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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE
POTENCIALIDADES DE UM QUINTAL AGROFLORESTAL
AGROECOLÓGICO EM SANTA RITA DA FLORESTA, CANTAGALO-
RJ
Gabriela de Castro Monteiro
ORIENTADORA: Prof. Dra. Ângela Alves de Almeida
CO-ORIENTADORA: Prof. Dra. Erika Cortines
TRÊS RIOS – RJ
JUNHO– 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE
POTENCIALIDADES DE UM QUINTAL AGROFLORESTAL
AGROECOLÓGICO EM SANTA RITA DA FLORESTA, CANTAGALO-
RJ
Gabriela de Castro Monteiro
Monografia apresentada ao curso de Gestão Ambiental,
como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel
em Gestão Ambiental da UFRRJ, Instituto Três Rios da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
TRÊS RIOS – RJ
JUNHO– 2018
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE
POTENCIALIDADES DE UM QUINTAL AGROFLORESTAL
AGROECOLÓGICO EM SANTA RITA DA FLORESTA, CANTAGALO-
RJ
Gabriela de Castro Monteiro
Monografia apresentada ao Curso de Gestão Ambiental
como pré-requisito parcial para obtenção do título de
bacharel em Gestão Ambiental da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, Instituto Três Rios da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Aprovada em 29/06/2018
Banca examinadora:
Prof. Dra. Ângela Alves de Almeida
Prof. Dr. Fábio Souto de Almeida
Zootecnista André Luiz Pereira
TRÊS RIOS – RJ
JUNHO– 2018
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a minha Orientadora Dra. Ângela Alves de Almeida por gentilmente
ter me ajudado e me guiado no decorrer desse trabalho, me dando todo o suporte necessário,
pela paciência e pelas observações sinceras e convenientes, qualidades pessoais, dentre outras,
que comprovam o seu dom para o magistério. E claro por ter se tornado uma grande “Mãe”
nesses últimos meses.
Agradeço a Deus, e aos meus pais Ronaldo e Jane pelo incentivo e principalmente por terem
batalhado tanto para me proporcionar condições para desenvolver meus estudos, e cujo estado
de satisfação é uma das minhas maiores recompensas. A toda minha família, irmãos, tios, avós
e amigos que sempre estiveram comigo em pensamentos positivos para dar o meu melhor
potencial.
Ao meu companheiro, divisor de almas amigo/irmão Lázaro da Cruz, que esteve comigo em
realmente todos os momentos dessa jornada, onde se tornou parte da minha família. Só tenho a
agradecer por todos os sacrifícios que é viver comigo, aguentando meus prazeres e derrotas e
mostrando com pequenos gestos o verdadeiro motivo da palavra companheirismo e amizade
sincera.
As minhas amigas de graduação, Beatriz Massacesi e Stefânia Rodrigues que para mim foram
muito importantes pois dividimos laços de amizade e nunca duvidamos que chegaríamos até
aqui. A minha amiga Bióloga Marcelle Cadilhe, minha atual inspiração de como saber lidar
com esse mundo de pessoas “mal-educadas” em relação ao meio ambiente. A minha amiga de
infância Yasmin Stuart, aquela amiga que está comigo em todas as horas que eu precisar.
Agradecer a minha co-orientadora Erika Cortines e o Mestrando André Luiz Pereira por me
conduzir em sábios conhecimentos para concretizar o meu trabalho.
Agradecer também toda atenção e aprendizado dada pelo professor Dr. Fabio Souto de Almeida
e dizer que fico imensamente feliz por fazer parte da minha banca.
Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã,
ainda assim plantaria a minha macieira. O que me
assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de
muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a
nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível
arte de viver como irmãos” (Martin Luther King).
RESUMO
Os quintais podem ser considerados Sistemas Agroflorestais Agroecológicos (SAFA’s) que
buscam manter o equilíbrio ecológico dos ecossistemas naturais, configurando-se, em uma
alternativa para a agricultura convencional. O objetivo deste trabalho foi em realizar um
levantamento qualitativo da flora e da fauna doméstica do quintal agroflorestal agroecológico
em Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ. Foi realizada pelo método florístico a identificação
das espécies do quintal, suas potencialidades e aspectos que possam contribuir para a segurança
alimentar. As espécies vegetais foram classificadas de acordo com seus usos (Medicinal, Planta
Alimentícia Não Convencional; Alimentícia e Ornamental). Com relação aos animais
domésticos foi analisado sua função para consumo direto ou uso de seus subprodutos. As
plantas foram identificadas junto a especialistas e herbários virtuais (JABOT) e conferidas por
meio das listas digitais disponíveis (Flora do Brasil e The Plant List). Neste quintal, os
produtores desempenham diversas atividades, dentre as quais se destacaram o cultivo de
frutíferas, plantas ornamentais, medicinais, Plantas Alimentícias Não Convencionais
(PANC’s), além da criação de animais domésticos. No total foram encontradas 78 espécies
pertencentes a 20 famílias botânicas. Dentre as famílias, as que apresentaram maior riqueza de
espécies foi Asteraceae (9), Solanaceae (5), Euphorbiaceae (4) e Lamiaceae (4). As plantas com
maiores potenciais de uso (48% das espécies) foram as medicinais com 58 espécies, seguida
pelas alimentícias (30%; 38), PANCs (8%; 10) e as ornamentais (14%;17). A “vinca”
( Catharanthus roseus (L.) Don)- Apocynaceae, além de ornamental, possui função medicinal
devido à descoberta do alcaloide vincristine, utilizado no tratamento de linfomas e leucemia em
crianças e adultos. O “caruru” Amaranthus é PANC e possui valor medicinal. Além de diversas
frutíferas. A maior importância com relação aos animais domésticos foi o fornecimento de
insumos (esterco) que pode ser usados na adubação do quintal, além da força motriz de cavalos
e bois. Conclui-se que os quintais agroflorestais agroecológicos podem ser uma alternative
viável para o uso do solo nos arredores das casas e contribuir para a segurança alimentar, a
partir da diversificação da produção, proteção dos solos, mananciais e contribuição com a renda
familiar, bem estar e saúde.
