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XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ-ALAS BRASIL 04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI GT-22: SOCIOANTROPOLOGIA MARÍTIMA E PESQUEIRA NO NORTE E NORDESTE Título do Trabalho: EXTENSÃO RURAL E PESQUEIRA AGROECOLÓGICA AMAZÔNICA: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO PIRARUCU-GENTE Eliane Silva Leite Coordenadora Pedagógica do Projeto Pirarucu Gente (CNPq/MDA) e Professora do Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de Presidente Médici. [email protected] Josenildo Souza e Silva Coordenador Geral do Projeto Pirarucu Gente (CNPq/MDA) e Professor do Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de Presidente Médici. [email protected]. Jussara Gonçalves Souza e Silva - Bolsista e pesquisadora de extensão do Projeto Pirarucu-Gente (CNPq/MDA) desenvolvido pelo Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de Presidente Médici. [email protected] Thais Magalhães Graduanda do Curso de Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de Presidente Médici e Bolsista do Projeto Pirarucu-Gente (CNPq/MDA). [email protected].

XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E …sinteseeventos.com.br/ciso/anaisxvciso/resumos/GT22-03.pdfxv encontro de ciÊncias sociais do norte e nordeste e prÉ-alas brasil 04

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XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE E NORDESTE e PRÉ-ALAS

BRASIL

04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI

GT-22: SOCIOANTROPOLOGIA MARÍTIMA E PESQUEIRA NO NORTE E

NORDESTE

Título do Trabalho: EXTENSÃO RURAL E PESQUEIRA AGROECOLÓGICA

AMAZÔNICA: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO PIRARUCU-GENTE

Eliane Silva Leite – Coordenadora Pedagógica do Projeto Pirarucu – Gente

(CNPq/MDA) e Professora do Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura

da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de Presidente Médici.

[email protected]

Josenildo Souza e Silva – Coordenador Geral do Projeto Pirarucu – Gente

(CNPq/MDA) e Professor do Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura

da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de Presidente Médici.

[email protected].

Jussara Gonçalves Souza e Silva - Bolsista e pesquisadora de extensão do Projeto

Pirarucu-Gente (CNPq/MDA) desenvolvido pelo Departamento de Engenharia de

Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de

Presidente Médici. [email protected]

Thais Magalhães – Graduanda do Curso de Engenharia de Pesca e Aquicultura da

Universidade Federal de Rondônia/UNIR, Campus de Presidente Médici e Bolsista

do Projeto Pirarucu-Gente (CNPq/MDA). [email protected].

EXTENSÃO RURAL E PESQUEIRA AGROECOLÓGICA AMAZÔNICA: A

EXPERIÊNCIA DO PROJETO PIRARUCU-GENTE

LEITE1, Eliane Silva

SILVA2, Josenildo de Souza e

SILVA3, Jussara Gonçalves Souza e

MAGALHÃES4, Thais

Resumo

O Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal de

Rondônia/UNIR, colônias de pescadores, associações e sindicatos rurais, Emater-

RO, Fetagro e movimentos sociais, executam pesquisa-ação participativa em

extensão rural/pesqueira, enfatizando a formação de camponeses e técnicos,

utilizando a abordagem da alternância, focada nas metodologias participativas,

agroecologia e economia solidária. O Projeto Pirarucu-Gente atua com estratégias

de Ater/pesqueiras na Amazônia utilizando o pluralismo metodológico, com

entrevistas, questionários, oficinas participativas e observação participante.

Verificamos que os extensionistas participantes, apesar da experiência, trabalham

com práticas difusionistas. O projeto tem promovido o diálogo, a construção coletiva

de novas práticas de Assistência Técnica e Extensão Rural – Ater, apoiado às

organizações envolvidas na inserção agroecológica, sistematização e socialização

de experiências de Ater.

Palavras-chave: Extensão rural, alternância, agroecologia, Ater.

1 Coordenadora Pedagógica do Projeto Pirarucu – Gente (CNPq/MDA) e Professora do Departamento

de Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR. 2 Coordenador Geral do Projeto Pirarucu – Gente (CNPq/MDA) e Professor do Departamento de

Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR. 3 Bolsista e pesquisadora de extensão do Projeto Pirarucu - Gente (CNPq/MDA) desenvolvido pelo

Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR. 4 Graduanda do Curso de Engenharia de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de

Rondônia/UNIR e Bolsista do Projeto Pirarucu-gente (CNPq/MDA).

1. INTRODUÇÃO

Este artigo é fruto de uma pesquisa vinculada ao projeto Pirarucu – Gente,

iniciado em 2011 e que vem sendo desenvolvido pelo Departamento de Engenharia

de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal de Rondônia/UNIR, financiado pelo

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e

Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, tem como parceiros Federação dos

Trabalhadores e Trabalhadoras da Agricultura de Rondônia – FETAGRO e a

Empresa de assistência técnica e extensão rural do estado de Rondônia –

EMATER/RO. Trata-se de um projeto de pesquisa, ensino e extensão rura/pesqueira

com foco agroecológico. Privilegia o pluralismo metodológico, destaca a pesquisa

ação participativa e a abordagem da Alternância. O trabalho vem sendo

desenvolvido com camponeses, agricultores familiares e pescadores artesanais e

tem apoio da Federação dos Pescadores e Aquicultores de Rondônia – FEPEARO,

e Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA.

