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AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM SAÚDE MENTAL Laelio Loureiro Del Pupo A Prevalência dos Transtornos de Personalidade nas Pessoas em Reabilitação de Transtornos de Uso de Substâncias.

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AVM FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM SAÚDE MENTAL

Laelio Loureiro Del Pupo

A Prevalência dos Transtornos de Personalidade nas Pessoas em Reabilitação de Transtornos de Uso de

Substâncias.

Vitória, Espírito Santo2016

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AVM Faculdade IntegradaEspecialização em Saúde Mental EAD

Laelio Loureiro Del Pupo

A Prevalência dos Transtornos de Personalidade nas Pessoas em Reabilitação de Transtornos de Uso de

Substâncias.

Artigo Científico apresentado à AVM Faculdade

Integrada ao curso de pós-graduação Latu

senso como requisito parcial ao Título de

Especialista em Saúde Mental

Orientadora: Jaqueline Castilho de Oliveira.

Vitória, Espírito Santo2016

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Laelio Loureiro Del Pupo

A Prevalência dos Transtornos de Personalidade nas Pessoas em Reabilitação de Transtornos de Uso de

Substâncias.

Artigo Científico apresentado à AVM Faculdade Integrada ao

curso de pós-graduação Latu senso como requisito parcial ao

Título de Especialista em Saúde Mental

Orientadora: Jaqueline Castilho de Oliveira.

Aprovado pelos membros da banca examinadora em ___/___/___,

com menção ___ (_____________)

Banca Examinadora

_________________________________________________________

_________________________________________________________

_________________________________________________________

Vitória - ES

2016

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“Segundo a definição dos estoicos, a sabedoria consiste em ter a razão por guia; a loucura, pelo contrário, consiste em obedecer às paixões; mas para que a vida dos homens não seja triste e aborrecida Júpiter deu-lhe mais paixão que razão.”

Erasmo de Rotterdam (*27/10/1466 + 12/07/1536)

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Agradeço ao Poder Superior, como o compreendo, pela saúde e pela vida sem as quais nada disso seria possível; a minha esposa Regina e nosso filho Emílio pela paciência e compreensão pelo tempo que este estudo me vez ausentes de suas preciosas vidas.

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Resumo

Nesta revisão de literatura buscamos, através da leitura e da seleção de artigos

científicos, páginas na rede mundial de computadores e capítulos de livros

especializados em saúde mental, em sua maioria de relativa relevância e atualidade,

respostas para questões que surgem cotidianamente no manejo com usuários dos

serviços de saúde mental, álcool e outras drogas quanto ao desafio de reabilitar

psicossocialmente. Se já não se basta às dificuldades da muldimensionalidade e

consequente multidisciplinaridade em que se devem embasar as boas práticas

terapêuticas a existência de alta prevalência de transtornos comórbidos,

especialmente os de Transtornos de Personalidade e também os Problemas de

Personalidade que incidem nas pessoas com estes sofrimentos e dificulta uma maior

adesão e consequentemente um resultado mais efetivo e perene. Em nossa

experiência clínica como Pedagogos que atuamos como Consultor e Especialista em

Dependência Química, gerenciando casos em um Centro de Reabilitação

Psicossocial, cremos na relevância desta pesquisa para os componentes das

Equipes Técnicas Multidisciplinares de instituições de recuperação assemelhadas

possam obter material de apoio e reflexão no resultado deste trabalho.

Palavras Chaves: reabilitação, psicossocial, drogas, alcoolismo, comorbidades.

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Abstract

In this review we look through the reading and selection of scientific articles, pages

on the World Wide Web and chapters of specialized books on mental health, most of

relative relevance and topicality, answers to questions that arise daily in the handling

of users of mental health, alcohol and other drugs services as the challenge of

rehabilitating psychosocially. If you have not just the difficulties of multidimensionality

and consequent multidisciplinary approach in which they are to base the good

therapeutic practices the existence of a high prevalence of comorbid disorders,

especially of Personality Disorders and also the personality issues that affect the

people with these sufferings and hinders the greater involvement and therefore a

more effective and perennial result. In our clinical experience as pedagogues who act

as consultants and experts in Chemical Dependency, managing cases in a

Psychosocial Rehabilitation Center, we believe in the relevance of this research for

the components of the Teams Multidisciplinary techniques resembled recovery

institutions to obtain material and reflection support in result of this work.

Key Words: rehabilitation, psychosocial, drugs, alcoholism, comorbities.

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SUMÁRIO

1 - Introdução.............................................................................................................102 - O que são drogas..................................................................................................113 - O que são transtornos por uso de substâncias.....................................................134 - O que preconiza uma reabilitação psicossocial....................................................175 - O que é personalidade..........................................................................................215.1 - O que são Transtornos de Personalidade.........................................................246 - A prevalência dos transtornos por uso de substâncias comórbidos aos

transtornos de personalidade.....................................................................................287 - Como as comorbidades de transtorno por uso de substâncias interferem na

adesão e segmento da reabilitação psicossocial dos pacientes com transtornos e

problema de personalidadeade..................................................................................318 - Conclusões..........................................................................................................33 9 – Referências Bibliográficas................................................................................35

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1 - Introdução

Neste trabalho de pesquisa buscamos respostas, através da Revisão Bibliográfica,

que possam servir de apoio referencial para estudantes e profissionais interessados

no aumento da amplitude das possibilidades de percepção, condução e resolução

de casos clínicos e de problemas de estudo e pesquisas voltados para a reabilitação

de pessoas em sofrimento por causa da presença de pelo menos duas entidades

nosológicas (Uso de substancias e transtornos de personalidade) em um

determinado momento da vida dessas pessoas, aumentando a efetividade de

tratamentos e reabilitações com bases psicossociais.

A Prevalência dos Transtornos de Personalidade nas Pessoas em Reabilitação de

Transtornos por Uso de Substâncias.

Como a Presença de Transtornos de Personalidade Influencia na Adesão à

Reabilitação de Pessoas com Transtorno de Uso de Substâncias?

Em nossa militância como profissional atuando na reabilitação de pessoas

portadoras de Transtornos Decorrentes do Abuso do Álcool e Outras Drogas, por

cerca de dezoito anos, percebemos como a presença dos Transtornos Comórbidos

de Personalidade influenciam na adesão e seguimento nos tratamentos destes

pacientes. Também, ao cursar a especialização em Dependência Química como

ainda pouco se efetivamente se estuda e se aplica na clínica esta inteiração de

graves consequências biopsicossociais na vida destes seres humanos em

sofrimento. Independentemente de que tenha nascido primeiro tenha sido o ovo ou a

galinha, segundo Professor da UNIFESP Dr. Hamer Nastasy Palhares Alves foi o

ovo, não importa qual das patologias são as primárias ou secundárias devemos

disponibilizar ao público interessado mais materiais relevantes e de base científica a

respeito deste assunto em questão para resultar na possibilidade de melhor manejo

sobre os diversos casos clínicos e suas nuances. Esperamos assim dar nossa

pequena contribuição neste aspecto da reabilitação de pessoas com estes

transtornos comórbidos.

Buscar através da Revisão de Artigos Científicos e outras literaturas especializadas

dados que possam contribuir para evidenciar ou refutar a influência dos Transtornos

Comórbidos.

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Encontrar evidencias quantitativas e/ou qualitativas de pesquisas anteriores que

infiram a existência de relação causal tanto da gênese quanto do tratamento dos

transtornos.

