A EXPRESSÃO A EXPRESSÃO DO DO
SAGRADO NA ARTESAGRADO NA ARTE
O significado da expressão artística O significado da expressão artística na tradição da Igrejana tradição da Igreja
• “O mistério só é pensado, só é vivido, por meio do simbólico”
Claudio Pastro
EMENTAEMENTA
• 1ª Parte do Programa:
• O Sagrado: oposição ao profano• O que é o Sagrado?
• A experiência religiosa e o Espaço Sagrado: a presença escondida
• O Mito• O Sagrado e o Profano
• A Linguagem do SAGRADO: a IMAGEM (Símbolo)
• A Hierofonia
• 2ª Parte do Programa:
• ÍCONES: símbolos da beleza divina• Diferença entre o Belo clássico e a Beleza
Divina dos Ícones• A Tradição Sacra e a devoção religiosa na
arte• Vídeo: ÍCONES - Imagens da Rússia Cristã
• Debate e Visita aos Ícones da Capela da USC
O Sagrado: oposição ao profanoO Sagrado: oposição ao profano
Introdução
Para o Homem moderno e ocidental, sobretudo para o homem areligioso, tornou-
se difícil aceitar que o mundo é algo mais que estas cidades gigantescas e caóticas, progressivas, com problemas e inventos
práticos.
A perda da sacralidadeA perda da sacralidade
Para o cidadão atual, as funções vitais como alimentação,
sexualidade, trabalho são meras funções fisiológicas e não
estariam carregadas de uma “sacralidade”.
O que é o Sagrado?O que é o Sagrado?
• “Sagrado” é a palavra indo-européia que significa “separado”.
• A sacralidade, portanto, não é uma condição espiritual ou moral, mas uma qualidade inerente
ao que tem relação e contato com potências que o homem, não podendo dominar, percebe
como superiores a si mesmo, e como tais atribuíveis a uma dimensão denominada
“divina”, considerada “separada” da “outra”, isto é, do plano humano.
• O homem tente a manter-se distante do Sagrado, como sempre acontece diante
do que se teme, e, ao mesmo tempo é por ele atraído, como se pode ser com relação
à origem de que um dia nos emancipamos.
ReligiãoReligião
• Essa relação ambivalente é a essência de toda religião, que, como denota a
palavra, contém, tendo-a em si reunida (re-legere), a área do sagrado, de modo a garantir simultaneamente a separação e o contato, que ficam todavia regulados
por práticas rituais capazes de evitar, por um lado, a expansão descontrolada do
sagrado e, por outro, a sua inacessibilidade.
O Espaço Sagrado
• Para o contato com o mundo sagrado são designadas pessoas consagradas, distintas dos demais integrantes da comunidade (sacerdotes), espaços
destacados de outros por serem imbuídos de poder (nascentes, árvores, montes e
depois templos e igrejas), tempos diferentes dos outros e chamados
festivos, que distinguem os períodos “sagrados” dos “profanos”.
O Espaço ProfanoO Espaço Profano
• Fora do templo (fanum), desenvolve-se a vida diária marcada pelo trabalho e pelas
proibições (os tabus), as quais dão origem às normas e às transgressões.
• A oposição sagrado-profano remete à oposição puro-impuro, que circunscreve a esfera da
relação bem/mal, criando esquemas de ordem apoiados sobre a antítese de um pólo positivo e
um negativo. • Ritos, sacrifícios, etc, servem para propiciar os efeitos benéficos do Sagrado, aproximando-o do nosso dia-a-dia. O rito é a forma de atualização
do mito.
O MitoO Mito
• Para o homem primitivo, a caça, a pesca e o plantio são gestos sacrais.
• Essas sociedades atualizam o mito (gesto primordial que narra quando algo “surgiu” ou “aconteceu” pela primeira vez) através
de um rito específico.
• Religião pode, assim, ser definida como o conjunto das atitudes e atos pelos quais o
homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais.
• Tomando-se o vocábulo num sentido mais estrito, pode-se dizer que a religião para
os antigos é a reatualização e a ritualização do mito.
• O rito possui, "o poder de suscitar ou, ao menos, de reafirmar o mito".
• Ao homo religiosus não basta a contemplação e a lembrança da presença
divina
• Através do rito, o homem se incorpora ao Sagrado, beneficiando-se de todas as
forças e energias que jorraram nas origens dos mitos.
• A ação ritual realiza no imediato uma transcendência vivida.
• O homem quer entrar em contato íntimo com o divíno, unir-se a ele, participar da sua força vital e da sua magnificência. Quer conviver com Deus, e que Deus
conviva com ele.