Palavras-chave:quintal produtivo, plantas alimentícias não convencionais, plantas medicinais.
ABSTRACT
Backyards are Agroflorestry Agroecological Systems (SAFA's) that seek for ecological balance
of natural ecosystems, becoming an alternative to traditional agriculture. The importance of this
work was to carry out a qualitative survey of the flora and domestic fauna of a SAFA in Santa
Rita da Floresta, Cantagalo,RJ. Floristic identification of species and its potential, may contribute
to food security; Vegetal species where classified according to their use (Medicinal, Non
Conventional food plants; Food Plants; Ornamental). Domestic animal where analysed as their
role on direct consumption or its byproducts. Plants were identified by specialists and virtual
herbarium (JaBot) and names conferred at Flora do Brasil and The Plant List). At the SAFA
farmers carry out various activities, among which are the cultivation of fruits, ornamental,
medicinal plants, unconventional Food Plants (PANC's), as well as animal domestication. It was
found 78 species, belonging to 20 bothanical families. In between families, the ones with major
species richness were Asteraceae (9), Solanaceae (5), Euphorbiaceae (4) e Lamiaceae (4). The
medicinal plants had the best potential of use with 58 species (48% of the species), followed by
food plants (30%; 38), PANCs (8%; 10) and ornamental (14%;17). The “vinca” ( Catharanthus
roseus (L.) Don)- Apocynaceae is ornamental and also has medical functions by discovery of
alkaloids vincristine, use on Lymphomas and leukemia on children and adults. The “caruru”
Amaranthus it’s a PANC and has medical vallues. The major importance for domestic animal was
natural inputs (manure) that can be used for plant nutrition, so as animal traction from cattle and
horses. ConcludeConclusions are that SAFAs can be an viable alternative for soil use around the
housesand contribute to food security by diversification of production, soil and water protection,
so as contributions to family, wellness and health.
Keywords: Productive Yard, unconventional food plants, Medicinal Plants, Food Security.
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS
ABA – Associação Brasileira de Agroecologia.
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations
OMG- Organização Mundial de Saúde.
PANCS – Plantas Alimentícias Não Convencionais
SAFs– Sistemas Agroflorestais
SAFAs- Sistemas Agroflorestais Agroecológicos
SARE – Nome fantasia Sare Drograria
SICAR – Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural.
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
MMA- Ministério do Meio Ambiente
TBC- Toda biologia.com
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Mapa regional do Estado do Rio de Janeiro, com destaque para a área de estudo na
Chácara São Judas Tadeu, no município de Cantagalo, RJ. Fonte: <mapa-
http://www.caurj.gov.br/retratos-da-arquitetura-4/>; Imagem modificada de Google Earth Pro. 15
Figura 2. Remanescentes florestais de Mata Atlântica para o município de Cantagalo, RJ. Fonte:
SOS Mata Atlântica (2016). ........................................................................................................... 17
Figura 3. Porcentagens de espécies vegetais de acordo com suas funcionalidades em um SAFA na
Chácara São Judas Tadeu em Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ. ........................................... 18
Figura 4. Famílias botânicas registradas no Sistema Agroflorestal Agroecológico da Chácara São
Judas Tadeu, Cantagalo, RJ............................................................................................................ 19
LISTA DE FIGURAS APÉNDICE 1
Figura51. Especies frutíferas com potencial para uso medicinal encontradas na chácara São Judas
Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: a) Passiflora edulis Sims, maracujá; b)Malphighia puniciflora
DC., acerola; c) Citrus reticulata Blanco, tangerina; d)Citrus sinensis (L.) Osbeck, laranja. ....... 35
Figura62. Especies vegetais com potencial para uso medicinal encontradas na chácara São Judas
Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: e) Catharanthus roseus (L.) G.Don, vinca; f) Cecropia
pachystachya A. Lituratus, embaúba; g) Sida rhombifolia L., chá-bravo; h) Achyrocline satu-
reioides (Lam) DC, macela-do-campo. .......................................................................................... 36
Figura73. Especies vegetais com potencial para uso medicinal e PANCs encontradas na chácara
São Judas Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: i) Amaranthus viridis L., caruru; j) Sonchus oleraceous
L, serralha; l) Emilia sonchifolia (L.) DC. ex Wight, emilia (Fonte: Flora de Santa Catarina); m)
Bidens pilosa L, picão-preto (Fonte: Beleza da terra). ................................................................... 37
Figura84. Especies vegetais com potencial para uso ornamental encontradas na chácara São Judas
Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: m)Euphorbia milii Des Moul., coroa-de-cristo; o) Duranta erecta
L, pingo-de-ouro; p)Sansevieria trifasciata Prain, espada-de-são-jorge; q) Canna indica L,
bananeirinha-de-jardim. ................................................................................................................. 38
Figura95. Espécies de animais domésticos encontradas na chácara São Judas Tadeu, Cantagalo,
RJ, são estas: r)Gallus gallus domesticus L., galinha-caipira; s)Capra aegagrus hircus L., cabrito;
t) Sus scrofa domesticus L., porco; u)Bos taurus L., bovino. ........................................................ 39
Figura106. Outras espécies encontradas no local apontadas no estudo na chácara São Judas Tadeu,
Cantagalo, RJ, são estas: v) Momordica charantia L, melão-de-são-caetano; x) Hippobroma
longiflora (L.) G.Don, arrebenta-boi; w) Andropogon bicornis L., rabo-de-burro; y) Phaseolus
vulgaris L, feijão. ........................................................................................................................... 40
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Listagem florística das plantas identificadas no quintal agroflorestal agroecológico, na
chácara São Judas Tadeu, Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ. Onde: M = medicinais; P = plantas
alimentícias não convencionais; A = alimentícias; O = ornamentais. ........................................... 19
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Listagem de espécies de animais domésticos no quintal agroflorestal agroecológico em
Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ. ........................................................................................... 26
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 14
1.2 Objetivos Específicos ...................................................................................................... 14
2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................... 15
2.1 ÁREA DE ESTUDO ....................................................................................................... 15
2.2 Metodologia ..................................................................................................................... 17
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 18
3.1 ESPÉCIES COM USOS POTENCIAIS .......................................................................... 22
3.2 ANIMAIS DOMÉSTICOS .............................................................................................. 26
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 27
5. AGRADECIMENTOS ........................................................................................................... 28
6. REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 28
7. APÊNDICE 1 ......................................................................................................................... 35
12
1. INTRODUÇÃO
A agricultura passa por um processo contínuo de modernização, via incorporação de
novas tecnologias, gerando por um lado o crescimento econômico e, por outro, riscos potenciais
ao meio ambiente. Esses riscos são causados principalmente por práticas inadequadas de manejo
do solo e das culturas, desmatamento, perda da biodiversidade, salinidade, desertificação (Foley
et al 2011), erosão dos solos (Stocking 2003) e contaminação dos recursos naturais (Barboza et
al 2012).
