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Alteração da marcha como fator determinante para indicação de AFO
na melhora funcional dos sequelados de AVE
Alessandra Ferreira Alves Ribeiro¹
[email protected] Dayana Priscila Maia Mejia 2
Pós Graduação em Fisioterapia Neurofuncional – Faculdade Ávila
Resumo
Indivíduos sequelados de Acidente Vascular Encefálico – AVE podem apresentar um grande
déficit neuromuscular, sensitivo e cognitivo dependendo da área encefálica afetada.
Conhecer e descrever os elementos envolvidos na perca funcional e identificar se a utilização
da órtese tipo AFO pode favorecer a recuperação do individuo sequelado de AVE torna se o
objetivo principal desse artigo de revisão. Para sua elaboração foi feito um levantamento
bibliográfico de natureza qualitativa exploratória e descritiva, no período de abril a
dezembro de 2012. Foram selecionados 27 referências como um todo, sendo utilizados 19
para fundamentação teórica e os outros 8 artigos de pesquisas de campo que deram subsídios
para realização da discussão e obtenção da conclusão. O AVE pode trazer como uma de suas
sequelas, alterações neuromusculares que comprometem o desempenho da realização da
marcha, tratamentos que melhoram as atividades funcionais, sendo a marcha uma dessas
atividades funcionais que o sequelado mais deseja alcançar, são de suma importância para o
sucesso da fisioterapia e saber prescrevar o tipo de órtese mais indicada para seus pacientes
tornasse um recurso indispensável para o profissional fisioterapeuta. Todas as pesquisas de
campo descreveram a melhora considerável na velocidade e cadência da marcha, na
diminuição da hiperextensão do joelho, na simetria dos parâmetros temporais e espaciais,
com ganho de equilibrio e estabilidade estática e dinâmica efetivando a funcionalidade dos
pacientes hemiparéticos após AVE quando se utiliza órtese do tipo AFO.
Palavra-chave: Marcha, AFO, AVE
1. Introdução
Indivíduos sequelados de Acidente Vascular Encefálico - AVE podem apresentar um grande
déficit neuromuscular, sensitivo e cognitivo dependendo da área encefálica afetada pela falta
ou excesso de fluxo sanguíneo na região. Quando há dano no tracto piramidal e em fibras do
tracto córtico-espinhal ocorre lesão do motoneurônio superior, apresentando como
manifestação clínica à espasticidade e às posturas anormais, além de perda de força muscular,
equilíbrio e destreza. Todos esses fatores levam a mudanças fisiológicas, mecânicas e
funcionais após AVE (SILVA, MOURA e GODY, 2005).
O grande aumento da população idosa nos países em desenvolvimento, como o Brasil
(PEREIRA et al, 2009) faz aumentar a preocupação com os fatores secundários que limitam o
desempenho funcional do idoso, sendo as alterações neurológicas ocorridas após o AVE os
primeiros fatores para essa limitação. As doenças crônico-degenerativas prevalecem na
população idosa, porém acomete também adultos jovens em idade produtiva (MARTINS,
2007 apud TSUKAMOTO, 2010).
____________________ ¹ Pós-graduanda em Fisioterapia Neurofuncional. Fisioterapeuta pós-graduada em Fisioterapia Respiratória.
² Orientadora. Fisioterapeuta pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior e mestranda em Bioética e
Direito em Saúde
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Alterações nos sistemas neuromusculares, musculoesquelético ou sensorial levará o indivíduo
a realizar suas atividades funcionais com compensações demonstrando movimentos e posturas
anormais que em longo prazo prejudica ainda mais a funcionalidade (GARBELLINI, 2004, p.
236).
Como a execução da marcha necessita da integração adequada de fatores neurológicos e
sensório-motora, mesmo que corriqueiramente, ela tratasse de um evento complexo quando
realizado por um individuo normal (DIAS, MONTEIRO E MONTEIRO, 2007).
