QUESTÕES RACIAIS NO BRASIL
GUGA VALENTE JOÃO GABRIEL CONSUELO HOLANDA EUGÊNIA FRAIETTA
24 de abril de 2016 – 15h – 19h – AUDITÓRIO DO COLÉGIO PLANETA
AULÃO DO
REDAÇÃO FILOSOFIA e SOCIOLOGIA ARTES LITERATURA
2º
No romance distópico 1984 de George Orwell, o governo tenta controlar não apenas as falas e
ações, mas também os pensamentos de seus cidadãos,
rotulando os pensamentos desaprovados pelo termo crime de
pensamento ou, em novilíngua, "pensar criminoso“ também
traduzido como crimideia.
"o poder de manter duas crenças contraditórias na mente ao mesmo tempo(...)
TEMÁTICAS DO CANAL:CIÊNCIAS HUMANAS + LINGUAGENS, CÓDIGOS
• Aula 1 - O Contratualismo em Rousseau
• Aula 2 - Como introduzir textos dissertativos
• Aula 3 - Realismo político em Maquiavel
• Aula 4 - O Espírito das Leis em Montesquieu
• Aula 5 - A relação entre passado, presente e futuro em Nietzsche
• Aula 6 - Os 25 anos do E.C.A. (Estatuto da Criança e do Adolescente)
• Aula 7 - "Apologia de Sócrates" Platão
• Aula 8 - Proposta de Intervenção Social
• Aula 9 - O Esclarecimento em Immanuel Kant
• Aula 10 - Movimentos Sociais (part. especial prof. Rocha)
• Aula 11 - Redução da maioridade penal
• Aula 12 - Direitos Humanos e Redação
• Aula 13 - Especial 1º Aulão do Crimideia (18 de outubro de 2015)
• Aula 14: Sociologia Clássica - Émile Durkheim
• Aula 15: Feminismo (Part. especial profa. Marcela Coimbra)
• Aula 16 - Sociologia Clássica - Max Weber(Crimideia vídeoaulas)
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PARABENIZAMOS OS VERDADEIROS “CRIMINOSOS DO PENSAMENTO” DA EDUCAÇÃO GOIANA!
RACISMO E SOCIOBIOLOGIA
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
Em relação ao estupro das mulheres negrasescravizadas:Torres: É só ler Gilberto Freire. Querem dar a impressão queno Brasil as negras foram estupradas e a miscigenação se deude forma violenta. A integração da casa grande e da senzala,ainda que com dominação, foi muito mais consensual do quegostaria o movimento negro. Hoje o movimento negro temumas pessoas que são odiadas. Gilberto Freire é uma delas.Darcy Ribeiro é outro, dizem que ele é o pirata daantropologia. O Jorge Amado, falam que abate moralmente onegro. Encontraram racismo até na obra "O Lavrador de Café"do Portinari porque coloca o pé do negro muito proeminente.
Rapper Emicida critica racismo no Brasil: "Táxi não para, mas viatura para"
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
“Se na cabeça de um geneticista
contemporâneo ou de um
biólogo molecular a raça não
existe, no imaginário e na
representação dos coletivos de
diversas populações
contemporâneas, existem ainda
raças fictícias e outras
construídas a partir das
diferenças fenotípicas como a
cor da pele e outros critérios
morfológicos. É a partir dessas
raças fictícias ou “raças sociais”
que se reproduzem e se mantêm
os racismos populares.”
Kabengele Munanga
(congolês e prof. da
USP)
QUAL A IMPORTÂNCIA EM DISCUTIR SOCIOLOGIA E BIOLOGIA RELACIONADA
AO RACISMO?
Michel Foucault: SABER É PODER!
Cientificismo do século XIX como
PARADIGMA de verdade irrefutável.
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
Eugenia é um termo criado em 1883 por Francis Galton (1822-1911), significando
"bem nascido". Galton definiu eugenia como "o estudo dos agentes sob o controle
social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras
gerações seja física ou mentalmente".
R
A
C
I
S
M
O
ESTEREÓTIPO ÉTNICO
(CARIMBO)
PRECONCEITO RACIAL
(INDISPOSIÇÃO)
DISCRIMINAÇÃO RACIAL
(RECUSA)
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PROF. JOÃO GABRIEL
Principais Escolas Raciais do
século XIX
1- Escola Etnológica-Biológica;
2- Escola Histórica;
3- Darwinismo social.
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PROF. JOÃO GABRIEL
1 - Escola Etnológica-BiológicaSistematizou sua formulação filosófica nos E.U.A nas décadas de 1840/1850;
Criação de raças humanas através das mutações diferentes das espécies. poligenia;
Base do argumento: a pretendida inferioridade das raças – negra e índia – podia ser correlacionada com suas
diferenças físicas em relação aos brancos. Tais diferenças eram resultado direto da sua criação como espécies
distintas;
Teoria poligenista da esterilidade do mulato: defendiam, usando a zoologia, que todo animal produzido por união
de pais de espécies diferentes nascia incapaz de procriar.
Louis Agassiz (1807-1873)
• Esteve no Brasil em 1865 numaexpedição científica e concluiu queos males da nação eramconseqüência da mistura de raças;
• Teoria Poligenista;
• Relacionava clima e raça;
2 - Escola HistóricaIdeia básica: partiam da suposição de que raças humanas, as mais diversas, podiam ser diferençadas umas das
outras com a branca predominantemente e inerentemente superior a todas;
Arthur de Gobineau (1816-1882) • No Brasil: “uma população toda mulata, com sangue
viciado, espírito viciado e feia de meter medo.”
