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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
1943
VAMOS CELEBRAR: A CARAVANA CIGANA ESTÁ CHEGANDO. SALVE SANTA SARA KALI!
CARLIANE SANDES ALVES GOMES 1
Resumo:
A percepção do homem religioso em sua paisagem simbólica, em seu território religioso e em
seu lugar sagrado é subjetiva e demonstrável por meio de práticas e atividades religiosas
(BONNEMAISON, 2002; ROSENDAHL, 2012). Esta pesquisa abordará os principais aspectos acerca
da analise da vivencia do grupo étnico-cultural em sua pratica espacial religiosa, evidenciando as
ações ou estratégicas criadas pelo grupo na atuação e produção do espaço, tendo como objeto
empírico a Festa cigana de devoção à Santa Sara Kali, com analise das formas espaciais usadas nos
rituais e a interpretação da dimensão espacial e a abrangência do sagrado sobre o espaço profano
em tempo de festivo na geograficidade da experiência da fé.
Palavras-chave: Ciganos, Santa Sara Kali, Festa e Sagrado.
Abstract: The perception of the religious man in his symbolic landscape, in their religious territory and in
his holy place is subjective and demonstrable through religious practices and activities
(BONNEMAISON , 2002; ROSENDAHL , 2012) . This research will address the main aspects
concerning the analysis of the experiences of ethno- cultural group in their religious practice space ,
evidencing the actions or strategic created by the group in performance and production space , with
the empirical object the Roma Party of devotion to Saint Sarah with analysis of spatial forms used in
the rituals and the interpretation of the spatial dimension and the scope of the sacred over the profane
space festive time in geographicity the experience of faith .
Key-words: Gypsies, Saint Sarah, Party and Sacred .
1 - Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Mestranda. E-mail de contato: [email protected]
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1 – Introdução
A religião afeta o comportamento das pessoas e grupos social, e é de
interesse geográfico entender estas ações comportamentais e seus arranjos de
transformação do ambiente. O homem religioso é o elo entre a função que a religião
ocupa e as relações sociais estabelecidas na sua localidade que margeia. Sendo
assim, a religião pode ser analisada pela sua concretude no espaço, pois enquanto
elemento da realidade material, ela também assume um caráter simbólico
impregnado de significados culturais que influenciam o comportamento humano.
A dimensão política da religião nas estruturas espaciais está presente na
maioria dos lugares no mundo, ora com mais, ora com menos relevância. Podemos
afirmar que o poder religioso participa de maneira ativa em vários processos de
construção e transformação do espaço. Cabem aos geógrafos da religião à
investigação e a exposição entre diversas relações entre o homem e a religião. Suas
diferentes conjunturas espaço- temporal marca, que cada religião traduz. Como
também a vivência e as práticas religiosas que o poder religioso imprime nos
espaços geográficos. Suas marcas de (i) materialização.
A pátria do cigano é a sua língua ? romaní ? e seu continente é a extensão da
memória dos seus ancestrais. O povo cigano é detentor de uma cultura milenar,
possui o mistério e a magia como qualidades atreladas a sua imagem. O preconceito
da sociedade e dos próprios ciganos é uma ameaça ao grupo. Perseguidos por
intolerância étnico-religiosa vêem em sua identidade cultural, a maneira de
preservação no tempo e no espaço.
No Brasil, assim como a maioria da população brasileira, os ciganos são
católicos devotos de Santa Sara Kali. De acordo com a lenda cigana, Sara Kali, é a
cigana escrava que venceu os mares com a sua fé e virou santa. A história de Sara
Kali, se confunde com a história do povo cigano, que desde sua existência luta
contra o preconceito e a ligados intolerância ao seu povo.
O Parque Garota de Ipanema, localizado no bairro do Arpoador na cidade do Rio de
Janeiro, é contemplado por um cenário belíssimo na orla Carioca. Em 2003, além de
suas atividades atribuídas ao lazer da sociedade, passou a receber em seu espaço
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a presença do povo cigano, que com muita alegria, cor, musica e dança tornou-se
parte da paisagem.