Conhecer e descrever os elementos envolvidos na perca funcional e identificar se a utilização
da órtese tipo AFO pode favorecer a recuperação do individuo sequelado de AVE torna se o
objetivo principal desse artigo de revisão. Como, aproximadamente 70% dos sujeitos com
AVE retomam a sua capacidade de deambular, embora sem o sinergismo muscular adequado
(SILVA, MOURA e GODY, 2005), a fisioterapia busca utilizar elementos que além dos
exercícios possam efetivar a recuperação, já que os déficits neuromusculares ocasionados pela
doença podem interferir significativamente a realização da marcha.
2. Fundamentação Teórica
O AVE é conceituado como surgimento agudo de uma disfunção neurológica ocasionado por
uma irregularidade na circulação cerebral, tendo como resultado manifestações clínica
correspondentes ao comprometimento de áreas focais do cérebro. O indivíduo pode apresentar
uma série de déficits possíveis, como alterações do nível da consciência e comprometimento
nas funções de sentidos, motricidade, cognição, percepção e linguagem (O`SULLIVAN,
2004, p. 520)
Para serem classificados como AVE os déficits neurológicos focais devem persistir por pelo
menos 24 horas. Os déficits motores caracterizam-se por paralisia (hemiplegia) ou fraqueza
(hemiparesia), tipicamente no lado do corpo oposto ao local da lesão. Em até três semanas os
déficits podem ser reversível, com recuperação espontânea neurológica, se persistirem,
tornando-se residuais podem levar à dependência e deficiência permanentes. Os AVEs podem
ser classificados por categorias etiológicas(trombose, êmbolo ou hemorrágico), categoria de
tratamento(ataque isquêmico transitório, AVE menor, AVE maior, AVE em evolução, AVE
jovem) e categoria anatômicas (território vascular específico) (O`SULLIVAN, 2004, p. 520).
Atualmente a alta incidência de doenças cerebrovasculares devido ás alterações demográficas,
como envelhecimento populacional e aumento da expectativa de vida, previstas para as
últimas décadas por estar associada ao controle inadequado dos fatores de risco, traz uma
preocupação significativa para as políticas publicas brasileiras (PEREIRA et al, 2009 e
NOVAK et al. 2003, p. 772). Cerca de dois terços dos AVEs acontecem em países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, onde a média de idade desses pacientes é
aproximadamente 15 anos mais precoce do que nos países desenvolvidos (NOVAK et al.
(2003, p. 772).
Apesar do declínio nas taxas de mortalidade no Brasil, AVE ainda é a principal causa de
morte. Sua incidência dobra a cada década após os 55 anos, ocupando posição de destaque
entre a população idosa. A prevalência mundial na população geral é estimada em 0,5% a
0,7%. Além de elevada mortalidade, a maioria dos sobreviventes apresenta sequelas, com
limitação da atividade física e intelectual e elevado custo social. Esses dados nos remetem a
uma reflexão a respeito do grande impacto que esta enfermidade representa sobre a população
(PEREIRA et al, 2009).
Conforme já citado por SILVA, MOURA e GODY, 2005, os fatores que levam a mudanças
fisiológicas, mecânicas e funcionais após AVE refletem as limitações do desempenho
funcional do indivíduo, afetando sua parte motora, bem como suas relações pessoais e sociais,
sendo a localização e a extensão exata da lesão, os fatores que determinam o quadro
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neurológico apresentado por cada doente. Estas lesões podem variar entre leves a graves
(O`SULLIVAN, 2004, p. 520 e CORRÊA et al, 2005).
No estágio inicial do AVE é comum o quadro de flacidez sem movimentos voluntários.
Progressivamente esse quadro é substituído pelo desenvolvimento de padrões motores
anormais decorrentes da alteração de tono muscular, perda de força muscular, reflexos
posturais alterados com surgimento de deformidades articulares. Estas alterações músculo-
esqueléticas frequentemente interferem nas habilidades motoras, essenciais para o
desempenho de atividades e tarefas da rotina diária, como a marcha. (IWABE, DIZ e
BARUDY, 2008).
