CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Fátima Maria Campêlo Noronha
A INFLUÊNCIA DAS ESTRATÉGIAS LÚDICAS NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Assunção
2010
Fátima Maria Campêlo Noronha
A INFLUÊNCIA DAS ESTRATÉGIAS LÚDICAS NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ciências da Educação da Universidad Americana, como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre.
Orientador: Dr. Carlos Ibáñez Morino
Assunção2010
UNIVERSIDADE AMERICANA – PYMestrado em Ciências da Educação
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Titulo da dissertação: A influência das estratégias lúdicas na aprendizagem de crianças da Educação InfantilNome do Mestrando: Fátima Maria Campêlo NoronhaNome da Orientador: Dr. Carlos Ibáñez Morino
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Ciências da Educação, da Universidade Americana – UA, como requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre em Educação.
BANCA EXAMINADORA:
________________________________________Prof. Dr, Carlos Ibáñez Morino
Orientador
________________________________________1º Membro
________________________________________2º Membro
_____________________________________________________3º Membro
Data da Defesa _______ / ________ / ________
Dedico este trabalho:
Aos meus pais, meus primeiros orientadores, que souberam me encaminhar dignamente na direção da cidadania.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me sustentou para que eu pudesse chegar ao final deste trabalho, realizando um sonho.
À minha mãe Conceição, por ser o que é e, ao longo de minha existência, ter me encorajado a ser o que sou. Ao meu pai Osvaldo, pela forma silenciosa e constante que tem de me incentivar.
Ao meu esposo, José M. G. Noronha, pela aceitação das minhas ausência, durante o curso.
Aos meus filhos, Fernando, Marcelo, Juliana e Jorge e os meus netos Victória e Jorge Vitor, com todo o meu amor.
Ao professor Dr. Raul Sallas (in memoriam), pela sua competência e grande amizade que cultivou em todos os seus alunos.
Ao meu orientador, Dr, Carlos Ibáñez Morino, pelos conhecimentos compartilhados e pela sábia orientação a este trabalho.
À professora Ivanice Montezuma, pelo que aprendi de sua admirável competência, pela inesgotável paciência com minhas limitações, pela rica convivência, preciosa amizade e por seu profissionalismo.
Aos professores maravilhosos que tivemos ao decorrer do curso.
Com especial carinho à minha família, que suportou com paciência e amor as muitas horas de estudo e entrega ao trabalho.
Aos colegas que deram força e coragem para a chegada ao sonho.
Aos que, de alguma forma, colaboraram e me ajudaram, direta ou indiretamente, para que eu chegasse até aqui.
Uma criança é sempre uma criança onde quer que possa estar. Mas uma criança só é criança por uma vez... E alguns dizem que se ela não for criança que é ajudada a crescer, então ela poderá não ser o adulto que poderia ter sido.
Flinchum.
RESUMO
O presente trabalho tem como tema, ‘a influência das estratégias lúdicas na aprendizagem de crianças da Educação Infantil. Como especialista em Psicopedagogia e conhecedora da importância das atividades lúdicas na educação infantil, como agente de socialização e principalmente da aprendizagem, como um processo global que envolve todo o corpo e mente, sentiu-se a necessidade de pesquisar a utilização de atividades lúdicas na aprendizagem infantil, em busca de estimular a construção do raciocínio lógico das crianças. O objetivo geral do trabalho foi mostrar a importância do lúdico para a socialização, desenvolvimento e aprimoramento do pensamento da criança, em busca de sua formação plena, na perspectiva da construção da sua cidadania. Nessa perspectiva, os objetivos específicos foram: mostrar como os professores de Educação Infantil podem recorrer ao lúdico, como instrumento essencial ao desenvolvimento das crianças; analisar as brincadeiras e jogos como fatores favoráveis à construção do conhecimento, da socialização e do desenvolvimento físico e mental das crianças; analisar os currículos dos Cursos de Formação de Professores para conhecer até que ponto os futuros educadores estão sendo preparados para utilizar o lúdico em sala de aula; conhecer as diferentes modalidades dos jogos existentes e a função dos mesmos na Educação Infantil; identificar como a escola Pública Frei Tito trabalha com o jogo. Para alcançar esses objetivos, realizou-se pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. O respaldo teórico foi buscado para a sustentação das ideias e reflexões pretendidas em conceitos elaborados por autores que abordam esta temática, tais como: Freire (1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto (1992), Negrine (1994) Nóvoa (1995), Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997), Vygotsky (1988; 1998; 2001) e outros. Paralelamente, foi realizada uma pesquisa de campo na Escola de Educação Infantil Frei Tito, situada em Fortaleza - CE, com a intenção de conhecer como é realizada a incorporação das atividades lúdicas ao currículo escolar da Educação Infantil, como essas atividades são desenvolvidas em sala de aula e fora dela e se os educadores as consideram essenciais ao desenvolvimento mental das crianças e à construção do conhecimento, bem como à socialização das crianças.
Palavras-chave: Atividades lúdicas. Educação Infantil. Aprendizagem.
RESUMEN
El actual trabajo tiene como tema, ‘la influencia de las estrategias juguetonas en aprender de niños de la educación infantil.’ Como especialista en Psicopedagogía y experto de la impor-tancia de las actividades juguetonas en la educación infantil, como agente de la socialización y principalmente de aprenderlo, como proceso global que implica el cuerpo todo y ha menti-do, estaba la necesidad del fieltro para buscar el uso de actividades juguetonas en aprender in-fantil, en búsqueda estimular la construcción del razonamiento lógico ellas los niños. El obje-tivo general del trabajo era demostrar la importancia de la juguetona para la socialización, de-sarrollo y mejora del pensamiento del niño, en busca de su formación completa, la perspectiva de la construcción de su ciudadanía. En esta perspectiva, los objetivos específicos habían esta-do: para demostrar como los profesores de la educación infantil que pueden abrogar la jugue-tona, como instrumento esencial al desarrollo de los niños; para analizar los trucos y los jue-gos como factores favorables a la construcción del conocimiento, de la socialización y del de -sarrollo físico y mental de los niños; para analizar los currículos vitae de los cursos de la for-mación de profesores para saber hasta punto los educadores futuros están siendo preparados para utilizar el juguetón en sala de clase; para saber las diversas modalidades de los juegos existentes y la función los mismos en la educación infantil; para identificar como la escuela publica los trabajos de Frei Tito con el juego. Para alcanzar estos objetivos, se convirtió la in-vestigación bibliográfica y la investigación del campo. El endoso teórico fue buscado para la sustentación de las ideas y las reflexiones previstas en conceptos elaboraron para los autores que acercan éste temático, por ejemplo: Freire (1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto (1992), Negrine (1994) Novoa (1995), Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997), Vygotsky (1988; 1998; 2001) y otros. El paralelo, una investigación del campo en la escuela de la educación infantil Frei fue llevado a través de Tito, situado en Fortaleza - CE, con la intención de saber como la incorporación de las actividades juguetonas a referente al currículo vitae de la escuela de la educación infantil se lleva a través, pues estas actividades se desarrollan en sala de clase y están de ella y si los educadores lo consideran esencial al desa-rrollo mental de los niños y a la construcción del conocimiento, así como la socialización de los niños.
Palabra-llave: Actividades juguetonas. Educación infantil. El aprender.
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................................
1 O LUDICO COMO FATOR ESTIMULANTE DA INTELIGÊNCIA INFANTIL.......1.1 A relação da criança, com o brinquedo e o adulto...................................................
.2. A ORINGEM DA EDUCAÇÃO LUDICA...................................................................2.1 A ludicidade como instrumento pedagógico................................................................2.2 Brincadeiras e atividades lúdicas na escola....................................................................2.3 A classificação dos jogos e brincadeiras na visão de alguns autores..............................2.4 Diferenças entre as concepções de Vygotsky e Piaget ..................................................2.5 Tipos de jogos e brincadeiras.........................................................................................
3 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA TRABALHAR O LÚDICO....................3.1 Como auxiliar os alunos a superar suas dificuldades..................................................
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL FREI TITO............................................
4.1 Análise das respostas dos professores na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Frei Tito................................................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................
APÊNDICE......................................................................................................................
10
1416
202432353843
4853
58
59
67
69
71
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INTRODUÇÃO
No desenvolvimento deste trabalho, mostrou-se a grande importância dos jogos,
como instrumento estimulante do processo de construção do conhecimento infantil. Nessa
perspectiva, foram apontados alguns subsídios capazes de auxiliar os professores a encontrar
espaço na escola para o lúdico, o jogo, a brincadeira, em sala de aula ou fora dela, como meio
de aprendizagem, o que tem sido um desafio e um compromisso para os educadores,
considerando que, em nome da educação formal, as crianças são conduzidas, cada vez mais
cedo, à prática de atividades pouco criativas e não estimulantes do desenvolvimento mental.
Os jogos têm o poder de valorizar uma área um pouco esquecida pela escola: a
intuição. Os cursos de formação do magistério e pedagogia não estimulam, suficientemente,
os futuros professores a trabalhar de forma lúdica. Os professores admitem que não sabem
utilizar os recursos lúdicos em sala de aula e que, por isso, não recorrem a eles como
instrumentos de aprendizagem. Esse é um aspecto que precisa mudar urgentemente, na escola.
Além disso, as atividades lúdicas não são definidas no Plano que define a Gestão Integrada e
Democrática da Escola (GIDE), no qual são descritas todas as metas, estratégias, ações e
recursos avaliativos que norteiam o processo de ensino-aprendizagem, numa integração com o
Projeto Político-Pedagógico (PPP) e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
O brinquedo é uma oportunidade de desenvolvimento. Brincando, a criança
experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades, além de estimular a
curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do
pensamento e da concentração e atenção.
Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança e
contribui, com a eficiência e o equilíbrio do adulto no futuro. É, também, um momento de
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auto-expressão e autorrealização. As atividades livres com blocos e peças de encaixe, as
dramatizações, a música e as construções desenvolvem a criatividade, pois exigem que a
fantasia entre em jogo. Já o brinquedo organizado, que tem uma proposta e requer
desempenho, como os jogos (quebra-cabeça, dominó e outros) constitui um desafio que
promove a motivação e facilita escolhas e decisões à criança.
Considera-se que o lúdico na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino
Fundamental pode incentivar o prazer de sonhar e aprender. São muitos os fatores que
contribuem para o bloqueio à aprendizagem: o medo e despreparo do professor, a estrutura
conservadora da escola e a falta de estimulantes da aprendizagem. Nesse contexto, os jogos
ganharam espaço na educação brasileira impulsionados pelos ideais da Escola Nova e,
atualmente, conquistam inúmeros adeptos, pelo estímulo dos pressupostos teóricos da
pedagogia sociointeracionista.
Diversas pesquisas e estudos têm sido realizados sobre esse tema, pois não há
mais dúvida de que os jogos têm importância fundamental para o desenvolvimento físico e
mental da criança, auxiliando na construção do conhecimento e na socialização, englobando
aspectos cognitivos e afetivos. É um importante instrumento pedagógico, porém, nem sempre
é valorizado e aceito nas escolas atuais e, quando utilizado, não conta com objetivos bem
definidos.
Considera-se de suma importância a abordagem das ideias de vários autores que
analisam a importância do lúdico para o desenvolvimento físico, mental e intelectual das
crianças, bem como a analise da postura e aceitação dos professores da Educação Infantil em
relação à adoção de atividades lúdicas no âmbito da sala de aula, por reconhecer que, pela
ludicidade, as crianças criam, imitam, têm o ‘poder’, esquecendo o distanciamento entre elas e
os adultos. Dessa forma, vão construindo sua inteligência e o próprio amadurecimento social.
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Mesmo procurando fazer sua parte, o professor e a escola, muitas vezes, não
respeitam a possibilidade de que outra coisa aconteça, de que o aluno seja visto como ser
autônomo e criativo, portanto, colocado no centro do processo educativo. Dessa forma,
brincar na sala de aula é uma aposta.
Portanto os resultados desse trabalho poderão ser muito úteis à escola, às crianças
e à comunidade em geral. Diante da inquietação apresentada, o estudo partiu da seguinte
pergunta de investigação: - “como o lúdico influencia no desenvolvimento e na aprendizagem
das crianças?”
O objetivo geral do trabalho foi mostrar a importância do lúdico para a
socialização, desenvolvimento e aprimoramento do pensamento da criança, em busca de sua
formação plena, na perspectiva da construção da sua cidadania. Nessa perspectiva, os
objetivos específicos foram: mostrar como os professores de Educação Infantil podem
recorrer ao lúdico, como instrumento essencial ao desenvolvimento das crianças; analisar as
brincadeiras e jogos como fatores favoráveis à construção do conhecimento, da socialização e
do desenvolvimento físico e mental das crianças; analisar os currículos dos Cursos de
Formação de Professores para conhecer até que ponto os futuros educadores estão sendo
preparados para utilizar o lúdico em sala de aula; conhecer as diferentes modalidades dos
jogos existentes e a função dos mesmos na Educação Infantil; identificar como a escola
Publica Frei Tito trabalha com o jogo.
Para atender ao objetivo Geral, realizou-se pesquisa bibliográfica em autores
diversos que abordam este tema e pesquisa de campo, através da observação, com alunos
submetidos, ou não, a atividades lúdicas em sala de aula e entrevistas com professores da
Escola de Educação Infantil Frei Tito, que utilizam o lúdico, em suas aulas.
O respaldo teórico foi buscado para a sustentação das ideias e reflexões
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pretendidas em conceitos elaborados por autores que abordam esta temática, tais como: Freire
(1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto (1992), Negrine (1994) Novoa (1995),
Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997), (1988; 1998; 2001), e outros.
A pesquisa de campo na Escola de Educação Infantil Frei Tito, situada em
Fortaleza - CE, teve a intenção de conhecer como é realizada a incorporação das atividades
lúdicas ao currículo escolar da Educação Infantil, como essas atividades são desenvolvidas em
sala de aula e fora dela e se os educadores as consideram essenciais ao desenvolvimento
mental das crianças e à construção do conhecimento, bem como à socialização das crianças.
Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória, cujos dados e informações serão
coletados por meio de entrevistas com professores da Educação Infantil e, posteriormente,
submetidos a uma abordagem qualitativa.
O trabalho está organizado em quatro capítulos, iniciando-se, no primeiro deles
com uma abordagem sobre o lúdico como fator estimulante da inteligência infantil, fazendo,
também uma análise da relação da criança, com o brinquedo e o adulto.
No segundo capítulo, faz-se um estudo evolutivo do surgimento da educação
lúdica, analisando a ludicidade como instrumento pedagógico, as brincadeiras e atividades
lúdicas na escola, a classificação dos jogos e brincadeiras na visão de alguns autores, as
diferenças entre as concepções de Vygotsky e Piaget e os tipos de jogos e brincadeiras.
O terceiro capítulo traz uma discussão sobre a formação do professor para
trabalhar o lúdico e das formas como este pode auxiliar os alunos a superar suas dificuldades.
O quarto capítulo consiste em um relato dos resultados da pesquisa e da análise
das respostas dos professores da Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Frei Tito.
1 O LUDICO COMO FATOR ESTIMULANTE DA INTELIGENCIA INFANTIL
As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições
que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade. Entretanto, o brincar é
importante não apenas para o desenvolvimento cognitivo, como também para o
desenvolvimento da linguagem e socialização. Nesse sentido, Vygotsky (2001 p.26) refere
que o lúdico influencia bastante o desenvolvimento da criança. É através do jogo que a
criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança,
proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração. Para este
autor, o brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos, relacionando-se a um “eu”
fictício, ao seu papel no jogo e suas regras.
O tema ludicidade tem sido, nos últimos tempos, foco de estudos e discussões em
diferentes espaços e instituições, surgindo, como decorrência, implicações deste no campo do
lazer, da saúde, recreação, cultura e educação. O lúdico é uma categoria geral de todas as
atividades que tem características de jogo, brinquedo e brincadeira.
O lúdico tem seu início, desde o nascimento da criança, mediante reações
espontâneas e prazerosas. Assim o bebê vai respondendo ao movimento de um objeto
próximo de sua vista, seguindo-o com o olhar cujo comportamento pode revelar expressão de
prazer e de distração. A partir desses primeiros sinais, o brincar vai se configurando ao longo,
da infância, incluindo a dramatização, como uma das fases de maior significação no
comportamento lúdico.
O início das relações entre a criança e o mundo se dá através do brincar.
Brincando a criança se descobre, experimenta, cria, relaciona, compreende e transforma,
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começa lentamente a construir sua história.
No comportamento diário das crianças o brincar é algo que se destaca como
essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Dessa forma, se quisermos conhecer
bem as crianças, devemos conhecer seus brinquedos e brincadeiras.
Segundo Benjamin???? Precisa do ano?, acreditava-se erroneamente que o
conteúdo imaginário do brinquedo é que determinava as brincadeiras infantis, quando na
verdade quem faz isso é a criança; por essa razão, quanto mais atraentes forem os brinquedos,
mais distantes estarão do seu valor como instrumentos do brincar.
A essência do brincar não é fazer como se, mas fazer sempre de novo. É nesse
momento que há a aquisição de um saber fazer, capaz de transformar a experiência em habito.
É portanto, através do brincar que a criança se encontra com o mundo de corpo e
alma, o percebe como ele é e dele recebe elementos importantes para sua vida, desde os mais
insignificantes hábitos até fatores determinantes da cultura de seu tempo.
Alem da relevância que a brincadeira assume do ponto de vista cultural e social,
ela também possui um importante papel do ponto de vista psicológico. É através do brincar
que a criança vê e constrói o mundo, expressa aquilo que tem dificuldade de colocar em
palavras. Sua escolha é motivada por processos e desejos íntimos, pelos seus problemas e
ansiedades. É brincando que a criança aprende que, quando perde o jogo o mundo não se
acaba.
Do ponto de vista psicológico, a obra de Vygotsky (1984), entre outras, assume
um papel fundamental. Para ele definir o brinquedo como atividade que dá prazer é
insuficiente porque existem outras experiências que podem ser mais agradáveis á criança.
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O que atribui ao brinquedo um papel importante é o fato de ele preencher uma
atividade básica da criança, ou seja ele é um motivo para a ação.
A criança pequena, para ele por exemplo, tem uma necessidade muito grande de
satisfazer os seus desejos imediatamente. Quanto mais jovem é a criança, menor será o espaço
entre o desejo e a satisfação. No pré-escolar há uma grande quantidade de tendências e
desejos não possíveis de ser realizados imediatamente e é nesse momento que os brinquedos
são inventados, justamente para que a criança possa experimentar tendências irrealizáveis. A
impossibilidade de realização imediata dos desejos cria tensão e a criança se envolve com o
ilusório e o imaginário, onde seus desejos podem ser realizados.
É o mundo dos brinquedos.
1.1 A relação da criança com o brinquedo e o adulto
O jogo pressupõe uma regra, o brinquedo é o objeto manipulável e a brincadeira,
nada mais que o ato de brincar com o brinquedo ou mesmo com o jogo. Jogar também é
brincar com o jogo. O jogo pode existir por meio do brinquedo, se os ‘brincantes’ lhe
impuserem regras. Percebe-se, pois, que jogo, brinquedo e brincadeira tem conceitos distintos,
todavia estão imbricados; ao passo que o lúdico abarca todas eles (MIRANDA, 2001).
O importante é aprender a observar a criança brincando, experimentar a vivência
lúdica para poder compartilhá-la e buscar qualificar-se de forma teórica e vivencial através de
cursos, encontros, grupos de estudo e outros. Considerando que a promoção do brinquedo se
dá naturalmente, no mundo infantil, o desafio do adulto reside em construir uma relação que
permita à criança ser agente de sua própria brincadeira, tendo na figura dele um parceiro de
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jogo que a respeita e a estimula a ampliar cada vez mais seus horizontes.
O adulto, ao brincar com a criança, deve partir do pressuposto de que a mesma
necessita compreender que o mundo tem a sua organização. Assim, ao realizar alguma
brincadeira os pais devem respeitar as regras e não podem permitir que a criança tire alguma
vantagem enganosa num jogo apropriado para a sua idade, pois a mesma precisa aprender a
perder como parte do jogo.
O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam
aspectos da realidade. Ao brincar de que é a mãe da boneca, por exemplo, a menina não
apenas imita e se identifica com a figura materna, mas realmente vive intensamente a situação
de poder gerar filhos, e de ser uma mãe boa, forte e confiável.
O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções de tudo o que existe no
cotidiano, na natureza e nas construções humanas. Assim, pode-se dizer que um dos objetivos
do brinquedo é dar à criança representações dos objetos reais, para que possa manipulá-los.
Tipos de brinquedos e brincadeiras e suas funções no desenvolvimento infantil. Se
considerarmos que a criança aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em
processos interativos, envolvendo o ser humano por inteiro nas suas cognições, afetividade,
corpo e interações sociais, os brinquedos e brincadeiras desempenham um papel de grande
relevância para desenvolvê-la.
Existem vários tipos de brinquedos e brincadeiras, hoje agrupados de acordo com
sua função no desenvolvimento infantil, ou seja, onde ele contribui mais especificamente na
área que a criança deve ser trabalhada em determinado momento. Enfatizamos assim, as
brincadeira tradicionais e as brincadeiras de faz-de-conta.
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A brincadeira tradicional infantil, filiada ao folclore, incorporada à mentalidade
popular, expressando-se sobre tudo, pela oralidade. Considerada como parte da cultura
popular, essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo
período histórico. A cultura não oficial, desenvolvida especialmente de modo oral, não fica
cristalizada. Está sempre em transformação incorporando criações anônimas das gerações que
vão se sucedendo. Por ser um elemento folclórico a brincadeira tradicional infantil assume
características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e
universalidade.
Não se conhece a origem das brincadeiras de rodas, amarelinha, lambança, pião,
pipas, e tantas brincadeiras conhecidas por todos nós. Sabe-se apenas, que provêm de práticas
abandonadas por adultos.
A tradicional idade e universalidade das brincadeiras assentam-se no fato e que povos distintos e antigos, como os da Grécia e do Oriente, brincavam de amarelinha, empinavam pipas, jogam pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma maneira. Tais brincadeiras foram transmitidas de geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil (OLIVEIRA, 2000, p.47).
A brincadeira para a criança não representa o mesmo que o jogo e o divertimento
para o adulto, recreação, ocupação do tempo livre, afastamento da realidade. Brincar não é
ficar sem fazer nada, como pensam alguns adultos. O brincar das crianças “é feito de um fazer
com o corpo, principalmente com seu movimento e com seu prazer” (GOMES 1993 p. 28).
O ato de brincar tem para a criança um caráter sério porque é o seu trabalho, é por
meio de suas conquistas no jogo, que ela afirma seu ser, proclama seu poder e sua autonomia,
explora o mundo, faz pequenos ensaios, compreende e assimila gradativamente suas regras e
padrões, absorve esse mundo em doses pequenas e toleráveis. atividade através da qual ela
desenvolve talentos naturais, descobre papéis sociais, limites, experimenta novas habilidades,
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forma um novo conceito de si mesma, aprende a viver e avança para novas etapas de domínio
do mundo que a cerca.
A criança se empenha durante as suas atividades do brincar da mesma maneira
que se esforça para aprender a andar, a falar, a comer etc. Brincar de faz de conta, de
amarelinha, de roda, de esconde-esconde, de dominó, de jogo de câmbio são situações que
vão sendo gradativamente substituídas por outras, à medida que o interesse é transferido para
diferentes tipos de jogos.
No desenvolvimento das crianças está evidente a transição, de uma fase para
outra, que é a imaginação em ação. Ela precisa de tempo e de espaço para trabalhar a
construção do real pelo exercício da fantasia (KISHIMOTO, 2000 p. 21)
Dessa forma, nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é
motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com
a mente da criança determina sua atividade lúdica; brincar é sua linguagem secreta, que deve
ser respeitada mesmo quando for difícil apreender o seu sentido.
O adulto tem por vezes dificuldade de apreender o significado da brincadeira tal
qual a criança a vê e embora ela seja tida como uma atividade espontânea e livre pelos
teóricos, na prática das escolas e de órgãos educacionais responsáveis às opiniões quanto a
forma que o lúdico deva estar inserido, como por exemplo, nas horas do recreio, se dividem
entre os que acham que deve haver monitorado e os que não.
Quando o adulto observa a criança e interage no jogo simbólico pode perceber
como ela vai construindo sua visão no mundo, como lida com seus problemas, quais são os
seus ideais e preocupações, podendo ajudá-la a vencer suas dificuldades.
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2 A ORIGEM DA EDUCAÇÃO LÚDICA
Durante todo o trajeto da Humanidade, os jogos e competições sempre atraíram o
ser humano, como objeto de competição esportiva ou como diversão. Entre os povos
primitivos, já se tem conhecimento da existência de atividades como dança, caça, pesca e
lutas que, muitas vezes, eram consideradas condições para sobrevivência.
A participação das crianças em atividades lúdicas sempre foi efetiva. Os jogos,
para Piaget (1997), não são apenas uma forma de entretenimento para gastar energias das
crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual, sendo para
a criança, um fim em si mesmo, e ele deve ser para nós um meio de educar, de onde seu nome
jogo educativo que toma cada vez mais lugar na linguagem da pedagogia maternal.
Na busca de aprofundar seus conhecimentos, os estudantes se valem de atividades
que incentivam a participação, a indagação, a criação, a reflexão, a socialização, instigando o
prazer no convívio com outras pessoas, o que representa a essência psicológica da educação
lúdica, cujo objetivo é favorecer as relações múltiplas do ser humano em seu contexto
histórico, social, cultural e psicológico.
Nos primórdios da civilização, a educação era pensada nas ideia dos filósofos,
como Platão e Aristóteles, que registravam a utilização do brinquedo na educação, onde
estudar estava associado ao prazer dentro das diversas formas de brincar. Na Antiguidade, a
alimentação das crianças, geralmente apresentava-se como informação, ou seja, os doces e
guloseimas eram de forma de letras e números, estimulando assim, uma aprendizagem
sensorial.
Somente a partir dos trabalhos de Comenius (1593), Rousseau (1712) e Pestalozzi
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(1746), apud por Wajskop, (1999: p 19), é que surgiu um novo sentimento da infância que
protege as crianças e que auxilia este grupo etário a conquistar um lugar enquanto categoria
social. A partir da filosofia citada anteriormente, surgem os primeiros métodos educacionais
voltados para a educação infantil numa concepção idealista e protetora da infância,
valorizando o uso de brinquedos educativos e centrados no divertimento.
Na mesma visão, Braugére (1989) apud por Wajskop (1999, p 20), coloca que: A
valorização da brincadeira e jogos infantis apóia-se, portanto, no mito da criança portadora de
verdade e natural, por excelência, é o seu brincar, desprovido de razão e desvinculado do
contexto social.
Com a valorização constante da criança no seio da família, ora em
desenvolvimento, assim como as necessidades educacionais, seu controle e orientação, cria-se
um vinculo preciso entre o brincar e a educação, que só foi possível, após o século XVII, a
partir dos pedagogos humanistas, com a preocupação centrada na moral, na saúde e no bem
comum, tendo como alvo primordial a infância.
Nesta perspectiva, o brincar era visto como uma fuga, divertimento ou recreação,
também considerado como elemento cultural, que representava a vida infantil como modelo
em miniatura da história do adulto, e que este não aceitava um comportamento infantil
espontâneo e individualizado em criança
[...] A criança passou a ser a partir dessa época, cidadão com imagem social contraditória, uma vez que ela era, ao mesmo tempo o reflexo do que o adulto e a sociedade queriam que ela fosse e do que temiam que ela se tornasse (WAJSKOP, 1999, p 21).
