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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
PRECIPITAÇÃO NIVAL EM GUARAPUAVA-PR NO INVERNO DE 2013 E AS
CONDIÇÕES DO TEMPO LOCAL E REGIONAL
CLAUDIANE DA COSTA1
JULIANE BEREZE2
APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE3
Resumo
O presente trabalho tem como principal enfoque a precipitação nival ocorrida no município de
Guarapuava no dia 22 de julho de 2013, fenômeno que teve repercussão nacional. Nesse sentido,
para entender sua ocorrência houve a necessidade de estudar a circulação atmosférica do dia que
ocorreu a precipitação da neve e dos dias posteriores para verificar o motivo pelo qual não houve
mais nevascas. Utilizaram-se dados do IAPAR para verificar a quantidade de precipitação e a
temperatura mínima nos dias estudados, além das cartas sinóticas e da Marinha e imagens de
satélite para melhor entendimento sobre a circulação atmosférica. Verificou-se que nos dias
posteriores a precipitação nival, a temperatura diminui, devido ao acúmulo de neve e a baixa
insolação. A ocorrência de neve em Guarapuava é esporádico, mesmo que os fatores geográficos
exerçam influência são os elementos meteorológicos que possibilitaram a nevasca ocorrida em 2013.
Palavras-chave: Neve, Guarapuava-PR, Massas de ar.
ABSTRACT
This work has as its main focus the nival precipitation occurred in the Guarapuava city on July 22,
2013, a phenomenon that had national repercussions. In this sense, to understand its occurrence
there was a need to study the atmospheric circulation of the day was the precipitation of snow and
subsequent days to figure out why there was no more snow storms. IAPAR data were used to check
the amount of precipitation and minimum temperature in the days studied, besides the synoptic and
Navy charts and satellite images to better understanding of the atmospheric circulation. It was found
that in the days following the nival precipitation, the temperature decreases due to the accumulation of
snow and low insolation. The occurrence of snow in Guarapuava is sporadic, even if the geographic
factors exert influence are the weather elements that allowed the blizzard that occurred in 2013.
Key Words: Snow, Guarapuava-PR, air masses.
1Acadêmica do programa de pós-graduação em geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de contato: [email protected] 2 Mestre em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de
contato: [email protected] 3 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de contato [email protected]
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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
1. Introdução
A precipitação nival ou precipitação de neve acontece com rara frequência no Brasil,
pois o país se destaca pelo seu clima tropical. Dessa forma, sua ocorrência fica
condicionada à região Sul, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná,
devido às condições climáticas favoráveis. No inverno, quando há precipitação de neve, as
principais localidades que se deparam com esse fenômeno estão localizadas na Serra
Gaúcha e na Serra Catarinense. Normalmente estas cidades têm quedas de temperaturas
significativas, o que se torna um diferencial, atraindo muitos turistas.
No inverno de 2013 o fenômeno chamou ainda mais a atenção ao atingir cidades
paranaenses como Curitiba e Guarapuava, no Centro-Sul do estado. Em Guarapuava a
ocorrência de neve é rara, e com a intensidade da ultima nevasca foram poucos eventos
ocorridos. No dia 22 de julho de 2013 aproximadamente ás 20 horas e 30 minutos começou
a queda de neve na referida cidade o que não ocorria a algumas décadas.
Como todo fenômeno meteorológico, a queda de neve trouxe muitas especulações a
seu respeito. Nesse sentido, uma das principais hipóteses foi sobre as condições
atmosféricas e como estava o tempo no momento. Quais os fatores que condicionaram esta
queda de neve?
Esse tipo de evento está associado a alguns condicionantes, como a umidade do ar
e a pressão atmosférica, mas o mais importante é a temperatura do ar. Dessa forma, é
importante ressaltar que a possibilidade da ocorrência de neve sempre estará associada à
interação entre esses elementos meteorológicos.
Este trabalho enfatiza Guarapuava (apesar de ter nevado em outras cidades do sul
do Brasil), pois a precipitação de neve nessa localidade foi intensa e virou noticia com
repercussão nacional. O G1 portal de noticias da rede Globo de televisão por intermédio da
RPC (rede paranaense de televisão) noticiou da seguinte forma “Começou a nevar por volta
das 20h45 em Guarapuava, região central do Paraná. De acordo com o Instituto Simepar, às
21h35, os radares da cidade apontavam temperatura de 0°C e chuva em vários pontos da
cidade”. Uma combinação dos elementos do clima que propiciam á queda de neve.
O município de Guarapuava está localizado no Centro-Sul do Paraná (Figura 1),
próximo da latitude 25° 23' 43'' S e da longitude 51° 27' 29'' W, com altitude média acima de
1000 metros.
