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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
OLGA MARIA DA SILVA TEDERIXE
A ARTE ORATÓRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA LOCUTORES DE
RÁDIO
CURITIBA
2012
2
OLGA MARIA DA SILVA TEDERIXE
A ARTE ORATÓRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA LOCUTORES DE
RÁDIO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada
ao Curso De Gestão e Produção de Rádio e
TV da Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito parcial para a obtenção do título de
especialista.
Orientador: José Nascimento
CURITIBA
2012
3
TERMO DE APROVAÇÃO
Olga Maria da Silva Tederixe
A ARTE ORATÓRIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA LOCUTORES DE
RÁDIO
Esta monografia foi julgada e aprovada com nota 9,0 para a obtenção do título de especialista no programa MBA
em Gestão e Produção em Rádio e Tv da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 04 de julho de 2012.
________________________
MBA em Gestão e Produção em Rádio e TV
Universidade Tuiuti do Paraná
Profª. Doutora Ana Paula da Rosa
Coordenadora dos cursos de comunicação
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. Especialista Dátames Egg Segundo Professor dos cursos de Rádio e TV
Universidade Tuiuti do Paraná
Profª Mestre Patrícia Leal de Brum
Coordenadora do MBA em Gestão e Produção em Rádio e TV
Universidade Tuiuti do Paraná
4
RESUMO
O rádio é, sem dúvida, um dos meios de comunicação mais fascinantes que existem.
Seus principais instrumentos são a voz e a imaginação. Por trabalhar basicamente com
esses elementos, o rádio precisa oferecer qualidade na transmissão de seus programas
para despertar o interesse e a audiência do ouvinte. Dentro deste contexto, o objetivo
principal é entender que a arte oratória, com todas as suas técnicas, pode contribuir
muito para esse sucesso. A oratória nasceu na Grécia, chegou a Roma, se expandiu por
todo o mundo, fazendo sua trajetória até os dias atuais. Deixou pela história inúmeros
oradores que marcaram suas épocas com seus discursos. Para o locutor de rádio, a arte
oratória pode oferecer muitos recursos que o ajudam no aperfeiçoamento da profissão.
O trabalho da voz é essencial para o comunicador de rádio. Deve ainda se preocupar
com a forma de expressão, com o entusiasmo, a naturalidade e principalmente com o
conhecimento do assunto. César, em sua obra Como Falar no Rádio de 1993, comenta
que para um locutor, a habilidade da fala é tão importante que se torna difícil conceber
seu trabalho dentro de um veículo, como o rádio, sem a linguagem. César destaca que
o bom profissional de rádio é avaliado pela sua originalidade, pelo poder de síntese,
criatividade, improvisação, carisma e uma voz bem colocada e que comunicar-se de
maneira equilibrada e criativa é fundamental para o sucesso do trabalho do locutor. O
comunicador que busca os recursos da oratória, pode ir mais longe em sua carreira e
consegue manter por mais tempo sua saúde vocal através de exercícios específicos.
Ainda neste contexto, a obra ―Bastidores do Rádio‖ de 1997, escrita por Fábio
Guerreiro, mostra que a voz é a identidade. É o principal veículo da emoção e do
pensamento. Técnicas vocais como respiração, dicção, articulação, projeção adequada
da voz, entre outras, contribuem para uma comunicação de mais qualidade.
Especialistas entrevistados concordam que a busca por qualificação é um dos meios
mais eficazes para alcançar a qualidade de comunicação exigida pelas grandes
emissoras, e fazer do locutor um profissional preparado. Todos apontam o uso das
técnicas de expressão verbal como um meio de adquirir cada vez mais o
aperfeiçoamento que leva ao locutor segurança na transmissão de seus programas e
revelam que a arte oratória pode contribuir para isso.
PALAVRAS-CHAVE: Oratória. Locução. Rádio. Comunicação. Técnica Vocal.
5
ABSTRACT
The radio is undoubtedly one of the most fascinating media that exist. His main
instruments are his voice and imagination. By working primarily with these elements,
the radio needs to offer quality in the transmission of their programs to pique the
interest of the listener and audience. Within this context, the main objective is to
understand the oratorical art, with all its techniques, can contribute greatly to this
success. The oratory was born in Greece, came to Rome, spread throughout the world,
making his trajectory to the present day. He left numerous speakers in history that
marked his times with his speeches. For the broadcaster, the oratorical art can offer
many features that help in improving the profession. The voice work is essential for
the radio communicator. He should also worry about the form of expression, with
enthusiasm, naturalness and especially with the knowledge of the subject. Caesar, in
his book How to Talk Radio in 1993, says that for a speaker, the ability of speech is so
important that it becomes difficult to conceive of their work inside a vehicle, like
radio, without language. Caesar notes that a good professional radio is valued for its
originality, the power of synthesis, creativity, improvisation, charisma and a voice and
well placed to communicate in a balanced and creative is key to the success of the
work of the speaker. The communicator who seeks the resources of oratory, can go
further in your career and get to keep more of their vocal health through specific
exercises. Also in this context, the book "Behind The Scenes of Radio" from 1997,
written by Fabio Guerrero, shows that the voice is the identity. It is the main vehicle of
emotion and thought. Vocal techniques such as breathing, diction, articulation, proper
voice projection, among others, contribute to a better quality communication. Experts
interviewed agree that the quest for qualification is one of the most effective means to
achieve the quality of reporting required by the major networks, and make the speaker
a professional prepared. All point to the use of verbal techniques as a means of
acquiring more and more improvement that leads to the speaker transmission security
of their programs and show that art can contribute to this speech.
KEYWORDS: Oratory. Speaker. Radio. Communication. Vocal Technique.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 07
1 A HISTÓRIA DA ORATÓRIA E SUA IMPORTANCIA PARA A COMUNICAÇÃO
......................................................................................................................................................... 10
1.1 OS GREGOS E OS ROMANOS ........................................................................................... 10
1.2 ORADORES CONTEMPORÂNEOS ................................................................................... 13
1.3 ARTE DA PALAVRA NOS DIAS ATUAIS ........................................................................ 20
1.4 A CONTRIBUIÇÃO DA ORATÓRIA PARA A COMUNICAÇÃO DE RÁDIO ............... 21
2 A ARTE ORATÓRIA E SUA APLICAÇÃO PARA LOCUTORES DE RÁDIO ........ 24
2.1 INSTRUMENTO FUNDAMENTAL DA COMUNICAÇÃO ............................................. 25
2.1.1 A voz ...................................................................................................................................... 25
2.1.2 Saúde vocal ............................................................................................................................ 27
2.1.3 Respiração .............................................................................................................................. 28
2.2 ARTICULAÇÃO, DICÇÃO E RITMO ................................................................................. 29
2.3 A MUSICALIDADE DA FALA ........................................................................................... 31
2.4 O CONHECIMENTO ............................................................................................................ 33
2.5 O ENTUSIASMO .................................................................................................................. 34
2.6 A NATURALIDADE ............................................................................................................ 35
2.7 O GESTUAL .......................................................................................................................... 36
2.8 O VOCABULÁRIO ............................................................................................................... 37
2.9 O USO DO MICROFONE ..................................................................................................... 38
2.10 EXPRESSÃO VOCAL NO RÁDIO JORNALISMO ............................................................ 39
3 LEVANTAMENTO DE CAMPO ...................................................................................... 41
3.1 DESCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................................................................... 41
3.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS .......................................................................................... 42
3.2.1 Análise das entrevistas com os locutores ............................................................................... 42
3.2.2 Análise das entrevistas com os professores ............................................................................ 47
3.2.3 Análise das entrevistas com as fonoaudiólogas ..................................................................... 54
3.3 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 62
OUTRAS REFERÊNCIAS........................................................................................................... 65
APÊNDICE .................................................................................................................................... 66
7
INTRODUÇÃO
Vivemos na era da comunicação. Pode-se dizer que a comunicação é uma das
base para interação humana, do relacionamento entre seres humanos. E é mais do que
comprovado que o rádio ocupa lugar privilegiado entre os meios de comunicação
social no Brasil, sendo o mais popular e de maior alcance público. E dentro desse meio
de comunicação está o locutor. O dicionário define locução como "o modo especial de
falar, linguagem. Maneira de dizer, dicção. Reunião de palavras equivalentes a uma
só". (FERREIRA, A. B. H. - 1980). Portanto, o locutor é elemento fundamental no
rádio. O rádio mudou muito desde o seu nascimento e hoje utiliza uma linguagem mais
próxima do dia-a-dia das pessoas. Porém, a comunicação de qualidade é fator
fundamental no rádio. Para isso é indispensável o aprendizado das técnicas vocais, da
linguagem clara e bem articulada, do gestual, do texto bem elaborado e de recursos
que auxiliem o locutor na sua atividade profissional. A expressão verbal, ou oratória, é
arte de falar em público e as técnicas dessa arte precisam ser buscadas e trabalhadas
por todo aquele que deseja tornar-se comunicador de sucesso. Muitos comunicadores
marcaram a história deixando sua contribuição através dos tempos. Mesmo antes do
surgimento do rádio, grandes comunicadores fizeram o público vibrar com sua voz,
eloquência e poder de persuasão.
O maior orador que o mundo já conheceu foi Jesus Cristo. Porém, Jesus nada
escreveu. A única vez que escreveu foi na areia, mas seus ensinamentos foram
transmitidos de viva voz e suas lições atravessam o tempo e chegam até os dias de hoje
(OLIVEIRA, 2000). Sócrates também jamais escreveu alguma coisa. Todavia, seus
ensinamentos formaram a mentalidade de seu povo. A grande influência de Sócrates
deve-se a sua forma de falar que ia diretamente ao coração dos discípulos. No entanto,
tem-se em Demóstenes, o maior dos aradores da antiguidade, que chegou à perfeição
apesar dos obstáculos de sua constituição física. Demóstenes resolveu triunfar de todos
os obstáculos e tornou-se o pai da oratória. Assim, tem-se em Demóstenes um
aplicador literal das regras estabelecidas para a arte de falar, iniciada pela praticidade
8
de Corax1, ampliada pela engenhosidade artística de Isócrates e aprimorada pela
inteligência de Aristóteles, que soube associar a prática da primeira com a elevação do
pensamento desta última, transformando as duas disciplinas, oratória e retórica, numa
arte admirável. Arte que chegou a Roma e consagrou Cícero como o maior orador
romano (POLITO, 2002).
E o que esta pesquisa pretende? Mostrar que a arte oratória pode ser
desenvolvida por todo profissional da voz, inclusive por locutores de rádio. É neste
foco que esse estudo vai trabalhar, esclarecendo a importância da comunicação de
qualidade transmitida através das ondas do rádio pelos locutores e profissionais da
voz. A grande questão é se a qualidade na comunicação tem sido considerada um fator
importante nos diversos programas de rádio e até que ponto os locutores dão
importância às técnicas de expressão verbal para melhorar a comunicação e a
compreensão do ouvinte. A valorização das técnicas verbais é uma das primeiras
necessidades para comunicadores de rádio. Segundo os estudiosos pesquisados para a
realização deste trabalho, as técnicas oratórias são um meio de melhorar a
comunicação e fazer o ouvinte compreender e aderir ao conteúdo oferecido.
O principal objetivo desta pesquisa é permitir que se compreenda a contribuição
das técnicas oratórias para locutores, conhecer suas técnicas e sua importância para a
comunicação, principalmente em programas de rádio. E também perceber porque é
relevante a aplicação das técnicas vocais e de expressão verbal por parte dos
profissionais de rádio, permitindo que as mesmas os ajude no aperfeiçoamento da
profissão. A pesquisa analisa e compara os diversos pontos de vista de locutores de
rádio, professores de cursos de oratória e fonoaudiólogos sobre a importância destas
técnicas para os profissionais da locução radiofônica.
1 Corax de Siracusa, advogado e orador famoso, escreveu o primeiro tratado de que se tem conhecimento sobre a
arte de falar. A obra tinha o nome de Tekné, foi escrito com a ajuda de seu discípulo Tísias. Corax escreveu esta
obra para orientar os advogados que se propunham a defender as causas das pessoas que desejassem reaver seus
bens e propriedades tomados pelos tiranos.
9
A pesquisa visa gerar conhecimento teórico e prático do assunto proposto com o
fim de buscar uma compreensão satisfatória. No primeiro capítulo serão utilizadas
obras que narram a história desta arte tão antiga e sua evolução para os dias atuais
revelando sua importância em todos os ramos da comunicação, com destaque para a
comunicação de rádio. O segundo capítulo mostrará como a aplicação da oratória pode
melhorar a comunicação dos locutores de rádio, com o objetivo de aperfeiçoar a
projeção de voz, adquirir mais habilidade na fala, alcançar um padrão que ajude o
locutor a fazer uso de sua voz por mais tempo e com mais saúde vocal, além de
proporcionar uma comunicação com mais qualidade. No terceiro capítulo serão
entrevistados apresentadores de programa de rádio, professores de cursos de oratória e
expressão verbal, e fonoaudiólogos que apreciam a comunicação de rádio, onde serão
estudadas as opiniões e registradas para a devida comparação.
10
1 A HISTÓRIA DA ORATÓRIA E SUA IMPORTÂNCIA PARA A
COMUNICAÇÃO
A arte da palavra, ou arte de falar com eloqüência, desempenhou um papel
capital desde as origens da história até os nossos dias. Em todos os tempos e lugares,
as multidões vibraram diante da palavra veemente dos grandes comunicadores
(SENGER, 1960). O brilho da eloquência em todos os tempos, fascinou a humanidade.
Das eras mais remotas aos dias atuais, o manejo da palavra serviu para deleitar,
convencer, persuadir. Grandes artistas da apalavra apareceram ontem e aparecem hoje
(CARNEIRO, 1981). O conhecimento das técnicas práticas, ligadas ao
desenvolvimento de uma melhor condição de comunicação oral, está voltada à arte de
persuadir, e preocupada, sobretudo, com a beleza da fala e da voz. (LOPES, 2000).
Para entender mais sobre esse assunto e conhecer importantes técnicas de oratória, é
interessante relembrar um pouco de sua história.
1.1 OS GREGOS E OS ROMANOS
Os gregos, que inventaram a democracia, foram os primeiros a estudar as
técnicas do discurso e a dedicar-se à arte de falar em público. Comunicar-se bem era a
coisa de que todos precisavam e que deviam aprender. Não demorou muito para que
todos desejassem conquistar os segredos dessa nova arte. A palavra que até então não
havia sido levada a sério, passou a ser objeto de estudo. Então surgiu a Retórica,
palavra grega que deriva de retos, que é a palavra falada (SILVA, 2008). Segundo
Camara, (1989), foi em Atenas, entretanto, que a retórica encontrou campo fértil para
o seu desenvolvimento. Nesta arte, se destacaram os sofistas, filósofos e mestres
respeitáveis que muito contribuíram para a formação da sociedade grega.
Senger (1960, p.13-14) comenta sobre o ensino dos sofistas:
Os sofistas vangloriavam-se não só de falar abundante e espontaneamente sobre
qualquer assunto, mas de comunicar aos discípulos este dom. A sofística exerceu por
certo grande influência sobre a oratória. Os sofistas possuíam numerosos
conhecimentos úteis que comunicavam aos seus discípulos, que aprendiam a falar
efusivamente e, sobretudo, a argumentar. O ensino dos sofistas podia dividir-se em
quatro processos: as leituras públicas, redigidas numa bela linguagem e declamadas
11
diante de um auditório geralmente muito variado; as sessões de improviso, onde
davam-se oportunidade a longas exposições em resposta a questões formuladas pelos
ouvintes; a crítica dos poetas, que era uma espécie de leitura explicada das obras de
Homero ou de Hesíodo, ou ainda considerações sobre as regras de versificação e de
gramática e as disputas erísticas, conhecidas como combates de palavras.
Isócrates2 implantou a disciplina da retórica no currículo escolar dos estudantes
atenienses. Foi professor de eloqüência por cinqüenta e cinco anos. Isócrates foi muito
dedicado no estudo e ensino da oratória, colaborando para a formação de muito
atenienses. Para ele, a retórica é a fonte inspiradora de todos os saberes que fecundam
a cultura humana, pois se dedica ao ensino de todas as formas de discurso em que a
mente humana se expressa. O ensino deste mestre pode ser caracterizado como prático
O estilo deveria ser claro e de fácil compreensão, que ao ouvinte atento ele pudesse
revelar um conjunto de alusões históricas ou filosóficas, de ficções ou ornamentos,
com fim educacional (ROHDEN, 1997).
Outro grande destaque da arte retórica foi Aristóteles. Ramos (1971, p.105)
admite: ―O maior filósofo da antiguidade, verdadeiro espírito enciclopédico, estendeu
sua influência não somente à cultura grega e latina, mas a toda cultura francesa.‖ Este
grande pensador escreveu um livro intitulado Retórica, uma das mais antigas obras do
gênero chegadas até nós e da qual se extraiu a matéria de todos os tratados antigos de
arte oratória e, mesmo, modernos (RAMOS, 1971).
Para Aristóteles a retórica pode ser definida como a faculdade de observar
meios de persuasão disponíveis em qualquer caso. Essa não é a função de uma arte
qualquer. Todas as outras artes podem instruir ou persuadir sobre seus próprios
objetivos de estudo específicos. Nenhuma outra arte esboça conclusões opostas,
somente a dialética e a retórica são capazes de fazê-lo. A retórica é considerada como
o poder de observar os meios de persuasão em quase todos os assuntos que se
apresentam. Camara (1989, p. 85-86) diz: ―Fundava-se Aristóteles mais no sentimento
2 Isócrates foi um proeminente orador, comentador político, figura ligada a Educação. Foi contemporâneo e amigo de
Platão. Foi também aluno de Górgias e Pródico. Fundou a Escola de Retórica -Levando sua oratória a perfeição, foi
conhecido nas gerações seguintes como ―gênio pedagógico‖. -Produziu várias críticas, entre elas aos Dialéticos, aos que
ensinavam ―discursos políticos. Já com idade avançada, tornou-se campeão do discurso escrito. Foi professor de Retórica.
Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/1704259-is%C3%B3crates-vida-obra-import%C3%A2ncia/#ixzz1w55M0qsA
12
do que nas provas, enquanto os sofistas baseavam-se na lógica e na dialética. Para ele,
a retórica era o instrumento da opinião ideológica‖.
Mas quem foi considerado o maior orador grego? Demóstenes, o maior dos
oradores da antiguidade, chegou à perfeição apesar dos obstáculos de sua frágil
constituição física. Mesmo com suas limitações na elocução e na voz, que lhe
dificultavam a pronuncia do ―r‖ e não permitiam se fizesse ouvir à distância, fatos que
lhe custaram apuros e fracassos, conseguiu, à força de muitos exercícios e grandes
sacrifícios, ser considerado não apenas o maior orador de seu tempo, como de toda a
antiguidade. D‘Araujo (1974, p.25), comenta o esforço de Demóstenes para corrigir
seus problemas: ―Demóstenes declamava com a boca cheia de seixos para corrigir
vícios de pronuncia e passava meses a fio em casa, para estudar a obra de Tucídides3 e
imitar seu estilo‖.
Com determinação e perseverança, Demóstenes resolveu triunfar de todos os
obstáculos. Sobre isso, Senger (1960, p. 18) relata:
Primeiro fortaleceu o peito por meio de longas corridas. A fim de vencer o cacoete do
ombro, exercitava-se diante de um espelho e sob a ponta de uma espada suspensa, cuja
picada dolorosa o advertia de que era preciso conter-se. Para não se distrair de seus
trabalhos, fechou-se num aposento subterrâneo, construído à propósito. Mandou
escanhoar a metade da cabeça e da barba, para que a vergonha de aparecer em público
o impedisse de sair. Um célebre comediante, seu amigo Sátiro, deu-lhe aulas de
declamação, formou-o na ação oratória e na pronúncia.
E o que dizer de Roma e seus grandes oradores? Em Roma a retórica foi
retomada como oratória e ficou consagrada, dentre outros, por Cícero, o grande orador
romano. Se na Grécia antiga a oratória obteve prestigio extraordinário, devido à
cultura de seu povo e aos debates polêmicos, já o mesmo não ocorria no Império
Romano, onde se valorizava a disciplina guerreira e a obediência às leis. Mas nos
meados do II século a.C., com a incorporação da Grécia ao Império Romano, como
sua província, a arte retórica floresceu em Roma e o gosto pela palavra e a arte de
persuadir, de passar idéias e aprimorar os discursos começou a ser buscado. Houve
mais interesse pelas figuras de ornato, o aprimoramento do estilo retórico, a formação
3 Tucídides, 460 a.C., 400ª.C., (Grécia) foi General-Historiador, escreveu uma história da Guerra do Peleponeso
O livro traz uma ampla introdução, na qual trata das origens da raça helênica. A História, contudo, permaneceu
incompleta, detendo-se abruptadamente nos eventos do ano 400 a.C. Uol Educação. WWW.educação.uol.com.br
13
das frases melhores, a gesticulação, a elocução e o capricho da disposição dos
assuntos, passaram a ser a preocupação de todos aqueles que tinham necessidade de
usar da palavra e, como conseqüência, os retores eram procurados (RAMOS, 1971).
