Upload
letram
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO E DA REGIÃODO PANTANAL – UNIDERP
FABRÍCIO DA COSTA CERVIERI
IDENTIFICAÇÃO DE AMEAÇAS AO FUTURO DAS EXPORTAÇÕES DACARNE BOVINA BRASILEIRA
CAMPO GRANDE – MS2005
FABRÍCIO DA COSTA CERVIERI
IDENTIFICAÇÃO DE AMEAÇAS AO FUTURO DAS EXPORTAÇÕES DACARNE BOVINA BRASILEIRA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em nível de MestradoProfissionalizante em Produção e GestãoAgroindustrial da Universidade para oDesenvolvimento do Estado e da Região doPantanal, como parte dos requisitos para aobtenção do título de Mestre em Produção eGestão Agroindustrial.
Orientação:Prof. Dr. Luiz Eustáquio Lopes PinheiroProf. Dr. Francisco de Assis Rolim PereiraProfa. Dra. Iandara Schettert Silva
CAMPO GRANDE – MS2005
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UNIDERP
Cervieri, Fabrício da Costa. Identificação de ameaças ao futuro das exportações da carne bovina brasileira /
Fabrício da Costa Cervieri. -- Campo Grande, 2005. 85 f. : il. color.
Dissertação (mestrado) - Universidade para o Desenvolvimentodo Estado e da Região do Pantanal, 2005.
“Orientação: Prof. Dr. Luiz Eustáquio Lopes Pinheiro”.
1. Carne bovina 2. Cadeia produtiva 3. Comérciointernacional
4. Comunicação empresarial I. Título.
CDD 21.ed. 338.176213 658.848
C419i
FOLHA DE APROVAÇÃO
Candidato: Fabrício da Costa Cervieri
Dissertação defendida e aprovada em 2 de junho de 2005 pela Banca Examinadora:
__________________________________________________________Prof. Doutor Luiz Eustáquio Lopes Pinheiro (Orientador)
__________________________________________________________Prof. Doutor José Bento Sterman Ferraz (USP)
__________________________________________________________Prof. Doutor Francisco de Assis Rolim Pereira (UNIDERP)
_________________________________________________Prof. Doutor Francisco de Assis Rolim PereiraCoordenador do Programa de Pós-Graduação
em Produção e Gestão Agroindustrial
________________________________________________Profa. Doutora Lúcia Salsa Corrêa
Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIDERP
ii
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha esposa Éllen peloesforço, dedicação, muita paciência e por ter me feitochegar onde estou com palavras de incentivo.
Aos meus familiares que sempre trataram comcarinho e compreensão a minha ausência.
iii
AGRADECIMENTOS
Toda a realização deste trabalho só foi possível graças à colaboração
direta e indireta de muitas pessoas. Manifesto minha gratidão a todas elas e, de
forma especial:
a Deus, pelas oportunidades de crescimento intelectual e moral, e de
provar do seu amor sublime, junto aos companheiros dessa jornada;
ao Prof. Dr. Luiz Eustáquio Lopes Pinheiro, da Universidade para o
Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), pela
contribuição na organização das informações no texto desta pesquisa, pela
orientação e pela amizade;
ao Prof. Dr. Eron Brum, da Universidade para Desenvolvimento do Estado
e da Região do Pantanal (UNIDERP), que colaborou de forma fundamental para
conclusão desta pesquisa;
ao Prof. Dr. Lucas Augusto Soeiro Pinheiro, ex-Professor da
Universidade para Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal
(UNIDERP), que acreditou na minha pesquisa e apoiou na realização da mesma;
às funcionárias da Coordenação do Mestrado da Universidade para
Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), pelo carinho e
presteza com que sempre fui tratado;
a Universidade para Desenvolvimento do Estado e da Região doPantanal (UNIDERP), pelo oferecimento do mestrado na modalidade
profissionalizante que propiciou a nós, profissionais da área, a possibilidade de
aperfeiçoamento com maior rapidez.
iv
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS.............................................................................. vi
LISTA DE TABELAS ............................................................................... viI
LISTA DE FIGURAS................................................................................
RESUMO.................................................................................................
VIII
IX
ABSTRACT.............................................................................................. x
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS........................................................ 11
1.1 Contextualização................................................................................ 11
1.2 A estrutura do estudo de caso e seu embasamento......................... 14
1.3 A estrutura deste estudo de caso...................................................... 17
2 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................... 18
3 MARCO TEÓRICO.................................................................................. 20
3.1 A cadeia de produção agroindustrial.................................................. 20
3.2 A cadeia produtiva da carne bovina brasileira................................... 22
3.3 Planejamento Estratégico (PE).......................................................... 25
3.3.1 O Diagnóstico Estratégico........................................................... 30
3.4 Agronegócio, globalização, visão sistêmica e comunicaçãoempresarial......................................................................................... 32
3.5 Conceituando logística....................................................................... 36
3.6 Definindo qualidade e suas características....................................... 41
3.7 Os ambientes..................................................................................... 45
3.8 Ambiente institucional........................................................................ 46
v
3.8.1 O comércio internacional............................................................. 46
3.8.2 O segmento macroeconômico.................................................... 52
3.8.3 A legislação sanitária e ambiental............................................... 54
3.8.4 Inspeção Federal......................................................................... 55
3.8.5 Os insumos................................................................................. 56
3.8.6 A pecuária................................................................................... 56
3.8.7 O setor de abate.......................................................................... 57
3.8.8 Inovação tecnológica.................................................................. 61
3.8.9 A coordenação da cadeia produtiva............................................ 61
3.9 Ambiente organizacional.................................................................... 63
4 ANÁLISE SITUACIONAL......................................................................... 66
4.1 A ausência de visão sistêmica e comunicação empresarial.............. 66
4.2 A ameaça logística............................................................................. 70
4.3 A questão da qualidade..................................................................... 75
5 COMENTÁRIOS FINAIS.......................................................................... 79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 81
vi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Vantagens dos agentes da cadeia da carne bovina com oestabelecimento de alianças mercadológicas........................... 65
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Cotação da carne bovina brasileira exportada X cotação do boigordo paulista...................................................................... 64
Tabela 2 Custo logístico operacional total................................................ 73
Tabela 3 Transporte de cargas no Brasil.................................................. 73
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 A cadeia de produção agroindustrial da carne bovina no Brasil. 23
Figura 2 Processo Global de estabelecimento e implementação dasestratégias empresariais............................................................. 26
Figura 3 Etapas do planejamento estratégico........................................... 29
Figura 4 Contexto onde a estratégia competitiva é formulada.................. 31
Figura 5 Sistema logístico......................................................................... 40
Figura 6 Carne bovina: proteção de fronteira............................................ 48
Figura 7 Restrições nos 20 maiores importadores de carne in natura...... 49
Figura 8 Maiores exportadores de carne bovina....................................... 50
Figura 9 Exportações brasileiras de carne bovina..................................... 51
Figura 10 Balanço da carne bovina brasileira............................................. 51
Figura 11 Principais destinos das exportações de carne bovina brasileira. 52
Figura 12 Representação esquemática referente ao processo deimplantação da zona livre de febre aftosa com vacinação noBrasil............................................................................................ 60
Figura 13 Densidade de ferrovias Km / Km2 .............................................. 74
ix
RESUMO
Este estudo de caso evidencia a importância das exportações para toda a cadeia
produtiva da carne bovina brasileira. Retificou-se que existem sérias e variadas
ameaças, as quais podem levar os consumidores internacionais a substituírem a
carne bovina brasileira pela de algum outro país concorrente. Neste sentido, a
identificação dessas ameaças possibilitou adquirir a isenta compreensão dos
cenários internos e externos. Entre estas, vale destacar: a ausência de visão
sistêmica; a deficiente comunicação empresarial; as dificuldades no âmbito da
logística; e os problemas relacionados com a qualidade, de processos e de
produtos. Após a devida definição destes dificultadores traçou-se um ambiente
situacional, onde se identificou o porquê destes pontos serem ameaças ao futuro
exportador desta cadeia produtiva. A ausência de visão sistêmica e comunicação
empresarial não permitem ações coordenadas que envolvam todos os elos da
cadeia, dificultando a identificação e a implementação de soluções de problemas,
como, por exemplo, a erradicação da febre aftosa. Já as dificuldades logísticas
estão relacionadas a deficiências nos transportes e no armazenamento,
provocando, inclusive, atrasos no cumprimento de contratos. Por fim, os
problemas de qualidade estão ligados à falta de programas específicos para os
produtos, incluindo a padronização de procedimentos e de características
intrínsecas à carne, que permite a certificação e a conseqüente rastreabilidade da
carne bovina brasileira.
Palavras Chave: Cadeia produtiva. Visão sistêmica. Comunicação empresarial.
Logística. Qualidade.
x
ABSTRACT
This case study shows the importance of the exports for the whole bovine meat
productive chain and some of the current threats, which can contribute to the
substituition of the Brazilian bovine meat for the same product from some different
competitive countries. In this sense, the identification of those threats made
possible to acquire the exempt understanding of the internal and external
sceneries. Among these, it is worth to highlight: the absence of systemic vision;
the deficient business communication; the difficulties in the extent of the logistics;
and the problems related with the quality, of processes and of products. After the
due definition of these threats an atmosphere that shows the actual situation was
drawn, where was identified the reason of these points be threats to the exporter
future of this productive chain. The absence of systemic vision and business
communication don't allow introduction of coordinated actions that involve all of
the links into that chain, thus causing difficulties in the process to adopt elimination
of problems such as, for instance, the eradication of the Foot and Mouth Disease.
Also the logistic difficulties are related to deficiencies in the transports and in the
storage, provoking, besides, arrears in the execution of contracts. Finally, the
quality problems are linked to the lack of specific programs for the products,
including the standardization of procedures and of the intrinsic characteristics of
the meat, that allows the certification and the consequent traceability of the
Brazilian bovine meat.
Key words: Productive chain. Systemic vision. Business communication.
Logistics. Quality.
1 INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVAS
1.1 Contextualização
O Brasil de hoje vivencia a valorização das atividades e o devido
reconhecimento a respeito da importância do agronegócio na economia nacional,
destacando-se, principalmente, os efeitos benéficos sobre as exportações,
colaborando para gerar resultados superavitários na balança comercial. Para
exemplificar esta consideração, basta avaliar a pujança dos números. Segundo
Rosa (2005), considerando-se o segmento pecuário, no ano de 2004 as vendas
externas somaram aproximadamente 1,8 milhões de toneladas em equivalente
carcaça, com faturamento de 2,46 bilhões de dólares (aumento de 41% em
volume e 62% em receita comparando a 2003). O mesmo autor também destacou
que o preço da tonelada em equivalente carcaça exportada subiu, em dólares,
16% em relação a 2003 e a carteira brasileira de clientes passou de 106 para 143
países. Estimam-se volumes e receitas ainda maiores para o ano de 2005,
segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne - ABIEC
(2005).
Por sua vez, Nogueira (2005) salientou que o Produto Interno Bruto (PIB)
do agronegócio da carne bovina cresceu, no ano de 2004, apenas 0,4% em
relação a 2003, significando 3,7% do PIB total do Brasil. Outro dado relevante
destacado pelo autor, diz respeito ao fato de este segmento do agronegócio ser
responsável por 7,2 milhões de empregos diretos.
12
Com base em tais números, pode parecer que o agronegócio da carne
bovina brasileira é extremamente eficiente no tocante à produtividade e
competitividade, o que, infelizmente não reflete com clareza a realidade. O Brasil
chegou, inegavelmente, a resultados altamente expressivos, muito mais apoiado
em fatores como a economia de escala do que na eficiência propriamente dita.
Segundo Sandroni (1999), a economia de escala resulta, obviamente, da
produção em larga escala e da racionalização intensiva da atividade produtiva,
proporcionando uma considerável redução de custos.
Neste contexto de excelentes resultados alcançados, tornou-se justificável
a realização de novos estudos da cadeia produtiva da carne bovina, em especial
com o foco de análise deste trabalho. Porém, antes de aprofundar o estudo em
pontos específicos da referida cadeia, existe a necessidade de conhecer suas
origens e sua formação no Brasil.
De acordo com Bressan (1999), a carne é utilizada como alimento pelo
homem, desde a época das cavernas, acreditando-se que o ato de preparar
armadilhas e a estratégia para a caça tenha contribuído, de forma inquestionável,
no desenvolvimento da capacidade de pensar dos seres humanos, os quais
originaram o homem atual.
Especificamente, a pecuária, que surgiu na pré-história com a
domesticação de animais, teve seu início no Brasil em 1535, quando os primeiros
animais desembarcaram em Pernambuco, como destaca Furtado (1989). Na
época, as raças bovinas eram de pouco valor econômico, provindo os animais,
principalmente, de Portugal e Cabo Verde em pequenas quantidades e sem
nenhum critério zootécnico utilizado para a escolha dos animais. Por sua vez, a
indústria Frigorífica teve suas primeiras manifestações no Brasil em função do
desenvolvimento do rebanho bovino na região da Bacia do rio da Prata através da
instalação das charqueadas na cidade de Pelotas - RS.
No tocante às exportações de carne, no Brasil, o processo iniciou-se em
1914 e a inspeção era realizada por veterinários estrangeiros. Nessa mesma
época foi criado o primeiro conjunto de normas para carne, como salientou
Bressan (1999). Cabe ressaltar que, os frigoríficos deram seu grande salto na
13
década de 70, devido aos processos de nacionalização das indústrias, ao
aumento da capacidade produtiva e, especialmente, aos profundos avanços no
Serviço de Inspeção Federal (SIF).
Partindo do pressuposto de que o Brasil busca uma pecuária de modernas
técnicas de manejo, nutrição, reprodução e certificação, aliada a uma indústria
frigorífica que evoluiu de um simples abatedouro para uma complexa indústria,
voltada a atender os mercados mais exigentes, se faz necessário destacar que o
processo de evolução deu-se de maneira desordenada. Neste contexto, a
evolução da pecuária e da indústria frigorífica, que apesar de muito significativa,
foi ocasionada, principalmente, por exigências mercadológicas e não por um
contínuo processo de planejamento amparado em firmes diagnósticos setoriais e
com visão e missão estabelecidas e conhecidas por todos os integrantes da
cadeia. Para Silva e Batalha (2000), historicamente, a exigência de padrões
internacionais, principalmente no que se refere à qualidade, tem forçado o setor a
modernizar-se sob pena de ser excluído do mercado mediante imposição de
barreiras, entre as quais, sanitárias.
São essas mesmas exigências mercadológicas que geraram a ampla
conjuntura positiva na qual o setor encontra-se inserido, o que resulta do modo
dinâmico pelo qual o mundo vem sofrendo transformações. Tudo isso foi bem
ressaltado por Caves (2001), ao afirmar que, em um mundo globalizado, é preciso
saber o que produzir, tornando vital estudar e conhecer todas as formas de
produção, assim como se torna de vital importância avaliar as ameaças à
ampliação do mercado externo da carne brasileira.
Em primeiro lugar aparece a necessidade de planejar, antecipando as
tendências do mercado, o que é fundamental para a sustentabilidade de toda a
cadeia produtiva da carne bovina brasileira. Dentro deste panorama, para manter
a posição de destaque na área de exportações de carne bovina tem-se, ainda, de
avaliar, sob a ótica das ferramentas oferecidas pelo processo de planejamento
estratégico, os pontos fracos existentes na cadeia da carne, que constituem
ameaça ao potencial exportador do produto brasileiro. Estas análises tendem a
contribuir para traçar um cenário que proporcionará, assim, condições para
planejar ações futuras.
14
Para que a posição de destaque da pecuária bovina brasileira e de toda a
indústria da carne, se perpetue, além da vantagem comparativa proporcionada
pela economia de escala, outros fatores precisam ser considerados, pois são
entraves claros ao futuro das exportações, dentre estes o pouco uso da visão
sistêmica no âmbito da cadeia produtiva, a falta de aprimoramento das técnicas
de comunicação empresarial, a deficiência na logística e os problemas
relacionados à qualidade da carne. Portanto, este estudo buscou delinear
ferramental útil para avaliar projetos e evoluções futuras, as quais são inevitáveis
para que o setor atinja a maturidade e dinâmica competitiva desejada. Mais
especificamente, os seus objetivos incluem ainda:
• Demonstrar as etapas do processo de planejamento e de diagnóstico
estratégico.
• Definir as principais ameaças ao futuro das exportações da carne
bovina brasileira.
• Avaliar o ambiente institucional e organizacional no qual as ameaças
encontram-se estabelecidas.
• Avaliar o ambiente situacional que justifique a classificação da ausência
de visão sistêmica e da deficiente comunicação empresarial, bem como
os problemas com a logística e com a qualidade, como ameaças às
exportações de carne bovina brasileira.
1.2 A estrutura do estudo de caso e seu embasamento
Para atingir a todos os objetivos deste Estudo de Caso, deve ser
ressaltado que se procurou seguir a maior parte dos ditames que consubstanciam
tal modalidade de estudo, conforme detalhado por Leite (2004). Mais
especificamente foram definidos os elementos que o caracterizam, vários dos
quais devem, necessariamente estar presentes em toda pesquisa que se utilize
desta metodologia. São eles:
15
• Especificidade: significa que o estudo de caso é particularístico,
delibera sobre uma situação particular, única e bem delimitada onde o
objetivo é cuidadosamente definido dentro de um contexto específico. A
especificidade do estudo de caso pode ser abordada quanto ao objeto e
quanto ao tempo. O objeto representa o foco do estudo e deve ser
particularizado quanto ao local e ao contexto. Já a dimensão tempo,
refere-se ao estudo de fenômenos contemporâneos.
• Intensidade: o trabalho permite uma descrição profunda e completa que
ilustre com clareza a complexidade da situação em estudo. A
intensidade possui uma base teórico-contextual embasada em uma
descrição detalhada do contexto social, econômico, histórico, cultural e
ambiental no qual o estudo se insere, buscando proporcionar
generalizações analíticas.