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Figura 1: localização da área de estudo
Fonte: Bereze, 2014 Nuvens com cristais de gelo e neve não são um fenômeno isolado na atmosfera,
porém o crescimento dos flocos e/ou cristais até que os mesmos venham a precipitar,
requerem temperaturas negativas não apenas no interior da nuvem e área de sua formação,
mas na atmosfera inferior (FUENTES, 2009). Em decorrência da variabilidade climática
existente no mundo, a precipitação nival acontece na maioria das vezes no Hemisfério
Norte. Isso é decorrente de condições climáticas específicas encontradas nessa porção do
globo terrestre, tais como umidade e temperaturas mínimas favoráveis.
Para a formação de neve é necessário alguns mecanismos, dentre eles a presença
de água na fase de vapor; a umidade relativa igual ou superior a 100%; temperatura do ar
igual ou inferior à 0º C e núcleos de gelo. A nucleação de gelo pode ocorrer de forma
homogênea ou heterogênea, sendo que na homogênea a formação dos cristais de gelo
pode ocorrer a partir de gotas de água super-resfriadas, mas este processo acontece
somente com temperaturas abaixo de 40º C negativos, o que não é o caso das temperaturas
de Guarapuava. Na forma heterogênea ela pode ocorrer por deposição, onde os cristais
crescem sobre os núcleos de gelo, por congelamento e neste caso as temperaturas não são
tão baixas quanto na forma homogênea (FUENTES, 2009).
De acordo com INMET (2016) a neve é a precipitação de cristais de gelo translúcidos
e brancos formados diretamente pelo congelamento do vapor de água que se encontra
suspenso na atmosfera. Esse processo geralmente ocorre com quanto se vê nuvens do tipo
estrato, mas também pode se originar das nuvens do tipo cúmulo.
A ocorrência de neve em algumas cidades do sul do Brasil, considerando ao menos
um dia a cada dois anos, geralmente ocorre na seguinte ordem: primeiramente em São
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Joaquim, na Serra Catarinense, em seguida Bom Jesus (RS); Cambará do Sul (RS); Palmas
(PR); Vacaria (RS); Caçador (SC); Campos Novos (SC); Bento Gonçalves (RS);
Guarapuava (PR) e finalmente Curitiba (PR). Salientando que a frequência anual é
decrescente de São Joaquim até Curitiba. Percebe-se então, que em Guarapuava
raramente acontece um evento de neve (CARVALHO JUNIOR, 2004).
Para que ocorra a queda de neve as massas de ar são determinantes. Estas podem
ser definidas como um grande corpo de ar horizontal e homogêneo que se desloca como
uma entidade reconhecível podendo ser tropical ou polar. As massas de ar têm sua origem
em áreas onde existem condições que favorecem o desenvolvimento de vastos corpos de ar
horizontais e uniformes. O estado do Paraná tem influências das massas de ar Polar
Atlântica (mPa), Tropical Atlântica (mTa) e Tropical Continental (mTc) (AYOADE, 1996).
Durante os meses do inverno (junho, julho e agosto) as temperaturas no Sul e
Centro-sul do Paraná são influenciadas principalmente pela Massa Polar Atlântica - mPa,
que aliada a altitude de algumas localidades, pode sofrer quedas significativas, resultando
em frio mais intenso que outras regiões do estado. Entretanto, ocorrem situações em que a
Massa Polar Pacífica - mPp também influencia nas temperaturas do sul do Brasil. Isso
ocorre quando essa massa de ar consegue ultrapassar a Cordilheira dos Andes e entra no
interior do continente sul americano, mais especificamente na Argentina, Paraguai e Brasil
(COSTA, 2013).
A temperatura é um fenômeno físico que indica o aquecimento/resfriamento do ar e é
medida à sombra. Em Guarapuava, o regime térmico está diretamente ligado à dinâmica
das massas de ar e localmente é influenciada pelos efeitos de continentalidade, cobertura
vegetal e principalmente a altitude, sendo o sítio urbano de Guarapuava, em sua maioria,
localizado em altitude superior a 1000m (THOMAZ e VESTENA, 2003).
Percebe-se claramente que a ocorrência de temperaturas negativas em Guarapuava
está associada tanto a circulação geral da atmosfera, principalmente a ação das massas
polares no inverno, quanto a sua localização geográfica (distante do oceano e em altitude
elevada). Essas características físicas são essenciais para a ocorrência de neve, mas não
são determinantes, tanto que esse fenômeno não ocorria na região há cerca de 40 anos,
segundo informações não oficiais.
