Departamento de Artes & Design
DESIGN E USABILIDADE DE APLICATIVOS DE SMARTPHONES PARA
MOTORISTAS
Aluno: Marcela Araújo Rodrigues
Co-autor(es): Rafael Cirino Gonçalves
Mariah Loureiro de Carvalho
Orientador: Manuela Quaresma
Introdução
O uso de smartphones vem aumentando cada vez mais e já faz parte do dia-a-dia de
muitas pessoas, seja em casa, no trabalho e no deslocamento pela cidade. Com isso, o
desenvolvimento de diversos aplicativos também é, consequentemente, acelerado para suprir
as necessidades que os usuários encaram durante o dia. Atualmente, existem vários
aplicativos de smartphone para serem usados durante a condução de um automóvel, seja para
guiar o motorista ao longo do caminho que ele deve percorrer, ou muitos outros serviços. É possível observar nas lojas de aplicativos que, a cada dia, novos aplicativos/serviços vem
sendo desenvolvidos para o uso em automóveis. Apesar do crescimento desta fatia de mercado, muitas das funções e soluções dadas
aos sistemas não estão de acordo com o contexto da condução. Quaresma e Gonçalves [1]
apontaram em estudo anterior uma série de problemas no design de aplicativos de smartphone
para motoristas, que podem oferecer riscos à condução e proporcionar eventuais acidentes.
Por serem portáteis, smartphones e seus aplicativos podem ser utilizados, em tese, em
qualquer situação, logo, os aplicativos devem estar preparados para a interação nos mais
diversos contextos de uso, considerando as peculiaridades de cada um [2];[3]. Dessa forma, é
preciso entender como o ambiente externo influencia nessa interação, quais os hábitos e
estratégias de uso de cada motorista, para que os aplicativos possam se adaptar melhor às
necessidades do usuário e ao contexto da condução, mitigando assim o risco em seu uso e
otimizando a interação.
Esta pesquisa é a continuação de um estudo em andamento sobre design e usabilidade
de aplicativos de smartphone para motoristas.Os objetivos específicos da pesquisa realizada
no período de 2014.2 e 2015.1 foram: 1) compreender as possibilidades de interações físicas
com o smartphone dentro de um automóvel; 2) conhecer o contexto de uso dos aplicativos
smartphone para uso em automóveis; 3) conhecer os hábitos e estratégias de uso e opinião dos
motoristas usuários de smartphones em relação aos aplicativos destinados ao auxílio na
condução de automóveis.
Nesta segunda etapa da pesquisa, chegou-se a um panorama geral sobre o uso de
aplicativos no contexto da condução, e seus resultados geraram 1 artigo nacional (avaliado
como melhor trabalho de um congresso) e 1 artigo internacional (publicado em revista
indexada).
Aplicativos de smartphone para motoristas
Diferente dos telefones celulares tradicionais, os smartphones são aparelhos de
comunicação com tecnologia muito mais próxima a um computador pessoal (PC). Uma das
suas principais características são aplicativos que podem ser instalados nele. Os aplicativos
são programas (softwares) das mais variadas categorias, que rodam nos sistemas operacionais
específicos de cada smartphone. Por exemplo, com o uso da rede de telefonia móvel 3G ou
mesmo uma rede Wi-Fi disponíveis em smartphones, é possível acessar a internet através do
aparelho para rodar aplicativos de e-mail, redes sociais e mesmo navegar por sites.
Além dos aplicativos e aliada àquestão da mobilidade, a geolocalização é outro
recurso dos smartphones bastante importante e utilizado, pois é possível através de uma
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antena GPS localizar o ponto exato onde o smartphone está situado ou mesmo rastrear o
caminho percorrido quando ele está em movimento. Com esse recurso, muitos aplicativos
foram desenvolvidos para dar suporte à mobilidade das pessoas, possibilitando uma
diversidade de novos serviços, como por exemplo, os aplicativos para localização de postos
de gasolina próximo à área onde o automóvel/smartphone está circulando.
Aplicativos de smartphone para motoristas podem ser utilizados para diversas funções,
seja para guiar o motorista ao longo do caminho que ele deve percorrer, seja para dar
informações sobre o tráfego, seja para avisar sobre os eventos que estão ocorrendo no trânsito
(como acidentes, obras, etc.), e muitos outros serviços. É possível observar nas lojas de
aplicativos (virtuais) que, a cada dia, novos aplicativos/serviços vêm sendo desenvolvidos
para o uso em automóveis.
As imagens abaixo (figuras 1, 2 e 3) apresentam as interfaces de um dos tipos de
aplicativo disponíveis para os motoristas – os sistemas de navegação GPS. Esses sistemas,
através de uma base de dados com mapas das regiões e a geolocalização, guiam o motorista
de um ponto ao outro indicando cada passo do caminho, tanto por interfaces visuais como por
áudio. Além dessa característica básica desse tipo de aplicativo, outros serviços também estão
inseridos nesses sistemas, como alerta de radar e informações sobre o trânsito, utilizando a
rede de internet.
Figura 1–TomTom Brazil App
–sistema de navegação GPS de
origem holandesa com base de
dados e mapas do Brasil
Figura 2–iGO Primo BrazilApp
–sistema de navegação GPS de
origem húngara com base de
dados e mapas do Brasil
Figura 3–Sygic GPS Navigation
App –sistema de navegação GPS
de origem eslovaca com base de
dados e mapas do Brasil
Beneficiando-se da possibilidade de comunicação entre as pessoas/usuários de
smartphones através da internet, existe outro tipo de aplicativo para uso em automóveis, que
vem sendo amplamente utilizado a cada dia, conhecidos como aplicativos comunitários, que
funcionam como “redes sociais”de motoristas. As imagens a seguir (figuras 4, 5 e 6)
apresentam alguns exemplos de interfaces desse tipo de aplicativo. Basicamente, todos
funcionam como alertas de radar ou eventos (acidentes, obras, engarrafamento, etc.),
sinalizados pelos próprios motoristas, que formam uma comunidade específica de um dado
aplicativo. Por exemplo, ao conduzir o automóvel numa rua onde há um acidente, o motorista
através de inputs no aplicativo alerta a todos os outros motoristas da comunidade de que
existe um acidente naquele exato ponto, que é identificado através geolocalização e
apresentado para a comunidade pela interface do aplicativo.
