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A FORMATAÇÃO TELEVISIVA DE EXPERIÊNCIAS
TRAUMÁTICAS: uma análise do programa Encontro com Fátima Bernardes1
THE TELEVISION FORMAT OF TRAUMATIC EXPERIENCES: an analysis of the TV talk show Encontro
com Fátima Bernardes Igor Sacramento2
Resumo: Este trabalho analisa a formatação televisiva de experiências traumáticas no programa Encontro com Fátima Bernardes entre 2012 e 2015, demonstrando: 1) o que está em jogo na ampliação da definição de trauma e na classificação de determinadas experiências ordinárias de sofrimento como traumáticas; 2) de que maneira o formato do programa atribui teor testemunhal a relatos pessoais de sofrimento; e 3) como se dão as articulações do formato do talk show com o discurso terapêutico contemporâneo. A fala sobre si nesse programa reinscreve o deslocamento do problema individual ao coletivo pelo clamor de representação por meio de voz, corpo e presença que se tornam midiaticamente públicos por exemplificarem os desígnios atuais de autoestima, empoderamento e superação num clima de leveza, informalidade e descontração. Nesse sentido, o trauma é menos o que interdita uma cadeia representacional de acontecimentos passados do que aquilo que se supera. Palavras-Chave: Televisão. Talk Show. Trauma. Abstract: This paper analyzes the television format of celebrity testimonials and anonymous about traumatic experiences in the program Encontro com Fátima Bernardes between 2012 and 2015 demonstrating: 1) what is at stake in the classification of certain experiences of suffering as traumatic; 2) how the program format gives testimonial content to personal suffering reports; and 3) the articulations between the television language and the contemporary therapeutic discourse. The autobiographical narratives in this talk-show restores the displacement of the individual to a collective problem by the clamor of representation by the midiatization of a voice, body and presence that exemplify the current principles of self-esteem, empowerment and resilience in a relaxed and informal ambience. In this sense, the trauma is less an interdiction of the representational chain of past events than what is surpassed. Keywords: Television. Talk Show. Trauma.
1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de Televisão do XXV Encontro Anual da Compós, na Universidade Federal de Goiás, Goiânia, de 7 a 10 de junho de 2016. 2 Pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Comunicação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica da Fundação Oswaldo Cruz (Laces/Icict/Fiocruz) e doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ). E-mail: [email protected].
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1. Introdução A expressão talk show designa programas que têm a conversação como base
estruturante da enunciação. Proveniente do rádio, na televisão estadunidense, o gênero se
estabeleceu nos anos 1950 por meio de três subgêneros: os da noite (cujo modelo fora The
Tonight Show, de Steve Alle e Jack Paar, 1954-1961), os da tarde (como The Phil Donahne
Show, 1967-1995) e os da manhã (como Today Show, de Dave Garroway, 1952-1959). De
acordo com Timberg (2004), os primeiros são baseados no entretenimento noturno, com
números musicais, entrevistas com celebridades, participação de comediantes, presença de
assuntos políticos e polêmicos com maior tom irônico e humor ácido. Os vespertinos são
caraterizados pela maior participação da plateia, que comenta os casos de infidelidade,
depressão, assédio moral, endividamento, problemas familiares, traumas, sexualidade,
violência doméstica, carreira, preconceito e outros temas que são levados ao palco pontuados
por fortes doses de aconselhamentos e lições de comportamento e moral por parte de
especialistas e do próprio apresentador. Já os matutinos são aqueles que têm formato próximo
ao de revista, trazendo notícias e informações de diversos temas do cotidiano de modo leve e
informal. Geralmente, há matérias que são comentadas por celebridades ou anônimos, ou que
introduzem as conversas que se desenvolverão no programa por determinado tempo. No
Brasil, embora o gênero exista desde os primórdios da televisão (cf. SILVA, 2009 e 2013), o
termo talk show apenas se popularizou de modo a definir programas baseados na conversação
nos anos 1980.
Encontro com Fátima Bernardes estreou no dia 25 de junho de 2012. É exibido de
segunda a sexta, às 10h50min, após o programa Bem-Estar. Além de Fátima Bernardes, conta
em seu elenco fixo com Marcos Veras (ator) e Lair Rennó (jornalista). Com certa
regularidade, também participam do programa, num clima informal de conversa com os
convidados, o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, o poeta Fabrício Carpinejar, a
dermatologista Daniela Alvarenga, a filósofa Viviane Mosé, a psicanalista Lígia Guerra, a
educadora Andrea Ramal e o psicanalista Moisés Groisman. Eles atuam não apenas como
especialistas, mas, sobretudo, como interlocutores daqueles que narram histórias de vida.
O programa extrapola a definição canônica de Timberg (2004) para os subgêneros de
talk shows na televisão estadunidense. Apesar de o livro ser baseado numa longa
investigação histórica sobre o gênero, trazer evidências e ser frequentemente utilizado para
historicizar outras culturas televisivas pelo mundo, o pressuposto tomado pelo autor é o de
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que as definições de gêneros televisivos se dão por modelizações internas ao texto. Ou seja,
ele busca na regularidade definir um núcleo estável – praticamente fixo – de características
para o gênero. A perspectiva com que se trabalha neste texto é outra: o gênero é uma
categoria cultural (MITTELL, 2004). Dessa forma, o gênero pode ser analisado na prática,
em uso e pleno movimento e não como um conjunto de regras previamente definidas para a
produção de determinados programas.
A discussão sobre gêneros, subgêneros e formatos televisivos é bastante complexa e
diversificada, não cabendo na proposta deste trabalho. No Brasil, há importantes sínteses de
perspectivas teóricas distintas, das que se filiam à Linguística (SEIXAS e PINHEIRO, 2014),
à Semiótica (DUARTE e CASTRO, 2007) e aos Estudos Culturais (cf., por exemplo,
GOMES, 2011b; LOPES e GOMÉZ, 2009; RIBEIRO, SACRAMENTO e ROXO, 2014).
Como já foi afirmado, este trabalho está baseado na análise cultural desenvolvida por Mittell
(2004). Desse modo, os gêneros não são um todo formal, ou um conjunto de regras e
procedimentos para o processo de produção de programas, mas entendidos como instituições
histórico-culturais. Essa abordagem traz para o centro da investigação a relação entre
televisão e sociedade, tomando os gêneros televisivos como formas exploradas (definidas,
redefinidas, interpretadas, consumidas, disputadas) no interior de determinadas formações
socioculturais e suas diferentes mediações (institucionais, culturais, políticas, econômicas,
profissionais, criativas, artísticas). Sendo assim, considera-se a dinâmica dos gêneros
televisivos numa abordagem historicizante que permite pensar as articulações entre televisão,
cultura, política e sociedade (GOMES, 2011a).
