1 • Diplomática - Junho/Julho 2008
Diplomatica´Diplomatica´
With English & French Texts
Nº9 Março 20114 (Cont.)
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01
1
business & Diplomacy
SarkozyUm percurso impressionante
Em destaque
Pascal Teixeira da Silva Embaixador de França
EmbaixadorEs rEvisitam 2010
Ana Paula LaborinhoPresidente do Instituto Camões
Pavel PetrovskiyEmbaixador da Rússia
Adriano MoreiraO último senador
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4 • Diplomática -março/abril 2011
Editorial
Sarkozy. Um percurso impressionante e imprevisível em políticaSarkozy. an impressive and unpredictable path in the world of politicsSarkozy: un parcours politique étonnant
pascal teixeira da Silva. o luso-descendente Embaixador de França em lisboa aborda as relações com portugalpascal teixeira da Silva. the luso-descendant ambassador of France in lisbon addresses the relations with portugalpascal teixeira da Silva. l’ambassateur lusodescendant de France a lisbonne aborde les relations avec portugal.
Ângelo ramalho. o pDG da alstom Grid portugal é o “cicerone” ao universo de uma das maiores empresas internacionaisÂngelo ramalho. the cEo of alstom Grid portugal invite for a visit to the universe of one of the largest internacional companiesÂngelo ramalho. le pDG de alstom Grid portugal est le guide au univers d’une des majeurs entreprises internationales
Fernando bessa. Director Geral da air France Klm e portugal fala-nos do crescimento da empresaFernando bessa. the cEo of air France Klm e portugal reports on the growth of the company Fernando bessa. Directeur Général de air France Klm et portugal nous parle du croissance de l’entreprise
michel Drouère. Delegado geral da alliance Française guia-nos ao interior de uma das maiores associações culturais do mundomichel Drouère. the guide of the general delegate of alliance Française to one of the greatest cultural associations of the Worldmichel Drouère. Délégué Général de l’alliance Française nous guide à l’intérieur de l’une importantes associations culturel du monde
bernard chantrelle. o presidente da câmara de comércio e indústria luso-Francesa, em artigo de opiniãobernard chantrelle. the president of the portuguese-French chamber of commerce and of the portuguese-French industry in an article of opinionbernard chantrelle. le président de la chambre de commerce et d’industrie luso-Française, dans un article d’opinion
balanço de 2010. De viva voz, embaixadores europeus escrevem sobre o ano que passou e as perspectivas para 2011balance 2010. in their own words, european ambassadors write about last year and how they visualize 2011balance de 2010. ambassadeurs européens écrit sur l’année passée et les perspectives pour 2011
cimeira da Nato em lisboa. Um interessante artigo do Embaixador da rússia em lisboa Nato summit in lisbon. an interesting article written by the ambassador of russia in lisboncimeira da Nato em lisboa. Un article intéressant de l’ambassadeur de russie à lisbonne
adriano moreira. o último senador traça o retrato de um mundo em mudança, com a Europa como pano de fundoadriano moreira. With Europe as background, adriano moreira, the last senator, portrays a world that is changingadriano moreira. le dernier sénateur dresse un portrait d’un monde en mutation, avec l’Europe comme toile de fond
macau. 2010 assinala recorde no volume de negócios entre a china e os países lusófonos macau. 2010 marks a record in the turnover between china and lusophone countriesmacao. l’anée de 2010 marque un record de chiffre d’affaires entre la chine et les pays lusophones
XX cimeira ibero-americana. Na despedida, lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão” XX iberoamerican Summit. While saying his farewell, lula da Silva made an offer to help the “país irmão” (brother country)20eme Sommet ibéro-américain. En partant, lula da Silva a tendu la main pour aider le pays “frère”
Dilma rouseff. retrato de uma mulher verdadeiramente notávelDilma rouseff. portrait of a truly remarkable womanDilma rouseff. portrait d'une femme tout à fait remarquable
iii cimeira luso-argelina. Nova fase de cooperação marcou trabalhos do conclave iii luso-algerian Summit. New forms of cooperation marked the work of the conclave3eme Sommet luso-algérien. Nouvelle phase de coopération a marqué les travaux du conclave
ana paula laborinho. presidente do instituto camões guia-nos na revisitação de uma vida dedicada à língua de camõesana paula laborinho. the president of the camões institute guides one through a life dedicated to the language of camõesana paula laborinho. président de l’instituto camões invite à revisiter une vie consacrée à la langue de camões
maria barroso. agraciada pelos Grão-duque do luxemburgo que, na ocasião, homenageou aristides de Sousa mendesmaria barroso. Honored by the Grand Duke of luxembourg, that on the same occasion paid tribute to aristides de Sousa mendesmaria barroso. Honoré par le Grand-Duc de luxembourg et, à l’occasion, a rendu hommage aristides de Sousa mendes
Emiratos árabes Unidos. recepção em lisboa junta personalidades da política, da economia e da culturaUnited arab Emirates. a reception in lisbon brought together personalities from politics, economy and cultureÉmirats arabes Unis. réception à lisbonne réunissant des personnalités de la politique, l’économie et la culture
2º aniversário Diplomática. Em ambiente solidário a festa da revista não deixou de dizer presente na ajuda às vítimas da catastrofe no paquistão2nd anniversary of Diplomática magazine. in a supportive environment the people in attendance to the party said yes to aiding pakistan2eme anniversaire de Diplomática. Dans unne ambiance de solidarieté, la fête de la magazine a étè present dans l’aide au pakistan
antónio lobo antunes. Homenagem em parisantónio lobo antunes. tribute in parisantónio lobo antunes. Hommage à paris
Norte de áfrica. Qual gigante adormecido, a vontade dos povos parece imparávelNorth of africa. like a sleeping giant, the will of the people seems unstoppableafrique du Nort. comme un gigant endormi, la volonté du peuple semble imparable
marta castro. o universo de luz e sombrana pintura da grande artista, mulher de luis amadomarta de castro. the universe of light and shadow in the painting of the great artist, married to luis amadomarta de castro. Un Univers de lumière et ombre dans la peinture de la grande artiste,épouse de luis amado
traduçõestranslationstraductions.
DIRECTOR: maria da luz de bragança PRODUÇÃO: césar Soares PROPRIEDADE: maria da luz de bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. av. Engº Duarte pacheco, nº1 - 4º Esq. – 1070-100 lisboa.
MARkETIng & PUblICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:[email protected] tel.: 21 322 46 60 a 76 Fax: 21 322 46 79IMPRESSÃO: madeira & madeira, S.a. DISTRIbUIÇÃO: logista - alcochete - telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45
iSSN 1647-0060 – Depósito legal nº 276750/08 – publicação registada na Direcção Geral da comunicação Social com o nº 125395
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AssuntosSummary
résumé
5março/abril 2011 - Diplomática •
Editorial
Nunca trabalhei com o Zé manel – o que é uma pena, pois esse convívio ter-me-ia valori-
zado muito -, mas sei o que ele significou [e significa!] para várias gerações de jornalistas,
desde os tempos de fogo no “Expresso” até à “Diplomática”, onde terminou os seus dias
de jornalista e uma vida agitada de cidadão atento e homem honrado.
o José manuel teixeira foi um mestre do jornalismo e um ser humano de excepção que
sempre amou a vida e sempre se deu aos outros: fosse um diplomata ou um modesto
funcionário público; uma figura pública ou uma prostituta; um empresário ou um operário
– a todos ele tratava como sabia e da única forma que admitia: olhos nos olhos!
E foi um homem que, ao mesmo tempo que amava a vida, sempre amou o jornalismo e a
ele se entregou como um combate. pela razão simples de amar a liberdade e a verdade.
E odiava a mentira, a hipocrisia, as punhaladas nas costas e a cáfila de serventuários sem
ideias que pulula à volta do próximo chefe, do próximo dono que lhe pague as contas…
a ironia, o humor verrinoso, eram armas letais de quem sempre foi estruturalmente livre e
nunca teve dono! poderia ter dirigido os mais reputados meios de comunicação, poderia
ter feito carreira como comentador, poderia ter sido rosto e voz de qualquer êxito mediáti-
co, mas nunca quis. preferiu envolver-se em pequenos projectos com a sua companheira
de anos e aventuras jornalísticas. com maria da luz de bragança colaborou em publica-
ções que fizeram história. lembram-se da “manchete” – uma irreverente revista fora de
tempo, mas que fez história no jornalismo em portugal?
E entregou-se de corpo e alma à “sua” “revista dos bombeiros” e aos voluntários de
lisboa, onde fez da sua presença militância diária a favor dos outros, entregando-se todo
– como sempre fez em tudo o que pegou.
o Zé manel era um perfeccionista da escrita, cultor de um tipo de prosa que foi beber aos
nomes maiores do jornalismo e da literatura. E, como o já se disse, foi um mestre para
todos nós – os profissionais da escrita – e um exemplo de verticalidade e humanidade. Há
um ano que nos deixou, mas não morreu, continua prESENtE nos caminhos diários que
nos animam nesta circunstância de sermos jornalistas. ■
José Manuel Teixeira: Presente!
antónio alte pinho
José Manuel Teixeira: Present!
I never worked with Zé manel – which is rather a shame given that being close to him would have made me a better professional – but i do know what he
meant (and still means!) to several generations of journalists, from the early and rather difficult days in the Expresso newspaper to more recent times in
Diplomática magazine, where he was to finish his life both as a journalist and also as the well-informed and honourable citizen that he was.
José manuel teixeira was a master of journalism and an exceptional human being, that always loved life and was always there for those who knew him,
whether that person was a diplomat or a mere civil servant; a public figure or a prostitute; a business man or a simple worker – each and every one of these
people was tratead in the very best way he knew how and always eye to eye!
He was also a man that not only loved life but never stopped loving journalism and because of that looked upon his profession as a true fighter. For the
simple reason that he loved freedom and truth. in the same way that he hated lies, hypocrisy, backstabbing and the bunch of mindless yes-men that can
always be found closing in on the next boss or the next guy that will be paying for their bills...
irony and sharp humor were used as lethal weapons by someone that always remained structurally free and was never owned by anyone! He could have
been responsible for the most important newspapers or magazines, could have had a career as commentator, could even have been the spokesperson for
any high profile media bestseller but he chose not to go that way. instead, he preferred to get involved in small projects with his partner of many journalistic
adventures, his most trusted companion of many years. With maria da luz de bragança, he collaborated in publications that made history. Do you remem-
ber manchete?, an irreverent magazine that appeared way before its time but made history in portuguese journalism?
and he also gave himself wholeheartedly to “his” revista dos bombeiros (Firefighters magazine), and to the voluntary firefighters of lisbon, where he beca-
me a daily presence, fighting for others and going out of his way to do his work the best he possibly could.
Zé manel was a perfectionist and cultivated a kind of writing that drank its inspiration in the greatest names of both journalism and literature. and, as it was
said previously, he was a master to us all, the ones that count themselves as professional writers, being at the same time an example of straightforward-
ness and humanity. it’s now been a year since he lefts us, but he did not die, he is still prESENt in our daily ways, the very ones that make certain that we
keep pushing ourselves in this business of being journalists.
6 • Diplomática - março/abril 2011
Como será julgado o presidente Sarkozy: um grande pre-
sidente ou nem por isso? Sem dúvida que será ainda algo
cedo para emitir uma opinião plenamente segura – deixemo-
la aos historiadores futuros.
mas a questão fica-nos na ideia dessa personagem que nos
fascina e atrai e por vezes surpreende ou mesmo choca.
como construir, hoje, uma opinião inteligente sobre este
político?
aquando da sua eleição, a antecipação era promissora.
apesar de tudo, jamais um presidente francês esteve tão
bem preparado para essa função, como se ele tivesse tido
uma formação especial, um mba de Harvard business
School concebido justamente para a única função de ser
presidente da França, dando-lhe todo o savoir-faire, experi-
ência e ferramentas para um desempenho totalmente profis-
sional. impressionante é a sua capacidade de tratar os dos-
siês, o seu conhecimento das minudências da administração
francesa que lhe permitem manipular e controlar todas as
suas alavancas, ao que se junta a sua incrível energia, a sua
vontade de fazer, a sua capacidade de trabalho.
Efectivamente, o seu percurso político é impressionante.
Filho de um pai húngaro e de uma mãe francesa de família
grega de origem judia, o jovem Nicolas adere à UDr logo
aos dezoito anos e é eleito conselheiro municipal aos vinte
e dois anos e aos vinte e oito, torna-se um dos mais jovens
presidentes da câmara de França, em Neuilly-sur-Seine.
Deputado aos trinta e três e ministro das Finanças e porta-
voz do Governo em 1993 sob Edouard balladur, adquire
uma notoriedade nacional, demonstrando já o seu envol-
vimento pessoal e o seu sentido de comunicação pela sua
intervenção pessoal na negociação conseguida com o Hb, o
terrorista que ameaçava fazer explodir uma sala com vinte e
uma crianças numa creche em Neuilly.
Dois momentos menos seguros atravessaram a sua carrei-
ra: entre 1995 e 1997, por ter apoiado mais Jacques chirac
do que Edouard balladour; e o segundo, de 1999 a 2002,
em consequência da escolha do rpr para as eleições euro-
peia e à sua derrota flagrante.
mas a partir de 2002, quando dá apoio à re-eleição de
Jacques chirac, toma o seu lugar no centro da cena política
francesa, que jamais deixará. É re-eleito deputado, torna-se
ministro do interior, depois ministro da presidência, da Eco-
nomia, das Finanças e da indústria, para de novo ocupar o
posto de ministro do interior até Junho de 2007, quando se
afasta para se lançar na campanha presidencial.
mesmo tendo feito parte do Governo precedente, conseguiu
convencer brilhantemente o eleitorado que seria o apóstolo ➤
Président Nicolas Sarkozy, comment sera-t-il jugé - un grand
président? ou beaucoup moins? Sans doute est-il beaucoup
trop tôt pour émettre une opinion pleinement étayée - laissons
cela aux historiens de demain.
mais la question reste à l’esprit, ce personnage qui attire et
fascine, qui par moment choque, voir même surprendre, com-
ment s’y prendre pour développer, aujourd’hui, une opinion
intelligente sur le sujet?
a son élection, l’anticipation était prometteuse. après tout,
jamais un président français n’avait été aussi bien préparé
pour cette fonction, comme si il avait suivi une formation,
un mba de Harvard business School conçue pour la seule
fonction de président de la France, lui donnant tout le savoir-
faire, l’expérience et les outils pour une démarche totalement
professionnelle - impressionnante, son habilité à traiter des
dossiers, ses connaissances des rouages de l’administration
française, pour pouvoir y manipuler tous les leviers, ajouté à
son incroyable énergie, sa volonté de faire, sa capacité de
travail, chapeau, le mec, nous étions bluffés.
Effectivement, son parcours politique est impressionnant. Fils
d’un père hongrois et d’une mère française de famille grecque
d’origine juive, le jeune Nicolas adhère à l’UDr déjà à 18 ans,
est élu conseiller municipal à 22 ans puis devient à 28 ans l’un
des plus jeunes maires de France à Neuilly-sur-Seine. Député
à 33 ans, puis ministre du budget et porte-parole du gouver-
nement en 1993 dans le gouvernement Edouard balladur, il
acquiert une notoriété nationale, démontrant déjà son impli-
cation personnelle et son sens de la communication par son
intervention personnelle dans la négociation réussie avec
“Hb”, le terroriste qui menaçait de faire sauter une classe avec
21 enfants dans une maternelle à Neuilly.
Ensuite, deux passage dans le désert - le premier de 1995
à 1997, sa punition pour avoir choisi de supporter Edouard
balladur plutôt que Jacques chirac, et le second, de 1999 à
2002 suite à l’échec cuisant du rpr qu’il avait menées aux
élections européennes, ce qui l’amène à se retirer de la vie
politique nationale.
mais à partir de 2002, quand il soutient la réélection de Jac-
ques chirac, il prend sa place au centre de la scène politique
française, qu’il ne quittera plus. il est réélu député, devient
ministre de l’intérieur, puis ministre d’Etat, de l’économie, des
Finances et de l’industrie, pour de nouveau occuper le poste
de ministre de l’intérieur jusqu’en mars, 2007, où il démission-
ne pour se lancer dans la campagne présidentielle.
même qu’il faisait pleinement partie du gouvernement précé-
dent, il réussit brillamment à convaincre l’électorat qu’il sera
l’apôtre du changement, “la rupture tranquille”, “l’ordre en ➤
Sarkozy por patrick Siegler-lathrop*
Um percurso político impresionante
Capa
7março/abril 2011 - Diplomática •
8 • Diplomática - março/abril 2011
➤ da mudança, “a mudança tranquila”, ou seja, uma moder-
nização que não causasse medo ou dano aos franceses.
Face a Ségolène royal, ganha com mais de 53% de votos:
um mandato claro e limpo.
o que herdou? a França em maio de 2007 estava pronta
a ser “modernizada”? tendo em conta a história dos anos
precedentes, nada seria menos certo. mas quando teve a
França um governo capaz de resistir às exigências de um
povo que tem um talento particular para a reivindicação,
grupos que sabem bem exigir os seus direitos que, uma vez
adquiridos, tornam-se invioláveis e sem retrocesso, onde
todo o esforço de os limitar provocará uma resistência feroz
daqueles que se arriscam a perdê-los, que podem contar
com o apoio da maioria dos franceses, que tomam sempre
o partido de toda a resistência face à vontade de reforma de
qualquer governo?
Esse mesmo povo que rejeitou o tratado de lisboa por
referendo em 2005, provocando uma profunda crise no seio
da comunidade Europeia. contudo, o ambiente económico
está em melhoria em maio de 2007 apesar da alta taxa de
desemprego que se mantém nuns preocupantes 8,4%.
perante essa herança, Sarkozy lança-se a fundo nas refor-
mas, com um empenho pessoal, uma energia avassaladora,
uma coragem pouco habitual que não podemos deixar de
admirar. lança-se a todos os combates e está pronto a ser
tido responsável por todos os resultados. pela primeira vez,
um político suficientemente corajoso para admitir que pode
ser julgado pelos seus resultados.
Ele é moderno e domina a comunicação com a opinião pú-
blica. Está em todos os media e sabe utilizá-los com talento
e leva a cabo as reformas tal como esperado.
Globalmente, cumpre as suas promessas, mesmo com
alguns deslizes (como o caso da justiça, medicina e escolas
primárias), conseguiu fazer passar reformas que tinham
feito dano a anteriores governos: a reforma dos regimes es-
peciais de aposentação, a reforma das universidades para
as tornar mais autónomas, sem esquecer a grande conquis-
ta do direito de contestação da lei dado a cada cidadão, o ter
aligeirado a carga fiscal. regula bem os problemas da Eu-
ropa, faz pela aceitação do tratado de lisboa, pela gestão
da crise do Euro e consegue fazer ultrapassar o anti-ame-
ricanismo pavovliano dos regimes precedentes. E depois,
certamente, a batalha da reforma das aposentações, onde
ganha o braço de ferro com as grandes manifestações de
2010, passando a idade legal da reforma para os 62 anos.
mas em paralelo, a sua quota de popularidade cai dramati-
camente. Hoje quase sete em cada dez franceses não têm
grande sobre Sarkozy. como é possível? o sistema terá
parado de funcionar?
as causas são múltiplas.
para começar há um problema de estilo. Ele é moderno, em ➤
➤ mouvement”, soit, la modernisation sans que ça fasse trop
peur, ou trop mal au Français. Face à Ségolène royal, il est
élu avec plus de 53% des voix, un mandat clair et net.
Qu’à-t-il hérité? la France en mai 2007, est-elle prête à être
“modernisée”? au vue de l’histoire des années précédentes,
rien est moins sûr: depuis quand a-t-elle un gouvernement
capable de résister aux demandes d’un peuple qui a un talent
pour la revendication, de groupements qui savent si bien
exiger des avantages qui, dès qu’ils sont octroyés, deviennent
des “acquis”, inviolables, où tout effort de les limiter suscitera
une résistance farouche de ceux qui risquent de les perdre,
qui peuvent compter sur le support de la grande majorité des
Français, qui prennent toujours le parti de tout résistant face à
la volonté de réforme de quelque gouvernement que ce soit?
ce même peuple qui a rejeté le traité de lisbonne par le réfé-
rendum de 2005, provoquant une profonde crise au sein de la
communauté Européenne. Soit,
l’environnement économique est en amélioration en mai
2007, mais le taux de chômage reste préoccupant à 8,4%.
Face à cet héritage, Sarkozy va se lancer à fonds dans les
réformes, avec une implication personnelle, une énergie dé-
bordante, un courage peu courant que l’on ne peut qu’admirer,
il va au charbon celui-là, se lançant dans tous les combats et
de plus, il est prêt à être tenu responsable des résultats, ah,
on aime ça, finalement, un homme politique assez courageux
pour admettre qu’il doit être jugé par ses résultats.
il est moderne, il maîtrise la communication avec l’opinion
publique, il est dans tous les médias, sait les utiliser avec talent
pour que ce soit lui qui fasse l’actualité, il mène les réformes
habilement, comme l’on attendait.
Globalement, il tient plutôt bien ses promesses, même s’il y a
quelques bavures (justice, médecins, écoles primaires), il réus-
sit à faire passer des réformes là où d’autres gouvernements
s’étaient cassés les dents: la réforme des régimes spéciaux de
retraite, la réforme des universités pour les rendre plus auto-
nomes, sans oublier le grand emprunt, le droit de contestation
des lois donné à chaque citoyen, les allègements fiscaux, il
règle plutôt bien les problèmes de l’Europe, l’acceptation du
traité de lisbonne, la gestion de la crise de l’Euro, et il réussit
à faire dépasser l’anti-américanisme pavlovien des régimes
précédents. Et puis, bien sûr, la bataille, la réforme des re-
traites, où il réussit à tenir tête aux grandes manifestations de
2010, pour faire passer l’âge légal de retraite à 62 ans.
mais en parallèle, sa cote de popularité chute dramatique-
ment, pour qu’aujourd’hui presque 7 Français sur 10 aient une
pas très bonne opinion de lui. comment est-ce possible? le
système a-t-il arrêté de fonctionner?
les causes sont multiples.
D’abord, il y a le problème du style. Soit, il est moderne, à la
mode, époux de la superbe carla, à l’aise à côté du couple
présidentiel américain, mais il en fait trop, au risque d’être ➤
Sarkozy
9março/abril 2011 - Diplomática •
Foto
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icard
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liveira
10 • Diplomática - março/abril 2011
➤ voga, marido da bela carla, à vontade ao lado do casal
presidencial americano, mas ele esforça-se demais, ao pon-
to de ser apercebido como menos polido, “in the face”, bling
bling. Essa modernidade, em estilo americano, desagrada,
não correspondendo à imagem que os franceses concebem
da ideia de presidente.
alguns quiseram-lhe atribuir a polarização do país. É verda-
de que a França é um país com fortes clivagens ideológicas,
mas nas escolhas políticas acentua esse fenómeno, re-
enforçando-o mais do que o contrário.
outros, querem-no como aquele que se mostrou inflexí-
vel perante a contestação massiva de 2010 – de facto ele
manteve-se firme em estilo tachteriano – mas a França não
é a inglaterra, e certos, mesmo reconhecendo a necessida-
de de reforma, consideram que esses métodos poderiam
abafar os princípios sagrados da democracia francesa.
Não é necessário, em democracia, homens e mulheres de
Estado que saibam dizer não, que estão prontos a ignorar
as sondagens anteriores, que saibam impor a pílula amarga
de uma escolha impopular? até onde é necessário escutar
a vontade do povo, mesmo aquele que vai à rua se manifes-
tar? Nas democracias ocidentais não são os únicos, neste
Janeiro de 2011, a debater essa questão fundamental.
Qual é a parte dos problemas da França, de do seu presi-
dente, que pouco tenha a ver com a sua pessoa, mas que é
antes devida à crise financeira mundial? Não é apenas em
França que o número do desemprego se tornou no baró-
metro primordial para o julgamento que o povo faz aos seus
dirigentes, e desgraçadamente, para o seu presidente a
crise mundial parou brutalmente a baixa de desemprego em
França e fê-la atingir alturas que se tornaram politicamente
catastróficas.
É da responsabilidade de Nicolas Sarkozy? Seguramente
que não. talvez todo o homem de Estado teria soçobrado
face à crise financeira mundial. mas não é da sua responsa-
bilidade nos permitir uma saída?
Que esperar de um homem de Estado? Esperar que nos
inspire, que nos leve, que nos faça ultrapassar os nossos
limites, fraquezas e avançar para um objectivo mais nobre
que o vulgar.
No momento da sua eleição, alguns, mesmo muitos, espe-
raram que esse filho de imigrantes húngaros pudesse ser
o catalisador de um re-nascimento da França, prometendo
projectar esse grande país no séc. XXi com um sentido
positivo.
Sabemos que é demasiado cedo para julgar, mas hoje, face
à situação difícil que herdou, é difícil evitar a dúvida de se
estará à altura das ambições que ele mesmo. n
➤ perçu comme légèrement moins poli, “in the face”, bling
bling, cette modernité là, à l’américaine, agace certains, elle ne
correspond pas à l’image que les Français aiment avoir d’un
président ideal.
certains lui en veulent de contribuer à la polarisation du pays
- certes, la France est un pays en proie à de forts clivages
idéologiques, mais dans ses choix politiques, il a accentué ce
phénomène, renforçant les écarts plutôt que l’inverse.
D’autres, beaucoup d’autres, lui en veulent surtout de s’être
montré inflexible face à la contestation massive de 2010 -
effectivement, il a tenu ferme, à la thatcher - mais la France,
ce n’est pas l’angleterre, et certains - tout en reconnaissant
la nécessité de la réforme - considèrent que ses méthodes
peuvent, peut-être, bafoué les principes sacrés de la démocra-
tie française.
Ne faut-il pas, en démocratie, des hommes et femmes d’état
qui savent dire non, sont prêts à ignorer les derniers sonda-
ges, savent imposer la pilule amère d’un choix impopulaire?
Jusqu’à où faut-il écouter la volonté du peuple, même celui qui
va dans la rue pour l’exprimer? Nos démocraties occidentales
ne sont pas les seuls, en ce janvier 2011, à débattre de cette
question fondamentale.
Quelle est la part des problèmes de la France, et de son
président, qui a peu à voir avec sa personne, mais qui est
due à la crise financière mondiale? ce n’est pas qu’en France
que le chiffre du chômage est devenu le baromètre primordial
du jugement qu’un peuple porte à l’égard de ses dirigeants,
et malheureusement pour ce président, la crise mondiale a
arrêté brutalement la baisse du chômage en France, et le
fait repartir vers des hauteurs qui redeviennent politiquement
catastrophique.
Est-ce la responsabilité de Nicolas Sarkozy? Surement pas.
peut-être que tout homme d’état aurait échoué face à la tem-
pête presque sans précédent de la crise financière mondiale.
mais n’est-ce pas de sa responsabilité de nous permettre de
nous en sortir?
Qu’attendons-nous d’un homme d’état? De nous inspirer,
de nous mener, de nous permettre de dépasser nos limites,
nos faiblesses, d’avancer vers un objectif plus noble que
l’ordinaire.
au moment de son élection, certains, même beaucoup, ont
espéré que ce fils d’immigrés hongrois pouvait être catalyseur
d’un renouveau de la France, permettant de projeter ce grand
pays dans le XXième siècle avec un élan positif.
Nous savons bien qu’il est trop tôt pour porter jugement, mais
à ce jour, face à la situation difficile qu’il a héritée, il est difficile
d’éviter un certain doute qu’il ne soit à la hauteur des ambitions
qu’il a lui-même fixées. n
* patrick Siegler-lathrop obteve graduações em princeton, no institut d’Etudes politiques de paris e em Harvard e deu início à sua carreira como banqueiro na área dos investimentos em Wall Street, Nova iorque. o seu trabalho teve como foco central projectos internacionais ao nível dos países em desenvolvimento, tendo depois vindo a ocupar, em paris, a posição de co-director na área dos investimentos num banco árabe-internacional. De seguida dedicou-se à indústria em França e mais tarde aceitou os cargos de professor na Universidade de paris, Dauphine, e no iNSEaD, onde leccionou emprendedorismo de negócios. Juntamente com Françoise Giroud, Jacques attali, bernard-Henri levy e outros nomes bem conhecidos, foi um dos membros fundadores da oNG internacional acção contra a Fome, organização essa a que deu o seu apoio durante mais de trinta anos. actualmente reside em portugal e trabalha como consultor internacional.
Sarkozy
12 • Diplomática - março/abril 2011
Quais as suas primeiras impres-
sões sobre Portugal?
portugal é um país que conheço des-
de 1966. Vim cá várias vezes e tive a
oportunidade de constatar as várias
mudanças que o país sofreu. acom-
panhei a integração de portugal na
União Europeia. É um país paradoxal
que, por um lado, tem uma identida-
de e sentimento de si muito fortes,
mais fortes do que em muitos outros
países; e, por outro, esse sentimento
é a combinação de uma vontade de
abertura ao mundo e uma capacida-
de de deixar o seu país para desco-
brir o mundo e emigrar para terras
estrangeiras. acho muito interessante
essa combinação que ➤
Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França em Portugal por maria da luz de bragança, fotos orlando Sousa
«A globalização tem sido um fenómeno que transformou o mundo»
Casado e pai de dois filhos, o Embaixador diz-se encantado com Portugal. Luso-descendente, é para
si um privilégio e uma satisfação pessoal estar no país de seu pai
O Embaixador Pascal Teixeira da Silva é um homem apaixonado pela vida, pelas culturas do mundo,
pela arte. Melómano, pratica um especial gosto pelo cravo. Tem uma especial sintonia com o espírito
do tempo, tendo estado - por sorte ou infortúnio - perto dos grandes marcos da História recente: em
Berlim, por altura da queda do muro; em Moscovo, aquando do desmembramento da URSS; nos EUA,
no momento da queda das Twin Towers - a que assistiu com os seus próprios olhos.
Diplomacia na 1ª pessoa
13março/abril 2011 - Diplomática •
➤ representa uma vantagem no
mundo globalizado, porque estamos
a viver um tempo de mudanças e
transformações que põem en causa
todas as nossas referências. É bom
manter estas características fortes.
o ocidente – a Europa e a américa
do Norte – tem sido a maior potência
nos últimos cinco séculos. Deu ao
mundo actual a ciência e a tecno-
logia modernas, altos quadros dos
sectores intelectual, político e econó-
mico. mas muitos países do resto do
mundo têm vindo a aprender muito
e agora estão aptos para ultrapassar
e fazer melhor do que os europeus.
a china, que tem a civilização mais
antiga da História, volta agora a
ocupar um lugar de poder na econo-
mia mundial que corresponde ao que
ela era no passado. isto quer dizer
que o ocidente está em concorrência
com outras potências e tem que se
adaptar.
o problema que temos é que a
prosperidade e a riqueza que conse-
guimos acumular, em especial a partir
da Segunda Grande Guerra mundial,
permitiram a criação do Estado social
– que não existe em mais nenhuma
região do mundo a este nível – mas
que tem um grande custo. o financia-
mento e a manutenção deste Estado
social pode ultrapassar os nossos
recursos, por isso temos que adaptar
o nosso pensamento e os nossos
procedimentos para manter este
nível de protecção social. o enve-
lhecimento da sociedade é um factor
que contribuiu muito para aumentar a
carga do Estado social.
Em França, quando foi institucio-
nalizado o sistema de segurança
social, logo a após a Segunda Guerra
mundial, a relação entre activos e
não-activos era de 4 para 1, a idade
de reforma era aos 65 e a esperança
média de vida a partir da idade de re-
forma era de dois anos. Hoje em dia,
a proporção de activos e não-activos
é de dois para um e a esperança de
vida para as mulheres é de 85 anos e
para os homens de 80. isto quer dizer
que este sistema de protecção social
já não é sustentável, sendo por isso
necessário fazer reformas no finan-
ciamento e alterar a idade da refor-
ma para mais tarde. portugal, com
grande coragem, já o fez e a França
terá que fazê-lo também, assim como
todos os países europeus. isto não é
fácil porque se tem que trabalhar até
mais tarde, mas é indispensável para
manter o sistema de protecção social.
todos os países europeus terão que
atravessar este período difícil de
adaptação, juntando os seus esfor-
ços, pois muitos países europeus não
têm dimensão para competir com as
grandes potências do século XXi. a
integração europeia é indispensável
para contrabalançar o peso demográ-
fico e económico da china, da Índia,
dos Estados-Unidos. o conjunto dos
27 países da U.E. tem cerca de 500
mil milhões de habitantes, sendo o
primeiro exportador mundial. assim,
se a U.E. mostrar vontade, pode
tornar-se mais forte nas negociações
internacionais, por exemplo, nas
comerciais.
o que está a acontecer agora é uma
mudança de percepção do mundo
em que vivemos no que diz respeito
às relações económicas. a U.E tem
sido a zona económica mais aberta
e os outros países aproveitaram-se
disso mas não deram reciprocidade.
por exemplo, é muito difícil às nossas
empresas europeias entrarem e ter
acesso aos concursos públicos de
outros países enquanto esses países
têm acesso aos nossos; isto tem que
mudar.
Falou-nos, há pouco, de alguns as-
pectos da necessidade de coesão
europeia, mas também da questão
do aspecto demográfico do esta-
do social. No caso da França, da
Alemanha, Inglaterra que são al-
guns dos países mais apetecíveis
em termos de emigração surge
agora uma preocupação demo-
gráfica, sobretudo em relação às
comunidades islâmicas. Estas já
representam uma percentagem
de população muito elevada, pois
têm um índice de reprodução de 5
a 6 filhos por casal, enquanto na
Europa esse índice é inferior a um.
Isto não irá desequilibrar o estado
social?
Não concordo com esses dados. a
taxa de fecundidade em França é
de 2 filhos por mulher. a taxa é um
pouco mais alta nas mulheres es-
trangeiras. mas, a partir da segunda
geração, não há grandes diferenças
de comportamento no que respeita à
fecundidade. Esta transição demográ-
fica ocorre também em quase todos
os países muçulmanos. Em muitos
países árabes ou muçulmanos a taxa
de fecundidade diminuiu bastante
durante os últimos 30 anos. Não há,
em França, uma diferença tão grande
entre pessoas de origem estrangeira
e as de ascendência francesa.
Eu diria mais particularmente os
muçulmanos, porque são o alvo
preferencial da filha do Le Pen, da
extrema-direita, que acolhe sim-
patias de cerca de 40 por cento do
eleitorado de Sarkozy. É um núme-
ro preocupante. Não lhe parece?
É preciso olhar para trás para com-
preender a situação. Historicamente,
a França tem sido um país de imi-
gração enquanto os outros países da
U.E têm sido países de emigração.
os franceses estavam ricos, con-
fortáveis e felizes e, por isso, pouco
emigraram. mas acolheram muitas
vagas de imigrantes. Eu sou um dos
milhões de exemplos desta tradição.
a minha família é de portugal, o meu
pai nasceu em portugal, fazendo par-
te das centenas de milhares de portu-
gueses – principalmente do Norte do
país – que foram para França.
Não foi muito fácil lidar com essas
vagas de emigração. Houve reacções
de rejeição e, sempre que há ➤
14 • Diplomática - março/abril 2011
➤ dificuldades económicas, os pri-
meiros alvos são os imigrantes. isso
aconteceu algumas vezes durante
o século XX, com os polacos ou os
italianos, por exemplo, durante a crise
de 1929.
os problemas que temos agora são o
resultado de um conjunto de três fac-
tores: primeiro, a questão da propor-
ção e do patamar. Não é uma ques-
tão de racismo nem de xenofobia, é
uma questão da capacidade de cada
sociedade integrar elementos alheios.
