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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
URBANO
HELOISA MARIA MACHADO E SILVA
URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a interferência de ruídos produzidos em espaços abertos na
produção vocal de professores
BELÉM
2009
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO
PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
URBANO
HELOISA MARIA MACHADO E SILVA
URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a interferência de ruídos produzidos em espaços abertos na
produção vocal de professores
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia – UNAMA, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre. Área de Concentração: Urbanização e Meio Ambiente. Linha de Pesquisa: Dinâmica Sócio-ambiental Urbana. Orientador: Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho. Co-Orientadora: Profa. Dra. Elcione Maria Lobato de Moraes.
BELÉM 2009
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
S586u SILVA, Heloísa Maria Machado. Urbanização, Aumento de ruído e problemas de voz: a interferência
de ruídos produzidos em espaços abertos na produção vocal de professores. Belém, 2009.
133 f. Dissertação (Mestrado) _ Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia – UNAMA.
Orientador: Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho.
1.Belém. 2.Urbanização. 3.Ruído. 4.Voz.
CDD:616.855
URBANIZAÇÃO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a interferência de
ruídos produzidos em espaços abertos na produção vocal de professores
HELOISA MARIA MACHADO E SILVA
Dissertação submetida à avaliação, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho Universidade da Amazônia - UNAMA ___________________________________________ Profa. Dra. Cynthia da Silva Lynch Universidade da Amazônia - UNAMA ___________________________________________ Profa. Dra. Maria Tita Portal Sacramento Universidade do Estado do Pará – UEPA ___________________________________________ Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo Universidade da Amazônia - UNAMA
Aprovado: _________________________ Belém, ____de _________________2009.
Ao meu marido Alberto, minhas filhas Camilla
e Juliana, meus netos João Vitor e Cecília,
Meus irmãos e meus pais Neuza e José (in
memorian) por estarem sempre por perto.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho, por ter aceito o desafio de
orientar um trabalho na área da saúde, especialmente da fonoaudiologia.
À Dra. Elcione Lobato, pela co-orientação e disponibilidade para me acompanhar
durante toda a coleta dos dados.
Ao Dr. Antonio Marcos Araújo, pela ajuda inestimável na realização dos gráficos e
discussão dos resultados.
Aos meus pais, por terem me ensinado o valor da educação e dos estudos.
Ao Alberto Damasceno, meu marido, pelos livros presenteados em silêncio,
verdadeiras provas de amor.
À aluna Fernanda Ripardo, pelo auxílio durante a coleta dos dados.
Ao Ricardo Figueiredo, pela disponibilidade sem limites.
À Francisca Araújo, pela possibilidade de interlocução sempre que preciso.
Ao meu irmão Cláudio Machado, fiel escudeiro, presente em todos os momentos.
Às minhas filhas Juliana e Camilla, pela presença amorosa e apoio na realização deste
trabalho.
Aos professores e responsáveis pelas escolas, por aceitarem participar da pesquisa.
Aos professores do mestrado, pelos ensinamentos e informações trocados,
especialmente ao professor Marco Aurélio Arbage Lobo
Ao Antonio Carlos Lobo Soares, pelos textos gentilmente emprestados.
A todos os colegas do mestrado, turma 2007, por compartilharmos as angústias e as
vitórias.
À Maira Carvalho e Vanessa Costa, pela revisão da dissertação.
À FIDESA, pela bolsa concedida.
RESUMO
O presente estudo analisa de que forma o ruído produzido em espaços abertos impacta e se inter-relaciona com os ruídos produzidos em espaços fechados e contribui para as alterações de voz, particularmente de voz de professores. O objetivo principal foi analisar a influência do ruído decorrente da urbanização sobre a voz. Especificamente, o estudo buscou (a) estabelecer a correlação entre o ruído produzido interna e externamente às escolas e as queixas vocais dos professores de escolas localizadas em áreas urbanas; e, (b) comparar as alterações vocais de professores expostos a diferentes níveis de ruído urbano. A pesquisa alicerçou-se em estudo de casos múltiplos, abordagem qualitativa e técnica de análise de conteúdo. Fizeram parte da pesquisa vinte professores de duas escolas de ensino fundamental de Belém do Pará, a cidade mais ruidosa da região amazônica. As escolas estão localizadas em espaços urbanos com níveis de ruído urbano e características construtivas distintas selecionadas a partir dos dados gerados pelo Mapa Acústico de Belém. Foram medidos os níveis de pressão sonora internos às salas de aula e identificadas as queixas e sintomas vocais dos professores. A dissertação conclui que há relação direta entre o ruído externo e o interno e que este, por sua vez, está relacionado às condições acústicas internas das salas de aula que influenciam diretamente no comportamento dos professores quanto ao uso da voz. O estudo identificou que na presença de ruídos intensos os professores ficam menos motivados a conversar com alunos e em muitos casos comportam-se como surdos. O estudo indica que o planejamento urbano deve considerar o ‘fator locacional’ para definir o espaço de construção de novas escolas, assim como traçar uma política de transito que diminua os níveis de ruído no entorno das escolas já existentes.
Palavras-chave: Belém, Urbanização, Ruído. Voz.
ABSTRACT
This study examines how noise produced in closed spaces impacts and inter-relates with noises produced in open spaces and then contributes for voice changes, particularly teachers’ voice. The aim was to analyze the influence of recurrent urbanization noise on voice. The study specifically aimed (a) to establish correlation between noise generated internally and externally to schools and vocal teachers’ complaints and (b) to compare the changes of teachers’ voices that are exposed to different levels of urban noises. The research was based on the multiple case study, qualitative approach and content analysis technique. The research data was collected from twenty teachers from two primary schools of Belém do Pará City that is the noisiest city in Amazonia region. The schools are located in urban areas with diverse levels of urban noise and different construction’s patterns. The schools were selected from data generated by Belém Acoustic Map. The research measured the levels of sound pressure inside the classrooms and identified vocal complaints and teachers’ vocal symptoms. The study evidences that there is a direct correlation between internal and external noise. The study shows that noise is related to classroom internal acoustic conditions that in its turn directly influences on teachers’ behavior in using their voices. The study identified that teachers are less motivated to talk with pupils and in many cases they behave as deaf when intense noises are present. The study indicates that urban planning should take into account 'location factor' in order to define areas where new schools ought to be building as well as to develop a traffic policy that makes feasible to reduce noise levels around the existing schools.
Keywords: Urbanization of Belém, Noise, Voice.
LISTA DE SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ASA Acustical Society of América (Sociedade Americana de Acústica)
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
DATASUS Banco de Dados do Sistema Único de Saúde
dB(A) Decibéis com ponderação A
DETRAN Departamento Estadual de Trânsito
FIDESA Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IMAZON Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
IPEA Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
JICA Japan International Cooperation Agency
L Nível sonoro médio equivalente com ponderação A eq
L Nível sonoro máximo max
L Nível sonoro mínimo min
MAB Mapa Acústico de Belém
MT Ministério do Trabalho
NBR Normas Brasileiras de Ruído
NR Norma Regulamentadora
NPS Nível de Pressão Sonora
OMS Organização Mundial de Saúde
PDTU Plano de Desenvolvimento dos Transportes Urbanos de Belém
PIB Produto Interno Bruto
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RMB Região Metropolitana de Belém
SEAD Secretaria de Estado de Administração
SEDUC Secretaria Estadual de Educação
SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
UFPA Universidade Federal do Pará
UNAMA Universidade da Amazônia
WHO World Health Organization
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Mapa dos bairros de Belém........................................................................ 34 Figura 02 Mapa acústico dos bairros de Belém (2004) entre 9h e 10 h..................... 40 Figura 03 Mapa Acústico (9h-10h) e Localização da Escola Particular..................... 68 Figura 04 Mapa Acústico do bairro Telégrafo (9h-10h) e localização da Escola
Pública........................................................................................................
69 Figura 05 Visão da parada de ônibus em frente à escola............................................ 72 Figura 06 Visão do comércio e serviços..................................................................... 72 Figura 07 Visão da avenida, ônibus e veículos........................................................... 72 Figura 08 Visão do comércio e veículos..................................................................... 72 Figura 09 Visão frontal da sala de aula localizada em via urbana com altos níveis
de ruído......................................................................................................
73 Figura 10 Visão interna da sala de aula localizada em via urbana com baixos níveis
de ruído.......................................................................................................
73 Figura 11 Visão da via em que se encontra a escola................................................... 75 Figura 12 Visão dos órgãos públicos localizados nas proximidades.......................... 75 Figura 13 Mapa das quadrículas com os pontos de medição...................................... 76 Figura 14 Nível de ruído por freqüência nas duas escolas.......................................... 84 Figura 15 Diferença de níveis de ruído entre as duas escolas..................................... 84 Figura 16 Níveis de ruído das duas escolas................................................................. 86 Figura 17 Ruídos que mais incomodam na sala de aula............................................. 89 Figura 18 Registro da intensidade dos sinais de voz, ruído de tráfego e ruído
gaussiano branco sintético.........................................................................
91 Figura 19a Comportamento vocal dos professores da escola pública sob níveis de
ruído urbano................................................................................................
95 Figura 19b Comportamento vocal dos professores da escola particular sob níveis de
ruído urbano................................................................................................
95 Figura 19c Diferença média entre a intensidade de voz dos professores das duas
escolas.........................................................................................................
95 Figura 20 Queixas e sintomas vocais dos professores das duas escolas..................... 98 Figura 21 Queixas relacionadas ao ruído 98 Figura 22 Espectro do ruído de trânsito...................................................................... 102 Figura 23 Hábitos na prática docente nas duas escolas........................................ 104
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Nível médio de ruído típico em situações cotidianas.................................. 37 Quadro 02 Ruído nas escolas........................................................................................ 42 Quadro 03 Nível de conforto sonoro, segundo NBR 10.152........................................ 45 Quadro 04 Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente......................... 47 Quadro 05 Recursos vocais........................................................................................... 52 Quadro 06 Qualidade vocal........................................................................................... 56 Quadro 07 Critérios de inclusão das escolas.................................................................. 69
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
15
1.1 O CONTEXTO DA PESQUISA 15 1.2 O PROBLEMA E A HIPÓTESE DA INVESTIGAÇÃO 19 1.3 OS OBJETIVOS DA PESQUISA 20 1.3.1 Objetivo geral 20 1.3.2 Objetivos específicos 20 1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO 21
CAPÍTULO 2: ARCABOUÇO TEÓRICO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ
23
2.1 A RELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ 23 2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO 24 2.2.1 A urbanização brasileira 24 2.2.2 A urbanização na Amazônia 29 2.2.3 A urbanização em Belém 32 2.3 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E A POLUIÇÃO SONORA 36 2.4 O RUÍDO NA CIDADE DE BELÉM 39 2.5 O RUÍDO NA ESCOLA 41 2.6 O RUÍDO SOB A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 44 2.7 RUÍDO E SEUS IMPACTOS SOBRE A VOZ 48 2.8 HÁBITOS, QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS 50 2.9 RECURSOS VOCAIS 52 2.10 QUALIDADE VOCAL 53 2.11 VOZ E SAÚDE 56 2.12 VOZ E AUDIÇÃO 58 2.13 CONCLUSÃO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ DO PROFESSOR 59
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA
61
3.1 EM BUSCA DE UMA NOVA ABORDAGEM METODOLÓGICA 61 3.2 ESTUDO DE CASO 61 3.3 PESQUISA QUALITATIVA 63 3.3.1 Análise de conteúdo 64
3.3.2 Grupo Focal 65 3.4 SELEÇÃO DAS UNIDADES DE ANÁLISE: ESCOLAS E PROFESSORES 67 3.4.1 As escolas 67 3.4.2 Os professores 70 3.4.3 Caracterização das escolas analisadas 70 3.4.3.1 A escola pública 70 3.4.3.2 A escola particular 73 3.5 COLETA, ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 75 3.5.1 Níveis de ruído 75 3.5.2 Hábitos, queixas e sintomas vocais 77 3.6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 78 3.7 A PESQUISA DE CAMPO: ASPECTOS POSITIVOS E LIMITANTES 79 3.8 CONCLUSÃO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA OPÇÃO
METODOLÓGICA ADOTADA
80
CAPÍTULO 4: O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS NA ESCOLA
82
4.1 INTRODUÇÃO 82 4.2 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO 82 4.3 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO DAS SALAS 86 4.4 CONCLUSÃO 93
CAPÍTULO 5: OS RUÍDOS E SEUS IMPACTOS NA VOZ DOS PROFESSORES
94
5.1 INTRODUÇÃO 94 5.2 COMPORTAMENTO VOCAL DOS PROFESSORES SOB DIFERENTES
NÍVEIS DE RUÍDO
94 5.3 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DOS RUÍDOS EXTERNOS
E INTERNOS E SUAS INTERFERÊNCIAS NA PRODUÇÃO VOCAL
98 5.4 O RUÍDO E OS HÁBITOS QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS DOS
PROFESSORES
101 5.5 RECURSOS VOCAIS UTILIZADOS PARA SUPERAÇÃO DOS
OBSTÁCULOS
106
5.6 CONCLUSÃO 108
CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO
109
6.1 RETORNANDO À QUESTÃO CENTRAL 109 6.2 O IMPACTO DO RUÍDO EXTERNO NA ESCOLA 109 6.3 DO AUMENTO DO RUÍDO À ALTERAÇÃO DE VOZ DOS
PROFESSORES
110 6.4 ENTRE O IDEAL E O REAL: A DESOBEDIÊNCIA À LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA
111 6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: EM DIREÇÃO A NOVOS ESTUDOS 112 REFERÊNCIAS
113
GLOSSÁRIO
125
APÊNDICES
128
APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 128 APÊNDICE 2 – QUESTIONÁRIO DE AUTO AVALIAÇÃO 131 APÊNDICE 3 - ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL
133
15
1 INTRODUÇÃO
1.1 O CONTEXTO DA PESQUISA
O mundo moderno está repleto de problemas ambientais causados pelo crescimento
desorganizado dos centros urbanos. A degradação ambiental, o aumento da violência urbana,
a pobreza e as dificuldades relacionadas ao aumento tráfego motorizado são alguns exemplos
(SOUZA, 2003).
A Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (RIO 92) deixou
clara sua posição no que diz respeito ao agravamento da crise ambiental mundial, e enfatizou
a necessidade do planejamento como forma de se buscar a sustentabilidade ambiental e a
manutenção dos recursos naturais de todo o planeta.
Uma série de estudos realizados por Miraglia (2002), entre 1991 e 1994, concluiu que
13% das mortes de idosos por doenças respiratórias estavam associadas à poluição e que São
Paulo perde US$ 3,2 milhões em despesas hospitalares, mortalidade ou doenças provocadas
pela poluição.
A poluição atmosférica por dióxido de enxofre e monóxido de carbono apresenta-se
estacionária ou em declínio, na maior parte das regiões metropolitanas brasileiras, com
exceção do ozônio, que na baixa atmosfera é um agente oxidante nocivo para os habitantes
das grandes cidades (IBGE, 2004).
A mesma pesquisa informou que foram detectados por satélite, em todas as regiões do
Brasil, quase 213 mil focos de calor com valores altos da taxa de desflorestamento da
Amazônia Legal. Os autores declararam preocupação com as taxas, pois não tem mostrado
tendência de declínio.
Os níveis de ruído encontrados em tráfego de veículos, em alguns lugares, costumam
estar acima dos níveis considerados responsáveis pelas perdas auditivas. O som excessivo
16
provocado pelo trânsito, pelas indústrias, pelas áreas de recreação, por pessoas conversando,
por aviões, por exemplo, é o maior responsável pela poluição sonora. (KWITKO, 2001).
As manifestações mais importantes encontradas em seres humanos expostos ao ruído
são: alteração da qualidade do sono; alteração da percepção e da compreensão de fala;
modificação da freqüência cardíaca acompanhada de sudorese; diminuição da capacidade de
desempenho de tarefas psicomotoras; reação muscular; contração do abdômen e do estômago;
alteração da função intestinal; lesões teciduais dos rins e do fígado; aumento da produção de
hormônios da tireóide e da produção de adrenalina; aumento da produção de corticotrofina;
queda da resistência a doenças infecciosas; disfunção no sistema reprodutor; contração dos
vasos sanguíneos; dilatação das pupilas; irritabilidade; ansiedade e insônia (DEJOURS, 1980;
BENSOUSSAN, 1988; GERGES, 2000).
Os estudos sobre os efeitos negativos do ruído em ambientes escolares são recentes e
escassos, mantendo-se a preocupação dos estudiosos sobre os trabalhadores das indústrias e a
perda auditiva. No Brasil se tem priorizado aspectos relativos às condições acústicas das salas
de aula, ao processo de ensino aprendizagem e verifica-se a preocupação com os alunos e a
voz dos professores (KWITKO, 2001). Não há referências, nestes estudos, a medições dos
níveis de ruído que chegam aos ouvidos dos mesmos ou à inter-relação entre o ruído
proveniente das vias e as alterações vocais.
Nunes e Sattler (2004) ao estudarem duas escolas próximas ao aeroporto, em Porto
Alegre, concluíram que tanto alunos quanto professores necessitavam elevar a voz para se
comunicar indicando a possibilidade de ser o ruído uma das causas de problemas auditivos e
vocais. Enfatizaram que a maioria dos programas de saúde vocal responsabiliza o professor
pelo adoecimento da voz, pois o próprio termo “abuso vocal” induz à idéia de que o professor
seria o agente causador das alterações de voz. O estudo demonstrou a necessidade de uma
ação preventiva que incorpore a melhoria das condições ambientais para o trabalho docente
identificando a interferência do ruído na comunicação, mas não explorou as consequências
para a voz dos professores, assim como não mensurou os níveis de ruído a que estes estavam
expostos.
Estudo epidemiológico realizado com 2133 professores da rede Municipal de Ensino,
em Belo Horizonte, investigou as condições nas quais o trabalho dos docentes se desenvolve e
17
sua associação com a pior percepção da qualidade de vida em relação à voz. Observaram que
a qualidade de vida, no que diz respeito à voz depende, de certa forma, de seu uso na
atividade docente, e que os professores com pior percepção da relação entre as duas variáveis
são aqueles que referiram piores condições ambientais destacando-se, entre outros fatores, o
ruído elevado nas salas de aula (JARDIM; BARRETO; ASSUNÇÃO, 2006).
Nenhuma destas pesquisas foi realizada em escolas particulares e públicas de forma
que os resultados pudessem ser comparados. Da mesma forma, não realizaram as
investigações em escolas localizadas em vias com diferentes níveis de ruído.
Após realizar pesquisa sobre a prevalência de problemas vocais em 1168 professores
de escolas públicas estaduais na Austrália, Russel, Oates e Greenwood (1998) concluíram
pela necessidade de outros estudos que enfatizassem as causas das disfunções vocais nesta
categoria profissional com programas educativos para a prevenção de problemas de voz em
trabalhadores.
Dados divulgados em 2007, pela Secretaria Estadual de Administração (SEAD) em
conjunto com a Secretaria Estadual de Educação do Pará, apontaram que 5421 professores da
rede estadual de ensino apresentavam problemas de voz, afirmando que este fato deve-se ao
esforço repetitivo. A Secretária de Administração anunciou a realização de reformas em 25
escolas da rede estadual de ensino, visando a solucionar dois problemas crônicos destes
ambientes escolares como a poluição sonora e o excesso de calor, pois a maioria das escolas
selecionadas está localizada em corredores de grande fluxo de veículos.
Resultados da pesquisa realizada pela Secretaria de Educação do Estado do Pará
(SEDUC) revelaram que grande parte dos professores que se encontram afastados de suas
funções sofre de problemas vocais e que, aproximadamente, 3300 professores da rede
municipal encontram-se ausentes da sala de aula. Ainda sobre o problema dos professores a
SEAD concluiu, após a pesquisa, que há necessidade de se alertar para esta problemática. Para
isto foi elaborado um projeto que envolve uma campanha com o intuito de promover a
melhoria na qualidade de vida dos profissionais, além de oficinas de educação sobre os riscos
a que eles estão expostos (QUADROS, 2007).
18
Ao caracterizarem a ocorrência de disfonia em professores do ensino fundamental de
Criciúma (SC), Lemos e Rumel (2005) determinaram os fatores que estavam associados a ela
em decorrência do exercício profissional. Os resultados revelaram a necessidade de propostas
preventivas de atuação na atenção à saúde vocal do professor em programas de saúde escolar
ou de saúde do trabalhador assim como a realização de diagnóstico precoce com vistas à
prevenção, evitando que o professor adoeça. O número significativo de professores que auto-
referiram transtornos vocais demonstrou que estavam atentos ao problema.
Martins (2005), ao analisar o reconhecimento de fala de crianças na presença de ruído,
na cidade de São Paulo, referiu que, em salas ruidosas, esse reconhecimento pode estar
comprometido em decorrência da perda de pistas acústicas presentes na voz e na fala do
professor. A dificuldade em perceber as pistas por parte dos alunos pode ser ocasionada por
alterações na voz do professor, por dificuldades auditivas ou de discriminação por parte dos
alunos e, até mesmo, pelo ruído externo que distrai aqueles que estão dentro das salas de aula.
Estes resultados reforçam a necessidade de se conhecer quais os fatores que estão provocando
estas dificuldades.
Pinto et al. (1991) enfatizaram a importância da voz para transmitir a informação,
interagir com os alunos, orientá-los na aquisição do conhecimento durante a atividade
docente, afirmando que este profissional dispõe dela como instrumento de trabalho e precisa
garantir que o processo de ensino e aprendizagem se realize com qualidade.
Os estudos realizados em outras cidades brasileiras, tais como São Paulo, Belo
Horizonte e Curitiba, relataram que o aumento do número de veículos, os altos níveis de ruído
produzidos nas cidades e o número de professores com problemas de voz demonstram a
relevância deste estudo.Os estudos citados anteriormente priorizaram métodos quantitativos
em detrimento da possibilidade de estudos qualitativos ou quali-quantitativos que permitissem
uma visão do contexto com as percepções dos indivíduos pesquisados acerca da problemática,
neste caso, a percepção dos professores acerca da influência do ruído produzido na cidade
sobre o seu local de trabalho e a necessidade de realizar esforço para falar e ser
compreendido.
Os estudos sobre problemas vocais de professores apresentam, ainda, lacunas tais
como:
19
• Não contemplam a análise da relação entre ruído e voz, particularmente para a análise
dos professores que usam a voz como instrumento de trabalho, em especial em escolas
localizadas em diferentes espaços urbanos e submetidas a altos níveis de ruído interno
e externo.
• Não comparam escolas particulares e públicas no que tange à presença de
equipamentos e características construtivas diferentes em cada tipo de instituição de
ensino.
• Não apresentam relação entre o ruído interno das escolas e o ruído do entorno
principalmente aquele oriundo do trânsito e das atividades realizadas na cidade.
• Centram-se na discussão sobre os hábitos vocais e as alterações orgânicas laríngeas
dos professores, conferindo-lhes a responsabilidade pelas alterações de voz; e na saúde
auditiva dos trabalhadores das indústrias.
• Os dados empíricos são, basicamente, do exterior ou do centro-sul do país. Não
existem pesquisas sobre essa temática em cidades localizadas na Amazônia,
principalmente a cidade de Belém, considerada a capital mais ruidosa do país.
1.2 O PROBLEMA E A HIPÓTESE DA INVESTIGAÇÃO
Dentro do contexto acima apresentado, verifica-se que ainda existem lacunas no
conhecimento sobre o crescimento das cidades, a poluição sonora, a localização das escolas, o
número de veículos circulando na cidade e os problemas vocais dos professores. Os efeitos
negativos do ruído urbano sobre a voz, especificamente, a relação entre poluição sonora e
alterações vocais de profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho, ainda é
uma área no conhecimento a ser explorada. Assim, entender como o ruído produzido em
espaços abertos se inter-relaciona com os ruídos produzidos em espaços fechados e provocam
alterações de voz, principalmente de professores, é uma fundamental para que se tenha real
dimensão dos problemas ocasionados pelo excesso de ruído nas cidades em relação à
educação. Desta forma, a questão central que norteou a pesquisa foi: de que forma o ruído
produzido em espaços abertos impacta e se inter-relaciona com os ruídos produzidos em
espaços fechados e contribui para as alterações de voz?
20
Esta pesquisa buscou, particularmente, comparar as alterações vocais de professores
submetidos a diferentes níveis de ruído urbano, uma vez que os estudos atuais não
contemplam a localização das escolas ou os níveis de ruído externo produzidos pelo trânsito e
pela comunidade como critérios de análise.
Admitiu-se como hipótese que o ruído externo se inter-relaciona com o ruído
produzido no espaço fechado e contribui para a alteração de voz dos professores. Assim, a
alteração de voz dos mesmos não está ligada unicamente ao esforço repetitivo, como sugerem
os relatórios dos órgãos oficiais de educação do Estado do Pará.
1.3 OS OBJETIVOS DA PESQUISA
1.3.1 Objetivo geral
Analisar a influência do ruído decorrente da urbanização sobre a voz, particularmente
sobre a voz de professores.
1.3.2 Objetivos específicos
A- Estabelecer a correlação entre o ruído produzido interna e externamente às escolas e as
queixas vocais dos professores de escolas localizadas em áreas urbanas.
B- Comparar as alterações vocais de professores expostos a diferentes níveis de ruído urbano.
21
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Esta dissertação está dividida em seis capítulos. No primeiro capítulo são apresentados
os antecedentes e o contexto da pesquisa considerando-se os resultados de estudos sobre a
poluição sonora, o ruído nas escolas, o ruído de tráfego e as alterações de voz de professores.
Assim, justifica o problema e estabelece a hipótese da pesquisa. Apresenta as lacunas no
conhecimento produzido até então, no que concerne aos problemas vocais de professores e
sua correlação com o processo de urbanização para, então, estabelecer os objetivos da
investigação.
O segundo capítulo apresenta o marco teórico que orientou esta pesquisa relacionada
ao processo de urbanização brasileira, da Amazônia e de Belém do Pará. Aborda ainda as
questões relativas ao ruído na cidade e nas escolas, assim com o a relação entre o ruído, a
saúde e a voz. Apresenta algumas considerações sobre a relação entre a urbanização, o
aumento do ruído e os problemas de voz.
