompanhamento na BIT

O protocolo de exploração visual também foi capaz de remediar os sintomas heminegligentes

nas AVD, já que todos os pacientes tratados obtiveram melhora na pontuação da MIF. No final da

intervenção a pontuação da MIF mudou significativamente no grupo tratado, enquanto que não houve

mudança estatisticamente significativa no grupo controle ao final do período de observação (Figure 7 e

8). Ao analisarmos o efeito do tratamento pela comparação da variação da MIF, ao longo do estudo,

entre os grupos não encontramos diferença estatística (p valor = 0,151). Entretanto, reconhecendo que o

item de cuidados pessoais da MIF é mais sensível a mudanças geradas pela heminegligência,

comparamos a variação da pontuação deste item entre os grupos e observamos que o grupo submetido

ao protocolo de intervenção generalizou a melhora nas testagens especificas para tarefas funcionais. O

efeito positivo a favor do grupo tratado é comprovado por uma diferença estatisticamente significativa

entre os grupos na variação da pontuação do item de cuidados pessoais da MIF (p = 0,016) (Tabela 3).

Os benefícios gerados pelo protocolo nas tarefas funcionais persistiram parcialmente após o período de

acompanhamento já que não houve mudança significativa entre as pontuações do item de cuidados

pessoais após esse período e logo após o tratamento (p = 0,059).

Evolução do Grupo Tratado

0

20

40

60

80

100

120

MIF-pré MIF-pós MIF-follow up

MIF

DN

RA

MD

NS

MM

Figura 7 – Evolução do grupo tratado na MIF

Evolução do Grupo Controle

0

20

40

60

80

100

120

MIF-pré MIF-pós

MIF

TM

VM

EP

BS

JM

Figura 8 - Evolução do grupo Controle na MIF

Tabela 3 – Diferença entre os grupos no item de cuidado pessoal da MIF

Grupo controle (n=5)

Exploração visual (n=5)

P-valor (Mann-Whitney Test)

Median Min/Max Median Min/Max CP-pre 18 16 / 36 23 7 / 36 0.690 CP-pos 19 17 / 36 25 15 / 38 0.548 Diferença (Δ) 0 0 / 1 2 1 / 8 0.016** P-valor (Wilcoxon Test)

0.157

0.042*

* Diferença significativa entre CP pré e CP pós (Wilcoxon Test) ** Diferença significativa entre os grupos (Mann-Whitney Test)

6- DISCUSSÃO

A melhora gerada pelo protocolo de exploração visual em escalas específicas para

heminegligência já foi demonstrada por outros estudos 101, 102, embora ainda não haja consenso14.

No presente estudo, assim como no trabalho de Weinberg et al102 , os pacientes que obtiveram

menor pontuação no BIT inicial foram aqueles que, em valores absolutos, mais melhoraram. Dois

pacientes deixaram de ser heminegligentes pela BIT ao final do tratamento e tais resultados foram

mantidos após três meses do fim da intervenção. Ao contrario de alguns estudos citados, em nosso

estudo, os efeitos da intervenção foram generalizados para as atividades funcionais, fato demonstrado

pelo aumento substancial no item de cuidados pessoais da MIF.

O bom resultado do nosso protocolo de exploração visual pode ter sido influenciado pela

rotação de tronco que em determinadas situações nossos pacientes tinham que fazer para realizar

algumas tarefas do protocolo. Essa rotação teve efeito positivo na redução da heminegligência segundo

Karnath 111. Por esse motivo, nosso protocolo se assemelha ao utilizado por Wiart105, que tinha tarefas

de exploração visual com rotação de tronco e que também encontrou resultados semelhantes aos nossos

em relação a melhora tanto na BIT quanto na MIF, porém nosso seguimento evolutivo após o

treinamento foi maior que o utilizado por esses autores e todos os pacientes inclusos já se encontravam

na fase crônica da síndrome em oposição aos 2 pacientes do estudo de Wiart. Outra diferença

importante em relação aos demais foi o tempo reduzido de terapia específica (10 horas). Esse tempo é

metade do que foi utilizado por Wiart105 e um quarto daquele estipulado por Antonucci106 para uma

melhora significante dos sintomas heminegligentes, assim, acreditamos que os nossos resultados

poderiam ser ainda melhores se aumentássemos o tempo da terapia. O tempo reduzido do tratamento

gerando resultado positivo é interessante, pois está em oposição aos modelos atuais de reabilitação pós

