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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS
CURSO DE LICENCIATURA EM BIOLOGIA
MILEIDE DOS SANTOS FERREIRA
CONTRIBUIÇÕES DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA INVESTIGATIVA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS EM UMA PERSPECTIVA
DA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
CRUZ DAS ALMAS-BA
2018
MILEIDE DOS SANTOS FERREIRA
CONTRIBUIÇÕES DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA INVESTIGATIVA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS EM UMA PERSPECTIVA
DA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
Trabalho de Conclusão de curso apresentado a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Biologia.Orientadora: Profª Drª. Rosilda Arruda Ferreira.
CRUZ DAS ALMAS – BA
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
MILEIDE DOS SANTOS FERREIRA
TCC apresentado no dia 09 de fevereiro de 2018Aprovado com a nota 9,0
CONTRIBUIÇÕES DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA INVESTIGATIVA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS EM UMA PERSPECTIVA
DA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Luiza Olívia Lacerda Ramos Doutora em Educação – UFBA/BA
Instituição: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia- UFRB
Dedico a Deus, aos meus pais, e a minha irmã, por todo amor, investimento e companheirismo.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente sou grata a Deus por ter me concedido o prazer e a
oportunidade de estudar na UFRB, e de ter me abençoado com saúde e sabedoria
para caminhar durante esses quatro anos de muito estudo e dedicação, por fazer o
impossível quando eu precisei, e por me mostrar Sua bondade e amor a cada
semestre, e confirmar ainda mais em meu coração que todas as coisas são e vêm
Dele! Muito obrigada!
Gostaria de agradecer a Michele minha irmã, melhor amiga, que amo muito,
sou grata por essa jornada que iniciamos e finalizamos juntas e ainda mais unidas,
obrigada por me ajudar nos momentos que eu achei que não ia conseguir, me
animar nos momentos de desânimo e compartilhar comigo os momentos mais
felizes que já vivi até aqui.
Agradeço a meus pais, Eliene e Simpliciano por todo cuidado, amor e
investimentos. Por vocês é o meu esforço e dedicação, sem vocês eu não teria
vivido tudo isto, amo muito vocês!
Gostaria de agradecer a minha Orientadora Professora Dra. Rosilda Arruda
Ferreira, por toda paciência na orientação, por me mostrar que eu seria capaz de
desenvolver o trabalho, por me motivar e apoiar em todos os momentos. Obrigada
por me fazer querer realizar sempre o melhor, por me ensinar a ver sempre o lado
bom e mostrar que sempre há uma solução para os desafios que a vida nos coloca,
e que o ensino pode melhorar, começando por cada um de nós. Nunca esquecerei
seus conselhos e experiência compartilhados no componente curricular de Estágio II
e agora durante a orientação deste trabalho. Muito obrigada!
Agradeço a todos do Centro Educacional Cruzalmense-CEC, por me
receberem tão bem, em especial a Professora das turmas em que foi desenvolvido o
trabalho, que colaborou com esse trabalho, cedendo suas turmas para a aplicação
da SDI, aos estudantes pelo carinho, aos funcionários e direção, muito obrigada!
Sou grata a todos os meus Professores da UFRB; levarei comigo cada um
em meu coração, todos foram inesquecíveis, não só por que me prepararam para a
minha futura profissão, mas também por, de alguma forma, me prepararem para a
vida.
Sou grata a meus Pais Espirituais, Apóstolo Marcondes e Apóstola Karina,
pela compressão nas ausências, e por sempre me fazerem sonhar cada vez mais
alto, mostrando que sou capaz e sempre buscando cumprir o propósito de Deus
para minha vida.
Quero agradecer a meus amigos pela compreensão nas ausências, nos
momentos em que eu não pude estar presente, por conta dos estudos, muito
obrigada pelo apoio e amizade.
Sou grata a todos os meus amigos, aqueles que eu conheci durante o
estágio na Embrapa, aos colegas de turma que sempre estiveram comigo, aprendi
muito com todos vocês. E levarei essas amizades por toda vida, especialmente
Safira, Lennise, Lorena, Thays, e Michele (minha irmã) as “BioDivas” foi muito bom
conhecer vocês! Obrigada por todos os momentos compartilhados, foi muito bom ter
vocês comigo durante esses anos!
Enfim a todos que direta ou indiretamente contribuíram para esta conquista,
e celebram comigo o término desta jornada!
MUITO OBRIGADA!
A sabedoria é árvore que dá vida a quem a abraça; quem a ela se apega será abençoado. Provérbios 3:18
RESUMO
FERREIRA, Mileide dos Santos. Contribuições da Sequência Didática Investigativa para o Ensino de Ciências Naturais em uma perspectiva da Educação Científica. 82f. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, 2018.
O presente trabalho, intitulado “Contribuições da sequência didática investigativa (SDI) para o ensino de ciências naturais em uma perspectiva da Educação Científica”, teve como principal objetivo analisar as contribuições das SDIs para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem de ciências na perspectiva da alfabetização científica. O trabalho, de natureza qualitativa, com abordagem descritiva e interpretativa, foi desenvolvido no Centro Educacional Cruzalmense – CEC, localizado na cidade de Cruz das Almas-BA. Os sujeitos da pesquisa, foram os estudantes do 6º Ano do Ensino Fundamental do CEC. O processo de coleta de dados se deu por meio da elaboração e aplicação de uma SDI no Centro Educacional Cuzalmense. Para a realização do trabalho partimos de uma concepção que entende as SDIs como um planejamento de ensino que envolve uma proposta diferenciada ao tomar a investigação como seu principal fundamento. Para tanto, recorre à problematização com o intuito de contribuir significantemente para o processo de alfabetização científica dos estudantes. Como resultados do estudo, a partir dos dados coletados ao longo da aplicação da SDI, pudemos perceber que os estudantes apresentaram dificuldades de diversas ordens, destacando-se entre elas: elaboração de hipóteses; construção de argumentos encadeados e fundamentados no pensamento científico; leitura e compreensão de gráficos, dentre outras. Esses resultados indicam a necessidade de se investir em propostas de ensino que contribuam para desenvolver habilidades de investigação, resolução de problemas e produção de argumentos entre os estudantes, oferecendo uma formação diferenciada que promova o acesso ao conhecimento científico e contribua para formar cidadãos mais críticos na sociedade.
Palavras-chave: Alfabetização científica; Sequência Didática Investigativa; Ensino de Ciências.
ABSTRACT
FERREIRA, Mileide dos Santos. Contributions of the Investigative Didactic Sequence for the Teaching of Natural Sciences from a Scientific Education
perspective. 82f. Monography (Undergraduate) - Federal University of the Recôncavo of Bahia, Cruz das Almas, 2018.
The present work, titled "Contributions of the didactic sequence of investigation (SDI) for the teaching of natural sciences from a Scientific Education perspective", had as main objective to analyze the contributions of SDIs to the development of teaching-learning of sciences in the perspective of scientific literacy. The qualitative work, with a descriptive and interpretive approach, was developed at the Cruzalmense Educational Center - CEC, located in the city of Cruz das Almas-BA. The subjects of the research were the students of the 6th Year of Elementary School of the CEC. The process of data collection took place through the elaboration and application of an SDI in the Educational Center of Cuzalmense. For the accomplishment of the work we start from a conception that understands the SDIs as a planning of education that involves a differentiated proposal when taking the investigation as its main foundation. In order to do so, it uses problematization in order to contribute significantly to the students' scientific literacy process. As results of the study, from the data collected during the application of SDI, we could perceive that the students presented difficulties of several orders, highlighting among them: elaboration of hypotheses; construction of arguments chained and grounded in scientific thought; reading and understanding of graphics, among others. These results indicate the importance of investing in teaching proposals that contribute to developing research skills, problem solving and argumentation among students, providing differentiated training that promotes access to scientific knowledge and contributes to training more critical citizens in the society.
Key-words: Scientific Literacy; Investigative Didactic Sequence; Science teaching.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Levantamento dos conhecimentos prévios dos
estudantes......................57
Gráfico 2: Hipótese da Problematização Inicial
“Não”................................................58
Gráfico 3:Problematização Inicial..............................................................................59
Gráfico 4: Sobre as hipóteses “sim” que os estudantes levantaram………….
……...59
Gráfico 5: Leitura do gráfico na sistematização………………………………….…….
61 Gráfico 6: Ações para a economia de água, mais abordados pelos estudantes na
construção dos desenhos.....…..………...……………………………………….
……….62
Gráfico 7: Porcentagem dos conceitos que foram respondidos pelos estudantes...
64
Gráfico 8: Retomando a Problematização…………………………………………...
….66
Gráfico 9: Os que discordaram de suas hipóteses iniciais “sim”……………………..68
Gráfico 10: Concordaram com a hipótese inicial “não”..………………………………69
Gráfico 11: Conceitos que mais apareceram na hipótese final…………………….…
69
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CEC - Centro Educacional Cruzalmense
SDI - Sequência Didática Investigativa
UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
13
Sumário
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................14
2. ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS: DILEMAS E PERSPECTIVAS...............................18
3. ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA: BREVE HISTÓRICO E IDEIAS CENTRAIS...............24
4. SEQUÊNCIA DIDÁTICA INVESTIGATIVA (SDI): CONCEPÇÃO E FINALIDADES......34
5. O PERCURSO METODOLÓGICO DO ESTUDO.................................................................41
5.1 TIPO DE PESQUISA.........................................................................................................41
5.2 SUJEITOS ENVOLVIDOS NA PESQUISA....................................................................42
5.3 INSTRUMENTO DA COLETA DOS DADOS.................................................................43
5.4 PROCESSOS DE COLETAS DE DADOS.....................................................................44
5.5 PROCESSO DE ANÁLISE DOS DADOS......................................................................47
6 RESULTADO E DISCUSSÕES..............................................................................................49
6.1 A SDI COMO PONTO DE PARTIDA E DE CHEGADA................................................49
6.2 OS ESTUDANTES E A APLICAÇÃO DA SDI...............................................................56
6.3 ANALISE DAS HIPÓTESES FINAIS...............................................................................66
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................71
APÊNDICES......................................................................................................................................78
14
1. INTRODUÇÃO
O ensino de ciências naturais, por muito tempo, tem sido marcado pelo
modelo tradicional, no entanto, esse modelo, nos últimos anos, vem sendo
questionado tendo em vista sua fragilidade no que diz respeito a ser caracterizado
como um modelo mecânico em que o estudante não desenvolve um pensamento
crítico sobre os aspectos sociais do conhecimento cientifico, além de não
proporcionar ao estudante uma participação ativa no processo de aprendizado.
Atualmente há uma preocupação com a formação dos estudantes no
ensino de ciências naturais no que diz respeito ao desenvolvimento do
pensamento crítico, promovido com base em um ensino contextualizado, que
contemplem as relações entre ciência, sociedade, tecnologia e meio ambiente,
realizado por meio da investigação e da problematização.
Nesse processo, afirma-se a necessidade de se incluir um ensino por
problematização para a formação de estudantes como uma possibilidade de
desenvolver cidadãos participativos na sociedade e entende-se que essa prática
precisa começar desde os anos iniciais do ensino fundamental por meio de uma
educação científica que tenha, como finalidade, formar indivíduos capazes de
interferir na sociedade de maneira crítica (GHEDIN, 2017).
O nosso interesse por esse tema foi se constituindo a partir de
observações das aulas de ciências realizadas durante os estágios curriculares do
Curso de Licenciatura em Biologia da UFRB. Durante essas aulas de ciências
ouvimos, muitas vezes, os estudantes afirmarem que são aulas de difícil
compressão, pois os termos e processos que são estudados no ensino de
ciências, exige que eles tenham contato e memorizem diversos conceitos para a
realização de uma prova.
Esses conteúdos de ciências envolvem termos que são considerados
complicados pelos estudantes que dificilmente conseguem se apropriar por não
ser comum ouvi-los no cotidiano.
Também contribuiu para a escolha do tema, os estudos e debates
realizados ao longo da formação no curso de Licenciatura em Biologia quando
tivemos a oportunidade de discutir a importância de utilizar pedagogias ativas que
envolvam o estudante em um processo formativo em que ele se sinta participante,
15
em que seus conhecimentos prévios sejam reconhecidos e valorizados, em que a
problematização da realidade seja uma constante. Portanto, esse contexto nos
motivou a buscar desenvolver um estudo em que pudéssemos experimentar
novas propostas de elaboração e implementação de situações de ensino.
A partir desse interesse, pudemos perceber que os pesquisadores e
profissionais que atuam com o ensino de ciências naturais na atualidade vêm
tentando trazer um olhar diferenciado em que a investigação e a problematização
passam a ser fundamentais. Nesse contexto, os estudos sobre Sequências
Didáticas Investigativas (SDI) têm ganhado força na medida em que tomam a
investigação como fundamento para desenvolver os processos de ensino e
aprendizagem, tendo como foco central a interação e a participação ativa dos
estudantes no decorrer de suas aprendizagens.
De uma forma geral, as sequências didáticas são elaboradas e pensadas
antes das aulas, com o objetivo de estabelecer um percurso a ser seguido para
promover o processo de aprendizagem. São produzidas e utilizadas pelos
professores para o ensino de ciências naturais ou qualquer outra disciplina.
No caso das SDIs, estas se sustentam nos princípios do letramento
científico, princípio que, no nosso ponto de vista, poderá favorecer a inovação no
ensino de ciências naturais com a utilização de processos de ensino-
aprendizagem diferenciados que estimulem a participação dos estudantes e o
desenvolvimento de suas habilidades argumentativas, proporcionando a formação
de cidadãos críticos atuantes na sociedade.
Assim ao pensar na elaboração de aulas que sugerem o desenvolvimento
do saber científico através da investigação, interpretação e sistematização,
entendemos que a elaboração de sequências didáticas investigativas pode vir a
ser uma fonte norteadora nesse processo, que vem sendo denominado por
alguns estudiosos como alfabetização científica.
As discussões sobre a letramento científico têm aumentado nos últimos
anos, situado em um contexto de debates em que tem se afirmado a preocupação
no que diz respeito a um preparo do pensamento autônomo, crítico e pró ativo
dos estudantes.
Assim, temos como pressuposto que a abordagem investigativa no ensino
de ciências naturais, pode se constituir num elemento importante para subsidiar o
16
desenvolvimento de metodologias ativas que contribuam para que os professores
possam promover estratégias diferenciadas para as aulas de ciências naturais,
possibilitando um ensino que reconhece e valoriza o saber prévio do estudante e
seu lugar como protagonista no processo de aprendizagem.
Diante do exposto, o problema de pesquisa que pretendemos investigar
é: Como as SDIs podem contribuir para o ensino-aprendizagem de ciências numa
perspectiva da alfabetização científica?
Dessa maneira, esse estudo propõe analisar a utilização de SDIs no
ensino de ciências naturais com o pressuposto de que as aulas ministradas
superem a perspectiva em que o professor é o centro do processo de ensino-
aprendizagem e detentor do conhecimento e o estudante um mero ouvinte.
O estudo teve como objetivo geral analisar as contribuições das SDIs para
o desenvolvimento do ensino-aprendizagem de ciências na perspectiva da
alfabetização científica; e como objetivos específicos: (a) identificar as
contribuições da SDI realizada no que diz respeito aos eixos da alfabetização
científica; (b) verificar, durante as atividades da SDI, processos capazes de
demonstrar a inserção do estudante na Cultura Científica.