• Multiplicidade de fontes de evidências: confere ao estudo um caráter
interdisciplinar, impondo ao pesquisador o conhecimento de uma
diversidade de procedimentos metodológicos provenientes de
diferentes áreas.
Com respeito aos aspectos básicos de estudos de caso, Koche (1979), por
sua vez, afirmou que a metodologia busca estabelecer a resposta diante de um
determinado problema, submetê-lo a provas e questionamentos, apresentar
evidências que o justifiquem, testá-lo e descrever sua coerência. Logo em
seguida, Cardoso e Domingues (1980), postularam que o estudo de caso faz-se
necessário quando o fenômeno a ser estudado for amplo e complexo, onde o
corpo de conhecimentos existente é insuficiente para dirimir questões causais, e
nos casos em que o fenômeno não pode ser estudado fora do contexto de sua
ocorrência.
Posteriormente, Triviños (1994), adicionou que estudo de caso é uma
categoria de pesquisa qualitativa, caracterizando-se fundamentalmente do ponto
de vista da medida de dados apresentados pelo emprego de estatística simples e
elementar, cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. Por fim,
Zylbersztajn (2000), expressou que o uso da pesquisa com a metodologia de
16
estudo de caso requer um corpo teórico de apoio, sem o qual perde-se qualquer
utilidade do esforço empreendido na sua elaboração. Sem um aporte teórico, o
estudo de caso pode ser tratado enquanto literatura, mas não como ciência. Esta
argumentação ressalta a necessidade da compreensão dos temas anteriormente
expostos.
Em adição, considerando que para Vasconcelos e Garcia (1998), a
economia utiliza-se da hipótese ceteris paribus - tudo o mais permanece
constante - para dirigir o estudo a um mercado específico, analisando o papel que
a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito
pouco, ou que não interfiram de maneira absoluta, este conceito será aqui
explorado. Adotando-se esta hipótese, torna-se possível o estudo de um
determinado mercado, selecionando-se apenas as variáveis que influenciam os
agentes econômicos – consumidores e produtores – nesse particular mercado,
independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem
influenciá-los.
No entender de Rossetti (1997), deve-se ter presente que as relações
formuladas no campo da economia são influenciadas por uma pluralidade de
causas e, por isso, necessitam ser tratadas como simplificações da realidade. Isto
significa que, a validade das leis e dos modelos econômicos implica que sejam
mantidos constantes todos os demais fatores que possam interferir nas
magnitudes das variáveis sob observação. É exatamente a esta particularidade
que os economistas querem referir-se quando empregam a expressão latina
ceteris paribus. Ela significa: mantidos inalterados todos os demais fatores ou,
então, permanecendo iguais todos os demais elementos.
Esta simplificação da realidade serve para que este trabalho possa analisar
o problema do futuro das exportações de carne bovina brasileira, apenas em
função das ameaças identificadas – falta de visão sistêmica e comunicação
empresarial, logística e qualidade – mantendo, assim, como constantes ou de
pouca influência fatores como política fiscal, política monetária, flutuações do
dólar, crédito, taxa de juros e muitas outras.
17
Outro fator de importância no presente estudo é a aplicação da lei das
vantagens comparativas. Esta lei, de acordo com Wessels (2003), afirma que um
país deve comparar seus preços antes de negociar, devendo, então, exportar os
bens que pode produzir a um menor preço que os outros países. Isto é possível
porque cada país produzirá maiores quantidades dos bens que for mais
competitivo em termos de preço. No caso do Brasil, em virtude das escalas de
produção existe grande vantagem comparativa na produção de alimentos. Neste
cenário podemos incluir a carne bovina, pois sua análise neste trabalho só tem
razão de ser devido à sua escala produtiva e seu preço altamente competitivo
internacionalmente.
1.3 A estrutura deste estudo de caso
Em vista de tudo o que o que foi exposto, e considerando que o referencial
deve seguir uma lógica toda própria, conforme foi bem detalhado por Leite (2004),
esta dissertação se organiza, utilizando uma seqüência que oferece maior
consistência ao estudo, uma vez que o Capítulo Marco Teórico, é parte integrante
do que normalmente seriam os Resultados, complementando-se com o Capítulo
da Análise Situacional, que apresenta elementos de Resultados e de Discussão.
Tem-se, portanto, a necessária lógica seqüencial de um Estudo de Caso,
justificando a colocação do Capítulo Material e Métodos, logo após o Capítulo 1, o
da Introdução.
Desta forma, apresenta-se no presente capítulo a Introdução à temática
desenvolvida, os objetivos e a justificativa da utilização do estudo de caso como
metodologia de pesquisa.
No capítulo 2, intitulado Material e Métodos, são descritos os passos e
procedimentos utilizados para trajetória teórica do estudo, apresentando, mais
detalhadamente, no capítulo 3 o Marco Teórico que fundamentou o estudo.
A Análise Situacional do estudo é realizada no capítulo 4. Concluindo o
capítulo 5 apresenta os Comentários Finais do estudo.
18
2 MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento do estudo, inicialmente foi realizada uma pesquisa
documental, enfatizando os itens que privilegiavam o contexto das exportações
de carne bovina brasileira, diante de uma realidade de resultados positivos e de
boas perspectivas futuras. Levou-se ainda em consideração outros estudos,
referentes às principais ameaças a manutenção e ao avanço das exportações de
carne bovina. Cabe salientar que a definição das ameaças foi estabelecida
através da análise do processo de diagnóstico estratégico, que faz parte da
metodologia do planejamento estratégico.
No mesmo sentido, em se tratando de um assunto de ordem econômica
num mercado específico, e que a economia possui um caráter hipotético e
probabilístico, os trabalhos que consideram o papel que a oferta e a demanda
nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não
interfiram de maneira absoluta, são aqui analisados sob a luz da condição ceteris
paribus - tudo o mais permanece constante (VASCONCELOS; GARCIA,1998).
Adotando-se esta hipótese, torna-se possível o estudo de um determinado
mercado, selecionando-se apenas as variáveis que influenciam os agentes
econômicos – consumidores e produtores – nesse particular mercado,
independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, e que
possam exercer influência. Esta simplificação da realidade serve para que este
trabalho possa analisar o problema do futuro das exportações de carne bovina
brasileira, apenas em função das ameaças identificadas – falta de visão sistêmica
e comunicação empresarial, logística e qualidade – mantendo, assim, como
constantes ou de pouca influência fatores como política fiscal, política monetária,
flutuações do dólar, crédito, taxa de juros e muitas outras.
19
Outro fator de importância na metodologia é a aplicação da lei das
vantagens comparativas (WESSELS, 2003). Neste cenário podemos incluir a
carne bovina, pois sua análise neste trabalho só tem razão de ser devido à sua
escala produtiva e ao seu preço altamente competitivo internacionalmente,
tornando o Brasil, em termos comparativos, em condição vantajosa. Logo, a
execução do trabalho, depois de considerados estes fatores, e feita à pesquisa
documental, conduziu à definição de todos os conceitos e ameaças envolvidas,
para que, só então, fosse possível estabelecer uma análise situacional das
ameaças identificadas.
20
3 MARCO TEÓRICO
3.1 A cadeia de produção agroindustrial
Compreender e conceituar o ambiente no qual se insere os dificultadores
que incidem sobre o tema, é essencial para estabelecer a conformação da cadeia
produtiva da carne bovina brasileira, pois, a visualização do todo, possibilitará a
melhor identificação de aspectos inerentes específicos, que são de interesse
deste trabalho. Assim sendo, utilizar o enfoque sistêmico de cadeias, definido
como em Batalha (2001), constitui-se em ferramenta de grande importância.
Pode-se adiantar que foi Morvan1 (apud BATALHA, 2001), quem sintetizou
e sistematizou a idéia de cadeia, visando a aplicação no segmento agroindustrial,
o que permite enumerar três séries de elementos capazes de compor a
conceituação de cadeia produtiva. São eles :
• A cadeia de produção é uma sucessão de operações de
transformações dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas, entre
si, por um encadeamento técnico;
• A cadeia de produção também representa um conjunto de relações
comerciais e financeiras estabelecendo um fluxo de trocas entre
fornecedores e clientes;
• Por fim, a cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que
valorizam os meios de produção e asseguram a articulação das
operações.
1 MORVAN, Y. Fondements d’economie industrialle. Paris: Econômica, 1988. p. 247.
21
Logo, uma cadeia de produção agroindustrial deve ser segmentada da
jusante a montante, dividindo-se em três categorias básicas compostas por:
produção de matérias-primas, industrialização e comercialização,
respectivamente.
Segundo Batalha (2001), é importante ressaltar que uma cadeia de
produção agroindustrial define-se com base na identificação de um determinado
produto final, sendo que após sua identificação é feito o encadeamento das
operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias a sua produção.
Partindo, sempre, da jusante a montante . Este raciocínio permite definir os
principais usos para o conceito de cadeia de produção agroindustrial. São eles:
1. Metodologia de divisão setorial do sistema produtivo;
2. Formulação e análise de políticas públicas e privadas;
3. Ferramenta de descrição técnico-econômica;
4. Metodologia de análise da estratégia das firmas;
5. Ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de
decisão tecnológica;
No contexto dos objetivos deste trabalho, os principais usos do conceito de
cadeia de produção agroindustrial são: de ferramenta de descrição técnico-
econômica e de metodologia de análise da estratégia das firmas. Sob a ótica de
ferramenta de análise técnico-econômica, Batalha (2001), afirmou que a cadeia
de produção, como conjunto de operações técnicas, constitui a definição mais
conhecida para o conceito. Este prisma consiste em descrever as operações de
produção responsáveis pela transformação da matéria-prima em um produto
acabado ou semi-acabado. Nesta lógica, a cadeia de produção torna-se uma
sucessão linear de operações técnicas de produção. Dentro deste ponto de vista
técnico-econômico, Parent2 (apud BATALHA 2001), definiu a cadeia de produção
com sendo :
[...] a soma de todas as operações de produção e de comercializaçãoque foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primasde base a um produto final, isto é, até que o produto chegue as mãos deseu usuário (seja ele um particular ou uma organização)
2 PARENT, J. Filières de produits, stades de producion et branches d’activité. Revue d’Economie industrialle, no 7, p. 89, 1979.
22
Por sua vez, Morvan3 (apud BATALHA 2001), propôs analisar e interpretar
as cadeias de produção, com base nos fatores: tecnologia, mercado e produto.
Neste enfoque, a superposição dos fatores definiria uma cadeia de produção
dentro de uma visão estética. A visão dinâmica seria a representação simultânea
destes três fatores, ao longo do tempo. Assim sendo, uma modificação em um
dos fatores afetaria os outros dois, dando uma dinâmica interna ao
funcionamento da cadeia produtiva. Este uso conceitual para cadeia de produção,
facilita a identificação do mercado externo como foco de análise, de acordo com
os objetivos do presente trabalho. Ainda de acordo com Batalha (2001), o uso
como metodologia de análise da estratégia das firmas permite a identificação dos
fatores de avaliação estratégica, que representam a mobilidade do sistema, a
rentabilidade e a identificação das barreiras existentes. Sendo este último,
identificar as barreiras existentes, uma das questões de ordem a que se propõe
este estudo, pois a relação das firmas com seu meio ambiente concorrencial é
um pré-requisito essencial na definição de uma estratégia. Portanto, entender o
conceito de cadeia produtiva favorece a delimitação do mercado externo e as
possíveis barreiras de acesso a ele que venham a ser analisadas.
3.2 A cadeia produtiva da carne bovina brasileira
A cadeia agroindustrial da carne é composta desde o segmento de
insumos e serviços, indo até o consumidor final, passando por todos os
processos de produção e manuseio industrial da carne. Todos os elos da cadeia
ganham ou são valorizados, na medida em que se aumenta a demanda pelos
produtos e subprodutos de origem.
Na visão de Michels (2001), utilizando-se a conceituação de cadeias de
produção e definindo-se a carne bovina como produto final, para a identificação
da cadeia produtiva aqui enfocada, é possível evidenciar os diversos
entrelaçamentos entre produtores e consumidores, além de identificar seus
3 MORVAN, Y. Fondements d’economie industrialle. Paris: Econômica, 1988. p. 247.
23
principais agentes. No caso da cadeia da carne, os agentes mais expressivos
são: a produção de insumos agropecuários, os produtores de bovinos, os
frigoríficos e as redes atacadistas e varejistas.
Deve destacar também, que esta cadeia produtiva é uma das mais
complexas, quanto à estruturação e aos agentes envolvidos, cumprindo, ao longo
da história e do desenvolvimento brasileiros, um papel fundamental, abastecendo
sobretudo, os centros urbanos. Este posicionamento é ressaltado
esquematicamente pelo estudo sobre a eficiência econômica e competitividade
da cadeia agroindustrial da pecuária de corte no Brasil, realizado por Silva e
Batalha (2000).
A Figura 1, representa a cadeia agroindustrial da carne no Brasil, incluindo
seus principais subprodutos (comestíveis e não comestíveis), além de incluir os
principais atores e as suas relações sistêmicas.
Figura 1: A Cadeia de Produção Agroindustrial da Carne Bovina no Brasil.Fonte: Silva e Batalha (2000).
Associações de Classes
Políticas de Comércio Exterior
Políticas de Renda
Subprodutos
Não comestíveis
Aditivos
Sistema de Inspeção Sanitária
Transportes
Sistema de P & D
VAREJO
ATIVIDADES DE APOIO
Sistema Financeiro
Políticas Govenamentais
Embalagens
Food Service Supermercados
Açougues
Boutiques
CONS. INSTITUCIONALMERC. INTERNO E EXTERNO
CONS. FINALMERC. INTERNO
Subprodutos
ENTREPOSTOSREVENDEDORES
ATACADISTAS
PRODUÇÃOANIMAL
FRIGORÍFICOSComestíveis
INSUMOS
Indústria de Defensivos
Alimentação Animal
Genética Animal
24
Assim sendo, para Silva e Batalha (2000), a indústria de insumos pode ser
dividida em três segmentos: o de alimentação animal, o da indústria de
defensivos animais e o de genética animal. Esses são elementos fundamentais
para a produtividade da pecuária, em especial para o encurtamento do período de
abate, o que tem implicações sobre a qualidade da carne e do couro. Para
complementar, devemos incluir os setores de serviços (em especial a assistência
técnica, nos mais diferentes níveis).
Já a atividade de pecuária, por sua vez, também se divide em três
segmentos: cria (produção de bezerros), recria (cria de bezerros e novilhos) e
engorda (terminação dos animais para abate). Essas atividades podem, ou não,
localizar-se na mesma propriedade.
Vale ainda destacar a importância e o caráter sistêmico da influência dos
agentes relacionados às atividades de apoio à cadeia agroindustrial da carne
bovina. A dinâmica de funcionamento de uma dada cadeia produtiva, em seus
aspectos de qualidade e competitividade, é fortemente condicionada pelo
desempenho adequado de seus agentes de apoio. Entre essas atividades de
apoio pode-se citar: sistema financeiro, políticas governamentais, indústria de
embalagens, indústria de aditivos, agentes de inspeção sanitária, agentes de
transporte, sistema de pesquisa e desenvolvimento, associações de classe,
políticas de comércio exterior e políticas de renda. Cada um desses grupos de
agentes pode interferir de maneira decisiva nos vários elos da cadeia produtiva.
Esse é, por exemplo, o caso das inovações tecnológicas na cadeia.
Nesta cadeia, assim como na maioria das demais, o fluxo de inovações
tecnológicas é exógeno, ou seja, as principais inovações de produto e processo
são geradas em indústrias consideradas de apoio à cadeia (embalagens, aditivos,
etc). Destaca-se, também, o papel preponderante que o sistema financeiro pode
exercer como agente de desenvolvimento de todos os elos da cadeia. Políticas de
financiamento adequadas são indispensáveis para o desenvolvimento harmonioso
de todas as organizações atuantes nesse sistema. Políticas governamentais,
notadamente de comércio exterior e de renda, também são instrumentos
poderosos para compreender o funcionamento da cadeia. Além disso, podem
representar, quando bem equacionadas e aplicadas, ferramentas importantes de
25
dinamização. É ainda importante o papel disciplinador dos órgãos de inspeção
sanitária ao longo de toda a cadeia, o qual, se devidamente reformulado e
adequado, pode impulsionar de forma decisiva o aumento de qualidade dos
produtos derivados da carne bovina no Brasil.
3.3 Planejamento Estratégico (PE)
Para Oliveira (2001), a finalidade das estratégias é estabelecer quais serão
os caminhos, os cursos, os programas de ação que devem ser seguidos para
alcançar os objetivos ou resultados estabelecidos. O conceito básico de estratégia
está relacionado à ligação da empresa a seu ambiente. E, nessa situação, a
empresa procura definir e operacionalizar estratégias que maximizem os
resultados da interação estabelecida. Logo, a estratégia está relacionada à
definição e ao balanceamento otimizado, do conjunto produtor-mercado, proposto
em dado momento. No caso deste estudo, o conjunto avaliado integra a
produção de carne brasileira ao mercado consumidor externo. O mesmo autor
identificou que a metodologia de estabelecimento e implantação de estratégias,
representa um dos aspectos mais importantes do processo de planejamento. Esta
metodologia pode ser compreendida a partir da Figura 2.
26
Figura 2: Processo global de estabelecimento e implementação das estratégiasempresariais.Fonte: Oliveira (2001).
Para Almeida (2001), o planejamento estratégico é uma técnica
administrativa que busca ordenar as idéias das pessoas, de forma que se possa
criar uma visão do caminho que se deve seguir (estratégia). Após a ordenação
das idéias são ordenadas as ações, que, por sua vez, constituem a
implementação do plano estratégico, para que sem desperdício de esforços
SUSTENT
O que é? O que é? AComo está? Como está? Çrecursos conjunturas Ãvantagens competitivas necessidades identificadas O
concorrênciaslimitações governamentais
ESTRATÉGICA
Avaliar perante a:
Exequibilidade (recursos e circunstãncias disponíveisCoerência e eficácia
VISÃO DA EMPRESAASPIRAÇÕES E DESEJOS IDEOLOGIA
DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO
Como queremos estar?O que queremos ser?