Os gêneros, embora sejam códigos estabilizados num determinado produto cultural
que permite a identificação de conteúdo temático, estilo e construção composicional comuns
a um dado conjunto de enunciados, se processam numa estabilidade em fluxo (MITTELL,
2004, p. 12). Ou seja, admite-se que os produtos culturais são contingentes e transitórios,
transformando-se a si mesmo e ao gênero ao longo do tempo no conjunto de diversas
variações sócio-estéticas. Os subgêneros são uma combinação específica derivada dos
gêneros principais estabelecidos. Já os formatos envolvem específicos processamentos que
permitem modelizações do que “estrategicamente se procura tornar mais característico na
incorporação de determinado gênero à forma televisiva” (RIBEIRO, SACRAMENTO e
ROXO, 2014, p. 24). No formato são fixadas determinadas características para tornar os
produtos televisivos mais facilmente reconhecíveis.
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No caso de Encontro com Fátima Bernardes, um talk show matinal que conta com
notícias, números musicais, presença de celebridades, testemunho de anônimos e um elenco
fixo de comediantes, jornalistas e especialistas, as definições genéricas de Timberg (2004)
não cabem. Além disso, o programa marcou a transição da apresentadora Fátima Bernardes
da área de jornalismo para a de entretenimento da Rede Globo. Em muitos momentos do
programa, a apresentadora, seja na cobertura de algum evento, seja em comentários durante
uma conversa, assume o ethos de jornalista: no primeiro caso, num papel próximo ao de
âncora cuja seriedade e formalidade varia de acordo com o teor do acontecimento narrado; e
no segundo, em determinados momentos, assume uma narrativa autorreferencial, relatando
episódios envolvendo a sua trajetória como jornalista (GADRET, 2014). No caso deste
trabalho, pela amostra de análise definida, outra forma de modalização discursiva foi
observada: o relato da apresentadora sobre acontecimentos pessoais.
Este trabalho tem como objetivo principal analisar a formatação televisiva de
experiências traumáticas no talk show Encontro com Fátima Bernardes. Para tanto, serão
considerados, pela observação das inserções do programa, os seguintes aspectos: 1) o que
está em jogo na ampliação da definição de trauma e na classificação de determinadas
experiências ordinárias de frustração ou sofrimento como traumáticas; 2) de que maneira o
formato do programa atribui teor testemunhal a relatos pessoais de sofrimento; e 3) como se
dão as articulações do talk show com o discurso terapêutico contemporâneo.
A escolha de Encontro com Fátima Bernardes se deveu ao fato de o programa
procurar ter um clima informal, remetendo à encenação do ambiente doméstico (uma sala de
estar, onde a apresentadora recebe os seus convidados num enorme sofá no centro do
estúdio). O programa, assim como muitos talk shows no Brasil (cf. SILVA, 2013), promove
uma mistura de temas de interesse público com a vida privada, ao enfocar em acontecimentos
cotidianos discutidos por meio de relatos pessoais de anônimos e celebridades. O programa
conta, assim, com uma forte estratégia de pessoalização discursiva. As histórias contadas são
pessoais, tendo o intuito de constituir uma relação de intimidade e de identificação com o
público mediada pela apresentadora. São frequentes no programa temas sobre
comportamento, saúde, preconceito, moda, beleza, fama, qualidade de vida, histórias de
superação e relacionamento.
A partir do acesso ao acervo de vídeos do programa pelo site
(http://gshow.globo.com/programas/encontro-com-fatima-bernardes/) com uma busca pela
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palavra trauma realizada em 10 de fevereiro de 2016, foram encontradas 13 inserções. Para
este trabalho, somente foram considerados as inserções entre 2012 e 2016. Além disso, foram
apenas tomadas para a análise aquelas que tratam do trauma como transtorno psicológico,
excluindo as que abordam traumatismos provocados por toda ordem de eventos que causam
danos graves ao corpo, especialmente ao crânio.3
2. As mudanças de sentido na experiência traumática No dia 15 de agosto de 2012, um tema em discussão no programa é o caso de
infidelidade envolvendo amigos: depois de uma separação, a mulher se aproxima do amigo
do ex-marido e os dois começam a namorar. À época, o programa utilizava como recurso
frequente a dramatização com atores não notabilizados pela televisão de casos relatados por
telespectadores. O uso de atores desconhecidos ou de não atores é estratégia recorrente de
produção de autenticidade no âmbito da linguagem audiovisual (NICHOLS, 2007); no
contexto contemporâneo, a experiência, sobretudo em sua dimensão testemunhal, assumiu tal
valor de autenticidade que garante maior “efeito de vida real”, pela fala de si, em primeira
pessoa, num relato próprio sobre o que viveu (ARFUCH, 2010, p.67). O programa, ao final
daquele ano, consolidou o depoimento pessoal como forma predominante de publicização de
experiências íntimas. No entanto, àquela época, celebridades e especialistas comentavam o
caso, com algum detalhe anedótico da própria vida, como acontece com o primeiro grupo, ou
com os expertos que frequentemente aparecem na televisão e vulgarizam conhecimentos
científicos específicos, sobretudo médicos ou psicológicos. Nesse formato, a psicanalista
Eliane Cotrim foi interpelada pela apresentadora do programa para responder se o ex-marido
no caso representado sente mais ciúmes do amigo ou da ex-mulher. Elas dialogaram da
seguinte forma:
ELIANE: Eu acho que ele está sofrendo uma situação que a gente pode chamar de traumática, porque uma separação sempre puxa um fio da vida da gente de todas as perdas que a gente teve. Então, ele está super frágil, mas eu acho que isso vai precisar de um tempo até que, com alguma maturidade dos três, a amizade possa se recompor. FÁTIMA: Mas você acha que ele tem ciúmes? Ele fala muito disso: que o amigo era a pessoa com quem ele conversava. Ele perdeu a mulher, com
3 A pesquisa empírica contou com o apoio da bolsista de iniciação científica Jaqueline Ruiz (PIBIC/CNPq/Fiocruz) e está vinculada ao projeto “Diante da dor dos célebres: o ethos terapêutico em testemunhos televisivos de sofrimentos íntimos”, que foi contemplado pelo edital Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas (MCTI/CNPQ/ MEC/CAPES n.22/2014).
