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8
LISTA DE FIGURAS
Págs.
Figura 1.....................................................................................19
Figura 2...............................................................................................19
Figura 3.............................................................................................20
Figura 4................................................................................................20
Figura 5.............................................................................................23
Figura 6..............................................................................................25
Figura 7........................................................................................26
9
Figura 8........................................................................................27
Figura 9.......................................................................................28
Figura 10 .............................................................................................31
Figura 11 ................................................................................................31
Figura 12 ..............................................................................................31
Figura 13 ..............................................................................................31
Figura 14 ............................................................................31
Figura 15 .................................................................................31
10
Figura 16 ............................................................................................31
Figura 17 ..........................................................................................31
Figura 18 ...........................................................................................33
Figura 19......................................................................................34
Figura 20......................................................................................34
Figura 21.....................................................................................35
Figura 22.....................................................................................35
Figura 23.....................................................................................36
11
Figura 24....................................................................................36
Figura 25.........................................................................................38
Figura 26........................................................................................38
Figura 27.........................................................................................38
Figura 28.................................................................................39
Figura 29.................................................................................39
Figura 30......................................................................................40
Figura 31.................................................................................42
12
INTRODUÇÃO
A escultura como linguagem de expressão é uma forma muito complexa, pois
não dá para falar dela sem desligar-se completamente das demais artes. Desde a
idade das cavernas o homem vem usando a escultura, mesmo antes da pintura,
como modo de expressar: respeitos, homenagens e sentimentos ligados ao
imaginário e mágico, como a “Vênus de Willendorf” que mostrava a fertilidade da
mulher.
O homem moderno começou a procurar novas linguagens de formas, para
satisfazer novos anseios onde ele começou a se interessar por materiais diversos
como metal, plásticos, papéis e outros no qual ele transformava suas angústias
buscando uma harmonia e serenidade nas formas através da construção de
esculturas.
Para compreendermos as diferentes artes plásticas em sua origem, devemos
pensar que como o desenho é arte da linha, a pintura arte da superfície, a escultura
é a arte do volume convexo e côncavo, mas não podemos idealizar uma escultura
sem entrarmos nas outras artes citadas.
A escolha das aves como tema para as minhas esculturas deu-se
primeiramente através de esboços de vários animais do Pantanal. Devido ao meu
apego pela nossa fauna pantaneira, escolhi cinco aves que são: a garça-branca, o
biguatinga, a ema, o colhereiro, e o tucano. Comecei a desenhá-las até conseguir
formas bem estilizadas e limpas, tentando produzi-las com formas lineares. A partir
das leituras sobre o neoconcretismo, percebi que as aves com seus vôos
espetaculares nos levam a percepção dos movimentos no ar e do espaço que as
envolvem; assim as obras do neoconcretismo são realizadas diretamente no espaço,
13
sem molduras e bases. Comecei a pensar no movimento em que as aves teriam,
executadas no ferro e sem um suporte aparente, dando a impressão de estarem
livres no ambiente.
Discuto neste trabalho questões a respeito da produção das minhas esculturas
com o uso do espaço, linha e volumes virtuais juntamente com idéias neoconcretas.
Pretendo expor as esculturas num espaço ao ar livre e imersas em um campo de
visão para que os expectadores as observem integradas com o ambiente.
Os objetivos principais desse trabalho são: estudar e pesquisar a escultura no
contexto contemporâneo; estabelecer paradigmas com outros movimentos que
desenvolveram estilos de esculturas semelhantes com as que vou produzir;
construção esculturas com formas estilizadas e contemporâneas de aves
pantaneiras.
O trabalho está dividido em dois capítulos com subdivisões que relataram
sobre a evolução da escultura moderna e contemporânea; neoconcretismo; a
metodologia e analise das obras e sua poética.
14
Capítulo I
1. Evolução Escultórica
A escultura teve uma evolução nas suas formas e materiais aplicados, mas a
cada contra-movimento formulado, algo do passado é inserido nas obras modernas e
contemporâneas.
O desenvolvimento tecnológico e os conflitos sociais e psicológicos da
humanidade refletiram na produção artística moderna. Um trecho do livro de Herbet
Read pontua essa evolução dizendo:
... O fato, sobretudo, de que vivemos em uma civilização amplamente dependente da metalurgia para sua maquinaria de produção e distribuição. É verdade que ultimamente a dependência que a indústria tem de metais naturais tem sido desafiada pela invenção de vários materiais sintéticos, um desenvolvimento que os artistas também observaram e exploraram; nos metais como bronze, aço, ferro e alumínio que constituem os materiais peculiares a nossa civilização e tem virtudes decisivas para a escultura. (Read, 1964: 241).
A presente atividade escultórica de todo o mundo ocidental não é dominada
por nenhum estilo único. Torna-se então ciente de um desenvolvimento espantoso:
o predomínio da obra em metal. Uma das razões desse desenvolvimento é o fato
de que vivemos em uma civilização amplamente dependente da metalurgia.
