56
i UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL Título: INTERCEPTAÇÃO VERTICAL NA SERRA DO MAR, NOVA FRIBURGO – RJ. ALUNO: RAFAEL SILVA BARBOZA ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL SEROPÉDICA Novembro de 2004

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE …r1.ufrrj.br/lmbh/pdf/mono_disset_tese/mono_disset_tese30.pdf · By using 5 pluviometers installed ... 5.2. Parâmetros fitossociológicos

Embed Size (px)

Citation preview

i

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FLORESTAS

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

Título:

INTERCEPTAÇÃO VERTICAL NA SERRA DO MAR, NOVA FRIBURGO – RJ.

ALUNO: RAFAEL SILVA BARBOZA

ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL

SEROPÉDICA Novembro de 2004

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FLORESTAS

CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

INTERCEPTAÇÃO VERTICAL NA SERRA DO MAR, NOVA FRIBURGO – RJ.

ALUNO: RAFAEL SILVA BARBOZA

ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL

SEROPÉDICA

Novembro de 2004

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro Florestal.

iii

Seropédica, 10 de novembro de 2004.

BANCA EXAMINADORA

Profº Dr. Ricardo Valcarcel / UFRuralRJ (orientador)

Dr. Jorge Luiz Pimenta Mello Prof. UFRRJ/IT-Depto Hidráulica e Hidrologia

Esp. Marco Antônio Rodrigues da Silva Prof. /UFRRJ/IF-DCA

Suplente Eng. Florestal Alexandre Chaboudt Borges.

Avaliado em ____/____/_____

Nota Final: ( ) _________

iv

AGRADECIMENTOS:

A minha mãe Anna, meu pai João, meu irmão André e minhas

queridas irmãs Ana Paula e Juliana, em reconhecimento ao

suporte familiar que me foi dado desde o meu primeiro dia

neste planeta. Ainda sim agradeço a minha amada Julia, que deu

todo o apoio possível para a realização deste trabalho até nos

momentos mais difíceis da minha vida acadêmica. A meus

sobrinhos Felipe e Frederico. Meus avós Luciano e Luzia e

todos seus filhos netos e bisnetos que constituem uma família

extraordinária.

Ao Alexandre, que por meio das trocas de idéias sobre

assuntos relacionados ao tema deu o “start” para o

desenvolvimento e conclusão deste trabalho deste trabalho. Ao

Guilherme “Cabelo”, Cleanto e toda a galera da escalada, onde

compartilhei as vias de escala da “Pedreira da Rural”, uma

forma de válvula de escape nos momentos mais estressantes da

vida acadêmica.

Ao Laboratório de Manejo de bacias Hidrográficas e a toda

equipe pelas discussões e sugestões enriquecedoras e ao

professor Ricardo pelo suporte, paciência e cautela em que

passou de sua experiência, orientação e conhecimento, sem

duvida é um exemplo a ser seguido.

A toda equipe do SBT que acreditou na pesquisa durante a

fase experimental e principalmente pelo suporte a abrigo nos

dias de chuvas, tempestades de raios e ventos.

E ainda a todos os meus amigos e companheiros da vida, que

seria difícil lembrar de todos os nomes neste momento, porém

agradeço a todos do fundo do meu coração.

v

Aos meus pais que ajudaram na construção de minha trajetória, desde o momento em que confiaram, acreditaram e investiram em meu futuro. E a cada dia agradeço a compreensão mesmo nos momentos de maior dificuldade.

Dedico

vi

RESUMO:

As florestas de terras altas das bacias da Serra do Mar

têm serviços ambientais ainda não claramente definidos e o

entendimento destes implicará em soluções para os problemas

relacionados à qualidade e quantidade de água, já que este

processo (interceptação Vertical) é um dos componentes do

ciclo hidrológico. O experimento foi desenvolvido entre os

divisores das bacias do rio Cachoeiras de Macacu (vertente

Atlântica) e Bengala (bacia do rio Paraíba do Sul), na encosta

da Serra do Mar do Rio de Janeiro, no período de dezembro de

2003 a janeiro de 2004. A área se encontra a 1600 m de

altitude, pertence a Área de Proteção Ambiental - APA do Pico

do Caledônia e Parque Estadual de Três Picos no município de

Nova Friburgo-RJ. Foram instalados um pluviômetro e um

interceptador em local aberto, a uma altitude de 1600m.

Durante 31 dias de coleta, quantificou-se a precipitação total

e interceptação vertical (IV), correspondendo a 786,23mm

(25,36mm/dia) e 68,71mm (2,21mm/dia), respectivamente. Por

meio de 5 pluviômetros instalados no interior da floresta e um

pluviômetro em local aberto, foram quantificadas as parcelas

de água de chuva referentes à perda por interceptação (IC) e

precipitação interna (PI), correspondendo, em média, a 25,46%

e 125,66% da precipitação externa total (PE) respectivamente.

Estes valores mostram que a quantificação do mecanismo de IV é

um importante indicador da interação dos processos climáticos

e ecológicos, que acabam por influenciar no balanço hídrico da

região, e que a cobertura florestal propicia um adicional de

umidade quando localizada em regiões com forte interceptação

da bacia aérea.

Palavras-chave: Interceptação, balanço hídrico, precipitação,

floresta de altitude, perda por interceptação e precipitação

interna.

vii

ABSTRACT:

The forests of the high areas of the Serra do Mar basins have

environmental services not clearly defined. The study was

developed between December of 2003 and January of 2004, in a

part of the Serra do Mar located in Rio de Janeiro and

pertaining to Pico do Caledônia Environmental Protection Area

and to State Park of Três Picos in Nova Friburgo-RJ. Were

installed a pluviometer and a intercepter at the forest

outside, at a altitude of 1600m. During 31 days of collection,

was determined the total rainfall and Vertical Interception

(VI), corresponding to 786,23mm (25,36mm/day) and 68,71mm

(2,21mm/day), respectively. By using 5 pluviometers installed

at the forest inside, and one pluviometer set at the forest

outside was determined how much rain´s water were lost through

interception and throughfall. Corresponding on average –

25,46%, 125,66% of the total external precipitation verified

in the period. Proofing that the mechanism quantity of VI is

an important indicator of the climatic and ecologic process

interaction, that have an influence on the water balance of

the region. Indicate that the florestal covering located at

regions with strong interception of the air basin promotes an

increase of the humidity.

Key words: Interception, water balance, precipitation, through

interception and throughfall.

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................................1

2. OBJETIVOS ........................................................................................................................ 5

3. JUSTIFICATIVA ..............................................................................................................5

4. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................6

4.1. Área de estudo: ................................................................................................ 6

4.2. Interceptação Vertical (IV): .................................................................7

4.3. Análise estatística: .................................................................................. 10

4.4. Análise florística e fitossociológica: ....................................... 11

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 13

5.1. Composição Florística ................................................................................ 13

5.2. Parâmetros fitossociológicos ............................................................... 13

5.3.Estrutura da Floresta .................................................................................. 14

5.4. Interceptação pelas copas e precipitação interna ............... 15

5.5. Interceptação Vertical .............................................................................. 29

6. CONCLUSÕES ................................................................................................................... 38

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 40

8.ANEXOS: ............................................................................................................................. 42

1. INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural essencial à vida, matéria

prima essencial às comunidades terrestres, onde, por meio do

ciclo hidrológico, ela é disponibilizada e renovada para

manutenção das diferentes formas vivas que compõem a biosfera

(VALCARCEL, 1982; OTTONI-NETTO, 1993). Ela é encontrada em

três estados - líquido, sólido e gasoso.

O ciclo hidrológico é constituído por um conjunto de fases

e meios por meio dos quais a água circula pela natureza. A

radiação propicia a evaporação da água da superfície dos

lagos, rios, açudes e oceanos. A atmosfera recebe também

quantidades consideráveis de água em forma de vapor por meio

da transpiração vegetal e da evaporação do solo (SATTERLUND,

1972; CESAR, 1994).

As precipitações orográficas decorrem do choque das massas

de ar úmidas com barreiras físicas (Serra do Mar), que

promovem sua ascensão, resfriamento e posterior precipitação

(FIDERJ, 1978; NIMER, 1979).