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quem não conversa mais, e perdeu esse grande amigo, esse grande confidente, na verdade... ELIANE: Ele está com ciúmes... Ele está se sentindo duplamente traído, mas vamos lembrar que ser juiz deve ser muito difícil, uma missão impossível. Nós temos aqui três verdades. As três pessoas ali têm as suas histórias, seus vínculos afetivos. FÁTIMA: Casos assim são comuns no consultório. ELIANE: São comuns. Hoje em dia são comuns. Os casais e as famílias têm uma diversidade incrível, e a gente tem que lidar com isso, com os acasos.
Esse diálogo conta com três importantes movimentos de sentido. O primeiro deles é o
próprio descolamento do trauma para a experiência ordinária. A situação traumática, segundo
a psicanalista, traz à memória “todas as perdas que a gente teve”. Essa definição configura o
processo de popularização da escuta terapêutica, dos métodos e conhecimentos psicanalíticos
na cultura da mídia, sobretudo na televisão. De acordo com Rothe (2011), os talk shows
contribuem para transformar o trauma numa questão de estabelecer dicotomia entre vítima e
agressor. Há uma tendência de se limitar as perguntas às experiências das vítimas, mas com o
objetivo de demonstrar o desempenho do sofredor em evoluir do sofrimento para a
superação. Dessa forma, identifica-se a vítima como inocente, vulnerável ao mal que sobre
sua vida se abateu. O mal, nesse caso, está localizado na “dupla traição” que o ex-marido
sente em relação à ex-mulher e ao amigo. Este é um segundo processo de produção de
sentido frequente nessa inserção do programa: a localização de culpados para os sofrimentos,
estabelecendo, de modo assemelhado às narrativas melodramáticas, vilões e vítimas. Fica
clara a iniciativa de Fátima Bernardes em polarizar a situação entre o bem e o mal,
simpatizando-se definitivamente com o ex-marido (encarado como vítima) em detrimentos
dos outros dois (vistos como traidores). O herói, nesse caso, tornou-se o próprio sofredor, que
diante do mal, deve entender que só tem a si mesmo e que precisa se auto-gerenciar da
melhor forma possível para se recuperar, enfrentar e superar as adversidades (cf.
SACRAMENTO e FRUMENTO, 2015).
Nesse contexto, a linguagem do trauma incorpora-se ao discurso terapêutico
contemporâneo. Este é um terceiro movimento de sentido presente na conversa da
apresentadora Fátima Bernardes com a psicanalista Eliane Cotrim: fica evidente quando a
especialista evoca a “maturidade” como elemento fundamental para recompor os “vínculos
afetivos” dos três. Como bastante característico do discurso terapêutico contemporâneo, o
trauma passa a ser considerado como da ordem da autogestão emocional sob um senso
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profundo de aconselhamento. Assim, o sofrimento é desconectado do contexto social e
entendido como uma questão de gestão de si e autoaprimoramento (FUREDI, 2004, p.128).
As práticas de autoestima e de autogestão moldam novas gramáticas de ação e configuram as
tecnologias de poder, na medida em que transferem para o âmbito da gestão individual a
responsabilidade pela felicidade ou sofrimento, pelo sucesso ou frustração, pela saúde ou
doença: pela vida ou morte, no limite. Desse modo, a relação entre autogoverno e autoestima
tornou-se tão intensa, num contexto de psicologização da sociedade, que se cobra da vítima
uma gestão emocional tal que permita resistência e recuperação diante de situações adversas.
Assim, a autoestima tornou-se algo como uma “vacina social” que habilita as pessoas a
viverem uma vida responsável, segura e afortunada (CRUIKSHANK, 1996, p.232).
Por conta do incêndio da Boate Kiss em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, na
madrugada de 27 de janeiro de 2013, o programa Encontro com Fátima Bernardes do dia
posterior foi dedicado ao trágico acontecimento que levou à morte de mais de 242 e deixou
mais de 100 feridos. A apresentadora entrevistou a pedagoga Andréa Ramal para saber como
deveria ser a volta às aulas diante do ocorrido. Segundo a especialista, não se poderia
começar “dando de cara a matéria”. Segundo ela, não só os pais e alunos, mas também os
professores estão sofrendo com mortes de alunos, familiares e até mesmo filhos. Então, para
ela, a sala de aula deveria se transformar num espaço no qual as pessoas pudessem falar sobre
o trauma vivido até o terem superado. Na fala desta especialista, há um mesmo padrão de
gramática para ação que o da anterior: as vítimas devem se apoderar dos acontecimentos
desafortunados de modo positivo para superem. Dessa forma, na cultura da mídia, o trauma é
frequentemente privado do fundo político-social e definido como resultante social de
impasses individuais em vez de problemáticas sistemáticas (ROTHE, 2011, p.23-24).
No dia 6 de maio de 2014, o neurocirurgião Fernando Gomes Pinto, presença
frequente no programa, ao comentar o caso da Boate Kiss e a reação dos sobreviventes e
moradores de Santa Maria às perdas, foi enfático ao dizer que uma experiência traumática
como essa requer “um tratamento psicológico, com profissional especializado, e até mesmo
um ansiolítico”. Desse modo, implicitamente se reconhece a necessidade de
reestabelecimento da experiência de vida considerada normal em detrimento do próprio
sofrimento. Afinal, a presença marcante do discurso terapêutico e seu receituário de
autoestima e superação na cultura contemporânea torna necessária a “evitação da dor”
(BIRMAN, 2000, p.248). Nesse aspecto, em muitos momentos, Encontro com Fátima
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Bernardes reafirma a necessidade de sujeitos capazes de procedimentos de
autogerenciamento que permitam o estabelecimento de uma vida feliz e segura.
Já no dia 9 de outubro de 2014, motivada pelo arrastão ocorrido no Morumbi, bairro
considerado nobre da cidade de São Paulo, o programa Encontro com Fátima Bernardes
abordou o tema da violência urbana em termos psicológicos. A apresentadora conversou com
o psicanalista Moisés Groisman: FÁTIMA: A gente vai falar com o Dr. Moisés Groisman para saber se tudo isso é um ponto a mais de estresse no dia a dia ou se a gente vai se acostumando com toda essa violência. MOISÉS: Eu acho que pode ficar anestesiado, como você está falando, mas existe até uma síndrome que foi catalogada pelos americanos, que é a síndrome do estresse pós-traumático, não só em relação a assaltos, mas a diferentes traumas que o indivíduo sofre. Mas, é claro, depois disso, com muitos assaltos repetidos, pode até se criar uma patologia emocional que requererá uma série de tratamentos.