A escolha metodológica é discutida no terceiro capítulo. A partir da revisão da
literatura sobre estudo de caso, discute a abordagem qualitativa, a análise de conteúdo e
justifica a opção metodológica. Da mesma forma apresenta algumas considerações sobre a
técnica de coleta de dados. São apresentadas descrições das unidades de análise (escolas e
professores) e os critérios de inclusão e exclusão dos mesmos. A descrição dos procedimentos
de coleta e análise dos dados é feita detalhadamente neste capítulo e, ao final, são apontados
os aspectos positivos e os aspectos limitantes da opção metodológica adotada.
O capítulo quatro analisa o impacto do processo de urbanização sobre as escolas a
partir dos níveis de ruído interno e externo.
No capítulo cinco são analisadas as percepções dos professores acerca da interferência
dos ruídos internos e externos sobre a produção vocal, além dos hábitos, queixas e dos
sintomas vocais presentes em professores expostos a diferentes níveis de ruído. São também
comparadas as alterações vocais dos mesmos nas diferentes escolas. Finalmente são
analisados os recursos vocais utilizados por eles para a superação dos obstáculos impostos
pelo ruído.
22
O capítulo seis trata da conclusão e das considerações finais desta pesquisa,
considerando a urbanização de Belém e o aumento dos níveis de ruído, o impacto do ruído
produzido no entorno sobre a escola, a relação entre o aumento do ruído e alterações de voz
dos professores e os problemas de saúde dos professores decorrentes das alterações vocais.
São expostas, ainda, considerações sobre a legislação vigente relacionada ao ruído nas escolas
e apresentadas às expectativas do autor em relação a futuros estudos relativos ao tema.
23
2 ARCABOUÇO TEÓRICO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ
2.1 A RELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ
Com a revolução industrial os mecanismos de produção de novos e modernos produtos
tecnológicos foram aperfeiçoados, tais como o surgimento de eletrodomésticos, meios de
transporte e comunicação de massa. Em conseqüência, houve aumento significativo nas áreas
urbanas (LUZ, 2000; CARMO, 1999; MEDEIROS, 1999).
Os efeitos do ruído sobre a saúde podem ser cumulativos. Indivíduos expostos por
longo período a níveis elevados podem apresentar sintomas físicos como perda auditiva,
disfunções gástricas ou cardiovasculares, cefaléias, envelhecimento prematuro. Podem
apresentar, também, irritabilidade, estresse, nervosismo, distúrbio do sono, redução da
capacidade de comunicação e de memorização (PINTO, 2002; MACHADO, 2003;
MEDEIROS, 2005). A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que o excesso de
ruído nas escolas é o provável responsável pelos problemas de rouquidão em professores
(WHO, 1999).
Dreossi e Momensohn-Santos (2005) enfatizaram a necessidade de pesquisas sobre a
interferência do ruído nas salas de aulas, pois em ambientes escolares ele também pode causar
problemas na comunicação oral, na atenção e na aprendizagem.
A voz produzida de forma equilibrada não leva à fadiga ou desgaste. Por se tratar de
processo automático, a fonação deve se dar livre de qualquer esforço permitindo máxima
eficiência na vibração das pregas vocais. Assim, o som produzido será mantido por longo
período de forma clara e limpa. Enfatiza-se, aqui, que o som pode sofrer modificações em
contextos e situações diferenciadas. A perda deste equilíbrio pode provocar alterações
conhecidas por disfonia. O uso inconsciente de mecanismos para forçar a voz para ser ouvido
na presença de alterações vocais momentâneas ou na presença de ruído leva o indivíduo a
realizar esforço vocal desnecessário e, consequentemente, à disfonia (BEHLAU, 2001).
24
Pesquisa realizada por Arruda (2004) apontou a percepção dos alunos sobre aspectos
relativos à produção de voz dos professores. Na análise a velocidade de fala, o emprego de
pausa, a qualidade da voz e a intensidade vocal mostraram-se relevantes para a expressividade
oral de professores.
O uso incorreto da voz por modelo vocal deficiente ocorre quando os indivíduos
modificam ajustes naturais da própria emissão para se aproximar de um modelo idealizado
como melhor ou que gostaria de copiar. Portanto, profissionais que fazem uso da voz, no dia a
dia, como ferramenta de trabalho como, por exemplo, professores e repórteres, estão sujeitos a
este tipo de distúrbio.
2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA URBANIZAÇÃO
2.2.1 A urbanização brasileira
A urbanização brasileira caracterizou-se, principalmente, pela expansão da fronteira
agrícola das regiões Sul, Centro-oeste e Norte e, mais especificamente, pela concentração da
população em áreas urbanas cada vez maiores (SANTOS, 2005).
Duas características básicas têm sido atribuídas ao processo de urbanização brasileiro:
de um lado, a concentração crescente da população em grandes cidades; e de outro, o aumento
do número de grandes centros urbanos (MARICATO, 2000).
O fenômeno da ocupação espacial da população brasileira se deu pela desruralização e
pela concentração em áreas urbanas com fortes diferenças decorrentes de fenômenos regionais
específicos, principalmente, os movimentos migratórios que garantem crescimento vegetativo
mais alto nas áreas de emigração. Reflete o padrão da região sudeste baseado no modelo de
industrialização pela substituição de importações embora não seja homogêneo, com
diferenças significativas no processo evolutivo entre as regiões (CAMARANO; BELTRÃO,
2000).
25
A concentração excessiva e acentuada da população nas áreas urbanas, principalmente
nas grandes cidades em decorrência dos movimentos migratórios, tem revelado cidades cada
vez maiores e com maior concentração da população. Camarano e Beltrão (2000) confirmam
as grandes diferenças entre as regiões brasileiras. Em 1940, a região Norte apresentou taxas
de urbanização de 27,5%; a Sudeste 39,42%. Até 1970, o grau de urbanização da região
Sudeste era o mais elevado em relação à média nacional. Neste mesmo período a região Norte
apresentou o valor mais baixo (62,3%) de taxa de urbanização. Ainda que tenha ocorrido de
forma heterogênea, se manifesta em cada cidade de forma excludente e segregadora devido ao
padrão de acumulação no qual as prioridades são definidas “em consonância com as
corporações monopolistas”. (RODRIGUES, 1996, p.266).
Entre 1930 e o final da Segunda Guerra Mundial, a industrialização promoveu um
avanço relativo de forças e de fortalecimento do mercado interno com grande
desenvolvimento das forças produtivas, diversificação, assalariamento crescente e
modernização da sociedade.
O início das obras de saneamento básico e embelezamento paisagístico ocorridas no
final do século XIX e início do século XX, realizadas em algumas cidades brasileiras,
caracterizaram o urbanismo moderno “à moda da periferia” (Maricato, 2000, p.22). O
mercado imobiliário se implantou e a população que foi excluída deste processo foi expulsa
para os arredores da cidade.
Ao final da Segunda Guerra Mundial o processo de industrialização passa a produzir
bens duráveis. A produção de eletrodomésticos, bens eletrônicos e automóveis, a partir de
1950, geraram grandes mudanças no modo de vida dos consumidores, na habitação e nas
cidades, de modo que a massificação do consumo destes bens acaba por alterar os valores, a
cultura e o ambiente construído. O aumento da produção e do uso do automóvel acarretou,
também, questões ambientais associadas ao ruído.
Após a Segunda Guerra Mundial, o setor automobilístico caracterizou-se por pelo
rápido crescimento da produção mundial, passando de 3,9 milhões de unidades em 1946 para
13,7 milhões em 1955; e 24,3 milhões em 1965 (GUIMARÃES, 1980).
26
Neste período inicia-se o que Santos (1995) denominou período tecnológico,
caracterizado pela difusão da indústria e do capitalismo das grandes corporações e da difusão
rápida dos meios de comunicação, o que permitiu a propagação de inovações em oposição aos
períodos anteriores. O autor confere à tecnologia da comunicação valor essencial para o
crescimento.
Só após os anos 60 a cidade assumiu um novo processo de desenvolvimento nacional
em consequência do chamado “modelo de substituição das importações” que acelerou a
urbanização. A partir de 1964, as cidades passam a ocupar o centro de uma política destinada
a mudar o padrão de produção. No novo padrão, o Brasil instalou a indústria automobilística
que modificou radicalmente o sistema de transporte brasileiro. Recursos financeiros foram
drenados para o mercado habitacional, em grande escala, modificando o perfil das cidades.
Iniciou-se o processo de verticalização no país com a construção de edifícios de apartamentos
com forma de habitação da classe média (MARICATO, 2000).
De acordo com o IPEA (2007), o Brasil apresenta problemas habitacionais
relacionados, principalmente, ao excessivo adensamento (mais de 3 pessoas por cômodo
servindo de dormitório), à coabitação familiar, ao ônus excessivo do aluguel de imóveis e à
proliferação de assentamentos precários. O adensamento excessivo é maior nas áreas
metropolitanas com proporção de população adensada de 9,3%. A Região Metropolitana de
São Paulo apresenta 2,2 milhões de pessoas adensadas, em números absolutos, seguida pela
Região Metropolitana do Rio de Janeiro com 1 milhão de pessoas. Em termos relativos, as
Regiões Metropolitanas de Belém (16,6%), São Paulo (11,7%) e Salvador (10,6%)
apresentam situação mais grave com percentuais de moradores urbanos vivendo sob
condições de adensamento.
A recessão ocorrida nas décadas de 80 e 90, aliada a um crescimento demográfico
superior ao do PIB, provocou forte impacto social e ambiental com a ampliação das
desigualdades sociais caracterizada por forte concentração de pobreza urbana, com multidões
concentradas em morros, várzeas, e alagadas. Em 1991, a taxa de urbanização brasileira era
de 75%. A região Norte apresentava taxa de 56%; a Nordeste de 58%; a Sudeste de 88%; e a
Centro Oeste de 75% (dados do CENSO, 1991), com previsões de alcançarem 80% no ano
2000 (IBGE, 2004).
27
Dados do IBGE (2007) expressam a densidade demográfica brasileira média de 22,3
hab./km2. As diferenças entre as regiões do Brasil apontam caráter irregular de densidade,
tendo a Região Norte 4,0 hab./km2 distribuídos numa área que corresponde a 45,2% do país.
Na Região Sudeste concentram-se, aproximadamente, 42% da população total do país com
87,4 hab./km2
O trânsito e o tráfego de veículos, decorrentes do aumento do número de vias e de
veículos circulando, são grandes problemas das cidades atuais. Apesar dos esforços dos
. A Região Metropolitana de São Paulo concentra o maior número de pessoas
(20 milhões), o equivalente a 10,5% do total da população do país. Oliveira (2006) afirma que
o excesso populacional gera diversos problemas, tais como congestionamentos e poluição.
Entre os anos de 1940 a 2000, a taxa de natalidade brasileira foi uma das mais baixas,
caindo de 4,5% para 2,0% no que diz respeito à taxa de natalidade bruta (número de nascidos
vivos/total da população). Outro indicador do processo de urbanização refere-se à expectativa
de vida ao nascer. No período de 1991 a 2000, a expectativa de vida ao nascer sobe de 66
anos para 68,6 anos para ambos os sexos (IBGE, 1980, 1990, 2000).
As taxas de natalidade, no Brasil, vêm decrescendo desde a década de 70 devido a
mudanças ocorridas no planejamento familiar e ao controle da natalidade com o uso de pílulas
anticoncepcionais e inserção maior das mulheres no mercado de trabalho. Nos anos 80, a taxa
de fecundidade era de 4,34 filhos por mulher. Dez anos depois as taxas caíram para 2,85,
segundo dados do IBGE (2008).
Nas décadas de 80 e 90, os investimentos para universalizar o atendimento da
população com água tratada e esgoto diminuíram e, em consequência, ao final dos anos 90,
aproximadamente 55% dos domicílios não tinham acesso à água potável, sendo que 4% deles
estavam localizados em áreas urbanas, e 48,9% ao eram atendidos por rede de esgotos
(MARICATO, 2000).
Dados do Governo Federal indicam a melhoria nos indicadores sociais no se refere ao
acesso a bens duráveis e à cobertura de serviços básicos (telefone: 77%; celular: 32%;
computador: 27%; internet: 20%; Televisão: 95%; Máquina de lavar: 40%). No entanto, o
saneamento necessita de melhorias (energia elétrica: 98%; abastecimento de água: 84%; rede
de esgoto: 52%) (DESTAQUES, 2008).
28
gestores para a melhoria das condições de vida dos cidadãos, a cidade continua a ser
degradada e espoliada (LIMA; SANTORO, 2005). Os autores citados anteriormente,
realizaram estudo para identificar os avanços apresentados pelas cidades brasileiras, quais os
resultados e restrições que devem ser superados para reduzir as externalidades negativas do
transporte e trânsito por meio da gestão do crescimento urbano. Os resultados revelaram que o
planejamento, de transporte e de trânsito, deve considerar as variáveis espaço e tempo
necessários para os deslocamentos, tendo em vista que o melhor uso do espaço urbano reduz o
tempo de viagem para a maioria, assim como também reduz custos e melhora as condições
ambientais com a diminuição de emissão de poluentes.
Em 2007 havia 254 mil veículos circulando na Região Metropolitana de Belém na
razão de 1 automóvel para cada 12 habitantes, enquanto no município de Belém a razão era de
1 para cada 10 habitantes. Na mesma região havia na mesma época um ônibus para cada 437
pessoas, demonstrando a insuficiência de transporte coletivo (PARÁ NEGÓCIOS, 2008).
O aumento de concentração da população nas grandes cidades e do número de grandes
centros urbanos são características importantes do processo de urbanização brasileiro. Com o
crescimento populacional, as cidades se expandiram e, muitas vezes, as rodovias que tinham
como objetivo primordial o tráfego de entrada e saída dos municípios, ou de passagem pela
cidade, perdem esta função e se transformam em avenidas de intenso trafego urbano
(CALIXTO; DINIZ; ZANNIN, 2001).
Sobre a poluição sonora decorrente do uso do transporte aéreo, em larga escala, Mota
(2003) afirma que esta tende a se agravar e que sua interferência no espaço urbano é cada vez
maior devido ao aumento do uso desta forma de transporte. A infraestrutura que surge nas
áreas em que são construídos aeroportos, mesmo aqueles que construídos em áreas afastadas
do centro da cidade, somada aos avanços tecnológicos, tem provocado grande impacto sobre o
ambiente e a população destas áreas.
Estudo sobre o impacto ambiental do aeroporto de Londrina (PR), quando de sua
ampliação, não evidenciou o ruído produzido pelas aeronaves como relevantes ou altos, pois
foram considerados inferiores àqueles gerados pelo intenso tráfego de veículos da região
(FACHINNI; SANT’ANNA; MACEDO, 2003).
29
A construção de aeroportos, em sua maioria, costuma se dar em áreas urbanas com
bom tráfego de acesso e com frequencia próxima de áreas residenciais. Esta proximidade gera
problemas ambientais, tais como ruído, emissão de gases das aeronaves, além de impactos
gerais sobre o ecossistema (TEIXEIRA; AMORIM, 2005).
2.2.2 A urbanização na Amazônia
A urbanização na Amazônia ocorreu a partir de uma política pública que sustentava
que os núcleos urbanos assumiam a função econômica e social. Trata-se de um processo
recente ocorrido há aproximadamente 40 anos. Em decorrência desta política quase dois
terços da população ocupou estes núcleos no início deste milênio. (SERRE 2001).
A ocupação do espaço e o adensamento populacional demandaram grandes
investimentos públicos em infraestrutura mínima. A redução do financiamento público forçou
a reorientação das prioridades nacionais gerando diminuição dos movimentos migratórios
necessários para a ocupação efetiva das áreas selecionadas na Amazônia. Como o
povoamento se dava de acordo com as configurações geográficas do espaço, a região acabou
perdendo sua função atrativa e deixou de ser foco de grandes movimentos migratórios
(MOURA; MOREIRA, 2001; SERRE 2001).
Fundamental, neste ponto, mencionar a construção do núcleo de Parauapebas, com a
implantação do Projeto Ferro Carajás que provocou a migração de muitas pessoas para a área
atingindo, em 2004, 110.000 habitantes, fato que representou um crescimento anual entre
1981 e 2004 de 6,8%. Comparando-se as taxas médias de crescimento anual da população
brasileira, do Pará e de Parauapebas, neste período, observou-se que a população do Brasil
apresentou crescimento entre 1,3% e do Pará 2,0%, enquanto a de Parauapebas cresceu 8,9%.
A população estimada em 2006, era de 133.261 habitantes (PREFEITURA MUNICIPAL DE
PARAUAPEBAS, 2008).
30
Mesmo contando com os esforços para a ocupação demográfica e econômica, com os
recursos minerais madeireiros e agropecuários e a importância da região para o ecossistema
mundial, a região permaneceu pouco ocupada por muito tempo. O crescimento da população
urbana não foi acompanhado da implementação de infraestrutura para garantir as condições
mínimas de qualidade de vida. Baixos índices de saúde, de educação e de salários aliados à
falta de equipamentos urbanos, denotam a baixa qualidade de vida da população local. Os
problemas sociais e o desenvolvimento desigual aparecem como graves problemas da região
(KAMPEL; CÂMARA; MONTEIRO, 2000).
De acordo com a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM,
2001) e Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento (PNUD, 2001), o acelerado
processo de urbanização na Amazônia deu-se, principalmente, em função dos movimentos
migratórios do tipo rural-urbano. Em 1940, a população residente nas áreas urbanas era de
apenas 23,1%, tendo atingido percentuais de 69,1% no ano 2000. A criação de novos
municípios foi um dos fatores responsáveis pelo crescimento da população urbana. Estima-se
que em 2021, a população urbana da região aproxime-se de 27,3 milhões de habitantes.
As intervenções desenvolvimentistas provocaram mudança na organização da vida
urbana das cidades amazônicas. A lógica do modelo vinculado ao setor rural ou florestal foi
substituída, passando a depender dos grandes projetos, dos incentivos fiscais e da
transferência de verbas públicas. Consequentemente houve a desarticulação da relação
urbano-rural na região, como pode ser percebido nas prateleiras dos supermercados de
Manaus, onde a grande maioria dos produtos expostos tem origem em outras regiões do país
(MACHADO, 2004).
Na região amazônica observa-se a concentração de povoamento ao longo dos eixos de
circulação fluvial e rodoviário (Amazônia dos rios e Amazônia das estradas), caracterizando
um padrão linear de origens históricas da época em que o único meio de comunicação era o
rio. Com a abertura do espaço amazônico e sua integração ao território nacional, no início do
século XX, a construção de estradas possibilitou a ocupação do espaço dando origem, então, à
Amazônia das estradas (SERRE 2001).
31
A urbanização da região encontra-se em fase de estruturação, caracterizando-se ainda
como uma região de fronteira, onde a dinâmica das cidades ainda é muito intensa, incluindo o
surgimento de novos assentamentos urbanos.
De acordo com Serre (2001) o povoamento está relacionado, também, com os
processos de exploração dos recursos naturais, agropecuários e agroindustriais. Assim, grande
parte da população encontra-se localizada nos estados do Pará, Maranhão, Rondônia e Acre
(MOURA; MOREIRA, 2001).
Segundo Rodrigues (1996), o processo crescente de urbanização e destruição da região
produziu a desorganização, que caracteriza o quadro de contrastes no qual se observa, de um
lado, a implantação de fábricas modernas, agropecuária mecanizada e cidades planejadas para
a implantação dos grandes projetos e, de outro, destruição da produção camponesa, ocupação
de terras indígenas e poluição ambiental.
Nas três últimas décadas a região tem apresentado as maiores taxas de crescimento
urbano no Brasil, com 58% em 1991, 61% em 1996 e 70% em 2000. Considerando a relação
entre a falta de moradia e o número de domicílios de cada estado, os piores resultados foram
encontrados no Maranhão, no Amazonas, no Pará e no Acre, nessa ordem.
O déficit habitacional na Região Norte, para famílias com renda até 1,3 mil reais, é de
91,2 %. O índice de posse de bens1 e serviços simultâneos2
é de apenas 7% na região (IBGE,
2008).
1 Iluminação elétrica, telefone fixo e acesso à internet 2 Atendimento simultâneo de serviços públicos de abastecimento de água com canalização interna, esgotamento sanitário e coleta de lixo.
32
2.2.3 A urbanização em Belém
A urbanização de Belém está fortemente ligada ao comércio da borracha a partir de
1897 com o governo de Antonio Lemos (1897-1911). De forma similar a outras cidades no
mundo, as intervenções urbanas foram bastante comuns, tendo como modelo a cidade de
Paris, com ruas largas, iluminação pública e espaços verdes. A capital foi transformada em
centro financeiro e de consumo dos investidores estrangeiros e dos seringalistas. Para atender
a estas necessidades foram introduzidos planos de saneamento e embelezamento da cidade.
Com o intuito de facilitar o escoamento da produção e a transação comercial da borracha
foram construídas avenidas largas, calçadas nas ruas e instalada rede de esgoto. Foram, ainda,
construídos bosques, quiosques e praças, além de instalado um serviço de transporte público
(SARGES, 1999).
A intensificação dos fluxos migratórios a partir da década de 40 levou à propagação de
vilas e passagens nas terras altas, à ocupação de áreas alagadas, assim como ocupações
espontâneas, invasões e implantação de projetos habitacionais nas áreas rurais de Belém e
Ananindeua.
Os reflexos deste crescimento desordenado podem ser observados no processo de
verticalização acentuada do centro urbano e pela propagação de vilas e passagens,
(MACHADO, 2004). Conforme a autora, como centro de decisões políticas e de confluência
de grandes eixos rodoviários, Belém passou a exercer um grande poder de atração
concentrando interesses de massa populacional e, desta forma, tornou-se palco de vigoroso
processo de urbanização com seus principais agentes nocivos.
Em 1940, Belém era a única cidade da região Norte com mais de 100 mil habitantes,
com processo de urbanização bastante acentuado e contando com 65% da população urbana.
Com o revigoramento do comércio da borracha (1940-1950), a população aumentou e o
processo de urbanização da cidade acelerou ultrapassando a taxa de 500 mil habitantes em
1970. Observou-se o aumento do número de cidades menores com desconcentração da
população urbana (CAMARANO; BELTRÃO, 2000).
33
No período compreendido entre 1980 e 1990,, a cidade de Belém apresentou uma das
maiores taxas de expansão urbana. As taxas de crescimento da população, de acordo com o
IBGE entre os anos de 1991 e 2000 foram de 1,64% no Brasil. A população urbana de Belém,
de acordo com o Censo 2000 era de 1.280.614 habitantes. De acordo com a estimativa do
IBGE (2004), a população urbana de Belém seria de 1.361.672 habitantes. Em 2006 atingiu
1.428.368 habitantes.
Comparando-se este resultado com o referente à população da Região Metropolitana
de Belém3 (1.795.536 habitantes), em 2000, constata-se o predomínio de concentração no
espaço urbano, confirmando a alta densidade demográfica do município com 2056,3
hab./km2
3 A Região Metropolitana de Belém é composta por Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara e Santa Izabel.
. Os dados referentes à moradia indicaram prevalência de domicílios (71,17%); do
processo de verticalização com 92,33% dos apartamentos da RMB localizados em Belém.
(DATASUS, 2001).
De acordo com o DATASUS (2001), as condições de moradia (saneamento básico,
escoamento sanitário básico) em Belém, se apresentaram melhores em relação ao restante das
cidades (76,12%); a coleta de lixo ocorre, em 95,12% das moradias; em muitas residências é
possível constatar que há automóvel, videocassete, lavadora de roupa e linha telefônica
(30,86%); computadores, microondas ou ar condicionado (28,25%), com maior prevalência
no bairro do Umarizal.
Nos espaços centrais encontram-se construções de conjuntos de edifícios verticais
residenciais e comerciais que agravam os problemas ambientais com congestionamentos do
trânsito nas ruas. Da mesma forma a produção do espaço urbano, em Belém, segue a lógica de
ocupação de outras cidades brasileiras. Inicia-se nas áreas mais altas e mais valorizadas
atingindo, mais tarde, as áreas mais baixas obedecendo, portanto, à lógica da produção e da
valorização do espaço da cidade (OLIVEIRA, 2007). De acordo com a autora, em
consonância com Machado (2000), observa-se grande diferença entre as áreas quanto ao
processo construtivo, com predomínio de horizontalidade na periferia e marcas de
verticalização agressiva como forma de segregação sócio-espacial.
34
A verticalização é especialmente problemática em alguns centros comerciais na
medida em que pode formar grandes muralhas de edifícios colados uns aos outros, numa
cidade de relevo pouco acidentado, causando alteração dos ventos e formando caixas de
reverberação de ruídos. O congestionamento do trânsito se agrava devido ao número de
veículos que permanecem estacionados nas vias públicas, além de contribuírem para a piora
da qualidade do ar (RODRIGUES, 1996).
Machado (2004) analisou os bairros mais e menos afetados pelo ruído em Belém,
ressaltando suas características. O bairro de Nazaré é um bairro predominantemente
residencial, mas sofre com o aumento do número de colégios, de comércio, de clínicas, de
áreas de lazer e outros empreendimentos. É o elo do trânsito que liga os bairros ao centro, o
que ocasiona um permanente fluxo de ônibus e de outros veículos de passageiros e cargas
acarretando constantes congestionamentos em suas principais vias, o que contribui para a
crescente poluição, inclusive sonora, do bairro. A figura 1 demonstra os bairros de Belém no
mapa da cidade.
Figura 1: Mapa dos bairros de Belém Fonte: Prefeitura Municipal de Belém
35
A Campina, antigo bairro do Comércio, corresponde ao centro da cidade e desenvolve
funções comerciais, residenciais, portuárias, administrativas, industriais e outras. Abriga
amplo mercado ambulante de trabalhadores informais e de excluídos sociais. Apresentou
crescimento vertical em virtude dos altos preços dos terrenos e por não poder se expandir
horizontalmente. Nele situa-se o Mercado do Ver-o-Peso. Caracteriza-se por ruas estreitas
(MACHADO, 2004).