A dificuldade de controlar o início do movimento, bem como o controle motor voluntário
ocasionado pela interferência da espasticidade presente nos pacientes sequelados de AVE, faz
com que haja acometimento da habilidade em produzir e regular o movimento voluntário. A
presença de espasticidade nesses indivíduos pode acarretar deformidades estáticas e até
mesmo alterar a angulação articular durante a marcha dinâmica, já que evidencias que
suportam este argumento descrevem uma redução da velocidade angular em músculos
espásticos durante movimento articular isolado (CORRÊA et al, 2005).
O objetivo final da reabilitação fisioterapeutica é devolver o estilo de vida o mais próximo de
seu nível pré-morbido de função, ou, alternativamente, maximizar e manter seu atual
potencial funcional. Para um paciente sequelado de AVE esse processo tornasse uma tarefa
muito mais complexa, pois os problemas são muito mais extensivos, complicados e
entrelaçados (GUCCIONE, 2004, p. 309)
Guccione, 2004 afirma ainda que a atividade funcional é um conceito que toma com
referência o paciente, considerando o que ele acha de essencial para o seu bem-estar físico e
psicológico e que há funções que são comuns a todos, como as atividades básicas da vida
diária, sendo importante também os avanços evolutivos da locomoção bípede e atividades
complexas da mão, por exemplo, por permitir a independência no ambiente pessoal. O
trabalho e a recreação são atividades funcionais que reintegram o sequelado de AVE no
contexto social.
O déficit na função motora dos indivíduos que sofreram AVE envolvem paralisia ou paresia
dos músculos do lado do corpo contralateral à lesão cerebral, e em especial os indivíduos com
idade avançada podem ser incapazes de manter velocidade eficiente da marcha
confortavelmente, indicando elevada demanda energética e pobre endurance, favorecendo o
comprometimento da mobilidade funcional (SILVA, MOURA E GODOY, 2005, TEIXEIRA
SALMELA, 2005).
Todos os danos residuais resultados da sequela de AVE contribui para o déficit na capacidade
funcional, na independência e na qualidade de vida (QV) devido comorbidades metabólicas e
cardiovasculares, sendo que os principais problemas relatados são o confinamento,
imobilidade, perda de habilidades funcionais, o que leva á baixa auto-estima, depressão,
isolamento social e diminuição da aptidão física (OVANDO, 2009 e TEIXEIRA SALMELA
2005).
A diminuição da habilidade de deambulação é um dos muitos problemas funcionais em
pacientes com hemiplegia ou hemiparesia, bem como uma das principais queixas
apresentadas por eles, e está relacionada às alterações do controle voluntário dos membros,
integridade da propriocepção, do equilíbrio, do tônus postural e da mobilidade articular
(OVANDO, 2009 e LOPES et al, 2004).
Dar-se o nome da marcha do hemiparético sequelado de AVE de marcha ceifante
caracterizada pela diminuição da flexão e extensão dos membros inferiores, que diminui a sua
oscilação para frente e para trás, resultando em uma abdução exagerada do membro parético
durante a fase de balanço. A espasticidade nos flexores plantares pode ocasionar pé
equinovaro, e consequentemente dificuldade para dorsiflexão plantar do tornozelo,
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comprometendo a absorção do impacto no contato inicial e hiperextensão do joelho durante
toda fase de apoio. Subseqüentemente, as fases de apoio médio, apoio final e resposta à carga
estarão comprometidos, diminuindo o comprimento do passo e promovendo mais gasto de
energia (LOPES et al, 2004 e IWABE, DIZ E BARUDY, 2008).
A marcha após AVE apresenta alteração em sua simetria, cadência, tempo, velocidade e
comprimento dos passos, postura inadequada, falta de equilíbrio e de reação de proteção,
alteração do tônus muscular e quanto ao padrão de ativação neural, principalmente no
hemicorpo parético, sendo que para identificar tais fatores é necessária uma avaliação
adequada para reconhecer os elementos compensatórios presentes na tentativa de manter a
deambulação e elaborar metas objetivas de tratamento visando recuperar o máximo possível
uma deambulação tanto quantitativa quanto qualitativa (OTTOBONI, FONTES e
FUKUJIMA, 2002).