Pacheco (2008, p. 12) comenta: ―A oratória então, se consolidou através do
Império Romano, transformando-se em disciplina obrigatória, já que ensinava como
falar de maneira a conquistar o público.‖ Entre os oradores romanos se destaca Tibério
Graco que pelos seus méritos oratórios fora elevado à categoria de tribuno e seu irmão
Caio, que lutou em campanhas para o povo. (RAMOS, 1971). Porém, quem
conquistou o primeiro lugar na arte oratória em Roma foi Cícero. Marco Túlio Cícero,
o maior orador dos oradores romanos, só depois de longos anos de estudos completos
e minuciosos é que Cícero fez sua primeira apresentação pública. Foi um feliz começo.
Cícero chegou à perfeição oratória porque recebeu da natureza os dons essenciais que
sempre procurou desenvolver por exercícios adequados (SENGER, 1960).
É notável observar nas atividades políticas, os discursos de Cícero. Nesta, o
jovem orador defendia Roscio de Ameria, acusado de parricídio por Crisógono,
favorito de Sila. Embora cauteloso, não ficou sem levantar seu nobre protesto contra
os horrores daquele tempo, que pareciam ter apagado nos homens todo o sentido de
humanidade e que, além do mais, teriam feito desaparecer do mundo toda liberdade. É
significativo, que Cícero tenha iniciado a sua carreira com tal peroração:
Não há ninguém entre vós que não compreenda como o povo romano, julgado uma
vez brandíssimo para com os inimigos, esteja em nossos dias doente de uma
crueldade quase doméstica. Esta, ó juízes, expulsai da sociedade, esta não deixais
que mais não se abata no nosso estado; pois não somente tem em si o mal de ter
tirado do nosso meio sob a forma mais atroz tantos cidadãos, mas também de ter
suprimido no coração dos mais brandos a misericórdia por causa do hábito das
violências. Com efeito, quando a toda hora nós vemos e ouvimos chegar algo de
atroz, também se por natureza somos benevolentíssimos, por causa da freqüência
dos crimes, perdemos todo sentido de humanidade, do nosso ânimo
(CARLETTI,1987p.14-15).
Vale ressaltar o nome de outro orador famoso, Fábio Quintiliano. Chegou muito
jovem em Roma para formar-se na arte oratória nas escolas de declamações e aprender
a falar em público. Tal como Cícero, Quintiliano foi profundamente influenciado por
Isócrates. A finalidade da educação era a formação de cidadãos hábeis no uso da
14
palavra e, em particular, aspirantes a altos cargos públicos. O aluno apto para tal
formação deve possuir a excelência moral inata, sem defeitos de caráter, que pode ser
moldado através da disciplina de uma educação completa e profunda. O instrumento
para alcançar essa meta é a oratória. Quintiliano deixou o primeiro tratado sistemático
sobre educação, numa obra intitulada "Institutio Oratoria". Como o próprio título
indica, é uma obra sobre a formação do orador, tratando dos métodos de instrução, em
termos de objetivos, conteúdos e técnicas. (GILES, 1987).
É, porém, difícil falar em retórica romana sem mencionar o nome de Júlio Cezar.
Cezar foi o primeiro orador do seu tempo. Júlio Cezar, incontestavelmente, foi o maior
dos romanos. Reunia em sua pessoa uma gama imensa de qualidades (RAMOS3
1971). Sodré (1948) deixou o seguinte registro sobre Cezar: ―Foi um grande soldado,
um estadista extraordinário. Um escritor fino e elegante. E, também, um orador
primoroso, dos mais notáveis da antiguidade‖.
A respeito de Cezar, Sodré (1948, p. 137), ainda faz o seguinte comentário:
O nome de Cezar é tão glorioso na história militar e política, que seus méritos como
escritor e orador passam, em geral, despercebidos. Mas não importa. A verdade é que
a glória de Cezar permanece como uma das mais puras da antiguidade. As virtudes
oratórias de Cezar são reconhecidas. Seus rasgos de eloqüência ressoam ainda hoje.
Segundo o autor, Cezar foi sempre, invariavelmente, um homem eloqüente. Era uma
figura imponente. Possuía bela voz, tinha fluência, sua gesticulação impressionava.
Tácito chamou-o de rival dos grandes oradores. E Mommsen apontou-o como um
orador da palavra viril, desdenhoso dos artifícios dos advogados, iluminando, dando
calor ao auditório com a sua chama viva e clara.
1.2 ORADORES CONTEMPORANEOS
Mas afinal, quem são os grandes oradores contemporâneos, homens que
marcaram sua época com seus discursos vibrantes e inflamados? Foram pessoas que
convenceram pela arte da palavra e oratória. E é interessante perceber que a oratória,
usada por grandes nomes da vida pública, é um dos recursos mais poderosos que um
ser humano pode ter. Talvez até o mais poderoso. Lula, Vargas, Gandhi… quantos
líderes fizeram uso das palavras para unir multidão.
Entre os muitos nomes conhecidos, destaca-se Martin Luther King, Jr, um dos
mais conhecidos defensores da mudança social não violenta do século XX. As
15
excepcionais habilidades de oratória e valentia pessoal de King atraíram a atenção
nacional. Martin Luther King não era um sonhador, perseguia um sonho. Através da
sua oratória conseguiu que milhões de norte-americanos negros o seguissem e se
libertassem do seu medo, da sua escravatura mental, da sua apatia e se atrevessem a
sair à rua para reclamar os seus direitos. Uma das maiores apresentações de King foi o
discurso pronunciado na escadaria do Monumento a Lincoln, em Washington, e que
foi ouvido por mais de 250.000 pessoas de todas as etnias, reunidas na capital dos
Estados Unidos da América. A manifestação foi um estrondoso sucesso, e o discurso
conhecido sobretudo pela frase permanentemente repetida no meio do discurso «I
have a Dream»4 (Eu tenho um sonho), mas também pela frase que é repetida no fim -
«That Liberty Ring» (Que a Liberdade ressoe), que retoma o poema patriótico
«América», tornou-se, com o discurso de Lincoln em Gettysburg, um dos mais
importantes da oratória americana. (AMARAL, 2008). King tinha o poder, a
habilidade e a capacidade de transformar aqueles degraus no Lincoln Memorial em um
púlpito moderno. Falando do jeito que fez, ele conseguiu educar, inspirar e informar
[não apenas] as pessoas que ali estavam, mas também pessoas em todo os EUA e
outras gerações que nem sequer haviam nascido.
Outro modelo de orador, um exemplo de liderança, Mahatma Gandhi, mostrou
ao mundo como mudar o curso da história de toda uma nação através de métodos
humildes e não violentos. Descrito como um líder sem o dom da oratória, Gandhi
conquistou a todos por seu exemplo e por sua coerência entre ação e discurso
(BRASIL ROTARIO, 1999). Analisando a Vida e a Obra do Mahatma percebe-se que
toda ela tem uma coerência formidável, entre o que disse e o que fez, fato muito difícil
de encontrarmos na vida de muitos outros líderes. Como Gandhi, muitos oradores,
independentemente do discurso que defendiam, influenciaram e até inflamaram
multidões. Levaram pessoas ao extremo. Gandhi conseguiu liderar a revolução que
4 É o nome popular dado ao histórico discurso público feito pelo ativista político estadunidense Martin Luther
King, no qual falava da necessidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro. O
discurso, realizado no dia 28 de agosto de 1963 nos degraus do Lincoln Memorial em Washington, D.C. como
parte da Marcha de Washington por Empregos e Liberdade, foi um momento decisivo na história do Movimento
Americano pelos Direitos Civis. Feito em frente a uma platéia de mais de duzentas mil pessoas que apoiavam a
causa, o discurso é considerado um dos maiores na história e foi eleito o melhor discurso estadunidense do
século XX numa pesquisa feita no ano de 1999.
16
levou a Índia a conquistar sua independência por meio de seu discurso pacifista da
‗não-violência‘ e da ‗verdade‘.
Mas o que é a não-violência? Em que consiste a sua prática? Nas seguintes
palavras de Gandhi é possível entender melhor qual é a essência do pensamento-ação
da não-violência:
«O que quer que façam conosco, não iremos atacar ninguém nem matar ninguém;
estou pedindo que vocês lutem, que lutem contra o ódio deles (do governo inglês),
não para provocá-lo. Nós não vamos desferir socos, mas tolerá-los, e através do
nosso sofrimento faremos com que vejam suas próprias injustiças e isso irá ferí-los,
como todas as lutas ferem, mas não podemos perder, não podemos... Eles poderão
torturar meu corpo, quebrar meus ossos, até me matar, então terão meu corpo
inerte, mas não a minha obediência».
E as suas ideias e sua conduta (discurso e ação) liberaram a mais de 700
milhões de indianos e muçulmanos do jugo, da opressão e domínio do império inglês,
sem o derramamento de uma só gota de sangue da sua parte (BALDOVINO, 1997).
Com tudo isso, seu discurso foi bastante simpático ao ocidente e seu nome foi
sinônimo de tolerância e paz. O discurso de Gandhi serviu exatamente para aquele
momento naquele contexto de extra de desunião. Gandhi nunca pregou a
superficialidade, a hipocrisia ou misturas. Gandhi pregava a unidade, a comunhão e a
tolerância (MAFRA, 2009-2010).
Falando mais proximamente da realidade brasileira, pode-se elencar pessoas na
política e na religião, que marcaram posições e um tempo com discursos fortes. Nome
como o de Getulio Vargas. A sua doutrina e seu estilo político foram denominados de
getulismo ou varguismo5. Os seus seguidores, até hoje existentes, são denominados
getulistas. Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Foi um grande
presidente populista. Com seu jeito de se relacionar e sua maneira de discursar, ele
5 O Varguismo foi a ideologia política formulada e comandada pelo grande político Getúlio Vargas no 2º quarto
do século XX. Caracteriza-se pela admiração à pessoa de Getúlio Dornelles Vargas, que ficou conhecido como
―o pai dos pobres‖, esse dirigia o país de forma autoritária, semelhantes ao fascismo. Getúlio foi um político que
atuou entre 1930 a 1954. pt.wikipedia.org/wiki/Varguismo.
17
atraía e convencia multidões, sempre direcionando suas palavras ao trabalhador
brasileiro. O trabalho era o assunto preferido do presidente Getulio Vargas. E o povo
consumia as palavras como feitas de mel. O discurso de Getúlio realmente surtia
efeitos. Em Wordpress (2009), encontra-se um trecho do Primeiro de maio de 1938:
Como sabeis, em nosso país, o trabalhador, principalmente o trabalhador rural, vive
abandonado, percebendo uma remuneração inferior às suas necessidades. No
momento em que se providencia para que todos os trabalhadores brasileiros tenham
casa barata, isentados dos impostos de transmissão, torna-se necessário, ao mesmo
tempo, que, pelo trabalho, se lhes garanta a casa, a subsistência, o vestuário, a
educação dos filhos.
O presidente se utiliza de mecanismos de persuasão. Getúlio Vargas invoca o
público por intermédio do vocativo ―Trabalhadores do Brasil‖, no qual o item lexical
―trabalhadores‖ etimologicamente, considerando o significado de palavra, remete a
operários ou empregados de uma empresa. Esta mesma expressão, no seu sentido de
pessoa, é o de serem os construtores da pátria, patriotas que, com seu esforço,
contribuem para o progresso do país. Vargas proferia às massas um discurso que as
subordinava, convencendo os operários de que, estando no poder, suas reivindicações
seriam atendidas. Seus discursos davam resultados? A própria história demonstra isso.
Mas foi em 2003 que explodiu a grande conquista de um homem que lutou na
classe operária até chegar à presidência. Que dizer desse homem que mostrou bravura
através de seus inúmeros discursos para convencer a população brasileira que estava
preparado para assumir a liderança do país? Quanto ao presidente Lula, pode-se dizer
que em seu discurso de posse usou de persuasão e buscou conquistar a multidão.
Observando os componentes linguísticos e retóricos do discurso de Lula em 2003,
podem-se perceber expressões voltadas à classe popular da sociedade, à operária, a fim
de nela obter apoio necessário a estabelecimento do seu governo. Ao proferir
―Companheiros e companheiras‖, dirigindo-se aos cidadãos brasileiros, numa tentativa
de aproximação ao público ouvinte, identifica-se como o homem do povo, oriundo da
classe operária, o que enfatiza o sentido de pessoa da expressão e cria uma identidade
entre o falante e o ouvinte.
Ao finalizar o discurso, ainda na esteira da humildade, pediu a ajuda de todos
para governar: “A responsabilidade não é apenas minha, é nossa, do povo brasileiro
que me colocou aqui”. Lula também apresenta característica de populista no seu
18
pronunciamento (DIAS, ACOSTA, 2008). A atitude carismática, conferida à palavra
―discurso‖, no sentido de compromisso assumido com os ouvintes, salienta que tem
consciência de tudo que prometeu e chega ao extremo de afirmar que sua possível
falha, talvez cause um sentimento de desesperança à classe popular. Convidativo e
simples reforça a ideia de união, de cumplicidade com o auditório. O tom do discurso
do presidente procurou ressaltar um ser capaz de desvelar, pelo ato retórico, a
assertividade como meta, a superioridade como verdade, a coragem como princípio.
(RODRIGUES, FERREIRA, 2001)
E o que dizer dos grandes oradores do mundo religioso? Pregadores
evangelistas que levaram multidões a ouvir a mensagem de Jesus Cristo? São muitos
os homens que conquistaram multidões através de palestras convincentes sobre o tema
da salvação. Nesta linha de oradores, é importante destacar a atuação de Charles
Haddon Spurgeon. Este orador missionário foi considerado o príncipe dos pregadores.
Um dos fatores que fizeram com que este pregador recebesse esse título sem dúvida,
foi a sua capacidade de argumentação. Anglada (2005, p. 27), falando da sua
eloquência diz: ―Não faltavam palavras. As palavras eram matéria-prima com as quais
lidava com arte e naturalidade.‖ Spurgeon possuía uma capacidade imensa de
apresentar as verdades das Sagradas Escrituras. Até mesmo aqueles que iam ouvi-lo
apenas com propósitos espúrios, acabavam atraídos pela veemência com que ele lhes
anunciava as verdades bíblicas. Embora fosse jovem, Spurgeon tinha rara habilidade
no manejo da Palavra e demonstrava possuir algumas características fundamentais
para um pregador do Evangelho. Seus discursos cheios de vida e entusiasmo, falavam
aos corações e levavam multidões à compreensão clara do amor de Deus. Ele falava
com a alma, não somente discursava ou pregava, mas convencia por suas palavras de
conhecimento que lhe davam autoridade e segurança para apresentar os assuntos
bíblicos. Suas pregações eram tão eletrizantes e intensas que com o passar do tempo,
Charles Spurgeon se tornou uma celebridade mundial.
É difícil, portanto, falar em oratória religiosa sem mencionar o nome do padre
Vieira. Seu mais belo sermão, pronunciado em 1940, foi na igreja de Nossa Senhora
da Ajuda, na Bahia. Esse discurso teve cunho político e foi dirigido aos invasores
19
holandeses e também pelo sucesso das armas de Portugal. Vieira é conhecido até hoje
por ser um grande orador que soube usar os recursos para impressionar os ouvintes,
como voz potente, entonação expressiva, firmeza e energia nas palavras. Seus gestos
eram repletos de vigor. A oratória foi instrumento de seu gênio. Manteve sempre com
entusiasmo em suas pregações a profundidade e a clareza necessárias para a reflexão
dos textos bíblicos. Estudava, pensava, escrevia. Assim, não edificou sua história com
vistas a um desfecho épico nem tampouco se prestou a construções que lhe atribuíssem
um perfil heroico. Ao contrário, usou de sua habilidade política para obter em Roma
um diploma que o isentava da Inquisição portuguesa: gesto nada heróico. Sem a glória
dos heróis, pôde produzir, lentamente, um trabalho precioso, cujo poder de reflexão
mantém sua obra viva até os dias de hoje. Afinal, os sermões eram seu ofício, sua vida.
Vieira escolheu o caminho mais difícil: discutir a doutrina evitando as delações
ou espetáculos. Sua missão realiza-se através de um longo rito de iniciação, em que os
ouvintes aprendiam a pensar com uma retórica que é produzida plasticamente. Sua
linguagem, capaz de se fazer figura, amolecia os motivos que sustentavam os desejos
de violência (THEODORO, 1992).
Em 1655, pronuncia o Sermão da Sexagésima6, onde faz relevantes
considerações sobre a arte da oratória. Refere-se ao estilo pomposo de alguns
pregadores, já destituído de tanta importância, e conclui: ―Antigamente pregavam
bradando, hoje pregam conversando. Antigamente a primeira parte do pregador era
boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o mundo se governa tanto pelos
sentidos, porém, às vezes, mais os brados que a razão (...)‖. mas acrescenta que: ―(...)
O praticar familiarmente e o falar mais ao ouvido que aos ouvidos, não só concilia
mais atenção, mas naturalmente, e sem força se insinua, entra, penetra e se mete na
6 O Sermão da Sexagésima é de autoria do Padre Antônio Vieira. Pregado na Capela Real(Lisboa), em março
de 1655, o Sermão da Sexagésima abre a série de quinze volumes que enfeixam as peças oratórias do Padre
Antônio Vieira, e serve-lhes de prólogo, ao mesmo tempo que encerra uma teoria da arte de pregar, inspirada em
moldes conceptistas.[1]
Ele versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. Nele, Vieira usa de uma metáfora:
pregar é semear.
20
alma.” (LOPES, 2000). Assim desafiava a ação, dando vida à sua narrativa repleta de
luz e cor.
1.3 A ARTE DA PALAVRA NOS DIAS ATUAIS
À medida que a sociedade moderna cada vez fica mais complexa, há uma
necessidade crescente de comunicação verbal eficaz. Nunca foi tão vital para homens e
mulheres transmitir mensagens verbais que informem, persuadam, divirtam, motivem
e inspirem. Parece que mais pessoas estão fazendo mais discursos do que jamais
ocorreu (FLETCHER, 1983). Pode-se entender, portanto, que a eficiência é a
característica básica da oratória moderna. Ou seja, para ter sucesso, a oratória tem de
atingir determinada finalidade. A oratória de hoje se caracteriza por objetividade,
concisão, simplicidade e praticabilidade, em contraste com grandiloqüência,
verbosidade e linguagem quase poética do passado (MARINHO, 2008).
É verdade que as invenções da ciência moderna, no decurso da primeira metade
do nosso século, tiveram também sua repercussão na arte oratória. Novas técnicas
permitem hoje a gravação, a reprodução e difusão da palavra. A amplificação da voz
mudou as condições físicas requeridas para o candidato a comunicador. A técnica
literária, por sua vez, tem de adaptar-se aos instrumentos microfônicos. Estes são
utilizados hoje em muitas escolas, e seu aperfeiçoamento abre ao ensino da arte
oratória, largos horizontes (SENGER, 1960).
Fazendo uma comparação entre os recursos antigos e os atuais, nota-se que a
grande vantagem é que o aprendizado desta antiga arte conta hoje com extraordinários
elementos que facilitam a assimilação e a prática das técnicas. Os modernos
microfones dispensam o excesso de intensidade da voz dos oradores, permitindo que
se apresentem de maneira espontânea, sem exagero. Os aparelhos de multimídia
permitem a visualização instantânea dos treinamentos, possibilitando a rápida correção
das distorções da fala e da imperfeição da postura e da gesticulação.
A técnica oratória foi amplamente exposta no decorrer dos tempos. Se bem que
lançou-se o descrédito sobre a retórica, mas seus métodos e suas técnicas não foram
desprezados. Outros métodos mais variados e mais flexíveis a substituíram. Nenhum
21
deles satisfará completamente aos futuros oradores, mas a oratória moderna tem se
difundido e conquistado cada vez mais adeptos se revelando assim uma necessidade
atual para quem deseja falar bem em publico (POLITO, 2002). E sobre isso,
Castelliano (1997, p.22), finaliza: ―Hoje sabemos que a oratória está ao alcance de
todos, desde que se dispense algum tempo para colocar a teoria dos livros em prática,
com todas as técnicas de que se dispõe‖.
1.4 A CONTRIBUIÇÃO DA ORATÓRIA PARA A COMUNICAÇÃO DE RÁDIO
Antes de falar sobre a comunicação de rádio, é interessante entender o processo
da comunicação. Afinal, o que é comunicação e como ela se dá? No processo da
Comunicação, tem-se o transmissor ou emissor que é o desencadeador do processo da
comunicação. É aquele que transmite a mensagem a ser dada. Outro elemento da
comunicação é o receptor, que é aquele que primeiramente recebe a mensagem.
Porém, o processo da comunicação entre emissor e receptor não se encerra, mas
continua, visto ser o receptor alguém que pode produzir conteúdo do mesmo jeito. Em
seguida vem a mensagem que constitui o conteúdo da comunicação. Outro fator da
comunicação é o código. É constituído pela linguagem verbal-escrita ou oral e pela
linguagem não verbal – sinais visuais, corporais ou não. O canal (meio) é o veículo
que transporta a mensagem fazendo com que ela transite do transmissor até o receptor.
