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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
RODRIGO GABRIOTI
A FAPESP E A CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO:
LEGITIMAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO E CONSTRUÇÃO DA ÁREA
São Bernardo do Campo-SP
2018
RODRIGO GABRIOTI
A FAPESP E A CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO:
LEGITIMAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO E CONSTRUÇÃO DA ÁREA
Tese apresentada em cumprimento parcial às exigências do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, da
Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para obtenção
do grau de Doutor.
Orientador: Prof. Dr. José Marques de Melo
São Bernardo do Campo-SP
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
G114f Gabrioti, Rodrigo
A FAPESP e a ciência da comunicação: legitimação,
contribuição e construção da área / Rodrigo Gabrioti. 2018.
349 p.
Tese (Doutorado em Comunicação Social) --Escola de
Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade
Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2018.
Orientação de: José Marques de Melo.
1. Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
- FAPESP 2. Pesquisa - São Paulo (Estado) 3. Bolsas de estudo
- São Paulo (Estado) 4. Pós-Graduação - Comunicação - Brasil
I. Título.
CDD 302.2
A tese de Doutorado “A FAPESP e a Ciência da Comunicação: Legitimação, Contribuição e
Construção da Área”, elaborada por Rodrigo Gabrioti, foi defendida e aprovada em 25 de abril
de 2018, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. José Marques de Melo
(Presidente/UMESP), Prof. Dr. Luiz Alberto Beserra de Farias (Titular/UMESP), Profª. Dra.
Sônia Jaconi (Titular/UMESP), Profª Dra. Maria Cristina Gobbi (Titular/UNESP) e Prof. Dr.
Osvando José de Morais (Titular/UNESP)
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. José Marques de Melo
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Alberto Beserra de Farias
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
Programa: Pós-Graduação em Comunicação Social
Área de Concentração: Processos Comunicacionais
Linha de Pesquisa: Comunicação midiática, processos e práticas culturais.
A Natalie Zambello Pereira, minha esposa, que diante de algumas frustrações no meu sonho
de ser doutor, transformou a decepção em incentivo demonstrando que sempre há um
caminho melhor; que dirigiu para mim em dias de chuva forte no trajeto Sorocaba/São
Bernardo do Campo; que encontrou a fórmula matemática para calcularmos juntos as
amostras quantitativas da pesquisa. Por tudo isso é que ela sempre me disse: “se fosse fácil,
todo mundo conseguia”. Não à toa dizem que por trás de todo homem
existe uma grande mulher.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Dr. José Marques de Melo, por confiar no meu tema de pesquisa. É
uma honra ter como mentor intelectual a maior referência da Pesquisa na Área da Comunicação.
Um incansável sujeito de pesquisa, sempre à frente do seu tempo.
À Capes, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela viabilização da
Bolsa Taxa Multidisciplinar.
Ao amigo Prof. Dr. Osvando José de Morais, da UNESP de Bauru, que participou
constantemente desta caminhada com diálogo sempre construtivo em torno de reflexões que
me permitem ser um pesquisador instigante.
À Profa. Dra. Cicilia Peruzzo, que deu grande apoio em um momento de mudança na vida
profissional deste pesquisador além de contribuir com sugestões, questionamentos e debates
sempre demonstrando grande interesse pelo meu tema de pesquisa chegando inclusive a
proporcionar algumas correções de rota no exame de Qualificação.
À Profa. Dra. Marli dos Santos, que como coordenadora do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo, sempre exerceu seu cargo com
profissionalismo, seriedade e doçura fazendo do PósCom um ambiente agradável. Grato
também pelas contribuições que deu a esta pesquisa na Qualificação.
Ao amigo Prof. Dr. Paulo Braz Clemencio Schettino, quando ainda entre nós, dialogamos sobre
a pesquisa com apontamentos e sugestões de bibliografia.
À Kátia Bizan e Anadelia Davanso Ricci, ex-secretárias do Pós-Com, e a atual secretária, Gisele
Nicolosi, que sempre demonstraram deferência em minhas solicitações.
Ao Prof. Dr. Luiz Alberto Beserra de Farias, coordenador do Pós-Com Metodista.
À Profa. Dra. Adriana Barroso de Azevedo, do Programa de Pós-Graduação em Educação, por
acolher a face interdisciplinar desta pesquisa.
Aos professores doutores Maximiliano Martin Vicente; Lúcia Santaella; Ana Claudia Mei e
Ciro Marcondes Filho por responderem ao questionário e contribuírem com a pesquisa.
À Profa. Dra. Esther Império Hamburger, coordenadora de Ciências Humanas Sociais II da
FAPESP, que gentilmente dispôs de seu tempo para me atender em um anoitecer de outubro
em sua sala da USP.
Às professoras Maria Cristina Gobbi e Sônia Jaconi, por aceitarem o convite de avaliadoras da
banca, trazendo contribuições essenciais para o aprimoramento do trabalho.
A todos os colegas do PósCom, com os quais troquei ideais sobre esta pesquisa.
Ao meu pai por adoção, Rogério de Moraes, um entusiasta e incentivador do meu interesse pela
vida acadêmica.
E à Vida por me permitir realizar este sonho que contou com muito esforço e viagens de
Sorocaba a São Bernardo do Campo em manhãs, tardes e noites sob sol, chuva, neblina e diante
de muito trânsito!
“O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que
acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas
incomparáveis”
Fernando Pessoa (1888-1935)
GABRIOTI, Rodrigo. A FAPESP e a Ciência da Comunicação: Legitimação, Contribuição e
Construção da Área. 2018. 349f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) – Universidade Metodista
de São Paulo, São Bernardo do Campo.
RESUMO
O trabalho considera 912 projetos decorrentes de Bolsas de Estudos e Auxílios fomentados pela
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) entre 1992 e 2016 na Área
da Comunicação. A partir deles, se propõe uma construção taxionômica a fim de verificar suas
contribuições na legitimação do conhecimento tendo como horizonte uma agência de fomento.
Por meio da Biblioteca Virtual da FAPESP, estuda-se a produção existente. São duas as
principais estratégias metodológicas: com a Análise Quantitativa, as amostras foram coletadas
e divididas em sete categorias sobre as quais foi possível estabelecer as representatividades
percentuais que fornecem, por exemplo, tendências de estudo e relações acadêmicas
estabelecidas. Pela Análise de Conteúdo, relacionam-se os documentos analisados ao problema
levantado sobre o papel do fomento na construção taxionômica dos estudos em Comunicação
aplicando o método das inferências nas instâncias da emissão, mensagem, significação e meio
para o apontamento de índices e indicadores que representam dados gerais constituídos a partir
do universo de linhas de fomento. Demonstra-se que a pesquisa em Comunicação é atraente e
se centraliza na cidade de São Paulo apresentando sinais de modernização de objetos na
primeira passagem secular de seus estudos; é ainda detentora de um impasse conceitual
subjetivo e disciplinar; e precisa de uma metapesquisa como esta que considera a FAPESP para
refletir sobre o que se escreve e se produz nos Programas de Pós-Comunicação brasileiros como
tentativa de tirar os estudos da Área de sua força institucional para um pensamento autônomo,
legitimado e reconhecido.
Palavras-chave: Auxílios à Pesquisa. Comunicação. Bolsas de Estudo. FAPESP. Fomento.
GABRIOTI, Rodrigo. La FAPESP y la Ciencia de la Comunicación: Legitimación, Contribuición y
Construcción del Área. 2018. 349f. Tesis (Doctorado en Comunicación Social) – Universidade
Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.
RESUMEN
El trabajo lleva en cuenta 912 proyectos oriundos de becas y auxílios por parte de la Fundación
de Amparo a la Pesquisa del Estado de San Pablo (FAPESP) de 1992 a 2016 en el Área de la
Comunicación. Tras ellos, se propone uma construcción taxonómica con el propósito de
verificar sus contribuciones para la legitimación del conocimiento teniendo como horizonte una
agencia de fomento. Por intermédio de la Biblioteca Virtual de FAPESP, se realiza el estudio
de la producción existente. Son dos las principales estrategias metodológicas: con el Análisis
Cuantitativo, los ejemplares han sido colectados y repartidos en siete categorías de las cuales
és posible establecer las representatividades percentuales que muestran, por ejemplo, las
tendencias del estudio y las relaciones académicas establecidas. Por el Análisis de Contenido,
relacionanse los documentos analisados al problema instituído acerca de la función del fomento
en la construcción taxónomica de los estudios en Comunicación les aplicando el método de las
inferencias en los modos de emisión, mensaje, significación y medio para que estos apunten
índices y indicadores que representan datos generales constituídos por las amuestras de líneas
de fomento. Demuéstrase que la investigación en Comunicación es atractiva y se centraliza en
la ciudad de San Pablo presentando señales de modernización de objetos en su primera
transposición de siglo en sus estudios; sigue en el compás de espera de un concepto subjetivo y
disciplinar; necesita de una autoinvestigación tal cual esta que lleva en consideración la
FAPESP de modo a reflexionar acerca de lo que se escribe y se produce en los Programas de
Posgrado brasileños como ejercício de sacar los estudios del Área de su fuerza institucional
para un pensamiento autónomo, legitimado y reconocido.
Palabras clave: Auxílios a la Investigación. Comunicación. Becas de Estudio. FAPESP.
Fomento.
GABRIOTI, Rodrigo. FAPESP and Communication Science: Legitimation, Contribution and
Construction of the Area. 2018. 349f. Thesis (Doctorate in Communication Science) – Universidade
Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo.
ABSTRACT
The work considers 912 projects derived from scholarships and research assistances supported
by Foundation for Research Support of São Paulo’s State (FAPESP) between 1992 and 2016
in the Communication Field. From them, we offer to do the taxonomy construction for check
your contributions to legitimate the knowledge having as horizon a development agency.
Through the FAPESP’s Virtual Library, we study the existing production. There are two main
methodological strategies: by the quantitative analysis, the samples were collected and divides
into seven categories on which it was possible to establish the percentages that provide, for
example, study tendencies and established academic relations. By the Content Analysis,
the analyzed documents are related to the problem raised on the role of fomentation in the
taxonomic construction of studies in Communication applying the method of inferences in the
instances of emission, message, signification and means for the indentation of indices and
indicators that represent general data constituted from of the universe of development lines.
Then, we show that the Communication Research is attractive and is centralized at São Paulo
city presenting modernization signs in your objects in the first secular passage of its studies; it
is still detaining a conceptual and disciplinary conceptual impasse; it needs a meta search like
this that considers FAPESP to think about what is writed and is produced at Brazilian
Communication’s Postgraduate as an attempt to remove the Field Studies from your
institutional strength for a n autonomous, legitimized and recognized thinking.
Key words: Research Assistances. Communication. Scholarships. FAPESP. Support.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Deputado Caio Prado Júnior ............................................................................ 120
FIGURA 2 – Artigo de José Reis à Folha da Manhã ............................................................ 123
FIGURA 3 – Governador Carvalho Pinto autoriza o funcionamento da FAPESP ............... 130
FIGURA 4 – Warwick Ken ................................................................................................... 131
FIGURA 5 – A primeira sede da FAPESP na USP ............................................................... 132
FIGURA 6 – Primeiro prédio próprio da FAPESP [...] ......................................................... 133
FIGURA 7 – Miguel Reale .................................................................................................... 136
FIGURA 8 – Sede atual da FAPESP [...] ............................................................................. 138
FIGURA 9 – Florestan Fernandes ........................................................................................ 140
FIGURA 10 – Celso Lafer ..................................................................................................... 148
FIGURA 11 – Inauguração do Auditório [...] ...................................................................... 150
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1
Resultados Avaliação Quadrienal CAPES – 2017 – Programas Acadêmicos..........................78
QUADRO 2
Bolsas no Brasil ..................................................................................................................... .155
QUADRO 3 Bolsas no Exterior ................................................................................................................ ..155
QUADRO 4
Auxílio à Pesquisa ................................................................................................................. .156
QUADRO 5
Distribuição das 299 Bolsas em Iniciação Científica.. .......................................................... .163
QUADRO 6 Distribuição das 250 Bolsas de Iniciação Cientifica nas Universidades públicas..................164
QUADRO 7 Distribuição das 38 Bolsas de Iniciação Cientifica nas Universidades Particulares...............164
QUADRO 8
Distribuição das 3 Bolsas de Iniciação Cientifica nas Faculdades Particulares....................165
QUADRO 9
Distribuição Geográfica das Bolsas de Iniciação Cientifica .................................................. 165
QUADRO 10
Professores Orientadores na Iniciação Cientifica ................................................................... 167
QUADRO 11
Temas de Pesquisa: Modalidade Bolsas no Brasil ................................................................. 168
QUADRO 12
Temas de Pesquisa em Bolsas de Iniciação Científica ........................................................... 169
QUADRO 13
Metodologias na Iniciação Científica ..................................................................................... 170
QUADRO 14
Referências Bibliográficas na Iniciação Científica ................................................................ 171
QUADRO 15 Nacionalidade dos autores referenciados em Iniciação Científica ......................................... 171
QUADRO 16 Distribuição das 145 Bolsas de Mestrado a Universidades Públicas ..................................... 178
QUADRO 17 Distribuição das 26 Bolsas de Mestrado a Universidades Particulares .................................. 178
QUADRO 18 Distribuição das 7 Bolsas de Mestrado a Faculdades Particulares ......................................... 178
QUADRO 19
Localidade das Pesquisas com Bolsas de Mestrado no Estado .............................................. 179
QUADRO 20 Temas de Pesquisa no Mestrado ............................................................................................. 180
QUADRO 21 Metodologias de Pesquisa no Mestrado ................................................................................. 180
QUADRO 22 Autores mais citados nas Pesquisas de Mestrado ................................................................... 181
QUADRO 23
Nacionalidade dos autores referenciados em Mestrado ......................................................... 182
QUADRO 24
Distribuição das 47 Bolsas de Doutorado em Universidades Públicas .................................. 185
QUADRO 25
Distribuição das 21 Bolsas de Doutorado em Universidades Particulares ............................. 186
QUADRO 26
Localidade das Pesquisas com Bolsas de Doutorado no Estado ............................................ 186
QUADRO 27
Temas de Pesquisa no Doutorado ........................................................................................... 187
QUADRO 28
Metodologias de Pesquisa no Doutorado ............................................................................... 188
QUADRO 29
Referências adotadas nas Pesquisas de Doutorado................................................................. 188
QUADRO 30
Nacionalidade dos autores referenciados em Doutorado ....................................................... 189
QUADRO 31
Distribuição das 38 Bolsas de Pós-Doutorado ....................................................................... 192
QUADRO 32
Supervisores de Pós-Doutorado.............................................................................................. 193
QUADRO 33
Metodologias de Pós-Doutorado ............................................................................................ 194
QUADRO 34
Nacionalidade dos autores referenciados em Pós-Doutorado ................................................ 194
QUADRO 35
Distribuição das 14 Bolsas Exterior no Estágio Iniciação Científica ..................................... 201
QUADRO 36
Distribuição das 32 temas das 14 Pesquisas Estágio Iniciação Científica no Exterior........... 202
QUADRO 37 Nacionalidade dos autores referenciados em Bolsa Exterior Iniciação Científica.. ............... 203
QUADRO 38
Distribuição das 8 Bolsas Exterior em Mestrado para Universidades.................................... 203
QUADRO 39
Países das 8 Bolsas Exterior em Mestrado ............................................................................. 204
QUADRO 40
Países das 5 Bolsas Exterior em Doutorado ........................................................................... 205
QUADRO 41
Países das 7 Bolsas Exterior em Pós-Doutorado .................................................................... 206
QUADRO 42
Distribuição das 24 de Pesquisa Exterior para Universidades Públicas ................................. 208
QUADRO 43
Distribuição das 20 Bolsas de Pesquisa Exterior para Universidades Particulares .............. ..208
QUADRO 44
Distribuição das 4 Bolsas de Pesquisa Exterior para Faculdades Particulares.......................208
QUADRO 45
Países das 48 Bolsas de Pesquisa Exterior ............................................................................. 209
QUADRO 46
Solicitação de Pesquisadores para Bolsa Pesquisa no Exterior .............................................. 210
QUADRO 47
Solicitação de Instituições a Auxílios Regulares de Pesquisa ................................................ 214
QUADRO 48
Localidade dos Auxílios Regulares no Estado ....................................................................... 215
QUADRO 49
Autores citados nos Auxílios Regulares ................................................................................. 216
QUADRO 50
Solicitação de Instituições a Auxílio Publicação .................................................................... 220
QUADRO 51
Localidade do Auxílio Publicação no Estado ......................................................................... 222
QUADRO 52
Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Universidades Públicas ...... 225
QUADRO 53
Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Univ. Particulares.. ............. 225
QUADRO 54
Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Faculdades Particulares ...... 225
QUADRO 55
País de Origem dos Pesquisadores Visitantes ........................................................................ 226
QUADRO 56
Temas de Pesquisa Auxílio Pesquisador Visitante ................................................................. 227
QUADRO 57
Bolsas FAPESP no Brasil ....................................................................................................... 229
QUADRO 58
Inferências no cenário de Bolsas e Auxílios à Pesquisa ......................................................... 242
QUADRO 59
Inferências no cenário da Biblioteca Virtual da FAPESP ...................................................... 248
QUADRO 60
Auxílios à Pesquisa da CHS II (1997-2017) .......................................................................... 281
QUADRO 61
Bolsas no Brasil da CHS II (1992-2017) ................................................................................ 282
QUADRO 62
Bolsas no Exterior da CHS II (1992-2017) ............................................................................ 282
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 19
CAPÍTULO I – COMUNICAÇÃO EM TRÊS DIMENSÕES ................................................... 38
1.1 Meios de Comunicação .......................................................................................................... 48
1.2 A Comunicação na dimensão da Pesquisa: origens institucionais ..................................... 56
1.3 O papel institucional da América Latina ............................................................................. 65
1.4 Os emaranhados da Comunicação para sua consolidação de Pesquisa: as noções de
campo e interdisciplinaridade ........................................................................................................ 81
1.5 Noções de Ciência ................................................................................................................... 91
1.6 A pesquisa em Comunicação e o discurso das teorias ......................................................... 99
CAPÍTULO II – FAPESP E COMUNICAÇÃO: LAÇOS INSTITUCIONAIS COMO MÉTODO
DE CONSTRUÇÃO DA ÁREA ....................................................................................................... 108
2.1 FAPESP: o investimento estatal à custa de ideologias políticas ...................................... 117
2.2 Sim, nós temos FAPESP! .................................................................................................... 128
2.3 Um Novo Ciclo (1969-1983) ................................................................................................. 135
2.4 Constituinte, Globalização e Modernidade ........................................................................ 138
2.5 Ampliando os Horizontes do Conhecimento ...................................................................... 144
2.5.1 A FAPESP hoje ................................................................................................................ 146
CAPÍTULO III – INDICADORES E INFERÊNCIAS: 25 ANOS DE PESQUISAS EM
COMUNICAÇÃO COM APOIO FAPESP .................................................................................... 153
3.1 Bolsas no Brasil: Iniciação Científica ................................................................................ 156
3.1.1 Mapeamento das pesquisas em Iniciação Científica (1992-2016) .................................. 162
3.2 Bolsas de Mestrado............................................................................................................... 172
3.2.1 Mapeamento das pesquisas de Mestrado (1992-2016) .................................................... 175
3.3 Bolsas de Doutorado............................................................................................................. 183
3.3.1 Bolsas de Doutorado Direto ............................................................................................ 184
3.3.2 Mapeamento das pesquisas de Doutorado e Doutorado Direto (1993-2016).......185
3.4 Bolsas de Pós-Doutorado ..................................................................................................... 190
3.4.1 Mapeamento das pesquisas de Pós-Doutorado (1998-2016)........................................... 192
3.5 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no
Brasil ..............................................................................................................................................195
3.6 Bolsas no Exterior .............................................................................................................. 197
3.6.1 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Iniciação Científica (2012-2016) ........... 200
3.6.2 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Mestrado (2013-2016) ........................... 203
3.6.3 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Doutorado (2012-2015) ......................... 205
3.6.4 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Pós-Doutorado (2012-2016) .................. 206
3.6.5 Mapeamento de Bolsa Estágio Pesquisa (1996-2016) ..................................................... 207
3.6.6 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no
Exterior ........................................................................................................................................ 211
3.7 Auxílio à Pesquisa - Regular .............................................................................................. 212
3.7.1 Mapeamento de Auxílio à Pesquisa Regular (1993-2016) ............................................... 214
3.8 Auxílio à Pesquisa – Publicações ........................................................................................ 217
3.8.1 Mapeamento de Auxílio Publicações (1993-2016) ......................................................... 220
3.9 Auxílio Pesquisador Visitante ............................................................................................. 222
3.9.1 Mapeamento de Auxílio Pesquisador Visitante (1994-2016) .......................................... 224
3.10 A produção de Indicadores e Inferências ......................................................................... 227
CAPÍTULO IV – LIDERANÇAS DO FOMENTO E COMUNICAÇÃO: CAMINHOS
POSSÍVEIS ........................................................................................................................................ 251
4.1 As atividades de Lúcia Santaella ......................................................................................... 260
4.2 As atividades de Ciro Marcondes Filho ............................................................................. 268
4.3 As atividades de Ana Claudia Mei ...................................................................................... 273
4.4 Esther Império Hamburger: O Olhar da FAPESP .......................................................... 279
4.5 A construção de caminhos possíveis ................................................................................... 285
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 289
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 301
ANEXOS ............................................................................................................................................ 309
19
INTRODUÇÃO
Construir uma Taxionomia para a Comunicação a partir das pesquisas que receberam
aval científico e apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), entre 1992 e 2016, é possível quando nos propomos a considerar que um banco de
dados supera a noção de conjunto de meras informações estatísticas que venham a ser utilizadas
somente como indicadoras de produtividade. Elas podem ser um ponto de partida para a
sistematização de dados capazes de ajudar a entender a História da Comunicação sem que esta
se traduza apenas por gráficos e ações de uma superficial linha do tempo. Esta pesquisa
apresenta um panorama sobre a produção científica na Área da Comunicação considerando
pesquisas financiadas por uma das principais agências de fomento do Brasil e do Mundo.
Conceitualmente, a Comunicação é dilacerada em função da elevada concentração de
temas fragmentados que epistemologicamente partem de uma mesma raiz, mas que
taxionomicamente, não são consideradas. Foram várias as vezes que ao longo da manipulação
dos dados, em meses de trabalho, encontraram-se múltiplas “frentes” sobre Comunicação com
“especializações” que tergiversam sobre o Digital, o Organizacional, a Televisiva, a
Jornalística, a Interpessoal, etc.… como se tais decorrências fossem territórios próprios de
conhecimento sem um ponto de convergência para um conceito central que pode vir a se
desdobrar em inúmeras possibilidades e demonstrações que dão uma noção a respeito do
pluralismo temático da Área.
Paradoxalmente sofrendo um impasse conceitual entre os pares, a Comunicação incorre
em processos humanos de troca, em relações mediáticas e também em questionamentos que se
validam em problemas de pesquisa. Esse conjunto permite tratar algumas vertentes. As mais
plausíveis são a noção de campo, em Pierre Bourdieu (2004), que acredita na presença de
integrantes posicionados em um território sobre o qual se busca autoridade ainda que por meio
de lutas simbólicas; a Ciência, vista como algo difícil, pelo fato de os fenômenos
comunicacionais ocorrerem por meio de objetos que agregam olhares particulares e diversos.
Contrários a exemplos de ciências legitimamente estabelecidas, os processos comunicacionais
não estão sob a mira de um microscópio, ou seja, são de uma natureza que pouco apresenta
objetos concretos para análise. Por isso, exigem perspectivas diferentes que muitas vezes
convergem para uma questão muito presente na Área: a interdisciplinaridade. Um risco
20
assumido que se dilui apenas se a valorização do saber residir na Área de conhecimento
principal, no caso, a Comunicação como matriz de pensamento diante do entrecruzamento de
saberes. Inclusive esta pesquisa se realiza na dimensão interdisciplinar quando se subvenciona
pela Bolsa Taxa da CAPES. Seu objeto de estudo está inserido em dois Programas de Pós-
Graduação da Universidade Metodista de São Paulo: Comunicação e Educação. O resultado
dessa interdisciplinaridade, para ambas as Áreas, se dá a partir de um processo pedagógico que
valoriza a prática da pesquisa na dimensão educacional do fomento como exercício pleno da
busca de procedimentos científicos rigorosos academicamente seguidos. Práticas assim
contribuem ao conceito de complexidade, proposto por Edgar Morin (2010). Sabe-se que ainda
falta à Área aquilo que se encontra obscuro, no caso, um conceito para a Comunicação, aqui
viabilizado e tentado por uma construção educacional.
Essa tentativa de resposta parte de suposições e pretensões que saem do plano hipotético
para o plano objetivo permeado pelo trabalho de pesquisa. E quando há incentivo para isso,
pode-se dizer em facilitadores, caso da FAPESP, uma entidade consolidada que surgiu como
fruto de embates políticos em defesa da produção do conhecimento que, de forma até
surpreendente, não é tão tangível como se pensa. Comprova-se isto pela entrevista1 com a
coordenadora de Ciências Humanas e Sociais II da Fundação. A professora e pesquisadora Dra.
Esther Império Hamburger revelou que tão logo as demandas iniciais de um projeto seguem às
instâncias superiores, para análise do fomento, não se há mais controle do fluxo do
conhecimento. Isto incentiva ainda mais este trabalho em apresentar, não apenas ao meio
acadêmico e à sociedade, mas, em especial, à diretoria científica e coordenação de Área da
Fundação – resultados efetivos para uma construção pedagógica que venha perpassar as
questões financeiras e burocráticas dos relatórios em face dos ganhos científicos que justificam
a via de mão dupla do fomento.
Embora esta condição seja de difícil dissociação, não pela questão de processo da busca
por um fomento no que tange pesquisadores e a entidade, mas sim, pela condição estrutural que
o Brasil do século XXI atravessa com suas crises político-econômica e de valores morais. O
retrocesso do país como resultado de gastos públicos abusivos, da má gestão política que leva
à desesperança e de um comportamento social complicado atingiu, não em cheio, mas em
partes, o sustento das pesquisas no estado de São Paulo custeadas pela FAPESP. Um novo
momento, como foi na Ditadura, pode levar à repetição do movimento da nova evasão de
1 Concedida ao autor no dia 10 de outubro de 2017, em São Paulo.
21
cérebros, que se ocupam em fazer pesquisa neste Estado, independentemente da Área de
Conhecimento em que atuam.
No limiar entre o que a Fundação oferece e os pesquisadores almejam, existe um choque
entre Ciência e Gestão. Na Lei Orçamentária de 2017 do Estado de São Paulo, que orça a receita
e fixa a despesa do Estado para o ano estimando o quanto vai ser arrecadado para agir em
algumas frentes de políticas públicas, houve tentativa de redução do repasse financeiro feito à
FAPESP, identificada na Lei como Unidade 10.047 da Secretaria Estadual de
Desenvolvimento, Economia, Ciência e Tecnologia e Inovação. Essa intenção de redução do
repasse não se concretizou por conta do preceito constitucional de arrecadação politicamente
conquistada no passado e também pela mobilização dos cientistas, junto à opinião pública, com
repercussões na imprensa, em especial, nas reportagens dos dois grandes jornais da cidade de
São Paulo, Folha e Estadão. Sem contar outras manifestações, de cunho institucional, por parte
de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Em sua natureza taxionômica, a FAPESP assume que todo trabalho, submetido a ela, é
científico. Suas modalidades de apoio foram crescendo ao longo do tempo desde as bolsas de
estudo dos anos de 1960, os projetos temáticos da década de 1990, os eventos de
internacionalização como FAPESP Week, as pesquisas com a Internet até a divulgação
científica por meio da Agência FAPESP e a Biblioteca Virtual, base documental que possibilita
realizar a presente pesquisa por reunir projetos financiados, a partir de 1992, quando houve a
primeira inclusão de informações nesse sistema de dados2. Por tudo isso, pode-se dizer que
existe uma premissa que sinaliza à Comunicação a possibilidade de encontrar o seu lugar frente
ao seu complexo (em sentido obscuro) impasse conceitual.
Relacionar a FAPESP aos estudos em Comunicação é apostar em um dos primeiros
sintomas notáveis e bem claros da Área, que é o peso das instituições na validação da pesquisa
científica. No caso em questão, existe uma subcategorização epistemológica constituída pela
própria instituição que reparte a temática das pesquisas em Teoria da Comunicação; Jornalismo
e Editoração; Rádio e Televisão; Relações Públicas e Propaganda e Comunicação Visual.
Assim, cada vez que uma demanda de projeto dá entrada na Fundação, em tese, ela precisa estar
relacionada e ser direcionada a uma dessas Subáreas, embora seja possível identificar ao longo
da execução do levantamento documental, que nem sempre essa relação faz sentido quanto ao
2 Em 2018, ano de encerramento da pesquisa, em nova visita à Biblioteca Virtual da FAPESP (www.fapesp. br/bv),
encontramos incluídos os dados de pesquisas, desde o início dos apoios, porém sem a organização siste-mática do
período de nossas amostras.
22
enquadramento de natureza do objeto de pesquisa. Um estudo, por exemplo, inserido na
Subárea Teoria da Comunicação não quer dizer que, do ponto de vista da sua realização, esteja
tratando genuinamente “de” ou “sobre” teorias. Essa é uma prática que coincide com o que
Muniz Sodré (2014) considera repartição metodológica dentro de um campo de conhecimento
ao entender que tal divisão apresenta uma tendência de feudalização dos territórios de pesquisa
constituída pelas agências que tentam burocraticamente traçar perfis epistemológicos para o
campo. Pelo fato dessa repartição metodológica não fazer sentido ao propósito deste estudo,
que é de natureza taxionômica e não epistemológica, a opção foi excluir esse tipo de informação
porque não se verificam as produções de um eixo específico de processo comunicacional. Uma
distribuição como essa, em formato estanque, proporciona uma pseudo organização de
afinidade temática, que se torna paradigmática a ponto de atrapalhar qualquer avanço do
pensamento complexo sobre a Comunicação. Quando tal prática se realiza de forma automática,
o princípio de organicidade se atém ao que é recorrente e a Área perde, ao mesmo tempo, a
chance de se revisitar como condição histórica e de se abrir às novas demandas exigidas, em
especial, àquelas impulsionadas pela digitalização como materialidade da tecnologia
contemporânea.
Estudar essas produções acadêmicas, a fim de verificar suas contribuições na
legitimação do conhecimento tendo como horizonte uma agência de fomento, representa que,
institucionalmente, a FAPESP é uma das possíveis fontes legitimadoras do saber
comunicacional. Outro fator considerado é sua presença em um polo importante de pesquisa do
país – o estado de São Paulo – justificado pelos Dados Quantitativos de Programas
Recomendados da CAPES disponíveis em seu site com base na Plataforma Sucupira3. Dos 55
Programas de Pós-Graduação em Comunicação, no Brasil, São Paulo detém 15 deles. Assim
responde por 27,27% da Pós-Graduação da Área no país. Considerando todas as regiões
brasileiras, existem 48 cursos de Mestrado Acadêmico, 25 cursos de Doutorado e 7 cursos de
Mestrado Profissional sendo que, no território paulista, são 13 cursos de Mestrado Acadêmico
(27,08%), 10 de Doutorado (40%) e 2 de Mestrado Profissionalizante (28,57%) reconhecidos e
recomendados pela CAPES. Ao mesmo tempo em que apontam uma tendência para discutir as
práticas profissionais em Programas que visam a especialização da capacitação profissional, os
números comprovam um domínio da produção cientifica em São Paulo incitando à ampliação
e propensão desta e outras pesquisas compilarem e analisarem os dados da Área em outros
3 Ver os dados completos dos cursos reconhecidos e recomendados em https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/
public/consultas/coleta/programa/quantitativos/quantitativoIes.jsf?areaAvaliacao=31&areaConhecimento=60900
008.
23
estratos geográficos do Brasil, como por exemplo, nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Paraná e Rio Grande do Sul, que contam com Fundações de natureza semelhante à FAPESP. É
nesse sentido que o professor José Marques de Melo (2015) afirma que São Paulo figura como
polo dinamizador desse novo campo do saber com validade em todo o território nacional. Tal
assertiva talvez se explique pelo êxodo de muita gente (não seria diferente entre pesquisadores)
para a maior capital brasileira onde simbolicamente se fortalece a ideia de realização da busca
pelo sonho na cidade grande. Tal analogia parece pertinente, uma vez que o berço dos estudos
em Comunicação, no Brasil, nos anos 1960, fora o Recife com a criação do Instituto de Ciências
da Informação (ICINFORM) pelo primeiro doutor da Área: Luiz Beltrão4. Embora a metrópole
São Paulo tenha sua importância, como potência nacional e internacional, não se pode pensar,
neste exercício de metapesquisa, de forma bairrista haja vista que em outros espaços do Brasil
também se faz pesquisa de qualidade com temáticas que, de modo geral, formam realidades e
perfazem a grande diversidade cultural e comunicacional, existente no país, e que não
necessariamente recebem fomento para isso.
Na FAPESP, todo o financiamento a pesquisadores deriva do dinheiro público. A
quantia investida atualmente é elevada – considerando sua evolução histórica – embora a
década 2011-2020 represente um período de cortes e reduções de investimentos em face da já
mencionada crise político-econômica, desencadeada no Brasil na segunda década do século
XXI, colocando em xeque a ciência no país com cortes de bolsas, atrasos em pagamentos,
laboratórios sucateados e pesquisadores de mãos atadas em seus trabalhos por falta de verbas.
Este fator, somado à ampliação dos cursos de Pós-Graduação, é conjuntural e estrutural,
inclusive, reconhecido por pesquisadores experientes, que entre tantas missões cotidianas, têm
o compromisso de formar novos pesquisadores. Quando realizadas as entrevistas – técnica
utilizada e que será explicada mais adiante – com as lideranças do fomento, a Professora Dra.
Lúcia Santaella, da PUC-SP, reconheceu uma dessas condições, principalmente, pela variedade
de cursos oferecidos. Ela entende que quando a demanda aumenta, ou seja, tem mais gente
pedindo, e a oferta não segue o mesmo ritmo, isto é, as agências não viabilizam bolsas, é natural
haver cortes, principalmente, nos níveis iniciais onde estão a Iniciação Científica e o Mestrado.
No caso da FAPESP, esse ponto de vista se contraria porque ambas as etapas de formação
correspondem aos tipos de fomento que representam, dentro do período analisado, a maior fatia
4 Sua bibliografia completa pode ser vista em http://portal.metodista.br/mutirao-do-brasileirismo/cartografia/
verbetes/america-do-sul/luiz-beltrao .
24
de solicitações. Demonstração de que a Área se mantém atrativa e interessante para a realização
de pesquisas.
O site da FAPESP, em sua seção Estatísticas e Balanços, disponibiliza todos os
investimentos realizados ao longo dos tempos. Analisados os anos de 2016 e de 2017, entre
bolsas de estudo e os auxílios à pesquisa, o investimento nas Bolsas do Brasil foi de R$
69.933.056,14 (6,48%). Já para as Bolsas no Exterior, o dinheiro empregado totalizou R$
8.145.557,47 (0,75%). Para os estágios de pesquisa no exterior, o montante foi de R$
36.761.955,88 (3,44%). E os auxílios à pesquisa receberam R$ 213,647.149,59 (19,78%). Em
2016, foram investidos R$ 85.267.060,09 em bolsas de estudo no Brasil. Montante que
representa 7,78% do investimento da FAPESP em todo tipo de pesquisa. Já para a viabilização
de bolsas no exterior, foram gastos R$ 9.727.801,48, o correspondente a 0,89% do investimento
da FAPESP. No estágio de pesquisa fora do Brasil, foram aplicados R$ 30.496.077,40 que
representam 2,79%. Nos auxílios à pesquisa, foram R$ 261.832.206,67. Esse montante equivale
a 23,92% do investimento da FAPESP nessas modalidades de fomento5. Na comparação,
somente o Estágio de Pesquisa no Exterior obteve crescimento. Os outros fomentos tiveram
redução de investimento.
Sem dados específicos, a Comunicação se incorpora ao conjunto de saberes das Ciências
Humanas e Sociais. O Relatório de Atividades 2016 da FAPESP faz a ressalva sobre um ano
difícil em função da queda na arrecadação de receitas, a base de onde se extrai o valor
constitucional de repasse fixado à Fundação. Apesar disso, o documento, elaborado pela
FAPESP, destaca que a agência contratou novas propostas de pesquisa e incrementou os aportes
em áreas estratégicas. Foi arrecadado R$ 1,344 bilhão, o que representa perda nominal de 0,4%
e perda real de 6%. Durante todo o ano de 2016, foram fomentados 24.685 projetos. Mesmo
com a crise, os valores das bolsas foram reajustados em 11%, percentual considerado positivo
pelos dirigentes que apontam para um equilíbrio, uma vez que as bolsas no Brasil cresceram
7% e tiveram o mesmo índice, só que com traço negativo no Exterior. Os Auxílios Regulares
tiveram retração com 3% a menos de contratações e 9% a menos de desembolso. Houve cortes
pontuais como, por exemplo, a organização de reuniões científicas, modalidade a qual os
pesquisadores pedem financiamento para participar de Seminários, Congressos e outros eventos
de natureza similar.
5 Em http://www.fapesp.br/10841, é possível ter acesso aos investimentos da FAPESP desde o seu ano de Fun-
dação (1962).
25
A Área de Ciências Humanas e Sociais foi a quinta colocada nos investimentos da
FAPESP em 20166. Com 9,4% de projetos apoiados, teve liberados R$ 106,5 milhões com
1.787 novos projetos contratados e 4.047 projetos vigentes. Fica atrás das Áreas da Saúde,
Interdisciplinar, Biologia e Engenharia. Para se ter uma ideia, tem mais projetos contratados e
vigentes do que as três anteriores a ela no ranking de investimentos. É verdade que carrega
alguns índices positivos quando se analisam as bolsas e auxílios. Em 2016, ficou em segundo
lugar na contratação de bolsas com investimento da ordem de 80 milhões de Reais dentro do
Brasil. Para os estudos no exterior, assumiu a dianteira com a liderança em Iniciação Cientifica
e Mestrado, embora isto possa representar hipoteticamente um sinal da crise estrutural do
financiamento da Ciência brasileira despertando assim uma tentativa de experimentar o exterior
para posterior transferência de carreira. Seria uma estratégia para uma nova evasão de cérebros?
Embora a questão financeira seja de interesse maior ao bom andamento da FAPESP,
como instituição, aos pesquisadores, o interesse está realmente em saber como a Área vem
sendo discutida e construída através do fomento. Neste sentido, é que este estudo propõe a
Taxionomia construída a partir das pesquisas apoiadas pela FAPESP e que fazem parte do
recorte analisado, na base de dados da Biblioteca Virtual, no período correspondente de 1992 a
2016. Trata-se de uma apropriação dessas amostras a fim de inseri-las em um sentido de
sistematização do conhecimento produzido sinalizando as tendências dos estudos realizados
pelos pesquisadores.
Essa construção de sentido permeia a noção de Taxionomia que se aproxima muito de
nossa Área no que tange sua organização. Segundo Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010),
não há definições ou aplicações precisas sobre o conceito que, a partir de consultas
bibliográficas, se constroi e se legitima como ferramenta ou processo com origens, usos e
funções diferenciados. A etimologia de taxionomia vem do grego taxis (ordem) e nomos
(norma), o que já precede sua perspectiva de um modo de organização estruturado a categorias,
independentemente da Área do conhecimento, embora suas origens venham da Biologia com a
publicação da obra Systema Naturae7, em 1735, pelo cientista e médico sueco Karl Von Linné.
Entretanto, como lembra Vickery (1980) in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), essas
origens no âmbito da botânica, da zoologia e da paleontologia se tornaram chave no trabalho
contemporâneo dos investigadores das ciências naturais e sociais, ou seja, toda forma de
conhecimento pode ser agrupada e organizada. E é esta a nossa proposta quando, diante de 912
6 Até o fechamento da tese, o último Relatório divulgado pela FAPESP foi o de 2016. 7 O livro estabelece a classificação hierárquica das espécies.
26
pesquisas analisadas em Bolsas de Estudo no Brasil, Bolsas de Estudo no Exterior, Auxílio
Regular à Pesquisa, Auxílio Publicação e Auxílio Pesquisador Visitante, escolhemos a partir
das classificações epistemológicas da própria FAPESP, e suas variadas formas de apoio, os
dados que servem para trabalhar a Taxionomia da Comunicação à luz dessas amostras e no
horizonte de uma agência de fomento.
Partimos das amostras submetendo-as a classificações, por nós estipuladas, para mapear
através das pesquisas, os temas abordados, as instituições onde se realizam as pesquisas, os
procedimentos metodológicos adotados e as referências bibliográficas consultadas. De modo
geral, manuseamos documentos com informações através das quais se construíram indicadores
e inferências atendendo à nossa proposta metodológica da Análise de Conteúdo. É na
perspectiva prática de nosso objeto de pesquisa que Edols (2001) in Aganette, Alvarenga e
Rocha Souza (2010) relaciona os ambientes digitais com as formas automatizadas de criação
da informação, estabelecendo assim, a relação da Taxionomia como um foco de estudos das
Ciências da Informação, o que delibera em nosso entendimento, uma estreita ligação com a
Comunicação, afinal, os dados são manipulados para a produção de conhecimento a ser
compartilhado, além, de coincidir com a visão de Edols (2001) de que a taxionomia se torna
uma importante ferramenta de entendimento sobre como uma área de conhecimento é
organizada, se relaciona e interage com as outras. É neste princípio que trazemos o panorama
da Área da Comunicação por meio do apoio FAPESP. Fatores estes que, segundo Terra (2004)
in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), representam conceitos através de termos;
melhoram a comunicação entre especialistas e outros públicos; controlam a diversificação e
mapeiam o processo de conhecimento. Tal conceito, aplicado à nossa pesquisa, demonstra que
é possível identificar o que se está produzindo, em que lugar e de que forma seguindo o
exercício que burila os dados inseridos, em um sistema digital, como o da Biblioteca Virtual.
Mais do que possibilitar consultas, o que fazemos com esta pesquisa, é oferecer os passos
percorrido entre 1992 e 2016 para a construção da Área da Comunicação.
Ainda nos estudos sobre Taxionomia, há propostas de classificações, como as feitas por
Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), autores que se propuseram a estudar os elementos
constitutivos do conceito taxionômico. Entre as classificações apresentadas, assemelham-se à
nossa investigação, a Taxionomia Descritiva e a Taxionomia Corporativa. Pela primeira,
entende-se a constituição de vocabulários controlados, a partir de tesauros, adicionando a eles
diversos tipos de palavras, ortografias, formas e dialetos falantes para que o usuário tenha maior
liberdade na hora de buscar um assunto. Foi nessa perspectiva do descritivo que produzimos as
27
categorias Instituições; Pesquisadores; Temas de Pesquisa; Metodologias; Referências
Bibliográficas; Pesquisadores Estrangeiros e Países-sede para demonstrar as tendências e
perspectivas das pesquisas fomentadas. Por outro lado, a Taxionomia Corporativa é, no
entendimento de Woods (2004) in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010), a hierarquia das
categorias utilizadas para classificar documentos e outras informações dentro de uma
representação da organização. É o que identificamos, na Biblioteca Virtual da FAPESP, onde
é possível acessar as modalidades de fomento de acordo com os resultados refinados a partir de
pontos de partida predeterminados pela instituição. Pelo que a Biblioteca Virtual oferece em
termos de resultado – ainda que sem o estabelecimento de um princípio taxionômico –
acompanha a ideia de Conway (et al, 2002) in Aganette, Alvarenga e Rocha Souza (2010) de
que as taxonomias corporativas podem criar uma importante ferramenta de gerenciamento do
capital intelectual da mesma, uma variável que se apresenta despercebida pela FAPESP e que
pode ter uma alternativa, a partir das mensurações que esta pesquisa realizou, e que pode vir a
suprir essa suposta falta de gerenciamento do capital intelectual, que se torna instrumental e
organizado, a partir da classificação de elementos de variada natureza fazendo da taxionomia a
representação de conhecimentos existentes que formam um Universo de Documentos como
definem Campos e Gomes (2007). Os autores reforçam esse caráter organizacional da
taxionomia diante de um contexto. No caso das pesquisas recuperadas, na Biblioteca Virtual,
nos propusemos a instrumentalizar e organizar o conhecimento, tendo como referência os
dados, para encontrar um sentido que construa e legitime a Área da Comunicação a partir da
contribuição da FAPESP. Este, inclusive, é o sentido do título dado a esta pesquisa. Para isto,
é preciso considerar, segundo os autores, qual problema a taxonomia está tentando responder e
qual é o volume de informação agregada. Dizem eles (2007) que “a captura do conhecimento é
uma etapa de elaboração da taxonomia em que o objetivo é o levantamento dos assuntos que
deverão ser acomodados numa estrutura classificatória, servindo como ponto de acesso à
informação”. Para se alcançar isto, eles apontam quatro fases principais que envolvem: (1)
captura do conhecimento; (2) análise dos documentos e informações; (3) elaboração da
estrutura classificatória; (4) validação.
Para a captura do conhecimento, mapeamos todo repertório documental de apoios e
chegamos às 912 pesquisas apoiadas em Bolsas de Estudo no Brasil, Bolsas de Estudo no
Exterior, Auxílios Regulares à Pesquisa, Auxílio Publicação e Auxílio Pesquisador Visitante.
Também entrevistamos, seguindo o critério numérico, os pesquisadores que mais conseguiram
fomentos nas Bolsas do Brasil e Auxílio Pesquisador Visitante, bem como, a diretora da Área
28
de CHS II da FAPESP, Professora Dra. Esther Imperio Hamburger. Pela segunda etapa
proposta, analisamos os resumos de pesquisa e extraímos os dados necessários, de acordo com
as categorias que estabelecemos, para a construção do mapeamento que atende as perspectivas
e tendências dos projetos financiados. A terceira etapa gerou os sete indicadores aplicados a
cada tipo de fomento dentro do recorte da amostra. E por fim, para a validação, produziram-se
indicadores e inferências, constituídos a partir de resultados quantitativos, e a aplicação da
análise de conteúdo. Ações que representam a organização dos conceitos levantados para
estabelecer uma sequência de níveis de análise que faz parte da estruturação taxionômica, como
apregoam Campos e Gomes (2007). Os autores, inclusive, valorizam nesse processo, a
representação de diversos aspectos como fenômenos e objetos ocorridos em um campo de saber.
No percurso inicial, a intenção era já mergulhar sobre as pesquisas fomentadas nos
primeiros anos de funcionamento da Fundação, na década de 1960, chegando até elas por meio
do acesso, em mãos, dos relatórios científicos finais dos pesquisadores para se fazer um resgate
histórico mais completo do apoio às pesquisas em Comunicação. Depois de várias consultas,
isto não foi permitido em função do rígido controle de confidencialidade dos pareceristas que
julgam os projetos de pesquisa pleiteados. Essa afirmação, que na verdade inicialmente se tratou
de uma negativa, pode ser feita depois de quatro tentativas de viabilizar o acesso solicitando tal
demanda à Coordenação anterior de Área de Ciências Humanas e Sociais (CHS II) e à diretoria
científica. Ambos os representantes que ocupam tais funções na Fundação, atenderam à
solicitação com gentileza, rapidez e respeito acadêmico nas tratativas via e-mail. Diante desse
cenário, o recurso técnico adotado, para a constituição de nosso objeto, foi o da base documental
que agregasse as pesquisas chanceladas pela Fundação na Biblioteca Virtual8, o centro de
documentação e informação da FAPESP que reúne os dados sobre projetos que conseguiram
fomento nas mais diversas modalidades.
De acordo com sua página, hospedada no site da Fundação, a Biblioteca foi criada em
2004 e inaugurada em 2005 com os objetivos de tornar públicos os projetos financiados,
divulgar as áreas temáticas e disseminar a memória institucional da FAPESP. Em sua
navegabilidade, permite acessar outras informações como produções resultantes dos auxílios e
bolsas, convênios, acordos de cooperação, mapas, gráficos e a própria Tabela de Áreas do
conhecimento. No período de 2005 a 2009, os dados foram inseridos e editados manualmente
por uma equipe técnica sendo que a partir de 2010 passou a ter migração automática dos dados
8 O Relatório de Atividades 2016 da FAPESP revelou que a Biblioteca Virtual conta entre 1992 e 2016 com
118.583 Bolsas no Brasil; 9.392 Bolsas no Exterior e 90.393 Auxílios à Pesquisa cadastrados.
29
das Bases Agilis e SAGE. Em poucos casos, há falta de informação e isto pode decorrer do
processo manual de alimentação de dados. De acordo com o site, de 1º de março de 2016 a 25
de fevereiro de 2017, foram 3.807.652 acessos.
Na Área da Comunicação, as pesquisas que serviram de base documental para este
trabalho datam a partir de 1992 fechando esse recorte de tempo em 2016. O período inicial,
1992, é porque este é o primeiro ano de registro de pesquisas na Biblioteca Virtual. Já, 2016,
foi escolhido porque era o último ano de pesquisas financiadas e que seriam concluídas antes
do encerramento de nossa pesquisa, no primeiro bimestre de 2018. O ano de 2017 foi
desconsiderado para que não tivéssemos nenhuma pesquisa que se encontraria em andamento,
pois, nenhum projeto se fecharia nesse ano. Entretanto, essas pesquisas podem, e seguramente
vão, se tornar objeto para estudos futuros que tragam novas problematizações a partir deste
panorama estabelecido. Pela base de dados da Biblioteca Virtual da FAPESP, foi possível
realizar um mapeamento de estudos a partir dos quais fossem identificados momentuns de
investigação, problematizados nas mais diversas etapas de formação dos pesquisadores e que
tenham deixado contribuições e indicativos para dar um norte ao que se produz em
Comunicação sob a perspectiva de uma agência de fomento. Este desejo se juntou à premissa
teórica de Jacques Le Goff (1990) quando diz que a memória é um elemento social que forma
a entidade. Assim, ir além dos simples dados, possibilitaria sinalizar tendências da
Comunicação a partir dos fomentos da FAPESP em um quarto de século de atividades
registradas digitalmente.
Constrói-se, assim, o objeto de pesquisa que tem lançado sobre si a seguinte pergunta
de pesquisa: independentemente do impasse conceitual experimentado e mal resolvido, quando
se consideram esses 25 anos de pesquisas de Iniciação Cientifica, Mestrado, Doutorado,
Doutorado Direto e Pós-Doutorado com bolsas de estudo, no Brasil e no Exterior, mais os
auxílios regulares à pesquisa, auxílios para pesquisador visitante e auxílio publicações nas
mesmas instâncias categóricas, quais tendências e perspectivas podem ser atribuídas à
construção da natureza taxionômica dos estudos em Comunicação?
Essa questão se justifica pelo objetivo geral deste trabalho em estudar a produção
existente demonstrando que, por trás do banco de dados da Biblioteca Virtual da FAPESP, mais
do que a construção da memória, existem tendências taxionômicas a partir dos estudos em
Comunicação que dão representatividade às Ciências Sociais por meio da contribuição das
pesquisas científicas, que ali estão, sob avaliação de pareceristas do corpo técnico-científico da
Fundação. Apesar disto, percebe-se como ainda pouco se investe na Área, característica
30
peculiar que fez o professor José Marques de Melo (2011) declarar em reportagem da Revista
Pesquisa FAPESP 201, intitulada A Prima Pobre das Ciências Sociais, o pouco prestígio das
pesquisas em Comunicação nessa perspectiva de investimento. Se nomes como o do
proeminente professor, importante figura agregadora e ativa para a institucionalização da
Comunicação como espaço de pesquisa, consideram ínfimo o investimento, há quem pense o
contrário. Foi o caso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que em abril de 2016, teve
repercutida na grande imprensa sua declaração de que a FAPESP vive em uma bolha acadêmica
desconectada da realidade financiando estudos sem serventia prática uma vez que incentiva as
pesquisas de Sociologia9. O comentário do governador logo desencadeou uma resposta da
Fundação10.
Analisar o que os pesquisadores que buscaram financiamento produziram em 912
projetos distribuídos em bolsas de estudo para Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado,
Doutorado Direto e Pós-Doutorado, no Brasil e no Exterior, bem como aos auxílios regulares à
pesquisa, de professor visitante e publicação é a maneira encontrada para tentar dar conta desse
panorama taxionômico que não se trata de um histórico completo de todas as pesquisas
financiadas na Área. Embora nem tão organizado, em 2018, como já dissemos, a Biblioteca
Virtual passou a ter dados generalizados das solicitações de financiamento do início das
concessões. Para se valer do método quantitativo na pesquisa, todas as informações captadas
foram exportadas para o programa de computador Excel, no qual, com o auxílio de ferramentas
de tabulação de dados, foram cumpridos os objetivos de acordo com a proposta de cada
categoria estabelecendo um referencial percentual sobre o qual foram inseridas informações
numéricas para a formulação dos cálculos. Uma técnica que permitiu saber e apontar as
tendências de estudo, as relações acadêmicas instituídas e os procedimentos de trabalho
adotados, nas mais diversas possibilidades acadêmicas, que despertam o interesse nos
pesquisadores desde as novas gerações até os mais experientes, que por sua maturidade,
algumas vezes, acabam sendo referências seminais para pensar, discutir e teorizar a Área dentro
da própria análise documental. Em alguns casos, essas referências se constroem porque o
grande número de fomentos obtidos torna o professor pesquisador especialista na linha de
pesquisa em que atua. Estas características comentadas são também uma forma de revelar à
FAPESP o fluxo de produção de conhecimento gerado a partir das pesquisas apoiadas.
9 Matéria disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2016/04/1765028-alckmin-critica-fapesp-por-
pesquisas-sem-utilidade-pratica.shtml. 10 Nota da FAPESP disponível em: http://jornalggn.com.br/noticia/fapesp-responde-criticas-de-alckmin-sobre-
pesquisas-sem-utilidade-pratica.
31
Denominamos os pesquisadores analisados como sujeitos de pesquisa. Essa noção
implica em dois marcos teóricos fundamentais constituídos respectivamente, neste trabalho, nos
respaldos teóricos de Gastón Bachelard (1996) e Wilhelm Dilthey (2010): primeiro, o de
espírito científico porque essa inflexão, a partir de pesquisas realizadas com apoio da FAPESP
na Área da Comunicação, não se trata de uma pergunta espontânea haja vista que já são mais
de 50 anos em busca de uma organicidade que ainda parece sem sucesso não porque haja falta
de iniciativa de seus atores, mas sim, porque se trata de um processo bastante longo para uma
plausível ciência tão nova e que vive o auge de sua meia idade cujo sentido de construção leva
ao Conhecimento Aproximado como equação diferencial do movimento epistemológico, que
vive entre novas experiências e uma inquietude conceitual que pode ter uma luz a partir deste
recorte das pesquisas, realizadas por meio de uma importante agência de fomento.
E, segundo, porque a realidade confere certo grau de materialidade aos pesquisadores
que compreendem e interpretam fenômenos a fim de construir conceitos e juízos. Trata-se de
um processo histórico que revê as condições vivenciadas em espaços e tempos que propiciam
um conjunto significante defrontado e apreendido pela condição espiritual do pesquisador, que
a partir de suas particularidades e compreensões, reconstroi as vivências sob a perspectiva do
presente, atribuindo ao conhecimento construído, uma significação de experiências cujo
resultado final pretendido é a formulação de conceitos.
As hipóteses deste estudo versam primeiramente pela passagem do século XX para o
século XXI, nos estudos em Comunicação, que devem demonstrar a aparição de temas
contemporâneos decorrentes de novos tempos da cultura social como objeto de pesquisa.
Ocorre que, ao mesmo tempo em que esses temas se inovam como prática comunicacional, eles
se atêm aos paradigmas teórico-metodológicos que seguem modelos referenciais da atividade
de pesquisa acadêmica. A segunda hipótese reside na tentativa de solucionar o impasse
conceitual sobre o lugar de fato em que se situa a Comunicação (Campo? Disciplina? Área?
Ciência?). Uma dificuldade inerente a todas as categorias de fomento, independentemente do
nível de formação do pesquisador, seja ele discente ou docente, da Iniciação Científica ou do
Pós-Doutorado. Há pouca inovação nesse sentido em um saber de pesquisa fortemente
institucionalizado. E, por fim, a terceira hipótese está na assertiva de que o mapeamento de
pesquisas revela caminhos e tendências que podem estimular os Programas de Pós-Graduação
a fazerem uma metapesquisa nos moldes desta para refletir sobre suas linhas de atuação dando
essa organicidade que se busca à Comunicação. Esse método propicia avanços como se estes
32
estivessem alinhados com sua própria evolução histórica tendo as pesquisas de seus discentes
um direcionamento para a construção epistemológica, tema pouco discutido na Área.
A construção taxionômica aqui proposta deriva de um modelo descritivo e dialético que
se vale da metapesquisa, o processo que este estudo realiza, ao revisitar pesquisas já realizadas
por terceiros com o propósito de compreender a dimensão, que venham a construir a
organicidade da Comunicação, ilustrada por sujeitos que recorreram à FAPESP para a
viabilização de seus estudos que dialogam e constroem a legitimação do Saber Comunicacional.
Apoiada no recurso de multitécnicas de pesquisa, o percurso congrega quatro frentes de
trabalho, sendo duas as mais essenciais.
Com a pesquisa bibliográfica, foi possível dialogar com alguns autores no tocante aos
pressupostos teóricos e questões de ciência e metodologia científica, além da revisão histórico-
conceitual sobre Comunicação em três dimensões: interpessoal, midiática e pesquisa
acadêmica. Ao se estudar a produção de pesquisadores, tornaram-se essenciais o conceito de
espírito científico com Gastón Bachelard (1996); a noção de vivência para a construção do
mundo histórico-social, de Wilhem Dilthey (2010); as perspectivas de Wilbur Schramm
(1970;1973) para a noção fundadora do campo da Comunicação e a Revolução Cientifica
proposta por Thomas Kuhn (2003).
Amparar-se na Pesquisa Documental é se valer dos documentos históricos e
informativos da FAPESP, bem como os resumos disponibilizados de projetos de auxílios à
pesquisa e bolsas de estudo, no banco de dados de sua Biblioteca Virtual, que reúne os fomentos
concedidos e que carregam consigo informações importantes que possibilitaram a organização
das categorias analisadas em cada modalidade de fomento. Inclusive são os resumos o “guia de
orientação” para o encaminhamento dos projetos na fase de análise dos pedidos. A FAPESP
considera que eles dão a dimensão do que o(a) pesquisador(a) pretende fazer. Ao mesmo tempo
em que são “decisivos” para o entendimento dos pareceristas, esses resumos não escapam de
críticas da coordenadora de Área sobre o modo em que são construídos.
A Análise de Conteúdo se tornou a metodologia mais eficaz de aferir efetivamente a
contribuição dada pelos sujeitos de pesquisa na produção axiológica em um ramo científico –
o das Ciências Sociais – pouco valorizadas e sempre pré-julgada pela relevância e utilidade de
suas pesquisas. Seguindo os pressupostos teóricos e técnicos, de Laurence Bardin (2011), o
ponto de partida do trabalho residiu nos documentos disponíveis sobre os quais se aplicaram as
técnicas de leitura flutuante e escolha efetiva. A noção de Leitura Flutuante está no contato com
33
os documentos analisados sobre os quais se constroem impressões e orientações. Escolhê-los
representa selecionar o que é suscetível ao problema levantado. Assim se justifica que todos os
912 projetos em Comunicação são essenciais para saber qual é a construção taxionômica
possível de se efetivar pelos fomentos da FAPESP. Mediante o problema de pesquisa, optou-
se pelo método das inferências considerando os polos da emissão, mensagem, significação e
medium para que colaborem no sentido de referendar índices e indicadores, que representam
dados gerais constituídos a partir do universo de linhas de fomento da FAPESP. O recorte da
amostra, formado por Bolsas no Brasil (Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Doutorado
Direto e Pós-Doutorado), Bolsas no Exterior (Bolsa Estágio para Iniciação Científica, Bolsa
Estágio para Mestrado, Bolsa Estágio para Doutorado, Bolsa Estágio para Pós-Doutorado e
Bolsa Pesquisa) e Auxílios à Pesquisa (Auxílios Regulares, Auxílios Publicações e Auxílios
Pesquisador Visitante). A análise de todos os fomentos envolve outros fatores que integram o
sistema de pesquisa e foram determinados em categorias que construímos com o propósito de
rastrear quem, o que, quando, onde e como a pesquisa se realiza. São elas: (1) Instituições:
elaboração de um quadro demonstrativo sobre as Universidades e Faculdades que aderem ao
fomento como recurso de pesquisa tanto no âmbito público quanto no âmbito privado; (2)
Pesquisadores: descriminação nominal e percentual de gêneros, ou seja, indicação do número
de homens e mulheres que pesquisam bem como a divisão entre pesquisadores responsáveis e
beneficiários que quase sempre não se tratam da mesma pessoa; (3) Temas de Pesquisa:
quantificação dos temas pesquisados, revelados pelas palavras-chave, mencionados como
assuntos de pesquisa na base de dados da FAPESP; (4) Metodologias: quantificação das
metodologias de pesquisa mencionadas nos resumos dos projetos submetidos à FAPESP; (5)
Referências Bibliográficas: quantificação do número de autores utilizados como referencial
para os projetos de pesquisa analisando essa variável pela dicotomia da nacionalidade
brasileiros versus estrangeiros; (6) Pesquisadores estrangeiros: mensuração dos pesquisadores
que receberam colegas ou alunos brasileiros em instituições no exterior; (7) Países-sede:
quantificação dos países para onde pesquisadores com apoio da FAPESP foram realizar suas
pesquisas. Tais indicadores permitem interpretar o universo analisado na tentativa de
transformar um legado institucional em fluxo de conhecimento produzido, um processo que
ainda é desconhecido junto a algumas instâncias de decisão na organização da Fundação.
Por todo esse conjunto, é que se chega à proposição de uma Taxionomia, uma vez que
seus cenários e conceitos são extraídos a partir das amostras recolhidas e resultados obtidos,
retomando assim a lógica do princípio conceitual da Análise de Conteúdo entre a Leitura
34
Flutuante e a Escolha Efetiva. Partindo do pressuposto do fluxo da produção de conhecimento,
é do ambiente acadêmico representado pela vida universitária, que emergem as contribuições
para serem referendadas e se tornarem temas de debates, diálogos e questionamentos que
perpassam desde a Iniciação Científica até o Pós-Doc e as Publicações.
Complementarmente foi usada a técnica da Entrevista, com questionário estruturado,
como recurso junto aos pesquisadores que mais se destacaram na orientação de bolsistas. A
escolha deles se deu numericamente, ou seja, os que tinham mais projetos de pesquisa
aprovados, dentro do espaço de tempo das amostras, junto à FAPESP, foram entrevistados. As
perguntas foram enviadas por e-mail e a entrevista com a coordenadora de Área da FAPESP
foi realizada, presencialmente, na ECA/USP, em 10 de outubro de 2017. Em todos os casos, as
perguntas versaram sobre o papel da entidade como possível legitimadora da Comunicação e
sua perspectiva em relação ao impasse conceitual vivido pela Área bem como a contribuição
de cada percurso formativo para seu enriquecimento e engrandecimento sob o ponto de vista da
organicidade taxionômica estabelecida a partir da identificação derivada dos projetos.
Esse desenvolvimento metodológico se torna plausível quando Gobbi (2015) considera
que um dos grandes desafios para compreender o cenário comunicativo brasileiro, por meio da
academia, é conhecer e reconhecer os temas que cotidianamente provocam pesquisadores. Há
nisso tudo, um sentido aglutinador que como diz Umberto Eco (1977, p.2) pode estar
representado em “[...] uma reorganização e releitura de estudos precedentes que conduzem à
maturação e sistematização das ideias que se encontravam dispersas em outros textos”. A fala
do autor se refere às descobertas por meio do trabalho científico as quais, no campo humanista,
não precisam ser revolucionárias.
A tentativa de compreender esse cenário taxionômico tendo como base as pesquisas
fomentadas pela FAPESP se dilui pelos capítulos da tese. O primeiro “Comunicação em Três
Dimensões” traz a contextualização sobre Comunicação, a partir das perspectivas interpessoal,
mediática e como objeto de pesquisa acadêmica. Na perspectiva interpessoal, ela é tratada pela
questão das vivências, no postulado teórico de Wilhem Dilthey (2010), que estabelece a
compreensão de um mundo histórico humano sobre o qual também se agrega a perspectiva de
outro pensador, Wilbur Schraam (1970;1973), para quem a Comunicação é um processo social
necessário. Quando essa condição é analisada, nos aspectos de produção acadêmica, percebe-
se que nem as vivências nem a necessidade humana foram valorizadas no processo inicial de
formulação teórica que se evadiu da linguagem verbal contrariando as noções de troca, do
incorpóreo e da apropriação, colocando tudo em segundo plano, diante de um processo de
35
engenharia que se ocupou tecnicamente em registrar as mais perfeitas condições de transmissão
mecânica da mensagem.
Um dos primeiros erros sobre o que seria Comunicação já se dá, supostamente, na
clássica noção da estrutura Emissor, Mensagem e Receptor. Neste princípio basilar, há uma
complexidade soberana, ao que se imagina, esbarrando sobre uma questão conceitual a respeito
da matriz de conhecimento que desconsiderou as simbioses humanas constituídas a partir dos
referenciais. Somente com o avanço das teorias, já dentro do movimento do Interacionismo
Simbólico11, é que houve a perspectiva de compreensão e troca entre humanos, evidenciando
assim, os processos linguísticos. Quando vista pelo prisma midiático, a Comunicação fica
centrada na perspectiva da audiência exposta a relações de dominação e construções ideológicas
que demonizam os meios como apregoou a Indústria Cultural.
Ao abordar o âmbito da pesquisa acadêmica, é completamente evidente a força de
institucionalização que a Área experimenta, com entidades que estimularam e continuam
estimulando as discussões em torno dos processos comunicacionais, e sua gente que se dedica
ao seu estudo cruzando-se por aí em congressos ou em ideias registradas nas publicações
científicas, em especial, os artigos que são muito valorizados, embora o número de publicações
com padrões elevados e aceitação (Qualis) ainda seja irrisório na Área. Essa institucionalização
parte da Grécia Antiga, se materializa na produção de teses, na Alemanha, tendo como ponto
de partida empírico as questões e problemas alusivos ao Jornalismo; nas noções de curso com
contribuições destarte da Polônia, da França e dos EUA. Os processos empíricos colaboraram
com a educação profissional e com a pesquisa científica. No início do século XX, surgiram as
primeiras notícias de um curso de Mestrado com capacitação profissional em Nova York.
Paralelamente, associações acadêmicas se organizaram e levaram adiante as publicações das
primeiras revistas cientificas. A UNESCO e a IAMCR foram fundamentais nesse processo
aglutinador que inspiraram outras instituições como ICINFORM (Instituto de Ciências da
Informação, pioneiro no Brasil), CIESPAL (Centro Internacional de Estudios Superiores de
Comunicación para América Latina), INTERCOM (Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação), COMPÓS (Associação Nacional dos Programas de Pós-
Graduação em Comunicação), ALAIC (Asociación Latinoamericana de Investigadores de la
11 Segundo Rüdiger (2011), esse movimento da Escola de Chicago foi fundador da reflexão teórica sobre
Comunicação. Entende-se o significado como produto da interação social e a possibilidade de Comunicação. Seus
autores mais representativos foram George Mead; Hugh Duncan e Harry Pross.
36
Comunicación), entre outras. Ainda no âmbito da capacitação profissional e da organização da
pesquisa, ao redor dos anos 1960, o Doutorado passou a ser realidade na Califórnia (EUA).
O segundo capítulo “FAPESP e Comunicação: Laços Institucionais como método de
Construção da Área” é totalmente descritivo relacionando o processo de origem e legitimação
da Fundação, apresentando sua história de criação como fruto de esforço e lutas políticas.
Graças à revisão bibliográfica de publicações inseridas no site da FAPESP, recupera-se todo
esse período com imagens e documentos de época, sinalizando acontecimentos e cidadãos
importantes nessa luta por reconhecimento da produção cientifica do estado de São Paulo.
Grande parte dessa contribuição histórica vem do trabalho da pesquisadora Amélia Império
Hamburger, que coincidentemente, é mãe da professora Esther Império Hamburger,
coordenadora da Área de Ciências Humanas e Sociais II da FAPESP. Entre tantos feitos, o
capítulo registra também situações estruturais pelas quais os pesquisadores passaram como a
Ditadura Militar, no século XX, e a crise econômica do século XXI.
O terceiro capítulo “Indicadores e Inferências: 25 anos de Pesquisas em Comunicação
com apoio FAPESP” se ocupa em dissecar os fomentos concedidos explicando as suas
finalidades e características, além de trazer as informações que demonstram as tendências da
Área em sua proposta taxionômica, a partir dos fomentos analisados após meses de coleta e
organização das informações. Inicialmente, os dados foram submetidos a análises quantitativas
para se referir às demonstrações numéricas que constituem representatividades. Em seguida,
foi aplicada a Análise de Conteúdo pelo método das inferências para fazer a leitura
interpretativa do que os resultados apontam como tendências ao estudo da Comunicação,
considerando aquilo que foi produzido, entre 1992 e 2016, com apoio da FAPESP. E foi ao
longo da realização dessa tarefa que surgiu a necessidade do quarto e último capítulo,
“Lideranças do Fomento e Comunicação: Caminhos Possíveis”, que entrevistou os professores
orientadores que se destacaram com mais pesquisas orientadas, nas modalidades Bolsas de
Estudo no Brasil e Auxílio Pesquisador Visitante, para saber como eles se relacionam com o
apoio da FAPESP e também suas noções sobre o conceito de Comunicação. Para não se ter a
visão apenas de quem orienta e pede fomento, outra importante iniciativa para esse capítulo foi
entrevistar também a coordenadora da Área da Comunicação Social II da FAPESP, Professora
Dra. Esther Império Hamburger.
Enfim, por meio do conjunto de recursos apresentados, chegamos à Taxionomia da
Comunicação organizando as origens do que se pesquisa na Área, com apoio da FAPESP, entre
1992 e 2016. Que os resultados sirvam de reflexão, de autocrítica e também de compreensão
37
sobre a dimensão do trabalho da Fundação que não mapeia como as pesquisas, que ela mesmo
financia, materializam e maturam as Áreas do Conhecimento. O primeiro passo, para uma
possível mudança, começa aqui com a Comunicação. Boa leitura!
38
CAPÍTULO I – COMUNICAÇÃO EM TRÊS DIMENSÕES
A revisão crítica da História da Comunicação nos convence a trabalhá-la a partir de três
dimensões. A primeira delas é compreendê-la na perspectiva inerente ao ser humano, que tem
na Comunicação, uma condição indissociável no contexto social gestando para tal realização
um processo organizado de linguagem. A segunda dimensão se refere aos meios de
comunicação de massa que eclodiram como fenômenos que tratam de questões sociais a partir
das suas condições de reprodutibilidade e difusão direcionada a grandes públicos em um
sistema de produção em série. E por fim, a terceira dimensão, que é a institucionalização de sua
pesquisa na Grande Área das Ciências da Comunicação cujas problematizações sistematizam a
construção de um conhecimento aproximado para a Área.
Todas estas dimensões reforçam a necessidade de que comunicar se pauta pelo ambiente
em que estamos, não somente em sentido físico, mas também, por uma condição simbólica do
que vivenciamos. Uma espécie da presumida conexão vital que trata Dilthey (2010), pois, os
ambientes concretos e as aspirações, tanto subjetivas quanto objetivas do sujeito, concorrem da
realização de algo como resultado de uma intenção. Ao mesmo tempo em que o indivíduo se
propõe a compartilhar algo com resultados pré-estabelecidos subjetivamente, nos parece
inerente o seu desejo de reconhecimento e propagação com vistas a um sentido objetivo. O
respaldo desse pressuposto está na consciência. Ao lidarem com os conteúdos e constituírem a
história, os indivíduos tomam consciência que emaranham a formação do sujeito histórico que
ao mesmo tempo participa e escreve a história. Porém, colocamos em dúvida parte dessa
premissa, pois, será que o sujeito realmente tem a consciência de que está escrevendo parte da
história?
Consideremos as redes sociais. Nítido nos parece que o indivíduo busca mais o
reconhecimento através do alcance que isso lhe rende em curtidas, comentários e
compartilhamentos do que propriamente em relação ao conteúdo de sua postagem. Estará ele
sendo consciente? Muitas vezes, ele age inconscientemente abrindo mão de possíveis
repercussões por achar que certas condições simbólicas em seu contexto de entendimento são
normais. Pretensões como estas são intrínsecas aos polos do processo comunicacional,
entretanto, é assim que a vida se torna uma condição social pela qual os humanos agem em
busca de um vivenciar comum que, por sua vez, resulta na Comunicação.
39
Os acontecimentos se tornam significativos porque seguem a lógica de uma conexão
que gera determinações de valor, ideias e metas cuja medição aflora no limiar entre a
significação de homens e acontecimentos. Somos nós – e nossas ações – que definitivamente
fazem a Comunicação. Prova disto são as aproximações e repulsas experimentadas diante dos
referenciais que temos contato. Uma primeira tendência é de que a Comunicação ocorre a partir
das posições do sujeito em relação a situações que não podem ser mudadas. Ou ainda pelo fato
desse indivíduo encarar certos fatos dentro de uma normalidade ou refutá-los mesmo que não
consiga promover mudanças. Vimos isto, no Brasil, a partir de 2013, quando as ruas do país
foram tomadas por manifestantes que organizaram suas passeatas a partir de movimentos
iniciados na Internet. Uma iniciativa que criou os primeiros passos para uma pseudo-cultura do
protestar e que ganhou força no cenário político brasileiro, a partir do ano posterior, se
estendendo com o ranço de posições contrárias – que chegaram a ultrapassar os limites do bom
senso – no espaço digital. É o que Manuel Castells (2013) considera a constituição de redes
operadas pelo ato da comunicação, que tem como consequência a construção do poder. E essa
configuração se materializou no espaço virtual da Internet para ocupar lugares visíveis da vida
social, no caso, as ruas. Mas por que trouxemos este exemplo? Justamente para dizer que os
significados são expostos e que os sujeitos captam a comunicação de acordo com aquilo que
creem satisfazendo o alcance de seus repertórios e pertencimentos. Por isso, tanta divisão, tantas
diferenças notadas que se confirmam e se representam na vida social embora nem sempre fáceis
de compreender.
É por condições como essa exemplificada que as vivências se constituem e podem ser
consideradas espaços de comunicação a partir da possibilidade das interações. Como sugere
Dilthey (2010), as vivências alcançáveis se tornam presentes para posteriormente serem
relembradas e compreendidas pelo mundo histórico-humano, construído por sujeitos a partir do
espaço social e suas unidades vitais para dar sentido às ciências humanas. Sobre a construção
do mundo histórico-humano, o autor (2010, p.98) aponta:
Eu encontro o princípio para a solução do conflito nessas ciências na compreensão
do mundo histórico como uma conexão de efeitos que está centrada em si mesma,
na medida em que cada conexão de efeitos particular contida nesse mundo possui
em si mesma o seu ponto central por meio do estabelecimento de valores e da
realização de fins. Todas, porém, estão estruturalmente ligadas com uma totalidade
na qual, a partir da significância das partes individuais, emerge o sentido da conexão
do mundo histórico-social [...]
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Desta forma, a construção do mundo histórico-humano se dá por meio de seus próprios
agentes que fazem da Comunicação o seu processo social fundamental como Wilbur Schraam
(1973) defendia em seus pressupostos. O autor indica que a comunicação atende as mesmas
necessidades em todas as sociedades já que é uma expressão integrada fortemente na vida
social. Como ele mesmo coloca (1973, p. 25): “[...] a comunicação não é algo que tem vida
própria; é algo que as pessoas fazem. Ela é o processo fundamental da sociedade, a maneira
pela qual as pessoas se relacionam entre si”. Trata-se de uma assertiva que dialoga, por
exemplo, com o princípio da conversação do espaço social proposto por Braga (2011, p.67):
O que significa objetivar, destacar e problematizar a dimensão comunicativa dos
diversos procedimentos humanos – na política, na educação, na produção científica,
na criação artística, no intercâmbio cultural? Não se trata apenas de perceber que as
pessoas se engajam nestas atividades e processos “conversando”, “se comunicando”.
Tratar-se-ia, antes, de procurar perceber o quê – nestes processos especificados por
seus modos e objetivos sociais – é entretanto inerente não a estas especificações, mas
resultante de (ou referente a) processos mais amplos de trocas simbólicas e de
interações que sobredeterminam o que aí se faz. Ou, em corolário, procurar perceber
como tais ações específicas outras sobredeterminam os processos de comunicação aí
envolvidos.
Em tal sentido, o da necessidade humana, também caminha Francis Bacon in Andery
(1996, p. 11):
O processo de produção da existência humana é um processo social; o ser humano
não vive isoladamente, ao contrário, depende de outros para sobreviver. Há
interdependência dos seres humanos em todas as formas da atividade humana;
quaisquer que sejam suas necessidades – da produção de bens à elaboração de
conhecimentos, costumes, valores... -, elas são criadas, atendidas e transformadas a
partir da organização e do estabelecimento de relações entre os homens.
Como se pode perceber, vimos tratando da primeira dimensão da Comunicação como
condição inerente ao indivíduo. Dos dois grandes polos mundiais – os Estados Unidos e a
Europa – de onde partem, em especial, as fundamentações teóricas para os estudos dos
processos comunicacionais, também há uma coesão de que não há sentido falar em sociedade
humana sem a comunicação. Dos EUA, parte a ideia do sociólogo Albion Small de que os
indivíduos são como células que se ligam às demais por meio da comunicação formando a
sociedade. Já do Velho Mundo, Gabriel Tarde coloca a condição cultural ao processo de
41
comunicação analisando que pela conversação, o indivíduo realiza a comunicação diferindo-se
pela sua natureza de participação, seu grau de cultura, sua condição social, sua profissão e suas
crenças. A conversação, então, passa por todos os tipos de problemas cotidianos e discursos
especializados12.
Esse caminho para o qual se trabalha a primeira dimensão da nossa revisão bibliográfica
de que a Comunicação é um processo inerente ao ser humano faz com que retomemos um ponto
crucial dentro das Ciências Sociais: o da Comunicação como Ação e Interação Social. Gerbner
apud Igartua e Humanes (2004) conceitua Comunicação como a interação social através das
mensagens. Isto demanda ações dos sujeitos que resultam no pensamento de Max Weber que
considera a ação social como um comportamento reflexivo em que o indivíduo, no processo de
comunicação, atribui um significado subjetivo à sua conduta diante da conduta dos demais
sujeitos. Na remissão ao pensamento de Weber, a comunicação é uma ação social quando a
mensagem requer níveis de consciência e intencionalidade, uma vez que seu emissor acredita
que haverá no contato, com o outro, pelo menos dois atores compartilhando códigos.
Esta é, por exemplo, a maneira similar como o pesquisador brasileiro, Ciro Marcondes
Filho (2008), visualiza o processo de Comunicação que se realiza quando, nesse contato de
atores, a parte que recebe a mensagem, internaliza a fala, a presença e o produto do outro para
se transformar por dentro. Se não se completarem tais indícios, Ciro Marcondes (2008) acredita
que o emissor não fez nada além do que a mera produção de sinais. Esta é uma premissa que
faz sentido, afinal, quando temos contato com um referente, temos a possibilidade de fazê-lo
entender por diversos modos. Se considerarmos um texto, por exemplo, temos que passar pelo
domínio da Língua, pensar nas condições em que se deram sua produção, compreender as
intenções do emissor e por que ele foi escrito. São situações que elevam a condição da
materialidade da Comunicação para muito além da noção básica de que um emissor envia uma
mensagem a um receptor. Entretanto Ciro Marcondes faz um alerta sobre a inexistência da troca
de comunicação: “[...] exatamente porque duas pessoas não constituem um sistema só. Existe
uso, existe interesse. Eu uso ou não, interesso-me ou não pelas coisas que vejo, que ouço, que
leio, que sinto” (2008, p.16). Inclusive, este autor vem trabalhando outras perspectivas para a
realização da Comunicação. A primeira delas é a sua manutenção como relação na possibilidade
do contato entre homens e homens; homens e técnicas. Depois, como um acontecimento único,
detentor de uma força expressiva particular. Por isso, considera que além das pessoas
12 Ver RÜDIGER, Francisco. As teorias da comunicação. Porto Alegre, RS: Penso, 2011.
42
envolvidas, existe a presença do incorpóreo, isto é, aquilo que não se materializa durante o ato
comunicativo. Esse incorpóreo vai ser tratado no último capítulo pelos próprios dizeres do autor
em entrevista que nos concedeu. Neste momento, podemos dizer que o incorpóreo seria, em
nosso modo de entender, todas as condições necessárias para deglutir para que a comunicação
exista de fato. Uma espécie de “alma” com identificação em relação a algo que atravessa os
acontecimentos comunicacionais de forma que isto não seja apreendido por quem não esteja
envolvido na realização do acontecimento, incapaz de se atentar a sinalizações extralinguísticas.
É a comunicação operando no campo do sentido transcendendo o território do instrumental
analítico convencional. Com isso, Ciro Marcondes Filho acredita que, no processo
comunicacional, ocorram interesses, desejos, aspirações, paixões e estímulos diversos que se
realizam por meio de situações particulares do afeto. Assim, a Comunicação só se realiza pela
autorização do sujeito. O autor (2008, p.152) diz que “Todos querem comunicar, mas poucos
aceitam receber a comunicação”.
E todo mundo tem algo a dizer, como afirma Dominique Wolton (2006), para quem, a
comunicação precisa ser salva. Ele também parte do pressuposto de que comunicar é buscar a
relação e o compartilhamento com o outro, pois, só assim é possível afirmar que a expressão
tem resultado. A expressão, na visão dele, é o primeiro tempo da comunicação. O segundo
tempo está na construção da relação. Considera o autor (2006, pp.14-15) que “No fundo, a
comunicação levanta a questão da relação entre eu e o outro, entre eu e o mundo, o que a torna
indissociável da sociedade aberta, da modernidade e da democracia”. Tudo isso sem perder as
perspectivas antropológicas e ontológicas da comunicação. Assim, complementa Wolton
(2006, p.16):
A comunicação [...] supõe um processo de apropriação. É uma relação entre o
emissor, a mensagem e o receptor. Comunicar, portanto, não é apenas produzir
informação e distribuí-la, é também estar atento às condições em que o receptor a
recebe, aceita, recusa, remodela, em função de seu horizonte cultural, político e
filosófico e como responde a ela.
Praticamente Dominique Wolton considera a comunicação uma estratégia, porém, as
perspectivas traçadas, na citação anterior, nos parecem colocar em xeque a primeira
sistematização do estudo teórico da comunicação pelo modelo matemático de Shannon e
Weaver. A eles, coube desenvolver o modelo do processo de transmissão da mensagem entre o
emissor e o receptor com a preocupação de evitar a geração do ruído para que a transmissão
43
técnica saísse à perfeição. Desta forma, priorizaram o canal físico por onde a informação passa
tendo como objetivo principal transmitir a máxima quantidade de informação no menor tempo
possível e com a máxima fidelidade. Sistematizaram, portanto, os elementos de um processo
que envolve: (a) comunicador, no caso, o emissor; (b) transmissor, o suporte técnico que
transforma a mensagem em sinal; (c) canal, sinal da fonte que passa ao destinatário; (d)
receptor, a realização da decodificação técnica; (e) ruído, as barreiras de transmissão; (f)
Feedback, a retroalimentação do sistema; (g) destinatário, a mensagem chega ao final. Havia,
portanto, um conceito técnico de informação que percorria todas essas etapas. Uma vez isto
acontecendo, entendia-se que a mensagem em estado completo correspondia à realização da
Comunicação.
Como conta Francisco Rüdiger (2011), esse modelo desenvolvido pelos dois
“ciberneticistas” se tornou “coisificado” e serviu como primeiro paradigma em Comunicação.
Shannon e Weaver propunham que, com esse modelo informacional, a problemática da
comunicação se resolvia porque se equacionavam três níveis: o técnico, o semântico e o
pragmático. Eles acreditavam que superando o primeiro, os outros dois se resolviam. Assim, o
problema semântico correspondia ao significado das informações ao passo que o problema
pragmático envolvia a capacidade das informações modificarem o comportamento das pessoas.
Toda a concepção foi idealizada no sentido de máquinas desconsiderando que a execução
essencial do processo comunicacional se dá pela constituição da relação humana.
Aliás, a preocupação humana é o ponto de partida para a maioria dos autores
compreenderem a realização da Comunicação. Essa noção do modelo informacional nos coloca
uma condição técnica e é sabido que os empecilhos dessa ordem, conhecidos no modelo de
Shannon e Weaver como ruídos, não são significativos para a realização da Comunicação.
Imaginemos, por exemplo, que um indivíduo esteja escutando uma emissora de rádio que, por
alguma avaria técnica, saia do ar. O conteúdo que aquele ouvinte recebia é interrompido, mas,
a realização da comunicação não se perde porque esse indivíduo tem chance de ir atrás daquilo
que estava ouvindo. Ou ainda imaginemos os aplicativos que funcionam pela Internet. Em um
caso de perda de sinal, há uma interrupção no serviço, mas, isso não é suficiente para se dizer
que a Comunicação falhou. Há também outras formas de se acessar o que aquele determinado
aparato poderia fornecer. Supõe-se aqui uma primeira pista do quanto a memória é importante
no contexto comunicacional.
Retomando a importância da relação humana, Dominique Wolton (2006) considera
indispensável uma coabitação entre indivíduos a fim de que se detecte a “incomunicação” para
44
salvar a comunicação. A “incomunicação”, segundo ele, quer dizer quando não se encontra o
outro que simplesmente não escuta, se opõe ou foge. Por isso, ele diz que, muitas vezes, a
“incomunicação” é um progresso no horizonte da Comunicação. Reconhecem-se, a partir disto,
a descontinuidade, a alteridade e as contradições que fazem a “incomunicação” se sobrepor
como fato enquanto a coabitação se faz uma escolha e um valor. Wolton diz (2006, p. 151):
Incomunicação e coabitação são, pois, as duas faces da comunicação normativa. O
indivíduo, o casal, a família, são confrontados com a coabitação. As sociedades, com
a coabitação interna, com a organização do multiculturalismo. Em nível mundial, a
diversidade cultural obriga a pensar a coabitação cultural. Comunicar é finalmente
coabitar.
Essa coabitação nos coloca diante do outro que não fala como eu, mas, espera de mim
um esforço de tolerância e compreensão. Assim a coabitação significa que a sociedade valoriza
a concepção normativa da comunicação admitindo as dificuldades da incompreensão. Desta
forma, o autor quer contribuir para a desconstrução dos estereótipos do conceito de
Comunicação, impostos pelo próprio homem, considerando que comunicar é a atividade
intrínseca a cada um de entrar na problemática do outro para fazer com que as relações – ainda
que difíceis – não se separem do cotidiano da vivência humana.
Embora seja um tópico mais condizente à formulação teórica da Comunicação,
entendemos que cabe colocar aqui a questão do Interacionismo Simbólico, desenvolvido pela
Escola de Chicago, nos EUA, nas primeiras décadas do século XX. Como recupera Rüdiger
(2011), o grande mote dessa contribuição estadunidense é de que os indivíduos se relacionam
através de símbolos, que estruturam o processo comunicacional que envolve compartilhamento
no que se refere à estrutura de sentido e um aspecto instrumental envolvendo a influência
recíproca entre dois sujeitos. O Interacionismo se funda na ideia de que os seres humanos são
capazes de interpretar seu contexto vital respondendo aos estímulos do qual são destinatários.
Um de seus estudiosos, Herbert Blumer, colocou que as teses envolvem a relação com os
significados, a interação social e a interpretação. Pensando por esse prisma, consideremos os
ataques terroristas. Os adeptos ao Estado Islâmico – que reivindica a autoria dos ataques para
si – acreditam que os atos em nome do Fundamentalismo sejam normais. Nisso, entra essa
perspectiva de que tais indivíduos conseguem reconhecer esse contexto cujos significados lhes
pertencem. Entretanto, fora desse grupo, é inconcebível o que esses terroristas praticam ao
ceifarem vidas inocentes em atos dos mais chocantes. O favorável e o contrário se manifestam
45
na compreensão humana que leva esses fatores em consideração antes de se definir pela
comunicação. Esse processamento é como se fosse uma máquina atribuindo suas funções para
a execução de um processo final. No caso humano, isto faz confirmar que a comunicação não
é uma simples transmissão de mensagens.
Ainda sobre o Interacionismo, alguns autores foram fundamentais. George Mead
defendia que a sociedade é um produto da comunicação cuja espinha dorsal se forma pelos
símbolos. Para o autor, a comunicação também equivale a se colocar no lugar do outro por meio
de símbolos significativos. É uma condição que consideramos redundante, pois, o lugar do outro
pensado será sempre aquele com o qual o sujeito se identifica e constroi a sua comunicação. Se
considerarmos o caso do Estado Islâmico, por exemplo, como citamos há pouco, quem
compartilha da proposta dos grupos terroristas vai se colocar no lugar de quem cometeu um
ataque, enquanto o resto que é contrário, vai se colocar do lado das vítimas. Então, se colocar
entre símbolos significativos deve ser uma atitude considerada com parcimônia já que depende
do referencial simbólico de cada um.
Já para interacionistas, como Hugh Duncan, a Comunicação cria sistemas de hierarquias
simbólicas, que por sua vez, geram um sistema de poder. Outros, como Harry Pross, pensaram
o desenvolvimento das tecnologias de comunicação e seus meios em dimensões que colocam a
Comunicação em noções primárias (quando se realiza sem instrumentos), secundárias (quando
as tecnologias são usadas na produção de mensagens) e terciárias (quando os elementos
tecnológicos estão entre os extremos do processo comunicacional). As condições midiáticas
também são a Comunicação, ritualizada pela estrutura simbólica.
O simbólico está diretamente ligado ao desenvolvimento da Comunicação. Para melhor
explorar isto, retomemos o pensamento de Wilbur Schraam (1965) que se baseou no conceito
estadunidense de Comunicação que envolve todos os sistemas pelos quais se trocam ou
compartilham ideias e informação. Os sinais e símbolos transmitem significados e valores de
um para outro. As mensagens são selecionadas, decifradas e transmitidas à espera de respostas.
Diz o autor que a forma mais simples do processo de Comunicação consiste no emissor,
mensagem e receptor sendo que o emissor e o receptor podem ser a mesma pessoa. Interessante
abrir um parêntese aqui e dizer que, por conta da tecnologia digital, muitos autores vêm tratar
essa duplicidade de alternância de papéis entre emissor e receptor como novidade. Como se vê,
tal condição já era considerada nos anos 1960. Wilbur Schraam destaca que em algum momento
do processo comunicacional, a mensagem se separa tanto do emissor quanto do receptor. “Llega
un instante en que cualquier cosa que comuniquemos es simplemente una señal con algún
46
significado para el comunicador, y que significa para el preceptor cualquier concepto que éste
interprete en el mensaje”. (SCHRAMM, 1965, p.6)
A definição de Schramm tem mais de meio século, porém, se faz vigente ainda nas
revolucionárias formas de Comunicação que o mundo digital nos propicia dentro da
contemporaneidade. O fluxo de informação é tão gigantesco nas mais diversas formas de se
manifestar pela Internet, nos dias de hoje, que há esse risco de as coisas comunicadas serem
apenas um sinal para quem comunica e um conceito de interpretação para quem recebe.
Tomemos como exemplo o Facebook, talvez a maior rede social com a qual temos contato. Há
tanta informação disseminada pelas páginas de seus usuários que a mensagem pode se tornar
apenas um sinal. O primeiro sinal é o próprio conceito de amigo. Chegamos a ser amigos de
quem nunca imaginamos que seríamos porque esses laços propiciados pelo ambiente
tecnológico não são necessariamente fruto de uma relação afetiva construída. Quantas vezes
você olha uma mensagem e não a compreende a ponto de se intrigar em saber por que tal coisa
foi postada? É o que Castells (2013) entende como construção da autonomia do ator social. Ele
(2013, p.14) fala sobre esses atores que agem individual ou coletivamente em relação às
instituições da sociedade: “Elaboram seus projetos compartilhando sua experiência. Subvertem
a prática da comunicação tal como usualmente se dá, ocupando o veículo e criando a mensagem.
Superam a impotência de seu desespero solitário colocando em rede seu desejo”.
É por tudo isso que um dos pilares para a realização da Comunicação, a troca de
mensagens, está presente no pensamento de Roman Jakobson (2010), que prevê tal realização,
a partir do estabelecimento de um código comum como instrumento de Comunicação. E esses
códigos se estabelecem pelo exercício da Comunicação falada que institui os traços distintivos.
Diz Jakobson (2010, p.99)
O conjunto de escolhas por sim ou não subjacente a cada feixe desses traços discretos
não é combinado arbitrariamente pelo linguista, mas efetuado realmente pelo
destinatário da mensagem, na medida em que as sugestões do contexto, verbal ou
não verbalizado, não tornem inútil o reconhecimento dos traços.
Roman Jakobson (2010) acredita que a mensagem pode representar ambiguidades ao
receptor que não foram identificadas pelo emissor, que nem sempre visualiza equívocos. Neste
sentido, Schraam (1973) alerta que a Comunicação como mudança exige conhecer a cultura
onde se pretende mudar algo e isto só ocorre se houver uma adaptação da própria Comunicação
47
a um sistema inteligível das experiências e dos símbolos da audiência. Para Schraam, decidir o
que comunicar exige se concentrar sobre a mudança e não sobre o que se comunica, afinal, o
que se pretende é uma mudança no comportamento do receptor da mensagem capaz de se
decidir entre mudar ou não.
Vemos isso com o crescimento exponencial das redes sociais no cotidiano das pessoas.
As maneiras dos sujeitos terem conhecimento das coisas não passam mais necessariamente
pelos tradicionais meios de comunicação. Aliás, os próprios media já perceberam que não
podem mais se isolar na maneira como trabalhavam porque sentem os efeitos da presença digital
na sociedade contemporânea. Se pensarmos na Publicidade, um anúncio talvez faça muito mais
sentido hoje em uma rede social do que em uma página de jornal ou revista ou em um comercial
de TV. Passemos agora ao Jornalismo. Os valores-notícia de uma publicação tradicional não
são os mesmos para um medium como a Internet que, por sua vez, já é capaz de influenciar a
pauta da mídia tradicional pela forma como, muitas vezes, expande seus conteúdos. Enfim, as
relações mudaram e a “necessidade sentida” dos participes do processo comunicacional, talvez
não seja algo mais tão intangível como pensou Schraam. Embora ele tenha uma explicação para
essa necessidade sentida, talvez quando considera que os significados aos signos são atribuídos
por convenções ou pelas experiências dos indivíduos. Essas noções constituem princípios
básicos para uma teoria geral da Comunicação porque as experiências se tornam marco de
referência a ponto de desmontar sua noção simplista. Sua materialização não é apenas interagir
por interagir, falar por falar. Há todo um contexto para isso, que como considera Jakobson
(2010), leva o processo às práticas de codificação e decodificação que são essenciais e
complementares. Então, a problemática central da Comunicação se encontra nas experiências
que coincidem com a noção de vivências já discutida neste capítulo.