Dessa forma, pretendemos contribuir com a proposição de metodologias
de ensino em que os estudantes tenham espaços para pensar, investigar e
compreender os conceitos científicos, a fim de promover a formação de cidadãos
críticos e reflexivos. Nesse caso, também esperamos que o estudo possa
evidenciar a necessidade da constante atualização dos professores e de todos
que estão envolvidos no ensino de ciências e biologia, bem como de outras áreas
do conhecimento cientifico, além de estudantes de Licenciatura em geral, para
que invistam em novos métodos e recursos levando em consideração as
mudanças que ocorrem na sociedade no passar dos anos.
O estudo foi de natureza qualitativa, com abordagem exploratória e
descritiva e a coleta de dados se deu por meio da elaboração e aplicação de uma
SDI, aos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, do Centro Educacional
Cruzalmense – CEC, localizado na cidade de Cruz das Almas-BA.
Para a sistematização do trabalho, o mesmo está organizado da seguinte
forma: O Capítulo 2. Ensino de Ciências Naturais: Dilemas e Perspectivas; irá
falar sobre os dilemas e perspectivas que são vivenciados no ensino de ciências
17
naturais. Em seguida o Capítulo 3. Alfabetização Científica: Breve Histórico e
Ideias Centrais; vamos relatar suscintamente sobre o histórico da alfabetização
científica e as ideias centrais que norteiam esse tema. O próximo Capítulo 4.
Sequência Didática Investigativa (SDI): Concepção e Finalidades; neste capítulo
descreveremos o que vem a ser uma SDI e sua finalidade no ensino. O Capítulo
5. O Percurso Metodológico do Estudo; será dito todo percurso metodológico
desde os sujeitos da pesquisa, o local onde foi desenvolvido o trabalho, e como
foi feita a análise dos dados. O Capítulo 6. Resultado Discussões; discutiremos os
resultados que foram encontrados na pesquisa. E por fim o Capítulo 7.
Considerações Finais; em que faremos as últimas considerações sobre a
pesquisa.
18
2. ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS: DILEMAS E PERSPECTIVAS
O ensino de ciências naturais tem passado por transformações que
podem estar articuladas a dois processos interligados: um primeiro relacionado ao
desenvolvimento dos estudos e pesquisas sobre o tema; e um segundo, às
mudanças associadas às políticas educacionais de determinados governos.
Ambos os processos, geram transformações nas esferas do ensino,
principalmente na Educação Básico (KRASILCHIK, 2000).
Nesse contexto, a educação sempre se apresenta como um espaço de
disputa de diferentes abordagens e se afirma como um espaço importante para a
formação do cidadão, como afirma Krasilchik (2000), pois, ainda segundo a
autora, é na escola fundamental que deve se estabelecer o completo domínio da
leitura, da escrita e do cálculo, bem como a compreensão dos valores em que se
fundamenta a sociedade.
Diante disto, o ensino de ciências naturais, além de disseminar
conhecimentos sobre a natureza e a tecnologia, tem grande importância no que
diz respeito à formação de sujeitos críticos que interpretem os acontecimentos e
fenômenos naturais e sociais e que atuem na sociedade de maneira que
contribuam positivamente para seu desenvolvimento.
Com base nessa perspectiva, o ensino de ciências naturais deve ter um
caráter interdisciplinar, unindo de maneira contextualizada tanto os componentes
das diversas áreas como a física, química e biologia, como também buscando em
elementos da história da ciência e de suas vinculações com as diversas épocas,
os subsídios necessários para alcançar as suas principais finalidades de
formação cidadã e crítica.
Desta maneira, uma formação interdisciplinar deve ser iniciada desde os
primeiros anos do ensino, de acordo com os avanços que compõem cada ano
letivo, para um melhor preparo dos estudantes em sua formação de cidadãos que
pensam o contexto em que vivem. Isso se dá, por que todo indivíduo tem o direito
de ser escolarizado em um processo de ensino que o prepare para a vida em
19
sociedade, tornando-o capaz de atuar com competência diante dos desafios a
serem vivenciados.
O ensino de ciências naturais pode proporcionar uma oportunidade para
essa formação, se estiver voltado para o desenvolvimento de aprendizagens em
que a participação de cidadãos ativos que se importam com a sociedade e com a
natureza.
Krasilchik (1987), ao falar sobre o processo do ensino de ciências,
destaca dois ângulos a serem considerados: a produção de conhecimento sobre o
aprendizado de Ciências e a produção de conhecimento como resultado do
ensino de Ciências naturais.
O primeiro ângulo corresponde ao conhecimento especifico de ciências,
ou seja, ao aprendizado dos conteúdos conceituais de ciências; já o segundo
ângulo remete aos resultados práticos que o ensino de ciências naturais produz
no dia-a-dia do estudante.
No entanto, esse tipo de abordagem se torna um grande desafio para o
professor, pois nem todos estão preparados para um modelo de ensino que vá
além dos conteúdos, que ajude a mostrar aos estudantes a sua importância e
utilização na sua vida e na sociedade, e isto de maneira que torne o estudante
autônomo no processo da aprendizagem.
Campos e Nigro (1999) também destacam que é necessário incorporar
nos processos de ensino estratégias voltadas à contextualização dos temas
abordados em sala de aula. Isto é fundamental para que o estudante perceba a
importância dos conceitos para a solução dos problemas que são levantados pelo
professor durante as aulas de ciências e a relacione com seu dia-a-dia.
É necessário, nesse contexto, que os estudantes sejam preparados para
a vida, para isto, é necessário que sejam utilizadas estratégias pedagógicas que
envolvam a reflexão e a problematização da realidade em que os estudantes
estão inseridos, contribuindo para que eles percebam na escola um papel
norteador na construção de uma sociedade crítica da qual eles fazem parte.
Esse tipo de formação pressupõe um ensino diretamente relacionado à
pesquisa que leve o estudante a pensar individual e coletivamente ao longo do
processo de desenvolvimento do conhecimento. Nessa perspectiva, afirmam
Portilho & Almeida (2008), sobre “pesquisa escolar”:
20
Sem dúvida a pesquisa escolar é um relevante instrumento metodológico de ensino aprendizagem, sendo que, através dela é possível desenvolver ações que levem a interdisciplinaridade, palavra de ordem no atual contexto educacional. Sua utilização induz ao desenvolvimento de competências e habilidades indispensáveis à formação do educando. Sua prática permite que o aluno aprenda ao transformar informação em conhecimento. (PORTILHO E ALMEIDA, 2008, p.19).
O ato de pesquisar auxilia o estudante a se tornar autônomo, ou seja,
totalmente envolvido nos processos de aprendizagem (DEMO, 2004).
Dessa maneira, uma pedagogia que objetive discutir com os estudantes
os conceitos científicos de maneira compreensível, participativa, dinâmica,
reflexiva e agradável pressupõe uma ação pedagógica sustentada em processos
de investigação, diferente da abordagem tradicional que limita o estudante a
pensar apenas o que o professor ministra nas aulas.
Isso indica a necessidade de se trabalhar uma metodologia que torne o
estudante ativo e autônomo, ou seja, que o torne protagonista no processo de
aprendizagem de forma que ele discuta, compare, interrogue, observe, argumente
e se expresse criticamente, na sala de aula.
Dessa forma as estratégias pedagógicas do professor irão interferir
diretamente na formação desse estudante ativo e autônomo.
Nesse processo, por exemplo, a construção de um conhecimento que se
baseia na história da ciência é de fundamental importância, pois contribui para
mostrar para o estudante que os conhecimentos que eles aprendem em sala de
aula, tais como leis, processos biológicos, componentes estruturais dos seres
vivos, entre outros, surgiram a partir de perguntas feitas no cotidiano dos
cientistas, através da observação da vida que os cercavam e os cercam.
O estudo da história da ciência faz, portanto, essa relação entre o que os
estudantes aprendem hoje, e os anos de pesquisas e estudos que se seguiram na
história da humanidade, sem os quais não seria possível o estudo desses
assuntos, hoje, possibilitando, dessa forma, a compreensão dos questionamentos
que deram origem aos conceitos da natureza, como se deu seu processo de
desenvolvimento e dando significados a eles (Simões 1994).
21
Mach (1960, p. 316), relata a importância de trabalhar a história das
ciências quando diz: “A investigação histórica não somente promove a
compreensão daquilo que existe agora, mas também nos apresenta novas
possibilidades”.
Dessa forma através do estudo da história das ciências a visão dos
processos que nos cercam tomam uma maior dimensão, tornando esses
processos compreensíveis e desmistificando algumas dificuldades que são muitas
vezes encontradas no ensino de ciências naturais.
Com isso é possível aproximar os conceitos relacionados a ciência para o
cotidiano do estudante, podendo tornar esses conhecimentos mais acessíveis, e
de melhor entendimento.
Mach (1960) aponta as justificativas relacionadas as contribuições da
história da ciência para o ensino:
A tradição contextualista assevera que a história da ciência contribui para o seu ensino porque: (1) motiva e atrai os alunos; (2) humaniza a matéria; (3) promove uma compreensão melhor dos conceitos científicos por traçar seu desenvolvimento e aperfeiçoamento; (4) há um valor intrínseco em se compreender certos episódios fundamentais na história da ciência -a Revolução Científica, o darwinismo, etc.; (5) demonstra que a ciência é mutável e instável e que, por isso, o pensamento científico atual está sujeito a transformações que (6) se opõem a ideologia cientificista; e, finalmente, (7) a história permite uma compreensão mais profícua do método científico e apresenta os padrões de mudança na metodologia vigente. (MACH, 1960 p. 84).
Diante disso, a utilização da história da ciência é uma ferramenta
importante para o ensino de ciências naturais, pois pode tornar mais significativos
os conceitos estudados, esclarecer os princípios que deram origem aos
fenômenos e a sua contextualização.
É nesse contexto de discussão que o ensino fundamental vem sofrendo
modificações, com o intuito de incluir na formação do estudante, desde os anos
iniciais, um olhar diferenciado para a vivência na sociedade.
Com base nessas ideias, as Orientações Curriculares do Ensino
Fundamental, de 2013, apresenta eixos para serem utilizados como referência
durante o ano letivo, e competências e habilidades que o professor pode trabalhar
com os estudantes.
22
A seguir serão apresentados suscintamente os eixos temáticos que
tomam por base as indicações das Orientações Curriculares Nacionais, seguido
pelo mapeamento das dificuldades de aprendizagem apresentado no documento
do Programa de Garantia do Percurso Educativo Digno, elaborado pela
Superintendência de Desenvolvimento da Educação Básica (Sudeb), da
Secretaria da Educação do Estado da Bahia, 2013; com o objetivo de colaborar
para a efetuação de uma formação integral dos estudantes do 6º ao 9º ano do
ensino fundamental.
O Eixo número 1 está relacionado ao estudo do “Universo: sua Origem,
Evolução e Funcionamento”. As sugestões propostas para esse conteúdo estão
em trabalhar a história da ciência, investigação sobre os pontos de vista
referentes a esse tema e orienta-se a confecção de maquetes, modelos didáticos,
mapas conceituais, e outros métodos e atividades que possibilitem ao estudante
uma aproximação com o que ele está estudando.
No Eixo 2: “O Ambiente, Diversidade e Sustentabilidade”, dentre as
sugestões para esse conteúdo podem ser utilizados imagens, vídeos, folders de
jornais ou TV, atividades que estimulem a leitura e escrita; o professor deve
propor atividades dinâmicas, pois o estudo de taxonomia que está incluído neste
eixo precisa fazer sentido para os estudantes, assim eles terão melhor
desempenho percebendo a importância desses conceitos.
O Eixo 3, que trata sobre o “Ser Humano, Saúde e Qualidade de Vida” é
bastante interessante, pois dá a possibilidade de o professor promover palestras
com os profissionais de saúde, a participação dos pais dos estudantes, mostrando
para os estudantes questões relacionadas com a alimentação, saúde física e
metal, a oportunidades de discussões de assuntos polêmicos, como drogas,
sexualidade e saúde, através de mesas redondas, seminários, propostas que
facilitam a compressão dos conceitos ensinados pelo professor, pois aproxima a
realidade do dia-a-dia do estudante.
O Eixo 4 fala sobre “Avanço Científico e Tecnológico”. Nesse eixo o
professor pode utilizar das ferramentas tecnológicas, como computadores,
smartphones, blogs, mostrando para o estudante os avanços que ocorreram no
decorrer dos anos, como a ciência e a tecnologia tem ajudado, a sociedade e
23
também os aspectos que devem ser trabalhados para que essas tecnologias não
afetem de maneira muito negativa a sociedade e o meio ambiente.
Todos estes eixos descritos devem ser trabalhados pelos professores no
decorrer do ano letivo, com o objetivo do desenvolvimento de competências e
habilidades, trazendo a contextualização dos conceitos, tornando o ensino mais
significativo. Vale destacar, no entanto, que os temas sobre ciência, sociedade,
tecnologia e ambiente, não devem ser contemplados em momentos estanques,
ou como eixos específicos, mas tratados de forma interdisciplinar e relacionados
aos conteúdos que serão trabalhados ao longo do ano letivo de forma relacional.
Por exemplo, não podemos tratar temas pertinentes ao eixo “ambiente,
diversidade e sustentabilidade” sem considerar a sua relação com os avanços
científicos e a tecnologia (eixo 4), bem como a saúde e a qualidade de vida (eixo
3).
Nesse contexto, estudiosos como Gonçalves e Quinta (2016) tem
insistido na necessidade de que o ensino de ciências naturais se sustente numa
abordagem que tem sido denominada de “alfabetização científica”, que
compreende pensar o ensino de ciências naturais trabalhando atividades de
problematização, que envolvam aspectos da sociedade e o meio ambiente,
fazendo a contextualização do que o estudante tem aprendido.
Com relação a discussão sobre cultura e “alfabetização científica”, os
debates têm sido aprofundados trazendo contribuições relevantes para o ensino
de ciências naturais e, no seu interior, estudiosos da área como Carvalho (2013)
têm proposto metodologias inovadoras com relação ao processo de ensino de
ciências naturais, incluindo no currículo um olhar crítico sobre o meio ambiente, a
sociedade, a tecnologia.
Dessa maneira, ampliam-se as perspectivas sobre o ensino de ciências
naturais, colocando uma proposição que não se refere apenas aos conteúdos
conceituais da disciplina, mas que abrange uma formação cientifica, crítica e
social do indivíduo.
Sendo assim, buscando contribuir para essa discussão e considerando a
relevância do conceito de alfabetização científica para nosso estudo, passaremos
a tratar desse tema de forma mais detalhada no item a seguir.
24
3. ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA CRÍTICA: BREVE HISTÓRICO E IDEIAS CENTRAIS
A discussão sobre a importância da educação científica como uma
condição que deve permear os processos de ensino teve início na década de 50,
em meio a um cenário de transformações sociais importantes, momento em que
foi considerada a necessidade do envolvimento de cidadãos atuantes na
sociedade (KRASILCHIK, 2007). Tal proposição se sustentava numa visão em
que o domínio científico era supervalorizado como condição para resolução dos
problemas sociais, fazendo surgir um movimento mundial em defesa da educação
científica. Esse movimento se afirmou em torno da ideia da valorização de um
ensino voltado para as dimensões políticas e sociais, baseadas no conhecimento
científico.