Por fim o retorno (feedback)7 que corresponde a informação de saída de um processo
que serve para corrigir os novos elementos de entrada do mesmo processo (POLITO,
2000)
Quais seriam, no entanto, os objetivos e os deveres do comunicador? O mesmo
autor considera como objetivos que a ideia seja passada de maneira clara e detalhada e
que o grupo interprete a mensagem e se sinta sensibilizado por ela. Analisando os
deveres do comunicador, Polito aborda o fato de que o comunicador deve demonstrar,
apresentar a ideia. Explicar e detalhar o conteúdo, aceitando as objeções. Ele fala ainda
da emoção abordando o fato de que a razão/lógica constroem a mensagem, mas só a
7 Expressão usada para indicar o procedimento que consiste no provimento de informação a uma pessoa sobre o
desempenho, conduta, ou ação executada por esta, objetivando reorientar ou estimular comportamentos futuros
mais adequados
22
emoção consegue comunicá-la. Outro dever é incentivar o receptor despertando o
interesse, a vontade de mudar, transformar, contribuir, desenvolver.
Na comunicação de rádio, para o ouvinte que acompanha uma programação, é
essencial que ele entenda o que se está falando. Portanto deve haver uma comunicação
clara e uma linguagem sem muitas formalidades, porém, rica em variações. É difícil o
ouvinte parar para ouvir rádio, a maioria ouve enquanto estão envolvidos em outras
atividades. Esta seria mais uma razão para buscar qualidade na comunicação, usando
uma linguagem fácil, objetiva e clara (CÉSAR, 1997). A informação de qualidade é
um direito que deve ser garantido a todas as pessoas, rompendo lacunas da
desigualdade social. Em casa, no carro, no avião, por meio do aparelho celular, do
computador, é possível dar ouvidos à voz que vem do rádio. E se essa voz traz uma
mensagem importante, precisa mesmo ser ouvida (ALVES, 2001).
Vigil (2003) comenta que para falar no rádio, o locutor deve estar atento aos
componentes: voz, dicção, articulação e entonação. Tudo isso junto, de forma
harmoniosa, possibilita transmitir, com segurança, o que o programa propõe. Para o
autor, não basta ter bons programas com excelentes conteúdos e qualidade técnica, se
o comunicador, através da fala, não consegue transmitir credibilidade, confiança e
simpatia. Portanto, são fundamentais alguns cuidados com a voz para garantir a
qualidade na comunicação. Falar bem é uma arte que exige domínio das regras do
mecanismo vocal: técnica de respiração, técnica de fonação, pronúncia, articulação,
dicção, preparação e perfeita impostação - que é o contrário de rigidez e enfeitamento.
É importante que haja ―colorido‖ na transmissão da informação e que a voz a ser
percebida pelo ouvinte tenha os componentes que se deseja transmitir. Alem disso,
outras características, ligadas a essas técnicas, possibilitam uma melhor comunicação.
Destro deste contexto, destacam-se pontos como entusiasmo, conhecimento,
sensibilidade, sinceridade, etc. A linguagem do rádio é basicamente oral. Cabe ao
comunicador envolver o ouvinte com a sua fala, de uma maneira que crie imagens na
cabeça das pessoas, para que elas ―vejam‖ aquilo que está sendo contado. Sem isso, a
relação do rádio com as pessoas torna-se fria e não há comunicação.
23
Ter uma ideia e ser capaz de expressá-la é uma habilidade de uma riqueza
imensurável. As ideias expressas pelo homem fazem coisas grandiosas. Delas surgem
os grandes avanços tecnológicos, mudanças sociais, acordos de paz, melhoria na
qualidade de vida, na saúde e no trabalho. É claro que é também de mentes perversas
que procedem ideias terríveis que transformam a realidade de forma negativa, porém,
há sempre a esperança de mudança, e as mudanças ocorrem porque há pessoas que se
comunicam.
Habilidades de exposição, argumentação e persuasão são responsáveis pela
aquisição de poder na comunicação. Se não há habilidade de comunicar, não há
discurso eficaz, não há interação construtiva e não há modificação da realidade. Só
chegamos a algum lugar por nossa capacidade de comunicar. A comunicação é
extraordinariamente potente em sua capacidade de influenciar, transformar e
conquistar. Comunicar é abrir caminhos, é possibilitar respostas grandiosas. É esse o
compromisso da comunicação de rádio, é esse o compromisso do locutor de rádio
(SANTOS, 2010).
24
2. A ARTE ORATÓRIA E SUA APLICAÇÃO PARA LOCUTORES DE RADIO
É engano pensar que ter uma bela voz é tudo o que se precisa para ser um bom
locutor. Hoje se sabe que o mais importante não é uma voz grave e aveludada, mas a
voz natural, trabalhada. E a arte oratória pode, e muito, contribuir para o
aperfeiçoamento do profissional da voz, pois este tem em suas técnicas, recursos que
possibilitam um melhor desempenho em suas atividades. O bom profissional de rádio
é avaliado pela originalidade, criatividade, pela capacidade de improvisar, pelo
carisma e pela voz bem colocada. A linguagem é o meio da comunicação humana por
excelência; é o conjunto de regras gramaticais que permite transmitir idéias, definir
conceitos, avaliar termos e dialogar com nossos semelhantes. O emprego da linguagem
é sempre uma tarefa criativa, já que a mente deve transformar os pensamentos em
sons, respeitando as regras do idioma, usando as palavras de forma bem estruturada
para a correta compreensão do que se quer expressar (MUÑOZ, 2008).
Diversos autores e pesquisadores interessados no estudo da comunicação de
massa valorizam, cada vez mais, o uso qualificado da fala e da voz, buscando
especificar e caracterizar algumas habilidades de locução. A voz dos locutores vem
sendo observada e comentada por profissionais da área de comunicação (locutores,
jornalistas, radialistas, oradores...) e tem despertado a realização de pesquisas recentes
na área da fonoaudiologia, principalmente voltada ao estudo da voz falada (uso
profissional da voz). Apesar dos diversos trabalhos existentes, observam-se
imprecisões conceituais e nas terminologias8 utilizadas, o que favorece interpretações
errôneas e confusas a respeito do adequado uso da fala e voz, suscitando dúvidas ao
8 Em sentido amplo, refere-se simplesmente ao uso e estudo de termos, ou seja, especificar as palavras simples e
compostas que são geralmente usadas em contextos específicos. Terminologia também se refere a uma disciplina
mais formal que estuda sistematicamente a rotulação e a designação de conceitos particulares a um ou vários
assuntos ou campos de atividade humana, por meio de pesquisa e análise dos termos em contexto, com a
finalidade de documentar e promover seu uso correto. Este estudo pode ser limitado a uma língua ou pode cobrir
mais de uma língua ao mesmo tempo (terminologia multilíngüe, bilíngüe, trilíngüe etc). Na tradução, a gestão da
terminologia é um elemento central de uma boa legibilidade e correção técnica de textos traduzidos. Os
tradutores profissionais administram a terminologia na forma de glossários bilíngues, usando ferramentas de
controle de qualidade que fazem com que o mesmo termo técnico seja traduzido uniformemente em todo o texto.
25
comprometimento da saúde vocal do locutor. Além disso, a literatura nacional é
escassa de estudos que abordem o momento específico da locução. Diversos autores
preocupam-se com a qualidade da voz como um recurso para ganhar a credibilidade
dos ouvintes, aumentando a capacidade de persuasão, o que reflete comunicação de
qualidade (SAMPAIO, 1971).
Para Polito (2002), um comunicador deve adquirir habilidade para o sucesso de
suas comunicações. Não adianta apenas falar com eloqüência, é preciso persuadir e
motivar. Dizem que a grande diferença entre os dois dos maiores oradores que o
mundo conheceu, Demóstenes e Cícero, é que, quando Cícero discursava, o povo
exclamava: ―Que maravilha!‖ e quando Demóstenes falava, o povo seguia sua marcha.
Desta forma, é essencial para o comunicador de rádio adquirir algumas habilidades,
que vão ajudá-lo no sucesso da profissão. A oratória, arte de falar em público, envolve
pontos relevantes que todo locutor deve valorizar e buscar conhecer para o melhor
desempenho de sua atividade profissional. Dentro deste contexto, destacam-se vários
fatores que a pesquisa mostra a seguir.
2.1 UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL DA COMUNICAÇÃO
Antes de falar sobre a aplicação das técnicas oratórias para locutores de rádio, é
importante conhecer o principal instrumento do locutor que é a voz. É necessário saber
também como ela se projeta e quais são os cuidados indispensáveis para ter uma boa
voz e mantê-la por mais tempo no seu uso profissional, promovendo saúde vocal e
qualidade de comunicação para os comunicadores, afinal oratória sem bom uso da voz,
não pode se tornar uma arte precisa.
2.1.1 A Voz
A Voz tem um papel fundamental na comunicação e no relacionamento
humano. Ela enriquece a transmissão da mensagem articulada, acrescentando à palavra
o conteúdo emocional, a entoação, a expressividade, identificando o indivíduo tanto
quanto sua fisionomia e impressões digitais. De seu uso satisfatório depende o êxito
pessoal e profissional. Ao estudá-la, aprende-se cada vez mais, o quão importante é o
26
equilíbrio entre razão e sensibilidade; ciência e arte; condições orgânicas e funcionais
adequadas do aparelho fonador, assim como de todo o corpo, para que flua de maneira
harmoniosa (PEDROSO, 1997)
E quando se fala em rádio, não há dúvida de que a voz ocupa seguramente um
lugar privilegiado na comunicação radiofônica. A sua função consiste não apenas em
assegurar o contato com o ouvinte, mas também mantê-lo. A voz é um elemento que
participa na significação da mensagem (LAVOINNE, 2000). Para Silva (1999, p.54)
―A voz faz presente o cenário, os personagens e suas intenções; a voz torna sensível o
sentido da palavra que é personalizada pela cor, ritmo, fraseado, emoção, atmosfera e
gesto vocal‖.
O som inicialmente produzido pelas pregas vocais é bastante simples, no
entanto, é constante mente modificado pelo sistema de ressonância do trato vocal e
pelas estruturas que o compõem, além das habilidades da fala que são a velocidade,
articulação, dicção, inflexão, entonação. Ainda são levadas em conta as características
culturais e de comportamento da cada pessoa. (PLACHA, 2011).
É importante observar que, para realizar uma correta produção vocal, é
necessário que exista integridade anatomofisiológica do aparelho fonador9, bem como
um comportamento vocal sem ocorrência de mau uso e/ou abuso vocal, evitando,
assim, o surgimento de patologias que prejudiquem a produção da voz (CIELO E
BAZO, 2008). Nos dias de hoje, com o avanço da tecnologia e dos meios de
comunicação, existe maior necessidade de conhecimento dos mecanismos de produção
e utilização correta da voz como fator decisivo na obtenção dos resultados pretendidos,
principalmente pelos profissionais que a possuem como instrumento de trabalho, os
quais têm demonstrado um interesse crescente na busca destes conhecimentos quando
devidamente conscientizados (PEDROSO, 1997).
9 É denominada aparelho fonador o conjunto de órgãos responsáveis pela fonação humana, são eles os
seguintes:Pulmões, Traqueia, Laringe (cordas vocais e glote), Lábios, Dentes, Alvéolos, Palato duro, Palato mole
(véu palatino e úvula), Parede rinofaríngea, Ápice da língua, Raiz da língua.
27
2.1.2 Saúde Vocal
Todo o corpo precisa de saúde. Com os órgãos vocais não é diferente. Por este
motivo é preciso dar aos órgãos vocais cuidadosa atenção e cultivo. Eles são
fortalecidos pelo devido emprego. Pesquisas indicam que a maioria dos locutores
inicia sua carreira sem nenhum preparo ou treino vocal prévio, e muitos não observam
certos princípios básicos de higiene vocal. É de ideal para todo comunicador cuidar
dos órgãos vocais de tal maneira que os mantenha em condições saudáveis. A
educação da voz ocupa lugar importante na cultura física, visto que ela tende a
expandir e fortalecer os pulmões. A modulação da voz é perdida quando os órgãos
vocais são forçados (WHITE, 1978).
(LOPES, 2001), relata o mecanismo da voz:
É produzida na laringe através da vibração das pregas vocais. Estas realizam seu
movimento graças ao fluxo de ar que vem dos pulmões e à ação dos músculos da
laringe. Assim, a voz é o resultado do equilibrio entre a força do ar que sai dos
pulmões e a força muscular da laringe. Se houver um desiquilibrio nesse mecanismo,
poderá ocorrer uma alteração na voz. É importante os cuidados que se tem que ter com
a voz, como evitar gelados, alimentos pesados antes do uso intenso da voz, lugares
com ar condicionado sem o uso de um recipiente com água, pois o mesmo provoca
ressecamento da mucosa do trato vocal. Deve-se evitar gritar, falar por muito tempo
ou tentar competir com o barulho falando em ambientes ruidosos. A recomendação é
uso de bastante água, descanso vocal, alimentos saudáveis e uso de maçãs antes da
fala.
Ferraretto (2000) completa as dicas sobre o cuidado citando uma série de
atitudes que podem prejudicar o uso da voz. Entre outros problemas, o fumo causa
irritação nas pregas vocais, pigarro, tosse e aumento de secreção. O álcool causa
amortecimento, o que prejudica a comunicação de qualidade. Antes do uso
profissional da voz não é recomendada a ingestão de alimentos ou líquidos muito frios
ou quentes. Colocando em prática essas dicas, todo locutor que quer manter por mais
tempo seu instrumento de trabalho, pode ter excelentes resultados. Mcleish (2001,
p.90) recomenda: ―não coma doces nem chocolates antes da leitura, o açúcar engrossa
a saliva. Deixe um copo de água ao seu alcance‖.
28
2.1.3 Respiração
Estando a voz ligada com a respiração, Lopes (2001) afirma que é essencial
para o orador obter boa respiração. A respiração é responsável pela produção da
pressão aérea expiratória, que deverá formar o som laríngeo, mantê-lo e permitir a sua
propagação através da cavidade de ressonância, ou seja, voz é antes de tudo, ar
expirado, portanto a reeducação da respiração tem como objetivo prolongar a fonação,
regular a respiração e aumentar a capacidade vocal. (BASTOS, 1976) admite: ―Saber
respirar é uma condição concomitante e, ao mesmo tempo, primordial para quem faz
uso da voz. A voz gasta o que a respiração fornece.‖
Lopes (2001) ressalta que existem três tipos predominantes de respiração: a costal
ou superior, que é a elevação da região superior do tórax, e muitas vezes até mesmo
dos ombros; a diafragmática ou inferior, sendo o uso do músculo diafragma e a costo-
diafragmática, que é a movimentação do diafragma com expansão antero-posterior e
lateral. O tipo respiratório mais adequado para quem fala é aquele em que há
predominância funcional da região costo-diafragmática10
. Este tipo respiratório é ideal
para a fonação devido ao uso intenso da voz pelos comunicadores.
Durante a locução, o não-controle do ar expirado, isto é, a incoordenação
pneumafônica, faz com que o indivíduo inspire várias vezes durante a leitura ou fala,
não conseguindo obedecer a pontuação, o que pode levar, também, à distorção do
significado do que o locutor está falando. (CÉSAR, 1997). A necessidade do exercício
respiratório é demonstrada pela quantidade de locutores que se sentem cansados logo
às primeiras palavras. Há quem procure falar quando já não tem mais ar no pulmão,
cortando muitas vezes uma frase, onde não deveria ser cortada. Tais fatos são graves
defeitos que enfeiam constantemente a comunicação, razão pela qual convém ter uma
respiração regular e bem controlada para evitar tais problemas (SANTOS, 1958).
É interessante notar que o uso profissional da voz vem ocupando,
progressivamente, um lugar maior na mídia e na vida das pessoas. Cada vez mais nota- 10 Movimentação do diafragma com expansão Antero-posterior e lateral. O tipo respiratório mais adequado para
a fala é aquele em que há predominância funcional da região costo-diafragmática.
29
se pessoas que têm, na voz, seu principal instrumento de trabalho, o qual, de forma
direta ou indireta, chega ao ouvinte através de diversos meios de comunicação, como a
televisão, o telefone, o rádio, entre outros. Logo, para o indivíduo que necessita de sua
voz como requisito fundamental para o exercício de sua profissão, os cuidados vocais
tornam-se imprescindíveis a fim de manter a saúde vocal, sendo o conhecimento da
técnica vocal uma necessidade (VEGA E HAYAMA, 2005).
2.2 ARTICULAÇÃO, DICÇÃO E RITMO
Além de manter a voz em condições saudáveis, o locutor deve se preocupar
com a articulação e com a dicção, fatores tão importantes para locução de rádio.
Segundo Hartmann e Muller (1998), a articulação significa capacidade de tornar claras
e distintas as diversas sílabas que formam cada palavra. Carneiro (1981) comenta que
a articulação das letras e sílabas não deve ser negligenciada. Muitos locutores não
pronunciam bem as sílabas iniciais e as finais. Com isso, há ruído vocal à má
articulação. O autor recomenda um exercício fácil e eficaz para corrigir defeitos e
adquirir boa pronúncia, que é a leitura diária, em voz alta, de uma página de poesia,
fazendo realçar todas as sílabas. Esse exercício é excelente para os problemas de
articulação e de dicção. Ele ajuda a corrigir os defeitos na dicção, que são, muitas
vezes, adquiridos por falta de cuidado.
Mas o que significa dicção? A dicção é a pronúncia correta dos sons das
palavras, é dizer bem. Nota-se que a sua deficiência é quase sempre provocada por
problemas de negligencia. Polito (2002) afirma que é costume quase generalizado
omitir os ―r‖ e os ―s‖ finais, da mesma forma que se omitem comumente os ―is‖
intermediários de janeiro, cadeira, bandeira e assim por diante. Segundo ele, certos
vícios de linguagem também provocam erros na pronúncia das palavras. O
Rotacismo11
, por exemplo, que é a troca do l por r: crássico, no lugar de clássico.
11
Este é um fenômeno Linguístico muito comum, mas que as muitos não têm conhecimento, tendendo a agir
com preconceito, que é chamado de preconceito linguístico, em relação aos falantes que fazem tal uso.
Rotacismo é a troca do R pelo L ou vice -versa. O fonema que é alveolo-dental passa a ser palatal. Também pode
ocorrer pelo fato da língua estar mais acomodada. Ao se falar pobrema ao invés de problema, o falante terá que
levantar menos a ponta da língua, ocorrendo uma acomodação linguística, ou seja, é mais fácil pronunciar a
primeira que a segunda palavra. Dicionário inFormal. www.dicionarioinformal.com.br.
30
Portanto, é essencial que os locutores façam leitura em voz alta articulando bem para
alcançar uma melhor dicção.
Neste mesmo contexto, é interessante notar a importância do ritmo na fala e na
leitura. O ritmo, juntamente com a entonação na performance do locutor, que se faz
diferença da entonação explorada na mídia, deve reproduzir a naturalidade e a variação
presentes na expressão oral do dia-a-dia, explorando criativamente a sonoridade de um
texto elaborado para este acústico coordenado essencialmente pelo tempo. O ritmo é a
musicalidade da fala, a colocação mais ou menos prolongada das vogais, levando em
conta sua acentuação, a alternância da altura da voz e da velocidade que se imprime às
frases, ora alta, ora normal, ora baixa; rápida em certos momentos, lenta em outros,
fazendo com que este conjunto melodioso influa no espírito e na vontade do ouvinte
(POLITO, 2002).
O locutor monótono ou não tem nenhuma inflexão na voz ou ao subir e descer a
tonalidade torna-se regular e repetitivo. É a previsibilidade do padrão vocal que faz a
locução se tornar marcante. Uma ênfase significativa, no lugar de um padrão aleatório,
pode ajudar muito mais. A inflexão é a modulação que se faz com a voz a fim de dar
vida, colorido e ênfase à leitura ou a mensagem que se está transmitindo (MCLEISH,
2001).
Associando tudo isso, pode-se concluir que este conjunto harmonioso de
articulação, dicção, ritmo e inflexão, favorecem a clareza e desta forma, a
compreensão do ouvinte. Quando o ritmo é associado com a velocidade e a intensidade
correta da fala e o locutor usa a inflexão para dar vida à comunicação, pode-se concluir
que o resultado será satisfatório no que se refere à compreensão por parte do ouvinte.
O locutor deve falar com intensidade adequada. O mesmo vale para a velocidade.
Alternando a intensidade e a velocidade, o ritmo da emissão vocal será, por sua vez,
agradável (FERRARETTO, 2000).
E por que tudo isso se torna importante? Porque o rádio possui um grande
privilegio em relação à TV, o de se dirigir aos olhos da alma e não aos do corpo. A
pessoa da TV tem somente o rosto que tem, a pessoa do rádio tem todos os rostos que
31
os ouvintes lhe quiserem emprestar, fazendo unicamente fé nas suas inflexões vocais.
E aí que mora a magia do rádio, é aí que está o segredo de articular as palavras para
que se tornem vivas no sentimento dos ouvintes (LAVOINNE, 2000-2004).
2.3 A MUSICALIDADE DA FALA
A voz é uma música. O locutor habilidoso e preparado sabe trabalhar muito
bem esse ponto da inflexão e da musicalidade da fala. A voz surpreende a escrita
engendrando e revelando outros valores que, na interpretação, integram-se ao sentido
do texto, transmitindo, enriquecendo-o e transmitindo-o, por vezes, a ponto de fazê-lo
significar mais do que diz (SILVA, 1999). O tom precisa ser convincente, de quem
acredita no que está falando. As palavras finais das frases devem ser bem articuladas.