O psicanalista se referia ao Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
(DSM), desenvolvido pela American Psychiatric Association desde 1952 e que vem sendo
referendado e utilizado por diversas associações psiquiátricas ao redor do mundo. Quando
pela primeira vez apareceu no manual, no DSM-III, de 1980, o estresse pós-traumático era
considerado um transtorno provocado por algum tipo de evento ou situação-limite, referindo-
se especialmente aos sobreviventes do Holocausto, soldados transtornados pela participação
numa guerra, vítimas de atentados terroristas, cidadãos torturados por estados ditatoriais,
mulheres violentadas e até mesmo aqueles que sobreviveram ou perderam entes queridos
numa catástrofe natural. Vinte anos depois, o DSM-IV ampliou dramaticamente o
entendimento do transtorno do estresse pós-traumático para toda a sorte de eventos que
provocam nos sujeitos medo intenso, desamparo e horror, o que permitiu classificar como
traumatizante uma gama infinitamente maior de eventos (“não só em relação a assaltos, mas a
diferentes traumas que o indivíduo sofre”) e como traumatizados um conjunto tão igualmente
maior de indivíduos que, antes, estavam incluídos no rol dos normais. Assim, um maior
número de indivíduos está potencialmente necessitado de tratamento e de medicamentos (cf.
VAZ, 2015). Afinal, como disse o psicanalista, a experiência traumática “pode criar uma
patologia emocional”.
O que se identifica aqui é que a noção de trauma passou a ser associada a um conjunto
diversificado de eventos. Na sociedade contemporânea, há uma transformação cultural que é
marcada pela “generalização da experiência traumática” (FASSIN e RECHTMAN, 2009,
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p.6). Esta transformação é o próprio processo de psicologização da experiência social. A
linguagem psicológica (trauma, neurose, ansiedade, transtorno, síndrome, pânico) está cada
vez mais presente no cotidiano das pessoas e no modo como elas identificam a si mesmas.
Nesse contexto, o trauma não é mais um termo especializado da medicina (para designar
lesões no corpo resultantes de determinados acontecimentos) ou da psicanálise (para se
referir a perturbações psíquicas provocadas por momentos de excessiva angústia e tormenta
na lembrança de determinados eventos), mas adquiriu um significado mais geral, como uma
“nova linguagem sobre os eventos” (FASSIN e RECHTMAN, 2009, p.9), transformando
uma gama demasiadamente ampla de eventos ordinários de sofrimento e diversas em
vagamente classificada como traumáticos.
Um exemplo da popularização do trauma na linguagem cotidiana é a edição do
Encontro com Fátima Bernardes do dia 6 março de 2014. Um dos temas do programa foi
sobre traumas de infância. Na reportagem do programa sobre o assunto, os entrevistados na
praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, responderam: “minha mãe dizia que não podia
colocar sapato num lugar mais alto do que nós mesmos, porque alguém da família ia morrer”,
“não podia comer manga com leite”, “eu comia formigas, porque minha mãe dizia que era
bom para as vistas” e “eu não podia comer banana antes de dormir”. As repostas giravam em
torno da superstição e da anedota, confirmando o tom do programa como predominantemente
marcado pelo humor e pela informalidade. Nesse caso, para a produção de uma ambiência
relaxada, a música de fundo durante a matéria ressaltava o caráter jocoso e leve da discussão
sobre o trauma naquela edição do programa. Não se tratava de algo sério. A psicóloga
Tatiana Paranaguá, nesse sentido, fez uma ressalva: “É um termo usado popularmente e às
vezes as pessoas não sabem o peso que tem. Trauma é uma marca muito forte, que precisa de
tratamento, mas, enfim, está se usando como uma brincadeira nesse momento”. No entanto,
em seguida, essa advertência não impediu que o trauma fosse usado como expressão para
designar crendices ou acontecimentos da infância de modo anedótico. Dessa maneira, no dia
13 de agosto de 2014, a apresentadora conta que, quando viajou para os Estados Unidos para
estudar dança, sua mãe lhe deu um guarda-chuva. Certa vez, mais de trinta anos depois, a
mãe pediu emprestado um guarda-chuva à irmã: “Esse ela não esqueceu”. Diferentemente da
irmã, Fátima Bernardes se sentia cobrada pela mãe por ter perdido o presente.
Desse modo, o termo trauma passou do sentido utilizado no campo da saúde mental
(como os vestígios deixados na psique por uma experiência posteriormente reconhecida como
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excessivamente perturbadora) para uma concepção muito mais alargada. Ao longo do século
XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, o trauma público ocorria quando ações –
guerras, grandes catástrofes ou outros eventos cataclísmicos em grande escala – perturbavam
a manutenção da vida coletiva de tal forma que abalava os princípios de moralidade e
normalidade. O uso popular do trauma como uma ferida aberta na memória coletiva, para
designar graves experiências de morte e sofrimento, desde depois do Holocausto e reforçado
pelo 11 de setembro, fez com que o sentido literal utilizado por profissionais psi (um choque
psicológico ou uma “marca muito forte” na psique) passasse a uma extensão metafórica (um
acontecimento traumático) que testemunhamos, especialmente, pelos meios de comunicação
(ZELIZER, 2002). Além disso, no contexto contemporâneo, a noção de trauma é não mais
que um lugar-comum, uma verdade compartilhada, associado cada vez mais a
acontecimentos ordinários da vida. É comum a ideia de que tanto eventos trágicos quanto
aqueles minimamente frustrantes, experimentados individual ou coletivamente, deixam
marcas na mente, pois são vistos como lesões que precisam de tratamento, por analogia
àquelas deixadas no corpo (ZELIZER, 2002, p.698).