Assim vai se configurando o mundo histórico-social, atravessado por um bombardeio
de mensagens, que se apegam às experiências constituídas por valores e culturas de seus
sujeitos. Desta forma, o receptor se vale do seu repertório para aceitar a mensagem do emissor
que também se baseia no seu conhecimento para emiti-la. O processo social básico, proposto
por Schraam, admite que a sociedade registre redes complicadas e largas cadeias de
comunicadores e receptores. Mais uma vez, se comprova a necessidade humana no processo
comunicacional, argumento que defendemos nesta primeira dimensão do que pode ser a
Comunicação. Conclui-se parcialmente que os indivíduos estimulam a materialidade do
processo comunicacional, que se realiza de forma intangível. Entre a aceitação do receptor e o
êxito da mensagem do emissor há variantes que passam pela instabilidade do homem, que é
48
instável, porque coloca antes da Comunicação suas crenças e valores a cada uma das vivências
constituídas no mundo histórico social.
1.1 Meios de Comunicação
A segunda dimensão, a partir da qual falamos da Comunicação, é a midiática
considerando a perspectiva da difusão como resultado de desenvolvimento tecnológico. Os
pensadores da Escola de Chicago, a primeira a se ocupar do desenvolvimento funcional da
Comunicação Social, assumiram a perspectiva de que houve, por meio dos progressos da
tecnologia, todo um redimensionamento da realidade comunicativa do homem. Sobre esta
noção, Schraam in Steinberg (1966) considera que a Comunicação padroniza o meio para o
indivíduo enquanto os meios de comunicação de massa revelam certas relações entre os
indivíduos e o meio social. Um exemplo desta relação é a Imprensa. Ainda sobre meios de
comunicação de massa, o autor diz que estes, sobretudo na Educação, ajudam a relacionar o
comportamento de grupo ao meio. Sobre a linha de raciocínio de Schraam, Steinberg (1966,
p.20) comenta:
Fator significativo do desenvolvimento da comunicação de massa foi a máquina
reprodutora de comunicações, que se deslocou de sua identificação com interêsses
(sic) sagrados para a identificação com assuntos públicos. Ela desviou-se do serviço
da Igreja para a utilização secular. A partir da Bíblia de Gutenberg de 1450, os
desenvolvimentos técnicos de séculos posteriores presenciaram o gradativo
aparecimento do telégrafo sem fio, do telefone e da válvula eletrônica. O ponto
crucial da mudança, assinala o Dr. Scharaam, da comunicação interpessoal para a
comunicação de massa surgiu com o emprêgo (sic) de máquinas que, inseridas na
“cadeia de comunicação”, foram capazes de ouvir e ver para o indivíduo. As novas
máquinas acompanharam as mudanças na ética social e na orientação do indivíduo
para o grupo, do monístico para o pluralista, de uma sociedade onde o grupo de iguais
avultava mais momentoso. De um dispositivo de simples comunicação, o meio de
comunicação de massa converteu-se em instrumento não só de entretenimento mas
também de informações.
Foi a Revolução Tecnológica do século XX que viabilizou a Comunicação de Massa.
Como descreve Marialva Barbosa (2013), as tecnologias da época criaram novas experiências
e sensações em um regime de comunicabilidade que passou a decifrar o mundo pela
Comunicação de Massa. Os novos dispositivos produziam uma segunda representação que
49
mediava o que era visto. O oral migrou para o som reproduzível tecnicamente e a fotografia
passou a congelar o tempo e o espaço do vivido.
Independentemente dos formatos tecnológicos, é preciso considerar o conceito de
massa, pois, é ele que dá o tom aos media. Beltrão e Quirino (1986) vão tratar a Comunicação
de Massa como um manejo complexo de meios artificiais que necessitam se dirigir a um
receptor massivo denominado audiência, por sua vez, anônima e dispersa. Assim, os autores
colocam a perspectiva principal de quando se fala em massa: a sua noção de indústria. Seus
produtos, bens e serviços são culturais e são distribuídos em forma de mensagens. Entretanto,
essa noção industrial faz com que a Comunicação apele para grandes investimentos
econômicos, técnicas, planejamento administrativo e, sobretudo, o lucro vindo do público
vasto, heterogêneo, inorganizado e disperso, que na verdade, forma a audiência, ou em palavra
mais realista, a massa.
Impossível falar de massa sem relacioná-la ao conceito de Indústria Cultural, de Adorno
e Horkheimer. Essa noção nasce com as definições dos autores que compreendem a cultura de
massa como uma produção desenvolvida pela indústria e dirigida ao mercado. Adorno (1992)
in Rüdiger (2011) diz que, na transmissão da comunicação, escondem-se no processo as
principais forças do poder econômico, ludibriando as massas e a elas se ajustando. Logo, não
haveria nada de cultural nessa perspectiva, mas sim, um conjunto de objetivos econômicos,
comerciais, políticos e ideológicos que levam a um projeto de dominação. Outros autores, como
Marcuse e Horkheimer, fazem parte da Escola de Frankfurt13, a qual Rüdiger (2011) trata por
escola de pensamento social que contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento do
estudo da Comunicação. Esses teóricos pensaram a Indústria Cultural, pelo paradigma da
produção, designando o processo de criação das manifestações estéticas surgido com o
desenvolvimento do capitalismo, logo, “[...] categoriza o processo de transformação da cultural
em mercadoria, no contexto do qual os meios de comunicação representam simplesmente o
momento da circulação”. (RÜDIGER, 2011, p.96). Aliás, Beltrão e Quirino (1986) assinalam
que os meios de comunicação não são Comunicação, mas, instrumentos dela. Um pensamento
13 No conceito definido por Gabriel Cohn, em Dicionário de Comunicação: escolas, teorias e autores, a Escola de
Frankfurt reunia um grupo de intelectuais europeus de esquerda, majoritariamente judeus alemães com perfil
cosmopolita, que compartilharam desde a década de 1930 até a de 1960 (com desdobramentos até hoje) o esfor-
ço por desenvolver o conhecimento da sociedade com base numa proposta teórica multidisciplinar (muito antes da
invenção do termo). E não se tratava de uma sociedade qualquer. Era o padrão contemporâneo e as tendências
futuras da sociedade capitalista que estava no núcleo desse programa de pesquisa.
50
coincidente aos críticos de Frankfurt quando consideram os meios como espaço de circulação.
E para Beltrão e Quirino (1986, p.57),
[...] entendemos como comunicação de massa, o processo industrializado de
produção e distribuição oportuna de mensagens culturais em códigos de acesso e
domínio coletivo, por meio de veículos mecânicos (elétricos/eletrônicos), aos vastos
públicos que constituem a massa social, visando a informá-la, educá-la, entretê-la
ou persuadi-la, desse modo promovendo a integração individual e coletiva na
realização do bem-estar da comunidade.
Porém, a Comunicação de Massa é anterior à sociedade de massa. No século XVIII, a
ascensão ao poder, por parte da classe média da Inglaterra, fez com que a figura do escritor se
tornasse dependente do público para sua viabilização financeira em vez do patrocinador
aristocrático. A sociedade de massa eclodiu na metade do século XIX quando os impressos já
haviam se adequado às demandas do homem-médio que dominava a estrutura social. Assim,
surge o interesse pela informação e pela cultura dos periódicos que assumem uma nova feição.
E os jornais diários se tornam mais vivos, mais informativos, mais variados e com a intenção
de atingir as massas. Em suma, seja pela Comunicação de Massa em si ou pela sociedade de
massa, é fato que a massa necessita de uma engrenagem industrial para atender um mercado
consumidor. Tanto que, como ilustra John B. Thompson (1995), a indústria jornalística tomou
o caminho comercial para aumentar a circulação de jornais e consequentemente sua renda com
a venda de anúncios comerciais.
Esse cenário de avanço do século XIX é comentado por Ortega y Gasset (2005), que
considera o homem multitudinário como algo engendrado. Esse homem multitudinário é o
homem médio que vivenciava os avanços do ponto de vista econômico e que poderia se
comparar aos demais indivíduos na legalidade da igualdade. O século XIX – marcado pelas
condições de vida radicalmente opostas na grande massa social – propicia também ao homem
novos horizontes físicos e sociais. Para Ortega y Gasset, tais condições se deram por três
princípios: a democracia liberal, a experimentação científica e o industrialismo tendo os dois
últimos a capacidade de desenvolvimento da técnica. Apesar de apontar como a vida mudara
nesse século, Ortega y Gasset conclui que, mesmo com benefícios, as massas que se valiam
deles não reconheciam suas conquistas como vantagem oriunda de um sistema organizado, mas
sim, de avanços derivados da natureza.
51
Apesar da igualdade legalmente considerada, os estilos de vida eram diferentes. O
homem médio tinha conquistas menos sofridas que as do homem operário, por exemplo. Porém,
sobre as definições de massa, Ortega y Gasset (2005) diz que se trata de um conceito que não
se constroi por classe social, mas pela classe de homens, ou seja, pela forma como os sujeitos
se colocam na vida diante de suas conquistas e referenciais. Mas, ele nota que existe sempre
uma relação com o outro e há sempre alguém que ocupa uma posição hierárquica superior.
Apesar dessa conjuntura, o autor (2005, pp. 61-62) ressalta que as massas não podem dirigir
sua própria existência muito menos reger a sociedade.
A sociedade é sempre uma unidade dinâmica de dois fatores: minorias e massas. As
minorias são indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados. A
massa é o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas. Não se entende, pois,
por massas só nem principalmente “as massas operárias”. Massa é “o homem
médio”. Deste modo se converte o que era meramente quantidade – a multidão –
numa, determinação qualitativa: é a qualidade comum, é o monstrengo social, é o
homem enquanto não se diferencia de outros homens, mas que repete em si um tipo
genérico.
O autor ainda aponta que a massa não deixa de ser massa, mas, consegue suplantar as
minorias desde que seus integrantes consigam se sentir como todo mundo, não necessariamente,
se valorizando. Senão (2005, p.68)
A massa atropela tudo que é diferente, egrégio, individual, qualificado e seleto.
Quem não seja como todo o mundo, quem não pensa como todo o mundo, corre o
risco de ser eliminado. E claro está que esse “todo o mundo” não é “todo o mundo”.
“Todo o mundo” era, normalmente, a unidade complexa de massa e minorias
discrepantes, especiais. Agora todo o mundo é só a massa.
Nota-se o sentido da massa na contemporaneidade, sobretudo, no advento da vida
digital. Hoje em dia, quem não adere à incorporação das tecnologias está correndo esse risco
da eliminação sobre o qual falara Ortega y Gasset (2005). Percebe-se que há, com a
digitalização, uma incorporação diferente das demais tecnologias anteriores. Meios como o
impresso, o rádio e a televisão foram mais perenes do que as passageiras instâncias do universo
digital. Antes, a intervenção da indústria cultural na vida social, apesar de seus efeitos, parecia
um pouco mais duradoura do que atualmente. Assim, a Indústria Cultural cria as necessidades
provocando, como diz Gerbner (1967), uma ambiência cultural. A relação que ele faz sobre isso
52
é com a de uma nova revolução industrial, no campo da cultura, haja vista que os meios de
comunicação passam a criar novos públicos além das fronteiras de tempo, espaço e condição
social. Com isto, a Comunicação faz recriações simbólicas de aspectos da condição humana
permitindo com que a produção em massa crie informação, ideias, imagens e produtos em todos
os níveis sociais. De acordo com Gerbner (1967, p.60):
A estrutura social e a organização industrial têm conexão mais central e mais direta
com a consciência comum, como nunca antes. Dada a capacidade das sociedades
industriais de produzir os meios materiais necessários à subsistência e ao bem-estar,
as tensões e compulsões do sistema social acabaram por se transferir para a esfera
da cultura de massa. As lutas pelo poder e pelo privilégio, a participação na condução
dos assuntos humanos, a distribuição mais eqüitável (sic) das riquezas, todas as
demais formas de justiça social e, em verdade, de sobrevivência numa idade nuclear,
estão se deslocando cada vez mais das antigas arenas e métodos de luta para as novas
esferas de controle, competição e atenção nas comunicações produzidas em massa.
Os meios de comunicação estão a serviço das massas como circulantes amplos e comuns
de interação pública na sociedade proporcionando algo a mais que a interação face a face porque
sua capacidade de produzir e distribuir em massa resulta em ações dominantes na aculturação
pública, segundo Gerbner (1967). E tais ações vão se alterando conforme a clientela das
mensagens muda. É nesse diapasão que as significações vão se dando e os meios de
comunicação de massa conseguem formar seus públicos. O autor questiona essa formação de
público, no sentido de procurar saber, como os meios de comunicação compõem e estruturam
sistemas de mensagens em diferentes épocas e sociedades. Ele lança essa pergunta e nós
arriscamos responder considerando a necessidade dos clientes que a indústria cultural cultivou
e sempre procurou atender para não cair em desuso. Até mesmo nas modernas formas
comunicativas, geradas pelas tecnologias digitais, há mais do que nunca presente a relação
oferta e demanda com uma perspectiva um pouco alterada no sentido de que hoje é muito mais
fácil ofertar as dinâmicas porque a adesão imediata é facilitada pela tecnologia. Temos visto
isso facilmente em eventos significativos ou datas especiais em que as redes sociais padronizam
a discussão de temas emergentes do mesmo modo que faz a hipótese da Agenda Setting14.
14 De hipótese parcimoniosa à teoria, o Agenda Setting inclui “[...] proposições sobre as condições contingentes
destes efeitos, as influências que estabelecem a agenda da mídia, o impacto dos elementos específicos das
mensagens da mídia, e uma variedade de consequências deste processo de agendamento”. (MCCOMBS, 2009, pp.
8-9). Ver mais em McCOMBS, Maxwell. A Teoria da Agenda: a mídia e a opinião pública. Petrópolis, RJ: Vozes,
2009.
53
Mas não é apenas sobre o público, no sentido de cliente, que é preciso refletir. É
necessário olhar também o papel dos meios de comunicação de massa. Lazarsfeld e Merton
(1957) os qualificam como um instrumento poderoso que pode ser usado tanto para o bem
quanto para o mal. Os meios experimentam de um poder mágico por parte daqueles que os
consomem. Os autores elencam três condições dos meios: sua ubiquidade e poder potencial; a
preocupação com os efeitos sobre o público sem que haja um pensamento digerido por parte de
quem recebe a mensagem e a deterioração dos gostos estéticos e dos padrões culturais
populares. Além disso, os meios exercem funções sociais. Uma delas, a de conferir status a
questões públicas, pessoas, organizações e movimentos sociais. Também são capazes de impor
normas sociais, como por exemplo, atribuírem um poder à imprensa. Também existe a
disfunção narcotizante voltada a interesses especiais ou gerais. De modo geral, o destinatário
fica narcotizado diante do que recebe. Não é o caso de se aprofundar no contexto desta pesquisa
em curso, mas, é o que podemos considerar sobre o trabalho da imprensa brasileira na crise
econômica e política do Brasil em meio da década 2010-2020. Para Lazarsfeld e Merton, os
meios de comunicação de massa elevaram o nível de informação a grandes populações, porém,
na maioria das vezes, consumiram as energias do público para que este perdesse o caráter ativo
e se entregasse à passividade.
São as indústrias midiáticas cumprindo suas atividades, e que para Thompson (1995)
não podem ser pensadas separadamente da produção e circulação das formas simbólicas dentro
das sociedades modernas. A mídia – se apropriando do termo de Gerbner – é uma ambiência e
está integrada à vida social. O papel midiático não teve significativa importância até um
primeiro feito histórico: as técnicas de imprensa desenvolvidas por Gutenberg, no século XV.
É que a possibilidade de reprodução fez com que muitos textos se espalhassem, inicialmente,
pela Europa. A oralidade saía de cena e os conteúdos transmitidos provocaram mudanças nas
formas simbólicas de produção, consumo e porque não de reflexão sobre o que recebiam seus
destinatários. Dava-se início a um processo de transmissão cultural, que é para Thompson,
quando as formas simbólicas são transmitidas dos produtores aos receptores. Entretanto, a
transmissão cultural passa por níveis que envolvem o meio técnico, o aparato institucional e o
distanciamento espaço-temporal da transmissão. Todas essas modalidades de transmissão
cultural são maneiras específicas para produção, mercantilização e circulação ampliada das
formas simbólicas.
O meio técnico, segundo Thompson (1995), permite certo grau de fixação com respeito
à forma simbólica que é transmitida. Assim, os meios propiciam diferentes mecanismos de
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estocagem de informação, ou seja, há um conteúdo significativo. Também é possível, pelo meio
técnico, a reprodução da forma simbólica. Os meios técnicos também exigem participação do
público que requer codificações e decodificações dos próprios indivíduos segundo a natureza
dos meios. Algo muito similar ao que McLuhan dizia, por exemplo, sobre a relação dos públicos
com os meios quentes e frios.
Já o aparelho institucional de transmissão envolve um conjunto específico de
articulações nas quais o meio técnico é elaborado e os indivíduos estão envolvidos nas formas
simbólicas. As articulações envolvem relações hierárquicas e, para o seu desenvolvimento, são
essenciais os canais de difusão. Podemos pensar nisso, por exemplo, atualmente nas novas
maneiras de difusão de um acontecimento. Não necessariamente é possível acompanhar um
fato apenas por um meio específico. Vemos, pelo avanço das tecnologias, as convergências
entre plataformas midiáticas que, ao mesmo tempo, permitem que as formas simbólicas
circulem. Vemos muito, nos dias de hoje, o cruzamento entre Televisão e Internet, por exemplo.
De tal modo, que como diz Thompson (1995), a difusão de formas simbólicas se tornou um
processo a ser regulado de vários modos. Hoje em dia, a ideia permanente de seguir uma
programação com horários definidos para acessar algo inexiste, afinal, as formas simbólicas da
relação midiática se transformaram e permitem novas possibilidades. São experiências mais
modernas, o que não necessariamente, representam novidades conceituais. Poucas linhas acima,
vimos Lazarsfeld e Merton já falando em ubiquidade no século XX. Termo que se oferece como
uma das “grandes descobertas comunicacionais” contemporâneas.
O terceiro aspecto da transmissão cultural envolve o distanciamento espaço-temporal.
O rádio, por exemplo, ao mesmo tempo em que está longe do destinatário, exerce um papel de
co-presença, tanto que é considerado um meio de companhia. A fotografia tem o mesmo
sentido, pois, sua função é deixar registrado um momento vivido. Considera Thompson (1995,
p.226):
Quando as formas simbólicas são transmitidas para além de um contexto de co-
presença, podemos falar de extensão de acessibilidade das formas simbólicas no
tempo e espaço, onde a natureza e o grau de acessibilidade-extensão dependem tanto
do meio técnico de transmissão como do aparato institucional em que o meio e seus
usuários estão inseridos. (THOMPSON, 1995, p. 226)
55
As telecomunicações favoreceram esse distanciamento e, hoje em dia, com a Internet,
avançaram muito mais. Um dos meios que consideramos mais importantes e revolucionários,
nesse sentido, é o Whatsapp, pois, permite com que o distanciamento se torne uma co-presença
através das várias possibilidades como envio de textos, vídeos, fotos e também a possibilidade
em realizar ligações telefônicas. Essa possibilidade coincide com o que diz Thompson (1995)
sobre as mudanças tecnológicas que são cruciais para a história da transmissão cultural. É que
toda tecnologia, quando entra em curso, altera uma base material.
Para fechar esta segunda dimensão que nos propusemos a analisar sobre Comunicação,
é fato que a de massa se difere da interpessoal. Além das definições anteriores, Thompson
(1995) vai tratar da Comunicação de Massa como conjunto de mensagens transmitidas pelas
indústrias da mídia que floresceram com o capitalismo industrial e o surgimento do moderno
Estado-Nação. O autor considera que não se pode pensar a massa em termos quantitativos.
Embora as mensagens sejam distribuídas a muitos, cada pessoa vivencia a seu modo, os
contextos sócios históricos específicos e isso gera graus diferentes de concentração e
interpretação.
Para Thompson (1995), a primeira característica da Comunicação de Massa é a
produção e difusão de bens simbólicos institucionalizados em larga escala. A segunda
característica é que ela institui uma ruptura fundamental entre a produção e a recepção de bens
simbólicos. Os meios técnicos fazem uma mediação ao receptor que não se encontra no
contexto da produção. Com isso, a retroalimentação está privada. A terceira característica é que
a Comunicação de Massa aumenta a acessibilidade das formas simbólicas no tempo e no
espaço. E por último, o autor fala da circulação pública das formas simbólicas que envolvem o
objetivo das instituições de Comunicação de Massa em alcançar a maior audiência possível,
pois, a audiência significa valorização econômica. Um conjunto de articulação do bem
simbólico do capital.
Por fim, os meios de Comunicação de Massa despertam as questões ideológicas, porém,
como analisa Thompson (1995), eles não podem ser a única forma de pensar ideologicamente.
Sua ligação com preceitos ideológicos se dá porque eles são parte da difusão das formas
simbólicas que podem estabelecer e sustentar relações de dominação. Além disso, os meios
também proporcionam novos tipos de ação e interação bem como novas possibilidades de
relações sociais que se difundem no tempo e no espaço. Não é somente pelo que a mídia produz,
mas também pelo que se recebe, que o contexto ideológico deve ser considerado nessa interação
da vida cotidiana. Há de se considerar também que não se pode pressupor que os indivíduos
56
que recebem mensagens midiáticas serão impelidos a agir de forma conformista com os
interesses do polo de produção. Thompson (1995, p.345) afirma que “É apenas através da
análise da estrutura e do conteúdo das mensagens da mídia em relação a esses referenciais da
interação e de conjuntos circunstantes de relações sociais que nós podemos examinar o caráter
ideológico dos produtos da mídia”. Isto leva a apontar que não há ideologia nas formas
simbólicas em si porque o movimento ideológico está nas relações de dominação.
1.2 A Comunicação na dimensão da Pesquisa: origens institucionais
Esta terceira dimensão se volta ao olhar que a Academia empresta às práticas
comunicacionais por meio da pesquisa, por isso, algumas discussões se fazem necessárias.
Entre elas, a conformação institucional da Área e certas particularidades que passam pela
grande incógnita da real natureza da Comunicação, no âmbito acadêmico, em função de suas
atribuições que se dividem entre campo, ciência e relações interdisciplinares, capazes de
sustentar acalorados debates. A assertiva mais factual é de que a Comunicação se enquadra na
Grande Área das Ciências Sociais Aplicadas. Mas antes de discutir o emaranhado de sua
natureza para a consolidação de pesquisa, é necessário um resgate institucional sobre o qual se
materializou o conhecimento em Comunicação.
A Comunicação tem origens na Antiguidade, segundo apontamento feito pela
reconstrução histórica do professor José Marques de Melo (2008), que apresenta um itinerário
partindo da Atenas, do século IV a.C., quando Aristóteles fundou a Escola de Eloquência por
meio do ensaio denominado Arte Retórica no qual expõe os princípios estético-dialéticos da
arte da oratória. Já para o século primeiro d.C., a oratória ganha nova perspectiva quando
Quintiliano funda a Cátedra de Retórica do Império Romano a partir de seu tratado “Sobre a
formação do orador”, organizado em quatro tomos.
O tempo dá um salto e a História Moderna se registra por meio do poeta John Milton,
em 1644, com a publicação, na capital da Inglaterra, de “Aeropagítica”, um elogio público à
liberdade de imprensa que tinha como destinatário o Parlamento Inglês. A publicação refletia a
Comunicação Pública da época. Quase meio século depois, em Leipzig, se tem a notícia de
Tobias Peucer defendendo a tese de doutorado “Os relatos noticiosos” em que analisou o
processo de produção retórica do primeiro jornal diário europeu. Esse foi o pontapé inicial para
a criação de um instituto que daria continuidade aos estudos 34 anos depois. Nota-se que
57
reflexões em forma de pesquisa já aconteciam, mas, o aprendizado não se dava de outra forma
senão por meio dessas experiências.
Foi com Breslau, na Polônia, em 1806, que surgiu a noção de curso ao ser criada a
primeira forma de ensino sobre Teoria do Jornalismo, intitulada Ciência da Imprensa. Do
paradigmático Estados Unidos, surgem as primeiras contribuições, em 1869, vindas do estado
da Virgínia com a fundação do Washington College, que ofereceu o primeiro curso sobre a
prática do jornalista a fim de aperfeiçoar a formação de tipógrafos que também publicavam
jornais. E da capital francesa, Paris, 1899, veio a École Superieure de Journalisme, destinada a
formar profissionais para empresas do ramo. Sua criação nasceu da exigência do congresso
europeu de jornalistas, realizado em Portugal.
O Jornalismo dá sua contribuição para o início das reflexões no âmbito da pesquisa. Isso
se confirma na História Contemporânea, mais precisamente, em 1907, quando foi defendida a
primeira tese de doutorado sobre Jornalismo na Universidade de Munster, na Alemanha. E a
prática jornalística renderia mais. Em Missouri, EUA, 1908, Walter Williams fundou a primeira
Escola de Jornalismo com cursos de bacharelado, além de um jornal diário pelo qual se
realizava na prática, a formação de futuros profissionais da imprensa local e regional. Em Nova
York, Joseph Pulitzer patrocinou, em 1912, a fundação da primeira Graduate School of
Journalism, na Universidade de Columbia, com cursos de mestrado voltados à formação de
editores e repórteres especializados. Também nos EUA, foram fundadas entre 1912 e 1914, as
primeiras associações acadêmicas do campo. A Association for Education in Journalism and
Mass Communication e a National Communication Association publicaram as primeiras
revistas científicas do campo. Em Iowa, George Gallup defendia sua tese de doutorado criando
um novo método para mensuração da opinião pública aplicado inicialmente nas faculdades de
Jornalismo onde lecionava. Depois disso, o Instituto Gallup se tornou a organização privada
pioneira na realização de pesquisas midiáticas para empresas do ramo. A década de 1920
marcou também a fundação do Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais (SSRC), por
professores de Chicago e Columbia, inovadoras nos currículos e na formação de doutores. Foi
lá, segundo recupera texto de Craig Calhoun (2012), que se deu importância à reflexão
interdisciplinar. Com isso, melhoraram-se qualitativamente a pesquisa empírica e as
metodologias. Melhorias como pesquisa de levantamento, o uso de computadores e os modelos
matemáticos beneficiaram muitos campos científicos.
58
Na Califórnia, em Palo Alto15, o ano de 1955 registrou a criação do primeiro doutorado
em Comunicação por parte de Wilbur Schramm. Com uma equipe de jovens doutores, o grupo
passaria a ter papel de liderança acadêmica com funções estratégicas junto à UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que desempenhou um
papel significativo na sistematização da Comunicação em Área porque foi ela que fomentou a
criação da International Association For Media and Communication (IAMCR). Isso começou,
em 1946, quando as narrativas das Ciências Sociais e Humanas apresentavam crescimento em
função da Comunicação de Massa e seus fenômenos. Nesse início, a UNESCO propôs formar
um instituto internacional de imprensa e informação com o objetivo de promover treinamentos
para jornalistas, além de discutir os problemas da imprensa pelo mundo. Era um tempo em que
a mídia de massa estava majoritariamente vinculada à imprensa, ao rádio e ao cinema porque a
televisão ainda se encontrava em estágio experimental.
Os meios de comunicação de massa tinham um reconhecimento importante em algumas
áreas incluindo as relações internacionais. Uma das primeiras conferências organizadas pela
ONU, em abril de 1948, foi direcionada à liberdade de informação. O tema, aliás, integrou o
artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos16. Esse artigo foi desenvolvido com
a colaboração de dois fundadores da IAMCR: Fernand Terrou e Jacques Bourquin. A IAMCR
foi efetivamente colocada em atividade uma década depois disso, durante uma conferência
promovida pela UNESCO, em Paris, em 1957. A demora se justificou pelo lento progresso das
relações entre Leste e Oeste e também pelo início da Guerra Fria. Por conta de acontecimentos
históricos como esse, os temas opinião pública, meios de comunicação e relações internacionais
foram tratados internamente em detrimento das ideologias de liberdade.
A criação de uma associação de pesquisa não se deu antes porque, em 1951, o Instituto
Internacional de Imprensa (IPI) se formou como uma associação de editores e donos de jornais,
no Mundo Ocidental, representando um espaço livre em relação ao comunismo. Isso fez a
UNESCO entender que o IPI estaria se propondo a realizar uma análise de conteúdo do fluxo
15 Seu autor central foi o antropólogo Gregory Bateson. Marcado profundamente pelas teorias emergentes no
contexto americano depois da Segunda Guerra Mundial, pensou os paradoxos da abstração na comunicação. Seus
estudos interagiram diferentes tradições como cibernética, teoria dos sistemas, pesquisas sobre a nova
comunicação e teorias da aprendizagem. Os pensadores de Palo Alto compreendiam a comunicação como processo
de interação cujos significados são produzidos e compartilhados pelos interlocutores em determinado contexto.
Ver mais em CITELLI, Adilson... [et al.]. Dicionário de comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo:
Contexto, 2014. 16 Artigo XIX: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de,
sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e
independentemente de fronteiras”. Ver em http://www.dudh.org.br/declaracao/
59
internacional de notícias. Todavia, os olhares da UNESCO foram além porque se percebeu que
a liberdade de imprensa não era o único tema em meio ao crescente campo da Comunicação de
Massa que contava com contribuições a partir do ensino do Jornalismo. Essa percepção fez com
que, em 1952, a entidade se voltasse a essa questão estabelecendo centros de treinamento para
jornalistas a partir de uma organização internacional voltada à pesquisa científica em
Comunicação de Massa. No ano seguinte, houve um encontro de profissionais de Jornalismo
da Europa Ocidental e dos Estados Unidos.
Tais iniciativas iam configurando a Área. Assim a UNESCO deu mais uma importante
contribuição ao desenvolver um Departamento de Comunicação de Massa com o objetivo de
recolher, analisar e divulgar informações sobre imprensa, cinema, rádio e televisão, sempre no
contexto de seus usos para fins educativos, culturais e científicos. O resultado disso começara
a ser visto nas publicações em série, relatórios e artigos sobre o tema. Em “No 21: Current
Mass Communication Research”, estavam reunidos projetos de pesquisa em andamento a um
referencial bibliográfico de livros e artigos publicados desde 1955. Eram oito temas tratados a
partir da Comunicação de Massa e suas relações históricas, econômicas, jurídicas, serviços de
informação e propaganda do governo, publicidade e relações públicas, estudos psicológicos e
sociológicos, opinião pública e sua perspectiva pedagógica/cultural. Toda essa frente somava
aproximadamente 400 projetos de 14 países. Em relação à bibliografia, chegaram a ser listadas
800 publicações em 25 países. O mesmo sistema se estendeu à França, ao Japão e aos EUA.
Também houve adesão da Alemanha Ocidental e da Itália.
Em 1956, ano decisivo para a UNESCO entrar nessa jogada de conjectura da Área, um
encontro em Paris confirmou que havia uma dinâmica área de pesquisa e treinamento nos EUA
e outras partes do mundo. Nesse ano, na Conferência Global da UNESCO, em New Delhi, na
Índia, decidiu-se promover atividades coordenadas em institutos nacionais de pesquisa na área
da Comunicação de Massa como forma de incentivar a concretização de uma associação
internacional que congregasse tais institutos. Para a execução dessa missão, foi estabelecido um
Comitê Provisório integrado por Fernand Terrou (diretor do Instituto de Imprensa da França e
Presidente da Associação para Estudos de Comunicação da França); Mieczyslav Kafel (diretor
do Instituto de Jornalismo da Universidade de Varsóvia); Marcel Stijns (editor-chefe do jornal
belga Het Laatste Niews e vice-presidente da Federação Internacional dos Jornalistas) e David
Manning White (professor de Jornalismo da Universidade de Boston e presidente do Conselho
de Pesquisa da Associação para Educação em Jornalismo).
60
Fernand Terrou presidiu o comitê e convidou Jacques Kayser, diretor de pesquisa do
Instituto Francês de Imprensa, para ser o secretário executivo. A não nomeação de Jacques
Bourquin, que nem membro do comitê era, gerou um impasse. Insatisfeito, Bourquin fez
pressão junto à Federação Internacional de Jornais para que o ajudasse a integrar esse comitê,
porém, mesmo lançando mão de artimanhas, a UNESCO não o incluiu. É que havia uma briga
política de Bourquin com o então diretor do Departamento de Comunicação de Massa da
IAMCR, que reconhece em seu site, essa diferença como um exemplo de fatores subjetivos que
podem intervir numa história institucional. Esse Comitê Provisório foi reconhecido pela
UNESCO e seus integrantes prepararam os estatutos com o propósito de estabelecer, entre as
missões, os contatos internacionais, a viabilização de produções bibliográficas e instituições
que poderiam fazer parte do inventário da UNESCO. Além da formação institucional, a
configuração em torno dos interesses de estudo ia se projetando. Num encontro, em
Estrasburgo, leste da França, a Comunicação de Massa foi considerada, assim como outros
campos de atividade socioeconômica, com certo nível de importância e especialização na
sociedade, o que levou à institucionalização do campo nacional e internacionalmente.
Assim a IAMCR cresceu com uma mídia em desenvolvimento tendo no Jornalismo um
ramo de atividade que exigia educação profissional e pesquisa científica. Isto fez com que a
entidade se concentrasse, então, nas problemáticas que envolvessem Jornalismo e Comunicação
de Massa. A IAMCR andou com o apoio de acadêmicos, jornalistas e profissionais da mídia,
inclusive, donos de jornais. Fernand Terrou, o primeiro presidente, se dedicou a ensinar e
promover a pesquisa em Informação e Mídia. Ao ocupar esse cargo, valorizou as atividades de
pesquisa e deu apoio à criação de centros de pesquisa e documentação até em países em
desenvolvimento.
Tratativas feitas, providências tomadas, chegava a hora da IAMCR sair do papel. A
conferência que a instituiu aconteceu em dezembro de 1957, em Paris, como já colocado neste
capítulo. Como os encontros eram bienais, foi em 1959, que se deu a primeira assembleia geral,
em Milão, na Itália. O processo de fundação ainda se estendeu até o ano de 1961 na Conferência
de Viena. Mas retomando a primeira assembleia, foi nela que o professor de Jornalismo da
Universidade de Minnisota, nos EUA, Raymond B. Nixon, foi eleito presidente. O brasileiro
Danton Jobim fez parte do Comitê Executivo. A maioria dos integrantes eram jornalistas
profissionais e profissionais de Jornalismo voltados à mídia impressa. Mas a UNESCO queria
incorporar outras mídias.
61
Boa parte dos pesquisadores era europeia e os aspectos sociais, psicológicos,
tecnológicos e de marketing estavam representados na pesquisa. O cinema e a televisão não
tiveram tanto espaço, embora o presidente Nixon tenha feito esforços para mudar isso. Nos anos
1960, ele fez contatos com pesquisadores de outras disciplinas para receber apoio. Destaca-se
como um colaborador efetivo, Paul Lazarsfeld, considerado o pai da pesquisa em Comunicação.
A Assembleia de Viena marcou a maior representação de áreas de pesquisa. Em 19 anos, a
IAMCR passou de 30 países e 100 membros para 60 países e 1.000 membros. Um período que
representou mudanças alcançadas pela pesquisa.
Desde seu surgimento, o período de consolidação, datado entre 1964 e 1972, ocorre
inicialmente com a mudança da sede que deixou Amsterdã, na Holanda, para a Suíça. Essa
mudança foi na gestão do presidente Bourquin, aquele que queria ter feito parte do Comitê
Provisório até a instituição da IAMCR. Foi no tempo dele que boletins com notícias da entidade
começaram a ser reproduzidos. Além de notícias, alguns estudos temáticos, como o da
comparação de estatutos das empresas de rádio e TV, receberam apoio da UNESCO para
publicação.
Todos os ideais faziam mais sentido quando os pesquisadores se encontravam para o
intercâmbio acadêmico. Foi então nesse período de consolidação que a IAMCR concentrou
suas atividades na conferência bienal e nos simpósios. Além dos temas de pesquisa, ações
políticas também surgiam desses momentos. Nessa toada, o ano de 1966 abrigou uma
conferência importante que contou com representantes da Europa, Ásia e EUA. Eles discutiram
os meios de comunicação para o desenvolvimento nacional e dessa intenção surgiu a ideia de
fundir a IAMCR com a WAPOR, World Association for Public Opinion Research.
O amadurecimento da entidade se construía ao longo do tempo e deu sinais importantes
como, por exemplo, a participação feminina. Em 1968, Irena Telepowska, da Polônia, se tornou
a primeira mulher a ocupar uma posição de liderança na IAMCR ao se tornar chefe da seção de
bibliografia. Mas, um ano depois de chegar a esse cargo, ela morreu em um acidente de avião
a caminho de uma reunião do Comitê Executivo.
Os encontros tinham uma grande importância para a consolidação da entidade. A
Assembleia Geral de 1970, em Constance, na Alemanha Ocidental, foi importante para os
historiadores já que foram aprovados e recomendados à ONU (Organização das Nações Unidas)
aspectos da Comunicação de Massa considerados a partir da liberdade de informação, da
integridade cultural das nações e do uso de satélites. Tratava-se de uma importância tão grande
62
que já se projetavam fenômenos a ponto de haver o interesse em dar legitimação e
reconhecimento à “Ciência da Comunicação de Massa”. Esse momento deriva da passagem dos
anos 1960 para os anos 1970, quando se denota uma evolução significativa à IAMCR. A
pesquisa de Comunicação de Massa cresceu em todos os lugares, especialmente, a partir da
expansão da televisão. Novos programas universitários se estabeleceram e comitês nacionais
foram criados para destacar o campo. Também foi um período marcado pelo ingresso de
pesquisadores anti-positivistas no campo, casos de Robin Cheesman, Nicholas Garnham e
Armand Mattelart. Além das questões intramuros, a UNESCO, concomitantemente, priorizou
em sua agenda a pesquisa em Comunicação de Massa.
É que, em 1968, houve autorização para que a UNESCO, em cooperação com
organizações nacionais e internacionais, governamentais e não-governamentais realizasse
pesquisas sobre o progresso tecnológico nos meios de comunicação para promover o estudo
sobre o papel e os efeitos deles na sociedade moderna. Essa possibilidade fez com que uma das
primeiras atividades do diretor do Departamento de Comunicação de Massa, Pierre Navaux,
fosse definir a comissão de Halloran, um documento que tratava sobre meios de comunicação
e sociedade. O resultado disso foi apresentado numa reunião em Montreal, no Canadá, e
apontou para a necessidade da pesquisa com a divulgação de relatórios e documentos sobre
Comunicação de Massa. Foi tão importante esse evento para a história da pesquisa de
Comunicação de Massa que um painel foi realizado, em 1971, com vistas à preparação de
propostas para um Programa Internacional de Pesquisa em Comunicação.
Os anos de 1972 a 1988 representaram o crescimento da IAMCR. Suas atividades saíram
do circuito europeu e chegaram pela primeira vez à América Latina. Esse intercâmbio numa
área do mundo sempre em desenvolvimento, mas muito pouco desenvolvida, demandou um
novo início de cooperação com a UNESCO. Foi considerado um período de virada social
porque o jovem campo da Comunicação passara a ter consciência de seu envolvimento na
política social. Tal conferência teve como tema “Comunicação e Desenvolvimento”. Contou
com cerca de 50 membros da IAMCR, sendo notável a grande participação de argentinos e
demais sul-americanos. Por aqui, pensaram em uma nova divisão de pesquisa sobre mídia e
países em desenvolvimento. Alfred Opubor, da Nigéria, foi eleito chefe da seção e o francês
Annette Suffert foi nomeado para dirigir a seção de estudos sobre televisão. Em 1973, passou-
se à discussão do presente, passado e futuro da IAMCR com a prioridade de que a entidade
mantivesse um jornal e estabelecesse cooperações com revistas novas ou existentes.
63
A América Latina saiu de cena e a IAMCR voltou a fazer uma conferência na Europa.
Em 1974, Leipzig, na Alemanha, abrigou “Comunicação de Massa e convivência social num
mundo em mudança”. A partir de uma conjuntura geral, atenção a quatro subtemas: economia,
participação, socialização e desenvolvimento de nações. Mais de 60 trabalhos foram
apresentados e depois editados em dois volumes multilíngues. O presidente Halloran destacou
a necessidade da IAMCR em atrair e manter o interesse de novos e jovens pesquisadores em
meio a essa conferência que propiciou debates sobre políticas de pesquisa, objetivos, teorias,
métodos e resultados. Aquela ideia do jornal para divulgar ações da entidade foi descartada
porque algumas revistas se propuseram a divulgar informações sobre a IAMCR. A UNESCO
patrocinou uma publicação de 130 páginas, às vésperas da conferência de 1976, tratando de
meios de Comunicação e socialização a partir de bibliografia internacional e diferentes
perspectivas.
Chegamos a 1976, quando Leicester, na Inglaterra, recebeu a conferência com mais de
300 participantes. Foram quatro os temas tratados: o estado da arte da pesquisa em
Comunicação, sob coordenação de Lothar Basky, George Gerbner e Peter Golding; Estruturas
e Contextos de produção de mídia, sob responsabilidade de Stuart Hall, Michael Tracey e John
Pollock; Influência da mídia, com Neville Jayanceria, N. Mansurov e Elisabeth Noelle-
Neumann; Mídia e Compreensão Internacional, com colaborações de Luís Beltrán, Phil Harris,
Al Hester e Frank Ugboajch. Entre os debatedores, estavam Jay Blumler, Thedore Glasser, Jan
Ekecrantz, Cees Hamelink, Elihu Katz, Ramona Rush e Percy Tannenbaum. Essa conferência
foi considerada oportuna para trocas intelectuais, além de se tornar notável para adotar
resoluções sobre a necessidade de políticas de Comunicação internacionais a serviço do
desenvolvimento democrático e o apoio ao direito universal de se comunicar, premissas
constantes do ponto de partida para tudo isso e que, inclusive, constam da Declaração Universal
dos Direitos do Homem. Nesse encontro, o relatório da Comissão MacBride17 foi examinado e
passou a ser uma preocupação da UNESCO, que deixou de apoiar as publicações temáticas.
Mesmo cortando por um lado, a UNESCO incentivou por outro, depois que firmou contrato
com a IAMCR para um estudo sobre notícias estrangeiras. Além disso, a seção de Educação
Profissional desenvolveu um projeto para a promoção de livros didáticos no ensino de
Jornalismo no mundo em desenvolvimento.
17 Foi o primeiro documento oficial de um organismo multilateral que reconheceu grande desequilíbrio no fluxo
mundial de informação. Incentivou conferências regionais sobre políticas culturais e nacionais de comunicação.
Ver detalhes em CITELLI, Adilson [et al]. Dicionário de Comunicação: escolas, teorias e autores. São Paulo,
SP: Cortez, 1991.
64
Outra publicação, com apoio da UNESCO, foi um livro abordando os temas principais
da conferência “Meios de Comunicação e Visão da Sociedade do Homem: um relatório da
conferência e bibliografia internacional”, de 1978. Nesse mesmo ano, na Polônia, houve a
conferência “Comunicação Social e Cultura”, com uma abordagem referente à perspectiva da
Teoria Matemática em Pesquisa de Comunicação a partir da visão econômico-política. Essa
conferência também teve um livro publicado, 2 anos depois, com temas como ideologias,
teorias e metodologias de meios de comunicação de massa e cultura; estrutura, conteúdo e
impactos das culturas nacionais com fatores políticos, econômicos e tecnológicos de
comunicação transcultural e internacional.
Os bons tempos do financiamento passaram e a UNESCO reduziu apoios, condição que
freou o crescimento e o dinamismo da IAMCR cuja ideia de criar um jornal para a entidade
mais uma vez foi refutada tão logo George Gerbner fez nova sugestão. Enquanto isso, outras
associações se mobilizaram regionalmente: ACCE, na África; AMIC, na Ásia e ALAIC, na
América Latina.
Os anos de 1980 marcaram a volta das mulheres à IAMCR com a conferência de
Barcelona, na Catalunha, em 1988. Foi a partir desse encontro que se desenvolveram as
primeiras pesquisas sobre mídia e gênero encabeçadas por Madeleine Kleberg, da Suécia. Outra
área de pesquisa criada foi a ‘educação para os meios’. Também, nesse encontro, os estatutos
da IAMCR foram revistos. Ainda nos anos 1980, a entidade voltou a realizar uma conferência
em espaço latino-americano, desta vez, em Caracas, na Venezuela. “Novas Estruturas de
Comunicação Internacional” teve como grande destaque um debate entre Ithiel de Sola Pool e
Hebert Schiller a respeito da tecnologia de mídia e ideologia.
Da década de 1990 em diante, veio a fase de mudanças. O advento da Internet
possibilitou o contato virtual diminuindo o período de tempo bienal das conferências. Passou a
haver um interesse em métodos interdisciplinares à pesquisa em Comunicação. A geopolítica
foi um fator favorável à IAMCR que sempre considerou a representação internacional um fator
estimulante para a intelectualidade. Mais do que os desafios institucionais, a própria
Comunicação de Massa mudou sua natureza com a era das novas mídias e a digitalização. Nos
anos 1990, o “M” de massa virou “M” de media. A UNESCO passou a criar novas estruturas
com as Cátedras UNESCO em Comunicação18. Essa frente gerou uma divisão na organização
18 A Cátedra UNESCO de Comunicação para o Desenvolvimento Regional foi criada em 1994 quando a instituição
consultou o Prof. Dr. José Marques de Melo sobre a possibilidade da Universidade Metodista de São Paulo sediar
65
do campo da pesquisa em Comunicação internacional. O pluralismo global foi reconhecido pela
IAMCR em função do conjunto diversificado de associações regionais e internacionais ativas
pelo mundo.
1.3 O papel institucional da América Latina
Como vimos pelos registros históricos da IAMCR, a América Latina serviu duas vezes
de palco para receber conferências da entidade. Trata-se de pequenas ações que denotam a
representatividade que essa parte do mundo ocupa junto aos estudos em Comunicação. Sem
nos aprofundarmos, mas colocando um pouco da questão, a América Latina é tratada como um
Novo Mundo, o continente da esperança, que seria uma contraposição à Europa, segundo Gasio
(2011). Levando em conta o riquíssimo repertório sociocultural por meio do qual podemos
contar a participação latino-americana. Seja na literatura, no teatro, no cinema, nas artes em
geral, na política, temas não faltam para se aprofundar nessa região do mundo formada por 20
países.
Tratar de comunicação na América Latina é, porque não, ao mesmo tempo, tenso e
denso. Se a abordagem for pelos meios de comunicação, por exemplo, como não tratar as
questões da Comunicação pública governamental e a luta contra a censura? Do ponto de vista
dos meios, temos as formas autoritárias do sistema comunicacional da Venezuela ou a Ley de
Medios, polêmica na Argentina, por querer a diminuição da concentração midiática nos anos
de presidência de Cristina Kirchner19. Em 2016, há de se considerar o dúbio papel da imprensa
brasileira no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff20. Tais práticas ajudam
a formar nosso mosaico cultural que apresenta demandas suficientes para correntes temáticas
sobre as quais autores têm se debruçado com uma pretensão: instituir e legitimar a Escola
Latino-Americana de Comunicação (ELACOM).
A condição de dependência da América Latina também se dá na pesquisa em
Comunicação, afinal, nossas práticas ainda se enquadram, para devido reconhecimento
científico, nas teorias do paradigma estadunidense. A apregoada libertação teórica teve seus
uma das quatro Cátedras de Comunicação previstas para a América Latina. Ver mais em:
http://portal.metodista.br/unesco/ 19 De 2007 a 2015, exerceu dois mandatos como Presidente da República da Argentina. 20 Assumiu a presidência do Brasil, em 2011 para o primeiro mandato e foi reeleita, em 2014, tendo sofrido
processo de impeachment em 2016.
66
aportes iniciais, nos anos 1960 e 1970, com a origem do CIESPAL e o trabalho de Jorge
Fernández, intelectual que dirigiu o organismo estabelecido pela UNESCO, em Quito, capital
do Equador. Seu vanguardismo foi ao encontro do pensamento econômico do argentino Raul
Prebisch. Juntos, chegaram a realizar, no Chile, uma reunião de especialistas sobre o
desenvolvimento dos meios de comunicação na América Latina. O evento teve as participações
dos pensadores da Comunicação, Wilbur Schramm e Fernand Terrou. Toda a gênese do
pensamento latino-americano se relacionou ao Jornalismo pelo fato de que essa frente
comunicativa se estabelece como elo entre os acontecimentos e a comunidade, em suma, uma
espécie de espelho da história. O professor José Marques de Melo (2014) recorda que Fernández
destacava a falta de engajamento na pesquisa científica em Comunicação, praticamente
inexistente no âmbito latino-americano. Esse diagnóstico foi tema de um seminário, em 1966.
Coube a Gonzalo Córdova, sucessor de Fernández, estimular a superação da dependência
teórica, em especial, com novos rumos a um pensamento autóctone.
O respaldo teórico para uma Escola Latino-Americana da Comunicação não tem sido
tarefa das mais fáceis, porém, surge de algumas contribuições. O professor José Marques de
Melo atribui esse levante à inspiração da Teoria da Dependência e da Teologia da Libertação.
Os anos 1970 marcaram o início de estudos sobre fenômenos comunicacionais latino-
americanos. Grupos pioneiros, inovadores e renovadores foram categorizados nessas questões.
O que se atribui à pretendida ELACOM é a prática do hibridismo e da mestiçagem latino-
americanos como resposta à síndrome do colonizado. Um dos marcos referenciais nesse
engajamento é Luís Ramiro Beltrán, que simplifica a Comunicação em processo humano que
envolve diálogo, participação e acesso igualitário. Ele vai aplicar tais preceitos às realidades
latino-americanas em função de interesses, necessidades e identidades culturais. Sua pesquisa
rompe e questiona a validade dos conceitos e métodos de pesquisa estadunidense.
Tornam-se centrais também para a validação latino-americana o pensamento sobre
mediação, de Jesús Martin-Barbero, cuja pesquisa envolve a articulação das práticas
comunicacionais pelos sujeitos. Contexto cultural, processos sociais, matrizes culturais,
gêneros, mestiçagem e o uso de espaços e objetos se tornaram relevantes. São o popular, a
cultura e o cotidiano como valores para os estudos em Comunicação. Temas como dependência
cultural, cultura, consumo cultural, identidade cultural, mestiçagem, mediações e recepção vão
ganhando escopo, formulações teóricas e empíricas. Nomes como os de Néstor Garcia Canclini,
Valério Fuenzalida, Guillermo Orózco, entre outros, surgem no cenário latino-americano.
Então, se Barbero concebe os meios de comunicação como produtores sociais que propiciam a
67
interação das mediações humanas, conflitos simbólicos e interesses políticos e econômicos; se
Canclini trata o consumo como processos socioculturais demarcados por trabalho e expansão
do capital, apropriação do produto social, diferenciação social, sistema de integração e
comunicação; se Fuenzalida entende a influência grupal como algo sumariamente importante
na construção do sentido que as pessoas atribuem à mensagem; se Orozco aborda as
multimediações diante da exposição dos indivíduos às mensagens; se Jorge González pensa a
Hegemonia como um “momentum” das relações em um determinado espaço social onde se
criam e recriam as formas simbólicas de toda relação social, os latino-americanos não estão
descrevendo, prevendo e descobrindo novos conhecimentos? Logo, estão teorizando, sim! Com
isso, emerge mais uma questão de reconhecimento e não de denegação a respeito dessa
produção teórica.
Mas para chegar a isso, há um conjunto de iniciativas institucionais que possibilitaram
a configuração para um pensamento latino-americano sobre Comunicação. O Brasil aparece
pela primeira vez, em 1918, com a realização do 1º Congresso Brasileiro de Jornalistas,
organizado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O objetivo era criar uma Escola de
Jornalismo para formar profissionais que atendessem as empresas do ramo. Só nos anos 1940,
essa proposta ganharia materialidade. Antes disso, o IBOPE surgiu para os estudos de audiência
dos meios de comunicação. Uma inspiração que veio do Instituto Gallup. Mas o Jornalismo
como espaço sinônimo à Comunicação ganhou seu centro de estudos. Em 1947, a Cásper Líbero
se tornou a primeira escola de Jornalismo do Brasil em uma parceria com o jornal A Gazeta e
a PUC de São Paulo. Quatro anos depois, surgiu a Escola Superior de Propaganda também na
capital paulista. Mas, ela não foi a primeira faculdade de Jornalismo da América Latina. A
primazia pertence à Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, em 1934.
Em Quito, capital do Equador, surge em 1959, o CIESPAL – Centro Internacional de
Estudios Superiores de Periodismo para América Latina – com a finalidade de formar
professores para o campo da Comunicação e incentivar a pesquisa científica sobre os meios de
comunicação de massa da região. Em Caracas, nascia o Instituto de Investigaciones de Prensa,
na Universidade Central da Venezuela, que no mesmo ano, se tornaria pioneiro em pesquisas
acadêmicas da América Hispânica. Em Recife, 1963, surgia o ICINFORM – Instituto de
Ciências da Informação – o primeiro centro de pesquisa universitária sobre Comunicação na
América Lusófona. De acordo com Marques de Melo (2008, p.155):
68
Os primeiros centros de pesquisa que surgiram nas universidades datam dos anos 60,
mas nem sempre tiveram estruturas permanentes. O pioneiro ICINFORM (Instituto
de Ciências da Informação), criado em Recife, foi, pouco a pouco, desativado
quando seu fundador, Luiz Beltrão, transferiu-se para Universidade de Brasília. E,
assim, aconteceu com iniciativas semelhantes, em outras instituições. Até que foram
implantados, nos anos 70, os cursos de pós-graduação em Ciências as (sic)
Comunicação (USP,UFRJ,UNB,PUC/SP e Metodista/SP), nos quais a pesquisa
constitui atividade essencial.
A FACUNB – Faculdade de Comunicação de Massa da Universidade de Brasília –
nascia em 1964, como a primeira, reunindo diversas áreas como Jornalismo, Publicidade, Rádio
e TV e Cinema. Dois anos depois, em São Paulo, a Escola de Comunicações Culturais da USP
se tornaria a primeira instituição dotada de laboratórios, equipe docente em tempo integral e
programa permanente de pesquisa. Também em São Paulo, o ano de 1969 marcava a fundação
da UCBC – União Cristã Brasileira de Comunicação Social, uma entidade ecumênica dedicada
ao estudo da Comunicação de acordo com os princípios do Concílio Vaticano II.
Já o ano de 1972 marcou a fundação da ABEPEC, a Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Comunicação, desativada no início da década de 1980. Pouco antes, em 1977,
nascia a INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação –
com vistas à formação de uma comunidade acadêmica nacional. Em sua origem, o compromisso
com o pluralismo teórico, a diversidade metodológica e a liberdade de expressão. Formada por
pessoas de diferentes áreas acadêmicas, houve comprometimento com a prática da
interdisciplinaridade convertendo os processos comunicacionais em focos privilegiados da ação
investigativa. Além do contato internacional, também se prestou à cooperação profissional. A
nucleação dos sócios que se reúnem em um encontro anual é para justamente atender a própria
natureza do campo, fragmentado territorialmente e multifacetado epistemologicamente. Sua
criação foi fator decisivo para disseminar a mentalidade da pesquisa científica nas escolas de
Comunicação ao agregar pesquisadores espalhados pelas universidades brasileiras, criando
fóruns de debates, publicações periódicas e incentivo às novas gerações de pesquisadores. Pela
INTERCOM, a pesquisa brasileira se projetou internacionalmente, como lembra Marques de
Melo (2008, p.156):
Deve-se, em grande parte, ao trabalho desenvolvido pela INTERCOM a decisão das
agências públicas de fomento à ciência e tecnologia (Capes, CNPq, Finep, Fapesp),
alocando ou ampliando os recursos destinados aos centros de pesquisa em
comunicação existentes nas universidades.
69
É dos anos 1970 em diante, com o crescimento de cursos profissionalizantes, que os
departamentos de Comunicação floresceram. Em Brasília, 1980, surgiu a Associação Brasileira
de Escolas de Comunicação, a ABECOM. Em Belo Horizonte, foi criada em 1990, a COMPÓS,
a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação Social reunindo
coordenadores de cursos de Mestrado e Doutorado. Entidade que ainda se mantém com um
encontro anual bastante respeitado.
Toda essa fortuna histórica é fruto do trabalho do professor José Marques de Melo
(2014) que propõe uma cartografia das Ciências da Comunicação. Essa condição científica ao
campo deve ser superior às fragmentações encontradas em seu metier, pois, a Área concentra
como Saber Aplicado um espaço cognitivo multifacetado que envolve Ciência, Arte,
Tecnologia e Humanidades. Passa pela multidisciplinaridade que exige integração teórica e
prática em um exercício de sintonia fina com as demandas sociais. A multiocupacionalidade
reserva carreiras acadêmicas e profissões reconhecidas. Em sua proposta cartográfica, Marques
de Melo se ocupa de estudá-la em níveis internacional e nacional.
As contribuições hegemônicas para isso vêm da Fortuna Historiográfica, que faz a
divisão do conhecimento, e da Hegemonia Intelectual, resultado do Colonialismo e do
Imperialismo. Com isto, as variáveis passam por categorias Substantivas (invenção do objeto e
instituição do campo) e Adjetivas (questões historiográficas e empíricas). As fontes
hegemônicas dos estudos em Comunicação partem da Inglaterra, Alemanha, França, Itália e,
em especial, dos Estados Unidos como ressalta Marques de Melo (2008, p.29):
70
Os Estados Unidos continua sendo o carro-chefe dessa promissora engrenagem
acadêmica, não apenas em número de cursos (Cerca de 500), mas principalmente na
adoção de estratégias pedagógicas sintonizadas com os requisitos industriais. Suas
escolas mantêm programas permanentes de cooperação com as empresas. Realizam
pesquisas e acolhem profissionais de prestígio com professores-visitantes. Além
disso, promovem estágios de alunos e reciclam seus docentes nas redações de
jornais, emissoras de televisão, agências de propaganda e relações públicas
(MARQUES DE MELO, 2008, p.29).
Sobre essa situação, Marques de Melo (2008) observa que os EUA exercem uma
liderança mundial em padrões universitários de ensino de Comunicação. O modelo
estadunidense é profissionalizante, por isso, a preocupação em formar jornalistas, publicitários,
cineastas, radialistas ou relações públicas para preencher vagas da indústria cultural. Além
disso, há uma cobrança pela excelência, por isso, dirigentes universitários exercem vigilância
permanente, cobrando produtividade dos pesquisadores, avaliando cursos, verificando se
bibliotecas adquiriram novidades editoriais além do incentivo à participação de professores e
alunos em congressos acadêmicos e profissionais. Já em termos de Brasil, Marques de Melo
(2014) identifica que para se tratar a cartografia, não há outra forma senão o estabelecimento
de critérios. Por isso, na visão dele, o campo comunicacional brasileiro compreende cinco tipos
de História: Intelectual, Autoral, Institucional, Disciplinar e Contextual.
A História Institucional demarca muito bem o sentido da construção do campo
comunicacional no Brasil. Nos anos 1960-1970 é que a Comunicação assume uma noção de
campo. Antes de se legitimar na década de 1960, essa noção passava também por atividades
empresariais, profissionais e universitárias. São marcos do campo enquanto espaço de pesquisa
no Brasil: a fundação do ICINFORM, Instituto de Ciências da Informação, em 1963, por Luiz
Beltrão, em Recife; o lançamento da revista Comunicações & Problemas, o primeiro periódico
científico do campo comunicacional brasileiro; a criação da FACUNB, Faculdade de
Comunicação de Massa da Universidade de Brasília, em 1964; a defesa da tese de doutorado
de Luiz Beltrão, em 1967, sobre Folkcomunicação; a fundação, em 1966, da Escola de
Comunicações Culturais da Universidade de São Paulo (atual ECA-USP); a fundação do Centro
de Pesquisas da Comunicação Social da Faculdade Cásper Líbero, então vinculada à PUC-SP,
em 1967. Nesse departamento, foram realizadas pesquisas pioneiras em quadrinhos,
telenovelas, imprensa imigrante, jornalismo comparado, erotismo na propaganda, comunicação
eclesial e pedagogia do jornalismo; fundação da União Cristã Brasileira de Comunicação, em
1969, em São Paulo; realização do I Congresso Nacional de Comunicação pela Associação
Brasileira de Imprensa, em 1971, no Rio de Janeiro; I Congresso Brasileiro de Ensino e
71
Pesquisa da Comunicação (Belo Horizonte, 1973); fundação da INTERCOM, em 1977, uma
autêntica comunidade científica em um campo emergente; fundação da COMPÓS (1991); o
surgimento de sociedades científicas em diferentes disciplinas que compõem as Ciências da
Comunicação, como SOCINE e SBPJOR, por exemplo; fundação da SOCICOM e realização
da I Conferência Nacional de Comunicação, em 2009, em Brasília.
Toda essa institucionalização motiva os pares acadêmicos ao desenvolvimento do
trabalho de pesquisa tanto que o ano de 1963 se tornou decisivo. A práxis vigente nas indústrias
midiáticas e nos serviços públicos foi convertida em objeto de análise acadêmica. Temos aí,
portanto, o primeiro contato entre teoria e prática comunicacional. Por que 1963? Porque Luiz
Beltrão, com o ICINFORM, direcionou o trabalho do Instituto à pesquisa científica no Brasil
regularizando uma prática permanente até os dias de hoje. Marques de Melo (2014) ressalta que
os fenômenos da Comunicação eram estudados no Brasil antes disso, porém, de forma efêmera
ou utilitária sem a noção de construir um acúmulo de conhecimento. Uma existência ainda
carente de reconhecimento, pois, se trata de um campo relativamente jovem de espaço ainda
débil que luta pela inclusão no universo científico e por sua legitimação social. Uma construção
que significa passar pelo crivo da academia e pelo reconhecimento da opinião pública, alerta
Marques de Melo (2014). Julgamos que todos esses elementos apresentados pressupõem uma
formação de estudos em Comunicação, entretanto, figura-se muito o campo institucional que
ganha também em seu aspecto taxionômico a contribuição de pesquisadores que recorrem à
FAPESP, instituição que traz aportes à legitimação da nossa Área à medida que submete as
investigações do conhecimento a procedimentos científicos constituintes à formatação de um
projeto de pesquisa.
Bem antes das experiências brasileiras, a Comunicação se caracteriza por seu processo
básico configurado no espaço greco-romano entre os séculos IV a.C. e I d.C.. Seu
reconhecimento intelectual dar-se-á somente no século XVII dentro do espaço público
britânico. Depois, a Comunicação enquanto dimensão universitária ganha espaço na Alemanha
e na França. Entretanto como espaço científico se legitima, a partir de 1912, em uma fase
moderna com a formação de comunidades acadêmicas nacionais estadunidenses e
internacionais. Em comparação aos Estados Unidos, o Brasil levou quase um século e meio a
mais para inserir os estudos em Comunicação na universidade.
É nos anos 1970 que o estudo da Área, no Brasil, vai se evidenciando organicamente,
justo quando atenua a fragmentação dos espaços empresariais, profissionais e acadêmicos
relacionados com a produção de bens culturais. Isto está diretamente relacionado à perspectiva
72
crítica dos estudos em Comunicação decorrentes da Escola de Frankfurt, na Alemanha. Porém,
Marques de Melo considera que o divisor de águas foi a realização do Congresso Nacional de
Comunicação, da Associação Brasileira de Imprensa, por inspiração de Danton Jobim21, em
setembro de 1971. No Rio de Janeiro, pela primeira vez, reuniam-se para debater ideias e
confrontar pontos de vista os representantes de todas as áreas empresariais, sindicais,
profissionais e acadêmicas. Desse encontro, postulou-se uma Política Nacional de
Comunicação, que passadas tantas décadas, ainda é uma utopia.
Assim a década de 1970 se tornou emblemática para delinear a fisionomia da Área da
Comunicação no Brasil, sobretudo, pelo acúmulo de conhecimentos que a partir de então as
faculdades de Comunicação passaram a produzir, sistematizar e socializar. Depois do
ICINFORM, da UnB – à época, FACUNB – e da USP, as faculdades de Comunicação
investiram na pós-graduação, inclusive com programas de doutorado. Assim professores-
pesquisadores começavam a configurar uma comunidade acadêmica, algo que o professor José
Marques de Melo convencionou chamar de uma rede de cientistas da Comunicação dotada de
perfil híbrido. Entretanto os anos passam e na avaliação do professor, seguimos com a sina do
‘complexo de colonizado’ justamente pelo fato de grande parte de professores-pesquisadores
fazerem por aqui uma reprodução dos modelos alienistas das correntes hegemônicas do
pensamento comunicacional sem o exercício da crítica. Assim, o Brasil se tornou um
dependente paradigmático sem levar em conta que evidências empíricas não podem ser
transferidas automaticamente para outras realidades. Essas realidades, evidenciadas por
Marques de Melo, têm a ver com as experiências próprias de cada círculo onde ocorre a
Comunicação.
A liderança dos estudos das Ciências da Comunicação em países latino-americanos é
dividida entre o Brasil e o México que atraiu a diáspora latino-americana cujo sonho
caracterizaria uma nova ordem mundial das Comunicações. Os programas universitários de
Comunicação tiveram uma expansão indiscriminada porque não há um currículo mínimo nem
ordenamento nacional. O crescimento se dá tanto no sistema público quanto no privado. As
escolas buscaram fortalecimento mútuo no CONEICC, organismo fundador da Federação
Latino-Americana de Faculdades de Comunicação Social. O perfil mexicano dos estudos em
Comunicação se formou pelos encontros anuais, publicação de documentos e a constituição de
comitês acadêmicos. Havia distanciamento em relação à Comunicação aplicada e à tecnologia.
21 Ver http://www.jornalistadantonjobim.com.br para mais detalhes sobre a vida pessoal, política e profissional
do jornalista.
73
Era pouca também a sintonia com o mercado de trabalho. O comando das associações
acadêmicas se revezava entre pesquisadores vinculados a universidades tradicionais da Cidade
do México e de Guadalajara. Mas os jovens pesquisadores mudaram esse cenário com a
formação de novas frentes de trabalho como explica Marques de Melo (2008, p.94-95):
Eles se confessavam cansados de atuar, exclusivamente, como auditório para os
monólogos dos seus mestres. Alguns, mais audazes, começaram a formar espaços
alternativos, buscando respaldo teórico no segmento emergente dos estudos
culturais. Continuavam a estudar os fenômenos midiáticos, mas os articulavam com
o entorno simbólico, numa perspectiva nitidamente socioantropológica. Afastavam-
se, assim, dos paradigmas político-econômicos (particularmente do referencial
marxista) que marcara, inicialmente, o campo.
Essas iniciativas permitiram a descentralização com a configuração das universidades
regionais. E assim se construíram redes autônomas de pesquisa. Buscou-se legitimação
acadêmica por meio da sintonia com as disciplinas conexas das ciências humanas e a
intensificação dos contatos com os pesquisadores da Comunicação, em outros países, não
exclusivamente latino-americanos. Esses jovens se denominavam a Geração McLuhan pelo fato
de estarem na faixa etária dos 30 anos e se sentirem pertencentes ao símbolo-força
epistemológico. Eles se consideravam da geração da aldeia global, retribalização e escolas sem
muros, conceitos trabalhados pelo autor canadense. Essa geração propiciou a saída do
isolamento universitário que colocava os pesquisadores do México em uma comunidade
despercebida. O lema foi “pela implantação de uma comunidade virtual de pesquisadores da
Comunicação”. Uma tentativa de construir redes de pesquisa por meio da conexão via Internet.
No Brasil, os anos 1980 e 1990 marcaram a ampliação da cooperação internacional na
pesquisa. Uma forma de chegar a isso foi por meio de convênios internacionais assinados pela
INTERCOM. Disso nasceram os colóquios binacionais como Brasil/México; Brasil/França;
Brasil/Dinamarca; Brasil/Portugal; Brasil/Itália. O professor Marques de Melo reforça que
nossas singularidades culturais se preservam na emulação desses contatos. Nos anos 1990, a
INTERCOM abriu o diálogo com os países do Mercosul cujas relações eram incipientes. Mas
o início do Mercosul representou uma atitude meramente contemplativa das escolas de
Comunicação. As primeiras manifestações vieram do Rio Grande do Sul, estado brasileiro
favorecido por sua área fronteiriça.
74
Na Argentina, os governos militares enfraqueceram as universidades nacionais gerando
uma migração de pensadores e pesquisadores que buscaram condições de sobrevivência no
exílio. Nos anos 1990, houve iniciativas destinadas a expandir a rede acadêmica nacional
dedicada ao estudo da mídia. Universidades, com menos estrutura, recorreram às linhas de
crédito das agências de fomento. Algumas instituições recorreram à cooperação estrangeira
dinamizando programas de professores-visitantes e projetos multinacionais de pesquisa como
a tradução de obras clássicas ou livros de autores emergentes consagrados pela crítica.
À mesma época, o Chile manteve sintonia com os EUA dando prioridade ao ensino
profissionalizante, causando assim, uma explosão de profissionais formados em Comunicação.
Na época pós Allende, professores politizados à esquerda foram expurgados. Tendente ao
mercado, surgiram as formações em Publicidade e Relações Públicas.
No Panamá, o CELAP – Centro Latino-Americano de Periodismo - estabeleceu uma
ponte entre empresas informativas, profissionais da notícia e acadêmicos em comunicação de
massa. Funcionou como organismo que preencheu as lacunas das escolas de Comunicação.
Mesmo voltada ao mercado, convidou à participação de acadêmicos.
Os anos 2000 marcam a participação da Bolívia com uma jovem comunidade
focalizando atenções entre Comunicação e globalização enquanto a vanguarda da pesquisa
latino-americana contemplava as perplexidades das Ciências da Comunicação no
desenvolvimento da sociedade digital. Num encontro da ALAIC, realizado em Santa Cruz de
la Sierra, houve colóquios que demonstraram no plano acadêmico a superação do teoricismo
ingênuo, típico do comportamento de algumas lideranças que tangenciaram a Comunicologia
sul-americana nas décadas de 1980 e 1990. E no plano político, o fortalecimento da autoestima
intelectual das novas gerações de pesquisadores que resgataram a tradição do pensamento
comunicacional latino-americano para dialogar em condições de igualdade com seus pares de
outros países e regiões.
No congresso da ALAIC, o venezuelano Antonio Pasquali colocava a pesquisa-
denúncia sob a análise de que as corporações estadunidenses se projetam velozmente sobre o
mundo ameaçando a soberania política eliminando a autonomia econômica e erodindo a
identidade cultural de povos e nações. Já o chileno Fernando Reyes Matta dizia que apesar da
tendência monopolizadora da grande mídia, havia uma crescente mobilização das comunidades
periféricas, que por meio das redes digitais, resistia ao controle ambicionado pelas potências
hegemônicas em um fortalecimento do multiculturalismo.
75
A comunidade latino-americana ganhara, nos anos 1990, as contribuições do peruano
Luís Peirano, que reivindicava a interação dos estudos de Comunicação massiva e
Comunicação grupal, sendo a mídia digital a grande conquista de expressão cultural dos grupos
e comunidades sufocados pelos grandes veículos, impressos ou eletrônicos. Já o mexicano
Enrique Sánchez Ruiz propunha o hibridismo do pensamento crítico da academia com a ação
pragmática inerente aos sistemas midiáticos onde atuariam profissionalmente os recursos
humanos formados pelas faculdades de Comunicação Social. Com isso, haveria produção de
conteúdos culturais ancorados nas demandas populares.
Lorenzo Vilches, chileno naturalizado catalão, delineou um quadro dos avanços das
indústrias midiáticas europeias em renunciar às singularidades culturais dos países ou
comunidades a que pertencem. O mexicano Raul Trejo Delarbre enfatizou a riqueza do
pensamento comunicacional que a América Latina vinha elaborando e robustecendo.
Nos anos 1980, em Acapulco, no México, houve o encontro de comunicólogos anglo-
americanos e hispano-americanos. Promovido pela ICA – International Communication
Association, o encontro trouxe repercussões negativas, em especial, pela falta de diálogo com
alguns pares. Houve um enfrentamento à NOMIC, movimento destinado a construir fluxos
internacionais mais equilibrados entre o Norte rico e o Sul empobrecido do globo. Essa
campanha teve grande apelo no México. A Asociación Mexicana de Investigadores de la
Comunicación, por exemplo, boicotou o congresso da ICA em Acapulco. Apenas os
estadunidenses foram em peso a esse encontro, alvo de reiterados ataques dos EUA. Vinte anos
depois, reconheceu-se que o boicote ao congresso fora um erro histórico. A partir da
Comunicologia mexicana se demonstrava uma pujança à Escola Latino-americana de
Comunicação. A ICA esteve associada às tradições científicas europeias, influenciadas pelo
pensamento de esquerda.
Saindo um pouco do eixo latino-americano, o ano de 1996 registrou o início do primeiro
curso superior de Comunicação dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, em
Maputo, capital de Moçambique. Nos anos 1970, o professor belga-francês, Armand Matelart,
esteve em missão no país para subsidiar projetos de capacitação a comunicadores sociais ou
desenvolver estudos midiológicos. Nasceu a proposta de criar uma rede midiática e ainda
formar os quadros profissionais destinados a operar em sintonia com os pressupostos
ideológicos do sistema, mas, sem sucesso. Nos anos 1980, a UNESCO patrocinou uma missão
de comunicólogos brasileiros, liderados pelo professor Lélio Fabiano dos Santos, fundador da
Faculdade de Comunicação da PUC Minas. Produziu-se novo diagnóstico a fim de fomentar o
76
ensino e a pesquisa de Comunicação de Massa. Mas as circunstâncias políticas imobilizaram o
projeto. O brasilianista Joseph Straubahar também esteve por lá para reciclar recursos humanos
para o uso democrático da mídia e recomendar providências a curto e médio prazos. Só com a
viagem de portugueses, vinculados a ONGs de Lisboa ou do Porto, é que surgiram projetos.
Se Moçambique assume a dianteira na instituição do campo da mídia, foi Angola que
deu os primeiros passos nessa direção. Um curso de Jornalismo, em nível médio, foi criado com
apoio do governo e incentivado pelo Sindicato dos Jornalistas. Esse curso formou os primeiros
jornalistas angolanos do período independente. Brasil e Portugal contribuíram muito para a
capitalização intelectual de Angola no setor midiático. Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé
e Príncipe dependem de Brasil e Portugal para seus espaços midiáticos. Portugal começa a
formar especialistas em Comunicação depois da Revolução dos Cravos. O primeiro curso do
gênero data de 1979, na Universidade Nova de Lisboa. O perfil singular desse curso foi um
centro de pesquisa da Comunicação, suas linguagens e filosofia. Em Coimbra, criou-se um
curso de Jornalismo, depois ampliado para Pós-Graduação. Há uma divisão de cursos que
buscam o comprometimento explícito com as necessidades de formação de recursos humanos
e outros orientados aos aspectos teóricos do campo com a pesquisa na pós-graduação
enfatizando as Ciências Sociais. Os contatos dos portugueses para fora do país eram pequenos.
Algumas tentativas se davam com pesquisadores francófonos, mas nada significativo. Depois
de uma comitiva brasileira que foi para Lisboa, os portugueses aderiram à comunidade
internacional com a aceitação da fundação da LUSOCOM, a Federação Lusófona das Ciências
da Comunicação. Depois, foi criada internamente a SOPCOM, Associação Portuguesa de
Ciências da Comunicação. Seu primeiro congresso teve grande divulgação, o que significou
que a entidade foi buscar na sociedade civil uma representatividade que não tinha por parte
desta.
Voltando ao Brasil, Marques de Melo (2008) conta que as três últimas décadas do século
XX indicaram a expansão da universidade brasileira. E nos seus primórdios, eram espaços onde
se transferiam conteúdos produzidos no exterior. E a implantação dos estudos comunicacionais
não foi fácil em nossas universidades. Os preconceitos intelectuais retardaram sua legitimação
social. Profissionais do Jornalismo e da Propaganda vinham de campos hegemônicos como
advocacia, teologia e pedagogia. O argumento que se usava para o exercício na mídia era de
que suas profissões exigiam vocação e cultura geral, o que implicaria que o aprendizado das
rotinas fosse obtido nas redações ou agências de publicidade. Diz Marques de Melo (2008,
p.152):
77
Contra essa tese, insurgiu-se um empresário moderno: Cásper Líbero, um self-made-
man, que enriqueceu criando uma precoce organização multimídia na cidade de São
Paulo, decide fundar uma escola de Jornalismo. Logo a seguir, publicitários apoiados
pelo mogul Assis Chateaubriand, criam a nossa primeira escola de Publicidade.
Tais eventos se dão entre o fim dos anos 1940 e o início dos anos 1950, espaço de tempo
em que o Brasil experimentava seu processo de aceleração industrial. No fim da década de
1940, a Cásper Líbero, em São Paulo, e uma escola pública, no Rio de Janeiro, eram os únicos
cursos universitários em Comunicação no Brasil. Depois, eles foram aparecendo em outros
estados. Nos anos 1960, as disciplinas comunicacionais já ganhavam cursos de Relações
Públicas, Cinematografia e Radiodifusão. Foram criadas as primeiras Escolas de Comunicação
nas Universidades de Brasília e São Paulo e também na PUC do Rio Grande do Sul. Cásper
Líbero acreditava que a formação jornalística não poderia se dar apenas no dia a dia. Por isso,
decidiu criar uma escola de Jornalismo dentro do seu principal veículo, o jornal A Gazeta, que
tinha prestígio junto à elite paulistana. Mas, Cásper Líbero morreu antes de ver a escola
idealizada. Até os anos 1960, a instituição seguiu a filosofia de dar as técnicas, além de cuidar
da educação cultural dos jornalistas. Depois, se tornou instituição acadêmica em função da
decadência dos veículos da Fundação Cásper Líbero. Em 1967, foi criado o Centro de Pesquisa
da Comunicação Social, realizando estudos pioneiros sobre fenômenos da indústria cultural.
Nos anos 1970, haveria uma expansão das faculdades de Comunicação Social. E nessa
conjuntura, surgem os cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado) voltados à formação de
docentes-pesquisadores. A Comunicação se torna uma área acadêmica legitimada pelo sistema
nacional de fomento à ciência e tecnologia. Nos anos 1990, os cursos voltam a crescer e o MEC
se torna responsável pelo seu credenciamento ou descredenciamento. Em 1998, a CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) passou a avaliar os Programas
de Pós-Graduação. A avaliação é realizada com a participação da comunidade acadêmico-
científica por meio de consultores ad hoc.
Essa avaliação demonstra o nível de qualidade dos cursos de Mestrado e Doutorado, no
país, incentivando a produção acadêmica da Área, levando em consideração a inserção social
crítica da pesquisa no âmbito político, institucional e cultural além das práticas memoriais dos
pontos de vista teóricos e metodológicos quanto ao acolhimento do seu viés de intervenção e
aplicação empírica; a formação de mestres e doutores perseguindo o compromisso com o ato
78
de pensar, com o autodesenvolvimento e com a busca de autonomia e emancipação da pesquisa;
autoavaliação e planejamento dos programas para qualificação de corpo docente; formação
adequada de mestres e doutores; responsabilidade sobre a inserção social e o enfrentamento de
desafios como a internacionalização, a interdisciplinaridade, a formação profissional e a
contribuição para a educação básica.
Como estamos trabalhando com as tendências dos estudos em Comunicação, a partir da
produção científica em São Paulo, realizada com fomento concedido pela FAPESP a
pesquisadores postulando assim uma Taxionomia, apresentamos os resultados da Avaliação
Quadrienal 2017, divulgada em 20 de setembro de 2017, cuja Área teve sua nomenclatura
alterada de Ciências Sociais Aplicadas I para Comunicação e Informação. Os resultados dos
Programas Acadêmicos22 se encontram no quadro a seguir:
QUADRO 1 – Resultados avaliação quadrienal CAPES – 2017 – programas acadêmicos
INSTITUIÇÃO PROGRAMA CURSO NOTA
MESTRADO
NOTA
DOUTORADO
UNESP Marília Ciência da
Informação
Ciência da
Informação
6 6
USP
Ciências da
Comunicação
Ciências da
Comunicação
4 4
USP Ciência da
Informação
Ciência da
Informação
4 4
USP Meios e
Processos
Audiovisuais
Meios e
Processos
Audiovisuais
4 4
UNICAMP Multimeios Multimeios 3 3
22 Também foram avaliados Programas Profissionais que surgem como o principal desafio da Área para o
próximo Quadriênio. Nesta avaliação de 2017, aparecem com nota 3 os Mestrados Profissionais da ESPM
(Produção Jornalística e Mercado) e da FIAM-FAAM (Jornalismo). Já o Mestrado Profissional da USP (Gestão
da Informação) foi avaliado com nota 4.
79
UNESP Bauru Comunicação Comunicação
Midiática
4 4
PUC-SP Comunicação e
Semiótica
Comunicação e
Semiótica
4 4
METODISTA
S.PAULO
Comunicação
Social
Comunicação
Social
4 4
CÁSPER
LÍBERO
Comunicação Comunicação 4 Não há
Doutorado
UNIP Comunicação Comunicação 4 4
ESPM
Comunicação e
Práticas de
Consumo
Comunicação e
Práticas de
Consumo
5
5
UFSCAR Imagem e Som Imagem e Som 3 Não há
Doutorado
UFSCAR Ciência da
Informação
Ciência da
Informação
3 Não há
Doutorado
USP Museologia Museologia 3 Não há
Doutorado
UNISO
Comunicação e
Cultura
Comunicação e
Cultura
4 Não há
Doutorado
USCS Comunicação Comunicação 4 Não há
Doutorado
ANHEMBI
MORUMBI
Comunicação Comunicação 4 4
Fonte: CAPES
80
Este relatório quadrienal 2017 se refere ao período de avaliação 2013-2016 e a CAPES
aponta que houve expansão da Área devido ao campo de conhecimento e pesquisa ter sido
consolidado recentemente muito em função da oferta ampla de cursos de Graduação que passa
por Jornalismo, Publicidade & Propaganda, entre outros. Também se caracteriza expansivo pelo
fato de os fenômenos da Comunicação e Informação terem se tornado relevantes para o
entendimento das realidades sociais e políticas assim como no bem-estar das comunidades e o
desenvolvimento de sociedades. Além destas questões qualitativas, a expansão também se
justifica pelos números. Considerando apenas a Região Sudeste, onde a FAPESP, objeto de
nosso estudo, está abrigada, o número de Programas de Pós-Graduação passou de 29, em 2012,
para 40, em 2016. Embora se registre o crescimento, a CAPES não desconsidera fatores internos
e externos à Área. O fator interno apontado é a implantação, para esta avaliação demonstrada,
da Plataforma Sucupira, que exigiu adaptação dos membros dos Programas diante de muita
instabilidade. Aliás, instabilidade também é o termo que melhor se aplica ao fator externo, que
é a crise político-econômica vivida pelo Brasil, sobretudo, em 2015, quando o próprio relatório
destaca o corte brutal de verbas que sustentam as atividades rotineiras como financiamento a
eventos e projetos de pesquisa.
São contribuições dessa natureza que tornam a Comunicação uma área autônoma de
pesquisa, configuração que Marques de Melo (2008, p.203) pontua como corrente desde o início
do século XXI.
A década de 90 significou o divisor de águas na história da comunidade acadêmica
da comunicação. Reconhecido como segmento das Ciências Sociais Aplicadas pelas
agências nacionais de fomento científico (CAPES, CNPq, FINEP), o campo
comunicacional foi induzido a definir seus próprios parâmetros. Tratava-se de um
imperativo de sobrevivência institucional, de acordo com as regras que marcam o
funcionamento da comunidade acadêmica internacional, que o Brasil assimilando
criativamente há meio século.
Por estes indícios, percebemos que o Brasil vai construindo princípios colaborativos à
taxionomia da Comunicação embora ainda se note um pequeno número de programas de
Doutorado, fase na qual um corpo discente formula teses, etapa que consideramos mais próxima
à formação do espírito científico da Comunicação, quando o sujeito trabalha a problematização
da pesquisa. Em relação à institucionalização, tratamos apenas do estado de São Paulo, como
referência, mas sabemos que no Brasil como um todo, há uma série de Programas de Pós-
81
Graduação produzindo e acumulando conhecimentos inovadores e importantes para a
constituição da Área que tem nessas notas atribuídas um parâmetro para candidatos
1.4 Os emaranhados da Comunicação para sua consolidação de Pesquisa: as noções de
campo e interdisciplinaridade
Descrito o caráter institucional, considerar a Comunicação como um emaranhado é
tratar das possibilidades conferidas à sua natureza. Existe um amadurecimento em relação ao
conhecimento produzido pela Área, porém, há uma dificuldade de situar um status definitivo
para seu posicionamento ontológico e taxionômico. Discute-se tanto sobre sua não
cientificidade e pouco se atribui à Comunicação uma contribuição decisiva no sentido de
construção dos mais diversos sentidos da vida em sociedade bem como de outras instâncias
simbólicas nos mais diferentes níveis de conhecimento. A maioria vai falar que o fator
complicador, para isso, é a sua interdisciplinaridade e poucos vão lhe conferir um
posicionamento científico embora haja uma grande adesão de se atribuir, em especial, aos
programas de Pós-Graduação e, nas titulações de Graduação, a chancela de Ciência da
Comunicação.
Seus impasses conceituais não parecem ser um problema ao emprestarmos a visão de
Dilthey (2010) que considera todos os posicionamentos válidos, independentemente de
posições alternantes na conexão de pensamento e da mudança nos sujeitos do enunciado. A
negação se junta ao princípio de identidade e recusa uma suposição que se encontra em nós, ou
fora de nós, sempre ligada a um enunciado pressuposto. O princípio de identidade atribui
validade constante ao posicionamento, por isso, sua suspensão está excluída. Não estamos em
condições de afirmar e negar o mesmo, na medida em que a relação da contradição nos vem à
consciência.
Em um primeiro momento, falar que a Comunicação não é ciência; que ela não dispõe
de teorias específicas; que é um processo de transmissão; ou é multidisciplinar, acaba tendo um
princípio de identidade a partir desses pressupostos. Assim, negá-la também é uma validade.
Logo, todas essas visões fazem sentido porque uma pode contradizer a outra. Pois é mesmo
diante das contradições que se formam diferenças. E as diferenças significam posições
conflitantes que também formam um princípio de Comunicação. Por isso, adotar uma premissa
82
tem seu valor. Nesse sentido, reitera-se o protagonismo da Comunicação como conhecimento
primeiro entre as demais formas do saber, pois, ela opera na linguagem e exige a relação
estabelecida a partir do comum e o contato com o outro.
Para tentar desvendar esse mistério, valemo-nos das provocações envolvendo Pierre
Bourdieu (1983), Gastón Bachelard (1996; 2004), Edgar Morín (2010) e Rolando García (2006)
que fornecem embasamento ao percurso científico dentro de áreas de atuação. Com Bourdieu,
temos o conceito do campo científico, como um espaço de luta concorrencial, onde o que está
em jogo é a autoridade científica com capacidade técnica e poder social. Busca-se uma maneira
autorizada com autoridade. Assim, para um campo científico ter legitimação, é preciso
autoridade de seus integrantes em um determinado território. O ideal é que quem fale de
Comunicação seja naturalmente da Área, pois, desta forma, se chega a um funcionamento
próprio que produz e supõe uma maneira específica de interesse. Esta é uma batalha, afinal,
muito se recrimina que a Comunicação sequer tem autores próprios que pensem sua
epistemologia. A importação de autores de outras Áreas do conhecimento é o que nutre essa
“defasagem”. Cabe, por exemplo, aos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, com
seus pesquisadores consolidados e pesquisadores em formação, fazerem a construção inerente
desse espaço com um sentido próprio de interesse. Inclusive, a posição de sujeitos que estão
atrelados às institucionalizações do campo coloca em cena a capacidade científica, uma vez que
os indivíduos sempre estão contaminados.
É fato, afinal, um estudante, por exemplo, que percorre o caminho acadêmico – que
mais adiante trataremos como percurso formativo – ter seus interesses colocados nas mãos de
um orientador, que por sua vez, tem outros interesses que não apenas os pessoais, mas, também
do Programa ao qual estão vinculados. Essa crítica de Bourdieu não é excessiva uma vez que
sabemos que a ciência não é neutra ainda mais quando estabelecemos o protagonismo da
Comunicação tendo, em primeiro plano, a questão das relações institucionalizadas pela
linguagem. Relações se escolhem, se estabelecem, logo, há direcionamentos subjetivos nessa
composição. Direcionamentos e subjetividades que Bourdieu (1983, p. 124), inclusive, atribui
a poderes que determinam o que seja ciência:
[...] a luta pela obtenção de créditos e de instrumentos de pesquisa que hoje opõe os
especialistas não se reduz jamais a uma simples luta pelo poder propriamente
“político”. Aqueles que estão à frente das grandes burocracias científicas só poderão
impor sua vitória como uma vitória da ciência se forem capazes de impor uma
definição de ciência que suponha que a boa maneira de fazer ciência implica a
83
utilização de serviços de uma grande burocracia científica, provida de créditos, de
equipamentos técnicos poderosos, de uma mão-de-obra abundante.
Ao trazermos tal perspectiva para a realidade da nossa pesquisa, admite-se que a
FAPESP oferece as condições de fazer ciência porque além de dar uma valoração científica aos
projetos de pesquisa que subvenciona, ela corrobora com os procedimentos científicos
emprestados aos objetos pesquisados em nossa Área, o que faz sentido pensar em Ciência.
Durante o 40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, INTERCOM 2017, na
Universidade Positivo, em Curitiba (PR), em uma mesa que debateu a questão institucional da
Comunicação, a professora doutora Margarida Kunsch destacou que as Fundações de fomento,
como a FAPESP, exercem um papel muito importante, afinal, segundo ela disse, “se ninguém
pedir fomento, a Área perde visibilidade”. Apesar de a FAPESP conferir esse certo poder, a
pergunta que fica é se os pesquisadores têm esse compromisso com a ciência, a partir desse
ponto de vista, ou se se tornaram reféns da escala de produtividade exigida pelo mundo
acadêmico. A briga por um fomento é um espaço de lutas da mesma forma quando o indivíduo
se submete, por exemplo, a um processo seletivo, afinal, o que deve prevalecer é o bom uso de
sua investigação como retorno social no exercício de uma política real de vitória científica. No
caso das Ciências Sociais, a subjetividade é determinante para a existência dessa política
científica postulada, afinal, como propõe Bourdieu (1983), o que é percebido como importante
e interessante precisa ser reconhecido como importante e interessante aos olhos dos outros.
Logo, pensamos que o mais importante seja considerar o todo da Comunicação, em suas
diferentes manifestações, para assim chegar ao lucro simbólico do qual Bourdieu (1983) se
ocupa. Esse lucro é decorrente da contribuição que as problematizações de pesquisa carregam.
Assim, quando buscamos a FAPESP para pensar a construção taxionômica da Área, pensamos
que o lucro simbólico deve ser a Comunicação. Mas, um fator adverso à obtenção desse lucro
advém de algumas situações. Entre elas, está a do aspecto teórico-metodológico. Ocorre de
forma pedagógica a difusão de uma estrutura aparentemente “tão bem” definida e viciada que
os pesquisadores, sejam os atuantes da velha-guarda ou os principiantes das novas gerações,
parecem sofrer de amordaçamento à crítica. O campo segue condicionado à tendência e ao
costume de reproduzir as correntes hegemônicas estadunidenses (principalmente) e europeias.
Uma contribuição, nesse sentido, que propõe mudar o reprocessamento de leituras sai da
América Latina, com o mexicano Jorge González (2012), que relaciona esse binômio teórico-
metodológico, aqui praticado, com a nossa história de colonização que valoriza o alheio e
84
deprecia o que é próprio. Além disso, o autor se preocupa, em demasia, com a adoção de autores
estrangeiros que têm outorga de capital do reconhecimento que, para ele, é parcialmente
discutível já que há grande tendência em idolatrar o que vem de fora. Sobre a condição da
crítica, o pesquisador mexicano alega (2012, p. 77): “Se algo não convence, o caminho não é
criticar, mas, sim, ignorar para não se comprometer”.
Só que a proposta de Bourdieu, para o reconhecimento do campo, nem sempre parece
provável na Comunicação porque os integrantes do campo nem sempre se sustentam no plano
metodológico, uma vez que a validação disso tem um peso muito maior quando se dá a outros
saberes ou autores clássicos e de moda, que transitem por tudo dando a conotação do
enriquecimento da pesquisa. Essa situação reforça o contato exterior ao campo, e traz para si, o
descrédito a ponto de dizermos que esta condição se reconhece caso ainda insistamos na
definição de que a Comunicação é interdisciplinar. Como, então, não cair em descrédito? Uma
opção plausível vem de Feyerabend (2010), quando pensa na utilidade e na finalidade do
conhecimento. Para quem fazemos isso? Sabe-se que muitos fatos estão enterrados em
publicações científicas, manuais, cartas e discos rígidos. Por isso, a sugestão de que os autores
de um campo se leiam mais, de forma atenta, para certas descobertas não se revelarem por
acidente.
Em um cenário de campo científico em que a concorrência deve existir para que haja
um reconhecimento outorgado de capital, há uma prevalência de uma relação entre dominantes
e dominados. Quem mais demonstrar o ter, o ser e o fazer, como situações práticas, isto é, fazer
da verbalização a substantivação dos acontecimentos, está na situação de dominante.
Especificamente, no campo da Comunicação, paira uma dúvida: será que temos dominantes
uma vez que há muita vaidade em jogo? A noção de dominante, no sentido colocado, é o de
que realmente este traga uma significativa colaboração ao campo de estudos. Como alega
Bourdieu (1983, p.129):
Visto que a “função”, no sentido do “funcionalismo” da escola americana, nada mais
é que o interesse dos dominantes (de um campo determinado, ou a classe dominante
no campo da luta de classes) em perpetuar um sistema que esteja em conformidade
com seus interesses (ou a função que o sistema preenche para uma classe particular
de agentes), basta silenciar sobre os interesses (as funções diferenciais), fazendo da
comunidade científica o sujeito das práticas, para cair no funcionalismo.
