Vinciane Despret 1

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    AscinciAsdAemooestoimpregnAdAsdepolticA?Catherine LutzeaquestodognerodasemoesH

    Vinciane DespretH

    resumo

    O texto apresenta uma reexo pautada na articulao entre emoo e cincia.

    Sendo esta possvel ao deslocar o entendimento sobre o fenmeno das emoes

    distante do familiar, onde este pensado como fenmeno pouco racional. Ao

    centrar ateno no trabalho da etnopsicloga Catherine Lutz sobre as emoes

    dos habitantes da ilha Ifaluk, o texto apresenta outra perspectiva sobre as

    emoes e sobre o processo de pesquisa: articulando emoo poltica,

    propondo a construo do problema junto com o conhecimento do campo depesquisa e dando ao pesquisador a possibilidade de transformao no processo

    da investigao.

    Palavras-chaves: emoo; pesquisa; poltica.

    Areemotionsciencesfullofpolitics?Catherine Lutzandthequestionofthegenderofemotions

    AbstrAct

    The text presents a reection based on the articulation between emotion and science.

    This is possible when moving your understanding of the phenomenon of emotions

    away from familiar, where this is thought of as a little rational phenomenon. By

    focusing on the work of ethnopsychology Catherine Lutz on emotions of Ifaluk

    islands inhabitants, the text presents another perspective on emotions and on the

    search process: articulating emotion to politics, proposing the construction of the

    problem along with the knowledge of the search eld and giving the researcher

    the possibility of transformation in the process of research.

    Keywords: emotion; search;politics.

    HTraduo de Carlos Marconi. Revisado por Marianne Strumpf.HHDoutora em Filosoa e Letras. Departamento de Filosoa. Universidade de Lige Place du XXAout 7 4000 Lige, Blgica.

    E-mail: [email protected]

    http://reflexions.ulg.ac.be/cms/c_12740/despret-vincianehttp://reflexions.ulg.ac.be/cms/c_12740/despret-vinciane
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    Partamos deste princpio bem conhecido pelos antroplogos: o peixe nov a gua do aqurio. Dizer que peixe no v a gua do aqurio designa, de fato,a situao na qual estamos quando tentamos pensar as coisas: as experincias, asmaneiras de viver e de se organizar nos so to familiares que nos difcil pens-las de outra forma. Dessa forma, quando pensamos o que uma pessoa, umaquantidade de caractersticas vem em socorro denio: pensaremos na consci-ncia, na autonomia da vontade, na capacidade de ser responsvel por seus atos.Ora, se interrogamos outras culturas sobre esse assunto, ns nos espantamos: seruma pessoa pode ter uma quantidade de outras signicaes: a conscincia no requerida (o caso do Japo exemplar a esse respeito), a autonomia da vontadetampouco requisitada (por exemplo, nas culturas que no tm a noo de res-ponsabilidade vinculada da individualidade) etc.

    O problema das emoes bem semelhante. Ns as consideramos comofenmenos pouco racionais, mais arcaicos, biologicamente fundados etc. O en-contro com outras culturas nos reserva muitas surpresas.

    com alguns desses encontros que eu gostaria de abordar essa questo.

    Gostaria, inicialmente, de esclarecer os riscos desta explorao: no setrata somente de multiplicar os repertrios daquilo que podem ser as emoes,trata-se, primeiro e antes de tudo, de aprender a considerar as nossas, de formadiferente, de tornar visveis coisas que para ns so to naturais que se tornaraminvisveis. Trata-se de aprender a pensar nos contrastes, o que quer dizer aprendera nospensar nos contrastes.

    Eu vou acompanhar mais particularmente uma antroploga especca, ain-da que eu me interesse por outros de seus colegas quando eles conseguem especi-car alguns aspectos daquilo que ns questionamos ao longo de nosso percurso.Se escolhi essa pesquisadora porque ela, melhor que todos os outros, mostrouque a verdadeira aposta de suas pesquisas era antes de tudo o conhecimento dens mesmos. Depois, porque, no quadro que nos rene, ela, de maneira magistral,ligou a questo das emoes da poltica, isto , quela das relaes de poder.Chegaremos a isso rapidamente. Comecemos, inicialmente, por apresent-la.

    Catherine Lutz, porque dela que se trata, uma etnopsicloga america-na; ela cresceu em uma famlia de classe mdia de um subrbio de New Jersey;ao m dos anos 1970, partiu para efetuar sua primeira pesquisa de campo emum minsculo atol do Pacco ocidental, a ilha de Ifaluk. Durante todo o tem-po de sua pesquisa, ela vai viver com os cerca de 400 habitantes desta ilha; elavai interrog-los sobre suas emoes e as teorias por intermdio das quais elesas explicam, as compreendem e as interpretam: em outros termos, ela vai fazero inventrio das etnoteorias que formam a etnopsicologia dos Ifaluk; isto vaiconduzi-la a interrogar as nossas.