• O Brasil não tinha futuro, país marcado pela presença de
raças que julgava inferiores. A mistura racial daria origem
a mestiços e pardos degenerados e estéreis. Esta
característica Esta característica já teria selado a sorte do
país: a degeneração levaria ao desaparecimento da
população.
• “Nenhum brasileiro é de sangue puro; as combinações
dos casamentos entre brancos, indígenas e negros
multiplicaram-se a tal ponto que os matizes da carnação
são inúmeros, e tudo isso produziu, nas classes baixas e
nas altas, uma degenerescência do mais triste aspecto.”
• “Todo mundo é feio aqui, mas incrivelmente feio: como
macacos.”
Houston Stewart Chamberlain (1855-1927)
• Agregou à abordagem histórica do racismo o culto do
arianismo;
• A teoria de que o ariano tinha atingido o mais alto grau de
civilização e estava destinado, deterministicamente, pela
natureza e pela história, a ganhar o crescente controle do
mundo;
• Após a guerra Franco-Prussiana (1870/71) o arianismo se
torna um dogma na Alemanha.
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
Cesare Lombroso – (1835-1909)
• 1876 publica L’Uomo Delinquente;
• Antropologia criminal: possibilidade
de descobrir o criminoso antes que
cometesse o crime;
• Visitava escolas observando as
crianças à procura de prováveis
criminosos.
“ O fenótipo passa a ser entendido como o espelho d’alma”.
Antropologia Criminal e Medicina Legal
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
• 1889 -1914: Classes dominantes/ intelectuais aceitam a
ideologia do branqueamento;
Tese do Branqueamento:
(1) Baseava-se na presunção da superioridade branca;
(2) A população negra diminuía progressivamente com relação à
branca;
(3) Miscigenação produzia “ naturalmente uma população mais
clara, imigração reforçaria o ideal racial dominante;
Cruzamento de raças Cruzamento de raças População “evoluída”
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
“Abre o Brasil para todas as pessoas válidas e
capazes para o trabalho, desde que não
estivessem sob processo criminal em seus
países de origem, “com exceção dos africanos
e asiáticos”.
(Decretos do Governo Provisório, 6 fascículo.,
Rio de Janeiro, 1890).
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PROF. JOÃO GABRIEL
Fonte: O Espetáculo das Raças: Cientistas, Instituições e Questão Racial no Brasil
– Lilia Schwarcz.
I Congresso Mundial dasRaças/Paris – 1911: João Batistade Lacerda(médico/antropólogo): “Em 2010não haverá negros no Brasil”,ministrou o 1º curso deantropologia no Brasil (1877) –calcado em anatomia humana
Silvio Romero:mestiçagem comodiluição do fatornegativo, o negro
Francisco José de OliveiraViana foi um professor, jurista,historiador e sociólogo brasileiromembro da Academia Brasileirade Letras.
O entusiasmo generalizadocausado por uma conferênciarealizada por Renato Kehl naAssociação Cristã de Moçosde São Paulo impulsionou afundação da SociedadeEugênica de São Paulo(Sesp), em 1918.
No Brasil, Lombroso teve
significativa influência na obra de
Nina Rodrigues.
Nina Rodrigues
Nina Rodrigues foi um dos introdutores da antropologia
criminal, da antropometria e da frenologia no país.
Em 1899 publicou Mestiçagem, Degenerescência e
Crime, procurando provar suas teses sobre a
degenerescência e as tendências ao crime
dos negros e mestiços. Os demais títulos publicados
também não deixam dúvidas sobre seus objetivos:
"Antropologia patológica: os mestiços", "Degenerescência
física e mental entre os mestiços nas terras quentes".
Para ele, negros e os mestiços se constituíam na causa
da inferioridade do Brasil.Nina Rodrigues (Faculdade deMedicina da UFBA): mestiçagemenfraquece a raça
Antropometria e craniometria
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
Monteiro Lobato (1882 – 1948)
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
No livro Caçadas de Pedrinho, que
contém trechos como este: “Tia
Nastácia, esquecida dos seus
numerosos reumatismos, trepou que
nem uma macaca de carvão pelo
mastro de São Pedro acima, com tal
agilidade que parecia nunca ter feito
outra coisa na vida...”; ou este outro:
“Não vai escapar ninguém, nem tia
Nastácia, que tem carne preta”.
• Em 1903 afirmava que o Brasil era “filho de pais inferiores...dandocomo resultado um tipo imprestável, incapaz de continuar a sedesenvolver sem o concurso vivificador do sangue dalguma raçaoriginal...”;
• Em 1908 afirmava que: “Num desfile, à tarde...perpassam todas asdegenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todasmenos a normal...Como consertar essa gente? Que problemasterríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconscientevingança! Talvez a salvação venha de São Paulo e outras zonas queintensamente se injetam de sangue europeu. Os americanossalvaram-se da mestiçagem com a barreira do preconceito racial.Temos também aqui essa barreira, mas só em certas classes e certaszonas. No Rio não existe.”
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Kux-Klan (sic), é
país perdido para altos destinos. [...] Um dia se fará justiça ao Ku-Klux-Klan;
tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e
estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca — mulatinho fazendo jogo do
galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade
construtiva. (Carta a Arthur Neiva de 10 de abril de 1928.)