O sistema convencional de agricultura convencional é considerado altamente dependente
de insumos externos, como fertilizantes químicos e agrotóxicos (Adl et al. 2011), que podem,
quando utilizados de forma inadequada, provocar contaminação de solos, água e ar, além de
causar resistência de pragas e aumento das emissões de gases de efeito estufa (Tscharntke et al.
2012).
“A alimentação na sociedade ocidental moderna, reflete a lógica da grande escala, que
visa a supremacia da acumulação e do lucro sobre os demais valores.” (Brack 2016). Assim
todos são reféns das monoculturas, porém a produção de alimentos, uma vez que a nossa dieta
está baseada em pouquíssimas espécies controladas por oligopólios de sementes e agrotóxicos da
agricultura industrial. Já na virada do milênio, a própria Organização das Nações Unidas para a
alimentação e agricultura (FAO) alertou para o fato de que 75% de nossas variedades de plantas
cultivadas e animais domesticados desapareceram (Brack 2016).
A agroecologia é uma ciência vista como um novo paradigma que pode substituir a
agricultura convencional com uma abordagem holística no que concerne as questões ambientais
e sobretudo as questões humanas. Tem como fator básico fornecer princípios ecológicos para
o uso racional dos recursos naturais, e que sejam culturalmente sensíveis, socialmente justos
e economicamente viáveis. Surge como mecanismo de transformação da situação atual da
agricultura, preocupando-se não apenas com a cadeia produtiva e a renda, mas com a relação
ser humano e ambiente, buscando modelos sustentáveis para o campo (Gliessman 2001, Altieri
2002, Caporal et al. 2009).
Os quintais agroflorestais se assemelham aos quintais produtivos, pois apresentam uma
enorme variedade de espécies expontaneas com potencial de uso. Contribuem para a segurança
alimentar e estabilidade econômica dos agricultores familiares, e para o equilíbrio ecológico
como um todo (Oklay 2004). Geralmente as espécies selecionadas pelos agricultores para esses
13
espaços apresentam um alto índice de produtividade e a não utilização de agrotóxicos (Oklay
2004).
Quintais agroflorestais são áreas de produção, localizados próximo da casa, onde se
cultiva uma variedade de espécies agrícolas e florestais, envolvendo também a criação de
pequenos animais domésticos ou domesticados. Essa prática é encontrada em todas as regiões
tropicais do mundo e tem como característica principal a grande diversidade de produção como:
alimentos, ervas medicinais, fibras, artesanato, ornamental, sombra, religião e outros produtos
de uso na propriedade durante todo ano (Dubois 1996). Pouca atenção de estudos ainda tem sido
dada a essas práticas, mesmo sabendo a importância dos quintais em vários aspectos.
As vantagens dos quintais agroflorestais são que muitas árvores e arbustos utilizados
nestes sistemas têm a função de adubar, proteger e conservar o solo (Viana et al 1996). Os
sistemas agroflorestais são quase sempre manejados sem aplicação de agrotóxicos ou requerem
quantidades mínimas dessas substâncias químicas (Viana et al 1996). Além de exercerem papel
importante para a segurança alimentar dos agricultores familiares, uma vez que a maioria das
espécies é usada para alimentação, assim como na medicina popular (Constantin 2005, Rosa et
al 2007).
Plantas medicinais são todos os vegetais que contenham um ou mais de seus órgãos,
substâncias que possam ser utilizadas para fins terapêuticos ou que possam ser empregadas
como precursores de semi sínteses químicas farmacêuticas. Organização Mundial de Saúde
(OMS).
As PANCs, ‘Plantas Alimentícias Não Convencionais’ é um acrônimo para categorizar
o uso alimentício de plantas que não sejam corriqueiras do dia a dia da grande maioria da
população de uma região, de um país ou mesmo do planeta (Kinnup & Lorenzi 2014).
É importante ressaltar que existem diferenças na diversidade de espécies observadas
entre quintais agroflorestais no meio rural e no ambiente urbano, pois com a urbanização em
massa nas grandes cidades as populações tendem a perder o contato com a terra e práticas
agrícolas que poderiam ser incorporadas no ambiente urbano deixam de ser utilizadas (Moura
& Andrade 2007).
Os quintais agroflorestais se assemelham aos Sistemas Agroflorestais (SAFs) são
sistemas agrícolas que misturam, no mesmo espaço e ao mesmo tempo, cultivos agrícolas com
espécies arbóreas (Didonet 2016). Também podem ser abordados Sistemas Agroflorestais
Agroecológicos (SAFAs) pois são excelentes para conservação dos recursos naturais locais,
fornecem alimento e energia, recuperam áreas degradadas, preservam e resgatam recursos
14
hídricos, recompõem a biodiversidade do solo, da flora e da fauna e contribuem enormemente
para que o equilíbrio ecológico do ecossistema seja reestabelecido (Didonet 2016).