Órtese é um dispositivo auxiliar externo usado para apoiar, restringir, auxiliar ou corrigir o
movimento ou transferir a carga de uma parte para outra promovendo o posicionamento
correto das articulações e músculos e assim melhorar a função de partes móveis do corpo
(EDELSTEIN, 2004, p.1025 e EDELSTEIN e BRUNKNER, 2006).
A terminologia genérica vem substituindo o emprego tradicional, baseado no nome de seus
inventores, lugar de origem, ou de comprometimento. Atualmente às órteses recebe o nome
de acordo com a articulação envolvida e o tipo de controle de movimento (EDELSTEIN,
2004, p. 1026 e EDELSTEIN e BRUNKNER, 2006).
Vários aspectos devem ser levados em consideração para prescrição de uma órtese, avaliação
detalhada com auxílio de uma equipe clínica, o tempo previsto para o uso, o ambiente que
será utilizado, o recurso financeiro e o aspecto psicossociais do paciente indica de forma
apropriada a necessidade de cada individuo (EDELSTEIN e BRUNKNER, 2006).
A órtese de membro inferior mais utilizada nos sequelados de AVE é a de tornozelo-pé com
abreviação em inglês AFO - Ankle foot orthoses que abrangem a articulação do tornozelo e a
totalidade ou parte do pé, destinam-se a controlar o movimento, corrigir deformidade, e / ou
compensar a fraqueza. Elas podem ser divididas em duas categorias principais: articulada
(Figura I) e não – articulada (Figura II). As articuladas encorparam juntas mecânicas no
tornozelo podendo ser usa das para prestar assistência ao movimento, controlar amplitude
articular, ou limitar o movimento indesejado. As não articulares podem ou não permitir o
movimento no tornozelo no plano sagital, dependendo da sua flexibilidade, espessura ou
composição sendo mais rígidas se houver proteção anterior aos maléolos (FATONE 2009).
Figura I – AFO articulada
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Figura II – AFO do tipo rígida, não articulada
Essas órteses são formadas por uma base, um controle de calcanhar, controle de pé e uma
estrutura superior. A base é formada pelo calçado e um componente de metal ou plástico, para
propicia melhor controle do pé usando uma palmilha ou placa para o pé, para incorporar
modificações internas. São relativamente leves, pois seu material é um termoplástico, como
polietileno ou polipropilene, moldados a partir de um modelo do membro do paciente feito a
gesso. A base convencional na AFO é um estribo de aço, em forma de U, cuja a parte central
é rebitada ao calçado por meio do enfraque. Os braços do estribo se juntam às barras verticais
das órteses na altura do tornozelo anatômico, propiciando a congruência entre as articulações
ortéticas e anatômicas, esse estribos podem ser sólidos ou desmontáveis (ELDELSTEIN,
2004, p. 1029-1030).
Para o controle de calcanhar a maioria das AFOS é prescrita com o propósito de controlar o
movimento do tornozelo, limitando a flexão plantar e/ou a dorsiflexão ou auxiliando o
movimento. O paciente com paralisia eu paresia nos dorsiflexores corre o risco de arrastar os
artelhos durante a fase de balanço. A mola laminar posterior, que parte de uma palmilha
plástica pode auxiliar a dorsiflexão. Também é possível obter auxílio de dorsiflexão com mola
de aço incorporada em cada estribo. (ELDELSTEIN, 2004, p. 1031).
E possível incorporar uma articulação plástica de sobreposição em uma AFO articulada com
tornozelo sólido ou um retentor posterior metálico ao estribo. Retentor posterior tende a
aplicar uma força de flexão durante ao inicio do apoio e impede que o joelho sem estabilidade
entre em hiperextensão. Retentor anterior limita a dorsiflexão, ajudando o portador de
paralisia do tríceps sural a conseguir realizar o final do apoio. Há também como incorporar
um retentor de limitação de movimento com uma articulação metálica que resiste tanto a
flexão plantar quanto à dorsiflexão (ELDELSTEIN, 2004, p. 1031).