A leitura deve ser natural como se estivesse falando de improviso. Nenhuma técnica
poderá ser mais importante que a naturalidade (HARTMANN E MUELLER, 1998).
Isso não significa deixar de lado a necessidade de convencer o ouvinte. A arte está em
saber dosar o poder de convencimento com a forma natural de se expressar.
No uso profissional da voz, é importante saber usar a expressão, o tom certo, a
inflexão, a velocidade e intensidade da voz fazendo com que essa harmonia influa de
maneira positiva nos ouvintes. De acordo com (LAVOINNE, 2004 p.20),
A escolha das entonações modifica eventualmente o sentido da mensagem. Pela sua
forte ressonância psicológica e pela importância dos efeitos que põe em jogo, a voz
no rádio, abre o espaço do imaginário onde o ouvinte reconstrói o corpo daquele que
fala a partir do que lhe é sugerido pela sua voz.
Para Hartmann e Mueller (1998), a voz no rádio deve ser dramatizada, receber
vida. Os autores atribuem a isso o fato de a voz ser o único elemento de que se dispõe
no rádio. Portanto acreditam que o tom deve ser convincente e decidido. Tudo isso
visa uma comunicação agradável com o ouvinte, envolvendo-o e, assim, impedindo
que ele desligue o rádio ou mude de emissora. Comparando essas opiniões, conclui-se
que daquele que usa a voz ao microfone, as emissoras exigem atualmente muito mais
clareza e expressividade do que o vozeirão dos anos de ouro do rádio. Ferraretto
(2000), conclui: ―para ser um bom locutor é preciso ter comunicação fácil, simples e
imediata‖.
32
Vale a pena ressaltar que se ao locutor falta expressão e musicalidade o ouvinte
pode cansar-se facilmente e trocar o dial do rádio. Segundo Arnheim (1980) ―O
locutor perde sua audiência se descuida o tom melódico‖. O que faz com que o ouvinte
fique atento com a programação é a experiência que este pode ter com a materialidade
do som, que em várias ocasiões é só o que é apreendido, ou seja, a expressão, o ritmo,
a curvatura melódica presente na voz. O autor completa dizendo: ―Sobre as pessoas
mais simples influi mais a expressão da voz de um orador que o conteúdo de seu
discurso‖. É a pura sonoridade, a pura qualidade da voz em jogo, a voz sem discurso,
de que fala Santaella (1993).
Fazendo uma análise, pode se dizer que dentro dessa musicalidade, um fator
fundamental na projeção da voz é a ênfase que se dá às palavras e frases. A ênfase é a
chave para levar ao significado do que está escrito. É difícil imaginar uma boa locução
sem a ênfase nos textos lidos pelo locutor. Sem a ênfase a palavra fica apagada, sem
graça, sem vida. É preciso saber entonar as frases interrogativas, imperativas e
exclamativas, fazendo com que esse conjunto proporcione uma locução agradável,
quase musical e de fácil compreensão (NCEP, 2005).
Dentro deste contexto, a leitura deve receber uma atenção especial por parte do
locutor. De acordo com (MCLEISH, 2001), mesmo locutores de grande experiência e
com tempo de atividade profissional, podem se tornar insípidos e cair na armadilha de
uma leitura mecânica e sem vida. Por isso, antes de transmitir qualquer mensagem, o
locutor deve ler o texto previamente, marcar as pausas e sublinhar as palavras que
devem ser destacadas. É importante verificar se há no texto dificuldade com a
pronúncia de alguma palavra desconhecida ou difícil de ser falada. Outro fato é
observar se há no texto alguma expressão de tristeza ou ironia ou mesmo humorísticos
que exijam uma interpretação diferente (HATMANN e MULLER, 1998).
Por ser arte de falar em público, a oratória não trabalha apenas com a voz, essa
é somente um dos elementos trabalhados durante o preparo do orador ou comunicador,
mas esta arte vai muito mais longe. Ela envolve outros elementos que devem ser
aprimorados junto com o treinamento da projeção vocal formando um conjunto
harmonioso. Portanto, além de trabalhar e aperfeiçoar a voz, a oratória é também arte
33
de preparar discurso12
e apresentá-lo. E dentro deste contexto, existe uma série de
elementos com que o locutor deve se preocupar, pois são fatores que fazem parte do
fundamento da oratória. Esses elementos estão presentes na atividade profissional do
comunicador de rádio através das matérias, dos conteúdos e todo o roteiro a ser
colocado no ar. E o locutor deve estar inteirado de tudo para que seu trabalho se
desenvolva dentro do programado.
2.4 O CONHECIMENTO
Um dos elementos fundamentais da oratória e que o locutor deve estabelecer
como meta primordial, é o conhecimento do assunto. O conhecimento determina boa
parte do sucesso. A pessoa que abraça a carreira de locutor deve estar bem consciente
de que escolheu uma função intelectual. Ela irá trabalhar mais com o cérebro do que
com as mãos e os braços. Por isso exige-se que o comunicador seja inteligente, amante
dos livros, criativo e culto, sendo uma pessoa atualizada, isto é, em dia com o seu
tempo. A comunicação de rádio é um elemento de cultura. Portanto, o locutor é um
divulgador de cultura. O locutor de rádio deve ter segurança do que fala, uma vez que
rádio se faz ao vivo. Deve procurar estar sempre bem informado. Ler os jornais do dia,
ouvir bastante rádio, procurar se informar do assunto que está em evidência na mídia,
conhecer a pronúncia de nomes de personagens estrangeiros em destaque, aprender a
ler e pronunciar bem o inglês e o espanhol. Ele precisa saber o que está falando para
poder esclarecer os outros. A demonstração de que ele domina o assunto, inspira
confiança nos ouvintes e lhes facilita a credibilidade e a aceitação.
No pensamento de Polito (2002, p. 80):
Só deve falar quem tem alguma coisa para dizer. O comunicador deve conhecer um
pouco de cada matéria, interessar-se pelas artes, pela História, pela Geografia, pela
Literatura e, principalmente pelos fatos do seu tempo. Aquele que fala não pode viver
12
O termo discurso admite muitos significados. O mais conhecido deles é do discurso como uma exposição
metódica sobre certo assunto. Um conjunto de ideias organizadas por meio da linguagem de forma a influir no
raciocínio, ou quando menos, nos sentimentos do ouvinte ou leitor. Outro significado corrente, muito usado entre
os linguistas, cientistas sociais e estudiosos da Comunicação - como Michel Foucault e Émile Benveniste -,
porém menos difundido, é do o discurso como algo que sustenta e ao mesmo tempo é sustentado pela ideologia
de um grupo ou instituição social. Ou seja, ele é baseado em um conjunto de pensamentos e visões de mundo derivados
da posição social desse grupo ou instituição que permitem que esse grupo ou instituição se sustente como tal em relação à
sociedade, defendendo e legitimando sua ideologia, que é sempre coerente com seus interesses.
34
fora da sua realidade, precisa estar sempre atualizado, munido de informações. Pois
quanto mais enraizado estiver o conteúdo, maiores serão as chances de sucesso.
Além de conhecer o assunto, o locutor pode utilizar de um recurso muito
proveitoso, a memória. Um dos maiores auxiliares do locutor é sem dúvida, a
memória. Ela é a faculdade de conservar e de experimentar, de novo, estados de
consciência passados. Quem fala em rádio deve ou saber os fatos e dados que vai
mencionar, ou levá-los anotados para uma consulta. A memória deve, pois, ater-se não
às palavras, às frases, às imagens, mas agarrar-se com firmeza ao plano estudado. Nem
todos são dotados de boa memória. Por isso, quanto menos serviços ela prestar, tanto
maiores esforços deve-se fazer para desenvolvê-la a fim de que ajude o locutor
(BASTOS, 1976).
2.5 O ENTUSIASMO
Uma das frases mais interessantes com relação ao entusiasmo foi dita por Polito
(2002, p. 53): ―É preciso apresentar cada mensagem como se estivesse carregando uma
bandeira para o campo de batalha‖. É realmente empolgante ouvir um locutor
entusiasmado. O fato é que esse é um ponto que pode proporcionar um resultado
satisfatório numa apresentação. O locutor que usa do entusiasmo vai mais longe do
que aquele que não valoriza esta qualidade. Os gregos chamavam ao entusiasmo
―Deus interior‖. Ele é o grande responsável pelas façanhas da humanidade. O homem
vence até sem preparo, mas dificilmente terá êxito em qualquer atividade se não contar
com a força do entusiasmo, capaz de superar todas as adversidades. O entusiasmo é
uma espécie de combustível da expressão verbal. É preciso vibrar a cada afirmação, se
entusiasmar pela ideia, envolver o ouvinte num ambiente emocional de credibilidade.
Se a idéia não empolgar o locutor, dificilmente irá empolgar o ouvinte. Para o autor,
para falar com entusiasmo, é preciso viver com entusiasmo. Para vibrar com as idéias,
é preciso vibrar com a vida. Somente com entusiasmo consegue-se realizar grandes
coisas.
O locutor deve ser sempre simpático, abrir um sorriso ao falar, e as pessoas
que estão ouvindo serão contagiadas por essa alegria. É preciso saber cativar a
audiência. Na concepção de Silva (1981), quando um comunicador transmite as suas
convicções com entusiasmo, não há quem possa resistir. O locutor cheio de entusiasmo
35
leva os seus ouvintes com ele. Segundo o autor, o entusiasmo é uma qualidade bem
chegada à sinceridade. Sinceridade de convicção é o fundamento do entusiasmo. E se
o apresentador é sincero, tem a ideia, sabe como transmiti-la e é cheio de entusiasmo,
o povo é envolvido e não tem outra saída, senão aceitar.
2.6 A NATURALIDADE
É difícil continuar ouvindo por muito tempo um locutor que não sabe ser natural
no rádio. Falar com naturalidade e não impostar a voz são características fundamentais
para uma boa locução. Ao falar, o locutor deve ser ele mesmo. Ao ler uma matéria, um
texto de qualquer natureza, é preciso cuidado com o tom. É muito fácil perceber um
locutor mecânico e não natural. Por isso, tomar conhecimento do conteúdo da nota
antes de lê-la no ar é imprescindível. Ao ler um texto, o locutor não deve dar a
impressão de leitura. Para isso, basta acreditar no que está lendo e procurar ser
convincente. É lamentável que alguns profissionais da voz ainda não tenham
alcançado a naturalidade que deve caracterizar um comunicador. Por trabalhar com a
imaginação, o rádio é um veículo onde a naturalidade deve estar presente na atuação
de seus locutores. Por isso, o locutor deve evitar ser mecânico e principalmente não
deve tentar imitar outra pessoa, mas ser ele mesmo, buscando ser natural em toda sua
apresentação.
A naturalidade é uma das qualidades essenciais de um comunicador, se não a
principal. Um orador artificial prejudica com mais intensidade sua apresentação do que
um orador que comete erros como: vícios de linguagem13
, slides confusos, palavras
repetidas, etc. Quando o locutor não é natural, o público sente-se enganado e não
acredita na veracidade da mensagem e do próprio locutor. Assim o locutor abala a sua
credibilidade e do produto ou serviço representados por ele. A falta de naturalidade é
facilmente percebida na voz. E como manter a naturalidade? Speech (2010) dá as
dicas. Respeitar sempre seu estilo como locutor, suas características pessoais e não
13 Vícios de Linguagem são alterações defeituosas das normas da língua padrão, provocadas por ignorância,
descuido ou descaso por parte do falante. São palavras ou construções que deturpam, desvirtuam, ou dificultam a
manifestação do pensamento, seja pelo desconhecimento das normas cultas, seja pelo descuido do emissor.
36
manipular sua forma de falar com regras prontas. Cuidado também para não imitar
alguém se acredita ser um bom comunicador. Cada um tem seu estilo próprio e sua
maneira de envolver o ouvinte. Dominar o assunto do qual for abordar é indispensável.
Decorar as informações pode gerar uma forma robótica e linear de falar. Prefira
dominar o assunto para desenvolver a mensagem de forma natural e possibilitar os
improvisos. Outra dica é acredite na mensagem. Se o locutor não acredita nas
informações que vai abordar, não vai convencer ninguém com suas palavras. Ele pode
até dizer que acredita, mas sua expressão vocal pode denunciar o contrário. Portanto,
falar com naturalidade é respeitar o próprio estilo, o público e aqueles que o locutor
representa.
2.7 O GESTUAL
É incrível notar como o gestual é importante para a comunicação. O gesto
desenha o pensamento, a ideia e reforça a mensagem transmitida. Um bom locutor não
se exprime apenas com a voz, mas também com os braços, com as mãos, os dedos, os
movimentos faciais, da cabeça e até dos olhos. Esses movimentos dão certo apoio ao
locutor e o ajudam a desentranhar seu pensamento. Portanto, o gesto deve surgir de
forma natural e espontânea e que trabalhe para complementar e conduzir a mensagem.
É muito interessante observar o locutor em sua atividade quando este faz uso da
linguagem corporal. Ele parece mais firme nas palavras, mais seguro e mais conectado
com a mensagem que está transmitindo. Concordando com este pensamento, Carneiro
(1981), acrescenta que o gesto deve identificar o pensamento e o sentimento do orador,
reforçando a mensagem. O gesto adequado surge naturalmente, quando estão em
harmonia com a voz, a palavra, a fisionomia, a expressividade, etc. O gestual, além de
ressaltar a informação mais importante da fala, também deve acompanhar o tom da
voz.
É claro que todo locutor deve saber usar a melhor postura para que possa
desempenhar sem problemas as suas atividades. Para isso, recomenda-se uma consulta
a um especialista na área para conhecer a melhor postura a ser adotada durante a
atividade profissional, principalmente porque a locutor trabalha sentado e isso pode
dificultar a projeção da voz, prejudicar a respiração e consequente a comunicação.
37
Vale lembrar que os hábitos que prejudicam a saúde em relação à postura, devem ser
abandonados. Murta (1943) considera a disciplina e a sobriedade dos gestos como
fundamentais ao acompanhamento das frases. Para ele, os gestos devem ser associados
a sorrisos, mímica14
facial e entonações variadas. Está comprovado que o gestual ajuda
na condução da mensagem dada pelo locutor fornecendo apoio para a fala. Os gestos,
porém, devem ser expressivos, adequados e exatos.
2.8 VOCABULÁRIO
Disse Westland: ―As palavras estão para o discurso assim como a vestimenta
está para o corpo. A escolha das palavras é de suma importância. O comunicador deve
procurar o termo exato para exprimir cada idéia‖(MOTTA, 1981). Lopes (2000)
ressalta que o vocabulário é o elemento que traduz as idéias. Se ele se apresenta
deficiente prejudica a comunicação na sua íntegra. Deve ser o mais vasto e rico
possível. No entanto, o mais importante é saber usar o vocabulário que se tem e
complementa: ―O melhor vocabulário é aquele que se adapta a cada público, a cada
pessoa e situação‖ É praticamente impossível ser um bom locutor sem o domínio da
língua. A gramática correta e um vocabulário preciso e apropriado são fundamentais
para conquistar credibilidade.
O vocabulário, embora simples, traduz as idéias claramente, sem divagações.
Quanto mais abundante for o vocabulário, maior será a capacidade de adaptação aos
mais diferentes tipos de ouvintes. Pesquisadores do assunto dão alguns conselhos para
desenvolver o vocabulário. Ler um bom livro com lápis na mão e um dicionário ao
lado ajuda. Toda vez que deparar com uma palavra desconhecida, anote, veja o
significado, escreva algumas frases com esta palavra, repita-as algumas vezes para
fixar na memória. Conversar com pessoas cultas, com grande conhecimento, ajuda
bastante. Ouvir bons locutores, palestrantes e oradores, pode trazer grandes benefícios.
Praticar é o mais importante. Recomenda-se o cuidado para não fazer o uso de
expressões que possam ferir a ética e causar danos morais bem como efeitos que
sugiram preconceito ou discriminação.
14
O termo mímica refere-se à arte de fazer acompanhar com gestos precisos e adequados a ideia ou sentimento que se exprime.
38
Dentro deste contexto, pode-se destacar o cuidado com os vícios de linguagem
que normalmente são usados no dia a dia, mas que não são adequados para
comunicação em rádio. Entre os vícios de linguagem mais comuns estão o cacófato
que é a produção de um som ruim em virtude da junção de palavras. Exemplos: Paguei
cinco reais por cada. A boca dela era perfeita. Conforme já mencionei. O boom da
informática. O Pleonasmo consiste na repetição desnecessária de uma ideia, como por
exemplo: encarar de frente; entrar para dentro; planos para o futuro; há cinco anos
atrás. Surpresa inesperada; sair para fora; etc. O gerundismo é outro vicio de
linguagem. Dá-se o nome de gerundismo ao uso inadequado da forma nominal do
gerúndio ―ndo‖. Portanto, deve-se evitar usar o gerúndio para indicar ação futura. Por
exemplo: Eu vou estar passando seu recado ao gerente. Neste caso, o uso correto seria:
Eu passarei seu recado ao gerente, ou: Eu vou passar seu recado ao gerente.
O locutor deve evitar ainda outros vícios como: Né, daí, então, bem, bom, aí,
veja só, ok, é, etc. Vale lembrar que o bom vocabulário traduz qualidade na
comunicação verbal, portanto o locutor deve estar atento a esse ponto tão importante e
redobrar a vigilância e o cuidado com os vícios de linguagem para evitar ruídos na
comunicação. (POLITO, 2002).
2.9 O USO DO MICROFONE
Seria difícil imaginar os dias de hoje sem microfone. Sua utilidade é
incontestável. Ele permite que a comunicação do locutor seja mais natural e
espontânea. O microfone é muitas vezes visto como um terrível inimigo, chegando a
provocar pânico em determinados comunicadores, principalmente naqueles menos
habilitados com o público (POLITO, 2002). Alguns anos atrás os microfones não
possuíam a tecnologia dos de hoje. Com o avanço dos microfones modernos é possível
ampliar a voz a limites extraordinários. A voz é mais bem detectada, ganhando um
colorido especial (CESAR, 1997). Polito (2002) dá algumas dicas para quem fala ao
microfone: usar uma voz mais grave. Escolher um ponto ótimo. Suavizar a emissão.
Prestar atenção aos /s/ finais. (para não ficar chiado) Pronunciar bem as sílabas finais e
cuidar da postura.
39
Ao falar no rádio é importante saber também qual é a distância que o locutor
deve manter do microfone. Isso vai depender muito do tipo de equipamento, da sua
potência e do timbre de voz do locutor. Mas, em geral, aconselha-se uma distância de
20 centímetros, um palmo, entre o microfone e a boca de quem está falando. O locutor
deve procurar falar devagar, pronunciando e articulando de modo inteligente. Para o
profissional da voz, é imprescindível cuidar para não comer os finais das frases e nem
das palavras. Para isso, deve abrir bem a boca e fazer muitos exercícios de leitura em
voz alta para treinar a dicção e tornar a leitura clara (NCEP, 2005).
De acordo com César (1997), essa distância varia conforme o microfone. Para o
autor, é muito desagradável ao ouvinte alguns tipos de ruídos provocados pelo locutor
que não tem habilidade no uso do microfone. Ele destaca a importância de testar o
equipamento antes do uso para evitar problemas. Vale lembrar que com a tecnologia e
o avanço dos aparelhos de ampliação do som, a voz passou a ser mais bem detectada,
ganhando um colorido especial. Mas a tecnologia também trouxe cuidados que devem
ser observados pelos profissionais que fazem uso da voz.
2.10 A EXPRESSÃO VOCAL NO RÁDIO JORNALISMO
O repórter de rádio precisa, acima de qualquer coisa, unir capacidade de
observação com habilidade na comunicação. A isso, juntam-se características como
sensibilidade, criatividade, busca constante pela própria atualização informativa, além
de uma sólida formação intelectual. A informação no rádio precisa ser clara, portanto,
cabe ao jornalista interpretar o texto, transferir a informação, medir o ritmo, ser natural
e concluir bem a leitura. O uso da voz passiva acaba por diminuir o impacto da notícia
por deslocar o foco de interesse do quem para o quê. O locutor jornalista não deve
misturar ideias, mas deixar clara uma informação para depois se dedicar aos outros
dados da noticia (FERRARETTO, 2000).
É interessante observar que embora não seja a único, a fala constitui-se no
principal instrumento da comunicação radiofônica. Quem lê uma noticia ou apresenta
um programa jornalístico, depende em grande parte do uso que faz da sua capacidade
vocal. Falar ao microfone exige uma técnica apurada em que diversos elementos
40
expressivos mesclam-se. Nota-se que a instantaneidade da informação no rádio
empresta uma sensação de realidade, mesmo em nível ficcional. Mas para que haja tal
característica, é necessário estabelecer um vínculo harmônico entre o que se fala, quem
fala e como fala (FERRARETTO, 2000).
41
3 LEVANTAMENTO DE CAMPO
Neste capítulo a pesquisa traz como foi proposto, um levantamento de campo,
onde serão descritas, analisadas e comentadas as entrevistas realizadas com os
especialistas na área durante o período em que foi realizado o trabalho. No final do
capítulo será feita uma conclusão sobre estas análises para devido esclarecimento,
onde o objetivo da pesquisa poderá ser resgatado.
