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Revista Ohun, ano 4, n. 4, p.212-231, dez 2008 ISSN 1807-595479
A TRAJ ETRIA DO GRAFFITI MUNDIAL
William da Silva-e-Silva
Resumo:
Atualmente o graffiti realizado em inmeros pases. Em diferentes lugares do globoterrestre, a exemplo da Blgica, Canad, China, Cuba, Espanha, EUA, Frana, Per eSenegal, a escritura de rua mantm forte presena.
Na China a inscrio urbana um fenmeno novo. Recorrente atualmente nas cidadesde Beijing e Xangai onde foi transformada em anncios de publicidade educativa sobredoenas contagiosas.
Tal fenmeno chegou ao Brasil em 1964.
A histria desta interveno parietal se mistura com a histria pessoal dos artistas, taiscomo Keith Haring, Dmtrius, Alex Vallauri e Jean Michel Basquiat (um dos
primeiros a pintar em telas utilizando tcnicas e materiais de graffiti).
Palavras-chaves: graffiti, cidade, arte..
Summary:
Currently graffiti is carried through in innumerable countries. In different places of theglobe, the example of Belgium, Canada, China, Cuba, Spain, U.S.A., France, Per andSenegal, the street writing keeps fort presence.
In China the urban inscription is a new phenomenon. Recurrent currently in the cities ofBeijing and Xangai where it was transformed into announcements of educativeadvertising on contagious diseases.
Such phenomenon arrived at Brazil in 1964.
The history of this parietal intervention if mixture with the personal history of theartists, such as Keith Haring, Dmtrius, Alex Vallauri e Jean Michel Basquiat (one ofthe first ones to paint in screens being used techniques and materials of graffiti).
Word-keys: graffiti, city, art.
Mestrando em Psicologia Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, email:[email protected]
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Graffiti uma arte grfica, uma comunicao visual capaz de t ramitar mensagens
atravs de desenhos, smbolos e letras elaborados a partir de um repertrio simblico
que pode ser comum sociedade em geral ou de conhecimento restrito a pequenos
grupos de sujeitos. Pode ser de compreenso clara ou no na medida em que tanto possvel que a interveno fornea uma leitura fcil como distorcida das imagens e
letras. O graffiti uma representao iconogrfica. Para que exista uma escritura de rua
necessrio pelo menos uma forma imagtica, que pode ser uma palavra ou um
smbolo. Geralmente criado com tinta leo em jato(s) de spray, uma expresso
plstica que retrata os mais variados temas ou simplesmente constitui assinaturas
elaboradas. A produo materializada sobre paredes e muros, suportes que podem ser
internos ou externos, privados ou pblicos.
O impacto visual que provoca, tanto atravs das grandes dimenses que geralmente
assume como pelas cores fortes, vibrantes e contrastantes que utiliza um choque que
altera a disposio esttica das cidades modernas.
Geralmente uma criao elaborada com tinta leo em jato de spraye em cores e
dimenses que propiciam uma viso as longas distncias.
A escritura urbana uma prtica discursiva exercida por uma minoria social -
majoritariamente homens, jovens, negros, pobres, moradores de subrbios e favelas.
Um dispositivo simblico usado para expressar, perante a sociedade, suas recusas e
expectativas. Com seus temas, cdigos e relaes simblicas so na verdade complexose variados registros do imaginrio social. Identidades, tanto a individual, como a grupal
so criadas e nutridas pelo imaginrio social, para o caso que nos interessa pelo
imaginrio do graffiteiro carioca.
Acontece, algumas vezes, do graffiteiro receberspray, pincis e tinta ltex, e at
dinheiro pelo servio prestado. Auxlio que tanto pode ser oriundo do proprietrio do
muro, como de prefeituras. Contudo, qualquer tipo de incentivo a esta arte, at o
momento, responsvel por patrocinar um percentual nfimo de intervenes. O fato
que aescritura de rua tem sua confeco custeada com o dinheiro do artista, que paga o
deslocamento no campo (passagens, lanches), os materiais usados, enfim, tudo custo sai
bolso do graffiteiro.
No centro da cidade do Rio de Janeiro so recorrentes as pinturas de crianas,
graffiteirose assinaturas dos artistas.
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As crianas so mostradas nos muros indiferentes ao gnero - meninos e meninas, s
vezes bebs. Os graffiteiros,por outro lado,so quase sempre representados no sexo
masculino, homens com latas de spraynas mos ou nos bolsos. Ambos, crianas e
graffiteiros, por costume de seus criadores so inseridos em enredos, ou, pelo menos,
fazem parte de um tema.
A representao de adultos tambm realizada com certa regularidade. Aparecem,
contudo, poucas pinturas de natureza morta e arte abstrata.
Tadavia os temas mais recorrentes so a paz, a desigualdade social, o amor e f
(explcita ou implcita).
J as assinaturas so as transposies para as edificaes e muros do apelido do escritor
de rua, nica palavra, solitria, sem tema, sem personificaes. Elaboraes em letras
grandes, coloridas, compreensveis aos leigos ou em forma de tatuagem tribal
codificada.