É mais fácil integrar 5 por cento do
que 30 por cento. os problemas que
temos devem-se à concentração de
população de origem estrangeira,
sobretudo nos subúrbios. o nível
é demasiado alto e faz com que a
integração seja mais difícil. Quando
o meu pai e os meus avós chegaram
a França, foram para uma aldeia no
centro oeste. Esta família numerosa
era a única família estrangeira, o que
fez com que a integração desta pe-
quena família portuguesa tenha sido
bastante fácil. mas hoje, há escolas
nos subúrbios de paris em que 80 por
cento dos alunos são de origens es-
trangeiras, provenientes de diferentes
nacionalidades. É muito difícil manter
a capacidade do sistema escolar
para continuar a desempenhar o seu
papel de formação e integração em
tais condições; segundo, as condi-
ções económicas. Desde há trinta
anos, a situação, no que diz respeito
ao emprego, tem-se tornado menos
favorável. a taxa de desemprego é
sempre maior para os imigrantes do
que para o resto da população. isto
é um factor negativo que complica a
integração porque é fácil para os ex-
tremistas dizerem que os imigrantes
“roubam” o trabalho, já de si escasso,
aos nacionais; o terceiro factor é a
questão das diferenças culturais. É
mais fácil os imigrantes integrarem-se
na sociedade francesa quando vêm
de países de língua romana, de tradi-
ção católica, do que quando vêm de
outras culturas como de áfrica ou da
ásia. Não digo que é impossível – fe-
lizmente isso acaba por acontecer –,
mas é mais difícil, sobretudo quando
combinado com outros factores que
já mencionei. Há um maior esforço de
integração que demora mais tempo
porque é mais complicado integrar
pessoas cuja cultura, valores e refe-
rências são muito diferentes.
o conjunto destes três factores faz
com que seja mais difícil e que tenha-
mos problemas.para resolver. mas
“uma árvore não faz uma floresta”, ou
seja, temos problemas mas a grande
maioria dessas pessoas de origem
muçulmana ou africana quer integrar-
se e consegue encontrar o seu lugar
na sociedade. É muito importante
apostar nas mulheres porque a edu-
cação na mulher é o vector essencial
da integração. Estas mulheres prefe-
rem viver numa sociedade moderna
e secular, como a francesa, do que
viver em países com tradições pa-
triarcais e machistas. Esta evolução
graças às mulheres também ocorre
nos paises muçulmanos. É a minoria
que atrai a atenção e que aparece
nas primeiras páginas dos jornais e
que quer afirmar a sua identidade
através da exibição de sinais reli-
giosos como o véu, é uma pequena
minoria e assim permanecerá.
a questão do véu chamou a atenção
dos países estrangeiros e dos media
internacionais porque é ilustrativo da
diferença do modelo social e cultural
francês, que é o modelo de integra-
ção e que até hoje tem funcionado,
apesar das dificuldades que já referi.
Há um grande consenso em França
sobre esta questão e as sondagens
têm mostrado que os jovens têm uma
visão muito secular, integracionista e
acolhedora. todos são capazes de
se integrar, trazendo as suas especi-
ficidades e riquezas culturais, para a
sociedade francesa, mas esta deve
manter-se uma sociedade secular
assente num conjunto de valores
fundamentais que todos partilham.
A minha dúvida é – e levantando
um pouco o véu – se em termos
objectivos e meramente realistas,
a grande concentração de emi-
grantes africanos subsaarianos e
magrebinos não cria um caldo para
a extrema-direita, que é particu-
larmente xenófoba, que está a
ameaçar a democracia em França.
Se essa extrema-direita consegue
eleger um presidente; se a filha do
Lepen, que tem um discurso muito
mellow, mas duro, e está a seduzir
os franceses, se ela consegue ser
eleita no sistema francês que tem
uma forte componente presiden-
cial, não corre o risco de alterar o
regime?
a existência de partidos políticos de
extrema-direita com discurso nacio-
nalista e de pouca abertura não é
uma especificidade francesa. É um
fenómeno que existe noutros países
europeus, salvo em portugal. mas
é fácil perceber a causa: estamos a
atravessar um período muito difícil de
adaptação à mudança do mundo. a
globalização é sinónimo de movimen-
tos permanentes, incluindo humanos.
Há uma ansiedade que cresce em
relação ao que é a nossa identidade.
o que é um paradoxo, porque foi
o ocidente que desencadeou este
processo de globalização, com uma
aceleração de mudanças, e que
coloca em questão todas as certezas
e posições estabelecidas. para os
nossos concidadãos é uma grande
angústia. a vantagem do discurso
nacionalista, identitário e xenófobo,
é exactamente a de dar respostas
simples e explicações básicas à
ansiedade criada pela globalização. E
isso acontece em quase todos os pa-
íses europeus. mas em nenhum país
europeu esta tendência ideológica de
pequenas formações políticas conse-
guiu ganhar o poder. Às vezes podem
fazer parte de uma coligação, outras
vezes podem perturbar o jogo político
Pascal Teixeira da Silva
15março/abril 2011 - Diplomática •
clássico, mas penso que nenhum
desses partidos irá ganhar as elei-
ções e liderar um país. o que acon-
teceu em França em 2002, quando
o senhor le pen passou à segunda
volta da eleição presidencial, não foi
porque tenha aumentado o número
de eleitores – o Front National já tinha
atingido este patamar – mas porque
os votos da Esquerda ficaram espa-
lhados por muitos candidatos.
Esta política vai continuar a atrair
votos e a obter a simpatia dos elei-
tores que estão confrontados com
duas questões: a da identidade e a
do futuro das nossas sociedades face
à globalização. a globalização coloca
em causa as certezas, o conforto e
a riqueza relativa que temos tido. os
Europeus já não têm a certeza se o
futuro dos seus filhos será melhor do
que o seu.
É difícil perceber a sua complexidade
e ainda mais difícil qual o seu rumo.
Há quem consiga dar explicações
e respostas simples. Daí que exista
uma responsabilidade muito grande
dos políticos, em especial, em tempos
de grande transformação e de grande
incerteza. porque ninguém pode an-
tecipar e anunciar com certeza o que
vai acontecer. Estamos há 30 anos
a viver surpresas e acontecimentos
de grande alcance. começou com a
queda do muro, o desmembramento
da União Soviética, etc.
Recordo-me, sobre esse assun-
to, de dois grandes pensadores
franceses: o Jean-Jacques Servan-
Schreiber, autor do «Le Défi Ame-
ricain» - que já vai longe, uma vez
que já estamos muito para além do
desafio americano que ele anteci-
pou; e o Alain Peyrefitte com o seu
«Quando a China despertar» e a
China já despertou. Onde vai parar
este despertar chinês que tem uma
mistura de aproveitamento de tudo
o que há no capitalismo, mas com
uma dureza de quem não tem a
ingenuidade dos soviéticos que
abriram o regime, ao contrário dos
chineses?
isso é uma das numerosas mudan-
ças que estamos a viver. até ao início
dos anos 90, o mundo era simples.
tivémos os países de economia de
mercado: as democracias do ociden-
te e mais os países assimilados. os
países comunistas, como a União
Soviética que era um concorrente
estratégico, uma ameaça militar, mas
que nunca representou uma ameaça
económica. No que diz respeito à
china, as suas políticas económicas
eram deficientes com a política de
mao Zedong e estava num estado
de pobreza. E havia o terceiro mun-
do, quer dizer os países pobres em
desenvolvimento. Era uma espécie
de tripartição…
Neste momento, estas categorias já
não existem. temos uma economia
de mercado em quase todo o mundo,
com poucos países a resistirem-lhe,
como são os casos da coreia do
Norte ou cuba. mas também países
em que a economia de mercado não
funciona, porque há distorções por
causa da corrupção e da intervenção
de uma elite predatória – como em
vários paises de áfrica – que controla
o país e perturba o bom funciona-
mento de uma economia. mas há
muitos exemplos de evoluções no
bom sentido.
temos, neste momento, numerosas
combinações. a china é a combina-
ção de uma espécie de capitalismo
muito brutal para os trabalhadores
mas que consegue aumentar o nível
de vida e criar uma classe média,
e um monopólio do poder entre as
mãos do partido comunista, mas que
consegue formar e manter uma elite
tecnocrática bem sucedida. Quando
se vê como a china em trinta anos
mudou completamente e conseguiu
tornar-se, hoje, na segunda potência,
isso é a demonstração de que os
quadros dirigentes são muito efica-
zes.
E, neste quadro, qual o papel da
globalização?
com a globalização dá-se uma unifi-
cação e a base de referência passa
a ser os Estados Unidos: fala-se o
«globish», que é o inglês interna-
cional muito básico; a cultura fica
também americanizada/globalizada,
mas apenas com uma aparência de
globalização pelo consumo massifica-
do. mas, ao mesmo tempo, existe o
desejo de se diferenciar e de preser-
var e encontrar uma identidade pró-
pria. Não é por acaso que durante os
últimos trinta anos, em que a globali-
zação se tem alastrado, muitos povos
quiseram afirmar a sua identidade
e diferença no plano político. isso
conduziu a uma fragmentação de
Estados compósitos, como os casos
da Jugoslávia e da checoslováquia.
Em muitos países há uma afirmação
infra-nacional, infra-estadual. o que
acontece em países conturbados
pela globalização – que não é só um
fenómeno económico mas também
cultural – é uma reacção paradoxa.
repare como nos países árabes há
uma juventude que usa jeans e gosta
das técnicas modernas de comunica-
ção, mas que ao mesmo tempo tem
uma re-islamização do comportamen-
to. a prática do ramadão e do véu
é mais forte do que há trinta anos –
mas isso não quer dizer que a verten-
te política, o islamismo, esteja mais
forte face à globalização, os povos
reagem e querem afirmar uma coisa
própria que pode ser um grupo étnico
ou uma religião. Uma das causas da
afirmação do islão nas populações
de origem muçulmana, em França,
é exactamente essa: é uma questão
de «quem sou eu?». mas tal também
acontece com o progresso dos movi-
mentos evangélicos sobre as igrejas
cristãs tradicionais. a difusão destas
novas crenças utiliza os meios da glo-
balização. É um processo interessan-
te: o uso da globalização técnica para
reagir contra a globalização cultural. ➤
16 • Diplomática - março/abril 2011
➤ Este revival religioso, quer no cris-
tianismo quer no islão, é sempre uma
escolha pessoal. Não é o prolonga-
mento da tradição da família, mas sim
uma escolha pessoal. Um jovem que
tenha cortado os laços com as tradi-
ções culturais do seu país, como o
islão tradicional ou o catolicismo, mas
quer um sentido na sua vida e quer
uma identidade, pode vir a pertencer
a um movimento que não é nacional
mas que é transnacional, como, por
exemplo, os movimentos evangélicos
ou tabligh.
a língua é um dos elementos impor-
tantes neste jogo complicado entre
a globalização e a identidade. No
que diz respeito à língua enfoco dois
níveis. Há um nível que é o da globa-
lização e comunicação mundial que é
o «globish», que não tem a ver com a
língua de Shakespear, é uma “língua
franca”. No séc. XVi e XVii havia uma
“língua franca” falada pelos marinhei-
ros do mediterrâneo que era uma
mistura de italiano, Espanhol, Fran-
cês, português e árabe e era usada
para a comunicação básica, comer-
cial, na zona mediterrânica.
Um outro nível, que é o das línguas
das comunidades mais próximas,
por exemplo, o desenvolvimento da
prática da aprendizagem das línguas
regionais. Nas caraíbas o crioulo é
cada vez mais valorizado em detri-
mento do Francês. a língua mais
formal do Estado-nação e que, neste
caso, é uma língua de importação,
fica esmagada entre o «globish» e a
língua das comunidades. Na Jugos-
lávia, por exemplo, havia o serbo-
croata que desapareceu e, depois da
implosão do país, surgiram o servo, o
croata e o bosniak.
Voltando um pouco atrás, devo
dizer que achei linda essa ideia da
língua franca outrora falada que
unia o Mediterrâneo. O que me faz
lembrar o projecto ambicioso do
Presidente Sarkozy de uma união
mediterrânea.
Esse é, de facto, um projecto muito
ambicioso embora muito difícil, mas
é um projecto essencial a realizar
a longo prazo. porque no mundo
do século XXi vai haver pólos de
potência económica e política. mas
o tamanho destes pólos deve ser
medido em 500 milhões. porque
menos de que isso não é suficiente.
a União Europeia pesa cerca de 500
milhões; a china, 1,3 mil milhões; a
Índia, 1,1 mil milhões; os E.U.a com
o canadá só 350 milhões, mas com
um poder económico que compensa.
a Europa tem que criar relações de
cooperação e solidariedade com a
vizinhança, que é a rússia e o sul
do mediterrâneo. para terem uma
influência no jogo mundial, é preciso
vincular a Europa àqueles mundos
no Sul e no Este. o segundo aspec-
to, diz respeito aos países do Sul do
mediterrâneo. o futuro destes países
vai ter consequências imediatas para
nós. Se conseguirem, tudo bem, se
fracassarem será um desastre para
eles e para nós também, e é por isso
que é preciso ajudá-los e criar laços
de solidariedade e desenvolvimento.
a ideia básica da união mediterrânea
era ultrapassar as barreiras políticas,
em especial no que diz respeito ao
conflito entre israel e os países ára-
bes, para trabalharem em conjunto
sobre projectos importantes no de-
senvolvimento económico, na criação
de empregos, nas infraestructuras, na
protecção do ambiente, etc. É difícil
porque, apesar disso, os problemas
políticos contaminam e complicam
muito a capacidade deste Upm.
Em relação ao que aconteceu
na Tunísia – e está a acontecer
um pouco por todo o Magreb -, a
França segue com interesse essa
mudança de regime para que não
haja, na região, focos de instabili-
dade?
Nós estamos numa posição muito
pouco confortável. Qualquer que seja
a posição ou discurso francês, haverá
sempre alguém que não concorde
e não fique contente com isso. o
passado pode ser instrumentalizado,
por actores políticos, para pressionar
ou adulterar.
O que vai acontecer nestes países
do Magrebe é muito importante
para todos os países europeus.
Podemos constatar isso com o
terrorismo da Al Qaeda no Ma-
grebe islâmico. Foram raptados e
detidos, como reféns, não só fran-
ceses, mas também cidadãos da
Alemanha, da Áustria, da Suíça, da
Grã-Bretanha, da Espanha, da Itá-
lia… Ou seja, europeus ocidentais
que são considerados inimigos.
Isto também pode acontecer aos
portugueses se forem imprudentes
a fazer turismo nessas zonas pou-
co controladas, porque a nacionali-
dade não importa, este movimento
terrorista vê o mundo através do
choque de civilizações.
a globalização tem sido um fenóme-
no incrível que transformou o mun-
do; é uma dinâmica e um processo
perpétuo. Face a essa dinâmica que
transforma e põe em causa todas
as situações materiais e imateriais
temos diferentes tipos de reacções:
primeiro, a utilização das armas que
o ocidente criou... Esta foi a resposta
dos chineses que escolheram acabar
com mais de um século de humilha-
ção e de opressão e de uma relação
desigual com o ocidente, que come-
çou em 1840 com a guerra do ópio.
agora os chineses vão voltar a ter
um lugar na cena internacional, mas
utilizando as armas da globalização:
a tecnologia, a indústria, o comércio,
o dinheiro, a informação; o segundo
tipo de resposta desenvolve-se ao
nível cultural. Sob a forma da afirma-
ção da sua diferença. Eu acho que a
re-islamização no mundo muçulmano
é um efeito disto. Não vão combater
a globalização ocidental no terreno
económico, mas vão tentar combatê-
la no plano cultural e religioso; e, ➤
Pascal Teixeira da Silva
17março/abril 2011 - Diplomática •
➤ finalmente, há uma pequeníssima
minoria que quer travar a batalha
contra a globalização ocidental e
os seus valores com uma violência
extrema, que são os terroristas. Esta
resposta provoca o impasse. Só vai
criar terror e insegurança, vai impedir
o livre acesso a territórios, mas não
vai mudar o rumo do mundo. aqui
trata-se dos elementos mais patológi-
cos de algumas sociedades. mas re-
pare que estes movimentos violentos
estão completamente disconectados
dos movimentos de massa no mundo
muçulmano, como vemos hoje na
tunísia e no Egipto...
A razão pela qual indivíduos
– quer no Ocidente, quer em
países muçulmanos – derivam
para a violência extrema tem a
ver com problemas de identida-
de e de mal-estar. Para resolver
isso, ocorre uma combinação de
processos: uma simplificação/
compreensão do mundo a branco
e preto, que se resume a uma luta
entre muçulmanos e o Ocidente
que, desde muitos séculos, os
têm oprimido e humilhado; a con-
vicção de que a única maneira de
restaurar a posição da “ummah”
islâmica é a de usar a violência
contra o Ocidente; o desejo de
participar neste combate para dar
um sentido à sua vida e vincular
assim a sua situação pessoal a
nível colectivo…
É verdade que a globalização gera
problemas que não existiam há trinta
anos. Hoje em dia, qualquer coisa
que se passa em qualquer lugar do
mundo é imediatamente vista pelo
mundo inteiro, como aconteceu com
as caricaturas de mohamed na Dina-
marca. o problema deste imediatismo
é que já não há a distância e o tempo
que outrora existiam e serviam de
peneira entre os povos e as mentali-
dades que não são tão semelhantes.
a blasfémia no paquistão é um crime
castigado pela lei, o que não é o caso
na Europa desde o século XViii - o
que alimenta o ressentimento.
Como contribuir para atenuar esse
tipo de tensões?
Um exemplo é a iniciativa que foi to-
mada pela França, há alguns anos, ➤
«[Portugal] é um país paradoxal que, por um lado, tem uma
identidade e sentimento de si muito fortes, mais fortes do
que em muitos outros países; e, por outro, esse sentimen-
to é a combinação de uma vontade de abertura ao mundo»
18 • Diplomática - março/abril 2011
➤ de negociação no quadro da UNES-
co sobre a diversidade cultural. Esta
foi uma negociação muito difícil. a
ideia básica era: a cultura não é um
bem como os carros ou os vestidos.
os bens culturais não são bens ba-
nais, são vectores de representações,
de crenças, de visões, de esperan-
ças. São produtos intelectuais que
não podem ser comprados, nem
comparados com outros bens mate-
riais. E, por isso, devem ser aceites
regras específicas para a protecção
da diversidade cultural e não uma
globalização/uniformização/mercado-
rização da cultura.
Não queremos, por exemplo, que a
única oferta cinematográfica seja a
produção de Hollywood. temos de
ter mais diversidade na oferta cultural
e regimes especiais para preservar
a capacidade de criação. a produ-
ção cultural não pode obedecer a
uma mera lei de mercado. aqui, em
portugal, 95 por cento dos filmes
exibidos nas salas de cinema são
americanos. até o cinema português
não consegue ser exibido na rede
comercial em portugal. É por isso
que o ex-presidente Jacques chirac,
lançou a negociação duma conven-
ção na UNESco sobre a diversidade
cultural, para dar uma base jurídica
internacionalmente reconhecida,
enquadrando a produção e o comér-
cio de bens culturais. tivémos muitos
problemas com os americanos que
não concordavam, mas finalmente a
convenção foi adoptada e agora é só
pô-la em prática.
Há algum aspecto das relações
entre Portugal e França que ache
fundamental para desenvolver a
curto e a médio prazo?
Há vários. a áfrica é um, porque a
França e portugal são países que
têm dela uma experiência e um
conhecimento especial e há poucos
países que partilham este conheci-
mento. Durante épocas, os países
europeus que tiveram colónias cui-
davam só das antigas colónias e não
davam importância ao resto de áfrica.
mas isto já não é possível, porque os
problemas de segurança se colocam
ao nível regional e não é possível
prestar atenção e, por exemplo, tratar
da Guiné-bissau, sem saber o que se
passa nos países vizinhos. igualmen-
te, não foi possível ignorar os paises
vizinhos da Serra leoa ou do libéria,
durante a guerra civil, porque havia
muitas interacções (solidariedades
étnicas, movimentos de refugiados,
tráficos de armas e diamantes, etc.).
isto quer dizer que não é possível a
qualquer país europeu que tenha tido
colónias na áfrica manifestar um inte-
resse limitado pelas antigas posses-
sões. E por isso, França e portugal
têm de trabalhar em conjunto para
ajudar a encontrar soluções e coope-
rar. Exemplo disso é a Guiné-bissau,
pois sendo um país com grandes
dificuldades, é uma rota do narcotráfi-
co, que vem da américa do sul o que
representa um problema de seguran-
ça para portugal, França e Espanha.
temos de unir os nossos esforços e
coordenar as nossas políticas para
nos protegermos deste problema ou
tentar resolvê-lo.
também temos de sensibilizar os
nossos parceiros europeus para a
importância destes desafios e para
estes problemas de segurança nesta
região. E temos que mobilizar os
recursos da U.E para combater as
ameaças de segurança na região do
Saara e do Sael. portugal, França,
Grã-bretanha e bélgica têm uma
responsabilidade especial para tentar
empenhar os outros parceiros euro-
peus neste processo.
o segundo ponto a aplicar é a ques-
tão da diversidade cultural que já
referi. Face à globalização, temos in-
teresse em manter e reforçar o lugar
e o papel do francês e do português,
enquanto línguas de comunicação
internacional, nos novos media como
a internet, e nas instâncias interna-
cionais. Eu acho importante manter
e consolidar a oferta linguística nas
escolas, porque o perigo de que
os alunos aprendam só o inglês já
existe. os jovens precisam de falar,
além da língua própria e do inglês
para a comunicação internacional,
uma segunda, até uma terceira língua
estrangeira para que se abram a
outras culturas.
Devido aos contrangimentos orça-
mentais dos governos, o ensino de
uma segunda língua estrangeira
parece ser um luxo. Em portugal
a aprendizagem de uma segunda
língua não é obrigatória a partir do
décimo ano. Em França temos uma
situação um pouco melhor, pois a
segunda língua estrangeira é obri-
gatória até ao décimo segundo ano,
conforme uma recomendação da U.E
de 2002. a Europa é rica em línguas
e culturas. Não deveria haver jovens
europeus que não soubessem uma
segunda língua estrangeira porque
não só é uma mais-valia profissional
como também um enriquecimento
pessoal.
Como está o ensino do português
em França?
Está a desenvolver-se. temos de
mudar a imagem do ensino do portu-
guês no ensino secundário. o ensino
da língua portuguesa em França tem
estado ligado aos filhos dos imigran-
tes portugueses. os portugueses não
querem que eles percam a prática da
língua mãe, o que é légitimo. por isso
há aulas de português, mas são so-
bretudo aulas para as pessoas de ori-
gem portuguesa. É importante acabar
com esta imagem demasiado restrita
e abrir o ensino da língua portuguesa
porque é uma das grandes línguas
internacionais, falada em oito países,
inclusive numa das grandes potên-
cias do século XXi, o brasil. Este é
um trabalho que é preciso fazer entre
os franceses e os portugueses e o
brasil também deveria ter um papel
importante neste sentido. n
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20 • Diplomática - março/abril 2011
Ângelo Ramalho - CEO da Alstom Grid Portugal, Lda.«A liderança é essencial para incentivar a acção»
Licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Porto, de cujo Con-
selho Geral é membro há dois anos, Ângelo Ramalho preside, desde 2006, à
ALSTOM Portugal, S.A., de que é também CEO
Do seu curriculum ressalta a Energia, que marcou o início de carreira, na Shell
Portuguesa, e esteve sempre presente nas suas passagens, como CEO e Admi-
nistrador, pela Lusitâniagás, Portgás, GALP Power, Lisboa Gás, Setgás e LPG.
Inevitavelmente, foi de Energia que falámos… ➤
Gestores InternacIonaIs
21março/abril 2011 - Diplomática •
➤ Descreva-me o percurso da
Alstom em Portugal
a alstom é hoje o resultado de
processos de compra e fusão, que
tiveram origem no nosso estabele-
cimento em portugal em 1948. Em
1988 dá-se a fusão da aSEa/bbc
para formar a abb. Dois anos mais
tarde, teve lugar a formação do
Grupo SENEtE (40% abb; 40%
maGUE; 20% ipE).
ainda mais tarde, em 1999, a
abb transfere o segmento power
Generation para a abb alstom
power. Em 2000 a alstom adquire
a abb alstom power. Em 2001
dá-se a integração das actividades
da alstom em portugal. Em 2006,
ocorre a alienação do t&D alstom
para a arEVa e a transferência do
segmento Hydro para a joint-ven-
ture alstom-bouygues, formando a
alstom Hydro. E, em Novembro de
2010, a arEVa t&D, lda alterou
a sua denominação social para
alstom Grid portugal, lda.
Qual a visão, missão e valores
do Grupo?
os nossos valores essenciais são
confiança, Espírito de Equipa e
acção.
confiança: a alstom, com as suas
actividades, diversas estruturas de
gestão, unidades, locais de pro-
dução e países onde desenvolve
a sua actividade é, por definição,
uma empresa complexa. a con-
fiança mútua entre os colegas e as
chefias é essencial para a gestão
adequada da nossa actividade e
para o controlo eficiente dos nos-
sos projectos.
Esta confiança assenta na res-
ponsabilidade que é atribuída a
cada trabalhador que tem a seu
cargo a tomada de decisões, na
delegação da autoridade atribuída
e naquilo que todos os trabalha-
dores acreditam ser importante no
seu contributo para o bem-estar
e o desenvolvimento do Grupo.
assenta também na abertura de
cada indivíduo ao seu ambiente
profissional, garantindo transpa-
rência, factor vital para a gestão
dos riscos.
Espírito de Equipa: a actividade da
alstom baseia-se na entrega de
projectos que exigem a nossa dis-
ciplina colectiva e o nosso esfor-
ço, no sentido de os realizar com
êxito, assim como numa rede que
permita assegurar que tiramos o
máximo partido das competências
disponíveis. Este espírito de equi-
pa, apoiado no desejo de desen-
volver cada trabalhador, alarga-se
à colaboração que prestamos aos
nossos parceiros e clientes.
acção: a alstom compromete-se,
perante os seus clientes, a forne-
cer produtos e a prestar serviços
capazes de satisfazer as suas
expectativas em termos de preço,
qualidade e prazos de entrega.
para satisfazer os nossos compro-
missos junto dos nossos clientes,
a acção é um factor prioritário para
todos nós.
a acção assenta no pensamen-
to estratégico, estabelecido ao
nível do Grupo e do sector, e é
sublinhada pelo nosso sentido de
orientação para o cliente, estando
integrada nas nossas actividades
diárias e em cada projecto nos-
so. a acção envolve a adopção
de um sentido de urgência nas
nossas actividades, velocidade
de execução para nos distinguir
da concorrência, e capacidade de
referenciação, assegurando assim
que são alcançados os nossos ob-
jectivos comerciais. a liderança é
essencial para incentivar a acção.
Em que áreas actua o Grupo?
a alstom concebe, produz, instala
e faz a manutenção de produtos e
sistemas no sector da produção de
energia e mercados de indústria
pesada. abrange todas as fontes
de energia e oferece as soluções
mais avançadas para centrais a
carvão e gás natural. a alstom
é também o fornecedor líder de
ilhas convencionais para centrais
nucleares e pioneira em soluções
de energias renováveis, através
da sua forte posição no mercado
hidroeléctrico e recente entrada no
mercado eólico.
potencia ainda o desenvolvimen-
to de tecnologias de gestão da
rede (Smart Grids). Na área do
transporte ferroviário, a alstom é
promotora de mobilidade susten-
tável. Fornece material circulante
(comboios), infra-estruturas de
transporte e sinalização e serviços
de manutenção ferroviária. Somos
líderes mundiais em alta Velocida-
de Ferroviária.
Quais são os negócios de maior
destaque da empresa no nosso
país?
No sector da energia, os mais re-
centes são o tratamento de efluen-
tes nas centrais termoeléctricas
do pego e de Sines. o projecto de
Sines ficará concluído no final de
2011. outro projecto significativo é
o reforço de potência do alqueva
(alqueva ii). Deixe-me reforçar o
nosso envolvimento no plano hi-
droeléctrico nacional, desde 1960.
a nossa tecnologia está presente
em cerca de 70% dos empreen-
dimentos hidroeléctricos do país.
as duas centrais termoeléctricas a
carvão, pego e Sines, foram tam-
bém construídas com a tecnologia
alstom. Na área do transporte
ferroviário, o nosso projecto mais
emblemático é o alfa pendular.
Desde 1950 que estamos envolvi-
dos nos projectos de electrificação
da linha do Norte e num passado
mais recente, década de 80, o ser-
viço alfa foi iniciado com comboios
corail, fornecidos pela alstom e ➤
22 • Diplomática - março/abril 2011
Ângelo Ramalho
➤ montados pela Sorefame.
Talvez porque seja urgente
tomar medidas em relação aos
problemas ambientais que preo-
cupam o “planeta”, as empresas
estão a virar-se para a estratégia
ambiental. É também uma apos-
ta da Alstom?
É certamente, pelo afirmado
anteriormente. a alstom é líder
mundial em tecnologias de produ-
ção de energia a partir de fontes
renováveis, hidroeléctrica, marés
e, mais recentemente, também na
energia eólica. Somos igualmente
líderes mundiais em sistemas de
tratamento de emissões gasosas,
como são exemplos os projectos
que levámos a efeito nas centrais
termoeléctricas do país.
a tendência crescente da utiliza-
ção da energia eléctrica na mobili-
dade das pessoas (ferrovia e, num
futuro próximo, veículo eléctrico)
e a produção descentralizada de
energia, utilizando fontes renová-
veis, potenciam o desenvolvimento
de tecnologias de gestão da rede
(Smart Grids) que, por sua vez,
buscam a melhor eficiência dos
sistemas, projecto em que esta-
mos fortemente envolvidos.
Quer destacar mais algum ➤
«Uma organização como a Alstom está em per-
manente em evolução, do ponto de vista da sua
organização, processos e produtos. Nas áreas em
que somos líderes, queremos manter a liderança.
Quando não somos, queremos alcançá-la»
23março/abril 2011 - Diplomática •
➤ projecto relevante em Portugal?
poderia destacar vários, mas no
presente contexto de desenvol-
vimento de projectos hídricos,
destaco o alqueva. lembro-me de
ser um projecto no qual poucos
acreditavam, pela sua magnitude à
época em que foi promovido. Hoje
o alqueva é o maior lago artificial
da Europa, com impacto fortemen-
te positivo na região e no país.
a sua central está equipada com
turbinas-bomba que permitem a
produção de energia e a acumula-
ção de energia (através da bomba-
gem da água, tecnologia em que a
alstom é líder). E os grandes com-
ponentes hidromecânicos foram
desenvolvidos por competências
residentes no país, que ainda hoje
mantemos. Esperamos ganhar no-
vos projectos relevantes do novo
plano de barragens em curso.
Em pleno cenário de crise, como
é que a empresa está a encarar
o futuro?
Diversificando para novas áreas
de negócio e aumentando a nos-
sa presença nos mercados ditos
emergentes. certamente que tam-
bém temos de gerar eficiências in-
ternas, adaptando-nos à realidade
dos nossos mercados de origem
e aos nossos mercados futuros.
como é natural em qualquer orga-
nização empresarial, de forma a
melhor responder às necessidades
dos nossos clientes, num ambiente
fortemente competitivo.
Quais as novidades que a Als-
tom prepara para oferecer?
Uma organização como a alstom
está em permanente em evolução,
do ponto de vista da sua organi-
zação, processos e produtos. Nas
áreas em que somos líderes, que-
remos manter a liderança. Quando
não somos, queremos alcançá-la.
a este propósito, destaco-lhe o
novo mercado da energia eólica
no mar (offshore), que será, a
prazo, visível - um segmento de
expressão significativa. Não só no
panorama da energia eólica, mas
também no mix global da produção
de energia.
A Alstom estabelece algum tipo
de parcerias com outras empre-
sas?
a alstom vive de relações de par-
ceria a montante dos seus proces-
sos, com fornecedores e a jusante
em relações de complementarida-
de de competências em projectos
dos nossos clientes. E portugal
não foge à regra. Há empresas
portuguesas que são nossas forne-
cedoras de componentes, subcon-
juntos, etc. E há empresas portu-
guesas que são nossas parceiras
nos projectos que executamos, em
portugal e fora do país.
Falemos sobre o resultado líqui-
do da empresa: quais as expec-
tativas para este ano?
Durante o 3.º trimestre de 2010/11,
a alstom obteve o seu melhor
nível de encomendas desde Julho
de 2009, 5,5 mil milhões euros.
Estes bons resultados comerciais
levam-nos a acreditar num novo
crescimento no quarto trimestre.
com encomendas superiores a 2,8
mil milhões e 1,6 mil milhões no
sector power e no sector trans-
port, respectivamente. o Grupo
atingiu, pela primeira vez, nos dois
últimos anos, um rácio “book-to-
bill” superior a 1.
A Alstom está representada em
todo o mundo. Quantos centros
de produção possui? E em Por-
tugal do que dispõe?
Em portugal, a fábrica de Setúbal,
na mitrena, produz equipamentos
de grande porte, construídos em
aço de liga especial. Nomeada-
mente, caldeiras de recuperação
para centrais de ciclo combinado
e grandes condensadores para
outras centrais térmicas. cem por
cento da produção da fábrica de
Setúbal é exportada. a alstom
tem uma presença industrial e de
engenharia em mais de 70 países
nos cinco continentes.
Quantas pessoas emprega a
Alstom em todo o mundo. E no
nosso país quantas estão inseri-
das nesse total?
Em portugal a empresa tem cerca
de 350 colaboradores. No mundo
são 96 mil e quinhentos.
Estamos a assistir a despedi-
mentos em massa e à reorga-
nização de planos laborais nas
grandes empresas. Alguma
destas opções já foi ponderada
pelo Grupo?
a alstom adapta permanentemen-
te os seus recursos à carteira de
projectos que tem em mãos. o
número de efectivos aumenta ou
diminui dependendo do contex-
to de mercado. certamente que
fomos afectados pela crise que se
tem vivido nos últimos dois anos e
tivemos de fazer ajustes nalgumas
das nossas unidades industriais,
em regiões onde os mercados
mais se ressentiram, nomeada-
mente na Europa.
Como funciona a organização do
Grupo? O controlo dos negócios
exteriores…
Uma organização da dimensão da
alstom é necessariamente comple-
xa, desde logo porque cada área
de negócio tem de ser adequada
às suas necessidades e aos seus
objectivos estratégicos. a base
é uma organização verticalizada
em competências e os centros de
competência estão disseminados
pelos países onde a actividade tem
mais volume. a alstom está orga-
nizada em unidades de negócio e
cada uma delas concentra tecno-
logias e produtos de que necessita
para o seu objectivo. para um pro-
jecto numa dada região concorrem
centros de competência instalados
em várias regiões do mundo. nm.l.b.