Consistem em consorciar em uma mesma área, árvores com cultivos agrícolas e/ou
animais, tanto em áreas externas como pasto, ou internas ao redor da sede. A interação entre
essas espécies mantém uma produção de mínimo impacto para o agricultor sem degradar o meio
ambiente. As árvores dos SAFAs, protegem, conservam e adubam o solo de intempéries
climáticas possuem., enriquecer de nutrientes as camadas superficiais do solo, pois podem estar
associadas com bactérias diazotróficas (Dubouis, 1996). Desta forma, a não utilização de
agrotóxicos, garante a qualidade sanitária dos produtos e corroboram para a segurança alimentar
agenciados aos consumidores (ANVISA 2006).
O uso das práticas agroecológicas nos SAFAs influenciam diretamente na soberania,
segurança alimentar e nutricional e consequentemente a qualidade de vida das famílias que
trabalham utilizando essa metodologia (Damasceno 2010, Chagas el al. 2014). Neste contexto,
a agroecologia é uma nova abordagem da agricultura que integra diversos fatores na avaliação
dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos e na sociedade como um todo.
A agroecologia representa um conjunto de técnicas e conceitos com objetivos de produzir
alimentos saudáveis sem o uso de agrotóxicos e com o uso racional dos recursos naturais (Altieri
2008).
Nesse estudo foi realizado o levantamento da flora e da fauna doméstica de um SAFA,
vislumbrando conhecer as espécies cultivadas e os animais domésticos. Assim, espera-se gerar
informações futuras sobre a viabilidade produtiva e ambiental desse sistema de cultivo e
facilitar a escolha de espécies para a implementação de novos SAFAs.
1.1 OBJETIVO GERAL
Realizar um levantamento qualitativo da flora e fauna doméstica do Sistema Agroflorestal
Agroecológico em Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ.
1.2 Objetivos Específicos
• Identificar as espécies de plantas com potencial de uso que contribuam para
segurança alimentar;
• Classificar as espécies vegetais de acordo com seus usos;
• Analisar a função dos animais domésticos e seus subprodutos no SAFA estudado.
15
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 ÁREA DE ESTUDO
O estudo foi realizado em Santa Rita da Floresta, distrito do munícipio de Cantagalo,
estado do Rio de Janeiro. Localizado na Região Serrana Fluminense (Figura 1).
Figura 1. Mapa regional do Estado do Rio de Janeiro, com destaque para a área de estudo na Chácara
São Judas Tadeu, no município de Cantagalo, RJ. Fonte: <mapa-http://www.caurj.gov.br/retratos-
da-arquitetura-4/>; Imagem modificada de Google Earth Pro.
16
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
2009, estimou-se uma população residente de 20.540 habitantes. O contingente populacional
urbano é de, aproximadamente, 65% do total, em oposição aos 35% de população residente
em áreas rurais. Possui uma extensão territorial total de 719,3 km2, estando a uma distância
de 200 km da capital do Rio de Janeiro. A sede Municipal de Cantagalo localiza-se a uma
altitude de 391 metros, sendo o relevo fortemente ondulado, alternando morros cujos topos
são arredondados com encostas, variando entre 30° e 40°. Tal relevo também é conhecido
como ‘Mares de morros’ (IBGE 2018).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente o clima é classificado como Tropical de
Altitude, com a temperatura média variando entre 19℃ e 26℃ e duas estações do ano bem
definidas: um verão caracteristicamente chuvoso, com mais de 80% de precipitação, e
inverno predominantemente seco. Em Relação aos aspectos hidrográficos, o município
insere-se na Região Hidrográfica VII referente ao rio “Dois Rios” e seus afluentes, os rios
Grande, Negro, que desaguam no rio Paraíba do Sul (Rio De Janeiro 2013). Pelo centro da
cidade cortam os córregos São Pedro, originário na localidade de Batalha, e o Lavrinhas,
vindo do município de Cordeiro (Prefeitura Municipal de Cantagalo 2018).
Cantagalo está inserido no bioma Mata Atlântica com sua fitofisionomia em floresta
ombrófila densa submontana onde possui altitudes em torno de 500m (Brasil channel 2018).
Esta formação é caracterizada por espécies que variam de acordo com a latitude, ressaltando-
se também a importância do fator tempo nesta variação ambiental (IBGE 2012). A maior
parte dos fragmentos florestais do município encontram-se na serra de Santa Rita da Floresta.
No período de 2015-2016 Cantagalo apresentava apenas 12% da cobertura florestal ou 348
ha de florestas remanescentes (SOS Mata Atlântica 2018) (Figura 2).
17
.
Figura 2. Remanescentes florestais de Mata Atlântica para o município de Cantagalo, RJ.
Fonte: SOS Mata Atlântica (2016).
A Propriedade tem 50,08 ha, o que corresponde a 1,43 módulos fiscais e está localizada nas
coordenadas geográficas Latidude 21°53'06,34" S e Longitude 42°28'47,16" O, apresentando área
consolidada de 37,05 ha (SICAR 2018). O SAFA apresentou uma área total de 1,50 ha e encontra-
se no entorno da sede da propriedade (ver Figura 1).
2.2 Metodologia O levantamento florístico foi realizado em três visitas ao quintal agroflorestal em
agosto de 2017, março e abril de 2018, para demarcar a área, catalogar, fotografar e
identificar as espécies vegetais encontradas. As plantas foram identificadas junto a
especialistas, herbários virtuais e sítios eletrônicos: Flora do Brasil 2020 (o mais usado para
conferência dos nomes e dados sobre distribuição e estado de conservação das plantas),
18
Reflora, Jabot, The Plant List.(mais usado para conferência de nomes científicos). E ainda,
para identificar as PANCs foi utilizada bibliografia auxiliar (Kinnup & Lorenzi 2014).
As espécies encontradas foram classificadas em Medicinais, PANCs, Alimentícias e
Ornamentais para melhor apresentação e discussão das espécies (Lorenzi, 1998; Lorenzi e
Souza 1999, Lorenzi 2002, 2003, 2009; Lorenzi et al. 2010, Kinnup & Lorenzi 2011, 2014).