3.1 DESCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
Foram realizadas oito entrevistas sendo três locutores de rádio, três professores
de curso de locução e oratória e duas fonoaudiólogas. As entrevistas foram feitas no
período de três meses com aproximadamente 20 minutos cada uma, com o mesmo
questionário aplicado para os oito entrevistados, onde foram pré-estruturadas cinco
perguntas básicas. Outras perguntas foram complementares e específicas para cada
caso conforme a necessidade. Os entrevistados foram os seguintes profissionais:
Comunicador Roberto Alexandre Pepino, o Beto Junior, locutor da rádio 98 FM, uma
rádio popular e apresenta vários programas de segunda a sexta e nos finais de semana,
As oito na 98, Geral 98, O amor é assim, Locomotiva, Anos 80 e Top list. Locutora
Margot Dobignies que apresenta o programa Por Dentro do Mundo com música e
notícia, na rádio Mundo Livre – uma atitude sonora, 93.9 FM, uma rádio de perfil Pop
Rock. Renato Luiz Gaúcho Idiarte Loss, conhecido como Renato Gaúcho,
apresentador do programa Bom dia com Renato Gaucho pela rádio Caiobá 102.3 FM,
uma rádio popular com música, notícia e entretenimento. Marcelo Cabral da Escola de
Radio e TV trabalha com cursos de locução para rádio, TV e eventos, curso de
animação 2D/3/D para desenhos animados, TV e Cinema, curso de filmagem com
gravação e edição de áudio e vídeo e curso de dublagem para TV, jogos e cinema.
WWW.escoladeradioetv.com.br. O professor Flávio Pereira, psicólogo e diretor do
Curso Cérebro e Comunicação, onde ministra curso de oratória, treinamento
empresarial, palestras motivadoras, liderança motivacional, memorização, leitura
dinâmica além de outros cursos profissionalizantes na área de comunicação.
WWW.institutoflaviopereira.com.br. José Wille, jornalista, palestrante e âncora do
42
programa CBN Curitiba pela rádio CBN, 91.1 FM, a rádio que toca notícia, também
ministra treinamentos coorporativos e consultoria em comunicação. Fonoaudióloga
Maria Regina Franke Serratto, fonoaudióloga e coordenadora do curso de
fonoaudiologia da UTP. Daniele Almeida, fonoaudióloga, trabalha desde 2009 com os
jornalistas do Grupo RIC. Vide entrevistas completas no apêndice.
3.2 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
O ato de entrevistar vários profissionais torna-se muito interessante pelo fato de
que é possível perceber linhas de raciocínio diferentes, porém inteligentes sobre o
assunto. A diversidade de pensamentos e opiniões, além das colocações feitas sobre o
mesmo tema, possibilita ao pesquisador fazer comparações incríveis, além de abrir um
leque em torno da matéria. É possível observar visões diferentes, mas que no final,
chegam ao mesmo alvo que é a conquista do aperfeiçoamento e desenvolvimento da
profissão. Locutores, professores de expressão verbal e locução e fonoaudiólogas,
todos demonstraram profissionalismo e desenvoltura nas entrevistas colaborando com
seus conhecimentos para que esta pesquisa pudesse alcançar seu objetivo: mostrar que
a oratória pode contribuir na comunicação de locutores de rádio. Para esses
profissionais da voz foram feitas algumas perguntas básicas pré-estruturadas, além de
outras questões que surgiram durante o bate-papo. Essas perguntas podem ser
conferidas no anexo um. E é uma análise dessas destas entrevistas que a pesquisa
aborda a partir de agora.
3.2.1 Análise das entrevistas com os locutores
Fazendo uma análise das respostas dos locutores sobre o assunto proposto,
observa-se uma variedade rica de argumentos e colocações. Quando perguntado qual a
avaliação pessoal sobre a qualidade da comunicação de rádio hoje, os locutores se
manifestaram de forma descontraída e falaram sobre seus pontos de vista. Para o
comunicador Beto, a visão que se tinha do rádio no passado é bem diferente da visão
que se tem hoje e tudo é uma questão de competitividade. Por exemplo, as rádios
abertas e as comunitárias não figuravam no cenário radiofônico do passado, mas hoje
se tem tudo isso. Ele destaca ainda as facilidades com a internet e o celular. Tudo isso
43
levou o rádio a se moldar conforme a tecnologia atual. Para ele, portanto a qualidade
da comunicação tem que ser maior hoje em dia. Para o Beto a tecnologia é fria, tirando
o rádio, porque no rádio a comunicação ocorre em todo momento. Ficou claro que pelo
avanço da tecnologia, houve a necessidade do rádio acompanhar essa mudança e
buscar uma qualidade melhor. Ele ressalta que: ―o radio é rápido e fantástico e a
qualidade da comunicação precisa acompanhar essa evolução‖.
A comunicadora Margot considera que a comunicação deve ser clara para os
dois lados, tanto para o comunicador quanto para o ouvinte, porque isso revela a forma
como o locutor se relaciona com os ouvintes dele. Para ela, isso se traduz em
qualidade de comunicação. Ela acredita que para atingir o objetivo a comunicação
dever ser muito clara. Nos dezoito anos de trabalho foi observado que esse ponto de
vista é muito importante para que tudo funcione bem entre ouvinte e comunicador e
com isso se mantém a qualidade no rádio.
Renato Gaúcho acredita que tudo o que puder aprimorar e aperfeiçoar é válido.
Ele destaca a projeção ideal da voz e considera de grande importância o nível cultural
e de informação. Mas acredita que o sucesso de um comunicador depende, em grande
parte, da sua capacidade de envolver emocionalmente o ouvinte. Para ele, o emocional
merece destaque na comunicação. Isso reflete uma ideia muito oportuna de um
pesquisador do assunto que diz que a razão e a lógica constroem a mensagem, mas só
a emoção é capaz de transmiti-la. Renato considera isso a parte mais importante para
ter qualidade na comunicação de rádio e depois finaliza dizendo que o resto é
complemento.
Abordando sobre a diferença entre AM e FM no contexto da qualidade da
comunicação, Beto coloca que no passado havia diferença, mas hoje a coisa mudou
devido a novas tecnologias que trouxeram evolução. Ele compara a locução de 1960
com a atual se referindo a uma transformação natural. E como vão surgindo coisas
novas, a linguagem também vai se adequando. É interessante a colocação que ele faz
sobre o rádio quando diz que o rádio não muda, ―porque a roda foi criada e ninguém
vai criar uma roda nova. Pode-se colocar umas calotas novas. O que é calota nova? Ele
define como um programete, uma ou outra coisa diferente, só que a roda já foi
44
inventada‖. No seu pensamento, todo mundo que quer inventar uma nova roda, pode
quebrar. Na opinião de Beto, rádio se faz para o ouvinte, se o ouvinte aceitar,
maravilha, se o produto é bom ou não é, é discutível, pois cada um tem sua opinião,
mas quem decide mesmo é o ouvinte.
Na visão de Margot, tanto dentro das rádios AM como FM, tem vários
conceitos. Ela não se considera capaz de avaliar a comunicação de AM por trabalhar
em FM, mas quando apontado o fato de locações de espaços nas rádios AM, ela
argumenta que se o locutor vai lá e usa qualquer tipo de linguagem, vai pegar qualquer
tipo de ibope. É possível perceber, portanto, que há uma necessidade de melhora de
qualidade dentro desses espaços locados onde o comunicador, muitas vezes, trabalha
sem o devido preparo.
Para Renato Gaucho a qualidade na comunicação deve ser apreciada em
qualquer veículo. Na concepção dele as rádios AM, até por tradição, em alguns casos,
não se valoriza muito este aspecto. Ele lembra que no passado as emissoras FM eram
voltadas mais para um público mais sofisticado, uma classe mais alta, porém, isso foi
mudando com o tempo e hoje a coisa já é bem diferente. Ele conclui dizendo que o que
se vê entre AM e FM, é que nos programas de FM se toca mais música, são programas
de perfil musical, enquanto que nas rádios AM o comunicador fala mais, os ouvintes
participam mais e existe mais interatividade.
Durante a entrevista foi perguntado se o ouvinte valoriza mais o conteúdo do
programa ou a forma como o locutor se expressa. Beto afirma que o ouvinte se importa
sim com a maneira de se expressar do locutor e sabe quem é bom e quem é ruim. Sabe
qual é o locutor que está apresentando algo que soma para ele e quem está ali só pra
fazer uma coisinha qualquer. Segundo ele, o ouvinte sabe separar quem faz o trabalho
com alma e quem não faz, quem tá impostando uma voz errada, quem não é natural, o
ouvinte percebe que o locutor não é tudo aquilo, que a voz não é tudo aquilo. Ele
pensa que o locutor não deve subestimar a inteligência do ouvinte. Para Beto, essa é a
parte principal, ou seja, a forma como o locutor se expressa.
Margot vê importância nos dois lados. Ela acredita que um ouvinte pode ter
uma relação mais pessoal com o rádio, ligado mais ao locutor, outro já está mais
45
ligado às músicas, por isso é preciso se esmerar em todos esses níveis. Para ela, uma
pessoa que quer falar, se comunicar, mas é tímida, não consegue se comunicar,
portanto, precisa aprender a fazer isso. Desta forma é necessário buscar preparo
através de cursos de oratória, locução, enfim, buscar se qualificar.
Já na opinião de Renato Gaucho, o conteúdo do programa é o mais importante.
Ele considera que os ouvintes dão muito mais valor a programação, do que a forma
como o locutor se expressa, se tem boa voz, boa dicção ou se possui técnicas de
comunicação. Renato diz que essa preferência do ouvinte pelo conteúdo do programa é
disparada.
Quanto à pergunta sobre a contribuição da arte oratória para locutores de rádio,
Beto mostra que em todo o trabalho é preciso uma reciclagem, é preciso buscar
melhoras, através de pessoas qualificadas. Ele indica otorrinos e também
fonoaudiólogos para trabalhar a dicção, a respiração, a impostação de voz e até onde o
locutor pode ir. Beto acredita que muitos locutores ainda tem preconceito quanto a isso
e não buscam essas qualificações. Porém quem gosta de evoluir e quer manter a voz,
busca crescimento. Na visão dele existe muita gente técnica, mas o rádio é feito de
emoção e sensibilidade. Beto se sente privilegiado por ter trabalhado com uma equipe
profissional que lhe ensinou tudo. Confessa que nunca fez curso fora e que tudo o que
aprendeu foi com essa equipe que ensinou desde a técnica até a falar bem a língua
portuguesa. Ele aprendeu todos os pontos essenciais que um locutor precisa saber para
fazer rádio.
Margot lembra que todo candidato a locutor de rádio deve buscar preparo. Ela
destaca pessoas tímidas que tem dificuldade de se comunicar. Essas pessoas devem
buscar cursos de oratória, de como falar em público, treinar em casa até conseguir se
desenvolver. A falta de preparo atrapalha muito. Ela aconselha que antes de entrar em
rádio, o candidato tenha um modelo de locutor com quem se identifica, em quem se
espelha, não para copiar, mas para ter como referencia. Deve ouvir outras rádios e
procurar aprender com outros profissionais. Ela considera esses cursos de expressão
verbal importantes até para quem não é locutor, são técnicas que podem ser aplicadas
no dia-a-dia em qualquer área de trabalho e na vida pessoal também. Ela aconselha o
curso de oratória para qualquer profissional. Para Margot, Curitiba tem muito a
46
questão de aprender por ―toque de caixa‖, mas o ideal e partir para os cursos. Ela
também aprendeu por ―toque de caixa‖, mas com determinação e perseverança. Ouvia,
gravava, trabalhava em cima e treinava até que chegou a um resultado satisfatório. Ela
diz que sonhou e buscou até conseguir seu objetivo. Margot completa dizendo que é a
alma da pessoa que define melhor o trabalho dela.
Renato Gaucho acha que todo tipo de preparação, partindo de profissional
competente, é útil. Tudo o que puder ser aperfeiçoado é válido. Portanto considera
indispensável que o locutor busque um aperfeiçoamento e se esse trabalho depende de
cursos, que os locutores busquem esses cursos. Ele, no entanto, até porque, na época
em que começou, não havia muitas opções em termos de cursos, diz que aprendeu
errando.
Conversando sobre a aplicação das técnicas da arte oratória e de expressão
verbal, Beto fala sobre o entusiasmo do locutor. Ele diz que um locutor sem
entusiasmo vai ficar sozinho, sem audiência. Sem entusiasmo o comunicador não
aproxima ninguém, porque as pessoas não podem ver o locutor e o entusiasmo o
aproxima do seu público. Ele destaca também a boa leitura, simpatia, a alegria, o
carisma, que conquistam o ouvinte. Beto acha importante cuidar dos vícios de
linguagem e buscar falar corretamente. O segredo é gravar e ouvir para corrigir os
erros. Outro fator é a questão da impostação da voz. Nem sempre a voz impacta, o que
impacta é o que o locutor faz. Ele acha essencial dentro do rádio colocar bem a voz.
Impostar a voz é horrível na concepção de Beto, o ideal é que o locutor use sua voz
natural, porém de maneira trabalhada. Ele lembra ainda que pela falta da respiração
correta, a leitura dos textos fica comprometida e nesse quesito ele aconselha buscar um
profissional para orientação.
Margot compartilha do mesmo pensamento quando diz que o locutor deve se
gravar para corrigir os erros pedindo ajuda de outros profissionais e acrescenta que
isso é uma postura de humildade. Tudo que mexe com comunicação tem que ser
acompanhado de humildade. Locutor não é celebridade, tem que ter humildade.
Quanto aos sotaques, ela afirma que as emissoras não contratam pessoas que tem
sotaque evidente. Ela lembra que para ser locutor no Rio de Janeiro, em São Paulo, no
Paraná, no Ceará, na Bahia e no Rio Grande do Sul, o locutor não pode ter sotaque. A
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linguagem tem que ser neutra. Uma linguagem que não puxa regionalismo. Margô
acredita que toda pessoa que quer ser locutor pode, com devido preparo, chegar lá.
Na opinião de Renato Gaucho, não há coisa melhor do que treinar em voz alta,
gravar, ouvir, avaliar e se corrigir. Ele mostra que essas práticas podem ajudar muito o
desenvolvimento de qualquer profissional da voz. Para ele, como qualquer outra
habilidade, a profissão de locução é, basicamente, questão de treino. Renato deixa uma
dica especial para aquele que quer entrar no mercado da locução de rádio: ler muito
em voz alta, gravar, e depois fazer uma autoavaliação.
Como dica final, Beto dá a receita: pensar se o que você quer vai ser bom para o
locutor, para sua família e para os amigos. Fazer um curso de Inglês, um curso de
interpretação como teatro, por exemplo. Cuidar com o português e ser humilde para
aceitar os erros. Buscar um fonoaudiólogo para desenvolver a voz. Ler bastante e
buscar o aperfeiçoamento. Ele diz que se é esse o sonho, é só correr atrás.
Na dica final de Margot, pode se notar o incentivo à perseverança. A pessoa tem
que ser determinada e não desistir nunca. Se levar um, dois ou três nãos, continua até
ouvir um sim. Renato Gaucho diz que para as pessoas que falam em rádio, a qualidade
da sua fala depende de exercício. Todo o mundo pode melhorar a sua fala, se treinar
muito, gravar-se, ouvir-se, analisar-se e corrigir-se. Se existe meio mais eficiente de se
tornar um bom comunicador, ele não conhece.
3.2.2 Análise das entrevistas com os professores
Qual é a avaliação pessoal da qualidade da comunicação de rádio hoje? Essa
pergunta foi dirigida a professores e palestrantes de expressão verbal e curso de
oratória e locução. Marcelo aponta falta de preparo em muita gente que faz rádio hoje,
principalmente na questão da locução padrão, o que ele valoriza e ensina no curso.
Tem-se por locução padrão aquela que é aceita em todo o país e partiu do eixo Rio São
Paulo e é a locução usada na TV por telejornais e programas de grande abrangência.
Para ele a locução padrão é exigida por grandes emissoras, quando se contrata um
comunicador. Marcelo aborda o problema visto em muitos cursos de locução que não
preparam devidamente os profissionais para enfrentar programas de rádio. Ele lembra
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que as faculdades de comunicação social e jornalismo não têm disciplinas específicas
na área de locução que preparam os estudantes para o mercado do rádio.
Explicando a locução padrão, Marcelo fala de quatro fundamentos. A questão
da fluência na hora de ler um texto quando as vogais ―e‖ e ―o‖ devem ser trocadas por
―i‖ e ―u‖ para dar uma melhor fluência na leitura e evitar sotaques. O segundo
fundamento é o sorriso. Para ele o sorriso que o locutor passa na voz é muito
importante para conquistar o ouvinte, trazer tranquilidade ao locutor e uma dose de
simpatia que trás bom relacionamento entre locutor e ouvinte. O outro fundamento é o
improviso na leitura trabalhando a pontuação. Isso faz com que a leitura não pareça
leitura e fique mais natural dando ideia de improviso. E por último a própria dicção
que é pronunciar corretamente as palavras levando clareza aos ouvintes. Para ele, tudo
isso junto trás qualidade para a comunicação de rádio, o que na sua avaliação, falta
ainda em muitas emissoras e em muitos locutores.
O professor Flavio complementa esta ideia quando fala que a qualidade da
comunicação de rádio não é das melhores e atribui isso a uma fuga das boas maneiras
e da ética. Na sua visão se fala muito no rádio, mas o conteúdo deixa a desejar,
fazendo com que se perca muito da qualidade da comunicação. Ele considera que os
cursos de locução deveriam trabalhar não só voz, mas também o corpo, além de outros
elementos, formando um conjunto. Para o professor, os locutores devem buscar mais
qualidade no rádio, com programas de qualidade e que o conteúdo atenda as
exigências do mercado.
Wille considera que para ter qualidade em comunicação de rádio o locutor deve
trabalhar com clareza, ter uma comunicação que os ouvintes entendam e usar uma
linguagem coloquial. Ele destaca que essa é uma linguagem mais atualizada e não
como a linguagem do rádio de antigamente quando se falava de maneira artificial. É
interessante a maneira como ele coloca a linguagem antiga como uma forma de falar
bonito e a linguagem de hoje uma forma simples, como se estivesse conversando com
alguém. Porque não precisa falar de forma enfeitada, impostada, para conversar com
as pessoas. Ele lembra que no modelo do rádio do século passado, onde se aprendia
um ouvindo o outro, se falava muito alto devido a deficiência do som. Ele percebe que
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isso ocorre hoje em alguns programas principalmente esportivos, em que os locutores
falam de uma maneira diferente de quando estão conversando no próprio rádio. Ele
acredita que o seguimento esportivo tem essa linha devido ao fato de muitos copiarem
o perfil dos cursos de direito onde os advogados demonstram um jeito mais artificial
de falar com linguagem mais impostada para convencimento de júri, já que se
buscavam muito este tipo de curso por ser o mais aproximado na época para se seguir
uma carreira dentro da área de comunicação.
Quando perguntados sobre a diferença entre AM e FM no quesito qualidade, o
professor Marcelo Cabral percebe muita falta de preparo nos comunicadores de AM.
Ele atribui isso à comercialização de espaço. Para ele falta a locução padrão para
muitos locutores que realizam programas em emissoras AM. Marcelo faz uma
interessante comparação entre AM e FM colocando que a rádio AM é mais
companheira, enquanto a FM é mais lazer. Ela aborda o fato de que numa AM quando
entra o comercial, o ouvinte continua ouvindo porque ele gosta do comunicador, mas
com a FM é diferente, quando termina a música, o ouvinte troca de emissora. Sobre a
parte comercial, Marcelo acrescenta que a rádio que tem um departamento comercial
forte, com uma equipe de venda, consegue trazer recursos para a emissora, o que
facilita na seleção e contratação dos melhores locutores. Isso acontece com as rádios
FM. Ao contrário disso, a maioria das rádios AM precisam trazer os recursos de, o que
faz com que ela utilize os seus comunicadores para essa tarefa. Essas rádios vendem
horário para o público, para locutores ou determinadas pessoas que querem vender um
produto. Ele destaca que nem sempre esse locutor tem o devido preparo para
apresentar um programa de rádio.
Sobre essa questão, o professor Flavio diz que como professor e educador sobre
técnicas vocais, ele aponta as críticas e avalia o desempenho para buscar uma melhora,
mas em sua opinião pessoal, ele dava muito valor para essas coisas no passado, hoje
pensa diferente, apesar de parecer uma contradição. Ainda que recomende cuidado
com o bom desempenho da profissão, já flexibilizou bastante porque para ele o mundo
não é dos perfeccionistas. Flavio considera o mundo perfeccionista chato e preto e
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branco. Ele acredita que as pessoas podem se soltar mais e não ficarem tão presas às
tradições.