Oferecer aos profissionais da área de reabilitação de pessoas com Transtornos de

Uso de Substâncias contribuição para melhorar o manejo quando da existência

destes Transtornos Comórbidos. Ajudar aumentar a efetividade dos tratamentos com

maior adesão pela identificação de transtornos subdiagnosticados sem o necessário

apoio terapêutico. Buscar identificar lacunas que possam existir na literatura

revisada e oferecer propostas de bases científicas e experienciais.

2 - O Que São Drogas

Esta questão extrapola as discussões acadêmicas e técnicas e quase sempre acaba

suscitando acaloradas contendas cujos conteúdos e posicionamentos fogem da

racionalidade, entrando no controverso campo das paixões e irracionalidades

extremadas. Procuraremos nos ater às definições e referências com embasamento

nos conceitos das agências oficiais e instituições acadêmicas e de pesquisa

renomadas.

Na página sítio na rede do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal

de São Paulo / Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM) (8), encontramos uma

definição que ora citamos textualmente:

Origem da palavra: droga vem da palavra droog (holandês antigo) que

significa folha seca. Isto porque, antigamente, a maioria dos medicamentos

era à base de vegetais. Droga: qualquer substância que é capaz de

modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças

fisiológicas ou de comportamento.

Psicotrópico:

-Psico - palavra grega que significa psiquismo (o que sentimos, fazemos,

pensamos).

-Trópico - relaciona-se com tropismo (ter atração por).

-Psicotrópico- atração pelo psiquismo.

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-Droga psicotrópica: é aquela que atua sobre o cérebro, alterando de

alguma forma o psiquismo.

Medicamento ou fármaco: é a droga que atuando em organismos vivos,

provoca efeitos benéficos ou úteis.

Tóxico: é a droga que administrada em organismos vivos produz efeitos

nocivos.

Assim sendo, drogas são substâncias que em contato com um organismo vivo é

capaz de causar nele alterações. Neste nosso artigo de pesquisa com base em

revisão de literatura estamos focados nas chamadas drogas psicotrópicas ou

psicoativas, ou seja, aquelas cuja ação se estabelece principalmente com e no

Sistema Nervoso Central (SNC), sendo de especial interesse àquelas com potencial

de abuso e consequente transtornos aos usuários, suas famílias e à sociedade

como um todo. Usaremos o termo Substâncias Psicoativas (SPAs) ao nos referimos

às drogas em geral.

No sítio do Hospital Israelita Albert Einstein (6), existe uma classificação do Federal

Drug Enforcement Administration – DEA (Administração Federal de Repressão Às

Drogas dos USA), o departamento americano de controle de controle sobre drogas

conforme sua ação sobre o cérebro humano em:

Drogas depressoras do sistema nervoso central (Álcool, Benzodiazepínicos

(tranquilizantes ou calmantes), Barbitúricos (soníferos), Opiáceos e

Inalantes;

Drogas estimulantes do sistema nervoso central (Cocaína, Anfetaminas &

derivados, Nicotina e Cafeína);

Drogas perturbadoras do sistema nervoso central ou alucinógenas

(Mescalina, Maconha (Δ-9 THC), Psilocibina (cogumelo), LSD-25, DMT

(Ayahuasca ou Santo Daime), MDMA (Ecstasy), Anticonérgicos naturais

(lírio) e sintéticos (Artane®, Bentyl®).

Ainda conforme este artigo publicado no sítio acima citado Álcool e Drogas sem

Distorção / NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert

Einstein não existe uso destas substâncias isentas de risco, independentemente de

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serem naturais ou sintéticas lícitas ou ilícitas. No próximo tópico deste artigo nos

propomos a diferenciar os possíveis riscos e os grupos que estão mais susceptíveis

a terem agravos à sua saúde e qualidade de vida por este uso.

Mesmo substância cuja comercialização seja lícita pode trazer transtornos de

diversas dimensões conforme, por exemplo, a nicotina pelo abuso e dependência de

substâncias derivadas da planta Nicotiniana tabacum cujos transtornos fisiológicos e

psicológicos são já há alguns anos, comprovadamente por pesquisas e evidências

clínicas cujos números de mais de 5.000.000 de pessoas no mundo todo ano (9),

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a

principal causa de morte evitável no mundo. A organização estima que um

terço da população mundial adulta, cerca de 2 bilhões de pessoas, sejam

fumantes. Pesquisas comprovam que aproximadamente 47% de toda a

população masculina mundial e 12% da feminina fumam.

No próximo capítulo discorremos mais sobre a ação e a possibilidade de

desenvolvimento do uso nocivo: abuso ou dependência de SPAs.

3 - O que são transtornos por uso de substâncias (TUS)

Apesar de o senso comum acreditar ser o uso de SPAs um fenômeno recente a

relação das pessoas nas diversas épocas e culturas humanas é algo ancestral,

possivelmente mais antigo que os primeiros registros históricos. Da Silva (2016, p.2)

nos propõe,

O uso de substâncias psicoativas é um fenômeno que acompanha a

humanidade em diversos períodos de sua história, variando segundo

critérios relativos a cada cultura, a cada época. Ao longo da história, os

homens utilizaram os produtos naturais para obter um estado alterado de

consciência, em vários contextos como no religioso, místico, social,

econômico, medicinal, cultural, psicológico, militar e principalmente na

busca do prazer. A alteração deste estado de consciência tinha por objetivo

proporcionar melhor ligação com o sobrenatural/divino, como no caso do

álcool que era usado para favorecer o contato com os deuses.

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Como podemos perceber pela citação do autor, este fenômeno não é recente, nem

tão pouco restrito a esta ou àquela cultura específica. Este fenômeno antropológico

transcende o tempo e o espaço, porém o que pretendemos aqui neste pequeno

artigo de pesquisa é trata-lo na sua contemporaneidade contextualizando-o no

tempo presente e suas consequências nas sociedades atuais: globalizadas e

consumistas.

Embora continuem a existir usos ritualísticos, religiosos e recreativos, este fenômeno

social trás na atualidade consequências na saúde pública especialmente

preocupante na saúde mental, pois como comentado no tópico 1 desta pesquisa tais

substâncias têm um alto potencial de abuso e de dependência quando de seu uso

mal adaptado. Figle et al (2010, p. 5) fazem uma distinção acerca das possibilidades

de relação das pessoas com as SPAs:

Não existe uma fronteira clara entre uso, abuso e dependência. Poderíamos

definir uso como qualquer consumo de substâncias, seja para experimentar,

seja esporádico ou episódico; abuso ou uso nocivo como o consumo de

substâncias já associado a algum tipo de prejuízo (biológico, psicológico ou

social); e por fim, dependência como o consumo sem controle, geralmente

associado a problemas sérios para o usuário. Isto nos dá uma ideia de

continuidade, como uma evolução progressiva entre os níveis de consumo:

os indivíduos passariam, inicialmente, por uma fase de uso, alguns

evoluiriam posteriormente para o estágio de abuso e, finalmente, alguns

destes últimos tornar-se-iam dependentes. Portanto, nem todo uso de álcool

ou drogas é devido à dependência. Na verdade, a maior parte das pessoas

que apresentam uso disfuncional não é dependente. Estudos populacionais

demonstram que das pessoas que fazem uso nocivo do álcool, 60% não

progredirão para a dependência nos próximos dois anos, 20% voltarão para

o uso considerado normal e 20% ficarão dependentes.

