Abordagens Psicológicas: Aplicação de um Caso Clínico à Terapia Focada nas
Emoções
Blezi Santos, Daniela Sousa, Flávia Pessoa, Patrícia Ferreira, Rafaela Ferreira, & Vanessa Ribeiro
Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde
U.C.:Psicologia Clínica I
Abordagens Psicológicas: Aplicação de um Caso Clínico à Terapia Focada nas Emoções
Modelo Humanista/Existencialista
• Existencialismo:
• facilitar ao cliente um autoconhecimento e uma autonomia psicológica suficiente para que este possa alcançar
livremente a sua existência (Villegas, 1988, cit. por Teixera, 2006)
• Humanismo
• as pessoas estão orientadas para o bem e têm uma tendência para a atualização e crescimento do self (Gomez, Gomez &
O’Connell, 1994).
• focam-se na experiência subjetiva ao invés da patologia, privilegiam formas ideográficas de compreensão sobre as
nomotéticas ou de diagnóstico e enfatizam a relação empática entre terapeuta e paciente e, o potencial deste para a
auto-atualização.
• A relação terapêutica é considerada uma experiência transformadora e curativa por si só (Levitt et al. 2005)
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• Surgiram várias teorias:
• Teoria das necessidades humanas e da auto-atualização de Maslow;
• Terapia centrada na pessoa de Rogers e a psicoterapia existencial de Rollo May;
• Perspetiva da Gestalt de Perls;
• Terapia Focada nas Emoções de Greenberg.
(Pienkos & Sass, 2012)
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Terapia Focada nas Emoções de Greenberg.
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• A Terapia Focada nas Emoções (TFE) foi desenvolvida por Les Geenberg;
• emoções como profundamente ligadas à cognição e a ação, como sendo centrais no funcionamento humano, quer
para a experiência do self, quer para o funcionamento adaptativo e desadaptativo;
• não se pretende mudar nem os comportamentos nem os pensamentos das pessoas mas sim trabalhar diretamente no
seu estado emocional: mudar emoções com emoções;
• o cliente é incentivado a experienciar, explorar, identificar, transformar, dar sentido e gerir com flexibilidade as suas
emoções, o que lhe permite conseguir recursos para aceder à informação e significado nelas contido sobre si próprio
e o seu mundo;
(Greenberg, 2008)
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Processo de mudança na TFE
Aceder a respostas
desadaptativas
Promover respostas
emocionais alternativas
Refletir sobre novas emoções
Gerar novos significados
Transformar a auto-
organização prévia
desadaptativa
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Marcadores emocionais e
possíveis intervenções
• Desdobramento Sistemático (Evocativo)
Reações Problemáticas
• FocalizaçãoSensações pouco claras/sentimentos
• Diálogo de duas cadeirasSplit de Conflito
• Validação empática do terapeutaSplit Interruptivo
• Diálogo de Cadeiras VaziasAssuntos Inacabados
• O terapeuta atua de forma a
encontrar sinais de problemas
emocionais, ou seja, deteta
marcadores na experiência do
cliente.
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• Segundo uma investigação da APA, a TFE é aprovada e apropriada para tratamento de
depressão e conflitos conjugais.
• Problemas que têm uma expressão emocional particular como:
• o luto não resolvido;
• as reações emocionais intensas e incompreendidas;
• a autocrítica;
• a culpa;
• a vergonha;
• os acontecimentos traumáticos e abusos;
• as dificuldades em esquecer ou perdoar coisas do passado;
• não conseguir ultrapassar um divórcio ou separação;
• e dificuldades na decisão.
(Greenberg, 2008)
Nosso Caso
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Caso Clínico
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Informação demográfica:
Nome: André
Idade: 26 anos
Sexo: Masculino
Estado Civil: Solteiro
Habilitações Literárias: 12ºano
Profissão: Estudante
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Descrição do Caso:
André, menciona, na entrevista de avaliação que se sente triste, que sente que a sua vida não é como ele
queria, pois não se sente realizado. Menciona ainda, que durante toda a sua vida sempre foi pressionado,
nunca pode fazer o que queria. Fala de um momento em que queria muito jogar futebol e que os seus pais
não o deixaram, porque mencionaram que ele não tinha jeito, apenas tinha jeito para estudar e mais nada.