O Oceano Atlântico funciona como regulador térmico do

continente, fornecendo chuvas, umidade e reduzindo a

temperatura. Isto ocorre no estado do Rio de Janeiro devido a

sua posição geográfica, que devido a exposição encontra-se

sujeito aos efeitos da circulação atmosférica e movimentos de

entrada de frentes frias.

O estado do Rio de Janeiro está submetido, principalmente

nos meses de outubro a março, aos ventos de direção Sudoeste e

Nordeste. Neste período, há na Região Sudeste, acentuada

elevação das temperaturas diárias e precipitações abundantes,

(FIDERJ, 1978; NIMER, 1979).

A região de Nova Friburgo tem estes efeitos

potencializados pela orientação da cadeia de montanhas que

compõem a Serra do Mar e seus efeitos orográficos. Observa-se

2

uma umidade relativa do ar elevada e índices pluviométricos

que variam de 1900mm a mais de 2100mm, evidenciando a

influência do mar no clima regional.

A orientação e exposição do relevo são fatores

fundamentais da distribuição espacial da pluviosidade,

ocorrendo a maior concentração na região centro-sul fluminense

(FIDERJ, 1975). NIMER (1979) relatou que a taxa de

precipitação cresce na proporção direta da altitude.

A cadeia de montanhas da Serra do Mar atua como uma

barreira aos sistemas de circulação atmosférica e às

penetrações das massas de ar úmidas que sopram do oceano

(NIMER, 1979). O vapor d’água se condensa, formando as chuvas

orográficas e nevoeiros, que mantêm a região úmida o

suficiente para a manutenção da floresta (MARCONDES, 1996).

O efeito da floresta sobre a precipitação pluviométrica

determina a estabilidade do ciclo hidrológico em uma

microbacia (MOLCHANOV, 1971; SATTERLUND, 1972; CESAR, 1994).

A interceptação é a quantidade de chuva retida na

cobertura florestal que regressa a atmosfera (LIMA, 1986),

porém ela tem outros significados hidrológicos, como: reduzir

a intensidade da chuva, favorecer a infiltração, recarga do

lençol freático, além de funcionar como um provedor adicional

de umidade quando localizada em regiões com forte

interceptação da bacia aérea (VALCARCEL, 1982).

A interceptação é definida como um obstáculo ao acesso da

água da chuva ao solo, onde a vegetação impede a sua livre

passagem e facilita o retorno da água a atmosfera pela

evaporação.

A interceptação vertical é a condensação de vapor

atmosférico interceptado e condensado sob as florestas mesmo

nos dias de chuva, também conhecida como chuva oculta.

A cobertura florestal intercepta as gotas de chuva,

promovendo o seu fracionamento, que depende das

3

características do dossel (ASTON, 1979). SINGH (1987) menciona

que as características climatológicas locais, no que diz

respeito principalmente à velocidade e direção do vento, além

de umidade relativa, interferem diretamente no volume de chuva

interceptado pelo dossel e fundamentalmente do estágio de

desenvolvimento da vegetação.

LAMPRECHT (1990) afirma que a floresta possui efeito de

frenagem sobre as correntes de ar. No caso, da região em

estudo, a vegetação funciona como uma malha de obstrução aos

ventos úmidos oriundos da circulação atmosférica do Atlântico.

LIMA (1986) mencionou a importância das condições

meteorológicas sobre as perdas por interceptação, observando

que a ocorrência de vento durante e após a chuva tem

influência direta na evaporação de água interceptada pelo

dossel, afetando assim a precipitação interna. Entretanto, o

efeito real do vento sobre a perda por interceptação é função

de outros fatores tais como: sua velocidade, a umidade

relativa do ar, a duração e intensidade de chuva.

A direção do vento, proveniente de frente fria (ventos

úmidos), favorece a precipitação interna ou Interceptação

Vertical.

LLOYD et al. (1988), NALON & VELLARDI (1993), LIMA (1986)

verificaram que em um período caracterizado por apresentar

baixos valores de precipitação, registrou-se a menor taxa de

precipitação interna e conseqüentemente maior taxa de

interceptação pelo dossel. Da mesma forma, HUBER & OYARZÚM

(1992) determinaram que os valores relativos da interceptação

pelo dossel são inversamente proporcionais às alturas de

precipitações incidentes e que, à medida que aumenta a

intensidade das precipitações, diminui o tempo do início do

escoamento pelo tronco.

Segundo CASTRO et al. (1983), chuvas de grande

intensidade dificultam o escoamento pelo tronco, provavelmente

4

devido às árvores encontrarem-se saturadas, favorecendo a

distribuição de chuva via precipitação interna.

JOHNSON (1990) explicou a variabilidade espacial da

precipitação interna como conseqüência da distância entre os

ramos das árvores e a densidade da cobertura acima dos

pluviômetros.

Percentualmente, o escoamento pelo tronco pode ser

considerado de pouca importância quando comparado ao pequeno

montante atingido pela precipitação interna (VALCARCEL, 1982;

LLOYD et al., 1988; JOHNSON, 1990).

VALCARCEL (1982), ao estudar o balanço hídrico nos Andes

Venezuelanos observou que na produção de água de uma bacia, a

vegetação proporciona uma perda do sistema. Se a bacia se

encontra em áreas de condensação, a floresta pode funcionar

como um condensador de umidade aumentando a precipitação

total.

Este trabalho avalia a importância da floresta nas regiões

altas das bacias da serra do Mar. Os ventos úmidos combinados

com os efeitos da declividade e rugosidade das encostas têm

papel fundamental na Interceptação Vertical.

A quantificação do mecanismo e magnitudes da

Interceptação Vertical podem-se constituir em um instrumento

de planejamento capaz de incorporar os efeitos dos processos

climáticos e ecológicos, que influenciam o balanço hídrico das

microbacias.

5

2. OBJETIVOS

Avaliar a interceptação vertical em floresta de altitude

em área de domínio ecológico da Mata Atlântica: Floresta

Ombrófila Densa Montana. A área encontra-se sobre influencia

da bacia aérea da calha do rio Cachoeiras de Macacu e é

responsável pelo abastecimento de parte da cidade de Nova

Friburgo, RJ.

Objetivos específicos

• Avaliar a Interceptação Vertical na garganta da bacia

aérea; e

• Determinar a variação da Interceptação Vertical dentro

dos ecossistemas florestais;

3. JUSTIFICATIVA

A cobertura florestal possui uma forte relação com o ciclo

hidrológico de uma bacia hidrográfica, interferindo no

movimento da água em vários compartimentos do sistema,

inclusive para a atmosfera e os rios. Deste modo, a

quantificação da precipitação e da interceptação vertical pode

influenciar processos hidrológicos, que nas regiões produtoras

de água, tem significados e importâncias diferenciadas, uma

vez que estas regiões são responsáveis pelo abastecimento.

Pode-se dizer que a água é matéria prima fundamental para

as comunidades humanas e para a própria sobrevivência do

planeta. Entretanto, pesquisas relacionadas à produção de água

e as funções da floresta neste processo, são importantes para

o abastecimento da região e para o manejo de suas bacias

hidrográficas, pois as florestas altas das bacias da Serra do

Mar têm serviços ambientais ainda não claramente definidos; o

entendimento destes implicará em soluções para os problemas

relacionados à qualidade e quantidade de água, já que este

6

processo (interceptação Vertical) é um dos componentes do

ciclo hidrológico.

Contudo, as bacias com cobertura florestal intacta,

caracterizam ecossistemas naturais ajustados evolutivamente e

com fluxos de energia que precisam ser conhecidos, como

elemento de comparação com áreas antropizadas, uma vez que se

podem comparar forma e funções dos ecossistemas.

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1. Área de estudo:

O experimento foi desenvolvido entre os divisores das

bacias do rio Cachoeiras de Macacu (vertente Atlântica) e

Bengala (bacia do rio Paraíba do Sul), na encosta da Serra do

Mar do Rio de Janeiro. A área se encontra a 1600 m de altitude

(Figura 01).

Figura 01: Município de Nova Friburgo-RJ.