O que queremos fazer?
O que é certo?(escala de valores)
EMPRESA AMBIENTE
MISSÃO DA EMPRESAPropósitos atuais e potenciais
IDENTIFICAÇÃO DE ESTRATÉGIA ALTERNATIVAS ACEITÁVEIS
Aceitabilidade ( valores e ideologia)
Postura estratégica
CENÁRIOS ESTRATÉGICOS
IDENTIFICAÇÃO DE OBJETIVOS
O que está para acontecer? Como a empresa será afetada?
ESCOLHA DAS ESTRATÉGIAS A SEREM IMPLEMENTADAS
IMPLEMENTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS ESCOLHIDAS
AVALIAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS IMPLEMENTADAS
fase 1
fase 2
fase 3
fase 4
fase 5
ESTABELECIMETO DE ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS
ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS PROPOSTAS
27
caminhe na direção desejada. Desta forma, o planejamento estratégico é um
processo contínuo e interativo de tomada de decisões que visa posicionar, de
forma integrada, a empresa em seu ambiente, adaptando-se, sempre, à realidade
da empresa e às condições do ambiente externo. Em sua metodologia,
estabelece que as fases que compõe o planejamento estratégico são:
a) Estabelecer os objetivos a serem alcançados, os quais devem ser
claros para facilitar a verificação dos resultados futuros, de modo
adequado e racional. Os objetivos são pontos concretos que exigem
parâmetros numéricos e fixação de prazos para serem alcançados;
b) Segue-se a fase mais importante, que é a análise ambiental da
empresa, na qual são estabelecidos todos os fatores, tanto internos
quanto externos, que possam afetar os objetivos propostos. Esta
análise propicia a descoberta das ameaças e das oportunidades. Logo,
o ambiente é tudo aquilo que afeta o desempenho da empresa, e
divide-se em ambiente interno e ambiente externo. O ambiente interno
estabelece os pontos fortes e fracos, analisando recursos financeiros,
administrativos, humanos e os aspectos mercadológicos. Já o ambiente
externo procura relacionar os fatores externos que afetam, positiva ou
negativamente, o desempenho da empresa e são definidos pela política
econômica, política agrícola, mercado, infra-estrutura, clima, clientes e
fornecedores. O ambiente externo deve ser avaliado em termos de
ameaças (fatores negativos) e oportunidades (fatores positivos);
c) Em seguida, surge a análise das alternativas e a tomada de decisão.
Com a análise dos ambientes interno e externo são identificados os
fatores críticos de sucesso, permitindo a elaboração de uma listagem
com as alternativas consideradas estratégicas. Para apoiar o processo
de seleção das alternativas deve-se ter como referencial os objetivos
previamente estabelecidos. O processo de tomada de decisão sobre a
escolha da estratégia a ser seguida precisa contemplar informações
relativas a custos, riscos, resultados esperados, disponibilidade de
recursos, implicações financeiras, volume de negócios, possibilidades
em outras áreas de negócios, recursos gerados e lucros esperados.
d) Por fim, seguem as fases de implantação e controle. Assim que
escolhida a alternativa a ser seguida, deve-se implanta-la observando
28
os objetivos propostos e a organização do sistema de controle. É
imprescindível que se analisem os fatores que influenciarão o êxito do
planejamento, como a disponibilidade de recursos financeiros, humanos
e materiais no tempo certo e nos padrões de qualidade necessários.
Também é importante ter processos bem definidos, flexíveis, porém
enxutos, os quais serão responsáveis pela agilidade que a empresa
precisa, para atuar em ambientes dinâmicos. O controle, por sua vez,
abrange o processo de monitoramento do ambiente possibilitando a
identificação de riscos e oportunidades, tanto presentes quanto futuras,
que possam influenciar na consecução dos objetivos.
No entendimento de Batalha (2001), qualquer grupo de pessoas unidas em
torno de um objetivo comum tem um caminho ou um rumo de ação para atingir
este objetivo, ou seja tem uma estratégia. Portanto, qualquer empresa tem um
processo de planejamento estratégico, mesmo que concebido de maneira
informal. Da mesma forma, todo indivíduo que inicia um negócio tem idéia de
como atender uma necessidade de um grupo de clientes e/ou consumidores. No
entanto, para que este objetivo seja atendido, é necessária a utilização de uma
estratégia adequada. É neste momento que surge a necessidade do
planejamento estratégico, que pode ser ainda definido como um processo
gerencial que permite estabelecer o rumo a ser seguido, com vistas a obter um
nível de adaptação na relação com seu ambiente. Esta adaptação será baseada
na análise dos pontos fortes e fracos, das ameaças e oportunidades existentes no
ambiente externo, bem como dos fatores críticos de sucesso referentes ao
negócio. Esta metodologia assemelha-se à descrita por Almeida (2001), fato que
pode ser constatado com a visualização da figura 3.
29
Figura 3: Etapas do planejamento estratégico.Fonte: Batalha (2001).
DIAGNÓSTICO ESTRATÉGICO
ANÁLISE EXTERNA
SEGMENTAÇÃO ESTRATÉGICA
SENSIBILIZAÇÃO
MISSÃO
DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS GERAIS
ANÁLISE INTERNA
OBJETIVOS POR SEGMENTO
CONTROLE
IMPLEMENTAÇÃO
PLANOS DE AÇÃO
"ESCOLHA" ESTRATÉGICA
IDENTIFICAÇÃO DAS OPÇÕES ESTRATÉGICAS
30
3.3.1 O Diagnóstico Estratégico
No contexto do processo definido por Planejamento Estratégico, o foco
deste trabalho reside sobre a etapa denominada de diagnóstico estratégico, mais
especificamente no que diz respeito à identificação de riscos e ameaças às quais
a organização e o setor estão sujeitos a enfrentar.
De acordo com Costa (2002), o diagnóstico é um processo formal e
estruturado que procura avaliar a existência e a adequação das estratégias
vigentes em relação ao andamento de transformações para a construção do
futuro. Durante a elaboração do diagnóstico são analisados o ambiente interno e
o ambiente externo. Na fase de análise do ambiente interno são estabelecidos os
pontos fortes e os pontos fracos, como sendo características internas reais da
organização capazes de colocá-la em posição vantajosa ou desvantajosa aos
olhos de seus clientes, ou de seu público alvo. Na análise do ambiente externo,
são detalhadas as oportunidades e as ameaças, que são fatores ou eventos
externos prováveis, que escapam ao controle da organização, podendo modificar
seu futuro positiva ou negativamente. Logo, as ameaças são fatores externos
previsíveis para o futuro que, se ocorrerem, afetarão negativamente as atividades.
Para Kotler (1980), ameaças constituem os desafios, apresentado por uma
tendência desfavorável ou um distúrbio específico no meio ambiente e que
levaria, na ausência de uma ação objetiva, à estagnação ou a perdas. Já Batalha
(2001), acrescentou que, para a perfeita identificação, tanto de oportunidades
quanto de ameaças, é preciso avaliar os segmentos, a motivação e as
necessidades dos consumidores, bem como posicionar a concorrência e perceber
o ambiente no qual está inserido (dimensão tecnológica, cultural, econômica,
demográfica e legal). Para Certo e Peter (1993), figuram como pontos fortes e
pontos fracos as considerações à cerca do ambiente interno a se analisar. Na
análise do ambiente externo, estes autores propõem a análise dos riscos e
oportunidades a que a empresa está exposta, diante da ação estratégica.
Neste contexto, Day (1999), expressou como sendo um dos maiores
desafios dos gerentes, a definição precisa dos limites da arena competitiva. As
31
medidas estratégicas devem ser, portanto, centradas em uma visão futura do
ambiente competitivo, a qual é elaborada com base nas ocorrências do passado e
nas prerrogativas do presente. A sensibilidade quanto ao que possa ocorrer não é
tarefa fácil, mas o pleno conhecimento quanto às mudanças do mercado devem
sinalizar a respeito dos caminhos a seguir. Para amplia-la, a criação de cenários é
uma prática utilizada por empresas como parte de um planejamento estratégico
visando a previsão de mudanças nos quadros políticos, econômicos, sociais, etc.
Na visão de Porter (1986), a importância do diagnóstico pode ser, melhor
demonstrada dentro do contexto onde as estratégias competitivas são formuladas
como exemplifica a figura 4.
Figura 4: Contexto onde a estratégia competitiva é formulada.Fonte: Porter (1986).
Esta figura ilustra, em um nível mais amplo, que a formulação de uma
estratégia competitiva envolve considerar quatro fatores básicos, que determinam
os limites daquilo que uma organização pode realizar com sucesso. Os pontos
fortes e os pontos fracos são o seu perfil de ativos e as qualificações, em relação
à concorrência, incluindo recursos financeiros, postura tecnológica, identificação
de marca, e assim por diante. Por sua vez, os valores pessoais são as
motivações e as necessidades de seus principais mentores e de outras pessoas,
responsáveis pela implementação da estratégia escolhida. Os pontos fortes e os
fatores fatoresinternos externos
à Cia à Cia
ESTRATÉGIACOMPETITIVA
EXPECTATIVASMAIS AMPLAS
DASOCIEDADE
VALORES PESSOAIS DOS
PRINCIPAISIMPLEMENTADORES
AMEAÇAS E OPORTUNIDADES
DA INDUSTRIA(TÉCNICAS E ECONÔMICAS)
PONTOS FORTES E
PONTOS FRACOSDA COMPANHIA
32
pontos fracos, combinados com os valores, determinam os limites internos da
estratégia competitiva, enquanto que os limites externos são determinados pela
indústria e por seu meio ambiente mais amplo. Por fim, as ameaças e as
oportunidades definem o meio competitivo, com seus riscos conseqüentes e
recompensas potenciais. As expectativas da sociedade refletem o impacto de
fatores, como a política governamental, os interesses sociais, e muitos outros.
Estes quatro dados devem ser considerados antes de desenvolver um conjunto
exeqüível e realista de metas e políticas.
3.4 Agronegócio, globalização, visão sistêmica e comunicação empresarial
O agronegócio ou agribusiness foi inicialmente definido em 1957 por dois
professores da Universidade de Harvard, Davis e Goldberg (apud RUFINO 1999),
como o conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a
fabricação dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades
agropecuárias, até o processamento e distribuição e consumo dos produtos
agropecuários in natura ou industrializados. Pode-se perceber que, já naquela
época, buscava-se uma maneira de analisar este segmento da economia como
um todo, devendo-se, por este motivo, considerar o conceito de Sistema
Agroindustrial (SAI), que apesar de muito próximo à idéia inicial de agribusiness,
melhor se encaixa nos dias de hoje.
Segundo Batalha (2001), entende-se por SAI à soma total das atividades
que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção
dos insumos (sementes, adubos, máquinas,etc.), até a chegada do produto final
(queijo, biscoito, massa, etc.) ao consumidor. O SAI não está associada a
nenhuma matéria-prima agropecuária ou produto final específico. Quando existir
esta ligação, deve-se passar a adotar a denominação de cadeia produtiva.
O agronegócio está inserido dentro de um mundo globalizado, o qual, de
acordo com Sandroni (1999), constitui amplo processo que busca a integração
dos mercados, dos meios de comunicação e dos transportes. Do conceito é
33
possível extrair a principal característica da globalização, que é a abrangência.
Entretanto é neste ponto que se cria um abismo entre teoria e prática, pois, na
realidade, o que o mundo vem vivenciando se restringe à internacionalização do
capital (integração financeira) e a uma relativa abertura comercial, já que barreiras
comerciais ainda persistem.
Para Alcoforado (1997), é na esfera monetária e financeira que acontece a
tendência contemporânea da globalização, onde as sociedades se tornam
crescentemente dependentes da economia, enquanto a formação e o
fortalecimento dos blocos econômicos define as estratégias e políticas comerciais,
tendendo à liberalização intrabloco e ao controle dos produtos vindos de outros
países ou blocos. Por este prisma, ao se avaliar o agronegócio brasileiro, torna-se
clara a percepção desta realidade. Os subsídios aos produtos agropecuários, os
sistemas de quotas de importação, as barreiras sanitárias e as exigências
ambientais, dentre outras existentes nos países mais desenvolvidos, são
exemplos inquestionáveis desta constatação. O entendimento da visão sistêmica
consiste em tratar o agronegócio ou SAI como um sistema, onde cada cadeia
produtiva (cadeia da carne, da soja, do couro, do milho, etc.) é parte integrante,
ou seja, um subsistema.
De acordo com Alvarez (1990), sistema pode ser definido como um
conjunto de elementos interdependentes que interagem na busca de objetivos
comuns, formando um todo, onde cada um dos elementos componentes
comporta-se, por sua vez, como um sistema, cujo resultado é maior do que
aquele que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente. Logo,
qualquer conjunto de partes unidas entre si pode ser considerado um sistema,
desde que a relação harmônica entre as partes e a atitude do todo seja o ponto
principal do estudo.
Na concepção de Batalha (2001), um sistema deve estar localizado em um
dado meio ambiente, deve cumprir uma função ou atividade, ser dotado de uma
estrutura, evoluir no tempo e ter objetivos definidos. Estas condições necessárias
para a existência de um sistema, são, também, aplicadas integralmente na
formação de uma cadeia produtiva.
34
Cury (2000), postulou que a visão sistêmica ou horizontal demonstra um
novo enfoque, exigido pela dinâmica da sociedade atual, forçando as
organizações a melhorar seu desempenho, para atender a um mercado
comprador, altamente competitivo e globalizado. Esta perspectiva, em princípio,
deve: incluir o cliente, o produtor e fluxo de trabalho, o qual deve ser realizado por
processos que cortem as fronteiras organizacionais, além de mostrar os
relacionamentos internos entre clientes e fornecedores, por meio dos quais são
produzidos produtos e serviços.
Para Araújo (2003), o entendimento do agronegócio, em todos seus
componentes e inter-relações, é indispensável a todos aqueles envolvidos no
processo decisório, sejam autoridades públicas ou agentes econômicos privados,
para que possam formular políticas ou estratégias com maior previsão e máxima
eficiência. Por isso, é fundamental compreender o agronegócio a partir de uma
visão de sistema, analisando suas partes e relacionamentos. Nesse
entendimento, o agronegócio é visto como composto por três partes: “antes da
porteira” (fornecedores de insumos e serviços), “dentro da porteira” (produção
agropecuária) e “após a porteira” (armazenamento, beneficiamento,
industrialização, embalagens, distribuição e consumo). Visto desta maneira, a
visão sistêmica do agronegócio deve ser encarada como uma ferramenta capaz
de promover a relação harmoniosa e eficiente, entre suprimentos à produção
agropecuária, produção propriamente dita, transformação, acondicionamento,
armazenamento, distribuição e consumo em torno de um objetivo comum, que se
traduz na competitividade do setor.
Outro conceito associado ao tema, trata da comunicação empresarial, que
no entendimento de Zylbersztajn e Neves (2000), é a extensão do ser humano. A
comunicação pressupõe um emissor, o meio, o conteúdo, um receptor e um
sistema de feedback. Esta interatividade cada vez mais acelerada aproxima
completamente pessoas, produtores de consumidores, elimina intermediação e
exige de cada profissional, de cada empresário, o desenvolvimento. A
comunicação é o maior e mais poderoso contrato entre os vários agentes de um
sistema. Representa a ligação das mentes, o contrato pelas emoções e
representação dos papéis. Já para Cahen (2000), é uma atividade sistêmica, de
caráter estratégico, ligada aos mais altos escalões das empresas e que tem por
35
objetivos: criar – aonde não existir ou for neutra – manter – onde já existir- ou,
ainda, mudar para favorável – onde for negativa – a imagem da empresa junto a
seus públicos prioritários. Deve ser sistêmica por ter necessidade de ser
constante e envolver as ações de todos os participantes do sistema. Já o caráter
estratégico é defendido pelo fato de a comunicação empresarial ser uma das
mais importantes ferramentas de marketing, precisando, assim, estar incluída na
estratégia global do agronegócio. Ainda segundo Cahen (2000), a comunicação
empresarial é uma grande teia de aranha, onde um simples toque em um dos fios
irá refletir em toda a teia e esses toques podem ocorrer em vários fios ao mesmo
tempo.
No posicionamento de Viana (2001), os termos comunicação, credibilidade,
informação, relacionamento e imagem, são tão importantes quanto vender,
crescer, modernizar e competir. A comunicação, seja ela com a mídia e a
sociedade, ou com seu público interno, deve passar a ser centro das atenções
das empresas, pois é tão importante quanto os segmentos de finanças, compras
ou política social. A comunicação necessita, portanto, ser planejada e tornar-se
parte integrante na estratégia geral dos negócios. Logo, a comunicação exerce o
papel de posicionar positivamente a empresa na sociedade, de modo a transmitir,
com clareza, os seus objetivos, especialidades e evolução, para criar entusiasmo
em relação à sua presença no mercado.
Torquato (2002), ressaltou que a comunicação, internamente, tem por
obrigação manter um clima positivo, cumprir metas estratégicas e promover o
crescimento das atividades. Externamente é responsável pelo posicionamento e
pela imagem na sociedade, por meio da clara divulgação da missão, valorização
do potencial humano, posicionamento junto aos poderes constituídos e criação de
atitudes favoráveis do público. Por sua vez, de acordo com Bueno (2003), a
comunicação empresarial foi aceita como ferramenta para atingir o objetivo de
aumentar a vantagem competitiva em face aos concorrentes e consolidar a
imagem perante a opinião pública. A partir deste ponto, a comunicação busca
tornar-se integrada, estreitando o relacionamento entre as áreas, departamentos
e pessoas, dentro das empresas e unindo as vertentes institucional e
mercadológica, permitindo serem analisadas a partir de um único prisma. Outro
ponto de relevância é que a comunicação empresarial incorpora a segmentação
36
de mercado, visando atender nichos específicos, identificando as carências
grupais e satisfazendo-as.