Artistas modernos resolveram explorar o uso de materiais diversos em suas
esculturas, como os metais, que poderiam ser cortados, soldados, moldados,
15
fundidos, polidos ou cobertos de tinta, tendo um resultado final com durabilidade que
supera algumas pedras.
Conforme os motivos ideológicos e temáticos o escultor escolhe um tipo de
metal, o ferro, por exemplo, que pode ter um sentido simbólico. Como a pedra e a
madeira ficaram de difícil acesso para os artistas, tanto o custo como as dificuldades
de trabalhar com eles, buscou-se o ferro, o alumínio e o aço que são mais acessíveis
devido à modernidade e facilidade de construção.
Os metais em geral têm certas qualidades únicas, são dúcteis, o que significa
que deles se pode extrair arames, e são maleáveis pois tem a possibilidade de dar-
lhes forma martelando-os, e podem ser soldados, derretidos ou prensados.
Conforme Read (2003: 250):
O escultor moderno obtém vantagem de todas estas possibilidades, de modo que temos escultura em arame (Picasso, Calder, Butler, Lassaw, Bodmer, Lippold, Kricke, David Smith, José de Rivera, Mary Vieira, Bill e muitos outros), ferro e lâmina soldada (Lardera, Jacobsen, César, Muller, etc.), ferro ou aço batido (Baldessari, Uhlmann, Hoskin, Chilida) e inúmeras combinações e variações dessas técnicas.
16
2. Neoconcretismo
A enorme complexidade da visualização do tridimensional exige do criador
uma imensa capacidade de apreensão do conjunto. Para a boa compreensão de um
problema, a concepção e o planejamento de um material e o visual tridimensional
exige sucessivas etapas, ao longo das quais se possa refletir e encontrar soluções
possíveis. Relato um pouco do paradigma adotado e das obras de alguns artistas em
que busquei inspiração para minha produção artística.
Segundo Brito (1999), o neoconcretismo foi um movimento das artes plásticas
que começa em 1957, no Rio de Janeiro, como dissidência do concretismo paulista.
Insatisfeitos com o que consideravam excesso de racionalismo, alguns artistas aliam
ao concretismo uma dose maior de sensualidade. Isso é feito com o uso mais livre da
cor nas telas e com a criação de objetos que dependem da manipulação do
espectador. Tendo como mentores o poeta Ferreira Gullar (1930-) e a artista plástica
Lygia Clark, esses artistas expõem suas idéias no Manifesto Neoconcreto, publicado
no Jornal do Brasil em 1959.
A expressão neoconcreta indica uma retomada de posição em face da arte
concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista. O neoconcreto nasceu de
uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno, centro da
linguagem estrutural da nova plástica, nega a validez das atitudes cientificistas e
positivas em arte, e repõe o problema da expressão incorporando as novas
dimensões verbais criadas pela arte não figurativa construtiva.
Os neoconcretos podem ser divididos em dois grupos; com maior liberdade de
concepção, o primeiro produz pinturas, esculturas e objetos que combinam essas
duas formas de arte. Entre eles destacam-se os escultores Amílcar de Castro
(1920-), Franz Weissman (1914 - 2005), Willys de Castro (1926-1988) e Hércules
17
Barsotti (1914-). Amilcar de Castro trabalha com chapas de ferro que são dobradas
no espaço como folhas de papel. Willys de Castro faz os chamados relevos de
parede, desenvolvendo objetos de madeira ou metal que mesclam pintura e
escultura; o segundo grupo estimula a percepção tátil, além da visual, para que o
público interaja com suas obras.
Outros artistas que me trouxeram inspiração foram Franz Weissman, que
produziu esculturas grandes com placas de metal galvanizado e pintado e Emanoel
Araújo, artista que alcança um lugar muito significativo no panorama da arte
contemporânea brasileira, com sua escultura coerente, límpida e harmônica de
formas, instigante, remissiva às próprias raízes e reverenciadora do belo inventado.
Na sua obra de produção e acabamento irrepreensíveis, transita a herança
dos tempos numa vertigem de futuro antecipado, onde um classicismo elegante e
isento se constrói, arriscado, em agudas referências às sínteses de suas origens
negras e baianas. (Klintowitz, 1983).
18
2.1 Artistas e Obras do Neoconcretismo
Escultor dos espaços
Weissman não gosta de falar de si mesmo ou de sua obra. “Se não consigo
me comunicar através do meu trabalho, não adianta falar. O trabalho deve falar por
si”, diz. Sua paixão confessa, entretanto, são os espaços desocupados. “Sou um
escultor de espaços e não de volumes”, define. (LOPES, Fernanda Biografia de Franz Weissman
<www.sampa.art.br/saopaulo/Biog%20Franz%20Weissmann.htm> capturado em 20/10/04)
Obras de Franz Weissman
Figura 1 – Franz Weissman (1911-2005): Terra, 1958.
Universidade Candido Mendes (RJ). Aço Pintado, 400x400x200cm.
Figura 2 – Franz Weissman (1911-2005): Grande Quadrado Preto com Fita, 1985.
Coleção do Museu de arte Moderna de São Paulo (SP). Aço Pintado, 240x 240x 120cm.