Somente com o surgimento da sociedade industrial e da sociedade burguesa veio a
valorização da criança e esta, enquanto grupo social, conquistou lugar separado da vida dos
adultos e nas instituições especificas para educação, onde eram elaborados métodos próprios,
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com jogos e atividades lúdicas para levarem as crianças a aprendizagem.
Os pedagogos Froebel (1782-1852), Montessori (1870-1909) e Decroly (1871-
1932), foram os primeiros da educação infantil a romper com a educação tradicional,
propondo uma educação sensorial, baseada na utilização de jogos e materiais didáticos,
devendo transmitir a crença em uma aprendizagem natural dos instintos infantis.
A partir de então, a criança passou a ser respeitada e compreendida enquanto ser
vivo. Mas, devem-se frisar as limitações do uso de suas ideais nos dias atuais marcadas por
uma concepção cumulativa e progressional de conhecimento, partindo de uma exploração
empírica da realidade que parte do simples ao complexo e do concreto ao abstrato, como
mostram os estudos piagetianos. Esta atitude de brincar transformou-se no trabalho infantil,
tomando a infância educável, já que o objetivo, tanto dos pedagogos como da família, era
criar um novo homem.
Diante dessa nova perspectiva, pode-se comprovar a necessidade da socialização,
que é tão fundamental no desenvolvimento infantil, e que para Vygotsky (1998), esta forma
de interagir é decisiva para acontecer uma aprendizagem significativa, gerando uma zona de
desenvolvimento proximal na criança. Concordando com o estudioso citado: Velasco, afirma
que:
A criança que convive com uma comunidade ou instituição vai, progressivamente, atrás das trocas com os outros, interiorizando os valores e ideais daquele grupo. Como a criança virá a incorporar esses elementos na sua personalidade dependerá do caráter dessas interações sociais, assim como da natureza e variedade de trocas sociais disponíveis a ele (VELASCO, 1996, P 41).
Com o progresso das cidades das transformações dos hábitos que ocorreram por
conta da evolução da civilização, no decorrer dos séculos, o brincar e os jogos também,
acompanharam e sofreram várias mudanças. Essas mudanças fizeram reduzir o espaço físico,
gerando insegurança para as crianças no ato de brincar, provocado pelo ritmo acelerado da
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vida moderna, diminuindo o tempo destinado em casa para as atividades lúdicas.
Outro ponto defensivo para esta atividade foi o espaço tecnológico, limitando a
criança a criar, passando as horas vagas diante da TV, do Vídeo Game, do Computador. Tudo
isso sem contar com a industria de brinquedos prontos e estáticos, feitos a partir dos mais
diversos materiais que foram sendo incorporados na história de vida da criança, modificando
sua relação com o brincar, que de certa forma vai direcionando sua ação, pois a criança fica
apenas na expectativa de receber as instruções contidas nos brinquedos passivamente,
tolhendo-lhe a oportunidade de criar, indagar, testar e descobrir suas funções ou maneiras de
brincar.
Sendo assim a criança deixa de exercitar suas ações do próprio ato de brincar,
deixando de refletir, de exercitar seu corpo para o desenvolvimento da imagem corporal de
sua personalidade, de experimentar sua emoção, por fim, deixa de exercitar a aprendizagem
através da troca com o outro. Contrariamente a estes novos paradigmas de brincar, Rodrigues
(2000, p 27) sugere que: Quando toda criança, indiscriminadamente, puder brincar em
espaços alternativos, com equipamentos diversificados, jogar com outras crianças de varias
faixas etárias, descobrir de novo, manipular e construir brinquedos, desabafar seus limites “
(...) ”estará atingindo o principal objetivo que é fazer com que ela incorpore a sua essência e
constitua-se num sujeito mais inteligente e social.
Piaget apud por Negrine (1994), vê a criança como ativa e que deve estar
diretamente envolvida na construção do seu conhecimento assim como na aprendizagem e é
onde entra a figura do professor que pode favorecer o uso de jogos e brincadeiras de maneira
a proporcionar às crianças as experiências necessárias para ajudá-las a pensar e com isso se
desenvolvam.
Houve um período em que os jogos eram proibidos, mas a partir do século XIX,
24
retornaram seu lugar e foram incorporados aos programas educacionais. Segundo Silva (1999,
p.43), Froebel foi o primeiro a colocar o valor educativo do jogo como parte essencial do
trabalho pedagógico ao criar o jardim da infância.
No entanto, muitos currículos escolares ainda não incorporam a importância de
certos veículos como TV, música, revista, jogos etc. na construção do conhecimento e por
conseguinte não dão o seu devido valor, dando maior ênfase na alfabetização e nos números
(escolarização) que ocupam lugar de destaque nos currículos. Nicolau (1995, p. 33) cita as
concepções de Froebel que envolvem, dentre outras coisas o jogo e o currículo adequado para
a pré-escola:
a) A educação deve se basear na evolução natural das atividades da criança;b) Todo desenvolvimento verdadeiro provém de atividades espontâneas;c) O brinquedo é um processo essencial na educação inicial;d) A atividade construtiva é o principal meio para integrar o crescimento de todos
os poderes: físico, mental e moral;e) Só ela pode harmonizar a espontaneidade com o controle social;f) Os currículos das escolas devem estar baseados nas atividades e interesses
nascentes em cada fase da vida infantil;g) A humanidade ainda está em processo de desenvolvimento e a educação é o
meio essencial para a evolução futura.
Alem disso, no currículo escolar deve-se privilegiar as características de seus
alunos, ter a criança como centro, buscando sua autonomia, levando em conta as dimensões
cognitivas, sócio-afetivas e psicomotoras do desenvolvimento infantil e é nesse contexto que
o jogo e as brincadeiras aparecem como figura expoente no currículo, uma vez que possui um
caráter motivador e possibilita uma ação espontânea por parte da criança.
2.1 A ludicidade como instrumento pedagógico
O Jogo e os brinquedos educativos utilizados com fins pedagógicos têm seu início
nos tempos renascentistas, mas ganha força a partir do século XX, é entendido como mais um
recurso para ensinar, desenvolver e educar de forma prazerosa, de início o quebra-cabeça
25
destinado a ensinar formas e cores, os brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão dos
números e das operações matemáticas, os brinquedos de encaixe, que trabalham noções de
sequência, de tamanho e de forma, enfim nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja
concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e a materialização da função
pedagógica.
Os móbiles destinados a percepção visual, sonora e motora, carrinhos munidos de
pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora, parlendas para a expressão da
linguagem, brincadeiras envolvendo músicas, danças e expressão motora, gráfica e simbólica.
Os brinquedos e jogos educativos com fins pedagógicos foram tomando seu
espaço como instrumentos que auxiliam em situações de ensino-aprendizagem beneficiando
as crianças em seus acessos cognitivos.
Considerando-se que a criança pré escolar aprende de modo intuitivo, adquire
noções espontaneamente, brincando em um processo interativo, onde o ser humano se
envolve como um todo em sua cognição, afetividade, interações sociais, seu corpo o seu
brinquedo desenvolve um papel mediando a ação de aprendizagem.
O brinquedo favorece a construção de representações mentais (cognição), a
manipulação de objetos desenvolve as ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas
interações sociais, contemplando várias formas de representação da criança e suas múltiplas
inteligências.
Quanto essas situações lúdicas são intencionalmente criadas para estimular certos
tipos de aprendizagem assim surgindo a dimensão educativa, onde o educador estará
potencializando as situações de aprendizagens. É importante que seja mantida a expressão ou
ação intencional da criança para brincar. O educador irá agir como o incentivador e motivador
26
que irá criar condições prazerosas e lúdicas para maximizar a construção do conhecimento.
O brinquedo e sua função lúdico educativa propiciam as seguintes condições:
* Função Lúdica: propicia diversão, prazer ou desprazer;
* Função Educativa: completa o indivíduo no seu saber, seus conhecimentos e
sua apreensão no mundo.
A utilização do lúdico potencializa a exploração e a construção do conhecimento,
pois está presente a motivação interna da criança, mas há a necessidade dos estímulos
externos e a influencia dos parceiros, nesse sentido o objeto suporte da brincadeira necessita
de uma sistematização para estimular essa construção do conhecimento.
As brincadeiras tradicionais infantis estão incorporadas às tradições populares,
fazendo parte da cultura popular, são muitas vezes universais como: a amarelinha, o pião,
empinar papagaio, parlendas, jogar pedrinhas, sabe-se que os povos antigos da Grécia e do
Oriente faziam suas brincadeiras quase da mesma forma de hoje. Tais brincadeiras foram
transmitidas de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na
memória infantil.
Por ser um elemento folclórico a brincadeira tradicional infantil assume
características de anonimato, tradição da transmissão oral, conservação, mudança e
universalidade.
Os jogos de construção são de grande importância para o enriquecimento das
experiências sensoriais, estimula a criatividade, desenvolve habilidades, construindo e
transformando a criança que expressa o seu imaginário ou eventuais problemas permitindo ao
educador detectar alguma dificuldade que esteja ocorrendo.
Manipulando esses objetos de construção a criança expressa suas representações
27
mentais, além de desenvolver os lados afetivo, intelectual e sensório motor. No jogo de
empilhar tijolinhos a criança constrói cenários, monta casas para suas brincadeiras simbólicas.
As brincadeiras tendem a ter a complexidade e o desenvolvimento de acordo com a idade da
criança.
Brincadeiras de faz de conta também chamadas simbólicas, sócio-drama ou
representação de papeis é a que mais favorece as situações imaginárias. O Faz de conta surge
em torno dos dois a três anos de idade, com a linguagem já desenvolvida a criança começa a
alterar o nome dos objetos e a expressar seus sonhos e fantasias e assumir papéis que imita do
seu contexto social. O conteúdo das brincadeiras vem de experiências adquiridas em
diferentes situações do contexto social. Por exemplo, ela pode brincar de professora com suas
bonecas trazendo o contexto escolar, pode brincar de médico, imitando o trabalho do adulto
ou uma situação vivenciada no social. Os temas e conteúdos das brincadeiras dependem
essencialmente das situações familiares e do contexto social.
A importância dessa modalidade de brincadeira justifica-se pela aquisição do
símbolo, pois é alterando o significado dos objetos e das situações e criando novos
significados que se desenvolve a função simbólica. Nesses jogos de papeis a criança é livre
para escolher e desempenhar papeis, definindo suas regras. Seu funcionamento é um processo
onde a criança vivencia o prazer de brincar, ela toma iniciativa, organiza ações, planeja, re-
significa objetos, para reproduzir relações e fenômenos observados por ela. Essas brincadeiras
ajudam a entender os sentimentos, os aspectos morais e sociais da comunidade
(VYGOTSKY, apud ELKONIN, 1971, p.63).
Entre os séculos XVIII e XIX surge um novo conceito de infância na Europa,
nessa época a infância passa a ser encarada como uma fase da vida com particularidades bem
marcantes e com duração longa, é dessa época também o conceito de adolescência. Pouco
28
antes era comum meninos europeus de sete anos entrarem para as forças armadas. A
mortalidade infantil era tanta que a infância não passava de um “teste” para candidatos a
adultos. Na idade média a idéia de infância simplesmente não existia: as crianças eram adultos
a espera de adquirir a estatura “normal”, era comum os pintores retratarem crianças com
feições de adultos.
Outra tendência histórica marcante do período foi o “individualismo burguês”,
simbolizado pela figura de Napoleão, que encarnava o ideal do homem que se fez sozinho e se
tornou imperador da França.
O pedagogo Alemão Friedrich Froebel (1782-1852) foi um dos primeiros a
considerar o inicio da infância como uma fase de importância decisiva na formação das
pessoas, as técnicas utilizadas até hoje em educação infantil devem muito a ele. Para ele as
brincadeiras são o primeiro recurso no caminho rumo a aprendizagem. As brincadeiras não
são apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo concreto com a
finalidade de entendê-lo, o caminho para isso seria deixar a criança livre para expressar seu
interior e perseguir seus interesses. Com base na observação das atividades dos pequenos
jogos e brinquedos, Froebel foi um dos primeiros pedagogos a falar em auto-educação, um
conceito que só se difundiria no inicio do século XX, graças ao movimento Escola Nova, de
Maria Montessori (1870-1952) e Célestin Frainet (1896-1966), entre outros. Considerando o
criador dos jardins-de-infância defendia uma educação sem obrigações para as crianças, que
para ele, aprendiam conforme seus interesses e por meio da prática. Para Froebel, a educação
infantil é significativamente necessária à formação plena da criança, ideia bastante aceita e
difundida pelos teóricos da educação posteriores.
Antes, o objetivo primordial das atividades desenvolvidas na Educação Infantil era
possibilitar brincadeiras criativas ás crianças sendo que, nas atividades, o material escolar era
29
predefinido, com a intenção de criar inúmeras oportunidades e tirar proveitos educativos da
atividade lúdica, eram feitos círculos, esferas, cubos e outros objetos que tinham como
objetivo estimular a aprendizagem, eles eram feitos com materiais macios e manipuláveis,
geralmente em partes desmontáveis. Nas brincadeiras, utilizavam-se versos e músicas para
desenvolver danças.
Froebel apud Silva (1999) utilizava objetos, nas brincadeiras, definindo regras
para o seu uso, como instrumentos pedagógicos. Essas brincadeiras geralmente, eram
realizadas ao ar livre promovendo a interação entre as crianças e o meio.. Esses jogos se
iniciavam colocando as crianças em círculos, movimentando-se e cantando, até que
alcançassem uma unidade perfeita.
Além disso, as crianças executavam trabalhos manuais, com a intenção de
estimular os sentidos e desenvolver o corpo, procurando preparar para o trabalho que,
segundo o educador Froebel apud Silva (1999), seria uma imitação da criação do universo por
Deus. Este autor, referido por Silva (op. cit.), defendia a educação sem imposição às crianças,
porque, segundo sua teoria, elas passam por diferentes estágios de capacidade de aprendizado,
com características especificas, antecipando as ideias de Piaget (1980) apud Oliveira (1994,
p.78).