Os apelidos so obrigatrios entre os membros deste grupo. E o codinome, tanto pode
ser uma inveno auto-atributiva dos iniciados na arte, como uma imposio de sua
crew.
Observaes realizadas revelaram altos ndices de associaes interpessoais dentro
deste universo restrito, isto , a maior frao dos graffitisexpostos aqui que so
amostras qualitativamente representativas do universo composto pelos graffitis do
centro da cidade do Rio de Janeiro, no foram realizadas por indivduos isolados, maspor homens (genericamente falando) organizados em grupos - crews.
Tudo o que vimos at agora sobre esta arte est sujeito a influncias culturais locais que
acabam moldando o aspecto final do graffiti de cada regio.
Todavia, a escritura de rua foi fortemente marca pelo surgimento do hip-hop, um
movimento cultural que emerge em Nova Iorque, EUA ao final da dcada de 60 nos
subrbios de Bronx, Harlem, Brooklyn, redutos de negros e latinos, bairros de extrema
pobreza, violncia, racismo, trfico de drogas. Gangues de rua se confrontavam armadas
belicamente pelo domnio territorial. Num dado momento as gangues comeam a
encontrar na arte uma forma de canalizar a violncia de seu mundo, passam, ento, a
freqentar festas e danarBreak. A dana passa a ter, ento, para estes grupos, a funo
de substituir as armas-de-assalto. O dono do pedao que era escolhido atravs de
confronto armado, agora escolhido atravs de competies de dana.
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O Dj Afrika Bambaataa foi o criador do termo hip-hop e idealizador da juno dos
elementos que compem o movimento. Bambaataa declara:
Quando ns criamos o hip-hop, o fizemos esperando que seria sobre a paz, amor, unio
e diverso e que as pessoas se afastariam da negatividade que estava contaminando
nossas ruas (violncia de gangues, trfico de drogas, complexos de inferioridade,conflitos entre afros-descendentes e latinos). Embora esta negatividade ainda acontea
aqui e ali, a medida que a cultura cresce, ns desempenhamos um grande papel na
resoluo de conflitos e no cumprimento da positividade. [1]
Imediatamente aps chegar ao Brasil nos anos 80 o movimento cultural hip-hop foi
adaptado s periferias do pas com objetivo de servir como veculo de politizao e
mobilizao da juventude pobre rumo transformao social, fortalecendo e criando
alternativas contra o racismo, a fome e a desigualdade social. O hip-hoppianismo
implica, prioritariamente, engajamento social efetivado, tanto atravs dos seus quatroveculos - graffiti, a msica Rap, os MCs (Master of Cerimony) e os Djs (Disk J ockey) -,
como por intermdio de suas ONGs e oficinas que realizam inmeros trabalhos
socioculturais.
No Brasil este movimento tem por ideologia manter a luta contra o racismo e o
preconceito, com atitudes que direta e indiretamente venham propiciar a incluso social
dos indivduos que foram at ento mantidos ou jogados margem da sociedade. Em
2004 a juventude brasileira representava 45 milhes de pessoas na faixa entre 15 e 29
anos. Segundo dados do IBGE sobre o mesmo perodo, cerca de 22% dos jovens do pas
encontravam-se abaixo da linha de pobreza,imersosna misria.
A metodologia do hip-hop instruir e ocupar os jovens retirando-os das drogas e do
cio. Visa criar sonhos, despertar a auto-estima, a conscincia social e talentos latentes.
A ao primeira do hip-hopvem atravs da arte. Partindo da, as ONGs e os ncleos
espalhados pelo pas se alternam no trabalho de: ensinar a histria geral e do Brasil;
administrar cursos de violo, percusso, teatro, break, ingls, computao e locuo de
rdio; educar sobre o risco das doenas venreas, ensinar sobre o diagnstico e
tratamento da hansenase, ensinar aos jovens o uso dos mtodos anticoncepcionais;
ministrar palestras e seminrios voltados para a conscientizao da cidadania e daimportncia que possui o patrimnio material e imaterial para a melhoria da qualidade
de vida; criar e gerenciar cooperativas de trabalho.
A cultura hip-hoppianaest repercutindo em todo o Brasil, aglomerando inmeras
organizaes. Representantes de Maranho, Cear, Piau, Rondnia e Par realizaram
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em janeiro de 2000, na cidade de Belm, no Par, um projeto na tentativa de criar uma
unidade dessa regio.
Porm, a desejada unidade at o momento no se realizou e o movimento hip-hop
demonstra caractersticas prprias em cada regio conforme a cultura de seus
organizadores e praticantes.
O graffiti: do mundo, para o Rio de J aneiro.
Atualmente o graffiti realizado em inmeros pases, numa ao que intervm tatuando
o corpo das metrpoles em cinco continentes.
A origem desta arte pode estar nos desenhos rupestres ou no muralismo, no entanto,
trata-se de uma discusso que no far parte deste estudo. Vamos partir da exploso do
imaginrio social, que teve como marco a Frana de 1968, e atribuiu inscrio urbana
poder e difuso.