Assim como vimos na inserção envolvendo o incêndio da Boate Kiss, a discussão
sobre violência urbana noutro momento foi tratada em termos psicológicos. Certamente,
cabia a ambos acontecimentos discussões mais amplas sobre políticas públicas, segurança,
formas de regulamentação, assistência social e saúde. Todavia, na televisão, especialmente
em talk shows, tem sido bastante comum tratar de temas sociais de modo psicológico
(FREIRE FILHO, CASTELLANO e FRAGA, 2008; DOVEY, 2000; ILLOUZ, 2003;
NUDELMAN, 1997; PECK, 2008; ROTHE, 2011; SHATTUC, 1997; WHITE, 1992). No
entanto, particularmente nesse caso, tal abordagem se deve menos ao formato leve, informal
e pessoal de programas como Encontro com Fátima Bernardes do que ao processo
contemporâneo de psicologização da sociedade. Talk shows, autobiografias, sites e outros
produtos midiáticos que fazem um “strip-tease emocional” (FUREDI, 2007) da vida pessoal
de célebres e anônimos demonstram a consolidação da recorrente transformação dos
problemas sociais em questões individuais, tornando a vida social em suas dimensões
estruturais subsumidas pelo discurso subjetivante presente na glamourização da psicologia
pela cultura da mídia (PFISTER, 1997) e na sua transformação como ciência social de maior
relevo na sociedade contemporânea, pelo modo como promove uma linguagem cada vez mais
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comum para a compreensão do mundo, da vida coletiva e individual em termos psicológicos
(ROSE, 2008).
Naquela conversa, como se pode perceber, a violência urbana é transformada numa
questão de estresse. Mais do que isso, além de perder a dimensão social da violência nas
cidades convertendo-se numa questão de tratamento individual, torna-se pela maneira como
uma pessoa é capaz de reagir emocionalmente a sucessão de assaltos uma “patologia
emocional” que demandará terapia e até mesmo tratamento psiquiátrico. Mais uma vez,
assim, insta-se o indivíduo a assumir a gestão de si de modo tão eficaz que ele não adoeça
diante de situações adversas como as de violência urbana, como no caso tratado, mas também
de assédio moral, preconceito, bullying, racismo, violência doméstica etc. Nesse contexto, há
implicitamente a identificação dos que foram assaltados como vítimas e potencialmente bons
e, por oposição, os assaltantes como necessariamente maus. A questão social, nesse caso,
além de subsumida pela linguagem psicológica utilizada no programa, transforma-se num
maquiavelismo da luta entre o bem e o mal, próprio das narrativas melodramáticas (cf., sobre
a apropriação do melodrama como matriz cultural na configuração de discursos midiáticos
sobre a violência urbana, BORGES, 2009).
Dessa forma, amplia-se não só a noção de trauma, mas também o lugar de vítima, que
passa a ser tão superdimensionado como supervalorizado. Trata-se de uma supervalorização
associada à capacidade de superação: do sujeito do sofrimento ao sujeito da superação. Na
inserção analisada, o padrão de comportamento idealizado pelo psicanalista para as vítimas é
justamente a capacidade individual de superação (“com muitos assaltos repetidos, pode até se
criar uma patologia emocional que requererá uma série de tratamentos”). O uso do verbo
criar, além de remontar a algo que é inventado, falacioso, refere-se a um processo subjetivo,
artístico ou não, de trazer algo novo à cena pública (uma obra, invento, texto etc.). Nesse
caso, particularmente, o psicanalista se refere à capacidade de modulação da própria
subjetividade: aqueles que terem criado uma patologia por conta das situações que viveram
poderiam se reinventar com auxílio terapêutico como normais. O uso do verbo criar e não
desenvolver, por exemplo, é menos uma mera escolha lexical do que uma mostra da
transmutação das questões sociais em problemas psicológicos, para os quais é necessária uma
autogestão emocional, sobretudo do estresse.
Esse diagnóstico representa a crescente presença da retórica do sofrimento psíquico
na vida cotidiana e na cultura da mídia, o que demonstra as profundas transformações dos
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conceitos de subjetividade e autonomia na contemporaneidade. Há um deslocamento
progressivo de responsabilidades sobre o próprio indivíduo para manter a saúde, a qualidade
de vida, o bem-estar e o sucesso pessoal e profissional. Isso vem fazendo com que novas
patologias e outras, como o transtorno de estresse pós-traumático, tenham seu escopo
ampliado, reduzindo cada vez mais a experiência de normalidade (EHRENBERG, 2010).
Nesse contexto, o doente passa a ser visto como aquele sujeito esvaziado de seu poder de agir
e transformar a si mesmo diante das adversidades. Nesse sentido, enquanto o evento
traumático deixa de ser considerado aquele que não tem a possibilidade de ser prontamente
assimilado, associado e inserido numa cadeia representacional (BOTELLA & BOTELLA,
2002), o indivíduo traumatizado deve ser aquele capaz da autorecuperação para, depois,
testemunhar a sua superação.
No dia 11 de julho de 2012, Fátima Bernardes assume um papel diferente na conversa
com seus entrevistados: o de juíza da moral. Ela dedicou um bloco do programa ao
Movimento Mães da Sé. Fundada em 31 de março de 1996, a Associação Brasileira de Busca
e Defesa a Crianças Desaparecidas (ABCD) ficou conhecida daquela forma numa alusão às
Mães da Praça de Maio, na Argentina. A apresentadora entrevistou algumas mães do
movimento e com a psiquiatra Cristiana Barbiere por meio de um link com São Paulo. A
médica trabalha voluntariamente atendendo as mães do movimento. Fátima Bernardes
indagou se as mães sentem “algum sentimento de culpa”, o que foi confirmado pela
especialista. O que Fátima Bernardes julga é a capacidade de a mãe ter protegido o filho o
suficiente, de modo a não permitir o desaparecimento. Dentro da trama terapêutica da cultura
contemporânea, a pergunta da apresentadora implicitamente atribui às próprias mães a
responsabilidade pelo desaparecimento dos filhos, uma vez que elas não teriam sido capazes
de calcular os riscos das ações e evitar os sofrimentos.
3. Os testemunhos do trauma No programa do dia 5 de novembro de 2012, um dos temas abordados foi sobre o
trauma de vítimas de assalto. A apresentadora Fátima Bernardes relatou uma experiência
pessoal. Ela, então, assumiu o lugar de entrevistada e entrou numa conversa com Lair Rennó:
LAIR: Mas qual foi a sua reação? FÁTIMA: Eu? Eu fiquei paralisada. A gente tentou no máximo falar um pouco com ele dizendo que ia dar tudo certo para ele e que ele ficasse tranquilo porque poderia ir embora. Ele trancou a gente no banheiro depois e foi. Mas, assim, é uma situação que obviamente você carrega para o resto
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da vida. No meu caso, eu preferi não mudar, porque eu iria levar meu trauma para qualquer lugar. Se eu fosse para um apartamento, para outra casa, não importa. Então, eu tive um apartamento que pegou fogo uma vez e eu me mudei. Mas eu sentia cheiro de fogo. O mais importante é tentar cuidar desse trauma, apagar o máximo que for possível dele para que você consiga recomeçar, mas aí não obrigatoriamente em outro lugar.