Como falar em educação e brinquedos sem falar em Maria Montessori, antes da
era Montessori, educar as crianças era discipliná-las, enquadrá-las e ponto final. A escola
montessoriana revolucionou o ensino ainda no século XIX, como característica dessa escola
temos os respeito a individualidade de cada criança, uma outra característica é criar na escola
um ambiente sob medida para as crianças, levando em conta inclusive a decoração dos
espaços e materiais adequados ao desenvolvimento infantil, ela acreditava que era
fundamental educar antes os sentidos e depois o intelecto. Defendia a tese de que os
30
“pequenos” deviam ter a liberdade de escolher o que desejavam fazer.
Outro desafio e ponto relevante de seu trabalho era lidar com vítimas do
preconceito, crianças excepcionais na época eram excluídas da sociedade, eram motivos de
vergonha para as famílias que praticamente as escondiam em casa. Seus primeiros trabalhos a
levaram a conhecer de perto asilos para loucos, onde eram também internadas as crianças
consideradas “anormais”. Observando os pequenos pacientes, tratados pela instituição como
incapazes, a doutora Montessori fez duas constatações: que eles queriam e eram capazes sim
de aprender o que ela queria e poderia sim ajudá-los. Quanto mais se dedicava e ensinava,
mais se convencia de que o ambiente fazia toda a diferença, passou a defender a seguinte tese:
Os deficientes precisavam mais de um bom método pedagógico do que da medicina. Suas
ideia começaram chamar a atenção, principalmente depois que seus alunos especiais
demonstraram aprender a ler e escrever até melhor e mais depressa do que as crianças
“normais”. Diante disso não havia duvidas de que Montessori estava certa ao afirmar que o
problema da educação eram as próprias escolas. Em 1906, Maria Montessori trocou um
prestigioso cargo de professora de antropologia na Universidade de Roma por uma sala em
um conjunto residencial operário. A escola era mantida por uma empresa e atendia a sessenta
filhos de operários (entre três e sete anos), as crianças passavam o dia inteiro sozinhas
enquanto os pais trabalhavam. Essa seria o embrião das Casas das Crianças, creches
montessorianas que se espalhariam pelo mundo. Fora essa sala que Maria Montessori testou
seu método de ensino baseado num conceito inteiramente novo, dar as crianças mais liberdade
e oportunidade de crescer em um ambiente capaz de estimular a curiosidade, arejado,
colorido, cheio de brinquedos didáticos, assim elas aprendiam sozinhas, estudando e
brincando, desenvolviam senso de responsabilidade e cooperavam umas com as outras em vez
de competir. Em 1912 seu método foi publicado tornando-se um best-seller e no ano seguinte
se espalharia por todo o mundo. (Lobo, Maria, Mulheres a frente do seu tempo (REVISTA
31
CLÁUDIA, 2005).
O que nos leva a tratar de jogo com tamanha insistência são as importantes
funções que ele propicia, capazes de auxiliar o ser humano no desenvolvimento, na
aprendizagem e na integração com o ambiente. Tais razões nos levaram a identificar na
atividade lúdica três importantes funções: a socializadora, a psicológica e a pedagógica. Do
ponto de vista cultural e social, o lúdico tende a inserir as crianças no seu meio, ensinando-as
diversos aspectos de sua cultura. Entre os indígenas, por exemplo, são comuns as atividades
desenvolvidas pelas crianças, realizadas sob a forma de jogos, que se assemelham às dos
adultos. Os ritos de iniciação são uma prova dessa realidade.
A brincadeira de pegador, comum entre as crianças, também é possível que se
tenha originado de historias de bruxas, oriundas do folclore português e que estimularam a
criação da personagem “bruxa” nos contos infantis.
Nesse sentido, é importante notar que as rosas cantadas tem uma importante
função no processo de integração entre as crianças em idade pré-escolar. Elas preservam
elementos próprio da cultura popular, como musicas e danças, alem de desenvolverem noções
de coletividade, cooperação, participação, através de algumas de suas regras. Em algumas
brincadeiras o brincar fornece aos participantes a possibilidade de estabelecerem uma rede de
relações onde são implicados valores e costumes.
Diante do exposto vimos que mesmo procurando fazer sua parte, o professor e a
escola, muitas vezes, não respeitam a possibilidade de que outra coisa aconteça, de que o
aluno seja visto como ser autônomo e criativo, portanto, colocado no centro do processo
educativo. Dessa forma, brincar na sala de aula é uma aposta.
2.2 Brincadeiras e atividades lúdicas na escola
32
Os conceitos de jogos e brincadeiras em geral, acabam sendo utilizados como
sinônimos, embora o primeiro pareça diferir do segundo em alguns aspectos. Enquanto a
brincadeira aparenta ser mais livre, possui um fim em si mesma e realiza-se apenas com um
elemento, o jogo possui regras, pode ser utilizado como meio para chegar-se a um fim e,
geralmente, envolve dois ou mais participantes. Nessa situação até mesmo o adversário torna-
se parceiro. Apesar das diferenças apresentadas, a maioria dos autores acabam usando os
termos como sinônimos.
O lúdico é um novo aliado da Educação e precisa ser estudado, visto que muitos
professores preconizam somente o brincar livre, sem objetivos educacionais, com certeza, o
brincar livre é importante e todos os educandos precisam de tempo para realizar atividades
assim, pois brincando os mesmos estarão conhecendo o mundo, o brincar somente por brincar
deve acontecer no recreio, em horários livres para descansar das atividades escolares.
A criança envolve-se com o jogo, com a brincadeira de forma prazerosa. Quando
se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de uma forma. Pode-se estar falando de
jogos políticos, de adultos, crianças, animais ou amarelinhas, xadrez, adivinhas, contar
histórias, brincar de mamãe papai e filhinho, futebol, dominó, quebra cabeça, construir
brinquedos, brincar na areia e uma infinidade de outros. Tais jogos, embora recebam a mesma
denominação tem suas especificidades.
Segundo Vygotsky (1988, p. 11),
O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.
Vygotsky (1988 p.24), em seus estudos falam da importância da participação ativa
33
do sujeito na aprendizagem. As crianças em interação com o meio constroem conhecimento,
desse jeito as atividades lúdicas vão permitir a manipulação dos dados da realidade
reelaborando-os e transformando-os.
O brinquedo e a brincadeira constituem uma questão lúdica da maior relevância,
como fator de desenvolvimento da criança. Neste sentido o brincar tem um papel fundamental
e contribui decisivamente na construção da autonomia infantil e de sua convivência autentica.
Na verdade, o brincar na educação infantil, representa um desafio para os profissionais de
educação, a fim de tornar esse nível de ensino, um momento promotor de dignidade, do
respeito e da cidadania.
Ressalta-se, a ideia de que os professores reconheçam o real significado do
lúdico, para aplicá-lo adequadamente, estabelecendo a relação entre o brinquedo, brincar e
aprender, como práticas articuladas da organização do trabalho pedagógico, pois brincar não
pode ficar reduzido apenas ao dia do brinquedo, ele deve fazer parte do processo de ensino e
aprendizagem. A sala de aula é também um espaço para atividades lúdicas, brincando também
se aprende é na Educação Infantil que a brincadeira é o mais importante, nas atividades
físicas, por meio de tarefas lúdicas, os pequenos experimentam diferentes maneiras de andar,
correr, pular e se esticar, aprendendo inclusive a interagir com os colegas.
A palavra Jogo provém de jocu, substantivo masculino de origem latina que
significa gracejo, é uma atividade que tem valor educacional intrínseco. Leif (????, p. ) diz
que "jogar educa, assim como viver educa: sempre sobra alguma coisa". A utilização de jogos
educativos no ambiente escolar traz muitas vantagens para o processo de ensino e
aprendizagem, entre elas: O jogo é um impulso natural da criança funcionando assim como
um grande motivador. A criança através do jogo obtém prazer e realiza um esforço
espontâneo e voluntário para atingir o objetivo do jogo. O jogo mobiliza esquemas mentais:
34
estimula o pensamento, a ordenação de tempo e espaço. O jogo integra várias dimensões da
personalidade: afetiva, social, motora e cognitiva.
O jogo favorece a aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de
habilidades como coordenação, destreza, rapidez, força, concentração, etc. A participação em
jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, cooperação, obediência às
regras, senso de responsabilidade, senso de justiça, iniciativa pessoal e grupal. O jogo é uma
forma de vínculo que une a vontade e o prazer durante a realização de uma atividade. O
ensino utilizando meios lúdicos cria ambiente gratificantes e atraentes servindo como
estímulo para o desenvolvimento integral da criança.
Acredita-se que na faixa etária, na pré escola, deve ser dada a criança liberdade
para vivenciar os mais diversificados jogos e atividades de maneira que ela possa
gradativamente conhecer, modificar e utilizar ou não as regras já existentes. Novas atividades
geram sentimento de desafio nas crianças, que se mostram estimuladas e empenhadas a
participarem para descobrirem tudo que envolve o processo, da nova brincadeira ou do novo
jogo.
2.3 A classificação dos jogos e brincadeiras na visão de alguns autores
As teorias que discutem os processos internos relacionados com o comportamento
lúdico focalizam o jogo como representação de um objetivo. Entre seus representantes estão
Vigotsky, Piaget, Freud, Caillois, Huizinga e outros. Tais estudos, ao considerarem a
realidade interna (representação), e o ambiente externo (papeis, objetos, valores, pressões,
movimentos, etc), permitem uma determinação teórica mais completa (KISHIMOTO, 1992,
p. 134).
35
Segundo Vygotsky ( 1989, p. ) a aprendizagem precede o desenvolvimento. Posto
isso, tem-se idéia antagônica à outrora difundida de que a criança precisa, primeiramente
adquirir determinada capacidade para aprender determinado conteúdo, o que equivale a dizer
que as habilidades não precedem ao conhecimento, mas que é no processo de elaboração do
conhecimento que se constroem também as habilidades, quanto a imaginação é um processo
novo para a criança, pois constitui uma característica típica humana consciente. É certo
porem, que a imaginação surge da ação e é a primeira manifestação da emancipação da
criança em relação às restrições situacionais. Isso não significa necessariamente que todos os
desejos não-satisfeitos dão origem aos brinquedos.
Para Kishimoto (2001, p.28), antes da revolução romântica, três concepções
estabeleciam as relações entre o jogo infantil e a educação; (1) recreação; (2) uso do jogo para
favorecer o ensino de conteúdos escolares e (3) diagnostico da personalidade infantil e recurso
para ajustar o ensino às necessidades infantis.
O jogo é visto como recreação desde a antiguidade greco-romana. Era uma atividade de relaxamento às que exigiam esforço físico e intelectual. Atualmente a prática de jogos-brincadeiras, preenchem também a necessidade do relaxamento após um dia de trabalho estafante e rotineiro. Durante a Idade Média, o jogo foi considerado não sério, por sua associação ao jogo de azar, bastante divulgado na época. Foi a partir do Renascimento que o jogo foi enfatizado com conduta livre que divulgava princípios morais, éticos, históricos e geográficos.
Para Piaget (1997, p. 64), “O brincar representa uma fase no desenvolvimento da
inteligência que culmina num equilíbrio entre assimilação a acomodação. Uma vez que a
imitação prolonga esta ultima por si mesma, é possível afirmar que o jogo é essencialmente
assimilação, que prima sobre acomodação. A inteligência só é expressa quando em ação,
raciocínio sobre o objeto ou experimento.
A teoria psicogenética de Piaget (1990) considera o brincar como uma atividade
que ajuda a criança a se apropriar da realidade em que está inserida, transformando-a por
meio de hábitos e habilidades motores. Nessa perspectiva Piaget (1990, p. 146) afirma que:
36
O jogo, ou a atividade lúdica, conduz da ação à representação, na medida em que evolui do exercício sensório-motor para o jogo simbólico. Partindo deste pressuposto o autor propõe uma classificação genética dos jogos baseados na evolução das estruturas mentais, classificando-os em três tipos: jogos de exercício (0 a 1 ano), jogos simbólicos (2 a 7 anos) e jogos de regras (ápice aos 7 anos). A principal característica do jogo exercício é a busca pelo prazer, a ação está diretamente ligada a ele. Tem como finalidade o divertimento, fazendo funcionar e exercitando estruturas já aprendidas pelo indivíduo, portanto, como a prática deste jogo não está relacionada a aquisição de um novo conhecimento, satura-se logo. [...]. Esse jogo de simples exercício, sem a intervenção de símbolos ou ficções nem regras, caracteriza especialmente as condutas animais [...] (PIAGET, 1990, p.146).
Na perspectiva de Piaget (1990), a competição, como habilidade necessária
durante os jogos em grupos, é construída de acordo com o nível de maturidade das crianças,
não considerando-a, apenas como uma característica genética ou da personalidade, nem como
produto do meio. As competições atraem bastante as crianças notando-se grande alegria no
momento de se organizarem em equipes para realizarem disputas. Entretanto, percebe-se que
em crianças menores, não há grande interesse por sair vencedora, valendo, apenas, o fato de
participar e de competir.
Dando continuidade a obra de Vygotsky, Elkonin (1980) nos diz que os termos
jogo e atividade lúdica não devem ser empregados como sinônimo do mesmo tipo de
atividade, sendo o jogo protagonizado ou jogo de papeis, visto como uma forma de
desenvolvimento da atividade lúdica. Ele define jogo protagonizado como sendo “Uma
atividade na qual se reconstroem, sem fins utilitários diretos, as relações sociais...” “Nem toda
reconstrução nem a construção de qualquer fenômeno da vida é jogo. No homem é jogo a
reconstrução de uma atividade que destaque seu conteúdo social, humano, suas tarefas e as
normas das relações sociais”.