O espaço ao redor do SAFA comporta a criação de aves, pequenos animais como
porcos e cabritos. Quando existe a sobra de alimentos tubérculos, legumes, frutas e verduras
elas se transformam em alimento para aves e animais, logo nada se perde. As aves e os
animais também produzem carnes e ovos que são fontes de proteínas e são importantes na
alimentação e nutrição. Além disso, as aves e animais são bons fornecedores de esterco que
garantem a fertilidade do solo bem como são ótimos na prevenção e controle de insetos
principalmente as aves. Elas têm um importante papel no controle biológico (Pedrosa 2016).
Os animais domésticos foram identificados em (TBC 2018)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No SAFA foram contabilizadas 78 espécies vegetais com algum tipo de uso (Tabela
1). Dos quatro usos pré-definidos para a classificação dos dados, predominaram as
medicinais (58 espécies), PANCs (10 espécies), Alimentícias (38 espécies) e ornamentais
(17 espécies) (Figura 3).
Figura 3. Porcentagens de espécies vegetais de acordo com suas funcionalidades em um SAFA na
Chácara São Judas Tadeu em Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ.
Verificou-se que cada espécie pode ter uma ou mais funções, fazendo com que
apareça em mais de uma categoria. Das espécies frutíferas, a maioria encontra-se também
19
entre as alimentícias e medicinais; as espécies PANCs podem ser alimentícias e medicinais;
as ornamentais podem ser medicinais. Os dados gerais indicam que o SAFA é rico em
plantas medicinais e tem uma riqueza de espécies multifuncionais.
No total 20 famílias botânicas foram representadas, sendo as mais comuns: Asteracea
(9 espécies), Euphorbiacea (4), Lamiacea (4) e Solanacea (5 espécies) e outras 11 famílias
com 1 espécie cada (Figura 5).
Figura 4. Famílias botânicas registradas no Sistema Agroflorestal Agroecológico da Chácara São
Judas Tadeu, Cantagalo, RJ.
Tabela 1. Listagem florística das plantas identificadas no quintal agroflorestal agroecológico, na
chácara São Judas Tadeu, Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ. Onde: M = medicinais; P = plantas
alimentícias não convencionais; A = alimentícias; O = ornamentais.
Família
botânica Nome Científico Nome Popular M P A O
Amaryllidaceae Allium fistulosum L. cebolinha x x
Amaranthaceae Amaranthus viridis L. caruru x x
Anacardiaceae Mangifera indica L. mangueira x x
Apocynaceae
Catharanthus roseus (L.) G.
Don vinca x x
Asclepias curassavica L. falsa-erva-de-rato x
Araceae
Colocasia esculenta (L.) Schott inhame x x
Philodendron martianum Engl. babosa-de-pau x
Xanthosoma sagittifollium L. taioba x x
Asparagaceae Sansevieria trifasciata Prain espada-de-são-jorge x
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9 Riqueza de espécies por família
20
Família
botânica Nome Científico Nome Popular M P A O
Asteraceae
Achyrocline satureioides (Lam.)
DC. macela-do-campo x
Arnica montana L. arnica-montana x
Baccharis dracunculifolia DC alecrim-selvagem x
Bidens pilosa L. picão preto x x
Dahlia pinnata Cav. dália x x
Emilia sonchifolia (L.) DC. ex
DC. emilia x
Kaunia rufescens (Lund ex
DC.) R.M. King eupatório x
Sonchus oleraceous L. serralha x x
Taraxacum officinale (L.) Weber
ex F.H.Wigg. dente-de-leão x x
Begoniaceae Begonia elatior Steud. begônia x x x
Bignociaceae
Handroanthus albus (Cham.)
Mattos ipê-amarelo x x x
Handroanthus sp. ipê-roxo x
Campanulaceae Hippobroma longiflora (L.)
G.Don arrebenta-boi x
Cannaceae Canna indica L. bananeirinha-de-jardim x
Caricaceae Carica papaya L. mamoeiro x x
Caryophyllaceae Spergula arvensis L. esparguta x
Convolvulaceae Ipomoea batatas (L.) Lam. batata-doce x x
Cucurbitaceae
Cucurbita sp. abóbora x x
Momordica charantia L. melão-de-são-caetano x x
Sechium edule (Jacq.) Sw. chuchu x
Dalvalliaceae Nephrolepis exaltata (L.)
Schott. samambaia x
Ebenaceae Diospyros kaki L.f.. caqui x x
Euphorbiaceae
Euphorbia hirta L. erva-andorinha x
Euphorbia heteroplylla L leiteira x
Euphorbia milii Des Moul. coroa-de-cristo x
Manihot esculenta Crantz mandioca x
Fabaceae Phaseolus vulgaris L. feijão x x
Lamiaceae
Hyptis suaveolens (L.) Poit. betônia x
Leonurus sibiricus L. erva-macae x
Mentha piperita L. hortelã-pimenta x x
Mentha sp. hortelã x x
Lauraceae Persea americana Mill abacateiro x x
21
Família
botânica Nome Científico Nome Popular M P A O
Lythraceae Punica granatum L. romã x x
Malphigiaceae Malpighia glabra L. acerola x x
Malvaceae
Abelmoschus esculentus (L.)
Moench quiabo x x
Sida rhombifolia L. chá-bravo x
Melastomataceae Clidemia hirta (L.) D. Don clidemia x
Miconia sp. micônia x
Musaceae Musa paradisiaca L. bananeira x x
Myrtaceae
Plinia cauliflora (Mart.) Kausel jabuticabeira x x
Psidium guajava L. goiabeira x x
Syzygium aqueum (Burm.f.)
Alston jambo-branco x
Onagraceae Ludwigia sp. ludwigia x
Orchidaceae Cattleya spp. catleia x
Oeceoclades maculata Lindl orquídea x
Oxalidaceae Averrhoa carambola L. carambola x
Palmae
Cocos nucifera L. coqueiro x x x
Dictyosperma album (Bory)
Scheff. palmeira-princesa x
Dypsis lutescens
(H.Wendl.)Beentje & J.Dransf. palmeira-areca-bambu x
Passifloraceae Passiflora edulis Sims maracujá x x
Poaceae Andropogon bicornis L. rabo-de-burro x
Saccharum officinarum L. cana-caiana x x
Proteaceae Grevillea banksii R.Br. grevílea-vermelha x
Rosaceae
Eriobotrya japonica
(Thunb.)Lindl ameixa-amarela x x
Prunus persica (L.) Batsch pêssego x x
Rosa chinensis Jacq. roseira x x x
Rubiaceae Borreria verticillata (L.) G.