Referente ao controle do pé pode-se controlar o movimento medial-lateral por meio de uma
AFO de tornozelo sólida com material mais espesso ou mais duro. Para correção de valgo e
varo as tiras acrescentadas são menos eficientes e complicam a colocação da órtese. A
estrutura superior, ou seja, a parte proximal da órtese é composta de barras verticais e uma
concha, cinta ou aba. Normalmente as AFOs plásticas têm uma única barra vertical ou
concha, há também a órtese em espiral com design de acrílico náilon ou polipropileno, que
pode controlar, mas não eliminar o movimento em todos os planos (ELDELSTEIN, 2004, p.
1032-1033).
Por existir varios tipos de AFOs que variam em seu projeto biomecânico, materiais e
componentes, eles podem ser racionalmente prescrito com base na sua função biomecânica,
por isso a avaliação fisioterapeuta é fundamental. Identificar o deficit de equilibrio, a
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movimentação das articulações, a força muscular, a condição da pele e a função atual e seu
potencial, assim como o treinamento do paciente em colocar, tirar e utilizar órtese
corretamente são condutas básicas para o sucesso da prescrição da mesma (EDELSTEIN e
BRUNKNER, 2006 e FATONE 2009).
Eles podem ser concebidos com um número suficiente braços de alavanca mecânica para
controlar o complexo tornozelo-pé e para influenciar diretamente ou indiretamente a
articulação do joelho, especialmente quando o joelho está instável ou quando apresenta uma
deformidade de hiperextensão (FATONE 2009).
As AFOs são os tipos de órtese mais prescritas e certificadas atualmente nos Estados Unidos,
respondendo por 26% da prática clínica, sendo duas vezes mais prescritas do que qualquer
outro tipo de órtese. Elas podem ser divididas em duas categorias principais: articulada e não -
articulada. (FATONE 2009).
3. Metodologia
Para elaboração desse artigo foi feito um levantamento bibliográfico de natureza qualitativa
exploratória e descritiva, no período de abril a dezembro de 2012 utilizando-se uma busca da
literatura por meio de consulta nas bases de dados eletrônicos como Scielo, MedLine e Lilacs,
e também em sites, revistas especializadas na área, periódicos e livros. Foram incluídos
referências bibliográficas próprias e artigos de livre acesso na língua portuguesa e inglesa que
citasse como palavras chave, AVE, Análise da Marcha e uso de Órtese tipo AFO, obtendo
para analise do resultado artigos de pesquisa de campo que citasse o uso de órtese tipo AFO
para efetivação da marcha em sequelados de AVE com data de publicação nos últimos 10
anos.
Inicialmente foi realizado o levantamento de dados de variadas fontes, seguindo método
rigoroso, a partir da leitura atenta, traduzida e também interpretativa, levantando o maior
número de dados, atualizados e fidedignos, onde a partir de uma leitura e análise criteriosa
dos resumos dos artigos foi feita uma pré-seleção. Os artigos pré-selecionados passaram por
uma nova fase de seleção, sendo feita a leitura dos mesmos, onde houve a exclusão dos
artigos que não se encaixavam nos objetivos do trabalho e/ou que poderiam vir a colocar em
questão a qualidade deste estudo.
4. Resultado e Discussão
Após criteriosa leitura foram selecionados 27 referências como um todo, sendo utilizados 19
para fundamentação teórica e 8 artigos de pesquisas de campo que deram subsídios para
realização da discussão e obtenção da conclusão.
O resgate do desempenho da realização da marcha é um elemento fundamental para a
independência e a melhora funcional do indivíduo que tem esta função alterada por um
processo de doença ou lesão, passando a ser um objetivo fundamental para tratamento
fisioterapeutico (NORKIN, 2004 e LOPES et al, 2004).
Desses 8 artigos que realizaram pesquisa de campo referente ao uso da órtese tipo AFO em
sequelados de AVE, apenas três artigos brasileiros estavam de livre acesso, e um deles é de
Corrêa et al, 2005 que buscou avaliar a atividade muscular durante a marcha após AVE
através de eletromiografia nos músculos glúteo médio, reto femoral, tibial anterior, sóleo e
porção média do isquiostibiais e um eletrogoniômetro sobre o eixo articular de rotação da
articulação do tornozelo do lado comprometido (espáticos), comparando 15 voluntário pós-
AVE em tratamento fisioterapêutico contínuo e 15 voluntário saudáveis praticante de
atividades física regularmente.