O significado dos jogos infantis também foi esclarecido pelos trabalhos de Klein
(1948) sobre as fantasias. Ela afirma que brincar com bonecas revela a necessidade que a
criança tem de ser consolada e tranquilizada. Alimentar e vestir as bonecas, com as quais se
identifica, funciona como uma prova de que sua ‘mãe’ a ama e isso diminui o medo de ser
37
abandonada e de ficar ao desamparo, sem lar e sem mãe. Já Ana Freud (1954) mostrou o
sentido defensivo do jogo (LEBOVICI & DIATKINE, 1996, p. 43)
Os jogos ou atividades dirigidas para situações concretas são de extrema utilidade
na obtenção da construção do conhecimento, principalmente nas primeiras fases do
desenvolvimento cognitivo.
No pensamento concreto a criança é desprovida de capacidade hipotética e de
operar de forma abstrata. Sua lógica prende-se às modificações dos objetos palpáveis. Dessa
forma o ensino principalmente da matemática deve ser repassado através de atividades
manipuláveis e prazerosas, a fim de que a criança alcance o desenvolvimento das estruturas
que lhe permitiram alcançar a fase das abstrações, ou seja. Operatório Formal para
compreender a Matemática.
O homem é um ser simbólico, ou seja, constantemente cria ou utiliza-se de
símbolos para a comunicação consigo e com os outros. Nos jogos expressa suas necessidades,
seus conflitos, seus desejos, assim como amplia suas estratégias de relacionamento. Assim, o
homem vai desenvolvendo sua autonomia e sua capacidade de se integrar criativamente no
mundo.
Para Freire (1980, p. 52)
O importante é que o jogo seja uma proposta da pessoa, da família ou do grupo e quando proposto pelo educador tenha por base os pedidos alunos ou filhos, por meio de palavras, metáforas, gestos, movimentos, objetos, jogo espontâneo criativo da oportunidade para que o individuo ou a família seja sujeito da sua ação e não objeto da ação do outro, ampliando as oportunidades de interação de criatividade.
Kamii (1996, p. 76), diz que “muitos jogos em grupo proporcionam um contexto
excelente para o pensamento em geral e para a comparação de quantidades... exemplos de
jogos com alvos, jogos de esconder, corridas e jogos de pegar, adivinhações, jogos de
tabuleiro e baralho.”
38
Além das abordagens dos teóricos, referidas atividades encontram-se consolidadas
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1998, p. 48), conforme citação:
... Por meio de jogos as crianças não apenas vivenciam situações que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e pensar por analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem as regras e dar explicações.
Todos esses teóricos são unânimes em dizer que o jogo infantil tem um papel
muito importante na vida da criança. A brincadeira e o jogo reúnem experiências, de forma
que o processo de repetir, imitar, representar e inventar é mais do que um ato de brincar.
Através dele, a criança revela uma parte de si mesma, o que ela pensa e como o faz, como se
vê e aos outros.
2.4 Diferenças entre as concepções de Vygotsky e Piaget
Tanto Vygotsky (2001), quanto Piaget (1990) falam numa transformação do real
por exigência das necessidades da criança, mas enquanto que para Piaget a imaginação da
criança não é mais do que atividade deformante da realidade, para Vygotsky (1998), a criança
cria (desenvolve o comportamento combinatório) a partir do que conhece, das oportunidades
do meio e em função das suas necessidades e preferências. Piaget e Vygotsky possuem uma
abordagem diferente, embora os dois se situem numa posição construtivista.
Como afirma Palangana (1994), as concepções de Vigostky e Piaget quanto ao
papel do jogo no desenvolvimento cognitivo diferem radicalmente. Para Piaget (1990) no jogo
prepondera a assimilação, ou seja, a criança assimila no jogo o que percebe da realidade às
estruturas que já construiu e neste sentido o jogo não é determinante nas modificações das
estruturas. Para Vygotsky (1998) o jogo proporciona alteração das estruturas.
39
Como afirma Palangana (1994), Vygotsky e Piaget em suas concepções diferem
do uso do jogo no desenvolvimento cognitivo da criança. Na concepção piagentiana, no jogo
prevalece a assimilação sobre a acomodação, ele afirma que a criança assimila no jogo o que
percebe da sua realidade das estruturas já construídas, ou seja num exercício das ações
individuais já aprendidas, tendo como função consolidar a experiência passada, sendo assim,
o jogo não define as modificações operadas nas estruturas cognitivas.
Segundo Piaget (1967, p.32) “o jogo não pode ser visto apenas como
divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento
físico, cognitivo, social e moral”. Através dele se processa a construção do conhecimento,
principalmente nos períodos sensório-motor pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as
crianças desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem a noção de
causualidade, chegando a representação e, finalmente à lógica. As crianças ficam mais
motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar
obstáculos como emocionais. E, estando mais motivadas, ficam mais ativas durante o jogo.
De acordo com as concepções de Vygotsky (1998), uma prática pedagógica
adequada perpassa não somente por deixar as crianças brincarem, mas, fundamentalmente por
ajudar as crianças a brincar, por brincar com as crianças e até mesmo por ensinar as crianças a
brincar. Considera o jogo como uma atividade que completa as necessidades da criança. Fala
que o desenvolvimento da criança se da através de estímulos e inclinações.
Vygotsky (1998) Defende a tese de que, nos primeiros anos de vida, a brincadeira
é a atividade predominante e constitui fonte de desenvolvimento ao criar zonas de
desenvolvimento proximal (região de domínio psicológico em constante transformação,
representado pela distancia entre o nível de desenvolvimento real e potencial, pois na
brincadeira a criança comporta-se num nível que ultrapassa o que esta acostumada a fazer,
40
funcionando como se fosse maior do que é.
O jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis e
também a possibilidade de exercitar-se no domínio do simbolismo. Quando a criança é
pequena o jogo é o objeto que determina sua ação. Na medida em que cresce, a criança impõe
ao objeto um significado. O exercício do simbolismo ocorre justamente quando o significado
fica em primeiro plano. Do ponto do desenvolvimento da criança a brincadeira trás vantagens
sociais, cognitivas e afetivas (VYGOTSKY, 1991).
A zona de desenvolvimento proximal refere-se ao caminho que a aprendizagem
irá percorrer para se desenvolver, ou seja o que o individuo recebe hoje, amanhã poderá fazer
sozinho.
A aprendizagem, para os vygotskianos, tem uma ligação forte entre os processos
de desenvolvimento e a relação do individuo com seu ambiente sócio-cultural e com a
valorização do fator social. O jogo propriamente dito começa aos três anos com o jogo de
papeis onde as crianças criam situações imaginárias e incorporam elementos culturais que são
adquiridos através da interação e da comunicação.
Vygotsky em oposição à teoria de Piaget, o critica pela falta de estudos quanto a
questão de aprendizado e desenvolvimento, e também de clareza teórica das teorias do
desenvolvimento aplicado na educação. Acredita que os processos de desenvolvimento da
criança são independentes do aprendizado. Considera o aprendizado um processo externo e
independente e que não se envolve ativamente no desenvolvimento da criança.
Andrade (1996, p. 62) comenta que:
De 0 a 1 ano de idade, a criança usa a imitação para se adaptar à realidade, aprender novas ações ou satisfazer uma necessidade, então, é muito importante que a criança tenha espaço e liberdade, com segurança, para se movimentar e outras pessoas com quem se relacionar.
41
Aos 2 anos de idade a criança já é capaz de fazer representações, ou seja, pensar
no objeto ausente, inicia-se então a fase do jogo simbólico ou do faz-de-conta, onde uma coisa
simboliza a outra.
As características deste jogo são: liberdade de regras; envolvimento da fantasia;
fim em si mesmo, isto é, o prazer está no processo e não no resultado; muitas vezes não
relacionasse com a realidade e não tem uma sequência lógica para acontecer, são conduzidos
pelas fantasias das crianças. É através deste jogo que a criança busca o equilíbrio entre os
mundos interno e externo, modificando a realidade para poder assimilá-la; suas fantasias são
modificadas de acordo com as limitações da realidade. Desta forma a criança pode vivenciar,
analisar e criticar, sem os riscos da realidade, pois tudo é fictício, um faz-de-conta.
Algumas características deste jogo vão se modificando com o desenvolvimento da
criança. Num primeiro momento ela é quem realiza as ações, em seguida transforma
simbolicamente um objeto em outro, fazendo com que eles realizem a ação em seu lugar.
Dos 4 aos 7 anos de idade este jogo vai perdendo o caráter de deformação lúdica
da realidade se tornando cada vez mais uma imitação representativa da realidade, dando lugar,
aos poucos ao jogo de regras e às construções adaptadas à realidade. O jogo de regras é
considerado por Piaget (1978), como atividade lúdica do ser socializado, pois as regras
supõem relações sociais entre, pelo menos, dois indivíduos. Neste tipo de jogo o espaço e o
tempo são limitados, porém o lúdico, o prazer e o símbolo continuam existindo.
Para ser eficiente as regras do jogo devem especificar os objetivos deste e o papel
que cada indivíduo deve desempenhar no decorrer da atividade, estes papéis podem ser
interdependentes, opostos ou cooperativos, dependendo do jogo.
Os adultos, inclusive os professores, devem estimular a participação das crianças
42
na elaboração e cumprimento das regras em jogos competitivos, pois, de Acordo com
Andrade (1996, p.64) isto ajudará
[...] no desenvolvimento da capacidade de pensar de modo ativo; a serem cada vez mais capazes de elaborar regras justas e eficientes para si mesmas, a se comandarem bem em grupo , desenvolvendo-se socialmente e intelectualmente, lidando com aspectos sociais, políticos, morais e emocionais (ANDRADE,1996, p. 64).
Para ser considerado um jogo de regras, este necessita ter um objetivo claro ser
alcançado, regras, intenções opostas e possibilidades de se levantar estratégias. O
levantamento de estratégias; a análise das jogadas, dos erros e acertos e o replanejamento são
características deste tipo de jogo e excelentes instrumentos de desenvolvimento da
inteligência na resolução de problemas.
Esse tipo de jogo também proporciona às crianças momentos de vivência em
grupo, ao jogarem em grupos as crianças têm a oportunidade de conhecer o modo e pensar e
agir dos outros, de trocar opiniões, de entrar em confronto e em acordo. A troca de ideias
propicia o desenvolvimento da autonomia e da lógica na criança, e o conflito provoca o
raciocínio. Desta forma, a função destes jogos
[...] é então muito maior do que ser um instrumento para motivar o aprendizado de conteúdos curriculares; ele desenvolve as habilidades de pensamento como a observação, a comparação, a dedução e principalmente,o raciocínio necessários para o ato de aprender, de aprender qualquer coisa na vida, inclusive valores como respeito, cooperação, fidelidade, justiça,etc (ANDRADE, 1996, p. 65).
Para que a competição seja saudável, é necessário que se trabalhe desde cedo com
as crianças atitudes de naturalidade em relação à vitória e à derrota. Winnicott (1975) diz que
é no brincar, e somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e
utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu.
Macedo defende os jogos especialmente os de regra porque criam um contexto de
observação e diálogo sobre os processos de pensar e construir o conhecimento de acordo com
43
os limites da criança. A técnica do jogo em psicanálise foi elaborada por Melanie Klein, Ana
Freud e outros que aprofundaram o simbolismo inconsciente do jogo. Para Klein (1977),
brincando a criança expressa de modo simbólico suas ‘phantasias’, seus desejos e suas
experiências vividas.
2.5 Tipos de jogos e brincadeiras
Criação inventado pela escola e esta não pode se apropriar dele. Deve utulizá-lo
com o respeito que ele merece enquanto criação e patrimonio de toda humanidade. Ele
perpassa todas as fases da evolução do homem e, em cada uma delas, apresenta caracteristicas
próprias. Há uma estreita relação entre o amadurecimento neuro-psicofisiológico do sujeito e
o tipo de jogo que lhe interessa e lhe estimula” (LOPES, 2001, p. 12).
Piaget (1896-1980), o grande teórico do construtivismo, dedicou-se a estudar os
jogos classidicando-os de acordo com sua adequação ao diferentes estágios das estuturas
mentais. Para o autor todos os jogos podem ser estruturados, basicamente, segundo tres
forma: exercicio, simbolo ou regra, começando-se a descrevê-las a seguir, a partir do primeiro
modelo, que estrutura as ações como jogos de exercicios.
Os Jogos de exercício
De 0 a 2 anos – sensorio-motor – a principal caracteristica da ação exercida pela
criança no período sensório-motor é a satisfação de suas necessidades. Pouco a pouco, porem,
ela vai ampliando seus esquemas, adquirindo cada vez mais a possibilidade de garantir prazer
em troca do que faz. Passa a agir para conseguir prazer. Porque é o prazer que determina
significado as ações.
Por isso o ato de sugar é tão significativo, porque a medida que satisfaz sua fome
44
o bebê sente prazer em manar. Outras sensações de agrado ele experimenta quando vai
realizando novas descobertas como engatinhar, andar, falar. Isto o vai estimulando a
prosseguir num verdadeiro jogo de descoberta corporal. Piaget depreendeu que havia um
objetivo na repetição dessas condutas: divertir e servir como instrumento de prazer em fazer
trabalhar estruturas ja aprendidas. Esse tipo de jogo (exercício) dá a criança uma satisfação de
eficacia e poder. O jogo de exercício é então defenido por ele como caracteristico desta fase
sensório-motora (LOPES, 2001).
Porém não deixamos de jogá-lo quando crescemos e nos tornamos adultos. A cada
nova aprendizagem, ele pode ser utilizado para formar esquemas de ação necessários ao bom
desempenho. “o jogo de exercício não objetiva a aprendizagem em si, mas a formação de
esquema de ação, de condutas, de automatismo. Por isso, jogá-lo só é necessário para este
fim, pois fica cansativa e enfadonha a repetição de ações já interiorizadas” (LOPES, 2001, p
13).