A conclusão a que a apresentadora chega é bastante reveladora de como o discurso
terapêutico contemporâneo reconfigura a experiência do trauma. Em talk shows, como esse, é
comum a acomodação de temas do trauma em cenários narrativos baseados em um
movimento que passa do tormento a um reconfortante final feliz, apresentando a “vítima-
sobrevivente” como a protagonista de uma épica e, por isso, é alguém a quem se concede um
estatuto moral superior (ROTHE, 2011, p.89). Trata-se de um tropo problemático, podendo
transformar um conjunto diverso de situações (da violência sexual ao racismo, passando pelo
incêndio, o assalto e a superstição) como experiências traumáticas importantes na medida em
que podem contribuir para o crescimento pessoal. Além da designação extremamente
genérica e ampla do trauma, bastante característica do processo de psicologização da
sociedade, em seu relato, Fátima Bernardes foi categórica ao insistir que a superação do
trauma se trata de uma capacidade individual: “O mais importante é tentar cuidar desse
trauma, apagar o máximo que for possível dele para que você consiga recomeçar, mas aí não
obrigatoriamente em outro lugar”. Ou seja, independentemente do que tenha acontecido, o
indivíduo é avaliado pelo modo como consegue gerenciar suas próprias emoções no sentido
de se mobilizar para sair do estado de sofrimento para o de superação.
No programa Encontro com Fátima Bernardes, a construção dessa trama moral de
avaliação da capacitação interior ganha, recorrentemente, um novo ingrediente: a
pessoalidade. A própria apresentadora se coloca pessoalmente sobre a sua vida, seus
problemas e sobretudo sobre a forma como resolveu. A autoridade na prescrição do
autocontrole e da autoestima como forma vital para a saúde psíquica é reforçada pelo ethos
prévio da jornalista, isto é, pela sua representação pública presumida, reconhecida e
consagrada. Como apresentadora do Jornal Nacional de 1998 a 2011 juntamente com o
marido William Bonner, o casal foi midiaticamente construído como perfeito e tendo uma
família feliz, com seus trigêmeos (HAGEN, 2004). Como jornalistas, se tornaram
celebridades. A construção da imagem prévia da apresentadora como uma pessoa feliz, mãe
dedicada, esposa fiel e profissional competente confere ainda mais legitimidade ao seu relato,
acrescido do fato de ser um relato autobiográfico, que na sociedade contemporânea é
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creditado pela autoridade experiencial: ter vivido o que relata e por isso sabe mais porque
viveu o que conta (ARFUCH, 2010).
No dia 7 de maio de 2013, a atriz Giovanna Lancellotti revela que tem trauma do
silêncio: “Eu me sinto muito sozinha. Acho que é porque, quando eu me mudei, saí de casa e
fui morar sozinha, eu ficava muito tempo sozinha e aí peguei meio que um trauma disso”.
Apesar de repetir constantemente o medo da solidão, a atriz não parece demonstrar qualquer
sinal de trauma ou de um transtorno. Ela lida com a sua condição de modo extremamente
lúdico, dizendo que usa várias formas de driblar para se sentir melhor: deixa a TV ligada,
escuta bastante música, conversa com os amigos. Já atriz Fernanda Rodrigues não gosta de
ficar em silêncio, sente-se hiperativa e por isso tomou uma decisão: praticar yoga. Nesse
depoimento, é interessante como ela se diagnostica como hiperativa e prescreve a si mesma
um tratamento: o yoga. Esse aspecto revela mais uma faceta do discurso terapêutico
contemporâneo: transformar atividades físicas, alimentação, a religião e diversos elementos
da cultura em procedimentos que permitem o autoaprimoramento e autoconhecimento, como
neste caso. Nessa mesma linha, Ingrid Guimarães, no programa de 14 de janeiro do mesmo
ano, conta que tem “um certo trauminha de infância”. Ela se sentia diferente das outras
meninas porque “era muito ruim dançando balé”. Ela queria ser igual as outras e acreditava
que estava frustrando a mãe, por não conseguir dançar balé. A atriz Nívea Maria, também no
programa, encorajou a colega de profissão: “Mas no palco você tem um molejo, uma
malemolência, que parece que você dança bem”. Ingrid, por sua vez, diz que acabou
buscando outro tipo de dança. Ela disse que sofria ao querer se adaptar: “Resolvi inverter a
coisa: buscar uma dança que se adaptava ao meu jeito”.
Encontro com Fátima Bernardes do dia 18 de novembro de 2013 tratou do bullying
em escolas. Foi realizado uma matéria com Danielle Aquino, que sofreu bastante por conta
dos comentários sobre o seu excesso de peso. A repórter Aline Prado passou um dia com a
entrevistada para conhecer a sua rotina. Foi a sua casa e depois ao encontro com o namorado
no shopping. Em casa, Danielle conta que quando era mais “cheinha” não tinha namorado e,
quando mudou de escola por conta dos problemas que enfrentava, resolveu emagrecer e
conheceu o seu então namorado, Wallenstein Junior. Segundo a entrevistada, ele a entende
perfeitamente porque “sofreu do mesmo problema”: era gordo, sofreu bastante bullying na
escola e resolveu emagrecer.
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No programa, foi valorizada a capacidade de eles se reinventarem diante das
adversidades. Ou melhor, saudou-se o modo como eles submeteram a si e a seus corpos às
normas sociais vigentes de boa forma: ajustando-se para ser feliz e não sofrer mais
preconceito. Desse modo, como venho demonstrando ao longo deste texto, há uma
ambiguidade nessa positivação de experiências consideradas traumáticas: se por um lado
produzem a necessidade de transformar o sofrimento com as adversidades no material que
será internamente reciclado em prol do autoaprimoramento (ILLOUZ, 2003, p.230), por
outro, naturaliza ou minimiza experiências drásticas de violência, preconceito, crime,
catástrofe, guerra ou adoecimento, uma vez que elas serviram para comprovar ou exercitar a
capacidade individual de superação.