O local pertence a Área de Proteção Ambiental – APA do

Pico do Caledônia e Parque Estadual dos Três Picos, no

município de Nova Friburgo – RJ, e está localizado entre as

coordenadas geográficas 24° e 26°S e 50° e 52°W.

O relevo é irregular formando uma paisagem declivosa com

as montanhas da Serra do Mar.

7

A cobertura florestal constitui-se em Floresta Ombrófila

Densa Montana com transposição para campos de altitude(IBGE,

1991). As plântulas, epífitas e lianas são abundantes, assim

como, a ocorrência de bambus e palmeiras (LIMA & GUEDES-BRUNI,

1997).

A microbacia encontra-se entre os Pico da Pedra K2 (1.750

m) e Caledônia (2.252 m), tem área (300 ha), perímetro (9,4

km) e comprimento (3,05 km) com vegetação e parcelamento

parcial dos terrenos. Apresenta rios de 2ª ordem, índices de

compacidade (1,52), circularidade (0,32) conformando aspecto

alongado. O tempo de concentração (1 h; 38 m) e deflúvio médio

mínimo anual de 20 l.s-1 (C.A.E.N.F 2004 comunicação pessoal),

enfatizam a importância para a região.

Apresenta vales encaixados na encosta localizada na

vertente Sul do maciço rochoso da Serra do Mar, proporcionando

a passagem turbulenta das massas de ar úmida via bacia aérea.

A região objeto de estudo não possui estação

meteorológica, por isso tomou-se como base observações de

campo, principalmente quanto às informações de vento.

O estudo foi desenvolvido entre dezembro de 2003 e janeiro

de 2004, período considerado chuvoso na região.

4.2. Interceptação Vertical (IV):

A interceptação vertical (IV) foi determinada com

interceptador de neblina (pluviômetro dotado de haletas)

Figura 02. A precipitação externa (PE) foi determinada com

pluviômetro instalado em local aberto, distantes 50 m da

cobertura vegetal.

O local onde os mesmos foram alocados foi definido a

partir de um levantamento do perfil topográfico da área de

estudo, com o uso de carta topográfica (Figura 03).

8

H1

H2

Figura 02: Interceptador (54,1 cm2) usado para medição de interceptação vertical – área das haletas (H1: 1000,00 cm2); altura do pluviômetro (H2).

O interceptador capta a precipitação que incide

diretamente sobre sua superfície de captação, assim como o

volume de vapor de água que se desloca lateralmente e é

interceptado pela área das haletas, condensado a partir do

choque da massa de ar úmido com as paletas e drenado para o

seu interior.

1500

1600

1700

1800

1900

2000

2100

2200

2300

050010001500200025003000

metros

Alt

itu

de

(m

etr

os

)

Figura 03: Perfil topográfico da área de estudo. Em destaque tem-se a localização do pluviômetro externo e o interceptador.

9

Para a análise da interceptação vertical, foi utilizada a

precipitação do pluviômetro externo (PE), considerado

testemunha, uma vez que é a base para se determinar o quanto à

área de interceptação contribuiu.

A precipitação externa (PE) foi determinada com

pluviômetro (54,1 cm2), instalado em local aberto, distante 50

m da cobertura vegetal. A precipitação dentro da floresta (PI)

foi medida por meio de cinco pluviômetros, dispostos 25 metros

entre si.

O PE foi utilizado como testemunha da precipitação total.

As coletas foram realizadas as 9:00h com periodicidade

diária, entre 18 de dezembro de 2003 a 17 de janeiro de 2004.

Interceptação Vertical:

A interceptação vertical (IV) foi calculada a partir da

diferença entre os volumes de chuva colhida pelo PE e o

interceptador (Fórmula 01).

PeInIV −= (1)

Em que:

IV = Interceptação vertical (mm.m-2) In = Quantidade total de chuva (mm.m-2) coletada pelo

interceptador; e PE = Precipitação total (mm.m-2) coletada do pluviômetro

testemunha.

Interceptação pelas copas:

A interceptação foi calculada a partir da diferença entre

os volumes de chuva colhida fora e dentro da floresta (Fórmula

02).

PIPEIC −= (2)

Em que:

IC = Interceptação pelas copas (mm.m-2) PE = Precipitação total externa (mm.m-2); e

10

PI = Precipitação interna (mm.m-2)

Os valores de escoamento pelo tronco variam entre 1% - 2%

da precipitação total (PE) (VALCARCEL, 1982), motivo pelo qual

não foram colhidos.

4.3. Análise estatística:

Foram realizadas regressões simples entre a precipitação

total (variável independente) e a interceptação vertical

(variável dependente) formula 03, determinando-se os ajustes e

tendências.

bXiaY += (3)

Em que:

Y=IV(mm) a=Coeficiente da reta b=Coeficiente angular Xi=PE (mm)

Os coeficientes de determinação (R2) foram testados por

meio da análise de variância e as análises realizadas através

do programa Statistica versão 5.0.

Foram realizadas regressões simples entre a precipitação

total externa (variável independente) e as precipitações

internas (variável dependente) fórmula 4, determinando-se os

ajustes e tendências.

bXiaY += (4)

Em que:

Y=PI(mm) a=Coeficiente da reta b=Coeficiente angular Xi=PE (mm)

Os coeficientes de determinação (R2) foram testados por

meio da análise de variância. Os dados tiveram suas

normalidades testadas por pluviômetro, pelo teste de

11

Kolmogorov-Smirnov e Liliefors no programa Statistica versão

5.0, todos apresentando distribuição normal ao nível de 1% de

significância. A partir daí realizou-se um teste “t” para

comparar os pluviômetros internos entre si e com o externo.

Desta forma, determinou-se o quanto que a precipitação total

influência na interceptação vertical e na precipitação

interna, e a importância da cobertura florestal neste

processo.

4.4. Análise florística e fitossociológica:

Realizou-se levantamento em transecto de 100m de

comprimento no sentido do escoamento das águas e por 4 metros

laterais, totalizando 400 m2, procedendo-se o censo, para

realizar o perfil diagrama da floresta (estrutura vertical).

Os dados levantados para árvores cuja altura foram

superiores a 1,50m foram: espécie, distância da linha central

do transecto, altura total, DAP (cm), altura do primeiro ramo

da copa e diâmetro da copa.

A composição florística da área foi determinada a partir

do ponto por quadrante, onde levantou-se: composição

florística (morfoespécies), distância entre ponto e planta,

diâmetro da árvore (DAP), altura do fuste e da copa.

Segundo MARTINS (1993), no método de pontos por

quadrantes, a área de amostragem é variada, mas o número de

indivíduos amostrados é constante em cada classe considerada.

Este método consiste na marcação de pontos ao longo de um

trecho da floresta, onde a unidade de amostragem é constituída

pelo ponto no centro dos quatro quadrantes. Foram então

retiradas às medidas de cada árvore por quadrante mais próxima

do centro. A inclusão foi efetuada a partir da altura (acima

de 1,5 m). Além de serem registradas o diâmetro e as alturas

do início e do final da copa da árvore mais próxima em cada

12

quadrante, foram mensurados também à distância do ponto ao

segmento do tronco mais próximo.

Os pontos de amostragem foram dispostos em linha e

eqüidistante 5 m entre si. A orientação dos quadrantes foi

perpendicular à linha de amostragem (Figura 04), como

utilizado por MARTINS (1993). Em cada quadrante qualificou-se

um indivíduo com altura > 1,5m; palmeiras e pteridófitas

também foram considerados. Foram calculados os seguintes

parâmetros: índices de Shannon e Weaver, Coeficiente de mistura

de Jentscht (QM), índice de valor de importância das

morfoespécies.

Figura 04: Diagrama esquemático da aplicação do método de pontos por quadrante. O índice do valor de importância (IVI), foi calculado em

função da densidade, dominância e freqüência relativas das

morfoespécies.

Árvores (Altura > 1,5m)

Distância ponto-planta

5m

13

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Composição Florística

Nos 20 pontos amostrados foram registrados 80 indivíduos,

sendo 35 árvores da morfoespécie A, 17 da morfoespécie B, 18

arbustos da morfoespécie C, 9 da morfoespécie E (palmeiras) e

1 da morfoespécie H (pteridófitas), Tabela 1.