Como podemos perceber existe clara distinção entre os três tipos de relação ao

consumo pelas pessoas que fazem uso de SPAs, porém a fronteira que separa cada

tipo quase sempre não é clara, pois características idiossincráticas pessoais,

contextos de uso, presença de outras comorbidades psicopatológicas podem

confundir e distorcer uma avaliação precisa e clara. No uso esporádico os prejuízos,

quando existem são pontuais e agudos, quase sempre reversíveis; já no uso abusivo

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existem consequências mais duradouras, embora quase sempre reversíveis e o uso

pode voltar a ser de baixo risco. Na dependência, conforme Edwards et al (2005,

p.61) não existe a reversibilidade para o uso de baixo impacto na vida e saúde do

usuário.

Reinstalação da síndrome da dependência

Quando se dá uma recaída, o período de volta ao estágio prévio da

síndrome de dependência varia bastante. Tipicamente, a pessoa com grau

moderado de dependência levará algumas semanas ou meses para

reinstalá-la, talvez retrocedendo uma ou duas vezes durante esse período.

Já o paciente gravemente dependente se diz “entregue” poucos dias depois

de começar a beber, embora mesmo aqui haja exceções: no primeiro dia ele

pode ficar anormalmente bêbado e se surpreender por ter perdido a

tolerância. Enfretanto sintomas graves de abstinência e bebendo para se

aliviar; a experiência subjetiva de compulsão estará reinstalada, e o antigo

padrão de beber terá se firmado. Um dos aspectos mais intrigantes desta

condição é que uma síndrome que pode ter levado anos para se

desenvolver pode ser integralmente reinstalada 72 horas após o indivíduo

voltar a beber, ou até antes disso.

O uso nocivo também não pode, nem deve ser caracterizado apenas pela

quantidade ou toxidade da substância, pois a existência de múltiplos fatores

etiológicos que juntos confluirão ou não para a existência desta modalidade de

relação, especialmente na relação de dependência devem ser analisados pelos

profissionais de saúde mental sempre de modo longitudinal e não apenas em

situações agudas.

Dalgalarrondo (2008) nos traz, de modo sucinto, distinções mais claras entre abuso

e dependência:

O Abuso de substâncias psicoativas ocorre quando há uso recorrente

ou contínuo de uma substância psicoativa, e este uso leva a

prejuízos ou sofrimento;

Há, na dependência um grande envolvimento do sujeito com a

substância; ele gasta muito tempo (e interesse afetivo) em atividades

que implicam a obtenção ou o consumo da substância.

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem inserido na Décima Edição do Código

Internacional de Doenças (CID-10) os critérios que são sugeridos para o diagnóstico

pelo profissional de saúde mental para identificação da presença da dependência de

substância, seguindo a presença de três ou mais dos critérios nos últimos 12 meses

(2):

1) Um desejo forte ou compulsivo para consumir a substancia;

2) Dificuldades para controlar o comportamento de consumo de substancia

em termos de início, fim ou níveis de consumo;

3) Estado de abstinência fisiológica quando o consumo é suspenso ou

reduzido, evidenciado por: síndrome de abstinência característica; ou

consumo da mesma substancia (ou outra muito semelhante) com a intenção

de aliviar ou evitar sintomas de abstinência;

4) Evidência de tolerância, segundo a qual há a necessidade de doses

crescentes da substancia psicoativa para obter-se os efeitos anteriormente

produzidos com doses inferiores;

5) Abandono progressivo de outros prazeres ou interesses devido ao

consumo de substancias psicoativas, aumento do tempo empregado em

conseguir ou consumir a substancia ou recuperar-se dos seus efeitos;

6) Persistência no consumo de substancias apesar de provas evidentes de

consequências manifestamente prejudiciais, tais como lesões hepáticas

causadas por consumo excessivo de álcool, humor deprimido consequente

a um grande consumo de substancias, ou perturbação das funções

cognitivas relacionada com a substancia. Devem fazer-se esforços para

determinar se o consumidor estava realmente, ou poderia estar, consciente

da natureza e da gravidade do dano.

Como podemos perceber pelas informações acima descritas as dependências

químicas já é por si só causa de grande sofrimento e prejuízos pessoais e sociais,

porém, como procuraremos trazer nos próximos tópicos a presença de outras

psicopatologias em concomitância, isto é, comorbidades coexistindo com estas

dependências, agravando e sendo por elas agravadas.

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4 – O que preconiza uma reabilitação psicossocial

A Reforma Psiquiátrica tornada oficial pela Lei Paulo delgado como ficou conhecida

a Lei n. 10.216/2001 (14) oficializou, porém não extinguiu de fato o tratamento asilar

no Brasil, seja para os usuários portadores de outros transtornos, seja para os

usuários com transtornos decorrentes do abuso e de dependências de substancias.

Ainda persiste a existência de muitas instituições da rede privada, sejam particulares

com fins lucrativos, sejam privadas de interesse público sem fins lucrativos, sendo

estas últimas especialmente ligadas a alguma denominação religiosa.

A Lei n. 10.216/2001 (13) descreve as modalidades possíveis de internação

psiquiátrica: as voluntárias, as involuntárias e as compulsórias. Para amparar a

compreensão de tais situações, seguem alguns apontamentos com vistas a

contribuir no debate:

Qualquer modalidade de internação deve obedecer aos estritos limites

definidos pela lei, sendo obrigatoriamente precedida de “laudo médico

circunstanciado que caracterize os seus motivos” (art. 6º, caput). É vedada

a internação, mesmo quando imposta como medida de segurança, sem a

recomendação médica de sua real necessidade. Neste momento, achamos

muito importante lembrar que a diretriz fundamental da política pública

aponta para um trabalho desenvolvido em equipe multidisciplinar, em uma

lógica interdisciplinar. O que vale dizer que, mesmo que a recomendação

médica seja aqui o foco da questão, o trabalho médico não é previsto de

forma isolada do trabalho da equipe como um todo.

A cultura da institucionalização das pessoas com prejuízos e sofrimentos

decorrentes do uso nocivo de SPAs permanece arraigado no senso comum

perpassando até mesmo círculos onde se esperava o cumprimento da lei

antimanicomial, tornando a possibilidade de tratamento e reabilitação um sucedâneo

do nosso sistema prisional, que não recupera nem reabilita, somente pune muitas

vezes as vítimas do próprio sistema que deveria servi-los e protege-los.

Discorreremos aqui sobre as internações voluntárias em instituições que conforme

versa a Lei 10.216 que preconiza a prestação de serviços a serem desenvolvidos

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por equipe técnica multidisciplinar, onde a medicina e a psiquiatria são parte

integrante desta interdisciplinaridade e não capítulo à parte.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 2011 uma

Resolução Colegiada de n.º 029/2011 (16) regulando e disciplinando as condições

mínimas de funcionamento das Comunidades Terapêuticas, flexibilizando e

atenuando as exigências da norma anterior a 101/2001, pois o número crescente

desta modalidade de instituição cresceu de forma descontrolada no rastro da

chamada “Epidemia do Crack”, sendo que a maioria delas não tinha qualquer

estrutura física mínima e um projeto terapêutico visando à reabilitação e o

tratamento criterioso com base nos direitos humanos e por conta de sua vinculação

com instituições religiosas tende a maioria aplicar o chamado modelo moral, ou seja,

não um agravo à saúde em suas diversas dimensões como preconiza a CID-10 da

OMS e o Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais Versão IV (DSM-

IV) da Associação Psiquiátrica Americana aceitos mundialmente como referências.