(www.itaucultural.org.br)
19
Obras de Emanoel Araújo
"Em Emanoel Araújo, a obra pertence à Cidade, é sua beleza em parques, jardins,
muros, casas”. Leon Kossivitch e Mayra Laudana. Fonte: GRAVURA: arte brasileira do século XX.
Apresentação Ricardo Ribenboim. São Paulo: Itaú Cultural, 2000, p. 32
Figura 3 – Emanoel Araújo (1911): O Grande Galão, 1980.
Coleção Jean Sigrist. Escultura em madeira policromada, 1.20m.
Fonte: Construtivismo Afetivo de Emanoel Araújo
Figura 4 – Emanoel Araújo (1911): Pássaro de Fogo
Projeto Fernando Peixoto e Ivan Smarcevki (BA).Escultura em aço carbono, 8m de altura.
Fonte: Construtivismo Afetivo de Emanoel Araújo
20
Capítulo II
1. Construção Poética e Prática do Tema
A escultura Neoconcreta leva ao questionamento do uso do espaço que se
integra juntamente com as obras, assim minha produção levará em consideração o
paradigma do neoconcretismo, pois uso somente linhas torcidas e moduladas de
forma a ocupar os espaços vazios e preencher o volume.
Na pesquisa que desenvolvi para resolver questões que seriam necessárias
para a execução desse projeto, constatei a necessidade de fazer comparações com
o neoconcretismo, movimento introduzido pelo construtivismo Russo. O concretismo
paulista era um movimento que se mostrava pelas formas rígidas e limpas,
racionalizadas; enquanto o neoconcretismo carioca possuía mais flexibilidades das
formas, da geometria e da ausência rígida.
A arte neoconcreta foi uma experiência estética que se desenvolveu
dialeticamente à força de indagações e respostas. Vindos de experiências
pessoais, até certo ponto isoladas, mas trabalhando as mesmas proposições gerais
da arte concreta, os artistas que integraram esse movimento encontraram-se em
certo ponto, pela afinidade das soluções que iam descobrindo. Essas soluções
permitiram-lhes uma reformulação de alguns problemas básicos da arte
contemporânea.
Os neoconcretos rejeitam o primado da razão sobre a sensibilidade, para
colocar a percepção estética (percepção da forma) como uma faculdade capaz de
apreender e formular, sinteticamente, as complexas experiências humanas. E se
assim pensam e por terem do corpo à noção de totalidade simbólica e simbolizadora,
21
que a tudo apreende como significação e a toda significação reage e transfere, então
produzem arte como produção social e ideológica.
Os artistas que me influenciaram foram principalmente Franz Weissman e
Emanoel Araújo apesar deles serem concretistas, eles possuem sensibilidade e uma
percepção que não são totalmente racionais. Emanoel Araújo é um artista dotado
de forte carga sensual, ele elabora suas obras a partir do sensorial, tanto na escolha
de seus materiais, quanto na seleção de assuntos. Ele busca também inspiração
nas suas origens negras e baianas, produzindo também esculturas grandes de
ferro,aço e madeira,que são colocadas também em espaços públicos.
Franz Weissman produziu esculturas grandes com placas de metal
galvanizado e pintado. Como Araújo e Weissmann a cor também vem aparecer no
meu trabalho de uma forma monocromática,apenas simbolizadora. Esses artistas
serviram para fundamentar e desenvolver minha linguagem plástica, pois meu
objetivo e minha direção parecem ser coerentes às suas idéias.
22
1.1 Escolha e Estilização das Aves
1.1.1 Caracterização das aves
Figura 5
Foto: Wilson Cerqueira Ferreira
Biguatinga
Anhinga anhinga
Família Anhingidae
Caracterização
Mede 88 cm, seu peso é de 1,2 - 1,5 kg. Macho com coloração negra e rico
desenho branco sobre a asa, ponta da cauda clara (acinzentada); fêmea de pescoço
e peito pardacento-claros; indivíduos jovens de dorso pardo, quase não possuindo
branco na asa, e de bico amarelo. O imaturo possui o dorso pardo e o bico amarelo-
claro, um pouco enegrecido.
23
Habitat
Vivem em rios e lagos orlados de mata. Aparece em represas que possuem
muitos peixes.
Hábitos
Quando não pescam, nadam devagar, deixando emerso apenas um pouco do
pescoço e a cabeça ou somente esta última, que é tão estreita que parece
continuação daquele, dando a impressão de estarmos defronte de uma cobra d'água.
Foge mergulhando como o biguá. Empoleirado permanece freqüentemente de asas
abertas. A razão de esticar as asas deve ser tripla: (1) secar as asas, (2) acumular
calor em horas de temperatura baixa, e (3) se livrar de um excesso de calor. Pousa
sobre árvores altas e secas.
Alimentação
Alimentam-se de insetos aquáticos, crustáceos, que apanham com rápido
bote, com o bico, sem deixar o poleiro. Mergulham na perseguição de peixes.
Fonte: Helmt Sick, 1988. "Ornitologia Brasileira".
Marco Antonio de Andrade, 1997. "Aves Silvestres - Minas Gerais".
