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-XX SALAO MUNICIPAL DE ABRIL -1970
PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA
COMISSAO DE ORGANISA<;AO
RICARDO VIDELA
TARCISIO FELIX
JOAQUIM SOUZA
HELOISA FERREIRA JUACABA
GERSON MARTINS BARROSO
ANTONIETA MARTINS
ARTIGOPRIMEIRO
DOREGULAMENTO
DOSALAO
a xx SALAO MUNICIPAL DE ABRIL DESTINA-SE A EXPOR OBRAS DE
ARTISTAS PLAsTICOS NACIONAIS au ESTRANGEIROS QUE TIVEREM NO PAis
SUAS RESIDENCIAS PERMANENTES, COMPREENDENDO AS SECCOES DE
PINTURA, DESENHO, GRAVURA, ESCULTURA E PESQUISAS ARTisTICAS,"
HOMENAGEM ESPECIAL
SALA ASSIS CHATEAUBRIAND
COLE9AO ADERBAL FREIRE,
I' - Vicente Leite "SAPUCAElRA EM FLOR"2 - " ""CORCOVADO" Rio3 - Maria Nice Firmeza "ABSTRA<;:AO"4 - Barbosa Leite "Lavandelra"5 - Meirio Barata "OLEANDROS"
COLE9AO FRAN MARTINS:
6 - Servulo Esmeralda "MADRI ONZE HEURES DU~1ATIN"
7 - Jo'e de Fran~a Amara "FLORESTA"8 - t, .. It ""ABSTRACAO"9 - .. " II ""QUElMADAtt
10 - Bib! "CRUCIFlXO"11 - Barriea "CASARIO"12 - Chico Sil,'a "0 DRAGAO IMPERIAL"
COLE9AO TNACIO PARENTE:
13 - Floriano Teixeira "0 NUMERO 5" Salvador14 - J, Mesquita "CRIAN<;:AS" I15 ""CRIAN<;:AS" II16 -- C, Russo "TRECHO DE RUA" Rio17 - C, Dome "CASAROES DE PARATI"
COLE9AO LUCIO BRASILEIRO :
18 - Joao All'es "POVOADO"19 - Femando Coelho "POR DO SOL"20 - Sergio Lima "ABSTRA<;:AO"21 - Descartes "PAGINA DA VIDA"22 - Wt/!is "CASARIO"
COLE9AO EDSON QUEIROZ :
23 - Pierre ChaWa "0 PADRE E A MO<;:A"24 - Barrica "A FESTA"25 - " "JANGADAS"26 - " "PAISAGEM"
27 - " "PAISAGEM"28 - Estr!ga3 "CABE<;:A"29 - " "CABE<;:A" II30 - Sergei de Castro "lEMANJA"31 - Edson FllI,o "FIGURA"32 - Barriea "PAISAGEM"
COLE9AO JOS!1: JULIO CAVALCANTE :
33 - Barrica "CHEGADA DO TREM"34 - Chico Silva "0 PASSARO VOADOR E 0 CAMALEAO"35 - " ""0 PEIXE VOADOR MISTERIOSO"36 - Jenner Augusto "VISTA DE S, CAETANO"37 - FlaTlanD Teixeira "MULATA"28 - Ucldio Lopes "IGREJA DE S, FRANCISCO"39 - Femando Coelho "VILA DO CAMPO FORMOSO"
COLE9AO HAROLDO JUA9ABA :
40 - Floriano Teixeira "MENINAS NA JANELA"41 - Heloi,a Jua~aba "0 PASSARO E A FLOR"42 -" "CAULE DA PALMEIRA"43 - Sen'ulo Esmeralda "OUTONO"44 - /nimei "PAISAGEM TRANQUILA"45 - Raimundo Cela "CABE<;:A DE VAQUElRO"46 - Agl/aldo Mal/oel do, Sal/tos "~1ATERNIDADE"
47 - Gel/oro de Can'alho "TAPE<;:ARIA VEltMELHA"
COLEGAO S!1:RVULO BARROSO:
48 - AldemiT Marlins "ORbS"49 -" " "0 Bu~mA BOI"50 -" ""CANGACEIROS"
COLE9AO GRUPO MAC!1:DO :
51 - Ricardo Videla "IMPLOSAO"52 -" ""ESTRUTURA"53 - "PINTURA"54 - ,. ""MODULO"
APRESENTAC;AO