O governo brasileiro quando da promulgação da lei 10.216/2001 criando entre outras

estruturas os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) deixou uma lacuna que

somente em 2012 através da instituição de Unidade de Acolhimento para pessoas

com necessidades decorrentes do uso de Crack, Álcool e Outras Drogas (Unidade

de Acolhimento), no componente de atenção residencial de caráter transitório da

Rede de Atenção Psicossocial, através da Portaria 121 de 25 de janeiro de 2012

(17) para pessoas com transtornos em níveis de gravidade que os modelos de

CAPSad (álcool e outras drogas) não estavam aparelhados nem física ou de pessoal

capacitado para modelos residenciais, pois esta demanda estava sendo mal

direcionada para as clínicas psiquiátricas centradas quase unicamente em sua

maioria no modelo médico, biológico e farmacológico e, nas comunidades

terapêuticas cujo modelo citamos acima e não atendem às bases humanistas e aos

pressupostos teóricos e legais da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial.

A Portaria 121/2012 trata do funcionamento e da estrutura das Unidades de

Acolhimento possui requisitos mais regidos quanto à composição da equipe técnica

multidisciplinar, como abaixo citamos textualmente:

Art. 8º A Unidade de Acolhimento Adulto deverá observar os seguintes

requisitos específicos:

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... II - contar com equipe técnica mínima, composta por profissionais que

possuam experiência comprovada de dois anos ou pós-graduação lato

sensu (mínimo de 360 horas) ou stricto sensu (mestrado ou doutorado) na

área de cuidados com pessoas com necessidades de saúde decorrentes do

uso de crack, álcool e outras drogas, na seguinte proporção:

a) profissionais com nível universitário na área da saúde, com a presença

mínima de 1 (um) profissional de saúde presente em todos os dias da

semana, das 7 às 19 horas;

b) profissionais com nível médio concluído, com a presença mínima de 4

(quatro) profissionais presentes em todos os dias da semana e nas 24 (vinte

e quatro) horas do dia.

... § 2º Os profissionais de nível universitário na área da saúde poderão

pertencer às seguintes categorias profissionais:

I - Assistente social;

II - Educador físico;

III - Enfermeiro;

IV - Psicólogo;

V - Terapeuta Ocupacional; e

VI - Médico.

Não só a composição e capacitação contínua desta equipe são imprescindíveis para

a consecução de serviços de qualidade e efetividade aos usuários, pois manter tal

grupo de profissionais exige um dispêndio financeiro considerável em um país

sempre carente de recursos para áreas tão importantes como a saúde mental que

tem agravos em outras áreas da saúde e da economia e dos orçamentos estatais.

Imprescindível se faz é a sinergia como esta equipe deve funcionar, com cada

profissional se colocando como parte importante e assim também vendo e tratando

seus colegas de equipe, que em última análise são os prestadores de serviços aos

cidadãos, seus verdadeiros patrões.

A saúde é vista hoje como um conjunto de serviços que só funciona efetivamente a

partir da construção e operação de redes tecidas conforme as necessidades

específicas dos usuários em seus territórios e comunidades, assim sendo a

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supracitada portaria nos oferece a possibilidade de serviços onde o foco é a oferta

ao cliente usuário de condição de foco central de toda a estrutura:

Art. 10. As ações a serem desenvolvidas pelas Unidades de Acolhimento e

o tempo de permanência de cada usuário deverão estar previstas no Projeto

Terapêutico Singular.

Parágrafo único. O Projeto Terapêutico Singular será formulado no âmbito

da Unidade de Acolhimento com a participação do Centro de Atenção

Psicossocial, devendo-se observar as seguintes orientações:

I - acolhimento humanizado, com posterior processo de grupalização e

socialização, por meio de atividades terapêuticas e coletivas;

II - desenvolvimento de ações que garantam a integridade física e mental,

considerando o contexto social e familiar;

III - desenvolvimento de intervenções que favoreçam a adesão, visando à

interrupção ou redução do uso de crack, álcool e outras drogas;

IV - acompanhamento psicossocial ao usuário e à respectiva família;

V - atendimento psicoterápico e de orientação, entre outros, de acordo com

o Projeto Terapêutico Singular;

VI - atendimento em grupos, tais como psicoterapia, grupo operativo,

atividades de suporte social, assembleias, grupos de redução de danos,

entre outros;

VII - oficinas terapêuticas;

VIII - atendimento e atividades sociofamiliares e comunitárias;

IX - promoção de atividades de reinserção social;

X - articulação com a Rede intersetorial, especialmente com a assistência

social, educação, justiça e direitos humanos, com o objetivo de possibilitar

ações que visem à reinserção social, familiar e laboral, como preparação

para a saída;

XI - articulação cm programas culturais, educacionais e profissionalizantes,

de moradia e de geração de trabalho e renda; e

XII - saída programada e voltada à completa reinserção do usuário, de

acordo com suas necessidades, com ações articuladas e direcionadas à

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moradia, ao suporte familiar, à inclusão na escola e à geração de trabalho e

renda.

A individualização dos casos pelo número reduzido de residentes, a visão e o

acolhimento com base na singularidade das demandas das necessidades e das

condições de cada usuário. A proposição de um modelo voltado para a cultura da

paz, da cidadania, da consciência política e da autonomia que este modelo pode

oferecer à clientela que demanda de seus serviços, sem assédio moral, com

respeito às suas histórias de vida, suas culturas, suas etnias e suas afetividades e

sexualidades.

A própria expressão de transitoriedade deste modelo de acolhimento vai ao encontro

do que esperamos que a Reforma Psiquiátrica avance na desinstitucionalização de

todo e qualquer agravo de saúde mental, inclusive os com transtornos decorrentes

do abuso e dependência do álcool e outras drogas.

O fortalecimento da Rede de Apoio Psicossocial (RAPS) que ora se encontra um

tanto quanto desarticulada trará benefícios aos usuários destes serviços bem como

seus familiares e companheiros de união estável, pois a internação deve ser breve,

porém o tratamento de um transtorno crônico como as relações maladaptadas com

as SPAs não o são.

5 - O que é Personalidade

Afinal o que personalidade, ouvimos falar com muita frequência nas conversas e

noticiários do dia a dia “que fulano tem muita personalidade”, que “beltrana não teve

personalidade em tal situação”. No geral o uso que senso comum faz desse

vernáculo pouco tem a ver com que utilizamos ou nos referimos em se tratando de

saúde mental, ou seja, de um dos componentes fundamentais da singularidade

humana.

Segundo Ballone & Meneguette (2008) todos nós, consciente ou inconsciente

fazemos um juízo de valor das pessoas com as quais temos algum vínculo com

base em “arquivo” de tipos que atribuímos a tais indivíduos, sendo os mais comuns:

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explosivas, simpáticas, sensíveis, desleais, preocupadas, ansiosas, mentirosas,

amorosas, entre muitos outros. Não que não tenha ou que não o faça, voluntária ou

involuntariamente, consciente ou inconscientemente, parece ser uma necessidade

humanas afetiva mais básicas.

Conforme encontramos em Dalgalarrondo (2008) apud Bastos (1997b):

... uma definição de personalidade bastante elucidativa. Para ele, a

personalidade é o conjunto integrado de traços psíquicos, constituindo no

total das características individuais, em sua relação com o meio, incluindo

todos os fatores físicos, biológicos, psíquicos e socioculturais de sua

formação, conjugação de tendências inatas e experiências adquiridas no

curso de sua existência.