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Figura 4–WazeApp –aplicativo
israelense de alerta comunitário e
sistema de navegação GPS
disponível em vários países,
incluindo o Brasil
Figura 5–TrapsterApp –aplicativo
americano de alerta comunitário
disponível em vários países,
incluindo o Brasil
Figura 6 –iCoyoteApp –
aplicativo francês de alerta
comunitário, disponível em
vários países europeus
Outro tipo de aplicativo para uso em automóvel muito útil é aquele que transmite
unicamente informações sobre trânsito da cidade, como os exemplos das interfaces abaixo
(figuras 7, 8 e 9). Nesses aplicativos não há um guia de rota, apenas as imagens de mapas ou
câmeras de monitoramento que apresentam as informações e condições do trânsito, vindas
pela internet.
Figura 7–Maplink Trânsito App
–aplicativo brasileiro de
informação de tráfego em tempo
real
Figura 8 – Sytadin App –
aplicativo francês de informação
de tráfego em tempo real
Figura 9 – Vai Rio App –
aplicativo brasileiro de alertas
sobre o tráfego no Rio de
Janeiro
Um quarto tipo de aplicativos para motoristas é o de assistência na condução, que
utiliza da tecnologia de realidade aumentada. Esses aplicativos auxiliam o motorista em
tempo real no monitoramento do status do veículo, apresentando a sua velocidade, a distância
em relação ao veículo a frente a fim de alertar para uma possível colisão, o diagnóstico da
condução (economia de combustível, emissão de CO2, etc.) e possibilitando a gravação do
percurso para análise posterior. Alguns exemplos de interfaces desse tipo de aplicativo são
apresentados a seguir nas figuras 10 e 11.
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Figura 10–iOnRoad App –aplicativo israelense de
assistência na condução Figura 11–Safety Sight App –aplicativo japonês de
assistência na condução
Esses são apenas alguns exemplos dos aplicativos mais populares no Brasil e no
exterior, que estão disponíveis para motoristas. Muitos outros estão disponíveis nas principais
lojas de aplicativos e muitos ainda devem surgir nessa categoria
Caracterização do problema
Como pode ser visto nos exemplos apresentados acima e mesmo em outros aplicativos
disponíveis para motoristas, várias das informações apresentadas nas telas têm um tamanho
muito pequeno para serem lidas durante a condução, ainda mais se for considerado que o
automóvel está em movimento com trepidação. Não só o tamanho reduzido das informações,
mas também a quantidade de informações apresentadas dificulta a leitura e compreensão das
mesmas, com telas sobrecarregadas de pictogramas, imagens e texto em alguns casos.
Além disso, outras questões parecem ser problemáticas nas interfaces desses
aplicativos, como a demanda visual necessária para a conclusão de tarefas de entrada de
dados e a falta de padronização e compatibilidade em relação à expectativa do usuário e aos
sistemas operacionais onde os aplicativos rodam [4], assim como o excesso de interações
necessárias para fazer o aplicativo funcionar durante a condução. Todos esses problemas
podem levar a potenciais distrações do motorista, prejudicando a segurança rodoviária.
Sendo assim, cabe esclarecer algumas questões quanto ao design das interfaces desse
tipo de aplicativo:
- as interfaces de aplicativos smartphones concebidos para o uso durante a condução de
automóveis estão adequadas, de forma a evitar distrações do motorista?
- as interfaces são fáceis de usar durante a condução?
- que diretrizes de design de interfaces existem para o desenvolvimento de aplicativos de
smartphone? Se existem algumas, será que elas consideram o uso dos aplicativos durante a
condução de um automóvel e seu potencial de distração ao motorista?
Distração do motorista
De acordo com a NHTSA –National Highway Traffic Safety Administration [5],
órgão responsável pela segurança no trânsito norte-americano, a distração do motorista pode
ser definida como “um tipo específico de desatenção que ocorre quando os motoristas
desviam sua atenção da tarefa de dirigir para se concentrar em outra atividade”. Esta distração
pode ocorrer de diferentes maneiras, de acordo com as seguintes categorias:
• Distração Visual –através de tarefas que exigem que o motorista desvie o olhar da via
para obter informação visual (como as interfaces visuais dos aplicativos);
• Distração Manual –através de tarefas que exigem que o motorista retire uma das mãos
do volante para manipular algum dispositivo (como a entrada de dados em aplicativos
através de touchscreens e botões físico);
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• Distração Cognitiva –através de tarefas que tiram a atenção do motorista para longe da
tarefa de dirigir (como tentar compreender uma informação confusa apresentada na
interface do aplicativo).
Como a tarefa de dirigir requer do motorista uma especial atenção ao que se passa a
sua frente, a distração visual pode ser considerada a que mais ocorre e, consequentemente, a
que mais pode causar acidentes. Wang et al. apud Burns & Landsdown [6] declararam que
13% dos acidentes com automóveis nos EUA estão relacionados à distração visual e que parte
desta distração pode estar relacionada ao uso de sistemas de informação e comunicação em
veículos. Brooks & Rakotonirainy [7] ainda colocam que quanto maior for a demanda visual
do sistema mais perigosa se torna a condução de um automóvel. Segundo Orski apud Burns &
Landsdown [6], empresas desenvolvedoras de equipamentos eletrônicos para automóveis vêm
sugerindo como solução para a distração visual a aplicação de interfaces baseadas na fala
(comando/reconhecimento de voz e áudio). Desta maneira, o motorista não teria mais a
necessidade de olhar para dentro do veículo e acionar manualmente os controles para concluir
a tarefa desejada no equipamento. Porém, neste momento, desconsidera-se o quão isto pode
influenciar na carga mental do motorista. Não só os olhos dos motoristas devem estar atentos
à via como também a mente, para evitar tanto a distração visual como também a distração
cognitiva. Vários pesquisadores [6]; [8]; [9]; consideram que sistemas baseados na fala não
solucionam totalmente o problema da distração com sistemas de informação em automóveis.