85
É perceptível que nesse meio por onde transitam os pesquisadores que recebem apoio
da FAPESP, há uma espécie de dominantes, afinal, existem pesquisadores-chave, não
necessariamente pelo que pesquisam, mas pelo nome que construíram e zelam no tecido social
acadêmico. O próprio Bourdieu (1983) reconhece que o pesquisador depende de sua reputação
para obter fundos à pesquisa. Isto colocaria parcialmente por terra o tema de pesquisa e seus
problemas, afinal, boa reputação nem sempre quer dizer grande pesquisa. E, então, o fomento
se conquista pelo nome ou pelo conhecimento científico produzido? Uma indagação
provocadora e de difícil resposta, pois, como considera Bourdieu (1983), os julgamentos
envolvem princípios de hierarquização, que dentro da luta do campo científico, requerem juízes
que nem sempre são bons porque, ao mesmo tempo em que julgam, podem ser parte interessada.
Embora, no caso da FAPESP, haja ressalvas explicitamente ponderadas, sobre os impasses em
pareceristas ad hoc quando se deparam com situação de incompatibilidade ética diante do
projeto de pesquisa a ser avaliado.
Se, por um lado, a reputação pode colocar em xeque a confiabilidade de uma concessão
de fomento, por outro, Bourdieu (1983) compreende que ela é essencial para o acúmulo de
capital, pois, se faz um nome próprio, conhecido e reconhecido, fazendo de seu portador um
sujeito diferenciado deixando de ser um homem comum. O autor coloca alguns preceitos, como
o abaixo (1983, p. 134), que percebemos, em partes, como preocupação da FAPESP no tocante
a algumas exigências a quem pede apoio:
86
[...] num determinado estado do campo, os investimentos dos pesquisadores
dependem tanto na sua importância (medida, por exemplo, em tempo dedicado à
pesquisa) quanto na sua natureza (e, particularmente, no grau do risco assumido) da
importância de seu capital atual e potencial de reconhecimento e de sua posição atual
e potencial no campo. (BOURDIEU, 1983, p.134)
A carreira define a pesquisa. Quando um pesquisador atinge um grau de maturidade, o
capital de consagração reduz a alta produtividade. É, em outras palavras, quando o sujeito atinge
um grau de reconhecimento. Muitas vezes, se ouve um professor, na Pós-Graduação, dizer que
determinado pesquisador não precisa citar ninguém, pois, ele tem condições próprias de dizer
o que pensa em seu repertório. Isto demonstra que, com o tempo, métodos e técnicas passam
para segundo plano, principalmente, para esse indivíduo que goza do acúmulo de capital tirando
disso seus lucros simbólicos, o que nos parece ser um indicador de legitimidade do campo.
Enfim, o campo científico se dá no desigual com seus indivíduos apresentando capitais
desiguais, porém, específicos que ajudam a legitimar uma taxionomia. Todos são movidos por
interesses que se deslocam como um tabuleiro de xadrez de acordo com o posicionamento
ocupado no campo. Um bom capital científico associado a uma boa posição dá mais poder.
Menos capital científico, em pior posição, pode ser um sinal de alerta ou de perigo para a
legitimação. É por essas pistas que vão se configurando dominantes e dominados. Notamos que
grande contribuição para essa construção do campo advenha também dos pesquisadores que
orientam projetos. Que pesquisadores eles estão formando? Que capital científico, estão
ajudando a construir por meio da indicação de leituras e em que posição eles pretendem colocar
seus alunos? No jogo do campo, quem se move realmente são os detentores do capital científico,
pois, a eles cabe dar uma ordem social ao científico sem neutralidade, pois, esta perspectiva não
passa de pura utopia. Bourdieu arremata (1983, p.154):
[...] uma sociologia científica da ciência (e a sociologia científica que ela contribui
para tornar possível) só pode constituir-se com a condição de perceber claramente
que às diferentes posições no campo científico associam-se representações da
ciência, estratégias ideológicas disfarçadas em tomadas de posições epistemológicas
através das quais os ocupantes de uma posição determinada visam justificar sua
própria posição e as estratégias que eles colocam em ação para mantê-la ou melhorá-
la e para desacreditar, ao mesmo tempo, os detentores da posição oposta e suas
estratégias.
87
Ainda na esfera da noção de campo, Craig Calhoun (2012) entende que a Comunicação
se reflete fortemente sob esta gênese, uma vez que há uma série de subgrupos com fracas
ligações que poderiam ser revistos tornando-se relevantes para si e para problemas de maior
importância. Em contrapartida, compreende positivamente o campo como fator identitário já
que sua configuração permite um reconhecimento externo como situação representativa. O
autor trata a utilidade dessa condição para alunos, pessoas de fora, professores e até mesmo
financiadores, com vistas à criação de uma preocupação comum capaz de sustentar um
engajamento de problemas teóricos e práticos ou até mesmo de projetos. Defendem-se, assim,
conexões intelectuais que partam da necessidade da Comunicação, como preconiza Calhoun
(2012, p.295):
A coerência em um campo como a Comunicação não precisa ser ancorada em
nenhum plano miraculoso ou em um método comum. Tal coerência deve surgir
associada ao resultado de inúmeras conexões específicas entre linhas de pesquisa,
subcampos, práticas profissionais e compromissos públicos sem que haja um
conjunto único de regras que expliquem ou organizem todos estes pontos. É
extremamente importante fazer tais conexões intelectuais, e isso é necessário para
assumir grandes questões que são importantes para o trabalho de muitos subcampos.
Isto, em algum sentido, dialoga com o que o professor Marques de Melo (2014) aborda
sobre a tensa questão do objeto da Comunicação desde seu nascedouro conceitual. Enquanto os
estadunidenses consideram o objeto comunicacional algo do processo ou suporte, os europeus
tratam a questão por informação, ou seja, o objeto está relacionado ao conteúdo. Desta forma,
sem a integração dos pares e a troca de ideias para um resultado que contribua com a mudança
do indivíduo, não há sentido produzir as demandas de cada campo do conhecimento. Para ele,
torna-se difícil falar em objeto de pesquisa em Comunicação, pois, o objeto vive na sombra,
sem transparência, mesmo havendo uma comunidade voltada aos estudos da Área do ponto de
vista da interação simbólica que se detém a objetos mais particulares. Uma incerteza pensada
por Calhoun (2012, p.289) quando considera que, “a pesquisa em Comunicação continua
dividida entre o abraço do universalismo científico e o foco humanístico nos contextos e nos
casos, entre a busca da precisão quantitativa e da profundidade interpretativa”. Ainda sobre
objeto, Lucrécia Ferrara (2008) o compreende como algo infenso à teorização abstrata da
Comunicação desafiando seu domínio científico. A autora considera que a natureza do objeto
deriva da própria natureza dos meios comunicativos e de sua circularidade ambiental. Dessa
circularidade, entendemos que haja uma divisão comunicacional, capaz de possibilitar várias
88
frentes de atuação, o que dificulta certa conformação a um conhecimento único. Porém, essa
circularidade nos faz crer em duas situações: a interdisciplinaridade e problemáticas
metodológicas.
Em relação à interdisciplinaridade, Braga (2011) sugere que ela faz a Comunicação
perder legitimidade, pois, tal conceito é muito vago, e assim, acaba construindo um sentido de
entrecruzamentos para falsear a propriedade do campo e, acima de tudo, delimitar fronteiras
nas quais o conhecimento pode intervir. O autor (2011, p. 63) não concebe a ideia de campo
interdisciplinar para a Comunicação:
O conceito da interdisciplinaridade pode significar duas coisas: a primeira
corresponde à percepção de que um campo de estudos hoje se vê inevitavelmente
atravessado por dados, conhecimentos, problemas e abordagens concebidos e
desenvolvidos em outras disciplinas e/ou tecnologias. Nesse caso, todos os campos
de conhecimento são “interdisciplinares”, ou seja, não têm existência isolada,
estanque.
Essa existência não é isolada, pois, como diz Ferrara (2008), a Comunicação é aberta a
constantes e distintas influências, mas sempre parcial e falível, ainda mais quando seu estudo
interdisciplinar é um eixo de fortes contaminações teóricas e metodológicas como explica a
autora (2008, p.32):
Na realidade, a interdisciplinaridade imposta pela natureza fenomenológica das
relações sociais constitui ameaça à autonomia da área e desafio epistemológico que,
embora irrelevante para a complexidade de que se reveste a atual sociedade da
comunicação, é real e ocupa imaginação e esforços intelectuais de pesquisadores, ou
seja, assumir as consequências epistemológicas da interdisciplinaridade significa
abandonar a pretensa segurança de uma ciência aparentemente vertical e bipolar,
para aderir ao descentramento do conhecimento e à multiplicidade das inferências
passageiras e falíveis.
Isto exige dos pesquisadores um esforço maior, afinal, como diz Edgar Morin (2010), a
transdisciplinaridade torna os fenômenos cada vez mais fragmentados, por isso, não conseguem
conceber uma unidade. “Cada disciplina pretende primeiro fazer reconhecer sua soberania
territorial, e, à custa de algumas magras trocas, as fronteiras confirmam-se em vez de se
desmoronar” (2010, p.135). Tal postulado leva a uma importante afirmação de Morin (2010,
pp. 135-136): “A ciência nunca teria sido ciência se não tivesse sido transdisciplinar (sic)”.
89
Afirmação que tem um caráter de contestação quando o professor José Marques de Melo, em
entrevista à edição 201 da Revista FAPESP, em agosto de 2014, revalida que a Comunicação
não é uma área autônoma de pesquisa pelo fato de incorporar contribuições das demais ciências.
A noção conceitual sobre o interdisciplinar é ponto chave para Rolando García (2006)
tratar do assunto. Ele parte do pressuposto de que o interdisciplinar se coloca equivocadamente
como integração disciplinar, pois, nenhuma pesquisa particular tem a capacidade de integrar
disciplinas diferentes. Desta forma, não pode ser tratada como pretensão metodológica porque
resulta de um fato histórico herdado do desenvolvimento científico por grupos de pesquisa que
promovem articulações que respondem a desenvolvimentos próprios dentro de cada disciplina.
O que ocorre, na visão dele, é que geralmente um fenômeno ou processo está sob domínio de
uma ciência, mas se explica teoricamente pelo campo teórico de outra (2006, p.27):
Independientemente de las articulaciones que han sido constituyentes entre
disciplinas correspondientes a ciertos domínios diferenciados, em los domínios
cuyas fronteras son mucho más permeables, las relaciones entre disciplinas han
dado lugar a reconceptualizaciones generales de los fenómenos involucrados en el
domínio en cuestión.
O autor considera que as Ciências Sociais estão nesse domínio mais permeável do
conhecimento científico, e assim, chama atenção para que a interdisciplinaridade trate
problemáticas comuns por meio da integração de enfoques diferentes, ou seja, em vez de cada
Área abalizar uma visão sobre o objeto, elas se integram com suas características peculiares
vistas por meio de uma mesma pergunta de pesquisa. Assim, por exemplo, o uso das Redes
Sociais, pelos indivíduos, pode ser analisado ao mesmo tempo como ferramenta de
comunicação e espaço de observação do comportamento humano sendo que a problemática
reside na forma como a tecnologia interfere nos contatos humanos.
Quem também transita pela questão da interdisciplinaridade é a professora Maria
Immacolata Vassalo de Lopes (2003). Ela propõe que essa dimensão não seja de integração,
mas sim, de uma síntese disciplinar. É dela também a outra preocupação que a tensão do objeto
nos leva: as problemáticas metodológicas. Sobre isso, a pesquisadora alerta para uma
inexistência de uma autorreflexão do campo da comunicação social em si. Inclusive, durante o
40º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, INTERCOM 2017, ela destacou que o
interesse pela epistemologia da Comunicação no Brasil e, na América Latina, é recente e que
90
os conflitos epistemológicos, invariavelmente, são políticos. Voltando às suas colocações
(2003), a pesquisadora aponta que faltam textos sobre metodologias usadas na dinâmica interna
da pesquisa, uma vez que o que acontece são explanações gerais. Tudo isso leva ao
entendimento de que sofremos da imaturidade de corpo teórico e de uma crise das heranças
científicas no Brasil e na América Latina.
Imaturidade que Calhoun (2012), por exemplo, enxerga quando trata que a própria
Comunicação engendrou sua heterogeneidade ao transigir modelos de organização e currículos
estabelecidos. Por essa ótica, o autor defende que os campos são heterogêneos, porém,
encontram suas particularidades na conexão de suas partes. O que se acaba tendo, em nossa
Área, é uma abertura abarcadora que aceita todos aqueles que transportam objetos de outros
campos do conhecimento para experiências de Comunicação. Não foi difícil encontrar na fase
de coleta dos documentos de nossa pesquisa, outros campos presentes na Comunicação
(Educação, Medicina, Engenharia, Ciências Biomédicas, Arquitetura e Urbanismo) a fim de
entender certos fenômenos que ocorrem em suas especialidades que não necessariamente sejam
na prática, da Comunicação, mas que pelo discurso, se aproveitam da natureza interdisciplinar
com a noção de que tudo cabe na Comunicação. Esta prática, muito recorrente na nossa Área,
inclusive, foi questionada pela professora e pesquisadora Anamaria Fadul, na reportagem A
crise da média idade, escrita por Carlos Haag, e veiculada pela edição 211 da Revista Pesquisa
FAPESP em 2013. Fadul (2013, p.78) dispara:
[...] agora não há mais razão para que a Comunicação entre nas pesquisas apenas
como pretexto, como antes. A pessoa estuda a violência em São Paulo, usa os jornais
e acredita que está fazendo uma pesquisa de comunicação. Falta a definição de um
objeto e de uma metodologia. A transversalidade é meio assustadora: ela só é natural
a partir de um objeto definido.
Exemplo como este de Fadul (2013) coincide com o que Calhoun (2012) chama de
colagem não coerente, não facilmente teorizável, e com muito trabalho para se manter.
Evidências como essas formam o que o autor considera enganoso ou contraproducente e que
nós entendemos como um exercício arriscado e de perda de identidade para os estudos em
Comunicação. Assim, a interdisciplinaridade só faz sentido se for organizada e vista pelo
ângulo da nossa Área. Um exercício que todos devem fazer, pois, a sedução é grande haja vista
– como aponta Calhoun (2012) – a fragilidade das linhas de pesquisa, o alto índice de imigração
para a Comunicação e a concorrência inclusive de associações profissionais e científicas, além
91
das práticas atravessadas pelas tecnologias e que, sobremaneira, colocam os indivíduos em
contato. Quando vemos este conjunto de fatores, entendemos que há um grande potencial da
Comunicação ser um pano de fundo para outros setores do conhecimento. Mesmo com as
associações buscando um princípio legitimador, existem as idiossincrasias do capital humano
que majoritariamente se colocam em disputa. Entretanto, o capital humano, em vez de disputa,
pode se colocar na construção de possibilidades inovadoras que dialoguem com outras formas
do conhecer para trabalharem em prol da legitimação da Área.
1.5 Noções de Ciência
Há um debate que ocupa o centro da reflexão epistemológica quanto à hierarquização
das práticas científicas envolvendo observação e experimentação versus teoria e interesses
científicos correlativos. Entendemos que a Comunicação tem mais dificuldades no plano do
primeiro princípio de hierarquização, pois, observar e experimentar no tecido social onde os
indivíduos são instáveis se torna complexo; no segundo princípio, por mais que as teorias da
comunicação pareçam acomodadas, trabalhar o interesse científico é um pressuposto de colocar
a Comunicação em seu sentido comum e interativo como protagonista.
Há três séculos, o conhecimento científico não faz mais do que provar suas virtudes de
verificação e de descoberta em relação a todos os outros modos de conhecimento. Morin (2010)
classifica a ciência em elucidativa (quando resolve enigmas e dissipa mistérios) e enriquecedora
(por permitir a satisfação das necessidades sociais que desabrocham a civilização). Conceber e
compreender a ambivalência propõem uma complexidade intrínseca encontrável, no cerne da
ciência, cuja superespecialização ele critica por enclausurar ou fragmentar o saber. No século
XVII, os investigadores eram, ao mesmo tempo, filósofos e cientistas em função da atividade
científica ter sido sociologicamente periférica. Ao longo dos anos, ela se fez um processo inter-
retroativo ao ganhar poder e se institucionalizar na sociedade com apoio, inclusive, econômico
e estatal dos poderes vigentes.
Edgar Morín (2010) considera todas as ciências, inclusive as físicas e biológicas, como
sociais e aponta também que o conhecimento científico é um conhecimento que não se conhece.
Diz ele (2010, p. 20): “Essa ciência, que desenvolveu metodologias tão surpreendentes e hábeis
para aprender todos os objetos a ela externos, não dispõe de nenhum método para se conhecer
e se pensar”. Nessa linha, o pensador caminha para uma definição de que a verdade objetiva da
92
ciência escapa a todo cuidado científico, pois, a ciência é o próprio posicionamento, um campo
sempre aberto onde se combatem não somente as teorias, mas os princípios de explicação, ou
seja, as visões de mundo.
Assim, alega que a ciência não poderia ser considerada pura e simples “ideologia” social
porque há sempre um diálogo incessante no campo da verificação empírica com o mundo dos
fenômenos. “As ciências modernas reconhecem e enfrentam as contradições quando os dados
apelam, de forma coerente e lógica, à associação de duas ideias contrárias para conceber o
mesmo fenômeno”. (MORIN, 2010, p. 29). É de natureza científica tradicional ter como
princípio de explicação a sua redução ao conhecimento manipulável. Aqui, podemos fazer uma
primeira associação entre Ciência e Comunicação. A partir do conhecimento comunicacional,
é impossível reduzir suas investigações a algo manipulável. Não podemos confundir
manipulável com manipulação. Embora saibamos que a mensagem do processo comunicacional
pode sofrer manipulação, por parte do emissor que postula resultados no receptor, o que se trata
aqui é do manipulável no sentido de o pesquisador intervir na condição científica.
A prática da pesquisa, em busca de respostas, se aproxima a explicações platônicas (a
ciência procura explicar as essências escondidas por trás dos fenômenos aparentes); explicações
aristotélicas (procura de casualidades, jogos de causa e efeito no mundo dos fenômenos) e
explicações estoicas (procuram a satisfação na finalidade e na funcionalidade). Podemos dizer
que a Comunicação se enquadra nas duas últimas explicações, afinal, suas vertentes
funcionalistas estadunidenses produziram a estoicidade. Pouco provável nos parece o princípio
platônico, uma vez que a Comunicação sempre parece querer os resultados de uma relação
explícita. Um bom exemplo disso são os estudos de recepção. Não importa o discurso de uma
telenovela, mas sim, como é o seu processo de aceitação social. As correntes hegemônicas
europeias tentaram criticamente buscar o platônico e, como se fosse uma zona de conforto, a
maioria das pesquisas assume a perspectiva aristotélica. Não acreditamos que esse
reducionismo seja o caminho mais viável para categorizar as práticas de pesquisa, porém,
entendemos que, com a Comunicação assumindo seu protagonismo e trabalhando a perspectiva
da importância da cultura no processo comunicacional, seja possível buscar tais explicações a
partir de uma lógica que sirva para revelar, pelo fenômeno, suas questões implícitas.
Sobre fazer ciência na contemporaneidade, Morin (2010) aponta que o novo saber
científico é feito para ser depositado nos bancos de dados e para ser usado de acordo com os
meios e seguindo as decisões das potências. Isto é, inclusive, resultado da ação humana, já que
a atividade científica, ao ser iniciada, escapa, segundo o autor, das mãos de seu iniciador para
93
entrar no jogo das interações múltiplas próprias da sociedade. “[...] para que haja
responsabilidade é preciso que haja um sujeito consciente; acontece que a visão científica
clássica elimina a consciência, elimina o sujeito, elimina a liberdade em proveito de um
determinismo”. (MORIN, 2010, p.129)
A Ciência é uma consequência de realidades construídas que formam um conjunto de
tentativas ao qual se permite refazer caminhos, rever pontos, planejar novas ações, reformular
conceitos. É praticamente um exercício de autorreflexão ao qual a ciência se atrela porque se
trata de um ambiente formado por indivíduos, em constante revisão, e que buscam contribuir
com um novo ponto de vista em face de tantos outros eventos testados a favor do conhecimento.
Conhecimento, aliás, que Francis Bacon considera sem valor em si a não ser pelos resultados
práticos que possa gerar colocando isto à disposição das necessidades do homem. Isto impõe
que não se concebe o homem sem a natureza e nem a natureza sem o homem de forma que
experiências e conhecimentos são transmitidos, de geração para geração, para que as novas
gerações não se voltem ao ponto de precedência. Diz Bacon in Andery (1996, p. 10):
É o processo de produção da existência humana porque o homem não só cria
artefatos, instrumentos, como também desenvolve idéias (conhecimentos, valores,
crenças) e mecanismos para sua elaboração (desenvolvimento do raciocínio,
planejamento...). A criação de instrumentos, a formulação de idéias e formas
específicas de elaborá-los – características identificadas como eminentemente
humanas – são fruto da interação homem-natureza.
Assim, o homem adquire consciência de que transforma a natureza para adaptá-la às
suas necessidades. Essa assertiva se aplica como resultado dos contextos históricos, que ao
longo do tempo, se tornaram fator de produção da escala categórica do conhecimento e
propuseram modelos como o das ciências da natureza e do espírito. Em Sistemas Complejos.
Conceptos, método y fundamentación epistemológica de la investigación interdisciplinaria,
Rolando García (2006) recorda que, no início do século XX, Augusto Comte centralizou as
relações entre os domínios do conhecimento, o que não caracterizou questões próprias de uma
ciência. Porém, foi Jean Piaget quem formulou os problemas acarretados nas relações das
grandes disciplinas pensando um sistema agrupado em quatro frentes (Ciências Lógico-
Matemáticas; Ciências Físicas; Ciências Biológicas e Ciências Psicossociológicas) sendo que
cada uma apresenta quatro níveis ou domínios.
94
O primeiro nível é o do Domínio Material, que trata de um conjunto de objetos ao qual
se referem as disciplinas. Depois, como segundo nível, aparece o Domínio Conceitual, que
reúne o conjunto de teorias ou conhecimentos sistematizados e elaborados por cada ciência em
seu domínio material. O terceiro nível envolve o Domínio Epistemológico Interno, que analisa
os fundamentos de cada disciplina considerando a crítica de seu aparato conceitual e as teorias
de domínio conceitual. E por fim, o quarto nível, que é o do Domínio Epistemológico Derivado
no qual as relações entre sujeito e objeto se juntam ao marco epistemológico e os resultados
gerais obtidos por cada disciplina comparada às outras ciências.
De qualquer forma, é preciso admitir a vida como condição anterior à ciência, pois, é
nela que figura a matéria-prima que se transforma em conhecimento científico pelo manuseio
dos questionamentos a serem formulados e elucidados. Há de se destacar que elucidação não
significa solução. Elucidar requer novos questionamentos que favoreçam o rigor do
funcionamento da atividade científica, ou seja, a ciência permite com que se faça uma nova
pergunta a partir da pergunta inicial.
É fato que a ciência sempre vai trabalhar com realidades constituídas a partir das
vivências cujas ações são analisadas, contextualizadas, teorizadas e transformadas em discurso
científico. As vivências são espaços de Comunicação, afinal, propiciam as interações. Mesmo
essas interações se dando por intenções. Mas, não é segredo e nem desconhecimento para
ninguém que toda Comunicação, por mais ingênua que possa parecer, é intencional. Assim, não
apenas olhando para o todo, são os fios das interações que tecem o grande novelo das vivências
que propiciam ao conhecimento o desafio científico de sê-lo apreendido.
Consideremos, então, que as vivências colocam em condições de igualdade,
Comunicação e Ciência, pois, como admite Dilthey (2010), as Ciências Humanas, além da
vivência, também encampam expressão e compreensão. Assim, a vivência nos proporciona um
sistema social, do qual o autor se ocupa em tratar como sistema cultural. Expressar-se é uma
função comunicativa e a compreensão se materializa por meio dos enunciados. Temos
claramente a composição de um enunciado a partir do qual consideramos pertinente: Ciência e
Comunicação são vivências, que podem ser compreendidas e, ao se imbricarem, se expressam
por meio da Ciência da Comunicação.
A compreensão matemática da Comunicação, que deu origem aos marcos teóricos do
campo, tinha como princípio a condição de que dois pontos distantes estabelecessem uma
comunicação pela qual a mensagem transitasse por um canal. A parcialidade, aí, estava na
95
questão do ruído que proibiria e interditaria ou não a realização completa do fenômeno do
processo.
As correntes estadunidenses assumiram a perspectiva dos efeitos da mensagem a partir
de polos emissores que trabalhavam com apostas de reação entre os polos receptores. Do outro
lado do Atlântico, as correntes europeias assumiam uma racionalidade de que a Comunicação
se tornara algo demoníaco, que envolvia uma série de questões por detrás, como ideologias e
hegemonia, que fazem da cultura um bem a ser consumido. Trata-se do princípio da indústria
cultural. Anos à frente, conforme já mencionado, neste capítulo, temos a perspectiva latino-
americana da Comunicação cuja racionalidade passa pela compreensão da cultura como cerne
de sua realização. Até por sua natureza de colonizado, nosso Continente reúne pesquisadores
que tentam dar um novo olhar à ecologia midiática. Alguns produzindo de forma crítica, outros
nem tanto. E temos ainda, como questão parcial, a construção racional derivada da digitalização
para alguns cidadãos pós-contemporâneos à ficção tecnológica que engloba as noções de
tecnofilia e tecnofobia. As apreensões culturais são outras e seriam, em nosso entendimento,
mais uma etapa do que convencionamos chamar de Momentos Culturais, ou seja, periodizações
em que indivíduos se formam e constroem suas relações a partir da decorrência da ação dos
suportes e processos, que como já dissera Ferrara (2008), tornam a Comunicação parcial e
falível. Condições que Morín (2010) trata como complexidade no sentido de uma procura
viciosa da obscuridade. Combinações conceituais, inclusive, que colocam o conceito
epistemológico da Comunicação nessa encruzilhada já reconhecida e instituída.
O complexo está no entrelaçamento de diferentes cruzamentos, que formam uma
unidade que não destroi a variedade e a diversidade das complexidades que a teceram. O
pressuposto da complexidade é a incerteza, a irredutibilidade. Assim, por sua imprecisão
conceitual, a Comunicação é complexa. Seus núcleos são empíricos e lógicos. Segundo Morin
(2010, p. 188):
O núcleo empírico contém, de um lado, as desordens e as eventualidades e, do outro
lado, as complicações, as confusões, as multiplicações proliferantes. O núcleo
lógico, sob um aspecto, é formado pelas contradições que devemos necessariamente
enfrentar e, no outro, pelas indecibilidades inerentes à lógica.
Quando consideramos Comunicação e Cultura como unidade, passamos, sem dúvida
alguma, por esse entrecruzamento porque estamos comungando as experiências dos processos
96
comunicacionais e as construções culturais sobre as quais estamos emergindo a produção do
conhecimento. Mesmo que a complexidade seja a procura obscura por um novo caminho de
rota teórico-metodológica à Comunicação, essa taxionomia de fios que se sobrepõem é a
matéria-prima dessas formulações que necessariamente passarão pelo empirismo e pela lógica.
Outro a discutir uma noção científica à Comunicação é Muniz Sodré (2014), que
encontra fundamento no plano das relações e do comum em três níveis. O primeiro é o nível
relacional em que a ideologia se produz e se reproduz, no sistema social, por meio de fluxos
informativos homólogos aos princípios de troca dominantes. São construções de pensamento
que permitem refletir mais uma época. Há uma conformidade do real com as representações
estabelecidas. A relação social está constituída por uma agregação institucionalizada de
indivíduos. Visualizamos aqui os ciclos teóricos dominantes na pesquisa em Comunicação.
Sodré (2014) destaca, neste nível operativo, a presença da mídia como instrumento que
democratizara a cultura em uma trama coletiva de sentido que dá aos sujeitos quadros de
referência capazes de auxiliar a interpretação do mundo fornecendo-lhes uma matriz de
orientação que faz diferenças e estabelece critérios. A ordem pedagógica, pela qual se ensina
Teorias da Comunicação, se subscreve neste contexto teoricamente pensado. Se pensarmos na
prática, hoje em dia, no difundido Jornalismo Colaborativo, há todo um sentido construído de
que a tecnologia permite a participação do leitor ou telespectador. Valoriza-se isso por parte do
meio de Comunicação que, em boa parte das vezes, corre atrás do plano onde seu público agora
se encontra. Entretanto, há de se questionar até que ponto essa colaboração existe e se dá. O
indivíduo, que manda vídeo ou foto, atende um pedido que não necessariamente é pautado pela
colaboração, e sim, por um modo de se informar e conseguir dar uma cobertura jornalística a
um fato que ainda era desconhecido dos profissionais em uma redação. Ou seja, é uma questão
muito mais ferramental, pós-funcionalista eu diria, do que comunicacional. E é nesse cenário
de uma cultura midiática que se desenvolve a questão da massa, em especial, a Mass
Communication Research, que envolve toda uma perspectiva funcionalista da Comunicação
que Sodré considera o bios midiático23.
O segundo nível é o da vinculação, que cognitivamente, representa a condição originária
do ser atravessado por uma exterioridade que é o comum. Dessa forma, ele está pressionado
para fora de si mesmo e dividido na perspectiva ontológica. Aqui, entra a necessidade da
pesquisa e do sujeito. Enfim, pode-se perceber a existência de um nível de contribuição aos
23 Para conhecer mais sobre este termo, ler: SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho – Uma Teoria da
Comunicação Linear e em Rede.
97
estudos do conhecimento em Comunicação ou uma necessidade de ampliar a sua produção para
efeitos de currículo. Sodré (2014) entende isso não como relação linguística com o outro, mas,
na ocupação do lugar do outro. Trata-se, na verdade, da ordem simbólica da qual se pode
estabelecer uma compreensão a partir de uma dada estrutura. Valendo-se de uma linguagem
figurada, é como se um novelo de lã se desenrolasse e seus fios fossem parte da estrutura da
Comunicação. Entretanto, no tocante ao conhecimento, a vinculação envolve o sujeito que a
produz e as construções do mundo a partir dos fatos. O autor conclui que a compreensão não
vem da reprodução do objeto, mas sim, de um novo acontecimento gerado. Aplicando isso à
nossa pesquisa é dizer que não vamos reexaminar as pesquisas fomentadas pela FAPESP, na
concepção de seu objeto, porém, gerar a partir delas um acontecimento novo. No nosso caso,
as tendências dos estudos em Comunicação e as diretrizes sobre seu aspecto conceitual Sodré
(2014, p. 303) ressalta que “A análise da vinculação comporta tantos os aspectos visíveis do
comum quanto às dimensões ocultas ou apagadas da simbolização metacomunicativa inerente
ao laço coesivo”. Neste nível, há uma associação direta com o afeto, porém, esta possibilidade
é descartável no plano da ciência.
O terceiro nível, postulado pelo autor, é o crítico-cognitivo, ou simplesmente,
metacrítico que envolve a redescrição da pesquisa no sentido de uma diversidade processual da
Comunicação enquanto modo ativo de conhecimento. As mutações socioculturais exigem um
autoquestionamento. Esta perspectiva coincide diretamente com a proposta desta nossa
pesquisa que pretende revisitar as pesquisas fomentadas pela FAPESP permitindo assim
entender o processo da Comunicação, a partir de um questionamento sobre suas contribuições
a uma presumível evolução da Área e à sua construção taxionômica. É possível entender os
cenários diferentes dos momentos comunicativos implicados em macro conjunturas que
primordialmente tratam a Comunicação no âmbito da transmissão ou das suas manifestações
midiáticas. É o que Sodré (2014) propõe como organização simbólica cujo conhecimento
experimente uma releitura à luz das mutações.
Essas mutações colocam, no mesmo plano de discussão, as conexões teóricas da
Comunicação, que não podem ser satisfeitas pelas agregações multidisciplinares. Elas devem
ser a tradução de um conhecimento específico que até se entrelace com outro conhecimento.
Então, podemos dizer que a Comunicação precisa ser compreendida. É aqui uma espécie de
retomada com Braga (2011), quando este coloca a necessidade das interfaces de conhecimento.
E como se compreende melhor a Comunicação? Por seu ângulo comunicacional, buscado no
sentido de fazer dela, a protagonista das relações comuns. Isto que dissemos aqui é o que Sodré
98
(2014) chama de hermenêutica tradutora, ou seja, ela parte de problemáticas às quais se
realizam os discursos possíveis do pensamento social. Não podemos admitir a Comunicação
apenas como transmissão ou conhecimento de passagem. Precisamos legitimar seu estatuto
conceitual, de modo que esta seja sua hermenêutica.
O autor é enfático quando aponta que as Ciências da Comunicação têm as premissas de
uma Ciência Social: produz valor social, cultural e político. Torna-se possível cruzar os
diferentes eixos do saber com os valores humanos de modo à localização de marcos distintivos
que possibilitem a elaboração de novas formas do comum. É impossível abandonar a ideia de
socialização, mesmo com as noções de espaço e de tempo encurtadas, planas e instáveis.
Entretanto, a complexidade da Comunicação se mantém no mundo da vida comum a emissores
e receptores que sofrem agora da banalização de que inverteram seus papéis em função de maior
acesso. Sodré (2014) pensa o método da formação científica do comum pelas relações humanas
e suas trocas simbólicas. Isto, aplicado às pesquisas, envolve colocar, em primeiro plano, o
indivíduo e sua organização comunicativa no espaço concreto das experiências culturais
vividas. Embora o fomento siga à risca o estudo a ser desenvolvido, quem lhe atribui sentido é
um indivíduo, o qual preferimos denominar sujeito de pesquisa, mas que infelizmente no
entendimento social, muitas vezes parece ser alguém isolado das práticas/vivências vigentes.
Pela visão de Francis Bacon, é justamente esse sujeito que pode ser o que o autor chama
de ídolo do foro, que pode constituir obstáculos à ciência, por falhas vindas da linguagem e
comunicação entre os homens. Nisto, podemos dizer que se aplica o impasse conceitual da
Comunicação, pois, por interesses próprios de seus pesquisadores e linguagem constituída,
temos uma série de possíveis definições que acabam não sendo nenhuma fechada, centralizada.
Entretanto, isto poderia ser diferente, pois, pelo que o próprio autor diz, a ciência é um conjunto
de regras e procedimentos prescritos como atividade metódica que carrega concepções sobre o
homem, sua natureza e o próprio conhecimento. Assim, diz Bacon in Andery (1996, p.14):
A divergência com relação a que procedimentos levam à produção de conhecimento
está sustentada pelas concepções que os geram; ao se alterar a concepção que o
homem tem sobre si, sobre o mundo, sobre o conhecimento (o papel que se atribui à
ciência, o objeto a ser investigado, etc.), todo o empreendimento científico se
alterará.
99
Assim, o que o autor nos sinaliza é uma ruptura de paradigma a partir da autorreflexão.
Sabendo da natureza que nossa Área de Pesquisa proporciona, ambientada por seus impasses
conceituais, fato é que se atribui um sentido de desprendimento das linguagens que se
apresentam como caminho e regras para se pensar qual o nosso papel enquanto pesquisador e
o que os sujeitos dedicados a ela, no ramo da Comunicação, estão investigando. Não para
mensurar produção, mas sim, para se pensar um método construtivo no qual a Comunicação
realmente ganhe uma contribuição de evolução, revisão e inovação. Acreditamos que deste
modo, diminuam as polaridades da nossa natureza modificada pela ação do homem, porém, em
torno de uma caminhada rumo a uma concentração em torno de um conceito.
1.6 A pesquisa em Comunicação e o discurso das teorias
Há três condições, exaltadas por Marques de Melo (2014), que não necessariamente se
aplicam na academia, mas que devem dar o direcionamento teórico: reflexão, sistematização e
atualização. Até podemos dizer que reflexão é o que talvez pouco mais se exercite, pois, a
construção de uma linha de pensamento se dá por meio de leituras de textos de autores,
majoritariamente, convertidos em seminários pelos alunos a fim de que tais ideias despertem
um debate entre os grupos. Quando cruzamos os preceitos de José Marques de Melo com os
preceitos de Feyerabend (2010, p.35), percebemos uma questão de elite na dimensão teórica.
A abordagem teórica usa o entendimento, mas não o entendimento das partes
envolvidas. Grupos especiais, filósofos e cientistas entre eles, estudam os valores
conflitantes, organizam-nos em sistemas, fornecem diretrizes para a resolução de
conflitos – e isso resolve a questão. A abordagem teórica é convencida, ignorante,
superficial, incompleta e desonesta. Ela é convencida porque presume que só os
intelectuais têm ideias que valem a pena e que o único obstáculo para um mundo
harmonioso é a discórdia entre seus níveis (FEYERABEND, 2010, p.35).
A demonstração dessas adjetivações pode ser percebida quando Lopes (2003, p. 45)
compreende que “[...] fazer teoria passa a ser visto por intelectuais conservadores como um
luxo reservado aos países ricos competindo a nós aplicar e consumir”. Tal colocação nos suscita
pensar: qual a diferença do lugar cativo para produzir teoria em relação a todos os demais
pesquisadores que atuam no campo? É muito amplo falar em intelectuais conservadores. Seriam
eles os pesquisadores de notório prestígio e reconhecimento acadêmico? E quem são os países
100
ricos? Parece-nos ficar evidente que a autora nos coloca em condição de colonizado. Não que
não o sejamos, mas assim como o Brasil já se animou em tempos não muito distantes em ser
um país emergente do ponto de vista político e social, por que não pensarmos nesse aspecto
diante de uma pesquisa emergente em Comunicação quando o alto índice de produtividade visto
em publicações, congressos e as pesquisas em programas nos sinaliza isso? A observação de
Lopes (2003) coincide com a presunção do capital intelectual de Bourdieu ao qual Feyerabend
se contrapõe por compreender que os intelectuais nessa perspectiva oferecem parcelas de
conhecimento como tarefas convencidas de uma autovalorização.
Trata-se aqui de um duelo teórico do qual Feyerabend (2011) luta dizendo que a ciência
não pode ser um padrão do que se aceita ou não, do que se pode ou não. O autor ressalva que
aprender não se separa do viver, por isso, o contexto da descoberta da Comunicação se reforça
(2011, p. 332):
Dizem que a análise social é uma questão difícil e que ela precisa de um discurso
fortemente teórico para ter sucesso. Eu replico que um discurso teórico faz sentido
nas ciências naturais, nas quais os termos abstratos são resumos de resultados
prontamente disponíveis, mas que às afirmações teóricas sobre questões sociais
muitas vezes faltam conteúdo e elas passam a ser ou absurdas ou superficialmente
falsas quando o conteúdo é dado.
Sem levar em consideração apenas o plano teórico, Rüdiger (2011) propõe uma análise
de conjuntura estrutural. Para o autor, o estatuto epistemológico da Comunicação se torna cada
dia mais caduco, pois, seus saberes metódicos estão sendo tragados pelo redemoinho da
atividade publicística e o desenvolvimento tecnológico de nossa civilização mecanicista.
Quando Bourdieu (2004) aborda que toda produção teórica é o resultado de determinadas
condições sociais, podemos propor que o novo contexto da Comunicação assume nova posição
dentro da cultura, o que hipoteticamente, pode fazer com que uma solução apareça nesse
intervalo teórico ainda hegemonicamente dominado pelas dicotômicas correntes
estadunidenses e europeias. Intervalo que pouco se sabe em relativização ao tempo, afinal, os
101
fenômenos contemporâneos se constituem e desconstituem mais rapidamente. São mais
instáveis, ou como se diz na contemporaneidade, são líquidos24.
As condições sociais, nas quais se devem produzir as teorias, geram um choque de
culturas, como prevê Feyerabend (2010), a ponto de resultar em reações trazidas por
dogmatismos, ou seja, os proponentes da produção teórica sempre acreditam que suas visões
são mais corretas e as demais falsas; por oportunismos, isto, é assimila-se o que vem da cultura
estrangeira. A importação de teorias, no caso brasileiro, é muitas vezes um exercício sem
deglutição e crítica. Prefere-se uma reprodução teórica, de outra cultura, estabelecida em nossa
cultura; e por fim, as reações com argumentos, àquelas que se referem como as condições
estrangeiras mudarão nossas vidas e a que ponto causar outras mudanças. Ocorre que os
membros das tradições teóricas consideram a teoria como algo permanente no fluxo da história
de modo que seja sem história. Assim, podemos considerar que a Comunicação se posta na a-
história, uma vez que não se tem feito muita questão de atualizar seu postulado teórico.
Mas Feyerabend aponta duas soluções que nos parecem viáveis para essa compreensão
teórica da Comunicação, e que diretamente, dialogam com a nossa proposta de pesquisa. A
primeira delas é de que todo cientista em busca de dinheiro deve mostrar que sua pesquisa traz
ideias inovadoras que coincidam com os juízes que, por sua vez, também olham para sugestões
inovadoras. Nesse sentido, se estabelece uma base em comum. A segunda é que a ciência
progrida pela participação e não pelas teorias.
Esta acepção retoma um ponto que tem sido uma constante na formação científica: a
concorrência. Termo que Thomas Kuhn (2009) prefere tratar por competição. Segundo o autor,
a disputa, dentro da comunidade científica, é o único processo histórico que resulta na rejeição
de uma teoria ou na adoção de outra. Na Comunicação, nota-se isto. Primeiro, pela variação de
linhas de pesquisa em várias instituições que adotam um postulado teórico-metodológico com
o qual direcionam a construção de um sentido comunicacional trazendo sempre um autor
referencial, central, a quem todas as pesquisas precisam se render. É que utopicamente fechados
em constructos ideológicos, os pesquisadores de um Programa alinhavam todos os problemas
de pesquisa a um preceito. Temos visto ao longo de nossa trajetória acadêmica, alguns cultos a
“deuses” da literatura comunicacional. É preciso apontar, discutir e entremear ideias de autores,
sim, entretanto com as devidas ressalvas, e principalmente, crítica em saber como usar aqueles
24 O conceito “líquido” se aplica a várias frentes de trabalho do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017).
Ele usa o termo para se referir a situações efêmeras que não são mais duradouras. Exemplos: as relações, a
modernidade, o amor, a comunidade, etc... Sua bibliografia é extensa.
102
preceitos e pressupostos. A melhor maneira de se fazer isto é estabelecendo o diálogo, mesmo
com argumentos que sejam contraditórios. Um método que ajuda os pesquisadores a dizimar
que determinados autores não sejam sacralizados a ponto de que apenas suas verdades sejam
absolutas e reinem sobre os mais diversos objetos de estudo. O que mais vale é colocar em cena
o contraditório.
Há uma carência de entender realmente com o que os pesquisadores estão trabalhando
em nível teórico. Uma importante forma de mensurar o trabalho do campo de conhecimento é
um incentivo a pensar em reformulações teóricas. Esse desmembramento é como um repassar
de olhos pelo que Lopes (2003) já considera sobre teoria: um lugar de formulação sistemática
das hipóteses e dos conceitos, da definição da problemática e da proposição de regras de
interpretação. Lopes (2003, p. 141) diz que:
Criticar o empiricismo não é (a não ser por má-fé) fazer a defesa do teoricismo; é,
antes, reconhecer a fraqueza do trabalho teórico no campo da Comunicação como a
provável causa principal de nossa crise de identidade e da ausência de uma
orientação substantiva em nossa pesquisa. O crescimento de um campo científico só
se dá mediante o permanente confronto da teoria com os fatos, fatos esses que devem
ser criteriosamente escolhidos e transformados em objetos científicos por meio da
manipulação e elaboração intelectuais.
As Teorias da Comunicação são paradigmáticas e não acompanham a evolução do
tecido social. A considerar, como Kuhn (2009), de que o paradigma é uma realização científica,
universalmente reconhecida por algum tempo diante de problemas e soluções modelares numa
comunidade praticante da ciência, não dá mais para pensar em Teorias da Comunicação pela
visão paradigmática das noções baseadas na estrutura: emissor-mensagem-receptor, na fórmula
de Lasswell. Há que se levar em consideração, os estudos sobre os efeitos das mensagens ou a
noção da indústria cultural, como uma larga produção em série massiva dos produtos da cultura.
Mas, de nada adianta também, o discurso apelar a novas teorias sem entender por que o campo
precisa de repaginação teórica.
Evidentemente, as teorias são os discursos mais representativos dos paradigmas,
entretanto, há métodos de trabalho que continuam sendo paradigmáticos nas pesquisas. É
preciso que haja mudança de atitude e de consciência. E isto pode ocorrer quando Kuhn (2009)
considera que, o que um homem vê, depende do que a sua experiência visual-conceitual prévia
o ensinou a ver. Ou seja, o passado está dado novamente. Então, fazer a Revolução Científica
103
da Comunicação depende de seus sujeitos. E isto pode começar pela tentação de reescrever a
história passada, a partir do presente. Não porque os resultados de uma pesquisa dependam
obviamente de um contexto histórico, mas sim, porque a posição contemporânea do cientista
parece estar muito segura. O primeiro rompimento deve ocorrer inclusive na experiência do
sujeito de pesquisa. É preciso haver uma pré-disposição de que nossa Área de estudos possa
estar viciada no comodismo.
Talvez, os sujeitos da pesquisa em Comunicação ainda não tenham se dado conta de que
há um estopim para uma revolução científica. Uma revolução, de acordo com o autor, nasce de
um episódio extraordinário modificador da tradição, para retornar à nova atividade da ciência
normal. Para que ocorra, é preciso que o cientista rejeite uma teoria científica anteriormente
aceita em favor de outra incompatível com aquela. Trata-se de uma transformação no ambiente
interior do trabalho científico. Essas mudanças e as controvérsias definem as revoluções
científicas. Então, é de se pensar e discutir qual é a Revolução Científica da Comunicação. Ela
deveria ser pelas inquietudes, que há tanto demarcam o campo, porém, nos parece que a
“aceitação” só vai cessar – na verdade, cessará porque ficará isolada do contexto – quando todos
se derem conta que a nova ordem tecnológica do digital já provocou significativas mudanças
das formas e trocas simbólicas.
A pesquisa paradigmática inibe a revolução científica e Kuhn (2009) aborda que quando
os homens estão sujeitos a seguir regras e padrões, eles estão comprometidos com a prática
científica da ciência normal mantendo a gênese e a continuação de uma tradição de pesquisa
determinada cuja crise paradigmática está no funcionalismo da ortodoxa ação dos efeitos,
baseada na construção singular de emissor, mensagem e receptor, em especial, a partir da
intervenção midiática no cotidiano dos sujeitos. Se, por um lado, Sodré (2014) aponta isso como
camisa de força teórica que impõe um baixo avanço cognitivo nas pesquisas, por outro, critica
as feições do pluralismo disciplinar (interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e
transdisciplinaridade), decorrentes dos anos 1960, por sintomas teóricos de uma crise de
paradigma do conhecimento. Assertiva que discordamos totalmente, pois, se o rompimento de
paradigmas, sustentado pela revolução científica, depende de novos planos conceituais
estabelecidos por um olhar retroativo seguro do pesquisador, não há como dissociar a
Comunicação de suas experiências e relações com outros campos do saber estabelecidos a partir
das vivências. Nossa crise não está na abertura, mas sim, na falta de nossa introspecção bem
como no sentido de sabermos que há soberania da Comunicação, instaurada pela Linguagem,
em todas as outras instâncias do conhecimento.
104
Por exemplo: uma pesquisa em televisão dos anos 1980 não tem o mesmo recorte teórico
e de sentido de uma pesquisa em televisão nos dias de hoje (pós anos 2000). Há conflitos de
geração, viabilidades técnicas, a integração contemporânea com a Internet, a digitalização desse
meio. Um estudo de recepção, talvez, não tenha o mesmo princípio se compararmos dois
momentos tão distintos. E nem precisamos pensar em coisas tão diferentes. Consideremos os
programas de Serginho Groisman na televisão brasileira. Este apresentador sempre esteve
voltado ao público jovem, entretanto aquele jovem da década de 1990 do Programa Livre,
exibido pelo SBT, não é o mesmo jovem dos anos 2000, em sua atração atual – Altas Horas –
na Rede Globo. Mesmo havendo um relativo e curto intervalo de tempo, há uma série de
mudanças que as implicações teóricas precisam se dar conta. Não é a teoria que não serve mais.
É a teoria que precisa ser repensada a partir das novas experiências. O jovem da década de 1990
não é o jovem do século XXI inserido nas redes. O entrave, que vemos aqui, é que – assim
como as teorias – as pesquisas nem sempre são paralelas às realidades e vivências. Nesse
sentido, volta-se o olhar a períodos determinados em que se associam metodologias não
renováveis porque os sujeitos de pesquisa não se dedicaram a tal desenvolvimento. Uma tarefa
que cabe a todos, em especial, aos professores pesquisadores que formam as novas gerações de
investigadores.
O plano teórico ainda permanece imutável e não acompanha os fatos em sua velocidade.
Nesse jogo de conceitos, segundo o autor, completa-se a descoberta. Descoberta que, a nosso
ver, pode apontar uma revisão emergencial dos paradigmas, desde que não se consiga mais
promover adaptações às teorias paradigmáticas. Porém, Kuhn (2009) alerta que um paradigma
só se invalida quando ele tem uma alternativa de substituição. E como pensa o autor, quem
rejeita um paradigma, sem ter com o que substitui-lo, está rejeitando a própria ciência. Uma
encruzilhada para a Comunicação, mas que pelas palavras de Kunh (2009, p.116), oferece uma
pista para a reconstrução da nossa área do saber.
A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova
tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através
de uma articulação do velho paradigma. É antes uma reconstrução da área de estudos
a partir de novos princípios, reconstrução que altera algumas das generalizações
teóricas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus métodos e
aplicações.
105
Independentemente do fenômeno, contemporâneo ou não, o que vivemos na
Comunicação, é justamente essa adequação paradigmática na qual seus pesquisadores inserem
os contextos dentro de um mesmo modelo. Isto representa que não há um acompanhamento
pari passu da evolução social, pois, as práticas estão mais avançadas que as teorias. Vejamos,
por exemplo, uma nova tentativa de construção de paradigmas em dizer que a Comunicação se
alterou, pois, todos conseguem produzi-la hoje em função dos dispositivos móveis
tecnológicos. Entretanto, produzir Comunicação é uma questão bem anterior a isso, pois, todos
conseguem produzi-la. De que Comunicação se fala então? É uma evidência de um novo
paradigma que se pretende para enquadrar os estudos contemporâneos, que por força do acaso,
ainda são ajeitados em modelos paradigmáticos anteriores. Podemos até pensar na tecnofilia,
por exemplo, como um estímulo da indústria cultural, mas onde está o sentido de se pensar em
novas práticas, hoje atribuídas ao conceito de ‘narrativas contemporâneas’, querendo submetê-
las, por exemplo, a uma análise adorniana, seguindo os pressupostos da Escola de Frankfurt?
Serão os novos dispositivos, caros e disputados pelos consumidores, o principal problema? Ao
mesmo tempo, nos parece incipiente “jogar fora” todos os paradigmas e redesenhar o campo
teórico da Comunicação pelo encantamento das facilidades demonstradas pelas tecnologias
digitais.
Porém, um entrave pode estar no que considera Kunh (2009), quando diz que enquanto
o paradigma é aceito, os problemas são dotados de uma solução possível já que eles representam
segurança. Assim, se torna mais fácil reduzir qualquer prática comunicacional a uma noção de
efeito ou tentar desmistificar a cultura de massa por meio da tecnologia contemporânea que
permitiu o acesso aos indivíduos. Parece que a tecnologia trouxe uma libertação dos modelos
da indústria cultural. Puxa-se apenas para o lado de que posso me comunicar – não sendo este
o real sentido de se comunicar. Mas, para acessar a Internet por meio de dispositivo, há toda
uma cadeia por detrás disso. Sem um dispositivo adequado, ou um plano de Internet, um
conhecimento prévio do uso do aparelho, etc... se torna difícil atingir essa falsa libertação. Por
outro lado, os pesquisadores em Comunicação encontram na interdisciplinaridade uma espécie
de porto seguro trazendo para o campo a ideia de que tudo é Comunicação. Uma coincidência
quando Kuhn diz que, às vezes, os paradigmas impedem trabalhar com a razão. A Comunicação
vive uma crise teórica justamente porque o paradigma ainda pretende explicar os
fenômenos. Além do mais, como diz Kuhn (2009, p. 111):
106
[...] os estudantes de ciência aceitam as teorias por causa da autoridade do professor
e dos textos e não devido às provas. Que alternativas, que competência possuem
eles? As aplicações mencionadas nos textos não apresentadas como provas, mas
porque aprendê-las é parte do aprendizado do paradigma que serve de base para a
prática científica em vigor.
Enfim, é dada uma estrutura de pesquisa que nem sempre acompanha o progresso
multifacetado pelas diversas possibilidades estabelecidas pela Comunicação. Há uma espécie
de ajuste dos escritos diante dos acontecimentos. Fato é que, como a pesquisa passa
majoritariamente pela universidade, cada pesquisador tem uma vivência levada junto a linhas
de pesquisa que permeiam categorias de trabalho dentro de modelos pré-estabelecidos. Como
diz Calhoun (2012, p.305), “os programas de Comunicação vivem na constante tensão entre o
que os alunos querem estudar e o que seus professores querem ensinar”.
As práticas comunicativas garantem aos seus pesquisadores descobertas, aplicações,
mundos e vivências simbólicas de referenciais, metodologias, dados que nos permitem coleta e
exame, através de documentos colocados em análise. Desse modo, conjunturas, aportes de
conhecimento e grandes ensaios podem surgir com os objetos da Comunicação que são
observáveis. E a observação é a parte primordial do trabalho de um cientista, pois, consiste o
ponto inicial de sua atividade. Se a ciência carrega a pecha de ser algo intangível, cabe ao nosso
sistema educacional, em especial, os Programas de Pós-Graduação, descaracterizar isso no
âmbito da Comunicação a fim de construir sua legitimação. Se uma das missões principais
desses Programas, espalhados por todo o país, é formar pesquisadores, devemos pensar na
formação científica da nossa área de estudos. Precisamos trabalhar o “santo de casa” e perder o
vício da adoção de autores-chave, em evidência no meio acadêmico; fugir das amarras dos
relatórios, números, prazos e metas para conscientizar futuros pesquisadores dando-lhes
vivências significativas com a compreensão de que também fazemos ciência; discutir mais as
pesquisas pensando como são feitas e não quantas são feitas estimulando assim uma reflexão
teórica da Área. O recomeço para isso é estrutural e pedagógico.
Assim, cabe ao pesquisador estabelecer a contribuição de seu estudo com vistas à
construção a partir das trocas simbólicas como resultado da reposição do espaço social a partir
das interpretações. A conexão com o simbólico se dá quando o saber necessita ser reconstruído
ininterruptamente a partir de eixos racionais. E a racionalidade dos estudos em Comunicação
existe quando seus estudiosos pensam na sua organicidade que inevitavelmente tem passagem
pela institucionalização. Por isso, este estudo incorre em duas faixas de conhecimento, segundo
107
Rolando García (2006). Na faixa da Sociologia da Ciência, que estabelece a relação ciência e
sociedade, busca-se uma direção particular de pesquisa, que é o fomento da FAPESP que se
encaixa numa condição cultural e financeira de se investigar com apoio de verbas de uma
agência. E na faixa da História da Ciência e da Epistemologia, busca-se a partir dos fomentos
analisados, compreender a ciência em seu conteúdo inteiro com marcos conceituais e
concepções de mundo. Assim estudam-se as produções da FAPESP, na Área da Comunicação,
para permear o que tem sido pesquisado com a chancela da Fundação.
108
CAPÍTULO II – FAPESP E COMUNICAÇÃO: LAÇOS
INSTITUCIONAIS COMO MÉTODO DE CONSTRUÇÃO DA
ÁREA
Embora a Comunicação careça de um conceito próprio que lhe ofereça uma definição
central, é notório o quanto as instituições têm peso para sua construção como Área de
Conhecimento. Apontamos historicamente as contribuições dadas pela UNESCO, em nível
mundial, e da INTERCOM, em nível nacional. E tratamos, nesta pesquisa, a configuração que
a FAPESP oferece para os estudos em Comunicação, por meio dos fomentos disponibilizados
aos pesquisadores. A proporção, se compararmos a FAPESP com as outras instituições
similares, evidentemente é menor, porém, deveras importante, uma vez que ela assegura a
realização de pesquisas que contribuam efetivamente para o avanço em direção à construção do
conhecimento, ainda que aproximado, segundo a visão bachelardiana.
Quando os pesquisadores procuram a FAPESP, é para que ela subsidie custeios de
pesquisa com recursos que, majoritariamente, as universidades não dispõem, seja por
desinteresse, falta de condições financeiras ou de controle orçamentário como forma igualitária
na distribuição de recursos, sem privilégios, a nenhuma instância do saber, embora se considere,
como veremos no capítulo final, uma relação de oferta versus procura. Os trabalhos aprovados
recebem uma quantia a ser aplicada no desenvolvimento da investigação, porém, não
entendemos que os problemas de pesquisa estejam condicionados diretamente a esta questão.
Acreditamos no caminho inverso, ou seja, ao buscar o fomento, o pesquisador quer o
financiamento de seu trabalho sendo que o retorno da FAPESP se encontra no incentivo e aval
de cientificidade para a produção de conhecimento. A supervisão pública existe para sustentar
a transparência de todo o processo, em especial, quando envolve dinheiro do erário. Aliás, a
supervisão é um item que consta da relação entre FAPESP e pesquisador, que estabelecem um
contrato em nome do conhecimento científico, materializado por meio da pesquisa.
As atividades dos pesquisadores constroem e validam o espírito científico que, segundo
Bachelard (1996), não se caracteriza por uma opinião formada sobre o que não se conhece. A
condição primeira, para seu desenvolvimento, é a formulação de problemas que, na vida
científica, se originam espontaneamente. Dando atenção e sentido a um problema, todo
conhecimento se torna resposta a uma pergunta. Como sem pergunta, não há conhecimento, eis
que ela se faz necessária à construção. Mais uma assertiva factual que sinaliza à cientificidade
109
da Comunicação, pois, se não há pergunta, não há conhecimento científico. Uma condição
aplicável a todas as instâncias de conhecimento, inclusive, àquelas com demonstração de
maturidade científica. Mas, será que os pesquisadores, beneficiados pelos fomentos da
FAPESP, estão de fato pensando a Comunicação de maneira questionadora, o que seria uma
evolução desse espírito?
Quando o indivíduo está conformando seu saber muito mais com as respostas do que
com as perguntas, Bachelard considera que o crescimento espiritual cessa. Sabe-se que um
conhecimento jamais se esgota, principalmente, nesta Área em que estamos inseridos. Resta-
nos o alento das revoluções espirituais exigidas pela ciência. Mudar exige conhecer e, como
novos problemas surgem, é preciso questioná-los. Assim, vale de antemão, fazer a seguinte
questão: os pesquisadores têm realmente um compromisso com a pesquisa científica ou se
tornaram reféns da escala de produtividade exigida pela sobrevivência no mundo acadêmico?
É notório que, nesse meio, por onde transitam os pesquisadores apoiados pela FAPESP, há
personalidades-chave, não necessariamente pelo que pesquisam, mas pelo nome construído o
qual se faz necessário zelar no tecido social acadêmico. Como já colocado no capítulo anterior,
o próprio Bourdieu (1983) reconhece que o pesquisador depende de sua reputação para obter
fundos às suas pesquisas, afinal, a briga por fomento também se faz um espaço de lutas.
Pela importância e reconhecimento da FAPESP, é plausível afirmar que valeram a pena
todos os enfrentamentos políticos pelos quais os incentivadores e praticantes da atividade
científica, no Brasil, se propuseram em nome do avanço do conhecimento. Lutas que se
estenderam, ao longo do tempo, e perduram até os dias de hoje. Se, no passado, pelos tempos
de caráter ideológico da ditadura, ou atualmente, pelos tempos de cortes de verbas de pesquisas
em função dos ajustes econômicos. Reportagem do Jornal O Estado de S.Paulo, de 17 de
outubro de 2015, noticiou a redução de gastos com bolsas de Mestrado e Doutorado na ordem
de 10%. Comparando o período de janeiro a agosto de 2015 com o mesmo período de 2014,
houve R$ 13 milhões a menos de investimento. Ainda no âmbito das comparações de 2015 com
2014, as bolsas de Mestrado sofreram redução de R$ 24,1 milhões, o que representou 19% a
menos e as bolsas de Doutorado tiveram R$ 100,5 milhões a menos, índice 6% menor. A
justificativa que a FAPESP apresentou foi a queda de arrecadação de ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) no Estado. Seguindo a comparação, enquanto o repasse
à Fundação, em 2015, foi de R$ 632 milhões até agosto, em 2014, o valor enviado, no ano todo,
havia sido da ordem de R$ 998 milhões.
110
O cenário da crise econômica brasileira se ampliou e o corte planejado de verbas para o
Orçamento 2017 caiu como uma hecatombe na classe científica. É que pelo orçamento da
Secretaria de Planejamento e Gestão – que sofreu redução de 4,98% na dotação total prevista
comparando o orçamento de 2016 – o que caberia à FAPESP era R$ 1.224.323.477,00 sendo
que R$ 996.697.867,00 vinham do Tesouro do Estado sobre o qual calculando a receita total do
Estado, de R$ 206.399.953.232,00, representava 0,48%, índice que infringe a lei estadual que
garante o repasse legal de 1% das receitas como veremos mais adiante na configuração da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. O orçado para 2017 foi a concessão
de 13 mil bolsas de estudo e 3.700 Auxílios Regulares. A partir dessa redução, o Conselho
Superior da FAPESP divulgou uma nota25 em que reforça o compromisso histórico do Governo
Estadual em repassar 1% da receita tributária do Estado. Valor que ajuda a manter o
compromisso da FAPESP com o desenvolvimento científico e tecnológico como previsto na
Constituição Estadual.
Também houve manifestação da SBPC, a Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, por meio de sua então presidente, Helena B. Nader26, e da Academia Brasileira de
Ciências, por meio de seu presidente, Luiz Davidovich27. Em ofício endereçado ao então
Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin28, datado de 10 de janeiro de 2017, eles salientaram
a redução do repasse, reforçaram o compromisso da FAPESP com o conhecimento científico e
tecnológico do Estado e pediram a correção da situação para a manutenção de um dos sistemas
de Ciência e Tecnologia mais bem-sucedidos do país como assinalam ao se referirem à
FAPESP. E as reclamações, em partes, surtiram efeito. Ainda no fim de janeiro de 2017,
conforme noticiou o mesmo jornal O Estado de S.Paulo, em sua edição de 28 de janeiro, a
Fundação recebeu de volta os R$ 120 milhões tirados do orçamento, porém, tendo tal verba
destinada exclusivamente para gastos com os Institutos de Pesquisa do Estado. Ouvido pela
reportagem, o vice-governador do Estado de São Paulo e secretário de Desenvolvimento
Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Márcio França29, disse que esse acordo de
devolução “[...] vai no sentido de remediar uma dívida histórica que a Fapesp teria com os
institutos, desde que a vinculação orçamentária da fundação foi aumentada de 0,5% para 1% da
25 A nota pode ser acessada em http://www.fapesp.br/10704 26 Presidiu a SBPC de 2011 a 2017 27 Eleito para o mandato 2016-2019. 28 Foi governador de São Paulo em dois períodos: 2001 a 2006 e 2011 a 2018, quando em abril deste ano, deixou
o cargo para ser candidato à Presidência da República Federativa do Brasil 29 Vice-governador para o mandato 2015-2018, assumiu o governo em abril de 2018, sucedendo Geraldo
Alckmin.
111
receita tributária, na Constituição de 1989”. Para o presidente da FAPESP, José Goldemberg,
em 2016, a entidade concedeu R$ 48 milhões aos Institutos de Pesquisa, por meio de editais de
apoio à pesquisa. Segundo ele, a taxa de aprovação das propostas submetidas por cientistas dos
institutos é similar à dos pesquisadores acadêmicos: 40%. Por isso, ele sugeriu aumentar a
capacidade dos pesquisadores dos institutos no que se refere à apresentação de mais projetos.
Sem ter a qualificação para falar institucionalmente em nome da FAPESP, porém,
entrevistada por nós, perguntamos à coordenadora da Área de Ciências Humanas e Sociais II
da FAPESP, professora doutora Esther Império Hamburger, sobre a questão dos financiamentos
diante da crise econômica brasileira. De acordo com ela, a FAPESP é considerada um modelo
de gestão, especialmente, pelo fato de que alguns visionários previram lá na década de 1950
que as pesquisas deveriam ser viabilizadas com dinheiro arrecadado pelo estado de São Paulo.
Uma proposta, que como veremos neste capítulo, se incorporou à constituição paulista.
Entretanto, Esther Hamburger ressalta que, apesar de uma estrutura de financiamento à pesquisa
relativamente autônoma, a Fundação não está alheia aos acontecimentos do mundo e que
embora a crise econômica do Brasil tenha encolhido a arrecadação, mesmo com investimentos
comprometidos, a FAPESP não perde sua credibilidade. A cada ano, a Fundação distribui um
número de bolsas, seguindo uma determinada receita, porém, se a receita cai, o repasse, nos
anos posteriores, se torna menor. Apesar de considerar isso como uma estratégia natural,
Hamburger conta que a FAPESP ainda é uma instituição que gasta com bolsas um percentual
bem maior se comparada a outros lugares do mundo. Indispensavelmente, as ações
administrativas se relacionam diretamente com as ações científicas.
Essa diminuição torna o trabalho de quem está decidindo muito penoso porque assim
você vê que as pessoas têm acesso em geral, recebe bem as críticas que os
pareceristas fazem, né? E refazem seus projetos. Então eles vão melhorando. E as
pessoas, enfim, com essa onda de publicação, cobrança de produtivismo... estão
produzindo, estão publicando muito. Isso eu acho que não é só na nossa Área. É em
geral. O nível está melhorando muito. Só que as Áreas têm mais ou menos bolsas
com a proporção de pedidos. (HAMBURGER, 2017)30
Uma tarefa árdua, afinal, é preciso levar em consideração a produção de conhecimento
e o quanto isto custa proporcionando um choque entre ciência e gestão. Desconsiderando os
fatores externos, alheios a decisões da própria Fundação, nota-se, na FAPESP, um trabalho
30 Entrevista concedida ao autor em 10/10/2017.
112
sério, competente, eficaz e duradouro que investe o dinheiro público em projetos aprovados e
construídos metodologicamente com vistas a resultados que congregam, contemplam a vida
social e construam o conhecimento.
O apoio governamental à pesquisa não é exclusividade do Brasil, pois, de modo geral,
todos os governos desenvolveram o interesse em criar mundialmente ambientes favoráveis ao
desenvolvimento científico. Demarca-se a ciência como condição das nações dominantes.
Assim se dava com os Estados Unidos e o orçamento de 0,5% à National Science Foundation;
a Inglaterra e o estímulo ao Departament of Scientific and Industrial Research que funcionou,
entre 1915 e 1965, sendo extinto em seu último ano pela Lei de Ciência e Tecnologia; a Rússia
e a dotação de 1% à pesquisa; o Centre National de la Recherche, da França, onde o orçamento
anual representa atualmente um quarto do gasto com pesquisas por civis. Os recursos vêm do
governo e de financiamento público, além do investimento de indústrias e royalties com
patentes, licenças e serviços. Aos governos, cabia oferecer apoio, orientação, recursos, homens,
continuidade e cooperação. No Brasil, São Paulo já se destacava com bases à pesquisa científica
pelo fato de ter desenvolvido homens, equipamentos e instituições. As primeiras manifestações
disso ocorriam na Biologia, nas Ciências Exatas e no setor psicotécnico e de formação
profissional.
A prática científica no Brasil é uma herança colonial, considerada por Motoyama (1999)
como empecilho para o desenvolvimento de ciência que a Europa já experimentava. Após a
nossa Independência, e principalmente com D. Pedro II, foi que a ciência deu seus primeiros
passos no Brasil. De acordo com registros disponibilizados na Biblioteca Nacional, no Rio de
Janeiro, Quando ascendeu ao trono, em 1840, 92% da população brasileira era analfabeta. Até
seu último ano de reinado, em 1889, o índice baixou para 56%. Em seu período, incentivou a
Educação com a construção de faculdades e escolas que tinham como modelo o Colégio Pedro
II. Aliás, Dom Pedro II doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e
incentivos para Educação com ênfase nas Ciências e Artes. A nossa letargia tinha relação direta
com a metrópole Portugal onde o exercício da ciência não tinha tanto brilho. Se a história nos
demonstra um conflito de classes, entre burguesia e um sistema escravo, a relação de soberania
diante dos demais não despertava nas elites de então o interesse por pensamentos científicos.
Foi o desenvolvimento industrial que abriu espaço à pesquisa no Brasil, principalmente,
nas últimas décadas do século XIX, com a Segunda Revolução Industrial ou também chamada
Revolução Tecnocientífica com as indústrias eletromagnéticas e químicas. As linhas de
montagem difundiam os modos de produção do Taylorismo e do Fordismo. A nova safra
113
tecnológica exigia mudanças para o Brasil não mais se manter limitado às exportações de café,
cacau, algodão e borracha. As cidades cresciam e se urbanizavam. A ligação entre elas fez com
que se ampliasse a rede de transportes. Foi assim que as ferrovias se expandiram
consideravelmente no estado de São Paulo e nas principais cidades do Brasil. Condições, aliás,
que favorecem e se igualam à Comunicação. Nos desenvolvimentistas anos 1950, as rodovias
chegaram para alavancar o sistema de transporte que também fora entendido como meio de
comunicação. Apoiamo-nos em Paulo Schettino (2013) quem nos lembra que a língua natural
se faz agente catalisador ao reunir pessoas com interesses comuns para dividirem tanto a
espacialidade quanto as coisas materiais e aquelas intangíveis. A necessidade humana propiciou
laços de Comunicação. Isto se deu, por exemplo, quando grupos isolados e distantes
encontraram nos rios suas vias de comunicação e transporte, mais tarde, transformadas nas
relações de comércio, mas, que antes serviram na formação de grupos ribeirinhos. Depois das
águas, registrou Schettino, vieram os caminhos sobre a terra que, posteriormente, fariam as
comunicações se desprenderem do transporte material. E não há como não considerar as
Grandes Navegações que “aproximaram” as distâncias com o Novo Mundo. Assim, Schettino
(2013, p.5) diz que “Das trocas interpessoais evolui-se para trocas intergrupais, originando a
partir destes intercâmbios de experiência diferentes (sic) de vida resultando na transformação
de culturas originais”.
Evolução na técnica, aprimoramento profissional por meio do ensino. As escolas
superiores ganhavam importância, em especial, com os cursos de Medicina e Engenharia (as
primeiras foram criadas por D. Pedro II ainda no século XIX). Paralelamente, surgiam os
institutos de pesquisa. Em 1919, já nos primórdios do século XX, houve apelos à criação de um
Conselho Nacional de Pesquisas, porém, a industrialização e a modernização não serviram de
estímulo à Ciência e Tecnologia. A criação da USP, em 1934, coincidia com a ascensão de
Getúlio Vargas ao poder. Uma combinação próspera para a criação de universidades. Em 1936,
Vargas pensou na criação de um Conselho Nacional de Pesquisas, com vistas ao fomento de
investigações acadêmicas dirigidas à agricultura. Essa ideia não era legitimamente brasileira. O
então presidente se inspirava nos Estados Unidos, que desenvolvera eficiência na produção de
riquezas agrícolas. Mesmo assim, a proposta de Vargas foi rejeitada pelos congressistas.
Essa “intervenção” do Estado não seguiu adiante e quando se falava em financiamento
de pesquisas, os recursos surgiam de contribuições particulares ou por meio de Fundos
Universitários de Pesquisa não oficializados. Em São Paulo, começavam a florescer as ideias
de uma fundação. Mesmo não oficializados, os Fundos Universitários foram úteis na Segunda
114
Guerra Mundial (1939-1945) para as pesquisas aplicadas às necessidades militares. Justamente
da guerra, emergiu o desenvolvimento em Ciência e Tecnologia como atestado da evolução das
ciências físico-químicas, em toda a Europa, notadamente na Alemanha e Inglaterra,
paulatinamente transferida para os EUA. A maior prova disso é algo bastante controverso: a
bomba atômica arremessada contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Um invento
que se contradiz. Se, por um lado, funcionou como grande desenvolvimento, por outro, foi uma
catástrofe social exterminando 350 mil vidas inocentes. Um fato que, pela tragédia, deixou
marcas profundas na História mundial.
Também como resultado de guerra, os Estados Unidos desenvolveram, em 1943, o Field
Service, mecanismo de interação entre a retaguarda tecnocientífica e o front. Os pesquisadores
iam aos campos de batalha detectar qualidades e defeitos de uma nova arma, por exemplo.
Foram os resultados estadunidenses, na guerra, que serviram de influência ao desenvolvimento
em Ciência e Tecnologia pelo restante do mundo. O Brasil percebera o momento histórico,
conforme atesta a contribuição do brasileiro César Lattes, e viabilizou na esfera governamental,
mecanismos de apoio e financiamento à pesquisa. Entre 1945 e 1956, Lattes trabalhou para uma
intersecção entre ciência e política, pois, os pesquisadores da época compreendiam que a
ciência só progrediria com apoio logístico e financeiro em questões estratégicas para o
desenvolvimento nacional se valendo de preceitos políticos.
Os Fundos Universitários de Pesquisa podiam, segundo estatutos próprios, criar ou
patrocinar serviços, cursos, oferecer auxílios em dinheiro, material científico e didático, estadia,
viagens e bolsas de estudo. Os temas, que se destacavam com apoio dos FUP´s, eram
telecomunicação, malarioterapia, produção de quinino, produção de aço (necessidades da
jovem Siderúrgica Nacional), nutrição, substitutos do sangue e a penicilina. Entretanto, aos
Fundos Universitários faltava a orientação racional de conjunto e submissa à constante luta com
a deficiência de recursos humanos; a instabilidade dos recursos financeiros; a descontinuidade;
e a ausência de cooperação.
Em 1945, José Reis31 retomou as discussões por um Conselho Superior de Pesquisas
que viabilizasse bolsas de estudo, patrocínio de viagens ao exterior e intercâmbio entre
instituições de São Paulo com o Brasil e o Mundo. A Ciência estava como justificativa
soberana, no pós-Segunda Guerra Mundial, e gozava de prestígio junto à opinião pública em
31 Cientista brasileiro (1907-2002), um dos fundadores da SBPC. Fez carreira paralela de jornalista e escritor
com grande facilidade para explicar ciência a leigos por meio da divulgação científica em uma coluna na Folha
de S. Paulo, publicada por mais de 50 anos.
115
função da disseminação do conhecimento, ou ciências da informação, de novidades como rádio,
telefone, penicilina, bombas, entre outras. Os homens de governo também prestigiavam a
credibilidade do fazer científico certamente tirando frutos disso, afinal, a ciência é um benefício
que serve ou deveria servir a toda coletividade.
Os anseios por um Conselho Nacional de Pesquisas e a intervenção estatal no fomento
a pesquisas científicas já eram praticados no exterior. Nos Estados Unidos, nosso máximo
controlador e fornecedor seletivo de modelos, a National Science Foundation coordenava e
destinava 0,8% da renda nacional às atividades oficiais de pesquisa. Além disso, concedia
bolsas de estudo e auxílios financeiros a organizações científicas oficiais ou não. As verbas
tinham validade por cinco anos. Em 1812, os EUA estabeleceram o primeiro órgão federal de
pesquisa com finalidade militar. No entre guerras, pesquisas visando o bem-estar geral,
recebiam patrocínio. A primeira concessão para uma pesquisa científica, com fins não bélicos,
foi em 1836. O Franklin Institute recebeu 10 mil dólares para estudar as causas das frequentes
explosões de navios a vapor. As pesquisas buscavam caminhos para possíveis remédios.
Nos tempos de paz, em 1862, surgiu o primeiro órgão oficial de pesquisa: o
Departamento de Agricultura. Em 1939, passava de 1940 o número de instituições científicas e
técnicas a serviço da pesquisa norte-americana. Um pouco antes, em 1863, com autorização do
Congresso e do presidente Lincoln, a Academia Nacional de Ciências disponibilizava verbas
consignadas em pesquisas para qualquer departamento do governo. De volta ao século XX,
mais precisamente, em 1914, nascia o Conselho Nacional de Pesquisas como assistência ao
governo no tocante à mobilização de recursos científicos disponíveis.
Outras partes do mundo também inspiraram o Brasil em colocar o governo como
financiador de pesquisas. Da Rússia, veio o modelo de pesquisa e ciência como atividades
exclusivamente oficiais. Os programas de investigação atendiam a política soviética com todos
os recursos necessários disponibilizados e o planejamento preparando a formação de mão de
obra, além de elaborar as atividades científicas. O dispêndio governamental é de 1% da renda
nacional. Uma comissão estatal verifica, classifica e interpreta os dados para a elaboração do
chamado Plano Quinquenal Provisório.
Na França, surgiu, em 1945, o Centro Nacional da Pesquisa, um órgão oficial controlado
por um conselho com representantes da Ciência, da Indústria e do Tesouro. Os temas de
pesquisa são julgados pelo Centro antes de conceder os auxílios que também englobam viagens
de estudo pela própria França e pelo exterior. Os vencimentos são mensais e as verbas ainda
116
atendem à criação de novos laboratórios, à subvenção de periódicos e de outras publicações de
caráter cientifico, bem como a promoção de reuniões, colóquios e mesas redondas. A carreira
de pesquisador tem regalias comparáveis às de um funcionário público. O pedido deve ser
documentado com menção de títulos científicos e referências à pesquisa que se deseja
empreender ou com a qual se tem a intenção em colaborar. É preciso detalhar o laboratório
escolhido, os prazos e as despesas prováveis. O pedido ainda precisa ser endossado por dois
padrinhos idôneos que acompanham os trabalhos do postulante e redijam relatórios anuais ao
Centro de Pesquisa. O beneficiado recebe bolsa de estágio pelo prazo de 2 anos, período para
preparar e defender a tese de doutoramento. Quem se destaca, tem a possibilidade de se
candidatar a outros auxílios como “Adido de Pesquisa”. Se fizer carreira, passa por um plano
com as etapas “Encarregado de pesquisa”, “Mestre de Pesquisas” e, por fim, “Diretor de
Pesquisas”, função equivalente à de um catedrático.
Na Inglaterra, em 1915, nasceu o Departament of Scientific and Industrial Research,
que propunha desenvolver pesquisas úteis ao desenvolvimento da indústria e do comércio
britânico. Esse país estimulou a criação de Associações de Pesquisas, em cooperação com
indústrias cujos resultados têm os direitos de divulgação preservados. O Departamento distribui
bolsas de estudo visando a formação de cientistas e pesquisadores treinados para atender às
necessidades do país. Outras unidades de referência à pesquisa inglesa são o Laboratório
Nacional de Física (1902), o Instituto Imperial (1887) e o Colégio Imperial da Ciência e
Tecnologia (1907).
No Brasil, historicamente, foi baixo o interesse das empresas em financiar pesquisas,
pois, em sua grande maioria, as corporações projetam lucros rápidos e abundantes mantendo
assim a lógica central do capitalismo. Algo que quase nunca combina com o homem de ciência
que usa de sua inteligência e vontade a favor do serviço com vistas ao bem coletivo, ou seja,
um investimento que pressupõe lucros simbólicos. Mas, foi a partir de um lucro simbólico
derivado da Física, que nossa ciência se desenvolveu. Conforme já citado, César Lattes, se pelo
aspecto da atividade de pesquisa, descobriu durante a Segunda Guerra Mundial, o “méson pi”,
partícula efêmera com massa entre a do elétron e a do próton, essencial para os estudos de
radiação formulando o conhecimento da estrutura atômica; por outro, cuidou da
institucionalização científica em nosso país. De volta ao Brasil, em 1949, liderou um grupo
científico que inaugurou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas cujo modelo agregou
iniciativas para outras instituições como o Instituto de Matemática Pura e Aplicada; a Escola
Latino-Americana de Física; e o Centro Latino-Americano de Física.
117
Com atividades de pesquisa em nível internacional, César Lattes modernizou o currículo
de Física e formou pessoal que constitui parcela significativa na liderança científica em sua
Área. Teve passagens importantes pela Bolívia e pelos EUA, porém, deu considerável
contribuição quando catalisou ideias para a criação do Conselho Nacional de Pesquisa,
atualmente, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Lattes fez parte
do primeiro Conselho Diretor da entidade, que impulsionou a nossa pesquisa científica e
tecnológica. Outra importante contribuição foi o desenvolvimento, em 1962, da UNICAMP
onde posteriormente se erradicou para criar o Instituto de Física, um dos mais respeitados do
Brasil. Todo seu histórico rendeu uma Plataforma do CNPq que integra bases de dados de
currículos, Grupos de Pesquisa e instituições que formam um Sistema Único de Informação.
2.1 FAPESP: o investimento estatal à custa de ideologias políticas
Se qualquer forma de Comunicação é intencional, trabalhar com ideologia também
implica pensar em uma série de significados tratados na esfera pública a fim de chegar a um
constructo real carregado de um repertório constituído. Terry Eagleton (1997) considera que
ideologia, como preceito básico, é algo que a outra pessoa tem. Coincidentemente, é no outro,
onde se dá a Comunicação. Assim, presumimos que comunicação é ideologia. E ideologia
também é Comunicação. O processo de formação, construção e consolidação da FAPESP está
nessa noção ideológica como um conjunto complexo de ligações ou mediações entre níveis,
mais e menos articulados, e que, de certa forma, veem, no outro, uma ideologia.
Articulações, especialmente políticas, não faltaram para as demandas necessárias à
implantação da Fundação, incorporada por São Paulo, em sua constituição. O amparo às
pesquisas científicas teria menção na Carta Magna Paulista como um dos pilares que rege uma
organização social. O estado mais importante da Federação, considerado por muitos, com status
de uma nação – apenas a capital paulista, por exemplo, equivale em população a Argentina toda
– buscava cumprir a monopolização da ciência com seus recursos de modo que todos os
trabalhos científicos fossem realizados por iniciativa direta do governo e seus agentes que
responderiam por toda a administração. Motoyama (1999) admite que a interferência estatal
não deva ir além da criação de uma entidade de direito privado (sociedade civil, associação de
utilidade pública ou fundação) fixando finalidades e diretrizes gerais oferecendo auxílio
financeiro, apoio, cooperação e demais elementos necessários para a criação de um ambiente
propício à sua missão.
118
Quanto à natureza jurídica, se preza maior autonomia possível com mínima interferência
do Estado. Por isso, o melhor caminho seria uma Fundação. Em relação à sua finalidade, está o
desenvolvimento da pesquisa científica e a busca por novos conhecimentos ou a confirmação
de outros já obtidos em qualquer campo da ciência e da técnica. Disponibilizar recursos à
pesquisa requer planejamentos e programas de ação bem como critérios racionais para a seleção
dos temas que vão ser julgados para a concessão de benefícios, pois, acima da pesquisa, está o
interesse público.
Quanto à ação, requer liberdade e flexibilidade possíveis para levantamento das
necessidades do Estado em matéria de pesquisa nos vários setores da ciência. Tanto quanto às
escolhas de diretrizes, planos, critérios e escalas de prioridade para seleção, coordenação e
orientação das atividades de pesquisa a serem amparadas. Resguardado o emprego de todos os
meios, não apenas hábeis, mas também, transparentes para promover pesquisas fomentadas,
concessão e candidatos idôneos de bolsas de estudo dentro e fora do país; prêmios a
pesquisadores pelo esforço e dedicação às pesquisas; divulgação dos resultados. Com relação
aos recursos, a contribuição anual do governo, doações de qualquer fonte, aceitas pela
Fundação, aluguéis, cessão de bens e direitos. Ainda se incluem as questões de patrimônio e
organização que respondam aos interesses equânimes entre financiadores e executores, neste
caso, agências de fomento, pesquisadores e universidades.
Foi fundamental, no período anterior à FAPESP, a participação da Universidade de São
Paulo tanto que esta se confunde com a história da pesquisa. Em 1947, o Estado passava a dar
amparo à cultura e à pesquisa científica por meio de um Conselho da Universidade. O repasse
era de 0,5% da receita. No cenário político, particularmente na Assembleia Legislativa de São
Paulo, tramitavam emendas constitucionais. Havia uma enorme conotação científica às práticas
políticas sendo que as estratégias ideológicas eram tomadas como dianteira das discussões para
as quais se buscavam caminhos que levassem à viabilização do fomento ao exercício da
pesquisa. A emenda 783 foi rejeitada, em maio de 1947, pelo parecer do relator Osny Silveira,
que entendeu que a USP se destacaria e, por isso, não havia a preconização da proposta de
Fundação. Apontava-se conveniência em atender aos autores da iniciativa por eles pertencerem
aos quadros da Universidade.
O Diário Oficial do Estado de São Paulo, em 6 de julho de 1947, ratificava o cerne da
questão de incentivo, publicando o artigo 123 da Constituição Estadual que prevê: “O amparo
à pesquisa científica será propiciado pelo Estado, por intermédio de uma fundação, organizada
em moldes que forem estabelecidos pela lei”. Em seu parágrafo único, o texto diz que
119
“anualmente, o Estado atribuirá a essa fundação, como renda de sua privativa administração,
quantia não inferior a meio por cento do total de sua receita ordinária”.
O plenário dos legisladores paulistas se tornou espaço para debates sobre a criação de
uma Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Destacou-se por esse intento o
deputado Caio Prado Júnior em seus discursos reproduzidos por Motoyama, Hamburger e
Nagamini (1999, p. 66):
Essa medida parece-me uma das de maior alcance incluída na nossa Constituição
porque, sem dúvida nenhuma, se a iniciativa nela prevista for bem conduzida,
resultará numa completa transformação da vida cultural, e direi mesmo econômica e
social do nosso Estado e, por consequência, do Brasil.
[...]
Esse financiamento especial para determinadas pesquisas tem sido realizado por toda
parte do mundo – e a ciência a ele deve uma grande parte do seu desenvolvimento
por intermédio de subvenções públicas e privadas extraordinárias.
120
FIGURA 1 – Deputado Caio Prado Júnior32
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
O deputado propôs um projeto de lei para criar o Instituto Paulista de Pesquisas
Científicas. Com isso, criar-se-ia pelos órgãos de pesquisa dos Institutos de Ensino um conselho
para a Fundação. Essa ideia estava no Projeto de Lei nº 248/1947, discutido na sessão ordinária
da Assembleia, em 3 de outubro de 1947. Pela proposta, a denominada Fundação Paulista de
Pesquisas Científicas se destinaria ao amparo da investigação em todos os domínios da ciência.
Seus órgãos dirigentes seriam o Conselho Geral, a Diretoria e o Conselho Fiscal. À solicitação
de concessão de auxílios, o proponente deveria especificar, por requerimentos, o assunto ou
objeto da pesquisa, o prazo necessário para realização e o cálculo das despesas a serem
aplicadas. O parecer seria de três membros escolhidos pelo Conselho Geral. Ao beneficiado,
caberia prestar contas periodicamente, justificando os valores recebidos além de autorizar a
Fundação a publicar um relatório geral da pesquisa. Haveria um contrato de execução a ser
assinado entre a diretoria e o beneficiado que, por sua vez, poderia solicitar a prorrogação de
prazo da concessão. Também caberia aos dirigentes cassarem o benefício, se necessário fosse.
E ao final da pesquisa, o indivíduo contemplado forneceria à Fundação um relatório completo
e minucioso dos trabalhos realizados e dos resultados obtidos.
32 Ver o perfil biográfico do deputado em http://www.al.sp.gov.br/acervo-historico/exposicoes/parlamentares-
paulistas/caio_prado/Perfil_biografico/perfil_biografico.htm
121
Então, começaram as “disputas”. O deputado Lincoln Feliciano propôs um projeto
substitutivo em relação ao discutido preliminarmente. Entre as novas propostas à Fundação,
estava a criação do Conselho Técnico-Científico que teria por dever: (a) opinar sobre concessão
de auxílios e bolsas e (b) elaborar um relatório semestral à Diretoria a partir dos resultados. Os
caminhos para uma Fundação não eram voz corrente apenas entre a comunidade científica. A
esfera pública também se ocupou do tema por meio da imprensa. O assunto foi destaque no
Jornal O Estado de S.Paulo, edição de 19 de outubro de 1947.
Os órgãos que deles fazem parte não demonstraram a indispensável largueza de
vistas que pudesse fazer da instituição não empreendimento para preencher as
lacunas do momento, mas um organismo capaz de merecer sem restrições o integral
auxílio econômico garantido pela Constituição Estadual. Não se procurou, desde o
início, nos Fundos, planejar de modo convincente a assistência às diversas
modalidades de pesquisas científicas. Todo o auxílio financeiro foi realizado mais
ou menos de afogadilho, sem nenhum critério racional, baseado nas nossas reais
necessidades e nas possibilidades que possuímos para encará-las e resolvê-las. É
claro que um planejamento deste gênero exige órgão especial composto de
especialistas em pesquisas sociais, que deve (sic) desempenhar função mais ou
menos paralela aos conselhos técnico-científicos, pois não resta a menor dúvida de
que tão importante é acompanhar e verificar o nível científico das pesquisas como
também os é indicar, com critérios objetivos, quais os setores que devem ser mais
rapidamente atendidos através da ajuda financeira (MOTOYAMA, HAMBURGER,
NAGAMINI, 1999, p. 87).
Nota-se que a matéria traz um tom de cobrança a uma organização sistemática de apoio
financeiro aos pesquisadores evitando desperdício do dinheiro público e atendendo carências
de setores que precisam do desenvolvimento científico. Apesar disso, Lincoln Feliciano refutou
o que o jornal escreveu, ressaltando na Assembleia, a relevância dos Fundos Universitários de
Pesquisa, entidades que, pelo texto de O Estado de S.Paulo, estavam na mira da crítica. Nisso,
o parlamentar apresentou um projeto substitutivo propondo a criação do Conselho Técnico-
Científico.
122
Para o primeiro embate entre Caio Prado Júnior e Lincoln Feliciano, a Comissão de
Constituição e Justiça da Assembleia deu parecer favorável às propostas de ambos. Juntar a
criação da Fundação Paulista de Pesquisas Científicas com a adaptação dos FUP´s
subvencionados por orçamento previsto, em Constituição, se tornou assunto para a Comissão
de Educação e Cultura mais os órgãos técnicos do Estado. Encaminhamentos à parte, constituir
a Fundação seguia sua disputa política que concorria ao entendimento da classe dos
pesquisadores sobre o que vinha se discutindo em relação à criação de uma entidade, em
especial, uma Fundação, que tratasse de seus interesses com o compromisso de subvencionar
trabalhos submetidos à apreciação. É nesse sentido que o cientista José Reis se manifestou no
jornal Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), edição de 6 de janeiro de 1948:
[...] a nosso ver a Fundação só deveria operar um serviço que seria o de
“documentação”, com finalidade de coordenar o trabalho bibliográfico, de manter
catálogo geral das bibliotecas científicas e de manter serviços de bibliofilmes, e
outras finalidades de maior interesse, assim como de publicar índices periódicos de
trabalhos nacionais sobre ramos diversos da ciência e, se possível, editar ou
patrocinar uma revista geral de informações científicas do tipo da Science que
pudesse interessar todos os cientistas e refletir o trabalho aos vários institutos, bem
como os interesses seus e de seus corpos técnicos. (MOTOYAMA, HAMBURGER,
NAGAMINI, 1999, p. 92)
123
FIGURA 2 – Artigo de José Reis à Folha da Manhã
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
Os jornais começaram a registrar uma diversidade de pontos de vista como mostram as
publicações reunidas e que contrapunham os objetivos de se pensar em uma gestão eficiente de
recursos à pesquisa científica, por um lado, e de tornar uma entidade um meio de divulgação
do conhecimento produzido aleatoriamente, por outro. Ainda na carta que escreve à Folha da
Manhã, Reis critica o grande número de integrantes do Conselho Geral proposto, justificando
que a concessão de auxílios deveria seguir regulamentos e regimentos, não pareceres. Ele
acreditava que a Fundação não deveria estar a serviço das universidades porque nem toda
pesquisa é realizada dentro de uma. Assim, sua defesa era pelo apoio aos pesquisadores. Como
proposta, sugeriu a elaboração de um Conselho “ativo” e não “decorativo”. Seria função desse
Conselho, supervisionar e orientar, de forma geral, a Fundação para os interesses da ciência
pela ciência, em todos seus níveis, por meio de Conselhos Divisionais que alcançariam as
especialidades do conhecimento.
124
A multiplicidade do Conselho seria útil porque permitiria assegurar uma desejável
homogeneidade dentro deles, e especialmente a capacidade de descobrir os nomes
dos especialistas a serem consultados a respeito de situações específicas. Os
indivíduos alheios à especialidade muitas vezes facilmente “engolem gato por lebre”
e, levados por sua boa vontade, cometem erros tremendos (MOTOYAMA,
HAMBURGUER, NAGAMINI, 1999, p. 94).
As discussões em torno do melhor caminho para uma Fundação que subvencionasse a
pesquisa científica, nas terras paulistas, mantinham acesas as esperanças de se chegar a algo de
concreto ainda que o custo disso fossem extensos debates. Assim, volta à cena o deputado
Lincoln Feliciano com um novo projeto substitutivo na Assembleia Legislativa. Seu argumento
de defesa passara a ser um texto de lei amplo no tocante às pesquisas de modo que não haja
pragmatismo no que ele tratou como elucubrações sem interesse prático, imediato ou remoto.
Para chegar a essa proposta, definir ciência como algo que, latu-sensu, envolve os aspectos da
cultura humana, sejam essas ciências exatas, biológicas ou sociais, o parlamentar falava de um
setor cultural puro em que a ciência seria uma aplicação objetiva, um aperfeiçoamento técnico
do saber que não se fez rotina. Voltara a insistir que uma nova fundação não seria diferente dos
Fundos Universitários de Pesquisa. Suas palavras estão registradas por Motoyama, Hamburger
e Nagamini (1999, p. 99):
Ou esta entidade é idônea, e, concordando em remodelar-se para mais amplas
funções, deve ser aproveitado o contingente de seu valor moral, experiência e
renome, deve ser o órgão escolhido pela assembleia para realizar os elevados fins de
amparar e incentivar a ciência e a cultura, ou a assembleia, desprezando-a, terá
opinado implicitamente pela sua inidoneidade, com flagrantíssima injustiça
Fervilhavam apontamentos e proposições sobre o que se esperava da Fundação
pleiteada, tão capaz de gerar intensos, acalorados e intermináveis debates. As discussões
estavam em torno do Projeto de Lei 337/48 que estabelecia a instituição. Uma entre tantas
manifestações a respeito do assunto foi do reitor da USP, Lineu Prestes, com o governador
Adhemar de Barros. Na correspondência, a autoridade máxima da universidade, colocam a USP
à disposição para os avanços científicos e também para a criação da Fundação. Tanto que o
assunto mereceu uma comissão que elaborasse um anteprojeto. Entre os argumentos, Prestes
destacara que, em 1947, os homens de laboratório e de cátedra desenvolveram “Ciência e
Pesquisa”, propondo a criação de uma fundação ad hoc. A ideia foi acolhida pelos legisladores
125
que colocaram o estado como responsável em subvencionar a pesquisa científica à base de 0,5%
de sua receita. A comissão citada era composta por 17 pessoas, entre elas, três técnicos, sendo
os demais integrantes, professores. Nessa divisão, se formaram subcomissões. Uma, incumbida
de auscultar pontos de vistas e opiniões sobre o assunto, e outra, para trabalhar com os
resultados disso e outros elementos para elaborar diretrizes que gerassem um texto definitivo
para um projeto de lei. Tal comissão trabalhou entre 29 de outubro de 1947 e 16 de fevereiro
de 1948. As consultas foram respondidas por 52% das entidades. Os resultados dessa ação
foram reunidos em um documento que recebeu o nome de inquérito.