O bairro do Reduto, tal como a Campina, possui ruas estreitas e sem arborização. Tem
função residencial e comercial. Com o surgimento de restaurantes, lanchonetes, bares, boates
e outros empreendimentos, suas áreas de lazer estão se expandindo. A porção mais afastada
do litoral, com terrenos mais elevados, apresenta padrão de urbanização diferenciado com
ruas mais largas, arborização e intenso processo de verticalização (MACHADO, 2004).
A Cidade Velha é o bairro mais antigo de Belém e conserva ruas estreitas com casas
grandes que estão sendo substituídas por prédios residenciais, praças, estabelecimentos
militares, igrejas. Nele situam-se os principais terminais de embarque e desembarque de
passageiros que demandam, pela via fluvial, as cidades próximas a Belém.
O bairro denominado Montese (Terra Firme) está situado em terreno
predominantemente alagado, e estruturou-se a partir da ocupação de uma extensa área
institucional pertencente à UFPA, dentro da 1ª Légua Patrimonial.4.
Moraes, Sacavem e Guimarães (2006) descrevem o bairro da Condor como residencial
periférico, com habitações de um ou dois pavimentos e poucas edificações comerciais. O
ruído ambiental é proveniente do ruído de tráfego de veículos.
4 Primeira Légua Patrimonial é a porção do território municipal doada pela Coroa Portuguesa para formar a Municipalidade de Belém, em 1627, e corresponde a área mais urbanizada da cidade e engloba toda a região central e seu entorno mais imediato
No ano 2000, a RMB contava com 111.564 automóveis trafegando, 60% da malha
viária pavimentada e apenas 85% das vias iluminadas. O transporte coletivo era responsável
pelo deslocamento de, aproximadamente, 35 mil passageiros ao dia, realizando mais de 2
milhões de viagens dentro da RMB. As principais razões para os deslocamentos foram o
36
trabalho (45%) e o estudo (1,7%), que juntos são responsáveis pela maior frequencia de
deslocamentos (JICA, 2000).
Os deslocamentos são feitos, em sua maioria, em automóveis (36,7%) e ônibus
(31,9%) e, em menores proporções, por caminhão (12,8%) e microônibus (10,8%). Houve o
aumento do uso de motocicletas para circulação de documentos e entrega de mercadorias, mas
os números não foram referenciados, pois de acordo com o DETRAN-PA (2009) as
motocicletas usadas para este fim não são cadastradas e os serviços são realizados por
trabalhadores autônomos, sem registro.
2.3 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E A POLUIÇÃO SONORA
A gravidade dos problemas decorrentes da urbanização é de tal monta que a OMS a
reconheceu esta última como fonte de grande parte dos problemas de saúde que as
coletividades enfrentam e reconhecendo sua nocividade passou a tratá-la como um problema
de saúde coletiva (MACHADO, 2004). A exposição humana ao ruído é um dos grandes
problemas de saúde decorrentes da urbanização.
A poluição sonora é considerada a terceira maior forma de poluição, a mais difundida
forma de contaminação sonora encontrada na sociedade moderna. A grandeza da gravidade
tem exigido soluções para controlar o problema em razão do fato que seus efeitos não são
detectados imediatamente, entretanto tendem a se acumular e se fixar com o passar do tempo
(ALMEIDA, 1999; CARMEM et al., 2001).
A exposição contínua a ruídos superiores a 85 dB (A) pode provocar perdas auditivas
permanentes. De acordo Russo (1993), a cada 5 dB acima de 85 dB o tempo de exposição
permitido reduz-se à metade. Logo, a exposição de um indivíduo a 90 dB será permitida por
período de, apenas, 4 horas considerando-se que Ministério do Trabalho recomenda, no
máximo, exposição de oito horas de trabalho a níveis de 85 dB. O quadro abaixo apresenta o
nível médio de ruído em algumas atividades cotidianas.
37
QUADRO 01: Nível médio de ruído típico em situações cotidianas
NÍVEL (DB) ATIVIDADE
1 a 5 O mais suave som audível
25 a 45 Quarto silencioso
35 a 50 Recomendado para bibliotecas e salas de vídeo
60 Conversa normal
75 Nível máximo de tolerância ao ruído (WHO)
85 Nível máximo permitido para trabalhadores – 8 h/dia (NR 15) Pessoas gritando
110 a 130 Limite da dor
150 Motor de avião a jato
Fonte: BISTAFA, 2006.
O excesso de ruído ambiental parece inevitável na medida em que há aumento do
número de atividades e de fontes geradoras de ruído, particularmente no meio urbano. Sem
controle os níveis de quietude e de silêncio serão progressivamente rebaixados. Embora as
grandes cidades do mundo tenham legislação específica para o ruído, estas não tem se
mostrado eficientes. Em Nova York há um número grande de multas e advertências expedidas
contra os infratores, mas a cidade continua barulhenta. No Brasil as cidades como Belém, Rio
de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, de acordo com Costa (1997), são alvos frequentes de
matérias jornalísticas devido à poluição sonora.
Os veículos em circulação emitem ruídos que variam em função da velocidade, das
condições de pilotagem, da qualidade do veículo e da pavimentação, e podem ser modificados
em cruzamentos, semáforos e frenagens devido às variações de rotação do motor. Desta
forma, as mudanças, repentinas ou não, de velocidade dentro dos espaços urbanos geram
níveis de ruídos intensos e variados a todo o momento, em marcha lenta, gerando ruídos que
se somam aos produzidos por outras fontes. A contaminação acústica produzida por veículos
com motores a gasolina pode ultrapassar 70 dB, e a diesel 85 dB. Os aviões vêm logo depois,
com grande emissão de energia sonora durante as decolagens e as aterrissagens (MORAES,
SACAVEM; GUIMARÃES, 2006).
O estudo realizado em Santa Maria, por Nunes e Satter (2004), revelou que é possível
controlar a poluição sonora se forem consideradas as características acústicas do meio para os
38
projetos dos ambientes, o que evita o contato direto com a via emissora de maior ruído ou
ameniza os efeitos da via ruidosa com a implantação de áreas verdes ou praças. Em áreas que
exigem maior rigor no controle do ruído, como escolas e hospitais, é possível alterar as
características do tráfego de veículos a partir do nível de pressão sonora recomendado,
considerando-se o conforto acústico como um dos principais condicionantes do controle de
tráfego urbano.
O tráfego de veículos automotivos é o maior responsável pela poluição sonora nas
cidades. O adensamento do trânsito eleva os níveis de ruído e provoca sérios agravos à saúde
dos indivíduos. Pimentel (2000) destacou a perda da capacidade de concentração dos
indivíduos sobre si mesmos, deixando-os agitados e sem capacidade de introspecção. Referiu-
se à poluição sonora como o “inimigo sutil” da comunicação oral que invade a audição e
monopoliza o cérebro de tal modo que reduz a capacidade de se refletir e comunicar.
Calixto, Diniz e Zannin (2001) realizaram estudo sobre o impacto do ruído do tráfego
de veículos em rodovias na cidade de Curitiba (PR) sobre a vida das pessoas. Constataram
que o ruído de tráfego de veículos nas rodovias provoca poluição sonora ambiental e que as
pessoas que vivem nessas áreas estão expostas a níveis de ruído que excedem os limites
permitidos por lei. O nível de ruído recomendado pela OMS (2003) para áreas residenciais é
de, no máximo, 55 dB. Ainda que acima de 50 dB possa causar perturbação, o organismo tem
a capacidade de se adaptar. Os autores sugerem medidas para a redução dos níveis de ruído
tanto na geração quanto na transmissão, tais como a implantação de barreiras acústicas,
estímulo ao uso de bicicletas, implantação de transporte subterrâneo, limitação do fluxo e da
velocidade de veículos em áreas mais sensíveis (escolas e hospitais).
De acordo com os mesmos autores citados acima, os sinais de danos físicos e mentais
por exposição ao ruído não são facilmente percebidos, instalando-se lentamente e levando ao
estresse, à insônia, à problemas mentais etc. Devido às características dos ruídos presentes nas
grandes cidades (ruídos de intensidade moderada) aqueles que estão expostos dificilmente os
identificam como agentes causadores do mal estar. As fontes de ruído, externas às edificações
são: ruído de tráfego de veículos, de tráfego aéreo, de obras públicas, de indústrias, de
atividades urbanas comunitárias, de agentes atmosféricos.
39
Ao considerar o ambiente interno, podem ser encontrados ruídos gerados por pessoas,
ruídos de impacto, ruídos produzidos por aparelhos elétricos e eletrodomésticos, por
instrumentos musicais e elevadores, pelas instalações hidráulicas, de calefação, de
climatização e elétricas.
A análise de avaliações subjetivas realizada com moradores da cidade de Curitiba em
diferentes zonas urbanas revelou que mais de 90% dos habitantes acredita que o ruído pode
causar prejuízos à saúde, destacando a irritabilidade e a baixa concentração em maior
ocorrência, e o ruído oriundo do tráfego de veículo como o causador de maior incômodo
(PAZ; FERREIRA; ZANNIN, 2005).
Pesquisa realizada em Curitiba por Lacerda, Magni, Morata, Marques e Zannin
(2005), visando à identificação das principais fontes sonoras do ambiente urbano geradoras de
desconforto para os habitantes da cidade, quando se encontram em suas moradias, concluiu
que a poluição sonora urbana influencia na qualidade de vida da população gerando reações
psicossociais de irritabilidade e insônia.
Outro estudo realizado com a população de Curitiba (PR) descreveu a reação da
mesma ao ruído ambiental. O tráfego de veículos (73%) e os vizinhos (38%) foram
classificados como a principal fonte de desconforto (ZANNIN; CALIXTO; DINIZ;
FERREIRA; SCHUHLI, 2002).
2.4 O RUÍDO NA CIDADE DE BELÉM
A análise do nível de contaminação sonora gerada pela comunidade, no centro
comercial de Belém (PA) evidenciou que suas vias encontram-se com níveis de ruído
ambiental intoleráveis, acima do recomendado pela NBR 10.151 da ABNT em período diurno
(MORAES; LARA; TOGUCHI; PINTO, 2003).
Resultados similares foram encontrados em dezoito bairros desta cidade. As
entrevistas realizadas com a população apontaram 60% dela convivendo por mais de seis anos
durante, aproximadamente, nove horas diárias com altos níveis de ruído: 50% apresentando
40
sintomas extra-auditivos. Os resultados sugerem a necessidade de ações para reorganização
do tráfego de veículo com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos moradores de
Belém (MORAES; LARA, 2004).
A análise dos níveis de ruído dentro da Primeira Légua Patrimonial de Belém
demonstra os níveis de ruído ambiental de dezoito bairros. Em todos eles foram registrados
altos níveis de poluição sonora, independente do período do dia em que foram realizadas as
medições. Os três bairros menos afetados foram a Cidade Velha, com níveis variando entre
63,20 dB e 80,20 dB; Condor com nível mínimo de 65, 33 dB e máximos de 71,84 dB; o
bairro Montese com nível mínimo de 69,48 dB(A) e máximo de 71 dB.
Os resultados das medições realizadas na cidade de Belém aparecem na figura 2, com
as indicações dos níveis de ruído, por área.
Figura 2: Mapa acústico dos bairros de Belém (2004) entre 9h e 10 h. Fonte: MAB-SEMMA
Os bairros mais afetados foram Campina com níveis mínimos de 62,20 dB(A) e
máximos de 82,50 dB(A); Nazaré, variando de 74,66 dB(A) a 82,50 dB(A); e Reduto,
variando entre 63,60 dB(A) e 80,00 dB(A) nos diversos horários (MORAES; SACAVEM;
GUIMARÃES, 2006).
41
2.5 O RUÍDO NA ESCOLA
Os efeitos do ruído sobre o homem têm sido estudados sob diferentes enfoques nas
diversas áreas do conhecimento, principalmente quando a exposição provoca perdas auditivas.
Os efeitos silentes, quase imperceptíveis, que permitem que os sintomas se instalem
em longo prazo, não chamando a atenção dos indivíduos expostos ou das autoridades, é
bastante preocupante. O ruído nas escolas, advindo de fontes externas e internas, faz parte
deste grupo perigoso, quase invisível. Diversas fontes geradoras de ruído podem ser
encontradas externamente às escolas. Os ruídos são gerados, habitualmente, pelo tráfego de
veículos e aviões e por estabelecimentos localizados em sua proximidade tais como bares,
construção civil, academias, templos religiosos (FERNANDES, 2006).
Dentro da escola são gerados ruídos como, por exemplo, na própria sala de aula pela
movimentação e pela atividade dos alunos, conversa, uso de materiais didáticos (papel,
tesoura, grampeador etc.), por ventiladores ou condicionador de ar, reatores entre outros.
Encontram-se, ainda, os ruídos gerados nos ambientes adjacentes às salas, no interior da
escola, como pátios, salas de músicas, quadra de esportes, outras salas de aula, que
contribuem para o aumento dos níveis de ruído (FERNANDES, 2006).
Um dos principais efeitos do ruído sobre as crianças na escola é a redução da
inteligibilidade de fala e a audição e compreensão da fala por crianças de diferentes idades
sob diferentes condições acústicas e de ruído (SHIELD; DOCKRELL, 2003).
Salas de aula são espaços destinados à aprendizagem e, portanto, devem ser espaços
privilegiados quanto aos aspectos facilitadores de atenção, de concentração e de compreensão.
Os ruídos produzidos nas salas de aula são originados por fontes externas e
transmitidos através das paredes dos edifícios, aumentados pelos internos de modo que as
crianças ficam expostas a uma grande variedade de fontes sonoras.
42
As pesquisas sobre os efeitos do ruído em salas de aula não têm correlacionado os
níveis de ruído externos deste com as queixas vocais de professores. Os estudos são pontuais,
a maioria de prevalência estatística. O quadro abaixo sintetiza algumas pesquisas sobre ruído
em escolas e seus resultados.
QUADRO 02: Ruído nas Escolas
AUTOR/ANO DISCUSSÃO/RESULTADOS
Oiticica e Gomes
(2004)
- Análise das condições acústicas em sala de aula e a reação fisiológica de estresse do
professor em escolas, particulares e públicas de Maceió.
- Encontraram elevados níveis de poluição sonora e desgaste das cordas vocais dos
professores. Os autores concluíram ser o ruído o causador do desconforto nas salas de
aula
Eniz e Garavelli (2006)
- Analise do ruído ambiental em escolas de ensino médio e fundamental no Distrito
Federal.
- Encontraram 90% das escolas com níveis de ruído acima dos valores considerados
aceitáveis, 50% delas convivendo com ruídos advindos do tráfego de aviões, de
carros de passeio e propaganda, caminhões, motocicletas, ônibus, e 90% com níveis
de ruído acima dos valores recomendados.
- Esta análise revelou apenas as fontes geradoras de ruído ambiental, não
relacionando os resultados aos problemas decorrentes desta exposição em alunos e
professores.
Zwirtes (2006).
- Avaliação da qualidade acústica de salas de aula de escolas estaduais, de Curitiba,
que fazem parte de um grupo com projeto padrão.
- O ruído das salas vizinhas e da própria escola foram identificados como os que mais
perturbavam. A medição dos níveis de ruído externo produzido pelo tráfego apontou
níveis muito acima dos aceitáveis, mas foi pouco percebida como incômoda por
professores e alunos.
- De acordo com a autora o ruído proveniente do tráfego foi pouco percebido, porque
as salas ficam distantes da via de tráfego, o que indica uma relação direta entre a
posição das salas de aula e os níveis de ruído percebidos.
43
Picanço, Vieira e
Barreto (s/d)
- Verificação dos níveis de ruído de cinco salas de aula no horário das atividades
escolares, sala dos professores e quadra de esportes durante o recreio, em uma escola
da rede pública de Fortaleza (CE).
- Encontrou níveis mínimos de 72 dB (NPS) e máximos de 86 dB (NPS) nas salas.
Ao comparar os resultados com as recomendações da Norma NBR 10152,
verificaram que os níveis de ruído nas escolas não poderiam ultrapassar 50 dB(A)
para permanecer abaixo da voz humana em intensidade normal (60 dB) provocando
interferência na comunicação entre o professor e o aluno e exigindo que ambos
elevem a voz forçando o aparelho fonador.
- Tal resultado indica que pessoas submetidas a níveis de ruído acima de 50 dB
necessitam elevar a voz para se comunicar e, consequentemente, estão sujeitas a
problemas de voz.
Jaroszewski,
Zeigelboim e Lacerda
(2007)
- Implicações do ruído sobre a atividade de ditado em crianças da primeira série do
ensino fundamental, em Santa Catarina.
- Constataram que os níveis médios de ruído das salas encontravam-se entre 59,5 a
71,3 dB(A), valores acima dos recomendados pela NBR 10 152. Nestas salas os
professores revelaram que tinham necessidade de elevar a voz durante a atividade de
ditado queixando-se de posterior cansaço vocal.
-De modo geral, todos identificaram fontes internas como geradoras de ruído de
fundo.
Bragion e Silvério
(2006)
- Investigação das condições do ambiente de trabalho e o perfil vocal dos professores
da rede particular de ensino de Piracicaba (SP). Evidenciou que a média do nível de
ruído obtido em sala foi de 73,9 dB, maior que o encontrado em escola pública em
outros estudos, e que a localização da escola estudada interferiu no nível de ruído nas
salas.
- Na qualidade de voz dos professores evidenciou-se a não valorização dos sintomas
laríngeos apresentados, não os identificando como queixas de voz, decorrentes de
problemas laríngeos e/ou vocais.
-A rouquidão foi observada em todos os professores (100%), com algum grau de
soprosidade ou tensão laríngea. Esta alteração da qualidade vocal também foi pouco
percebida pelo professor e é decorrente do ambiente de trabalho ao qual está exposto.
-Este estudo sugere que após certo tempo trabalhando em um ambiente ruidoso as
pessoas podem adquirir problemas de voz embora não consigam perceber as
alterações.
Zucki, Morata e
Marques (2006)
- Análise da percepção de estudantes, profissionais e coordenadores de graduação de
Educação Física sobre o ruído em sua profissão.
- Constataram que o ruído no local de trabalho foi considerado moderado por 60%
dos estudantes e alto por 60% dos profissionais. Sugere que o ruído nas salas de aula
pode ser responsável por grande parte das dificuldades relatadas por alunos e
professores.
44
Rinaldi (2005)
- Avaliação dos níveis de pressão sonoros em diversas ruas, avenidas e escolas
municipais da cidade de Joinville no Estado de Santa Catarina,
- Identificou os níveis de pressão sonoros (NPS) médio equivalente (Leq)
relacionando-os com o fluxo de veículos/hora e mediu os níveis de pressão sonora
equivalentes (Leq) no interior das salas de aula, ocupadas e desocupadas, a fim de
identificar o grau de perturbação sonora no processo de aprendizagem.
- Os resultados confirmaram, em sua maioria, a superação dos limites e dos padrões
estabelecidos, influenciando negativamente a inteligibilidade dos alunos no processo
de aprendizagem.
Fonte: Elaborado pelo Autor.
Dois fatores são os responsáveis pela reverberação de um ambiente: o volume do
ambiente e o índice de reflexão das superfícies. Quanto maior for a atenuação do som nas
superfícies do ambiente, menor será a reverberação. A inteligibilidade da fala é prejudicada
pela reverberação em ambientes fechados na medida em que ao se pronunciar uma palavra
com várias sílabas, os sons se sobrepõem de forma que ao produzir ma sílaba, o som da sílaba
anterior ainda está sendo ouvido, prejudicando sobremaneira a inteligibilidade. Na fala muito
rápida, ou quando a reverberação é grande, mesmo as pausas entre as palavras ficam
preenchidas com o som reverberante fazendo com que os finais das palavras, que precedem as
pausas, sobreponham-se ao início das palavras que se seguem. Portanto, o som da fala direta
mistura-se com o som reverberado e com o ruído de fundo, e o controle do tempo de
reverberação precisa ser considerado. Os valores considerados ideais para salas de aula
variam de 0,4 a 1 segundo (NABELEK; NABELEK, 1999).
O ruído e a reverberação isolados ou combinados interferem negativamente na
discriminação auditiva nas diferentes faixas etárias. A OMS estabelece que as salas de aulas,
devem ser claras, com boa divisão, ventiladas e livres de interferência de ruídos internos e
externos, de forma a garantir fala inteligível para todos os ocupantes (WHO, 1999).
2.6 - O RUÍDO SOB A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.
O crescimento das cidades e o desenvolvimento tecnológico trouxeram alguns desafios
para serem solucionados. Um deles refere-se ao controle da poluição sonora em diversos
45
níveis. Para tanto, algumas leis e resoluções foram criadas, particularmente a partir da década
de 90.
A Resolução CONAMA nº. 01, de 8 de março de 1990, “dispõe sobre a emissão de
ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas,
determinando padrões, critérios e diretrizes”. Esclarece que “os problemas dos níveis
excessivos de ruído estão incluídos entre os sujeitos ao controle da poluição de meio
ambiente”, visando à manutenção da qualidade de vida humana por meio da preservação da
saúde e do sossego público. Essa resolução determina que as medições para a verificação dos
níveis de ruído devem ser efetuadas de acordo com a NBR 10151-Avaliação do ruído em
áreas habitadas, visando o conforto da comunidade, e a NBR 10152-Avaliação do ruído em
recintos de edificações, visando o conforto dos usuários. O documento apresenta vários
recintos dos quais se podem utilizar alguns para caracterizar as salas de aula como mostra o
quadro a seguir:
Quadro03: Nível de conforto sonoro, segundo a NBR 10152
LOCAIS dB (A)
-Hospitais,
Apartamentos, enfermarias, berçários, centros cirúrgicos,
Laboratórios, áreas para uso público, Serviços.
35 - 45
40 - 50
45 – 55
-Escolas
Bibliotecas, salas de música, salas de desenho,
Salas de aula, laboratórios, Circulação.
35 - 45
40 - 50
45 – 55
-Hotéis
Apartamentos,
Restaurantes, salas de estar, Portaria, recepção, circulação.
35 – 45
40 - 50
45 – 55
-Residências,
Dormitórios, Salas de estar,
35 - 45
40 – 50
-Auditórios,
Salas de concerto, teatros, Salas de conferências, cinemas, salas de uso múltiplo.
30 - 40
35 – 45
-Restaurantes 40 – 50
46
-Escritórios,
Salas de reunião,
Salas de gerência, salas de projetos e de administração,
Salas de computadores, Salas de mecanografia.
30 - 40
35 - 45
45 - 65
50 – 60
-Igrejas e templos 40 – 50
-Locais para esportes, -Locais fechados para espetáculos e atividades esportivas.
45 – 60
Adaptado: NBR 10.152, 1987
A Resolução CONAMA n° 002/1990 instituiu o “Programa Nacional de Educação da
Poluição Sonora – SILÊNCIO”. Este programa visou o estabelecimento de normas para o
controle do ruído excessivo e reconheceu sua interferência negativa na saúde da população,
garantindo qualidade de vida á mesma. Esta resolução delegou ao IBAMA a coordenação do
programa e tem como objetivos:
“Divulgar junto à população, através dos meios de comunicação disponíveis matéria educativa e conscientizadora dos efeitos prejudiciais causados pelo excesso de ruído; Introduzir o tema ‘poluição sonora’, nos cursos secundários da rede oficial e privada de ensino, através de um Programa oficial de Educação Nacional”. (BRASIL, 1990b).
O ruído ocupacional é reconhecido como risco à saúde no Brasil. A legislação
trabalhista utiliza como base as Normas Regulamentadoras NR 9, NR 15 e NR 17.
A NR 9 estabelece a obrigatoriedade por parte de empregadores e instituições a
obrigatoriedade de elaborar e implementar o Programa de Prevenção e Riscos Ambientais -
PPRA, visando a preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio da
antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos
ambientais que venham a ocorrer no ambiente de trabalho.
Os limites de tolerância para os diferentes riscos ambientais são apresentados pela NR
15. A norma recomenda 85 dB (A) como o máximo permitido para jornada de trabalho de oito
horas.
47
QUADRO 04: Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente
NÌVEL DE RUÌDO DB(A) MÁXIMA EXPOSIÇÃO DIÁRIA PERMITIDA
85 8h
86 7h
87 6h
88 5h
90 4h
92 3h
94 2h e 15 min
95 2h
98 1h e 15 min
100 1h
104 30 min
105 30 min
106 25 min
108 20 min
110 15 min
112 10 min
114 8 min
115 7 min
Adaptado: NR15 – Ministério do Trabalho
A Lei Municipal n. 7.990/2000, de Belém, refere-se ao controle e ao combate à
poluição sonora. Estabelece as diretrizes para a emissão de ruídos produzidos por atividades
que sejam exercidas em qualquer tipo de ambiente. Esta lei também utiliza a NBR 10151
como parâmetro de medição de níveis de ruído. “Art. 2º: É proibido perturbar o sossego e o
bem estar público com sons excessivos, vibrações ou ruídos incômodos de qualquer natureza,
produzidos por qualquer forma, que ultrapassem os limites estabelecidos nesta lei.”
(SEMMA, 2000).
As condições legais para execução a de atividades que exijam solicitação intelectual e
atenção constante, tais como, salas de laboratório, escritórios, análise de projetos, são
recomendadas pela NR 17 (ergonomia). Estabelece os níveis de ruído em conformidade com a
NBR 10.152, para salas de aula entre 40 e 50 dB (A).
48
Para a avaliação da exposição do ruído ocupacional, no interior das salas de aula, a
legislação se fundamenta na Resolução CONAMA nº. 001 que visa controlar a poluição
sonora e cita as Normas Regulamentadoras NBR 10.151 e NBR 10.152.