A Fundação Amigos de Santa Sara Kali, liderada pela líder carismática e
cigana Mirian Stanescon e a prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro oficializaram
uma parceria em que se estabeleceu um espaço destinado às práticas culturais da
cultura cigana. Uma gruta natural do parque foi destinada para a exposição da
imagem de Santa Sara Kali, padroeira do povo cigano, dando responsabilidade e
manutenção da área, para a comunidade. Iniciava-se assim, a gênese de devoção
aos ciganos na cidade do Rio de Janeiro.
Durante todos os dias 24 de cada mês os ciganos se reúnem para celebrar
sua protetora, tendo por tempo sagrado anual o dia 24 de maio, o tempo kairólogico,
considerado o tempo de maior sacralidade por seus praticantes, pois, é o dia de
Santa Sara Kali. Esta pesquisa abordará os principais aspectos acerca da analise da
vivencia do grupo étnico-cultural em sua pratica espacial religiosa, evidenciando as
ações ou estratégicas criadas pelo grupo na atuação e produção do espaço, tendo
como objeto empírico a Festa cigana de devoção à Santa Sara Kali, com analise das
formas espaciais usadas nos rituais e a interpretação da dimensão espacial e a
abrangência do sagrado sobre o espaço profano em tempo de festivo na
geograficidade da experiência da fé.
2 – O Espaço e as suas diferentes Formas Espaciais nos rituais Ciganos.
Os estudos geográficos acerca da religião recaem na sua dimensão espacial
e nos significados. Compreender o sentido único que cada comunidade religiosa
atua no espaço, e os motivos que pelo quais os devotos seguem um determinado
padrão de comportamento, ao estarem do lugar sagrado são caminhos percorridos
por geógrafo da religião em busca de uma profunda interpretação do espaço.
Vamos abordar ao longo dessa pesquisa a produção do espaço, e como uma
determinada religião cria uma espacialidade singular ao estabelecer em um
determinado local, designando e qualificando-o em nome do sagrado todo um
arranjo espacial próprio. A função religiosa, em sua predominantemente, exerce no
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espaço um ordenamento, que é expresso na configuração, onde cada elemento
simbólico representa uma espacialidade da fé.
O espaço é grifado pelas ações do homem trazendo diferentes percepções
de credos e rituais, que buscam no lugar sagrado a manifestação da fé. Ao analisar
as formas espaciais utilizadas nos rituais cerimonias, o geografo compreende o
papel da religião na criação e modelagem deste espaço. Deve-se ressaltar que a
sua ação política só se torna possível mediante o poder religioso na a organização
espaço-territorial que a mantém.
É correto afirmar que as ações religiosas influenciam nas relações sócio-
culturais dos lugares, sendo limitadas ou potencializadas através das suas
especificidades. Dentre os arranjos espaciais produzidos por devotos de uma
religião no espaço, as práticas religiosas reportam aos geógrafos da religião uma
ação de movimento. Ou seja, da mesma forma que se desenvolve na peregrinação
um deslocamento espacial entre um lugar para outro, é também um deslocamento
entre o cotidiano e o extra cotidiano. Para Eliade (2010) o santuário, lugar de destino
do peregrino, é ordenador do mundo porque representa a santificação do Cosmos.
O mundo, criado em oposição ao caos, pode ser continuamente purificado através
da santidade do santuário. Tal purificação são as ações e práticas que um grupo
religioso realiza a fim de controlar um dado lugar.
Espaço Sagrado e sua dimensão espacial
Para o homem religioso o espaço não é homogêneo, ele necessita de um
espaço-tempo diferenciado do seu mundo cotidiano, um espaço onde possam se
destinado à localização do seu objeto sagrado, para realização dos rituais religiosos.
Há, portanto, um espaço sagrado, e por consequência “forte”, significativo. (Eliade,
pp, 25. 2010). Um local impregnando e vivenciado pela experiência e manifestação
da fé. Sendo assim, o homem religioso, por meio de sua crença, passa e práticas
qualificar o espaço, demarcando-o e diferenciando-o no tempo de sua vivencia.
O espaço sagrado opõe-se ao espaço profano, e neste pensar para os
devotos cria-se um mundo novo, mais puro, repletos se símbolos e significados.