É importante destacar que o foco deste estudo é o ensino de ciências
naturais na Educação Básica, entretanto, o ensino de todas as ciências pode ser
dimensionado para uma educação que integre o ensino dos pressupostos do
método cientifico.
Com isso os estudantes têm o direito a uma educação que o prepare para
tomada de decisões, que é um direito de todos segundo declara a Unesco:
A educação científica, em todos os níveis e sem discriminação, é requisito fundamental para a democracia. Igualdade no acesso à ciência não é somente uma exigência social e ética: é uma necessidade para realização plena do potencial intelectual do homem. Unesco, 2000.
Com isso a Unesco deixa explícito que a educação científica é um direito
social, indispensável para o desenvolvimento intelectual de qualquer indivíduo.
Paul Hurd (1998, p. 409), ao referir-se à importância da produção e
utilização da ciência na vida do homem, afirma que essa utilização pode vir a
provocar, por sua vez, “mudanças revolucionárias na ciência com dimensões na
democracia, no progresso social e nas necessidades de adaptação do ser
humano”.
25
Nesse sentido, a educação científica crítica se propõe a mudar o modo de
ver a ciência, a fim de proporcionar transformações sociais nas vivências do
homem. No contexto do debate sobre educação científica, surge a ideia de
alfabetização científica, entendida como parte do diálogo com o mundo cientifico,
visando incluir o estudante na cultura cientifica. Dessa forma, se estabelecem as
relações entre os termos educação, cultura e alfabetização científica.
Segundo Miller (1983), para que se tenha uma compreensão mais
definida sobre alfabetização cientifica, o conceito de alfabetização deve estar bem
claro, pois o mesmo se refere a um saber mínimo de leitura e escrita. Ou seja, as
habilidades mínimas que conferem ao indivíduo o direito de fazer parte da
comunicação da ciência. Essas habilidades aprovam o indivíduo para fazer parte
da comunicação científica.
Este mesmo autor relata sobre os analfabetos funcionais, que
correspondem às pessoas que não utilizam a leitura e a escrita como
interpretação social, com isso não utiliza esses saberes em sua própria vida e
sociedade.
Dessa forma, o que defendem os autores citados é que a alfabetização
cientifica contribui para o desenvolvimento de habilidades de compreensão crítica,
podendo atuar de maneira ativa em frente aos acontecimentos da sua vida e da
sociedade, podendo ser um agente transformador da mesma.
No entanto, é importante situar o debate existente com relação ao
emprego dos termos “alfabetização científica” e “letramento científico”.
Os autores que utilizam o termo “alfabetização científica”, segundo Freire
(1980), se referem ao sentido de que não é alfabetizado cientificamente o
indivíduo que apenas domina a leitura e a escrita, mas aqueles que sabem utilizar
essas técnicas, afim de alterar seu contexto social, sendo capaz de modificar ou
interferir diretamente em seu contexto.
Neste sentido, o indivíduo alfabetizado cientificamente é capaz de pensar
de maneira crítica o meio social, organizar seus pensamentos e construir
argumentos para defendê-los, o que auxilia na construção de uma transformação
intelectual individual e social na medida que interfere na sociedade.
Desta maneira, e segundo essa perspectiva, é possível dizer que a
alfabetização cientifica é mais que o domínio de uma simples técnica de saber ler,
26
escrever, e/ou dominar determinados conteúdo científicos; mas sim, é saber
utilizar essas técnicas de maneira consciente, o que se caracteriza por uma
postura que interfira sobre o contexto de existência dos homens em sociedade.
Chassot (2010) afirma que ser alfabetizado cientificamente é saber usar a
ciência para agir frente às dificuldades encontradas na sociedade e encontrar
soluções para tais dificuldades.
Essa concepção tem grande importância para pensar os processos de
ensino, sugerindo que o papel do professor vá além de apenas informar aos
estudantes os saberes da ciência, mas tornando-a útil, à medida que se considera
a necessidade de agir frente às diversas situações do cotidiano como um de seus
principais pressupostos.
Já os autores que utilizam o termo “letramento científico” defendem a
utilização desse termo guiados por pesquisadores da área de Linguística que,
segundo Soares (1998), concebem o conceito de letramento cientifico como um
processo que vai além da apropriação da leitura e escrita, ou seja, do fato de
aprender a ler e a escrever.
No contexto dessa discussão, Laugksch (2000), define o letramento
científico, como um ato social que constitui a formação crítica dos cidadãos. Ou
seja, a utilização dos conhecimentos científicos no seu dia-a-dia. O que, ao nosso
ver, estabelece uma aproximação com o conceito de alfabetização científica,
chegando alguns autores a utilizá-los como equivalentes.
Carvalho (2011) propôs três eixos que devem oferecer as bases para que
se dê o processo de alfabetização científica, devendo os mesmos nortear uma
educação de base científica com vistas a contribuir para formar o estudante para
a sociedade contemporânea.
O primeiro eixo da educação cientifica é a “compreensão básica de
termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais” (CARVALHO 2011
p. 102). Esse eixo traz a necessidade de trabalhar termos científicos nas aulas,
mas contextualizando com o dia-a-dia do estudante.
Este primeiro eixo torna o ensino mais significativo, à medida que o
estudante aprende diversos termos que compõe o currículo de ciências, repletos
de descrição de ciclos e processos, mas de forma contextualizada e como
conceitos aplicáveis em seu dia-a-dia.
27
O segundo eixo preocupa-se com a “compreensão da natureza das
ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática” (CARVALHO
2011 p. 102). Esse eixo prioriza os valores éticos que são estabelecidos no
ensino e a sua vinculação com o comportamento social, além de trazer a reflexão
e a análise das práticas estabelecidas entre professor e estudante.
Este eixo é um indicador importante que remete ao processo reflexivo que
cada indivíduo deve realizar diante das situações vividas. Dessa forma, trata-se
de questionar sobre a necessidade de agir reflexivamente, compreendendo os
elementos envolvidos nos processos de tomadas de decisões presentes em
nosso dia a dia.
O terceiro eixo compreende o “entendimento das relações existentes
entre ciência, tecnologia, sociedade e meio-ambiente”. (CARVALHO 2011 p. 102).
Neste eixo as aplicações dos saberes constituídos pela ciência são utilizadas para
a solução de problemas.
Dessa maneira, este eixo expressa a importante ligação entre os saberes
da ciência para a prática social, levando em consideração um desejo de uma
sociedade com atitudes que promovam a sustentabilidade, que possam causar
resultados positivos para o uso adequado das tecnologias.
A compreensão dos três eixos da alfabetização científica precisa estar
bem clara para que o professor possa utilizá-los como referências importantes na
elaboração dos planejamentos de suas aulas.
Não necessariamente todos os três eixos serão trabalhados em todas as
aulas, mas com os planejamentos das mesmas, os eixos podem ser percebidos
no decorrer das atividades propostas para cada aula, podendo favorecer o
alcance dos objetivos de um ensino que contribua para promover uma
alfabetização cientifica.
Sasseron e Carvalho, (2008) fazem uma reflexão sobre como os três
eixos da alfabetização cientifica podem se constituir como bases para a
elaboração de aulas que favoreçam a formação dos estudantes nessa
perspectiva.
Os três eixos estruturantes refletem a organização das ideias explicitadas sobre Alfabetização Cientifica por diversos pesquisadores da área. Mas o trabalho com estes eixos é
28
capaz de fornecer bases suficientes e necessárias a serem consideradas no momento da elaboração e planejamento de aulas e propostas de aulas que visem à Alfabetização Cientifica (p. 335).
A intenção proposta pelo autor é de que estes eixos ou as atividades
inerentes ao processo que estruturam a alfabetização cientifica e levem o ensino
de ciências naturais a uma perspectiva voltada para a cultura da ciência.
Quando se coloca a possibilidade de introduzirmos a ciência no ambiente
escolar, intrínseco a essa proposta está a preocupação com o desenvolvimento
de uma cultura cientifica. Nesse sentido, a cultura é entendida como algo que é
vivenciado e aprendido com as gerações passadas, estabelecendo-se de geração
para geração através dos ensinamentos que são deixados para os descendentes.
Portanto, não nascemos com determinada cultura, mas aprendemos com
as pessoas que nos rodeiam, com as vivências estabelecidas no meio social ou
em determinada cultura (SANTOS, 2016).
Segundo Laraia (2001) a cultura se estabelece no indivíduo a partir de
sua imersão nas vivências e nas visões de mundo que estão a sua volta. A cultura
é algo próprio ao ser humano, pois não existe nenhum homem que não tenha
cultura, sendo estes capazes de instruir-se em qualquer cultura, independente da
sua origem ou raça.
Neste contexto, a ciência como parte da cultura está diretamente
relacionada com a vida do homem e, sendo assim, através dela pode-se entender
o mundo.
Desta forma, relacionando os conceitos científicos, os processos
envolvidos na construção desses saberes e percebendo as possibilidades e
limites de sua utilização nas práticas cotidianas, tendo como referência o método
da investigação, é possível que se desenvolva processos de ensino que
contribuam de forma mais efetiva para a formação integral dos estudantes.
Esses processos de transformação do ensino voltados à promoção da
cultura científica, tendo como suporte os recursos da alfabetização científica,
podem vir a contribuir, de fato, para promover uma nova perspectiva nos
processos de ensino de ciências na educação básica. Como diz Santos (2016, p.
35)
29
Podemos então compreender a inserção em uma cultura científica como a inserção em um conjunto de hábitos existentes em uma manifestação intelectual, neste caso, a Ciência e a inserção prática em características próprias deste grupo, como por exemplo: suas regras, formas de desenvolvimento, características da linguagem científica e sua forma de comunicar-se e características de pensamento e estruturação do conhecimento próprias da mesma.
Vale destacar que o trabalho voltado ao desenvolvimento da cultura
cientifica não elimina o valor das outras culturas, como a histórica, religiosa,
social, além daquelas culturas em que o indivíduo está diretamente incluído, mas
a cultura cientifica possui regras e características próprias que lhes são inerentes
e que precisam ser conhecidas pelos estudantes.
Sasseron e Carvalho, (2011) se referem a Enculturação Científica quando
dizem que é importante para o estudante ter acesso a diversos tipos de cultura no
ensino de ciências naturais, ou seja, que o ensino de ciência possa promover
essa interação com as outas culturas.
Na perspectiva indicada, e tendo como foco o ensino de ciências naturais
na educação básica, apresentamos um quadro que corresponde a possíveis
caminhos a serem adotados na intenção de desenvolver um ensino que promove
o desenvolvimento de aspectos relacionados à cultura científica.
30
Quadro 1 - Aspectos da cultura científica que podem ser incluídos no currículo de Ciências
31
Fonte: (Gil-Pérez et al., 2005).
O Quadro 01 descreve as atividades que se constituem base para a
elaboração de estratégias de ensino, que podem vir a contribuir para desenvolver
a alfabetização científica e promover a cultura cientifica nas aulas de ciências.
É importante destacar que quando se trata da implementação da cultura
científica na escola, parte-se da necessidade de envolver o maior número de
componentes curriculares, num movimento conjunto e interdisciplinar, pois esta
não pode ser uma ação exclusiva do componente de ciências. Nesse sentido,
deve abranger a sala de aula, as atividades da escola e eventos que envolvam a
família dos estudantes, os funcionários, os professores, todos que estão
presentes no ambiente da escola, trazendo para as pessoas a importância social
da cultura científica que permeia a sociedade.
32
Nessa perspectiva, Santos (2016, p. 38), afirma que “[...] a Cultura
Científica na sala de aula precisa ser pensada no âmbito sociocultural e de forma
global, atribuindo responsabilidade ao cidadão para conhecer e transformar o
ambiente em que está inserido”.
Dessa maneira, quando o professor insere nas atividades da sala de aula
aspectos da cultura da ciência como leituras de gráficos, atividades
experimentais, observação de fenômenos da natureza, atividades que envolvam a
resolução de problemas a elaboração de hipóteses, ele está incluindo seus
estudantes na linguagem da ciência (CARVALHO, 2013). Com isso, espera-se
que o estudante seja preparado para conviver em sociedade de forma autônoma,
crítica e proativa.
O que se espera do estudante alfabetizado cientificamente, numa
perspectiva crítica, é que ele possa atuar na sociedade para transformá-la,
considerando-se que esta é uma abordagem que se propõe a favorecer a
interpretação dos acontecimentos do mundo, a participação consciente dos
cidadãos para a construção de uma sociedade mais humana, comprometidos com
a natureza e com o uso adequado das tecnologias.
Portanto, a formação de uma sociedade crítica, com cidadãos que agem
de forma autônoma é um dos objetivos da alfabetização cientifica, ao propor
promover uma formação intelectual com fundamentação ética e política.
Diante do exposto, uma ação que pode contribuir para a construção do
conhecimento que contemple os eixos da alfabetização científica e a promoção da
cultura cientifica nas escolas é o ensino com base na investigação.
Um ensino que se baseia na investigação e problematização traz para o
estudante diversos desafios que o leva a mobilizar conhecimentos prévios e a
desenvolver novos conhecimentos de forma significativa. Nesse caso, a
oportunidade de os estudantes discutirem suas hipóteses, observarem os
resultados obtidos nas aulas, expressarem suas ideias e observações, pensarem
os fenômenos estudados na aula relacionando-os ao seu cotidiano, com certeza,
contribuirá para a apropriação dos conceitos científicos de maneira mais
autêntica.
A atuação dos profissionais da educação, nesse contexto, tem muita
importância, pois estes se encontram diante do desafio de fornecer subsídios para
33
que os estudantes desenvolvam vivências que promovam a cultura científica.
Para tanto, promover aulas com base na investigação se constitui em um caminho
que pode ser trilhado para que os estudantes possam se apropriar dessa cultura,
afim de fornecer para ele o poder de interpretar criticamente o mundo onde estão
inseridos (MARTINS, 2005).
Nessa tarefa, o planejamento e a implementação de Sequências
Didáticas Investigativas (SDI) pode vir a se constituir em importante aliado para o
trabalho do professor.
Na continuidade do estudo, e considerando o objetivo proposto para a
realização deste trabalho, apresentamos, a seguir, uma discussão sobre o
significado e a importância das SDIs para a implementação da abordagem da
alfabetização científica no ensino de ciências naturais na educação básica.
34
4. SEQUÊNCIA DIDÁTICA INVESTIGATIVA (SDI): CONCEPÇÃO E FINALIDADES
Diversas modificações no ensino têm ocorrido durante o decorrer dos
séculos, levando ao repensar dos modelos tradicionais e ao surgimento de novas
propostas de ensino que tem sido discutindo-as e utilizando-as pelos professores.
Com o aumento do acesso à informação, hoje, a dificuldade não está na
falta de informação, mas sim na qualidade dessas informações. Com isso, no que
se refere aos processos de ensino, o que tem sido alvo de preocupação não é o
tanto a informação que o estudante deve adquirir, mas a maneira como os
conteúdos têm sido ministrados.
Nesse contexto, os atributos da argumentação e da interpretação vem
sendo valorizados, com o intuito de que os conteúdos ministrados sejam mais que
apenas informações, e que proporcionem um saber crítico; que o estudante não
apenas aprenda os conceitos e processos da ciência, mas que possa interpretá-
los e utilizá-los de maneira diferenciada, na sociedade.
Para dar conta desse processo, o planejamento das aulas se constitui em
um aliado importante, destacando-se, nesse contexto, a elaboração de
sequências didáticas de caráter investigativo.