    O fato de eu privilegiar, desde as primeiras linhas, o contexto no qual a pesqui-

    sadora cresceu para abordar os problemas da passagem de uma cultura para outra noatende a qualquer exigncia narrativa ou biogrca. Eu o fao porque esta especica-o aparece ao longo de seus prprios escritos, e da qual ela no inocente.

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    As cincias da emoo esto impregnadas de poltica? Catherine Lutz e a questo do gnero das emoes

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    Podemos a princpio traduzir essa especicao como uma precauo me-todolgica que se tornou bastante usual no domnio da antropologia. Essa pre-cauo corresponde quela que se chama exigncia reexiva. Em antropologia,essa maneira de proceder se tornou inerente prpria pesquisa: lembrar de ondese vem, de onde se fala, faz parte atualmente do caderno de encargos do trabalhodo antroplogo: toda pesquisa uma pesquisa situada.

    Lutz (1988), alm disso, vai mais amplamente se submeter a essa exigncia,explicitando, no livro que relata seu encontro com os Ifaluk, as origens e o contextono qual ela comeou seu prprio trabalho e as questes que o guiaram. Eu propo-nho a vocs segui-la, pois se trata inteiramente de um empenhocrtico e reexivoque nos permitir compreender os problemas que podem se apresentar quando nosengajamos nas relaes com outras culturas, e o que podemos esperar em termosde expectativas. Para fazer isso, iremos explorar o domnio das condutas humanasmuito particular ao qual esta antroploga se vinculou: o das emoes.

    Lutz nos convida de incio a compreender o fato de que ela tenha escolhidoas emoes como objeto de pesquisa luz da inuncia da tomada de conscinciafeminista dos anos setenta. Nesse contexto, explica ela, algumas pesquisadorasse interessaram pelas caractersticas geralmente atribudas s mulheres a psico-logia era majoritariamente, at aquela poca, uma psicologia de homens ou umapsicologia em que os homens constituam o modelo. Uma constante se impemuito rapidamente a Lutz. Os estudos das universitrias americanas apresentamnessa poca uma constante, reetindo um trao cultural particular: elas associamde maneira recorrente mulheres, emoes e tudo aquilo que considerado como

    tendo pouco valor. As emoes so, nesta literatura, consideradas como os pro-cessos mais arcaicos, at mesmo primitivos, incontrolveis, menos sosticados,dependendo frequentemente da patologia.

    O fato de se associar as emoes s mulheres no dependeria, portanto, daideologia do gnero que impregna a cultura americana? Em outros termos, as con-cepes predominantes das emoes no discurso universitrio no traduziriam,antes de tudo, as relaes de poder, particularmente legveis nessa associao decaractersticas desvalorizadas ao gnero minoritrio? Observemos inicialmenteque o contraste razo-emoo que funda a denio das emoes se articula

    ao que institumos entre espao pblico (espao da razo) e espao domsticoou privado como espao da sensibilidade. Atribuir a emoo a uma categoriacoletiva pode ento signicar sua excluso do espao poltico.

    Numerosas pesquisas vieram inclusive conrmar e apoiar esta crtica: ocontraste emoo/razo, que, alis, conrma outros dualismos aliados passi-vidade/atividade; natureza/cultura; corpo/conscincia/ subjetividade/pensamentoracional; valores/fatos; transbordamento/controle-vontade um contraste quehierarquiza os seres. Do lado dos detentores privilegiados da razo, encontra-remos aqueles que tm o direito do exerccio no espao pblico (os homens, se

    possvel, brancos e civilizados); do lado das emoes, encontraremos aqueles quedele so excludos: as mulheres, as crianas, aqueles que durante muito tempo

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    chamamos primitivos, at mesmo as classes trabalhadoras (sempre beira de ummotim). Lutz (1988, p. 54) escreve, alis, em concluso de suas primeiras pesqui-sas na literatura cientca das emoes que:

    O conceito de emoo existe em um sistema de relaes depoder e desempenha um papel na manuteno deste [....]

    Identicando, primeiro, as emoes com a irracionalidade,a subjetividade, o catico e outras caractersticas negativas,e em seguida etiquetando as mulheres como o gneroemocional, as crenas culturais reforam a subordinaoideolgica das mulheres.

    Ainda segundo Lutz, Falar de emoes, ao mesmo tempo falar da so-ciedade, falar de poder e poltica, de relao de aliao e de aliana, falar denormalidade e desvio (LUTZ, 1988, p. 6).