24 • Diplomática - março/abril 2011
Fernando BessaDirector Geral da Air France KLM em Portugal
“ Uma das apostas do ano 2011 passa pelo crescimento da oferta no continente africano”
Director Geral da Air France KLM em Portugal, desde 2006, Fernando Bessa tem uma
experiência de 35 anos no sector do Turismo. Começou a trabalhar na KLM – Com-
panhia Real Holandesa de Aviação, em Janeiro de 1980, onde desempenhou vários
cargos, nomeadamente o de Director Geral KLM para a Península Ibérica, durante 6
anos, antes de aceitar o actual cargo. ➤
Gestores InternacIonaIs
25março/abril 2011 - Diplomática •
➤ Quando começou a Air France
a servir o continente africano?
a história da air France em
áfrica está intimamente ligada,
desde o início dos anos 30, ao
desenvolvimento da aviação
comercial de e para o continente.
com mais de 75 anos de pre-
sença em áfrica, a air France
foi um actor chave das grandes
epopeias que, de mermoz a St
Exupéry, marcaram o princípio
das relações aéreas entre a Eu-
ropa e a áfrica.
Graças a um desenvolvimento
contínuo da sua rede, dos anos
40 aos nossos dias, o Grupo air
France Klm e os seus parceiros
permitem-se ligar hoje em dia 43
destinos do continente africano
à Europa e ao resto do mundo.
além da sua experiência em áfri-
ca, o Grupo air France Klm tem
o dever de estar permanente-
mente à escuta dos clientes das
rotas africanas e atento à evolu-
ção das suas expectativas.
Quem são os clientes da Air
France e da KLM nas linhas
africanas?
Sessenta por cento dos clientes
viajam por motivo de negócios,
qualquer que seja a sua classe
de transporte. Em termos de
nacionalidade, 38 por cento da
clientela é francesa, 29 africana,
22 europeia, 9 americana e 2 por
cento asiática. a idade média
dos passageiros é de 44 anos,
sendo que 70 por cento são
homens.
Dos clientes residentes em
áfrica, a maioria são pequenos
empresários, empreiteiros, ou
trabalham para pmE. À saída
das escalas africanas, 75 por
cento dos clientes têm como
destino a França ou a Europa.
Quais são as apostas da Air
France e da KLM para a época
2010/11?
Uma das apostas do ano 2011
passa pela política de cresci-
mento e de desenvolvimento da
rede do Grupo air France Klm
no continente africano. a air
France e a Klm continuam a re-
forçar a sua oferta nesta região
do mundo. ao juntar as suas for-
ças às dos seus parceiros africa-
nos, a air France e a Klm estão
assim em medida de oferecer à
sua clientela uma rede sempre
mais extensa com novos des-
tinos, mais frequências e mais
voos directos de e para os hubs
de paris-charles de Gaulle e de
amesterdão-Schiphol.
Em concreto, este inverno a
oferta do grupo air France Klm
aumentou de 3,5% em relação
ao inverno anterior, graças à
abertura de dois novos destinos,
aumentando a rede air France
Klm em áfrica para 36 destinos
servidos em meios próprios por
210 frequências semanais.
a Klm começou a voar para
Kigali, a 31 de outubro de 2010,
servindo a capital do ruanda
cinco vezes por semana, já a
air France servirá bata, capital
da Guiné Equatorial, duas ve-
zes por semana, assim que os
direitos de tráfego forem acor-
dados. para além destes novos
destinos, foram acrescentadas
frequências às cidades de pointe
Noire, libreville (sob reserva da
obtenção dos direitos de tráfe-
go), malabo, Dar Es Salaam e
Kilimandjaro.
Na época de Verão, que começa
a 27 de março, a air France abri-
rá 3 novas rotas. Servirá duas
vezes por semana a cidade de
Freetown na Serra leoa, e três
vezes por semana, monrovia, a
capital da libéria. Já a capital
da líbia, tripoli, será servida por
5 voos semanais além dos voos
diários operados pela Klm.
a air France e a Klm reforça-
rão igualmente os seus serviços
para pointe Noire na república
do congo, com cinco voos air
France por semana, assim como
libreville também por cinco voos
semanais, sob reserva da obten-
ção dos direitos de tráfego junto
das autoridades do país. a Klm
passará a servir diariamente as
cidades de Dar Es Salaam e Kili-
mandjaro, na tanzânia. E prevê,
igualmente, aumentar as suas
frequências para servir tripoli
diariamente, abuja/Kano, quatro
vezes por semana, e Entebbe/Ki-
gali, seis vezes por semana.
Quais os parceiros aéreos da
Air France e da KLM em Áfri-
ca?
a air France e a Klm oferecem
uma rede de 43 destinos em
áfrica graças aos seus parceiros.
Desde 1996, a Klm propõe voos
com partida do Quénia através
de uma parceria de joint-venture
com a Kenya airways, permi-
tindo, por exemplo, a mombaça
estar ligada via amesterdão ao
resto do mundo. Esta coopera-
ção foi alargada à air France
por um acordo de code share
entre Nairobi e paris, depois da
extensão da joint-venture em
2009. a Kenya airways, parceira
da aliança Skyteam, continua
a expandir-se e propõe mais 5
novos destinos: bujumbura, no
burundi, Kisumu e mombaça, no
Quénia, lilongwe, no malawi e
lusaka na Zâmbia.
Desde 2008, a air France propõe
voos com partida de luanda, em
code share com a taaG ango-
la airlines. Em 2010/11, dois
voos por semana ligam luanda
a paris. por sua vez a Klm,
em cooperação com a comair,
propõe voos para amesterdão,
via Joanesburgo, com partida de
Durban e de port Elizabeth, na ➤
26 • Diplomática - março/abril 2011
➤ áfrica do Sul.
Que tipo de aviões servem o
continente africano?
o grupo air France Klm tem
uma frota das mais modernas e
jovens no mundo para servir a
áfrica. a idade média da frota de
longo curso da air France é de
8,1 anos. a cidade de Joanes-
burgo foi a segunda escala no
mundo a ser servida pelo airbus
a380. a air France investiu na
renovação da frota, entre 1998
e 2012, um bilião de dólares por
ano.
Que tipo de serviços tem a Air
France para oferecer aos seus
passageiros que voam para
África?
a air France oferece serviços
muito específicos para respon-
der às expectativas dos clientes
africanos. Um destes é o servi-
ço Dedicate, direccionado aos
profissionais do sector petrolí-
fero, da construção ou, ainda,
aos pequenos empresários para
3 destinos africanos: malabo,
Ndjamena, Nouakchott, cidades
servidas quase diariamente em
voos directos a partir de paris-
charles de Gaulle por aviões
de pequena capacidade (airbus
a319-Er), equiparando-se ao
conforto oferecido em business
jet. propõe ainda o Flying blue
petroleum, o programa n°1 na
Europa dos destinos petrolíferos
e de gás. Este clube privado ➤
«A história da Air France em África está intimamente
ligada, desde o início dos anos 30, ao desenvolvimento
da aviação comercial de e para o continente. Com mais
de 75 anos de presença em África, a Air France foi um
actor chave das grandes epopeias que, de Mermoz a
St Exupéry, marcaram o princípio das relações aéreas
entre a Europa e a África»
Fernando Bessa
27março/abril 2011 - Diplomática •
➤ oferece aos seus membros um
leque de vantagens exclusivas
para 95 escalas.
a política de bagagens adapta-
da é uma das mais-valias para
os clientes africanos. Desde 28
de março de 2010, a política de
bagagens da air France Klm
está harmonizada e simplifica-
da no conjunto da rede. Estas
oferecem uma franquia de baga-
gens mais generosa do que no
resto da rede longo curso, para
40 destinos africanos. Nomea-
damente, em primeira classe la
première e em executiva affai-
res e World business classe,
os passageiros usufruem de 3
bagagens de 23kg cada, enquan-
to que em premium Voyageur e
classe económica beneficiam do
transporte gratuito de 2 baga-
gens de 23kg cada.
E em termos de produto a bor-
do?
a air France é uma das poucas
companhias aéreas mundiais a
oferecer uma primeira classe. a
cabine la première é um serviço
de excepção, disponível para
9 escalas africanas; abidjan,
Joanesburgo, luanda, libreville,
Dakar, lagos, Douala, Yaoun-
dé e port Harcourt. À saída de
lisboa o cliente la première
beneficia do Serviço limusine
para o levar e trazer ao aeropor-
to, no dia da partida e chegada.
No dia da partida, o Serviço Vip
assistance recebe-o nas partidas
e encaminha-o até ao lounge da
air France, ajudando-o com os
procedimentos de check-in. Em
paris-charles de Gaulle, aguar-
da-o uma equipa dedicada que o
levará até ao lounge la premiè-
re ou directamente ao seu voo
de ligação. Uma vez a bordo,
beneficia de toda a atenção de
uma tripulação exclusiva. a gas-
tronomia foi elaborada por Guy
martin (chefe do famoso restau-
rante Grand Véfour em paris) e
os vinhos foram escolhidos pelo
olivier poussier – melhor escan-
ção do mundo em 2000.
para além deste produto de
excelência, a air France continua
a investir na sua classe execu-
tiva affaires de longo curso e,
este ano, será implementada
uma nova poltrona nos voos para
áfrica, oferecendo ainda mais
conforto e serenidade a uma
clientela que viaja quer por mo-
tivos profissionais, quer a título
pessoal.
Em 2010 a air France lançou
uma nova cabine nos voos
intercontinentais, a premium
Voyageur, para responder às
expectativas dos empresários de
pequenas e médias empresas,
assim como aos passageiros que
queriam mais conforto do que a
classe económica, a um preço
acessível. Esta nova cabine ofe-
rece mais 40 por cento, de espa-
ço em relação à cabine económi-
ca Voyageur, e está disponível
para todas as rotas de áfrica,
excepto Joanesburgo - operada
pelo a380.
Que propõe a Air France em
termos de divertimento a bor-
do?
a air France apostou na alta
tecnologia em matéria de diver-
timentos a bordo, com 33.000
ecrãs individuais e video on de-
mand (VoD). No total, 600 horas
de programação, incluindo 85
longas-metragens e um juke-box
de 240 cD e 3 mil títulos.
O Grupo Air France KLM ofe-
rece aos clientes frequentes
mais vantagens nestas rotas?
o programa de passageiro fre-
quente do Grupo air France Klm
é o maior da Europa, com 17 mi-
lhões de membros. Este oferece
inúmeras vantagens, e entre
1 de Fevereiro e 31 de março,
todos os membros residentes
em portugal, que viajarem para
19 destinos de áfrica em cabine
premium Voyageur, verão as
suas milhas duplicar.
E, para as empresas, existe al-
gum programa de fidelização?
tanto a air France com a Klm ti-
nham um programa destinado às
pequenas e médias empresas,
esses programas deram nas-
cimento ao programa blue biz,
em abril de 2010. Este progra-
ma, permite à empresa membro
acumular blue credits sempre
que um dos seus colaborado-
res viaja num voo air France ou
Klm. os blue credits podem ser
convertidos em bilhetes prémio
e em upgrades para todos os
destinos das redes air France e
Klm, em função de uma tabela
simples: 1 blue credit é igual a
1 Euro. Qualquer colaborador da
empresa pode beneficiar destes
prémios. a adesão ao programa
é simples e gratuita, sem qual-
quer condição prévia de número
mínimo de viagens a efectuar.
para beneficiar do bluebiz, as
empresas podem contactar a sua
agência de viagens habitual ou a
air France Klm. todos os servi-
ços oferecidos aos membros do
bluebiz, tais como a adesão, a
gestão do perfil cliente, a con-
sulta e a gestão da conta e a
tomada de prémio são acessíveis
directamente online, 24 horas
por dia, a partir dos sites www.
airfrance.pt e www.klm.pt .
Em resumo, a air France e a
Klm continuam empenhadas
em ser uma referência de e
para áfrica, apostando não só
na abertura de novos destinos
e aumento de frequências, mas
também em novos serviços que
respondam aos desejos e neces-
sidades dos seus clientes. n
a.F.
28 • Diplomática - março/abril 2011
Michel DrouèreDelegado geral da Alliance Française em Portugal e director da Alliance de Lisboa
«Um director e uma equipa de funcionários fazem com que cada Alliance funcione,
mas o espírito permanece associativo»
Independentemente do ensino da língua, as Alliances instaladas em Portugal são
centros vivos de conhecimento e cultura da História francófona e do seu relevante
papel no nosso país e no mundo. ➤
Délégué général de l’Alliance française au Portugal, directeur de l’Alliance française de Lisbonne
Gestores InternacIonaIs
29março/abril 2011 - Diplomática •
➤ A Alliance Française é muito conhecida em todo o
mundo, mas como funciona em Portugal?
a alliance Française é uma rede de 900 centros de lín-
gua e cultura francesas, muito conhecida em todos os
continentes, e a primeira oNG cultural do mundo. a sua
principal característica é ser de direito associativo local,
em todos os países onde está presente, apoiando-se,
assim, não numa estrutura estatal, mas numa rede
de francófilos locais, activos e empenhados, em 136
países. por exemplo, a alliance Française do porto é
presidida pelo antigo ministro luís Valente de oliveira e
a de coimbra por um universitário, o prof. antónio poia-
res baptista. Um director e uma equipa de funcionários
fazem com que cada alliance funcione, mas o espírito
permanece associativo e o reconhecimento por parte
das autoridades locais é excelente (obtém frequente-
mente o reconhecimento de utilidade pública, como em
lisboa, em coimbra e no porto).
Quais são as acções concretas da Alliance Françai-
se de Portugal?
as actividades incidem sobretudo no ensino do Fran-
cês, sob a forma de aulas ministradas nas nossas
instalações, mas também em empresas. Neste último
caso, a alliance Française é entidade formadora que
deve cumprir as mais rigorosas normas, em especial no
tocante à acreditação de qualidade da Direcção-Geral
do Emprego e das relações de trabalho (DGErt).
Nas aulas de grupo, referirei um sector em crescimen-
to: a formação na área da saúde, nomeadamente de
enfermeiros, que aprendem francês tendo em mente
a expatriação. a adaptação a públicos com objectivos
específicos, como os profissionais de saúde ou os
engenheiros civis, e a criação de materiais pedagógicos
que correspondam às suas necessidades são desafios
que fazem parte do nosso dia-a-dia.
as restantes actividades são o ensino do português
língua Estrangeira (que abrange sobretudo os diplo-
matas e dirigentes de empresas recém-chegados a
portugal), os exames oficiais de francês e as estadias
linguísticas em França. inúmeras alliances têm também
um programa cultural, frequentemente «extra-muros»,
em colaboração com os centros culturais da cidade em
que se encontram implantadas. por exemplo, são as
alliances Françaises de Faro, coimbra e Guimarães
que organizam localmente a célebre «Festa do cinema
Francês» nessas cidades.
Quanto à tradução, é uma actividade que exige um
nível de profissionalismo extremamente elevado e um
controlo de qualidade sem falhas. São, assim, regular-
mente solicitadas ao gabinete de tradução da alliance
Française de lisboa traduções financeiras e jurídicas, ➤
➤ L’Alliance française est bien connue dans le mon-
de, mais comment fonctionne-t-elle au Portugal?
c’est vrai, l’alliance française est un réseau de
900 centres de langue et de culture française, bien
connu dans le monde entier, et qui constitue même
la première oNG culturelle du monde. Sa «marque
de fabrique» est d’être de droit associatif dans cha-
que pays où elle est présente, et de s’appuyer ainsi,
non sur une structure d’Etat, mais sur un réseau de
francophiles locaux actifs et impliqués dans 136 pays
du monde. par exemple l’aF de porto est présidée
par l’ancien ministre luis Valente de oliveira, celle de
coimbra par un universitaire, le pr. antonio poiares
baptista. Un directeur et une équipe salariée font
marcher chaque alliance, mais l’esprit reste asso-
ciatif, et la reconnaissance de la part des autorités
locales est excellente (avec souvent la reconnaissan-
ce d’utilité publique comme à lisbonne ou porto).
Quelles sont les actions concrètes des Alliances
du Portugal?
au portugal les activités portent massivement sur
l’enseignement du français, sous forme de cours
de groupe, mais aussi dans les entreprises: dans ce
dernier cas, les aF sont des prestataires de forma-
tion qui doivent désormais s’aligner sur les normes
les plus élevées, en particulier l’accréditation qualité
DGErt délivrée par les autorités portugaises. Dans
les cours de groupe, je citerai un secteur porteur,
la formation de personnels médicaux, notamment
d’infirmières, qui se forment en français dans un ob-
jectif d’expatriation. S’adapter à des publics comme
les professionnels de la santé ou les ingénieurs du
btp, créer des matériels pédagogiques qui corres-
pondent à leurs besoins professionnels, sont des
défis qui font notre quotidien.
les autres activités sont l’enseignement du portu-
gais langue étrangère (qui touche principalement
les diplomates et dirigeants fraichement arrivés au
portugal), les examens officiels français et les séjours
linguistiques. De nombreuses alliances développent
également un programme culturel, souvent «hors les
murs» en coopération avec les centres culturels de
leur ville. par exemple ce sont les alliances françai-
ses de Faro, coimbra et Guimarães qui organisent
localement la célèbre « Festa du cinema francês»
dans ces villes.
Quant à la traduction, c’est une activité qui demande
un niveau extrêmement élevé de professionnalisme
et un contrôle qualité sans faille. c’est ainsi que le
bureau de traduction de l’aF de lisbonne est réguliè-
rement chargé de traductions financières et ➤
30 • Diplomática - março/abril 2011
➤ mas também a versão francesa de sites como o
www.parlamento.pt, sem esquecer os documentos dos
particulares, tais como certidões do registo civil, sen-
tenças ou certificados de habilitações.
Como é ensinado o francês em 2011?
Há tantas respostas a essa pergunta como situações
e necessidades dos nossos alunos, em grupo nas
nossas instalações e nas empresas. actualmente, um
professor é um prestador de serviços de formação, que
deve dar resposta a uma necessidade identificada, com
pessoas específicas, num determinado prazo.
a actual corrente pedagógica chama-se perspectiva ac-
cional e a sua divisa é «comunicar é agir com o outro».
a língua é utilizada para «fazer», para executar tarefas
em conjunto – o formando é um actor social. a tarefa é
orientada para uma produção a realizar com outros. a
componente oral é muito trabalhada, em compreensão
e em produção, pois os nossos alunos necessitam fre-
quentemente de tomar a palavra em público no âmbito
das suas funções.
Não os surpreenderei se disser que estas tarefas recor-
rem frequentemente à internet, uma ferramenta que re-
volucionou o que se passa na sala de aula e o trabalho
realizado em casa; e quando, ainda por cima, as salas
estão equipadas com quadros digitais interactivos (já
em quatro alliances Françaises de portugal), a aula de
língua actual já em nada se assemelha às nossas re-
cordações escolares, exceptuando talvez o manual, um
apoio que permanece indispensável, mas que é agora
acompanhado por um DVD ou um cD-rom.
por outro lado, os nossos públicos têm uma grande
mobilidade, alguns nunca estão no mesmo país duas
semanas seguidas: homens e mulheres de negócios,
engenheiros e pilotos de linha preferem, por vezes,
as nossas aulas à distância (e-learning) para melho-
rarem o francês com o nosso próprio método, através
da internet. contudo, o aluno nunca fica entregue a si
próprio, pois tem obrigatoriamente de fazer um ponto
da situação completo todas as semanas, por videocon-
ferência, com o seu tutor, mesmo que nesse momento
se encontre no fim do mundo.
Quais são as suas prioridades de acção para este
ano?
No plano nacional, temos três grandes eixos:
o referencial de qualidade da Fondation alliance
Française, que é implementado em todo o mundo e
pelo qual estamos a pautar todas as nossas normas
de funcionamento, desde a administração das nossas
associações à qualidade pedagógica, passando pela
comunicação e pela gestão dos recursos humanos. pa-
rece uma banalidade respeitar uma carta de qualidade, ➤
➤ juridiques, mais aussi de la version française de
sites web comme www.parlamento.pt. les besoins
des particuliers (état civil, jugements, certificats) sont
aussi couverts.
Comment enseigne-t-on le français en 2011 ?
il y a autant de réponses à cette question que de si-
tuations et de besoins de nos apprenants, en groupe
dans nos locaux et en entreprises. car un professeur
est de nos jours un prestataire de services de for-
mation, qui est là pour répondre à un besoin identifié
avec des personnes précises dans un certain délai.
pour être plus précis, le courant pédagogique ac-
tuel s’appelle la perspective actionnelle. Sa devise :
«communiquer, c’est agir avec l’autre». la langue est
utilisée pour «faire», pour accomplir des tâches en-
semble, l’apprenant est un acteur social. la tâche est
orientée vers une production, à réaliser avec d’autres.
Et on travaille beaucoup l’oral, en compréhension et
en production, car nos apprenants ont souvent besoin
de maîtriser la prise de parole en français.
Je ne vous surprendrai pas en vous disant que ces
tâches font souvent appel à l’internet, un outil qui a
révolutionné ce qui se passe en classe et le travail
qu’on fait à la maison. Et quand en plus les salles
sont équipées de tableaux numériques interactifs
(déjà dans 4 aF du portugal), le cours de langue ac-
tuel ne rappelle plus du tout vos souvenirs scolaires.
a l’exception peut-être du manuel, un soutien resté
indispensable, mais qui est désormais accompagné
d’un DVD ou d’un cédérom.
par ailleurs, nos publics sont devenus très mobiles,
certains ne sont jamais dans le même pays deux se-
maines d’affilée : des hommes et femmes d’affaires,
des ingénieurs, des pilotes de ligne préfèrent que-
lquefois notre cours à distance (e-learning), pour
améliorer leur français avec notre propre méthode à
distance, sur internet. mais l’apprenant n’est jamais
livré à lui-même : il doit obligatoirement faire un point
complet par visioconférence chaque semaine avec
son tuteur, même s’il se trouve à ce moment-là au
bout du monde.
Quelles sont vos priorités d’action en 2011?
au niveau national nous avons trois grands chantiers:
1. le référentiel qualité de la Fondation alliance
française, qui s’applique dans le monde entier, et
sur lequel nous sommes en train d’aligner toutes nos
normes de fonctionnement, depuis la gouvernance de
nos associations jusqu’à la qualité pédagogique en
passant par notre communication et notre gestion des
ressources humaines. cela semble une banalité de
respecter une charte qualité, mais avec des ➤
Michel Drouère
31março/abril 2011 - Diplomática •
➤ mas com centenas de critérios a cumprir, a tarefa não
é fácil. Este processo é, aliás, convergente em muitos
aspectos com a certificação da DGErt; a actualização
do equipamento, tanto pedagógico (quadros digitais
interactivos) como de gestão. relativamente a este
ponto, acabámos de equipar oito alliances Françaises
com o software alisoft, o melhor software de gestão
para um centro linguístico e cultural; e a formação dos
recursos humanos, tanto dos professores como do
pessoal administrativo. trinta e um professores das
alliances Françaises de portugal foram a barcelona,
em Novembro de 2010, assistir aos «Encontros FlE».
os funcionários responsáveis pelo atendimento e pelas
inscrições também assistem regularmente a formações
(em berlim, em Dezembro de 2010 e em lisboa, em
março de 2011, data em que recebemos o pessoal ad-
ministrativo das alliances Françaises de portugal, mas
também de Espanha, de itália e da irlanda). Existe,
assim, uma verdadeira dinâmica alliance, um espírito
alliance, que se vai consolidando nestes encontros.
Quais são as relações da Alliance Française com o
mundo diplomático?
antes de mais, a alliance de lisboa participa activamen-
te na formação dos diplomatas portugueses. com ➤
➤ centaines de critères, le chantier est vaste. il est
d’ailleurs souvent convergent avec la certification
portugaise DGErt.
2. la mise à niveau de l’équipement, tant pédago-
gique (les tableaux numériques interactifs) que de
gestion. Sur ce dernier point, nous venons d’équiper
8 aF du logiciel alisoft, le meilleur logiciel de gestion
d’un centre linguistique et culturel.
3. la formation des personnels, tant enseignants
qu’administratifs. 31 professeurs des aF du portugal
sont allés à barcelone en novembre 2010 assister
aux «rencontres FlE», les personnels chargés de
l’accueil et de l’inscription suivent aussi régulièrement
des formations (à berlin en décembre 2010, à lisbon-
ne en mars 2011, où nous accueillons les administra-
tifs des aF du portugal, mais aussi d’Espagne, d’italie
et d’irlande). il y a ainsi une véritable dynamique
alliance, un esprit alliance, qui se renforce au fil de
ces rencontres.
Quels sont les liens de l’Alliance française et du
monde diplomatique?
D’abord l’alliance de lisbonne participe activement
à la formation des diplomates portugais. En effet le
programme du groupe de 30 diplomates stagiaires ➤
«Na Semana da Francofonia, que
decorre em Março, promovem-se ac-
tividades culturais em Setúbal, nas
Caldas da Rainha ou em Coimbra,
graças ao apoio de várias embaixa-
das francófonas»
32 • Diplomática - março/abril 2011
➤ efeito, o programa do grupo de 30 diplomatas estagi-
ários actualmente em formação tem uma componente
importante de francês, língua escolhida pela grande
maioria (o inglês constava do concurso de entrada, não
da formação). Eis um perfeito exemplo de ensino por
objectivos específicos, pois as situações de utilização
da língua por um diplomata estão claramente identifica-
das e permitem um progresso rápido.
Existe também uma excelente rede de amizades entre
as alliances Françaises e as diversas embaixadas fran-
cófonas. Na Semana da Francofonia, que decorre em
março, promovem-se actividades culturais em Setúbal,
nas caldas da rainha ou em coimbra, graças ao apoio
de várias embaixadas francófonas.
por fim, permitam-me que fale na Embaixada de Fran-
ça e do reconhecimento, por parte do embaixador, da
amizade actuante que faz com que, em onze cidades
de portugal, personalidades francófilas integrem bene-
volamente os conselhos de administração das nossas
alliances. É por este motivo que a reunião anual dos
presidentes decorre na Embaixada de França, a convi-
te do embaixador.
a França apoia também a actividade desta rede atra-
vés de uma subvenção destinada a apoiar acções na-
cionais e de dois directores, destacados pelo ministério
dos Negócios Estrangeiros e Europeus francês, coloca-
dos à disposição das alliances de lisboa e coimbra.
Em lisboa, concretamente, existe uma forte ligação
com o institut Français du portugal (iFp), pois a allian-
ce Française desta cidade partilha o mesmo edifício na
avenida luís bívar e apoia o seu programa recheado
de actividades culturais. com efeito, a alliance Fran-
çaise optou por deixar ao iFp a sua área de excelência
– a cultura –, e por se associar às suas manifestações
como patrocinador e não como organizador. os nossos
amigos lisboetas encontram, assim, num mesmo local,
a oferta do iFp (manifestações culturais, mediateca,
campus France) e a da alliance (aulas internas, serviço
alliance Entreprises, gabinete de tradução, estadias
linguísticas), sem esquecer uma excelente livraria fran-
cesa e várias associações (appF, lisbonne accueil,
UFE, aDFE).
com presença em catorze cidades portuguesas, atra-
vés de onze associações, a alliance representa uma
rede única; tanto mais que apresenta boas perspec-
tivas (em 2010, duas alliances Françaises – no porto
e em Viseu – tiveram de se mudar para instalações
maiores) e está apta, devido às suas inovações e à sua
qualidade, a dar uma resposta adequada e motivadora
às necessidades dos particulares, da administração
pública e das empresas. ■
➤ actuellement en formation a une composante
importante en français, langue choisie par l’immense
majorité d’entre eux (l’anglais était au concours
d’entrée, pas dans la formation). Voilà un parfait
exemple de langue sur objectifs spécifiques, car les
situations d’utilisation de la langue par un diplomate
sont bien identifiées, et permettent une progression
rapide.
Ensuite il existe un excellent réseau d’amitiés noué
entre les aF et plusieurs autres ambassades franco-
phones. c’est ainsi que la Semaine de la Francopho-
nie en mars voit des activités culturelles se dérouler
à Setúbal, à caldas da rainha ou à coimbra grâce à
l’appui de plusieurs ambassades francophones.
Enfin permettez-moi de parler de l’ambassade de
France, et de la reconnaissance par l’ambassadeur
de l’amitié agissante qui pousse, dans 11 villes du
portugal des personnalités francophiles à animer
bénévolement les conseils d’administration de nos
alliances. c’est pour cette raison que la réunion
annuelle des présidents se tient à l’ambassade de
France, à l’invitation de l’ambassadeur.
la France apporte aussi un soutien concret à l’activité
de ce réseau, à travers une subvention destinée aux
actions nationales, et à travers deux postes de direc-
teurs détachés par le ministère français des affaires
étrangères et européennes, et mis à disposition des
alliances de lisbonne et coimbra.
plus spécifiquement à lisbonne, il existe un lien fort
avec l’institut français du portugal (iFp), puisque l’aF
de cette ville partage les mêmes locaux de l’avenida
luis bivar, et puisque elle appuie son riche program-
me d’activités culturelles. En effet le choix a été fait
par l’aF de laisser à l’iFp son domaine d’excellence,
le culturel, et de s’associer à ses manifestations
comme sponsor, pas comme organisateur. Nos amis
lisboètes trouvent donc dans un même lieu l’offre de
l’iFp (manifestations culturelles, médiathèque, cam-
pusFrance), celle de l’alliance (cours internes, servi-
ce alliance Entreprises, bureau de traduction, séjours
linguistiques), sans oublier une excellente librairie
française et plusieurs associations (appF, lisbonne
accueil, UFE, aDFE).
avec une présence dans 14 villes du portugal à
travers 11 associations, l’alliance représente un
réseau unique ; de plus il se porte bien (deux aF, à
porto et Viseu, ont dû emménager en 2010 dans des
locaux plus vastes), et il me paraît en mesure, par
ses innovations et sa qualité, d’apporter une réponse
adéquate et motivante aux besoins des particuliers,
des administrations et des entreprises. ■
Michel Drouère
a.F.
33março/abril 2011 - Diplomática •
Desde a adesão de portugal às comunidades
Europeias em 1986, as trocas comerciais franco-
portuguesas registraram um forte aumento,
nomeadamente entre 1996 e 2000. a França é
tradicionalmente o terceiro cliente e fornecedor
de portugal (depois da Espanha e da alemanha)
tendo actualmente portugal a posição de 12º
cliente e 15º fornecedor da França.
paralelamente, a França elevou-se ao quinto
lugar de investidor estrangeiro em portugal com
um stock total de capitais da ordem dos 4 bi-
lhões de euros, tendo mesmo atingido em 2009
o ranking de primeiro investidor estrangeiro em
fluxos brutos (reciprocamente os investimentos
portugueses em França têm tendência a aumen-
tar com um stock já superando os 500 milhões
de euros).
No total são perto de 400 filiais francesas que se
implantaram em portugal, e que empregam mais
de 70 000 pessoas.
Fundada em 1887, a câmara de comércio e
indústria luso-Francesa (ccilF), associação pri-
vada sem fins lucrativos e reconhecida de Utili-
dade pública, faz parte da rede mundial das 114
câmaras de comércio francesas no estrangeiro
e mantém uma estreita colaboração com as 136
câmaras de comércio e indústria em França.
implantada nos 2 principais pólos económicos
do país, lisboa e porto, a ccilF, com perto de
500 associados, tem como principal objectivo
incrementar o comércio bilateral luso-francês e
proporcionar um amplo leque de serviços a todas
as empresas interessadas por um dos dois mer-
cados, fomentando assim correntes de negócios
duradouras.
trabalhando ao longo de vários anos com as-
sociações industriais portuguesas e grupos de
empresas de diversos sectores, a ccilF dis-
põe de uma vasta gama de serviços e organiza
regularmente seminários temáticos e missões
sectoriais para empresas francesas que desejam
desenvolver os seus negócios ou implantar-se
no mercado português. além do mais, a ccilF
propõe também vários serviços de domiciliação.
para reforçar o seu carácter bilateral, a ccilF
desenvolveu também uma actividade de apoio
às empresas portuguesas que pretendem inte-
grar o mercado francês. Nesta vertente a ccilF
mantém contactos estreitos com os organismos
do comércio exterior português.
para além do apoio comercial e sempre com o
objectivo de facilitar as oportunidades de negó-
cios entre os actores da comunidade empresarial
luso-francesa - e de permitir os intercâmbios
de experiências e ideias entre profissionais de
todos os sectores de actividade -, a ccilF anima
um clube de Negócios e oferece um vasto e
diversificado programa de actividades (almoços,
seminários, reuniões temáticas, soirées de gala,
cocktails, eventos desportivos…). ■
* presidente da câmara de comércio e indústria luso-Francesa
(título da responsabilidade da redacção)
Comércio franco-português em altapor Bernard Chantrelle*
Economia
Compagnie Générale des Eaux Portugal, S.A.Torre Zen - Av. D. João II, Lote 1.17.01 – Piso 9 B - 1998-023 Lisboae-mail: [email protected]: www.veoliaagua.com.pt
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Presente em Portugal há mais de uma década, a Veolia Água trata e garante o abastecimento de água para consumo público a mais de 250.000 pessoas, assegura o tratamento das águas residuais domésticas, industriais e agrícolas e procura soluções alternativas para evitar a extinção dos recursos naturais.
Veolia Água uma marca de confiança
© P
ixla
nd
35março/abril 2011 - Diplomática •
Seis embaixadores acreditados em lisboa responderam favoravelmente ao
desafio da Diplomática: fazer o balanço de 2010 e avançar previsões para o
ano em curso.
com a cimeira de lisboa, que juntou os grandes do mundo no conclave da Nato,
ainda nas agendas, a União Europeia e a crise mundial constituíram, também, o
pano de fundo das opiniões dos diplomatas que, aproveitando o ensejo – grosso
modo -, debitaram sobre o deve e haver das relações dos respectivos países com
portugal.
Neste mundo em constante mudança, a opinião de quem faz das relações internacio-
nais oportunidade para a aproximação dos povos e nações, é fundamental para
se perceber em que sentido navega a política externa dos respectivos países e
compreender a importância de portugal no novo contexto geoestratégico. ➤
20102011 em debateBalanço necessário, previsões para o futuro
36 • Diplomática - março/abril 2011
Pascal Teixeira da Silva - Embaixador de França
2010 foi um ano de turbulências num contexto de
crise, de mudanças e de redistribuição de poder e
de riqueza geradas pela globalização. os efeitos
da crise financeira e económica proveniente dos
Estados Unidos ainda se fizeram sentir, em espe-
cial na zona euro.
os nossos países europeus estão confrontados
com um duplo problema: por um lado, a curto
prazo, as medidas que os governos europeus
tomaram para lutar contra a recessão arrastaram
enormes défices nas contas públicas; por outro
lado, num plano mais estrutural, o financiamento
da protecção social que queremos manter verifica-
se cada vez mais difícil face ao envelhecimento
da suas sociedades e dadas as baixas taxas de
crescimento.
E tudo isso decorre num contexto de concorrência
internacional intensa em que as economias madu-
ras têm que manter a sua competitividade, assen-
tando mais do que nunca na inovação científica e
tecnológica, na formação e na alta qualificação da
mão-de-obra e no aumento do valor acrescentado
dos produtos produzidos pelos países europeus,
especialmente dos bens transaccionáveis.