Mey. vassourinha-de- botão x
Rutaceae
Citrus limon (L.) Osbeck limoeiro x x
Citrus reticulata Blanco tangerina x x
Citrus sinensis (L.) Osbeck laranjeira x x
Scrophulariaceae Buddleja stachyoides Cham. &
Schltdl calção-velho x x
Solanaceae
Capsicum baccatum L. pimenta-cumari x x
Capsicum frutescens L. pimenta-malagueta x x
Lycorpersicon sp. tomate-selvagem x x
Solanum americanum Mill. maria-pretinha x
Solanum lycopersicum L. tomateiro x x
22
Família
botânica Nome Científico Nome Popular M P A O
Urticaceae
Cecropia pachystachya Trécul. embaúba x
Urera bacifera (L.) Gaudich. ex
Wedd. urtiga-vermelha x x
Verbenaceae Duranta erecta L. pingo-de-ouro x
3.1 ESPÉCIES COM USOS POTENCIAIS
3.1.2. Caracterizaçaõ das espécies vegetais
De acordo com a tabela acima além das frutíferas muitas possuem propriedades
medicinais a exemplo o “maracujá” P. edulis utilizada no combate à dor de cabeça,
nervosismo, insônia, asma, diarreia. A “mangueira ”M. indica além de fornecer frutos, suas
folhas auxiliam no combate à natosse, gripe, feridas, bronquite, asma, cólicas, diarreia,
inflamações em geral (Zeraik 2010). A “goiabeira,” P. guajava além de fornecer frutos para
consumo in natura, seus frutos auxiliam diarreia, dor de garganta, tosse devido a presença
de taninos (Vendruscolo et al. 2005). E ainda, suas folhas possuem propriedades
antifúngicas sobre Candida albicans, Candida. tropicalis, Candida selatoidea, Candida
krusei (Alves et al. 2006).
A “acerola”, M. glabra auxilia no combate à gripe e resfriado, pois é rica em vitamina
C. A laranja, C. sinensis além de rica em vitamina C, auxilia nas infecções, febres, problemas
respiratórios, intoxicações e ansiedade (Flor & Barbosa 2015).
A “carambola”, A. carambola, apesar de frutífera pode ser fatal para pacientes com
doenças renais crônicas, pois contém uma nefrotoxina que se não for eliminada pela via renal
pode ser fatal para tais pacientes. Estudos demonstram que a nefrotoxidade da fruta é
decorrente da ação do oxalato, porém achados recentes mostram que o efeito nefrotóxico
não está relacionado somente ao alto conteúdo de oxalato, mas sim a uma toxina chamada
caramboxina, o que descarta a hipótese do causador da nefrotoxidade ser exclusivamente
oxalato presente na fruta (Oliveira & Aguiar 2015).
Ao falar de plantas medicinais é válido falar sobre a etnobôtanica que trata do estudo
das inter-relações entre humanos e sistemas dinâmicos (Hanazaki 2006). A “arnica” (A.
montana) é uma é planta medicinal oriunda da Europa, atualmente ameaçada de extinção
pela sua coleta predatória em seu ambiente de origem. No Brasil é uma planta cultivada e
não se enquadra em nenhum grau de ameaça. Suas propriedades medicinais são: anti-
inflamatória, adstringente, estimulante do sistema nervoso. Foi utilizada em grande escala
23
no tratamento dos soldados durante a segunda guerra mundial para combater as contusões e
infecções bacterianas (Globo-Neto & Lopes 2007, Waizel-Bucay & Cruz-Juárez 2014).
O “alecrim–selvagem”, B. dracunculifolia possui óleos essenciais em suas folhas e
raízes que possuem atividades medicinais no combate a Candida albicans, juntamente com
a Mentha sp. O extrato etanólico mostra a presença de compostos com propriedades
antimicrobianas incluindo a 1,8-cineole, geranial, germacrene-D, limonene, linalool e
menthol (Fonseca et al. 2015)
A “macela-do-campo,” A. satureioides é rica em flavonoides que são singulares pois tem
funções que são atribuídas aos terpenos (mono e sesqui terpenos). Suas partes aéreas contém o óleo
essencial com alfa e beta pinenos, flavonoides, além de outros compostos como Luteonina
Quercinina (Barata et al. 2009)
A embaúba C. pachystachya é uma planta que na classificação da sucessão ecológica é
considerada uma pioneira, natural da região tropical. Possui propriedades medicinais conhecidas pois
suas folhas têm atividades diuréticas e ainda, está relacionada com o clima em que se desenvolve
principalmente a temperatura. Estudos demonstram que suas propriedades medicinais estão
diretamente relacionadas com hipertensão (Consoline & Migliori 2005)
O “chá-bravo” S. rhombifolia, também conhecida como “malva-–branca” possui
propriedades medicinais anti-inflamatórias além de reduzir edemas na pele (Falcão et al. 2005). O
“arrebenta-boi” H. longiflora possui atividades antioxidantes, citotóxicas. Utilizado recentemente no
tratamento do Alzheimer e mal de Parkinson dentre outras doenças. Seus componentes químicos
principais são os alcaloides lobelydime e lobelim (Ibraihim & Afrisal 2017).
A “vinca” C. roseus tem valor ornamental, porém sua função mais importante, é na
medicina, pela existência do alcaloide vincristine, produzido por suas folhas e flores, que
quando purificado é utilizado em larga escala no tratamento de linfomas e leucemia em
crianças e adultos. No Brasil é um dos fármacos dispensado pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), denominado Oncovim. O grama no Brasil custa de vincristine custa aproximadamente
R$ 50,000 reais (Sare 2018). Também possui propriedades anti-inflamatórias. É considerada
uma planta tóxica e por isso não deve ser consumida in natura. Muitas vezes surge até como
planta espontânea nos jardins. É oriunda de muitas regiões de clima tropical e subtropical,
também pode se adaptar a novos locais (Verpoort et al. 1995, Contin et al. 1998). No Brasil
se trata de uma planta cultivada muito bem adaptada ocorrendo em todas as regiões do Brasil
(Flora 2020).