Distração do motorista com o uso de smartphones
O ambiente da condução é complexo, com muitas variáveis envolvidas, requerendo
muito esforço do motorista em diversas tarefas. McKnight & Adams [10] alegam que a tarefa
de dirigir é composta por mais de 1500 atividades mentais simultâneas, o que faz com que
nem sempre o motorista seja capaz de manter o foco na atividade principal e aumenta a
probabilidade de ocorrência de acidentes.
Junto à complexidade da tarefa de dirigir, produtos tecnológicos para o uso em
veículos estão em constante crescimento no mercado, porém muitas deles não são focados na
tarefa de conduzir. Lee et al. [11] define o contexto da condução como uma constante disputa
entre a tarefa principal e as secundárias pela atenção do motorista. Cada atividade secundária
pode prejudicar severamente a performance da atividade principal de conduzir, aumentando o
risco de acidentes. Toda vez que uma pessoa realiza uma atividade paralela, a atenção da
mesma deve alternar constantemente com a demanda da principal. Toda vez que a atenção do
motorista é requerida por ambas, o mesmo pode não ser capaz de lidar com as atividades de
forma efetiva, propiciando a ocorrência de acidentes.
Quando realizamos uma tarefa secundária dentro do contexto da condução, muitos
pontos importantes devem ser considerados, no que tange a interação com dispositivos
embarcados, como o campo de visão do motorista, trepidação do veículo, o alcance dos
controles/interface e a apresentação das informações.
Mesmo com todas as questões específicas inerentes a este contexto, o aumento do
número de smartphones no mercado permitiu o crescimento do número de aplicativos para
motoristas nas lojas de aplicativos (Apple AppStore, Google Play e Windows Phone). Estes
aplicativos desempenham diferentes funções, como oferecer informações sobre o tráfego,
alertar sobre anormalidades na via, navegação GPS e afins. Isso significa que aplicativos para
motoristas oferecem diferentes possibilidades, não se limitando apenas ao auxílio na tarefa
principal de conduzir. Para reduzir os impactos causados pelo uso de smartphones durante a
condução, aplicativos devem considerar todas as características do seu contexto de uso [2];
[3] além de também estarem de acordo com as estratégias de interação dos seus usuários e
com a forma com que eles utilizam seus aparelhos dentro de veículos. Como apontado por
Ramm et al. [12], quanto mais natural é a interação com dispositivos embarcados, menos
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distrações podem ocorrer durante a condução. Magnussonet et al. [13] também declaram que
toda atividade possui características sociais em diferentes ambientes, logo, devemos nos focar
no modo com que a tarefa é realizada, o que interfere na mesma e o que a modifica. Todas
essas informações trazem o respaldo necessário para a concepção de produtos melhor
adaptados para o uso no mundo real.
A fim de propor uma alternativa segura para o uso de aparelhos móveis dentro de
veículos, algumas montadoras (Ford, Honda, entre outras) criaram dispositivos embarcados
(IVIS) que se conectam com o smartphone do usuário, sincronizam seus
conteúdos/funcionalidades e exibindo-os em seus displays, além de permitir a operação por
seus botões. Porém Heikkinenet et al. [14] afirmam que a inserção das funcionalidades de um
smartphone em um IVIS não pode ser entendida apenas como uma simples adaptação da
interface do aplicativo para outro aparelho. Os designers devem entender as necessidades dos
usuários para além das demandas oferecidas pelo ambiente da condução, observando suas
atitudes e motivações para a interação. Os autores também pontuam que uma importante
diferença entre o uso de IVIS dedicados e aplicativos é o fato de que smartphones possuem
muitas outras funções que podem ser utilizadas ao mesmo tempo, o que altera o ambiente da
tarefa e traz novas demandas para o design de interface. Harvey et al. [15] alegam que os principais problemas a serem considerados sobre o
uso de IVIS podem ser divididos em 6 fatores principais: 1) a realização de duas atividades
concomitantes durante a condução; 2) a grande gama de características diferentes dos
usuários; 3) seu uso em múltiplas condições ambientais; 4) diferentes níveis de treinamento
dos usuários com sistemas; 5) variações nas frequências de uso; e 6) a adoção bem-sucedida
do sistema pelos usuários.Entretanto, todos estes pontos devem ser considerados
individualmente durante o processo de design de um aplicativo para motoristas, e isso só se
faz possível com o conhecimento pleno dado contexto de uso de smartphones durante a
condução.
Além disso, motoristas costumam utilizar muitos outros aplicativos em concomitância
com aqueles concebidos para o uso durante o contexto da condução. Acredita-se que os
impactos da interação com este tipo de serviço também devem ser levados em conta para o
entendimento das necessidades deste usuário.
Heikkinen et al. [14] apontam para o fato que aparelhos celulares também são
utilizados como ferramenta de comunicação entre o motorista e sua família/amigos. Os
autores enfatizam a importância da educação do motorista para uma interação segura com seu
smartphone durante a condução, porém estruturas reguladoras não proporcionam tal educação
de forma efetiva. Hallett et al. [16] afirmam que campanhas públicas desempenham um papel
bom papel informativo sobre os riscos oferecidos pelo uso de smartphones durante a
condução, porém, os avisos não são seguidos pelos motoristas em suas atividades cotidianas.
Metodologia
Para se alcançar os objetivos desta pesquisa, foram aplicadas técnicas de abordagem
quantitativa e qualitativa, cujos dados foram posteriormente analisados e organizados de
forma a representar informações contundentes.
Para o levantamento de um panorama geral das estratégias e opinião dos motoristas
quanto ao uso de aplicativos durante a condução, foi aplicado um questionário online [17],
com proposições/questões objetivas e algumas perguntas abertas. Optou-se pela utilização
desta técnica devido a seu grande espectro de abrangência, uma vez que para se traçar um
panorama de toda uma população, faz-se necessário uma grande amostragem de dados.