• O homem reclama a ação de Deus e, ao mesmo tempo, não quer apenas receber,
mas também dar, doar a Deus.
• A forma sensível dessa ação é o rito.
• O rito é uma ação sagrada ligada essencialmente, substancialmente, ao
mito e, portanto, à realidade divina e ao evento sagrado representado por ele; o rito é a reedição simbólica do evento.
• Portanto, o rito e o mito estão estreitamente ligados entre si: o rito evoca o mito e o atualiza, enquanto o mito ilustra
o rito e o explica em forma lingüística.
• O conjunto dos atos simbólicos (narrativas sagradas, hinos, orações, bênçãos,
imagens, etc.) constitui aquilo que se chama de liturgia
• Tal como no mito, também no rito existe o perigo de se perder, de se ignorar sua
intencionalidade simbólica.
• No rito, com a ausência do significado Sagrado e Simbólico (que remete à
realidade) cai-se no sacramentalismo, na superstição e na magia.
• O rito toma, "o sentido de uma ação essencial e primordial através da
referência que se estabelece do profano ao sagrado". Em resumo: o rito é a praxis
do mito. É o mito em ação. O mito rememora, o rito comemora.
O Sagrado é o CentroO Sagrado é o Centro
• Esses homens sabem que não são o centro do mundo e que participam dele por uma concessão. Existe, pois, um
Centro, de onde tudo foi criado e de onde tudo emana: O SAGRADO.
• Assim, em todas as culturas e religiões há dois mundos, dois modos de ser no
mundo:O SAGRADO e o PROFANO.
O que é o SAGRADO?O que é o SAGRADO?• Há uma incapacidade humana em
exprimir toda uma “presença escondida”.
• O homem toma conhecimento do Sagrado porque ele se manifesta, se
mostra como outra coisa absolutamente diferente do profano, do usual, do
cotidiano.
• Dessa forma, como vimos, há um espaço sagrado, forte, significativo e
há outros não sagrados e sem estrutura nem consistência.
A experiência religiosaA experiência religiosa
• Para uma verdadeira experiência religiosa, é necessário um ponto fixo, o eixo central de toda orientação futura.
• Na manifestação do Sagrado há uma revelação que convida a um senso de orientação e unidade. A manifestação
revela um ponto fixo absoluto, um centro, fundando o mundo.
A VIDA através do SAGRADOA VIDA através do SAGRADO
• Nas sociedades em que todas as atividades são RITUALIZADAS com um SIGNIFICADO VITAL, participa-se de
certo modo do SAGRADO (é vital porque é parte do Sagrado): vem d´Ele, toda ação
é sagrada, a vida vem de UM OUTRO.
A Linguagem do SAGRADO é a A Linguagem do SAGRADO é a IMAGEMIMAGEM
• O Mundo antigo tinha um pressentimento obscuro do Mistério:
pressentia que todo terrestre é a imagem e obra de algum poder e de
alguma beleza supra terrestre.
• Assim, o SAGRADO se manifestava.
• A HIEROFANIA (manifestação do SAGRADO) podia se dar em qualquer objeto (pedra, árvore, fogo, água, etc.)
A Imagem como espaço do A Imagem como espaço do SAGRADOSAGRADO
• Não se tratava da veneração de uma pedra como pedra, de um culto de
árvore como árvore. A pedra sagrada, a árvore sagrada, não eram adoradas
como pedras ou como árvores.
• São-no justamente por que são hierofanias, porque “mostram” qualquer
coisa que já não é pedra ou árvore, mas o SAGRADO, “OUTRA COISA”.
ExemploExemplo
• Toda construção religiosa possui uma significação cósmica. Este princípio se aplica sem dúvida alguma à arquitetura
cristã em geral, e à bizantina em particular.
• Aqui chama a atenção na arquitetura bizantina, em especial, o significado
místico que se encontra presente em um elemento específico: a cúpula.
• Esta, como podemos constatar, não é apenas
um elemento arquitetônico decorativo,
pois corresponde à concepções estéticas
fundamentadas em um simbolismo preciso.
• A cúpula não possui seu sentido em si mesma, mas sim naquilo que
representa: a abóbada celeste.
• Esta, como podemos constatar, não é apenas um elemento arquitetônico
decorativo, pois corresponde à concepções estéticas fundamentadas em
um simbolismo preciso. A cúpula não possui seu sentido em si mesma, mas sim
naquilo que representa: a abóbada celeste.
A Imagem é o lugar da A Imagem é o lugar da presença do Invisívelpresença do Invisível
• Manifestando o SAGRADO, um objeto qualquer torna-se outra coisa e
continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do seu meio
cósmico envolvente.