Nas anotações da primeira subcomissão, estavam: ampliação do conceito de pesquisa
científica; exercício amplo e sem restrições à pesquisa por parte da Fundação, cabendo a esta,
conceder bolsas e auxílios; recursos suplementares além do previsto constitucionalmente.
Entretanto, essa verba deveria provir de contribuições oficiais e não oficiais, de rendas
patrimoniais (exceto de patentes e inventos); renda própria de serviços prestados pela Fundação
bem como o angariado por inventos e patentes. Sobre a organização da entidade, houve
apontamentos para um órgão deliberativo, outro administrativo e mais um técnico para
contemplar as áreas de Ciências Biológicas e Naturais; Ciências Matemáticas e Físicas;
Química; Medicina e Saúde; Engenharia e Tecnologia; Psicologia e Pedagogia; Geologia e
Física; História; Direito; Educação e Formação de Pessoal Científico; Ciências Agronômicas e
Veterinárias; Eletrotécnica. Também fora indicado um órgão controlador financeiro à
Fundação, que deveria ser fiscalizada pelo governo, embora sua atuação fosse independente do
poder. A maioria dos consultados não aprovou que a Fundação fosse coordenada por alguma
entidade já existente, como por exemplo, os Fundos Universitários de Pesquisa ou a USP.
Por sua vez, a segunda subcomissão trabalhou de 19 de abril de 1948 a 1º de maio do
mesmo ano, ou seja, menos de 15 dias, para apresentar um Projeto de Lei com estatuto e
justificação que traziam inovações essenciais à forma e aos fundos. Pela primeira vez, se fez
menção a uma “Fundação de Amparo à Pesquisa” cuja instalação dependeria da USP. O estado
manteria sua contribuição de 0,5% à entidade, que teria por finalidade principal, o amparo à
pesquisa científica. A Fundação viabilizaria auxílios, dinheiro, materiais, divulgação de
pesquisas, formação de pesquisadores, no Brasil e no Exterior, por meio de bolsas de estudo, e
ainda promoveria o intercâmbio científico. Sua estruturação se daria em torno dos Conselhos
Geral, Administrador, Consultor e Fiscal. Os dois primeiros se responsabilizariam pela
administração da Fundação ao passo que os consultores responderiam pela parte científica
enquanto o Conselho Fiscal assumiria o financeiro e o patrimonial. Pela proposta, isto caberia
126
aos consultores, nomenclatura institucional dada a cientistas ou técnicos de reconhecida
competência, cuja aprovação seria do Conselho Geral da Fundação. A esses aprovados, caberia
emitir pareceres sobre os pedidos feitos à agência de fomento; acompanhar o andamento das
pesquisas financiadas e a evolução da respectiva área do conhecimento; elaborar e revisar
diretrizes à concessão de amparo de pesquisas; atender qualquer tipo de consulta submetida
pelo Conselho Geral ou Administrador e sugerir ao setor administrativo quaisquer providências
no tocante a suas atribuições.
Sobre a concessão de auxílios, alguns trâmites propostos eram a especificação clara e
precisa do tema de pesquisa aliado a uma justificativa de interesse geral, além de outras
exigências como o local de realização do trabalho com a disponibilidade de materiais, prazos e
o auxílio pretendido. Por se tratar de verba originalmente pública, houve um adendo em relação
à idoneidade do postulante ao auxílio. Houve também a proposta de se estabelecer a
contrapartida do beneficiado em relação à prestação de contas. O artigo 46 previa, que assim
que a pesquisa fosse concluída, o beneficiado elaboraria e apresentaria à Fundação um relatório
final completo com detalhes sobre a aplicação da verba bem como os resultados colhidos com
sua pesquisa.
O documento final – chamado de inquérito – com os apontamentos de duas
subcomissões, formadas majoritariamente por professores da USP, foi encaminhado como
projeto de redação final pelo Governo do Estado à Assembleia Legislativa de São Paulo. Em
pauta, a instituição da lei que criaria a Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP). Gerou
repercussão esse documento. A CIESP (Confederação das Indústrias do Estado de São Paulo)
e a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) se posicionaram ao governador
elogiando o trabalho da comissão da USP, porém, fizeram ressalvas a algumas questões do
projeto assumido pelo Executivo e enviado ao Legislativo, entre elas, a de que os estatutos da
Fundação não seriam de aprovação dos deputados estaduais. O argumento apresentado era de
que se o Estado instituísse a Fundação, seria dele também a responsabilidade de redigir o
estatuto, que na opinião das duas entidades industriais, deveria ser constituído por lei. Essa
proposta de modificação constou de documentos assinados pelo então presidente da CIESP e
da FIESP, Morvan Dias de Figueiredo.
Em meio a tudo isso, os rumos políticos mudaram no Governo do Estado. Já eram 4
anos de proposição da criação da Fundação. O ano de 1951 chegou, e com ele, a administração
127
paulista passou às mãos de Lucas Nogueira Garcez33, o novo governador. Em seu discurso de
posse, a máxima autoridade do Estado de São Paulo elencou projetos importantes de pesquisa
que tramitavam pela Assembleia, entre eles, o da Fundação de Pesquisa Científica. A fala do
novo governador fora uma importante brecha à comunidade de cientistas.
Enfim, se abria um flanco para que os pesquisadores pleiteassem a Fundação. O
presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Francisco J. Maffei,
enviou um ofício ao governador defendendo a necessidade urgente de implantação da FAP que
havia se estagnado na Comissão Especial de Leis Complementares da Assembleia. A Federação
das Associações Rurais do Estado de São Paulo também se manifestou ao governador,
entretanto, não fez menção exclusiva à Fundação. Solicitou a urgência de colocar em prática o
artigo 123 da Constituição Paulista que tratava do amparo científico.
De novo em ascensão na opinião pública, o Legislativo resolveu retomar a discussão
sobre a Fundação. Lincoln Feliciano remontou a pauta ao projeto inicial do assunto que foi
propositura de Caio Prado Júnior. O deputado, que retomara a questão em plenária, disse que
Caio Prado Júnior propusera uma autarquia e não uma fundação. Por isso, fez um projeto
substitutivo, pensando a instituição de pesquisa como fundação, tendo por base os Fundos
Universitários de Pesquisa. Citou também o documento redigido pela Comissão da USP e
demonstrou irritação com tantos projetos e nenhuma solução. Apesar do tom irônico, o
parlamentar também não liquidou o assunto. Se é que podemos assim dizer, incentivou mais
discussões, apresentando novas sugestões que eram, na verdade, de substituições a termos e
finalidades da Fundação. E assim, a SBPC voltou à carga.
Em 1º de julho de 1954, o Prof. Dr. Paulo Sawaya assinou um anteprojeto elaborado
com objetivos constitucionais de forma que se chegasse à criação da Fundação. Foram
argumentos apregoados pela entidade: (a) um conselho geral não muito numeroso, ou seja,
inchado por representantes de instituições de pesquisa, além de membros da sociedade, em
especial, da Agricultura e da Indústria; (b) o Tribunal de Contas do Estado como responsável
pelo controle financeiro da Fundação; (c) a definição de um diretor geral; (d) as despesas da
Fundação não deveriam exceder 10% dos valores repassados pelo governo.
Embates, conversas, sugestões, palpites e indicações não faltavam para a conturbada
instituição definitiva de uma Fundação Paulista para pesquisas científicas. Assim, certo de que
33 Governou São Paulo de 31 de janeiro de 1951 a 31 de janeiro de 1955.
128
houve fluência de sugestões, o governador Lucas Garcez elaborou o Projeto de Lei nº 37, de
1955, que autorizava a criação da Fundação Paulista de Amparo à Pesquisa. Ele salientou a
importância da pesquisa científica que requeria uma Fundação. Apontou as iniciativas do
Executivo e do Legislativo para isso e se deu por satisfeito em presumir que esse projeto de lei
era resultado de opiniões gerais com respaldo constitucional. Havia, inclusive, uma orientação
importante: a de não formar um conselho geral muito numeroso, pois, se pretendia uma direção
executiva unificada que tratasse da concessão de auxílios cujas atividades fossem controladas.
Um dos pontos tratados, nesse projeto, foi o da constituição de um Conselho Técnico-
Científico, responsável pelos critérios de concessão de auxílio, a partir da formulação de
pareceres por parte de especialistas.
2.2 Sim, nós temos FAPESP!
A reta final da década de 1950 foi marcada pela concretização da Fundação amplamente
debatida nos cenários político e social. Modelos certamente não faltavam haja vista tantas
considerações e propostas ainda que estas, em nosso entendimento, se dessem a partir de
interesses particulares à luz difusa de um contexto mais amplo em nome da ciência em São
Paulo.
Na sede do Palácio do Governo, no bairro dos Campos Elíseos34, houve nova troca de
cadeira com a chegada do governador Carvalho Pinto cuja gestão marcaria, enfim, o início dos
trabalhos da FAPESP, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. A resolução
foi rápida, embora o governador tenha revisto uma questão de gênese. Em junho de 1959, ele
criou uma comissão para estudar o artigo 123 da Constituição, com a finalidade de viabilizar a
FAPESP em um prazo estipulado de 120 dias. Essa comissão finalizou o anteprojeto sinalizando
que a Fundação seria uma entidade de amparo, por isso, seu caráter de instituição financiadora;
todo trabalho aceito será científico e o financiamento se dá apenas a pesquisas e pesquisadores.
O governo ofereceria verba e organização administrativa e mais a ciência dos especialistas e a
coletividade participativa no Conselho Deliberativo. Essas condições, acrescentadas ao projeto
substitutivo, que seria o definitivo, tinham por objetivo organizar diretrizes gerais doutrinárias
de estruturação e funcionamento. A ele, foram propostas quatro emendas e a elaboração de um
34 Em 1955, o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, atual sede do governo de São Paulo, já estava em construção,
mas problemas financeiros atrasaram as obras que só foram entregues em abril de 1964. Disponível em:
<www.saopaulo.sp.gov.br>. Acesso: 16 maio 2015.
129
Regimento Interno da Fundação. O Projeto de Lei 1.953/59 autorizava o Poder Executivo a
instituir a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
O projeto de lei integral foi enviado à Assembleia Legislativa onde houve reações. Em
8 de dezembro de 1959, o deputado Cid Franco discursou reclamando que o governador
mandou o projeto à apreciação sem reforçar que as discussões pela FAPESP haviam sido objeto
de debate na Assembleia. Apesar da observação, o parlamentar não criou empecilho e
conclamou que o plenário aprovasse a sua criação. O projeto do Executivo não recebeu emendas
nem substitutivos. A Comissão de Constituição e Justiça avaliou o projeto ressaltando que o
Legislativo havia se ocupado anteriormente do assunto. Em março do ano seguinte, Carvalho
Pinto comunicou à Assembleia que a FAPESP cumpria o artigo 123 da Constituição do Estado
de São Paulo. E, finalmente, em 18 de outubro de 1960, foi sancionada a lei que instituía a
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
130
FIGURA 3 – Governador Carvalho Pinto autoriza o funcionamento da FAPESP
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
Em seu livro, Motoyama, Hamburger e Nagamini (1999, p. 187) extraem da lei
sancionada: “Tem a fundação por finalidade o amparo à pesquisa científica no Estado, cabendo-
lhe, entre outras atribuições, custear, total ou parcialmente, projetos de pesquisa individuais ou
institucionais”. Após a sanção da lei, houve o decreto nº 40.132, de 23 de maio de 1962, que
aprovou os estatutos da Fundação. E o estabelecimento, em 31 de maio de 1962, do Regimento
Interno da entidade pelo Conselho Superior.
Os primeiros anos de funcionamento envolveram aqueles que participaram da
elaboração e execução dos estatutos bem como os que formariam o Conselho Superior ou
ocupariam funções executivas. A experiência e a forma de conduzir dos primeiros diretores
influenciaram na elaboração de normas. Em 1962, Warwick Ken aceitou bolsa da Fundação
Rockefeller para conhecer diferentes fundações de amparo à pesquisa nos Estados Unidos,
Canadá e Europa. Na bagagem de volta, trouxe contribuições como análise dos projetos,
131
realizada por pelo menos dois assessores comprometidos tanto com a área de pesquisa quanto
sua relevância para as questões do país e a capacidade para formação de pessoal.
FIGURA 4 – Warwick Ken
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
Nos seis primeiros meses de atividade, 507 processos de projetos foram examinados.
Inicialmente, a FAPESP funcionava em espaços dentro da USP. Os pedidos de auxílio eram
julgados considerando-se a excelência científica do projeto em relação à qualidade. Os
processos negados eram não somente devido à deficiência do projeto como também o custo
excessivo ou inadequação à política científica. Destacam Chassot e Hamburger (1999, p. 114):
A FAPESP, ao privilegiar a qualidade do projeto proposto, abriu espaço para aqueles
que não ocupavam o topo da carreira acadêmica desenvolverem seus estudos, já que
era considerada a capacidade do pesquisador para realizar o que se propunha. O
auxílio concedido ao pesquisador e não à instituição evitava que as pesquisas fossem
limitadas pelo poder da cátedra.
132
FIGURA 5 – A primeira sede da FAPESP na USP
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
Com apenas um semestre de trabalho, a FAPESP elaborou um cadastro de cientistas do
estado mostrando as unidades de pesquisa – pessoal e instalações – e o estudo das áreas
prioritárias de atuação. Nesse seu início, a Fundação esteve atenta ao setor de Ciências
Tecnológicas e Industriais, entretanto, eram poucos os projetos recebidos. Por inspiração da
Noruega, foram criadas cooperativas de pesquisa, mas, as empresas não aderiram muito à ideia
porque a maioria não mantinha cientistas em seus quadros.
Uma ata de 27 de maio de 1964 relacionou quem seriam os assessores científicos da
FAPESP. Destacamos, aqui, apenas aquele de nossa área – Ciências Humanas e Sociais:
Octávio Ianni35. O apoio a esse campo do conhecimento não era uma questão bem definida,
embora tenha sido bastante expressivo o auxílio a simpósios, publicações e a vinda de
professores estrangeiros ao Brasil.
Em face da grande demanda, passou a ser atribuição do diretor científico a aprovação
de pedidos. As atribuições às diretorias ocorreram quando a FAPESP se mudou para um prédio,
na Avenida Paulista, 352, 14º andar, em São Paulo. Com a mudança, houve um avanço
35 Nascido em Itu (SP), em 1926, sua vida universitária teve início em 1948 na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras da USP. Em 1956, deu início à carreira docente lecionando na cadeira titular de Sociologia, outrora ocupada
por Florestan Fernandes. Afastado pelo AI-5 da USP, foi em 1977, para a PUC-SP, e em 1986 para a Unicamp.
Morreu em 2004.
133
organizacional, pois, fora implantado um sistema racional de trabalho, que permitia o acesso às
informações datilografadas com papel carbono, e distribuídas pelos arquivos, de acordo com
assunto, pesquisador, instituição, bolsista, orientador e número de processo. Assim se pode
dizer que surgia o embrião da Biblioteca Virtual, a fonte documental desta pesquisa.
FIGURA 6 – Primeiro prédio próprio da FAPESP na Avenida Paulista, 352, 14º andar – São Paulo
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
A FAPESP atravessou o regime militar (1964-1985). Por causa do AI-5, em 1968, houve
a aposentadoria compulsória de professores nas universidades, proibição dos cassados de
trabalharem em instituições financiadas por verbas públicas e perseguição por adesão a
manifestações contrárias ao regime. Até o diretor científico da FAPESP, Alberto Carvalho da
Silva, professor da Faculdade de Medicina da USP, foi impedido de exercer qualquer função
administrativa, direta ou indiretamente, na própria Fundação que ajudou a criar. Todas essas
arbitrariedades iam ao encontro da FAPESP, que vinha apoiando a formação do pesquisador e
estabelecendo medidas de manutenção dos cientistas no Brasil.
Mesmo entre os mandos e desmandos da Ditadura, a FAPESP seguiu seu trabalho com
resultados que lhe rendiam a presença marcante de pesquisas e pesquisadores, apoiados pela
Fundação, na XVI Reunião da SBPC. Uma comprovação da importância do amparo à
134
investigação paulista no incentivo a trabalhos individuais, como instrumento de aglutinação de
grupos e na mudança de perspectiva quanto ao produto e seu uso social.
No fim dos anos 1960 – mais precisamente em 1969 – a FAPESP passou a conceder
bolsas de estudo. Evidentemente, a situação política do país, nas mãos do Regime Militar,
também tinha suas influências na ciência. Chassot e Hamburger (1999, p. 127) retratam esse
momento:
Vivia-se, como em toda a América Latina, a evasão de cientistas para países
desenvolvidos em busca de melhores condições de trabalho e melhor remuneração.
Até 1964, as questões de valorização profissional eram as que pesavam na decisão
de sair do país. A partir do golpe militar de abril, a evasão que se dá por motivos
políticos afasta importantes lideranças científicas com efeitos a longo prazo,
principalmente na implantação da pesquisa e no ensino da pós-graduação.
Em função disso, a SBPC e outras entidades pediram aos governos, reitores e diretores
de institutos para que facilitassem o retorno dos pesquisadores. A Universidade de Brasília,
criada em 1961, para o desenvolvimento da ciência, sofreu com o golpe de 1964. No ano de
1967, foi proposta a Operação Retorno, que valorizava o cientista com melhores condições
financeiras e regalias na alfândega. A Ditadura, assim como em todos os setores, infiltrou
pessoas nas universidades e o governo militar autoritário se fortaleceu após a diminuição da
recessão e a retomada do crescimento econômico. Por isso, intensificaram-se as medidas de
política científica, que valorizavam a tecnologia para o desenvolvimento do país, e assim, a
ciência foi vinculada a ela formando a sigla C&T com um ministro nomeado para cuidar dessa
área. Com vistas à expansão industrial brasileira, um dos pontos mais trabalhados nas
universidades conservadoras, foi em atenção à formação de mão de obra qualificada para as
necessidades do Brasil. Nesse cenário, surgia a pós-graduação, regulamentada para expandir a
formação de quadros com nível elevado, pesquisadores e pessoal qualificado para a pesquisa
científica.
Diante de tudo isso, a FAPESP defendeu o pesquisador e o mérito da pesquisa, de forma
irrestrita, com o lema de privilegiar a investigação independentemente de sua origem. Seria a
forma encontrada de não atender aos interesses da Ditadura e assim manter o compromisso de
formar pesquisadores capacitados que, posteriormente, se transformassem em orientadores. A
Fundação investiu nos melhores grupos de pesquisa para qualificação, programa e formação;
ampliou o quadro de orientadores com treinamento, no exterior, e viabilizou a vinda de
135
professores estrangeiros; ofereceu bolsas de aperfeiçoamento e doutoramento para plano de
pesquisa e orientador; desenvolveu atividades interdisciplinares. Os direitos dos cientistas ainda
seriam restringidos pela publicação do AI-5 em 13 de dezembro de 1968. O mais temido decreto
do Regime Militar proibiu muitos cientistas de trabalharem no Brasil, o que fez com que eles
fossem contribuir com suas pesquisas e conhecimentos no exterior, dando origem à expressão
“evasão ou fuga de cérebros”.
2.3 Um Novo Ciclo (1969-1983)
As inquietações em torno da FAPESP eram muito mais sobre suas atividades, digamos
políticas, no concernente à estruturação, do que propriamente ao que correspondia em termos
de financiamentos de projetos e pesquisas. Mesmo mantendo sua autonomia de funcionamento,
a entidade sofreu questionamentos constantemente. Um deles foi de Miguel Reale36 sobre a
criação da FAPESP. Ele se baseou no artigo 162, parágrafo 2º da Constituição de 1969, que
impedia a vinculação de arrecadação de qualquer tributo a órgão, fundo ou despesa. Ele
reforçou que a Constituição Federal, hierarquicamente, é superior à Constituição Estadual. Foi
buscar teses em juristas para explicar que a Constituição Paulista deveria estar em consonância
com a brasileira.
36 Miguel Reale (1910-2006) foi filósofo, jurista, educador e poeta. Professor catedrático da Faculdade de Direito
da Universidade de São Paulo onde se formou, foi um intelectual de destaque entre humanistas e filósofos. De
perfil reacionário, revolucionou as ciências jurídicas com a teoria tridimensional do Direito envolvendo três
elementos: fato, valor e norma. Coordenou e elaborou o Código Civil Brasileiro de 2002.
136
FIGURA 7 – Miguel Reale
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
No que correspondia à pesquisa, a FAPESP foi fundamental no apoio a estudantes que
tiveram significativa expansão com o avanço da Pós-Graduação, no Brasil, no fim dos anos
1960. De 1969 a 1970, por exemplo, as matrículas cresceram 127%. Em 1969, eram 261 pós-
graduandos. Em 1981, eles já eram quase seis mil. Nesse mesmo período, o número de
programas de pós-graduação saltou de 125 para 1021. Provas de que o cenário político
apreensivo não atrapalhou o andamento da Fundação como ressaltam Chassot e Hamburger
(1999, p. 141):
A FAPESP, apesar de ter sua imagem associada a universitários e intelectuais,
sobreviveu às intimidações recebidas, a acusações de que estava apoiando
“comunistas”, a pressões para cortar bolsas ou fornecer endereço de bolsistas “de
esquerda”. Os diretores se mantiveram fiéis ao princípio que norteou a Fundação, de
apoiar o pesquisador e seu projeto, independente de posição política, religião etc.
Mesmo com “adversidades ideológicas”, que o Regime Militar tentara impor, o
crescimento da demanda da FAPESP sempre foi excepcional. Chegaram os anos 1970 e a
entidade não tinha verba para atender tantos pedidos. Por isso, alguns auxílios foram
postergados. Um dos problemas para que não houvesse subsídio era o repasse irregular de
verbas do Estado. Em 1973, a diretoria científica desenvolveu um Sistema de Recuperação de
Informações para implantar um sistema de arquivos, e também, um controle sobre os auxílios
à pesquisa e bolsas atendidas ou em estudo.
137
Mais uma tentativa de “intervenção”, na FAPESP, ocorreu nessa década, quando em
seu princípio, a UNICAMP quis fazer parte do Conselho da Fundação. A intenção contou com
o apoio do secretário de Educação da época, Paulo E. Tolle. Entretanto, a Lei Orgânica da
FAPESP determina que modificações em seus estatutos somente poderiam ser feitas por
iniciativa do Conselho Superior, condição que não ocorreu. Começava uma fase por mais
representatividade no Conselho da FAPESP, em especial, pelo cargo de diretor científico. À
medida que as solicitações de apoio cresciam, era mais evidente esse desejo. Assim, a FAPESP
deu uma cartada para solucionar o problema: criou a assessoria em Grandes Áreas. O assessor,
supostamente, é um pesquisador que sabe dos anseios e dificuldades enfrentados pela
comunidade científica.
A Lei Complementar nº 125, de 18 de novembro de 1975, criou a carreira de pesquisador
científico. Essa medida ajudou no combate à evasão de pesquisadores, em especial, dos
Institutos de Pesquisa. Afinal, a FAPESP tinha plena consciência do seu papel e das suas
modalidades de amparo à pesquisa com os auxílios e bolsas.
A FAPESP seguia a vigência política do país e passou a tomar iniciativas baseando-se
em análises de seus assessores e a estabelecer entendimentos com grupos de pesquisadores
sobre os projetos em áreas consideradas prioritárias. O professor Nuno Fidelino de Figueiredo
recebeu a incumbência de pensar em projetos de pesquisa em tecnologia, pois, ficou
encarregado de contribuir à política industrial paulista a um conjunto de projetos maiores da
Fundação, que destinaria para isso, 30% de verbas. A primeira grande pesquisa foi na
Bioquímica com o Bioq-FAPESP. Outras áreas contempladas foram: Meteorologia (com o
desenvolvimento do radar meteorológico, o RADASP I); Tipologia de Represas do Estado de
São Paulo; Programa Multidisciplinar de Nutrição; Laboratório de Biotecnologia Industrial e o
Laboratório de Microeletrônica da USP.
Com grandes projetos, e também com o aumento da demanda por bolsas e auxílios, a
FAPESP se obrigou a usar recursos próprios, uma vez que 0,5% da receita do Estado tornara-
se insuficiente. Um projeto do deputado Welson Gasparini, em 1971, apresentou ao Legislativo
Paulista, uma Emenda à Constituição, que sugeria elevar a 1% o repasse anual feito pelo
governo. A proposta não foi aprovada. O Conselho Superior da FAPESP, mediante isso, decidiu
tratar do assunto diretamente com o secretário da Fazenda e não houve avanço. Em 1975, o
então governador Paulo Egídio Martins manifestou o desejo de aumentar a dotação para 1%.
Em meio aos anseios por mais verba, a FAPESP se mudou da Avenida Paulista para a Rua Pio
XI, na Lapa. O novo prédio – que abriga a Fundação até hoje – foi construído com recursos do
138
patrimônio da entidade e não com verba destinada à pesquisa, que sofreria maior impacto nos
anos 1980, quando 60% eram para bolsas de estudo e 40% para outros auxílios.
FIGURA 8 – Sede atual da FAPESP na Rua Pio XI, Lapa, São Paulo
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
Vieram os anos 1980 e houve empenho para que o repasse à FAPESP fosse maior. A
Proposta de Emenda Constitucional (PEC 32) propunha acrescentar ao artigo 123 da
Constituição, em parágrafo único, que a dotação fixada no caput, calculada sobre a receita
prevista para o exercício, fosse transferida em duodécimos, na forma do disposto no artigo 84
da Constituição. A emenda foi criada pela Assembleia porque o Governo do Estado não estava
repassando valores com correção monetária. A autoria era do deputado Fernando Leça. O
parecer da Comissão de Constituição e Justiça sobre a emenda foi favorável. Houve também a
emenda 39, de 16 de dezembro de 1983, que mantinha a dotação mínima de 0,5% com os
valores sendo transferidos, em duodécimos, a partir de 1984. No ano seguinte, o cálculo seria
feito com base na arrecadação prevista para aquele ano, com o objetivo de eliminar a defasagem.
As emendas foram publicadas em dezembro de 1983.
2.4 – Constituinte, Globalização e Modernidade
A época que trataremos a conjuntura da FAPESP, a partir de agora, coincide com uma
série de conquistas relevantes na História do Brasil, especialmente, o fim da Ditadura, as Diretas
139
Já e sua nova Constituição, promulgada em 1988, e que se mantém em vigor há 30 anos. Os
novos tempos representariam mudanças na dotação da FAPESP, que já vinha pleiteando mais
recursos para que seu serviço à pesquisa e fruição do conhecimento não deixasse de ser
realizados.
Em 1988, o deputado Florestan Fernandes apresentou uma emenda aditiva ao Projeto
de Constituição Federal da Comissão de Sistematização cujo artigo previa que é facultado aos
estados vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino
e à pesquisa científica e tecnológica. O desenvolvimento industrial do Estado de São Paulo e a
política tributária fizeram com que o diretor-presidente da FAPESP, Alberto Carvalho da Silva,
sugerisse a ampliação dos recursos do Estado à entidade de 0,5% para 1%. O pedido foi mais
pelo contexto evolutivo do que propriamente pela administração da Fundação que, segundo ele,
encontrava-se tranquila. Começaram a despontar várias emendas sobre a ampliação do repasse
de verbas para a FAPESP.
140
FIGURA 9 – Florestan Fernandes
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
O deputado Nelson Nicolau não concordava com 1% alegando que seria um retrocesso
adotar essa medida, pois, na verdade, ela representaria uma alteração na estrutura da
constituição vigente. O deputado Fernando Leça dispunha sobre a inexistência da cláusula de
“privada administração”, que seguindo o legislador, levaria a Fundação à perda de sua
autonomia financeira e administrativa. Já a Comissão de Ordem Econômica e Social da
Assembleia foi à frente e pediu repasse de 2% à FAPESP sendo que os recursos seriam
destinados a programas de desenvolvimento científico e de capacitação tecnológica em áreas
definidas pelo Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia. O avanço do setor de Informática,
no Brasil, particularmente em São Paulo, foi o escopo para a solicitação da elevação desse
repasse. Para isso, se estabeleceriam parcerias com entidades do setor correspondente. Essas
emendas integravam um anteprojeto da Constituição Estadual. Uma das frentes para os
principais argumentos era o capítulo sobre Ciência e Tecnologia no qual ficava expressa a
proposta de elevar para 1% o repasse.
141
Outras emendas foram propostas, como a do deputado Arnaldo Jardim, que mantinha o
repasse em 1% desde que a FAPESP ampliasse a representação no Conselho Científico e
deixasse de forma clara suas atribuições; outra, do deputado Nelson Nicolau, que queria garantir
a participação de representantes das áreas tecnológicas dos Institutos de Pesquisa da Secretaria
de Estado e das Universidades bem como os setores tanto empresarial quanto da classe
trabalhadora; enquanto isso, a emenda do deputado José Dirceu permitiria a autonomia
administrativa e financeira da FAPESP, dotada de 1% da receita orçamentária. A única sugestão
além era que apenas a comunidade científica participasse do Conselho Diretor; e mais uma
emenda destacada foi do deputado Aloysio Nunes Ferreira sugerindo que o 1% a ser repassado
viesse da receita líquida de impostos arrecadados pelo Governo.
A emenda que chamou mais a atenção da FAPESP e gerou uma reação de seu diretor-
presidente, Alberto Carvalho da Silva, foi a da Comissão de Ordem Econômica e Social, que
previa o repasse de 2% com valorização à questão tecnológica. A maior autoridade da Fundação
enviou, em 16 de junho de 1989, uma correspondência aos pesquisadores salientando que tal
emenda traria modificações à FAPESP, entre elas: (1) a perda da administração privada; (2) a
perda de direitos da transferência da dotação em duodécimos; (3) a perda da autonomia da
destinação dos recursos que ficam vinculados a programas de desenvolvimento científico e
capacitação tecnológica definida por instância superior à Fundação.
Segundo Nagamini (1999), a conquista de 0,5% para 1% coroava o esforço durante
quase três décadas de fomento à pesquisa. Ao longo de seu funcionamento, a FAPESP construiu
experiência sólida na análise e acompanhamento de Bolsas e Auxílios sem contar outras
iniciativas e os Projetos Especiais. Com mais dotação, foram possíveis novos programas e
projetos temáticos a partir da década de 1990. Tais empreendimentos foram resultantes também
da colaboração que 20 cientistas deram ao diretor-científico da FAPESP na triagem, escolha e
aprovação de programas a serem desenvolvidos. Todos os coordenadores de áreas elaboraram
suas políticas a partir das necessidades e contribuições dos pesquisadores.
Algumas iniciativas científicas para pleitear o aumento do orçamento da FAPESP foram
o Simpósio “Financiamento da Pesquisa, Universidade e a Crise Brasileira”, que contou com a
participação de cientistas e presidentes de agências de fomento; e o evento “Crise, Universidade
e Pesquisa”, promoção da SBPC que apoiava o aumento no repasse da FAPESP. Enfim, a
emenda constitucional que aumentou a dotação da FAPESP foi discutida por 1 ano.
142
Um dos problemas da dotação foi que o Governo calculava 0,5% sobre o ICM, sendo
que o artigo 130 da Constituição explicitava 0,5% sobre a receita dos impostos. Em 1988, o
Conselho Superior e a Diretoria Científica nomearam uma comissão especial para critérios de
avaliação e julgamento dos pedidos. A partir dessa iniciativa, foram 164 propostas e 72
aprovações, três delas na área de Ciências Humanas e Sociais. O recurso destinado para a
viabilização desses projetos saiu de uma parte do patrimônio líquido.
Com a Constituição de 1988, a FAPESP se manteve em alerta para que a dotação não
se perdesse da arrecadação de impostos, pois, sabia-se que tal proposta se daria apenas no
campo da Educação. Tal questão foi abordada em duas emendas: a do deputado Paulo Zarzur
(PMDB) que aconselhava a manutenção de 0,5% dos impostos arrecadados à FAPESP; e a do
deputado Florestan Fernandes (PT) de que seria facultado aos Estados vincular parcela de sua
receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e
tecnológica37. A primeira emenda foi vetada. Assim, a esperança ficou para a proposta do
deputado petista. As sociedades científicas solicitaram o apoio dos deputados constituintes. Na
sessão de 23 de junho de 1988, 319 deputados votaram a favor, seis foram contra e três se
abstiveram da proposta de Florestan Fernandes.
Há de se destacar a luta do diretor-presidente da FAPESP, Alberto Carvalho da Silva, a
essa emenda. A proposta era benéfica apenas à Fundação Paulista. Entendendo que seria uma
medida de salvaguarda de políticas, a SBPC entrou na jogada para lutar pelas Fundações do Rio
de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Também houve apoio aos estados que não
contavam com fundações próprias para que eles consolidassem as entidades de fomentos em
suas respectivas constituições estaduais. A emenda de Florestan Fernandes foi incluída no
capítulo sobre Ciência e Tecnologia da Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, conforme
segue:
37 Já existiam Fundações de Amparo à Pesquisa em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Havia um
empenho para a criação de Fundações em Pernambuco, Ceará, Paraná e Santa Catarina.
143
Artigo 218 – O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a
pesquisa e a capacitação tecnológicas.
§ 1º - A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo
em vista o bem público e o progresso das ciências.
§ 2º - A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos
problemas brasileiros e para o desenvolvimento para a solução dos problemas
brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.
§ 3º - O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas áreas de ciência,
pesquisa e tecnologia, e concederá aos que dela se ocupem meios e condições
especiais de trabalho.
§ 4º - A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam em pesquisa, criação de
tecnologia e adequada ao País, formação e aperfeiçoamento de seus recursos
humanos e que pratiquem sistemas de remuneração que assegurem ao empregado,
desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos resultantes da
produtividade de seu trabalho.
§ 5º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua receita
orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e a pesquisa científica e
tecnológica. (ARTIGO 218 – CONSTITUIÇÃO FEDERAL – 05/10/88)
De 1962 até agosto de 1988, foram 25.255 bolsas no Brasil e no exterior, além de 14.882
projetos apoiados pela FAPESP. Tais números deram respaldo para a elevação da dotação
orçamentária. Essa conquista também se deve às entidades que enviaram sugestões e figuraram
no relatório final do deputado José Dirceu.
A UNICAMP sugeriu 50% a projetos institucionais e a reforma dos estatutos da
Fundação, em especial, nos trechos que conferem as suas atribuições e a composição do
Conselho Superior. Já a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo
pleiteou mais verbas para a FAPESP com um fundo básico de pesquisa para fomentar a
investigação nos institutos de pesquisa sob administração direta do Estado. Por sua vez, a
Comissão Permanente do Regime de Tempo Integral propôs a manutenção da autonomia da
pesquisa científica e tecnológica com a criação de Fundos de Pesquisa. A Associação Nacional
de Pós-Graduação em Filosofia apoiava o aumento de recursos com a necessidade de que eles
fossem repassados em valores reais ou transferidos, assim que arrecadados. Ainda propunham
eleição direta do Conselho Superior, por lei complementar, e um colegiado do Executivo e do
Legislativo que nomearia os cargos. A SBPC buscava maiores recursos à FAPESP sem mudar
imediatamente a estrutura e o modo de funcionamento pelo menos até a promulgação da
Constituição. O aumento percentual do repasse à FAPESP também contava com o apoio da
Associação dos Docentes da UNESP e da UNICAMP.
144
Se associações e entidades se mobilizavam, o deputado Maurício Nagib Najar criava
dificuldades entre os legisladores. Ele era taxativo em dizer que, ou todas as Fundações se
beneficiariam ou todas seriam retiradas da Constituição. No argumento dele, era mais fácil
excluir uma, no caso a FAPESP, do que incluir 15 ou 20. Apesar do empecilho, a redação final
ficou assim:
Artigo 271 – O Estado destinará o mínimo de um por cento de sua receita tributária
à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, como renda de sua
privativa administração, para aplicação em desenvolvimento científico e
tecnológico.
Parágrafo único – A dotação fixada no ‘caput’, excluída a parcela de transferência
aos municípios, de acordo com o artigo 158, IV, da Constituição Federal, será
transferida mensalmente, devendo o percentual ser calculado sobre a arrecadação do
mês de referência a ser pago no mês subsequente.
O texto constitucional prevê 1% dos impostos, no entanto, o repasse real é de 0,75%.
Uma nova lei orgânica que regesse a FAPESP passara a ser pensada. A intenção era reunir
representantes de várias áreas do conhecimento para induzir o desenvolvimento científico por
meio de áreas e temas prioritários à pesquisa.
2.5 – Ampliando os Horizontes do Conhecimento
Os anos de 1990 representaram mais avanço à FAPESP, que desenvolveu novas frentes
de trabalho à pesquisa. Destaque para os Projetos Temáticos que nasceram com o objetivo de
agregar diversas equipes de pesquisa para um trabalho integrado em questões relevantes do
ponto de vista científico. Surgiu também o Programa de Livros Científicos (FAP-Livros), uma
continuidade de um projeto anterior cujos livros foram divididos entre universidades estaduais,
institutos das Secretarias de Estado e empresas estatais e privadas. Mesmo com novidades, a
FAPESP ainda convivia com atrasos no repasse de verbas por parte do Governo do Estado de
São Paulo. Uma comissão foi criada para discutir o assunto com os secretários de Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Fazenda.
Também surgiram, na mesma década, o Programa de Especialistas Estrangeiros com
pesquisadores importados da Rússia, Alemanha, Espanha, Bulgária, África do Sul e mais outros
145
oito países. O Projeto de Inovação Científico-Tecnológica foi desenvolvido com a finalidade
de criar e aperfeiçoar produtos.
Entre 1990 e 1996, a FAPESP viabilizou 7.475 auxílios à pesquisa, 5.250 bolsas de
Mestrado e 2.920 bolsas de Doutorado. Por conta da grande demanda, a Fundação decidiu, além
das coordenações de Área, estabelecer as seguintes áreas adjuntas: Ciências Biológicas,
Ciências Exatas e Ciências Humanas e Sociais. Os coordenadores adjuntos analisam todas as
frentes de seu campo para buscar critérios homogêneos de análise. A área de Ciências Humanas
e Sociais era de responsabilidade do Professor Leôncio Martins Rodrigues. O conselheiro
Flávio Fava de Moraes acreditava que os adjuntos trariam a homogeneidade pretendida e que
dariam ao diretor científico mais segurança nas decisões de aprovação ou denegação das
solicitações para que eles não ficassem reféns dos coordenadores de área que não emitem
pareceres. Ao tomarem conhecimento da natureza de uma solicitação, designam assessores
escolhidos, entre os especialistas na respectiva área do conhecimento, para receberem o
processo a ser analisado. A dinâmica desse procedimento de trabalho é esclarecida por José
Fernandes Perez, em entrevista à FAPESP, em 1997, segundo destaca Motoyama (1999, p.
208):
Esse primeiro passo é muito importante, porque tem influência sobre todo o
processamento posterior da solicitação. Além de ser um especialista na área, o
assessor deve ser escolhido de forma a evitar possíveis conflitos de interesse, sendo
cuidadosamente evitada a escolha de pesquisadores da mesma instituição do
solicitante, que tenham sido colaboradores do solicitante em passado recente,
evitando-se também qualquer situação que possa ser considerada impeditiva para um
parecer isento e objetivo. Aliás, deve ser observado que os novos formulários de
encaminhamento de processo ao assessor incluem um questionamento sobre a
possível existência de conflitos de interesse. Ao receber o parecer da assessoria, cabe
à coordenação fazer uma leitura crítica do parecer emitido pelo assessor. E essa
leitura de um parecer é difícil, pois este é composto por várias questões e no final há
a necessidade de transformar esse conjunto de respostas numa recomendação, seja
para a concessão, para a denegação ou para prosseguir o diálogo entre assessoria e o
solicitante.
Os pareceres precisam de projeto de pesquisa, com definição e objetivos para o avanço
do conhecimento na área em que se insere. Também são fundamentais a metodologia, além da
qualificação dos pesquisadores envolvidos e seus orçamentos. Nas solicitações de bolsa de Pós-
Graduação, são priorizados os candidatos recém-formados e com excelente histórico escolar.
146
Tais exigências também fazem parte das concessões de bolsas de Mestrado e Doutorado
no Brasil, que a partir de 1996, passaram a contar com uma Reserva Técnica de 30% do total
anual do benefício, voltados para atividades complementares de formação do estudante,
impressão de dissertação ou tese e desenvolvimento de parte do projeto em outras instituições
brasileiras ou do exterior. Nesse mesmo ano, a FAPESP aprovou o Programa de Capacitação
de Recursos Humanos para a pesquisa com bolsas e financiamento de cursos.
2.5.1 A FAPESP hoje
Falar em números, principalmente, em investimentos da FAPESP na pesquisa científica,
é complicado, não por sua excelência na gestão e acompanhamento de recursos, mas sim, pelas
informações que vão merecer atualização anual. Todo o trabalho coincide com a nossa
perspectiva em relação ao fomento como via de mão dupla, ou seja, de um lado uma entidade
com potencial de investimento, e de outro, um pesquisador que viabilize a produção de
conhecimento não apenas para si, mas, para quem realmente interessam seus problemas de
pesquisa: a sociedade. A contribuição da Fundação não é apenas pecuniária. Ela se robustece
por uma sólida e exigente sistemática de análise.
Cada Grande Área do Conhecimento conta com especialistas responsáveis pelo mérito
das solicitações. Hoje, essas Áreas são: Ciências da Saúde, Biologia, Ciências Agrárias e
Veterinárias, Engenharia, Física, Astronomia, Química, Geociências, Matemática e
Computação, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Humanas e Sociais e Inovação Tecnológica.
Seus membros se reúnem uma vez por semana. Eles têm a confiança do diretor científico e são
escolhidos mediante consulta às lideranças acadêmicas de cada Área.
Ao ingressar na FAPESP, uma solicitação é encaminhada à respectiva Área e recebe
uma assessoria ad hoc38. O mais importante, nesse processo inicial, é o tema do projeto de
pesquisa e não o vínculo institucional do pretendente. Se o projeto for multidisciplinar, várias
coordenações podem designar assessores ad hoc. Há uma lista de assessores que recebem o
projeto de acordo com sua competência específica em relação ao tema do projeto. A FAPESP
procura evitar escolhas que geram qualquer tipo de conflito de interesse na análise do projeto,
ou seja, um assessor jamais vai analisar projeto de um pesquisador que seja seu colega de
38 No quarto capítulo, vamos mostrar como é esse fluxo na Área de Ciências Humanas e Sociais II conforme
descrição de sua coordenadora, Profa. Dra. Esther Império Hamburger.
147
instituição. Os assessores ad hoc emitem os pareceres e devolvem o projeto à coordenação de
Área. A partir disso, a diretoria científica recebe uma recomendação de decisão.
Em caso de negativa, o postulante pode recorrer da decisão, que pode ser submetida à
nova reconsideração. Por isso, os assessores ad hoc são mantidos em sigilo. Eles também não
informam seus pareceres. Apenas as instâncias competentes da FAPESP têm acesso. Um
vínculo de confiança que, segundo a Fundação, não pode ser rompido sob nenhum pretexto. As
situações que configuram conflito de interesse entre o assessor e o solicitante de apoio são: (a)
participação atual ou anterior no projeto; (b) colaboração regular em atividades de pesquisa ou
publicações com um dos pesquisadores solicitantes nos últimos anos; (c) relação
orientador/orientado com o solicitante; (d) interesse comercial do assessor na pesquisa
proposta; (e) relação familiar do assessor com um dos proponentes; (f) qualquer relação anterior
com o solicitante. Em qualquer uma dessas condições, o assessor deve efetuar imediatamente a
devolução do processo.
O envio de propostas à FAPESP pode ser realizado através do Sistema SAGE, meio
essencialmente eletrônico, e pelo Agilis, meio impresso. No SAGE, o parecer do assessor ad
hoc também é emitido pelo sistema. Ainda esclarecendo o SAGE: trata-se de um sistema
informatizado da FAPESP, que permite ao pesquisador, o envio online de propostas de
financiamento a projetos de pesquisa científica e tecnológica e a administração de projetos
aprovados em suas linhas de apoio. Ele tem como objetivos facilitar o fortalecimento de
informações por parte dos pesquisadores, agilizar procedimentos e possibilitar maior
visibilidade das ações da Fundação.
No Sistema Agilis, é possível elaborar e submeter diversos tipos de solicitações de
alteração para processos tramitando em papel. Entre os pedidos, podem estar a Alteração de
Vigência, a Alteração de Prazo de Relatório Científico, Alteração de Prazo de Prestação de
Contas e Transposição de Verba. Podem se cadastrar, no Agilis, pesquisadores que fazem
solicitações em papel e cujos dados constam no Cadastro de Pessoa Física da FAPESP e pessoas
com CPF e que não constam no Cadastro de Pessoa Física da entidade.
Encaminhando-nos ao final deste capítulo, trazemos as ações da FAPESP a partir dos
anos 2000. A evolução do trabalho da entidade pode ser aferida pelo pronunciamento do
presidente Celso Lafer em reunião com a Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação da
Assembleia Legislativa de São Paulo, palco onde ao longo da história, houve acalorados debates
sobre a instituição da FAPESP.
148
FIGURA 10 – Celso Lafer
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
A ida do presidente da Fundação, ao Legislativo Paulista, é prevista constitu-
cionalmente. Na sua participação, em 20 de agosto de 2014, Lafer destacou a velocidade com
a qual se amplia o repertório de conhecimento. Destacou também a autonomia da Fundação não
como algo isolado, mas com rigorosos padrões de eficiência administrativa. O presidente
ressaltou a importância do intercâmbio como noticiou o site da FAPESP.
É ainda fundamental para acelerar a inovação, bem como para aumentar o impacto
acadêmico da pesquisa produzida em São Paulo, incrementar o diálogo de cientistas
paulistas com seus colegas de outros países, principalmente aqueles que se
encontram na ponta do conhecimento científico do mundo. Por isso, nos últimos
anos, a FAPESP tem realizado considerável esforço para incentivar a produção de
pesquisas conjuntas entre cientistas de São Paulo e outras nações.
Celso Lafer informou que, em 2013, foram realizados encontros científicos, com
destaque para a FAPESP Week no Japão, Reino Unido e Estados Unidos. As reuniões
aproximaram cerca de 600 pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Também houve a assinatura
de 19 acordos internacionais com instituições de 11 países sendo que pela primeira vez a
Fundação estabelece relações com Japão, África do Sul, Austrália e Chile.
O início da década de 2000 inaugurou novo milênio e trouxe, como primeira novidade
institucional, a divulgação dos Indicadores de Ciência e Tecnologia como instrumento de
avaliação e planejamento, além do Relatório Anual, que presta contas das atividades de apoio
149
à pesquisa científica no Estado de São Paulo. Uma questão que não poderia ficar de fora, nesse
contexto da história contemporânea, são as pesquisas com a Internet. Em 2001, o Programa
Tecnologia da Internet Avançada (Tidia) surgiu com o propósito de incentivar a pesquisa e o
desenvolvimento de tecnologias digitais e promover colaborações entre instituições de
pesquisa, empresa e governo. Projetos apresentados, em 2002, já faziam da Internet, objeto de
pesquisa. No primeiro edital, foram 123 solicitações à FAPESP. A maioria propôs pesquisas
relacionadas às Aplicações da Internet e Tecnologia de Rede. Esse programa durou uma década.
Até 2012, foram apoiados 220 projetos sobre Tecnologia da Informação.
No ano de 2003, a divulgação científica ganhou a Agência FAPESP. No dia 24 de junho
daquele ano, a agência de notícias eletrônica entrou no ar com um site e boletins diários. No
conteúdo, notícias, entrevistas e reportagens especiais sobre política científica e tecnológica e
a divulgação de resultados de pesquisas desenvolvidas no Brasil e no Exterior. Em agosto de
2012, a Agência chegou à marca de 100 mil assinantes. No Brasil, as cidades com o maior
número de assinantes são, pela ordem, São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto,
Belo Horizonte, Brasília, São Carlos, Curitiba, Salvador e São José de Campos. Já os países
onde há mais acessos da edição, em Língua Portuguesa, são Estados Unidos, Portugal, França,
Alemanha e Canadá.
A divulgação científica, com apoio da Internet, ganhou como reforço, em 2005, a
Biblioteca Virtual. Nela estão reunidas informações mais detalhadas sobre projetos concluídos
ou em andamento apoiados pela Fundação. A construção desse repositório de dados foi
inspirada na metodologia e tecnologia de bibliotecas virtuais do campo da Saúde no Centro
Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências (Bireme). Os dados colocados pelos
bibliotecários no sistema são transferidos do Sistema Agilis. A página reúne informações sobre
auxílios, bolsas, programa de pesquisa, acordos e convênios de cooperação. É possível ter
acesso também a mapas com a distribuição geográfica do fomento pelo estado de São Paulo e
fazer uma busca pelo nome do pesquisador. Assim o sistema gera uma página com todos os
dados que lhes são atribuídos. Também há como acessar Currículo Lattes, Research ID e
Google Scholar Citation do pesquisador. A Biblioteca Virtual é, como se sabe, a fonte
documental da pesquisa.
Além de estimular a produção de conhecimento, a FAPESP também intermedia
conhecimento produzido. Em 2010, a instituição investiu quase 34 milhões de Reais na
aquisição de livros, e-books e publicações em outras mídias. Em todo o Estado, 175 bibliotecas
de Instituições de Pesquisa puderam adquirir 165 mil títulos sobre Ciência e Tecnologia. No
150
mesmo ano, uma mudança institucional. O então governador, Geraldo Alckmin, incluiu a
vinculação da FAPESP à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do
Estado de São Paulo (SDECT) haja vista a extinção da Secretaria de Ensino Superior do Estado.
Foi um ano especial, afinal, a FAPESP chegava aos 50 anos. O auditório “Governador Carlos
Alberto de Carvalho Pinto”, com capacidade para 170 pessoas, foi inaugurado; houve anúncio
da aprovação de investimentos da ordem de R$ 159 milhões para a compra de cerca de 250
equipamentos multiusuários para pesquisas cientificas e dos 40 projetos aprovados no Programa
de Apoio à Infraestrutura de Museus, Centros Depositários de Informações e Documentos e de
Coleções Biológicas.
FIGURA 11 – Inauguração do Auditório “Carlos Alberto de Carvalho Pinto” em 23 de maio de 2011
Fonte: Acervo/Banco de Imagens FAPESP
Também foi anunciada a chamada de propostas do Programa Centros de Pesquisa,
Inovação e Difusão. A Revista Pesquisa FAPESP publicou uma série de reportagens especiais
sobre alguns campos de conhecimento, além, de uma edição especial sobre os 50 anos da
Fundação. Em relação a eventos, houve uma edição da FAPESP Week, em Washington. Sobre
reconhecimento, o meio século da FAPESP rendeu uma homenagem da Sociedade Brasileira
de Química e algumas reportagens na grande imprensa.
Ao longo da década 2010-2020, a FAPESP vem estabelecendo inúmeros acordos com
universidades e entidades de várias partes do mundo. Nota-se, com isso, que a cooperação
internacional é a grande aposta da Fundação atualmente. Uma das iniciativas foi “Ciência na
TV”, viabilizado por um termo de cooperação entre a Fundação Padre Anchieta, mantenedora
151
da TV Cultura de São Paulo, e a FAPESP. Desde o dia 7 de março de 2015, foi ao ar o SP
Pesquisa, uma série de 26 programas sobre a produção científica e tecnológica no estado de São
Paulo. O modelo inspirou um novo programa a partir de 2018. Em parceria com o jornal Folha
de S.Paulo, surgiu o Ciência Aberta, com exibição mensal, para divulgar os resultados de
projetos financiados pela Fundação. Também é o objetivo da atração, falar de ciência ao público
leigo. A transmissão ocorre pelo site da Folha e também no site e na página do Facebook da
FAPESP.
Por todo o exposto neste capítulo, podemos dizer que a FAPESP é um sistema cultural
organizado com a proposta de desenvolver a ciência e a pesquisa, no estado de São Paulo, a
partir da viabilização de verbas para a execução de projetos. Os pesquisadores trabalham seus
objetos, a partir de uma relação de tempo e de espaço que nos permite afirmar que a Fundação
tem um papel significativo na contribuição para a construção e legitimação da Área da
Comunicação. Esse saber é constantemente construído. Quando o pesquisador pleiteia apoio,
existe uma série de exigências, tanto no plano científico quanto no plano administrativo. Logo
se trata de um empreendimento objetivo. Um espírito objetivo compreende a existência de uma
trajetória, ou seja, há todo um espaço a ser percorrido no transcurso do tempo. Por isso, o
fomento é um interesse da vida prática, concernente aos pesquisadores que encontram uma
ordem de realização da pesquisa científica.
Recuperamos o pensamento de Dilthey (2010) para fechar este capítulo justamente por
entender que essa relação, entre sujeito de pesquisa e FAPESP, concentra – como diz o autor –
uma propagação espacial ou temporal da história que conta com uma alma viva, atuante, dotada
de forças culturais e sensíveis a todas as influências. Pressuposto mais do que pertinente à
Comunicação, pois, entre o sujeito de pesquisa e a FAPESP está uma semiosfera que permite o
trânsito dessas condições que perfazem o objeto da pesquisa, moldando-os a cada modo de
encarar os questionamentos. A história se faz por uma vida compreendida com multiplicidade
de significados, por isso, pensamos que na contribuição dada pela FAPESP à História da
Comunicação, os pesquisadores estão imbuídos em trabalhar construções que levam a um todo
como conexão do melhor entendimento sobre a Área. A hermenêutica, neste caso, se dá entre
pesquisador e FAPESP, envoltos por uma conexão espiritual, por parte do pesquisador, em
contato com uma estrutura, dada pela FAPESP. Como amarra Dilthey (2010), são os conteúdos
atravessando os espíritos e os espíritos, no papel do ser histórico vividos em abreviaturas, ou
seja, (2010, p. 312):
152
[...] o mais seguro e ao mesmo tempo o mais importante que é acessível à pesquisa
nas ciências humanas continua sendo sempre o seguinte: o conhecimento das grandes
formas da cultura e de sua organização exterior, de seu desenvolvimento, de sua
atuação recíproca em uma época, na estrutura da sociedade, tal como ela existe no
interior de um período demarcável, no interior dos momentos desse período,
momentos que produzem paulatinamente transformações nesse período.
(DILTHEY, 2010, p.312)
É a vivência em conexão com a realidade espiritual e o conhecimento concretizado pelo
acontecimento cujo valor só se atribui pelo espírito. Neste sentido, a Comunicação coloca
vivências ao espírito que busca dar valor ao acontecimento a fim de gerar o conhecimento que
está relacionado à evolução do nosso cotidiano. É uma forma autônoma de conduta, entretanto,
na perspectiva em que discutimos, toda essa ação só atinge a cientificidade quando se recebe
respaldo, pelo suporte da FAPESP, que tem poder para uma legitimação mais eficiente.
153
CAPÍTULO III – INDICADORES E INFERÊNCIAS: 25 ANOS
DE PESQUISAS EM COMUNICAÇÃO COM APOIO FAPESP
Passamos a estabelecer, a partir de agora, o panorama da Área da Comunicação, por
meio de estudos feitos com a certificação da FAPESP no intuito de construir um conjunto de
informações que permite estabelecer, prioritariamente, a memória das pesquisas em
Comunicação, desenvolvidas nos mais diversos lugares do Estado de São Paulo, por um grande
número de pesquisadores alocados entre corpo docente e corpo discente de institutos,
faculdades e universidades. Constituir esse panorama permite reconstruir parte do itinerário da
pesquisa em Comunicação a fim de compreender sobre o que vem se falando, sobretudo, nas
questões temáticas, metodológicas e bibliográficas para assim resultar no apontamento das
tendências de estudo da Área entre 1992 e 2016. Uma tendência que também estabelece
caracterizações geográficas e marcos epistemológicos conforme demonstram os tipos de
fomento considerados no universo de análise.
Para se chegar à representatividade pretendida da pesquisa financiada, recorre-se, como
se sabe, à Biblioteca Virtual da FAPESP. Nela estão registrados os fomentos concedidos a partir
dos anos 1990. A princípio, havia a intenção de se voltar mais ao tempo, por saber que a
pesquisa na Área começou bem antes desse período assinalado, entretanto, não foi possível
acessar os documentos físicos da Fundação. Situação que mudou às vésperas da defesa de tese
quando a Biblioteca Virtual passou a apresentar pesquisas anteriores a 1992, com a ressalva já
feita, de que não há o mesmo critério de organização definido como de nossas amostras. Aliás,
esse cruzamento entre Fundação e banco de dados constitui no que Jacques LeGoff (1990) trata
por lugares topográficos e lugares funcionais. Os primeiros se referem a arquivos, bibliotecas e
museus, ao passo que os segundos reúnem manuais, autobiografias e associações. Assim, a
construção pretendida para a Comunicação passa por ambos os lugares concentrando
conhecimentos sobre os quais demandam novos textos e que se institucionalizam como espaço
da Área.
Estes lugares ajudam a constituir a memória como representação de impressões ou
informações passadas. Le Goff (1990) descreve que foi a imprensa que revolucionou a memória
ocidental com a impressão de tratados científicos e técnicos que aceleraram e alargaram a
154
memorização do saber. Na segunda metade do século XVIII, por exemplo, o dicionário
representou a evolução da memória exterior com pensamento fragmentado até o infinito. Em
1751, a Grande Enciclopédic foi memória alfabética parcelar, com cada engrenagem isolada,
contendo partes da memória total. Já o século XVIII, foi marcado pelo movimento científico
como aceleração da memória coletiva das nações. Em 1790, logo após sua Revolução, a França
criou os Arquivos Nacionais. Outras experiências de depósitos centrais de arquivo também
surgiram, como a de Londres, que organizou seu Public Record Office. O século XX trouxe a
documentação em fichas tendo como destaque a memória eletrônica, nos anos de 1950, como
movimento espetacular na afirmação de LeGoff (1990, p.404) que considerou isto como
elemento agregador.
A história viveu uma verdadeira revolução documental – aliás, o computador
também aqui não é mais que um elemento e a memória arquivista foi revolucionada
pelo aparecimento de um novo tipo de memória: o banco de dados. A segunda
consequência é o efeito “metafórico” da extensão do conceito de memória e da
importância da influência por analogia da memória eletrônica sobre outros tipos de
memória.
Para o autor, a memória coletiva integra as grandes questões das sociedades
desenvolvidas e, em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas,
lutando por poder, pela vida, pela sobrevivência e pela promoção. Uma visão muito próxima
ao conceito do campo científico de Pierre Bourdieu. Além disso, para LeGoff (1990), a
memória vista como elemento social forma a identidade.
Foi por meio dos dados cadastrados, na Biblioteca Virtual, que conseguimos estabelecer
esse panorama que passa a ser apresentado. Inclusive, cabe o registro de que a Biblioteca Virtual
é um repositório de dados bastante interessante para consulta, mas, ainda carece de informações
mais completas, pois, se limita aos passos iniciais das pesquisas sem, por exemplo, apresentar
resultados finais dos estudos em questão. Em se tratando do aspecto latente da transparência
pública, acreditamos que seria interessante ter conhecimento dos avanços dos projetos
consultados, ainda mais que relatórios científicos fazem parte das tarefas obrigatórias do
pesquisador junto à agência. Em alguns casos, divulgam-se publicações que são resultado de
pesquisa apoiada. Sabe-se que, do ponto de vista burocrático, basta a comprovação de que o
estudo foi realizado, porém, como pesquisadores, acreditamos que caberia a divulgação
155
também dos resultados para que se avançasse na transparência, permitindo assim, o intercâmbio
do conhecimento.
O universo de pesquisa compreende 912 projetos apoiados pela FAPESP dentro da Área
da Comunicação, tendo como recorte as seguintes modalidades de fomento: “Bolsas no Brasil”,
“Bolsas no Exterior” e “Auxílios à Pesquisa39”. Consultados os dados disponíveis na Biblioteca
Virtual, são 583 bolsas para estudos nacionais, 82 para estudos internacionais e 247 auxílios à
pesquisa.
QUADRO 2 – Bolsas no Brasil
Categoria Anos Quantidade
Iniciação Científica 1992-2016 299
Mestrado 1992-2016 178
Doutorado 1993-2016 68
Doutorado Direto 2007-2016 2
Pós-Doutorado 1998-2016 36
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 3 – Bolsas no Exterior
Categoria Anos Quantidade
Estágio Iniciação Científica 2012-2016 14
Estágio Mestrado 2013-2016 8
Estágio Doutorado 2012-2015 5
Estágio Pós-Doutorado 2012-2016 7
Estágio Pesquisa 1996-2016 48
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
39 Existem 20 tipos de Auxílio à Pesquisa. Neste trabalho, os selecionados são o Auxílio à Pesquisa Regular, o
Auxílio à Pesquisa – Pesquisador Visitante e o Auxílio à Pesquisa – Publicações. O primeiro oferece
financiamento para projetos de pesquisa individuais; o segundo cobre despesas a visitas de pesquisadores
experientes no estado de São Paulo em período inferior a 1 ano; e o terceiro financia periódicos, artigos e livros
com resultados originais de pesquisa.
156
QUADRO 4 – Auxílio à Pesquisa
Categoria Anos Quantidade
Auxílios Regulares 1993-2016 71
Auxílios Publicações 1993-2016 117
Auxílios Pesquisador Visitante 1994-2016 59
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Estes primeiros dados sinalizam uma maior vigência entre os fomentos destinados às
Bolsas no Brasil e aos Auxílios à Pesquisa. A participação de pesquisadores brasileiros, no
exterior, tardou uma década. De antemão, já se percebe que os ciclos iniciais da formação do
pesquisador respondem pelo maior número de apoios. Como todo o conteúdo envolve o
trabalho de pesquisadores, nas condições de orientando e orientador, considera-se a perspectiva
da evolução da carreira de pesquisador de acordo com as etapas correspondentes de sua
formação atribuída nominalmente, neste estudo, como percurso formativo. Embora a FAPESP
atribua apenas a doutores a viabilidade do fomento, eles se tornam meio – no sentido de medium
mesmo – para a realização de pesquisas de estudantes de outras categorias, ou seja, um
estudante de Iniciação Científica não consegue participar do processo de solicitação sem estar
vinculado a um professor doutor. Por isso, que em muitos projetos apoiados inseridos na
Biblioteca Virtual, trazem as inscrições de Pesquisador Responsável (PR) e Beneficiário
justamente porque a pesquisa é do orientando com suporte do orientador. Detalhadamente, o
PR é o orientador e o Beneficiário é o orientando. Característica importante na definição dos
métodos de trabalho e que faz sentido ao considerar toda a produção agregando os docentes e
discentes para o mapeamento da Área.
3.1 Bolsas no Brasil: Iniciação Científica
Entre 1992 e 2016, a FAPESP concedeu 299 bolsas de Iniciação Científica na Área da
Comunicação. A Iniciação Científica representa o primeiro contato do estudante de graduação
com a pesquisa científica e isto é uma diretriz definida, no site do CNPq, como a ação de
despertar a vocação científica incentivando talentos potenciais entre estudantes de graduação
157
universitária mediante a participação em projetos de pesquisa, orientados por pesquisador
qualificado. Na FAPESP, as bolsas de Iniciação Científica se destinam a alunos que pretendem
desenvolver pesquisa científica ou tecnológica, com supervisão de orientador com título de
doutor ou qualificação equivalente, demonstrado em súmula curricular. Uma quantidade
suficiente de disciplinas, na graduação, já deve ter sido concluída para que o interessado se
habilite ao concurso de uma bolsa que tem, como um dos critérios para concessão, um bom
desempenho comprovado pelo histórico escolar. Já se atribui ao candidato uma preparação, em
especial, no que corresponde a discutir o próprio projeto e analisar seus resultados. Estimula-se
também, nessa fase inicial, o tempo de execução para o candidato, sem que este coloque em
risco suas outras atividades regulares no curso. A duração da bolsa é de 1 ano com solicitação
em qualquer época, não podendo apenas ultrapassar o último semestre letivo do curso de seu
beneficiário, ou seja, a Iniciação tem de ser cumprida antes da colação de grau.
A FAPESP exige do candidato dedicação exclusiva, com pelo menos 12 horas semanais
de atividades, além de outras implicações como não ter vínculo empregatício e não receber
bolsa de outra entidade de fomento. Enquanto a bolsa estiver em vigência para a realização de
sua pesquisa, o beneficiário não pode ter nenhum outro ingresso financeiro, a não ser o valor
recebido pela bolsa, que desde agosto de 2017, é de R$ 676,80. A Iniciação Científica nem
sempre é difundida, menos ainda, em instituições que não são Universidades, locais onde a
pesquisa é condição inerente para seu funcionamento. Assim como há centenas de estudantes
que almejam uma profissão e logo procuram se inserir no mercado de trabalho, também há
estudantes que desejam seguir a carreira acadêmica, que deve ser vista e estimulada como uma
das possibilidades profissionais. Aliás, em alguns casos, segundo prevê a Lei do Estágio, de 25
de setembro de 200840, a Iniciação Científica pode ser uma atividade equiparada ao estágio, se
prevista em tal sentido, no projeto pedagógico do curso.
Uma vez obtido o fomento, há uma série de regras a serem cumpridas, entre elas, a
obrigatoriedade do bolsista em estar em dia com a instituição, principalmente, no que
corresponde à entrega do Relatório Científico e da Prestação de Contas. Em termos financeiros,
a Reserva Técnica – que é um dinheiro suplementar destinado a situações imprevistas ao longo
da pesquisa – pode ser solicitada. No caso da Iniciação Científica, essa quantia reserva é de
40 Para consultar a Lei do Estágio: http://www.ciee.org.br/portal/estudantes/lei.asp
158
10% do valor anual da bolsa concedida. Em geral, é usada para aquisição de materiais, compra
de periódicos, serviços de terceiros e gastos com transporte, diárias, hospedagens e alimentação.
Embora as preocupações administrativas sejam muito mais claras por parte da FAPESP,
há algumas questões relativas à pesquisa em si como forma de conhecimento. Uma delas é a
condição de que não haja modificações no projeto inicial sem o consentimento da Fundação.
Sugere-se também que haja o estabelecimento de um vínculo, com a faculdade ou universidade
onde a pesquisa se desenvolve bem como uma plausível interação com o orientador do projeto,
e consequentemente, com toda a comunidade acadêmica. O afastamento previsto do local de
origem da pesquisa não deixa explícito, mas, isto se interpreta porque a FAPESP pontua que o
“distanciamento” se dá para realização de pesquisa de campo, estágio de pesquisa por menos
de um mês, participação em reuniões, sem necessariamente, ter a obrigação de apresentar
trabalhos e participação em cursos de interesse ao próprio projeto de pesquisa.
Um dos primeiros sinais de institucionalização de uma Área, emprestada pela FAPESP
a um campo de conhecimento que nos parece identificável, é a exigência da Fundação de que
o beneficiário sempre faça referência à entidade na publicação de teses, artigos, resumos de
trabalhos apresentados ou qualquer publicação, deixando evidente, que é bolsista. Uma prática
que nos remete à reflexão de Sodré (2014, p.271) sobre o sentido.
O sentido é uma marca de limites ou de um possível, do qual não se sai. Apresenta-
se como a força ou o trabalho que permite o movimento dinâmico dentro de um
sistema, tanto para produzir significação como para exterminá-la. Por ser um limite
insuperável, é algo que se autoengendra: ele é a sua própria condição [...]
A significação está presente na relação do pesquisador com a FAPESP, pois, existe um
sentido de realização que envolve esse movimento dinâmico ao qual Muniz Sodré (2014) se
refere consolidando o papel da Fundação na chancela das atividades científicas. No outro lado
da moeda dessa relação, está a FAPESP, que não apenas se atém às exigências burocráticas,
mas, também conta com uma rede de colaboradores para outorgar ou não as propostas
recebidas. Nos casos de bolsas para a Iniciação Científica, entre o pedido do postulante à
definição por parte da entidade, podem passar em média 75 dias, ou seja, dois meses e meio.
Considerar a média, como alerta a própria Fundação, em seu site, não quer dizer que o tempo é
exatamente esse, afinal, há uma série de elementos a serem analisados. Cada linha de fomento
tem um prazo definido para a avaliação das solicitações submetidas. Pedidos feitos entre
159
outubro e janeiro podem sofrer uma demora extraordinária por coincidirem com o período de
férias coletivas de toda equipe da FAPESP.
Esses elementos estão justapostos, na porta de entrada do projeto, que é o SAGe,
Sistema de Apoio à Gestão. É por meio desse sistema complexo (no sentido de trabalhoso) em
termos de abastecimento de informação que começa todo o processo. A submissão da proposta
– que desde novembro de 2016 – deve ser acompanhada por uma cópia digitalizada do
documento do pesquisador responsável no próprio SAGe – é feita eletronicamente.
Propriamente falando da proposta de investigação do conhecimento, o projeto de pesquisa
precisa seguir o modelo exigido pela Fundação, de forma clara e resumida, em 20 páginas com
digitação em espaço duplo. Nele, deve constar o resumo com no máximo 20 linhas e mais a
introdução e justificativa, contendo síntese da bibliografia fundamental; os objetivos da
pesquisa; plano de trabalho e cronograma de execução; material e métodos de trabalho e, ainda,
a forma de análise dos resultados. Como, na maioria das vezes, os projetos de Iniciação
Científica estão associados a um projeto de pesquisa do orientador, espera-se que o candidato
ao fomento esteja ciente da parte que lhe cabe no projeto a ser financiado. A exigência do
projeto demonstra também um caráter pedagógico, nesta fase inicial do pesquisador, pois, na
relação dos novatos com seus orientadores, aprende-se como deve ser feito um planejamento
para posterior execução.
Além do objeto de estudo descrito pelo projeto de pesquisa, com todos os procedimentos
que envolvem sua execução, os pareceristas da FAPESP também precisam conhecer o
candidato que pleiteia o fomento, por isso, outra parte importante do processo é a Súmula
Curricular. Nela, são descritas as atividades acadêmicas, científicas e profissionais,
desenvolvidas pelo candidato. Em caso de não haver a súmula, cabe ao orientador prestar tal
tipo de informação à Fundação. Em substituição à súmula, passa a ter validade o histórico
escolar completo do estudante com informes sobre disciplinas cursadas, eventuais reprovações
ou trancamento de matrícula. Por se tratar de documento oficial, deve ter carimbo e assinatura,
ou um código de autenticidade, fornecido pela instituição. Também devem estar esclarecidos
os critérios de aprovação adotados pela faculdade ou universidade.
Ainda devem ser informados à FAPESP quando o candidato vai concluir a graduação
(isto se dá por uma declaração formal do orientador): sumário do projeto principal em apenas
uma folha indicando, inclusive, quando houver vínculo com algum auxílio à pesquisa vigente
na própria Fundação; em caso de participação em Projeto Temático ou do Programa Jovem
Pesquisador, o resumo do projeto principal deve ser anexado; se o pesquisador responsável não
160
possuir vínculo empregatício, deve ser apresentado o comprovante de vínculo formal com a
instituição. Também deve ser registrado o início das atividades do bolsista por meio de
declaração do orientador/supervisor41. O papel da instituição42 também é importante, pois, seus
dirigentes devem endossar o trabalho, além de garantir dotação orçamentária para apoio em
infraestrutura.
Infraestrutura dada e projeto de pesquisa apresentado, cabe aos avaliadores uma decisão.
Esses avaliadores são formados pelos chamados assessores ad hoc, ou seja, pesquisadores que
não mantém relações nem com os proponentes nem com as instituições onde o estudo vai ser
realizado. A média de tempo para avaliação deve seguir, por bom senso, o prazo que a FAPESP
estabelece, em cada modalidade, porém, antes dos assessores emitirem um parecer conclusivo,
eles podem solicitar novas informações. Em alguns casos, a FAPESP pode consultar mais de
um assessor para que o parecer tenha uma decisão mais bem fundamentada.
Em todo esse processo, o projeto em si, também depende da contribuição do orientador,
que precisa se inserir em regras, afinal de contas, como temos demonstrado ao longo desta
pesquisa, apesar de sua posição, o orientador também é um pesquisador, assim como seu aluno,
com diferença evidentemente baseada em sua experiência e função de formar novos
pesquisadores. O primeiro requisito é que o orientador seja doutor ou tenha qualificação
equivalente, além de competência e produtividade em pesquisa na área do projeto apresentado
– isto é mensurado por sua súmula curricular – e mais a questão da disponibilidade – mensurada
por seu regime de trabalho na instituição com a qual mantém seu vínculo de trabalho – bem
como o número sempre atualizado de orientandos. Todas as correspondências, enviadas pela
FAPESP, devem ser assinadas pelo orientador que pode, inclusive, ser um estagiário de pós-
doutoramento. Independentemente da qualificação que o orientador possua, a bolsa não será
concedida se ele tiver algum grau de parentesco com o candidato. Isto é qualificado pela
FAPESP como conflito de interesse que pode comprometer a isenção. Aliás, justamente sobre
essa questão de conseguir o benefício, é bom esclarecer que no caso dos bolsistas, a informação
disponível na Biblioteca Virtual da FAPESP é de que há um pesquisador responsável e um
beneficiário.
41 No caso de candidatos estrangeiros, a responsabilidade em verificar a documentação necessária para sua
regularidade no Brasil é do próprio bolsista. Esta informação pode ser obtida no Consulado Brasileiro. 42 São consideradas instituições as Faculdades, Escolas ou Institutos das Universidades Estaduais Paulistas,
Centros em Universidades Federais e Institutos de Pesquisa Estaduais.
161
O orientador não mantém apenas uma relação nos projetos solicitados, como também
se envolve com a FAPESP, emitindo pareceres de mérito dentro de sua especialidade de
atuação. Outra obrigação que lhe cabe é estar em dia com a Fundação nessa emissão de
pareceres, na entrega de relatório científico e na prestação de contas. Débitos, nesse sentido,
superior a dois meses, o desqualificam para receber benefícios do fomento.
Uma vez atendidas as exigências, todo processo de solicitação de fomento é enviado aos
pares que vão fazer a análise do projeto de pesquisa. Na FAPESP, o conhecimento se divide
em onze Áreas. No caso, a Comunicação faz parte de uma delas, a das Ciências Humanas e
Sociais, dividida em três com 15 coordenadores. A Comunicação está inserida na CHS II43 e
possui quatro coordenadores. Em cada coordenação, a Diretoria Científica mantém uma
comissão de especialistas reconhecidos que têm a responsabilidade em coordenar o processo de
análise de mérito das submissões. Todos os coordenadores de Área exercem cargos de
confiança do diretor científico e chegam a tal função após terem seus nomes consultados junto
às lideranças acadêmicas.
Retomando o caminho da solicitação, quando uma proposta de pesquisa chega à
FAPESP, logo, ela é encaminhada para a respectiva Coordenação de Área, que vai identificar
a assessoria ad hoc44 externa para dar início à análise do que se pleiteia, e consequentemente, o
parecer que vai definir se a proposta vai ter aval ou não. Nesse caso, não é levada em conta a
afiliação institucional do proponente, e sim, a adequação de seu campo de pesquisa com a Área
correspondente. Apenas em casos de projetos multidisciplinares é que mais Coordenações de
Área podem ser ouvidas. A definição da assessoria ad hoc se estabelece tão logo o resumo do
projeto seja apreciado. Somente, nesta etapa, é que a afiliação institucional é levada em conta
para que não haja o risco de um conflito de interesse, pois, não é ético que um assessor que
analise um pedido seja da mesma instituição do solicitante45. Essa metodologia da FAPESP
segue as mais importantes agências de fomento mundial: o da sistemática de análise por meio
dos pares. Esse sistema de trabalho carrega a decisão institucional de concessão, ou não, de
verba para a realização da pesquisa. Existe, no meio, um consenso de que o grau de
independência e objetividade das avaliações, entre os pares, é proporcional ao grau fidedigno
do sigilo da FAPESP em relação à identidade dessas pessoas. Está previsto pelo Conselho
Superior da FAPESP, o mais alto órgão de decisão da instituição, que haja esse compromisso
43 Ver os detalhes completos dos saberes que compõem a Área em http://www.fapesp.br/3049 44 Ver em http://www.fapesp.br/6088 a definição do assessor ad hoc. 45 Ver sobre o que configura conflito de interesse em http://www.fapesp.br/6092
162
expresso de preservação da identidade do assessor. Apenas as instâncias e assessorias da
FAPESP têm conhecimento de quem eles são e quais decisões tomaram a partir da análise dos
projetos. Um sigilo perdurável por todo o tempo em que o assessor colabora com a
FAPESP. Tão logo os assessores analisem o parecer, ele é novamente submetido à
Coordenação de Área, que vai ter conhecimento das decisões.
Uma vez dados os pareceres pelos assessores e vistos pelas Coordenações de Área, é
submetida à Diretoria Científica, uma recomendação de decisão que pode ser de aprovação,
denegação, denegação na versão apresentada ou solicitação de informações adicionais. Quando
se opta pela denegação, isto quer dizer que foram encontrados méritos na solicitação, porém,
uma versão modificada, levando em conta as críticas e recomendações constantes, pode se
tornar um projeto aprovado posteriormente. Inclusive, às denegações podem ser apresentados
recursos por meio da solicitação de reconsideração com argumentos sobre as objeções feitas
pelo assessor ad hoc. Já quando são solicitadas informações adicionais, é sinal que ao serem
esclarecidas as dúvidas levantadas pela assessoria, a solicitação tem condições de ser aprovada.
3.1.1 Mapeamento das pesquisas em Iniciação Científica (1992-2016)
Uma vez reunidas todas as amostras de pesquisas coletadas, na Biblioteca Virtual, foram
estabelecidas classificações e elaborados quadros, os quais se tornaram referências para a
análise de cada modalidade do fomento. Quando tratamos das “Bolsas no Brasil”, dividimos as
informações, em categorias, que associamos para construir a sua representatividade, por isso,
foram estabelecidas como tópicos para informação: Tipo do Fomento/Instituição/Cidade; Tipo
do Fomento, Orientador e Sexo do Orientador; Tipo do Fomento, Orientando e Sexo do
Orientando; Tipo do Fomento e Temas; Tipo do Fomento e Metodologias; Tipo do Fomento e
Bibliografias. Com tais divisões, conseguimos estabelecer parâmetros que conduzem à
interpretação da Área formando a proposta taxionômica de tradução dos dados organizados.
Na Iniciação Científica, o período analisado demonstrou que as bolsas, nessa fase inicial
da carreira do pesquisador, foram distribuídas entre os anos de 1992 e 2016. Entre 583 bolsas
concedidas a todos os níveis de formação do pesquisador, a Iniciação Científica somou 299
bolsas, o que representa 51,28% das pesquisas que tiveram o patrocínio de bolsas no Brasil, ou
seja, é mais da metade dos estudos patrocinados pela FAPESP.
163
Ao considerar o primeiro nível, que envolve as Instituições e as Cidades
correspondentes, é possível apontar que a UNESP Bauru, por meio da Faculdade de Artes,
Arquitetura e Comunicação (FAAC) representa a metade das bolsas obtidas (50,83%) porque,
dentre aquelas 299, o total de fomento dado pela FAPESP à instituição é de 154 bolsas. Ou seja,
em um período de 25 anos, a FAAC/UNESP recebeu, em média, 6 bolsas a cada ano. Em
segundo lugar, aparece a USP, com 79 bolsas (26,42%) contempladas, o que equivale à metade
de bolsas conseguidas por ano (a média é 3). Ambas as instituições são públicas, o que logo
demonstra, o incentivo à carreira de pesquisador, a qual inclusive, exige dedicação exclusiva
em praticamente todas as fases de titulação no universo das instituições privadas, a
Universidade Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo, e a PUC São Paulo (PUC-
SP), ocupam juntas, o primeiro lugar com 10 bolsas cada (3,35%). Isto quer dizer que, nos
mesmos 25 anos, a média anual de bolsas é inferior a uma (0,41%). Nos quadros que seguem,
demonstra-se o cenário das 299 bolsas de estudo em Iniciação Científica e sua distribuição entre
250 Universidades Públicas, 38 Universidades Particulares, 3 Faculdades, 7 institutos de
pesquisa e 1 escola.
QUADRO 5 – Distribuição das 299 Bolsas em Iniciação Científica
TIPO DE INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL
Universidades Públicas 250 83,61%
Universidades Particulares 38 12.71%
Faculdades 3 1%
Institutos de Pesquisa 7 2,34%
Escola 1 0,34%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
164
QUADRO 6 – Distribuição das 250 Bolsas de Iniciação Científica nas Universidades
Públicas
INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL
UNESP 154 61,6%
USP 79 31,6%
UFSCAR 10 4%
UNICAMP 7 2,8%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 7– Distribuição das 38 Bolsas de Iniciação Científica nas Universidades
Particulares
INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL
METODISTA S.PAULO 10 26,32%
PUC-SP 10 26,32%
PUCCAMP 3 7,89%
UNIFACEF 3 7,89%
UNISO 3 7,89%
USC BAURU 3 7,89%
UNISAL 2 5,27%
UNIVAP 2 5,27%
UNIP 1 2,63%
USCS 1 2,63%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
165
QUADRO 8 – Distribuição das 3 Bolsas de Iniciação Científica nas Faculdades Particulares
INSTITUIÇÃO QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL
CÁSPER LÍBERO 1 33,34%
ESPM 1 33,33%
FAAP 1 33,33%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Todas as universidades públicas estão representadas, ou seja, a solicitação de fomento
é uma prática mais imbuída a esse tipo de instituição. Nem todas as instituições privadas estão
contempladas como mostra o mapa que se divide entre as cidades de São Paulo-Capital, São
Carlos, Piracicaba, Bauru, Ribeirão Preto, Campinas, São Bernardo do Campo, Tupã, Franca,
Americana, Sorocaba, São José dos Campos e São Caetano do Sul. São 13 cidades onde se
registra a presença da pesquisa em Comunicação, com fomento FAPESP. De acordo com o
número de cidades e instituições, que tiveram estudos beneficiados pela agência, podemos
apontar que nesses 25 anos analisados, a maior produtividade em Iniciação Científica está no
interior de São Paulo.
QUADRO 9 – Distribuição Geográfica das Bolsas de Iniciação Cientifica
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA QUANTIDADE ÍNDICE PERCENTUAL
S.PAULO – INTERIOR 190 63,55%
S.PAULO – CAPITAL 98 32,78%
GRANDE SP (ABC) 11 3,67%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Como já explicitado ao longo deste estudo, quando falamos dos pesquisadores em
produtividade com o fomento FAPESP, consideramos os agrupamentos de pesquisadores em
formação e pesquisadores profissionais. Embora haja etapas de consolidação e de construção
da carreira de pesquisador, é importante colocar que, em termos de produção, todos estão
166
incorporados a um mesmo cenário, que é o da construção taxionômica da Área da Comunicação
no Estado de São Paulo. Mas, quando tratamos da representatividade dos orientadores e dos
orientandos, temos que considerar bases de compreensão, principalmente as nominais, de uma
forma diferente, uma vez que, para a FAPESP, o pesquisador orientador é considerado o
Pesquisador Responsável e o orientando é o Beneficiário. Mas, isto é mais em termos de
nomenclatura mesmo, pois, as responsabilidades são as mesmas de um e de outro, junto à
instituição, diferenciando apenas o estágio de desenvolvimento em que se encontram. Assim
sendo, é que nós consideramos, então, os Pesquisadores Responsáveis na categoria Tipo de
Fomento, Orientador e Sexo do Orientador, ao passo que, entre os orientandos, os colocamos
em categoria com a mesma nomenclatura, considerando o Tipo de Fomento e o Sexo do
Orientando.
Pelo fato da Iniciação Científica ser a primeira etapa do percurso formativo do
pesquisador, é que optamos por essa ordem de análise. Para tanto, antes de fornecer os números
específicos da modalidade de fomento, é preciso considerar as Bolsas no Brasil como um todo,
por isso, das 583 bolsas, 304 (52,14%) têm os professores como pesquisadores responsáveis,
ou seja, eles são os orientadores. Já, entre as mulheres, o número de 279 pesquisadoras
responsáveis corresponde às orientadoras que representam 47,86% à frente da obtenção do
fomento na FAPESP. Quando consideramos, especificamente a Iniciação Científica, também
mostramos que o predomínio é masculino. Entre as 299 bolsas, 162 pesquisas tiveram
orientadores homens (54,18%) enquanto 137 pesquisas (45,82%) foram orientadas por
mulheres. Com a presença masculina sendo mais da metade dos pesquisadores responsáveis,
não surpreende o fato do professor pesquisador que mais orientou projetos de Iniciação ter sido
um homem, conforme mostra o quadro a seguir, que também traz o segundo e o terceiro
colocados em orientação. Porém, vale considerar que embora os números apontem para uma
“superioridade” masculina, essa variável não é visível na prática nem suscita diferenças que
nos obrigassem a falar em luta por direitos iguais como ocorre em outras situações nas quais se
comparam a participação entre homens e mulheres em um mesmo segmento.
167
QUADRO 10 – Professores Orientadores na Iniciação Científica
DOCENTE INSTITUIÇÃO NÚMERO DE
ORIENTAÇÕES
Prof. Dr. Maximiliano Martin
Vicente
FAAC – UNESP
Bauru
26 pesquisas
Prof. Dr. Célio José Losnak FAAC – UNESP
Bauru
23 pesquisas
Profa. Dra. Mayra Rodrigues
Gomes
ECA/USP 17 pesquisas
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Considerando todas as bolsas concedidas aos orientandos, qualificados pela FAPESP
como beneficiários, as mulheres estão à frente, com 366 pesquisas (62,78%), enquanto os
homens totalizam 217 (37,22%). Passando para a Iniciação Científica, também há liderança
feminina. Elas estão presentes em 193 pesquisas (64,55%) e eles, em 106 (35,45%).
Ao partirmos para a quantificação e análise dos temas de pesquisa, no geral, precisamos
considerar que foram identificados 1.333 temas de pesquisa46 entre as 583 bolsas no Brasil. Os
temas correspondem às palavras-chave informadas, no processo de fomento da FAPESP, e que
em sua maioria, denotam o que está sendo estudado. Observa-se algo confuso, pois, em muitas
ocasiões, se misturam Áreas de interesse, práticas profissionais e até palavras que remetem a
elementos acessórios ao objeto de estudo, como por exemplo, uma cidade ou um tipo de
manifestação cultural. No quadro a seguir, foram elencados temas de pesquisa que superam
1,5% de representatividade. Tal índice foi determinado para que fossem revelados os temas
mais expressivos e recorrentes nas pesquisas analisadas.
Diante dos números do quadro 10, é importante destacar que essa captação de um
considerado número de pesquisas, realizadas com apoio da FAPESP, ocorre porque o professor
Maximiliano Martin Vicente, embora seja colaborador da Pós-Graduação em Comunicação da
46 Para chegar a este índice, foi necessário excluir as pesquisas que não tinham seus temas informados e também
temas apontados que, na verdade, são metodologias de pesquisa. Assim, de 1.475 temas iniciais pelos dados da
Biblioteca Virtual, foram excluídos 142 chegando assim ao total de 1.333 como referência para o cálculo das
amostras.
168
FAAC UNESP Bauru, na linha de pesquisa Processo Midiáticos e Práticas Socioculturais, sua
atuação maior é na Graduação nos cursos de Jornalismo e Radialismo. O mesmo, exceção feita
à atuação na Pós, ocorre com o segundo colocado das pesquisas, professor Célio José Losnak,
realizadas na Iniciação Científica.
QUADRO 11 – Temas de Pesquisa: Modalidade Bolsas no Brasil
TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Jornalismo 67 5,03%
Cultura 22 1,65%
Linguagem 21 1,58%
Censura 21 1,58%
Imprensa 20 1,50%
Televisão 20 1,50%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Pelo quadro acima, afirmamos que há muita pluralidade que leva à fragmentação
temática da Área, quando por exemplo, aparece um grande número de pesquisas sobre Cultura
e Linguagem. O que, de fato, estas palavras abrangem? É um universo muito extenso dentro de
um termo usado quase que para um sentido coletivo de situações e que pode abranger diversos
significados. Entretanto, nota-se também que há estudos mais aprofundados quando, entre os
temas, aparecem o Jornalismo, a Censura, a Imprensa e a Televisão. Considerando apenas a
Iniciação Científica, são 756 temas de pesquisa47. Assim, o quadro abaixo demonstra os temas
que superam 1,5% de representatividade.
47 Entre 801 temas, foi extraído um total de 45 temas entre os não informados e aqueles que se confundem com
metodologias de pesquisa.
169
QUADRO 12 – Temas de Pesquisa em Bolsas de Iniciação Científica
TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Jornalismo 45 5,95%
Imprensa 18 2,38%
Cultura 15 1,99%
Censura 15 1,99%
Relações Públicas 12 1,59%
Teatro 12 1,59%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Na análise das metodologias, ao consideramos as 583 bolsas concedidas para a
realização de pesquisas no Brasil, 374 entre Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado,
Doutorado Direto e Pós-Doutorado não prestaram informações, no resumo, a respeito da
estratégia metodológica adotada. Esse índice de representação chega a 64,15%, que é superior
à metade das pesquisas financiadas, o que evidencia uma perda em relação aos caminhos
metodológicos adotados e percorridos. Logo, as menções foram feitas em 209 pesquisas,
totalizando 35,85%. Especificamente, na Iniciação Científica, a categorização metodológica
aponta para 136 metodologias citadas, em um universo que seria de 352 citações, excluindo
desse montante, 216 pesquisas que não oferecem esse tipo de informação. O quadro abaixo
reúne as metodologias que superaram a representatividade de 1,5%.
170
QUADRO 13 – Metodologias na Iniciação Científica
TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Pesquisa Bibliográfica 29 21,32%
Entrevista 14 10,29%
Análise de Conteúdo 11 8,09%
Pesquisa Documental 9 6,62%
Estudo de caso 7 5,15%
Pesquisa Exploratória 6 4,41%
Pesquisa Qualitativa 6 4,41%
Análise do Discurso 6 4,41%
Pesquisa de campo 6 4,41%
Pesquisa Quantitativa 4 2,94%
Pesquisa Teórica 3 2,21%
Pesquisa Descritiva 3 2,21%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Ao tratarmos das Bibliografias nas “Bolsas no Brasil”, entre as 583 pesquisas
subvencionadas pela FAPESP, 294 fizeram menções às suas referências bibliográficas. Ao
analisarmos a Iniciação Científica, com 299 bolsas concedidas, precisamos excluir as 269
pesquisas, que não informaram seus referenciais bibliográficos, ou seja, em apenas 30
pesquisas, 64 autores são mencionados em 74 referências bibliográficas, pois, em muitos casos,
os autores são usados mais de uma vez, evidentemente, em pesquisas diferentes. O quadro a
seguir se refere aos autores que superaram 1,5% de representatividade nas pesquisas.
QUADRO 14 – Referências Bibliográficas na Iniciação Científica
AUTORES NÚMERO DE PESQUISAS ÍNDICE PERCENTUAL
171
Umberto Eco 3 4,05%
Mikhail Bakthin 2 2,7%
J.Greimas 2 2,7%
Jürgen Habbermas 2 2,7%
Meyer 2 2,7%
Benedict Andersen 2 2,7%
Charles S. Peirce 2 2,7%
Gilles Deleuze 2 2,7%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
A partir dos 64 nomes de autores relacionados, consideramos a nacionalidade deles.
Desse total, 40 são estrangeiros, 19 são brasileiros e 5 não tiveram identificadas as
nacionalidades por falta da informação do nome completo do autor nos resumos das pesquisas
registradas na Biblioteca Virtual da FAPESP. O número ode estrangeiros é mais que o dobro
de pesquisadores nacionais utilizados e identificados.
QUADRO 15 – Nacionalidade dos autores referenciados em Iniciação Científica
NACIONALIDADE ÍNDICE PERCENTUAL
Estrangeiros 62,5%
Brasileiros 29,69%
Não identificados 7,81%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Nas primeiras impressões sobre a Iniciação Científica, percebe-se, a partir dos temas de
pesquisa, o predomínio do Jornalismo que se ramifica em suas inúmeras modalidades como
Jornalismo Científico, Jornalismo Comunitário, Reportagem, Entrevista Jornalística, etc. Ato
172
contínuo à influência do Jornalismo, aparecem os estudos de Imprensa. O mesmo ocorre com
o tema Comunicação que se reparte, ao olhar dos pesquisadores, em Pública, Integrada, Visual,
Intercultural, em sua Filosofia, etc. Percebe-se pouca abordagem em relação ao digital, temática
ocupada preponderantemente na atualidade pelas mídias sociais, o Jornalismo, a Mídia, a
Cultura. Um sintoma curioso porque a Iniciação Científica reúne jovens da Graduação, mas,
que se justifica em função de um largo período em que a Internet teve escala de valorização e
integração à vida humana, em especial, com a chegada do século XXI. Enfim, a ramificação é
um dos indicadores da complexidade da Área. Em vez de ser tratada como decorrência de um
conceito-chave maior, ou seja, pensar em quantas possibilidades se torna possível pesquisar a
Comunicação, trata-se cada linha como “campos próprios” de conhecimento.
É característica notória, no caso da Iniciação Científica, perceber que seus
pesquisadores, em início de formação, compõem partes de projetos maiores, especialmente, de
seus orientadores. Embora haja sentido na troca de aprendizado, não se pode fechar os olhos
para o fato de que os estudantes de Iniciação Científica também servem de mão de obra para
essas pesquisas maiores, isto é, eles fazem parte do todo. A Pesquisa Bibliográfica é a estratégia
metodológica mais adotada e serve para este primeiro contato do jovem pesquisador com o
mundo do conhecimento.
3.2 Bolsas de Mestrado
Seguindo a ordem da formação do pesquisador, passamos agora, a considerar as Bolsas
de Mestrado, oferecidas pela FAPESP. Podem pleitear esse fomento, alunos regularmente
matriculados em programas de Pós-Graduação de Mestrado Acadêmico Stricto Sensu de
instituições de ensino superior, públicas ou privadas, que transformem seus projetos de pesquisa
em uma dissertação. O candidato deve ter um orientador com título de doutor, avaliado por
súmula curricular. A responsabilidade do projeto cabe muito mais ao orientador, porém, o
candidato deve participar de sua elaboração bem como estar apto para discussões e análises de
resultados. A solicitação de uma bolsa de mestrado pode ser feita antes do fim do curso de
Graduação, com prioridade de obtenção, os candidatos recém-formados que a tenham concluído
em prazo normal e preferencialmente que tenham realizado estágio de Iniciação Científica.