Com uma visão geral do contexto de uso de aplicativos durante a condução, hipóteses
de persona foram criadas [18] e com base nelas foram feitas inquirições contextuais [19]
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entendendo de forma mais aprofundada como se dão as interações entre o motorista e seu
smartphone durante a condução.
Por fim, todos os dados foram utilizados para a criação de personas [18] e cenários de
uso. As personas e os cenários foram construídos com base no cruzamento entre os dados
qualitativos e quantitativos, identificando padrões de comportamento. Ao fim, pôde-se
construir uma imagem geral sobre o uso de smartphones no contexto da condução; assim
como foi possível entender quais as principais demandas e estratégias de uso de aplicativos
dentro do cenário brasileiro.
Resultados do Questionário
O questionário foi composto de 30 perguntas divididas em 4 seções, cada uma delas
com perguntas relativas a uma questão sobre o uso de smartphones para motoristas. A
primeira seção era composta basicamente por questões de filtragem de perfil de respondente,
já que o escopo desta pesquisa visa apenas motoristas que utilizam smartphones durante a
condução, todos aqueles que não faziam parte deste perfil de usuário foram sumariamente
descartados. A segunda seção abarcou questões sobre a interação do motoristas com os seus
respectivos smartphones de forma genérica: onde eles o posicionam enquanto conduz, de que
forma interagem com os mesmos e afins. A terceira seção foi destinada especificamente a
informações sobre a interação de motoristas com os aplicativos: que tipos utiliza, se utiliza
mais de um, com que frequência utilizam, assim como as estratégias de uso. Por fim, a quarta
seção possuía questões de cunho demográfico, para coletar informações sobre quem era o
respondente, facilitando a caracterização dos dados e avaliar o espectro da amostragem
coletada.
A plataforma utilizada foi o “Eval&Go”e a divulgação ocorreu em território brasileiro,
com respondentes de todas as regiões do país. O principal meio de divulgação do questionário
foram redes sociais, fóruns e comunidades relacionados tanto a conteúdos relativos a
plataformas mobile, quanto a conteúdo automotivo. Os dados coletados nessa etapa são
quantitativos e mostram quais os hábitos mais comuns entre os brasileiros.
O questionário obteve 538 respondentes, sendo 366 que se encaixavam no perfil de
usuário (Brasileiro, maior de 18 anos e usuário de smartphone no carro). A maioria dos
respondentes estava entre 18-39 anos de idade e não houve uma diferença relevante de
gênero. A amostragem da pesquisa foi composta apenas por motoristas brasileiros, logo, não
necessariamente ela pode ser representativa de outros países.
Os dados coletados em relação à interação física com o smartphone demonstram que a
orientação de tela mais utilizada durante a condução é a vertical, sendo preferida por 79% dos
respondentes. Apesar da diferença expressiva, o local em que o smartphone é posicionado
influencia na opção pela orientação vertical ou horizontal da tela. Quando colocado em um
suporte no painel de instrumentos, a orientação vertical apresenta 61% de frequência entre os
respondentes em relação à orientação horizontal (39%). No entanto, ao comparar as
orientações de tela dos usuários que preferem colocar o smartphone em seu colo, a diferença
dentre elas foi de 92% para orientação vertical e 8% para orientação horizontal. Alguns
fatores influenciam a escolha do usuário pela orientação vertical: 1) em geral, os aplicativos
inicializam na orientação portrait, como é sugerido pela Apple Interfaces Human Guidelines
[20], por exemplo; e 2) fatores como a trepidação do veículo e alcance do dedo polegar
também exercem influência, visto que, ao segurar o smartphone na posição vertical, há mais
precisão na interação com a tela touch screen e uma maior firmeza ao interagir devido à pega
da mão.
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Fig. 12 - Gráfico do local de posicionamento do smartphone relacionado ao tipo de orientação
utilizada
Outro ponto que cabe ser ressaltado é o fato de que a orientação vertical possa estar
sendo preferida devido a sua capacidade de exibir mais informações sobre orientação do
trajeto de navegação durante o uso de mapas (informação esta de suma importância dentro
do contexto de condução). Por se tratar de um caminho contínuo, a informação à frente do
usuário ganha um papel de destaque em detrimento a informações sobre o trajeto já percorrido ou sobre o ambiente ao seu redor. Logo a orientação vertical permite a exibição
mais efetiva de informações relevantes ao usuário dentro deste contexto.
A figura 13 mostra que a maioria dos locais onde os smartphones são posicionados é:
perto do câmbio de marchas, no colo e no banco do passageiro. Em geral, tais locais se
encontram abaixo da linha de downvision [21]. Acredita-se que devido a esta prática, para
interagir com o smartphone, o motorista necessite desviar sua visão para fora da via. Young
et al. [21] afirma que o desvio da visão do motorista da via pode comprometer a sua
capacidade de controlar o veículo com eficiência e sua capacidade de reagir a situações
adversas. Devido a este fato, os autores alegam que todo dispositivo que possa vir a oferecer
informações ao usuário deve estar posicionado dentro do limite de downvision, o que nem
sempre ocorre no uso de smartphones. Acredita-se que esta prática seja danosa para a
segurança rodoviária, logo, deve ser considerada e combatida no design de interface de
aplicativos.
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Fig. 13 - Gráfico do posicionamento do smartphone durante a condução
O posicionamento do smartphone não influencia somente na orientação da tela, mas
também no dedo utilizado durante a interação com o dispositivo. Observou-se que o
indicador é o mais utilizado quando o aparelho é colocado no painel de instrumentos ou
quando está em um suporte no pára-brisas. Jáo polegar foi preferido nas situações em que o
smartphone é posicionado próximo ao câmbio de marchas, quando guardado no bolso ou na
bolsa, quando está no banco do passageiro ou no colo. O posicionamento no porta luvas
apresentou resultados iguais para ambos os dedos. Uma parcela pouco significativa revelou
usar o dedo médio. Presume-se que o uso do dedo polegar como o mais frequente possa estar
relacionado com o hábito do usuário de utilizar o smartphone segurando com a mão em
outros contextos de uso e com os outros fatores já mencionados quanto à orientação de tela.