• Assim, para aqueles a cujos olhos uma IMAGEM se revela SAGRADA, a sua
realidade imediata transmuda-se numa REALIDADE SOBRENATURAL.
Eis a máxima HIEROFANIA, DEUS Eis a máxima HIEROFANIA, DEUS revelando-se na CARNE, na revelando-se na CARNE, na
IMAGEM.IMAGEM.
• Para aqueles que têm uma experiência religiosa, toda a natureza é suscetível
de revelar-se como sacralidade cósmica. O cosmos pode tornar-se uma
hierofania.
• Começamos a perceber que as Hierofanias (O SAGRADO) se manifestam
em muitas coisas e pessoas que se tornam consagradas, sagradas junto ao sagrado, ao vital, ao Um, à aquilo que É.
A RevelaçãoA Revelação
• Aquilo que É e que torna tudo sagrado (Javé= Deus), Ele mesmo como homem
se revelou.
• O que ante era “imagem e semelhança” do totalmente Outro, esse mesmo Outro quis revelar-se como Filho do Homem.
A BelezaA Beleza
• Da sua antiga raiz sagrada, o sânscrito, a palavra BELEZA ( “Bet El Za”) significa
“o lugar que Deus brilha” ou “o lugar que Deus se manifesta”.
• Assim , podemos afirmar que a expressão da beleza é a forma mais próxima da
GLÓRIA DIVINA.
CRISTO: a BELEZA PRIMEIRACRISTO: a BELEZA PRIMEIRA
• O Evangelho de São João cita“ o milagre da ENCARNAÇÃO na REVELAÇÃO DA BELEZA”.
• Seguindo este princípio, o escritor russo DOSTOIEVSKI (séc. XIX )em sua obra “Os Demônios” exclama: “ A BELEZA
SALVARÁ O MUNDO”.
• Ele está se referindo à BELEZA PRIMEIRA: “O Verbo Encarnado, JESUS
CRISTO”.
O Divino e o Humano formam o O Divino e o Humano formam o CRISTOCRISTO
• CRISTO é o UM, o ÚNICO BELO, ou seja, o Divino e o Humano.
• O Incorpóreo se torna Homem por nossa causa: DEUS QUIS UNIR-SE À FIGURA
DO CORPO.• O VERBO (CRISTO) ao se encarnar se
sujeita às condições humanas sem perder sua DIVINDADE.
A ARTE NA TRADIÇÃO A ARTE NA TRADIÇÃO CRISTÃCRISTÃ
O ÍconeO Ícone
O significado do ÍconeO significado do Ícone
Para se interpretar o significado do ícone, é preciso desvinculá-lo da representação que a cultura ocidental faz
dele quando o caracteriza
simplesmente como um objeto de arte.
• A iconografia, arte verdadeira e própria dos primeiros cristãos, se desenvolve
através dos séculos a partir das catacumbas, atravessa os concílios, a
iconoclastia, perfazendo um longo caminho. A iconografia é arte teológica, tornando possível a união da arte e da
teologia na criação de um ícone.
• Mais que uma obra de arte, o ícone faz um apelo àquela arte que permite a passagem do
visível ao invisível. • A beleza de um ícone não é exclusivamente
estética, nem exclusivamente espiritual, mas interior. Quem o contempla deve acolher a luz
que é Deus para poder perceber no olhar purificado, a clareza do Tabor, que transfigura a
matéria.
• O ícone, representação de uma realidade transcendente, preenche a nossa visão de um
universo de beleza. • A meditação diante do ícone se torna um
suporte de ordem porque fixa no espírito através da imagem, que o envia e o concentra através da realidade simbólica. No ícone a matéria não
é violentada, mas é como Deus a criou.
• Porque todos os materiais e os ingredientes utilizados provêm do mundo mineral, vegetal e
orgânico e são chamados a participar da transfiguração do cosmo, pois o iconógrafo deve
espiritualizar a realidade sensível. • O ícone é teofânico, signo visível da presença
invisível, e ultrapassa o pintor e o espectador, a causa do elemento transcendente que nela
habita. • O ícone, portanto é a Palavra em cor e forma.
• O ícone possui um valor sacramental.
• Não só reflete a Glória do Reino, mas contém a energia vivificante, possui uma
função mediadora na oração mais pessoal.
• O conteúdo do ÍCONE não se esgota somente
como revelação religiosa, artística e
cultural, no seu âmago porém encontra-se um
ideal que vai muito além de uma pura expressão
estética
““eikon”eikon”
• Para entender um pouco de sua riqueza expressiva, devemos voltar à origem da palavra grega “EIKON” cujo significado não termina no sentido de imagem ou o que é pintado.