Zabala (1998) caracteriza uma sequência didática como uma maneira de
desenvolver as atividades de uma unidade de conteúdos de forma diversificada;
como uma maneira de articular as aulas de forma sequencial e se completando a
cada etapa de aprendizagem, sendo essas etapas conhecidas por cada
estudante.
Desta forma, a SDI é um modelo de planejamento de aula que possibilita
uma aula diferenciada ao incluir no processo de ensino a problematização e a
contextualização como suas bases. Um ensino investigativo deve proporcionar ao
estudante a autonomia necessária para a construção de conhecimentos, sendo o
professor um auxiliador desse processo de aprendizado nas aulas ciências.
Lemke (1997) destaca que o desejo do professor não deve ser para que
seus estudantes repitam tudo da mesma maneira que foi ensinado, mas que eles
35
construam seus próprios conhecimentos, argumentações e interpretações,
construindo significados essenciais através de suas palavras, e que esses
expressem significados aceitos cientificamente.
Diante disso, a SDI, além de proporcionar essa diversificação no processo
de ensino-aprendizagem, pode se constituir em um instrumento importante para
levar o estudante a situações problema, fazendo com que ele proponha hipóteses
de soluções, desenvolvendo um raciocínio a partir de seus conhecimentos
prévios, auxiliando-o na construção do seu aprendizado.
Dessa forma, pensar em uma sequência didática apenas como uma
forma de planejar o processo de ensino-aprendizado não define a proposta de
SDI, que na realidade vai além desse fim, pois o pressuposto da investigação que
lhe dá sustentação, pretende, como elemento central de sua caracterização,
induzir o raciocínio e a participação do estudante, tornando o ensino mais
significativo.
Assim, a utilização da SDI segundo Guimarães (2011), apresenta uma
perspectiva sociocultural, interligando os assuntos ao cotidiano do estudante,
aproximando ao contexto da realidade vivida na sociedade em que os estudantes
estão inseridos, bem como a escola.
[...] a Sequência Didática (SD) elaborada e aplicada em uma perspectiva sociocultural pode se apresentar como uma opção eficiente que, dentre outras, visa minimizar as tensões de um ensino descontextualizado e da ação desconexa das áreas de ensino no ambiente escolar (GUIMARÃES; GIORDAN, 2011, p. 1).
Para isso é importante que o professor no momento da elaboração de
uma SDI possa incluir diversas atividades que estimulem os estudantes a
pensarem em soluções para os problemas propostos pelo professor e, assim,
possam desenvolver diferentes habilidades, tornando prazeroso e significativo o
processo de aprendizado.
A investigação, nessa perspectiva, torna a SDI um momento de pesquisa
e descoberta para o estudante, em que eles estarão buscando os conhecimentos
através das situações propostas pelo professor, tornando o professor um
mediador do conhecimento.
36
A investigação no ensino de ciências naturais se torna um elemento
essencial para a formação do estudante, na medida em que favoreça a
compreensão e a utilização do método cientifico. Nesse sentido, é de fundamental
importância que o professor proporcione momentos que favoreçam a construção
de hipóteses, a descoberta, a reflexão e a argumentação. Isso torna as aulas de
ciências naturais momentos desafiadores para os estudantes, em que eles têm a
oportunidade de discutir suas ideias, de se posicionar diante das situações
propostas durante a aula, tornando esses momentos uma oportunidade para o
desenvolvimento do seu pensamento crítico, sendo de fundamental importância a
valorização da sua participação.
A utilização de uma SDI tem como perspectiva, portanto, promover um
ensino de ciências naturais diferenciado, com o intuito de tornar as atividades
realizadas na sala de aula práticas voltadas à promoção da alfabetização
cientifica.
Segundo Carvalho (2013), a elaboração de uma SDI deve contemplar três
etapas-chave que caracterizam esse modelo, a saber:
(1) Problematização - Inicia-se o processo com a problematização,
momento em que o estudante é colocado diante de uma situação-problema e
incentivado a buscar a solução desse problema. Nessa etapa também é
importante verificar os conhecimentos prévios dos estudardes e contextualizar, ou
seja, trazer o problema para uma situação real já vivida pela maioria dos
estudantes.
Segundo Carvalho (2013, p. 10), esse momento do planejamento é
introduzido por uma problematização:
[...] na maioria das vezes a SEI1 inicia-se por um problema, experimental ou teórico, contextualizado, que introduz os alunos no tópico desejado e ofereça condições para que pensem e trabalhem com as variáveis relevantes do fenômeno cientifico central do conteúdo programático.
Desta maneira o professor sempre inicia sua SDI com a problematização,
incluindo nessa etapa uma atividade que possibilite a inclusão dos conhecimentos
prévios dos estudantes, com isso ele ajuda o estudante a se aproximar do
1 O autor utiliza a sigla SEI (Sequência de Ensino Investigativa).
37
conteúdo programático de forma que o estudante perceba a importância dos
conteúdos que tem aprendido, isto traz uma motivação indireta para o estudante
aprender diversos conceitos que, muitas vezes, o estudante não percebia como
relevantes em seu dia-a-dia.
O problema deve orientar as atividades da aula em que é desenvolvida a
problematização. Nessa ocasião, o professor pode propor para os estudantes
uma reflexão para a solução de um problema. Portanto, o problema é essencial
para o início da construção do conhecimento pelos estudantes durante os
processos de ensino e aprendizagem (CARVALHO 2012).
A interação professor-aluno é de fundamental importância no
desenvolvimento da argumentação para que se possa ir construindo respostas
possíveis ao problema proposto, quando as questões que foram trazidas pelo
professor serão justificadas utilizando-se de termos, tais como: “se”, “então”,
“portanto”, favorecendo a aquisição da linguagem científica que começa a ser
formada, estruturando a etapa de problematização (CARVALHO 2013).
Outro ponto a ser discutido sobre o início da SDI é a valorização dos
conhecimentos prévios dos estudantes. Segundo Piaget (1976) a construção do
conhecimento se baseia em mecanismos de aprendizagens, os quais organiza os
conhecimentos e faz com que esses conhecimentos se tornem mais claros para o
estudante.
Tudo que aprendemos um dia serve como base para os conhecimentos
que ainda aprenderemos, com isso um conhecimento prévio de qualquer área de
conhecimento se estabelece como algo importante no processo de aprendizagem.
Nessa direção, Piaget (1976) afirma que qualquer novo conhecimento
para ser aprendido necessita se sustentar em um conhecimento pré-existente, ou
seja, tudo que nós aprendemos se inicia a partir dos conhecimentos que já
conquistamos em outros momentos e esses conhecimentos adquiridos
anteriormente irão auxiliar na aprendizagem dos novos saberes.
Sendo assim, nenhum conhecimento adquirido deve ser desvalorizado,
entendendo que os saberes que aprenderemos amanhã, se tornará mais
acessível pelo que vivenciamos hoje.
Dessa forma, com base nos conhecimentos prévios dos estudantes, o
professor pode dar início à problematização. Observando os conhecimentos que
38
os estudantes já trazem de suas vivências do dia-a-dia, ele poderá fazer as
adaptações necessárias na SDI, baseando-se nas informações e avaliações
feitas.
Em Vigotsky (1984) também encontramos uma referência importante
sobre o papel do professor como mediador de interações que devem contribuir
para que o estudante chegue aos novos conhecimentos, na medida em que o
professor invista em criar um ambiente favorável para a construção dos novos
conhecimentos.
(2) Sistematização dos conteúdos - Nessa segunda etapa de uma SDI,
em que deverá ser feita a sistematização dos conteúdos que foram iniciados pelo
professor, podem ser desenvolvidas atividades das mais diversas, dependendo
dos conteúdos que estão sendo trabalhados e das condições e materiais
disponíveis, tais como: aulas expositivas dialógicas; leituras dirigidas; organização
de experimentos; roteiros de pesquisa de campo; trabalhos em grupo, entre
outros.
A participação dos estudantes é de fundamental importância nesse
momento, pois será a partir de suas hipóteses iniciais que todo o trabalho deverá
ser conduzido. Isso pode ser feito por meio da negação ou da confirmação das
hipóteses apresentadas com relação às teorias e aos conceitos que estarão
sendo trabalhados. Nesse processo, a socialização das hipóteses dos estudantes
e o confronto com os conceitos e teorias contribuirá para testar as hipóteses e
para a percepção se as mesmas deram certo, construindo evidências que
resolvam o problema que foi proposto pelo professor, ou elaborando novas
hipóteses para resolver o problema.
Ao longo do levantamento de informações dos dados que devem
confirmar ou negar as hipóteses, o professor deve propor leituras de textos ou
outras fontes de informação para que o estudante possa esclarecer e sistematizar
o que foi discutido e produzido anteriormente em relação ao problema que foi
colocado.
Neste momento da SDI, o professor precisa proporcionar espaços de
troca de saberes em que os estudantes possam coletivamente sistematizar os
conhecimentos produzidos, enquanto sínteses decorrentes dos seus
conhecimentos prévios, e dos estudos e pesquisas realizadas.
39
Durante esse processo, a expressão de diversos tipos de linguagem, seja
ela oral, escrita ou corporal, deve ser estimulada, pois é fundamental para a
formação e percepção do conhecimento científico e de suas nuances, momentos
que poderão ajudar o estudante a estabelecer relações entre os conhecimentos
que eles trazem do cotidiano e os conceitos científicos.
Nesse caso, pode-se recorrer desde à utilização da leitura de gráficos,
tabelas e figuras, produção de sínteses, construção de maquetes, modelos,
representações teatrais sobre os diversos processos envolvidos nas descobertas
científicas e nos dilemas éticos e políticos de seu uso, entre uma infinidade de
possibilidades que podem advir como decorrência da criatividade dos estudantes
e professores. Dessa maneira, interligar todos os tipos de linguagens, em todas
as disciplinas, ampliará as possibilidades para que se possa efetivar diálogos
construtivos nos diversos domínios dos conhecimentos científicos.
3. Consolidação dos conhecimentos - A terceira etapa é o momento de
consolidar os conhecimentos que os estudantes foram construindo no decorrer da
SDI, devendo ser feitas atividades pontuais de caráter avaliativo ao longo de todo
o processo de realização da SDI, o que permitirá utilizar a avaliação como um
elemento de observação e reflexão sobre o processo de aprendizagem dos
estudantes.
A avaliação, portanto, não deve ter um caráter classificatório, mas deve
proporcionar uma reflexão sobre o processo da aprendizagem, tanto para o
professor como para o estudante.
Ao fazer a avaliação da aprendizagem dos estudantes, o professor deverá
considerar os objetivos principais que o levou a desenvolver uma SDI. Nesse
caso, não se deve considerar apenas se os estudantes dominam os conceitos e
os termos científicos; ou se apresentam atitudes que revelam disciplina, ou
compromisso com as atividades propostas. Nesse caso, considerando-se que o
objetivo da realização de uma SDI é promover a alfabetização científica dos
estudantes, isso exige uma avaliação que vá além de critérios tradicionalmente
utilizados na escola. Nesse caso, espera-se que os estudantes consigam avançar
na sua compreensão sobre o método científico, sobre o pensar cientificamente,
sobre os compromissos éticos e políticos que envolvem o fazer científico, sobre
suas vinculações com a tecnologia, o meio ambiente e, especialmente, a vida em
40
sociedade. Sendo assim, uma avaliação da aprendizagem, nesse caso, deve
estar atenta para as formas como os estudantes expressam suas aprendizagens
com relação a esses aspectos, revelando o desenvolvimento de competências e
habilidades conceituais, atitudinais e procedimentais. Só assim, o processo de
consolidação dos conhecimentos ocorrerá como um processo e se expressará
das mais variadas formas, para as quais o professor deverá estar atento.
Em síntese, podemos perceber que as etapas relacionadas acima
permitem uma organização dos momentos de observação, problematização,
argumentação, contextualização dos conteúdos a serem abordados em sala de
aula, tendo como pressuposto o envolvimento do estudante no processo de
ensino e aprendizagem, o que contribuirá para estimular a sua autonomia.
Sabemos que a elaboração e a aplicação de SDI é um desafio tanto para
os professores que, tradicionalmente, não trabalharam com essa metodologia
durante sua formação profissional, quanto para os estudantes que não estão
acostumados a assumirem um papel mais ativo e autônomo no seu processo de
formação escolar.
Diante dessas questões, buscamos enfrentar esse desafio desenvolvendo
um estudo em que nos propomos, ousadamente, a elaborar e aplicar uma SDI
numa escola pública da cidade de Cruz das Almas. Nos capítulos seguintes,
apresentamos aspectos dos caminhos percorridos para a realização desse
estudo, bem como dos resultados que conseguimos encontrar.
41
5. O PERCURSO METODOLÓGICO DO ESTUDO
Neste capítulo, será relatado os passos que foram percorridos a fim de
construir as análises voltadas ao alcance dos objetivos propostos na pesquisa.
Nessa direção, descrevemos os sujeitos e o campo da pesquisa, bem como os
instrumentos, o processo de coleta e os procedimentos utilizados para a análise
dos dados coletados.
5.1 TIPO DE PESQUISA
O trabalho que apresentamos é de natureza qualitativa. Caracteriza-se
por analisar dados não absolutos e pela tentativa de elaborar interpretações e
reflexões com base nas concepções manifestas pelos sujeitos ou em
observações realizadas no ambiente natural em que a pesquisa se desenvolveu.
Dessa forma, buscou abranger um contexto mais amplo sobre o
significado particular dos fenômenos relacionados na pesquisa.
Segundo Minayo (2001) a pesquisa de caráter qualitativo traz uma
abordagem que precisa lidar com muitos significados no que diz respeito a
motivos, valores, crenças e atitudes, abrangendo um aspecto mais profundo nas
relações entre o assunto a ser discutido.
Apesar dos avanços que esse tipo de pesquisa tem demonstrado nos
últimos anos e de sua recorrente utilização no campo das ciências humanas e
sociais, algumas críticas são feitas aos seus procedimentos, destacando-se entre
42
elas o seu forte empirismo, o envolvimento emocional do pesquisador e a
subjetividade que apresenta (MINAYO 2001), o que vem sendo continuamente
enfrentado pelos pesquisadores e estudiosos do assunto.
Este estudo tem o caráter interpretativo e descritivo em que o pesquisador
deve estar aberto às suas descobertas, entendendo que a realidade é complexa e
manifesta novas situações.
O LOCAL DO ESTUDO
A pesquisa foi desenvolvida no Centro Educacional Cruzalmense – CEC,
localizado na Avenida Juracy Magalhaes, n°88, Bairro Ana Lúcia, próximo à Praça
Multiuso, em Cruz das Alma, BA. Está situada ao lado de um remanescente
florestal de mata atlântica denominado Mata da Cazuzinha. As imediações da
instituição compreendem ruas residenciais, casas comerciais e dois colégios
próximos, o Recanto Feliz, que atende estudantes do Ensino Fundamental I e o
Virgildásio Sena, que atende estudantes do Ensino Fundamental II. A finalidade
inicial na construção dessas escolas vizinhas era integrá-las, formando um núcleo
educacional, em que a gestão geral seria no CEC. Mas, não houve êxito na
continuação do projeto e atualmente cada escola possui autonomia.