Isso faz com que tal hábito se repita dentro do veículo por uma mera questão de costume.
Acredita-se que o aumento relativo do uso do indicador em locais como o suporte no para-
brisas possa estar relacionado com a distância entre o aparelho e o alcance do braço do
motorista. Assume-se que a distância pode fazer com que o usuário não consiga alcançar
facilmente o aparelho a ponto de conseguir segurá-lo com a mão, o que propicia o uso do
indicador para aumentar o alcance do braço.
Quando perguntados sobre a forma como conectam seu smartphone ao carro, 39%
dos usuários disseram conectar via bluetooth, 40% não faz conexão e 34% faz conexão por
cabo. Observa-se que a maior parte dos respondentes faz conexão entre seu smartphone e o
veículo. Entretanto, a conexão via Bluetooth ainda é uma novidade na maioria dos veículos
brasileiros. Um dos motivos que justifica o posicionamento do smartphone abaixo da linha
de downvision pode ser referente ao tipo de conexão feita entre o smartphone e o carro.
Percebeu-se que 42% das pessoas que colocam seu smartphone no câmbio de marcha,
utilizam como meio de conexão o cabo. Acredita-se que esse fato se deve à limitação de
mobilidade causado extensão do cabo.
Dentre os diferentes tipos de informações mais consumidas pelos motoristas durante
a condução, se destacam principalmente aquelas relativas ao trânsito, acompanhado por
chats/comunicação, como pode ser visto na figura 14. Destaca-se a grande frequência do uso
de aplicativos de chat (50%) e SMS (34%) durante a condução, mesmo com todos os
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problemas ressaltados por pesquisas quanto a esta prática durante a condução [16]; [22];
[23].
Fig. 14 - Gráfico de informações consultadas no smartphone durante a condução
No contexto da condução, não são apenas aplicativos relacionados à tarefa de dirigir
são consultados. Quando perguntados sobre que apps são utilizados em concomitância, a
maioria dos respondentes afirmou utilizar apps para motoristas e aplicativos de comunicação
(chats, email e afins), seguidos de aplicativos de música. Acredita-se que a adoção desses
tipos de aplicativos neste contexto se dá pela tentativa de otimização do tempo devido ao
excesso de engarrafamentos nas grandes cidades brasileiras. Damatta (2010), afirma que o
ambiente de trânsito do Brasil é extremamente conturbado e fonte de estresse, o que faz com
que pessoas busquem por formas de se desvencilhar de problemas ou amenizá-los tanto
quanto possível. Supõe-se que uso de aplicativos que monitorem o trânsito e que forneçam
informações fidedignas em tempo real é feito no intuito de evitar ao máximo a passagem por
engarrafamentos e possíveis estresses relativos ao deslocamento. A forte presença do uso de
aplicativos de chat durante a condução pode ser justificada pelo mesmo motivo, uma vez que
estes aplicativos podem ser vistos como sistemas de entretenimento para momentos críticos.
Também se acredita que o uso de chats desempenha uma função de otimizar o tempo no dia-
a-dia do motorista. As figuras 15 e 16 mostram que o uso do smartphone durante a condução
cumpre a função de tornar o motorista mais disponível para sua família, amigos e trabalho, o
que justifica a utilização dessas ferramentas para comunicação dentro do veículo.
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Fig. 15 - Me tornar mais acessível para
família e amigos
Fig. 16 - Me tornar mais disponível para o
trabalho
Sobre o tópico da opinião dos usuários quanto a sua própria segurança durante o uso
de aplicativos na condução, os dados apontam para uma incoerência entre a sua percepção de
risco e os atos praticados em prol da segurança. De acordo com os resultados do
questionário, constatou-se que 50% dos usuários não acham que os aplicativos de seus
smartphones os ajudam a dirigir de uma maneira mais segura. Nas questões abertas,
diversos respondentes reconheceram os riscos relacionados à distração causada pelo uso de
aplicativos durante a condução. Constata-se que a ideia do uso de aplicativos dentro do
veículo como prática arriscada seja senso comum dentro da população brasileira. Tal ideia
ainda se faz presente quando 72% dos respondentes afirmaram que se incomodariam de
poder acessar mais informações enquanto se está dirigindo. Acredita-se que mecanismos de
prevenção em massa, como o Código de Trânsito Brasileiro que proíbe o uso de celular
durante a condução, exercem influência para a construção de uma imagem negativa quanto
ao uso do smartphone durante a condução.
Apesar dos dados acima, constatou-se que o comportamento do usuário quanto ao uso
de smartphones se mostra antagônico ao seu discurso. Como dito anteriormente, grande
parte dos motoristas posicionam seus smartphones fora do campo de visão da via, o que
propicia o desvio do olhar do motorista para fora da via, impedindo-o de enxergar o que está a sua frente. Tal prática pode tornar o motorista incapaz de reagir em uma situação de risco.
Outro comportamento inapropriado observado foi o uso de ferramentas de mensagem e
comunicação por grande parte dos respondentes do questionário. Hallet et al. [16] constatou
que o ato de digitar no smartphone durante a condução é uma atitude que pode trazer riscos à segurança, mas que mesmo assim, motoristas ainda o fazem e consideram menos danoso do
que outras práticas, como falar no celular enquanto dirige.
Acredita-se que a incoerência entre o discurso do usuário e suas ações esteja
relacionada à sua própria percepção quanto aos riscos vinculados aos seus atos. De acordo
com Dejoy [25] pessoas quando estão sob o controle de um veículo tendem a se sentir mais
hábeis ao volante e menos propensas a se envolverem em acidentes. Dejoy [25]; Machado
[26] e Damatta [27] ainda afirmam que este fenômeno faz com que pessoas acreditem que
apenas os outros motoristas estejam sujeitos a riscos e erros.
Levando em consideração a teoria acima e os dados obtidos, faz-se crer que os
motoristas desvinculam suas práticas de uso do smartphone a um comportamento de risco.
Acredita-se que o discurso de represália quanto ao uso de aplicativos no trânsito seja
construído a partir da observação do comportamento dos demais motoristas, que ressaltam os
riscos inerentes a esta prática.