    Isso vai levar nossa antroploga a querer dar uma nova orientao a suaspesquisas: ela quis encontrar um campo de pesquisa que lhe permitisse colo-car esta associao mulheres-emoes-caractersticas desvalorizadas prova:encontrar-se-ia uma associao similar em uma sociedade mais igualitria?

    Os motivos polticos (e cientcos) no so, entretanto, os nicos em dis-cusso: a histria pessoal da antroploga converge aqui. Meu pai, [ela conta],era um homem muito emocional. Estvamos sentados mesa, ele podia chorar dealegria. Eu me dei conta de que o fato de que ele fosse to impressionvel era maljulgado. Aos olhos das pessoas, ele era uma espcie de macho problemtico 1.

    Encontrar uma sociedade na qual estivesse de acordo com a norma, para umhomem, falar abertamente de suas emoes ou de manifest-las fazia ento comque se articulassem um projeto cientco, um projeto poltico e um projeto pessoal aquele de uma lha sofrendo a desqualicao de que seu pai tinha sido o objeto.

    Diante da ausncia de informaes, na literatura dessa poca, a respeitoda repartio de papis, ela escolheu trs critrios como indicadores prognosti-cando um determinado igualitarismo: o fato de que o casamento seja matrilocal,que os princpios de herana e liao sejam matrilineares e que a produo dasprovises alimentares esteja sob a responsabilidade das mulheres. Os ifaluk pre-

    enchiam as trs condies: a residncia do casal est xada na famlia da esposa,a liao era matrilinear e as mulheres so as nicas proprietrias das terras dailha, as quais so cultivadas por elas. Alm disso, os antroplogos que os haviamestudado no m dos anos 1940 e incio dos anos 1950 relataram uma quantidadede canes poticas nas quais os termos exprimindo emoes so recorrentes, oque leva a pensar que a utilizao de termos emocionais deve ser relativamentefrequente na vida cotidiana.2 A leitura desses poemas acabou por convencer Lutz:eles insistem no valor que os ifaluk associam s relaes interpessoais, na foradas ligaes que os unem e na atmosfera pacca e amistosa que reina na ilha onde

    a violncia parece estar ausente. O que conrma os escritos dos antroplogos.

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    As cincias da emoo esto impregnadas de poltica? Catherine Lutz e a questo do gnero das emoes

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    O fato de essas ltimas caractersticas parecerem importantes aos olhos deLutz nos indica uma outra modalidade de motivaes para a pesquisa: esta noera tanto a de uma resposta a questes, quanto uma soluo de problemas.

    Eu estava consciente, [ela escreve], de que o que eu procuravaera muito mais que um local de pesquisa apropriado para

    estudar o problema da relao entre emoo e cultura.Procurava igualmente pessoas que teriam inventado umasoluo cultural que seria no somente diferente da nossa,mas de certa maneira, melhor. Quis ver como era possvel

    para as pessoas organizarem suas vidas de maneira a evitaros problemas que me pareciam debilitar a cultura americana,em particular sua desigualdade de gnero, de classes e suaviolncia (LUTZ, 1988, p. 17).

    O encontro, todavia, no se produzir sob o signo das solues: os ifaluk

    oferecem muitas surpresas em relao quilo que Lutz esperava encontrar. Nosomente o que ela observa se mostra muito frequentemente contraditrio comaquilo para o qual estava preparada, mas as contradies parecem inerentes prpria vida social dos Ifaluk. A imagem de uma sociedade pacca isenta de todaclera constantemente colocada em xeque pelas declaraes de clera recorren-tes na vida cotidiana. A violncia est, todavia, totalmente ausente da ilha. Con-tradio ainda quando se considera o status das mulheres; as relaes igualitriasesperadas so sem cessar contrariadas por discursos descrevendo as mulherescomo seres carentes e subordinados. Mas, se ela coloca a pergunta, os homens

    lhe respondem que so as mulheres que tm o poder sobre a ilha. E o papel dechefe de uma das cidades desempenhado por uma dentre elas.3

    Ora, e este o ponto central de sua obra, aquilo que Lutz vai aprender vaimodicar radicalmente as prprias motivaes de seu projeto: ela procurava solu-es entre os outros; ela vai aprender a reconstruir o problema de outra forma. para ns que ela ser reenviada, a se interessar por sua prpria cultura queela vai se lanar. nesse ponto da dmarche que a recordao de onde eu ve-nho, cuja importncia em seu trabalho eu assinalei, toma um outro sentido. No mais este empenho reexivo, condio a montante que obriga a pesquisadora

    a se situar, ele constitui, no presente, a jusante, o prprio objeto de sua pesquisa.Em outros termos, o de onde eu venho, que no regime da reexividade se denecomo uma medida de precauo e uma cura para o etnocentrismo4 transforma-se naquilo que se deve construir, aprender e colocar prova.