Ainda citando Bastos (1997b) Dalgarrondo (2008) nos acrescenta que embora estes

traços e fatores possam parecer imutáveis, eles são e estão sempre sujeitos a

influências internas e externas ao longo da existência humana, podendo estas

adaptações ou dificuldades em operacionalizar internamente ou em nossos

comportamentos mudanças às quais as vicissitudes da vida nos provocam a nos

adequar, seja de forma transitória ou perene, normal ou patológica. Assim

acrescentamos, para melhor entendimento do conceito de personalidade, o

seguinte:

Ele ressalta ainda uma dimensão essencial do conceito de personalidade,

que é seu duplo aspecto: relativamente estável ao longo da vida do

indivíduo e relativamente dinâmico, sujeito a determinadas modificações,

dependendo de mudanças existências ou alterações neurobiológicas, a

estrutura da personalidade, segundo ele “mostra-se essencialmente

dinâmica, podendo ser mutável – sem ser necessariamente instável – e

encontra-se em constante desenvolvimento”.

Ainda conforme Dalgalarrondo (2008) a origem da palavra personalidade tem uma

complexa dimensão, pois sua origem latina em persona, a máscara usada pelos

atores da antiguidade clássica para encenarem seus papeis e dar vida aos seus

personagens, sendo assim também conforme cita o autor, originária do vernáculo da

mesma língua personare, que significa o que faz ressoar por meio de algo,

ressoando assim de dentro para fora, como também de fora para dentro, ou seja,

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como nós nos mostramos aos outros e como os outros se mostram e nos afetam.

Dalgarrondo (2008) apud Lopes Ibor (1970): “... as duas conotações etimológicas do

termo personalidade apontam para um sentido comum: o autor/ator faz ressoar sua

voz, a sua versão da história, por meio das diversas máscaras, das diversas

personagens que cria.”.

E quando acontece que estes ressoares, adaptações dinâmicas trazem sofrimento à

pessoa, trazendo prejuízos significativos em sua qualidade de vida, agravos à sua

saúde, perda de potencial de se realizar na busca da relativa possibilidade de

felicidade e de inteiração com o meio social, de desfrutar de inteirações afetivas

prazerosas e que lhe tragam e, ao outro que se relaciona satisfação reciproca, não

dependente e sim autônoma dentro dos limites e potenciais de cada um, em

determinada condição e fase da vida.

Conforme o novo MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS

MENTAIS – 5.ª EDIÇÃO (DSM – V) (2014):

Um transtorno de personalidade é um padrão persistente de experiência

interna e comportamentos que se desvia acentuadamente das expectativas

da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no

início da fase adulta, é estável ao logo do tempo e leva a sofrimento ou

prejuízo. (p. 645).

Diversas teorias sobre a personalidade e sua formação têm sido propostas, quase

todas extremadas e desconsiderando ou desqualificando as outras possibilidades de

gênese e desenvolvimento. Em importante artigo Ballone & Meneguette (2008, p.4)

nos provoca a pensar a personalidade desta perspectiva:

Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu,

formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências

singulares que experimentamos e das percepções individuais que temos do

mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser, de

sentir e de desempenhar o seu papel social.

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Não que seja esta a definição de proposição definitiva do que seja realmente

personalidade, porém é uma das mais amplas e abertas a novas possibilidades que

dão espaços a acréscimos de futuros paradigmas, pois a complexidade desta

estrutura dinâmica e sujeita a tantas e diversas influências.

5.1 - O que são Transtornos de Personalidade

Assim como a genética, o ambiente e a vivência formam a personalidade, seria justo

pensar que também estes e outros fatores são desencadeantes de “deformações”

ou transtornos conforme nos afirmam Ballone & Meneguette (2008, p.5) no

supracitado artigo sobre as multiplicidade e diversidade das influências e inferência

na constituição e desenvolvimento dinâmico desta:

A genética do comportamento vem mostrando que não só o

ambiente e nem só o DNA que formam a personalidade. Atualmente

considera-se que os traços tenham um componente genético, porém,

sua manifestação depende de fatores ambientais. O gene carrega o

traço, mas é o ambiente que puxa o gatilho para ele se manifestar.

De qualquer forma, já se tem certeza de que os genes são capazes

de influenciar o comportamento humano. Já foram encontrados

genes que tornam as pessoas mais vulneráveis a comportamentos

agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também foram

detectados genes relacionados à orientação sexual e a vícios como

alcoolismo e tabagismo.

A presença desses genes, entretanto, não significa que a pessoa obrigatoriamente

desenvolverá o comportamento ligado a ele. O que existe é uma predisposição,

geralmente influenciada pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente em

que a pessoa vive. Ter predisposição genética à depressão, por exemplo, não basta

para a pessoa ficar deprimida, pois os mesmos genes são encontrados também em

pessoas não deprimidas.

Componentes importantes da personalidade como o temperamento e outras

características que anteriormente se supunha serem adquiridas somente por

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influências ambientais e culturais, consequentemente seus transtornos, são hoje

estudados e pesquisados em grupos populacionais em caráter transversal de

segmento de longa duração, principalmente com gêmeos, onde conforme Ballone &

Meneguette (2008, p.6):

Os estudos com gêmeos têm revelado a natureza hereditária do perfil

emocional das pessoas. Esses experimentos permitiram concluir que as

principais características da personalidade – como introversão ou

extroversão, vulnerabilidade à neurose ou estabilidade emocional, abertura

ou não a experiências, atenção ou dispersão – são em média 50%

herdadas.

Mesmo em atitudes culturais como a religião, por exemplo, o impacto dos

genes é muito forte. O conservadorismo político, outro exemplo, é um traço

que, segundo estudos da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos,

tem 60% de influência genética. Os pesquisadores dessa universidade

veem acompanhando 8.000 gêmeos, três centenas deles são gêmeos

idênticos e separados da família no nascimento há mais de 20 anos. Os

resultados surpreendem ao mostrar que certos comportamentos antes

considerados fruto do aprendizado são fortemente influenciados pela

genética.

Importante se faz da ênfase em se diferenciar os Transtornos da Personalidade das

Alterações da Personalidade, sendo que o primeiro grupo de transtornos tem

caraterísticas que se mantém estáveis durante o curso da vida da pessoa, enquanto

os do segundo grupo têm sua gênese em decorrência de outros transtornos ou

comorbidades como nos citam Ballone & Meneguette (2009, p.2):

Os Transtornos de Personalidade, ainda segundo a CID-10, são condições

do desenvolvimento da personalidade que aparecem na infância ou

adolescência e continuam pela vida adulta. Esta condição constitucional e

biológica de desenvolvimento diferencia o Transtorno da Alteração da

Personalidade. A Alteração da Personalidade ocorre durante a vida em

consequência de algum outro transtorno emocional, dependência química,

traumatismo craniano, tumores, infecções cerebrais, etc.50% herdadas.

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O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM – 5 (2014, p. 645)

nos descrevem genericamente para os 10 tipos de transtornos mentais nele

apresentados assim:

• Transtorno da Personalidade Paranoide é um padrão de

desconfianças tamanhas que as motivações dos outros são interpretadas

por malévolas.

• Transtorno da Personalidade Esquizoide é um padrão de

distanciamento nas relações sociais e uma faixa restrita de expressão

emocional.

• Transtorno da Personalidade Esquisotípica é um padrão de

desconforto agudo nas relações íntimas, distorções cognitivas ou

perceptivas e excentricidades do comportamento.

• Transtorno da Personalidade Antissocial é um padrão de desrespeito

e violação dos direitos dos outros.

• Transtorno da Personalidade Borderline é um padrão de instabilidade

nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos, com impulsividade

acentuada.

• Transtorno da Personalidade Histriônica é um padrão de

emocionalidade e busca de atenção em excesso.