Meu romance não encontra editor. [...]. Acham-no ofensivo à dignidade americana.
[...] Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os
negros.
(Carta ao escritor Godofredo Rangel, sobre o romance O choque das raças ou o
presidente negro, que Lobato pretendia publicar nos Estados Unidos. O livro
relata um embate racial com a vitória final da “superioridade branca”.)
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
• Pois cá comigo - disse Emília- só aturo estas histórias como estudos da ignorância e burrice
do povo. Prazer não sinto nenhum. Não são engraçadas, não têm humorismo. Parecem-me
muito grosseiras e até bárbaras - coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia. Não
gosto, não gosto, e não gosto ! - Bem se vê que é preta e beiçuda ! Não tem a menor
filosofia, esta diaba. Sina é o seu nariz, sabe ? Todos os viventes têm o mesmo direito à vida,
e para mim matar um carneirinho é crime ainda maior do que matar um homem. Facínora ! -
Emília , Emília ! - ralhou Dona Benta. A boneca botou-lhe a língua (Histórias de Tia Nastácia,
1957, p.30).
• — Sim — disse Dona Benta. — Nós não podemos exigir do povo o apuro artístico dos
grandes escritores. O povo... Que é o povo? São essas pobres tias velhas, como
Nastácia, sem cultura nenhuma, que nem ler sabem e que outra coisa não fazem
senão ouvir as histórias de outras criaturas igualmente ignorantes, e passá-las para
outros ouvidos, mais adulteradas ainda.[...] (Fala de D. Benta. Histórias de Tia Nastácia,
1957, p. 23).
Personagens da obra de Lobato:
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
• “Pois muito bem. A vaca é tudo isso que acabo de dizer e muito mais. No entanto,
se você comparar a mais suja negra de rua com uma vaca dizendo: ‘você é uma
vaca!’, a negra rompe num escândalo medonho e se estiver armada de revólver,
dá tiro”. (Memórias de Emília);
• Tia Anastácia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta. – Que
não seja boba e venha – disse Narizinho – eu dou uma explicação ao respeitável
público... – Respeitável público, tenho a honra de apresentar (...) a princesa
Anastácia. Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma
fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo
anel na barriga de um certo peixe. Então, o encanto quebrar-se-á e ela virará uma
linda princesa loura.” (Reinações de Narizinho).
• - Mais respeito com os velhos, Emília! – advertiu Dona Benta. – Não quero que
trate Nastácia desse modo. Todos aqui sabem que ela é preta só por fora. (Fala de
D. Benta. Histórias de Tia Anastácia).
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
-Pois saci, Pedrinho, é uma coisa que branco da cidade nega, diz que não há - mas
há. Não existe negro velho por aí, desses que nascem e morrem no meio do mato,
que não jure ter visto saci. Nunca vi nenhum, mas sei quem viu. - Quem ? - O tio
Barnabé. Fale com ele . Negro sabido está ali ! Entende de todas as feitiçarias , e de
saci , de mula-sem cabeça, de lobisomen - de tudo.
Fala de Anastácia em O Saci, 1956.
“ – Cale a boca! [...] Você só entende de cebolas e alhos e vinagres e toicinhos. Está
claro que não poderia nunca ter visto fada porque elas não aparecem para gente
preta. Eu, se fosse Peter Pan, enganava Wendy dizendo que uma fada morre sempre
que vê uma negra beiçuda...”
Fala de Emília em Memórias de Emília.
PARTE 1 – SOCIOLOGIA E FILOSOFIA –
PROF. JOÃO GABRIEL
CONCLUSÃO
"O BÁRBARO é, em
primeiro lugar, o
homem que crê na
barbárie.“
Livro: Raça e História (1950)
Claude Lévi-Strauss (1908 – 2009)
antropólogo, professor e filósofo belga. É
considerado fundador da antropologia
estruturalista, em meados da década de 1950, e
um dos grandes intelectuais do século XX
O NEGRO NA LITERATURA BRASILEIRA DO SÉCULO XIX e XX
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• Antes de 1850 (Lei Eusébio de Queiroz – abolição do tráfico negreiro para oBrasil) a figura do negro na literatura brasileira é praticamente inexistente.
• Papel diário do negro na vida urbana e rural X (quase) inexistência derepresentações na literatura > o escrito brasileiro não considerava o escravocomo ser humano digno de ser representado na literatura? Maioria dosescritores dependem do amparo de instituições escravocratas? Escritoressão escravocratas?
• A produção literária brasileira esteve profundamente ligada às ideologia dominantes, que em muitas casos e frequentemente se transformaram em verdadeiros mitos: SUPERIORIDADE DA RAÇA BRANCA, BRANQUEAMENTO POSITIVO, DEMOCRACIA RACIAL...
• Os autores mais conhecidos conceberam seus personagens em função dessas ideologias para um público que não questionava as bases ideológicas dessas produções.
• Relação (quase) orgânica entre jornalismo e literatura: o romance era de certa forma um prolongamento do jornal.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• A LITERATURA ROMÂNTICA empreendeu um projeto depensar e representar a nação, a nacionalidade e ELIMINOUmais da metade da população brasileira – os negros – de suasrepresentações por RAZÕES IDEOLÓGICAS (em função dosmitos da superioridade da raça branca e da civilizaçãoeuropeia), daí os negros não figurarem nesta literatura comonosso antepassados.
