Colégio Estadual
Protásio Alves “ENTRE UM CONTO E A MINHA VIDA”: UMA EXPERIÊNCIA DE INICIAÇÃO À
DOCÊNCIA COM UM CLÁSSICO DA LITERATURA BRASILEIRA
Justificativa
“A função dos conteúdos de Língua Portuguesa e Literatura é enriquecer o diálogo, frente a muito do que se conhece da tradição escolar” (RIO GRANDE DO SUL, 2009).
No início da inserção, diálogo inicial com os alunos, de maneira a sondar seus conhecimentos acerca da
obra machadiana.
Durante a aplicação do projeto, igualmente, procuramos estimular o estabelecimento do diálogo com os alunos, fosse por questões propostas, fosse pela comparação entre os textos ou, propriamente, com suas realidades sociais.
“[...] a socialização por meio de textos que tratam dos modos como as diferentes gerações têm valorizado a atividade humana através da linguagem” (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p.83).
Contextualização
Colégio Estadual Protásio Alves.
Segundo ano do Ensino Médio.
Grupo de aproximadamente vinte e cinco alunos.
A aula observada contemplou o conto “Noite de Almirante”, da
segunda fase das obras machadianas. Respostas a um questionário
acerca do conto.
Preocupamo-nos, assim, com o estabelecimento da função social da arte,
em geral, e da literatura, em particular (RIO GRANDE DO SUL, 2009).
Objetivos
1. Apresentar a estrutura composicional do conto aos alunos para que eles
possam identificá-la, progressivamente, durante o debate realizado após
a leitura silenciosa.
2. Possibilitar aos alunos o reconhecimento das condições discursivas do
conto, em particular, e de quaisquer gêneros textuais, em conformidade
com Geraldi (2003)
3. Contato diferenciado dos alunos com um clássico da literatura, de modo
a mostrá-lo como um direito inalienável, ao que indica Cândido (1988).
4. Estabelecer relações com outros textos, verbais e não verbais, literários e
não literários, da mesma época ou de outras, colocando-os em situação
de diálogo.
Competências
1. Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a
compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos,
da produção tecnológica e das manifestações artísticas;
2. Relacionar informações, representadas de diferentes formas, e
conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir
argumentação consistente;
3. Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos fora e dentro da escola para
elaborar propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os
direitos humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Conceitos teóricos subjacentes
Noção de estilo e estrutura composicional segundo Bakhtin (2013)
Reflexões reunidas em Bakhtin (2011) para a compreensão da literatura como expressão artística, nomeadamente no que concerne ao conteúdo, à forma e à materialidade. A palavra é aqui visada como expressão artística e não como determinização linguística.
Compreensão e aplicabilidade dos conceitos estruturantes da aprendizagem de literatura, presentes nos Referenciais Curriculares do Estado do Rio Grande do Sul. Especial atenção ao conceito de intertextualidade, na medida em que se pressupõe o conceito de dialogismo proposto por Bakhtin (2011).
“Relação ou diálogo entre textos diversos; é o reconhecimento de que todo o texto é um mosaico de citações, aspecto que, a um só tempo, assegura renovação e diálogo com o que já existe. [...] as unidades temáticas propostas neste Referencial valorizam filmes produzidos a partir da literatura, poemas escritos com versos alheios ou a partir deles”
(RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 86)
Aula 1
Apresentação do projeto de ensino;
Diálogo com alunos sobre os conhecimentos prévios da obra de
Machado de Assis;
Leitura silenciosa do conto “Pai contra Mãe”;
Mediação de debate em classe: os alunos tiveram de retomar a leitura
do texto e se ater às diferentes cenas criadas.
Aula 2
Contextualização sócio-histórica do texto lido na aula anterior, a partir do
conhecimento dos alunos relativamente à escravidão, à abolição, e, em suma, ao
século XIX;
Discussão sobre a introdução do conto, em que se retrata a condição dos
escravos;
Relação entre a assimilação do sistema escravista e a atual condição do negro
brasileiro. Entram em pauta, por fim, temas contemporâneos, de maneira que os
alunos percebessem a relação sócio-histórica possível com o texto literário.
Aula 3
Retomada dos tópicos presentes nas discussões dos alunos;
Visualização do filme Quanto vale ou é por quilo?;
Debate comparativo: os aprendizes deveriam procurar estabelecer
relações entre as histórias reproduzidas e o conto lido;
Produção escrita para a sistematização e a reflexão das temáticas
abordas e, propriamente, da função social da literatura.
Aula 4
Divisão da turma em dois grupo para a elaboração das principais cenas, com base no conto trabalhado, em ambas as propostas.
Tentativa de produção dos diálogos para a fotonovela.
Sistematização da ordem em que viriam as cenas;
Produção das fotos para a fotonovela;
Tentativa de buscar na internet imagens e cenários para a formulação de uma versão digital de fotonovela.
Aula 5
Elaboração, em grupo, dos diálogos referentes às cenas pré-
determinadas;
Produção de um texto sobre as estratégias utilizadas na elaboração da
fotonovela, tanto para a adaptaçã da proposta inicial, de transposição
do conto de Machado de Assis à fotonovela, quanto para a segunda
proposta, de recriar o fio condutor do enredo – o conflito entre o pai e a
mãe, assim como as demais intrigas – em um contexto contemporâneo.
Aula 6
Apresentação da fotonovela para a turma.
Referências bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec
Editora, 2014.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: wmf Martins
Fontes, 2011.
CÂNDIDO, Antônio. “O direito à Literatura”. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995
GERALDI, J. W. Portos de passagem. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
RIO GRANDE DO SUL. Referenciais Curriculares do Rio Grande do Sul:
Linguagens, códigos e suas tecnologias. Porto Alegre: SE/DP, 2009.