24
A maioria destas plantas identificadas já são estudadas, porém muitas vezes são
negligenciadas em termos de uso e de publizações. Neste contexto, existe a necessidade de
novos estudos para que seja chamada a atenção sobre a importância dos medicamentos
naturais.
O “caruru” A.viridis é uma planta medicinal e PANC com propriedades anti-
alérgicas, laxantes, estomáticas, anti-piréticas, alucinógena, auxilia no combate a lepra e
bronquite. As suas folhas podem ser utilizadas como emoliente, diminuir o fluxo menstrual,
combate a candidíase e suas raízes podem ser usadas em xaropes expectorantes (Reyad- Ul
– Ferdous et al 2015).
A plantas: ”begônia” B. elatior, “maria-pretinha” S. americanum, ”serralha” S.
oleraceous que também são medicinais. O “caruru”, A. viridis, dentre outras, são PANCs de
alto potencial alimentício que são desconhecidas por grande parte da população. Devido à
forte imposição do agronegócio no combate ao uso destas plantas que são espontâneas e
podem ser adquiridas facilmente, em detrimento às cultivadas que são vendidas nas grandes
redes de supermercados (Kinupp & Lorenzi 2014).
O picão-petro B.pilosa é uma medicinal e PANC e recebe diferentes nomes comuns
no Brasil. É indicado para o tratamento da malária, problemas hepáticos, diabetes, gonorreia,
disenteria, problemas renais, hepatite, reumatismo articular, alergia, anemia, brotoeja além
de vermífugo (Souza et al. 2010).
A planta medicinal de nome comum “emília", E. sonchifolia, suas folhas são
utilizadas na fabricação de emplastros para o combate de feridas, cortes, contusões e
hematomas (Oliveira et al. 2010).
O “melão-de-são-caetano”, M. charantia L. é uma planta tóxica quando seus frutos
estão verdes, porém, é uma PANC quando seus frutos amadurecem (Kinnup & Lorenzi,
2014). Tanto o extrato etanólico das folhas quanto o farelo têm propriedades anti-helmínticas
(Cordeiro et al 2010).
Como vemos a natureza proporciona ao homem uma infinidade de plantas com valores
medicinais. E a flora brasileira é uma rica fonte de ervas que podem auxiliar no tratamento e
prevenção de vários males. Se os ancestrais contavam apenas com o conhecimento empírico, os
25
estudos estão sendo mais explorados em pesquisas científicas que comprovam as propriedades
medicinais de várias plantas, atestando, sua eficiência.
Ficou constatado que o quintal produtivo se encontra em condições de uso, mesmo
com um único funcionário, manejando-o e cuidando das plantações. As árvores são
devidamente podadas com aproveitamento dos galhos e as folhas são usadas para cobertura
do solo, compostagem e não há entulhos. Existe um espaço de lazer no ambiente. Quando
necessário, à irrigação é feita da forma adequada: por gotejamento e a adubação é realizada
com composto orgânico. Sendo importante ressaltar que não há uso de agrotóxicos. Desta
forma os produtos são totalmente orgânicos embora não certificados, logo garantem a
segurança alimentar.
Algumas plantas possuem interações benéficas que auxiliam o bom funcionamento
dos SAFAs. No presente estudo constatou-se a presença das bananeiras cuja as folhas e
colmos podem ser utilizadas como matéria prima para fabricação de composto orgânico; as
ramas do feijoeiro e da abobreira podem auxiliar na cobertura do solo além de matéria prima
para compostagem. Já as frutíferas de grande porte quando podadas seus galhos e folhas
também podem empregadas na compostagem além de promover ambiência para os animais
que ali pastejam livremente. As poaceas servem de cobertura morta além de fonte de
alimento para os herbíveros.
É importante enfatizar que a ausência dos SAFAs podem ser um fator de restrição da
dieta, em especial dos alimentos que possuem fontes de vitaminas, minerais e fibras, como
hortaliças e frutas. Outros aspectos relevantes são que os SAFAs se referem à conservação
das espécies cultivadas, a introdução de novas espécies, a produção de plantas medicinais
por populações tradicionais (Carneiro et al. 2013)
Muitas plantas no passado eram denominadas, “daninhas”, “matos”, “invasoras”
“infestantes” e até “nocivas”, simplesmente porque ocorrem entre as plantas cultivadas ou
em locais onde as pessoas “acham” que não podem ou não devem ocorrer. Por este motivo
são combatidas com herbicidas. No entanto são espécies de grande importância alimentar,
negligenciadas por parte da população inclusive pelos órgãos de fomento, de ensino, de
pesquisa, extensão e pelos ministérios oficiais (Kinnup & Lorenzi 2014).
Muitas pessoas quando vão a uma feira ou mercado biodiverso desconhecem o nome
de folhas, batatas, raízes, sementes e frutos disponíveis, assim como seus usos cotidianos ou
formas de preparo ou consumo (Kinnup & Lorenzi 2014).
26
3.1.3. Carcterização dos animais domésticos
“O conceito de SAFs pode ser utilizado também em pastagens, onde o componente
arbóreo é planejado para complementar a alimentação animal, como forragem ou frutos.
Assim, os chamados sistemas silvipastoris promovem a melhoria da pastagem e do bemestar
animal. Quando se alterna as pastagens com a produção de grãos entre as árvores, têm-se os
sistemas agrosilvipastoris, importantes para a proteção e conservação do solo e da água,
arrefecimento da temperatura local e o sequestro de carbono da atmosfera, via fotossíntese e
incremento da matéria orgânica do solo” (Didonet 2016).