No Brasil, diferente de países como Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e Japão, as
condições acústicas das salas de aula não são estabelecidas por normas específicas ficando
estabelecidos, apenas, o nível de pressão sonora e os valores aceitáveis de ruído do ambiente
em sala desocupada. Naqueles países as normas estabelecem parâmetros mínimos com base
no tempo de reverberação (TR), no ruído de fundo, e nos Estados Unidos acrescentam valores
máximos de ruído para condicionadores de ar. Lá é reconhecido que o nível de ruído em
escolas tem relação direta com o processo de ensino e aprendizagem.
Apesar da existência de leis e normas para controle do ruído e do reconhecimento de
seus efeitos negativos sobre a saúde, o nível de poluição sonora nas cidades não tem
diminuído (COUTO; LICHTIG, 2002). Neste contexto, escolas, professores e alunos ficam
expostos a níveis de ruído considerados insalubres contrariando as normas vigentes.
2.7 RUÍDO E SEUS IMPACTOS SOBRE A VOZ
O conhecimento da mecânica de produção da voz permite a compreensão dos
mecanismos que levam às alterações orgânicas e funcionais das pregas vocais e às
consequências sobre a comunicação.
A voz produzida de forma equilibrada não leva à fadiga ou desgaste. Por se tratar de
processo automático, a fonação deve se dar livre de qualquer esforço, permitindo máxima
eficiência na vibração das pregas vocais. Assim, o som produzido será mantido por longo
período de forma clara e limpa. Este pode sofrer modificações em contextos e situações
diferenciadas. A perda deste equilíbrio pode provocar alterações conhecidas por disfonias
(BEHLAU, 2001).
O uso incorreto da voz por modelo vocal deficiente ocorre quando os indivíduos
modificam ajustes naturais da própria emissão para se aproximar de um modelo idealizado
como melhor ou que gostaria de copiar. Portanto, profissionais que fazem uso da voz, no dia a
49
dia, como ferramenta de trabalho, como professores e repórteres, estão sujeitos a este tipo de
distúrbio. O uso inconsciente de mecanismos para forçar a voz para ser ouvido na presença de
alterações vocais momentâneas, ou na presença de ruído, leva o indivíduo a realizar esforço
vocal desnecessário e, consequentemente, à disfonia. Nestes casos as alterações costumam se
dar por inspiração insuficiente ou início da fonação após a expiração, uso hipotônico ou
hipertônico da compressão glótica, falhas no uso das caixas de ressonância (voz pouco
amplificada) e seleção de uma caixa de ressonância específica dando à voz características
nasais (BEHLAU, 2001).
Pesquisa realizada por Arruda (2004) apontou a percepção dos alunos sobre aspectos
relativos à produção de voz dos professores. A velocidade de fala, o emprego de pausa, a
qualidade da voz e a intensidade vocal mostraram-se relevantes para a expressividade oral de
professores.
A Sociedade Americana de Acústica (Acustical Society of America-ASA) preconiza
que deve haver 20 dB, no mínimo, entre o sinal de voz do professor e o ruído ambiente
(relação fala/ruído). Significa que ao medir o ruído de fundo de uma sala de aula em 50 dB,
por exemplo, a voz do professor deverá atingir 70 dB em todos os pontos da sala. Isto implica
na necessidade de elevar a intensidade da voz a níveis muito altos, com excesso de esforço
vocal. A tendência natural de aumentar a voz em ambientes ruidosos leva os professores a
realizar mudanças constantes na voz. Em outras palavras, falam mais alto e mais forte na
presença do ruído tentando superá-lo (ASA, 2000).
Assim, quanto mais intenso o nível de ruído na sala de aula, maior será o esforço vocal
do professor para manter a atenção dos alunos e efetivar a mensagem (CRANDELL;
SMALDINO, 2004). O ruído afeta a comunicação de tal forma que para superá-lo é
necessário grande esforço por parte do falante e do ouvinte.
De acordo com Pinto e Furck (1988), a rouquidão e a disfonia de graus variados, são
os sintomas vocais mais comuns apresentados por professores. Estas alterações interferem na
atuação dos mesmos em sala piorando seu estado de saúde física e mental e devem-se, em
grande parte, ao mau uso e abuso vocal em sala de aula devido à necessidade de se fazer ouvir
e de ser ouvido num ambiente ruidoso (OYARZÚN; BRUNETTO; MELLA, 1984).
50
2.8 HÁBITOS, QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS
As queixas mais comuns de pessoas com alterações vocais são ardências, pigarros
constantes, modificações na qualidade vocal, dificuldades para respirar e falar, dores na região
do pescoço. Nem todas as alterações vocais decorrem da produção alterada, tendo sua origem
tanto no uso abusivo quanto intensivo. Muitas vezes surgem como sintomas secundários a
crises alérgicas, períodos de estresse ou uso intermitente da voz cantada. A duração dos
sintomas pode durar muitos dias, semanas ou apenas uma noite (GARCIA, 2002).
Em indivíduos que usam a voz profissionalmente as queixas vocais promovem
desconforto maior por interferirem no processo comunicativo e no próprio desempenho
profissional. Professores queixam-se, com frequencia, de sensação de tensões na musculatura
cervical, da postura inadequada, de falar por horas seguidas utilizando tom e padrão
respiratório inadequado ao competirem com o ruído ambiente (PINTO; FURCK, 1988).
O impacto que as alterações vocais exercem sobre os professores em seu cotidiano é
percebido de forma diferenciada por aqueles que apresentam quadros disfônicos instalados.
Os sintomas físicos como falta de ar e esforço ao falar são os mais percebidos (PEREIRA,
2004).
As dificuldades na emissão vocal manifestam-se de diferentes formas. Esforço durante
a emissão, dificuldade para manter a voz, sensação de cansaço ao falar, variações na
frequencia fundamental habitual, rouquidão, falta de volume e projeção, perda de eficiência
vocal, pouca resistência para falar são os mais comuns (BEHLAU; PONTES, 1995).
Giannini e Passos (2006) estudaram as percepções de professores disfônicos (com
alterações de voz, roucos) da rede municipal de ensino de São Paulo, sobre as condições de
trabalho a que estes estavam expostas, e a forma como estas se constituíam em elementos
constitutivos dos sintomas de voz. Concluíram que os mesmos consideravam a acústica das
salas insatisfatória referindo-se, unicamente, ao local e ao tamanho das mesmas. Nenhum dos
professores, no entanto, associou o início das alterações de voz à necessidade de aumentar a
voz ou esforço ao falar.
51
Ao contrário dos olhos, que podem fechar-se quando algo causa incômodo, o ouvido
humano não descansa e permanece recebendo o estímulo sonoro, ininterruptamente. Com o
passar do tempo o ser humano se acostuma com o ruído deixando de percebê-lo.
Os estudos sobre prevalência de problemas de voz em professores são, de modo geral,
inconclusivos. Russel, Oates, Greenwood (1998) não encontraram diferenças significativas
entre os sexos ou nível de ensino em que lecionavam. Por outro lado, a correlação entre a
idade dos professores e a ocorrência de problemas de voz ficou evidente nos grupos com
idades acima de 31 anos.
No mesmo estudo constataram que o número de professores que procurou ajuda para
os problemas de voz foi consideravelmente menor que aqueles que relataram preocupações
sobre suas vozes. Apenas 16% dos professores relataram problemas de voz no dia do exame,
20% durante o ano letivo e 19% em alguma época durante a carreira de professor. A
relutância dos professores em procurar ajuda profissional para os problemas vocais sugeriu
que os mesmos consideram problemas vocais como doença ocupacional caracterizando a falta
de consciência dos mesmos sobre os recursos disponíveis para prevenção ou solução do
problema. Demonstrou que, independentemente de serem os professores mais suscetíveis ou
não a problemas de voz do que a população em geral, mais de 22% deles apresentou
problemas, regularmente, e que estes interferem na habilidade de usar a voz como desejariam.
Estudo comparativo da prevalência de desordens vocais entre professor realizado por
Sala; Laine; Simberg; Pentti, Suonpää (2001) avaliou 262 professores e 108 enfermeiras de
um centro de atendimento diurno. Evidenciou a prevalência e frequencia de sintomas vocais
maior em professores do que em enfermeiros. Os resultados confirmaram forte relação de
causa e efeito entre trabalho e desordens vocais. Foram encontrados sintomas vocais,
principalmente durante o trabalho, em quase todos os professores e na maioria dos
enfermeiros, reforçando, desta forma, a relação de causa-efeito entre trabalho e desordens
vocais.
52
2.9 RECURSOS VOCAIS
Gonçalves (2000) enfatiza os aspectos que se constituem como base para falar bem.
Dentre eles destacam-se a respiração, as pausas, a entonação e o ritmo por serem recursos
utilizados na fala espontânea por todos os falantes. Os três elementos mais importantes, a seu
ver, para colorir a fala são as ênfases, a entonação e a pausa. Estes elementos são apresentados
no quadro abaixo.
QUADRO 05: Recursos Vocais
RECURSO CARACTERÍSTICAS
Respiração - O controle sobre a respiração favorece o uso de pausas, durante a fala. - Tempo necessário para que as inspirações se realizem e o falante possa continuar falando confortavelmente.
Pausas respiratórias
- Permitem que o sujeito falante enfatize, de forma natural, aquilo que pretende salientar durante o discurso. - Quando associadas à entonação produzem discurso eficiente e inteligível. Despertam o interesse do interlocutor. O uso inadequado, por sua vez, compromete a mensagem podendo causar confusão no ouvinte.
Pausas respiratórias breves - São realizadas com inspiração rápida e superficial. - Para destacar palavras ou frases. Quando associadas à diferentes entonações promovem maior valorização das palavras.
Entonação, pausas e ênfase - Interferem no ritmo da fala. - Evitam que se fale muito rápido ou muito devagar
Entonação ou inflexão - Conferem ao discurso curva melódica variada.
Curvas melódicas ascendentes - Indicam interrogação e avisam ao interlocutor que deverá responder, assim como a elevação do som da última sílaba antes da vírgula indica que o ouvinte deve aguardar por uma complementação.
Curva melódicas descendentes - Indicam a conclusão do raciocínio.
Inflexão aguda sustentada - Mostra ao interlocutor que ainda não deve se pronunciar, devendo aguardar.
Entonação variada
- Feita pela utilização de tons que vão dos graves aos agudos; - Imprime vida ao discurso; - O uso de tons graves com queda de altura no final da frase transmite autoridade e certeza, e voz que permanece muito aguda transmite insegurança.
53
Ênfase
- Deve ser dada à palavra que transmita a essência da mensagem e deve acontecer em uma só palavra. Significa ressaltar determinada palavra entre os outros elementos da frase ou enunciado. O uso excessivo de ênfases dificulta a compreensão da mensagem; -Valoriza o significado da palavra. Ao enfatizarem-se as palavras básicas do enunciado, o significado torna-se mais claro. - Para ressaltar algo se usam a ênfase, a pausa e o aumento da intensidade da voz.
Fonte: GONÇALVES (2000)
Boone e McFarlane (1994) apontaram a importância do uso de ênfases, de variação de
altura e de tipos de pausas para a constituição do significado da mensagem durante a
comunicação oral.
Professores utilizam a voz como principal recurso didático em sala de aula (OATES,
1984; BEHLAU e PONTES, 1995; SERVILHA, 1998) necessitando, portanto, fazer o uso
adequado dos recursos vocais de modo a garantir a compreensão da mensagem emitida. O uso
variado destes recursos supra-segmentais permite a integração de todos os aspectos da
comunicação humana falada.
2.10 - QUALIDADE VOCAL
O termo qualidade vocal diz respeito ao conjunto de características que identificam
determinada voz. Refere-se à impressão total criada pela voz. Embora varie de acordo com o
contexto e as condições físicas e psicológicas de cada indivíduo, mantém um padrão básico de
emissão que identifica cada ser, individualmente (BEHLAU, 2001).
As vozes podem ser classificadas como: voz rouca, áspera, soprosa, sussurrada, fluida,
gutural, comprimida, tenso-estrangulada, bitonal, diplofônica, polifônica, monótona, trêmula,
pastosa, branca ou destimbrada, crepitante, infantilizada, feminilizada, virilizada,
presbifônica, hipernasal, hiponasal e de nasalidade mista. O quadro abaixo relaciona
características de cada tipo às sensações provocadas no ouvinte (BEHLAU, 2001).
54
QUADRO 06: Qualidade Vocal
TIPO DE VOZ CARACTERÍSTICAS
Rouca - Qualidade ruidosa, geralmente relacionada a alterações orgânicas.
- Em grau severo, como sinal de esgotamento e estresse. Não confere sensação desagradável.
Soprosa
- Presença de ar não sonorizado acompanhando a voz, com presença audível de ruído durante
a fonação.
- Relacionada a quadros hipocinéticos, de fadiga vocal, inadaptações fônicas, entre outros.
- Transmite impressão de fraqueza e falta de potência.
Sussurrada
- Caso extremo da voz soprosa. Pode aparecer em casos de paralisia bilateral total abdutora
de pregas vocais ou afonia funcional por conversão psicossomática. Confere caráter intimista
ao ouvinte.
Fluida
- Voz de emissão agradável, solta e relaxada, com tendência à frequencia fundamental grave,
usada por apresentadores de telejornal e locutores de comercial. Encontrada nos casos de
edemas de mucosa. Confere caráter de sensualidade e sedução ao ouvinte.
Gutural
- Emissão tensa com predomínio de ressonância laringo-faríngea que dificulta a projeção
vocal por questões psicoemocionais, modelo vocal deficiente ou técnica vocal inadequada.
- Transmite raiva e agressividade contidas.
Comprimida - Tensa e desagradável dá a impressão de um falante de caráter rígido, com emoções contidas
e necessidade de controle da situação.
Tenso-estrangulada
- Som comprimido e entrecortado com flutuações de qualidade. Com freqüência é associada
à incoordenação pneumofonoarticulatória.
- Inteligibilidade da fala encontra-se parcial ou totalmente bloqueada.
- Transmite desespero, tensão, aflição, angústia e falta de ar.
Bitonal
- Dois tipos diferentes de sons, como se fossem duas vozes pelo desnivelamento das pregas
vocais no plano horizontal.
- Sensação de estranheza e indefinição de personalidade ou sexo do falante.
Diplofônica
- Dois sons diferentes. A voz é decorrente de duas estruturas compondo a fonte geradora do
som.
- Sensação de estranheza. Em casos muito graves, pode dar a sensação de medo ou de que a
pessoa está gravemente doente.
Polifônica
- Condição máxima de irregularidade na qualidade vocal com presença de rouquidão,
soprosidade, aspereza, diplofonia, entre outros.
- Pode afligir o ouvinte de modo a levá-lo a interromper a fala.
Monótona
- Mono altura, mono intensidade ou padrões de altura e intensidade repetitivos.
- Não atrai a atenção do ouvinte e pode comprometer a comunicação e evidenciar quadros
depressivos ou neurológicos.
Trêmula - Variações da frequencia fundamental com a sensação de instabilidade à emissão.
-sensação de fragilidade, sensibilidade excessiva, indecisão, medo e senilidade.
55
Pastosa
- Imprecisão articulatória e redução da ressonância orofaríngea.
- Encontrada em crianças com hipertrofia de amídalas palatinas e em indivíduos intoxicados
por ingestão excessiva de álcool, quadros neurológicos e obesos.
- Impressão de falta de maturidade psicoemocional e limitações mentais.
Branca ou Destimbrada
- Redução das características melódicas e espectrais da emissão.
- Poucos harmônicos, tom geralmente grave, gama tonal restrita.
- Possibilidades de inflexão vocal, volume e projeção no espaço restritas.
- Expressa timidez e introversão, falta de interesse e de energia.
Crepitante - Tom grave, intensidade reduzida.
- Provoca estranheza, medo, aflição. Pode parecer assustadora e vinda do sobrenatural.
Infantilizada
- Tom agudo não condizente com a idade do falante ou à sua maturidade psicoemocional.
Pode representar a imaturidade do indivíduo.
- Transmite ingenuidade do falante, falta de amadurecimento psicológico.
Feminilizada
- Tom agudo, de origem quase sempre psicológica. Encontrada em rapazes com disfonia da
muda vocal por dificuldade de aceitação das responsabilidades do adulto que mantém vozes
infantis; pode ocorrer em homossexuais masculinos acompanhada de curva melódica
excessivamente variada e confere aos falantes características femininas.
Presbifônica - Grau variado de deterioração que se caracteriza pela falta de sustentação de frequencia,
intensidade e qualidade da emissão com constantes quebras de sonoridade.
Virilizada - Tom grave em mulheres com edema de Reinke.
- Em alguns quadros de menopausa e de ingestão de hormônios masculinos.
Hipernasal
- Uso acentuado da cavidade nasal com contaminação dos sons orais.
- Encontrada em indivíduos com fissuras labiopalatinas ou com inadequações velofaríngeas.
- Sensação de afetividade, carinho e sensualidade quando o grau de alteração é discreto.
Hiponasal e com nasalidade mista
- Qualidade abafada, pobre em harmônicos, sem amplificação do som laríngeo básico.
Fonte: BEHLAU (2001)
Trabalhos preventivos, de orientação sobre técnica e saúde vocal, instrumentam os
profissionais que dela fazem uso diário, minimizando o aparecimento de lesões e o
comprometimento da didática em sala de aula, melhorando não só o padrão de comunicação
mas, também, a qualidade vocal.
Alguns cuidados são sugeridos por Behlau (1995) e Stier (2004) para manter uma boa
voz. Entre eles destacam-se: não fumar, beber aproximadamente dois litros de água por dia,
evitar bebidas geladas, manter boa postura corporal ao falar, falar articulando bem quando
precisar falar em ambientes muito ruidosos evitando aumentar o tom de voz, não usar
56
pastilhas ou bebidas alcoólicas ao falar, pois estas mascaram a dor do esforço vocal
funcionando como anestésicos.
O ruído de fundo das salas de aula, a demanda vocal, acústica inadequada e a distância
entre os falantes são alguns dos fatores que, associados à falta de técnica e à baixa resistência
vocal, contribuem para as alterações de voz em professores.
2.11 VOZ E SAÚDE
A produção normal da voz pressupõe a existência harmônica entre o mecanismo
respiratório, ressonador e vocalizador, pois qualquer desajuste ou mau funcionamento de um
destes mecanismos poderá ocasionar produção alterada da voz (WILLIAMS, 2003).
A ocorrência de problemas vocais entre professores é frequente e crescente e diversos
fatores podem contribuir para isso, dentre eles o aumento do tamanho das salas de aula, do
número de alunos, a competição com o ruído interno e o externo, o aumento da jornada de
trabalho, o estresse entre outros.
Simberg (2004) realizou pesquisa envolvendo professores e estudantes universitários
de Pedagogia, tendo como objetivo investigar a prevalência de sintomas e desordens vocais
entre eles e de desenvolver um programa de intervenção precoce incluindo teste de triagem e
grupo de terapia vocal para os estudantes que apresentassem alguma desordem vocal.
Os resultados dos questionários aplicados aos professores foram comparados com os
de Pekkarinen e Viljanen. (1992) que coletados em 1988. Houve aumento na proporção de
professores com queixas de sintomas vocais, assim como aumentou a proporção de
professores com duas ou mais queixas, sugerindo um aumento na ocorrência de desordens
vocais nesses profissionais. A terapia de voz realizada em grupo com alunos identificados
como portadores de problemas de voz, na triagem vocal, mostrou-se método efetivo para o
tratamento de problemas vocais detectados precocemente. Os níveis de ruído das salas
analisadas variaram entre 40 e 58 dB(A) e indicaram que os professores necessitavam de
esforço maior para falar.
57
Professores referem, com frequencia, dificuldades para lidar com o ruído em salas de
aula. Araújo (2006), ao investigar a qualidade de vida de professores com queixas vocais,
observou que 54% da população pesquisada apresentava dificuldades no trabalho por causa da
voz, 29,4% necessitava repetir o que falava para ser compreendido; 58,8% dos professores
referiram dificuldade em falar forte ou de ser ouvido em ambientes ruidosos. Estes resultados
confirmam a necessidade de promover a saúde do professor, incluindo a saúde vocal, no
ambiente escolar.
As pesquisas relacionadas aos problemas de saúde dos professores apontam a
prevalência de distúrbios vocais relacionados ao trabalho. A competição sonora, em salas de
aula, realizada de forma inadequada e em decorrência de elevados níveis de ruído ambiental
vem sendo identificada como uma das causas mais freqüentes de disfonias em professores
(ARAÚJO, 2006; BEHLAU, 2001; BEHLAU; DRAGONE; NAGANO, 2004; GIANINNI;
PASSOS, 2006).
Estudo realizado por Motta, Cunha, Crato e Oliveira (2004) com professoras de uma
creche de Belo Horizonte revelou que, aproximadamente 60% delas já tiveram ou têm
problemas de voz, 85% referiram rouquidão, 37% sentiam dor ao falar, 20% faziam esforço
ao falar, 75% tinham o hábito de gritar e 23% realizavam abusos vocais.
Pinto e Furck (1988) chamam a atenção para o número de professores readaptados que
acabam por exercer outras funções nas escolas e para o afastamento deles devido à ocorrência
de problemas de voz. Muitas vezes estes afastamentos acabam gerando custos e prejuízos aos
cofres públicos e instituições de ensino com contratação de outros profissionais. A voz dos
professores torna-se vulnerável devido ao uso indiscriminado e inadequado se não forem
adotados cuidados especiais.
As atividades orais realizadas pelos professores, quando incompatíveis com a saúde
vocal, podem provocar alterações nos tecidos laríngeos ocasionando distúrbios vocais
(PINHO, 1997).
Behlau e Pontes (2001) sugerem alguns cuidados com a voz tais como:
58
• Hidratação: a ingestão de pelo menos 2 litros de água por dia melhora a lubrificação
do trato vocal permitindo que a vibração das pregas vocais aconteça livremente e sem
atrito.
• Evitar tosse seca e pigarro: ambos provocam forte atrito nas pregas vocais podendo
provocar lesões. Desta forma deve-se evitar tossir ou pigarrear.
• Evitar o uso de cigarro: a fumaça agride todo o sistema respiratório e as pregas vocais.
Ao ser tragada pode provocar tosse, edema, pigarro, aumento de secreção e infecção
laríngea.
• Evitar a ingestão de álcool: provoca desidratação da mucosa que reveste o trato vocal e
anestesia o corpo e laringe.
• Evitar o uso de pastilhas, gengibre, menthol e própolis: estas substâncias têm efeito
cicatrizante e anestésico e, portanto, mascaram sintomas de abuso vocal.
• Evitar alimentos pesados e gordurosos que dificultam a digestão e provocam
problemas digestivos.
Dar preferência a alimentos como frutas cítricas, maçãs que exigem maior número de
mastigações melhorando a articulação e ressonância. Evidencia-se, assim, a importância dos
cuidados com a voz para a prevenção de alterações que prejudicam o desempenho do
professor em sala de aula e para a manutenção da saúde a fim de evitar que quadros disfônicos
se agravem.
2.12 VOZ E AUDIÇÂO
A audição permite que o ser humano module sua voz durante a emissão. É pela
audição que regula e modula a frequencia, a velocidade e a entonação vocal.
De acordo com Buosi (2002), voz e audição estão intimamente relacionados,
considerando-se ser o ato de ouvir uma atividade complexa e elaborada, que envolve desde a
detecção dos estímulos sonoros, através dos órgãos periféricos, até sua interpretação pelo
59
sistema nervoso central. Assim, pode-se afirmar sua importância para a manutenção de um
adequado padrão vocal.
A audição tem papel fundamental na aquisição e desenvolvimento da linguagem oral,
da comunicação interpessoal. Desta forma torna-se determinante para o desenvolvimento do
padrão de emissão vocal que se modifica conforme as experiências e vivências de cada um
(PEREIRA; GARCIA, 2005).
Um indivíduo com deficiência auditiva, ainda que tenha sido oralizado precocemente,
não apresentará ritmo de fala semelhante ou igual ao ouvinte da mesma língua por não
desenvolver a capacidade de realizar feedback auditivo característico do ouvinte. Devido a
esta incapacidade o ritmo e a melodia da fala estarão alterados em comparação ao resto da
comunidade ouvinte em que está inserido.
Pinho (1990) refere que a intensidade vocal no deficiente auditivo pode estar alterada
para mais forte devido à excessiva tensão no trato vocal, por ser uma forma de se fazer ouvir.
Nos casos em que estes tem consciência da tendência de falar forte a tentativa de controle
pode reverter a situação levando a uma voz com intensidade fraca.
2.13 CONCLUSÃO: URBANIZAÇÃO, RUÍDO E VOZ DO PROFESSOR.
A revisão da literatura permitiu entender que há forte correlação entre aumento de
urbanização e aumento dos níveis de ruído, e que muitos problemas ambientais são
decorrentes do crescimento desordenado das cidades. Entre eles destaca-se a poluição sonora
que provoca sérios danos à saúde humana com prejuízos em diversas áreas.
Embora vários estudos tenham sido realizados sobre ruído nas escolas ainda existem
lacunas no conhecimento sobre a relação entre a interferência do processo de urbanização e o
aumento de ruído nas salas de aula.
Ainda que estudos sobre voz tenham sido realizados com professores nenhum deles
procurou conhecer a relação entre o aumento dos níveis de ruído externo e os
comportamentos vocais de professores.
60
Considerando-se que a profissão de professor prioriza a voz como instrumento de
trabalho, e que o processo de ensino e aprendizagem depende, mesmo que em parte, das pistas
auditivas da voz do mesmo e da clareza com que a mensagem oral é emitida, os fenômenos
externos que interferem nas condições acústicas das salas de aula devem ser estudados.
A literatura mostra que existem poucos estudos sobre o ruído na Amazônia, mais
especificamente em Belém do Pará. Em Belém, apesar do reconhecimento por parte do
governo da existência de problemas de voz dos professores, a relação entre os problemas de
voz com a localização das escolas não tem sido reconhecido. As escolas permanecem nos
corredores de intenso fluxo de veículos sem legislação que lhes garanta condições de conforto
acústico. As escolas não estão imunes ao processo de crescimento das cidades e da poluição
sonora ficando alunos e professores expostos a altos níveis de ruído que interferem na
aprendizagem.