• O negro era inconveniente: por serem escravos, representavama barbárie > a escolha conveniente para representar o mitofundador na literatura foi o índio.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
A ESCRAVA ISAURA (1875), Bernardo Guimarães• Condena a escravidão e seus efeitos sociais e humanos• Não há interesse pelo legado humano e cultural da
África• A piedade por Isaura é despertada pelo contraste entre
as injustiças que sofre como escrava EMBORAapresente todos os atributos físicos e culturais de umamoça branca de sociedade.
• Isaura ilustra os aspectos positivos do branqueamento,da fusão-diluição do elemento africano > aniquilamentodas referências afro-brasileiras pelo lado materno.
“A relação entre mito e literatura está perfeitamente ilustrado na elaboração desta personagem que no fim do romance casa-se com
um branco de lei, ilustrando assim o processo integração-assimilação-branqueamento.” Jean-Yves Mérian
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
O MULATO (1881), Aluísio Azevedo
• O romance enreda a dificuldade de Raimundo em seadaptar, se integrar, ser aceito na sociedadeconservadora, neocolonial, provinciana e racista doMaranhão, depois de longo período na Europa.
• Raimundo ignora em boa parte da trama sua origem(resquício romântico) e sua condição: mulato, filhode escrava, forro à pia (batismal).
• Embora seja “mulato” claro e tenha recebidoeducação europeia, impera o estigma damestiçagem.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
O CORTIÇO (1890), Aluísio Azevedo
• Relação entre o português Jerônimo(inicialmente pai de família zeloso, trabalhadordedicado e assíduo, sem vícios) e a mulata livre esensual Rita Baiana > abrasileiramento deJerônimo
• A contribuição afro-brasileira é limitada (enefasta) já que é o apelo da raça superior queleva Rita a preferir o branco português ao mulatocapoeirista Firmo, amante anterior.
• O negro é apresentado como animalizado (todosos moradores do cortiço que são, na sua maioria,negros ou mestiços).
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“Ele (João Romão) propôs-lhe morarem juntos e ela (Bertoleza) concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português,
porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava
instintivamente o homem numa raça superior à sua.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“— É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam-na! É escrava minha! A
negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca
de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar. Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse
alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois embarcou para a frente, rugindo e
esfocinhando moribunda numa lameira de sangue.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a
palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e
era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe
os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma
centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que
zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num
trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a
natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de
ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor,
muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamóio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“E o curioso é que quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, posto que em
detrimento das suas forças físicas.”
“No Brasil, quero dizer, n'O Cortiço, o mestiço é capitoso, sensual, irrequieto,
fermento de dissolução que justifica todas as transgressões e constitui em face do europeu um perigo e uma tentação.”
Antonio Candido, De cortiço a cortiço
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
O BOM CRIOULO (1894), Adolfo Caminha
• Ilustra a animalidade do negro por meio da relação homossexual entre Amaro (o bom crioulo, 30 anos, ex-escravo) e Aleixo (louro, olhos azuis, pueril, 15 anos), ambos marinheiros. Amaro é vítima de sua condição de negro, mas também é o 1º personagem homossexual negro, perverso e assassino da literatura.
• O “científico” tornou-se ideologia, a ideologia transformou-se em mito da superioridade branca: não houve contestação relevante! Discurso unívoco da classe dirigente > influência duradoura no discurso oficial, no inconsciente coletivo > valor de crença + naturalidade
• A população negra estava fadada a desaparecer em pouco mais de um século: uma das manifestações mais evidentes da ideologia racista na virada do século XX e mais perniciosa para o reconhecimento da contribuição dos negros na formação do povo brasileiro.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
MACHADO DE ASSIS (1839-1908)
•Na ordem dos romances, o protagonismo pertence amembros da elite (Brás Cubas, Bento Santiago,Conselheiro Aires) em cujo universo o negro não éconsiderado, reconhecido como ser social:
“Na ordem das representações, a lente do retratista nãopoderia alcançar o que nem sequer era cogitado.”
Gizêlda Melo do Nascimento (UEL)
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS (1881)
Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — algumas vezes gemendo, — mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao que eu retorquia: — “Cala a boca, besta!” (Cap. XI)
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — “Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, — o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim, nhonhô.
— Fez-te alguma coisa?
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
[...] Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, — transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava: comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as sutilezas do maroto! (Cap. LXVIII)
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• O negro é posto “de quatro”: besta de carga a carregar o fardo da organização socioeconômica do Brasil no século XIX.
• Revide de tantas chicotadas recebidas + normalidade de um senhor chicotear publicamente seu escravo.
• Por que o estranhamento da cena, se Prudêncio (então, liberto) reproduz o modelo social de tantos homens livres?
• O insólito está no fato de um negro chicotear outro negro! Como seria insólito um branco chicotear outro branco (no mesmo contexto).
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• A ação de Prudêncio, embora legal,não é legítima.
• “Cala a boca, besta” não é discurso deprudência, é uma apropriaçãoteatralizada do discurso do opressor.
• Apropriar-se do discurso do opressornão significa dominar esse mesmodiscurso, mas, pelo contrário, significaafirmar quem realmente tem o poder:Brás. Prudêncio é senhor até achegada de Brás!
“Tentando estabelecer-se numa ordem, parece, antes, um
desordeiro cuja ação necessita da intervenção tutelar de quem
incontestavelmente representa a autoridade; e o que se presencia
é uma cena tragicômica da indefinida situação do negro livre
no Brasil.”