Na opinião de Wille a rádio AM perdeu o padrão de qualidade. Ele lembra que
pela estatística, 80% da audiência está nas rádios FM. Isso reflete um processo de
decadência acelerada, que já vem de tempo. Wille comenta sobre um projeto de
transformar AM em um modelo parecido com FM, mas é um plano, segundo ele, para
ser realizado a partir de 2016. Ele explica que é uma possibilidade técnica onde se
aproveita uma faixa de FM que não está sendo utilizada hoje que é do 77 a 88.8 e
passaria o AM para dentro do padrão FM. Ele acredita que isso melhoraria a qualidade
das rádios AM. Wille destaca que no AM tem emissora demais e ouvintes de menos e
assim não consegue mais sustentar, e sendo um dos motivos da locação de espaços
para diversas classes de programadores, o que faz com que a emissora não tenha mais
padrão e nem identidade. Ele comenta que a partir disso, entra o processo de
decadência. Para Wille, o defeito do FM é ser muito musical, não tem muito espaço
para interatividade. Algumas fazem uma programação mais parecida com AM, mas no
geral, elas são muito musicais.
Perguntados se o ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma
como o locutor se expressa, Marcelo Cabral acredita que o ouvinte valoriza muito a
boa comunicação do locutor, apesar de ver a importância do conteúdo. O ouvinte de
hoje sabe diferenciar muito bem o profissional que está preparado e o que não está.
Para ele a forma como o locutor fala e se comunica tem muito a ver com o sucesso do
programa e o aumento da audiência. Marcelo considera importante que o locutor
procure falar melhor para conquistar o ouvinte, mas acredita também que ele deve
cuidar da programação em si para que esse conjunto conquiste a simpatia e a audiência
do ouvinte.
Para o professor Flavio não existe programas perfeitos e locutores perfeitos,
tudo vai da dedicação e do aprendizado. Como professor sempre quis boa qualidade,
tudo de boa qualidade, mas hoje ele mediocriza algumas coisas. Para ele, o rádio
precisa de pessoas medíocres. Seria ruim se tudo fosse muito certinho, é preciso haver
pessoas medíocres para serem ajudadas. Não precisa haver tanta exigência para que
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tudo seja perfeito, voz perfeita, português corretíssimo, etc. Mas conclui que o
aperfeiçoamento é relevante e deve ser buscado.
Na visão de Wille, se o locutor se sente inseguro, pronuncia mal algumas
palavras, se tiver falhas na comunicação, o programa não se sustenta. Para ele, quando
o locutor fala no rádio, é como se estivesse conduzindo o pensamento do ouvinte e
essas falhas causa um desconforto. O locutor deve conduzir o ouvinte sem causar
sobressaltos. Ele vê nesta questão duas linhas, o conteúdo do programa que está sendo
passado e a técnica de comunicação utilizada, ou seja, o que o locutor fala e como fala.
Wille ainda aborda o fato de muitos locutores adotarem o perfil de estrelismo por estar
no rádio, o que se torna um ponto muito negativo.
Sobre a contribuição das técnicas de oratória para locutores, Marcelo Cabral
comenta que como as universidades de comunicação não ensinam locução, os cursos
de locução procuram fazer isso, apesar de muitos ainda não trabalharem direito esse
quesito, ou seja, nem percebem essa falta. O aluno vem para o curso sem domínio do
assunto. Ele considera muito importante frequentar esses cursos de preparo. Ele
aconselha buscar formação profissional e cursos que ensinam essas técnicas como
cursos de locução. Ele acrescenta que para os cursos oferecerem mais qualidade, é
preciso trabalhar com poucos alunos pra tornar as aulas mais práticas e ter melhores
resultados.
O professor Flavio aponta que o curso de oratória é completo para esses fins.
Ele considera que os cursos de locução são apenas uma parte, cuidando mais da parte
de voz, enquanto os cursos de oratória são mais completos. E por falta de buscar o
devido preparo, existe muito locutor fora do plumo, ou seja, tem boa voz, mas tem
defeitos especiais. Os cursos de oratória trabalham valores e não só comunicação. Ele
fala da ética, etiqueta e valores que estão acima da voz e tudo isso o curso de oratória
trabalha. Ele coloca que locução é uma coisa e oratória é outra. Ele lembra que é raro
um locutor procurar curso de oratória e atribui a isso o fato de que esses profissionais
não acreditam que precisam desse tipo de ajuda.
52
Wille acredita que os cursos de oratória estão defasados. Vieram derivados dos
cursos de direito e quem trabalha com isso, geralmente tem essa ligação. Hoje a
oratória é muito diferente, a palestra é muito diferente. Ele coloca que a conversa de
rádio dever ser interessante e interativa. Ele vê a oratória moderna assim, o problema é
que os cursos de oratória tradicionais, surgiram da fala voltada para o direito, mas que
não se aplica mais a plateias. Ele mostra que a comunicação tem que acontecer e por
isso os cursos precisam se modernizar. Wille aconselha aos locutores que busquem
aperfeiçoamento, que façam cursos de comunicação, apesar de que esses cursos
universitários não tem uma disciplina específica na área de locução, mas pode-se
buscar especialista na área como fonoaudiólogos. O importante é fazer uma faculdade
e depois ir para o mercado de trabalho. Wille pondera que algumas atividades
profissionais se aprendem fazendo na prática e locução é uma delas. Ele lembra que
tinha muito sotaque de interior quando começou. Percebeu que deveria ter uma fala
mais uniforme. Lia em voz alta, prestava atenção em outros profissionais, gravava, se
ouvia e corrigia os erros. Treinava sempre para se aperfeiçoar. Depois teve
atendimento fonoaudiólogo e conseguiu chegar ao profissionalismo no rádio.
Quanto à aplicação das técnicas de oratória para locutores, Marcelo Cabral
destaca a necessidade de um vocabulário rico e um conteúdo bem elaborado. Aborda
também a gesticulação como grande auxiliar para a desenvoltura do locutor e para
passar melhor a ideia, o que ensina em seu curso. Valoriza muito os exercícios de
dicção e de articulação, além de exercícios de relaxamento e aquecimento. Marcelo
considera importante deixar os problemas para fora do ambiente de trabalho, para isso
indica os exercícios de relaxamento que trazem bons resultados. Ele conta que em suas
apresentações, sua primeira fala antes da comunicação oficial, é feita com um lápis na
boca, para melhorar a dicção. Quanto à saúde vocal, ele recomenda evitar alimentos
pesados e gordurosos como leite e derivados para não prender nas pregas vocais e
atrapalhar a fala. Água gelada também pode prejudicar, o ideal é temperatura
ambiente, natural. Ele indica maçã com casca por ser adstringente e auxiliar na
limpeza da garganta e beneficiar a fala. Ele comenta sobre a necessidade da respiração
abdominal para ter mais fôlego e não picotar na leitura de textos. Marcelo finaliza
53
dizendo que em geral o locutor deve cuidar da voz e lembra que o melhor e trabalhar a
voz para tê-la por mais tempo.
O professor Flavio participa da mesma opinião sobre a importância dessas
técnicas vocais quando diz que cuidar da saúde vocal é fundamental para locutores de
rádio. Ele destaca pontos como intensidade da voz, velocidade, inflexão e dicção. É
interessante o termo por ele usado para definir esse conjunto. Flavio chama de
engenharia vocal. Para ele o locutor deve saber quando aplicar tudo isso durante sua
atividade profissional. Ele chama a entonação de tempero e revela que a atitude que a
pessoa coloca com a voz e a ênfase, fazem a diferença. Ele trabalha no curso a
respiração correta, exercícios de alongamento e principalmente a libertação dos
traumas que causa o medo de falar em público. Sobre os alimentos, Flavio recomenda
alimentos leves antes do uso profissional da voz e bastante água para hidratação. O
professor comenta sobre a importância de cuidar com a língua, procurando falar o
português corretamente e cuidar com os vícios de linguagem. E na sua didática, ele
trabalha não somente a voz, mas também a ética profissional.
Para Wille, uma autoanálise é muito importante. Ele aconselha gravar a própria
voz, ouvir e corrigir os erros e ver seu desempenho. Ele considera essa prática a
melhor escola. Wille acredita que a própria reação das pessoas pode ajudar o locutor a
se avaliar e pensar como está se saindo. Ele pensa que o maior problema do locutor é a
fluência e afirma que é o mais difícil. Para ele a fluência é conhecimento. Quando o
locutor recebe um tema e consegue discorrer sobre aquele tema, mostra fluência e esse
é o aspecto básico. Ele fala que é importante ter a noção de respiração e outras noções
teóricas, no entanto, não vê, pelo que ele conhece, cursos que tenham se modernizado
para aplicar melhor essas técnicas. Wille conclui dizendo que o locutor deve procurar
se preparar, cursar uma faculdade e entrar para o mercado de trabalho e termina
dizendo que é importante adquirir técnica de contar história e conversar para
desenvolver habilidades, e lembra: não dá para melhorar a voz, mas sim o uso dela.
Em sua dica final, Marcelo Cabral aconselha a trabalhar a voz e buscar a
locução padrão para ter mais qualidade na comunicação. Se o sonho é ser locutor, deve
buscar profissionais que possam ajudar e cuidar da escolaridade. O professor Flavio
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em sua dica final mostra que a oratória é uma filosofia, é a arte da palavra de falar em
público e o locutor entendendo isso vai ser um locutor mais interessante para o seu
ouvinte e conclui: o locutor deve fazer um curso de oratória. Wille também deixa a
dica: o locutor deve desenvolver a clareza e buscar uma maneira de facilitar a fala para
se comunicar bem e realizar uma comunicação de qualidade para ter audiência e
credibilidade no trabalho.
3.2.3 Análise das entrevistas com as fonoaudiólogas
Sobre a qualidade da comunicação de rádio hoje, as fonoaudiólogas entrevistas
apontaram elementos interessantes. Maria Regina, que já trabalhou no mercado do
rádio, destaca que antes de olhar o locutor como alguém com técnicas de locução ou
oratória, é preciso olhar a pessoa que vem junto com isso e que interfere nessa
expressão oral. Em sua prática profissional com radialistas, ela olha o locutor como
uma personagem que vai ao ar, com um padrão vocal que vai ao ar, porém que no dia-
a-dia, não é o mesmo. Envolve as questões de qualidade, velocidade, intensidade,
altura da voz dele para compor esse personagem que é levado ao ar via ondas do rádio.
Para a fonoaudióloga, esse locutor difere bastante da imagem que ele cria no rádio.
Além desses aspectos, Maria Regina acredita que o radialista sofre muito, até porque
ele mesmo não se valoriza neste contexto, se sente inseguros e tudo isso interfere na
qualidade da comunicação. Ela atribui a isso o fato da responsabilidade que o locutor
tem com a emissora para manter a qualidade do programa, ter que estar á frente do
IBOPE, arcar com as conseqüências dos problemas ocorridos e se responsabilizar por
erros e acertos. Ela considera que os empregadores devem se conscientizar que se a
rádio está no ar, se deve a esses profissionais da voz. Ela conclui que a técnica só vai
funcionar bem a partir do momento que o locutor consiga se entender como pessoa.
Para a especialista Daniele Almeida a qualidade depende da expressividade
vocal, ou seja, o quanto a dicção, a projeção da voz, é expressiva. Ela considera
importante a forma como o locutor mostra o seu produto através dessa expressividade.
Se o locutor comanda um programa jovem, ele precisa de mais flexibilidade de voz e
uma agilidade mais notada. Com programa de tema mais centrado, como noticiário,
por exemplo, a expressividade pode ser mais linear, porém com ritmo muito maior.
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Daniele avalia essa qualidade em cima do produto, ou seja, a voz do locutor precisa
combinar com o produto que ele oferece, com a programação que ele comanda.
De acordo com a pergunta sobre a diferença entre AM e FM quanto à qualidade
da comunicação, Maria Regina considera o fato de que as rádios em geral não
preparam seus locutores como as emissoras de TV. Ela até dá seu apoio aos locutores
porque dentro do trabalho na posição que ele ocupa, estão tentando fazer o melhor que
podem. Ela avlia que eles não procuram mais preparo por causa da formação. Ela
acredita que muitos têm baixa escolaridade, principalmente nas rádios de mais
entretenimento. Eles vêm de caminhos simples e humildes, tiveram a oportunidade e
estão trabalhando.
No conceito de Daniele existe muita diferença entre AM e FM no contexto da
qualidade. Ela aponta a rotatividade e a experiência do FM muito maior em relação a
AM. Ela comenta que as rádios AM são muito fechadas para um certo grupo ou
comunidade. A AM permite muito mais flexibilidade de pessoas por ter o sistema de
locação de espaço. Ela vê muita diferença na qualidade de ritmo, de voz, além de
outros aspectos.
Quanto ao conteúdo do programa e a técnica vocal do locutor, Maria Regina
considera ambos importantes. Ela lembra a responsabilidade do locutor ante a
emissora e o compromisso de conquistar o ouvinte para manter a audiência. Daniele se
une na mesma opinião dizendo que não tem como separar as duas coisas. Ela acredita
que o ouvinte identifica o locutor primeiro pela qualidade de voz, se é agradável, se ele
pode dedicar tempo ouvindo aquele locutor, se é uma voz interessante a ponto de
prender o ouvinte. Ao mesmo tempo, não adianta ouvir uma voz agradável, se o
conteúdo não corresponde. Uma coisa completa a outra, finaliza a especialista.
Sobre a contribuição da arte oratória para locutores, Maria Regina afirma que os
locutores de rádio não procuram o devido preparo. Ela coloca que eles entram muito
cedo na carreira e vão tentando se desenvolver lá dentro. Para ela geralmente as rádios
não exigem um locutor com bom preparo, muitas rádios dão mais valor à voz bonita da
pessoa. Quanto ao curso de oratória, ela sabe que os cursos oferecem orientações sobre
56
as técnicas necessárias, mas não tem propriedade para falar sobre isso pela falta de
formação. Esses cursos acabam vendendo algo que é inatingível para o profissional,
porque uma pessoa que já está no mercado de trabalho não vai buscar. Quem
geralmente quer entrar para o mercado do rádio é que procura esses tipos de cursos.
Ela concorda que algumas técnicas são bem desenvolvidas pelos cursos de oratória,
mas falta ainda a questão de ver outras barreiras a superar, barreiras que levam ao
medo e a timidez. Maria Regina indica, portanto, preparo em todos os sentidos para
que o profissional da voz possa se desenvolver.
Daniele vê uma grande importância no preparo do locutor. Ela diz que aquele
que não tem preparo, perde a flexibilidade no decorrer do uso, principalmente quando
sua voz é utilizada para várias partes da comunicação como apresentação de show,
eventos, anúncios, palestras, etc. neste caso, o preparo é mais importante ainda. Alguns
locutores não procuram cursos por falta de conhecimento da necessidade. Ela comenta
que alguns locutores não buscam ajuda profissional porque acham que podem perder a
identidade. Ela fala que a escola do rádio é muito antiga, então ainda tem aquele perfil
mais carregado, mais esteriotipado que não permite isso. Daniele pensa que o locutor
iniciante pode buscar uma referencia inicial, alguém em que se espelhar para depois
criar o próprio perfil. Não é o caso de fazer cópia, mas apenas uma referencia em que
se apoiar. Ela acredita também que os cursos de oratória podem ajudar muito os
profissionais da voz. Ela acredita que funciona, mas é preciso ter um aprimoramento
dessas técnicas, que devem cada vez mais evoluir. Ela complementa que os cursos de
oratória devem ser buscados não só para locução de rádio, mas para as demandas de
hoje em dia.
Analisando a importância das técnicas de oratória para locutores, Maria Regina
avalia como indispensável o uso de cuidados com a voz. Ele destaca que o tempo de
uso da voz deveria ser de no máximo 4 horas por dia. Ela mostra algumas
complicações que comprometem a saúde do locutor como edemas de prega vocal
como resultado de abusos. A voz fica mais grave, se torna rouca e o locutor pode
perder a intensidade vocal. Maria Regina também salienta o fato desses edemas
surgirem por falta de cuidados como uso do álcool, fumo e outros fatores que levam a
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perda da qualidade vocal. Ela aconselha respiração correta, que é a diafragmática,
exercícios de aquecimento e desaquecimento e o uso da maçã antes da fala. Outro fator
interessante que ela coloca é a alteração da voz das locutoras no período menstrual ou
de menopausa. Para ela, todo profissional da voz deve levar em conta os fatores que
contribuem para a saúde vocal.
Na visão de Daniele, o abuso também provoca queixas entre os locutores e a
rouquidão é uma das maiores reclamações. Muitos desses casos são resultados da
demanda de trabalho e o despreparo para atender tudo isso. Ela destaca ainda que
alguns locutores usam a voz por um período longo e logo acaba a resistência, sentem
dificuldade articulatória e outros problemas relacionados a essa demanda. Daniele
indica pra locutores trabalhar o ritmo, a fluência, a melódica, a parte linguística, boa
articulação, que é o que passa credibilidade. Ela fala ainda sobre a expressividade que
é muito importante em rádio, que são marcações que não se ouve em lugar nenhum.
Quanto a respiração, ela recomenda uma respiração mista, administrando o conjunto
usando toda a caixa para que se tenha uma sustentação de ar. Para ela a alimentação
também é muito importante no caso do usa da voz. É ideal cuidar da digestão, evitar
frituras, derivado do leite e usar a maçã antes da fala, pois seus benefícios têm
comprovação cientifica. Quanto a voz, ela diz que a questão da impostação mudou em
todo os meios de comunicação. Hoje a voz que se exige não é aquele que tem uma
característica formal e fria, aquele voz muito colocada, distante, mas sim com mais
interatividade, uma voz mais próxima, mas coloquial.
Como dica final, Maria Regina incentiva os locutores a procurar um
fonoaudiólogo para o melhor desenvolvimento da profissão, pois ele depende do bom
uso da voz para o seu trabalho. Daniele também dá uma dica especial: trazer o
aprimoramento das técnicas de expressão verbal para o dia-a-dia, pois todas as pessoas
se expressam na vida.
58
3.3 CONCLUSÃO
Resgatando o objetivo do projeto que foi entender como a arte oratória pode
contribuir para locutores de rádio, acredita-se que esse objetivo foi alcançado mediante
pesquisas feitas em torno do assunto. Com a opinião desses especialistas, é possível
concluir que a arte oratória trás uma grande contribuição para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento de locutores de rádio. Apesar das opiniões diferentes sobre os
benefícios dos cursos de oratória, conclui-se que mesmo precisando de uma
modernização, suas técnicas ainda podem auxiliar profissionais da voz.
Percebe-se que quanto à qualidade de comunicação de rádio hoje, as opiniões
são de que essa qualidade deve acompanhar a evolução da tecnologia, promover uma
comunicação clara, trabalhar o emocional do ouvinte e usar de expressividade. Nota-se
que para alguns as rádios AM perde muito em qualidade em relação às FM e a isso se
atribui em grande parte às locações de espaço. É interessante observar as opiniões
divergentes sobre o maior interesse do ouvinte em questão de conteúdo e técnica. Para
uns, o conteúdo do programa é o que mais interessa, para outros, a forma como o
locutor se expressa é o mais importante.
Em geral, todos os profissionais entrevistados concordam que a voz merece
cuidado especial e que a desenvoltura e o sucesso no rádio dependem em grande parte
de técnicas como entusiasmo, expressividade, ritmo, clareza, boa dicção e articulação,
além de uma linguagem que aproxime o ouvinte. O vocabulário rico com uma boa
dose de gestual e o sorriso na voz pode complementar esse quadro tão agradável do
locutor de rádio, que tem em sua voz seu instrumento de trabalho, podendo alcançar
cada vez mais o padrão de profissionalismo exigido para a qualidade da comunicação.
É interessante notar a riqueza nas técnicas da arte oratória reconhecida por
muitos que já puderam experimentar seus recursos para melhorar a comunicação. Essa
arte milenar desenvolvida através dos séculos chega ao rádio para proporcionar
condições aos comunicadores dos microfones de rádio de explorar mais a voz, adequá-
la e projetá-la com mais profissionalismo. É um consenso geral dos entrevistados a
necessidade do preparo vocal, do uso das técnicas, da busca por preparo e da conquista
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do ideal de aperfeiçoamento. É opinião comum que a qualidade depende desse
preparo, para que o rádio possa continuar sendo o que é, um meio de comunicação
onde se trabalha com a voz e a imaginação. Um espaço interativo e humanitário onde
as pessoas se relacionam e trocam ideias. O locutor é o elemento fundamental desse
meio e pode fazer maravilhas com a voz, para levar ao ouvinte, pelas ondas do rádio,
uma palavra amiga, uma palavra que pode fazer a diferença na vida das pessoas.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A possível articulação da oratória com a locução de rádio, dentro da pespectiva
deste trabalho, reflete a evidência de uma importante ligação entre ambas as partes no
que se refere aos resultados e objetivos propostos. Inicialmente o trabalho indicou uma
pesquisa sobre a história da oratória e sua contribuição nos meios de comunicação,
mais especificamente no rádio. Nesta pesquisa há referência para alguns oradores
gregos e romanos que se destacaram por seus métodos de apresentação pública.
Aponta também oradores contemporâneos, homens que deixaram sua marca na
história da humanidade através de seus discursos marcantes. Esses se destacaram na
política e também no campo religioso.
As obras pesquisadas mostram um relato da trajetória da oratória, trazendo
informações sobre seus primórdios, projetando para os dias atuais, uma arte ampliada
em suas formas e métodos, aprimorada e atualizada para atender às necessidades de
um público atual. Uma arte que tende a conquistar cada vez mais espaço entre os
apreciadores da palavra falada. Sabe-se que hoje, as técnicas da oratória são buscadas
por todas as classes de profissionais da voz.