Trazendo, para o ambiente do agronegócio brasileiro, toda esta
conceituação, fica possível a percepção de que visão sistêmica e comunicação
empresarial - dentro dos elos e entre os elos - são dois grandes aliados na busca
de competitividade e de novos mercados para as cadeias produtivas em um
mundo globalizado. Com relação a isso, deve-se registrar que Pinheiro et al
(2002), adicionou inúmeros elementos ao processo de comunicação, como chave
para obter-se a cooperação, envolvendo os mais diversos atores ligados ao
agronegócio. Os autores enumeraram vários itens de comunicação,todos capazes
de ampliar a indução e a adesão a novos projetos. Mais recentemente
(PINHEIRO, 2005) avançou em tais conceituações, caracterizando método
original de proceder-se à comunicação dentro e entre segmentos de cadeias
produtivas.
3.5 Conceituando logística
Segundo o Site Guia de Logística (2004), logística é o sistema de
administrar qualquer tipo de negócio de forma integrada e estratégica, planejando
e coordenando todas as atividades, além de aperfeiçoar todos os recursos
disponíveis, visando o ganho global no processo, em termos do operacional e do
financeiro. É, também, o processo de planejar, implementar e controlar
eficientemente, ao custo correto, o fluxo e armazenagem de matérias-primas e
estoque (de itens de produção e de produtos acabados), bem como as
informações relativas a estas atividades, desde o ponto de origem, até o ponto de
consumo, visando atender aos requisitos do cliente. Destes entendimentos pode-
se definir o conceito de logística empresarial, onde são tratadas todas as
atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos,
desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim
como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o
37
propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo
razoável.
No entendimento de Araújo (2003), logística é um modo de gestão que
cuida especialmente da movimentação dos produtos, nos diversos segmentos,
dentro de toda a cadeia produtiva (de qualquer produto), inclusive nas diferentes
cadeias do agronegócio. Envolve o conjunto de fluxos de produtos em todas as
atividades, a montante durante o processo produtivo e a jusante, como todo o
conjunto de atividades relacionadas a suprimentos, às operações de apoio aos
processos produtivos e as atividades voltadas para a distribuição física dos
produtos na comercialização, como armazenagem e transporte.
Para Silva e Batalha (2000), condições eficientes de distribuição são vitais
para a competitividade de qualquer sistema agroindustrial. Além de produzir e
industrializar matérias-primas de forma eficiente, os agentes do sistema devem
ser capazes de armazenar e transportar, adequadamente, os produtos finais da
cadeia, indo até o consumidor final. Operações inadequadas neste último elo da
cadeia, responsável pela importante função de decodificar os anseios do
consumidor, podem comprometer todo o esforço de construção de qualidade de
um produto.
Logo, segundo os mesmos Silva e Batalha (2000), a qualidade das vias
rodoviárias é bastante diferenciada. No Norte do País, devido à inexistência de
uma grande malha asfaltada, com predominância de estradas de terra, há
problemas de transporte em épocas de chuva, o que atrapalha a execução do
abate de animais e o escoamento da carne, além de onerar a matéria-prima. Nas
demais regiões, esta situação é um pouco melhor. No Nordeste, por exemplo,
devido à ausência de chuvas, as estradas ficam menos danificadas, mesmo
sendo deficientes, enquanto que, no resto do país, de maneira geral, mesmo
existindo melhores condições viárias, as chuvas costumam trazer problemas ao
escoamento.
Mesmo assim, ainda no entendimento de Silva e Batalha (2000), muitas
das rodovias utilizadas não se encontram em boas condições de conservação e
infraestrutura de apoio para descanso e espera dos animais, o que, além de
38
causar desgastes nos caminhões, compromete a qualidade da carne obtida de
animais neles transportados. Como conseqüência, a excessiva dependência,
quase exclusiva, do transporte rodoviário é um fator de competitividade negativo
para todo o setor. No caso do transporte de animais, isso se torna tanto mais
importante à medida que muitas unidades, em especial do sul e sudeste do país,
estão adquirindo matérias-primas, a distâncias cada vez maiores. Assim, a
utilização de alternativas mais baratas de transporte poderia permitir a sua maior
competitividade no mercado, principalmente em relação àquelas empresas que
recentemente se instalaram nas regiões produtoras. Também permitiria uma
maior competitividade com as carnes de outros países.
De acordo com a perspectiva de Ribeiro (2005), na guerra da
competitividade a logística vai representar vantagem competitiva entre empresas
concorrentes. Quando se fala em logística a idéia predominante é com relação à
distribuição física de produtos acabados, onde por sinal já existem processos bem
desenvolvidos. Entretanto, a abordagem pelo lado do fornecimento de matérias-
primas e componentes, os sistemas convencionais em uso estão totalmente
ultrapassados. Isso foi devidamente abordado por Zylbersztajn e Neves (2000),
que preconizam que a atividade de transporte é uma das mais importantes dentro
do conjunto logístico de uma empresa, sendo que a relevância está diretamente
ligada à devida integração com as demais atividades do conjunto. Assim sendo,
cada modalidade de transporte oferece vantagens e desvantagens para a
movimentação de cargas.
Nesse sentido, Zylbersztajn e Neves (2000), destacaram que seja qual for
meio de transporte (modal) ou a combinação de modais utilizada, deve-se esperar
uma movimentação mais lógica e racional dos produtos agroindustriais, ao longo
do sistema viário nacional.Para tanto, existem opções de embalagens adequadas,
o que pode fazer com que os atributos relacionados à qualidade dos serviços de
transporte sejam cada vez mais indicadores de confiabilidade. Entretanto, para os
mesmos autores, o suporte logístico constitui-se em uma barreira ao
desenvolvimento do setor agroindustrial brasileiro, na medida em que seu custo é
mais elevado em relação ao da concorrência.
39
Segundo Pardi et al (1993), o transporte rodoviário predomina no Brasil em
função da expansão da malha rodoviária, da ineficiência administrativa da rede
ferroviária e da política equivocada quanto ao transporte aquaviário. Este último,
embora mais econômico e eficiente só é efetuado naquelas regiões onde constitui
a única forma de acesso.
Na concepção de Batalha (2001), é preciso entender os sistemas
logísticos, onde os bens e serviços produzidos, são obtidos com base em bens e
serviços provenientes de um mercado a montante e poderão sofrer possíveis
processamentos a jusante, ou apenas seguirem por um canal de distribuição
diretamente ao consumidor final. A cada transformação que o produto passa,
física, temporal ou espacial, lhe é agregado valor e incorporado uma melhor
condição de satisfazer o consumo. Logo a logística trata da movimentação dos
produtos em três áreas: suprimentos, apoio à produção e distribuição física,
passando por dificuldades desde o fornecedor até o cliente final. Para o mesmo
autor, esta mesma logística busca resolver, também, problemas de tempo,
espaço e custos, referentes à comunicação entre as empresas, movimentação e
transporte de materiais e produtos. Por conseguinte esta voltada a evitar rupturas
de suprimento de produtos, nos pontos de venda, bem como o excesso de
materiais e produtos em todos os elos da cadeia.
Por sua vez os custos de logísticas, segundo Batalha (2001), são tão
importantes quanto os custos de produção, o que faz com que o sistema a ele
atinente, busque um sistema que permita, no menor tempo possível, dispor dos
produtos no momento e na quantidade adequados, visando a manutenção de
estoques, que atendam as necessidades tanto da oferta quanto da demanda.
Ainda de acordo com Batalha (2001), os sistemas logísticos são compostos por
canais logísticos que se estendem da montante à jusante. Estes canais, por sua
vez, dependem das tecnologias (operacionais, produtivas, de logística e de
informação e comunicação) e do poder dos agentes que participam dos canais de
distribuição associados.
Batalha (2001), também, ressaltou que as atividades ligadas ao sistema
logístico são as seguintes: básicas (transporte, manutenção de estoques e
processamento de pedidos) e de apoio (armazenagem, manuseio de materiais,
40
embalagem, compras, programação de produção e previsão de necessidades).
Tanto as atividades básicas quanto às de apoio exercem duas funções:
informativa (passagem e controle na transferência física de pedidos) e física
(transporte e manuseio de cargas). Estas funções compõem os fluxos físicos e de
informações que formam o sistema logístico, como observado na figura 5.
Figura 5: Sistema Logístico.Fonte: Batalha (2001).
Como se vê na figura 5, no fluxo físico os aspectos operacionais da
logística referem-se á movimentação e armazenagem de materiais e produtos
acabados. Assim, inicia com o transporte de matérias-primas, insumos ou
materiais componentes, desde o fornecedor e tem seu término com a entrega no
mercado final. O caminho natural deste fluxo é em direção ao cliente. Já no fluxo
de informações, dá-se a troca de informações que suporta a movimentação de
determinados materiais de um lugar a outro, quando e onde forem necessários, a
fim de atender as exigências de todos os elos da cadeia. O processo logístico,
referente à gestão do fluxo de informações, tem como objetivo o estabelecimento
de um plano integrado para toda cadeia de suprimentos. Esta integração é
necessária para manter a continuidade operacional, evitando faltas ou estoques
excessivos em qualquer um dos elos envolvidos. É neste ponto, do fluxo de
informações, que se dá de maneira inquestionável a interface com a necessidade
de um bom sistema de comunicação empresarial.
canais de distribuição
FLUXO DE INFORMAÇÕES
FLUXO FÍSICO
FORNECEDORES CLIENTESsuprimentos apoio àprodução
transações comerciais
distribuiçãofísica
41
3.6 Definindo qualidade e suas características
Segundo Batalha (2001), qualidade é definida como sendo propriedade,
atributo ou condição das coisas ou das pessoas, capaz de distingui-las das outras
e de lhes determinar a natureza. A partir desta definição, pode-se destacar três
pontos: a qualidade é um atributo das coisas ou pessoas, a qualidade possibilita a
distinção ou diferenciação das coisas ou pessoas e, por fim, a qualidade
determina a natureza das coisas ou pessoas.
Assim sendo, percebe-se que qualidade não é algo identificável e
observável diretamente, principalmente no setor de alimentos, onde
características como sabor, valor nutritivo, cor, textura, higiene, etc, são os
determinantes e balizadores da dita qualidade. Portanto, a qualidade dos gêneros
alimentícios, antes mesmo de ser quantificada, será determinada de forma
subjetiva, pois as características que formam e definem o conceito são, também,
subjetivas.
No entendimento de Batalha (2001), sempre existiram duas dimensões
associadas à qualidade, uma dimensão objetiva, ou qualidades primárias, que se
refere à qualidade intrínseca da substância, ou seja, os aspectos relativos às
propriedades físico-químicas do produto, e a dimensão subjetiva, ou secundária,
que se refere à percepção que as pessoas têm das características objetivas e
subjetivas, isto é, está associada à capacidade que o ser humano tem de pensar,
sentir e de diferenciar em relação às características do produto. Na atualidade, na
percepção de Batalha (2001), existe uma nova visão da qualidade, que é a da
satisfação total do cliente, onde não só os parâmetros intrínsecos do produto são
importantes, como também aqueles aspectos subjetivos e pessoais deverão ser
considerados. Portanto, a qualidade, para atingir e proporcionar a satisfação total
do cliente, deverá proporcionar ao produto não só seus aspectos físico-químicos,
mas também sua embalagem, orientação para o uso, imagem e todas as
características associadas ao produto.
Batalha (2001), destacou que a qualidade de um produto agroalimentar,
tem duas características marcantes, que são os parâmetros e exigências de
42
qualidade (normas e regulamentos sanitários), e a importância dos padrões de
qualidade de apresentação, ou representação, para a decisão de compra do
produto. Assim, pode ser que um produto que seja perfeito do ponto de vista da
qualidade não seja desejado pelo consumidor, levando-se em consideração
aspectos como sabor, forma, textura, beleza, estética, etc. Ainda mais, segurança
e qualidade são duas dimensões inseparáveis em todas as fases da cadeia
agroalimentar, entretanto, ao longo desta cadeia, existem percepções diferentes
sobre o significado da qualidade e da segurança.
Estes aspectos da qualidade e da segurança, conforme Batalha (2001),
dependem mais da cultura e do conhecimento de todos, do que de leis severas e
rigorosas de inspeção governamental. Por exemplo, a gestão da qualidade
depende da participação consciente e voluntária de todos os envolvidos para que
os ganhos sejam otimizados e usufruídos por todos. Isso depende da
conscientização e da capacitação para aplicação de boas práticas de manufatura
e de higiene em toda a cadeia. Um alimento seguro,para o mesmo autor, pode ser
definido como aquele que não apresenta um risco significativo para a saúde,
enquanto que gestão, ou controle da segurança, pode ser definida como o
conjunto de todas as medidas planejadas e implementadas de forma sistemática,
através de toda a cadeia agroalimentar, que geram confiança na insignificância do
risco à saúde na ingestão do alimento.
Por sua vez, um alimento de qualidade é aquele que, de maneira
consciente, atende às necessidades do consumidor em termos de conveniência,
de propriedades organolépticas, funcionais, nutritivas e de higiene; e que respeita
a legislação pertinente e informa ao consumidor quanto aos cuidados e modos de
preservação, preparo e ingestão.
Batalha (2001), considerou que as especificidades da qualidade no sistema
agroalimentar são:
a) A qualidade do produto final depende da qualidade ao longo de toda a
cadeia alimentar;
b) No final da cadeia agroalimentar predomina a avaliação subjetiva da
qualidade, ou seja, a qualidade percebida pelo consumidor;
43
c) A segurança é um aspecto fundamental da qualidade e ambas estão
sujeitas ao controle de órgãos públicos.
Ainda de acordo com Batalha (2001), em relação à primeira especificidade,
faz-se necessária à coordenação das ações, que influem na qualidade final, ao
longo de toda a cadeia, e também a conscientização de que a gestão da
qualidade de uma unidade de produção deve transcender os limites da mesma.
Em relação à segunda especificidade, faz-se necessário avaliar a qualidade
percebida pelo consumidor, identificar a qualidade esperada pelo mesmo e
desdobrar os requisitos de qualidade, ao longo de toda a cadeia e internamente à
empresa em questão. Em relação aos aspectos de segurança e de controle oficial
da qualidade, é relevante o conhecimento sobre o que define a segurança para o
produto em estudo e a aplicação da gestão da segurança.
Já Crosby (1991), definiu a aplicação da qualidade como a substituição do
“apagar incêndios” pela prevenção dos defeitos. Esta argumentação casa
perfeitamente com a aplicação da administração estratégica como princípio
básico na busca da excelência. O estabelecimento de metas e a busca de um
programa linear de conduta em todos os processos que envolvem a constituição
de uma empresa são os primeiros passos para ao estabelecimento da qualidade.
No entendimento de Zylbersztajn e Neves (2000), para se definir a
segurança em alimentos, é importante diferenciar o termo, que tem sido utilizado
com dois significados. O primeiro sob o enfoque quantitativo, referindo-se ao
abastecimento adequado de uma determinada população. Já o segundo, que tem
crescido em importância, juntamente aos novos processos de industrialização e
às novas tendências de comportamento do consumidor, diz respeito ao enfoque
qualitativo, ou seja a garantia de o consumidor adquirir um alimento com atributos
de qualidade que sejam de seu interesse, entre os quais destacam-se saúde e
segurança.
De acordo com Zylbersztajn e Scare (2003), a busca da qualidade passa
pela identificação e implementação de algumas características, dentre elas, a
padronização, a certificação e a rastreabilidade. A padronização representa um
modo particular de reunir, filtrar e estocar grande parte da informação sobre
processos e produtos, logo padrão é um conjunto de especificações técnicas, às
44
quais adere um produtor voluntária ou compulsoriamente. Estas especificações
cumprem quatro funções: referência, compatibilidade, base para ampliação da
economia de rede e base mínima para garantir um nível de eficiência social. A
certificação, por sua vez, parte da definição de atributos para um produto,
processo ou serviço e a garantia de que eles se enquadram em normas
predefinidas.
Assim, para Zylbersztajn e Scare (2003), a certificação envolve normas
privadas, públicas, nacionais e internacionais (ambiente institucional) e um órgão
certificador, com poder de monitoramento e exclusão (ambiente organizacional).
No agronegócio, a certificação pode ser tratada no plano da coordenação das
cadeias produtivas, pois procura garantir a qualidade de seus produtos segundo
as necessidades e desejos dos consumidores. Qualidade, aqui entendida em seu
conceito amplo, diz respeito a todos os produtos, sejam eles alimentos ou
matérias-primas. Assim sendo, a certificação, pelo lado da oferta, é um
instrumento que oferece procedimentos e padrões básicos, que permitem
gerenciar o nível de qualidade dos produtos e garantir um conjunto de atributos,
criando um instrumento de exclusão e seleção de firmas e produtos. Do lado da
demanda, a certificação espera informar o consumidor de que determinado
produto tem certos atributos por ele procurados, servindo de mecanismo de
aumento de eficiência dos mercados.
A certificação, segundo Zylbersztajn e Scare (2003), baseia-se em dois
princípios: gerar benefícios aos consumidores e criar incentivos à cooperação
horizontal e vertical entre as firmas, buscando, ainda, cumprir os seguintes
objetivos: estabelecer rotulagem (padrão de processo), denominar a origem,
garantir o cumprimento de princípios de sanidade (principal em termos de cadeia
da carne bovina) e de pureza; prover a sustentabilidade socioambiental e
expressar outros atributos, tais como orgânicos ou “produtos da fazenda”. Cumpre
ainda, o papel de implementar padrões internos de normas de gestão de
processos e de boas práticas (da própria empresa). Por fim, a certificação da
razão a rastreabilidade, a qual, segundo Zylbersztajn e Scare (2003), é um
conceito entendido como a capacidade de reencontrar o histórico, a utilização ou
a localização de um produto qualquer através de meios de identificação
registrados, ou seja uma forma organizacional que permite a estreita ligação de
45
todas as etapas da cadeia agroalimentar, do produtor ao consumidor final,
permitindo traçar etapas anteriores, até a origem do produto, seu histórico e seus
componentes. Vista desta forma, a rastreabilidade possui semelhanças e
diferenças em relação ao conceito de certificação, confundindo-se às vezes,
especialmente no Brasil.