Ao se observar os anseios quanto a novas funções/aparelhos e/ou aplicativos para
serem utilizados durante a condução, pôde-se constatar que a maioria dos respondentes sente
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a necessidade de ferramentas contextuais que auxiliem a condução, entrada de dados e
visualização da informação sem a necessidade da interação física entre o humano e o
sistema. A função mais comentada/desejada dos respondentes deste estudo foi a
possibilidade de interação com o smartphone com comandos de voz. Acredita-se que a
comunicação por voz seja vista como algo importante devido ao fato de permitir ao
motorista utilizar o seu smartphone em quanto dirige, sem a necessidade de manipulá-lo
fisicamente e/ou olhar para ele.
O segundo ponto de maior importância foi relativo à apresentação de informações de
forma contextual diretamente no para-brisa do motorista, através de um HUD (head up
display). Acredita-se que este tipo de função esteja diretamente relacionada com a
necessidade dos comandos de voz, dispensando completamente a necessidade de interagir
com o aparelho smartphone para a utilização de aplicativos.
O terceiro ponto mais apontado por parte dos respondentes está relacionado com a
aplicação de uma inteligência artificial que realize algumas atividades sem a necessidade de
um comando expresso do usuário. Assume-se que a necessidade deste tipo de serviço esteja
relacionada a uma intenção de redução do esforço cognitivo durante a condução,
característica essa muito importante para tal contexto [10]. Outro fator que acredita-se estar
relacionado a isto é a difusão e popularização de tecnologias de inteligência artificial, que se
tornam cada vez mais presentes na mídia e orientam a vontade do consumidor, aliada a sua
necessidade.
Com base na literatura e nos relatos dos usuários, conclui-se que as necessidades dos
mesmos estejam diretamente relacionadas às demandas em termos de esforço por parte do
contexto da condução e consequentemente aos tipos de distração que podem se abater sobre
o motorista. Quando observamos as três principais necessidades/anseios dos respondentes,
fica evidente que cada uma delas é relativa a um tipo de demanda/distração do motorista
(NHTSA; 2005), sendo o comando de voz relativo à distração manual; o HUD à visual e a
inteligência artificial à cognitiva.
Apesar desta suposta preocupação dos usuários quanto à sua demanda durante o uso
de aplicativos, questiona-se se a abordagem proposta pelos mesmos durante o questionário se
mostra adequada ao contexto de uso, já que as mesmas não levam em consideração
prováveis consequências inerentes ao seu uso (como o esforço cognitivo em coordenar a fala
ou excesso de informação visual que HUD pode oferecer). Young [27] afirma que a
interação com sistemas automatizados pode trazer uma grande demanda de esforço cognitivo
para o motorista, o que pode vir a sobrecarregá-lo e oferecer riscos. Burns & Landsdown [6]
consideram que sistemas baseados na fala não solucionam totalmente o problema da
distração com sistemas de informação em automóveis. Dependendo do modelo mental que o
motorista faz sobre o sistema, este pode aumentar ainda mais a sua carga cognitiva causando
a distração.
Resultados da Inquirição Contextual
A Inquirição Contextual foi realizada com 11 usuários, no próprio automóvel do
motorista. Foram entrevistados 5 homens e 6 mulheres, com experiência no trânsito variando
entre 5 e 32 anos. Os carros dos entrevistados estavam entre os modelos Hatch, Sedan e
SUV.
O tempo de duração das entrevistas era de acordo com o percurso cotidiano dos
usuários, variando de 30 minutos à 1 hora, os trajetos foram realizados na cidade do Rio de
Janeiro e, em geral, eram percursos da casa para o trabalho ou vice versa. A entrevista foi
realizada por dois pesquisadores, um deles sentado no banco da frente, ao lado do motorista -
responsável por conectar a câmera no para-brisas do carro e fazer a mediação da entrevista,
explicando o passo a passo dela - e o outro no banco de trás - responsável por fazer a
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gravação de áudio e o registro de fotos do carro, do posicionamento do smartphone e de
momentos ou situações que caracterizassem o usuário. Ambos os entrevistadores fizeram
seus registros pessoais em blocos de notas, para posteriormente interpretarem os dados em
conjunto. O termo de consentimento era entregue enquanto os entrevistadores explicavam
sobre os procedimentos da entrevista. Ao final, era dado um feedback sobre as informações
coletadas para certificar que estavam de acordo com a realidade do motorista. Um roteiro de
entrevista foi desenvolvido com o intuito de elencar os principais pontos a serem observados
pelos entrevistadores, referentes às estratégias de uso e a relação do motorista com os seus
aplicativos, satisfação dos sistemas, bem como seus constragimentos e falhas, desvio do
olhar, tempo de conclusão de tarefas, quais os fatores externos que influenciam no seu
comportamento no trânsito, entre outros.
Os usuários eram alertados que os entrevistadores não estavam julgando a habilidade
de conduzir e, sim, a maneira com que os usuários interagiam com o seu smartphone dentro
do carro. Por isso, eram instruídos a não limparem seus veículos antes da entrevista e a
realizarem seus trajetos cotidianos. De acordo com as características dos usuários observadas
na Inquirição, foram elencados os comportamentos mais relevantes, ou seja, os que mais
interferem na conduta do usuário frente ao volante e foram observadas diversas relações
entre eles.
O primeiro deles foi a afinidade do motorista com tecnologias, característica que
apresentou alguns padrões recorrentes de comportamento entre os usuários. Os entrevistados
mais "high techs" apresentavam um maior prazer durante a condução, interagiam com
frequência com os dispositivos do carro e/ou com os aplicativos referentes àatividade de
conduzir. O número de aplicativos utilizados era variado neste perfil de usuário, visto que
determinados usuários interagiam muito com apenas um aplicativo, enquanto outros
utilizavam muitos aplicativos, mas com interações pontuais em cada. Os aplicativos
paralelos àcondução eram utilizados mais com o intuito de otimizar a experiência, como os
aplicativos de música.A personalização dos aplicativos também apresentou acentuada
relação, devido ao conhecimento das funções disponíveis e por isso eram adaptadas ao
contexto de uso. A informação mais consumida, em geral, eram sobre o trânsito e por isso
também eram usuários colaboradores, reportavam eventos importantes na via. Foi observada
uma maior tendência em realizar inputs alternativos, como comandos de voz, devido
àconexão completamente integrada do carro com o smartphone. Os usuários com menor
afinidade com tecnologias costumavam realizar uma interação mais direta com o hardware e
pouca interação com os dispositivos do carro, quando ocorria, era limitada aos sistemas de
áudio. Em geral, a integração do smartphone era realizada através de cabos, inviabilizando
determinadas funções que poderiam ser realizadas viabluetooth.