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A pesquisa constatou que os músculos supracitados teve no início da atividade
eletromiografica, a apartir da fase de apoio, ativação significativa anterior durante o ciclo da
marcha nos voluntários pós-AVE. O final da atividade eletromiográfica para os músculos reto
femoral, tibial anterior, sóleo, e porção medial dos isquiotibiais foi significantemente
prolongado nos voluntários pós-AVE. Voluntários pós-AVE demonstraram também mais co-
ativação dos músculos agonistas e antagonistas da articulação do tornozelo e joelho durante a
fase de balanceio.
Os resultados dessa pesquisa demonstram também que os voluntários pós-AVE têm menor
mobilidade da articulação do tornozelo, diminuição da velocidade da marcha, fase de
balanceio prolongada, e menor amplitude da dorsiflexão da articulação do tornozelo, flexão
plantar do tornozelo, e extensão do joelho quando comparados aos voluntários saudáveis.
Conforme já descrito indivíduos hemiparéticos demonstram diminuição da velocidade da
marcha, a cadência, e o comprimento de passada podendo utilizar a órtese tipo AFO para
auxiliar na adequação dessas variáveis, quando se corrigi, principalmente, a dorsiflexão do
tornozelo (FATONE, 2009), esse benefício do uso de órtese e relatado por Dias, Monteiro e
Monteiro, 2007, quando avaliaram o efeito da utilização de órtese tipo AFO articulada nas
variáveis da marcha em um indivíduo hemiparético.
Em seu relato de caso há comparação dos parâmetros da força vertical resultante de reação do
solo durante a marcha de um hemiparético a esquerda, pós-AVE, com e sem auxílio da órtese,
concluindo que há de fato uma marcha mais funcional quando se usa a AFO, aumentando
inclusive sua velocidade.
Apesar de em alguns caso, órtese não articulada limitarem os movimentos normais dos
membros, em detrimento de melhorar seu posicionamento (Radtka et al, 2005) Rezende,
Viana e Faria, 2006 analisou o uso da AFO rígida para minimizar a hiper-extensão do joelho
através das mensurações da angulação do joelho, numero de passada e tempo levado para
percorrer 10 metros de sete (7) indivíduo hemiparético após AVE e concluiu que seis (6)
desses indivíduos apresentaram redução significativa da hiper-extensão do joelho e aumento
na velocidade da marcha mesmo com uma AFO rígida.
Resultados obtidos em uma pesquisa realizada na escola de Ciência da Saúde nos Estados
Unidos, onde se usou uma AFO rígida para estabilizar o tornozelo foi a melhora acentuada da
cadência, velocidade e comprimento do passo em pacientes hemiparéticos que apresentavam
o reflexo tônico de flexão dos dedos (Iwata et al, 2003).
Mesmo suspeitando que outros fatores, além da flexão plantar excessiva, também estejam
envolvidos na gênese da hiper-extensão de joelho, com o uso da AFO rígida estabilizando a
articulação talocrural,o tornozelo permaneceu neutro no médio apoio, evitando a necessidade
de uma hiper-extensão compensatória.
Esquenasi et al, 2009 em seu estudo retrospectivo analisou o efeito do uso de AFO nos
parâmetros espaciais e temporais na assimetria da marcha em 42 pacientes hemiparéticos,
observou velocidade, cadência, fase de apoio, fase de balanço, fase de duplo apoio,
comprimento do passo, e a largura da base de apoio, com uso de uma esteira eletrônica
comparando a realização da marcha com os pés descalços e com a órtese do tipo AFO.
Como resultado observaram que houve na velocidade de caminhada, na cadência, na postura,
na fase de duplo apoio e no comprimento do passo um aumentou significativo, enquanto que a
fase de balanço do lado afetado e largura da base de apoio diminuiram quando os pacientes
usaram uma AFO. A simetrias da fase de apoio e o comprimento do passo também melhorou
quando os pacientes usaram uma AFO em comparação com andar descalço.