Tabela 01: Morfoespécies com os respectivos parâmetros fitossociológicos, floresta de altitude, Nova Friburgo-RJ. Morfoespécies Ni AB DR Dom. A Dom.R FA FR IVI

A 35 1,4488 43,75 36,22 90,86 0,80 32,65 167,26 B 17 0,0934 21,25 2,33 5,86 0,60 24,49 51,59 C 18 0,0339 22,50 0,85 2,13 0,65 26,53 51,16 E 9 0,0153 11,25 0,38 0,96 0,35 14,29 26,49 H 1 0,0032 1,25 0,08 0,20 0,05 2,04 3,49

Total 80 1,5945 100 39,86 100 2,45 100 300

5.2. Parâmetros fitossociológicos

Na Tabela 1 são apresentados os índices referentes a cada

morfoespécie amostrada. O índice do valor de importância

(IVI), variou de 167,26% a 3,49%, valores considerados altos

quando comparado ao trabalho realizado por GRADISK (2004).

A morfoespécie que apresentou maior Densidade relativa

(43,75%), Freqüência relativa (32,65%) e Dominância relativa

(90,86%), foi a espécie “A” que apresentou maior número de

indivíduos (35), assim como, maior quantidade de indivíduos e

a maior área basal. A morfoespécie “B” foi a que teve o

segundo maior IVI (51,59), apresentando uma densidade relativa

de 21,25%, freqüência relativa de 24,49 %, e dominância

relativa de 5,86%, tendo sido encontrados 17 indivíduos. Esta

floresta encontra-se provavelmente em estágio sucessional

avançado, o que pode ser explicado devido à existência de

espécies tardias.

14

O índice de diversidade de Shannon e Weaver calculado para

esta floresta foi de 1,32, este índice fornece uma indicação

da diversidade de espécies. O coeficiente de mistura de

Jentscht foi de 0,05, expressando a relação entre o número de

morfoespécies e o número total de plantas que ocorrem em uma

comunidade. Os Valores dos índices acima são altos quando

comparados com outros estudos similares feitos em locais mais

alterados.

5.3.Estrutura da Floresta

A distribuição dos 80 indivíduos amostrados em classes de

diâmetro (DAP) apresenta diâmetro médio entre as morfoespécies

de 15,93cm (Tabela 02).

Tabela 02: Distribuição dos indivíduos em classes de DAP, floresta de altitude, Nova Friburgo-RJ. Número da

classe

Intervalo de classe (cm)

Número de

indivíduos %

1 0,30-4,99 19 23,75 2 5,00-9,99 32 40,00 3 10,00-14,99 12 15,00 4 15,00-19,99 8 10,00 5 20,00-29,99 2 2,50 6 30,00-39,99 3 3,75 7 40,00-70,00 4 5,00

TOTAIS 80 100

Dezenove (23,75%) árvores apresentaram DAP inferior a 5cm;

com diâmetro superior a 40cm encontrou-se quatro (5%) árvores.

A área basal calculada para os 80 indivíduos foi de

1,5945m2. A área basal de todas as espécies é apresentada na

Tabela 1 e a média encontrada foi de 0,0199m2/indivíduo.

Extrapolando tal valor médio para os 2000indiv./ha (DTA), tem-

se uma estimativa de 39,8m2/ha de área basal.

15

A distribuição das 80 árvores em classes de alturas do

fuste e da copa é apresentada na Tabela 3. A altura média

estimada foi de 9,07m.

Tabela 03: Distribuição das árvores em classes de altura, floresta de altitude, Nova Friburgo.

Número

da classe Intervalo de classe

(m) Número

De indivíduos %

1 0,1 - 5,0 25 31,25 2 5,1 – 10,0 26 32,50 3 10,1 – 15,0 18 22,50 4 15,1 – 20,0 11 13,75

TOTAIS 80 100

Vinte e cinco (31,25%) árvores se apresentaram com altura

inferior a 5,1m; com altura superior a 15,1m foram mensuradas

onze árvores (13,75%).

5.4. Interceptação pelas copas e precipitação interna

Os dados obtidos de precipitação interna (PI) e

precipitação total externa (PE), referente a 31 medições

diárias, mostram que o período foi excepcional na região, onde

as chuvas apresentaram um comportamento médio de 25,36mm/dia

(PE) e 31,96mm/dia (PI).

Na Tabela 04 são apresentados os valores de precipitação

interna e percentual de cada pluviômetro em relação ao

pluviômetro externo (Pe), Interceptação pelas copas (IC em

mm), além da altitude aproximada onde foram alocados.

16

Tabela 04: Valores e percentuais de precipitação externa total, interceptação vertical, interceptação pelas copas, precipitação interna e altitude de cada pluviômetro.

Precipitação Interceptação R2 b a Altitude

PE(mm) 786,20 0 - - - 1560 PL1(mm)

% 669,10 85,10

117,20 15,90

72,11 *

0,74 *

2,71 n.s.

1605

PL2(mm) %

743,50 94,60

42,73 5,40

67,58 *

0,84 *

2,64 n.s. 1620

PL3(mm) %

717,30 91,20

68,90 8,80

85,56 *

0,88 *

0,74 n.s.

1630

PL4(mm) %

976,20 124,20

-190,00 -24,20

88,17 *

1,07 *

4,31 n.s.

1640

PL5(mm) %

1833,40 233,20

-1047,20 -133,20

48,71 *

1,70 *

16,12 n.s. 1660

* significativos a 1% de probabilidade

A interceptação pelas copas (IC), resultado da diferença

entre a precipitação externa (PE) e precipitação interna (PI),

apresentaram perdas somente nos pluviômetros 1, 2 e 3. Os

valores de perdas são baixos quando comparados ao trabalho

realizado por VALCARCEL (1982), que encontrou 19% de

interceptação pela copa.

O PL4 (976 mm) e PL5 (1833 mm) resultam em valores de IC

negativos, ou seja, choveu mais no interior da floresta do que

na parte externa. Esta situação enfatiza o que foi observado

por LIMA (1981), onde a precipitação interna sob uma cobertura

florestal não pode ser considerada constante em locais de

características físicas e biológicas diferentes.

No pluviômetro 1 verificou-se que foram interceptados pela

copa (IC) 117,18 mm (15,9%) do total coletado, sendo o maior

valor encontrado, justamente onde a presença do sub bosque é

de mínima influência (Figura 6). Os PL2 e PL3, se comportaram

da mesma forma que o anterior, porém apresentando valores mais

baixos 5,4% e 8,8%, respectivamente, quando comparados ao

17

trabalho realizado por VALCARCEL (1982), que encontrou 19% de

interceptação pela copa. Entretanto, na área em que existe um

sub bosque mais denso (PL4 e PL5), observa-se que a

precipitação interna (Pi) foi superior a externa (PE).

De certa forma os dados apresentados demonstram que IC,

resultado da diferença entre PE e Pi, somente nos pluviômetros

1, 2 e 3 apresentaram valores de perdas. Os dados apresentados

pelos PL4 e PL5 resultam em valores negativos, ou seja, choveu

mais no interior da floresta do que na parte externa.

Durante o período que não esta chovendo, a elevada

altitude confere uma redução da temperatura no fim do dia,

reduzindo a capacidade de retenção de vapor d’água pela

atmosfera, ou seja, o ar fica saturado e a água no estado de

vapor retorna ao estado líquido (orvalho) (OTTONI NETTO,

1993). Existindo então uma maior superfície de contato, como é

o caso do sub-bosque maior a taxa de condensação (Figura 6). O

fenômeno da interceptação pela copa é inevitável de ocorrer em

qualquer ecossistema florestal, e nos referidos pluviômetros

onde os valores encontrados tenham sido superiores ao externo

(124,2% e 133,2%), indica outra entrada de água (energia) no

sistema. Havendo precipitação interna sem ocorrência de chuva,

a interceptação vertical (condensação de superfície) torna-se

essa entrada.