Hli 27 anas ainis, au seja a 19 de abril de 1943, instalava-seaqui 0 I Salcio de Abril, lembrado, como as Qutros, nas paginas que sesequent, dentro da hist6ria das arles plcisticas no Ceara. A exposigao,surgida POT iniciativa de alguns estudantes de Direito, em intimaligac;tio com ;ovens pintores e desenhistas, joi truto - urn dosfrutos, alias - da ejervescencia intelectual e artistica que dominavaas nossos meios culturais mats moqos, possibilitando a realizagiio deurn Congresso de Poesia (1942) e a tiragem de revisias e 1ivros decardter amplamente renovador, alem de 1nanifesta<;6es Gulras norumo de uma urte e de uma literatura nao academicas. Viviamos,pade-se dizer. 0 1/0880 2.° Modernismo, preparado j6 a partir da decadaanterior - e 0 I Salao de Abril se insere nele, perfeit.:zmente, pelomerlOS em lermos de uma tom ada de posi9ao. Hoje, revendo 0 tempopercorrido, podemos ler a certeza de que 0 novo ciclo se cumpriu,com alguns reeuos, sem a meno/" duvida - 0 Ceara nao e 0 caranguejoque anda e desanda de Joao Brigido? -, porem apresentando umsaldo altamente positivo, inclusive e notadamente no que se refereas a. p. Ai estiio, para comprovar isso, nomes como os de Bandeira eAldemir, Servulo Esmeraldo e lnimci Jose de Paula, Carmelio Cruz eFloriano Teixeira - para citar alguns dos que emigraram, conquislando la fora noloriedade e presligio. as que jicaram aqui - e saomuitos, a partir de um Baratta e de um Zenon, de um J. Figueiredo
e de urn Jodo Maria Siqueira - prossegutram no cirduo trabalho dedotar a nossa terra de um autentico movimento de a. p., sltuado,digamos assim, no contexto nacional, 1ci agora com a parttcipa~do
dos novas e novissimos, gente ate bern pouco desconhecida e quecome~a a dar os primeiros v60s.
A partir de 1953, como vai relatado em seguida, 0 Saldo deAbril passou a contar com uma a1uda mats ejetiva dos poderespublicos. Nesse ano, quando era presidente da SCAP Nilo Firmeza, 0
entdo Prejetto Paulo Cabral de AraUjo praticarnente 0 tornou umaexposif:ao ojicial. Porem isso s6 aconteceu, de jato e de direito, em1964, na Administrac;ao Murilo Borges, quando nao mais existia aentidade dos nossos artistas plasticos. (Quando ela ressuscttard? eis uma pergunta insisterde./ Ho1e - e assim 0 quer cada vez maiso Prefetto Jose Walter Cavalcante - trata-se de um Salao da Municipalidade. totalmente custeado por ela, inclusive a premiac;iio, queeste ano se dil'ersifica em dez premios ao todo, sem contar as menc;6eshonrosas. Por uma coincidcncia, 0 XX Salao, que temos a honra deapresentar, inaugura, se bem que ainda nao definttivamente - poisainda existe algo a fazer --, a Galeria Subterranea da nova Prac;ado Ferreira, construida especialmente para fins culturais, em particular artisticos. Feliz coincidencia, uniado mais ainda 0 Salao .iCidade. 0 Prejetto estd duplamente de parabens, e mais ainda 0
povo jortalezense.
Antonio GiTlio Barroso
P. S. - Estas linhas 1d estavam escrttas quando a Organizac;ao doSalao fa Secretario de Educac;ao e Cultura Epitcicio Cruz e a Diretorado Departamento de Cultura D.a Heloisa Juac;abaJ, com a apoio doPrejetto, resolveu montar no Salao de 1970 uma Sala Assis Chateaubriand, numa homenagem especial aquele que loi um genio da lmprensa Brasileira, criador e incentivador de Museus de Arte por esteBrasil ajora. Nao podia haver homenagem mats merecida e oportuna.