AVC em que a intensividade do treino é considerada fator importante para melhora dos pacientes, além

de ser um dos principais motivos para o sucesso da terapia de restrição e indução do movimento

(TRIM). Outro fato relevante é que um dos pacientes do grupo tratado já havia uma lesão há 131

meses e mesmo assim melhorou na BIT (102 pontos na avaliação inicial, 124 após a intervenção e 121

após o período de acompanhamento)e na MIF (94 na avaliação inicial, 105 após a intervenção e 102

após o período de acompanhamento) o que sugere que o treinamento pode ser efetivo mesmo em

pacientes com muitos anos de lesão. Além disso, quando comparado aos demais, nosso protocolo é de

simples administração, sendo viável de ser realizado na maioria das clínicas de reabilitação, o que não é

verdade para o protocolo também bem sucedido de Wiart e cols.

Observamos também que ao longo das sessões os pacientes ficavam mais motivados, o que

contribuiu para uma boa aceitação do protocolo. Durante o treinamento de exploração visual o

terapeuta tem como, de forma objetiva, verificar a qualidade em que está sendo realizada a tarefa e

conseqüentemente orientar o paciente fornecendo feedback e reforço positivo quando a tarefa era bem

sucedida.

Quanto aos resultados do grupo controle na BIT, percebemos que, ao contrário do grupo tratado

o intervalo de confiança foi pequeno e a variação entre os pacientes homogenia. Deste modo, apesar de

pequena e insignificante clinicamente, a variação da BIT inicial e final foi estatisticamente

significativa, o que pode ser um indicativo de uma adaptação ao teste inicial .

Apesar da pequena, mas ainda assim significativa diminuição da pontuação da BIT após o

período de acompanhamento em relação a pontuação da BIT após o final da intervenção, o grupo

submetido ao protocolo de exploração visual teve preservação parcial dos efeitos benéficos após o

período de acompanhamento já que a pontuação da BIT após esse período permaneceu

significativamente maior do que a pontuação da BIT no início do estudo. Além disso, a melhora no

item de cuidados pessoais da MIF não diminuiu de forma significativa após o período de

acompanhamento o que sugere preservação parcial da generalização do treino para atividades

funcionais.

Resumindo, as vantagens do protocolo de exploração visual utilizado constituem -se no baixo

custo e na simples administração do protocolo, que o torna viável de ser utilizado na maioria dos

centros de reabilitação, assim como a boa aceitação dos pacientes com o tratamento, o tempo reduzido

do tratamento quando comparado com outros estudos e a inclusão de um período de acompanhamento

maior do que a maioria dos estudos até aqui citados.

É necessário ressaltar que enfrentamos muitas dificuldades durante o estudo, como por

exemplo, a falta de um cadastro de pacientes com AVC que tinham passado pelo hospital além da falta

de integração entre os vários serviços em que esses pacientes poderiam estar freqüentando (Neurologia,

Clínica Médica, Cardiologia, Medicina Física e Reabilitação, Fisioterapia). Por isso, embora

reconhecendo que a pequena amostra restringiu a generalização dos nossos resultados, acreditamos

que aumentar o número de pacientes do estudo seria inviável em uma dissertação de mestrado cujo

prazo é reduzido. Como se não bastasse, muitas vezes ao encontrarmos pacientes que se enquadravam

aos critérios de inclusão esbarrávamos na impossibilidade dos pacientes comparecerem ao HUCFF

devido a dificuldade de locomoção e a localização do hospital.

7- CONCLUSÃO

Com base nos resultados do presente estudo conclui-se que:

• A exploração visual foi capaz de promover melhora estatisticamente significativa nos resultados

obtidos na BIT dos pacientes estudados;

• A exploração visual foi capaz de promover melhora estatisticamente significativa nas AVD dos

pacientes heminegligentes;

• Os resultados obtidos na BIT são coerentes com os resultados apresentados na escala de

independência funcional (MIF), já que os pacientes tratados apresentaram melhora

estatisticamente significativa na BIT e no item de cuidados pessoais da MIF;

• Um protocolo simples de exploração visual, aplicado durante cinco semanas em pacientes

crônicos, após acidente vascular cerebral, foi capaz de promover uma melhora estatisticamente

significativa nos sintomas negligentes avaliados pela BIT e nas atividades funcionais avaliadas

pelo item de cuidados pessoais da MIF. Os resultados positivos da intervenção foram

parcialmente mantidos após o período de acompanhamento.

