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19º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
“Entre Territórios” – 20 a 25/09/2010 – Cachoeira – Bahia – Brasil
VIAGEM AO PEQUENO GRANDE MUNDO DA NANOARTE
ANNA BARROS, artista autônoma
RESUMO
Este texto é o resultado de minha pesquisa atual sobre nanoarte. Abrange pequenadefinição de nanotecnologia e arte e se estende àquilo que é produzido sob esse nome.Traz informações quanto ao andamento de meu projeto de arte de uma instalação, que tempor base três imagens geradas pelo microscópio eletrônico de varredura: de uma árvore, deuma de suas sementes e de uma árvore petrificada. Meu interesse reside nas diferençasestruturais dos materiais e de como posso transformar, de maneira poética, a percepçãodesse mundo minúsculo, em arte.
Palavras-chave: nanoarte, nanotecnologia, instalação, microscópio eletrônico de varredura.
ABSTRACT
The text refers to my research on nanoart. It includes a short definition on nanotechnology and on the different art work that have been done in the interchange between art and nano science. The text informs on the development of an art installation of mine generated on three images scanned by Scanning Electronic Microscopy: a tree bark, a seed and a petrified tree. My main interest is how can I make art using the perception of this nano world.
Key-words: nanoart, nanotechnology, installation, Scanning Electronic Microscopy.
Roger (Malina) - you mentioned I think in your latest response that arts and science have different goals. No they don't. Science is a creative process - if we unweave rainbows it is usually only to reveal another mystery - science is just following a different methodology. I don't think art is really just about expression. It is another way of understanding. Sensory perception, multi or not, is only a way in to that understanding, a particular route that you take, just as the scientific experimental process or conceptualisation or abstract thinking is also a way in - different routes and methods with the same
intention. Its not the goal, but the process that we're always talking about.So folks, give us the goal of your art and we'll tell you it's the goal of science.Ian Ferguson
A citação acima elucida com clareza o que meu projeto busca: uma nova percepção
sensorial, arte ciência “multi or not ”.
O texto está dividido em duas seções definidas, a primeira contendo a apresentação
da nanotecnologia e da nanociência, além da arte criada dentro de seus ditames; a
segunda destinada à apresentação de minha pesquisa para criar uma instalação, aqual, tem por base três imagens geradas no microscópio eletrônico de varredura, MEV.
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Nanotecnologia e nanociência
Toda matéria que constitui o nosso universo circula entre uma grande diferença em
escala e é esta que explica os fenômenos comportamentais, além de determinar aforça de interação entre as matérias: na escala macro é a gravidade que predomina;
na escala nano são as forças eletromagnéticas e na escala subatômica é a força
nuclear. Portanto, a escala é um elemento importante na definição do que seja
macro, nano e subatômico sendo vital para a conceituação e compreensão do
comportamento da matéria no mundo nano.
A escala em que fomos treinados nos trabalhos de arte, na engenharia e na
arquitetura, determina objetos que podem se relacionar com a escala do ser
humano. Nossa maneira de perceber e de compreender o mundo tem sido apoiada
por essa relação, seja com imagens advindas dos microscópicos ópticos, seja com
as obtidas por telescópios. Ou seja nós percebemos o mundo segundo nossa
própria escala.
Além da escala, a estrutura da matéria é outro elemento básico a ser examinado,
pois “A estrutura da matéria e a maneira como ela interage estão ligadas
inexoravelmente” (Shawn Y. Stevens et all , 2009, p. 5). “A estrutura da matéria é
composta de átomos, seu tipo e arranjo determinam sua identidade e afetam as
propriedades de cada material” (Idem, p. 10). Esse arranjo, quando modificado,
pode transformar um material em outro, o que era o sonho dos alquimistas e é,
também, o poder ambicionado pela sociedade atual.
Entretanto, as nanoparticulas possuem propriedades muitas vezes diferentes
daquelas próprias ao material quando em estado bruto.
Por exemplo a possibilidade de se dobrar o cobre em bruto (arame, fita,etc) ocorre com o movimento de átomos ou de agrupamentos deles naescala de cerca de 50nm. Nano particulas menores de 50nm sãoconsideradas materiais super duros que não exibem a mesmamaleabilidade e ductabilidade que o cobre bruto.http://www.sciencedaily.com/articles/n/nanoparticle.htm
No universo quântico da nano mergulhamos em um quadro perceptivo com
características tão diferentes que vamos ter que digerir com bastante trabalho e que,
por certo, irão transformar nossa forma de gerar conhecimento. A imaginação vai ser
um instrumento poderoso para nos auxiliar tanto na arte quanto na ciência.
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As expressões nanociência e nanotecnologia têm sido usadas intermitentemente. A
nanotecnologia é o mais recente ramo da ciência e, diferentemente das outras
ciências, sua técnica desenvolveu-se antes, pois sem ela seria impossível conhecer
e penetrar nesse universo tão diminuto, regido pelas leis da física quântica. As
definições são múltiplas, uma vez que percorrem um caminho aberto a todas as
formas de conhecimento.
“A nanotecnologia é um campo de pesquisa emergente e promissor, genericamente
definido como o estudo de estruturas funcionais com dimensões entre 1-1000
nanometros” (The Richard E. Smalley Institute for Nanoscale Science and
Technology, Rice University, What is Nanotechnology ).
http://cohesion.rice.edu/Centersandinst/cnst/nano.cfm).
A nanotecnologia é mais uma nova ciência do que uma tecnologia...Representativamente, ela é descrita como uma ciência interessada nocontrole da matéria, na escala de átomos e moléculas... logo queconfrontamos a escala dentro da qual a nanotecnologia opera, nossasmentes sofrem um curto-circuito. A escala torna-se abstrata demais emrelação à mente humana (James Gimzewski, 2008, p.40).
As moléculas são átomos do mesmo tipo ou de tipos diferentes, fortemente ligados
entre si, formando entidades específicas, com propriedades físico-químicas distintas.
Um nanômetro equivale a um bilionésimo de metro. Uma partícula é considerada
como pertencente à escala nano se o seu diâmetro estiver entre 1 e 100
nanômetros. As partículas nanométricas escapam à percepção visual, situando-se
em um horizonte onde o material e o imaterial se encontram.
O que os cientistas estão tentando fazer com essa tecnologia é criar um novo mundo,
constituído por partículas organizadas em uma escala da menor para a maior. Quando
a escala é alterada, a possibilidade de interferir na composição das matérias em sua
estrutura atômica e molecular torna plausível manipular seus componentes mínimos,
pelo remanejamento das moléculas o que, pode proporcionar ganhos com a obtenção
de novos materiais potencialmente mais puros, leves, resistentes, baratos e
adequados a quase todas as atividades, desempenhadas pelo homem moderno: tem
possíveis áreas de aplicação nas industrias de eletrônica e de comunicação, na
química e nos materiais usados na farmacêutica, na biotecnologia.
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O universo quântico opera uma mudança de paradigmas, essas possíveis mudanças
também podem se constituir em perigos reais para a saúde e para o meio ambiente,
fazendo com que a consciência individual e coletiva precise ser alertada e
desenvolvida com a introdução da nanociência já no nível do ensino primário e
secundário.
Uma questão importante se apresenta, a de qual mudança em nossa percepção
será necessária à compreensão do que a nanociência está buscando e ao mesmo
tempo de quais serão suas repercursões. O cientista James Gimzewski ressalta que
“Quando se trabalha nesse tipo de escala, nós alcançamos imediatamente os limites
da experiência racional humana, e o imaginário toma conta” (James Gimzewski,
p.41, 2008).
A maneira proposta por ele de se trabalhar essas mudanças encontra-se na união
da força entre artistas multimidiáticos, nanocientistas e humanistas, que assim
conseguirão uma ampla linguagem para iniciar os leigos, ampliando ainda as
possibilidades de descobertas nessa área.
É ainda Gimzewski quem nos esclarece que foi o engenheiro japonês Norio
Tamaguchi quem primeiro propôs a palavra nanotecnologia no início da década de
70 do século passado. Mas foi a invenção do Microscópio de Tunelamento por
Varredura {scanning tunneling microscope (STM)} em 1981, por Gerd Binnig and
Heinrich Rohrer pesquisadores da IBM, que permitiu a visão do átomo e das
moléculas individualmente e sua conseqüente manipulação.
Tunelamento quântico é um processo mecânico pelo qual uma partícula pode
penetrar e uma região do espaço classicamente proibido, embora possa pareceralgo abstrato e removido da realidade, é um processo básico e importante
encontrado na natureza.
Microscópios Eletrônicos
Enquanto o microscópio de luz utiliza fótons como a radiação visível, para
observação do material celular, o microscópio eletrônico, por sua vez emprega feixes
de elétrons.
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A imagem é tridimensional, topográfica, introduz-nos a um universo regido pelo tato
e não mais pela visão. As imagens são oferecidas à visão em um tubo de raios
catódicos por meio de programação digital. Diferentes tipos de microscópios
eletrônicos são empregados para rastrear diferentes materiais.
Um dos instrumentos utilizados para exploração de materiais orgânicos nessa escala
é o Microscópio Eletrônico de Varredura, o MEV. Ele é um tipo de microscópio
eletrônico capaz de produzir imagens de alta resolução da estrutura superficial de
uma amostra; imagens de alta ampliação (até 300.000 x) de resolução. Esse
microscópio fornece imagens pela radiação de luz, as imagens são virtuais, o que
incrementa o mistério da nano uma vez que, na sua origem elas não existem
visualmente. Ele é muito versátil podendo ser empregado na varredura de amostras
orgânicas e com textura rugosa.
A Nanotecnologia e a ficção científica
Sendo uma ciência em desabrochamento e com características tão fora de nosso
conhecimento do mundo newtoniano, a nanociência e a nanotecnologia têm
fertilizado a imaginação dos escritores de ficção científica, que ora as consideram
como uma maravilha, ora como um perigo. Os cientistas têm tido trabalho em
ratificar alguns dos mitos criados pela ficção científica, mas, uma coisa é certa, ela
tem fornecido idéias para quais direções as pesquisas devem se dirigir.
Dentre os livros de ficção científica sobre o assunto destacam-se: Prey , de Michael
Crichton e Engines of Creation , de Eric Drexler. Este último é um cientista que
redescobriu e difundiu o conceito de nanotecnologia, depois de Feynman, no início
dos anos 80.
Arte com Nanotecnologia- Nanoarte
A arte se depara com todo um universo imagístico novo pelo advento da
nanotecnologia. A possível combinação com a informação digitalizada contribui para
a absorção de dados de informação e a geração de trabalhos, quando esses dados
se fundem com a arte e a ciência em nova estruturação do conhecimento.
Das diversas maneiras que estão sendo usadas para criar na nanoarte destacamos:
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1- Utilização de imagens geradas em microscópios de laboratórios de pesquisa,
nas quais o artista e o cientista trabalham juntos numa contribuição para a
divulgação da nanotecnologia, ampliando imagens até então desconhecidas do
mundo regido pela mecânica quântica, com outras leis que não as do ambiente onde
vivemos, onde imperam as leis Newtonianas. As técnicas artísticas utilizadas vão
desde o colorir as imagens, a colagens e superposições, em fotografia e vídeo.
O artista Cris Orfescu foi o primeiro a criar um grupo para trabalhar dentro dessas
condições: NanoArt21. As imagens, na sua maioria são geradas pelo Microscópio
Eletrônico de Varredura (MEV). Seu trabalho pode ser encontrado nos sites
www.crisorfescu.com e no http://www.nanoart21.org/
No Brasil, existe um grupo, CMDMC, liderado pelo Prof. Antonio Carlos Hernandes,
do Departamento de Física e Ciência dos Materiais do Instituto de Física de São
Carlos (IFSC) da USP, empenhado na criação de nanoarte. As imagens são obtidas
de partículas de dimensões nanométricas de materiais cerâmicos. Já foram
produzidos nove vídeos que podem ser acessados pelo Youtube, em CMDMC
nanoarte.
Na área internacional podemos observar imagens resultantes de cálculos de
estruturas mecânicas moleculares, criadas por Damian Gregory Allis em colaboração
com o Dr. Ralph Merkle, Department of Biochemistry and Molecular Biophysics,
Washington University School of Medicine . www.somewhereville.com.
Ghim Wei Ho, aluno de doutorado, orientando do Prof. Mark Welland, da University
of Cambridge Nanoscale Science Laboratory, trabalha imagens tomadas pelo
Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV).
http://www.nanotech-now.com/Art_Gallery/ghim-wei-ho.htm
2- Obras geradas na manipulação de moléculas individuais pelo STM.
Dentro dessa categoria existe mais material considerado científico como por
exemplo a primeira imagem do logo da IBM.
3- Obras que utilizam a metáfora para traduzir as condições perceptivas próprias a
um ambiente nano.
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Apresento dois nomes que se destacam na arte e tecnologia: Cris Sommerer e
Laurent Mignonneau e Victoria Vesna, esta em trabalhos conjuntos com o cientista
James Gimsewski.
Dos primeiros Nano-Scape , 2003, apresentado em: "Science+Fiction" no
Sprengelmuseum Hannover and the ZKM, Karlsruhe, é um trabalho despojado de
informação visual, para criar uma obra de arte, onde a percepção prevalece ao tato.
Segundo a artista é uma escultura invisível, da mesma maneira que o mundo nano.
Ela busca acessá-lo pela intuição; emprega uma interface de força magnética
wireless para que os fruidores possam criar uma escultura invisível, quando tateiam
uma mesa preparada para a experiência.
NanoScape , Cris Sommerer e Laurent Mignonneau
Victoria Vesna e James Giimzewski
A artista e o nanocientista são professores da UCLA, dirigem o UCLA ART/SCI
Center, e o UC Digital Arts Research Network. Lá são pesquisados e executadosprojetos interdisciplinares em arte e ciência. Os dois têm trabalhado juntos há quase
dez anos, em uma série de instalações que tratam do impacto especial da nano
ciência na cultura e na consciência; ao mesmo tempo buscam nos levar a
experimentar questões filosóficas do impacto dessa ciência emergente sobre a
cultura em geral. Elas visam questionar algumas das narrativas e idéias reinantes
sobre a nanotecnologia, tornando-a mais acessível ao público leigo. Vesna e
Gimzewski utilizam suas habilidades e talentos para criar trabalhos interativos, tais
como buckyballs , manipuladas pela sombra e mandalas tibetanas, que permitem ao
visitante entrar em um grão de areia, como visto em uma exposição realizada no
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MAB FAAP, em 2008, Nano. Poética de um Mundo Novo: Arte, Ciência e
Tecnologia , com a minha curadoria.
Como exemplo trago uma das instalações:
Zero Wave é uma instalação interativa inspirada nos Bockminsterfulerenos ou
Buckyballs , assim chamados por serem semelhantes à forma geodésica usada por
Buckminster Fuller em sua arquitetura. A instalação é uma metáfora visual da C60,
uma molécula do carbono que exibe a mesma simetria fundamental da geometria da
molécula. As moléculas virtuais reagem à sombra das pessoas, tal qual as
moléculas reais (bilhões de vezes menores do que a experiência humana), se
comportam quando manipuladas pelos cientistas.
Zero Wave , foto MAB, FAAP
Meu Projeto de Arte
Feynman dizia que não existe nada impossível, desde que não viole as leis da
natureza, sendo somente uma questão de tempo e tecnologia para ser realizado.
A colaboração entre um artista e um cientista para criar uma obra vista como
interdisciplinar ou transdisciplinar é uma árdua caminhada. Além da fecundação
mútua das idéias por meio da curiosidade, existe uma maneira de raciocinar e de
expressar o conhecimento, que demanda uma abertura conceitual, tendo a
imaginação como transductora. Algo que tem facilitado essa tripla colaboração é o
fato de ser possível reduzir todas as informações desses três campos do saber, a
linguagem computacional.
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O presente projeto busca metaforizar poeticamente algumas das condições próprias
ao mundo da nanociência; cientificamente, consiste em obter três imagens dentro
da escala nano: da casca de uma árvore Tabebuia, de sua semente e de uma árvore
petrificada, conífera.
A intenção, no início, era de se chegar à molécula para poder observar a mudança
processada, em cada estágio devida das árvores.
Sendo um projeto em conjunto com a ciência e a tecnologia, a primeira questão a
ser resolvida foi a varredura das amostras. Meu desejo era tê-las em magnificação
molecular, i.é, com possibilidade de mudar a posição das moléculas escaneadas
pelo Microscópio de Tunelamento com Varredura, o qual pode chegar à resolução
atômica, utilizando-se uma agulha de tungstênio ou de platina-irídio à qual é aplicada
uma tensão elétrica, em um processo de tunelamento quântico.
Isto não foi possível em razão de problemas técnicos básicos:
1- Para que sejam varridas em tunelamento quântico, as amostras precisam ser
condutoras de eletricidade.
2- Os materiais escaneáveis não podem ter grande rugosidade.
Portanto, o microscópio indicado é o Microscópio Eletrônico de Varredura, que gera
imagens já ao nível aceite como nano ou, o Microscópio de Força Atômica que tem
ainda maior poder de magnificação. O MEV é um microscópio muito versátil e atua
no registro de topografias estruturais.
Depois de uma via sacra por universidades consegui a colaboração do Laboratóriodo Instituto de Física de São Carlos (USP), pela gentileza do Prof. Dr. Osvaldo
Novaes de Oiveira Jr., para magnificar as amostras, por mim enviadas no
Microscópio Eletrônico de Varredura que já chega a uma escala nano, embora não
atinja a escala molecular.
Esse material deve ser animado e ser trabalhado em conjunto com o som para gerar
uma percepção tátil acentuada, em projeções pelo ambiente. A intenção é de
provocar uma percepção sensorial de propriedades constantes no mundo nano,
mais próprias da mecânica quântica. É uma metáfora e não uma tradução.
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Imagens do material obtido no Microscópio Eletrônico de Varredura
IFSC USP
Apresento abaixo algumas imagens do material pesquisado.
A - Semente, Tabebuia.
B - Casca, Tabebuia
C - Árvore petrificada, Conífera
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No desejo de obter maiores magnificações, entrei em contato com o Laboratório de
Filmes Finos do Instituto de Física da USP SP, onde existe um Microscópio de
Força Atômica, que gera amostras tridimensionais e com maior magnificação. Foram
feitas as varreduras mas, fica para meu próximo texto o comentário do que
resultaram e de como estou trabalhando com elas nas animações, pois ainda estou
envolvida com as amostras acima apresentadas.
A Poética
A idéia do tempo, tão presente em meu trabalho com animações digitais, está
duplamente presente neste projeto: 200 milhões de anos entre a semente da árvore
e a amostra de uma árvore petrificada e a técnica a ser empregada na instalação, a
de animação digital e sonorização em um registro em processo.
A melhor solução para criar uma instalação em nano arte é, como já disse, a
metáfora. Dessa maneira, a reprodução das varreduras dos materiais tem seu
interesse poético exacerbado, pois é usada livremente deixando de ser somente um
registro científico. É gerado um ambiente fantasmagórico, a ser deambulado, que
interage com a matéria obtida por varredura; assim, é a presença do visitante que
desencadeia essa movimentação-reação e em todo ambiente nano, o sentido do tato
se sobrepõe ao da visão, e as imagens dentro dessas escalas podem ser ditas como
semelhantes às do Braille para os cegos. Quando estamos falando de arte, essa
sobreposição precisa ser bem esclarecido.
Desde as vanguardas artísticas do século XX, a arte intentou unir todos os sentidos
em seus trabalhos. Os trabalhos de colagem e de assemblagem já possuíam essa
qualidade que adquiriu maior completude com as instalações e as performances;entretanto, até hoje, categorizam a Arte como Visual. Em tempos da Arte Digital
ainda estamos discutindo essa denominação. Esta questão pode gerar imensa
elocubração técnica e filosófica, e por isto cito um texto de W. J. T. Mitchell, There
are no Visual Media , (2007) como uma abordagem do assunto, que merece ser
conhecida, principalmente pelos semióticos.
Mitchell chega à conclusão de que, quanto à especificidade, as mídias têm sido
organizadas segundo o visual, o aural e o tátil, ou pelos operadores simbólicos ou
semióticos de Charles Sanders Peirce, com base em sua tríade sígnica elementar:
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ícone, índice e símbolo, mas que em ambas maneiras de organização, na
especificidade não existe nada que possa ser considerada como em “estado puro”.
Mitchell enfatiza a relação entre os sentidos, mesmo quando se trata de “uma pinturapura”, nos ditames de Clement Greenberg. O autor ressalta que a pintura é realizada
pela mão, e que, quando a olhamos, estamos vendo o gesto que a criou e, portanto,
o tato. Ele classifica a noção de um trabalho assumido como existindo somente
dentro de uma dessas categorias como uma anomalia, e que existe uma tradição
mais durável de uma mídia mista ou híbrida. Mitchell trás outros argumentos que não
nos interessam aqui, mas que tornam claro as distorções que o desejo de
purificação da técnica do modernismo acarretaram.
Vejo esse desejo como estando situado dentro de um modelo de conhecimento
assumido até o fim do século XX, o de redução apresentado por mim em
conferência, no 4º Simpósio de Arte Contemporânea: Curadoria e Crítica na
Universidade Federal de Santa Maria, 2009:
Existem dois modelos de aquisição de conhecimento: a redução e acomplexidade... Hodiernamente na arte e na ciência, essas duas categoriasdo saber são abordadas por meio de paradigmas culturais, científicos,estéticos, bem diferentes dos vigentes até o início deste século, quandoeram considerados antagônicos ou complementares: a redução era oprocesso cognitivo então vigente, a complexidade é a que imperaatualmente. (Anna Barros, 2009)
No meu trabalho estou buscando a maneira duplamente nova que teremos que usar
ao criar obras com a nanoarte.
Primeiro: questionar a unicidade, seja do tato, seja da visão.
Creio que com tudo que já tomamos consciência pela História da Arte sobre a co-participação dos sentidos em qualquer tipo de criação, já podemos colocar em nosso
trabalho a valorização da complexidade da percepção, ainda apoiada em Maurice
Merleau- Ponty e em James J. Gibson. Pode haver uma predominância e não uma
exclusão.
Segundo: qual o tipo de abordagem conceitual a ser estabelecido: uso direto de
imagens geradas em nanoescala ou metáforas sobre o comportamento da matéria
no mundo nano.
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Preferi unir os dois, mais uma vez, em uma complexidade e não em uma redução.
O mistério do mundo nano invisível a nossos olhos, e demandando uma nova
percepção do universo, transporta-nos a um lugar de fantasia semelhante ao dashistórias de fadas que continuam a nos encantar. O trabalho todo busca prender o
visitante em um tempo-atemporal e em um espaço sem coordenadas newtonianas.
Mas como fazer isso com décadas de treinamento em arte? Por enquanto tudo que
está sendo feito em nanoarte é uma tentativa, pois nem os artistas, nem os
cientistas, nem o público estão preparados para viver sob as leis da física quântica.
É um mundo diferente e com leis diferentes, daquele em que nascemos.
Não é à toa que um dos trabalhos que prefiro de Vesna e Gimzewski, é o
Caleidoscópio, onde é projetado um vídeo da transformação da visão nanoscopica
de um grão de areia até a visão da mandala construída por monges tibetanos em
areia, e pronta para ser visualizada em nosso mundo newtoniano. O girar peculiar
do caleidoscópio é o girar dos mundos que ali coabitam.
Ao lado do caleidoscópio está a projeção desse processo gravado em vídeo, sobre
areia, e a artista pede que as pessoas que a observam toquem nela e assim viajem
tatilmente em sua transformação. Metáfora e imagens reais obtidas no microscópio
eletrônico estão unidas e transcendem a realidade quântica ou newtoniana. É
importante que ainda estejam em nossa escala?
Caleidoscópio , foto MAB FAAP
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O processo criativo
De posse das imagens já em escala nano, gerei animações digitais em 3D, de
acordo com as imagens do microscópio eletrônico de varredura ( MEV).
Inúmeras foram as animações feitas. A visão também está presente, mesmo que
seja uma visão de algo desconhecido, e só possível de ser percebido, por nós, por
meio de poderosas próteses em conjunto com a imaginação. Em vez de de
empregar o artifício de colorir as imagens, que são topográficas, preferi atribuir uma
única cor a cada instância: semente, árvore e pedra, e assim gerar um envolvimento
com uma matéria luminosa, percebível por meio dos fótons que se espalham por
todo o corpo humano.
Como fazer com que o visitante perceba o poder do tato na escala nano além disso?
Tentamos fazer vibrar os corpos por meio do som. Não estão as moléculas em
constante vibração? Não é o sentido háptico aquele que mais completa o do tato?
Adentrando as entranhas podemos talvez chegar mais perto do que seja viver nesse
mundo de moléculas.
Nesse campo minha pesquisa uniu-se a de Wilson Sukorski, no domínio do som na
busca de provocar vibrações possíveis de afetar os visitantes.
Finis
Tenho ainda um grande percurso até ficar satisfeita com o resultado de minha
pesquisa mas já criei um grande número de animações em diferentes programas.
Todo o projeto demanda uma vigilância contínua para não recair em soluções
comuns na arte tradicional embora ela esteja presente como base de apoio pois, a
nanoarte é uma sequencia impossível de ser seccionada do que se considera Arte.
Será possível criar ambientes com coordenadas concreta e absolutamente
inusitadas ou é a maneira como usamos essas coordenadas o que interessa? Não
recair no “purismo” de Greenberg. Nano visa construir o mundo do menor para o
mais complexo.
7/29/2019 Viagem Ao Pequeno Grande Mundo Da Nanoarte
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19º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas
“Entre Territórios” – 20 a 25/09/2010 – Cachoeira – Bahia – Brasil
Referências
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Sites
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Anna Barros
Artista multimídia, curadora, autora, pesquisadora. BFA pelo Otis Art Institute, Los Angeles,Mestrado em Arte pela ECA-USP, Doutorado e Pós-doutorado em Comunicação eSemiótica pela PUC-SP. Bolsa de Doutorado Sandwich pelo CNPq, San Francisco ArtInstitute. Foi presidente da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas-
ANPAP. Foi professora visitante no IdA-UNB. Nomeada para o Prêmio Sergio Motta 2010,pelo percurso da carreira.