A referida exploso mundial desta manifestao cultural ocorreu em 1968 e teve como
epicentro a Frana. Um dispositivo simblico que naquele momento histrico - Paris de
maio de 1968, foi manipulado pela massa popular constituda, majoritariamente, por
estudantes e trabalhadores revoltados e revoltosos com a situao socioeconmica da
Frana.
Os graffitisserviram para registrar na cidade tal descontentamento, foi uma
possibilidade que as pessoas envolvidas nos protestos encontraram para reconhecer e
demarcar as recusas e expectativas do movimento.
Gitahy diz em seu livro O que Graffiti: Durante a revolta dos estudantes iniciada em
maio de 1968 em Paris, vimos como o sprayviabilizou que as mesmas reivindicaes
que eram gritadas nas ruas, fossem rapidamente registradas nos muros da cidade.
(GITAHY, 1999, p. 21). Clia Maria Antonacci Ramos [2] considera maio de 1968 o
marco do ressurgimento do graffiti e cita na pgina quatorze de seu livro exemplo de
interveno que teria sido veiculado nos muros franceses neste perodo:
LA BOURGEOISIE N'A PAS D'AUTRE PLAISIR QUE CELUI DE LESDEGRADER TOUS.
Para Antonacci Ramos, toda cidade um sistema semitico de produo e consumo de
cdigos.
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A Enciclopdia Einaudi outra fonte que trata do tema reconhecendo o domnio do
imaginrio social como um importante lugar estratgico. A obra trs um artigo escrito
por Bronislaw Baczko que discuti os sistemas simblicos e as estruturas de dominao,
tendo como objeto as inscries que ornavam as paredes de Paris, ou seja, o graffiti
no seu clmaxrevolucionrio.
Maria Lcia Bueno pesquisou a inscrio urbana nos EUA sob recorte temporal anterior
a 1968, incluiu um rpido estudo sobre a existncia dos programas governamentais
Public Works of Art Projecte o Federal Art Program do Works Progress
Administration, que propiciaram incentivos econmicos produo de inmeros
graffitisentre os anos de 1935 a 1943 cinco mil artistas produziram 2500 afrescos
expostos pelos prdios pblicos, escolas e hospitais em um exerccio de artes plsticas
que alcanou grandes propores.
Anos mais tarde as paredes dos vages de trens do metr de New Yorkcomeam aincitar o interesse dos escritores urbanos que passam ento a utilizar este espao como
suporte ao graffiti. Dois nomes se destacaram como artistas do metr nova-iorquino:
Keith Haring e Jean Michel Basquiat, um dos primeiros a pintar em telas utilizando
tcnicas e materiais de graffiti.
Harry Bellet num artigo de duas pginas faz uma rpida passagem pela histria do
graffiti norte-americano. Fala sobre pichao; hip-hope, cita inclusive a Zulu Nation
organizao fundada par Afrika Bambaataa; disserta sobre graffiti e sobre alguns
propulsores da escritura urbana.
Para autor o graffiti obteve forte impulso e se propagou no cenrio internacional, mais
largamente, aps a Segunda Guerra Mundial.
A substituio gradativa das pichaes pelos graffitistornou-se um fenmeno
expansionista. A Big Appleassume pouco a pouco um nmero cada vez maior de
lugares ocupados por pichaes. Big Apple - grande maa - nada mais que o throw-up
muito usado para expor os codinomes dos interventores, vulgarmente conhecido como
apelidos.
Bellet tambm da posio de que os pseudnimos reproduzidos atravs dos graffitis
so na verdade forma de marcar o territrio impondo uma conquista sobre os outros.
Um personagem importante neste universo, um nome que repercutiu no mundo na
dcada de 1980 foi Jean-Michel Basquiat, nascido em 1960 no Brooklyn.
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A histria pessoal de Basquiat foi curta, uma overdose de droga o mata. Interrompida
drasticamente, sua vida encerra em 1988 aos vinte e oito anos de idade.
Basquiat assinava Samo - abreviao de "same old shit". Mais tarde passou a escrever
"Samo is dead". Bellet chama a este tipo de interveno de graffitis littraires.
Samo as an end to mindwash religion, nowhere politics, and bogus philosophy' (Samo
comme une fin au lavage de cerveau religieux, au nulle part politique, et au
charlatanisme philosophique), ou, plus lapidaire, `Samo save idiots'. (BELLET, 2006,
p.2)
Em 2002, uma de suas telas a Profit I foi vendida por 5milhes de dlares.
Bellet cita um jovem de nome Dmtrius que 1971, na cidade de New York cativava o
hbito de espalhar por quatro quarteires o apelido Taki e o nmero de sua rua no
Harlem - 183. Taki - 183.
Manhattan, Bronx, Brooklyn, New York so alguns dos Estados norte-americanos
marcados por forte presena de intervenes parietais.
Milhes de dlares so gastos anualmente no pas, pelo governo, para limpar o espao
pblico das intervenes que transgridem invadindo os lugares sem a permisso dos
proprietrios. A estimativa fornecida por Michael Walsh da cifra de 25 milhes de
dlares ao ano.
Na maioria das cidades analisadas, em diferentes pases do globo terrestre, a exemplo da
Blgica, Canad, China, Cuba, Espanha, EUA, Frana, Per e Senegal, a escritura de
rua mantm forte presena nos subrbios, contrapondo a uma menor participao nos
centros urbanos. Diferente do que acontece no Rio de Janeiro onde os graffitisso
extremamente numerosos no centro da cidade, com menor ocorrncia nos subrbios e
periferias.
consensual que em todos os lugares os escritores de rua transcendem dos subrbios,
periferias e favelas. A arte sai dos guetos. Todavia, uma diferena marcante que
distingue a interveno parietal carioca da maioria dos graffitisestrangeiros; que aquios sujeitos se deslocam de seu ambiente privilegiando a maior visibilidade que
proporciona o centro da Cidade.
A interveno urbana atualmente ilegal na Frana.
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Peintre et graffiti artiste um artigo publicado no final de 2005 que fala da homenagem
feita pela galeria de arte parisiense Nora Herman ao escritor urbano judeu Daniel P. P.
Be'houkot.
O artista partiu do subrbio de Paris para graffitar as milenares muralhas de Jerusalm.
Na China a inscrio urbana um fenmeno novo. Recorrente atualmente nas cidades
de Beijing e Xangai onde foi transformada em anncios de publicidade educativa sobre
doenas contagiosas.
A ilegalidade da interveno urbana tambm vigora neste pas.
O espao pblico regulado pelo Estado. Das autoridades competentes dependem as
autorizaes necessrias ao uso de anncios comerciais e a prtica de qualquer arte.
ilegal tambm no Senegal.
Em alguns pases onde a escritura de rua ilegal, governos representados pela
administrao pblica local, ONGs ou o meio artstico, promovem eventos para que a
interveno seja exercida em espaos controlados.
Existe em Cuba o projeto Art Kitchen que promove intervenes nos muros. Poetas so
chamados para escrever nas ruas.
Em Montreal, Canad, a organizao MU promoveu entre jovens um evento para
estimular a produo coletiva de graffitis. Um meio encontrado para minimizar a
freqncia de pichaes na cidade.
O artigo Sauvez mon art! faz referncia a encomendas de escritura parietais por
comerciantes canadenses, que queriam livrar-se das pichaes. uma soluo com altos
ndices de sucesso, visto que paradoxalmente, os pichadores respeitam os graffitis, estes
ltimos permanecem intactos, o que poupa os proprietrios dos muros do convvio com
a imundcie dos pichos, ou o liberta da guerra freqente da limpeza de seus muros e
paredes. Grande desprendimento de tempo de trabalho e dinheiro (com solventes, por
exemplo) poupado atravs da encomenda desta arte.
O jornal Elpais.com tambm refere-se a demanda de graffitispor pequenos empresrios,
como uma maneira de combater o vandalismo arquitetnico e o abandono que degrada o
espao pblico. Segundo a reportagem, os artistas contratados decoram o centro de uma
Madrid deteriorada.
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Este tipo de encomenda evoca uma outra questo: a interveno urbana movimenta hoje
enormes fortunas.
A encomenda, propriamente dita, pouco fornece de retorno. Entretanto, um comrcio
vultoso gira entorno das intervenes parietais.
A indstria anti-interveno cresce anualmente satisfazendo a enormes demandas por
solventes, pelcula protetora e outras tecnologias anti-spray. Atualmente, somente nos
Estados Unidos milhes de dlares so gastos com estes produtos.
Por outro lado, as telas elaboradas com os materiais e tcnicas de graffitispodem custar
entre 200$ e 20.000$ no Canad. A Profit I tela de Basquiat atingiu o preo, para
venda, de 5milhes de dlares.
Empresas so montadas para empregar escritores de rua:
Graffiteiroscriaram no Canad a empresa Caf Graffiti, voltada para aqueles jovens que
desejam a expresso por meio de sua comunicao visual de maneira legal, dentro da
Lei.
Outra empresa canadense desse nicho a Urban X-Pressions.
Tal fenmeno chega ao Brasil em 1964, quatro anos antes de sua exploso global
atravs das mos do talo-etope Alex Vallauri. A permanncia e propagao do graffiti
pelo pas no se deu ao acaso, mas por compatibilidade entre este e grupos de jovens
que teriam ento parte de suas necessidades psicossociais atendidas com esta prtica de
expresso alternativa.
O processo histrico de assimilao da inscrio urbanano Brasil pode ser mostrado
mais claramente a partir de Rodrigo Naves em A Forma Difcil: ensaios sobre a arte
brasileira, passando ento a Dulio Battistoni Filho com o livro Iniciao s Artes
Plsticas no Brasil. Ambos fornecem a seqncia lgica e no ocasional da evoluo da
arte plstica no Brasil, um verdadeiro roteiro da arte visual na Amrica portuguesa, o
que introduz a conjuntura cultural e poltica do tempo presente.
Conforme Naves, o incio da arte plstica brasileira (Amrica portuguesa, incio do
sculo XIX) foi direcionado ornamentao dos templos com enorme dependncia da
influncia externa. Alguns artistas se esforavam em ser originais, como exemplo,
Mestre Atade, pintor nascido em Mariana, Minas Gerais, que se preocupou em criar e
manter em suas obras uma iconografia autntica, na qual anjos, santos e madonas tm
traos mulatos.
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Com objetivo de criar o ensino clssico no pas, Dom Joo mandou vir da Frana no ano
de 1816 uma caravana que ficou conhecida como a Misso Artstica Francesa. Reuniu
na Europa e trouxe para o Brasil vrios artistas, dentre os quais, estavam os pintores
Nicolas Antoine Taunay, Debret e Rugendas.
Os trabalhos de Debret e Johann Moritz Rugendas so considerados as maiores fontesiconogrficas do Brasil do incio do sculo XIX pelo grande nmero de obras que
retrataram em detalhes os costumes, a fauna e a flora.
Debret se esforou em fazer uma arte que incorporasse certos traos da sociabilidade
brasileira, porm o resultado de seu trabalho foi demonstrar o quanto tal sociedade
tornava difcil uma produo visual incisiva e intensa.
A escravido brasileira tornava o ambiente imprprio arte visual, pois infestava o
meio urbano com as conseqncias da segregao racial: dor, injustia, desigualdade
generalizada.
Agravava mais ainda este quadro a precariedade da higiene urbana.
De onde os artistas tirariam inspirao para exercer seu ofcio, estando em um lugar
assim? Essa era uma pergunta que inquietava Debret.
Tambm no havia, nestas paragens, nenhum heri ou lder digno de qualquer tipo de
exaltao.
Outro grande mal nesse incio das artes no Brasil foi a alienao, visto que as
encomendas de tais produtos culturais estavam restritas s igrejas e ao crculo rgio que
ditavam, com total controle, os temas e o ritmo da produo artstica brasileira no
perodo.
aterrorizante olhar para a situao traada por Rodrigo Naves sobre o contexto do
sculo XIX e verificar seu paralelo com o sculo XXI muito pouco amortizado:
discriminao racial, desigualdade social, misria, precariedade de higiene urbana
(ainda hoje nos subrbios e favelas). Permanncias infelizes no processo histrico.
Disse um graffiteiro paulista da dcada de 80: A arte ser sempre o reflexo social de
um povo. Celso Gitahy: No nosso caso o reflexo de um povo oprimido. Que sofre
desrespeito em seus direitos humanos, falta de t rabalho e habitao, sade, educao,
segurana, lazer, etc. (GITAHY, 1999, p. 23).
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Em 1820 criada a Academia e Escola Real de Belas-Artes incumbida de normalizar e
consolidar o ensino artstico do pas nos moldes neoclssicos.
Somente aos poucos os pintores escapam da obsesso temtica acadmica com
imposio de temas buscados no Velho Testamento e na antiguidade clssica.
O neoclssico, o quadro de gnero e a natureza-morta foram tendncias marcantes
nas artes plsticas do Brasil ao longo de mais de cem anos. Neste intervalo, na Europa,
ocorreram fortes alteraes no campo das comunicaes visuais.
Num dado momento, a cor emerge como elemento essencial e comea a disseminao
da impresso em quadricromia: negro, vermelho, azul, amarelo.
A criao da tinta sinttica facilitou muito a vida dos pintores.
Em 1897, Toulousse-Lautrec revolucionou as artes plsticas inaugurando o cartaz,conjugando pela primeira vez a imagem e a palavra.
A pintura, que predominava no incio do sculo XIX, doravante convive em constantesinterfaces de linguagens coma fotografia, o jornal, o cinema, a televiso, os quadrinhos,o cartaz, a publicidade, o grafite, o vdeo e a computao grfica. Um processo que teveincio com as experincias das vanguardas histricas das dcadas de 10 e 20 (ascolagens cubistas e dadastas, por exemplo). (MEDEIROS, 1998, p. 28, grifo nosso).
No ano de 1922 a Semana de Arte Moderna, movimento ocorrido em So Paulo,
inaugura a arte contempornea brasileira. De forte tendncia nacionalista, procurou
reviver os valores indgenas, bem como o carter futurista.
O historiador e negociante Paulo Prado foi o principal idealizador e financiador do
movimento.
Como representes da pintura estavam Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ferrignat, Zita
Aita, Martins Ribeiro, Regina Graz, Yan de Almeida Prado e Rego Monteiro.
Dulio Battistoni Filho descreve detalhes sobre a tcnica de Anita Malfatti, como a cor
descompromissada, o trao rasgado, a dramaticidade de seu estilo expressionista.
Outro marco na histria da arte brasileira foi a Bienal, idealizada pela primeira vez no
ano de 1951. Francisco Matarazzo Sobrinho organizou a exposio com propsito de
colocar a Arte Moderna brasileira em contato com a produo estrangeira e situar So
Paulo como centro artstico nacional. As formas geomtricas e matemticas foram
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destaques e no rumo desse abstracionismo rigoroso que as artes brasileiras vo
caminhar. (Idem, p. 77).
Em 1953 ocorre a segunda Bienal, que aglutinou na ocasio consagraes do Velho
Mundo, como o Cubismo, o Futurismo, o Neoplasticismo. Havia obras de mestres a
exemplo de Picasso e Klee.
As Bienais posteriores quelas importaram o Expressionismo, o Surrealismo e nomes
como Leger e Chagall.
A arte aps o expressionismo no considerada mais, ao menos consensualmente,
como representao da realidade, entretanto como algo que se realiza.
No ano de 1959 a Bienal elimina o abstracionismo e impe a todos os pases ali
representados, o Tachismo - umaarte informal definida pela oposio a qualquer
forma ou estrutura racional -, nova esttica que significa aplicao de manchas
coloridas, independente a qualquer motivo representado, estilo desenvolvido na Europa
em 1950 por Nabuco Mabe, Tomie Ohtake e Iber Camargo.
Como conseqncia do golpe militar, surge o estilo Nova Objetividade, voltado para a
cultura de massa, tratando das estrias em quadrinhos, affiches e fotonovelas.
Ainda sobre a influncia da inflamada conjuntura poltica do golpe de 1964, emerge em
1967 no MAM do Rio de Janeiro a Tropiclia, movimento que representou a primeira
tentativa consciente e objetiva de se impor uma imagem brasileira ao contextoVanguarda e das manifestaes em geral das artes brasileiras. (FILHO, 1990, p. 85).
O graffiti inserido na histria brasileira neste momento em que a representao
coletiva [3] era de ruptura com o passado, de busca por mudanas.
Fortificando-se a cada dcada, esta arte deixa de ser apenas popular e alcana em alguns
crculos statusde arte. A participao dos intelectuais comeou a legitimar o grafite
como arte. (KNAUSS, 2001, p. 338). Paulo Knauss relata o apoio de Carlos
Drummond de Andrade que defendeu as qualidades da poesia do tapume do graffiteiro
Gilson de Abreu Marinho. Contudo, o reconhecimento mais importante advindo dacomunidade artstica brasileira foi dado pela corrente organizadora da Bienal de 1987
que convidou graffiteirosa expor em suas galerias. Entre os expositores estavam Alex
Vallauri, Waldemar Zaidler e Carlos Matuck.
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Vallauri pintou sob influncia da pop artnorte-americana, estilo que utilizava mscaras
de papelo preparado como moldes para os desenhos, moldes vazados o nome da
tcnica.
Gitahy delimita trs estilos de graffitagem: a escola vallauriana utiliza mscaras que so
moldes elaborados a partir de material flexvel como o vinil; estilo americano ligado aomovimento hip-hop; e o estilo mo livre, escola Keith Haring. O autor faz uma diviso
na escritura urbana onde chama ateno para a esttica de natureza grfica e pictrica, e
para os temas que permitam ao graffiti interferir na arquitetura das cidades e apropria-se
do espao urbano.
Depois que Vallauri chegou ao Brasil graduou-se em comunicao visual, estudou
xilogravura e especializou-se em litogravura, vindo a falecer em So Paulo no ano de
1987.
Neste momento tambm graffitamem So Paulo Tomie Ohtake, Jaime Prades e Cludio
Tozzi. Ginzburg atravs da obra A Metrpole e a Arteacrescenta a este elenco Maurcio
Villaa, graffiteiro tambm citado por Gitahy no livro O que Graffiti?. Gitahy era
graffiteiro antes de se tornar escritor de literatura acadmica. Portanto, no foi difcil
para ele relacionar em seu livro nomes de escritores de muros como Numa Ramos,
Cludio Nonato, grupos como 3ns3, TupinoD, Rastronautas, A Trinca, Masters do
Imirim.
Uma referncia de graffiti deste perodo est no livro A Metrpole e a Arteque cita o
projeto Arte nos Muros, que inaugurou em 1984 um mural na parede cega da EscolaNacional de Msica, na Lapa, centro do Rio de Janeiro, belssima obra de Ivan Freitas
remanescente at hoje (paisagem urbana; tinta acrlica s/concreto; 960m2; 1984, Escola
Nacional de Msica). Ginzburg cita no livro os nomes de Roberto Magalhes e Alusio
Carvo que pintaram (Pssaros; tinta acrlica s/concreto; 350m2; 1985, rua da quitanda,
esquina com a rua So Jos, centro do Rio de Janeiro).
Em 1988 o grupo paulista TupinoD realizou um trabalho no Rio de Janeiro a convite
da galeria do Centro Cultural Cndido Mendes. A crewpintou tambm a Avenida
Presidente Vargas no elevado do Sambdromo, no centro da cidade; e o asfalto da ruaCarlos Peixoto que d acesso ao shoppingRio Sul na zona Sul do Rio.
Antonacci Ramos na obra Grafite, Pichao & Cia descreve como os graffiteirosda
crewpaulista TupinoD esboaram controle sob o processo de criao de sua arte: [4]
No ano de 1989 o grupo convidado a graffitar o interior de uma igreja catlica, no
vilarejo Mato de Dentro, em Sorocaba, So Paulo. O que fizeram ao curso de quatro
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meses resultando num trabalho com conotaes msticas. O espao incomum, no
convencional, inspirou nos membros do grupo, sem interferncia do contratante, uma
abordagem distinta composta por madonas, bebs, avies e mandalas.
Da dcada de 1960 at meados de 1990 graffitou no Rio de Janeiro um homem de nome
Jos Datrino que costumava assinar Jozze Agradecido ou Gentileza. Suas imagens aindaesto visveis pelos viadutos dos bairros da Leopoldina e Caju. Um exemplo de arte que
o livro Brasil: Tempo de Gentileza, de Leonardo Caravan Guelman [5] trata
excepcionalmente em detalhes, incluindo inmeras amostras fotogrficas do trabalho
realizado por este escritor urbano. Esse livro contribui para a ligao histrica entre o
incio do graffiti no Rio de Janeiro, e sua existncia nos dias atuais. Gentileza plantou
idegrafos que podem ter influenciado no graffiti atual, ou at mesmo, contribudo para
a permanncia deste no Rio, uma vez que ao longo de 35 anos geraes de jovens
cresceram observando as intervenes de Gentileza.
Com dimenses aproximadas em 4m2por unidade os graffitisde Gentileza so
mensagens poticas que, pelo impacto visual que provocam alteram a paisagem inspita
ao seu redor.
Um lugarfrio, sujo, com mendigos e prdios abandonados, mas que foi tomado pelas
obras deste artista, e por muitos outros interventores urbanos que respeitam o espao
onde as inscriesde Gentileza vm ocupando por tantos anos, e, portanto, poucos
pintam os pilares do viaduto, mas enchem os muros e edificaes as margens da via
numa manifestao que pretende, dentre outras coisas, diminuir o impacto que pode ser
causado por este tipo de paisagem cinza e escura.
Dezenas de graffitisdo Gentileza esto ao longo de alguns quilmetros entre o
cemitrio do Caju e a Rodoviria Novo Rio, um em cada pilar do viaduto. Foi na
sustentao do viaduto do Gasmetro, no Caj, uma slida estrutura de concreto
armado, que este escritor urbano cravou uma outra significao ao lugar e propiciou
ento aos transeuntes, passantes motorizados ou no, que tivessem uma nova e mais
elaborada percepo visual daquele espao da cidade. Percepo que pode ser ao
mesmo tempo esttico-contemplativa e/ou potico-reflexiva.
O livro de Guelman trs uma entrevista onde a cantora Mariza Monte, em reportagem a
revista Isto Gente,dirige elogios ao profeta Gentileza, enaltecendo suas caractersticas
de homem bondoso, atencioso e proftico. Segundo a cantora, o artista criou obras com
o propsito de falar aos coraes dos homens.
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O graffiteiro criou idioletos [6] como F?P?E (Pai, Filho, Esprito), UUU, RR e SS. [...]
amor material se escreve com um R, amor universal com trs R: um R do Pai, um R do
Filho, um R do Esprito Santo AMORRR. (GUELMAN, 2000, p. 37). Na pgina
sessenta e cinco Guelman destaca o CAPETALISMO usado por Gentileza, uma
manipulao criativa da cor e da forma que cria novos smbolos com forte capacidade
dramtica. No graffiti da foto I so visveis alguns idioletos de Gentileza, como o
JESSUSS e SSO - (SS); ALTARR (RR).
Transcrio de um graffiti do Gentileza:
RELIGIO TODA AS NAES
COMO UMA SSO! FAMILIA TODOS MO
RANDO EM UMA SSO CASA EOUNIVERSO
O CEU EO TETO IGREJA O BOMCORAO
O ALTARR O BOM PENSAMENTO PORESTE
MOTIVO PRECISAMOS DE JESSUSSTODOS OS
MOMENTOS DISSE PROFETA GENTILEZAPAZ
Existe uma ambigidade artisticamente colocada na escrita e na forma, uma vez que
Gentileza liga as palavras utilizando setas que so pssaros-avies constituintes de um
itinerrio textual prprio, que marca o incio de cada texto com uma estrela, e pontua o
final das linhas com uma bandeira do Brasil.
Alternam nas obras do graffiteiro as cores verde e amarela com fundo branco, palavras
e smbolos em azul.
H trs caractersticas marcantes no trabalho de Gentileza: o modelo de exposio de
sua obra; o modo com que mantm a rigidez de forma entre os painis; e a fidelidade atemas morais.