Levando em consideração a particularidade da localização do nosso objeto de
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estudo, a Gruta de Santa Sara Kali, por esta localizada dentro de um espaço publico
destinado ao lazer, nos remete a compreensão da analise espacial da fé cigana, ao
criar sobre aquele espaço suas atividades sagrada que se expandem sobre o
espaço profano, mudando toda a dinâmica e fluxos do parque.
A partir desta ideia a pesquisa tem como objetivo no âmbito da geografia da
religião, interpretar a dinâmica da Gruta de Santa Sara Kali, localizada no Parque
Garota de Ipanema, no bairro do Arpoado na Cidade do Rio de Janeiro. Local
escolhido para a celebração da fé cigana. Os Ciganos se reúnem para a prática
religiosa no dia da sua protetora, isto é, todos os dias 24 de cada mês denominado
de tempo sagrado mensal; e tendo por tempo sagrado anual o dia 24 de maio, pois é
considerado o tempo de maior sacralidade por seus praticantes. É celebrado, o dia
de Santa Sara Kali.
A partir da logica do espaço sagrado e espaço profano, ROSENDAHL (2009,
p. 85)
“Convém, finalmente elucidar o espaço profano e as formas
espaciais produzidas em relação ao seu maior ou menor
vinculo com o sagrado. Pode-se definir o espaço profano como
espaço desprovido de sacralidade, estrategicamente ao “redor”
e “em frente” do espaço sagrado, através da segregação que o
sagrado impõe a organização espacial.”
Ao introduzir as ideias da teoria de Rosendahl em nosso trabalho empírico
temos: a partir do esquema 1, correspondente encontros mensais dias 24 e 2
correspondente ao dia 24 de maio, analisaremos as marcas produzidas do sagrado
no espaço. Analisando a dinâmicas espaciais, seus fluxos e praticas que são
estabelecidos pela vivencia da fé.
Destacando o espaço e indicando como o lugar e o seu funcionamento estão
ligados as atividades dos peregrinos, ciganos e não- ciganos. Podemos visualizar
como ocorre essa divisão entre o espaço sagrado e o espaço profano no Parque
Garota de Ipanema. Nos esquemas organizados a divisão do espaço sagrado
principal e espaço sagrado secundário destacados nas cores vermelhas e amarelas.
Nas cores laranja e cinza, destacando o espaço profano diretamente e indiretamente
e remotamente ligado ao sagrado.
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Esquema 1,espaço sagrado e espaço profano no Parque Garota de Ipanema, encontros mensais.
Fonte: Jefferson Rodrigues de Oliveira, 2013.
No esquema, na cor vermelha localiza-se o espaço sagrado principal, na
rocha da Gruta. Corresponde ao lugar de maior sacralidade para os devotos, pois é
lá que se encontra o altar de Santa Sara Kali. Podemos notar a sua posição de
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destaque, pois, esta no ponto mais alto da gruta, e por esta em contato direto com a
rocha, simboliza a mãe natureza para a cultura cigana.
Em cor amarelo se localiza o espaço sagrado secundário, espaço reservado
para o momento de oração conduzido pela a profissional religiosa, a
cigana Mirian Stanescon.
Na cor laranja encontra-se o espaço profano diretamente vinculado ao
sagrado. Local onde ocorrem os ritos e as práticas espaciais religiosas. Local que
abriga os elementos utilizados nas cerimônias. O simbolismo desse espaço para o
homem religioso afirma que não basta ir apenas ao lugar sagrado como a gruta, a
igreja, o templo, a sinagoga ou nos demais espaços sagrados. A participação teve
ser plena, a participação no ritual, purifica o individuo, deixando-o, mas próximo de
sua santidade. De acordo com RIVIÈRE (2008),
“O rito funciona assim como fator de integração religiosa, como
legitimador de crença, como hierarquizador de poder, valores e
prioridade, como me mobilizador de energias e como momento
de exaltação. E a participação ritual faz com que o lugar, seja,
ele mesmo, incluído na intensidade do ato religioso.” ( 2008, p.
38)
A fé e devoção ao sagrado são atributos de essência religiosa, são individuais
e únicos e dessa maneira, a princípio são invisíveis aos nossos olhos. Mas, em
determinados contextos ritualísticos no espaço e no tempo, podem ser percebidos
materialmente.