Os jogos simbólicos
No processo de desenvolvimento da criança, os jogos simbolicos, como estrutura,
vêm depois dos jogos de exercícios. E caracterizam-se por seu valor analogico, ou seja por se
poder tratar ‘A’ como se fosse ‘B’, ou vice-versa. Trata-se portanto de repetir, como
conteúdo, o que a criança assimilou como forma nos jogos de exercício. Agir em uma
brincadeira de boneca, como a mãe, por exemplo, significa repetir, por analogia, o que a mãe
tanta vezes fez com ela em seu primeiro ano de vida, significa tambem poder aplicar, agora
como conteudo as formas dos esquemas de ação o que assimilou em seus jogos de exercício.
Começa aos 2 até 7 anos aproximadamente. Pré-operatório – no jogo simbolico a
criança é capaz de encontrar o mesmo prazer que sentia anteriormente com os jogos de
exercício, lidando agora com símbolos. “É a época do faz-de-conta da representção, do teatro,
45
(capa transforma um super-homem; representar o papel de mãe ao brincar de bonecas”
(LOPES, 2001, p. 31).
Conforme a autora, a criança está apta para esse jogo porque já estruturou sua
função simbolica, ou seja produz imagens mentais e domina a lingua falada que lhe possibilita
rma seguintes caracteristicas:
1. Liberdade total de regras criadas pela própria criança;
2. Desenvolvimento da imaginação e da fantasia;
3. Ausência do objetivo (brincar pelo prazer de brincar);
4. Ausência de uma lógica da realidade;
5. Assimilaçãoda realidade que é adaptada a seus desejos. Por os pais, vai brincar
de casinha e resolve o conflito por meio dos bonecos.
Lopes (2001) afirma que, utilizando os jogos simbolicos, a criança tem a
possibilidade de vivenciar aspectos reais muitas vezes dificeis de elaborar a vinda de um
irmãozinho, a perda de um genitor, a mudança de escola. Pode lidar com fantasias (ser um
super-homem), fatos dolorosos (separação dos pais) com situações do passado: enfrentar
problemas do presente e antecipar consequencias de ações futuras. Ela pode fazer tudo isso
sem riscos, porque estas circunstâncias ocorrem ao nivel de ficção.
O adulto que observa a criança e interage no jogo simbolico pode perceber como
ela vai construindo sua visão de mundo, como lida com seus problemas, quais são os seus
ideais e preocupações. Por isso o jogo simbolico é usado por psicologos para diagnostico e
tratamento. Como a fase pré-operátoria se estende dos dois aos sete anos, tendo portanto, uma
duração mais longa, ela sofre modificações conforme a criança for progredindo em seu
46
desenvolvimento, rumo a intuição e a operação. É o que Lopes (2001) denomina de evolução
dos Jogos Simbolicos.
Os Jogos de regras
Os jogos de regras contém, como proppriedades fundamentais de seu sistema, as
duas caracteristicas herdadas das estruturas dos jogos anteriores. Neles como ja foi dito, a
repetição dos jogos de exercicio corresponde à regularidade, graças a qual esses jogos se
constituem em formas democraticas de intercambio social entre crianças ou adultos.
Regulardade porque o “como fazer o jogo” é sempre o mesmo, até que se modifiquem as
regras. Na condição de invariante do sistema, pede consideração reciproca de todos os
participantes do jogo, sendo a trangressão das regras uma falta grave, que pertuba o sentido do
jogo (Macedo, 1994). Os jogos de regras herdam dos jogos simbolicos as convenções, ou seja
a idéia de que as regras são combinados arbritários que o inventor do jogo ou seus
proponentes fazem e que os jogadores aceitam por sua vontade.
Com os progressos da socialização da criança e o desenvolvimento de suas
estruturas intelectuais, o jogo egocêntrico é abandonado. O convívio social é mais
interessante. As obrigações são impostas por intermédio das relações de reciprocidade e
cooperação do grupo. O jogo de regras é necessário para que as convenções sociais e os
valores morais de uma cultura sejam transmitidos. As estratégias de ação, a tomada de
decisão, a análise dos erros, lidar com perdas e ganhos, replanejar jogadas em função dos
movimentos dos adversários, tudo isso é importante para o desenvolvimento das estruturas
cognitivas de cada pessoa. O jogo provoca conflitos internos, a necessidade de buscar uma
saída, e é desses conflitos que o pensamento sai enriquecido, reestruturado e apto para lidar
com novas transformações.
47
Jogos na escola
Na escola, a brincadeira ou jogo ensina alguma coisa que irá completar a criança
em relação ao seu saber, conhecimento e a visão que ela tem do mundo. O jogo e o brinquedo
como atividade livre é uma atividade voluntária do ser humano, quando sujeito as ordens
deixa de ser brincadeira. Só é jogo quando a ação voluntária do ser humano esta presente.
Quando brinca a criança stá tomando uma certa distancia a vida cotidiana, voltando-se a vida
do imaginário.
O jogo quando mediado, será coersivo e os jogadores não terão liberdade de ação,
imaginação e prazer. Mas quando a finalidade é estimular a aprendizagem, o que está em jogo
é a função educativa do brinquedo. O professor está criando condições para que o
desenvolvimento das estruturas das crianças, abrindo espaço para que elas possam através do
ludico, ter a capacidade de iniciação, ação organizada e conceituada.
Brincar é a ludicidade do aprender. A criança aprende enquanto brinca. No brincar
com outras pessoas na escola a criança aprende a viver socialmente, respeitando regras,
cumprindo normas, esperando sua vez e interagindo de uma forma organizada.
48
3 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA TRABALHAR O LÚDICO
Para Kishimoto (1997) a função pedagógica será garantida pela organização do
espaço, pela disponibilidade de materiais e muitas vezes pela proporia parceria do professor
nas brincadeiras.
O jogo como promotor da aprendizagem e do desenvolvimento, passou a ser considerado nas práticas escolares como importante aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante de situação de jogo pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na escola, além de poder estar promovendo o desenvolvimento de novas estruturas cognitivas (KISHIMOTO, 1997, p 80).
Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos
dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da
criança. Nesse sentido qualquer jogo empregado pela escola, desde que respeite a natureza do
ato lúdico imprime o caráter educativo e pode receber também a denominação geral do jogo
educativo.
Mas o que eram então os brinquedos, jogos e materiais pedagógicos?
Segundo KISHIMOTO (1997, p. 128)
1º. Os brinquedos, jogos e materiais pedagógicos não são objetos que trazem em seu bojo um saber pronto e acabado. Ao contrário, eles são objetos que trazem um saber em potencial. Este saber pode ou não ser ativado pelo aluno.
2º. O material pedagógico não deve ser visto como um objeto estático sempre igual para todos os sujeitos. O material pedagógico é um objeto dinâmico que se altera em função da cadeia simbólica e imaginária do aluno.
3º. O material pedagógico traz em seu bojo um potencial relacional, que pode ou não desencadear relações entre as pessoas. Assim, o mesmo objeto que desencadeou relações muito positivas em uma classe pode ser o mesmo que paralise uma outra.
4º. Os materiais pedagógicos são objetos que trazem em seu bojo uma historicidade própria. Alem de portar a historicidade de cada aluno e professor que paralise uma outra.
49
Ser professor é uma constituição singular que vai tomando forma no processo da
própria existência, sobretudo porque a ação de ensinar suscita uma aprendizagem permanente,
contínua, marcada pela descontinuidade da passagem de aluno a professor. Construir um novo
profissional requer do mesmo, revisão de propósitos, valores e procedimentos vigentes,
constituídos ao longo da história de sua formação pessoal e profissional.
Na medida em que os professores problematizam, analisam e refletem sobre o
percurso vivido, sentem-se mais responsáveis pela sua formação profissional e passam a
concebê-la como uma formação continua, que se desenha junto à história individual e social
de cada um, ao longo da profissão (NÓVOA , 1991).
O verdadeiro papel da escola e dos educadores deveria ser o de contribuir para
uma vida melhor, mais saudável e respeitável, em todos os segmentos da sociedade. A
educação assim pensada e compreendida desencadeia um processo refletido das relações entre
a ética e o agir pedagógico, através de uma prática educativa que interfira em nosso
conhecimento, em nossas possibilidades, como aprendizes e investigadores. No seu trabalho o
docente precisa ter clareza quanto ao tipo de sociedade ele ajuda a construir, ao conjunto de
valores que aspira. É preciso que o docente esteja comprometido com a ética e com a estética.
O professor nesta relação de amor com o conhecimento pode passar a viver uma
relação sadia com os seus semelhantes e com o mundo que o rodeia. Educar nos tempos
atuais, mais do que nunca, não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um
caminho, aquele caminho que o professor considera o mais correto, mas é contribuir com o
educando para que o mesmo possa tomar consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade.
É saber aceitar-se como pessoa e saber aceitar os outros. É oferecer várias ferramentas para
que a pessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus
valores, sua visão de mundo e com circunstâncias adversas que cada um irá encontrar.
50
Saber ser, saber fazer, aprender a aprender e aprender a viver juntos são os
sustentáculos para a educação no século XXI conforme colocado pelo relatório da UNESCO
intitulado: Educação: Um tesouro a descobrir (UNESCO, 2003). Sendo assim, a educação que
pode formar o homem autônomo é aquela que ensina o diálogo investigativo coletivo.
Este tipo de educação é um exercício de prática verdadeiramente democrática e
ajuda na construção do pensamento criterioso, criador e responsável. Para que esta proposta
possa se tornar realidade uma das possibilidades é o trabalho dentro dos espaços de educação
com o lúdico.
O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana.
Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A
criança e mesmo o jovem opõe uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela
não é lúdica, não é prazerosa.
Snyders (1988) defende a alegria na escola, vendo-a não só como necessária, mas
como possível. “A maior parte das crianças em situação de fracasso são as de classe popular e
elas precisam ter prazer em estudar; do contrário, desistirão, abandonarão a escola, se
puderem [...]
Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades de ordem física e econômica, mais
a Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria, não pode ser uma alegria
que os desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo ao prazer. A alegria deve ser
prioridade para aqueles que sofrem mais fora da escola. Estudos demonstram que através de
atividades lúdicas, o educando explora muito mais sua criatividade, melhora sua conduta no
processo de ensino-aprendizagem e sua autoestima.
O indivíduo criativo é um elemento importante para o funcionamento efetivo da
51
sociedade, pois é ele quem faz descobertas, inventa e promove mudanças.
Pensar a ludicidade de forma complexa é adotar estratégias de intervenções
pedagógica que nos possibilite não apenas oferecer e oportunizar momentos lúdicos, mas
extrair deste tempo substrato que permita interpretar o valor que as pessoas atribuem a estes
momentos.
Quando se fala daquilo que se apresenta como novidade, é que a novidade é
sempre algo que quebra a rotina, cria novas expectativas e possibilita experiências novas.
Inovar a prática pedagógica é o desafio que deveria impulsionar os professores no fazer
cotidiano, para buscar forças interiores, que no dia-a-dia justifiquem a função social que
exercemos. Um professor não precisa ser um recreador, porém, se tiver ou desenvolver esta
capacidade, com certeza, amplia consideravelmente seu repertório de ação.
O lúdico permite também ao professor pensar nas implicações éticas e estéticas
que envolvem a sua formação. O homem, desde que nasce, entra num processo de
humanização dentro da sua cultura, que o torna homem, e esse processo nunca acaba. A
consciência que podemos ter de nós mesmos e do mundo vai sendo criada ao longo de nossas
vidas, sempre podendo ser renovada, pois a cada momento o homem pode comparar-se com
os outros, pode perceber as semelhanças, as diferenças e igualdades que há entre cada um,
desde bebê até sua morte.
Brincar hoje nas escolas poderia ser o instrumento principal da proposta
pedagógica; e talvez ainda hoje isso não ocorra devido à própria formação profissional do
professor que não contempla informações nem vivências a respeito da relevância do brincar
no desenvolvimento infantil.
Para Pires (2006) é preciso que os profissionais da Educação reconheçam o real
52
significado do lúdico para aplicá-lo adequadamente, estabelecendo a relação entre o brincar e
o aprender.
Negrine (1994, p.20) afirma que, em estudos realizados sobre aprendizagem e
desenvolvimento infantil, "quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-
história, construída a partir de suas vivências, grande parte delas através da atividade lúdica."
Segundo o autor citado, é fundamental que os professores tenham conhecimento do saber que
a criança construiu na interação com o ambiente familiar e sociocultural, para formular sua
proposta pedagógica.
Entende-se, a partir dos princípios aqui expostos, que o professor deverá
contemplar a brincadeira como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas,
possibilitando às manifestações corporais encontrarem significado pela ludicidade presente
na relação que as crianças mantêm com o mundo.
É necessária uma reflexão sobre a formação docente onde a ética e a estética
compõe estilos de identidade profissional, promovendo uma prática de ensino com
possibilidade de aproveitamento do lúdico na metodologia do fazer docente, dando ênfase,
portanto à formação lúdica que este sujeito possa desenvolver junto às crianças, permitindo
assim um trabalho pedagógico mais envolvente onde “Aprender é apropriar-se da linguagem,
é historiar-se, recordar o passado para despertar-se ao futuro; é deixar-se surpreender pelo já
conhecido. É reconhecer-se, admitir-se. Crê e criar. Arriscar-se a fazer dos sonhos textos
visíveis e possíveis...” e isto “Só será possível quando os professores puderem gerar espaços
de brincar-aprender para seus alunos ao simultaneamente os construírem para si mesmos”
(FERNÁNDEZ 2001).
A adoção de atividades que façam parte da cultura infantil como conteúdo
pedagógico, serão com certeza significativo para a criança. È tornando o movimento
53
significativo, que o professor realizará um trabalho verdadeiramente educativo fazendo com
que a criança tome consciência de sua individualidade, corporeidade e integridade social.
A verdade é que grande maioria das escolas, principalmente às publicas a cada dia
estão mais passivas não cobrando de seus professores que explorem o mundo de
conhecimentos que a criança traz de casa para a escola, estão deixando de desenvolver e
envolver a criança dentro e fora da sala de aula.
É preciso que a escola altere suas formas de conceber o processo de ensino-
aprendizagem, formando e capacitando, permanentemente, os seus professores. Esse não é um
processo linear e continuo que se encaminha a uma única direção, mais um caminho
multifacetado, apresentando paradas, saltos e transformações.