Nesta amostra concluiram que em pacientes com AVE, o uso de uma AFO melhorou a
simetria de vários dos parâmetros temporais espaciais de marcha e, por conseguinte, o padrão
de marcha destes hemiparéticos foi melhorado.
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Wit et al, 2004 avaliou através de um estudo randomizado o efeito de uma órtese AFO sobre a
capacidade de caminhar de vinte (20) pacientes com AVE crônico. Todos que utilizavam
uma AFO por pelo menos seis meses, foram incluídos. Capacidade de andar foi
operacionalizada como velocidade de caminhada confortável, com a pontuação no
cronometrado do teste Timed Up e Go (TGU) e do teste de escadas. Os doentes foram
avaliados, com e sem a sua AFO, a sequência do qual foi randomizada. Além disso, as
impressões subjetivas de auto-confiança e dificuldade das tarefas foram marcados. Diferenças
clinicamente relevantes com base em literatura foram definidas para a velocidade de
caminhada (20 cm / s), o teste TUG (10 s).
Como resultado a diferença média em favor da velocidade de marcha com uso de AFO foi de
4,8 cm / s, no teste TUG 3,6s e no teste de escada 8,6 s. Sessenta e cinco por cento (65%) dos
pacientes tiveram menos dificuldade e setenta por cento (70%) dos pacientes se sentiam mais
auto-confiante, enquanto vestindo a AFO. Conclusão o efeito de uma AFO na capacidade de
andar é estatisticamente significativa, mas em comparação com as diferenças a priori definido
é muito pequeno para ser clinicamente relevante. O efeito sobre a auto-confiança sugere que
outros fatores podem desempenhar um papel importante na motivação para usar uma AFO.
A falta de auto-confiança pode estar relacionada com o déficit de equilibrio durante a
realização da marcha a pesquisa acima avalia com TGU o risco de queda desse paciente
sequelados pós AVE, Xu et al, 2011 avaliou o efeito do uso da AFO na estabilidade da
marcha e no controle de equilibrio em vinte e cinco (25) pacientes hemiparético pós AVE. Foi
realizado análise quantitativa do movimento durante a realização da marcha em um percurso
de 10 metros comparando velocidade e índice de assimetria, além disso foi feito os teste de
equilibrio funcional através da Categorias Funcionais de Locomoção, escala de equilibrio de
Berg e Five-Times-Sit-to-Stand teste com e sem AFO em dois estágio, uso imediato e após
quatro (4) semanas.
O uso da AFO teve efeito positivo nessa pesquisa, os parâmetros da marcha de hemiplégico
em relação a velocidade, estabilidade e equilibrio funcional aumentaram, sendo essa diferença
bem maior ( P <0,05) no uso imediato e de (P<0,01) após quatro semanas, concluindo que o
uso da AFO pode compensar a instabilidade da marcha e do equilibrio melhorando a
funcionalidade desse pacientes.
Wang et al, 2005 examinou o efeito do uso da órtese tipo AFO no desempenho do equilíbrio
em pacientes com hemiparesia de curta e longa duração. A pesquisa foi realizada com
quarenta e dois pacientes com hemiparesia de curta duração (B = seis meses) e sessenta e um
(61) indivíduos de longa duração (= 12 meses). A capacidade de equilíbrio e marcha de
indivíduos foram avaliados com e sem uma AFO. As atividades de equilíbrio estático e
dinâmico foram avaliados pelo Sistema Balance Master, enquanto o equilíbrio funcional foi
avaliada com a Escala de Equilíbrio de Berg. A velocidade e cadência também foram medidos
durante uma caminhada de 10 metros.
Houve melhorias significativas na marcha dos pacientes com hemiparesia de curta duração
com uso da AFO na distribuição de sustentação de peso durante a posição estática, na
oscilação do corpo durante deambulação em uma superfície de espuma com olhos abertos e
olhos fechados, na velocidade de movimento durante teste de estabilidade para o lado afetado
e lado não afetado, na excursão máxima para o lado afetado, na velocidade e cadência da
marcha. Tais efeitos não foram observados nos pacientes com hemiparesia de longa duração.