Os dois termos exigem a coordenação dos agentes econômicos que lidam
com processos, podendo-se afirmar que os sistemas rastreáveis exigem alguma
forma de certificação, mas nem todos os sistemas com certificação precisam ser
rastreáveis. Como a rastreabilidade está associada ao “rastreamento” de um ou
mais atributos presentes em um alimento final, ela pode confundir-se com
certificação de origem, pois um sistema só será perfeitamente rastreável se a
origem do atributo rastreado for plenamente conhecida, especialmente quando for
devido às transformações pelas quais ele passa ao longo do processo de
produção e distribuição. No caso da pecuária de corte, a rastreabilidade perfeita
estaria associada à completa identificação do animal que forneceu determinado
tipo de carne e à capacidade de identificar o produto passo a passo até o
consumidor final, portanto, devidamente certificado. A certificação, seguida de
rastreabilidade torna-se, portanto, um instrumento cada vez mais importante, pois
privilegia as preferências e a satisfação do consumidor. Ela decorre da crescente
preocupação com a qualidade e segurança dos alimentos, justificando e dando
base para a implantação de programas de qualidade em toda a cadeia produtiva,
conforme defendido por Pinheiro et al (2001), Pinheiro (2002), Gama e Pinheiro
(2002) e Pinheiro et al (2003).
3.7 Os ambientes
Zylbersztajn e Neves (2000), indicaram que o sistema agroindustrial pode
ser visto como um fluxo amparado por duas margens: uma representada pelo
ambiente institucional e outra pelo ambiente organizacional. As instituições
preparam e executam as regras do jogo da sociedade, e são representadas pelas
leis, tradições e costumes que caracterizam as diferentes sociedades. As
organizações são, por sua vez, aquelas estruturas criadas para dar suporte ao
funcionamento do sistema, tais como: empresas, universidades, cooperativas e
46
associações de produtores. A mudança das organizações pode ocorrer com
rapidez, porém, as instituições mudam com mais dificuldade. Logo a dinâmica das
empresas adapta-se ao ambiente institucional, mas também busca modificá-lo,
exercendo pressões sobre o legislativo em busca de regras mais claras aos seus
interesses. A compreensão das organizações, e principalmente, das instituições,
é importante para a definição das estratégias privadas e das políticas públicas.
Em síntese, é preciso, também, destacar a importância dos agentes de
apoio à cadeia agroindustrial. Dentre esses agentes, de acordo com Santos
(2002), destacam-se os sistemas de financiamentos, serviço de inspeção
sanitária, a legislação ambiental, a infra-estrutura de transporte, os serviços de
P&D dentre outros. A competitividade da produção de bovinos e sua indústria de
abate e processamento conta com um vetor fundamental de suporte caracterizado
pela operação das diferentes instituições, tanto oriundas do governo, quanto do
próprio ambiente associativo entre agentes produtores. Nesse sentido, cabe
identificar e compreender as formas de ação, tanto dessas instituições, quanto
das organizações, em todos os elos da cadeia produtiva da carne bovina, na
busca da promoção da competitividade. Tem-se em vista, a permanência da
posição de destaque alcançada no mercado internacional, mesmo que à custa da
exportação de carnes in natura, uma vez que, no Brasil, o processamento é tido
como alternativa, na busca de ganhos extras em nichos de mercado específicos,
e não como necessidade. Isto, devido, em grande parte, às características do
mercado interno, onde os consumidores privilegiam a carne in natura, e, também,
devido à falta de visão e profissionalismo de uma parcela dos empresários do
segmento de abate.
3.8 Ambiente institucional
3.8.1 O comércio internacional
Em que pese as diferentes formas de protecionismo, o mercado externo
vem se apresentando como importante alternativa comercial para o segmento
47
carnes, bem como tem propiciado transformações em seus processos produtivos.
Note-se que os entraves decorrentes das políticas protecionistas praticadas pelos
países, segundo Santos (2002), podem ser resumidos em três grupos:
1. barreiras tarifárias (tarifas de importação, outras taxas e valoração
aduaneira);
2. barreiras não-tarifárias (restrições quantitativas, licenciamento de
importações, procedimentos alfandegários, medidas antidumping e
compensatórias);
3. barreiras técnicas (normas e regulamentos técnicos, regulamentos
sanitários, fitossanitários e de saúde animal).
Vale ressaltar que as barreiras decorrem da falta de transparência das
normas e regulamentos, ou mesmo da imposição de procedimentos demorados
ou dispendiosos para avaliação de conformidade. São, também, conseqüência de
regulamentos excessivamente rigorosos, de discriminação com relação ao
produto importado e de inspeções caracterizadas pelo arbítrio ou excesso de zelo.
Assim, as barreiras não são necessariamente explícitas, já que para alguns
países podem ser apenas uma questão de cautela quanto ao produto que se está
pretendendo habilitar, e para outros pode significar uma forma de retardar o
processo de importação para privilegiar a indústria local. Por isso, as barreiras
são formas de os países importadores se precaverem, seja como política
industrial, para estimular o incremento da competitividade das empresas locais,
seja como forma de regulamentar os produtos transacionados em seus países.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a instituição de barreiras é muito dinâmica e
depende das perspectivas pelas quais os governos dos países importadores se
posicionam em relação a essa questão.
Frente a isso, observa-se que o protecionismo existe e é atuante nesse
mercado, sendo peça chave na capacidade de exportação, em especial por ser
um fator muito desfavorável para as empresas exportadoras. Este panorama de
barreiras e protecionismos pode ser visualizado na figura 6.
48
Figura 6: Carne Bovina: Proteção de fronteira.Fonte: Jank (2004).
De acordo com a figura 6, nota-se que as barreiras mais acentuadas contra
a carne bovina brasileira encontram-se na esfera sanitária e na determinação de
quotas de importação. Quanto à questão das barreiras sanitárias, o principal
problema é o da febre aftosa, que exclui a carne nacional de mercados como os
Estados Unidos e o Japão. Logo, como será discutido nos próximos tópicos,
conquistar o status de zona livre de febre aftosa deve ser prioridade número um.
Para tanto, adotar políticas conjuntas com os países que compõe a fronteira
brasileira, como é o caso do Paraguai e da Bolívia, constitui-se na estratégia mais
conveniente para o momento.
Já sob a ótica das quotas e subsídios, a carne bovina não sofre tanto
quanto os produtos agrícolas, pois mesmo com a taxação das quantidades que
excedem as quotas determinadas, o preço da carne brasileira ainda se mantém
altamente competitivo no mercado internacional. Entretanto, como afirmou
Pinheiro (2002), no tocante ao preço, o Brasil precisa tomar cuidado, pois ele não
será vantagem competitiva por muito tempo, sendo, inclusive, responsável, pela
tremenda perda de lucratividade do setor. Esta característica pode continuar
49
valendo para mercados marginais, entretanto nos países desenvolvidos as
questões ligadas à qualidade, segurança alimentar e sanidade ditarão a
capacidade de competir do produto, deixando a questão preço em segundo plano.
Com o atendimento destes quesitos, a tendência é de que o preço da carne
certificada aumente, razão pela qual, o Brasil, como maior exportador, necessita
de uma postura pró-ativa para ingressar nesta faixa de mercado, deixando de
copiar e passando a ser copiado.
A confirmação destes fatos pode ser vista na figura 7, a qual demonstra
que 61% dos mercados estão fechados ao comércio com a carne bovina
brasileira.
Figura 7: Restrições nos 20 maiores importadores de Carne in natura, 2002.Fonte: Jank (2004).
Analisando-se pela ótica do valor, verifica-se que a exportação de carne
bovina apresenta um ponto de inflexão a partir de 1999, fortemente determinada
por alguns fatores como: desvalorização do real, crise social Argentina, associada
ao surgimento de febre aftosa naquele país, secas na Austrália e doença da “vaca
louca” no Canadá, Estados Unidos e Europa, como mostram as figuras 8, 9 e 10.
Outras constatações possíveis, são a afirmação do Brasil como maior exportador,
e isto tendo acesso, como já mencionado, à apenas 39% do mercado
internacional de carne bovina (figura 9), e que o aumento da produção está
50
diretamente relacionado ao aumento das exportações, já que tanto o consumo
interno quanto às importações mantiveram-se em patamares praticamente
constantes (figura 10).
Figura 8: Maiores exportadores de carne bovina. (2004 - estimado).Fonte: Jank (2004).
51
Figura 9: Exportações brasileiras de carne bovina em US$ milhões.(2004,números de janeiro a agosto).Fonte: Rosa (2004).
Figura 10: Balanço da carne bovina brasileira.Fonte: Jank (2004).
No tocante ao comércio exterior, é preciso salientar os principais destinos
da carne bovina brasileira. Apesar de serem de possível percepção no contexto
da figura 7, detalha-los com maior pertinência apresenta uma melhor constatação
do cenário geral. Como salienta a figura 11, o principal destino da carne brasileira
é a comunidade Européia que responde com mais de 40% das vendas do Brasil.
52
A presença dos Estados Unidos nesta figura, justifica-se devido ao fato de a
mesma incluir miúdos e carnes industrializadas.
Figura 11: Principais destinos das exportações de carne bovina brasileira, 2003.Fonte: Jank (2004).
3.8.2 O segmento macroeconômico
As condições macroeconômicas são fundamentais em qualquer análise
que se faça sobre os determinantes de competitividade. Nesse sentido, segundo
Santos (2002), questões como taxa de câmbio, taxa de juros, tributação,
disponibilidade e acesso ao crédito, nível e distribuição de renda, dentre outros,
constituem-se em determinantes do desempenho da atividade produtiva. A
política cambial adotada pelo governo brasileiro a partir de 1999, com a
implantação do câmbio flutuante, aparentemente vem favorecendo os setores
exportadores, em decorrência da crescente desvalorização do real frente ao dólar.
No entanto, esse aparente favorecimento é contrastado pela volatilidade, que
dificulta o planejamento de médio e longo prazo das empresas ao não permitir a
53
previsibilidade da tendência da moeda, determinando graus de incerteza quanto à
rentabilidade dos investimentos, como destacou o autor acima citado.
Quanto à taxa de juros, também Santos (2002), identificou que esta atua
sobre o mercado tanto pelo lado da demanda quanto pelo lado do investimento,
que estão intimamente relacionados. Pelo lado da distribuição de renda, não tem
havido mudanças significativas na estrutura distributiva, muito embora se observe
crescimento da massa salarial, porém com rendimentos decrescentes. Essa
situação é verificada pela quase inexistência de mudança na participação da
renda dos 50% mais pobres. Quanto à disponibilidade de crédito, o mesmo autor
salientou que após um longo período sem crédito para investimentos, juros altos,
instabilidade econômica e descapitalização do produtor, o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disponibilizou linhas de crédito
específicas para pecuária, destinadas basicamente a modernização da atividade
produtiva, a formação de pastagens e a melhoria genética do rebanho.
No entanto, de modo geral, o custo do dinheiro para o segmento, expresso
pelas elevadas taxas de juros e prazos não adequados às necessidades do setor,
tem proporcionado pouca efetividade às linhas de financiamento disponibilizadas
aos produtores. Vale destacar que a rentabilidade da atividade nem sempre
remunera o custo do crédito. Além disso, é comum os tomadores de tais recursos
enfrentarem dificuldades para saldar seus compromissos financeiros. Já para o
segmento de abate e processamento, apesar de existirem linhas de
financiamento, estas são gerais para o conjunto da atividade industrial brasileira,
não havendo diferenciação para a atividade em si.
Toda esta situação, faz com que só tenham acesso ao crédito de
investimento, as empresas que possuem garantias reais e que apresentem baixo
risco de operação bancária. As demais ficam sujeitas aos critérios de mercado,
obrigando as empresas, muitas vezes, a operar com linhas de capital de giro para
a realização de investimentos.
Quanto ao problema da tributação, cuja carga é considerada expressiva, o
setor, assim como muitos outros, conforme o que destacou Santos (2002),
aguarda o fim da tramitação no congresso nacional da reforma tributária. Já, no
54
tocante à distribuição de renda, as soluções estão muito distantes de serem
alcançadas, pois o crescimento econômico ainda não é uma realidade sustentável
ao longo prazo e os problemas sociais estão cada vez mais acentuados.
3.8.3 A legislação sanitária e ambiental
Ainda para Santos (2002), a legislação ambiental não apresenta grande
restrição ao desenvolvimento da cadeia da bovinocultura de corte,em especial
pelo fato de que a produção pecuária se caracteriza por ser desenvolvida de
forma extensiva, portanto, sem concentração de resíduos. Já no segmento
industrial, o tratamento e destino de resíduos e de águas servidas resultantes do
abate e do processamento da carne bovina, tem se constituído em preocupação
dos órgãos ambientais e da sociedade em geral, pelo caráter poluidor que
apresenta, devido a seus efluentes com elevada concentração de matéria
orgânica e de detergentes.
De acordo com Santos (2002), tecnologias para o tratamento de efluentes
são disponíveis e começaram a serem utilizadas pelas indústrias desde meados
dos anos 1980, sendo mais rigoroso nas plantas do subsistema exportador.
Contudo, algumas unidades de abate e processamento, têm enfrentado
problemas quanto ao tratamento adequado dos efluentes, particularmente
aquelas localizadas em áreas urbanas, onde são importantes as restrições de
espaço físico para a construção das lagoas e tanques de decantação com
capacidade adequada. Ressalte-se, ainda, que o mercado externo vem
apresentando crescente exigência quanto aos aspectos de qualidade ambiental e
sanidade animal. Esse fato vem se constituindo, para os mercados de países
desenvolvidos, em importantes barreiras não-tarifárias, podendo restringir as
exportações futuras para esses mercados.
Novamente, a rastreabilidade é mais um desafio a ser enfrentado pelo
setor no processo de melhoria da qualidade do produto. Todo um aparato de
cuidados na certificação, que inclui a rastreabilidade, foi desenvolvido na Europa
55
após a crise desencadeada com o surgimento, da doença da "vaca louca"
(Encefalopatia Espongiforme Bovina - EEB), como ressaltou Santos (2002). Tais
mecanismos, que devem ser adotados ao longo da cadeia produtiva, a partir da
prática de controle dos agentes varejistas, requerem controles rigorosos com
respeito às condições de produção e sistematização de informações sobre o
produto de origem animal.
Pretende-se, dessa forma, dar garantias ao consumidor quanto à qualidade
da carne comercializada, através da identificação, registro e monitoramento de
cada animal. Além disso, espera-se que esse sistema proporcione um diferencial
de preço que, possa premiar iniciativas voltadas à melhoria do rebanho e das
condições de criação. A introdução da rastreabilidade, como estratégia de
comercialização, todavia, pode esbarrar em dificuldades inerentes ao
comportamento do consumidor e às condições gerais de distribuição de renda.
Cabe considerar que esse mecanismo de controle vem sendo, precariamente,
implementado no Brasil, com a instituição do Sistema Brasileiro de Identificação e
Certificação de Origem Bovina (SISBOV), criado pela Instrução Normativa n.o 1,
de janeiro de 2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Maiores desdobramentos sobre a aplicação encontram-se na seção seguinte.
3.8.4 Inspeção Federal
Quanto à inspeção, Santos (2002), destacou que esta se constitui em
importante fator de credibilidade para o segmento de abate e processamento de
carne, à medida que certifica o produto para os mercados interno e externo. O
abate formal de animais é regido por legislação sanitária específica e possui três
níveis de inspeção e fiscalização: federal, exercida pelo Serviço de Inspeção
Federal (SIF); estadual, por intermédio do Serviço de Inspeção Estadual (SIE); e
municipal, por meio do Serviço de Inspeção Municipal (SIM). Essa divisão de
trabalho encontra-se estabelecida em lei. Ainda, de acordo com o mesmo autor,
os estabelecimentos sob controle federal podem realizar o comércio nacional e
internacional de sua produção, os da esfera estadual, tem sua atuação restrita ao
56
âmbito do estado e os da esfera municipal estão circunscritos às respectivas
divisas municipais.
3.8.5 Os insumos
Com respeito a este quesito, Araújo (2003) afirmou que, apesar de certo
atraso temporal, o segmento antes da porteira no Brasil já apresenta destaque em
nível mundial, sobretudo com referência à pesquisa aplicada, com predomínio da
atuação governamental e das instituições de pesquisa. Os avanços tecnológicos,
nas três últimas décadas, foram fantásticos, com ênfase em: biotecnologia,
informática, tecnologias agroindustriais, embalagens, mantendo-se, ainda, as
linhas tradicionais de pesquisa. Tais avanços permitiram que fossem lançados no
mercado, novos produtos, persistindo, no entanto, carência em investigações em
direção a aspectos que aliem produtividade com qualidade e meio ambiente.
3.8.6 A pecuária
Para Zeni (2001), com a globalização, para que qualquer setor possa
comercializar seus produtos sem restrições, torna-se necessário que esteja
enquadrado em normas internacionais, como já mencionado. Na atualidade,
valem aquelas oriundas da Organização Mundial do Comércio (OMC). A pecuária,
por sua vez, deve satisfazer um conjunto de requisitos básicos de qualidade,
notadamente no que tange as condições sanitárias dos seus rebanhos, na
tecnologia de abate, transformação e comercialização de seus produtos.
Como principal restrição à comercialização internacional de produtos
pecuários, encontra-se, como também já destacado, a febre aftosa, com respeito
a qual, o Brasil vem desenvolvendo grandes esforços, no sentido de erradicação.
Nesse sentido,por exemplo, o estado de Santa Catarina foi considerado como
área livre a partir de maio de 1998, condição torna o Estado uma área
57
completamente diferenciada do restante do território nacional, constituindo-se,
segundo Zeni (2001), no único caso do mundo, isto é, uma área livre dentro de
um país considerado infectado. Isto obriga o estado de Santa Catarina a manter
um sistema de barreiras sanitárias em suas fronteiras com o estado do Paraná e
Rio Grande do Sul, impedindo a entrada de animais susceptíveis à doença, bem
como a entrada de carnes com osso.