É curioso nessa inserção que Danielle e o namorado não aceitam completamente o
papel de heróis de si mesmo, caracterização bastante típica dos discursos midiáticos num
contexto terapêutico (cf. SACRAMENTO e FRUMENTO, 2015). Passeando no shopping
junto com a repórter Aline Prado, ao ser perguntado se superou os problemas e se sente
magro, o estudante contou: “O trauma fica para sempre. Toda vez que me olho no espelho,
acho que estou com uma gordurinha aqui, uma ali. Estou sempre de dieta. Para a vida inteira,
eu acho que vou sentir a sensação de ser gordo”. Danielle concorda com o namorado: “As
sequelas [do bullying] ficam para sempre, até hoje, vinte anos depois”. Nesse sentido,
diferentemente de outros testemunhos considerados, não há uma exemplificação de superação
completa, mas uma incompletude. Por mais que exemplifiquem a conquista da magreza e do
padrão corporal vigente, não conseguem esquecer do que sofreram quando eram gordos e
ainda não conseguem se reconhecer como magros.
Depois da matéria, perguntado por Fátima Bernardes sobre “qual a lição que se
aprende em casos como esses”, o psicanalista Francisco Daudt afirma o seguinte: “Existe um
componente que motiva o bullying e que em geral não é reparado. Esse componente é a
inveja”. De maneira bem-humorada, o psicanalista se volta para o técnico de futebol Joel
Santana e comenta: “O Joel conseguiu fazer com o bullying que sofreu uma reviravolta
maravilhosa que deixou os invejosos se matando a facadas. Ele fez um jeito de rir de si
mesmo, como de ganhar dinheiro”. O psicanalista se refere ao fato de o treinador, quando
comandou a seleção da África do Sul entre 2008 e 2009, ter sido extremamente criticado e
ridicularizado em sites na internet pela sua má pronúncia do inglês. O vídeo da entrevista
dele em inglês após a derrota para o Brasil num jogo na Copa das Confederações de 2009
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viralizou na internet. Diante de tamanha repercussão, ele conseguiu explorar financeiramente
a sua famosa dificuldade de falar em inglês. Após estrelar comerciais da Pepsi, empresa de
bebidas, o treinador virou garoto-propaganda da Head & Shoulders, empresa especializada
em produtos de cabelos. Assim, esquecendo dos relatos de Danielle e Wallenstein, que,
apesar de magros, ainda sofrem pelo que passaram, na narrativa do programa privilegiou-se a
a história positiva de superação e conquista financeira.
No dia 28 de maio de 2014, o programa contou com a participação da modelo
Amanda Griza e sua mãe, Helena Griza. A modelo ficou 17 dias presa na China, porque ela
entrou no país com um visto de negócios e não com um visto de trabalho específico exigido.
Antes da conversa, um vídeo mostra o reencontro emocionado entre mãe e filha. A imagem
das duas abraçadas aos prantos contrasta com a condução narrativa da conversa entre as duas
com a apresentadora Fátima Bernardes e a psicóloga Maria Tereza Maldonado. Depois da
mãe ter explicado que a situação se resolveu após ter conversado com um político conhecido,
a apresentadora interveio: FÁTIMA: Pois é, é uma história muito parecida com Salve Jorge. Não é o seu caso, mas é muito parecido: de alguém que viaja por meio de uma agência que não está com tudo em dia para receber essas jovens e vai trabalhar num país desconhecido. Você vê: uma família bem estruturada, uma menina com informação e que cai numa história dessa. Felizmente, a gente está aqui para contar, mas podia ter sido diferente. FÁTIMA [dirigindo-se para a psicóloga]: Vou colocar a Maria Tereza nessa conversa. Que tipo de aprendizado, de cuidado, de trauma ela pode ter a partir de agora e de que maneira ela precisa se comportar, já que ela quer seguir com a carreira dela? O que ela pode fazer por ela mesma? MARIA TEREZA: Investigar bem detalhadamente esse cenário, investigar outras contratações, quem já foi...Enfim, o que eu acho mais importante de tudo isso é ter esse suporte familiar para poder atravessar essa situação. Está tudo muito recente, mas enfrentar essa situação traumática nos fortalece, nos faz encontrar os recursos para enfrentar as dificuldades que a vida oferece a cada momento. AMANDA: Uma coisa que eu quero ressaltar e quero que todo mundo saiba é que eu não sabia de onde tirar forças. Eu assinei um papel, dizendo que eu tinha que ficar lá por 30 dias e não sabia o que fazer para sair. E a força que eu tirei foi do amor que eu tenho pela minha família; eu nunca tive tanto amor acumulado dentro de mim. Eu não consigo sentir raiva, eu não consigo sentir ódio da agência por tudo que aconteceu. Eu, na verdade, só tenho a agradecer por tudo que eu passei lá. Eu aprendi muito. Eu quero dar mais valor às coisas. Eu tenho muito amor acumulado agora. FÁTIMA: Que bom, que bom. Nós vamos falar de muitas coisas hoje, de família, de adversidades na família, mas o amor é o que é mais importante de se ter.
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De maneira mais enfática, aqui a posição de Fátima Bernardes, mais uma vez, é de
juíza da moral. De modo implícito, ela responsabiliza a família e, especialmente, a modelo
por terem se deixado enganar. Ou seja, por serem bem informados, escolarizados e de classe
média eles deveriam ter sido capazes de preverem o acontecimento desafortunado e de evitá-
lo. Assim, o espaço para o sofrimento na narrativa da conversa do programa fica restrito ao
vídeo da chegada da modelo ao aeroporto de Florianópolis. O que toma lugar, primeiramente,
é a afirmação do discurso neoliberal das recompensas pelas escolhas acertadas e feitas com
responsabilidade e precisão para tornar a própria vida melhor e bem-sucedida (BINKLEY,
2011). Nesse momento, a apresentadora se coloca no lugar de árbitra, com um estatuto moral
e discernimento superiores, uma vez que às duas lhes foi demonstrada a falta de habilidade
em avaliar o certo ou o errado. Por isso, é dado pouco espaço para a modelo contar a sua
própria história. Ela está sendo moralmente julgada pela apresentadora e analisada pela
psicóloga. Nesse momento, a fala da especialista traz uma nova dimensão à conversa:
transformar o sofrimento em “recursos para enfrentar as dificuldades”. Novamente no
programa, o acontecimento desventurado se torna dentro da linguagem terapêutica uma
possibilidade de recuperação. Nesse caso, é como se fosse uma nova chance para as vítimas
reconhecerem que elas mesmas são responsáveis pelos seus sofrimentos e criarem estratégias
para mudarem e terem mais sucesso nas suas escolhas. Fátima Bernardes, por exemplo, ao se
voltar para a psicóloga, coloca o trauma, o aprendizado e o cuidado no mesmo campo
semântico, o que demonstra mais uma vez a minimização ou naturalização da experiência
traumática. Ela passa a ser encarada como teste para que os sujeitos provem a sua capacidade
de autogestão eficaz. O acontecimento chega ainda a ser atenuado diante da comparação com
a telenovela Salve Jorge, sutilmente esvaziando o caráter trágico da experiência.