• Transtorno da Personalidade Narcisista é um padrão de

grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia.

• Transtorno da Personalidade Evitativa é um padrão de inibição social,

sentimento de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa.

• Transtorno da Personalidade Dependente é um padrão de

comportamento submisso e apegado relacionado a uma necessidade

excessiva de ser cuidado.

• Transtorna da Personalidade Obsessivo-Compulsiva é um padrão de

preocupação com ordem, perfeccionismo e controle.

Nos diagnósticos diferencias é de suma importância a distinção também que se

deve observar das Doenças Mentais e os Transtornos da Personalidade, pois as

primeiras tem seu aparecimento em um episódio, podendo inclusive ter sua

remissão por intervenção terapêutica ou mesmo espontânea, enquanto a segunda

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condição a possibilidade de desaparecimento por completo ainda não é possível no

estágio atual da psicologia e da medicina, podendo no máximo serem atenuados os

sintomas conforme no discorrem Ballone & Meneguette (2009, p.3):

E qual seria a diferença entre o Transtorno da Personalidade e a Doença

Mental franca? As doenças mentais ocorrem e se desenvolvem a partir de

um momento definido da vida, tal como são as crises, reações, processos,

episódios e surtos, enquanto os Transtornos da Personalidade, por sua vez,

são maneiras problemáticas de ser, constantes e perenes. As doenças

mentais surgem e os Transtornos da Personalidade são.

Na Esquizofrenia, por exemplo, assim como nos Transtornos do Humor e outros, a

partir de um determinado momento na vida a personalidade, que já era chamada

pré-mórbida, envereda por uma trajetória que se afasta mais e mais do normal

resultando em um episódio agudo. Nos Transtornos da Personalidade o rumo da

personalidade está e sempre esteve algo distante do normal, embora não tenha

obrigatoriamente que piorar cada vez mais, como nos outros processos

psicopatológicos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), citado por Ballone & Meneguette (2009,

p.2) refere-se ao problema sob o título de Transtornos da Personalidade e de

Comportamento, listando-os nos códigos F60 até F69 na CID-10. A OMS descreve

tais transtornos da seguinte maneira:

Estes tipos de condição abrangem padrões de comportamento permanentes

e profundamente arraigados no ser que se manifestam como respostas

inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Elas

representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo

médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se

relaciona com os outros.

6 - A prevalência dos transtornos por uso de substâncias comórbidos aos transtornos da personalidade

A alta incidência de transtornos da personalidade nos usuários de serviço de Saúde

Mental, Álcool e outras Drogas é na maioria das vezes subdiagnosticada por em

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razão destes serviços serem via de regra específico ou para Transtorno por Uso de

Substância (TUS) ou para Saúde Mental, ou mesmo porque é um serviço de

urgência/emergência de um hospital geral ou Unidade de Pronto Atendimento

(UPA). Quando da recepção destes usuários em situação de crise, intoxicação

aguda, síndrome de abstinência, ideação ou tentativa de autoextermínio, surto

psicótico induzido por uso de substância ou falta deste, raramente se investiga dada

às próprias dinâmicas e culturas estabelecidas e reforçadas pelas visões

compartimentadas e especializadas que estabelecem procedimentos que resultam

em uma assistência que crônifica as recidivas, não sendo, portanto, efetivas as

melhoras ou estabilização das psicopatologias comórbidas. Muitos estudiosos, entre

eles Ballone (2008b, p. 3-4) apud Cervila (1999) defendem que os TUS quase

sempre aparecem associados a outros transtornos mentais e comportamentais e em

especial aos transtornos da personalidade:

O curso da dependência vária segundo o tipo de substância, a via de

administração e outros fatores; mas habitualmente é crônico, com períodos

de reagudização e remissão parcial ou total. A investigação indica que,

juntamente com os efeitos desejados das substâncias e das características

do meio ambiente, existem também fatores constitucionais no indivíduo que

facilitam a dependência e que provocam o processo de recaída. Isso

corrobora a fórmula sabidamente válida: fenótipo = genótipo + ambiente.

A fórmula acima significa que, para a dependência, seriam necessários a droga, o

ambiente e as condições de personalidade do dependente. Assim sendo, para a

existência da dependência química se destaca a presença de possíveis outros

transtornos psiquiátricos prévios ao início da conduta adictiva. Com esse enfoque

seria muito oportuno o considerar que esses pacientes possam ter uma alteração

dos sistemas de neurotransmissão-neuromodulacão tanto previamente ao

desenvolvimento da drogadicção, como provocados (e agravados), posteriormente,

pelas próprias substâncias psicoativas que consumem.

A importância de se identificar o mais precocemente, quando dos aparecimentos dos

primeiros sintomas da presença do transtorno por uso de substância no usuário do

serviço ser pesquisado, após sair da fase aguda, da presença de transtornos de

personalidade que potencializa os sintomas e sinais, assim como a gravidade, do

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abuso de substâncias psicoativas, o profissional de saúde certamente contribuirá

positivamente para maior efetividade nas intervenções e ajuda terapêutica,

diminuindo as intercorrências e encaminhando para um serviço que integre atenções

curativas e preventivas, oferecendo psicoeducação ao usuário do serviço como

medida terapêutica de conscientização dos riscos que corre do agravamento dos

transtornos e da importância de manutenção da abstinência e da prevenção de

recaída como estratégias. Ballone (2008b, p.5) apud Koenigs (1985).nos trás uma

reflexão bem oportuna de como os clínicos e pesquisadores podem fazer avançar a

resolubilidade no tratamento dos transtornos de personalidade e dependência do

álcool e outras drogas:

Os Transtornos de Personalidade e a comorbidade a eles associada, entre

elas o muito frequente consumo de substâncias, formam um terreno onde

tanto as neurociências como a psicopatologia têm um grande campo de

investigação. Um dos principais pontos dessa investigação tem sido a busca

de uma característica adictiva entre os traços da personalidade dos

pacientes.

Atualmente, entretanto, não se pode falar de uma personalidade

especificamente dependente de substâncias, tomando-se por base os

Transtorno de Personalidade específicos e definidos de forma categorial

pelo CID.10 e DSM.IV. Nesse sentido, o consumo exagerado de

substâncias pode servir até, como a automedicação de certos tipos de

personalidade, pretendendo atenuar impulsos agressivos, a disforia, a raiva

e depressão. Dessa forma os Transtornos de Personalidade se associam

muito mais com a dependência de substâncias que outros diagnósticos

psiquiátricos.

Estas alterações na personalidade tornam a vida do usuário repleta de

intercorrências e crises que podem incapacita-lo, prejudicando a qualidade da sua

vida e trazendo transtornos sociais, biológicos, criminais entre outros. Quando da

cessação do uso estas mudanças quase sempre desaparecem e diferentemente dos

transtornos da personalidade deixam de constituir embaraços e agravos à pessoa,

portanto é imprescindível o diagnóstico diferencial e a condução adequada do caso

como exemplifica Ballone (2008b, p.8):

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As alterações da personalidade também podem ocorrer no contexto de uma

Dependência de Substância, especialmente no caso de uma dependência

de longa duração. O médico deve investigar atentamente a natureza e

extensão do uso da substância. Se o profissional deseja indicar um

relacionamento etiológico entre a alteração de personalidade e o uso de

uma substância, a categoria Sem Outra Especificação pode ser usada para

a substância específica (por ex., Transtorno Relacionado à Cocaína Sem

Outra Especificação).