    Toda etnograa comparativa e implica levar em contaos dois sistemas de signicao, o nosso e aquele dequem interrogamos. O xibolete do mtodo antropolgico,entretanto, raramente conduz ao exame simultneo dos doissistemas de signicao (LUTZ, 1988, p. 44).

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    O que signica, do ponto de vista da prtica, continua ela, que a viso domundo emocional da antroploga merece tanta ateno quanto aquela da culturaque vamos observar (LUTZ, 1988, p. 12).

    Assim, explica Lutz, na ilha de Ifaluk, o termo ker, que podemos traduziraproximadamente por felicidade, considerado amoral, at mesmo, imoral.

    Quando eu tomei conscincia que os Ifaluk a sentiam dessamaneira, minha surpresa me assinalou mais que o simplesfato de que eu aprendia algo a respeito do modo como elesfazem a experincia da felicidade. Esta surpresa signicavatambm que minha prpria etnoteoria implcita da pessoa edas emoes era contraditria em alguns de seus aspectos especialmente o fato que pensamos que a busca da felicidade um objetivo muito louvvel (LUTZ, 1988, p 22).

    O saber dos outros transforma nossas maneiras de nos saber. Isto que ti-nha valor de evidncia, ou mesmo de norma, aparecia subitamente, na lio doscontrastes, no somente como contingente isso o que temos direito de esperardas colocaes em perspectivas, aquilo que, alis, nos reata ainda reexividade mas, sobretudo, como problemtico. O subttulo do livro do qual tirado esteextrato d conta do empenho: Everyday sentiments on a Micronesian atoll andtheir challenge to western theory Os sentimentos cotidianos em um atol daMicronsia e seu desao teoria ocidental.

    Esta pesquisa voltada em direo aos outros se acompanha, por conse-

    guinte, como uma necessidade, simultaneamente a montante e a jusante, de umprocesso que obriga a pesquisadora a sempre reencaminhar para ela mesma aquesto que ela coloca para os outros (o que a felicidade para eles? convocao que felicidade para ns?).

    Ser que isso signica ainda que o motivo poltico que guiou sua pesqui-sa totalmente abandonado, e que necessrio considerar que o problema daligao entre emoo e poder um problema que somente tem sentido em nossatradio? No o caso. A emoo entre os ifaluk pode ser igualmente consideradacomo um problema que acompanha a poltica, que caracteriza as relaes de po-

    der. A emoo pode assim ser denida como uma estratgia que se deve aprender,e que emerge tanto mais quando favorecida pela cultura. Os ifaluk consideram,por exemplo, que a emoosong, que podemos traduzir como uma clera justi-cvel e a emoo metagu o medo, que responde a ela, so socialmente apren-didos. No so somente estratgias de negociao visto que essas emoes soutilizadas para negociar as relaes com os outros e com a autoridade, mas elasforam tambm objetos de uma negociao: o medo metagu se ensina s crianase diversas estratgias so implementadas para favorecer sua emergncia, na me-dida em que ela constitui a reao adequada clera justicvel e que permiteantecip-la. De outro lado, para se declarar em clera justicvel, necessrio

    poder legitimar esta clera e negociar esta legitimao com os outros.5 O medoe a clera justicvel so ambos emoes complementares: clera songdeve

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    corresponder o medo metagu. Porque so ambas estratgias sociais, maneirasde entrar em relao e transformar estas relaes, maneiras tambm de se expe-rimentar, estas emoes participam, para aqueles que podem senti-las e exprimi-las, da possibilidade de se integrar ao social. As etnoteorias dos ifaluk, explicaLutz, no estabilizam a distino ntida entre as cognies e os afetos: so ambasatividades que permitem a entrada em relao, e que se explicitam no universointerpessoal. Quando um ifaluk fala de suas emoes, ele no fala do que se passano interior de sua cabea, mas daquilo que se passa no mundo e nas suas relaescom os outros.6 Como tais, elas articulam o universo interpessoal e o universomoral. A metagu denida, como o so todas as emoes em Ifaluk, em termosde situaes que a produzem de maneira tpica: por exemplo, visitar pessoas nofamiliares, encontrar-se em uma festa com desconhecidos, ou ainda encontrar umfantasma malvolo. Ela pode designar tambm o fato de encontrar um tubaro nagua ou de se aventurar numa canoa longe das margens. Mas uma das signica-es mais importantes aquela que articula esta emoo a outra, asong, a clera

    justicvel. O termo song o termo emocional que exclusivamente utilizadopara descrever a reao transgresso de uma norma cultural, ou de um tabu,por um terceiro. a emoo de ultraje social e ela considerada como a emooapropriada para aqueles que tm uma posio superior: o chefe, os mais idosos eos pais frente a seus lhos. A pessoa que o objeto da clerasongtem a experi-ncia da emoo metagu. Se uma pessoa sente e exprime a clera justicvel, aoutra deve sentir e exprimir a emoo de metagu.