Quanto aos animais domésticos criados no SAFA, existem galinhas, gado, porcos,
cabrito, peixes, cavalos. É essencial a presença de animais domesticados no SAFA pois
auxiliam em três aspectos importantes: Produção de insumo natural; diversificação da
produção; e tração animal para serviços gerais. Foram identificadas 6 espécies de animais
domésticos produtivos (Quadro 1).
Quadro 1. Listagem de espécies de animais domésticos no sistema agroflorestal agroecológico
(SAFA) em Santa Rita da Floresta, Cantagalo, RJ.
Nome popular Nome Científico Família
Galinha Gallus gallus domesticus L. Phasianidae
Porco Sus scrofa domesticus L. Suidae
Tilápia Tilapia rendalli B. Cichlidae
Bovino Bos taurus L. Bovidae
Cabrito Capra aegagrus hircus L. Caprinae
Cavalo Equus caballus L. Equidae
O esterco Suíno, bovino e equino, são produzidos e coletado nas pastagens do entorno
do quintal e utilizado na adubação das plantas. Já o esterco das galinhas é espalhado por elas
por todo o quintal por onde ciscam e pastejam livremente. Este adubação natural é essencial no
aporte de nutrients para o SAFA. A produção de esterco na propriedade reduz a necessidade de
adição de insumos externos e a aplicação de adubos químicos.
A diversificação da produção pode trazer benefícios econômicos, aumento do
consumo de produtos de origem animal ricos em proteínas, gorduras e nutrients que podem
27
contribuir com aumento da segurança alimentar, além do aumento da renda familiar através da
venda dos produtos excedentes (ovos, carne, leite, queijos, manteiga e produtos derivados).
O uso de Cavalos e Bois como tração animal é uma forma de minimizar gastos com
combustível, onde serviços leves podem ser realizados com a tração animal, força esta muito
importante para realização das tarefas cotidianas da Chácara. Segundo Tosetto et al. (2013), os
animais são elementos significativos na complementação da força de trabalho nas áreas rurais.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os SAFAs são alternativas que favorecem a segurança alimentar quando manejados
de maneira agroecológica, diversificam a produção e podem contribuir na renda familiar. Os
produtos geralmente são comercializados de maneira direta em feiras e/ou comércios locais
e fazem parte de uma cadeia de comércio justo, ético e solidário. Promovem o bem estar da
família fornecendo alimentos livres de agrotóxicos, nutritivos diversificados e medicinais. É
importante ter alimentos de qualidade, de forma permanente e de fácil acesso para toda a
família.
As plantas identificadas no SAFA principalmente as medicinais e PANCs
representam o resgate do saber local; futuramente podem ser objeto de estudos científicos
que promovam a conservação da biodiversidade local, diversidade alimentar e
sustentabilidade ambiental.
É importante ressaltar que a construção do conhecimento agroecológico também se
dá pela apropriação, adaptação e difusão. Este conhecimento ultrapassa o formato tradicional
de pesquisa, sendo fundamental para distinguir futuras ideias desenvolvimentistas
valorizando temas necessários que poderão agregar a pesquisa agroecológica.
O diagnóstico do SAFA presente na Chácara São Judas Tadeu em Santa Rita da
Floresta, Cantagalo-RJ contribuirá para a programação de uma série de atividades de
extensão, podendo incluir oficinas de alimentos alternativos, planejamento para implantação
de hortas, oficinas sobre segurança alimentar e nutricional, reforçando as práticas
agroecológicas e futuramente expandir sua área, visando à certificação de seus produtos de
base agroecológica agregando valor econômico.
28
5. AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Funcionário Delci da chácara São Judas Tadeu do SAFA pela
receptividade, ajuda e acolhimento da nossa proposta.
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35
7. APÊNDICE 1
a)
b)
c) d)
Figura51. Especies frutíferas com potencial para uso medicinal encontradas na chácara São Judas
Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: a) Passiflora edulis Sims, maracujá; b)Malphighia puniciflora DC.,
acerola; c) Citrus reticulata Blanco, tangerina; d)Citrus sinensis (L.) Osbeck, laranja.
36
e) f)
g) h)
Figura62. Especies vegetais com potencial para uso medicinal encontradas na chácara São Judas
Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: e) Catharanthus roseus (L.) G.Don, vinca; f) Cecropia
pachystachya A. Lituratus, embaúba; g) Sida rhombifolia L., chá-bravo; h) Achyrocline satu-
reioides (Lam) DC, macela-do-campo.
37
i) j)
l) m)
Figura73. Especies vegetais com potencial para uso medicinal e PANCs encontradas na chácara São
Judas Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: i) Amaranthus viridis L., caruru; j) Sonchus oleraceous L,
serralha; l) Emilia sonchifolia (L.) DC. ex Wight, emilia (Fonte: Flora de Santa Catarina); m) Bidens
pilosa L, picão-preto (Fonte: Beleza da terra).
38
n)
o)
p)
q)
Figura84: Especies vegetais com potencial para uso ornamental encontradas na chácara São Judas
Tadeu, Cantagalo, RJ, são estas: m)Euphorbia milii Des Moul., coroa-de-cristo; o) Duranta erecta
L, pingo-de-ouro; p)Sansevieria trifasciata Prain, espada-de-são-jorge; q) Canna indica L,
bananeirinha-de-jardim.
39
r)
s)
t) u)
Figura95. Espécies de animais domésticos encontradas na chácara São Judas Tadeu, Cantagalo, RJ,
são estas: r)Gallus gallus domesticus L., galinha-caipira; s)Capra aegagrus hircus L., cabrito; t) Sus
scrofa domesticus L., porco; u)Bos taurus L., bovino.
40
v)
x)
w)
y)
Figura106. Outras espécies encontradas no local apontadas no estudo na chácara São Judas Tadeu,
Cantagalo, RJ, são estas: v) Momordica charantia L, melão-de-são-caetano; x) Hippobroma
longiflora (L.) G.Don, arrebenta-boi; w) Andropogon bicornis L., rabo-de-burro; y) Phaseolus
vulgaris L, feijão.