O Centro Educacional Cruzalmense foi criado na administração do
prefeito municipal Carmelito Barbosa Alves, no ano de 1995, tendo como primeiro
diretor Everaldo Rodrigues Mascarenhas. Desde então, atende estudantes da
Educação Fundamental II, e até o ano de 2015 também abrangia o Ensino Médio,
mas atualmente o Centro integra apenas estudantes do Ensino Fundamental II,
do 6° ao 9° Ano.
Para atender aos estudantes o CEC possui uma equipe formada por 82
funcionários, sendo 62 professores, os quais têm formação superior, e alguns são
pós-graduados. Possui 01 diretor, 03 vice-diretores, 03 coordenadores, 01
secretário, 01 bibliotecário, 01 coordenador pedagógico, 02 porteiros, 01 vigia, 04
auxiliares de serviços gerais e 03 merendeiras
Sobre a estrutura da Instituição, esta conta com um espaço amplo e está
em boas condições para receber os estudantes.
43
O alunado é composto por 435 estudantes no turno da manhã, 385 à
tarde e 120 à noite.
O CEC desenvolve alguns projetos com a comunidade, são eles: Projeto
Valores, Feira Literária, Sarau e Arraiá do Laranjinha.
5.2 SUJEITOS ENVOLVIDOS NA PESQUISA
Este estudo foi desenvolvido no último bimestre letivo do ano de 2017. Os
sujeitos da pesquisa foram os estudantes das turmas do 6º ano, do CEC, durante
as aulas de ciências. A turma A era composta por 37 estudantes, a turma B 31
estudantes e a turma C 33 estudantes. No entanto, utilizamos os resultados
apenas da turma C.
A SDI (Sequência Didática Investigativa) foi aplicada ao longo de três
semanas, durante três aulas por semana, totalizando 9 aulas para o
desenvolvimento de toda sequência. Cada aula correspondeu a 50min h/a.
As aulas eram distribuídas da seguinte forma: Na turma de Ciências do 6º
ano A, as aulas ocorriam as quinta-feira sendo uma hora/aula no 4º horário e na
sexta-feira duas horas/aulas no 3º e 4º horário. A turma do 6º ano B, uma aula no
5º horário da quinta feira e duas horas/aulas no 1º e 2º horário. O 6º Ano C as
aulas eram na segunda feira no 3º horário e quinta feira os dois primeiros
horários. Fechando um total de três horas/aulas de ciências por semana e um
total de nove aulas de 50min, com três semanas da aplicação da SDI.
Com relação aos estudantes que participaram da pesquisa, é importante
apresentar alguns aspectos sobre a diferença do perfil dos estudantes nas três
turmas. Sendo assim, pudemos identificar que o 6º ano A era formado por
estudantes com idades mais avançadas com relação à idade adequada à série,
encontrando-se numa faixa entre 11 e 14 anos; a turma B era mais heterogênea
com estudantes que estavam repetindo o ano, mas em sua maioria estavam
cursando pela primeira vez o 6º, com idade semelhante à dos estudantes do 6º C;
no 6º C os estudantes tinha idade entre 11 e 13 anos, tinha apenas um estudante
que estava repetindo aquela turma.
44
Foi possível perceber que os estudantes estavam animados e curiosos
para saber qual seriam as atividades que seriam feitas nas próximas aulas, o que
contribuía para a realização de nosso trabalho.
5.3 INSTRUMENTO DA COLETA DOS DADOS
A coleta dos dados foi feita a partir da elaboração e aplicação da SDI com
o tema: “A importância do saneamento básico para a saúde humana.”
(APÊNDICE A).
Para a construção da SDI procuramos propor atividades que
contemplassem aspectos da cultura científica relacionados aos eixos da
alfabetização científica apontadas por Sasseron e Carvalho (2008) que serão
descritas em detalhe no capítulo sobre os resultados e análises
A SDI foi elaborada de acordo com os conteúdos de saneamento básico e
doenças causadas pelo contato com água contaminada. Esses conteúdos foram
pré-estabelecidos pela professora da turma, seguindo o calendário da escola a
fim de não prejudicar o planejamento da professora colaboradora.
A SDI foi organizada com três etapas fundamentais: uma primeira etapa,
que correspondeu a valorização dos conhecimentos prévios que os estudantes já
possuíam acerca do tema a ser tratado; a problematização inicial, que buscou
levar o estudante a refletir a fim de solucionar o problema que foi levantado pelo
professor; a contextualização, que aproximou o conteúdo estudado a vivência do
estudante. Foram utilizadas três aulas para a realização desta etapa da SDI.
Na segunda etapa da SDI, fizemos a ministração propriamente dita dos
conteúdos definidos para serem trabalhos na sala de aula, o que foi feito a partir
da leitura de textos informativos retirados de sites jornalísticos, leitura do livro
didático e interpretação de gráficos. Para esta etapa foram utilizadas quatro aulas.
Na terceira etapa da SDI, que correspondeu a última etapa da atividade,
foram realizadas atividades de consolidação dos conteúdos estudados e a
avaliação final. Para essa etapa, foi pedido que os estudantes fizessem um
desenho, referente a como eles poderiam economizar água potável em suas
casas. Além disso, foi proposta uma atividade para que eles pudessem responder
a algumas perguntas referente aos conceitos estudados. E por fim eles
45
analisaram suas hipóteses iniciais e finais, para estabelecer uma relação entre
elas. Foram utilizadas duas aulas para a realização desta etapa, finalizando as
atividades da SDI. Todas as atividades foram feitas em sala de aula.
A observação participante das atividades realizadas se constituiu,
também, como um importante instrumento de coleta de dados, já que como
pesquisador, encontrávamos plenamente envolvidos na atividade.
5.4 PROCESSOS DE COLETAS DE DADOS
Para a coleta de dados, inicialmente foi feito um contato prévio com a
professora de ciências que atuava nas séries finais do Ensino Fundamental do
Centro Educacional Cruzalmense, com a qual já possuíamos um vínculo de
parceria por termos realizado estágios de observação e regência no ensino
fundamental na escola, com a referida professora.
Na conversa inicial, solicitamos a autorização da professora para que
pudéssemos aplicar a SDI, sendo devidamente explicado, de como deveria ser
feito o desenvolvimento das atividades. A professora gentilmente se colocou à
disposição para contribuir com a pesquisa, disponibilizando as três turmas do 6º
ano do Ensino Fundamental (Turmas A, B e C), e três semanas correspondendo a
nove aulas para a aplicação da SDI, sendo cada aula de 50min h/aula, para
desenvolver as atividades, com os conteúdos referentes a seu planejamento,
adequando-se a atividade proposta ao calendário estabelecido pela escola.
Diante disto, a sequência foi elaborada tendo como referência os
conteúdos a serem estudados, o capítulo 14 e 15 do livro didático “Ciências: Novo
Pensar”, disponibilizado pela professora. Esses capítulos corresponderam ao
tema de saneamento básico e algumas doenças transmitidas pelo contato com a
água contaminada.
A sequência foi aplicada nas três turmas do 6º ano de ciências. No
entanto, para a análise dos dados apresentados neste estudo, trabalhamos
apenas como o 6º ano C, vez que as turmas A e B foram prejudicadas no que diz
respeito à aplicação total da SDI, pois no último dia da aula a escola aderiu a um
movimento de paralização nacional suspendendo suas atividades. Nesse caso,
como as duas últimas aulas no 6º ano A e B seriam realizadas neste dia, a
46
professora colaboradora sugeriu que as atividades que os estudantes iriam
realizar na sala de aula, fossem entregues para que os estudantes pudessem
levar para casa, pois não teria como ceder outro dia para a realização da
atividade. Como não havia outra alternativa para resolver o problema, foi feito o
que a professora propôs, e os estudantes realizaram essa última etapa da SDI,
que correspondeu a uma discussão sobre os conceitos, em casa.
Em função desse fato, a aplicação da SDI ficou prejudicada, levando-nos
a usar como referência para o estudo apenas o material coletado na turma do 6º
ano C em que a SDI foi aplicada completamente, pois já havia finalizado a
aplicação nesta turma um dia antes da paralização.
A aplicação da SDI não foi fácil, pois exigiu a disponibilidade de estar no
CEC três manhãs de cada semana. No entanto, apesar de ter sido um processo
bastante cansativo, foi proveitoso, pois além de estar coletando dados para o meu
trabalho de conclusão de curso, eu pude rever meus estudantes do estágio II de
regência, que foi realizado nesta mesma escola.
A SDI teve como tema “A importância do saneamento básico para a
saúde humana”. No dia em que se deu o início da aplicação da SDI na escola, a
professora me apresentou para a turma, explicou o objetivo da aplicação da SDI,
o tempo que iria durar as atividades, inclusive utilizou as atividades desenvolvidas
na SDI como forma de avaliação dos estudantes, através da entrega das
pesquisas no prazo estipulado, da participação do estudante, da entrega dos
exercícios e da frequência.
Na primeira aula os estudantes ainda estavam um pouco apreensivos
sobre o que eles iriam fazer durante a aplicação da SDI, o que no decorrer do
desenvolvimento das atividades propostas eles se apropriaram com mais
espontaneidade.
Logo na primeira atividade que foi proposta para sondar os
conhecimentos prévios dos estudantes, antes que fosse feita a explicação da
atividade que eles deveriam desenvolver alguns já diziam: “Ah professora eu não
sei fazer isso”; outros diziam: “Eu não estou entendendo”. Depois das
explicações, alguns pediam que fosse explicado novamente. A professora da
turma acompanhou todas as aulas, cada etapa da SDI, e ela sempre chamava a
atenção dos estudantes para saberem ouvir a explicação, porque alguns se
47
distraiam com conversas paralela e acabavam não entendendo o que deveria ser
feito na atividade, por isso perguntavam muitas vezes: “O que é pra fazer?”. A
professora falou antes de iniciar as atividades que a maior dificuldade dos
estudantes era justamente a conversa paralela, e muitas vezes eles não ouviam o
que era explicado, e com isso perguntava várias vezes sobre o que deveria ser
feito.
A SDI tomada como referência inicialmente passou por muitas
modificações no decorrer das atividades realizadas, o que não poderia ser
diferente, vez que todo planejamento didático deveria se adequar às
necessidades dos estudantes e à realidade do dia a dia da escola.
Com relação às mudanças que foram feitos, vale destacar aquelas
relacionadas ao modelo proposto inicialmente na SDI para a avaliação da
aprendizagem. Ao longo das atividades de aplicação da SDI e das discussões
durante as orientações do TCC, pudemos perceber que era necessário adequar a
avaliação a uma proposta que considerasse os pressupostos de um ensino com
base na investigação, conforme propõe os autores que discutem a proposição de
SDI.
Nesse sentido, vale destacar que o processo de elaboração e aplicação
de SDI exige estudo e atualização permanente, sendo algo que pode ser
melhorado sempre, principalmente à medida que se conhece a turma que irá ser
aplicada.
Por fim, vale destacar que os dados e informações que foram coletados e
utilizados como referência para desenvolver as análises apresentadas no
trabalho, foram os seguintes: a SDI, os trabalhos produzidos pelos estudantes, a
atividade avaliativa e os relatos de observação que foram produzidos no decorrer
do processo.
5.5 PROCESSO DE ANÁLISE DOS DADOS
Para o desenvolvimento da pesquisa nos fundamentamos nos
pressupostos teóricos e metodológicos da educação científica e nos conceitos de
alfabetização científica e Sequência Didática Investigativa (SDI).
48
Para a análise dos dados e organização de sua apresentação visando o
alcance dos objetivos propostos, estruturamos o texto da seguinte forma: No
primeiro momento, apresentamos uma discussão sobre a SDI elaborada e
implementada, considerando os processos vividos desde a sua proposição inicial
até a sua formatação final. Nossa intenção foi discutir o processo que justificou as
mudanças na SDI prévia até a sua versão final. Essa reflexão se justifica por
entendermos que o planejamento e execução de SDI deve se dar com base na
interação permanente entre o que é proposto e as vivências que vão sendo
construídas com os estudantes. Além disso, também contribuíram para esse
processo, as discussões feitas com a professora da turma, com a professora
orientadora do TCC, as leituras realizadas ao longo do processo, entre outros
fatores que auxiliaram no processo.
Nesse percurso, tomamos como referência principal Carvalho (2011), que
apresenta, em seus trabalhos, os elementos que devem nortear a elaboração da
SDI, e que correspondem aos eixos que estruturam alfabetização cientifica, sendo
eles: (1) compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos
fundamentais; (2) compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e
políticos que circundam sua prática e (3) entendimento das relações existentes
entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente. (CARVALHO, 2011)
No segundo momento discutimos os processos de aplicação das etapas
que constituíram a SDI, percebendo ao longo desses processos os aspectos que
revelam as contribuições dessa forma de organização do ensino de ciências
naturais para a alfabetização científica dos estudantes.
No terceiro momento fizemos uma análise da atividade avaliativa que foi
feita ao finalizamos a aplicação da SDI, momento em que os estudantes
conceituaram alguns termos que foram trabalhados durante a aplicação da SDI,
além de buscarem considerar as hipóteses iniciais que formularam para poder
responder ao problema inicialmente colocado. Apesar do processo avaliativo ter
sido realizado ao longo da implementação da SDI, esse foi um momento
importante de culminância do trabalho, quando buscamos retomar as hipóteses
iniciais formuladas pelos estudantes para que argumentassem sobre a sua
manutenção ou alteração.
49
Por fim, traremos nossas considerações finais, quando buscaremos
refletir sobre a importância de que cada aula se constitua em momentos de
aprendizados coletivos, em que o processo vivido pode ser considerado como um
rico instrumento para reflexão de futuras propostas de SDI na perspectiva de
favorecer o desenvolvimento das aprendizagens dos estudantes.
6 RESULTADO E DISCUSSÕES
Nesta parte do estudo vamos apresentar as discussões elaboradas a
partir dos resultados encontrados ao longo da pesquisa, tomando como referência
os objetivos propostos no trabalho, o referencial construído e os dados coletados.
No primeiro item que compõe esta parte, intitulado “A SDI como ponto de
partida e de chegada”, discutiremos o processo de elaboração da SDI até sua
finalização, com referencia nos trabalhos de Carvalho e Sasseron (2011). No
segundo item, “Aplicação da SDI” iremos analisar o desenvolvimento das
atividades que compõem a SDI pelos estudantes, a partir de seu desempenho
tendo como aporte os indicadores que direcionam o trabalho na perspectiva da
Alfabetização Científica, conforme apresentado no referencial teórico do estudo.
Por fim, no terceiro item, intitulado “Construção de hipóteses e processo
argumentativo”, iremos analisar as hipóteses que os estudantes apresentaram na
SDI, discutindo como eles percebem a relação entre suas proposições inicias e
finais.
A seguir, apresentamos, de forma mais detalhada, as análises e
discussões a partir dos resultados encontrados.
6.1 A SDI COMO PONTO DE PARTIDA E DE CHEGADA
50
A SDI elaborada foi passando por modificações à medida que fomos nos
aprofundando na discussão da teoria, através do contato com a turma e mediante
as orientações propostas.
A primeira parte da SDI constitui-se na Etapa 1 – Dialogar e problematizar
os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o conteúdo. Esta etapa foi
realizada em três aulas. Inicialmente fizemos uma atividade que sondava os
conhecimentos prévios dos estudantes a respeito do assunto proposto. Essa
primeira atividade, segundo Carvalho (2012), proporciona ao estudante
apresentar seus conhecimentos prévios para que os mesmos possam ser
utilizados como elementos que contribuem para a proposição da problematização.