Adicione-se, também, que a tradicional forma de produção de bovinos no
Brasil conduz a um produto de qualidade inferior, com características sanitárias e
organolépticas aquém das expectativas dos consumidores externos. No entanto,
a busca por um produto diferenciado e com melhores características de
qualidade, conduziu os agentes da cadeia da carne a incentivarem a produção de
animais com genética e manejo mais apurados, como é o caso dos novilhos
precoces, conforme afirmou Zeni (2001). As soluções para o problema, vão desde
o desenvolvimento de tecnologia viável à produção, desenvolvimento de
abatedouros que processem diferentemente esses animais, campanhas
publicitárias para a divulgação e, inclusive, incentivos fiscais concedidos pelo
Estados através de redução no ICMS. Em alguns casos, a redução pode chegar a
50% do imposto, ao mesmo tempo em que o preço dos novilhos, que na situação
normal é desvalorizado, alcança o mesmo preço do boi. A sonegação fiscal
muitas vezes inviabiliza o incentivo através da redução de impostos, mas a
possibilidade de vender os animais mais jovens tem atraído vários produtores,
pois conseguem um diferencial de preço no frigorífico.
Neste contexto, conforme exposto por Zeni (2001), algumas associações
de criadores, como é o caso da Associação Brasileira de Novilho Precoce, vêm
buscando ao longo dos anos, sensibilizar criadores, autoridades governamentais
e os segmentos industriais e comerciais a promoverem ações visando à melhoria
da produção e produtividade do rebanho bovino. A meta é garantir, aos
consumidores, a oferta de uma carne de melhor qualidade, ao mesmo tempo em
que são agregados novos valores ao produto, o que implica em melhor
remuneração, conforme bem demonstrado por Pinheiro (2002).
58
3.8.7 O setor de abate
Sobre a vigilância internacional e a defesa agropecuária nacional, Lima
(1999), afirmou que a proteção da agropecuária deve ser considerada a pilastra-
mestra para o desenvolvimento do agribusiness de um país, o qual deverá contar,
essencialmente, com um sistema de inspeção e vigilância agropecuária,
modernos e em consonância com as exigências dos países de primeiro mundo.
Segundo o autor, no Brasil, a atividade específica de vigilância sanitária
internacional já vem sendo efetuada há algum tempo por meio de portarias que
aprovam a localização dos postos de vigilância agropecuária, nominando
oficialmente os aeroportos, portos e postos de fronteira. O abate, a
industrialização e a comercialização dos produtos derivados de origem animal, no
Brasil, são disciplinados, de acordo com:
a) Lei Federal 1.283, de dez/50, que institui a obrigatoriedade da prévia
inspeção no abate de qualquer tipo de animal em todo o território
nacional, bem como delega a competência para a realização desse
serviço aos setores de agricultura: Ministério da Agricultura em âmbito
nacional e Secretarias de Agricultura em âmbito estadual;
b) Decreto Lei Federal N.º 30.691, de 29 de mar./52, que regulamenta o
abate, transformação, transporte e comercialização nos aspectos
higiênicos, sanitários e tecnológicos;
c) Portaria N.º 5, de 8 de nov./88, que aprova a padronização dos cortes
de carne bovina, permitindo a apresentação de 37 cortes diferentes;
d) Portaria N.º 304, de 22 de abr./96, que incrementou o grau higiênico
sanitário e tecnológico de conservação, embalagem e transporte.
Sobre os impactos desta última Portaria no 304, editada em abril de 1996,
adicione-se que ela estabeleceu critérios sobre a identificação, cortes,
embalagem e temperatura da carne e a constituição das salas de desossa
específicas para o manuseio, cabendo registrar algumas considerações dela
decorrentes. A principal refere-se ao fato dela ter estabelecido que toda a carne
59
vendida pelos frigoríficos seja resfriada (até 7 graus centígrados no centro da
musculatura da peça) e embalada. Nessa embalagem devem constar, no mínimo,
a designação da origem do animal, a marca do frigorífico, o prazo de validade e o
telefone para contatos.
Em relação à questão sanitária, mais especificamente a febre aftosa,
Michels (2001), ressaltou que o controle a esta doença através de ações públicas
e privadas, só foi posto em prática no Brasil em 1919, quando o ministério da
agricultura, através de uma política normativa e fiscalizadora e do código de
política sanitária adotou medidas de controle. A opção pela erradicação da
doença veio, em 1992, quando o Ministério de Agricultura e Abastecimento e as
Secretarias Estaduais de Agricultura, com a assessoria do Centro Pan-americano
de Febre Aftosa, fizeram modificações estruturais nos encaminhamentos de
combate à doença no Brasil. A partir desta data passou-se a priorizar a
erradicação em vez do controle e, dada à complexidade e extensão territorial
brasileira, definiu-se, entre os diversos agentes envolvidos, um cronograma e uma
estratégia objetivando a erradicação definitiva da febre aftosa no Brasil até o ano
de 2005.
Ainda segundo Michels (2001), é fundamental observar que esta nova
abordagem voltada à erradicação da Febre Aftosa, envolve diretamente a
participação de todos os agentes pertinentes: Ministério da Agricultura,
Secretarias Estaduais de agricultura e a iniciativa privada (indústrias de vacina,
produtores, frigoríficos e distribuidores). A partir da definição da estratégia de
erradicação e dos agentes envolvidos e suas responsabilidades, definiram-se as
principais ações a colocar em prática: organização da comunidade, imunização de
bovinos e bubalinos, sistemas de vigilância epidemiológica e informação e a
capacitação de recursos humanos.
Estes fatos descritos por Michels (2001), infelizmente não se traduziram
em verdade nos anos seguintes. Para constatar tal afirmativa, basta visualizar a
figura 12, onde estão demarcadas, no mapa do Brasil, todas as possíveis
situações que envolvem a febre aftosa, salientando a existência de focos e de
zonas sem nenhuma espécie de controle. Assim sendo, o processo de
erradicação não obterá sucesso enquanto medidas conjuntas com os países
60
fronteiriços não forem efetivadas, constituindo-se, assim, em uma eterna ameaça
em relação a novos focos de Febre Aftosa, prejudicando a busca pela qualidade
e, em conseqüência, a ampliação das exportações em aspectos como volume
físico e preço.
Figura 12: Representação esquemática referente ao processo de implantação dazona livre de febre aftosa com vacinação no Brasil, 2004.Fonte: Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), Divisão deFebre Aftosa.
A questão que se propõe com respeito à doença, é de que se trata de um
fator restritivo para uma boa relação comercial, tanto na circulação nacional de
animais, quanto na esfera da exportação de carne. Assim, as ações de vigilância
sanitária devem ser constantes no controle da situação sanitária dos animais.
Para ajudar nesta tarefa, algumas medidas deveriam ser adotadas, tais como: a
modernização e informatização de postos de fiscalização dos estados, o que
permite o controle das cargas de animais e de produtos derivados, em tempo real,
assim como a total modernização do sistema de defesa sanitária, mediante a
informatização dos escritórios regionais e aquisição de veículos e equipamentos.
61
3.8.8 Inovação tecnológica
No entender de Santos (2002), a geração e adaptação de tecnologias são
imprescindíveis para o aumento da produtividade, da melhoria da qualidade e
redução de custos da bovinocultura. No entanto, mesmo existindo, na esfera da
pesquisa pública, centros de pesquisa voltados para o campo específico de
bovinos, com destaque e referência a EMBRAPA – Campo Grande, o aporte de
conhecimento e de tecnologias não tem sido suficiente para atender as demandas
nas áreas, destacando-se itens tais como: desenvolvimento de pastagens mais
adequadas, suplementação alimentar e desenvolvimento genético. Segundo os
profissionais da área, as maiores dificuldades enfrentadas pelas instituições de
pesquisa, dizem respeito à falta de recursos financeiros para custeio e
investimento, ao pequeno número de pesquisadores em função das reais
necessidades apresentadas pela cadeia produtiva, e à falta de estímulos
governamentais para o setor. Essa deficiência tem sido, suposta e parcialmente,
coberta por empresas geradoras e disseminadoras de genética e de insumos
veterinários, como destacou o mesmo autor.
Outra entidade que tem ajudado bastante a suprir esta defasagem em
inovação é o Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de São Paulo
(FUNDEPEC). De acordo com Tonissi e Goes (2004), este Fundo, não
governamental, ligada à Secretaria de Agricultura Paulista, surgiu, inicialmente,
para criar e coordenar o programa de combate a Febre Aftosa, alcançando
resultados extraordinários e demonstrando grande competência. Em função deste
sucesso, ampliou suas atividades, passando a efetuar auditorias em frigoríficos, a
desenvolver programas de qualificação da cadeia da carne bovina, a promover
trabalhos na área de qualidade e a fomentar o estabelecimento de alianças
mercadológicas.
62
3.8.9 A coordenação da cadeia produtiva
Para Farina e Zylbersztajn (1994), a coordenação de uma cadeia produtiva
é definida como a capacidade de um dado sistema se estruturar para atender aos
seus objetivos, os quais estão relacionados à obtenção de vantagens
competitivas. A coordenação envolve um processo de transmissão de
informações, estímulos e controles, para que a mesma possa responder às
mudanças no ambiente competitivo, com o objetivo de buscar eficiência ao longo
da cadeia. Ou seja, os modelos de governança normalmente objetivam disciplinar
os negócios de modo a torná-los eficientes. A ausência de mecanismos de
articulação sistêmica impõe a necessidade de estimular o fortalecimento de
instituições que possam desempenhar funções de coordenação das cadeias
produtivas.
Ainda segundo os mesmos autores, a competitividade, e até mesmo a
existência de uma cadeia produtiva, depende da promoção de acordos entre
agentes, parcerias com o setor público ou entre agentes privados, e estímulo ao
associativismo e à cooperação para romper gargalos e identificar soluções.
Problemas presentes em determinados elos, ou comportamentos oportunistas de
determinados agentes, comprometem o desempenho da cadeia como um todo.
Para Santos (2002), com a mudança dos hábitos de vida e o conseqüente
crescimento desse mercado, os preços se ajustaram em função da melhor
qualidade do produto ofertado, situação bastante comum e que acontece com a
maioria dos produtos agrícolas. Porém, aqueles produtos que refletem uma
cadeia produtiva mais estruturada e melhor coordenada, como a cadeia produtiva
do frango, beneficiam-se mais rapidamente dessa situação, pois as informações
são transferidas de forma mais ágil, a todos os segmentos da cadeia e os
produtores podem se adaptar mais facilmente às mudanças do mercado,
conforme bem exposto por Pinheiro et al (2003).
No caso da bovinocultura de corte, essa transmissão é praticamente
inexistente, dada à falta de coordenação ao longo da cadeia. De acordo com
Pinheiro e Gama (2000a e 2000b), as entidades representativas do setor de
63
produção, abate e processamento da carne bovina, agem, na maioria das vezes,
isoladamente, tornando, ineficientes suas demandas. Exceção a isto, conforme
Santos (2002), ocorre para parte das empresas exportadoras, as quais contam
com a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC), que as
representa nas questões referentes às exportações. Infelizmente, esta associação
é restritiva com respeito à cadeia produtiva como um todo.
3.9 Ambiente organizacional
Como já destacado, por Santos (2002), as organizações são, por sua vez,
aquelas estruturas criadas para dar suporte ao funcionamento do sistema
agroindustrial, tais como: empresas, universidades, cooperativas e associações
de produtores. Partindo deste pressuposto se faz importante compreender o
cenário, ou melhor, o ambiente em que estes agentes se relacionam. As relações
entre os vários agentes da cadeia produtiva da carne bovina são, em sua
totalidade, amparadas no mercado, não havendo, como na cadeia da avicultura,
contratos vinculando produtores e indústrias. Isto é agravado pelo fato de os
frigoríficos de bovinos estarem muito longe de possuir as mesmas condições de
negociação junto aos distribuidores varejistas e atacadistas, como ocorre com os
abatedouros de aves.
A coordenação da cadeia da carne, por intermédio do mercado, tem como
um dos principais entraves, a ausência de programas de qualidade estabelecidos,
com a conseqüente rastreabilidade e certificação dos produtos ofertados. Isto
significa que o consumidor não consegue estabelecer ligações entre o produto
que adquire e o fornecedor, gerando dúvidas sobre sua qualidade e segurança
alimentar. Ainda, segundo Santos (2002), como resultante tem-se que:
1. os frigoríficos, em sua maioria, trabalham sem a identificação e
exploração de marcas;
2. os açougues não possuem condições de assegurar a procedência da
carne que vendem, dado o alto grau de abatedouros clandestinos ainda
existentes no país;
64
3. os pecuaristas não fornecem aos frigoríficos animais padronizados,
tendo, sempre, condições diferenciadas de idade, peso, sexo, raça e
gordura.
Não há como recriminar mais pesadamente os pecuaristas, visto que eles
não recebem nenhum incentivo, ou preço diferenciado, caso venham a fornecer
aos frigoríficos animais padronizados, assim como não recebem adicional pelo
couro sem defeitos, exceto em algumas poucas situações particularizadas.
Exemplo disto pode ser verificado na tabela 1.
TABELA 1: Cotação da carne bovina brasileira exportada X cotação do boi gordopaulista.
Fonte: Rosa (2004).A tabela 1 demonstra que, apesar do preço médio da carne bovina
brasileira exportada tenha subido, no período de um ano (15%), apenas 46%
desta melhora foi refletida no valor da arroba do boi gordo (apenas 7% no mesmo
período).
Na mesma situação daqueles poucos pecuaristas que se distinguem pela
qualidade, sem receber nada em troca, estão os criadores de bezerros que
utilizam suplementação e outras técnicas para produzir animais mais robustos e
pesados e, que na hora de vender para o mercado de recria encontram, em parte
considerável dos casos, o mesmo preço daqueles bezerros criados somente a
pasto. Como resultado deste panorama, a diferenciação dos produtos a serem
vendidos aos consumidores finais é limitada e concentrada nas mãos dos
varejistas, que manipulam os vários tipos de cortes de carnes.
Outra questão, segundo Araújo (2003), trata do abastecimento de insumos
tradicionais, onde ainda não há auto-suficiência e, em parte, podem estar sendo
utilizados produtos experimentais ou, até mesmo, insumos que já não são
utilizados em algumas partes do mundo, sobretudo no uso de agrotóxicos. O
agronegócio brasileiro ainda depende de boa parte de insumos importados, como
adubos, fosfatados e potássicos, agrotóxicos, produtos veterinários, entre outros.
A presença de empresas de grande porte, sobretudo de multinacionais, nesse
PRODUTO ago/03 ago/04 VARIAÇÃO
carne exportada US$/Kg 1.21 1.40 15%
boi gordo US$/@ 19.54 20.87 7%
65
segmento, é uma constante, formando oligopólios e até monopólios e criando
situações nas quais os agropecuaristas e, às vezes, o próprio governo, não tem
poder de barganha.
Como conseqüência de tudo isto, no âmbito organizacional para o
comércio exterior, estabelece-se uma situação onde as exportações estão sendo
efetuadas com cortes de carnes congelados, portanto commodities. Tal situação
faz do Brasil um país exportador de matéria-prima e de bens intermediários ou
não acabados, o que favorece unicamente a agregação de valor, geração de
renda e de emprego, fora do país (PINHEIRO, 2002). A solução para estes
problemas de ordem organizacional, reside junto à remoção do principal desafio
da cadeia da carne bovina, que é a integração vertical ou alianças
mercadológicas, como por exemplo às iniciativas capitaneadas pelas redes
varejistas Carrefour e Pão de Açúcar . Entretanto, conforme exposto por Pinheiro
e Gama (2000a e 2000b), fatores como ausência de cultura associativa, falta de
profissionalização e dificuldades de comunicação, dificultam a implantação destas
alianças, que, por sua vez, só trariam benefício aos agentes da cadeia, como
estabelece o quadro 1.
QUADRO 1: Vantagens dos agentes da cadeia da carne bovina com oestabelecimento de alianças mercadológicas.
Fonte: Silva e Batalha (2000).
BENEFÍCIOS
Aumento da rentabilidade;PECUARISTA Garantia da venda do boi;
Capacitação e investimento em qualidade;
Garantia de regularidade de abastecimento;FRIGORÍFICO Garantia de venda do produto à distribuição;
Diferenciação/produção para mercado externo;
Garantia de regularidade de abastecimento;DISTRIBUIÇÃO Disponibilizar qualidade ao consumidor final;
Melhoria da rentabilidade;
Compra produtos de qualidade;CONSUMIDOR Garantia de produto com saúde, inspecionado;
Produtos higiênicos e seguros;
SEGMENTO
66
4 ANÁLISE SITUACIONAL
Este capítulo busca, com base nos conceitos teóricos e nos ambientes,
institucional e organizacional, estabelecer discussões e sugestões a respeito das
ameaças identificadas neste trabalho. São elas: a ausência de visão sistêmica e
comunicação empresarial, a ameaça logística e as questões relacionadas à
qualidade da carne.
4.1 A ausência de visão sistêmica e comunicação empresarial
A partir do momento em que existe a compreensão do que significa e
representa o sistema, torna-se possível entender o funcionamento da pecuária,
aplicar e formular políticas públicas e estratégias corporativas, antecipar as
tendências do mercado e medir os efeitos de inovações tecnológicas dentro da
cadeia produtiva. Partindo-se da premissa de que a globalização é um fenômeno
irreversível e que tem contribuído diretamente para a formulação de novos
padrões gerenciais em todos os setores das economias mundiais, buscando
integração dos mercados, encarar a visão sistêmica como forma de alinhar
competitivamente à carne brasileira, dentro do cenário internacional, se traduz em
questão de imediata implantação.
Neste cenário, as propriedades rurais, até então tidas como simples
fornecedores de matérias-primas para a indústria de transformação, que
aparentemente não necessitavam conhecer o ambiente externo, precisam rever
tais pontos de vista. Urge reconhecerem-se como empresas participantes de uma
cadeia produtiva, devendo sempre buscar a necessária relação com os demais
67
elos da cadeia, de maneira que todos tenham possibilidade de se adequar com
eficiência às demandas dos mercados consumidores. Por sua vez, os demais
segmentos da cadeia produtiva também devem avançar nesse sentido,
reconhecendo que a produção é a chave de todo o processo, portanto,
merecedora de investimentos e de incentivos.