AGB
AS ARTES PLASTICAS NO CEARA
~oi numa segunda-feira de 1943, 19 de abril, que selI,stalou em Fortaleza 0 I Salao de Abril (de Artes Plasticas,lembrou-nos uma vez Jean Pierre Chabloz). A hora, 18,eo local 0 predio onde funcionara, ate bem pouco tempo,a Livraria Comercial, cedido pela sua proprietaria, donaPierina Hinko.. De gra,a, e claro, pois nao havia dinheiropara certos luxos: a expo, que ganharia nome na historiadas artes plasticas pelo menos do Norte/Nordeste, foraccncebida (e realizada) por iniciativa da antiga Uniao Estadual dos Estudantes, fundada no ano anterior por umgrupo de academicos de Direito, tendo a frente RaimundoIvan Barroso de Oliveira, depois de um congresso de universitarios havido no Rio. A ideia, essa foi de AlulzioMedeiros e Antonio Girao Barroso, partindo desse ultimoc nome do Salao.
Recordando 0 acontecimento, diz Chabloz (1) que es·teve presente ao ate 0 proprio Interventor Federal do Es·tcdo, prof. Menezes Pimentel, hoje Senador da Republica,o que nao e de admirar, pois que igualmente comparecera,meses antes, a solenidade de abertura do 1.' Congresso de
III CATALOGO DO XIV SALAO DE ABRIL. 1961
Poesia do Ceara no Teatro Jose de Alencar - certame porsinal (agosto de 1942) que deve ser creditado como umdos fautores do movimento de a. p. em nossa terra, ate porque se desenvolveu posteriormente num atelier de jovenspintores, montado no velho Rotisserie, e contando com aparticipa~ao efusiva deles. Barboza Leite (2) informaque foram os seguintes os expositores: Raimundo Cela, 0
mestre jamais contestado pelos mais novos, Joao MariaSiqueira, Antonio Bandeira, Mario Baratta, Aldemir Martins, Afonso Bruno, Chabloz, "um sui~o ilustre", Rubense Fonsek, os dois ultimos caricaturistas "de passagem nesta cidade". A mostra, segundo Chabloz, constou de 52trabalhos, hip6tese em que pode-se admitir um maior numero de participantes. E acrescenta: "Muito visitado nosprimeiros dias (era novidade!), aquele modesto I Salaode Abril sofreu, no entanto, uma rapida diminui~ao deafluencia de publico, encerrando melancolicamente assuas portas sem ter registrado uma s6 venda. "Chabloz,enfatico: "Tempos her6icos! Penosa, laboriosa demarraoem do movimento pict6rico no Ceara!" Sem duvida: 0
Salao nao foi propriamente um sucesso, porem, lan~ado
c nome (Salao de Abril), esse pegaria, vindo a constituirafinal uma verdadeira tradi~ao no Ceara e - 0 que e importante - com larga repercussao em outros Estados, inclusive no sui do pais.
(2) "ESQUEMA DA PINTURA NO CEARA", EdltOra Fortaleza. sob 0 patroclnlo darevlata CIA, 18t1l, p. II.
UM PASSADO NAO MUlTO LONGiNQUO
A tradi~ao pict6rica em nossa terra, nao muito ricaate os anos quarenta deste seculo, conta com alguns nomesd<= importancia, vendo-se a sua hist6ria remota mas naotanto: Jose Irineu de Sousa (3), autor entre outros do quaclI'o famoso Forlaleza liberia e sobretudo retratista, Raimundo Ramos (Ramos Cotoco, assim chamado por Ihefaltar um bra~o, curiosamente 0 direito l. Antonio Rodrigues e Jose de Paula Barros, formando estes ultimos umatrinca bigoduda, na epoca de sua maior atua~ao. (Existedeles singular retrato, no qual aparecem empunhando asarmas do seu oflcio: telas e pinceis). Cotoco, tambempoeta e compositor de modinhas - deixou 0 livro Canlares Boemios -, era principal mente decorador, Rodriguesmais desenhista (a carvao) e Paula Barros amante de "marinhas", uma das quais adquirida pela Prefeitura Municipal. A esses seguir-se-iam, levando-se em conta a importancia dos dois, Cela e Vicente Leite, que granjearam rename nacional e mesmo internacional. p~rticularmentp. "\primeiro. Cela, como se sabe, Premio de Viaqem a Europa, morou varios anos em Paris. Podemos citar aindo,sem vel' a ordem cronol6gica, Raimundo Siebra, Pachecode Queiroz, Val tel' Severiano, Gerson Faria, PretextatoSezerra (que se assinava TX l. CI6vis Costa, Sinha d'Amora, Jose Carvalho e Otacflio de Azevedo - pouqulssimos,
(3) "E7VOLUCAQ DA CULTURA CEARENSE", in ASptftcs, n.o 1, 1967, p. 36.