Em termos metodológicos, a revisão da literatura mostra que a maioria dos estudos é
de caráter quantitativo, experimentais e/ou algumas pesquisas de opinião. Verifica-se uma
menor preocupação com estudos qualitativos que relacionem o crescimento das cidades às
alterações de voz e o aumento do ruído nas escolas.
As pesquisas relacionadas aos problemas vocais de professores têm sido realizadas,
em sua maioria, através de abordagens quantitativas com enfoque em alterações orgânicas.
Poucos estudos contemplam as percepções dos professores, as interferências ambientais ou o
processo de urbanização como agravantes dos problemas de saúde dos professores,
especialmente no que se refere às alterações de voz.
61
3 METODOLOGIA
3.1 EM BUSCA DE UMA NOVA ABORDAGEM METODOLÓGICA
A pesquisa buscou traçar uma metodologia que fosse capaz de compreender de que
forma o processo de urbanização e o aumento dos níveis de ruído produzidos na cidade se
interrelacionam com os problemas de voz dos professores.
Por este motivo optou-se pelo Estudo de Caso e pela abordagem qualitativa, embora o
levantamento quantitativo dos níveis de ruído interno e externo das escolas tenha sido
realizado. A pesquisa tomou como fundamental que para a análise do impacto do ruído era
necessário mensurá-lo.
Enquanto abordagem qualitativa, a análise do conteúdo tornou-se procedimento
importante para identificar e compreender as percepções dos professores sobre o ruído e as
condições ambientais como agentes que influenciam nos problemas de voz.
3.2 ESTUDO DE CASO
Ainda que o estereótipo dos estudos de caso como modelos deficientes de pesquisa
continue a existir, estes continuam sendo usados de forma extensiva em pesquisas sociais
mesmo em áreas mais tradicionais como a história, psicologia, educação e políticas públicas,
da mesma forma que são utilizados em dissertações e teses.
A literatura mostrou que a análise de casos tem sido uma constante em estudos sobre o
ruído. Considerando-se que esta pesquisa tenha a preocupação de um entendimento mais
intensivo do que extensivo sobre o impacto do ruído na voz dos professores, optou-se por este
método.
62
Yin (2005) refere que o estudo de caso, como estratégia , assim como qualquer outra,
tem vantagens e desvantagens dependendo do tipo de questão de pesquisa, do controle que o
pesquisador tem sobre os eventos comportamentais efetivos, do foco em fenômenos históricos
ou contemporâneos. Como esta pesquisa não objetiva ter controle sobre eventos
comportamentais, mas sim ampliar os “conhecimentos sobre fenômenos sociais complexos e
relacionados” (YIN, 2005, p.20), mais especificamente a influência do ruído ambiental nos
problemas de voz de professores, foi eleito o estudo de caso.
Os acontecimentos contemporâneos são ideais para estudos de caso, quando os
comportamentos relevantes não podem ser manipulados. Ainda que seja possível utilizar as
técnicas de pesquisas históricas, no estudo de caso duas fontes de evidências são
acrescentadas: a observação direta dos acontecimentos que estão sendo investigados, e as
entrevistas das pessoas que estão envolvidas no estudo, além da possibilidade de, no caso de
observação participante, ser possível a manipulação informal das evidências como artefatos e
documentos. Nesta pesquisa, particularmente, a observação direta, os questionários e o grupo
focal permitiram que o observador registrasse os comportamentos e as percepções dos
professores e confrontasse os resultados in loco, além de permitir os ajustes necessários para
reduzir viéses. A estes foi acrescentado um questionário que permitisse a triangulação na
análise dos dados levantados.
Sobre as dificuldades de generalização dos resultados, o autor chama atenção para a
questão de que os fatos científicos raramente se baseiam em experimentos únicos, e sim, num
conjunto de múltiplos experimentos que repetiram o mesmo fenômeno sob diferentes
condições.
Os estudos de caso são generalizáveis a proposições teóricas, não a populações ou
universos. Tem como objetivo generalizar e expandir teorias – generalização analítica- ao
invés de enumerar freqüências - generalizações estatísticas. Os estudos citados anteriormente
confirmam a importância e a validade do estudo de caso como recurso metodológico para a
realização desta pesquisa.
63
3.3 PESQUISA QUALITATIVA
As pesquisas quantitativas, de modo geral, seguem roteiros rígidos com base em
hipóteses e variáveis definidoras da forma operacional e com instrumental estatístico. A
pesquisa qualitativa, por outro lado, é direcionada com frequencia durante o desenvolvimento
do estudo, diferenciando-se também na forma de análise de seus resultados, evitando medir ou
enumerar eventos sem instrumental estatístico. A opção pela análise qualitativa, neste estudo,
deu-se pela necessidade de se estudar a influência do ruído decorrente da urbanização sobre a
voz, particularmente sobre a voz de professores, considerando suas percepções sobre o
crescimento da cidade e a própria produção vocal durante a atividade docente na presença de
ruído gerado dentro e fora das escolas.
A obtenção dos dados foi originada do contato direto e interativo do pesquisador com
o objeto de estudo, os professores. Estudos qualitativos geralmente costumam ser realizados
no local de origem dos dados permitindo que o investigador empregue a lógica do empirismo
científico a partir de um recorte temporoespacial do fenômeno (NEVES, 1996). Este recorte
definiu a dimensão em que o trabalho se desenvolveu, neste caso, as escolas e os professores.
Segundo Manning (1979), esta forma permitiu que se realizasse a descrição dos dados sobre
os problemas de voz, as fontes de ruído e o comportamento e as percepções dos professores,
durante o momento da coleta.
A opção pelo método qualitativo possibilitou à pesquisadora visualizar o contexto
(salas de aula de diferentes escolas) em que os professores agem e se comunicam e, quando
possível, integrou-se, de forma empática, com o objeto de estudo de forma que se obtivesse
uma melhor compreensão do comportamento vocal dos professores na presença de ruído.
Embora diferentes na forma de análise, os métodos quantitativos e qualitativos não se
excluem mutuamente. Uma pesquisa pode ter como objetivo realizar o diagnóstico de
determinado fenômeno descrevendo-o e interpretando-o e, também, explicá-lo a partir das
relações de nexo causal ou seus determinantes. Portanto, tais pontos de vista podem
complementar-se contribuindo para melhor compreensão do fenômeno estudado. Por este
motivo a mensuração do ruído interno e externo às escolas foi realizada sem prejudicar o
método principal (qualitativo).
64
Esta pesquisa entendeu que a combinação de técnicas quantitativas e qualitativas
fortaleceu a análise e minimizou os problemas relativos à adoção somente da análise de
conteúdo. Da mesma forma, as entrevistas com os sujeitos da pesquisa, característica dos
métodos qualitativos, possibilitaram à pesquisadora entender o contexto em que se produz o
ruído.
3.3.1 Análise de conteúdo
A análise de conteúdo baseia-se no uso de técnica sistemática, analisando o material
passo a passo, com controle metodológico rígido, a partir de um sistema de categorias guiado
por teoria subjacente. A análise qualitativa, neste estudo, considerou a ausência ou a presença
de determinada característica de conteúdo, ou conjunto de características, em uma fração da
mensagem, conforme Mayiring (2000) sugere. Foram considerados os aspectos relativos à
ausência e presença de fontes geradoras de ruído externo e interno, e incômodo durante as
aulas, assim como os hábitos e as queixas vocais dos professores expressos durante os grupos
focais e em conversas informais com a pesquisadora.
Os debates no grupo focal, os questionários e a observação geraram material que foi
considerado como meio de expressão dos professores, permitindo que a pesquisadora
categorizasse as palavras ou frases que se repetiam inferindo, assim, uma expressão que as
representasse, conforme Caregnato e Mutti (2006) indicam para serem realizados em análise
de conteúdo.
Assim, a análise de conteúdo foi realizada por categorias temáticas objetivando
encontrar significações detectadas pela pesquisadora através de indicadores ligados ao ruído e
voz, de modo a inseri-los numa das classes de equivalência definidas como importantes para o
estudo. Este tipo de análise se deu através de desmembramentos do texto em unidades, em
reagrupamentos analógicos.
65
Procedeu-se à análise de conteúdo a partir de três etapas conforme sugere Mayring
(2000), quais foram: sumarização, explicação e estruturação.
A sumarização se caracterizou pela redução do material a conteúdos essenciais de
modo a criar um corpus, pela abstração, que retratasse os aspectos relativos aos hábitos, às
queixas e aos sintomas vocais dos professores submetidos a diferentes níveis de ruído urbanos
durante a emissão vocal.
A explicação acrescentou material adicional a alguns segmentos do texto para
aumentar a compreensão, esclarecer e explicar algum segmento como, por exemplo, de que
maneira a voz se modifica na presença de ruídos, ou a percepção dos professores sobre as
fontes geradoras de ruído dentro e fora das salas de aula.
A estruturação permitiu que, a partir dos critérios pré-estabelecidos, aspectos como a
percepção dos professores sobre o crescimento da cidade, a interferência do ruído ambiental
nas salas de aula, os recursos vocais usados para superar o excesso de ruído nas salas e as
próprias produções de voz e suas alterações fossem filtrados, e que se fizesse um recorte
avaliando o material de pesquisa.
3.3.2 Grupo Focal
Desde os anos 80 observa-se o uso crescente da técnica de grupo focal nas pesquisas
sociais, especialmente nas pesquisas de mercado, que reelaboraram técnicas consagradas
pelas ciências sociais para captar as necessidades e desejos dos consumidores de forma a
definir padrões a serem seguidos pelas empresas em seus lançamentos futuros (CRUZ et al.,
2002). Trata-se de uma estratégia de pesquisa para a coleta de dados que passou a ser
intensamente utilizada a partir da década de 80 pelos cientistas sociais. Tornou-se bastante
conhecida por pesquisadores da área de Ciências Sociais, para a investigação de aspectos de
modo mais profundo, de forma a revelar características de um grupo e dos indivíduos que o
compõem que não seriam possíveis de evidenciar com o uso de outras técnicas. Observou-se
66
que o grupo focal objetiva compreender os fenômenos sociais utilizando estratégia indutiva de
investigação e descrevendo de forma ampla os resultados (GALEGO e GOMES, 2005).
Entendeu-se que este método era apropriado para investigar a relação entre a urbanização, o
aumento do ruído e os problemas de voz de professores.
Sua principal função foi propiciar dados que permitissem a reflexão sobre a expressão
dos professores. A idéia era captar os conceitos, impressões e concepções sobre ruído,
urbanização e problemas vocais dos professores. Assim, foi analisada a percepção dos
professores sobre a mudança no nível dos ruídos nos últimos 10 anos; assim como o
entendimento acerca dos ruídos externos e internos e suas interferências na produção vocal; a
relação entre o ruído e os hábitos, as queixas e os sintomas vocais dos professores, o ruído
externo e seu impacto sobre o ruído interno e a produção vocal.
As percepções trabalhadas no grupo focal não se restringiram a uma descrição simples
ou expositiva, uma vez que todos os pontos de vista expressos foram discutidos pelos
participantes. Dentro desta perspectiva, questões levantadas foram capazes de propiciar e
fomentar o debate entre os professores ainda que nem todos compartilhassem da mesma
opinião.
Para a análise e a interpretação dos dados a pesquisa considerou o que Galego e
Gomes (2005) sugerem em termos de observação de ações e atitudes. A pesquisadora fez
parte da discussão e observou as expressões faciais, o tom de voz usado pelos participantes, o
contexto das falas e o clima da discussão, além dos hábitos, das queixas e dos sintomas
vocais.
Os debates foram gravados e transcritos e elaborado um plano para a descrição das
falas com apresentação das idéias destacando-se as diferenças entre as opiniões e os discursos
do grupo focal.
A análise dos dados destacou o que a pesquisa considerava relevante e relacionou ao
ruído, aos hábitos e às queixas vocais dos professores. Identificou as idéias principais que
suportaram as discussões, fazendo a pesquisadora buscar tendências e formular tentativas de
conclusões sobre as relações encontradas.
67
Especial cuidado foi dado ao relatório final com os resultados de modo que se evitasse
generalizações e acentuasse as relações entre os dados levantados de acordo com as
interpretações dos indivíduos que participaram do grupo.
3.4 SELEÇÃO DAS UNIDADES DE ANÁLISE: ESCOLAS E PROFESSORES
3.4.1 As escolas
O estudo foi realizado em duas escolas que oferecem ensino de nível fundamental, por
tratarem-se de classes com um único professor garantindo-se, assim, que o professor estivesse
na mesma sala durante toda a jornada de trabalho, e localizadas em vias com diferentes níveis
de ruído urbano de forma que se pudesse comparar os problemas vocais em professores
submetidos a níveis de ruído distintos. Para tanto, foram selecionadas duas escolas com
características construtivas opostas e localizadas em espaços urbanos com diferentes níveis de
ruído. Desta forma foi possível garantir que as salas de aula sofressem interferência do ruído
urbano de forma diferenciada.
Para a localização das escolas foram considerados os dados do Mapa de Ruídos de
Belém - Fase III (MORAES, 2008). Por se tratar de trabalho com dados atualizados sobre as
condições acústicas da cidade de Belém, a utilização do mapa acústico permitiu agilidade no
processo de escolha das áreas urbanas a serem estudadas, evitando que se consumisse longo
tempo com medições nas ruas da cidade em que as mesmas estão localizadas, precisamente
em pontos próximos das portas principais das escolas.
As escolas selecionadas estão localizadas em bairros com níveis de ruído e
características construtivas distintas. Esta escolha se deu para garantir a identificação da maior
e menor interferência do ruído advindo de tráfego de veículos, de pessoas circulando ou
conversando nas proximidades. Estão localizadas em áreas urbanas com diferentes funções no
perímetro urbano de Belém.
68
A via em que está localizada a escola particular se caracteriza por ter uso do solo,
predominantemente habitacional, com alguma presença de órgãos públicos. Situa-se entre
duas vias de grande movimento (Avenida Almirante Barroso e Avenida Duque de Caxias)
sem ser, no entanto, afetada por elas. Trata-se de um bairro com densidade demográfica bruta
inferior (130,5 hab/ha.) ao que está localizada a escola pública. (IBGE, 2000).
A localização da escola particular e o mapa acústico do bairro em que se localiza
encontram-se na figura que se segue.
Figura 3: Mapa Acústico (9h-10h) e Localização da Escola Particular Fonte: Mapa Acústico de Belém (2004) entre 9 h e 10 h e imagem disponibilizada pelo Google Earth.
A área em que se localiza a escola pública se caracteriza como corredor de comércio e
serviços, sendo uma via importante na ligação centro-periferia da cidade e, assim, o uso do
solo lindeiro5
5 Relativo às margens.
é composto por estabelecimentos comerciais e de serviços. A via se caracteriza
por ter grande movimento de veículos; não só por ser ligação centro-periferia como, também,
pela atração de veículos causada pelo próprio uso do solo. Além do mais é uma via importante
para o fluxo de ônibus, considerando que passa por bairros de elevada densidade demográfica
bruta de 191,5 hab/ ha. (IBGE, 2009; CODEM, 2000).
69
A localização da escola pública e o mapa acústico do bairro em que se localiza
encontram-se na figura que segue.
Figura 4: Mapa acústico do bairro Telégrafo (9h-10h) e localização da Escola Pública. Fonte: Mapa Acústico de Belém (2004) e imagem disponibilizada pelo Google Earth.
Os critérios de inclusão das escolas nesta pesquisa estão sintetizados no quadro
abaixo.
QUADRO 07: CRITÉRIOS DE INCLUSÃO DAS ESCOLAS
ESCOLA LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS
Pública
Via urbana com intenso fluxo de veículos e pessoas circulando; próxima de pontos de ônibus; via com ruído acima de 75 dB.
Sem janelas ou portas, apenas grades de ferro; Ventiladores no teto; salas de aula próximas da via; Presença de ruídos internos e do entorno; Mais de trezentos alunos; Salas de aula localizadas próximas à via e sujeitas a maior interferência do ruído e padronizadas quanto ao volume da sala e número de alunos.
Particular
Via urbana com pequeno fluxo de veículos e pessoas circulando; longe de esquinas e de pontos de ônibus em via com baixo fluxo de veículos, com obstruções; via com ruído de 68 dB.
Janelas fechadas com cortinas; Salas climatizadas com ar condicionado tipo Split no teto; Ausência de ruídos externos; Com mais de trezentos alunos; Salas de aula localizadas longe das vias e sujeitas a menor interferência do ruído; Padronizadas quanto ao volume da sala e número de alunos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
70
3.4.2 Os professores
A pesquisa qualitativa indica que um estudo intensivo não requer uma amostra
extensa. Por isso definiu-se a análise de 20 professores como suficiente. A definição por este
número de professores deu-se pela necessidade da permanência do pesquisador em cada sala
de aula, para observar os professores durante a atividade docente de modo que seus
comportamentos e hábitos vocais pudessem ser analisados e comparados com os dados
obtidos nos questionários e grupo focal.
Fizeram parte deste estudo vinte professores das quatro séries iniciais do ensino
fundamental, do município de Belém-PA, de primeira a quarta série, por serem classes com
um único professor.
A amostra foi composta por dez professoras de cada escola, todas do sexo feminino,
de diferentes idades e com mais de cinco anos atuando como docentes.
Foram excluídos os professores de educação física por trabalharem fora das salas,
normalmente em espaços abertos. Para os professores que trabalham em mais de uma escola
foi solicitado que respondessem às perguntas tendo como referência, apenas, a que estava
sendo estudada.
Durante a observação o pesquisador pôde observar e registrar os ruídos presentes nas
salas durante o período e as atitudes dos professores neste contexto.
3.4.3 Caracterização das escolas analisadas
3.4.3.1 A escola pública
A caracterização das escolas analisadas está baseada no primeiro levantamento de
campo realizado pela pesquisadora. Neste levantamento priorizou-se a observação e a
71
descrição das escolas, realizou-se a contagem de veículos em frente às mesmas (para tal
utilizou-se um contador manual). Mediu-se o ruído interno das escolas, particularmente das
salas de aula, utilizando um sonômetro de precisão NL 15 e NL 27 conforme detalhado
anteriormente na seção 3.5.1.
A escola localizada em espaço urbano mais ruidoso é pública, estadual, de ensino
fundamental, construída próximo à calçada, com salas de aula sem janelas ou portas de
madeira. Conta com 90 professores, 708 alunos no turno da manhã, 30 funcionários.
Nas janelas e portas há apenas grades de ferro sem vidro e sem estrutura em madeira.
Internamente às salas encontram-se cadeiras de ferro e madeira, quadro de giz, uma mesa de
madeira para a professora, quatro ventiladores de teto em metal e quatro luminárias de luz
fluorescente. Nas paredes das salas há alguns cartazes em cartolina confeccionados por alunos
e professores.
As salas de aula são padronizadas quanto ao tamanho e ao número de carteiras e
apresentam medidas internas de 25,2m2
.
Durante as aulas ouve-se, constantemente, buzinas de carros, motocicletas, pessoas
circulando e conversando, ruídos provenientes da oficina de carros localizada no entorno. Há
presença constante de ruído gerado por frenagens e arrancadas de ônibus devido à localização
de uma parada na frente da escola. Somam-se a estes ruídos aqueles gerados pelos alunos,
funcionários, o arrastar de cadeiras, a queda de material, característicos de escolas em
funcionamento.
A contagem do número de veículos que circulavam na avenida em que está localizada
a escola foi realizada usando-se quatro contadores manuais durante 10 minutos. Cada
contador foi utilizado para registrar a presença de motocicletas, carros de médio porte, grande
porte, ônibus e caminhões.
72
Figura 05: Visão da parada de ônibus em frente à escola Fonte: acervo do autor
Figura 06: Visão do Comércio e Serviços Fonte: acervo do autor
Figura 07: Visão da avenida, dos ônibus e dos veículos Fonte: acervo do autor.
Figura 08: Visão do comércio e veículos. Fonte: acervo do autor.
No período coletado de dez minutos foram registrados 176 carros pequenos, 154
carros grandes, 38 motocicletas e 83 caminhões e ônibus. O nível médio de ruído na via foi
aproximadamente 75 dB nos horários compreendidos entre 8 horas e 11 horas da manhã, de
segunda a sexta-feira.
A figura 09 mostra uma sala de aula da escola pública. Nota-se a ausência de portas e
janela que minimizariam a entrada do ruído gerado externamente.
73
Figura 09: Visão frontal da sala de aula de escola pública localizada em via urbana com altos níveis de ruído Fonte: acervo do autor.
3.4.3.2 A escola particular
A escola localizada em espaço urbano menos ruidoso é particular, de ensino
fundamental, construída longe da calçada, com salas de aula com janelas protegidas por
cortinas e portas de madeira, conforme mostra a fotografia abaixo.
A figura 10 mostra uma sala de aula padrão da escola, com portas e janelas fechadas
e ar condicionado.
Figura 10: Visão interna da sala de aula de Escola Particular localizada em via Urbana com Baixos Níveis de Ruído Fonte: Colégio Ipiranga.
74
Internamente encontram-se cadeiras de ferro e madeira, quadro branco, uma mesa de
madeira para a professora, todas climatizadas com condicionador de ar do tipo split. Nas
paredes encontram-se cartazes em cartolina confeccionados por alunos e professores, suporte
para mochilas e merendeiras. A escola conta com 19 professores, 344 alunos, 20 funcionários,
31 estagiárias, uma quadra de esportes e uma cantina.
As salas de aula não são padronizadas quanto ao tamanho e ao número de carteiras.
Por este motivo foram medidos os Tempos de Reverberação de três salas de tamanhos
diferentes. As salas de aula apresentam as seguintes medidas internas: 29,8 m2; 24,0 m2 e
32,76 m2, com tempos de reverberação de 2,47 s; 1,82 s e 2,49 s, respectivamente, valores
acima dos recomendados pela norma.
Durante as aulas ouvem-se apenas os ruídos produzidos pela movimentação das
crianças, cadeiras sendo arrastadas e queda de materiais característicos de salas de aula, tais
como canetas, lápis, apontador, livros etc. Não se ouve presença de ruído nos corredores,
exceto nos horários de recreio e de entrada e saída dos alunos. A circulação de funcionários
ou alunos é pequena e, quando ocorre, não produz incômodo nas salas.
Os níveis de ruído gerados pela campainha e microfone não interferem nas aulas uma
vez que só acontecem durante os horários de entrada e saída das crianças. Do mesmo modo os
ruídos de buzinas e de trânsito de veículos só são intensos nestes horários não
comprometendo a dinâmica vocal durante as aulas.
A contagem do número de veículos que circulavam na avenida em que está localizada
a escola foi realizada usando-se quatro contadores manuais durante 10 minutos. O nível
médio de ruído na via é de aproximadamente 68 dB.
Cada contador foi utilizado para registrar motocicletas, carros de médio porte, grande
porte, ônibus e caminhões em circulação na via durante o período das aulas, pela manhã.
75
No intervalo de dez minutos em que foi realizada a coleta foram registrados 30 carros
pequenos e 6 motocicletas, número bem inferior ao encontrado na via em que está localizada
a escola estadual.
Figura 11: Visão da via em que se encontra a escola Fonte: acervo do autor.
Figura 12: Visão dos Órgãos públicos localizados nas proximidades. Fonte: acervo do autor.
3.5 COLETA, ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS6
O Mapa Acústico de Belém utilizou uma quadrícula de 400x400 metros, tamanho
considerado em conformidade com a precisão e com o número de pontos a serem medidos.
Desta forma não foi necessário realizar a medição dos níveis de ruído externo às escolas. As
quadrículas foram sobrepostas ao mapa da cidade partindo desde a extremidade inferior
esquerda, utilizando letras do alfabeto no eixo das ordenadas e números nas abscissas,
gerando, na primeira etapa do trabalho, um total de 246 pontos de medida, dentro da 1ª Légua
3.5.1 Níveis de ruído
Para a identificação dos níveis de ruído do entorno foram utilizados os dados gerados
pelo Mapa Acústico de Belém - Fase III (MORAES, 2008), conforme explicado no item 3.4.1
deste capítulo.
6 Antes de iniciar a coleta de dados o projeto foi encaminhado para apreciação do Comitê de Ética em pesquisa da Unama tendo sido aprovado em 27/06/2008, sob protocolo nº. 200746/08.
76
Patrimonial de Belém. As medições dos níveis de ruído foram realizadas durante 15 minutos
em cada ponto e de acordo com a norma ISO 1996/2, obedecendo aos afastamentos mínimos
do piso (de 1,20m a 1,50m) e das superfícies refletoras verticais (não inferior a 3,50m), sendo
corrigida em 3 dB no caso de distância inferior a referenciada. Não foram realizadas medições
em momentos nos quais as condições climáticas eram adversas, como chuva e ventos fortes,
para evitar interferências destes nos resultados (MORAES, 2004). A figura 13 ilustra a forma
como as quadrículas foram superpostas ao mapa da cidade com os pontos de medição.
Figura 13: Mapa das quadrículas com os pontos de medição. Fonte: MAB – Mapa Acústico de Belém.
Antes de iniciar as medições dos níveis de pressão sonora (NPS) internos das salas de
aula, a pesquisadora permaneceu na escola por uma semana com o objetivo conhecer o
ambiente sonoro em que as mesmas estavam inseridas, de modo a identificar os ruídos
advindos da própria escola e do entorno que pudessem ser percebidos durante as aulas.
Esta prática permitiu à mesma conhecer os melhores momentos para realizar as
medições e confirmar as percepções dos professores apontadas nos diferentes momentos da
coleta (questionário e grupo focal).
As medições dos níveis de pressão sonora internos foram realizadas considerando-se o
ruído ambiente através do Sonômetro de precisão NL18 e NA27. Foram respeitadas as
77
recomendações da NBR 10.151 particularmente no que concerne à localização do aparelho a
1,20m de altura do solo com, no mínimo 2,0 m de afastamento de qualquer barreira como
paredes, com distância mínima do operador a 0,50m.