Conseqüentemente, a cadeia produtiva da carne bovina brasileira,
considerando a visão sistêmica do mundo globalizado, precisa que seus
elementos trabalhem de maneira mais cooperativa e, sobretudo, profissional sem
o que não serão alcançadas as condições de sustentabilidade. Por sua vez, esta
sustentabilidade, deve ser formada por um tripé, constituído de condições
favoráveis econômicas, sociais e ambientais, as quais precisam existir
simultaneamente. Sendo assim, a posição sustentável para a cadeia da carne
bovina, passa pela melhor distribuição dos ganhos ao longo da cadeia produtiva,
sem o que faltarão ou persistirão:
1. o respeito à legislação ambiental durante o processo produtivo;
2. a deficiente qualidade, decorrente de poucas condições sanitárias e da
certificação dos produtos;
3. a carência de inovação tecnológica, que permite o lançamento de novos
produtos;
4. inabilidade na comercialização.
Neste ponto tem-se que enfatizar o papel da profissionalização antes,
dentro e depois da porteira. Os profissionais devem ser capazes de atuar
sistematicamente, na agropecuária, industrialização – processamento – e
comercialização. Este fato pressupõe a integração harmoniosa dos três
segmentos produtivos, sem o que não existirá vantagem competitiva. O capital,
humano e intelectual, é um dos principais fatores que contribuem para as
empresas sustentarem vantagens competitivas. Nesse sentido, os gestores não
devem estar somente preocupados com a criação de novos produtos e serviços,
mas também com a implementação de novos métodos de gestão, que
proporcionem o aumento da motivação e do desempenho dos recursos humanos.
68
A observância dessas condições permitirá participar das mudanças que se
aproximam, pois segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carne – ABIEC - (2004), no final de 2006, cerca de 60% do mercado mundial de
produtos agropecuários será dominado por produtos alimentícios processados e
certificados. Logo, a questão que se propõe é se a cadeia da carne bovina quer
uma fatia deste mercado ou se pretende permanecer como eterno fornecedor de
commodities, atendendo, cada vez mais, apenas a mercados pouco exigentes.
As vantagens proporcionadas por produtos processados e certificados
estão relacionadas a um maior controle sobre os preços e uma maior margem
sobre as vendas,o que depende diretamente da busca de uma estratégia global
de diferenciação. Assim sendo, a exploração de nichos de mercado, a certificação
da qualidade dos produtos e, principalmente, ao investimento em marketing, em
especial quanto à adoção de técnicas de comunicação eficientes, devem ser
amplamente dominadas. Para Neves e Castro (2003), o marketing tem o papel de
ajudar no fluxo de informações no sistema agroalimentar, bem como o dom de
auxiliar a empresa a monitorar o ambiente onde opera. Neste ambiente, as
empresas expandem suas fronteiras, necessitando de rápidas informações, as
quais precisam ser organizadas e filtradas, o que contribui para reduzir
desperdícios e custos nas transações ao longo do sistema.
Porém, para participar desta nova realidade, não basta apenas querer, é
preciso agir, e agir dominando processos avançados de gestão. A ação reside,
justamente, na mudança da gestão da cadeia, onde a visão sistêmica é o ponto
de partida para que se adotem as estratégias mais eficientes. Fazendo uma
analogia com a medicina, a visão sistêmica permite fazer um diagnóstico mais
acurado para o ambiente, para, daí, decidir quanto à aplicação da melhor
logística, e da mais eficiente estratégia. O uso de uma metodologia de gestão
estratégica, onde todas as variáveis possíveis são analisadas, contribui
fortemente para assegurar que todos os dados foram coletados e estudados, que
todas as alternativas foram avaliadas de forma correta e que as medidas
acordadas foram implantadas e acompanhadas efetivamente. Tendo este
panorama como base, torna-se possível enumerar ferramentas de gestão
capazes de conduzir este processo ao ponto desejado. Entretanto para garantir a
eficiência deste ferramental, o perfeito entendimento entre as partes do sistema,
69
ou os elos da cadeia é pré-requisito, somente alcançado com uma adequada rede
de comunicação empresarial, relembrando que esta será tão mais eficiente
quanto maior for o grau de profissionalização, associado aos elos da cadeia
produtiva.
Neste contexto, a comunicação empresarial, para obter resultados,
precisa ser entendida pelos diversos elos, como uma forma de investimento e não
de despesa, pois ela possui a responsabilidade de integrar, de maneira
harmônica, todos os agentes envolvidos, tornando o exercício da visão sistêmica
muito mais simples. Esta concepção de comunicação empresarial vem de
encontro aos argumentos que justificam a visão sistêmica, dentro do âmbito da
cadeia produtiva. A visão do todo, é fundamental para que exista socialização da
informação entre todos os elos, transformando, desta forma, a comunicação em
instrumento capaz de gerar condições para uma melhor competitividade.
Devido a esta situação, o papel de agregar valores à marca e aos
produtos, caberá a comunicação empresarial, por meio da eficácia organizacional
e da conciliação dos objetivos da empresa com as expectativas de seus públicos
estratégicos. A comunicação empresarial diminui possíveis gastos com litígios,
pressões da comunidade e eventuais regulamentações que trariam ônus para
empresa, gerando uma exposição positiva que por sua vez se traduzirá em
vantagem comparativa.
Entretanto, para que a comunicação empresarial seja efetivamente
transformada em vantagem comparativa é preciso respeitar alguns princípios,
sendo o principal a consciência do dever de informar a sociedade sobre as
atividades da empresa, universalizando a informação e conseqüentemente
agregando valor. Em síntese, antes, dentro e depois da porteira das fazendas,
existem, arraigados, valores sociais como a preocupação com a segurança
alimentar, meio ambiente, qualidade de vida e de produtos, e a contestação a
processos predatórios do homem em relação à natureza.
A comunicação não pode ser vista como uma ferramenta isolada em um
dos elos da cadeia, o que faz dela um processo que deve se instalar nos valores
de produção, fabricação, embalagens e distribuição da carne bovina. Logo, a
70
comunicação, por ser importante ferramenta de marketing, ao facilitar a
identificação da segmentação dos mercados e de seus nichos específicos,
permitirá com que a carne bovina brasileira possa evoluir da condição de
commodity, e passe a ser percebida , pelos consumidores, como um produto de
alto valor agregado. Por este ângulo, o entendimento de que os mercados estão
passando por um dinâmico processo de renovação, obriga, aos que desejam
permanecer, rapidez na implementação de novos procedimentos, sendo que esta
rapidez depende diretamente da visão sistêmica e da eficiência da comunicação
empresarial.
4.2 A ameaça logística
A partir do momento em que fica estabelecida que a meta estratégica da
logística, trata da melhoria na movimentação e armazenagem de materiais e
produtos, torna-se clara a importância do estabelecimento da visão sistêmica
como já defendido. Ela permite que haja a integração das operações entre as
áreas de suprimento, produção e distribuição, e que esta meta pode ser medida
por intermédio da redução de custos e do desempenho operacional. Assim sendo,
somente dessa forma é que o Brasil terá condições de manter sua
competitividade internacional, neste momento, não amparado apenas pelos
resultados proporcionados pela escala, mas também pela competência em
segmentos que, até então, se não eram totalmente desprezados, eram deixados
em segundo plano. Exemplo disto é o apoio financeiro, pois na medida em que
diminui o ciclo entre contas a pagar e a receber, viabiliza o aumento do giro dos
estoques. Assim, a logística passa a ser fator de relevância, no estabelecimento
de planejamento estratégico entre os elos da cadeia, passando a proporcionar
soluções operacionais, capazes de gerar vantagens comparativas para carne
bovina exportada pelo Brasil.
Neste contexto, uma das maiores preocupações do governo federal, o
comércio exterior, tem tudo para ser decisivo na solução dos problemas
nacionais. Mas, para que isso se torne realidade, o setor depende de melhorias
71
imprescindíveis na área da logística. Somente com o fortalecimento desta área e
o seu amplo uso, o Brasil pode aumentar consideravelmente suas exportações.
Apesar de animadores, todos os bons resultados apresentados pela cadeia da
carne bovina brasileira correm sérios riscos de sofrer um revés se os problemas
de infra-estrutura logística não tiverem tratamento emergencial, onde o principal
quesito é a falta de investimentos no setor.
O agronegócio, dentro dele a cadeia da carne bovina, é um dos setores da
economia que mais sofre com o ineficiente sistema dos canais de transporte,
cujas deficiências são responsáveis por grandes perdas ao desenvolvimento das
exportações. O gargalo logístico envolve toda a infra-estrutura de transporte do
país. São estradas em péssimas condições de tráfego, ferrovias, que embora
tenham recebido investimentos com a privatização, ainda estão longe de suprir a
demanda do setor e se consolidarem como uma alternativa viável ao transporte
rodoviário. Além da ampliação da malha é preciso a modernização do maquinário.
Ao mesmo tempo, não são utilizados canais de transporte alternativos,
caso dos 42 mil quilômetros de hidrovias, em que apenas 10 mil quilômetros
estão em uso. No transporte marítimo a situação é semelhante, embora a
privatização tenha contribuído para a modernização dos portos, o excesso de
mão-de-obra (que chega a ser de três a nove vezes superior aos portos
europeus), ainda mantém padrões baixos de produtividade. Ainda quanto à
operação portuária, nota-se, que o problema não está apenas no porto em si,
mas, também, nos seus equipamentos, que em boa parte estão obsoletos e
precisando de aposentadoria. Para melhor exemplificar esta situação do
transporte marítimo, o qual é responsável pela quase totalidade das exportações
brasileiras, pode-se citar informações da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo – FIESP - (2004). Esta entidade, apesar de reconhecer que este modal
traz vantagens como maior capacidade de carga, carrega qualquer tipo de
produto e tem menor custo, admite-se que as desvantagens são em maior
número, destacando a necessidade de transbordo nos portos, distância dos
centros de produção, maior exigência de embalagens e os constantes
congestionamentos nos portos. Este conjunto de desvantagens, sob o ponto de
vista da carne bovina, constitui-se em séria ameaça competitiva. A necessidade
72
de transbordo está relacionada à mão-de-obra cara e aos equipamentos, como já
mencionado, obsoletos.
Por sua vez, a distância dos centros de produção evidencia problemas de
infraestrutura rodoviária, ferroviária e fluvial. No tocante a maior exigência de
embalagens a carne leva vantagem no sentido da preservação de sua qualidade.
Quanto aos constantes congestionamentos nos portos a avaliação requer analisar
dois aspectos: a quantidade de contêineres e o gargalo burocrático. A quantidade
de contêineres está relacionada ao fato de o Brasil exportar mais do que importa,
logo saem muito mais destes equipamentos do que entram, principalmente no
caso da carne bovina, onde a necessidade de contêineres refrigerados compete
com outros produtos, como, por exemplo, as carnes, suína e de frango. Cabe
ressaltar que no Brasil existe apenas uma única indústria produtora deste
equipamento.
Já o nó da burocracia é outro problema para o mercado exportador. No
Brasil o comércio exterior é regulamentado por 200 leis e 1800 decretos, o que
gera múltiplas interpretações. Para um país que almeja manter posição de
destaque no comércio internacional, a falta de uma política com regras claras e
precisas é um forte impedimento ao crescimento e a sustentabilidade da posição
alcançada com as exportações, em especial da carne bovina. Para reverter este
quadro, são pouco relevantes iniciativas isoladas sejam elas do governo ou do
setor privado. Torna-se necessário adotar-se ação conjunta e coordenada, como
é o caso das Parcerias Público-Privadas (PPPs). A parceria entre governo e
iniciativa privada, parece ser a solução mais razoável para garantir as melhorias,
uma vez que embute alternativa financeira viável para desatar os nós da
infraestrutura, ressaltando-se que as PPPs, sem a remoção do entrave
burocrático podem não se viabilizar.
Noutro aspecto, as empresas nacionais compreenderam que as despesas
com movimentação de cargas, têm influência direta no seu potencial competitivo.
Em um mundo globalizado, qualquer gasto a mais representa aumento nos
preços e a conseqüente perda de clientes, logo é um sério problema para quem
exporta não se preocupar em otimizar a logística. Ao invés de buscar a contenção
de custos na redução de pessoal, as empresas devem se aprofundar na
73
implementação da logística, sendo que parte das empresas que trabalham com o
comércio exterior, já dispõe até de departamentos específicos para cuidar desta
área. Afinal, é por meio dela que se alcançam os lucros e se reduzem custos, sem
excluir mão-de-obra. Outro problema relacionado à logística, diz respeito ao
atraso no cumprimento dos contratos firmados pelos frigoríficos, gerando
insatisfação nos clientes, que apenas relevam esta situação devido ao fato de a
carne brasileira ser mais barata do que as demais disponíveis no mercado.
Necessário se faz destacar, também, que além dos recursos, a iniciativa
privada ainda pode contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura do país,
incentivando a criação de pólos intermodais de transporte (integração entre o
sistema rodoviário, ferroviário, marítimo, fluvial e aéreo) para aumento do nível de
serviços e redução de custos. Essa redução dos custos de transporte contribuirá
para tornar a carne brasileira ainda mais competitiva no mercado internacional,
sem falar da economia de combustível e de fretes, na redução do tráfego e
desgaste das rodovias. As tabelas 2 e 3 fazem a demonstração clara dos
problemas acima descritos.
TABELA 2: Custo Logístico Operacional Total.
Fonte: Guia de Logística (2004).
TABELA 3: Transporte de cargas no Brasil.
Fonte: Guia de Logística (2004).
INDÚSTRIA COMÉRCIO
BRASIL 21,5% 26,9%
EUROPA 12,1% 8,9%
1970 1972 1985 1999
70,0% 72,0% 53,6% 61,8%
16,2% 15,8% 23,6% 19,5%
12,1% 10,3% 18,3% 13,8%
1,7% 1,9% 4,5% 4,9%OUTROS
MODAIS
RODOVIÁRIO
FERROVIÁRIO
HIDROVIÁRIO
74
Na tabela 2 está representada a participação da logística na formação do
custo total de materiais e produtos, tanto na indústria quanto no comércio, de
onde se percebe que o custo no Brasil em relação à Europa, praticamente dobra
na indústria, e quase triplica no comércio. Este diferencial elevado de custos,
pode ser entendido ao se analisar a tabela 3, demonstrando que, no Brasil, desde
a década de 1970, período de nacionalização e expansão da indústria frigorífica,
o modal de transporte mais utilizado vem sendo o rodoviário, o qual caracteriza-se
na forma mais cara e que promove maior desperdício. O meio hidroviário, que á o
modal mais barato, está relegado ao terceiro plano. Já o modal ferroviário, que
possui um custo intermediário, fica em segundo plano. Para melhor entender a
deficiência brasileira no tocante às ferrovias basta visualizar o tamanho da malha
ferroviária brasileira se comparada com a malha Americana conforme mostra a
figura 13.
Figura 13: Densidade de Ferrovias Km / 1000 Km2.
Fonte: Jank (2004).
Com o empenho das empresas e do governo federal, pode-se chegar a um
impulso sério e definitivo no comércio exterior. Caso ambas as partes coloquem
em prática as soluções necessárias, a logística poderá efetivamente se tornar a
75
arma decisiva para o setor. As empresas brasileiras já estão começando a utilizar
ferramentas como WMS (sistema de gerenciamento de armazéns ou centros de
distribuição) e softwares de supply chain management (gerenciamento da cadeia
de suprimentos), ferramentas fundamentais para se otimizar o fluxo das
operações de mercadorias. O empresário brasileiro precisa se acostumar à
adequação às cadeias de suprimentos das empresas compradoras do mercado
externo, cujos compradores não se preocupam exclusivamente com o binômio
preço - qualidade, mas, também, com o nível de serviço agregado na operação de
exportação. Afinal, a logística é uma cultura enraizada nos países desenvolvidos.
Ainda mais, o emprego da logística de uma forma integrada, como uma
estratégia capaz de criar, dentro das empresas, uma sincronização entre todos os
seus departamentos. Pode ajudar, assim, a criar a mentalidade que admita que o
sucesso da empresa independe da concorrência de metas de cada setor, mas,
sim, da capacidade de sincronizar todos os elos de uma corrente num único
mecanismo, gerador de ganhos ao negócio. A visão integrada de todo o processo
logístico visa eliminar os desperdícios e melhorar o resultado final, o que não
pode ser confundido apenas como uma redução de custos. Haverá situações em
que o estudo das operações logísticas apontará para o aumento das despesas,
num setor e redução de custos, em outros. As empresas estão encontrando na
logística, as respostas para melhorar o seu poder de competição, mesmo quando
acham que já chegaram ao limite de melhoria da qualidade.
Para finalizar, além das Parcerias Público-Privadas, da desburocratização
e outras já mencionadas, a cadeia da carne necessita melhoras as condições das
estradas vicinais, visando reduzir custos de transporte e prejuízos a qualidade
das carcaças e o uso de procedimentos e equipamentos de controle de
temperatura durante o transporte das carnes processadas para coibir que
motoristas, com a desculpa de poupar combustível, desliguem os equipamentos
de manutenção de temperatura durante a viajem.
4.3 A questão da qualidade
76
Considerando o atual estágio da cadeia de produtiva em questão, bem
como a sua importância para economia brasileira, no quesito qualidade, não é
mais suficiente concentrar esforços de controle no produto final nem na qualidade
dos processos produtivos os quais enfatizam o controle para cada ponto crítico de
produção. Hoje em dia, faz-se necessário que a qualidade seja estendida para a
esfera sistêmica, demandando a cooperação incondicional de todos os envolvidos
na cadeia produtiva. Neste conceito de visão sistêmica, a qualidade será
entendida como o somatório de ações desempenhadas pelos elos da cadeia,
monitorados pelos órgãos governamentais competentes e sobre a pressão e
vigilância dos consumidores, garantindo a segurança pela ótica sistêmica. Logo é
extremamente relevante que a cadeia produtiva esteja coordenada e controlada
verticalmente.