2. Materiais e métodos
Para o desenvolvimento do presente trabalho inicialmente foi realizado uma revisão
bibliográfica para buscar entender as possíveis causas de neve no Sul do Brasil.
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Posteriormente foram selecionados os dias que iriam ser estudados (dois dias antes e um
depois da ocorrência da nevasca). Após este momento pesquisou-se no site da Marinha4,
buscando identificar as cartas sinóticas do período. Da mesma forma obteve-se imagens do
satélite GOES-13 junto ao site do CPTEC/INPE.
Em seguida foi solicitado ao IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) dados de
temperatura e da precipitação dos dias 20, 21, 22, 23 de julho de 2013 para Guarapuava. As
cartas sinóticas possibilitaram identificar o padrão para a variabilidade da pressão
atmosférica com a consequente visualização das frentes, bem como, a chegada de massas
de ar em Guarapuava, processo confirmado pelas imagens de satélite.
Os dados de temperatura e precipitação diários foram agrupados para possibilitar o
entendimento da dinâmica do tempo naquele período (20 de julho a 23 de julho de 2013) e
como isso pode ter influenciado a queda de neve em Guarapuava.
Foi elaborado o climograma de Guarapuava utilizando uma serie histórica de 1976 a
2011, conforme dados disponibilizados pelo IAPAR. Utilizou-se também de imagens
(fotografias) registradas pelos autores para comprovação do fenômeno.
3. Resultados
No dia 22 de julho de 2013, aproximadamente ás 20h30min, começou a queda de
neve em Guarapuava, o que não ocorria a algumas décadas. Conforme notícia dada pelo
jornal Diário de Guarapuava, na sua versão online, publicada em 20 de julho de 2013, a
última grande nevasca em Guarapuava havia acontecido em 20 de agosto de 1965:
Uma nevasca em Guarapuava; muitos acordaram espantados na manhã daquela sexta-feira 20 de agosto de 1965. A neve caía em grande volume e o frio era intenso. Todos puseram os melhores casacos. Os guarapuavanos daquela época até estavam habituados à neve, que ainda era relativamente comum de ocorrer, mas nunca haviam visto tamanha quantidade se acumular pela cidade. Dois dias antes de acontecer novamente à queda intensa de neve, já se especulava o fato da demora da neve cair novamente, quais seriam os fatores que levaram a esta demora de queda de neve. (DIARIO DE GUARAPUAVA, S/Pg 2013).
De acordo com THOMAZ e VESTENA (2003) “as geadas na região Centro-Sul do
Paraná têm sua origem decorrente da entrada de uma massa de ar fria. Muitas das vezes as
geadas podem causar danos, principalmente para a agricultura, dependendo de qual seja
sua intensidade”. Em Guarapuava é comum a ocorrência de geadas durante o inverno, pois
esta estação é caracterizada por baixas temperaturas e pouca chuva, como pode ser
observado no gráfico1. Portanto, não existe referência a ocorrência de neve.
4 <https://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm>
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Gráfico 1: Variabilidade temporal da precipitação e da temperatura para Guarapuava-PR
Fonte: IAPAR. Organização: os autores
A média das temperaturas mínimas durante todo o ano em Guarapuava não
ultrapassam os 17°C devido sua localização geográfica e sua altitude, durante o inverno
(junho, julho e agosto) as temperaturas não ultrapassam dos 10°C conforme pode ser
observado na gráfico 2. Dessa forma, se for considerado a normalidade de temperaturas
m’mínimas para região, existem condições para a ocorrência da neve.
Gráfico 2: Média das temperaturas mínimas de Guarapuava (1976-2011)
Fonte: IAPAR. Organização: os autores
Para Costa e Andrade (2015), ao analisarem o padrão da circulação geral da
atmosfera para a região centro-sul do Paraná nos invernos de 2004 a 2012, além da mPa,
que define as temperaturas mínimas, outras massas de ar também atuam nesta região,
como a mTa e a mTc. Essas últimas agem como um bloqueio impossibilitando a ação mais
significativa da mPa, principalmente.
Isto indica que no inverno de 2013, principalmente nos dias estudados neste
trabalho, os bloqueios não aconteceram de forma expressiva, o que permitiu um
fortalecimento da mPa e a sua frente trouxe para Guarapuava precipitação pluviométrica,
aumentando significativamente o teor de umidade do ar atmosférico. Essa condição,
associada com temperaturas relativamente baixas, ocasionou a precipitação nival.
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A partir das análises das cartas sinóticas e das imagens de satélite (Figura 2, 3, 4, 5,
6, 7, 8, 9) da temperatura e da precipitação, pode-se observar a evolução do tempo nos dias
antecedentes a queda de neve e no dia da ocorrência de neve.