AkeropitaAkeropita
O ícone é teofânico, signo visível da presença invisível, e ultrapassa o pintor e
o espectador, a causa do elemento transcendente que nela habita. Possui um
valor sacramental.
Não só reflete a glória do reino, mas também a energia vivificante e possui uma
função mediadora na oração pessoal. A meditação diante de um ícone se torna um suporte de ordem, porque fixa, no espírito
através da imagem, que o envia e o concentra através da realidade simbólica.
• O ideal procurado e que se esconde na palavra “EIKON” diz respeito a um
conceito abstrato que significa a criação de uma verossimilhança ou a reprodução
do que é vivo ou ainda a imagem da lembrança que substitui a imagem
original desaparecida ou inatingível.
• A composição do ícone está em íntima relação com a teologia e a espiritualidade da Igreja. Não se trata de um quadro na
concepção ocidental, mas de um momento e lugar epifânicos.
• O fundo é despojado, limpo, ausente de paisagens de onde emana a luz e a
transparência das cores testemunham o diáfano o mundo espiritual no carnal.
• As figuras são estáticas, como receptáculos de graça. A perspectiva é inversa à ótica lógica pois, como arte
sacra, o Mistério vem até o espectador.
• Não se trata de uma pintura passiva, realista, fotográfica.
• A luz dessa obra, como luz tabórica emana da presença na figura retratada e a luz não é
tratada como numa obra acadêmica, vindo de fora da obra, de um ponto externo, uma janela ou vela, mas do próprio ser, da pureza da cor chapada e não de tons e subtons ilusórios que
provocam realismo.
DEUS: DEUS: o primeiro artistao primeiro artista
• Os criadores de ícones afirmam que DEUS foi o primeiro artista,
dado que ao criar o ser humano, o fez à sua IMAGEM.
• Deste modo, o arquétipo do ser humano (tanto forma e espírito) é o próprio Deus. Assim, o
ÍCONE seria a imitação do original (sua denominação funda-se na semelhança de uma
relação face à face).
• Em outras palavras: DEUS concedeu ao ser humano, por meio da imaginação, a força espiritual de recriar
formas e tornar visível, através da arte, o mondo puramente ideal.
• O ícone é um testemunho visível tanto do abaixamento e Deus até o homem como do
lançamento do homem para Deus. • Se a palavra e o canto da Igreja santificam a
nossa alma mediante o ouvido, a imagem a santifica mediante a vista, o primeiro dos
sentidos... a nossa vocação é de adquirir a semelhança do nosso Protótipo Divino,
completar na nossa vida, o que nos foi revelado e transmitido pelo Deus- Homem.
• O ÍCONE é a arte que melhor consegue expressar a
harmonia entre o ideal abstrato e a espiritualidade dos
personagens retratados.• Fundamentada na realização
desse ideal, a arte dos ícones atravessou os séculos
espalhando religiosidade e beleza.
ÍCONE: símbolo da beleza ÍCONE: símbolo da beleza divina.divina.
• A religiosidade como expressão espontânea d alma profundamente religiosa do povo se originou e se nutriu da espiritualidade dos
padres de sua Igreja e por meio da arte tentou transferir para o ÍCONE uma
MISTERIOSA PRESENÇA DO TRANSCENDENTE, tornando-se desse modo
um SÍMBOLO DA BELEZA DIVINA.
• Como expressão religiosa, o ÍCONE exerce dupla função, ou seja, a de ser
participante ao mesmo tempo da natureza do modelo e da descoberta da
sua realidade espiritual.
• Concluímos, assim, que a arte do ÍCONE tem consciência dos
limites espaciais e temporais do ser humano.
• Contudo, esta arte pretende que o ÍCONE seja capaz de superar
tais limites e possa levá-lo pelos caminhos da descoberta do
invisível e inatingível.
A MODERNIDADE E OS ÍCONESA MODERNIDADE E OS ÍCONES
CLAUDIO PASTROCLAUDIO PASTRO
• Simbolicamente, todo cristão é um nobre (...) No momento em que somos
batizados, todos somos herdeiros de Cristo."
Claudio Pastro
Bibliografia Indicada:Bibliografia Indicada:
• PASTRO, Cláudio. Arte Sacra – O Espaço Sagrado Hoje. São Paulo: Edições Loyola,
1993.• ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1994.• MONDIN, Battista. Quem é Deus – elementos
de teologia filosófica. São Paulo: Paulus, 1997