O arranjo espacial estabelecido na gruta afeta diretamente o comportamento
dos seus fieis na liturgia do sagrado no espaço. No caso da gruta de Santa Sara
Kali, os fieis obedecendo a logica do ritual, num roteiro prévio a ser seguido pelos
seus fieis, cada elemento que é utilizado tem a sua espacialização simbólica para a
ocorrência da pratica religiosa. Os devotos acreditam e não questionam o
posicionamento dos elementos sagrados na gruta. Essa orientação geográfica, que
a religião produz no espaço faz com que o individuo possa se conduzir de acordo
com a doutrina e a crença de acordo com a sua religião, e é por esta singularidade
que leva ao geografo compreender como as ações humanas modelam o espaço.
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Mas para o devoto esta ação faz com que a sua participação o permite a alcança a
sua transcendência espiritual.
Na cor cinza do nosso esquema está representado o espaço profano
indiretamente vinculado ao sagrado. Representa o lugar de vivencias cotidiana dos
devotos: como a venda de objetos religiosos, a venda das ervas, dos incensos, das
velas, dos santos e outros que completam o comercio dos bens simbólicos
religiosos. Há também os comércios de objetos da cultura cigana, como exemplo: as
suas joias. Neste espaço às práticas de relacionamentos, diálogos e lugar de
conexão entre os ciganos e a sociedade carioca no seu entorno.
E por ultimo, no esquema destaco, na cor cinza claro o espaço profano
remotamente vinculado ao sagrado. Esta na área de transição entre os dois
“mundos”, o mundo do dia a dia, o profano e o mundo extra cotidiano, o sagrado.
Limite físico do parque localiza-se nos portões e as ruas, é o espaço de fronteira, é a
passagem para os dois mundos de acordo com ELIADE (2010) “o limiar que separa
os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser,
profano e religioso”. É lugar de circulação da população para o parque, ou para a
praia, chamamos de remotamente vinculado ao sagrado pela função descrita –
função de passagem.
No esquema 2, há diferenciação das descrições acima. Pois, o sagrado
impõe-se sobre o profano, ocasionando a sua expansão no espaço, as atividades
religiosas vinculadas ao sagrado avança pelo espaço profano, isto ocorre no dia 24
de maio, correspondente ao tempo de maior sacralidade para os ciganos, pois é dia
da sua padroeira, Santa Sara Kali.
No dia 24 de maio, a gruta recebe um maior fluxo de devoto. Para atender a
esta demanda o sagrado impõe outro arranjo espacial, apresentando outro
ordenamento. Ou seja, os elementos simbólicos religiosos aumentam a sua área de
abrange próxima ao espaço de maior sacralidade. As práticas religiosas invadem a
área profana do Parque, afastando cada vez mais o profano do seu lócus principal –
o sagrado.
A quiromancia é uma outra pratica que só ocorre neste dia , alterando
também o ordenamento espacial do parque, obedece a lógica espacial que o
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sagrado impõem e localiza-se na outra ponta do parque, representado esquema
pelas barracas.
Esquema 3,espaço sagrado e espaço profano no Parque Garota de Ipanema, encontro 24 de maio.
Fonte: Jefferson Rodrigues de Oliveira, 2013.
Os esquemas apresentados propõem uma gama de interpretação para o
geógrafo da religião ao analisar os diferentes ordenamentos que o sagrado impõe
sobre o espaço. Estes esquemas nos relata como o poder do sagrado interfere na
organização espacial. Os sucessivos (re) arranjos a cada encontro imprime uma
configuração singular, própria do contexto da sociedade no tempo sagrado. E cabe
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ao geografo compreender e interpretar esta modelagem espacial, e no caso dessa
pesquisa recai sobre modelos que o sagrado apresenta no espaço no destinado,
paras as atividade e vivencia da cultura e fé cigana, na celebração à Santa Sara Kali
no Parque Garota de Ipanema.
Tempo de festa
Do mesmo modo que o espaço tem a sua dicotomia, o tempo para o homem
religioso também não é homogêneo. Chamamos de tempo Kairologico, o tempo da
intersubjetividade – o tempo sagrado, este se distingue do tempo Chonos , o tempo
da objetividade, o tempo ordinário, privado do sagrado – o tempo profano.