18

PE

Corte A A’

^

^^

^

^

^

A A’

Alt

itu

de

(m)

Figura 05: Perfil Diagrama da vegetação de altitude da serra do Mar, situado em encosta onde há interceptação de massas de ar úmida pela vegetação, que se apresentam de forma variada em função das variações altitudinais. Observa-se os pluviômetros internos e externos.

19

A tabela 05 apresenta valores que explicam as diferenças

encontradas no valor p, onde a hipótese testada determina

estatisticamente a diferença dos pluviômetros entre si.

Tabela 05: Valor p do Teste t para observações dependentes (correlatas).

PL1 PL2 PL3 PL4 PL5 PE

PL1 1,0000 0,2130 0,6191 0,0000 0,0001 0,1476

PL2 0,2130 1,0000 0,8202 0,0037 0,0001 0,6289 PL3 0,6291 0,8202 1,0000 0,0025 0,0009 0,2345

PL4 0,0000 0,0037 0,0025 1,0000 0,0012 0,0033 PL5 0,0001 0,0001 0,0009 0,0012 1,0000 0,0008

Os resultados referentes ao PL1, PL2, PL3 e PE, mostram

que estatisticamente eles são iguais, no entanto diferentes do

PL4 e PL5, sendo esta diferença significativa a menos de 1%. O

pluviômetro 4 apresenta um baixo valor p quando comparado aos

demais pluviômetros (PL1, PL2, PL3, PL5 e PE), mostrando que

também difere estatisticamente de todos. O mesmo foi observado

com o PL5, que difere de todos os outros a uma significância

de menos de 1%.

Observa-se que existe influência (fatores bióticos ou mesmo

pela diferença de altitude) na precipitação interna. A

diferença de altitude existente entre o PE e o PL5, é de

aproximadamente 100 metros, o que na teoria reduziria em

aproximadamente 1,0 °C a temperatura (NIMER, 1979, TARIFA,

s/d), favorecendo a condensação na superfície vegetal. Por

outro lado, nas formações serranas (como no caso a Serra do

Mar), observa-se nas mais elevadas altitudes, devido a baixa

temperatura e solos rasos, uma transposição lenta e gradual da

Floresta Ombrófila Densa Montana para Campos de Altitude, como

observado por LIMA & GUEDES-BRUNI (1997) na serra de Macaé de

20

Cima. Com isso cabe principalmente, ao fator biótico o aumento

da precipitação interna observada no experimento.

A Figura 06 mostra a diferença de precipitação entre os

respectivos pluviômetros dispostos a altitudes diferentes e

sob diferentes formas vegetais. Pode-se observar como as

alturas de chuvas referentes ao PL5 foi discrepante

relacionado aos demais.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

18/12/0

3

19/12/0

3

20/12/0

3

21/12/0

3

22/12/0

3

23/12/0

3

24/12/0

3

25/12/0

3

26/12/0

3

27/12/0

3

28/12/0

3

29/12/0

3

30/12/0

3

31/12/0

3

01/01/0

4

02/01/0

4

03/01/0

4

04/01/0

4

05/01/0

4

06/01/0

4

07/01/0

4

08/01/0

4

09/01/0

4

10/01/0

4

11/01/0

4

12/01/0

4

13/01/0

4

14/01/0

4

15/01/0

4

16/01/0

4

17/01/0

4

mm

/m2

PEPL1PL2PL3PL4PL5

Figura 06: Precipitação diária decorrente dos 31 dias de coleta referentes aos pluviômetros internos e o externo durante o período de dezembro de 2003 a janeiro de 2004.

Nos dias 22/12, 25/12/03 e 02/01 houve entrada de frente

fria (massa de ar úmido, proveniente de frentes polares),

justamente nos períodos onde as precipitações internas e

externas tiveram seus valores máximos que estão apresentados

na Tabela 06.

21

Tabela 06: Valores máximos de precipitação em milímetros de chuva (mm/m2) apresentados em cada pluviômetro interno nos respectivos dias de entrada de frente fria.

PE (mm)

PL1 (mm)

PL2 (mm)

PL3 (mm)

PL4 (mm)

PL5 (mm)

22/12/03 26,80 30,49 43,44 23,11 36,04 140,46

25/12/03 64,68 58,52 102,57 41,58 83,70 183,90

02/01/04 60,06 78,55 57,31 41,56 78,55 172,80

09/01/04 83,17 25,87 31,42 80,40 66,53 27,72

15/01/04 55,44 54,52 61,00 56,37 66,54 115,51

Do dia 09/01/04 ao dia 14/01/04, foram observados ventos

fortes de direção Nordeste conferindo-lhes características de

vento seco, e, nota-se que somente neste período a

precipitação interna referente aos PL4 (66,53 mm) e PL5 (27,72

mm) foi menor que a precipitação externa (PE) 83,17 mm. A

partir do dia 15/01/04 quando estes ventos cessaram, a taxa de

precipitação interna aumentou. Pode-se então constatar que

fatores climáticos como, velocidade do vento, umidade do ar,

intensidade e duração das chuvas, provocam alteração na

variável dependente precipitação interna (PI). O mesmo foi

observado por LIMA (1986), onde foi verificado que a

quantidade de água envolvida na precipitação interna e na

interceptação pelas copas são variáveis, dependendo de fatores

relacionados tanto com a vegetação quanto com as condições

climáticas nas quais a floresta está inserida.

Os dados obtidos pelos pluviômetros 4 e 5, mostram que

houve interceptações pelas copas (IC) com valores negativos

(Tabela 4), ou seja, precipitação interna maior que a

precipitação externa (IC= –190,00 mm e –1040,20 mm). Nota-se

então que outro tipo de evento ocorreu além da precipitação,

22

como comentado anteriormente e observado por meio do

interceptador (In), onde a umidade atmosférica pode ser

condensada possibilitando a obtenção da água líquida.

Segundo OTTONI NETTO (1993) a ação do orvalho,

precipitação que resulta da condensação da umidade do ar em

superfícies, tem especial significado para coberturas

florestais. E ainda, de acordo com o clima e as

características do meio-ambiente físico, a produtividade do

orvalho pode chegar a várias dezenas de milímetros ao ano,

sendo quanto maior o grau de umidade do ar e menor a

temperatura, maior a quantidade de orvalho. Desta maneira,

pode-se dizer que estes resultados de IC negativos são

oriundos da condensação das massas de ar úmido que resultaram

em eventos de precipitação interna mesmo durante os períodos

entre os intervalos de chuva. Isto se deve provavelmente à

presença do sub-bosque (Figura 6), gerando maior superfície de

contato, influenciando diretamente na interceptação vertical

da floresta. Contemplando os fundamentos ecológicos, onde os

ecossistemas em sua evolução buscam cada vez mais equilíbrio

para as suas funções, essa constatação pode ser considerada

como uma otimização do ambiente a um recurso oferecido, no

caso a água em forma de vapor.

No Chile, painéis de captura de nevoeiro (com área de

exposição igual a 100 m2) foram instalados no deserto do

Atacama, onde a produtividade era de 100 a 1000 litros de água

por dia, podendo abastecer pequenos grupos populacionais

(OTTONI NETTO 1993).

Na Figura 07 temos os dados diários de precipitação

interna incidente sobre o pluviômetro 4, 5 e interceptação

vertical referente ao interceptador. De certa forma a

interceptação vertical mostrou-se diferente à precipitação

interna no PL4 e PL5.

23

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

18/12/0

3

20/12/0

3

22/12/0

3

24/12/0

3

26/12/0

3

28/12/0

3

30/12/0

3

01/01/0

4

03/01/0

4

05/01/0

4

07/01/0

4

09/01/0

4

11/01/0

4

13/01/0

4

15/01/0

4

17/01/0

4

Pi(

mm

/m2

)

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

IV(m

m/m

2)

PL4

PL5

IV

Figura 07: Dados diários referentes a precipitação externa (PL4), (PL5) e interceptação vertical (IV) compreendidos no período de 18/12/03 a 17/01/04.