3.1 Como auxiliar os alunos a superar suas dificuldades
O jogo como recurso pedagógico é uma atividade que tem valor educacional
intrínseco, é jogando que o aluno está se educando em todos os setores da vida, a utilização
de jogos educativos no ambiente escolar traz muitas vantagens para o processo de ensino e
aprendizagem, entre elas: O jogo é um impulso natural da criança funcionando assim como
um grande motivador. A criança através do jogo obtém prazer e realiza um esforço
espontâneo e voluntário para atingir o objetivo do jogo.
O jogo mobiliza esquemas mentais: estimula o pensamento, a ordenação de tempo
e espaço, integra várias dimensões da personalidade: afetiva, social, motora e cognitiva,
favorece a aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de habilidades como
coordenação, destreza, rapidez, força, concentração e outras.
A participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito
54
mútuo, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, senso de justiça,
iniciativa pessoal e grupal. O jogo é uma forma de vínculo que une a vontade e o prazer
durante a realização de uma atividade. O ensino utilizando meios lúdicos cria ambientes
gratificantes e atraentes servindo como estímulo para o desenvolvimento integral da criança
ajudando a superar suas dificuldades.
Além disso, ao brincar, a criança está favorecendo a sua auto-estima, auxiliando
na superação progressiva de suas possíveis frustrações, medos e traumas que as mesmas
possam trazer de acontecimentos do passado.
Ao brincar a criança penetra no mundo dos adultos e passa a vivenciar
experiências que permitem a elas se tornarem aptas a enfrentar situações do seu cotidiano,
construindo e reconstruindo a realidade.
O ser humano é um ser lúdico, e por isso tem necessidade de brincar. O papel da
escola e do educador é proporcionar através do lúdico e do ‘ficcionar’, jogos linguísticos que
ampliem o interesse do aluno à leitura do texto literário, pois o jogo pode auxiliar no ensino
da literatura ajudando-o na sua dificuldade existente. Os jogos possibilitam à criança com
dificuldades de aprendizagem aprender de forma lúdica, num contexto desvinculado da
situação de aprendizagem formal. Facilitam, também, o vínculo terapêutico, fundamental para
que qualquer processo tenha êxito.
É também por meio da aprendizagem do próprio jogo, do domínio das habilidades
e raciocínios utilizados, a criança tem a possibilidade de redimensionar sua relação com as
situações de aprendizagem, com seu desejo de buscar novos conhecimentos. Tem, igualmente,
a oportunidade de lidar com a frustração do não saber, com a alternância entre vitórias e
derrotas. Essas mudanças na percepção de si mesmo e do objeto de conhecimento podem ser
estendidas às situações de aprendizagem formal na medida em que se restabelecem o desejo e
55
a confiança da criança em sua capacidade de aprender.
A escolha dos jogos será definida pelas dificuldades específicas de cada criança e
é nesse momento que se pode lidar com tais dificuldades. Existem jogos que trabalham a
linguagem, como, por exemplo, o ‘jogo da forca’ e ‘palavras cruzadas’. Outros trabalham com
números, como ‘compre bem’ e ‘banco imobiliário’. Outros trazem informações sobre
diversos temas, como ‘perfil’’. Existe, ainda, uma variedade de jogos que exigem estratégia,
domínio espacial, verificação de hipóteses e tomadas de decisões. Os jogos de computador
são muito bons, e a diversidade de temas é inesgotável, variando de jogos de linguagem,
raciocínio, até simulações de realidade.
O lúdico em sala de aula pode ser trabalhado em todas as atividades, pois é uma
maneira de aprender/ensinar que desperta prazer e, dessa forma, a aprendizagem se realiza.
No entanto, o verdadeiro sentido da educação lúdica só estará garantido se o professor estiver
preparado para realizá-lo, tendo conhecimento sobre os fundamentos da mesma. No processo
da educação infantil, o papel do professor é primordial, pois é ele quem cria espaços, oferece
os materiais e participa das brincadeiras, ou seja, media a construção do conhecimento. O
professor é mediador, possibilitando, assim, a aprendizagem de maneira mais criativa e social
possível. Para que o ensino seja possível, é necessário que aluno e professor estejam
engajados no processo, pois ações como dar aulas deveriam ser substituídas por orientar a
aprendizagem do aluno na construção do seu próprio conhecer, como preconiza o
construtivismo, o sociointeracionismo.
O professor, como mediador do processo de aprendizagem, precisa ter consciência
da importância da sua formação permanente, de estar sempre inovando seu fazer pedagógico e
de ter senso crítico e atitude investigativa. Assim, ao inserir a brincadeira em seu projeto
educativo, o professor deve ter claros seus objetivos e consciência da importância de sua ação
56
em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem infantil. Cabe ressaltar que, ciente da
importância do brincar para a criança, cabe ao professor oferecer inúmeras oportunidades para
que se torne prazerosa a aprendizagem por meio das brincadeiras. De acordo com Rosamilha
(1979, p. 77),
A criança é, antes de tudo, um ser feito para brincar. O jogo, eis aí um artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Usemos um pouco mais esse artifício, coloquemos o ensino mais ao nível da criança, fazendo de seus instintos naturais, aliados e não inimigos.
É importante lembrar que o brincar, na educação infantil, precisa estar
constantemente nas inquietações e reflexões dos educadores. É sempre muito bom que se
auto-avaliem perguntando: Quais os objetivos de tais brincadeiras? Como elas estão sendo
apresentadas às crianças? O que queremos? As crianças estão sendo ouvidas?
Cabe ressaltar que só é possível o educador reconhecer uma criança se nela ele
reconhecer um pouco da criança que já foi e que, de certa forma, ainda existe em si.
Assim, o educador conseguirá redescobrir e reconstruir em si mesmo o gosto pelo
fazer lúdico, buscando em sua bagagem, recente ou não, contribuições para uma
aprendizagem lúdica, prazerosa e significativa. Compete ao profissional da educação infantil
proporcionar aos seus educandos um ambiente rico em atividades lúdicas, já que estas são
responsáveis por um desenvolvimento sadio e harmonioso.
O trabalho a partir da ludicidade abre caminhos para envolver todos numa
proposta interacionista, oportunizando o resgate de cada potencial. A partir daí, cada um pode
desencadear estratégias lúdicas para dinamizar seu trabalho que, certamente, será mais
produtivo, prazeroso e significativo. Para atingir esse fim, é preciso que os educadores
repensem o conteúdo e a sua prática pedagógica, substituindo a rigidez e a passividade pela
vida, pela alegria e pelo entusiasmo de aprender. É muito importante aprender com alegria,
57
com vontade. Snyders (1996, p.36) comenta que “educar é ir em direção à alegria.” A escola
deve ser um lugar gostoso e feliz, para onde a criança tenha vontade de ir.
Sabe-se que a experiência lúdica não pode mudar o mundo, mas é provável que
possa contribuir para as mudança da consciência e impulsos dos homens que podem mudar o
mundo. Se o jogo possui uma certa autonomia em relação a sociedade, esta autonomia se dá a
partir da contradição. E se há autonomia no jogo, em qualquer medida, esta reflete a ausência
de liberdade dos indivíduos numa sociedade com pouca liberdade. A ludicidade é o risco no
mundo “sério”.
Toda pessoa que brinca bem tem clareza de visão, sensibilidade, são entusiastas,
adaptáveis, alegres e encantadoras. São tudo, menos pessoas fragmentadas, e aprender é seu
principal prazer na vida.
Propõe-se, portanto, aos educadores, principalmente, aos de Educação Infantil,
transformar o brincar em trabalho pedagógico para que experimentem, como mediadores, o
verdadeiro significado da aprendizagem com desejo e prazer, pois dentro do trabalho
pedagógico é fundamental a ludicidade, é mais uma possibilidade de compreender o
funcionamento dos processos cognitivos e afetivo sociais da criança e torná-lo um adulto
capaz.
58
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL FREI TITO
Para a elaboração deste trabalho de pesquisa buscou-se respaldo teórico para a
sustentação das ideias e reflexões desenvolvidas em conceitos elaborados por autores que
abordam esta temática, tais como: Freire (1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto
(1992), Negrine (1994) Nóvoa (1995), Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997),
Vygotsky (1998; 2001), e outros.
Paralelamente, realizou-se uma pesquisa de campo na Escola de Educação Infantil
e Ensino Fundamental Frei Tito em Fortaleza – CE – Brasil, com a intenção de conhecer
como é realizada a incorporação das atividades lúdicas ao currículo escolar da Educação
Infantil, como essas atividades são desenvolvidas em sala de aula e fora dela e se os
educadores as consideram essenciais ao desenvolvimento mental das crianças e à construção
do conhecimento, bem como à socialização das crianças.
Trata-se de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, cujos dados e
informações serão coletados por meio de entrevistas com professores da Educação Infantil e,
posteriormente, submetidos a uma análise interpretativa, à luz dos autores pesquisados para a
revisão bibliográfica.
Os sujeitos pesquisa foram cinco professoras que atuam nas séries iniciais do
Ensino Fundamental em escola da rede pública de Fortaleza – CE, escola que foi escolhida
por se localizar na área de baixa renda da cidade e atender a um grande número de alunos
desse bairro. A seleção das professoras foi feita a partir de conversa com a coordenadora
pedagógica da escola, momento em que se enfatizou a necessidade de selecionar docentes que
atuassem nos primeiros anos do Ensino fundamental e que realizassem um trabalho
59
diferenciado em sala de aula. Dessa forma, a coordenadora apontou profissionais que realizam
trabalhos dinâmicos e diferenciados, inclusive envolvendo jogos, que concordaram em
colaborar com a pesquisa.
4.1 Análise das respostas dos professores na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Frei Tito
A escola pesquisada, instituição pública cuja instituição mantenedora é a
Prefeitura Municipal de Fortaleza, está localizada na Regional II e atende a crianças
residentes em bairros periféricos da cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, as quais
proveem de famílias de baixa renda, com pais, em sua maioria, desescolarizados,
sobrevivendo com rendas familiares quase insignificantes, sendo muitos desempregados com
ganhos eventuais, quando são contratados informalmente para um trabalho esporádico. Assim,
a escola tem acrescidas as suas responsabilidades de educar, instruir e formar, às quais se
soma a tarefa de ajudar a sobreviver.
Apresentam-se, aqui, as respostas das professoras que colaboraram com a
pesquisa, as quais atuam, na Educação Infantil ou Ensino Fundamental do primeira ao quarto
ano, cuja experiência com o trabalho nesses níveis do ensino varia entre nove e vinte e três
anos.
ENTREVISTA 1
A primeira professora entrevistada, identificada aqui como P1, trabalha na escola
pública pesquisada, é formada em Pedagogia, tem curso de especialização nessa área e atua
no magistério há onze anos.
Ao ser indagada sobre qual a importância que atribui às atividades lúdicas para o
desenvolvimento do raciocínio lógico das crianças, respondeu:
60
O lúdico contribui, não só, para o desenvolvimento das crianças, mas também para pessoas em qualquer etapa da vida: crianças, adolescentes e adultos, pois em todas elas as brincadeiras devem estar presentes. Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas. A escola erra ao fragmentar sua ação, dividindo o mundo em lados opostos: de um lado o jogo da brincadeira, do sonho, da fantasia e do outro, o mundo sério do trabalho e do estudo. Independente do tipo de vida que se leve, todos adultos, jovens e crianças precisam da brincadeira e, de alguma forma, do jogo, do sonho e da fantasia, para viver. Eu atribuo a importância as atividades lúdicas enquanto fator de desenvolvimento da criança. Entre alguns desses fatores destaca-se: facilitador da aprendizagem; colabora para uma boa saúde mental; desenvolve processos sociais de comunicação de expressão e construção do conhecimento; explorar a criatividade; melhora a conduta e a auto-estima; permite extravasar angústias e paixões, alegrias e tristezas, agressividade e passividade.
Com essas palavras, a professora entrevistada se posicionou contrária à ideia de
que o lúdico seja direcionado, somente, para as crianças, concordando com o recente e tímido
movimento pelo ‘ócio criativo’, que defende a necessidade do adulto trabalhador ter mais
oportunidades e formação para o uso criativo do tempo livre e do lazer, como um direito
social, tal como o adquirido teoricamente pela criança (PRADO, 2008).
Sobre as atividades lúdicas que considera mais contribuírem com a elevação dos
níveis de aprendizagem, a entrevistada referiu:
De inicio tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos em torno dos 2-3 anos e dos 5-6 nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança e por consequência vão aumentando de importância de acordo com o progresso do seu desenvolvimento social.Todas as atividades lúdicas criativas ou não contribuem com a aprendizagem, por exemplo: música, poesia com rimas, jogos e brinquedos dos mais variados tipos, historinhas, contos, filmes, recortes, colagens, desenhos, pinturas, dramatização e outros tipos de artes, informática. Como ressaltamos, vale a criatividade.
Por essa resposta, a educadora entrevistada concorda com Almeida (1990), que
propõe repensar a educação lúdica de maneira prazerosa fazendo-se imperiosa a construção
progressiva de estratégias metodológicas.
As atividades realizadas pela professora P1, em sala de aula, para despertar o
interesse e a motivação dos seus alunos por aprender são várias, dentre as quais estão: bingo
de palavras, boliche, quebra-cabeça, dominó com sinônimos e antônimos, alfabeto móvel,
61
trilha, dado, jogo de memória, jogo da velha, forca, fantoches e na quadra: brincadeira de
rosa, amarelinha, esconde-esconde, passa-anel, pega-pega queimada, vôlei, futebol, pular
corda e outras. Todas essas atividades propiciam cooperação, estabelecimento e cumprimento
de regras. Os jogos são interdisciplinares desde que atendam à faixa etária e à necessidade do
aluno.