173
A vigência da bolsa de Mestrado é de dois anos e, na FAPESP, são dois níveis
concedidos: o MS-I48 e o MS-II49. E a concessão só ocorre quando o parecer da assessoria não
fizer reparos ao mérito da solicitação e a recomenda para atendimento incondicional. Há
possibilidade, por parte do aluno, da interrupção da bolsa, por até seis meses, em caso de
participar de programa de bolsa no exterior, recebida por outra agência ou outro tipo de
financiamento, que não onere a FAPESP. Em casos de interrupção, o tempo fora não é
descontado do tempo de vigência total da bolsa. Também são previstas “suspensões” nos casos
de licença-maternidade ou licença-paternidade do bolsista. No caso dos homens, são cinco dias,
a partir do nascimento da criança, e para mulheres, a prorrogação da bolsa é de até quatro meses.
Nestes casos, para se conseguir tais benefícios, os candidatos precisam enviar documentos à
FAPESP comprovando casos dessa natureza50.
Assim como em outras modalidades, a solicitação de bolsa pode ser feita em qualquer
época do ano. O prazo de análise do pedido leva em média 75 dias. Diferentemente da Iniciação
Científica, no Mestrado, o pedido pós- análise ad hoc, passa por um Colegiado Mensal em casos
quando extrapola o limite de bolsas a serem concedidas. Isso acontece por conta de propostas,
com análise qualitativamente superior, e que tenham pareceres favoráveis da assessoria.
Entretanto, os principais critérios de análise e seleção são: (1) projeto de pesquisa considerando
seus objetivos, fundamentação, metodologia e viabilidade; (2) competência e produtividade em
pesquisa do orientador do projeto apresentado; (3) potencial do candidato como pesquisador,
avaliado por seu histórico escolar e acadêmico. Em casos de igualdade no mérito das
solicitações, os critérios para desempate são: candidatos que já tiveram apoio da FAPESP;
recém-formados; quem iniciou recentemente o programa de Mestrado; candidatos que não
tenham recebido bolsas de outra agência de fomento para a mesma finalidade; candidatos que
tenham usufruído bolsa de mestrado de outra agência em menos de três meses. Mas, para
participar desse desempate, só estão qualificados os projetos considerados excelentes, com
candidatos de excelente qualificação acadêmica, e orientadores com produção científica recente
que tenham tido êxito na Área do projeto.
Além dos valores das bolsas já mencionados, os bolsistas podem solicitar Reserva
Técnica e Auxílio Instalação para o caso de mudança para a cidade da Instituição-sede onde se
realiza a pesquisa. Esse benefício é composto por uma mensalidade adicional – paga juntamente
48 O valor da bolsa na modalidade MS-I, desde agosto de 2017, é R$ 1.988,10. 49 O valor da bolsa na modalidade MS-II, desde agosto de 2017, é R$ 2.110,20. 50 Casos também aplicados ao Doutorado, Doutorado Direto e Pós-Doutorado.
174
com a primeira mensalidade da bolsa – e despesas de transporte para distâncias superiores a
350 quilômetros.
Os candidatos à Bolsa de Mestrado devem ter dedicação exclusiva à pesquisa e ao curso
de pós-graduação em que estão matriculados. Não é permitido vínculo empregatício nem
ganhos de outras instituições ou remuneração decorrente de qualquer outra atividade. Também
estão condicionadas às bolsas, condições como a não modificação no projeto sem
consentimento prévio da FAPESP; a apresentação de relatórios científicos e de aplicação de
recursos de reserva técnica; vínculo com a instituição paulista bem como interação com o
orientador51 e a instituição-sede; sempre fazer referência ao apoio da FAPESP, em todas as suas
produções acadêmicas. É obrigatório que o candidato tenha CPF próprio para viabilizar a
liberação do Termo de Outorga. O não cumprimento de tais exigências pode levar ao
cancelamento da bolsa e à restituição dos pagamentos já efetuados pela Fundação com valores
atualizados.
Desde novembro de 2016, também se tornou obrigatória a entrega de cópia digitalizada
de identificação do pesquisador. Somam-se a isto o projeto de pesquisa, a súmula curricular, a
descrição de atividades acadêmicas (publicações, reuniões científicas, premiações, estágios no
exterior, etc.) e profissionais do candidato, histórico escolar de graduação e pós-graduação
(quando houver), sumário do projeto principal de apenas uma folha em casos de vínculo com
auxílios à pesquisa vigente, comprovante de vínculo formal com a instituição, que é a forma de
atestar que não tem qualquer vínculo empregatício, e por isso, atende ao critério, certificado de
conclusão da graduação, comprovante de matrícula como aluno regular na Pós-Graduação. Em
casos de candidatos com vínculo empregatício, é preciso apresentar comprovante de
afastamento ou demissão, declaração de início das atividades assinada pelo orientador,
manifestação de ciência e concordância por parte do dirigente da instituição, nome e endereço
de duas pessoas para referências, que de preferência, sejam professores ou ex-professores do
candidato.
Sobre relatórios, devem ser apresentados dois, de natureza científica. Eles são enviados
à assessoria da FAPESP que os analisa e pode, inclusive, fazer recomendações. Quando a
vigência da bolsa termina, o candidato é obrigado apresentar cópia da ata de defesa da
dissertação e cópia da página da dissertação na qual conste menção ao apoio da FAPESP. Tais
documentos não substituem o relatório científico final que poderá ser encaminhado na forma
51 As exigências da FAPESP ao orientador são as mesmas já descritas na Iniciação Científica.
175
de versão final da dissertação. Não há obrigatoriedade de que o título da dissertação seja igual
ao título do projeto de pesquisa original. Exige-se, porém, menção explícita e destacada ao
apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo bem como o número do
processo da bolsa conforme consta especificado no Termo de Outorga.
3.2.1 Mapeamento das pesquisas de Mestrado (1992-2016)
Tradicionalmente, pode se pensar que o Mestrado seja apenas buscado por quem deseja
seguir a carreira de pesquisador. Ele pode servir também como aperfeiçoamento do
conhecimento. Tanto que é colocado em duas modalidades com cursos de Mestrado
Acadêmico52, voltados à produção científica da pesquisa, e de Mestrado Profissional53
capacitando profissionais a demandas do mercado de trabalho. Seja para a intenção de valorizar
a carreira acadêmica ou de se especializar, ambas as modalidades fazem parte da pós-graduação
stricto sensu cuja base conceitual já fora descrita no parecer CES/CFE 977, de 1965, que teve
como relator Newton Sucupira. O documento reforça a atividade científica, na universidade,
como algo livre e criadora da cultura universitária.
O parecer de Newton Sucupira aponta que os cursos de pós-graduação têm por objetivo
formar pesquisadores e docentes para os cursos superiores e que isso deveria ser feito em dois
ciclos sucessivos com inspiração no master e doctor dos Estados Unidos. É que a estrutura
estadunidense compreende o college como base comum de estudos que requerem o título de
bacharel em forma de pré-requisito de admissão. A partir dessa organização comum, decorrem
o undergraduate (cursos ministrados no college) e graduate (cursos pós-graduados visando os
graus de Mestre e Doutor). Pela definição proposta no relatório Sucupira, que molda até os dias
de hoje, nosso sistema de Pós-Graduação, o pós-graduado é aquele que já obteve grau de
bacharel, e continua seus estudos regulares para atingir um grau superior. Essas atribuições
remontam às três décadas do século XVIII, quando a universidade deixou de ser apenas uma
instituição de ensino e formadora de profissionais para se dedicar às atividades de pesquisa
científica e tecnológica. É a Universidade Johns Hopkins, nos EUA, em 1876, que ultrapassou
a transmissão do saber constituído para elaborar novos conhecimentos a partir da pesquisa. Diz
52 Ver definição completa do Mestrado Acadêmico em http://www.capes.gov.br/avaliacao/sobre-a-avaliacao/
mestrado-e-doutorado-o-que-sao 53 Ver definição completa de Mestrado Profissional em http://www.capes.gov.br/avaliacao/sobre-a-avaliacao/
mestrado-profissional-o-que-e
176
Sucupira (1965) que “a pós-graduação tem por fim oferecer, dentro da universidade, o ambiente
e os recursos adequados para que se realize a livre investigação científica e onde possa afirmar-
se a gratuidade criadora das mais altas formas da cultura universitária”. Isto nos fornece a ideia
de que para o autor, a universidade não é apenas formadora de profissionais, mas, um centro
criador de Ciência e Cultura, bem como, um espaço questionador e reflexivo, a partir da
produção de conhecimento.
Esta pós-graduação stricto sensu, da qual fazemos parte, é defendida por Sucupira como
um atestado de uma alta competência científica em determinado ramo do conhecimento. Ele
define essa modalidade como “o ciclo de cursos regulares em segmento à graduação,
sistematicamente organizados, visando desenvolver e aprofundar a formação adquirida no
âmbito da graduação e conduzindo à obtenção de grau acadêmico”. Ao contrário do previsto,
no parecer de 1965, Newton Sucupira defendia rigorosa seletividade intelectual como requisito
de admissão, pois, quanto mais rigoroso for o processo de seleção, mais alto é o padrão da
universidade. Para justificar este argumento, ele diz à época, que na Universidade de Princeton,
nos EUA, dos 1.000 pedidos de inscrição, os aprovados não passavam de 350. A pós-graduação
deveria ser, segundo ele, mais do que uma tese doutoral ou uma dissertação de mestrado. É
necessária uma sólida formação científica da qual a tese ou dissertação se torna uma expressão.
A influência estadunidense influenciou o Brasil, quando a Pós-Graduação foi colocada
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, se resumindo a cursos cujos candidatos se matriculam
a partir da conclusão do curso de Graduação após a obtenção do respectivo diploma. Assim,
nosso Mestrado e Doutorado ficaram com a ideia de um programa de estudo em duas fases. Na
primeira fase, frequência às aulas, seminários e capacidade do candidato. Já, na segunda fase,
dedicação maior à investigação preparando a tese ou dissertação. As duas modalidades têm por
objetivo, no caso do Mestrado, revelar domínio do tema escolhido com uma capacidade de
sistematização, enquanto no Doutorado, se defende uma tese cuja importância seja uma real
contribuição do tema à produção do conhecimento em uma Área. Inclusive, para melhor
dimensão disto, entendemos que tais etapas deveriam exigir cursos distintos e não o nosso
sistema de que mestrandos e doutorandos são colocados, no mesmo patamar, diferenciando-se
apenas quanto ao seu produto final.
O que Newton Sucupira propôs, na década de 1960, segue em vigência na
sistematização da pós-graduação stricto sensu, porém, ganhou outro sentido que transita pelo
caminho da memória. Na atualidade, a implantada Plataforma Sucupira se tornou um grande
repositório do mapeamento da produtividade dos Programas de Pós-Graduação no Brasil, que
177
se submetem a um sistema de avaliação para constituir a chamada Memória da Pós-Graduação,
representada pelo acesso de informações consolidadas no Sistema Nacional de Pós-Graduação
(SNPG). São os responsáveis pelos Programas que alimentam o sistema com dados
transformados em relatórios consolidados que podem ser consultados publicamente. O objetivo
é dar mais transparência às informações, processos e procedimentos que a CAPES realiza no
SNPG para toda a comunidade acadêmica. Mais do que mensurar, o que consideramos mais
importante que os métodos de avaliação, é que a tecnologia nos proporciona um resgate da
memória quando podemos revisitar ações realizadas. É, neste sentido, que acreditamos que o
pesquisador pode, de fato, fazer a História da Comunicação, pois, observa sua trajetória
respeitando e interpretando contextos.
E também é, nesse sentido de remontar a História da Comunicação, que estamos
trabalhando com os fomentos da FAPESP. E quando recorremos à trajetória das pesquisas de
Mestrado na Área da Comunicação, apoiadas por ela, nos deparamos que, entre 583 bolsas
concedidas, 178 são para o Mestrado, montante que representa 30,53% dos fomentos. O maior
número de bolsas foi para a USP, representada por quatro de suas escolas, sendo que a maioria
foi conseguida por alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA). Somente à ECA, foram
financiadas 65 bolsas, o que equivale a 36,51% dos fomentos conseguidos na USP. Além da
universidade pública, consideramos também qual instituição se destaca no âmbito particular, e
encontramos a PUC-SP, na liderança, com 16 bolsas concedidas, o que nos remete a 8,98% dos
benefícios dados pela FAPESP.
Dessas 178 bolsas, 171 foram concedidas para Universidades (96,06%) e apenas 7 para
faculdades (3,94%). Quando olhamos os dados de universidades, procuramos estabelecer a
diferenciação numérica entre o que é fornecido para as públicas e para as particulares. Assim,
precisamos considerar como base um total de 171, que se subdividem em 145 financiamentos
para universidades públicas (84,8%) e 26 financiamentos para universidades particulares
(15,2%). Os quadros abaixo mostram essa repartição.
QUADRO 16 – Distribuição das 145 Bolsas de Mestrado a Universidades Públicas
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
USP 71 48,97%
178
UNESP 41 28,28%
UNICAMP 22 15,18%
UFSCAR 10 6,89%
UFABC 1 0,68%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 17 – Distribuição das 26 Bolsas de Mestrado a Universidades Particulares
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
PUC-SP 16 61,54%
METODISTA S.PAULO 3 11,54%
UNIP 3 11,54%
USCS 3 11,54%
UNISO 1 3,84%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 18 – Distribuição das 7 Bolsas de Mestrado a Faculdades Particulares
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
CÁSPER LÍBERO 4 57,15%
ESPM 3 42,85%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
As instituições demonstradas, nos quadros, estão em nove cidades do estado: São Paulo,
São Carlos, Bauru, Marília, Campinas, São Bernardo do Campo, Santo André, Sorocaba e São
Caetano do Sul. O maior número de bolsas foi concedido à capital, mas, o interior e o ABC
Paulista também fazem parte dos números.
179
QUADRO 19 – Localidade das Pesquisas com Bolsas de Mestrado no Estado
LOCALIZAÇÃO
GEOGRÁFICA
NÚMERO DE
BOLSAS
ÍNDICE
PERCENTUAL
S.PAULO – CAPITAL 97 54,50%
S.PAULO – INTERIOR 74 41,57%
GRANDE SP (ABC) 7 3,93%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Todas essas bolsas tiveram como Pesquisadores Responsáveis, no caso, orientadores,
93 homens (52,24%) e 85 mulheres (47,76%). Assim, como na Iniciação Científica, o professor
que mais orientou, no Mestrado, também foi Maximiliano Martin Vicente, da FAAC/UNESP
Bauru, com 10 projetos. Lembrando, como já apontado na Iniciação Científica, o professor
colabora na Pós-Graduação. Entretanto, há de se dizer sobre seu know how como orientador,
condição que o credencia para estar na liderança desta modalidade também. Logo em seguida,
aparecem com destaque orientando cinco pesquisas: Maria das Graças Conde Caldas
(UNICAMP), Rosana de Lima Soares (ECA/USP) e Vitor Aquino (ECA/USP). Em relação aos
orientandos, as mulheres predominam. Nesses 25 anos pesquisados, foram 115 mulheres
(64,61%), que recorreram à FAPESP, para cursar Mestrado enquanto os estudantes do sexo
masculino totalizaram 63, o que representa um índice de 35,39%.
Passando aos temas de pesquisa, o levantamento inicial, realizado junto à Biblioteca
Virtual da FAPESP nos apontou 440 temas, porém, deles precisamos excluir 59 pesquisas que
não informaram seus temas junto a outras que colocam metodologias como temas de pesquisa.
Mais uma vez, registra-se a confusão que é recorrente nesse quesito. Assim, o número é de 381
temas sobre os quais serão representadas as amostras superiores a 2%. Os indicadores nos
mostram temáticas bastante superficiais, ou seja, a diversidade temática se confirma como
variável influenciadora na formação da Área.
QUADRO 20 – Temas de Pesquisa no Mestrado
TEMAS NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
180
Jornalismo 18 4,72%
Internet 11 2,88%
Linguagem 10 2,62%
Tecnologia 9 2,36%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Sobre metodologia, das 178 pesquisas, 97 (54,5%) não trazem, no resumo, essa
informação. Logo, há 81 pesquisas (45,50%) que informaram as metodologias, totalizando 127
citações. As metodologias mais representativas, aqui elencadas, são as que superaram o índice
de 5%.
QUADRO 21 – Metodologias de Pesquisa no Mestrado
TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Estudo de Caso 14 11,02%
Pesquisa Bibliográfica 13 10,23%
Pesquisa Qualitativa 9 7,08%
Pesquisa Documental 7 5,51%
Análise do Discurso 7 5,51%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
E, por fim, quando se analisa a Bibliografia, nota-se um expressivo número de pesquisas
que não informaram esse dado. Das 178 bolsas, 146 deixaram de fazer isso, o que demonstra
um alto índice (82,02%) de negação deste dado. E as informações sobre bibliografia estão em
apenas 32 pesquisas (17,98%), com os autores sendo referenciados 103 vezes e usados em mais
de uma pesquisa. O quadro que segue traz os autores que superaram 1,5% de representatividade.
E por ele, timidamente se vê a literatura brasileira e latino-americana presentes. Isto se justifica
possivelmente pela decorrência do uso dos textos da professora Lúcia Santaella nas pesquisas
181
de seus orientandos que dão à PUC uma boa performance de pesquisas, nesta modalidade, e
também pela presença de um pensador que tem grande trânsito na pesquisa brasileira: Jesús
Martín-Barbero.
QUADRO 22 – Autores mais citados nas Pesquisas de Mestrado
AUTOR NÚMERO DE PESQUISAS ÍNDICE PERCENTUAL
Lúcia Santaella 3 2,91%
Jacques Lacan 3 2,91%
Mikhail Bakthin 3 2,91%
Manuel Castells 2 1,94%
Maurizio Lazzarato 2 1,94%
Boaventura de Souza Santos 2 1,94%
Christine Greiner 2 1,94%
Jesús Martin-Barbero 2 1,94%
Michel Foucault 2 1,94%
Marshall McLuhan 2 1,94%
Erving Goffman 2 1,94%
J.Greimas 2 1,94%
Dominique Wolton 2 1,94%
Pierre Lévy 2 1,94%
Harry Pross 2 1,94%
Helena Katz 2 1,94%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
182
Em um total de 83 autores mencionados, nota-se, mais uma vez, o predomínio da
literatura estrangeira na Área.
QUADRO 23 – Nacionalidade dos autores referenciados em Mestrado
NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL
Estrangeiros 70 84,34%
Brasileiros 10 12,05%
Não identificada 3 3,61%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Uma coincidência nos permite fazer um aparte. Quando trazemos os dados de
referências bibliográficas e suas nacionalidades, vemos que a pesquisadora brasileira Lúcia
Santaella aparece como uma das mais citadas. A justificativa para isso já foi colocada e isto nos
faz trazer aqui, uma fala dela, em entrevista concedida para este pesquisador, sobre o
predomínio da literatura estrangeira em nossa Área. Ela disse que essa prática tem uma relação
com a história, afinal, as universidades foram criadas, a partir do século XI, e desde então, os
pensadores europeus vieram trabalhando por tantos séculos. Aqui, no Brasil, as universidades
datam de um século atrás, ou seja, são do século XX, tanto que ela recorda do início institucional
da Comunicação nos anos 197054. Esse caráter recentíssimo, na visão dela, é a justificativa para
isso. Assim, ela (2017) destaca que “nossas escolhas têm de ser guiadas pela qualidade da
informação que buscamos e que encontramos e não pela nacionalidade dos autores. Um grande
pensador não tem nacionalidade. Ele pertence à espécie dos seres pensantes e não a um país”.
Enfim, como impressões primeiras das bolsas de Mestrado, repete-se a questão da
fragmentação temática, a qual tratamos na Iniciação Científica, de que se valorizam as partes e
não o todo de um tema. Quando olhamos para a metodologia, vê-se equilíbrio entre Estudo de
Caso e Pesquisa Bibliográfica, o que sinaliza para estudos pontuais nessa fase de formação do
pesquisador. Entre os temas, o Jornalismo continua predominando, mas já se pontua a presença
54 O percurso histórico da Comunicação foi apresentado no Capítulo I “Comunicação em Três Dimensões” desta
pesquisa.
183
de estudos sobre novas práticas, uma vez que Internet e Tecnologia aparecem entre os mais
representativos.
3.3 Bolsas de Doutorado
As bolsas de estudo para Doutorado são destinadas a alunos regularmente matriculados,
em programas de pós-graduação stricto sensu de instituições de ensino superior, públicas ou
privadas, do Estado de São Paulo para o desenvolvimento de projeto de pesquisa que resulte
em tese com a supervisão de um professor doutor, avaliado por sua súmula curricular. A
duração da bolsa é de três anos podendo ser prorrogada por período não superior a um ano.
Durante a vigência, o aluno poderá usufruir de interrupção da bolsa, por até doze meses, para
participar de programa de doutorado sanduíche no exterior. Existem duas bolsas decorrentes, a
DR-I, que é para duração de um ano, e a DR-II, com duração de dois anos. Sobre os valores de
bolsa de estudos concedidos, a vigência atual é de agosto de 2017. Para as Bolsas DR-I, o valor
é de R$ 2.929,80 enquanto, para DR-II, chega a R$ 3.626,10.
Todos os processos de pedido são enviados a assessores ad hoc para que emitam parecer.
Antes da conclusão, eles podem solicitar outras informações sendo que, algumas vezes, a
própria FAPESP toma a iniciativa de consultar mais de um assessor para que a decisão seja
bem fundamentada. Uma vez aprovado, o projeto de pesquisa concernente à bolsa não pode ser
modificado sem autorização prévia da Fundação. Cada parecer é uma peça complexa na qual o
assessor ad hoc responde a vários quesitos – para cada linha de fomento existe um conjunto –,
relevantes para a decisão final que pode ser de aprovação, denegação ou solicitação de
informações adicionais. O prazo médio para análise da solicitação também é de 75 dias, no
entanto, cada linha de fomento pode demandar um prazo típico necessário.
Durante a vigência da bolsa, o beneficiado deve ter dedicação exclusiva à pesquisa.
Como toda agência de fomento, há uma contrapartida de quem se beneficia. No caso da
FAPESP, a exigência é a pontualidade com a emissão de pareceres e a devolução de processo,
bem como nas entregas pontuais de Relatório Científico e Prestação de Contas. Se isto não
ocorrer, há pena de bloqueio na liberação de recursos. Outra obrigatoriedade que envolve o
beneficiário da FAPESP é o de sempre fazer referência ao apoio da Fundação em suas
atividades de pesquisa. Basicamente, uma contrapartida que pode se romper com o
184
cancelamento da bolsa e a devolução de pagamentos efetuados por parte do pesquisador. Todas
as atividades acadêmicas do candidato devem ser descritas. Quando se tratar de estrangeiro,
além dos trâmites acadêmicos, é necessário que o candidato esteja quite com a documentação
para permanência no Brasil.
Há uma série de requisitos semelhantes a serem cumpridos às da Bolsa de Mestrado,
porém, o Relatório Científico da Bolsa de Doutorado deve ser entregue anualmente durante a
vigência do fomento. Esses relatórios devem ser encaminhados juntamente com o Formulário
de Encaminhamento de Relatório Científico preenchido, assinado e enviado pelo orientador.
Tão logo a bolsa se extingue, o candidato deve enviar à FAPESP a cópia da ata de defesa da
tese junto à cópia da própria com menção ao apoio.
3.3.1 Bolsas de Doutorado Direto
Entre as bolsas, existe também a modalidade de fomento do Doutorado Direto para a
qual os candidatos devem vir da graduação diretamente, sem o título de mestre, apresentando
um projeto de pesquisa que resulte em tese. Nesse caso, prioriza-se o candidato de bom histórico
escolar e que, preferencialmente, tenha realizado estágio de Iniciação Científica. Havendo uma
pré-disposição pela carreira de pesquisador, inclusive, bolsistas de Mestrado podem ter suas
bolsas convertidas para o Doutorado Direto. Nesta modalidade, o fomento tem duração
ordinária de 48 meses, ou seja, quatro anos, com possibilidade de prorrogação. São quatro níveis
dessa bolsa: DD-I (duração de 1 ano e repasse de R$ 1.988,10); DD-II (também com duração
máxima de 1 ano e repasse de R$ 2.110,20); DD-III (duração máxima de 1 ano e valor de bolsa
de R$ 2.929,80) e DD-IV (prazo de 1 ano e bolsa no valor de R$ 3.626,10).
Os prazos de análise são os mesmos das modalidades anteriores. Há possibilidade de
afastamento para o período sanduíche, assim como, solicitar reserva técnica e auxílio-
instalação, além de desenvolver potencial para pesquisador da mesma forma que os pré-
requisitos do orientador e a obrigatoriedade de relatório científico anual.
3.3.2 Mapeamento das pesquisas de Doutorado e Doutorado Direto (1993-2016)
185
Em função da baixa representatividade das bolsas do Doutorado Direto, optamos por
juntar esta categoria ao Doutorado, neste tópico, que se refere a dois períodos de tempo
distintos. Os dados das pesquisas de Doutorado correspondem a 25 anos, entre 1992 e 2016, ao
passo que o Doutorado Direto começou anos depois com registros de pesquisas apoiadas que
vão de 2007 a 2016. A baixa procura pelo Doutorado Direto não é uma condição excepcional
de fomento porque a sua adesão é praticamente inócua na formação das pós-graduação. São
pouco os casos, pois, a maioria dos estudantes de Pós-Graduação prefere cursar o Mestrado.
Por maior representatividade, começamos a demonstração dos dados das pesquisas de
Doutorado. As bolsas para este estágio da formação do pesquisador totalizam 68 e dentro do
montante de 583 bolsas de estudo concedidas no Brasil, sua representatividade é de 11,66%. A
USP, exclusivamente com sua Escola de Comunicações e Artes (ECA), domina o cenário sendo
a instituição onde mais pesquisadores conseguiram esse financiamento. Totalizadas 43
pesquisas financiadas, o que representa 63,23% das bolsas. Em seguida, já no âmbito de
instituição privada, a PUC-SP, com 19 bolsas, e um índice equivalente a 27,94%. Essas 68
bolsas estão todas em universidades (100%) sendo 47 bolsas (69,12%), nas públicas, e 21
(30,88%), nas particulares. Os quadros a seguir ilustram essa distribuição.
QUADRO 24 – Distribuição das 47 Bolsas de Doutorado em Universidades Públicas
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
USP 43 91,49%
UNICAMP 4 8,51%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 25 – Distribuição das 21 Bolsas de Doutorado em Universidades Particulares
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
PUC-SP 19 90,48%
METODISTA S.PAULO 2 9,52%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
186
Chama a atenção a baixa procura pelas Bolsas de Doutorado. Dos 17 Programas
Acadêmicos no Estado de São Paulo, apenas seis não contam com essa etapa de formação do
pesquisador, ou seja, a maioria conta com curso de Doutorado. Parte dessa situação ainda se
deve a programas que não aparecem com solicitações. São os casos de UNIP, ESPM e Anhembi
Morumbi. Ainda não se vê a presença da UNESP Bauru, mas isto é compreensível, pois, seu
Doutorado começou, em 2014, e se houve solicitação de fomento, a bolsa está sendo concluída,
em 2018, no momento que coincide com a finalização desta pesquisa.
Os pesquisadores contemplados, com essas bolsas, estão em três cidades do estado: São
Paulo, São Bernardo do Campo e Campinas, sendo que a capital paulista foi a região mais
beneficiada pela concessão dos fomentos.
QUADRO 26 – Localidade das Pesquisas com Bolsas de Doutorado no Estado
LOCALIZAÇÃO
GEOGRÁFICA
NÚMERO DE
BOLSAS
ÍNDICE
PERCENTUAL
S.PAULO – CAPITAL 62 91,17%
S.PAULO – INTERIOR 4 5,88%
GRANDE SP (ABC) 2 2,95%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Para todas essas bolsas, existem 38 mulheres (55,88%), responsáveis pela orientação
das pesquisas, enquanto os homens são 30 (44,12%). A pesquisadora responsável, que responde
pela orientação das teses e que teve mais bolsas contempladas, foi Maria Lúcia Santaella Braga,
da PUC-SP, com um total de nove. Logo, na sequência, destaque para Ciro Juvenal Rodrigues
Marcondes Filho, da ECA/USP, com cinco bolsas. Curiosamente, esses dois orientadores
conduziram integralmente projetos de orientandos do mesmo gênero deles, ou seja, Lúcia
Santaella só orientou mulheres e Ciro Marcondes Filho só orientou homens. Já, entre os
orientandos, os números mostram que, entre 1992 e 2016, no Doutorado, foram 39 orientandas
(57,35%) e 29 orientandos (42,65%). Dessas 68 bolsas, excluem-se 14, que não mencionaram
seus temas e trabalhos com os beneficiados que informaram em 54 pesquisas (79,41%), 125
187
temas. Os mais representativos foram considerados a partir de 1,5% de representatividade no
cenário de todos os temas identificados.
QUADRO 27 – Temas de Pesquisa no Doutorado
TEMAS NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Comunicação Organizacional 3 2,4%
Jornalismo 3 2,4%
Interatividade 2 1,6%
Internet 2 1,6%
Mídia Digital 2 1,6%
Artes 2 1,6%
Contemporaneidade 2 1,6%
Moda 2 1,6%
Design 2 1,6%
Relações Públicas 2 1,6%
Identidade Cultural 2 1,6%
Indústria Cultural 2 1,6%
Televisão 2 1,6%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Além dos temas, conforme vimos acompanhando, também analisamos o uso das
metodologias. Das 68 bolsas concedidas pela FAPESP, 46 (67,65%) não tiveram referência
alguma à adoção metodológica sendo que a minoria, isto é, em 22 bolsas (32,35%), tal
informação foi prestada sendo que sua representatividade foi considerada acima de 5%.
188
QUADRO 28 – Metodologias de Pesquisa no Doutorado
TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Pesquisa Bibliográfica 7 31,81%
Pesquisa Documental 4 18,18%
Entrevista 2 9,09%
Semiótica da Cultura 2 9,09%
Estudo de Caso 2 9,09%
Pesquisa de Observação 2 9,09%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Outro dado importante, que faz parte da nossa análise, é a Bibliografia, dado que não é
muito informado. Nas 68 bolsas apoiadas pela FAPESP, 44 (64,7%) não trazem essa
informação, que é importante e dá sinais do percurso teórico pelo qual a pesquisa se sustenta.
Em 24 pesquisas (35,3%), constam autores e, os mais citados, considerando margem superior
a 5% se encontram a seguir.
QUADRO 29 – Referências adotadas nas Pesquisas de Doutorado
AUTOR NÚMERO DE PESQUISAS ÍNDICE PERCENTUAL
Charles S. Peirce 5 20,83%
Michel Foucault 2 8,33%
Vladimir Propp 2 8,33%
Arlindo Machado 2 8,33%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Nas referências bibliográficas, estão listados 69 autores, distribuídos de acordo com suas
nacionalidades no quadro abaixo:
189
QUADRO 30 – Nacionalidade dos autores referenciados em Doutorado
NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL
Estrangeiros 55 79,71%
Brasileiros 11 15,94%
Não identificada 3 4,35%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Conforme descrito na abertura deste subcapítulo, em função da pouca representatividade
e por se tratar de uma modalidade de fomento pouco expressiva, o Doutorado Direto aparece,
entre 583 bolsas, em apenas duas (0,34%). Apenas a ECA/USP aparece como beneficiária, o
que obviamente se torna um fomento exclusivo e 100% da capital e também com o mesmo
índice totalitário na conjuntura da universidade pública. São apenas dois pesquisadores
responsáveis homens (Ivan Prado Teixeira e Waldomiro de Castro Santos Vergueiro). O mesmo
acontece com os beneficiários, no caso, os pesquisadores Celbi Vagner Melo Pegoraro e Thiago
Mio Salla. Uma bolsa tem tema informado, a outra não. A que aparece traz como histórico da
pesquisa a História em Quadrinhos, a Animação e a Produção Artística. Nenhuma delas informa
metodologia muito menos autores de referência.
Das primeiras impressões, nota-se que o Doutorado Direto não tem viabilidade e pula
uma etapa importante de contato com a vida acadêmica, que é o Mestrado. Já em relação ao
Doutorado tradicional, nota-se inicialmente que pelos temas apresentados, já há uma maior
preocupação com as atuais tendências de processos ligados à Revolução Digital, quando
aparecem temáticas como Internet e Mídia Digital. Em comparação à Iniciação Científica e ao
Mestrado, mesmo sendo um menor número de pesquisas financiadas, percebe-se menor
fragmentação temática, como ocorria com o Jornalismo e a Comunicação, e uma maior
participação das disciplinas que formam a Área da Comunicação. Em termos metodológicos,
predomina a Pesquisa Bibliográfica. Assim como vem sendo recorrente, a literatura estrangeira
predomina destacando-se a presença de alguns autores latinos dentro de uma concentração
europeia.
190
3.4 Bolsas de Pós-Doutorado
O Pós-Doutorado corresponde a uma fase mais avançada da carreira de pesquisador, por
isso, sua proposta é criar condições para a incorporação temporária a grupos de pesquisas ativos,
no estado de São Paulo, de cientistas promissores que tenham obtido o título de doutor, em
prazo inferior a 7 anos, e que sejam aprovados em processo de seleção pela FAPESP. O
proponente deve demonstrar qual contribuição seu trabalho pode dar ao local pretendido de sua
execução. É aconselhável que o pós-doutorado não seja realizado na mesma instituição do
Doutorado. Uma vez apresentado o projeto, o pesquisador responsável justifica a contribuição
da pesquisa proposta além de considerar como a formação prévia do candidato contribui à linha
de pesquisa. Desse modo, o projeto de pesquisa de estágio de pós-doutoramento deve estar
articulado com as atividades do grupo de pesquisa.
As bolsas de Pós-Doutorado incluem uma reserva técnica, com recursos que podem ser
utilizados em estágios de pesquisa no exterior, bem como, a participação em eventos científicos
tanto no Brasil quanto fora. O prazo de duração deste fomento em questão é de dois anos.
Restringe-se a participação daqueles que tenham usufruído de bolsa da própria FAPESP em
modalidade equivalente ao pós-doutoramento; pesquisadores com bolsa vigente e que se
encontram em débito com a entrega do Relatório Científico Final. As renovações podem ocorrer
em alguns casos, entre eles, quando pesquisadores com bolsa vigente entregaram o Relatório
Científico Final dentro do limite de vigência da modalidade e que tenham um plano de trabalho
para o período solicitado. Pedidos de interrupção podem ocorrer por 1 ano com a condição de
que o pesquisador realize estágios ou outras atividades de interesse da pesquisa.
No Pós-Doutorado, a preparação e o desenvolvimento do projeto de pesquisa são de
responsabilidade do Pesquisador Responsável, também chamado de supervisor, que recebe o
bolsista. Essa modalidade de fomento também exige dedicação exclusiva ao projeto de
pesquisa. Este é um dos compromissos que o beneficiário assume no Termo de Outorga com a
FAPESP que prevê as mesmas condições de fomentos anteriores envolvendo o não recebimento
de verbas de outra fonte de financiamento, a não autonomia em mudar o projeto inicial sem o
consentimento da Fundação, a apresentação de relatórios, etc...
Do supervisor, espera-se que ele informe se está pleiteando ou recebendo bolsa ou
auxílio de outras fontes de financiamento para a mesma finalidade da pesquisa apresentada,
além de se comprometer a se inteirar de seus direitos, deveres e obrigações e fazer com que
191
todas as publicações decorrentes do projeto de pesquisa explicitem o apoio da FAPESP. Há
uma orientação de que, em casos de artigos publicados em revistas científicas ou técnicas com
revisão dos pares, seja mencionado que opiniões, hipóteses e conclusões ou recomendações
sejam de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente, a opinião da
FAPESP.
Ao solicitar a bolsa de Pós-Doutorado, o proponente precisa apresentar, além de sua
súmula curricular, a súmula do pesquisador responsável, o histórico escolar completo da Pós-
Graduação, certificado de conclusão do doutorado, comprovante de afastamento sem
remuneração ou de demissão para candidatos com vínculo empregatício, declaração inicial de
atividades, assinada pelo supervisor, resumo dos resultados obtidos em processos anteriores
com a FAPESP, projeto de pesquisa, em 20 páginas, com formatação estabelecida apresentando
enunciado do problema, resultados esperados, desafios científicos e tecnológicos, com
respectivos meio e métodos para superá-los, cronograma de execução do projeto, disseminação
e avaliações, outros apoios e bibliografia. Também são exigidos documentos adicionais como
descrição de apoio institucional e infraestrutura que envolve serviços acadêmicos,
administrativos e apoio técnico.
Os critérios avaliados para a concessão são projeto de pesquisa, histórico acadêmico do
candidato e histórico de pesquisa do supervisor. Em relação ao projeto de pesquisa, se observam
a definição e pertinência dos objetivos, importância da contribuição pretendida para a área de
conhecimento, na qual o projeto se insere, fundamentação científica e métodos empregados,
adequação do projeto a um programa de pós-doutorado e análise da viabilidade da execução do
projeto considerando infraestrutura disponível e prazo previsto. Em relação ao histórico
acadêmico, observa-se a adequação da formação do candidato ao projeto proposto bem como a
qualidade e a regularidade de sua produção enquanto pesquisador, o término recente do
doutorado e motivos especiais para o candidato fazer o pós-doc na mesma instituição onde se
doutorou. Em relação ao supervisor, notam-se qualidade, regularidade e importância de sua
produção científica com destaque para o que for mais recente. Considera-se isto, a partir de lista
de publicações em periódicos com seletiva política editorial, livros ou capítulos de livros e
outras atividades. Também se avaliam a experiência e competência na liderança de projetos de
pesquisa, em sua área de atuação, bem como, a capacidade de formar pesquisadores e os
resultados anteriores, obtidos com financiamentos da FAPESP.
Sobre os relatórios científicos exigidos, para bolsas com duração entre 18 e 24 meses, o
Relatório Científico Final deve ser apresentado, no dia 10 do mês seguinte, ao encerramento da
192
bolsa. Para prazos menores que 18 meses, também. Relatórios não apresentados implicam na
suspensão da bolsa, o que impede a assinatura de novos Termos de Outorga para auxílios e
bolsas.
3.4.1 Mapeamento das pesquisas de Pós-Doutorado (1998-2016)
Em 18 anos de bolsas concedidas, essa fase, que é um amadurecimento do pesquisador,
representa tímidos 6,18% dos fomentos em um universo de 583 pesquisas apoiadas, ou seja,
são 36 bolsas financiadas. A USP detém o maior número (19), seguida por PUC-SP, com 13,
UFSCAR e UNICAMP, com duas cada. No tocante à distribuição, todas as bolsas estão em
universidades. Desse total, 63,88% estão nas públicas e 36,12% na universidade particular, no
caso, exclusivamente, a PUC-SP.
QUADRO 31 – Distribuição das 38 Bolsas de Pós-Doutorado
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
USP 19 52,78%
PUC-SP 13 36,12%
UFSCAR 2 5,55%
UNICAMP 2 5,55%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Sob esta divisão, as bolsas de Pós-Doutorado foram concedidas para pesquisadores que
estão em São Paulo, São Carlos e Campinas. Das 36 bolsas, 32 ficaram na capital (88,89%) e 4
(11,11%) no interior. Elas foram concedidas a 19 mulheres (52,78%) e 17 homens (47,22%). O
pesquisador, com mais bolsas recebidas na condição de supervisor, foi Ciro Juvenal Rodrigues
Marcondes Filho, da ECA/USP, conforme demonstra o quadro que segue e que se refere aos
supervisores com média de representatividade superior a 5%.
193
QUADRO 32 – Supervisores de Pós-Doutorado
SUPERVISOR INSTITUIÇÃO NÚMERO DE
BOLSAS
ÍNDICE
PERCENTUAL
Prof. Dr. Ciro Marcondes
Filho
ECA/USP 4 11,11%
Profa. Dra. Maria Cristina
Castilho Costa
ECA/USP 3 8,33%
Profa. Dra. Ana Claudia Mei PUC-SP 3 8,33%
Prof. Dr. Norval Baitello Jr. PUC-SP 3 8,33%
Profa. Dra. Jerusa de
Carvalho Pires Ferreira
PUC-SP 2 5,55%
Prof. Dr. Samuel José
Holanda de Paiva
UFSCAR 2 5,55%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Desses pesquisadores bolsistas, cinco (13,89%) não informaram os temas de pesquisa,
situação feita por 31 desses pesquisadores (86,11%). No total, foram 69 temas. Considerada
margem superior a 1,5%, temos, em primeiro, o tema Censura (4,34%), mencionado três vezes,
seguido pela Divulgação Científica (2,89%) mencionado duas vezes. Quando são consideradas
as metodologias, a maioria das pesquisas – 23 (63,89%) – também prestou informação enquanto
isso não ocorreu em 13 pesquisas (36,11%). As metodologias foram citadas 38 vezes e, as mais
representativas, são as superiores a 5% na média.
194
QUADRO 33 – Metodologias de Pós-Doutorado
TIPO DE METODOLOGIA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Pesquisa Documental 8 21,05%
Estudo de Caso 4 10,52%
Análise Fílmica 2 5,26%
Estudo Comparado 2 5,26%
Pesquisa Bibliográfica 2 5,26%
Pesquisa de Observação 2 5,26%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
E quando o assunto é Bibliografia, das 36 bolsas do Pós-Doutorado, em 21 (58,33%),
não há menção aos autores utilizados, sendo esta informação presente apenas em 15 pesquisas
(41,67%). Elas produziram 41 referências que podem aparecer em mais de uma pesquisa.
Considerada a margem superior de 2,5%, os autores mais representativos são Villém Flusser (3
citações – 7,35%) e Hans Belting, J.Greimas, Marshall McLuhan, Eric Landowski e Walter
Benjamin, todos com duas citações cada, e referencial de 4,87%. Todos os autores citados
chegam a 34 nomes e a divisão, por nacionalidade, se encontra no quadro que segue.
QUADRO 34 – Nacionalidade dos autores referenciados em Pós-Doutorado
NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL
Estrangeiros 30 88,24%
Brasileiros 4 11,76%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Considerando as primeiras impressões, verifica-se no estrato de dados, especialmente
em relação aos temas, a interdisciplinaridade com outras Áreas do Conhecimento como
Neurociências, Psicanálise e Psicologia; a fragmentação do tema Comunicação; temas mais
195
cotidianos como vida digital, mulheres, futebol, AIDS, infância, ou seja, aborda-se mais
diretamente o aspecto comum da vida das sociedades. Embora, quando passamos ao que é mais
representativo, haja duas frentes de trabalho apenas: a censura e a divulgação cientifica. Em
relação às metodologias, há uma tipificação maior, com destaque para a Pesquisa Documental,
e no tocante à bibliografia, predomínio da literatura estrangeira, com forte influência dos
pensadores europeus bem como autores que transitam pela interdisciplinaridade.
3.5 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no
Brasil
Sobre a produtividade, nas Bolsas de Estudo no Brasil, existe a atração de novos
pesquisadores, o que pode fazer com que os cursos de Graduação também demonstrem e
incentivem que a carreira de pesquisador é uma profissão, dentro da Área, assim como as
habilidades treinadas e desenvolvidas para a inserção dos egressos das faculdades e
universidades no mercado de trabalho.
É patente o predomínio da Universidade Pública na conquista de fomento. Se, por um
lado, reforça o caráter da pesquisa em tempos que esta se encontra sombria, sobretudo, após a
crise político-econômica brasileira, que devastou nosso país de outubro de 2014 em diante, por
outro, há o risco de se compreender, erroneamente, que o fomento FAPESP é algo estritamente
governamental e só seja viável e acessível ao ensino público. Isto demonstra que as instituições
privadas precisam conhecer mais sobre a possibilidade de conseguir fomento. Elas já o fazem,
mas, ainda de forma incipiente. Em algumas instituições, como a Universidade Metodista de
São Paulo, por exemplo, existe, um escritório de apoio55 da FAPESP ao pesquisador, o que
pode ser um facilitador e difusor de que os estudantes possam vir a pleitear muito mais à
Fundação. Ainda sobre a produção, nas instituições, os dados analisados apontam para três
grandes centros de excelência na Área da Comunicação e que aproveitam muito bem o incentivo
da FAPESP à pesquisa: a USP (que se confunde com a história da FAPESP), a PUC-SP (que
percebeu positivamente essa possibilidade de incentivar seu corpo discente aos fomentos da
FAPESP) com larga vantagem em todas as modalidades do fomento; e a UNESP Bauru que se
destaca na Iniciação Científica e no Mestrado. Consideramos centros de excelência as
55 O site da FAPESP informa que também há escritórios de apoio na FAAC UNESP Bauru; UNICAMP; UFSCAR
e ECA/USP. Ver em: https://www.fapesp.br/eaip
196
instituições que reuniram o maior número de apoios e presença constante na obtenção de
fomentos dentro da nossa amostra. Apesar do campus de Bauru garantir essa força ao interior
paulista, é ainda a capital São Paulo, o destino de quem pretende estudar os temas da
Comunicação de forma mais aprofundada. Todavia, há de se mencionar, de forma honrosa, o
crescimento de São Carlos, com a UFSCAR, e de São Bernardo do Campo, com a Universidade
Metodista, que se alia à tradição de seus 40 anos de pesquisas, completados em 2018, ano em
que concluímos este estudo para a obtenção do título de doutor. Por esse cenário, entende-se
que as instituições do interior de São Paulo precisam se arrojar para pedir bolsas de estudo,
principalmente, do Doutorado em diante, para assim marcarem mais presença na Área.
Na relação orientador/orientando, um contraste em relação ao gênero. Enquanto os
orientadores são predominantemente homens, entre os orientandos, quem mais conseguiu
bolsas de estudo foram mulheres. Isto leva a uma possibilidade de inversão, futuramente, pois,
se as mulheres estão pedindo mais bolsas, pelo menos em nível de FAPESP, há projeção de um
cenário em que, futuramente, e elas se tornem orientadoras de pesquisas, e com isso, ganhem
projeção quando se pensa na categoria de orientadores. Por falar em orientação, é latente que
os professores pesquisadores que orientam, exercem majoritariamente suas atividades de
instruir a formação de novos pesquisadores, na Iniciação Científica e no Mestrado, que
correspondem à base da formação do pesquisador. Há de se considerar o papel de alguns
professores que não necessariamente fazem parte do corpo docente dos cursos de Pós-
Graduação, instância de forte presença da pesquisa, mas que são essenciais para preparar o
terreno fértil aos embriões de pesquisadores.
O Jornalismo predomina entre os temas de pesquisa e isso tem uma justificativa, pois,
muitas vezes, essa disciplina se confunde e se assimila com a própria Comunicação, sendo
inclusive no nosso país, a primeira área de conhecimento na qual se obteve um doutoramento
por meio do trabalho do professor Luís Beltrão. Além disso, foi a motivação inicial das
pesquisas ao longo da história da pesquisa na Área contribuindo assim para sua
institucionalização.
Em relação às metodologias, pode-se dizer que a FAPESP necessita exigir mais em
relação à informação de dados de pesquisa, ou rever a alimentação de seu banco de dados, pois,
algumas vezes não constam menções a respeito da adoção metodológica de pesquisas, que entre
todas as etapas de “Bolsas no Brasil”, se direcionam ao uso recorrente da Pesquisa
Bibliográfica. Concomitantemente a esse assunto, o referencial bibliográfico que mais teve
informações prestadas foi entre os pesquisadores do Mestrado. Essa informação esteve presente
197
em 32 pesquisadores totalizando um conjunto de 83 autores. Porém, o que ficou evidenciado, é
que a Área ainda se vale da literatura estrangeira. O predomínio de produções de fora do Brasil
é extenso. O Pós-Doutorado é o tipo de fomento que mais adota a literatura estrangeira sendo
que o fomento, em que se lê mais autores brasileiros, é a Iniciação Científica, uma característica
que faz sentido, já que a maioria de nossas produções se ocupa em debater a complexidade do
campo, conhecimento propício para quem está ingressando na Área.
3.6 Bolsas no Exterior
Os fomentos da FAPESP proporcionam também a realização de pesquisas no Exterior
em cinco modalidades: Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Pós-Doutorado e Pesquisa.
Esse contato com o exterior viabiliza um intercâmbio de pesquisadores em formação e também
para os que já estão em estágio de pós-doutoramento. Sua realização é durante a pesquisa,
desenvolvida no Brasil, com interrupção autorizada pela Fundação para que o estudante possa
estabelecer essa troca de experiências com grupos de pesquisa estrangeiros. Essa
internacionalização vem produzindo resultados para a FAPESP como um todo. Em reportagem
da Agência FAPESP, em setembro de 2015, sobre a internacionalização da pesquisa paulista,
dados mostram que, entre 2007 e o referido ano, foram assinados 130 acordos de cooperação
internacional. Desse total, existe uma parceria com 136 universidades, institutos de pesquisa e
até empresas de 27 países56. O presidente da FAPESP, nesse período, Celso Lafer, disse, nessa
mesma entrevista, que com a internacionalização, houve uma diplomacia da cooperação
científica e tecnológica com os pesquisadores se tornando stakeholders de um processo de
cooperação. Ele considerou:
A internacionalização oferece aos nossos pesquisadores a geração de amplas
comunidades de conhecimento com as quais eles se inter-relacionam, inclusive em
rede, o que significa abrir novas possibilidades e novos parâmetros de atuação e de
conhecimento. E, diferentemente do que ocorreu no passado, hoje temos uma
internacionalização de duas mãos. Nossos pesquisadores vão para o exterior e
pesquisadores do exterior vêm para cá. É uma troca de conhecimento não apenas
importante, mas fundamental para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia
como um todo.
Formar redes de pesquisa já é preocupação entre pesquisadores da Área da
Comunicação. Na maioria das ocasiões, isto ocorre em projetos com maior demanda, que se
56 Ver em: http://agencia.fapesp.br/fapesp_e_a_internacionalizacao_da_pesquisa_paulista/21833/
198
ocupam de estudar uma realidade, a partir de várias experiências em lugares distintos. E, para
chegar a isso, muito depende da Comunicação, em seu sentido de troca, afinal, quando
publicamos ou participamos de eventos científicos, estamos mostrando o que produzimos, e
logo, disponibilizando isso para outras fronteiras geográficas e disciplinares caracterizando a
divulgação científica. Nessa relação dos beneficiários da FAPESP com pesquisadores
estrangeiros, cabe ao supervisor, identificar um grupo de pesquisa, fora do Brasil, para a
realização do estágio de pesquisa de seu orientando que terá também a anuência de outro
pesquisador anfitrião que abriga o candidato, no período determinado, para os estudos. Esse
aceite não impõe custos adicionais à FAPESP, que responde aos encargos da bolsa.
O tempo de duração das Bolsas no Exterior varia de um mês a um ano. A ida para o
exterior é considerada um estágio e cada modalidade tem suas peculiaridades. Na Iniciação
Científica, o estágio no exterior deve ser realizado, a partir do sexto mês de vigência do
fomento, e o tempo para ficar fora do Brasil é de no máximo quatro meses. O bolsista já deve
ter concluído um número suficiente de disciplinas relevantes para o projeto. Já, no Mestrado,
os bolsistas vão para o exterior, a partir do primeiro ano cursado da pós-graduação, e devem
ficar lá, no máximo, um semestre. Quando o aluno tiver concluído todas as disciplinas
obrigatórias, no respectivo Programa, a FAPESP pode analisar solicitações para usufruir o
estágio antes do cumprimento de todos os créditos com justificativa circunstanciada. Para o
Doutorado Direto, a possibilidade de início para embarque ao exterior é o mesmo do Mestrado,
porém, a permanência por lá sobe, para no máximo, um ano. Regras semelhantes valem para o
Doutorado convencional. No Pós-Doutorado, a permanência fora do Brasil também é por um
ano no máximo e a saída para o país escolhido é feita no sexto mês de vigência da bolsa.
Os pesquisadores que vão para o exterior recebem em Reais pela cotação do Banco
Central na data anterior ao pagamento. Fora do país, o bolsista é bancado por manutenção
mensal, despesas de transporte (passagem aérea em classe promocional ou no máximo em
classe econômica), seguro saúde e auxílio instalação. Não são financiadas taxas escolares, taxas
de bancada e benefícios para dependentes. As possibilidades para onde os bolsistas podem ir e
seus respectivos valores financiados57 são categorizadas e envolvem como destinos: África
(Angola e demais países), Américas (EUA, Canadá, Venezuela e demais países), Ásia (China,
Cingapura, Coreia do Sul, Japão, Timor Leste e demais países), Oriente Médio (Israel e demais
57 Ver em: http://www.fapesp.br/7798
199
países), Europa (Alemanha, Áustria, França, Holanda, Irlanda, Itália, Noruega, Suécia, Reino
Unido, Suíça e demais países) e Oceania (Austrália, Nova Zelândia e demais países).
Para o estágio no exterior, os candidatos precisam ter bolsa vigente da FAPESP em
Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Doutorado Direto ou Pós-Doutorado, além das
obrigações de relatórios científicos, prestação de contas e parecer de assessoria em dia bem
como proficiência na língua do país onde esse candidato vai realizar seu estágio de pesquisa ou
ser proficiente, em Inglês, mediante comprovação do supervisor da bolsa no Brasil. Em solo
estrangeiro, o pesquisador deve ter dedicação exclusiva à pesquisa, além de outros trâmites
parecidos, e já citados, no que diz respeito às exigências da Fundação, além de ser de sua
responsabilidade, a obtenção de visto do país onde vai ser realizado o estudo.
Por outro lado, o supervisor é responsável pelas comunicações com o supervisor do
bolsista no exterior e por fazer esse acompanhamento à distância em relação ao
desenvolvimento do estágio de pesquisa. A FAPESP só tem conhecimento disso ao receber do
supervisor os formulários correspondentes para a comprovação desse período fora do Brasil.
Nenhuma mudança no projeto pode ser feita sem consulta à Fundação, que também nesta
modalidade, exige que seu apoio seja referenciado nas atividades divulgadas.
Para Bolsas de Estágio no Exterior, cumpridas em países francófonos, toda a
documentação pode ser enviada em francês. Na Espanha e países da América Latina, que
adotem o espanhol como língua oficial, os documentos também podem ser apresentados neste
idioma. Em Portugal e outros países lusófonos, valem os documentos em Língua Portuguesa.
Porém, há alguns documentos exigidos em Inglês como projeto de pesquisa em 10 páginas;
resumo do projeto de pesquisa principal referente à bolsa no país; descrição dos ganhos
acadêmicos esperados para o projeto em decorrência do estágio no exterior; justificativa para a
escolha do local do estágio de pesquisa demonstrando sua singularidade e especificidade;
Curriculum Vitae do pesquisador; Declaração do Pesquisador com o qual se realizará o estágio
de pesquisa no exterior que comprove o seu aceite e que concorde emitir um Relatório
Científico Final sobre o estágio e o parecer sobre o mérito científico do pesquisador que realizou
o estágio. Também precisam ser apresentados, mas não em Inglês, uma declaração formal do
supervisor brasileiro, atestando a proficiência de seu bolsista; o histórico escolar atualizado; a
súmula curricular, no caso de Pós-Doutorado, apenas; declaração de compromisso de retorno
ao Brasil; carta da instituição estrangeira aceitando o pesquisador brasileiro e declaração do
dirigente da instituição brasileira informando e autorizando o afastamento das atividades por
período determinado em seu programa de origem.
200
Por parte da FAPESP, leva-se em consideração do pesquisador, a qualidade de seu
projeto de pesquisa em território brasileiro e a sua aplicação no exterior, os relatórios científicos
de bolsas obtidas no Brasil, qualidade da instituição escolhida para o estágio visitante, histórico
escolar (menos para bolsistas de Pós-Doutorado) e súmula curricular do proponente em casos
de Pós-Doutorado. Ao final do estágio, o contemplado tem até o dia 30, do mês subsequente,
para entregar um relatório científico em Inglês58.
3.6.1 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Iniciação Científica (2012-2016)
As bolsas de estágio para Iniciação Científica, no exterior, começaram em 2012,
portanto nesta pesquisa, temos um período de quatro anos em análise. Vale registrar que essa
internacionalização da pesquisa começa, lá em 1996, quando brasileiros partiram para o exterior
executar parte de seus projetos apoiados pela FAPESP. Quando pensamos, no contexto geral,
podemos dizer que somados Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado, Pós-Doutorado e
Bolsas para Pesquisa, foram concedidas 82 bolsas. Desse total, 14 destinadas à Iniciação
Científica, o que representa 17,07%. E todas essas bolsas foram concedidas à UNESP, com sua
FAAC, que se tornou, então, a única representante do estado nessa modalidade. Seus
pesquisadores cumpriram estágio nos países relacionados no quadro a seguir onde se
demonstram, majoritariamente, a força da Europa e a aparição da América Latina. Curioso
destacar que, na Espanha, o país preferido, seis bolsas foram para uma mesma instituição: a
Universidade de Sevilla.
58 Também podem ser apresentados de acordo com o idioma predominante do país onde foi realizado o estágio
de pesquisa.
201
QUADRO 35 – Distribuição das 14 Bolsas Exterior no Estágio Iniciação Científica
PAÍS NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
Espanha 8 57,15%
Chile 2 14,29%
Argentina 1 7,14%
Inglaterra 1 7,14%
Portugal 1 7,14%
Alemanha 1 7,14%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Sobre os orientadores, só podem ser considerados Iniciação Científica, Mestrado,
Doutorado e Pós-Doutorado. Essa inferência não se aplica à Bolsa Pesquisa porque esta é uma
demanda solicitada, pelos próprios pesquisadores, que terão um anfitrião como supervisor no
exterior. Considerando isto, temos então, 34 bolsas que nos permitem analisar os dados sobre
o professor orientador (pesquisador responsável) e o seu gênero. Dessas 34 bolsas gerais, 20
foram destinadas a professores (58,82%) e 14 para professoras (41,18%). Quando consideramos
apenas a Iniciação Científica, temos 14 bolsas com 9 professoras (64,29%) e 5 professores
(35,71%). As professoras que mais orientaram foram Célia Maria Retz Godoy dos Santos e
Raquel Cabral, com três pesquisas cada. Evidentemente elas são da UNESP Bauru, única
instituição detentora dessas bolsas no período analisado. Ambas atuam na Pós-Graduação. A
professora Célia, no Mestrado Profissional em Mídia e Tecnologia, e a professora Raquel, no
Mestrado e Doutorado em Comunicação.
Sobre os orientandos, também são considerados apenas os beneficiários da Iniciação
Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado. Analisando o universo da Iniciação
Científica são 14 bolsistas, com 9 mulheres (64,29%) e 5 homens (35,71%). Como dito
anteriormente, esses pesquisadores vão ao exterior, por um período da bolsa, onde têm um
supervisor que se torna responsável pelo acompanhamento da pesquisa fora do Brasil. Por isso,
considerar o supervisor no exterior, e seu gênero, é uma das categorias de análise. Quando se
fala em supervisor, isto vale para todos os tipos de auxílio no exterior, pois, se na Bolsa Pesquisa
não existe a figura do orientador, que majoritariamente é o próprio “professor-aluno”, este
202
também precisa ter um supervisor internacional. Assim, entre 82 bolsas, 63 homens são
supervisores (76,83%) enquanto as mulheres totalizam 19 (23,17%). Afunilando a análise para
a Iniciação Científica, das 14 bolsas, estamos falando de uma divisão rigorosamente igualitária.
Sete pesquisadores são supervisionados por sete homens e sete pesquisadoras são orientadas
por sete mulheres. Esses 14 bolsistas da Iniciação Científica fizeram menções a 32 temas sendo
os mais representativos aqueles que superaram a média de 5% conforme mostra o próximo
quadro.
QUADRO 36 – Distribuição dos 32 temas das 14 Pesquisas Estágio Iniciação Científica no
Exterior
TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Jornalismo 3 9,37%
Relações Públicas 3 9,37%
Opinião Pública 2 6,25%
Internet 2 6,25%
América Latina 2 6,25%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Entre as metodologias, de 14 pesquisas, 13 informaram suas estratégias metodológicas
sendo consideradas as mais representativas aquelas que, na média, ultrapassaram os 10%.
Assim, a Entrevista em Profundidade, abordada em três pesquisas, tem 23,07% e a Pesquisa
Bibliográfica, com duas pesquisas, 15,38%.
Em relação aos autores utilizados, como aporte teórico, nas 14 pesquisas da Iniciação
Científica, foram citados nove autores: Vicente Gosciola, Nelson Traquina, Robert Mckee,
Lorenzo Vilches, Denis Porto Renó, Sérgio Puccini, Doc Comparato, Henry Jenkins e Jesús
Flores. A representatividade da nacionalidade deles está no quadro que segue.
203
QUADRO 37 – Nacionalidade dos autores referenciados em Bolsa Exterior Iniciação
Científica
NACIONALIDADE AUTORES ÍNDICE PERCENTUAL
Estrangeiros 7 77,78%
Brasileiros 2 22,22%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
3.6.2 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Mestrado (2013-2016)
Essa história reconstruída, que ajuda a formar a memória da Área de Comunicação, no
estado de São Paulo, a partir da FAPESP, se refere neste tipo de categoria de fomento a 3anos
de análise. Pouco tempo de oferta, pequeno também o número de bolsas concedidas. Foram
oito no total, em média, duas por ano. Essas oito bolsas representam 9,76% do total de fomentos
concedidos para Bolsas no Exterior.
Os pesquisadores que solicitaram estão em três cidades: São Paulo, Bauru e São Carlos,
o que percentualmente, se demonstra com 7 bolsas (87,5%) destinadas ao interior e apenas uma
(12,5%) à Capital. Tais bolsas foram destinadas às seguintes universidades públicas:
QUADRO 38 – Distribuição das 8 Bolsas Exterior em Mestrado para Universidades
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
UNESP 5 62,5%
UFSCAR 2 25%
USP 1 12,5%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
A América do Norte e a Europa são os continentes para onde esses pesquisadores foram
fazer seus estágios, no período em que a bolsa prevê estadia fora do Brasil. Os EUA estão na
liderança porque as pesquisas realizadas têm, em sua maioria, ligações com aquele país, já que
204
os bolsistas estudaram a radiodifusão internacional a partir do caso da Voice of America59, e
também, casos de democracia comparada com o Brasil. O destino desses pesquisadores está
demonstrado no quadro que segue:
QUADRO 39 – Países das 8 Bolsas Exterior em Mestrado
PAÍS NÚMERO DE PESQUISADORES ÍNDICE PERCENTUAL
EUA 3 37,5%
França 2 25%
Espanha 1 12,5%
Portugal 1 12,5%
Canadá 1 12,5%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
No Mestrado, há um total de 8 orientadores divididos entre 6 homens (75%) e 2
mulheres (25%). Todos os orientadores aparecem em apenas um projeto, o que leva a afirmar
que pelos números totalizados desta fase de pesquisa, há um professor responsável para cada
bolsa concedida. Esses professores trabalharam com 5 mulheres (62,5%) e 3 homens (37,5%),
como orientandos. No exterior, todas essas pesquisas foram acompanhadas por 5 supervisores
(62,5%) e 3 supervisoras (37,5%). Dessa relação, surgiram 23 temas e todos foram informados,
nas pesquisas apoiadas, sendo que citando aqueles, com média superior a 5%, aparecem o
Cinema e a Comunicação Pública com representatividade de 8,7% cada em duas menções.
Na adoção de metodologias, das oito bolsas, 5 informaram seus métodos de trabalho
(62,5%). Entre eles, aparecem a Pesquisa Bibliográfica em quatro estudos (80%) e o Estudo de
Caso (20%). Os aportes teóricos, sustentados nessas pesquisas, passam por autores
mencionados em seis das oito pesquisas que receberam bolsas. Apenas dois autores são citados:
Jürgen Habbermas e Nancy Fraser. Porém, ambos são estrangeiros e denotam mais uma vez o
59 Serviço de radiodifusão internacional financiado pelo Governo dos Estados Unidos.
205
alto interesse pela bibliografia internacional, uma condição praticamente consolidada na
atividade de pesquisa da Área.
3.6.3 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Doutorado (2012-2015)
O período de concessão das bolsas ao Doutorado no Exterior também é recente e
envolve três anos (2012-2015). Em tão pouco tempo, registra-se uma baixa oferta sendo que foi
um total de cinco bolsas (6,10% do montante geral), das quais, quatro foram para a ECA/USP
(80%) e uma para a Faculdade de Educação da UNICAMP (20%). Obviamente, em relação às
cidades, os fomentos estão em São Paulo e Campinas. Esses dados demonstram que
praticamente foi concedida uma bolsa por ano. A Europa predominou como destino de
realização da pesquisa conforme demonstra o quadro abaixo.
QUADRO 40 – Países das 5 Bolsas Exterior em Doutorado
PAÍS NÚMERO DE PESQUISADORES ÍNDICE PERCENTUAL
Inglaterra 2 40%
França 1 20%
Itália 1 20%
Espanha 1 20%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Em relação aos orientadores, são três mulheres (60%) e dois homens (40%) à frente das
pesquisas conduzindo seus estudantes, sendo que entre estes, há quatro mulheres (80%) e um
homem (20%). Já, entre os supervisores no exterior, dos cinco, a tarefa está nas mãos de três
homens (60%) e duas mulheres (40%). Juntos, nessa relação orientador/orientando, os
pesquisadores conseguiram gerar 12 temas às pesquisas sendo que sempre há menção a um
tema diferente e despontando temáticas mais contemporâneas como Internet, Interatividade,
Digitalização, Televisão Digital, Mídia Digital e Fãs. Quando o assunto é Metodologia, das
cinco bolsas, quatro não informaram (80%), enquanto, apenas uma (20%) trouxe informação
206
que é a Análise de Discurso como recurso metodológico. Sobre bibliografia, pouca
representatividade também. Apenas uma pesquisa informou e o autor mencionado é o
canadense Marshall McLuhan, o que acaba fazendo sentido na relação com os temas, uma vez
que o autor trabalhou as principais questões tecnológicas transformadoras da Comunicação sem
mesmo vivenciá-las.
3.6.4 Mapeamento de Bolsa Estágio no Exterior em Pós-Doutorado (2012-2016)
O Pós-Doc também representa muito pouco mesmo em função do curto período de
tempo (2012-2016) em relação às concessões de fomento. São sete bolsas no total, o que
representa 8,54% da categoria Bolsas no Exterior. Dessas sete bolsas, seis estão na USP
(85,71%) e uma (14,29%), na PUC-SP, o que também revela que apenas a capital paulista teve
acesso a esse benefício com uma média praticamente de uma bolsa por ano. A Europa e a
América do Norte aparecem entre os destinos dos pesquisadores, como ilustra o quadro abaixo.
QUADRO 41 – Países das 7 Bolsas Exterior em Pós-Doutorado
PAÍS NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
EUA 2 28,58%
Canadá 2 28,58%
França 1 14,28%
Inglaterra 1 14,28%
Alemanha 1 14,28%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
O professor Ciro Marcondes Filho, da ECA/USP, é quem mais supervisionou pesquisas
de Pós-Doc. Foram quatro no total. Aliás, infere-se que diante do mapa de países, os orientandos
do referido professor foram discutir a Filosofia dos Meios, majoritariamente, na Europa, o que
coincide de certo modo com as origens da Teoria Crítica naquela continente. Inclusive, uma
das pesquisas se propunha a trabalhar por uma Teoria Negativa da Comunicação, ou seja,
207
percebem-se hipoteticamente afinidades com os conceitos mais reflexivos das práticas
comunicacionais sob a herança da Indústria Cultural. Retomando a categoria dos orientadores,
em relação aos outros nomes, mostra-se o total predomínio dos homens na condição de
supervisores. Situação que se altera, quando analisamos os beneficiários, ou seja, os
orientandos. Quatro deles são mulheres (57,14%), enquanto três são homens (42,86%). Entre
os sete supervisores, cinco são homens (71,43%) e duas são mulheres (28,57%).
Quando são abordados os temas, seis das sete bolsas fizeram menções que resultaram
na identificação de 16 temas que também demonstram assuntos mais contemporâneos como
Redes Sociais e Internet, além de muitas questões ligadas à Filosofia da Comunicação.
Alteridade e Filosofia, por exemplo, aparecem duas vezes cada e representam 12,5% dos temas.
Esses temas decorrem de pesquisas que recorreram a metodologias, porém, este dado foi pouco
informado. Apenas uma (14,28%) de sete bolsas informou sua opção metodológica que foi a
Pesquisa Exploratória. E, em relação às bibliografias, três pesquisas (42,86%) trazem os nomes
de autores utilizados. Desses três, um brasileiro aparece duas vezes: Ciro Marcondes Filho
(66,67%), o que é justificável porque ao liderar essa modalidade de fomento pelo qual se dedica
a produzir uma Nova Teoria da Comunicação, seus orientandos o colocam naturalmente como
referencial bibliográfico muito em função do ineditismo do tema. Já o estrangeiro citado é Hans
Belting (33,33%). Nesta modalidade, é possível afirmar que o grupo da USP, do professor Ciro
e equipe, abastece o fluxo circulatório das discussões a respeito da Comunicação.
3.6.5 Mapeamento de Bolsa Estágio Pesquisa (1996-2016)
O interesse de pesquisadores em irem ao exterior é mais antigo, tanto que há mais
registros de bolsas concedidas, quando a categoria é a Bolsa Pesquisa. O próprio período
observado de fomentos concedidos aumenta. É de 20 anos com 48 bolsas que representam
58,53% do fomento ao exterior. A metade dessas bolsas foi para universidades públicas, sendo
a outra metade, dividida entre universidades e faculdades particulares conforme visualizado nos
quadros a seguir.
QUADRO 42 – Distribuição das 24 Bolsas de Pesquisa Exterior para Universidades Públicas
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
208
USP 20 83,33%
UNESP 3 12,5%
UNICAMP 1 4,17%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 43 – Distribuição das 20 Bolsas de Pesquisa Exterior para Universidades
Particulares
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
PUC-SP 9 45%
UNIP 6 30%
METODISTA S.PAULO 2 10%
UNISO 2 10%
USCS 1 5%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 44 – Distribuição das 4 Bolsas de Pesquisa Exterior para Faculdades Particulares
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
ESPM 3 75%
CÁSPER LÍBERO 1 25%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Sobre os destinos procurados, o quadro abaixo sinaliza a forte presença da Europa.
209
QUADRO 45 – Países das 48 Bolsas de Pesquisa Exterior
PAÍS NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
França 10 20,84%
Alemanha 9 18,75%
Portugal 8 16,67%
Espanha 7 14,59%
EUA 5 10,41%
Inglaterra 5 10,41%
Itália 2 4,17%
Canadá 1 2,08%
Irlanda 1 2,08%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Ao inferirmos, pela Análise de Conteúdo, os números mais representativos em relação
aos destinos dos pesquisadores, interpreta-se que a França lidera por conta de estudos
realizados, na Université de Sorbonne, que garante grande relevância curricular. Também foi
flagrante um caso de atualização teórica em uma Área de Conhecimento aplicada à
Comunicação, inclusive, com linha de pesquisa na USP, que é o caso da Ergologia nas relações
entre Comunicação e Trabalho. Em Portugal, os números se justificam pela escola da
Universidade Nova Lisboa e por alguns estudos comparados além do elemento mais facilitador
entre os dois países que é a Língua Portuguesa como idioma comum. Em relação à Alemanha,
todos os pesquisadores paulistas que trabalham com a Semiótica, seja ela peirceana ou na
perspectiva da imagem, fazem estágio nesse país. Além disso, houve um projeto de pesquisa
extenso para a importação dos arquivos escritos de Villém Flusser para São Paulo. E a Espanha
entra no roteiro em função de estudos comparados. Os EUA aparecem atrás e os estudos estão
mais centrados em atualização digital, em um dos berços dos estudos de Jornalismo: a
Universidade de Columbia, em Nova York.
210
Nessas universidades e faculdades apresentadas, mais os países escolhidos, os homens
são maioria, pois, 27 (56,25%) pediram auxílio para irem ao exterior enquanto 21 mulheres
(43,75%) solicitaram uma viagem para fora do Brasil. No quadro a seguir, mostramos os
pesquisadores mais representativos em ambos os sexos que fizeram mais de uma solicitação.
QUADRO 46 – Solicitação de Pesquisadores para Bolsa Pesquisa no Exterior
PESQUISADOR NÚMERO DE
SOLICITAÇÕES
ÍNDICE
PERCENTUAL
Profa. Dra. Lúcia Santaella 3 6,25%
Profa. Dra. Sandra Reimão 3 6,25%
Prof. Dr. Antonio Adami 2 4,16%
Prof. Dr. Norval Baitello
Jr.
2 4,16%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Entre esses pesquisadores apontados, vale dizer que aparece um ex-coordenador da CHS
II da FAPESP, o Prof. Dr. Norval Baitello Júnior. Por outro lado, entre os 48 supervisores no
exterior, 43 são homens (89,58%) e 5 mulheres (10,42%). Quem mais recebeu brasileiros,
dentre eles, foi Winfried Maximillian Nöth, em cinco ocasiões (10,41%), seguido por Francisco
Rui Nunes Cádima, Francisco Nena Caballero, Manuel Ángel Fernandez Sande e Siegfried
Zielinski, com duas pesquisas cada (4,16%).
Em relação aos temas, seis deles apontados estavam em classificação errada, 12 não
foram informados e 30 trazem o tema trabalhado (62,5%) passando pelo Jornalismo, Meios de
Comunicação, além dos contemporâneos Ciberespaço, Hipermídia, Jogos Eletrônicos,
Tecnologia Educacional, Redes Sociais, e outros, como Política e Censura. Quantitativamente,
o mais citado foi a Fotografia em quatro pesquisas (13,33%), seguida por Digitalização e Meios
de Comunicação em 3 pesquisas (10%).
Sobre Metodologia, 19 bolsas, entre 48, informaram suas abordagens, o que representa
39,58%. O Estudo Comparado foi o que mais apareceu com quatro pesquisas (21,05%), seguida
211
pela Análise de Discurso em três pesquisas (15,79%). Análise de Conteúdo, Pesquisa
Bibliográfica e Pesquisa Teórica são utilizadas em duas pesquisas (10,52%). E quando a
questão é a bibliografia, das 48 pesquisas apoiadas, 12 trazem essa informação, um percentual
representativo de 25%. O autor mais citado foi Villém Flusser, em três pesquisas (25%) sendo
todos os demais autores citados apenas uma vez. Quando buscamos como referência os nomes
completos de autores citados, encontramos 34 nomes sendo 32 estrangeiros (94,12%) e 2
brasileiros (5,88%).
3.6.6 Um Breve Perfil da Área da Comunicação a partir das Bolsas de Estudo FAPESP no
Exterior
As “Bolsas no Exterior” compõem um tipo de fomento recente, com muito espaço a
explorar pelos pesquisadores, o que denota que por meio da FAPESP, seja possível ampliar a
participação da pesquisa brasileira, no cenário internacional. Também por conta desse pequeno
espaço de tempo, já dentro do século XXI, encontra-se atravessada a primeira passagem secular
dos estudos em Comunicação, que coincide com a presença mais marcante da digitalização em
nossas vidas com fenômenos emergentes para serem analisados e que propiciam novas
experiências pela Comunicação, particularmente, aos mais jovens. O público que busca essa
vaga, no Exterior, é o de professores pesquisadores que já orientam trabalhos e que, de alguma
forma, propiciam esse intercâmbio na Área. Aqui também se destaca o trabalho da UNESP
Bauru nas fases iniciais dos pesquisadores – Iniciação Científica e Mestrado – posto assumido,
do Doutorado em diante, pela USP. Na Bolsa Pesquisa, há de se destacar, mais uma vez, a
participação da PUC-SP e a expressiva participação da UNIP.
Em termos de professores que orientam, a maioria é homem tanto no Brasil quanto fora
dele, no cargo de supervisão. A Europa tem ligeira vantagem na preferência de destino dos
bolsistas. Depois, aparecem os EUA. Na Iniciação Cientifica, Jornalismo e Relações Públicas
são as principais temáticas de estudo com aparição da Internet e a estratégia metodológica da
Entrevista em Profundidade. Já, no Mestrado, os temas de pesquisa ficam entre Cinema e
Comunicação Pública, tendo como metodologia em destaque, a Pesquisa Bibliográfica. No
Doutorado, já aparecem temáticas mais modernas, assim como no Pós-Doutorado e nas Bolsas
Pesquisa. Inclusive, no Pós-Doc, existem preocupações de pesquisa com as questões filosóficas
da Comunicação. No Doutorado, a metodologia mais utilizada foi a Análise de Discurso,
212
enquanto no Pós-Doutorado, foi a Pesquisa Exploratória e, nas Pesquisas, o Estudo Comparado
que se justifica porque muitos professores pesquisadores acabam importando teorias para
aplicá-las em seus contextos de trabalho. Uma característica bastante pertinente disto é a adoção
de literatura estrangeira que se torna mais fácil de importar por conta dessa vivência no Exterior.
Uma situação em particular de verificação de tendência é quando se nota o Canadá entre
destinos de pesquisadores. O país é o berço de McLuhan, o pesquisador que anteviu os feitos
que a tecnologia proporcionaria, sem mesmo conhecê-la. Mas, sobre a condição literária, há um
fator curioso, entre os fomentos de Pós-Doc, com o Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho que traz
um alento ao Brasil colocando a literatura científica do país, na liderança, o que conforme já
analisado, se justifica pela participação dos orientandos dele na maior parte dos fomentos
concedidos. Este fator, somado à pequena proporção de bolsas, comparando ao que se financia
no Brasil, sinaliza para uma tendência, em particular, que é o estudo da Filosofia da
Comunicação. Considerando tal prática, é possível que outras instâncias promovam o mesmo
e, de alguma forma, valorizem a produção teórica brasileira que certamente tem muito a
contribuir com a Área.
3.7 Auxílio à Pesquisa - Regular
Esta modalidade de financiamento é para pesquisas individuais, que são de
responsabilidade de um Pesquisador Responsável, com título de doutor, vinculado a uma
instituição de ensino superior paulista, sendo ela, pública ou privada. Em geral, o custeio não
pode exceder 200 mil reais. Esse dinheiro é disponibilizado para a compra de equipamentos e
material permanente, material de consumo, participação do pesquisador em conferências
científicas, além de serviços de terceiros e bolsas de treinamento técnico. A duração da verba é
de dois anos com possibilidade de prorrogação por mais seis meses. O prazo médio, para
aprovação do financiamento à pesquisa, é de 75 dias. Até 2013, quando pouco mais de três mil
projetos foram apresentados, a FAPESP levou 107 dias para dar o aval ou não, por isso, a
Fundação sugere, aos postulantes do Auxílio, que os projetos sejam enviados seis meses antes
para a posterior resposta final dos pareceristas ad hoc.
O projeto de pesquisa deve ser apresentado, em 20 páginas, seguindo as normas da
ABNT e, em seu conteúdo, é necessário constar o enunciado do problema; os resultados
esperados; os desafios científicos e tecnológicos com a evidência de meios e métodos para
213
superá-los; o cronograma de execução; a disseminação e avaliação; bibliografia e três
orçamentos. Isso que a FAPESP considera como “Proposta” é avaliado em três dimensões:
histórico acadêmico do solicitante, o projeto de pesquisa e orçamento solicitado.
O Pesquisador Responsável (PR) assume a preparação, submissão da proposta e
coordenação científico-administrativa do projeto. Já o Pesquisador Principal (PP) é designado
pelo PR – pode ser mais de um – e pode receber benefícios complementares da FAPESP. Há
também o Pesquisador Associado (PA), que contribui com partes do projeto de pesquisa
financiado. O PR deve estar, em dia, com a FAPESP na emissão de pareceres, devolução de
processo, entrega de relatório científico e prestação de contas. Se um desses itens não estiver
atualizado, ele corre o risco de ter a verba para o desenvolvimento da pesquisa bloqueada. Cabe
ao PR também informar se está pleiteando ou recebendo auxílio financeiro de outra fonte de
financiamento. Tudo que for relativo à pesquisa deve ter referência do apoio da FAPESP, em
todas as formas de divulgação. Como beneficiário, o PR também se torna um assessor para
analisar projetos de acordo com solicitação da Fundação. Ele não pode efetuar despesas, fora
do período de vigência do financiamento, nem realizar modificações no projeto aprovado pela
FAPESP sem o consentimento da instituição. Recursos também não podem ser aplicados para
outras finalidades que não os predispostos. Proibida também a contratação de serviços com
quem o PR mantenha negócios, dívidas ou créditos. Todo o orçamento, para o projeto de
pesquisa, deve ser devidamente detalhado.
Para que esse trabalho flua, a Instituição-Sede deve ter ciência das necessidades
estruturais que o projeto demanda, pois assim, garante ao pesquisador e seu grupo de trabalho,
o apoio institucional necessário. Isso envolve espaço físico para instalação e manejo de
equipamentos, uso de laboratórios, rede de computadores, biblioteca, base de dados, serviços
administrativos, etc... Os custos de infraestrutura direta do projeto recebem 15% do valor total
da verba. Já o repasse para a infraestrutura institucional é de 10%. A análise do orçamento
envolve realmente a questão financeira e a necessidade do custeio para o que se pretende
realizar como pesquisa. Esta, por sua vez, é analisada no contexto de sua definição e pertinência
dos objetivos; a contribuição pretendida para a área do conhecimento na qual o projeto está
inserido; fundamentação científica e adequação dos métodos empregados; adequação de prazo
e infraestrutura; envolvimento de estudantes de Iniciação Científica e Pós-Graduação; Bolsas
de Treinamento Técnico; participação em reuniões científicas no Brasil e no Exterior.
Em relação ao proponente, a FAPESP leva em conta sua qualidade e regularidade de
produção científica em periódicos com seletiva política editorial; livros ou capítulos de livros;
214
patentes em que figure como inventor; propriedade intelectual; utilização de seus resultados de
pesquisa por parte de governos ou empresas e outras informações relevantes. Também são
avaliadas a experiência em liderança de projetos de pesquisa, relacionados ao tema proposto;
capacidade para formar pesquisadores, ou seja, a sua atividade de orientação de estudantes;
outros resultados obtidos junto à FAPESP e sua súmula curricular como um todo.
3.7.1 Mapeamento de Auxílio à Pesquisa Regular (1993-2016)
Os auxílios regulares aparecem como uma prática antiga. O nosso levantamento, junto
à Biblioteca Virtual da FAPESP, mostra que, entre 1993 e 2016, foram 71 solicitações que estão
demonstradas a seguir.
QUADRO 47 – Solicitação de Instituições a Auxílios Regulares de Pesquisa
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
USP 35 49,29%
UNISO 9 12,67%
UNICAMP 8 11.27%
UNESP 5 7,04%
USCS 4 5,63%
METODISTA S.PAULO 3 4,23%
PUC-SP 3 4,23%
UFSCAR 1 1,41%
ESPM 1 1,41%
MACKENZIE 1 1,41%
UNIP 1 1,41%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
215
Desse total, 49 auxílios (69,01%), foram solicitados por pesquisadores de universidades
públicas, distribuídas entre a USP (35 auxílios – 71,43%); UNICAMP (8 auxílios – 16,33%);
UNESP (5 auxílios – 10,2%) e UFSCAR (1 auxílio – 2,04%). Já para as universidades
particulares, foram 21 auxílios (29.58%) tendo a UNISO (9 auxílios – 42,86%); USCS (4
auxílios – 19,04%); PUC-SP e Metodista (3 auxílios cada – 14,28%), UNIP (1 auxílio – 4.77%)
e Mackenzie (1 auxílio – 4.77%). Já para as faculdades particulares, foi apenas um auxílio
(1,41%) à ESPM (100%). Todo esse montante de dados está dividido entre oito cidades: São
Paulo, São Carlos, Campinas, Bauru, Tupã, Sorocaba, São Bernardo do Campo e São Caetano
do Sul. O quadro que segue mostra a representatividade por região.
QUADRO 48 – Localidade dos Auxílios Regulares no Estado
LOCALIZAÇÃO
GEOGRÁFICA
NÚMERO DE
BOLSAS
ÍNDICE
PERCENTUAL
S.PAULO – CAPITAL 41 57,75%
S.PAULO – INTERIOR 23 32,4%
GRANDE SP (ABC) 7 9,85%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Entre esses 71 auxílios, aparecem 39 mulheres (54,93%), sendo que 34 são
pesquisadoras responsáveis e cinco são associadas. Por outro lado, há 32 homens (45,07%),
sendo 29 pesquisadores responsáveis e três pesquisadores associados. Há um total de 314 temas
para as 71 pesquisas. É como se, para cada pesquisa, houvesse aproximadamente cinco temas.
Os que mais aparecem, considerando o índice médio de representatividade acima de 1,5%, são
a Telenovela, em sete ocasiões (2,22%), e a Televisão, em seis oportunidades (1,91%). Logo
em seguida, chegam os Meios de Comunicação e a prática profissional com cinco menções
(1,5%).
Quando analisamos as metodologias, 30 auxílios (42,25%) informaram como vão
trabalhar, metodologicamente, a pesquisa enquanto 41 (57,75%) não trazem nenhuma
informação. Nessas 30 pesquisas, apareceram 28 tipos de metodologias, que podendo ser
citadas mais de uma vez, totalizam 56 menções. Considerando representatividade superior a
216
5%, temos: Pesquisa Bibliográfica por nove vezes (16,07%); Pesquisa Documental, com seis
aparições (10,71%); Análise do Discurso, com 4 aparições (7,14%); Análise de Conteúdo,
Entrevista e Estudo Comparativo, cada uma com três citações e representatividade de 5,35%.
E, por fim, quando trazemos os dados relacionados à bibliografia, temos 48 nomes de autores
utilizados, sendo 45 estrangeiros (93,75%) e 3 brasileiros (6,25%). A distribuição de citação de
autores, considerando média superior a 5%, ficou assim:
QUADRO 49 – Autores citados nos Auxílios Regulares
NOME CITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Lúcia Santaella 3 6,25%
Charles S. Peirce 2 4,16%
Donis A. Dondis 2 4,16%
Michel Maffesoli 2 4,16%
Mikhail Bakthin 2 4,16%
Stuart Hall 2 4,16%
Villém Flusser 2 4,16%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Sobre este tipo de fomento, podemos ter como primeiras impressões, o predomínio dos
professores das universidades públicas de modo geral, porém, nos estratos analisados, destaca-
se a participação de pesquisadores da Universidade de Sorocaba, que superaram em número de
pedidos, duas forças entre as públicas, UNESP e UNICAMP. Destaca-se também que as
professoras estão pedindo mais o Auxílio Regular que, no quadro geral, tem o Jornalismo
perdendo força como tema de pesquisa e a Comunicação vista de forma fragmentada. Acima
da média mais expressiva, destaque para os estudos de imagem, afinal, as primeiras colocadas
são Telenovela e Televisão. Também se denota a preocupação com as práticas profissionais dos
cursos de Comunicação, e como não é diferente entre todos os tipos de fomento, a literatura
estrangeira predomina nas referências bibliográficas consultadas e que são centrais para as
pesquisas analisadas.
217
3.8 Auxílio à Pesquisa – Publicações
A destinação deste tipo de fomento é para o financiamento de periódicos, artigos e livros
que exponham resultados originais de pesquisa, realizada por pesquisador com título de doutor
ou equivalente. A solicitação é feita apenas de forma eletrônica. Para os periódicos, a concessão
de apoio é excepcional e parcial porque recebem fomento apenas aqueles que apresentem
trabalhos de pesquisa inéditos e avaliados pelos pares. A avaliação é feita, número a número,
com base em parecer de mérito da assessoria. Não são apoiados os periódicos sem indexação
significativa, regularidade de publicação e padrão editorial. A concessão se dá a periódicos
tradicionais, que necessitam emergencialmente de financiamento, ou que sejam novos em áreas
carentes de boas publicações nacionais. É dada prioridade para aqueles que preencham os
requisitos para veiculação, em forma eletrônica no Projeto Scielo, financiado pela FAPESP.
Os artigos devem ser com base em resultado de pesquisa apoiada pela FAPESP e
divulgado em periódico internacional especializado com política editorial rigorosa. O pedido
de publicação de artigo não deve incorporar valores da Reserva Técnica. Custos de redação,
revisão de texto ou versão para outro idioma não são financiados. Tais atividades devem ser
incorporadas pela instituição a qual o pesquisador está vinculado.
Entre as publicações, também se considera o livro, que se divide nas modalidades Brasil
e Exterior. Em Livros no Brasil, estes devem também expor resultados originais e inéditos da
pesquisa. Solicitações de pesquisas, não apoiadas pela FAPESP, podem ser analisadas em casos
excepcionais mediante justificativa. Não são financiáveis nova edição de obras publicadas, no
Brasil, ou tradução de obras para o Português. Também não se apoia a publicação de coletânea
de artigos que não apresente resultados inéditos. É obrigatória uma carta de interesse, de ao
menos, uma editora que assuma a responsabilidade perante o projeto, se este for aprovado pela
Fundação. Essa carta de interesse deve abranger o orçamento total da publicação e o plano de
distribuição da obra. Complementa-se isto, com a apresentação de três orçamentos de serviços
gráficos. Se a carta de apresentação for de uma editora universitária, é necessário apenas um
orçamento de serviço gráfico. Somente são aceitas publicações por editora, com catálogo
significativo de obras de cunho técnico-científico, pois, este item é importante na avaliação da
proposta. O financiamento é parcial sempre e só é concedido, quando não se justifica
comercialmente, o custeio integral da publicação por editora universitária ou comercial. A
218
maior parte do orçamento deve ser atribuída à editora parceira. Enfim, o apoio da FAPESP deve
ser mencionado, de forma destacada, por meio da apresentação do logotipo da Fundação na
capa ou contracapa do livro.
O apoio a Livros no Exterior também envolve resultados inéditos e, neste caso, pode ser
a tradução da obra, já publicada no Brasil, desde que a assessoria científica da FAPESP a
considere de interesse atual ou como trabalho inédito. Sobre editora, também é necessária uma,
com catálogo de obras de cunho técnico-científico. Nesta modalidade de fomento, a FAPESP
financia somente a tradução e revisão técnica da obra para outro idioma. Na carta de interesse,
a editora se compromete a zelar pela qualidade da tradução e revisão técnica, que junto à
FAPESP, é de responsabilidade do próprio pesquisador. Exige-se também o logotipo da
FAPESP na capa ou contracapa do livro.
O Pesquisador Responsável é quem faz a solicitação de Auxílio Publicação podendo ser
o próprio autor, um coautor ou até orientador do trabalho que vai se transformar em livro.
Quanto à sua qualificação, exige-se o título de doutor, com produção científica ou tecnológica
compatível aos objetivos do projeto e vínculo formal com instituição de pesquisa paulista. Sobre
custeio, para artigos, é financiada apenas a taxa de publicação, cobrada pela revista na rubrica
Serviços de Terceiros no Exterior. Já, para periódicos, são financiadas diagramação, arte final
e impressão na rubrica Serviços de Terceiros no Brasil. Para Livros no Brasil, custeiam-se
diagramação, arte final e impressão com a rubrica Serviços de Terceiros no Brasil. E, para
Livros no Exterior, são financiadas tradução e revisão técnica sob a rubrica Serviços de
Terceiros (Brasil ou Exterior).
Aos beneficiários de Auxílio Publicação, é terminantemente proibido realizar
transferência de verbas ou saldos de um processo para outro, quando o pesquisador recebe apoio
em mais de um auxílio; efetuar despesas fora do período de vigência do Termo de Outorga;
realizar modificações, no projeto aprovado pela Fundação, ou gastar recursos sem
conhecimento prévio; utilizar o dinheiro destinado a outras finalidades; fazer aplicações
financeiras com recursos do projeto; contratar ou destinar verbas para pessoas físicas ou
jurídicas vinculadas seja por grau familiar ou relações comerciais e até de dívidas.
A solicitação também é feita eletronicamente e deve reunir súmula curricular do
pesquisador responsável; resumo de resultados obtidos anteriormente com outros auxílios ou
bolsas FAPESP, destacando títulos dos projetos e números dos respectivos processos; cópia do
manuscrito ou material a ser publicado; nos auxílios a periódicos, apresentar formulários de
219
informações, além do número anterior, e três orçamentos referentes a serviços de terceiros; para
artigos, torna-se imprescindível carta da comissão editorial do periódico aceitando o artigo para
publicação; no caso de livros, imprescindível carta de interesse, com orçamento total da obra,
e três orçamentos referentes aos serviços de terceiros solicitados, exceto quando a editora for
universitária, além de informações sobre o catálogo de publicações.
Por sua vez, a análise da FAPESP se dá por alguns critérios. O primeiro deles é o
Histórico Acadêmico do Solicitante. Neste quesito, se verificam a qualidade e regularidade da
produção científica observando publicações em periódicos com seletiva política editorial; livros
ou capítulos de livros; patentes nas quais seja inventor, etc.; experiência demonstrada na
liderança de projetos de pesquisa relacionados ao tema proposto em análise; capacidade para
formar pesquisadores com destaque a recentes orientações; resultados obtidos anteriormente na
própria FAPESP. Outro quesito é a Qualidade da Obra, que envolve a importância da
contribuição pretendida, para a área de conhecimento em que o projeto se insere;
fundamentação científica e adequação dos métodos empregados; adequação do montante de
recursos solicitados; nos casos de livros, no Brasil, saber se há resultados de pesquisa originais
inéditos; para a publicação de livros no Exterior, analisar a atualidade da obra e relevância para
publicar fora do Brasil; em relação aos artigos, compreender a política editorial do periódico
pretendido; para periódicos, a qualificação e abrangência do Conselho Editorial; tiragem e
alcance; critérios de seleção dos textos para publicações e o aspecto gráfico com ilustrações. O
terceiro quesito é integrado por – Editora – a publicação de artigos em periódicos internacionais
com rigorosa seleção editorial; em casos de livros, o fortalecimento de editoras acadêmicas
(públicas ou privadas). E o último quesito a ser considerado é o orçamento.
Finalizada a publicação, o beneficiário entrega os relatórios científicos exigidos e presta
contas à FAPESP. O Relatório Científico deve ser formado pelo título do projeto, o nome do
pesquisador responsável, o número do processo FAPESP, o período de vigência do projeto,
uma cópia da publicação60, em processos via SAGe, cópia da capa/contracapa da publicação,
com o logotipo da FAPESP. Sobre Prestação de Contas, a nota fiscal original da editora e
gráfica deve ser enviada, e nela, devem estar discriminados os serviços prestados. Em casos de
livros e periódicos, cópia da capa e contracapa, com o logotipo FAPESP; e para os artigos,
cópia da página na qual conste menção ao apoio.
60 Livros devem ser enviados pelos Correios ou entregues pessoalmente na Fundação com carta de encaminha-
mento indicando o número do processo e assinada pelo Pesquisador Responsável.