Diante dessa tendência, no segundo capítulo da pesquisa, fica clara a
importância do uso dessas técnicas pelos locutores de rádio. E por ser a locução um
meio de comunica-se, se torna essencial que o locutor comunique-se de modo a atrair a
atenção do ouvinte e despertar nele o interesse de acompanhar a programação. Os
autores concordam que é extremamente relevante para o comunicador adquirir técnicas
como melhora de projeção de voz, respiração correta, uso correto do microfone, boa
dicção, articulação, além de expressividade na fala, entusiasmo, naturalidade e
conhecimento sobre o assunto.
Acredita-se que as possibilidades de se explorar os métodos da comunicação
eficiente, cresçam a partir do momento em que esta necessidade seja sentida pelos
locutores através das exigências crescentes dos ouvintes. É dentro dessa perspectiva
61
que o locutor deve buscar os recursos e habilitar-se para atender, da melhor maneira,
aos reclamos de uma comunicação clara e objetiva. Diante disso, pode-se entender a
urgente necessidade de preparo por parte daqueles que pretendem usar a voz na
comunicação de rádio.
A pesquisa se encerra com um estudo de caso, onde profissionais foram
entrevistados. A pesquisa contou com a colaboração de locutores de rádio, professores
de curso de locução e oratória e fonoaudiólogas. Pode-se perceber que estes
profissionais concordam que as técnicas de expressão verbal são muito necessárias
para uma boa qualidade na comunicação de rádio. Eles esclareceram pontos
importantes sobre a contribuição da arte oratória para os profissionais da voz que
fazem do rádio seu meio de comunicação.
É notório que esse assunto deixa margem para muitos estudos e pesquisas com
a tendência crescente entre aqueles que desejam se projetar como profissionais da voz.
A arte oratória se tornou elemento fundamental para aqueles que querem ir pra frente
na vida profissional e social. Nesse contexto, fica a proposta para que se busque cada
vez mais o aperfeiçoamento das técnicas de falar no rádio, contando sempre com a
contribuição da arte oratória.
62
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Tederixe. Curitiba, 09 de maio de 2012.
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WILLE, José. Jornalista, palestrante e âncora da CBN. Entrevista concedida a Olga
Maria da silva Tederixe. Curitiba, 10 de maio de 2012.
66
APÊNDICE
ENTREVISTAS
ENTREVISTA COM BETO JUNIOR
Como você avalia a qualidade da comunicação do rádio hoje?
Eu penso o seguinte, com o tempo tudo passa por uma transformação. Claro dez anos
atrás você tinha uma visão, cinco anos atrás, você tinha outra, hoje você vai ter outra,
daqui a pouco você vai ter outra. Acho que é conforme a necessidade de todo mundo.
É a competitividade, a gente tá muito competitivo hoje. Hoje tem a internet, tem
celular, uma série de coisas que levou o rádio a ter que se moldar conforme toda a
tecnologia que está existindo, então a qualidade tem que ser maior hoje em dia. Até a
comunicação tem que ser maior. A exigência é maior. O público tem no computador o
chamado Google, pra quem não sabe, é pesquisa. Então tudo o que ele quer ali, ele vai
ali, coloca e acha. A gente tem pensar o seguinte, toda tecnologia é fria, tirando o
rádio, o rádio não é frio. Vou defender claro, minha classe porque é onde eu trabalho.
Porque o rádio não é frio? Porque no rádio o cara tá toda hora se comunicando, e todo
mundo gosta de ser lembrado. Isso não vai acabar. Por mais que a tecnologia veio, por
mais que veio um monte de coisa, mas o rádio continua sendo o que ele é, fantástico,
rápido, ele é bem mais rápido, até que a internet, porque se você está dentro de um
ônibus ou no teu carro e tem um acontecimento e você precisa entrar em contato, você
pega o teu celular ou telefone da rua, liga e pronto, você já coloca ao vivo lá na radio,
o que ta acontecendo. Coisa que na televisão demora, na internet demora, tudo isso.
Você acredita que a qualidade da comunicação de rádio é diferente entre AM e
FM?
No passado sim. Hoje, não, hoje com a tecnologia nova e com novas cabeças que
surgiram, isso é evolução. Tudo vai evoluindo. Se a gente conversar com alguém que
fazia locução em 1960, ele vai falar uma coisa, quem fazia locução em 1990, é uma
coisa, hoje é outra. É transformação natural, por quê? Porque vão surgindo coisas
67
novas, a linguagem também tem que ser mudada. Só que o rádio não muda. A roda foi
criada e ninguém vai criar uma roda nova, a gente pode colocar umas calotas novas. O
que é calota nova? Colocar um programente, uma coisinha diferente, adocicar aqui,
lembrar ali, só que roda já foi inventada. E todo mundo que quer inventar uma nova
roda, quebra. Porque você faz a rádio pro ouvinte, se o ouvinte aceitar, maravilha, se o
produto é bom ou não é, é discutível, aí todo mundo, cada um tem a sua opinião, mas
quem decide mesmo é o ouvinte.
Como você vê a mudança da locução na questão da projeção de voz de rígida para
mais ligth?
Essa mudança ocorreu porque, pela necessidade, como eu falei, antigamente você fazia
um rádio, simplesmente um rádio que você tinha que tocar musica sertaneja, você
tinha que tocar musica gospel, você tinha que tocar gauchesca, tinha que fazer uma
programação, tinha que fazer um feirão dentro de uma rádio. Hoje, o que aconteceu?
Como surgiram várias rádios, então você tem uma rádio que fala linguagem popular,
tem outra rádio que é mais eclética, tem uma rádio que é mais assim, por isso mudou.
O próprio ouvinte foi acostumando com isso e o próprio rádio foi evoluindo sobre isso
e os comunicadores também foram evoluindo. Como daqui a dez, quinze anos, o que
estamos falando aqui, muita gente vai falar assim, ah, mas o que eles faziam lá a dez,
vinte anos atrás, é diferente do dia de hoje. Esse passo é importante e a gente tá dando
um passo interessante. Tanto que a televisão também, a também era quadradona, a
televisão era super quadrada. De repente você vê hoje que alguns programas, o cara
parece que ta ali no sofá da tua casa falando e o rádio também seguiu essa mesma
linha.
O que o ouvinte valoriza mais, o conteúdo do programa ou a forma como o
locutor se expressa? Ele se importa com isso?
O ouvinte se importa sim, ele não é mais bobo não, ele sabe quem é bom e quem é
ruim. Ele sabe qual é o locutor que está apresentando algo que soma pra ele, que ajuda
e ele sabe qual é o locutor ou comunicador que está ali simplesmente só pra fazer uma
coisinha sem a alma. O ouvinte sabe separar quem faz um trabalho com alma e quem
68
não faz, quem tá impostando uma voz errada. Se você não for natural, hoje tudo na
vida se não for natural chega uma hora lá na frente, a sua máscara cai, o ouvinte vai
saber que você não é tudo aquilo, que a tua voz não é tudo aquilo. O ouvinte vem em
primeiro lugar. Primeiro você prepara um programa. O ouvinte pensa assim, tudo bem,
o que o comunicador e a rádio quer com aquele programa? Aí você tem que explicar
para o ouvinte, você tem que saber como explicar, sem ser chato, sem subestimar a
inteligência do ouvinte.
Até que ponto você considera importante o locutor procurar preparo vocal,
buscar cursos. Como você vê a importância das técnicas vocais para locutores?
Todo trabalho você precisa se reciclar, em todo trabalho você precisa melhorar. Pra
melhorar você precisa buscar pessoas qualificadas, que são profissionais da área.
Quanto à voz, é bom ter um otorrino para ver como está a voz, e um fonoaudiólogo
que vai trabalha a sua dicção a sua respiração, a sua impostação de voz, até onde você
pode ir. Muitos locutores ainda tem preconceito quanto a isso. Mas precisamos, porque
são profissionais que estudaram aquilo e podem acrescentar. Quem gosta de evoluir,
quem gosta de novidade e precisa dessa novidade e quer manter a sua voz que é um
meio de trabalho, procura um fonoaudiólogo e também um otorrino pra saber como
está o andamento das suas pregas vocais, pois você tem que cuidar do seu instrumento.
É bom fazer um curso de Inglês, porque é importante, porque você falar o inglês, não
que você conversa, mas você tem um universo ali dentro de música internacional e
hoje é globalização. O que aconteceu? O mundo foi aberto. Hoje você está aqui em
Curitiba, mas estão te ouvindo em todos os lugares. Tem a internet que a gente não
pode esquecer.
Que técnicas dentro da oratória você indica para locutores?
O entusiasmo é muito importante, sem entusiasmo o locutor vai ficar sozinho, não vai
ter audiência. Se é o plano dele atingir as pessoas, ele não vai conseguir porque sem
entusiasmo você não aproxima ninguém, as pessoas não estão te vendo, o cara ta
fazendo pra ele. Quando o ouvinte percebe isso, aí ele vai dizer pra que eu vou ouvir
isso? Isso não soma nada, o cara ta fazendo pra ele. Agora quando você entra com
69
alegria, com vontade, faz com amor, as pessoas sabem valorizar. Outro ponto
importante é a leitura. Quando a gente fala da leitura, o povo brasileiro tem um
problema sério de não fazer leitura, porque fala que o livro é muito caro, mas nós
temos um monte de livro na biblioteca. E você vai buscando, e hoje a internet, como
eu falei, vai lá no Google, tem uma série de coisas. É aí que você vai ver a diferença
entre locutor e comunicador. O locutor fala nome de música. O comunicador além de
falar o nome da música, ele conversa. Pra você conversar, você tem que ter o quê?
Tem que ter uma experiência, uma base, um preparo. Pra ter um preparo, você vai ter
aonde? Vai ter lendo. Porque a leitura abre um campo enorme, não só no rádio, mas na
vida em si. Sem leitura hoje em dia, as pessoas vão ficar fadadas a ficarem sozinhas. O
locutor precisa ser simpático, transmitir alegria, ser natural. Uma boa técnica é se
gravar e depois ouvir, isso ajuda a corrigir os Erros.
ENTREVISTA COM MARGOT
Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?
Não sou uma ouvinte assídua das rádios AM, por isso não posso avaliar ,mas
dentro do segmento AM, acredito que a comunicação para ser bem feita, tem que
tornar claro para os dois lados, para quem tá falando e para quem tá ouvindo uma
mensagem, se tornou claro, ela funcionou. Por aí se vê a forma como o locutor se
relaciona com os ouvintes, se ele se relaciona de forma clara, atingiu o objetivo, é por
aí.
Você vê diferença entre AM e FM na questão da qualidade de comunicação?
Tanto dentro das rádios AM como FM, tem vários conceitos. Não me considero
capaz de avaliar a comunicação de AM por trabalhar em FM, mas quando se fala em
locação de espaços nas rádios AM, o problema é que se o locutor vai lá em
determinada rádio e usa qualquer tipo de linguagem, vai pegar qualquer tipo de ibope.
Por isso é necessário preparo por parte desses comunicadores para que não perca a
qualidade da comunicação.
70
O que o ouvinte valoriza mais, o conteúdo do programa ou a forma como o
locutor se expressa?
Considero os dois importantes. É assim, tem um ouvinte que vai ter uma relação
mais pessoal com o rádio, que tá mais ligado ao locutor, tem outro que tá ligado mais
às músicas, tem outro que tá ligado em todos esses contextos e mais os comerciais.
Então o locutor deve se esmerar em todos esses níveis. Uma pessoa que quer falar,
mas tem vergonha, é tímida, ela não consegue comunicar. Desta forma é necessário
buscar preparo através de cursos de oratória, locução, enfim, buscar se qualificar.
A arte oratória pode contribuir para locutores de rádio?
Toda pessoa que deseja trabalhar em rádio deve buscar preparo. Pode fazer
cursos de oratória, de como falar em público, treinar em casa até conseguir se
desenvolver. A falta de preparo pode atrapalhar muito o trabalho desse comunicador.
Eu aconselho ao candidato a trabalhar com locução, que antes de entrar em rádio,
tenha busque um modelo de locutor com quem se identifica, em quem se espelha, não
para copiar, mas para ter como referência e aí é só criar o próprio estilo. É importante
também ouvir outras rádios e procurar aprender com outros profissionais. Se é uma
oportunidade única, é pegar ou largar, você vai e encara, mas cabe a pessoa ser
humilde e pedir ajuda aos colegas. Se gravar e mostrar para outras pessoas, isso tudo
ajuda muito, e claro, buscar preparo. Acho esses cursos de expressão verbal
importantes até para quem não é locutor, são técnicas que podem ser aplicadas no dia-
a-dia, em casa, no trabalho, em qualquer área de trabalho e na vida pessoal também.
Eu realmente aconselho o curso de oratória para qualquer profissional. Eu vejo que em
Curitiba tem muito a questão de aprender por ―toque de caixa‖, mas o ideal ainda é
partir para os cursos. Eu também aprendi por ―toque de caixa‖, mas com determinação
e perseverança. Me gravava, me ouvia, trabalhava em cima e treinava até que cheguei
a um resultado satisfatório. Sonhei e busquei até conseguir meu objetivo. é a alma da
pessoa que define melhor o trabalho dela.
71
Quais as técnicas de oratória você considera importante para o locutor?
Uma das coisas é não ter regionalismo. É necessária uma linguagem neutra.
Paraná, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul são regiões onde não se
pode usar regionalismo. Hoje em dia as rádios estão na internet e as pessoas acham
muito estranho essa questão do regionalismo. As grandes emissoras não contratam
locutores com regionalismo. E como eu falei, deve gravar para corrigir os erros e
manter uma postura de humildade.
ENTREVISTA COM RENATO GAÚCHO
Como você vê a questão da qualidade na comunicação de rádio?
Tudo o que você puder aprimorar é válido — a voz, o nível cultural e de
informação, etc. — mas acredito que o sucesso de um comunicador depende, em
grande parte, da sua capacidade de envolver emocionalmente o ouvinte. O resto é
complemento.
Qual a diferença entre AM e FM no aspecto da comunicação, levando em conta
a qualidade vocal dos locutores?
A qualidade vocal é uma qualidade desejável em qualquer veículo, embora, até por
tradição, as emissoras AM, em certos casos, ainda parecem primar menos por esse
quesito. Antigamente, as emissoras FM eram voltadas a uma classe pretensamente
mais sofisticada, mas isso se atenuou nos últimos anos. Talvez uma diferença que
ainda persista — e, mesmo assim, não em todos os casos — seja que as emissoras FM
tocam mais músicas. No AM, sobretudo nos programas matinais, o comunicador fala
mais, há mais participação de ouvintes...
Na sua experiência, o que o ouvinte considera mais importante, o conteúdo do
programa ou a forma como o locutor se expressa?
O conteúdo do programa, disparado.
72
Como você avalia a contribuição da oratória para locutores de rádio?
Acho que todo tipo de preparação, partindo de profissional competente, é útil. Eu,
no entanto — até porque, na época em que comecei, não havia muitas opções em
termos de cursos — aprendi errando.
Quais são, na sua opinião, as técnicas mais importantes PA o locutor?
Na minha opinião, não há coisa melhor do que treinar em voz alta, gravar, ouvir,
avaliar e se corrigir. Como qualquer outra habilidade, locução é, basicamente, questão
de treino. Minha dica, portanto, é ler muito, em voz alta, gravar, e depois fazer uma
autoavaliação.
Se quiser contar sua experiência, ou alguma outra que conheça, pode enriquecer o
trabalho.
Acho que minha resposta à última pergunta é a melhor contribuição que posso
dar a quem queira se dedicar à locução. Claro que ter uma voz grave e aveludada é
uma coisa desejável, mas não acredito que tenha importância vital para o sucesso de
um comunicador. Conheço profissionais de voz bonita de quem ninguém sabe o nome,
bem como conheço outros que, apesar de terem vozes comuns, conseguiram se
destacar. Qualquer pessoa fala — contanto que não seja muda, é claro — e a qualidade
da sua fala depende de exercício. Todo o mundo pode melhorar a sua fala, se treinar
muito, gravar-se, ouvir-se, analisar-se e corrigir-se. Se existe meio mais eficiente de se
tornar um bom comunicador, eu não conheço.
ENTREVISTA COM MARCELO CABRAL
Como você avalia a qualidade na comunicação de rádio hoje?
Eu acho que nós temos muita gente que não está preparada adequadamente para
fazer rádio. Isso se percebe muito nas emissoras AM. Porque acontece isso? Elas
comercializam espaços, mas nem sempre essa pessoa está preparada, principalmente
quanto à locução padrão, o que eu bato muito forte nos curso. Locução padrão é aquela
que é aceita no país todo. Essa locução padrão, eu diria, envolve quatro fundamentos.
73
A questão da fluência na hora de ler um texto quando as vogais ―e‖ e ―o‖ devem ser
trocadas por ―i‖ e ―u‖ para dar uma melhor fluência na leitura e evitar sotaques. O
segundo fundamento é o sorriso. Para ele o sorriso que o locutor passa na voz é muito
importante para conquistar o ouvinte, trazer tranquilidade ao locutor e uma dose de
simpatia que trás bom relacionamento entre locutor e ouvinte. O outro fundamento é o
improviso na leitura trabalhando a pontuação. Isso faz com que a leitura não pareça
leitura e fique mais natural dando ideia de improviso. E por último a própria dicção
que é pronunciar corretamente as palavras levando clareza aos ouvintes. Para ele, tudo
isso junto trás qualidade para a comunicação de rádio, o que na sua avaliação, falta
ainda em muitas emissoras e em muitos locutores. Essa locução é exigida por grandes
emissoras na hora de contratar o profissional. Nem sempre os cursos de locução
preparam os locutores nessa locução padrão. As universidades de comunicação não
tem uma disciplina nessa área e aça que os cursos de locução tentam cobrir isso, mas
nem sempre consegue. No nosso curso tentamos passar esse sistema e orientar os
locutores a conquistar a locução padrão. Na locução padrão, por exemplo, não pode
haver regionalismo, porque não é contratado para apresentar um programa,
principalmente quando é muito acentuado. Não se contrata alguém que fala ―leite
quente‖ e sim leiti quenti. Então a locução padrão procura resolver essa questão e
trabalhar uma linguagem mais padronizada.
Entre AM e FM, você vê diferença na qualidade de comunicação?
A grande diferença entre AM e FM, é que AM é uma rádio mais companheira, FM
é uma rádio mais lazer. Na AM o ouvinte acompanha porque gosta do comunicador.
Na hora do comercial, o ouvinte continua ali acompanhando a programação. Na FM é
diferente, terminou a música, está entrando o comercial, o ouvinte muda de estação,
muita gente faz isso. Mas a questão é porque não temos na AM locutores de qualidade
mesmo? Em algumas FM também. A rádio que tem um departamento comercial forte,
consegue trazer todos os recursos que a emissora precisa, com isso ela tem condições
de contratar locutores e selecionar os melhores locutores do mercado para trabalhar na
emissora, isso acontece muito em FM, mas nas AM, quando não tem esse
departamento forte, ela precisa recorrer a outros recursos e parte assim para a
74
contratação de pessoas que locam, espaço, mas não tem o devido preparo para isso e
não tem a locução padrão.
Para você o que o ouvinte mais valoriza, o conteúdo programa ou a forma como
o locutor se expressa?
Eu acredito muito que o ouvinte sabe valorizar a boa comunicação do locutor,
do apresentador de um programa de rádio, claro que é preciso valorizar também o
conteúdo da programação proposta pela emissora. Eu vejo ambas as coisas como
muito importantes. O ouvinte de hoje sabe diferenciar muito bem o profissional que
está preparado e o que não está. É visível que a maneira como o locutor fala e se
comunica tem muito a ver com o sucesso do programa e o aumento da audiência.
E as técnicas da oratória, podem contribuir para o desenvolvimento do locutor
de rádio? Como você avalia isso?
Pode contribuir sim , mas é preciso buscar preparo. O mais importante hoje não ter
uma voz grave, impostada, mas a voz natural, porém trabalhada e preparada. Se esse é
o sonho, corre atrás, mas busque pessoas preparadas para ajudar. Locução é prática,
por isso é bom cuidar de tudo isso, mas também da escolaridade, ter uma boa leitura e
ter vontade, isso é o básico para poder correr atrás do sonho.
Quais as técnicas de oratória você usa no curso e indica também para locutores?
Eu trabalho muito a gesticulação no curso, porque através da gesticulação, a gente
consegue passar melhor uma ideia. A gente trabalha também exercício de relaxamento,
porque toda apresentação que você vai fazer, é importante ser profissional, deixar os
problemas de lado e isso se consegue com exercícios de relaxamento. Trabalhamos
ainda exercícios de dicção e articulação, para que aquilo que você está lendo, consiga
falar. As vezes pode haver gagueira, devido ao nervosismo, mas se há um preparo
antes, se você se prepara com esses exercícios, tudo flui melhor. Eu uso antes de falar
um, exercício com lápis para falar melhor depois. Isso cria uma dificuldade e depois
que você tira o lápis, a fala fica mais solta, fica melhor. Isso já era usado por muitos no
passado, claro que com outros obstáculos, mas hoje eu, por exemplo, recomendo o
exercício com o lápis. Outra questão é cuidar da saúde vocal. Eu recomendo alimentos
75
leves antes da fala. Os alimentos gordurosos como leite e derivados vão prejudicar a
fala. É bom cuidar com a água gelada, principalmente se estiver com as defesas baixas.
