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Araçatuba
Da Redação
“
”
“Oser humano não es-tá mais suportandoa situação limite
que está vivendo com a violência,corrupção, desonestidade, mentirae desconfiança. É preciso umaação que gere mudança”. Essa é aafirmação da psicopedagoga e coor-denadora do Comitê da Alta No-roeste Paulista para a Década daCultura de Paz em Araçatuba, Ma-ria Elvira Ribeiro Tuppy.
Ontem, Vivi Tuppy, como émais conhecida, abriu o 86ºFórum do Comitê da Cultura dePaz, em São Paulo, onde apresen-tou aos secretários de educação,cultura, comunicação e diversas au-toridades municipais e estaduais,além de integrantes do poder Judi-ciário, a estrutura do “Educadoresda Paz”, programa idealizado pelocomitê de Araçatuba para o desen-volvimento da cultura de paz.
Resultado da parceria entre aAssociação Palas Athena e a Unes-co (Órgão das Nações Unidas paraa Educação, Ciência e Cultura), ocomitê foi criado em 2000. Apósdez anos, inicia a segunda décadacom o intuito de destacar os resul-tados de seus programas, consoli-dar e implantar as iniciativas nãoefetivadas na primeira década,além de ampliar a sua atuação.
O que é o Comitê paraCultura de Paz e por queAraçatuba foi escolhida para asua instalação?
O comitê é uma iniciativa daONU (Organização das Nações Uni-das) e funciona a partir de uma par-ceria entre a Associação Palas Athe-na e a Unesco, com o intuito de fo-mentar e inspirar ações construtorasde cultura de paz. Como eu mora-va em Araçatuba havia mais de 30anos e sempre estive envolvida coma cultura de paz, fui estimulada amontar o Comitê Paulista da Cultu-ra de Paz em Araçatuba. Recebe-mos o apoio da Folha da Região ,onde promovemos os fóruns de dis-cussão, e também do Interação, on-de estruturamos os programas.
Quais foram os projetoscriados na primeira década?
O grande programa que nós te-mos em Araçatuba hoje é o “Educa-dores da Paz”. O programa consisteem educar o educador para cons-truir cultura de paz. Com metodolo-gia, educação permanente e sistema-tizada, está sendo desenvolvido por
meio da diretoria de ensino deAraçatuba em toda rede estadual háoito anos. O outro programa é o co-mitê, que depois que nós instala-mos na Folha da Região , ganhouum apoio muito consistente. Alémdesses, está em desenvolvimento narede estadual também e como des-dobramento do primeiro programa,o “Gestores da Paz”. É outro progra-ma em que o trabalho deve ocorrerem rede, com pessoas que tenhamcondições de acolher a criança, a in-fância e a juventude. Para seu de-senvolvimento, estamos buscandocontar, além da Diretoria de Ensinode Araçatuba, com o Comdica (Con-selho Municipal de Defesa dos Direi-tos da Criança e do Adolescente), opromotor e juiz da Vara da Infânciae Juventude, os conselhos tutelares,as secretarias municipais de educa-ção e assistência social, representan-tes da Câmara Municipal e dosCras (Centros de Referência da As-sistência Social).
O que ainda é preciso serfeito?
Dentro do “Educadores daPaz”, nada mais, porque já estáconsolidado. Com relação aos“Gestores da Paz”, eu preciso ain-da dessa rede de pessoas. Aindanão consegui que as pessoas enten-dam a necessidade desse movimen-to. Nós precisaríamos ter o envolvi-mento da Secretaria Municipal deEducação, porque quando a crian-ça entra na rede estadual, já pas-sou pela rede municipal e chegacom muitos vícios, atitudes e com-portamento que expressam a vio-lência, o abandono e a negligência.Se nós temos o programa na redemunicipal, a criança, após passarpela creche e o primeiro ciclo doensino fundamental, chega na redeestadual com uma resposta ao pro-grama mais efetiva.
Araçatuba foi a pioneirana criação da Justiça Restaura-tiva, porém, não conseguiu im-plantar o programa no Fórumda cidade. Em quem consisteessa justiça?
A Justiça Restaurativa nasceude um simpósio realizado em2005, em Araçatuba, e tem comoobjetivo apoiar e acolher o ofensor,a vítima e a comunidade no senti-do da não penalização, mas, sim,da resolução do conflito. A Justiçacomum é punitiva e penalizante. Oofensor vai para o sistema prisional,cumpre a pena e volta para a socie-dade. Ela não atende a vítima e évista apenas para reconhecer o ofen-sor. Já a Justiça Restaurativa vai ter
uma ação conjunta com as três par-tes envolvidas no sentido de promo-ver a resolução do conflito. Não es-tou negando a penalização. Porém,muitos problemas podem ser resol-vidos com ações pacificadoras.