alnda vivos, formando na Velha Guarda da Pintura, atacilio aqui e Sinha d'Amora e J. Carvalho no Rio.
o CENTRO CULTURAL DE BELAS ARTES
56 em parte, parece claro, pelo academismo que atdomina, essa tradi~ao explica 0 movimento de a. p. noCeara, de uns trinta anos a esta parte.' Movimento que,do ponto-de-vista associativo e visando 11 defesa de interesses comuns, se evidencia mais a partir de 1941, coma funda~ao aqui do Centro Cultural de Belas Artes, denomina~ao, alias, ainda bastante academica, se bem que 0
Cultural nao deixa de brigar af com 0 Belas Artes. A matriz desse Centro tera sido, conforme 0 testemunho deMario Baratta, 0 modesto atelierjoficina de FranciscoAvila existente na epoca 11 rua Sao Paulo, entre as ruasSenador Pompeu e General Sampaio, onde Baratta devez em quando aparecia para bater um papo e assuntaras coisas, divisando para ele e outros jovens que nao raroo acompanhavam 0 mundo novo da pintura. a CCBA foiinaugurado, nao sem certa solenidade, na sede do Centrodos Retalhistas, um velho sobrado da rua Major Facundo(ou Floriano Peixoto, Baratta nao tem certeza), primeiroquarteirao a partir do Passeio Publico. a mes era junho,segundo Barboza Leite. a Centro foi morar, parece que
rouco tempo depois, nos poroes da extinta Liga Paraense,110 Benfica, passando-se em seguida para os altos do Rotisserie, de onde, por motivos 6bvios, foi afinal despejado.Mas, ate que tal acontecesse, organizou a sua exposic;aopioneira, denominada I Salao Cearense de Pinturas (noplural, mesmo), no "hall" do Palacio do Comercio. Delaparticiparam Delfino Silva (que tinha um atelier), Baratta,Rolney Correia (escultura), Raimundo Campos (R. Kampos, depois), George Miranda, Afonso Bruno, F. Avila. Etalvez mais estes, pois eram filiados ao Centro: FranciscoMatos, Gerson Faria, Manuel Santos Dumont, ExpeditoBranco, Joao Maria Siqueira (ha pouco vindo de Pernambuco), Bandeira, Luiz Indio Cordeiro, Clidenor Capibaribe(0 futuro Barrica), Raimundo Garcia, Otacflio e Rubensoe Azevedo. Participante especial foi 0 pintor Joao Rescala, do Sui, no momento excursionando pelo Ceara, cumprindo, se nao nos enganamos, um Premio de Viagem.Cela dera 0 seu apoio ao Centro, pois, tendo deixado a cidade onde residia (Camocim), passou a atuar em Fortaleza, se bem que discretamente, como era do seu feitio.A foto comemorativa da inaugurac;ao da expo, tirada para2 "Gazeta de Notfcias", mostra os artistas (da primeirarelac;ao acima) numa postura mais ou menos convencional, salvo no caso de Baratta, que aparece com um largobigode de pontas e COm uma gravatinha "borboleta" aopescoc;o, fazendo-nos crer que ja en tao estava €ole pensan-
do "fora do contexto", rumo a uma arte nao academicae, como se verificou depois, insinuantemente de vanguarda, na lideran~a de um grupo novo que 0 vulgo chama riade futurista. Realmente, 0 futuro Ihe pertenceria, comum Bandeira e um Aldemir brilhando intensamente la fora, num porvir nao muito distante ... No ano seguinte,isto e, em 42, no mesmo local do primeiro, houve 0 IISalao Cearense de Pinturas, havendo notfcia de um terceiro, efetuado por iniciativa de Chabloz em 1944, portanto um ano ap6s 0 I Salao de Abril. Alias, nesse mesmo ano, agosto, ja desaparecido 0 CCBA, e criada novaentidade, a