Na prática a investigação atua com a com formação em módulos:

Metodologias Participativas; Agroecologia; Extensão rural; Natureza,

desenvolvimento e sociedade; Segurança e Soberania Alimentar; Aquicultura de

base ecológica; Economia Popular e Solidária.

Com extensão rural entre os tempos da alternância envolvendo diferentes

atores que interagem e dialogam de uma mesma realidade em diferentes

perspectivas buscando a educação e emancipação dos contextos populares

construindo a partir da problematização, reflexão e ação para a mudança.

A Pesquisa privilegia a abordagem quantiqualitativa, utilizando os

instrumentos de observação participante, entrevistas semiestruturadas,

questionários, oficinas participativas, seminário integrador, monitoramento e análise

dos relatórios dos envolvidos no Projeto. A pesquisa em curso vem identificando a

relevância do sistema de alternância para uma extensão rural e pesqueira

amazônica dialógica, para a formação de pesquisadores; tomada de consciência

crítica (de si e da coletividade) para a ação; as estratégias de Ater agroecológica

amazônica e construção de saberes compartilhados para as transformações

socioambientais.

Dentre os resultados destacamos a construção de uma proposta de política

de Ater para o Território Central de Rondônia que apoiou a Conferência Estadual de

Ater com contribuições para a Nacional, o desenvolvimento de um ambiente coletivo

de extensão rural/Pesqueira, a utilização da abordagem alternância que tem

provocado o enriquecimento do processo de aprendizagem e produção de

conhecimento e o envolvimento de diferentes atores sociais na indissociabilidade da

pesquisa, ensino e extensão no contexto rural amazônico.

2. A IMPORTÂNCIA DA TEMÁTICA

Construída a partir da necessidade do camponês em aproximar a escola à

realidade do campo no que diz respeito aos seus conteúdos e formas, a Pedagogia

da Alternância valoriza a articulação de momentos educativos em tempos e espaços

distintos considerando o saber do homem do campo, suas experiências concretas

para sua formação socioprofissional, associando a vida comunitária e ao meio

ambiente (GIMONET, 1999; ESTEVAM, 2003; SILVA, 2005; BEGNAMI, 2006).

O estado da arte das pesquisas sobre pedagogia da alternância nos anos de

1969 e 2006 realizado por Teixeira, Bernatt e Trindade (2007) conta, entre teses e

dissertações, 63 trabalhos dos quais foram analisados 46. Desses trabalhos apenas

três são da região Norte do Brasil, mesmo sendo a região que tem mais Centro de

Formação Familiar por Alternância – CEFAs, tais dissertações foram defendidas na

Universidade Federal do Pará.

O trabalho de Teixeira, Bernatt e Trindade (2007) evidencia que o interesse

pela temática vem crescendo, mas continua deficiente, sobretudo na realidade do

Norte do país. Mais recentemente encontramos a dissertação de mestrado de

Valadão (2009) da Universidade Federal de Rondônia que analisa a Escola Família

Agrícola Itapirema de Ji-Paraná/RO na sua contribuição quanto à sustentabilidade

na região.

Esses e outros estudos mostram uma diversidade de contribuição desse

sistema de alternância em vários aspectos da educação do campo, entretanto, não

encontramos nenhum estudo que analise as experiências do extensionista

profissional junto às comunidades rurais com a metodologia da pedagogia da

alternância. Entendemos que o processo de alternância se vivido em grupos

comunitários, com técnicos extensionistas, agricultores e pescadores, deve

colaborar para uma ressignificação e reinvenção do trabalho do extensionista assim

como vem fazendo com os alunos das Escolas Família Agrícolas – EFAs e CEFAs.

Entretanto, compreendemos que a extensão rural vem adotando

procedimentos metodológicos participativos a partir de uma mudança de paradigma

(do difusionista ao dialógico) como podemos ver na Política Nacional de Assistência

Técnica e Extensão Rural – PNATER (2003), como resposta às necessidades do

agricultor familiar, o que vem fortalecendo os processos participativos (TAVARES;

RAMOS, 2006). A PNATER estabelece que a Missão da Ater deve ser,

Participar na promoção e animação de processos capazes de contribuir para a construção e execução de estratégia de desenvolvimento rural sustentável, centrado na expansão e fortalecimento da agricultura familiar e das suas organizações, por meio de metodologias educativas e participativas, integradas às dinâmicas locais, buscando viabilizar as condições para o exercício da cidadania e a melhoria da qualidade de vida da sociedade (MDA, 2004 apud TAVARES E RAMOS, 2004 – p.10).