Referências:

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91Smania N, Bazoli F, Piva D, Guidetti G. Visuomotor imagery and rehabilitation of neglect. Arch Phys Med Rehabil. 1997; 78: 430-36. 92Niemeier JP. The lighthouse strategy: use of a visual imagery technique to treat inattention in stroke patients. Brain Injury. 1998; 12: 399-406. 93Bailey MJ, Riddoch MJ. Heminegect in stroke patients. Part 2. Rehabilitation techniques and strategies: a summary of recent studies. Physical Therapy Review. 1999; 4: 77-85. 94 Luauté, J.; Michel, C.; Rode, G.; Pisella, L.; Jacquin-Courtois, S.; Costes, N.; Cotton, F.; Le bars, D.; Boisson, D.; Halligan, P.; Rossetti, Y. Functional anatomy of the therapeutic effects of prism adaptation on left neglect. Neurology, v. 66, p. 1859-1867, 2006. 95 Frassinetti, F.; Angeli, V.; Meneghello, F.; Avanzi , S.; Lavadas, E. Long-lasting amelioration of visuospatial neglect by prism adaptation. Brain, v. 125, p. 608-623, 2002. 96 Milner, A.D.; Mclntosh, R.D. The neurological basis of visual neglect. Curr Opin Neurol, v. 18, p. 748-753, 2005. 97 Malhotra, P.; Coulthard, E.; Husain, M. Hemispatial neglect, balance and eye-movement control. Curr Opin Neurol, v. 19, p. 14-20, 2006. 98Rode G, Perenin MT, Honore J, Boisson D. Improvement of the motor deficit of neglect patients through vestibular stimulation: evidence for a motor neglect component. Cortex; 34: 253-261. 99Arai T, Ohi H, Sasaki H, Nobuto H, Tanaka K. Hemispatial sunglasses: effect on unilateral spatial neglect. Arch Phys Med Rehabil. 1997; 78: 239-42. 100Pizzamiglio L, Fasotti L, Jehkonen M, Antonucci G, Magnotti L, Boelen D, Asa S. The use of optokinetic stimulation in rehabilitation of the hemineglect disorder. Cortex. 2004; 40: 441-450. 101Weinberg J, Diller L, Gordon WA. Visual scanning training effect on reading-related tasks in acquired right brain damage. Arch Phys Med Rehabil. 1977; 58: 479-86. 102 Weinberg J, Diller L, Gordon WA. Training sensory awareness and spatial organization in people with right brain damage. Arch Phys Med Rehabil. 1979; 60: 491-96. 103 Calvanio R, Levine D, Petrone P. Elements of cognitive rehabilitation after right hemisphere stroke. Behav Neurol 1993; 11: 25-57. 104Antonucci G, Guariglia A., Judica. Effectiveness of neglect rehabilitation in a randomized group study. J Clin Exp Neuropsychol. 1995; 17: 383-89.

105Wiart L, Bon Saint Come A, Debelleix X, Petit H, Joseph PA, Mazaux JM, Barat M. Unilateral neglect syndrome rehabilitation by trunk rotation and scanning training. Arch Phys Med Rehabil. 1997; 78: 424-429. 106Robertson IH, Gray JM, Pentland B, Waite LJ. Microcomputer-based rehabilitation for unilateral left visual neglect: a randomized controlled trial. Arch Phys Med Rehabil. 1990; 71: 663-68. 107Wagenaar RC, Van Wieringen PC, Netelenbos JB, Meijer OG, Kuik DJ. The transfers of scanning training effects in visual inattention after stroke: five single case studies. Disabil Rehabil. 1992; 14: 51-60. 108Bowen A, Wenman R. The rehabilitation of unilateral neglect: a review of the evidence. Reviews in Clinical Gerontology. 2002; 12: 375–373. 109Jutai JW, Bhogal SK, Foley NC, Bayley M, Teasell RW, Speechley MR. Treatment of Visual Perceptual Disorders Post Stroke. Top Stroke Rehabil. 2003; 10 (2): 77-106. 110Gordon WA, Hibbard MR, Egelko S. Perceceptual remediation in patients with right brain damage: a comprehensive program. Arch Phys Med Rehabil. 1985; 66: 353-59. 111 Karnath HO,Christ K, Hartje W. Decrease of contralateral neglect by neck muscle vibration and spatial orientation of trunk midline. Brain 1993; 116: 383-96.