220
3.8.1 Mapeamento de Auxílio Publicações (1993-2016)
Os auxílios à publicação também são uma prática antiga, tanto que conseguimos
estabelecer dados em 23 anos. Nesse período, foi um total de 117, que permitiram a publicação
de livros no Brasil e no exterior além de periódicos. Uma forma de ampliar, perpetuar e validar
o conhecimento produzido na Área. Os 117 auxílios publicação foram concedidos às seguintes
instituições:
QUADRO 50 – Solicitação de Instituições a Auxílio Publicação
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE
SOLICITAÇÕES
ÍNDICE
PERCENTUAL
USP 38 32,48%
PUC-SP 34 29,06%
UNICAMP 7 5,98%
USCS 6 5,12%
UFSCAR 4 3,42%
ESPM 4 3,42%
UNESP 3 2,56%
CÁSPER LÍBERO 3 2,56%
MACKENZIE 3 2,56%
FAAP 3 2,56%
METODISTA S.PAULO 3 2,56%
UNIP 2 1,71%
UNISO 2 1.71%
221
FACULDADE RIO
BRANCO
1 0,86%
FIAM 1 0,86%
UNIFESP 1 0,86%
UNISANTOS 1 0,86%
SÃO JUDAS TADEU 1 0,86%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Desse conjunto, 53 publicações foram destinadas às universidades públicas com a
seguinte distribuição: USP (38 auxílios – 71,7%); UNICAMP (7 auxílios – 13,20%); UFSCAR
(4 auxílios – 7,55%); UNESP (3 auxílios – 5,66%) e UNIFESP (1 auxílio – 1,89%). Já, para as
universidades particulares, foram 52 publicações sendo: PUC-SP (34 auxílios – 65,39% - USCS
(6 auxílios – 11,55%); Mackenzie e Metodista (3 auxílios cada – 5,77%); UNIP e UNISO (2
auxílios cada – 3,84%) e UNISANTOS e Universidade São Judas Tadeu (1 auxílio cada –
1,92%). Enquanto isso, as faculdades particulares receberam 12 auxílios que foram assim
concedidos: ESPM (4 auxílios 33,34%); Cásper Líbero e FAAP (3 auxílios cada – 25%) e
Faculdade Rio Branco e FIAM (1 auxílio cada – 8,33%). Verifica-se que instituições
tradicionais, como UNESP e Metodista, se destacam neste tipo de fomento. Se bem que a
valorização acadêmica está mais concentrada na elaboração e publicação de artigos. Algo que
é positivo também porque pode ser adotado como referencial e, como contrapartida, tem custo
zero se comparado às publicações. Todas essas instituições estão presentes em nove cidades:
São Paulo, São Carlos, Campinas, Bauru, Guarulhos, Santos, Sorocaba, São Bernardo do
Campo e São Caetano do Sul. Assim, a representação regional está representada no quadro
abaixo.
222
QUADRO 51 – Localidade do Auxílio Publicação no Estado
LOCALIZAÇÃO
GEOGRÁFICA
NÚMERO DE
PUBLICAÇÕES
ÍNDICE
PERCENTUAL
S.PAULO – CAPITAL 90 76,92%
S.PAULO – INTERIOR 16 13,68%
GRANDE SP (ABC) 10 8,55%
LITORAL 1 0,85%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Das 117 publicações, 103 foram de livros no Brasil. Isto representa 88,03% e sobre sua
produção, 62 responsáveis (60,20%) são mulheres e 41 são homens (39,80%). As autoras que
mais publicaram livros foram Maria Cristina Castilho Costa, com oito publicações, e Sandra
Reimão, com quatro obras. Já, em relação aos livros publicados no exterior, eles totalizam
apenas três publicações, o que representa 2,57%. Os autores que publicaram no exterior, com
apoio da FAPESP, são Malena Seguro Contrera, Maria Aparecida Baccega e Massimo Di
Felice. As duas mulheres representam 66,67%, enquanto o único homem equivale a 33,33% do
que se publicou para além das nossas fronteiras. E, em relação aos periódicos, onze receberam
apoio da FAPESP e totalizam 9,4%. Com três periódicos cada, os beneficiários que mais
conseguiram apoio são José Roberto do Amaral Lapa e Onésimo de Oliveira Cardoso. Quanto
ao gênero, sete homens (63,64%) receberam fomento para periódicos, enquanto as mulheres
foram quatro (36,36%). As publicações geraram 149 temas que apareceram 251 vezes. Desse
total, já foram excluídos 16 não informados e 10 que não correspondiam a essa categoria. Os
temas mais abordados, considerando média de representatividade superior a 2,5%, foram o
Jornalismo, em nove ocasiões (3,58%); Artigos de Periódicos, Censura e Periódicos Científicos,
com oito menções (3,18%); Cinema e Psicanálise, com sete aparições (2,78%).
3.9 Auxílio Pesquisador Visitante
223
Este é um auxílio concedido pela FAPESP, que trata de subsidiar total ou parcialmente,
as despesas de um pesquisador experiente que vai a outra instituição brasileira ou internacional
por um período de até um ano. O objetivo deste tipo de fomento é estimular a colaboração entre
pesquisadores no desenvolvimento de projetos de pesquisa em andamento ou a ponto de terem
início nas universidades anfitriãs.
O envio de propostas é por sistema eletrônico, e para participar, o pesquisador precisa
ser doutor, ter expressiva produção científica ou tecnológica e vínculo com instituição de
pesquisa do Estado de São Paulo. Restringe-se o apoio, em algumas condições, como o
desenvolvimento do projeto de pesquisa, a condição do Pesquisador Visitante ser o próprio
Pesquisador Responsável, realização de contatos para atividades posteriores, custeio da ida de
pesquisador visitante a atividades de ensino ou participação em bancas de tese e concursos fora
do Estado de São Paulo e visitas do mesmo pesquisador, em anos consecutivos, a não ser em
casos excepcionais. O custeio parcial se dá, por exemplo, quando as visitas são de curtíssima
duração. Nessa modalidade, de maneira geral, também cabem as mesmas regras de proibição
ao pesquisador, já demonstradas anteriormente, dentro da modalidade de Auxílios.
A FAPESP financia o pesquisador visitante de algumas formas. Quando a visita for
inferior a um mês, será feito o pagamento de diárias61 para o visitante até o limite do valor da
manutenção mensal, definida pela Fundação com base no currículo do visitante. Esse auxílio
não inclui o pagamento de pró-labore. Já a manutenção, para período superior a um mês, é
baseada no currículo do pesquisador também e por algumas características dentro da proposta
submetida62. Para a saída do seu local de origem ao destino onde se darão as atividades como
visitante, o pesquisador pode receber, como fomento, a passagem aérea ou terrestre em tarifa
promocional. Também é custeado o valor da passagem terrestre ou o serviço de táxi utilizado
para se chegar ao aeroporto de origem e o transporte, desde o aeroporto, em São Paulo. E ainda
tem o seguro-saúde para estrangeiros.
A proposta de solicitação deve conter o sumário do projeto de pesquisa; súmula
curricular; Curriculum Vitae do pesquisador; declaração afirmando que aceita participar do
plano de atividades proposto; plano de atividades de pesquisa, com descrições que envolvem
título do projeto, número de processo FAPESP, validade do financiamento e resumo do projeto
de pesquisa. É necessário ainda descrever as atividades por meio das quais o Pesquisador
61 Para consultar valores, acessar: http://www.fapesp.br/1086 62 Os valores e a categoria do pesquisador estão em: http://www.fapesp.br/1092
224
Visitante vai contribuir com os projetos de pesquisa. Nisto, podem ser previstas participações
em bancas de teses e dissertações, oferta de cursos na Pós-Graduação e Graduação, além da
preparação de projetos de pesquisa cooperativos a serem submetidos a agências internacionais
de fomento. São estes alguns benefícios esperados de um pesquisador visitante, que pode
também realizar contatos sistemáticos com pesquisadores e estudantes da instituição anfitriã e
outras instituições com grupos de pesquisa ativos na mesma Área.
Para que tudo isto ocorra, o parecer da FAPESP segue uma análise de proposta que
envolve a experiência prévia em pesquisa do Pesquisador Visitante; a contribuição de sua visita
à instituição escolhida bem como para outras instituições do estado de São Paulo. Uma vez
realizadas as atividades previstas, o Relatório Científico Final deve descrever, de forma sucinta
e completa, as atividades do visitante e os benefícios da visita, no que diz respeito ao
desenvolvimento do projeto de pesquisa, que fundamenta a solicitação. Todos os comprovantes
de divulgação prévia do pesquisador visitante devem ser anexados ao relatório final.
3.9.1 Mapeamento de Auxílio Pesquisador Visitante (1994-2016)
Nesses 22 anos de vindas de estrangeiros para o Brasil, foi identificada a realização
dessa atividade de pesquisa, entre 59 pesquisadores, sendo 57 estrangeiros (96,61%) e 2
brasileiros (3,39%). Essa diferença gritante não é alarmante porque este fomento se destina à
vinda de pesquisadores do exterior. E o deslocamento deles foi para a PUC-SP (29 solicitações
– 49,15%); USP (14 solicitações – 23,72%); UNESP e UNIP (quatro solicitações cada –
6,78%); Metodista (três solicitações – 5,08%); UNICAMP (duas solicitações – 3,39%);
UFSCAR, USCS e Cásper Líbero (uma solicitação cada – 1,70%). De todo esse universo, as
divisões de solicitações, feitas de acordo com universidades e faculdades públicas e
particulares, estão demonstradas nos quadros que seguem.
QUADRO 52 – Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Universidades
Públicas
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
USP 14 66,67%
225
UNESP 4 19,05%
UNICAMP 2 9,52%
UFSCAR 1 4,76%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 53– Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Universidades
Particulares
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
PUC-SP 29 78,38%
UNIP 4 10,82%
METODISTA S.PAULO 3 8,1%
USCS 1 2,7%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 54– Solicitação de Instituições a Auxílio Pesquisador Visitante em Faculdades
Particulares
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE SOLICITAÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
CÁSPER LÍBERO 1 100%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
O agrupamento dessas solicitações permite demonstrar que as pesquisas estão
espalhadas por seis cidades: São Paulo, São Carlos, Bauru, Campinas, São Bernardo do Campo
e São Caetano do Sul. Dividindo os fomentos por região, temos 81,36% (48 solicitações) na
Capital; 11,87% (7 solicitações), no interior, e 6,77% (quatro solicitações), no ABC Paulista. A
pesquisadora, com o maior número de solicitações para pesquisadores visitantes, no Brasil, é
Ana Claudia Mei Alves de Oliveira, com 14 pedidos, seguida por Lúcia Santaella, com quatro.
Ambas são professoras pesquisadoras da PUC-SP, e fazem parte das 40 mulheres que pediram
226
esse auxílio. Juntas, elas representam 67,8%. Já 19 homens fizeram seus pedidos, o que
representa 32,2% das solicitações. E a origem desses pesquisadores está no quadro a seguir:
QUADRO 55 – País de Origem dos Pesquisadores Visitantes
INSTITUIÇÃO NÚMERO DE VISITANTES ÍNDICE PERCENTUAL
França 18 pesquisadores 30,51%
Espanha 10 pesquisadores 16,95%
EUA 6 pesquisadores 10,16%
Itália 6 pesquisadores 10,16%
Alemanha 5 pesquisadores 8,47%
Portugal 2 pesquisadores 3,39%
Japão 2 pesquisadores 3,39%
Brasil 2 pesquisadores 3,39%
Chile 2 pesquisadores 3,39%
México 2 pesquisadores 3,39%
Irlanda 1 pesquisador 1,70%
Romênia 1 pesquisador 1,70%
Canadá 1 pesquisador 1,70%
Áustria 1 pesquisador 1,70%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Com dez visitas, o pesquisador francês Eric Landowski foi quem mais veio ao Brasil,
no período de 1994 a 2016, com apoio da FAPESP e trazido pela PUC-SP. O segundo que mais
veio foi o pesquisador alemão Winfried Nöth, em três visitas, embora como país de origem
(Alemanha) ele esteja atrás de Espanha, EUA e Itália, o que demonstra mais diversidade de
pesquisadores visitantes. De todos os pesquisadores visitantes, a informação sobre temas
pesquisados está presente em 52 dos 59 auxílios, o que equivale a 88,14% enquanto os sete não
227
informados representam 11,86%. Foram produzidos 78 temas de pesquisa, a partir de sete que
não foram informados, mais 23 excluídos por localização incorreta. Assim, o total chegou a 104
menções, sendo que os mais representativos considerando média superior a 2%, seguem no
quadro abaixo:
QUADRO 56– Temas de Pesquisa Auxílio Pesquisador Visitante
TEMA NÚMERO DE MENÇÕES ÍNDICE PERCENTUAL
Cooperação Cientifica 6 5.77%
Intercâmbio de Pesquisadores 6 5.77%
Epistemologia 4 3,85%
Jornalismo 3 2,88%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Assim, pode-se perceber, nas primeiras impressões, que os temas de pesquisa mais
representativos não necessariamente tratam do que é pesquisado de fato, pois, Cooperação
Científica e Intercâmbio de Pesquisadores se constituem em palavras-chaves que justificam a
natureza do fomento em questão. Aliás, isto deveria ser revisto na Área. Uma alternativa, em
nosso entendimento, seria a adoção de termos representativos, como por exemplo, o tipo de
Comunicação estudada e seus fenômenos. Consequentemente, aparecem os temas mais
representativos e que se referem a pesquisas, no caso, versando sobre Epistemologia e
Jornalismo, que demonstram as tendências de que os pesquisadores de fora vêm contribuir para
a formação dos pesquisadores e que uma Área do conhecimento se aproveita mais das
discussões propiciadas pela vinda dos professores do exterior.
3.10 A produção de Indicadores e Inferências
Uma vez dissecados e preliminarmente analisados todos os dados retirados e trabalhados
a partir das informações, que constam na Biblioteca Virtual da FAPESP, chegamos a uma
dimensão que nos permite construir, do ponto de vista quantitativo, o perfil taxionômico da
228
Área da Comunicação, em função de pesquisas que receberam fomento da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo, ao longo de 25 anos de análise, representados pelo período
de 1992 a 2016. Trata-se de uma inflexão a um recorte da vasta produção acadêmica, no Estado
e, sobretudo, do Brasil, pois, há muito mais produtividade para além das bolsas e auxílios
concedidos pela FAPESP, que é sim, uma ferramenta importante para a legitimação da pesquisa
científica, condição que suscita uma esperança de que a Comunicação seja vista no caminho de
ciência, embora ainda seja muito dúbio, formar um conceito definitivo a esse espaço de atuação.
Percebe-se acentuadamente essa dificuldade, principalmente, em face da fragmentação, uma
vez que pouco se estuda a Comunicação em sua complexidade. Nota-se que ninguém ainda
parece ter se dado conta que a Área não deve ser um conjunto de particularidades, mas sim, um
conglomerado de partilhas, a partir das quais, cada prática deve ser pensada dentro de um todo
que seria o grande “guarda-chuva” da Comunicação. Não se estudam as formas pelas quais a
Comunicação pode se manifestar. O que existe é uma apreensão de cada experiência, que
permite se realizar por meio da Comunicação, como se fosse uma espécie de “conhecimento
próprio”. Voltar-se a um pensamento mais complexo da Comunicação nos parece o caminho
mais apropriado para se chegar a uma taxionomia pela qual tange seu real conceito. E a releitura
de pesquisas nos fornece essas pistas considerando que tais estudos nos permitem enxergar
polifonias.
Essas polifonias conseguem ser representadas, quando se adota o método da inferência
da Análise de Conteúdo. Todos os dados, demonstrados quantitativamente neste capítulo,
decorrem de um trabalho inicial de organização envolvido, como assegura Laurence Bardin
(2011), pela escolha dos documentos, formulação de hipóteses e objetivos além dos indicadores
que fundamentam a interpretação final. Assim, levantamos na base da Biblioteca Virtual da
FAPESP, todas as bolsas e auxílios, na Área da Comunicação, que satisfaziam a nossa
compreensão de descrever sistematicamente a produção concernente ao percurso formativo do
pesquisador bem como propor uma cartografia da produção da pesquisa em Comunicação.
Selecionados os documentos, categorizamos indicadores que nos permitiram compreender o
sentido desse fomento, no tocante à contribuição que um estudo traz para a formação da Área
da Comunicação. Esse é o método do polo da mensagem, segundo a autora. É por ele que
conseguimos selecionar as amostras analisadas, neste capítulo, a fim de gerar códigos que nos
permitam interpretar o subjacente, pensando como se pode legitimar a Área, por meio da
contribuição de uma agência de fomento respeitada nos cenários nacional e internacional.
229
Então, a Análise de Conteúdo, diante das amostras selecionadas, nos direciona a
trabalhar com o método das inferências, considerando-as através dos polos Emissor,
Mensagem, Significação e Medium com o intuito de compreender como se constroi a Área da
Comunicação, por pesquisas apoiadas por agências de fomento, considerando a primeira
passagem de século nos estudos em Comunicação cujas sendas, geradas por experiências,
denotam mudanças e indicam crise de identidade e paradigmas diante de um mundo cada vez
mais instantâneo e veloz. Antes de apontar o que dizem as inferências, precisamos retomar o
observado/interpretado para tecer considerações. Começamos pela modalidade Bolsas no
Brasil. Quando consideramos o percurso formativo, das 583 bolsas, temos o seguinte cenário
de distribuição e representação percentual:
QUADRO 57 – Bolsas FAPESP no Brasil
MODALIDADE NÚMERO DE BOLSAS ÍNDICE PERCENTUAL
Iniciação Científica 299 51,28%
Mestrado 178 30,53%
Doutorado 68 11,66%
Doutorado Direto 2 0,35%
Pós-Doutorado 36 6,18%
TOTAL 583 bolsas 100%
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Nesses 25 anos, que serviram de referência para as amostras coletadas na Biblioteca
Virtual da FAPESP, atesta-se o grande incentivo à Iniciação Científica. Do quadro todo acima,
nota-se uma queda, no percurso formativo, embora o índice não seja ruim, mesmo considerando
o baixo interesse do Doutorado em diante. Isto nos faz perceber que a carreira de pesquisador,
nesse período analisado, não seguiu um ciclo sequenciado dentro dos incentivos concedidos
pela FAPESP, ou seja, há um incentivo à base, porém, o desenvolvimento da carreira de
pesquisador se perde, consideravelmente, na fase de seu amadurecimento. A hipótese para isto
é que, em um curso de Graduação, a Iniciação Científica se oferece como novidade, do ponto
230
de vista do conhecimento, por meio da democratização de um saber do professor, que mais do
que questionar uma problemática, apresenta ao candidato métodos e técnicas de pesquisa. É
uma espécie de preparação que segue um modelo praticado. Seja qual for a hipótese, a Iniciação
Científica é onde se consegue mais fomentos, o que demonstra que a Área consegue atrair novos
pesquisadores. Aliás, esta etapa é considerada pelo professor Ciro Marcondes Filho, como a
mais importante da formação do aluno-pesquisador, pois, é a fase na qual se captura seu
momento de criatividade, energia e prazer pelo novo. É também uma forma de demonstrar – e
isso depende dos orientadores que geralmente atuam na Pós-Graduação – que assim como a
prática profissional buscada, a carreira de pesquisador também pode ser um propósito de vida.
Quando passamos à categoria que envolve as instituições e cidades, temos dentre essas
583 bolsas, uma distribuição de 291 bolsas (49,91%) à capital; 272 bolsas (46,66%) ao interior
e 20 bolsas (3,43%) à Grande São Paulo. Os números demonstram que não há grande
disparidade de produção científica da Área entre a Capital e o Interior. Além de considerarmos
a riqueza do interior paulista, com cidades de amplo destaque, sobretudo, no aspecto
econômico, esse equilíbrio se deve em especial às universidades públicas. Se São Paulo se
destaca com a USP, o interior reúne UNICAMP e UNESP, de forma significativa, e conta
também com contribuições da UFSCAR. A UNESP Bauru, sozinha, detém o maior número de
bolsas na Iniciação Cientifica. Isto se deve, segundo a visão do professor Maximiliano Martin
Vicente, ao fato da instituição estimular mais a pesquisa, nessa fase, uma vez que a Pós-
Graduação é bastante recente, condição que fez com que se criasse a cultura de valorizar a
graduação e sua pesquisa. No entanto, nos demais fomentos, a liderança é da USP, o que nos
leva a considerar que a UNESP precisa conservar mais os seus alunos de Iniciação Científica
para que as etapas superiores do percurso formativo sejam desenvolvidas, na mesma instituição,
evitando assim o êxodo à Capital, situação que ajuda a dar mais peso para a pesquisa produzida
no interior. O predomínio evidente da USP nos faz pensar que esta instituição se confunde com
a origem da FAPESP63. De qualquer forma, a USP é um centro importante da atividade de
pesquisa, não apenas em nosso Estado, como no Brasil e no Mundo64. Apesar de excelência em
ensino e pesquisa, outro fator que temos de considerar é que, nesse período de 25 anos
analisados, o fomento da FAPESP pode ser atribuído apenas como uma verba destinada a
63 Essa história já foi contada no capítulo II: “FAPESP e Comunicação: Laços Institucionais como Método de
Construção da Área” 64 Segundo o QS World University Rankings, em 2016, a USP ocupou o 120º lugar sendo a melhor do Brasil e a
segunda melhor da América Latina. Ver em: https://www.topuniversities.com/university-rankings/world-univer
sity-rankings/2016
231
instituições públicas haja vista que a grande concentração das pesquisas está no espaço do
ensino superior público. Este pode ser um dos diagnósticos, porém, é preciso considerar que os
pesquisadores das instituições públicas estão mais direcionados a trabalhar com o fomento
porque, por muitas vezes, eles também recorrem ao benefício para fazerem suas pesquisas,
principalmente, quando decidem sair temporariamente do Brasil.
Ao se verificar maior incidência das bolsas nas universidades públicas, é porque estas
mantêm por tradição, sua origem voltada à pesquisa. Um indício também de que se conhece
mais os trâmites e um sinalizador de que boa parcela dos alunos que ingressam, na instituição
pública, já direciona a carreira para a atividade de pesquisador. Na medição da produtividade,
a USP é a instituição que mais angariou pesquisas no fomento – 214 no total – sendo que sua
maior representatividade se encontra na Iniciação Científica (79 bolsas) e no Mestrado (71
bolsas). Ainda há muito mais a explorar, por exemplo, no Pós-Doutorado. Logo depois da USP,
o alto índice de produtividade está na UNESP, com 195 bolsas, sendo o maior índice (154) na
Iniciação Científica. O período analisado deixa evidente a necessidade de estimular o
Doutorado e o Pós-Doutorado, que fazem parte da história recente da instituição. Embora os
índices sejam pequenos, vale destacar a presença da UNICAMP, em praticamente, todos os
tipos de bolsas. Não é possível levar muito em consideração a categoria Doutorado Direto, pois,
se trata de recurso pouco comum no meio acadêmico.
Ao voltarmos o olhar para as instituições privadas, há de se destacar a participação da
PUC-SP, presente em todas as categorias, exceção feita ao Doutorado Direto que, por sua vez,
é pouco representativo, mas sua representatividade passa por todas as instâncias do fomento
com 10 bolsas de Iniciação Científica, 16 de Mestrado, 19 de Doutorado e 13 de Pós-Doc.
Também temos de considerar a Universidade Metodista de São Paulo, que se destaca com 15
bolsas que vão da Iniciação Científica ao Doutorado. Percebe-se que nela ainda é preciso
explorar o Pós-Doc. Entretanto, a Metodista está valorizando o início, ou seja, a Iniciação
Científica, sendo a que chegou mais longe em relação às demais instituições onde se pesquisa
a Comunicação. As outras, onde percebemos crescimento, são a UNIP e a USCS. Por tudo isso,
é que afirmamos que os mais importantes núcleos de produção do conhecimento e construção
da Área da Comunicação estão na USP, UNESP, Universidade Metodista e PUC-SP por conta
do alto índice de produtividade buscada com fomento. Retomando que o fomento é via de mão
dupla, a FAPESP demonstra com essas concessões que nessas instituições é feito um bom
trabalho de pesquisa na Área, ou seja, ocorre legitimação.
232
Esse itinerário ajuda a compor um mapa da distribuição do fomento, quando se verifica
uma grande concentração de apoio à Iniciação Científica e ao Mestrado. São Paulo e Campinas
são as cidades que podemos denotar com presença marcante do apoio FAPESP sendo que
observamos tendência de crescimento em São Carlos e São Bernardo do Campo. Podemos
assegurar também que a Iniciação Científica e o Mestrado estão melhor distribuídos, pois, há
muitas instituições locais. Quando o pesquisador avança nos estudos, São Paulo e Campinas se
tornam os polos de maturidade da Área, com a contribuição especial da USP e da UNICAMP
para uma presumida legitimação. Mas, é a capital paulista que simboliza o centro dos estudos
em Comunicação.
Em relação aos orientadores, que no procedimento da FAPESP, são denominados
Pesquisadores Responsáveis, a predominância é masculina. Os homens lideram, no quesito
orientação, na Iniciação Científica, no Mestrado e no Doutorado Direto. A liderança das
pesquisadoras que orientam está no Doutorado e no Pós-Doutorado. Onde há mais equilíbrio é,
no Mestrado, quando o índice percentual de diferença é de 4,48% a favor dos homens.
Considerando o percurso formativo, nota-se que os professores estão mais presentes, nas fases
iniciais da carreira de pesquisador, enquanto as mulheres aparecem na fase de amadurecimento,
que é do Doutorado em diante. O maior número de professores orientadores está na Iniciação
Científica e no Mestrado. Se há esse equilíbrio, entre quem orienta, na categoria de orientandos,
a vantagem é das mulheres, em especial, na Iniciação Científica e no Mestrado.
Debruçando-se sobre os temas, ainda se vê a representatividade do Jornalismo, que
lidera como assunto de pesquisa na Iniciação Científica e no Mestrado. Aliás, na Iniciação
Científica, nos chamam atenção, os temas Imprensa e Censura, pois, há muitos estudos
relacionando situações de Comunicação com a Ditadura Militar muito em função do trabalho
de pesquisadores, com apoio de estudantes de Iniciação, em investigações sobre o tema que
constituíram o Arquivo Miroel Silveira, agora denominado Núcleo de Pesquisa em
Comunicação e Censura. No Mestrado, aparecem com certo destaque, o tema Internet, um sinal
de que a transição secular aponta para a Comunicação Digital como assunto de interesse
acadêmico, o que não poderia ser diferente. Estes temas, mais as questões disciplinares como
as licenciaturas em Comunicação, estão presentes no Doutorado, o que denota também que, de
alguma forma, as profissões da Área sofrem implicações tecnológicas. No Pós-Doutorado, a
Censura volta a ter destaque entre os temas que também trazem pesquisas que envolvem
divulgação científica.
233
É importante considerar que, entre as amostras selecionadas inicialmente, algumas –
porque não dizer muitas – não trazem informados seus temas. Isto, portanto, não pode ser uma
afirmação de que tais pesquisas não trataram da questão no processo FAPESP. Quando
apontamos que os temas não foram informados, é uma assertiva de que tal dado não se
encontrava na base de dados da Biblioteca Virtual. Em função do tempo transcorrido,
trabalhamos com a hipótese de que, na transição de processos físicos para eletrônicos, algumas
informações tenham se perdido. Questionada sobre isso durante entrevista, a coordenadora de
CHS II da FAPESP, professora doutora Esther Hamburger, disse que situações assim, realmente
podem representar falha de sistema.
De qualquer forma, ainda há uma grande ligação, senão umbilical, do Jornalismo com
os estudos em Comunicação. Pode-se entender isto pelo fato de que o Jornalismo é tido como
curso principal das escolas de Comunicação e tem práticas e teorias diversificadas assim como
a missão de apresentar à opinião pública, estratos da realidade, com conteúdo despertando para
a vida social. Algo que coincide com uma passagem conceitual de Muniz Sodré (2002), ao
tratar a reflexão na comunicação como atividade comprometida com o real histórico, e não,
uma abstração inteiramente atemporal.
Também vemos, com alguma representatividade, a Análise do Discurso. Embora uma
metodologia, muitos pesquisadores a colocam no tema, que se confunde claramente – no caso
dos processos da FAPESP – com as palavras-chave de uma pesquisa. Aliás, há um excesso de
pesquisas que adotam essa sistemática, o que obrigou que tais referências em locais deslocados,
fossem excluídas de análise. Se o objetivo é construir a Área, ousamos crer que a própria
FAPESP deveria se ocupar de destinar preocupação maior com isso pedindo a seus
beneficiários e pesquisadores responsáveis, que tragam uma informação mais precisa sobre seus
objetos dentro de recortes mais pontuais. Revelar a problemática da pesquisa ainda é uma
carência.
Por fim, verificamos a Internet aparecendo nas pesquisas de Mestrado, o que denota um
aspecto de curiosidade em torno dos beneficiários das bolsas, como uma tendência para
discutirem uma realidade fortemente influenciada por este advento tecnológico. Embora não
apareça em outros fomentos, é um indício de mudanças no paradigma comunicacional em um
período de total transição. E a mudança de um paradigma, segundo entrevista de Ciro
Marcondes Filho (2017), ocorre quando ele (o paradigma) entra em competição, pois, não
importa, na visão do professor, o quanto de verdade um paradigma possui, mas sim, como ele
234
vence, se impõe e angaria mais adeptos. Diz ele que o mais sedutor é o que mais encontra
multiplicadores.
Vê-se ainda que o Digital, e a sua repercussão nas profissões ligadas à Comunicação, já
ocupa os pesquisadores, em especial, do Doutorado. No Pós-Doc, a Censura volta a ser tema
recorrente e a divulgação cientifica nos faz entender que há espaço para se levar adiante as
produções intramuros.
Entretanto, a Iniciação Científica revela a base de formação do pesquisador. Fase esta
que o professor Maximiliano Martin Vicente destaca como o encontro desse estudante com o
ambiente universitário, um espaço onde ocorre o momento da descoberta do saber e da criação
do conhecimento, a partir de inquietações como “eu posso pesquisar?”; “como se faz isso?”. É
por este prisma que o professor entende que o aluno de Iniciação Científica descobre o gosto
pelo saber e pela pesquisa.
Quando analisamos as Metodologias, conseguimos demonstrar que a modalidade que
contou com o maior percentual de pesquisas que informaram seu rumo metodológico foi o Pós-
Doutorado. Isto nos parece factível porque demonstra uma categoria de pesquisadores
amadurecidos no tocante à construção de um projeto de pesquisa, fase que antecede a realização
da investigação. Embora Ciro Marcondes Filho diga que o aluno de pós-graduação tenha um
perfil muitas vezes viciado em metodologias clássicas e ultrapassadas. Porém, é no Mestrado,
que aparece o maior número de tipos de metodologia. Acreditamos que se justifique pelas aulas
obrigatórias de metodologia da pesquisa científica, que colocam os alunos em contato com as
opções metodológicas que se tornam forma de aprendizado e também de aplicação ao objeto de
estudo. Em alguns Programas, estimula-se que o pesquisador sempre tente relacionar o que está
apreendendo na disciplina com o seu objeto, por isso, o Mestrado pode se tornar uma fase
interessante de exercício da pesquisa metodológica diversificada e bem mais abrangente.
Da Iniciação Científica ao Doutorado, a maioria das pesquisas não traz registro de
informação sobre o viés metodológico. Acreditamos que houve falta de alimentação do sistema
da Biblioteca Virtual, com esses dados precisos, pois, pelo grau de exigência da FAPESP e a
formulação dos projetos de pesquisa para pedir apoio, a metodologia é indispensável, afinal,
ela dá os rumos do trabalho. Aliás, foi na Iniciação Científica que menos se prestou tal
informação, algo supostamente admissível já que os alunos estão em um estágio inicial
demarcado pelo aprendizado e primeiros contatos com os procedimentos metodológicos.
235
Sobre os tipos de metodologia, a Pesquisa Bibliográfica lidera na Iniciação Científica e
no Doutorado. O Mestrado tem uma disputa apertada entre Estudo de Caso e Pesquisa
Bibliográfica. Já o Doutorado Direto não trouxe metodologias e o Pós-Doc opta pela Pesquisa
Documental. Enfim, o que mais se adota mesmo é a Pesquisa Bibliográfica, que se trata em
nosso entendimento, de uma sinalização do caminho que o pesquisador segue no seu trabalho,
ou seja, um método. Sabe-se que, nas fases mais iniciais do percurso formativo, o pesquisador
em formação não vai se debruçar sobre trabalhos mais teóricos. Isto é possível ilustrar com as
manifestações temáticas das bolsas reunidas, em nossa amostra, que majoritariamente têm uma
grande tendência a abarcar o Jornalismo como tema. Assim, o que a Pesquisa Bibliográfica se
torna é este método como percurso. Propusemos um debate sobre isso na entrevista com a
professora doutora Lucia Santaella (2017). Ela disse que a indagação sobre o método é de cunho
mais teórico enquanto a metodologia está mais voltada a questões de aplicação. Por se assumir
como pesquisadora mais ligada às questões teóricas da Comunicação, ela diz que sempre
incentiva seus orientandos, já nas primeiras orientações, às leituras para exploração conceitual
do recorte especifico que o orientando faz do campo. É essa a forma que ela encontra de fazer
com que o pesquisador tenha um panorama mais vasto em relação às fundamentações teóricas
e metodológicas escolhidas.
Uma pesquisa, por exemplo, que trate do Jornalismo Participativo, evidentemente, terá
que discutir a mudança do paradigma na prática jornalística, com o advento da tecnologia, que
permite a inclusão do cidadão na participação do ato de produzir notícias. Só que essa
perspectiva prática é não mais do que a sinalização de uma mudança de tempo que exige um
olhar mais apurado e investigativo a tratar da alteração de perfil da produção jornalística. E esse
caminho precisa ser tecido com o apoio do contexto que vem do recurso bibliográfico como
método. Coincide com os princípios básicos da não realização da reflexão metodológica
abstrata e da atitude consciente e crítica do pesquisador quanto às operações científicas, tratadas
por Lopes (2003). Para a autora (2003), a metodologia tem uma concepção dupla que envolve
a metodologia da pesquisa como uma indicação à investigação ou teorização da prática da
pesquisa científica. E a pesquisa como indicação do trabalho com os métodos empregados.
Desta forma, entendemos que o recurso bibliográfico é uma indicação de método empregado,
pois, a partir das leituras em curso é que se vai instaurar o cenário de onde o investigador pinça
um tema recortado para questionamentos. E aí se aplica o entendimento do professor
Maximiliano Vicente (2017), quando diz que “a ciência ajuda a responder questões importantes
para a sociedade e para a área de conhecimento é o combustível que acende o desejo de
236
pesquisar e elaborar projetos”. Mas, afinal, por que estamos trabalhando com a tese de que a
Pesquisa Bibliográfica não pode ser uma metodologia, mas sim, um método?
Porque ela desemboca no aspecto que passamos abordar, a partir de agora, que é a
Bibliografia dentro das pesquisas selecionadas com a falta de informações sobre alguns estudos.
Quando olhamos para aqueles que prestaram a informação sobre a orientação teórica, que
seguem em suas pesquisas, vamos trazer à luz o predomínio indiscutível da literatura
estrangeira. Acreditamos que isto ocorra em virtude do amadurecimento do pesquisador - este
se alinha com autores de referência que sustentam seu trabalho de pesquisa tendo inclusive a
necessidade de revisitar alguns, conceitualmente, além de trazer novos nomes para as
discussões. São os autores lá de fora que têm maior presença como fonte matriz do nosso
pensamento comunicacional. Estamos importando ideias para aplicá-las, sim ou sim, em nossos
objetos. Um agravante, pois, nem tudo que se produziu, seja na Europa seja nos Estados Unidos,
coincide com a nossa realidade cultural que já havia sido denunciada por Luís Ramiro Beltrán
ao criticar, nos anos 1980, a persuasão como motivação da Comunicação à dominação cultural
e perpetuação da condição de subdesenvolvimento. Este diagnóstico sinaliza para a nossa
depreciação interna e a costumeira valorização do que vem de fora. Percebemos esse interesse,
pelo que se produz lá fora, em todas as categorias. Quando pensamos na ordem dos que mais
citaram estrangeiros, temos: Pós-Doutorado; Mestrado; Doutorado; Iniciação Científica e
Doutorado Direto. Ao prisma dos autores brasileiros, a ordem de maior citação passa pela
seguinte ordem: Doutorado; Mestrado; Pós-Doutorado e Doutorado Direto. De modo geral,
sobre essa importação bibliográfica, Maximiliano Martin Vicente respondeu em entrevista
que...
237
Particularmente sou muito crítico em relação a esse tipo de procedimento de colocar
obras de fora nos textos. Reconheço que devemos sim estudar e saber o que eles
fazem e pegar, inclusive, procedimentos que ajudem no esclarecimento de nossas
pesquisas, mas sempre pensando que nossa realidade tem particularidades e nuances
que não se solucionam copiando respostas de fora e sim dando valor aos que já
estudaram o tema dentro do nosso país seguindo uma metodologia e preocupação
em responder as nossas necessidades. No fundo isso nos leva a uma questão
epistemológica e talvez deveríamos voltar a ler com mais calma e atenção aos autores
nossos e como fala Boaventura seguir as epistemologias do Sul. Não tenho
constrangimento nenhum em afirmar que inclusive, nossos teóricos formulam
questões, elaboram teorias tão ou mais relevante das que encontramos fora.
(VICENTE, 2017)65
Já que falamos muito sobre a Internacionalização, no caso dos autores, passamos agora,
às considerações circunstancias do fomento das Bolsas no Exterior. Conclui-se que ainda é
irrisório o número de pesquisadores em formação que vão estudar fora do Brasil. Dois fatores
que podem justificar essa condição são a recente abertura ao fomento para viagens
internacionais e a crise econômica brasileira que torna a ida, para o Exterior, mais onerosa. A
representatividade do pesquisador paulista, fora do país, está na Bolsa de Pesquisa que
representa o professor pesquisador profissional em reciclagem/aprimoramento. Eles são
58,54% desse tipo de fomento, seguidos por 17,07% da Iniciação Científica, 9,75% do
Mestrado, 8,54% do Pós-Doutorado e 6,10% do Doutorado. Mais uma vez, a UNESP Bauru
comprova sua vocação, na formação do pesquisador de base, com destaque na Iniciação
Científica e no Mestrado. Do Mestrado em diante, São Paulo aparece em todas as categorias
demonstrando sua condição de “exportadora” de pesquisadores.
O eixo EUA/Europa tem a preferência como destino dos pesquisadores. Os EUA só
lideram sozinhos no Mestrado. No Pós-Doc, dividem o interesse com o Canadá. Nas outras
categorias, a preferência é pela Europa: Iniciação Científica (Espanha); Doutorado (Inglaterra);
Bolsa Pesquisa (França, seguida de perto por Alemanha, Portugal e Espanha). Desta leitura,
pode-se destacar, então, uma ligação forte do Brasil com a Espanha. Associações estabelecidas
assim, a partir de indicadores quantitativos, entram em rota de colisão com o pensamento de
Ciro Marcondes Filho, declarado durante entrevista a este pesquisador.
65 Em entrevista concedida ao autor.
238
Pode ter um volume enorme de estudiosos que vão aos EUA e ao Canadá mas não
sabe o que os move a irem para lá. Sabemos que os EUA são atraentes para fazer
pesquisa administrativa, em larga escala, com gráficos e estatísticas, às vezes,
sondagens eleitorais, ou seja, estudos que se voltam a volumes de dados mas pouco
ou nada dizem a respeito da qualidade da comunicação (...) os europeus, em
contrapartida, desfrutam de uma tradição secular em investigações de fundo, em que
buscam compreender um pouco mais da natureza da comunicação e não tanto das
grandes medidas. (MARCONDES FILHO, 2017)66
O quesito Orientação registra equilíbrio entre homens e mulheres. As mulheres
predominam, na Iniciação Científica e no Doutorado, ao passo que os homens estão à frente no
Mestrado e no Pós-Doutorado. Quando se consideram os beneficiários, as mulheres
predominam tendo mais bolsas concedidas em Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pós-
Doutorado. Pensando nos supervisores que recebem os brasileiros, o equilíbrio de gênero é,
apenas na Iniciação Científica, sendo que, nas demais categorias, são lideradas com
tranquilidade pelos homens.
Sobre os temas, a Iniciação Científica se ocupa do Jornalismo, Relações Públicas,
Internet e América Latina. No Mestrado, predominam Cinema e Comunicação Pública. Já o
Doutorado traz temas modernos como Internet, Digitalização e TV Digital. No Pós-Doutorado,
práticas mais digitais também são as mais pesquisadas, como Redes Sociais e Internet.
Destacam-se também estudos com temas voltados à Filosofia da Comunicação. Entre os
pesquisadores professores bolsistas, Jornalismo, Meios de Comunicação e práticas ligadas à
tecnologia, que demonstram a grande participação dos projetos da PUC-SP, em torno de
análises semióticas.
Pouca informação há sobre Metodologias de Pesquisa, mas, quando elas são informadas,
há variedade passando por Entrevista em Profundidade, Pesquisa Exploratória, Estudo
Comparado, Análise de Discurso e Pesquisa Bibliográfica. E por falar em Bibliografia, também
se registra o predomínio da Literatura Estrangeira, o que faz certo sentido, pois, nossos
pesquisadores vão para o exterior. Porém, curioso é que, nas Bolsas do Exterior, pela primeira
e única vez, um autor brasileiro aparece na frente. Trata-se de Ciro Marcondes Filho, no Pós-
Doc, que se destaca na modalidade, por ser o professor que mais pesquisas orientou. Isto leva
a crer que seus orientandos o utilizam como referência. É um passo importante diante de um
cenário em que o Brasil sequer chega a coadjuvante. Questionado sobre isto, o professor disse
que pensa o Brasil por sua incomparável energia e potencial de trabalho, e sobre o fato de
66 Em entrevista concedida ao autor.
239
aparecer nesta liderança, ele considera, durante sua entrevista, que alunos, de modo geral,
seguem os passos de seus orientadores, caso estes, sejam respeitados como fonte de
conhecimento e experiência.
Para concluir a produção destes indicadores, chegamos aos Auxílios Regulares,
Pesquisador Visitante e Publicação. Diante das amostras, a USP se destaca em pedidos de
auxílios regulares de pesquisa e publicação enquanto os pedidos de professores visitantes ficam
a cargo da PUC-SP. O mapa de nossa produtividade está desenhado por São Paulo-capital (o
grande espaço da pesquisa), São Carlos, Campinas, Bauru, São Bernardo do Campo e São
Caetano do Sul. Em relação aos temas, há muito mais informação e diversificação. O
Jornalismo se destaca, mas, também podemos ver a presença significativa da Telenovela e da
Televisão. É nos auxílios que, pela primeira vez, o litoral paulista aparece pedindo apoio de
pesquisa, sendo representado pela cidade de Santos. Quando pensamos em quem está
produzindo, o predomínio é feminino. Em termos de diálogo internacional, este se dá em boa
parte com a Europa. É de lá também, em detrimento de outros pontos do mundo, que chegam
os principais autores como marcos teóricos - pesquisadores que vêm ao Brasil muito
estimulados pelas professoras Ana Claudia Mei e Lúcia Santaella, ambas da PUC-SP.
Considerações estabelecidas a partir da leitura das amostras, finalizamos este capítulo
com as inferências proporcionadas por meio das pesquisas analisadas. Foram quatro os polos
que sustentam a nossa análise de conteúdo, do ponto de vista quantitativo. O primeiro é o polo
emissor que leva em consideração o produtor da mensagem. Observados Metodologias, Temas
e Referências bibliográficas, conclui-se que o material abrange todas as modalidades de
fomento a partir de quem realiza a pesquisa, ou seja, o pesquisador beneficiado da FAPESP,
que por meio de seu trabalho, chega à representatividade da Comunicação, como assegura
Bardin (2011). Diante dos pressupostos e do que foi analisado, são possíveis cinco situações:
(a) as pesquisas exprimem e representam a influência do orientador na orientação. Isto é
possível notar nitidamente, com o crescimento da Semiótica, por exemplo, que se tornou uma
ferramenta metodológica, decorrente da significativa participação da PUC-SP, entre os
fomentos de pesquisa, bem como, com os orientandos de Pós-Doc nas questões filosóficas da
Comunicação. Uma demonstração de afinidade entre orientadores e linhas de pesquisa que
seguem uma coerência dentro dos pedidos à agência de fomento. Lúcia Santaella está alinhada
com estudos de Peirce; Ana Claudia Mei, com a Sociossemiótica; Ciro Marcondes Filho, com
a Nova Teoria da Comunicação em perspectiva filosófica; (b) evidenciada a preferência pela
literatura estrangeira com as matrizes do pensamento ideológico partindo da Europa,
240
primeiramente, e depois, dos EUA. Essa representatividade estrangeira nos parece ir além de
uma matriz de pensamento configurando uma espécie de “grife acadêmica”, no sentido de que
determinados autores dariam mais densidade à pesquisa; (c) em Metodologia, predomina a
Pesquisa Bibliográfica como método de abertura ao conhecimento e colocação do campo; (d)
A falta de informações sobre determinadas categorias não se pode atribuir unicamente ao
pesquisador. Como os dados foram consultados e extraídos da base da Biblioteca Virtual, a
transmissão de informação pode ter acarretado transtornos operacionais; (e) ao mesmo tempo
em que se identificam autores “de moda”, também há os clássicos que reforçam o caráter
interdisciplinar da Comunicação.
No polo da mensagem, as Bolsas no Brasil, as Bolsas no Exterior, os Auxílios Regulares,
os Auxílios Publicação e os Auxílios de Pesquisador Visitante fazem parte de uma leitura
normal, segundo Bardin (2011), e que posteriormente foram levadas à condição de Análise do
Conteúdo. Os dados foram organizados, em categorias, que envolvem Instituição, Cidade,
Orientador, Sexo do Orientador, Orientando, Sexo do Orientando, Temas, Metodologias e
Bibliografias para encontrar significação, isto é, a primeira fase de compilação das amostras
apresenta um significante que, codificado, gera significados capazes de interpretação. Todas
essas informações foram sistematizadas em tabelas, e depois, analisadas dentro da perspectiva
do código, partindo da análise do “continente”, ou seja, tudo o que foi recolhido, na base de
dados original, foi transportado para a Análise de Conteúdo e seguiu um critério de leitura a
fim de reconstruir a memória das pesquisas em Comunicação, ao longo de 25 anos, para se
chegar à contribuição dada por esses pesquisadores que se valeram da FAPESP para construir
a Área.
Também nos valemos do polo da significação que pode ser enquadrado por primeira ou
segunda significação. No nosso caso, esta pesquisa se insere em uma segunda significação,
pois, queremos de fato pensar a organização da Área da Comunicação, no sentido de visitar os
fomentos disponibilizados e a produção de um conhecimento sobre Comunicação. Os dados
são mensagens, e por isso, representam, como entende Bardin (2011), uma significação. É fato
que pelos estratos quantitativos, conseguimos estabelecer uma leitura capaz de produzir um
panorama sobre os estudos na Área. E, por fim, o polo do médium, tendo como este, a Biblioteca
Virtual, a maneira mais acessível à produtividade dos pesquisadores, uma vez que não se podia
consultar processos físicos nem relatórios científicos finais. Cada fomento forma o médium,
especialmente, como suporte material do código, segundo a proposta de Bardin (2011). Por
241
mais que na primeira entrevista67 com o então diretor da Área de Ciências Humanas e Sociais
II, Prof. Norval Baitello Júnior, ele tenha dito que os dados disponíveis são reais aos projetos
de pesquisa apresentados, o resultado final – a não ser a data do término da vigência do fomento
– não é trazido. Assim, compreender o que se pesquisa na Área, é com base em indícios,
principalmente, nas pesquisas com boa parte de informações que nos permitem, a partir dos
documentos, construir parcialmente uma identidade taxionômica da Área da Comunicação por
meio do financiamento FAPESP.
Uma vez apresentados os indicadores, preocupamo-nos em desenvolver as inferências
que representam, como entende Bardin (2011), a análise de conteúdo da análise de conteúdo.
Assim, após todos os procedimentos de pré-análise, chegamos aos resultados de interpretação,
partindo das operações estatísticas, para se compreender por onde transita a pesquisa em
Comunicação fomentada pela FAPESP ao longo dos 25 anos analisados na Biblioteca Virtual
da Fundação. As variáveis de inferência foram construídas a partir das percepções encontradas
nas amostras que registram as práticas de pesquisa na Área.
67 A entrevista com o professor foi realizada no dia 21/12/2015, no escritório dele, em São Paulo (SP).
242
QUADRO 58 –Inferências no cenário de Bolsas e Auxílios à Pesquisa
VARIÁVEL DE
INFERÊNCIA
INTERPRETAÇÃO
DESCRIÇÃO
HIPÓTESES
1. Interesse pela Pesquisa
em Comunicação
2. Universidade Pública
Não há um percurso formativo completo – considerando a
noção de ciclo escolar – entre os fomentos da FAPESP, haja
vista, o desequilíbrio numérico que se apresenta entre as
etapas de formação e suas bolsas concedidas. Porém, o
interesse pela pesquisa em Comunicação é algo vivo e se
confirma quando as fases iniciais, Iniciação Científica e
Mestrado, apresentam grande demanda por bolsas.
Ainda levando em consideração a Iniciação Cientifica e o
Mestrado, nota-se que a primeira é uma forma de contato
inicial com os métodos e técnicas da pesquisa acadêmica,
embora nem sempre, o interesse de tema do candidato seja
priorizado, pois, ele pode fazer parte da construção de outros
projetos em curso dentro de uma instituição. Já no Mestrado,
este pode ser compreendido como condição de
capacitação/qualificação bem como de sobrevivência, pois, a
situação econômica do Brasil faz, inclusive, que alguns optem
pelo fomento como único recurso financeiro diante do cenário
preocupante do desemprego no Brasil. Ainda mais em um
centro importante como São Paulo.
Exige dos pesquisadores em formação a dedicação exclusiva,
critério que reforça o papel da pesquisa como princípio vital
de uma universidade ao lado do ensino e da extensão. Se, por
um lado, tem o benefício de “ainda” não cobrar mensalidade
– no fim de 2017, já houve sugestão do Banco Mundial para
cobrar “tarifas escolares” no ensino público superior brasileiro
243
3.Universidade/Faculdade
Particular
como opção para ampliar recursos das universidades federais
sem sobrecarregar o orçamento – por outro, inviabiliza o
ingresso de muitos candidatos, que não podem deixar de
trabalhar, o que significaria abrir mão dos ganhos que
materializam o sustento pessoal individual ou familiar.
Em relação ao ambiente de investigação, depende que os
sujeitos de pesquisa tragam, para dentro dela, as situações
práticas do mundo externo problematizando-as. As realidades
são mais trazidas do que buscadas pelas universidades do
ponto de vista da produção de conhecimento. Do ponto de
vista estrutural, enfrenta sérios problemas, sobretudo, com a
crise financeira do Brasil que resultou em cortes
significativos, na segunda década do século XXI.
Descrições um pouco parecidas com as instituições públicas,
embora no âmbito da pesquisa particular, não se exija a
dedicação exclusiva ao estudante que tem um prazo para
entregar sua pesquisa em formato de produto (dissertação ou
tese). Tem, no fomento, uma possibilidade de custeio do
ensino, porém, o conhecimento do corpo discente sobre essa
forma de incentivo depende de divulgação e, em alguns casos,
como ocorre com a FAPESP, da existência de um escritório
de apoio na Universidade. Esse maior conhecimento pode ser
instrutivo para a elaboração de projetos de pesquisa mais
ousados e a longo prazo.
Do ponto de vista do capital, as instituições privadas seguem
as leis de mercado que, na segunda década do século XXI,
encontram na crise, a justificativa para precarizações sejam
elas de ensino, estrutura, contratos de trabalho, etc...
244
4. Objeto da Pesquisa em
Comunicação
5. Espírito Científico
6. Pesquisa Bibliográfica
7. Complexidade da
Comunicação
Ainda carece de um conceito mais sistematizado em função
da larga escala de fragmentação temática que a Comunicação
experimenta. Um fator que pode ser complicador para isso é a
interdisciplinaridade, como espécie de passagem para a nossa
Área, onde se aplica o falso discurso de que tudo é, ou possa
vir a ser, Comunicação.
O conceito central de Comunicação é pouco levado em
consideração. Pensa-se mais na resposta a uma prática do que
o seu sentido teórico. Isto gera uma tendência dos
pesquisadores a confirmarem o que se prevê aceitando a
conformação do resultado como algo acabado sem pensar na
problematização do problema. Muitas vezes, fecha-se uma
pesquisa com a sensação de que o tema se dá por encerrado,
naquele trabalho, sendo que, na verdade, uma pesquisa não se
esgota. O ideal é que ela lance novas problemáticas e o fluxo
se repita.
Estratégia metodológica mais adotada em grande parte das
pesquisas, serve de parâmetro para a fundamentação teórica
de um trabalho, bem como, contextualizar o seu campo de
atuação. Trata-se de um recurso inerente a todo trabalho
científico, mas não, o principal
Há um engano em pensar a complexidade como algo
trabalhoso. Ao adotarmos o conceito de Edgar Morin relativo
à obscuridade em relação ao que não se conhece, falta aos
sujeitos de pesquisa compreender a complexidade da
Comunicação, que em função de sua fragmentação temática,
abre demais o seu campo de atuação permitindo
compreensões mais genéricas do que específicas. Isto leva à
falta de organização dos chamados sistemas complexos,
definidos por Rolando García (2006), e que se formam no
245
8. Internacionalização da
Pesquisa
9. Interdisciplinaridade
interior de realidades organizadas por totalidades cujos
elementos não se separam. Sem essa devida organização,
elementos heterogêneos impõem a perda do comum e se
tornam situações postulantes ao fomento FAPESP. A
instituição, por sua vez, considera o volume de pedidos na
Área, atendendo solicitações que seguem modelos pré-
determinados, sem necessariamente haver, o cuidado em
considerar a problemática geral da Área que poderia ser
estudada por uma base conceitual comum de concepção
compartilhada da pesquisa em suas relações com a sociedade.
Com isto, gera-se um discurso, na teoria, e outro na prática,
que materializa o desconhecimento da agência reguladora
sobre o fluxo de conhecimento produzido pelos pesquisadores
financiados para isso.
A internacionalização se tornou um dos critérios de avaliação
de órgãos reguladores e controladores dos Programas de Pós-
Graduação. Quando verificamos essa relação, no fomento da
FAPESP, identificamos que o pesquisador, para ir ao exterior,
depende da relação de seu orientador com algum professor
pesquisador estrangeiro e também de uma afinidade temática
de pesquisa. Isto está muito presente nas relações
internacionais da PUC-SP com a Semiótica.
A bibliografia internacional domina no Brasil, com os EUA e
a Europa se configurando nas principais fontes do pensamento
comunicacional brasileiro. O intenso diálogo, com
instituições e pesquisadores franceses, denota a tendência de
uma pesquisa mais estruturalista na Área da Comunicação.
Questão inerente, e ao mesmo tempo, complexa. Se o diálogo
e a troca são princípios para a Comunicação, como negar a
interdisciplinaridade? Ela precisa ocorrer, mas ter respeitada
246
10.Localização geográfica
suas fronteiras e ser abarcada pela nossa Área, que deve
reconhecer a efetividade de quanto um fenômeno realmente se
encaixa sob ótica comunicacional. Há uma grande confusão,
sem limites conceituais, que abarcam tudo como questão de
Comunicação. Isto cabe à própria institucionalização do
campo ser uma fonte abalizadora, pois, percebemos que é
grande o número de indivíduos que migram para a nossa Área
tanto na categoria de discentes como docentes. É flagrante
perceber que, muitos Programas de Pós-Graduação em
Comunicação, contam com pesquisadores orientadores que
não são genuinamente da Área e que lá abarcaram por
questões de aproximações inter ou multidisciplinares. Trata-
se de uma demonstração de fragilidade do ponto de vista da
nossa organização sistêmica. Como institucionalizar e
legitimar um campo ou uma ciência se, nem sempre, nossas
raízes são próprias?
Os fomentos consignados demonstram equiparação nas
produções entre capital e interior em termos de volume de
produtividade, porém, a cidade de São Paulo é o grande centro
de referência à pesquisa em Comunicação. Um dos fatores,
para isso, tem relação com a presença de uma das
universidades públicas brasileiras mais representativas nos
cenários nacional e internacional: a USP. Vemos também uma
descentralização para o interior e consideramos isto em
função não apenas de outras universidades públicas
renomadas, como UNESP, UFSCAR e UNICAMP, mas
também, pelo fato de haver grandes distâncias quilométricas
entre interior e capital. Há de se considerar também a região
do ABC como opção de desafogar o grande centro urbano que
é a capital paulista. Onde se percebe pequena
representatividade é no litoral paulista que tem como principal
cidade, Santos, onde há polo universitário. Acreditamos,
247
11. Especialização de
Programas de Pós-
Graduação e o Fluxo de
Conhecimento da
Comunicação
porém, que sua proximidade com o ABC, e também com a
própria capital, pese como fator decisivo para que
pesquisadores de lá busquem formação em um grande centro.
Muito da fragmentação do conceito de Comunicação se deve
à pluralidade de pesquisas aceitas em Programas de Pós-
Graduação. A adequação de um projeto se dá a um conjunto
de fatores congêneres, como por exemplo, linhas de pesquisa,
atuação do orientador naquele tema e suas correlações,
viabilidade. Pouco se pensa um projeto à exaustão do fluxo do
conhecimento e sua contribuição ao aprimoramento da Área.
A Comunicação não faz a lição de casa do partilhar. Age em
ilhas cercadas de conhecimento próprio sobre as quais se
fecham indivíduos que comungam das mesmas ideias e se
colocam como soldados do campo para a luta simbólica
defendida nos pressupostos de Pierre Bourdieu. Vale mais o
agrupamento predador que a problemática e sua consequente
pergunta de pesquisa.
Por isso, é nesse sentido, que propomos uma mudança
baseando-se no esboço de legitimidade que a PUC-SP, em seu
Programa de Pós-Graduação, se concentra nos estudos de
Semiótica. Por meio dos fomentos da FAPESP oferecidos a
esse Programa em questão, nota-se a prática que rompe os
paradigmas em relação ao conceito multifacetado da
Comunicação. Trata-se de um modelo que pode ser
considerado, como grande contribuição, aos demais
Programas. Embora seja positivo, a este resultado se chegou,
porque seus integrantes se fecharam em ilhas que propõem
lutas simbólicas à luz de fundamentações teóricas
diferenciais.
248
O que propomos, em primeiro momento, é um fechamento,
mas não para a luta. Fechar-se, em nosso ponto de vista,
significa dar a oportunidade de cada Programa revisitar suas
produções realizadas, de modo a tentar encontrar e
estabelecer uma espinha dorsal que leve ao fluxo do
conhecimento. É esta a maneira pela qual acreditamos ser
possível controlar um pouco a diversificação, não no sentido
de reduzir o número de pesquisas, mas sim, de deixar claro
que os fenômenos precisam ser encaixados a um olhar
comunicacional que construa um sentido para a Área.
Contribuições setorizadas podem vir a propiciar, talvez, um
melhor entendimento do que é a Comunicação, no tocante, a
essa dificuldade de sua conceituação. E esta construção
pode se dar, por que não, por um projeto temático
apresentado à própria FAPESP.
QUADRO 59 –Inferências no cenário da Biblioteca Virtual da FAPESP
VARIÁVEL DE
INFERÊNCIA
INTERPRETAÇÃO
DESCRIÇÃO
HIPÓTESES
12. Banco de Dados
O levantamento de informações das pesquisas fomentadas, na Área
da Comunicação, pela FAPESP, nos demonstrou que é possível haver
falhas na alimentação dos dados sobre cada processo, porém, é
impossível identificar se as falhas ocorridas sejam do pesquisador ou
de quem fez o processo inicial de abastecimento da Biblioteca, na
FAPESP, que foi operado manualmente, em seus primeiros anos, até
a informatização do sistema. De qualquer forma, isto nos permite
supor que a rigidez com tantas etapas burocráticas para a concessão
249
13. Imposição de
Burocracia ao
pesquisador
14. Comunicação
Digital como Tema
de Pesquisa
15. Metodologias de
Pesquisa
do apoio não é tão eficaz e controlada com o repositório de dados que
se tornam documentos históricos.
Ao longo de toda a pesquisa, damos a dimensão de que o fomento é
uma via de mão dupla, pois, a FAPESP concede o dinheiro para a
realização da pesquisa e o pesquisador devolve o investimento em
forma de conhecimento. Porém, quando analisamos o que nos é
disponibilizado, bem como a descrição de cada tipo de fomento, fica
a impressão de que as exigências da FAPESP visam sua transparência
e os relatórios entregues são de acompanhamento do trabalho no
intuito de uma prestação de contas, de uma transparência pública, e
não, da produção de conhecimento e o quanto ela resultou em
utilidade social que, inclusive, é de desconhecimento da
coordenadoria de Área, a não ser por algo muito relevante, que tenha
divulgação.
Ficam evidentes o surgimento de novas práticas e experiências, no
âmbito digital, perpassando pela Internet, Redes Sociais, processos
maquínicos considerados por meio de leituras semióticas, etc...
Tanto nas bolsas de estudo, como nos auxílios à pesquisa, fica
evidenciado o uso de metodologias paradigmáticas. Ainda são
poucas, porém, já aparecem pesquisas com metodologias próprias da
Internet e da Digitalização, no caso, a Netnografia.
O propósito da interpretação, na visão de Bardin, é o de gerar outras orientações para
uma nova análise ou utilizar os resultados de análise com fins teóricos ou pragmáticos.
250
Acreditamos que, pelas nossas interpretações, descritas acima, conseguimos produzir com esta
pesquisa, novas orientações que demandam outras orientações bem como constituir fins
pragmáticos no cenário sobre como se pesquisa a Comunicação, por meio de uma agência de
fomento. Diante das nossas inferências, podemos dizer que a Comunicação, vista por meio dos
auxílios à pesquisa, bolsas de estudo e publicações da FAPESP, demonstra que há interesse de
pesquisa, principalmente, porque a Iniciação Cientifica e o Mestrado constituem demandas
fortes, embora não se possa dizer que haja um ciclo contínuo na formação do pesquisador, que
em termos de ambiente, se identifica mais como constituição de uma carreira nas universidades
públicas.
A fragmentação temática de nossa Área não permite constituir um objeto mais próprio
e particular, o que faz com que a grande diversidade propicie a conformação das respostas, por
parte do pesquisador, que nem sempre pergunta, logo, deixa de ser um candidato ao espírito
científico. Sequer a indagação sobre a interdisciplinaridade é feita, uma vez que ainda não
localizamos o ponto nevrálgico de nossos limites com as fronteiras de outras Áreas de
Conhecimento, que buscam demandas na Comunicação, talvez, pela fragilidade de seu
território. Antes de saber com quem dialogamos, necessitamos de uma gênese, com raízes
próprias, que tragam pesquisadores natos, oriundos da Comunicação, a fim de que eles
sinalizem os caminhos por onde devemos seguir. Isto é um pouco atrapalhado, inclusive, pela
bibliografia estrangeira, que predomina e sinaliza, a nós brasileiros, a importação e o consumo
quase sempre acrítico de matrizes do pensamento comunicacional com chancela dos EUA e da
Europa. Uma alternativa para enfrentar isto, talvez seja, a nossa proposta de repensar o que se
produz nos nossos Programas de Pós-Graduação – a começar quiçá pelos paulistas –, aos quais
sugerimos seguir modelos setoriais, como o da PUC, que já oferece à Comunicação uma
espinha dorsal de reflexão e desenvolvimento do conhecimento comunicacional vinculando-se
à Semiótica. Por fim, este panorama, construído através das pesquisas que receberam apoio da
FAPESP, pode trazer falhas em função das informações prestadas. Assevera-se que a Fundação
é importante para o constructo legitimador de nossa Área, porém, ela é um pouco incipiente
quando, na via de mão dupla com o pesquisador, valoriza mais a transparência pública do
dinheiro investido com relatórios comprovadores do que na discussão do conhecimento
produzido em forma de retorno à sociedade, que muitas vezes, só se dá quando o pesquisador
volta para pedir um auxílio publicação. E eles ainda são poucos!
251
CAPÍTULO IV – LIDERANÇAS DO FOMENTO E
COMUNICAÇÃO: CAMINHOS POSSÍVEIS
A Comunicação precisa de uma Taxionomia e há várias justificativas que concorrem
para isso. Uma delas vem de Craig Calhoun (2012), por exemplo, que acredita que o estudo
intelectualmente sério da Comunicação deve ser transformador para as Ciências Sociais que,
em função de tantas disciplinas emergentes, se viu composta por subcampos com potencial para
se tornarem disciplinas separadas por conta própria. Além disso, o autor lembra que há vários
métodos para se estudar a Comunicação como experimentos, etnografias, pesquisas históricas,
levantamentos, análises textuais e métodos cada vez mais visuais.
Tais variedades foram encontradas ao longo de nossa análise. A Taxionomia pode, por
meio de sua proposta de organização, elucidar alguns pontos questionados por Calhoun como
os valores comuns defendidos, a compreensão mútua do saber e a circulação dos estudos pelo
campo. Isto reforça que, mais do que saber que a FAPESP existe e pesquisadores podem pleitear
apoio, os agentes da Área necessitam ponderar que a Comunicação é capaz de gerar
provocações como as das instituições acadêmicas, que se valem do fomento, e a própria
FAPESP pensam em relação ao que mensuramos por meio dos resultados, ou seja, se situar na
realidade da Área, levando em conta, os elementos que nosso estudo fornece para o exercício
da reflexão crítica sobre o que realmente somos como natureza do saber. Além destes fatores,
há de se considerar outras variáveis, como a vasta produção dos estudos em Comunicação e o
número de pessoas inseridas, sejam elas nativas ou importadas, e que buscam abrigo intelectual
para a realização de seus trabalhos.
De modo geral, a visão taxionômica coincide com o que José Luís Braga (2011) trata
como tautologia, isto é, na Comunicação, se faz necessário observar como a sociedade conversa
com a sociedade. Quando consideramos isto pelos fomentos da FAPESP, vemos que propor
uma constituição taxionômica da Comunicação, à luz dos apoios, é uma maneira de colocar à
sociedade uma forma de conversação, pois, se trata em dizer como os pesquisadores, que
buscam apoio financeiro, estão trabalhando o conhecimento na Área. O fulcro central é a
produção do conhecimento para a materialização do que entendemos como a via de mão dupla
252
do fomento, ou seja, a Fundação aplica dinheiro e o pesquisador devolve em produção de
conhecimento.
Para organizar uma Área de conhecimento, é plausível situá-la e demonstrar a sua força
de expressividade, ou seja, dar condições à sua legitimação. Para Lopes (2017), essa
legitimação é conquistada, mas, precisa ser reconhecida. E o interesse pela epistemologia,
segundo ela, é recente no Brasil e na América Latina. Como assinala Braga (2011), já que a
constituição interna do campo da Comunicação não se faz a partir de proposições abstratas ou
de gestos epistemológicos formalizados, a prática da pesquisa assume um peso. E é justamente
nessa toada, à luz da FAPESP, que propomos a organização taxionômica para que os próprios
integrantes da Área acreditem mais na representatividade do saber em que atuam. Isto é
importante, muito em função da diversidade temática da Área ainda mais diante de tantos dados
que, segundo Lopes (2017), não falam por si porque precisam ser questionados por um
problema de pesquisa. Na própria compilação dos dados das 912 pesquisas, identificadas na
Biblioteca Virtual, encontramos a fragmentação da Comunicação como tema.
Nas Bolsas de Estudo no Brasil, pesquisadores tratam de Comunicação, Comunicação
de Massa, Comunicação Internacional, Comunicação Intercultural, Comunicação
Organizacional, Comunicação Pública e Comunicação Visual. Entre os Pesquisadores das
Bolsas de Estudo no Exterior, aparecem a Comunicação Pública, Comunicação Digital,
Comunicação Internacional, Comunicação Comparada e Comunicação Visual. Já nos Auxílios
Pesquisador Visitante são tratadas a Comunicação, Comunicação Digital, Comunicação
Científica, Comunicação Comparada, Comunicação Intercultural, Comunicação na
Administração, Comunicação Organizacional e Comunicação Social. Entre os Auxílios
Publicação, são temas a Comunicação Digital, Comunicação Social, Comunicação de Massa,
Comunicação Científica e a Comunicação em si. E entre os Auxílios Regulares, os
pesquisadores abordaram, nas suas temáticas, a Comunicação Científica, Comunicação de
Massa, Comunicação Digital, Comunicação em Saúde, Comunicação Visual, Comunicação
Intercultural, Comunicação Interpessoal, Comunicação Não Verbal, Comunicação Pública,
Comunicação Rural, Comunicação Social e Comunicação Verbal.
Como se nota, há diversidade de temas e fenômenos, na Área, o que faz Lúcia Santaella
(2001) reforçar as tradições da pesquisa e as linhas de força da Comunicação e Anamaria Fadul
(2003) se atentar ao avanço da pesquisa em Comunicação. Uma condição que faz Fadul apontar
para a necessidade de estudos sobre epistemologia e taxionomia da produção científica
existente. A autora aponta vários fatores para o que chama de campo científico consolidado.
253
Entre eles, estão a vasta produção dos Programas de Pós-Graduação, o número de revistas
científicas, com perfis temáticos definidos, e a presença da comunidade científica nos
congressos e seminários de associações nacionais e internacionais para discussão de suas
pesquisas com os pares. Além desses fatores elencados, sugerimos a partir de nossa pesquisa, a
inclusão, 15 anos depois dessa análise da professora Anamaria Fadul, as agências de fomento,
em especial, a FAPESP que reconhece a Comunicação como Área fazendo disto um exercício
pleno de legitimação. Para esta construção, Lopes (2017) aposta em algumas teses. A primeira
passa pela legitimação social do campo, no Brasil, como fato concomitante à legitimação
científica. Para isto, ela sugere que o campo de estudos faça a teorização de práticas, que já
eram legitimadas por meio de uma autonomização, com determinantes de seu funcionamento
no âmbito da pesquisa, ensino e profissão. A segunda tese se centra na institucionalização do
campo de estudos, e por fim, a atenção para a centralidade da Comunicação e à crítica à
disciplinarização do conhecimento. Assim, tudo aponta para um cenário favorável, que venha
constituir uma geração “legítima” da Área, ao contrário da formação inicial dos programas de
Pós-Graduação, no Brasil, quando os pesquisadores foram induzidos, de acordo com Marques
de Melo (2008), aos reducionismos sociológicos para sobreviverem academicamente. Outra
variável importante que nossa produção taxionômica, a partir dos dados da Biblioteca Virtual
da FAPESP gera, é a revelação de dados acumulados até então guardados. Tal prática se torna
alternativa ao que Marques de Melo (2008) disse sobre a falta de competência de nossa
comunidade acadêmica em comunicar seus avanços e conquistas às autoridades que tomam
decisões no sistema nacional de Ciência e Tecnologia. A situação saiu deste panorama graças
às sociedades científicas do campo.
Considerando as produções registradas na Biblioteca Virtual e os conceitos apontados,
em entrevista, pelos pesquisadores que, na amostra quantitativa dos 25 anos de fomento da
FAPESP, aparecem como lideranças no sentido de reunirem o maior número de bolsas e
auxílios conquistados para seus orientandos produzirem nas universidades e faculdades
brasileiras e também, no intercâmbio científico, com a promoção de visitantes internacionais.
A proposta deriva das entrevistas feitas por este pesquisador, via e-mail, com os professores
Maximiliano Martin Vicente (Iniciação Científica/Mestrado); Lúcia Santaella (Doutorado);
Ciro Marcondes Filho (Pós-Doutorado) e Ana Claudia Mei (Auxílio Pesquisador Visitante) e,
pessoalmente, com a coordenadora da Área Ciências Humanas e Sociais (CHS) II da FAPESP,
professora doutora Esther Império Hamburger além da observação das pesquisas de seus
orientandos, ou de sua autoria, mais a repercussão disto junto à mídia verificando o noticiário
254
produzido pelos canais de comunicação interna da Fundação, como a Revista Pesquisa
FAPESP, ou publicações externas que relacionam de alguma forma o pesquisador à agência.
Aplica-se ainda a metodologia da Análise de Conteúdo, com os referenciais,
pressupostos e teorias de Laurence Bardin (2011), em especial, no que tange às inferências
centralizadas nos polos do emissor e da significação, por entender que nossa amostra envolve
a ação realizada por quem fala, isto é, a mensagem do pesquisador, passada através de seu
estudo. A justificativa pelo polo emissor se dá porque as entrevistas representam e exprimem a
mensagem desses pesquisadores sobre seus entendimentos a respeito da Comunicação – e, pelo
polo da significação, porque seus auxílios à pesquisa FAPESP se constituem em documentos
com significados, oferecidos pela mensagem, que coadunam ao conceito da autora central para
este processo de que a descrição e o sentido perfazem o primeiro momento da significação.
Para seguir a ideia do percurso formativo em pesquisa, começamos pela Iniciação
Científica e Mestrado, etapas iniciais da carreira de um pesquisador, e que nos fomentos
demonstrados, no capítulo anterior, coincidem pelo maior número de projetos orientados pelo
professor doutor Maximiliano Martin Vicente, da FAAC/UNESP Bauru. Graduado em História
pela Universidade Sagrado Coração, de Bauru, em 1982; mestre em História pela USP (1987);
doutor em História Social pela USP (1996); e livre docente pela UNESP (2008), trabalha na
Graduação lecionando as disciplinas História do Brasil; Realidade Brasileira; Realidade
Regional; Realidade Socioeconômica e Política Brasileira e Realidade Socioeconômica e
Política Regional; na Pós-Graduação, ministra as disciplinas História e Comunicação na Nova
Ordem Internacional; Metodologia da Pesquisa em Comunicação e História e Comunicação na
Contemporaneidade. Em 2013, ofereceu o curso Comunicación y Cultura de la Paz, na
Universidade Jaume I, na Espanha, analisando a contribuição do meio para as Relações Públicas
e a Cidadania.
Nos trabalhos fomentados pela FAPESP, quando observamos o pesquisador de forma
isolada, temos o balanço de suas solicitações a orientandos até 9 de setembro de 2017. Foi um
total de 40 auxílios à pesquisa e bolsas de estudo, divididos entre um auxílio à pesquisa, uma
bolsa de estudo em andamento, no Brasil, 36 bolsas de estudo concluídas, no Brasil e duas
bolsas de estudo concluídas no exterior. Quando olhamos seus pedidos de pesquisador para
investigação própria, encontramos um fomento de 2008, quando ele trouxe ao Brasil o
pesquisador Francisco Xavier Gomes Tarin, da Universitat Jaume, da Espanha, cujo plano de
trabalho foi subsidiar, teoricamente, a leitura sob a ótica da Comunicação, desde suas teorias,
seus problemas e interpretações verbais e não verbais das manifestações midiáticas em
255
determinados meios de comunicação com os quais seu grupo de pesquisa trabalha. Foram
propostas atividades expositivas, de caráter teórico, e encontros individuais com pesquisadores
em formação.
Voltando os olhares às 36 pesquisas orientadas – 26 na Iniciação Cientifica e 10 no
Mestrado – apresentamos o conteúdo de suas orientações, no sentido de diagnosticar o que esse
pesquisador vem estimulando junto aos seus alunos no tocante ao desenvolvimento da pesquisa
em Comunicação, começando pela Iniciação Cientifica. De 2013 a 2015, orientou Augusto
Júnior da Silva Santos, na pesquisa “Deutsche Welle Brasil: a construção da notícia e a
representação da Alemanha no portal”. As temáticas foram o Jornalismo e o Jornalismo Digital
e o trabalho tinha como proposta analisar, pela Análise de Conteúdo, a influência das novas
tecnologias no cenário das mídias; o processo de produção e veiculação às necessidades do
digital; aspectos culturais, políticos e econômicos da Alemanha e o processo de seleção e
produção de conteúdo. Já, entre 2011 e 2012, a orientanda Patrícia Vergara trabalhou com a
pesquisa “A Construção da Notícia no Portal Choike.Org”, trabalho científico por meio do qual,
analisou a influência das tecnologias de informação na construção de novas formas de cidadania
e também o conceito de fonte alternativa de notícias. Nesse mesmo período, ao orientar Victor
Luís dos Santos Barbosa, o professor esteve envolvido com a pesquisa “Jornalismo
Internacional: o papel dos blogs na publicação das notícias”, em que analisa como os blogs
contribuem para o trabalho dos correspondentes internacionais e como a discussão repercute no
jornalismo impresso. Ainda, em 2011, orientou Taís Dias Capelini, que pesquisou “Relações
Públicas e Cidadania: uma contribuição do jornal Le Monde Diplomatique”. Para chegar a tal
problemática, analisou matérias sobre movimentos sociais, direitos humanos e cidadania.
Ainda, na Iniciação Científica, no ano de 2010, orientou dois trabalhos. Com Nádia
Rubio Pirillo, pesquisou “Estudo de Notícias de Assessorias de Imprensa de Universidades
Públicas Paulistas”. A orientanda analisou duas assessorias de universidades estaduais e uma
de universidade federal para entender quais eram as prerrogativas de comunicação pública
presentes nessas instituições. No mesmo ano, o professor orientou Pamela Perez Leite, que se
dedicou a estudar a divulgação econômica na Mídia Oficial, no UOL e no jornal O Estado de
S.Paulo. Sua pesquisa abordou a linguagem das fontes oficiais, a pouca acessibilidade do
jornalismo econômico, aos leitores não especializados, e o acesso como obstáculo à informação
e exercício da cidadania. Em 2009, Karen Terossi foi a aluna de Iniciação Científica que
pesquisou a contribuição do Jornalismo para a construção do debate público na sociedade
democrática através do jornal Le Monde Diplomatique observando essa tendência a partir dos
256
movimentos sociais. Entre 2007 e 2008, o professor esteve envolvido na pesquisa de Alex
Aracanjoleto que estudou a reformulação gráfica do jornal Folha de S.Paulo, em um estudo de
Comunicação Visual.
Em 2004, orientou Enzo Alexandre Kuratdmi, que pesquisou “Economia e Grande
Imprensa: a construção do cenário econômico pela Veja”. Um ano antes, com Marcela Dias
Besson, desenvolveu um estudo de caso do projeto Amigos da Escola, tendo como enfoque
principal, o trabalho voluntário para o exercício da cidadania. De 2002 a 2003, “A Violência na
Imprensa Escrita” foi tema da Iniciação Científica de Bruno Alencar Rodrigues, que usou as
notícias do Jornal da Cidade de Bauru, para tratar da presença dos fatos violentos nos meios de
comunicação. Com Fabiana Lima de Matos, trabalhou no ano de 2002, o discurso da imprensa
bauruense na Revolução Constitucionalista de 1932. Ainda, naquele ano, e vindo de 2001,
estava em vigor o projeto de pesquisa de Maurício da Silva de Moraes Junior que estudou o
crescimento da Renovação Carismática e o comportamento de seus membros em relação à
Comunicação. No primeiro ano que marca a passagem secular do XX para o XXI, Gabriela
Dias Besson trabalhou o contexto do jornalismo brasileiro, através da Revista Caras, tratando a
fabricação do imaginário e a concepção de informação. De 2001 a 2002, o professor orientou o
trabalho de Deise Pereira Dantas sobre história e memória de São Paulo, observando a Praça da
República e suas transformações.
Entre os anos 2000 e 2001, Alex Spada da Silva foi orientado em um estudo que
considerava os idosos entre a transição da vida ativa e a aposentadoria; Juliana Colussi Ribeiro
pesquisou “Jornalismo e Comunicação na época dos Parâmetros Curriculares Nacionais”,
considerando sua aplicação a partir das propagandas do MEC e de um jornal produzido pela
Secretaria Estadual da Educação de São Paulo; a orientanda Renata Theodoro de Carvalho
estudou a biografia do ferroviário Gabriel Ruiz Pelegrini para resgatar a memória de Bauru; os
500 anos da descoberta do Brasil, na abordagem do Jornal Nacional, foram objeto de estudo da
Iniciação Científica de Flávio Henrique Polaquini que se dedicou ao estudo do Jornalismo
Interpretativo, do telejornalismo e da produção de sentido semiótico do texto.
A década de 1990 marca sete pesquisas de Iniciação Científica orientadas pelo professor
Max Vicente. Com Rosilane Gonçalves da Silva, trabalhou entre 1999 e 2000, a representação
do MST na mídia comparando a influência do noticiário dos jornais O Estado de S.Paulo e
Folha de S.Paulo na realidade social, política e econômica do Brasil. Ana Paula Araújo Pinheiro
pesquisou, em 1999, o posicionamento da Igreja Católica, no Regime Militar, em Ribeirão
Preto, interior de São Paulo. Já os anos de 1999 e 2000, serviram para Gilberto Kurita
257
Yoshinaga ser orientando de uma pesquisa que se propôs ao registro histórico do rap no Brasil
e seu simbolismo de resistência cultural afroamericana como anseio da periferia. Melissa
Martins Diniz estudou, em 1999, a história da Sociedade Dante Alighieri de Bauru relacionando
a cultura italiana com o movimento integralista bauruense. Ainda naquele ano, orientou Erica
Fernanda Scadelai em uma pesquisa sobre a industrialização do estado de São Paulo, nos anos
de 1990, por meio do jornalismo impresso. E 1998 serviu para as primeiras orientações com
bolsa FAPESP sendo que, com Erika de Moraes, o professor orientou um estudo sobre a
ideologia contida nas placas de ruas de Bauru. Já o estudante Carlos Gustavo Tofoli Francisco
se dedicou a pesquisar a história do Esporte Clube Noroeste, o time de futebol profissional de
Bauru.
Passando às suas orientações de bolsas de Mestrado, temos entre 2014 e 2016, a aluna
Aline Ferreira Pádua com “A Notícia: um retrato do jornalismo rio-pretense nos anos 1950”,
em que se dedica à História do Jornalismo traçando um perfil editorial, as técnicas utilizadas e
a concepção de jornalismo do impresso em questão. De 2013 a 2015, a orientação foi para
Christiane Delmondes Versuti com “Fanpage da Rádio Unesp FM: interatividade e
convergência em prol da cultura e cidadania”. Os processos de convergência e as práticas
sociais foram estudadas a partir dos processos de Comunicação com recurso das tecnologias
digitais. Um estudo dedicado à pesquisa bibliográfica, com entrevistas e análise de interação
para identificar a presença da emissora nas mídias digitais. Nos anos de 2013 e 2014, teve como
orientanda bolsista FAPESP, Caroline Gonçalves Taveira, que relacionou o jornalismo
econômico ao semanário Bundas, para estudar a imprensa alternativa como processo de
redemocratização do Brasil. A mestranda Aline Meneguini de Oliveira foi orientada pelo
professor Maximiliano Vicente na dissertação “Interação Comunitária: o cidadão em sintonia
radiofônica”. Seu trabalho teve a proposta de entender o rádio como instrumento de
consolidação da Comunicação para a cidadania. A orientanda Karol Natasha Lourenço
Castanheira trabalhou a pesquisa “Análise das Mensagens postadas pelo Partido Verde no
Twitter: o caso Marina Silva”. Utilizando metodologia etnográfica virtual, centrou-se em
trabalhar com as problemáticas da difusão ideológica, por meio dessa rede social, e o uso da
Comunicação como instrumento político. Além disso, analisou como as novas ferramentas
contribuem para estabelecer novas formas de Comunicação e como podem influenciar na
participação social. Praticamente, à mesma época, só que iniciada em 2010, a pesquisa de
Verônica Maria Alves Lima tratou “As Consequências das relações socioculturais no
258
jornalismo da Revista Ocas”, através da análise de capas, para uma reflexão sociocultural bem
como da prática jornalística nesse veículo.
De 2009 a 2010, o professor Maximiliano Vicente orientou a dissertação “Blogs Diários:
reflexões sobre a identidade na virtualidade”. A orientanda Xenya de Aguiar Bucchioni usou a
etnografia virtual e pesquisou como uma nova tecnologia exerce efeitos e influências no
processo de empoderamento de uma comunidade indígena; como transforma a organização e
produção dos novos vínculos sociais e tenta encontrar o lugar do sujeito no processo
comunicacional. Já, entre 2008 e 2009, orientou a dissertação “As Estratégias Comunicacionais
de grifes de luxo na internet”, de Suelen Brandes Martins Valente, que tratou da Comunicação
em tempo real como um novo modelo de negócios. De 2006 a 2008, a pesquisa de Marta Vieira
Caputo foi “Comunicação e Ciberativismo: novas práticas para exercício da cidadania”. O
estudo verificou os movimentos ativistas e suas formas de Comunicação. Por fim, de 2000 a
2002, logo no início da passagem secular dos estudos em Comunicação, o professor
Maximiliano Martin Vicente orientou a pesquisa “O Jornalismo e o relato de testemunhas da
Ditadura em Piracicaba”, uma dissertação que analisou o regime militar nas representações
construídas pelo Jornal de Piracicaba.
Até aqui, pelo conjunto de bolsas de Iniciação Científica e Mestrado de seus bolsistas
FAPESP, pode-se afirmar, considerando a inferência da significação, de que o trabalho de
pesquisa do professor doutor Maximiliano Martin Vicente está centrado, majoritariamente no
Jornalismo e suas transformações. Essas pesquisas orientadas demonstram um processo natural
de fragmentação temática da qual o professor se vale para trabalhar diversas possibilidades
dessas práticas comunicativas, quando instiga seus alunos a pesquisar o Jornalismo pelas
noções do impresso, do digital, da especialização, do local e até mesmo do alternativo, além de
promover estudos sobre a Cidadania. Demarca-se, portanto, uma territorialidade de pesquisa
sobre a qual é possível seguir a linha de captar o quanto a prática jornalística evoluiu em seus
mais diversos procedimentos de realização. Não por acaso, acreditamos que a grande
aproximação do Jornalismo com as temáticas de pesquisa em Comunicação se apresente como
um ganho neste caminho possível de Comunicação, inclusive, corroborando nosso
entendimento de que os estudos em Comunicação precisam de uma segmentação para chegar
ao seu amadurecimento. Sobre sua presença na mídia, não há registros decorrentes de suas
pesquisas realizadas ou orientadas com recursos da Fundação.
Do registro documental, saltamos para a própria emissão. Em resposta à entrevista, por
e-mail, enviada pelo autor com base em seus resultados quantitativos, o professor Maximiliano
259
Martin Vicente disse que, na Graduação, todo aluno visualiza a Iniciação Científica e o
Mestrado como complemento de sua formação. Além disso, o professor considera que em
muitos casos, a chance de se associar à pesquisa ainda na Graduação representa ao estudante
uma opção econômica coincidindo com a satisfação de colocar, em seu currículo, a conquista
de uma bolsa FAPESP, difícil de ser conseguida. Seriam duas simbologias, do nosso ponto de
vista, entretanto, Max Vicente destaca que, quando o aluno se insere em um grupo de pesquisa,
ele acaba gerando projetos que, de alguma forma, são submetidos às agências de fomento.
Embora o aluno possa ter esse olhar, não é assim que consideramos o fato de uma instituição
oferecer a Iniciação Científica. Isto coincide com o que o professor diz a respeito do primeiro
contato desse jovem aluno com a pesquisa acadêmica. Segundo ele, é daí que nasce o
aprendizado de elaboração de um projeto, formulando perguntas e seguindo métodos que
futuramente levarão a resultados, posteriormente, tornados públicos em congressos ou
publicações. Ele confirma também a tendência, muito valorizada pela FAPESP na visão dele,
de muitos alunos de Iniciação Cientifica entrarem em projetos de pesquisa dos orientadores,
condição que já apontamos ao longo deste trabalho, defendendo que o aluno de Iniciação
precisa ter curiosidade e entusiasmo pelo tema para que a pesquisa avance. Essa posição
contrária seria uma alternativa ao discurso, mas, não é majoritária de que o aluno da Iniciação
serve de mão de obra para projetos de pesquisa maiores.
Ele acredita que orientador e orientando precisam formular um tema relevante, de
preferência, inovador e desafiador a ponto de trazer novos elementos para a Área em que atuam.
Quando questionamos em que lugar a Comunicação se encontra e como se desfaz seu impasse
conceitual, ele diz (2017): “[...] sempre me coloquei do lado que entende a Comunicação como
uma ciência. A palavra ciência implica em conjunto de saberes, demanda um método e a
especificação dos conhecimentos. Desde todos os pontos de vista a Comunicação cumpre esses
requisitos”. Ainda sobre a sua opinião em relação ao conceito de Comunicação, ele a trata como
processo de intercâmbio igualitário de informações com repercussão social e interferência na
própria visão de sociedade. Aliás, esta definição corrobora bem a sua prática como professor
pesquisador e orientador, pois, pelo que resgatamos de seus benefícios obtidos junto à FAPESP,
Maximiliano Martin Vicente está trazendo, além da contribuição e formação de pesquisadores,
o conhecimento sobre questões igualitárias, como por exemplo, cidadania e movimentos
sociais; as transformações do Jornalismo; as experiências propiciadas pelas novas tecnologias
e pela própria história.
260
Sobre o papel da FAPESP, na construção da Área, ele entende que não apenas esta
instituição em questão, mas outra qualquer, contribui para o fortalecimento dos estudos de
Comunicação, uma vez que passam a ser compreendidos por sua influência na cidade cotidiana
e social. O pesquisador considera que, se a FAPESP aplica dinheiro público no financiamento
de uma pesquisa, ela já exerce sua função social e propicia a credibilidade à Comunicação, um
tema que ele aponta como discutido, na segunda década dos anos 2000, tanto no CNPq como
na CAPES.
4.1 As atividades de Lúcia Santaella
A professora pesquisadora aparece como líder do fomento, quando consideramos dentro
do percurso formativo, as bolsas de Doutorado. Uma das referências na Área, Santaella é
pesquisadora com bolsa de produtividade em Pesquisa do CNPq Nível 1A, professora titular do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, com doutoramento pela
mesma instituição, em 1973, além de Pós-Doc pela Universidade de Indiana, em 1988, e livre
docente em Ciências da Comunicação pela ECA/USP, em 1993. Também recebeu apoio
FAPESP para um pós-doc na Universidade Kassel, na Alemanha. De acordo com seu Currículo
Lattes, em junho de 2017, orientou 237 mestres e doutores. Supervisionou seis pós-docs.
Publicou 42 livros, sendo seis em coautoria, e outros dois, sobre estudos críticos. Organizou a
edição de 15 livros, teve aproximadamente 400 artigos publicados em periódicos científicos no
Brasil e no Exterior. Trabalha com Comunicação, Semiótica Cognitiva e Computacional;
Estéticas Tecnológicas e Filosofia e Metodologia da Comunicação. Coordena os Centros de
Investigação em Mídias Digitais e Pesquisas Peirceanas. Na pós-graduação, trabalha com as
disciplinas Conceitos de Literatura, Semiótica Geral, Semiótica Peirceana, Estética e Percepção
e Metodologia da Pesquisa Científica. Na graduação, Teoria Literária, Semiótica e Teoria da
Comunicação. Vem atuando também em Ontologia da Comunicação; Linguagens; Semiótica
Cognitiva; Redes sociais; Representações midiáticas; Autorreferencialidade nos games;
Tecnologias e gramáticas da sonoridade; Mapeamento da Área da Comunicação; Estudos
comparados Brasil e Alemanha; Fundamentos Biocognitivos da Comunicação: verbal, visual e
sonoro na multimídia; Paradigmas evolucionistas; Signos; Evolucionismo peirceano. Lúcia
Santaella também foi revisora de projetos de fomento da FAPESP entre 2013 e 2014.
261
Dando início aos fomentos que recebeu para beneficiar seus orientandos, entre 2010 e
2013, o doutorado de Mariana Tojeira Cara Almeida foi sobre “A Imagem dos adolescentes na
web: a busca pela corporeidade espetacular”. Essa pesquisa buscou analisar a extra visibilidade
do corpo na Comunicação interpessoal mediada na imagem fotográfica digital e a cultura jovem
nos atos comunicacionais que visam a sociabilidade na geração dos anos 1990. De 2009 a 2012,
a tese de Marcelo Santos de Moraes, intitulada “A Linguagem Pictórica de quem não vê:
imagens, diagramas e metáforas” se propôs a uma tradução inter semiótica, na qual, se
estabeleceu a mediação da Comunicação entre cegos e videntes. Por meio da linguagem
pictórica, buscou-se analisar até que ponto o que se toma por sintaxe é exclusivo dos sentidos
captados pela visão e como o papel interfere nesse processo.
Entre 2006 e 2010, Arlete dos Santos Petry esteve sob orientação da professora Lúcia
Santaella em seu doutorado que tratou “O jogo como condição da autoria e da produção de
conhecimento: análise e produção em linguagem hipermídia”. Esse mesmo período coincidiu
com a bolsista Priscila Monteiro Borges, com a tese “Mensagens Cifradas: entre o
incognoscível e a criatividade”, que buscou compreender o ambiente digitalizado como espaço
aberto de significados de mensagens cifradas propondo a reestruturação dos códigos visual e
verbal no limite do cognoscível. Também foi possível pesquisar o processo criativo na quebra
de convenções dos signos e a caracterização de ambientes que propiciam esse surgimento. De
2004 a 2005, orientou Maria Lucília Borges em “O soundesign e a síntese dos disparates: a
dobra como espaço e(ntre)”, que estudou a relação música e design, a ponto de pensar no
conceito de soundesign, além da linguagem operando por uma sensação intrínseca.
Em 1998, Santaella assumiu a orientação da tese “Os conceitos fluidos de D.Hofstadter
e a interação dos signos de Peirce: a construção de um diagrama dinâmico das classes de signo
de Peirce”, em que Priscilla Lena Farias trabalha até 2002, as visões teóricas e práticas da
cognição, além de construir um modelo informático da interação dinâmica dos signos
peirceanos e a proposição de diagramas dinâmicos. O mesmo período marca a orientação de
Álvaro João Magalhães de Queiroz, na tese “Diagramas Dinâmicos das dez classes de signos
de Charles S. Peirce”, em que o doutorando, de então, compara duas versões discordes das dez
classes de signos propondo uma nova versão por meio de digramas estabelecidos a partir dessas
relações. Já entre os anos de 1994 a 1999, “Imagens Animadas: uma análise sintática pelos
princípios semióticos” foi o trabalho de pesquisa doutoral de Sílvia Regina Ferreira de
Laurentiz, que investigou a linguagem visual, por princípios semióticos considerando os meios
eletrônicos como novas formas de representação. E a primeira tese de um bolsista FAPESP,
262
tendo Santaella como orientadora, pertenceu a Rozélia de Lourdes Medeiros Tavares de Lima
que estudou semioticamente os “Objetos Holográficos”, apresentados em uma tese visual.