No dia 20 de julho a temperatura mínima constatada foi de 15,0 C° o indicando que
estava um pouco acima dos padrões ideais para a queda de neve, mas como pode ser
notada na carta sinótica (figura 2), Guarapuava está sobre alta pressão, com influência da
isóbara 1016. Neste dia, de acordo com os dados do IAPAR, não houve precipitação
pluviométrica.
Figura 2: Carta sinótica da Marinha do dia 20 de julho de 2013 elaborada as 12 horas.
Fonte: site da Marinha
Além da alta pressão visualizada na carta sinótica pode-se observar na imagem de
satélite (figura 3) a chegada da frente fria em Guarapuava.
Figura 3: Imagem de satélite Góes 13 colorida baixa, dia 20 de julho de 2013 elaborada às 18 horas. Fonte: CPTEC, INPE
No dia 21 ocorre a intensificação da frente fria, como pode observada na carta
sinótica (figura 4) e a temperatura mínima diminui 5° C em relação o dia anterior (mínima de
10C°). Além da queda de temperatura, ocorre 56,8 mm de chuva.
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Figura 4: Carta sinótica da Marinha do dia 21 de julho de 2013 elaborada às 12 horas
Fonte: site da Marinha
A frente fria impulsionada pela mPa chega a Guarapuava, ocasionando precipitação
pluviométrica em grande quantidade, como pode ser visto na figura 5.
Figura 5: Imagem de satélite Góes 13, Colorida baixa, elaborada no dia 21 de julho de 2013 às 18 horas.
Fonte: CPTEC, INPE
No dia 22 às 12 horas, Guarapuava está sobre a influência da isóbara 1020 (alta
pressão) o que pode ser considerada como indicativo da atuação da massa de ar Polar
(figura 6). A temperatura mínima cai 8° C em relação ao dia anterior (temperatura mínima de
0,2 C°). Neste dia ainda ocorrer precipitação pluviométrica (29,2 mm), mas devido a baixa
temperatura, pressão alta, influenciada pela mPa, ocorre a queda de neve.
Figura 6: Carta sinótica do dia em que ocorreu a precipitação Nival, 22 de julho de 2013 elaborada
às 12 horas. Fonte site da Marinha
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Na figura 7, a imagem de satélite do dia 22 de julho evidencia a aproximação da
polar atlântica. Sua frente tem muita umidade, aliada à temperatura de superfície baixa,
possibilita as condições atmosféricas ideais para a queda de neve.
Figura 7: Imagem de satélite Góes 13 colorida baixa do dia 22 de julho de 2013 elaborada às 18 horas.
Fonte: CPTEC, INPE
No dia posterior a queda de neve a temperatura mínima fica negativa -1,4 em virtude
do acumulo de neve, e a intensificação da massa polar. A figura 8 confirma essa condição
com pressão atmosférica entre as isóbaras 1024 e 1028. Ainda ocorre precipitação
pluviométrica (26 mm), mas esse volume é menor em relação aos dias anteriores.
Figura 8: Carta sinótica do dia 23 de julho dia posterior a precipitação Nival elaborada às 12 horas.
Fonte: site da Marinha
Observa-se que no dia 23/07 (figura 9) que a frente fria se dissipa, mas a Massa
Polar atlântica continua atuando na região. Entretanto, suas características nessa fase são
baixa temperatura e umidade, com sol e frio intenso.
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Figura 9; Imagem de satélite Goes 13, colorida baixa, dia 23 de julho de 2013 elaborada às 18 horas.
Fonte: CPTEC, INPE
Nos dias posteriores a precipitação da neve, as temperaturas baixaram ainda mais,
sendo que no dia 24/07 a temperatura mínima chegou a -3,8°C devido ao acumulo da neve
(Figuras 10a e 10b) e a baixa insolação com alto índice de albedo. No decorrer dos dias,
com o derretimento da neve, a temperatura começou a elevar-se novamente e no dia 26 a
temperatura mínima ficou em 4,2.
Figura 10 (a): Acumulo de neve na cidade de Guarapuava no dia 23 de julho de 2013
Figura 10 (b): Acumulo de neve no Parque do Lago em Guarapuava dia 23 de julho de 2013
Figura 8: Acúmulo de neve no dia posterior
Fonte; os autores
4. Conclusões
Existem alguns relatos afirmando o registro de 11 episódios de neve entre os anos
de 1950 a 2000, ocorridos nos dias 4 de julho de 1953, 30 de julho de 1955, 20 de julho de
1957, 19, 20 e 21 de agosto de 1965, 8 de julho de 1972, 17 de julho de 1975, 25 de agosto
de 1984, 9 de julho de 1994, 12 de julho de 2000 (GUARAPUAVA, 2015). Contudo, esses
acontecimentos não podem ser confirmados, pois não existem registros atmosféricos ou
fotográficos que comprovem cientificamente a ocorrência de tais eventos.