As medições internas aconteceram com todos os equipamentos calibrados pelo órgão
competente7 há, no mínimo um ano, de segunda a sexta-feira, em intervalos regulares com
duração de cinco a 10 minutos, antes e depois do recreio. Este período foi escolhido em
virtude dos horários de funcionamento das escolas e da ocorrência de intenso fluxo de
veículos durante a semana. Foram coletados os Lmax, Lmin, Leq,
A área de absorção equivalente da sala receptora foi determinada pela análise do
tempo de reverberação. Para o cálculo colocou-se o microfone e uma fonte geradora de ruído
alimentada com ruído rosa
com ponderação “A”.
8
A identificação dos hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos professores, e a
percepção dos mesmos acerca dos ruídos e sua interferência na sala de aula e na própria
produção vocal
(nas freqüências de 80 Hz a 5.000 Hz) na sala receptora. A
medição foi realizada com as salas totalmente fechadas e desocupadas utilizando-se o método
de decaída do nível de pressão sonora. Foram realizadas 04 (quatro) medições variando-se a
posição do microfone nos diferentes pontos e mantendo-se a fonte fixa com o mesmo nível de
intensidade sonora. A adoção de quatro pontos de medição deu-se pela necessidade de
determinar uma média destes tempos que caracterizam a sala analisada.
3.5.2 Hábitos, queixas e sintomas vocais.
9
7O órgão responsável pela calibração é o IMMETRO. 8 Ruído de espectro contínuo cujo nível por bandas de terço de oitava é constante. Num nível de nível em dB/Hz, toma a forma de uma reta descendente na razão de 3 dB/oitava (TEJEDA; ARRANZ, 2005). 9 Após a leitura do termo de consentimento livre e esclarecido para os professores garantindo a compreensão, por parte dos mesmos, dos termos nele contidos. Após se certificar e tirar todas as dúvidas dos mesmos solicitou suas assinaturas em duas vias, entregando-lhes uma delas. Somente após este procedimento foram entregues os questionários.
foi realizado a partir de um questionário. Este continha perguntas acerca dos
hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos professores ao ministrar aulas, durante os
intervalos e em conversações livres no local de trabalho, e aplicados antes dos encontros para
o grupo focal, evitando-se, assim, que respondessem aleatoriamente às perguntas e
78
comprometessem a fidedignidade dos dados (Apêndice 1). Na seqüência, realizou-se a
observação estruturada e o grupo focal.
A observação se deu em três momentos distintos: na sala de aula, no grupo focal e nos
intervalos de aula, dentro da escola. A dinâmica das aulas e dos professores determinou o
número de dias necessários para concluir a observação. Este método de coleta permitiu ao
pesquisador melhor observação dos hábitos vocais no local de trabalho sujeito às
interferências do ruído e confirmou os dados levantados através do questionário.
O grupo focal foi realizado nas escolas pelas mesmas razões e permitiu, ainda, que a
pesquisadora identificasse as percepções dos professores acerca do ruído e sua interferência
na sala de aula e na própria produção vocal. Para a sua realização foram pré-definidos os
temas das discussões, quais sejam: as percepções individuais sobre os tipos de voz,
localização das escolas, incômodos gerados pelo ruído, percepção dos sintomas e motivos que
levam às diversas formas de produção vocal (Apêndice 2).
Cada encontro teve duração de aproximadamente uma hora e meia até que se
esgotassem as discussões com os professores. Da mesma forma que a observação, o número
de encontros foi determinado pela dinâmica dos professores. Para que fosse mantido o
anonimato em todas as etapas da pesquisa não houve identificação pessoal nos questionários.
Como houve necessidade de gravação durante a coleta dos dados, a pesquisadora se
comprometeu a minimizar os riscos de perda de confidencialidade.
3.6 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Os resultados obtidos pelas medições dos níveis de ruído interno e externo foram
realizadas quantitativamente, utilizando-se planilhas Excel e aplicativo MATLAB. Para a
análise dos dados capturados na observação, questionários e grupo focal utilizou-se a técnica
de análise de conteúdo. Os dados derivados dos questionários foram analisados tanto
qualitativamente, quanto quantitativamente. No entanto, admite-se que pela amostra de
professores levantados, os resultados dos dados quantitativos precisam ser relativizados.
79
Por tratar-se de pesquisa qualitativa, foi utilizada a técnica de triangulação para a
coleta e análise de dados, permitindo maior confiabilidade no resultado da investigação
durante a análise. Foram triangulados os dados coletados através do questionário, da
observação e do grupo focal.
Os dados gerados pelas medições dos níveis de ruído foram comparados com os
gerados pelo questionário. Procurou-se relacionar os níveis de ruído às queixas de forma
qualitativa.
De posse dos dados gerados nas observações e no grupo focal procurou-se entender
como o ruído externo tem influência nos hábitos, nas queixas e nos sintomas vocais dos
professores através do método qualitativo de análise de conteúdo, considerando-se as
representações individuais sobre voz, os incômodos gerados pelo ruído durante as aulas, a
relação entre o crescimento da cidade e o aumento do ruído.
3.7 A PESQUISA DE CAMPO: ASPECTOS POSITIVOS E LIMITANTES
A opção pela pesquisa de campo em escolas ruidosas e silenciosas demandou muito
tempo para a realização da coleta dos dados empíricos em função do grande número de salas
de aula para realizar as medições de ruído e tempo de reverberação.
Por se tratar de ambiente escolar, foi necessário adequar os horários à disponibilidade
dos professores e do funcionamento e calendário escolar, sendo necessário adiar a coleta
diversas vezes, o que demandou maior tempo para a coleta.
A realização do grupo focal, embora pareça simples, foi particularmente difícil na
escola estadual. Eventos como provas de vestibular, festas de encerramento, feiras etc.,
aliados a pouca disponibilidade dos professores e da direção, atrasaram o processo e
dificultaram a coleta de dados. Quanto aos aspectos relacionados às percepções dos mesmos
sobre a própria produção vocal e a atividade docente houve a necessidade de maior esforço
por parte da pesquisadora para capturar as percepções dos mesmos, fazendo-se necessário
80
realizar um número maior de visitas de observação para comprovar suas opiniões e
percepções.
A opção pelo uso de mais de uma técnica de coleta permitiu à pesquisadora confrontar
e comparar os dados à medida que iam sendo coletados, de modo que os ajustes puderam ser
feitos durante o processo. Este recurso permitiu que as dificuldades encontradas durante a
coleta fossem superadas e os dados levantados fossem confirmados. As dificuldades acima
apresentadas não impactaram negativamente no resultado da pesquisa.
A interferência da presença da pesquisadora dentro das salas de aula pode ser
minimizada no grupo focal e nos questionários.
3.8 CONCLUSÃO: VANTAGENS E DESVANTAGENS DA OPÇÃO METODOLÓGICA
ADOTADA
A escolha pelo estudo de caso múltiplo como método de pesquisa exigiu da
pesquisadora muito tempo para a realização da coleta, considerando-se a localização das
mesmas em espaços urbanos afastados um do outro. Não obstante a localização, o número de
professores e a necessidade de observá-los durante a atividade docente, a aplicação de
questionário e a realização de grupo focal demandaram esforço maior para a realização da
coleta.
No entanto, as dificuldades foram superadas com a ajuda de voluntários para a
realização de dois grupos focais na escola estadual em horários que antecedessem o início das
aulas, a contagem de veículos e a medição dos níveis de ruído de cada uma das 20 salas de
aula.
Em contrapartida, a realização da observação direta durante as aulas permitiu que os
comportamentos vocais dos professores durante as aulas, assim como os ruídos mais
frequentes fossem observados e analisados em tempo real e no contexto do evento. Assim, os
dados capturados através do questionário e do grupo focal puderam ser confirmados,
81
minimizando a ocorrência de resultados com vieses devido ao tamanho da amostra ou da
presença da pesquisadora.
O uso de mais de uma técnica de coleta possibilitou o desenvolvimento de linhas de
investigação convergentes de modo que as conclusões se mostrassem convincentes e
acuradas, pois os fenômenos puderam ser corroborados pela recorrência. Deste modo, foram
minimizadas as possibilidades de vieses e o construto foi validado.
82
4 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SEUS IMPACTOS NA ESCOLA
4.1 INTRODUÇÃO
A emissão de ruídos nas zonas urbanas vem sendo considerada um dos principais
problemas atuais por gerar incômodos, irritação e insegurança, agredindo o ser humano por
inteiro e o ambiente em que este está inserido. O ruído urbano afeta a todos de forma
indiscriminada e de diferentes maneiras, tanto na saúde e no trabalho, quanto nas atividades
de lazer. Seus efeitos são produzidos silenciosamente, sem que os indivíduos se dêem conta.
Neste capítulo são discutidos e analisados os resultados referentes aos níveis de ruído
interno e externo das salas de aula das duas escolas analisadas, particularmente os ruídos
resultantes do processo de urbanização, tais como o de motores de veículos, o elevado número
de pedestres, os estabelecimentos comerciais e os órgãos públicos. Visa a caracterizar as
condições acústicas do interior das salas e a influência do ruído gerado nas vias. Assim, são
considerados ruídos externos aqueles produzidos no entorno da escola e advindos do trânsito,
de pessoas circulando, de indústrias e serviços que se encontram nas proximidades das
escolas.
Os impactos dos diferentes níveis de ruído do entorno foram analisados considerando-
se a legislação e as normas vigentes, além da percepção dos professores.
4.2 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO
Como destacado no segundo capítulo, junto ao crescimento das cidades surgem
problemas que afetam a qualidade de vida e o meio ambiente, entre eles o ruído urbano ou
comunitário que pode ser gerado pelas indústrias, comércio, serviços e veículos, entre outros.
83
Internamente às escolas são produzidos ruídos que se somam aos produzidos externamente,
podendo interferir na inteligibilidade da fala e na voz dos professores (LUZ, 2000; CARMO,
1999; MEDEIROS, 1999).
Para a análise dos níveis de ruído externo foram considerados os dados gerados pelo
Mapa Acústico de Belém - Fase III (MORAES, 2008), conforme explicado no terceiro
capítulo.
As medições realizadas na via em que se encontra a escola particular (menos exposta)
identificaram Leq de 68 dB na porta da escola. Para a escola pública foi verificado Leq de 75
dB.
Identificou-se que nas duas escolas os níveis de ruído apresentam-se superiores aos
recomendados pela NBR 10152 de 40 dB (A), descrito na seção 2.6 do segundo capítulo.
Estes resultados confirmam os estudos de Eniz (2004), que mostram que as escolas com
maiores níveis de ruído interno localizam-se em vias com intenso fluxo de veículos e com
níveis entre 70 e 100 dB(A) decorrente do tráfego de aeronaves nas imediações. Nas escolas
pesquisadas em Belém o nível de ruído interno foi de 68 dB (A) na escola particular (menos
exposta ao ruído) e 75 dB (A) na escola pública (mais exposta ao ruído). Em ambos os casos
os níveis de ruído encontraram-se acima do especificado pela NBR 10.151 que indica 50 dB
(A) durante o dia.
A figura 14 mostra o comportamento do nível de ruído por frequencia nas duas
escolas. A figura 15 mostra a diferença de níveis de ruído entre as duas escolas. A
comparação dos níveis de ruído das duas escolas mostrou que na escola mais exposta há,
aproximadamente, 15 dB de ruído acima da escola menos exposta, na frequencia de 1000 Hz.
Um aumento (ou redução) de 1 dB na relação sinal/ruído pode acarretar reduções (ou
aumentos) de até 21% na inteligibilidade de fala, na presença de ruído gaussiano branco, e de
3,5% na presença de ruído de tráfego urbano (ARAÚJO, 2009).
84
Figura 14: Nível de Ruído por frequencia nas duas escolas Fonte: Elaborado do autor.
Figura. 15: Diferença de níveis de ruído entre as duas escolas. Fonte: elaborado pelo autor.
Na faixa de frequencia de 600 Hz a 4000 Hz a diferença se mantém acima de 10 dB,
com exceção da faixa de 2000 Hz em que a diferença é de 8 dB. Nesta faixa, onde se
concentram os sons da fala, o ruído é mais intenso tornando-se competitivo. A análise
espectral indica que as componentes espectrais se superpõem às componentes espectrais do
sinal de fala, portanto, podem efetivamente prejudicar a inteligibilidade de fala (ARAÚJO;
85
MORAES; ARAÚJO; MACHADO e SILVA, 2008), tornando a situação das escolas ainda
mais grave.
Os resultados confirmam os estudos de Eniz e Garavelli (2006), realizado em escolas
do Distrito Federal, e Rinaldi (2005), em escolas de Joinville, Santa Catarina, que o ruído está
acima do tolerável e aceitável. Nas escolas do Distrito Federal as fontes de ruído mais
evidenciadas foram de tráfego de aviões, carros de passeio e propaganda, caminhões, ônibus e
bicicletas. As salas de aula apresentaram níveis de ruído interno entre 81,8 dB e 84,7 dB. A
pesquisa de Rinaldi (2005) identificou salas de aula com níveis de ruído também acima do
tolerável, tendo o trânsito e as conversas dos alunos como principais fontes geradoras de
incômodo.
A ausência de pesquisas sobre ruído nas escolas de Belém exigiu a comparação dos
resultados com estudos feitos em outras cidades. No entanto, as condições das escolas
analisadas se assemelham, considerando-se que, tanto aqui quanto nas outras cidades, as salas
de aula encontram-se fora dos padrões de conforto acústico para as atividades a que se
destinam. Para zonas residenciais urbanas a NBR 10151 estabelece níveis aceitáveis de ruído
urbano de 50 dB (A) no período diurno. Para ambientes internos a NBR 10152 estabelece
níveis de ruído em salas de aula de 55 dB (A).
Durante a observação do entorno da escola mais exposta verificou-se a presença de
intenso fluxo de veículos, intensa atividade comercial e circulação de pessoas. A contagem
dos veículos revelou uma média de 2500 veículos por hora circulando na via.
Por outro lado, na via em que se localiza a escola menos exposta a ocorrência de fluxo
de veículos, durante o período observado, foi muito pequena, assim como a circulação de
pessoas ou ambulantes. Considerando-se que o nível de ruído interno da escola particular é
menor do que o da escola pública e, considerando ainda, que o número de veículos também
foi menor no entorno da escola particular, entende-se que a localização das escolas é fator
relevante para as condições acústicas internas das salas de aula. Como as condições acústicas
internas das salas de aula são determinantes para a produção da voz de professores, a relação
entre a localização da escola, o ruído interno e as condições acústicas das salas de aula é
evidente.
86
4.3 OS NÍVEIS DE RUÍDO EXTERNO E INTERNO DAS SALAS
Para a análise e discussão dos níveis de ruído externo e interno foram considerados os
dados coletados nas medições, no questionário, nas observações no local e no grupo focal.
Observa-se que nas escolas pesquisadas os níveis de ruído estão acima dos
recomendados pela OMS (WHO, 1999), que preconiza níveis de ruído de fundo em sala de
aula da ordem de 35 dB (A).
De acordo com Grandjean (1998), quando se usa a voz profissionalmente com a
finalidade de troca de informações ou ditados, esta não deve ultrapassar o limite de 65 a 70
dB (1m de distância). Uma pressão sonora vocal de 10 dB, acima do nível de ruído da sala,
possibilita uma compreensão da frase ou seu sentido de 93% a 97%. Na troca de informações
não conhecidas profundamente (exemplo, sala de aula), os níveis de pressão sonora da voz
devem alcançar pelo menos 20 dB acima do ruído de fundo.
A figura 16 mostra os níveis de ruído medidos na via e no interior das salas das duas
escolas.
NÍVEIS DE RUÍDO (dB)
756863
54
01020304050607080
Escola mais exposta Escola menos exposta
Nív
el r
uído
Externo Interno
Figura 16: Níveis de ruído das duas escolas. Fonte: Elaborado pelo autor.
87
Na figura 16 observa-se que o nível de ruído na escola mais exposta já está próximo
(63 dB) dos limites de 65-70 dB preconizados para a utilização profissional da voz
(GRANDJEAN, 1998), resultados que possibilitam uma relação sinal/ruído máxima de 7 dB
(70 dB – 63 dB), portanto abaixo dos níveis preconizados por Grandjean (1998). Na escola
menos exposta a relação sinal/ruído máxima é de 16 dB (70 dB – 54 dB), portanto
inadequada, ainda que melhor que a situação da escola pública, para sala de aula, de acordo
com as recomendações do autor. Isto significa que a relação sinal/ruído máxima não é um
fator que a escola particular e os órgãos responsáveis da escola pública levam em
consideração para a escolha de localização das escolas ou urbanização do entorno das escolas
já existentes.
Ainda na mesma figura observa-se que a escola mais exposta está em via com 7 dB
acima do nível de ruído da escola menos exposta. No que tange ao nível de ruído interno,
observa-se que a escola mais exposta apresenta 9 dB de ruído acima do nível de ruído da
escola menos exposta. A observação nas salas de aula, da escola menos exposta localizada em
espaço urbano menos ruidoso, não identificou a presença de ruídos advindos do entorno.
Foram identificadas apenas poucas vozes de crianças ou ruídos de cadeiras sendo arrastadas e
material didático caindo. Nem mesmo vozes nos corredores foram identificadas. Há, porém,
ruído de fundo gerado pelo aparelho de ar condicionado, supostamente maior fonte do ruído
interno, ou seja, a busca do conforto ambiental, em termos de temperatura, também provoca o
aumento do ruído interno. Há que se considerar que as condições de temperatura de Belém e
da Amazônia, como um todo, são elevadas o que faz com que a região induza a um dilema
entre conforto ambiental de temperatura e conforto ambiental de ruído. Pelas condições
identificadas neste estudo, há prioridade para o conforto ambiental de temperatura mesmo que
este provoque aumento de ruído na sala de aula.
A escola menos exposta está localizada em área urbana com pequeno fluxo de
veículos e poucos estabelecimentos comerciais e órgãos públicos no entorno, ocupando boa
parte do quarteirão. A pesquisa identificou, através do uso de contador manual que circulam,
em média, 222 veículos por hora na frente da escola distribuídos entre carros pequenos e
motos.
88
Como destacado no terceiro capítulo, a escola mais exposta está localizada em via com
intenso fluxo de veículos, posto de gasolina, oficina mecânica, templo religioso e
estabelecimentos comerciais de todo tipo que geram grande circulação de veículos e pessoas
falando, assim como ruídos advindos de frenagens e arrancadas de veículos. Este movimento
eleva os níveis de ruído da via e dentro das salas de aula. A pesquisa identificou, através do
uso de contador manual que circulam, em média, 2500 veículos por hora na frente da escola,
distribuídos entre carros pequenos e grandes, motos e carros de propaganda.
Durante a observação nas salas de aula da escola mais exposta, localizada em via
urbana mais ruidosa, foi possível identificar a presença de ruídos advindos do tráfego de
veículos, frenagens e arrancadas de ônibus, buzinas de veículos, motocicletas, pessoas
conversando, ambulantes, carros de propaganda e crianças da escola. Internamente
identificou-se a presença constante de vozes e gritos de alunos que circulam nos corredores e
na quadra de esportes. Face ao volume de ruído externo, as vozes e gritos dos alunos
sobressaem-se, talvez em função do esforço que as mesmas fazem para se comunicar.
Moraes et al. (2003) identificaram ruído ambiental no centro comercial de Belém
acima dos níveis recomendados pela NBR 10.151. Os dezoito bairros localizados dentro da
Primeira Légua Patrimonial de Belém apresentaram níveis sonoros entre 66,6 dB(A) e 75,4
dB(A) durante todo o dia, ultrapassando os índices estipulados pelas normas nacionais (NBR
10.151).
A Secretaria de Estado de Administração de Belém (SEAD) reconhece, em entrevista,
que a maioria das escolas encontra-se em corredores de fluxo intenso de veículos e que
precisa solucionar o problema de excesso de ruído das escolas. Não foram apresentados
dados, mas de acordo com os endereços das escolas é possível verificar que se encontram em
vias de grande fluxo. Na Avenida Governador José Malcher, bairro de Nazaré apontado pelo
Mapa de Ruídos (MORAES, 2008), como um dos mais ruidosos, estão localizadas quatro
escolas estaduais. Embora o Estado mostre preocupação com a questão do ruído, os dados
levantados na escola pública não indicam nenhuma ação do estado que sinalize mudança no
quadro de elevado nível de ruído nas escolas. Consequentemente, os problemas de saúde
vocal dos professores não deverão ser resolvidos em curto prazo.
89
Salas de aula, assim como qualquer local em que se realizem atividades que exijam
atenção e solicitação intelectual constante, devem obedecer às recomendações da NR 17
(ergonomia) em conformidade com a NBR 10.151. Nestes casos específicos os níveis de
ruído devem permanecer entre 40 e 50 dB(A). Todavia mediu-se valores de níveis de ruído de
63 e 54 dB(A) nas escolas pública e particular, respectivamente. Pesquisas revelam que nos
séculos XX e XXI evidencia-se uma espécie de culto ao ruído de forma que criam laços
emocionais com o mesmo, e que por este motivo os malefícios pela exposição ao som elevado
passam despercebidos, uma vez que o fenômeno da habituação leva à acomodação
(LACERDA et al., 2005; BARING, 2006). Este comportamento, talvez, explique a pouca
preocupação dos dirigentes das escolas, particularmente das escolas públicas, sobre os níveis
de ruído interno na escola e as consequências nas alterações de voz de professores.
A análise dos questionários revelou que os professores da escola mais exposta
(pública) percebem os ruídos gerados pelo trânsito de veículos como os que mais incomodam
na sala de aula, seguidos pelo ruído da rua e da sala de aula. No entanto, apesar da percepção
de que o ruído de trânsito e o ruído da rua são elevados, as professoras sentem que são
impotentes no controle de ambos. Quanto ao ruído de sala de aula, identificou-se que este não
é resultado apenas das condições internas das salas e do movimento de estudantes, mas
também, da inter-relação com o ruído externo. Quanto maior o ruído de trânsito, maior é o
ruído interno das escolas, inclusive da sala de aula.
RUÍDOS QUE MAIS INCOMODAM (% )
01020304050607080
Trânsito Rua Sala de Aula
Escola mais exposta Escola menos exposta
Figura 17: Ruídos que mais incomodam na sala de aula. Fonte: Elaborado pelo autor.
90
Na escola menos exposta (particular) o ruído predominante, na percepção dos
professores, foi o gerado na sala de aula (60%). Os professores referiram ainda o ruído gerado
na rua e pelo trânsito, porém em menor escala. A análise dinâmica indica que a variação do
ruído gaussiano branco é de apenas 0,8 dB enquanto o sinal de ruído de tráfego apresenta
variações de até 30 dB, portanto são mais prejudiciais à inteligibilidade de fala (ARAÚJO;
MORAES; ARAÚJO; MACHADO E SILVA, 2008).
A observação realizada na escola menos exposta indica que a estrutura construtiva da
escola, a posição afastada da sala de aula distante da rua de maior tráfego de veículos e a
presença de ar condicionado inibem a entrada de ruído externo no interior da sala de aula.
Embora o ruído interno seja elevado, este não é percebido pelas professoras. Neste caso, a
inter-relação entre o ruído externo e o interno é indireta. Assim, as alterações de voz dos
professores são provenientes do ruído interno. Ainda que seja prejudicial à voz dos
professores, este se mostrou menos impactante do que na escola mais exposta, que está
diretamente exposta ao ruído externo.
A figura 18 ilustra o registro da intensidade dos sinais de voz (capturados através de
gravador digital MP3 Player em intervalos de dois minutos, em condições similares de níveis
de ruído, nas duas escolas, concomitantemente à captura do ruído de fundo), ruído de tráfego
e ruído gaussiano branco sintético. O sinal de voz apresentou variação de 20 dB, enquanto o
sinal de ruído tráfego apresentou variação 25 dB, e o sinal de ruído gaussiano branco10
10 Ruído de espectro contínuo, que medido por bandas de Hz, ou seja, dB/Hz, é constante em todo o intervalo audível. Significa que será representado por uma reta horizontal em um diagrama de nível, em função da frequencia (TEJEDA ; ARRANZ, 2005).
apresentou variação de 0,5 dB. Os sinais do ruído urbano foram obtidos em gravação
realizada em avenida movimentada, no sentido da periferia para o centro, da cidade de Belém-
PA. Foram realizadas 04 (quatro) medições do ruído, com duração de 4’15’’ (255s)
correspondente a 03 (três) ciclos do semáforo (abre-fecha) localizado no cruzamento da
primeira medida (ARAÚJO; MORAES; ARAÚJO; MACHADO e SILVA, 2008).
91
Figura18: Registro da intensidade dos sinais de voz, ruído de tráfego e ruído gaussiano. branco sintético Fonte: Elaborado pelo autor.
Desta forma, é possível compreender os motivos que levaram os professores da escola
mais exposta a perceberem o ruído de trânsito como o que mais interfere nas salas de aula.
Entende-se que as variações nos níveis de ruído gerados pelo trânsito desviam a atenção dos
alunos e professores, e interferem na inteligibilidade da fala do professor podendo levar à
dispersão e à conversa entre eles, o que, por sua vez, eleva os níveis de ruído interno,
indicando uma relação direta entre o nível de ruído externo e o interno. Assim, este fato
propicia interferência entre professor e aluno, exigindo que ambos falem mais alto e forcem
seus aparelhos fonadores.
Os alunos foram identificados pelos professores das duas escolas como fontes
geradoras de ruído interno como ilustram os relatos que se seguem. No entanto, ao mesmo
tempo em que os professores identificam os alunos como os principais causadores do ruído
interno, estes mesmos professores consideram tal ruído como “normal” em um ambiente
escolar.
“[...] as crianças correm, falam, gritam alto...” (p1)11
11 P1 a P10 : professores da escola pública, mais exposta ao ruído urbano. P11 a P20: professores da escola particular, menos exposta ao ruído urbano.
“[...] eu considero um barulho normal por se tratar de um ambiente escolar com ruídos normais referentes às crianças”. (p.11).
92
Segundo Fernandes (2006), diversas fontes de ruído podem ser encontradas fora das
escolas além do tráfego de veículos, tais como estabelecimentos comerciais e construção civil.