Essas nove teses relacionadas compõem parte das 19 bolsas de estudo no Brasil
conquistadas por Lúcia Santaella que ainda conta com 22 auxílios à pesquisa, 8 bolsas no
exterior e 1 bolsa no Brasil em andamento durante a realização desta pesquisa perfazendo assim
um total de 50 fomentos entre auxílios e bolsas. Seguindo a proposta deste capítulo, também
nos debruçamos sobre as produções individuais da pesquisadora para mostrar o que ela vem
produzindo de forma autoral na Área com apoio da Fundação. As obtenções de financiamento,
para isso, abrangem Organizações de Reunião Cientifica, Publicação de Livros, Projetos de
Pesquisa e Pesquisadores Visitantes.
Em 2015, ela obteve financiamento para o Simpósio Internacional “A Vida Secreta dos
Objetos: Ecologia das Mídias”, realizado na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro.
Dois anos antes (2013), levou para a PUC-SP o pesquisador Richard Guisin, da University of
Wisconsin, dos EUA, para a disciplina “Sociotramas: a natureza, a dinâmica e os efeitos das
redes digitais”. No ano de 2012, Santaella também obteve verba para o Simpósio Internacional
“A Vida Secreta dos Objetos: medialidades, materialidades e temporalidades”, que discutiu a
sistematização do novo cenário midiático e seus princípios epistemológicos; impactos dos
novos paradigmas no campo comunicacional, resgate do campo da Comunicação de sua
submissão quase irrestrita aos estudos e metodologias da natureza hermenêutica. No mesmo
ano, conseguiu verba para a publicação do livro “Arte Além e Aquém da Arte: a obra de Betty
Leimer”. Em 2011, promoveu a vinda do pesquisador Winfried Nöth, da Universitat Kassel, da
Alemanha, à disciplina “Por uma Semiótica Cognitiva: Semiose Computacional e Inteligência
Artificial”, em que trabalhou o conceito de máquina semiótica e fez participações em pesquisas.
Quatro anos antes, ele já havia estado, na PUC, oferecendo assessoria aos grupos de pesquisa
em Semiótica Cognitiva do Programa em Tecnologias da Inteligência e Design Digital na linha
de pesquisa sobre Aprendizagem e Semiótica Cognitiva. Também promoveu seminários e
reuniões para implantar o segmento da computação e cognição, nessa linha de pesquisa, deu
assessoria ao colegiado do programa de Relações Interdisciplinares a projetos de pesquisa em
três linhas e ainda atendeu mestrandos de Semiótica Cognitiva.
Em 2006, a professora conseguiu verba para o III Seminário sobre Filosofia e Semiótica
de Peirce. Também promoveu a vinda do pesquisador da Pennsylvania State University,
professor Vicent Colapietro, à PUC para atividades em três centros de pesquisa: Estudos
Peirceanos; Estudos de Pragmatismo e Estudos de Crítica Genética. Nessa visita, o pesquisador
263
internacional desenvolveu reuniões semanais, com mestrandos e doutorandos, que se
dedicavam a pesquisar Peirce. Ainda nesse referido ano, participou, com apoio da FAPESP, do
Congresso Internacional de Estéticas Tecnológicas. Em 2005, obteve apoio para a publicação
de dois livros: “Mente e Diagrama: introdução à Teoria da Mente” e “Discursos Geopolíticos
da Mídia: Jornalismo e Imaginário Internacional na América Latina”. Entre 2002 e 2004, suas
conquistas, na FAPESP, foram com livros e eventos científicos. Lúcia Santaella publicou “O
Método Anticartesiano de C.S.Peirce” e participou do I Seminário Avançado em Filosofia e
Semiótica de Peirce.
O primeiro ano, deste século XXI, foi aberto com a vinda de Winfried Nöth à PUC-SP
para assessorar a gestão, integração e acompanhamento de pesquisas interdisciplinares em
Tecnologia e Mídias Digitais, Tecnologias de Inteligência e Design Digital; implantação do
projeto Cimid (Centro de Investigação em Mídias Digitais); pesquisadores que estruturaram a
Enciclopédia Digital de Peirce e organização do I Fórum Internacional de Semiótica Cognitiva
e Design Digital. Entre 2001 e 2002, a professora publicou “Matrizes da Linguagem e
Pensamento: sonora, visual, verbal, aplicações na Hipermídia”. No mesmo período, só que com
início um pouco antes (1999), a pesquisadora conseguiu fomento para a aquisição de
equipamentos para a pesquisa “Revolução Digital e Novas Formas de Produção e Difusão
Científicas”.
O fim dos anos 1990 marcou a conquista de fomento para seis atividades sendo, no ano
de 1998, um seminário avançado em Comunicação e Semiótica; a vinda do pesquisador da
University of Bucharest, da Romênia, Solomon Marcus, para consultoria e workshops em três
centros de pesquisa da PUC: Estudos Peirceanos; Crítica Genética e Ciências Cognitivas e
Semióticas além de ter participado do Seminário Avançado Internacional de Comunicação e
Semiótica. Também, em 1998, ela trouxe o professor Winfried Nöth para reestruturar a
disciplina Elaboração de Projeto de Pesquisa, co-orientar três teses de Doutorado, atender 15
projetos de pesquisa de mestrandos e doutorandos e proferir palestras nos Centros de Pesquisa
de Semiótica da Cultura; Ciências Cognitivas e Estudos Peirceanos. Um ano antes, 1997, ela
promoveu a visita do professor Thimas A. Sebeok, pesquisador da Indiana University dos EUA,
em seminários de pesquisa sobre Semiótica e Ciências Cognitivas bem como oferecer
consultorias ao Centro de Pesquisa São Mathias e à Pós-Graduação em História da Ciência. Em
1996, Santaella participou, com apoio da FAPESP, do III Congresso Latino Americano de
Semiótica e para fechar seus fomentos obtidos, de 1992 a 1995, trabalhou com o projeto
temático “Avanços Tecnológicos e Nova Gramática da Sonoridade: suas implicações
264
perceptivas e estéticas, culturais e epistemológicas”. Uma pesquisa que visou o estudo da
linguagem sonora e a nova gramática da entropia do discurso sonoro para também conceber,
do ponto de vista da estética, novos equipamentos e novas formas de aprendizagem que não
separam mais a engenharia do som da sensibilidade da escuta.
Alguns dos trabalhos da professora Lúcia Santaella, inclusive, ganharam repercussão,
na Revista Pesquisa FAPESP, principal publicação da agência de fomento paulista, com grande
circulação, não apenas no meio científico. Em setembro de 2001, na edição 68 da revista, a
pesquisadora foi entrevistada na reportagem “Navegando entre Platão e Salsichas” porque ela
havia encerrado um estudo prático e teórico, com apoio da FAPESP, sobre usuários da
hipermídia através do projeto Revolução Digital e Novas Formas de Produção e Difusão
Científicas. Nesse estudo, ela reuniu 45 pessoas, dividindo-as em três grupos de 15, envolvendo
pessoas sem conhecimento das redes, com pouco conhecimento e nativas das redes. Em vez de
perguntas, propôs tarefas a serem realizadas por meio da navegação na Internet. Por meio dessa
pesquisa, ela estabeleceu perfis e concluiu que o internauta deu origem a um novo tipo de leitor
do qual se exigem habilidades totalmente distintas dos receptores da palavra impressa ou das
imagens da televisão. Santaella (2001, p.70) define que “A linguagem do mundo digital só
existe quando o usuário atua e interfere na mensagem”. A autora acredita que cada internauta
tem sua teia particular de conexões, de modo assequencial e multilinear cuja lógica pertence a
ele e a mais ninguém. Por meio desse primeiro trabalho de campo da pesquisadora, ela defende
que a Internet se tornou a única mídia dialógica e interativa. Sobre os leitores, objeto de estudo
da pesquisa, ela os qualifica em dois. O grupo dos leitores novos é o dos internautas errantes
que praticam a arte da adivinhação, nomeados por Santaella de internautas detetives que
aprendem com a experiência. E o grupo dos leitores espertos se tornou o dos internautas
previdentes, que antecipam as consequências, ou seja, são aqueles que conhecem as regras de
funcionamento do mundo virtual.
Em janeiro de 2008, na edição 143, foi abordado o nome da professora em função dela
fazer parte do primeiro dossiê da Revista Matrizes, publicação da ECA/USP. Na reportagem
intitulada “Para pensar a Comunicação”, há uma menção sobre seu texto, que trata das
linguagens na Cultura das Mídias, a partir de uma radiografia dos novos objetos da
Comunicação Móvel. Já em março de 2011, na edição 181, ela foi entrevistada para a matéria
“O livro morreu? Viva o livro”, de Carlos Haag. A pesquisadora descreve o leitor digital,
seguindo a mesma linha de raciocínio da pesquisa apresentada na edição 68 da publicação. E,
265
por fim, na edição 234, de abril de 2017, foi publicada uma nota sobre o livro dela, “Navegar
no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo”.
Em relação a outras notícias, relacionadas ao seu nome, captadas pela agência de
notícias da FAPESP, há registros dos livros “Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora,
visual, verbal”, publicado pela FAPESP, e “Redes Sociais Digitais: a cognição conectiva do
twitter” que constaram das referências para um concurso público de jornalistas, no Centro
Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, em dezembro de 2013. No ano de 2010,
mais precisamente, em julho, há notícias sobre a conquista do prêmio Luiz Beltrão, oferecido
pela INTERCOM, na categoria Maturidade Acadêmica. Em novembro de 2012, houve notícias
de um seminário da INTERCOM sobre panoramas da pesquisa em Comunicação. A professora
foi convidada para falar de pesquisas em novas mídias e hipermídias; realidade urbana; universo
da imagem; imagem e arte; design e arte; publicidade e consumo; cinema e audiovisual; mídia
e comunicação; multimídia e hipermídia; cibercultura; redes digitais; ativismo nas redes e
inclusão digital; ambientes e plataformas digitais e games.
Em dezembro de 2001, apareceu uma notícia no Jornal do Brasil sobre o lançamento de
seu livro “Matrizes da Linguagem e Pensamento: sonora, visual, verbal”. Descreve-se a obra
como resultado de 25 anos de pesquisas fundadas na Teoria dos Signos e dos processos sígnicos
de Peirce. Em setembro de 2008, encontramos registro da participação de Santaella em um
debate sobre o livro-objeto de Bettey Leime, Les Etres Lettres. Em 2001, houve menções sobre
a conquista do segundo lugar da categoria Comunicação, no Prêmio Jabuti, com a obra “A
ecologia pluralista da Comunicação”. Ainda naquele ano, há notícias da PUC sobre teses e
dissertações do Programa de Doutorado em Tecnologias Digitais e Design Digital, coordenado
pela professora. Em 2013, no texto de José Marques de Melo, “Por que enaltecer o pioneirismo
de Luiz Beltrão?”, Santaella é apontada, pelo professor, como autora da Comunicação em
disciplina humanística e pertencente à corrente dos pensadores que são Atualizadores em
função da sua obra “Culturas e Artes do Pós-Humano”. Em 2009, foi noticiada sua participação
no primeiro seminário do mestrado em Ciências da Comunicação de Manaus (AM), sem citação
a alguma universidade. No ano seguinte, deu palestra na Universidade Anhembi Morumbi, de
São Paulo, em Colóquio de Moda, no qual atrelou tal tema ao corpo e à tecnologia. Em
novembro de 2012, a pesquisadora fez parte do Seminário Intercom-FAPESP “Caminhos
Cruzados: comunicar para conhecer68”, abordando os estudos em novas mídias que foram
68 Realizado em 2012, em São Paulo, o evento comemorou os 35 anos de fundação da INTERCOM, a Sociedade
Brasileira para os Estudos Interdisciplinares da Comunicação.
266
fomentados pela Fundação. Em 2014, foi noticiada sua palestra no Congresso Ibercom, em São
Paulo, cujo tema foi Mídias Sociais como espaço de cultura.
Aliás, temas como Mídias Sociais, por exemplo, apontam para um avanço prático em
nossa Área e fazem com que a professora Lúcia Santaella aborde em suas respostas à
entrevista69, a necessidade das demandas criadas. De acordo com ela, os novos fenômenos
constituem uma nova realidade que precisa receber atenção das agências de fomento. Ela afirma
que tais órgãos ainda estão muito atrelados às mídias tradicionais e que as nossas Subáreas
precisam ser ampliadas. É um processo moroso, mas que a pouco a pouco, ela acredita ser
necessário. Um problema existente, porém, que pode ser adaptado. Uma demanda que também
é ocupação da pesquisa e tem, nesta perspectiva de Santaella, uma contribuição. Como ela
mesma diz, na entrevista (2017), “Os pesquisadores vão expandindo a sua área de pesquisa e
as agências de fomento têm que estar abertas para o novo e inesperado. Basta ver o interesse
atual da Fapesp, por exemplo, em pesquisas naquilo que vem sendo chamado de humanidades
digitais”. O reconhecimento deve existir, porém, não pode perder a sua origem, a sua filiação.
Como ela mesma aponta, não pode haver ingenuidade de inventar a roda, uma vez que
precisamos ter conhecimento da história da Área. Desde a implantação da Comunicação no
Brasil, discute-se, como ela aponta, seu caráter homogêneo/heterogêneo, o que em sua opinião,
deve apelar por um equilíbrio. Entretanto, por que ela se preocupa com a filiação? Porque a
expansão de território pode trazer o risco da pesquisa se situar de um lado que não seja o da
Comunicação. “É claro que há reverberações sociológicas, antropológicas, psicológicas e até
biológicas no campo comunicacional, mas o que tem que ser avaliado é se a pesquisa vai
contribuir para o campo da comunicação e seus avanços ou não”, diz.
Esta leitura faz sentido, e nos parece mais holística, porque permite analisar várias
possibilidades temáticas que se ramificam, nos dizeres da pesquisadora, pelo caráter rizomático
da Comunicação, entretanto, quando se refere à institucionalização, Lúcia Santaella defende
que vivemos em um campo, o conceito de Bourideu, que inclui a realidade sem fronteiras fixas.
[...] o campo se define por seus atributos, ou seja, como um campo de pesquisa e de
conhecimento. Ora, como campo de pesquisa e conhecimento, deve haver sempre
uma realidade empírica a que a pesquisa se dedica, quer dizer, os fenômenos
diversificados em que a comunicação ocorre. Para compreender que fenômenos são
esses, deve-se partir de alguma definição do que é comunicação. As definições são
muito variadas. Para alguns, a comunicação é humana e social, deixando para fora
69 Entrevista concedida por e-mail ao autor em 03/10/2017.
267
do campo muitos outros fenômenos que poderiam ser também definidos como
fenômenos comunicacionais. Trabalhei esse tema complexo com algum cuidado no
meu livro Comunicação e Pesquisa, o qual, aliás, começa com uma discussão acerca
disso [...] Relendo essas páginas para responder à sua pergunta, surpreendi-me com
o quanto a informação aí contida é ainda atual, depois de 16 anos, desde que redigi
essas páginas [...] Para resumir, não há uma definição acabada e privilegiada de
comunicação. Elas são muitas e cada pesquisador elege a definição que mais se
ajusta aos seus interesses de pesquisa. (SANTAELLA, 2017)70
Por este sentido, como semioticista, a professora Lúcia Santaella complementa que
prefere as definições mais amplas de Comunicação, pois, assim também engloba a comunicação
maquínica e a comunicação que se processa em fenômenos biológicos. De acordo com ela, os
fenômenos comunicacionais podem existir e se expandir para além do campo social humano. E
é neste sentido de legado teórico, associado às suas convicções, que ela prepara seus
orientandos. Questionada sobre sua liderança, nos fomentos de Doutorado, ela se disse surpresa
com a informação e atribui tal condição ao fato de trabalhar na PUC-SP, uma universidade
privada e cara. Para suprir os custos dos alunos, mas aqueles com talento para pesquisa, ela
incentiva a bolsa FAPESP por prestígio e crivos pontuais e exigentes que atendem rigores
seletivos e não burocráticos na visão dela.
É preciso apostar naqueles que estão dispostos a dedicar grande parte das horas de
sua vida à pesquisa, caso contrário, se estará gastando dinheiro público com pessoas
que não darão ao auxílio que recebem o retorno devido. Fico bastante furiosa com
pessoas que recebem uma bolsa atrás da outra e, depois que chegam ao topo, decidem
abandonar a vida acadêmica. Felizmente, isso é raro, mas acontece e já testemunhei.
(SANTAELLA, 2017)71
A professora reconhece o fomento como consolidação da Área, pois, caso contrário, não
haveria verbas para pesquisas nesse campo, porém, tece algumas ressalvas como os valores de
bolsas, que mal conseguem cobrir o valor da mensalidade da PUC-SP, por exemplo, que ainda
oferece, a bolsistas FAPESP, um desconto de 25% na mensalidade. Mesmo assim, ela destaca
que os bolsistas de Doutorado e Pós-Doutorado diminuíram em sua instituição. Segundo ela,
nas universidades privadas, as bolsas do CNPq e da CAPES são preferidas, pois, além de serem
70 Declaração feita em entrevista ao autor. 71 Idem.
268
destinadas aos estudantes, elas cobrem o valor da mensalidade, repassada diretamente à
instituição.
4.2 As atividades de Ciro Marcondes Filho
Pesquisador com bolsa de produtividade do CNPQ, nível 1A, trabalha por uma Nova
Teoria da Comunicação, a partir de um método próprio de investigação, que é o metáporo.
Coordenador do FiloCom, o Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação na USP, e seu
tema de estudo foi publicado em uma trilogia literária. Em 1972, se graduou em Jornalismo e
Ciências Sociais, pela USP onde 4 anos depois, fez o mestrado em Ciência Política tendo o
professor Gabriel Cohn como seu orientador. Em 1981, concluiu o doutorado em Sociologia da
Comunicação, na Universidade Johann Wolfzgang Goethe, na Alemanha. A livre-docência foi
obtida, em 1983, na USP, e seu pós-doc é do ano 2000, com bolsa FAPESP, na Universidade
Stendhal Grenoble, na França. Lotado no Departamento de Jornalismo e Editoração da
ECA/USP, suas linhas de pesquisa são Teoria da Comunicação e Nova Teoria da Comunicação;
Estudos de Percepção; Filosofia da Comunicação; Estudo de Imagens (Cinema, Foto e Vídeo);
Teoria e Estudos de Jornalismo; Epistemologia da Comunicação e Epistemologia Metapórica e
Estudos de Alteridade na Comunicação.
O professor Ciro Marcondes Filho também atua em um dos pilares que sustenta a
Universidade: a extensão. São várias atividades do gênero realizadas como os Debates
Acadêmicos do FiloCom (2016); Divulgação Científica na Rádio USP (2015); propostas para
repensar a Comunicação como um novo momento cultural (2015); revisão crítica da literatura
em Telejornalismo e Jornalismo (2013) e curso de Divulgação Cientifica da Cátedra UNESCO
José Reis (2012 e 2006).
Em relação aos fomentos obtidos juntos à FAPESP que, inclusive, dão a ele a liderança
de fomento, na modalidade de Pós-Doutorado, em 2014, supervisionou Ana Paula Martins
Gouveia, na ECA/USP, com a pesquisa “O Ornamento do Caminho do Meio: uma lógica
filosófica das possibilidades comunicacionais ainda pouco explorada”. Esta orientanda já havia
conseguido o fomento, também em 2012, quando foi para a Universidade da Califórnia
pesquisar sob a supervisão do Prof. Dr. José Ignácio Cabezón. Em 2014, o estágio de pós-doc
foi na França, na École Pratique des Hautes Etudes, com o pesquisador Mattew T. Kapstein.
Esta sua orientanda se propôs a traduzir, comentar, contextualizar e atualizar um dos textos
269
mais significativos da Filosofia e da Lógica Budista Tibetana discutindo sua relação com a
Nova Teoria da Comunicação e o “Quase Método”, proposto por Marcondes Filho como
metáporo. A pesquisa também se propôs à lógica da manifestação dos fenômenos e as efetivas
possibilidades comunicacionais entre os seres dentro da perspectiva apresentada no texto de
Shantarakshita que toca, evidencia e talvez até amplie os aspectos dessa Nova Teoria da
Comunicação. Enfim, através disso, o estudo se propõe a revelar o texto em questão aos
pesquisadores da nossa Área.
De 2003 a 2006, o professor Ciro Marcondes Filho supervisionou a pós-doutoranda
Danielle Neves de Oliveira, na pesquisa “Poros – ou as passagens da Comunicação”,
desenvolvida em conexão com outro projeto, patrocinado pela FAPESP, que foi “Por Uma
Nova Teoria da Comunicação para a Era Tecnológica”. Nesse trabalho, voltou-se à recuperação
dos fundamentos de uma disciplina que parece ter atingido, no fim do século XX, uma certa
complexidade. Com isso, a noção do comum foi o ponto de partida para fundamentar o ato de
comunicar. Em um estreito diálogo com a Filosofia e suas aporias, três questões temáticas se
desenvolveram: (a) problemas epistemológicos da Comunicação; (b) Comunicação como
oposição à finitude; (c) Poros ou Passagens da Comunicação.
Em seu histórico autoral, junto à FAPESP, até 9 de setembro de 2017, o professor havia
conseguido 29 fomentos entre auxílios à pesquisa e bolsas de estudo. Foram 7 auxílios à
pesquisa concluídos, 17 bolsas no Brasil e 5 no Exterior, todas concluídas. Ao analisarmos os
auxílios à pesquisa, que se referem às atividades de investigação do professor, encontramos em
2016, a solicitação de apoio para Organização de Reunião Científica, mais especificamente,
para o V Encontro Nacional da Rede de Grupos de Pesquisa em Comunicação, realizado na
ECA/USP, em novembro do referido ano. Em seu projeto, justifica o Encontro pela necessidade
de consolidar a Área da Comunicação, no cenário acadêmico e intelectual brasileiro, sendo seus
principais problemas a Ontologia da Comunicação e as possibilidades epistemológicas
correntes por meio do debate, interlocução e disponibilização aos pensadores da Área para a
construção desse saber científico nas Ciências Humanas. O objetivo principal do referido
Encontro foi colocar a máquina intelectual para pensar e produzir, segundo as palavras do
professor Ciro, que se propôs também, a publicar os resultados das discussões em congressos,
livros e revistas cientificas.
Em 2012, também havia solicitado verba da FAPESP, desta feita, para o I Encontro
Nacional da Rede de Núcleos de Pesquisa em Comunicação que contou com a participação do
Professor Ignácio Castro Rey, da Universidade Complutense de Madrid, convidado para
270
discutir a Comunicação em interface com a depressão informativa. Também houve sessões que
trataram sobre Teoria da Comunicação, Filosofia, Epistemologia, Alteridade, Mass Media com
estudos de Rádio, TV, Imprensa e Jornalismo. O professor David Gunkel, da Universidade de
Illinois, falou sobre Comunicação e Alteridade. Houve discussão também sobre meios digitais,
redes sociais, Cibercultura e Inteligência Coletiva, interfaces sociais com a juventude,
subjetividade, interculturalidade, espaço, Comunicação Comunitária e Urbana. O professor
Manfred Fassler, da Universidade de Frankfurt, falou sobre “A Comunicação e os Novos
Paradigmas” além de discussões sobre interfaces mercadológicas no âmbito da Literatura,
Publicidade e Relações Públicas.
A primeira década de atividades do FiloCom somada à discussão da Nova Teoria da
Comunicação em 44 anos da Escola de Comunicações e Artes da USP foi comemorada em
evento, fomentado pela FAPESP, com sessões de trabalho e cinco mesas redondas sendo elas
“O conceito de Comunicação”, com as participações de Luiz Martino (UnB), Norval Baitello
Jr. (PUC-SP), Alice Mitika (USP) e Marco Toledo de Assis Bastos (USP); “Pesquisa e
Investigação em Comunicação”, com Juremir Machado Silveira (PUC-RS), Maria Imacolatta
Vassalo de Lopes (USP), Jairo Ferreira (Unisinos) e Nizia Villaça (UFRJ); “Comunicação e
Tecnologias”, com David Gunkel (Universidade de Illinois, EUA), Francisco Rüdiger (PUC-
SP), Eugênio Trivinho (PUC-SP) e Massimo di Felice (USP); “Imagem e Corpo”, com José
Teixeira Coelho Netto (USP), Rose de Melo Rocha (ESPM), Maria Paula Sibillia (UFF) e Alex
Galeno (UFRN); “Linguagem e Estudos Culturais”, com Lucrécia D’Alessio Ferrara (PUC-
SP), Mayra Rodrigues (USP), Marcos Fernando Lopes (FFLCH USP) e Livsovik (UFRJ).
Em 1998, Ciro Marcondes Filho buscou recursos da Fundação para a publicação
científica “Redes: obliterações no fim do século”. No ano de 2014, levou à ECA/USP o
pesquisador visitante Dieter Mersch, da Universidade de Artes de Zurich, na Suíça, para um
seminário de formação e acompanhamento de pesquisadores em Filosofia da Imagem, no
FiloCom, o Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação, e no Programa de Pós-Graduação
em Meios e Processos Audiovisuais da USP. Já, no quinquênio 2009/2014, trabalhou com apoio
da FAPESP, o projeto temático “O dilema da Incomunicabilidade – aplicação do projeto”, que
mostrou o desejo de Comunicação do ser social que nem sempre se realiza. Apresenta a
Incomunicabilidade como um dilema em época com quantidade e intensidade fantástica de
aparelhos para se comunicar. Com essa pesquisa, atuou no amplo campo das formas sociais da
difusão em massa, pois, na Comunicação elas ocorrem, por exemplo, na produção e emissão de
notícias, uma vez que receptividade e efeitos não podem ser plenamente verificados. Assim a
271
Incomunicabilidade se dá no plano das individualidades e subjetividades, o que lhe fez
considerar também, o plano das relações conjugais. E de 2000 a 2004, trabalhou o projeto
temático “Por uma Teoria da Comunicação para a Era Tecnológica”, em que se propôs a
construir um modelo teórico do estudo de Comunicação que contemple os desdobramentos das
novas tecnologias (interatividade, redes, tempo real, espaço virtual, digitalização de imagens e
transformações do texto); sugerir uma nova metodologia; aplicar seu novo modelo à pesquisa
em Comunicação no Brasil; elaborar propostas de prática universitária e acadêmica no
Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP, com editoração eletrônica de jornais,
revistas e livros; formar grupos de estudos dirigidos e vincular a Iniciação Científica a
pesquisadores de Pós-Graduação ao FiloCom. Todas essas iniciativas e propostas são
justificados pelo professor Ciro como resgate do entusiasmo pela Universidade.
Encontramos a repercussão do seu trabalho, na Revista Pesquisa FAPESP, e em notícias
vinculadas à agência de fomento. Em março de 2015, o professor participou de um curso de
extensão que abordou a Comunicação na América Latina. Sua contribuição foi pelo olhar da
juventude e as transformações da cultura comunicacional contemporânea. Em junho de 2013,
havia notícia de aula inaugural do Mestrado em Comunicação da Universidade Federal do Piauí
(UFPI) onde apresentou “A Construção da Comunicação como campo autônomo do saber”,
resultado, inclusive, de seu projeto de pesquisa do FiloCom junto à FAPESP. Nessa aula
inaugural, ele também tratou o Dilema da Incomunicabilidade. Em 2009, suas notícias versaram
sobre o oferecimento de bolsas de Pós-Doutorado. Já, na Revista Pesquisa FAPESP, a edição
143, de janeiro de 2008, citou o pesquisador que também integrou o primeiro dossiê da Revista
Matrizes da ECA/USP, tema da reportagem. Ciro Marcondes Filho tratou a Comunicação
Interpessoal a partir de um trabalho de recuperação dos conceitos de Emmanuel Levinas.
Referenciadas suas produções, com esse recorte de apoio FAPESP, tratamos agora do
entendimento de Comunicação do pesquisador, que respondeu à nossa entrevista, por e-mail72.
Primeiramente, Ciro Marcondes Filho entende que relacionar a Área pela organização da
Fundação significa uma batalha que ele e colegas vêm desenvolvendo por uma ou duas décadas
no sentido de reconhecimento efetivo. Muito disso, é uma forma de desfazer a visão de que ela
é a prima pobre das ciências, um pressuposto que ele atribui a pessoas que nunca entenderam
de Comunicação, porém, sempre estiveram em postos considerados chave, em órgãos de
financiamento, que organizam burocraticamente os saberes e encontraram pouca resistência da
72 Entrevista concedida por e-mail ao autor em 12/09/2017.
272
nossa Área que não se impôs, de acordo com ele, como saber autônomo de campo teórico
próprio. Junto a esta crítica, Ciro Marcondes Filho faz uma ponderação importante na
entrevista.
Tivemos nossa ‘doença infantil”, que foi nossa submissão a outros saberes, inclusive
na montagem de corpos docentes das faculdades de Comunicação. Como poucos
defendiam essa autonomia, muitos colegas de outras áreas vinham com a concepção
de que “Comunicação qualquer um pode ensinar”. Mas não! Como ciência adulta e
respeitada, seus postos devem ser efetivamente ocupados por formados em estudos
comunicacionais sérios e aprofundados. (MARCONDES FILHO, 2017)73
Esta sua análise é conclusiva de um resgate histórico ao qual ele comenta, a partir do
uso metafórico da Comunicação, por parte de outras ciências depois da virada linguística, de
Wittgenstein, nos primórdios do século XX. A partir de termos similares a nós como
informação, mensagem e comunicação, outros saberes como Biologia, Física e Química
tomaram isso de empréstimo para si. Seria, então, esse trânsito que prejudica a Comunicação,
de acordo com o pesquisador. Os empréstimos concedidos “para” ou “de” outras Áreas impediu
uma existência epistemológica própria por um comportamento parasita no entendimento de
Ciro Marcondes Filho. Com um olhar atento a movimentos que perfazem a História da
Comunicação, ele diz que nos anos 1990, a expansão da Internet, a crise das ideologias e o
aparecimento do pós-moderno propiciaram à Comunicação uma Área de investigação própria
sem o uso metafórico de objeto de outras disciplinas. Ele afirma categoricamente (2017)74 que
a “Comunicação precisava se livrar do título absurdo e equivocado de ser uma ‘ciência
aplicada’. Isso não apenas renovava os estudos de Comunicação bem como os criava
efetivamente. Estudos de Comunicação só surgem a partir daí”.
Tal período apontado coincide com o tempo em que ele se considera construtor da Área,
o que para ele, é um trabalho longo e exaustivo, que amadurece muito tempo depois. Uma
atividade que exige postura intelectual e densidade de pensamento ainda mais dentro de um
conhecimento, a Comunicação, na qual pelas palavras dele, muitos querem produzir emissão e
poucos querem receber. Essa constatação foi determinante, em nosso modo de entender, para o
professor Ciro Marcondes Filho tratar, em seus estudos, de algo intangível na Comunicação: o
incorpóreo, considerado por ele, o momento sutil em que algo acontece. Em sua visão, trata-se
73 Declaração feita em entrevista ao autor. 74 Em entrevista ao autor concedida no dia 12/09/2017.
273
de componente imprescindível à comunicabilidade embora não possa ser capturado, medido
nem avaliado, um método que rompe com os modelos paradigmáticos vinculados aos estudos
comunicacionais, se aplicados.
4.3 As atividades de Ana Claudia Mei
Considerada a liderança do fomento, em Auxílio Pesquisador Visitante, temos nesse
intercâmbio proporcionado pela pesquisadora, um maior número de visitas do Prof. Dr. Eric
Landowski, da Fondation Nationale des Sciences Politiques (Sciences Po). Entre 18 de
novembro e 17 de dezembro de 2014, ele esteve, na PUC-SP, para realizar atendimentos aos
pesquisadores, participar de Colóquio de Pesquisa e oferecer um curso intensivo. Em 2011,
entre março e abril, o pesquisador Pierluigi Cervelli, da Università degli Studi di Roma La
Sapienza, teve sua visita financiada para trabalhar com a caracterização dos percursos
semióticos do centro e da periferia urbana de Roma, Nápoles e Palermo para dialogar com
pesquisas do Centro em Sociossemiótica que estuda as práticas de vida na cidade de São Paulo.
Dentro desta temática, acabou participando de pesquisa, ao orientar o grupo a coletar e analisar
dados, além de ministrar disciplina, participar de conferências e promover um ciclo
comparativo entre filmes brasileiros, italianos e mexicanos.
Em março e abril de 2010, Ana Claudia Mei promoveu a vinda de Eric Landowski para
proferir aula magna aos Programas de Pós-Graduação do Estado de São Paulo, com o tema “A
Comunicação na esfera do político”. O pesquisador também orientou pesquisas do Centro de
Sociossemiótica com discussões teórico-metodológicas. Em 2008, ele já havia estado pelo
Brasil, nos meses de outubro e novembro, orientando pesquisas, participando do XIV Colóquio
de Pesquisas, oferecendo o minicurso Semiótica e Paixões, bem como, discutindo a proposta
de pesquisa bilateral Brasil e Itália fundamentada na Teoria Sociossemiótica. Um ano antes,
veio para o XII Colóquio de Pesquisa, visitou Programas de Pós-Graduação, participou de
conferências e ministrou curso intensivo. De setembro a outubro de 2006, orientou pesquisas,
visitou a UNESP, promoveu minicursos, encontrou-se com docentes para orientar pesquisas de
Semiótica nas mídias e participou de Seminário de Pesquisa.
Em 2005, a professora Ana Claudia Mei intermediou a vinda do pesquisador Manar
Hammad, da Semiótique de l’Espace, da França, que orientou pesquisas de Visualidade e
274
trabalhou com a descrição da espacialidade. Concomitantemente a ele, porém, com chegada em
período anterior, Eric Landowski estava, na PUC, para orientar pesquisas dos Programas de
Comunicação e Semiótica e Língua Portuguesa. Seu foco foram as descrições e análises das
dimensões sensíveis de diferentes textos com base na interação social. Foi também
conferencista, ofereceu minicurso sobre Semiótica do Gosto e um Seminário de Estudos
Avançados. Nos anos anteriores, Landowski trabalhou, em 2004, com orientação de pesquisas,
conferências, seminários e minicursos a respeito da Semiótica da Presença descrevendo o
sentido das ocorrências vividas. Em 2003, havia atuado no Centro de Pesquisas Semióticas e
no NUPLIN75. Ofereceu disciplina intensiva para doutores e pós-doutores. Promoveu
conferências abertas sobre Teoria Semiótica, participou de reuniões cientificas, na capital e no
interior, debateu livros e realizou intercâmbio com semioticistas brasileiros.
Para 2002, foi financiada a vinda do pesquisador Denis Bertrand, da Universitè
Vincennes Saint-Denis, da França, que atuou em pesquisas da PUC e da FFLCH da USP,
participou de atividades do Centro de Pesquisas Semióticas e do NUPLIN, ministrou disciplina
intensiva para doutores e pós-doutores, fez conferências abertas sobre Teoria Semiótica, pensou
nas abordagens de grupos de pesquisa, debateu seus últimos livros, à época, e realizou
intercâmbio com semioticistas brasileiros.
Os anos de 1990 marcaram as primeiras vindas de Eric Landwoski. Em 1999, de junho
a julho, o professor ofereceu a disciplina Semiótica Discursiva e orientou pesquisas. No ano de
1998, esteve, na PUC e na ECA, entre agosto e setembro, participando de debates do projeto de
pesquisa “Novos Olhares sobre Processos de Mediação e Práticas de Recepção”. O primeiro
registro oficial data de 1996, quando nas atividades de Ensino, ofereceu as disciplinas
“Semiótica Discursiva: do Inteligível ao Sensível”, na PUC, FFLCH e ECA/USP; “Semiótica
Jurídica”, nos cursos de Pós-Graduação em Direito da PUC e USP. Já nas atividades de
Pesquisa, orientou no Centro de Pesquisas Sociossemióticas, oito teses e novos projetos. Além
dessas atividades, participou de reuniões científicas, conferências e do IV Congresso de
Semiótica Visual. Ainda, na década de 1990, o ano de 1998 teve a vinda de Gianfranco
Marrone, da Università degli Studi di Palermo, Itália, que ofereceu a disciplina “Semiótica face
à análise das Mídias”, atendeu mestrandos e doutorandos cujas pesquisas tinham a televisão
como objeto de estudo, palestrou na Jornada de Semiótica, fez um encontro com o GP Semiótica
75 Núcleo de Pesquisa Língua, Imaginário e Narratividade da PUC-SP.
275
e Estética do Centro de Pesquisas Sociossemióticas e foi conferencista no curso de Jornalismo
da ECA/USP.
Em relação aos demais financiamentos obtidos para sua atuação como pesquisadora,
Ana Claudia Mei conseguiu até setembro de 2017, 30 financiamentos sendo 23 auxílios à
pesquisa e 7 bolsas no Brasil. Desconsideramos, neste caso, os auxílios a pesquisadores
visitantes já mencionados, pois, são eles que garantem a ela a liderança nessa modalidade. Em
2017, ela solicitou apoio ao “Colóquio Internacional Greimas: Desenvolvimentos,
Apropriações e Desdobramentos para uma Semiótica das Práticas”, evento alusivo às
comemorações do centenário do autor reunindo semioticistas nacionais e internacionais, além
de pós-graduandos que utilizam fundamentos e métodos da Teoria Semiótica em seus projetos
científicos. A proposta, segundo justificativa do projeto, também foi posicionar a Semiótica
como disciplina auxiliar das Ciências Humanas. Aplicou-se também a ideia de usos da teoria e
métodos a serviço da inteligibilidade das práticas humanas entre pesquisadores internacionais
oriundos da França, Itália, México, Peru, Colômbia, entre outros. Foi, segundo a justificativa
da pesquisadora, o primeiro encontro, em escala internacional, a reunir a primeira e segunda
gerações de pesquisadores semioticistas com jovens dedicados a essa área de pesquisa.
Entre os anos de 2011 a 2015, a professora desenvolveu a pesquisa temática “Práticas
de Vida e Produção de Sentidos da Metrópole São Paulo: regimes de visibilidade, regimes de
interações e regimes de reescrituras”, que se propôs a um estudo comparativo entre São Paulo
e Roma, no recorte das práticas de vida com interações, ou não, da mídia. Foram observadas as
formas de expressão da cidade e as práticas de interação de seus habitantes, por meio de
percursos narrativos e discursivos, que permitem a construção significante dos lugares que se
distinguem das ações administrativas, urbanísticas, socioeconômicas e culturais planejadas.
Tratou-se de uma cartografia experiencial como forma de compreensão das representações e
dos modos de vida visando o debate sobre a sustentabilidade das cidades.
No ano de 2005, a pesquisadora solicitou apoio para participar do 2º Congresso
Internacional da Associação Brasileira de Estudos Semióticos. Em 2001, foi ao 11º Encontro
da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas. A ida ao 4º Congresso
Internacional de Comunicação Semiótica foi patrocinada, pela FAPESP, em 1996. No mesmo
ano, recebeu verba para publicar o livro “Unidade e Pluralidade: em torno da obra de Julian
Greimas”. E, em 1995, foi ao exterior participar do encontro La Vitrine: de la visiona u Sens.
276
Em relação à sua participação na mídia, não há nada publicado na Revista Pesquisa
FAPESP. E, durante pesquisa de notícias ligadas à Agência FAPESP, ela apareceu em algumas.
Em agosto de 2013, é feita referência à sua participação em um ciclo comemorativo aos 50 anos
dos estudos de Comunicação no Brasil, no qual a professora Ana Claudia Mei foi colocada
entre os Inovadores das Ciências da Comunicação, pois, seu trabalho analisou a obra “Olhar
Periférico”, de Lucrécia Ferrara. Aliás, na reportagem, há uma fala de Ana Claudia Mei a
respeito da autora estudada sobre a qual conta sua ligação com a história e as transformações
do ambiente urbano.
Em setembro de 2009, saiu em reportagem do Jornal da UNICAMP, fazendo referência
a uma curadoria sobre Infopoesias, na Biblioteca Central da PUC-SP. O título da reportagem
foi “A poesia eletrônica, quem diria, faz 50 anos”. Já, em agosto de 2013, apareceu fazendo
análise do livro de Lucrécia Ferrara, no ciclo de estudos do cinquentenário dos estudos em
Comunicação no Brasil, uma realização da FAPESP. No mesmo ano, só que um mês depois,
foi citada no texto “Por que enaltecer o pioneirismo de Luís Beltrão?”, do professor José
Marques de Melo, como pertencente aos instigadores do campo. Aliás, em outra reportagem,
de agosto de 2013, foi apontada como uma das autoras brasileiras fundamentais para a Área.
No mês de outubro de 2011, teve duas vagas para um de seus projetos temáticos
anunciada. O projeto de pesquisa temático, que comparou as práticas urbanas de São Paulo e
Roma, foi explicado assim como a parceria com Eric Landowski, que é fruto de um auxílio de
pesquisador visitante. E, em maio de 2017, concedeu entrevista na matéria “O papel da
Semiótica é entender como entendermos”, na condição de diretora do Centro de Pesquisas
Sociossemióticas da PUC-SP, que recebeu várias vezes, conforme já demonstrado, o professor
pesquisador Eric Landowski.
Sobre a participação desse pesquisador, Ana Claudia Mei nos disse, em entrevista76, que
essa relação se facilita porque o teórico francês fala e escreve nas várias línguas neolatinas.
Frequentador do Brasil, desde 1982, sempre circulou pelas instituições onde a Semiótica estava
se implantando. Foi para a PUC-SP, em 1989, a convite da Profa. Dra, Lucia Santaella, que
coordenava o Programa de Pós-Graduação, para ser professor visitante em Semiótica
trabalhando as fundamentações teóricas e metodológicas das pesquisas em desenvolvimento.
Desta forma, portanto, os dois pesquisadores começaram a trabalhar conjuntamente as
76 Entrevista enviada por e-mail em 23/10/2017.
277
problematizações coletivas com os estudantes. Uma atividade que Ana Claudia Mei considera
estimulante entre os pesquisadores em formação.
Foi assim que Landowski conseguiu trabalhar a Semiótica interdisciplinarmente,
fazendo a ponte com vários campos das Ciências Humanas e Ciências Sociais e
passou vinte anos dedicando-se a objetos de nossa cultura brasileira, quer fosse a
Comunicação face a face nas interações socializantes, a comunicação publicitária,
comunicação política, quer questões do gosto, de hábitos, de práticas de vida
brasileira como comer feijoada, beber caipirinha, torcer para um time, entre tantos
outros objetos que tratou e estimulou a pesquisar. (MEI, 2017)77
Tal conjunto de atividades fez inclusive com que o pesquisador deixasse, como legado,
aqui no Brasil, artigos inéditos construídos a partir da ambiência investigativa brasileira. Por
conta disso, é que a professora da PUC, líder em fomento na categoria de pesquisadores
visitantes, qualifica como importantíssimo esse entrecruzamento de pesquisadores, por existir
a possibilidade de debater teorias, objetos e métodos de estudo do sentido. Um fazer que ela diz
valer a pena para a pesquisa semiótica, feita no campo da Comunicação brasileira, que considera
media como situações que vão do corpo à cidade. Ana Claudia Mei também relembra que mais
de duas centenas de pesquisadores se formaram com a participação de Eric Landowski, e com
isso, se tornaram parte de um campo aberto ao viés da política e da ética atravessando toda e
qualquer comunicação.
Quando fala de internacionalização, a pesquisadora lembra que, do ponto de vista
brasileiro, ainda temos muito o que avançar, principalmente, no que tange à condição de
produzirmos mais e considerar o impacto de nossas publicações. Há uma exigência vigorando
de que os artigos sejam publicados em periódicos qualificados, mas, o que ela sente, na Área
da Comunicação, é que se publicam artigos em coletâneas de projetos temáticos coletivos ou
livros monográficos. As revistas digitais, segundo ela, proliferam, mas, não alteram essa
percepção. Por outro lado, as edições impressas desaparecem em face dos custos. Um bom
caminho, na visão dela, são os livros que, traduzidos para línguas de interesse, podem nos
colocar em outro patamar. Trata-se de algo mais materializado que ainda carece de mais
produção bibliográfica que, nem sempre, é resultado dos inúmeros contatos pessoais que se
estabelecem nos encontros científicos. Contatos que produzem ganhos como ela mesma
enfatiza com Eric Landowski que, por essas vindas ao nosso país, possibilitou intercâmbios
77 Em entrevista ao autor.
278
com pesquisadores latino-americanos do México e do Peru, localidades com as quais o Brasil,
através dessa rede tecida pelo trabalho da professora Ana Claudia Mei, realizou produções
conjuntas. O trabalho de Landowski foi importante para divulgar a pesquisa semiótica brasileira
em pesquisas, cursos em outros países e publicações. Ela reconhece que a internacionalização
extrapola o apoio da FAPESP unicamente a professores visitantes, pois, abarca também pós-
graduandos e pesquisadores que realizam o pós-doutorado no exterior, prática já mostrada ao
longo desta pesquisa como recente na Área.
Ela reconhece essa internacionalização como algo que não vem de hoje. Ana Claudia
Mei se recorda dos seus tempos de mestranda e doutoranda para falar como a
internacionalização já era presente, no ambiente da PUC-SP, em função das pesquisas com
bolsa doutorado sanduiche ou pós-doutorados. Havia uma troca pertinente entre docentes e
discentes que estabeleciam esse processo nas experiências culturais diferentes e nas línguas
neolatinas como Português, Francês, Espanhol e Italiano. Essa lógica predominou, inclusive,
na formação do Centro de Pesquisas Sociossemióticas, na universidade. Esse Centro congrega
outras instituições nacionais e internacionais sob a proposta dessa troca para formar uma rede
de investigação entre instituições e países. Um exemplo prático disto é o contato direto que a
professora mantém, com a França e a Itália, países no quais tem convênios estabelecidos com
instituições e estimula a ida de seus orientandos.
Aliás, essa troca internacional não se dá apenas no envio e recepção de estudantes ou
pesquisadores. Ela advém também de fundamentação teórica, já que um critério para a vinda
de professores visitantes, no caso da líder do fomento, é a Semiótica Estrutural como base
comum. Ana Claudia Mei justifica a aplicação desse arcabouço teórico para estudos que trazem
objetos variados, em qualificações universalizantes e singularidades, em face das diferenças
entre mecanismos de crença, fidúcia, contratos e estratégias de convencimento de negociação.
Pelo fato de a teoria semiótica sair da França, ela diz que, sem esse estofo teórico, muito da
densidade da troca bibliográfica não teria sido possível, assim como, realizar pesquisas
conjuntas embora os idiomas neolatinos ofereçam alta compreensão linguística.
Vê-se que tais práticas se constituem em interações e este é o mote principal pelo qual
Ana Claudia Mei pensa o conceito de Comunicação, uma vez que isso, propicia processos de
significação que passam desde o corpo a corpo às formas mediadas que englobam, na visão
dela, os media colocados a nós por seus recursos tecnológicos em relação ao mundo que vai
além da estrutura dos sentidos fisicamente pensados. Tudo isto forma uma heterogeneidade
279
capaz de ser compreendida, sob vários olhares teóricos e metodológicos, o que a professora
pesquisadora considera enriquecedor na formação do estudante da Pós-Graduação.
É justamente o trabalho integrado entre as vertentes sincrônicas da Comunicação e
as diacrônicas que permite dar conta do campo da Comunicação e fazer amarrações
para análises mais densas na abrangência do fenômeno e consistentes nos
argumentos. As várias atuações da Comunicação no digital, no impresso, no
audiovisual, no radiofônico, no gestual, entre outros, é que permitem os tratamentos
do local, do glocal e do global, do cultural e do multicultural. (MEI, 2017)78
Pela afirmação acima, é visível que a pesquisadora coloca a Comunicação como elo à
Cultura haja vista que seus fenômenos e manifestações oferecem essa perspectiva. Enfim, trata-
se de uma das várias possibilidades de prática de pesquisa que, aplicada ao fato de solicitar
apoio da FAPESP, faz da instituição um fator de legitimação científica da Área, no
entendimento de Ana Claudia Mei. Área, aliás, que se dá como espaço de disputa com as demais
disciplinas da Grande Área das Ciências Sociais, justamente por trabalhar com a linguagem e
ter, nessa materialidade, contatos que tangenciam outros espaços do saber, como a Arte, por
exemplo. Nesse sentido, o que ocorre no campo, segundo sua definição, é uma cobrança de
resultados mais concretos, como se os estudos de compreensão dos processos comunicacionais
não permitissem formar um conhecimento maior objetivo e subjetivo dos sujeitos pelos
processos dos quais fazem uso para estar no mundo e existir. Ou seja, haveria supostamente
algo maior que a Comunicação.
4.4 Esther Império Hamburger: O Olhar da FAPESP
Apresentados os fomentos obtidos e os conceitos de Comunicação das lideranças do
fomento, constituídas a partir dos dados gerados nesta pesquisa, trazemos, agora, as impressões
da Coordenadora de Área de Ciências Humanas Sociais II (CHS II), professora doutora Esther
Império Hamburger, que nos recebeu para a entrevista, em um de seus ambientes de trabalho,
o Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA/USP, no dia 10 de outubro de 2017.
Como já esclarecemos, em momento anterior deste trabalho, é extremamente pertinente essa
78 Em entrevista ao autor.
280
participação para que realmente se tenha uma visão mais geral e ampla de como a Área visualiza
os projetos pleiteados em Comunicação. Ocupando o cargo de coordenação desde março de
2016, Esther Hamburger avaliou cenários dentro da pesquisa em Comunicação que passam
pelas condições estruturais do Brasil, em especial, a crise econômica; o papel legitimador da
FAPESP; a produtividade do campo e uma necessidade de auto recolocação.
Inicialmente, é interessante revelar como se dá o seu trabalho na FAPESP, que como
ela mesma ressalta, avalia projetos de pesquisa. Em sua entrevista, contou que nas idas semanais
à sede da Fundação, recebe um projeto, o identifica e envia a um parecerista que remete com
uma decisão a qual ela recomenda, ou não, o prosseguimento. Tal fluxo segue em instâncias
superiores, pois, como ela mesma disse, aquele projeto “some” do seu campo de visão. É que a
decisão se dá no chamado CAD, com três professores, mais a diretoria científica. “[...] muitas
vezes, a gente vê que o que estamos recomendando não vinga. A gente tem a visão da CHS II,
mas eles veem a CHS inteira”. Desta forma, a coordenadora da Área conta que não sabe se um
projeto foi ou não aprovado, pois, não se tem um registro disso. Logo, isto se trata de fator que
evidencia a importância desta pesquisa, já que estamos trazendo uma proposta taxionômica da
Área, a partir de seus fomentos. Entretanto, é fato que a Área da Comunicação pede muito
pouco. Para Esther Hamburger, um indicativo disso é que somos muito recentes na academia,
na pesquisa e até mesmo no mundo, o que reforça essa característica das Humanas serem
menores se comparadas às Ciências Biológicas e Exatas. Hamburger (2017) conta na mesma
entrevista:
Eu estou dentro da Área de Ciências Sociais e Humanidades, CHS II. Sou o CHS II.
CHS II é Artes, Comunicações, Ciências da Informação, Museologia, Literatura e
Linguística. As comunicações talvez sejam quem pede menos. A minha impressão é
essa. Foi uma surpresa, para mim, ver como as Artes pedem muito. E na FAPESP, o
ganho está relacionado ao pedido. É uma proporção do que é pedido. Nós nunca
vamos ganhar mais se a gente não pedir mais. (HAMBURGER, 2017).
Para chegar a uma impressão como esta, tudo se organiza e se compara dentro da Área
de atuação do coordenador, lá em seu primeiro estágio de trabalho, que é o de receber e
encaminhar projetos de pesquisa. E a impressão da professora se confirma, pois, recorremos à
Biblioteca Virtual da FAPESP para comparar o nível de produtividade. São listados fomentos
281
que vêm desde 1992 até o dia 16 de dezembro de 2017. Na Comunicação, são totalizados 1.486
projetos cadastrados assim divididos:
QUADRO 60 – Auxílios à Pesquisa da CHS II (1992-2017)
Tipo de
Fomento
Comunicação Artes Letras Linguística C.Inform. Museologia
Auxílios à
Pesquisa em
Andamento
22 19 24 26 4 1
Auxílios à
Pesquisa
Concluídos
553 983 1.095 987 186 39
Total 575 1.002 1.119 1.013 190 40
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
282
QUADRO 61 – Bolsas no Brasil da CHS II (1992-2017)
Tipo de
Fomento
Comunicação Artes Letras Linguística C.Inform. Museologia
Bolsas no Brasil
em Andamento
37 97 121 91 16 3
Bolsas no Brasil
Concluídas
775 1.820 1.955 1.291 326 21
Total 812 1.917 2.076 1.382 342 24
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
QUADRO 62 – Bolsas no Exterior da CHS II (1992-2017)
Tipo de
Fomento
Comunicação Artes Letras Linguística C.Inform. Museologia
Bolsas no
Exterior em
Andamento
4 17 17 16 2 1
Bolsas no
Exterior
Concluídas
86 189 312 211 16 5
Total 90 206 329 227 18 6
Fonte: Biblioteca Virtual FAPESP
Os números, apresentados nos quadros, confirmam as impressões de Esther Hamburger
de que a Comunicação pede pouco. A ordem de pedidos é Linguística, Letras e Artes, em
primeiro; Comunicação, em segundo; Ciência da Informação, em terceiro, e Museologia, em
quarto lugar. Outra leitura possível, a partir dos fomentos concedidos, é o de que a Comunicação
é mais forte na solicitação de bolsas de estudo ao passo que seus pares na CHS II, além das
bolsas, também têm força nos Auxílios à Pesquisa, o que denota que os pesquisadores da
Comunicação estão fazendo trabalhos mais pontuais (Iniciação Científica, Mestrado e
283
Doutorado talvez) e menos pesquisas amplas, duradouras, caso dos projetos temáticos por
exemplo, ou seja, esses pesquisadores estão pensando em curto prazo e não a longo prazo. Se
formos comparar para nível de igualdade referencial, considerando os Auxílios à Pesquisa, a
Comunicação detém 595. As Artes, com 990, são 166,39% a mais; as Letras, com 1.113, são
187,06% a mais e a Linguística, com 1008, são 169,25% maior.
Esse posicionamento da Comunicação dá margem para Esther Hamburger concordar
com a afirmação do professor José Marques de Melo sobre o estigma da Comunicação como a
prima pobre das Ciências Sociais79. Segundo ela, há uma perversidade muito grande nessa
autoimagem porque parece que, para deixar de ter essa pecha, a Comunicação precisa se
elaborar, sociológica ou filosoficamente, deixando de lado suas próprias realizações. Embora
defensora da teoria, até pela natureza de sua formação como antropóloga, a professora acredita
que a Área muitas vezes despreza questões a ela inerentes. Durante a entrevista, concedida a
este pesquisador, ela defendeu seu pressuposto de que a teoria não pode ser dissociada da
prática. “Não desprezo o fazer, nenhum tipo de fazer. Ao contrário!”
Verificando uma grande tendência de projetos que tratam do digital e associando isto a
essa necessidade de não descartar o fazer da Área, trabalhamos a partir daqui, com o conceito
de Comunicação para Esther Hamburger. Essa tendência apontada sobre o digital já é um
indício questionador do objeto. Disse ela na entrevista já mencionada:
Talvez não seja o objeto a melhor âncora para o conhecimento né? Eu acho que a
gente vive um momento muito interessante, que pode ser bastante produtivo, porque
de alguma maneira, a Área está no centro das preocupações mundiais e, ao mesmo
tempo, a disciplina continua a se debater sobre sua delimitação, né? O objeto não é
uma âncora boa. Talvez a melhor âncora seja a conceitual.
Quando trata dessa questão do objeto, a professora nos oferece um exemplo prático. Por
trabalhar com o cinema, ela sinaliza que as mídias digitais colocam o objeto em xeque, por isso,
o próprio cinema fica sob a ameaça da digitalização. Isso, para ela, é resultado de uma
permanente transformação que o mundo vive, e por isso, se torna difícil definir a Comunicação
como disciplina. Ela recorda que a imprensa, o rádio, a televisão e o próprio cinema
introduziram elementos na vida social que nem sempre foram contemplados pelo pensamento
das Ciências Sociais. Ressalta até que o desprezo ocorreu pelo próprio Pierre Bourdieu, que na
79 A afirmação do professor foi feita para a Revista Pesquisa FAPESP.
284
leitura dela, contradiz todo seu pensamento quando dedica um livro todo à televisão. Esther
Hamburger reacende a necessidade de a Comunicação olhar mais para as suas práticas, para se
pensar territorialmente, pois, nas palavras dela, “ao mesmo tempo que esses meios estão sendo
reconhecidos centrais em outros campos do saber, nas Artes, na Economia, nas Ciências
Sociais, na Filosofia, você tem uma dificuldade de definição do coração da disciplina, na
própria Área”. Em suma, segue o impasse conceitual, mas, o trânsito sempre vai existir e a
professora mostra o quanto isto é recorrente destacando que, no seu Departamento de Cinema,
Rádio e Televisão, na ECA/USP, tem colegas arquitetos, engenheiros, historiadores,
economistas que, de modo geral, têm como desafio trazer essa bagagem de suas Áreas de
origem para o que é especifico da Comunicação. Justamente essas fronteiras, no entender dela,
é que estão sendo questionadas e uma possível compreensão, para se entender o mundo de hoje,
pode nascer dessa transdisciplinaridade por meio da produção compartilhada de conhecimento.
Uma atividade que elimina os redutos capazes de congelar o pensamento.
Eu não gosto de pensar disciplina como um campo limitador, entendeu? Delimitador.
Eu acho que, muitas vezes, a discussão intelectual se fixa em questões que não são
tão interessantes. Importante são as ideias mais do que a filiação disciplinar delas.
Os desafios que o mundo coloca são agudos e urgentes. Um senso de urgência em
mim. Eu acho que o mundo sugere coisas para a gente. E a gente tem que se
posicionar, no mundo, a tentar conduzir para onde a gente acha que ele deve ir. Eu
acho que é muito rico a gente se abrir para outras disciplinas nesse sentido.
(HAMBURGER, 2017)80
Desse modo, é notório que há muito a ser produzido, afinal, se estamos desconsiderando
a questão do fazer, segundo a interpretação da professora Esther Hamburger, é sinal que existe
uma lacuna de oportunidades. E essa é uma demanda que emana do pesquisador que pode
encontrar o respaldo na FAPESP. Retomando a noção do espírito científico, um dos
fundamentos teóricos que permeiam esta pesquisa, a expectativa da coordenadora de Área da
FAPESP é de que todo projeto expresse uma inquietação que signifique uma pergunta sobre a
qual não se saiba a resposta. Além desse passo inicial, ela define que todo projeto precisa de
uma pergunta com uma aproximação conceitual possível de entender a movimentação do que
se pretende fazer. É o que pensa também García (2006), quando diz que o marco epistêmico
alicerça a pesquisa quando age como conjunto de perguntas planejadas para o domínio da
realidade proposta a ser estudada. Retomando o que disse a professora Esther Hamburger, a
80 Entrevista concedida em 10/10/2017 ao autor.
285
FAPESP não espera um produto como um livro ou uma quantidade de artigos produzidos, mas
sim, como o conhecimento sobre um problema é produzido. A discussão, na visão de Esther
Hamburger, deve levar o campo do saber a se mover de um lugar para o outro. E esse escopo
esperado, nem sempre é, de acordo com ela, tratado, por exemplo, nos resumos dos projetos
que pleiteiam financiamento.
4.5 A construção de caminhos possíveis
Conforme já demonstrado, a participação da Comunicação ainda é pequena na
solicitação de financiamentos. Considerando que temos, no estado de São Paulo, uma Área com
17 Programas de Pós-Graduação em Comunicação, há ainda muito espaço para a pesquisa, com
demandas primordiais que ainda precisam ser atendidas, como bem ressaltou a coordenadora
de Área da FAPESP. Do ponto de vista institucional, o preceito mais forte da pesquisa em nossa
Área, o que precisamos, é exercitar um conhecimento mais denso sobre nosso campo de
atuação, de modo que reduzamos a fragmentação temática e passemos a construir a lógica de
evolução do pensamento dentro de uma área pensada a partir de nossas práticas, cada vez mais
instáveis e mutantes, desde as propostas mais inovadoras às transformações impostas aos
modelos mais clássicos. É ir ao encontro do que a professora Esther Hamburger disse sobre a
movimentação do campo do saber, situação concomitante à equação diferencial do movimento
epistemológico, proposta por Gastón Bachelard.
E, quando colocamos as lideranças do fomento nesse movimento, podemos considerar,
por exemplo, que do ponto de vista da pesquisa, o professor doutor Maximiliano Martin Vicente
orienta projetos visualizando os processos tecnológicos modernos nas situações de
Comunicação, em especial, aquelas ligadas à Cidadania; centra-se em manifestações
midiáticas; e tem grande participação entre estudantes que se iniciam na pesquisa. Tanto que
uma de suas categorias lideradas no percurso formativo é a Iniciação Científica, espaço no qual
se demonstrou em pesquisador que pensa o Jornalismo, no sentido da construção das notícias,
e este ato diante das transformações e implicações tecnológicas verificando como as mídias se
apropriam dos acontecimentos históricos. Dentre os projetos orientados, com apoio da
FAPESP, ele está em pesquisas que trataram de práticas jornalísticas diante das novas
tecnologias; estudos sobre notícias; linguagem jornalística; discursos da imprensa; movimentos
286
sociais e Comunicação e história local e alguns registros históricos aplicados ao recorte
midiático.
Já no Mestrado, é possível perceber, pelos trabalhos orientados, que o professor continua
relacionando processos históricos em quantidade menor. Segue preocupado com o sentido da
produção jornalística e passa a acompanhar as novas demandas da pesquisa tratando as
abordagens digitais, o que sinaliza uma nova geração de alunos chegando à universidade. A
esta conclusão, verifica-se que suas temáticas de pesquisa orientadas estão em fatos históricos
como a Ditadura; História do Jornalismo contada por técnicas e percepções editoriais;
Tecnologias Digitais e processos sociais como convergência e interatividade; Imprensa
Alternativa; Rádio e Cidadania; Ideologias e Comunicação Digital; Identidade Virtual e
Ativistas Digitais. Enfim, notamos que, por suas práticas, ele estimula os pesquisadores
iniciantes a ter o prestígio do trabalho reconhecido, pela FAPESP, entendendo também que a
remuneração é uma questão econômica de subsistência aos postulantes, além de contribuir para
a Área, quando de sua retórica sobre essa finalidade da pesquisa, dando mostras de que faz isso
quando está abraçando as demandas contemporâneas decorrentes do digital. Também se pode
dizer que os projetos orientados possuem temas que equivalem a uma de suas premissas sobre
Comunicação, que é a repercussão social e interferência na própria visão de sociedade.
Quando passamos à liderança do Doutorado, vemos a professora doutora Lúcia
Santaella como disseminadora do pensamento comunicacional. Sua atuação está em uma faixa
intermediária da formação do pesquisador, que coincide com um momento bastante
significativo: a transição Mestrado/ Doutorado. Suas orientações são a projetos que tratam de
Corporeidade e Comunicação Interpessoal; Comunicação mediada para cegos e as captações
da visão; Linguagem Hipermídia; Ambientes Digitais; Música; os signos de Peirce; meios
eletrônicos e as novas formas de representação e Holografia. A pesquisadora demonstra que
avança, pela Teoria Semiótica de Charles S. Peirce, difundindo-a e atualizando-a. Em seus
projetos autorais, os livros, a participação em eventos científicos, a recepção de professores
visitantes e as pesquisas, em si, demonstram sua preocupação em problematizar os novos
cenários midiáticos e seus princípios epistemológicos. Experiências que decorrem também de
seus diálogos com EUA, Alemanha e Romênia em experiências internacionais que não se
fecham na Semiótica. Em se tratando de repercussão midiática, pela Revista FAPESP, apuram-
se entrevistas sobre usuários hipermídia e as relações do leitor da internet para a constituição
de um perfil; cultura das mídias; leitor digital e a relação com o livro. Em outras aparições, foi
noticiada como referência para concurso público, e suas ligações com novas mídias e o
287
panorama da pesquisa em Comunicação. Além disso, Santaella pensa a Comunicação como
campo e defende a importância das agências de fomento se atentarem às novas realidades dentro
de teorias paradigmáticas. É defensora do conhecimento sobre a História da Área e não encontra
um conceito acabado e privilegiado para a Comunicação.
Ao ingressar na liderança de fomento do Pós-Doutorado, temos a contribuição do
professor doutor Ciro Marcondes Filho, com os estudos da Nova Teoria da Comunicação, a
partir do método do metáporo81 . Aliás, quando se fala em teoria, essa é a principal corrente que
traz alguma tentativa de inovação e renovação do arcabouço teórico instituído nos paradigmas
praticados nas pesquisas da Área. A contribuição, para essa renovação, de certo modo, decorre
de pesquisas orientadas, na lógica filosófica das possibilidades comunicacionais, também
investigada entre os seres, ou seja, trabalha com um texto fundante tibetano para a teorização;
propõe uma nova teoria para a Era Tecnológica e considera a noção do comum para o ato de
comunicar por meio de três perspectivas: problemas epistemológicos, oposição à finitude e
passagem da Comunicação. Como pesquisador autoral, realizou encontros, com o objetivo de
consolidar a Área; criou o grupo FiloCom, para troca com outros pesquisadores, e trabalhou em
pesquisas sobre o dilema da Incomunicabilidade, provocada pelos muitos aparelhos que nos
permitem comunicar.
Aliás, conseguimos visualizar que Ciro Marcondes Filho guarda aproximações do
colega Maximiliano Martin Vicente, quando pensa os sentidos ontológicos e epistemológicos
da Comunicação e, com Lúcia Santaella, pois, embora haja diferenciações de enfoques
conceituais, ambos pensam em uma condição incorpórea como “materialidade” à realização da
Comunicação. Em termos de repercussão midiática, na Revista Pesquisa Fapesp, ele aparece
com destaque, por sua produção teórica e de modo geral, em outras notícias, como seus cursos
e aulas inaugurais. Do ponto de vista da defesa pela Comunicação, enquanto campo, se mostra
um batalhador da Área, com o propósito de construir teorias criticando a falta de uma existência
epistemológica da Comunicação, além de repelir a presença de outras Áreas, se sobrepondo na
Comunicação, o que contraria as questões delimitadoras, citadas pela coordenadora de Área da
FAPESP.
Por fim, quando analisamos a liderança dos auxílios para pesquisadores visitantes,
vemos na professora doutora Ana Claudia Mei, o exercício de pensar as ações de Comunicação,
81 É a ideia de criar indicações como um paradigma construído por cada pesquisador. Ler mais em
http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2012/resumos/R33-1177-1.pdf
288
além de promover um evento, que propiciou um encontro de geração de semioticistas e estreitar
o relacionamento da PUC-SP, com o pesquisador Eric Landowski, do Centre National de la
Recherche Scientifique, em Paris. Assim, a pesquisadora trabalha pela realização de seminários
e outros eventos; favorece o intercâmbio de pesquisadores, como método de solidificação de
sua Área de estudos; forma redes de pesquisa; desperta o interesse de seus pesquisadores à
construção de relações e é centrada na propagação da corrente Sociossemiótica. É interessante
também destacar que seu pensamento se assemelha, com o que disse a coordenadora de Área,
na FAPESP, pois, Ana Claudia Mei valoriza o papel da linguagem e também oferece
explanações de que a Comunicação pode ser agregadora, por outras perspectivas do fenômeno,
que oferecem condições a uma realização, ou seja, há uma série de vieses que podem compor
o sistema comunicativo que forma a Cultura.
Assim, percebemos por intermédio das entrevistas realizadas, que fazemos parte de uma
Área de conhecimento com forte potencial de consolidação, afinal, temos incentivo a
pesquisadores iniciantes, frentes segmentadoras de correntes de estudos teóricos, esforços para
reconsiderar o estatuto epistemológico e muita possibilidade de diálogo internacional.
Vivências que permitem a construção do mundo social e histórico. E, para isso, se tornam
relevantes o papel da pesquisa com o olhar atento e o questionamento dos pesquisadores para a
formulação de boas problemáticas de investigação que se ocupem das demandas da sociedade,
sempre em atualização. Assim se faz o caminho possível!
289
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espera-se que esta pesquisa, de alguma forma, desperte as futuras gerações de
pesquisadores para que elas não prossigam sob o martírio precedente do impasse conceitual da
Comunicação em sentido pedagógico. O que propusemos, ao nos debruçar sobre os dados de
pesquisas que abastecem a Biblioteca Virtual da FAPESP, guarda semelhança ao conceito de
autorreflexão da Ciência como defende Edgar Morín (2010). Esse reexame de estudos
financiados, que se traduzem em vivências centradas no ambiente da academia, não trata de
reformular o que se pesquisou, mas, revelar perspectivas e tendências – parcialmente
desconhecidas pela própria FAPESP – em um exercício taxionômico, em 25 anos de produções,
que circulam pela via de mão dupla do fomento com a Fundação viabilizando financiamento e
os pesquisadores, discentes ou docentes, seniores ou em formação, trilhando por outro lado, a
pista do conhecimento.
O caminho percorrido nos permite afirmar que a Comunicação tem cientificidade, pois,
precisa, diante de suas práticas, aplicar procedimentos entre os quais a formulação de uma
pergunta-problema. E o exercício deste ponto de partida para a investigação cabe aos espíritos
científicos que necessitam formular seus problemas e indagações a partir do objeto de pesquisa.
Mas tudo isso é um procedimento, como algo mecânico a ser seguido. Parece-nos que toda a
celeuma em torno de uma definição sobre Comunicação parte da provocação de Pierre Bourdieu
(2004), que atribui ao campo, uma noção de luta, como confronto simbólico, em que forças
dominantes perpetuam um sistema de interesses. Se o princípio de comunicar é o comum, é
importante que se tenha, na Comunicação, um espaço de crítica e autocrítica para evitar que
possíveis analogias predominem o seu combalido arcabouço teórico-metodológico que não
avança porque poucos pesquisadores trabalham com as teorias da Comunicação. Um suposto
desinteresse herdado de uma herança dos cursos de Graduação. É sabido que a disciplina de
Teorias é “rejeitada” pelos alunos que pouco interesse têm no tema, pois, muitos querem logo
o contato com as práticas da profissão que escolheram e para qual estão em busca de formação.
Tal desinteresse constitui grande desafio aos professores dessa disciplina que precisam tornar
os assuntos teóricos da Comunicação atraentes.
Quando propusemos trabalhar a Comunicação nesta pesquisa, em três dimensões, foi
com o objetivo de reunir contribuições, que as formas mais expressivas de sua realização,
290
possam emprestar a um entendimento de conceito central. Afinal, sabe-se o quanto há de força
em sua natureza relacional, a expressividade dos meios e a importância, sobretudo institucional,
dos acadêmicos que a pesquisam. Há um conjunto de fatores que fazem da Área um espaço de
reconhecimento, pois, de alguma forma, a vida como um todo depende da comunicação.
Ao tratarmos a primeira dimensão, a que envolve o ser humano, a pesquisa consegue
apontar que se entende, nessa perspectiva, a Comunicação por troca, relação, como atividade
entre pessoas, expressão, apropriação e coabitação. Uma série de conceitos sinônimos que
reforçam esse ato como necessidade básica e central para a interação. Quando pensamos pela
dimensão dos meios, vimos a tendência paradigmática do massivo, construída pela audiência
anônima e dispersa que consome os bens simbólicos da indústria midiática em larga escala. A
cultura se mercantiliza e se propaga pelos meios que se tornam o espaço da circulação, a serviço
das ideologias, que exercem uma relação de dominação sobre a audiência. E a terceira dimensão
tem um recorte mais taxionômico que estrutura o campo de estudos, dissecando os processos
de pesquisa e formação, envolvendo as organizações das associações acadêmicas científicas, os
cursos de Graduação e Pós-Graduação e as movimentações de institucionalização da Área.
Considerando o que se pesquisa, nota-se que as empirias comunicacionais precisam
receber mais atenção assim como a fundamentação teórica dos estudos que precisa se
descentralizar dos pressupostos importados, forçando assim, a valorização de nossos
pesquisadores, não como produtores de pesquisas, mas sim, como pensadores da Área
oferecendo a ela aportes intelectuais. Abrir-se ao que vem de fora não significa se descuidar. A
FAPESP zela por isso quando destaca e valoriza a importância da internacionalização das
pesquisas. Precisamos inverter a premissa do jogo porque importamos as teorias de pensadores
do exterior gerando certa “desvalorização” de nossos pensadores que são muitos. Uma forma
disto é viabilizar publicações brasileiras, no exterior, como pontuou a professora Ana Claudia
Mei em sua entrevista para esta pesquisa. Um fator importante e inicial, para isto, poderia ser
aproveitando o idioma. Temos relações institucionais com Portugal, o que facilita a
comunicação, e a aproximação do Espanhol, a fala oficial do restante da América Latina. As
relações com o exterior, via FAPESP, ainda são muito recentes e têm muito a expandir. O que
não quer dizer que a Área, de modo geral, não se movimente pelo mundo. Intercâmbios existem,
porém, quando considerados e analisados à luz da FAPESP, resultam em observações que
incorrem em melhoria e ampliação. O intercâmbio, em algumas instituições, especificamente
nas universidades públicas, é praticado por meio de incentivos internos que ocorrem para trazer
pesquisadores do exterior, o que se torna uma condição paralela, por um lado, mas também uma
291
situação de não ocupar financiamentos, por outro. Esses apoios podem ser destinados a
pesquisadores de outras instituições, ampliando assim, a gama de troca com práticas
internacionais em um exercício de trocas e ganhos de experiência a partir do diálogo construído
entre o que se pesquisa aqui e no exterior.
A Comunicação facilmente flerta com a interdisciplinaridade que, por sua vez, se porta
como aquele inquilino que não quer ser despejado e se aproveita das brechas da Área, incapaz
de exercer sua virilidade e autocontrole. A formação da Comunicação é tão diversa que até
mesmo as lideranças de fomento que mais conseguiram apoio, e são apontadas na pesquisa, não
são naturalmente da Área, exceção ao professor Ciro Marcondes Filho que tem graduação em
Jornalismo. Os demais são Lúcia Santaella, graduada em Letras; Ana Claudia Mei, graduada
em Língua e Literatura; e Maximiliano Martin Vicente, graduado em História. Como se
observa, a maioria não tem formação original na Comunicação, Área em que eles ingressaram
posteriormente, participando assim de uma característica bastante comum que é o fluxo
migratório constituído pela interdisciplinaridade.
Embora, muitas vezes, as repartições metodológicas não sejam devidamente
organizadas e classificadas de acordo com a natureza das pesquisas, atribui-se à FAPESP um
indício de construção da História da Comunicação, amparada na colaboração dos pares, que
fazem da instituição um espaço ideológico do qual as vivências se organizam e se materializam
pelo espírito científico sob a forma de conhecimento. A dinâmica dos pareceristas, que avaliam
o fomento, nos sinaliza um modelo interessante e indispensável à Área. O Brasil produz muito
em Comunicação, porém, falha ao princípio ativo da Área que é a troca. Não se discute a
essência de processos comunicacionais, que poderiam levar a um conceito-chave de como essa
prática se desdobra e é aceita. Nossa Área estuda mais os fenômenos, por tradição ou por
emergência, e não se atentam a pensar o espaço comunicacional como todo. A própria
subdivisão do Jornalismo, em várias temáticas, e sua origem à pesquisa de Comunicação dão
essa noção de Área fragmentada. Estuda-se o Jornalismo a partir de “territórios próprios do
conhecimento”. E assim se formam estereótipos. Alusivamente, é possível comparar isto com
a Medicina que detém diversas especialidades, mas que de alguma forma, sempre está atrelada
a um conceito central, como espécie de espinha dorsal, tendo na sua literatura, os debates para
aceitação de teses trabalhadas, isto é, para se chegar a um consenso, há trocas, logo, uma
atividade comunicativa. Porém, isso não ocorre, na Comunicação, que parece em cada nova
prática, ganhar status de um novo território de conhecimento, embora uma desconstrução
poderia ter como ponto de partida o trabalho dos pareceristas da FAPESP que julgam a
292
admissibilidade dos projetos de pesquisa em demanda. Evidentemente que para isto acontecer
seria preciso uma mudança de política de fomento com a Fundação determinando que a
prioridade é a produção de conhecimento para a Área. Assim, os pareceristas, apesar de
analisarem fenômenos isolados, poderiam contextualizá-los no sentido da importância de se
entender o que ocorre em um universo maior.
Há modelos que podem ser aplicados, mas também, há melhorias que se sugerem e
podem ser feitas no que tange a FAPESP. A transparência pública dos gastos, feita de forma
rigorosa, não tem a mesma aplicabilidade, quando se pensa na produção do conhecimento. Os
relatórios científicos finais das pesquisas poderiam ser disponibilizados a fim de que sejam
conhecidos os resultados dos trabalhos fomentados que, só são revelados, se apresentados em
eventos, ou publicados em livros e revistas. Houve relatos, ao longo desta pesquisa, de que os
relatórios científicos finais de cada fomento não seriam tão informativos e imprescindíveis, por
isso, se sugere uma revisão a este preceito, afinal, o conhecimento produzido poderia estar
arquivado na Biblioteca Virtual para futuros debates e usos na Área. Pelo atual modelo, sabe-
se tão somente que a FAPESP financiou aquela pesquisa sem monitorar os resultados científicos
decorrentes do apoio. Do processo de entrada do projeto de pesquisa à sua execução, existem
falhas em relação às respostas dadas às questões propostas. Por isso, esta pesquisa faz esse
mapeamento para revelar ao público da Área, e à própria FAPESP, as tendências e perspectivas
da Comunicação. Uma carência identificada e que poderia ser aplicada também a outros saberes
financiados. Assim, é possível apontar à FAPESP que ela não pode funcionar nem se sentir
apenas como financiadora de pesquisas. E a justificativa disto se encontra, a partir da análise
de conteúdo realizada no recorte espaço-temporal entre 1992 e 2016, um período de 25 anos,
capitalizados pela Biblioteca Virtual, que revelou a demanda constante do interesse em se
pesquisar na Área haja vista os 912 projetos de pesquisa identificados.Não é sua principal
função, mas, ao oferecer apenas a Biblioteca Virtual como banco de dados, a FAPESP
engatinha na tentativa de formar uma Taxionomia, que só se realiza, quando se organizam e se
manipulam os dados. Sua estrutura organizacional, que Muniz Sodré considera repartição
metodológica, divide a Área em Subáreas. Mas tal prática é um exercício que não estabelece
sentido ao pensamento complexo sobre a Comunicação.
Consideradas as Bolsas de Estudo no Brasil, pode-se dizer da Iniciação Científica, uma
instância de caráter pedagógico que incentiva e ensina a preparação de projetos de pesquisa.
Isto vem se dando predominantemente, na universidade pública, com forte influência da
UNESP Bauru, porém, entre as instituições de ensino privado, está valorizada na PUC-SP e na
293
Universidade Metodista de São Paulo. O interior concentra o maior número de pesquisas tendo
o Jornalismo como o tema mais trabalhado pelos estudantes. Menos da metade das bolsas
informa a estratégia metodológica adotada, o que demonstra a necessidade de um reforço desse
quesito, que direciona o trabalho acadêmico por parte dos professores orientadores. Como nosso
parâmetro para as categorizações se deu coletando também os resumos das pesquisas,
sugerimos que eles sejam mais completos do ponto de vista informativo. Melhorá-los poderia
ser um ótimo exercício junto a esses pesquisadores em formação inicial. Não que eles refaçam
os existentes evidentemente, mas que agreguem novas formas de oferecer as primeiras noções
sobre um trabalho científico. Percebemos, ainda, outras características como o predomínio da
literatura estrangeira e temas adotados que representam nichos acadêmicos de prática de
pesquisa com assuntos, autores e postulados teóricos coincidentes.
No Mestrado, a maioria das pesquisas está na universidade e, em São Paulo, Capital. O
Jornalismo também se mantém como tema mais pesquisado e mais da metade dos pesquisadores
não falou sobre a metodologia no resumo. Em 82% dos casos, não é feita menção às referências
bibliográficas cujos autores são, em sua maioria, estrangeiros embora se ressalte a aparição da
pesquisadora Lúcia Santaella ao lado de autores clássicos como Jacques Lacan e Mikhail
Bakthin. De modo geral, ocorre também fragmentação temática. Em relação às metodologias,
o estudo de caso aparece na frente, seguido muito de perto, pela Pesquisa Bibliográfica. As duas
metodologias sinalizam para uma etapa da formação do pesquisador que se limita a uma
situação específica de análise inserida em um contexto, isto é, fala-se de um tema apoiado, em
bibliografias, que já trataram do assunto soando assim, como atualização daquela temática e
seus referenciais. A participação da PUC-SP, com grande número de bolsas concedidas,
respalda a Semiótica como validação metodológica, e contribui também para elevar o nome da
professora Lúcia Santaella às referências, retornando assim, a um ciclo que demonstra força e
coesão de uma linha de pesquisa.
Ao olharmos para o Doutorado, encontramos a integralidade das bolsas em
universidades, com destaque para a participação das instituições da Capital. Comunicação
Organizacional, Jornalismo, Internet, Artes, Relações Públicas, Mídia Digital e Design estão
entre os temas que denunciam uma etapa em que as implicações tecnológicas, decorrentes do
digital, já se ocupam das problemáticas bem como as disciplinas que formam a Comunicação.
Há carências também nas informações a respeito de metodologias e referências bibliográficas.
Nesta modalidade de fomento, Charles S. Peirce é o mais citado e aparece entre autores
europeus e alguns latino-americanos. Já a Pesquisa Bibliográfica e a Pesquisa Documental são
294
as metodologias mais representativas e isto revela, nesta modalidade, maior aprofundamento
dos pesquisadores em fundamentação teórica e a preocupação em exaurir o conhecimento de
conteúdos expressos em documentos. Por sua vez, o Doutorado Direto tem representatividade
quase nula. Já o Pós-Doutorado apresenta pesquisas, somente em universidades, cuja maioria
está na capital. Censura e Divulgação Científica estão entre os temas mais estudados. De
metodologia documental, é um estrato de fomento em que se percebe a força da
interdisciplinaridade.
Enfim, quando se estudam as pesquisas fomentadas com Bolsas no Brasil, a tendência
da Comunicação é de que o aluno, em processos iniciais de formação como pesquisador, em
especial da Graduação, visualiza em seus professores a atuação em sala de aula e fora dela
também como opção de mercado, ou seja, alguns podem pensar na carreira docente, uma
proposta que pode ser resultado do contato com o professor. A partir do Doutorado, a pesquisa
em Comunicação precisa se descentralizar da Capital. Isto poderia ocorrer se o interior
pleiteasse mais auxílios e potencializasse oportunidades para a proposição de novos Programas
que poderiam ser criados, inclusive, nas instituições privadas ainda pouco representativas nos
fomentos.
Considerando as Bolsas de Estudo no Exterior, as próprias amostras sinalizam para o
menor tempo de nossas ligações com os estrangeiros. Dos estágios em Iniciação Científica, os
candidatos saíram do interior paulista, mais precisamente, da UNESP Bauru. Jornalismo,
Relações Públicas, Opinião Pública, América Latina e Internet são os temas dominantes e
demonstram, por exemplo, a força do Jornalismo, o interesse na comunicação empresarial e as
novas experiências propiciadas pela Internet. Boa parte desses temas de pesquisa é levada para
a Espanha, que é o país mais requerido pelos estudantes.
Os EUA são a preferência dos bolsistas de Mestrado. Nesta fase de fomento, o Cinema
e a Comunicação Pública dominam os temas de pesquisa, que teoricamente, estão amparadas
100% em autores estrangeiros. Nosso intercâmbio é pequeno. No Doutorado, a preferência é
pela Europa, situando a Inglaterra como o país mais representativo em 40% de projetos
apoiados. Assim, como esta modalidade de fomento, na segunda metade do século XXI, as
preocupações temáticas das pesquisas tratam de processos mais contemporâneos. Pode-se dizer
que, nesse sentido, se potencializa a passagem secular dos estudos em Comunicação. No Pós-
Doutorado, os EUA e o Canadá empatam na preferência dos bolsistas. Também se registram
assuntos mais contemporâneos da Comunicação, nessa instância de formação, como as Redes
Sociais e Internet, além de sua natureza filosófica. Pelo fato de liderar essa modalidade de
295
fomento, o professor Ciro Marcondes Filho, da ECA/USP, aparece na frente das citações
bibliográficas conseguindo, pela única vez, tal posição de liderança ao Brasil.
Entre as práticas do exterior, ainda temos a Bolsa Pesquisa com a participação de
pesquisadores na França, Alemanha, Espanha e Portugal. Entre Auxílios à Pesquisa,
Telenovela, Televisão, Meios de Comunicação e Prática Profissional são as principais temáticas
de investigação. Nesta modalidade, o Jornalismo perde força e a Comunicação ainda é um tema
fragmentado. A professora pesquisadora Lúcia Santaella volta a se destacar na categoria de
referência bibliográfica. Há de se pontuar nessas relações com o Exterior a preocupação de
nossos pesquisadores em estudar os Meios de Comunicação.
Entre as publicações, 88% são livros e 9,4% periódicos. Os temas principais são o
Jornalismo, Artigos de Periódicos, Censura, Periódicos Científicos, Cinema e Psicanálise. Em
relação ao pesquisador visitante, mais de 80% visitam a capital paulista, o que explica o
deslocamento mais fácil, uma vez que desembarcam no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Desse total, 30,5% são franceses e 6,78% latinos. A maioria veio ao Brasil trabalhar com a
Semiótica e a Sociossemiótica carimbando o passaporte, para isso, na PUC-SP.
Neste panorama, e considerando cada pesquisa inserida na Biblioteca Virtual da
FAPESP, como repositora de conhecimento e não acúmulo de dados, a construção taxionômica
da Comunicação se forma na ausência de um percurso formativo em ciclo contínuo, embora
haja muita atração para a pesquisa como a Iniciação Científica e o Mestrado, as etapas mais
representativas dentro desse cenário; a capital paulista é o grande polo de atração de estudantes
embora isto se descentralize pela universidade pública, graças à UNESP Bauru, que ao lado de
USP, PUC-SP e Universidade Metodista de São Paulo podem ser apontadas como centros de
excelência da pesquisa em Comunicação, no período que vai de 1992 a 2016. O reforço a esta
noção se dá também quando se vê o “monopólio” da USP, em publicações, e da PUC, na
viabilização de professores pesquisadores visitantes. Essa excelência, que imputamos às
universidades citadas, está relacionada ao grande interesse de seus Programas em buscarem a
FAPESP para validar e legitimar suas pesquisas. O Jornalismo mantém a tradição de pesquisa,
a Semiótica se apresenta como força notável, em ascensão, e o Digital já é um sintoma de
transição das práticas comunicacionais. Quem sabe, por meio dessas experiências, o objeto da
Comunicação seja mais centrado e delineado pelo apoio de espíritos científicos que coloquem
mais questões em uma centralidade para a Área ocupando-se de seus questionamentos. Uma
importante contribuição, para isso, poderia vir dos próprios Programas de Pós-Graduação, que
deveriam aplicar mais o preceito de Newton Sucupira, de que essa etapa de formação supera a
296
produção de uma tese ou uma dissertação. A formação de espíritos científicos deveria começar
já pela estrutura de grade curricular separando mestrandos e doutorandos em disciplinas mais
densas como Metodologia da Pesquisa Científica, afinal, os níveis de conhecimento desses
postulantes e as exigências, para com eles, são diferenciados. Uma pesquisa de Mestrado não
tem a mesma dimensão de uma pesquisa de Doutorado tanto do ponto de vista do objeto quanto
do ponto de vista da preparação do candidato. Essa prática de separar os estudantes para tal
disciplina teve início, em 2018, por exemplo, no Programa em Pós-Graduação em Comunicação
da Universidade Metodista de São Paulo.
Mais do que dissociar uma etapa de pesquisa da outra, a todos ocorre um comum
perturbador que assombra o Brasil: a crise econômica que trouxe embutida a depreciação da
universidade pública, que também se alastrou às universidades e faculdades privadas. Inserida
na crise, também, a FAPESP precisou fazer ajustes, mas, manteve seus compromissos
assumidos, atrelados ao dinheiro público, que decorre da arrecadação do estado de São Paulo.
Uma previsão constitucional que foi como tiro certeiro entre homens que batalharam,
ideológica e politicamente, por uma instituição que promovesse e zelasse pela produção de
conhecimento, na longínqua década de 1960, como bem nos lembrou, a coordenadora da CHS
II, professora Esther Hamburger.
Como não é de interesse a questão administrativa, do ponto de vista cientifico, pode-se
dizer que um ponto a melhorar, na FAPESP, é a exigência de informações mais precisas àqueles
que pleiteiam seu apoio financeiro. Na coleta dos dados para categorização, foi muito comum
a confusão entre temas e palavras-chave. Aliás, o que dificulta muito a organização da
Taxionomia, pelos fomentos da FAPESP, é a mistura que há entre temas de pesquisa e palavras-
chave. Tudo é colocado na mesma dimensão, e nem sempre, todas as palavras são
representativas. Uma proposta que colocamos é a de realmente valorizar termos que
representem efetivamente o que está sendo estudado e em qual ambiência. Vamos tomar como
exemplo a Comunicação Digital. Trata-se de um tema abrangente. Então, se estamos
pesquisando as Fake News, reproduzidas por grupos de família, por exemplo, o que seria viável
introduzir como temáticas? Comunicação Digital, WhatsApp, Fake News. Essa sugestão nos
parece ser mais plausível no momento de organizar as tendências dos estudos. É isto que vai
fazer sentido quando, ao longo do trabalho, reforçamos a ideia da professora Maria Cristina
Gobbi (2015), sobre a importância de conhecer e reconhecer os temas que provocam
pesquisadores. O mesmo acontece com as metodologias, que seguem um determinismo,
fazendo com que os objetos estudados sejam adequados àquilo que já está predeterminado. Por
297
tal preceito e pela nossa proposta, acreditamos que haja maior viabilidade e uma dimensão mais
certeira sobre o que de fato está sendo pesquisado. Foi um desafio que precisamos superar, ao
manusear os dados da FAPESP, apesar de eles terem sido considerados para os efeitos
estatísticos da pesquisa. Se houver melhora, nessa organização, os índices nos parecem ser mais
representativos na construção da Área. Um caminho para se tornar menos abrangente e mais
delimitado, o que em nosso entendimento, daria mais densidade ao que se produz e se
problematiza.
A Biblioteca Virtual também poderia ampliar seus campos de informação. Por que não
incluir metodologias e autores? Porque isto parece um sintoma de produção dos pesquisadores.
A própria coordenadora de Área da FAPESP observa a falta de qualidade dos resumos dos
projetos. Como demonstrado numericamente, a Área precisa solicitar mais porque a oferta
segue a demanda. No Relatório de Prestação de Contas de 2016, a Comunicação apareceu como
quinta Área em pedido de financiamento de pesquisas. É até curioso abordar isto, pois, apesar
da quinta colocação, ela tem mais projetos ativos que outros três campos do saber. A falta da
materialidade concreta de um objeto palpável é um forte sintoma da Área. Sabe-se e se confirma
que há bastante produção, no campo comunicacional, mas o que parece contar no âmbito das
Ciências, é o que de fato se torna relevante a ponto de modificar o cotidiano das pessoas.
Retomando a questão da oferta e da demanda, o que acontece na Comunicação é que se
pede pouco. Os pesquisadores de Linguística, Letras e Artes estão à frente, na FAPESP, dentro
da CHS II onde nossa Área também se encontra presente. Embora haja dissonância em termos
de solicitação, há de se pensar isto, como indicativo de uma aproximação da Área, inclusive,
pelo fato de algumas escolas colocarem Comunicação e Artes, em uma mesma
departamentalização. Isto ocorre, por exemplo, em duas das mais expressivas instituições, que
arregimentam os fomentos na nossa Área, junto à FAPESP, dentro do período estudado: a
ECA/USP (Escola de Comunicação e Artes) e a FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação) da UNESP de Bauru. A diferença numérica precisa ser interpretada como
possibilidade de troca de conhecimento e projetos em comum, ainda mais em instituições como
estas citadas, onde as Áreas convivem. A chance para isto está, por exemplo, na melhoria dos
resultados das pesquisas da Área. Demonstrar índices de audiência, ou como as pessoas
recebem determinados temas presentes na mídia e em outras formas comunicativas, pode se
tornar desinteressante quando se organizam apenas na condição de números. São necessárias
discussões mais a fundo para afastar a superficialidade. Se considerarmos as Fake News, tema
emergente na segunda metade do século XXI, é possível dizer que pesquisas que a envolvem
298
as apresentam, como algo de momento, sem muito se debruçar sobre isso. Sabe-se que existe,
mas quando se fala de seus efeitos, os faz de forma superficial. Até surgem fórmulas para
combatê-las, em espécie de manuais com orientações digitais ou impressas como já se vê em
anúncios de grandes jornais, porém, pouco se debate o assunto no dia a dia, que vem a público
apenas em casos de grande repercussão. Práticas assim parecem ser uma grande questão, ainda
não resolvida, pelos estudos em Comunicação.
A FAPESP financia os estudos, então, o conhecimento produzido, por quem a ela
recorre, recebe uma primeira aceitação, ou não, pelos pares que se tornam legitimadores da
Área e que exercem isto considerando a proposta de trabalho e a contribuição para os estudos.
Mas poucos ainda querem esse julgamento. Quanto mais pedidos forem feitos, mais se mostra
que há produtividade, e de alguma forma, isso engendra a discussão sobre as questões
comunicacionais e esta seria a fórmula para tentar desconstruir o rótulo de prima pobre das
Ciências Sociais.
Pelo exposto, é que voltamos as hipóteses de pesquisa para confrontá-las com o que
pesquisamos. Pode-se dizer que em relação à primeira hipótese, que trata a passagem de século
(do XX para o XXI) nos Estudos em Comunicação, comprova-se a presença de temas
decorrentes de novos tempos da cultura social como objeto de pesquisa e a tradição mantida
dos paradigmas teórico-metodológicos; o tratamento da tecnologia digital como objeto; a
abordagem da Netnografia – ainda que de forma tímida e irrisória – como metodologia de
pesquisa; a Semiótica referenciando questões sobre as práticas comunicacionais
contemporâneas e a força do Jornalismo como objeto de estudo. Por meio disto, projeta-se que
os pesquisadores precisam acompanhar mais de perto os fenômenos emergentes, tanto por sua
natureza quanto pela relação que estabelece diante dos meios tradicionais, já constituídos na
esfera pública. A efemeridade que as tecnologias contemporâneas oferecem aos meios não os
deixam tão perenes, como os veículos massivos, com suas presunções ideológicas. Uma
situação que coloca em risco a sobrevivência de paradigmas tão duradouros, embora, seja
notória que a perspectiva digital traga alguns encantamentos sedutores que se esvaem e se
substituem por outros revestidos de igual ou até ampliada sedução. Talvez, se ainda haja receio
em inovar na pesquisa, por que não revisitar os paradigmas para saber se eles ainda formulam
explicações plausíveis diante de um cenário em constante, e acelerada, transformação?