ANEXO A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Eficácia de estratégias de reabilitação cognitiva em pacientes heminegligentes após o acidente vascular cerebral

Prezado (a) paciente, O acidente vascular cerebral (AVC ou “derrame”) ocorre por um entupimento ou rompimento de um vaso sanguíneo, geralmente uma artéria, reduzindo a passagem de sangue em certas áreas do cérebro. O AVC pode causar várias dificuldades, sendo uma das principais causas de incapacidade em pessoas adultas. Entre as dificuldades que podem aparecer depois que uma pessoa teve um AVC, podem estar a perda de força de um lado do corpo, incapacidade para andar, alterações de fala e de comunicação. Uma alteração importante que está sendo estudada é a dificuldade que a pessoa que teve um AVC pode ter para fazer tarefas e atividades do dia-a-dia; nesse caso, o paciente pode perder o interesse e atenção para os fatos e ações que acontecem de um lado do corpo ou do espaço. Isso se dá geralmente do lado esquerdo do corpo. Este tipo de problema recebe o nome de síndrome da heminegligência. Hemi significa metade (metade do corpo); negligência quer dizer falta de interesse e atenção (para aquela metade do corpo). Encontrar melhores maneiras de tratar a heminegligência aumenta as chances de uma boa recuperação. Objetivos do estudo: Este estudo tem como finalidade verificar o efeito de algumas formas de tratamento e reabilitação em pessoas que tiveram um AVC e apresentam a síndrome da heminegligência. É por isso que precisamos de sua ajuda, mesmo sendo um momento difícil para você. Como será realizada a pesquisa? Você será avaliado três vezes durante a pesquisa, nestas avaliações você passará por testes simples que utilizarão apenas lápis e papel, por um teste com a ajuda de um computador e por um exame em que você terá de ficar alguns minutos deitado dentro de uma máquina sem se movimentar. Esse exame é chamado de Ressonância Magnética funcional. Todas essas avaliações não causarão nenhum tipo de dor e poderá ser interrompida em qualquer momento por você. Depois da primeira avaliação você começará o seu tratamento, com duração de uma hora, que será feito três vezes por semana dentro do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Laboratório de Neuropsicologia Cognição e Reabilitação Cognitiva. Seu tratamento será com atividades do dia-a-dia como, por exemplo, procurar um objeto sobre uma mesa, procurar um objeto dentro de uma sala, imaginar como é a sua casa e imaginar como você leva a mão até a boca. O tratamento terá duração de oito semanas e depois do tratamento, você será avaliado novamente com os mesmos testes da primeira avaliação. Três meses depois do final do seu tratamento, você fará a ultima avaliação que será igual às outras já realizadas. Caso você não possa comparecer regularmente ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Laboratório de Neuropsicologia Cognição e Reabilitação Cognitiva para a realização do tratamento, você ainda poderá contribuir com a pesquisa fazendo parte do grupo controle, ou seja, grupo que participará das avaliações periódicas e não participará da intervenção terapêutica. Quais são os riscos da pesquisa?