Os altos níveis do défice e do endividamento
atingidos nos países europeus provocaram
uma crise de confiança quanto à sua capacida-
de em os sustentar e os mercados financeiros
que, desde a sua criação, não têm acreditado
no euro, aproveitam as dificuldades financeiras
dos Estados-membros da zona para especular
contre a sua solidez e daí tirarem proventos.
a União Europeia tem demonstrado uma capaci-
dade de reação face a esses ataques. Foi o que
aconteceu em maio durante a crise grega: a UE
criou um mecanismo de resgate – o Fundo Euro-
peu de Estabilização Financeira (FEES) – que,
em seguida, se tornou permanente (necessitan-
do apenas de uma ligeira revisão do tratado de
lisboa) e reforçou a governação económica de UE
e da zona euro. trata-se de regras e procedimen-
tos destinados não só à fiscalização colectiva das
políticas orçamentais e económicas dos Estados-
membros através do chamado “semestre europeu”,
mas também, se necessário, a que sejam tomadas
medidas preventivas ou correctivas para o caso de
um Estado-membro se desviar das metas orça-
mentais e económicas. o alvo é duplo: respeitar
as regras da união monetária e evitar a divergên-
cia entre as economias dos países membros da
zone euro.
apesar das dificuldades resultantes das diferen-
ças de situações e de conceitos, a UE conseguiu
estabelecer bases mais estáveis e sólidas para
ultrapassar a crise corrente e, a médio prazo, criar
as condições duma governação económica que
complementa, dum modo imprescindível, a união
monetária.
para além da crise financeira, a mudança funda-
mental que estamos a viver impõe uma transfor-
mação dos princípios em que a UE tem atuado
desde há várias décadas. o mundo de hoje é bem
diferente do mundo de ontem. a UE é o espaço
económico mais aberto e ela está confrontada com
a concorrência de potências emergentes (a china,
a india, o brasil, etc). Já não se trata agora de
favorecer o desenvolvimento do chamado “terceiro
mundo” (mesmo se isso ainda é necessário em
prol dos países menos avançados, particularmente
em áfrica) através de regimes especiais. a reci-
procidade deve ser o princípio cardinal das rela-
ções económicas – no que diz respeito aos inter-
câmbios comerciais, aos câmbios monetários, aos
investimentos, à propriedade intelectual, ao aces-
so aos concursos públicos, etc. as regras devem
ser as mesmas para todos.
O que está em jogo vai para muito além das
metas e dos indicadores financeiros e econó-
micos. Os cidadãos europeus esperam que
a UE os proteja contra os efeitos da crise e
as consequências da globalização. Este é um
grande desafio que os líderes europeus têm que
vencer. E também é preciso acrescentar que cada
país europeu não tem o tamanho suficiente para
ser ouvido e respeitado na cena internacional.
2011 é um ano em que temos de ampliar os es-
forços: cada Estado-membro está empenhado em
sanear as suas finanças públicas e implementar
reformas estruturais para fortalecer a economia; a
UE dispõe dos instrumentos para uma governação
económica reforçada e deve aplicá-los.
mas é préciso ir mais longe: renovar a política ➤
balanço 2010
«Para além da crise financeira, a mudança fundamental que estamos a viver impõe uma
transformação dos princípios em que a UE tem atuado desde há várias décadas»
37março/abril 2011 - Diplomática •
➤ industrial ao nível europeu (pois não há cres-
cimento e criação de riqueza sem a produção de
bens), desenvolver as redes transeuropeias (tais
como as redes de alto débito, as redes eléctricas
inteligentes, as redes de comboio a alta velocida-
de), desenvolver a investigação e a inovação, para
melhorar a competitividade das nossas economias
e as sinergias entre elas.
o crescimento retoma nos países desenvolvidos.
mas temos que consolidá-lo e evitar que os encar-
gos financeiros e sociais a suportar chumbem esta
retoma.
Sabemos que a solução dos problemos tem uma
dimensão global. a Europa, por si só, não pode
reformar o sistema financeiro, nem reequilibrar as
relações económicas internacionais, nem favore-
cer um desenvolvimento sustentável que respeite
o ambiente e poupe os recursos naturais limitados.
o G20, que reúne os países que produzem 85 %
da riqueza mundial, constitui o grémio mais adap-
tado para tratar dessas questões. a França, que
preside o G20 este ano, tem grandes ambições,
estando, ao mesmo tempo, consciente da dificul-
dade da tarefa. Um novo tempo precisa de novas
ideias. Vivemos num mundo interdependente e
instável em que tudo acontece rapidamente. por
isso, o G20 que era uma instituição de gestão de
crise, deve tornar-se uma instituição de governa-
ção mundial e de reformas estruturais. a presidên-
cia francesa determinou vários objectivos:
- Face à volatilidade das moedas, ao agravamento
dos desequilíbrios financeiros e à constituição de
reservas de câmbio pelas potências emergentes,
é preciso construir um sistema financeiro interna-
cional mais estável e robusto. ao mesmo tempo,
devem ser implementadas novas regras de contro-
lo do sector financeiro adoptadas pelo G20.
- É preciso reduzir a volatilidade excessiva dos
preços das matérias-primas, especialmente ener-
géticas e agrícolas, que perturba o crescimento
mundial, ameaça a segurança alimentar e pre-
judica tanto os países productores como os paí-
ses consumidores. isto pode ser feito através da
regulação dos mercados derivados dos produtos
agrícolas, do aumento da transparência das infor-
mações sobre as produções e os stocks, de uma
melhor coordenação das políticas agrícolas, e da
aplicação de mecanismos de segurança para os
países mais pobres.
- a finalidade do desenvolvimento da economia
não deve ser o enriquecimento cada vez maior
duma minoria, mas antes a melhoria da situação
das populações. por isso é preciso desenvolver
o emprego, especialmente o dos jovens e o dos
mais vulneráveis, consolidar a base da protecção
social e assegurar o respeito pelos direitos labo-
rais e sociais.
- o G20, que representa os dois terços da popula-
ção mundial, tem a responsabilidade de encontrar
soluções concretas para os problemas do desen-
volvimento, através do melhoramento das infra-es-
truturas e de novas fontes de financiamento, como
a taxa sobre as transacções financeiras.
Se não decidirmos à altura dos desafios e simples-
mente nos limitarmos a gerir uma crise voltando
ao “business as usual”, falhamos uma oportunida-
de, novas crises irão repetir-se e cada vez mais
fortes. a tarefa que se nos depara parece hercu-
leana pois temos que atuar a três níveis: nacional
(o que portugal como os seus parceiros estão a
fazer), europeu (as bases acabam de ser reforça-
das) e global (particularmente no âmbito do G20).
cada nível é interdependente dos outros, o que se
torna mais complicado. mas essa é uma responsa-
bilidade nossa perante as gerações futuras. ■
Sabemos que a solução dos problemos tem
uma dimensão global. A Europa, por si só,
não pode reformar o sistema financeiro,
nem reequilibrar as relações económicas
internacionais, nem favorecer um desenvol-
vimento sustentável que respeite o ambien-
te e poupe os recursos naturais limitados.
38 • Diplomática - março/abril 2011
Oleksandr Nykonenko - Embaixador da Ucrânia
A Ucrânia é potencialmente um parceiro importante para
Europa, ocupando um dos primeiros lugares entre os paí-
ses do continente pelo tamanho do seu território e o quinto
lugar pela população. a Ucrânia faz fronteira, de um lado,
com a rússia e, de outro, com a União Europeia, tendo a
saída para o oceano mundial através do mar Negro. mas
a Ucrânia não se considera uma terra fecunda apenas
graças à sua posição geográfica. No solo da Ucrânia pre-
valecem terras negras que cobrem cerca de 27,8 milhões
de hectares. Segundo especialistas, no território da Ucrâ-
nia concentra-se a quarta parte das reservas mundiais
de terras negras, razão pela qual a Ucrânia se juntou ao
“clube” dos principais produtores e exportadores de cereais
do mundo. além de grãos, a Ucrânia, na qualidade de
membro do prestigioso “clube” dos dez maiores produtores
de aço, ocupa o 8 º lugar no mundo por exportação de
produtos siderúrgicos.
a Ucrânia tem uma enorme infra-estrutura industrial, ocu-
pando o quarto lugar na Europa por extensão dos cami-
nhos-de-ferro e o segundo por volume de gás transportado
através do território nacional (o comprimento total dos ga-
sodutos principais da Ucrânia é de mais de 37 mil quilóme-
tros, o que equivale ao comprimento do equador terrestre).
a Ucrânia é um dos cinco países “espaciais” mais destaca-
dos no mundo. os nossos veículos-portadores espaciais já
levaram para o espaço muitos satélites artificiais. Espera-
mos que, no próximo futuro, o número de tais satélites será
acrescido por mais um, que poderá ser levado ao espaço
com o lançador ucraniano “cyclone-4”, do cosmódromo
brasileiro alcântara. a Ucrânia é hoje um dos líderes
mundiais nas exportações de software, as quais excedem
o montante de $ 1 bilhão. Embora o mundialmente famoso
avião antonov não precise de publicidade adicional, ainda
quero lembrar que na altura quando surgiu a necessidade
de transportar uma carga grande pelo avião boeing-747,
resultou que só o avião ucraniano “mria” (O Sonho), produ-
zido pelos especialistas da corporação ucraniana “anto-
nov”, foi capaz de cumprir esta missão.
o nosso Estado participa activamente na vida política,
cultural e económica da Europa. as reformas iniciadas
pelas autoridades ucranianas vão determinar, durante os
próximos anos, uma futura política de integração europeia.
a perspectiva de fazer parte da comunidade europeia é o
objectivo e aspiração de toda a sociedade ucraniana. ➤
Ucrânia-Portugal: novas perspectivas de cooperação
Este ano, a Ucrânia marca 20º Aniversário da sua independência. Durante esse período o País,
sem dúvida, conseguiu provar que é um membro importante da comunidade internacional
balanço 2010
39março/abril 2011 - Diplomática •
➤ como demonstração da confiança evidente à Ucrânia
por parte da Europa foi a obtenção do direito de realizar,
junto com a vizinha polónia, o 14 º campeonato de futebol
europeu. agora estamos a preparar-nos com sucesso para
esta grande festa do futebol europeu, e estamos absolu-
tamente convencidos de que o faremos ao mais alto nível.
Espero que a equipa nacional de portugal poderá sentir o
apoio dos adeptos ucranianos, durante o jogo final a ser
realizado na capital da Ucrânia.
Em 2011, a estabilidade política, os valores democráti-
cos e a disposição pragmática dos dirigentes ucranianos
assegurarão uma realização prática do curso estratégico
de integração europeia, ao que facilitará a introdução pelo
governo ucraniano das reformas políticas, económicas
e de segurança, a melhoria dos climas de investimento,
de cooperação empresarial e muito mais. Neste sentido,
temos esperança de que o interesse construtivo por parte
dos dirigentes dos países da União Europeia e, nomea-
damente de portugal, fará com que as negociações sobre
o acordo de associação entre a UE e a Ucrânia sejam
concluídas no ano em curso.
Escolhida a direcção Europeia como o vector princi-
pal de entrada no espaço económico internacional,
a Ucrânia considera estratégicas suas relações com
cada País da União Europeia e, particularmente,
com Portugal. a este respeito, muita atenção é dada ao
desenvolvimento das relações bilaterais científicas, co-
merciais, económicas e culturais. Vale destacar o início
de um movimento de investimentos, ainda cauteloso mas
já bem notável, entre os nossos países. os investidores
portugueses investem na produção de cimento na Ucrânia
(c+ p.a.), de equipamentos médicos (Fapomed) e de-
senvolvem energias renováveis (martifer). os ucranianos
investem no desenvolvimento do sistema bancário por-
tuguês. assim, o investimento para nós é um tráfego nos
dois sentidos. tem que ser levado em conta, nomeada-
mente, o número significativo de ucranianos em portugal,
que formam a segunda maior (mais de 50 mil pessoas)
comunidade estrangeira neste país. Eles, na sua maioria,
são especialistas qualificados, profissionais e responsáveis
pelo trabalho que fazem, contribuindo significativamente
para o pib deste país. acho que isto é o nosso maior
investimento na economia portuguesa. Não se trata só das
indústrias tradicionais de construção civil onde trabalham
os ucranianos. Há dezenas de cientistas ucranianos em
várias instituições científicas e académicas portuguesas,
bem como nos departamentos de pesquisa junto às corpo-
rações portugueses.
O nosso intercâmbio comercial foi muito intenso em
2010. Neste sentido, gostaria de chamar a atenção
para a dinâmica positiva de crescimento do comércio
ucraniano-português. Em 2010, o volume de comércio
bilateral entre a Ucrânia e Portugal aumentou 1,9 ve-
zes. Um argumento importante a favor do desenvolvimento
de nossos laços comerciais é o facto de que a Ucrânia
não é só um mercado de quase 50 milhões de pessoas,
mas também pode servir de uma espécie de plataforma de
entrada nos mercados de outros países, incluindo a ásia
central e cáucaso.
Não é uma simples troca de mercadorias que parece mais
promissora, mas a utilização de oportunidades comuns na
área tecnológica, nomeadamente, na construção naval,
aeroespacial e na área de computadores. Uma esperança
especial dá o interesse no desenvolvimento de parcerias
com empresas líderes em ambos países, tais como as
portuguesas EDp, Galp, brisa, banco Espírito Santo e as
ucranianas “Naftogaz da Ucrânia”, “Ukrinterenergo”, “Vaz
hmashimpeks”,”Zaporizhtransformator”, “antonov”, “motor
Sich”, etc. Estou confiante de que a troca de visitas em-
presariais entre os dois países, que se planeia a nível das
câmaras de comércio e de regiões administrativas, vai in-
tensificar a cooperação económica e levará as relações de
negócios a um nível mais elevado. a câmara de comércio
luso-Ucraniana deverá desempenhar um papel importan-
te a este respeito, pois uma actividade conjunta entre os
empresários dos dois países abre oportunidades muito
grandes perante os nossos empresários, nomeadamente
no sector da energia. a Ucrânia é um país com o sector de
energia muito desenvolvido. portanto, não é por acaso que
aderimos à comunidade Europeia da Energia (European
Energy community).
Na época, os especialistas internacionais falaram e escre-
veram muito sobre a importância da Ucrânia em abaste-
cimento da Europa com gás natural. Quero salientar que
a Ucrânia tem sido um parceiro de confiança da UE em
matéria de fornecimento de energia e segurança energé-
tica. ambas as partes estão interessadas em modernizar
o sistema de abastecimento de gás para a Europa e em
garantir a segurança energética dos países da UE. Este é
um exemplo do que chamamos de integração europeia, na
prática, não em palavras.
E tarefas como estas, grandes e pequenas, são muitas. o
seu número vai crescer consideravelmente após a assina-
tura do acordo de associação com a EU e após a criação
da zona de comércio livre entre a Ucrânia e a UE. tudo
isto irá criar fronteiras transparentes não só para a circula-
ção de bens, serviços e capitais, mas também para uma
livre circulação, pelos caminhos do seu grande continente,
de todos os europeus: portugueses e Ucranianos, ingleses
e Suíços, Noruegueses e macedónios... Nós acreditamos
que isso vai acontecer muito rápido, se todos empenhar-
mos os esforços necessários. ■
40 • Diplomática - março/abril 2011
Lithuania with its 3.4 million of population represents
an open and export oriented economy. Due to the limi-
ted domestic consumption, the exports of goods and
services are particularly important for a successful eco-
nomic development of the country. therefore, when the
current global financial and economic crisis severely hit
our main export markets in Western Europe, Scandina-
via and also russia, the economy of lithuania has also
occurred in a complex situation.
before the crisis, the economy of lithuania was one of
the fastest growing in the world. in years 2000-2008,
the GDp grew by 77%. one of the most important fac-
tors for substantial economic expansion was accession
to the European Union in 2004, which opened access
to additional financial resources and also enabled free
movement of capital, goods and labour force. on the
other hand, rapid economic expansion has caused
some imbalances in inflation and balance of payments.
this was mostly influenced by rapid loan portfolio
growth as foreign banks, which operate in lithuania,
provided cheap credits. the loans directly related to
acquisition and development of real estate constituted
around 50% of outstanding bank loans to the private
sector. consumption was influenced by credit expan-
sion as well. this led to increase of inflation, as well as
trade deficit.
the global credit crunch, which started in 2008, affec-
ted the real estate and retail sectors. the construction
sector shrank by almost 47% during the first 3 quarters
of 2009 and slump in retail trade was almost 30%.
the GDp plunged by 15.7% in the first nine months of
2009. Unemployment rate increased to 18%.
Facing strong negative influence of a global finan-
cial and economic crisis on the Lithuanian eco-
nomy and on its public finance system, at the end
of 2008 the government started to apply austerity
measures. Wages of civil servants, welfare and social
spending, development projects and other government
spending were targeted for cuts. the socially painful
measures were introduced in close consultation with
trade unions, NGo’s, other interested bodies and wide
public. Despite inevitable decrease in standard of
living, the lithuanian society jointly undertook this diffi-
cult but temporary burden on its shoulders. therefore,
significant and robust solutions taken by the lithuanian
authorities in a complex crisis situation have resulted
in the easing of the consequences of the global financial
and economic crisis and restored confidence of foreign ➤
Algimantas Rimkunas - Embaixador da Lituânia
Lithuania: overcoming the crisis
balanço 2010
41março/abril 2011 - Diplomática •
➤ investors in lithuania.
the ministry of Foreign affairs of lithuania is among
the leading governmental institutions, which participate
in painful exercise of spending cuts. as a result, the
staff of diplomatic missions, wages of diplomats and
other expenses are reduced significantly. on the other
hand, the government decided to maintain all existing
lithuanian embassies, missions and consulates in
operation as an instrument of international cooperation,
which is significantly contributing to exit of the crisis.
In the third quarter of 2009, compared to the pre-
vious one, the GDP again grew by 6.1% after five
quarters with negative numbers. The rebound in
Lithuania’s economy in the third quarter of 2009
was the strongest in the EU.
currently, two main trends are observed in the eco-
nomy of lithuania: macroeconomic indicators related
to the domestic demand have started to stabilize only
recently while these related to foreign markets are
increasing for more than a year. in the second quar-
ter of 2010, household expenditures were by almost
tenth lower than a year ago. the private consumption
is expected to increase by 2% only in 2011. in 2010,
compared with a previous one, domestic investment
rebounded considerably. the latest foreign trade data
show that the both exports and imports are growing
faster than expected. the recovery of exports is par-
ticularly robust: in the middle of 2010 exports grow
was equal to the peak of two years ago – about 35%.
Favourable exports developments are also proved by
industry data: the growing turnover in manufacturing is
stimulated by sales in foreign markets while the turno-
ver in domestic market is still sluggish. the recovery
of imports is mostly supported by investment goods
and intermediate goods closely related to the exports
trends.
the recovery of the lithuanian economy is reflected
in these macroeconomic indicators: the preliminary
GDp grow in 2010 is 1.0% and projection of the bank
of lithuania for 2011 – 3.1%. recently, labour market
in lithuania has been stabilising. this is in line with
previous expectations that the unemployment will start
to gradually decrease after the second quarter of 2010.
the projections of the bank of lithuania for this indi-
cator for 2010 and 2011 are 17.9% and 16.5% respec-
tively. Nonetheless, the situation in the labour market
remains serious and will be one of the main challenges
for economic policy in the years to come.
confidence in successful recovery of the economy of
lithuania is proved by the recent establishment in the
lithuanian market a few big world known international
companies. in march 2010, in Vilnius barclays laun-
ched the technology centre, which will be one of the
four the bank’s strategic centres for global retail and
commercial banking activities, supporting 49 million re-
tail and corporate customers in 28 countries. the bar-
clays centres are also settled in india, Singapore and
the United Kingdom. in Vilnius, it has already employed
500 local it professionals.
barclays was followed by the Western Union – an in-
dustry leader in global money transfer. it set up its new
Global operations centre of Excellence, which is to
create 200 new jobs. the Global operations centre in
lithuania will handle back-office processing functions
and compliment other global operations centres of the
Western Union.
recently the Government of lithuania and ibm annou-
nced a joint research partnership in lithuania that will
enable research and development of nanotechnology,
healthcare and intellectual property (ip) management
innovations. ibm will contribute existing assets and
research expertise from ibm research laboratories in
Zurich, New York, Haifa and almaden launching a new
research center. lithuania and ibm will share equal
rights to the intellectual property, and r&D commercia-
lization, such as patents, ip licenses, products and pro-
totypes that result from the research center’s activities.
according to officials of the famous international
companies, lithuania is chosen as an attractive loca-
tion because of its strong talent pool of highly-skilled
technology professionals, as well as its world-class
infrastructure. it is worth to mention that about 40%
of all employees in lithuania have university degrees.
this figure is well above the EU average.
Successful attraction of foreign investments with the
aim to transform lithuania into the High technology
Service centre of the baltic and Scandinavian region,
show that crisis is not an obstacle to think about the fu-
ture and strengthen competitiveness of the economy. ■
Recently the Government of Lithuania and
IBM announced a joint research partnership
in Lithuania that will enable research and
development of nanotechnology, healthcare
and intellectual property (IP) management
innovations.
42 • Diplomática - março/abril 2011
Quando celebrámos solenemente a entrada em
vigor do tratado de lisboa a 1 de Dezembro de
2009, era com expectativa que aguardávamos o
ano de 2010. Enquanto representante da presidên-
cia rotativa da UE, o primeiro-ministro da Suécia
Fredrik reinfeldt disse na cerimónia festiva em
frente da histórica torre de belém, que “foi coloca-
da uma pedra basilar para uma cooperação euro-
peia fortalecida”.
o ano 2010 infelizmente não foi aquilo que se
tinha esperado. a “cooperação europeia fortaleci-
da” tomou um rumo inesperado. os esforços feitos
pelos países da UE no ano anterior, 2009, para
contrariar o risco de uma recessão económica agu-
da, iria lamentavelmente por sua vez criar grandes
défices orçamentais na maioria dos países da UE.
a isto juntaram-se uma série de outros proble-
mas económicos nos diferentes estados membros
dentro e fora do grupo do EUro. o sistema eco-
nómico-político da Europa foi sujeite a um desafio
muito sério.
com a chave de soluções na mão, poderá ainda
assim constatar-se que no âmbito da cooperação ➤
Bengt Lundborg - Embaixador da Suécia
«O desenvolvimento económico, social e ambiental na Europa depende de como
a UE e os Estados membros conseguem cooperar»
balanço 2010
43março/abril 2011 - Diplomática •
➤ da EU, foi possível trabalhar em conjunto, e que
se conseguiu tomar uma série de importantes de-
cisões para garantir apoio financeiro aos países
que dele necessitavam, e ainda introduzir novas
directrizes para a cooperação económico-política,
aumento do controlo dos mercados financeiros e
um futuro mecanismo de crise. Espero que não
teremos que passar por um novo ano com pro-
blemas do tipo com que agora tivemos dolorosa-
mente que lidar. a cooperação e solidariedade
europeia demonstraram o seu valor. acredito que
sairemos fortalecidos desta turbulência.
como exemplo digno de ser ponderado, poderei
mencionar que quando a Suécia teve a sua pró-
pria, fortemente ressentida crise financeira no iní-
cio dos anos 90, surgiu concórdia política sobre a
necessidade de ter-se finanças do estado sãs, de
preferência um excedente orçamental, uma baixa
dívida do estado, e de realizar reformas gerado-
ras de crescimento. agora a nossa economia está
forte, com um crescimento em 2010 próximo dos
6 por cento e uma taxa de emprego a aumentar.
também pudemos apoiar outros países na nossa
proximidade que se encontravam temporariamen-
te em dificuldades.
para o ano de 2011, há que dar continuidade às
medidas actuais, para solucionar os problemas
de agora, mas também erguer a vista para o
futuro. aqui poderemos guiar-nos pelo programa
chamado EU 2020 para um aumento do emprego,
da formação e da investigação, um incremento na
participação social e um ambiente sustentável.
Cada membro da UE deverá elaborar objecti-
vos nacionais para tornar o próprio país assim
como a UE no seu todo mais competitivos num
mundo globalizado.
o desenvolvimento económico, social e ambiental
na Europa depende de como a UE e os Estados
membros individualmente conseguem cooperar
para dar uma resposta conjunta às possibilidades
e aos desafios que a próxima década irá trazer.
Um aumento da investigação e do desenvolvi-
mento, assim como a criação de uma patente
Europeia são importantes pedras de construção
numa Europa mais competitiva.
ao mesmo tempo que a cooperação da UE se vai
aprofundando, a União vai alargando. Durante o
ano em curso, poderemos contar com o facto de
mais um país, a croácia, dar passos decisivos
no sentido da adesão. montenegro obteve re-
centemente o estatuto de país candidato, e mais
alguns países das balcãs batem à porta da UE.
a zona Euro também está em desenvolvimento,
com a Estónia como 17:e membro desde 1 de
Janeiro deste ano.
ao mesmo tempo que avança a construção da
UE, devemos utilizar os recursos que temos -
indivíduos, meios financeiros e estruturas ins-
titucionais - para fortalecer o papel da UE num
mundo cada vez mais globalizado. aqui, o novo
European External action Service, que será lan-
çado a sério este ano, irá dar-nos a possibilidade
de dar maior peso à actuação da União relativa-
mente aos seus vizinhos. por meio da chamada
parceria oriental, aprofunda-se a cooperação
entre a UE e os seis países vizinhos a oriente,
arménia, azerbeijão, Geórgia, moldávia, Ucrânia,
e bielorússia.
No interessante mas demasiado pouco lido rela-
tório de 2010 para o conselho Europeu, elabo-
rado pelo grupo especial de estudo liderado pelo
antigo primeiro-ministro de Espanha Felipe Gon-
zález, é colocada uma pergunta introdutória: “irá
a UE conseguir manter e aumentar o seu nível de
bem-estar num mundo em mudança?” a resposta
é sim, mas isto exige que todos no seio da UE,
políticos, cidadãos, entidades patronais e traba-
lhadores, colaborem para um objectivo comum
definido pela situação actual. ■
Ao mesmo tempo que avança a construção
da UE, devemos utilizar os recursos que
temos - indivíduos, meios financeiros e
estruturas institucionais - para fortalecer
o papel da UE num mundo cada vez mais
globalizado.
44 • Diplomática - março/abril 2011
Dusko Lopandic - Embaixador da República da Sérvia
Na sequência dos acontecimentos do passado ano,
tais como calamidades naturais, erupções vulcâni-
cas, terramotos devastadores, as guerras em curso
e as pessimistas previsões económicas, é difícil
considerá-lo como um ano bom, embora nós tam-
bém não estejamos propensos a considerá-lo muito
mau. o ano de 2010 será lembrado como o ano
em que o mundo, incluindo a Europa, tenha talvez
começado a procurar novas formas e meios para
superar a curto e longo prazo os desafios globais.
o crescimento sustentável (incluindo as questões
relacionadas com a energia e o clima) e a governa-
ção mundial são alguns dos desafios a mais longo
prazo. os efeitos da crise económica e financeira
que afecta a maior parte do mundo desenvolvido,
com ênfase na Europa, constituem o motivo das
maiores preocupações a curto prazo para a maioria
dos governos, incluindo o Governo da Sérvia e o
português. Vamos esperar que o ano de 2011 traga
alguns resultados económicos positivos, tal como a
maioria de nós gostaria de ver acontecer.
aqui na Europa, estamos todos preocupados com
a crise que está, ao que parece, a atingir o âma-
go da construção europeia. a União Europeia tem
sido a maior conquista política e civilizacional do
nosso continente desde a Segunda Guerra mun-
dial. Foi construída tendo por base a visão política
a longo prazo (ou seja, a paz e a estabilidade na
Europa) e sustentada por resultados económicos
muito concretos e eficientes, como o mercado
comum, a união aduaneira, a estreita cooperação
económica, a união monetária e assim por dian-
te. No entanto, hoje temos vindo a testemunhar
sinais preocupantes de que a união económica e
monetária dentro na UE não está a funcionar bem.
É verdade que a zona euro não é a mesma coisa
que a União Europeia, mas o progresso da inte-
gração económica iria, sem dúvida, estabilizar e
reforçar a conquista intitucional que foi o tratado
de lisboa. mas o inverso também é verdadeiro:
não se deverá esperar mais progressos na in-
tegração política sem a estabilidade económica
ter sido alcançada. Os trabalhos do anterior
Conselho Europeu, juntamente com as recentes
divulgações e propostas, fornecem alguns si-
nais encorajadores para a UE no ano de 2011. ➤
«A União Europeia tem sido a maior conquista política e civilizacional do nosso Continente
desde a Segunda Guerra Mundial»
balanço 2010
45março/abril 2011 - Diplomática •
➤ No que respeita à república da Sérvia, o passa-
do ano poderia, de uma forma geral, ser considera-
do como relativamente positivo. o ano de 2010 viu
sinais de recuperação económica na Sérvia, após
a crise de 2009. o crescimento do pib em 2010
é estimado em cerca de 1,7 por cento, enquanto
as previsões para 2011 são ainda mais positivas:
o crescimento será de cerca de 3 por cento ou
talvez 3,5. Durante 2011 a Sérvia espera ter mais
investimentos estrangeiros, especialmente nas
áreas da indústria automóvel (uma nova fábrica
Fiat) e da comunicação (privatização da principal
empresa estatal de telecomunicações), que deverá
atingir os 4 bilhões de euros. a evolução positiva
será visível também no campo das exportações,
o qual já registou resultados muito positivos em
2010 (aumento de cerca de 20 por cento em com-
paração com 2009). o Governo sérvio publicou
recentemente uma previsão de longo prazo para o
desenvolvimento económico e social da Sérvia até
ao ano de 2020 que está de acordo com as proje-
ções já efectuadas pela UE. o principal problema
económico e social da Sérvia neste momento é,
sem dúvida, a elevada taxa de desemprego, espe-
cialmente entre os jovens. Existem ainda alguns
outros graves problemas económicos e sociais,
tais como o desenvolvimento desigual das regiões
de periferia, um problema demográfico e o desen-
volvimento relativamente lento de novos meios de
transporte e das infra-estruturas energéticas.
No entanto, podemos olhar para o ano de 2011,
com expectativas mais positivas. a adesão à
União Europeia é o objectivo prioritário do Gover-
no sérvio. alguns resultados muito concretos, que
puderam ser sentidos mesmo pelos cidadãos co-
muns, foram alcançados. a partir de 01 de Janeiro
de 2010 a UE aboliu os vistos turísticos para os
cidadãos da Sérvia, o que teve um impacto muito
positivo na sociedade. o processo de integração
da Sérvia na UE tem sido contínuo: o acordo de
Estabilização e de associação entrou no processo
de ratificação. a comissão Europeia foi encarre-
gada pelo conselho da UE de preparar a opinião
oficial sobre a elegibilidade da Sérvia à UE. Espe-
ramos que até ao final deste ano, a Sérvia faça a
sua candidatura oficial de adesão à UE. também
esperamos que as negociações de adesão tenham
início o mais rapidamente possível, de preferên-
cia em 2012. a Sérvia também tentará melhorar a
sua cooperação na região dos balcãs, bem como
resolver as questões pendentes relativas à coope-
ração com o tribunal penal internacional para a
ex-Jugoslávia. Nós esperamos obter alguns resul-
tados positivos do diálogo entre belgrado e pris-
tina, os quais deverão, pelo menos, responder às
questões humanitárias mais prementes no Kosovo.
No entanto, afirmamos que, em relação a esta
questão, a Sérvia não vai reconhecer a declara-
ção unilateral de independência do Kosovo e vai
procurar, através de meios pacíficos, chegar a um
compromisso com os representantes albaneses no
local.
Durante os últimos anos as relações bilaterais en-
tre portugal e a Sérvia foram reforçadas, especial-
mente no campo da justiça, dos negócios estran-
geiros, da cooperação na defesa e da cooperação
agrícola.
podemos ainda esperar algumas boas notícias
no campo das relações bilaterais entre a Sérvia e
portugal. Visitas de alto nível que estão em vista,
alguns importantes acordos serão negociados, os
contactos económicos serão reforçados, especial-
mente nas áreas da agricultura, da construção, do
planeamento urbano e da energia. Durante este
ano, vamos também comemorar alguns importan-
tes acontecimentos do passado, como os 100 anos
da ratificação do primeiro tratado comercial entre
os reinos da Sérvia e de portugal, bem como os
60 anos da retirada de diplomatas jugoslavos da
Europa ocupada através de portugal. ■
A adesão à União Europeia é o objectivo
prioritário do Governo sérvio. Alguns resul-
tados muito concretos, que puderam ser
sentidos mesmo pelos cidadãos comuns,
foram alcançados.
46 • Diplomática - março/abril 2011
Paul Schmit - Embaixador do Luxemburgo
Tendo tido a honra de apresentar as cartas credên-
cias como Embaixador do Grão-Ducado de luxem-
burgo a Sua Excelência o presidente da república no
dia 15 de outubro de 2010, e após alguns meses em
portugal, dou-me conta da riqueza histórica e cultural
deste país, mas também dos desafios aos quais têm
de fazer face portugal e a União Europeia no seu
conjunto.
para uma Embaixada, como a do luxemburgo em
portugal, trata-se de continuar a trabalhar no sentido
de uma cooperação cada vez mais estreita entre os
principais actores económicos e comerciais dos paí-
ses interessados. por ocasião da visita de Estado de
Suas altezas reais os Grão-Duques do luxemburgo
a portugal em Setembro de 2010 e, nomeadamente
por ocasião do seminário económico que reuniu cerca
de 350 personalidades dos sectores económico, co-
mercial e financeiro, interessados em estreitar as re-
lações comerciais entre os nossos dois países, foram
reforçadas as bases para uma cooperação contínua
entre os principais interessados no luxemburgo e em
portugal.
A importância de Portugal para o Luxemburgo é
clara, seja no plano comercial (com a exportação,
em 2009, de bens no valor de 15 milhões de euros e
de serviços no valor de 147 milhões e com a impor-
tação de bens e serviços no valor de 17.9 milhões
e de 186 milhões de euros respectivamente) ou no
plano humano, já que quase um quinto da popula-
ção do Grão-Ducado fala a língua portuguesa.
a imigração de cidadãos portugueses (desde os anos
1960) representa um factor importante na paisagem
cultural luxemburguesa e a integração dos cidadãos
portugueses, muitas vezes da primeira e mesmo
segunda gerações, constitui um desafio que não se
pode negligenciar.
Nos tempos dificeis que todos conhecemos, trata-
se de dar a conhecer melhor o luxemburgo, o seu
mercado financeiro, mas também os outros pontos
de interesse do país, seja no campo da siderurgia, da
tecnologia de ponta ou dos satélites, por exemplo. a
semana cultural luxemburguesa, que teve lugar em
lisboa em abril de 2010 e que contou com uma expo-
sição fotográfica, uma peça de teatro e um concerto
de jazz, constitui um bom exemplo nesse sentido.
Há muitos anos que o luxemburgo opera também ➤
«A estratégia de Lisboa sublinhou e consegui chamar a atenção para a importância de continuar a
investir nos domínios chave da economia, da educação e da formação, assim como da coesão social»
balanço 2010
47março/abril 2011 - Diplomática •
➤ de forma consequente, e desde a sua fundação, no
âmbito das principais organisações internacionais das
quais faz parte, tais como as Nações Unidas, a União
Europeia, a Nato, o conselho da Europa, a oScE,
etc.
as mudanças que ocorreram no seio da União Euro-
peia, com a entrada em vigor do tratado de lisboa
em 1 de Dezembro de 2009, poderão contribuir para
melhorar o posicionamento da União Europeia e
consequentemente dos seus Estados membros no
cenário internacional. Numa Europa cada vez mais
integrada, as relações entre Estados membros são de
grande importância e devem continuar a ser desen-
volvidas, quer no campo comercial e económico ou
no aspecto humano.
apesar dos objectivos nela estipulados não terem
sido atingidos, a estratégia de lisboa sublinhou e
consegui chamar a atenção para a importância de
continuar a investir nos domínios chave da economia,
da educação e da formação, assim como da coe-
são social. a estratégia de lisboa conseguiu assim
determinar a direcção correcta a seguir pelos Estados
membros.