Indagada se a utilização de brincadeiras em suas aulas tem, realmente,
contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, P1 respondeu que sempre é
muito satisfatório, porque a criança relaxa, aprende e se interessa, passando a ter mais vontade
e disposição. Para essa entrevistada, as atividades lúdicas estimulam e contribuem com o
desenvolvimento da criança, despertando o espírito de competição levando-os assim a pensar.
ENTREVISTA 2
A professora P2 trabalha em duas escolas da rede pública de ensino, é formada em
Pedagogia com especialização em Orientação Escolar e tem quatorze anos de experiência de
experiência nesse nível do ensino.
Em relação à importância que atribui às atividades lúdicas para o desenvolvimento
do raciocínio lógico das crianças, P2 afirmou que as brincadeiras, aparentemente simples, são
fontes de estímulo ao desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança, sendo também
uma forma de autoexpressão. Com o faz de conta, a criança pode imaginar, imitar, criar.
Assim, pouco a pouco, elas vão ampliando seu mundo e seu raciocínio lógico.
Essa resposta se adéqua ao pensamento de Almeida (1990, p. 22), segundo o qual:
[...] a educação lúdica integra, na sua essência, uma concepção teórica profunda e uma concepção prática atuante e concreta. Seus objetivos são a estimulação das relações cognitivas, afetivas, verbais, psicomotoras, sociais, a mediação socializadora do conhecimento e a provocação para uma reação ativa, crítica, criativa dos alunos. Eles fazem do ato de educar um compromisso consciente, intencional e modificador da sociedade.
Para P2, as atividades lúdicas que mais contribuem com a elevação dos níveis de
62
aprendizagem são: xadrez, jogo de damas, gincana cultural, brincadeiras como boliche, onde
cada garrafa que ele derrubar responderá uma pergunta, bingo de letras e outras, que são
fatores facilitadores para o aprendizado, pois sentirá prazer em estar participando ao mesmo
tempo que estará se desenvolvendo nas diferentes áreas da Educação.
As atividades que P2 mais realiza em sala de aula para despertar o interesse e a
motivação dos seus alunos por aprender são aquelas que podem ser utilizadas em sala de aula
como:, bingo de palavras, boliche, quebra-cabeça, dominó com sinônimos e antônimos,
alfabeto móvel, trilha, dado, jogo de memória, jogo da velha, forca, fantoches e na quadra:
brincadeira de rosa, amarelinha, esconde-esconde, passa-anel, pega-pega queimada, vôlei,
futebol, pular corda e outra, todas elas propiciam cooperação, estabelecimento e
cumprimento de regras . Entendo que os jogos são interdisciplinares desde que atendam a
faixa etária e a necessidade do aluno.
Na opinião da entrevistada P2, a utilização de brincadeiras em suas aulas tem,
realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, pois quando as
crianças jogam ou brincam, passam a ter uma compreensão maior de como o mundo funciona
e de como poderão lidar com ele à sua maneira e possibilidade. As atividades lúdicas
transformam-se em afirmações do que está acontecendo e passam a representar o que as
crianças entendem.
Isso coincide com o pensamento de Benito e Rojas (2009,) segundo o qual, a
prática artística é vivenciada pela criança como atividade lúdica, em que o brincar facilita a
compreensão do mundo cultural e estético.
ENTREVISTA 3
63
A entrevistada P3 é formada em Pedagogia, com de experiência como professora
e, atualmente, atua, também, em uma turma de 2º. ano do Ensino Fundamental em uma
instituição privada e, em outro período, ministra a disciplina Artes para crianças de 2º ao 5º
anos, em outra escola da rede pública.
Sobre a importância das atividades lúdicas para o desenvolvimento do raciocínio
lógico das crianças a entrevistada P3 referiu que, com as atividades lúdicas, as crianças ficam
mais interessadas e aprendem com mais facilidade, pois depositam toda a sua atenção na
atividade. É, por meio da ludicidade, que a criança aprende a conviver, a ganhar e a perder, a
saber esperar sua vez de se manifestar.
As atividades lúdicas que mais contribuem com a elevação dos níveis de
aprendizagem, apontadas por P3, foram: jogos de exercícios, jogos de regras e jogos
simbólicos, pois nos jogos pode-se encontrar respostas, ainda que provisórias para perguntas
que não se sabe responder.
P3 referiu que utiliza, em suas aulas, atividades voltadas a despertar o interesse e a
motivação dos seus alunos por aprender, dentre as quais: jogo da torre, jogo da forca (buga-
buga), dominó com números, baralho de letrinhas e outros.
A entrevistada (P3) referiu que a utilização de brincadeiras em suas aulas tem,
realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, pois é pelos jogos e
brincadeiras que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e
autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da
concentração, brincar é muito importante, porque enquanto estimula o desenvolvimento
intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos mais necessários a esse
crescimento, como a persistência, tão relevante em todo aprendizado.
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O pensamento de P3 confirma o que Benito e Rojas (2009), quando referem que,
os educadores devem considerar as novas possibilidades que hoje se impõem ao mundo da
cultura e do conhecimento, que estão exigindo mudanças na forma de ensinar as crianças, que
estão sendo criadas num mundo de realidade virtual e educadas no mundo indiferente às
transformações culturais. É necessário repensar o papel da escola frente a essas novas formas
de relação social e novos hábitos humanos e culturais. Disso decorre a importância do lúdico
na aprendizagem, pois brincar significa aprender a viver, utilizando e brincando com imagens
e símbolos, pois estes levam a pensar. A presença das atividades lúdicas no espaço educativo,
como proposta metodológica, possibilita o entendimento de que a educação não trabalha só
com a racionalidade e que a emoção proporciona à criança um encontro consigo mesma, bem
como uma melhor adaptação com o seu entorno e com todos que, de alguma forma, fazem
parte de seu mundo escolar, social e familiar.
ENTREVISTA 4
A professora P4 exerce essa profissão há nove anos, é formada em Pedagogia com
Especialização em Pedagogia Institucional/Educação Infantil; trabalha, em um período, em
uma 2ª série de escola particular e, no outro, com turmas de 1ª e 4ª séries na rede pública de
ensino.
Essa entrevistada referiu que a importância das atividades lúdicas para o
desenvolvimento do raciocínio lógico das crianças está em fazer acreditar que elas possuem
um grande potencial como fator de aprendizagem, na medida em que, ao desenvolvê-las, a
criança exercita sua plenitude, conforme afirma Luckesi (2000) ao afirmar que a maior
característica da ludicidade é a experiência de plenitude que ela possibilita a quem a vivencia
em seus atos. E argumenta ainda, o autor citado, que isso significa dizer que, na vivência de
uma atividade lúdica, cada pessoa está plena, inteira, utilizando a atenção plena, como
65
definem as tradições sagradas orientais.
Na participação efetiva em uma atividade lúdica, não há lugar, para qualquer outra
coisa além dessa própria atividade. Não há divisão. Nela os participantes apresentam-se
inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis (LUCKESI, 2000). A preocupação do autor
citado é evidenciar a importância que tem para o sujeito, sua formação e desenvolvimento
integrais a realização de atividades lúdicas, não importa a sua idade, meio social ou outras
variáveis.
As atividades lúdicas que mais contribuem com a elevação dos níveis de
aprendizagem, segundo P4, são: jogo gramatical, jogo de expressão oral, parlenda animada,
ditado divertido, boliche matemático e outros.
A entrevistada afirmou que, em suas aulas, sempre utiliza atividades com a
intenção de despertar o interesse e a motivação dos seus alunos por aprender. Nesse sentido,
as mais utilizadas por ela são: jogos, pinturas, desenhos, trabalhos em grupo, colagens,
músicas, dramatizações, brincadeiras de roda e outros.
A entrevistada P4 disse sentir que a utilização de brincadeiras em suas aulas tem,
realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, uma vez que, tanto
o jogo como a brincadeira, em si, constituem uma forma de vínculo que une a vontade e o
prazer durante a realização de uma atividade.
ENTREVISTA 5
P5 é professora há vinte e três anos, é licenciada para o magistério do Ensino
Médio e está terminando, atualmente, um curso de Pedagogia. Trabalha, ainda, com duas
turmas, uma de 2º ano e outra de 3º, em outra escola da rede pública.
66
Referindo-se à importância que atribui às atividades lúdicas para o
desenvolvimento do raciocínio lógico das crianças, a entrevistada P5 afirmou que é por meio
das atividades lúdicas que as crianças podem se desenvolver em um ritmo próprio, o
conhecimento e conteúdo, trabalhando de maneira integrada e sistematizada nas diferentes
áreas do conhecimento, de forma prazerosa, ativa e desafiadora.
As atividades lúdicas apontadas pela entrevistada P5, como que mais contribuem
com a elevação dos níveis de aprendizagem dos alunos são todas aquelas em que estiverem
dentro do contexto das disciplinas e forem bem aceitas e entendidas pelos alunos.
A entrevistada aqui referida afirmou que realiza, em sala de aula, atividades
lúdicas que possam despertar o interesse e a motivação dos seus alunos por aprender, como
bingos de palavras, caça-palavras, ditados divertidos, gincanas e outras.
A professora P5 referiu que a utilização de brincadeiras, em suas aulas, tem,
realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, até porque é enorme
a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança, conforme o pensamento de
Piaget (1978) que considera a infância como a fase do brinquedo, do brincar e da brincadeira,
sendo que isso representa, para a criança, o mesmo que o trabalho é para o adulto,
caracterizando-se, dessa forma, como sua principal atividade nessa fase de sua vida. Também
é correto afirmar, que toda criança brinca, independentemente de sua cultura, época, meio ou
classe social.
Constatou-se, pelas entrevistas, que todas as educadoras participantes deste estudo
consideram o lúdico de suma importância para o aprendizado, socialização e formação da
personalidade das crianças, devendo ser utilizado em todos os níveis da Educação Básica,
como instrumento de motivação e estimulação da aprendizagem como um todo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embasada nos estudos realizados chegou-se à conclusão de que, aprendendo com
a utilização do lúdico, a criança vai construindo uma infinita abertura de possibilidades que
lhe permita se relacionar e conhecer, com legitimidade, o mundo em que vive. Nessa
perspectiva transformadora, aponta-se a necessidade e importância da ação lúdica na escola,
apor se acreditar que todos os alunos, de acordo com suas individualidades e potencialidades,
são criativos, imaginativos. Assim, constatou-se, com a ajuda dos teóricos consultados na
pesquisa bibliográfica, que é possível conquistar o que, muitas vezes, se pensa ser
impossível, utilizando uma linguagem mágica, única e universal que é a linguagem da
brincadeira.
Este trabalho foi desenvolvido com a intenção de mostrar a importância do lúdico
para a socialização, para desenvolver e aprimorar o pensamento da criança, em busca de sua
formação plena, na perspectiva da construção da sua cidadania. Vê-se que o objetivo geral
definido no início desta pesquisa foi alcançado, pelo aprofundamento realizado, a partir da
revisão bibliográfica em autores que tratam do tema abordado.
No desenvolvimento deste estudo teve-se, ainda, a intenção de oferecer aos
professores de Educação Infantil uma melhor visão a respeito do valor dos jogos e
brincadeiras como instrumento facilitador da aprendizagem, essencial ao desenvolvimento das
crianças. Nesse sentido, as brincadeiras e jogos foram referidos, durante todo o percurso da
pesquisa, como fatores favoráveis à construção do conhecimento, da socialização e do
desenvolvimento físico e mental das crianças. Isso comprova que os objetivos específicos
propostos foram plenamente alcançados.
Considera-se que, para uma maior conscientização dos professores, os Cursos de
68
Formação de Professores devem fornecer, aos futuros educadores, conteúdos capazes de
prepará-los para utilizar, habilmente, o lúdico em sala de aula. Para isso, eles precisam
conhecer as diferentes modalidades dos jogos existentes e a suas funções, na Educação
Infantil.
A pesquisa de campo, com professores da escola Publica Frei Tito, comprovou
que nessa escola são realizadas, com as crianças da Educação Infantil, atividades lúdicas no
sentido de despertar o interesse e a motivação dos seus alunos por aprender, recorrendo a
bingos de palavras, caça-palavras, ditados divertidos, gincanas e outras brincadeiras.
A utilização de brincadeiras, nas aulas da escola pesquisada, tem contribuído
significativamente com a melhoria da aprendizagem dos alunos, dada a grande influência do
brinquedo no desenvolvimento pleno da criança, de acordo com as sugestões de Piaget
(1978).
Dada a permanente mutação do mundo e dos modos de conceber o
desenvolvimento da criança e seu processo de construção do conhecimento, considera-se que
o trabalho aqui apresentado não apresenta conceitos prontos, sugerindo aprofundamentos
futuros, em outros níveis de estudo, a fim de que se possa dar uma contribuição mais
significativa à Educação Infantil.
Conclui-se que o papel do pedagogo e do professor é fundamentalmente
importante, na difusão e aplicação dos recursos lúdicos. O professor, ao se conscientizar das
vantagens do lúdico, deverá adequá-lo a determinadas situações de ensino, utilizando-o de
acordo com as necessidades e características das crianças. O pedagogo, como pesquisador,
deverá estar, permanentemente, em busca de ações educativas eficazes, de forma a preparar
plenamente os estudantes.
69
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72
APÊNDICE
73
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM
PROFESSORES DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL FREI TITO
Escola:_ ____________________________________________________
Professor: ___________________________________________________
1º - Qual a sua formação?
____________________________________________________________
2º - Qual a importância que você atribui às atividades lúdicas para o desenvolvimento do
raciocínio lógico das crianças?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3º - Que atividades lúdicas você acha que mais contribuem com a elevação dos níveis de
aprendizagem?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
4º - Quais as atividades que você realiza em sala de aula para despertar o interesse e a
motivação dos seus alunos por aprender?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5º - Que sugestões você oferece aos demais professores de Educação infantil para melhorar os
índices de atenção e motivação dos alunos?
___________________________________________________________________________
74
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
6º - Você sente que a utilização de brincadeiras em suas aulas tem, realmente, contribuindo
com a melhoria da aprendizagem de seus alunos?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Recommended