Observa-se no período marcado por ventos fortes que

compreende os dias 09/01 a 15/01/04, a taxa de precipitação

interna no PL4 foi diferente à taxa da interceptação vertical,

o mesmo é observado em relação ao PL5, sendo que neste

pluviômetro a IV mostrou-se ainda menor pelo fato de se

encontrar em maior altitude. Esta variação pode ser devida a

ação dos ventos que evapora a água acumulada na superfície das

folhas e troncos que estão principalmente na posição

horizontal. Nota-se então, que a partir do período em que a

velocidade do vento diminui (15/01) aumenta a taxa de

precipitação interna via interceptação vertical da bacia

aérea.

Os coeficientes de regressão múltiplos (R2), angular (b) e

da reta (a ou interseção), foram testados pela análise de sua

variância.

24

Tabela 07: Grau de liberdade, coeficiente de regressão múltiplo (R2), coeficiente angular e coeficiente da reta referentes às Regressões I, II, III, IV e V e suas respectivas significância.

Regr. I Regr. II Regr. III Regr. IV Regr. V

G.L 30 30 30 30 30

R2 0,7211* 0,6758* 0,8556* 0,8817* 0,4871*

b 0,7444* 0,8460* 0,8830* 1,0710* 1,6964*

a 2,7120 2,6384 0,7416 4,3132 16,1163

* significativos a 1% de probabilidade

Com os graus de liberdade utilizados, todas as regressões

se apresentaram significativas a 1%, sendo que a regressão IV

resultou no maior coeficiente de determinação (R2) e a

regressão V foi a que resultou no menor R2.

As Figuras 8, 9, 10, 11 e 12 foram obtidas pela relação

entre os valores individuais da precipitação interna com a

precipitação total, em milímetros de chuva. De acordo com a

reta de regressão apresentada na Figura 9, constatou-se, por

meio do coeficiente de determinação, que cerca de 72,11% da

precipitação interna pode ser explicada pela precipitação

total. As demais regressões apresentaram valores de 67,58%,

85,56%, 88,17% e 48,71%,respectivamente.

Estes valores podem ser considerados elevados quando

realizados com dados ambientais. Ao analisar a significância

dos coeficientes, observa-se que os coeficientes angulares

(b), que estão fornecendo um melhor ajuste ao modelo visto os

baixos valores p encontrados. Os coeficientes de Interseção

(a) apresentaram valores p elevados, indicando que não está

bem definido o ponto onde a reta criada pelo modelo irá

coincidir com o eixo y.

25

REGRESSÃO 1

y = 0,744x + 2,7117

R2 = 0,7211

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00

EXTERNA

INTE

RN

A

Figura 8 – Reta de regressão dos valores da precipitação interna no pluviômetro 1, em função da externa.

REGRESSÃO 2

y = 0,8417x + 2,6384

R2 = 0,6758

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00

EXTERNA

INTE

RN

A

Figura 9 - Reta de regressão dos valores da precipitação interna no pluviômetro 2, em função da precipitação externa.

26

REGRESSÃO 3

y = 0,8831x + 0,7417

R2 = 0,8556

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00

EXTERNA

INTE

RN

A

Figura 10 - Reta de regressão dos valores da precipitação interna, em função da precipitação externa.

REGRESSÃO 4

y = 1,0716x + 4,3133

R2 = 0,8817

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00

EXTERNA

INTE

RN

A

Figura 11 - Reta de regressão dos valores da precipitação interna no pluviômetro 4, em função da externa.

27

REGRESSÃO 5

y = 1,6965x + 16,116

R2 = 0,4871

0,00

50,00

100,00

150,00

200,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00

EXTERNA

INTE

RN

A

Figura 12 - Reta de regressão dos valores da precipitação interna no pluviômetro 5, em função da externa.

De acordo com a reta de regressão apresentada na Figura

12, constatou-se, por meio do coeficiente de regressão

múltiplo R2, que 49% da precipitação interna no pluviômetro 5,

pode ser explicada pela variância da precipitação externa.

Pela análise estatística dos dados pode-se observar que os

F de significação resultantes, apresentaram-se baixos,

determinando que o modelo está bem ajustado. Pode-se afirmar

com menos de 1% de erro, que os valores de R2 podem ser

considerados corretos. O valor p determina a significância do

coeficiente angular(b) e da reta (a). O valor p do coeficiente

da reta (a), resultaram em valores que podem ser considerados

altos, ou seja, o ponto onde a reta criada pelo modelo

coincide com o eixo y não está bem definido. Os coeficientes

angulares (b) resultaram em valores p baixos, indicando que o

coeficiente angular está dando um melhor ajuste ao modelo

testado.

28

Em todas as regressões acima os coeficientes da reta

apresentaram-se elevados, determinando seu pouco ajuste no

modelo, propiciando um elevado erro. Apesar disso, os pontos

onde as retas criadas pelos modelos cruzaram o eixo y, se

mostraram positivos, ou seja, houve precipitação interna mesmo

quando os valores de precipitação externa foram iguais a zero.

Nota-se que a regressão IV e especialmente a V, resultaram em

coeficientes de reta maiores (4,3133 e 16,116) reforçando o

teste t realizado anteriormente, onde observou que a

precipitação no PL4 e PL5 foram diferentes entre si e dos

demais. Com isso, cabe principalmente às diferentes

características da vegetação e também ao aumento da altitude,

o maior valor encontrado de precipitação interna nos PL4 e

PL5.

No presente trabalho, verificaram-se resultados distintos

referentes à precipitação interna, principalmente no

pluviômetro (5) que se encontra em maior altitude e onde a

dominância do sub-bosque influencia diretamente na

distribuição da precipitação interna. Admite-se, portanto, que

a variação verificada seja decorrente da interferência de

outro fator como a característica da vegetação.

Constatou-se que houve maior correlação da precipitação

interna em função da precipitação externa (88%) no pluviômetro

4, sendo o menor valor encontrado referente ao pluviômetro 5,

justamente onde a correlação da precipitação interna em função

da precipitação total se encontra menor (48%).

A carência de estudos voltada para estas regiões, deixa

dúvidas sobre os serviços ambientais prestados por suas

florestas. E quando se pensa que nos ecossistemas florestais a

existência de um bolsão de umidade sob o dossel, diminui a

evaporação e aumenta a probabilidade de ocorrer a condensação

desse vapor d`água. Isso atrelado ao aumento da altitude com

29

conseqüente diminuição da temperatura e a transposição para

campos de altitude com aumento do sub-bosque acarreta em uma

importância cada vez maior da cobertura florestal na produção

de água. Esta hipótese ainda não esclarecida, mostra a

necessidade de estudos a serem feitos nesta região.

5.5. Interceptação Vertical

Foram obtidos dados de precipitação total e interceptação

vertical, referente a 31 medições diárias. Desta forma foi

determinado um modelo de regressão simples entre a variável

independente PE (precipitação total externa) e a variável

dependente IV.

Na figura 13 encontram-se os dados diários de precipitação

externa e interceptação vertical, que foram obtidos por meio

do interceptador e do pluviômetro alocados fora do domínio

florestal. Nota-se que na magnitude dos dados, a interceptação

vertical apresentou um comportamento semelhante à precipitação

externa.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

18/1

2/03

20/1

2/03

22/1

2/03

24/1

2/03

26/1

2/03

28/1

2/03

30/1

2/03

01/0

1/04

03/0

1/04

05/0

1/04

07/0

1/04

09/0

1/04

11/0

1/04

13/0

1/04

15/0

1/04

17/0

1/04

PE

mm

/m2

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

IVm

m/m

2

PE

IV

Figura 13: Dados diários referentes a precipitação externa (PE) e interceptação vertical (IV) compreendidos no período de 18/12/03 a 17/01/04.

30

Conforme a figura 13, pode-se observar que nos períodos

compreendidos entre as entradas de frente frias 25/12 a

29/12/03, 02/01 a 07/01/04 foram apresentados maiores valores

de interceptação vertical (IV). Da mesma forma que no período

compreendido entre 09/01/04 a 14/01/04, que foi marcado por

ventos fortes (como já citado anteriormente), a taxa de IV

apresentou-se menor que a taxa de precipitação. Resultado

semelhante ao observado nos pluviômetros internos 4 e 5.

Determinou-se então que através da interceptação vertical

medida pelo interceptador e a ocorrida na floresta, sofrem

influência semelhante aos ventos fortes e entrada de massas de

ar úmido. O vento acaba por aumentar a evaporação da água

interceptada pela copa, diminuindo a precipitação interna.