Gizêlda Melo do Nascimento
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• O negro acumula TODAS AS PRIVAÇÕESimagináveis: sem fala, sem discurso, semhistória, sem presença...
• Machado passou ao largo dos movimentosabolicionistas mostrando sua descrença naREAL INSERÇÃO do negro nos quadrosrepresentativos da sociedade brasileira,sombreada indelevelmente pela ORDEMESCRAVOCRATA.
• A OMISSÃO do negro no universo ficcionalmachadiano é a DENÚNCIA maiscontundente do modelo social vigente.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
O CASO DA VARA (1889) – conto
“A pequena abaixou a cabeça, aparando o golpe, mas o golpe não veio. Era uma advertência; se à noitinha a tarefa não estivesse pronta, Lucrécia receberia o castigo do costume. Damião olhou para a pequena; era uma negrinha, magricela, um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda. Contava onze anos. Damião reparou que tossia, mas para dentro, surdamente, a fim de não interromper a conversação. Teve pena da negrinha, e resolveu apadrinhá-la, se não acabasse a tarefa. Sinhá Rita não lhe negaria o perdão... Demais, ela rira por achar-lhe graça; a culpa era sua, se há culpa em ter chiste.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“- Dê-me a vara, Sr. Damião!
Damião chegou a caminhar na direção da marquesa. A negrinha pediu-lhe então por tudo o que houvesse mais sagrado, pela mãe, pelo pai, por Nosso Senhor.. .
- Me acuda, meu sinhô moço!
Sinhá Rita, com a cara em fogo e os olhos esbugalhados, instava pela vara, sem largar a negrinha, agora presa de um acesso de tosse. Damião sentiu-se compungido; mas ele precisava tanto sair do seminário! Chegou à marquesa, pegou na vara e entregou-a a Sinhá Rita.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
PAI CONTRA MÃE (1906) - conto
“Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhorda escrava abriu a carteira e tirou os cem milréis de gratificação. Cândido Neves guardou asduas notas de cinquenta mil réis, enquanto osenhor novamente dizia a escrava que entrasse.No chão onde jazia, levada do medo e da dor, eapós algum tempo de luta a escravaabortou.[...]
Cândido Neves viu todo esse espetáculo. Nãosabia que horas eram. Quaisquer que fossem,urgia correr à rua da Ajuda, e foi o que ele fezsem querer conhecer as consequências dodesastre.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“O pai recebeu o filho com a mesma fúria com que pegara aescrava fujona de há pouco, fúria diversa, naturalmente, fúria deamor.”
“Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do pequeno,uma vez que trazia os cem mil réis. Disse, é verdade, algumaspalavras duras contra a escrava, por causa do aborto, além dafuga. Cândido Neves, beijando o filho, entre lágrimas verdadeiras,abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto.
- Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.”
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• Luís Gama (1830-1882), Cruz e Sousa (1861-1898) e Lima Barreto (1881-1922) seassumiram como negros e, por isso,enfrentaram o preconceito e a discriminaçãoda sociedade racista.
• Luís Gama torna-se referência emblemáticacomo precursor da negritude pela denúnciado racismo, pelo elogio da beleza da mulhernegra e pela valorização dos atributosestéticos do negro. Mas também por tercontribuído com a luta pela abolição daescravidão, pela justiça social e peloreconhecimento da dignidade do negro nasociedade.
“Meus amores são lindos, cor da noite
Recamada de estrelas rutilantes;
Tão formosa creoula, ou Tétis negra
Tem por olhos dois astros cintilantes.”
(Meus amores)
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
Sou nobre, e de linhagem sublimadaDescendo, em linha reta, dos Pegados,Cuja lança feroz desbaratadosFez tremer os guerreiros da Cruzada!
Minha mãe, que é de proa alcantilada,Vem da raça dos Reis mais afamados;- Blasonava entre um bando de pasmadosCerto povo de casta amorenada.
Eis que brada um peralta retumbante;- Teu avô, que de cor era latente,“Teve um neto mulato e mui pedante!”
Irrita-se o fidalgo qual demente;Trescala a vil catinga nauseante,
E não pode negar que seja meu parente!
Alcantilada-escarpada, empinadaBlasonava-ostentava, vangloriava-seTrescalava-exalava
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
CLARA DOS ANJOS (1922-1948), Lima Barreto
“Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que tinha presenciado e no vexame que sofrera. Agora é que tinha a noção exata da
sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de
todos. Bem fazia adivinhar isso, seu padrinho! Coitado!... “
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“A educação que recebera, de mimos e vigilâncias, era errônea. Ela devia ter aprendido da boca dos seus pais que a sua honestidade de moça e de
mulher tinha todos por inimigos, mas isto ao vivo, com exemplos, claramente... O bonde vinha cheio. Olhou todos aqueles homens e
mulheres... Não haveria um talvez, entre toda aquela gente de ambos os sexos, que não fosse indiferente à sua desgraça... Ora, uma mulatinha,
filha de um carteiro! O que era preciso, tanto a ela como às suas 77 iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassis e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a
elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...”
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PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
“Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou muito fortemente sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero:
-Mamãe! Mamãe!
-Que é minha filha?
- Nós não somos nada nesta vida.”
• A estrutura social do Brasil de seu tempo não contribuía para que os indivíduos superassem suas limitações – as desigualdades de condição econômica e de cor não permitiam uma maior mobilidade social.