Para tanto, pensamos em aplicar um questionário para sabermos os
termos científicos que os estudantes já dominavam sobre o tema. Entretanto,
decidimos mudar essa atividade, entendendo que a mesma poderia limitar as
possibilidades de expressão dos estudantes, pois eles poderiam apenas
responder o que seria pedido no questionário.
Desta forma, decidimos fazer uma discussão que seria promovida a partir
da apresentação de uma figura e um gráfico, o que, no nosso ver, possibilitaria
um olhar mais ampliado e menos direcionado sobre o que eles poderiam
escrever.
Segue abaixo as figuras que foram utilizadas:
Figura 1 – Falta de saneamento básico no Brasil
Fonte: Google, 2017
51
Carvalho (2013), ao tratar sobre o ensino de ciências naturais por
investigação descreve que o ensino de ciências naturais não deve se dar apenas
por meio de uma linguagem apenas verbal, mas que a leitura de gráficos, figuras
e tabelas também são capazes de promoverem e expressarem a construção de
conhecimentos de forma significativa. Neste sentido foi proposto que através da
interpretação das imagens eles pudessem escrever o que sabiam sobre o que
visualizaram nas figuras.
A intenção ao realizar essa atividade, era destacar o primeiro eixo da
alfabetização científica em que o estudante articula situações do seu dia-a-dia
para a construção de novos conhecimentos (CARVALHO, 2008).
Continuando com a primeira etapa da SDI, partimos para as atividades de
problematização. Essa parte, da SDI é muito importante para que o estudante
perceba que o conhecimento científico parte da problematização e que a
problematização promove articulações importantes com o seu dia-a-dia,
permitindo a contextualização do tema. Para essa fase, passamos dois vídeos
que tratavam sobre “A água um recurso natural”. Depois do vídeo fizemos a
pergunta que iniciou o processo de problematização, sendo esta: Todas as
pessoas no mundo têm acesso a água apropriada para o consumo? Através
deste questionamento pedimos que os estudantes levantassem hipóteses a fim
de responder previamente ao problema a partir de suas ideias iniciais. Para isto
pedimos que os estudantes formassem trios e juntos pensassem sobre o
problema proposto.
Nesse processo, o professor assume, em sala de aula, o papel de
auxiliador na construção de novos conhecimentos dos alunos, motivando-os à
problematizar e levantar hipóteses sobre o tema proposto (CARVALHO, 2013).
A investigação é uma ação que norteia a SDI, que leva o estudante a
pensar sobre o problema, isso faz com que o mesmo se mobilize a pensar sobre
problemas relacionados ao que foi proposto e que são frequentes em seu dia-a-
dia. Ao levar essa proposta para o tema Saneamento Básico, podemos perceber
que este é um assunto que se aproxima da realidade dos estudantes, pois ele
pode relacionar com situações cotidianas, como por exemplo, quando há falta de
52
água em casa, podendo pensar de onde vem esse problema, e o que pode ser
feito para melhorar ou solucioná-lo na sua casa ou no seu bairro.
Pedimos, em seguida, que os estudantes fizessem uma pesquisa, para
comprovar ou refutar as hipóteses que eles formularam a respeito do problema
que foi discutido. Essa pesquisa foi importante para que os estudantes pudessem
desenvolver a investigação a fim de produzir conhecimentos relacionados as suas
próprias indagações e argumentações discutidas quando formularam as
hipóteses. Ao longo desse processo, não apenas íamos solicitando que
realizassem as atividades, mas também conversando sobre cada uma delas e
sobre sua importância como parte do método científico, aproximando os
estudantes do conhecimento científico de forma gradativa, afim de alfabetizá-los
cientificamente (SASSERON E CARVALHO, 2008).
A próxima etapa da SDI foi a ETAPA 2 - Aprofundar a teoria. Esta etapa
foi realizada em duas aulas. Na primeira aula propomos a leitura e discussão de
um texto que foi retirado do site G1 (globo notícias) que trouxe uma notícia com o
título: “Saneamento melhora, mas metade dos brasileiros segue sem esgoto no
país”. A leitura do texto mostra para os estudantes como a falta de saneamento
básico afeta a população brasileira.
Com relação a esse tipo de atividade, Carvalho (2012) destaca a
importância da leitura de textos científicos e de outras naturezas que apresentem
novos conhecimentos e que possam contribuir com elementos para a construção
de argumentos que ajudem na resolução do problema. No caso do tema da SDI
trabalhada, as atividades foram desenvolvidas a fim de aprofundar os assuntos
sobre o saneamento básico.
Na aula seguinte foi feita a leitura dos capítulos 14 e 15 do livro didático
que trata sobre o assunto. Estas aulas de sistematização compreendem o eixo
que trata sobre a “compreensão da natureza da ciência e dos fatores éticos e
políticos que circundam sua prática”, o qual procura articular os acontecimentos
reais vistos no texto e os conceitos vistos no livro didático. Ainda visando
trabalhar os fatores éticos e políticos da ciência, questionamos com os estudantes
como eles percebiam a contradição entre os conhecimentos produzidos pela
ciência sobre a água, as tecnologias desenvolvidas ao longo da história da
humanidade para tratar e distribuir a água e a situação em que uma grande parte
53
da população do mundo não tem acesso a água potável. Questionamos sobre o
compromisso que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia precisam ter com
o bem-estar geral da humanidade.
Na aula seguinte, percebendo a necessidade de aprofundar os
conhecimentos dos estudantes sobre o tema e os aspectos científicos
relacionados ao mesmo, levamos duas garrafas pet de 500mL, uma com água
limpa e outra com água retirada de um poço. Mostramos para os estudantes e
pedimos para que eles descrevessem as características das amostras de água
observadas, relatando as diferenças e/ou semelhanças de cada uma,
caracterizando a água limpa como sem cheiro, incolor, livre de microrganismos,
por exemplo. Com isso os estudantes estariam exercitando a observação e, ao
mesmo tempo, fazendo anotações a fim de chegarem às suas próprias
conclusões. Para isso solicitamos que eles se reunissem em duplas e fossem
descrevendo as características da água limpa e da água que não estava
apropriada para consumo. Isso iria norteá-los para o próximo assunto, que seria
as doenças causadas pelo contato com água contaminada. As anotações e
observações são importantes para levar os estudantes a construírem um
ambiente de investigação, em que eles estarão aprendendo na prática as
características da água limpa e da água que ainda teria que passar por
tratamento.
A partir dessa atividade, chegamos a Etapa 3 da SDI - Relacionar a teoria
com a prática – aqui utilizamos duas aulas. Dentre as atividades que compõem
uma SDI voltada a um ensino que promove a alfabetização científica, a utilização
de leitura de gráficos tem um importante lugar. Pensando desta forma, propomos
que os estudantes, individualmente, interpretassem um gráfico.
O gráfico apresentado relacionava o número de internações por pessoas
que apresentaram doenças gastrointestinais e o percentual de pessoas que tem
acesso a rede de esgoto no decorrer dos anos. A intenção era questionar os
estudantes quanto às relações entre as doenças gastrointestinais e o acesso a
rede de esgoto demonstrada no gráfico. Os estudantes sentiram muita dificuldade
em interpretar o gráfico. O gráfico foi desenhado no quadro para ser explicado da
melhor forma para a compreensão dos estudantes; alguns estudantes, mesmo
após a explicação, disseram que ainda não tinham entendido. Houve muita
54
dificuldade, para que eles realizassem essa atividade. Abaixo segue o gráfico
utilizado:
Figura 2 – Número de internações por doenças gastrintestinais
infecciosas:
Fonte: Google 2017
Ao perceber a dificuldade que os estudantes apresentaram na aula da
interpretação do gráfico, optamos por utilizar outro recuso, que também se aplica
à proposta do trabalho, que foi a utilização de desenhos. Com isso consideramos
que os estudantes poderiam se expressar de uma forma mais natural. Assim
conversamos com a professora da turma, e ela gostou muito da proposta e
relatou que esta é uma atividade que quando feita em sala de aula eles se
divertem muito.
Desta forma, ainda nesta etapa da SDI, que deu continuidade na aula
seguinte, propusemos que os estudantes fizessem um desenho, que mostrassem
como eles poderiam economizar água em suas casas. Levamos lápis de cor,
nesse momento os estudantes de divertiram muito, e todos participaram. O
desenvolvimento de desenhos também se constitui em uma ferramenta
importante no ensino investigativo, pois estimula a criatividade (CARVALHO,
2010). Nesse caso, consideramos que esta atividade está relacionada ao terceiro
55
eixo da alfabetização cientifica, que é o “entendimento das relações existentes
entre ciência, tecnologia, sociedade e meio-ambiente”. Sendo assim o estudante
relaciona ciência e tecnologia no seu cotidiano e busca uma ação sustentável,
pensando no presente e no futuro.
ETAPA 4 - para Consolidar o Conteúdo – Nesta Etapa, a partir das
observações nas atividades anteriores, percebemos que os estudantes gostavam
muito de ler, eles disputavam a oportunidade para ler. Desta maneira
conversando com a professora da turma decidimos, para consolidação do
assunto, a leitura de um texto que descreve um histórico do uso da água. O texto
tratava sobre as primeiras civilizações que se deslocavam para locais distantes
em busca de água, quando a água começou a ser comercializada, e como se
iniciou a utilização da água para a construção de hidrelétricas, dentre outros
momentos que marcaram o início do saneamento básico. Os estudantes que
gostariam de ler tiveram a oportunidade de ler um parágrafo do texto. Desta forma
todos que quiseram puderam ler.
A leitura de textos que relatam a história da ciência, compõe uma das
atividades que todo ensino voltado para investigação precisa apresentar. É muito
importante que os estudantes tenham compreensão de como a ciência e
tecnologia avançaram no decorrer dos tempos.
Para finalizar a SDI, a intenção era fazer um questionário com os termos
que os estudantes viram ao longo da aplicação da SDI, a fim de saber se eles
conseguiram entender esses termos. No entanto, mudamos essa estratégia por
considerar que um ensino por investigação precisa ir além de uma verificação do
domínio dos conteúdos pelos estudantes. O que se busca é uma alfabetização
científica que implica na compreensão de uma forma determinada de produzir
conhecimento que caracteriza a ciência e de sua vinculação com as questões
sociais. Nesse sentido, julgamos pertinente desenvolver um trabalho com os
estudantes em que eles teriam que retomar as hipóteses formuladas inicialmente,
para, em seguida, argumentar quanto a sua manutenção ou negação, a partir das
atividades desenvolvidas na SDI. Dessa forma, para finalizar a SDI, além de um
questionário com alguns termos importantes, o qual os estudantes deveriam
conceituá-los, retomamos às hipóteses que os estudantes haviam levantado no
início da SDI, a fim de vermos as novas concepções, ou seja, se eles mudaram
56
seus argumentos em relação ao problema inicial, após todas as atividades
desenvolvidas. Esta parte final de avaliação será discutida no terceiro item que
compõe os resultados deste trabalho.
Como foi apresentado, cada etapa da SDI envolveu um dos eixos da
alfabetização cientifica que nortearam as atividades propostas, bem como a
construção da SDI com os momentos de levantamento dos conhecimentos
prévios, de problematização, elaboração de hipótese, sistematização e avaliação.
Cada atividade foi sendo elaborada de forma participativa, junto à professora da
turma, desde o início ao fim na construção e aplicação da SDI, sempre buscando
observar o desempenho apresentado pelos estudantes, a base da literatura e as
orientações da professora orientadora da pesquisa.
Ao longo da aplicação da SDI, pudemos perceber o estabelecimento de
uma relação multidisciplinar que levou os estudantes a desenvolverem atividades
que abrangem a matemática, como por exemplo, na interpretação de gráficos;
conhecimentos sobre geografia, quando os estudantes puderam interpretar o
mapa do Brasil com as regiões que possuem saneamento básico, tanto na
atividade dos conhecimentos prévios, como na leitura do texto do site de notícias;
conhecimento sobre história, demostrado no texto que lemos sobre “História do
uso da água”. Também foi possível perceber o desenvolvimento da leitura e
interpretação de texto, confirmando uma característica da SDI que é o ensino
interdisciplinar, ao buscar aspectos da ciência junto a um ensino investigativo.
A seguir, apresentamos uma análise do processo de participação dos
estudantes durante a realização da SDI.
6.2 OS ESTUDANTES E A APLICAÇÃO DA SDI
Na primeira atividade fizemos o levantamento dos conhecimentos prévios
dos estudantes. Como mostra o gráfico 1, 30% dos estudantes fizeram um texto
interpretativo, relatando o que estavam observando nas figuras e colocando seus
próprios comentários sobre o assunto de saneamento básico de acordo com seus
conhecimentos e com as informações das figuras sobre as regiões com maior e
menor porcentagem de saneamento básico. 10% dos estudantes descreveram
apenas as figuras, sem expressarem comentários; 15% dos estudantes
57
conseguiram relacionar o saneamento básico com a coleta de lixo e esgoto; 13%
relataram em seus textos sobre a importância de deixar a rua limpa e delegaram
ao poder público o dever de resolver a falta de saneamento básico; 32%
relataram sobre o risco de doenças, principalmente por causa das crianças que
brincam nas ruas, e se contaminam com a água do esgoto que passa na rua. Boa
parte dos 30% que relataram sobre doenças, falaram sobre a Chikungunya e Zika
Vírus, sendo essas doenças as mais citadas por eles, provavelmente por conta da
repercussão da mídia sobre os surtos dessas doenças nos últimos anos. Nesse
sentido, outras doenças que podem ser transmitidas pela falta de saneamento
básico, como esquistossomose, febre amarela, amebíase, ancilostomíase,
ascaridíase, cisticercose, cólera, disenterias, giardíase, hepatite, leptospirose e
etc., não foram citadas.
Outro aspecto a ser falado, e que não está presente no gráfico, é que, em
alguns textos, os estudantes fizeram relação entre os problemas mostrados nas
figuras, como sendo dever dos políticos buscarem ações para melhorar a situação
da falta de saneamento básico. Isso foi um dado relevante que mostrou que os
estudantes conseguem relacionar o problema aos aspectos político e social.
Gráfico 1: Levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes
30%
10%32%
13%
15%
Interpretação das figuras
Descrição as figuras
Doenças
Política
Se referiu a Saneamento Básico pela coleta de lixo e esgoto
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018
Na aula seguinte foi passado o vídeo para iniciar a problematização. No
momento de montar o Datashow e o som os estudantes se disponibilizaram a
58
ajudar, e demostraram muito interesse em participar da aula, e quando o vídeo foi
passado eles ficaram bastante atentos.
Ao término do vídeo, solicitamos que eles fizessem seus comentários
relatando o que chamou a atenção deles ou o que eles compreenderam do vídeo.
A seguir trechos da discussão sobre vídeo, registrada no diário de campo:
Professor: O que acharam do vídeo? O que mais chamou a atenção de vocês? Estudante 1: Professora a água está presente nos seres humanos. Estudante 2: A água está presente em tudo. Estudante 3: A água é formada por oxigênio e hidrogênio. Professor: Muito bem, exatamente! Professor: O que mais chamou a atenção de vocês?Estudante 2: Devemos economizar água. Professor: Verdade! Mas porque você diz que devemos economizar água?Estudante 2: Porque a água pode acabar.Professor: E como a água pode acabar?Professor: Todos podem responder. Estudante 2: Desperdiçando água professora. Professor: Como nós desperdiçamos a água?Estudante 4: Tomando banho com o chuveiro ligado o tempo todo. Estudante 2: Lavando o carro de mangueira. Professor: Alguém mais pode responder?Estudante 1: Escovando os dentes com a torneira aberta. Estudante 5: Ah Professora... tantas coisas.