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Com relação ao evento ocorrido em 2013, os dados disponíveis (cartas sinóticas,
temperatura do ar e precipitação) permitem afirmar que a precipitação nival ocorrida no
município foi um evento atmosférico esporádico.
O único registro afora esse, com relativa confiabilidade, pois existem fotos e relatos
jornalísticos da década, foi o de 1960 (figura 13), portanto, há mais 50 anos atrás.
Figura 13: Rua XV de novembro, principal Rua de Guarapuava coberta de neve na década de
1960. Fonte: G1. Globo.com
Dessa forma, é possível afirmar que tal precipitação se deve a combinação única de
condições atmosféricas, associando temperaturas baixas, umidade elevada, principalmente
pela precipitação pluvial antecedente. Com destaque para forte atuação da Massa Polar
Atlântica, que foi extremamente importante nesse processo, associado ao enfraquecimento
da mTa e mTc, mais secas e quentes.
A combinação de queda na pressão, baixa temperatura e umidade elevada, além das
características geográficas de Guarapuava, possibilitou a ocorrência da neve. Contudo, a
possibilidade desse fenômeno se repetir é imprevisível, pois depende de condições do
tempo que não ocorrem frequentemente no inverno de Guarapuava.
5. Referências
-Livros
AYOADE, J. O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 4ª Edição, Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1996. Thomaz, E. L. e Vestena, L. R. Aspectos climáticos de Guarapuava-PR. Guarapuava: UNICENTRO. 2003.
-Revistas científicas
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COSTA, C. e ANDRADE, A.R. Gênese e evolução das temperaturas mínimas absolutas NA região centro-sul do Paraná: a influência da dinâmica atmosférica e do relevo local. Boletim Goiano de Geografia (on-line) v.35 p. 452-471, 2015 COSTA, E.R. A onda de frio de junho de 2012 no Rio Grande do Sul: gênese, duração e temperaturas mínimas registradas. Revista Geografia Ensino e pesquisa, vol.17 p. 213-226, 2013.
-Dissertação de mestrado
CARVALHO JUNIOR, I.J. A neve em Palmas/PR: da reconstituição histórica á abordagem dinâmica. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual paulista. Rio Claro (SP) 2004.
-Fontes eletrônicas
Cartas Sinóticas. Centro de Hidrografia da Marinha- Serviço Meteorológico Marinho. Disponível em: <https://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm> Acesso em 15 de dezembro de 2014 CPTEC/ INPE. Acervo de imagens. Disponível em: <http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes.formulario.logic.> Acesso em Novembro de 2014 Diário de Guarapuava. Uma nevasca em Guarapuava. Disponível em: <http://www.diariodeguarapuava.com.br/noticias/guarapuava/11,31531,20,07,umanevascaemguarapuava.Shtml.> Acesso em 20 de novembro de 2014 Fuentes, M.V. Dinâmica e Padrões de Precipitação no Sul do Brasil. 2009 (IGEO/UFRGS) Tese (Doutorado em Geociência), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Porto Alegre, RS 2009. G1.Globo.com. Guarapuava, no interior do Paraná, registra neve na noite desta segunda: Fenômeno começou por volta das 20h30 na cidade. Segundo o Simepar, pode nevar em várias cidades paranaenses. Disponível em: <http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/07/guarapuava-no-interior-do-parana-registra-neve-na-noite-desta-segunda.html> Acesso em: março de 2016 G1.Globo.com. Veja fotos da neve que caiu em Guarapuava em invernos passados: Fenômeno ocorreu em 2013 na cidade do PR e também nas décadas de 60 e 70. Disponível em: <http://g1.globo.com/pr/campos-gerais-sul/fotos/2014/07/veja-fotos-da-neve-que-caiu-em-guarapuava-em-invernos-passados.html#F1251373> Acesso em: março de 2016 Guarapuava. Prefeitura municipal de Guarapuava. Disponível em: <http://www.guarapuava.pr.gov.br/> Acesso em: dezembro de 2015 IAPAR, Instituto Agronômico do Paraná. Dados de temperatura do ar. 2014 INMET, Instituto Nacional de Meteorologia. Glossário. Disponivel em: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=glossario#N> Acesso em: março de 2016