Outro quesito que gerou muitos comportamentos semelhantes foi referente ao trajeto
cotidiano do usuário. Em trajetos longos, o motorista tende à interagir mais com o
smartphone com o intuito de otimizar o tempo ocioso no trânsito. Os aplicativos que não
possuem funções referentes à de condução são utilizados para comunicação, para resolver
problemas de trabalho e, muitas vezes, para entretenimento. A utilização de aplicativos para
motoristas tem a finalidade de buscar o melhor trajeto e rotas alternativas afim de fugir dos
engarrafamentos, bem como alertar sobre o tempo de percurso. Há uma grande consulta
nesses aplicativos, ainda que os usuários apresentem senso crítico para avaliar os trajetos
sugeridos e nem sempre seguem a primeira rota definida. Por outro lado, a preferência por
trajetos específicos acontece com maior frequência em trajetos curtos, visto que a diferença
de tempo entre as rotas sugeridas não é tão significante e por isso optam por aquelas que
promovem uma melhor experiência. Em trajetos curtos, há uma tendência de minimizar a
interação com o smartphone e utilizá-lo apenas em casos de emergência, visto que na
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maioria dos casos é possível aguardar a chegada em determinado local para resolver seus
assuntos.
O nível de confiança nas informações fornecidas pelos aplicativos varia em
decorrência da frequência de uso dos mesmos. Usuários assíduos apresentaram maior
confiança em relação aos que usam esporadicamente.
A condução da maior parte dos entrevistados mostrou-se cautelosa. Os usuários que
apresentaram condução não cautelosa foram os que utilizaram muitos aplicativos enquanto
dirigiam com o intuito de entretenimento e por isso passíveis de muita distração.
O local de posicionamento do smartphone também foi observado para saber se os
usuários planejavam o local onde o colocavam ou se não havia um padrão e era posicionado
no lugar de maior conforto e rápido acesso, como o colo. Apesar de diferentes condutas, o
comportamento com maior relação ao local foi a frequência de uso. Motoristas que
interagiam constantemente com o smartphone, em geral, colocavam-o em locais de acesso
mais fácil e nem sempre planejado. Aqueles que interagiam com menos frequência e
mostraram-se mais preocupados com eventuais distrações, posicionavam o celular em um
local mais adequado ao campo de visão.
A preocupação relativa à assaltos não se mostrou tão relevante em grande parte dos
usuários. Muitos relataram que é inevitável, outros não gostariam de mudar sua conduta no
trânsito e afetar sua experiência de conduzir em detrimento de um comportamento mais
seguro à assaltos.
O prazer da direção também mostrou-se relacionado com a distância. Em geral,
trajetos longos são passíveis de muitos engarrafamentos em cidades grandes como o Rio de
Janeiro. Por esse motivo, a direção torna-se uma atividade obrigatória e menos prazerosa. Os
usuários que realizam trajetos menores e possuem afinidades com tecnologia, desfrutam
mais o momento da direção, escolhem playlists adequadas, interagem com seus dispositivos
de maneira completa visto que conseguem integrar o carro e o smartphone às suas
necessidades e tornam a experiência de conduzir o veículo única.
A partir dos comportamentos, foram estabelecidas as principais metas dos motoristas
enquanto estão conduzindo o veículo. A primeira dela é se desvencilhar do trânsito e buscar
o trajeto de menor duração para chegar ao seu destino. De diversas formas, os motoristas
entrevistados mostraram os meios utilizados para adquirir informações de trânsito. Seja por
rádios, aplicativos para motoristas, informações de familiares ou amigos, a maior parte dos
usuários revelou utilizar ao menos uma dessas formas, variando a intensidade e frequência
do consumo da informação e, em alguns casos, o local. Alguns usuários consultavam essas
informações antes de sair com o veículo, enquanto outros utilizavam durante todo o percurso
em busca de rotas alternativas. A segunda meta é otimizar o tempo, visto que, em muitos
casos, o engarrafamento é inevitável, o trajeto é muito longo e o veículo fica parado. Dessa
forma, ele se torna um ambiente para se comunicar com os amigos ou familiares, assim
como adiantar ou resolver problemas de trabalho, como enviar emails ou realizar ligações. A
terceira meta ainda é referente ao tempo ocioso no trânsito, no entanto, é utilizado para
buscar formas de entretenimento, seja através de redes sociais, jogos, aplicativos de notícias,
chats, entre outros. A quarta meta é referente à experiência do usuários. Foi constatado que
determinados usuários apreciam a experiência de estar dirigindo e por isso buscam meios de
otimizá-la ao máximo, seja configurando playlists adequadas ao momento, interagindo com
os diversos devices do carro ou até mesmo buscando rotas com um caminho mais prazeroso.
O momento de dirigir não é mais apenas uma obrigação, mas um lazer.
Observando os diferentes perfis de usuário, suas tarefas e objetivos, conseguimos
perceber que cada um dos fatores listados acima está relacionado diretamente com o
ambiente em que dirigem, seja ele interno (o veículo) ou externo (o trajeto que percorrem),
levando em consideração todas as atividades de seu dia-a-dia.