O acervo est atualmente em timo estado de conservao porque foram restaurados em
1999 por uma equipe da Universidade Federal Fluminense atravs de uma parceria com
a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, o Consrcio Novo Rio, a Fosroc
Reax e a SOCICAM Terminais Rodovirios.
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O reconhecimento oficial da administrao pblica sobre a importncia deste acervo
ocorreu quando o conjunto da obra tornou-se patrimnio histrico tombado pelo
municpio no ano de 2000.
Hoje agem no centro do Rio de Janeiros os graffiteirosAcme, Agente, Atari, Akuma,
Al, Amog, Areste, Bands, Bia, Bile, Bone, Bula, Br, Brakoa, Bunys, Chico, Crespo,
CH2, Coiote, Cora, Criz, Dan, Dante, Denit, Duim, Dmtek, Eco, EMA, Fada, Fanac,
Gais, Gago, Gusf, HSSA, Heloi, Ira, Kaj, Kar, Kiera, Lets, Lima, Mad, Maf, Magro,
Mente, Mer, Merlin, Mukk, Nando, Nessa, Niw, Nob, Nia, OCrespo, Ox5, Paula,
Pedro, Pi, Pontogor, PHBS, Pre, Prema, Prima Dona, Rasta, Reis, Rod, Seta, Scrau,
Smael, Stile, Timmy, Ultrafunk, Vargas, Wark, dentre muitos outros.
H artistas reunidos em diversas crewscomo a Nao Gaffiti, Inde, FB, P471 e Coletivo
TPM grupo composto somente por mulheres.
Aps compararmos intervenes do Rio de janeiro, Minas Gerais, So Paulo, Bahia e
outras regies do pas atravs de viagens realizadas nos trs primeiros Estados e
principalmente por meio de fontes especializadas como a revista RAP Brasil Cultura de
Rua e a revista Almaque de graffiti conclumos que a interveno urbana circula
atualmente no Brasil atravs da migrao permanente ou provisria dos artistas
viajantes e por aprendizes que imitam tcnicas de diferentes origens regionais.
A escritura de rua propagada pelo mundo, preserva, entretanto, caractersticas locais
das culturas dos sujeitos que a realiza, ou seja, varia o grau e a quantidade de crticas,
altera os estilos, os temas (no Rio de Janeiro por exemplo, freqente pedidos de Paz e
ataques, tanto a polticos, como contra a Violncia).
Artistas brasileiros ignoram fronteiras culturais e exportam sua arte para outras partes
do mundo. Exemplo disso um grupo de graffiteirosdo Estado de So Paulo que saiu
do pas para impor seu estiloao velho continente europeu. Quatro pessoas: dois irmos
conhecidos como Os Gmeos, e o casal Nina Pandolfo e Nunca foram
contratados para revitalizar a fachada de um castelo escocs do sculo XIII.
O castelo de Kelburn, em Ayrshire, foi todo reformado em meados deste ano, 2007,
num processo que incluiu os escritores urbanos paulistas como responsveis pela
pintura das paredes externas que contornam a edificao.
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Os proprietrios, um conde e seus filhos, tiveram a idia de utilizar o graffiti como
soluo para substituir a camada de concreto que, dado seu estado de deteriorao,
estava destruindo as paredes da construo. Ao mesmo tempo, como resultado previsto
ou no (pelos nobres clientes), o que aconteceu foi o surgimento de uma onda de
marketingdo castelo nos canais de comunicao de massa. TV, internet e jornais
impressos noticiaram a interveno no castelo que a partir de ento obteve enorme
aumento em seus ndices de ocupao hoteleira.
A nobreza incorporou a plebe. O tradicional foi fundido ao moderno. A descrio e
seriedadeda antiga fachada do castelo cederam lugar a extravagncia, alegria e
variedade das novas cores e formas, um processo que pode ser considerado como a
sobreposio vitoriosa do graffiti.
Uma nova recuperao est prevista para ser realizada daqui a dois anos.
Notas
[1] Histria do Hip Hop. In: PORTAL DE CAMPO GRANDE. Disponvel em:
. Acessado em 01.12.2006.
[2] Celia Maria Antonacci Ramos brasileira, graduada em Letras, com mestrado e
doutorado em Comunicao e Semitica na Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo, PUC/SP.
[3] Les reprsentations individuelles ont pour substrat la conscience de chacun et lesreprsentations colletives, la socit dans sa totalit. (JODELET, 2001. p. 64).
[4] Crew uma palavra que significa turma em ingls, utilizada para designar grupos de
graffiteirosque costumam pintar em conjunto.
[5] Guelman obteve mestrado pela UERJ com a dissertao UNIVVVERRSSO
Gentileza: A Gnese de um Mito Contemporneo. De orientao do Dr Leonardo Boff.
Foi o responsvel em 1999, pela equipe da UFF que restaurou as obras de Gentileza.
[6] Do dicionrio Aurlio Buarque Nas lnguas naturais temos o idioleto (lngua doindivduo), dialeto (lngua entre indivduos do mesmo grupo ou regio) e o idioma
(Lngua de um grupo maior: nao).
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