Há uma perspectiva paraque a Justiça Restaurativa se-ja implantada em Araçatuba?
A comunidade jurídica deAraçatuba e as universidades ain-da não conseguiram entender anecessidade de uma ação conjun-ta e de um programa efetivo deimplantação da Justiça Restaurati-va. Dependemos do Ministério Pú-blico e dos termos jurídicos. Esta-mos esperando as portas se abri-rem. Temos o programa desenvol-vido em São Paulo, São Caetanodo Sul, Porto Alegre e em váriascidades do Nordeste.
Qual projeto o comitê ten-tou realizar junto à Câmara deAraçatuba?
Logo que a vereadora EdnaFlor assumiu a presidência da Câ-mara, nós tentamos implantar noLegislativo o ConPaz (Conselho
Parlamentar pela Cultura de Paz).O programa ampliaria os traba-lhos do comitê e envolveria o po-der público. Mas gerou muitasdiscussões e acabamos não conse-guindo efetivá-lo.
É possível consolidar acultura de paz aqui?
Não tem consolidação. A cul-tura de paz é um processo, porqueo conflito é natural. O que temos
de consolidação são os programas.Um exemplo é o Japão, em quenão há saque, apesar da situação li-mite dos últimos dias. Os japone-ses estão mostrando que é possívelter o exercício do respeito, honesti-dade e bem comum mesmo emuma situação limite.
Quais são os trabalhosprevistos para esta segundadécada?
Enquanto comitê, a propostaé trazer ações que já existam emAraçatuba. Temos a questão do si-lêncio que nasceu de uma reuniãodo comitê e a própria Justiça Res-taurativa. Vamos também discutirquestões levantadas durante a pri-meira década nos fóruns do comi-tê e que podem ser revertidas ago-ra em ações mais práticas.
Os programas existenteshoje nasceram das reuniõesdo comitê que conta com aparticipação da população.Pensando nisso a cultura depaz pode ser consideradauma voz das pessoas?
Eu acredito que é um anseio
de todos nós, seres humanos. Nósnão estamos suportando mais a si-tuação limite que estamos vivendocom a violência, corrupção, deso-nestidade, mentira e desconfiança.Isso está sendo insuportável. Nos-sas crianças estão sendo absoluta-mente desrespeitadas e a vida deuma certa forma. O ser humanonão aguenta mais e nós temos queter uma ação.
Enquanto cidadã, quaisações as pessoas podem exe-cutar e de uma maneira geralcontribuir para o desenvolvi-mento da cultura de paz?
Enquanto cidadã, se você co-meçar a respeitar a si mesma e po-der respeitar o outro, ter um com-promisso deliberado com a honesti-dade, com os valores universais, co-mo o respeito, a responsabilidade ea confiança no outro dentro do seuuniverso familiar e em seu entor-no, você já está construindo umacultura de paz. Porque a cultura depaz tem como base a preservaçãoda vida, o processo democrático, odiálogo, a compreensão e inclusãodo outro, o respeito ao planeta, asolidariedade e a generosidade. Secada cidadão puder se comprome-ter autodeliberadamente em im-plantar e viver esses valores univer-sais dentro da sua empresa, família,escola e bairro, seja no público ouno privado, nós mudamos a atualrealidade. O Japão está mostrandoisso. Porém, temos que fazer issonão sendo hipócritas, não pela viado medo, mas pela via da parceria.
E o empresário, políticoou líder na sociedade, de queforma pode contribuir?
Eles devem vir aos comitês,participar dos fóruns na Folha daRegião, porque aqui a pessoa terácontato com todas as possibilida-des da cultura de paz.
Qual a contribuição damídia para o desenvolvimentoda cultura de paz?
Eu penso que a mídia temuma responsabilidade muito grandeno sentido de fazer minimamente oprocesso democrático de balancea-mento das notícias. Temos as máse boas notícias, as que inspiram eevidenciam as ações e também asque tratam da violência e todo oseu entorno. A questão é como issoé passado ao público. Portanto, pen-so que a mídia pode balancear. Aoutra dimensão é a responsabilida-de de toda a mídia. Ela precisa terum compromisso com a construçãode uma cultura de convivência.
Ações pela
Alexandre Souza/Folha da Região - 15/03/2011
pazComitê da Alta Noroeste Paulista para a
Década da Cultura de Paz inicia segunda fasede trabalhos por um mundo melhor
ENTREVISTA
OBSTINADA Vivi Tuppy: “nos-
sas crianças estão sendo desrespei-
tadas e a vida de uma certa forma”
Nós não
estamos mais
suportando a
situação
que estamos
vivendo,com a violência,
corrupção,
desonestidade,
mentirae desconfiança
C1 Araçatuba, sexta-feira, 18 de março de 2011