• “A hibridez de Clara evidencia-se na descrição física dada pelo autor: “ nasceu com a tez do pai (mais clara) e o cabelo da mãe (liso)”. As descrições físicas – gradações de cor e o tipo de cabelo –desempenham um papel significativo na narrativa. Podemos pensar que dentro do CONTEXTO DO BRANQUEAMENTO tais aspectos são igualmente importantes. É nesta perspectiva que se propaga a IDEOLOGIA DO BRANQUEAMENTO, Clara teria nascido de certa forma numa condição física “mais afortunada”.”
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PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• Ser “perdida” (oposta de “mulher honesta”) significava que uma moça teve relações sexuais fora do casamento. Tal categoria servia para classificar aquelas que eram “seduzidas” e abandonas, ou até mesmo aquelas que regulavam sua vida sexual fora do controle masculino.
• A mulher “perdida” (QUE HAVIA PERDIDO A VIRGINDADE) efetivamente estava fora do mercado matrimonial que poderia lhe garantir alguma proteção, sobretudo para aquelas pobres e/ou negras ou mestiças (para quem era “melhor” um marido branco, segundo o mito da superioridade branca).
• Em seu livro, Lima Barreto elucida a busca por justiça por parte da família das moças que eram seduzidas. A condição social das “vítimas” – considerada desclassificadas – diante do poder e influência da família de Cassi contribuía para sua impunidade.
• Não se trata, no romance, de uma questão apenas de justiça, mas de revelar como que o sistema as MARGINALIZAVA: sua condição social e racial já era percebida como suspeita.
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PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• VISÃO CRÍTICA MAIS COMPLEXA: É o sistema em que vivem, de exclusão e estigma, que não permite a seus personagens ter uma vida digna. Por outro lado, a superação de tantos problemas só poderiam ser vencidas por uma firmeza individual – lição que a filha do carteiro só percebe após se ver sem saída.• O caráter crítico de Lima visava denunciar o mito da nação que a aristocracia no
poder buscava construir: as camadas populares estavam excluídas da ágora liberal.
• Além da denúncia social do autor, percebe-se uma crítica aos costumes, que estão relacionados às famílias dos personagens. Neste sentido, pode-se observar os papéis de gênero reservados às mulheres de “cor” e aos moradores do subúrbio neste contexto de transição para os valores burgueses da vida republicana.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
• Sempre existiram escritores negros e mulatos no Brasil, mas, à exceção de Luís Gama e Lima Barreto, nunca reivindicaram a condição de escritores negros, praticando uma literatura negra.
• Ruptura em 1978: “O genocídio do negro brasileiro, processo de um racismo mascarado”, de Abdias do Nascimento (1941-2011)
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
CONCLUSÃO“Literatura negra é aquela desenvolvida por um autor negro, ou mulato, que escreve sobre sua raça dentro do significado do que
é ser negro, da cor negra, de forma assumida, discutindo problemas que a concernem: religião, sociedade, racismo. Ele
tem que se assumir negro.”Luiza Lobo (1948), professora pós-graduada em literatura pela UFRJ, contista, poeta, cronista, ensaísta.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASCASTILHO, Suely Dulce de. A representação do negro na Literatura Brasileira: NovasPerspectivas, 2004.
GUGLIOTTA, Alexandre Carlos e SILVA, Danielle Sousa Fialho da. A clara percepçãode Lima Barreto: Gênero e raça no romance Clara dos Anjos.
MÉRIAN, Jean-Yves. O negro na literatura brasileira versus uma literatura afro-brasileira: mito e literatura, 2008.
NASCIMENTO, Gizêlda Melo do. Machado: três momentos negros, 2002.
OLIVEIRA, Marina Rodrigues de. Representações do negro livre em Machado de Assis, 2010.
PARTE 2 – LITERATURA –
PROF. EUGÊNIA FRAIETTA
O RACISMO (VERSUS) A ARTE E
CULTURA NEGRA COMO AFIRMAÇÃO DA
IDENTIDADE NO BRASIL
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
A vinda dos negros Africanos para o BrasilPor volta de 1500, portugueses e europeus chegaram ao continente africano;
Trouxeram 4 milhões de pessoas para trabalhar como escravos nas novas terras que haviam conquistado: As Américas;
Uma dessas novas terras era o Brasil.
Os negros africanos partiam de diferentes portos na África; por isso haviam vários grupos étnicos, com línguas e religiões diferentes.
Foram obrigados a deixar tudo para trás, sua família, pertences, etc. Mas jamais esqueceram o que aprenderam em sua terra.
A prática das religiões africanas eram extremamente proibidas no Brasil, eram consideradas bruxaria, a igreja católica fazia questão de pregar apenas o culto cristão;
Por isso cultuavam suas divindades secretamente;
Identificavam suas divindades com nomes de santos católicos.
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
Candomblé e UmbandaO candomblé foi trazido pelos iorubás, originários da Nigéria e pelos jejes, da costa de Daomé;
Os bantus, que vieram do sudoeste africano e correspondiam a maior população , também praticavam o candomblé, mas fizeram adaptações a sua cultura particular.
Quando rezavam em sua língua para Santa Bárbara, estavam na verdade cultuando Iansã, quando rezavam para N. Sra. da Conceição, cultuavam Iemanjá.