Sociedade Cearense de Artes Plasticas (SCAP).que se notabilizou em nosso meio, exercendo uma grandefuncao catalizadora, no cumprimento das suas final idades. Mas, voltemos a exposi~ao Chabloz - uma homenagem a Cela, Vicente Leite e Gerson Faria, falecido recentemente, havendo dos tres trabalhos no Salao. Forammuitos os quadros expostos (118 ao todo) e Barboza Leite, referindo-se a eles, fala das aquarelas de Bandeira, dosdesenhos de Siqueira (Joao Maria). das "flares" de Baratta, tornadas famosas desde entao, e mais das "formasimprecisas, nebulosas, mas dosadas de uma intensidadepoetica a todo pane dos quadros de F. Silva". .. Aquiperguntamos: F. Silva, Francisco Silva ... ja seria 0 ChicoSilva (0 primitivo). como se sabe uma descoberta de Chabloz? Importante: pela primeira vez houve premia~ao
- Bandeira em primeiro lugar, Baratta em segundo e J.Siqueira em terceiro, este na sec~ao de Desenho. Outro~
expositores foram: 0 proprio Chabloz, Angelica Sousa,Barboza Leite, Barrica, Aldemir, R. Kampos, HermogenesGomes da Silva, Delfino e Raimundo Feitosa.
o II SALAO DE ABRIL
A segunda etapa do Salao de Abril verificou-se em1946, quando ainda a SCAP nao 0 tinha encampado. Desle vez 0 patrocinio foi da Livraria Aequitas, atraves doseu diretor professor Aderbal Freire, e do recem-fundadoClube de Literatura e Arte, presidido por Antonio GiraoBarroso. 0 local foi 0 Deposito daquela desaparecidacasa de livros, a rua Liberato Barroso, esquina com a ruaSenador Pompeu. Entre os concorrentes, contavam-sealguns Cpoucos) desconhecidos: Afonso Lopes, FranciscoLopes, Maria Laura Mendes, Carmelio Cruz, Anquises Ipiraja eo medico Raimundo Vieira da Cunha: A cerimoniade inaugurac;ao foi a 28 de abril, a tarde, com Braga Montenegro e Baratta discursando, 0 primeiro fazendo um3ilnalise critica dos trabalhos e 0 segundo contando "umahist6ria curiosa e palpitante do que tem sido a vida dosjovens pintores de nossa terra, sempre em luta contra
um meio hostil e desinteressado", conforme noticia dadapelo "Correio do Ceara". Uma comissao julgadora premiou os seguintes trabalhos: Cabe~a de Negra, de R. Kampos (Medalha de Ouro, do Estado); Tempos Her6icos, deBaratta (Medalha de Prata, da Prefeitura); Tarde Chuvosa, de Barboza Leite (Medalha de Bronze, da Livraria Aequitas). Men~6es Honrosas: Retrato de Braga Montenegro, de Carmelio, Vitimas da Seca, de A. Lopes, e Flamboyant, de Hermogenes. 0 julgamento foi feito por MatosPereira (pelo Estado), Clovis Matos (pela Prefeitura),Aderbal Freire (pela Aequitas), Florival Seraine e BragaMontenegro, este funcionando como relator. A imprensa, de modo geral, ja se acostumara a ver com simpatia einteresse 0 nosso movimento de a. p., de modo que foiample 0 noticiario a respeito desse Salao. E houve artigos assinados, entre outros, por Eduardo Campos, AluizioMedeiros, Antonio Girao Barroso e Stenio Lopes, integrantes do grupo que iria, mais tarde, criar a revista "Cia" (0n.O 0 saiu em dezembro do mesmo ano, 1946) e realizaro I Congresso Cearense de Escritores, reunido em setembro. Visitando Fortaleza, nesse tempo, 0 escritor cearense Herman Lima, residente no Rio, declarou que 0 IISalao de Abril fora a grande surpresa nessa sua permanencia aqui, depois de seis anos de ausencia.