Os coeficientes de regressão múltiplos (R2), angular (a) e

da reta (b ou interseção), foram testados pela análise de sua

variância, estando os resultados na Tabela 08. A regressão 6

foi realizada com os dados brutos e a regressão 7 teve seus

dados transformados em logaritmo neperiano.

Tabela 08: Grau de liberdade, coeficiente de regressão múltiplo, coeficiente angular e coeficiente da reta, referente às Regressões 6 e 7, e suas respectivas significâncias.

Regr. 6 Regr. 7G.L. 30 30R2 0,6249* 0,7068*

Coef. ang. 0,0675* 0,6102*Coef. Reta 0,5051 1,0636*

*significativos a 1% de probabilidade

Com os graus de liberdade utilizados, as regressões se

apresentaram significativas a 1,00%, sendo que a regressão 7

resultou no maior coeficiente de determinação (R2).

31

A Figura 14, que representa a relação entre os valores da

precipitação total e interceptação vertical, resultou em um

coeficiente de determinação (R2) igual a 0,6249, ou seja, 62%

da variação na interceptação vertical pode ser explicada pela

variação da precipitação incidente. O erro relativamente

elevado apesar de significativo pode ser explicado por fatores

climáticos e até mesmo, fatores bióticos, como descritos

anteriormente.

y = 0,0675x + 0,5051

R2 = 0,6249

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

0,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00

Precipitação (mm/m2)

IV (

mm

/m2

)

Figura 14 – Reta de regressão entre os valores de interceptação vertical em função da precipitação externa.

32

y = 0,6102x - 1,0636R2 = 0,7098

-3,00

-2,00

-1,00

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

-4,00 -3,00 -2,00 -1,00 0,00 1,00 2,00 3,00

LN Precipitação (mm/m2)

LN

IV (

mm

/m2)

Figura 15 – Reta de regressão entre os valores de interceptação vertical em função da precipitação total entre os dados transformados em logaritmo neperiano.

A análise estatística dos dados resultou em um valor de F

de significação baixo, determinando que o modelo está bem

ajustado. Pode-se afirmar com menos de 1% de erro, que o valor

de R2 (0,6249) pode ser considerado correto. Por meio da

análise dos coeficientes de significância, onde o valor p

determina a significância do coeficiente angular (b) e do

coeficiente da reta (a), observou-se que o coeficiente da reta

(a) apresentou um valor p igual a 0,1653. Um valor que pode

ser considerado alto. Isto indica que o ponto onde a reta

coincide com o eixo y, não está bem definido, apresentando um

erro de 16,53%. O coeficiente angular resultou em um valor p

igual a 1,22171E-07, valor este que determina um melhor ajuste

ao modelo.

A Figura 15 representa a reta de regressão entre os

valores de interceptação vertical (IV) em função da

precipitação externa (PE), transformados em logaritmo

33

neperiano, que resultou em um coeficiente de determinação (R2)

igual a 0,7098, explicando que aproximadamente 71% da

interceptação vertical ocorre em função da variância

precipitação externa. Deve-se levar em consideração a época de

chuva, onde neste ano em especial precipitou uma quantidade

considerável em função das diversas frentes frias que vinham

da região sul.

A região encontra-se entre vales encaixados na encosta

localizada na vertente Sul do maciço rochoso da Serra do Mar,

proporcionando a passagem turbulenta das massas de ar úmida

via bacia aérea.

Por meio da Figura 16 (B) observa-se ascendência

orográfica dos ventos úmidos que se deslocam do oceano. Estes

ventos passam por vales encaixados e obstáculos verticais, que

promovem forte interceptação da bacia aérea, um adicional de

umidade para o sistema via interceptação vertical.

34

Pico do Caledônia2220m

Pico da pedra K21752m

Área de estudo1560m

Direção do fluxo da bacia aérea

Canal de drenagem

A)

B)

Figura 16: (A) Planta da bacia aérea e (B) Corte longitudinal (perfil) das entradas e saídas de massas de ar proveniente da evaporação do Oceano Atlântico e/ou frentes fria. Em destaque a área de estudo entre os divisores das bacias do rio Cachoeiras de Macacu (vertente Atlântica) e Bengala (bacia do rio Paraíba do Sul), Pico do Caledônia e Pico da Pedra K2.

35

Segundo FURIAN (1987), as massas de ar equatoriais e

tropicais imprimem uma dinâmica climática caracterizada por um

clima úmido, com fortes influências da altitude e dos efeitos

orográficos da Serra do Mar. A Figura 17 representa os valores

de interceptação vertical decorrentes destas influências, onde

em alguns dias a umidade levou a uma taxa de interceptação

vertical de mais de 30%, justamente nos dias de ocorrência de

frente fria.

10,47%

5,09%4,36%

12,72%

6,38%

4,53%

7,48%

10,22%

4,60%

31,42%

37,31%36,91%

13,38%

17,80%

9,43%

5,24%

15,71%

8,62%8,07%

9,73%

11,99%

3,61%

31,73%

20,95%

16,76%

6,98%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

18/12

/03

20/12

/03

22/12

/03

24/12

/03

26/12

/03

28/12

/03

30/12

/03

01/01

/04

03/01

/04

05/01

/04

07/01

/04

09/01

/04

11/01

/04

13/01

/04

15/01

/04

17/01

/04

Frente fria Frente fria

Frente fria

Ventosfortes

Figura 17: Interceptação vertical diária em percentual decorrente dos 31 dias de coleta referentes ao Interceptador (In) compreendidos durante o período de dezembro de 2003 a janeiro de 2004.

Por meio da Figura 17 pôde-se observar que os dias com

passagem de frente fria (em destaque) proporcionaram taxas de

interceptação vertical mais altas, já no período marcado por

ventos fortes a taxa de interceptação se manteve baixa, assim

como o observado nos pluviômetros 4 e 5 (Figura 8), onde foram

quantificadas taxas de interceptação vertical consideráveis.

Através dos dados obtidos, verificou-se resultado distinto

referentes à precipitação interna e interceptação vertical.

36

Logo se admite que a variação observada seja decorrente da

interferência de outros fatores, tais como: velocidade do

vento, características da vegetação, intensidade de chuva,

umidade relativa e intervalo entre chuvas. Segundo SINGH

(1987), essas diferenças mostram a influência particular de

cada ecossistema, onde o tipo de vegetação, características

climatológicas locais, no que diz respeito principalmente a

velocidade e direção do vento, além da umidade relativa,

interfere diretamente no volume precipitado internamente.

O processo de interceptação vertical apresentou-se

significativo a 1% de probabilidade, com correlação entre a

precipitação total e interceptação vertical de 70,98%. Assim,

a capacidade da floresta interceptar ventos úmidos funcionaria

no sentido de redistribuir mais lentamente a água da chuva

interceptada em direção ao solo, tendo como conseqüência uma

maior captação de água através da Bacia.

Os resultados de interceptação vertical (IV) demonstraram

que a contribuição do fluxo de água foi de 68,71mm (8,74% da

precipitação total) uma média de 2,21mm/dia, e, em quatro dias

as taxas de IV foram acima de 5mm/dia (Figura 16), indicando

que a interceptação vertical possui forte influência na

produção de água. A quantificação desse mecanismo é um

importante indicador da interação dos processos climáticos e

ecológicos, que acabam por influenciar o balanço hídrico.

A microbacia do estudo possui importância para o contexto

local por fornecer o mínimo de 20 litros de água por segundo

para a população durante todo o ano, o que significa

aproximadamente 630.720 m3 de água por ano (C.A.E.N.F.

comunicação pessoal). A vegetação exerce papel fundamental na

produção hídrica por regularizar o regime fluviométrico com

água de excelente qualidade, além de promover o aumento de

água no sistema através da interceptação vertical.