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
Cerimônia realizada com batuques de atabaques, cantos em iorubá ou nagô que variam de acordo com o orixá;
Realizadas em terreiros;
Ritos dirigidos a um pai/mãe de santo (babalorixá ou iabalorixá);
São feitas oferendas e consultas espirituais através do jogo de búzios;
O candomblé tem uma relação muito especial com a comida. Os devotos faziam muitas oferendas para os santos.
Os africanos trouxeram também muitos sabores na culinária: O pirão, angu, a feijoada, incluindo ingredientes como azeite de dendê,o côco e o café. Todos são herança dos africanos.
Cndomblé
CandombléIncorpora práticas do candomblé, do catolicismo e do espiritismo;
Consideram que o universo está povoado por entidades que se comunicam através de uma pessoa: o guia;
Se apresentam como pomba-gira, caboclo e preto-velho.
Umbanda
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
- KLEE, Paul. Comediante (segunda versão). 1904. Gravura em água forte. 15,5 x
17 cm. “O comediante: Máscara grotesca, à frente de um rosto moralmente sério.
...A máscara como obra de arte; atrás dela: o homem”. KLEE, Paul. Diários, p. 172.
42 Op. cit., p. 198.
fig. 11 - KLEE, Paul.
Cabeça ameaçadora. 1905.
Gravura em água forte. 19,5 x 14,3
cm.
Mangbetu chefe
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
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PROFa. CONSUELO HOLANDA
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PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
«Toda a gente costuma falar das
influências que os negros
exerceram em mim… Quando fui
ao velho Trocadero queria ir-me
embora dali… Mas não ia…
Compreendi que algo me estava
a acontecer… As máscaras não
eram como as outras
esculturas… Eram algo mágico,
estavam contra tudo, contra os
espíritos desconhecidos e
ameaçadores. Continuei a
observar os fetiches e entendi.
Eu também estou contra tudo…
Eu também acredito que tudo é
desconhecido, tudo é inimigo…»
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
Vanguardas e arte africana
Há cem anos, as exposições etnográficas e
etnológicas africanas, levadas a cabo em
diferentes cidades européias, deram a
conhecer as culturas do Continente Negro
e influíram de forma decisiva no estilo
artístico de pintores e escultores europeus.
Fascinados pelas possibilidades técnicas,
pelo caráter conceitual e simbólico e pela
simplicidade geométrica da arte negra,
autores como Cézanne ou Picasso
captaram a essência e a mensagem que
África oferecia para as novas linguagens
artísticas através da carga emocional das
suas máscaras e esculturas.
Les demoiselles d'Avignon : 1907, Óleo sobre tela, Dimensões243.9 cm × 233.7, MoMA
É considerado um quadro pré-cubista, ou o marco do início docubismo, porém evidenciando também o impacto da arte africanasobre Picasso e a importância desta para a própria caracterização docubismo. Os rostos das personagens refletem o início do "PeríodoNegro" na obra de Picasso, quando este sofre uma forte influência doprimitivismo assemelhando-se a máscaras e esculturas africanas.
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
Os africanos
A diversidade cultural da África refletiu-se na diversidade dos escravos,
pertencentes a diversas etnias o que trouxeram tradições distintas. Os africanos
trazidos ao Brasil incluíram bantos, nagôs e jejes. Os africanos contribuíram para
a cultura brasileira em uma enormidade de aspectos. A influência da cultura
africana é também evidente na culinária regional, especialmente na Bahia.
Na música a cultura africana contribuiu com os ritmos que são a base de boa
parte da música popular brasileira. Gêneros musicais coloniais de influência
africana, como o lundo, terminaram dando origem à base rítmica do maxixe,
samba, choro, bossa nova e outros gêneros musicais atuais. Também há alguns
instrumentos musicais brasileiros, como o berimbau, o afoxé e o agogô, que são
de origem africana.
Um artista tão singular quanto sua obra: Mestre Didi, baiano de 90 anos,
sumo-sacerdote dos cultos ancestrais da religião tradicional
afro-brasileira. Ele é o criador de esculturas delicadas,
simbólicas, com detalhes coloridas, feitas com material
orgânico. Cuja leveza e harmonia têm qualquer coisa
de reverência à vida, à arte e à
natureza.
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
Djanira da Motta e Silva (1914-79)
Embora não tivesse sangue negro, dedicou grande
atenção à cultura e às tradições africanas.
Descendente de índios guaranis e de austríacos,
nasceu no interior de São Paulo e foi morar na
capital, onde passou uma vida de privações. Aos
23 anos muda-se para o Rio, onde trabalhou como
modista e cozinheira, contudo logrou conseguir
aulas de pintura com Emeric Marcier e freqüentou o
Liceu de Artes e Ofícios. Começou a expor a partir
de 1942, com ampla aceitação da crítica e do
público. Fez o retrato apaixonado de sua terra e
sua gente,sem jamais recorrer ao anedótico, sem
concessões ao fácil e ao pitoresco. Nunca se
considerou uma pintora ingênua.
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
Rubem Valentim (1922-91) Altar sacral, cerca 1968, madeira pintada, alt. 2,06, col. part.
Rubem Valentim (1922-91)
Sua carreira se projeta a partir de 1942 e dois anos
depois expôs na Bahia aquele que é considerado como o
primeiro quadro abstrato executado no estado. Foi
expositor constante, como pintor e escultor, na Bienais de
São Paulo entre 1955 e 1977. Participou da delegação
brasileira em dois festivais mundiais de Arte Negra: em
Dacar (1966) e em Lagos (1977), com uma arte
geométrica ostentando símbolos dos cultos afro-
brasileiros.