24
Figura 6
Garça-grande-branca
Casmerodius albus
Caracterização
Mede 88 cm. Branca.
Habitat
Comum à beira dos lagos, rios e banhados.
Alimentação
Apanham igualmente insetos aquáticos (imagos e larvas), caranguejos,
moluscos, anfíbios (até sapos do gênero Bufo) e répteis. Engolem às vezes cobras e
preás.
Fonte: Helmt Sick, 1988. "Ornitologia Brasileira".
25
Figura 7
TUCANO-TOCO
Ramphastos toco
Família: Ramphastidae
Caracterização
Bico de coloração alaranjada, em vários tons, com manchas negras ovaladas
na parte maxilar do bico. Pele alaranjada ao redor dos olhos azuis. Fronte e peito
brancos, com o restante das plumagens do corpo de coloração negra. Os filhotes são
prognatas (mandíbula proeminente).
Habitat
Bordas de matas
Alimentação
Onívoro
Fonte: Helmt Sick, 1988. "Ornitologia Brasileira".
26
Figura 8
EMA
Rhea americana
Caracterização
Plumagem cinza e castanho. Ave de maior porte do Brasil, terrestre, não
voadoras, possuem 3 dedos e longas pernas. É da família mais antiga das aves
(ancestrais de 55 milhões de anos). Corre em zigue-zague, chegando a 60 km/h.
Caminha e pasta vagarosa e continuamente, distanciando e desaparecendo de
forma imperceptível.
Habitat
Pampas, campos, cerrados, normalmente em áreas com pelo menos um
pouco de vegetação, evitando campos abertos. Durante a reprodução preferem estar
perto de rios e lagos
Alimentação
Onívoros. Comem folhas, sementes, frutas, insetos, lagartos, sapos, e
pequenas aves.
Fonte: http://www.freepgs.com/vidaselvagemc/animaisdeaz/aves/ema.html
27
Figura 9
COLHEREIRO
Platalea leucorodia
Caracterização
Cerca de 80 a 90 cm de comprimento, 115 a 130 cm de envergadura, pescoço
e patas compridas e uma plumagem branca, o Colhereiro assemelha-se a uma
garça-branca de grande dimensão. Apresenta, no entanto, pescoço e patas mais
longas, plumagem de um tom branco-creme e um bico inconfundível, comprido e
terminando em forma de colher. Na plumagem nupcial os adultos apresentam uma
polpa de penas amarelo-pálido, uma mancha alaranjada na base do bico e uma
banda alaranjada à volta do peito. O bico é preto com a extremidade alaranjada na
estação reprodutora; as patas são pretas. Nos juvenis as pontas das asas são
pretas; o bico é cor-de-rosa, tornando-se preto no primeiro inverno.
28
Habitat
Águas rasas de rios, courixos, vazantes e baías.
Alimentação
Peixinhos, insetos, moluscos e crustáceos.
Habitat
Vive em praias lamacentas do litoral e dos rios, manguezais, brejos, lagos, veredas e
matas ciliares onde dividem os ninhais com garças e guarás, preferindo árvores mais
altas.
Fonte: http://www.freepgs.com/vidaselvagemc/animaisdeaz/aves/colhereiro.html
29
1.1.2 Estilização das aves
O processo de abstração é também um processo de destilação, ou seja, de
redução dos fatores visuais múltiplos aos traços mais essenciais e característicos
daquilo que está sendo representado. Porém, se o que se pretende enfatizar é o
movimento de uma ave, os detalhes estáticos e o acabamento mais rigoroso são
ignorados. Quando comecei a estilizar as aves não conseguia me desprender dos
detalhes, e como queria linhas mais abertas e não tão duras, fui eliminando como
podemos ver nos esboços da garça (figuras 10, 11, 12 e 13) que sofreram várias
modificações, tanto que a primeira escultura que seria definitiva acabei descartando,
não porque fiquei descontente com suas linhas, mas pelo material que empreguei
que era ferro com textura, não dando o resultado que queria e por não ter medidas
proporcionais aos meus esboços. Podemos observar nas seqüências dos desenhos
que acabei por eliminar alguns detalhes, mas remetendo à lembrança da garça. A
abstração pode ser atingida mediante a eliminação posterior dos detalhes até se
atingir abstração total e pode seguir dois caminhos: a abstração voltada para o
simbolismo, às vezes com um significado atribuído; e a abstração pura que não
conserva relação alguma com qualquer representação extraída da experiência do
meio ambiente.
Todas as aves possuem uma abstração simbólica, pois houve a redução de
detalhes visuais a linhas, mas elas podem ser vistas e reconhecidas mesmo não
possuindo grande quantidade de detalhes. (figuras 14, 15, 16 e 17)
No caso do biguatinga eu quis mostrar bem o movimento de descanso dele
quando está secando as asas após a pescaria; no colhereiro salientei a forma de seu
bico, que é de uma pá ou colher, o qual ele usa para mexer o barro do fundo dos rios
para pegar seu alimento. A ema e o tucano foram os mais representativos, porque a
ema possui um certo volume que mostra o seu jeito emplumado e o tucano com seu
bico que é a sua marca registrada.