Como podemos observar nestes comentários feitos após o vídeo, apenas
5 estudantes participaram diretamente da discussão, os outros estavam
observando, mas não respondiam os questionamentos que eram feitos. A
intenção era que todos os estudantes participassem respondendo às perguntas
feitas.
Foi observado que os estudantes mais inquietos durante as aulas são os
que mais participavam das discussões. Os que ficam quietos, faziam as
atividades, mas não costumavam se expressar verbalmente na aplicação da SDI.
Depois da conversa sobre o vídeo foi feito o seguinte questionamento
“Todas as pessoas no mundo têm acesso a água apropriada para consumo
humano?” Estavam presentes nesta aula 28 estudantes. 59% dos estudantes
responderam que não, 33% responderam que sim, e 8% dos estudantes não
responderam, como mostra o gráfico 2.
59
Gráfico 2: Problematização Inicial
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018
Sobre as respostas
dos estudantes que disseram “Não” a pergunta formulada, estes levantaram
hipóteses relacionadas com diversos fatores, como podemos observar no gráfico
3 em que, 35% dos estudantes afirmaram como hipóteses que algumas pessoas
não tem água tratada, mas não indicaram nenhum motivo para esse fato; 17%
dos estudantes disseram que algumas pessoas não tem acesso a água porque
vivem em lugares secos; 13% dos estudantes disseram em suas hipóteses que as
pessoas não tem acesso a água pois não tem dinheiro para comprar; 26%
disseram que as pessoas poluem a água e 9% disseram que as pessoas
desperdiçam a água e por isso acabam ficando sem água apropriada para o
consumo humano.
Gráfico 3: Hipótese da Problematização Inicial - “Não”
33%
59%
7%
Sim
Não
Não respondeu35%
17%13%
26%
9%Não tem água tratada.
Vivem em lugares secos .
60
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018
Dentre os 33% dos estudantes que responderam sim, referente a
problematização questionada, 37% dos estudantes apenas responderam sim,
mas não justificaram suas hipóteses e 13% dos estudantes disseram que existem
empresas que fazem o tratamento da água. Provavelmente esses estudantes já
tiveram acesso a alguma informação relacionada ao tratamento da água, e 50%
disseram que todos tem acesso a água porque sem águas morremos, como
podemos ver no gráfico abaixo.
Gráfico 4: Hipótese da Problematização Inicial - “Sim”
38%
13%
50%
Disse que sim, mas não colocou suas hipóteses.
Existem empresas que fazem o tratamento da água.
Porque sem água morremos.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018
Após o levantamento das hipóteses, fizemos a sistematização e pedimos
que os estudantes fizessem uma pesquisa como atividade para casa, a fim de
trazerem informações que sustentassem suas hipóteses.
Os estudantes trouxeram suas pesquisas na aula seguinte, e fizeram as
leituras das mesmas.
Fizemos a leitura nos capítulos 14 e 15 do livro didático que corresponde
ao assunto trabalhado e também a leitura de textos da internet. Durante a
sistematização os estudantes participavam e encontravam na teoria a
confirmação ou não das hipóteses que eles deram para o problema.
Os estudantes sempre tinham a oportunidade de se expressar e chegar a
suas conclusões a partir das perguntas complementares que formulávamos,
porém, em alguns momentos que registramos no diário de campo, a professora
61
da turma antecipava as informações, respondendo para os estudantes algumas
questões propostas.
Essa situação vivenciada na sala de aula com relação ao comportamento
da professora da turma, pode ser revelador das dificuldades de se trabalhar como
uma proposta em que a investigação seja o fundamento dos processos de ensino
e aprendizagem. Nesse caso, percebe-se que o professor acostumou-se, na
maioria das vezes, a dizer respostas prontas para os estudantes, e trabalhar de
maneira diferente exige do professor um novo olhar para o seu papel em sala de
aula, deixando de ser o centro do conhecimento e passando a ser um auxiliador,
oferecendo a oportunidade para que o próprio estudante construa um novo saber.
Na etapa de consolidação dos conhecimentos levamos amostras de água.
Nesse momento, os estudantes fizeram as observações das amostras da água,
caracterizaram a água limpa e boa para o consumo, e a água que não estava
apropriada para o consumo, falando sobre os microrganismos que poderia estar
presente na água suja que precisava passar por tratamento para a eliminação
desses microrganismos patogênicos.
Nesse momento alguns dos estudantes relataram que em suas casas
tinha cisterna, e que eles pegam a água da cisterna e colocam no filtro para
beber, e que onde eles moram não faltava água.
A maioria dos moradores de Cruz das Almas, possuem cisterna o que
minimiza as dificuldades de falta de água na cidade.
Na etapa 3, buscamos relacionar a teoria à prática, momento em que foi
entregue um gráfico para os estudantes interpretarem. Como podemos ver no
gráfico 5, 39% dos estudantes leram o gráfico corretamente relacionando todas as
informações contidas no gráfico, e 61% não conseguiram ler o gráfico. Essa
situação evidencia a dificuldade que os estudantes têm com os conteúdos
relacionados ao tratamento de informações, conteúdo este que, segundo as
orientações curriculares propostas desde a formulação dos PCNs, deveriam
compor os currículos do componente de Matemática, demostrando que, apesar
de sua relevância, esse tipo de atividade (leitura de gráficos) não costuma ser
desenvolvida com os estudantes.
62
Gráfico 5: Leitura do gráfico na sistematização.
Em continuação com a socialização dos conhecimentos sobre a água, os
estudantes fizeram um desenho
sobre como eles poderia
economizar água em suas casas. Essa
foi uma atividade muito proveitosa,
pois os estudantes participaram e
todos fizeram os desenhos. Abaixo,
no gráfico 6, destacamos as
ênfases levantadas pelos alunos
relacionadas aos momentos e ações que podem ser feitas para economizar água.
Gráfico 6. Ações para a economia de água mais abordados pelos estudantes na construção dos desenhos.
Fonte: Dados da pesquisa, 2018
Todos os estudantes fizeram seus desenhos. Abaixo separamos alguns
para ser apresentado aqui.
39%
61%
Leram o gráfico cor-retaente
Não conseguiram ler o gráfico corre-tamente
17%
14%
31%
11%
9%
6%6%
3%
3%
Escovando os dentes
Abastecendo água da chuva
Tomando banho
Lavando os pratos
Lavar as mãos
Lavando o carro com balde
Reaproveitando a água usada
Ações para as pessoas se conscientizarem
Tratamento de esgoto
63
Figura 3 – “Como evitar desperdiçar água” Figura 4 – “Economizar água”
Figura 5 – Não desperdice a água Figura 6 – Tratamento de esgoto
64
Figura 7 – “Casas mais econômicas”
Figura 8 – “Economização saudável”
Como podemos observar os
estudantes foram bem criativos, e
abordaram diversas ações para a
economia da água. Durante o
desenvolvimento da atividade os
estudantes trabalharam em equipe,
dividindo os lápis de cor, ajudando os
colegas nas ideias para fazerem os
desenhos, ajudando a pintar e a
criarem os títulos para os desenhos.
Foi percebido que durante essa
atividade foi desenvolvido um ambiente
de aprendizado coletivo e harmonioso
entre eles.
65
A próxima atividade foi a leitura do texto “História do uso da água”. Nessa
atividade cada estudante pode ler um parágrafo do texto, fazendo seus
comentários e perguntando sobre as palavras desconhecidas para eles. Os
estudantes nesta atividade demostraram respeito ao colega no momento de cada
leitura, e até as palavras que alguns não sabiam o significado os estudantes que
sabiam diziam o significado, caso ninguém soubesse explicávamos o que era
preciso. Alguns estudantes comentaram sobre alguns termos que eles já haviam
visto nas aulas de História, fazendo uma relação do texto com os conhecimentos
de outras disciplinas, isso confirma como os assuntos de outras disciplinas se
complementam na construção do conhecimento do estudante.
Antes de retomarmos as hipóteses, fizemos um questionário que
relembrava os termos e conceitos mais importantes do assunto de saneamento
básico e doenças causadas pelo contato com água contaminada. Com relação ao
questionário, 43% dos estudantes responderam corretamente, utilizando os
termos corretos construído pela ciência, e 57% dos estudantes responderam
corretamente, mas com algum conceito incompletos ou mal aplicados.
Gráfico 7. Porcentagem dos conceitos que foram respondidos pelos estudantes
Fonte: Dados da pesquisa, 2018
O questionário
demostrou que os estudantes
conseguiram conceituar a
maioria dos termos, de forma
correta, poucos foram incompletos
ou com algum erro no significado do conceito, como podemos ver na Figura 8.
43%
57%
Responderam coretamente
Responderam de maneira incompleta
66
Percebemos nesta atividade que os estudantes conseguiram estabelecer uma
relação com os conceitos e o significado reconhecido pela ciência, como vemos
na Figura 7. A utilização de termos como microrganismos patogênicos, água
servida, água potável e outros termos presentes no questionário foram descritos
corretamente pela maioria dos estudantes, a maior dificuldade observada nas
respostas do questionário se refere a primeira questão sobre a água como um
recurso natural finito, em que os estudantes responderam bem suscintamente, e
em alguns questionários esses conceitos não foram respondidos pelos
estudantes. Sendo assim, apesar do bom resultado alcançado, pudemos perceber
a dificuldade dos estudantes no uso dos termos científicos, por isso entendemos
que é de fundamental importância a utilização de um modelo de ensino que tem
como foco a investigação, desde os anos iniciais do ensino.
Segue abaixo alguns questionários:
Figura 9 – Questionário do estudante 01 Figura 10 – Questionário do estudante 02
Podemos observar que nesta atividade, o estudante 01, conceituou
apenas quatro termos, de forma coerente. Os demais conceitos não foram
67
respondidos. O questionário do estudante 02 foi todo respondido e os conceitos
estavam corretos.
Na última atividade realizada, retomamos as hipóteses iniciais dos
estudantes, essa atividade será analisada separadamente no próximo item.
6.3 ANALISE DAS HIPÓTESES FINAIS
Na atividade de finalização da SDI, retomamos a problematização inicial e
solicitamos que os estudantes relatassem se confirmavam ou negavam suas
hipóteses, justificando a partir dos conceitos estudados durante a SDI.
Vimos no gráfico 2 da problematização inicial a porcentagem dos
estudantes que responderam sim ou não para a pergunta que iniciou a
problematização.
Como podemos observar no gráfico 8 houve uma mudança nas respostas
dos estudantes com relação as que foram apresentadas inicialmente (ver gráfico
2). Nesta retomada da problematização inicial, 74% dos estudantes responderam
não, 4% responderam sim e 22% não apresentou resposta.
Gráfico 8. Retomando a Problematização- Todas as pessoas do mundo têm
acesso a água apropriada para consumo?
Fonte: Dados
da Pesquisa, 2018
Como se pode observar, o número de estudantes que não apresentaram
respostas aumentou de 8% para 22%, isso pode ter ocorrido pela dificuldade em
4%
74%
22%Sim Não
Não respondeu
68
estabelecer uma relação entre a problematização inicial e a problematização final,
pois isto exige que o estudante reflita o que havia dito na problematização inicial e
nem todos conseguiram fazer essa reflexão, demostrando que eles não
desenvolvem frequentemente essa ação de construção do conhecimento. Por
outro lado, o número dos estudantes que disseram sim diminuiu passando de
33% para 4%. Nesse caso, analisando suas respostas, foi possível perceber que
eles não conseguiram estabelecer relação entre a problematização inicial e final,
mas inseriram apenas termos soltos, sem reflexão que fundamentassem a
resposta.
Quanto aos que disseram não, o percentual aumentou de 59% para 74%,
isso deve ter ocorrido devido ao levantamento de informações feito pelos
estudantes e as discussões realizadas durante a implementação da SDI, pois, na
medida em que foi possível avançar na produção de novos conhecimentos de
base científica sobre o tema, bem como no debate sobre as questões éticas e
políticas envolvidas com o mesmo, foi possível aos estudantes comparar seus
argumentos iniciais e produzir novos argumentos em que demonstravam o
reconhecimento dos problemas relacionados ao acesso à água potável nas
regiões do Brasil e no mundo, com muitos lugares em que milhões de pessoas
ainda sofrem com doenças decorrentes dessa situação.
A partir dessas discussões e das atividades desenvolvidas na SDI, os
estudantes puderam refletir sobre o acesso a água potável e estabelecer uma
relação sobre o que responderam na problematização inicial e diante de tudo que
construíram durante a aplicação da SDI, refazendo suas hipóteses e construindo
novas hipóteses na problematização final.
No gráfico 9 temos os resultados dos estudantes que discordaram de
suas hipóteses iniciais. Nesse caso, pudemos observar que apenas alguns
estudantes que discordaram de sua hipótese inicial apresentaram argumentos
que se sustentavam nos conteúdos que foram trabalhados na SDI. Nesse sentido,
37% disseram que nem todas as águas são limpas e precisam de tratamento,
13% relatou sobre a falta de saneamento básico, que é diretamente a causa da
falta de água apropriada para o consumo. Mas 50% dos estudantes que
discordaram da sua hipótese inicial, não refizeram novas hipóteses, ou seja, não
explicaram porquê discordaram da hipótese inicial, indicando dificuldades dos
69
estudantes de construírem novos argumentos a partir dos estudos realizados, o
que sinaliza com a necessidade de trabalhar com essa proposta de ensino com
mais regularidade.
Gráfico 9. Os que discordaram de suas hipóteses iniciais “Sim”
38%
13%
50%
Nem todas as águas são limpas, e precisam de tratamento
Falta Saneaneamento Básico no Brasil
Não fizeram a Hipótese final
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018
No gráfico 10 temos os resultados dos estudantes que concordaram com
sua hipótese inicial. No entanto, é importante destacar que, apesar dos
estudantes confirmarem suas hipóteses iniciais, novos argumentos foram
apresentados. Um exemplo é que os argumentos que os estudantes
apresentavam inicialmente, tais como: “a seca e a falta de dinheiro para comprar
água”, não aparecem na hipótese final. Novas hipóteses como: “Muitos lugares
não têm tratamento de esgoto”, “Não tem saneamento básico”, e “a água pode
estar contaminada com agentes patogênicos” apareceram nas hipóteses finais.
Isso pode indicar que as discussões sobre os motivos que podem estar
envolvidos na falta de acesso a água potável pelas pessoas de diversos lugares,
os levaram a compreender sobre os assuntos de saneamento básico, tratamento
da água e agentes patogênicos da água contaminada. Alguns termos como:
“Poluição da água”, “desperdício da água”, “não tem tratamento da água”,
estavam presentes nas hipóteses iniciais e apareceram novamente nas hipóteses.
70
Gráfico 10. Concordaram com a hipótese inicial “Não”
Fonte: Dados da Pesquisa, 2018
No gráfico 11 veremos de forma geral os termos mais utilizados, nos
textos das hipóteses finais dos estudantes.
Gráfico 11. Conceitos que mais apareceram na hipótese final.