Ballone (2008b, p.8) nos chama a atenção para a importância da identificação e

diferenciação, pois nas alterações existe a possibilidade de remissão completa após

se conseguir a retirada das substâncias são visíveis as melhoras nas condições e

qualidade de vida do paciente:

Quando o dependente passa por um período de abstinência relativamente

longo (de 6 a 12 meses) as Alterações na Personalidade desaparecem e a

personalidade prévia volta a existir. Diz-se que a pessoa "voltou a ser o que

era". Caso haja uma recaída no uso das drogas, as Alterações da

Personalidade se manifestam em muito menos tempo que da primeira vez.

Isso é tão evidente que na maioria das vezes os familiares do dependente

percebem que ele voltou a usar drogas pelas alterações de conduta,

comportamento e relacionamento que surgem quase de repente.

Um adequado manejo tanto do diagnóstico quanto na condução do processo de

tratamento com base na identificação e diferenciação dos transtornos por uso de

substância comórbidos com alteração da personalidade ou transtorno da

personalidade aumentaram a efetividade e a possibilidade de sucesso e um

prognóstico melhor para o usuário do serviço de saúde mental, álcool e outras

drogas contribuindo assim para uma vida mais produtiva e de qualidade para estas

pessoas e suas famílias.

7 - Como as comorbidade de uso por substâncias interferem na adesão e segmento da reabilitação psicossocial dos pacientes com transtornos e problema de personalidade

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Ao abordamos a questão dos agravos que os transtornos de personalidade causam

no curso, tratamento e prognóstico nos usuários dos serviços de saúde mental,

álcool e outras drogas, ou seja, portadores de TUS e TM comórbidos, devemos ir à

gênese que eliciou esta condição atual como nos propões Ballone (2008b, p.1),

Quando tentamos relacionar o abuso de substâncias ou dependência

química com Transtornos de Personalidade, estamos pensando

predominantemente no adolescente, no jovem e/ou no adulto jovem. A

classificação correta para os tipos de comportamentos problemáticos,

possivelmente decorrentes de Transtornos de Personalidade é: Transtornos

Comportamentais Disruptivos. Entre esses estão o Transtorno Desafiador e

de Oposição, o Transtorno de Conduta e o Personalidade Psicopática.

Todos eles chamados de comportamentos antissociais.

Entretanto, conforme veremos aqui, uma consideração muitíssimo

importante em relação à dependência química é a Alteração da

Personalidade, um diagnóstico quase nunca considerado e que fará uma

brutal diferença no prognóstico dos dependentes.

Como citamos nos capítulos anteriores a alta prevalência de TP em usuários de

serviços para reabilitação de pessoas com TUS é um complicador e mesmo, em

muitos casos, um impeditivo, pois além do sofrimento causado ao doente e a sua

família, causam desde suas primeiras manifestações dificuldades em diagnósticos e

tratamento, pois muitos de seus sinais e sintomas se confundem e mimetizam

condições que confundem às vezes profissionais de saúde mental mesmo os mais

treinados e habilitados, quanto mais os profissionais e técnicos generalistas e leigos.

Constantemente o usuário ingressa na rede pela urgência ou emergência em

condições de crise que dificultam um exame mais acurado pela própria precariedade

destes serviços em nosso país, seja pela baixa capacitação ou preconceito com o

qual as pessoas portadoras de transtornos mentais e usuários de SPAs são tratadas

tanto pela população e, geral e até mesmo pelos profissionais de saúde. Uma

anamnese mais acurada, o uso de testes e questionários simplificados,

questionamentos com familiares e outros acompanhantes poderiam ajudar na

identificação da existência destes transtornos e seu efetivo segmento dentro do

sistema e da rede de saúde.

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Muitos destes usuários que chegam ao serviço de entrada da rede de saúde têm

uma avaliação diagnóstica incorreta, subavaliada perdendo-se uma oportunidade de

conduzir um caso de desfecho satisfatório e segmento de remissão dos sintomas e

melhor prognóstico futuro.

Mesmo psiquiatras e psicólogos, muitas vezes, como nos demonstra Ballone

(2008b, p. 9), têm dificuldade em realizar este diagnóstico diferencial entre uma crise

de um Transtorno de Personalidade e ou um Transtornos por Uso de Substância,

pois como nos informa o supracitado autor as Alterações ou Problemas de

Personalidade são muito comuns nos usuários e abusadores de SPAs,

As alterações na personalidade da pessoa dependente são um problema

seríssimo. Alterações de Personalidade podem ser confundidas com os

Transtornos da Personalidade, que são muito mais graves, definitivos e que

não se revertem, enquanto as Alterações da Personalidade são reversíveis

depois que o dependente passa um período abstinente.

Os dependentes costumam obedecer a um padrão de personalidade ao

longo do tempo de dependência. Existem traços e características de

comportamento, relacionamento e percepção da realidade comum aos

dependentes. Isso não quer dizer que eles fiquem todos com a mesma

personalidade, mas que, dentro da individualidade de cada um, eles

apresentam características comuns uns com os outros.

Faz-se imprescindível a habilitação dos técnicos e profissionais de nível superior,

seja nas unidades especializadas em saúde mental, álcool e outras drogas, seja nas

de atendimentos geral de saúde, a identificação e o manejo correto destes casos e

que sejam tratados nos seus próprios territórios assim que as condições se

estabilizarem e o usuário e seus familiares, quando houver, recebam as orientações

psicoeducativas e o encaminhamento aos programas existentes em sua

comunidade.

Sabemos que ambas as entidades se potencializam e dificultam a aderência ao

segmento de uma reabilitação psicossocial efetiva, porém é possível que se ofereça

aos usuários dos serviços da rede de saúde pública programas que não

compartimentalizem o problema, que o conduzem e o manejem de forma multi e

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transdisciplinarmente, com uma visão e cuidados humanistas e respeitando a

singularidade de cada pessoa.

8 – Conclusões

Optamos por iniciar nossas conclusões desta pesquisa através de Revisão de

Literatura com os 13 Princípio para o Tratamento Efetivo do NIDA(22) (Instituto

Nacional sobre abuso de drogas dos Estados Unidos), pois ele contempla diversos

princípios, especialmente o de número 1, 3, 4, 6, 7, 8 e 13, como listamos a seguir:

PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO EFETIVO: 

PRINCÍPIO 1 - Um único tratamento não é apropriado para todos os

indivíduos.

PRINCÍPIO 2 - O tratamento precisa estar prontamente disponível.

PRINCÍPIO 3 - Um tratamento eficaz é aquele que atende às diversas

necessidades dos indivíduos e não apenas ao uso de drogas.

PRINCÍPIO 4 - O tratamento de um indivíduo e o plano de serviços devem

ser continuamente avaliados e modificados quando necessário para garantir

que o plano atenda às necessidades mutantes da pessoa.

PRINCÍPIO 5 - A permanência no tratamento por um período adequado de

tempo é essencial para sua eficácia.

PRINCÍPIO 6 - Aconselhamento (individual e / ou em grupo) e outras

terapias comportamentais são componentes cruciais para um tratamento

eficaz.

PRINCÍPIO 7 - Medicações é um elemento importante no tratamento de

vários pacientes, especialmente quando combinadas com aconselhamento

e outras terapias comportamentais.

PRINCÍPIO 8 - Indivíduos com distúrbios mentais que sejam dependentes

das drogas devem ser tratados de maneira integrada de ambos os

problemas.

PRINCÍPIO 9 - Desintoxicação médica é apenas o primeiro estágio do

tratamento e por si mesma contribui pouco para mudança em longo prazo

de uso de droga.