30
Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13
Figura 14 Figura 15
Figura 16 Figura 17
31
1.2 Equilíbrio, Movimento e Dimensão
A mais importante influência tanto psicológica como física sobre a percepção
humana é a necessidade que o homem tem de equilíbrio, de ter os pés firmemente
plantados no solo e saber que vai permanecer ereto em qualquer circunstância, em
qualquer atitude, com certo grau de certeza. O equilíbrio é, então, a referência
visual mais forte e firme do homem, sua base consciente e inconsciente para fazer
avaliações visuais. O extraordinário é que, enquanto todos os padrões visuais têm
um centro de gravidade que pode ser tecnicamente calculável, o senso intuitivo de
equilíbrio inerente a nenhum método de calcular é tão rápido, exato e automático
quanto o senso intuitivo de equilíbrio inerente às percepções do homem.
A minha grande preocupação foi quanto ao equilíbrio das esculturas, pois elas
são pesadas e lineares, devido a isso tive que usar barras de ferro mais grossas para
as pernas das aves para dar sustentação, e mais leves nas partes superiores,
conseguindo assim equilibrá-las e colocá-las em pé. A única escultura que
apresentou problemas quanto ao equilíbrio foi o tucano como podemos observar na
figura 18, pois ele tinha ficado muito alto e também por ter usado no seu corpo uma
chapa 12 de espessura 2,65 mm. Posteriormente, foi substituída por uma chapa 9
de 3,75 mm de espessura, dando assim mais resistência e equilíbrio para não abrir o
corpo; as pernas da ema também foram substituídas por uma chapa de espessura
mais grossa, pois devido ao fato de serem muito compridas elas entortavam com o
peso do corpo.
A questão do movimento nas manifestações visuais estáticas é mais difícil de
conseguir sem que ao mesmo tempo se distorça a realidade, mas está implícita em
tudo aquilo que vemos, e deriva de nossa experiência completa de movimento na
vida. Com as esculturas das aves tentei passar um certo movimento na linha
escultórica, mas com o uso do ferro que é um material maleável consegui também
32
um movimento não só visual, mas também concreto, pois as esculturas do biguatinga
e do colhereiro se movem num balanço suave, o pescoço da ema e da garça possui
também uma cinética e assim, o espectador consegue ter a sensação do movimento
no ar dando um certo volume às esculturas.
A dimensão real é o elemento dominante no desenho industrial, no artesanato,
na escultura, e na arquitetura, e em qualquer material visual em que se lida no
volume total e real. Esse é um problema de enorme complexidade e requer
capacidade de pré-visualizar e planejar em tamanho natural; essa foi minha primeira
dificuldade, pois como queria esculturas grandes tive que tentar dar uma certa
proporcionalidade do natural das aves, mas depois pensei e resolvi que não me
preocuparia em relacionar uma ave com a outra, mas sim dar uma harmonia ao
grupo.
Figura 18
33
1.3 Miniaturas e Estudo das Cores
O desenho foi fundamental para o estudo das formas, mas foi com a
construção das miniaturas que consegui ter noção da tridimensionalidade e fazer
ajustes na proporcionalidade e no equilíbrio das peças. Posteriormente pintei um
conjunto das cinco esculturas só de branco e outro coloridos, para poder analisar
quais cores usaria no acabamento (figura 19 e 20).
Figura 19 Figura 20
A princípio pretendia pintar cada ave com a sua cor predominante, como a
garça toda branca, o biguatinga todo preto, a ema em um tom acinzentado, o tucano
de um laranja forte e o colhereiro de rosa, mas depois resolvi deixar todas brancas,
harmonizando o conjunto.
34
1.4 Construção das esculturas
Com o uso de serras elétricas, primeiramente foram cortadas as chapas em
tamanhos diferentes (figura 21), uma para cada parte do corpo da ave, como:
pernas, pescoço, corpo e cabeça, em seguida com o uso do torno foram feitas as
ondulações do pescoço e de todas as partes que possuíam linhas curvas e
onduladas.
Figura 21
Pelo fato das esculturas serem grandes, foi necessário o uso de recortes e
emendas, pois as chapas são de medida padrão de três metros, então com o uso da
solda elétrica foram sendo montadas e soldadas as esculturas (figura 22).
Figura 22
35
Algumas torções não foram possíveis serem feitas no torno, então houve a
necessidade de aquecer o ferro com maçarico e torcê-las à mão usando muita força.
Essas são algumas das dificuldades em se moldar o ferro (figura 23 e 24).
Figura 23 Figura 24
Após a montagem de todas as esculturas, passou-se para a fase de
acabamento, onde se usou massa plástica para dar acabamento nas emendas de
soldas, lixou-se bem e foi passada uma massa rápida de acabamento de funilaria
automotiva e um fundo automotivo multifil e a pintura com esmalte sintético duco
branco.