Concluíram que para os indivíduos com hemiparesia de curta duração, a AFO melhora a
simetria em consideravelmente em posição estática e dinâmica, aumentando também a
velocidade e cadência. No entanto, a sua eficácia é mínima para os pacientes de longa
duração.
Quanto ao material usado para confecção da AFO, Danielson e Sunnerhagem, 2004
realizaram uma pesquisa com o objetivo de medir a velocidade de caminhada e gasto de
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energia em pacientes com AVE, com e sem órtese do tipo AFO de composto de carbono.
Amostra foi realizada com 10 (dez) pacientes hemiparéticos pós-AVE que caminhavam um
uma esteira programada, com e sem AFO, mensurando a velocidade de caminhada, consumo
de oxigênio, frequência cardíaca e gasto de energia por metro percorrido.
Resultado, a velocidade de caminhada aumentou (média sem órtese foi 0,27 m/s, com
0,34m/s, uma diferença de 20 %. O consumo de energia de oxigênio: sem órtese
8,6ml/Kg/min, com 8,8ml/Kg/min. O gasto de energia sem órtese 0,58ml/Kg/M, com 0,51
ml/Kg/M, uma diferença de economia de 12%, concluindo que o uso de órtese tipo AFO
confeccionada com composto de carbono em pacientes pós-AVE pode aumentar a velocidade
e diminuir o gasto de energia durante a caminhada.
Cakar et al, 2010 em sua pesquisou avaliou o uso da AFO termoplástico pré-fabricada PLS na
melhora do equilíbrio e na redução do risco de queda em pacientes hemiparéticos com
espásticidade crônica. Foram incluídos na pesquisa vinte e cinco (25) pacientes hemiparéticos
pós-AVC de longa duração que tiveram classificação na escala de Ashworth grau 1-2
espasticidade em músculos da panturrilha do membro inferior afetado. A duração pós-AVC
média foi de 20,32 ± 7,46 meses. As pontuações pela escala de BERG foram 42,12 ± 9,05
sem AFO e 47,52 ± 7,77 com AFO. As pontuações globais de estabilidade foram 3,35 ± 1,97
sem AFO e 2,69 ± 1,65 com AFO, resultados significativos da melhora do equilíbrio e
diminuição do risco de queda.
5. Conclusão
É evidente a necessidade de buscar elementos que otimize a qualidade de vida de pacientes
com sequelas de AVE já que no Brasil e no mundo, esse público vem aumentando
consideravelmente devido o grande aumento da expectativa de vida e consequentemente o
grande aumento de doenças crônicas e degenerativa.
O AVE pode trazer como uma de suas sequelas alterações neuromusculares que
comprometem o desempenho da realização da marcha, tratamentos que melhoram as
atividades funcionais, sendo a marcha uma dessas atividades funcionais que o sequelado mais
deseja alcançar, são de suma importância para o sucesso da fisioterapia e saber prescrevar o
tipo de órtese mais indicada para seus pacientes tornasse um recurso indispensável para o
profissional fisioterapeuta.
Todas as pesquisas de campo citadas descreveram a melhora considerável na velocidade e
cadência da marcha, na diminuição da hiperextensão do joelho, na simetria dos parâmetros
temporais e espaciais, com ganho de equilibrio e estabilidade estática e dinâmica efetivando a
funcionalidade dos pacientes hemiparéticos após AVE quando utilizando órtese do tipo AFO
na execusão da marcha.
Atualmente é necessário buscar informação sobre as cofecção das órtese do tipo AFO, os
materiais disponíveis no mercado, e saber avaliar minunciosamente para indicar a articulada
ou a não articulada, ja que demonstramos nessa pesquisa que o seu uso é o melhor recurso
para colaborar na adequação da marcha e consequentemente equilibrio e estabilidade dos
pacientes hemeparéticos pós AVE.
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