No luxemburgo, a implementação nacional da estra-
tégia Europeia “Europe 2020”, sucessora da estra-
tégia de lisboa, é efectuada com base na estratégia
“luxemburgo 2020”, que foi elaborada durante a crise
económica e financeira e é considerada uma estraté-
gia de saída da crise. São definidos os vários objecti-
vos a alcançar, nomeadamente nos sectores da i&D
(investigação e desenvolvimento) e da inovação, da
educação e da formação, das alterações climatéricas
e da energia, do emprego e da coesão social.
o mercado financeiro ocupa, há mais de três déca-
das, um lugar preponderante na economia do luxem-
burgo. as finanças públicas e o emprego nacional
dependem largamente do desenvolvimento destas
actividades. o Governo desenvolve uma politica
constante de diversificação das actividades, assim
como de desenvolvimento da competitividade no pla-
no internacional, contribuindo desta forma para que o
mercado financeiro seja um centro de excelência nos
domínios de competência específica, nomeadamente
no que diz respeito às actividades bancárias pro-
priamente ditas, ao sector dos seguros, dos fundos
de investimento e fundos de pensões, à bolsa e aos
outros profissionais do sector financeiro.
a investigação constitui um dos principais motores de
uma economia competitiva, baseada no saber e no
conhecimento. a competitividade da economia nacio-
nal é, por seu turno, um elemento chave no estímulo
do país para novas actividades económicas importan-
tes, nomeadamente nos sectores de ponta. o luxem-
burgo continua a desenvolver esforços específicos
com vista a expandir as capacidades cientificas e tec-
nológicas no seio da Universidade e dos centros de
investigação públicos, em colaboração com o sector
privado. No contexto de seguimento dos objectivos
estabelecidos pela cimeira Europeia de barcelona e
com a finalidade de promover e incentivar a investi-
gação e a inovação, o Governo luxemburguês prevê
fixar o investimento público referente à i&D em 3% do
produto interno bruto, zelando ao mesmo tempo pela
maximização da eficácia das despesas consagradas
à investigação fundamental e à investigação aplicada.
a cooperação luxemburguesa para o desenvolvimen-
to coloca-se decididamente ao serviço da erradica-
ção da probreza, nomeadamente nos paises menos
desenvolvidos. as suas acções são concebidas com
base num espírito de desenvolvimento durável, quer
no aspecto social e económico, quer em matéria de
meio ambiente – com o homem, a mulher e a criança
como ponto central.
Estas acções registam-se prioritáriamente em termos
da implementação – até 2015 – dos objectivos de
desenvolvimento do milénio. assim, os principais sec-
tores de intervenção da cooperação situam-se no do-
mínio social: a saúde, a educação, que inclui a forma-
ção e a integração profissional, e o desenvolvimento
local integrado. as iniciativas pertinentes no domínio
das micro-finanças são estimuladas e apoiadas tanto
a nível conceptual como a nível operacional.
Do ponto de vista geográfico, a Cooperação
luxemburguesa desenvolve, por preocupação
em termos de eficácia e impacto, uma política de
intervenção centrada numa dezena de países as-
sociados. Em termos de ajuda pública ao desenvolvi-
mento (apD), a cooperação luxemburguesa integra,
desde 2000, o grupo dos cinco países industrializa-
dos que consagram mais de 0,7% do seu rendimento
nacional bruto à cooperação para o desenvolvimento.
Em 2009 a apD cifrou-se em 297,82 milhões de eu-
ros, representando 1,04% do rNb. a apD é aplicada
com base nos instrumentos de cooperação bilateral,
de cooperação multilateral, de apoio aos programas e
da cooperação às oNG de desenvolvimento.
a ajuda ao desenvolvimento e a política de negócios
estrangeiros do Grão-Ducado têm também como efei-
to credibilizar e reforçar os argumentos avançados no
âmbito da candidatura luxemburguesa a um mandato
de membro não-permanente do conselho de Segu-
rança (2013-2014). ■
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50 • Diplomática - março/abril 2011
Para onde vai a Nato? por pavel petrovskiy - Embaixador da rússia
Olhar a partir de Lisboa
Nos últimos tempos a esta pergunta tentam responder
muitos analistas, politólogos e diplomatas estrangei-
ros e russos, não ficando para trás os portugueses. a
componente inicial de todos deles é única – a aliança
do atlântico Norte, criada como fruto da “Guerra Fria”
que perdeu o adversário em face da UrSS, ficou num
cruzamento conceitual. Nas condições dum mundo
multipolar finalmente formado, o princípio de “Nato –
centrismo” rachou. podemos falar muito sobre a ➤
OpiniãO
В последнее время на этот вопрос пытаются ответить многие аналитики, политологи и дипломаты как зарубежные, так и российские. Не отстают и португальцы. Исходная составляющая у всех одна – североатлантический альянс, созданный как плод «холодной войны» и лишившийся противника в лице СССР, оказался на концептуальном перепутье. В условиях окончательно оформившегося многополярного мира дал трещину принцип «натоцентризма». Можно ➤
51março/abril 2011 - Diplomática •
Куда идет НАТО?взгляд из Лиссабона
➤ Nato como a base da segurança mundial no papel
de “polícia mundial”, mas isso já não convencia nin-
guém, excepto, talvez, alguns dos membros da alian-
ça, fixados no atavismo do passado. política Europeia
de segurança e defesa, que faz fundamento da dou-
trina de defesa da EU, previa o reforço do potencial
militar próprio, fora da Nato. No calor dos debates
polémicos que ocorreram durante muitos seminá-
rios científicos e políticos em Lisboa na véspera da ➤
➤ было сколько угодно рассуждать о НАТО как об основе глобальной безопасности в роли «мирового полицейского», но это уже никого не убеждало, кроме, разве что, отдельных, зацикленных на атавизмах прошлого членов Альянса. Европейская политика безопасности и обороны, лежащая в основе оборонительной доктрины Евросоюза, предусматривала укрепление собственного, вненатовского военного потенциала. В пылу полемических дискуссий, ➤
Pavel Petrovskiy
52 • Diplomática - março/abril 2011
➤ Cimeira da NATO, recentemente realizada em
Portugal, até foram expressas as dúvidas de
conveniência da existência da NATO como tal.
Surgiu uma necessidade urgente dalgum tipo de “khow
how”, a fim de preservar o potencial acumulado e
não autodestruir-se, especialmente nas condições de
redução geral dos orçamentos militares dos países –
membros. Em 2011 está prevista a redução do pessoal
da Nato de 13,5 mil a 9 mil pessoas, bem como das
estruturas de comando de 11 a 7. a atenção principal
será focada no abastecimento, fornecimento, manu-
tenção, logística, comunicação e exploração. Surgiu a
necessidade não apenas de fundos (meios), mas tam-
bém dos objectivos da sua aplicação. Em resumo, era
necessário encontrar pelo menos um inimigo hipotético
ou potencial.
Não era preciso procurar muito. ajudou o século XXi.
Na sequência dos ataques terroristas de 11 de Se-
tembro de 2001 nos EUa, na agenda do dia da Nato
como “bóia salva – vidas” apareceram os novos desa-
fios e ameaças. É contra eles: terrorismo internacional,
propagação omU, pirataria, ciber ataques, tráfico de
drogas, desastres naturais, bem como proliferação
global de mísseis, que ficaram orientados os líderes
da Nato liderados pelo secretário-geral da Nato –
a. Fogh rasmussen, que aprovaram na cimeira da
aliança em lisboa em 20 de Novembro de 2010 um
conceito estratégico novo. No documento está clara-
mente indicado, que “o conceito estratégico será um
manual para a próxima fase na evolução da Nato a
fim de continuar a ser eficaz num mundo em mudança
contra novas ameaças, com novas oportunidades e
parceiros.” característica dos novos desafios e ame-
aças de forma expandida foi reflectida no documento
“revisão conjunta de desafios comuns de segurança
de século XXi”, aprovado na cimeira do conselho
rússia – Nato (Nrc), realizada em lisboa paralela-
mente. Entre as potenciais ameaças, ficou talvez uma:
os conflitos regionais, que o conceito estratégico não
inclui na categoria de desafios directos, no entanto,
reserva-se o direito da aliança de “regulação” deles
até “evitar”, quer directamente, quer “em interacção
com os outros atores internacionais”. ao mesmo tempo
a Nato é qualificada como uma estrutura que tem
“um conjunto único e confiável de meios políticos e
militares para resolução duma ampla gama de crises:
antes, durante e depois dos conflitos”. Não é possível
entender esta tese de outra forma, a não ser uma aspi-
ração da Nato de assumir o papel de liderança duma
organização única e eficaz no âmbito de resposta aos
desafios modernos e regulação de crise em todas as ➤
➤ происходивших в ходе многочисленных научно-политических семинаров в Лиссабоне накануне только что завершившегося здесь саммита НАТО, высказывались даже сомнения в целесообразности существования НАТО как такового. Возникла острая потребность в некоем «know how», дабы сохранить накопленный потенциал и не развалиться, тем более в условиях обвального сокращения военных бюджетов стран-членов. В 2011 г. предусматривается уменьшение штата сотрудников НАТО с 13,5 тыс. до 9 тыс. чел, а также командных структур с 11 до 7. При этом основное внимание будет сосредоточено на снабжении, закупках, техобслуживании, логистике, коммуникациях и разведке. Возникла потребность не только в средствах, но и целях для их приложения. Короче говоря, нужно было найти хотя бы гипотетического или потенциального противника. Долго искать не пришлось. Помог XXI-й век. Вслед за терактами 11 сентября 2001 г. в США на повестке дня в качестве подобия «спасительного круга» для НАТО появились новые вызовы и угрозы. Именно на борьбу с ними - международным терроризмом, распространением ОМУ, пиратством, кибератаками, наркотрафиком, природными катаклизмами, а также глобальным ракетным распространением – сориентировались натовские лидеры во главе с генсекретарем НАТО А.Фогом Расмуссеном, утвердившие 20 ноября 2010 г. на саммите Альянса в Лиссабоне его новую стратегическую концепцию. В документе четко обозначено, что «стратконцепция будет являться руководством для следующей фазы в эволюции НАТО с тем, чтобы она продолжала быть эффективной в меняющемся мире против новых угроз с новыми возможностями и партнерами». Характеристика новых вызовов и угроз в развернутом виде нашла отражение в принятом на состоявшемся параллельно в Лиссабоне саммите Совета Россия-НАТО (СРН) документе «Совместный обзор общих вызовов безопасности 21 века». В числе потенциальных угроз, осталась, пожалуй, одна – региональные конфликты, которую стратконцепция к разряду прямых вызовов не относит, тем не менее, оставляет за Альянсом право их «регулирования» вплоть до «предотвращения» как напрямую, так и «во взаимодействии с другими международными актерами». При этом НАТО квалифицируется как структура, обладающая «уникальным и надежным набором политических и военных средств для урегулирования широкого круга кризисов – до, во время и после конфликтов». Невозможно понять данный ➤
Para onde vai a Nato?
53março/abril 2011 - Diplomática •
➤ suas etapas, incluindo “reconstrução” pós – crise.
teorias – às teorias. Era altura de passar à práti-
ca. aliados tinham que ter garantias, que o cami-
nho escolhido é adequado e realista. Na vanguarda
“dum gerador de ideias novas”, como sempre, foram
os americanos, que propuseram, nada mais, nada
menos – “tapar” todos os países da Nato com um
guarda-chuva de defesa antimísseis (NmD), que iria
protegê-los dos ataques do oriente, muitas vezes, não
se incomodando com alguma argumentação, a que os
membros da Nato chamaram irão. Não houve neces-
sidade de filosofar, sobretudo para compreender que
esta é apenas uma desculpa. a ideia era outra: unir os
responsáveis da Nato no processo de resolução da
primeira tarefa prática sob as novas condições, para
qual poderiam obter um financiamento sólido e dar
início a impulso poderoso de cooperação no âmbito de
altas tecnologias, fornecendo novos lugares de traba-
lho. Determinaram um “preço da questão” para iniciar,
relativamente não muito alto: cerca de 200 milhões de
Euros. resta entender, como ficará a ser esta NmD, e
por onde começar.
ainda estava fresca a memória das primeiras medidas,
tomadas pela administração de G. bush, de implemen-
tação dos elementos de defesa antimísseis na polónia
e república checa, que encontrou uma forte resistên-
cia por parte da rússia, que viu neles uma ameaça
para o equilíbrio da estabilidade estratégica e que
anunciou a sua intenção de se opor a esses planos,
até a colocação na região de Kaliningrado dos mísseis
tácticos “iskander”. a administração de b. obama a
iniciar o “restart” das relações com a rússia, contudo,
não recusou a ideia dos antimísseis, mas já no for-
mato de chamada “abordagem adaptada por fases”.
Ele ligou o sistema europeu de defesa antimísseis do
teatro de operações militares com o dos EUa e o da
rússia sob uma única administração, aparentemente,
uma administração americana. Sobre defesa antimís-
seis já negociaram anteriormente com a rússia, mas
os planos de G. bush acima mencionados, acabaram
com as negociações. como se poderia supor, que
agora a nós foi atribuído o papel adicional de “fornece-
dor” de informação sobre lançamento dos misseis de
inimigos, sem o direito de activar os interceptores de
misseis. a esperança era de que a própria rússia, que
estava interessada em garantir a segurança europeia
e na cooperação tecnológica com o ocidente, desta
vez não só não vai interferir, mas junta-se aos planos
renovados americanos – europeus. a certeza deste
género tinha prevalecido e em portugal. pareceu que o
assunto se começou a resolver. mas foi em vão. ➤
➤ тезис иначе, как стремление НАТО возложить на себя ведущую роль единственной эффективной организации в области реагирования на вызовы современности и кризисного регулирования на всех его стадиях, включая посткризисную «реконструкцию». Теории – теориями. Пора было переходить к практике. Союзникам нужно было убедиться, что выбранный ими путь верен и реалистичен. В авангарде «генератора новых идей», как всегда, выступили американцы, предложившие не много не мало – накрыть все страны НАТО зонтиком противоракетной обороны (ПРО), который защитил бы их от нападений с Востока, чаще всего, не утруждая себя особой аргументацией, натовцы называли Иран. Не нужно было особо мудрствовать, чтобы понять, что это всего лишь предлог. Замысел заключался в другом - объединить натовцев в процессе решения первой в новых условиях практической задачи, под которую можно было бы получить солидное финансирование и задать мощный импульс сотрудничеству в сфере высоких технологий, обеспечив новые рабочие места. Определили и сравнительно небольшую стартовую «цену вопроса» - в пределах 200 млн.евро. Осталось разобраться, как такая ПРО будет выглядеть и с чего начать. Еще была свежа память о том, как первые же шаги, предпринятые администрацией Дж.Буша по размещению элементов ПРО в Польше и Чехии, натолкнулись на решительное сопротивление России, увидевшей в них угрозу балансу стратегической стабильности и заявившей о намерении противодействовать этим замыслам вплоть до размещения в Калининградской области оперативно-тактических ракет «Искандер». Администрация Б.Обамы, начав «перезагрузку» отношений с Россией, тем не менее, от ПРО не отказалась, правда, уже в формате так называемого «поэтапного адаптированного подхода». Он увязывал эшелонированную европейскую систему ПРО театра военных действий (ПРО ТВД) с американской и российской под единым управлением, по всей видимости, американским. По ПРО ТВД ранее проводились переговоры с Россией, конец которым положили вышеупомянутые планы Дж.Буша. Теперь же нам, как можно было предположить, отводилась вспомогательная роль в качестве «поставщика» информации о враждебных ракетных пусках без права приведение в действие ракет-перехватчиков. Расчет был на то, что Россия, заинтересованная в обеспечении европейской безопасности и технологическом взаимодействии с Западом, на этот раз не только не будет препятствовать, но и сама подключится к ➤
Pavel Petrovskiy
54 • Diplomática - março/abril 2011
➤ mais uma vez no caminho dos planos da Nato sur-
giram problemas. tudo ficou quase parado devido ao
facto de que a rússia, quase um mês e meio: desde
início de Setembro a meados de outubro deste ano,
não respondia ao convite de a. Fogh rasmussen para
D.a. medvedev, de realizar em paralelo com a cimeira
da Nato em lisboa a reunião do conselho rússia –
Nato (Nrc) ao mais alto nível e legalizar um sistema
de defesa antimísseis em conjunto. as razões para
isso eram convincentes. Só no caso de as condições
da cooperação, oferecida no âmbito dos novos progra-
mas da Nato, não contrariarem a nossa abordagem,
em termos de segurança igual e indivisível e em nada
prejudicarem os interesses geopolíticos russos, a rús-
sia poderia concordar com visita a lisboa. para nós
foi de fundamental importância como os membros da
Nato vão formular as partes do projecto do conceito
estratégico, que têm a ver com parceria com a rússia,
e se actividade militar da Nato se enquadrasse no
quadro jurídico do Estatuto da oNU. Não ficou claro
o nosso papel no sistema de defesa antimísseis, na
função de “ajudante” no qual nós não infundíamos.
Sabíamos que os portugueses estão a favor dum nível
estratégico de parceria, e relativamente ao sistema
antimísseis viram a rússia como um participante de
igualdade juntamente com a Nato. Havia muitos ad-
versários desta abordagem. No entanto, em bruxelas
e outras capitais da Nato, incluindo lisboa, estavam
fortemente a tentar convencer - nos a vir de qualquer
maneira. Esta lógica não estava a satisfazer a parte da
rússia. Era preciso compreender claramente, se os
membros da Nato estão preparados para realmente
“reiniciar” as relações ou não. portanto, a rússia só
aceito o convite da Nato, quando todas as questões
foram esclarecidas a partir de bruxelas, e postos todos
os pontos nos iii.
O consentimento da Rússia para participar na
Cimeira NRC em Lisboa, que foi proferido pelo
Presidente da Rússia na cimeira Rússia – Ale-
manha – França em 18 de Outubro deste ano em
Deauville (França), teve fundamental importância
para a NATO. com a sua presença a rússia deu a
“luz verde” ao início duma qualitativamente nova etapa
de cooperação com a aliança, uma etapa já com base
no novo conceito Estratégico. para os membros da
Nato isso foi extremamente necessário, porque eles
já entenderam que qualquer dos seus planos que
afecta a soberania e segurança da rússia, seria ante-
cipadamente programado para um fracasso. assim, a
realização do conceito Estratégico começava seria-
mente a escorregar. por isso, para garantir a nossa ➤
➤ обновленным американо-европейским планам. Такого рода уверенность превалировала и в Португалии. Казалось бы дело сдвинулось. Но не тут то было. Вновь на пути планов НАТО возникли проблемы. Всё чуть было не застопорилось из-за того, что Россия почти полтора месяца с начала сентября по середине октября с.г. не отвечала на приглашение А.Фога Расмуссена Д.А.Медведеву провести параллельно с саммитом НАТО в Лиссабоне заседание Совета Россия-НАТО (СРН) на высшем уровне и легализовать совместную ПРО. Основания для этого были веские. Согласиться на приезд в Лиссабон Россия могла только в случае, если условия предлагаемого нам взаимодействия в рамках новых натовских программ не противоречили бы нашим подходам в части равной и неделимой безопасности и ни в чем не ущемляли бы российским геополитических интересов. Для нас было принципиально важным, как натовцы сформулируют разделы проекта стратконцепции, касающиеся партнерских отношений с Россией и будет ли военная деятельность НАТО находиться в правовом поле Устава ООН. Не было ясности и относительно нашей роли в ПРО, функции «помощника» в которой нам не импонировали. Мы знали, что португальцы выступают за стратегический уровень партнерства, а по ПРО видели в России равного участника наряду с натовцами. Предостаточно было и противников такого подхода. Тем не менее, в Брюсселе, остальных натовских столицах, в том числе в Лиссабоне, нас усиленно убеждали приехать в любом случае. Российскую сторону такая логика не устраивала. Нужно было четко уяснить, готовы натовцы к реальной «перезагрузке» отношений или нет. Поэтому, Россия приняла приглашение НАТО только, когда на все вопросы из Брюсселя поступили соответствующие разъяснения и точки над «и» поставлены. Согласие России на участие в лиссабонском саммите СРН, впервые озвученное российским Президентом на российско-германо-французской встрече в верхах 18 октября с.г. в Довиле (Франция) имело принципиальное значение для НАТО. Своим присутствием Россия включала «зеленый свет» началу качественно нового этапа взаимодействия с Альянсом, этапа, базирующегося уже на новой стратконцепции. Натовцам это было крайне необходимо, ибо они уже поняли, что любые их планы, ущемляющие суверенитет и безопасность России, бубут заведомо запрограммированы на неудачу. Таким образом, реализация стратконцепции стала бы серьезно пробуксовывать. Поэтому, чтобы обеспечить наше присутствие в Лиссабоне противникам сотрудничества ➤
Para onde vai a Nato?
55março/abril 2011 - Diplomática •
➤ presença em lisboa, os adversários de cooperação
com a rússia tiveram que desistir na questão sobre o
formato de cooperação connosco. De qualquer ma-
neira, a parceria obteve um estatuto estratégico. No
texto apareceram as formulações de sentido único:
“a cooperação da Nato e rússia tem a importância
estratégica” e “nós queremos uma verdadeira parceria
estratégica entre Nato e a rússia”. No projecto de
“Declaração conjunta do conselho Nato – rússia”
que estava a ser preparado naquele momento para
aprovação na cimeira (e posteriormente aprovado), fo-
ram incorporadas as disposições sobre o facto de estar
a começar “uma nova etapa de cooperação que leva
a verdadeira parceria estratégica”, e foi reconhecido
que “a segurança de todos os países na comunidade
euro – atlântica é indivisível” e “seguranças da Nato e
rússia estão interligados”.
alguém pode dizer, que nos documentos se fala
apenas sobre a perspectiva da parceria estratégica e
não sobre o dia de hoje, mas também não é nenhum
segredo, que a nossa cooperação com a Nato ainda
é difícil chamar estratégica. a confirmação disto é a in-
capacidade do Nrc por culpa de “um Estado” se juntar
num momento crítico da agressão georgiana contra a
ossétia do Sul e posterior “congelamento” da coopera-
ção rússia – Nato, provocado pela aliança. o termo
“estratégica” em relação a esta parceria só se podia
utilizar com verbos no futuro. a propósito, e sobre o
seu principal parceiro: União Europeia, o conceito es-
tratégico também permite o modo indicativo, indicando
que “para uma parceria estratégica entre Nato e UE é
necessária a sua plena participação” nos esforços para
combater as ameaças à segurança comum. É óbvio
que a UE também tem as reservas inexploradas na
parte do estatuto estratégico da parceria.
Na declaração conjunta Nrc foi fixada mais uma tese
de fundamental importância, que “os Estados – mem-
bros Nrc se abstenham de ameaçar ou de usar outra
força uns contra os outros, bem como contra qualquer
outro Estado, á sua soberania, integridade territorial
e independência política de qualquer forma, mesmo
incompatível com o Estatuto da oNU”. o conceito es-
tratégico também acentua, que “a aliança está firme-
mente devotada aos objectivos e princípios do Estatuto
da oNU e do tratado de Washington, que confirma a
principal responsabilidade do conselho de Segurança
de apoiar a paz e segurança internacional”. com tais
obrigações, as operações da Nato não autorizadas
pelo conselho de Segurança da oNU, por exemplo a
invasão do iraque pelos EUa e bombardeamento de
belgrado, contrariavam o próprio conceito estratégico. ➤
➤ с Россией пришлось уступить по вопросу о формате сотрудничества с нами. Партнерство все же получило статус стратегического. В тексте появились однозначные формулировки: «сотрудничество НАТО и России имеет стратегическую важность» и «мы хотим истинного стратегического партнерства между НАТО и Россией». В готовящийся в тот момент к принятию на саммите проект «Совместного заявления Совета Россия-НАТО» (и впоследствии принятом) были инкорпорированы положения о том, что начинается «новый этап сотрудничества, ведущий к подлинному стратегическому партнерству», признавалось, что «безопасность всех государств в евроатлантическом сообществе неделима», а «безопасность НАТО и России взаимосвязаны». Если у кого-то возникнет вопрос, что в документах речь идет лишь о перспективе стратегического партнерства, а не о сегодняшнем дне, то ведь не секрет, что пока наше сотрудничество с НАТО стратегическим назвать трудно. Подтверждение тому – неспособность СРН по вине «одного государства» собраться в критический момент грузинской агрессии против Южной Осетии и последующая спровоцированная Альянсом «заморозка» российско-натовского сотрудничества. Термин «стратегическое» в отношении этого партнерства пока можно употреблять только с глаголами в будущем времени. Кстати, и по поводу своего главного партнера – Евросоюза стратконцепция также допускает изъявительное наклонение, указывая, что «для стратегического партнерства между НАТО и ЕС необходимо их полнейшее участие» в усилиях по противодействию общими вызовам безопасности. Очевидно, что и у ЕС имеются неиспользованные резервы по части стратегического статуса партнерства. В совместной декларации СРН зафиксирован еще один принципиально важный тезис, что «государства-члены СРН будут воздерживаться от угрозы силой или применения силы друг против друга, равно как и против любого другого государства, его суверенитета, территориальной целостности или политической независимости в любой форме, несовместимой с Уставом ООН». Стратконцепция также акцентирует, что «Альянс твердо предан целям и принципам Устава ООН и Вашингтонского договора, который подтверждает главную ответственность Совета Безопасности за поддержание международного мира и безопасности». С такими обязательствами несанкционированные СБ ООН операции НАТО, например, по «кальке» американского вторжения в Ирак и ковровых бомбардировок Белграда, противоречили бы собственной стратконцепции. Важно, ➤
Pavel Petrovskiy
56 • Diplomática - março/abril 2011
Para onde vai a Nato?
57março/abril 2011 - Diplomática •
➤ É importante, que isto está directamente relacionado
com as potenciais ameaças, vindas algures do orien-
te, do uso da força contra o irão no contexto do seu
programa nuclear.
a rússia, por sua vez, concordou em considerar as
propostas ocidentais sobre defesa antimíssil, que seria
adquirir a mínima eficácia apenas com a nossa parti-
cipação. como resultado, na Declaração da rússia –
Nato destaca-se, que as partes concordaram traba-
lhar nessa direcção com o seguinte cronograma: a)
Nrc realiza uma avaliação conjunta das ameaças da
parte de mísseis balísticos, b) Nrc renova a coopera-
ção na defesa antimísseis no teatro de operações, c)
Nrc encarrega-se de elaborar uma análise geral con-
junta dos futuros esforços de cooperação no âmbito da
defesa antimísseis, d) esta análise é considerada na
reunião de ministros da Defesa dos países – membros
do Nrc em Junho de 2011. No entender da rússia,
tem que se falar sobre um sistema de defesa antimís-
seis, que teria um sistema de gestão equilibrado e
não parecia uma tentativa de “amarrar” a rússia aos
referidos planos americanos de “abordagem gradual
adaptada” no papel de “concomitante”. Na cimeira
em lisboa o presidente m.a. medvedev apresentou
a nossa visão do sistema europeu de defesa antimís-
seis, que foi determinada como “abordagem sectorial”,
sobre qual ele anunciou na conferência de imprensa
sobre resultados da cimeira de lisboa.
mais um ponto de referência importante para a Nato,
em termos de necessidade crescente de cooperação
com a rússia, tornou-se o afeganistão. atolados em
anos de guerra neste país, suportando as perdas cada
vez maiores, os aliados da aliança do atlântico norte
começaram a falar sobre política de “afeganização”
que prevê a transferência gradual das funções da se-
gurança interna para Governo em cabul, bem como a
retirada gradual do contingente de Força internacional
de assistência à Segurança (iSaF). a execução desta
estratégia, apesar de ser apoiada pela comunidade
internacional em duas conferências sobre afeganistão
– 28 de Janeiro de 2010 em londres e em 20 de Julho
do mesmo ano em cabul, vai exigir grandes esforços
nos próximos dois anos. É necessário não só preparar
as forças de segurança afegãs, progredir e alcançar a
reconciliação nacional, mas também eliminar o tráfico
de drogas, que abastece mais de 70% do mercado
europeu de droga.
a rússia tem repetidamente indicado aos membros
da Nato o caminho para a resolução deste problema,
propondo a cooperação entre os dois lados da fronteira
entre Nato e organização do tratado de Segurança ➤
➤ что это напрямую относится к раздающимся кое-где на Западе потенциальным угрозам применения силы против Ирана в контексте его ядерной программы. Россия, в свою очередь, согласилась рассмотреть западные предложения по ПРО, которая только с нашим участием приобрела бы маломальскую эффективность. В результате, в российско-натовском заявлении отмечается, что стороны договорились работать по данному направлению по следующему графику: а) СРН осуществляет совместную оценку угроз со стороны баллистических ракет, б) СРН возобновляет сотрудничество по ПРО ТВД, в) СРН поручается разработать всеобъемлющий совместный анализ будущих рамочных усилий сотрудничества в области ПРО, г) этот анализ рассматривается на встрече министров обороны стран-членов СРН в июне 2011 г. В российском понимании речь должна идти о такой ПРО, которая бы имела уравновешенную систему управления, а не выглядела бы как попытка «пристегнуть» Россию к упомянутым американским планам «поэтапного адаптированного подхода» в роли «сопутствующего». На саммите в Лиссабоне Президент Д.А.Медведев представил наше видение евроПРО, получившее определение «секторального подхода», о котором он объявил в ходе пресс-конференции по итогам лиссабонского саммита. Еще одним и важным ориентиром для НАТО в плане возрастающей потребности сотрудничества с Россией стал Афганистан. Увязнув в многолетней войне в этой стране и неся все большие потери, североатлантические союзники заговорили о политике «афганизации», предусматривающей постепенную передачу функций внутренней безопасности правительству в Кабуле, а также о поэтапном выводе контингентов МССБ. Реализация этой линии, несмотря на ее поддержку международным сообществом на двух конференциях по Афганистану - 28 января 2010 г. в Лондоне и 20 июля того же года в Кабуле, потребует титанических усилий в течение двух ближайших лет. Нужно не только подготовить афганских силовиков и добиться сдвигов в достижении национального согласия, но и ликвидировать наркотрафик, обеспечивающий более 70% европейского рынка наркотиков. Россия неоднократно указывала натовцам путь к решению этой проблемы, предлагая наладить сотрудничество с обеих сторон границы между НАТО и ОДКБ, успешно проводящей антинаркотическую спецоперацию «канал» в приграничных районах Афганистана. Осознание нашей правоты начало появляться только сейчас. В конце октября с.г. Россия ➤
Pavel Petrovskiy
58 • Diplomática - março/abril 2011
➤ colectiva (cSto), que está a realizar com sucesso
a operação específica de combate às drogas “canal”
nas zonas fronteiriças do afeganistão. a consciência
da nossa razão começou a surgir somente agora. No
final de outubro deste ano a rússia e os EUa em cola-
boração com iSaF e forças afegãs realizaram a sua
primeira operação conjunta de destruição de quatro
laboratórios de droga no território de afeganistão e de
932 kg de heroína. mais vale tarde do que nunca. con-
tinua a ser exigida a iniciativa de estabelecimento das
zonas de combate à droga e segurança financeira com
participação dos países – vizinhos de afeganistão, que
envolvem a interceptação de droga transportada e um
maior controlo de movimento transfronteiriço de fundos
monetários que poderiam ser obtidos com a venda
ilegal de drogas. Dentro da Nato está-se a formar a
ideia de que sem a rússia o problema de tráfico ilegal
de droga não se resolve.
Se juntarmos a isso a nossa contribuição para o trânsi-
to de mercadorias militares e civis, fica absolutamente
claro, que a nossa colaboração nos assuntos afegãos
é necessária para a Nato, como o ar. também é
evidente, que por mais densa a tal cooperação, mais
eficazes as acções da iSaF, mais forte a posição do
Governo em cabul, e portanto, mais aparentes as
perspectivas de acordo nacional, e finalmente, aproxi-
ma-se o objectivo de transmissão de poderes no âmbi-
to de segurança às autoridades afegãs e retirada das
tropas da coligação até 2014. São estes os objectivos
previstos no acordo sobre parceria entre afeganistão
e aliança, assinado na cimeira da Nato. aprovado
um acordo adicional entre a rússia e Nato sobre
o trânsito ferroviário inverso de mercadorias ilegais,
também o acordo sobre expansão do projecto de Nrc
sobre preparação pela rússia dos recursos humanos
para o combate contra a droga devido à inclusão do
paquistão na qualidade de pais – participante, junto
com o afeganistão, cazaquistão, Quirguízia, tajiquis-
tão, turquemenistão e Uzbequistão. além disso, foi
decidido estabelecer em 2011 um fundo especial de
Nrc para preparação do pessoal de terra afegão, bem
como compra de peças de reposição para manuten-
ção de helicópteros russos. a cimeira Nrc em lisboa
confirmou a conclusão sobre o interesse significativo
da Nato na ajuda da rússia para o afeganistão.
como resultado das decisões aprovadas em lisboa,
a Nato recebia aquilo que tanto procurou: “segunda
respiração”. Depois de tudo isso as circunstâncias
objectivas e lógica, baseada nos factos, evidentemente
davam resposta à pergunta: para onde tem que ir a
Nato agora. Gostassem os membros da Nato ➤
➤ и США во взаимодействии с МССБ и афганской армией провели первую совместную операцию по уничтожению на территории Афганистана четырех нарколабораторий и 932 кг героина. Лучше поздно, чем никогда. По-прежнему востребована инициатива по созданию при участии соседних с Афганистаном стран поясов антинаркотической и финансовой безопасности, предполагающих перехват перевозимых наркогрузов и усиленный мониторинг за трансграничным перемещением денежных средств, которые могли быть выручены в результате незаконного сбыта наркотиков. В НАТО постепенно формируется понимание, что без России проблему незаконного оборота наркотиков не решить. Если к этому добавить наш вклад в транзит военных и гражданских грузов, то становится абсолютно ясно, что наше содействие в афганских делах для НАТО необходимо, как воздух. Очевидно и то, что чем такое сотрудничество плотнее, тем эффективней действия МССБ, прочнее позиции правительства в Кабуле, а, следовательно, очевиднее перспективы национального согласия, и, наконец, ближе цель передачи полномочий в сфере безопасности афганским властям и вывода коалиционных войск к 2014 г. Как раз эти цели заложены в подписанное на полях саммита НАТО соглашение о партнерстве между Афганистаном и Альянсом. Одобрено дополнительное соглашение между Россией и НАТО об обратном железнодорожном транзите нелетальных грузов, а также договоренность о расширении проекта СРН по подготовке Россией антинаркотических кадров за счет включения в качестве станы участницы Пакистана наряду с Афганистаном, Казахстаном, Киргизией, Таджикистаном, Туркменистаном и Узбекистаном. Кроме того, решено создать в 2011 г. целевой фонд СРН по подготовке афганского наземного персонала и покупке запчастей для обслуживания российской вертолетной техники. Лиссабонский саммит СРН подтвердил вывод о существенной заинтересованности НАТО в российской помощи по Афганистану.В результате принятых в Лиссабоне решений НАТО получало то, к чему настойчиво стремилось - «второе дыхание». После всего этого объективные обстоятельства и основанная на фактах логика с очевидностью диктовали ответ на вопрос – куда же теперь идти НАТО. Хотелось натовцам того или нет, но без нашей доброй воли и немалой дипломатической гибкости упомянутое «второе дыхание» у Альянса, ведь, могло бы и не появиться. В ходе мероприятий в Лиссабоне подтвердился факт, что без России НАТО ➤
Para onde vai a Nato?