36
2. Análise das Obras
O conjunto compositivo das cinco obras, juntamente com a escolha do
material e técnica utilizada nelas não é de fácil construção, devido ao peso do
material e à dificuldade em manusear equipamentos pesados da serralheria, como
tornos, soldas e serras e lixadeiras elétricas; devido à escolha de fazê-las em
tamanho grande, tive que estudar muito como equilibrá-las e construí-las com
proporcionalidade às maquetes.
Analisando no aspecto visual, posso dizer que uma obra isolada e
independente não nos estimula visualmente, porém o seu conjunto nos faz pensar
em todos os elementos usados, tais como: a linha, a forma, a dimensão e o
movimento entre elas, pois passeando ao redor e entre elas podemos analisar todos
esses aspectos e ter uma percepção do todo.
A escolha de chapas de ferro me proporcionou a felicidade de conseguir um
certo movimento próprio às asas do biguatinga e do colhereiro, podemos tocá-las e
fazer com que se movimentem. A ema e a garça possuem uma graciosidade que
lhes são peculiares na natureza, e na forma das esculturas de ferro elas também
trazem essa graciosidade e leveza em contraste com o material aplicado e, apesar
das dificuldades da construção com o tucano, ele tornou-se uns dos meus preferidos
devido aos vazados.
Com a análise individual das esculturas, posso relatar as transformações
sofridas na construção da garça que foi apresentada primeiramente à pré-banca,
foram feitas modificações no seu desenho e no ferro aplicado, passando para uma
forma mais elaborada, salientando o seu porte esguio e a torção do pescoço e com a
troca da chapa texturizada por uma lisa, consegui uma forma mais limpa (figura 25 e
26).
37
Figura 25 Figura 26
O tucano como a garça foi construído de uma forma linear, ele repousa em
uma chapa que sugere um galho de árvore, os vazados que possuem entre as linhas
que se unem formam volumes quando as sombras se projetam sobre elas. Essa
escultura também sofreu transformações devido a dificuldade de equilíbrio, mas
foram mudanças na chapa e na linha colocada no meio do seu corpo para
sustentação, mas que acabou contribuindo com a sua forma (figura 27).
Figura 27
38
O biguatinga tem uma forma bem estilizada no qual foi salientado o repouso
das asas quando está secando ao sol após uma pescaria, ele possui também um
movimento nas asas e uma torção no pescoço que transmitem uma leveza ao seu
porte e nos faz imaginá-lo com toda sua beleza (figura 28).
Figura 28
O colhereiro tem como característica o bico em forma de colher, mas as
torções das asas e a pose altiva também foram mostradas em sua forma estilizada,
dando-lhe um movimento como se fosse alçar vôo (figura 29).
Figura 29
39
A ema com a sua graciosidade plumária e suas pernas longas foi bem
caracterizada nas linhas da sua construção, ficando assim com uma forma abstrato-
figurativa (figura 30).
Figura 30
40
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de produção dessas obras deu-se desde o momento em que me
identifiquei com a matéria de escultura; a criação das obras estilizadas começou a se
formar na minha mente com a intenção de modificar a maneira como é apresentada
a fauna pantaneira aqui no nosso estado. Com essa meta comecei a pesquisar na
história da escultura e na sua evolução, artistas e movimentos que poderiam servir
de paradigmas para minhas criações. Identifiquei-me com o neoconcretismo, que
exprime a complexa realidade do homem moderno e incorpora as novas dimensões
verbais criadas pela arte não figurativa construtiva.
Com a leitura sobre o neoconcretismo e a escultura contemporânea, constatei
a evolução do uso de novos materiais no espaço, da abstração e do movimento da
luz e da cor. Escolhi então as chapas de ferro para construir as minhas esculturas,
devido à sua maleabilidade, resistência às intempéries, e por ser um material
contemporâneo.
Os artistas que mais me influenciaram foram Franz Weissman e Emanoel
Araújo, artistas contemporâneos que usaram o ferro e a cor monocromática em suas
esculturas.
A partir da escolha das aves e os esboços dos desenhos elaborados, comecei
a ver que a linha seria a característica das minhas obras, por isso a escolha de
chapas estreitas para a montagem das esculturas e a preocupação com o equilíbrio,
dimensão e movimento que elas possuem. O acabamento foi esmerado para não
aparecer emendas, realçando o desenho contínuo da linha fazendo com que o olhar
do fluidor passeie pelas curvas suaves das formas elaboradas. A harmonia do
41
conjunto foi conseguida com a aplicação da cor branca em todas as obras (figura
31).
Figura 31
Concluindo, tenho a certeza de que consegui meu objetivo de estilizar e
transformar as aves em esculturas contemporâneas, podendo assim exibi-las ao ar
livre à fruição dos transeuntes.
42
BIBLIOGRAFIA
A Gramática dos Estilos. “Arte no séc. XX” volume 2: Livraria Martins Fontes, Ed.
LTDA.
BARDI, P.M. Em Torno da Escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameres
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43
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44
ANEXOS
ANEXO 1 – Biografia do Franz Weissman
Karl Weissman era um austríaco que militava em favor da social-democracia
e, quando começou a sofrer pressões políticas, decidiu seguir o fluxo migratório da
Europa para as Américas. Em 1921, Karl e sua esposa Hedwig desembarcaram no
porto de Santos, em São Paulo, trazendo seus quatro filhos.