    Para estar e se dizer em clera justicvel entre os ifaluk, preciso ar-mar que as possibilidades de paz e de bem-estar na ilha foram ameaadas e

    preciso identicar o que ameaa esta ordem moral. E cada vez que o termo utilizado, observa-se, a cena se enche de atores: h uma regra violada, h algumque condena e que apela aos outros pela condenao; h o culpado que tem medodesta clera (ele sente a metagu) e que dever se emendar sua maneira. A emo-o de clera que se dene no , portanto, qualquer coisa que acontece, nemum simples julgamento emocional dos eventos. Aquele que se declara em estadode clera dever negociar esta declarao com os outros: o fato de reivindicar aclera para um ifaluk implica uma caracterizao do mundo que deve ser objetode uma transao. A clera se negocia, se justica, mas pode, alm disso, se dar

    como um modo de transformao do mundo. A clerasongsomente emerge e aceita quando as pessoas podem justicar e negociar os valores culturais e as prer-rogativas de poder que alguns membros da sociedade possuem naquele momento.Aquele que se declara em clera deve reunir os outros. E esta negociao deve terlugar de modo ainda mais singular, por ocasio de mudanas sociais, pois elas setornam um meio de reformular sua regulao. A clera justicvel, portanto, no somente o meio de manter a ordem social, ela um modo de regulao de rela-es e pode se constituir como uma reivindicao ao poder. E como est ligada aopoder, e ao poder de condenar, constitui ao mesmo tempo um modo de resistnciae de condenao social e aquilo que pode favorecer s mudanas (LUTZ, 1990).

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    Como acabamos de ver, a emoo entre os ifaluk se inscreve no social eno poltico. Resta, ento, a questo que conduziu a pesquisa sua origem: comoesta concepo pode nos ajudar a ler diferentemente as emoes, a consider-lasde maneira descentradas no papel que elas podem desempenhar nos modos deorganizao. Tentei mostrar a vocs a que ponto nossa concepo de emoesest ela mesma inscrita nos jogos de poder, pelo fato de sua constante desvalori-zao. Ora, se nos atemos a esta anlise, falta-nos alguma coisa: o fato de que, seesta concepo exatamente aquela que prevalece em numerosos discursos, ela,todavia, no est sozinha. Ao contrrio.

    Porque, na anlise, no podemos esquecer que nossas concepes dasemoes so frequentemente habitadas por contradies espantosas. Assim, po-demos dizer de nossas emoes que elas so a vida e valoriz-las, pois elasso o ncleo mais autntico da pessoa, mas, ao mesmo tempo, somos capazesde consider-las como aquilo que faz com que no sejamos mais ns mesmosdevendo, portanto, serem controladas. As contradies so mltiplas.

    Essas contradies que marcam nossas concepes de emoes so, segun-do Lutz, simultaneamente, aquilo que cria e aquilo que criado por um potencialde ambivalncia (LUTZ, 1988, p. 58). Porque elas coexistem na cultura e no re-servatrio das etnoteorias, uma e outra verso podem ser ativadas pelos projetosparticulares, a cada vez diferentes. Nos discursos de propaganda eleitoral nos Es-tados Unidos, por exemplo, sobejam exemplos de utilizao desta possibilidadede recrutar uma concepo ou outra. Jesse Jackson, durante um discurso pronun-ciado na Conveno Democrata, em 1984, tenta se desculpar por uma observao

    insultante a respeito dos eleitores judeus declarando: Peo aos senhores paraconsiderar que essa falha vem de minha cabea, no de meu corao (LUTZ,1988, p. 68). Todos ns conhecemos a verso alternativa, pois ns j a utilizamosrepetidamente: Desculpe-me, eu no pensei no que eu dizia, eu estava encole-rizado minhas palavras ultrapassaram meus pensamentos. Ouvi recentementeuma ilustrao completamente caracterstica desta possibilidade: entrevistaram,na rdio, cidados holandeses a respeito da rejeio em massa da constituioeuropia. Uma das pessoas interrogadas respondeu questo de como compre-ender esta rejeio em massa: votamos com nosso corao. O que mostra bemesta espantosa separao, a mesma no espao pblico e o fato de sublinhar a

    origem desse voto mostrando bem que as pessoas tinham conscincia de havertomado uma deciso, de uma certa maneira, um pouco fora do comum, e quese tratava de uma questo ligada mais a valores que racionalidade o que nosmostra tambm que recortamos a percepo da prpria realidade de acordo comesse mesmo esquema dualista.