A SCAP
Dispersos os artistas pliisticos (na sua maioria am)dores, mas jii pensando num certo profissionalismo) ap6so despejo do CCBA, voltam eles a se aglutinar num novoatelier criado por Baratta e Siqueira, apelidado "Artjs",sito no antigo Ediffcio Araken, 11 rua Barao do Rio BranCG. Conversas no rumo da madrugada. A alegria decriar COm modelos vivos. Uma euforia, enfim. E contactos cada vez mais frequentes com Chabloz, que en tendia do riscado e nao deixava de estimular as vanguardas,embora ele pr6prio fOsse um figurativo um pouco (ouquase) 11 maneira dos cliissicos. De repente, 0 atelier semuda (despejo?) e vai pousar numa autentica iigua-furtada, ali na Pra~a Jose de Alencar, esquina com a rua GuiIherme Rocha. Para Iii iria a SCAP, depois. Porem elafoi fundada, realmente, nos altos do antigo predio da Intendencia Municipal, na Pra~a do Ferreira: Um grupoi'ustre pos-se 11 sua frente: Fran Martins, Aluizio Medeiros, Otacilio Colares, Joaquim Alves, padre Misael Gomes,Raimundo Vieira da Cunha eManuel Melo Machado, osdois ultimos medicos. Vale a pena repetir a data: agosto de 1944. Nesse mesmo ano, efetuou a sua primeiramostra, denominada "Pintura de Guerra", instalada nomesmo local e contando com 0 patrocinio da recem-formada sec~ao cearense da Liga de Defesa Nacional. Uma
iniciativa dentro do esf6r~0 brasileiro na guerra contracs parses do Eixo. Participa~ao inusitada foi a de ummineiro chamado Inima Jose de Paula, que tempos depoiscon segue notoriedade no sui no pais. 0 resto, a pratade casa ,sobretudo a gente mais nova, plus Jean-PierreChabloz, que estava em t6das. Alguem fala pelos pin·tores ou eles todos falam unanimemente: "~ a nossaquinta exposi~ao. Continuamos com 0 mesmo programacom que iniciamos as nossas atividades - programa sfmbolo de laconismo: liberdade e trabalho. Nada de influencias pessoais. S6 0 meio pode e deve influenciar 0artista. ~Ie deve ser a mais alta expressao emotiva doseu povo. A arte nao pode ser t6rre de marfim onde osrumores da vida nao cheguem." ( ... ) "Sentimos que precisamos ganhar esta guerra para que possamos continuart,.abalhando, para que nossos filhos tenham um mundomelhor. Que cada trabalho nosso seja uma mensagemce liberdade, uma mensagem de guerra ao nazi-nipo-fascosmo". .. Em 1946, alguns meses antes de tomar a sia realiza~ao dos Sal6es de Abril, a SCAP promove uma exposi~ao em homenagem ao mencionado 1 Congresso Cearense· de Escritores.
COME<;A A FLORA<;AO
A partir de 1947, com pouqulsslmos hiatos, tem inicio a serie de Sal6es de Abril, ate chegarmos a este vige-
simo que, pensando bem, e 0 vigesimo primeiro. .. Assim, tivemos naquele ana 0 111,0 IV no ana seguinte ea5Sim sucessivamente ate 1956, data do XII. 1957 ass inala 0 XIII, porem sem catalogo e sem numero. .. Of icialmente, 0 XIII ficou sendo 0 de 1958... Ano fatidico,esse, pois a SCAP desaparece entao. Crise nas a. p. doCeara. Quem podera dar um jeito? Havia um exemploa seguir. Em 53, quando do IX Salao, Nilo Firmeza, presidente da SCAP, con segue com 0 Prefeito Paulo Cabralde Araujo 0 patrocinio financeiro da grande mostra. Etudo deu certo. Porem 0 exemplo foi esquecido, ou naohouve condi~6es para 0 Salao prosseguir. De 59 a 63nao mais se realizou 0 Salao de Abril. 64 amanhece comZenon mais do que preocupado com 0 problema. Quefazer? Ai ele falou com 0 Prefeito Murilo Borges e estecombinou com 0 seu Secreta rio de Educa~ao e Cultura,professor Ernando Uchoa Lima (com Joao Maria Siqueirapelo meio), fazer ressurgir aquilo que era (e e) a maiortradi~ao artfstica do Ceara. De la para ca nao deixoumais de haver Salao de Abril, os quatro ultimos contandosempre COm 0 mais decidido (e, 0 que e mais importanteainda, consciente) apoio e interesse do Prefeito Jose Waiter Cavalcante e, desde 1968, do seu Seeretario de Educa~ao e Cultura, Dr. Epitacio Cruz.