No dia 24 de maio é o tempo de maior sacralidade para o povo cigano, e
adeptos. Pois, é dia de Santa Sara Kali, Em meios a celebração da sua Santidade,
os ciganos comemoram com muita devoção e alegria. Para muitos estudiosos o
tempo reservado ao tempo festivo religioso se difere dos demais pois,
“Toda festa religiosa, todo Tempo litúrgico, representa a
reatualização de um evento sagrado que teve lugar num
passado mítico, “nos primórdios”. Particiapar religiosamente de
uma festa implica a saída da duração temporal “ordinária” e a
reintegração no Tempo mítico reatualizando a própria festa.”
(Eliade, pp 64, 2010)
A festa de Santa Sara Kali, representa uma vitória para o povo cigano,
lembrando-se do contexto sociocultural este grupo está inserido na historia da
humanidade. A importância dessa comemoração revigora a cultura cigana e é
celebrada com muita fé. o homem religioso necessita desse evento ,uma vez que ,
ele sente a necessidade de (re)vivenciar a sua origem, e dessa forma, esse tempo
festivo o leva transferindo-lhe para o in illo tempore – a origem. Montando uma
ponte entre o presente e o passado.
Esta manifestação cultural pode ser uma boa maneira de entender o
imaginário e a construção que envolve este encontro. Apesar do seu caráter lúdico
que a festa religiosa nos apresentar diversas maneiras de interpretar, tornando-se
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um objeto de estudo para a geografia cultural, pois, cria-se no espaço um mapa de
signos e significados , que
“Como eventos, as festas são fatos com espacialidade e
simultaneidade que, em escalas pontuais de formas e
organização, se sustentam no tempo e no espaço, segundo
horizontes temporais distintos”. (Silva, pp19. 2013)
A formação da uma festa religiosa e seus elementos, e um elo condutor entre
os devotos e adeptos na renovação de sua fé, e serve também como uma
estratégica politica dos seus lideres religiosos visando o controle e a manutenção de
um determinado espaço. Pois este evento atrai um fluxo extra, agregando e
ampliando ainda mais a sua difusão cultural e concepção. Assim em analise de Silva
apud Morigi (2007,p. 39)
“Utiliza-las como formas de lazer, espetacularizando as festas,
os momentos prazerosos e amenos do cotidiano, é uma
estratégica política e uma maneira simpática, porém, não nova,
que as autoridades encontraram de gerar um aumento”. (Silva,
pp 22. 2013)
A Fundação amigos de Santa Sara Kali, encontrou na festa de Santa Sara
uma maneira de ser aproximar da sociedade carioca, atraindo os olhares dos
curiosos espectadores, visando à inserção da cultura cigana e a sua afirmação como
um povo “existente” em nossa sociedade, tendo como um dos interesses desse
evento a ampliação da difusão da cultura cigana.
Cabe o geografo interpretar das diversas mascaras sociais que uma
manifestação cultural pode produzir, pois em meio a uma festa religiosa, outros
códigos e resultados são fatores que atual nesse arranjo espacial.
Para não concluir ...
A intenção em relacionar o sagrado e o espaço na perspectiva cultural é uma
maneira de visualizar o espaço geográfico como cenário de uma transformação da
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vivencia que o homem religioso imprime no espaço. Assim, a religião é
compreendida pela forma e função, e nos mostra sua importância nos estudos
dessas marcas espaciais. A religião ocorre, condiciona e modula o lugar, o espaço,
o território e a paisagem através de praticas e ações devocionais.
A Gruta de Santa Sara Kali, no Parque Garota de Ipanema, é reconhecido
como o santuário deste povo. Além de exercer a sua função religiosa, como o culto
a sua santidade exerce a função social de aglutinar do encontro. Na cerimonia
cigana o espaço de identidade cigana. Permitindo e fortalecendo o grupo coeso no
espaço e no tempo sagrado. Mantendo a sua tradição enquanto grupo social e sua
fé religiosa enquanto individuo. A festa de Santa Sara Kali possibilita um contato
externo com outras sociedades. A desmistificação dos mitos folclóricos atrelados a
sua imagem devem ser ressaltados.
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