Franz Josef Weissman era o filho mais novo. Nasceu dia 15 de setembro de
1911, na cidade de Knittelfeld, próxima a Viena (Áustria). Junto com os outros três
irmãos e os pais, Franz trabalhou em plantações de algodão da região da fronteira
de São Paulo com Paraná por seis anos. Em 1927, toda a família se muda para a
cidade de São Paulo e começa a trabalhar numa pequena fábrica de carrocerias de
ônibus.
Aos 16 anos, Weissman se sustentava financeiramente dando aulas de
português para imigrantes. Em 1939, Franz faz sua matrícula na Escola Nacional de
Belas Artes. Com medo de que duvidassem de sua virilidade, trocou o curso de
pintura pelo o de arquitetura. “Pintor não era profissão de homem”, justifica. Franz
logo abandonaria a escola por inadaptação ao currículo acadêmico, mas não ficaria
muito tempo longe das artes: começou a freqüentar aulas de desenho que, mais
tarde, foram substituídas por aulas de pinturas.
Foi para a pintura que Weissman dirigiu seus primeiros esforços de estudante
e de profissional. Dos anos iniciais de seu aprendizado relativamente curto (cerca de
quatro anos, de 1939 a 1943), quase nada sobrou, exceto uns poucos desenhos
reproduzidos como ilustrações para revistas e jornais.
45
Assim como o desenho e a pintura dos anos 40 e início dos 50, quase nada
resta da escultura do mesmo período, parte considerável dela destruída em 1956,
quando a polícia invadiu o prédio onde ficava o seu atelier.
Em 1945, o artista vai para Belo Horizonte, onde dá aulas particulares de
desenho e escultura, além de trabalhar como corretor de imóveis. Junto com o artista
plástico Alberto da Veiga Guignard trabalha no Curso de Belas Artes Guignard, uma
escola improvisada.
Muitos dizem que Franz Weissman teve o seu primeiro vislumbre concretista
após o encontro com a obra de Max Bill, Unidade Tripartida, apresentada na I Bienal
Internacional de São Paulo, em 1951. Mas a procura de Weissman por um caminho
abstrato tem início antes mesmo da Bienal. O artista chegou a apresentar à
comissão de seleção do evento uma primeira versão do Cubo Vasado. Tudo isso
antes mesmo de seu primeiro contato com Max Bill. A peça foi rejeitada por seu
acabamento precário, mas o júri aceitou seus trabalhos figurativos.
Dez anos depois (1955) entra para o Grupo Frente, que reúne alguns dos
principais nomes da vanguarda concretista no Rio de Janeiro como Hélio Oiticica,
Lygia Clark e Ivan Serpa. No ano seguinte, Weissman obtém o título de naturalização
brasileira e antes do fim do ano, volta a residir no Rio de Janeiro. Seus trabalhos
fizeram parte de mostra de arte concreta no MAM-SP (1956) e no MEC-RJ (1957).
Em 1958, recebeu o prêmio de Viagem ao Estrangeiro no VII Salão Nacional de Arte
Moderna e viajou para a Europa e o Oriente. Antes de partir, assinou o Manifesto
Neoconcreto.
Arte ao ar livre
Mas não é só em exposições que é possível admirar o trabalho de Weissman.
“Eu faço trabalhos para me comunicar com o povo. E isso só é possível se eu
colocar minhas obras na rua. O povo não entra em museus”, justifica a sua
preferência pelos espaços públicos.
Se você mora no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Contagem (MG)
pode encontrar com obras do artista pelas ruas. Em São Paulo, Weissman tem obras
46
públicas no Memorial da América Latina (2), no Museu de Arte Moderna de São
Paulo (3) e no Centro Empresarial Itaú (2).
Já os cariocas podem encontrá-lo no Conjunto Universitário Cândido Mendes
(3), na Avenida República do Paraguai, no Edifício Rio Diesel-Mercedes Benz em
Nova Iguaçu, na Casa de Cultura Laura Alvim, no Parque da Catacumba, no Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Edifício da IBM do Brasil, e na Rua Alexandre
Herculano. Ao passar pelo Edifício Minasmáquinas-Mercedes Benz (Contagem –
MG) e pela Praça Afonso Arinos os mineiros também encontram Weissman.
Silencioso como "A Descida da Cruz"
Quando perguntamos à Weissman qual obra ele gostaria de ser a resposta é
quase imediata: A Descida da Cruz, de Michelangelo. O mestre italiano havia iniciado
nova escultura, por volta de 1547, e pretendia que ela fosse colocada em seu próprio
túmulo.
Cristo morto é apoiado por sua mãe, por Maria Madalena e por Nicodemus,
uma figura encapuzada a que deu o próprio rosto, num auto-retrato. Entretanto, não
se sabe por que, irritou-se com a obra e atacou-a a golpes de cinzel, pretendendo
destruí-la. Depois, permitiu que um de seus discípulos a reconstituísse, e ficou
flagrante a diferença entre Cristo, Maria e Nicodemus, bem ao seu estilo, e Maria
Madalena, trabalhada pelo outro.