Os ruídos produzidos internamente são gerados tanto nos ambientes próximos às salas, quanto
na própria sala pelos alunos e materiais didáticos, que juntos contribuem para o aumento de
ruído.
Na escola menos exposta os ruídos externos não foram percebidos devido à distância
das salas em relação à rua e por serem climatizadas com as portas e janelas fechadas. Trata-se,
também, de uma escola pequena, com 19 professores, 31 estagiárias e 20 funcionários. Por
outro lado, na escola mais exposta há presença de ruídos provenientes das salas vizinhas, da
rua, dos alunos no pátio e nos corredores. Como não há janelas e portas para serem fechadas,
os ruídos se confundem e se misturam. Assim, as características construtivas são, também,
determinantes para a contaminação acústica.
O ruído de fundo da sala foi menos percebido por ser constante (Ruído Gaussiano
Branco), ao passo que o ruído gerado pelo trânsito apresenta variações que desviam a atenção
dos alunos e interferem na inteligibilidade da fala. O ruído de trânsito, como debatido no
primeiro capítulo, é uma característica básica de áreas com elevado nível de urbanização.
“[...], pois a mesma fica em uma avenida com muito movimento [...]” (p5) “[...] do trânsito porque o tráfego de trânsito é muito grande, tem carro buzinando e freando todo o tempo”. (p10)
Há um contraste grande em relação às percepções dos professores da escola menos
exposta, que não referiram os ruídos de trânsito, apontando apenas a campainha da escola e as
crianças como fontes geradoras de ruído interno e externo. Entende-se que este fato deva-se,
principalmente, ao fato de estarem localizadas em espaços urbanos com fluxos de pessoas e
veículos muito diferentes, às características construtivas de cada escola e à distância das salas
em relação à via.
“[...] gritos dos alunos no corredor, conversa de alunos, batidas dos pés no chão, toque da campainha”. (p16) “[...] a campainha da escola no horário da saída é muito alta, nós já pedimos para mudar, botar uma música”. (p12)
Os resultados confirmam Kwitko (2001), Lima e Santoro (2005) que identificaram o
trânsito, as indústrias, o aumento do número de vias e a quantidade de veículos circulando,
93
como alguns dos grandes problemas das cidades atuais, assim como sua influência para o
aumento da poluição sonora. A urbanização também envolve outros elementos como, por
exemplo, o número de pessoas circulando na cidade, a construção de prédios, o comércio
ambulante e outros que também provocam ruído. No caso específico da escola mais exposta, a
presença de um ponto de ônibus próximo ao portão principal da escola caracteriza a relação
direta entre urbanização e o aumento de ruído externo que, por sua vez, interfere no ruído
interno das escolas.
4.4 CONCLUSÃO
A escola com maiores níveis de ruído interno está localizada em via urbana com maior
fluxo de veículos, próxima da via e com características construtivas inadequadas, contrárias às
normas. Logo, a localização das escolas é fator relevante para as condições acústicas internas
das salas de aula.
Nas duas escolas a relação sinal/ruído máxima encontra-se inadequada, ainda que nas
salas da escola menos exposta seja melhor que nas salas da escola mais exposta. Evidenciou-
se que a variação do ruído gaussiano branco foi de apenas 0,8 dB enquanto o sinal de ruído de
tráfego apresentou variações de até 30 dB, sendo, portanto, mais prejudiciais à inteligibilidade
de fala.
As variações nos níveis de ruído gerados pelo trânsito desviam a atenção dos alunos e
professores e interferem na inteligibilidade da fala do professor, podendo levar à dispersão e à
conversa entre eles o que, por sua vez, eleva os níveis de ruído interno. Este fato propicia
interferência entre professor e aluno, exigindo que ambos falem mais alto e forcem seus
aparelhos fonadores.
94
5 OS RUÍDOS E SEUS IMPACTOS NA VOZ DOS PROFESSORES
5.1 INTRODUÇÃO
A ocorrência de problemas vocais em professores deve-se a vários fatores, entre eles a
competição com o ruído interno e externo. As pesquisas revelam que a maioria das escolas
apresenta níveis de ruído acima dos aceitáveis e que a prevalência de problemas de voz nesta
classe profissional deve-se à ocorrência de ruído ambiental. O quarto capítulo desta
dissertação evidencia os níveis de ruído das escolas de Belém e corrobora com as pesquisas
realizadas em outras cidades do Brasil. Ainda que em Belém a urbanização tenha ocorrido
tardiamente se comparada com a urbanização de outras cidades do eixo sul-sudeste, os
problemas de ruído nas ruas da cidade apresentam intensidades semelhantes.
Os níveis de ruído medidos foram analisados e apresentados sob a forma de gráficos.
Os dados coletados foram processados através do aplicativo desenvolvido em linguagem
MATLAB12
12 Madres Laboratory Linguagem computacional para análise matemática.
especialmente para este fim. A captura das vozes ocorreu concomitantemente à
captura do ruído de fundo. Para a confirmação dos dados levantados, a triangulação dos dados
capturados se deu através dos questionários, da observação direta e do grupo focal que, por
sua vez, foram analisados de forma qualitativa. Os dados analisados a partir da linguagem
MATLAB são apresentados sob a forma de gráficos ilustrativos.
5.2 COMPORTAMENTO VOCAL DOS PROFESSORES SOB DIFERENTES NÍVEIS DE
RUÍDO
O comportamento vocal dos professores durante a atividade docente sob diferentes
níveis de ruído, de forma objetiva está demonstrado nas figuras 19 a e 19b. Para tanto foram
medidas a intensidade da voz de cada professor e a média nas faixas de frequencia de 100 Hz
a 10 khz. A figura 19c mostra a diferença média, em decibéis, entre a intensidade da voz dos
professores da escola particular e da intensidade da voz dos professores da escola pública.
95
Figura 19a: Comportamento vocal dos professores a escola mais exposta sob níveis de ruído urbano. Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 19b: Comportamento vocal dos professores
da escola menos exposta sob níveis de ruído urbano. Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 19c: Diferença média entre a intensidade de voz dos professores das duas escolas. Fonte: Elaborado pelo autor.
96
Na escola mais exposta (figura 19a) percebe-se que há uma quase superposição da voz
dos professores e do ruído de fundo. Nesta faixa as vozes não foram capazes de alterar o nível
equivalente de pressão sonora (Leq), pois, conforme visto anteriormente, o nível de ruído de
fundo já está com intensidade similar aos níveis admissíveis para voz. Para alcançar uma
relação sinal/ruído adequada para a inteligibilidade de fala (20 dB), na presença de ruído com
intensidade 63 dB, os professores deveriam falar com intensidades de 83 dB, nível acima dos
preconizados para conforto vocal (70 dB), e próximo ao estabelecido (85 dB) para provocar
perda auditiva (NR-19).
Os resultados demonstram que ouve percepção clara, por parte dos professores, de que
não seriam capazes de superar o ruído e, então, mantiveram-se na mesma faixa deste. Diante
da impossibilidade de serem ouvidos, os professores não elevam a voz para tentar manter a
inteligibilidade e efetivar a comunicação dentro das salas de aula. Assim, os professores
parecem se comportar como deficientes auditivos, pois segundo Pinho (1999) os deficientes
auditivos, quando têm consciência da tendência de falar forte, tendem a reverter a situação,
produzindo voz com maior freqüência e de intensidade fraca. As curvas de igual audibilidade
mostram que há um ganho na sensação auditiva de 40 dB quando se aumenta a frequencia de
100 Hz para 1000 Hz.
Ao aumentar a frequencia fundamental, o deficiente auditivo aproxima a frequencia
fundamental (pitch) da voz, em geral com energia significativa de uma região de maior
sensibilidade auditiva. Portanto, aumentar a frequencia fundamental implica em ampliar a
sensação auditiva e, consequentemente, o feedback auditivo, permitindo que o deficiente
auditivo detecte a presença ou a ausência da própria voz, mesmo que o padrão seja pouco
inteligível (ARAÚJO, 2000). Aumentar a frequencia fundamental exige uso de mecanismos
ou ajustes vocais, tais como aumentar o pitch, loudness e a velocidade, ou uso de variação
melódica intensa que podem levar a alterações de voz (VIANELLO; ASSUNÇÃO; GAMA,
2006).
A tendência ao comportamento similar aos dos indivíduos surdos ficou clara no grupo
focal e na observação. Muitos professores afirmaram ser este um recurso usado.
“[...] quando fico muito cansada paro de falar, eles não conseguem escutar mesmo. Todo mundo acaba falando menos”. (p9)
97
“[...] não adianta falar alto ou gritar, a gente faz força, fica cansada e a bagunça continua. As crianças lá de trás sempre pedem para repetir ou sentam na frente com outro colega” (p7)
A figura 19b mostra que na escola menos exposta a voz dos professores está acima do
ruído de fundo. Esta constatação evidencia que os professores percebem que podem ser
ouvidos ao elevarem a intensidade da voz, pois, conforme foi visto anteriormente o nível de
ruído de fundo com menor intensidade possibilita níveis de pressão sonora da voz possíveis
para compreensão, embora esta diferença ainda não seja a ideal (relação sinal/ruído de 20 dB).
Crandell e Smaldino (2004) indicam que para manter a atenção dos alunos e efetivar a
comunicação, em salas de aula ruidosas, o professor necessita de maior esforço vocal. Tal
figura indica que o processo de comunicação entre os professores e alunos da escola particular
é mais propício de acontecer do que na escola pública.
Oyarzún, Brunetto e Mella (1984) referiram que as alterações vocais de professores
devem-se, muitas vezes, ao abuso vocal realizado em sala pela necessidade de ouvir e se fazer
ouvido em ambientes ruidosos. Essas alterações são claramente perceptíveis, tanto por agentes
externos como pelos próprios professores na escola mais exposta.
Observa-se que em toda a faixa dominada pela voz dos professores (de 200 Hz a 10
kHz), de ambas as escolas, as vozes dos professores da escola menos exposta mantiveram-se
sempre 2 a 4 dB acima das vozes dos professores da escola mais exposta (figura 19c),
indicando que nestas condições é possível elevar a voz para ser compreendido, o que não
acontece na escola mais exposta onde, mesmo com esforço e elevação da intensidade, não é
possível manter a inteligibilidade da fala.
Oliveira (1998) destacou o mau uso da voz, como um fator que provoca a fonação de
grande esforço. A autora relatou que tal esforço é capaz de resultar a prevalência de fadiga
vocal, rouquidão e garganta raspando. Nesta situação, o professor percebe que ao longo da sua
jornada de trabalho a voz vai enfraquecendo, resultando em fadiga muscular, desgaste físico e
tensão músculo-esquelético ao tentar manter o volume da voz.
98
5.3 A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DOS RUÍDOS EXTERNOS E
INTERNOS E SUAS INTERFERÊNCIAS NA PRODUÇÃO VOCAL
As pesquisas revelam que a voz de professores é influenciada pelos níveis de ruído das
salas de aula e que a percepção dos mesmos sobre as alterações vocais depende de vários
fatores. Nesta seção discutem-se as principais queixas e sintomas vocais dos professores
submetidos a níveis de ruído distintos.
Nas figuras 20 e 21 encontram-se as principais queixas referidas pelos professores das
duas escolas.
QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS
02468
10
Dor ouirritação na
garganta
Sensação decorpo
estranho
Necessidadede pigarrear
Dor nopescoço
Rouquidão
Escola mais exposta Escola menos exposta
Figura 20: Queixas e sintomas vocais dos professores das duas escolas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
QUEIXAS RELACIONADAS AO RUÍDO
0
2
4
6
8
10
12
Dor de cabeça Stress Irritação Falar alto Cansaço Intolerância Cansaço aofalar
Escola mais exposta Escola menos exposta
Figura 21: Queixas dos professores relacionadas ao ruído nas duas escolas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
99
No que se refere às queixas e aos sintomas vocais de professores, percebe-se que em
ambas as escolas estão relacionadas ao uso da voz em competição com o ruído do ambiente.
Esta ocorrência confirma os relatos dos professores da escola menos exposta que tentam
superar o ruído (conforme figuras 19a, 19b). Lubman (2001) diz que em salas muito ruidosas
os professores tendem a conversar menos com os alunos ou conversam por tempos menores.
Quando tem que falar mais alto que o ruído de fundo as vozes podem ficar cansadas. De
acordo com Behlau (2001), o uso de mecanismos para forçar a voz na tentativa de serem
ouvidos na presença de ruídos, mesmo que sejam momentâneos, força os indivíduos a realizar
esforço vocal desnecessário podendo levar à disfonia. A sensação de cansaço, a necessidade
de pigarrear e a rouquidão, queixas mais freqüentes na escola mais exposta ao ruído urbano,
de acordo com Oliveira (1998) são resultantes de fonação com esforço.
Como descrito no quarto capítulo, a análise dos questionários revelou que os
professores da escola mais exposta percebem os ruídos gerados pelo trânsito de veículos como
os que mais incomodam na sala de aula, seguidos pelo ruído da rua e da sala de aula. Na
escola menos exposta o ruído predominante, na percepção dos professores, foi o gerado na
sala de aula. Apenas 20% dos professores referiram o ruído gerado na rua e 10% o gerado no
trânsito. As professoras da escola mais exposta, por sua vez, identificaram o ruído advindo do
trânsito, da rua como a principal fonte geradora de ruído. A percepção dos professores acerca
dos ruídos que mais incomodavam em sala de aula confirmam os dados do questionário.
O volume de trânsito é característico da localização que tem sofrido aumento do
processo de urbanização. A área onde se localiza a escola mais exposta é hoje uma avenida
onde passam, aproximadamente, 2500 veículos por hora. Segundo relatos dos professores
mais antigos, há alguns anos o volume de carros era menor, o ruído externo provocava menos
impacto e, consequentemente, os professores tinham melhores condições de comunicação
com os alunos e precisavam de menor intensidade no uso da voz, ficando menos cansados ao
falar.
Os segmentos que se seguem ilustram a percepção dos mesmos sobre o ruído gerado
externamente às escolas.
“[...], pois a mesma fica em uma avenida com muito movimento...” (p8) “[...] do trânsito porque o tráfego de trânsito é muito grande...” (p5)
100
“[...] ao lado da escola tem uma oficina, tem um posto de gasolina, além dos carros que passam...” (p2)
Há um contraste grande em relação às percepções das professoras da escola menos
exposta que não referiram ruídos deste gênero, apontando apenas a campainha da escola e as
crianças como fontes geradoras de ruído interno e externo. A percepção os professores da
escola menos ruidosa confirmam Zwirtes (2006) ao analisar a percepção dos professores
sobre os ruídos presentes nas escolas, concluindo que o ruído de tráfego foi pouco percebido
porque as salas de aula ficavam distantes da via indicando uma relação direta entre a
localização das escolas e das salas de aula e os níveis de ruído percebidos. A escola mais
exposta analisada está situada em área de comércio e serviços que atraem veículos e pessoas,
além de ser importante para o fluxo de ônibus, pois passa por bairros de elevada densidade
demográfica.
No caso das escolas pesquisadas, houve predominância de agentes externos na escola
mais exposta devido à localização e às características construtivas, o que não ocorreu na
escola menos exposta situada em espaço predominantemente residencial.
A percepção da interferência do ruído sobre a voz foi confirmada no grupo focal e nos
questionários. Os relatos dos professores da escola mais exposta indicaram a necessidade de
realizar alterações no padrão vocal com elevação da intensidade, e esforço para serem ouvidos
devido aos ruídos gerados interna e externamente. No entanto, os gráficos 19a e 19b
mostraram que a intensidade da voz dos professores está abaixo do nível de ruído de fundo.
Entende-se que estes comportamentos devem-se ao fato de os professores da escola mais
ruidosa perceberem, mesmo inconscientemente, que nestas condições é impossível superá-lo
necessitando gritar. Assim, sobre os motivos que levam o ruído das salas de aula a alterarem
suas vozes referiram:
“[...] me força a usar a voz com mais intensidade”. (p7) “[...] porque, se necessário, eu tenho que falar mais alto”. (p3) “[...] há necessidade de falar mais alto senão eles não escutam, fazem bagunça”. (p1)
Em relação ao ruído externo foram apresentados motivos semelhantes:
“[...] porque quando os carros passam, eles se distraem, não escutam... acaba falando alto e se irrita”. (p6) “[...] porque tenho que forçar a garganta para falar”. (p2)
101
“[...] há necessidade de falar mais alto ou parar e esperar”. (p10)
Os relatos dos professores da escola menos ruidosa indicaram a necessidade de falar
mais alto e forçar a voz para serem ouvidos devido aos ruídos gerados interna e externamente.
Sobre os motivos que levam o ruído das salas de aula a alterarem suas vozes referiram apenas
ao ruído interno. Mesmo não havendo ruído externo gerado por trânsito de veículos ou
pessoas circulando e falando na rua, o compressor do aparelho de ar condicionado colocado
na parede externa da sala de aula aumenta os níveis internos de ruídos. Como já referido em
outra parte desta dissertação, a busca de um conforto ambiental em termos de temperatura
aumenta o nível de ruído interno nas escolas.
“[...] ar condicionado e barulho constante dos alunos”. (p13) “[...] minha turma é agitada e falante, é preciso elevar a voz”. (p17)
Os resultados desta pesquisa confirmam as afirmações da Organização Mundial da
Saúde (OMS, 1999) que atribuiu ao excesso de ruído nas escolas a responsabilidade por
grande parte dos problemas de voz de professores. Da mesma forma, Pinto e Furck (1988)
referiram que o mau uso e o abuso vocal em sala de aula devem-se à necessidade de se fazer
ouvir e ser ouvido em ambientes ruidosos.
Nas escolas pesquisadas os níveis de ruído presentes forçam, necessariamente, que os
professores elevem suas vozes para serem ouvidos pelos alunos caso desejem ser
compreendidos. Mesmo que o ruído de fundo se confunda com a voz dos professores, há
necessidade de superá-lo. Quando o ruído mais presente é de trânsito de veículos, a situação
se agrava devido às variações na intensidade e duração dos mesmos, pois provoca dispersão e
desatenção dos alunos comprometendo a inteligibilidade de fala e a comunicação com
conseqüente elevação de intensidade vocal.
5.4 O RUÍDO E OS HÁBITOS, AS QUEIXAS E OS SINTOMAS VOCAIS DOS
PROFESSORES
Na escola pública, onde os níveis de ruído do entorno são maiores, os relatos
evidenciaram dor e irritação (60%), pigarro (60%), sensação de corpo estranho (60%) e
102
necessidade de arranhar a garganta (30%) como as queixas mais frequentes. O ato de
pigarrear foi comum durante a observação. No grupo focal foram identificados frases do tipo:
“[...] no fim do dia sinto cansaço no corpo e na garganta...” (p4) “[...] a garganta dói, fico arranhando e pigarreando...” (p7) “[...] parece que tem uma bola na minha garganta, a voz falha ...” (p8).
Na escola particular, com baixos níveis de ruído no entorno, prevaleceram como
ocorrência dor e irritação na garganta (90%), sensação de corpo estranho (40%), necessidade
de pigarrear (50%), dor no pescoço (50%).
Na figura que segue está demonstrado o espectro do ruído de trânsito. Nota-se que tem
a maior parte da energia concentrada em até 3 kHZ. O espectro é descendente, mas a energia
se concentra nas frequencias mais baixas onde se encontram as primeiras formantes dos sons
da fala (todas as vogais). Desta forma, o professor percebe que sua voz não é inteligível e
mesmo com esforço vocal não atingirá as crianças, logo a inteligibilidade da fala fica
comprometida exigindo (quando, e se possível) maior esforço vocal dos professores.
Figura 22 Espectro do ruído de trânsito. Fonte: Araújo; Moraes; Araújo; Machado e Silva (2008).
Durante os debates no grupo focal foram feitas observações que evidenciavam as
mesmas queixas.
“[...] quando os alunos fazem barulho eu tenho que falar mais alto e acabo ficando irritada porque dói a garganta.”. (p13) “[...] eu sei que arranhar a garganta não é bom, depois fica ardendo...” (p20)
103
De acordo com Garcia (2002) as queixas mais comuns de pessoas com alterações
vocais são ardências, pigarros constantes, modificações na qualidade vocal, dificuldades para
respirar e falar, dores na região do pescoço e nem todas as alterações vocais decorrem da
produção alterada, tendo sua origem tanto no uso abusivo quanto intensivo. Professores
queixam-se, com frequencia, da sensação de tensões na musculatura cervical, postura
inadequada, de falar por horas seguidas utilizando tom e padrão respiratório inadequado ao
competirem com o ruído ambiente (PINTO; FURCK, 1988).
Os resultados desta pesquisa confirmam os autores citados, considerando-se as queixas
nas duas escolas. No que se refere aos professores da escola mais exposta ao ruído externo,
entende-se que a interferência desse ruído sobre a voz dos professores deve-se ao fato de
haver ruído de fundo constante (Ruído Gaussiano Branco), acima dos níveis aceitáveis o que,
por si só, exige elevação da voz e à presença de ruídos externos advindos do trânsito e de
pessoas conversando ou gritando. Estes aumentam os níveis de ruído interno e distraem
alunos ao mesmo tempo em que interferem na inteligibilidade provocando o uso abusivo da
voz por parte de professores e alunos. Assim, a relação entre ruído externo, ruído interno,
ruído de fundo e alteração de voz dos professores se evidencia.
Quanto aos hábitos vocais, os professores da escola mais exposta referiram hábito de
falar alto na presença de ruído (30%), sem a presença de ruído (60%), hábito de gritar com
alunos (30%) e uso de pastilhas (20%). Os professores da escola menos exposta referiram
falar alto na presença de ruído (60%), falar alto sem a presença de ruído (40%), falar sem
respirar (20%) e uso de pastilhas (40%).
Na escola menos exposta os níveis de ruído interno não sofrem influência do trânsito
ou comunidade, os níveis de ruído interno são mais baixos permitindo que os professores
tentem superá-lo e, desta forma, realizam uso mais intensivo das vozes.
Pereira (2004) afirmou que o impacto que as alterações vocais exercem sobre os
professores em seu cotidiano é percebido de forma diferenciada por aqueles que apresentam
quadros disfônicos instalados. Os sintomas físicos como falta de ar e esforço ao falar são os
mais percebidos. Este dado pode ser explicado por se habituarem ao ruído de fundo (Ruído
Gaussiano Branco) e, portanto, não perceberem a presença do mesmo. Por outro lado, na
presença de ruído de trânsito, por suas características dinâmicas, não se habituam percebendo
sua presença, e com isso tem a possibilidade de evitar falar quando este é muito intenso.
104
HÁBITOS NA PRÁTICA DOCENTE
01234567
Falar altocom ruído
Falar altosem ruído
Falar semrespirar
Arranhar agarganta
Escola mais expostaEscola menos exposta
Figura 23: Hábitos vocais dos professores das duas escolas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
No grupo focal os professores de ambas as escolas mencionaram a interferência do
ruído do entorno e do trânsito como agravantes para a voz e responsáveis pelos hábitos
vocais: Como referido anteriormente, o ruído de transito é típico de áreas urbanizadas. Essa
constatação pode ser confirmada pelos depoimentos abaixo:
“[...] o barulho da rua incomoda a audição e eu tenho que falar mais alto”. (p8) “[...] muitos carros, buzinas e motores..., a parada de ônibus, as freadas... daí tem que gritar senão os meninos se dispersam...” (p5)
No grupo focal da escola menos exposta foi constante a referência ao ruído do ar
condicionado e aos alunos como as maiores fontes geradoras de ruído e as principais causas
para justificar os hábitos. Acrescente-se, também, que todos os professores foram unânimes ao
se referirem à ausência de ruídos provenientes do entorno, e que a observação da pesquisadora
confirmou que nesta escola este fato foi comprovado, assim como não houve percepção de
ruídos provenientes dos corredores ou de pessoas conversando.
Abaixo se tem algumas expressões dos professores que comprovam os resultados do
questionário e da observação:
“[...] o ar condicionado e o barulho constante dos alunos”. (p14-15-16) “[...] as crianças fazem barulho, toda escola tem barulho... aqui é privilegiado, na outra escola tem muito barulho da rua, dos ônibus...” (p19) “[...] essa rua é silenciosa, não passa ônibus, não tem muito carro passando...” (p17)
105
Jaroszewski, Zeigelboim e Lacerda (2007), constataram que em salas com níveis de
ruído interno acima do recomendado os professores sentem necessidade de elevar a voz
durante as atividades de ditado e queixam-se de cansaço vocal posteriormente. Os mesmos
professores identificaram as fontes internas como geradoras de ruído. Os professores das
escolas investigadas nesta pesquisa referiram, em diversos momentos, a necessidade de falar
alto, a dificuldade em serem ouvidos pelas crianças e o cansaço ao final da jornada ou da
semana. Isto porque os níveis de ruído internos das duas escolas encontram-se acima do
aceitável para a produção vocal com conforto.
Pesquisa realizada por Martz (1987), identificou forte associação entre o fazer esforço
para falar e as queixas de alterações vocais e inferiram que, além de ser utilizado para
demonstrar firmeza ou autoridade, seu uso devia-se à necessidade de vencer a competição
sonora do ruído ambiental presente nas escolas. Nesta dissertação foram identificados
comportamentos similares, pois nas duas escolas houve necessidade de fazer força para
superar o ruído interno. Na escola mais exposta ao ruído de trânsito e da comunidade, apesar
do comportamento das professoras de não tentar superá-lo, foi evidente o esforço para falar
nos momentos em que havia interferência interna devido a arrancadas e frenagens de ônibus,
buzinas, conversas. Mesmo evitando falar, muitas das atividades realizadas nas salas de aula
precisam ser orais, tais como ditados e explanações de conteúdos novos. Sendo o ruído de
trânsito presente em todo o período letivo, a necessidade de transmitir os conhecimentos se
faz presente. Logo, mesmo que evitem falar, terão que realizar esforço vocal para serem
compreendidos. Nota-se que o fluxo de veículos foi intenso durante todo o período de
observação e que esta é uma característica do espaço urbano em que se localiza a escola, daí
se afirmar que há forte associação entre as queixas vocais e a urbanização da cidade.