Minha linguagem plástico-visual signográfica está ligada
aos valores míticos profundos de uma cultura afro-
brasileira (mestiça-animista-fetichista). Com o peso da
Bahia sobre mim - a cultura vivenciada; com o sangue
negro nas veias - o atavismo; com os olhos abertos para
o que se faz no mundo - a contemporaneidade; criando
os meus signos-símbolos procuro transformar em
linguagem visual o mundo encantado, mágico,
provavelmente místico que flui continuamente dentro de
mim.
Rubem Valentim(1922-91) Altarsacral, cerca 1968,madeira pintada,alt. 2,06, col. part.
PARTE 3 – ARTES –
PROFa. CONSUELO HOLANDA
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Tema: Questões raciais no Brasil do século XXI
Informação, opinião e argumento
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Que o racismo no Brasil hoje é diferente do de outrora,quando africanos eram trazidos escravizados para cá,não resta dúvida. No entanto, “diferente” não significa“melhor”, o que implica dizer que ele ainda é motivo demuita segregação no Brasil. É preciso estudá-lo, paraaprendê-lo e criar meios de evitá-lo.
Estrutura: 3 períodos; um termo adversativo (no
entanto); tese
Tese: “É preciso estudá-lo, para aprendê-lo e criar
meios de evitá-lo”
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Em meados do século XIX, termos como “eugenia” e“poligenia” eram usados, com propriedade “científica”,para justificar o racismo. Com base em discursos comoeste, boa parcela da intelectualidade sustentava suadiscriminação ao negro. Mesmo que ultrapassadas,essas teorias ainda reverberam na contemporaneidade.Prova disso são expressões históricas como “serviço depreto” ou “feito nas coxas” serem empregadas comnaturalidade ou como se houvesse justificativa para tal.
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Por outro lado, leis criadas recentemente, como a doracismo, e as cotas podem ajudar a mudar essa cultura.Uma pessoa que discrimine outra comete um crimeinafiançável. Ainda assim, os casos de racismo no Brasilpermanecem na escola, no mercado de trabalho, napropaganda da tevê, na política e nas classes maisabastadas. A discriminação racial é inegável.
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Para que se possa entender completamente a presençae a cultura do negro no nosso país, é urgente quepolíticas públicas, capitaneadas pelo estado e por ONGsligadas ao movimento negro, possam construir ponteseducativas entre a escola, a comunidade e o meio social,promovendo ações de valorização da cultura negra nopaís. A cultura e a religião dessas pessoas, que hojecompõem o corpo da nação brasileira junto a outrasetnias, deve ser compreendida e respeitada.
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Informação
Entende-se por informação tudo aquilo que mostra,demonstra ou exemplifica o tema do texto. Essa é aparte expositiva do texto.
Ex.: “Em meados do século XIX, termos como “eugenia”e “poligenia” eram usados, com propriedade “científica”,para justificar o racismo”
“Uma pessoa que discrimine outra comete um crimeinafiançável.”
Opinião
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
A opinião é o posicionamento do autor. Para tanto, não énecessário usar expressões como “acho”, “acredito” etc. Asimples afirmação de algo que não é referenciado, é entendidocomo opinião.
Ex.: “(...)‘diferente’ não significa ‘melhor’, o que implica dizer queele ainda é motivo de muita segregação no Brasil. É precisoestudá-lo, para aprendê-lo e criar meios de evitá-lo.”
“Mesmo que ultrapassadas, essas teorias ainda reverberam nacontemporaneidade.”
Argumento
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Argumento é o mesmo que justificativa, complemento de opinião.Para defender um ponto de vista, é importante justificar por que sepensa daquela forma.
Ex.: “Ainda assim, os casos de racismo no Brasil permanecem naescola, no mercado de trabalho, na propaganda da tevê, na política enas classes mais abastadas. A discriminação racial é inegável.”
“Prova disso são expressões históricas como ‘serviço de preto’ ou‘feito nas coxas’ serem empregadas com naturalidade ou como sehouvesse justificativa para tal.”
Parágrafo dissertativo
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Parágrafo é uma unidade textual composta por uma ou mais frasesem torno de uma ideia central. Para construí-lo com facilidade, pensenestes três elementos vistos no aulão de hoje:INFORMAÇÃO+OPINIÃO+ARGUMENTO, interligados por conectivosque auxiliem no encaminhamento de cada um desses elementos.
Por outro lado, leis criadas recentemente, como a do racismo, eas cotas podem ajudar a mudar essa cultura. Uma pessoa quediscrimine outra comete um crime inafiançável. Ainda assim, oscasos de racismo no Brasil permanecem na escola, no mercadode trabalho, na propaganda da tevê, na política e nas classesmais abastadas. A discriminação racial é inegável.
PARTE 4 – REDAÇÃO –
PROF. GUGA VALENTE
Exemplo de parágrafo dissertativo
Muito obrigado a todas e todos aqui presentes! Esperamos que estas aulas de hoje possam ajudar vocês no engrandecimento
intelectual e escolar e que vocês continuem conosco nessa parceria incrível cometendo o crime de pensar!
“Se a liberdade significa alguma coisa,será sobretudo o direito de dizer às outraspessoas o que elas não querem ouvir.”
George Orwell