    Podemos igualmente, para designar essas contradies, remeter a esta es-pantosa dualidade terica relativa s origens das emoes: elas esto no mundoque nos afeta ou em nossa capacidade de transformar o mundo? Este homem amvel porque eu o amo ou eu o amo porque ele amvel? Esse mundo assus-

    tador porque tenho medo ou ele mesmo o responsvel pelo meu espanto? Se ostericos parecerem ter em sua maioria escolhido a respeito desse tema um lado docampo e defender como a nica verso possvel uma ou outra concepo, pare-

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    cer que nossas atitudes cotidianas so muito mais hesitantes7 ou exveis. Possosair de casa em uma manh chuvosa como tpico na Blgica, ruminando som-brios pensamentos quanto diculdade de viver em um universo hostil com umcu assim to baixo, at mesmo os canais tm vontade de se enforcar. Encontroum amigo e, sua pergunta ritual como voc est?, posso invocar a cor do cu o estado lamentvel do mundo. Podemos muito bem imaginar que meu amigome responde, e, se ele convincente, que me faa, alm disso, mudar de teoria,armando que isso porque eu sem dvida dormi mal e, assim, vejo tudo negro.No somente duas etnoteorias foram invocadas o mundo que me deixa triste;o mundo assume a cor que nossas emoes lhe do mas elas se zeram objetode uma negociao. Meu amigo pde pensar que eu deleguei muito rapidamentemeu mal-estar ao mundo; ou a contradio entre meus sentimentos e os dele lhepareceu menos suportvel; ou ainda ele pde simplesmente sentir compaixo econvocar uma teoria que, ele esperasse, agiria sobre meu humor (ou me ajudariaa relativiz-lo). As razes de minhas prprias opes etnotericas poderiam elas

    mesmas serem objetos de interpretaes diversas, indo da tendncia a atribuir aoseventos causalidades externas at a regras de pudor ou de cortesia que me impe-diriam de dizer explicitamente que eu no estava bem.

    Os exemplos poderiam se multiplicar vontade.

    A idia de que ns utilizamos um potencial para a ambivalncia e queessa possibilidade tem sem dvida favorecido a manuteno de denies con-traditrias, certamente no responde questo de saber de onde nos vem essasconcepes de emoes. Responder a esta questo ultrapassaria amplamente o

    quadro de nossa reunio: seria necessrio, por exemplo, retornar losoa dePlato para compreender como a dimenso de periculosidade que acompanhacertas etnoteorias pde vir luz e analisar como o prprio pensamento cristorecuperou e prolongou esta idia. Em contrapartida, a idia de que as emoesso a vida, de que elas so a parte autntica do indivduo nos demandaria ir aosRomnticos que nos inuenciaram to profundamente (especialmente a idia deque as emoo so a expresso do eu verdadeiro: poderemos ler os trabalhos deCharles Taylor a esse respeito, particularmenteAs fontes do self(1989).

    Ainda no quadro deste texto, o caminho que nos conduziria a refazer a

    histria da formao de nossas emoes muito longo. Eu proponho a vocs pre-ferencialmente considerar as coisas em termos de questes atuais, que mostremcomo certas concepes sero investidas pelas pessoas, utilizadas como estrat-gias relacionais, e ento, mantidas vivas. Para faz-lo, deixemos Lutz e vamosnos voltar anlise de um outro pensador da emoo, James Averill.

    Analisemos com ele as questes desta verso da emoo que privilegiamostanto e segundo a qual as emoes so aquilo que nos transborda, que nosacontece, o que explica que pensamos que elas sejam irracionais.

    Podemos formular uma hiptese paralela de Lutz (ns utilizamos as con-

    cepes que nos reorganizam) e pensar que a experincia de transbordamentopode, como experincia, permitir pensar e negociar as relaes consigo mesmo,com os outros e com o mundo. Nossa experincia mais comum no nos ensina