Segundo Costabeber (2009) é necessário um “novo profissionalismo” para o

extensionista que seja capaz de, em sua prática, desconstruir o fragmentado, pois

para ele há limitações nos cursos de ciências rurais e agrárias do Brasil, que

dificultam o egresso ter uma visão global dos aspectos do campo. Tais limitações

estão associadas ao currículo disciplinar e a difusão de técnicas e pacotes

tecnológicos, ao demasiado estudo das máquinas e insumos, e o desinteresse pelo

cotidiano do agricultor.

Essa experiência entre técnicos, estudantes, sindicalistas, professores,

proporciona uma tomada de consciência, assim como descreve Silva (2010, p. 33):

Esse despertar de novos ângulos em perspectiva multidimensional abre as portas da consciência, do momento que está vivendo, da realidade que em sua totalidade é ele quem faz. O educando-educador sujeito de sua transformação busca constantemente a consciência que ele é capaz. (...) Faz-se imperativo que esse profissional atue a partir dos clamores mais emergentes da população do campo, apoiando a construção dos agricultores, pescadores e outros contextos populares dos seus projetos pedagógicos.

Nisto consiste a relevância da pesquisa, uma vez que o Projeto possibilita a

intervenção na educação formal e não formal e na formação inicial e continuada do

extensionista, através do sistema de alternância.

3. ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL E PESQUEIRA

Para Rabaca e Barbosa (1978, p. 123), a expressão assistência técnica e

extensão significa “processo educativo de assistência aos produtores rurais e suas

famílias, relacionando a transferência de tecnologia agropecuária à qualidade de

vida e ao desenvolvimento comunitário”. Isso evidencia a forte influência do

difusionismo modernizador no processo de Comunicação Rural no Brasil,

capitaneado pelo fenômeno da comunicação massiva e que teve, na visão de Lopes

(1994), a implantação de suas bases industriais no mercado cultural no final dos

anos 40, consolidando-se nas duas décadas seguintes.

Os estudos de Lerner e Schramm (1973) sobre as mudanças sociais via

comunicação de massa e as contribuições de Katz e Lazarsfeld (2005) sobre a

importância da comunicação interpessoal para os processos de comunicação para o

desenvolvimento nortearam o modelo de difusão de inovações defendido por Rogers

(1995), os quais influenciariam a pesquisa e a prática da extensão rural em

desenvolvimento nos países do terceiro mundo.

Em 1974, foi criada a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão

Rural (Embrater), com o objetivo de difundir tecnologias agropecuárias sem perder

de vista os agricultores pobres. No afirmar de Callou (2006) a Extensão Rural, com

ênfase na difusão de inovações tecnológicas, foi implementada a partir de

imposições político-econômicas, influenciadas pelos financiadores do capital

nacional e internacional, que tinham o discurso de ajudar os pobres, mas

continuavam trabalhando pela manutenção dos interesses do mercado capitalista e

das diferenças sociais.

Nos anos 80, o discurso freireano influencia nas Empresas de Assistência

Técnica e Extensão Rural – Emater, entretanto a chamada comunicação horizontal

ou participativa esbarra na formação dos extensionistas, no corporativismo estatal e

nos interesses capitalistas.

Nos anos 90, as pesquisas e os trabalhos em Comunicação Rural levam em

consideração também os avanços das tecnologias de comunicação e informação.

Tais mudanças influenciam a dinâmica do campo. Segundo Graziano da Silva

(1998), o meio rural brasileiro se modificou do ponto de vista espacial e da

organização da atividade econômica, o que gerou também uma nova dinâmica

populacional.

Como vimos, a Comunicação Rural se encontra em processo de evolução,

enquanto que a Extensão Pesqueira, inserida nesta área de estudo, de uma forma

geral, continua do ponto de vista teórico, pautada ainda na difusão tecnológica, com

raras inserções, especificamente os projetos de perspectiva agroecológica.

A primeira experiência de extensão pesqueira podemos dizer que foi a ação

realizada pela Missão da Marinha de Guerra do Brasil de (1919 a 1924) que

percorreu a costa brasileira do Oiapoque ao Chui organizando os pescadores em

colônias buscando promover a nacionalização da pesca. Depois de 1942 a 1945,

constata-se o surgimento e o fim da Comissão Executiva da Pesca, através do

Decreto Lei 5.530, de 4 de dezembro. Trata-se da primeira iniciativa do Estado em

institucionalizar o setor pesqueiro. Em 1961, surge o Conselho de Desenvolvimento

da Pesca (Codepe), que teve sua importância por ser substituído pela

Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (Sudepe), em 1962, criada através

da Lei Delegada nº 10.

Os trabalhos de extensão pesqueira em campo começam a surgir em Santa

Catarina (1968), com a criação da Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de

Santa Catarina (Acarpesc), depois no Rio Grande do Sul, com a Associação de

Crédito e Assistência Pesqueira do Rio Grande do Sul (Acarpergs) no ano seguinte.

Em fins de 1968, inicia-se a atuação da Igreja Católica, através da Pastoral

dos Pescadores, o trabalho pastoral teve na pesca um caráter de Extensão

Pesqueira, contudo incorpora da Extensão Rural a prática participativa, embora

adicione na sua ação o caráter religioso, baseado na Teologia da Libertação. Sem

levar em consideração a ação da Igreja Católica, a Sudepe, em 1973, direciona seu

foco de ação para a pesca artesanal e cria o Plano de Assistência a Pesca Artesanal

(Pescart), cujos objetivos eram melhorar a estrutura produtiva das comunidades de

pesca, porém deveria incorporar a difusão de técnicas recomendadas pela pesquisa

e empresas de tecnologia.

Nas duas décadas seguintes, destacam-se de forma positiva os projetos e

programas da sociedade civil organizada, porém nas agencias oficias continuam a

desenvolver o difusionismo tecnológico. Com a criação da Secretaria de Pesca

ligada a Presidência da República do governo brasileiro e em seguida com a

efetivação do Ministério da Pesca e Aquicultura as políticas para extensão pesqueira

passaram a ser construídas no âmbito das Conferências Nacionais da Pesca e

Aquicultura.

De uma forma geral, a Extensão Pesqueira reflete a mesma abordagem

concebida para a Extensão Rural, cujos resultados para a agricultura não

significaram a diminuição da miséria rural, como já mencionado anteriormente.

Pouco contribuiu para o desenvolvimento da atividade, pois além de usar métodos

inadequados à realidade da pesca, continua com raras exceções a reproduz a

política modernizadora da introdução de inovações tecnológicas, através de

programas de crédito para a aquisição de tecnologias, perspectiva esta que não deu

certo com a agropecuária, do ponto de vista da população rural, e que seria pouco

provável de ser aplicada com sucesso a outra realidade.

4. PROJETO PIRARUCU GENTE

4.1 Caracterização

O Departamento de Engenharia de Pesca da Universidade Federal de

Rondônia vem desenvolvendo projetos de pesquisa e extensão desde 20105,

favorecendo a aproximação com o cotidiano e o trabalho das comunidades rurais de

Rondônia. Os resultados dessas pesquisas têm mostrado sempre novas

necessidades e novos campos de pesquisa e intervenção, conforme mostra

fragmento do Projeto Pirarucu – Gente:

(...) A partir da análise da conjuntura identificada nas oficinas de

construção do Território Central da Cidadania e da oficina de diagnóstico rural participativo com os pescadores artesanais, agricultores de base familiar, (...) comprovam-se grande conhecimento endógeno ambiental amazônico agroecológico e desejo dos envolvidos de gerir coletivamente seus empreendimentos de forma autônoma e compartilhada. Essa conjuntura motivou a Universidade Federal de Rondônia, Departamento de Engenharia de Pesca e Aquicultura a apresentar uma proposta de extensão sustentável participativa associada à pesquisa e inclusão do ensino com envolvimento dos discentes na perspectiva do aprender fazendo para contribuir com as transformações socioculturais, ambientais e econômicas da realidade dos contextos populares em questão (PROJETO PIRARUCU GENTE, p. 02).

O texto continua afirmando que havia uma preocupação com a assistência

técnica deficiente e problemas ligados a agricultura, sobretudo com o avanço da

pecuária no Estado e problemas sociais nas comunidades ribeirinhas causados

pelas usinas de Santo Antônio e Jirau6 que estão sendo construídas ao longo do Rio

Madeira em Rondônia.

5 a) Projeto Peixe-Vivo: (conservação e manejo sustentável dos recursos pesqueiros do arranjo

produtivo da Pesca e Aquicultura no âmbito do Território Central da Cidadania de Rondônia). b) Projeto Rurbano: (levantamento das potencialidades produtivas do Município de Presidente Médici). c)Capacitação da Cadeia Produtiva da Pesca Artesanal e Aqüicultura de Base Familiar e Ecológica – PROEXT (nos municípios de Ji-Paraná e Presidente Médici); Gestão participativa e solidária dos empreendimentos das organizações de pescadores e aquicultores do Território Central da Cidadania de Rondônia (subsidiar a autogestão e a sustentabilidade da Colônia dos Pescadores de Presidente Médici e Cooperativa de Aquicultores e Pescadores de Ji Paraná). 6 As Usinas Hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio estão em construção no Rio Madeira, a 150 km de

Porto Velho, em Rondônia. Os empreendimentos colocam em situação de risco as populações

O projeto tem como objetivos desenvolver pesquisa-ação participativa em

assistência técnica e extensão rural de princípios agroecológicos no âmbito da

Pnater em Rondônia; Formar técnicos, sindicalistas, lideranças dos movimentos

sociais, estudantes de ciências agrárias em Ater educativa e emancipadora;

construir com apoio da abordagem da alternância, saberes coletivos sobre Ater;

formar os agricultores em processos produtivos agroecológicos, organizacionais, de

gestão, comercialização solidária e de soberania alimentar; capacitar juventudes

rurais e mulheres em processos de lideranças associativas para apoiar a assistência

técnica e extensão rural comunitária, com inserção social de gênero, geração, raça e

etnia; subsidiar a transição agroecológica com a introdução e/ou fortalecimento dos

sistemas agroflorestais; dentre outros (PROJETO PIRARUCU GENTE, p. 03).

O campo do projeto é o Território Central da Cidadania de Rondônia uma

área de 31.243,30 Km², composto por 13 municípios: Jaru, Ji-Paraná, Ouro Preto do

Oeste, Presidente Médici, Alvorada D`Oeste, Governador Jorge Teixeira, Mirante da

Serra, Nova União, Teixeirópolis, Theobroma, Urupá, Vale do Anari e Vale do

Paraíso (ver figura 1). O território possui “311.867 habitantes, dos quais 111.484

vivem na área rural, o que corresponde a 35,75% do total. Possui 19.395

agricultores familiares, 7.162 famílias assentadas e duas terras indígenas”

Figura 1 – Mapa do Território Central da Cidadania de Rondônia. Fonte: Google mapas.

O projeto concentra representantes de prefeituras (das secretarias de

agricultura ou membro dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural –

tradicionais, povos indígenas isolados e os ecossistemas amazônicos. o Brasil foi fortemente criticado pelo Tribunal da Água - uma corte de ética dentro do Fórum Mundial da Água realizado em Istambul - por construir as duas usinas no rio Madeira, as quais ameaçam a vida da população indígena, além de alterar os ciclos fluviais e a biodiversidade. (http://pt.wikipedia.org)

CMDR), extensionistas da EMATER, sindicalista rurais e agricultores ligados a

FETAGRO, pescadores, piscicultores e estudantes dos 13 municípios do Território

Central da Cidadania, totalizando cerca de 90 envolvidos.

Para coleta de dados estão sendo utilizados: Entrevista semiestruturada para

piscicultura; Questionário para agricultores familiares; Entrevista da organização

institucional; e Oficinas participativas (diagnósticos, planos, desenvolvimento

organizacional, dentre outros). Os dados são organizados em Soft criado com os

estudantes do curso de Engenharia de Pesca com capacidade de 365 cruzamentos

de dados.

4.2 O foco nos princípios agroecológicos

A conjuntura em Rondônia demanda novos caminhos para o

desenvolvimento, com destaque para promoção de políticas públicas voltadas para a

sustentabilidade, com o fortalecimento dos programas/projetos estratégicos

enfocados nos princípios agroecológicos.

Buscamos na proposta a formação em Ater enfocando os princípios

agroecológicos, de economia solidária e demais preceitos da Pnater, associar

diversos conhecimentos utilizados na perspectiva da interdisciplinaridade e

multidisciplinaridade para promover a integração do acadêmico, educador e

educando. Em vez de oferecermos respostas soluções ou diagnoses prontas a partir

da pesquisa, edificaremos uma relação dialógica de saberes, como base para

construir com os envolvidos as propostas de intervenções, pesquisa-ação,

assessoria e formação que atenda os clamores do público de Ater participantes do

projeto.

Nessa perspectiva a ação de formação em Ater com princípios

agroecológicos apoiada a idas e vindas, formação teórica conceitual, construção

coletiva de conceitos associados ao convívio com a realidade da agricultura familiar

quando das práticas e posterior replanejamentos das ações, nessa alternância se

constroem os caminhos, oportunizando aos educandos/educadores o privilégio de

chegar à edificação coletiva de conhecimentos fruto das colaborações dos diversos

envolvidos.

Nas práticas agroecológicas os envolvidos irão planejar e executar sistemas

agroflorestais, pesqueiros e comunidades ribeirinhas, acompanhar seu

desenvolvimento e orientar a comunidade sobre o manejo. Também desenvolver a

piscicultura de base familiar e ecológica, com incremento de alimentação natural,

implantar quintais agroecológicos, recuperar nascentes e mata ciliar.

4.3 Extensão rural e pesqueira no Projeto Pirarucu Gente

Com base na proposta freireana de extensão, através da educação dialógica,

utilizando os princípios agroecológicos e o resgate dos saberes camponeses, o

projeto vem buscando edificar ações de Ater em conjunto com a pesquisa de

abordagem participativa e ensino em alternância com o uso de instrumentos e

técnicas das metodologias participativas.

O Projeto tem duração de 30 meses, dos quais 24 são de atividades de

alternância entre o grupo participante. Os 7 módulos desenvolvidos em 120h, sendo

40 horas/cada de teórico-conceitual em uma semana na Universidade com estudos

de casos, exemplos demonstrativos e visitas in loco, e 80 horas práticas ao longo de

três meses para execução das atividades nas comunidades.

As atividades no Tempo Comunidade são de extensão rural e pesqueira

monitoradas pela equipe de coordenação e bolsistas e avaliadas por todos os

envolvidos na ocasião do Seminário Integrador e no monitoramento pela equipe de

coordenação e pelas instituições e organizações envolvidas.

O projeto utiliza os seguintes instrumentos pedagógicos:

• Plano de estudo – Roteiro de pesquisa as atividades de Ater, relações com a

sociedade, associações, sindicatos, conselhos de desenvolvimento, igrejas, dentre

outros;

• Prática de atividades – Etapa que o grupo experimenta o desenvolvimento de

atividades pactuadas nos módulos teóricos conceituais como tarefas práticas a

realizar ao longo do tempo comunidade;

• Monitoramento das atividades práticas – A equipe de gestão do projeto

realizará inserções de assessoramento local nos intervalos entre os módulos de

formação durante o tempo comunidade para junto aos participantes discutir os

problemas, dificuldades, prioridades e estratégias de soluções para as atividades de

Ater e de pesquisa em campo;

• Seminário integrador – Encontro inicial de apresentação das atividades ao longo

dos intervalos dos encontros. Promove o acompanhamento e sistematização das

atividades de alternância em campo, permite aprender com erros e acertos; troca de

experiências com os demais participantes; encontra soluções partilhadas para as

dificuldades de execução de Ater. A atividade é orientada por um roteiro de

apresentação e sistematização para nortear a apresentação e discussão em

Plenária e a entrega do relatório da etapa, o qual subsidia as publicações em geral.

Cabe destacar que a ação permite mapear as variadas estratégias de Ater, interação

e integração de ações conjuntas dos participantes do projeto nos municípios;

• Reflexão e sistematização de experiências – A cada etapa o grupo relata os

avanços, dificuldades, o que foi realizado, o que não foi e porque, e quais os

encaminhamentos;

• Seminário desenvolvimento, sociedade e natureza – As terças-feiras a noite

são dedicadas à apresentação de trabalhos dos alunos da Universidade Federal de

Rondônia sobre a temática do módulo, dividida em duas etapas uma

contextualização oral em forma de painel e exposição de banners;

• Auê Cultural – As noites de quartas-feiras ao longo dos módulos de alternância

são dedicadas à promoção no espaço da Feira pública a apresentações de

manifestações culturais Brasileiras, Amazônicas e Rondonienses. A ação busca

integrar as diversas manifestações culturais e estimular o surgimento de novos

talentos, apoiar a sustentabilidade dos empreendimentos da agricultura familiar,

gerar renda e oportunidades culturais;

• Cine agroecológico – As noites de quintas-feiras do projeto são dedicadas à

mobilização para o Cinema, com objetivo de resgatar os valores culturais da

agricultura familiar, o pertencimento a terra e ao território camponês. Também

diminuir as desigualdades sociais de gênero, raça, etnia e geração. As projeções

dos filmes são públicas e gratuitas, servem de mote para aquecer o debate, a leitura

da vida dos envolvidos, dos seus contos, das histórias locais, das vivencias práticas

de agricultura de base familiar e ecológica;

Feira de troca de saberes, produtos e serviços

Realizaremos um mercado de troca de informações, de conhecimento, de produtos e

serviços instituídos como uma forma de intercâmbio entre os participantes.

Trabalhará a criação de uma moeda social nas comunidades, a cultura do consumo

consciente e da soberania alimentar;

Troca de experiências entre os Produtores

Serão realizadas 2 (duas) oficinas para troca de experiências de saberes e fazeres

entre os envolvidos(as), com estabelecimento de mecanismos de aprendizagem pela

observação e permuta de conhecimentos.

A formação em Assistência Técnica e Extensão Rural – Ater, que vem sendo

desenvolvida nos módulos contemplam tanto as necessidades dos técnicos, da

realidade local e das exigências da Política Nacional de Assistência Técnica e

Extensão Rural – PNATER. A tabela 1 descreve os módulos da formação do Projeto

Pirarucu-Gente e seus conteúdos programáticos:

Tabela 1 – Módulos de Formação em Ater do Projeto Pirarucu-Gente.

MÓDULOS CONTEÚDOS

Módulo I: Metodologias

Participativas de apoio

à gestão compartilhada

dos recursos naturais,

pesqueiros e da

biodiversidade.

Metodologias participativas de apoio a Ater na perspectiva

agroecológica. Diagnósticos, planos e monitoramentos

participativos; construção de projeto participativo e

sistematização de experiências.

Módulo II: Extensão

rural. História da

extensão rural e

pesqueira.

Evolução e experiências das políticas de Ater: construção do

Pnater, envolvimento da Asbraer, política estadual, com

destaque para as ações da Emater Rondônia, Incra,

Embrapa, movimentos sociais, organizações não

governamentais e ambientalistas.

Módulo III:

Agroecologia, história,

princípios e

fundamentos.

Agricultura familiar, pesca artesanal e campesinato.

Pensamento social agrário e sua influência no contexto

evolutivo da América Latina

Módulo IV: Natureza,

desenvolvimento e

sociedade.

Diagnóstico e inventário ambiental e capacidade de suporte

dos agroecossistemas; economia ecológica; desenvolvimento

e envolvimento participativo; mudanças climáticas, serviços e

tecnologias ambientais; recuperação de nascentes de água,

mata ciliar e áreas degradadas.

Módulo V: Segurança e

Soberania Alimentar.

Noções básicas sobre agroecologia, sistemas de

diversificação agrosilvopastoril, quintais agroecológicos,

permacultura, hortas medicinais e sistemas agroflorestais;

manejo sustentável dos recursos naturais, pesqueiros e da

biodiversidade.

Módulo VI: Aquicultura Noções de cultivo e manejo de piscicultura sustentável e

de base ecológica. sistemas agroflorestais ribeirinhos pesqueiros.

Transformação de subprodutos das propriedades rurais para

a complementação alimentar na piscicultura. Também

manejo sustentável do agroecossistema pesqueiro e pesca

responsável e ecológica.

Módulo VII: Economia

Popular e Solidária –

consumo, energia e

sociedade.

Políticas de economia popular e solidária: Secretaria

Nacional; fóruns nacional e estaduais. Estratégias de

comercialização de produtos e serviços populares em feiras,

eventos, festas. Feiras: de trocas, agroecológicas, de

sementes, saberes e sabores. Redes solidárias sociais, de

comercialização e institucionais.

4.4. A pesquisa ação participativa

A pesquisa participante é ao mesmo tempo uma metodologia de investigação

e um processo de intervenção social, Gramsci (1991, p.407) afirma que “la abordaje

haya surgido práctica y teóricamente, donde se haya atrevido a preguntarle a la

ciencia académica para qué sirve? A quién sirve?” Propõe o reconhecimento da

relação igualitária dos atores sociais e valoriza o saber popular como contribuição na

construção da ciência, tem que se dar conta desse obstáculos epistémico-

metodológicos. De forma coerente, trata-se de transformar “el ‘sentido común’ del

popular en ‘buen sentido’ de investigación o conocimiento crítico. Investigación

participativa no es tomar parte del sentido común simplemente, sino partirlo

críticamente, desde dentro, desde sus propias potencialidades (GRAMSCI, 1991).

Leva a análise da realidade como uma forma de conhecimento e sensibilização da

própria população, que passa a ser com o processo sujeito ativo e protagonista de

um projeto de desenvolvimento para a transformação da sua realidade social mais

imediata.

A maioria dos autores que tratam sobre o tema adotam varias fases no

processo de pesquisa participante, as quais classificam de: etapa inicial de partida

ou pré-investigação e desenho da pesquisa; diagnóstico, formação do grupo de

trabalho de campo; devolução dos resultados do diagnóstico, construção da

programação e trabalhos de campo; proposta do projeto e oficinas participativas; e

execução, avaliação, monitoria e re-planejamento do processo de pesquisa.

De uma forma geral, a pesquisa participante, especificamente com a Ater em

Rondônia busca ser uma investigação, uma construção de alianças, um encontro

amoroso e, sobretudo uma aprendizagem mútua, parafraseando (GRAMSCI, 1991,

p. 409),

Encontrar la belleza de la artesanía popular en la construcción participada de las ciencias sociales, no esta apenas en el resultado final, pulido y perfeccionista, sino los enfrentamientos a la textura, pulso, dolor, color y olor del proceso de investigación con sus prácticas.

A figura 2 evidencia as etapas da pesquisa ação em Ater focada na Pnater e

nos princípios agroecológicos do Projeto Sementes dos Saberes do Povo da

Floresta.

Figura 2 – Etapas da pesquisa participante em Ater de princípios agroecológicos.

4.5 Etapas do processo para a realização dos Módulos I e II

Antes da efetivação do módulo I houve a Oficina de consolidação do Projeto e

contrato social de alianças com o objetivo de fazer uma apresentação geral do

projeto, realizar levantamento do perfil de entrada dos participantes, nivelamento

conceitual metodológico e assinatura do contrato social de parcerias ocorrida na

Secretaria de Educação de Presidente Médici, nos dias 12 e 13 de agosto de 2011.

Nessa discussão foi decidido que o primeiro Módulo seria de Metodologias

Participativas de apoio à gestão compartilhada dos recursos naturais, pesqueiros e

da biodiversidade. A escolha se justifica pela deficiência que os participantes tinham

em relação aos instrumentos participativos e a necessidade de construí-los para

serem utilizados no tempo comunidade.

Com a realização do primeiro módulo os participantes tiveram a oportunidade

de conhecer os fundamentos teóricos das Metodologias participativas e construir 10

ferramentas de diagnóstico e planejamento participativo. Onde destacamos duas: o

Calendário histórico, que objetiva relacionar o tempo com as mudanças sobre

determinado assunto, lugar, organização; e a outra ferramenta Identificação dos

problemas concentrado em torno da Assistência Técnica e Extensão Rural do

Estado; o grupo definiu os problemas, causas e efeitos (figura 3).

Figura 3 - Definição dos problemas de Ater em Rondônia.