CENTENAS DE ARTISTAS EXPOSITORES
Centenas de artistas - pintores, desenhistas, gravu·ristas, escultores etc. - tem exposto nos Salces de Abril,cada vez, pode-se dizer, em maior ·quantidade. Mostraram e mostram ainda 0 talento que possuem, a f6r~a doseu poder de cria~ao. Escolas e correntes, tendencias asmais diversas - aparecem e reaparecem atraves deles,Tudo ja foi visto nos Salces de Abril, desde vinte e seteanos atras. E 0 fen6meno se repetira, por certo, face aum mundo que nao para. E com ele a arte, que e imortal.
UMA HOMENAGEM ESPECIAL, ENTRE OUTRAS
Citamos varios nomes, no correr desta breve noticiahist6rica do Salao de Abril. Valendo como uma homenagem a todos eles, que deram um quinhao do seu esf6r~0
para que a luta prosseguisse. Haveria muita gente a cit~r ainda, quantos artistas cujos nomes constam dos nossos catalogos! Os irmaos Pamplona, Paulo tao choradopor n6s, um autentico batalhador sem duvida, que caiuno caminho, mas que esta guardado na nossa mem6ria,Carlos e Jose Eduardo, Servulo Esmeraldo, que se iniciouaqui conosco, hoje em Paris, Flavio Phebo, que come~ou
garoto de cal~as curtas, paulista agora, os maranhensesbem-queridos de todos, Floriano e J. Figueiredo, Floriano
Cjue continua cearense, mesmo maranhense e baiano, J.Arrais, Francisco Goes Monteiro, Jacira Alencar, Jose Alfredo Garcia, Jose Fernandes, Maria Nice de Castro Osorio, Murilo Teixeira, Raimundo Jose Melo, Alfredo ArmeC:e Mustafa, Jonas Mesquita, hoje em Minas Gerais, Joaode Deus, Anneliese Tuliola, Pastor Tello Castillo, AntonioFragoso, Jose Marzano Sobrinho, Lucia Galeno, do Maranhao ainda: Cadmo Silva, Pedro Madeira Neto, BeneditoFonseca, Firmino Goes, Pedro Paiva e Yedo Saldanha, Alvaro Vidal Gurgel, Mirian Pinheiro, A. F. Costa, AngelicaTorres, Florisvaldo, J. Americo, J. F. Amora, Roberto Galvao, Nice, lsomar, L. Derossy, Joao Jacques ... e mais emais e mais, mesmo sem cantar os novas e novlssimosdeste e dos derradeiros Sal6es, cujos nomes estao na memoria da gera~ao de hoje. Gente daqui e de outros Esta(los, gente que fez e faz ainda 0 Salao de Abril Aquelesque presidiram a SCAP: Fran Martins, Mario Baratta, Antonio Girao Barroso, Miranda Henriques, Paulo Pamplona,Hermogenes Gomes da Silva, Nilo Firmeza, Artur EduardoBenevides, Claudio Martins, Zenon Barreto, Honor Torres,J. Figueiredo e Clidenor Capibaribe. E agora, para finalizar,uma homenagem especial aquela que e ao mesmo tempocrtista e madrinha, Heloisa Jua~aba, aglutinadora incansavel do movimento de a. p. no Ceara - a timoneira fid~
Irssima que tudo quer e tudo vence. A ela, este XX Salaode Abril.