59março/abril 2011 - Diplomática •
➤ ou não, mas sem a nossa boa vontade e flexibili-
dade diplomática considerável, a referida “segunda
respiração” da aliança, na verdade, poderia não
aparecer. No decorrer dos acontecimentos em
Lisboa confirmou-se o facto, que sem a Rússia a
NATO não é capaz de resolver grandes problemas
de segurança internacional, como, por exemplo,
sistema de defesa antimíssil, nem de lidar eficaz-
mente com novas ameaças e desafios, nomeada-
mente, o tráfico de drogas no Afeganistão. a cadeia
de componentes que formam interesse incondicional
da Nato na rússia pode-se facilmente prolongar, se
definir essa finalidade, claro.
No entanto, seria uma ilusão pensar, que depois das
cimeiras da Nato e Nrc à aliança não resta outra
hipótese senão às mãos dadas com a rússia, sem
quaisquer asperezas e sobreposições, concentrar-se
nas novas ameaças e desafios. lisboa apenas deu um
impulso ao movimento nessa direcção, preparou o seu
“mecanismo de lançamento”. as contradições dentro
da Nato em relação a rússia, infelizmente, não vão
desaparecer por si. relativamente pequeno grupo de
países dos novos membros, continua obstinadamente
travar a aproximação da Nato e rússia. por esta ra-
zão, pela qual chamou a atenção o Docente da Univer-
sidade do minho S. Fernandes no seu artigo “Nato
e rússia, novas direcções estratégicas” falta clareza
sobre a questão: como se vão estabelecer as ligações
de parceria connosco e até a que níveis de confian-
ça poderíamos chegar a curto prazo. Sem respostas
extremamente precisas a estas perguntas, o positivo
depositado no conceito estratégico da Nato pode-se
tornar uma ficção, e os princípios e objectivos novos
ficam somente como boas intenções.
Da parte da rússia foi proposta uma solução mutua-
mente aceitável, que permitiria garantir o devido nível
de tal confiança. o presidente D. a. medvedev ainda
em Junho de 2008 interveio com uma iniciativa de ce-
lebração dum tratado de Segurança Europeia (ESt).
Em Dezembro de 2009 aos chefes de Estado e Go-
vernos dos países interessados foi entregue o projecto
russo deste documento. o sentido da iniciativa russa
se encerrava na confirmação de forma juridicamente
obrigatória da cadeia dos princípios dos documentos
básicos do Nrc e da oScE. antes de tudo, tratava-
se de segurança igual e indivisível e inadmissibilidade
de garantia de segurança duns países por conta dos
outros. Em termos práticos, aos potenciais participan-
tes do tratado foi proposto instituir um mecanismo de
consultas rápidas nas situações críticas entre países e
organizações (Nato, EU, oScE, ciS e cSto) que ➤
➤ не в состоянии ни решать масштабные проблемы международной безопасности такие как, например, ПРО, ни эффективно бороться с новыми вызовами и угрозами, в частности, афганским наркотрафиком. Цепочку компонентов, формирующих безусловную заинтересованность НАТО в России можно без труда продолжить, если, конечно, задаться такой целью. Однако было бы иллюзией полагать, что после саммитов НАТО и СРН Альянсу не останется ничего иного, как рука об руку с Россией без каких-либо шероховатостей и накладок сконцентрироваться на новых вызовах и угрозах. Лиссабон только придал импульс движению в этом направлении, подготовил его «пусковой механизм». Противоречия внутри НАТО в отношении России, к сожалению, сами собой не исчезнут. Сравнительно небольшая группа стран из числа новых членов продолжает упорно тормозить сближение НАТО и России. По этой причине, на которую обратила внимание в своей статье «НАТО и Россия, новые стратегические направления» доцент Университета Минью С.Фернандеш, отсутствует ясность по вопросу – как будут выстраиваться с нами партнерские связи и на какой уровень доверия мы могли бы выйти в короткой перспективе. Без предельно точных ответов на эти вопросы заложенный в стратконцепция НАТО позитив может оказаться фикцией, а новые принципы и цели останутся благими намерениями. Со стороны России была предложена взаимоприемлемая развязка, которая позволила бы обеспечить надлежащий уровень такого доверия. Президент Д.А.Медведев, причем еще в июне 2008 г., выступил с инициативой по заключению Договора о европейской безопасности (ДЕБ). В декабре 2009 г. главам государств и правительств заинтересованных стран был передан российский проект этого документа. Смысл российской инициативы заключался в подтверждении в юридически обязывающей форме ряда принципов базовых документов СРН и ОБСЕ. Прежде всего, речь шла о равной и неделимой безопасности и недопустимости обеспечения безопасности одних стран за счет других. В практическом плане потенциальным участникам договора предлагалось учредить механизм оперативных консультаций в острых ситуациях между государствами и организациями (НАТО, ЕС, ОБСЕ, СНГ и ОДКБ), действующими в сфере безопасности от Ванкувера до Владивостока. Хотя многие члены НАТО, включая Португалию, восприняли ДЕБ положительно, выйти на скорое подписание этого документа не получилось. Работа ➤
Pavel Petrovskiy
60 • Diplomática - março/abril 2011
➤ atuam no âmbito de segurança, de Vancouver a Vla-
divostok. Embora muitos membros da Nato, incluindo
portugal, perceberam ESt de forma positiva, mas
chegar à breve assinatura deste documento não se
conseguiu. trabalho sobre ESt tornou-se numa forma
de discussão académica numa série de áreas, contudo
não focando no problema de “segurança rígida” com
qual o ESt tem a relação directa, mas sim no contexto
de “cesto” global da oScE, incluindo a “segurança
mole”: seus aspectos económicos, humanitários, cultu-
rais, climáticos e outros. como plataforma principal de
discussões ficou o chamado “processo de corfu” a que
deu origem a reunião informal dos ministros de negó-
cios estrangeiros da oScE em Junho de 2009 na ilha
grega de corfu. o decorrer da discussão mostra que
os colegas da Nato ainda vão precisar de algum tem-
po para entender a essência do ESt, para perceber
que ESt não está direccionado a prejudicar o artigo 5º
do tratado de Washington sobre Segurança colectiva
da Nato, nem para separação dos EUa e Europa,
nem, de modo nenhum, para “restabelecimento das
posições” da rússia no papel de Superpotência, como
pensam alguns politólogos, mas sim para transformar
o espaço de Vancouver a Vladivostok numa região de
confiança e estabilidade genuínas.
apesar do facto, os documentos aprovados nas cimei-
ras de lisboa, bem como o próprio andar da discussão
não revelaram as mudanças principiais na percepção
do ESt pelos países da aliança, a própria existência
da iniciativa russa incentiva a Nato a se mover na
única direcção certa e lógica: em direcção de aproxi-
mação com a rússia. Sobre isso testemunha a polé-
mica que se desenvolveu na véspera da cimeira da
Nato sobre a questão de parceria. Discutiram-se, em
particular, as propostas de separar os parceiros para
estratégicos e habituais. Uns consideravam o parceiro
estratégico a União Europeia por causa de comunida-
de territorial e presença nos 28 países da Nato do
21º membro da EU, e também por causa de “valores
comuns” e objectivos. outros acreditavam, que a EU e
a Nato, em geral, são quase um único organismo, no
qual os recursos fluem como nos recipientes comuni-
cantes. ainda outros, ao contrario, questionavam aber-
tamente a possibilidade de construir uma cooperação
militar eficaz entre EU e a Nato. Entre os parceiros
estratégicos também indicavam a rússia, Índia, china
e brasil. Houve também tentativas de colocar a impor-
tância da rússia para Nato no sentido oposto dos
países referidos.
Nos vários seminários científicos e teóricos, reali-
zados em Lisboa, expressou-se ainda a opinião ➤
➤ по ДЕБ приобрела форму академической дискуссии на целом ряде площадок, причем с упором не на проблематику «жесткой безопасности», к которой ДЕБ имеет непосредственное отношение, а в контексте общей «корзины» ОБСЕ, включающей «мягкую безопасность» - ее экономические, гуманитарные, культурные, климатические и другие аспекты. Главной из дискуссионных площадок стал так называемый «корфуский процесс», начало которому положила неформальная встреча министров иностранных дел ОБСЕ в июне 2009 г. на греческом острове Корфу. Ход обсуждения показывает, что коллегам по НАТО потребуется еще какое-то время, чтобы разобраться в сути ДЕБ, понять, что ДЕБ направлен не на подрыв статьи 5 Вашингтонского договора о коллективной безопасности НАТО, не на раскол между США и Европой и вовсе не на «восстановление позиций» России в качестве сверхдержавы как считают некоторые политологи, а на превращение пространства от Ванкувера до Владивостока в регион подлинного доверия и стабильности. Несмотря на то, что принятые на саммитах в Лиссабоне документы, как и ход дискуссии, не выявили принципиальных перемен в восприятии ДЕБ странами Альянса, само существование российской инициативы стимулирует НАТО к движению в единственном логически верном направлении – в сторону сближения с Россией. Об этом свидетельствует развернувшаяся в преддверии саммита НАТО полемика вокруг вопроса о партнерстве. Обсуждались, в частности, предложения разделить партнеров на стратегических и обычных. Одни причисляли к стратегическим партнерам Евросоюз в силу территориальной общности и присутствия в составе 28-и стран НАТО 21-го члена ЕС, а также «общности ценностей» и задач. Другие полагали, что ЕС и НАТО, вообще, почти единый организм, в котором ресурсы перетекают как по совмещающимся сосудам. Третьи, наоборот, откровенно сомневались в возможности наладить эффективное военное сотрудничество между ЕС и НАТО. Среди стратегических партнеров называли также Россию, Индию, Китай и Бразилию. Были и попытки противопоставлять Россию по важности для НАТО перечисленным странам. На многочисленных научно-теоретических семинарах, состоявшихся в Лиссабоне, высказывалось даже мнение о целесообразности принятия России в НАТО, что, дескать, явилось бы адекватным ответом Запада на ДЕБ и автоматически придало бы принципу неделимости безопасности юридически обязывающую силу. ➤
Para onde vai a Nato?
61março/abril 2011 - Diplomática •
➤ de conveniência da entrada da Rússia na NATO,
o que, dizem, seria uma resposta adequada do
Ocidente para EST e automaticamente dava uma
força juridicamente obrigatória ao princípio de
indivisibilidade da segurança. No entanto, a maioria
dos analistas ainda se inclinam para uma abordagem
mais realista, indicando a ausência de argumentação
convincente para tal formulação da questão. Em parti-
cular, alegaram, que não há interesse na participação
da rússia, como da própria rússia nem dos membros
da Nato, que não gostariam de ter na aliança o 2º de-
pois dos EUa “primeiro entre iguais”, não falando ainda
na oposição previsível dos novos membros da Nato.
a questão final foi esclarecida pelo D.a. medvedev na
conferência de imprensa em lisboa, que declarou, que
actualmente ele não vê a situação em que a rússia se
poderia juntar à Nato. No entanto, de acordo com o
presidente russo, tudo muda, muda a aliança também.
E ele não exclui, que pode-se levantar a questão da
nossa cooperação mais próxima. “De qualquer ma-
neira, sublinhou D.a. medvedev, o facto que no dia
de hoje as nossas relações tornaram-se muito mais
próximas e mais transparentes, mais previsíveis, leva
a conclusão que seu potencial não está esgotado, e
a aproximação das nossas abordagens em todas as
atitudes vai continuar”.
Se tentássemos olhar para o futuro, com alguma de-
terminada parte de certeza podíamos dizer, que dentro
da Nato, vai-se reforçar a compreensão da neces-
sidade de construção das relações qualitativamente
novas com a rússia. o ministro dos Negócios Estran-
geiros de portugal l. amado, nesse sentido afirmou,
que “o entendimento mútuo entre a Nato e a rússia é
muito importante no período de alta tensão geopolítica,
que o mundo vai enfrentar nos próximos anos”.
a melhor opção de nova construção das nossas rela-
ções é uma parceria avançada, que obteve um novo
impulso na cimeira Nrc em lisboa. o princípio básico
destas relações só pode ser “segurança indivisível”,
que, embora na conversa já é aceite pela Nato, não
obterá imediatamente o formato do conceito juridica-
mente obrigatório, mas sim durante os processos de
alinhamento das relações confiáveis de parceria, que
não são fáceis, através de gradual ajustamento em to-
das as direcções da nossa cooperação. Não seria um
erro de supor, que em 2011 a área mais complicada e
tensa deste ajustamento será exactamente o sistema
antimísseis, sobre o qual as posições das partes por
enquanto não têm pontos em comum, e as declara-
ções de lisboa sobre essa questão são nada mais do
que acordos de intenções. Segundo o nosso ➤
➤ Однако большинство аналитиков все же склоняется к более реалистичным подходам, отмечая отсутствие убедительной аргументации для такой постановки вопроса. В частности, приводились доводы о том, что в членстве России незаинтересована как она сама, так и натовцы, которые не хотели бы иметь в Альянсе второго после США «первого среди равных», не говоря о вполне предсказуемом противодействии этому натовских «новобранцев». Окончательную ясность в этот вопрос внес на лиссабонской пресс-конференции Д.А.Медведев, заявивший, что в настоящий момент он не видит ситуации, когда Россия могла бы присоединиться к Североатлантическому альянсу. Однако, по словам Президента России, всё меняется, меняется и Североатлантический альянс. И он не исключает, что может стать вопрос о нашем более тесном сотрудничестве. «Во всяком случае, - подчеркнул Д.А.Медведем, - то, что на сегодняшний день наши отношения стали гораздо ближе и гораздо более прозрачными, более предсказуемыми, наводит на мысль о том, что их потенциал абсолютно не исчерпан, и сближение наших подходов по всем позициям будет продолжено».Если попытаться взглянуть в будущее, то можно с определенной долей уверенности полагать, что в НАТО будет укрепляться понимание необходимости выстраивания качественно новых связей с Россией. Министр иностранных дел Португалии Л.Амаду в этой связи заявил, что «взаимопонимание между НАТО и Россией весьма важно в период высокой геополитической напряженности, с которой столкнется мир в ближайшие годы». Оптимальным вариантом дальнейшего выстраивания наших отношений представляется продвинутое партнерство, получившее новый импульс на саммите СРН в Лиссабоне. Базовым принципом этих отношений может быть только «неделимая безопасность», которая, хотя и на словах признается в НАТО, но обретет формат юридически обязывающего понятия далеко не сразу, а в ходе непростых процессов выстраивания доверительных партнерских связей, путем постепенной притирки по всем азимутам нашего сотрудничества. Не будет ошибкой предположить, что в 2011 г. наиболее сложными и напряженными сферами такой притирки станет именно ПРО, в позициях сторон по которой пока никаких точек соприкосновения попросту нет, а лиссабонские заявления на эту тему представляют собой не более, чем договоренности о намерениях. По словам нашего Президента, самим европейцам еще «предстоит разобраться, где их ➤
Pavel Petrovskiy
62 • Diplomática - março/abril 2011
➤ presidente, os próprios europeus ainda “têm que des-
cobrir, onde é o seu lugar, como é que vai ser no final
a ideia de defesa europeia antimísseis, especialmente
depois de ela ser concluída, supomos, até 2020. Nós,
por sua vez, devemos entender, onde é o nosso lugar,
e, obviamente, temos que partir do facto que a nossa
participação deve ser absolutamente equitativa”. Nada
menos complicadas e dolorosas seriam as negociações
entre a rússia e os países da Nato sobre o tratado
cFE tendo em conta, que o restabelecimento dos re-
gimes viáveis de controlo de armas usuais, é baseado
nas medidas mútuas de confiança, que exigem escru-
pulosa coordenação. São necessários os compromis-
sos concretos da Nato em relação á manifestação de
discrição no palco militar, nomeadamente, não colocar
as chamadas “forças substanciais de combate” no
território dos novos membros. Em geral, os progressos
sobre sistema antimísseis e tratado cFE já nos próxi-
mos tempos seriam um indicador real da prontidão dos
colegas da Nato para uma parceria verdadeiramente
estratégica, declarada por eles no conceito estratégico.
Por outras palavras, neste momento não é fácil
responder duma maneira única à pergunta “para
onde vai a NATO?”. Não há dúvidas, que nos próxi-
mos dez anos a Aliança vai tentar ocupar a posição
duma estrutura de liderança mundial, além do mais
nuclear, no âmbito de segurança internacional, que
tem a responsabilidade de opor-se às novas amea-
ças, como também da regulação da crise. Não está
muito claro, como nas novas condições vão funcionar
na prática o artigo 5º do tratado de Washington sobre
Segurança colectiva, e artigo 4º na parte de consultas
mais sólidas não só com aliados mas também com
parceiros, previstas pelo conceito estratégico. Há
motivo para pensar.
ao mesmo tempo, é um facto indiscutível, que sem
interacção com a rússia não há alternativa de imple-
mentação do conceito estratégico de lisboa na parte
de novas ameaças e desafios. isso vai objectivamente
empurrar a Nato na direcção de relações de parceria
connosco. Em que formato e em que momento elas
começam a ganhar força e se vão chegar ao nível de
cooperação confiável, ou começa mais um recuo por
quaisquer razões subjectivas, como já aconteceu varias
vezes na nossa história, é melhor não adivinhar. Em
qualquer caso, repetindo a ideia do presidente D.a.
medvedev, podemos dizer com certeza, que as pro-
porções e nível de interacção dos membros Nrc em
grande medida vão depender da evolução posterior da
aliança. mas oportunidades para uma aproximação são
evidentes, e perdê-las seria um erro imperdoável. ■
➤ место, как будет выглядеть в конечном счёте идея европейской противоракетной обороны, особенно после того, как она будет завершена, условно говоря, к 2020 году. Мы, в свою очередь, должны разобраться, где наше место, и, конечно, мы должны исходить из того, что наше участие должно быть абсолютно равноправным». Не менее сложно и болезненно будут продвигаться переговоры между Россией и странами НАТО по ДОВСЕ с учетом того, что восстановление жизнеспособности режимов контроля над обычными вооружениями базируется на взаимных мерах доверия, которые требуют кропотливого согласования. Нужны конкретные обязательства НАТО в отношении проявления сдержанности в военной сфере, в частности, не размещении на территории новых членов так называемых «существенных боевых сил». В целом, продвижение по ПРО и ДОВСЕ уже в ближайшее время будет реальным индикатором готовности натовских коллег к декларированному ими в стратконцепции подлинно стратегическому партнерству. Иными словами однозначно ответить на вопрос «Куда идет НАТО?» на данный момент непросто. Нет сомнений, что в течение ближайших десяти лет Альянс будет стремиться занять позицию ведущей мировой, причем ядерной, структуры в сфере международной безопасности, отвечающую как за противодействие новым угрозам, так и кризисное регулирование. Не совсем понятно, как в новых условиях будут на практике работать статья 5 Вашингтонского договора о коллективной безопасности и статья 4 в части предусмотренных стратконцепцией более плотных консультаций не только с союзниками, но и партнерами. Есть над чем подумать.В то же время непреложным фактом является то, что альтернативы реализации лиссабонской стратконцепции в части новых вызов и угроз без многопланового взаимодействия с Россией не существует. Это будет объективно подталкивать НАТО в направлении партнерских отношений с нами. В каком формате и в какие сроки они наберут обороты и выйдут ли на уровень доверительного взаимодействия или начнется очередной откат по каким-либо субъективным обстоятельствам, как это было не раз в нашей истории, лучше не предугадывать. В любом случае, повторяя мысль Президента Д.А.Медведева, можно с уверенностью сказать, что масштабы и уровень взаимодействия членов СРН в значительной степени будут зависеть от дальнейшей эволюции Альянса. Но шансы для сближения все же очевидны, и упускать их было бы непростительной ошибкой. ■
pavel petrovskiy
Para onde vai a Nato?
64 • Diplomática - março/abril 2011
Adriano Moreira por maria da luz de bragança e Jorge Urbano, fotos ligia correia
O último senador
É absolutamente fascinante falar com este velho senhor da política portu-
guesa, nome referencial de pensador e professor insigne. Em conversa solta,
deparasse-nos um homem sem idade, discorrendo sobre o passado e o futuro
da velha Europa e do Ocidente. ➤
Política
65março/abril 2011 - Diplomática •
➤ Num artigo de há cerca de vinte
anos, o Professor mencionava o
facto de a Europa ter falta de von-
tade de poder, servindo apenas de
conselheira entre os japoneses e
americanos. Como é que vê, neste
momento, o papel da Europa?
acho que, nos últimos tempos, deu-
se uma mudança radical no que diz
respeito à estrutura internacional - e
que foi o desaparecimento daquilo a
que tenho chamado de” império Eu-
romundialista”. E que começa com as
descobertas portuguesas que vão es-
tabelecendo uma hegemonia ociden-
tal em todo o globo, e que assume a
sua forma na conferência de berlim,
em 1885. Nessa última conferência
– que considero como um marco – o
predomínio ocidental era evidente
e portugal, que apesar de sofrer o
Ultimato em 1890, fica como sendo o
titular de uma parcela desse “império
Euromundialista”. o tal apoio externo
de que nós sempre dependemos - e
precisamos - desde a fundação do
reino; ficámos participantes nesse
império global, o que dá uma consis-
tência muito grande à estabilidade
dessa presença portuguesa, apesar
de a economia ser débil e de o país
ser pequeno, da vida interna ter as
complicações que sempre teve...
o bispo do porto, D. manuel, há pou-
co tempo chamava à atenção dizen-
do que em 1810 foi preciso afundar o
Estado, em 1910 foi preciso afundar
o Estado e que agora, cem anos
depois, talvez seja preciso o mesmo.
mas esta circunstância da dependên-
cia externa que portugal, lava a que
esse império caia com os conflitos
internos ocidentais, com as duas
guerras mundiais e, em especial, com
a última Grande Guerra.
mas essa guerra só foi mundial nos
efeitos, uma vez que todos os povos
sofreram com ela. porque, de facto,
foi uma guerra civil entre ocidentais,
em que os responsáveis foram os
países ocidentais, porque havia uma
tradição europeia espantosa - que é
a de que nenhum país tem um país
vizinho mas sim um inimigo íntimo. É
assim que nós vivemos.
por isso, quando acaba a guerra de
1939-45, os aliados, de facto, eram
os vencedores da guerra. ou melhor,
apenas não a tinha perdido. os Esta-
dos Unidos, nesse momento, tiveram
consciência de que são ocidentais.
Na verdade, os EUa esqueceram-
se que o oceano deles é o pacífico
e viraram-se para o atlântico, pelas
solidariedades e riscos que efectiva-
mente existiam. E julgo que foi come-
tido um erro de avaliação quando se
fundaram as Nações Unidas.
E porquê? Em primeiro lugar, porque
os ocidentais é que escreveram a
carta, os ocidentais é que escreveram
a Declaração Universal dos Direitos
do Homem. os ocidentais, com o
seu império, tinham uma divisão do
mundo fácil: havia o nosso império
e o resto do mundo. E, portanto, a
organização foi vítima de um fenó-
meno importante: as imagens duram
sempre mais tempo que os factos. o
império pensa que ainda tem a mes-
ma força nesta hora de crepúsculo. E,
por isso, vê-se organizar a segurança
no conselho de Segurança, onde a
França e a inglaterra têm direito de
voto e antes não tinham qualquer
poder universal. De tal maneira, muito
rapidamente, o mundo passou a ser
governado, não pela ordem que esta-
va marcada, mas pela ordem que os
factos ditaram. porque foi a Nato e
o pacto de Varsóvia - e a ordem que
estabeleceram é que foi a ordem do
mundo. teve a paz na Europa, mas
foi um governo de metades.
Nós tivemos duas Europas, duas
alemanhas, duas cidades de berlim,
duas coreias… E quando acabou
esta situação chamada de Guerra
Fria aconteceu o que se havia veri-
ficado na última guerra mundial: os
aliados julgaram que tinham ganho,
mas apenas não perderam contra a
rússia. porque a rússia dissolveu-se
por dentro; não foi por combate ou
por supremacia da aliança ocidental.
E os ocidentais, neste momento, com
as doutrinas que foram desenvol-
vendo, sobretudo durante a regência
republicana do presidente bush, em
que américa apresenta uma atitu-
de unilateralista muito diferente da
solidariedade que houve durante a
guerra, e que os europeus esquece-
ram muito rapidamente. mas, imedia-
tamente, pensaram nas rivalidades e
começou a aparecer um europeísmo
anti-américa.
Não interessava também, aos EUA,
que a Europa não ficasse toda
junta num bloco?
Eu diria que sim. mas, em primeiro
lugar, eles morreram pela Europa;
segundo lugar, eles ajudaram a
construir a Europa, sem eles não
haveria reconstrução possível da
Europa. mas a Europa também tem
o seu credo. E o credo da américa
abrange pelos menos estes pontos:
eles acham que são a nação indis-
pensável; a eles compete assegurar
a ordem do mundo; o mundo deve-se
organizar democraticamente pelo
modelo americano; o mundo deve-se
organizar pela doutrina económica
americana; e, mesmo com a evolução
que se tem seguido com a adminis-
tração de obama, ainda não se põe
em causa estes princípios. apenas a
maneira de agir se tornou diferente.
Nós, na Europa, aquilo que fizemos
foi uma demarche galvanizada que
tem interventores notabilíssimos,
entre os quais, Jean Monnet. Tivé-
mos grandes doutrinadores desta
ideia que os europeus não podem
ser inimigos íntimos. Simplesmen-
te isto foi transferido para o Atlân-
tico, quando começou o nascer o
europeísmo e o americanismo. Ao
contrário, com aquelas doutrinas
do Neo-Conservadorismo america-
no, do choque das civilizações, etc.
E nós, aquilo que começamos ➤
66 • Diplomática - março/abril 2011
➤ a fazer foi uma organização eco-
nómica da Europa: as comunida-
des. Eu acho interessante quando
no fim da vida, nas suas memórias,
o Jean Monnet diz que se fosse
hoje começaria pela Cultura e não
pela Economia.
o que eu acho que aconteceu na
Europa foi um relativismo tremendo,
e tenho resumido esse relativismo
a este conceito: substituíram o valor
das coisas pelo preço das coisas. E
isto foi o que fez que o relativismo se
instalasse. o relativismo que se ins-
talou fez enfraquecer os valores que
são valores estruturantes da Europa,
designadamente, a referência aos
valores religiosos.
Parece-lhe que, paralelamente - e
ao longo de todo esse percurso -,
a Igreja perde força e passa a um
consultor, não tendo já mais direi-
tos sobre as consciências?
a recusa de fazer referência aos
valores religiosos foi culpa do tratado
constitucional. o problema mais sério
é que as estatísticas demonstram
que a declaração de pertença a uma
igreja institucionalizada diminui, mas
o apelo à transcendência está a
aumentar. o que dá origem a estas
organizações novas, dispersas, meio
cósmicas, meio seitas.
É claro que a transcendência não
desapareceu, nem diminuiu. porém,
relativizou-se. E isso é evidente não
apenas no geral da sociedade na
degradação dos valores – as fron-
teiras já não são o que eram –, mas
também nas modificações da socie-
dade civil que têm sido brutais. Num
dos meus últimos discursos disse
o seguinte: quando eu fui educado,
o aparelho de ensino – que sofre
bastantes críticas actualmente – era
apoiado na integração que a família
fazia, na integração que o pároco
fazia, na integração que o exército
fazia, e o aparelho educativo depois
dava a formação educativa necessá-
ria. Neste momento, a família aca-
bou, a influência da igreja diminuiu,
o serviço militar obrigatório acabou.
E o aparelho educativo ficou vazio,
recebendo o peso todo e também as
críticas todas.
outra coisa que desapareceu foi o
valor das fronteiras geográficas na
Europa. as fronteiras são hoje ape-
nas um apontamento administrativo.
Depois os países tentaram ter uma
fronteira. Veja o caso de portugal:
temos fronteiras geográficas que são
apenas apontamentos administra-
tivos, mas a fronteira económica é
a da União Europeia; a fronteira de
segurança é a da Nato. E, portanto,
as fronteiras multiplicaram-se. as fi-
delidades são outras e são múltiplas.
mas também a sociedade civil, que
leva tanto tempo – séculos mesmo –
a construir, com a forma mais perfeita
que nós conhecemos que é a manei-
ra das pessoas terem maior devoção,
dedicação e solidariedade. as migra-
ções descontroladas, que a nova eco-
nomia liberal de mercado provocou,
em que as pessoas se deslocam para
fugir da miséria ou da guerra, para
lugares que a propaganda e os meios
de comunicação descrevem como
sendo uma sociedade rica, influente,
consumista. Essa gente entrou sem
nenhuma política de integração, de
assimilação, e nós estamos numa
estrutura que, por um lado, tem a
sociedade civil, mas, por outro, tem a
multidão - porque é um grupo infor-
me. E isso dá origem àqueles confli-
tos que nós conhecemos em paris,
em atenas, em Setúbal. Não há
nenhum país que esteja livre disso.
Dá-me a impressão que estamos a vi-
ver traços medievais porque vivíamos
num castelo e, depois, tínhamos uns
bairros com as várias populações: os
bairros judeus, os bairros ciganos...
Neste momento, temos uns aparta-
mentos fechados, defendidos, e os
bairros que não conseguem entrar. o
rei de portugal foi rei das três religi-
ões, em determinado momento. Eu
não sei se o presidente é presidente
das três religiões. porque a mudança
foi radical. De maneira que esta mu-
dança dos valores é fundamental. as
matrizes valorativas estão todas em
causa em todo o nosso ocidente, ao
mesmo tempo que perdemos a nossa
hegemonia. porque se virem os dis-
cursos que vêm depois da conferên-
cia de berlim, a justificar a ida para as
colónia,s falam claramente que que-
rem saber das matérias-primas e de
mercados para produtos acabados.
mas vão acrescentando que também
farão outras coisas. Nós faremos a
evangelização, os franceses dizem
que vão levar as luzes; os ingleses
a civilização, mas não as matérias-
primas e os produtos acabados. a
Europa não tem isso, está dependen-
te - neste momento - disso.
A propósito desta decadência
e do estado a que isto chegou
em termos genéricos europeus,
podemos falar de uma comissão
liquidatária que julga estar investi-
da de poder para levar a cabo essa
destruição?
Não posso dizer que tenham essa
consciência. o que verifico é que
faltam grandes líderes como os que
outrora tivemos na Europa. Estas
mudanças todas estão, realmente,
sem um projecto final. Não se pode
dizer que haja um projecto final para
a União Europeia.
A minha dúvida é se ainda pode
haver projecto.
muita gente tem dúvidas. Há sinais
que fazem suscitar as dúvidas. mas
devo dizer que acho que era melhor
para o ocidente se o projecto não
fosse terminado. porque ainda assim
pode haver uns apoios que são indis-
pensáveis para um país pequeno.
Eu acho que o grande problema des-
te mundo passa por: primeiro passo
- tomar consciência que a destruição
das torres gémeas inaugura uma
nova época estratégica. E, sabido
isso, a base da defesa e ➤
Adriano Moreira
67março/abril 2011 - Diplomática •
um crescimento de 5 ou 6 filhos
por casal…
Há uma coisa importante: esse mo-
vimento migratório para a Europa foi
muito determinado por uma imagem
falsa de uma sociedade de opulência
e consumismo que abrangia toda
a gente; e não foram devidamente
protegidos em termos jurídicos - e
foram largamente explorados. E
o facto de ter havido intervenções
gravíssimas por parte dos árabes,
não quer dizer que todos eles sejam
partidários da violência. Nós temos
uma organização fundada por um
muçulmano estrangeiro, em Évora,
para a defesa da paz - que recebeu
o título de Doutor honoris causa pela
Universidade de lá.
agora, há uma grande debilidade das
sociedades altamente dependentes
da técnica é evidente. Estas preci-
sam cada vez mais de gente muito
qualificada e, cada vez mais, de me-
nos gente. É preciso que a Economia
cresça de maneira a que sustente
as necessidades de menos gente. o
que não tem acontecido.
o que acontece é que quem so-
fre, primeiramente, é essa gente
que emigrou. E é por isso que sou
completamente contra que – apesar
da nossa falta de recursos – desapa-
reça o Estado Social ou a oNU, que
também tem um papel social impor-
tante. a oNU tem uma coisa que se
chama plano das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (pNUD)
que, no fundo, é um plano social. o
plano social não é um imperativo, é
um princípio. Há uma diferença entre
imperativo e princípio: o princípio
deve ser caridoso na medida que se
possa. o Estado Social é na medida
em que nós podemos. agora deitá-lo
fora é deitar a esperança pela janela.
a doutrina oficial da igreja, aí, coin-
cide com a doutrina do socialismo
democrático. Esta circunstância é um
enormíssimo desafio para a paz civil
na Europa. n
O rosto da notícia
Adriano moreira é um estadista, político, deputado, advogado, jurisconsulto, internacio-
nalista, politólogo, sociólogo e professor. Destacou-se pelo seu percurso académico e
pelo seu historial antes de se tornar ministro do Ultramar durante o Estado Novo. Foi
também presidente do cDS (1986-1988)
aluno brilhante, licenciou-se em Direito pela Universidade de lisboa, em 1944, possuin-
do o doutoramento na mesma área, pela Universidade complutense de madrid.
Desempenha funções de professor - na área de relações internacionais - no instituto
Superior Naval de Guerra, na Escola de comando e Estado-maior do Exército, na pon-
tifícia Universidade católica do rio de Janeiro, na Universidade aberta e na Universida-
de católica portuguesa. É professor Emérito da Universidade técnica de lisboa.
É ainda professor Honorário da Universidade de Santa maria.
Doutor Honoris causa pela Universidade aberta, Universidade da beira interior, Univer-
sidade de manaus, Universidade de brasília, Universidade de São paulo, Universidade
do rio de Janeiro e Universidade da bahía.
membro da academia brasileira de letras, da academia pernambucana de letras,
da academia internacional de Direito e Economia de São paulo, da academia inter-
nacional da cultura portuguesa, da academia das ciências de lisboa, da academia
de marinha, da academia de ciencias morales y politicas de madrid e da academia
portuguesa de História.
curador Honorário da Fundação oriente e actual curador da Universidade cândido
mendes.
presidente honorário da Sociedade de Geografia de lisboa, preside e fundou a acade-
mia internacional da cultura portuguesa, preside internacionalmente ao centro Euro-
peu de informação e Documentação (cEDi), preside ao conselho de Fundadores do
instituto D. João de castro, preside à assembleia-geral da associação portuguesa de
ciência política e ao conselho Nacional de avaliação do Ensino Superior (desde 1998).
Foi co-fundador do movimento da União das comunidades de língua portuguesa.
membro do instituto de Estudos políticos de Vaduz, do movimento paneuropa de cou-
denhouve-Kalergi, do conselho da Fundação luís molina da Universidade de Évora,
Director do centro de Estudos políticos e Sociais da Junta de investigação científica
do Ultramar.