A figura 4 mostra os cursistas divididos em grupos trabalho realizando as

atividades na semana de teórico-conceitual, tempo escola no módulo I.

Figura 4 – Imagens dos grupos em atividade no módulo I.

É importante ressaltar que nessa discussão os técnicos extensionistas

participaram com agricultores que necessitam dessa assistência e que na sua

maioria a recebem.

O Módulo II, sobre Extensão rural na perspectiva agroecológica, aconteceu de

05 a 09 de Dezembro de 2011 e o Módulo III, Agroecologia, história, princípios e

fundamentos foi realizado de 16 a 20 de abril de 2012 e culminou com a construção

de uma proposta de Política Pública de Ater para o Território Central de Rondônia

que apoiou a Conferência Estadual de Ater e consequentemente a Nacional.

O Módulo III, tratou do Seminário Integrador – Assessoramento de Ater

coletivo; Painel – Pensamento social agrário, do narodinismo a agroecologia e as

repercussões na América Latina com destaque para Brasil; Seminário –

Experiências e práticas agroecológicas em Rondônia; Construção partilhada dos

pré-projetos prioritários dos grupos envolvidos.

4.5.1 O Tempo Comunidade

Ao término do Tempo Escola, ou seja, no final das 40 horas teórico-

conceitual de cada módulo, os cursistas vão para o Tempo Comunidade que são as

80h práticas onde eles irão desenvolver as tarefas de casa concernente aos temas

abordados no módulo, sendo alguns deles:

Diagnóstico participativo com uma comunidade a escolha da equipe do

município;

diagnóstico participativo com as entidades a que pertencem;

aplicar questionários e entrevistas com agricultores e piscicultores;

realizar entrevistas com pessoas de sua instituição;

apresentar projeto de futuro na comunidade ou município a partir dos

diagnósticos; dentre outros.

Para o monitoramento do Tempo Comunidade é montado calendário e um

roteiro para as visitas e avaliação das atividades. A equipe formada pelos bolsistas e

professores monitoraram as atividades no encontro previamente marcado com o

grupo do município, observam e orientam quanto as dificuldades na realização das

atividades propostas. A equipe conhece a comunidade escolhida pelos cursistas do

local para desenvolver as atividades; orientam para apresentação do relatório no

seminário integrador; recebem as sugestões para modificação dos questionários e

entrevistas; orientam quanto à aplicação desses instrumentos; e recebem sugestões

para o auê cultural. A equipe de monitoramento registra suas visitas em diário de

campo.

No monitoramento percebemos que há interesse do grupo para realização

das tarefas propostas no Tempo Escola. O uso das ferramentas e instrumentos

participativos serviu para os cursistas analisarem uma realidade que já conheciam,

mas, segundo eles não conseguiam vê-la. Nesse sentido, puderam experimentar a

ad-miração que trata Freire (1969) que é a abstração da sua realidade, um olhar

para o seu fazer, o seu cotidiano de maneira analítica.

5. CONSIDERAÇÕES

Na construção dos módulos percebemos que a intenção do projeto é

ampliar não só a prática, mas a concepção de extensão rural e pesqueira, pois a

alternância das atividades favorece um crescimento teórico – prático que faz com

que os profissionais reinventem sua prática a partir de uma ressignificação.

O exercício da ação-reflexão-ação não desmerece o saber do profissional

que há 10, 15 anos vem praticando Ater, traz o cursista para o enfrentamento de sua

prática sem desprezar seu saber. Incita no cursista um renovar de habilidades e

técnicas de maneira consciente, trazendo a satisfação de aprender com a sua

vivencia profissional e humana.

Quanto aos estudantes, percebemos que estão tendo a possibilidade de

descobrir as estratégias de pesquisa e extensão dialógica na prática, conhecendo as

comunidades que vivem seus problemas colocados na discussão, as formas de

intervenção dialógica, o que proporciona um pensar certo na perspectiva freireana,

respeitar o outro como sujeito da/na pesquisa, estão aprendendo a ser profissionais,

não apenas de extensão e pesquisa, que considere o teórico e o prático sem

dicotomizá-los, sem fragmentá-los.

No Tempo Escola e no Tempo Comunidade, pesquisadores, estudantes e

cursistas se confundem, agem dialeticamente, pois suas práticas não são

fragmentadas, nem contraditórias, há um exercício multicultural e interdisciplinar que

os aproxima.

O projeto tem beneficiado a região não só em relação à prática de Ater,

mas, sobretudo, na interação dos municípios e instituições envolvidas. Os sujeitos

do projeto, extensionistas, sindicalistas, agricultores, pescadores, estão tendo a

oportunidade de resolver as questões de extensão rural e pesqueira, dialogando

sobre o seu cotidiano profissional em diferentes perspectivas e construir com o

processo a emancipação e libertação dos contextos populares rurais, a partir da

construção de saberes, conhecimentos e tecnologias pedagógicas de Ater aportadas

pela pesquisa ação.

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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