Não serão realizados procedimentos que possam prejudicar sua saúde. Você receberá atendimento específico e individual que visa ajudar você a perceber melhor o espaço e o seu corpo. Portanto, não ocorrem riscos durante o atendimento. Que benefícios pode haver em participar? Se você realizar todas as sessões de treinamento com a equipe preparada para isto, você poderá perceber que está melhorando sua capacidade de perceber melhor seu corpo, o meio ambiente e assim, facilitar as suas tarefas do dia-a-dia, tornando-se um pouco mais independente. Caso você não apresente melhora, será então discutida qual a melhor maneira de continuar o tratamento, sempre visando sua melhor recuperação e sua qualidade de vida. Caso você participe do grupo controle, você terá um acompanhamento e assim, poderá saber como está evoluindo o seu caso. E agora? Você deve pensar cuidadosamente se deseja ou não participar deste estudo. Se tiver dúvidas, discuta conosco até poder tomar uma decisão consciente. Se você optar por participar, qualquer informação sobre você e seu problema será confidencial, estando disponível somente para você, seus médicos e os pesquisadores envolvidos neste estudo. Nós pesquisadores temos o compromisso de divulgar os resultados da pesquisa no meio cientifico, sem que a sua identidade (nome) seja revelada em nenhum momento, lembramos que as divulgações dos resultados poderão ajudar no futuro outras pessoas que possuem a mesma dificuldade que você. Caso não deseje participar, isso não vai mudar em nada a forma do seu tratamento. Você pode também sair do estudo no momento em que desejar. Isto não vai interferir no seu acompanhamento neste hospital. Se precisar de mais informações, os pesquisadores responsáveis lhe fornecerão em qualquer momento que você deseje. Obrigado por dar sua atenção para ler este texto. Declaração de consentimento livre e esclarecido, e autorização: Eu fui convidado a participar do estudo para reabilitação cognitiva (capacidade de atenção, concentração, planejamento e realização de tarefas) em pacientes que sofreram um AVC e fui informado dos seguintes aspectos: • O objetivo da pesquisa é verificar a eficiência (eficácia) de algumas formas de tratamento e reabilitação em pessoas que tiveram um AVC e como conseqüência, apresentam a síndrome da heminegligência. • A natureza, os propósitos e métodos do estudo foram explicados pelo pesquisador responsável e meu consentimento é dado de forma voluntária, ficando claro que não receberei qualquer tipo de remuneração por participar do estudo; • Estou ciente de que neste estudo não existem riscos para minha saúde; • Eu dou permissão aos pesquisadores a terem acesso ao meu prontuário, para verificar as informações necessárias para a realização do estudo; • Estou também ciente que durante o estudo não serei identificado por pessoas que não participem do mesmo e que os resultados são confidenciais; • Também fui informado que posso me recusar a participar do estudo e que posso sair do mesmo quando desejar e que isto não irá interferir no meu tratamento. Data: ____/____/____ Nome do paciente: ___________________________________________________________ Assinatura: _________________________________________________________________ Endereço: __________________________________________________________________ Telefone: __________________________________________________________________ Se for outra pessoa responsável pelo paciente:

Nome do responsável: _________________________________________________________ Assinatura: _________________________________________________________________ Endereço: __________________________________________________________________ Grau de relação com o paciente: _________________________________________________ Telefone: ___________________________________________________________________ Acredito que expliquei a natureza e os detalhes do estudo de modo cuidadoso e respondi às questões e dúvidas exibidas pelo paciente e seus familiares. Creio que o consentimento é por ele dado de modo livre e adequadamente esclarecido. ___________________________________________________________________________ Fisioterapeuta: Fisioterapeuta: Manuel Alvim Leite Lopes Hebert Pereira Ferreira CREFITO 2/5435-LTF CREFITO 2/5161-LTF Telefone: (21) 8111-0784 Telefone: (21) 8742-1089 Laboratório de Neuropsicologia Laboratório de Neuropsicologia Cognição e Reabilitação Cognitiva Cognição e Reabilitação Cognitiva Telefone: (21) 2562-2233 Telefone: (21) 2562-2233 ___________________________________________________________________________ Prof. Dr.Charles André Profª Drª Lídia Cardoso CRM 52 38570-7 MAT.UFRJ 009000727 Departamento de Clinica Médica Departamento de Psiquiatria Serviço de Neurologia Laboratório de Neuropsicologia Telefone: (21) 2562-2738 Cognição e Reabilitação Cognitiva

Telefone: (21) 2562-2233

ANEXO B MEDIDA DE INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL

7 – independência completa (todo o tempo com segurança) 6 – independência modificada (órtese)

SEM AJUDA

N Í

V

E

L

Dependência modificada 5 – supervisão 4 – assistência mínima (indivíduo > ou = 75%) 3 – assistência moderada (indivíduo > ou = 50%)

Dependência completa 2 – assistência máxima (indivíduo > ou = 25%) 1 – assistência total (indivíduo > ou = 0%)

COM AJUDA

CUIDADOS PESSOAIS ADMISSÃO ALTA A – alimentação B – auto cuidado C – banho D – vestuário (tronco e membros superiores) E – vestuário (quadril e membros inferiores) F – higiene

CONTROLE DE ESFÍNCTERES

G – manuseio de bexiga H – manuseio de intestino

MOBILIDADE

Transferência I – cama/cadeira, cadeira de rodas J – vaso sanitário K – chuveiro Locomoção L – marcha( ) CR( ) ambos( ) M – escadas

Comunicação

N – compreensão: auditiva( ) visual( ) ambas( ) O – expressão: vocal( ) não vocal( ) ambas ( ) Cognição social P – interação social Q – resolução de problemas R- memória

MIF total

ANEXO C BEHAVIORAL INATTENTION TEST – SUB TESTES CONVENCIONAIS

ANEXO D ARTIGO PUBLICADO

ANEXO E ARTIGO ENVIADO

Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas

Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo