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VÍCIO E AUSÊNCIA · de Rodrigo Silva Medeiros e, quando ele chegasse à ... ele vai ficar em ... sua vida, seus valores: ele acreditará que toda sua visa foi uma farsa, uma grande

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VÍCIO

E

AUSÊNCIA

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BEATRIZ ELIAS RIBEIRO

VÍCIO

E

AUSÊNCIA

1ª edição

São Paulo agosto 2017

6 Todos os direitos reservados conforme Lei dos Direitos Autorais.

Obra registrada no Escritório de Direitos Autorais da Fundação

Biblioteca Nacional. EDA.

CAPA: Flavia Pozzobon

Revisão: Carmem Teresa do Nascimento Elias

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Somos quem não somos,

E a vida é pronta e triste.

(Fernando Pessoa)

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PREFÁCIO

“ Vício e Ausência” visa unir vivências. A partir de

histórias comuns, retrata, sem subterfúgios, a

identidade de muitos adolescentes durante esse

período da vida. Além disso, visa refletir e demonstrar

questões muito presentes no cotidiano de jovens diante

de dúvidas frequentes em relação ao futuro, tais que

podem levar até ao nascimento de um sentimento de

rebeldia entre eles. Rodrigo Silva Medeiros, o

protagonista da nossa história, assim como todos os

outros jovens, vai se encontrar em situações delicadas,

nas quais ele, sozinho, terá que escolher e fazer

decisões que podem mudar seu futuro. É possível

perceber que os conflitos aqui retratados, que possuem

uma aparência de fatos simbólicos ou distante da

realidade dos jovens, estão mais perto do que parecem

no cotidiano e na vida desses indivíduos que vão, na

adolescência, formular suas identidades únicas e

exclusivas e entrarão, enfim, na sociedade adulta.

Esses conflitos, que envolvem namoro, família, lar,

sexo, brigas, amigos, drogas, violência, entre outros,

se desenvolvem na vida de quase todo adolescente. E

estar pronto a lidar com essas situações faz toda a

diferença entre se tornar adulto ou se perder numa ‘

terra de nunca’.

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A história foi escrita pela autora Beatriz Elias Ribeiro

aos treze anos, quando ainda cursava segundo

segmento do Ensino Fundamental no Colégio Pedro II.

Sua inspiração partiu justamente de observações de

vidas e de debates em sala de aula.

Espera-se que essa obra contribua para que outros

jovens tenham também a oportunidade de refletir e

discutir criticamente acerca das muitas possibilidades e

dificuldades por que podem passar, cientes de que para

cada escolha há sempre consequências para as quais a

melhor opção é estar ciente.

Carmem Teresa do Nascimento Elias

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PREÂMBULO

Quem é Rodrigo Silva Medeiros?

Rodrigo pegou o ônibus 457 na Central e

ainda pegaria um outro ônibus para chegar em casa.

Ele estava voltando de mais um dia de escola, mas,

diferente dos outros dias, esse era especial. Era 17 de

julho de 2011. Era o dia do décimo-quinto aniversário

de Rodrigo Silva Medeiros e, quando ele chegasse à

casa, seus pais e seus parentes mais próximos o

estariam esperando com bolo e presentes para a

comemoração. Ele morava no Catumbi, próximo ao

Sambódromo e, para ir à escola todos os dias, ele

andava mais de setecentos metros até o ponto de

ônibus mais próximo e ainda pegava dois demorados

ônibus. Sua casa, de um andar e dois míseros quartos,

precisava de uma boa reforma. Porém, toda a renda

que entrava para a família, graças ao trabalho de sua

mãe, Luciana Costa Souza, uma doméstica honesta,

acabava sendo usada pelo pai, Rodolfo Carvalho

Medeiros, desempregado, para comprar drogas ou se

embebedar.

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O pai de Rodrigo, Rodolfo, era um viciado em

drogas já havia mais de meia década, e surtos ou crises

eram comuns em casa. A mãe, sem estudos ou ajuda,

não sabia o que fazer em relação ao marido: escolheu

não se separar para preservar o filho único, Rodrigo,

que podia levar sérias consequências psicológicas ou

até mesmo se envolver com drogas também, se

descobrisse a realidade do pai. Além disso, ela deixava

em segredo o vício do pai, algo difícil, mas possível,

pois, na maioria das vezes, o pai só chegava à casa

tarde, enquanto Rodrigo dormia. Quando o pai ficava

sumido por mais de dois dias, Rodrigo era encaminhado

pela mãe para a casa da tia, irmã de Luciana, para não

se encontrar com o pai em estado caótico. Na cabeça

de Rodrigo, o pai saía para trabalhar, prestava serviços

como segurança noturno e, por isso passava dias fora

e, quando a mãe encaminhava Rodrigo para a casa da

tia, era consequência do medo dela de ficar sozinha

com o filho em casa num bairro perigoso. Apesar de

todas as crises e brigas entre a mãe e o pai, Rodrigo

ainda não sabia que isso se devia às drogas, pois

achava essa realidade distante, irreal em sua vida.

Apesar do fato de que bairro onde ele morava era

perigoso com a realidade das drogas, ele se imaginava

longe disso, pois acreditava que sua família, inclusive

seu pai, eram dignos e honestos e não se misturavam

com esses problemas. Infelizmente, ele não sabia quais

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eram as causas das drogas nos organismos e nem que

seu pai era um exemplo fatídico disso.

Luciana já havia pensado em internar o marido

duas ou três vezes, porém, frente ao caótico serviço

público de saúde e o medo de o filho descobrir a

verdade, optou em aturá-lo. Além disso, quando o

marido se drogava, várias vezes, aparecia em casa

atormentado e agressivo para com a mãe, chegando ao

cume de até mesmo bater nela duas ou três vezes.

Luciana pretendia esperar o filho fazer dezesseis anos

para lhe contar toda a verdade e, então, poder se

separar.

Ao chegar à casa naquele dia de aniversário,

entretanto, Rodrigo encontrou apenas a mãe, Luciana,

esperando por ele. Havia apenas uma fatia de bolo e, a

mãe estava chorando. Perguntou, rapidamente, o que

havia acontecido e ela, para não lhe contar a verdade,

disse que estava chorando de alegria pelo filho ter

completado os quinze anos. Cantou parabéns junto

com ele e explicou-lhe que fariam uma comemoração

maior depois. Explicou-lhe também que o pai havia

saído para um trabalho que apareceu de última hora e

que não podia rejeitar. Na realidade, o pai havia se

drogado de manhã, levando consigo o dinheiro do bolo

de aniversário. Rodrigo compreendeu a situação tal

qual a mãe havia lhe contado e passou o resto do dia

com a namorada, Jacqueline Alvarenga, de 14 anos.

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Jacqueline era uma garota jovem, de apenas 14

anos, moradora de Botafogo, com uma renda familiar

mais estável: a mãe era gerente de laticínios de um

supermercado e o pai era bancário. Nenhum deles

possuía problemas psicológicos ou vícios e, a escola

onde Jacqueline estudava era considerada bem melhor

que a de Rodrigo. Enfim, a família de Jacque não era

rica, porém, era de classe média, mais alta. Os dois se

encontraram pela primeira vez num shopping e, por

coincidência também, pela segunda vez, na praia. De

lá se tornaram amigos até namorarem. Porém, Rodrigo

se sentia envergonhado perante a renda familiar baixa

do pai e da mãe e jamais havia contado a Jacque que

era pobre. Os pais de Jacque aprovavam o namoro com

Rodrigo, pois, assim como ela, pensavam que Rodrigo

vinha de classe média, assim como eles. Apenas

estranhavam o fato de que nunca haviam visitado a

casa dele ou conhecido os pais. O namoro dos dois era

estável, se viam várias vezes por semana e conheciam

bem um ao outro. Além disso, confiavam plenamente

no outro e faziam várias atividades juntos.

Esse mundo de verdades ocultas virará conflitos

intermináveis nos próximos meses para Rodrigo e as

pessoas que ele mais ama mostrarão faces até então

desconhecidas suficientes para virar a vida de Rodrigo

de cabeça para baixo. O que Rodrigo não sabe é que,

infelizmente, ele vai se encontrar em uma situação

aparentemente sem saída, tendo em vistas os fatos.

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Um conflito enorme despertará na cabeça do

adolescente, pois até então, ele tinha uma visão

idealizada. Na cabeça de Rodrigo, ele vai ficar em

dúvida em relação a toda a sua identidade, sua vida,

seus valores: ele acreditará que toda sua visa foi uma

farsa, uma grande mentira, se revoltará, e começará a

usar drogas assim como o pai. Com o desenvolvimento

da história, mais conflitos serão mostrados e explicados

detalhadamente, para levar ao leitor a fazer uma

reflexão sobre a vida daquele personagem, e até

refletir sobre sua própria vida.