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    quando dizemos desculpe-me, estava encolerizado, eu no me controlava mais,eu no pensava o que eu estava dizendo? Nossa cultura, alm disso, criou ex-presses espantosas para exprimir essa irracionalidade, essa estranheza da paixo eu no era mais eu mesmo. Estas expresses testemunham inicialmente umaoutra coisa: esta incontrolabilidade e esta passividade da paixo nos fascinam eno cessamos de traduzir esta fascinao. Podemos certamente reatar esta experi-ncia da passividade e da irracionalidade nossa concepo de responsabilidade,ligada racionalidade e integridade da pessoa, e esta fascinao ao fato de quenossa tradio atribui um valor importante ao deliberada. Mas isso no explicagrandes coisas, sobretudo isso no permite compreender como de certa maneira,desviamos este privilgio atribudo racionalidade. Esta ligao entre a fascina-o e o privilgio da racionalidade no uma simples consequncia, que traduziriao fato que porque estamos em uma cultura que privilegia a racionalidade, todoaquilo que transborda esta ltima nos fascina como um problema: esta fascina-o no o sintoma de um problema (a tenso entre a razo e a paixo, a ameaa

    da paixo para a razo), mas traduz a maneira como ns cultivamos a relao adeterminados problemas, ou mais precisamente, a maneira como utilizamos asdimenses do contraste emoo-razo para negociar e resolver estes problemas. isto que eu chamo desviar o privilgio atribudo racionalidade.

    Segundo o psiclogo construtivista James Averill, a experincia de passi-vidade que condiciona nossas teorias da emoo seria de fato uma iluso quetemos ou que criamos a propsito daquilo que so nossas experincias emocio-nais. Mas, essa passividade da experincia emocional no uma iluso da qualseramos vtimas passivas, ela deve ser lida, segundo Averill, como uma estra-

    tgia social, isto como uma estratgia de negociao consigo mesmo e comos outros. A experincia de passividade, a experincia pela qual as emoesso coisas que nos acontecem, que so naturais e independentes de nossarazo e de nossa vontade, esta experincia que, alis, h muito tempo legitimouas concepes naturalistas, deve ser interpretada como uma maneira a partir daqual negociamos a relao com nossos atos. No caso da maior parte das emo-es, ele explica, o indivduo no pode ou no quer aceitar a responsabilidadede sua ao: a iniciao da resposta portanto dissociada da conscincia. E del que viria nossa reconstruo da experincia em termos de passividade, como

    se o que nos faz agir seja uma espcie de ncleo natural dissociado do resto dapessoa. Esta experincia de passividade, de transbordamento, de no controleseria, portanto, a maneira como negociamos nossos atos, conosco mesmos emum modo ilusrio poderamos dizer em um modo de m-f -, e com os outrosem um modo de negao (no sou eu). Aquilo a que a emoo assim construdanos engaja, ento, seria uma experincia da multiplicidade, em um modo deser um outro, o que nos permite em ultima instncia armar um no ser. uma estratgia que nos permite agir sem assumir a responsabilidade de nossaao, semelhante, diz Averill, s estratgias da histrica que mente a si mesmapara se liberar de suas responsabilidades e de sua culpabilidade.

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    Essa interpretao de Averill ilumina com uma luz completamente diferen-te uma particularidade de nossa cultura: o fato que a paixo, experimentada comoevento ou como experincia de transbordamento, torne-se uma categoria jurdica,pois o jurdico considera como precisamente legitimo oferecer um tratamentodiferente aos crimes ditos passionais. As experincias de sndrome Amok, ou doshomens selvagens das regies polinsias seriam assim desta ordem e poderiamreceber uma leitura similar. Com efeito, nesses casos, como no nosso, a maneiracomo cultivamos determinadas dimenses da emoo permitiria resolver os con-itos de demandas dentro de um sistema cultural. O indivduo socializado resolveo conito entre dois sistemas de normas, dissociando a iniciao do ato proibidoda conscincia e cando transbordado pela emoo.

    Se consideramos que cultivamos essas estratgias, a cultura, nessa pers-pectiva, no se dene mais somente como aquilo que oferece suporte s nos-sas emoes. Ela no nos oferece somente os esquemas para pens-las ou paradiz-las; ela faz muito mais que traduzir uma experincia que seria culturalmentedependente: ela uma poderosa indutora j que induz o transbordamento. Nosomente cultivamos uma experincia da paixo que a dene como evento forade controle, mas cultivamos os modos do transbordamento passional, induzin-do-nos este transbordamento. Nossa experincia com o lcool poderia se mostrarsimilar: certamente sabemos que sob a inuncia do lcool no nos controlamosbem. Mas quantos dentre ns no bebemos justamente para perder este controle,para ter a coragem de dizer, de fazer ou de se zangar? o lcool que induz estetransbordamento, ou a maneira culturalmente sancionada pela qual podemospedir bebida que nos transborde? Nesse caso, o lcool muito menos a causa

    de seu transbordamento que seu vetor; ns o utilizamos como um recurso nospermitindo este ser outro que pode responder em nosso lugar. Utilizamos comorecurso, sobretudo, o fato de que ns podemos cultivar uma verso indeterminadada experincia, isto , uma verso de que somos livres para distribuir as determi-naes: a experincia emocional (ou sob inuncia) pode ser induzida e indutora;causa, vetor e produto. O que signica tambm que cultivamos o contraste entrea autenticidade da experincia e a possibilidade de constru-la como tal, em ummodo que no mais aquele da disjuno, em um modo que, paradoxalmente, de-sestabiliza esse contraste: essas experincias, mesmo induzidas, no nos parecem

    menos verdadeiras. A autenticidade com a qual elas se do a ns testemunhaque cultivamos to bem as respostas que elas nos habitam, que elas se tornam osmodos privilegiados de relao com o mundo e conosco mesmos.