As condutas vocais presentes nos professores das duas escolas devem-se, também, à
falta de conhecimento e orientações sobre saúde vocal destes profissionais. Conforme Pereira
(1999); Russell, Oates e Greenwood (1998), o desconhecimento dos professores acerca dos
cuidados preventivos de problemas de voz pode contribuir para as condutas e os hábitos
inadequados que levam aos distúrbios vocais.
106
5.5 RECURSOS VOCAIS UTILIZADOS PARA SUPERAÇÃO DOS OBSTÁCULOS
De posse das informações geradas nos questionários, na observação e no grupo focal
foi possível analisar os recursos vocais utilizados pelos professores para superar os ruídos
gerados dentro e fora das escolas de modo que se concretizasse o processo comunicativo
verbal entre professores e alunos. Foram analisados, ainda, os recursos adotados para a
manutenção da saúde vocal dos mesmos. Durante a observação evidenciaram-se
comportamentos vocais distintos entre os professores das escolas.
Na escola mais exposta ao ruído urbano, nenhum dos professores fez uso de pastilhas,
aquecimento vocal, ou hidratação durante a jornada de trabalho. Uma professora faz uso de
protetor auricular para não escutar o ruído alegando que usa “protetor diariamente para
proteger a audição”. Esta professora manteve-se calma durante o período em que foi
observada e, em nenhum momento, elevou a voz. No entanto, foi visível o excesso de tensão
na região cervical.
Os questionários e o grupo focal geraram respostas que evidenciaram algum
conhecimento sobre didática de ensino que ajudam a preservar a voz, evidenciando a
necessidade de novas formas de ensino nas escolas mais ruidosas para garantir o processo de
ensino e aprendizagem.
Esta pesquisa evidenciou que há a necessidade de implementação de medidas que
minimizem os efeitos do ruído nas salas de aula, especialmente daqueles provocados pelo
trânsito, e que a localização das escolas e das salas de aula é fator relevante a ser considerado.
“[...] a gente não dá aula só falando, tem outras coisas que pode fazer..., desenhar, ler uma história...” (p7) “[...] escola pública não tem muito recurso, mas a gente vai inventando...” (p2)
Nas situações em que a fonação se dá com esforço, o professor percebe que, ao tentar
manter o volume, sua voz vai enfraquecendo ao longo da jornada de trabalho, devido à fadiga
muscular e ao desgaste físico (OLIVEIRA, 1998).
107
Na escola mais exposta, observando os professores durante a atividade docente,
identificou-se que quando o ruído era muito intenso estes evitavam falar, esperavam ou
falavam muito baixo.
Os alunos sentados nas fileiras mais afastadas da professora se dispersavam, iniciavam
conversas paralelas ou sentavam-se mais à frente, na mesma cadeira de outros colegas para
facilitar a escuta.
As respostas geradas no grupo focal confirmam os dados dos questionários e da
observação, como demonstram os segmentos abaixo:
“[...] circular pela sala, mesclar atividades, usar fantoches, e brinquedos”. (p6) “[...] tomar água durante a aula”.(p2) “[...] eu sou viciada em pastilha e halls porque alivia a garganta”. (p10)
Behlau e Pontes (2001) sugerem a ingestão de água durante atividades vocais para
melhorar a lubrificação do trato vocal e permitir a vibração das pregas vocais livremente e
sem atrito. Referem, ainda, que o uso de pastilhas, menthol (halls) e outras substâncias que
têm efeito cicatrizante ou anestésico, mascaram sintomas de abuso vocal sendo, portanto,
desaconselhadas.
Devido à falta de conhecimentos sobre saúde vocal, a maioria dos profissionais fez uso
de pastilhas ou balas de menta para aliviar os sintomas, juntamente com a ingestão de água.
Embora tenham se referido à ingestão de água durante as aulas, tal hábito não foi observado
com regularidade durante a observação realizada nas salas de aula de ambas as escolas.
5.6 CONCLUSÃO
Professores percebem os ruídos de trânsito de veículos, típicos de áreas urbanas ou em
processo de urbanização como os que mais incomodam na sala de aula, seguidos pelo ruído
da rua e da sala de aula.
108
Houve percepção clara, por parte dos professores de que não seriam capazes de
superar o ruído, mantendo suas vozes na mesma faixa. Diante da impossibilidade de serem
ouvidos não elevam a voz para tentar manter a inteligibilidade e efetivar a comunicação
dentro das salas de aula. Indicam novas metodologias de ensino como forma de melhorar a
comunicação e o processo de ensino e aprendizagem.
Houve predominância de queixas e de sintomas vocais em professores da escola mais
exposta ao ruído externo. A percepção dos professores evidenciou que quando o ruído mais
presente é o ruído de trânsito de veículos a situação se agrava devido às variações na
intensidade e duração dos mesmos, pois provoca dispersão e desatenção dos alunos.
Esta pesquisa evidenciou que há necessidade de implementação de medidas que
minimizem os efeitos do ruído nas salas de aula, especialmente daqueles provocados pelo
trânsito, e que a localização das escolas e das salas de aula é fator relevante a ser considerado.
As características construtivas das escolas mostraram-se relevantes neste estudo como
forma de minimizar os ruídos, tanto internos quanto externos. Note-se que as escolas
pesquisadas apresentaram diferenças bastante significativas neste aspecto. A escola mais
exposta, além de estar localizada em área urbana com função predominantemente comercial e
de serviços, com intenso fluxo de veículos e localização próxima da via, não estava protegida
do ruído por janelas e portas. Por outro lado a escola menos exposta apresentou janelas e
portas fechadas, além de estar localizada em área urbana residencial, com fluxo de veículos
menos intenso e salas longe da via. Conclui-se, portanto, que os níveis de ruído interno das
salas de aula podem ser minimizados se forem consideradas, também, as características
construtivas das escolas.
109
6 CONCLUSAO
6.1 RETORNANDO À QUESTÃO CENTRAL
O tema proposto neste estudo considera os dados relativos ao crescimento das cidades,
à poluição sonora, à localização das escolas, ao número de veículos circulando na cidade e aos
problemas vocais dos professores. Desta forma, discutiu-se os efeitos negativos do ruído
urbano sobre a voz, especificamente, a relação entre a poluição sonora e as alterações vocais
de professores.
Analisou-se de que forma o ruído produzido em espaços abertos impacta e se inter-
relaciona com os ruídos produzidos em espaços fechados e contribui para as alterações de
voz, mais particularmente comparou as alterações vocais de professores em razão do fato de
que os estudos atuais não contemplam a localização e as características construtivas das
escolas ou os níveis de ruído externo produzidos pelo trânsito e pela comunidade, como
critérios de análise.
6.2 O IMPACTO DO RUÍDO EXTERNO NA ESCOLA
Com base nas análises realizadas nas escolas submetidas a diferentes níveis de ruído
urbano, conclui-se que a localização das escolas associada às características construtivas são
fatores determinantes para o controle dos níveis de ruído interno. Estes, por sua vez, são
determinantes para a produção de voz dos professores.
O presente estudo conclui, então, que há relação direta entre o ruído externo e o
interno, e que esse está relacionado às condições acústicas internas das salas de aula que
influenciam diretamente no comportamento dos professores quanto ao uso da voz. No
entanto, diferentemente de outros trabalhos, este estudo sugere que a alteração vocal de
professores ocorre, predominantemente, em função do nível de ruído interno e externo das
escolas, não do comportamento individual de cada professor. Assim, o “abuso vocal” de
110
professores, indicado pela maioria dos programas de saúde vocal, não depende unicamente do
comportamento individual do professor. Isto sugere que os programas de saúde vocal, para
serem efetivos no combate à doença vocal de docentes, devem estar relacionados com outros
programas de controle de ruído ambiental como, por exemplo, na escola mais exposta onde
houve pior relação sinal/ruído devido à presença de ruído de trânsito, identificou-se que há
maior prejuízo na inteligibilidade de fala e, por conseguinte, provocam alterações na voz dos
professores.
A perda da inteligibilidade, as distrações frequentes dos alunos devido à interferência
dos ruídos externos comprometem o processo comunicativo e a performance vocal dos
professores. Esta dissertação mostrou evidências de que na presença de ruídos intensos os
professores ficaram menos motivados a conversar com alunos. Por exemplo, na escola menos
exposta ao ruído urbano foi possível manter uma relação sinal/ruído favorável à produção
vocal de modo que se garantisse a comunicação e a efetivação do processo de ensino. Assim,
a localização da escola em via menos contaminada acusticamente, assim como a localização
das salas, foi determinante para a manutenção da inteligibilidade.
Deste modo, os resultados desta pesquisa indicam que o planejamento urbano deve
considerar o “fator locacional” para definir o espaço de construção de novas escolas, assim
como traçar uma política de trânsito que diminua os níveis de ruído no entorno das escolas já
existentes. Com tal atenção diminuir-se-á o nível de ruído externo às escolas e,
consequentemente, a doença vocal de professores, visando melhora no processo de ensino e
aprendizagem nas escolas, particularmente, nas escolas de ensino fundamental.
6.3 DO AUMENTO DO RUÍDO À ALTERAÇÃO DE VOZ DOS PROFESSORES
O estudo comprova que em escolas com ruído de fundo superior ao indicado pelas
normas, da OMS e da NBR, faz com que os professores falem com esforço e em altas
intensidades. Tais esforços e intensidades têm levado a um conjunto de queixas e reclamações
por parte dos docentes em termos de esforço vocal, o que indica a possibilidade de perda de
saúde vocal. O estudo identificou que para preservar a voz, existem professores que agem,
consciente ou inconscientemente, como surdos. Na medida em que percebem que por maior
111
seja a intensidade de sua voz e a mesma não será percebida pelos alunos, esses professores
não se esforçam em falar mais alto do que o nível de ruído de fundo. Embora não se possa
generalizar essa ocorrência, o estudo identificou que professores com mais tempo de atuação
na escola e no magistério não conseguem mais perceber a intensidade de sua voz e como esta
se apresenta no processo de comunicação. Tal evidência ocorreu particularmente na escola
mais ruidosa (escola pública), onde houve pior relação sinal/ruído devido à presença de ruído
de trânsito, evidenciando que nestas condições há maior prejuízo na inteligibilidade de fala e,
por conseguinte, provocam alterações na voz dos professores. A prevalência de queixas
vocais na escola mais exposta ao ruído urbano demonstra que este é mais impactante sobre a
voz do que o ruído interno.
6.4 ENTRE O IDEAL E O REAL: A DESOBEDIÊNCIA À LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
As medidas dos níveis de ruído nas escolas investigadas evidenciaram que não há uma
preocupação com o respeito às normas brasileiras estabelecidas. A escola pública, por
exemplo, está localizada em área predominantemente comercial, com características
inadequadas para este fim, contrariando as normas. Todas as salas apresentaram níveis de
ruído acima do recomendado pela NBR 10.152 de 40 dB(A).
A desobediência aos parâmetros aceitáveis para escolas e salas de aula acarreta
prejuízos de todo tipo. A exposição ao ruído gera problemas vocais, de saúde e de
comunicação. Problemas de saúde e de voz costumam afastar os professores das salas de aula
gerando, no caso dos professores da escola pública, gastos adicionais com licenças médicas e
prejuízo aos cofres públicos. Em se tratando de professores de escolas particulares, o
afastamento provoca perdas salariais para o próprio profissional e descontinuidade de
trabalhos em sala de aula, o que prejudica o processo de ensino e aprendizagem.
A necessidade de leis que contemplem, regulem e acompanhem efetivamente a
emissão de ruídos e a localização das escolas evidencia-se nesta pesquisa. Desta forma,
conclui-se que o professor que exerce atividade docente em escolas sujeita ao ruído do tráfego
percebem que sua voz não é inteligível, e que mesmo com esforço vocal não atingirão as
crianças.
112
6.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: EM DIREÇÃO A NOVOS ESTUDOS
Os resultados deste estudo sugerem a necessidade de revisão na localização das
escolas, assim como atenção especial aos danos à saúde vocal dos professores, uma vez que
os resultados desta dissertação mostram que a orientação e o conhecimento sobre saúde vocal
não são suficientes para evitar a ocorrência de alterações de voz nesta classe profissional e,
assim, minimizar os afastamentos dos profissionais em questão da sala de aula.
Adicionalmente, esta dissertação mostrou que a análise das pistas auditivas perdidas, o
desconforto do falante disfônico, os problemas de saúde decorrentes da exposição do
professor a condições insalubres referentes ao ruído permitem melhor compreensão da
problemática dos afastamentos dos professores das salas de aula.
Embora reconhecidos como graves, os problemas vocais de profissionais que usam a
voz como instrumento de trabalho, em Belém, são pouco estudados, assim como os fatores
determinantes destes problemas. O conhecimento sobre as interferências que o ruído urbano
exerce sobre as outras atividades profissionais realizadas nas escolas, ou em outros ambientes
de trabalho, devem ser objetos de outras investigações científicas, uma vez que as alterações
vocais não são privilégios de professores e que a perda da inteligibilidade gera outras
dificuldades dentro de um processo comunicativo.
Por fim, este estudo mostrou que pesquisas que trabalham na interface entre
urbanização e problemas ambientais podem e devem utilizar métodos qualitativos de análise,
pois estes permitem uma visão mais holística dos fenômenos estudados.
113
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125
GLOSSÁRIO
CODIFICAÇÃO: transformação dos dados brutos do texto para atingir uma representação do
conteúdo, ou da sua expressão que permita esclarecer o analista acerca das características do
texto que podem servir de índice. A transformação é feita através de recorte, agregação e
enumeração dos dados.
dB(A): a percepção de um som pelo ouvido humano depende da frequencia em que é emitido.
Assim, um som de baixa frequencia é percebido de forma diferente do de alta frequencia. Para
realizar esta análise usa-se uma curva de ponderação que enfatiza as curvas que o ouvido
humano apresenta maior sensibilidade. Em medições sonoras é usada a curva de ponderação
“A” e seu valor é dado em dB(A).
DURAÇÃO: refere-se à medida em segundos.
INTENSIDADE DO SOM: refere-se à energia das oscilações e é definida por unidade de área.
LEITURA FLUTUANTE: primeiro contato com os documentos para análise e conhecimento.
LOUDNESS: sensação subjetiva de intensidade do som. Permite que o ouvinte perceba se o
som é fraco ou forte.
NÍVEL DE PRESSÃO SONORA: Refere-se à mínima pressão sonora percebida pelo ouvido
humano.
NÍVEL SONORO EQUIVALENTE (Leq): representa a média de todos os níveis sonoros
medidos ao longo do tempo. Permite que as avaliações sejam mais precisas e se expressem
através de um único número. É dado em dB (A).
PITCH: sensação subjetiva de frequencia. Permite que o ouvinte perceba se o som é grave ou
agudo.
126
PRESSÃO SONORA: pressão que atinge o tímpano dos seres humanos e animais. É resultante
do movimento de oscilação das moléculas do meio. É dada em Pascal (Pa).
QUALIDADE VOCAL: impressão deixada pela voz do falante. Depende da quantidade e
qualidade de harmônicos produzidos nas cavidades de ressonância do trato vocal. Este termo
substituiu o timbre que atualmente é usado para instrumentos musicais.
RELAÇÃO SINAL-RUÍDO: refere-se à relação entre o nível de ruído do ambiente e o sinal
(fala). Significa que a redução do nível de ruído em ambiente fechado favorece a recepção do
sinal de modo que este seja tão alto quanto possível para que a informação recebida supere o
ruído de fundo.
RESSONÂNCIA: capacidade que um sistema vibrante possui, ao oscilar livremente, de por em
movimento corpos ao seu redor que possuem a mesma frequencia.
REVERBERAÇÃO: reflexões do som que incidem sobre as superfícies refletoras, em
ambiente fechado.
RUÍDO: mistura de sons cujas frequencias não seguem qualquer lei precisa, diferindo entre si
por valores imperceptíveis ao ouvido humano. É considerado um som indesejado. Atribui-se o
termo ruído a qualquer sinal que tem a capacidade de reduzir a inteligibilidade de uma
informação de som, imagens ou dados. É definido, ainda, como um som indesejável. Diversos
tipos de ruídos podem ser identificados, entre eles, os ruídos naturais e artificiais. Por naturais
entendemos os ruídos encontrados na natureza, sem influência do homem para sua produção ou
ocorrência – são os ruídos galácticos ou atmosféricos.
RUÍDO DE FUNDO: sons emitidos durante o período de observação, que não aquele objeto da
medição. Refere-se ao ruído constante encontrado em determinado ambiente, superior a 40 dB,
que não se configura como o mais importante.
RUÍDO GAUSSIANO BRANCO: onda sonora aperiódica com energia constante em todas as
frequencias componentes do espectro de frequencia.
127
SOM: modificação da pressão que se propaga em meios elásticos. É o resultado do movimento
ordenado e vibratório das partículas materiais que se propagam em oscilação em torno de uma
posição de equilíbrio.
TEMPO DE REVERBERAÇÃO: tempo necessário para que, depois de cessada a fonte, a
intensidade do som se reduza de 60 dB. Em ambientes fechados a fala inteligível está
subordinada ao ruído e fundo, ao tempo de reverberação, nível da fala e ao ruído de fundo. A
distância entre o ouvinte e a fonte sonora definirá cada um deles, pois os níveis dos sons
diretos e refletidos e o ruído de fundo variam em cada ponto da sala.
Parte do som articulado produzido pelo falante chega às orelhas do ouvinte (som direto) e a
outra parte bate nas superfícies e é absorvida pelo ar. Quando cessa a fonte sonora, a energia
diminui de forma gradativa, enquanto reflete e é absorvida. A inteligibilidade depende do
tempo de reverberação e da relação entre a energia direta e a refletida.
TIMBRE: qualidade resultante da combinação harmônica do som em decorrência das
características da fonte sonora que o produz. Por muito tempo foi utilizada para a voz, mas
atualmente usa-se para instrumentos musicais.
TRATO VOCAL: região compreendida entre a glote e os lábios. É composto pela laringe, pela
faringe, e pelas cavidades oral e nasal.
128
APÊNDICE 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
CRESCIMENTO URBANO, AUMENTO DE RUÍDO E PROBLEMAS DE VOZ: a
interferência de ruídos produzidos em espaços abertos na produção vocal de professores
Você está sendo convidado (a) a participar do projeto de pesquisa acima citado. O documento
abaixo contém todas as informações necessárias sobre a pesquisa que estamos fazendo. Sua
colaboração neste estudo será de muita importância para nós, mas se desistir a qualquer
momento, isso não causará nenhum prejuízo a você. Esta pesquisa tem como objetivo analisar
a interferência do ruído na produção vocal de professores. O tema proposto neste estudo
considera os dados relativos à poluição sonora nesta cidade, a localização das escolas, o
número de veículos circulando na cidade os problemas vocais dos professores.
O estudo será realizado em escolas do ensino fundamental públicas de Belém do Pará. A
amostra será constituída pelos professores e considerará as queixas dos mesmos no que diz
respeito à percepção do ruído e dos sintomas vocais.
Para a identificação dos hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos professores, e a
percepção dos mesmos acerca dos ruídos e sua interferência na sala de aula e na própria
produção vocal serão entregues os questionários para responderem individualmente. O
questionário conterá perguntas acerca dos hábitos, das queixas e dos sintomas vocais dos
professores ao ministrar aulas, durante os intervalos e em conversações no local de trabalho.
Serão aplicados antes dos encontros para o grupo focal evitando-se, assim, que respondam
aleatoriamente às perguntas e comprometam a fidedignidade dos dados. A observação se dará
em 3 momentos distintos: na sala de aula, no grupo focal e nos intervalos de aula, dentro da
escola. A dinâmica das aulas e dos professores é que determinará o número de dias necessários
para concluir a observação. Este método de coleta permitirá ao pesquisador melhor observação
dos hábitos vocais no local de trabalho sujeito às interferências do ruído e confirmará os dados
levantados através do questionário. O Grupo focal será realizado nas escolas pelas mesmas
razões. Permitirá, ainda, que o pesquisador identifique as percepções dos professores acerca do
ruído e sua interferência na sala de aula e na própria produção vocal. Cada encontro terá
duração de, aproximadamente, 2 horas. Da mesma forma que a observação, o número de
129
encontros será determinado pela dinâmica dos professores. Para que seja mantido o anonimato
em todas as etapas da pesquisa não haverá identificação pessoal nos questionários.
Riscos e benefícios: este tipo de pesquisa apresenta riscos mínimos aos sujeitos da pesquisa.
O risco previsto é a quebra da confidencialidade por parte do pesquisador. Todavia serão
tomados todos os cuidados possíveis para que isto não ocorra. Os formulários não serão
identificados e após 5 anos serão incinerados. O mesmo procedimento será realizado com o
termo de consentimento livre e esclarecido. Os resultados servirão para identificar os impactos
negativos do ruído na produção vocal, permitirão a realização de trabalhos de prevenção e
conscientização dos professores, e da população em geral, acerca dos problemas ocasionados
pelo excesso de ruído nas cidades. Este tipo de pesquisa amplia o leque de possibilidades de
estudos para a saúde, principalmente a fonoaudiológica, e o meio ambiente incentivando a
investigação nestas áreas.
Eu, _____________________________________________________________, residente e
domiciliado na _____________________________________________________, portador da
Cédula de identidade, RG _________________ ,e inscrito no CPF___________________
nascido (a) em _____ / _____ /_______ , abaixo assinado (a), concordo de livre e espontânea
vontade em participar como voluntário (a) deste estudo.
Estou ciente que:
-Não sou obrigado a responder as perguntas realizadas no questionário de avaliação;
-A participação neste projeto não tem objetivo de me submeter a um tratamento, bem como
não me causará nenhum gasto com relação aos procedimentos de avaliação efetuados com o
estudo;
-Tenho a liberdade de desistir ou de interromper a colaboração neste estudo no momento em
que desejar, sem necessidade de qualquer explicação;
-A desistência não causará nenhum prejuízo à minha saúde ou bem estar físico
-A minha participação neste projeto contribuirá para acrescentar à literatura dados referentes ao
tema, direcionando as ações voltadas para a promoção da saúde e não causará nenhum risco;
-Não receberei remuneração e nenhum tipo de recompensa nesta pesquisa, sendo minha
participação voluntária;
130
-Os resultados obtidos durante este ensaio serão mantidos em sigilo;
Concordo que os resultados sejam divulgados em publicações científicas e encontros
científicos desde que meus dados pessoais não sejam mencionados;
-Caso eu desejar, poderei pessoalmente tomar conhecimento dos resultados parciais e finais
desta pesquisa.
( ) Desejo conhecer os resultados desta pesquisa.
( ) Não desejo conhecer os resultados desta pesquisa
Qualquer dúvida poderá ser esclarecida pelos responsáveis por esta pesquisa, Prof. Dr. Mario
Vasconcelos Fonoaudióloga. Heloísa M. M. e Silva no telefone e endereço da Universidade da
Amazônia: Avenida Alcindo Cacela, Nº. 287, Umarizal. Belém-PA, Tel.: (91) 4009-3117
Declaro que obtive todas as informações necessárias, bem como todos os eventuais
esclarecimentos quanto às dúvidas por mim apresentadas.
( ) Professor_________________________________________________
Testemunha 1: ________________________________________________
Nome / RG / Telefone
Testemunha 2: _______________________________________________
Nome / RG / Telefone
Responsável pelo Projeto:
____________________________________________
Prof. Dr. Mario Vasconcelos
____________________________________________
Fga. Heloisa M. Machado e Silva. CRFa 4066
Belém.........de............de 2008
131
APÊNDICE 2
QUESTIONÁRIO DE AUTO AVALIAÇÃO
Elaborado por Heloisa Maria Machado e Silva
1-Dentre as aulas que você ministra qual o número máximo de alunos por sala de aula?
( ) menos de 30 alunos ( ) de 31 a 50 alunos
( ) de 51 a 100 alunos ( ) de 100 a 150 alunos
( ) mais de 150 alunos
2-Exerce outra atividade profissional além de professor?
( ) sim. ( ) não Qual?__________________________
Sintomas Clínicos
1-Sente dor ou irritação na garganta?
( ) não ( ) sim
2-Em que período do dia acontece mais frequentemente?
( ) manhã ( ) tarde ( ) noite
3-Sensação de corpo estranho na garganta?
( ) não ( ) sim
4-Em que período do dia acontece mais frequentemente?
( ) manhã ( ) tarde ( ) noite
5-Sente necessidade de pigarrear?
( ) não ( ) sim
6-Em que período do dia acontece mais frequentemente?
( ) manhã ( ) tarde ( ) noite
7-Sente dor no pescoço?
( ) não ( ) sim
132
8-Em que período do dia acontece mais frequentemente?
( ) manhã ( ) tarde ( ) noite
9-Tem rouquidão?
( ) não ( ) sim
10-Em caso afirmativo a rouquidão é:
( ) constante ( ) constante com flutuação ( ) episódios intermitentes
11-Se a rouquidão for intermitente ou com flutuações, quando ela é mais comum?
( ) durante o dia de trabalho ( ) no decorrer da semana
( ) final do semestre letivo ( ) todos os períodos acima
12-Possui algum cuidado com a voz?
( ) não ( ) sim
13-Informações que considere relevantes que não foram perguntadas acima:
Hábitos
1-Cigarro (tabaco):
( ) sim .Quantas unidades por dia?_____________
Há quantos anos é tabagista?__________________
( ) não, pois nunca fui tabagista ( ) sou ex-fumante há ______anos/meses
No caso de ex-fumante, especifique
quantas unidades/dia:________
quantos anos fumou?_________
Alguns desses sintomas perguntados anteriormente levaram-no a procurar um especialista?
( ) não ( ) sim
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APÊNDICE 3
ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL
Levantar questionamentos acerca das representações individuais sobre:
1- Quais os ruídos mais presentes na sala de aula.
2- Qual Ruído mais incomoda.
3- Identificar as sensações físicas ao falar com o ruído.
4- O crescimento da cidade e a localização da escola.
5- O que faz para melhorar ou para ser compreendida na presença de ruído.