“É uma obra de extrema simplicidade e humildade, onde ele conseguiu o
silêncio. Todas as esculturas dele fazem muito barulho, como David. Ele é muito
barulhento e depois de tanto barulho, ele conseguiu esculpir o silêncio”, explica
Weissman, revelando seu lado silencioso e contemplativo.
LOPES, Fernanda Biografia de Franz Weissman
<www.sampa.art.br/saopaulo/Biog%20Franz%20Weissmann.htm> capturado em 20/10/04
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ANEXO 2 – Biografia do Emanoel Araújo
Emanoel Alves de Araújo (Santo Amaro da Purificação BA 1940). Escultor,
desenhista, ilustrador, figurinista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo.
Aprende marcenaria com o mestre Eufrásio Vargas e trabalha com linotipia e
composição gráfica na Imprensa Oficial, em Santo Amaro da Purificação, Bahia.
Realiza a primeira exposição individual em 1959. Na década de 1960, muda-se para
Salvador e ingressa na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia -
UFBA, onde cursa gravura com Henrique Oswald (1918-1965). Recebe os prêmios
de melhor gravador, em 1972, e de melhor escultor, em 1983, da Associação
Paulista de Críticos de Arte - APCA. Entre 1981 e 1983, instala e dirige o Museu de
Arte da Bahia, em Salvador, expõe individualmente no Museu de Arte de São Paulo -
Masp, e ocorre o lançamento do livro O Construtivismo Afetivo de Emanoel Araújo.
Em 1988, é convidado a lecionar artes gráficas e escultura como artista visitante no
The City College, da Universidade de Nova York. De 1992 a 2002, exerce o cargo de
diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Entre 1995 e 1996 é membro
convidado da Comissão dos Museus e do Conselho Federal de Políticas Culturais,
instituídos pelo Ministério da Cultura. Em 2004, é curador e diretor do Museu Afro-
Brasil, aberto nesse ano, em São Paulo, com obras de sua coleção.
COMENTÁRIO CRÍTICO
Emanoel Araújo, entre 1961 e 1965, freqüenta a Escola de Belas Artes da
Bahia, onde estuda gravura com Henrique Oswald (1918-1965). No mesmo período,
produz ilustrações, cartazes e cenários para teatro. Nas xilogravuras que então
produz, nota-se algumas delas já portando relevos, dobras ou rugas. Essas obras
exploram temas locais e representações femininas que aludem à fecundidade.
A partir de 1971, passa a realizar obras abstratas, compostas por formas
geométricas conjugadas, em que visa transpor para a gravura estudos cromáticos
juntamente à trama reticulada da matriz. O artista gradualmente aproxima-se das
vertentes construtivas, reduzindo as formas a estruturas primárias. Desenvolve
48
trabalhos que contêm segmentos ondulados de outras gravuras, colados sobre o
plano de uma gravura maior, de maneira a produzir cortes, interferências e
justaposições no plano. Essas peças já apontam seu interesse pelo tridimensional.
Interessado na reestruturação do universo da arte africana, o artista irá
enfatizar em suas gravuras, relevos e esculturas as formas geométricas aliadas à
cores fortes e contrastes. Emanoel Araújo destaca-se por sua atuação na direção da
Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp, tendo sido ainda curador de
importantes mostras relativas à imagem e cultura do negro e do índio no Brasil.
TEXTOS CRÍTICOS
"No caso de Emanoel, a individualidade estilística não se limita a um só padrão ou a
um só modelo de composição, porém às fases que ele já percorreu desde que se
realizou como artífice e como artista. (...) Presumo ter sido eu próprio um dos
primeiros a ter conhecimento de suas tentativas mais remotas, aqueles guaches
pintados sobre papel preto de embalagem de filmes de raios-X, esquematizando na
geometricidade dos saveiros baianos a policromia das horas do mar. Certamente, fui
o primeiro a ter entusiasmo por essa posse das cores organizadas com tal
simplicidade e veemência. Entretanto, quando o soube a caminho da artesania da
gravura, amparado pelo excelente mestre que foi Henrique Oswald, confesso não ter
entendido o aparente desvio da pintura para uma técnica que naquela época era
linguagem quase exclusiva do branco e preto. Agora, 20 anos após, dedico-lhe este
estudo reconhecendo que Emanoel estava certo. Estava certo porque a xilogravura
não foi o fim do seu talento para a pintura mas, apenas, o meio descoberto para o
exercício da própria pintura (...). Emanoel, sem o saber, estava se integrando ao
expressivo número de artistas que conferiram a grandeza do movimento dos
gravadores brasileiros exatamente por fazer da gravura um processo especulativo da
pintura (...) ““.
Clarival do Prado Valladares
Fonte: O CONSTRUTIVISMO afetivo de Emanoel Araújo. Prefácio de Pietro Maria Bardi. Introdução de Clarival
do Prado Valladares. São Paulo: Raízes: MWM Motores Diesel, 1981. (Coleção MWM - IFK).