    Partimos dos ifaluk para chegar, aps um longo desvio, maneira pela qualcultivamos o lcool e as possibilidades sociais que ele nos oferece: alm do fatode que esta ltima experincia nos mostra que, com efeito, bem possvel viveros fenmenos simultaneamente como construdos e como reais, o prprio ca-minho nos ensina o interesse deste tipo de empenho: camos um pouco estranhosa ns mesmos nos encontros com os outros.

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    notAs1 Comunicao pessoal.2 Se Lutz tinha razo de pensar assim, isso no sempre o caso. Os bedunos do Egito estudadospor Lila Abu-Lughod (1990) se singularizam por um contraste impressionante: eles valorizam asemoes na poesia, mas jamais fazem referncia a elas no discurso cotidiano.

    3 Lutz explica que a posio das mulheres teve que se modicar ao longo dos ltimos 50 anos

    e, sobretudo, sob a inuncia consecutiva de colonizadores japoneses e de programas de ajudaamericanos. Nas duas situaes, os colonizadores e seus alter egos humanitrios colocaramos homens em postos chaves, os enviaram para estudar no estrangeiro e ento lhes deram aresponsabilidade pelos programas de nanciamento.

    4 O que, paradoxalmente, designa ainda mais aquilo de onde viemos, pois a prpria reexividadefaz parte de nossa cultura, tanto quanto a conana que ns lhe outorgamos para car mais pertoda verdade. Os que nos coloca nalmente na posio do Baro de Munchasen, que, vendo seucavalo atolado em um brejo, puxa sua crina, mantendo-se na sela, para dali sair.

    5Apresento aqui apenas um dos aspectos da etnologia dos Ifaluks e da teoria de Lutz. Os artigosde Lutz aos quais me rero sero ento mais amplamente comentados: Lutz (1983, 1986, 1990).

    6A introspeco existe, mas ela pode tomar duas formas, uma valorizada, a outra, no. A primeira considerada como um instrumento, no como um m, que permite, quando de conitos

    interpessoais,se dividir em sua cabea para avaliar sua posio dentro do conito e sua prpriaao. No segundo caso, os pensamentos excessivos, sem objetivo moral, a fazem aparecer comoruim, e ela pode conduzir doena ou perda de apetite. A introspeco benca se ela se dirige,como instrumento, ao mundo social (LUTZ, 1992).

    7 Eu remeteria, para uma bela anlise dessa faculdade de hesitar, ao trabalho de William James,(1958) Essays in Radical Empiricism. New-York: Longman Green (1. ed. 1912).

    refernciAs

    ABU-LUGHOD, L. Shifting politics in bedouin love poetry. In: LUTZ, C.;ABU-LUGHOD, L. (Ed.). Language and the politics of emotions. Cambridge:

    Cambridge University, 1990. p. 24-45.

    LUTZ, C. Parental goals, ethnopsychology and the development of emotionalmeanings. Ethos, [S.l.], v. 11, n. 4, p. 246-263, 1983.

    LUTZ, C. The domain of emotions word on Ifaluk. In: HARR, R. (Ed.). Thesocial construction of emotions. Oxford: Basill Blackwell, 1986. p. 267-288.

    LUTZ, C. Unnatural Emotions: everyday sentiments on a Micronesian atoll and

    their challenge to western theory. Chicago: University of Chicago, 1988.

    LUTZ, C. Morality, domination and understandig of justiable anger amongthe Ifaluk. In: SEMIN, G.; GERGEN, K. Everyday understanding. Londres:Sage, 1990. p. 204-226.

    LUTZ, C. Culture and consciousness: a problem in the anthropology of knowledge.In: KESSEL, F. S.; COLE, P. M.; JOHNSON, D. L. (Ed.). Self and Consciousness.Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates, 1992. p. 6487.

    TAYLOR, C. Sources of the Self: the making of the modern identity. Cambridge,Mass: Harvard University Press, 1989.

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    As cincias da emoo esto impregnadas de poltica? Catherine Lutz e a questo do gnero das emoes

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    Recebido em: setembro de 2010

    Aceito em: dezembro de 2010