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Observando primeiramente o ambiente externo ao veículo – como os trajetos
percorridos, ambiente em que conduz e dia-a-dia do motorista, fica evidente diferentes
características que moldam os cenários e constroem diferentes experiências de condução,
cada uma com sua motivação. O primeiro fator que define este ambiente externo é a
distância percorrida pelo motorista em seus trajetos corriqueiros. Quanto mais longe ele
mora, maior o tempo gasto em seus percursos, o que influencia na sua busca por otimização
de rotas e corrobora para uma experiência negativa de condução. O segundo fator observado
foi referente à intensidade dos engarrafamentos enfrentados pelo motorista. Novamente
encontramos a variável tempo gasto com um elemento crucial para a construção de uma
experiência de conduzir. Desta forma, presume-se que quanto menos tempo ocioso, melhor
será a experiência do motorista e menos atividades paralelas o mesmo realizará. O último
fator referente ao ambiente externo é a periodicidade de realização destes trajetos por parte
do motorista. Observa-se que quanto mais pontual é a necessidade do trajeto, menos
dispendiosa ela se mostra, dando a entender que a mesma é uma questão opcional.
Os fatores acima influenciam diretamente o ambiente interno do carro, que por sua
vez também colaboram para a construção da experiência do motorista. Observou-se que
quanto mais as pessoas gastam tempo em seu deslocamento, maior a quantidade de coisas
que carregam, tornando o veículo uma “segunda casa”– como mudas de roupa, livros e
qualquer outra coisa que possam vir a necessitar ao longo do dia. Outro fator interno que foi
observado durante os estudos foi o nível de organização da cabine do motorista. Percebemos
muitas pessoas com uma cabine desorganizada, cheia de coisas àmão, mas sem
necessariamente um lugar específico para cada uma delas. Nos casos onde foram
encontrados carros muito organizados e limpos, os usuários possuíam uma relação prazerosa
com o ambiente da condução, o que motiva o motorista a manter sua cabine a mais
organizada possível – otimizando assim a experiência. Por fim, um fator crucial para a
construção do ambiente interno da condução foi a presença e o posicionamento do
smartphone no veículo. Observou-se que questões relativas à cabine do veículo influenciam
a forma com que as pessoas utilizam o aparelho, interferindo diretamente na condução. O
uso do cabo de áudio e de alimentação de bateria limitam a movimentação do smartphone, o
que faz com que as pessoas tenham que desviar o olhar da via para utiliza-los. Percebeu-se
que aqueles que buscam por uma condução mais prazerosa buscam interagir com o
smartphone sem desviar sua visão da via, seja com o uso de suportes ou a utilização de
métodos de conexão do aparelho com o sistema multimídia do veículo. O smartphone
também altera o ambiente ao oferecer diferentes atividades paralelas ao motorista durante a
condução (como já dito acima), o que faz com que eles busquem por formas de suprir suas
necessidades ao longo do percurso.
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Personas e Cenários
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Conclusão
A partir do cruzamento dos dados qualitativos e quantitativos, foram identificados
padrões de comportamentos e fatores ambientais que influenciam diretamente na maneira de
conduzir dos motoristas.
Os resultados do questionário mostraram que a maior parte dos motoristas utilizam o
smartphone durante a condução para otimizar o tempo do seu dia-a-dia, seja realizando
atividades paralelas como ligações, ou reduzindo o tempo gasto em engarrafamentos com
rotas alternativas. Um outro fenômeno observado foi a forte presença do uso de chats durante
a condução - tais como o facebook messenger e o whatsapp. Quanto à interação física com o
aparelho smartphone, foi observado que a maior parte dos usuários o utilizam em suas mãos,
os posicionando geralmente em lugares muito abaixo da linha de visão da via – por exemplo:
perto do câmbio de marchas ou no banco do passageiro, por uma questão de conforto e
praticidade de uso. As maiores reclamações e necessidades apresentadas pelos participantes
da pesquisa foram em relação ao uso de comandos de voz, o que mostra a sua necessidade de
aliviar a distração visual e manual imposta pela digitação.
Pôde-se observar no questionário, um perfil comportamental de um usuário brasileiro
pouco preocupado com segurança. Apesar deste achado, a maior parte dos respondentes da
pesquisa não se mostraram conscientes dos riscos de suas atitudes, alegando ter um
comportamento seguro no trânsito e reclamando de todos os outros motoristas a sua volta.
Com os dados obtidos na Inquirição Contextual, ficou evidente que motoristas que
apresentam uma condução cautelosa, interagem pouco com os aplicativos. Os que realizam
trajetos curtos apresentam, em geral, preferência por rotas específicas, visto que o
engarrafamento não influencia significativamente no seu percurso. Os usuários que
demonstram muita afinidade com tecnologia e prazer na direção, em geral, interagem bastante
tanto com o carro quanto com o smartphone e costumam fazer uma integração entre eles, seja
através de cabos auxiliares ou bluetooth; tem seus aparelhos personalizados e colaboram e
consomem significativamente informações de trânsito. Por outro lado, aqueles que possuem
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pouca afinidade com tecnologia, interagem pouco com os aplicativos e não confiam
plenamente nos mesmos; não costumam realizar atividades paralelas àtarefa de dirigir, ou
seja, não utilizam o momento da condução para resolver assuntos pessoais ou referentes ao
trabalho, concentram-se na direção, a menos que haja uma necessidade imediata.
Em suma, conclui-se que hádiferentes personas e cenários de uso durante a condução
e, por esse motivo, diferentes condutas são adotadas. Percebeu-se que as personas
diferenciam-se entre si pelas seguintes variáveis: 1) tempo gasto em seus trajetos; 2) afinidade
com tecnologias; 3) o prazer em dirigir; 4) preocupação com segurança. Independente da
persona adotada, todas elas possuem o mesmo objetivo, a busca por praticidade e conforto
durante a condução. Por terem demandas diferentes dentro do mesmo objetivo, a interação
com o smartphone é diferente, tanto no tipo de informação consumida quanto na forma de
interagir.
Para os próximos passos desta pesquisa, os perfis comportamentais e cenários
encontrados nesta etapa serão utilizados para a criação de propostas de requisitos de projeto
deste tipo de aplicativo, apoiados com as diretrizes coletadas na etapa anterior.
Posteriormente, tais requisitos serão validados e transformados em diretrizes de usabilidade,
atendendo o objetivo geral da pesquisa.
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