PRINCÍPIO 10 - O tratamento não precisa ser voluntário para ser eficaz.

PRINCÍPIO 11 - O possível uso de droga durante o tratamento deve ser

monitorado continuamente.

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PRINCÍPIO 12 - Programas de Tratamento devem proporcionar avaliação

para AIDS/ HIV, Hepatite B e C, Tuberculose e outras doenças infecciosas

e Aconselhamento para ajudar pacientes a modificarem comportamentos

de risco de infecção.

PRINCÍPIO 13 - A recuperação da Dependência Química pode ser um

processo em longo prazo e frequentemente requer vários episódios de

tratamento.

Já presenciamos casos inúmeros de recuperandos já institucionalizados que eram

vítimas de uma percepção diagnóstica reducionista, de uma semiologia sem

embasamento para construir, a partir de bases e pressupostos teóricos uma visão

sistêmica e singular daquele que sofre anos a fio, juntamente com a sua família, pois

as comorbidades são, quando muito, vistas e “tratadas” em separado.

Estes princípios, longe de terem todas as respostas para tão graves e complexos

problemas, com tantos agravantes sociais e econômicos, podem contribuir, em

nosso entendimento, com alguns dos critérios que consideramos fundamentais para

a reabilitação psicossocial humanizada, de adesão, seguimento e de resolutividade

que merecem e ao qual têm direito os usuários dos serviços de saúde mental, álcool

e outras drogas, bem como os brasileiros e brasileiras que têm o SUS como suas

únicas alternativas para minimizar os agravos dos sofrimentos que cada vez mais

precisam ser enxergadas de maneira sistêmica e integrada, operacionalizada em

rede de modo humanizado e percebidos em sua singularidade, dentro de princípio

de territorialidade e peculiaridades locais e culturais fazer avançar as Políticas e

Ações de Saúde Pública em prol de nossa gente excluída. Somos realistas, porem,

não perderemos jamais nossas esperanças em uma saúde centrada no ser humano

que sofre.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1 – BALLONE, G.J.; MENEGUETTE J.P. - Teoria Geral da Personalidade , in.

internet PsiqWeb, disponível em: www.psiqweb.med.br , atualizado em 2008.

2 – OMS - Neurociência de consumo e dependência a substâncias psicoativas,

- Genebra, 2004, disponível em:

www.who.int/substance_abuse/publications/en/Neuroscience_P.pdf

3 – BALLONE, G.J.; MENEGUETTE, J.P. - Transtornos da Personalidade,

PsiqWeb, internet, disponível em www.psiqweb.med.br , revisto em 2009.

4 - DSM.IV - Transtornos Mentais Relacionados Ao Uso De Substâncias,

disponível em:

www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerClassificacoes&idZClassif

icacoes=256 , acessado em 10h:04min de 08/05/2016

5 – GALVÃO, Ana Luiza; ABUCHAIM, Cláudio Moojen; IGLESIAS Carlos Alberto

Salgado - Transtornos Psiquiátricos Relacionados ao Uso de Substâncias Psicoativas, disponível em https://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/transtornos-

psiquiatricos-relacionados-ao-uso-de-substancias-psicoativas, acessado em

10h:13min de 08/05/2016.

6 - NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

(www.einstein.br/alcooledrogas) Classificação das drogas - Site Álcool e Drogas

sem Distorção, disponível em

http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/drogas_classificacao.htm, acessado

em 10h:17min de 08/05/2016

7 - NEAD - Núcleo Einstein de Álcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein

(www.einstein.br/alcooledrogas) / Conceito de Dependência Química - Site Álcool

e Drogas sem Distorção, disponível em

http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/drogas_classificacao.htm, acessado

em 10h:19.min de 08/05/2016.

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8 - Departamento de Psicobiologia UNIFESP/EPM / Definições Drogas -, disponível

em http://www2.unifesp.br/dpsicobio/drogas/defini.htm, acessado em 19h:32min de

20/04/2016.

9 – Portal Brasil / Cigarro mata mais de 5 milhões de pessoas, segundo OMS –

disponível em www.brasil.gov.br/saude/2014/08/cigarro-mata-mais-de-5-milhoes-de-

pessoas-segundo-oms, acessado em 17h:25min de 08/05/2016.

10 – DALGALARRONDO, Paulo / Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais /– 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008.

11 – FIGLIE, Neliana Buzi; BORDIN, Selma; LARANJEIRAS, Ronaldo [orgs.] Aconselhamento em dependência química / 2. ed. – São Paulo: Roca, 2010.

12 - DA SILVA, Jorge Luiz Barbosa / Visão Histórica e Contextualizada do Uso de Drogas. Edição 133 - fevereiro – 2016, disponível em

www.direcionaleducador.com.br/drogas/modulo-i-%E2%80%93-visao-historica-e-

contextualizada-do-uso-de-drogas, acessado em 19h:30min de 15/02/2016

13 - GRIGOLO, Tânia Maris; MORETTI-PIRES, Rodrigo Otávio [orgs.]. Curso de Atualização em Álcool e Outras Drogas, da Coerção à Coesão. Políticas de saúde mental e direitos humanos [Recurso eletrônico] / Universidade Federal de

Santa Catarina; - Florianópolis : Departamento de Saúde Pública/UFSC, 2014,

disponível em https://unasus.ufsc.br/alcooleoutrasdrogas/files/2015/03/Modulo-2.pdf,

acessado em 20h:15min de 14/03/2016.

14 – BRASIL / LEI No 10.216, de 6 de abril de 2001, disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10216.htm, acessado em

10h:45min de 08/05/2016 .

15 - FERREIRA, Aline Cristina Zerwes; CAPISTRANO, Fernanda Carolina; MAFTUM

Mariluci Alves; PUCHALSKI, Kalinke Luciana; CARDOSO, Ana Lúcia /

Caracterização de Internações de Dependentes Químicos em uma Unidade de Reabilitação / Cogitare Enferm. 2012 Jul/Set; 17(3):444-51, disponível em

http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/viewFile/29284/19033, acessado

em 06h:21min de 05/04/2016 .

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16 – BRASIL / RESOLUÇÃO - RDC Nº 29, DE 30 DE JUNHO DE 2011 / Ministério

da Saúde Agência Nacional de Vigilância Sanitária, disponível em

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2011/res0029_30_06_2011.html.

17 – BRASIL / Portaria Nº 121, de 25 de janeiro de 2012 / Ministério da Saúde,

Gabinete do Ministro, disponível em

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0121_25_01_2012.html.

18 – EDWARDS, Griffith; MARSHALL, E. Jane; COOK, Christopher C. H / O Tratamento do Alcoolismo: um guia para profissionais de saúde – 4. ed. – Porto

Alegre: Artmed, 2005.

19 – AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION / Transtornos Relacionados a Substâncias - Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM – 5 – 5. ed. Porto Alegre : Artmed, 2014.

20 – BALLONE, G.J. - Drogadicção e Personalidade - in. PsiqWeb, Internet,

disponível em www.psiqweb.med.br, revisto em 2008, acessado em 05h:35min de

02/02/2016.

21 – BRASIL / PORTARIA Nº 121, DE 25 DE JANEIRO DE 2012, disponível em

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2012/prt0121_25_01_2012.html,

acessado em 15h:46min de 13/05/2016.

22 – INFODROGAS / Os 13 princípios do NIDA de Tratamento Eficaz, disponível em https://infodrogasdotnet.wordpress.com/13-principios-nida/, acessado

em 16h:38min de 13/05/2016.