Foi condecorado com a medalha de mérito cultural, a medalha da Defesa Nacional
de 1ª classe, a medalha do Exército de D. afonso Henriques de 1ª classe, a medalha
militar de Serviços Distintos grau ouro da marinha, medalha de mérito aeronáutico, a
royal Victorian order, a Grã-cruz da ordem militar de Santiago da Espada, a Grã-cruz
da ordem de isabel a católica, a Grã-cruz da ordem do cruzeiro do Sul, a Grã-cruz
da ordem militar de cristo e a Grã-cruz da ordem de São Silvestre magno.
É Grande-oficial da ordem do infante D. Henrique e cavaleiro da Grã-cruz da ordem
de áfrica. n
➤ da segurança é sempre territorial.
E vem na carta da oNU. Quando se
fez a Nato foi com base na carta da
oNU. o espaço que, neste momen-
to, precisa de segurança chama-se
ocidente - e as torres avisaram que o
ocidente precisa de ter uma segu-
rança estável. Neste momento, no
mar, volta a haver pirataria, tráfico
de armas, etc. E, por isso, tem-me
parecido que a questão já não é o
atlântico Norte, a questão não é a
Nato, não é – como foi a lógica da
conferência de lisboa –, substituir as
fronteiras geográficas pelas fronteiras
dos interesses. É preciso definir o
território que precisa de segurança
não agressiva. mas só essa. E isso
chama-se ocidente. E, por isso
mesmo, penso que é preciso integrar
a segurança do atlântico Norte com
a segurança do atlântico Sul. E essa
segurança do atlântico Sul – que
não é todo ocidental – deve ser uma
segurança integrada. E julgo que o
brasil pode e deve ter um grande
papel na democracia.
Falando de fronteiras, há um risco
de a Europa implodir e, por outro
lado, há um problema demográ-
fico de crescimento negativo, ao
mesmo tempo que os árabes têm
68 • Diplomática - março/abril 2011
Brasil, angola e portugal – por esta ordem – lideram as
trocas comerciais entre os países de língua portuguesa e o
gigante asiático, tendo como entreposto a região Especial
de macau
lisboa, 28 Fevereiro - o volume do comércio entre a re-
pública popular da china e os países lusófonos, através
da macau, atingiu o número record de 91,423 bilhões de
dólares no ano transacto, registando um aumento homólogo
de 46,35 por cento.
Em matéria de importações, a china comprou mercadorias
dos países de língua portuguesa no valor de 61.858 bilhões
de dólares e exportou para estes, nomeadamente, angola,
brasil, cabo Verde, Guiné-bissau, moçambique, portugal,
timor leste e São tomé e príncipe, qualquer coisa como
29.564 bilhões de dólares de mercadorias.
o brasil é o principal parceiro lusófono da china, sendo que
o comércio ascendeu a 62.58 bilhões de dólares, concer-
nentes a importações brasileiras no valor de 38.086 bilhões
de dólares e exportações para a china que rondam os
24,462 bilhões. Em segundo lugar surge angola, com trocas
comerciais no valor de 24,816 bilhões de dólares, em linha
das importações angolanas de 22,812 bilhões e exporta-
ções para a china de 2,004 bilhões de dólares. portugal
surge na terceira posição, com umvolume de importações
na ordem dos 754 milhões de dólares, tendo exportado para
a china mercadorias no valor de 2,513 milhões de dólares. ■
2010 assinala recorde no volume de negócios Entre a China e os países lusófonos
Viagens de estado
Sócrates em macau: uma presença que revela a importância
da região para a lusofoniaFotos: ricardo oliveira - Gpm
69março/abril 2011 - Diplomática •
Na despedida, Lula da Silva estendeu a mão na ajuda ao “país irmão”
A XX cimeira ibero-americano de Novembro passado, realizada em mar
del plata, argentina, frustrou algumas expectativas, nomeadamente, pela
ausência dos chefes de Estado da Venezuela, bolívia, cuba, Nicarágua
– países dissonantes da orientação oficial destas cimeiras que, em abono
da verdade, se poderá dizer terem perdido a importância de outrora.
De qualquer modo, a cimeira na argentina foi marcada pela saída de
funções de lula da Silva e a dupla representação de portugal, com as
presenças do presidente cavaco Silva e do primeiro-ministro José Sócra-
tes – uma situação que não é alheia ao facto de a cimeira de 2009 se ter
realizado em lisboa.
circunstância, aliás, tida em conta pela organização argentina que colo-
cou cavaco a discursar no acto inaugural, antecedendo a chefe de Esta-
do da argentina, cristina Kirchner.
De realçar as declarações do então presidente lula da Silva - entretanto
substituído por Dilma rouseff - no próprio espaço da cimeira, que não dei-
xou indiferente a delegação portuguesa. E que, segundo se consta, levou
a que José Sócrates tenha sido o primeiro estadista a encontrar-se com a
actual presidente brasileira, um dia depois da sua tomada de posse…
lula foi muito claro ao afirmar que o brasil irá fazer “o esforço que estiver
ao seu alcance” para ajudar portugal a sair da crise, sublinhando que
“embora portugal e Espanha estejam a viver um momento adverso nas
suas economias, são dois países que têm uma estrutura estável do ponto
de vista social”, rematando que “esta crise é passageira”, mas não deixan-
do de fazer um alerta para a Europa “tomar cuidado, os países mais ricos
devem ajudar os países menores”. ■
Viagens de estado
Cimeira Ibero-AmericanaPortugal fez-se representar ao mais alto nível
Fotos: ricardo oliveira - Gpm
71março/abril 2011 - Diplomática •
Dilma RouseffUma mulher de garra
Com um percurso verdadeiramente notável, esta mulher que iniciou a sua carreira
de “presidenta” no início do ano, é uma política de mão cheia que viveu de perto
todas as alterações que o Brasil sofreu nas últimas décadas. ➤
perfil
72 • Diplomática - março/abril 2011
➤ Dar continuidade às promessas
eleitorais - e conseguir a aprovação
de inúmeras leis que anunciou na
campanha eleitoral - não vai ser ta-
refa difícil para Dilma rousseff, pois
possui ampla maioria no Senado e
na câmara de Deputados.
mas o governo de Dilma, tal como
o de lula, vai ter de enfrentar ques-
tões muito sérias, como o tráfico de
influências e a corrupção – velha
gangrena que corrói a sociedade
brasileira.
outra questão que desperta a curio-
sidade de observadores e analistas
é o quadro de relações e prioridades
a estabelecer no domínio da política
externa, atendendo a que o brasil
é um dos países que pertence ao
número das nações emergentes, de
que também fazem parte a rússia, a
Índia e a china. irá Dilma dar con-
tinuidade à estratégia de lula, co-
locando o brasil como protagonista
activo da cena internacional, de que
foram exemplos as intervenções do
ex-presidente nos conflitos do Haiti
e das Honduras e na tentativa de
mediação com o regime iraniano?
tudo leva a crer que sim. apesar da
sua pouca experiência em matéria
de política internacional, Dilma conta
com uma equipa de colaboradores
experimentados, muitos deles trans-
feridos da anterior administração.
E, como é evidente, poderá sempre
contar com o apoio de lula, a sua
experiência e o prestígio internacio-
nal de que é credor.
portugal/brasil: relações entre “ir-
mãos”
as relações luso-brasileiras são,
secularmente, reconhecidas como
de grande cordialidade e de apoio
nos mais diversos sectores. Econo-
mia, cultura e Educação são áreas
em que os “países irmãos” têm,
mormente desde a constituição da
cplp, encontrado pontos de apoio
e colaboração. E mesmo na questão
da imigração – onde no passado se
verificaram pólos de atrito -, a con-
fluência de pontos de vista tem agili-
zado os processos de legalização e
integração de um lado e de outro do
atlântico.
Sinal do bom relacionamento entre
os dois países foi a circunstância
de, logo no dia a seguir à tomada de
posse de Dilma, o primeiro-ministro
José Sócrates se ter reunido com a
nova residente do palácio do pla-
nalto - uma iniciativa de Sócrates,
acolhida favoravelmente por Dilma.
contrariando rumores de que o
governo português pretenderia que
o brasil adquirisse os títulos da
dívida externa, Sócrates enfatizou
que as relações com o “país irmão”
são prioridade da política externa de
portugal. “reafirmei que uma das
prioridades mais altas da política
externa portuguesa é a relação com
o brasil. Disse à Dilma que pode
contar com portugal como o mais fiel
e mais próximo aliado naquilo que
vai ser, certamente, a caminhada do
brasil para ocupar o seu espaço no
concerto das nações, tanto na ques-
tão geopolítica como na dimensão
económica”, afirmou Sócrates, após
o encontro.
mais recentemente, a “presidenta”
recebeu o ministro português dos
Negócios Estrangeiros. luís amado
debateu com Dilma a Economia da
Europa e a crise que alastra cada
vez mais no médio oriente. Em
brasília, num encontro sem agenda
política, e que durou mais de uma
hora, amado aproveitou para ter
“uma longa conversa, na qual ela
[Dilma] estava muito interessada em
conhecer a realidade, a situação ➤
Dilma Rouseff
73março/abril 2011 - Diplomática •
Irá Dilma dar continuidade à estratégia de Lula,
colocando o Brasil como protagonista activo da
cena internacional, de que foram exemplos as
intervenções do ex-presidente nos conflitos do
Haiti e das Honduras e na tentativa de mediação
com o regime iraniano?
Dilma com Sócrates e com sua filha paula
74 • Diplomática - março/abril 2011
➤ do nosso país, a situação europeia,
sobretudo, e a situação internacional
com o desenvolvimento da crise no
médio oriente”, afirmou o ministro.
a prioridade definida pelo primeiro-
ministro, no que toca às relações
com o brasil, decorrendo natural-
mente da crescente importância que
este adquiriu – muito por acção do
ex-presidente lula – no contexto
geoestratégico, reside de igual modo
na intenção de Sócrates em relançar
a cplp – afirmando-a como orga-
nização de relevância internacional
–, desejo particularmente partilhado
quer pelo brasil, quer por angola. n
Um pouco de história
Dilma rousseff nasceu em minas Gerais há 62 anos, no seio de uma
família de classe média-alta. o pai era de origem búlgara e a mãe, brasi-
leira de nascimento, professora de profissão.
a jovem Dilma estudou até aos 16 anos em escolas privadas em belo
Horizonte, altura em que mudou para uma escola pública e se começou a
movimentar junto de grupos de esquerda.
o golpe de estado que abalou o brasil em 1964 acabou por se revelar
como um ponto de viragem para muitos dos colegas e amigos de futura
“presidenta”. Embora contasse apenas 17 anos, não demorou a declarar
a sua oposição aos militares, sendo que quanto mais os anos passavam
mais a sua actividade contra o governo dos generais se reforçava.
Em 1967, já estudante universitária de Economia, associou-se a um grupo
de resistentes, sendo que em 1969, devido às suas acções, já se encon-
trava a trabalhar clandestinamente sob diversos pseudónimos. Em 1970
foi presa em São paulo e torturada.
permaneceu atrás das grades durante três anos e, em 1973, quando foi
libertada, mudou-se para o rio Grande do Sul. terminou a sua licenciatu-
ra em Economia na Universidade Federal e casou com carlos araújo, um
guerrilheiro durante a ditadura que mais tarde se veio a tornar político, e
com quem teve uma filha.
Dilma trabalhou a favor da lei da amnistia e ajudou a fundar o pDt (par-
tido Democrático trabalhista) que, na primeira eleição em que partici-
pou, tentou eleger leonel brizola para presidente, ao mesmo tempo que
ocupava as funções de secretária municipal das Finanças. Em seguida,
entre os anos de 1991 e 1993, foi-lhe atribuído o cargo de presidente da
Fundação Económica e Estatística, tendo colaborado também o ministério
da Energia, minas e comunicações.
Quando luiz inácio lula da Silva chegou à presidência, em Janeiro de
2003, Dilma foi nomeada ministra das minas e Energia e, mais tarde, em
2005, acedeu ao posto de ministra da casa civil. ➤
Dilma Rouseff
Fotos: ricardo oliveira - Gpm
75março/abril 2011 - Diplomática •
Uma nova fase de cooperação
entre portugal e a argélia marcou
os trabalhos da iii cimeira luso-
argelina que, no início de Novem-
bro, reuniu em oeiras os primeiros-
ministros de portugal e da argélia,
respectivamente José Sócrates e
ahmed ouyahia. as tecnologias de
informação e a comunicação foram
o tema deste terceiro encontro, o
que, segundo o governo português
“revela a vontade mútua em apro-
fundar a cooperação num domínio
importante e onde há um grande
potencial de colaboração”.
para além do tema de fundo, os
promotores da cimeira esperam,
ainda, “aprofundar a cooperação lu-
so-argelina em áreas onde existe já
uma importante relação, com vista à
consolidação das relações económi-
cas e financeiras e à promoção do
investimento bilateral e das trocas
comerciais”.
os dois países já realizaram duas
outras cimeiras, neste caso em
argel, em Janeiro de 2007 e Junho
de 2008. E assinaram, em 2005, o
tratado de boa Vizinhança, de ami-
zade e cooperação, para além de
terem trocado experiências sobre
questões bilaterais e internacionais,
em encontros sectoriais no âmbito
das anteriores cimeiras. ■
III Cimeira Luso-ArgelinaTecnologias da informação e comunicações no centro do conclave
Visitas de estado
os dois primeiros ministros da argélia e portugal
Fotos: ricardo oliveira - Gpm
76 • Diplomática - março/abril 2011
Ana Paula Laborinho Presidente do Instituto Camões por Jorge Urbano tavares rodrigues, fotos ligia correia
«A causa da língua deve ser partilhada por todos nós»
É uma “militante” do português. Esta é, sem dúvida, a grande causa da sua
vida e motivo de orgulho. Em Macau ou na sede do Instituto, em Lisboa, Ana
Paula Laborinho tem na língua de Camões razão maior que a anima. ➤
Cultura
77março/abril 2011 - Diplomática •
➤ A sua [e nossa] pátria é a língua,
neste caso, de Camões. Se pode-
mos dizer assim, que significado
isto tem?
considero que hoje em dia - e feliz-
mente para nós - a língua portuguesa
já não é apenas a língua de camões.
É a língua de numerosos poetas e
muitos deles espalhados pelo mun-
do. E isso dá-lhe uma dimensão e,
poderei dizer também, uma coloração
que a enriquece. Se recuarmos ao
séc. XVi e ao primeiro período da
expansão da língua em que o por-
tuguês se estava a afirmar, quando
ainda se estava na transição do latim
para o português, já João de barros
chamava a atenção para o facto de o
português se estar a enriquecer com
palavras das várias línguas com que
ia contactando. «chatinar», «ve-
niaga», por exemplo, são palavras
que se cruzavam nos caminhos das
nossas viagens. por isso essa sempre
foi uma grande componente de enten-
dimento da nossa língua com outras
línguas. línguas em que a nossa
deixou muitas marcas. línguas como
o japonês ou o anamita, a língua do
Vietname, que hoje se sabe ter sido
romanizada pelos portugueses que
deixaram nessa língua os mesmos
sinais diacríticos da nossa língua.
Falou no Oriente, em particular
no Vietname. Sei que esteve em
Macau e que foi uma das respon-
sáveis, durante a transição, e que
conhece muito bem o Oriente sobre
o qual tem vários estudos muito
interessantes. Poderá falar-nos
um pouco dessa área, em termos
de como a sua história se prende
pouco ou muito - dir-me-á - com a
especificidade, vocação e essência
do Instituto, mas também do papel
que Portugal pode desempenhar,
pela língua e não só - em termos de
Oriente (agora que se fala tanto da
China). Depois, já iremos ao Brasil.
Foi meramente por acaso que as
questões da língua se atravessaram
na minha vida. a minha formação
dominante é a literatura, mas quando
por razões familiares fui parar a ma-
cau, tive a incumbência de coordenar
os leitorados de português na ásia.
Nessa altura, apesar de, como disse,
o meu mundo ser o da literatura, eu já
tinha uma relação com o icalp (insti-
tuto de cultura e língua portuguesa)
– pois era dirigido por um professor
da minha Universidade, o professor
Fernando cristóvão -, e essas coinci-
dências levaram a que começasse a
desbravar neste terreno e me fosse
apercebendo das possibilidades que
oferecia.
aproveito a oportunidade, aliás, para
prestar homenagem aos anteriores
presidentes desta casa e, nomeada-
mente, ao professor Fernando cris-
tóvão que teve, de facto, uma visão
de expansão da língua para além do
que eram os destinos habituais. até aí
a nossa presença estava concentra-
da essencialmente na Europa, e ele
desenvolveu uma política de expan-
são para áfrica, para a ásia e para o
brasil, que se tornou muito significati-
va. recordo que um dos seus projec-
tos - que nunca conseguimos pôr de
pé - era ter um leitorado português
em ceilão, no Sri lanka. Foi ele que
começou essa expansão para a ásia.
ora, a ásia, que hoje é vista por
muitos como um destino privilegiado
da e para a nossa economia, tem uma
componente cultural muito importante
para o desenvolvimento de projectos
e negócios. para os chineses, antes
de se fazer um negócio, é necessário
que as partes se sentem à mesa para
conversar e para comer uma refeição
em conjunto, ou seja, para se conhe-
cerem. E a cultura pode tornar-se um
facilitador de outros projectos, nome-
adamente na área económica que
tanto nos interessa.
Quando fui para macau, no final da
década de 80, estava a desenvolver-
se um trabalho notável no domínio da
língua e a fazer-se uma passagem
que veio a ser determinante para o
crescimento do número de falantes.
o que se passava em macau, no final
dos anos 80, é que o português era
ainda ensinado como língua mater-
na a uma população que já não a
falava e que, portanto, já era alheia a
essa língua. Fizemos a transição da
abordagem do português como língua
materna para o português como
língua estrangeira, construindo um
projecto – em que esteve muita gente
envolvida – de internacionalização do
português. a partir da sua oferta como
língua estrangeira e como língua inter-
nacional houve, de facto, uma imensa
expansão do português, quer em
macau, quer na china. E não posso
deixar de assinalar que quando eu saí
de macau, em 2002, apesar do núme-
ro de falantes que existia a aprender o
português como língua estrangeira ser
significativo, ainda só havia na china
quatro universidades onde se ensina-
va a nossa língua. Neste momento,
há dezassete.
O que se espera dessa «ofensiva»?
Este é um movimento que se desen-
volve em duas vertentes. Uma que diz
respeito a quem tem responsabilida-
des na divulgação da língua; e outra
que tem muito a ver com os interes-
ses dos países em relação às eco-
nomias emergentes. É, por exemplo,
o caso da china, cujo interesse por
angola e pelo brasil está a despoletar
o crescimento do português. os chi-
neses têm como princípio enviar para
esses países técnicos que dominem a
língua do país de acolhimento. E, por-
tanto, fazem uma formação acelerada.
posso dizer-lhe que, neste momento,
as formações em português são muito
procuradas na china porque não há
desemprego. pelo contrário, antes de
estarem formados, já têm trabalho ou
propostas de trabalho.
Encontramos este movimento de ex-
pansão do português na china, mas
também no Japão onde há cinquenta
e sete universidades a ensinar ➤
78 • Diplomática - março/abril 2011
➤ português e quase sem cooperação
portuguesa ou brasileira. tudo é feito
por iniciativa do Japão, e nós apenas
facilitamos pontes entre as universi-
dades onde se ensina o português.
claro que esta expansão da língua
mostra como há uma percepção
internacional do valor do português.
poderíamos dizer que é por causa
do brasil, de angola e dos países
africanos em geral, mas não é assim.
Nós temos notado – é também o caso
da china e do Japão – que há um
interesse muito claro em aprender a
língua, em portugal. os chineses com
o seu pragmatismo costumam dizer
que, em termos de negócios, estão
interessados em todos os países de
língua portuguesa, mas ao nível das
aprendizagens têm um gosto em se
formar em portugal. E nós devemos
aproveitar esta escolha.
Hoje em dia, o entendimento de quem
deve promover o português é alar-
gado a toda a cplp e não apenas a
portugal e ao brasil. Felizmente dei-
xou de existir rivalidade com o brasil
no domínio da língua. chegou a haver
em tempos em que se estava um
brasileiro a ensinar numa universidade
estrangeira, tentava-se colocar um
português para equilibrar. pelo contrá-
rio, o que cada vez mais temos é uma
perspectiva conjunta e, se possível,
desenvolver este plano para a interna-
cionalização com todos os países da
cplp. Esse será o objectivo.
Essa internacionalização ou glo-
balização da língua portuguesa,
juntamente com Brasil e Angola,
permitirá a Portugal expandir-se
nessa componente. Na prática toda
a CPLP, uma vez que não somos
só europeus.
E esse é talvez um dos nossos princi-
pais activos. Uma barra de ouro muito
valiosa. acho que devemos tratar da
melhor maneira este produto, mesmo
como produto de venda.
o instituto camões, nos vários for-
matos e designações que foi conhe-
cendo, passou por diferentes missões
e, por isso, distintas competências.
chegou a ter um papel relevante na
difusão da língua e da cultura portu-
guesas, bem como no apoio à inves-
tigação, não só no estrangeiro como
também em portugal. Hoje, felizmen-
te, estamos longe desse momento.
primeiro, porque já temos instituições
específicas para o apoio à cultura mas
também à investigação, como a Fct
que tem um papel muito relevante;
e, por isso, nós agora podemos ser
mais profissionais nesta competência
para a expansão do português. Já não
nessa estrita perspectiva de apoio à
investigação – o que não quer dizer
que não a mantenhamos –, porque
hoje temos vários perfis para a nossa
intervenção. Nas universidades, o
perfil da investigação é importante
e, nesse sentido, apoiamos as cáte-
dras de português e, através delas, a
investigação.
outra componente é a do desenvol-
vimento e promoção da língua. Uma
coisa são os estudos portugueses
outra é a expansão da língua. E,
desse ponto de vista, o que nós, neste
momento, estamos a fazer é uma
intervenção por blocos regionais. Esta
intervenção não deixa de estar muito
alinhada com o ministério dos Negó-
cios Estrangeiros (mNE) que, por sua
vez, também tem vindo a incorporar
um conceito mais alargado de diplo-
macia: não apenas a diplomacia no
seu sentido mais substantivo, mas
também a diplomacia económica e
a diplomacia cultural. Nesse sentido,
a acção do instituto camões está
alinhada com os diferentes objectivos
do ministério dos Negócios Estrangei-
ros e as suas áreas privilegiadas de
intervenção, não deixando – e julgo
que essa é uma grande mais-valia
introduzida pela nova lei orgânica
do instituto camões – de articular os
objectivos do mNE com os objectivos
da ciência e do ensino superior e,
nesse sentido, o ministério da ciên-
cia, tecnologia e Ensino Superior
integra o nosso conselho Estratégico,
servindo a nossa acção para fomentar
a ligação entre universidades estran-
geiras e portuguesas - o que também
pode contribuir para a internacionali-
zação das nossas universidades. No
nosso conselho Estratégico estão
igualmente representados o ministério
da cultura, com o objectivo específico
de fomentar a internacionalização da
cultura portuguesa; e o ministério da
Educação que partilha connosco res-
ponsabilidades em relação ao portu-
guês nos ensinos básico e secundário
no estrangeiro.
mas, de facto, a definição da nossa
estratégia passa pelo mNE no sentido
de estabelecer os blocos regionais
prioritários. E à cabeça está, natural-
mente, a cplp que, não sendo um
bloco regional, permite ser o ponto de
articulação a partir do qual intervimos
nas diferentes regiões. Entendido
como espaço da língua portuguesa
constitui um importante objectivo de
intervenção porque nesse espaço
plural partilhamos a língua e cruzamos
culturas, mas também construímos
progressivamente relações económi-
cas como se constata pelos valores
das trocas comerciais com os países
da cplp.
Um bloco regional relevante, que
exemplifica o que acabo de expor é
o espaço ibero-americano que tem
como pólo o brasil e a sua relação
com os países do mercosul, repre-
sentando, no seu conjunto, espaços
de afirmação do português e do
espanhol, o que, por sua vez, permite
enquadrar a relação de proximidade
entre portugal e Espanha. a Espanha
é efectivamente um parceiro impor-
tante, um parceiro económico mas
também é, de toda a Europa, o país
onde o português mais se expande e
mais tem uma representação como
língua internacional.
Queria ainda sublinhar, por um lado, o
bloco constituído pelo magrebe, que ➤
Ana Paula Laborinho
79março/abril 2011 - Diplomática •
➤ estenderia ao médio oriente, com
o qual temos relações privilegiadas,
sendo um espaço que acolhe muito
bem o português, quer por tradição
histórica, quer por relações de proxi-
midade - o que também se traduz na
sua relevância em termos económi-
cos. por razões que se prendem com
a cplp, destaco também a áfrica
Subsariana onde cada vez mais os
países que fazem fronteira com paí-
ses de expressão portuguesa estão a
introduzir o português como segunda
língua, ao nível do ensino secundário
(e pedem-nos apoio, naturalmente),
porque têm interesse em estabelecer
negócios com os palop.
É o caso da Guiné que quer aderir
à CPLP?
Da Guiné, mas também do Senegal,
onde temos uma grande expansão
do português e, por isso, a áfrica
Subsariana merece uma atenção
muito particular. É o caso da áfrica
do Sul, onde há uma comunidade
portuguesa significativa. a áfrica é,
por isso, um bloco importante onde
queremos expandir a nossa inter-
venção mas, sempre que possível,
de forma articulada. podemos e
queremos trabalhar em conjunto. por
exemplo, os países da cplp, que
têm os seus próprios professores,
podem enviá-los para os países vi-
zinhos que querem aprender portu-
guês, mesmo que seja num esforço
económico participado por nós.
Uma outra área significativa é a ásia.
a ásia está a impor-se cada vez mais
como uma região economicamente
interessante. É claro que é longínqua
e o volume de negócios ainda é es-
casso, mas há interesse por parte de
portugal em desenvolver esses laços,
até porque, como comecei por dizer,
são países que privilegiam e valori-
zam positivamente a relação histórica
e, por isso, temos de aproveitar as
relações que mantemos quer com a
Índia, quer com o Sudeste asiático,
além da china e do Japão.
a Índia é um país onde esses laços
históricos são mais difíceis de tratar.
mas Goa continua a ser uma região
onde o português e a cultura por-
tuguesa estão presentes, onde os
próprios cidadãos valorizam a cultura
portuguesa e nós continuaremos a
trabalhar no sentido de responder às
solicitações. temos, cada vez mais,
pedidos da Índia para oferta de portu-
guês. Se o país com o qual coopera-
mos valoriza a tradição histórica, nós
também temos que a valorizar, se o
país não a quer valorizar não somos
nós que o devemos fazer. É o caso da
Índia. Esta atenção ao outro também
faz parte do que entendemos por
diplomacia cultural.
Queria acrescentar que, a propósito
da Índia, o facto de cada vez mais ser-
vir de interface mundial no âmbito das
tecnologias, faz com que o português,
como uma das línguas internacionais,
seja também uma língua procurada.
No entanto, onde o crescimento é
cada vez mais significativo é, como
disse, na china e no Japão.
E não queria deixar de sublinhar o
papel de macau. o governo central
da china, já depois do meu regresso
em 2002 – e muito foi feito antes por
aqueles que trabalharam na transição
de macau para a china –, declarou
macau como plataforma das relações
económica, cultural e linguística com
os países da cplp. portanto o go-
verno central reconhece macau como
base de formação do português e
tem valorizado esse papel. as nossas
relações com macau e com a china
devem ser muito acarinhadas.
permitam-me terminar referindo o blo-
co regional mais difícil, embora seja
aquele que, ao mesmo tempo, mais
nos desafia: a Europa. E separaria
aqui a Europa comunitária e a Europa
não comunitária. mas falemos em
termos gerais da Europa. Em geral,
os países de leste trazem do seu
passado soviético uma tradição de
relações com áfrica e os movimentos
de libertação, pelo que revelam bom
domínio do português e conservam
grande interesse linguístico e cultural
por portugal. E isso é muito visível
nos pedidos que nos fazem e na qua-
lidade de ensino que oferecem. ➤
«A globalização da língua
portuguesa é um dos nos-
sos principais activos. Uma
barra de ouro muito valiosa.
Acho que devemos tratar da
melhor maneira este produ-
to, mesmo como produto de
venda»
Retrato breve
aNa paUla laboriNHo Nasceu em 26 de abril de 1957. É professora auxiliar da
Faculdade de letras da Universidade de lisboa, onde entrou como docente em 1982,
e actual presidente do instituto camões. Foi, em 1988, requisitada à república por-
tuguesa pelo Governo de macau para exercer funções no instituto cultural de macau,
onde coordenou os leitorados de português do oriente; dirigiu o Departamento de
Formação e investigação e instalou os Serviços culturais das Embaixadas de portu-
gal em Nova Delhi, bangkok, pequim, Seul e tóquio. Em 1989, integrou a comissão
instaladora do instituto português do oriente (ipor), instituição encarregada de pro-
mover a língua e a cultura portuguesas da Índia ao Japão. De 1989 a 1992, exerceu
funções no Departamento de Estudos portugueses da Universidade de macau, onde
integrou a respectiva comissão directiva. Em 1995, assumiu funções como assessora
do Gabinete do Secretário adjunto para a comunicação, turismo e cultura do Go-
verno de macau. De 1996 a 2002, exerceu funções como presidente da direcção do
instituto português do oriente (ipor), tendo assegurado o período de transferência
da administração de macau (de portugal para a república popular da china). n
80 • Diplomática - março/abril 2011
➤ aquele corpo europeu que antiga-
mente era o único com que lidáva-
mos – estou a falar de França, da
alemanha… - essa Europa centrada
em bruxelas e na União Europeia, é
uma Europa que, não podemos de
deixar de o dizer, valoriza muito pouco
o português.
E a tendência é para continuarem a
não o valorizar?
Nós não vamos desistir de reivindicar
para o português o lugar a que tem
direito.
Pode ser um bom pretexto, já que
não nos reconhecem importância
para nos darem «autorização e li-
berdade» de movimentos nas áreas
atlânticas e outras…
Se calhar, quanto mais nós apostar-
mos noutras regiões mais poderá ser
claro para a Europa a importância do
português.
E são eles que nos dão o mote para
nos movimentarmos noutras áreas.
apenas no sentido da falta de re-
conhecimento da grandeza do por-
tuguês. isso tem muito a ver com
a imagem que o português tem na
Europa muito ligada à emigração - o
que não é desmerecimento, mas res-
tringe o ensino do português a língua
de origem. Nós não podemos permitir
esta visão redutora. No interesse
das comunidades portuguesas, é
importante que o português não seja
acolhido por estes países como língua
de origem, ou seja, uma língua exóti-
ca que pertence a uma minoria. Essa
ideia de minoria é muito prejudicial
para portugal e para as comunidades.
o português tem que ser ensinado
como língua internacional. isto não
quer dizer que não tenha uma com-
ponente identitária, mas o facto de
ser uma ferramenta útil e não apenas
uma ligação ao país de origem, pode
constituir-se como mais-valia num
plano de vida. Quer dizer, por saber
português tem condições para ir traba-
lhar para países de língua portuguesa
ou é, efectivamente, uma mais-valia
na sua formação.
Queremos, pois, que o português
entre nos sistemas de ensino locais,
que não seja entendido como língua
da minoria e tenha o lugar a que tem
direito, a par das outras línguas euro-
peias. porque, de facto, o português
é uma língua da globalização e tem
que ser reconhecida nesse plano de
língua global.
Devo-lhe dizer que, infelizmente,
estive a conversar com a Euronews e
eles continuam a achar que o por-
tuguês é uma língua minoritária. E,
parece impossível, mas não acreditam
que seja a terceira língua na Europa.
Em termos de línguas globais é a
terceira língua. E, no entanto, o portu-
guês mantém um lugar minoritário na
Europa e, portanto, torna-se evidente
que temos de apostar nas outras
regiões.
Não podemos ter, como temos,
os nossos meios maioritariamente
alocados à Europa - que é o que se
passa actualmente: cerca de 60%
dos nossos meios estão na Europa -,
quando o retorno é muito baixo para o
nosso investimento.
Finalmente, quero falar também de
uma zona que nos merece muita aten-
ção por vários motivos: a américa do
Norte. trata-se de uma região onde
o português se tem alicerçado por
meios próprios, seja das comunidades
portuguesas, seja das universidades
que oferecem programas de gradu-
ações e pós-graduações. pelo seu
significado económico e pela aposta
no conhecimento, é uma região que
nos desafia e onde esperamos poder
crescer com parcerias.
Viajámos pelos Mundo com a nos-
sa língua. Três perguntas muito rá-
pidas só para terminar. A propósito
da língua, não posso deixar de a
questionar sobre o acordo ortográ-
fico: um instrumento necessário,
mas não relevante para a política,
em si. O que pensa do assunto?
Eu sou uma defensora da utilidade
do acordo ortográfico, talvez por ter
trabalhado no estrangeiro. tenho
consciência de que é uma ferramenta
muito útil para a internacionalização
do português. Era sempre muito difícil,
em termos do ensino do português,
termos turmas onde se ensinava uma
grafia e turmas onde se ensinava
outra. É um bom instrumento embora
talvez se tivesse podido avançar um
pouco mais. mas é notável que tenha-
mos chegado a esse ponto.
Em termos de curto e médio prazo,
há algum objectivo concreto que
queira alcançar com o Instituto?
Esse objectivo tem muito a ver com
esta estratégia por blocos regionais,
para a língua mas também para a
acção cultural. Nós temos o mundo
inteiro onde nos movemos, queremos
cada vez mais fazê-lo em articulação
com a cplp. o nosso grande sonho
é, em alguns lugares, criarmos - por
exemplo - centros culturais cplp que
teriam uma outra visibilidade. mas, de
facto, o grande objectivo é a articu-
lação regional e, por outro lado, as
parcerias: com a cplp, com agentes
locais, com empresas, com associa-
ções. Gostaria, efectivamente, de
contrariar a acção isolada e trabalhar
em rede - o que daria maior visibilida-
de aos meios que cada um possui.
Percebe-se que gosta muito do que
está a fazer…
Gosto muito. Farei isto sempre com
amor. Farei sempre isto esteja onde
estiver. Já tive várias funções ligadas
a esta área e em qualquer sítio conti-
nuarei a defender a língua portugue-
sa, porque acredito francamente que
isto é um projecto que vale a pena
abraçar. E queria dizer que agora
estou à frente do instituto camões e
tenho mais possibilidade de actuação,
mas entendo que a causa da língua
deve ser partilhada por todos nós.
todos nós devíamos fazer a defesa
intrínseca desse valor por todos os
meios que estejam ao nosso alcance.
É missão de todos! n
Ana Paula Laborinho
81março/abril 2011 - Diplomática •
Em ambiente de emoção a mulher do
ex-presidente mário Soares foi agraciada
com ordem de mérito. o ex-Embaixador
em bordéus, na pessoa de seus netos,
também foi lembrado pelo monarca luxem-
burguês
Em finais de Janeiro, paul Schmit, Embai-
xador do Grão Ducado do luxemburgo em
portugal agraciou, em nome de S.a.r. o
Grão-Duque do luxemburgo, a Dr.ª maria
de Jesus barroso Soares com a ordem de
mérito do Grão Ducado do luxemburgo.
a cerimónia teve lugar na Embaixada, em
lisboa, na presença de ilustres figuras
próximas a maria barroso, onde não pode-
ria faltar o seu marido - e ex-presidente da
república portuguesa -, Dr. mário Soares.
maria barroso recebeu esta comenda em
homenagem às suas actividades ao longo
de uma vida, sempre visando a cultura,
a educação pré-escolar, a família, a soli-
dariedade social, a dimensão feminina, a
integração dos deficientes e a prevenção da
violência. Foram sobretudo estas activida-
des que Sua majestade teve em atenção.
como presidente da Fundação pro-DiG-
NitatE, maria barroso continua a partici-
par activamente nestas causas e ainda na
atribuição de bolsas a jovens estudantes,
assim como no desenvolvimento de várias
acções e iniciativas nos países africanos de
língua portuguesa.