Assim sendo, a procura por carne bovina de qualidade e segura fará com
que o mercado seja cada vez mais exigente, acirrando a competição e fazendo
com que os agentes envolvidos reajam de maneira rápida e eficiente. Quanto
mais exigente tornar-se o mercado, maior será a busca por melhorar a qualidade
da carne e, conseqüentemente, maior será a necessidade sistêmica por
coordenação e controle, desde o produtor até o consumidor final. Entretanto, é
preciso reconhecer que em um país como o Brasil, com sérias dificuldades
econômicas e baixa renda da população as adaptações a esta realidade são mais
lentas, pois é difícil assimilar os custos de implantação da qualidade. Este fato
colabora, juntamente com outros fatores, na diminuição da competitividade da
carne brasileira, situação apenas atenuada pelo baixo preço do produto nacional
no mercado internacional. Neste cenário de valorização da visão sistêmica como
ferramenta de apoio na busca da qualidade, é que se encaixa a aplicabilidade das
características da qualidade apresentadas anteriormente.
Por exemplo, a padronização e a classificação de carcaças poupam tempo
de descrição dos cortes finais e facilitam o comércio de longa distância, sem
constantes inspeções físicas da mercadoria , permitindo o pagamento de prêmios
por qualidade, que devem, indiscutivelmente, ser implementados pelas indústrias
frigoríficas. Outro papel importante a ser desempenhado pela padronização, trata
da especialização da oferta, pois o uso da compatibilidade abre caminho para a
melhor coordenação entre os elos da cadeia.
77
Já a certificação pode ser explorada no sentido de busca pela
diferenciação do produto, possibilitando a agregação de valor e margens de
lucros antes inexistentes, a abertura de novos mercados e a exploração de nichos
até então ignorados. Portanto, o grande estímulo para certificação reside na
existência de consumidores, que reconhecem atributos qualitativos e que estão
dispostos a pagar mais por um produto devidamente certificado. Cabe, aqui,
ressaltar, mais uma vez, a importância de que este valor agregado com a
certificação seja distribuído ao longo da cadeia, para que chegue até o produtor,
estimulando-o a melhorar as condições de manejo e sanidade de seu rebanho.
Quanto a rastreabilidade, nos dias atuais, mais do que nunca, busca-se
saber efetivamente que produto se está consumindo, e preferencialmente, saber
de que maneira ele foi produzido, transportado, industrializado, armazenado e
comercializado; de forma a ter garantias a respeito de sua qualidade. Desta forma
o processo de rastreamento bovino, se inicia com a implantação de um sistema
de registro de manejo e identificação existente em qualquer fazenda organizada,
enfim, introdução de processos ou sistemas ligados à qualidade. Esta informação,
por sua vez, precisa de um tratamento sistêmico e padronizado para interagir com
outros elos da cadeia produtiva da carne bovina. A rastreabilidade é uma
ferramenta na procura da qualidade, contribuindo, desta forma, para identificar um
lote de carne de qualidade, e associar esta carne, aos animais geradores,
identificar seu manejo e os proprietários, tornando estas informações como ponto
de partida para aumentar a qualidade nas fazendas. A análise sistêmica das
informações fornecidas pelo rastreamento ajudará a alavancar inovações
tecnológicas e promover a integração da cadeia produtiva.
Entretanto, para ser implantada, a rastreabilidade vai exigir um programa
de conscientização e remuneração, para motivar os pecuaristas a investirem
neste processo. É fundamental, atender às exigências do mercado, pelo menor
custo e da melhor maneira possíveis, através de um sistema adaptado à pecuária
nacional, e que incentive a integração da cadeia produtiva e introduza programas
de qualidade e marketing. A rastreabilidade do produto é necessária para garantir
qualidade, fruto de um programa prévio de qualidade; é ela que explica a
integração da cadeia produtiva através da criação de alianças entre a produção, a
industrialização e a comercialização. Os programas de qualidade, devidamente
78
rastreados, justificam economicamente, portanto, os investimentos em genética
para procurar carcaças de melhor composição e de sistema de resfriamento e
tratamentos que melhorem a maciez da carne. A segmentação do mercado e
diferenciação do produto somente poderá ser feita e trabalhada com
rastreabilidade.
Finalmente, a qualidade, de maneira abrangente, depende da satisfação
total do cliente e da participação consciente e voluntária, desde que devidamente
remuneradas, de todos os elos da cadeia produtiva.
5 COMENTÁRIOS FINAIS
Diante das constantes mudanças que tanto o mercado nacional quanto
internacional, de produtos agroindustriais vem sofrendo, se faz necessário, ou
melhor, se exige a compreensão do sistema como uma entidade única. Isto é
devido, principalmente, aos efeitos oriundos da globalização da economia, do
apelo pela competitividade, da responsabilidade social, do aumento da
produtividade em função de avanço tecnológico e do respeito ao meio ambiente.
É necessário, portanto, que se estabeleçam formas de comunicação, logística e
qualidade, compatíveis com esta nova realidade.
Verificou-se que existem diferenças quanto ao nível de desenvolvimento
tecnológico e eficiência produtiva dos diversos agentes da cadeia produtiva da
carne bovina. Assim, aspectos importantes no estudo da cadeia bovina devem ser
considerados. O setor fornecedor de insumos está bem desenvolvido, com
grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, oferecendo produtos,
serviços e equipamentos de alto nível tecnológico. Além disso, pelo fato de a
maior parte dos fornecedores, serem firmas multinacionais, esses oferecem as
mesmas condições desfrutadas pelos criadores de países mais desenvolvidos.
Por sua vez, o setor produtivo, no entanto, tende a resistir às mudanças, por
vários motivos que vão desde a comodidade do pecuarista, que persiste na forma
tradicional de criação, até a descapitalização dos mesmos. Tal é decorrência do
fato de que eles vêm sofrendo com a diminuição das margens de lucro, pelo
aumento no custo de produção e, também, com a forma de pagamento dos
frigoríficos que não diferenciam a qualidade dos animais.
Já os frigoríficos possuem uma estrutura tecnológica capaz de processar
produtos de ótima qualidade, porém ainda tratam a carne como commodity, pois
simplificam seus processos para competir em custo no mercado. Por fim, o setor
varejista tem um papel dos mais importantes para a cadeia, por estar
80
constantemente em contato com o consumidor e, portanto, recebendo
informações que deveriam estar percorrendo toda a cadeia com rapidez e
precisão, para que todos os segmentos possam alterar seus processos no sentido
de atender mais adequadamente o consumidor final. Infelizmente, devido às
ameaças identificadas neste trabalho, o caminho destas informações é
constantemente interrompido, quando não, desviado.
Outra conclusão é de que a despeito de ser a cadeia da carne bovina das
mais antigas no país, ela representa uma das mais desorganizadas,
principalmente quando comparada à cadeia do frango e à cadeia do suíno, que
competem no fornecimento de proteína de origem animal para a população. A
desorganização acontece em toda a extensão da cadeia, pois os agentes agem
isoladamente, defendendo interesses particulares, sem a preocupação com a
eficiência do todo. A coordenação tem se mostrado de difícil realização, haja visto
que as forças são bastante equilibradas, não possibilitando que o segmento mais
forte imponha as modificações necessárias ao melhor desempenho de toda a
cadeia. Logo, uma mudança na sua gestão, passando pela inserção da visão
sistêmica, de técnicas de comunicação empresarial e pelo aperfeiçoamento da
logística e da qualidade, levaria, a um processo de reestruturação no ambiente
interno e no ambiente internacional, com as adaptações necessárias para fazer
frente à globalização. Esta mudança na cadeia é inevitável, porém para obter os
resultados desejados necessita que alguma entidade, governamental ou não,
harmonize interesses, dilua os conflitos e garanta a lucratividade e sobrevivência
de todos os elos da cadeia.
Sendo assim, a comunicação empresarial, a visão sistêmica, a logística e a
qualidade precisam ser encaradas como ferramentas fundamentais para que a
cadeia da carne bovina brasileira possa posicionar-se na situação de
competitividade mais favorável dentro do cenário de um mercado globalizado.
Nesse, a percepção das ameaças e oportunidades que o ambiente externo
oferece traduz-se em condição inquestionável para a sustentabilidade do setor.
Portanto, uma percepção mais apurada do planejamento estratégico deve ser
considerada para que a cadeia da carne bovina se mantenha em um constante
processo de mutação e aperfeiçoamento, buscando atender as necessidades dos
consumidores internos e externos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCOFORADO, F. Globalização. São Paulo: Nobel, 1997.
ALMEIDA, M.I.R. Manual de planejamento estratégico. São Paulo: Atlas, 2001.
ALVAREZ, M.E.B. Organização, sistemas e métodos. São Paulo: McGraw Hill,1990. vol. 1
ARAUJO, M.J. Fundamentos de agronegócios. São Paulo: Atlas, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE(ABIEC). Eficiência do Brasil vira “armadilha” na exportação. Disponível em :<http://www.abiec.com.br/abiec/ver_noticia.php?id=250>. Acesso em: 9 ago.2004.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNE(ABIEC). Balanço da pecuária bovídea de corte. Disponível em :<http://www.abiec.com.br/estatisticas/corte.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2005.
BATALHA, M.O. (coord.). Gestão agroindustrial. São Paulo: Atlas, 2001. vol. 1
BRESSAN, M.C. Introdução geral: os alimentos de origem animal. Lavras:UFLAF/FAEPE, 1999.
BUENO, W.C. Comunicação empresarial: teoria e pesquisa. Barueri, SP:Manole, 2003.
CAHEN, R. Comunicação empresarial. 8. ed. São Paulo: Best Seller, 2000.
CARDOSO, C.M.; DOMINGUES, M. O trabalho científico: fundamentosfilosóficos e metodológicos. Bauru: Jalovi, 1980.
82
CAVES, R.E. Economia internacional: comércio e transações. São Paulo:Saraiva, 2001.
CERTO, S.C.; PETER, J.P. Administração estratégica: planejamento eimplantação da estratégia. São Paulo : Makron Books, 1993.
COSTA, E.A. Gestão estratégica. São Paulo: Saraiva: 2002.
CROSBY, P.B. Qualidade é investimento. Rio de Janeiro : José Olympio, 1991.
CURY, A. Organização e métodos. São Paulo: Atlas, 2000.
DAY, G.S.; REIBSTEIN, D.J. A Dinâmica da estratégia competitiva. Rio deJaneiro : Campus, 1999.
FARINA, E.M.M.Q.; ZYLBERSZTAJN, D. Competitividade e organização dascadeias agroindustriais. Costa Rica: IICA, 1994.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP).Disponível em :<http://www.fiesp.com.br/infra_estrutura/secao2/secao3/index.asp?id=49>.Acesso em: 20 dez. 2004.
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia EditoraNacional, 1989.
GAMA, G.B.M.N.; PINHEIRO, L.E.L. O processo organizacional influi naintrodução de inovações no agronegócio brasileiro. Agroanalysis, Rio deJaneiro, v.22, n.4, p.57-60, 2002.
GUIA DE LOGÍSTICA. Custo logístico operacional total. Disponível em :<http://www.guiadelogistica.com.br/estatistica-log.htm>.Acesso em: 2 dez. 2004.
GUIA DE LOGÍSTICA. Logística (1). Disponível em :<http://www.guiadelogistica.com.br/dicionario.htm>.Acesso em: 21 dez. 2004.
GUIA DE LOGÍSTICA. Transporte de cargas no Brasil. Disponível em :<http://www.guiadelogistica.com.br/estatistica-transp.htm>.Acesso em: 2 dez.2004.
83
JANK, M.S. Comércio mundial de carnes: oportunidades e riscos. Disponívelem:<http://www.iconebrasil.org.br/Apresentações/Elanco_Jank_nov2004(res).pdf>.Acesso em : 20 dez. 2004.
KOCHE, J.C. Fundamentos de metodologia científica. Caxias do Sul: UCSEST, 1979.
KOTLER, P. Marketing. São Paulo: Atlas, 1980.
LEITE, F.C.T. Aspectos de consistência metodológica em estudos de caso.No prelo, UNIDERP, Outubro, 2004.
LIMA, S.A. A vigilância internacional e a defesa agropecuária nacional. RevistaHigiene Alimentar, São Paulo, v. 13, n. 63, p. 75-76, jul./ago. 1999.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA),Divisão de Febre Aftosa. Representação Esquemática Referente ao Processode implantação da zona livre de febre aftosa com vacinação no Brasil, 2004.Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 15 jan. 2005.
MICHELS, I.L. Cadeia produtiva da carne bovina em Mato Grosso do Sul.Campo Grande: Oeste, 2001.
NEVES, M.F.; CASTRO, L.T. (organizadores). Marketing e estratégia emagronegócios e alimentos. São Paulo: Atlas, 2003.
NOGUEIRA, M.P. Pecuária de corte perspectivas e alternativas. Disponívelem:<http://www.scotconsultoria.com.br/050412_Pecuaria%20de%20corte_Perspectivas%20e%20dealternativas_Pag_Impar.pdf>. Acesso em : 3 jun. 2005.
OLIVEIRA, D.P.R. Estratégia empresarial e vantagem competitiva. São Paulo:Atlas, 2001.
PARDI, M.C.; SANTOS, I.F.; SOUZA, E.R. et al. Ciência, higiene e tecnologiada carne. Goiânia: Ed. Universidade Federal de Goiás, 1993.
PINHEIRO, L.E.L.; GAMA, G.B.M.N. Pecuária brasileira: as associações naconstrução da marca de qualidade. Gazeta Mercantil Triângulo Mineiro, 4 de Maio de2000a. p.2. parte 1.
84
PINHEIRO, L.E.L.; GAMA, G.B.M.N. Pecuária brasileira: as associações naconstrução da marca de qualidade. Gazeta Mercantil Triângulo Mineiro, 5 de Maio de2000b. p.2. parte 2
PINHEIRO, L.E.L.; PINHEIRO, L.A.S.; GAMA, G.B.M.N., PINHEIRO, L.S. Inovaçãotecnológica e prosperidade: o papel da qualidade no agronegócio. Rev. Bras.Reprod. Anim., v.25, n.2, p.84-86, 2001.
PINHEIRO, L.E.L. Geração e incorporação de tecnologia na industria animal: adependência brasileira. In: CONGRESSO DE AGRIBUSINESS DO RIO DEJANEIRO, 4, 2002, Rio de Janeiro. Anais..., Sociedade Nacional de Agricultura,2002, p.24-28.
PINHEIRO L.E.L.; PINHEIRO, L.A.S.;LINS E SILVA, M.L.; PINHEIRO, L.S.P.;BRUN, E. A construção do Mestrado Profissionalizante em Produção Agro-Industrial da UNIDERP. Ensaios em Ciências. Ed. UNIDERP, Campo Grande,v.6, n.3, p.105-116,2002.
PINHEIRO, L.A.S.; PINHEIRO, L.E.L.; LEITE, R. C.; TOMELIN, J. Avaliação deum proposto programa de controle de qualidade avícola. Ars Veterinária,Jaboticabal., SP, v.19, n.3, 224-229, 2003.
PINHEIRO, L.E.L., PINHEIRO, L.A.S., BRUM, E., PEREIRA, F.A.R., PINHEIRO,L.S; LEITE, F.T. A Pesquisa cooperativa na produção agro-industrial: A criação deum novo modelo. In: Produção e Gestão Agroindustrial, volume I, no Prelo,UNIDERP, 2005.
PORTER, M. E. Estratégia competitiva técnicas para análise da indústria e daconcorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1986.
RIBEIRO, P.D. A logística como estratégia de competitividade. Disponível em:<http://institutomvc.com.br/costacurta/artpdr7_logistica_estrategia_competitividade.htm> . Acesso em: 2 jan. 2005.
ROSA, F.R.T. Exportações recordes, mas e o boi?. Disponível em:<http://www.scotconsultoria.com.br/conjuntura.asp?artigoid=58>. Acesso em : 20out. 2004.
ROSA, F.R.T. Preços: o que esperar de 2005?. Disponível em:<http://www.beefpoint.com.br/bn/conjuntura/artigo.asp?nv=1&id_artigo=22307&area=3&perM=6&perA=2005>. Acesso em : 15 maio. 2005.
ROSSETTI, J.P. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 1997.
85
RUFINO, J.L.S. Origem e conceito do agronegócio. Informe agropecuário no
199. Belo Horizonte: Epamig, 1999.
SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller,1999.
SANTOS, C.M.V.A. (coord.). Análise da competitividade da cadeiaagroindustrial da carne bovina no Estado do Paraná. Curitiba: IPARDES,2002.
SILVA, C.A.B. e BATALHA, M.O. (coords.). Estudo sobre a eficiênciaeconômica e competitividade da cadeia agroindustrial da pecuária de corteno Brasil. Brasília, D.F.: IEL, CNA e SEBRAE, 2000.
TONISSI, R.H.; GOES, B. Alianças mercadológicas e o mercado de carnebovina. Disponível em:<http://www.boidecorte.com.br/pesquisa/alian_merc/alianças_mercado.htm>.Acesso em : 20 dez. 2004.
TORQUATO, G. Tratado de comunicação organizacional e política. SãoPaulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo:Atlas, 1994.
VASCONCELLOS, M.A.; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. SãoPaulo: Saraiva, 1998.
VIANA, F. De cara com a mídia: comunicação corporativa, relacionamento ecidadania. São Paulo: Negócios Editora, 2001.
WESSELS, W.J. Economia. São Paulo: Saraiva, 2003.
ZENI, E. Caracterização da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte noEstado de Santa Catarina. 2001. 114 f. Dissertação (Mestrado de Engenharia deProdução) – Pós-graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federalde Santa Catarina, Florianópolis, 2001.
ZYLBERSZTAJN, D. Ensino, pesquisa e consultoria : as múltiplas linguagensdo profissional dos agronegócios. Disponível em:<http://www.fea.usp.br/Fia/pensa/publi.htm>. Acesso em: 28 dez. 2000.