André tentou frequentar os treinos da equipa de um amigo e os seus pais quando descobriram, bateram-lhe e
não o deixaram sair de casa durante uns tempos, a não ser o tempo de estar na escola. A sua mãe era médica
e desde muito cedo incentivou André a seguir a sua formação no mesmo sentido (André é filho único).
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Descrição do Caso (Cont.):
André acabou o secundário com média de 19.5 e menciona que os seus pais o incentivaram a ser médico.
Este sempre teve um forte interesse e motivação por seguir engenharia mecânica, no entanto a sua mãe
encorajava-o a seguir medicina e numa das vezes até mencionou ao André que só lhe pagaria a
universidade se ele seguisse medicina. André disse que também tinha receio de poder não ser bom aluno
em engenharia mecânica. Foi no primeiro ano da universidade que o André começou a sentir-se mais
triste, a relação com a sua mãe estava bastante abalada, pois esta pressionava-o para que tirasse as
melhores notas e para que passasse todo o seu tempo livre a estudar.
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Descrição do Caso (Cont.):
Sempre que o André mostrava interesse em fazer outra atividade ou tirava uma nota mais baixa, a sua
mãe irritava-se e dizia-lhe por exemplo: “Tu não prestas para mais nada, és um fracasso, ou estudas
ou não sei o que fazer contigo”. No decorrer desse mesmo ano, a mãe de André morreu num acidente
de viação. A partir deste momento, André menciona que ainda se sente mais triste e muito confuso em
relação a sua vida, que não tem vontade de sair de casa nem de falar com alguém. O pai de André ficou
abalado com a morte da esposa e decidiu ir trabalhar para outro país, deixando André sozinho.
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Formulação de Caso:
• Foi percebido que há uma história de punição física ao longo da infância e da
adolescência de André.
• Durante a sua vida, André experienciou muitas vezes a sensação de estar sozinho
e sem apoio, sentindo-se inseguro e abandonado.
• Ele internalizou a voz crítica dos seus pais e julga que poderá ser um fracasso.
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Formulação de Caso (Cont.):
• Foi observado um conflito de interesses no que refere à formação seguida por
André (assim como nas atividades que André queria frequentar e os pais não deixavam),
resultante de uma incongruência no seu crescimento pessoal, que o fez sentir preso à
formação em medicina e ao estudo excessivo, sem controlo sobre a sua vida e exposto à
tristeza. E neste mesmo conflito também está presente a autocrítica, o facto de pensar que
se seguisse engenharia mecânica não seria bom aluno.
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Formulação de Caso (Cont.):
• Este foi privado de apoio, empatia e validação da sua experiência interna, sendo assim, ao sentir-se sem
poder, não assumiu a responsabilidade por si próprio e pela sua vida.
• Observou-se a existência de um assunto inacabado com a sua mãe e que constitui um dos cinco
marcadores da Terapia Focada nas Emoções.
• Sinteticamente, esta abordagem aponta para a existência de estados emocionais específicos e problemáticos nos
clientes, identificados por certos comportamentos e frases que revelam a existência de dificuldades afetivas de base
e que requerem intervenções psicoterapêuticas específicas (Greenberg, 2008).
• No caso de André, a morte da sua mãe impediu que ele lhe expressasse o quanto tinha sido injusta para ele o peso que ela lhe tinha
colocado em vida e que se prolongou após o seu falecimento.
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Intervenção
• Em primeiro lugar tentou-se estabelecer uma relação empática para que fosse possível perceber
bem o cliente e guia-lo.
• A intervenção específica para o marcador de assuntos inacabados foi o diálogo de cadeira vazia,
em que os clientes ativam a sua representação interna do outro significativo, experienciando e
explorando as suas reações emocionais ao outro, criando significados mais adaptativos (na cadeira
vazia foi “colocado” a sua mãe). O cliente acede assim, a necessidades não preenchidas, despoletando
mudanças na sua forma de se ver a si e ao outro.
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• (Vídeo com exemplo de Diálogo de Cadeira Vazia)
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Intervenção (Cont.)
• O trabalho posterior de duas cadeiras (marcador split de conflito) foi também muito
útil, ao potenciar a consciencialização e expressão de emoções que estavam no cerne do
problema: nas duas cadeiras, André alternou de cadeira e vivenciou tanto a sua perspetiva
como a da sua mãe, um diálogo que lhe permitiu a resolução do assunto inacabado pela
expressão de zanga e posterior compreensão e aceitação do comportamento problemático
da sua mãe (“ela tinha de fazer quase tudo porque não se podia contar com o meu pai”).
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