Em relação à segunda hipótese, que é a tentativa de solucionar o impasse conceitual da
Comunicação, registra-se que nenhum pesquisador se preocupa de fato com essa realização que
se torna uma problemática em aberto. As preocupações dos pesquisadores se concentram em
299
torno de seus objetos com particularidades que se tornam fragmentações e necessidades de
realização. Logo, as questões de campo, disciplina, área e ciência parecem algo mais disciplinar
e subjetivo dentro de um processo pedagógico. Retomando o postulado de Wilhelm Dilthey
(2010), de que todos os posicionamentos são válidos, o único conceito que, de fato, não cabe à
Comunicação é o de disciplina. Campo, Ciência e Área são admissíveis e estão alinhados às
convenções e convicções de cada sujeito de pesquisa. Nega-se uma definição cabal sobre a
Comunicação, do ponto de vista da pesquisa. Entretanto, em relação às suas práticas, percebe-
se que há mais facilidade em compreendê-la como troca, relação e indústria midiática. Fechar
um conceito que resolva o impasse nos parece impossível pela maneira como as práticas se
apresentam. Em todos os estágios do fomento, os pesquisadores ainda procuram atender suas
necessidades, não necessariamente, pensando em problemáticas mais gerais que abarquem toda
a Área da Comunicação. Ainda não se tem um ponto central, em relação a uma natureza, da
qual possa partir um pressuposto que sinalize legitimamente o que seja Comunicação. Pelo
pesquisado, junto à FAPESP, é difícil no aspecto prático, afastá-la da noção de campo. Por tais
aportes, lançamos duas reflexões que servem de provocações. A primeira delas é se ainda é
tempo de buscar esse presumido conceito de Comunicação? E o segundo, se essa busca que
ainda se faz, não tem atrapalhado e sustentado esse impasse que trava novas perspectivas?
Por fim, a terceira hipótese está na assertiva de que o mapeamento de pesquisas revela
caminhos e tendências, que podem estimular a metapesquisa nos Programas de Pós-Graduação,
para que estes reflitam sobre suas linhas de atuação a fim de promover essa organicidade
buscada pela Área. Esse método propicia avanços, como se estes estivessem alinhados com sua
própria evolução histórica, tendo as pesquisas de seus discentes, um direcionamento para a
construção epistemológica, tema de pouca discussão na Área. A revisão das produções
discentes e docentes poderia, inclusive, vir a ser um projeto de pesquisa temática, financiado
pela FAPESP, tendo como integrantes, pesquisadores que poderiam formar uma rede paulista
de investigação para mapear o que se pesquisou até agora em Comunicação. Uma sugestão seria
que tal mapeamento se desse em periodizações de décadas para que se demonstre as tendências
de estudo. Uma reflexão necessária para um país que precisa se aprofundar naquilo que escreve
e produz. Esta pesquisa vem com a proposta de ser um primeiro passo para provocar os
pesquisadores a exercerem seus espíritos científicos, problematizando as temáticas da Área e
demonstrando que elas existem, pleiteando apoio à FAPESP para que nossas demandas estejam
acordes com a oferta. Os dados apurados e analisados, neste estudo, revelam indicadores
valiosos de produtividade, na Área, que se demonstra altamente fértil para a realização da
300
pesquisa. Estabelecemos um ciclo envolvendo os projetos de pesquisa, submetidos à FAPESP,
que por sua vez, ao aceitá-los, os legitimam. Nossa problematização em entender por onde
transita a pesquisa em Comunicação, à luz do fomento, busca oferecer aspectos positivos e
negativos para estimular e convidar nossos pares ao exercício da autocrítica da Área.
Enfim, a pesquisa continua necessária e ilustra um momento muito especial, na
Comunicação, que assume uma centralidade no século XXI, período em que ela não
necessariamente passa mais pela organização dos media. São tempos em que se experimenta o
comum, na facilidade mediada pelas tecnologias digitais, como exercício pleno do ato de se
comunicar. Forma-se, simbolicamente, uma materialidade instigante, mas, que no plano da
pesquisa, não pode ser aventureira e encantadora, nem carente de uma interpretação minuciosa
daqueles que se dedicam à academia ou que nela pretendem ingressar, pois, se a Comunicação
se torna um processo central à vida, é fato que ela se insere sobre outras formas do conhecer,
dentro de Áreas, em que sua natureza de transformação, divulgação e diálogo são essenciais
como já eram, porém, agora se valorizam pelo fato de tudo praticamente estar acessível, graças
a dispositivos que entrecruzam as fronteiras. Os fluxos se tornaram demasiadamente
circulantes, por isso, o presente é passível de gerar conceitos que podem provocar e reforçar
essa complexa identidade epistêmica, obscura em sua indefinição, que não se reconhece de
fundamental importância, mesmo com seu discurso soberano, na prática, e pouco viabilizado,
na teoria, que não reluta às amarras dos paradigmas.
Por enquanto, segue se perpetuando a máxima paradigmática de que a teoria não
acompanha a prática em velocidade compatível, o que mantém a característica do Brasil em
ainda não ter um pensamento comunicacional próprio, mas sim, uma institucionalização dos
estudos em Comunicação. Analisar, detalhadamente, um conjunto de produções no horizonte
de uma agência de fomento, se torna um conhecimento aproximado sobre o possível primeiro
passo para esse pensamento próprio que precisamos desenvolver. Com a ação dos espíritos
científicos, tanto no que corresponde a questões da Área e a pedir fomento para isso, parece-
nos que há luz no fim do túnel, com a aproximação do dia em que deixaremos de ser a “Prima
Pobre” das Ciências Sociais para se tornar as Ciências Sociais em sentido pleno.
301
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ANEXOS
Anexo A – Entrevista Profª. Dra. Ana Claudia Mei (PUC-SP)
1 – A PUC-SP se destaca na vinda de pesquisadores visitantes do exterior ao Brasil.
Comparando todas as instituições, ela detém 29 solicitações (49,15%). É mais que o dobro
da USP. Quando são consideradas apenas as universidades particulares, esse índice sobre
para 78,38%. Qual é o papel da PUC-SP na internacionalização da pesquisa em
Comunicação?
Muito cedo, quando eu era estudante do Mestrado e do Doutorado, essa ambiência internacional
já dominava o Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica. Foi graças
a esse vínculo com outras teorias semióticas e da comunicação que muitos colegas foram
estudar no exterior, quer com Bolsa de Doutorado Sanduiche, quer fazendo Pós-Doutorado no
exterior. Fiz tanto disciplinas no doutorado, na Indiana University nos Estados Unidos da
América, onde se situam os documentos do filósofo e semioticista Charles Sanders Peirce,
como fiz o Pós-Doutorado na École des Hautes Études de Sciences Sociales - EHESS com
Algirdas Julien Greimas, de novembro de 1990 a 1991 e, depois, com Eric Landowski, de 1992
a 1994, no Laboratoire de Sociossemiótique do CEVIPOF: Centre d'Étude de la Vie Politique
Française. Toda a perspectiva dos Regimes de visibilidade na trama social quer em corpus da
comunicação mediática, quer nos de experiências face a face, corpo a corpo, advieram deste
estudo semiótico que me permitiram aprofundar estudos sobre os modos como a media
constrói-se como mediadora e estrutura visibilidades e invisibilidades mediáticas e no pólo
oposto como as interações corpo a corpo são as com força de nos sensibilizar, descobrir-se no
imediato do interagir.
Considero que a ambiência de internacionalização da PUC-SP se constrói com trocas docentes
e discentes. Dar aula em outra Instituição nos ajuda a se colocar diferentemente, e da mesma
forma, ocorre com o assistir aulas em outro país, com outros alunos de outras culturas. O fato
de termos um universo de línguas neolatinas, vamos do português ao francês, italiano e
espanhol, o que favorece muito as pesquisas conjuntas. Desfrutei muito dessa comunidade
participando na semiótica francesa, italiana, espanhola e portuguesa de Portugal, voltadas para
a produção do sentido pela media e arte. Estimulo constantemente orientandos a fazerem
310
estágios de pesquisa, quer na França, quer na Itália, países com os quais mantenho continuado
trabalho investigativo. Atualmente tenho dois alunos em duplo diploma, um na Université de
Limoges e um outro na Università de Bologna. Testemunho o diferencial de abertura e
disponibilidade para o trabalho investigativo que esses pós-graduandos apresentam. São mais
acessíveis às diferenças culturais e às pesquisas comparativas também. Desde 1994, um grupo
de semioticistas — Landowski (CVIPOF), Assis-Silva (UNESP), Fiorin, Peñuella, Pessoa de
Barros, Tatit (USP) — criou o Centro de Pesquisas Sociossemióticas - CPS, que sediado na
PUC-SP, favoreceu o continuado intercambio docente e discente, o que resultou em uma
formação de uma rede de investigações interinstitucionais e internacional.
2 – A senhora solicitou 14 vezes a vinda de pesquisadores estrangeiros. Dessas solicitações,
por dez vezes, quem veio foi o professor Eric Landowski. Qual a importância de trazer
um pesquisador com olhar do exterior para os pesquisadores em formação?
Eric Landowski é um teórico francês que tem o privilégio de falar e escrever nas várias línguas
neolatinas. Começou a vir no Brasil, já em 1982, e sempre circulou entre as Instituições em que
a Semiótica estava se implementando. Foi, em 1989, que recebeu o convite da Coordenadora
do PEPGCOS da PUC-SP, então, Dra Lucia Santaella para integrá-lo como professor visitante
com a disciplina Semiótica estrutural ou discursiva as fundamentações teóricas e metodológicas
das investigações em desenvolvimento. Trabalhamos juntos, desde então, em uma intensa troca
teórica e de objetos de problematizações que realizamos coletivamente com os pós-graduandos.
Landowski recebeu muitos desses pós-graduandos na FNSP: CEVIPOF, onde ministrava seu
Seminaire de Sócio-semiótique, mas é sempre um seleto grupo que consegue essa oportunidade,
e assim, trazê-lo a São Paulo e promover não somente um curso que na maioria das vezes foi
inteiramente aberto quer à comunidade de pós-graduandos dos demais cursos da PUC-SP, quer
também às demais Pós-Graduações de São Paulo e do Estado de São Paulo, assim como de
outras instituições brasileiras que integram o CPS- como UFES, UFPe, UFPelotas, UFRS,
UDESC, PUC-Rio, PUC-Pel, só para citar algumas, foi só uma face do trabalho. A outra deu-
se que a formação em semiótica fazia-se na prática da pesquisa coletiva que os jovens pós-
graduandos integravam junto com semioticistas renomados, o que sempre creio muito
estimulou a formação para se tornar investigador. Foi assim que Landowski conseguiu trabalhar
a semiótica interdisciplinarmente, fazendo a ponte com vários campos das Ciências Humanas
e Ciências Sociais e passou vinte anos dedicando-se a objetos de nossa cultura brasileira, quer
fosse a comunicação face a face nas interações socializantes, a comunicação publicitária,
311
comunicação política, quer questões do gosto, de hábitos, de práticas de vida brasileira como
comer feijoada, beber caipirinha, torcer para um time, entre tantos outros objetos, que tratou e
estimulou a pesquisar. Em todas as visitas, Landowski deixava-nos com artigos inéditos,
mostrando o quanto também o estimulava essa nossa ambiência investigativa. Revistas como
Significação, Galáxia, do Grupo Casa, Comunicação Midiática bem testemunham essa
publicação de artigos do autor, saídos primeiramente em português. Coletâneas publicadas em
português, fruto da colaboração entre França, Itália, México e Brasil que ele articulou, foram
depois traduzidas para o italiano, francês e espanhol.
Acho, então, importantíssimo esse entrecruzamento de pesquisadores e foi ele que sempre
permitiu acalorados debates quer sobre a teoria, quer sobre os objetos, quer sobre o método de
estudo do sentido. Distanciada no tempo, olhando todo esse fazer, acho que realmente valeu a
pena essas constantes visitas por e para a pesquisa semiótica que hoje fazemos no campo da
comunicação brasileira, uma comunicação aberta que considera media, desde o corpo à cidade.
O número de pesquisadores formados com a participação de Landowski, na PUC-SP, ultrapassa
duas centenas e esses bem atestam esta abertura do campo sempre com um viés da política e da
ética atravessando toda e qualquer comunicação.
Outro lado importante é que Landowski favoreceu o contato com outros semioticistas latino
americanos do México e do Peru, principalmente, com os quais trabalhamos muito e
publicamos conjuntamente nesses país. Também Landowski divulgou a semiótica brasileira
quer nas suas pesquisas, quer nos cursos em outros países, quer publicando os resultados nas
várias coletâneas que organizou e também nas revistas que edita.
Convidei também os colegas da Università di Roma : La Sapienza, da Università di Bologna,
da L.U.I.S.S. de Roma, da Università Tor Vergata, da Università di Palermo, Università di
Siena, Università Carloforti, em Cagliari e recebi esses tantos colegas que vieram, financiados
pelas próprias Instituições, enviaram doutorandos para estágio de pesquisa, fizeram pós-
doutorado. A internacionalização vai além do apoio da FAPESP a professores visitantes, mas
também abarca seu apoio aos estudos dos pós-graduandos e aos pesquisadores em pós-
doutorado que abrigamos e o apoio que me deu na pesquisa pós-doutoral. Sem dúvida, a
FAPESP foi essencial para a internacionalização de nossa produção bibliográfica e termos nos
tornamos um centro de pesquisas de referência nos estudos semióticos da comunicação.
312
3 – A França é o país de onde veio a maioria dos pesquisadores visitantes. O que isto
representa? Uma pesquisa mais estruturalista?
A semiótica estrutural é a base comum de todos os nossos convidados como professores
visitantes, quer os financiados pela FAPESP, quer os que aqui estiveram financiados por outras
fontes internacionais. Somos um centro de pesquisa que se vincula à teoria da significação de
A. J. Greimas e nossa produção bibliográfica também é nessa Área. O importante são os estudos
de variados objetos que usando o mesmo arcabouço teórico mostram as qualificações
universalizantes e as singularidades mostram as diferenças entre os mecanismos da crença,
fidúcia dos contratos, sobre as estratégias de convencimento de negociação. Por exemplo, nós
estudamos as práticas de vida das cidades de São Paulo e de Roma, investigando os mecanismos
de produção de sentido com os seus regimes de visibilidade, de interação e de reescritura.
Outras cidades como Palermo, Milão e brasileiras como Curitiba, Rio de Janeiro, Pelotas, por
interesse dos participantes, também propiciaram uma reflexão densa sobre a diversidade
cultural, os fenômenos globais, glocais e os locais, produção fílmica, televisual, jornalística,
radiofônica, fotográfica, de inscrições urbanas parietais como graffiti, pichação e pixo, os
territórios culturais da cidade, quer os museológicos, quer os de coletivos, etc. De fato, acho
que sem o estofo de um solo teórico comum, muito dessa intensidade de troca bibliográfica não
teria sido possível e muito menos um fazer pesquisa conjuntamente.
4 –O número de referências internacionais nas pesquisas apoiadas pela FAPESP é
esmagador, o que nos garante afirmar que pouco se conhece e se utiliza a produção de
nossos teóricos, sejam eles brasileiros ou latino-americanos. Como a senhora avalia essa
influência da literatura estrangeira tão demarcada em nosso campo?
Conforme vinha discorrendo, temos uma importante produção bibliográfica em língua
portuguesa, em língua italiana, que tem uma publicação editorial bem forte, em língua
espanhola, mas do México e do Peru e, sem dúvida, em língua francesa. Não acho que não
produzimos referências nacionais, ao contrário. Se a teoria semiótica saiu da França para o
mundo, faz muito anos que ela circula nas várias línguas neolatinas que felizmente podem se
falar com alta intercompreensão linguística.
5 – Aliás, como a senhora entende o conceito de Comunicação: Campo, Área, Ciência?
313
Entendo comunicação como interação que propicia os processos de significação. Ela abarca,
portanto, todos os tipos de interação, das corpo a corpo às mediadas, que englobam todos os
media que nos põem por seus recursos tecnológicos em relação ao mundo além do que estamos
fisicamente.
6 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento
pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?
Sem dúvida, há uma legitimação científica da área da comunicação. Mas a comunicação disputa
seu lugar com as demais disciplinas da grande área das ciências sociais e, como trabalha com a
linguagem, que é a matéria da expressão de toda e qualquer media, também tangencia a área da
arte. Há uma cobrança de resultados mais e mais concretos como se os estudos de compreensão
dos processos comunicacionais não permitissem formar um conhecimento maior objetivo e
subjetivo dos sujeitos pelos processos comunicacionais que fazem uso para estar no mundo e
existir.
7 – A FAPESP reconhecidamente tem um rigor burocrático. Consideramos que muito de
suas exigências se devam pelo compromisso da transparência com o dinheiro público. Em
Le champ scientifique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Pierre Bourdieu (1983)
ao falar do campo científico, assinala que os cientistas impõem a vitória da ciência quando
estão à frente das grandes burocracias científicas providas muitas vezes por créditos. Sob
esse aspecto e levando em consideração o respaldo da FAPESP, pode-se atribuir uma
vitória científica da Comunicação?
Tendo a concordar que há uma vitória científica da Comunicação, mas não só. Essa grande área
é também uma das possibilidades de transparência da FAPESP. Essa mesma faz um uso da
mídia jornalística impressa e digital com um jornal diário para fazer saber os seus editais, os
resultados das pesquisas, os acordos, enfim, ela dá visibilidade às suas ações de apoio e aos
resultados dessas.
8 – Quando se pensam os temas pesquisados na Comunicação, observa-se uma
fragmentação temática considerável. A própria Comunicação se torna multifacetada em
314
muitas vertentes (Comunicação Digital, Comunicação Regional, Comunicação
Comparada, etc...). Acredito e defendo, na tese, de que a Comunicação precisa centralizar
mais seus temas para que em vez de fragmentação haja uma preocupação em estudar
historicamente as evoluções propiciadas pela cultura. Assim poderíamos compreender a
evolução da Comunicação, do Jornalismo, da Semiótica, etc... Eu acredito que os
Programas de Pós-Graduação em Comunicação podem ajudar nisso sendo, por exemplo,
mais homogêneos e menos heterogêneos, isto é, se concentrarem nessas perspectivas
históricas da Área. Aliás, a PUC-SP com seu Programa em Comunicação está exercendo
muito bem esse papel e pelos dados levantados pode ser considerado um modelo. Faz
sentido esta minha colocação?
Não estou muito de acordo com a tese defendida, pois, é justamente o trabalho integrado entre
as vertentes sincrônicas da comunicação e as diacrônicas que permite dar conta do campo da
comunicação e fazer amarrações para análises mais densas na abrangência do fenômeno e
consistentes nos argumentos. As várias atuações da comunicação no digital, no impresso, no
audiovisual, no radiofônico, no gestual, entre outros, é que permitem os tratamentos do local,
do glocal e do global, do cultural e do multicultural. A PUC-SP busca da diversidade das
vertentes que congrega entre seus docentes operar uma reflexão crítica geral. Só observar como
as linhas de pesquisa do Programa: Regimes de sentido nos processos comunicacionais,
Processos de criação na comunicação e na cultura e Dimensões políticas na comunicação se
articulam em uma formação pós-graduada em equilíbrio a fim de formar um pesquisador que
tanto tem um profundo conhecimento dos usos das linguagens e das tecnologias nos processos
comunicacionais dos vários media, quanto os analisa por várias teorias semióticas e da
comunicação que são entretecidas para dar conta da complexidade da área abordando os
processos de criação na comunicação e na cultura. Ao lado de uma reflexão crítica da dimensão
política, biopolítica e ecológica da comunicação que propicia a reflexão sobre os
posicionamentos e pontos de vista. Quando se reflete sobre a heterogeneidade, sob vários
olhares teóricos e metodológicos, conclui-se que ela é muito enriquecedora na formação pós-
graduada e acredito que ela conduza a uma formação mais aberta do profissional do campo da
comunicação.
315
9 – Há muita produção acadêmica no Brasil, porém, sua influência teórica é pequena. Esse
diálogo com a internacionalização pode ser benéfico para ocuparmos um papel
epistemológico respeitável na pesquisa em Comunicação?
A mudança dos paradigmas teóricos é lenta e exige uma política de publicação e do impacto
dessa que ainda temos muito a avançar. Exige-se cada vez mais dos pesquisadores a avaliação
de publicação em periódicos qualificados quando nossa área se caracteriza por publicação de
artigos em coletâneas de projetos temáticos coletivos ou de livros monográficos. Acredito que
a proliferação de revistas digitais ainda não mudou esse quadro nas Ciências da Comunicação.
As revistas impressas, pelos custos, desaparecem. Os livros resistem e acredito que é um
patamar que a internacionalização da produção brasileira deve favorecer com o apoio às
traduções para línguas de interesse. A jornada é longa e com muitos passos a dar rumo a
ocuparmos um papel epistemológico na nossa área. Interessante que as reuniões científicas
internacionais favoreceram os contatos, mas ainda é preciso mais em termos da produção
bibliográfica.
316
Anexo B – Entrevista Prof. Dr. Ciro Marcondes Filho (USP)
1 – Muitas das pesquisas que o senhor orientou, a bolsistas FAPESP, trabalham a Filosofia
da Comunicação. Partindo deste tema, essa é uma forma de contribuir e renovar com os
estudos teóricos da Área?
A área de comunicação nasceu como apêndice de outras áreas, seja da psicologia, como a Escola
de Chicago, seja da filosofia, como a Escola de Frankfurt, seja da administração, como a Escola
de Colúmbia. Por décadas, não teve existência epistemológica própria, viveu parasitando outras
disciplinas. Contudo, desde 1990, com a expansão da internet, a crise das ideologias e o
aparecimento do chamado “pós-moderno”, constatou-se que comunicação poderia – e deveria
– ser uma área de investigação própria, sem depender nem ser “objeto teórico” de outras
disciplinas. Comunicação precisava se livrar do título absurdo e equivocado de ser uma “ciência
aplicada”. Isso não apenas renovava os estudos de comunicação bem como os
criava efetivamente. Estudos de comunicação, propriamente ditos, só surgem a partir daí. E, no
meu caso, para se estudar a comunicação e dotá-la de estatuto teórico autossuficiente, seria
preciso consubstanciá-la com bases filosóficas e foi isso que se pretendeu com o FiloCom.
2 – Aliás, é no Pós-Doutorado, categoria em que o senhor lidera orientações tanto para
bolsistas no Brasil quanto no Exterior, que a Teoria da Comunicação aparece como tema
de pesquisa. Nós temos considerado, em nossa pesquisa, o Percurso Formativo como o
ciclo Iniciação Científica/Mestrado/Doutorado/Pós-Doutorado. É do Pós-Doutorado que
melhor podem vir os aportes para se repensar os nossos paradigmas teóricos?
Não necessariamente. Tenho instigado alunos a repensar paradigmas teóricos e a aplicá-los em
pesquisas de campo especialmente na graduação. A graduação é o momento mais importante
da formação do aluno (e do pesquisador) porque o captura em seu momento de criatividade,
energia e prazer pelo novo. O aluno de pós-graduação já tem outro perfil, muitas vezes já
viciado por metodologias clássicas e, em muitos casos, ultrapassadas.
3 – Campo, Disciplina, Ciência são definições, digamos, enciclopédicas para a
Comunicação. O senhor diz em seu livro Para entender a Comunicação: contatos
317
antecipados com a nova teoria (2008) que todos querem comunicar, porém, poucos aceitam
a comunicação que por sua vez apenas ocorre com autorização do sujeito. E faz um
destaque para o incorpóreo no processo comunicacional que seria algo não apreendido na
realização do acontecimento. Seria o incorpóreo o obstáculo epistemológico – conceito de
Gastón Bachelard – para o impasse conceitual da Comunicação?
Não; há um equívoco nessa leitura. De fato, todos querem comunicar, isso é uma evidência. Há
até um excesso de “vontade de comunicação”, que se vê pela abundância de mensagens, vídeos,
textos, selfies, etc., que, contudo, não tem equivalência no processo de recepção. Há muita
emissão, mas poucos querem, de fato, receber. Já, o incorpóreo trata de outra coisa. Faz parte
daquilo que eu chamo de fenomenologia da comunicação, que é o momento sutil em que “algo
acontece”, esse algo se dá pela ação do incorpóreo, que é um componente imprescindível à
comunicabilidade embora não possa ser capturado, medido, avaliado. Não tem nada a ver com
“obstáculo”, ao contrário, é o que torna claro que a comunicação ocorreu.
4 – Os dados quantitativos obtidos junto à Biblioteca Virtual da FAPESP nos indicam os
EUA e o Canadá como países preferidos dos pós-doutorandos. A que o senhor atribui a
escolha desses destinos, uma vez que quando analisamos os referenciais bibliográficos, a
maioria dos autores que sustentam as discussões teóricas é europeia?
Dados quantitativos não dizem muita coisa. Você pode ter um volume enorme de estudiosos
que vão aos EUA e ao Canadá, mas não sabe o que os move a irem para lá. Sabemos que os
EUA são atraentes para quem quer fazer pesquisa administrativa, em larga escala, com gráficos
e estatísticas, às vezes, sondagens eleitorais, ou seja, estudos que se voltam a volumes de dados,
mas pouco ou nada dizem a respeito da qualidade da comunicação. É o problema do
pragmatismo dessas pesquisas, que podem atender ao mercado e à classe política, mas pouco
dizem sobre a comunicação stricto sensu. Os europeus, em contrapartida, desfrutam de uma
tradição secular em investigações de fundo, em que buscam compreender um pouco mais da
natureza da comunicação e não tanto das grandes medidas. Em certo momento, contudo, os
alemães notaram que faziam “teorias demais” e que precisavam de mais dados do mundo real.
Foi quando Horkheimer solicitou a Lazarsfeld, ainda em solo germânico, ajuda para pesquisas
quantitativas que seu Instituto fazia no início dos anos 1930, em Frankfurt, com operários
alemães. Mas, afora isso, a essa “deriva empírica”, à qual até mesmo Adorno se entregou, a
histórica intelectual europeia testemunha uma busca mais filosófica do que prática, tanto dos
318
franceses quanto dos alemães. É uma questão de postura intelectual: ou você vai em busca de
reflexão, sofisticação teórica e especulativa, em suma, de certa densidade de pensamento, ou
você vai aprender a usar e a vender esses resultados a grandes empresas e a grupos políticos.
5 – Por falar em referência bibliográfica, nas Bolsas de Pós-Doc no Exterior, o senhor
aparece citado em duas pesquisas. Como é ao mesmo tempo construir a Área e ser
referência para a mesma?
Uma coisa leva automaticamente a outra. Tenho vários vínculos internacionais, na Europa e
nos Estados Unidos. Alunos, em geral, procuram seguir os passos de seus orientadores, se os
respeitam como fonte de conhecimento e experiência. Tento, naturalmente, influenciar colegas
estrangeiros naquilo que você chama de “construir uma Área”, é um trabalho longo e exaustivo,
que só madura depois de muito tempo e com o apoio, inclusive pessoal, de muitos colegas. Mas
meu foco mesmo é o Brasil, cuja energia e potencial de trabalho é incomparável. Por isso,
invisto mais por aqui, apesar de estimular os pós-graduandos a vivenciar a realidade estrangeira,
no caso, para arejar as ideias a respeito de nosso próprio país.
6 – Villém Flusser é o autor mais citado entre as pesquisas com bolsas de Pós-Doc no
Brasil. Nessa modalidade, depois da USP, há uma grande participação da PUC-SP na
obtenção de fomentos. Chegar ao nome de Villém Flusser como o mais citado demonstra
que a Área está indo para uma segmentação em função de Programas de Pós-Graduação
Específicos ou é mera coincidência isso e Flusser representa um importante referencial
teórico para a Área?
Vilém Flusser é apenas um nome, um entre vários. Em certo momento, tornou-se moda
trabalhar com ele, lê-lo e citá-lo. Na década anterior, era o Jean Baudrillard. Não sei se a
contribuição dele é tão decisiva para a área, visto que, como ensaísta, ele não dá muitas pistas
para quem o lê, pois, jamais cita ninguém. Então, você fica meio subordinado a ideias que você
sabe que têm filiação, mas não pode persegui-las. Isso é uma deficiência, creio eu, apesar de
saber que muitos pensadores, a partir de certo momento, achem dispensável citar suas fontes e
falar como se tivessem, eles próprios, inventado tudo aquilo. Não sei se isso é muito honesto,
tenho minhas dúvidas. Sei que ele é um importante referencial para a área, mas não o mais
importante, sequer um dos mais importantes. Do ponto de vista epistemológico, acho que a área
319
deve muito a Merleau-Ponty, a Bergson, a Bachelard, a Latour, a Serres; do ponto de vista
especulativo, não há como não citar Barthes, Lyotard, Deleuze e Derrida. Os alemães não têm
conseguido se emparelhar à produção francesa, apesar de Flusser, Kamper, Kittler e Anders.
Nos Estados Unidos, tem surgido uma nova geração de pensadores bastante inovadores, como
Massumi, Shaviro e outros.
7 – Percebemos, nas pesquisas de Pós-Doc, muita interdisciplinaridade da Comunicação.
Temos defendido que a Comunicação tem potencial para Ciência, pois, ela deve ser
valorizada como a primeira ciência de todas, afinal, nada se faz sem a Comunicação e a
constituição da Linguagem. O senhor acha que a Comunicação deve caminhar neste
sentido que defendemos?
Não necessariamente. Comunicação não é a primeira de todas as ciências. O que houve foi um
uso metafórico da comunicação por parte de outras ciências, especialmente depois da virada
linguística, de Wittgenstein, no início do século 20. Daí, apropriaram-se de termos como
informação, mensagem, comunicação para campos como a biologia, a física, a química e
demais ciências exatas (mesmo a sociologia de Niklas Luhmann apropria-se de algo para pouco
ou quase nada dizer a respeito). É isso, aí já não se trata mais de “comunicação”, porque de
comunicação esses processos não têm nada. Esses saberes praticamente vulgarizaram conceitos
que, em verdade, são muito mais complexos do que isso, vide o exemplo de Shannon, com seu
esqueminha de fios e caixinhas. O que nos falta, de fato, é mais seriedade com o trato da
comunicação. Por não ser visto com seriedade, o fenômeno da comunicação foi sempre o
“primo pobre” das ciências, “ciência aplicada” e outras barbaridades criadas por quem não
entendeu nunca de comunicação, mas esteve em posição-chave nos órgãos de financiamento
para organizar burocraticamente os saberes. Ela tem que se impor como saber, saber autônomo,
como campo teórico próprio, como, no passado, aconteceu com a psicologia, a sociologia, a
antropologia, etc.
8 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento
pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?
Sim, sem dúvida! É fruto de uma batalha que colegas e eu temos desenvolvido nos últimos dez
ou vinte anos para o reconhecimento efetivo da área. Comunicação é coisa séria, mas poucos
320
se dão conta disso. Talvez agora, com esse reconhecimento, tenhamos nosso trabalho mais
valorizado e respeitado no ambiente intelectual e acadêmico. Tivemos nossa “doença infantil”,
que foi nossa submissão a outros saberes, inclusive na montagem de corpos docentes das
faculdades de comunicação. Como poucos defendiam essa autonomia, muitos colegas de outras
áreas vinham com a concepção de que “comunicação qualquer um pode ensinar”. Mas não!
Como ciência adulta e respeitada, seus postos devem ser efetivamente ocupados por formados
em estudos comunicacionais sérios e aprofundados.
9 – Quando se pensam os temas pesquisados na Comunicação, observa-se uma
fragmentação temática considerável. A própria Comunicação se torna multifacetada em
muitas vertentes (Comunicação Digital, Comunicação Regional, Comunicação
Comparada, etc...). Acredito e defendo, na tese, de que a Comunicação precisa centralizar
mais seus temas para que em vez de fragmentação haja uma preocupação em estudar
historicamente as evoluções propiciadas pela cultura. Assim poderíamos compreender a
evolução da Comunicação, do Jornalismo, da Semiótica, etc... Eu acredito que os
Programas de Pós-Graduação em Comunicação podem ajudar nisso sendo, por exemplo,
mais homogêneos e menos heterogêneos, isto é, se concentrarem nessas perspectivas
históricas da Área. Há algum sentido pensar assim?
A fragmentação temática é ainda sequela da imaturidade dos estudos de comunicação de
décadas atrás. Se compartilhava o estudo porque seus representantes vinham de outras áreas e
“dividiam o bolo”. Uma ciência “crescida” sabe do que quer e como quer. Opera com a
organização e a uniformização de procedimentos, que possam torná-la efetivamente unitária,
ou, pelo menos, não pulverizada. Ora, pode-se pensar a comunicação em todas suas variações
- eu disse: todas! – desde os pequenos diálogos, as reuniões em grupos, a situação de aula,
passando pelas formas irradiadas de rádio, TV, imprensa, publicidade, até os processos atuais
eletrônicos, todos eles sob um mesmo paradigma comunicacional. Isso é possível. Não sei se
precisamos depender de estudos históricos e da evolução. Esse é um conhecimento paralelo,
como a história do jornalismo, do rádio, da TV, da internet. Tem valor acessório, não nuclear.
Mesmo a ideia de “evolução” contém em si um componente idealista, talvez ilusório, de
tradição hegeliana, de “caminhar para melhor”, o que nem sempre acontece. As guerras e os
genocídios do século 20 demonstraram ao mundo inteiro que até mesmo o conceito de progresso
nem sempre vem para o bem da humanidade. Na comunicação, como em qualquer outra área,
321
há uma competição por paradigmas. Hoje em dia, disputa-se em nossa área, pela supremacia de
paradigmas, seja ele o semiótico, o dos estudos culturais, o das pesquisas empíricas, do ator-
rede ou de autorias, como o caso do Flusser. Pensar em homogeneidade pode soar como
ingenuidade. A briga das ciências não é muito diferente das outras brigas na sociedade: não
importa tanto o quanto de verdade um paradigma possui; vence e impõe-se aquele que angariou
mais adeptos, que seduziu mais, que encontrou maior número de multiplicadores.
322
Anexo C – Entrevista Profa. Dra. Lúcia Santaella (PUC-SP)
1 – Consideramos em nossa pesquisa o Percurso Formativo como o ciclo Iniciação
Científica/Mestrado/Doutorado/Pós-Doutorado. Os dados da FAPESP demonstram que o
número de estudos em Iniciação Científica e Mestrado é grande, mas, nas fases
subsequentes, a quantidade de pesquisas diminui. A que a senhora atribui essa
“interrupção” do percurso?
Quando você diz diminuição da quantidade de pesquisas, quer se referir à diminuição da
demanda ou à diminuição do número de bolsas concedidas pela Fapesp nessas duas categorias?
Pelas informações que tenho, foi a própria agência que diminuiu a concessão de bolsas em IC
e Mestrado. Os pesquisadores ficaram sabendo dessa decisão e foram gradativamente deixando
de encaminhar requisições nessas modalidades. Minha explicação para essa interrupção se deve
ao fato de que a demanda por bolsas aumentou consideravelmente devido à abertura de muitos
novos cursos de pós-graduação no Estado de São Paulo. Para se ter uma ideia mais precisa
disso, seria importante comparar a diminuição de bolsas nessas modalidades, de um lado, com
o aumento de cursos novos que abriram, de outro. Ora, se a demanda aumenta e a oferta não
aumenta correspondentemente, em algum nível é preciso introduzir cortes. Creio que foi isso
que aconteceu. Então, os cortes são feitos pelos níveis iniciais de bolsa.
2 – Pelos dados quantitativos, conseguimos afirmar que USP, UNESP Bauru,
Universidade Metodista de São Paulo e a PUC-SP são centros de excelência da Pesquisa
em Comunicação. Como docente do Programa de Comunicação em Semiótica da PUC-
SP, que esforços são realizados para conseguir bons resultados junto à FAPESP?
Para os estudantes de uma universidade privada, interessam mais as bolsas do CNPq e da Capes,
pois, estas pagam para a própria Pucsp a mensalidade que é muito alta. Com a bolsa da Fapesp,
por outro lado, mal dá para cobrir a mensalidade, mesmo com a concessão da Pucsp de 25% de
desconto na mensalidade para bolsistas da Fapesp. A universidade está estudando atualmente o
aumento desse desconto. Entretanto, mesmo havendo preferência por bolsas de outras agências,
como elas não são suficientes, então, se recorre à Fapesp. Os esforços para isso, são sempre
voltados para a excelência da proposta e o atendimento às exigências da Fapesp, entre eles, a
familiaridade das pesquisas do orientador no tema, a sua capacidade comprovada de formação
323
de pesquisadores na área e na modalidade pretendida. Mesmo seguindo todas essas exigências,
a concessão de bolsas para a Pucsp tem diminuído consideravelmente, tanto na modalidade
doutorado, quanto pós-doutorado. Não tenho dados sobre diminuição também para a
Universidades do Estado e Federais. Seria também importante um estudo comparativo nesse
sentido para se saber se a Fapesp prioriza a concessão para pedidos de universidades estatais e
federais sobre as universidades privadas. Isso nunca foi abertamente declarado pela agência.
Mas fica sempre essa dúvida que apenas uma pesquisa poderia responder.
3 – Campo, Disciplina, Ciência são definições para a Comunicação. Qual destes conceitos
lhe faz mais sentido e como a senhora define Comunicação?
Disciplina, jamais, pois, isso reduziria a comunicação a um simples braço de um campo de que
ela seria meramente uma parte. Sempre prefiro definir como campo, seguindo Bourdieu, para
poder incluir a ideia de uma realidade que não tem fronteiras fixas. Nesse caso, o campo se
define por seus atributos, ou seja, como um campo de pesquisa e de conhecimento. Ora, como
campo de pesquisa e conhecimento, deve haver sempre uma realidade empírica a que a pesquisa
se dedica, quer dizer, os fenômenos diversificados em que a comunicação ocorre. Para
compreender que fenômenos são esses, deve-se partir de alguma definição do que é
comunicação. As definições são muito variadas. Para alguns, a comunicação é humana e social,
deixando para fora do campo muitos outros fenômenos que poderiam ser também definidos
como fenômenos comunicacionais. Trabalhei esse tema complexo com algum cuidado no meu
livro Comunicação e Pesquisa, o qual, aliás, começa com uma discussão acerca disso. Na 1ª.
Edição da editora Hacker, essa discussão se encontra nas páginas 15-26. Na 2ª. Edição da
editora BlueCom, nas páginas 13-18. (Relendo essas páginas para responder à sua pergunta,
surpreendi-me com o quanto a informação aí contida é ainda atual, depois de 16 anos, desde
que redigi essas páginas. Minha explicação para isso é que pesquisei muito na época para poder
escrever esse livro). Para resumir, não há uma definição acabada e privilegiada de comunicação.
Elas são muitas e cada pesquisador elege a definição que mais se ajusta aos seus interesses de
pesquisa. Quanto a mim, como sou uma semioticista, sempre preferi as definições mais amplas
de comunicação para englobar também a comunicação maquínica e a comunicação que se
processa em fenômenos biológicos. Mesmo que sejamos pesquisadores da área de humanas,
isso não impede que reconheçamos os fenômenos comunicacionais que existem e se expandem
além do campo social humano.
324
4 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento
pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?
Não há nenhuma dúvida sobre isso. Se não fosse uma área de pesquisa e conhecimento
solidamente reconhecida em todas as agências do país, não haveria verba destinada ao apoio a
pesquisas nesse campo. O problema que se coloca hoje, entretanto, encontra-se na necessidade
de aumentar as modalidades de subáreas da comunicação. Nas agências, elas ainda estão
limitadas às mídias tradicionais. Mas, pouco a pouco, a realidade vai falando mais alto e
fenômenos comunicacionais mediados por computador, que atualmente se apresentam em um
grande número de modalidades, vão abrindo caminho para que as agências se adaptem às
demandas.
5 – Entre 1992 e 2016, a senhora lidera as orientações de Doutorado na Área. Como é o
seu estímulo aos orientandos que se tornam bolsistas FAPESP?
Jamais poderia imaginar isso. A explicação para essa liderança deve se dar porque sempre
trabalhei na Pucsp, uma universidade privada e cara. Quando percebo o talento em alguns
candidatos, eu o(a)s incentivo a requerer bolsa da Fapesp, que é sempre mais prestigiosa, pois
as bolsas provenientes de outras agências são distribuídas internamente nos programas. Embora
haja processos seletivos, o crivo da Fapesp é sempre mais pontual e exigente.
6 – A FAPESP reconhecidamente tem um rigor burocrático. Consideramos que muito de
suas exigências se devam pelo compromisso da transparência com o dinheiro público. Em
Le champ scientifique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Pierre Bourdieu (1983)
ao falar do campo científico, assinala que os cientistas impõem a vitória da ciência quando
estão à frente das grandes burocracias científicas providas muitas vezes por créditos. Sob
esse aspecto e levando em consideração o respaldo da FAPESP, pode-se atribuir uma
vitória científica da Comunicação?
Não sei se chamaria o rigor da Fapesp de rigor burocrático, mas sim de rigor seletivo. Isso
envolve critérios, regras, e respeito a elas, sem o que uma instituição não poderia funcionar
devidamente. Entendo a colocação de Bourdieu como se referindo ao fato de que a pesquisa
sempre avança para além das fronteiras pré-estabelecidas de uma ciência. Assim caminha a
325
pesquisa. Os pesquisadores vão expandindo a sua área de pesquisa e as agências de fomento
têm que estar abertas para o novo e inesperado. Basta ver o interesse atual da Fapesp, por
exemplo, em pesquisas naquilo que vem sendo chamado de humanidades digitais.
7 – Pleitear um fomento de pesquisa junto à FAPESP requer algo diferenciado de
orientador e orientador na formulação do projeto a ser analisado? Como a senhora
prepara seus orientandos para requerer apoio da Fundação?
Como já disse, conheço de antemão os critérios seletivos da Fapesp. Assim, os projetos que
envio à Fapesp devem estar de acordo com esses critérios, caso contrário, é tempo perdido.
Evito, por exemplo, enviar projetos que não tenham passado pelos meus próprios critérios de
qualidade. Evito também enviar projetos de candidatos que titubeiam na sua vocação para a
pesquisa. É preciso apostar naqueles que estão dispostos a dedicar grande parte das horas de
sua vida à pesquisa, caso contrário, se estará gastando dinheiro público com pessoas que não
darão ao auxílio que recebem o retorno devido. Fico bastante furiosa com pessoas que recebem
uma bolsa atrás da outra e, depois que chegam ao topo, decidem abandonar a vida acadêmica.
Felizmente, isso é raro, mas acontece e já testemunhei.
8 – Nossa amostra demonstra predomínio dos homens como orientadores e de mulheres
como orientandas. Como a senhora avalia essa questão de gênero na orientação de
pesquisas já que aparece como líder em um espaço de “soberania” masculina?
Que estranho! É preciso conferir se isso acontece porque há mais homens do que mulheres nos
departamentos das universidades, o que não creio que seja verdadeiro, especialmente na nossa
área. Sua amostra me deixa com muitas interrogações, especialmente porque nunca percebi essa
soberania. Aliás, como pesquisadora, nunca senti essa soberania. E devo declarar que nunca,
em nenhuma situação, no decorrer de toda a minha carreira no Brasil, pude perceber qualquer
sinal de preconceito machista por parte de meus colegas homens. Ao contrário, sempre foram
e são sinceramente abertos ao diálogo de igual para igual.
9 – Uma das dificuldades para mensurar de modo mais apurado as informações sobre
essa trajetória da Pesquisa em Comunicação que fazemos pelos fomentos da FAPESP é
que em muitas vezes faltam dados na base da Biblioteca Virtual da Fundação. Uma das
326
categorias em que se percebe muito isso é na adoção de metodologias. Entretanto, a partir
das pesquisas informadas, nota-se que os pesquisadores do Pós-Doc estão mais
“comprometidos” com esses dados e que os alunos de Mestrado são os que mais adotam o
uso de várias metodologias. Como explicar estes dois cenários?
Quanto mais um projeto é maduro e exigente consigo mesmo, mais a questão do método entra
em pauta. Não se pode exigir do mestrado, mais do que ele pode dar. Ou seja, embora a pesquisa
tenha sempre que ser pautada pelo rigor, mestrados são pesquisas exploratórias, o que significa
que seus propósitos e dimensões são mais modestas. De qualquer maneira, as metodologias na
área de comunicação são tão variadas quanto são os diferentes recortes que os pesquisadores
fazem desse campo. Nenhum pesquisador da área está autorizado a reclamar a posse da
“verdadeira” definição do que seja comunicação e do perfil da área. Na vida intelectual, também
somos movidos por preferências por autores, visões e métodos. Se todos os pesquisadores
estivessem voltados para o mesmo tipo de pesquisa, a área não avançaria, pois, os avanços se
dão sempre pela diferença e não pela imitação.
10 – Na modalidade em que a senhora lidera as orientações, o Doutorado, a metodologia
mais adotada foi a Pesquisa Bibliográfica, em 7 pesquisas. Tenho defendido na tese que a
pesquisa bibliográfica é muito mais um método do que uma metodologia, afinal, para toda
pesquisa é preciso considerar o estado da arte a partir das leituras, ou seja, esse é um
método inerente ao trabalho do pesquisador. Como a senhora considera isso?
Entendo, na diferença que você estabelece entre método e metodologia, que a indagação sobre
o método é sempre uma indagação de cunho mais teórico enquanto a metodologia estaria mais
voltada para questões de aplicação. Devo confessar que tenho apreço pelas questões teóricas da
comunicação. Isso é uma tendência minha, particular, sem que isso signifique que deixo de ter
respeito e admiração por pesquisas empíricas. Esse resultado que você me apresenta das
pesquisas que orientei vem comprovar o tipo de inclinação que tenho e que acaba por se
estender para os meus orientandos. Não porque eu os force a isso. Ao contrário, creio que os
orientandos me procuram porque têm sintonia com problemas concernentes às teorias. O que é
fato, entretanto, é que incentivo muito as leituras, a exploração conceitual do recorte específico
que cada orientando faz do campo. Nas primeiras reuniões de orientação, costumo indicar um
montante bem grande de leituras bibliográficas para que o orientando tenha um panorama mais
vasto desse recorte do que aquela fundamentação teórica e metodológica que será escolhida.
327
11 – Quando se pensam os temas pesquisados na Comunicação, observa-se uma
fragmentação temática considerável. A própria Comunicação se torna multifacetada em
muitas vertentes (Comunicação Digital, Comunicação Regional, Comunicação
Comparada, etc...). Nota-se, nesta modalidade, a presença de temas ligados à
digitalização, entretanto, nas bolsas de Doutorado, o tema mais pesquisado é a Semiótica.
É fato que com a senhora orientando o maior número de pesquisas, o tema principal do
Programa venha se sobressair. Porém, acredito e defendo, na tese, de que a Comunicação
precisa centralizar mais seus temas para que em vez de fragmentação haja uma
preocupação em estudar historicamente as evoluções propiciadas pela cultura. Assim
poderíamos compreender a evolução da Comunicação, do Jornalismo, da Semiótica, etc...
Eu acredito que os Programas de Pós-Graduação em Comunicação podem ajudar nisso
sendo, por exemplo, mais homogêneos e menos heterogêneos, isto é, se concentrarem
nessas perspectivas históricas da Área. Há algum sentido pensar assim?
Ter conhecimento da história da área em que se trabalha é importante para não se cair na
ingenuidade de se pensar que se está inventando a roda. Vejo na questão que você me coloca
justamente aquilo que a área de comunicação debate desde que ela se implantou neste país.
Homogeneidade ou heterogeneidade? Quanto a mim, creio que se deve buscar um equilíbrio
entre ambas as tendências. De um lado, para respeitar o caráter rizomático da comunicação, ou
seja, ela tende a se ramificar ininterruptamente. Só para dar um exemplo, no ramo específico
da comunicação jornalística, há como evitar seu desdobramento em jornalismo digital? Mas, ao
mesmo tempo, quando se expande muito o território, corre-se o risco de passar a pesquisa para
um outro lado que não é o da comunicação. A extrapolação é detectável quando se examina o
problema que o pesquisador quer investigar. A pergunta que costumo fazer, quando analiso a
inserção ou não de uma pesquisa no campo, é a seguinte: esse problema concerne ao campo da
comunicação? É uma questão comunicacional ou antropológica, por exemplo? É claro que há
reverberações sociológicas, antropológicas, psicológicas e até biológicas no campo
comunicacional, mas o que tem que ser avaliado é se a pesquisa vai contribuir para o campo da
comunicação e seus avanços ou não.
12 – Dos autores citados nas pesquisas, há um predomínio de estrangeiros adotados para
o quadro teórico de referência, denominação deste procedimento que a senhora coloca em
seu livro Comunicação & Pesquisa. Somente no Doutorado, foram 37 autores do exterior
328
(Charles S. Peirce é o mais referenciado) e 11 brasileiros. Registra-se um pouco da
literatura latina nos trabalhos. Enfim, quando o assunto é o quadro teórico de referência,
desconsiderando os clássicos, por que a Comunicação prioriza o que se produz lá fora?
As universidades lá fora foram criadas a partir do século XI. Os pensadores europeus
desenvolveram seus trabalhos ao longo de todos esses séculos. Nossas universidades só tiveram
início há um século. A área de comunicação no Brasil só começou a se desenvolver
institucionalmente nos anos 1970. As escolas de jornalismo são mais antigas, mas a área como
um todo é recentíssima. Diante disso, não é normal que haja essa disparidade? Nossas escolhas
têm de ser guiadas pela qualidade da informação que buscamos e que encontramos e não pela
nacionalidade dos autores. Um grande pensador não tem nacionalidade. Ele pertence à espécie
dos seres pensantes e não a um país.
329
Anexo D – Entrevista Prof. Dr. Maximiliano Vicente (UNESP)
1 - Consideramos em nossa pesquisa o Percurso Formativo como o ciclo Iniciação
Científica/Mestrado/Doutorado/Pós-Doutorado. Segundo nos mostram os dados, as fases
mais expressivas de realização de pesquisa, com bolsas FAPESP, são a Iniciação Científica
e o Mestrado. A carreira de pesquisador desperta interesse?
Eu não diria que desperta interesse propriamente pela carreira de pesquisador, mas sim que a
carreira de professor aparece como uma opção a mais para o jovem que está concluindo os
estudos. Na iniciação, o que mais escuto é “querer continuar os estudos”, sem que esteja bem
claro o que significa a carreia de pesquisador. Inclusive, boa parte considera a iniciação e o
mestrado como complemento na sua formação. Junto com essa vontade de estudar mais, é que
surge o interesse por um tema e por uma pesquisa, via de regra, complementada no mestrado.
Também é verdade que alguns vislumbram a possibilidade de serem pesquisadores, mas diria
que estão bem longe de ser a maioria.
2 – Entretanto, no Doutorado e no Pós-Doutorado, há uma queda do número de pesquisas.
Por que os alunos não continuam a formação?
Não saberia responder adequadamente, portanto, vou me ater aos casos que conheço. Quem
parte para o doutorado e pós-doutorado, acaba se encaixando, na sua maioria, nas universidades
particulares, o que determina de maneira bastante clara, o que me pergunta. Na Universidade
particular, o que conta é a hora aula e não a pesquisa. O que acaba acontecendo é que poucos
professores concentram um número alto de aulas e sobra pouco tempo para a pesquisa. Agora,
quem consegue entrar numa faculdade pública, seja federal ou estadual, pelo menos dos meus
ex-orientandos, persistem sim, com a pesquisa e com projetos de pesquisa. Portanto, considero
que a entrada no mercado de trabalho, ou melhor, a necessidade de entrar no mercado de
trabalho determina a interrupção dos estudos e das pesquisas. Alguns dos que continuam nas
pedem a continuidade da orientação claro em outro nível, tipo ler os textos que elaboram,
explicar metodologias adequadas aos projetos que desenvolvem, bibliografia...
330
3 – As bolsas concedidas pela FAPESP à Iniciação Científica representam 51,28% de
todas as bolsas de estudo no Brasil. O que justifica esse índice?
Creio que estamos falando de uma instituição de respeito e amplamente conhecida na
comunidade acadêmica pela seriedade e rigor nas avaliações. Para o aluno de graduação, ela
aparece como uma excelente opção e embarca rapidamente nela atraído pelo incentivo
econômico que recebe e pelo prestigio de colocar, no seu currículo, o fato de ter sido
contemplado com uma bolsa tão difícil de ser conseguida. Um outro componente importante, a
ser levado em consideração, é justamente o incentivo que recebem os alunos de graduação por
parte dos professores quando tem um aluno com potencial de pesquisador. Ainda julgo
importante considerar que começa a se perceber, na graduação, uma preocupação por parte dos
alunos na pesquisa e na inserção em grupos de pesquisa, o que acaba gerando projetos de
pesquisa submetidos às agências de fomento.
4 – Entre as bolsas de Iniciação Científica, a metade está na FAAC UNESP Bauru. Em 24
anos, foram 154 bolsas recebidas. Isto faz, inclusive, com que a UNESP só esteja na
liderança nessa modalidade. Qual o diferencial da UNESP para conseguir isso? Afinal ela
tem o dobro de bolsas da USP.
A Unesp passou, nas últimas décadas, por um período de transformação significativo. Seu
quadro de docentes se qualificou criando uma massa crítica significativa. Inclusive, para
ingressar, ter doutorado é a condição mínima para concorrer aos concursos de ingresso. Isso
significa dizer que a pós-graduação, na Unesp, é bastante recente, o que desde meu ponto de
vista, significou que se estimulasse mais a iniciação cientifica como forma de valorizar a
pesquisa. Veja o quadro então: doutores ou recém doutores sem poder atuar na pós-graduação
(aliás, com o passar do tempo, eles mesmos seriam os que fundariam a pós-graduação) só
restava usar seu saber na graduação. Resultado: se criou uma cultura de valorizar a graduação
e a pesquisa na graduação resultando nesses números que me indica.
5 – O excelente desempenho da UNESP coloca o interior de São Paulo à frente do mapa
de distribuição de fomentos na Iniciação Científica. Como produzir pesquisa de qualidade
fora da Capital?
Hoje, não há mais problemas em relação ao local onde está o pesquisador. A tecnologia te
permite estar em Bauru, por exemplo, e participar de uma banca de doutorado em qualquer
331
Universidade do mundo. Te digo isso por experiência própria. Agora, se voltamos no tempo,
existiam sim entraves estruturais, pois, os grandes centros concentravam atividades como
intercâmbios, congressos, encontros, palestras, cursos... e para alguém que morasse, em Bauru,
isso implicava em deslocamento, assistir e voltar para seu mundo numa cidade do interior. Hoje,
isso não existe mais e a desculpa de estar no interior para desenvolver a pesquisa não se justifica
mais, ao contrário, quase que poderíamos dizer que a vida no interior facilita mais a vida dos
pesquisadores pelas condições de infraestrutura e rapidez nos deslocamentos, tempo precioso
para se dedicar ao estudo.
6 – Mas quando olhamos para as bolsas de Mestrado, a situação se inverte. O interior fica
atrás da capital. Isto é um sinal de que as instituições do interior não retêm seus futuros
pesquisadores?
Não creio que seja esse o fator principal. Pelo menos se olho para o meu departamento, encontro
mais de dois terços dos professores formados na própria Unesp e que agora são docentes. Creio
que há sim um fator relevante e que já falei nele: o tempo de funcionamento dos programas de
pós-graduação e, consequentemente, sua avaliação positiva, o que atrai os futuros
pesquisadores. Me parece que esse fator pesa muito na hora de se realizar a opção pelo mestrado
e doutorado. Repara só num dado: a USP data de 1934 e a UNESP de quase 40 anos depois. É
normal, portanto, que os cursos de pós-graduação estejam mais consolidados na USP que na
Unesp e a procura por eles deve ser bem maior. Entretanto, como falei, atualmente com a
consolidação da pós-graduação, essa tendência começa a ser revertida, pois, a excelência na
pesquisa ocorre tanto no interior como nos grandes centros.
7 – O senhor lidera as orientações de pesquisas na Iniciação Científica (26 projetos) e no
Mestrado (10 projetos). Há algo de especial em trabalhar com a base de formação do
pesquisador?
Poderia ficar horas te falando no quanto é bom poder trabalhar com a graduação.
Particularmente, não me preocupo com os números que me apresenta e que desconhecia
totalmente. O que sim considero fundamental é que a universidade é um momento de descoberta
do saber e da criação do conhecimento e apresentar essa possibilidade para os jovens que se
encontram, na universidade, é um grande motivo desafiador de muitas e muitas questões: eu
posso pesquisar? Eu posso contribuir com o conhecimento na minha área de estudos? Como se
332
faz isso? Fruto dessas e outras questões é que o aluno descobre o gosto pelo saber e pela
pesquisa. Daí que motivá-lo para elaborar um projeto de pesquisa é um passo só. Claro que,
sem gostar da graduação e da pesquisa, não se consegue nada, assim como, colocar entraves ou
mostrar dificuldades provoca rejeição por parte dos estudantes. Portanto, poder passar o
encantamento do saber e pelo saber, colocar desafios e mostrar que a ciência ajuda a responder
questões importantes para a sociedade e para a área de conhecimento é o combustível que
acende o desejo de pesquisar e elaborar projetos. É um trabalho de dias e dias, mas vale sim a
pena, e muito.
8 – O Jornalismo lidera os temas de pesquisa na Iniciação Científica (45 pesquisas) e no
Mestrado (18 pesquisas). O Jornalismo ainda é o tema mais próximo da Comunicação?
Não creio que seja o mais próximo e sim, talvez, pela sua visibilidade, o mais divulgado e
conhecido e, consequentemente, o mais procurado. Particularmente creio que o conceito de
comunicação é mais amplo que o que nos oferece o jornalismo, mas o jornalismo faz parte sim
da comunicação e ajuda a desvendar alguns dos mecanismos pelos quais a comunicação se
constrói. Ainda destacaria o seguinte: em praticamente as demais áreas da comunicação é
encontrado um espaço para as atividades de jornalismo. Finalmente, acrescentaria que o curso
de jornalismo já tem uma tradição consolidada, o que lhe permite apresentar conteúdos e
estudos capazes de atrair e chamar mais a atenção do que as áreas mais novas.
9 – Nota-se, em especial, na Iniciação Científica, que há uma considerável fragmentação
temática. Os estudos são muito ramificados e parecem se tornar “campos próprios” de
conhecimento. Considerando que a Iniciação Científica é a base do percurso formativo,
não se torna complicado favorecer essa fragmentação considerando que ainda não se
resolveu o impasse do conceito de Comunicação?
Não, não vejo isso como problema. Desde meu ponto de vista, a iniciação, como a própria
palavra já define, propicia um primeiro contato com a pesquisa. O que se espera desse contato,
é que o futuro pesquisador aprenda a elaborar um projeto, a seguir as etapas previstas na
construção do projeto, a formular uma ou mais perguntas de pesquisa, a seguir um método para
serem resolvidas essa(s) pergunta (s) e, finalmente, dar visibilidade aos resultados (publicar ou
apresentar comunicações em congressos). O que acaba acontecendo é que existe uma grande
variedade de interesses e de temas entre os alunos que querem realizar a iniciação cientifica,
333
motivo pelo qual surge essa diversidade. O que se verifica é que muitos alunos entram em
projetos de pesquisa dos orientadores, e com isso, creio que essa tendência de termos temas
mais diversos ceda espaço para os projetos temáticos que envolvem os professores.
Particularmente, procuro incentivar o primeiro caminho. Afinal, sem a curiosidade e o
entusiasmo pelo tema e, preferencialmente, temas polêmicos, a pesquisa não avança. Vejo isso
não como fragmentação, mas sim, como amplitude sobre o tema jornalismo que é o que mais
me interessa.
10 – É possível perceber que em muitas ocasiões, na Iniciação Científica, o estudante está
fazendo parte de um projeto mais complexo do orientador. Notamos muito isso com os
estudos de censura da USP. É uma oportunidade de aprendizado, evidentemente, mas de
alguma forma ele está atendendo um projeto de pesquisa maior. Nesse sentido, esse aluno
de Iniciação está estimulado à produção científica quando um projeto não parte
necessariamente de uma problemática de seu interesse?
Como te falei, na questão anterior, sinto que essa é a tendência atual, aliás, a própria Fapesp
valoriza mais esse tipo de iniciação cientifica. Desde meu ponto de vista, creio que ambas
questões podem conviver sem problemas e não digo isso como forma demagógica de fugir à
questão. Um grande tema abordado por vários pesquisadores, geralmente, é bem mais
abrangente e traça conclusões amplas que ajudam a explicar o problema de pesquisa.
Entretanto, fugir a esses grandes temas de pesquisa tem seus atrativos e particularidades. Me
explico: por ser mais delimitado e mais reduzido, o tema se abre à possibilidade de pesquisar
particularidades que podem levantar questões aos temas gerais ou mesmo apresentar outras
soluções. Um exemplo: pode estudar a censura à grande imprensa, na época dos militares, mas
como isso se dava nos pequenos jornais, via de regra, é deixado de lado e pode trazer luz ao
tema da censura. É justamente nesse espaço que a iniciação cientifica, não vinculada ao grande
projeto, entra e ajuda na compreensão do assunto por mostrar as peculiaridades do tema desde
outros pontos de vista tendo como objeto de pesquisa e recorte um tema bem mais específico.
11 – Campo, Disciplina, Ciência são definições para a Comunicação. Qual destes conceitos
lhe faz mais sentido sobre Comunicação? E para o senhor, o que é Comunicação?
334
Pessoalmente, sempre me coloquei do lado que entende a Comunicação como uma ciência. A
palavra ciência implica em conjunto de saberes, demanda um método e a especificação dos
conhecimentos. Desde todos os pontos de vista, a Comunicação cumpre esses requisitos. Assim,
por exemplo, se estuda o jornalismo. Ele contribui com o conceito de Comunicação desde sua
ótica e não dá para negar que ele tenha métodos próprios na ora de abordar e estudar suas
diversas manifestações. Sempre procurei seguir as colocações de Kuhn para entender que a
Comunicação é uma ciência. O mais importante é aceitar e definir que ela tem paradigmas e
que, evidentemente, soluciona os paradigmas. Seguindo com essa definição ou conceituação
que te coloquei, sempre digo e defendo que a Comunicação é um processo de intercâmbio
igualitário de informações que tem repercussão social e que interfere na visão que a sociedade
tem dela mesma. Claro que, para isso, o fundamental é que todos os membros tenham os
mesmos direitos de se informar e de expressar suas opiniões em relação a qualquer questão.
Esse é o motivo pelo qual procuro me aprofundar nas formas de Comunicação expressadas
pelas classes subalternas nas suas mais diversas manifestações. Aliás, esse tem sido o tom das
pesquisas que oriento: sempre fugir dos meios massivos e estudar os que se manifestam e não
tem tanta voz na sociedade, ou seja, entender por que isso ocorre. Claro que nem sempre isso é
aceito pelos alunos, mas, a grande quantidade de orientações que faço vão nesse sentido,
procuram ter esse norte.
12 – O fato da FAPESP reconhecer a Comunicação como Grande Área de Conhecimento
pode ser considerado um fator de legitimação científica da nossa Área?
Sim, com toda certeza. Sem querer repetir o que coloquei, na questão anterior, tenho certeza
que essa é a visão mais acertada para que nos coloquemos como comunicadores e que tenhamos
nosso saber reconhecido pelas outras áreas de conhecimento. Me parece que os argumentos da
questão anterior respondem a essa tua indagação.
13 – A FAPESP reconhecidamente tem um rigor burocrático. Consideramos que muito
de suas exigências se devam pelo compromisso da transparência com o dinheiro público.
Em Le champ scientifique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, Pierre Bourdieu
(1983) ao falar do campo científico, assinala que os cientistas impõem a vitória da ciência
335
quando estão à frente das grandes burocracias científicas providas muitas vezes por
créditos. Sob esse aspecto e levando em consideração o respaldo da FAPESP, pode-se
atribuir uma vitória científica da Comunicação?
Se aceitamos que a Comunicação, entendida como ciência, exerce uma grande influência em
nossa vida cotidiana e na vida social, me parece que qualquer instituição ou agência que
fomente as pesquisas nessa área estão dando uma contribuição efetiva para fortalecê-la. Mais
do que vitória, diria que é um reconhecimento de sua importância social. Prefiro olhar desde
este ponto de vista e entender que se a Fapesp é mantida com dinheiro público, ela dar espaço
para que se financiem as pesquisas de Comunicação está contribuindo com sua função social.
Nunca é demais lembrar que a ciência tem sido a responsável pelas transformações sociais e
tecnológicas da sociedade, transformações essas que não poderiam excluir a Comunicação por
ser uma ciência. Em função disso, considero sim muito importante, ter instituições que se
colocam de maneira tão clara e rigorosa na aplicação do dinheiro público. Nesse sentido, a
comunicação aumenta mais sua credibilidade, algo discutido não faz muito tempo nas instâncias
como CNPq e Capes. Creio que hoje essa aceitação está cada vez menos questionada.
14 – Pleitear um fomento de pesquisa junto à FAPESP requer algo diferenciado do
orientador e do orientando na formulação do projeto a ser analisado? Como o senhor
prepara seus orientandos para requerer apoio da Fundação?
Respondendo à primeira parte da pergunta creio que sim, principalmente, tomar os cuidados
básicos como alinhar a produção do orientador numa determinada linha de pesquisa, tentar
publicar nessa área de pesquisa, participar de pós-graduação sempre que possível, em suma,
cuidar do currículo e dar um norte ao que se pesquisa e se pretende orientar. Já por parte do
aluno, é fundamental ter boas notas, ter concluído pelo menos o primeiro ano e ter cursado
disciplinas importantes do curso no qual se encontra. Preferencialmente ter já participado de
eventos e apresentado trabalhos, fazer parte de um grupo de pesquisa, ou seja, mostrar
envolvimento em atividades relacionadas com a pesquisa. Ambos, orientador e orientando,
devem tentar formular um tema relevante para a área em que atua, e de preferência, que seja
inovador e desafiador, que traga elementos novos para a área.
Já com relação à segunda parte, te direi que o processo é longo. Não me recordo de ter enviado
um projeto para a Fapesp que não tenha levado mais de um ano de preparação. O normal é que
ultrapasse esse tempo. Meu procedimento é, mais ou menos, o seguinte: na sala de aula lanço a
336
ideia de poder elaborar e desenvolver uma pesquisa e tento mostrar o quanto isso é relevante
para a formação e sobre a possibilidade de trazer conteúdos novos que não estudariam na sala
por não estarem contemplados nas grades curriculares. Quem estiver interessado, me procura e
depois de vários encontros e levantamentos, definimos o tema. Essa é a parte mais complicada
na qual deve se investir tempo mesmo. O tema já é a síntese do que será o projeto. Definido o
tema, seguimos os passos de elaboração de qualquer projeto: justificativa, estado da arte das
pesquisas em relação ao tema escolhido, formulação de objetivos e de perguntas de pesquisa,
escolha da metodologia e elaboração do cronograma. Nessa trajetória toda, realizamos
encontros onde discutimos, individualmente, as leituras feitas no intuito de selecionar aquelas
que serão as utilizadas na escolha da bibliografia que sustentará o projeto e lhe dará um caráter
científico. Enquanto orientador, procuro mostrar que o projeto tem que ser uno e que deve ter
coerência desde a introdução até o cronograma, além de delimitar bem o recorte e que seja
viável num ano de pesquisa. De forma bem resumida, esses são os passos que damos e sempre
quando volta o projeto enviado, com o parecer emitido pelo parecerista da Fapesp avaliar com
calma as propostas sugeridas, pois, sabemos que vem de uma leitura diferente e, via de regra,
alertam para pontos relevantes. Com isso, quero dizer que embora o projeto seja do orientando,
recebe avaliações importantes para aprimorar a sua execução dentro dos padrões de qualidade
esperados de uma agência de fomento, como é a Fapesp.
15 – Na Iniciação Científica, a metodologia mais adotada foi a Pesquisa Bibliográfica, em
29 ocasiões. Tenho defendido na tese que a pesquisa bibliográfica é um método inerente
ao trabalho do pesquisador, pois, não se faz pesquisa sem a leitura de referenciais teóricos.
Procede essa linha de pensamento?
Sim, procede tua observação, mas faria um alerta pelo menos. A pesquisa bibliográfica deve
ser feita desde uma ótica que privilegie a epistemologia, ou seja, a leitura crítica das obras
selecionadas na qual fique claro o que denominamos de estado da arte. O que seria isso?
Basicamente compreender até onde os autores foram nas suas obras e como a tua proposta pode
ajudar a alargar a compreensão do tema, contribuindo para o esclarecimento do tema em
questão. Me parece que, seguindo esse critério, não só é necessário fazer a pesquisa
bibliográfica como a considero importante para justificar a pesquisa que será feita.
337
16 – Ainda sobre Metodologia, as bolsas de Mestrado nos revelam a tentativa de validação
da Semiótica como recurso metodológico além das aparições de Etnografia Virtual e
Netnografia como opções que sinalizam algo contemporâneo. De que modo o senhor
qualifica, hoje, as metodologias da Pesquisa em Comunicação?
Como já te falei, o tema escolhido já pressupõe um caminho metodológico específico. O projeto
é uno e não pode se colocar uma metodologia que não te sirva para chegar a uma resposta
convincente do problema lançado. Veja, por exemplo: se quer saber a linha editorial de um
jornal, terá que ler os editoriais e usar um método que considere apropriado (análise de
conteúdo, análise do discurso...), mas não poderá faltar a entrevista com os editores, portanto,
outro método. Assim, em função do tema, são necessários mais de um método para apresentar
uma resposta forte ao problema levantado. A metodologia é o caminho ideal para levar ao bom
termo a pesquisa realizada, portanto, ela deve estar subordinada ao objetivo final da pesquisa.
17 – Tem sido latente nos dados quantitativos obtidos junto à Biblioteca Virtual da
FAPESP, que é a base de dados para a nossa pesquisa, o alto índice do uso de bibliografia
estrangeira e a pouca adoção de autores brasileiros. Porém, quando olhamos para as
informações sobre o Mestrado, as referências mais citadas com igualdade de ocasiões
(três) são Lúcia Santaella, Jacques Lacan e Mikhail Bakthin. Por que ainda valorizamos
a literatura estrangeira? Mas diante dos três autores referenciados nessa pergunta, como
estimular o pesquisador a olhar para o que se produz no Brasil?
Veja, vou me utilizar de um autor que tem combatido sistematicamente essa afirmação que me
oferece: Boaventura de Souza Santos. Ele alerta nas suas obras, entre muitos assuntos, sobre o
colonialismo que seria uma metáfora para explicar esse fascínio que temos de pensar que o que
está fora, ou o que se faz fora, é sempre mais importante do que temos ou fazemos aqui.
Particularmente, sou muito crítico em relação a esse tipo de procedimento de colocar obras de
fora nos textos. Reconheço que, devemos sim, estudar e saber o que eles fazem e pegar,
inclusive, procedimentos que ajudem no esclarecimento de nossas pesquisas, mas, sempre
pensando que nossa realidade tem particularidades e nuances que não se solucionam copiando
respostas de fora, e sim, dando valor aos que já estudaram o tema dentro do nosso país seguindo
uma metodologia e preocupação em responder as nossas necessidades. No fundo, isso nos leva
a uma questão epistemológica, e talvez, deveríamos voltar a ler com mais calma e atenção aos
autores nossos, e como fala Boaventura, seguir as epistemologias do Sul. Não tenho
338
constrangimento nenhum em afirmar que, inclusive, nossos teóricos formulam questões,
elaboram teorias tão ou mais relevante das que encontramos fora.
339
Anexo E – Entrevista Profa. Dra. Esther Império Hamburger (FAPESP)
1 - Professora, a gente percebe uma questão da crise econômica, cortes nas Ciências. Os
noticiários dão conta da redução da ordem de 10%, em 2015. A gente teve também aquela
questão da Lei Orçamentária, que houve uma tentativa de redução de repasse pra
FAPESP, que houve toda uma mobilização da classe. A gente percebe, pelo relatório de
2016, alguma melhora. A própria FAPESP fala em reajuste de bolsa. Os números, já
comparando o relatório nestes oito meses de 2017 até agosto que são os dados atualizados,
parecem positivos. E o professor José Marques de Melo fala que a Comunicação é a prima
pobre das Ciências Sociais. Que panorama nós estamos comparando a produção e a
situação conjuntural do país?
- Bom, primeira coisa que eu vou te falar é o seguinte [...] eu trabalho na coordenação de área
da Fapesp e isso não me qualifica para falar em nome da Fapesp. Eu vou falar as minhas
impressões iniciais. Eu comecei nessa posição, em março de 2016. Então, faz um ano e meio.
Isso, em termos de Fapesp, é pouquíssimo. E eu vejo que realmente é pouco. Todo dia eu estou
aprendendo ainda. Casos novos surgem todos os dias (risos). Coisas que eu não sei. São
respostas que tenho que perguntar para pessoas que estão lá, há mais tempo, porque é muito
complexo, tudo lá. Eu acho a Fapesp uma instituição interessantíssima. Eu acho que é um
modelo, num certo sentido, porque ela tem uma certa salvaguarda em relação às crises porque
ela teve alguns visionários paulistas que puseram, na Constituição do estado, ainda nos anos
1950, que uma porcentagem da arrecadação do estado vai para essa fundação que, portanto, tem
uma dose de autonomia muito interessante, né? Eu acho que todas essas crises que a gente tá
tendo [...] Hoje fui assistir o diretor da escola de Jornalismo da Columbia University. Eu fui
hoje assistir uma palestra dele e ele tava falando que as instituições estão em crise no mundo
inteiro. Não é só no Brasil que tem só essa crise de corrupção. As pessoas estão descrentes das
instituições em geral. E eu acho que nesse quadro, a Fapesp tem um modelo interessante que é
esse de que a instituição é pública, mas, ela tem autonomia, né? E essa salvaguarda é... permite
que o Estado de São Paulo tenha uma estrutura de financiamento à pesquisa relativamente
autônoma.
340
2 - Até surgir e criar a FAPESP foi uma grande briga política, né?
- Primeiro criaram...tava lá na Constituição. Até instalarem, demorou um tempão. E o pessoal
das Ciências Biológicas é muito forte e as Ciências Exatas, as Ciências da Vida, como eles
chamam, enfim, eles lideraram esse processo e as Humanas, em geral, são menores né? E as
Comunicações dentro das Humanas são menores ainda, que é uma área muito recente, né? É
uma área recente na academia em geral...na universidade, na pesquisa...no mundo. E aqui mais
ainda. Eu acho que se o Marques define a Comunicação como prima pobre, eu acho que,
concordo com ele, e acho que muito se deve como a área se vê. Você vê que, pela primeira vez,
a avalição da Capes classifica um programa na área com nota 7 (UFRJ). Isso, para mim, diz
muito, sabe? Porque as classificações são relativas. Você achar que você não tem nenhum
programa nota 7. E as revistas? A maioria delas é B1.
3 - Nós não temos ainda nota 7, né?
Temos agora.
4 - Qual é?
A UFRJ.
5 - Ah, é que eu coloquei só o Estado de São Paulo.
Acabou de subir. É...
6 - São Paulo, no máximo, é 6!
É! Então eu acho que tem muito a ver como a área se vê. E eu acho que há uma perversidade
muito grande nessa autoimagem porque é como se a área achasse que para deixar de ser prima
pobre, ela precisasse se elaborar, sociologicamente ou filosoficamente, deixando de lado a
dimensão de realização que, a meu ver, é inerente na área. Você, como jornalista, que trabalha
todo dia com jornalista, é como se você não prestasse atenção a esse trabalho. É o cerne da sua
profissão e fosse só pensar na teoria. Numa teoria que vem entre aspas. A formação da área não
é na teoria. Ciências Humanas e Sociais têm séculos de formação e instituição e de programas.
Eu acho que a Área, às vezes, despreza o que é principal nela. Que eu acho que faz parte de se
341
ver como prima pobre. Desprezar o que é inerente a ela, que não tem em nenhuma outra. Eu
tenho uma formação peculiar porque eu vim das Ciências Sociais. Muita gente da área da
Comunicação vem de outros lugares. Aqui, estamos no Departamento de Cinema, Rádio e
Televisão. Tenho colegas arquitetos, historiadores, engenheiros, economistas, então, enfim,
como recebe gente que vem de diversas áreas e o desafio é justamente trazer essa bagagem das
outras áreas pro que é especifico da área, no caso, aqui do meu trabalho, são as imagens em
movimento com som.
7 - É o olhar da Comunicação?
Eu acho que eu sinto essa falta dessa ... um desprezo pela técnica, como se o fazer da área, é
um desprezo com o fazer. Como se ele fosse menos nobre...o trabalho... é o trabalho na verdade.
Eu acho que a área precisa se valorizar nesse sentido. Valorizar o seu trabalho. Isso é que está
no centro do mundo hoje. Longe de mim desvalorizar teoria porque eu tenho formação mais
teórica. Só que eu não vejo a teoria como dissociada da prática e não desprezo o fazer, nenhum
tipo de fazer. Ao contrário!
8 - Esse olhar a senhora leva pra FAPESP também?
- Lá na FAPESP, eu não sou só da área de Comunicações. A Fapesp funciona assim: tem uma
coordenação de áreas. Como eu, os coordenadores vão lá uma vez por semana. Eu estou dentro
da área de Ciências Sociais e Humanidades, CHS II. Sou o CHS II. CHS II é Artes,
Comunicações, Ciências da Informação, Museologia, Literatura e Linguística. As
comunicações, talvez, sejam quem pede menos. A minha impressão é essa. Foi uma surpresa,
para mim, ver como as artes pedem muito. E na FAPESP, o ganho está relacionado ao pedido.
É uma proporção do que é pedido. Nós nunca vamos ganhar mais, se a gente não pedir mais.
9 - Se a própria Área não se organiza, se vê como prima pobre, ela não vai pedir, né?
- E também eu acho que é um paradoxo. Ao mesmo tempo em que a área despreza o fazer,
muita gente na Área está fazendo, então, não vai pedir bolsa porque está trabalhando. Então, é
uma negação da realidade.
342
10 - Sobre esse fato da Comunicação pedir menos. Quando pede, o que se avalia? Custo?
Investimento? Já que a FAPESP tem essa autonomia.
- A FAPESP tem autonomia, mas não está fora do mundo. A arrecadação do estado diminuiu.
Eu já peguei uma época de vacas magras, que é muito difícil. Houve, sim, redução. A FAPESP
tem política que honra todos os compromissos que assumiu. Isso significa que ela distribui, este
ano, um número de bolsas pensando numa determinada receita. Se a receita cai, ela não vai
deixar de pagar aquelas bolsas, mas significa que as bolsas do ano seguinte são menores. Você
vai distribuir menos bolsas para compensar o que gastou pouco mais. Eu peguei essa fase de
vacas magras, o que é muito difícil. A FAPESP ainda gasta com bolsas uma porcentagem maior
do que outras instituições parecidas em outros lugares do mundo gastam. A FAPESP é muito
interessante como modelo de gestão porque ela se relaciona com seus pares, no mundo, sabe se
posicionar em relação a eles. É impressionante como existe um saber comparativo e que busca
esse “oso” das suas especificidades, ciente das suas especificidades. Ao mesmo tempo, está se
pensando em relação. Então, a FAPESP dá mais bolsas que outras instituições similares do
mundo, embora ela tenha diminuído o número de bolsas recentemente. Essa diminuição torna
o trabalho de quem está decidindo muito penoso porque assim você vê que as pessoas ... o nível
dos pedidos aumenta muito. E cada vez mais competitivo, né? Inclusive porque as pessoas têm
acesso em geral, recebe bem as críticas que os pareceristas fazem, né? E refazem seus projetos.
Então, eles vão melhorando. E as pessoas, enfim, com essa onda de publicação, cobrança de
produtivismo... as pessoas tão produzindo, tão publicando muito. Isso eu acho que não é só na
nossa área. É em geral. O nível está melhorando muito. Só que as Áreas têm, mais ou menos
bolsas, com a proporção de pedidos. E a gente não tem a decisão final. A coordenação de Área
faz uma recomendação e a decisão se dá. Tem um nível acima que se chama CAD de 3
professores e, acima dele,s a diretoria cientifica. E muitas vezes, a gente vê que, o que estamos
recomendando, não vinga. A gente tem a visão da CHS II, mas, eles veem a CHS inteira, mas
de repente, tem alguém de Arquitetura, com um projeto sensacional, que não foi contemplado
e quem foi contemplado, na do CHS II, é menos que aquele. Então eles têm essa visão.
11 - Mas sempre preocupados com o conhecimento?
Sim, claro! A gente compara entre a gente, quer dizer, da área das Artes, com Letras,
Linguística, Comunicação, Ciência da Informação e Museologia. E eles têm uma visão mais
343
ampla. E, às vezes, se tem um projeto super bom, de uma pessoa super boa que não ganhou
porque aquela área está mais competitiva. Então, eles redistribuem.
12 - Então, pode ocorrer da pessoa da Comunicação ter um belíssimo projeto, mas nessa
decisão porque a Comunicação também não demanda tanto, ocorrer de perder por conta
disso num critério, né?
Que, em geral, eles têm lá uma gradação de critérios. Então, tem a qualidade do projeto,
histórico acadêmico do candidato, histórico acadêmico do orientador. Tudo isso conta. São os
critérios. Às vezes, tem uma coisa que chama atenção e a proposta é boa em todos os quesitos
e ela derruba de outra área.
13 - Como é a que a senhora vê a Comunicação? Tem a questão do impasse conceitual.
Há quem defenda como campo, há quem defenda como Ciência. Eu já ouvi pessoas
dizerem, por exemplo, que o campo vem muito ligado do Bourdieu, aí a pessoa acha que
não é uma luta, por isso, não faz sentido o que o Bourdieu fala. Outros têm essa visão
muito presente. Questão da Ciência, o papel da FAPESP nisso, nessa legitimação?
- Eu acho que parte dessa questão do “prima pobre” é essa discussão da definição né? É difícil
a gente definir uma disciplina que está, em permanente transformação, e está no centro das
transformações que o mundo tá vivendo. Eu acho que as mídias digitais, a gente, enfim, o rádio,
a imprensa, a televisão, o cinema já foram introduzindo elementos na vida social que nem
sempre foram contemplados pelo pensamento das ciências sociais. Foram muito desprezados,
inclusive, por Bourdieu, que escreveu um livro sobre televisão e que, a meu ver, contradiz todo
o pensamento dele. Então, ao mesmo tempo que esses meios estão sendo reconhecidos centrais,
em outros campos do saber, nas Artes, na Economia, nas Ciências Sociais, na Filosofia, né, ao
mesmo tempo que isso acontece, você tem uma dificuldade de definição do coração da
disciplina, na própria área. Esse paradoxo que a gente vive e ele se dá em regiões diferentes. Eu
estou mais ligada, atualmente, nas imagens em movimento pelo que eu faço aqui. Estou ligada
nessa discussão, que é uma discussão que nasce a partir dos estudos de cinema. Que nasce, nos
EUA, nos departamentos de literatura inglesa, mas, na França, na Inglaterra, é diferente. Enfim,
tem uma heterogeneidade grande na institucionalização dessa disciplina, no caso, os estudos de
cinema definiram pelo objeto cinema. Só que objeto hoje está em questão porque as mídias
digitais, a televisão, e depois, as mídias digitais ameaçam a existência do cinema como a gente
344
conhece hoje. No entanto, toda a acumulação conceitual que esses estudos fizeram se mantém
como a única base num mundo em que os objetos vão se transformando. Talvez não seja o
objeto a melhor ancora para o conhecimento né? Eu acho que a gente vive um momento muito
interessante que pode ser bastante produtivo porque de alguma maneira a Área está no centro
das preocupações mundiais e, ao mesmo tempo, a disciplina continua se debater sobre sua
delimitação, né? Então, isso que você falou ... os meios não são a âncora toda. O objeto não é
uma âncora boa e o meio também não é uma âncora boa. Talvez a melhor âncora seja a
conceitual.
14 - Sobre isso, eu estou discutindo na tese. Pelo menos eu tenho a seguinte visão: quando
eu estou falando do impasse conceitual, a Comunicação deveria se impor – que vai chegar
nisso que a senhora está falando sobre a centralidade de hoje – como uma necessidade
primeira de todos os outros campos. Quando a gente vê interdisciplinaridade, a senhora
falou bem, outro campo vê melhor. Então, quando a Biologia vê a célula, por exemplo,
como princípio comunicador, ela vai pedir fomento na Área de Comunicação estudando
a célula como princípio comunicador. As células se comunicam. Mas eu acho que essa
questão das âncoras, a Comunicação perde a chance de se colocar como necessidade
primeira em outras instâncias. Não só assim, a Biologia vem tomar de empréstimo a
Comunicação pela comunicação das células. Mas, a Comunicação é importante. É
importante entre os pares dela. Se não houver a comunicação num sentido mais clássico
de transmissão, ela é necessária nos outros campos. Não sei se estou certo ou não.
- Sim. Você pode pensar assim. Se você pensar assim, cada campo já pensou nisso e conceituou
isso, de alguma maneira, porque a interação entre as células é um tema da Biologia. Então, pode
não ter chamado Comunicação, mas, eu acho que a gente tem um problema hoje em dia. Não
somos nós, no Brasil, na FAPESP. É no mundo. As disciplinas não podem se tornar redutos
que congelem o pensamento, entendeu? Eu acho que as fronteiras entre as disciplinas, como as
fronteiras entre as Artes, elas estão questionadas pelas coisas que estão acontecendo no mundo.
E a produção compartilhada de conhecimento deve reconhecer que a transdisciplinaridade pode
ser muito interessante para se entender o mundo de hoje.
15 - Aliás, o próprio Morin fala que se a Ciência não fosse transdisciplinar, ela não teria
ocorrido.
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O próprio Morin é um transdisciplinar por excelência. Ele está na raiz do cinema moderno (...)
Eu acho que essa abertura dele tá muito presente aí e ele é muito visionário nesse sentido. E é
uma preocupação que eu tenho bastante como pessoa que transita entre disciplinas. Eu não
gosto de pensar disciplina como um campo limitador, entendeu? Delimitador. Eu acho que,
muitas vezes, a discussão intelectual se fixa em questões que não são tão interessantes.
Importante são as ideias mais do que a filiação disciplinar delas. Os desafios que o mundo
coloca são agudos e urgentes. Um senso de urgência, em mim, o que não quer dizer...eu acho a
pesquisa teórica interessantíssima...eu acho que o mundo sugere coisas pra gente, né? E a gente
tem que se posicionar no mundo a tentar conduzir para onde a gente acha que ele deve ir. Eu
acho que é muito rico a gente se abrir para outras disciplinas nesse sentido.
16 - Daqueles pesquisadores que eu disse, quem tem mais sentido é quem está falando na
necessidade de se abrir às demandas novas? Não se fechar, né, como outra pessoa está
falando?
- Eu acho que são essas demandas novas que colocam a disciplina no centro do mundo. É
estratégico hoje em dia.
17 - Teríamos aí a Revolução Científica do Thomas Kuhn?
- Ah, não sei. Eu acho que a gente tem um momento muito difícil. Ao mesmo tempo que a gente
tem um avanço cientifico grande, e ao mesmo tempo, que se reconhece que o conhecimento tá
no centro do mundo e das economias né? Enfim, os poderes desiguais ainda são e estão
beligerantes. O Steve Call, diretor de Jornalismo da Universidade de Columbia, contou que o
presidente da Comissão Internacional do Congresso Americano chamou um jornalista do New
York Times, para dar uma entrevista, para dizer que o presidente americano está levando o país
pra terceira guerra mundial. Então, você vê que situação a gente se encontra. E é interessante
que ele chamou jornalista... um jornal que vai publicar aqui...tem uma importância do
Jornalismo que não é pequena.
18 - É a questão do olhar o que se faz, né?
- Exatamente. Volta a isso.
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19 - Por falar no que se faz, eu tenho percebido pelos resultados e ia perguntar o que você
acha disso. Tem encaminhamentos para algumas situações, por exemplo: a gente consegue
ver muito claramente que a PUC-SP é extremamente Semiótica. E aí eu queria saber o
que você acha nesse sentido de os Programas de repente – eu estou buscando a História
da Comunicação através da FAPESP – será que não seria interessante os Programas
reverem suas histórias de produção e nesse sentido observarem para onde eles caminham,
o que eles têm observado em pesquisas? Por exemplo, a PUC em Semiótica, eu sei que
muitos criticam por ser Semiótica...Semiótica. Mas pensando em todas as questões de
fronteiras, que nós falamos aqui, não consegue formar um conhecimento melhor, mais
apurado que vai dar uma densidade futura pra Área?
- A diretora de avalição, Rita Barata, da Capes, esteve aqui na USP há 3 semanas atrás ou 2
semanas atrás e uma das coisas que ela falou, eu achei interessantíssima. Ela está pensando no
futuro, o que seria bom mudar no sistema de pós-graduação. E uma das coisas que ela falou é
que os programas procuram ser iguais...eles têm as mesmas disciplinas... isso não é uma coisa
boa. Eu acho ótimo que a PUC seja Semiótica. Eu acho que é bom as pessoas terem opção de
fazer programa com uma ênfase em Semiótica. Não quer dizer que os outros programas não
devem ter. A gente tem aqui, no nosso Programa, quem trabalha com Semiótica. É bom,
enriquece nosso programa, mas, isso não quer dizer que não seja interessante se ter um
programa que tenha ênfase bem definida.
Na FAPESP, a gente não está avaliando Programa. A gente avalia projetos. Então, eu acho
interessante essas diferenças. Por exemplo, aqui, a nossa tradição é nos estudos de cinema.
Nesse departamento se fez muito da história do cinema brasileiro...Paulo Emílio Soares
Gomes...Jean Claude Bernadett...Ismail Xavier... Arlindo Machado com cinema, pré-
cinema...pós-cinema..televisão. Aqui, a gente está pensando isso. Ao mesmo tempo em que é
uma concentração muito importante no nosso programa, a história do cinema, a gente não pode
ficar parado nele. A gente está pensando também essa redefinição do campo de estudos de
cinema na medida em que você tem as mídias digitais e as imagens em movimento estão
ganhando o mundo... as telas né? A tela, que era tela do cinema, daí se diversificou na tela da
televisão, hoje em dia, você está num mundo de telas.
20 - Eu percebo muito nos temas, por exemplo, das pesquisas da FAPESP e eu fico feliz
porque acho que não estou pensando tão errado porque você falou que é importante isso.
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O Jornalismo praticamente é o carro-chefe das pesquisas na FAPESP. Aí a gente pega as
temáticas e vem: Jornalismo Impresso...Jornalismo Televisivo...Jornalismo
Cultural...Jornalismo Digital...Ciberjornalismo. A gente está colocando as temáticas do
Jornalismo e não estamos pensando o Jornalismo como um todo. Aí voltamos à questão
do fazer. Nós não estamos pensando como o Jornalismo está transformado desde o
princípio da imprensa, hoje com a questão do colaborativo...do digital.
- Qualquer um faz Jornalismo...vai lá na manifestação, filma e coloca na rede. Agora, o Steve
Call estava falando que ele acha porque houve, nos EUA, um momento em que se verificou
uma crise muito grande do Jornalismo. Quase que se achou que o Jornalismo estava acabando
porque cada um é sua própria agência de notícias no limite. Agora, esse escândalo das Fake
News e o impacto disso, nas eleições americanas, levaram as pessoas a valorizar o Jornalismo.
Agora é interessante que, nos EUA, o índice de confiabilidade...as pessoas não confiam no
Jornalismo lá...aqui, confiam ainda... aqui é uma das poucas instituições que as pessoas
continuam a confiar, mas lá o Jornalismo é uma atividade de pós-graduação. Essa escola é de
pós-graduação. Aqui, o jornalismo ainda existe uma disputa corporativa e ainda se menospreza
a formação humanista, eu acho da pessoa que vai se tornar um profissional de jornalismo. E
não se valoriza a questão do jornalismo propriamente dita.
21 - Nos projetos hoje que são poucos que você disse que a Área pede. Por onde transitam
os pedidos? É digital? É teoria?
- Tem muita coisa digital nos projetos hoje. Mas eu não sei, você sabe melhor do que eu. Olha
só o meu trabalho: eu recebo o projeto, identifico o projeto, envio para um parecerista. Recebo
de volta e recomendo ou não. Mas, não decido e, depois disso, ele some da minha visão. Eu não
tenho, eu não sei mais. Ele desparece. Eu não tenho mais acesso a ele. Eu não sei dizer se ele
foi aprovado... se não foi aprovado. Claro que alguns voltam com relatório, mas não tenho
registro para saber quem não foi aprovado, entendeu? Então o que eu estou te falando é
impressionista.
22 - Bom, pra gente encerrar, você falou a questão dos resumos que a gente tem carência.
Quando eu fui buscar os dados na Biblioteca Virtual, por exemplo, alguns dados
informam metodologia, informam alguns autores, informam objetivo, outros não. Outros
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sequer têm resumo. Isso pode ser uma falha do pesquisador ou uma falha de transição de
sistema.
- Sem resumo, eu nunca vi. Sem resumo, é falha do sistema. Todo projeto tem resumo. Isso é
falha de sistema. Acho que você pode até mandar um Converse com a FAPESP que eu acho
que você vai contribuir. Resumo é obrigatório.
23 - Mas o pesquisador pode falhar na prestação de informação, no que consta ali na
Biblioteca Virtual?
Pode falhar no que ele informa no resumo. E como resumo não determina se ele vai ganhar ou
não vai ganhar o financiamento, o que vai para a Biblioteca Virtual é o resumo que ele fez. Às
vezes, o resumo que ele fez não expressa o projeto dele. Eu acho o seguinte. Tanto em relação
a resumo, tanto em relação a projetos propriamente ditos, em geral, seja pra bolsa, seja pra
auxilio pesquisa, seja pra projeto temático, seja pra projeto de pós-doc, é importante que o
projeto expresse uma inquietação que signifique uma pergunta sobre a qual você não sabe a
resposta. Você pode até achar que existe a possibilidade de que a resposta seja tal e tal, mas
isso não significa que a resposta seja aquela. Então, eu acho que é uma primeira questão. O
projeto tem que ter uma pergunta. Ele tem que ter uma aproximação conceitual que você
entenda em que terreno que ela está se movimentando e como não se espera que um projeto
tenha como produto um livro ou... não é isso que se espera... tantos artigos... o que interessa é
em que aquele projeto vai transformar aquele conhecimento que existe hoje sobre aquele
problema. Então, quando se fala em resultados, não se pensa assim: eu quero fazer um livro.
Não é isso que importa. Importa é o seguinte: o que quer discutir essa questão porque acho que
ela vai levar esse campo do saber se mover daqui pra lá. Então, o resumo deveria expressar
essas questões. O que vai se estudar, como vai se estudar, qual é a pergunta. Mas não é isso que
a gente encontra nos resumos. E às vezes, é um exercício interessante caprichar no resumo. Já
sintetiza né? Você consegue sintetizar.