A água melhor é a de temperatura ambiente. A maçã com casca vai ajudar muito,
porque ela limpa a garganta, tira a gordura e ajuda no desenvolvimento das pregas
vocais. Não podemos esquecer da respiração abdominal, ela é importante para não
ficar picando a leitura e dá ao locutor condição de desenvolver melhor seu trabalho
que é exatamente falar e para isso é preciso respirar. Para adquirir essa respiração,
basta fazer os exercícios específicos.
ENTREVISTA COM JOSÉ WILLE
Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?
Tem vários tipos diferentes de radialistas, de comunicação, posso falar da que eu
acompanho mais de perto. A lógica é ter uma comunicação com clareza, uma
comunicação que as pessoas entendam e que seja coloquial. Isso significa que não é
mais o rádio que se ouvia antigamente, quando o locutor falava de uma forma
artificial, procurava falar bonito, aqui é diferente, se fala de forma simples. Falar ao
microfone é como se você estivesse conversando com alguém, porque na prática isso
mesmo que você está fazendo. Não faz sentido falar difícil, falar de uma forma
afetada, de uma forma enfeitada, ou como se dizia antigamente, com voz impostada,
para conversar com as pessoas. O rádio antigo, do século passado, criou um modelo
onde um aprendia ouvindo o outro. E como o som era muito deficiente, o locutor
falava muito alto, muito mais de voz projetada e se criou uma forma de falar muito
artificial, hoje se vê isso ainda, principalmente no seguimento esportivo. Um vai
copiando o outro e depois muitos seguem o estilo dos cursos de direito, porque alguns
advogados ainda usam a forma de falar muito artificial, uma forma para convencer o
jure, e muitos levam isso para o radio. Mas o ideal é usar uma linguagem mais
simples, falar de uma forma clara, de uma forma culta e para ser entendido, com
objetividade. Basicamente é isso, linguagem coloquial, com sua maneira de falar
normal, objetividade, cuidar com o português e falar com clareza. Infelizmente nossos
cursos de comunicação hoje não tem acompanhamento de profissionais da voz como
fonoaudiólogos que ajudem no preparo dos comunicadores. Se a pessoa for para a
televisão ou para o rádio, ela precisa disso, mas as faculdades não oferecem isso. Não
76
existe esse preparo. Essa formação acontece nos próprios veículos de comunicação, as
emissoras contratam esses especialistas para treinar seus profissionais.
Como você essa qualidade entre AM e FM?
AM perdeu a referencia, não tem mais padrão de qualidade. Segundo estatísticas,
80% da audiência está no FM e 20% no AM. AM está num processo de decadência
acelerada, já vem de muito tempo. Então o AM vai sobreviver porque lá na frente há
um projeto para se transforma o AM num modelo parecido com FM, isso é lá pra
2016, então existe essa possibilidade técnica, se aproveita uma faixa de FM que não
está sendo utilizada hoje que é do 77 ao 88.8, os rádio ainda não tem essa faixas e
passaria o AM para dentro dessas faixas do FM, mas enquanto isso, o que acontece? O
AM tem emissoras demais e ouvintes de menos e não conseguem mais se sustentar, as
rádios estão locando seus espaços para igrejas, pastores, políticos, e aí você não tem
mais um padrão, não tem mais uma identidade, você não sabe mais o que é aquela
rádio. A partir do momento que a pessoa paga, ela pode fazer um programa e a partir
disso, entro no processo de decadência. E se não houver essa mudança, vai continuar
dessa forma, cada vez com menor audiência e por conta disso piora a locução, porque
não há condição de manter a qualidade. O FM já tem outro problema que é um estilo
muito musical, não tem espaço para o rádio tradicional. Algumas fazem algo diferente,
mas geralmente FM tem uma característica muito musical.
Na tua opinião, o que ouvinte dá mais valor, ao conteúdo do programa ou a
forma como o apresentador se expressa?
O locutor pé uma ferramenta da comunicação. Se o locutor estiver inseguro, se for
muito artificial, se pronunciar mal em suas colocações, o programa não se sustenta.
Quando você ouve alguém, aquela pessoa está conduzindo seu pensamento. Se ela
ficar dando paradas, freadas, arrancadas e errando, isso vai gerar um desconforto, não
é bom ouvir aquela pessoa. Então a fala nada mais é do uma condução, o locutor tem
que conduzir a pessoa com segurança, sem susto. Contar história, passar emoção,
informar, mas sem sobressaltos, sem exageros. Isso acontece quando a fala não tem
técnica, porque são duas linhas de pensamento, o que eu estou passando e como estou
passando, se eu falhar em um desses não há comunicação efetiva. Se isso continuar, o
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ouvinte abandona. E tem ainda a questão de estrelismo, é preciso ter humildade.
Então, na minha visão, o treinamento de locução deve ser teórico e prático. Deve ter
preparo, humildade e, sobretudo, vontade de crescer.
Você acredita que os cursos de oratória podem ajudar locutores de rádio?
Não sei julgar, porque não conheço o trabalho de cada pessoa, mas os cursos de
oratória estão defasados. Eles vieram de uma oratória que era do curso de direito,
surgiram da fala para o jurado. Hoje não se aplica mais, é muito diferente, hoje a
palestra é diferente. A palestra tem prender a atenção da pessoa, tem que ser interativa
e envolvente. A oratória moderna é isso, os tradicionais vieram desses cursos de
direito, mas não se aplicam mais as plateias de hoje. Porque se o orador não tiver essa
comunicação, ela não acontece. Hoje os cursos de oratória, dos que eu conheço, estão
muito defasados. Tem alguns livros interessantes dessa área que podem ajudar mais
que os cursos de oratória. A pessoa pode melhorar se ela quiser. Isso a partir desse
conhecimento teórico e também com a prática, com as oportunidades que se
encontram, além de exercitar, se gravar e ouvir para corrigir os erros e ver seu próprio
desempenho. É importante observar a reação das pessoas com o seu trabalho, como
elas reagem à sua fala. Acredito que essa é a melhor escola.
Entre as técnicas vocais, o que você considera mais importante?
A questão do locutor, o maior problema dele é a fluência. Isso é o mais difícil. As
pessoas não adquirem fluência. A fluência é conhecimento. Se você consegue
discorrer sobre aquele tema por alguns minutos, isso é fluência, esse é o aspecto
básico. Eu acredito que o importante ter esse conhecimento. É relevante ter essa noção
de respiração, essa noções teóricas de dicção, articulação, eu só não vejo cursos que se
modernizaram, até aqui, nos cursos de oratória. O locutor deve fazer cursos, ter
formação superior e a partir disso, isso para o mercado de trabalho. O ideal é pelo
menos uma vez por semana ouvir sua gravação, ver o que está falando, como está se
saindo, isso ajuda muito no desenvolvimento. Acredito que o caminho seja este. Eu
vim do interior puxando muito o ―R‖, fui gravando e ouvindo, acompanhava outras
rádio, principalmente a El Dourado e observava a fala, o modelo. Eu gravava o que
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falava e ouvia, depois procurei mais preparo. Na minha opinião, você não tem como
melhorar sua voz, a sua voz é essa, é sua identidade o que pode fazer é melhorar o uso
dela, a projeção dessa voz e aliar isso à clareza, a forma de conversar com o ouvinte de
envolver, etc. dessa forma é possível obter uma comunicação de qualidade.
ENTREVISTA COM FLAVIO PEREIRA
Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?
A qualidade da comunicação de rádio não é das melhores. Existe muito a questão
de mídia, a mídia, ou seja, tem que tagalerar, são tagaleras, eu diria assim, são
tagaleras, falam, falam e o conteúdo é pouco. Isso mostra que, por exemplo, o curso de
locução prepara a voz, etc, mas eu gostaria até de ver um livro sobre isso, que mostre
um quadro completo, um trabalho completo sobre o assunto. Quando a gente trabalha
locução, a gente trabalha também o corpo, porque a voz é um efeito sonoro de um
organismo e também tem que ser trabalhado. É um conjunto. Por isso, essa
comunicação poderia ser melhor. Até mesmo a comunicação de TV poderia ser
melhor.
Em questão de qualidade, você vê diferença entre rádios AM e FM?
Como professor e educador sobre técnicas vocais, eu aponto algumas críticas e
acho que deve haver desempenho para buscar uma melhora, mas na minha opinião
pessoal, eu até dava muito valor para essas coisas no passado, hoje penso diferente,
apesar de parecer uma contradição. Ainda que eu recomende cuidado com o bom
desempenho da profissão, já flexibilizei bastante porque o mundo não é dos
perfeccionistas. Considero um mundo perfeccionista muito chato e preto e branco. Eu
acredito que as pessoas podem se soltar mais e não ficarem tão presas às tradições,
porque hoje as coisas mudaram e a gente pode mudar também.
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O ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma como o locutor se
expressa?
Eu penso que não existe programas perfeitos e nem locutores ou comunicadores
perfeitos, tudo vai da dedicação de cada um e do aprendizado. Como professor, eu
sempre quis ver boa qualidade, tudo com muita qualidade, mas hoje eu até mediocrizo
algumas coisas. Para mim, o rádio precisa de pessoas medíocres. Seria muito ruim se
tudo fosse muito certinho, tudo perfeito, sem nenhum problema. Eu penso que é
preciso haver pessoas medíocres para que possam ser ajudadas. Não precisa haver
tanta exigência para que tudo seja perfeito, voz perfeita, português corretíssimo, etc.
Mas acredito que o aperfeiçoamento é relevante e deve ser buscado por todo
profissional da voz.
A arte oratória pode contribuir para o sucesso do locutor de rádio?
O curso de oratória é completo para esses fins. Porque os cursos de locução são
apenas uma parte, cuidando mais da parte de voz, como falar no rádio, ter uma voz
mais impostada, enquanto os cursos de oratória são mais completos, pois envolvem
toda uma técnica que vai além de voz. Nosso curso é amplo em benefício e o maior
benefício não é a oratória em si. O curso trabalha com a libertação da pessoa. Procuro
libertar a pessoa para ela se resolver, perder a timidez, ter a auto estima elevada, isso a
deixa sem medo de enfrentar o público, aquele medo de se expor, de errar, de encarar
o público. O curso liberta a pessoa disso. A primeira coisa é trabalhar o emocional
dela. Toda pessoa travada pode se libertar e começar a falar normalmente.
Infelizmente os locutores não procuram os cursos de oratória e por falta de buscar o
devido preparo, existe muito locutor fora do plumo, ou seja, tem boa voz, mas tem
defeitos especiais. Os cursos de oratória trabalham valores e não só comunicação. Ele
fala da ética, etiqueta e valores que estão acima da voz e tudo isso o curso de oratória
trabalha. Portanto a locução é uma coisa e oratória é outra. É raro um locutor procurar
curso de oratória. Eu atribuo isso ao fato de que esses profissionais não acreditam que
precisam desse tipo de ajuda.
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Quais são os pontos da oratória que poderiam contribuir para o locutor de
rádio?
Inicialmente a própria voz. Locutor deve saber quando aplicar a intensidade
correta, quando aplicar a velocidade ideal, quando deve fazer altos e baixos, inflexão.
Eu chamo de engenharia vocal. Engenharia de construção, então ao longo de um
discurso, você constrói através da voz com tudo isso que falei, inclusive a emoção e a
atitude que a pessoa coloca com a voz, a ênfase. Aí entra também a variedade da voz,
o alcance, a qualidade da voz, um conjunto melodioso. Trabalho no curso também a
questão da respiração correta, a diafragmática. O locutor deve usar alongamento antes
de usar a voz, para reduzir a tensão. Isso ajuda a gesticulação também. Um ponto
importante é visualizar o ouvinte. O locutor deve cuidar ainda da voz. Eu indico água,
água e água. As pregas vocais precisam de água para se desenvolver, precisam ser
nutridas. Se não cuidar, o profissional da voz pode perder essa voz, portanto, deve
haver esse cuidado. Alimentos leves são os ideais para o uso da voz. O importante é
procurar um profissional da área para receber indicações específicas para manter a voz
por mais tempo.
ENTREVISTA COM MARIA REGINA
Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?
Sou meio suspeita para falar, porque sou um pouco contaminada, já trabalhei com
os radialistas aí no mercado. Antes de falar na questão específica da qualidade deles,
eu acho que há um grande diferencial do olhar que o fonoaudiólogo vai ter sobre o
radialista e uma pessoa que ministra um curso de oratória vai ter em relação a esse
cliente. Além da questão de oratória, de expressão é preciso olhar a pessoa que vem
junto aí. A posição dela como pessoa interfere nessa expressão oral. O que eu quero
dizer com isso é que na minha prática profissional com radialista, normalmente é um
personagem que vai ao ar. Ele compõe inclusive um padrão vocal que no dia-a-dia
dele não é o mesmo. Muitas vezes nessa composição o personagem cria vida, o
personagem que tem a efetividade na relação de comunicação, mas ele como sujeito é
algo a parte. Eu acho que o radialista no meio sofre demais. Acho que de certa forma
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ele é desrespeitado e até ele mesmo não se valoriza nesse contexto. Considero isso
pelo menos na minha vivencia. Se sentem muito inseguros na prática deles por toda
uma questão de veiculação com o IBOPE e outras coisas que eles têm, que digamos
assim, se está bom, não existe o elogio a eles de que eles dão essa sustentabilidade a
emissora, mas se não está bom, também é total responsabilidade deles. Eu acho que
eles não entendem que deveria ser consciente para radialista que se a rádio está no ar
por causa da presença dele. Não pode haver esse discurso do diretor que qualquer
coisa está na rua, ou coisa assim. Por isso que eu digo que a técnica só vai funcionar a
partir do momento que ele se entenda como pessoa no meio desse instrumento. Isso
tudo interfere na qualidade da comunicação do rádio.
Entre AM e FM existe diferença em termo de qualidade de comunicação?
As rádios em geral, no meu pensamento não preparam seus locutores como as
emissoras de TV preparam seus apresentadores. A gente percebe que ela até dá um
certo apoio aos locutores e apresentadores, até porque no seu ambiente de trabalho e
na posição que ocupam, estão tentando realizar o melhor que podem, estão dando
melhor de si. Eu acredito que eles não procuram por um preparo maior devido a
formação. Eu vejo que muitos desses profissionais do rádio têm baixa escolaridade,
principalmente nas rádios de mais entretenimento. Percebe-se que eles vêm de
caminhos simples e humildes, sem grandes experiências na vida, mas tiveram a
oportunidade e estão trabalhando. Eu acho que isso é o que importa.
O ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma como o locutor se
expressa?
Eu acredito que ambos importantes. Existe a responsabilidade do locutor ante a
emissora e o compromisso de conquistar o ouvinte para manter a audiência. Hoje as
emissoras não estão exigindo mais locutores com vozeirão, coisa que no passado atraia
muito o ouvinte. E muitas vezes contratam pessoas sem experiência ou preparo e Elsa
tem que aprender dentro do próprio rádio. E é claro que o ouvinte percebe quem é
preparado ou não.
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De que forma a oratória pode contribuir para o desempenho do locutor de
rádio?
Como eu disse, geralmente as rádios não exigem um locutor com bom preparo,
emissoras de rádio dão mais valor à voz bonita da pessoa. Mas falando dos cursos de
oratória, eu acredito que muitos desses cursos oferecem orientações sobre as técnicas
necessárias para o desenvolvimento dos locutores, mas eu vejo que eles não tem
propriedade para falar sobre isso pela falta de formação. Alguns desses cursos acabam
vendendo um produto que se torna inatingível para o profissional da voz, até porque
uma pessoa que já está no mercado de trabalho não vai buscar esses tipos de curso. Ou
seja, poucos locutores vão atrás de curso de oratória. Quem geralmente quer entrar
para o mercado de trabalho dentro das rádios é que procura esses tipos de cursos. Eu
concordo que muitas técnicas são bem desenvolvidas pelos cursos de oratória, mas
falta ainda analisar e ver outras barreiras a superar, barreiras que podem levar muitos
locutores e radialistas ao medo e a timidez. Eu indico, portanto, preparo em todos os
sentidos para que o profissional da voz possa se desenvolver bem na sua carreira.
Que técnicas de expressão verbal você considera importante para locutores?
Eu vejo como indispensável o uso de cuidados com a voz. O tempo de uso da voz
deveria ser de no máximo 4 horas por dia, isso é o tempo ideal para o locutor usar sua
voz. Existem algumas complicações que podem comprometer a saúde vocal do locutor
e essas complicações se dão muitas vezes por falta de conhecimento ou negligência
por parte do profissional podemos citar algumas como edemas de prega vocal que é o
resultado de abusos. Dessa forma a voz fica mais grave, se torna rouca e o locutor
pode perder a intensidade vocal e isso prejudica muito o trabalho do dia-a-dia. Eu
quero destacar ainda o fato desses edemas surgirem por falta de cuidados com o uso
do álcool, do fumo e outros fatores que levam a perda da qualidade vocal. Dentro
desse aspecto de cuidados com a voz, quero frisar que a respiração é muito importante.
Eu aconselho respiração correta, que é a diafragmática, além de exercícios para
aumentar essa capacidade respiratória. Outro fator relevante é o uso de exercícios de
aquecimento e desaquecimento, eles fazem grande diferença na locução. Indico o uso
da maçã antes da fala e alimentos leves. Outro fator interessante é a alteração da voz
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das locutoras no período menstrual ou de menopausa. Enfim, eu acredito que todo
profissional da voz deve levar em conta os fatores que contribuem para a saúde vocal.
ENTREVISTA COM DANIELE ALMEIDA
Como você avalia a qualidade da comunicação de rádio hoje?
A primeira coisa, eu vejo a questão da expressividade vocal, o quanto essa voz, o
quanto essa qualidade de dicção, de articulação é expressiva. Porque a expressividade
é que vai combinar essa comunicação com o produto que aquele locutor representa. Se
é um programa jovem, ele tem que ter mais flexibilidade de voz, mais agilidade
articulatória. E se é um programa com tema mais centrado, mais factual, com noticias,
por exemplo, essa expressividade pode ser mais linear. Caso seja um programa de
entretenimento, essa voz tem que ter muito flexibilidade. Então eu avalio em cima do
produto, ou seja, essa voz tem que combinar com o produto.
Você vê diferença entre AM e FM na questão de qualidade de comunicação?
Tem muita. Quem passa pela FM tem uma certa rotatividade de experiência muito
maior. tem uma amplitude muito maior. AM tem uma linguagem muito focada para
uma determinada comunidade, o que não acontece com FM. A flexibilidade de
abertura por conta da locação de espaço, permite uma variedade de pessoas em rádios
AM. Eu vejo diferença na qualidade na parte de voz, de ritmo, etc.
O ouvinte valoriza mais o conteúdo do programa ou a forma como o locutor se
expressa?
As duas coisas, porque não tem como separar. O ouvinte identifica primeiro pela
qualidade de voz, se aquela voz é agradável, se ele tem tempo disponível para ouvir
aquilo. A voz tem que ser interessante a ponto de o ouvinte ficar ali, dentro do carro,
no trânsito, ouvindo. Então tem que ser uma voz muito agradável. Só que o que
adianta ter uma voz agradável e um conteúdo que não corresponde? É um
complemento. As vezes tem uma voz incrível e um conteúdo que não é fluente, que é
muito truncado, ou vive-vessa.
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De que forma a oratória pode contribuir para o desempenho do locutor de
rádio?
É muito importante. Eu sinto que aquele que não tem preparo, com o decorrer do
uso ele vai perdendo essa flexibilidade. Aparecem queixas de saúde de voz mesmo,
porque ele começa se destacar em determinado produto e a emissora começa a colocar
a pessoa para fazer outras coisas, como apresentar eventos, show, festas e ai aumenta a
demanda de trabalho, mas ele não tem um preparo que corresponda, então começam a
aparecer os problemas como rouquidão ou falta resistência, dificuldade articulatória
entre outros problemas. Locutores não procuram cursos de oratória devido a falta de
conhecimento do preparo, falta de esclarecimento de que o preparo vocal vai trazer
longevidade de carreira. Alguns acreditam que se um profissional da área intervir tanto
em seu preparo vocal eles podem perder a identidade. Não posso generalizar, mas é
que a escola do rádio é muito antiga, então muitos ainda tem aquele perfil mais
carregado e muito mais esterotipado que não permite muita coisa.
Quais técnicas de expressão verbal você considera importante para locutores?
Acho que a primeira coisa é ritmo. Cada vez mais trabalhar ritmo de fala, fluência,
a entonação, a melódica a parte linguística mesmo, uma boa articulação para passar
credibilidade. SM boa articulação não se transmite isso. Clareza tem que ser boa. E
claro a expressividade do rádio, que são marcações que não se vê em lugar nenhum,
tem que ser tudo muito mais elaborado. Isso é importante. Outro ponto relevante é a
respiração do locutor. Espera-se uma respiração mais mista possível. Não só no
diafragma, mas a mista é o ideal, que o locutor administre a respiração durante a fala,
para usar toda a caixa e proporcionar mais capacidade respiratória.