Fonte:
Dados da Pesquisa, 2018
Os estudantes apresentaram vários termos novos, como microrganismos,
agentes patogênicos e etc. estudados durante a aplicação da SDI. No entanto,
uma das dificuldades que eles tiveram desde o início, foi em saber o que
significava hipótese, foi um termo novo para eles, e uma forma de explicá-lo foi
23%
15%
23%
8%
15%
15%
Não tem Saneamento Básico
Muitos Lugares Não têm tratamento de esgoto
Nem todas as Famílias têm tratamento da Embasa para poder consumir água limpa
A água pode estar contaminada com agentes patogênicos
As pessoas não valorizam e poluem a água com esgoto
Usaram termos isolados para justificar o texto
3%
17%
14%
10%17%
21%
7%10%
Água tratada
Coleta e/ou tratamento de esgoto
Poluição da água e/ou meio ambiente
Agentes patogênicos: Bactérias, vírus, ovos de vermes parasitas, protozoários
Água potável
Saneamento Básico
Microrganismos
Tratamento da água na Embasa
71
relacionar o termo hipótese com suposição, para isso utilizamos a frase “o que
vocês acham” e assim os estudantes conseguiram formular suas hipóteses.
Abaixo seguem algumas hipóteses dos estudantes, em que podemos
comparar a sua hipótese inicial e a hipótese final reformulada.
Figura 9. Estudante 01 Hipótese Inicial Hipótese Final
Figura 10. Estudante 02Hipótese Inicial Hipótese Final
Figura 11. Estudante 03 Hipótese Inicial Hipótese Final
72
Como podemos observar nas hipóteses iniciais os estudantes
relacionavam o acesso a água em argumentos próximos a suas vivências no dia-
a-dia. Na hipótese final os estudantes mencionaram termos que abrangem os
conteúdos vistos durante as atividades desenvolvidas, como saneamento básico
e tratamento de água e esgoto.
Dessa forma, pudemos destacar a importância de se trabalhar com o
ensino investigativo e a alfabetização científica, pois são metodologias que
buscam a construção do conhecimento pelo próprio estudante, que os fazem
ultrapassar a visão apenas do cotidiano, e alcançar uma visão cientifica. Passam
a construir um conhecimento crítico através da análise e reflexão, e isso irá
proporcionar a formação de cidadãos capazes de interpretar diversas situações e
buscar um posicionamento na sociedade, a fim de contribuir positivamente para a
mesma. Com isso, na sequência iremos apresentar as considerações finais do
trabalho.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo analisar a relevância da utilização de
Sequências Didáticas Investigativas no ensino de ciências naturais, buscando
identificar a sua contribuição para a inserção do estudante na lógica e na prática
científica, por meio do desenvolvimento de habilidades argumentativas com base
no método científico.
Diante dos resultados apresentados, consideramos ter alcançado os
nossos objetivos da pesquisa.
Ao analisarmos a SDI desde a sua elaboração até sua aplicação, foi
possível notar a necessidade de atualizar permanentemente os conhecimentos
teóricos sobre a elaboração de uma SDI, com vista a uma atuação mais favorável
do professor a fim de aplicar atividades que supram as demandas de um ensino
voltado para a investigação e a alfabetização cientifica. É um trabalho que exige
muito diálogo e contínua revisões, e à medida que se conhece a turma, surgem
necessidades para se façam adaptações em função do perfil dos estudantes.
Dentre as etapas da elaboração da SDI, percebemos que a formulação
das perguntas de problematização é uma das mais importantes, pois é a partir da
73
busca dos estudantes em resolvê-las que eles passam a desenvolver uma
maneira diferente de aprender.
Observamos, ao longo do processo, que os estudantes foram muito
participativos. No entanto, ao analisar as atividades feitas por eles, percebemos
que um dos grandes desafios que enfrentamos na realização da SDI foi que os
estudantes elaborassem suas hipóteses iniciais e finais, bem como a realização
da leitura dos gráficos. Isso nos mostra que inserir a cultura cientifica nas escolas
e na realidade dos estudantes ainda é uma tarefa difícil, pois exige habilidades
que não estão sendo desenvolvidas nas escolas, em especial no ensino
fundamental, o que torna ainda mais urgente um ensino que promova a
alfabetização científica dos estudantes.
Quanto à elaboração das hipóteses, alguns estudantes não as refizeram,
demostrando que eles não conseguiram estabelecer uma relação entre a
hipóteses inicial e a final. Esse foi, sem dúvida, o momento em que os estudantes
sentiram mais dificuldade. No entanto, essas atividades não podem ser retiradas
das atividades nas aulas, pois é preciso que os estudantes continuem
desenvolvendo essas habilidades e comecem a vivenciar um ensino diferenciado
que possa contribuir para uma formação que os torne capazes de identificar um
problema e suas possíveis respostas, de levantar informações que possam ajudá-
los a resolver o problema em questão e, mais especialmente, de argumentar
criticamente.
Com isso percebemos que os estudantes apresentaram dificuldades para
desenvolver as atividades, justamente, pelo fato de serem atividades que eles não
fazem com frequência, ou, até mesmo, nunca tiveram a oportunidade de realizar,
sendo que estas foram atividades que exigiram muita argumentação, sem
respostas prontas, a fim de que eles construíssem suas próprias respostas e
conclusões.
Outro ponto a ser mencionado, é sobre os estudantes que mais
participavam das atividades e das discussões que eram os mais inquietos, os
estudantes que ficavam mais quietos, sentiam mais dificuldade para se
expressarem. Outros estudantes conseguiam se expressar na construção dos
textos. Com isso podemos ver que é muito importante que a SDI abranja
atividades que vão desde à leitura a elaboração de textos e discussões, afinal é
74
por meio dessas atividades que se constituem aulas investigativas e se
desenvolve o poder da argumentação crítica.
Dessa maneira entendemos que é necessário e importante promover um
ensino que recorra aos conceitos propostos pela alfabetização científica no ensino
de ciências naturais, na medida em que essa perspectiva pode contribuir para
ensinar os estudantes a entender a ciência de maneira mais próxima de sua
realidade, ao serem usadas atividades que valorizam seus conhecimentos prévios
e que mostram para os estudantes que o saber cientifico não é inacessível, mas
que é possível alcançarmos nas aulas.
É importante destacar também a percepção que tivemos quanto à
diferença entre uma aula em que recorremos ao uso de uma SDI, como a que
conduzimos nesta pesquisa, e as aulas em que não são utilizadas SDI, como foi o
caso da que trabalhamos no componente curricular Estágio Supervisionado II.
Durante o Estágio percebíamos que os estudantes não tinham muita oportunidade
de se expressarem, na realidade eles não se sentiam à vontade para participar,
afinal eles não eram motivados a buscar o conhecimento, pois os assuntos eram
ensinados de maneira muito pronta, o que não favorecia um aprendizado
significativo, contrariamente ao que aconteceu com a utilização de uma proposta
de ensino com base na investigação. Com a SDI pudemos perceber, também,
que os estudantes conseguiram fazer conexão com as aulas anteriores e com os
outros componentes curriculares.
Assim, a utilização de sequências investigativas pode ajudar o estudante
a consolidar os conhecimentos e a estabelecer relações entre as vivências de seu
cotidiano, os conhecimentos que eles já trazem, os conhecimentos científicos das
várias ciências. Contribui, portanto, com novas formas de aprender, na medida
em que envolve o estudante na busca do conhecimento e a chegar a suas
próprias conclusões. Isso, com certeza, exige um trabalho continuo até que os
estudantes possam se familiarizar com esse novo modelo de ensino.
Diante disso, podemos dizer que a utilização de SDI nas aulas de ciências
naturais não é uma tarefa fácil, mas é de extrema importância para que os
estudantes comecem a ter contato com uma forma diferente de aprender, e uma
forma que exija o seu envolvimento e participação, promovendo a sua
alfabetização científica e contribuindo para a formação de cidadãos participativos
75
na sociedade, e com uma visão diferenciada sobre como se faz uma ciência
crítica e comprometida ética e politicamente.
76
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79
APÊNDICES
APÊNDICE A: SEQUÊNCIA DIDÁTICA INVESTIGATIVA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIACENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS
CURSO DE LICENCIATURA EM BIOLOGIA
SEQUÊNCIA DIDÁTICA INVESTIGATIVA
1.TEMA:
A importância do saneamento básico para a saúde humana.
2. PROFESSOR (a):
Mileide dos Santos Ferreira
3. APRESENTAÇÃO:
A água é um elemento natural fundamental para a sobrevivência dos seres vivos na terra. Sem ela não é possível o funcionamento das atividades celulares dos seres vivos. Entretanto por conta da poluição que ocorre nos rios e fontes de água doce, a falta de água tem aumentando, o problema com falta de saneamento básico afeta milhões de pessoas em todo o mundo, muitas doenças têm sido transmitidas pela água devido à falta de saneamento básico. O estudo sobre a água potável, saneamento básico e água e saúde são importantes para que os alunos possam discutir a importância do tratamento da água, e utiliza-la de forma consciente, e também como podemos evitar doenças como amebíase, leptospirose, hepatite A, e outras doenças que são transmitidas pela água contaminada.
4. ANO EM CURSO:
6º Ano (Ensino Fundamental)
5. DURAÇÃO:
9 Aulas (50 min por aula)
6. OBJETIVOS:
CONCEITUAIS
Compreender a importância do saneamento básico para a saúde humana. PROCEDIMENTAIS
Ler e elaborar textos referentes ao assunto de saneamento básico. Elaborar hipóteses para os problemas apresentados, sobre a água no
mundo; Interpretar gráficos científicos, que corresponde a como o saneamento
básico pode melhorar as condições de saúde das pessoas;
80
Expressar opiniões sobre o saneamento básico, por meio de desenhos e textos.
ATITUDINAIS
Expressar seu ponto de vista referente às questões levantadas; Saber se expressar frente a um assunto proposto; Socializar temas com os colegas na sala de aula; Desenvolver o pensamento crítico. Trabalhar atitudes que promovam a autoconscientização, referente à
economia da água.
7. CONTEÚDOS
Saneamento Básico: Água potável; Água servida; Distribuição e armazenamento da água; Economia de água; Esterilização; Microrganismos; Microrganismos patogênicos; Água contaminada; Doenças transmitidas por água contaminada.
8.SEQUÊNCIA DIDÁTICA DE ENSINO E APRENDIZAGEM
ETAPA 1 – Dialogar e problematizar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o conteúdo. Esta etapa será realizada em três aulas.
Atividade 1.1 – Familiarizando-se com o saneamento básico. Nesta aula será feita a apresentação da proposta da sequência didática e dos conteúdos que serão abordados durante esse período. Também será um momento de conhecer a turma e explicar o motivo e a importância da atividade que será desenvolvida. Em seguida será realizado um levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos, a respeito do saneamento básico. Para isso será entregue para cada aluno uma folha impressa com duas imagens para que eles façam um texto relacionando as figuras.
Fonte: Google, 2017
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Atividade 1.2 – Água um recurso natural.
Nesta aula será mostrado um vídeo sobre a água como um recurso natural. Após assistir o vídeo, será feita a seguinte pergunta: Todas as pessoas no mundo têm acesso a água apropriada para o consumo humano? Por que?
Atividade 1.3 – Sistematização de hipótese
Os alunos serão divididos em trios e a partir das hipóteses dos alunos será feito um debate na sala de aula para agrupar as hipóteses levantadas, e será feita uma seleção de algumas dessas hipóteses para que os alunos possam trazer informações que confirmem ou não as hipóteses indicadas por eles.
ETAPA 2 - Aprofundar a teoria. Esta etapa será realizada em duas aulas
Atividade 2.1 – Leitura do livro didático e textos da Internet
Nesta aula foi feito a leitura de trechos do livro didático no capítulo 14 e 15, que fala sobre o Saneamento básico.
Após leitura do livro, foi feito a leitura de um Texto que foi retirado de um site de notícias da internet, o texto fala sobre algumas informações relacionada ao saneamento básico nos estados brasileiros.
https://g1.globo.com/economia/noticia/saneamento-melhora-mas-metade-dos-brasileiros-segue-sem-esgoto-no-pais.ghtml
Atividade 2. 2 – Aprofundando os conteúdos sobre as características da água potável.
Nesta aula foi levado duas garrafas pet para que os estudantes pudessem caracterizar a água apropriada para o consumo e a água que deveria passar por tratamento para ser utilizada.
Os alunos se reuniram em duplas e fizeram as anotações sobre as características de cada amostra de água observada.
ETAPA 3 - Relacionar a teoria com a prática. Esta etapa será realizada em duas aulas.
Atividade 3.1 – A importância do saneamento básico para saúde pública. Em seguida os alunos receberão uma atividade, para que eles interpretassem o gráfico, que mostra como o saneamento básico melhora a saúde pública.
82
Fonte: Google, 2017
Atividade 3.2 – Como podemos economizar água em nossa casa?
Nesta parte da aula, foi pedido que os estudantes façam um desenho sobre quais ações eles podem desenvolver em suas casas para economizar água, considerando que apenas 0,3% da água doce está disponível em nosso planeta.
ETAPA 4 - Consolidar do Conteúdo. Esta etapa será realizada em uma aula.
Atividade 4. 1 – História do uso da água.
Nesta aula será abordado um texto sobre a evolução histórica do uso da água, o texto será distribuído para cada aluno e o professor fará a leitura, após a leitura será feita uma discussão sobre o que foi lido.
Texto que será utilizado: https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1447
ETAPA 5 – Produção final – Proposta de avaliação. Esta etapa será realizada em uma aula.Atividade 5.1 - Nesta aula iremos retomar as hipóteses levantadas pelos alunos na problematização inicial. Os alunos irão analisar suas hipóteses iniciais a fim de contestar ou reafirmar tais hipótese. E conceituar alguns termos que estudamos durante as atividades.
9. RECURSOS NECESSÁRIOS
Notebook, Datashow, caixas de som, textos impressos, livro didático; caderno; cartazes, lápis de cor; piloto.
10. REFERÊNCIAS
FREIRE, C. C. Argumentação e explicação no ensino de ecologia. 2014. 97 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências, modalidade biologia) – Faculdade
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de Educação, Instituto de Física, Instituto de Química e Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.
GIL PÉREZ; D. MACEDO, B; MARTÍNEZ TORREGROSA, J.; SIFREDO, C.; VALDÉS, P; VILCHES, A. (Eds.). ¿Cómo promover el interés por la cultura científica? Uma propuesta didáctica fundamentada para la educación científica de jóvenes de 15 a 18 años. OREALC/ UNESCO, Santiago de Chile, 2005a. Disponível em: <http://www.oei.es/decada/libro.htm>. Acesso em: 20 out. 2017
MOTOKANE, M. T. Sequências didáticas investigativas e argumentação no ensino de ecologia. Revista Ensaio: Belo Horizonte, v.17 n. especial, p. 115-137, novembro, 2015
RODRIGUES, C. F. M.; RODRIGUES, V. S.; NERES, J. C. I.; GUIMARÃES, A. P. M.; NERES, L. L. F. G.; CARVALHO, A. V. Desafios da saúde pública no Brasil: relação entre zoonoses e saneamento. Scire Salutis, v.7, n.1, p.27-37, 2017.
TAKEDA, T. O. A evolução histórica do uso da água. Disponível em: <https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=1447> Acesso em: 03 out. 2017.