37

A interceptação vertical é de fato um dos componentes do

ciclo hidrológico, mas de certa forma as características da

vegetação e sua arquitetura de copa formam diferentes tipos de

anteparos (grau de entupimento de obstrução dos ventos)

(Lamprecht, 1990), que influenciam na infiltração da água no

solo via precipitação interna ou via escoamento pelo tronco,

conferindo ao ambiente florestal maior ou menor precipitação

interna. No entanto, este fenômeno só é constatado a altitudes

elevadas onde a temperatura, juntamente com a umidade do ar,

propicia a condensação de superfície, como foi visto

anteriormente. Cabe então o seguinte questionamento: a

intensidade de interceptação vertical quando há entrada de

frente fria é a mesma nas diferentes épocas do ano? Pois no

verão, as circulações atmosféricas do atlântico propiciam

elevadas taxas de precipitações. E no inverno, as baixas

temperaturas propiciam maiores taxas de condensação, nas

entradas de frente fria? Será que durante o ano pode-se ter

uma taxa constante de interceptação vertical?

Estas são perguntas ainda sem respostas, haja vista a

raridade de estudos sobre interceptação vertical.

Seria interessante o estudo da distribuição da

Interceptação Vertical ao longo das três zonas hidrogenéticas

de uma bacia hidrográfica, de forma a entender melhor os

mecanismos pelos quais as florestas administram os recursos

hídricos.

38

6. CONCLUSÕES

Para as condições climáticas e características vegetais em

que foi desenvolvido o experimento, e métodos utilizados, são

estabelecidas as seguintes conclusões:

A precipitação externa total influencia diretamente na

precipitação interna. Os resultados obtidos demonstram,

efetivamente, o relevante papel desenvolvido pela vegetação no

comportamento do ciclo hidrológico de tais ecossistemas. Onde

a cobertura florestal das encostas da serra do Mar voltadas

para o litoral, ou que sofrem influência direta ou indireta de

ventos úmidos, desempenham um papel fundamental para a

estabilidade e administração do ciclo hidrológico da região, o

que se reflete na quantidade e qualidade da água.

A ocorrência de frentes-frias ocasiona a elevação da

precipitação interna via interceptação vertical, com valores

que chegam a até 125% da precipitação total;

A ocorrência de ventos fortes, de acordo com as observações

de campo, influencia diretamente no volume de água precipitado

internamente;

As perdas por interceptação sofrem influência da altitude,

em função da temperatura e conseqüente orografia;

A precipitação total influencia diretamente a interceptação

vertical das massas de ar úmidas;

A ocorrência de frentes-frias ocasiona a elevação da

interceptação vertical;

A ocorrência de ventos fortes, de acordo com as observações

de campo, influencia diretamente no volume de água

interceptado verticalmente;

A interceptação vertical sofre influência da altitude, em

função da temperatura e conseqüente orografia;

A vegetação é fundamental na interceptação vertical;

39

As florestas que se encontram nas áreas de condensação da

Serra do Mar principalmente as que vertem para o Atlântico,

são fundamentais.

A contribuição do fluxo de água decorrente da interceptação

vertical média foi de 68,71mm (8,74%) uma média de 2,21mm/dia.

A quantificação do mecanismo de Interceptação Vertical é um

importante indicador da interação dos processos climáticos e

ecológicos, que acabam por influenciar o balanço hídrico.

40

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASTON, A. R. Rainfall interception by eight small trees. J. Hydrol. (Amst.), v.42, p.383-96, 1979.

CASTRO, P. S, VALENTE, O.F. COELHO, D. T., RAMALHO, R. S. Interceptação da chuva por mata secundária na região de Viçosa, MG. Rev. Árvore, v.7, p. 76-89, 1983.

CESAR, S. F. Ciclo hidrológico. 5º Curso internacional sobre manejo de bacias hidrográficas na área florestal, 1994. p. 203-212.

FIDERJ. Fundação de desenvolvimento econômico e social do Rio de Janeiro. Indicadores climatológicos do Estado do RJ, 156p. 1978.

FURIAN, S. M. Estudo geomorfológico do escoamento superficial em parcelas experimentais no Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Cunha / SP. Um esboço metodológico. 1987. 187 p. Dissertação (Mestrado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, São Paulo.

GUERRA, A. J. T. CUNHA, S. B. Hidrologia de Encosta na Interface com a Geomorfologia. In: NETTO, A. L. C. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos/organização. Rio de Janeiro. 1994.

HUBER, A. M., OYARZÚN, C. E. Redistribución de las prcipitacines en un bosque simpreverde del sur de Chile. Turrialba, v.42, p.192-9, 1992.

IBGE. Manual Técnico da Vegetação Brasileira / Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. Rio de janeiro: IBGE, 1991.

JOHNSON, R. G. The interception, throughfall and stemflow im a forest in Highland Scotland and the comparison with other upland forests in U.K. J. Hidrol. (Amst), v.118, p.281-7, 1990.

LAMPRECHT, H. SILVICULTURA NOS TRÓPICOS – Ecossistemas florestais e respectivas espécies arbóreas – Possibilidade de aproveitamento sustentável. Eschborn, 1990. 343 p.

LIMA W. De P. Princípios de hidrologia florestal para o manejo de bacias Hidrográficas. Departamento de Silvicultura da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, 1986. 242p. (Mimeogr.).

LIMA, H. C. de & GUEDES-BRUNI, R. R. (eds.). Serra de Macaé de Cima: Diversidade Florística e Conservação em Mata

41

Atlântica. Rio de Janeiro. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 1997. 346p.

LLOYD,C. R., GASH, J. H. C., SHUTTLEWORTH, W. J. The measurement and modelling of rainfall interception by amazonian rain forest. Agric. For. Meterol., v.43, p.277-94, 1988.

MACEDO, R. F. Estudo plástico da vegetação, Universidade Federal de Santa Maria, 1977.

MARCONDES, A. C. Ecologia. São Paulo, Atual Editora, 210p, 1996.

MARTINS, F. R. Aspectos da organização de uma comunidade florestal. Ecologia vegetal, Campinas-SP. Departamento de botânica/IB/UNICAMP BT-682. 10P. 1993.

MOLCHANOV, A. A. Hidrologia Florestal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 419p. 1971.

NALON, M. A., VELLARDI, A. C. V. Estudo do balanço hídrico nas escarpas da serra do mar, região de Cubatão, SP. Rev. Inst. Florestal., v. 5, n.1, p.39-58, 1993.

NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: SUPREN: IBGE, 421P. 1979.

OTTONI NETTO, T. B.; 1993. RJ – Fundamentos de engenharia ambiental com ênfase em recursos hídricos. Perenização e regularização fluvial. 1995. 232p.

RONDON-NETO, R. M. Estrutura e composição florística da comunidade arbustivo-arbórea de uma clareira de formação antrópica e da mata de suas cercanias, numa Floresta Estacional Semidecídua. Montana, Lavras – MG. Lavras: UFLA, 1999. Cap.2, p. 14-73. (Dissertação – Mestrado em Engenharia Florestal).

SATTERLUND, D. R. Wildland watershed management, 355p.1972.

SINGH, R. P. Rainfall interception by Pinus wallichiana plantation in temperate region of Himachal Pradesh, India. Indian For., p.559-66, 1987.

TARIFA, R. J. Climatologia I Departamento de Geografia - Universidade de São Paulo, 11p. s/d.

VALCARCEL, R. Seminário: Balance hídrico em la Selva Nublada. (Universidad de Los Andes). Venezuela, 19p. 1982.

42

8.ANEXOS:

Figura 18: Interceptador de neblina e pluviômetro externo em local aberto.

Figura 19: Pluviômetro intermo (PL2)

43

Figura 20: Pluviômetro interno (PL1)

Figura 21: Pluviômetro interno (PL3)

44

Figura 22: Visão da cobertura florestal sobre o pluviômetro 4.

Figura 23: Visão da cobertura florestal acima do PL1

45

Figura 24: Pluviômetro interno (PL4)

Figura 25: Cobertura florestal acima do PL3

46

Figura 26: Pluviômetro interno 5 (PL5)

Figura 27: Cobertura florestal sobre o PL5.

47

Figura 28: Entrada da massa de ar pela garganta da bacia aérea

Figura 29: Vista para o Oceano, foto tirada na área do estudo.

48

Figura 30: Encosta da Serra do Mar em que foi desenvolvido o experimento.