Quando a própria modelo toma a palavra, há pouco espaço para as lágrimas em seu
testemunho. Ela procura se enquadrar na recomendação da psicóloga e já entende a situação
que viveu como um aprendizado para a sua vida. Nessa construção narrativa, o programa
Encontro com Fátima Bernardes está bastante conectado com um dos mais importantes talk
shows da história da televisão mundial. Em The Oprah Winfrey Show, investiu-se em
conversas que permitem lições de autoajuda e aconselhamento para os telespectadores por
meio de histórias de superação, mas também em muitos momentos a apresentadora se coloca,
como Fátima Bernardes, no papel de juíza da moral.
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4. Considerações finais
É traço comum aos talk shows no contexto contemporâneo a transformação do
procedimento psicanalítico de “cura pela fala” numa exposição midiática do eu (ROTHE,
2011). A maior parte dos estudos sobre as relações entre os talk shows e o discurso
terapêutico asseguram que a forma enunciativa privilegiada na personalização da narrativa é
a confissão. Afirma-se, em geral, que há um imperativo por confessar, ou pelo menos de se
envolver em auto-revelações, nesses programas (DOVEY, 2000; KING, 2012; ILLOUZ,
2003; PECK, 2008; SHATTUC, 1997; WHITE, 1992). Ou seja, a maior parte dos trabalhos
insiste que os talk shows são programas confessionais. No entanto, acredito que as narrativas
autobiográficas de celebridades e indivíduos comuns em programas como Encontro com
Fátima Bernardes são predominantemente testemunhais, uma vez que relatam a superação de
suas experiências ditas traumáticas, como terem sido vítimas de preconceito, violência,
doenças físicas ou mentais, de catástrofes, acidentes e outros acontecimentos (NUDELMAN,
1997; SACRAMENTO, 2015; VAZ, SANTOS e ANDRADE, 2014). O testemunhal tem,
sobretudo, uma função de exemplificação e de prova da capacidade de mudança e de
superação motivada por uma crença, pela fé, pelo amor próprio, pela vontade de viver.
Assim, o testemunho recorrentemente assume uma dimensão moralizante. O testemunho
também é um relato sobre uma experiência vivida. A banalização da experiência traumática
no cotidiano e a espetacularização dela em testemunhos em programas de TV constituem o
processo acelerado de psicologização da vida contemporânea. Já a confissão envolve
necessariamente o reconhecimento de um erro, falha ou problema. Processa-se como um
autoexame para se descobrir a verdade sobre si mesmo mediado pelo discurso médico,
jurídico ou religioso (FOUCAULT, 1988).
No caso dos testemunhos sobre eventos de violência extrema, de sobreviventes do
Holocausto ou de ditaduras, é comum haver a ideia de que eles atestam a necessidade da
lembrança do que ocorreu para que se impeça o esquecimento dos horrores vividos. Nesse
contexto, a primeira pessoa do testemunho expressa uma coletividade, substituindo outros,
não de modo vicário, como representante, mas porque “não morreu no lugar de quem
morreu” (SARLO, 2005, p.35). Se, como demonstrei, o trauma também expandiu seu raio de
abordagem na contemporaneidade, o testemunho também se ampliou. A memória das
tragédias conta com uma dimensão coletiva. Está num modo como um grupo pode fundar a
sua identidade em relação a um passado de extrema violência e dor, tornando-se uma
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“memória do sofrimento compartilhado” (CANDAU, 2012, p.151). Se o século XX
inaugurou uma “era dos testemunhos” (WIEVIORKA, 2002) por conta das catástrofes,
guerras e genocídios ocorridos, abrindo amplo espaço para os relatos pessoais, estamos
vivendo desde os anos 1980 uma generalização crescente de memórias e experiências
traumáticas (HUYSSEN, 2000).
Nos casos analisados neste texto, é possível observar o quanto testemunho assume
uma dimensão extremamente individualizante. A conexão com a coletividade menos se dá
pela identificação com outros sofredores do que pelo estímulo àqueles que padeçam algum
mal pela busca do sucesso individual, superando os sofrimentos com autoestima,
autoconhecimento e, sobretudo, autogerenciamento emocional. Essa centralidade da
autogestão das emoções na cultura contemporânea permite observar o quanto se torna
relevante a sensação de capacidade individual plena para manipular o próprio bem-estar,
transformando a felicidade menos numa “consequência colateral da busca de algum fim
comunal superior” do que uma responsabilidade que deve ser assumida por cada indivíduo
(RIEFF, 1996, p.13).
Como demonstrei, saber transformar as experiências de sofrimento em oportunidades
para identificar os problemas em si mesmo e mudar a própria vida parece ser a solução para o
trauma em Encontro com Fátima Bernardes. Desse modo, enquanto a confissão clínica
envolve um conjunto de processos de individualização que incluem exames pessoais, técnicas
de estudo de caso, documentação geral e recolha de dados pessoais, esquemas interpretativos
e uma série de técnicas terapêuticas para dirimir ou normalizar transtornos e sofrimentos
psíquicos, uma nova forma de revelação pública da intimidade, que prescinde dos espaços de
intimidade da terapia psicanalítica (BREUER e FREUD, 1994), assume o proscênio das
formas enunciativas contemporâneas de narrativas de si. Na televisão – especialmente em
programas como Encontro com Fátima Bernardes –, essas narrativas muito menos procuram
o reconhecimento de um problema por meio da auto-inspeção típica do longo processo de
confissão e escuta terapêuticas (FOUCAULT, 2006) do que se tornam testemunhos da
superação de problemas, transmutando a “cura pela fala” numa forma de aconselhamento.
São testemunhos que, em geral, aconselham modos de se ter uma vida feliz ou de
(re)estabelecer a felicidade como normalidade pelas telas do espetáculo midiático.
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