É igualmente presidente da Fundação
aristides de Sousa mendes que adopta o
nome do nobre cônsul geral em bordéus
que, durante a ii Grande Guerra mundial,
salvou a suas expensas e risco milhares de
refugiados, principalmente judeus.
Sua alteza real não quis deixar de lembrar
esse filantropo e humanista e de destacar
as suas importantes acções junto do povo
luxemburguês e, em especial, da comunida-
de judia que salvou das garras nazis atra-
vés da emissão maciça de vistos.
aristides Sousa mendes esteve presente na
memória de todos na pessoa dos seus dois
netos, gentilmente saudados pelo Embaixa-
dor luxemburguês. ■
Em cerimónia solene presidida pelo Embaixador em LisboaGrão-Duque do Luxemburgo homenageia Maria Barroso e Aristides de Sousa Mendes
Mala DiploMática
82 • Diplomática - março/abril 2011
Recentemente instalada no nosso
país, a Embaixada dos Emirados
árabes Unidos (EaU) assinalou
com pompa e alegria o dia nacional
do país, juntando a “nata” da socie-
dade portuguesa da política, dos
negócios e da cultura.
o Embaixador dos Emirados ára-
bes Unidos em lisboa, S.E. Saqer
Nasser alraisi, ofereceu uma recep-
ção no Hotel ritz Four Seasons,
no passado dia 2 de Dezembro, no
quadro das celebrações do Dia Na-
cional dos Emirados árabe Unidos.
Foi uma première, pois a Embai-
xada dos EaU em lisboa abriu as
suas portas a 8 de março 2010.
Embora a Embaixada seja nova, as
relações entre portugal e os Emi-
rados árabes Unidos são de longa
data e estão a desenvolver-se a um
ritmo acelerado. prova disso foi a
presença impressionante nesse dia
tão importante para os Emirados de
várias personalidades da sociedade
portuguesa, do mundo económico,
político, cultural, bem como dignitá-
rios religiosos que honraram com a
sua presença esta festa.
o 2 de Dezembro celebra o 39.º
aniversário da independência dos
Emirados árabes Unidos, uma
união federal que reúne abu Dhabi,
Dubai, Sharjah, ajman, ras al-
Khaima, Fujairah e Umm al-Quwain
– , e que conseguiu forjar uma iden-
tidade nacional reforçada pelo regi-
me federal que fez com que o país
desfrutasse de estabilidade política.
a superfície dos Emirados árabes
Unidos é de 82.880 Km2 e, segun-
do os dados de 2007, a população
do país é de 4.5 milhões, com uma
taxa de crescimento de 6.3%. Estes
números reflectem um extraordiná-
rio crescimento demográfico.
os Emirados árabes Unidos pas-
saram por um desenvolvimento
espectacular e uma das chaves
deste sucesso é a importância
atribuída ao seu povo, considerado
como o centro do desenvolvimento
do país. Neste sentido, enormes
investimentos foram já atribuídos
ao sector da Educação, reduzindo
a taxa de analfabetismo até 7% e
aumentando a esperança de vida
para os 78.5 anos, alcançando as
taxas registadas nos países mais
desenvolvidos. todo este progres-
so foi realizado em tempo recorde,
pois o deserto e a pobreza eram as
componentes principais da realida-
de do país quando este declarou
a criação da Federação a 2 de
Dezembro de 1971.
Nesse espaço de tempo, os Emi-
rados árabes Unidos conseguiram
passar de um país subdesenvol-
vido, com uma sociedade tribal e
conservadora, a um dos países
mais modernos da nossa era, onde
mulheres e homens desfrutam das
mesmas oportunidades. a mulher
nos Emirados árabes Unidos é
o melhor indicador do progresso
que o país conseguiu alcançar até
agora. Há 40 anos, a mulher estava
posta de parte, mas o acesso à
educação inverteu a situação. Hoje,
representa a maioria no sector do
Ensino Superior e está represen-
tada em todos os serviços, desde
o privado à função pública, haven-
do actualmente quatro mulheres
ministras.
além da sua posição geográfica –
centro do cruzamento Norte/Sul,
leste/oeste – os Emirados árabes
Unidos são um país aberto ao mun-
do. a paz e estabilidade na região
são das suas maiores prioridades. ■ ➤
Emirados Árabes UnidosRecepção assinala Dia Nacional
المتحدة العربية اإلمارات دولة سفير نظم بلشبونة، سعادة صقر ناصر الريسي يوم 2 ديسمبر حفل استقبال بفندق “الريتز- فور سيزن – في لشبونة
وذلك في إطار االحتفاالت باليوم الوطني اإلماراتي. هذه المناسبة كانت األولى من نوعها نظرا الن سفارة دولة اإلمارات العربية قد افتتحت أبوابها يوم 08 مارس 2010. ورغم أن السفارة تعتبر جديدة إال أن العالقات بين البرتغال واإلمارات العربية المتحدة تعود هذه وسريعا. متواصال تطورا وتشهد بعيد زمن إلى العالقات المتميزة انعكست من خالل حضور عدد كبير من الشخصيات البرتغالية المهمة في مجاالت االقتصاد والسياسة والثقافة ورجال الدين الذين شرفوا بحضورهم
هذه المناسبة المهمة بالنسبة لإلمارات. ووافق يوم 2 ديسمبر االحتفال بالذكرى 39 لقيام دولة اإلمارات العربية المتحدة التي تجمع : أبو ظبي الخيمة ورأس القيوين وأم وعجمان الشارقة و ودبي ينحت أن استطاع فدرالي اتحاد إطار في والفجيرة شخصية وطنية عززتها سياسة االتحاد مما سمح للدولة بان تتمتع باستقرار سياسي. تبلغ مساحة الدولة 82.880 نسمة مليون السكان 4.5 عدد ويبلغ مربع كيلومتر حسب إحصاء 2007 بينما تبلغ نسبة الوالدات 6.3 %
وكلها أرقام تكشف عن نمو ديموغرافي متميز. عرفت اإلمارات نموا مدهشا، وكانت احد اهم اسباب هذا النجاح هو األهمية والعناية التي يحظى بها شعب اإلمارات الذي طالما اعتبر محور تطّور البالد. التعليم قطاع إلى موجهة االستثمارات أهم وقد كانت حيث تراجعت نسبة األمية إلى 7%، وارتفع معدل الحياة عند الوالدة إلى 78.5% ليعادل نسبة التطور التي تسجلها أهم الدول المتقدمة. كل هذه االنجازات حققت في وقت قياسي، حيث أن الصحراء والفقر كانت المشاهد الطاغية على واقع البالد حين أعلن قيام الدولة يوم 2
ديسمبر 1971.اإلمارات استطاعت القياسي، الوقت هذا في أن تتحول من بلد صحراوي ومجتمع قبلي محافظ إلى احد أهم الدول الحديثة في عصرنا، حيث تتساوى حقوق الرجال والنساء. وتكشف وضعية المرأة في اإلمارات التقدم الذي حققته الدولة، فبعد أن كانت المرأة مهمشة منذ 40 سنة، أصبحت اليوم تتمتع بحق التعليم جنبا إلى جنب مع الرجل اإلماراتي بل وأصبحت النساء تمثل األغلبية في مجال التعليم العالي. هذا المستوى العالي من التعليم سمح بدوره أن تلعب المرأة اإلماراتية دورا مهما في مجال سوق العمل. ونجد اليوم المرأة حاضرة في كل المجاالت بداية من القطاع الخاص إلى القطاع الحكومي
بما في ذلك أربعة وزيرات.باإلضافة إلى موقعها الجغرافي المتميز كنقطة دولة تتميز -غرب، وشرق -جنوب شمال تقاطع االمارت العربية المتحدة بأنها دولة منفتحة على العالم ، جعلت دائما من السالم واالستقرار في المنطقة من
أهم أولياتها.
تحتفل المتحدة العربية االمارات بيومها الوطني لألول مرة في لشبونة
Vida diplomática
83março/abril 2011 - Diplomática •
1 2 3
4 5 6
7 8 9
10
1. o Embaixador dos Emirados árabes Unidos, Saqer alraisi, com a nossa Directora maria
de bragança. 2. o Embaixador do iraque cumprimenta o Embaixador dos Emirados árabes
Unidos. 3. o chefe do protocolo do Estado, Embaixador José de bouza Serrano, ao lado
do Embaixador Saqer alraisi. 4. o Embaixador dos Emirados árabes Unidos com João Ne-
ves da costa, Director de Serviços do médio oriente e magrebe, mNE. 5. marçal Grilo cum-
primenta o Embaixador dos Emirados árabes Unidos. 6. Embaixador dos Emirados árabes
Unidos conversando com Nini andrade e marta amado. 7. o Secretário-Geral do ministério
dos Negócios Estrangeiros, Embaixador Vasco Valente. 8. o Embaixador dos Emirados
árabes Unidos com o Núncio apostólico. 9. Diplomatas partem o bolo em ambiente de
descontracção. 10. a nossa Directora maria de bragança com o Embaixador da tunísia.
85março/abril 2011 - Diplomática •
A comemoração teve lugar no já famoso
restaurante Kais, um dos mais carismáticos
espaços da nossa capital, quer pela origi-
nalidade e beleza da decoração, concebida
pela saudosa maria José Salavisa, quer pela
requintada gastronomia - considerada por
alguns guias como uma das melhores do
mundo.
logo à chegada, os convivas foram pre-
senteados com um cocktail e a actuação do
Grupo Vocal da basílica da Estrela, dirigido
pelo maestro pedro rollin rodrigues. Este
grupo, fundado em Janeiro de 2010, perten-
ce à Schola cantorum da basílica da Estrela,
da qual também fazem parte os pequenos
cantores da basílica da Estrela. para animar
os distintos convidados foram interpretadas
duas peças: “Ó meu menino”, de Eurico car-
rapatoso e “Jerusalém”, de Sir Hubert parry.
logo de seguida, mais de uma centena ➤
2º Aniversário DiplomáticaFesta em ambiente solidário
Ao comemorar dois anos de vida, a revista Diplomática mobilizou esforços no apoio ao
povo do Paquistão e provou que em festa se pode estar ao serviço de um bem maior
86 • Diplomática - março/abril 2011
ministra conselheira da polónia Dorota ostrowska-cobas e charles correia da Embaixada dos EUa
Embaixadora do paquistão, christina Gillies, Dom afonso Herédia e maria de bragança
luís e lina belo dos Santos, Jacques bretagnolle e abel Dias
Filipa castello branco, Nuno Duarte Schlumberger e cátia pereira
Duque de loulé e inês Figueiredo
2º Aniversário Diplomática
87março/abril 2011 - Diplomática •
marion e Udo KrüseNadine e paul Schmit, Embaixador
do luxemburgo
lenia lopes e margarida ruas
bruce Gillies e patrick Siegler
mary Norton dos reis e maria do carmo castello branco
paula bobone
maria antónia baptista pedro Sobral e Filomena morim
maria clara Gomes e seu filho Nuno Gomes de carvalho alda Simões e antónio de macedo
88 • Diplomática - março/abril 2011
alfredo resende, Embaixadora da rep. Dominicana ana Sílvia de abud com micaela oliveira lili caneças, João libério e isabel Nogueira
maria da luz de bragança ladeada por David pachetti e maestro miguel rollan com o Grupo Vocal da basílica da Estrela
2º Aniversário Diplomática
89março/abril 2011 - Diplomática •
➤ de amigos deliciaram-se com a ementa de
luxo, que teve início com um Au Meunier de
Crepe de Cogumelos com Molho de Basílico,
prosseguiu com dois pratos principais, um
de peixe, Bacalhau Gratinado com Camarão
em Cama de Espinafres, e outro de carne,
Medalhões de Novilho com Molho de Echa-
lottes Caramelizados com Batata Gratinada
e Legumes Salteados, e terminou com um
Folhado de Frutos Silvestres com Creme
Anglaise, como sobremesa. Esta magnífica
refeição foi, obviamente, regada com co-
lheitas especiais dos melhores produtores
portugueses.
após o jantar, a nossa directora, maria da
luz de bragança, dirigiu uma palavra de
agradecimento a todos os seus colaborado-
res que em cada edição contribuíram para
a publicação de dossiers sobre temas da
actualidade geopolítica, estudos e análises
estratégicas, reportagens no país e no es-
trangeiro, entrevistas a embaixadores e tam-
bém a inúmeras individualidades do mundo
da cultura, da política e dos negócios.
De seguida, a Embaixatriz do paquistão
agradeceu a verba angariada por todos
aqueles que desejaram contribuir para o
minorar da catástrofe enfrentada pelo seu
país, e que alcançou a quantia de 690 euros,
uma importância inferior à desejada mas que
a Embaixatriz valorizou de forma comovida,
relembrando que o pouco é muito para os
que nada têm.
No decorrer da agradável festa, um ecrã
gigante foi mostrando as páginas da re-
vista Diplomática, relembrando a todos os
presentes as suas capas e reportagens e,
ao som de música de dança, todos foram
convidados para bailar até altas horas na-
quela que se revelou uma inesquecível noite
de divertimento, de convívio e também de
solidariedade. n
a Embaixatriz do paquistão malika Haneef agradecendo a dádiva e a nossa Directora
90 • Diplomática - março/abril 2011
António lobo antunes está a ser objeto de uma homenagem e
de uma evocação peculiar em França, que vai durar todo o pri-
meiro semestre deste ano. as obras do escritor português vão
ser adaptadas para espetáculos de vária índole, com destaque
para o teatro, que verá nove encenações dos seus livros.
«acho que nunca houve um autor, nem mesmo francês, a
quem tenha sido feita uma homenagem tão importante como
esta, a este nível: seis meses, num teatro, com colóquios,
recitais, peças, as coisas mais variadas, com atores franceses
e alguns portugueses, muitos encenadores, muitos músicos
envolvidos. É uma coisa quase inédita», assim caracteriza a
iniciativa a editora de lobo antunes na Dom Quixote, maria da
piedade Ferreira.
a forma predominantemente dramatúrgica escolhida para a
homenagem, anunciada em lisboa, em julho passado, não
surpreende se tivermos em conta que surge por iniciativa da
casa da cultura de Seine Saint-Denis, a Maison de Culture 93 mais conhecida por mc93 (o
número é o do código postal de bobigny, a norte de paris), criada em 1972, e que tem o teatro
como arte de eleição.
Em coprodução com as Editions Christian Bourgois, a editora francesa de lobo antunes, e o
lG théâtre, e com o apoio da Embaixada de portugal em paris, da Fundação calouste Gul-
benkian e do instituto camões, a mc93 decidiu dedicar a sua temporada de 2011 ao escritor
português, alvo de um culto particular em França (o diretor da mc93, patrick Sommier, fala de
uma «sociedade secreta» de leitores de lobo antunes em França, que «se reconhece entre
si»), onde 24 das suas 29 obras estão editadas.
a 25ª – O Meu Nome é Legião (2007) –foi editada em França em 26 de janeiro, na librairie
compagnie, em paris, com a presença de lobo antunes. Na véspera do lançamento, o autor
participou num encontro, animado por philippe Vannini, com leitura de extratos da sua obra
pelo ator Victor de oliveira.
lobo antunes, no entanto, tinha excluído desde o início colaborar na homenagem, apesar de
a aceitar com agrado. «Não vou colaborar em nada. Façam como quiserem. [o teatro] é uma
linguagem diferente, que não domino e não conheço», declarou em julho, citado pelo Público.
Memórias da guerra
O primeiro espetáculo – Etat Civil – estreado em 14 de janeiro, tem por base as conversas do
escritor com maria luisa blanco, do jornal El Pais, publicadas em livro em 2002 e, à semelhan-
ça de vários outros que se lhe seguirão, foi objeto de uma adaptação e encenação, neste caso
a cargo de Georges lavaudant, encenador de mérito no universo do teatro francês.
lavaudant que afirma que «a obra de lobo antunes é densa, variada, infinita e são múltiplas
as abordagens possíveis» assina ainda Fado Alexandrino, a segunda adaptação e encenação
do ciclo dedicado a lobo antunes, juntamente com Nicolas bigards, que coordena toda progra-
mação e rubrica ainda a encenação do Tratado das Paixões da Alma.
para além das já referidas, da programação constam ainda obras como Exortação aos Croco-
dilos, O Esplendor de Portugal, Auto dos Danados e cenarizações dos seus livros de crónicas
iii e iV e das cartas de guerra dirigidas à mulher maria José, desaparecida em 1999, nos 27 ➤
Lobo Antunes em ParisUm semestre de homenagem
Cultura
91março/abril 2011 - Diplomática •
➤ meses em que lobo antunes esteve em angola, no exército, durante o conflito colonial e
que marcaram decisivamente o seu universo ficcional. Sommier afirmou, em julho, citado pelo
ainda pelo Público, que nenhum escritor em França «teve estas palavras de emoção sobre
os soldados que foram morrer na argélia». «Esta é a verdadeira Europa, aquela em que um
escritor português pode formular o que tínhamos na cabeça e não conseguíamos formular»,
acrescentou. além disso, as Cartas da Guerra são, no dizer de Dominique bourgois, a editora
francesa de lobo antunes, o «making-of de antónio como escritor». «Digo sempre às pessoas
que ainda não o leram para experimentarem as cartas da Guerra (…) Está lá tudo, a tomada
de consciência política, a compreensão da guerra e a correspondência de amor, e, mesmo não
sendo um livro como os outros, mostra o que ele vai ser a seguir».
Segundo os organizadores, «de janeiro a junho de 2011, 50 noites serão dedicadas a antónio
lobo antunes através de leituras (em francês, português e outras línguas ainda), instalações,
performances, concertos e convívios. Diretores, atores, escritores, músicos, videastas, cenó-
grafos reuniram-se, todos motivados por uma paixão por este grande escritor». E aqueles que
se juntaram são, entre muitos outros, para além de Sommier e lavaudant, figuras como o ator
patrick pineau, que faz a adaptação e a encenação de Exortação aos Crocodilos, e escrito-
res como michel Deutsch, olivier rolin, Jake lamar e David lescot, que vão participar em
diversas sessões de leitura das obras de lobo antunes, intituladas Nocturnes Lisboètes. os
espetáculos são em francês, mas maria de medeiros e luis miguel cintra apresentarão a 17 e
18 de junho um espetáculo em português – Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no
Mar? – de que são intérpretes e responsáveis pela adaptação.
Uma obra complexa
A ambição do programa, «majestoso», na expressão de lobo antunes, é explicada pelos seus
organizadores por duas razões: «Há livros que precisam de espaço. livros que são como uma
casa assombrada, como os define antónio lobo antunes. ora, sabemos, desde Shakespeare,
pelo menos, que essa casa capaz de acolher os fantasmas não é outra senão o teatro. porque
é só no teatro (ou nesses livros assombrados) que os mortos falam, o desejo fala: o amor, a
loucura, a infância, a solidão ...».
por outro lado, a escolha de lobo antunes para a valência ‘teatro dos livros…’ da mc 93 é
também para estes criadores e atores franceses resultado da forma comum como praticam as
suas artes: «Escrever, para ele [lobo antunes], é uma droga dura. como para nós o teatro».
«tentem manter tranquila apenas uma de suas frases, para não falar das suas crónicas, dos
seus romances... porque a sua surdez, hereditária, que ele não faz nenhuma tentativa para
contrariar, gera um campo visual capaz escutar». ora, «o que é então um campo visual capaz
de ouvir, se não o teatro?». E citam Eduardo lourenço, quando este diz que lobo antunes é
«o escritor que corre mais riscos. E o risco é o quotidiano do teatro». Uma última razão apon-
tada é «porque ele está vivo», mas para Dominique bourgois «é preciso entender que a obra
de antónio tem personagens que falam para todos e não só aos portugueses», segundo decla-
rou numa entrevista ao DN.
Não é inédito que a companhia da mc93 se dedique a tratar textos literários, embora patrick
Sommier considere «raro que um teatro passe seis meses com um escritor que não escreveu
teatro». bourgois lembra que «já o fizeram com Dostoiévski, t. S. Eliot e Dos passos».
a homenagem suscita a óbvia questão dos resultados de um tratamento desta envergadura de
uma obra complexa como a de lobo antunes. mas a editora maria da piedade Ferreira, reco-
nhecendo embora a existência de riscos, diz que «tudo depende da qualidade com que forem
feitas» as adaptações. «os nomes envolvidos dão-nos toda a confiança», sublinha. «tudo o
que seja feito – leitura de textos, teatralização, textos sobre a obra dele – é uma maneira ótima
de divulgar e fazer conhecer ainda melhor» a obra de lobo de antunes. nic, ip
92 • Diplomática - março/abril 2011
No mínimo o que se poderá dizer é que os movimentos populares no magrebe apa-
nharam o mundo de surpresa. E o rastilho implodiu nas ruas do cairo, fazendo cair
um presidente [Hosni mubarak] tido como “amigo do ocidente”. ao contrário do que
seria suposto, sem “ajuda externa”, sem a mãozinha de qualquer serviço secreto, ape-
nas [e só!] pela iniciativa de uns miúdos que perceberam a arma poderosíssima que é
o Facebook.
Voltando aos movimentos populares, que tomaram as ruas e decidiram construir o
futuro pelas suas mãos, importa referir um dado novo: ao contrário do que acontecia
anos antes, as ruas não se encheram de bandeiras americanas em chamas, nem a
imagem do presidente dos EUa apareceu imolada no centro de qualquer grito insano
de indignação contra o “chefe do imperialismo”… E a esse facto não é alheia a eleição
de obama, a personalidade do homem da casa branca e a inflexão da política ameri-
cana no que respeita aos países árabes.
E, mais que isso [pesem alguns receios ocidentais], não se ouviu nenhuma reivindica-
ção por sociedades teocráticas. pelo contrário – e tão só -, os manifestantes exigem
liberdade e fim dos regimes autoritários. ou seja, exigem democracia!
Quando ao Egipto chegaram os ventos de mudança da tunísia, começou a perceber-se
que algo de novo estava para acontecer nos países árabes, em particular no Norte de
áfrica e no magreb. E a rota de ruptura com o autoritarismo é já imparável.
Khadafi, outrora expressão da revolta de um povo contra uma monarquia medieval e
insana, surge aos olhos do mundo não como um “libertador de povos oprimidos”, mas
como parte da repressão. o poder, regra geral, corrompe, cega a lucidez dos homens
e afasta-os da vida real, do cidadão comum. E o coronel líbio há muito que perdeu a
noção do real e, mesmo agora, cercado e desamado por muitos que outrora o idola-
travam, continua a lutar contra os ventos da História.
É um tempo novo que abre caminho à era da democracia. Um tempo que, por ser
imperativo e geneticamente expressão de um querer colectivo, não voltará para trás
revertendo o grito colectivo de liberdade, progresso, pluralismo, dignidade e qualidade
de vida. ■
A era da democraciaGrito imparável de liberdade na era da globalização e tecnologia
SinaiS
The Age of Democracy An unstoppable cry for freedom in the era of globalization and technologyThe least that can be said is that the popular movements of the maghreb caught the whole world by surprise. and the fuse exploded in the streets of cairo, bringing down a president (Hosni mubarak) that was understood to be a friend of the West. contrarily to what was supposed to happen, with no external help, and without the “helping hand” of some secret service - solely thanks to the initiative of some kids that understood too well the importance of a powerful weapon named Facebook. Getting back to the popular movements that took to the streets and to those people that decided to build their future with their own hands, one must refer some new data: unlike what happened in the previous years the streets were not filled with american flags in flames nor was the image of the president of the US immolated alongside some crazy chanting against the “head of imperialism”... and to that fact can’t be alien the election of obama, the personality of the man that resides in the White House and the turnaround in american politics insofar as the arab countries are concerned. moreover, and in spite of some western fears, there were no demands for theocratic societies. Quite the opposite, since the demons-trators demand freedom and the end of all authoritarian regimes. that is to say they demand democracy.as for Egypt, the winds of change arrived from tunisia, and one started to realize that something new was taking shape in the arab countries, particularly in what relates to those in northern africa and in the maghreb. and the break with authoritarism is unstoppable. Khadafi, once the expression of the rebellion of one people fighting against an insane and medieval monarchy, appears at the eyes of the world no longer as a “liberator of the oppressed” but rather as the image of repression. power tends to corrupt, to do away with men’s lucidity and to push it away from the real life of common people. that said, the lybian colonel that has long lost his grip on reali-ty and that is now surrounded and unloved by many that once swore by him, keeps battling the winds of History.these are new times that open the way to the age of democracy. times that portray the imperative and genetically expression of a collective desire and that will not be allowed to go backwards. thus the unanimous cry for freedom, progress, pluralism, dignity and quality of life will go on.
93março/abril 2011 - Diplomática •
O Sonho é maiúsculo, real, a luz transparente, as Sombras cúmplices de
contrastes sem nomes nem dúvidas…
ilhas, sem correntes, salgadas gotas de infância, nus, corpos velados de
mulheres-meninas de sol…
Verdade que voa, que dança, que escorre: frutos que se abrem – e sabem -
um reino de flores…
começou a pintar aos 15 anos. E nunca mais parou. todos os dias. Encarnan-
do as personagens, “a meditar, dentro do(s) ambiente(s) a criar”. Quadros com
calma, minuciosamente cifrada em cada centímetro de tela…
Surrealista? Simbolista? romântica? absurdos Dali (e também daqui e de aco-
lá), pinceladas de magritte de se lhe tirar o chapéu…e a tentação de quaisquer
rótulos – e a sua negação!
marta de castro é ela própria, sempre ela mesma (precisamente, quando dá
forma aos sonhos de todos nós…).
E pinta de cor, como a música que habita – e embala – a Saudade do que não
expomos…
“a duas dimensões”: nus/silêncios que, tantas vezes, não ousamos… ➤
maria de bragança
Marta de CastroSaudade de aMAR
Artes PlásticAs
94 • Diplomática - março/abril 2011
Um pacto com a luz
«Quem nasce numa ilha como a Madeira sabe que as flores e os frutos são uma
espécie de confidência. Na pintura de Marta de Castro eles estão a assinalar o enigma
e a revelação da vida. Por vezes, apresentam-se fechados como assinatura desse
mistério que nos acompanha, ainda por abrir, sempre por reconhecer. Outras vezes
desenham-se abertos ou cortados a meio, expostos como ferida e íntimo segredo.
Também isso somos. Esta pintura é um espelho silencioso que nunca nos devolve só
a aparência, mas oferece-nos os contornos daquilo que, em nós, é interior e invisível.
Assim revisita (e permite-nos revisitar) o pacto que temos com a luz.» ➤
José tolentino de mendonça
(sacerdote e teólogo católico)
Natureza Viva, 1985 - óleo sobre tela
Marta de Castro
95março/abril 2011 - Diplomática •
Serenidade e Inquietação
“Vejo a Marta pintar há quase trinta anos.
O que começou por ser a expressão de uma curiosidade e de um talento foi-se
tornando, com o passar dos anos, uma fatalidade. Uma forma silenciosa e discreta de
nos transmitir a sua extraordinária paixão pela vida.
A serenidade das suas paisagens, que cria com pedacinhos de sonhos de uma
infância que se adivinha feliz, sempre com o mar da sua Ilha no horizonte, não ilude
uma leve inquietação existencial que só a pintura lhe permite, ao mesmo tempo,
esconder e revelar”. ➤
luís amado
(ministro dos Negócios Estrangeiros de portugal)
Vista de terreiro, 2005 - óleo sobre tela (60×100 cm) Vôo no tempo, 2005 - óleo sobre tela (90× 70 cm)
Saudades, 2004 - óleo sobre tela (100×150 cm)
96 • Diplomática - março/abril 2011
“Receita” de Talento
Marta de Castro nasceu no Funchal, Ilha da Madeira. Licenciou-se em Farmácia pela
Universidade de Coimbra, tendo ingressado, posteriormente, na Escola Superior de
Belas Artes de Lisboa. Frequentou, também, o Instituto de Arte e Design da Madeira.
Participou em diversas exposições colectivas, principalmente com trabalhos a óleo,
aguarela, pastel e gravura. A partir de 2004, realizou as suas primeiras exposições in-
dividuais, tendo recentemente apresentado, em Lisboa, uma retrospectiva da sua Obra,
representada em colecções particulares dentro e fora de Portugal. É casada com Luís
Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal. n
Marta de Castro
97março/abril 2011 - Diplomática •
English & French texts
6. Sarkozy - an impressive political journey
How will president Sarkozy come to be judged? a fantastic president or perhaps not? it is still rather
early to produce a final opinion - that must be left to future historians. However, in our minds remains
the concept of him as a character that both fascinates and attracts but sometimes also surprises and
even shocks. So being, how should one today construct an intelligent opinion of this statesman?patrick Siegler-lathrop is a French-american consultant living in portugal, with a more than 30-year career as a Wall
Street investment banker, entrepreneur, industrialist and professor, having taught at iNSEaD and paris University,
Dauphine. He is a founding member of the international NGo action contre la Faim.
6. Sarkozy: un parcours politique étonnant.
Comment sera jugé le président Sarkozy: un grand président ou nettement moins? il est, bien
évidemment, trop tôt pour le dire. laissons cette tache aux historiens de l’avenir.
mais la question se pose par rapport à cet homme que séduit, qui à un élan spécial, que surprendre
et, à la limite, nous étonne, pas toujours dans le bon sens. comment, pouvons nous avoir une opinion
précise sur ce politique?
12. Pascal Teixeira da Silva, Ambassador of France
Married and father of two children, the ambassador declares himself delighted to be in portugal. and
given that he is a luso-descendant, he is happy and finds himself specially privileged to be in the
country of his father’s. ambassador pascal teixeira da Silva is a man with an intense passion for life,
for all world cultures and also for the arts. as a music lover, he is particularly fond of the harpsichord.
being in synch with the spirit of times, he has always been, by luck or misfortune, near all the great
historical milestones of our times: he was in berlin, when the Wall came tumbling down; in moscow
when the dismemberment of USSr took place; in the USa when the twin towers were attacked -
something he saw with his own eyes.
12. Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França
Père de famille, m. l’ambassadeur est enchanté par le portugal. lui-même lusodescendant, c’est pour
lui un privilège et un plaisir d’être dans le pays de son père.
m. l’ambassadeur pascal teixeira Gomes est un homme passionné de la vie, des cultures du monde,
de l’art. mélomane, il y a une vrai passion pour le clavecin. l’esprit-du-temps est avec lui. il était, par
chance ou malheur, présent pour les grands évènements des dernières décennies: à berlin, au moment
de la chute du mur, à moscou lors de la dissolution de l’UrSS, aux Etats-Unis pour la chute des twin
towers – qu’il a vu de ses propres yeux.
35. A necessary balance and some predictions for the future
Six accredited ambassadors in lisbon accepted the challenge of Diplomática magazine: to make
a balance of last year and to advance with some predictions for the current one. With the Summit
in lisbon, that brought together all the great powers of the World in Nato’s conclave still fresh in
the appointment books, the European Union and the world crisis also served as background for the
opinions of the diplomats on the different positions of their countries in relation to portugal.
35. Balance nécessaire, prévisions pour l’avenir
Six ambassadeurs accrédités à lisbonne on répondu favorablement au défi de Diplomática: faire le
point des progrès accomplis en 2010 et les prévisions pour l’année en cours.
au Sommet de lisbonne, qui a amené les plus grands du monde au conclave de l’otaN. a l’ordre du
jour, l’Union Européenne et la crise mondiale étaient au centre des discussions des diplomates, ainsi
que l’évolution des relations de leur pays avec le portugal.
64. Adriano Moreira, the last senator
Listening to this old gentleman of portuguese politics is absolutely fascinating - no less because he is
also an essayst of reference and a distinguished professor. in loose talking, one discovers an ageless
man that elaborates on the past as well as the future both of old Europe and the Western World.
98 • Diplomática - março/abril 2011
English & French texts
64. Le dernier sénateur
C’est absolument fascinant de parler à ce vieil homme de la politique portugaise, penseur séminal et un
enseignant exceptionnel. En parlant en vrac, nous rencontrons un homme sans âge, qui nous parle du
passé et de l’avenir de la vieille Europe et de l’occident.
71. Dilma Rouseff, a woman of great strength
With a truly remarkable story, this woman who began her career as president at the beginning of the
year is a "political animal" that has lived through all the changes that brazil has suffered in recent
decades.
71. Dilma Rouseff: Une femme courageuse.
aprés un parcours politique vraiment surprenant, madame roussef est élue président de la république
du brésil. Une femme qui vivait à proximité de tous les changements que le brésil a eu dans ces
dernières décennies et qui a su surmonté.
76. Ana Paula Laborinho, president of the Camões Institute
She is one of the strongest defenders of the portuguese language. there is no doubt that it has become
the greatest cause of her life but also her pride and joy. in macau or in its headquarters, in lisbon, ana
paula laborinho finds the language of camões to be her reason for living.
76. Ana Paula Laborinho, President du Instituto Camões
il s’agit d’une «militante» de la langue portugaise. c’est sans doute, la cause majeure de sa vie et de
sa fierté. a macao ou dans l’institut, à lisbonne, ana paula laborinho a, dans la langue de camões, la
raison majeure qui l’anime.
81. The Grand Duke of Luxembourg paid tribute to Maria Barroso and Aristides de Sousa Mendes
It was with great emotion that the wife of former president mário Soares was awarded the order of
merit. the former ambassador in bordeaux, in the person of his grandchildren, was also remembered by
the monarch of luxembourg
81. Le Gran-duc du Luxembour fait hommage a Maria Barroso et Aristides de Sousa Mendes
très émue, l'épouse de l'ancien président mário Soares a reçu l'ordre du mérite. ancien ambassadeur
à bordeaux, en la personne de ses petits-enfants, a également été rappelé par le monarque de
luxembourg.
85. 2nd anniversary of Diplomática magazine
While celebrating its second year, Diplomática magazine made a special effort to support the people
of pakistan, and by doing so proved that even whilst partying one can be serving a greater good. the
joyous event took place in the famous restaurant Kais, one of the most charismatic eateries of our
capital - on the one hand because of its originality and the beauty of its decor, conceived by the late
maria José Salavisa, and on the other hand on account of its exquisite gastronomy, considered by some
guides as one of the best of our country.
85. 2e anniversaire Diplomática
A la célébration de deux années de vie, le magazine Diplomática a mobilisé efforts en soutien du
peuple du pakistan et a prouvé que même en ambiance de fête on peut être au service d’un intérêt
supérieur.
la célébration a eu lieu au déjà célèbre restaurant Kais, l’un des endroits les plus charismatiques de
notre capital, pour sa singularité et beauté de décor, conçu par maria José Salavisa, comme par la
cuisine exquise - considérée par certains guides comme l’un des meilleurs restaurants au monde.
92. North of Africa - The era of globalization and technology
The values of the democratic West are conquering the East
92. Afrique du Nort : L'ère de la mondialisation et de la technologie.
les valeurs démocratiques du ocident sont plus proches de l’orient.
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